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Prólogo

Os raios de sol batiam na minha janela, diferente dos outros dias, não me
incomodou tanto, pois logo estaria em viagem para o vilarejo de Santa Fé,
rapidamente eu me vesti e fui direto para a cozinha tomar o café da manhã, estava
varada de fome.
– Bom dia! -digo quando avisto minha mãe. Onde está o papai?
– Ele foi buscar as malas lá em cima.
– Bom dia! -Pedro desce as escadas com todas as malas.
– Oh machão, não precisava trazer todas de uma vez, você vai acabar caindo! -Julia
fala enquanto tenta se aproximar.
– Não se preocupe, é por isso que eu… -ele cai feito uma jaca podre. …Malho.
-todos caem em uma gargalhada gostosa. Enfim, ele se levanta e beija o topo da
cabeça das duas e vai colocar as malas no carro, com a ajuda de Julia.
– Eu ajudo! -logo me ofereço.
– Está tudo bem, querida, não precisa. -quando ela recusa, subo para terminar de
me arrumar.
No carro…
– Pedro, você tem notícias dele? -ela perguntou aflita.
– Ainda não… a única coisa que o detetive encontrou foi uma foto de um garoto com
as características dele… -ele fala com a voz cheia de frustração.
– Eu tenho medo… tenho medo de ele não estar… vivo ou sendo torturado… -uma
lágrima escorre em sua bochecha.
– Seus pais tinham razão, Julia. -ele diz áspero.
– O quê? -Júlia fica perplexa.
– Lía, se você não tivesse se casado, construído uma família comigo, tudo seria
melhor para você… -ele fala sem olhar para sua esposa.
– Não é verdade…-ela olha para o chão.
– Vamos ser realistas…
Lía levanta o olhar e dá uma bofetada no rosto de seu esposo.
– Como ousa proferir tais palavras sobre o nosso lar? Ouça bem, não vou tolerar
que volte a pronunciar algo assim. Lua! Vamos! -ela grita para Lua.
Eu tinha uma leve agitação dentro de mim, porém, senti um clima ruim entre os
meus pais, o que era estranho, eles nunca discutiam, pelo menos, não na minha
frente. Os dois estavam distantes e me preocupava bastante.
“Em 12 anos que estamos juntos, nunca o vi dar razões para os meus pais, jamé
imaginei que ele poderia considerar um erro todo o nosso amor.” -o pensamento de
Lía é interrompido pela chegada no vilarejo.
– Finalmente chegamos na pousada! - digo enquanto me jogava em uma das
camas.
– Descanse, quando acordar, iremos para os pinheiros. -minha mãe sai e fecha a
porta. “Por que os pinheiros? Em Nova Capitania está cheio deles, prontamente me
distraio para outra coisa da qual não havia prestado devida atenção, meu quarto
tinha duas camas, não fazia sentido, meus pais dormirão juntos, certo? Talvez foi o
único quarto que tenha sobrado.”
Horas mais tarde…
Eu acordei mais disposta e fui tomar um banho, o sabonete de lá, continha o cheiro
da primavera, fiquei na banheira até que meus dedos enrugam , me vesti e fui para
o hall da pousada, meus pais continuavam esquisitos, mas fomos para os pinheiros.
– Aqui é tão belo, não se parece nada com os pinheiros de Novas Capitanias. - Eu
admiro a paisagem à minha volta.
– Eu sei, foi aqui que eu tirei as fotos para a minha primeira exposição e também
onde eu e seu pai nos conhecemos. -Lia fica perdida nos pensamentos. - Ele estava
sentado em meio aos pinheiros e eu bati algumas fotos dele, que fez uma cara
tenebrosa -ela ri. – Seu pai era bem sério. -logo seu sorriso desaparece, dando
lugar a um semblante triste.
É melhor irmos, está anoitecendo.
Duas semanas depois…
– Precisamos voltar mesmo? -Lua diz chateada.
– Minha princesa, o papai precisa voltar ao trabalho, não posso deixar a empresa
sem mim por tanto tempo.
– Mas o senhor é o chefe!
-ele ri. – Até mesmo os chefes necessitam trabalhar, porém eu prometo que
voltaremos novamente.
– Jura, papai?
– Eu juro pequena!
– Mamãe, também está chateada por voltarmos hoje?
– Ah, ah sim, eu queria tirar mais algumas fotos… -seu semblante era atordoado.
Quando terminamos de arrumar as malas, o céu tinha escurecido, mesmo assim
pegamos a estrada, algumas gotas começaram a tilintar no teto do carro e galhos
rangiam, até que eu ouço o nosso carro derrapando pela estrada e não vejo nada
mais além de um clarão, entretanto ouço a sirene da ambulância e os gritos de
desespero do meu pai.
Depois eu acordo em um campo escuro, cheio de vagalumes, quanto mais eu me
aproximo, mais vejo detalhes e noto que não estou sozinha, era um menino, muito
bonito, ele tinha um sorriso encantador e olhos azuis como a noite.
E quando eu de fato abro os olhos , estou presa em uma maca, em um quarto
branco e logo recebi a notícia que minha mãe estava morta. A perdi para uma pista
encharcada e para uma colina, alí também perdi o meu mundo, que eu amava e me
orgulhava. O enterro foi adiado por causa do meu coma, para que eu pudesse me
despedir de minha mãe, eu ainda estava fraca com o pós-coma, mesmo assim eu
quis ir.
Dia do enterro…
Meu pai estava sério, parecia morto por dentro e é claro que Carol, já estava
grudada nele como carrapato… odeio essa mulher… simplesmente me aparece
dois senhores que eu nunca havia visto na vida.
– É tudo culpa sua! Se a nossa filha não conhecesse um traste como você, hoje não
estaríamos aqui! Olha quanta desgraça você trouxe para a vida da minha filha,
saiba que é o responsável! -uma estranha mulher idosa, solta as palavras para
Pedro e um idoso também começa a disparar.
– Ela era a minha princesa! E por sua causa, hoje eu não tenho o sorriso da
princesa mais linda da terra… seu miserável! -e os dois desabaram em lágrimas.
– Como ousam falar assim com o Pedro? -uma cabeleira loira surge.
– O que é isso? Minha princesa nem foi enterrada e já está com outra? -o idoso
desconhecido alfineta.
– Não é nada disso, senhor, ela é minha secretária. -Pedro se mantém firme.
– E que diabos de secretária é essa que chega falando o nome do chefe? -o senhor
diz céptico.
– É… eu, é que eu conheço o Sr King há muito tempo e eu… -ela tenta se defender.
– Você não é aquela mulherzinha que fica se jogando nos braços desse marginal?
-A senhora questiona.
– Acredito que vocês sejam os verdadeiros marginais aqui… -Carol fica presunçosa.
– Que insolência! - diz o homem.
– É melhor irmos direto ao assunto, Alfredo. - a senhora chama sua atenção.
– Certo. - limpa a garganta. Nós iremos levar a Luara com a gente. -Alfredo fica
sério, ainda com os olhos úmidos.
– Não podem fazer isso! Ela é minha filha! -Pedro fica em pânico.
– Não é seguro ela viver com um troglodita como você! -O velho fica vermelho.
– Eu posso protegê-la…
– Assim como a nossa filha? -O velho grita.
– Eu juro que eu nunca quis isso para ela… -Pedro se esforçar para não cair.
– Então não faça o mesmo com a nossa neta… -Alfredo termina.
O casal de idosos vem em minha direção e se sentam cada um em um lado meu,
me deixando entre os dois. Quem são eles? De onde vieram? Eu nunca os tinha
visto até então.
– Olá, Luara! -a mulher me cumprimenta.
– Olá… Quem seria a senhora? -pergunto com curiosidade. E qual seria o seu
nome?
– Eu… sou Cornélia, nos conhecemos há muito tempo, sou sua avó querida e este
senhor ao seu lado, é o Alfredo, seu avô.
– É impossível! Meus pais são órfãos de pai e mãe. -Estouapavorada com a
situação.
– Não, o seu pai é, mas a sua mãe… nunca foi órfã… - Cornélia joga as palavras no
ar e eu as apanho.
– Não faz sentido, ela nunca esconderia algo desse tipo… -Eu fico nervosa.
– Tem muitas coisas que não sabe, querida. Agora vamos. - Cornélia se levanta
para sair.
– O que quer dizer? Aonde vamos? - fico imediatamente intrigada.
– Para a nossa casa, a partir de hoje, você vai morar com a gente. - Cornélia fala
com um sorriso glamouroso.
– Eu não vou morar com vocês! Meu pai nunca permitiria! - Digo enquanto saio dali
correndo, com os olhos ardendo em lágrimas. Quando vejo, já estou distante perto
de várias sepulturas, me sentei em uma delas e comecei a soltar mais rios de
lágrimas.
– Olá! Por que choras, garota? - um garoto da minha idade, de cabelos loiros e
olhos azuis, abeira-se.
– Não te interessa! - eu grito na intenção de afugentá-lo.
– Acalme-se eu não sou seu inimigo… -ele senta ao meu lado. É por causa da sua
mãe, não é? Compreendo a sensação, há um ano atrás, também perdi a minha…
– Minha mãe era tão especial, ela não merecia… -começo a balbuciar as palavras.
– Eu imagino, acalme-se. - ele inclina-se e me abraça, naquele momento eu me
senti protegida, um conforto acolhedor, me permito experienciar cada segundo.
– Eu lamento, mas já está ficando tarde, preciso ir, minha doçura. - ele se
desvencilhou do abraço e pega a minha mão e a beija carinhosamente, mais
demoradamente do que deveria.
– Ok, espero te ver novamente um dia. - quando percebo, estou corada. Ele acena
com a cabeça e se vai, eu fico mais um tempo nas lápides, depois ainda com os
olhos lacrimejados, volto ao velório e encaro a realidade.
– Ah, meu amor, finalmente eu te encontrei, aonde estava? -meu pai me abraça com
alívio.
– É verdade? -pergunto.
– O quê…
– É verdade o que essa Cornélia disse? - o interrompo.
– É sim, me desculpe por não te contar, a sua mãe não tinha uma boa relação com
eles. - meu pai diz com uma mão atrás da cabeça.
– E por que eu devo morar com eles? O senhor não quer mais me ter como filha?
-noto minhas bochechas esquentarem e as lágrimas ameaçam a cair novamente.
– É claro que não, eu te amo muito, por esse motivo, é melhor morar com eles por
um tempo. - ele beija o topo da minha cabeça.
Alguns dias depois…
– Papai… eu quero morar com o senhor, eu nem conheço eles… - aperto
fortemente os meus braços ao redor do meu pai.
– É melhor assim, acredite… -ele fica distante.
Não demorou muito para que Alfredo e Cornélia chegassem para me buscar.
– Bom dia, querida, está pronta? - Cornélia vai até mim.
– Estou. - respondo secamente.
– O vovô está muito animado para contar muitas histórias. -Alfredo fala empolgado.
– Pode ser… - corro de volta para os braços do papai. Eu o amo papai, vou sentir
saudades…- me despeço e entro no carro, sem pronunciar qualquer palavra que
fosse.
Quando eu entro na casa, algo me surpreende, o garoto que me confortou no
velório… estava alí para me receber, junto com o cozinheiro e com a empregada e
sua filha. Nunca imaginei que iria reencontrar ele tão cedo.
– Bem-vinda ao lar! -Todos dizem.
– Muito obrigada! - dito isso, vou para o meu quarto.
Era tão sem graça, não tinha nada parecido com o meu quarto antigo, era uma
mobília chique e bonita, porém não era algo que enchesse os olhos de uma criança.
Fui até o toalete e tomei banho, volto ao meu quarto tentando dormir. Estou em um
campo com vagalumes e vejo um menino, eu acordo. Era o mesmo sonho que tive
enquanto estava em coma. Apreensiva, decido conhecer o jardim e encontro os dois
brincando. Os observo de longe.
– Olá, doçura… -ouço sua voz em meu ouvido.
– Ah, oi, é melhor eu voltar para dentro. -tenho um sobressalto quando seus dedos
tocam o meu braço.
– Se acalme. -sorri. Brinque com a gente, quanto mais pessoas, melhor. Não é
mesmo, Sofia? - acaricia a minha mão.
– É claro, venha Lua. -Sofia me puxa para lá.
– Certo, se eu não for atrapalhar… - hesito em ir.
–Fique tranquila e a propósito. - leva a minha mão aos seus lábios e os beija. Meu
nome é Liam, doçura.
– É…- eu estou com borboletas no estômago, nunca havia sentido antes.
Meus dias na casa foram maravilhosos, eu construí uma amizade enorme com Liam
e Sophia. Um ano inteiro se passa sem eu receber nem ao menos uma ligação do
meu pai e depois de tanto tempo ele resolve tomar essa atitude e me avisa que está
namorando a Carol. Meu mundo acaba de desabar novamente, eu vou até a fonte
que tem no jardim e começo a chorar.
– Doçura. - o reconheço imediatamente.
– Eu não percebi a sua presença…-tento esconder as lágrimas.
– Está tudo bem, doçura. Venha comigo e fechei os olhos. -ele me oferece a sua
mão.
– Aonde está me levando? -fico desconfiada.
– Apenas confie em mim. -eu o sigo, tentando identificar algo, todavia eu não vi
nada semelhante com o jardim em que brincamos, a viagem demorou um bocado.
– Pronto, chegamos… -ele me convida para passar por uma porta de algo parecido
com uma estufa.
– Uau! -é a única coisa que consigo pronunciar, tudo que tinha alí, era de tamanha
beleza, era uma cozinha, porém diferente, tinha tantas plantas, que atraíram
milhares de borboletas.
– Há alguns meses atrás eu encontrei essa estufa abandonada e pedi a sua avó
para que eu ficasse com o local… meu pai me ajudou…aqui me acalma, eu não
sabia se te ajudaria…-Liam está todo vermelho.
– Eu… eu amei, me fez esquecer de tudo… obrigada Liam. - percebo que ele ficou
ainda mais vermelho e eu também, quando eu notei, estava segurando as suas
mãos.
Nós passamos tanto tempo preparando temperos, que já tinha escurecido e não
conseguimos sair de lá, eu fico com medo e o abraço forte, mesmo com vergonha,
pois o meu medo era maior… e algo inusitado acontece, vagalumes tomam o lugar
das borboletas, fazendo rastros pela estrada, até que chegássemos em casa.
1 ano depois…
Meu pai tinha finalmente voltado da sua viagem, eu deveria estar feliz, entretanto eu
não estava…ele queria que eu voltasse a morar com ele, não, não é meu pai, é o
Pedro, um desconhecido que já tem outra família, o meu verdadeiro pai, morreu dois
anos atrás com a minha mãe. Não tinha outro jeito, eu tinha que morar com aquele
sujeito desconhecido, não quero deixar os meus avós, não quero deixar meus
amigos, não posso deixar o Liam…
– Tchau, Sophia! Espero te ver em breve! -nos abraçamos com olhos lacrimejados.
– Eu vou sentir sua falta, Lua! -Sophia quase me esmagou em seus braços.
– E o Liam…? - pergunto triste.
– Ele não quis vir, Lua…me desculpe… -ela me olha com pena.
– Tá tudo bem…
– Lua…temos uma surpresa para você… -minha avó me entrega uma caixa.
– O que é? -pergunto e vou balançar para saber o que é.
– Lua, não faça isso, apenas abra, querida. -Ela me impede.
Quando eu abro a caixa, era um belo filhote de gato preto.

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