Supremo Alfa - Livro II - Pride - G.J
Supremo Alfa - Livro II - Pride - G.J
Supremo Alfa - Livro II - Pride - G.J
GJA Guimarães
Sinopse
Noah
Com o tempo o que sentia por
Lua me deixou dormente, como um
sentimento bom que eu já nem lembrava
mais, só uma lembrança... 17 anos...
Ninguém é de ferro por dezessete anos...
Ela disse que voltaria, e mesmo ainda a
esperando em todo o pôr-do-sol, mesmo
ainda cultivando suas flores, decidi
seguir com a minha vida.
Há sete anos as matilhas estão
em paz, está uma calmaria tremenda,
tanto que tenho muito mais tempo para
me deidicar os negócios da minha
empresa de contrução civil. E mesmo
com a chegada da paz em nosso povo,
mesmo assim, não tenho noticias dela,
nunca tive notícias dela. Talvez perder o
nosso filho a tenha deixado depressiva,
talvez Lua não tenha suportado tudo o
que aconteceu. Kailan me olha de forma
preocupada.
-Estou bem, garoto.- ele faz um
bufo com a boca dizendo que não
acredita, mas não querendo discutir.
-Convidei Lidia para a janta de
hoje, já arrumei a mesa lá fora, na
verdade, ela deve estar chegando.
-Kailan...- o repreendo, o garoto
nos últimos anos tem se tornado a porra
de um casamenteiro.
-Ela é sua namorada, vocês estão
juntos a quase dois anos, pai!
Prefiro não discutir, então Kailan
sobe e diz que vai tomar um banho, eu
vou até a porta porque sei que ela está
ali. Lidia me olha com seu sorriso doce
e toca de leve com os seus lábios nos
meus, eu sorrio. É fácil gostar dela.
Lidia se mudou para a cidade há alguns
anos atrás, ela é professora no colégio
em que Kailan estuda e em uma das
reuniões, me peguei admirando a forma
com que ela tratava os garotos, o
carinho e amor em cada palavra e gesto.
Percebi que nunca mais havia olhado
para uma mulher assim, a admirando.
Então meu olhar admirado desceu pelo
seu corpo e encontrou algo realmente
belo para apreciar. Com alguns
encontros a mais, a convidei para sair e
desde então estamos em um
relacionamento sólido e estável mesmo
ela sendo uma humana. Talvez esse seja
o fato crucial, nunca gostei de namorar
humanas, elas são frágeis, mas Lidia tem
uma certa força, um certo fogo no olhar.
-Ei- digo enquanto puxo-a para
mim a beijando do modo em que deveria
ser beijada. Seu rosto está levemente
vermelho quando me afasto- Vem, hoje a
janta vai ser na varanda- ela sorri com a
ideia, seu sorriso doce me afeta de um
modo bom.
-Amo seu jardim- quando passo
por ele automaticamente paro e admiro
as rosas, as rosas que são para ela.
-Eu também amava- é o que
respondo quando viro-me de costas e
pego em sua mão. Lidia retira suas
sandálias, a grama está úmida, ela se
senta em meu colo e beija meu pescoço
ascendendo o meu corpo enquanto sorrio
com a sensação. Meu celular vibra me
fazendo rosnar, ela sorri.
-Adoro esses sons que faz.
Se ela soubesse... Atendo o
celular.
-Chefe, não vai acreditar em
quem está aqui...
Ouço um motor rugir e uma moto
estacionar em frente a minha casa, duas
mulheres, ambas com jaqueta de couro,
botas e calças apertadas, descem da
moto. Não reconheço o cheiro de
nenhuma das duas, mas quando a
primeira desce e tira seu capacete, todo
o meu mundo para.
Lua...
Ela está com o cabelo longo, um
pouco mais madura e muito mais bonita
do que já era, algo que nunca pensei ser
possível de acontecer. Mas ela não olha
para mim, olha para algo atrás de mim,
ela está olhando para Lidia. Meu corpo
tenciona, prevejo uma confusão, Lua
nunca foi uma pessoa calma e Lidia
sendo humana, isso poderia acabar de
forma feia e bem rápido.
-Oi Noah, é bom te rever.
Ela diz como se fôssemos
conhecidos que não se veem há muito
tempo, cerro os meus olhos, como ela
pode agir dessa forma depois de tanto
tempo? Ela se aproxima de mim, mas
olha para os lados procurando por algo.
A mulher que estava com ela vem até
nós e Lua diz:
-Tira o capacete, Sarah.
Sarah... Não sei por que, mas
minha mente se alegra com esse nome.
Quando a mulher tira o capacete
e me olha, os olhos como os de Lua
encaram os meus, só que seus cabelos
são escuros, tão negros quanto os meus...
Automaticamente eu sei quem é ela,
minha filha. E mesmo que parte de mim
saiba disso, a outra parte ainda teima em
dizer que é impossível, eu, ela... Estava
morta.
Lua olha pra a garota com amor e toca
seu rosto com o olhar que um dia ela
direcionou para mim.
-Preciso ir, tenho que resolver
algumas coisas na cidade.- Lua diz para
a garota que faz um bico gigantesco não
gostando do que ouviu.
-Mãe! Pensei que fosse ficar
aqui comigo!- Mãe?! Será que é mesmo
ela, minha filha?
-Os planos mudam, meu amor.
Obedeça seu pai.- ela olha para mim-
cuide dela Noah.
Lua caminha para a saída, ela
vai simplesmente ir embora?
-Meu amor- ela diz quando já
está a uma boa distancia e tanto eu
quanto a garota a olhamos- seu presente.
Ela joga as chaves da moto e a
menina pega no ar.
-Sério?!- a garota grita e
continua a dizer com um sorriso
gigantesco estampando o seu rosto- Sabe
que não vai ter volta, certo? Nunca mais
irei te devolver e ninguém nunca mais
irá dirigi-la a não ser eu!
-Tenho certeza disso! Mas não
vá se matar em cima dela, ficaria com a
consciência pesada, e , não se preocupe,
vou pegar carona com um dos caras da
segurança.
-Se você não conseguiu me matar
por 17 anos porque morreria sozinha
agora?
Elas trocam frases e
brincadeiras de modo tão espontâneo,
filha, eu tenho uma filha?
-Sabia da minha existência,
certo?- ela corta os meus pensamentos, e
o que eu deveria dizer?
-Quem é ela? Quem são as duas?
- Lídia me questiona e novamente não
sei o que falar, porque minha mente está
em Lua e no modo como ela
simplesmente partiu, e porque não
consigo sentir mais o seu cheiro? Foi
assim que conseguiu se esconder da
nossa raça por tantos anos?
-Sou a filha dele e aquela era
minha mãe.- vejo seu sorriso e é como
ver Lua a alguns anos atrás.
-Pensei que só tivesse um filho.-
não consigo desviar os olhos dela,
minha filha.
-Minha mãe disse que lhe deixou
uma carta falando sobre a minha
existência, sabia sobre mim, certo?- E o
que posso dizer? Que primeiro pensei
que Lua estivesse depressiva e depois
louca? Digo que a enterrei há anos atrás,
na época em que Lua foi sequestrada e
eu não pude mais sentir o seu cheiro?
Digo que preferi acreditar nos meus
olhos e não na palavra de sua mãe?
-Ela disse, mas eu não...-
acreditei, eu não acreditei em Lua e o
que eu perdi por isso, quanto eu perdi
com isso?
-Quem diabos é ela? – Ouço a
voz de Kailan se misturar com a de
Sarah, meu filho caminha até nós com a
mandíbula cerrada.
-E quem é ele?- Sarah pergunta.
-O que ela está fazendo aqui?-
Kailan pergunta logo depois.
-Este é Kailan, filho de Noah.
Isso está começando a ficar confuso,
Noah. Essa é sua filha e ela não sabe da
existência do seu filho?
-Filha? Ela esteve aqui?- meu
menino me olha com o olhar com puro
ódio, mas eu posso ver abaixo dessa
camada e identifico dor, mágoa.- e o que
ela fez? Fugiu novamente? Claro, é tudo
o que ela é capaz de fazer, sair
correndo.
Vejo o olhar de Sarah brilhar,
brilhar como o de Lua quando estava
ficando muito irritada.
-Ah, esse é o menino de um olho
de cada cor, desculpe não consegui te
reconhecer. Minha mãe me falou muito
sobre você, só que esqueceu de dizer
que você é um babaca.
Sarah rosna ao mesmo tempo que
Kailan, ambos dão um passo a frente se
encarando e sinto a magia do lobo deles
vibrarem, estão prestes a se transformar.
-Lídia, acho melhor você ir,
preciso resolver isso.- digo me
desculpando e Lídia me dá um beijo se
despedindo, não me passa
desapercebido que Sarah encarou isso e
ficou mais irritada ainda.
Quando sei que Lídia já foi
embora, seguro nos ombros de ambos e
sacudo de leve para chamar atenção.
-Já chega, os dois! Vamos entrar,
precisamos conversar.- caminho até a
sala segurando o braço de ambos e me
mantendo sempre entre os dois. Sei o
quanto Kailan pode se descontrolar e
não quero que ele a machuque.
-Ela não vai ficar aqui.- é a
primeira coisa que meu filho diz.
-Kailan...- o repreendo e olho
para Sarah que agora não parece mais
com tanta raiva, ela olha para os lados e
está com um leve rubor em sua face.
Toco em seu queixo a forçando a olhar
para mim.- você é realmente a minha
filha.
Ela sorri sem humor.
-Sinto que deveria pular e gritar:
surpresa!- ela faz um gesto com as mãos
para demonstrar sua frase. Se levanta e
começa a discar um número ao telefone.
-O que está fazendo? – a encaro
enquanto Sarah anda de um lado ao
outro.
-Ligando para a minha mãe, você
nitidamente tem uma vida perfeita, não
quero atrapalhar.- ela diz enquanto
revira os olhos. Ouço o telefone
chamar...
-Sarah, não se importe com Kailan, ele
também foi pego de surpresa e tenho
certeza que não falou de propósito. E eu
realmente não esperava que estivesse
viva, eu... Sofri por sua morte há muitos
anos atrás e agora descubro que está
viva. Não pediria presente maior que
esse de te ter aqui, só te peço, me dê
uma chance para que eu possa te
conhecer.
Lua atende o telefone do outro
lado.
-Sarah, está tudo bem? Merda,
consigo ouvir sua respiração, está
bem? Estou voltando, não saia do
lugar!
Vejo seu olhar me analisando
quando toma sua decisão.
-Não mãe, estou bem. Só
queria saber se teve noticias de tio Ian.
-Merda, não me mate de susto!
Ele está bem, disse que irá te ver em
breve.
Ian... Então ela esteve com ele
por todos esses anos?!
-Hmmm, e tia Sofi?
-Está bem, também está
viajando para a cidade neste momento.
Não se preocupe tanto, minha menina,
estaremos bem e não irá demorar para
nos vermos novamente.
-Eu sei...
-Sarah, o que há de errado?!
-Nada, só fique segura, certo?
Sabe que não gosto quando sai sozinha.
-Eu deveria ser a mãe, se
lembra? E por ser sua mãe eu digo, não
seja tão séria, se divirta!
-Amo você.
-Sempre.
Lua desliga o telefone e Sarah
me encara, respiro novamente.
-Kailan vai lhe mostrar o quarto
de hóspedes.
-Eu não...- meu filho começa a
dizer e o corto com um olhar.
-Kailan...- olho de modo
ameaçador para meu filho e ele engole
em seco- Como estava dizendo, irá lhe
mostrar o quarto de hospedes, acredito
que esteja cansada.
Olho para ela que parece triste,
procuro em minha mente o que disse que
a deixou deste modo e não consigo
encontrar nada. Ela passa por mim e
caminha atrás de Kailan, o seguindo.
-Boa noite.- diz antes de
desaparecer na escada.
-Boa noite- Filha...
Sarah
Luana
Kailan
Bia
Sarah
Noah
Sarah
Caminho pelo corredor que Bia
me indicou, entro no escritório sem
bater. Demoro algum tempo para olhar a
imagem, ele ainda não viu todo o
conteúdo do pendrive, parou na
filmagem de quando eu disse a minha
primeira palavra, seu nome. Noah estava
de cabeça baixa e mesmo sabendo que
ele me sentiu entrar, não olha para mim.
Então eu me ajoelho, toco em seu rosto e
vejo uma briga interna em seu olhar,
vejo dor, sofrimento, saudade por algo
que nunca teve, eu sei, sei o que é isso e
reconheço. Porque eu senti saudade dele
por todos esses anos, eu senti sua falta
mesmo não o conhecendo. Então o
abraço enquanto repito internamente,
por favor, me abraça de volta, por
favor... Só me abraça de volta.
Sinto os músculos do meu pai se
retesarem ao redor de mim, então ele
começa com um carinho leve em meus
cabelos e beija o cume da minha cabeça,
eu suspiro respirando seu cheiro
amadeirado, estou sorrindo, com o
sorriso mais idiota que alguém pode dar,
lágrimas começam a cair no meu rosto,
sinto-o respirar forte e me afastar. Ele
limpa cada lágrima que cai e sorri. Eu
sorrio de volta.
-Mamãe tinha razão.- ele ergue
uma sobrancelha.
-Sobre o que?- sorrio ainda
mais.
-Seu sorriso é realmente lindo.
Ela costuma dizer que eu e você temos o
mesmo sorriso, o sorriso mais bonito do
mundo.
Acho que não foi uma boa
escolha de palavras, seu olhar se perde
em algo dentro de sua cabeça.
-Então... Vamos assistir ao resto?
- pergunto enquanto pego o controle e
me jogo em um sofá de couro. Meu pai
se levanta e caminha até mim com
passos incertos, ele está... com medo?
-Tem várias coisas engraçadas,
juro que não é tão chato quanto parece.-
digo sorrindo e ele senta-se ao meu
lado, eu me acomodo com a cabeça em
seu ombro e o abraçando de lado, ele
trava em seu lugar, mas logo suspira e
me contorna com seus braços.
Aperto play. Depois da filmagem
comigo lhe chamando de pai, tem uma
com tia Sofia me dando comida, uma
papinha de abóbora e eu faço tudo
explodir em sua cara, sempre choro de
rir quando assisto essa. Meu pai me
pergunta sobre Sofia, sobre o que ela é e
se foi a primeira vez que usei os meus
poderes. Ele me perguntou também
sobre minha mãe, sobre ela ter magia, a
verdade, é que desde que me lembro,
minha mãe, Sofia e tio Ian, possuem
magia. Então é isso o que respondo a
ele, vejo seu olhar pensativo por algum
momento.
A próxima filmagem é de Ian me
dando banho, depois tem outra de minha
mãe cantando para mim enquanto durmo,
passa uma com um lobo mel gigante
brincando comigo e eu gargalhando, a
próxima mostra tio Ian filmando
enquanto eu assisto um desenho, mas
minha mãe chega em casa alterada, ela
está sangrando e com um semblante de
preocupação, ela diz: precisamos ir. A
tela fica negra por um instante e outra
cena comigo um pouco mais velha
aparece, mas eu pauso o vídeo e olho
para Noah que me encara intrigado.
-Vão aparecer muitas cenas
como essas- dou de ombros- minha mãe
sempre chegou em casa machucada de
alguma forma.
-Quem a estava ferindo?- ele
rosna e sinto toda a sua raiva percorrer
meu corpo.
-Não sei, ela nunca me disse.-
ele acena com a cabeça para
continuarmos.
Estava em um parque na França,
andando em um velotrol, eu corria atrás
de um cachorro e tentava segurar em seu
rabo enquanto minha mãe e Ian estavam
sentados em uma toalha de piquenique e
gargalhando.
Na outra gravação eu perguntava
por que minha mãe conseguia se
transformar em loba e eu não, ela me
dizia que era muito nova e eu fiquei
emburrada. Lembro que fiquei
emburrada por quase dois dias, até que
em uma noite, minha loba veio. A
próxima gravação é de uma loba branca
de olhos azuis pulando em cima dos três.
Estava com Ian na outra
gravação e ele estava me ensinando o
que fazer quando um garoto se
aproximar de mim, dou risada ao me
lembrar da memória.
Afaste um pouco os pés, gire seu
ombro para trás e depois jogue todo o
seu peso para esse lado, não se
esqueça de manter os punhos firmes.
E porque eu deveria socar um
garoto caso ele me toque?-questionei.
Talvez você não saiba na hora
porque está batendo, mas com toda
certeza ele irá saber por que apanhou.
A gravação muda para outro dia.
Você o que?!- minha mãe gritou.
Eu fui expulsa do colégio por ter
socado a cara de um garoto, adivinhem
por quê? Eu cruzo meus braços de modo
teimoso e minha mãe cerra seus olhos
para Ian.
Você fez isso!
Ele ergue as mãos em sinal de
rendição.
Ian! Ela não pode socar as
pessoas!
Ela não vai socar todo mundo.
Só qualquer moleque que se
aproximar.- meu tio responde.
Eu desisto! – ela joga as mãos
para o ar e aponta para mim
Você está de castigo!- depois
olha para meu tio e lhe aponta o mesmo
dedo –E você também!
Eu e Ian nos olhamos de modo
cumplice e ele me piscou um olho. O
tadinho não soube o que fazer quando eu
descobri que garotos servem para outras
coisas além de saco de pancadas.
Então nos mudamos novamente.
Fomos para a Síria, lembro-me que meu
poder e meu lobo nesta época estavam
descontrolados, parei de ir para a escola
por causa disso. Então minha mãe
começou a me treinar. As próximas
gravações são sobre isso, sobre luta,
força, dedicação e principalmente sobre
controle. Naquele mesmo ano eu voltei a
ir a escolas normais. Então começam as
gravações de peças de teatro e recitais,
bailes, fantasias ridículas, meu primeiro
encontro... Gemo quando essa cena
aparece, o garoto quase saiu correndo
quando olhou para Ian carrancudo e com
seus fortes braços cruzados.
Apareceram várias outras gravações
comigo e com minha mãe construindo a
moto e conversando, conversando
muitas vezes sobre a matilha, sobre as
pessoas que ela deixou para trás, sobre
meu pai.
Eu gravo o vídeo quando a moto
fica pronta, minha mãe me dá um
capacete e nós partimos até uma via
deserta.
Isso é incrível! – eu grito para
ela.
Minha mãe tira o capacete e joga
em algum canto, ela só faria isso se
soubesse que estávamos realmente
sozinhas, então faço o mesmo que ela e
sinto o vento cortar meu rosto e
bagunçar meu cabelo.
Está pronta? – ela grita.
Pronta para que?! – respondo.
Minha mãe nivela a moto, se
apoia no guidom da frente e está agora
de ponta cabeça.
Você é louca!!-grito para ela.
Ela pisca para mim de ponta cabeça.
Dirija.
Quando vou para o assento da
frente ela pula para o de trás.
Mãe! Você poderia ter quebrado
o pescoço, estamos a 110!!
Não morreria por causa disso!
Então ela fica em pé no banco de
trás, abre seus braços, eu olho para cima
e a vejo sorrir. Não lembro de ter visto
nada tão bonito quanto essa cena. Meu
coração aperta com o susto que ela me
dá em seguida. Com os braços ainda
abertos, um forte vento passa por nós, e
ela como uma pipa, sobe com ele.
Mãe!
Paro a moto freando e queimando o
pneu, ouço seu riso antes mesmo de vê-
la. Cruzo meus braços.
Pensei que fosse me ensinar a
dirigir e não a testar o meu coração!-
digo irritada.
Você já sabe dirigir uma moto e
carro, eu vim aqui te ensinar sobre um
dos elementos, vem, desliga isso.
Nas próximas filmagens
aparecemos eu e minha mãe em
diversos cenários ao redor do mundo,
em diversas festas, cozinhando,
brincando, eu e Ian lutando, eu e Sofia
treinando magia...
Enquanto os vídeos vão
passando, eu narro cada coisa e ele vai
sempre me fazendo mais perguntas, sem
perceber, estamos sorrindo juntos e o
dia passa. Ouço uma gritaria lá embaixo,
parece que alguém chegou, então pauso
a reprodução.
-Posso ficar com isso?- ele me
pergunta.
-Claro que pode, pai, foi
gravado para você- então percebo do
que lhe chamei e olho para cada canto
menos para o seu rosto. Ele segura o
meu queixo.
-Gosto de como isso soa vindo
de você, filha.- ele diz e o abraço.
-Acho melhor irmos antes que
minha irmã e Raquel destruam a casa.
-Raquel?!- me afasto dele e
corro descendo as escadas, ela é
exatamente como minha mãe sempre
disse. Vejo seus olhos me reconhecerem
e eu corro e lhe abraço.
Entre amigos
Raquel
Ligação on
-Oi meu amor!- olho para Noah,
todos nós ouvimos a voz masculina que
atendeu ao telefone de Lua.
-Não acho que você seja a Lua.
-E eu não acho que você seja a
Sarah. – fico em silencio e ele também,
consigo ouvir sua respiração, ouço no
fundo a voz sonolenta de Lua ‘quem é
Ian?’
-Ian? Oh meu Deus! É você?
-Raquel?
-Sim, diga a estranha que
estamos aguardando ela para a janta, os
rapazes irão chegar a noite também,
então estejam aqui.
Ele demora algum tempo para
responder, tempo demais.
-Estaremos aí.
Ligação off
Lua
Ligação on
-Senhora.
-Sofia, já disse que poderia me
chamar de Lua, não entendo para que
tantas formalidades.
-Nós estamos penando para
juntar as pessoas que lutarão ao seu
lado, pessoas que precisam reconhecer
o seu título.
Suspiro cansada dessa conversa.
-Tudo bem, o que aconteceu?
-Os anciões disseram que não
reconhecem o seu lugar na hierarquia
dos clãs, não acreditam em sua
previsão, não irão se envolver.
Droga...Eles eram os mais
poderosos, sem o apoio dos anciões,
várias pessoas irão nos virar as costas
também.
-Eles mudarão de ideia quando
começarem a ser atacados pelas
sombras.- rosno para Sofia.
-Lua, você está bem? Sabe que
não pode proteger a todos eles não é?
-Ian já chegou, quando você
vem?- Decido mudar de assunto, sei
quais as consequências para tudo o que
faço, consequências...
-Merda Lua, não vou deixar que
se mate por causa de um bando de
idiotas! Eu devo chegar à noite.
-Vá direto para a casa de Noah,
iremos jantar lá.
-Ok, até.
Ligação off
Noah
Leandro
Noah
Alec
Luana
Sarah
Noah
Luana
Noah
Noah
-Kanut...
Ela repete e sinto o meu corpo
tentar se dividir em dois;
Não lute! – ouço a voz do meu
lobo.- Você está tentando lutar comigo,
Noah, não lute! Ela precisa de mim,
então deixe-me fazer o necessário.
-Kanut... Esse é o seu nome?-
digo já sentindo outra fisgada.
Pare de lutar! – ele rosna.
Respiro profundamente e quando
abro meus olhos novamente, não estou
mais em meu quarto, estou em uma
cabana. Olho para baixo e não
reconheço meu corpo, mas mesmo assim
sei que sou eu. Meu corpo se move sem
o meu consentimento, ele fareja o ar e eu
reconheceria esse odor em qualquer
lugar do mundo, é Lua. O cheiro vem de
uma mulher de cabelos negros e olhos
brilhantes, seu sorriso é lindo e da
mesma forma que sei que sou eu e ao
mesmo tempo não sou, também sei que
essa mulher é Lua e ao mesmo tempo
não é.
-Companheira.- Dizemos para
chamar a sua atenção.
***
Depois do beijo, Briana não
disse nada mais, só o observou
enquanto limpava a caça e lhe fazia
uma sopa. O guerreiro também trocou
suas ataduras e limpou seu ferimento
com um unguento muito bem feito, ela
havia notado. Briana então dormiu por
toda a noite e quando abriu seus olhos
ao amanhecer, seu corpo e mente
estavam descansados de tudo o que
havia passado, mas seu coração ainda
estava aos saltos. Olhou atentamente
ao redor da cabana e percebeu que ele
não estava lá, pensou em fugir
novamente, mas já estava cansada
dessa eterna corrida. Querendo
respirar um pouco de ar puro, na ponta
de seus pés, Briana caminhou até o
lado externo, sentiu a energia da
floresta e seu corpo e magia se
encheram aos poucos com essa força.
-Companheira.- ela o ouviu
chamar e se descobriu admirando-o ao
longe.
Briana sabia que isso tinha que
parar. Afinal, não era saudável
começar a nutrir sentimentos pelo
homem que havia matado seu irmão
Loki.
Fechando seu semblante,
Briana andou em direção ao guerreiro
de modo decidido, ele, percebendo a
séria mudança de humor nela, ficou já
na defensiva.
A verdade era que Briana preferia a
morte a se apaixonar pelo homem que
tinha o sangue de sua família em mãos,
porque era isso o que estava
acontecendo, a cada segundo ela
passava a admira-lo um tanto mais.
-Comp...
-Não!- Briana cortou a fala do
guerreiro. Tê-lo chamando-a de
companheira estava começando a soar
bem aos seus ouvidos e isso não
poderia acontecer.
-Meu nome é Briana, Briana do
clã Aesir e você é o homem que matou o
meu irmão.
Ela vê quando o guerreiro une
as suas sobrancelhas e até mesmo ela
tem duvidas da sentença que acabara
de proferir.
-Me chamo Kanut, líder do clã
Sigurd e não me recordo de jamais ter
matado alguém do seu povo.
-Não me tenha por tola, Kanut-
Briana estava consternada, pois a
memória de seu irmão ensanguentado
ainda assombrava suas noites. Ela
andou de um lado ao outro sentindo
sua magia pinicar-lhe por todo o
corpo.
-Briana- sua voz era grossa e
forte, não deixando margem para
dúvidas- dou-te a minha palavra de
honra, jamais feri alguém do teu clã.
-Mas... Meus irmãos me
mostraram o corpo, disseram que Loki
foi até as proximidades do seu clã, pois
estava curioso em relação a vocês e
vocês o mataram como um aviso.
-Nós assustamos os curiosos
bisbilhoteiros para que não voltassem,
nunca os machucamos, não somos
bárbaros.
Estranhamente Briana sabia
que Kanut falava a verdade, ela
acreditava nele e neste momento, uma
realidade lhe caiu como uma rocha
sobre a cabeça.
-Pelos Deuses...- Briana
sussurra.
-Acalme-se Briana, vamos
descobrir quem fez isso com seu irmão.
Com a preocupação e carinho
de Kanut, lágrimas enchem os olhos
dela.
-Não chore minha linda- ele diz
de modo angustiado, o que só faz com
que o desespero de Briana aumente.
-Ah Kanut! Eu te feri! Eu te
amaldiçoei!
-Maldição? Você fala do lobo?
Briana responde só com um
aceno fraco de cabeça, já não tinha
forças para usar suas palavras, estava
derrotada com o que havia feito.
-O lobo me trouxe até você,
Briana. Me aceite dessa forma e
transformaremos uma maldição na
maior das dádivas. Seja minha, Briana.
Com os olhos cheios de
lágrimas, Briana puxou o guerreiro
para si, selando então seus lábios e
seus destinos por toda a eternidade.
***
Kanut
Luana
Sarah
Ligação on
-Oi mãe.
-Oi amor.
-Você não quer saber como ele
está?
-Sarah... Eu e seu pai temos
nossos assuntos e você não deveria se
preocupar com isso.
-Ela não veio aqui nenhuma vez
sequer, a tal da Lídia.
-Sarah...
-Tudo bem, não digo mais nada.
Mas mãe, eu sempre estive ao seu lado,
sempre procurei não te julgar, mas isso
está ficando difícil porque você não diz
o que está acontecendo.
-Logo mais você irá saber, todos
irão. Não se preocupe. Mas foi bom que
me ligasse, amanhã suas aulas irão
começar, vou te levar para casa depois
do colégio, eu e seu pai precisamos
conversar.
-Certo! Mas sabe que eu não
preciso ir para escola... Poderia
concluir meus estudos em casa e...
-Não, isso não está em
discussão. Você terá professores chatos
e colegas insuportáveis, vai a bailes
com músicas bregas e irá se divertir.
-Isso não parece animador... –
ouço-a rir do outro lado da linha, minha
mãe parece mais leve e isso me deixa
feliz.
-Será, eu te prometo que você
terá um futuro e uma escolha, Sarah,
todos vocês terão.
-O que quer...
-Preciso ir, te amo!
Ligação off
Noah
Sarah
Sarah
Luana
Sarah
Luana
Noah
Bia
Luana
Sarah
Noah
Rosno ao ouvir as palavras de
Lua, mas Lídia me toca e é como se tudo
sumisse... Ela tem esse dom de me trazer
paz. E paz, é tudo o que quero no
momento.
-O que está acontecendo, Noah?
– ela me pergunta de modo preocupado.
-Sabe que Lua é a mãe de minha
filha, não é? – Lídia acena – ela vai
passar um tempo por aqui.
O olhar de Lídia parece
magoado e isso me faz mal.
-Nós teremos a casa cheia,
vários outros parentes também virão
e...- lembro-me do que Lua disse: todos
os humanos irão morrer. – quero que
você venha morar comigo.
-O que?!
-Por favor, Lídia...- não há mais
dor, solidão... Não há mais nada quando
ela me toca.
-Tudo bem... Mas você tem
certeza?
-Toda certeza do mundo. – seus
lábios encostam nos meus e novamente
sinto aquilo, nada... Paz... Eu fiquei tanto
tempo querendo estar em paz, é estranho
que uma pessoa possa me proporcionar
isso.
Desço com Lídia pelas escadas,
meus lobos me reverenciam e eu só sinto
uma necessidade louca em protege-la,
nada mais importa.
-Pai, aonde você vai? – ouço
uma voz conhecida e viro-me
respondendo a sua pergunta, Sarah...
-Vou até a casa de Lídia buscar
algumas roupas, ela vai passar algum
tempo conosco.
Viro-me novamente, estava
quase indo embora... Lídia solta minha
mão e abre a porta do carro. Eu estava
quase indo embora quando essa fisgada
ficou maior... Olho, procuro e a vejo...
Lua está beijando Ian... Rosno, algo
dentro de mim acordar, como se
estivesse rasgando camadas dentro do
meu próprio corpo, então ela me toca,
Lídia... E sinto novamente a mesma
paz... Vou embora.
Sarah
Noah
Lua
Ravi
Estou de olho em minha bruxinha
o dia inteiro... minha bruxinha...Gostei.
Sofia... Ela sai sem chamar
atenção. Estranho... Sofia vive afastada
de todo mundo, com seus braços
cruzados, ela evitar tocar em qualquer
coisa.
Vejo-a caminhar em direção ao rio...
Deixo-a pensar que ninguém percebeu
seu caminho. Então saio de fininho e vou
atrás dela. Tiro minha roupa e a deixo
próxima a uma árvore, chamo meu lobo
e a sigo como se estivesse caçando a
uma presa. Meu lobo gostou da ideia.
Minha bruxinha estava
caminhando em direção ao rio, eu paro
quando chego próximo à margem, estou
me escondendo atrás de moitas, mas dá
para ter uma bela visão de Sofia daqui.
Ela tira suas sandálias e caminha em
direção à água... Será que ela vai
mergulhar? Gostaria de ver a cara dela
se eu fosse lá, nu e me juntasse. Deixo-
me imaginar a cena por alguns segundos
e quando olho novamente para ela...
Sofia estava linda. Seus cabelos
pareciam mais dourados que antes... tão
dourados quanto ouro... Ela agora estava
com um vestido solto, ela estava... Ela
não estava dentro da água e sim acima
dela. Há uma tiara em sua cabeça com
uma pedra azul que desce ao meio de
sua testa. Então ela ergue uma mão e
água se levanta como um braço... Sofia
gira e move os braços e ao seu redor a
água... A água dança com ela em
movimentos perfeitos. Ela sorri... Pensei
que a bruxinha fosse bonita, mas nunca a
havia visto sorrir. Meu lobo está sentado
e com a língua do lado de fora, babando
literalmente.
Ela gargalha, a água se ergue
cada vez mais... Abaixo dela, acima...
Ela flutua... Tão perfeita...
Eu não a incomodo, sinto que ela
está em um momento sagrado, especial.
Então só observo... Como um
perseguidor, dou risada ao pensar nisso.
No que essa mulher está me
transformando?!
Depois de quase meia hora, as
águas se acalmam e ela anda até a
margem. Eu corro de volta. Visto-me e a
espero...
Quase na saída da floresta, ela
me vê.
Caminho em direção a Sofia e a
cada passo meu, ela dá um para trás....
Até que seu corpo atinge o tronco de
uma árvore. Eu não toco nela...
Estou a um milímetro de fazer
isso, mas não faço. Sussurro em seu
ouvido.
-Ah Sofi... Tão linda...- cheiro
seu pescoço, mas não sinto o frenesi de
um companheiro, deuses, poderia ter
sido ela...-eu te vi.
Vejo seu corpo travar.
-E agora minha bruxinha... Eu
quero saber mais...
Me afasto, porque sinceramente,
estou com uma merda de vontade de
agarra-la. Deixo Sofia lá... Ela fica por
uns quinze minutos até que volta e
caminha em direção a Lua, mas ela me
olha. Eu sorrio e pisco.
Esse é só o início de um jogo
prazeroso...
Alec
Luana
Sarah
Sarah
Sarah
Todos na sala estavam sem
entender o atraso da professora, eu só
sentei no mesmo local da ultima aula e
aguardei. Alan está me enchendo de
perguntas e isso me irrita... Hoje não
estou com paciência. Sinto um
desconforto quando a pedra que meu tio
me deu brilha um pouco de modo
estranho em meu pescoço.
-Sarah... fico feliz em te ver
novo, como foi o fim de semana?
Nada demais, uma criatura
esquisita quase mata minha mãe...
Descobri que eu estou em um mundo
que faz parte de quatro em todo o
cosmos , será que isso significa que
estou sentada em alguém?! E não
vamos esquecer do apocalipse...Essa é
a melhor parte!
-Tudo normal- é o que respondo-
Alan sorri, sorri demais para a minha
resposta tão seca, estranho...
Começo a folhear um livro, estou
com várias folhas de papel e começo a
separa-las quando entram Lídia, Bia,
Loren e Kailan... Estou tão irritada com
a presença de Lídia que passo meu dedo
com força em uma das bordas e o corto.
Enquanto todos entram na sala, Alan
pega suas coisas e sai em disparada, que
cara esquisito...
Lídia está sorrindo, porque sou
só eu que odeio essa mulher de graça?!
Isso não pode ser normal... Eu nunca
odiei alguém, muito menos com essa
intensidade, e Lídia traz a tona em mim
um instinto esquisito... Eu quero
proteger as pessoas dela, mas por quê?!
Quando Lídia vai se sentar em
sua cadeira, eu ponho minha mão
embaixo da mesa e movo meus dedos, a
cadeira se move para trás e ela cai de
pernas para o ar... A sala toda ri, eu não,
fico séria e olho em sua reação: ela fica
um pouco vermelha e sem graça, sorri
fraco e pede desculpas... Uma reação
normal.
Alguém me passa um bilhete,
nele há algo escrito: PARE COM
ISSO!
Meus olhos se viram para trás
em busca de quem o envio e me deparo
com Kailan e sua carranca
característica. Como diabos ele sabe
que fui eu quem fez isso?!
A aula ocorre normalmente...
Lídia tenta fazer a ponta de um lápis que
eu quebro o tempo inteiro com minha
magia. Quando ela escreve no quadro,
eu fixo suas letras lá com magia e ela
não consegue apagar de forma alguma.
Talvez eu também tenha quebrado seus
saltos e ela tenha levado um tombo...
Não me orgulho do que estou fazendo,
mas é... eu quero que ela saia, que ela
desista, quero que Lídia vá embora.
No intervalo, quando Lídia abre
seu lanche na sala dos professores, irá
perceber que ele está cheio de baratas.
-Pare com isso! – Kailan senta
na mesma mesa que estamos eu, Loren e
Bia.
-Parar com que? – pergunto com
um sorriso angelical.
-Você sabe com o que, pare de
sabotar Lídia! Ela é uma boa pessoa e
não merece suas criancices!
-Pera aí, foi você? – Bia me
pergunta espantada e logo depois sorri-
cara, eu te amo!
Kailan olha para ela sério.
-Claro que você iria apoia-la
nessas criancices, vocês são exatamente
iguais! – ele diz para Bia e por um
segundo eu vejo mágoa nublar seus
olhos, mas logo ela fita Kailan de modo
determinado e o responde.
-Claro que apoio! Lídia é uma
intrusa no meio da nossa família, eu
protejo os meus!
-Proteger do que?! Do ego de
vocês que acreditam que sabem o que é
bom para os nossos pais?! Eles são
adultos!
-Eu não gosto dela e não a quero
com nosso pai. – digo firme encarando
Kailan.
-Há dois anos atrás nosso pai
estava destruído, você sabe quem o
ajudou a superar sua dor?! Lídia. O que
você queria?! Que ele ficasse sofrendo
para sempre?! É isso o que você iria
querer para ele, Sarah?! É assim que
você pensa que o ama?! Isso não é amor,
se chama egoísmo! Eu estive lá com ele
enquanto Noah plantava as rosas, por
cada dia em que ele esperou Lua, eu o
estava vendo desmoronar em minha
frente e não podia fazer nada! Não tire
isso dele! Se você o considera pelo
menos um pouco, deixe-os em paz! Isso
é sobre o que o nosso pai quer e não
sobre o que você deseja!
Kailan grita tudo isso em minha
cara e vai embora, todos agora me
olham... Será que eu estou sendo
egoísta? E se ele a amar? Isso é um
absurdo, certo? Ele não a amaria... Ou
amaria? Faço uma careta interna, nunca
pensei em ter uma madrasta, mas talvez
essa seja a minha realidade.
A pedra mágica
Lua
Sarah
Sofia
Kailan
Estava na direção levando as
garotas de volta para casa e quando
estávamos alcançando o território de
meu pai, Lídia ficou indisposta, ela
disse que estava enjoada e correu para o
banheiro para vomitar assim que
estacionei o carro, estranhei o fato, mas
logo liguei o mal súbito às besteiras que
Sarah andou aprontando com a mulher
hoje.
A tarde se passou
tranquilamente, Lídia não saiu mais do
quarto, meu pai não parou quieto
resolvendo coisas com lobos... Os lobos
estavam inquietos, não queriam ser
inúteis... Até mesmo Noah não queria
ser protegido por Lua... Ele queria lutar,
acho que assim que todos nós nos
sentimos.
No fim da tarde, Lua resolve unir
tanto lobos quanto bruxos em uma
reunião, muitos se perguntavam como os
lobos iriam ajudar contra o que estava
por vir... Afinal, no ataque da harpia nós
havíamos sido inúteis, ficou bem claro
que magia se combate com magia...
-Vocês estão irritados porque
pensam que estão sendo protegidos, mas
não estão. Vocês são lobos, uma raça de
orgulho... Hoje me emociono ao ver que
o Supremo conseguiu transformar todas
as matilhas em uma única Pride, porque
é assim que deve ser, afinal, foi assim
desde o inicio... – ela olhou para cada
um ali – quem de vocês sabe como os
lobos surgiram?
-Nós só surgimos, como
qualquer outra coisa...- alguém
responde.
-Não existe vida que surja do
nada e isso não foi diferente com os
lobos. Eu há muitos séculos atrás e
tomada por um ódio imenso, amaldiçoei
o líder de um clã de guerreiros. Pensei
que ele tivesse matado meu amado
irmão e o amaldiçoei com aquilo que
julguei que ele era: uma besta. Kanut foi
o primeiro lobo, o lobo provindo de
uma maldição.
Houve murmurinhos na sala e
Luana esperou que eles se acalmassem
para continuar.
-Eu fui expulsa do meu próprio
clã por usar uma magia de sangue, uma
magia proibida... Saí sem rumo pelo
mundo, mas eu sempre tive uma
sombra... Um imenso lobo sempre me
seguiu. – Lua olha para Noah de modo
apaixonado ao contar a estória de sua
vida passada- no início, pensei que ele
quisesse me matar, então descobri que
Kanut nunca seria capaz disso, pois tudo
o que ele queria era me proteger... Kanut
me chamou de companheira e cuidou de
mim quando a minha própria família me
tratava como uma traidora. Ele me levou
para o seu clã e seus guerreiros juraram
me proteger com sua vida... Vi como
Kanut tratava seu lobo, como uma
dádiva, uma benção... Ele costumava
dizer que o lobo era o milagre que o fez
me encontrar no mundo e dentre todas as
pessoas... Então, os guerreiros de Kanut
me fizeram um pedido, eles gostariam de
dividir a benção que cedi a Kanut...
Algumas noites depois eu lhes dei meu
sangue e fiz novamente o ritual, quando
Kanut me mordeu, ele me transformou
em loba selando assim nossos destinos
em união e o destino de todo o nosso
povo, essa foi nossa primeira pride,
nossa primeira matilha. E todos vocês
são descendentes deles de algum modo.
O lobo foi criado através da magia,
magia corre por suas veias e vocês só
terão que aprender a controla-la. A
partir de amanhã cada lobo terá um guia
bruxo, hoje iremos descobrir qual o
ascendente de cada um.
Uma pedra transparente e
esquisita foi passada de mão em mão,
dependendo da cor que ela ficava, os
pares de lobo e bruxo eram escolhidos.
A pedra quando passou por minhas mãos
ficou com um tom de cinza e um homem
forte e musculoso ficou ao meu lado,
acenou para mim em reconhecimento,
parece que eu arranjei um professor.
Quando passa pelas mãos de Loren, a
pedra não ganha cor alguma, só fica
transparente e com um brilho tão forte
que nos obriga a colocarmos as mãos em
nossos olhos. Todos se viram para Lua,
pelo visto o que aconteceu agora não é
algo lá muito comum.
-Você fica comigo Loren. – ela
diz e uma Loren receosa vai até o lado
de Lua.
A pedra passa por Bia e ganha a
mesma tonalidade de quando estava em
minhas mãos, o homem ao meu lado fez
um sinal e ela caminhou em nossa
direção, parece que seriamos um trio. A
pedra continua passando de mãos em
mãos, sempre mudando de cor. Quando
para em Sarah acontece o completo
oposto ao que ocorreu com Loren, é
como se sombras saíssem da rocha e
tomassem cada canto do lugar, Sarah
joga a pedra no chão e dá um passo para
trás e Lua também a chama para o seu
lado. Quando Ravi toca na pedra ela
fica azul celeste e vejo quando Sofia
acena com a cabeça para outra pessoa
que fica ao lado dele, meu tio parece
magoado, mas não paro muito para
pensar sobre isso. O homem que vai me
treinar, descobri que seu nome é Tiago,
ele disse que nos aguarda ao nascer do
sol e que deveríamos ir dormir. Então é
isso o que fazemos, não olho para Bia,
tudo o que menos precisava no momento
era passar mais tempo ao seu lado.
***
Lua percebeu que os lobos se
animaram com a nova perspectiva de
poder de batalha, percebeu também o
olhar de Noah direcionado a ela, mas
mesmo assim, deu as costas e foi se
deitar, estava cansada...
Naquela noite Ian a abraçou
novamente, não era novidade tê-lo ali...
E ela agradeceu mentalmente por isso,
se perguntando se não seria egoísta tê-lo
ali nem que seja só para abraça-la, só
para que ela sinta que não está só...
Sarah estava em seu quarto,
olhando para a escuridão da noite e
imaginando quem seria tão poderoso a
ponto de entrar e sair da propriedade
sem que a barreira e nem os tantos
bruxos que existem no território
percebam... Um arrepio lhe sobe pelo
corpo ao pensar que talvez esteja a
mercê de uma força tão grande, pois ela
sabe que não chegou em casa sozinha...
Alguém a trouxe... Ainda sente seu toque
em sua face, seu cheiro rico e sua voz
que a inebriou... O estranho é que sabia
que a energia que havia saído da pedra
mágica era a mesma energia dele, por
isso se assustou tanto... Quem será esse
homem?
Noah deitou-se naquela noite
com Lídia ao seu lado, só agora a
mulher parou de vomitar, ele temia que
ela houvesse contraído alguma doença...
Logo o Supremo pegou no sono
profundo e a viu... Lua estava linda
usando um vestido azul, puxou em seus
pulmões e sentiu o cheiro de sua
companheira que fez tremer cada célula
de seu corpo... Quando ela o viu, deu um
imenso sorriso e correu para os seus
braços.
Você é meu, Noah – ela lhe diz
aos sussurros, o que lhe causa arrepios e
faz com que deseje estar dentro dela.
Sempre, eu te amo Lua... Nunca
esqueça. Isso é para sempre. – ele lhe
responde e lhe tira o vestido a deixando
nua para seus olhos contemplativos...
Sua mulher era linda... Noah a amou ali,
na relva, em sua terra... E nunca se
sentiu tão completo.
Treinamento e surpresas
Kailan
Luana
Tive uma ótima visita logo pela
manhã, Raquel veio ao meu quarto e
estamos como costumávamos ficar
quando éramos garotas, conversando
emboladas nos lençóis e tomando nosso
café da manhã. Pensar que algo entre nós
mudaria foi idiotice, agora percebo isso.
-Você vai ficar bem? – ela me
pergunta se referindo a Noah.
-Eu terei que ficar.
A conversa muda, falamos sobre
as crianças, ela me conta sobre suas
dificuldades em criar Loren e concluir
sua faculdade e eu lhe conto sobre como
foi criar Sarah enquanto fugia e tentava
unir pessoas a minha causa. Raquel está
preocupada com o que ocorreu com a
pedra mágica e Loren, eu disse que ela
não deveria se preocupar, pois o poder
de Loren provem da luz em sua mais
poderosa forma, enquanto o de Sarah
vinha da escuridão e seu mais sombrio
abismo... É claro que não falarei isso
para a minha filha, mas é algo que está
tirando o meu sono.
Uma Bia desesperada irrompe
pelo quarto e assusta tanto a mim quanto
a Raquel.
-Tia preciso te contar algo.- ela
diz desesperada. Raquel olha para mim
e se senta, Bia não parece se incomodar
com a presença da minha amiga ali.
-Calma Bia, o que aconteceu?
-A vaca loira está dizendo que tá
grávida, mas só pode ser mentira!
-Quem é a vaca loira? – Raquel
questiona com uma sobrancelha erguida.
-Lídia.
-Lídia está...
-Grávida.
Ergo-me do meu lugar e caminho
em direção a casa de Noah, eu preciso
ver isso com meus próprios olhos...
Ninguém me para quando subo as
escadas e bato na porta de seu quarto.
-O que faz aqui? – é a primeira
coisa que Noah diz ao me ver.
-Só queria saber se Lídia está
bem, me disseram que ela não se sentia
bem e não foi ao trabalho. – e como se
ouvindo cada palavra, ela aparece pela
porta.
-Estou bem Luana, obrigada por
se preocupar. Só estou enjoada... Mas
logo vai passar. – desejo ter minha
magia só para revirar essa mulher do
avesso. Mas meu poder está na barreira
e nos portões, usar minha magia para
investigar Lídia seria egoísmo, e
poderia ocasionar muitas mortes... Por
enquanto.
-Posso falar com você, Noah?
Ele acena e sai no corredor
comigo.
-Sei o que vai falar, Luana. E
esse filho é meu, um filho que ninguém
poderá me tirar. – ele me olha com ódio,
será que Noah nunca irá me perdoar?
Toco em seu rosto e não sinto
nada... Antes eu sentia-o tremular com
minha presença, minha aproximação, e
agora... nada.
-Quando que você mudou tanto,
Noah?
-Nos anos em que você não
estava presente para ver.- ele diz de
forma dura- Só isso o que queria falar
comigo?
-Acabou? – rebato sua pergunta.
-Sim, acabou.
Dou as costas e sinto uma dor
lancinante invadir meu corpo. Lágrimas
idiotas teimam em cair do meu rosto.
Saio da casa e vou direto ao encontro de
Ana.
-Lua, está bem? O que
aconteceu?
-Preciso de um favor seu.
-Qualquer coisa, minha rainha-
ela faz uma reverencia, Ana é uma das
mais devotas do clã e mesmo que eu
peça para que me trate como uma amiga,
ela teima com as formalidades.
-Noah está estranho, ele não é o
homem que eu conhecia... Algo está
errado Ana, eu sinto isso. Kanut e Noah
não pareciam ser duas pessoas distintas
e agora... Eu não o reconheço! E tentei
alcançar Kanut e não consegui, como se
o lobo não estivesse mais lá, ou
aprisionado... Algo está errado com o
meu companheiro, ele costumava ser um
babaca, mas tudo isso está sendo demais
até mesmo para o cabeça dura do Noah!
E Lídia parece estar grávida, mas isso é
impossível! Eu criei a maldição e sei
que é impossível, um lobo só procria
com um lobo... Então, ou ela está
mentindo para ele, ou enganando a todos
nós... Preciso que descubra tudo o que
puder sobre ela, use todos os meios
possíveis...
-Claro Bri. – ela faz outra
reverencia e sai da sala.
Eu gostaria de não estar sentindo tanta
dor, mas eu sinto. Gostaria de poder
apagar o amor que sinto por Noah com
uma borracha, mas ele está cravado em
cada canto da minha alma;
Sinto seus braços me apertarem
e suspiro... Sinto os lábios de Ian sobre
os meus quando ele me beija.
-O que está fazendo? – pergunto
a meu amigo.
-Eu disse que te beijaria toda
vez que chorasse por ele.
-Não, você disse que não
permitiria que eu derramasse uma
lágrima por ele. Não lembro de nada
sobre beijo.
-Estou mudando as regras. – ele
dá de ombros e me beija novamente... A
dor diminui um pouco... Como um
calmante, Ian é uma tábua, mas não
posso fazer dele a minha tábua... Meu
amigo merece mais que isso.
-Isso não pode acontecer Ian...
-Lua, não vou te pedir em
namoro nem nada do tipo. E acredite,
não acho que sou um homem capaz de
ser machucado por alguém, não mais.
Então só aproveite... Lembra de quando
éramos adolescentes e eu ficava
correndo atrás de você tentando te
beijar? – a lembrança me faz rir- viu?
Só quero ver esse sorriso mais vezes, o
que quer que esteja acontecendo,
daremos um jeito.
E talvez, talvez eu tenha
acreditado nas palavras dele... Ian nunca
mentiu para mim.
Ele se afasta e percebo que é
porque as meninas caminham em minha
direção, sento-me em uma das varandas
e elas fazer o mesmo me encarando com
expectativa.
Retiro a pedra do meu bolso, a
mesma pedra mágica que indicou a pré-
disposição ao tipo de magia de cada um
dos lobos, nada acontece com Loren,
mas Sarah se contrai um pouco como se
tivesse medo do objeto.
-Por muito tempo essa pedra foi
usada para encontrar companheiros –
vejo os olhos de Loren brilharem em
curiosidade.
-Mas elas não mostram só qual é
o poder de cada um? – ela me pergunta e
eu aceno concordando.
-Sim... Cada pessoa tem um dom
latente dentro de si, e como um
companheiro é o espelho do seu par,
esse dom costuma ser o mesmo para
ambos, as vezes houveram festas onde
se uniam lobos do mundo todo com pré-
disposição ao mesmo elemento, nessas
festas a maioria deles saiam aos pares e
felizes. Mas bem... Isso não é
importante. Eu quero que as duas toquem
na pedra ao mesmo tempo.
-Eu não acho que essa é uma boa
ideia...- minha filha parece receosa, eu
diria que ela está com medo...
-Confia em mim. – só essa frase
foi necessária para que Sarah erguesse a
mão e ao mesmo tempo que Loren,
tocasse na pedra.
-Não acontece nada. – elas
dizem quando compravam o óbvio.
-Exatamente. O dom das duas é o
completo oposto um do outro, mas como
uma balança, ambos são necessários. Só
há vida porque há tanto a luz quanto as
trevas, nunca esqueçam disso.
O dia passou tranquilamente
enquanto tirei todas as dúvidas das
meninas sobre a magia e por algum
tempo eu fui capaz de esquecer, de não
sentir, por algum tempo eu pude respirar.
Ravi
Sarah
Lídia anda muito adoentada,
todos já conseguem sentir o cheiro do
bebe, isso é incontestável. Em relação a
paternidade... Não é que eu não queira
outro irmão, sonhei em ter outro irmão,
mas da minha mãe e do meu pai. Fora
que... Ele está diferente. Até eu que o
conheço há pouco tempo já posso
perceber uma mudança drástica desde o
primeiro dia em que o vi. Meu pai nem
se preocupa mais se estou aqui ou não, é
como se toda a sua atenção estivesse
voltada para Lídia e seu filho, faço uma
careta mental, isso se parece muito com
ciúmes.
Eu tenho ficado nessa cama mais
do que o comum, fora o tempo que estou
sendo treinada por minha mãe. Os lobos
já estão adaptados a magia, foi
relativamente rápido se acostumar a ela.
Ando sonhando com um homem,
só que nunca sou capaz de ver seu rosto,
mas seu cheiro... Amo o seu cheiro. E
quando acordo é como tê-lo entranhado
em mim, devo estar ficando louca agora.
Porque o fato é que o cara me salvou
aquele dia, mas sonhar com ele, sonhar
com seu cheiro... Só pode ser coisa da
minha cabeça.
Saio de casa e vejo os lobos e
bruxos em sincronia, eles trabalham
juntos... Os lobos começam a entender
sobre magia e quando um deles tem
predisposição a ela... é fantástico! Como
meu tio Ravi, estou agora o olhando com
Sofia... Eles fazem um bom casal... Mas
não é isso que estou vendo, meu tio está
em forma de lobo e Sofia está lutando
contra ele com magia, o lobo se defende
usando a água, isso é tão incrível que eu
fico aqui quase toda a manhã admirando
os dois.
Ando pelas terras em busca de
minha mãe, mas encontro Ian.
-Ei minha princesa.
-Oi tio. – olho para ele, queria
perguntar sobre minha mãe... Há um
tempo que ando vendo os dois próximos,
próximos demais... E não acredito que
seja somente para fazer ciúmes em meu
pai, ele nem olha mais em direção a ela.
-Não queime seus neurônios,
menina. Eu e sua mãe estamos bem.
-E o que é exatamente “estamos
bem’’?
-Ela está sofrendo Sarah...
Nunca vi sua mãe sofrer tanto. Ela está
tentando acreditar, tentando ser paciente,
ser forte... Mas dentro dela há algo se
cauterizando sabe, como uma couraça...
E talvez quando e se Noah vier atrás
dela, talvez seja tarde demais. Quero
que Lua seja feliz, ela só será
completamente feliz com Noah, mas se
isso não acontecer, ainda quero que ela
seja feliz... Será que estou errado por
pensar assim?
-Você sempre cuidou de nós,
quando vai deixar alguém cuidar de
você?
-Eu já deixei... Você, menina,
cuidou de mim mais do que qualquer
outro... Quando você nasceu e virou
esses olhinhos lindos para mim, eu vi
que a vida ainda estava por aí porque
você era tão cheia dela, então eu
pensei... Pensei que se talvez eu ficasse
por perto, pensei que você pudesse me
ceder um pouco disso. Eu nunca vou
poder te agradecer, agradecer a Lua, por
me trazerem de volta, por me darem uma
chance...
-Mas minha mãe tirou o seu
lobo, te fez esquecer sua companheira...
-Eu jamais esquecerei de
Priscila, ela está cravada em minha
vida, em minha alma, em cada célula do
meu corpo... Só que agora não dói mais.
Só sobrou esse sentimento estranho...-
meu tio continua a falar e eu nem
respiro, ele nunca falou antes sobre
Priscila-, ela era incrível Sarah...
Priscila sorria com os olhos, era a
ruivinha mais linda que já vi, seu rosto
era cheio de sardas e ela sempre via o
melhor das pessoas, o melhor em tudo...
Então um dia eu a perguntei o que ela
mais deseja, ela disse que queria viver
ao meu lado, queria ter paz... Esse era o
seu maior desejo e eu prometi a ela que
iria realiza-lo... Eu prometi algo que
jamais serei capaz de cumprir, e agora
eu vivo com essa promessa martelando
em minha mente... Minha consciência
sabe que ela não está aqui, eu sei... Mas
às vezes, às vezes eu sinto seus dedos de
leve tocarem meu rosto, às vezes eu
sinto passar um vento que carrega seu
cheiro, às vezes eu acordo como quando
ela estava aqui... Eu sinto sua presença e
quando viro-me para o lado com um
sorriso no rosto, não há nada, não há
ninguém... Acho que é isso o que
acontece quando se ama alguém deste
modo, essa pessoa estará presente em
tudo. Eu me transformei nisso... Eu
abracei a magia de sangue, Sarah...
Porque eu sabia que seria o único local
onde Priscila não estaria, eu só queria
me afastar de sua presença e quanto
mais eu abraçava essa magia que é uma
vertente da magia negra, mais eu a
perdia... Mais eu me perdia.
Encosto minha cabeça em seu
braço e fico ali calada, o que eu deveria
falar?
-Ela iria gostar de te conhecer...
Meu tio se despede de mim com
uma desculpa fajuta e se embrenha mais
na mata. Eu vou atrás de minha mãe, a
abraço quando a encontro... Ela está
mais magra, tem olheiras profundas
como se não dormisse há alguns dias,
seu olhar está apagado... É como ver
uma pessoa morrer um pouquinho a cada
dia...
Kailan
Bia
Luana
Luana
***
Kanut percebeu que sua
companheira a cada dia estava mais
triste, embora Briana tentasse
esconder, morar em terras tão
próximas as de sua família e antigo clã
a estava afetando de uma forma que
Kanut não aceitava. Então ele decidiu
abandonar suas terras e partir em
busca de um novo local para o seu
povo. Kanut sabia que nenhuma terra
jamais seria mais importante que
Briana, pois ela era sua morada, a
única que ele poderia e queria ter. Sua
alcateia o seguiu, eles iriam a qualquer
local escolhido pelos seus lideres.
Quase nômades, o clã de Kanut,
uma alcateia agora formada, andou
por várias luas até encontrarem um
local protegido, amplo e com vasta
alimentação para os lobos.
E kanut percebeu com isso a
mudança em Briana, ela havia voltado
a sorrir e isso foi espelhado em todo o
seu povo. Era impressionante ver como
sua mulher havia se transformado no
coração de todos os seus guerreiros,
isso era respeito, Kanut sabia. Sabia
também que o laço que ligava Briana a
todos eles era algo mágico e muito
belo, por isso não sentia ciúmes. Ele
não se incomodava em dividir os
sorrisos e atenções de sua
companheira com o restante da
matilha, porque ele podia sentir a
ligação... Todos eram um só.
Certo dia, quando a metade da
lua estava no céu, uma roda de
guerreiros foi formada ao redor da
grande fogueira e alguns dos seus
guerreiros estavam ali a contar
histórias. Velhas histórias de seu clã,
tão velhas quanto o próprio tempo.
Briana sorria e estava muito envolvida
em cada conto. Um dos guerreiros se
ergueu anunciando um novo conto e
prontamente todos prestaram muita
atenção. Era a mais antiga lenda do
povo de Kanut, sua mais antiga crença.
“Um antigo, dizem que ele foi o
primeiro homem vivo do nosso clã, cria
do próprio deus Odin. Um dia, o
homem teve uma revelação em sonho e
fez cada ancião da aldeia prometer que
seu sonho fosse passado de geração em
geração sem jamais ser esquecido
sequer um detalhe.
Bia
Sarah
Ian
Ravi
Leandro
Luana
Noah
Luana
Dias atuais...
-Mestre eu sinto muito... –Lídia
se ajoelhou diante daquele que era único
para ela.
-Não quero desculpas, você
tinha uma missão e não a cumpriu! –
Efor gritou.
-Calma irmão... As coisas ainda
não se perderam. –Donar que olhava
para o horizonte, tentou acalmar seu
irmão.
-Nós tínhamos uma chance de
quebrar a união de nossa irmã com esse
lobo, eu preciso lhe lembrar que essa
era a única maneira de matar o lobo sem
matar Briana?!- Efor não era conhecido
por ser paciente e sim por sua maldade
em batalha.
-Desculpe interromper a
reuniãozinha- Loki entrou e encarou os
irmãos com um imenso sorriso no rosto-
Mas quem disse a vocês que o lobo é
quem reside no coração de nossa
irmãzinha?
-Estamos lhe escutando Loki,
diga.- Donar, mesmo que odiasse a
presença do irmão ali, aguardou por uma
resposta. Não confiava em Loki, sabia
de sua fama por sempre querer sair
ganhando em qualquer situação que seja,
o irmão não era um perigo no passado,
mas agora sim.
-Quem é o coração de Briana e
Kanut, Luana e Noah?- Loki diz fazendo
um gesto exagerado com as mãos.
-Fale logo seu inútil! – Efor
esbraveja.
-Briana e Kanut não tinham
filhos... Mas agora eles tem, uma filha
de sangue.- Loki conclui seu
pensamento.
-Acho que precisamos conhecer
a nossa sobrinha, irmão. – Donar diz
com um sorriso despontando-lhe na face.
-E a proteção deles?- Efor
questiona Lídia.
-Ruindo. A qualquer momento
seremos capazes de entrar- a moça
submissa lhe responde.
-Então, será guerra. – ambos os
irmãos sorriem, esperaram tanto tempo
por isso, tanto tempo para ter o poder...
Se conseguissem o poder de Briana
seriam deuses, eles comandariam os
mundos!
Olharam para o céu negro, o dia
estava quase amanhecendo e esse era o
trunfo deles, o sol não saiu... A lua negra
continuava no céu e assim como a lua
azul é o ápice do poder da magia
branca, o eclipse é o cume do poder da
magia negra.
Tempos de guerra
Kailan
Luana
Ravi
Ian
Sarah
Luana
Luana
Bia
Ian
A matilha está diferente desde
que fui embora... As mulheres têm voz e
poder como qualquer outro por aqui,
eles finalmente conseguiram criar uma
matilha igualitária... Uma matilha não,
uma Pride. É esse o termo que Lua usa,
ela costuma dizer que se não temos
orgulho daquilo que somos, então como
poderíamos viver?
Todos estão reunidos ao lado de
fora, enquanto todos vestem-se de preto
em luto, Lua caminha com um longo
vestido branco... Todos reverenciam os
dois, lobos, bruxos... Todos se ajoelham
quando Lua e Noah passam. Ela está
com a marca de ligação a mostra, fico
feliz por ela finalmente ter se acertado
com Noah... Por algum tempo eu ousei
em ter esperanças, sei que só Lua
poderia ser capaz de fazer com que eu
esquecesse minimamente Priscila, Lua
sempre foi alguém a quem amei e não
me incomodaria em passar o resto dos
meus dias ao seu lado.
Eles estão lado a lado e de mãos dadas
quando Noah começa o seu discurso.
-Todos nós perdemos algo de um
jeito ou de outro. Hoje a noite daremos
adeus a entes queridos, amigos, amores,
e isso nunca é algo fácil... – ele para o
que estava falando e olha para Lua,
como se estivessem se comunicando.
Então a próxima voz que ouço é a dela.
-Essa noite não daremos adeus a
eles, eu me recuso a dar adeus a cada
um dos que morreram. Essa noite,
enquanto cada corpo queima, nós iremos
lembrar-nos de cada coisa pela qual
cada um deles era especial, nós iremos
lembrar. Mesmo que ninguém mais no
mundo o faça, mesmo que nem mesmo a
terra que pisamos recorde do que
aconteceu aqui, nós saberemos. Nós
saberemos da morte de cada um deles,
nós lembraremos e não iremos permitir
que eles morram. Tudo o que peço para
vocês hoje é para que não esqueçam.
Noah sorri e puxa Lua um pouco
mais para ele em completa admiração.
Há uma fila de corpos
embebidos por tecidos inflamáveis e
todos dão um passo a frente jogando
uma chama sobre eles. É como uma
fogueira gigantesca, o cheiro da carne
queimada sobe, olho ao meu redor e não
tem ninguém chorando. Eles estão sérios
enquanto olham as chamas crepitarem,
sérios como se estivessem fazendo
exatamente o que Lua pediu: eles estão
jurando que nunca se esquecerão.
Sarah
Noah
Kailan
Não digo para ninguém onde
estou indo quando faço minhas malas e
pego o carro. Dirijo por toda a noite e
chego aos alojamentos ainda na
madrugada. Tive que obrigar Loren a me
dar sua cópia da chave do quarto que
divide com Bia, vendo-a agora dormir
tranquilamente, percebo que valeu a
pena.
Bia está com sua pele chocolate
descoberta, puxo seu cheiro para mim e
meu lobo deseja sair, ele quer correr
para ela como sempre fez... Quer
colocar sua cabeça em seu colo e sentir
seu leve carinho, qualquer coisa vinda
dela sempre foi o paraíso para nós dois.
Tiro minha roupa e me transformo, já em
forma de lobo, cheiro sua pele exposta e
um rosnado involuntário sai do fundo do
meu peito.
Bia desperta com isso, ela se
assusta e quando percebe que sou eu,
suspira em alivio. Bia abre os braços
como sempre fez quando eu vinha até
ela, acho que ela sempre soube que
quando meu lobo vem ao seu encontro
era porque desejava ser acalentado,
acarinhado... Caminho até ela e Bia
abraça-me, ela põe a cabeça em meu
pescoço e respira entre os meus pelos,
fechos os olhos e fico ali por um tempo,
ela é tudo para mim.
Afasto-me um pouco e olho para
ela, desejo que ela veja nos meus olhos
o que sempre quis mostrar, que eu a
amo, que cuidaria dela por toda a vida,
que esperaria o tempo que fosse preciso
até que ela estivesse preparada para me
aceitar... Mas esperar está doendo, está
me machucando... Saber que Bia teve
namorados, saber que ela estava longe
de mim e se apaixonando por outra
pessoa era como ser atingido milhares
de vezes. Mas eu precisava que ela...
vivesse. Mesmo que fosse com outras
pessoas, precisava que ela conhecesse o
mundo sem mim e que mesmo assim me
escolhesse no final.
Seus olhos enchem de lágrimas e
ela me pede:
-Transforme-se.
Fico em cima de Bia quando me
transformo de volta, continuo a olhando
e dizendo: eu nunca vou te deixar.
-Kailan... Você sempre falou
melhor quando esteve calado, mas eu
preciso ouvir, pelo menos só hoje, por
favor, preciso ouvir.
Uma lágrima escorre por seu
rosto e como não queria perder o
contato com ela, só lambo sua bochecha
para que a lágrima não caia, ela sorri
com meu gesto.
-Você definitivamente parece um
cachorrinho. – rosno com o que ela diz,
mas sorrio com seu riso.
Ela fica séria logo depois.
-Fale.
-Eu... nunca te deixarei sozinha,
Bia. Eu quero você por toda a minha
vida... Eu nunca tive um mundo só meu,
sempre fui um estranho em qualquer
local que estivesse, mas se eu estiver ao
seu lado, nada disso importa, fica
comigo? – ela aperta os olhos com
força.
-Eu não... posso.
-Porque não?
-Nós ficaremos juntos até
quando? Até ou eu ou você
encontrarmos o nossos destinados.
Gargalho.
-Pirralho! Isso não é piada!
-É só por isso que não fica
comigo?
-Tecnicamente sim.
-Ham... – não sei como dizer
isso a ela.
-Ham o que? O que significa
‘ham’? – ela diz já me olhando torto.
-Eu e você somos companheiros.
– ela fica calada por tempo demais...
-Como assim?
-Eu... Fui modificado, nenhum
lobo consegue sentir meu cheiro.
Ela arregala os olhos e me olha
irritada.
-Há quanto tempo sabe disso? –
sei que o ‘disso’ que Bia diz não é sobre
os laboratórios e sim sobre nossa
ligação.
-Eu... sempre soube.
-Sai de cima de mim, Kailan! –
não, não... não vou deixar que ela fuja
agora.
-Não vou te deixar ir.
-Você me enganou por todos
esses anos! – ela diz e espero não
demonstrar, mas isso me magoa.
-Eu... te esperei por todos esses
anos. O que você faria se eu te dissesse
que era seu companheiro? Nós éramos
só duas crianças! Diga-me que aceitaria
e que ficaria comigo.- ela acalma o
semblante.- vê, você não o faria! Eu te
esperei Bia... Esperei que você
crescesse, que vivesse outros amores, eu
fiquei te vendo crescer de fora... E isso
era o suficiente para mim, mas não é
mais. Eu preciso de você. Sei que não
pode sentir meu cheiro, espero que
confie o suficiente em mim para
acreditar quando digo que você é minha,
porque eu sou seu... Porra, eu fui seu
desde o momento em que bati meus
olhos em você e eu era só uma criança
assustada. Olhe para mim Bia, eu nunca
menti para você... Olhe para mim e diga
que no fundo sempre soube, por favor...
Ela ergue a mão e toca em minha
face, Bia parece hipnotizada pelos meus
olhos.
-Seus olhos... Você nunca mentiu
para mim.
-Não... Só esperava o tempo em
que você pudesse ver a verdade,
esperava que você viesse até mim. Isso
vai me matar, mas se você quiser que eu
saia, se quiser viver em um mundo sem
mim, eu faria isso por você.
Mas ela não diz nada, Bia só me
olha... E eu sei, é ela, sempre foi ela...
Aquela que me vê de verdade, aquela
que eu sempre irei precisar, aquela que
jamais me abandonaria.
Não sei quem começou, mas
estamos nos beijando, arrasto a roupa de
Bia por seu corpo vagarosamente
sempre olhando em seus olhos,
esperando algum indicio de repulsa ou
negação, mas o que vejo lá é sempre
entrega e confiança. Toco-a do modo
que sempre esperei que tocasse, beijo-a
do modo que sempre quis beijar, amo-
a... E espero que ela saiba o quanto irei
ama-la em cada dia de sua vida, porque
agora ela é minha e é para sempre.
Bia
Ravi
Loren
Lua
Ian
Noah
Luana
Vittore
Loren