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Supremo Alfa - Livro II - Pride - G.J

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Pride

Supremo Alfa, Livro II

GJA Guimarães
Sinopse

Eu, minha mãe, meu tio Ian e a


tia Sofia sempre nos mudamos. Novos
colégios, novos países, novas línguas,
novas pessoas. Somos uma família
incomum.... Mas desde cedo aprendi que
a nossa família é muito maior que nós
quatro. Desde cedo, aprendi a ter
orgulho daquilo que sou, daquilo no qual
faço parte, nós somos a matilha e a
matilha faz parte de cada um de nós.
No início, minha mãe disse que
estávamos fugindo da guerra que se
alastrou por anos no mundo dos lobos.
Depois, quando a guerra se acalmou, ela
nos disse que deveríamos estar
preparados para a guerra que viria,
falava sobre uma visão que teve em uma
lua azul, onde haviam lobos e bruxas
mortos pelo chão. Dizia que nessa
guerra, a balança do universo iria
pender para um dos lados: bem ou mal.
Se eu acredito em todas essas loucuras?
Claro que sim! Sei que ela seria a
primeira a voltar para casa se pudesse,
se pudesse voltar para ele...
Bem... Vamos voltar ao presente,
onde estou neste momento? Exatamente
em frente ao meu pai- estou vendo-o de
verdade pela primeira vez, longa
história-, ele está boquiaberto e olhando
de mim para minha mãe enquanto ela se
afasta, não culpo o homem, eu também
estou. Vamos lá, quando ela disse,
“Sarah, vamos para a casa de seu pai’’,
pensei que o ‘vamos’ incluísse mais de
uma pessoa, não é assim que se ensina
na escola? Pois é, parece que minha mãe
tem seu próprio modo de lidar com a
norma gramatical.
O problema é que meu pai não
está sozinho, há um projeto de oferenda
que não sai do seu pé- eu poderia tentar
engoli-la, mas é claro que isso não vai
acontecer. Sei que a minha mãe o ama, e
por seu olhar idiota, isso é reciproco,
então tem alguém sobrando por aqui-, e
como se eu já não tivesse o bastante em
minhas costas neste exato momento,
ainda tem um cara que parece uma porta,
de olhos coloridos, e que me odeia sem
motivo aparente. Eu disse que a minha
família era incomum? Você ainda não
viu nem a metade.
Presente de Aniversário
Meu melhor presente
Entre amigos
Briga entre irmãos
Marcados pelo passado
A profecia
As três pontas da magia branca
Acho que eu tenho uma madrasta
A pedra mágica
Treinamento e surpresas
Eles estão vindo
Retirando as vendas
Sempre será você
Passado e presente
Tempos de guerra
Tempos de paz
Aos meus leitores fiéis. A nós, Todo o
amor do mundo!
Presente de Aniversário
Sarah

-Sarah, essa é a última vez que te


grito, desce já daí!- Minha mãe rosna o
fim da frase e sei que ela está no andar
de baixo e pelo jeito, um pouco irritada.
Eu abro só um olho e admiro
meu quarto, tio Ian já pegou todas as
caixas, até mesmo a minha cama ele
conseguiu desarmar comigo ainda em
cima do colchão. Não sou muito
dorminhoca, não é isso o que está
acontecendo aqui, se você se mudasse
com a frequência com que eu me mudo
também estaria estirado em seu colchão
tentando absorver uma última parte de
sua vida passada e odiando a
perspectiva de uma nova mudança.
Conheci o mundo e não estou
reclamando disso, na verdade, sou muito
grada com cada nova experiência que
tive o prazer de vivenciar, amei cada
parte de cada pequeno momento, ou
costumava amar. Porque, não sei onde
exatamente, mas em algum momento do
caminho eu só cansei, cansei de fazer as
malas, de me arrumar em um novo
quarto, comprar nova decoração, me dar
ao trabalho de conhecer pessoas e fazer
amizades sabendo que em algum
momento viriam as despedidas. A única
real constante que tive em toda a minha
vida foram as mudanças, pode imaginar
o que isso é capaz de fazer para uma
garota de 17 anos? Sim, dezessete, hoje
é o meu aniversário e o que eu ganho de
presente? Mais mudanças.
Nunca fico muito sozinha em
casa, sempre estou acompanhada por
Ian, Sofia ou minha mãe. Quando a
minha mãe não está por perto não
consigo fazer quase nada, é como se
todo o meu corpo travasse. Ela é minha
mãe, mas é também minha confidente e
melhor amiga, na verdade, parecemos
irmãs quando saímos juntas, e
costumamos sair muito, afinal, minha
mãe ama dançar. Me preocupo quando
ela sai porque sei como volta as vezes,
ferida, cansada, abatida. Não sei o que
ela faz quando está longe de mim,
sempre me diz, “não deve se preocupar
com isso, meu amor’’, mas isso só faz
com que minha preocupação aumente
ainda mais. Sei que toda filha
provavelmente diz isso, mas eu amo a
minha mãe e desejo tanto a sua
felicidade que já tentei arrumar-lhe uns
tantos namorados só para ver se ela
sorria mais, se seus olhos brilhavam
daquele jeito que se brilha quando está
gostando de alguém. Mas nada
funcionou, seus olhos só brilham quando
se lembra dele, do meu pai. As vezes a
pego olhando para o céu estrelado, para
a lua, seu olhar é saudosista e sei que
está pensando nele, em Noah, no meu
pai.
Não sei o quão estranho isso
pode parecer, mas também amo o meu
pai mesmo sem o conhecer. Amo porque
ela o ama, o admiro e respeito, porque
ela o faz. Claro que gostaria de vê-lo,
conhece-lo - eu definitivamente sonho
com esse dia-, mas, sempre que toco no
assunto com minha mãe, ela diz que não
é a hora e passa dias com um olhar
triste. Pensando bem, eu bem que
poderia ser aquelas jovens rebeldes e
fugir em busca do meu pai... O
pensamento me fez gargalhar, nunca faria
isso, nunca seria egoísta a esse ponto
com nenhum dos três que estão comigo.
Veja, eu cresci em um lar estranho, mas
estável e com muito amor, e embora
queira conhecer o meu pai, eu tenho
medo que as coisas mudem quando isso
acontecer, porque toda a minha vida
pude mudar de lugar, mas não sei se
sobreviveria longe desses três, suspiro
alto, o que me entrega para meu tio que
entra no quarto para pegar a última peça
da cama.
-Eu sei que está acordada, minha
lindinha.- ouço sua forte voz e sorrio,
muitas pessoas temem Ian quando o
veem, ele não é um cara de sorrisos e
muito menos de brincadeiras, mas tem
um lado dele que é só para nós três e sei
que isso é egoísta, mas sinto-me
lisonjeada em poder ver esse seu lado.
-Você não se cansa de
mudanças?- digo pela... Já perdi as
contas de quantas vezes perguntei isso
para ele, e sua resposta é: São
necessárias, confie em sua mãe, ela sabe
o que faz. E eu digo: sempre. Então ele
sorri e me responde: sempre. Mas sei
que esse ‘sempre ‘ não é mais por
confiar em minha mãe, é como se fosse
uma promessa, uma promessa de uma
palavra só, mas que dizia muita coisa.
-São necessárias, minha linda-
ele diz com seu olhar perdido, vê? É
sempre e exatamente a mesma conversa-
e dessa vez será diferente- ele continua
a dizer e isso me deixa completamente
desperta, diferente?! Diferente como?!
Diferente é bom, certo?
-Diferente como?!- pergunto,
mas ele não responde. Só me tira da
cama e eu sou obrigada a ir para o lado
de fora porque não tem mais uma alma
viva ou morta dentro da casa.
Diferente, vou lhe explicar o meu
conceito no momento de ‘diferente’,
diferente significa Ian indo para um
lado, Sofia para o outro, e eu e minha
mãe para outro. Vê porque não gosto de
‘diferente’?
-Tio Iannn, porque não vem
junto?! E onde está a tia Sofi?!- digo
com uma cara chorosa e fazendo meu
olhar matador para ele. Meu tio sempre
fez tudo o que eu pedia quando o olhava
com meus olhos de cachorro pidão.
Ele faz uma careta e olha para
minha mãe como se pedisse por socorro.
Poderia rir disso se não estivesse
irritada.
-Sarah, seu tio irá ao nosso
encontro, assim como Sofia. Não se
preocupe, só iremos na frente.- minha
mãe diz, mas ela me parece um pouco
estranha...
Vejo meu tio suspirar aliviado
por minha mãe falar em seu lugar,
covarde.
-E para onde vamos dessa vez? -
a questiono.
-Nova York.- minha mãe
responde e sinto sua voz tremer um
pouco, o que tem em NY?
-Por quê? Nós nunca fomos para
lá antes.- olho para minha mãe e dessa
vez é ela quem olha para Ian pedindo
socorro, isso está começando a me
irritar, o que esses dois estão
escondendo de mim?!
-Vamos lá lindinha, você sempre
gostou de surpresas, não estrague essa.-
Faço um som exasperado com minha
boca e jogo minhas mãos para o ar,
desisto desses dois! Caminho para a
entrada da casa para me despedir, adeus
casa.
-Sarah! - Ian corre até mim e me
olha sorrindo, eu não tenho como não
retribuir porque sei o quanto seus
sorrisos são raros, sei o quanto os
guarda só para mim, mamãe e Sofia.-
Não ia se despedir de mim?
-Porque me despediria? Irá nos
encontrar, certo? - olho para ele
tentando absorver uma resposta- Certo,
tio? Irá nos encontrar?
-Sempre, linda.- ele diz e abre
sua mão em frente ao meu rosto. De lá
pende um colar com uma pedra roxa
pendurada- Feliz aniversário.
-É lindo!!- e realmente era! Ergo
meu cabelo para que ele possa passar o
colar pelo meu pescoço e o abraço.- eu
amo você.
-Cada segundo- ele responde.
-Cada segundo- digo repetindo
as frases que costumávamos dizer um
para o outro quando eu era só uma
criança.
-Eu te amo.- ele toca em minha
bochecha e sorri novamente.- Tenha
paciência com sua mãe, não está sendo
fácil para ela.
Confirmo com a cabeça mesmo
sem saber exatamente o que ele quis
dizer. Sento-me no banco do carona do
carro. Consigo ainda os ouvir do lado
de dentro do carro e pego um pedaço da
conversa dos dois.
-Tem certeza?
-Sim.
-Sabe que as coisas
provavelmente estão diferentes...
-Eu sei Ian, obrigada.
Através da janela consigo ver o
abraço dos dois, por um longo tempo
sempre imaginei como seria se esses
dois se envolvessem, nós seriamos uma
família completa assim, certo? Mas,
embora sinta o amor e a cumplicidade
dos dois, sei que o seu relacionamento
nunca passou disso, são amigos muito
íntimos.
Minha mãe caminha até mim e
sorri de leve.
-O que está fazendo aí?- ela me
pergunta enquanto ergue uma
sobrancelha.
-Pensei que fôssemos viajar.-
digo dando de ombros.
-E vamos- ela chacoalha chaves
em frente a mim e dou um gritinho
quando percebo o que ela quer dizer,
vamos de moto! Se tem uma coisa a mais
que eu e ela compartilhamos é andar na
nossa perfeita belezinha preta e prata.
Nossa não, dela, mas costumo pensar
que talvez o retrovisor seja parte meu.
Corro em direção da moto e
abraço a minha mãe. Fico feliz em andar
de moto com ela, mas sei que só faz isso
quando precisa pensar. Sentir o vento no
rosto e ver todo o mundo ficando para
trás como um borrão é libertador,
também sinto isso.
Com uma mochila carregando só
o essencial e com meu capacete,
iniciamos nossa viagem as cegas, pelo
menos para mim.
Estamos viajando já há algumas
horas, quase nove na verdade. E embora
fossemos extremamente resistentes,
sentimos fome mais do que um humano
comum. Prova disso é que paramos em
um bar de beira de estrada para
comermos algo. A atendente olhou para
nossa cara de forma estranha quando
pedimos a quantidade gigantesca de
hambúrgueres.
Sentamos em uma mesa no canto
do bar, minha mãe preferiu sentar de
forma que estivesse vendo a porta e
janelas do local, paranoica? Imagina.
Estávamos nós, ocupadas demais
mastigando, quando vejo em seu olhar
que algo não vai bem. Dois homens se
aproximam de nós, homens? Os caras
são bem bonitos e são gêmeos. Falei que
eram gêmeos? Porque são bem
parecidos. A única diferença é que um
tem o rosto mais quadrado do que o
outro e parece sorrir mais. Cada um
puxa uma cadeira e sentam-se um ao
meu lado, e outro ao lado de minha mãe.
-Oi, eu sou Dan e esse aqui é
Luke- o irmão que parece sorrir mais se
apresenta. Por incrível que pareça,
minha mãe não os enxota, ela sorri,
sorri!! Sabe quando eu vi a minha mãe
sorrir para um homem sem ser meu tio?
Nunca!!!
-Sou Luana e essa é Sarah- ela
aponta para mim nos apresentando, estou
tão embasbacada que só faço um sinal
de reconhecimento com a cabeça. Sério,
quando saímos juntas, os caras
costumam vir em duplas, parecemos
realmente irmãs e não mãe e filha, mas
ela nunca deu trela para nenhum. Nunca
me negou a nada tão pouco, sempre
deixou que eu me divertisse como
quisesse, ou quase...
-Então, o que vocês duas fazem
perdidas neste fim de mundo?
Procurando alguma confusão?- o mais
sério, Luke, murmura olhando para nós
duas. Quando ele fala de confusão, eu
me engasgo e quando puxo ar com força,
sinto o cheiro dos dois, lobos. Olho para
minha mãe alarmada e ela ainda está
com um sorriso estampado no rosto.
-Só de passagem, e vocês?-
minha mãe responde naturalmente.
-Também, ainda temos um longo
caminho a percorrer, estávamos em
Nova York e temos que voltar para casa,
é em uma cidade próxima a Millicent,
nosso pai está lá.
Minha mãe limpa sua boca com
um guardanapo e sorri lindamente, todos
esses sorrisos estavam começando a me
assustar, sério, já estou preparada para
ver minha mãe voando no pescoço de
alguém, mas isso não acontece, o que me
deixa ainda mais assustada.
-Boa sorte, temos que ir agora.
Estamos indo para Nova York.
-Não está muito longe, tem
certeza que não quer ficar mais, passar a
noite?- um deles pergunta, um que
confesso que não prestei atenção o
suficiente para saber qual exatamente.
-Tenho certeza- ela continua
andando, comigo atônita atrás. Minha
mãe se vira e continua a falar- Mas,
nunca desistam, não esqueçam- e, ela
pisca, PISCA! Será que tinha alguma
coisa nessa carne? Sério, lobos ficam
mau quando comem carne estragada...
-Porque está me olhando assim?-
ela me pergunta quando monta na moto.
-Sério? Quem é você e o que fez
com a minha mãe, porque agiu daquela
forma? Aqueles caras são lobos, sabe
né? Lobos que você disse para manter
distancia. - digo de uma vez como uma
enxurrada.
-Não quer saber para onde
estamos indo?- Ela me responde com
uma pergunta completamente diferente,
responder? Ultimamente respostas é
tudo o que não tenho conseguido. Não
iria responder, mas sou curiosa demais
para isso.
-Onde?
-Estamos indo para a casa de seu
pai.
O QUE?! Minha vontade era
gritar isso, mas ela acelera e o ronco do
motor toma todo o lugar.
Já era quase o fim da tarde
quando vejo as luzes de NY piscarem.
Estávamos relativamente perto da
cidade, já que viajamos somente o dia
inteiro de moto, se bem que minha mãe
costuma dirigir bem rápido. Eu também
tenho carteira e foi ela quem me ensinou
a pilotar, mas a moto é seu chamego e
quase nunca consigo pega-la.
Lembro-me como se fosse hoje
da primeira vez que ela me levou na
garupa, eu abri meus braços e fechei
meus olhos e por alguns segundos, me
senti voar. Neste dia ela me deu minha
primeira jaqueta de couro, depois desse
dia comecei a fazer coleção, tenho uma
de cada cor e estilo diferente. A moto
começa a perder velocidade, o que me
faz despertar dos meus devaneios. Vejo
que nos aproximamos de um condomínio
fechado e muito, muito bonito.
Pessoas armadas vêm até o
nosso encontro, minha mãe tira o
capacete e quando eles a veem, só
arregalam os olhos e fazem uma
reverencia. Reverencia? Em que séculos
estamos? Consigo perceber que eles
também são lobos. Abrem passagem e
nós andamos um pouco mais rápido
dessa vez, mamãe sabe exatamente para
onde está indo.
Paramos em frente a uma casa
linda, fora a casa, que visivelmente é a
maior mansão de toda a propriedade, o
que mais chama atenção aqui é o jardim.
Nunca vi um jardim de rosas amarelas
antes.
Minha mãe ofega quando olha
para a cena, sei por que estou com meu
corpo colado ao dela, sei também
porque quando suas mãos se erguem
para tirar o capacete, vejo-as tremerem.
Ela cerra seu punho quando seu olhar
para em algum lugar, estava tão absorta
vendo as suas reações que só agora
percebo a cena como um todo:
Há um homem alto, forte e com
olhos e cabelos negros, tão negros
quanto o breu da noite, tão negros quanto
os...meus. Só que ele não está sozinho,
há uma mulher com ele. Ela é bonita,
tem os cabelos lisos e cortados reto no
pescoço, está com uma roupa leve e
descalça, o que indica que é intima
desse lugar, mais precisamente intima de
alguém, já que neste momento ela segura
o braço do homem que pressuponho ser
o meu pai. Estou tão ocupada analisando
tudo isso que não vi quando minha mãe
se afastou de mim, ela está de frente
para eles agora.
-Noah, é bom te rever.- minha
mãe olha para o lado como se
procurando algo, quando percebo que
esse algo provavelmente sou eu, ando ao
seu encontro.
-Tira o capacete, Sarah- ela me
diz e olha-me com carinho, estava tão
aérea que nem me lembrei de tirar o
troço da cabeça.
Quando tiro o meu capacete
encaro o homem a minha frente, seus
olhos brilham com reconhecimento. Eu
gostaria de correr, correr e me enfiar em
seus braços como tantas vezes imaginei,
mas meu olhar se prende no ser que
segura o seu braço e essa vontade se
esvai.
Sinto o toque de minha mãe em
meu rosto como se com esse toque ela
me dissesse que está tudo bem, suspiro
aliviada e respiro normalmente.
-Preciso ir, tenho que resolver
algumas coisas na cidade.- ouço o que
ela diz, mas cerro os meus olhos ao
ouvir, ela não vai me deixar aqui, vai?
-Mãe! Pensei que fosse ficar
aqui comigo!- resmungo me sentindo
uma menininha, odeio me sentir dessa
forma.
-Os planos mudam, meu amor-
minha mãe responde e eu fuzilo com o
olhar a sirigaita que está com meu pai,
‘os planos mudam’- Obedeça seu pai-
ela diz enquanto me abraça, eu aperto a
minha mãe como se dissesse que sinto
muito, dizendo com esse abraço que eu
sei, sei que ela está machucada mesmo
que pareça uma rocha por fora.
-E Noah, cuide dela. – meu pai
tira os olhos de minha mãe e os
direciona a mim, vejo sua boca abrir e
fechar algumas vezes, ele sabia que eu
existia, certo? Porque então está com
essa cara?
-Meu amor- ouço a voz de minha
mãe e tanto eu quanto o meu pai
atendemos a esse chamado,
interessante...Algo voa em minha
direção e eu agarro no ar, chaves, mas o
que...-Seu presente- vejo-a sorrir daqui
de onde estou e não acredito, não
acredito, não acredito.
-Sério?!- grito para que me
ouça- Sabe que não vai ter volta, certo?
Nunca mais irei te devolver e ninguém
nunca mais irá dirigi-la a não ser eu!
-Tenho certeza disso! Mas não
vá se matar em cima dela, ficaria com a
consciência pesada, e, não se preocupe,
vou pegar carona com um dos caras da
segurança.
-Se você não conseguiu me matar
por 17 anos porque morreria sozinha
agora?- grito e ouço seu riso que morre
quando ela se afasta. Então o silêncio é
quase ensurdecedor e viro-me para ele.
Ele me encara, olha-me de cima
a baixo, me encara novamente.
-Sabia da minha existência,
certo?
-Quem é ela? Quem são as duas?
- a mulher ao seu lado pergunta e quando
ele abre a boca para responder, eu digo
rapidamente.
-Sou a filha dele e aquela era
minha mãe.- sorrio como um anjo
sabendo que acabei de iniciar uma briga
de casal, porque daqui parece bem
nítido o que eles são, um casal.
-Pensei que só tivesse um filho.-
ela diz aguardando explicações e vejo
suas sobrancelhas se unirem.
-Minha mãe disse que lhe deixou
uma carta falando sobre a minha
existência, sabia sobre mim, certo?-
digo com as minhas esperanças já
morrendo quando vejo o seu olhar.
Sonhei tanto tempo com esse momento e
ele, nem por um segundo, em toda a sua
vida, jamais pensou em mim?
-Ela disse, mas eu não...-ouço a
sua voz pela primeira vez, e
reconhecimento cai em mim como uma
bigorna em um lago, algo dentro de mim
lembra dele, de sua voz. Mas sua frase
faz sentido para mim, será que ele não
acreditou no que minha mãe disse? Ele
pensou o que, que ela estava inventando
uma filha?! Quando sinto que a mulher
ao seu lado vai dizer algo mais,
pergunto já irritada.
-Quem diabos é ela? – mas
minha voz se une a outra que diz
exatamente a mesma frase que eu e
exatamente no mesmo momento. Um
homem com olhos, um azul e outro
verde, me fuzila com raiva.
Feliz aniversário para mim

Noah
Com o tempo o que sentia por
Lua me deixou dormente, como um
sentimento bom que eu já nem lembrava
mais, só uma lembrança... 17 anos...
Ninguém é de ferro por dezessete anos...
Ela disse que voltaria, e mesmo ainda a
esperando em todo o pôr-do-sol, mesmo
ainda cultivando suas flores, decidi
seguir com a minha vida.
Há sete anos as matilhas estão
em paz, está uma calmaria tremenda,
tanto que tenho muito mais tempo para
me deidicar os negócios da minha
empresa de contrução civil. E mesmo
com a chegada da paz em nosso povo,
mesmo assim, não tenho noticias dela,
nunca tive notícias dela. Talvez perder o
nosso filho a tenha deixado depressiva,
talvez Lua não tenha suportado tudo o
que aconteceu. Kailan me olha de forma
preocupada.
-Estou bem, garoto.- ele faz um
bufo com a boca dizendo que não
acredita, mas não querendo discutir.
-Convidei Lidia para a janta de
hoje, já arrumei a mesa lá fora, na
verdade, ela deve estar chegando.
-Kailan...- o repreendo, o garoto
nos últimos anos tem se tornado a porra
de um casamenteiro.
-Ela é sua namorada, vocês estão
juntos a quase dois anos, pai!
Prefiro não discutir, então Kailan
sobe e diz que vai tomar um banho, eu
vou até a porta porque sei que ela está
ali. Lidia me olha com seu sorriso doce
e toca de leve com os seus lábios nos
meus, eu sorrio. É fácil gostar dela.
Lidia se mudou para a cidade há alguns
anos atrás, ela é professora no colégio
em que Kailan estuda e em uma das
reuniões, me peguei admirando a forma
com que ela tratava os garotos, o
carinho e amor em cada palavra e gesto.
Percebi que nunca mais havia olhado
para uma mulher assim, a admirando.
Então meu olhar admirado desceu pelo
seu corpo e encontrou algo realmente
belo para apreciar. Com alguns
encontros a mais, a convidei para sair e
desde então estamos em um
relacionamento sólido e estável mesmo
ela sendo uma humana. Talvez esse seja
o fato crucial, nunca gostei de namorar
humanas, elas são frágeis, mas Lidia tem
uma certa força, um certo fogo no olhar.
-Ei- digo enquanto puxo-a para
mim a beijando do modo em que deveria
ser beijada. Seu rosto está levemente
vermelho quando me afasto- Vem, hoje a
janta vai ser na varanda- ela sorri com a
ideia, seu sorriso doce me afeta de um
modo bom.
-Amo seu jardim- quando passo
por ele automaticamente paro e admiro
as rosas, as rosas que são para ela.
-Eu também amava- é o que
respondo quando viro-me de costas e
pego em sua mão. Lidia retira suas
sandálias, a grama está úmida, ela se
senta em meu colo e beija meu pescoço
ascendendo o meu corpo enquanto sorrio
com a sensação. Meu celular vibra me
fazendo rosnar, ela sorri.
-Adoro esses sons que faz.
Se ela soubesse... Atendo o
celular.
-Chefe, não vai acreditar em
quem está aqui...
Ouço um motor rugir e uma moto
estacionar em frente a minha casa, duas
mulheres, ambas com jaqueta de couro,
botas e calças apertadas, descem da
moto. Não reconheço o cheiro de
nenhuma das duas, mas quando a
primeira desce e tira seu capacete, todo
o meu mundo para.
Lua...
Ela está com o cabelo longo, um
pouco mais madura e muito mais bonita
do que já era, algo que nunca pensei ser
possível de acontecer. Mas ela não olha
para mim, olha para algo atrás de mim,
ela está olhando para Lidia. Meu corpo
tenciona, prevejo uma confusão, Lua
nunca foi uma pessoa calma e Lidia
sendo humana, isso poderia acabar de
forma feia e bem rápido.
-Oi Noah, é bom te rever.
Ela diz como se fôssemos
conhecidos que não se veem há muito
tempo, cerro os meus olhos, como ela
pode agir dessa forma depois de tanto
tempo? Ela se aproxima de mim, mas
olha para os lados procurando por algo.
A mulher que estava com ela vem até
nós e Lua diz:
-Tira o capacete, Sarah.
Sarah... Não sei por que, mas
minha mente se alegra com esse nome.
Quando a mulher tira o capacete
e me olha, os olhos como os de Lua
encaram os meus, só que seus cabelos
são escuros, tão negros quanto os meus...
Automaticamente eu sei quem é ela,
minha filha. E mesmo que parte de mim
saiba disso, a outra parte ainda teima em
dizer que é impossível, eu, ela... Estava
morta.
Lua olha pra a garota com amor e toca
seu rosto com o olhar que um dia ela
direcionou para mim.
-Preciso ir, tenho que resolver
algumas coisas na cidade.- Lua diz para
a garota que faz um bico gigantesco não
gostando do que ouviu.
-Mãe! Pensei que fosse ficar
aqui comigo!- Mãe?! Será que é mesmo
ela, minha filha?
-Os planos mudam, meu amor.
Obedeça seu pai.- ela olha para mim-
cuide dela Noah.
Lua caminha para a saída, ela
vai simplesmente ir embora?
-Meu amor- ela diz quando já
está a uma boa distancia e tanto eu
quanto a garota a olhamos- seu presente.
Ela joga as chaves da moto e a
menina pega no ar.
-Sério?!- a garota grita e
continua a dizer com um sorriso
gigantesco estampando o seu rosto- Sabe
que não vai ter volta, certo? Nunca mais
irei te devolver e ninguém nunca mais
irá dirigi-la a não ser eu!
-Tenho certeza disso! Mas não
vá se matar em cima dela, ficaria com a
consciência pesada, e , não se preocupe,
vou pegar carona com um dos caras da
segurança.
-Se você não conseguiu me matar
por 17 anos porque morreria sozinha
agora?
Elas trocam frases e
brincadeiras de modo tão espontâneo,
filha, eu tenho uma filha?
-Sabia da minha existência,
certo?- ela corta os meus pensamentos, e
o que eu deveria dizer?
-Quem é ela? Quem são as duas?
- Lídia me questiona e novamente não
sei o que falar, porque minha mente está
em Lua e no modo como ela
simplesmente partiu, e porque não
consigo sentir mais o seu cheiro? Foi
assim que conseguiu se esconder da
nossa raça por tantos anos?
-Sou a filha dele e aquela era
minha mãe.- vejo seu sorriso e é como
ver Lua a alguns anos atrás.
-Pensei que só tivesse um filho.-
não consigo desviar os olhos dela,
minha filha.
-Minha mãe disse que lhe deixou
uma carta falando sobre a minha
existência, sabia sobre mim, certo?- E o
que posso dizer? Que primeiro pensei
que Lua estivesse depressiva e depois
louca? Digo que a enterrei há anos atrás,
na época em que Lua foi sequestrada e
eu não pude mais sentir o seu cheiro?
Digo que preferi acreditar nos meus
olhos e não na palavra de sua mãe?
-Ela disse, mas eu não...-
acreditei, eu não acreditei em Lua e o
que eu perdi por isso, quanto eu perdi
com isso?
-Quem diabos é ela? – Ouço a
voz de Kailan se misturar com a de
Sarah, meu filho caminha até nós com a
mandíbula cerrada.
-E quem é ele?- Sarah pergunta.
-O que ela está fazendo aqui?-
Kailan pergunta logo depois.
-Este é Kailan, filho de Noah.
Isso está começando a ficar confuso,
Noah. Essa é sua filha e ela não sabe da
existência do seu filho?
-Filha? Ela esteve aqui?- meu
menino me olha com o olhar com puro
ódio, mas eu posso ver abaixo dessa
camada e identifico dor, mágoa.- e o que
ela fez? Fugiu novamente? Claro, é tudo
o que ela é capaz de fazer, sair
correndo.
Vejo o olhar de Sarah brilhar,
brilhar como o de Lua quando estava
ficando muito irritada.
-Ah, esse é o menino de um olho
de cada cor, desculpe não consegui te
reconhecer. Minha mãe me falou muito
sobre você, só que esqueceu de dizer
que você é um babaca.
Sarah rosna ao mesmo tempo que
Kailan, ambos dão um passo a frente se
encarando e sinto a magia do lobo deles
vibrarem, estão prestes a se transformar.
-Lídia, acho melhor você ir,
preciso resolver isso.- digo me
desculpando e Lídia me dá um beijo se
despedindo, não me passa
desapercebido que Sarah encarou isso e
ficou mais irritada ainda.
Quando sei que Lídia já foi
embora, seguro nos ombros de ambos e
sacudo de leve para chamar atenção.
-Já chega, os dois! Vamos entrar,
precisamos conversar.- caminho até a
sala segurando o braço de ambos e me
mantendo sempre entre os dois. Sei o
quanto Kailan pode se descontrolar e
não quero que ele a machuque.
-Ela não vai ficar aqui.- é a
primeira coisa que meu filho diz.
-Kailan...- o repreendo e olho
para Sarah que agora não parece mais
com tanta raiva, ela olha para os lados e
está com um leve rubor em sua face.
Toco em seu queixo a forçando a olhar
para mim.- você é realmente a minha
filha.
Ela sorri sem humor.
-Sinto que deveria pular e gritar:
surpresa!- ela faz um gesto com as mãos
para demonstrar sua frase. Se levanta e
começa a discar um número ao telefone.
-O que está fazendo? – a encaro
enquanto Sarah anda de um lado ao
outro.
-Ligando para a minha mãe, você
nitidamente tem uma vida perfeita, não
quero atrapalhar.- ela diz enquanto
revira os olhos. Ouço o telefone
chamar...
-Sarah, não se importe com Kailan, ele
também foi pego de surpresa e tenho
certeza que não falou de propósito. E eu
realmente não esperava que estivesse
viva, eu... Sofri por sua morte há muitos
anos atrás e agora descubro que está
viva. Não pediria presente maior que
esse de te ter aqui, só te peço, me dê
uma chance para que eu possa te
conhecer.
Lua atende o telefone do outro
lado.
-Sarah, está tudo bem? Merda,
consigo ouvir sua respiração, está
bem? Estou voltando, não saia do
lugar!
Vejo seu olhar me analisando
quando toma sua decisão.
-Não mãe, estou bem. Só
queria saber se teve noticias de tio Ian.
-Merda, não me mate de susto!
Ele está bem, disse que irá te ver em
breve.
Ian... Então ela esteve com ele
por todos esses anos?!
-Hmmm, e tia Sofi?
-Está bem, também está
viajando para a cidade neste momento.
Não se preocupe tanto, minha menina,
estaremos bem e não irá demorar para
nos vermos novamente.
-Eu sei...
-Sarah, o que há de errado?!
-Nada, só fique segura, certo?
Sabe que não gosto quando sai sozinha.
-Eu deveria ser a mãe, se
lembra? E por ser sua mãe eu digo, não
seja tão séria, se divirta!
-Amo você.
-Sempre.
Lua desliga o telefone e Sarah
me encara, respiro novamente.
-Kailan vai lhe mostrar o quarto
de hóspedes.
-Eu não...- meu filho começa a
dizer e o corto com um olhar.
-Kailan...- olho de modo
ameaçador para meu filho e ele engole
em seco- Como estava dizendo, irá lhe
mostrar o quarto de hospedes, acredito
que esteja cansada.
Olho para ela que parece triste,
procuro em minha mente o que disse que
a deixou deste modo e não consigo
encontrar nada. Ela passa por mim e
caminha atrás de Kailan, o seguindo.
-Boa noite.- diz antes de
desaparecer na escada.
-Boa noite- Filha...
Sarah

“Você é mesmo a minha filha’’,


posso ainda sentir seus olhos como
brasas percorrerem todo o meu rosto,
procurando uma semelhança, algo dele
em mim, pense pelo lado bom, pelo
menos não pediu um exame de DNA.
Já estava me sentindo uma intrusa aqui
quando descobri que ele nem sabia da
minha existência, então ele falou em
quarto de hóspedes, hóspede. É isso o
que sou aqui? Eu nunca estive em um
quarto de hóspedes antes. Nós sempre
nos mudamos, mas minha mãe sempre
fez questão de que todos os quartos em
que estive fossem os meus, não um
quarto de hóspedes, isso só faz com que
eu sinta cada sílaba da frase de Kailan
‘Ela não vai ficar aqui’, e talvez ele
tenha razão, talvez não exista espaço
para mim aqui.
Sigo as costas de Kailan sem me
preocupar exatamente para onde estava
indo, até que me esbarro quando ele
para repentinamente. Ele dá um passo
para o lado, abre a porta e faz uma
mesura forçada me mostrando o caminho
para dentro do quarto, como se uma
porta aberta não indicasse isso. Cerro os
meus olhos e encaro-o, mesmo que
lágrimas estejam pinicando em meus
olhos, nunca permitiria que ele me visse
chorar. Kailan tem um olho azul e outro
verde, sua mandíbula está tencionada,
ele tem cabelos castanhos e tem um
piercing em seu lábio, de prata. Pensei
que prata ferisse lobos... Sua
sobrancelha tem uma cicatriz como um
corte onde não cresce os pelos, é um
risco em sua sobrancelha e lá está outro
piercing. Parece que fiquei muito tempo
o encarando, seu peito infla e seus
punhos cerram.
-Não há espaço para você e
sua...mãe, aqui. – ele cospe a palavra
‘mãe’ como se fosse algo sujo.
Então ele vai embora e uma
lágrima rola pelo meu rosto enquanto
fecho a porta e me escoro nela
abraçando a minha mochila, olho ao
redor, um quarto que não diz nada. Um
quarto bonito, com cortinas e roupa de
cama claras, limpa, mas sem...vida.
Abraço mais ainda a minha mochila, a
única coisa que tenho de casa. Pensei
que essa seria a minha casa, pensei que
essa sempre fosse a minha casa, eu
sonhei, sonhei por tanto tempo em
voltar...
Feliz aniversário para mim.
Meu melhor presente

Luana

Sinto eletricidade percorrer todo


o meu corpo só ao sentir o cheiro dessa
terra, essa terra que é dele. Por tanto
tempo... Tanto tempo eu quis só sentir
esse cheiro novamente, tempo demais...
Pensei que tivesse esquecido, mas o
tremor das minhas mãos mostram que
não, eu nunca o esqueceria. Sinto o
corpo de Sarah atrás do meu, minha
menina não sabe o quanto esses anos
foram difíceis para mim, não sabe
quantas guerras eu mesma tive que
travar, nem quantas vezes eu estive a
beira da morte, ela tão pouco sabe que é
a minha força, meu motivo, ela é tudo o
que tenho de valor em minha vida.
Quando os portões tão bem
conhecidos por mim se aproximam, eu
retiro o capacete. E os lobos que
caminham a minha direção parecem
estar vendo um fantasma, quando
percebem quem sou, fazem uma
reverencia.
-Alfa.
Eu só confirmo com a cabeça.
Eles não deveriam me chamar de alfa,
não depois que os abandonei, sei que
não foi só Noah a quem abandonei, foi
uma escolha que tive que tomar, e essa
escolha irá me assombrar por toda a
minha vida. Mas se fosse hoje, teria
escolhido novamente, escolheria Sarah
uma e outra vez, por ela...
A casa de Noah se aproxima,
uma casa que era minha, mas que não
posso mais chamá-la assim. A primeira
coisa que vejo de diferente é um jardim
repleto de rosas amarelas, o jardim está
exatamente abaixo da janela do quarto,
do quarto que dividíamos. Fecho meus
olhos fortemente, porque o cheiro dele
chega até as minhas narinas e tudo
dentro de mim inflama, sinto como se
meu sangue fosse um combustível que
ficou há muito tempo parado e que
maturou, Noah é a fagulha, ele sempre
será a minha fagulha. Respiro fortemente
algumas vezes antes de retirar o
capacete novamente, minhas mãos
tremem, tudo dentro de mim treme como
um viciado em abstinência, eu estive em
abstinência dele por tempo demais...
Nunca pensei que ficar longe dele fosse
ter um preço tão alto, mas existiu. Em
cada fodido segundo da minha vida,
sempre houve um preço.
Meus olhos encontram os dele,
olhos negros e duros, seu cabelo está
para trás como se tivesse acabado de
sair do banho, sua barba por fazer. Noah
continua forte e imponente, como se eu
tivesse saído só por algumas horas,
vantagens de ser lobo, afinal, o tempo
para nós passa de modo diferente do
tempo humano. Mas meu olhar desce um
pouco, vai até uma mão delicada que
sustenta seu bíceps e para a dona dessa
mão. Ela está descalça, confortável
como se esse fosse um local comum
para ela, como se Noah fosse um local
comum para ela. Lembro-me de quando
ele era o meu lugar seguro, o meu porto,
lembro-me de respirá-lo porque ele era
tudo o que me mantinha de pé e eu
gostaria de não ter sentido nada vendo-o
com ela, eu gostaria de não sentir como
se meu ar faltasse, ou como se facas
tivessem se instalado em meu corpo, eu
gostaria que não tivesse doido porque
não tenho esse direito, eu não tenho o
direito de me sentir magoada por ele
estar seguindo em frente, mas estou. Isso
não deveria doer, mas dói. Então eu
guardo tudo, enfio tudo no lugar do meu
coração em que coloco cada mágoa,
cada lembrança, cada saudade, cada dor,
cada toque, cada sentimento, mas esse
lugar está cheio demais e eu não posso.
Não posso colocar mais nada lá. Então
sou obrigada a sentir.
Digo algumas palavras que
confesso, espero terem feito algum
sentido. Olho para o lado e minha
menina está ali com o olhar esperançoso
ao ver o pai. Ela tem o direito de ter
esse momento sem que o meu passado
com Noah a afete, então eu saio depois
de lhe dar a moto, já estava pensando
em lhe dar como um presente há um
tempo.
Dou as costas e caminho, não
ouso olhar para trás, não quero mais
sentir dor, eu não quero mais sentir. Mas
não posso esconder isso e não tenho
tempo para lidar com esse sentimento,
quando passo ao lado da floresta, meus
pés travam no chão. Sinto a necessidade
quase doentia de tirar a minha roupa e
correr. Correr como tantas vezes corri
quando estava com medo ou magoada,
como tantas vezes corri quando
precisava esquecer ele. Mas eu não
posso mais, não posso mais correr,
porque já corri demais e chegou a hora
de parar. Sinto meus ossos velhos e
cansados dentro de mim, sinto um
cansaço como se tivesse carregando o
mundo em minhas costas por um longo
tempo, mas quando olho para Sarah,
vejo que tudo valeu a pena, quando olho
para minha filha, todas as dúvidas se
vão. Caminho, um passo atrás do outro,
caminho em direção a guarita do prédio,
mas alguém me intercepta no caminho.
-Então, você voltou mesmo...
Não acreditei quando disseram. Como é
saber que o perdeu?
Lorenlay continua com sua
beleza plastificada de sempre. Ela
carrega as cicatrizes de minhas garras
em seu pescoço.
-Vou fingir que você nunca se
enfiou em minha frente para me
perguntar isso.- digo e dou um passo a
frente, mas ela continua destilando o seu
veneno.
-Sabe quando você foi embora?
Ele ficou tão irritado, eu aqueci a sua
cama. Onde você dormia com ele, nós
fizemos sexo por muitas e muitas noites.
Ele não demorou muito para se deitar
com outras, sabe, homens. E ele é o
Supremo afinal, não esperou que ele
fosse ficar por todo esse tempo te
esperando, não é?- ela fez uma pausa
enquanto eu não me movo, merda, eu
mal respiro- Oh, você pensou? Tão fofo
de sua parte...
Quando me viro para ela, vejo
seu sorriso vitorioso. Eu poderia dar as
costas e ir embora, mas meu sangue
borbulha novamente. Fecho os meus
olhos e quando os abro o chão ao redor
de Lorenlay treme e seu corpo afunda
como se tivesse em areia movediça. Ela
grita, mas a enterro até sua boca,
deixando só seu nariz para fora.
-Como é Lorenlay, servir só para sexo?
Não ter nenhum homem te amando de
verdade, porque eles te fodem, fazem
isso pensando em outra. Responda-me,
que tipo de ser desprezível se colocaria
nessa situação. Os humanos têm um
nome para isso, acho que é puta.
Deixo-a lá, mas meu pequeno
show me deixou ainda mais debilitada e
sinto uma tontura chegar. Estou fraca,
nunca pensei que a magia negra ainda
fosse tão forte sobre a terra.
Volto a caminhar em direção a
guarita, afinal tenho que pedir uma
carona para a cidade. Quando chego lá,
um homem me vê e sorri.
-Alfa, prometi a alguém que faria
essa ligação caso voltasse. – ele me diz
oferecendo um celular.
Pego o aparelho de sua mão e uma voz
familiar me chama do outro lado.
-Lua? Merda garota, você
apareceu!- Ravi diz e posso sentir daqui
o seu imenso sorriso.
-Ei Ravi, como está? E Bia?
Ouço do outro lado da linha
Espere a sua vez, garota, não,
não faça isso, Biaaaa!
-Tia
Luaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!! –
ela diz tão alto que tiro o celular do meu
ouvido por um tempo, sorrio.
-Oi meu amor! Nossa, você deve
estar uma mulher linda e dando muito
trabalho para o seu pai.- ela sorri.
-Eu tento dar o máximo de
trabalho para ele, mas me diz, quando
chegou? – ela fala comigo como se eu
tivesse saído para uma viagem de alguns
dias, meus olhos se enchem de lágrimas
ao perceber que Bia não guarda
nenhuma mágoa de mim. Por muito
tempo eu tive medo de como eles fossem
me tratar quando eu voltasse.
-Cheguei agora mesmo. Só
deixei Sarah com Noah e estou indo
para a cidade.
-Sarah? Sarah sua filha?! Ai meu
Deeeus!! Paiii! Estou indo para Nova
York, tenho que conhecer minha mais
nova melhor amiga!- ela grita largando o
celular em algum canto.
-Lua eu...- ouço novamente um
barulho como se pessoas tivessem se
embolando em uma briga.
-Tia, estarei aí no próximo voo,
vou chegar amanhã, tenho que conhecer
sua filha! E quero muito te ver, portando
não se mexa.
-Ela vai precisar muito de você,
meu amor. Não se preocupe, estarei por
perto quando chegar.
Ouço do outro lado:’ Onde está
minha mala? Meu Deus, nunca
encontro nada nesse quarto!’ ‘Claro
que não encontra, parece que um
tsunami passou por aqui’, ‘pai, já
disse, não oprima o meu lado artístico!,
‘e desde quando bagunça virou arte?’
‘estou me sentindo oprimida aqui e...’
A sua voz vai sumindo como se ela
estivesse se afastando.
-Lua, voltando, você não vai
ficar aí?- aí na casa de Noah, foi isso
que ele perguntou.
-Não, estou indo para a cidade,
vou deixar Sarah com o pai.- ele se cala
por um tempo.
-Eu sinto muito, Lua...- ele sabe,
claro que todos sabem que Noah seguiu
em frente.
-Eu também.- desligo o telefone
com um misto de tristeza e felicidade.
Olho para o guarda que me
entregou o telefone.
-Pode me dar uma carona até a
cidade? Acabei de dar de presente para
Sarah a minha moto.
-Claro Alfa.
Ele sai e volta com uma suv
preta, entro no banco do carona e
suspiro, sei que ele está me olhando,
então do nada viro o meu rosto em sua
direção, o pegando de surpresa.
-Desculpe- ele fica vermelho-
muitos falaram sobre você por aqui, por
um tempo nós, os novatos, pensamos que
fosse até uma lenda.
-Agora estou me sentindo uma
velha.
-Você definitivamente não tem
nada de velha- ele percebe o que disse e
fica mais vermelho ainda- desculpe, não
deveria ter dito isso.
Gargalho.
-Tudo bem, que idade você tem?
-20. Cheguei à matilha alguns
anos após sua partida. -partida, isso faz
com que me encolha por dentro.
-Pode ficar de olho na Sarah por mim? –
ele olha para mim intrigado.
-Claro que posso, mas não me
leve a mal, como que Noah aceitou ficar
com sua filha?- não entendo a sua
pergunta.
-Como assim?
-É que... Você chega com a filha
de outro homem e ele simplesmente a
aceita...?
Como assim filha de outro
homem?
-Ela é filha de Noah, eu estava
grávida quando parti.- ele arregala os
olhos e me olha novamente.
-Desculpe, eu não sabia. Na
verdade, soubemos que sua filha morreu,
ninguém da matilha tem conhecimento de
sua existência.
Como Noah não acreditou em
mim? O que pensou? Que estivesse
louca, inventando um filho?- cerro meus
dentes.
-Desculpe, as vezes falo demais,
Kailan sempre diz que vou acabar
morrendo pela boca.
Kailan... O nome me chama a
atenção.
-Quem é Kailan?
-O filho de Noah, ele também é
meu melhor amigo. Sabe aqueles olhos
um de cada cor às vezes me dão
calafrios.
-901...- Sussurro. Tinha medo de
encontra-lo quando levei Sarah, acho
que não suportaria ter mais alguém
decepcionado comigo naquele momento.
-Sim, ele tem uma tatuagem
imensa em suas costas com esses
números, o cara é completamente
insano!
Meu celular toca e vejo o
número de Sarah piscar. Quando atendo
sei que ela não está bem, agora posso
imaginar o porquê, ela já deve ter
descoberto que Noah negou a sua
existência. Minha menina deve estar
sofrendo... Ela só vivia falando o quanto
seria incrível quando finalmente
fossemos morar com Noah, como
seriamos uma família, como ela poderia
ter um quarto fixo e fazer coisas normais
e fixas.
Desligo o aparelho com meu
coração pesando alguns quilos.
-Eu vou ficar de olho nela, não
se preocupa.- nem percebi que havíamos
chegado.
-Onde quer que a deixe?
-Hotel La Serenit.- ele me olha
de canto de olho quando chegamos até
onde o indiquei e desço do carro, olho
para o hotel, estava caindo aos pedaços,
mas eu não poderia chamar atenção,
então, é o local perfeito.
-Como é seu nome?
-Rick, alfa.
-Obrigada pela carona, Rick. –
ele sorri novamente e dá partida no
carro.
Encostado na parede da
espelunca de hotel, nas sombras, estava
um corpo que eu já conhecia muito bem.
Ian travou seus fortes braços ao redor de
mim, enquanto eu me derretia em seu
calor.
-Pensei que só fosse chegar
amanhã- minha voz sai abafada por estar
com o rosto enterrado em seu peito.
-Lua, você esteve lá por mim
quando precisei. Não poderia estar em
outro lugar a não ser ao seu lado neste
momento.
Uma lágrima escapa do meu
rosto, depois outra, e outra... Estou
soluçando nos braços de meu melhor
amigo enquanto ele me aperta com força,
se não conseguisse me confortar com
isso, definitivamente iria fazer com que
o ar parasse de circular em meus
pulmões. Isso me faz rir e ele se afasta
me olhando no rosto.
-O que seria de mim sem você?-
ele dá de ombros.
-Nada.- diz de forma indiferente.
Ian mudou, acho que quem irá sentir
mais essa mudança será Alec quando o
ver, nem parece mais a mesma pessoa. A
verdade é que Ian não é mais a mesma
pessoa, ele teve que se metamorfosear
para sobreviver, é isso o que fazemos,
não é? Nós nos transformamos e nos
adaptamos para sobreviver.
-Vamos, já peguei a chave do
quarto.
Ele segura a minha mão enquanto
me leva através dos corredores
bolorentos. O quarto fede a mofo, há
uma cama de casal precária, uma
escrivaninha com uma perna quebrada e
só. Pelo menos tem banheiro, tiro
algumas coisas da mochila e caminho
até lá.
A água gelada escorre por tudo
em mim, me fazendo tremer. Sem
perceber, meu corpo está tremendo,
convulsionando, tudo o que escondi
agora saindo ao mesmo tempo em uma
enxurrada.
Sinto o corpo de Ian atrás do
meu, ele me embola em uma toalha e me
abraça com força, senta-me na cama
enquanto ele mesmo vai se banhar.
Quando Ian sai do banheiro eu
ainda estou exatamente no mesmo lugar
em que me deixou, ele tira a toalha de si
e enxuga meus cabelos, depois deita na
cama e me puxa de encontro ao seu
peito. Ouço o suspiro cansado dele, isso
será difícil para nós dois, eu sei.
Rever todos, estar nesse solo,
visitar nosso passado, visitar¸ porque
ambos sabíamos que não poderíamos
ficar.

Kailan

Estou deitado em minha cama


tentando dormir. Ela não merece estar
aqui, elas não têm o direito de chegar e
bagunçar tudo novamente! Não agora
que ele estava seguindo em frente, não
vou deixar Lua magoar meu pai
novamente!
Fico dando voltas na cama sem
conseguir pregar o olho, digo a mim
mesmo que é por estar revoltado demais
com toda a situação, não por ouvir o
choro de uma certa garota no quarto ao
lado.
Ela me lembra de Lua, seus
olhos foram à primeira coisa bela que
conheci em minha vida. Lembro-me de
tudo na jaula, de cada fodida coisa, de
como era antes de Lua e depois quando
ela chegou. Lembro-me de confiar nela...
Eu era um idiota, isso não vai acontecer
novamente! Rosno desistindo de dormir,
saio de casa e corro para a floresta já
me transformando em lobo.
Passo a noite correndo, mas não
é o suficiente. Não estou preparado para
dar de cara com a filha dela em minha
cozinha, eu não a quero lá, nenhuma das
duas.

Bia

Consegui pegar o voo ainda


ontem à noite, foi uma tacada de sorte,
mas o mais importante é que estou aqui
agora! Corro para dentro da casa de tio
Noah, ele está sentado e com uma cara
de cansado, o homem parece que não
pregou o olho. Corro para ele e o
abraço.
-Oi tio! Onde está Sarah?-
quando termino a minha frase, o pirralho
aparece na porta.
-Quem te contou sobre ela?- ele
diz com olhos brilhando.
-Ah, oi pirralho. Eu quase
sempre esqueço que você mora aqui
também, se não fosse todo o ar pesado
que carrega junto a si mesmo, eu poderia
fingir que não mora. Maaas,
respondendo a pergunta que me fez de
modo tão educado: Eu estou bem, meu
voo foi ótimo, minha vida está ótima, ah,
e meu pai está muito bem, obrigada por
perguntar. –digo para ele sabendo que
isso iria o irritar, adoro irritar Kailan,
não lembro de passar um segundo da
minha vida sem irrita-lo.
-Eu não te perguntei isso.- Ele
rosna se aproximando de mim. Dou as
costas para ele e meu longo cabelo bate
em seu corpo quando me viro de vez.
-Saraaaah, tire sua bunda da
camaaa!!- grito, Kailan agarra o meu
braço.
-Responda a pergunta, Bia!- vejo
seus olhos brilharem quando encontram
os meus, tenho a necessidade de tira-lo
do sério, Kailan sempre teve um
problema com controle, todos sabemos
disso, mas quando começou a aprender a
se controlar, parecia um robô. Sinto uma
necessidade estranha em tira-lo desta
pose de homem inatingível. Não sou
cega, o pirralho é um homem, ficou mais
alto que eu e o maldito ainda é bonito.
-Meu pai falou ao telefone com
tia Lua e eu interceptei.- dou de ombros
e sorrio ao ver a garota descer as
escadas com os olhos ainda quase
fechados.
-Merda mãe, eu já disse que vai
ter uma filha surda se continuar a me
gritar todo o dia pela manhã- ela
murmura enquanto coça seus olhos. Eu
dou um grito e corro.

Sarah

-Saraaaah, tire sua bunda da


camaaa!!
Já disse o quanto minha mãe
costuma me gritar para acordar? Bem, a
resposta é: com muita frequência. Não
me preocupo em trocar de roupa quando
desço as escadas, merda, nem me
preocupo em abrir meus olhos.
Memórias passam por mim em câmera
lenta, não entendo porque meus olhos
estão tão pesados e meu corpo tão mole.
-Merda mãe, eu já disse que vai
ter uma filha surda se continuar a me
gritar todo o dia pela manhã.
Alguém grita, minha mãe nunca gritaria,
muito menos um grito histérico.
Arregalo meus olhos totalmente e
percebo onde estou, casa de Noah.
Braços me rodeiam e me apertam me
tirando do chão.
-Sarah, seja bem-vinda! Te
esperei por tanto tempo, poderia ter
vindo mais cedo, sabe? Mas tudo bem,
me conformo agora que está aqui. – ela
diz sem parar e olho para meu pai e para
Kailan que agora está com uma carranca
muito maior do que a de ontem a noite,
pensei que isso não fosse possível, mas,
yeap! Surpresas.
-Bom dia?- não era para sair
como uma pergunta, mas foi o que
aconteceu, não sou muito racional
quando acordo. Ela me puxa pela mão
me fazendo quase cair de cara no chão,
me joga sentada ao lado de meu pai e eu
olho para ele atônita.
-Trouxe presentes para você!-
ela começa a abrir malas e a colocar
vários presentes na mesa que há em
frente ao sofá.- Na verdade, comprei um
por ano, não sabia quando iria voltar,
então, tem presentes de todos os tipos aí,
não me julgue, eu era só uma criança!
-E porque trouxe presentes para
ela? –Kailan rosna a pergunta a Bia, mas
não a vejo se importar com seu tom.
-Porque é o aniversário dela,
pirralho!- Bia o fulmina com o olhar e
eu sorrio com o apelido. Nunca pensei
que alguém fosse chamar um homem do
tamanho de Kailan de pirralho.
-Hoje é o seu aniversário,
Sarah?- Noah me pergunta de modo
cuidadoso. Dou de ombros.
-Na verdade, foi ontem.
-Sabia! Droga, não tinha certeza
da data, mas sabia que era por agora.-
olho para os olhos brilhantes da garota a
minha frente, ela parece uma modelo,
seu cabelo é negro, lustroso e imenso,
seus olhos tem o brilho de uma
obsidiana e sua pele é chocolate.
-Obrigada Bia.
-Você sabe quem eu sou?- Ela se
joga em cima de mim e eu gargalho me
sentindo em casa pela primeira vez.
-Claro que sei, minha mãe me
falou sobre todos vocês, então é como
se os conhecesse. Ela te adora, me falou
muito sobre você, Bia.
-Falou que somos destinadas a
ficarmos juntas eternamente?- ela me
pergunta com um sorriso imenso.
-Algo do tipo- trocamos um
olhar e gargalhamos. Depois olhamos ao
redor e percebemos que não estamos
sozinhas. Bia dá de ombros e me puxa
novamente.
-Homens são tão chatos às vezes,
vem, estou com fome. Tio, vou assaltar a
sua cozinha!-ela grita enquanto já vai
abrindo a geladeira.
Vejo quando Noah e Kailan nos
seguem.
-Temos que abrir seus presentes
mais tarde, mas agora preciso comer,
estou faminta!
-Sente-se Bia, deixe que eu faça
isso- Noah diz tocando em seu ombro.
-Obrigada tio, amo homens que
me alimentam!- meu pai olha para ela
fazendo uma careta e eu sorrio disso,
depois seu olhar cai para mim e eu o
redireciono para Bia, com medo de ver
o que tinha lá dentro de seus olhos.
Kailan está sentado em uma cadeira e
olhando para fora da janela com braços
cruzados, Bia percebe que estou olhando
para ele.
-Não ligue, sinto muito lhe
informar, mas seu irmão é um idiota.-
ela sussurra mesmo sabendo que todos
podem ouvir.
-Ele não é meu irmão.
-Ela não é minha irmã.
Dizemos ao mesmo tempo, agora
estou com os braços cruzados como os
de Kailan.
-Tudo bem, vamos falar de
coisas alegres. Quando poderei ver sua
mãe? Estou com muitas saudades dela. –
Juro que estava prestes a abrir a boca
para responder quando ela me pergunta
outra coisa- Por onde você andou? Eram
só vocês duas? Vi a moto lá fora, é sua?
Você tem namorado?
-Calma Bia, não assuste Sarah
com um questionário.- Meu pai diz ainda
de costas cozinhando.
-Nós mulheres não nos
assustamos facilmente, tio. Você diz isso
porque já deve saber de todas as
respostas.- um silencio toma o ambiente,
sei que Noah está congelado em uma
mesma posição porque não ouço o
barulho de nada.
-Minha mãe deve passar aqui
hoje, espero que esteja com Ian. Eu fui
criada por ela, tio Ian e tia Sofia. Nós
rodamos o mundo, andei por todo o
canto, já mudei de escola algumas
dezenas de vezes, sei falar algumas
línguas diferentes também. Minha mãe
me deu a moto de presente de
aniversário e não, não tenho namorado.-
respondo para tentar aliviar o clima
tenso que se formou.
-Acho que não estou preparado
para ouvir sobre namorados, daqui a
pouco volto- meu pai sai da cozinha.
-Ótimo! Estava preocupada em
ter uma amiga com namorado- ela faz
uma cara engraçada- e, quem é Sofia?
Ian eu já ouvi falar, não sabia que ele
estava com vocês, entretanto.
-Sofia é... uma amiga de minha
mãe- iria dizer Sofia é uma bruxa, mas
algo me diz que esse assunto não é meu
para falar tão abertamente. Seguro no
pingente que Ian me deu de aniversário e
o pequeno pendrive que sempre carrego
escapa de minhas mãos.
-Que colar lindo! O que é isso?-
ela diz tentando alcançar o pendrive,
mas vou ao mesmo tempo e nossas mãos
se chocam e o pendrive escorrega sobre
a mesa até... não, não, não.
Olho para Kailan e seus olhos
tem um brilho de divertimento, ele sorri.
Eu me jogo para pegar o dispositivo,
mas ele estava mais perto e o pega
primeiro.
-Me devolve isso, Kailan!- ele
sorri mais ainda e começa a andar até a
sala- sério, isso é pessoal, Kailan!
Grito seu nome o que chama a atenção
de meu pai que vai até a sala.
-O que está acontecendo aqui?- e
esse foi todo o tempo que Kailan
precisava para plugar o pendrive na tv e
apertar o play. Meu olhos vão da tv para
Noah quando as imagens de mim dando
os meus primeiros passos aparecem na
tv. Gravar toda a minha vida, pelo
menos os momentos mais importantes,
foi ideia de tia Sofi, e agora estou aqui
encarando essa cena. Deveria ser algo
só para ele, quando ele estivesse
preparado para ver tudo isso.
Vem cá meu amor, mostra que
você já é uma mocinha.
Minha mãe dizia no vídeo
enquanto eu de fraldas caminhava em
sua direção, mas caio e machuco a
minha testa no canto da mesa, sangue
jorra no meu rosto enquanto choro.
Minha mãe deixa a câmera em cima do
sofá sem se preocupar em desligar, ela
vai até mim, aqui a câmera pega nós
duas, me abraça. Ela usa sua magia
quando fecha seus olhos e pequenas
gotículas de água começam a me rodear,
eu paro de chorar e com minhas
mãozinhas tento capturar as gotas que se
dissolvem ao meu toque. Então ela sorri
para mim, e como sempre, é o sorriso
mais lindo que eu já vi em toda a minha
vida. Ela toca em minha testa e o
machucado some.
Viu minha Sarah, cair não
assusta tanto. E é normal, sabe, você
vai aprender isso com o tempo. E, se
você se levantar novamente e tentar
mais uma vez, pode encontrar algo
maravilhoso no caminho.
Olho para meu pai, seus olhos
estão vidrados na tela, ele não pisca.
Minha mãe ergue a mão no
vídeo, me põe em pé novamente e anda
me deixando sozinha, ela cria um
caminho de cristais, eu com minhas
pernas rechonchudas e meus passos
incertos vou atravessando o caminho
com os olhos brilhando até chegar aos
seus braços. Então ela me pega, gira-me
e diz:
Não disse? Às vezes temos que
tomar decisões difíceis na vida, e isso
pode ser assustador, mas precisamos
nos erguer e caminhar, e as vezes, o
caminho vale a pena.
Minha mãe está com lágrimas de
emoção em seus olhos, sei o que
acontece depois, tio Ian chega, ele me vê
em pé e dá um sorriso bonito, ele diz:
Vou esconder as chaves do carro, daqui
a pouco ela estará tentando fugir de
casa. Minha mãe sorri e o olha
emocionada.
Eu vou até a tv e retiro o
pendrive, meu pai pisca e olha para
mim. Vejo todos com o rosto em branco
e calados me encararem. Eu dou um
sorriso fraco.
-Desculpem por isso, eu disse
para esse idiota – fuzilo Kailan com os
olhos- que era pessoal.
Meu pai continua olhando para a
tv, mesmo que lá tenha só uma tela
negra.
Ele caminha em minha direção e
ergue sua palma para cima, então sem
ter mais o que fazer, lhe entrego o
pendrive, outra coisa que ensaiei tão
bem em minha mente e que agora sai
completamente dos trilhos.
-Estarei no escritório caso
precisem de mim.- ele diz com uma voz
distante e sobe as escadas.
Eu fico encarando o espaço
vazio que ele deixou até que Bia me
interrompe.
-Você era um bebê fofo, ainda
bem que toda aquela gordura localizada
se foi.- eu dou risada, é impossível não
rir com Bia.- E o que foi aquilo que Lua
fez? Pensei que fosse um lobo e não
uma- ela faz um gesto com as mãos sem
saber ao certo a palavra.
-Bruxa.- Bia arregala os olhos.
-Eu conheço uma bruxa! Sabe o
quão incrível isso é? Peraí! Você
também é uma?!- ela me olha
boquiaberta e vejo que Kailan também
me encara aguardando uma resposta.
-Hammm, faço algumas
coisinhas.
-Mentira! Vamos, mostre!
-Eu não...
-Por favor...- suspiro.
Um vento gelado abre todas as
janelas da casa, ele passa nos cabelos
de Bia como uma mão a acariciando,
então eu o liberto em um suspiro.
-Isso é tão...! Deixa só Loren
ficar sabendo disso! Ela deve chegar lá
pela tarde.
-Loren?
-Sim, a filha de tia Raquel, acho
que você não a conhece, quando Lua
partiu Raquel estava grávida. Nós
somos um trio finalmente, isso é tão
incrível!
Bia continuou falando, ela me
ajudou a carregar os presentes para o
meu quarto, nós tomamos café. Mas
minha mente estava em outro lugar, em
Noah vendo todos as gravações de toda
a minha vida, eu queria estar lá com ele.
Ergo-me.
-Onde você está indo?- Bia me
pergunta, há muito tempo que já não vejo
Kailan pela casa, ele simplesmente saiu
pela porta e não disse aonde iria.
-Vou no escritório ver meu...vou
no escritório- Porque não consigo
chama-lo de pai?

Noah

Ontem à noite fiquei em choque.


Ver Lua novamente e por tão pouco
tempo, depois descobrir sobre Sarah, e
ter que lidar com os sentimentos
conflitantes de Kailan, e porra, com os
meus. Nem toquei nela, em minha filha,
como se fosse uma lembrança, como se
ela não fosse real, como se o simples
fato de tocá-la me fizesse despertar
dessa loucura que é a minha vida no
momento. Não dormi, quando eles
subiram para os quartos, eu fiquei
sentado no sofá enquanto as horas
passavam, o que eu deveria estar
sentindo? Raiva, gratidão?
Quando Bia chegou pela manhã
eu suspirei em alívio, passei a noite toda
tentando elaborar um plano para
conhecê-la, quais as perguntas certas,
como devo agir, o que devo fazer? Então
quando ela chegou, foi como se esse
peso saísse dos meus ombros, essa
menina tem o dom de trazer alegria e
leveza por onde passa, exceto para o
meu filho. Eles nunca se deram bem
desde pequenos, na verdade, Bia pode
não lembrar, mas Kailan costumava ficar
atrás dela quando Lua se foi, e Bia o
odiava, fazia de tudo para enxotá-lo de
perto de si, Kailan fazia uma cara
engraçada e permanecia ao seu lado,
como se aquele fosse o seu lugar no
mundo. Então eles cresceram e Kailan
passou a revidar, eles se engalfinhavam
e se insultavam por onde passavam, mas
eu conheço meu filho, quando ninguém
está olhando, ele ainda olha para ela do
mesmo modo que costumava olhar
quando ainda eram somente crianças.
E agora ela está aqui, com seu
humor e ar divertido, ela grita por
Sarah. Minha menina aparece na escada
com os olhos ainda fechados, seu cabelo
está bagunçado, ela usa uma camisola de
seda azul marinho com bordados branco,
quando Bia grita e a abraça, Sarah abre
seus olhos de vez e por um momento eu
vejo Lua, na verdade, eu vejo nós dois
nela, o que é estranho, me ver no rosto
de uma garota. Mas é isso o que ela é, a
prova de que eu e Lua um dia fomos um.
Bia a arrasta de um lado ao outro
enquanto eu acompanho com os olhos,
Sarah no inicio parece estar sem graça,
mas logo depois sorri de modo
verdadeiro para Bia. Algo que ela diz
chama a minha atenção ‘eu conheço
todos vocês, minha mãe sempre me falou
sobre todos, então é como se os
conhecesse’. Será que Lua falou sobre
mim? Minha história com Lua foi rápida,
mas muito intensa, eu a amei e a perdi
como uma brisa que passa pelo meu
rosto.
Lembro-me que um dia eu e Bia
tivemos um desentendimento e Ravi teve
que intervir, ela dizia que essa casa não
estava preparada para receber uma
garota, me disse que a minha filha iria
chegar e precisava se sentir parte de
tudo isso, que eu deveria pelo menos
fazer um quarto para ela. Isso me
machucou, minha filha estava morta e
Bia estava brincando com algo que não
entendia. Dou um riso sem força, eu
estava errado. Vendo todos os presentes
que ela tira de suas malas, presentes
para a minha filha, por cada ano que
elas não estiveram juntas, vejo que
diferente de mim, Bia nunca desistiu, ela
sempre acreditou;
-Seu aniversário é hoje?-
pergunto orando para que não seja, para
que eu tenha tempo de consertar as
coisas. Ela dá de ombros como se não
fosse grande coisa.
-Foi ontem.
Ontem, ontem que eu mal a olhei,
eu deveria ter pelo menos conversado
com ela, certo? Eu deveria... ter feito
tanta coisa. Saio da sala e os deixo ali,
porque eu precisava falar com alguém,
então eu ligo para minha irmã, ela vai
adorar descobrir que é tia.
Ligação on
-Oi Noah! O que me conta de
novo?
-Lua.
Ouço minha irmã se engasgar
com algo e gritar ao telefone.
-Lua voltou? Estou indo para a
sua casa, agora! Já contou a Raquel?
-Lua está na cidade, e não aqui
em casa. Ela deixou Sarah aqui e não,
não contei para Raquel, não contei a
ninguém.
-Sarah, quem é essa? E porque
Lua não ficou em sua casa?
-Sarah é minha filha.
Silencio, um silencio ensurdecedor.
-Você me disse que sua filha
estava morta.- é tudo o que Alicia diz e
sinto uma faca entrar em meu peito.
-Eu... Não conseguia sentir o
cheiro dela, só de Lua.
-Noah, ela te deixou uma carta
dizendo que iria ter uma menina e você
disse que ela deveria estar em choque
quando escreveu aquilo porque tinha a
completa certeza de que a sua cria
estava morta.
-Não preciso de você para
apontar os meus erros, já estou bem
ciente deles.
-Desculpe Noah. Não posso
imaginar como está sendo para você, eu
sinto muito. Vou conversar com Raquel e
vou até aí, certo? Ainda estou com raiva
de você por ter tirado o meu
companheiro de mim, mas irei aí te
ajudar.
-Sabe que foi preciso, Lucas era
o mais qualificado para a tarefa e...
Começo a ouvir a gritaria, Sarah
gritando o nome de Kailan.
-Eu preciso ir antes que Sarah e
Kailan se matem.
Digo e desligo o telefone
Ligação off
Quando chego à sala, todo o meu
corpo congela. Na tv ouço a voz de Lua
quando ela fala calmamente e com muito
amor para uma criança que está dando
seus primeiros passos. Com olhos
incrivelmente azuis e cabelos tão negros
quanto a noite, o bebê cai e se fere. Lua
corre e a embala com amor, ela faz
magia... Não sabia que Lua era capaz de
fazer magia, isso me faz pensar, quantas
coisas mais sobre ela que eu não sei? A
criança anda novamente, percebo que
são os primeiros passos de Sarah, da
minha filha. Lua deve ter gravado, isso
me faz pensar que sempre esteve em
seus planos voltar. Quando Sarah tira o
dispositivo da tv, ainda fico olhando
para a tela negra, eu deveria estar lá, eu
deveria estar ao lado de Lua quando ela
andou, quando aprendeu a falar, será
qual foi a primeira palavra que Sarah
disse? Qual foi a careta que ela fez ao
provar pela primeira vez algum
alimento? Sua primeira decepção? Com
que ela costumava sorrir? Ela
costumava ter medo a noite? Milhares
de perguntas rodeavam a minha mente no
momento, mas eu só sabia que queria
ver aquela cena uma e outra vez, sempre
achei que Lua ficaria linda sendo mãe,
mas vê-la nesse papel extrapolou todas
as minhas expectativas.
Só ergo a minha mão pedindo
silenciosamente para que Sarah me
entregue o pendrive e que eu possa ver
em câmera lenta cada detalhe, suspiro
quando sinto o pequeno dispositivo em
minha palma.
-Estarei no escritório caso
precisem de mim.
Subo as escadas sem me atentar
muito com o que encontro ao redor,
entro no escritório, puxo a cadeira e
coloco o dispositivo na tv que há em um
painel em frente a mesa.
Vejo a cena novamente, mas ela
continua, continua com Ian beijando
Sarah na testa, continua com o olhar
trocado entre os dois ao encararem a
menina. Então a cena muda novamente,
Sarah está balbuciando algo, ela diz
papai, e Lua diz, viu Noah, mesmo
longe acho que Sarah é ligada a você
de alguma forma¸ e Sarah repete, Noha,
então Lua diz: sim, meu amor, Noah é o
papai.
Meus olhos estão turvos, eu
aperto o pause. Abaixo a minha cabeça e
fico ali por grande parte do dia, olhando
o chão e com a cena pausada em minha
frente. Ao mesmo tempo em que quero
apertar o play e continuar a assistir, eu
quero tirar e nunca mais ver. Porque é
um lembrete, um lembrete de minha
ausência e de tudo o que perdi, eu
perdi... Sem ao menos escolher perder.
A porta do meu escritório é
aberta, sinto alguém se ajoelhar no chão
em minha frente, ela toca em meu rosto e
eu olho dentro daqueles olhos azuis, os
mesmo olhos azuis que sonhei por tanto
tempo ver outra vez. Não sei o que
Sarah viu dentro dos meus olhos, mas
ela franze o cenho e joga seus braços ao
redor de meu tronco me abraçando com
sua cabeça repousando em meu coração.
Minhas mãos tremem quando toco em
seu cabelo, tão suave e fino, eu abraço a
minha filha de volta, suspiro. Pensei que
nunca fosse me sentir inteiro novamente,
eu pensei que jamais fosse querer outra
pessoa residindo em meu coração, mas
aqui, abraçando a minha filha, eu quero
que ela tome cada espaço, cada canto,
porque eu me sinto inteiro novamente
sentindo ela aqui.

Sarah
Caminho pelo corredor que Bia
me indicou, entro no escritório sem
bater. Demoro algum tempo para olhar a
imagem, ele ainda não viu todo o
conteúdo do pendrive, parou na
filmagem de quando eu disse a minha
primeira palavra, seu nome. Noah estava
de cabeça baixa e mesmo sabendo que
ele me sentiu entrar, não olha para mim.
Então eu me ajoelho, toco em seu rosto e
vejo uma briga interna em seu olhar,
vejo dor, sofrimento, saudade por algo
que nunca teve, eu sei, sei o que é isso e
reconheço. Porque eu senti saudade dele
por todos esses anos, eu senti sua falta
mesmo não o conhecendo. Então o
abraço enquanto repito internamente,
por favor, me abraça de volta, por
favor... Só me abraça de volta.
Sinto os músculos do meu pai se
retesarem ao redor de mim, então ele
começa com um carinho leve em meus
cabelos e beija o cume da minha cabeça,
eu suspiro respirando seu cheiro
amadeirado, estou sorrindo, com o
sorriso mais idiota que alguém pode dar,
lágrimas começam a cair no meu rosto,
sinto-o respirar forte e me afastar. Ele
limpa cada lágrima que cai e sorri. Eu
sorrio de volta.
-Mamãe tinha razão.- ele ergue
uma sobrancelha.
-Sobre o que?- sorrio ainda
mais.
-Seu sorriso é realmente lindo.
Ela costuma dizer que eu e você temos o
mesmo sorriso, o sorriso mais bonito do
mundo.
Acho que não foi uma boa
escolha de palavras, seu olhar se perde
em algo dentro de sua cabeça.
-Então... Vamos assistir ao resto?
- pergunto enquanto pego o controle e
me jogo em um sofá de couro. Meu pai
se levanta e caminha até mim com
passos incertos, ele está... com medo?
-Tem várias coisas engraçadas,
juro que não é tão chato quanto parece.-
digo sorrindo e ele senta-se ao meu
lado, eu me acomodo com a cabeça em
seu ombro e o abraçando de lado, ele
trava em seu lugar, mas logo suspira e
me contorna com seus braços.
Aperto play. Depois da filmagem
comigo lhe chamando de pai, tem uma
com tia Sofia me dando comida, uma
papinha de abóbora e eu faço tudo
explodir em sua cara, sempre choro de
rir quando assisto essa. Meu pai me
pergunta sobre Sofia, sobre o que ela é e
se foi a primeira vez que usei os meus
poderes. Ele me perguntou também
sobre minha mãe, sobre ela ter magia, a
verdade, é que desde que me lembro,
minha mãe, Sofia e tio Ian, possuem
magia. Então é isso o que respondo a
ele, vejo seu olhar pensativo por algum
momento.
A próxima filmagem é de Ian me
dando banho, depois tem outra de minha
mãe cantando para mim enquanto durmo,
passa uma com um lobo mel gigante
brincando comigo e eu gargalhando, a
próxima mostra tio Ian filmando
enquanto eu assisto um desenho, mas
minha mãe chega em casa alterada, ela
está sangrando e com um semblante de
preocupação, ela diz: precisamos ir. A
tela fica negra por um instante e outra
cena comigo um pouco mais velha
aparece, mas eu pauso o vídeo e olho
para Noah que me encara intrigado.
-Vão aparecer muitas cenas
como essas- dou de ombros- minha mãe
sempre chegou em casa machucada de
alguma forma.
-Quem a estava ferindo?- ele
rosna e sinto toda a sua raiva percorrer
meu corpo.
-Não sei, ela nunca me disse.-
ele acena com a cabeça para
continuarmos.
Estava em um parque na França,
andando em um velotrol, eu corria atrás
de um cachorro e tentava segurar em seu
rabo enquanto minha mãe e Ian estavam
sentados em uma toalha de piquenique e
gargalhando.
Na outra gravação eu perguntava
por que minha mãe conseguia se
transformar em loba e eu não, ela me
dizia que era muito nova e eu fiquei
emburrada. Lembro que fiquei
emburrada por quase dois dias, até que
em uma noite, minha loba veio. A
próxima gravação é de uma loba branca
de olhos azuis pulando em cima dos três.
Estava com Ian na outra
gravação e ele estava me ensinando o
que fazer quando um garoto se
aproximar de mim, dou risada ao me
lembrar da memória.
Afaste um pouco os pés, gire seu
ombro para trás e depois jogue todo o
seu peso para esse lado, não se
esqueça de manter os punhos firmes.
E porque eu deveria socar um
garoto caso ele me toque?-questionei.
Talvez você não saiba na hora
porque está batendo, mas com toda
certeza ele irá saber por que apanhou.
A gravação muda para outro dia.
Você o que?!- minha mãe gritou.
Eu fui expulsa do colégio por ter
socado a cara de um garoto, adivinhem
por quê? Eu cruzo meus braços de modo
teimoso e minha mãe cerra seus olhos
para Ian.
Você fez isso!
Ele ergue as mãos em sinal de
rendição.
Ian! Ela não pode socar as
pessoas!
Ela não vai socar todo mundo.
Só qualquer moleque que se
aproximar.- meu tio responde.
Eu desisto! – ela joga as mãos
para o ar e aponta para mim
Você está de castigo!- depois
olha para meu tio e lhe aponta o mesmo
dedo –E você também!
Eu e Ian nos olhamos de modo
cumplice e ele me piscou um olho. O
tadinho não soube o que fazer quando eu
descobri que garotos servem para outras
coisas além de saco de pancadas.
Então nos mudamos novamente.
Fomos para a Síria, lembro-me que meu
poder e meu lobo nesta época estavam
descontrolados, parei de ir para a escola
por causa disso. Então minha mãe
começou a me treinar. As próximas
gravações são sobre isso, sobre luta,
força, dedicação e principalmente sobre
controle. Naquele mesmo ano eu voltei a
ir a escolas normais. Então começam as
gravações de peças de teatro e recitais,
bailes, fantasias ridículas, meu primeiro
encontro... Gemo quando essa cena
aparece, o garoto quase saiu correndo
quando olhou para Ian carrancudo e com
seus fortes braços cruzados.
Apareceram várias outras gravações
comigo e com minha mãe construindo a
moto e conversando, conversando
muitas vezes sobre a matilha, sobre as
pessoas que ela deixou para trás, sobre
meu pai.
Eu gravo o vídeo quando a moto
fica pronta, minha mãe me dá um
capacete e nós partimos até uma via
deserta.
Isso é incrível! – eu grito para
ela.
Minha mãe tira o capacete e joga
em algum canto, ela só faria isso se
soubesse que estávamos realmente
sozinhas, então faço o mesmo que ela e
sinto o vento cortar meu rosto e
bagunçar meu cabelo.
Está pronta? – ela grita.
Pronta para que?! – respondo.
Minha mãe nivela a moto, se
apoia no guidom da frente e está agora
de ponta cabeça.
Você é louca!!-grito para ela.
Ela pisca para mim de ponta cabeça.
Dirija.
Quando vou para o assento da
frente ela pula para o de trás.
Mãe! Você poderia ter quebrado
o pescoço, estamos a 110!!
Não morreria por causa disso!
Então ela fica em pé no banco de
trás, abre seus braços, eu olho para cima
e a vejo sorrir. Não lembro de ter visto
nada tão bonito quanto essa cena. Meu
coração aperta com o susto que ela me
dá em seguida. Com os braços ainda
abertos, um forte vento passa por nós, e
ela como uma pipa, sobe com ele.
Mãe!
Paro a moto freando e queimando o
pneu, ouço seu riso antes mesmo de vê-
la. Cruzo meus braços.
Pensei que fosse me ensinar a
dirigir e não a testar o meu coração!-
digo irritada.
Você já sabe dirigir uma moto e
carro, eu vim aqui te ensinar sobre um
dos elementos, vem, desliga isso.
Nas próximas filmagens
aparecemos eu e minha mãe em
diversos cenários ao redor do mundo,
em diversas festas, cozinhando,
brincando, eu e Ian lutando, eu e Sofia
treinando magia...
Enquanto os vídeos vão
passando, eu narro cada coisa e ele vai
sempre me fazendo mais perguntas, sem
perceber, estamos sorrindo juntos e o
dia passa. Ouço uma gritaria lá embaixo,
parece que alguém chegou, então pauso
a reprodução.
-Posso ficar com isso?- ele me
pergunta.
-Claro que pode, pai, foi
gravado para você- então percebo do
que lhe chamei e olho para cada canto
menos para o seu rosto. Ele segura o
meu queixo.
-Gosto de como isso soa vindo
de você, filha.- ele diz e o abraço.
-Acho melhor irmos antes que
minha irmã e Raquel destruam a casa.
-Raquel?!- me afasto dele e
corro descendo as escadas, ela é
exatamente como minha mãe sempre
disse. Vejo seus olhos me reconhecerem
e eu corro e lhe abraço.
Entre amigos

Raquel

Alicia me disse que a estranha


tinha voltado, voltou ontem. E não me
ligou, ah, mas a estranha vai me pagar!
Ela também me disse que o nome da
filha de Lua é Sarah e que Noah está
surtando com uma menina que ele
pensou que estivesse morta. Então,
agora estamos chegando ao território de
Noah, Leandro disse que não poderia
deixar a matilha agora, tinha coisas para
resolver, mas que logo estaria aqui,
então vim com Alicia e Loren, e já sinto
a falta do meu companheiro em cada
canto do meu ser. Depois da ida de Lua
e após a grande guerra, Noah resolveu
subdividir a matilha e o título de alfa foi
dado aos seus mais fiéis guerreiros que
hoje tomam conta de matilhas ao redor
de todo o mundo, Lendro , Alec, Ravi,
Alicia... Eram um dos nomes de alfas
mais conhecidos dentre eles, a grande
prova de que Lua encontrara uma
matilha diferente é ter uma mulher como
uma alfa comandando um dos maiores
territórios de lobos.
Minha filha recebeu um
telefonema de Bia e está com os nervos
a flor da pele, também ansiosa por
conhecer Lua e Sarah, ela quase não
para quieta em seu assento. Loren é
sonhadora, uma romântica, e isso me
preocupa. Ela vive sonhando acordada
com o seu companheiro, e eu já vivi o
suficiente para saber que nem todas as
relações são saudáveis.
Penso na estranha...Como será
que está Lua, como foi sua vida após
partir?
-O que diabos é isso?!- digo apontando
para algo que chama a minha atenção no
caminho da casa de Noah, Alicia para o
carro e olha boquiaberta para a cena.
Lorenlay estava completamente
enterrada, olhamos uma para a outra e
dizemos ao mesmo tempo:
-Lua.
-Eu vou procurar ajuda, você
pode ir.- Alicia diz já caminhando em
busca dos guardas.
Eu e minha filha entramos na
casa de Noah e Bia corre, me abraça e
depois abraça Loren e começa a falar
tudo de vez, coisas como bruxas, moto,
incrível. Então alguém desce as escadas,
fico estarrecida com a semelhança, se
não fosse o cabelo escuro, essa garota
seria exatamente como Lua. Ela corre
para mim e me abraça.
-Tia Raquel! Eu sempre quis te
conhecer!- ela diz me apertando forte-
minha mãe falou tanto sobre você, sobre
tudo o que aprontaram e todas as
histórias engraçadas.
-Você é linda Sarah, seja bem-
vinda.
-Ela também me contou tudo
sobre a sua mãe, espero conhece-la em
breve- Loren diz timidamente, Sarah não
a conhece, nunca ouviu falar sobre ela
porque quando Lua se foi, minha menina
ainda não tinha nascido. Sarah me
surpreende ao puxar Loren para um forte
abraço.
-É bom te conhecer também,
Loren!
-Digo o mesmo. Ahhh- Loren e
Bia gritam ao mesmo tempo enquanto
Sarah faz uma careta, até na
personalidade ela é igual a Lua.
-Agora somos como as três
mosqueteiras!- elas gritam e se abraçam
e eu sorrio.
-Sarah, onde está sua mãe?-
Pergunto, mas Alicia chega atrás
praticamente arrombando a porta.
-Onde está a minha sobrinha?-
Sarah olha para ela com um sorriso
gigantesco.
-Tia Ali!- elas se abraçam
-Você esqueceu de dizer que sua
filha é uma mulher linda, Noah!- os
olhos de Alicia brilham, ela tem razão.
Vejo meu irmão sorrir orgulhoso quando
olha para a filha.
-Vamos até o lago!- Bia segura
na mão de Sarah e Loren, só que Sarah
não sai do lugar, ela fica olhando para
Noah, ele faz um sinal afirmativo e ela
sorri, seguindo as outras meninas.
-Primeiro ligue para a sua mãe e
peça para ela trazer o traseiro até aqui!-
Sarah me entrega um celular que já
estava discando um número, o nome
‘mãe’ pisca na tela.
-Ela é uma menina incrível.-
ouço Alicia dizer para Noah.
-Sim, ela é.
Um, dois, três toques.

Ligação on
-Oi meu amor!- olho para Noah,
todos nós ouvimos a voz masculina que
atendeu ao telefone de Lua.
-Não acho que você seja a Lua.
-E eu não acho que você seja a
Sarah. – fico em silencio e ele também,
consigo ouvir sua respiração, ouço no
fundo a voz sonolenta de Lua ‘quem é
Ian?’
-Ian? Oh meu Deus! É você?
-Raquel?
-Sim, diga a estranha que
estamos aguardando ela para a janta, os
rapazes irão chegar a noite também,
então estejam aqui.
Ele demora algum tempo para
responder, tempo demais.
-Estaremos aí.
Ligação off

Vejo Noah tencionar a mandíbula


quando eu desligo o celular, entrego o
celular de Sarah a ele que o guarda
dentro do bolso. Não vou mentir que
também estranhei o fato de Ian estar com
Lua, a ida de Lua coincidiu com a morte
da companheira de Ian, ele estava
destruído por causa disso e nunca
passou pela minha cabeça que ele a
havia seguido, bem, não seria a estranha
se não nos trouxesse algumas surpresas.

Lua

Acordo com um toque de


telefone, o meu. Vejo que Ian atende ao
meu celular, pela sua postura, não está
gostando muito da conversa.
-Quem é, Ian?- murmuro e ouço a
voz de Raquel do outro lado, todo o meu
corpo desperta. Quantas vezes pensei
em ligar para ela? Por quantas vezes
fraquejei com seu número já chamando?
Ian olha para mim esperando
uma resposta e eu aceno com a cabeça.
Mais cedo ou mais tarde teremos que
encontrar a todos, que seja hoje então.
-Não sei se isso vai ser bom
para você, Lua- ele diz de modo
emburrado.
-Estou bem, não é como se eu
fosse me estatelar dura no chão a
qualquer momento.
-Não brinque com coisa séria,
você disse que já encontrou os lobos
quando estava chegando na cidade,
então os acontecimentos devem estar
próximos.
-Sim, eu os vi, Dan e Luke.
-Eu nunca entendi como uma
garota tão nova quanto Sarah irá ter tanta
responsabilidade sobre suas costas e
nós não faremos nada para ajudar! Ela
está lá naquela maldita cidade sozinha,
não sei como sobreviveu até agora
sendo que a população da cidade é
quase toda tomada por demônios.
-Ela terá ajuda, Ian, na verdade,
ela sempre teve. Cada um carrega o seu
fardo. Nós iremos ajuda-la ao nosso
modo, não se preocupe, ela nunca estará
sozinha e espero que Elisabhet perceba
isso rápido.
-Deixar o futuro do mundo nas
mãos de uma criança me deixa bem
calmo- ele rosna.
-Cada um luta suas próprias
guerras.
Ouço o meu telefone tocar
novamente, Ian o atende, eu não me
importo muito já que minha mente está
focada nos lobos gêmeos, eles serão
importantes ao desenrolar dessa estória,
a menina precisará de ajuda e ambos ao
seu modo, serão como âncoras.
-Lua, Sofia no telefone.- ele diz
me entregando o celular e indo ao
banheiro.

Ligação on
-Senhora.
-Sofia, já disse que poderia me
chamar de Lua, não entendo para que
tantas formalidades.
-Nós estamos penando para
juntar as pessoas que lutarão ao seu
lado, pessoas que precisam reconhecer
o seu título.
Suspiro cansada dessa conversa.
-Tudo bem, o que aconteceu?
-Os anciões disseram que não
reconhecem o seu lugar na hierarquia
dos clãs, não acreditam em sua
previsão, não irão se envolver.
Droga...Eles eram os mais
poderosos, sem o apoio dos anciões,
várias pessoas irão nos virar as costas
também.
-Eles mudarão de ideia quando
começarem a ser atacados pelas
sombras.- rosno para Sofia.
-Lua, você está bem? Sabe que
não pode proteger a todos eles não é?
-Ian já chegou, quando você
vem?- Decido mudar de assunto, sei
quais as consequências para tudo o que
faço, consequências...
-Merda Lua, não vou deixar que
se mate por causa de um bando de
idiotas! Eu devo chegar à noite.
-Vá direto para a casa de Noah,
iremos jantar lá.
-Ok, até.
Ligação off

Jogo-me novamente na cama e


suspiro, Ian se senta próximo e eu
rapidamente coloco a minha cabeça em
seu colo.
-Pronto para encontrar Alec?-
ele rosna, certos hábitos nunca se vão.
Olho para Ian e imagino se ele já
percebeu que continua agindo como um
lobo mesmo não sendo mais um.
-Pronta para encontrar Alec e
Raquel?- ele rebate a minha pergunta.
-Não.- é o que respondo.
-Foi o que pensei. – ele diz
dando de ombros.
Olho para Ian e penso se fiz o certo em
trazê-lo para esse mundo, se eu não
deveria tê-lo deixado para trás como
todos os outros que deixei pelo caminho,
a diferença é que sabia que os outros
sobreviveriam sem mim, quanto a Ian...
-Não olhe para mim assim, Lua.
Não se culpe pelo o que eu me tornei.-
ele diz como se adivinhasse os meus
pensamentos, talvez tenha, afinal, a
magia de Ian cresceu drasticamente em
tão pouco tempo. Hoje ele é ao seu
modo, até mais poderoso que Sofia.
-Mas eu fiz isso com você.-
sussurro.
-Se está dizendo que me deu um
motivo para viver, que permitiu que eu
vivesse uma vida sem ter que morrer,
então sim, você fez exatamente isso
comigo.
-Sabe muito bem qual foi o
preço.- ele cerra a mandíbula.
-Sim, sei. Mas Lua, meu lobo já
estava morto e iria me carregar com ele,
eu escolhi viver, viver da única forma
possível sem ela.- ela Priscila, ela que
não causa mais nada nele porque eu
destruí nele a parte que a amava, mas me
pergunto, o que destruí no processo? A
que preço?
-Eu sinto muito por tudo- ele
aperta a minha mão em conforto.
-Eu também. – Ian sai me
deixando sozinha no quarto.
Sabe o que se aprende quando é
a reencarnação de uma grande líder do
mundo da magia? Que a vida não
poderia ser mais complicada. Existem
eleitos, escolhidos, profecias,
destinados... Eles me chamam de
Senhora, porque antigamente só existia
um clã mágico, o meu. Mas o meu clã foi
corrompido... Lembro-me das palavras
de Briana depois de me ajudar a sair da
enrascada nos laboratórios, ela me
disse: aproveite enquanto pode, haverá
um tempo em que teremos que assumir
nossa posição.
Não entendi ao início, mas Sarah
tinha somente um ano quando Briana
voltou a se comunicar comigo,
comunicar? Ela me mostrou toda a sua
vida, Ian disse que fiquei em coma por
quase um mês.
Briana tinha os cabelos negros
e sorriso fácil, ela era a única mulher
herdeira da família, mas tinha irmãos,
Donar, Loki e Efor, destes Loki era o
menor e o verdadeiro chamego de
Briana. Sua mãe era severa e lhe
ensinava com punhos de ferro sobre a
magia, ela dizia que aprendeu de seu
pai, do próprio anjo que outrora
descera do céu e se apaixonara por
uma humana. Os tempos eram outros,
quando uma noticia era levada ao
galope de um cavalo e uma grande vila
era algumas dezenas de pessoas.
Briana, assim como seus irmãos, virou
uma mestra na arte da magia branca, o
clã Aesir era composto pelos primeiros,
os chamados originais. Mas, não era o
único clã, havia ainda o Vanir e Iotnar,
formando as três pontas da magia
branca.
Mas a magia negra sempre
pairava, sempre a espreita, sempre em
busca de uma brecha... Briana se
destacou no clã, todos sabiam que ela
seria a próxima líder e a garota estava
disposta a assumir essa função, afinal,
tivera medo de pouca coisa em seu
tempo de vida e a liderança não lhe
assustava.
Tudo estava em paz, até em
certa tarde em que noticias vindas a
galope, abalaram todo o clã. Havia um
clã humano nas proximidades, eles
eram guerreiros, muitos disseram que
seu poder e força em batalha eram
semelhantes ao dos deuses, e que o seu
líder era o próprio deus na terra.
Briana não se comoveu com a notícia,
embora tenha causado burburinho em
seu clã, ela sabia onde residia o seu
poder. Até certo dia em que Efor e
Donar vieram ao seu encontro com
Loki morto em seus braços, o pequeno
homem- embora já seja um homem
feito, Briana nunca deixara de vê-lo
como seu pequeno-, se encontrava
desprovido de cor, sangue, vida...
Briana deu um grito sofrido e se
trancou em sua tenda, ela e sua raiva,
ressentimento, mágoa, luto e ódio. Mas
estes não são bons sentimentos para
trazer como companheiros, eles
enganam, iludem, foram eles que
sussurraram ao ouvido de Briana
dizendo: Vingança, vingança, sangue se
paga com sangue. Mas a morte era uma
dádiva, Briana sabia disso e não
desejava a morte para o líder do clã
Sigurd, não... Ele viveria, viveria e
sentiria por cada maldito dia a dor que
causou a ela, ele viveria sabendo que
respira somente por um capricho de
Briana, ele viveria e iria implorar por
sua morte.
Naquela noite, as outras duas
pontas do clã sentiram a forte magia
ser conjurada, mas pouco ou nada
poderiam fazer, afinal, o poder de
Briana era maior que o de todos juntos.
Ela amaldiçoou o líder do clã Sigurd a
uma eternidade sendo uma fera, afinal,
era assim que ela o via, uma besta, um
lobo. Metade homem, metade lobo, foi
ali naquela tenda que se iniciou a
lenda dos Fenrir, os homens lobos.
Briana após fazer a maldição não se
sentiu melhor, só vazia. Um dia se
passou com uma calmaria estranha,
Briana observava até os pássaros
pararem de cantar, até o vento parar de
se mover... Uma calmaria estranha.
Então à noite o primeiro uivo chegou
aos seus ouvidos. O clã se entreolhou
com medo do que aquilo poderia
significar, Briana tremeu com mais
outro uivo, no fundo sabia que aquele
uivo havia sido direcionado a ela.
Como pôde?! Esqueceu-se da primeira
lição que sua mãe havia lhe ensinado,
estava cega de raiva e esqueceu-se, a
magia sempre deixa um rastro e sempre
haverá consequências.
Briana em pé, viu diversos
membros do seu clã passarem sendo
carregados por seus irmãos, eles
disseram que a magia não funcionava
com o lobo, ela percebeu ali que havia
criado um ser mágico, um ser vindo da
magia branca e imune a ela, o que fez?!
Condenou seu clã, sua família! Com
mais um uivo sofrido, o lobo foi
embora deixando para trás um rastro
de sangue, morte e destruição, não sem
antes de olhar Briana nos olhos como
se estivesse fazendo-lhe uma promessa,
ele dizia: voltarei por ti.
Durante o dia houve a reunião
das três pontas do clã e ela não fora
chamada, seus irmãos ficaram em seu
lugar e lhe disseram que ela havia sido
expulsa, que tinha sorte de não sofrer
com a morte por trazer a desgraça ao
clã. Briana naquele dia foi embora sem
olhar para trás, ela deixou tudo o que
conhecia no mundo ali, tudo o que lhe
era precioso. Naquela noite, não
houveram mais ataques, a estória
contada no clã era a de que Briana era
amaldiçoada e trouxera a desgraça
para as terras sagradas.
A noite ela ouviu um uivo ao
fundo, sabia quem era, a sua besta. Por
muito tempo Briana fugiu de seu
destino, o lobo nunca desistiu. Ela o
amaldiçoou com uma eternidade de
vida e foi amaldiçoada em uma
eternidade de fuga, estava cansada
física e emocionalmente. Um dia, fora
ferida por um caçador que queria se
aproveitar dela, Briana orou para os
céus para ser salva, a lua negra estava
no céu e seus poderes haviam sumido
por essa noite, logo essa noite... Como
se atendendo a sua prece, o lobo
gigante chegou. Briana pensou que
morrer rasgada pela forte mandíbula
seria melhor que ter uma morte lenta e
ser abusada por esse homem
desprezível. Então fechou os olhos
aguardando sua morte, com o barulho
de carne sendo mastigada e ossos
quebrados, Briana pensou que seus
dias finalmente estariam findados. Mas
quando abriu um olho após o outro, viu
um imenso homem com cabelos
trançados e olhar sério a encarando, a
perda de sangue logo cobrou seu preço
e Briana perdeu os sentidos.
Acordando assustada, olhou a
cabana ao redor com medo. Suas
roupas haviam sido trocadas e havia
um unguento e pano limpo onde
outrora estava sua ferida. Se
sobressaltou quando ouviu a porta
sendo aberta e o homem a encarando
com seus olhos amarelos e mandíbula
forte, mesmo sem querer, tremeu sob o
seu olhar minucioso, era como estar
nua ante seus olhos. Estava preparada
para ouvir palavras de ódio vindas da
boca do líder do clã Sigurd, mas dela
só saiu uma palavra sussurrada:
Companheira.
- Lua, você ainda está aí? Iremos
nos atrasar.- Ian diz me olhando da
porta. Realmente não vi o tempo passar
quando as memórias de Briana tomaram
a minha mente.
Levanto-me e vou ao banheiro
tomar uma ducha e por uma roupa.
Escolho calças e botas negras, com uma
blusa folgada azul.
-Linda como sempre- Ian pisca-
me um olho ao me ver.
-Saudades da nossa menina?- ele
sorri e responde.
-Sempre.
Sarah

Há um lago nas terras de meu


pai, estamos eu, Bia e Loren aqui já faz
algum tempo. Até que ouvimos um
barulho, como se alguém tivesse a nos
espionar.
-Rick, saia já daí!- Loren grita e quando
sigo o seu olhar, um lobo marrom se
transforma a minha frente, se transforma
em um homem de sorriso fácil e olhos
brilhantes. Pensar que ele estava a todo
este tempo nos olhando, faz meu sangue
subir para as bochechas. Estamos aqui
por toda a tarde, conversamos sobre
coisas de mulheres, coisas que eu não
diria se um homem estivesse presente.
-O que está fazendo aqui? E
onde está o pirralho? Vocês costumam
serem sombras um do outro- Bia diz e eu
tento não ver seu interesse por meu
pseudo-irmão.
-Não sei onde Kailan está. Eu
vim aqui me apresentar para Sarah, mas
vocês estavam tão entretidas na
conversa e brincadeiras que decidi
aguardar o tempo certo.
Reviro meus olhos, isso é
tradução para: eu estava espiando.
-Acredito que esse seja um
ótimo modo de se apresentar- digo
erguendo uma sobrancelha. Ele me olha
intrigado e tento ao máximo encarar seus
olhos e não seu corpo que estava nu em
minha frente.
Então ele gargalha, algo sonoro e
bonito que faz com que todos os meus
pelo se ericem.
-Você se parece muito com sua
mãe, sabia que ela enterrou Lorenlay até
o pescoço?
-Quem é Lorenlay e como
conhece a minha mãe?- preocupo-me
que ele seja da idade de meu pai, depois
me censuro, porque me preocupei com
isso?
-Eu dei uma carona para ela e
sobre Lorenlay, acredito que seja melhor
sua mãe lhe falar sobre. – olho para ele
sem saber ao certo o que quis dizer, mas
meus pensamentos são interrompidos
por Bia que diz já estar na hora de irmos
embora.
Depois de forçarmos Rick a se
virar para que pudéssemos nos vestir,
estamos agora caminhando de volta a
casa. As vezes pego Rick me olhando de
canto de olho e sorrindo, em nenhuma
das vezes desviei o olhar, minha mãe me
ensinou a não fugir de ninguém, muito
menos de um homem.
Briga entre irmãos

Noah

-Ela o que?! – questiono a minha


irmã que me conta em que estado
encontrou Lorenlay.
-Fiquei me perguntando como
Lua conseguiu enterra-la lá, a mulher
estava completamente compactada-
Alicia me responde fingindo que não
ouviu a minha pergunta, suspiro e
respondo a sua.
-Magia, Lua tem magia. Percebi
isso na lua azul e antes quando ela
salvou a minha vida. Não é muita
novidade para mim que ela tenha
desenvolvido esse seu lado durante este
tempo.
-Pela sua reação com Lorenlay,
acredito que teremos algumas confusões
pela frente. – Ela diz me olhando com
um sorriso em seus lábios.
-Sinceramente, não sei por que
Luana fez isso. Ela me pareceu fria e
distante.
-Noah, claro que ela estava fria
e distante, te encontrou aqui com outra
mulher.
-Eu não quero falar sobre isso,
Alicia.
-Tudo bem, mas se eu fosse você
não a deixaria escapar novamente.
Eu não a deixei escapar, ela se
foi. Se foi e levou todo o meu mundo
junto. Porque eu deveria arriscar todos
os cacos que sobraram por ela, ela que a
qualquer momento pode simplesmente ir
embora novamente sem sequer olhar
para trás?
Ouço as meninas chegando em
casa, Sarah está molhada e eu faço uma
careta para isso, ela vai pegar um
resfriado.
-Tome um banho quente Sarah,
não vai te fazer bem ficar assim. – ela
sorri com a minha preocupação.
-Sabe quantas vezes eu fiquei
doente em minha vida? Nenhuma. Não
precisa se preocupar com isso.- diz
enquanto sorri. Falando em sorrisos,
percebo Rick sorrir o tempo inteiro para
a minha filha, terei que conversar com o
garoto, de tudo que Sarah precisa agora,
isso não inclui um garoto cheio de
hormônios em sua cola.
-Vamos subir para tomar um
banho, daqui a pouco tia Lua deve
chegar e meu pai também!- Bia diz em
seu tom alegre e puxa as outras meninas
pelo braço subindo as escadas. Rick
começou a subir atrás delas, mas o
sustento pelo braço.
-Onde pensa que está indo?- ele
dá de ombros e eu continuo a falar-
temos que ter uma lição sobre limites,
Rick, limites com a minha filha.
Ele se distancia do meu agarre.
-Tem razão supremo, acho que
estou perto demais, vou começar a me
afastar de agora.- o moleque sai
correndo enquanto Alicia gargalha.
-Ele me lembra Ravi quando era
mais novo, tirando o lance tecnológico,
claro.
-Sim, tudo para ele é uma piada.
-Alguém falou em piada?! – meu
amigo entra na casa, primeiro faz um
reverência e depois me dá um forte
abraço- Cara, senti sua falta. Onde está
minha filha encrenqueira? E a sua filha
encrenqueira? Onde está Raquel? Pensei
que estaria aqui já.
-Leandro chegou, então Raquel
está temporariamente indisponível. E,
minha filha não é encrenqueira.
Ele me olha sério e põe uma mão
em meu ombro como se fosse me contar
alguma noticia importante.
-Cara, ela foi criada pela Lua, é
impossível que a garota não seja
encrenqueira, só espere ela se soltar um
pouco mais.
Rosno e caminho para longe do
homem, não consigo encontrar Kailan
em lugar algum e isso me preocupa.
E se o que Ravi disse sobre
Sarah for verdade, vou ter que ficar com
meus olhos em Kailan...

Leandro

Estou há quase um dia longe de


minha loirinha, isso é praticamente um
recorde. Levo a minha firma de
advocacia tranquilamente enquanto ela
tem seu atelier. Raquel é realmente
muito boa no que faz, mas não me
julguem se estou mais preocupado em
tirar roupas do que em ver alguém
desfilando com elas. Merda... Aperto o
volante do carro cravando as minhas
unhas lá, isso está me pondo louco, ficar
longe dela me põe louco.
Perceba que tivemos muitos
problemas e muitas brigas por esses
anos, problemas e brigas que sempre
foram resolvidos com sexo. Acho que
essa é meio a nossa melhor forma de
comunicação, não digo que não
conversamos, o fazemos e muito.
Principalmente quando o assunto é
Loren. Sorrio ao lembrar de minha
menina, ela é tão perfeita... Não sabia
que jamais havia sonhado com algo em
minha vida até tê-la em meus braços,
então descobri que ela era isso, o meu
sonho realizado.
Quando sinto o cheiro de
Raquel, todo o pensamento rapidamente
se esvai da minha mente, eu quero ela,
eu preciso dela, essa é uma realidade
que nunca irá mudar e ninguém me verá
reclamar.
Desço do carro apressado e
farejo o ar, seu rastro não está na casa
de Noah, sigo-a até a nossa antiga casa,
com a porta aberta e as cortinas
esvoaçando, vejo a minha mulher
tirando uma soneca no sofá.
Raquel respira alto, não chega a
ser um ronco, é mais uma respiração.
Seus lábios estão levemente abertos, ela
está de lado no sofá dormindo
tranquilamente. Quando me aproximo,
Raquel vira de costas e fica com seu
corpo para cima, saber que seu corpo
reage ao meu de modo tão instintivo me
deixou ainda mais duro por ela.
Aproximo-me devagar, minhas
garras rasgam delicadamente todo o
pano que cobria seu corpo, sua roupa
agora está em fatias em cada lado seu.
Apoio meu joelho entre seus joelhos e
debruço-me em minha loirinha sentido o
meu gosto preferido, afundo-me em seu
sabor. Tão perfeita... Minha
companheira geme ainda dormindo
enquanto tomo o meu tempo a
degustando. Fecho meus olhos para
aprofundar mais os meus sentidos,
coloco minha palma em sua barriga e
outra segura sua coxa fortemente, sinto
sua barriga tremer e seu corpo ofegar,
merda de mulher gostosa. Quando olho
para cima com um sorriso no rosto por
poder proporcionar prazer a minha
loirinha, seus olhos estão turvos, mas
abertos. Ela me vê e sorri.
-Ótimo modo de me acordar,
poderia ter esse despertador por todos
os dias da minha vida. – ela diz com o
sorriso mais safado que pôde dar.
-Loirinha, acho que você terá
que merecer o seu despertador novo.
-Merecer?- ela diz erguendo uma
sobrancelha e puxando minhas ancas
com suas pernas para cada vez mais
perto do seu centro.
-Sim, loirinha, merecer. Não sou
um homem fácil. – digo com a voz firme.
Ela sorri, a maldita risada sexy. Raquel
ergue seu corpo e senta-se acima do
meu, direto em meu membro, ela diz
enquanto rebola ali.
-Sério, neste momento acho que
você está bem, bem fácil.- diz enquanto
morde o lóbulo de minha orelha.
Eu poderia prolongar as nossas
brincadeiras, amo brincar com essa
mulher, coisa que nunca gostei de fazer
antes do sexo, sexo era só sexo. Se
tratava do meu pau sendo enfiado em
algo. Mas com Raquel, quero vê-la
chamar meu nome, quero tê-la
encharcada e saber que eu sou o
causador disso, com minha loirinha eu
quero as preliminares, quero o início, o
durante e o nunca terminar, porque hoje
sei que não há fim para nós e nunca
haverá. Por isso que arranco as minhas
roupas e a tomo ali, onde tantas vezes
foi o cenário da nossa história, tomo-a
com posse, desejo, loucura, submissão e
muito amor. Porque nada menos seria
digno dela.
Olho para o teto após ambos
estarmos satisfeitos no corpo um do
outro, ela se aconchega em meu corpo nu
e suspira.
-As coisas serão complicadas...
-Não vejo o porquê deveriam
ser.- Digo tentando amenizar a ruga que
se forma na testa da minha loirinha.
-Seu amigo idiota está
namorando.
-Meu amigo idiota é nosso
Supremo, e acho que agora é o seu
amigo idiota também, e ele está
namorando uma humana, grande coisa.
Lua é nossa Luna, nossa líder.- dou de
ombros.
-Você só esqueceu que eu
também era só uma humana, Noah pode
muito bem morder Lídia e transforma-la.
faço uma careta ao ouvir suas palavras.
-Acha que ele faria isso? Eu nem
sei se isso é possível, nas nossas leis só
é possível transformar um humano
quando este for nosso companheiro.- ela
rosna e se aconchega mais em mim.
-Não sei. Não sei como será a
reação dele, ou a de Lua...
-É isso o que mais te preocupa,
não é? Lua.
-Ela é a minha melhor amiga...
Ou era, já não sei mais. E se ela voltar e
eu nem reconhecê-la? O tempo muda as
pessoas, Leandro.
-Olhe para mim- digo tocando
em seu rosto- você a conhece, cresceram
juntas, ela sempre será a mesma para
você.
Ela sorri e pula saindo de perto
do meu corpo, rosno ao sentir sua
ausência.
-Volte aqui mulher!
-Homem viciante, levante daí!
Temos que tomar banho, já deve estar
quase na hora do jantar, todos devem ter
chegado já.
-Banho?- sorrio ao imaginar o
que farei com ela no banho- Adoro
banhos.

Noah

Ainda não consigo encontrar


Kailan em canto algum. A perspectiva
que o garoto irá explodir neste jantar é
bem real.
A mesa está posta na área de
reunião da matilha, é aqui que fazemos
as refeições em grupo. Alec anda de um
canto ao outro enquanto Manu tenta
acalma-lo. Sarah ainda não veio até o
salão, todos estão aqui, menos os nossos
convidados. Olhando para Alec,
percebo quando sua postura muda, ele se
torna rijo e encara um ponto fixo,
quando percorro o meu olhar percebo
que este ponto fixo é Sarah.

Alec

Receber a notícia da volta de


minha irmã me trouxe paz e tormento ao
mesmo tempo. Por tanto tempo pensei
que a havia perdido, por tanto tempo
pensei em que ponto errei ao nível de
Lua ir embora sem ao menos falar
comigo, como se eu fosse um estranho e
não seu irmão, não seu gêmeo.
Se Manu não estivesse aqui eu
definitivamente já estaria transformado,
olho rapidamente para um canto do
salão e meus olhos me traem quando
vejo a imagem de Lua, então a encaro
novamente e vejo o seu sorriso surgir,
esta é Sarah. Não tem como não dizer
que ela não é filha da minha irmã, minha
sobrinha.
Caminha até mim e seu sorriso
vai crescendo, percebo que o salão
agora está em completo silêncio quando
Sarah caminha com sua cabeça erguida e
olhar firme, é exatamente neste ponto
onde mais vejo a minha irmã. Claro que
são parecidas fisicamente, e seus olhos
comprovam a sua genética. Mas, o modo
como ela se porta, como caminha, como
seu olhar não trás um pingo de medo e
como, principalmente, anda por todo o
local como se aquilo já a pertencesse,
como se estivesse gravado em seu
sangue, é exatamente aí que vejo a minha
irmã.
Ela sorri e pende sua cabeça um
pouco para o lado.
-Oi, sou Sarah.- diz com sua voz
leve, mas ao mesmo tempo firme. Não
digo nada, só a puxo para os meus
braços e fico tanto tempo ali, que penso
que meus ossos se solidificaram ao seu
redor. Afasto-a e a vejo novamente
sorrir, então Manu a tira de perto de
mim e a aperta.
-Céus você é tão linda! Se
parece tanto com ela!
-Minha mãe me falou muito
sobre vocês dois, tio Alec, tia Manu,
fico feliz por finalmente conhece-los.
Sorrimos como idiotas enquanto
olhamos a mulher que está formada a
nossa frente, Manu me olha triste. Sei o
quanto ela gostaria de ter uma cria sua,
mas até hoje não conseguimos. Oro aos
deuses todos os dias para que possa dar
essa alegria a ela, uma alegria para
alguém que já sofreu tanto em sua vida.
Meus pensamentos são dispersos
por Ravi que agarra Sarah por trás e a
gira, ambos sorriem com o ato.
-Ei princesa! Vou fazer uma
charada para você, lá vai- Ravi faz uma
posição teatral e continua- Sou seu tio
mais lindo, sou seu tio mais encantador,
um homem perfeito, aquele que sempre
te amou, me diga princesa, quem eu sou?
Sarah gargalha ao ouvir as
péssimas rimas de Ravi, mas responde
entre gargalhadas.
-Ravi.
-Muito bem- ele olha para ela de
cima a baixo, analisando-a- vejo que é
realmente esperta. Onde está a sua mãe?
Ela vai ter que nos pagar por deixar-nos
tão preocupados por tanto tempo.
E como se fosse anunciada, Lua
aparece na entrada, minha irmã não está
muito diferente desde o último dia em
que a vi, mas Ian... Ele não é mais o
mesmo, seu cheiro não é mais o mesmo,
nem sua postura o é. Ele olha para todos
os lados do local, está de braços
cruzados e analisa cada canto antes de
olhar para as pessoas. Olhar? Seu olhar
na verdade passa através das pessoas,
como se não fossem importantes. Até se
deparar com Sarah que corre ao seu
encontro lhe dando um forte abraço.

Luana

Não posso dizer que toda essa


situação não me causa calafrios, estaria
mentindo. Era fácil não enfrenta-los
quando não conseguia vê-los, quando
não tinha que encarar suas faces
desapontadas... Mas agora terei que
encara-los, todos de uma vez.
-Poderemos dar meia volta se
você quiser.- Ian me oferece, mas eu
recuso só com um sacudir de cabeça e
caminho em direção ao local onde sei
que todos estão reunidos.
Quando fico à vista de todos,
percebo seus olhares, todos se virando
em minha direção e eu repentinamente
não sei o que fazer. Mas eu sinto o corpo
de Ian atrás do meu me trazendo paz e
conforto, isso faz com que eu dê um
passo mais a frente. Estou ocupada
encarando o meu irmão quando Sarah
passa correndo e abraça Ian, esses dois
se amam e isso é notório e se Ian é
capaz de amar Sarah, talvez, só talvez
ele ainda seja capaz de amar outra
pessoa. É isso o que digo para mim
mesma quando penso que destruí a sua
vida.
Alec caminha em minha direção
de modo sério, lembro-me daquele dia,
na alcateia do meu pai, quando meu
gêmeo o matou e caminhou direto por
mim. Lembro-me da dor ao ser rejeita.
Fecho o meu punho fortemente atrás de
mim ao imaginar essa cena se repetir
agora, mas fortes braços me contornam e
eu sinto cheiro de casa, cheiro de lar.
Suspiro, como se em todos esses anos eu
houvesse simplesmente segurado meu
fôlego. Ele afasta meu corpo, me olha no
fundo dos meus olhos e dá um beijo em
minha testa.
-Eu senti tanto a sua falta Lua...
Não sabe o quanto.
-Eu também, a cada segundo.-
respondo com meu olhar marejado. Meu
irmão direciona seu olhar para Ian e
acena friamente, como se ele soubesse
que quem está ali não é mais seu amigo,
não é mais nosso Ian, aquele Ian morreu,
eu o matei.
Ouço dois gritos e braços serem
arremessados ao meu redor, elas dizem
em conjunto:
-Tia Lua! – reconheço Bia, e a
outra garota deve ser a filha de Raquel,
ela é a cara da mãe quando era mais
jovem. Nem tenho tempo de pensar em
nada e as enxurradas de perguntas
começam.
-Você é uma bruxa?
-Ainda se transforma em lobo?
-Vai ir embora?
-Porque demorou tanto tempo?
-Porque se foi?
-Me ensina a andar de moto?
Elas fazem todas as perguntas ao
mesmo tempo e eu sou salva por uma
voz.
-Deixem Lua respirar, nós temos
algumas coisas para conversar. –Olho
para Raquel, minha amiga está séria com
seu companheiro atrás de si.
-Terei tempo para responder a
tudo, prometo.- digo para as meninas
que ficam um pouco tristes.
Caminho ao lado de Raquel até
um local privado, ela não diz nada e eu
também não.
-O que aconteceu? – é a primeira
coisa que diz e há tantas perguntas
dentro dessas três palavras que por um
momento não sei o que dizer.
-Eu tive que ir embora, Lôra. É...
complicado. Primeiro foi por causa de
Sarah e depois, depois eu percebi que
haviam coisas maiores do que eu, coisas
que eu não poderia fugir.
Ela fica calada por um tempo,
absorvendo as minhas palavras, então
me abraça e sussurra em meu ouvido.
-Se pudesse voltar sabendo tudo
o que aconteceria, tudo o que você
deixou para trás, teria tomado as
mesmas decisões?
-Sim, cada uma delas- sussurro
de volta.
-Espero que saiba das
consequências de sua escolha, Lua.
-Sempre haverão consequências.
-Eu sei... Eu vi, vi as
consequências em Noah, em Kailan, em
Alec... Até mesmo em mim.
Então como se tivesse tomado
um choque, seu semblante sério vai
embora, e agora sorri.
-Não imagina o tanto de coisa
que tenho para te contar! Eu tenho um
atelier agora, crio roupas!
-Isso é incrível! Esse sempre foi
seu sonho! – ela confirma com a cabeça
e eu fico feliz pro minha amiga ter
alcançado algo que almejava.
Caminhamos novamente juntas
até as mesas. Passo por Ravi que me
pisca um olho e sorri de modo brilhante,
Leandro acena com a cabeça em minha
direção e logo captura Raquel para ficar
ao seu lado e eu, por alguns segundos
ouso ser fraca e meu olhar cai nele, em
Noah. E como em um ímã, a necessidade
em me manter próxima a ele faz com que
todo o meu corpo pinique.
Noah caminha em minha direção,
ele respira o ar a minha frente e franze
seu cenho.
-Porque não cheira mais como
antes? – sua forte voz me causa
tremores.
-Porque eu não sou mais como
antes.- respondo para ele que só acena
com a cabeça, mas não desvia seu olhar
de mim nem por um segundo. Minha
resposta foi verdadeira, não sou mais
como antes porque estou suprimindo
minha loba, me manter perto dele sem
ela já está difícil o suficiente, imagina
com toda a tensão que ela irá ter ao
sentir o cheiro de seu companheiro.
-Hoje é um dia de felicidade,
não só porque Lua voltou, mas também
porque trouxe consigo o meu mais novo
tesouro- ele olha para Sarah com amor e
sorri logo voltando seu olhar ao meu-
ela me trouxe a minha filha, então hoje é
um dia de celebração, comam e bebam,
pois, sua matilha voltou a ser completa.
Sua voz entra como energético
em meu sistema. O que senti imensa falta
estando longe era em ter uma matilha,
em pertencer a um todo, a um coletivo.
Um a um eles reverenciam e sentam-se
fazendo seus pratos.
O almoço estava indo bem até
que alguém chega através da entrada.
Ele vestia uma calça de moletom com o
tronco nu, seu olhar de fúria logo se
dirigiu a mim. Um de cada cor, seus
olhos me lançaram faíscas.
Kailan sorri, um riso forçado.
-Que bonito! Vamos todos fingir
que nada aconteceu! Vamos nos sentar e
agir normalmente enquanto ela não dá
nenhuma fodida explicação, como se
houvesse uma explicação por abandonar
uma família. Deixe-me lhe dizer algo
Lua, você não é a Luna desta alcateia,
para isso seria necessário o mínimo de
comprometimento. Você não é a amiga, a
companheira, a mãe. Você não é nada!
-Kailan... – vejo Noah rosnar.
Suas palavras, cada uma delas
me apunhalam com força. Ian se levanta,
sinto sua magia borbulhar e toco em seu
braço.
-O que?! Até mesmo para se
defender precisa de alguém que o faça
por você?
Vejo a mandíbula de Ian travar e
aperto ainda mais a força sobre o seu
braço. Mas cometi um erro, Sarah
realmente se parece comigo quando
tinha sua idade, isso vai das brigas, do
pavio curto, até a sua força.
-Sarah...- Mas ela já estava
quase transformada, Sarah se transforma
rapidamente, somente em alguns
segundos e quando digo que já estava
quase transformada, é sua energia que
estava agora borbulhando dentro de seu
corpo.
-Você preferiu ir embora a lutar,
preferiu ir embora a proteger aqueles a
quem chamava de família, não passa de
uma covarde!
Esse foi o gatilho.
Sarah se transformou, mas junto
com a transformação liberou uma imensa
quantidade de magia. Kailan também se
transforma e os dois lobos se atracam
em uma batalha feroz, qualquer um que
interferisse seria atacado. Olho para
cima, respiro profundamente, é tarde
demais. A energia já foi dissipada e
somos agora como um farol.
-Já chega!- grito enquanto forço
minha magia para dentro dos dois os
obrigando a transformarem-se em sua
forma humana novamente, todos me
olham com espanto. Não me incomodo
em esconder mais esse meu lado, faz
parte de quem eu sou agora, na verdade,
faz parte de quem sempre fui.
-Lua, nós precisamos...- Ian
começa a falar, mas eu o corto.
-É tarde demais, Ian, e eu não
irei deixa-los novamente.
-Merda...- Ian rosna para mim.
A nossa frente, uma mulher com
longos cabelos negros e olhos cor de
sangue nos encara, sua gargalhada fere
ouvidos, e consigo ver a maioria dos
lobos sangrando com as mãos em suas
cabeças.
-É uma honra conhece-la,
Rainha. Será uma honra ainda maior
mata-la.
Marcados pelo passado

Sarah

Esse imbecil não tem o direito


de ofender a minha mãe em frente a
todos, não mesmo! Sei o que minha mãe,
Ian e Sofia conversaram sobre a minha
transformação, mas a cada palavra de
Kailan, sinto-me mais a borda, cada vez
mais a margem.
Há um tempo que tivemos uma
conversa, eles me disseram que o
problema não é ser metade loba e
metade bruxa, e sim de quem eu sou
filha, por isso, minha transformação gera
uma imensa quantidade de magia. E
como minha mãe vem me dizendo desde
que nasci: toda magia deixa rastros.
Evito ao máximo me transformar por
causa disso, pois sei que seja lá o que
esteja acontecendo, eu poderia piorar
tudo com a transformação.
Mas as palavras de Kailan tiram
todo o meu raciocínio lógico, eu só
quero ir lá e obriga-lo a calar a merda
da boca, então é isso o que faço. Pulo no
idiota já em forma de lobo e ele não
demora a se transformar também, entre
patadas e mordidas, começamos uma
luta de igual para igual.
-Já chega! – ouço e sinto o meu corpo se
contrair, é como se tivessem me
arrancando algo a força, ofego e
percebo que estou novamente em forma
humana e isso nunca aconteceu antes,
não sem o meu consentimento, sem o
meu querer. Quem teria o poder para
fazer isso? Minha resposta vem quando
encaro a minha mãe, ela olha para cima
e suspira – faz um tempo que percebo
esse mesmo semblante nela, cansaço-,
então alguém chega e de cara sei que
não é uma pessoa comum. A mulher tem
olhos carmesins e cabelos negros, de
suas mãos saem garras imensas e quando
ela chama a minha mãe de rainha e diz
que vai mata-la, asas como ossos
aparecem em suas costas e sinto a magia
negra, ela é uma harpia e foi invocada
por alguém devoto da escuridão.
Meus olhos travam primeiro com
os de minha mãe, ela acena para mim e
sei o que quer dizer sem que precise
usar palavras, ela diz: Cuide deles para
mim. Logo após, meus olhos travam com
os de Ian e ele acena novamente, mas
dessa vez sou eu quem digo: cuide dela
para mim.
Ergo as minhas mãos e crio um
campo de força forte o suficiente para
que nenhuma magia ultrapasse, forte o
suficiente para que nenhum deles saiam
daqui, porque essa é uma luta de
poderes, não de força. Entendo que a
ajuda dos lobos da matilha possa
interferir na concentração deles, afinal,
balas não funcionam, força bruta não
funciona, magia se combate apenas com
magia.
Luana

Ian estava ao meu lado, sinto a


energia de Sofia atrás da harpia, Sofia
sempre chega exatamente na hora que
deve. A mulher a minha frente gargalha,
um grito estridente sai de sua boca
novamente, mas dessa vez não afeta os
lobos, minha menina os protegia.
Irritada ao perceber que sua voz já não
causava nada, ela levanta voo e
direciona seu corpo de modo rápido
como uma estrela cadente, investindo
novamente nos lobos, a realidade me cai
como uma ficha, ela sabe. Ela sabe que
eu e Noah estamos interligados, sabe
que se o matar, também morreria, por
isso o ataca.
A harpia agora está entre os
lobos e eu, Ian a um de meus lados e
Sofia ao outro. Ian estava concentrado
murmurando enlaçamentos de energia,
estava elaborando uma de suas magias
mais poderosas, a magia de sangue.
Sofia estava com seu cristal em mãos
que brilhava em um tom roxo vibrante.
Percebo quando Sarah começa a vacilar
com os avanços da harpia, Sarah é forte,
mas grande parte do seu poder ainda
está dormente, isso precisa terminar
agora.
-Pensei que quisesse me matar. –
sorrio- ei passarinho, é só isso o que é
capaz de fazer?
Uma coisa que se deve saber
sobre harpias, nunca em hipótese
alguma, as irrite. Mas eu precisava
chamar sua atenção para mim, então foi
exatamente isso o que aconteceu.

Noah

-O que diabos está acontecendo,


Sarah?! – pergunto pela terceira vez
enquanto percebo que a cada golpe
dessa coisa, a minha filha se debilitava
mais. A criatura com asas olhava
diretamente para mim enquanto mais
uma vez investia em uma barreira
invisível que Sarah havia construído.
Vejo quando a atenção da
criatura se volta para Lua, também
percebo quando meus homens começam
a aparecer no terreno sorrateiramente,
pelo menos poderão protege-la.
Eles disparam, a criatura
gargalha, todos os disparos a acertam,
mas ela continua em pé, como se tivesse
sido só um vento leve. Que diabos é
isso?!

Luana

Disparos, uns cinco disparos,


isso significam cinco pessoas, cinco
lobos, cinco vidas que serei responsável
por estarem chegando ao fim. Eu não
posso mais ter a vida de ninguém em
minhas costas. Olho para onde a harpia
se direciona e vejo Rick, o garoto de
sorriso fácil.
-Lua, não faça...- ouço Ian dizer, mas
estou cansada das mortes. Na lua de
sangue eu tive uma premonição e isso
me assustou como o inferno, não quero
ver aquilo acontecer de verdade, não
verei todos os que amo simplesmente
morrerem.
Meu corpo rapidamente se
desfragmenta e fica em sua frente,
recebo o golpe que deveria ir para Rick
e as garras da harpia queimam em meu
ombro. Ela gargalha, mas eu também o
faço e sua risada some sem entender
muito bem porque eu estava fazendo o
mesmo que ela. Quando me olha, travo
meus dentes engolindo a imensa dor que
sinto.
-Isso é tudo o que você tem?-
digo já sentindo o gosto de sangue em
minha boca, preciso terminar isso
rápido, não tenho mais muito tempo.
Ian está com sua mão sobre a
terra, dela, riscos vermelhos no chão
brotam formando um símbolo imenso,
símbolo de encarceramento. Mas a
harpia levanta voo quando percebe, o
tempo começa a mudar, convoco ventos
que não existem nessa cidade, o céu está
negro e o vento impede que a harpia se
locomova pelo ar, a magia de Ian prende
em seu pé a deixando imóvel e em um
último ato, Sofia arremessa uma lança
de gelo que percorre o corpo da harpia,
mas antes, ela me diz:
-Eles irão morrer, todos eles.
Todas as suas crias morrerão.
E como se nunca houvesse
chegado, ela se dissolve no ar.
Sinto Ian e Sofia correndo para o
meu lado, estou cansada, cansada dos
anciões imbecis que não conseguem
enxergar o perigo que está por vir,
cansada de mendigar reconhecimento.
Estou tão cansada de pôr pessoas
importantes para mim em risco, eu fiz
tudo isso para mantê-las seguras, e estou
falhando miseravelmente- um riso de
deboche sai da minha boca, isso termina
agora.
Ergo as minhas mãos e três
espelhos de gelo se formam ao meu
redor, olho para Sarah conferindo se
está bem e todos os lobos estão olhando
para mim agora, como se eu fosse uma
estranha, como se nunca tivessem me
conhecido.
Ian e Sofia tomam os seus
lugares, cada um ao meu lado. Suas
poses são sérias e altivas. Dos espelhos
de gelo começam a se formar imagens,
imagens dos três grandes clãs mágicos
que existem sobre a terra, faço o gelo
girar e olho atentamente para cada
pessoa que é mostrada em cada imagem,
cada grande clã era composto por um
concelho e quando todos os três passam
por mim, começo o meu discurso.
-Muitos de vocês ainda não me
conhecem, mas com certeza já
conheceram algum dos meus imediatos-
Sofia e Ian fazem uma reverencia para
mim-. Fiquei por quinze anos buscando
cada um de vocês e advertindo-os um a
um do perigo que estávamos correndo.
Então me perguntaram quem sou eu que
ouso carregar a marca da primeira
família, eu sou Briana de Tart líder e
última sobrevivente do clã Aesir e essa
marca é minha por direito. Eu, sou a
líder de vocês por direito. Não vou
obrigar ninguém a aceitar isso, mas, que
essa nossa conversa seja mais uma
advertência, cada um de vocês que não
aceitar irá morrer, e isso não é uma
ameaça, é um fato. Os portões do
submundo serão abertos e de lá não irá
sair só uma sombra, cada mago negro,
cada bruxa que tem pratica nas trevas irá
sair de lá, nós seremos caçados por
cada bruxa que já viveu sobre a terra.
Todos vocês têm ciência onde estou, não
irei protege-los mais, tenho outras
prioridades no momento. Mas,
precisamos de uma unidade, vocês
realmente estão dispostos a perder tudo,
séculos de magia e estudos por
orgulho?! Porque não estão dispostos a
me aceitar?! O sangue de vocês, de seus
filhos, de seus pais, não irá mais
manchar as minhas mãos, fiz tudo o que
poderia fazer. Essa é uma escolha,
então, façam as suas.
O gelo se dissolve no ar, sinto
minhas pernas fraquejarem. Meu ombro
arde e não tenho energia para cura-lo.
-Lua! Merda Sofia, faça alguma
coisa!- ouço a voz de Ian ao longe.
-Eu não... Posso fazer nada.- ela
responde.
Eu não posso morrer... A dias estou
usando todas as minhas energias para
tentar ver algo do futuro, qualquer
coisa que nos faça vencer esse grande
mal que virá. Não posso morrer, não
agora. Minha loba rosna dentro de mim
e eu a liberto, logo depois sinto os
braços de Noah me rodearem, ele está
me carregando e eu aconchego-me em
seu calor ouvindo a voz de seu lobo
sussurrar para mim:
Você voltou minha Lua.

Noah

Em um momento ela estava longe


da linha de fogo, no outro, estava sendo
perfurada por aquela coisa. Sarah se
assustou ao ver a mãe ferida e quando
toquei novamente na redoma invisível,
ela não estava mais lá. Sarah tenta
correr para junto da mãe e eu a seguro
pela cintura, a puxo para mim.
-Vai ficar tudo bem, Sarah, eu
prometo. – Sussurro, mas nem eu mesmo
acredito nisso. Nunca pensei que fosse
sentir esse cheiro novamente, o cheiro
do sangue dela. Prometi a mim mesmo,
desde os laboratórios, que a protegeria,
que nunca mais permitiria que seu
sangue fosse derramado e olha só para
nós, agora eu mal reconheço a mulher
que está a minha frente, pois ela está
causando uma tempestade e eu nunca
pensei que Lua fosse capaz de fazer
isso, na verdade, nunca pensei que
alguém fosse capaz de fazer isso.
-Ela vai ficar bem, ela sempre
fica bem- Sarah repetia uma e outra vez
baixinho, como um mantra.
Comando para que os lobos
entrem nas casas já que aqui fora não
parece ser o local mais seguro para
qualquer um, mas alguns ainda ficam por
aqui. Leandro, Raquel, Ravi, Alec, eu e
meus dois filhos. Nós encaramos
boquiabertos tudo o que acontece a
nossa frente quando sentimos um imenso
poder vindo de Ian e da outra mulher
que chegou, e Lua mesmo machucada
consegue vencer a criatura.
Dou um passo para frente, tento
alcança-la, mas dessa vez a minha filha
segura meu antebraço. Ela está com o
queixo erguido, orgulho. É isso o que
emana de seu corpo. Seu olhar está
firme em Lua e posso ver a postura
espelhada das duas, orgulho.
Quando Lua ergue as suas mãos
e espelhos a rodeiam rapidamente, todo
o meu corpo se eriça como se um vento
gelado passasse por aqui, isso é poder,
um poder que eu jamais vi antes. Então
ela fala, e tudo parece parar para ouvi-
la, a natureza se silencia, o vento se
acalma, é como se todo o mundo
estivesse focado nela, interligado a ela.
Mas quando ela termina o seu discurso-
que acredito não ter entendido grande
parte-, seu corpo fica mole, corro até ela
e dessa vez, Sarah não me impede.
-Lua! Merda Sofia, faça alguma
coisa!- Ian diz com os braços ao redor
dela, meu lobo rosna...meu...lobo?
Agora o maldito resolveu acordar.
-Eu não posso fazer nada; - ouço
a mulher responder, mas meus sentidos
estão completos com o cheiro dela que
invade cada canto do meu corpo.
Completo, não pensei que fosse me
sentir deste modo novamente.
Você voltou, minha Lua.
Meu lobo diz em minha mente,
respiro fundo absorvendo seu cheiro, a
toco, e em cada lugar que seu corpo
encosta no meu, é como se fosse
marcado a brasa.
***
Briana tremeu ao som daquela
única palavra: Companheira.
Os olhos do guerreiro eram de
um amêndoa profundo com a borda da
íris em ouro, era a coisa mais bela em
que já pusera seus olhos. Acordando
dos seus devaneios com um passo a
frente dado pelo forte guerreiro, Briana
se assustou e recostou suas costas na
parede de palha atrás de si. Pôde
também ter uma visão privilegiada do
homem que estava a sua frente: seu
tronco nu destacava o forte guerreiro
que é, seus cabelos longos e queimados
do sol estavam ricamente ornados com
tranças. Briana pensou que qualquer
mulher que estivesse em sã
consciência, gostaria e muito de
aquecer-lhe a cama. Não acreditando
no que acabara de pensar, Briana
sacudiu de leve sua cabeça e ouviu um
som rouco e gostoso no ambiente,
ergueu seu olhar e viu que o guerreiro
estava sorrindo, e era como ter o sol
engarrafado só para si. Ao pensar que
o sorriso que estampava o rosto do
guerreiro fosse de escarnio a ela,
Briana fechou seu semblante e
arremessou-lhe o que lhe via pela
frente. Ele agora estava a gargalhar,
afinal, Briana mesmo sabia que era
conhecida por sua magia e não por
seus dotes em lutas e pontaria. Briana
jogava-lhe coisas incansavelmente, até
que tentando arremessar-lhe um
pedaço de madeira, sentiu uma fisgada
na ferida que ainda estava aberta.
Apertando seus olhos e encolhendo seu
corpo em agonia, Briana não percebeu
quando o guerreiro se aproximou de si,
só sentiu sua forte mão calejada que
tomava quase toda a metade de sua
cintura, eles estavam próximos, ela
sabia. Briana ficou alguns segundos
com medo de erguer seu olhar e
repreendeu-se, afinal nunca fora uma
covarde e não iria iniciar ali. Ela era
uma líder, criada para ser tal, era a
mais poderosa de seu clã e carregava o
nome Aesir com orgulho.
Então ela ergueu seus olhos e a
preocupação que viu tomar o semblante
do guerreiro lhe bateu direto no
coração fazendo com que seus olhos
marejassem. Quando Briana tentou se
afastar, ouviu a voz do guerreiro:
-Por favor, não se afaste de
mim. Companheira, não me deixe.
***
Noah

-Toque nela e você morre. – digo


quando vejo que Ian iria toca-la.
Ando de um lado ao outro do
quarto como uma fera enjaulada. Minhas
mãos estão tremendo, meu coração bate
a galopes, todo o meu corpo vibra por
algo que não sei ao certo identificar, e
uma frase se repete em minha mente: ela
está em perigo, ela está em perigo...
Sei que tem outras pessoas no
quarto, mas não os vejo. Não quando o
cheiro do sangue de Lua toma conta de
cada sentido do meu ser.
-Merda, Sofia! Essa ferida não
está curando! - ouço a conversa
paralela que ocorre, mas não internalizo
nada. Sinto-me em uma nuvem e a
margem de algo grande.
-Mãe! Tio Ian, faz alguma coisa!-
a voz aflita de minha filha consegue me
deixar ainda mais na margem, será que
ninguém percebe que estou a um fio
aqui?!
-Ela precisa dele, eles estão
conectados- dele...de mim? Isso chama a
minha atenção e tento por alguns
segundos jogar a bomba relógio que há
dentro de mim para o lado.
-O que precisa que eu faça? –
olho no fundo dos olhos da mulher a
minha frente e conto minhas respirações
enquanto ela não responde. Tem que
haver uma forma, qualquer forma de
salva-la.
-Eu não sei... – ela responde em
derrota e um rosnar mais parecido com
um rugido escapa do fundo do meu
peito.
-Eu não sei como isso funciona-
ela continua -, Lua conseguiu te salvar a
algum tempo atrás, ela me disse que
sentiu o poder, que estava usando um
poder e um laço que não era seu. Por
muito tempo pensei que o que ela
descrevia era o laço de vocês dois com
Sarah, pensei que Lua tivesse tirado o
poder de sua filha, mas hoje vejo que
não foi o ocorrido. Acredito que Lua
tenha tirado o poder de Briana.- essa
conversa estava me irritando.
-Se ainda não percebeu não
tenho nenhuma bruxa adormecida dentro
de mim- digo entredentes, sinto-me a
margem, as pontas dos meus dedos
coçam, sinto que vou estourar dentro do
meu próprio corpo e isso não pode ser
algo bom.
-Aí é que você se engana, você
tem o Kanut.
-Kanut?
-O seu lobo- ela revira os olhos
como se estivesse me dizendo algo
óbvio-, o primeiro, é você. – a mulher
olha ao redor- Precisamos sair- ela diz a
todos-, Se há alguém capaz de salva-la,
esse alguém é você. Vocês dividem um
vinculo de vida e morte, deixe o seu
lobo te guiar, ele saberá o que fazer.
Então todos saem do quarto, do
meu quarto. Lua está em cima dos
lençóis grafite que cobrem a minha
cama, ela parece um anjo dormindo. A
única coisa que indica o contrário é o
cheiro incessante de sangue que sai de
sua ferida aberta.
Sento-me ao seu lado e ergo
minha mão para tocar em seu rosto. E
como se atraído por um imã, sua face
procura a minha palma. Seus lábios
entreabertos pronunciam uma única
palavra:
-Kanut...
E como se uma trava tivesse sido
acionada dentro de mim, meu lobo lhe
responde.
Companheira.
***
Briana se assustou e se
emocionou ao mesmo tempo ao ouvir
palavras tão sofridas e verdadeiras
saindo da boca de um guerreiro tão
poderoso. Sua mão calejada tocava sua
face com delicadeza, Briana se
perguntava o porquê do guerreiro a
tratar deste modo, afinal, ela ainda
estava fraca por causa da lua negra,
ela não poderia se proteger de um
ataque agora, estava indefesa.
-Porque não me mata? – foi a
primeira coisa que saiu dos lábios de
Briana, ela não conseguia compreender
o porquê de ainda estar respirando já
que ele o perseguiu por tanto tempo,
será que ele só estaria a brincar com
seu psicológico?
-Eu nunca te machucaria- ela
percebe que ele parecia enojado com a
ideia, suas sobrancelhas estão unidas
por não entender o porquê dela pensar
algo como isso. Briana ainda o
questionou:
-Porque não?
Ele rosna e Briana se
sobressalta tentando fugir do seu toque
e sair do seu agarre, mas o guerreiro a
segura pelo pescoço, ela fecha seus
olhos com força imaginando a dor que
seria morrer sendo enforcada, mas o
guerreiro a puxa para o seu peito e ela
sente os lábios dele selando os dela.
Briana se assustou ao primeiro
momento, mas logo seus lábios estavam
espelhando a urgência do guerreiro a
sua frente. Completamente entregue,
Briana pendeu seu corpo para frente
quando o sentiu se afastar alguns
centímetros, com testas unidas e
respirações entrecortadas, ele lhe diz:
-Consegue entender agora?

Noah

-Kanut...
Ela repete e sinto o meu corpo
tentar se dividir em dois;
Não lute! – ouço a voz do meu
lobo.- Você está tentando lutar comigo,
Noah, não lute! Ela precisa de mim,
então deixe-me fazer o necessário.
-Kanut... Esse é o seu nome?-
digo já sentindo outra fisgada.
Pare de lutar! – ele rosna.
Respiro profundamente e quando
abro meus olhos novamente, não estou
mais em meu quarto, estou em uma
cabana. Olho para baixo e não
reconheço meu corpo, mas mesmo assim
sei que sou eu. Meu corpo se move sem
o meu consentimento, ele fareja o ar e eu
reconheceria esse odor em qualquer
lugar do mundo, é Lua. O cheiro vem de
uma mulher de cabelos negros e olhos
brilhantes, seu sorriso é lindo e da
mesma forma que sei que sou eu e ao
mesmo tempo não sou, também sei que
essa mulher é Lua e ao mesmo tempo
não é.
-Companheira.- Dizemos para
chamar a sua atenção.
***
Depois do beijo, Briana não
disse nada mais, só o observou
enquanto limpava a caça e lhe fazia
uma sopa. O guerreiro também trocou
suas ataduras e limpou seu ferimento
com um unguento muito bem feito, ela
havia notado. Briana então dormiu por
toda a noite e quando abriu seus olhos
ao amanhecer, seu corpo e mente
estavam descansados de tudo o que
havia passado, mas seu coração ainda
estava aos saltos. Olhou atentamente
ao redor da cabana e percebeu que ele
não estava lá, pensou em fugir
novamente, mas já estava cansada
dessa eterna corrida. Querendo
respirar um pouco de ar puro, na ponta
de seus pés, Briana caminhou até o
lado externo, sentiu a energia da
floresta e seu corpo e magia se
encheram aos poucos com essa força.
-Companheira.- ela o ouviu
chamar e se descobriu admirando-o ao
longe.
Briana sabia que isso tinha que
parar. Afinal, não era saudável
começar a nutrir sentimentos pelo
homem que havia matado seu irmão
Loki.
Fechando seu semblante,
Briana andou em direção ao guerreiro
de modo decidido, ele, percebendo a
séria mudança de humor nela, ficou já
na defensiva.
A verdade era que Briana preferia a
morte a se apaixonar pelo homem que
tinha o sangue de sua família em mãos,
porque era isso o que estava
acontecendo, a cada segundo ela
passava a admira-lo um tanto mais.
-Comp...
-Não!- Briana cortou a fala do
guerreiro. Tê-lo chamando-a de
companheira estava começando a soar
bem aos seus ouvidos e isso não
poderia acontecer.
-Meu nome é Briana, Briana do
clã Aesir e você é o homem que matou o
meu irmão.
Ela vê quando o guerreiro une
as suas sobrancelhas e até mesmo ela
tem duvidas da sentença que acabara
de proferir.
-Me chamo Kanut, líder do clã
Sigurd e não me recordo de jamais ter
matado alguém do seu povo.
-Não me tenha por tola, Kanut-
Briana estava consternada, pois a
memória de seu irmão ensanguentado
ainda assombrava suas noites. Ela
andou de um lado ao outro sentindo
sua magia pinicar-lhe por todo o
corpo.
-Briana- sua voz era grossa e
forte, não deixando margem para
dúvidas- dou-te a minha palavra de
honra, jamais feri alguém do teu clã.
-Mas... Meus irmãos me
mostraram o corpo, disseram que Loki
foi até as proximidades do seu clã, pois
estava curioso em relação a vocês e
vocês o mataram como um aviso.
-Nós assustamos os curiosos
bisbilhoteiros para que não voltassem,
nunca os machucamos, não somos
bárbaros.
Estranhamente Briana sabia
que Kanut falava a verdade, ela
acreditava nele e neste momento, uma
realidade lhe caiu como uma rocha
sobre a cabeça.
-Pelos Deuses...- Briana
sussurra.
-Acalme-se Briana, vamos
descobrir quem fez isso com seu irmão.
Com a preocupação e carinho
de Kanut, lágrimas enchem os olhos
dela.
-Não chore minha linda- ele diz
de modo angustiado, o que só faz com
que o desespero de Briana aumente.
-Ah Kanut! Eu te feri! Eu te
amaldiçoei!
-Maldição? Você fala do lobo?
Briana responde só com um
aceno fraco de cabeça, já não tinha
forças para usar suas palavras, estava
derrotada com o que havia feito.
-O lobo me trouxe até você,
Briana. Me aceite dessa forma e
transformaremos uma maldição na
maior das dádivas. Seja minha, Briana.
Com os olhos cheios de
lágrimas, Briana puxou o guerreiro
para si, selando então seus lábios e
seus destinos por toda a eternidade.
***
Kanut

Noah me deu acesso ao seu


corpo, ele ainda não admite a minha
existência junto a sua e sei que isso com
certeza deve ser doloroso, sei porque
deveríamos coexistir em um mesmo
corpo como um ser único e não estarmos
lutando por espaços dentro dele.
Toco no rosto de Lua, ela está
queimando em febre e se fosse há um
tempo atrás, não estaria a tocando com
tanta intimidade. Não por não possuir o
direito ou necessidade em fazê-lo, mas
sim porque me parecia desleal de
alguma forma com ambas, Briana e Lua.
Mas agora elas estão unidas, são uma e
são minhas, minha companheira. Ela diz
meu nome em sonho e isso infla o meu
peito de orgulho, desejo e saudade.
Sinto sua testa e concentro-me,
logo a minha imagem junto a Briana na
cabana vem a tona, quando Lua foi
mortalmente ferida, ela resguardou seu
subconsciente nessa memória, é aqui que
ela está, junto a Briana, sendo uma
expectadora desta cena, essa é a
memória da nossa primeira noite juntos.
Um dia, muito tempo depois de
ter conhecido Briana, nós estávamos
bem e felizes, mas eu fui mortalmente
ferido pelo clã Aesir e ela entrelaçou
nossas almas em um ritual com o intuito
de salvar a minha vida. O mesmo rito
que Lua fez com Noah, estremeço ao
imaginar que talvez possamos estar
repetindo a mesma história, não posso
perde-la novamente...
Briana me mostrou também
naquela noite, que a magia pode se
manifestar de diversas formas. Me disse
que a magia de cura não é uma magia em
si, é mais uma troca, como uma
transfusão de energia. E o modo mais
rápido e eficaz para essa transfusão
ocorrer é através do toque.
Seu corpo emana o calor da
febre. Passo a minha mandíbula em seu
pescoço, admirando a resposta
instantânea que o corpo dela tem ao
meu.
-Abra os olhos, Lua, Briana,
volta para mim...- sussurro em seu
ouvido.
Ela pisca seus olhos com o meu
chamado e faz uma cara de confusão. Sei
o que Lua está vendo, vê os dois
cenários: a cabana e meu corpo, o
quarto de Noah e seu corpo.
-Kanut... – ela repete meu nome
enquanto encara meu rosto.
-Bem... É melhor do que lobo
idiota.- sua risada é contagiante, mas
uma careta de dor escapa de seu rosto.
Quando percebo que ela está tentando
olhar seu ferimento, seguro seu pescoço
a obrigando a olhar para mim.
-Concentre-se em mim, Lua. –
ela olha em meus olhos e sorri.
-Lua ou Briana, do que prefere
me chamar?
-Deixe-me ver...- mordo devagar
o seu pescoço e a sinto estremecer –
prefiro te chamar de minha- sussurro em
seu ouvido.
Por alguns segundos as únicas
coisas que podem ser ouvidas são as
nossas respirações. Depois, um assovio
de um vento anormal passa pelo quarto,
bagunçando tudo ao nosso redor. Lá
fora, já consigo ouvir o barulho de
trovões e uma geada começa a se
formar. Essa é a reação do universo a
nossa magia.
Minha companheira olha ao
redor, outra pontada de dor toma seu
corpo, sua febre é tão alta que a vejo
começar a tremer.
-Deixe-me cuidar de você, seja
minha.
Ela me olha, sei que o seu corpo
me quer porque posso sentir o cheiro da
sua excitação. Mas sei também que a
aceitação que espero de Lua é maior que
este fato. Sei que ela não teve nenhum
outro homem depois de Noah e não
tenho como imaginar a forma como ela
me vê, se como seu companheiro ou
outro homem.
-Companheiro- ela diz como se
ouvindo os meus pensamentos. Lua me
encara com amor e entrega. Faço com
que a cena mude novamente nos levando
de volta a cabana. Isso pode ser um
pouco egoísta da minha parte, mas
desejo tê-la aqui, quando o meu corpo é
o meu novamente, mesmo que a mulher a
minha frente não tenha o corpo de
Briana e sim sua alma.
Já na cabana, ajoelho-me diante
dela.
-A parte lobo é o melhor lado de
mim, pois foi o lobo que me trouxe até
você. Como dois lados de um mesmo
universo, nós também somos um. Não
quero um amor, uma paixão com você, o
que eu desejo é a eternidade ao seu
lado. Seja minha hoje e por todos os
outros dias em que o mundo ainda for
mundo, seja minha lua. – repito
exatamente as mesmas palavras que usei
quando me deitei com Briana, Lua sorri
porque ela sabe disso.
Ela toca em meu rosto, Briana no
nosso tempo me beijou. Mas Lua me
olha profundamente e diz:
-Você é e sempre será a melhor
parte de mim. Eu sacrifiquei coisas que
jamais pensei em sacrificar, enfrentei
coisas que jamais pensei que fosse
capaz de enfrentar, não por você. Por
nós. Porque um eu sem um você nunca
irá existir. Nós enfrentamos forças três
vezes maiores que as nossas, nós
ultrapassamos eras, nós nos fazemos
mais fortes. Quando eu me ferir, você
sempre será a minha cura e quando você
se perder, companheiro, jamais esqueça,
eu sempre, sempre serei o seu único
caminho.
Emociono-me ao ouvir a
declaração tão aberta de Lua. Noah está
dentro de mim como um ser passivo, eu
sei disso e ela também sabe. Se ele
conseguisse não ser tão teimoso,
estaríamos ambos unidos neste
momento, assim como sei que Lua e
Briana são uma só.
Ela toca em meu rosto, no meu
rosto quando ainda era Kanut. Lua me
olha com um amor tão grande que inunda
meu peito. Os raios caem lá fora, as
árvores se balançam com o vento e ao
nosso redor a energia é palpável.
Beijo Lua devagar, sempre
estive no corpo de Noah sendo mais um
observador de seus atos do que um
participante. Então, o corpo de minha
companheira agora é algo novo para
mim e não irei me incomodar nem um
pouco em descobri-lo. Desejo conhecer
cada canto dela, cada gosto, cada toque,
quero ver suas pupilas dilatarem, quero
saber de qual cor ficam seus olhos
quando eu lhe trouxer prazer uma e outra
vez. Eu preciso dela. Estive por séculos
precisando dela e tendo-a aqui, sinto
que me falta o ar para respirar.
Minhas mãos tremem quando vou
retirar uma mecha de cabelo que caiu em
frente ao seu rosto. Ela segura a minha
palma e a beija. Observo que a magia já
estava fazendo o seu efeito em Lua,
sinto-me um pouco mais fraco enquanto
sei que ela está sendo curada. Minha
fraqueza agora significa sua força e não
me importo com isso.
-Levante-se- Lua ordena e é
exatamente o que faço. Era mais alto do
que Noah e uns três palmos maior que
ela.
Lua caminha até mim, fica a
poucos centímetros do meu corpo, mas
não me toca. Ela tira a pouca roupa que
cobria meu corpo.
Meu nítido desejo por ela está
agora visível, Lua me encara de baixo a
cima e sorri.
-Jamais- ela tira sua blusa-
jamais, Kanut- Lua tira sua calça
juntamente com seu calçado, ficando só
com roupas intimas a minha frente- tenha
medo ou receio de me tocar.
Ela põe sua mão sobre o meu
coração.
-Olhe para mim, Kanut. Estou
praticamente curada e não estaria dando
este ultimo passo se não quisesse. Está
me ouvindo? Eu quero você.
Lua toca em minha intimidade e
eu rosno, gosto quando ela é ousada,
todo o meu corpo se inflama por ela.
Rasgo o resto de roupa que a
cobria, ela me olha com um sorriso no
canto de seus lábios. Completamente nua
e perfeita.
-Céus, esperei tanto tempo por
você... – digo admirando seus olhos que
agora estão quase brancos de tão claros.
-Não precisa esperar mais.- ela
diz, destruindo todo o resto de sanidade
que ainda tinha em mim. Eu gostaria de
ser calmo e gentil, gostaria de mostrar a
Lua que não sou somente o lobo, uma
fera, uma besta. Mas não contava com o
fato de que ela é capaz de me
transformar exatamente nisso, no lobo.
A sustento pela cintura, nossos
corpos se misturam, se fundem em uma
dança sensual, um rito que eu e ela já
conhecemos tão bem quanto o próprio
ato de respirar.
Lua estava tão preparada para
mim quanto eu estive para ela durante
todo este tempo, quando os nossos
corpos se uniram em movimentos
ritmados, nosso desejo cresceu e nossa
magia transformou um mundo lá fora em
um completo caos. Azuis escuros, seus
olhos ficam azuis escuros quando ela
tem seu prazer, ela é linda. Abraço Lua e
faço movimentos circulares com minha
mão em suas costas, eu só... Não posso
perde-la novamente.

Luana

Abro meus olhos e vejo Noah


sentado me observando.
-Bom dia. – Digo por que ele
não diz nada, isso está começando a me
preocupar.
-Porque ainda estamos aqui? –
ele diz apontando ao redor, para a
cabana.
-Estamos nas lembranças de
Kanut e Briana, provavelmente nossos
corpos estarão dormindo tranquilamente
em seu quarto.
-Então nada disso aconteceu de
verdade? – ele pergunta e não consigo
identificar nada em sua voz. Ele gostaria
que não tivesse acontecido?
-É um ótimo modo de se pensar.
– digo irritada. Estar com Noah me faz
lembrar daquela garota insegura e
imatura que se quebrava com cada
palavra e frase mau colocada dele, com
sua falta de tato e sensibilidade, ainda
bem que não sou mais ela, ou das duas
uma: estaria pulando em seu pescoço, ou
correndo dele.
-Lua, o que está acontecendo? –
ele pergunta e seu olhar é duro e sério.
Fico um tempo olhando em seus olhos,
não sei por onde começar... Ele toma a
minha falta de reação por teimosia em
não reponde-lo ao invés de insegurança.
-Você me deve pelo menos isso,
a fodida verdade! – ele rosna e, bem...
Talvez eu não tenha mudado tanto
assim...
-Dever? Vamos falar sobre
débitos, sabe o que você me devia?
Você me devia fidelidade! Você me
devia respeito, Noah.
-Dezessete anos, Lua! Você não
foi na esquina comprar pão! Foram
dezessete porra de anos sem um maldito
sinal!
-Eu sei exatamente quanto tempo
foi, porque passei cada merda de
segundo sentindo a sua falta! Enquanto
você estava se deitando com Lorenlay,
enquanto você estava construindo uma
relação com outra pessoa, enquanto
você trazia outra pessoa para assumir
um lugar que era meu! Eu não estive
brincando por todo este tempo!
-Eu não teria como saber, já que
foi você quem desapareceu!
-Eu também não teria como
saber que você seguiu em frente, mas
veja, surpresa!
Com isso levo-nos de volta ao
nosso tempo e como esperado, acordo
na cama dele, vestida como estava antes.
O meu sangue seco está cobrindo a blusa
que visto, mas não há mais nenhum
machucado.
Abro a porta antes que Noah
desperte e dou de cara com todos no
corredor. Eles estavam com um sorriso
imenso que murchou quando olharam
para a minha expressão.
-Hamm... Não sei vocês, mas
não acho que ela esteja com uma cara de
reconciliação feliz depois de uma noite
incrível de sexo. – Raquel fala enquanto
me analisa.
-Vamos embora. – digo olhando
de Ian para Sofia.
Sarah me abraça com força.
-Céus, você está bem!- a
máscara de raiva que cobria o meu rosto
se vai com o carinho da minha filha.
-Eu sempre ficarei bem, Sarah.
Tenho que ir agora, certo?
-Ir? Ir para onde? E todo aquele
lance de ontem sobre fim dos tempos,
mortes e magia negra? Não acha que
deveria nos falar sobre isso?
-Claro, amanhã ou depois
passarei aqui e falarei com todos sobre
isso. Não saiam deste território e tragam
suas matilhas para cá. – digo encarando
todos.
-E o que seria mais importante
do que nos contar sobre isso?- Sarah me
questiona.
-Fazer sua matricula na escola,
você começa amanhã- digo piscando
para a minha filha.
Não olho para trás quando sinto a
presença de Noah, eu cansei de muitas
coisas, inclusive de ficar olhando sobre
o meu ombro, e principalmente de olhar
para trás. Se é no passado que ele
deseja que estejamos, talvez esse
realmente seja o nosso lugar.
Ian

Eu realmente pensei que Lua e


Noah iriam se acertar, mas minha líder...
Engraçado como pensar em Lua como
uma líder não me parece mais estranho,
é isso o que ela sempre foi para mim. E
agora, fazendo parte de seu clã, pude
conhece-la de um modo que jamais
conheci. Sempre pensei em Lua como
uma garota inatingível e inabalável, ela
sempre estava lá forte e em pé, não
importa qual tipo de coisa acontecesse.
Eu sempre pensei que ela fosse capaz de
enfrentar qualquer coisa. Mas agora eu a
conheço... Sei que estar distante de
Sarah está a pondo louca, sei que
encontrar Noah com outra mulher a
deixou magoada, sei que se ela pudesse,
estaria lá, brigando por ele. Imaginando
o motivo de Lua não lutar por ele, só
cheguei a uma conclusão: ela não quer
abandona-lo novamente. E como sei
disso? Disse que conheço Lua, e sei que
ela se colocaria em perigo por qualquer
pessoa, ela protegeria qualquer pessoa
antes de si mesma. Isso me fez chegar a
outra conclusão: Lua não espera sair
viva do que virá.
É por isso que não a deixo só
nem por um segundo. Percebia sempre o
modo como ela olhava para Sarah,
gravando o seu jeito, seu sorriso, lhe
ensinando coisas, Lua esteve por todo
este tempo ensinando Sarah a viver sem
ela... Ela estava se despedindo da filha
dia após dia sem que a menina
percebesse, mas eu vi. Então estive ao
seu lado por todos esses anos, me fiz
forte de modos nada convencionais ou
permitidos pela lei da natureza, minha
magia não vem da vida como a de Lua,
ela vem da morte e da dor, é uma magia
de sangue. Eu não me importei com
nenhuma das consequências que
encontrei pelo caminho para ficar mais
forte, pois eu tenho um foco, uma meta.
Ela não vai morrer, não sei o que Lua
viu, mas ela não vai morrer, não comigo
ao seu lado.
Estivemos calados por todo o
caminho. Lua estava irritada quando
entrou no carro, mas logo seu semblante
mudou para um de aceitação, o que só
serviu para afirmar a minha tese, ela
estava aceitando seu ‘destino’ de braços
abertos, mas, se tem algo para saber
sobre mim, é que não acredito em merda
de destino.
Quando estamos indo em direção
ao quarto do hotel, olho para Sofia e ela
entende o recado e se afasta. Entro lá e
vejo Lua tirando sua roupa para ir tomar
banho.
-Pare. – digo e ela me olha.
-Eu só iria tomar banho, Ian.
-Você sabe muito bem sobre o
que estou falando, Lua. Estive te
observando por todos esses anos e você
precisa parar.
-Eu não sei sobre o que você
está falando.
Seguro seu braço com força, sei
que devo estar lhe machucando, mas não
me importo muito com isso no momento.
-Você não vai desistir, Lua!
Pensei que já soubesse! Se você cair, eu
caio também. Agora me responda, sei
que está preparada para se sacrificar,
mas também está para me levar junto?
-Eu não...
-Se tem alguém que pode fazer
isso, esse alguém é você. Se as coisas
não estão como deveriam, lute por isso!
Lute por Noah, por seu filho, por Sarah,
sua matilha, Lua! Lute por mim! FODA-
SE o destino! Sabe qual era o meu
destino? Estar morto depois da morte de
Priscila, você me mostrou que sempre
há outro caminho. Então escolha outro
caminho, e se ele não existir, o construa!
Você me ensinou a lutar, você me
ensinou que morrer é muito fácil, mas
que viver, cada respiração, é a porra de
uma guerra! E olhe para mim, estou
vencendo essa merda e você também
vai! Mas você precisa começar a lutar,
começar a reagir, você precisa querer.
Algo em seus olhos muda, como
uma certeza e eu sei, sei que ela está de
volta. Solto-a e sorrio, acho que as
coisas voltarão a ser divertidas.

Sarah

Depois que minha mãe saiu da


casa de meu pai, ele só se trancou
sozinho e está lá até agora. Não abriu a
porta nem para Leandro e Ravi, seus
melhores amigos. Agora estão todos sem
saber se obedecem a ordem de minha
mãe de ficarem no território e juntarem
seus lobos aqui, já disse que eles
deveriam acatar a isso, sei que minha
mãe anda se preparando para uma guerra
já há muito tempo, ela não brincaria com
algo sério assim, não depois de tudo o
que aconteceu. Mas, meu pai é o Alfa,
ele é o Supremo e parece que eles têm...
medo de minha mãe depois de tudo o
que aconteceu.
-Pai, sou eu...- estou em frente a
sua porta, e estranhamente quando tento
rodar a maçaneta, ela se abre.
Está tudo tão escuro aqui... As
cortinas negras e pesadas estão
fechadas, o quarto está uma zona de
guerra, meu pai está sentado em uma
cadeira olhando para a cama, para os
lençóis bagunçados.
Ajoelho-me a frente dele e toco
em sua perna.
-Pai, você está bem? – ele não
me olha- Pai, por favor, fala comigo.
Ele ergue sua cabeça em minha
direção e seus olhos estão em completa
agonia, um desespero tão cru que eu
jamais vi antes.
-O cheiro dela está em tudo...
novamente... tudo tem... o cheiro dela.
Olho ao redor, a cama desfeita, o
quarto bagunçado, tudo exatamente do
jeito que minha mãe deixou. Ele está
revivendo tudo. Penso por quanto tempo
meu pai ficou aqui, nessa cadeira, neste
quarto, na última vez que minha mãe se
foi? Se seu olhar está tão perdido só por
relembrar isso, imagino pelo o que ele
passou. Nunca questionei minha mãe por
nenhuma decisão que ela tomou, mas
agora, vendo o que suas decisões
trouxeram a ele... Nós poderíamos ter
sido felizes aqui, nós poderíamos ter
estado juntos... Se ela tivesse escolhido
de modo diferente, se ela tivesse
escolhido ficar.
Como ele não se mexe nem diz nada
quando eu começo a arrumar a bagunça,
eu continuo a fazer isso até que o quarto
estivesse perfeito.
Olho para meu pai novamente e
ele só está olhando para mim de volta,
talvez tentando entender, talvez tentando
não ficar com raiva. Mas eu sei que ele
está, sempre fui boa em ler emoções e
mesmo que ele não saiba disso, minha
presença o traz ira, não porque não goste
de mim, sei que gosta. Mas só agora está
caindo sua ficha, não sei o que ele e
minha mãe disseram um ao outro, mas só
agora ele está olhando para mim e não
vendo somente o lado bom de descobrir
que tem uma filha, ele está vendo o lado
que foi tirado dele, a filha que foi tirada
dele.
-Pai... fala comigo. – peço
novamente porque já estava cansada de
ficar supondo o que se passa em sua
mente.
-Eu... Fiz tudo o que ela pediu-
ele começa e a agonia que vi em seus
olhos sai por sua boca em forma de
palavras- ela foi embora, me deixou uma
carta... Então, tudo o que me restou foi
essa casa vazia, o quarto e seu cheiro,
ela só me deixou isso... Nunca, durante
dezessete anos ela me deu quaisquer
indícios que estava viva... Eu a esperei
Sarah, eu juro que o fiz. Fiz tudo o que
ela me pediu, pensei que se fizesse
exatamente tudo o que ela me pediu na
carta, eu pensei... Pensei que ela fosse
voltar para mim. Mas ela não voltou...
Eu lutei uma guerra, eu... matei meu
próprio povo para conquistar a paz, eu
uni todas as matilhas, eu lhes dei
orgulho por serem aquilo o que são,
todos vivem com dignidade e sem
distinção de sexo... Eu fui o líder que
ela me pediu para ser, eu transformei
nossa casa em um lar seguro e eu
esperei... Esperei por dez anos, depois
mais cinco... Eu esperei, esperei por
cada segundo, cada noite, cada
respiração, eu esperei. E você estava...
Crescendo. E Lua não voltou... Então em
um dia, ficou difícil demais esperar,
doía demais esperar, Sarah. Então eu
só... eu não podia mais fazer isso,
entende?
Abraço-o pela cintura, sinto sua
respiração falhar. Meu pai fecha os
olhos com força e me abraça de volta,
suas lágrimas encharcam a parte de trás
da minha blusa.
Mamãe o que você fez?

Depois de um tempo, convenço


meu pai a tomar banho e enquanto o
chuveiro está ligado pego meu celular e
disco o primeiro número de minha
agenda.

Ligação on
-Oi mãe.
-Oi amor.
-Você não quer saber como ele
está?
-Sarah... Eu e seu pai temos
nossos assuntos e você não deveria se
preocupar com isso.
-Ela não veio aqui nenhuma vez
sequer, a tal da Lídia.
-Sarah...
-Tudo bem, não digo mais nada.
Mas mãe, eu sempre estive ao seu lado,
sempre procurei não te julgar, mas isso
está ficando difícil porque você não diz
o que está acontecendo.
-Logo mais você irá saber, todos
irão. Não se preocupe. Mas foi bom que
me ligasse, amanhã suas aulas irão
começar, vou te levar para casa depois
do colégio, eu e seu pai precisamos
conversar.
-Certo! Mas sabe que eu não
preciso ir para escola... Poderia
concluir meus estudos em casa e...
-Não, isso não está em
discussão. Você terá professores chatos
e colegas insuportáveis, vai a bailes
com músicas bregas e irá se divertir.
-Isso não parece animador... –
ouço-a rir do outro lado da linha, minha
mãe parece mais leve e isso me deixa
feliz.
-Será, eu te prometo que você
terá um futuro e uma escolha, Sarah,
todos vocês terão.
-O que quer...
-Preciso ir, te amo!
Ligação off

Ela desliga o telefone sem me


dar brechas para questionar a nada,
caminho até meu quarto e fico pensando
em tudo o que aconteceu, a imagem da
harpia não sai da minha mente, eu quase
não fui forte o suficiente para protege-
los...
Meu pai saiu do quarto ontem a
noite e já hoje cedo vários lobos estão
chegando, ele acreditou no que minha
mãe disse e agora, sabendo que eu iria
para o colégio, as garotas estão tentando
obrigar seus pais a matricula-las
também. Fui matriculada no mesmo
colégio de Kailan, parece que somos da
mesma classe já que ele perdeu alguns
anos sendo um menino lobo antissocial.
Meu pai é um líder, ele não para nem
por um segundo, está dando ordens
sempre, com seu ar sério, sua palavra é
lei. O que aconteceu entre nós dois no
quarto dele foi um momento de fraqueza,
coisa que ele não é acostumado a ter e
sobre meu querido irmãozinho, Kailan
sempre parece estar em qualquer lugar
que não seja perto de mim.
A profecia

Noah

As pessoas estão chegando e por


sorte a propriedade é grande o suficiente
para abrigar a todos, mas continuam com
aquela cara, querendo saber o que está
acontecendo e eu não tenho nada a dizer,
porque Luana mais uma vez está me
mantendo no escuro.
Kailan não está falando comigo,
continua enfurnado na floresta e ataca
qualquer um que tente se aproximar,
pense em um dejavú, ele e a Lua são
exatamente iguais. Mas hoje se iniciam
as aulas e Kailan é obrigado a ir, espero
que meu filho apareça.
-Preocupado, meu amigo? –
Leandro me pergunta. Estamos na sala
eu, ele, Ravi e Alec. Preocupado? É
claro que estou, não sai da minha cabeça
aquele ser que Lua enfrentou e que as
armas e meus lobos não puderam fazer
nada, não quero Lua lutando as minhas
batalhas ou minha filha me protegendo.
As meninas descem, claro que
Bia e Loren convenceram seus pais a
mudarem os seus colégios. Rick está na
estrada da casa e o observo quando olha
para a minha filha, seu sorriso... Rosno.
E todos param em seus lugares, como se
alguém tivesse apertado um botão de
pausar a cena.
-Leve-as e as traga, Rick. Só
isso, estamos entendidos?
-Claro alfa.
-Pai, Rick não precisa nos trazer,
minha mãe irá me buscar. Ela disse
que precisa ter uma conversa com
você. -Não respondo, então eles
saem.
-Respira cara! – Ravi diz dando
sua maldita risada.
Todo o meu corpo está
formigando, é expectativa... Lua...
Pensar em Lua me faz automaticamente
pensar em Lídia, como se somente pelo
fato de pensar em Lua eu estivesse a
traindo... Ela me ligou, disse que estava
doente, mas que logo viria me visitar. Eu
já fiz minha escolha, certo?
Idiota. – ouço meu lobo, que
agora sei que se chama Kanut.
Foda-se. – é o que respondo
para ele, o maldito se cala e não diz
mais uma palavra. Eu me ocupo durante
todo o dia, não paro para pensar em Lua,
ou como daqui há algumas horas a verei
novamente.

Sarah

Primeiro dia de aula... Já passei


por isso tantas vezes que deveria estar
acostumada, mas não estou, acho que
isso é algo que não se acostuma.
Olho para o meu lado, para os
sorrisos das duas, Loren e Bia, e vejo
que está aí a diferença, dessa vez eu não
estou só e não importa o que aconteça,
sei que posso passar por qualquer coisa,
afinal, elas estarão ao meu lado. Já amo
Bia e Loren como se as conhecesse há
décadas.
-Então meninas, prontas? – Bia
pergunta e eu e Loren respondemos ao
mesmo tempo.
-Não. – Bia bate palmas como se
nossa resposta tivesse sido um sim e diz
nos puxando pelo braço.
-Então vamos!
Bia me intriga... A conheço há
pouco tempo, mas não a vi triste... Nem
por uma vez, ela é sempre positiva e
para frente.
Quando entramos na sala, todos
olham para nós três, vejo Bia procurar
através da sala e juro que por um
segundo pude ver um pontinho de
tristeza em seus olhos... Como as mesas
eram duplas, sento-me com a primeira
pessoa que vejo e deixo as duas
sentarem juntas.
-Oi. – ouço uma voz masculina
ao meu lado.
-Hey- respondo. Vejo-o sorrir,
um sorriso de covinhas, estranho... Não
reconheço o seu cheiro. Se tem algo que
eu aprendi, só há uma forma de um lobo
não sentir o cheiro de alguém e essa
forma é através de magia.
-Me chamo Alan. – ele diz e
tento não transparecer que sei que ele
tem magia.
-Sarah. – quando toco em sua
mão estendida, é como se um choque
passasse por meu braço e seu sorriso
aumenta, estranho... Isso não dura muito
tempo, nossa professora acaba de entrar
na sala, nossa professora integral... Ela
dá todas as matérias e adivinhem só
quem é? Lídia. A vida não poderia ser
mais sacana que isso.
-Alunos, temos três colegas
novas. Sarah, Bia e Loren, levantem-se,
por favor. – as meninas se levantam e eu
demoro algum tempo, olhando em seus
olhos e a desafiando, essa mulher não
vai ficar entre a minha família, não
mesmo. Levanto-me devagar, com um
sorriso no rosto, isso será só o início...
Espero que ela esteja preparada para
lutar.
Luana

-Tem certeza que a barreira está


pronta, Ian? – pergunto a ele pela
décima vez.
-Sim Lua, não colocaria Sarah
em perigo, a cidade está segura.
Qualquer pessoa com magia que entrar,
iremos saber no mesmo instante. Está
quase no horário de pega-las no colégio.
-Vai você, vou para casa de
Noah na frente, tem algo que preciso
resolver. – jogo as chaves para Ian que
não me questiona, só dirige até o
colégio. Eu pego um táxi e indico o
caminho do condomínio fechado.
-Você mora aqui? – o taxista
pergunta embasbacado.
-Morava.- digo. – Pode parar na
portaria.
-Tem certeza que não quer que eu
entre? – ele diz com um toque de
curiosidade. O condomínio de Noah é
algo completamente restrito a lobos, por
isso os humanos têm tanta curiosidade
em conhecer o seu interior, pensam que
é algo só para pessoas ricas.
-Tenho, obrigada. – digo saindo
e lhe entregando o dinheiro.
Ele fica ainda por um tempo,
mas vê as armas que os betas carregam e
sai cantando pneu.
-Alfa- Rick se curva em frente a
mim.
-Oi Rick, como está?
-Acho que eu que deveria estar
fazendo essa pergunta e... Eu não lhe
agradeci, você provavelmente salvou a
minha vida, então obrigado. – ele diz um
pouco sem jeito.
-Está tudo bem, me diz, onde
está...
-Noah? Ele está em casa dando
ordens – dou risada.
-Não, não, onde está Kailan?
-Não acredito que essa seja uma
escolha muito sábia... – ele me diz um
pouco receoso.
-Posso encontra-lo sozinha se
você não quiser me dizer.
-Na floresta, ele está na floresta.
Vou com você, Kailan não está em seu
juízo perfeito ultimamente.
-Não, não vai. Preciso ter uma
conversa com meu filho, acredito que já
passou da hora. – ele se surpreende ao
me ouvir chamar Kailan de filho, mas é
exatamente o que ele é, sinto-o em meu
coração, e mesmo não sendo sua mãe de
verdade, mesmo ele não saindo de mim,
ocupa o mesmo lugar que Sarah em meu
peito.
Ando até a floresta, respiro
profundamente... Conheço cada arvore
daqui, cada canto... A saudade que eu
sentia me bate forte como um tapa físico.
Por tanto tempo eu desejei só estar aqui,
sentir esse cheiro, pertencer a esse
lugar. Pertencer...
Ando por quase meia hora, sinto
o cheiro e ouço seu rosnar... Um lobo
branco e tão grande quanto Sarah rosna
para mim, a única diferença são seus
olhos: um verde, outro azul. Kailan...
Ele rosna e me rodeia, sei que
Kailan vai me atacar e faz tanto tempo...
Tanto tempo que não me transformo. Não
preciso tirar minhas roupas para me
transformar, é uma magia simples.
Minha loba uiva dentro de mim em
liberdade, em quatro patas meus
instintos estão mais apurados do que
jamais estiveram. Casa.... minha loba
pensa, casa. A respondo.
Kailan rosna e pula em mim, vai
direto em meu pescoço, ele realmente
me mataria? Meu instinto de
preservação não me permitiu ficar no
lugar e esperar para ter a resposta,
minha loba desvia e ataca um de seus
flancos, Kailan choraminga, sacode sua
imensa cabeça de lobo e volta ao
ataque.
Eu não quero machucar você –
digo em sua mente. Ouço seu rosnar e
sua resposta.
Você já o fez.
E então, a próxima vez que ele
me atacou, eu não me movi. Nunca quis
machuca-lo, eu nunca quis machucar
ninguém... Essa nunca foi minha
intenção. E talvez, eu mereça a dor que
está por vir. Ele fecha sua mandíbula em
meu pescoço, sinto sua mordida, mas
não esboço dor alguma. Só fico lá,
parada.
Você me machucou.- ele repete
sem soltar o meu pescoço, mas também
sem o apertar... Ele só precisaria por um
pouco mais de pressão para me matar.
Eu estou arriscando todo o mundo, toda
uma raça, por... Seu perdão.
Eu sinto muito, Kailan... Pelo
tiro, por ir embora, por cada coisa que
você teve que passar sem mim, eu sinto
muito e gostaria que isso não tivesse
que ter acontecido, me peça qualquer
coisa Kailan, qualquer coisa no mundo,
mas não peça-me que me afaste de você
ou de seu pai, porque essa é a única
coisa que não farei. Eu estou aqui, não
vou ir embora. Eu estou aqui meu
menino, e não vou te deixar.
Ele demora um tempo para
responder, sua respiração é forçada e
posso sentir seu coração a cavalgadas,
mas eles me responde:
Fique.
Sua transformação retrocede, a
minha também. Kailan ainda está com
sua cabeça em meu pescoço que agora
sangra.
-Sinto muito, eu não queria te
machucar. – ele me diz sem me olhar.
-Está tudo bem, eu machuquei
você primeiro, acho que isso é justo.
-Não, não é.
-Kailan...- toco em seu rosto e
ele me olha – está tudo bem, vai ficar
tudo bem. – Kailan suspira e como um
filhotinho põe seu rosto em minha mão.-
eu me preparei para este momento
Kailan, e agora estou pronta para ficar...
Sei que você não entende, mas irei
explicar a todos. Só... me escute sem
antes me julgar, me dê uma chance. – ele
abre seus olhos, Kailan tem um dom de
olhar dentro da alma das pessoas.
-Você está com medo. – ele diz.
-É claro que eu estou, me sinto
em um julgamento e sem advogado de
defesa. Sei que é meio egoísta te pedir
isso, mas eu preciso que esteja lá por
mim, preciso que me escute...
-Irei. – ele responde sério e sinto
lágrimas embaçarem a minha visão, eu
não o mereço...
-Senti tanto a sua falta, nunca
duvide Kailan... Toda vez que via Sarah
crescendo sabia que em algum lugar
você também estava crescendo e que eu
não estava lá para ver. E ao mesmo
tempo em que estava feliz por Sarah, me
entristecia por não te ter por perto, por
isso eu nunca fui completa... Em nenhum
desses anos eu nunca fui completa
porque não tinha os meus filhos comigo.
-Filho...- ele repete.
-Sim... Sei que não tenho esse
direito, mas é assim que me sinto. E eu...
não espero que me aceite como sua mãe,
sei que talvez seja pedir demais. Mas
estarei aqui, mesmo que não viva aqui,
estarei por perto. Não quero perder mais
nada, já perdi coisas demais.
-Lua?! Que porra de tanto sangue
é esse? O que está acontecendo aqui?! –
Noah rosna aparecendo entre as árvores.
-Nada, eu só cai- desculpa
esfarrapada, eu sei. Mas levanto-me e
sorrio para Kailan, seus olhos brilham e
talvez esse seja um inicio.

Sarah

-O que há com você e Lídia? –


Loren me pergunta quando estamos
saindo do colégio.
-Ela é a namorada de meu pai, e
espero que esse título não lhe sirva por
muito tempo. – ela sorri, Loren tem um
lindo sorriso.
Avisto o carro negro e entramos
nele.
-Onde está tia Lua? – Bia
pergunta, e essa é uma ótima pergunta,
onde está a minha mãe?
-Ela foi na frente, disse que tinha
coisas a tratar. – sorrio com sua
resposta.
-Que tipo de coisas?
-Coisas que não te dizem
respeito, pequena. – finjo que estou
emburrada com sua resposta, mas ele
sorri e seus sorrisos são tão raros, que é
impossível ficar chateada com ele.
Chegamos na casa, mas não vejo
sinal nem de minha mãe e nem de meu
pai... Será que eles se acertaram? Adeus
Lídia! Já estava quase comemorando
quando os vejo caminhando em nossa
direção e sinto o cheiro do sangue
dela...
-O que aconteceu? – primeiro
olho para meu pai, mas ele está tão
irritado quanto eu.
-Não foi nada. – minha mãe
responde e sem falar com ninguém
presente na sala, como se ela fosse a
única coisa que importasse, Ian caminha
até ela e toca seu rosto com carinho.
Vejo meu pai travar ao lado com o gesto
dele que é tão intimo... Minha mãe sorri
com o toque de meu tio, ele a abraça e
diz algumas palavras em seu ouvido,
quando se afasta, não há mais
machucado, nem há mais sangue.
-Bem melhor agora. – ele diz
enquanto sorri para ela.
-Sim, obrigada. – nunca vi meu
pai tão irritado e é aí que percebo, ele
morre de ciúmes de Ian... E não parece
ser um ciúme de hoje... É um ciúme
antigo, interessante...
-Preciso conversar algo com
vocês, preciso explicar tudo. Para isso,
seria interessante uma reunião com os
lideres, depois vocês passam o que
preferirem para o seu povo.
Vejo Kailan aparecendo na
porta, ele olha para minha mãe e
parece... arrependido. Esse idiota! Foi
ele que a machucou! Corro para ele, e
Kailan segura o meu pulso que estava
indo em caminho ao seu rosto.
-Calma nanica, eu já me
desculpei. – ele diz e olha para mim,
realmente olha. Acho que essa é a
primeira vez que Kailan realmente me
vê. Ele passa dois dedos em minha
bochecha, um gesto, só um gesto, um
carinho... E sei que isso é muito para
ele.
-Babaca. – cruzo meus braços e
fico ali ao seu lado, digo ao lado dele
porque ele está ao lado de minha mãe, a
apoiando. Nossos olhos se encontram e
se eu não tinha nada em comum com
esse cara, acho que ambos descobrimos
agora nosso elo, é ela.

Luana

Minha família estava aqui, toda


ela... Alec, Ian, Ravi, Noah, Leandro,
Raquel, Manu, Kailan, Sarah, Bia e
Loren... As meninas só estavam aqui por
muita insistência de ambas, eu pedi que
Sarah estivesse presente e elas quiseram
vir junto, então, aqui estamos. E eu não
sei exatamente por onde começar, e é
isso o que digo.
-Não sei por onde começo...
-Comece explicando porque foi
embora- Noah diz, seu rosto é sério e eu
suspiro.
-Na Lua azul eu tive uma visão...
Lobos e bruxos mortos... Eu vi... todos
vocês mortos. – olho para cada um na
sala e revivo a cena, isso não vai
acontecer, eu não vou permitir.
-Está me dizendo que foi embora
por causa de uma visão? Por causa de
uma coisa que talvez nem aconteça? –
sinto o julgamento de Noah em cada
célula do meu corpo. Ergo uma mão
para Ian que dá um passo em direção a
Noah, eles se encaram agora.
-Não, primeiramente eu fui
embora não por causa da visão no
evento da lua azul, eu fui embora porque
haveria guerra entre os clãs e você me
disse que deixaria a liderança da
matilha com alguém competente e iria
embora comigo, Noah. Você me disse
essas palavras e eu sabia que iria
cumpri-las, mas se isso acontecesse,
toda a nossa espécie estaria morta,
porque um líder competente jamais seria
você. A guerra nem tinha acabado e eu
estava pronta para voltar... Então a
mesma visão que tive no dia da lua azul
voltou para mim, dessa vez mais nítida e
eu consegui vê-los, cada um de vocês...
Briana me alertou, ela disse que se eu
voltasse, viveria por um tempo feliz,
mas estaria condenando todos vocês a
morte. Ela me disse que se eu quisesse
fazer com que isso não se realizasse,
precisaria me unir a ela, de verdade.
Hoje nós somos uma só, eu tenho os seus
poderes, mas também tenho suas
responsabilidades e embora cada célula
de mim quisesse estar aqui, ao seu lado,
eu precisava tentar salva-los... Não só
vocês, todos os clãs... Todos eles
morrerão. Eu precisava tentar, entende?
E...- respiro porque essa é a pior parte- ,
não sei o dia ao certo, mas eu estou
fazendo de tudo para segurar os portões
do primeiro plano, mas eles irão ser
abertos por uma força que eu não serei
capaz de enfrentar, quando esses portões
forem abertos... A terra irá passar por
dias de destruição, dias que parecerão
anos... Nenhum humano irá sobreviver a
isso... Depois desse evento, tudo é
turvo... Tudo o que eu tenho depois
disso é fé, fé em uma garota chamada
Elisabhet, ela precisa vencer ou todos
nós estaremos perdidos.
-Espera aí, o que você quer dizer
com primeiro plano?
-Há quatro planos no mundo, o
primeiro é o submundo, mais conhecido
como inferno pelos humanos. O segundo
é um mundo da magia, o mundo fae. Lá
já estão sendo sentidas as consequências
da escuridão. O terceiro plano é onde
vivemos, a terra. O quarto é o plano
superior...o que os humanos chamam de
paraíso.
-Você está dizendo que os
portões do inferno serão abertos?
-Eu estou dizendo que o
apocalipse está prestes a acontecer.

Sarah

Portões... Inferno... Apocalipse...


Está difícil até para mim entender. Se o
mundo vai acabar, o que nós temos
haver com tudo isso? Ela mesma disse
que tudo estaria nas mãos de uma
garota... Elisabhet. Então, porque ela foi
embora?
-Eu não entendo...- sou a
primeira pessoa a falar algo depois de
ouvir tudo o que ela disse.- Não entendo
porque foi embora... Por que... Já que o
apocalipse vai acontecer e que você não
pode fazer nada para impedir, então por
quê?
-Quando os portões forem
abertos... Seres sairão de lá. Pensem,
não é uma entidade, um demônio, não é
somente um mal. Pensem em todo bruxo
negro que já andou sobre a terra desde
que o mundo é mundo, todos eles virão
para a terra em busca de sangue, do
nosso sangue. Eles virão em busca dos
meus herdeiros...
-De mim?
-Não só de você... Há muito
tempo atrás... Eu lancei o feitiço em um
guerreiro, ele foi um fenrir, o primeiro
lobo que existiu... Todos vocês são
descendentes dessa magia. Meus
herdeiros são os lobos, são os clãs.
Entende? Eu precisava ir de clã em clã
para que eles pudessem ver que eu estou
viva, que eu sou Briana. Porque se não
estivermos juntos, jamais poderemos
passar por isso.- minha mãe conclui seu
pensamento.
Então eu a vejo, uma garota
ruiva... Seus olhos são brasas e ela está
no meio da sala.
-Mãe... Quem é ela?

Luana

Já faz algumas semanas que sinto


os portões cada vez mais fracos e sei
que ainda não é o momento para eles
serem abertos, tudo tem que ser no
momento exato... Tive que buscar forças
para mantê-lo fechado, isso significa
que tive que tomar de volta os grandes
espíritos: fogo, ar, água e terra. E espero
sinceramente que a predestinada a eles
não esteja em apuros por causa disso,
mas este é um fato maior, muito maior
que qualquer coisa que possa estar
acontecendo.
- Mãe... Quem é ela?
Ouço a voz de Sarah que faz com
que eu desperte dos meus devaneios, Ian
está com um ataque pronto, ergo minha
mão o parando quando percebo quem
está a minha frente.
-Kira...
-Você me conhece?- ela me
pergunta com seu olhar intrigado.
-Claro que conheço... Princesa
do reino de fogo, é um prazer.
-Não entendo, eu... Deveria vir
até os espíritos.
-E você veio, eles estão comigo.
-Você os roubou...- ela rosna e
seus olhos viram labaredas.
-Irei lhe perdoar por isso, Kira.
Você não sabe quem eu sou. Eu não
roubei ‘seus’ espíritos, eles foram
cedidos a você como uma parte do
universo para que esteja pronta no
momento correto, você será importante
no futuro, como acredito que os espíritos
já tenham lhe dito. Nunca esqueça de
quem os cedeu a você, esse alguém sou
eu.
-Você é a líder do clã...
-Sim.
-Você estava morta.
-Nunca morri, como acredito que
saiba, tudo que nos rodeia é energia...
Eu só me transformei em algo maior.
-Eu preciso da água... Meu pai
está ferido ele vai... morrer. – ela parece
angustiada, realmente angustiada.
-Estou usando o poder dos
espíritos para sustentar os portões do
submundo, não posso lhe devolver
qualquer um deles agora.
-Mas eu...
-Você escolheria a morte de
milhares de pessoas para salvar alguém
a quem você ama? – ela olha para baixo
e quando me olha, vejo certeza ali.
-E você líder, o que você faria?!
Não me faça uma pergunta que também
não é capaz de responder! Ele é toda a
família que eu tenho! – então eu olho ao
meu redor, o que já fiz por todos eles...
-Tudo bem... Irei devolve-la
momentaneamente, mas seja rápida.
-Você não pode fazer isso, vai te
matar! – Ian segura em meu braço.
-Ficarei bem.- digo a ele. – E
Kira, as sombras irão aumentar, tenho
certeza que já estão tomando forma em
seu reino, você precisa ser forte. Nunca
duvide do seu poder e eu não estou
falando sobre os espíritos, estou falando
de sua herança, do poder que corre em
seu sangue, você é da realeza, você tem
a essência do fogo em cada célula de
seu corpo, use-a.
Então ela some, e como o
espirito da água não está mais em sua
posição sustentando os portões, eu faço
isso. Lanço o meu próprio espírito até o
primeiro plano, seja rápida Kira...
-Merda, ela desmaiou!
Escuridão... tanta escuridão...

Noah

-Vocês viram o que acabou de


acontecer?
-Merda, essa porra é verdade!
-Ela disse que todos os humanos
vão morrer!
-Já chega! – grito e todos se
calam. Há sangue saindo dos olhos de
Lua... Ela não parece estar bem.- Há
algo que você possa fazer? – Pergunto
para Ian e ele nega saindo irritado pela
porta da frente. Eu seguro Lua em meus
braços e caminho com ela até meu
quarto, antes dou um aviso a todos.
-Quero todos os lobos na
propriedade nos próximos dias, estamos
em guerra. – anuncio e continuo a
levando para meu quarto.
A ponho ali na cama e limpo o
sangue que escorre em seus olhos como
lágrimas, faço movimentos circulares
em sua mão enquanto ela não acorda, ela
tem que acordar...
Cinco minutos... Dez... Então
seus olhos se abrem.
-Você está bem? – pergunto a ela
que acena com a cabeça.
-Noah, eu preciso que saiba que
eu nunca, jamais, desisti de você. – ela
se aproxima de mim e eu gostaria de
dizer que eu sei, que agora eu sei...
Talvez eu ainda não tenha aceitado, mas
talvez eu entenda...- e eu preciso que
você saiba...- estamos agora a um
milímetro de nos beijarmos – que eu não
vou deixar você ir, então...- ela toca
minha bochecha com seu nariz e para em
frente a minha boca novamente- não me
deixe ir, Noah...- e quando ela diz isso
sei que não está falando fisicamente...
Sinto quase que uma dor física,
metade de mim deseja selar os meus
lábios aos dela e aceitar tudo o que Lua
quer me entregar de bom grado, o
problema é a outra metade, a metade que
questiona, que teme, que não confia...
Desde que Lua voltou eu percebi que
algo havia quebrado e era a confiança
que eu tinha nela. Eu confiei em Lua,
confiei que ela estaria fazendo o certo
indo embora, confiei que ela voltaria...
Mas percebi, depois de ouvir toda a sua
história, que Lua não confiou em mim...
Ela não confiou em mim para protege-la,
não confiou em mim para me contar seus
segredos, eu simplesmente não tive voz
alguma em nenhuma de suas decisões e
isso me faz perceber que talvez Lua
nunca tenha nos visto como um Nós.
Porque eu não sou a porra de um expert
no assunto, mas quando se é um casal,
precisa-se das duas opiniões, precisa-se
de um consenso... E isso nunca existiu.
Ela achou o que era certo e
simplesmente fez.
-Não me deixe ir, Noah... – ouço
seu sussurro, sinto seu hálito tão
próximo a mim. Lembranças chegam a
mim como meteoros e me atingem direto
no peito:
“Seja minha lua, só minha. Por
hoje e pelo restante de nossas vidas, e
que seja uma eternidade enquanto
estivermos os dois juntos: completos e
eternos.’’
“Lua, eu demorei tempo demais
para te encontrar e não desperdiçaria
tempo com outro ser que não fosse
você...’’
“Preciso da sua força, preciso
da sua luz, preciso da bagunça que faz
em minha vida, porque essa bagunça
me faz questionar tudo o que sou. Me
faz ser um homem melhor e um alfa
melhor para a minha matilha...’’
As lembranças rodeiam em
minha mente uma e outra vez, então
nossas vozes se misturam em meu
pensamento como sussurros...
“Seja minha...’’
“Minha lua...’’
“Para sempre...’’
“Não me deixe...’’
Então faço o que todo o meu
corpo deseja e acabo com a distância
entre nós. Seus lábios são mais macios
do que me lembro e seu gosto me
inebria, ela é a minha fodida droga.
Nossos lábios se tocam castos
de inicio, só um toque... Um roçar...
Como se ambos tivessem pedindo
permissão ao outro, passagem... Vejo
quando os lábios de lua se repuxam em
um sorriso e eu mordo seu lábio inferior
em resposta. Um suspiro escapa dela, e
como se tivesse ouvido um pedido por
mais, eu a invado com meu toque, minha
língua... A beijo como se fosse a
primeira vez. Ela é minha e eu sou dela,
e por um segundo isso é tão claro, se há
uma verdade no mundo, é essa.
Nosso beijo passa de casto para
urgente, necessitado... Eu nunca tive
tanta fome em minha existência como
tenho dela, do seu sabor, de seu corpo...
Passei anos demais com um desejo
engavetado e agora não existem mais
pensamentos, só reações. Sinto todo o
meu poder de Supremo ir até a
superfície, sinto meu lobo ali, Kanut...
Como um participante, como alguém que
observa.
-Noah... – ela geme meu nome
quando eu brinco com seu pescoço,
acima de onde a mordi na primeira vez...
Por quanto tempo sonhei com isso, com
meu nome em sua boca, só isso... Um
simples telefonema...
Tiro sua blusa e seu sutiã sai no
processo, Lua está de calça e com sua
parte superior nua... Não vejo suas
marcas em seu braço... Minhas marcas,
as marcas que indicam nossa união.
Estamos ofegantes e nos encarando, eu
completamente vestido e ela só a
metade, temos tanta coisa a dizer, tantas
discussões que nem se iniciaram, tantos
assuntos inacabados. Eu a desejo, é
claro que sim. A amo? Isso não é a
fodida de uma pergunta válida. Mas
alguém me ensinou que às vezes o amor
não é o suficiente, e esse alguém foi ela.
Lua quando saiu por aquela porta, foi
essa merda de lição que ela me deu, que
o nosso amor não era suficiente.
Ouço umas batidas na porta.
-Pai... Sua... han... Lídia está
aqui na porta. – a voz de Kailan passa
pelas frestas.
Lua sorri de lado e pega suas peças em
cima da cama, ela se encaminha para o
banheiro e eu abro a porta para falar
com o meu filho, mas quem está lá não
era ele e sim Lídia.
-Você está bem? Kailan disse
que estava indisposto. – vejo seus olhos
verdes brilharem, Lídia tem um sorriso
fácil e gentil... Não é difícil perceber
porque estou com ela há quase dois
anos, ela é simples... Sem complicações.
E, previsível. Não tenho que me
preocupar com a atitude que Lídia terá
em situações, ou em ela destratando
pessoas, iniciando brigas... Ela é calma
e educada. Vejo-a olhar para algo atrás
de mim e quando acompanho seu olhar,
vejo Lua ainda colocando sua blusa. Ela
caminha até nós com um sorriso sexy pra
caralho em sua boca.
-Desculpe... Lídia, não é? Ele é
todo seu agora. – ela diz piscando um
olho.
-Noah, o que significa isso?!
Noah! – Lídia me questiona por uma
satisfação, mas eu estou ocupado demais
ouvindo o que Lua está falando tão
baixo que sei que é só para que eu possa
ouvir.
“Eu vou transformar sua vida em
um inferno, companheiro. Como disse,
estou disposta a lutar por você, mas não
estarei aqui a vida toda, Noah. Você
seguiu em frente e talvez eu siga o seu
exemplo, então antes de esfregar alguém
em minha cara, me imagine fazendo o
mesmo com você’’.
Um rosnado involuntário sai do
fundo do meu peito e Lidia dá um passo
para trás, assustada.
Ravi

Sabia que Lua iria nos trazer


algumas coisas com o que lidarmos,
sabia que ela não tinha ido embora por
ir, que havia algo envolvido... E bem,
não falava com Noah porque isso o
machucava, mas se minha menina
acreditava que a filha de Lua estava
viva, eu também o fazia. Ver a linda
menina com os mesmos olhos da mãe
encheu meu peito de alegria... Não foi
fácil liderar uma matilha, ainda mais
sendo eu, um quase nerd. Mas o que
poucos sabem, é que luto muito bem, na
verdade, sou mais rápido que Noah...
Tive trabalho para que me respeitassem
como autoridade e não como um pau
mandado do Supremo. E Bia... Não
preciso nem falar o quanto de trabalho
que tive com ela, certo? Ela sempre foi
essa menina cheia de vontade,
imaginação e muita curiosidade. Eu tive
a conversa da menstruação, do sexo, dos
companheiros... E vamos lá, eu nem
quero imaginar minha menininha com
nenhum idiota, mas me alivia saber que
Bia é muito mais forte do que um homem
comum e bem, ela não se deixa dobrar a
nenhum lobo macho.
Voltando ao assunto, Lua... Ela
trouxe mais do que seres loucos e o
apocalipse... Lua trouxe uma bruxinha
sexy pra caralho! Sofia... Eu gosto do
nome dela... Mas a mulher é emburrada,
ela não olhou em minha direção uma vez
sequer e embora eu não tenha sentido o
frenesi de um companheiro, ela me
deixou extremamente intrigado e muito,
mais muito interessado...
Então cá estou, acampando na
casa de Noah... Claro que digo a todos
que tenho que estar aqui e tudo o mais,
mas, espero o tempo todo por aquela
bruxinha de nariz empinado aparecer
através da porta...
As meninas chegam da escola e
fico irritado ao saber que ela não está
presente, Sofia não veio nem com Lua,
nem com Ian... Por falar em Ian, que
diabos aconteceu com o homem?!
Parece que está constantemente
chupando um limão azedo, sua atenção
gira unicamente ao redor de Lua e
Sarah... Se eu não conhecesse Lua, diria
que há algo entre dois... Mas
conhecendo a garota, sei que é só
amizade.
Depois de chegar, sangrando,
uma quase briga, nos contar uma história
sobre apocalipse- e nos dizer que o
mundo está nas mãos de uma garota,
vamos lá, estou me sentindo
definitivamente seguro agora-, a cereja
do bolo foi o fantasma ruivo de fogo nos
olhos... Kira, Lua a chamou... Disse que
era uma princesa do segundo plano...
Outra coisa que me intrigou foi esse
lance de mundos, planos... Eu sou um
lobo e não deveria me impressionar
facilmente, mas isso tudo é a porra de
uma loucura bem grande. Vê? Disse que
Lua iria movimentar as coisas.
-Porque você está sorrindo? Ela
acabou de dizer que o mundo
provavelmente vai acabar. – Leandro me
questiona e eu dou de ombros.
-Talvez isso seja divertido.
-Você só pensa em diversão,
idiota?
-Sem diversão, do que adiantaria
estar vivo? – e é a verdade, não é que eu
seja um completo palhaço- pelo menos
acho que não sou-, mas, as coisas
precisam ser divertidas, você precisa ter
tesão pelo o que faz, senão seu trabalho
se transforma na porra de uma prisão!
Depois de Lua desmaiar e Noah
a levar para o seu quarto- veja que
talvez eu esteja contando quantas vezes
ele a está levando para o quarto e já
estamos em duas vezes, talvez eu faça
uma aposta, ou um bolão: quantas vezes
Noah levará Lua para seu quarto antes
do apocalipse!?
Então, com todos falando ao
mesmo tempo... Minha atenção cai para
a entrada, quando uma linda mulher com
cabelos cor de mel e olhos duros encara
todos da porta, Sofia... Eu realmente
quero fazer aquela boca gostosa sorrir...
-Pai, você deveria fechar a boca
ou parar de olha-la assim, sério, tem
coisas que sua filha não precisa saber. –
minha querida menina diz e eu percebo
que talvez, só talvez eu esteja
encarando... Levanto-me e caminho em
sua direção, ela parece deslocada.
-Oi, Sofia não é?
-Sim, você é Ravi.
-Ei, você sabe meu nome... Isso
é bom. – digo erguendo uma mão espero
que ela apertasse. Sofia olha para minha
mão e para minha cara algumas vezes.
-Desculpe, mas não gosto de
toques.
-Ah, você não pode me deixar no
ar... Dá azar para um primeiro encontro,
vamos lá Sofia... Só toque em minha
mão. É só um aperto, não estou te
convidando para sair e nem pedindo
para entrar em seu quarto- ainda,
completo internamente.
Vejo quando ela me olha de
modo interrogativo e ergue sua mão
devagar... Um leve toque e ela se afasta,
então, faz algo que uma mulher jamais
fez comigo... Pelo menos não em menos
de cinco minutos.
-Se afaste de mim, eu não quero
absolutamente nada com você, está me
entendendo?- ela diz séria e decidida,
depois do recado dado, dá as costas e
vai embora...
Ah Sofia... Você não deveria ter
feito isso, acho que ninguém te informou
que eu amo jogos...

Bia

Acabei pegando no... Que corpo


é esse atrás de mim?! Eu durmo com um
lobo e acordo com um homem, o homem
bem grande, se é que você me entende.
Viro-me um pouco para vê-lo, Kailan
reclama como uma criança com o meu
movimento, mas não acorda... Seu sono
é pesado e tranquilo. Ele está nu e essa
não é uma novidade para nós, lobos.
Muito menos para mim, já o vi nu
diversas vezes, mas me impressiono que
a cada vez que o vejo, uma tatuagem
nova está desenhada em seu corpo...
Dessa vez há uma caveira mexicana na
lateral de suas costelas, ele
definitivamente parece uma tela de tão
pintado. Kailan também usa muita prata,
o que machucaria qualquer lobo, mas
não ele... Seus cabelos caem em parte de
seu rosto e meus dedos coçam para tira-
lo de lá. Tenho medo de me mexer mais
e ele acordar, acho que Kailan dormiu
comigo e me tocou por instinto... O
pirralho é até bonitinho dormindo...
-Admirando? – sua voz sai fraca
e rouca.
-Claro que não, pirralho, não há
nada para admirar aí. – ele vira seu
corpo para cima, mas eu continuo com
minha cabeça em cima de seu braço
fazendo o mesmo e virando-me
completamente para cima. Agora a única
parte dos nossos corpos que estão em
contato são seu braço e meu pescoço
logo acima.
-Você está bem? – pergunto.
-Coisas demais... Mas vou ficar.
-E sobre sua irmã?
-Ainda estou me acostumando a
isso.- ele responde e estou tão
embasbacada do pirralho estar me
respondendo sem birras ou brigas, que
continuo a perguntar.
-E... Lídia?
-Ela... Eu sei que Lua é a
companheira dele, mas Lídia faz bem ao
meu pai e ele merece isso...
-Kailan... Você está com medo?
-Do que?
-Fim do mundo, apocalipse,
criaturas querendo nos matar.
-Eu não vou deixar nada te
acontecer, Bia.
Não olhei para o pirralho, mas
estranhamente, acreditei em cada
palavra que ele disse.
Bem, dizem que o que é bom
dura pouco, certo? Acho que eles
falavam sobre a personalidade de
Kailan. Ele facilmente se levantou,
sacudiu a poeira e saiu dali sem dizer
uma palavra. E agora? Agora estávamos
discutindo como sempre fazemos.
-Você não deveria ter feito isso,
pirralho! – sério, porque Kailan foi os
incomodar no quarto? Era só dizer que
Noah não estava em casa!
-Eu fiz o que deveria fazer.
-Mas ela te seguiu!
-E o que queria que eu tivesse
feito?
-Impedido, é óbvio!
-Bia... Eles são namorados há
dois anos!
-E o que tem?! Seus pais são
companheiros! Você quer que eu soletre
essa palavra para você gravar na
memória? C.O.M.P.A.N.H...
-Já chega! Me deixa em paz!
Vejo Kailan ir em direção a
floresta, é lá onde ele se esconde
quando está irritado ou preocupado com
algo...
Eu ando atrás dele e o observo
transformado em lobo... Kailan é um
imenso lobo branco, eu fico aqui,
sentada no chão como quando era
criança, seu lobo vira levemente sua
cabeça em minha direção e não faz
nada... Eu finjo que me escondo, ele
finge que não me vê, esse é nosso
acordo desde sempre. Não gosto que
Kailan fique irritado com algo, claro, a
não ser que eu tenha causado essa
irritação, aí sim, isso me deixa
extremamente satisfeita. Sei que a volta
de Lua e a chegada de Sarah o deixou a
um fio. Kailan não é bom com palavras,
nunca foi... Ele passou uns três anos sem
falar depois que Lua partiu, ele não
gostava de ser tocado por ninguém... A
verdade é que Kailan era um lobo que
teve que aprender a ser humano e não
um humano que teve que se habituar com
um lobo... Suspiro e me jogo deitada nas
folhas caídas no chão, ouço alguém se
aproximando... O lobo de Kailan toca
seu focinho gelado em minha bochecha e
deita ao meu lado, ele põe seu pescoço
apoiado parte em meu pescoço e parte
em meu peito, se fosse em outra
situação, eu teria o enxotado dali, mas
Kailan é tão difícil de se aproximar de
alguém que quando ele deitou em cima
de mim, eu toquei em seu pelo macio da
cabeça e ele fechou os olhos
adormecendo...

Luana

Saio rosnando para mim mesma,


Noah faz com que meu lado idiota,
irresponsável e criança se manifeste!
Claro que eu poderia agir como adulta e
não colocar minha blusa na frente dela,
ou não soltar piadinhas, ou... Não irritá-
lo... Mas é algo bem maior do que eu e
isso me preocupa.
Que eu errei indo embora? Não
acredito que exista um lado errado em
toda essa história, há escolhas e
escolhas não são certas ou erradas, elas
são escolhas e são necessárias.
Percebi uma coisa quando
voltei... Noah está diferente. Inferno, eu
também estou, o que esperava?
Encontra-lo congelado no tempo?! Noah
não é mais aquele cara impulsivo e
muitas vezes agressivo, ele está mais
sério do que costumava ser... E sei que
não deveria, mas sinto um desejo imenso
em tira-lo do sério só para que ele saia
da porra da bolha que criou. Uma bolha
que sei que criou para sobreviver sem
mim e que agora eu terei que quebrar.
Não foi fácil, não foi fácil para
ninguém e não há nada fácil vindo do
futuro... Sofia tem as premonições... Eu
consigo ver algumas coisas, mas ela é a
mestra nisso.
-Mãe! Você está bem! – Sarah e
Loren me abraçam ao mesmo tempo.
-Estou bem meus amores, não se
preocupem. – digo e beijo ambas.- onde
está Sofia?
-Ela saiu há uns cinco minutos.
-Já volto...
Caminho procurando Sofi... Ela
está olhando as estrelas e claro que me
sente chegando.
-Precisa contar para ela.-
novamente este assunto...
-Já conversamos sobre isso.
-Não Lua, não conversamos.
Você deu uma ordem de que Sarah não
deveria saber. Mas ela precisa...
-Minha filha não irá viver com
medo por causa de uma profecia!
-Não, mas ela precisa viver
preparada! Estão atrás dela, Lua! Foi
por isso que eu aceitei ir com você
quando veio até mim grávida! Sarah
precisava ser preparada, ela precisa
saber, é a sua vida!
-Sarah não vai ficar sabendo...
-Eu não vou ficar sabendo do
que? – minha filha me encara.
-Sarah eu...
-Não! Sempre soube que me
escondia algo, e esse algo é sobre mim!
Poxa mãe, confia nas pessoas! Confia
em mim...
-Eu confio em você...
-Não parece!
Os braços de Sofia caem ao lado
de seu corpo, seus olhos estão vidrados
e encaram o nada, se tornando um
espelho em azul, então sua voz metódica
e sem sentimento algum começa a dizer:
“Da primeira besta e do
primeiro clã, a herdeira nascerá e
deterá o poder sobre o primeiro filho
do pecado. A possua e deterá seu poder,
a possua e terá poder sobre a morte. O
filho do pecado se prostrará diante
dela, ajoelhado em submissão. Então a
herdeira irá ter o coração da morte em
suas mãos e quem tem o coração da
morte, tem a própria morte e todo o seu
poder.’’
Sofia respira com força como se
tivesse acabado de dar um profundo
mergulho... Essa é a profecia de Sofia
sobre Sarah... A herdeira.

Sarah

Bem... Descobrir que você está


em uma profecia poderia ser mais legal
que isso. Pelo o que entendi, a ‘primeira
besta’ é Kanut, que também é o meu
pai... O primeiro clã é o clã de Briana,
que também é minha mãe... Em relação
ao resto, não entendi absolutamente
nada. Eu não tenho nenhum poder
especial, posso fazer algumas coisinhas
que outras pessoas não podem, isso é
óbvio, mas o que posso fazer é herança
do meu sangue... Herdeira, foi disso que
ela me chamou. Quem diabos é o filho
do pecado e desde quando a morte tem
um coração? Não, desde quando a morte
é uma pessoa para ter coração? Vamos
lá, morte é só morte... é o oposto da vida
e não uma pessoa que vai bater em
minha porta a qualquer momento. O
problema, que foi explicado por minha
mãe e Sofia após seu surto de previsão,
é que todo ser sensitivo sabe dessa
profecia... Sofia foi a primeira a saber,
lógico. Me disseram que era como um
canal de tv, só que o mais poderoso
assiste primeiro. Então Sofi sempre sabe
tudo em primeira mão. Como disse, o
problema é que o resto do mundo
sobrenatural também sabe e que, se a
morte é uma pessoa... Ele
provavelmente sabe também e eu não
estou nada animada para ter um e
encontro com essa ‘pessoa’ tão cedo.
Não liguem para o que eu digo, estou
surtando aqui...
-Você está bem?
-Você ouviu o que ela falou,
Loren... Isso é assustador pra caramba.
-Eu estou aqui, e aposto que Bia
também... Onde quer que ela tenha se
enfiado agora. O que quero dizer é que
estamos aqui por você e não a
deixaremos sozinha.
Sua mão aperta a minha... Eu
sempre quis ter irmãs, certo? Sorrio
para Loren, ela é incrível, cabelos
dourados olhos escuros e o tipo de
pessoa que alguém normal não teria
afinidade só de cara. Mas então ela abre
seu sorriso e nos olha de uma forma que
só ela sabe olhar, e é impossível,
impossível não amar essa garota.
Minha mãe está irritada pra
caramba com Sofia, mas bem... Era o
meu direito decidir se queria saber ou
não da profecia, afinal, era sobre mim.
Se tem um defeito que pude observar em
minha mãe ao decorrer de toda a minha
vida, ela é controladora. Não sei se é
por causa de todas as memórias de
Briana, porque ela agora é a líder do clã
de seres mágicos, por causa de todas
essas profecias e destinos, ou o lance do
apocalipse, tem também... Merda, isso
tudo não me tornaria só controladora, eu
estaria surtando em seu lugar. É aí que
percebo... Não estava em seus planos
voltar para essas terras, não, não é isso
o que eu quero dizer, claro que minha
mãe queria voltar, mas não estava em
seus planos voltar nessas condições,
trazendo a merda de tantos problemas
junto... Essa é sua última cartada. Por
isso que ela pediu para que as pessoas
viessem até as terras de meu pai, é o
único modo que ela encontrou de
proteger a todos ao mesmo momento.
-Ela vai precisar de nós- Loren
diz como se estivesse acompanhando
completamente os meus pensamentos.
-Eu sei. – Rick aparece na porta,
ele olha ao redor e pergunta a ninguém
em especifico.
-Onde está o alfa?
-Ele não saiu do quarto, está
conversando com sua... namorada-
minha mãe rosna a última palavra, ela o
ama e isso está tão na cara... Deve ser
embaraçoso ter meu pai passeando com
uma mulher, principalmente aqui, no
território da matilha... Ele a está
humilhando.
-Ele não atende ao telefone...
Chegaram pessoas... – Rick parece
realmente perdido.
-Pessoas que disseram meu
nome?
-Sim... Eles chamaram por
Briana.
-Então deixe que entrem. – Rick
demora um pouco, mas acena e vai
embora. Vejo minha mãe sair e ir para
frente da casa para receber quem quer
que estivesse chegando. Eu a sigo, assim
como Sofia e... Ravi. Será que há algo
entre esses dois? Nunca vi Sofi com
homem nenhum, mas ela é linda...
Durante os meus devaneios duas
mulheres chegaram, uma com a barriga
imensa, grávida. Elas iriam se ajoelhar
diante de minha mãe se ela não as
tivesse impedido com um gesto. Minha
mãe caminha até elas e no lugar de as
cumprimentar, ela toca na barriga da
grávida.
-Vocês são as últimas Volkovs...
As mais poderosas do clã Vanir- ambas
as mulheres acenam com orgulho.
-Sua filha será importante para o
futuro... Já escolheram um nome?
-Sim, ela se chamará Anastasya
Suzzana Volkov. – a grávida diz.
-Bem-vindas, apresentem-se.
-Chamo-me Darya e essa é
minha mãe Maryska, é um prazer estar
em sua presença, minha senhora.
-Fico feliz que tenham vindo... O
legado da família de vocês é importante
demais para ser simplesmente perdido.
-Estamos prontas para lutar. – a
mulher que se chama Maryska diz de
forma decidida.
Depois disso, Raquel as
encaminha para uma das casas para que
descansem e meu pai finalmente desce
as escadas.
Vejo minha querida professora
olhar para todos de olhos arregalados...
Uma matilha é realmente uma bela visão
para uma humana e espero que ela esteja
de saída.
As três pontas da magia
branca
Sarah

-Eu tive uma ideia, Loren! –


sussurro e a puxo até o lado de fora.
-O que?! Não sei se estou
gostando deste olhar... É o mesmo de
Bia quando ela vai fazer uma besteira
bem grande...
-Meu pai está com Lídia, certo?
-Sim...
-E se... Minha mãe ficasse com
alguém também? – digo sorrindo, com o
plano já se formando em minha mente.
-Você não queria unir sua
família? – Loren tem uma ruga em sua
testa, sem entender onde meus
pensamentos me levam.
-Exatamente! Mas meu pai é
cabeça dura... Ele precisa de um
empurrãozinho! Não dizem que nós só
damos valor a algo quando estamos
prestes a perdê-lo?
-Eu não acho que...
-Então ele precisa pensar que
vai perder minha mãe de verdade para
outro homem! É um plano perfeito!
-Sarah... Isso não vai dar certo...
Quem seria esse homem? Quem se
sujeitaria a ser usado dessa forma?
-Eu tenho a pessoa certa em
mente! E ele não vai ser usado... É como
uma pegadinha... Eu tenho exatamente a
pessoa certa. Já volto!
-Sarah...!
Ando pelas terras de meu pai,
tento encontra-lo pelo cheiro, mas é
impossível. Então tento encontra-lo
através da magia e... bingo!
Meu tio estava no lago, olhando
para frente. Sua mão estava aberta e de
lá saia uma luz azulada.
-Estava me procurando,
lindinha? – ele diz, mas não se vira para
mim. Sua mão se fecha destruindo a
energia e não consigo mais sentir sua
magia... Eu o encontrei porque ele assim
permitiu e eu aqui me gabando
internamente pelos meus dons de busca.
-Sim... Eu tenho uma proposta
para te fazer.
-Diga. – ele ainda não se vira.
-Você poderia fingir que tem
algo com minha mãe...
-Eu tenho algo com sua mãe.
-Não tio, algo, algo... Para meu
pai morrer de ciúmes. Ele anda por aí
esfregando Lídia na cara dela e...
Ele gargalha e me olha de braços
abertos e eu como um impulso, como se
meu corpo soubesse exatamente o
caminho de um lugar seguro, corro para
dentro desse abraço tão reconfortante.
-Sabe lindinha... Você estava
lendo os meus pensamentos!
-Sério?!
-Sim... Sua mãe está triste e
irritada e isso me incomoda, então
vamos aproveitar esses dias chatos de
calmaria e mover um pouco as peças
desse jogo.
-Eu não acredito que minha mãe
irá aceitar isso... Esse é o único
problema.
-Ela não iria, se soubesse, claro.
Mas Noah sempre teve ciúmes de mim,
não vai ser difícil fazê-lo pensar que há
algo mais entre mim e Lua.
-Se ela descobrir vou dizer que a
ideia foi sua.- ele sorri novamente.
-Feito.
-Você sabia da profecia?- digo
depois de algum tempo em silencio.
-Sim eu sabia.
-Você também não queria que eu
soubesse?
-Do que adiantaria você saber?-
ele diz.- Mas agora que sabe, antes de
julgar sua mãe, por que não me deixa
dizer toda a verdade?- aceno com a
cabeça e ele continua- Lembra que sua
mãe sempre voltava para casa
machucada e que logo depois nos
mudávamos? Isso acontecia porque
seres que tinham más intenções com
você nos encontravam, ela os matava e
nos mudávamos... Mas você estava
crescendo e ainda não sabia controlar-se
direito, toda vez que você se
transformava em lobo, usava sua magia,
brincava de adivinhação... Todas essas
vezes atraia as pessoas que estão atrás
de você, e todas as vezes sua mãe lhe
protegeu.
Lembro-me de tantas vezes ter
brigado com ela porque ela me proibia
de usar magia ou me transformar... Então
eu fazia escondido as vezes e eu nunca
pensei... Nunca liguei uma coisa a
outra... Que ela sempre voltava para
casa machucada...
-Eu não sabia...- digo em um fio
de voz.
-Eu sei lindinha, e eu não te
contei isso para que se sinta mal. Esses
idiotas a julgam por ter ido embora, na
verdade ela estava os afastando de toda
essa porra que convivemos! E você tem
razão por pensar que ela não voltaria
agora, não voltaria mesmo. Lua nunca,
jamais, colocaria essas pessoas em
perigo. Acredite em mim, se ela tivesse
a certeza de que seus poderes não
atrairiam forças ocultas, ela nunca teria
te levado junto... Ela te deixaria aqui,
com seu pai, mesmo que isso a
destruísse por dentro. Isso- Ian aponta
ao redor- é o fim do jogo, é nossa última
cartada, nossa última chance de vencer.
Mas não vamos ficar falando sobre
coisas chatas, vou adorar ver a cara
irritada de seu pai...
Isso me faz sorrir... Mesmo que
suas palavras tão frescas em minha
mente ainda estejam sendo repetidas...
Olho para meu tio, seu rosto sério e
focado, como um homem que tem uma
missão... E essa missão é proteger a
mim e minha mãe, só me assusta em
pensar no dia em que nós não
precisarmos mais... O que será dele?
Eu gostaria tanto que ele fosse...
feliz. Há uma sombra em meu tio, uma
sombra que se afasta um pouco as vezes,
mas que sempre está lá. Minha mãe me
contou que ele perdeu sua companheira
e estava definhando, então quando eu
nasci... Ele tomou a decisão de matar
parte de si, o lobo.
-Eu amo você. – digo.
-Cada segundo- ele me aperta um
pouco mais e deposita um beijo em meus
cabelos.
-Cada segundo.- eu digo tão
baixo que só ele é capaz de me ouvir.
-Eu te amo.
Luana

Olho ao redor... O território se


parece como um acampamento
organizado, mais bruxos chegaram,
assim como mais lobos também. Alguns
me reconhecem e me reverenciam,
outros, ou não se lembram de mim, ou
não se importam. As marcas que me
ligam a Noah estão camufladas e não sei
exatamente porque estou as deixando
escondidas.
Preciso ter outra conversa com
todos... Eles parecem assustados.
Noah desce as escadas
segurando as mãos de Lídia, todos o
reverenciam menos eu. Lídia fica com
uma cara de quem não está entendendo
muita coisa. Vejo quando Kailan entra
por uma das portas laterais, sendo
seguido por Bia... Meu olhar
automaticamente cai em Ravi, que não
percebe sua filha chegando porque ele
estava olhando diretamente para Sofia...
Sarah também aparece, sinto sua energia
por perto, mas ainda não tenho contato
visual.
Eu procuro o olhar de Noah, mas
ele olha para todos, menos para mim.
Passa por nós, por mim, sem ao
menos notar a minha presença, que
diabos...
-Pai, onde você vai? – ele estava
quase entrando no carro com Lídia.
-Vou até a casa de Lídia buscar
algumas roupas, ela vai passar algum
tempo conosco.
ELA VAI O QUE?! É como se
uma cena se repetisse em minha mente,
eu chegando na matilha e ele com
Lorenlay.... Tento esconder essa
lembrança ou esse sentimento dentro de
mim, mas está cheio... Eu estou cheia
demais de coisas que escondo... Sinto
que se escondesse isso atrás de uma
cara séria, iria enlouquecer. Então eu
sinto, sinto... Mágoa, decepção... Mas
eu não sou mais aquela garotinha, eu não
quero mais ser...
Ainda estou olhando para ele, meus
olhos marejados... Seu corpo tenciona e
ele vira o pescoço em minha direção...
Sinto o corpo de Ian me erguer
um pouco, pensei que ele fosse me
abraçar, mas... Ele me beija. E eu estou
precisando tanto deste toque que eu não
o paro.
Quando nossos lábios se
separam, ele sorri. Pega uma lágrima
que escorre por uma de minhas faces.
-Eu jamais te deixarei chorar por
ele. – meu amigo diz e eu escondo meu
rosto em seu pescoço, permitindo ser
cuidada, permitindo que Ian cuide de
mim, e sinto seu cheiro reconfortante.
Minha cabeça não pode estar em Noah
agora, muitas vidas dependem de onde a
minha cabeça está e ela tem que estar
focada na luta, nos portões, nos clãs...

Noah
Rosno ao ouvir as palavras de
Lua, mas Lídia me toca e é como se tudo
sumisse... Ela tem esse dom de me trazer
paz. E paz, é tudo o que quero no
momento.
-O que está acontecendo, Noah?
– ela me pergunta de modo preocupado.
-Sabe que Lua é a mãe de minha
filha, não é? – Lídia acena – ela vai
passar um tempo por aqui.
O olhar de Lídia parece
magoado e isso me faz mal.
-Nós teremos a casa cheia,
vários outros parentes também virão
e...- lembro-me do que Lua disse: todos
os humanos irão morrer. – quero que
você venha morar comigo.
-O que?!
-Por favor, Lídia...- não há mais
dor, solidão... Não há mais nada quando
ela me toca.
-Tudo bem... Mas você tem
certeza?
-Toda certeza do mundo. – seus
lábios encostam nos meus e novamente
sinto aquilo, nada... Paz... Eu fiquei tanto
tempo querendo estar em paz, é estranho
que uma pessoa possa me proporcionar
isso.
Desço com Lídia pelas escadas,
meus lobos me reverenciam e eu só sinto
uma necessidade louca em protege-la,
nada mais importa.
-Pai, aonde você vai? – ouço
uma voz conhecida e viro-me
respondendo a sua pergunta, Sarah...
-Vou até a casa de Lídia buscar
algumas roupas, ela vai passar algum
tempo conosco.
Viro-me novamente, estava
quase indo embora... Lídia solta minha
mão e abre a porta do carro. Eu estava
quase indo embora quando essa fisgada
ficou maior... Olho, procuro e a vejo...
Lua está beijando Ian... Rosno, algo
dentro de mim acordar, como se
estivesse rasgando camadas dentro do
meu próprio corpo, então ela me toca,
Lídia... E sinto novamente a mesma
paz... Vou embora.
Sarah

Uouuu! Quando eu falei para Ian


fazer ciúmes em meu pai não era para
dar um beijo nela em frente a todos!
Olho para meu pai em
expectativa e... Por um segundo, foi só
um segundo! Juro que vi seus olhos
brilhando em vermelho e logo depois...
nada. Ele se virou e foi embora, que
PORRA É ESSA?!
Minha querida professorazinha
vai querer nunca ter se metido com a
minha família, ah vai...
-Você está espumando. – ouço a
voz de Kailan em deboche.
-Eu não acredito que ele
simplesmente foi embora! – digo
exasperada.
-O que esperava? Eles são
adultos, Sarah... Não vão sair no tapa
por ciúmes. Fora que... Meu pai tem um
relacionamento sólido com Lídia.
-Você gosta dela?-digo fazendo
careta.
-Não é sobre mim. Ela faz bem
para ele e se você parasse por um
segundo de querer uma família perfeita,
veria que o nosso pai é feliz. – minha
careta se acentuou, não sei por pensar
que talvez ele tenha razão, ou por Kailan
pela primeira vez ter dito nosso pai.
-Não! Eu não aceito!
-Você não tem que aceitar nada,
projeto de gente. Deixe eles em paz. –
irritada me aproximo de Kailan e sorrio.
-Ahaa! Por isso que você tá todo
feliz e filósofo, agora me diga...Porque
você está com o cheiro de Bia? – digo
alto e Kailan tapa a minha boca.
-Shhh, fala baixo! E não
aconteceu nada... Nós só estávamos
próximos.
-Quão próximos? – digo só para
irrita-lo.
-Você adora se meter na vida dos
outros, não é?
-Da minha família sim. – ele faz
uma cara engraçada e depois sorri. Acho
que eu só percebi agora que o inclui no
meu circulo de “família’’. Kailan
bagunça meu cabelo, o que me deixa
irritada e quando olho para o lado, ele
não está mais lá.

Noah

-Você está calado... Está tudo


bem?- só a sua voz me traz uma paz
gigantesca.
-Sim...
-Noah... Tem certeza que quer
que eu vá morar com você? Podemos
dar um tempo até você resolver sua
vida...
-Não Lídia, eu quero você lá.
-Quem era aquele? – não
pergunto quem, sei que ela está se
referindo a Ian.- Noah... O que ela
estava fazendo em seu quarto?
-Ela só se sujou e foi se trocar.
-Entre todos os banheiros da
casa, ela estava se trocando no seu?
-Lídia, eu estou com você, ou
confia em mim ou não. – digo e sei que
saiu meio brusco. – Desculpe, não há
mais nada entre nós, eu estou com você
e Lua seguiu em frente.
-E porque quer tanto que eu vá
morar com você agora?
-Nós namoramos há dois anos,
somos adultos. Já passou da hora de
morarmos juntos.
-Porque todas aquelas pessoas
estavam te... era como se você fosse um
rei ou algo do tipo.
-Eu sou o líder de minha família.
-E todos são a sua família?
-Sim, alguns parentes mais
distantes, mas todos são.
Estranhamente eu nunca pensei
em revelar a verdade a Lídia, talvez a
hora para isso esteja chegando...
Estaciono em sua casa e saímos do
carro. A casa de Lídia é arrumada e
limpa, o cheiro dela está por todo o
canto. Ela vai para o quarto e eu subo
atrás.
Enquanto pega algumas malas e
começa a arrumar algumas coisas, eu a
observo... Lídia para, como se soubesse
para onde meu olhar estava indo e ergue
a cabeça sorrindo. Ela caminha até mim
e senta-se em meu colo... Seu corpo se
esfrega no meu e nosso inevitável beijo
acontece com toques percorrendo o
corpo um do outro.
-Noah... Nós podemos ficar
algum tempo aqui... – ela diz
sussurrando e eu... ouço uma risada.
Kanut...
Você não vai usar o meu corpo
para isso.
O corpo é meu.
É?! Então tenta.
Meu lobo idiota diz e eu retribuo
o beijo de Lidia com mais intensidade,
percorro seu corpo enquanto ela geme
meu nome e... meu corpo não responde.
Maldito lobo!

Lua

-Ana! – digo enquanto avisto


minha amiga bruxa, ela é uma das mais
poderosas do clã Iotnar, também foi a
única deste clã em especifico que
atendeu ao meu chamado.
-Bri! Nossa senhora, isso aqui
está ficando cheio! Vários bruxos
atenderam ao seu chamado.
-Graças aos céus!
-Sim... As coisas ficarão feias.
-Eu sei.
-Sua sombra gostosa parece
diferente- ela diz e aponta para Ian. Eu
faço uma careta, ele não está diferente....
ou está?
-Bem... Raquel está organizando
as casas, já tem um local para ficar?
-Não, ainda não...
-Então está decidido! Ficará
comigo!
-Com você? Você não tem um
marido? Amiga, nunca pensei que
gostasse de a três, mas se me pede com
tanto carinho, vou ser forçada a aceitar.
– gargalho de sua piada, mesmo ficando
triste com seu comentário sobre Noah.
-Eu tinha, ele está com outra
pessoa.
-Que merda.
-Sim. Mas... vamos nos focar no
que importa.
-Sim! Estou pronta para iniciar a
redoma.
-Obrigada pela ajuda, quero que
você instrua todos os descendentes da
magia dos três clãs, precisaremos de
uma barreira sólida. Mas, poderemos
começar a noite, hoje é lua cheia...
O poder do triangulo da magia
branca funciona com três descendentes
diretos dos três grandes clãs. O clã
Aesir, o qual sou líder, fica na ponta
superior do triangulo, ele é responsável
propriamente pelo poder da alma, é o
clã líder e que balanceia o poder dos
outros dois. O clã Vanir fica na ponta
esquerda, eles são o detentores do poder
de morte, vida e tempo. Na ponta direita
está o clã Iotnar, detentor do poder de
criação, eles são os maiores
conjuradores que existem. E é assim que
se forma o grande triângulo de magia
branca, é com esse poder que pretendo
criar a redoma de proteção.
-Sim é, e seu poder estará no
ápice. Falando nisso, como está se
sentindo? – As palavras de Ana me
tiram dos meus pensamentos e volto ao
tempo presente.
-Uma merda, mas eu vou
sobreviver.
Sobreviver... Essa palavra ecoa
em minha mente. Nós sempre
sobrevivemos Briana...
***
Briana e Kanut tinham acabado
de acordar e estavam entre beijos e
carinhos se mimando. Ele parece sério
por um momento e Briana se preocupa.
-Há algo errado, meu amor?-
Kanut suspira, sentindo o cheiro
maravilhoso de sua companheira.
-Eu preciso voltar para meu
povo.
Briana fica triste. Estava com
medo que esse sonho com Kanut
terminasse, só não sabia que seria tão
cedo... Seu guerreiro iria deixa-la...
-Quando você irá? – uma
lágrima teimosa escapa de um de seus
olhos e Briana sorri tentando esconde-
la, mas Kanut tinha bom faro e boa
sensibilidade para com ela, é como se
seus corpos e almas estivessem
interligados e como um fio, sabia que
Briana havia ficado triste.
-Quando nós iremos, você quer
dizer. – ela lhe olha com um tanto de
esperança e felicidade. Ele iria ficar
com ela? Lhe apresentar ao seu clã?
Mas ela foi renegada... Ela é uma
pária... Uma vergonha.
-Mas eu...
-Você é perfeita e é minha. Eu te
respeito Briana, eu te quero lá. E todo
aquele que não lhe aceitar será
convidado a partir ou do meu clã ou
para o reino dos mortos. Eles irão
venerar você, porque eu sou o líder e
eu te venero... Eu jamais, jamais irei
deixa-la.
Briana termina com o espaço
entre eles e Kanut sorri com a paixão
de sua amada. Depois de conhecer
Kanut, Briana não sabe mais o que é
ter vergonha ou pudor com seu próprio
corpo, pelo menos com ele. Ela se
sentia linda e especial perto de Kanut...
Ela se sentia inteira.
Passaram semanas a galope, às
vezes Kanut se transformava no imenso
lobo e andava ao seu lado, às vezes
com seu focinho molhado lhe indicava
para subir em seu lombo e Briana
nunca se sentiu tão feliz em correr
junto a ele naquela velocidade imensa.
Então... Um dia Briana
reconheceu as terras... O clã de Kanut
era próximo ao seu... Ela passou por
fora, como uma ladra se esgueirando
pelo local, Briana se sentiu suja e
Kanut ao ver-lhe a tristeza estampar a
face, pegou-lhe no colo e a levou assim
a sua nova casa. E agora sim ela
sorria.

Ravi
Estou de olho em minha bruxinha
o dia inteiro... minha bruxinha...Gostei.
Sofia... Ela sai sem chamar
atenção. Estranho... Sofia vive afastada
de todo mundo, com seus braços
cruzados, ela evitar tocar em qualquer
coisa.
Vejo-a caminhar em direção ao rio...
Deixo-a pensar que ninguém percebeu
seu caminho. Então saio de fininho e vou
atrás dela. Tiro minha roupa e a deixo
próxima a uma árvore, chamo meu lobo
e a sigo como se estivesse caçando a
uma presa. Meu lobo gostou da ideia.
Minha bruxinha estava
caminhando em direção ao rio, eu paro
quando chego próximo à margem, estou
me escondendo atrás de moitas, mas dá
para ter uma bela visão de Sofia daqui.
Ela tira suas sandálias e caminha em
direção à água... Será que ela vai
mergulhar? Gostaria de ver a cara dela
se eu fosse lá, nu e me juntasse. Deixo-
me imaginar a cena por alguns segundos
e quando olho novamente para ela...
Sofia estava linda. Seus cabelos
pareciam mais dourados que antes... tão
dourados quanto ouro... Ela agora estava
com um vestido solto, ela estava... Ela
não estava dentro da água e sim acima
dela. Há uma tiara em sua cabeça com
uma pedra azul que desce ao meio de
sua testa. Então ela ergue uma mão e
água se levanta como um braço... Sofia
gira e move os braços e ao seu redor a
água... A água dança com ela em
movimentos perfeitos. Ela sorri... Pensei
que a bruxinha fosse bonita, mas nunca a
havia visto sorrir. Meu lobo está sentado
e com a língua do lado de fora, babando
literalmente.
Ela gargalha, a água se ergue
cada vez mais... Abaixo dela, acima...
Ela flutua... Tão perfeita...
Eu não a incomodo, sinto que ela
está em um momento sagrado, especial.
Então só observo... Como um
perseguidor, dou risada ao pensar nisso.
No que essa mulher está me
transformando?!
Depois de quase meia hora, as
águas se acalmam e ela anda até a
margem. Eu corro de volta. Visto-me e a
espero...
Quase na saída da floresta, ela
me vê.
Caminho em direção a Sofia e a
cada passo meu, ela dá um para trás....
Até que seu corpo atinge o tronco de
uma árvore. Eu não toco nela...
Estou a um milímetro de fazer
isso, mas não faço. Sussurro em seu
ouvido.
-Ah Sofi... Tão linda...- cheiro
seu pescoço, mas não sinto o frenesi de
um companheiro, deuses, poderia ter
sido ela...-eu te vi.
Vejo seu corpo travar.
-E agora minha bruxinha... Eu
quero saber mais...
Me afasto, porque sinceramente,
estou com uma merda de vontade de
agarra-la. Deixo Sofia lá... Ela fica por
uns quinze minutos até que volta e
caminha em direção a Lua, mas ela me
olha. Eu sorrio e pisco.
Esse é só o início de um jogo
prazeroso...

Alec

Lua e Ian sempre foram muito


unidos... Mais até que eu e ela. Mas...
Ian era meu amigo, havia espaço para
mim em sua vida, o que não parece ser o
caso neste momento.
Claro que sempre pareceu que os
dois tinham uma amizade colorida na
infância e adolescência. Ian costumava
me dizer o quanto queria que Lua fosse
sua companheira, que já se sentia
completo com ela...
É por isso que o beijo dos dois
me deixou com uma pulga atrás da
orelha...
Já é noite e embora tenhamos
dito aos lobos que eles poderiam ficar
em suas casas essa noite, que não
precisariam estar presentes para o que
quer que Lua e seu povo fossem fazer,
todos estão ao lado de fora. Todos
aguardando algo estranho acontecer.
Noah fica ao meu lado de braços
cruzados.
-Onde está sua namorada? – não
é segredo para ninguém que não aprovo
esse namoro ridículo do Supremo. Ele
me fez uma promessa quando tirou a
minha irmã dos meus cuidados, uma que
não está se incomodando em cumprir.
-Estava cansada, já está
dormindo. – ótimo, menos uma coisa
para explicar para ela. Lídia não precisa
saber do que se passa aqui. Noah a
trouxe para cá porque sabe que Lua irá
proteger as terras, só eu acho isso uma
imensa cara de pau? Lua protegendo a
namoradinha dele.
Ele me olha e eu o encaro sério.
-Eu sei que não está satisfeito
com o caminho que as coisas tomaram,
mas essa é minha vida e não dou
abertura para que ninguém opine.
A lua está imensa no céu, então
eles aparecem: homens vestidos de
cinza e mulheres com vestidos, são
quase vinte deles. Eles têm suas cabeças
erguidas, sérios e imponentes... Dá para
sentir uma aura, meu pelos se eriçam
com seu poder. Olho para Noah e
percebo... Ele também sente, todos os
lobos sentem.
Então ela caminha... Como uma
rainha... Minha irmã está vestida de
branco, mas todo o seu corpo está
coberto por pedras que brilham a luz da
lua e seus braços... Ela está com suas
marcas, emaranhados que tomam todo o
seu braço, é a marca de Noah... A marca
da nossa Luna...
Lua fica a frente de todos e há
duas outras mulheres ao seu lado, uma é
a senhora rabugenta russa e a outra é sua
amiga que chegou a pouco tempo, Ana.
Todos eles se ajoelham... Velhos,
crianças, jovens... Todos eles estão aos
seus pés. Então, o olhar de minha irmã
cai para os lobos, seu olhar sério de
autoridade e que emana poder e um a
um, os lobos também se ajoelham. Olho
para cima, e a vejo... Ela e Noah. Os
únicos que ainda estão erguidos, seus
olhares se medem como iguais... E por
um segundo... Posso ver o mesmo olhar
que ele dava para minha irmã. Por um
segundo, ele demonstrou em seus olhos
o que seu coração idiota e burro não
quer fazer.
-Levantem. – sua voz é serena e
baixa, mas todos ouvem, como se sua
voz estivesse sendo amplificada.
Todos já de pé, minha irmã
encara a lua e consigo ver.... Porra, eu
nunca vi algo como isso antes. A luz da
lua reflete nela e dela, fios passam por
nós... Por todos nós, lobos e bruxos e
todos esses fios tem um ponto em
comum: ela. Todos os lobos estão
boquiabertos admirando isso, é estranho
e bonito...
-Isso o que estão vendo lobos...
É nossa energia, nossa origem. É de
onde tiramos nosso poder. Eu criei a
maldição que originou o lobo- ela olha
para Noah por algum tempo- eu sou a
líder desse clã de bruxos- ela encara seu
povo- e vocês, são um só. Nós somos
um só. Estou lhes mostrando isso para
que nunca, jamais, duvidem. Nós
estamos todos aqui porque lutamos pela
família, lutamos pelo legado e pela
nossa história. Nós protegeremos os
nossos.
Lua abre seus braços e as duas
mulheres ao seu lado se separam, cada
uma em um canto da propriedade. Uma
luz branca sai de Lua, outras luzes
somam-se com a dela e um círculo de
pura magia se forma no centro, então
esse círculo como uma bolha aumenta...
Expande-se e nos rodeia... Posso ver
nitidamente, uma redoma ao redor de
toda a propriedade de Noah.
-Esse será nosso local seguro,
aqui, nenhuma magia inimiga poderá
entrar. Não enquanto um de nós
estivermos vivos para sustentarmos o
poder.
É aí que percebo... Minha irmã
se tornou uma rainha.

Luana

Ana preparou um ritual... Ela


uniu os descendentes mais diretos das
três pontas da magia, dos três clãs
originais: Vanir, Iotnar e Aesir. Disse
que como todos aqui são de alguma
forma descendentes da minha magia,
poderíamos unir forças para criarmos
uma redoma que não deixará nenhuma
outra magia entrar e isso me parece um
bom plano.
Quando todos os lobos se
ajoelham, lembro-me de outra memória
de Briana...
***
Kanut me carregou para dentro
do seu território, ainda estava sorrindo
quando ele me colocou no chão e antes
de abraçar seus companheiros, ele me
apresentou.
-Essa é Briana, ela é minha
companheira e vocês devem a ela a
mesma lealdade e respeito que tem a
mim.
-Meu sangue é seu! – todos eles
disseram ao mesmo tempo. Briana se
emocionou com aquele gesto, eles nem
a conheciam e a aceitaram... Enquanto
sua própria família a renegou.
Briana fez uma promessa ali:
Aquele povo seria sua família, nunca
deixaria nada de mau lhes acontecer,
sua lealdade e respeito seria deles
também.
E quando mais guerreiros
chegaram para saudá-la e disseram
novamente e uníssono:
-Meu sangue é seu! – Briana respondeu
internamente : eu viverei por vocês,
cada gota do meu sangue é de vocês,
meus guerreiros, meu clã;
***
Olho para os meus guerreiros
hoje, minha Pride, e peço para que se
ergam enquanto repito as mesmas
palavras que usei no passado:
-Eu viverei por vocês...

Sarah

-Mãe, você é incrível! – digo já


pulando em seu pescoço, ela gargalha e
me agradece.
-Obrigada princesa. – Minha
mãe me chama assim as vezes... E nunca
pensei que isso fosse verdade até ter um
monte de gente me reverenciando.
-Como que funciona esse lance
de energia? Da redoma? E porque só foi
usada a sua energia de Ana e da senhora
Volkov?
-Um grupo terá que abastecer a
redoma todo o dia, esse grupo terá que
ser composto por pelo menos uma
pessoa dos três grandes clãs. E só foi
necessário o nosso poder porque
estamos representando essas pessoas, eu
como clã Aesir, Ana como clã Iotnar, e a
senhora Volkov como clã Vanir. –
Arregalo meus olhos... O clã Vanir é
conhecido por artes obscuras, todos têm
medo deles, vida, morte e tempo...
Sacudo a minha cabeça e tiro esses
pensamentos de lá.
-Ótimo! Eu sou a próxima!
-Nem pensar!
-Mas mãe...
-Você tem colégio amanhã cedo.
-Quer que eu vá para o colégio
depois disso tudo?!
-Sim, eu quero.
Fico boquiaberta. Colégio...
Depois me lembro que estar no colégio
é estar sozinha com... Lídia. Sorrio.
-Acho uma ótima ideia.
-Sarah...
-Boa noite, te amo!
Corro para meu quarto, amanhã o
dia será... ótimo! Não para todos, é
claro.
Acho que eu tenho uma
madrasta
Luana

-Você acha que ela está


aprontando alguma coisa? – Ian sorri
com minha pergunta, um daqueles
sorrisos que ainda me fazem perder a
fala.
-Nada, ela é uma santa. – ele diz
e cerro meus olhos em sua direção.
-Você sabe de algo. – Ian dá de
ombros e não me responde, mas dá um
passo a frente e agarra a minha cintura,
deposita um beijo em minha cabeça e
fica ali.
Vejo Sofia me olhando, ela
parece nervosa e Sofia nervosa é
sempre um mau sinal.
-O que há?
-Nada.
-Sofia...
-Estou pensando em voltar para
o meu reino, já estou cansada de viver
na terra.
-Voltar para o segundo plano?
Preciso de você aqui. – digo de modo
sincero.
-E eles talvez também estejam
precisando de mim lá...
-Sofia... Você nunca quis voltar
para o reino de Neal, o que está
acontecendo?
Vejo-a olhar de relance para
Ravi, que está sorrindo como um idiota.
-Eu sou a sacerdotisa do reino
da água, não acho que tenha sido uma
boa ideia simplesmente fugir.
-Sabe que não pode voltar agora,
você está querendo fugir!- ela não
responde, mas suspira.
-Está tudo bem... Foi só uma
ideia idiota. – diz baixinho, mas mesmo
assim consigo ouvi-la.
Minha amiga caminha em
direção oposta a onde Ravi está...
-O que será que está
acontecendo com esses dois?- pergunto
para Ian.
-Sofia sempre foi sensitiva...
Sempre previu quem seria o
companheiro de quem no reino do
segundo plano... Já parou para pensar
que ela talvez tenha um?
-Um o que?
-Companheiro.
É... nunca parei para pensar
sobre isso.- será que esse alguém é
Ravi? Mas Sofia não deixaria que ele
percebesse... Foi ela quem me ensinou a
camuflar meu cheiro...

Sarah

Acordo e sinto indigestão ao


olhar para Lídia e meu pai.
-Onde estão seus modos Sarah?
– meu pai diz meio ranzinza.
-Bom dia. – rosno e sento-me ao
lado de Kailan. Se estou irritada? Claro
que sim! Queria que a minha mãe
estivesse aqui e não ela.
Vejo seus olhares trocados com
meu pai e sorrisos... Isso me enjoa. Não
gosto dessa mulher, para mim ela
esconde alguma coisa e eu vou
descobrir!
-Pronta? – Kailan pergunta
quando vê que não vou comer. – ele olha
para trás procurando por alguém.
-Procurando por uma morena
linda, irmãozinho? – digo já sorrindo.
-Não comece a ser idiota logo
pela manhã. –ele rosna para mim.
-Não estou sendo idiota, só
queria te avisar que Bia passou a noite
com um amigo- digo a palavra amigo
fazendo aspas no ar e Kailan que estava
bebericando seu suco, começou a tossir
se engasgando com o liquido.
-O que?!- ele diz quando
consegue falar.
-Sabia! Eu te peguei Kailan!!!!!!-
grito vitoriosa e saio da mesa rápido
antes que ele me alcance.
-Saraaaah! Volte aqui! – Kailan
diz alto e eu sorrio, idiota. Então ouço a
voz de Lídia:
-Vou com vocês- ah, mas não vai
mesmo!!! – volto até a mesa, ela está se
despedindo de meu pai com um beijo,
então eu finjo que vou pegar uma fruta e
derramo suco em sua roupa, ela pula se
soltando de meu pai que me olha
irritado.
-Me desculpe Lídia! Como sou
desastrada... – digo fingindo
arrependimento.
-Não tem problema, mas agora
precisarei me limpar...- ela diz sorrindo,
sorrindo! Será que essa mulher não se
irrita nunca?!
-Tá, Kailan te leva. Eu estou
indo. – digo enquanto giro minhas
chaves no dedo e pego meu capacete.
-Onde você pensa que vai?- meu
pai me questiona com a sobrancelha
erguida, ele não me deixou andar com
minha moto desde que a recebi de minha
mãe, o que é bem ridículo, eu já pilotava
há um bom tempo atrás.
-Moto, chaves, escola. – digo
dando de ombros e me afastando.
-Sarah você não...- isso está me
irritando.
-Eu sei pilotar, minha mãe me
ensinou e eu tenho carteira! Porque não
vai cuidar de sua ‘namorada’- digo
fazendo aspas no ar.
-Sarah, volte aqui! – meu pai
grita, mas eu não paro. Quando olho
para trás, ela está lá, tocando no braço
de meu pai e ele parece respirar fundo.
Essa mulher não sabe com quem
se meteu. Eu não gosto dela, ninguém é
bonzinho assim o tempo todo! Que tipo
de mulher não tem uma briga dos
infernos ao ver a ex de seu namorado
sair de seu quarto vestindo a roupa? E
logo depois vem morar com ele!!! Só eu
que vejo algo estranho aí?!
Aí tem...
Pego minha moto e acelero, se
meu pai anda tão preocupado assim,
talvez eu deva começar a dar-lhe
motivos. Contanto que isso faça com que
ele foque em outra coisa a não ser
aquela lambisgoia. Sinto o vento, o
motor ruge... Eu acelero e faço curvas
fechadas, como diz minha mãe: isso não
vai me matar, eu sou uma loba. É...
talvez meu pai tenha motivos para se
preocupar no final das contas... Eu fui
criada da forma mais livre possível, mas
aprendi desde cedo a valorizar qualquer
forma de vida, e isso inclui a minha,
portanto, morrer não está nos meus
planos.
Bia

Acordo na casa que agora


pertence ao meu pai, é incrível como
uma empresa de construção e um tanto
de magia podem fazer juntas e em tão
pouco tempo. Já estão todos
estabelecidos em casas de modo muito
confortável, hoje a tarde iriam ser
iniciados os treinamentos, seja lá o que
isso signifique.
Meu pai parece meio distante,
como quando tem algum campeonato
estranho de seus jogos online e ele está
a noite toda acordado apertando aqueles
botões insuportáveis. Eu nunca o vi sair
com alguém, e bem, está na hora...
Gostaria que meu pai achasse sua
companheira... Claro que ela terá que
passar por uma avaliação minuciosa
minha, mas o que está na primeira
questão dessa avaliação é: fazê-lo feliz.
Acho que só isso basta.
-Pai! – grito próximo ao seu
ouvido, já que ele está tão avoado que
não sentiu minha presença.
-Bia! Um dia me matará de
ataque cardíaco! O primeiro lobo da
história a morrer assim! – ele diz
enfezado, mas logo sorri e eu me jogo
em seus braços.
-O que há?- pergunto.
-O que quer dizer? – ele diz e o
encaro séria, ele não me engana.
-Você está mais na lua do que o
normal, não me esconda coisas... Sei
quando mente. – ele faz uma careta,
quase sempre eu e meu pai invertemos
os papeis. Perdi a conta de noites que
vou lá e o obrigo a desligar o
computador para jantarmos, ou quando
vou até seu quarto e desligo a tv...
-Eu não...
-Pai... – ele suspira.
-Não consigo esconder nada de
você? – me pergunta.
-Definitivamente não. Então,
conte-me.
-Talvez eu esteja interessado em
alguém.
Talvez eu esteja interessado em
alguém... A frase bate em minha mente
várias vezes até que eu ponha
significado nela.
-EU NÃO ACREDITO! Quem
é?! Ela é bonita? É legal? Ela tem que
ser incrível! Poderemos sair juntas e...
-Calma Bia! É só... uma
curiosidade.
-Não existe curiosidade, você
está de quatro! Nunca te vi assim! Quem
é?
-Sofia...
-Sofia a tia de Sarah?! Meu
Deeeeus, ela é linda! E é uma bruxa
fodona!! Deixa só eu contar para...
-Não, não, não, não pode contar
para ninguém! Digamos que ela não
esteve muito receptiva a mim.
-O que?! Quem no mundo te
rejeitaria?! Vamos lá pai, você tem essa
cara fofa e esse jeito de nerd bonito! Ela
só pode ser louca! Mas eu vou te ajudar,
prometo!
Digo saindo da casa e batendo a
porta. Acho que vou ter que sondar a tia
de Sarah um pouco...
Vou até a casa de Noah porque
quero ir ao colégio com Sarah, mas
quando chego lá, sou confrontada por um
Kailan mal-humorado.
-Onde esteve essa noite? – ele
não está me perguntando isso...
-Não é da sua conta, pirralho! E
bom dia para você também!
-Bia... Eu não estou brincando!
-E quem disse que eu estou? Não
te devo satisfações! Você tem uma irmã
e não sou eu! Preocupe-se com ela!
Na verdade, eu não fui a lugar
algum, fiquei assistindo algumas séries
na tv essa noite, mas não iria dar esse
gostinho a Kailan, não mesmo.
-E quem disse que estou
preocupado com você? Não me importo!
Mas conheço sua fama e não quero
pouca vergonha no território de meu pai!
O que eu faço? Dou um soco em
seu rosto, ele acabou de me chamar de
puta! Eu amo me divertir, beijar pessoas
e curtir com elas também entra no
quesito diversão!
Sangue escorre pelo nariz de
Kailan e ele me olha irritado, seu olhar
brilhando em âmbar. Ele se aproxima de
mim, seu peito sobe e desce com força.
Eu o machuquei, merda...
Automaticamente sinto vontade de pedir
desculpas e limpar sua ferida que eu
mesma causei, o quão idiota isso soa?
Dou meia volta e começo a abrir
a porta.
-Aonde você pensa que vai? –
ouço um estalo e o vejo por o osso de
seu nariz no lugar.
-Colégio. – digo simplesmente.
-Eu levo, só vou trocar de roupa
já que essa está suja. – de sangue, o
sangue dele. Faço um muxoxo com a
boca e continuo a caminhar- é sério, não
me tente! Eu não quero que pegue carona
com ninguém.
Era exatamente isso o que eu iria
fazer, pedir carona a um dos betas, eles
me ajudariam sem pestanejar, e porque
eu não faço isso?
Porque olho para Kailan e ele
está com uma expressão não de raiva ou
de superioridade, ele me olha com um
pedido silencioso e eu me vejo
concordar com o que ele diz.
Já disse que isso é ridículo?
Quando Kailan volta eu sento-me
no banco de trás com Loren enquanto
Lídia vai na frente conversando com
Kailan por todo o caminho, as vezes
nossos olhos se cruzam no retrovisor,
um olho azul e outro verde... Como duas
personalidades.

Sarah
Todos na sala estavam sem
entender o atraso da professora, eu só
sentei no mesmo local da ultima aula e
aguardei. Alan está me enchendo de
perguntas e isso me irrita... Hoje não
estou com paciência. Sinto um
desconforto quando a pedra que meu tio
me deu brilha um pouco de modo
estranho em meu pescoço.
-Sarah... fico feliz em te ver
novo, como foi o fim de semana?
Nada demais, uma criatura
esquisita quase mata minha mãe...
Descobri que eu estou em um mundo
que faz parte de quatro em todo o
cosmos , será que isso significa que
estou sentada em alguém?! E não
vamos esquecer do apocalipse...Essa é
a melhor parte!
-Tudo normal- é o que respondo-
Alan sorri, sorri demais para a minha
resposta tão seca, estranho...
Começo a folhear um livro, estou
com várias folhas de papel e começo a
separa-las quando entram Lídia, Bia,
Loren e Kailan... Estou tão irritada com
a presença de Lídia que passo meu dedo
com força em uma das bordas e o corto.
Enquanto todos entram na sala, Alan
pega suas coisas e sai em disparada, que
cara esquisito...
Lídia está sorrindo, porque sou
só eu que odeio essa mulher de graça?!
Isso não pode ser normal... Eu nunca
odiei alguém, muito menos com essa
intensidade, e Lídia traz a tona em mim
um instinto esquisito... Eu quero
proteger as pessoas dela, mas por quê?!
Quando Lídia vai se sentar em
sua cadeira, eu ponho minha mão
embaixo da mesa e movo meus dedos, a
cadeira se move para trás e ela cai de
pernas para o ar... A sala toda ri, eu não,
fico séria e olho em sua reação: ela fica
um pouco vermelha e sem graça, sorri
fraco e pede desculpas... Uma reação
normal.
Alguém me passa um bilhete,
nele há algo escrito: PARE COM
ISSO!
Meus olhos se viram para trás
em busca de quem o envio e me deparo
com Kailan e sua carranca
característica. Como diabos ele sabe
que fui eu quem fez isso?!
A aula ocorre normalmente...
Lídia tenta fazer a ponta de um lápis que
eu quebro o tempo inteiro com minha
magia. Quando ela escreve no quadro,
eu fixo suas letras lá com magia e ela
não consegue apagar de forma alguma.
Talvez eu também tenha quebrado seus
saltos e ela tenha levado um tombo...
Não me orgulho do que estou fazendo,
mas é... eu quero que ela saia, que ela
desista, quero que Lídia vá embora.
No intervalo, quando Lídia abre
seu lanche na sala dos professores, irá
perceber que ele está cheio de baratas.
-Pare com isso! – Kailan senta
na mesma mesa que estamos eu, Loren e
Bia.
-Parar com que? – pergunto com
um sorriso angelical.
-Você sabe com o que, pare de
sabotar Lídia! Ela é uma boa pessoa e
não merece suas criancices!
-Pera aí, foi você? – Bia me
pergunta espantada e logo depois sorri-
cara, eu te amo!
Kailan olha para ela sério.
-Claro que você iria apoia-la
nessas criancices, vocês são exatamente
iguais! – ele diz para Bia e por um
segundo eu vejo mágoa nublar seus
olhos, mas logo ela fita Kailan de modo
determinado e o responde.
-Claro que apoio! Lídia é uma
intrusa no meio da nossa família, eu
protejo os meus!
-Proteger do que?! Do ego de
vocês que acreditam que sabem o que é
bom para os nossos pais?! Eles são
adultos!
-Eu não gosto dela e não a quero
com nosso pai. – digo firme encarando
Kailan.
-Há dois anos atrás nosso pai
estava destruído, você sabe quem o
ajudou a superar sua dor?! Lídia. O que
você queria?! Que ele ficasse sofrendo
para sempre?! É isso o que você iria
querer para ele, Sarah?! É assim que
você pensa que o ama?! Isso não é amor,
se chama egoísmo! Eu estive lá com ele
enquanto Noah plantava as rosas, por
cada dia em que ele esperou Lua, eu o
estava vendo desmoronar em minha
frente e não podia fazer nada! Não tire
isso dele! Se você o considera pelo
menos um pouco, deixe-os em paz! Isso
é sobre o que o nosso pai quer e não
sobre o que você deseja!
Kailan grita tudo isso em minha
cara e vai embora, todos agora me
olham... Será que eu estou sendo
egoísta? E se ele a amar? Isso é um
absurdo, certo? Ele não a amaria... Ou
amaria? Faço uma careta interna, nunca
pensei em ter uma madrasta, mas talvez
essa seja a minha realidade.
A pedra mágica
Lua

Acordo com Ian entrelaçado em


mim, seu cheiro me invade e eu me
lembro... Lembro-me há tanto tempo
atrás quando ficávamos entrelaçados na
floresta e eu sempre acordava assim,
com ele apertando o meu corpo para si
como se fosse algo essencial a sua
existência. Com Ian eu posso tirar as
minhas máscaras, desfazer minhas caras
e mostrar quem eu realmente sou, com
ele eu consigo um pouco de ar puro para
respirar. Ele sorri, sei disso porque suas
costas se movem.
-Já sei: tire a porra de seu pau
de minhas costas Ian! – ele imita a minha
voz e vira para cima, me dando um
pouco de espaço e realmente seria isso
o que falaria, mas não hoje... Hoje eu só
quero senti-lo um pouco mais.
Viro-me para o meu melhor amigo e
deito minha cabeça em seu peito
encarando seu rosto. Ian tem o seu
cabelo preto bagunçado e seus olhos
azuis escuros me encaram de modo
intenso, ele está nu, assim como eu, isso
nunca foi problema para nós.
Ian toca em minha bochecha e eu
fecho os olhos, só o sentindo... Suas
mãos passam da bochecha para a parte
detrás do meu pescoço, ele o puxa de
leve, guiando minha cabeça para cima,
sinto seu polegar roçar meu lábio
inferior e abro os olhos.
Estamos cara a cara agora, Ian
parece sério e nossos rostos estão à
milímetros de distancia, nossos lábios
quase se tocando.
-Amo seus olhos... Lua. – ele diz
me encarando admirado.
Junto meus lábios aos de Ian, eu
começo o beijo que é algo calmo e
intenso ao mesmo tempo.
-Eu nunca, jamais, abandonaria
você, Lua. – diz quando o nosso beijo
termina. Deito-me em seu peito
novamente e uma lágrima escorre pelo
meu rosto.
-Se você fosse minha garota... eu
nunca te deixaria chorar. – ele diz e sua
voz carrega uma tristeza imensa, porque
sei que meu amigo está pensando em
Priscila...
-Se você fosse minha garota...-
ele aperta o meu corpo como se tivesse
medo que eu fosse embora.
-Você é o meu oxigênio, Lua...
Tem sido desde que...- ele não precisa
terminar a frase, eu sei.
O que dizer para alguém que
decidiu viver por você? Que respirou o
seu ar porque o dele havia se acabado,
que obrigou seu coração a bater porque
o seu ainda estava vivo...
-Eu o faria feliz?
-Você já faz... Mas diga, só diga
o que precisa que será seu. Irmos
embora, ficarmos... eu estarei aqui.
-Obrigada Ian. – fico quase toda
a manhã ali, encarando esses olhos azuis
escuros e pensando em tudo o que
passou, em tudo o que passamos para
chegarmos até aqui.
***
Decido sair da cama e tomo
banho, quando saio do quarto, deixo Ian
no banheiro a se banhar.
Vejo que a barreira está sólida e
como não quero ir para a casa de Noah,
vou atrás de Raquel em sua casa.
Mas quando entro na casa, ele
está lá. Ele e Leandro. Noah puxa o ar
para dentro de seus pulmões e rosna,
algo irritado...
-Você tem o cheiro dele. – ele
diz enquanto caminha em minha direção.
Eu não me movo quando ele abaixa sua
cabeça e raspa com seus dentes em meu
pescoço, onde a anos atrás ele me
mordeu. Noah me cheira toda como um
cachorro farejando, ele cheirou até a
minha boca, seus olhos estão em
vermelho agora. – você o beijou...
-Porque você se importa, Noah?
Eu estou aqui e mesmo assim você
continua com Lídia. Não pense que vou
ficar esperando que se decida entre nós
duas, porque não vou. – ele faz uma
careta
-Você é minha. – diz como se
isso fosse óbvio.
-E você é um idiota. Eu era sua,
mas você escolheu ela. Eu poderia ser
sua, eu queria ser sua...
-Não quer mais? – me pergunta e
parece realmente magoado, eu tenho
vontade de dizer, claro que ainda quero!
Você é meu! Meu companheiro!
-A cada segundo um pouco
menos. – é isso o que respondo.
Noah põe suas mãos em seus
olhos e depois em sua cabeça, ele se
senta no sofá como se não pudesse se
aguentar com seu próprio peso. Ele
rosna mais uma vez e suas garras
destroem o estofado do sofá.
-Há quanto tempo ele tem isso? –
Pergunto para Leandro.
-Ele anda reclamando de dor de
cabeça...- o homem diz de modo
preocupado.
Então Noah para e abre seus
olhos, sei quem é atrás da íris... Kanut.
-Não desista de nós,
companheira...
-Kanut...- digo como um suspiro.
-Ele sou eu, minha Lua... Você
desistiria de mim? Você nos ama Lua, e
essa é a única certeza que tenho na vida,
então não desista de nós.
Kanut me puxa, sinto a barba de
Noah arranhar meu corpo, o gosto
salgado de sua boca me invade, e minha
língua dá boas vindas a sua invasão.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto
porque algo dentro de mim se parte...
Agora que minha alma pôde sentir sua
outra metade, tudo em mim pede por ele.
-Meu sangue é seu, minha Lua...-
ele diz e eu respondo.
-Minha vida é sua, meu lobo.
Então seus olhos fecham e abrem
novamente, e agora Noah está a minha
frente.
-Porque está chorando?
-Nada. – digo enquanto enxugo
minhas lágrimas, porque dói, dói como o
inferno vê-lo e não poder tê-lo para
mim, dói a cada segundo que ele passa
com outra pessoa, dói...
***
Era lua cheia, e Briana estava
admirando seu astro, Lua... Ela sempre
gostou de como essa palavra soava, e
mais ainda de como o astro a fazia
sentir. Era da lua que ela tirava seu
maior poder. Um imenso lobo pulou
nela a fazendo cair e gargalhar, seu
guerreiro a lambia e lhe fazia cócegas
com o focinho.
Há algumas noites que voltaram
e os guerreiros de Kanut lhe pediram
algo... Eles gostariam de ser
agraciados com essa dádiva que dei ao
seu líder... E hoje será a noite em que
isso irá acontecer.
Uma magia de sangue que irá
uni-los por toda a eternidade...
Todos os guerreiros estavam
aqui, só os homens se transformariam
em lobo, mas como Briana aprendera,
todo lobo precisa de uma companheira.
Então elas seriam transformadas
quando encontrassem sua outra
metade, seus destinados.
Essa era uma magia de sangue,
e quando Briana disse as palavras
sagradas e cortou seu próprio pulso,
magia pulsava do ar o tornando mais
espesso e pesado. Cada um dos
guerreiros se ajoelhou diante de sua
rainha e tomou um gole do rico liquido
vermelho que escorria em sua palma. E
quando até o último macho assim o fez,
Briana e Kanut foram a sua tenda.
Lá eles se rodearam, ambos nus,
olhavam-se de baixo a cima. Não eram
necessárias palavras ou juras, isso
seria o eterno, o para sempre...
Naquela noite quando a lua estava em
seu ápice, eles se amaram e Kanut a
mordeu, logo Briana se transformou em
loba e com uivos misturados, os alfas
chamaram a sua matilha que se
transformava aos poucos, e lá, naquela
noite, Briana correu pela primeira vez
em liberdade e junto a sua matilha, ao
seu bando, ela nunca foi tão feliz e
completa.

Sarah

-Merda! – grito quando percebo


que algum idiota furou os pneus de
minha moto! Agora eu preciso de uma
carona!
-Está sem condução irmãzinha? –
Kailan me pergunta e eu sei que foi ele...
Ah, mas isso não irá ficar barato, não
mesmo.
-Porque não vai chamar Lídia?
Só estamos esperando ela para irmos
embora.
-Eu não! Vai você!
-Ou vai você, ou te deixo aqui. –
ele diz irritado.
-Idiota. – digo enquanto me
afasto.
Caminho até a sala e mesmo
antes de entrar, ouço o fungar de alguém.
Lídia estava com seu rosto vermelho e
chorando horrores e eu estava pronta
para dar meia volta e deixa-la sozinha,
mas ela me vê.
-Sarah, desculpa... Eu já estava
indo.
-Tudo bem. – respondo já pronta
para ir embora.
-Está sendo tão difícil Sarah...
Eu sempre sonhei em ter uma família e
quando seu pai me chamou para sair, eu
pensei que realmente fosse ter isso. Ele
não falava muito de sua mãe e eu pensei
que ela estivesse morta, então não o
pressionei. Então ela aparece, uma
mulher linda e eu penso: quais chances
tenho? Então ele me chama para morar
em sua casa, e eu pensei que isso fosse
realmente bom, um bom passo para um
futuro, significa que Noah quer algum
futuro comigo... As coisas só parecem
estar dando errado para mim hoje,
desculpe.
Ela funga mais uma vez e sai da sala.
Eu fico ali com cara de tacho e
me sentindo realmente horrível.
Quando vou até o
estacionamento, vejo que Kailan não me
esperou. Ele provavelmente pensou que
fui eu quem fez a Lídia chorar, na
verdade, ele tem razão quanto a isso...
Estava andando na beira da
estrada quando ouço um grito de socorro
e reconheço a voz de Alan. Eu corro, a
pedra no meu colar brilha de um modo
estranho, anoto mentalmente para
perguntar ao meu tio que diabos de
pedra é essa, farejo Alan e o encontro
cheio de sangue.
-Meu Deus, Alan! Quem fez isso
com você, está bem?! – pergunto
desesperada procurando a origem do
sangue.
Ele gargalha, olho para Alan e
percebo que ele é bem mais velho do
que aparentava. Ele põe uma pulseira
em meu pulso e eu sinto toda a minha
magia sendo drenada.
-Eu encontrei e você é o meu
bilhete da sorte! A escolhida! Agora eu
finalmente poderei me vingar dele e
você irá me ajudar.
Olho para o lado e vejo um
corpo de uma mulher, Alan está com
suas presas imensas e a mostra, que
diabos...
Tento chuta-lo, mas ele segura
meu pé. Ele é forte, mais forte do que
pensei e minha vista começa a ficar
turva, essa pulseira está puxando mais
do que a minha magia...
Então eu ouço um estalar e vejo
a cabeça de Alan rolando ao meu lado,
estou deitada no chão e vejo sapatos
negros se aproximando de mim, sinto
algo tocar em meu rosto de leve...
-Como você será a minha ruina?
– ele pergunta, sua voz tem um sotaque
refinado e sexy, e bem, é um homem, só
não consigo vê-lo.
Ele me pega no colo, posso
sentir seu corpo ao meu redor e quando
sinto seu perfume, ronrono como um
gatinho e o aperto para mim, nunca senti
um cheiro tão bom em minha vida. Ao
ver minha reação, o homem para por um
tempo, ele estanca no lugar e respira de
modo pesado.
Sinto um vento forte em meu
rosto e me sinto leve... Nunca me senti
tão leve assim... Lembro-me da
sensação de quando andava de moto e é
bem parecida, eu sempre quis poder
voar...
-Como conseguiu chegar antes de
nós!? – acordo sobressaltada com a voz
de Bia, olho ao redor e percebo que
estou em meu quarto, as janelas estão
abertas e minha cortina voa com o vento.
Estranho... Deixei a janela fechada.
-Não importa- Bia continua- eu
acho que meu pai está apaixonado pela
sua tia Sofia, preciso de ajuda!
-Ham...
-Acorda Sarah! Onde você está
com a cabeça?
-Nada, preciso de um banho-
caminho até o banheiro e quando vou
tirar minha blusa, sinto o cheiro dele
ali... Isso não foi um sonho.
-Você não disse que ia tomar
banho? – ela me pergunta quando saio
do banheiro com a blusa na mão, então
eu só ponho outra e sigo Bia que fica
armando planos para deixar o pai
sozinho com Sofia. Sofia é...
complicada. Ela não gosta de ser tocada
porque é extremamente sensitiva e a
maioria das pessoas possuem sua aura
aberta, assim quando ela os toca acaba
vendo e sentindo coisas pessoais dos
outros.

Sofia

Eu... Sai do reino de Neal, o


reino da água no segundo plano, porque
sabia que o meu destino não estava lá.
Não posso ver meu próprio futuro, nem
o meu companheiro... Mas quando ele se
esfrega em minha cara, fica um tanto
difícil de não percebê-lo.
Ravi leva a vida como uma
imensa piada, eu sei disso porque
quando me tocou eu pude ver anos de
sua vida... Nós somos o oposto, eu vivo
minha vida vendo horrores que ainda
estão por vir, isso é desgastante e
cansativo. Não posso levar a vida como
um jogo, porque pessoas morrem nesse
jogo. E não é divertida... No mesmo
momento que alguém sorri, sei que
centenas de outras morrem em todo o
canto, eu sei disso porque sinto.
É como ter uma ligação direta
com cada catástrofe que acontece no
universo.
O afastei... Claro que o fiz,
porque há uma profecia sobre mim...
Assim que eu encontrasse o meu
companheiro, ele seria o meu alivio,
toda a dor que sinto passaria e nunca
mais iria voltar.
Parece bom, certo? Mas toda a
dor que sinto provêm do que vejo... Se
eu ficar com Ravi, meu dom irá
desaparecer e não posso me dar ao luxo
de fazer isso... Vidas dependem de mim,
elas sempre dependeram...

Kailan
Estava na direção levando as
garotas de volta para casa e quando
estávamos alcançando o território de
meu pai, Lídia ficou indisposta, ela
disse que estava enjoada e correu para o
banheiro para vomitar assim que
estacionei o carro, estranhei o fato, mas
logo liguei o mal súbito às besteiras que
Sarah andou aprontando com a mulher
hoje.
A tarde se passou
tranquilamente, Lídia não saiu mais do
quarto, meu pai não parou quieto
resolvendo coisas com lobos... Os lobos
estavam inquietos, não queriam ser
inúteis... Até mesmo Noah não queria
ser protegido por Lua... Ele queria lutar,
acho que assim que todos nós nos
sentimos.
No fim da tarde, Lua resolve unir
tanto lobos quanto bruxos em uma
reunião, muitos se perguntavam como os
lobos iriam ajudar contra o que estava
por vir... Afinal, no ataque da harpia nós
havíamos sido inúteis, ficou bem claro
que magia se combate com magia...
-Vocês estão irritados porque
pensam que estão sendo protegidos, mas
não estão. Vocês são lobos, uma raça de
orgulho... Hoje me emociono ao ver que
o Supremo conseguiu transformar todas
as matilhas em uma única Pride, porque
é assim que deve ser, afinal, foi assim
desde o inicio... – ela olhou para cada
um ali – quem de vocês sabe como os
lobos surgiram?
-Nós só surgimos, como
qualquer outra coisa...- alguém
responde.
-Não existe vida que surja do
nada e isso não foi diferente com os
lobos. Eu há muitos séculos atrás e
tomada por um ódio imenso, amaldiçoei
o líder de um clã de guerreiros. Pensei
que ele tivesse matado meu amado
irmão e o amaldiçoei com aquilo que
julguei que ele era: uma besta. Kanut foi
o primeiro lobo, o lobo provindo de
uma maldição.
Houve murmurinhos na sala e
Luana esperou que eles se acalmassem
para continuar.
-Eu fui expulsa do meu próprio
clã por usar uma magia de sangue, uma
magia proibida... Saí sem rumo pelo
mundo, mas eu sempre tive uma
sombra... Um imenso lobo sempre me
seguiu. – Lua olha para Noah de modo
apaixonado ao contar a estória de sua
vida passada- no início, pensei que ele
quisesse me matar, então descobri que
Kanut nunca seria capaz disso, pois tudo
o que ele queria era me proteger... Kanut
me chamou de companheira e cuidou de
mim quando a minha própria família me
tratava como uma traidora. Ele me levou
para o seu clã e seus guerreiros juraram
me proteger com sua vida... Vi como
Kanut tratava seu lobo, como uma
dádiva, uma benção... Ele costumava
dizer que o lobo era o milagre que o fez
me encontrar no mundo e dentre todas as
pessoas... Então, os guerreiros de Kanut
me fizeram um pedido, eles gostariam de
dividir a benção que cedi a Kanut...
Algumas noites depois eu lhes dei meu
sangue e fiz novamente o ritual, quando
Kanut me mordeu, ele me transformou
em loba selando assim nossos destinos
em união e o destino de todo o nosso
povo, essa foi nossa primeira pride,
nossa primeira matilha. E todos vocês
são descendentes deles de algum modo.
O lobo foi criado através da magia,
magia corre por suas veias e vocês só
terão que aprender a controla-la. A
partir de amanhã cada lobo terá um guia
bruxo, hoje iremos descobrir qual o
ascendente de cada um.
Uma pedra transparente e
esquisita foi passada de mão em mão,
dependendo da cor que ela ficava, os
pares de lobo e bruxo eram escolhidos.
A pedra quando passou por minhas mãos
ficou com um tom de cinza e um homem
forte e musculoso ficou ao meu lado,
acenou para mim em reconhecimento,
parece que eu arranjei um professor.
Quando passa pelas mãos de Loren, a
pedra não ganha cor alguma, só fica
transparente e com um brilho tão forte
que nos obriga a colocarmos as mãos em
nossos olhos. Todos se viram para Lua,
pelo visto o que aconteceu agora não é
algo lá muito comum.
-Você fica comigo Loren. – ela
diz e uma Loren receosa vai até o lado
de Lua.
A pedra passa por Bia e ganha a
mesma tonalidade de quando estava em
minhas mãos, o homem ao meu lado fez
um sinal e ela caminhou em nossa
direção, parece que seriamos um trio. A
pedra continua passando de mãos em
mãos, sempre mudando de cor. Quando
para em Sarah acontece o completo
oposto ao que ocorreu com Loren, é
como se sombras saíssem da rocha e
tomassem cada canto do lugar, Sarah
joga a pedra no chão e dá um passo para
trás e Lua também a chama para o seu
lado. Quando Ravi toca na pedra ela
fica azul celeste e vejo quando Sofia
acena com a cabeça para outra pessoa
que fica ao lado dele, meu tio parece
magoado, mas não paro muito para
pensar sobre isso. O homem que vai me
treinar, descobri que seu nome é Tiago,
ele disse que nos aguarda ao nascer do
sol e que deveríamos ir dormir. Então é
isso o que fazemos, não olho para Bia,
tudo o que menos precisava no momento
era passar mais tempo ao seu lado.

***
Lua percebeu que os lobos se
animaram com a nova perspectiva de
poder de batalha, percebeu também o
olhar de Noah direcionado a ela, mas
mesmo assim, deu as costas e foi se
deitar, estava cansada...
Naquela noite Ian a abraçou
novamente, não era novidade tê-lo ali...
E ela agradeceu mentalmente por isso,
se perguntando se não seria egoísta tê-lo
ali nem que seja só para abraça-la, só
para que ela sinta que não está só...
Sarah estava em seu quarto,
olhando para a escuridão da noite e
imaginando quem seria tão poderoso a
ponto de entrar e sair da propriedade
sem que a barreira e nem os tantos
bruxos que existem no território
percebam... Um arrepio lhe sobe pelo
corpo ao pensar que talvez esteja a
mercê de uma força tão grande, pois ela
sabe que não chegou em casa sozinha...
Alguém a trouxe... Ainda sente seu toque
em sua face, seu cheiro rico e sua voz
que a inebriou... O estranho é que sabia
que a energia que havia saído da pedra
mágica era a mesma energia dele, por
isso se assustou tanto... Quem será esse
homem?
Noah deitou-se naquela noite
com Lídia ao seu lado, só agora a
mulher parou de vomitar, ele temia que
ela houvesse contraído alguma doença...
Logo o Supremo pegou no sono
profundo e a viu... Lua estava linda
usando um vestido azul, puxou em seus
pulmões e sentiu o cheiro de sua
companheira que fez tremer cada célula
de seu corpo... Quando ela o viu, deu um
imenso sorriso e correu para os seus
braços.
Você é meu, Noah – ela lhe diz
aos sussurros, o que lhe causa arrepios e
faz com que deseje estar dentro dela.
Sempre, eu te amo Lua... Nunca
esqueça. Isso é para sempre. – ele lhe
responde e lhe tira o vestido a deixando
nua para seus olhos contemplativos...
Sua mulher era linda... Noah a amou ali,
na relva, em sua terra... E nunca se
sentiu tão completo.
Treinamento e surpresas
Kailan

Levanto e o dia está começando


a clarear, o que me lembra que Tiago me
disse que nos esperava na clareira ao
nascer do sol. Levanto rapidamente e
quando chego no local indicado percebo
que Bia já estava lá, estranho...
Hoje está sendo um dia atípico,
já que Lídia parece estar doente não
teremos aula. Meu pai desce para o café
da manhã, mas parece estranho...
-Agora que os dois já estão aqui,
poderemos começar. Sabem o que
significa a cor que a pedra adquiriu ao
passar por vocês? – como nem eu nem
Bia respondemos ele continua a falar-
Significa que ambos estão no pequeno e
seleto grupo que possui um dom atípico.
Nós não somos capazes de fazer magia.
-O que?! –Bia praticamente
grita- eu quase não dormi durante a
noite, amanheci aqui na floresta, e isso
tudo porque estava ansiosa para saber o
que eu seria capaz de fazer, isso é
injusto! – agora já sei porque Bia
acordou cedo...
Tiago dá um sorriso com todos
os dentes da sua boca e Bia dá um passo
para trás, esse cara é assustador quando
quer ser.
-Nós somos a linha de frente em
qualquer guerra. Embora não possamos
fazer magia, somos extremamente
resistentes a elas, só há uma coisa capaz
de nos ferir e é uma lâmina muito rara,
muitos dizem que essa lâmina é só uma
lenda... – ele parece divagar um pouco e
eu e Bia trocamos um olhar preocupado.
-Enfim, basicamente possuímos
uma pele muito resistente. –ele diz
dando de ombros.
-Eu já me machuquei antes...-
Bia diz o óbvio, eu também, não sei
como acham que temos isso, mas eu
acho pouco provável.
Tiago tira uma arma de fogo que
estava em sua cintura e eu passo meus
braços ao redor de Bia a colocando
atrás do meu corpo.
-Calma garoto, não vou tocar em
sua namorada. Pegue a arma. – ele me
oferece com o cano voltado para mim e
eu a seguro. – agora atire em mim. –
olho-o sem entender e ele aponta para o
seu peito. – Não vai me machucar, só
atire.
Bia dá de ombros e eu miro e
atiro. Ele não se move nem um
milímetro sequer, se abaixa e pega o
projétil da bala e nos oferece. Vejo a
bala achatada e não há nada no peito de
Tiago, nenhum machucado sequer.
-Agora meninos, vamos começar a
brincadeira. – ele diz enquanto passa
uma mão na outra e tem um sorriso
doentio, não acho que a palavra
‘brincadeira’ se aplique em qualquer
coisa que faria junto a esse homem.
Já eram quase dez horas quando
Tiago nos deu uma trégua de sua
‘brincadeira’, que incluía nos acertar
com várias armas, é claro que nos
ferimos as vezes, mas em outras o
ataque não nos afetava. Depois seu
treino foi sobre concentração, ele disse
que os ataques que nos acertavam era
porque eu e Bia estávamos dispersos
demais. Então, não sei quando esse
homem arranjou tempo para fazer isso,
mas ele construiu um centro de treino
para nós na floresta, éramos atacados
por todos os lados e por armas
diferentes, e bem... Eu nunca estive tão
cansado.
-Kailan, preciso de um favor
seu. – meu pai diz assim que me vê, ele
sobe as escadas e eu caminho atrás dele
sem saber muito o que esperar.
Ele está levando suco para Lídia
e antes de abrir a porta, ele me diz:
-Só sinta o cheiro dela.
E quando meu pai abre a porta,
olho para Lídia sentada na cama, ela
está meio verde e seu cheiro... Fico
paralisado no lugar, Lídia fala comigo,
mas só me movo quando meu pai puxa
meu braço e me leva para fora do
quarto.
-Você também sente? – meu pai
me pergunta com uma careta.
-Ela está grávida. – digo em
modo automático.
-Pensei que estivesse ficando
louco...
-Não pode ser seu, ela é uma
humana!
-Você está me dizendo que ela
me traiu?
-Estou dizendo que não pode ser
seu! Não é possível, uma cria só nasce
da união de companheiros lobos, nunca
houve o histórico de uma humana
grávida e muito menos de um lobo que
não é o seu companheiro.
-Olhe ao seu redor Kailan!
Redoma mágica, clã de bruxos, criaturas
místicas, quatro reinos, apocalipse! Me
diga se há algo que pode ser impossível!
-Ela não está grávida de você! –
digo irritado, vamos lá, meu pai precisa
usar a lógica por um segundo!
-Pensei que teria ao menos o seu
apoio, filho! Não vou permitir que
tratem a minha cria dessa forma, nem
por você e nem por ninguém!
Meu pai bate a porta do quarto
com força e eu fico ali encarando a
madeira... Ele está tão diferente...
Consigo sentir o cheiro dela
antes mesmo de ouvir seus passos, fecho
os meus olhos por alguns instantes...
Controle Kailan, controle...
-Pirralho! O que significa isso?!
A lambisgoia não pode estar grávida, me
diga que ela não está grávida! – Bia
estava só de camisola, ela parece que
vai usar seu tempo de folga para dormir,
seu cabelo está todo bagunçado.
-O que? Agora anda ouvindo a
conversa dos outros? – ela se irrita com
o que eu digo e me puxa pelo braço, Bia
me empurra até seu quarto. Sim, ela tem
um quarto em minha casa... Bia
costumava passar muito tempo aqui,
praticamente crescemos juntos e meu pai
a adora.
Ela me empurra e caio sentado
em sua cama enquanto ela anda de um
lado ao outro murmurando coisas sem
sentido. Eu odeio entrar em seu quarto,
seu cheiro impregna cada parte de tudo.
Olho ao redor, sei que há uma foto nossa
na terceira gaveta de sua cômoda... Meu
pai me irritou bastante para tirar essa
foto e eu estou olhando para o lado
enquanto Bia olha para a câmera com o
sorriso mais lindo que eu já vi.
-Isso não pode acontecer,
Kailan! Como ela pode estar grávida de
seu pai?!
-Eu também não sei, Bia... – Bia
tem uma pele morena e cabelos
castanhos escuros que batem quase em
sua bunda, ela tem longas pernas, olhos
levemente puxados e um sorriso
incrível. O que eu faço quando estou
com ela? Olho para qualquer canto para
não ficar encarando.
-Kailan, isso é sério! Olhe para
mim pirralho! – como toda vez que ela
me chama de pirralho, a encaro com
fúria. O problema é que não percebi que
Bia agora está próxima de mim, com seu
rosto próximo demais do meu... Não
respire, não respire...
Puxo o ar com força, e como se
movido por algo, toco no rosto de Bia
levemente e depois a puxo para mim de
modo brusco.
Faz tanto tempo que não sinto
seu gosto... E enquanto nosso beijo
acontece, eu me lembro do porque me
mantive afastado, ela era a minha droga,
o meu veneno, a minha morte... Mas era
tão bom...
Subo minhas mãos pelas suas
pernas, pernas? Merda, quando foi que a
coloquei nessa posição? Bia tem uma
pele tão macia... Minhas mãos traçam
seu caminho até sua bunda, ela geme
quando a aperto lá... Merda, ela precisa
me parar... A puxo mais para mim
enquanto minhas mãos exploram seu
corpo, tão bom...
Sinto algo empurrar meu corpo e
é ela que para o nosso beijo, seus lábios
estão inchados e minhas mãos repousam
acima de sua cintura, ambos estamos
com respirações entrecortadas, o cheiro
de nossa excitação é nítido no ambiente
e a primeira coisa que ela diz?
-Você colocou um piercing na
língua? – reviro meus olhos e a empurro
de cima de mim, ela cai na cama e eu me
levanto, preciso de um banho...
-Kailan, não é como se já não
tivéssemos nos beijado antes, seu idiota!
– ainda ouço-a gritar quando estou
prestes a fechar a porta. Mas seu cheiro
me segue, a porra de seu cheiro que
agora parece estar entranhado em cada
canto de minha pele.
Sofia

Estou me mantendo ocupada com


os lobos, Lua ordenou que fizéssemos
pares com eles, para que assim
pudéssemos trabalhar em suas magias.
Estava com meu parceiro até André, um
amigo bruxo, caminhar em minha
direção.
-Precisamos trocar de pares. –
ele diz de modo desesperado. André e
eu temos o mesmo elemento como guia.
-O que aconteceu? – pergunto.
-Ele é completamente
indisciplinado, está me pondo louco! Só
você ou Leandro para domar aquele ali,
já passou por três dos nossos e Leandro
disse que não pode ficar com ele já que
não é da sua área. Vamos lá Sofia, por
favor...
-Tudo bem...- suspiro enquanto
eles se afastam. Sinto a presença dele
antes mesmo que chegue perto de mim,
Ravi...
-Oi Sô. – ele diz com um sorriso
gigantesco.
-O que você está fazendo aqui? –
digo emburrada.
-Me enviaram para você,
seremos parceiros agora. – ele enfatiza
a palavra parceiros, mas seu sorriso
nunca sai de sua cara, ele tem um belo
sorriso...
-Só poderia ser você o aluno
indisciplinado. Apronte qualquer coisa
e te colocarei com Leandro, estamos
entendidos? – Ravi acena como um bom
aluno, mas seu sorriso bobo ainda está
lá, seguro-me para não sorrir junto, ele
adoraria isso.
Caminho até a floresta e ele não
faz nenhuma piadinha por eu ter o
levado a um ambiente privado.
-O que sabe sobre magia? –
pergunto quando sento-me na relva da
floresta e ele repete meu gesto sentando-
se a minha frente.
-Nada. – dá de ombros. Suspiro,
isso vai ser longo...
-De onde acha que a magia vem?
-Hamm... Das fadas? Não sei, eu
sou um homem tecnológico.- como para
provar sua sentença, seu celular apita e
ele o desbloqueia, aperta alguns botões
e depois me olha.
-Olhe ao redor Ravi... – ele olha
e dá de ombros novamente.
-De onde acha que tudo isso
vem? – pergunto, seu celular apita
novamente e ele o desbloqueia, tecla
novamente algumas coisas e depois dá
de ombros novamente.
-Tudo o que nos rodeia foi
criado através da magia... Uma imensa
magia que criou tudo com a mais
poderosa magia branca que existe. Nós
somos abençoados por podermos
moldar partes dessa magia que
impregnou o nosso mundo e.. – o celular
dele vibra novamente e quando ele vai
desbloquear, coloco minha mão em cima
da tela do celular, ele olha diretamente
para mim, seus olhos ficam azuis... E eu
tiro minha mão de cima da dele.
-O que foi isso?! – ele me
pergunta.
-Acho que descobrimos o
caminho de sua magia...
-E qual é?
-Vamos para o rio...- digo
enquanto caminho na frente, não pode
ser ele não é? Ravi ter a predisposição
tão forte para o elemento água é só uma
coincidência... Provavelmente há uma
linhagem em sua família e o poder dele
é mais latente... Provavelmente, é o que
digo para mim mesma.

Luana
Tive uma ótima visita logo pela
manhã, Raquel veio ao meu quarto e
estamos como costumávamos ficar
quando éramos garotas, conversando
emboladas nos lençóis e tomando nosso
café da manhã. Pensar que algo entre nós
mudaria foi idiotice, agora percebo isso.
-Você vai ficar bem? – ela me
pergunta se referindo a Noah.
-Eu terei que ficar.
A conversa muda, falamos sobre
as crianças, ela me conta sobre suas
dificuldades em criar Loren e concluir
sua faculdade e eu lhe conto sobre como
foi criar Sarah enquanto fugia e tentava
unir pessoas a minha causa. Raquel está
preocupada com o que ocorreu com a
pedra mágica e Loren, eu disse que ela
não deveria se preocupar, pois o poder
de Loren provem da luz em sua mais
poderosa forma, enquanto o de Sarah
vinha da escuridão e seu mais sombrio
abismo... É claro que não falarei isso
para a minha filha, mas é algo que está
tirando o meu sono.
Uma Bia desesperada irrompe
pelo quarto e assusta tanto a mim quanto
a Raquel.
-Tia preciso te contar algo.- ela
diz desesperada. Raquel olha para mim
e se senta, Bia não parece se incomodar
com a presença da minha amiga ali.
-Calma Bia, o que aconteceu?
-A vaca loira está dizendo que tá
grávida, mas só pode ser mentira!
-Quem é a vaca loira? – Raquel
questiona com uma sobrancelha erguida.
-Lídia.
-Lídia está...
-Grávida.
Ergo-me do meu lugar e caminho
em direção a casa de Noah, eu preciso
ver isso com meus próprios olhos...
Ninguém me para quando subo as
escadas e bato na porta de seu quarto.
-O que faz aqui? – é a primeira
coisa que Noah diz ao me ver.
-Só queria saber se Lídia está
bem, me disseram que ela não se sentia
bem e não foi ao trabalho. – e como se
ouvindo cada palavra, ela aparece pela
porta.
-Estou bem Luana, obrigada por
se preocupar. Só estou enjoada... Mas
logo vai passar. – desejo ter minha
magia só para revirar essa mulher do
avesso. Mas meu poder está na barreira
e nos portões, usar minha magia para
investigar Lídia seria egoísmo, e
poderia ocasionar muitas mortes... Por
enquanto.
-Posso falar com você, Noah?
Ele acena e sai no corredor
comigo.
-Sei o que vai falar, Luana. E
esse filho é meu, um filho que ninguém
poderá me tirar. – ele me olha com ódio,
será que Noah nunca irá me perdoar?
Toco em seu rosto e não sinto
nada... Antes eu sentia-o tremular com
minha presença, minha aproximação, e
agora... nada.
-Quando que você mudou tanto,
Noah?
-Nos anos em que você não
estava presente para ver.- ele diz de
forma dura- Só isso o que queria falar
comigo?
-Acabou? – rebato sua pergunta.
-Sim, acabou.
Dou as costas e sinto uma dor
lancinante invadir meu corpo. Lágrimas
idiotas teimam em cair do meu rosto.
Saio da casa e vou direto ao encontro de
Ana.
-Lua, está bem? O que
aconteceu?
-Preciso de um favor seu.
-Qualquer coisa, minha rainha-
ela faz uma reverencia, Ana é uma das
mais devotas do clã e mesmo que eu
peça para que me trate como uma amiga,
ela teima com as formalidades.
-Noah está estranho, ele não é o
homem que eu conhecia... Algo está
errado Ana, eu sinto isso. Kanut e Noah
não pareciam ser duas pessoas distintas
e agora... Eu não o reconheço! E tentei
alcançar Kanut e não consegui, como se
o lobo não estivesse mais lá, ou
aprisionado... Algo está errado com o
meu companheiro, ele costumava ser um
babaca, mas tudo isso está sendo demais
até mesmo para o cabeça dura do Noah!
E Lídia parece estar grávida, mas isso é
impossível! Eu criei a maldição e sei
que é impossível, um lobo só procria
com um lobo... Então, ou ela está
mentindo para ele, ou enganando a todos
nós... Preciso que descubra tudo o que
puder sobre ela, use todos os meios
possíveis...
-Claro Bri. – ela faz outra
reverencia e sai da sala.
Eu gostaria de não estar sentindo tanta
dor, mas eu sinto. Gostaria de poder
apagar o amor que sinto por Noah com
uma borracha, mas ele está cravado em
cada canto da minha alma;
Sinto seus braços me apertarem
e suspiro... Sinto os lábios de Ian sobre
os meus quando ele me beija.
-O que está fazendo? – pergunto
a meu amigo.
-Eu disse que te beijaria toda
vez que chorasse por ele.
-Não, você disse que não
permitiria que eu derramasse uma
lágrima por ele. Não lembro de nada
sobre beijo.
-Estou mudando as regras. – ele
dá de ombros e me beija novamente... A
dor diminui um pouco... Como um
calmante, Ian é uma tábua, mas não
posso fazer dele a minha tábua... Meu
amigo merece mais que isso.
-Isso não pode acontecer Ian...
-Lua, não vou te pedir em
namoro nem nada do tipo. E acredite,
não acho que sou um homem capaz de
ser machucado por alguém, não mais.
Então só aproveite... Lembra de quando
éramos adolescentes e eu ficava
correndo atrás de você tentando te
beijar? – a lembrança me faz rir- viu?
Só quero ver esse sorriso mais vezes, o
que quer que esteja acontecendo,
daremos um jeito.
E talvez, talvez eu tenha
acreditado nas palavras dele... Ian nunca
mentiu para mim.
Ele se afasta e percebo que é
porque as meninas caminham em minha
direção, sento-me em uma das varandas
e elas fazer o mesmo me encarando com
expectativa.
Retiro a pedra do meu bolso, a
mesma pedra mágica que indicou a pré-
disposição ao tipo de magia de cada um
dos lobos, nada acontece com Loren,
mas Sarah se contrai um pouco como se
tivesse medo do objeto.
-Por muito tempo essa pedra foi
usada para encontrar companheiros –
vejo os olhos de Loren brilharem em
curiosidade.
-Mas elas não mostram só qual é
o poder de cada um? – ela me pergunta e
eu aceno concordando.
-Sim... Cada pessoa tem um dom
latente dentro de si, e como um
companheiro é o espelho do seu par,
esse dom costuma ser o mesmo para
ambos, as vezes houveram festas onde
se uniam lobos do mundo todo com pré-
disposição ao mesmo elemento, nessas
festas a maioria deles saiam aos pares e
felizes. Mas bem... Isso não é
importante. Eu quero que as duas toquem
na pedra ao mesmo tempo.
-Eu não acho que essa é uma boa
ideia...- minha filha parece receosa, eu
diria que ela está com medo...
-Confia em mim. – só essa frase
foi necessária para que Sarah erguesse a
mão e ao mesmo tempo que Loren,
tocasse na pedra.
-Não acontece nada. – elas
dizem quando compravam o óbvio.
-Exatamente. O dom das duas é o
completo oposto um do outro, mas como
uma balança, ambos são necessários. Só
há vida porque há tanto a luz quanto as
trevas, nunca esqueçam disso.
O dia passou tranquilamente
enquanto tirei todas as dúvidas das
meninas sobre a magia e por algum
tempo eu fui capaz de esquecer, de não
sentir, por algum tempo eu pude respirar.

Ravi

Quando Sofia me tocou... Foi


como se todo o mundo parasse e eu
pudesse somente sentir as batidas do seu
coração. Nunca senti isso antes, como se
todos os meus sentidos estivessem
focados apenas nela, só nela...
E agora estamos por todo o dia aqui,
meu estômago já reclama e ela me diz
para ter calma e focar na água. Já estou
de saco cheio de ficar olhando para esse
rio. Fora que ela confiscou meu celular,
o que é isso? Regime militar?! Começo
a pensar que meu plano foi idiota em
fazer piadas com os outros bruxos até
me colocarem aqui com ela, a mulher é
séria demais, sorte que ela fica bonita
mesmo estando séria.
-Água, olhe para a água e não
para mim!
-Já estou ficando vesgo de tanto
olhar para água! Isso não está dando
nenhum resultado além de me deixar
irritado!
-Você está pensando demais,
Ravi!
-Claro, porque você está
pedindo para que eu movimente a água
usando meu pensamento, e não quer que
eu pense?!
-Tire a blusa.- ela diz me
olhando de modo irritado.
-O que? Só... você é tão
rápida...- digo brincando, mas a
obedeço. Ela olha de modo disfarçado
para o meu corpo e toma a camiseta de
minhas mãos. Sorrio porque sei que
consigo afetá-la. Sofia enrola minha
blusa fazendo uma tira e fica na ponta
dos pés, ela tira meus óculos com
cuidado e depois amarra a blusa
vendando meus olhos.
Ouço seu sussurro no pé do meu ouvido.
-Porque não tenta me pegar,
lobo? Não disse que gostava de jogos?
Quando viro-me, seu corpo não
está mais ali. Sinto seu cheiro e pulo
para onde ela estava, mas novamente seu
cheiro some e aparece em outro lugar.
Como ela consegue se mover tão
rápido?!
Concentro-me, foco-me
completamente no cheiro de Sofia...
Estranho porque posso sentir só o cheiro
de sua roupa, não dela em si... Ela não
emana cheiro algum.
Corro para um lugar que tenho
certeza que ela está, posso sentir sua
respiração, a seguro pelos braços.
-Peguei você. – mas quando a
toco... É a segunda vez que faço isso,
toca-la... Algo muda e eu posso sentir
seu cheiro de verdade... minha. O lobo
que há em mim acorda, ele rosna
desejando sua companheira, sua posse,
sua...
Retiro minha venda com uma só
mão, porque a outra ainda seguro o seu
braço, sei que Sofia iria fugir assim que
conseguisse se soltar de mim, então não
a solto.
Olho para Sofia... Tão linda. Seu
cheiro é como ter um dia de chuva
engarrafado só para mim... O cheiro de
terra molhada, de orvalho... É o meu
cheiro preferido. Ela me olha
desesperada e tenta sair do meu agarre.
Eu a puxo mais para perto, só
quero sentir... Merda, nunca senti um
cheiro tão bom em toda a minha vida.
Preciso prova-la... Eu preciso...
Beijo Sofia e no inicio ela
resiste, mas sinto seu corpo amolecer e
aos poucos sua entrega... Adoro seu
sabor, meu corpo acorda com sua
proximidade, a aperto mais para mim...
Como pude viver tanto tempo sem senti-
la? Como eu vivi sem ela?
Acalmo nosso beijo, ou iria
acabar montando-a bem aqui. Encosto
minha testa com a dela, nossas
respirações se misturam, ela ergue sua
mão e toca a minha boca... Mordo seu
dedo e sorrio quando seu olhar cai no
meu.
-Companheira...- digo e ela me
empurra, eu caio dentro da água, como
diabos eu vim parar aqui?!
-Parece que você aprendeu
rápido já que conseguiu flutuar sobre a
água – eu o que?! – agora você pode
treinar sozinho, é só se concentrar.
Ela diz como se nada tivesse
acontecido e vai embora... Não posso
sentir mais seu cheiro. Mas eu já a senti
uma vez e isso ficará gravado em mim
por toda a eternidade. Não posso viver
sem ela, não depois que a encontrei, ela
é minha, mesmo que eu tenha que provar
isso, ela é minha.
Eles estão vindo
Ana

Alguns dias se passaram desde


que Lua me pediu para ficar de olho em
Lídia, e sinceramente a mulher é quase
uma santa. Se ela tiver magia está muito
bem escondida... Ou ela é muito
poderosa. A segunda opção é a que mais
me preocupa.
Sua vida é basicamente casa e
trabalho e como anda adoentada, tem
ficado em casa o tempo inteiro. Só não
estou em seu pé quando ela está trancada
no quarto com Noah, não sou nenhuma
vouyer para ficar de olho na intimidade
alheia.
Minha líder está abatida... Eu sei
que ela está lutando a cada segundo
contra um poder e força que ninguém é
capaz nem de imaginar. Bri, como agora
eu já a chamo, se tornou uma grande
amiga. Eu fui a única do meu clã a
segui-la, os Iotnar são uns babacas, tem
o rei na barriga e sempre disse a eles
que sua pompa e superioridade um dia
iria destruí-los, bem, acho que é assim
que acaba.
Fora isso, há o olhar que Bri
direciona a Noah quando ele está com
Lidia... Há também a forma como ela
busca Ian sempre que isso acontece.
Outra coisa estranha que está
acontecendo por aqui é Sofia, a mulher
está mais estressada e esquisita do que o
habitual. Se bem que há um lobo no pé
dela quase 24 horas por dia... Talvez eu
tivesse ficado tão estressada assim
também se isso estivesse acontecendo
comigo, ou talvez não... O homem é bem
bonitinho.
A noite está fria... Sinto a
redoma sólida ao nosso redor. É uma
merda saber que uma guerra está vindo,
mas não saber quando é ainda pior.
Guerra... Nunca pensei que fosse viver
para presenciar uma... Por muito tempo
eu tive inveja dos humanos... Eles vivem
tão cegos, tão alheios a tudo o que
acontece... Eles vivem. Escolhem ter
uma vida e constituir família... Mas
somos nós a verdadeira barreira, uma
barreira entre os mundos e eles. Nós nos
sacrificamos para que eles tenham a
oportunidade de viver e eu sempre me
perguntei se isso realmente era justo.
Mas querendo ou não, aceitando ou não,
o mundo humano é também o mundo em
que escolhemos viver e não é só por
eles... Passou a ser por nós também.
Guerra... Pense em todos os
bruxos e seres da magia negra que já
andaram sobre os mundos, agora pense
em todos eles sendo libertos ao mesmo
tempo... Pense em todos eles indo atrás
de um único inimigo, é exatamente nessa
mesa em que estamos lutando.
Vejo uma sombra através da
redoma, parece estar caminhando sobre
ela, provavelmente não é nada, mas
mesmo assim decido ir averiguar.
Passo minhas mãos sobre a
energia pura que compõe a redoma e
percebo em um dos cantos uma energia
estática negra.
-O que é isso...?
Sinto ar fugir de todo o meu
corpo, é como se sugada por um buraco
negro, estou sentindo minha vida se
esvair...
-Você...?! – digo para o meu
atacante.
-Eu gostaria que você não
tivesse visto isso, mas iria morrer mais
cedo ou mais tarde, sinta-se sortuda por
morrer rapidamente em minhas mãos e
não nas dos meus mestres.
-Eles descobrirão que sumi, eles
saberão...
-Talvez, mas será tarde demais...
Os portões irão cair amanhã a noite e
será tarde demais para todos vocês...O
que está fazendo?!
Antes que ela me mate eu estou...
fazendo um sacrifício. A primeira regra
do universo é a transformação e
transfusão de energias. Eu estou
extraindo a minha própria energia de
vida e concentrando em um único ser,
uma alma que ainda virá ao mundo...
Sou a última de minha linhagem e se
morrer sem um herdeiro, todo o meu
legado irá simplesmente sumir, todos os
meus antepassados, tudo pelo qual
lutaram e morreram... Será tudo em vão.
Sou a princesa do clã Iotnar, eles
querem a minha morte porque assim
poderão reinar sozinhos e caso eles
sobrevivam a tudo o que virá, todo o
conhecimento dos meus antepassados irá
ser passado para eles, eu não posso
permitir que isso aconteça.
Meu corpo brilha em uma
energia branca e vejo minhas pernas
sumirem e um pó se dissipar pelo ar...
Logo depois todo o meu corpo é
dissipado e eu me sinto livre, sinto-me
como a mínima partícula de uma
molécula e ao mesmo tempo, eu sou todo
o universo.

Sarah
Lídia anda muito adoentada,
todos já conseguem sentir o cheiro do
bebe, isso é incontestável. Em relação a
paternidade... Não é que eu não queira
outro irmão, sonhei em ter outro irmão,
mas da minha mãe e do meu pai. Fora
que... Ele está diferente. Até eu que o
conheço há pouco tempo já posso
perceber uma mudança drástica desde o
primeiro dia em que o vi. Meu pai nem
se preocupa mais se estou aqui ou não, é
como se toda a sua atenção estivesse
voltada para Lídia e seu filho, faço uma
careta mental, isso se parece muito com
ciúmes.
Eu tenho ficado nessa cama mais
do que o comum, fora o tempo que estou
sendo treinada por minha mãe. Os lobos
já estão adaptados a magia, foi
relativamente rápido se acostumar a ela.
Ando sonhando com um homem,
só que nunca sou capaz de ver seu rosto,
mas seu cheiro... Amo o seu cheiro. E
quando acordo é como tê-lo entranhado
em mim, devo estar ficando louca agora.
Porque o fato é que o cara me salvou
aquele dia, mas sonhar com ele, sonhar
com seu cheiro... Só pode ser coisa da
minha cabeça.
Saio de casa e vejo os lobos e
bruxos em sincronia, eles trabalham
juntos... Os lobos começam a entender
sobre magia e quando um deles tem
predisposição a ela... é fantástico! Como
meu tio Ravi, estou agora o olhando com
Sofia... Eles fazem um bom casal... Mas
não é isso que estou vendo, meu tio está
em forma de lobo e Sofia está lutando
contra ele com magia, o lobo se defende
usando a água, isso é tão incrível que eu
fico aqui quase toda a manhã admirando
os dois.
Ando pelas terras em busca de
minha mãe, mas encontro Ian.
-Ei minha princesa.
-Oi tio. – olho para ele, queria
perguntar sobre minha mãe... Há um
tempo que ando vendo os dois próximos,
próximos demais... E não acredito que
seja somente para fazer ciúmes em meu
pai, ele nem olha mais em direção a ela.
-Não queime seus neurônios,
menina. Eu e sua mãe estamos bem.
-E o que é exatamente “estamos
bem’’?
-Ela está sofrendo Sarah...
Nunca vi sua mãe sofrer tanto. Ela está
tentando acreditar, tentando ser paciente,
ser forte... Mas dentro dela há algo se
cauterizando sabe, como uma couraça...
E talvez quando e se Noah vier atrás
dela, talvez seja tarde demais. Quero
que Lua seja feliz, ela só será
completamente feliz com Noah, mas se
isso não acontecer, ainda quero que ela
seja feliz... Será que estou errado por
pensar assim?
-Você sempre cuidou de nós,
quando vai deixar alguém cuidar de
você?
-Eu já deixei... Você, menina,
cuidou de mim mais do que qualquer
outro... Quando você nasceu e virou
esses olhinhos lindos para mim, eu vi
que a vida ainda estava por aí porque
você era tão cheia dela, então eu
pensei... Pensei que se talvez eu ficasse
por perto, pensei que você pudesse me
ceder um pouco disso. Eu nunca vou
poder te agradecer, agradecer a Lua, por
me trazerem de volta, por me darem uma
chance...
-Mas minha mãe tirou o seu
lobo, te fez esquecer sua companheira...
-Eu jamais esquecerei de
Priscila, ela está cravada em minha
vida, em minha alma, em cada célula do
meu corpo... Só que agora não dói mais.
Só sobrou esse sentimento estranho...-
meu tio continua a falar e eu nem
respiro, ele nunca falou antes sobre
Priscila-, ela era incrível Sarah...
Priscila sorria com os olhos, era a
ruivinha mais linda que já vi, seu rosto
era cheio de sardas e ela sempre via o
melhor das pessoas, o melhor em tudo...
Então um dia eu a perguntei o que ela
mais deseja, ela disse que queria viver
ao meu lado, queria ter paz... Esse era o
seu maior desejo e eu prometi a ela que
iria realiza-lo... Eu prometi algo que
jamais serei capaz de cumprir, e agora
eu vivo com essa promessa martelando
em minha mente... Minha consciência
sabe que ela não está aqui, eu sei... Mas
às vezes, às vezes eu sinto seus dedos de
leve tocarem meu rosto, às vezes eu
sinto passar um vento que carrega seu
cheiro, às vezes eu acordo como quando
ela estava aqui... Eu sinto sua presença e
quando viro-me para o lado com um
sorriso no rosto, não há nada, não há
ninguém... Acho que é isso o que
acontece quando se ama alguém deste
modo, essa pessoa estará presente em
tudo. Eu me transformei nisso... Eu
abracei a magia de sangue, Sarah...
Porque eu sabia que seria o único local
onde Priscila não estaria, eu só queria
me afastar de sua presença e quanto
mais eu abraçava essa magia que é uma
vertente da magia negra, mais eu a
perdia... Mais eu me perdia.
Encosto minha cabeça em seu
braço e fico ali calada, o que eu deveria
falar?
-Ela iria gostar de te conhecer...
Meu tio se despede de mim com
uma desculpa fajuta e se embrenha mais
na mata. Eu vou atrás de minha mãe, a
abraço quando a encontro... Ela está
mais magra, tem olheiras profundas
como se não dormisse há alguns dias,
seu olhar está apagado... É como ver
uma pessoa morrer um pouquinho a cada
dia...

Kailan

-Quem é o próximo?! – grito com


os lobos, porra, meus músculos querem
algo para bater, urgentemente!
-Kailan, cara! Tu já derrubou
metade dos lobos que estavam treinando
aqui, tá todo mundo com medo de lutar
com você, cara!
-Foda-se! Se não conseguem nem
ficar cinco minutos lutando contra mim,
vão embora!
Apoio-me na árvore mais
próxima enquanto sinto todos irem para
longe de mim, minha respiração está
acelerada, vejo o meu suor pingando no
chão... Ainda quero bater em algo, sinto
o cheiro dela... O cheiro que estou
tentando a todo custo apagar, meu corpo
tenciona... Menina idiota.

Bia

Onde está aquele pirralho?


Parece que está se escondendo de mim
desde o dia em que nos beijamos em
meu quarto...Se é que isso é possível,
temos aulas todos os dias juntos com
Tiago que costuma arrancar nosso couro,
mas estávamos ficando realmente bons,
não só em não deixar nada ultrapassar
nossas peles, mas também em briga
corpo a corpo.
Meu primeiro beijo foi com
Kailan...
Era uma data anual de reunião
das matilhas, todos estão na casa de
Noah e eu tinha uns 16 anos. Jonata
era um garoto da matilha de Leandro e
desde que chegou percebi seus olhares
e sorrisos. Um dia eu estava sozinha e
ele chegou... Ele se aproximou de mim
e eu sabia que iria me beijar, aquele
seria meu primeiro beijo, fechei meus
olhos enquanto sentia a aproximação
de sua respiração e de repente... nada.
Só ouço um baque e abro um dos meus
olhos, vejo Kailan empurrar o garoto
para a parede e manda-lo embora.
Kailan tinha 14, ele sempre foi mais
alto e mais forte do que eu.
-Pirralho! Você estragou tudo!!
– digo apontando para o seu peito, nós
estávamos próximos e pela respiração
de Kailan, sabia que ele estava
irritado.
-Estraguei o que?! Aquele
merdinha...
-Era o meu primeiro beijo e
você estragou tudo! – digo o
encarando, estava com tanta raiva que
uma lágrima caiu por um dos lados do
meu rosto.
O rosto de Kailan mudou um
pouco, ele estava próximo demais...
Então em um impulso ele tocou seus
lábios nos meus, foi um beijo calmo e
gentil... Calmo e gentil, coisas que não
diria sobre Kailan, mas foi assim que
ele me beijou naquele dia.
-Agora você tem seu primeiro
beijo, pare de chorar. – ele diz e me dá
as costas.
-Eu vou te matar, pirralho! –
grito quando corro atrás dele.
Naquele dia Noah teve que nos
separar porque estávamos quase nos
matando, eu estava batendo em Kailan
já que ele não revidava, ele nunca
revidou aos meus golpes...
***
Vejo vários lobos saindo do
mesmo local na floresta e caminho até
lá, muitos deles estão machucados e um
me alerta.
-Kailan está fora de si, se eu
fosse você não iria lá.
E o que eu fiz? Continuei
andando para onde ele me indicou a não
ir. Ele estava sem camisa, os músculos
de Kailan estavam saltados já que ao
que tudo indica, ele estava os usando.
Kailan está com seus dois braços acima
da cabeça, sua testa encostada na árvore
e quando dou um passo para perto, ele
finca seus dedos no tronco da mesma.
-Vá embora. –eu dou mais um
passo.
-Sua garota intrometida. – eu dou
outro passo...
-Odeio o jeito que fala...- ele
rosna e eu dou mais um passo.
-Odeio o jeito que sorri – mais
um passo...
-Você é idiota? Não te quero
aqui! – Dou mais um passo e agora estou
às suas costas.
-Eu odeio você, Bia, me deixe
em paz! – ergo minha mão e toco em
suas costas... O corpo de Kailan parece
uma folha de desenhos, sempre fui
apaixonada por suas tatuagens, sempre
tive a curiosidade em ver cada uma
delas, mas claro que eu não iria pedir
isso.
Quando Kailan sente meu toque,
ele rapidamente pega minha mão, torce
meu braço para trás de minhas costas e
me põe pressionada na árvore, seu hálito
agora está no meu pescoço.
-Quantas vezes mais eu tenho
que afastar você? Porque sempre volta?
Porque é a porra da menina intrometida
mais destrutiva que conheço? Porque
está aqui enquanto homens do dobro de
seu tamanho foram embora correndo?
Não digo nada, então ele me
empurra mais para a árvore e cola ainda
mais seu corpo no meu, minha mão
esquerda está no tronco da árvore,
tentando afastar a casca de arranhar meu
rosto, e meu outro braço estava sendo
torcido por ele.
-Porra Bia, fala alguma coisa
caralho! – ele rosna em meu ouvido.
-Eu também estou com medo
Kailan...- sussurro. – a qualquer
momento nós poderemos perder tudo o
que temos, nossos amigos, pais... Essa é
a nossa casa, nossa família e eu também
estou com medo, não posso perde-los...
Eu não posso perder você.
Sinto o seu agarre folgar, Kailan
tira o meu braço de trás de minhas
costas e ainda segurando minha mão,
aperta a minha barriga ao encontro de
seu corpo, sua mão esquerda está sobre
a minha, no tronco da árvore, e ele faz
tanta força ali que minha mão afunda no
tronco abaixo da sua.
-Eu não vou deixar que nada te
aconteça, nunca...
Eu e Kailan sempre tivemos uma
ligação estranha, eu sempre soube
quando ele precisava de ajuda... Eu
sempre estive presente por ele, e saber
que Kailan estará sempre aqui por mim
faz meu coração dar várias batidas
descompassadas e borboletas surgirem
em meu estômago.

Luana

Pedi que Ian localizasse Ana,


meus poderes estão cada vez mais
fracos, porque estão todos destinados a
segurar os portões... Eu não sou capaz
de senti-la... Da última vez que senti
Ana, foi quando... Foi estranho porque
senti parte de seu poder e depois
simplesmente sumiu. Isso foi ontem a
noite e me preocupou muito... Sinto-me
fraca...
Então sinto... Uma força centenas
de vezes maior do que a minha empurrar
as barreiras do portão do submundo, que
merda...
-Mãe, o que está acontecendo?!
– ouço Sarah perguntar e passo a mão
em meu rosto, estou chorando sangue.
Vejo uma luz aparecer em minha
frente, enquanto uso cada mínima força
em mim para segurar o portão, essa luz
se transforma em um homem, não
consigo ver seu rosto... É como se
milhares de rostos pertencessem ao
rosto dele...
-Quem é você? – pergunto o
encarando.
-Com quem você está falando?
Mãe!? – Sarah está desesperada e me
confirma que somente eu sou capaz de
vê-lo.
-Recue Luana...
-Como sabe o meu nome?
-Não me reconhece? Você de
todas as pessoas deveria me
reconhecer...
-Isso não é...
-Possível? Eu sou o possível e o
impossível, Briana. Pare de lutar, meu
poder e minha força são centenas de
vezes maiores que as suas, criança, eu
criei você.
-Eu não entendo... Porque quer
que os portões sejam abertos? Foi você
quem os criou...
-Recue, ou morra.
-Você desistiu, é isso? Desistiu
de todos nós? Se até você desistiu,
porque eu deveria lutar?
-Às vezes é preciso o caos para
que as plantas voltem a florescer. - ele
olha para Sarah e sorri.- ainda não sabe
porque luta? Eu luto por meus filhos,
Briana... Sei que você me entende. Sua
filha será a salvação de um querido filho
meu, um filho muito revoltado e difícil
de lidar... Espero que ele tenha
aprendido sua lição com o tempo ou
será destruído e levará sua filha junto.
-Por que...? – Porque ele está
fazendo isso, eu não entendo... Ele tem o
poder para parar qualquer guerra...
Então por quê?!
-Livre arbítrio, vocês me
pediram por isso. Todos vocês... Essas
são as consequências. Não perca a fé
Luana... Eu criei Elisabhet para ser uma
estrela em meio às trevas que virão.
-Como você pode por tanta
responsabilidade assim nos ombros de
só uma garota?
-Às vezes é preciso só uma
pequena fagulha...
Nisso ele desaparece e eu estou
no chão, meus olhos ainda sangram e eu
liberto... Sinto os portões rangerem e se
abrirem e um calafrio toma meu corpo,
eles estão vindo.
-Os portões foram abertos Sarah,
chame todos.
Estou fraca demais até para ficar
em pé, mas foi por isso que a redoma foi
criada, para me dar tempo de
reestabelecer, tempo de me curar.
Estou ao lado de fora, a redoma
brilha com uma luz prateada e uma
imensa nuvem negra vem em nossa
direção. Olho para todos, pessoas que
eu confio, pessoas a quem é o meu dever
proteger.
Quando as nuvens negras passam
por nós, ficamos quase meia hora no
completo breu, mesmo que ainda fosse
dia. Depois elas se dissiparam, mas do
lado de fora havia só morte e destruição,
nenhuma vida... Não sobrou nada.
Um dia se passou, telefones não
funcionam, televisões não transmitem
nada... Só há destruição e morte. Às
vezes um demônio tenta passar através
da redoma e ela o repele. Hoje o dia
estava tranquilo, mas se olhasse com
atenção para o lado de fora, poderia ver
demônios e bruxos a espreita,
esperando... Eles estão a postos e
esperando por algo... Ainda não consigo
encontrar Ana, não localizo sua energia
em um só ponto e isso é mais que
preocupante, ela é a única que pode
ficar em uma das pontas, ela é a única
do clã Iotnar.
Decido usar minha energia para
localizar Ana, mesmo que isso me deixe
mais debilitada, preciso encontra-la.
Sigo pela propriedade até onde percebo
a maior quantidade de poder de Ana, lá
há alguém virado para a redoma e se eu
fosse uma pessoa normal iria pensar que
ela está só olhando para o exterior, para
toda a destruição. Mas eu posso
perceber a magia negra saindo dela.
-O que você está fazendo?
Lídia vira para mim devagar,
seus olhos são duas pérolas negras, ela
range os dentes um no outro como se
fossem cerras.
-Lua, Lua... Meu mestre disse
que eu não deveria tocar em você... Ele
me disse que eu deveria usar o lobo
para te destruir por dentro primeiro...
Foi aí que eu percebi nossa
maior falha... Lídia sempre esteve
dentro da área da redoma quando nós a
energizamos para afastar magia negra...
E seja lá quem for seu mestre, é alguém
extremamente poderoso porque
conseguiu esconder sua magia de todos
nós.
-Foi tão fácil... Primeiro me
aproximei dele há dois anos atrás,
depois fui implantando ideias em sua
mente, impulsionando-o a seguir em
frente, o compelindo para mim. Estava
tudo indo muito bem, queria que quando
você chegasse aqui já estivéssemos
casados, mas você chegou antes. Percebi
meu poder sobre o lobo ficar fraco,
vocês têm uma ligação realmente
poderosa... Isso me irritou. Toda vez que
ele te olhava ou ficava perto de você,
uma de minhas amarras se rompiam.
Então eu o compeli a me chamar para
morar com ele, assim eu teria mais
poder porque estaria mais próxima dele.
Não foi fácil compelir o lobo a fazer as
coisas, ele tem uma força interior
realmente forte e resistente, mas eu
descobri sua essência... Separei o lobo
Kanut, o aprisionei... Mas toda vez que
você se aproximava, o lobo sacudia suas
grades, ele saia.... E eu não poderia
correr esse risco. Então tive que apelar
para o maior desejo de Noah... uma cria.
E bam! Kanut preso e ele era todo meu
novamente! Foi uma ótima jogada e
ainda deu para esconder o que eu
realmente fazia aqui... Meu mestre me
deu uma quantidade de seu poder para
que eu infectasse a barreira de vocês,
mas tínhamos o problema de sermos
descobertos, porque era um poder
grande. Então ele roubou uma alma, uma
criança... E a pôs dentro de mim, mas
antes alimentou a criança com a energia
dele, tudo foi tão perfeito... Você vai
morrer.
Estou tão estarrecida com tudo o
que ela diz que não percebo que como
um borrão, Lídia já estava quase em
frente a mim, sua mão se ergue com uma
energia que misturava roxo e negro e eu
estou fraca demais para me defender
disso...
Mas um corpo entra em minha
frente, sinto a energia de Lídia colidir
com a de outra pessoa.
Lídia se dissolve em uma fumaça
negra, sei que ela não está morta... Olho
para o meu protetor, ele está mais alto e
mais forte do que me lembro, seu cabelo
cortado a estilo militar é o que tem de
mais diferente do tempo em que os
usava tão longos e trançados, mas é ele,
eu nunca, jamais, poderia esquecer esse
rosto.
-Irmão... Loki, pelos céus, Loki!
– digo o abraçando, Loki agora era
imenso, não mais aquele garotinho que
praticamente criei e ele estava vivo,
vivo...
***
Briana e Kanut estavam
construindo algo sólido em sua aldeia,
em seu clã... Mas havia algo que nunca
a deixava, seu irmão Loki. Essa dúvida
sempre iria assombra-la.
Briana e Kanut não
descobriram o que aconteceu com Loki,
e Donar e Efor, seus outros irmãos,
nunca mais quiseram estar em sua
presença. Briana aceitou a decisão dos
irmãos, mas a dor de perder Loki
jamais a abandonou, ele era seu
pequeno, seu menino... Faria qualquer
coisa por ele.
***
-Como eu deveria te chamar
agora? – ele me pergunta com seu
sorriso, o mesmo sorriso do menino que
eu conhecia.
-De irmã. – digo e Loki me
abraça, céus... Esperei tanto tempo para
ter esse abraço novamente...
Percebendo que eu estava
debilitada, Loki me pega no colo e eu
indico a casa mais próxima, a casa de
Noah.
Quando entro na casa com Loki me
carregando, sinto o ar pesar. Noah me
olha, seus olhos estão em vermelho
vivo, ele não olha para mim, olha para
as partes de mim que estão em contato
com Loki. Meu irmão me põe no chão
com calma e me põe atrás de seu corpo,
o que foi o último gatilho para Noah.
Ele atinge Loki com um soco que
não demora em ser revidado. Eles são
fortes, os dois são e eu estou fraca
demais para isso, sei que vão se matar
se alguém não interferir. Então quando
Kailan e Ian chegam, peço que os
separem e assim o fazem.
-Vocês estão loucos?! – grito
para os dois.
-Nunca... Nunca mais toque
nela... Ela é minha, Lua é minha! – Noah
rosna e eu o encaro, o que quer que
Lídia tenha feito com ele, parece ter
perdido o efeito quando ela sumiu.
-Acho que isso vai ser um pouco
difícil, amigo. – Meu irmão responde e
Kailan quase não consegue segurar Noah
dessa vez.
-Já chega, Loki não o incite. E
Noah, não seja um babaca com meu
irmão.
-Irmão? – quem faz a pergunta é
Ian que já soltou Loki há muito tempo
atrás.
-Pelo o que eu saiba você só tem
um irmão, Lua. – Noah diz me encarando
pela primeira vez.
-Lua só tem um irmão. Briana
tem três: Loki, Donar e Efor. Luana e
Briana são a mesma pessoa e eu sou
ambas. Então tenho quatro irmãos.
-Eu não chamaria aqueles párias
de irmãos. – Loki diz enfezado.
-O que quer dizer? – o
questiono.
-Quem você acha que fez um
ritual de sangue comigo e me enviou
para o submundo?! Eu estou lá por todos
esses anos, eu cresci lá, irmã!
-Eles não seriam capazes de...
-De ferir seu próprio sangue?!
Quem você acha que quase matou seu
lobo Kanut? Quem você acha que te
matou quando era Briana?! Eu vim aqui
te alertar, eles estão vindo...
Retirando as vendas
Ravi

Não importa o que fizesse para


que Sofia estivesse perto de mim, me
reconhecesse de alguma forma, nada
adiantava, e isso estava me irritando
mais do que deveria, ou talvez não, já
que ela é minha companheira, fato que
não parece ser real neste exato
momento.
-Você evoluiu bastante... – ela
diz, e claro que evolui... Estou tentando
ao máximo ser melhor para que ela veja,
para que perceba que estou realmente
me esforçando.
Depois que peguei o jeito da
magia, foi relativamente fácil. Sofia me
disse que provavelmente minha
linhagem tinha algum descendente direto
que pertencia ao mundo da magia, já que
consegui domina-la tão rapidamente.
Mas algo dentro de mim diz que isso foi
sobre ela e não sobre os meus genes
mágicos.
-Você não cansa? – Pergunto
para Sofia, aproximo-me dela...
-Cansar? Treinar com você não é
tão difícil assim e...
-Cansar de fugir Sofia, é isso o
que está fazendo, certo?
-Não tente me julgar, Ravi. – ela
parece irritada, mas eu não disse isso a
julgando, estou reconhecendo isso nela
porque eu mesmo fugi por muito tempo.
-Eu sei o que é isso... Você
primeiro foge de sua casa e espera
encontrar um local em que ninguém a
reconheça, pensa que assim vai ser mais
fácil seguir em frente, mas não é. Não é
porque você não está fugindo de um
lugar, de pessoas... Está fugindo de algo
que está com você. Eu conheço os meus
próprios demônios... Sei do que eu já
fugi. Por muito tempo, não conseguia
aceitar aquilo que realmente sou, por
muito tempo eu fugi e briguei contra algo
dentro de mim que também sou eu.
Porque você luta tanto? – Agora já
estava próximo a ela, tão próximo... Só
queria que Sofia abaixasse suas
barreiras e me permitisse entrar, só isso.
Só queria ter a chance de provar para
ela que eu mereço um lugar em seu
coração, em sua vida...
-Você não sabe, eu não sou... –
ela começa, mas novamente a corto.
-Deste mundo? – Sofia me olha
espantado – Já me acostumei com os
lances dos mundos.
Ela suspira, estranhamente Sofia
não se afasta de mim... Continua
conversando como se houvesse uma
mesa entre nós e se por um lado fico
feliz com sua proximidade, pelo outro
me irrito imensamente por não estar lhe
causando nada. Por Sofia não sentir a
mesma guerra que está acontecendo
agora dentro do meu peito.
-Eu era o braço direito do rei da
água... O nome dele é Neal, nós
crescemos juntos e eu vivi para fazer
profecias para ele e para todos os outros
que chegavam ao reino. Eu os vejo lutar
pelas suas famílias Ravi... E eu
abandonei a minha, quão hipócrita sou
por isso? Sou uma desertora, desfiz
meus juramentos... Abandonei meu
reino, minha família, meu amigo...
-E porque você fez isso? –
pergunto por que realmente estou
curioso para saber isso, não entendi essa
parte de sua história.
-Porque eu precisava de mais...
Precisava ser mais que uma vidente,
mais que um... Objeto. Eu vivia em um
templo, era um ser sagrado e as pessoas
malmente me olhavam nos olhos, nunca
tive amigos a não ser Neal... Eu estava
me sentindo como uma das construções
do reino da água... Eu... Não há um
motivo, eu só fui egoísta. – ela abaixa a
cabeça com vergonha.
-Você está aqui lutando, Sofia...
–Ergo sua cabeça com um leve roçar de
meu dedo em seu queixo- Está aqui
lutando por pessoas que não são seu
sangue, não são sua raça, mas são
aqueles que você escolheu para proteger
e amar. Isso não é ser egoísta.
-Eu não mereço você...- ela
sussurra. –Por muito tempo pensei que
eu fosse amaldiçoada... Sacerdotisas
não tem seu Imahar... Elas não podem ter
ou perdem seus poderes de nascença...-
ela parece estar perdida em
pensamentos eu também estou perdido
aqui.
-Imahar? O que é isso?! – ela me
olha quando diz isso, parece estar com
vergonha.
-Destinados.
-Companheiros? – Sofia faz uma
careta e depois dá de ombros.
-Destinados... São almas cujo o
destino irá juntar. Mas o destino é
mutável e isso nem sempre é uma
verdade suma. Já os companheiros de
vocês... Não acredito que isso possa ser
modificado.
-Não, não pode. Então sabe o
que sou para você? – ela acena com a
cabeça de modo afirmativo. – isso já é
um bom caminho... Agora me diga por
que ainda estamos vestidos?
Ela gargalha, é a primeira vez
que ouço sua risada... A admiro, ela
parece com as elfas sexys que tem nos
meus jogos de rpg, uma pequena ninfa só
minha...
Sofia olha para mim e sorri de
modo conspiratório... Então uma suave
brisa balança seus cabelos e traz seu
cheiro para mim... E é como um gatilho,
eu a ataco.
Sofia geme em minha boca e meu
peito retumba com um rosnar, eu a
quero... Quero tanto que nem reconheço
nada mais de mim, só há ela.
Nossos lábios se encontram e
sinto seus pequenos dedos percorrerem
meu couro cabeludo, meu pescoço, meus
ombros... Sinto um formigamento subir
pelas minhas pernas, mas não me
importo. Não quando seus lábios ainda
se moviam de encontro aos meus, não
quando estava me deliciando com o
saboroso gosto de seu beijo.
Ela se afasta.
-Não quero te perder. – isso
derrete o meu coração, mas Sofia não é
alguém de declarações, disso sei, nem
sei o milagre de ela ter aberto uma
brecha de seu passado para mim.
-Não vai.
-Sabe... Se tem uma coisa que
aprendi é que nós devemos ter...
Incentivo.
-Porra mulher, o fim do mundo tá
aí, não preciso de incentivo, preciso de
você.- respondo rápido, minha cabeça
começa a falhar... Só conseguia pensar
nela, em seu cheiro, em como seria
monta-la pela primeira vez, marca-la
como minha...
-Sobreviva Ravi... Esse será o
seu incentivo. Não quero uma noite de
despedidas com você... Eu quero uma
vida em que me despedirei dia a dia da
pessoa pela metade que era antes de te
conhecer.
Tento alcança-la e vejo que estou
preso. Olho para baixo e há gelo
prendendo os meus pés, então era isso o
formigamento... Sofia se afasta como se
não tivesse sido ela a dizer aquelas
palavras, como se não tivesse sido ela a
dizer a coisa mais bonita que já ouvi em
toda a minha existência.
-Ei mulher! Não pode deixar um
guerreiro lutar a guerra do fim do mundo
com sua barraca armada e sua vara em
pé!!! Todo mundo conhece essa regra!!!
Volte aqui e me satisfaça!! – grito e a
ouço gargalhar – deveria ter colocado
esse gelo mais para cima, Sofia!!!
A risada dela é como música em
meus ouvidos... Percebo a repentina
necessidade que tenho em vê-la sorrir,
ou ouvir o rico som de sua voz quando
está feliz. Eu a quero, mas quero mais
ainda ver sua felicidade... Não sei se
essa é uma reação normal para
companheiros, talvez eu tenha que
perguntar isso a Noah e Leandro...

Luana
***
Kanut percebeu que sua
companheira a cada dia estava mais
triste, embora Briana tentasse
esconder, morar em terras tão
próximas as de sua família e antigo clã
a estava afetando de uma forma que
Kanut não aceitava. Então ele decidiu
abandonar suas terras e partir em
busca de um novo local para o seu
povo. Kanut sabia que nenhuma terra
jamais seria mais importante que
Briana, pois ela era sua morada, a
única que ele poderia e queria ter. Sua
alcateia o seguiu, eles iriam a qualquer
local escolhido pelos seus lideres.
Quase nômades, o clã de Kanut,
uma alcateia agora formada, andou
por várias luas até encontrarem um
local protegido, amplo e com vasta
alimentação para os lobos.
E kanut percebeu com isso a
mudança em Briana, ela havia voltado
a sorrir e isso foi espelhado em todo o
seu povo. Era impressionante ver como
sua mulher havia se transformado no
coração de todos os seus guerreiros,
isso era respeito, Kanut sabia. Sabia
também que o laço que ligava Briana a
todos eles era algo mágico e muito
belo, por isso não sentia ciúmes. Ele
não se incomodava em dividir os
sorrisos e atenções de sua
companheira com o restante da
matilha, porque ele podia sentir a
ligação... Todos eram um só.
Certo dia, quando a metade da
lua estava no céu, uma roda de
guerreiros foi formada ao redor da
grande fogueira e alguns dos seus
guerreiros estavam ali a contar
histórias. Velhas histórias de seu clã,
tão velhas quanto o próprio tempo.
Briana sorria e estava muito envolvida
em cada conto. Um dos guerreiros se
ergueu anunciando um novo conto e
prontamente todos prestaram muita
atenção. Era a mais antiga lenda do
povo de Kanut, sua mais antiga crença.
“Um antigo, dizem que ele foi o
primeiro homem vivo do nosso clã, cria
do próprio deus Odin. Um dia, o
homem teve uma revelação em sonho e
fez cada ancião da aldeia prometer que
seu sonho fosse passado de geração em
geração sem jamais ser esquecido
sequer um detalhe.

Um com o olhar azul percorre a lua


Outro com vermelho percorre o sol
Buscando um no outro, um ao outro
Dois bravos lobos, correm sem jamais
encontrar.
No dia do Ragnarock O submundo
submergirá
Sol e lua se encontrarão , os dois
lobos, finalmente a união
Quando a ira de Loki se rebelar.’’

Briana sentiu seu corpo gelar


no momento em que as palavras foram
proferidas. Essa era uma crença do
povo de Kanut, mas ao ouvir o nome de
seu irmão que fora morto, algo dentro
dela se remexeu, uma imensa saudade...
Como se Loki estivesse precisando
dela...
***
Sacudo minha cabeça e pisco
meus olhos voltando para o tempo
presente e vejo que uma confusão havia
se formado bem em minha frente.
Ian está junto a Noah e com seus
corpos barram o meu plano de visão,
Sofia está com uma magia pronta para
atacar alguém e Ravi está... Vejo o
corpo dele tremular em uma energia
azul, fico algum tempo o admirando,
Ravi tem facilidade com magia... Então
novamente sacudo a cabeça para sair
desse transe e me dou conta do que se
trata toda essa situação.
-O que está acontecendo aqui? –
grito.
-Pensamos que ele tivesse lhe
feito algum mau já que não respondia a
ninguém. – Noah diz sem tirar os olhos
de algo a sua frente.
-E porque meu irmão me faria
algum mau? – o questiono, mas quem
responde é Ian.
-Você já me perguntou inúmeras
vezes com quem troco minha energia de
vida por energia negra, é com ele. – meu
amigo diz e eu tento enxergar meu irmão,
passo entre Noah e Ian e consigo vê-lo.
-Esse é Loki, o deus da trapaça-
Sofia diz e eu consigo ver o semblante
de meu irmão ser substituído por uma
máscara fria de indiferença.
-Já chega com essa palhaça,
todos vocês! Deixem Loki em paz! –
eles me olham intrigados.
-Eu vi o que você viu Lua... Suas
memórias, era ele. Ele irá nos atacar
com seu exército de monstros, como
pode saber disso e ainda defendê-lo? –
não respondo, não escuto Sofia porque
tudo o que eu sei é que o meu irmão que
estava morto está em minha frente.
-Loki, preciso saber o seu lado...
O que aconteceu com você? – ele dá de
ombros, e seu olhar frio me segue.
-Não preciso te contar nada. Seus
amigos já resumiram tudo o que eu sou,
fique longe de mim... Luana.
-Loki não...- mas é tarde demais
e ele se transforma em um gavião e
levanta voo.
Não sei o que pensar... Sobre
Loki ou meus outros irmãos... Porque
eles fariam isso? Mas uma certeza e
prova eu tenho, se Loki conseguiu
atravessar a redoma, ainda há algo bom
nele.
Quando Loki sai é como se toda
aquela saudade que eu senti por tantas
vidas viesse à tona... Sinto o toque de
Noah em meu rosto e por impulso, me
afasto. Já faz alguns dias que estou
lidando com Noah dessa forma, estando
em qualquer lugar que ele não esteja,
evitando ao máximo qualquer coisa que
diga respeito a ele... Fiz isso porque
estava cansada e não sabia se
sobreviveria por muito mais tendo-o me
tratado daquela forma. Agora... Eu sei
que Lídia fez algo contra Noah, algo que
o virou contra mim... Eu sei, juro, minha
mente sabe, mas... Talvez seja só o
costume do meu corpo e do meu coração
ao se esconder, talvez seja só sua reação
à autoproteção. Eu não quero machuca-
lo... Mas mesmo assim, aqui estou eu
fugindo de seu toque, quão terrível e
confusa eu posso ser?
-Lua eu... – eu olho para ele,
seus olhos brilham... Eu gostaria tanto
que Noah tivesse me olhado dessa forma
quando apareci aqui com Sarah pela
primeira vez, essa era a forma que
sonhei durante todo esse tempo, a forma
que ele me olharia... Então eu diria que
senti saudades, que senti sua falta por
cada segundo que passei em que seu
cheiro sumia de mim... Diria que senti
falta dele, de todo ele. E ele me
abraçaria... Céus, senti tanta falta de seu
abraço... Quando Noah me abraçava eu
podia respirar, podia ser vulnerável...
Eu queria ser vulnerável só para ter seu
corpo protegendo o meu em um abraço.
Então eu lembro que ele não fez isso...
Lembro de seu olhar de ódio, de sua
repulsa, sua recusa em aceitar até minha
presença, sua rejeição... Sei que não era
completamente Noah, mas também sei
que havia uma parte dele em cada uma
dessas coisas que me machucaram. Eu
sei e ele também, seu olhar é sofrido
quando me olha intensamente e eu queria
dizer que está tudo bem, queria culpar
Lídia por tudo o que aconteceu, eu
queria... Mas não o fiz.
Porque sei que a magia de Lídia
nunca iria funcionar, a compulsão dela
jamais funcionaria se todas as ideias,
raiva e dúvidas já não existissem nele.
Ela não é capaz de criar desejos e
ideias, e sim de intensifica-las... Então,
por mais que ele tenha sido de certa
forma compelido a agir daquela
maneira, ainda era ele.
Olho ao redor e percebo que como
passe de mágica, todos resolveram
sumir.
-Vamos subir Lua... Precisamos
conversar. – ele estende sua mão para
mim, mas eu não a toco, passo em frente
a Noah subindo as escadas, penso que
iriamos para o seu escritório, mas ele
me leva para o seu quarto. Rio de mim
mesma, quando passei a pensar nesse
quarto como o quarto dele e não o
nosso?
Noah entra primeiro, ele anda de
um lado ao outro como um bicho
enjaulado, não percebe que eu estanquei
na porta com nojo de entrar nesse
quarto... Porque tudo cheira a ela. Posso
sentir Lídia em cada maldito canto do
quarto e me pergunto se ela também
estará impregnada em cada canto dele.
-Eu não... Você precisa saber que
não era eu, Lua... Eu nunca te trataria
daquela forma... Ela estava grávida- ele
murmura a última frase.
Sei que o fato de Noah pensar
que eu havia perdido Sarah o
traumatizou de um modo que não sou
capaz de entender ao todo, sei que esse
era o seu ponto fraco, mas mesmo assim,
saber não significa que doa menos.
-Quantas pessoas te disseram
que seria impossível? Uma humana
engravidar de um lobo seria
impossível... Quantas pessoas?
-Eu não estava...- ele começa,
mas o corto.
-Pensando? Olhe para mim
Noah, dentro dos meus olhos, e me diga
que não era você. – ele faz uma careta,
me olha, fecha e abre a boca algumas
vezes. Eu dou um riso forçado e começo
a andar para trás, porque eu não quero
ouvi-lo dizer o que sei, que era ele, a
cada merda de situação era ele.
-Onde você vai? Lua, por favor,
me escuta...
Mas eu não posso, não quero
ouvir... Eu quero fazer algo que quis
fazer desde que pus meus pés nessas
terras, meu corpo vibra por isso, pois
minha loba quer correr livre, ela quer
esquecer, deseja uivar sua mágoa e
esquecer...
Corro pela floresta, minha roupa
fica pelo caminho enquanto minha
transformação acontece. Uivo alto e
corro, minhas patas tencionam antes de
tocar o solo, os músculos de minhas
pernas reclamam por estarem muito
tempo sem uso. E eu corro... Corro
como se quisesse alcançar algo que
jamais será meu. Lágrimas nublam
minha visão mesmo na forma de loba,
nós sabemos que esse algo é Noah...
Inalcançável, eterno...
Sempre será você
Noah

Fico no quarto olhando para o


espaço vazio onde antes ela estava.
Minhas garras crescem e machucam
minha palma já que estou com minhas
mãos em punho, e meus olhos agora
tomam a tonalidade de vermelho
características de quando estou a
margem.
Eu estava me segurando perto
dela, segurando para não liberar meu
lado selvagem que estava pronto para
sair a qualquer segundo, mas sei que
isso destruiria qualquer mínima chance
que ainda tenho com minha menina,
então eu me segurei.
Lua mudou... Ela está mais séria
e responsável, sua postura é
completamente diferente e eu gostaria de
tirar toda aquela máscara e pose dela,
queria que ela gritasse comigo, me
batesse e dissesse que sou um idiota,
qualquer coisa menos seu olhar frio e
pose de superior, porra, não comigo.
Sei que todas aquelas ideias,
todo o ódio e raiva... Tudo isso já
existia em mim. Quando Lua me deixou
com uma carta e um lobo-menino, isso
me destruiu... Não completamente por
ter sido abandonado, mas muito mais
por saber que ela não confiou em mim o
suficiente para estar ao seu lado.
Li e reli aquela maldita carta
mais vezes do que sou capaz de contar e
depois da raiva, depois da mágoa, eu só
tive uma certeza: Lua não confiou em
mim o suficiente, porra, ela me deixou
sozinho para enfrentar uma maldita
guerra porque não pensou que eu fosse
capaz de proteger meu povo se ela
estivesse por perto, ela não abandonou
só a mim, abandonou também a todas as
matilhas!
Cara, meus pais morreram
juntos, eles morreram lutando para
proteger o seu povo, juntos. Então pode
imaginar o que senti quando na primeira
grande dificuldade ela me deixa, e eu
fiquei martelando em minha cabeça a
mesma maldita pergunta: Que tipo de
amor é esse? Porra, eu disse que
largaria tudo por ela e realmente o faria,
pois percebi já naquela época que Lua
era a coisa mais importante de toda a
minha existência, mais importante que
matilha, mais importante do que o poder,
caralho, mais importante do que a mim
mesmo, estava ela.
Mas do mesmo modo que eu sei
que por ela abandonaria tudo pelo o que
lutei em minha vida, também tenho a
certeza de que ficaria ao lado dela e
lutaria, se essa fosse sua vontade.
Ouço o sofrido uivo de Lua ao
longe e Kanut arranha minha pele por
dentro. Parece que eu e Lua sempre
estamos correndo em lados opostos e
jamais nos encontramos em um local
comum. Mas porra, eu preciso dela, e é
mais do que necessidade, é muito mais
do que corpo, se fosse só corpo eu
estaria pulando em cima dela e sei que
responderia ao meu toque porque sinto
sua necessidade pulsar tão forte quanto a
minha. Caralho, claro que quero seu
corpo, mas também quero seu toque de
verdade, seu carinho, quero seu olhar...
Eu quero o seu coração.
Você não pode querer algo que
já possuímos. – ouço a voz de Kanut em
minha mente.
-Possuímos? Talvez você sim-
respondo mal-humorado.
Eu não sei como posso ser tão
idiota, acho que eu era assim quando
tinha sete anos de idade. – ele responde
com o mau humor que se iguala ao meu.
-Kanut...- o repreendo.
Se você e eu fossemos um, assim
como Briana e Lua o são, Lídia nunca
teria nos enganado! Ela se aproveitou
que estamos divididos e me aprisionou,
quando a encontrar irei rasgar sua
garganta só por ter nos deixado em
maus lençóis com minha companheira.
-Minha...- rosno para ele, o que
é ridículo já que ele está dentro de mim.
Eu e você somos o mesmo. O
que mais deseja em sua vida, se
pudesse fazer um pedido, o que seria?
– Kanut me questiona.
Salvar o mundo do apocalipse,
os humanos, a vida na terra, nada disso
passa pela minha mente, só existia uma
resposta a essa pergunta.
-Lua. – respondo por que com
Lua eu sei que seria capaz de enfrentar
qualquer coisa, mas sem ela sei que não
há mundo para mim.
Eu esperei por Lua por
séculos... Você não sabe por que não
tem minhas memórias ainda Noah, mas
eu estava morrendo, como você também
esteve com Lua, e Briana...
-Eu sei, ela assim como Lua,
enlaçou suas almas e lhe trouxe de volta
a vida. – digo interrompendo sua
narrativa.
Não Noah... Assim como você eu
estava a beira da morte, Briana vendo-
me morrer, tentou transferir sua
energia de vida para mim e quando viu
que não seria o suficiente, ela enlaçou
nossas almas. Ela escolheu morrer
comigo. Quando Briana enlaçou nossas
almas ela nos prendeu no terceiro
plano e estivemos vagando sobre a
terra desde então, até encontrarmos
você e Lua. Entenda que se Briana não
tivesse feito isso, seria praticamente
impossível nos encontramos novamente
de qualquer forma. Você me entende?
Briana escolheu morrer e ter uma
eternidade de dor junto a mim, do que
passar um dia sobre a terra sem a
minha presença.
Nós vagamos pela terra até que
alguém do sangue de Briana e outro do
meu sangue nascesse e fossem
completamente compatíveis, nós
precisávamos de companheiros.
Entenda que vocês já nasceram
com as almas trincadas e divididas
porque Briana e eu somos o restante de
suas existências. Por isso que o que
Lua fez para te salvar foi tão perigoso,
ela enlaçou duas almas que já estavam
partidas e isso jamais daria certo se já
não existisse a ligação entre mim e
Briana.
-Como Lua pode ter as memórias
de Briana? – O questiono, claro que
ouvi com atenção todo o resto, mas
saber que Lua tem as memórias de
Briana pode responder o porque de sua
afeição com Kanut.
Ela a aceitou como parte de si
mesma, não há mais Lua ou Briana, há
somente uma. Nós jamais iremos tê-la
se estivermos divididos. Você me disse
que o que mais deseja é Lua e é
também exatamente o que mais desejo.
Ela lutou, morreu e viveu por nós, o
que você estaria disposto a fazer por
ela?
-Qualquer coisa. – respondo por
que novamente essa era a única resposta
que eu seria capaz de dar.
Então não lute, aceite meus
sentimentos, minhas memórias, minhas
dores, medos, desejos e sonhos. Aceite-
os porque eles também são seus.
A infância de Kanut começa a
passar por mim em flashes... Ele foi
criado para ser um guerreiro, um líder, e
seus pais assim como os meus também
foram mortos em batalha para proteger
seu povo. Então Kanut se viu como o
próximo líder do seu clã na linha de
sucessão e com todo um povo
aguardando suas ordens. Percebo que
nossas vidas foram praticamente iguais,
até o dia em que ele conheceu Briana.
Assim como eu na primeira vez em que
senti o cheiro de Lua, Kanut desejou e
amou Briana desde o primeiro momento.
Sem dúvidas, inseguranças, receios, eles
se amavam e faziam um do outro o
centro de seu mundo.
Passei por tudo, e depois de um
tempo já não era ele, era eu, eu e Briana,
eu e Lua, eu e ela. E eu a amei, sem
dúvidas, inseguranças, receios, eu fiz
dela o centro do meu mundo.
Que porra de amor é esse?
Agora eu sei a resposta, é um amor que
ultrapassa a barreira do tempo e do
espaço, da vida e da morte, um amor que
só quer Ser, existir... E eu sei, sei o
quanto Lua me ama, isso é uma fodida
certeza...
Tiro minha roupa enquanto corro
para fora, para a floresta, para ela...
Eu só preciso provar, fazê-la
lembrar...

Bia

É quase insano pensar na


situação em que estamos... O fim do
mundo. Isso é surreal...
Ouço minha porta abrindo e um
sorriso involuntário toma meu rosto
mesmo que ele não seja capaz de ver.
Kailan está atrás de mim, olhando a
mesma paisagem que eu, nós não nos
tocamos, ele não toca em mim quando
põe cada braço seu no espaço ao redor
do meu corpo e se apoia no parapeito da
janela. Ouço sua respiração, sou capaz
de sentir as batidas de seu coração, mas
não me viro... Só continuo a olhar a
paisagem.
-É... lindo, não? – digo um tempo
depois de ficar em silêncio. Kailan não
diz nada... Quando estava aqui, quando
era pequena, ele fugia da casa de Noah
todos os dias e ia para a casa do meu
pai. Lembro do primeiro dia que Kailan
fez isso, Noah ficou louco o procurando,
até encontra-lo em meu quarto, nós
dormíamos abraçados. E foi assim por
um tempo, por todos os dias em que
estive aqui... Depois do nosso beijo, as
coisas mudaram... Kailan mudou. Eu
nem sei por que me irritava tanto quando
éramos pequenos, ele só vivia no meu
pé... Uma criança que só vivia no meu
pé. Nós brigávamos, eu brigava já que
Kailan não dizia uma palavra sequer, ele
só me olhava com a aquela cara de
cachorro abandonado e isso me irritava
ainda mais. Quando eu fui embora para a
matilha de meu pai, lembro-me de seu
olhar sobre o meu, isso gelou o meu
coração e em casa, na minha nova casa,
eu sentia a falta dele... Até o dia que
voltei para visitar, Kailan já falava, isso
significa que ele passou a responder as
minhas afrontas, na verdade, ele passou
a iniciar as nossas brigas e foi assim
desde então.
-Quando a lua e o sol se
encontrarem... – ele diz olhando para o
eclipse que se formava lá fora, um
eclipse que trazia uma escuridão que eu
jamais havia visto.
-Dois lobos, sol e lua... Será que
eles estão se encontrando agora? –
pergunto ainda olhando para o lado de
fora.
-Pode apostar que sim. Bia...
Sabe o que virá depois? – ele me
pergunta e sei que Kailan está
preocupado, sempre soube dos
sentimentos dele, o pirralho pode ser
uma caixa de surpresas para qualquer
outro, não para mim. Para mim ele é
transparente como uma água limpa.
-Guerra. – Respondo.
-Eu só queria te tirar daqui. – ele
diz e sinto seus lábios no topo da minha
cabeça. Nego com a cabeça fazendo
meus cabelos sacudirem de um lado ao
outro, viro-me para ele e me apoio na
janela. Kailan não se move, agora sei
que ele está um pouco curvado para
ficar da minha altura, agora eu posso ver
seu olhar com um desespero cru. Seus
olhos... Eles nunca mentiram para mim.
Acho que por isso eu e Kailan brigamos
tanto e continuarmos bem, eu posso
enxergar em seus olhos a verdade atrás
de cada palavra errada que sai de sua
boca.
-Nós estaremos juntos Kailan, guerra ou
paz. Meu lugar é aqui assim como o seu
também o é, nós estamos prontos e
iremos sobreviver a isso.
Ele me olha por tempo demais,
sério demais. Então sai de perto e eu
sinto como se tivesse espaço demais ao
meu redor porque ele não está mais
aqui... Foi isso o que senti quando me
mudei, espaço demais, espaço demais
que não era preenchido por ele.
Ouço um barulho e vejo Kailan
deitar em minha cama, ele está sem
camisa, com um braço dobrado embaixo
de sua cabeça e com o outro estirado no
espaço que sobrou de minha cama. Eu
caminho até ele, Kailan faz o que eu
fazia quando ele ia para a minha cama
sorrateiramente, ele olha para o outro
lado e finge que não se importa. Mas
quando eu deito ao seu lado, ele me
abraça... Lembro de quando éramos
criança, de quando ele era menor que eu,
Kailan costumava ficar com seu ouvido
acima do meu peito, ouvindo as batidas
do meu coração, então dormia como um
bebê. Agora eu deito em seu peito e
ouço o seu coração bater. Próximo ao
seu abdômen e misturado a tantos outros
desenhos, vejo uma rosa amarela...
Lembro-me de quando isso aconteceu,
foi a primeira rosa do jardim de Noah,
Kailan a arrancou e seu pai ficou muito
irritado com ele, o que meu tio não sabia
era que Kailan me deu aquela flor... A
mesma flor que risco o contorno que
marca sua pele.
-Fica quieta, pestinha. – ele me
repreende e eu sorrio o abraçando pela
cintura, amanhã poderemos estar mortos,
amanhã poderemos não ter um lugar para
viver, poderá não existir um amanhã.
Mas eu fecho meus olhos ouvindo as
batidas do coração dele e durmo,
enquanto eu estiver com ele tem que
haver um amanhã...

Sarah

Senti novamente, seu cheiro...


Especiarias, algo rico e antigo...
E novamente era como se eu
estivesse presa em meu próprio corpo.
Então algo mudou, algo diferente
dos outros sonhos que tive com ele, eu o
vi. Não todo ele, não conseguia
reconhecer seu rosto... Vi sua calça de
alfaiataria, seu terno bem cortado e sua
blusa com alguns botões abertos.
-Eu não vou poder cuidar de
você criança – sua voz é rica e só ao
ouvi-la, um gemido involuntário sai de
minha boca, o que diabos está
acontecendo com os meus hormônios?
-Mas bem... Eu deveria te matar.
Então se morrer sozinha hoje, digamos
que foi obra do destino.
Ele começa a andar para longe
de mim, eu queria abrir minha boca e
dizer para que ele ficasse, que eu só
queria tê-lo por perto um pouco mais,
mas não consigo me mover e nem dizer
nada. Então ele para, como se tivesse
tentando tomar uma decisão, ele para,
vira e olha para mim.
O meu captor ou salvador, não
sei bem ainda, caminha novamente em
direção a mim.
-Isso vai doer. – consigo ver sua
boca agora, presas imensas surgem do
seu canino e de seu sorriso perfeito, um
vampiro... Meu coração acelera, ele vai
me morder.
O homem ergue seu próprio
pulso e rasga a pele dali, depois o
direciona para mim... Não posso fazer
nada, não posso me mexer quando sinto
seu sangue espesso descer por minha
garganta. Ele fica lá por quase um
minuto, eu bebo o seu sangue por quase
um minuto.
Então assim como chegou, ele se
foi. Quando estava quase
desaparecendo, pude ouvir sua voz ao
longe dizer: porque eu me preocupo?
Tomo uma imensa respiração e
ergo meu tronco da minha cama, estou
ofegando... Ainda sinto seu cheiro, ainda
sinto o gosto de seu sangue em minha
boca, isso não pode ter sido um sonho,
certo?
Ergo-me e percebo minhas mãos
tremerem e quando me olho ao espelho,
minha boca está suja de sangue, o sangue
dele. Olho para o lado de fora, há um
eclipse no céu e a escuridão... Mas
também há uma escuridão aqui dentro.
Agora sei que ele é real, um vampiro
capaz de me imobilizar em sonhos,
capaz de me machucar em sonho, capaz
de me transformar em uma idiota...
Porque tudo o que eu pensava era em
lamber o seu peito para descobrir se o
seu gosto era tão bom quanto o cheiro.
Isso não pode continuar.
Olho para baixo, meu tio me
disse que a pedra que me deu captava
quando havia perigo a minha vida, por
isso ela brilhou com Alan no colégio,
mas agora a pedra está normal e
apagada, pedra idiota.

Ian

Não faz muito tempo que tive


uma conversa com Alec, ele veio até
mim conversando sobre o tempo
passado, falando sobre coisas que
fazíamos, tentando me lembrar a pessoa
que era... Esse Ian está morto, foi tudo o
que disse a ele e Alec saiu sem me dizer
mais nenhuma palavra.
Agora estou na floresta, sei que a
profecia irá se cumprir... Lua e Noah,
lua e o sol, finalmente juntos.
O amor desses dois que
ultrapassou eras, ultrapassou mundos...
Coisas que eu pensei que jamais
poderiam existir. Se existe algo como
esses dois, me faz pensar onde Priscila
está neste momento... Em qual dos
mundos minha ruivinha estaria agora?
Ainda seria ela? Ainda teria aquele
sorriso encantador e jeito doce?
Sinto algo molhado escorrer pelo meu
rosto.
-Você não deveria ter morrido
ruivinha, eu sou um fodido de um
bastardo por ter permitido que algo
assim te acontecesse... Quando Lua me
deu uma chance de viver, o fiz por
Sarah... Mas também achei que seria
fácil demais morrer, que não seria
punição o suficiente por não ter te
protegido... Então eu vivi, fiz da vida a
minha prisão, fiz das minhas memórias o
meu carrasco, a lembrança do seu
sorriso foi o chicote que cortava minha
pele já em carne viva e eu sei... Sei que
mereço toda a dor. Essa é minha
punição: viver em um mundo sem você.
– Digo em voz alta mesmo que não tenha
ninguém aqui para me ouvir.
Eu só posso estar ficando louco,
porque agora, porque agora essa maldita
saudade me corrói novamente por
dentro?
Um vento passa por mim e eu
fecho meus olhos, sinto seu cheiro, sinto
seu cabelo imenso roçar em meu braço...
Mas dessa vez eu não tento toca-la,
porque sei que encontrarei o vazio,
dessa vez, eu abraço a minha loucura.
Só fico parado, sentindo seu cheiro, e se
eu me concentrar e ficar quieto, talvez
possa sentir seu toque novamente.

Ravi

Depois de nosso breve incidente


em que quase atacamos o mais novo
irmão de Lua e percebendo que Noah
havia voltado a ser ele: de quatro por
sua companheira. Resolvi carregar Sofia
para minha casa, o que não foi nada
fácil, eu jurei para ela de pé junto que
não iria avançar sinal em relação a
nada.
-Nada de saliências, Ravi,
promete? – ela me olhou com uma cara
séria.
-Olha para mim Sô, eu sou um
santo! – digo segurando ao máximo para
não rir. Não sei o que ela viu em minha
cara, mas cá estávamos nós a caminho
de minha casa.
Entro em casa e agradeço
mentalmente por Bia estar dormindo em
seu antigo quarto na casa de Noah.
-Senta Sô. – digo e ela senta
olhando ao redor, minha sala tem um
sofá grande e confortável, daqueles que
sentamos e quase somos afundados, há
uma tela gigante em frente ao sofá e não
há muito mais que isso.
Sento-me ao lado dela, me
aproximo de Sofia e a vejo engolir
saliva, ela está nervosa com minha
aproximação, não paro... Continuo até
que esteja quase tocando em seus lábios.
-Ravi... Você disse que...- ela
gagueja e a vejo olhar para minha boca,
seguro tudo em mim para não beijá-la,
mas prefiro não perder a piada e quero
deixa-la confortável.
Pego os controles que estavam
em uma mesinha atrás dela e me afasto
um pouco.
-Calma Sofia... Assim me faz
acreditar que você quase quer ir comigo
para o quarto e brincar de outras
coisas...- ela fica vermelha com minha
frase- toma.- dou um controle para ela
que me olha de modo interrogativo. –
você nunca jogou? – ela nega com a
cabeça – Agora isso é uma questão de
honra.
Digo e ligo meu videogame
colocando o jogo ‘Wii Sports’, na
verdade eu tenho esse jogo só por causa
de Bia que adorava apostar comigo em
competições. Ensino os comandos para
Sofia e ela logo pega o jeito, passamos
horas assim intercalando entre jogos.
Sofia era competitiva, seus olhos
brilhavam sempre que estava prestes a
vencer e quando o fazia me olhava com
um sorriso insolente que eu aprendi a
amar.
-Que tal um novo jogo? –
pergunto.
-Já estamos jogando, Ravi. – ela
me responde e eu sorrio.
-Um jogo dentro do jogo... O
vencedor da partida faz uma pergunta ao
outro que é obrigado a responder a
verdade. – ela sorri, só um leve sorriso
e acena com a cabeça.
Claro que eu não deixaria Sofia
vencer a primeira, ela me olha em
expectativa aguardando minha pergunta.
-Sôfi... você me deseja? – seu olhar
escurece um pouco e ela não desgruda
os olhos dos meus.
-Sim...
-Ok, próxima partida.- digo
sorrindo, isso será divertido.
Deixo-a vencer, é claro que
nunca perderia para Sofia se não
quisesse, ela acabou de aprender a jogar
e não tem pratica, mas eu quero saber se
ela vai entrar de cabeça em minha
brincadeira ou vai fugir...
-Ham... O que você faria se eu
deixasse meu cheiro livre? – ela
pergunta com um sorriso em seus lábios
e me olhando com a cara mais sacana
que eu já vi, santos céus, a mulher gosta
de brincar também.
Me aproximo dela, estou quase
em cima de Sofia quando respondo.
-Eu iria rasgar toda a roupa que
cobre esse lindo corpo, depois iria
descobrir cada canto de você, Sofi... Iria
te fazer dizer meu nome de uma forma
que ainda não disse... Porque você não
desfaz a maldita magia que faz com que
esconda seu cheiro e descobre por si
mesma o que aconteceria?
Sinto uma mudança brusca em
seu cheiro, sua excitação faz com que a
minha aumente mil vezes mais. Ela sorri
e com um dedo em meu peito me
empurra para o meu lugar.
Claro que não a deixo vencer
dessa vez...
-Qual parte de mim que você
mais gosta? – pergunto quando venço.
-Tudo. Tudo em você me deixa...
Aproveito que Sofia está
pensativa e a prendo embaixo de meu
corpo no sofá.
-Excitada? Molhada?
Bem...feliz? – Complemento seu
pensamento e ela passa a língua em seus
lábios.
-Sôfi, Sôfi....- junto nossos
corpos e pressiono nossas partes
inferiores, quero que ela saiba o que me
causa...- Diga baby...- desço meu rosto
em seu pescoço e sussurro em seu
ouvido- você está assim por mim?
Ela geme, um gemido quase
involuntário e a sinto se mover embaixo
de mim, pedindo por mais mesmo que
não use palavras.
-Responda, Sôfi...- a pressiono
um pouco mais e ela responde em um
sussurro que mais parece com um mais
novo gemido.
-Sim...
Agradeço mentalmente por ela
estar inibindo seu cheiro ou não teria
forças para brincar com Sôfi... Eu
estaria a montando. E eu quero os jogos
com ela, definitivamente sim.
-O que está fazendo? – ela
questiona quando enrolo minhas mãos
em sua blusa e começo a ergue-la.
-Novo jogo.- digo e continuo a
erguer sua camisa- eu gosto do modo
que me olha quando pensa que não estou
vendo. – digo e ela suspende os braços.
Sofia está com uma lingerie negra, se
controle Ravi...
Afasto nossos corpos um pouco
para tirar sua calça, a desabotoo...
-Eu gosto da forma como diz
meu nome, mesmo que seja para
reclamar... Principalmente assim... Acho
que essa é minha forma preferida, você
com raiva dizendo o meu nome...- desço
a calça em suas pernas- ainda, apostaria
minha vida que a forma preferida será
quando estiver te dando todo o prazer
que eu possa...
Vejo-a só com roupas intimas em
minha frente e sento-me em meu lugar no
sofá, minha respiração vem em
baforadas.
Sofia senta em meu colo e segura
a barra de minha blusa, olho no fundo de
seus olhos, porra... Pensei que fosse
capaz de me segurar... Aperto o estofado
do sofá com minhas mãos porque
definitivamente se colocar minhas mãos
sobre ela esse jogo vai acabar e bem
rápido.
-Gosto da forma com que você sempre
está ao meu redor, sempre atencioso,
sempre presente... – ela diz enquanto tira
minha camisa pela cabeça. Pensei que
Sofia não fosse fazer isso, mas lá estão
suas mãozinhas no cós da minha calça.
-Amo o fato de você sempre
proteger aqueles que ama... Eu vejo
Ravi... Você sempre cuidando de todos
mesmo que eles não percebam, e eu amo
isso em você.
Fico só com minha boxer preta e
ela se senta novamente onde estava, eu
tenho certeza que já destruí meu sofá
quando Sofia toca em minha boca com
seus dedos.
-Eu amo o modo como você
sorri, amo o modo como você me faz
sorrir, Ravi... – ela se aproxima de
minha boca e nossas respirações se
misturam – eu amo sorrir para você. –
ela diz e morde meu lábio.
Um rosnar misturado com um
gemido foge de mim.
-Eu juro que sou um homem de
palavra, mas você está tornando isso em
algo realmente difícil.
Levanto-me do sofá com ela
ainda sentada em cima de mim, me
rodeando com suas pernas.
-Onde estamos indo? – ela
pergunta .
-Para o meu quarto, novo jogo. –
digo com um sorriso. Sofia o retribui,
percebo que ela não liberou sua magia, e
aceito isso. Aceito o fato de ela ainda
não estar pronta para se unir a mim
como um casal de verdade, por sorte
existem jogos o suficiente para dar
prazer a ambos.
Deito-a em minha cama, mas a próxima
pergunta que ela me faz me pega
completamente desprevenido.
-Você disse que fugiu como eu...
Por quê?- suspiro, não gosto de falar
sobre isso, mas mesmo assim a puxo
para o meu colo e conto-lhe o que
aconteceu.
-Quando os nossos pais
morreram, os meus, de Noah e Leandro,
nós nos unimos por... vingança. Eu
sempre me distingui muito dos meus
amigos por ser frio, calculista... Mas
também eu era o lobo mais rápido que
existia. Você não iria querer me ver em
uma guerra, era um completo banho de
sangue. E quando conseguimos matar
todos dos responsáveis pela morte dos
nossos pais, eu não parei. Era como se
aquela raiva nunca saísse de mim, então
fugi para longe dos meus amigos, eu
fiquei muito tempo sozinho lidando com
meus próprios demônios. Um dia Noah
me encontrou e me trouxe de volta, eu
disse para ele que voltaria com uma
condição, que ele não me colocasse na
linha de frente de qualquer batalha, eu
ficaria na matilha, mas seria um
fantasma. E desde então eu venho me
escondendo atrás das minhas câmeras de
segurança e tecnologia, eu não gosto do
monstro que há em mim, sei o que
acontece quando ele é alimentado...
Sofia me beija calmamente
quando eu digo minha ultima palavra,
como se estivesse agradecendo pela
minha sinceridade. A coloco para baixo
de mim.
-Minha vez!
Digo enquanto desço com a
minha boca para um dos seus seios e
massageio o outro com as mãos.
-Ravi... você não perguntou
nada...- ela diz com a respiração
falhando e eu sorrio.
-Jura? Tenho quase certeza que
perguntei e você ainda não respondeu.
Continuo com meu percurso por
entre o seu corpo, quando chego em sua
barriga Sofia ergue um pouco sua
cintura, me pedindo com seu corpo o
que nem ela mesma sabe... Desço até sua
calcinha e a ouço dizer meu nome uma e
outra vez, Sofia é doce e apertada, meu
corpo lateja com a perspectiva em tê-la
inteiramente para mim, mas por
enquanto me contento com ela dizendo
meu nome e me entregando seu sabor.
-Eu sabia!- Digo enquanto a
encaro suada.- sabia que essa seria a
minha forma preferida de te ter dizendo
o meu nome!
Ela joga um travesseiro em mim
e sorri.
Disse que iria descobrir cada
canto de Sofia e foi isso o que fiz, não
pude sentir seu cheiro, o que deixou meu
lobo irritado, mas seu gosto compensou
por tudo, meu lobo quase ronronou ao
senti-la na ponta da língua. Sofia está
dormindo em meus braços, minha
pequena ninfa da água... E ela é perfeita.

Leandro

Minha loirinha gargalha saciada


enquanto se prende em meus braços e
nos coloco de volta em cima do colchão.
-Deixa só Luana saber que
estamos usando nossa magia para
criarmos mais posições para o kama
sutra.
Quando descobrimos que
poderíamos controlar o vento, logo uma
ideia me surgiu e bem... A gravidade não
era algo muito importante para nós dois.
-Tenho certeza que Luana ficará
morrendo de curiosidade para saber
sobre as novas páginas que
acrescentamos ao livro.
Ela sorri novamente e eu a
abraço, sentindo seu cheiro, seu toque...
Minha loirinha é minha vida.
-Acha que eles estão bem? – ela
me pergunta sobre Noah e Lua.
-Acredito que se não se
acertarem hoje, talvez nenhum de nós
tenhamos uma chance de sobreviver,
eles precisam se unir para que possamos
enfrentar essa guerra.
Não dizemos mais nada, acredito
que ambos estávamos fazendo nossas
orações para que nossos amigos não
sejam tão cabeças dura e se acertem de
uma vez.

Luana

Sei que estou sendo perseguida,


nem eu nem minha loba nos importamos
com isso. Quando o cheiro dele se
aproxima, nós sentimos um misto de
ódio e desejo e paramos de correr, eu e
ela queremos o enfrentamento, a batalha,
a luta... Nós queremos tirar esse
sentimento que nos sufoca e não nos
importamos com as consequências, não
mais.
Noah está em forma de lobo,
seus passos são vagarosos e medidos,
um a um ele percorre cada centímetro
até chegar a mim. Eu estou rosnando,
minha cabeça está abaixada o que pode
ser considerado submissão, mas estou
rosnando, pronta para atacar a qualquer
segundo. Paro toda a minha linha de
raciocínio, ou a falta dela já que estava
prestes a pular em seu pescoço e mata-
lo, e vejo quando Noah deita no chão e
rasteja seus últimos passos até chegar a
mim, submisso...
Então ele se transforma de volta,
Noah, nu em minha frente. Ajoelhado ele
olha dentro dos olhos da minha loba.
-Me desculpa Lua... Tenho
certeza que essas três palavras nunca
serão o suficiente, mas já é um começo,
eu espero... Eu passei muito tempo sem
entender, entender a mim mesmo... E
quando você chegou... Eu não queria
ceder espaço para você em minha vida,
porque estava tão acostumado a brigar
comigo mesmo, você sabe o que é isso,
certo? Briana também esteve dentro de
você como se fosse outra
personalidade... Você também demorou
para se reconhecer nela, para aceita-la
como parte sua... Mas eu lutei, eu estive
lutando com Kanut desde que me
entendo por gente. E não quero
transformar isso em uma desculpa por
tudo o que aconteceu, sinto muito, mas
acho que estou usando as palavras
erradas aqui.
Ele para um pouco, respira.
-Eu te amo.... e se isso não for
suficiente para você, Lua... Eu não sei o
que seria. Você me entende? Agora eu
sei o que minha mãe quis dizer com:
você encontrará alguém que irá destruir
seu mundo e irá ama-la. Agora eu
entendo... Você destruiu meu mundo,
você o demoliu peça por peça, parede
por parede, e quando eu não tinha mais
nada, nem um chão para pisar sob os
meus pés, eu entendi que o meu mundo
era você. Você é o chão que me sustenta,
o ar que eu respiro, é você que alimenta
meu corpo e alma. E eu... Só quero uma
chance para te provar que eu também
posso ser o seu mundo.
Então Noah faz algo que eu
jamais pensei que fosse vê-lo fazer. Ele
ainda ajoelhado e em minha frente,
expõe seu pescoço para mim... Isso é o
que um lobo faz quando está em
julgamento, quando se diz indigno a algo
e deseja o perdão de seu alfa. Então ele
espera...

Noah

Sinto o seu hálito em meu


pescoço quando o exponho para ela, Lua
me morde ali, sinto meu sangue escorrer
pelo meu peito... Recebo seu
julgamento, sua punição... Não fiz isso
pelo perdão de Lua, e sim porque quero
que ela volte a me amar, e para isso o
primeiro passo é ter orgulho daquilo que
sou. Esse é o nosso costume, o costume
da Pride que eu tanto lutei para
construir.
Ela se afasta de mim e sinto o
meu pescoço queimar onde ela me
mordeu, não foi algo pequeno, a
mordida de Lua foi feia e imensa. Meu
sangue pinga de sua boca, ela ainda está
em forma de loba...
-Lua... Eu preciso que volte,
preciso conversar com você.
Ela rosna em resposta, garota
teimosa...
Eu juro que tentei pelo jeito de
Kanut...
-O que? Está com medo de que
se voltar ao seu corpo humano cometa
algo que vá se arrepender? Desde
quando se transformou em uma covarde,
Lua?! O que você vai fazer, correr para
o seu amiguinho?! Tenho certeza que Ian
adorou esquentar sua cama por todo esse
tempo!
Ouço um último rosnar e vejo
uma luz iluminar minha imensa loba
caramelo, então Lua aparece em minha
frente, nua... E a visão dela me deixa tão
débil que não percebo sua mão vindo em
direção ao meu rosto. Viro-o para o lado
com a força de seu tapa.
Sinto sangue em minha boca, mas
mesmo assim estou sorrindo.
-VOCÊ É UM IDIOTA! O
MAIOR DOS IDIOTAS! ODEIO VOCÊ,
ODEIO O FATO DE ESTAR AQUI
AGORA! ODEIO QUE TENHA
ESTADO COM OUTRAS PESSOAS
ENQUANTO EU NÃO ESTIVE AQUI!
ODEIO SENTIR O CHEIRO DE LÍDIA
EM SUA CASA! ODEIO TER
SOFRIDO POR VOCÊ, ODEIO TER
CHORADO POR VOCÊ, ODEIO
CADA SEGUNDO QUE SENTI SUA
FALTA! ODEIO CADA SONHO QUE
TIVE COM VOCÊ, CADA
EXPECTATIVA EM TE ENCONTRAR
NOVAMENTE, EU TE ODEIO! E EU
ME ODEIO PORQUE TE AMEI EM
CADA PORRA DE SEGUNDO EM
QUE NÃO ESTIVE AO SEU LADO!
-Lua eu sei que...-mas ela me
interrompe.
-SABE?! O QUE VOCÊ SABE?
SABE O QUE É DESEJAR TANTO
VOLTAR PARA CASA QUE CHEGA A
SENTIR O CHEIRO DA TERRA, O
CHEIRO DE CADA ÁRVORE... VOCÊ
SABE O QUE É SONHAR POR TODA
NOITE COM ISSO? VOCÊ SABE O
QUE É FINALMENTE VOLTAR,
CANSADA E QUEBRADA E
PERCEBER QUE VOCÊ É SÓ UMA
ESTRANHA DENTRO DE SEU
PRÓPRIO LAR?!
-Eu sei Lua, e sabe como eu sei
disso?! Porque quando você foi embora
foi assim que eu me senti! A porra de um
estranho dentro de minha própria casa!
Ela respira, eu respiro...
Estamos nos encarando agora, duas
pessoas machucadas e magoadas demais
e eu me pergunto se vai ser assim, esse
será o nosso fim?
Eu não posso perder você....

Luana

-Eu odeio saber que decepcionei


você Luana... Mas eu estou agora aqui,
te pedindo perdão e me diga que não é
capaz de me perdoar, tudo bem, só não
ouse me dizer que não é capaz de me dar
mais uma chance. Eu me recuso a
acreditar que você possa ser capaz de
desistir de mim, de nós, eu não sou
perfeito, Lua...
Sinto o toque de Noah em meu
rosto e dessa vez não me afasto, o cheiro
de seu sangue impregna todo o lugar...
Enquanto o machucava, algo dentro de
mim também sangrava, mas eu precisava
fazer isso... Não por vingança, esse era
o código e o que seriamos sem ele?
-Nós ainda estamos aqui Lua,
vivos... Depois de tudo pelo o qual
passamos, depois de séculos, nós
estamos aqui vivos... Para sempre, foi
isso o que você me prometeu, lembra? –
ele estava me falando sobre uma
memória de Briana e Kanut, quando ela
morreu por ele, ela disse: Para sempre e
sempre.
-Porra Lua...- ele roça sua
bochecha na minha- algumas pessoas
esperam o amor cair em suas cabeças
como um pingo de chuva, nós lutamos
pelo nosso, nós morremos e vivemos
pelo nosso. Nunca, jamais duvide disso,
se for preciso que eu lute por mais um
século para te ter por só mais um
segundo, será exatamente isso o que
farei.
-Diga que está bem para me
amar- seu sussurro me causa calafrios,
Noah está com a boca em minha orelha-
diga que está tudo bem...
-Cinco segundos? – pergunto
lembrando da nossa primeira vez,
quando ele me disse que eu teria cinco
segundos para o renegar, mas quando
abri minha boca para falar algo, ele me
beijou.
Noah não espera mais nenhuma
palavra minha, ele me beija. Primeiro
com urgência e desespero, depois com
calma, quase devoção... Ele me
impulsiona para me agarrar ao seu corpo
e me deita no chão... Senti tanta falta
dele, de seu sabor, de seu toque...
Deitado acima de mim, nossas
marcas de companheiros brilham,
vermelho e azul.
-Lua, você terá cinco segundos
para me renegar, para me dizer que devo
parar, se não o fizer, depois disso você
será minha para sempre. – ele repete
quase as mesmas palavras que disse há
quase 18 anos atrás.
Viro-me e ponho o corpo de
Noah para baixo, isso o pega de
surpresa, mas vejo um sorriso dançar em
seus lábios.
Meu cabelo está todo para um
lado e eu desço minha boca até seu
pescoço.
-Você tem cinco segundos para
desistir Noah, depois disso você será
meu. – ele rosna e enfia suas garras na
terra que está abaixo de seu corpo
quando eu começo a lamber o sangue da
ferida que eu mesma causei em seu
pescoço... Noah quase ronrona como um
gatinho com esse contato. Seu
machucado começa a curar com minha
saliva- certeza Noah... Nem uma
palavra? – sussurro em seu ouvido e ele
rosna e segura em minha cintura de
modo possessivo.
Quando o último rasgo que meus
dentes causaram em sua pele sensível do
pescoço está prestes a se curar, eu finco
minha unha ali. Ele geme um pouco com
a dor e me olha.
-Nunca, jamais me machuque
novamente. Isso é um novo inicio Noah.
Mas antes disso, teremos que lutar para
ter um local para voltar. Eu e você
lutamos por isso, não deixaremos que
nada nos impeça de finalmente estarmos
juntos, nem minha família, nem as
trevas, nem a porra do apocalipse, você
me entende? Seja forte por mim que eu
serei forte por você.
-Lua... Eu te aceito como minha,
assim como no passado, hoje e por toda
a eternidade. – ele diz e solto seu
pescoço permitindo que sua ferida se
cure.
Esfrego meu corpo no dele, o
que tira um gemido de Noah, falo com
meus lábios colados em sua orelha.
-Eu te aceito como meu, assim
como no passado, hoje e por toda a
eternidade.
Quando as palavras saem de
minha boca, nossas marcas se misturam,
vermelho e azul... É como se uma
energia viva passasse do meu corpo
para o corpo de Noah e vice versa.
-Me monte, companheira. - ouço
sua voz que me tira da fascinação de
nossas marcas.
Estou em cima de Noah e ele não
se move... Dessa vez é completamente
diferente da nossa primeira vez, claro
que o chão sujo da floresta é quase
igual, mas dessa vez, sou eu quem
escolho. Eu quem dito o ritmo, eu quem
detenho o poder, me apoio em seu peito
quando começo a me mover... Noah me
olha com devoção, com um amor que eu
jamais pensei ser possível viver...
Nessa noite nós nos amamos, não
éramos mais dois garotos indecisos e
cheios de possessividades. Nós somos
adultos que sabem exatamente que
precisam um do outro e que finalmente
aprenderam a respeitar isso, respeitar a
individualidade de cada um. Antes eu
odiava os defeitos de Noah, agora amo
até mesmo isso, porque é isso o que ele
é, um misto de defeitos e qualidades e
eu descobri nesse tempo que não existe
amor pela metade, não existe amar pela
metade. Ou se ama um todo, ou nem é
preciso tentar amar parte.
Suados e ofegantes, ele me vira
para olhar o céu, onde o eclipse mais
lindo que eu já vi estava acontecendo. A
lua estava negra, suas bordas
intercalavam em uma energia azul e
vermelha e eu me senti completa,
finalmente, me senti inteira novamente.
Passado e presente
Passado

Donar e Efor viram sua irmã


crescer e tão facilmente manejar a
magia. Briana não fazia esforço, ela
não se empenhava, e ambos sabiam que
sua irmã havia nascido com o poder, e
a magia para ela era tão natural
quanto abrir os olhos a cada manhã.
Enquanto os irmãos treinavam
por até duas semanas para
conseguirem executar a magia que seus
pais os haviam ensinado, Briana
preferia correr e brincar com seu
irmão mais novo, Loki. Mas quando
finalmente o dia de executar a magia
diante dos seus pais chegava, era ela,
Briana, a que sempre se saia melhor.
Foi assim que tudo começou,
com uma pequena raiva e um pouco de
ciúme que foi crescendo ao decorrer do
tempo. Antes mesmo de Donar e Efor
fazerem sua primeira magia negra, eles
já estavam repletos de escuridão dentro
de si. O mal, assim como o bem, é uma
semente que todos têm dentro de si, se
regada ela irá vingar e crescer. Mas a
semente do mal, diferente da do bem,
não cresce como uma árvore saudável
que dá frutos e alimenta, ao contrário,
ela cresce como uma trepadeira que
toma cada espaço dentro de seu ser, e
enquanto o bem alimenta, o mal só
deseja ser alimentado, ele corrói e
sempre irá exigir mais. E quando se
alimentar de tudo o que há no
individuo, ele desejará se expandir e
fazer o mal ao próximo, espalhando
assim sua semente.
Com os irmãos Donar e Efor
não foi diferente, o ciúme bobo de
criança que sentiam por sua irmã
menor escureceu os seus corações e
enegreceu suas almas. E quando ambos
já estavam tomados por ele, foi aí que
se perderam completamente, foi aí que
fizeram sua primeira real magia negra.
Eles já eram rapazes feitos
quando resolveram questionar os seus
pais sobre o próximo líder da linhagem
do clã. Disseram que Briana jamais
teria o sangue e o pulso suficiente para
liderar, mas seus pais só os olharam
com pena.
Vendo que seus pais estavam
irredutíveis diante da escolha do líder,
os irmãos passaram também a odiar os
próprios pais. A curiosidade com o
lado sombrio aumentou dia após dia, e
eles perceberam que a magia negra era
muito mais simples e mais poderosa do
que a magia de seu clã. Desejando
adquirir o poder de ambos os pais, eles
mesmos criaram uma magia capaz de
roubar o poder que há no sangue de um
ser mágico. Só que para fazer essa
transfusão, seria necessário tirar da
vitima aquilo que ela mais amava. Eles
passaram muito tempo estudando sobre
a magia branca e descobriram que todo
o poder que há nela provém muitas
vezes da força de vontade, da
esperança e fé, retirando algo da
pessoa que a use, algo que consiga
destruí-la internamente, o caminho
ficaria livre para que pudessem fazer a
transfusão de magia.
Querendo testar sua nova magia
e descobrindo as pessoas perfeitas
para isso, os irmãos em um certo dia
conseguiram levar seus pais até uma
cabana longínqua onde eles treinavam
a magia negra. Amarrados e de frente
um para o outro, o casal sofreu nas
mãos de seus próprios filhos.
Os irmãos machucaram e
feriram sua própria mãe até a morte
com o intuito de roubar a magia do pai.
Perceberam que o espirito do pai havia
se quebrado ao presenciar a esposa
morrer de forma tão cruel, mas mesmo
assim, ele ainda continuava firme. E
sabendo que não poderiam deixar o pai
com vida, o mataram rapidamente.
Os irmãos não sabiam em que
local tinham errado na magia, até ver
Briana e perceber que o coração do pai
não estava completamente com sua
esposa, parte dele era de sua filha.
Eles esperaram, aguardaram,
até o amor entre Briana e Loki
aumentar e florescer. Então, revisando
sua magia, perceberam que há mais
formas de se perder algo importante
sem ser através da morte. Afinal, não
desejavam o mal do irmão mais novo, o
menino Loki não era nenhuma ameaça
para ambos. Então eles um dia
arrancaram a alma de Loki do corpo,
foi um processo doloroso e cruel, os
irmãos pensavam em manter a alma do
irmão trancada e depois devolve-la a
um corpo qualquer, isso para eles era
considerado piedade e misericórdia.
Com o corpo do menino vazio
como uma casca, eles desferiram
golpes para que parecesse que Loki
havia sido assassinado. Briana vendo o
irmão nessa situação, ficou
desesperada. Mas mesmo assim a
magia de Efor e Donar não funcionou.
Usando um erro da irmã, eles a
expulsaram do grande clã como uma
pária e finalmente puderam liderar seu
povo.
Donar e Efor transformaram o
que restou do clã Aesir no primeiro clã
sombrio a caminhar sobre a terra e
mesmo assim, ainda não era o
suficiente para os irmãos. Eles se
achavam injustiçados por parte do
poder que seria deles por direito
residir e permanecer com Briana.
Curiosos sobre como sua irmã
seguia com sua vida eles resolveram a
caçar por todo o canto da terra.
Encontraram Briana feliz e ao lado de
um povo formado por guerreiros, mas o
que mais lhes chamou a atenção, foi a
imensa magia que pulsava em cada um
deles, magia essa que diziam pertencer
a si. Perceberam também a forma que
sua irmã e o guerreiro maior se
tratavam, eles nitidamente se amavam.
O plano deles de roubar o poder
que há no sangue de Briana se
ascendeu novamente. Para isso eles
deveriam tirar aquilo que sua irmã
mais amava, esse seria o primeiro
passo da magia, trincar a alma de sua
irmã para que as sombras pudessem
entrar. Fator importante dessa magia
era que Briana não poderia morrer
antes de ocorrer essa transfusão de
magia ou seu poder se perderia junto a
sua morte.
Então eles atingiram o
guerreiro Kanut com seu poder letal ,
deixaram que Briana visse seu amor
definhar em sua frente sem nada poder
fazer. Quando continuaram com a
magia de transfusão, ela finalmente
estava funcionando, eles estavam quase
concluindo quando em um momento o
poder se esvaiu e desvaneceu... Tão
perto... Contam as lendas que nos
quatro cantos da terra pôde-se ouvir o
urro de ódio dos irmãos sombrios
naquela noite. Os irmãos descobriram
depois que sua irmã menor havia
morrido, se sacrificado pelo guerreiro
e ambos agora estavam mortos, quanto
desperdício...
A única coisa que eles não
previram, foi que depois de matar
Briana e Kanut, o povo do guerreiro
iria caça-los, desejavam sangue e
justiça. A guerra foi constante, assim
como as mortes, o poder de ambos os
lados se igualavam, mas enquanto o
povo dos irmãos da sombra só podia
destruir, os lobos de Kanut eram
capazes de destruir e construir,
consolidando uma forte base e
crescendo em numero e
consequentemente em poder. Depois de
décadas de uma incansável guerra, os
lobos de Kanut conseguiram derrotar
os irmãos da sombra e trouxeram paz
novamente sobre a terra. Os
historiadores humanos escreveram
sobre essa época intitulada por eles de
‘peste negra’, onde um imenso número
de mortes ocorreu por uma praga, o
que não sabem é que toda a morte foi
decorrente da luta entre a magia da luz
e das trevas.

Dias atuais...
-Mestre eu sinto muito... –Lídia
se ajoelhou diante daquele que era único
para ela.
-Não quero desculpas, você
tinha uma missão e não a cumpriu! –
Efor gritou.
-Calma irmão... As coisas ainda
não se perderam. –Donar que olhava
para o horizonte, tentou acalmar seu
irmão.
-Nós tínhamos uma chance de
quebrar a união de nossa irmã com esse
lobo, eu preciso lhe lembrar que essa
era a única maneira de matar o lobo sem
matar Briana?!- Efor não era conhecido
por ser paciente e sim por sua maldade
em batalha.
-Desculpe interromper a
reuniãozinha- Loki entrou e encarou os
irmãos com um imenso sorriso no rosto-
Mas quem disse a vocês que o lobo é
quem reside no coração de nossa
irmãzinha?
-Estamos lhe escutando Loki,
diga.- Donar, mesmo que odiasse a
presença do irmão ali, aguardou por uma
resposta. Não confiava em Loki, sabia
de sua fama por sempre querer sair
ganhando em qualquer situação que seja,
o irmão não era um perigo no passado,
mas agora sim.
-Quem é o coração de Briana e
Kanut, Luana e Noah?- Loki diz fazendo
um gesto exagerado com as mãos.
-Fale logo seu inútil! – Efor
esbraveja.
-Briana e Kanut não tinham
filhos... Mas agora eles tem, uma filha
de sangue.- Loki conclui seu
pensamento.
-Acho que precisamos conhecer
a nossa sobrinha, irmão. – Donar diz
com um sorriso despontando-lhe na face.
-E a proteção deles?- Efor
questiona Lídia.
-Ruindo. A qualquer momento
seremos capazes de entrar- a moça
submissa lhe responde.
-Então, será guerra. – ambos os
irmãos sorriem, esperaram tanto tempo
por isso, tanto tempo para ter o poder...
Se conseguissem o poder de Briana
seriam deuses, eles comandariam os
mundos!
Olharam para o céu negro, o dia
estava quase amanhecendo e esse era o
trunfo deles, o sol não saiu... A lua negra
continuava no céu e assim como a lua
azul é o ápice do poder da magia
branca, o eclipse é o cume do poder da
magia negra.
Tempos de guerra
Kailan

Se fosse para escolher uma


última noite, uma última ocasião, seria
essa, com Bia em meus braços. Eu sabia
o que ela era para mim mesmo quando
ainda era só um menino, e eu não
entendia o porquê de Bia sempre me
afastar, eu só continuava correndo atrás
dela como um cãozinho. Nunca vou
esquecer o que senti quando Bia se
mudou do território de meu pai... Como
se um buraco estivesse sendo feito no
meio do meu coração. Eu não queria
entender que ela havia se mudado, que
ela estava viva e bem só que distante de
mim, porque tudo o que a minha mente
sabia era que eu havia a perdido e que
ninguém mais no mundo importava.
Eu e meu pai lutamos quase que
diariamente, foram os piores anos da
minha vida... Só vivia irritado, eu queria
briga e desafiar qualquer um que se
metesse em minha frente, eu queria punir
alguém por não poder ter ela comigo.
Meu pai teve paciência, e muita.
Eu sou essencialmente um garoto
problema e não ficou muito melhor com
o tempo, eu ficava mais em minha forma
de lobo do que humana e meu pai era
obrigado a me ferir seriamente para que
eu voltasse ao normal. Essa era a nossa
rotina: me transformava em lobo, ficava
assim por alguns dias, nós lutávamos, eu
perdia, ele me batia até desmaiar e me
levava para o meu quarto. Falei minha
primeira palavra com 12 anos, e só abri
minha boca porque ouvi uma conversa
de alguém da matilha sobre Ravi e Bia,
e adivinhem qual foi a minha primeira
palavra? Bia, foi o nome dela.
Nessa noite meu pai me contou
que eu era diferente e isso era algo que
eu teria que lidar. Ele me disse que nos
laboratórios me mudaram, me
transformaram em um ser diferente dos
outros lobos. Eu sou mais forte, mais
rápido, sou imune a prata e... Não tenho
cheiro. Ele também me contou que era
assim que os companheiros se
identificavam, através do cheiro. E foi
aí que eu descobri o que o meu coração
já sabia... Ela era minha, Bia, ela era
minha... Só que nunca iria saber que eu
pertenço a ela.
Depois de entender o que aquela
garota significava para mim, eu deixei
de ser tão revoltado. Comecei a estudar,
lutava bastante, mas também me
dedicava ao dia a dia da matilha. Eu
sabia que Bia não poderia me
reconhecer pelo cheiro, então eu quis
crescer por ela, para que ela não
precisasse do meu cheiro para me
querer, para que ela me reconhecesse de
outro modo.
Eu nunca me senti realmente em
casa, realmente aceito... Todos da
matilha tinham medo de mim, no fundo
todos sabiam que eu era diferente, e
quando finalmente encontrei Bia
novamente, eu só não queria estragar
tudo. Ela era a única que não tinha medo
de me irritar, a única que me enfrentava
e que nunca, jamais me olhou de modo
diferente, percebi que não poderia
perde-la, então eu a tive do meu jeito,
mesmo que ela não soubesse disso.
E com o tempo... Eu vi meu pai
sofrer por Lua e eu só... Não queria
passar por isso, não queria que ela
passasse por isso. Às vezes acho que
Bia me olha quando ninguém mais
percebe, às vezes acho que ela sorri
para mim, às vezes eu acho que ela me
ama tanto quanto eu sempre a amei.
Quando os lobos começaram a
treinar magia, eu me sobressaí e
acredito que isso também tenha algo a
ver com o que fizeram comigo nos
laboratórios. Não quero levantar da
cama, não quero sair daqui e ter que
enfrentar uma realidade louca, as coisas
poderiam ser simples ao menos uma
vez...
Olho para o lado de fora da
janela e percebo que a paisagem está
exatamente a mesma de quando eu e Bia
adormecemos, mas... O relógio está
marcando seis horas da manhã e lá fora
ainda está uma escuridão sem tamanho,
isso não pode ser um bom sinal...
Ergo-me e caminho devagar até a
janela, percebo que estamos cercados
por pessoas todas vestidas de preto, que
merda é essa? Lua e meu pai estão lá
embaixo de mãos dadas e com um
exército a sua frente. Um dos homens
vestidos de negro ergue sua mão e a
proteção começa a ceder... Isso não vai
durar muito tempo. Sinto o corpo de Bia
ao meu lado.
-Chegou a hora. – ela suspira.
Abraço a pirralha com força e respiro
seu cheiro que me enlouquece a cada
segundo.
-Não saia de perto de mim
pirralha, prometa. – digo. Ela ergue a
cabeça sorri e me puxa para si.
Nossos lábios se encontram e
não é um beijo casto, eu e Bia nos
beijamos com fome, desejo, saudade,
am...
Tão rápido quanto começa, ela
me empurra e pisca para mim.
-Para dar sorte, pirralho. – ela
diz enquanto dá as costas e vai embora e
eu, como sempre, corro atrás dela.

Luana

“Um dia se passou filha, um dia


em que muitos do seu povo já foram
mortos. Eles jamais voltarão, suas
energias se perderam e infelizmente
quando o mundo for restaurado,
nenhum deles irá voltar. Posso fazer
com que os humanos vivam novamente,
mas eles... Eles tiveram uma escolha,
você deu essa escolha a cada um e por
livre arbítrio decidiram seus destinos.
Vocês brigaram por livre arbítrio e
essa é uma das únicas coisas que não
posso interferir, vocês, mesmo que as
vezes não pareça, são donos dos seus
destinos. Sei que está com sua fé
abalada Briana, mas eu abri os portões
por um motivo... Não esqueça que eu
conheço esse mundo como a palma da
minha mão, cada grão de areia a cada
estrela no céu, como também conheço
cada um dos meus filhos, por pior que
eles possam parecer. Vim aqui te avisar
filha, daqui a um dia, exatas 24 horas,
fecharei os portões e tudo voltará a ser
normal novamente, pelo menos para os
humanos. Eu sei que a perda para o seu
povo será algo que jamais poderá ser
reparada. Então, não te abandonei com
uma missão que não pode cumprir, não
te abandonei com uma batalha que não
pode vencer e sim com uma luta que sei
que é capaz de suportar. Então suporte
por um dia.”

Ouço a voz em minha mente e


isso enche o meu peito de esperança. Só
há uma pessoa com as chaves do
primeiro plano, a pessoa que criou todos
os mundos, ou a maioria deles, e saber
que ele abriu os portões é como ter um
pai desistindo de você. Mas ele tem
planos, ele pode enxergar algo que eu
ainda não sou capaz, suportar por 24
horas? Eu preciso ser capaz de fazer
isso.
Antes mesmo de abrir os olhos
já sei que algo está errado. Penso em me
afastar de Noah para averiguar a
situação e ele já desperta, estamos
conectados, completamente agora e não
é preciso que eu diga nada para que ele
saiba exatamente o que sinto.
Nós dois nos levantamos e
caminhamos até a barreira de magia, do
outro lado podemos perceber centenas
de seres encapuzados e todos vestidos
de preto, era o clã negro... Segundo a
lenda, ao decorrer da história quando os
praticantes de magia negra morriam,
eles não se dissipavam na terra como
muitos usuários da magia branca, sua
essência era aprisionada em um
submundo para que assim sua energia
jamais impregnasse outro ser. Com o
tempo, eles se uniram e se
transformaram em uma imensa força,
tiveram anos para maturarem seu ódio
para com o mundo humano e os usuários
da magia de luz, e agora todos estão
livres.
Provavelmente todo outro
usuário da magia fora da proteção da
redoma que criamos está morto. Nós
somos os últimos sobreviventes da
linhagem da magia branca, e se
morrermos... A balança irá pender e o
mundo jamais será o mesmo, e é por
isso que não iremos. Eu me recuso a
morrer, não quando eu o tenho, não
quando finalmente pudemos nos
encontrar.
Noah segura minha mão
indicando que sentiu cada palavra minha
mesmo que não tenha aberto a boca para
dizê-las. Rapidamente outras pessoas
chegam: Alicia, Raquel e Leandro, Sofia
e Ravi, Ian, Alec e Manu, Bia e Kailan,
Loren e Sarah... O restante dos usuários
de magia logo chegam, assim como
todos os lobos que agora nos rodeiam.
Uma trinca aparece e depois outra...
Noah ergue sua mão e uma energia tão
vermelha e intensa quanto o sol sai dela
selando a rachadura da barreira. Briana
dividiu com Kanut sua magia e agora
que eu e Noah somos um de verdade, ele
também divide esse poder comigo, além
de possuir todas as lembranças de
Kanut, sem elas ele não saberia usar
magia e não teria tempo de ensina-lo.
Três figuras se sobressaem
diante da multidão e ficam exatamente a
minha frente, um arrepio passa por mim
quando eles abaixam os capuzes.
Efor
Donar
e...Loki.
-Oi irmãzinha.- Efor diz e sorri,
mas seus dentes são pontiagudos,
parecem-se com cerras.
-Irmã. –Donar diz de modo
educado, mas seu olhar transmite uma
maldade que eu jamais vi sobre a terra.
-O que Loki? Não vai dar oi
para sua irmã querida? – Donar diz- Ah,
esqueci, você já veio aqui para
averiguar o terreno... Como é Briana,
ser traída por seu irmão favorito?
Olho para Loki, ele está sorrindo
e seus olhos são frios como gelo.
-Não foi difícil, Briana sempre
teve um imenso coração.- Loki diz e
Noah aperta minha mão porque ele sabe
que a traição de Loki me atingiu.
-Saiam daqui, deixem a minha
família em paz! – minha voz sai forte,
uma força que eu nem pensei que tivesse
neste momento.
-Família? Nós somos a sua
família. E você está com todo o poder
da nossa família, nós somos três Briana,
deixe de ser egoísta.- Efor diz e consigo
ver seus olhos brilharem com ódio...
-Ainda não sei como vocês ainda
conseguem usar a magia mesmo com o
eclipse no céu. – ele tem razão, lembro-
me de quando o caçador perseguia
Briana e ela não conseguia usar seus
poderes porque a lua estava negra...
Olho para a lua que está negra, mas
ainda brilha com uma borda vermelha e
azul, olho para as minhas marcas que
espelham o mesmo brilho e percebo que
o eclipse não nos afeta mais, antes era
somente eu e a magia branca, hoje
somos eu e Noah e nosso misto entre luz
e trevas, nós conseguimos conquistar
nosso próprio equilíbrio e é por conta
disso que ainda conseguimos usar
magia.
É estranho ver meus três irmãos
aqui, o mais estranho é ver que me
odeiam e eu não sei como isso
aconteceu.
Os três colocam suas mãos na
barreira e aos poucos ela começa a
rachar.
Dou as costas para a cena e me
afasto, os bersekers tomam seu lugar na
frente de batalha, olho para meu filho e
para Bia e aceno para ambos que estão
juntos aos outros que possuem o mesmo
dom.
A segunda linha de defesa era
formada pelos mais velozes, aqueles que
controlavam a água e o vento. Passo por
Ian, Sofia, Leandro e Raquel.
A terceira base era formada
pelos que possuem mais poder de fogo,
eles não estão necessariamente juntos
nessa base e sim misturados ao decorrer
de toda a propriedade, consigo ver
Alec, Manu e Rick.
Estanco em meu lugar com Noah,
Ian, Loren e Sarah ao meu lado, todos
olhamos em direção a um ponto fixo.
Eles demoram quase seis horas
para derrubar a redoma, pouco tempo...
Nós teríamos que suportar essa guerra
por 24 horas, o que nos deixa com um
saldo de 18 horas de luta.
Esse momento seria bonito se
não fosse trágico, atrás e em frente a
mim cada lobo brilha com seu elemento,
com sua força... Assim como os usuários
de magia, e é como se estivéssemos
dentro de um arco-íris, nós como luz e
eles como trevas. E eu posso senti-los,
cada um deles, sinto suas vidas
pulsarem, suas forças, eu os sinto
porque eles também sou eu, nós somos
um clã, uma pride, e finalmente estamos
juntos e lutando por isso, pelo direito de
permanecermos desta forma, unidos.
Um grito em uníssono é dado de cada
lado oposto desta guerra e depois... O
caos.

Ravi

Já estive em zonas de guerra


antes, mas nada que se compare. Claro
que já tivemos guerra na matilha, mas
isso... Isso é como um dos meus rpg’s e
não é nada bonito estar aqui.
Dou boas vindas a parte de mim
que ama isso, a parte de mim que deseja
sangue, que deseja desmembrar seu
inimigo pedaço por pedaço e é isso o
que faço quando passam por mim, eles
não me veem chegar. Gosto da cara que
eles fazem quando descobrem que um de
seus braços não faz mais parte de todo o
seu corpo, gosto da sensação que é em
ver suas vidas sumindo como uma vela
que se apaga. Cem, duzentos... Não sei
mais quantos atingi, só sei que o chão
está forrado com os corpos de criaturas
que nem sabia que existiam. Sei que
Sofia está por perto, posso sentir sua
presença constante em algum lugar ao
meu redor, mas não posso me dar ao
luxo de olhar para a direção de onde
vem seu cheiro, não posso porque sei
que o oponente a minha frente me
mataria. Treinando com Sofia, o poder
do meu elemento flui por mim como se
fosse algo comum, é como respirar e eu
jamais saberia usa-lo se não fosse por
ela. Ela que está ao meu lado e luta tão
ferozmente quanto eu, um lobo e uma
bruxa. Eu sinto o poder de minha
companheira fluir em mim como uma
correnteza sem fim, mesmo não estando
unidos completamente ainda posso sentir
a energia dela preencher cada canto do
meu corpo.
Sei que Sofia está com uma ruga no
meio da testa, sei que seus olhos brilham
em um azul turquesa e sua postura é dura
e fluida ao mesmo tempo, ela é como
água... Mas é também como uma torrente
dela, Sofia é poderosa. Ainda não sei o
que minha fadinha é ao certo, mas disso
sei, a mulher tem um puta de um poder
dentro de si.
Olho para o lado e percebo Lua
e Noah salvando os feridos e os levando
até dentro das casas, lá algumas pessoas
que possuem o dom da cura os tratam e
eles voltam novamente para a batalha.
Lembro-me de onde estou e que olhar
para o lado não era uma opção. Sinto o
golpe em minha direção, golpe que é
congelado a milímetros do meu coração,
isso com toda certeza me mataria, Sofia
me salvou.
Foco-me completamente na luta,
se tenho Sofia para cobrir minha
retaguarda, preciso fazer o mesmo por
ela. Um, dois, dez, vinte, trinta... Não
importa quantos deles derrubávamos, é
como se houvesse um portal que
trouxesse cada vez mais deles em nossa
direção. Estamos a quase dez horas
aqui, olho para Sofia que está tão
ofegante quanto eu... Não sabemos mais
quanto tempo seremos capaz de suportar
nesse ritmo.
Lutamos por mais intermináveis horas,
não sei ao certo quantas, mas Lua e
Noah se põem na frente de batalha e é
como se a energia de ambos diminuísse
a de todos os nossos inimigos. A lua
ainda brilha como um eclipse acima de
nossa cabeça, a mesma luz que erradia
dos nossos lideres.
E quando a batalha estava quase
igualada, quando pude sentir em cada
um uma pequena chama de esperança,
Loki gargalha e abre uma fenda no chão,
dela sai todo tipo de criatura que jamais
vi em minha existência.
Consigo ouvir ainda em minha
mente a voz de Sofia e sei que uma
profecia estava sendo consolidada a
nossa frente:

Um com o olhar azul percorre a lua


Outro com vermelho percorre o sol
Buscando um no outro, um ao outro
Dois bravos lobos, correm sem jamais
encontrar.
No dia do Ragnarock O submundo
submergirá
Sol e lua se encontrarão, os dois lobos,
finalmente a união
Quando a ira de Loki se rebelar.’’
Kailan

Luana me explicou o que havia


de errado nos laboratórios para que os
cientistas só tivessem conseguido algum
resultado comigo, havia algo que eles
não estavam prevendo e esse algo era a
magia. Lua me contou que o meu gene
era muito forte para a magia e por isso
as modificações que fizeram em meu dna
deram certo... O que não foi o caso dos
outros lobos testados, ela disse que
provavelmente minha mãe era uma
usuária da magia que foi convertida em
lobo e por isso a magia estava presente
em mim também, foi o mesmo o que
aconteceu a Sarah.
Com os treinos descobri que
posso converter formas de energia em
força. No inicio foi uma merda, porque
ninguém conseguia descobrir para onde
minha magia ia, então em um certo dia,
eu me irritei e quase destruí uma casa, e
foi assim que nós conseguimos ter nossa
resposta. O mesmo aconteceu a Bia,
minha menina pode fazer o mesmo que
eu, o que não acho que seja uma
coincidência da vida.
Estamos lutando lado a lado,
orgulho-me ao ver Bia lutando, ela é
uma excelente guerreira. É complicado
saber quem está perdendo nessa batalha,
não consigo prestar muita atenção em
nada mais do que a dois metros, porque
é o espaço máximo que permito que Bia
se afaste de mim. Nós somos a frente de
batalha, nos chamam de bersekers, Lua
me contou que é um nome nórdico que
foi dado aos primeiros guerreiros lobos
que possuíam o nosso dom, eles tinham
a pele como uma armadura e eram
invencíveis em batalha. Os nossos
oponentes só passam por nossa linha de
defesa porque vem em uma imensa
quantidade e não somos capazes de
derrotar a todos.
Ouço a voz de Sarah e
automaticamente sei que ela está em
perigo, mas não posso olhar para ela...
Vejo quando a lâmina perfura Tiago e
ele cai sem vida... Logo depois a mesma
pessoa que conseguiu o atacar vai em
direção a Bia, mas ela está ocupada
lutando contra três e não percebe o
perigo em que está e a única coisa que
penso é em protegê-la, protege-la
usando qualquer coisa que eu tenha,
coisa que nesse caso é o meu próprio
corpo.

Ian

Eles são em muito mais


quantidade do que pensei, sei que os
praticantes da magia que não estão aqui
hoje não sobreviveram... É impossível
sobreviver a isso. Impossível... Quantas
vezes mais essa palavra irá me
atormentar? Impossível encontrar minha
companheira, depois seria impossível
perde-la... Impossível continuar sem
ela... Impossível. Talvez eu tenha
nascido somente para ir de encontro a
essa palavra.
Luto ao lado de Sarah e Lua. Sarah e
Loren conseguem lutar muito bem em
dupla, assim como Lua e Noah que se
completam em termos de ataque e
defesa. Fico alerta para qualquer
eventualidade, Sarah me parece muito
estranha... Algo nela está diferente, algo
que ainda não consigo identificar. Às
vezes a percebo fechar os olhos por
alguns segundos, como se estivesse
lutando por algo, com alguém que
ninguém mais pode ver.
Vejo quando Alec é cercado por
três criaturas, ele e Manu se olham de
modo desesperado, ela também estava
cercada por mais três e perdendo
nitidamente. Olho para as meninas e elas
parecem estar se saindo bem, então
corro atrás de Alec. Primeiro ajudo
Manu com seus oponentes e depois a
ele.
-Obrigado cara. – Alec diz
enquanto ofegava, todos já estávamos
cansados, o dia passou e essa luta não
termina. Já dava para ver no semblante
de todos o desespero e desistência, eles
estavam quase desistindo...
Aproximadamente 16 horas que estamos
aqui.
Sinto o chão abaixo dos meus
pés tremer, crateras começam a ser
abertas e de lá saem toda criatura
peçonhenta que eu jamais sonhei em
encontrar, eram imensos lagartos,
dragões, criaturas que eu nem sei
intitular. Estava olhando para Loki e seu
exército bizarro, quando sinto a falta de
Sarah, procuro-a ao redor e não consigo
encontra-la em canto algum...
Mas ao olhar mais para frente,
vejo um homem alto sustenta-la pelo
pescoço, seu nome é Efor e ele está com
minha princesa.

Sarah

Ainda sinto o gosto do sangue


dele em minha boca, é como uma
maldita marca gravada em meu corpo.
Não sei quais são as consequências por
tomar sangue de vampiro, mas eu não me
sinto muito normal desde o ocorrido.
Passei o restante da noite
olhando para fora, para a escuridão, e
sentindo que algo lá me olhava de
volta... Então percebi que a escuridão
não acabou, o eclipse não acabou. Foi aí
que um exército começou a se formar do
lado externo, a barreira começou a ruir e
o caos passou a reinar.
Agora estou com meu tio e
Loren, nós estamos lutando lado a lado,
ele me alcançou quando estava descendo
as escadas e indo para a frente da
propriedade e me informou que minha
mãe e meu pai o incumbiu de ficar de
olho em mim. Acho que eles não
perderiam tempo me pedindo para não
participar dessa luta, nunca iria me
esconder enquanto todos estão
arriscando tudo, não mesmo.
A luta começa, não existe uma palavra
boa o suficiente para explicar a guerra
que ocorre em minha frente. Pessoas
sendo mortas, feridas, e eu nem sei por
que isso está acontecendo. Todos sabem
que a luta entre a magia negra e a branca
é tão antiga quanto o tempo, mas eu não
entendo como são capazes de querer
destruir toda um raça, toda uma história.
Acho que a maioria das pessoas
que participa de guerras não sabe o
porquê verdadeiramente que elas
ocorrem. Eu não sei o porquê desta
guerra em especifico estar acontecendo,
mas sei exatamente pelo o que estou
lutando.
Pare de divagar, criança!
Ouço o tom rico da voz do meu
querido salvador. Meu... Essa palavra
reverbera em meu cérebro como um
imenso sino em uma igreja oca.
Concentre-se no perigo a sua
frente!
Mas que merda é essa?! Porque
esse cara está falando em minha
cabeça?!
Cuidado, a sua direita!
Viro-me a tempo de me defender
e revidar do golpe do meu oponente.
Quem é você? – penso, e espero
que essa seja uma linha de dois lados.
Aquele que parece ter como
destino salvar a sua inútil vida – sua
voz indica tédio e isso talvez tenha me
machucado um pouco- ainda não
consigo entender porque continuo a te
salvar...​- ele diz essa última parte como
se tivesse sussurrando para si mesmo.
Foi você quem...?
Já disse para tomar cuidado ou
vai morrer! Talvez só esteja te salvando
por desejar tão ardentemente rasgar
sua garganta com minhas presas e
sentir o seu sangue quente pulsando
até não sobrar nenhuma vida em você.
E sabe o que mais me irritou?
Foi que as palavras dele não estavam
me causando asco e sim caminhando
pelo completo sentido contrário. Não
estava irritada com ele, e sim comigo
mesma e meu corpo e coração idiotas.
Saia da minha cabeça!
Ouço sua risada, seu tom rico faz
com que eu feche os olhos por alguns
segundos só para poder senti-lo um
pouco mais... E eu definitivamente me
odeio por isso.
Abra os olhos, criança!
Essa porcaria de me chamar de
criança já estava me irritando! Sua voz
sai revoltada quando diz essa frase, o
que me faz ficar em alerta e me defender
de mais um golpe direcionado a mim.
Eu deveria simplesmente me
afastar, tenho certeza que conseguiria
sua meta de vida em finalmente se
matar.
Idiota! Quem ele pensa que é?!
Eu não pedi para ser salva por ninguém,
sei me virar muito bem sozinha! Nem
pedi que ele ficasse me visitando em
sonhos! Mesmo que ele tenha um cheiro
realmente bom...
Eu disse para você abrir os
olhos!
Dessa vez sua voz sai como um
rosnar feroz e eu sinto alguém me
prender e é como se toda a minha
energia fosse sugada por algo...
Alguém...
Meus pés não tocam mais o chão
e estou sendo elevado por um cara de
manto negro, meu olhar automaticamente
cai para meus pais que param de lutar e
me encaram, não consigo enxergar Loren
em canto algum, temo que ela tenha se
machucado. Quando o homem abre a
boca, sinto o cheiro de morte sair dele.
-Irmã... Agora seu coração está
dividido com o lobo. No início pensei
que fazer o lobo te deixar iria fazer com
que seu espirito ruísse, mas a inútil da
minha serva não conseguiu exercer sua
função- consigo ver Lídia estremecer e
se encolher com as palavras do meu
suposto tio, já sei por que estou me
sentindo tão fraca... Ele é um buraco
negro. Está sugando tudo o que sou.-
Mas nosso querido irmão Loki nos
contou o que há em comum no coração
dos dois, bruxa e lobo... E é ela, a minha
querida sobrinha.
Olho para o lado e consigo ver
um homem sorridente, mas sinto que seu
sorriso não alcança seus olhos... Ele é
Loki. Atrás dele, um imenso exército
aguarda suas ordens... Nós não
poderíamos derrotar isso, não mesmo.
-Solte a minha filha. – os olhos
de minha mãe faíscam em raiva, olho
para as pessoas que me colocaram no
mundo e é meio irônico tê-los juntos
quando estou prestes a morrer.
Deixe-me ajuda-la...
Ouço a voz do homem em minha
mente.
Vá embora! – uso da minha
pouca força para responder.
Não seja teimosa... Você tem o
meu sangue nas veias, sangue é poder e
você está com o sangue mais poderoso
correndo pelo seu corpo, deixe-me
guia-la!
Meus olhos começam a fechar,
sinto-me cansada, derrotada...
Por favor Sarah...
Lembro-me da última parte de
minha profecia: “O filho do pecado se
prostrará diante dela, ajoelhado em
submissão. Então a herdeira irá ter o
coração da morte em suas mãos e quem
tem o coração da morte, tem a própria
morte e todo o seu poder.’’
Sarah...
Ele diz meu nome mais uma vez
e quase posso sentir dor em seu pedido,
não sei se foi por ser a segunda vez que
ele diz meu nome, ou por simplesmente
já estar exausta demais para discutir,
mas eu abri mão do controle dentro de
mim e senti cada vez mais a presença
dele.
-Como é Briana, perder tudo o
que lhe é mais precioso? – Ainda
consigo ouvir a voz do homem atrás de
mim, mas não sinto mais como se ele
estivesse sugando minha energia... Antes
Efor era o buraco negro, agora, eu sou.
Tiro o meu poder do eclipse e da
escuridão, eu tiro o meu poder de cada
criatura que luta contra nós. Porque
nesse momento não sou eu em meu
corpo, nesse momento é ele. Ele que ri
de Efor e seu mísero poder e ganancia.
Posso sentir sua surpresa ao perceber
que estava controlando meu corpo, ele
nunca antes havia feito isso, mas a
surpresa logo é substituída por sede de
vingança e escuridão.
Então tudo acontece ao mesmo
tempo.
Loki em um grito de guerra
ataca, mas ele não ataca nosso povo e
sim seus próprios irmãos e o exército
negro.
-Nunca mais irei permitir que
machuque a minha família. – ele diz se
colocando ao lado de minha mãe.
-É tarde demais, sua filha está
morta Briana. – Efor diz, morta? Eu
estou morta?
Um riso foge da minha boca, riso
de escárnio, sarcástico... Ele os vê como
insetos, como moscas que não são
dignas em estarem em sua presença. Não
sei quem esse vampiro é, mas ele é
antigo.
Ele comanda o meu corpo para
virar de frente a Efor e é exatamente
isso o que faço, minha mão é erguida até
o pescoço dele e meu rosto sorri, mas
não sou eu, é ele.
-Como você ainda está viva? –
Efor parece realmente admirado, o
vampiro estala sua língua (minha língua
neste caso), e vira a cabeça um pouco
para o lado.
-Quem você pensa que é? Um
verme que andou a alguns anos sobre a
terra e pensa que tem algum direito a
qualquer tipo de poder, sabe quem eu
sou? – ele sibila cada palavra e aperta
ainda mais o pescoço de Efor. – Eu fui
um dos primeiros a pisar nessa terra, eu
vivo neste plano desde que ele se tornou
um mundo!
Cada vez mais minha mão
apertava o pescoço de Efor, veias
negras surgiram em meu braço e logo um
desenho em arabesco se formou ali,
como lagartas negras caminhando sobre
a minha pele.
-Ca...in...- Efor sussurra
enquanto suas palavras morrem em seus
lábios. As palavras não foram às únicas
que morreram já que agora a cabeça de
Efor está bem separada do seu corpo.
Ele vira meu corpo novamente e
olha a toda a cena ao nosso redor. Com
Efor morto, o animo foi elevado e o
nosso lado estava em uma imensa
vantagem.
Ele leva o meu corpo até o meu
quarto, esquivando e destruindo
qualquer um que se colocasse em seu
caminho.
Abre a porta do meu quarto
como se fosse um local comum para ele
e para em frente ao espelho.
Meus olhos estão como pérolas
negras, sinto a minha boca mover, ouço
a minha voz falar, mas é ele.
-Gostou do que viu, criança?
Agora esse é um aviso, eu vou te caçar
não importa onde se esconda, lembre-se
de mim, pois serei seu pesadelo de hoje
em diante.
Então sorri e sinto-o se esvair de
mim. Minhas mãos tremem e são
seguidas logo por todo o meu corpo,
sinto-me vazia como se estivesse em
uma crise de abstinência, neste momento
eu me sinto violada, ferida... Saber que
ele era capaz de fazer isso comigo,
assumir todas as minhas ações... é
assustador! O que será em seguida? Eu
não serei a marionete de um vampiro,
nem dele e nem de ninguém.

Luana

Sigo o corpo da minha filha que


flutua até a janela de seu quarto, não
consigo encontrar Loren em canto algum,
meu olhar trava com Noah e ambos
agora lutando ao lado de Loki,
pendemos essa guerra para o nosso lado.
Lídia avança em Noah e Donar em Loki.
-Você me traiu seu trapaceiro! –
Donar dizia com ira enquanto Loki
sorria e desviava de cada ataque seu.
-Eu cresci na porra de um
inferno por causa de vocês, pensaram
mesmo que eu iria lutar ao seu lado?! –
Loki responde em escárnio e prende
Donar em um ataque, ele chega próximo
ao seu corpo enquanto continua a dizer-
eu sonhei com esse dia, no dia que teria
a cabeça de vocês rolando no chão, e
que saibam exatamente que isso só foi
possível porque o irmão que vocês
abandonaram escolheu sobreviver.-
então com um golpe a cabeça de Donar
pende para um dos lados.
Caminho até Lídia que lutava
contra Noah em desespero, de seus
olhos lágrimas de sangue desciam a
cada segundo. Ela dizia frases como: eu
o amava, vocês tiraram meu mestre de
mim. Ela estava tão voltada ao seu
próprio sofrimento que não viu quando
me aproximei e enfiei minhas mãos em
sua caixa torácica, procurei um coração,
mas não havia nada ali. Lidia só se
desfez em minhas mãos como a sombra
que sempre foi.
Do mesmo modo que começou a
guerra terminou, como se alguém tivesse
ligado e desligado um interruptor, olho
para o céu... 24 horas... Nós
conseguimos.
Tempos de paz
Loren

É o dia mais lindo que já vi.


Estou na cidade e olhando os humanos,
eles são tão sortudos... Jamais saberão
que uma guerra aconteceu, jamais
saberão que monstros são reais e que às
vezes eles aparecem na nossa frente da
forma que menos imaginamos.
Ainda não voltamos para casa,
estamos todos ainda no território de
Noah, e todo dia em que acordamos por
mais uma vez, esperamos alguma má
notícia, mas o tempo está passando e a
vida seguindo seu curso normal. Parece
quase que um pecado essa palavra,
‘normal’. Pessoas morreram, pessoas se
sacrificaram e ninguém jamais saberá
disso... Eles vão viver sem entender que
a terra que eles pisam está coberta de
sangue.
Logo após Loki ficar ao lado de Luana
na luta, a maré mudou ao nosso favor,
mas isso não durou muito tempo, pois do
mesmo modo que todos eles chegaram,
eles também sumiram no ar como que
por passe de mágica. Lua nos contou que
os portões foram fechados e que nós na
verdade não deveríamos vencer a guerra
e sim suporta-la. Nós suportamos,
alguns de nós pelo menos...
Houveram mortes, muitas. Hoje irá
acontecer a cremação dos corpos, há
pilhas deles na propriedade. Nesse dia
todos nós acordamos para nos
despedirmos de alguém, o clima está
pesado na matilha e é por isso que estou
aqui... Porque preciso olhar para eles e
saber que as mortes não foram em vão,
que há um motivo maior, que alguém, em
algum canto, possui as rédeas de toda
essa merda de situação...
Kailan ainda não acordou, Lua disse que
embora ele fosse muito forte e tivesse
sua pele muito resistente, o objeto que
conseguiu atravessar seu corpo estava
embebido por uma poderosa magia
negra e causou danos reais ao seu corpo.
Hoje seu organismo está recuperado,
mas Kailan ainda não acordou.
De todas as coisas e criaturas esquisitas
que vimos, talvez eu tenha passado pela
situação mais estranha. Se bem que
Sarah teve o seu corpo possuído por
algo e isso por si só já é estranho o
suficiente. Mas, olhem só o que
aconteceu: Eu estava lá lutando como
todos, até que sinto o cheiro delicioso
de pêssegos, amo pêssegos e até aí tudo
bem, mas o cheiro estava me afetando de
tal forma que não consegui comandar
meu corpo quando ele resolveu seguir
aquela fragrância, soube o que era
mesmo antes de vê-lo, estava sentindo o
chamado, era o meu companheiro. Segui
o cheiro até um local remoto na floresta
e estranhamente percebi que a luta não
chegava até ali, era como se houvesse
uma energia repelindo aquele lugar.
Fechei meus olhos e farejei o cheiro que
impregnava cada canto, minha cabeça
ergueu para um local acima de mim e
quando abri meus olhos, a coisa mais
bizarra me olhava de volta. Era um
anjo... Anjo mesmo, com suas imensas
asas brancas, havia um brilho em
vermelho saindo delas, mas não fiquei
por muito tempo focada em suas asas
porque elas faziam parte de um belo
homem. Ele tinha os cabelos na cintura,
era ruivo e me olhou de modo intrigado.
Pode ter certeza que eu estava
boquiaberta, e acreditem, não era só
pelo fato de estar vendo um anjo em
minha frente, e sim porque todo o meu
corpo gritava: companheiro.
-Porque ainda não morreu em
agonia? – fecho meus olhos e sorrio com
o belo tom de sua voz e quando os abro
novamente ele está a minha frente. Suas
imensas asas estavam estiradas e ele era
bem mais alto que eu, seu rosto era
quadrado e sério, ele não era muito
forte, mas também não era magro
demais, e como eu sei disso? O anjo só
usava uma calça folgada, nada mais.
-Seus olhos não sangram...- ele
diz isso intrigado e quando olha para
mim novamente, sinto-o cada vez mais
próximo, como se estivesse tentando
desvendar algo que via em mim.
-Porque minha essência está em
você? – não sei onde foi que eu perdi
minha língua, mas não estava
conseguindo falar.
Seus olhos cerram para mim, sua
postura muda.
-Isso deve ser um plano dos caídos para
me atingirem- diz e segura em meu
pescoço, sua mão queima onde ele me
toca, é como ser queimada com um
maçarico. Debato-me, arranho seu
braço, mas ele é muito mais forte do que
eu... Estava sendo morta por um anjo,
irônico?
-Miguel, não é aqui.
Conseguimos localizar o pai e Cadreel,
precisamos ir agora. – ouço outra voz e
então ele larga seu agarre, ar entra em
meus pulmões e antes de impulsionar
suas asas e levantar voo, ele me olha
uma última vez.
Vê? Eu disse que o meu foi mais
estranho. Descobrir que seu
companheiro é um anjo já é estranho,
mas o idiota tentar te matar já está
beirando ao ridículo.
Não contei isso para ninguém,
seria bem normal sair falando: Ei, meu
companheiro é um anjo, ah! E ele tentou
me matar. Fora que eu não quero mais
ver aquele cara nunca mais em minha
vida, se isso é ter um companheiro,
prefiro ficar bem e só.

Luana

Os portões foram fechados como


me foi dito que seriam, e a guerra
acabou. Foi como ver o mundo ser
reconstruído novamente: árvores
voltaram ao seu lugar, casas foram
reconstruídas, o eclipse sumiu... Então
as pessoas voltaram, bem, nem todas
elas. Os humanos voltaram, mas o
mundo da magia jamais será o mesmo,
foram tantas mortes, tantas famílias,
tanto poder perdido... Tanta herança
desperdiçada.
Meus dois filhos foram feridos,
Kailan se recupera, mas eu não sei se
Sarah irá se recuperar tão cedo. Minha
filha hoje tem em seus olhos um fogo
que jamais vi, ela está irritada, com
raiva.
Hoje iremos sumir com os
corpos dos nossos mortos, iriamos
queima-los porque enterra-los poderia
criar suspeitas que não podemos ter no
momento.
Sinto o corpo dele se aproximar de mim,
Noah me rodeia com seus braços e
suspira em meu pescoço.
-Quero você no nosso quarto. –
ele me diz mais uma vez, tivemos essa
discussão desde que a guerra acabou,
aquele um dia foi o ‘nosso’ quarto, não é
mais... Eu não posso começar algo em
um local que tem tantas más lembranças.
Afinal, é isso o que eu e ele estamos
fazendo, começando. Nem digo
recomeçando, recomeçar implicaria que
as duas pessoas fossem as mesmas e
continuassem algo de onde pararam,
hoje eu e Noah somos outras pessoas,
estamos ambos completos.
-Eu já te expliquei Noah... Nós
estamos começando nossa vida e aquele
não é o ‘nosso’ quarto.
Ele me vira em seus braços e me
olha o rosto, é impressionante como
nunca perdi a reação ao seu olhar, meu
corpo ainda treme, ainda perco meu
fôlego ao vê-lo... Meu homem sério
sorri, um sorriso que é só meu.
-Me fará lutar por você, não é
mesmo? – ele me pergunta enquanto une
nossos lábios.
-A cada segundo de sua vida.-
sussurro e quebro o pouco espaço que
nos separava, nosso beijo hoje é algo
calmo, tranquilo, consolador.
-Desculpem interromper, mas
Noah... Preciso falar com você. – olho
para Alicia que parece irritada,
pensando um pouco nisso, acabo de
perceber que Alicia não sorri mais
como antes, ela está sempre séria...
-Diga. – Noah diz simplesmente
e ela me olha indicando que não falaria
em minha frente, dou um passo para
longe de Noah, mas ele segura o meu
braço me indicando que deveria ficar.
-Eu e Lua somos o mesmo,
Alicia, nada que diga a mim não poderá
ser dito a ela também.
Alicia olha para nós dois e
acena de modo positivo.
-Essa sua ideia de deixar Lucas
longe de mim é ridícula! Tudo isso
acontecendo e ele estava onde? No meio
de vampiros!- ela grita as palavras para
o irmão e eu olho de um ao outro sem
entender absolutamente nada.
-Já te disse, ele está em missão...
Lucas precisa ficar com o atual mestre
de Chicago até...
-Ela ainda nem nasceu! Isso é
ridículo! – Alicia começa a andar de um
lado ao outro e eu olho para Noah de
modo interrogativo.
-Quando aquela mulher veio
dizendo que pertencia ao futuro, ela nos
disse que era a atual mestre de Chicago,
o que indica que o regime de poder
daqui há um tempo estará bem diferente
do que é hoje. Se Megan não tivesse nos
ajudado, jamais teria conseguido salvar
você e Sarah daquele laboratório. Se ela
no futuro não voltar para nos ajudar, eu
irei perder você, se acontecer algo com
ela no futuro... Isso mudaria todo o
nosso presente.
-Então você colocou Lucas no
território do atual vampiro que comanda
Chicago... Ele irá esperar Megan chegar
e vai cuidar dela até... Que volte no
tempo, para nós. – complemento o seu
pensamento.
-Exatamente. Megan não viu
Lucas quando esteve aqui e eu sei que
nós e ela possuímos alguma ligação, só
que ela não nos reconheceu também, o
que indica que...
-Havia alguém do nosso povo no
futuro, que jurou lealdade a ela e isso
nos ligou de algum modo.
-Exatamente. – ele concorda e eu
me calo... Se isso for verdade...
-Eu não vou ficar mais tempo
sem o meu companheiro! E você me deu
uma matilha para liderar, Noah! Eu
também não posso abandona-los!
Arregalo meus olhos e encaro
Noah, uma mulher, uma alfa... Ele sorri
para mim e toca em minha bochecha, um
carinho...
-Eu prometi para você que iria
mudar as coisas. – me diz e sua irmã se
irrita ainda mais.
-Tudo bem, você conseguiu o seu
felizes para sempre, mas não tente
boicotar o meu!- Alicia sai irritada nos
deixando sozinhos mais uma vez.
-Não sei se gosto muito dessa
ideia, Noah...
-De mudar as coisas? – reviro
meus olhos com sua tentativa de mudar
de assunto.
-Não, de Alicia ficar longe de
Lucas por tanto tempo... Megan ainda
nem nasceu e quantos anos ela tinha?
28? – ele dá de ombros.
-É preciso, ela ficará bem. Lucas
aceitou a missão mesmo sabendo que
teria que cortar a comunicação com a
minha irmã e ele era o homem perfeito
para isso. Sem matilha, sem laços...
Lucas sabe se misturar muito bem.
-Só não gosto de...
-Do que? Dos dois ficarem
separados por quase 30 anos? Quanto
tempo ficamos separados? Eu te esperei
por uma eternidade, Lua. Trinta anos
para um lobo não é nada.
-Trinta anos para um lobo ficar
separado de seu companheiro é muita
coisa... Você deveria saber disso mais
do que ninguém, ficou longe de mim por
dezoito e quase destruiu sua vida.
Ele faz uma careta e suspira.
-Você tem razão. O que sugere?
-Sugiro que eles se vejam de
mês em mês. Podemos construir um
local seguro e o tornar invisível para
qualquer um que passe por lá.- Noah me
olha, pensa um pouco e depois
concorda. – porque não vai dar a boa
noticia para sua irmã?
Ele faz uma careta e sai do
quarto.
Pego o vestido em cima da cama,
eu pensei que nunca fosse enterrar tantas
pessoas importantes para mim de uma só
vez...
-Bria... Lua? – Loki me chama da
porta, ele ainda não se acostumou a me
chamar de Luana. Quando os portões se
fecharam, ele não foi levado como os
outros, não sei bem o porquê já que ele
sempre viveu no submundo, mas
agradeço internamente por essa segunda
chance que meu irmão está tendo.
-Você está bem? – pergunto para
ele que acena em concordância.
-Estou indo embora. – ele diz e
eu involuntariamente derrubo o vestido
no chão e ando irritada ao seu encontro.
-Você não vai a lugar algum,
como que eu poderia ficar de olho em
você, Loki?!- a gargalhada dele tira um
pouco de minha irritação.
-Eu não sou mais criança, irmã...
Você não precisa mais me proteger e eu
fico feliz por ter retribuído tudo o que
fez por mim, eu jamais te machucaria.
-Eu sei... Mas porque não fica?
-Eu nunca vivi de verdade...
Morri ainda criança e cresci em um
inferno, agora estou livre, quero saber
quem é o Loki livre, sabe? Eu preciso
disso.
Encaro ele por alguns segundos,
vejo a tristeza que ele sente por me
deixar, mas também sinto a necessidade
que ele tem em fazê-lo.
Abraço-o apertado.
-Promete que vai me pedir ajuda
se fizer merda? – digo com meu rosto
enfiado em seu peito.
-Eu nunca faço merdas. – ele me
afasta- pelo menos não pretendo mais
fazer. – diz e beija minha testa.
Loki vai embora... Parece que terei que
me despedir de pessoas vivas hoje
também.

Bia

Vi o ataque a Kailan como se


fosse em câmera lenta, ele entrou na
minha frente... E agora o idiota está a
dias deitado nessa cama como se
estivesse em coma.
Dias que não vejo mais ninguém,
só fico aqui com ele... A noite, deito-me
ao seu lado e fico ouvindo seu coração
bater. O quarto dele já tinha mais coisas
minhas do que dele em si, minhas
roupas, meus produtos de higiene, trouxe
até meu travesseiro para cá. Tomo meu
banho, essa noite Lua e Noah iriam
cremar os mortos, mas eu não quero sair
de perto do Kailan, espero que as
pessoas entendam e me perdoem por
isso. Coloco uma das minhas camisolas
que nem me preocupo em escolher qual,
e deito-me ao lado dele, minha cabeça
acima de seu peito...
Não sei o que eu e Kailan temos,
por algum tempo eu achei que era
apaixonada por ele, depois isso se
transformou em amizade e agora estou
intercalando entre os dois, meu coração
se aperta ao pensar que quando
encontrar meu companheiro o que tenho
com Kailan terá que acabar, não importa
o que isso seja.
Fecho meus olhos apertados e todas as
memórias que tenho com o pirralho
começam a passar em minha mente. Nós
criança, nosso primeiro beijo, nossas
inúmeras brigas, eu abraçando seu lobo,
ele lambendo meu rosto, e... ele no
quarto me dizendo que não deixaria que
nada acontecesse a mim. Promessa
idiota, agora ele que não está bem,
odeio chorar, mas as lágrimas estão
escapando.
Ouço o coração dele acelerar e quando
olho para cima, ele está olhando para
mim com os olhos mais lindos que já vi
em toda a minha vida. Kailan parece um
cachorro que não sabe fingir sentimento
algum para o seu dono, tudo com ele é
preto ou branco, ele não quer saber de
meios termos e seu olhar... É como uma
janela aberta.
Pulo para ele ficando com meu corpo
completamente em cima do seu, soluço
uma e outra vez enquanto sinto sua mão
fazer carinhos na base das minhas
costas.
-Está chorando assim por mim,
pirralha? – sua voz sai fraca, mas ainda
pinga sarcasmo e divertimento.
-Não, não estou. É que você me
assustou com essa sua cara feia. – sinto
o peito dele estremecer e sei que Kailan
está sorrindo, sorrio também mesmo que
ele não possa ver.
-Você está bem? – pergunto
baixinho.
-Estaria melhor se não tivesse
uma baleia me esmagando. – ele diz
sério e eu faço uma careta, acho que
Kailan nunca deixará de ser um idiota.
Começo a afastar meu corpo
para sair de cima dele, mas Kailan me
abraça e me põe de volta no lugar.
-Nunca mais me assuste assim. –
ele sussurra com a boca encostada em
meu cabelo.
-Foi você o idiota que me
assustou.
-Eu não...- ele continua
parecendo que não tinha ouvido o que
falei- eu não poderia te perder... Isso me
destruiria. O que faria em um mundo
sem você?
Meu coração para por alguns
segundos e depois volta em batidas
lentas... Esse é Kailan, o pirralho que
me irrita, e o pirralho não deveria estar
me dizendo coisas como essas.
Ele parece ter percebido isso
também, porque me solta e joga meu
corpo para o lado.
Kailan levanta um pouco
vacilante e se encaminha para o
banheiro.
O que acabou de acontecer
aqui?!
Caminho em passos lentos até a
porta do banheiro que está entreaberta.
Kailan está com os dois braços
apoiados na parede a sua frente,
enquanto o chuveiro está ligado e água
cai em sua cabeça que está
completamente virada para baixo. Ele
não se vira quando abro a porta, nem
quando dou alguns passos para perto
dele, nem quando entro no box do
chuveiro... Ele não vira para mim nem
quando eu toco em suas costas.
Quando Kailan se feria por
algum motivo, ele sempre tinha a mim,
ele sempre corria para mim mesmo que
fosse só para que eu fizesse um carinho
em sua cabeça.
-Você não deveria estar aqui. –
sua voz sai mais grossa do que o
habitual, ver Kailan nu não é algo
incomum para mim, somos lobos e
crescemos juntos. Suas costas também
são cobertas por tatuagens, no centro
dela há uma frase que ainda não tinha
visto: For you the world, B.
Lembro-me de nossas
incontáveis discussões, quando eu
tentava o convencer a fazer algo e de
como ele sempre me respondia: e por
que eu faria isso para você? Para você o
mundo, B...
-Acho que eu deveria estar aqui
sim.- sussurro, ele vira tão rápido que
eu me desequilibro, Kailan me segura
antes que eu caia no piso molhado.
-E porque, porque você deveria
estar aqui? – ele me pergunta, eu abro e
fecho a boca algumas vezes e ele ri sem
humor.
-Foi o que pensei, vá embora. –
Kailan rosna para mim e eu me assusto
novamente dando um passo para trás, eu
e ele já estávamos pingando de
molhados, quando olho para ele, vejo
que o meu medo o magoou.
-Eu...- olho para baixo e aperto a
barra da minha camisola em um punho,
suspiro- eu não quero deixar você.
-E porque não? – ele sussurra em
um fio de voz.
Aperto meus olhos com força, o
pirralho vai me irritar completamente
por dizer isso, ele com toda certeza vai
rir de mim.
-Eu... amo você Kailan. – por
alguns segundos tudo o que ouvi foi o
chuveiro ainda aberto derramar água no
chão.
A água para de jorrar e sinto a
mão dele em meu rosto, o erguendo.
-Abra os olhos- eu não quero abrir, eu
não quero ver ele me dizendo o quão
estupida sou, que não somos
companheiros e que essa relação não vai
a lugar algum, mas eu precisava tentar,
certo? Mesmo que seja para que ele me
dissesse que não iria dar certo, aí eu
poderia seguir em frente.
-Pirralha, quero ver esses lindos
olhos negros, por favor, abra os olhos
para mim. – Abro meus olhos mais por
curiosidade do que por coragem, o tom
que Kailan usou era carinhoso, quase...
-Repete o que disse. – ele me diz
assim que olho para o seu rosto. Eu ergo
minha mão e passo da sua bochecha até
sua boca, paro no piercing que ele tem
no lábio e Kailan sorri de lado.
-Eu a...- abro minha boca para
repetir a frase, mas ele a intercepta no
meio. Kailan me ergue em seus braços
para que fiquemos da mesma altura,
então ele me beija, profunda e
intensamente de um modo que jamais fui
beijada antes.
Quando nos afastamos
minimamente, ambos estamos ofegantes.
-Desculpe, acho que não queria
perder mais tempo. – ele diz com um
sorriso bobo em seus lábios.
-Eu ia dizer: ‘eu acho que você é
um idiota’, mas não me deixou concluir
a frase.
Ele cerra seus olhos para mim e
gargalha.
-Sei...
Kailan me embrulha em uma
toalha enquanto seco meus cabelos,
ainda posso ver olheiras abaixo de seus
olhos e embora perceba ele me olhando
de cima a baixo e possa ver que seu
corpo responde muito bem a isso, ambos
estávamos cansados.
Ele me puxa para a cama sem
nenhum pano entre nós, Kailan beija
minha nuca e um arrepio sobe por todo o
meu corpo.
-Não me deixe pirralha... – ele
diz.
-Não vou.

Ian
A matilha está diferente desde
que fui embora... As mulheres têm voz e
poder como qualquer outro por aqui,
eles finalmente conseguiram criar uma
matilha igualitária... Uma matilha não,
uma Pride. É esse o termo que Lua usa,
ela costuma dizer que se não temos
orgulho daquilo que somos, então como
poderíamos viver?
Todos estão reunidos ao lado de
fora, enquanto todos vestem-se de preto
em luto, Lua caminha com um longo
vestido branco... Todos reverenciam os
dois, lobos, bruxos... Todos se ajoelham
quando Lua e Noah passam. Ela está
com a marca de ligação a mostra, fico
feliz por ela finalmente ter se acertado
com Noah... Por algum tempo eu ousei
em ter esperanças, sei que só Lua
poderia ser capaz de fazer com que eu
esquecesse minimamente Priscila, Lua
sempre foi alguém a quem amei e não
me incomodaria em passar o resto dos
meus dias ao seu lado.
Eles estão lado a lado e de mãos dadas
quando Noah começa o seu discurso.
-Todos nós perdemos algo de um
jeito ou de outro. Hoje a noite daremos
adeus a entes queridos, amigos, amores,
e isso nunca é algo fácil... – ele para o
que estava falando e olha para Lua,
como se estivessem se comunicando.
Então a próxima voz que ouço é a dela.
-Essa noite não daremos adeus a
eles, eu me recuso a dar adeus a cada
um dos que morreram. Essa noite,
enquanto cada corpo queima, nós iremos
lembrar-nos de cada coisa pela qual
cada um deles era especial, nós iremos
lembrar. Mesmo que ninguém mais no
mundo o faça, mesmo que nem mesmo a
terra que pisamos recorde do que
aconteceu aqui, nós saberemos. Nós
saberemos da morte de cada um deles,
nós lembraremos e não iremos permitir
que eles morram. Tudo o que peço para
vocês hoje é para que não esqueçam.
Noah sorri e puxa Lua um pouco
mais para ele em completa admiração.
Há uma fila de corpos
embebidos por tecidos inflamáveis e
todos dão um passo a frente jogando
uma chama sobre eles. É como uma
fogueira gigantesca, o cheiro da carne
queimada sobe, olho ao meu redor e não
tem ninguém chorando. Eles estão sérios
enquanto olham as chamas crepitarem,
sérios como se estivessem fazendo
exatamente o que Lua pediu: eles estão
jurando que nunca se esquecerão.

Sarah

A maioria das pessoas já foram


embora, cada um voltou a sua vida de
antes. Ocorreu o baile da escola e todos
nós nos graduamos, chega a ser ridículo
pensar nisso, mas aconteceu.
Bia e Kailan estão estranhos,
eles mal se olham, mal se falam... Se
bem que antes só brigavam, mas eu
preferiria a briga dos dois do que o
completo silencio.
Minha mãe me perguntou que
faculdade que eu iria cursar, ela e o meu
pai estão... namorando. Acho que foi
assim que chamaram.
Loren também está esquisita,
como se escondesse algo, mas quem sou
eu para exigir segredos dos outros já
que não contei a ninguém que meu
companheiro é um vampiro que quer me
matar.
Eu ultimamente só tenho vestido
blusas de mangas compridas, o vampiro
me deixou um presentinho. Onde minhas
veias ficaram negras e formaram uma
marca, há uma... tatuagem.
Minha mãe pediu para que eu
fosse ajudar a família Volkov com as
malas, Darya já está com a barriga
imensa, às vezes a ouço dizer o quanto
Suzana será amada e querida. Já
Maryska, sua mãe, aquela velha me dava
calafrios... Passei ao lado dela para
pegar uma de suas malas e ela segurou
meu braço.
-Você foi marcada por ele,
menina... Não importa aonde vá, ele irá
encontra-la. – ela diz me fitando nos
olhos e um arrepio corre pela minha
espinha, eu sei que o que ela diz é
verdade. - ele é o mal mais antigo que
caminha sobre a terra, o primeiro
amaldiçoado a existir, me diga, como irá
lutar contra isso?
-Ele foi o primeiro vampiro
criado? – pergunto boquiaberta, se
pensava que minha situação já estava
ruim, imagina agora.
-Criado? Coisas como ele não
são criadas! Ele foi amaldiçoado e se
tornou sua própria maldição. Mas eu...
Talvez eu possa ajuda-la, mas terá que
viver comigo por um tempo.
-Mas... Como vou dizer para
minha mãe que...
-Não interessa o que contará
para os seus pais, se quer aprender a se
defender dele, virá para a Rússia
comigo.
Ela diz e caminha para fora com
suas malas... Como eu vou fazer com
que meus pais não me prendam no sótão
mais próximo?
Caminho até o chalé que minha
mãe estava ficando, vejo os dois lá
trocando caricias, eles estão realmente
felizes.
-Ham... Preciso conversar com
vocês. – digo e os dois me olham já
sérios, acho que algo no tom da minha
voz me entregou de algum modo. – eu
quero fazer medicina.
Ambos abrem um sorriso
imenso.
-Que bom filha! Fico feliz que
tenha se interessado por algo e...
-Na Rússia. – nenhum dos dois
parece tão feliz agora.- Falei com as
Volkovs, elas me darão abrigo pelo
tempo que o curso durar.
-Eu acabei de te reencontrar e...-
meu pai começa, mas minha mãe me
olha profundamente, daquele modo que
tenho a certeza de que ela conhece cada
um dos meus segredos.
-Você está nos informando isso,
espero que esteja certa do que faz,
Sarah. Sentiremos sua falta, mas vai ser
bom para você se virar sozinha um
pouco. – meu pai cruza os braços em
frente ao seu peito e fica com uma cara
emburrada, minha mãe acena para mim,
me indicando que deveria sair. Acho que
agora ela terá que tentar convence-lo a
não se chatear com minha partida.
Claro que meu coração se aperta
ao deixa-los, mas eu... Eu não quero
nunca mais me sentir tão indefesa quanto
senti com ele tomando posse das minhas
ações, e se tivesse que ir para a Rússia
para isso, então tudo bem.
Como eu iria acompanhar as Valkovs,
elas mudaram a viagem para a noite,
dando-me tempo de arrumar minhas
coisas e me despedir de algumas
pessoas.
Nesse momento estou atrás de
Kailan, ando pela floresta até encontra-
lo socando algo.
-Tenho pena dessa árvore que te
irritou. – ele funga e continua a bater no
tronco.- Irmão...- acho que ele parou só
porque nunca antes havia o chamado
assim-, eu estou indo embora, vou para a
Rússia e queria me despedir de você.
-Porque está indo embora? – não
sei por que, talvez seja algo no olhar
sincero de Kailan, mas eu não consigo
mentir para ele.
Ergo minha manga mostrando a
marca e conto tudo, como fui possuída
pelo vampiro, quem ele é e como só as
Volkovs seriam capazes de me ajudar
quanto a isso. Cada casta de bruxa
possui um tipo de especialidade, ao que
parece as Volkovs tem o dom no oculto e
no tempo, seja lá o que isso signifique.
Kailan me abraça e me deseja
sorte, vou sentir falta dele... De todos
eles. Mas estava enrolando para me
despedir de Ian e Sofia.
Encontro meu tio no caminho de
volta, ele está encostado em uma árvore
e com os olhos fechados.
-Você está indo embora. – é tudo
o que ele diz e eu só corro para os seus
braços e o abraço apertado. – tem
certeza?
-Sim.
-Sempre estarei presente por
você, princesa. Eu te amo.
-Esteja presente por si mesmo,
tio... Sei que algo o aflige... Talvez seja
a hora de voltar a viver.
-Talvez. – ele diz com um
sorriso triste e se afasta.
Meu tio sempre foi mais como
um irmão para mim, ele me ajudava a
aprontar e acabava sendo castigado
comigo quando minha mãe descobria, às
vezes eu posso ver um relance do
homem feliz que um dia ele foi... Ele só
precisa lembrar disso.
Continuo caminhando e vou até o
chalé onde sei que Sofia está, no chalé
do Ravi.
Quando ela me vê, me abraça.
Acho incrível o que Ravi fez com minha
tia, antes ela odiava toques. Seus olhos
ficam vidrados por alguns segundos, ela
estava tendo uma visão. Sofia faz uma
cara preocupada e logo depois sorri.
-Tenha uma boa viagem, Sarah...-
ela estava feliz, o que significa que a
minha empreitada pela Rússia será
boa...
-Nada mais a acrescentar? –
pergunto esperando que ela me dê
alguma dica.
-Não... Só confie no seu
coração... E lembre-se, a escuridão só é
negra porque ainda não conheceu a luz.
Não entendo muito o que ela diz,
mas como o sol já estava quase se
pondo, saio dali e pego minhas malas.
Abraço forte todos me despedindo de
toda a minha família, olho para as
Volkovs... Esse será o início de uma
nova vida.
Enfim companheiros
Bia

Vocês podem estar se


perguntando o que aconteceu na noite em
que eu e Kailan dormimos juntos. Eu
acordei, sai do quarto e fui fazer as
minhas malas. O que adiantaria amar
Kailan? Ele não é o meu destinado e
isso só traria sofrimentos futuros.
Às vezes vejo que ele me olha,
Kailan me olha com aquele olhar pidão
como se eu tivesse tirado algo
dele...Depois de um dia que Sarah partiu
para a Rússia, eu também tomei coragem
e fui embora, só que não avisei para
ninguém, só ao meu pai.
Agora já estou no meu novo
quarto nas instalações da faculdade,
Loren ficará comigo, só que disse que
vem um pouco mais tarde. Vida nova,
certo? Tento sorrir, mas uma lágrima
escapa de mim.

Noah

Em um almoço Ravi contou a


todos que Bia havia partido, ouço um
barulho de coisas se quebrando e
percebo que Kailan não sabia...
Levanto-me e sigo o rastro de destruição
por toda a propriedade.
Kailan não está transformado
quando o encontro, suas mãos sangram
de tanto dar socos em uma rocha
próxima a cachoeira.
-Kailan, já chega!- ele respira de
modo pesado e me olha, vejo desespero
no olhar do meu filho e isso me parte o
coração.
-Ela prometeu que não me
deixaria, pai...
-Eu não sei o que está
acontecendo entre você e Bia, mas acho
que já passou da hora de se acertarem.
Você contou para ela? – sei que Kailan
esconde de Bia que é o seu
companheiro, esse foi o motivo de Ravi
ter se mudado, ele percebeu isso e não
quis que os dois crescessem mais juntos.
-Não, eu não tive a chance.
-Chance? Há quanto tempo vocês
se conhecem? Quantos dias ela passou
aqui? Não me diga que não teve
chances, você teve medo e eu só não
consigo entender o porquê.
Ele para por um tempo para
pensar e me responde com outra
pergunta.
-Como é ter alguém assim? O
que sente?
-Filho, o que sentiu quando ficou
longe dela? Dor não foi? Lembro-me de
todos os dias que tinha que te bater até
desmaiar... Isso tudo porque era mais
fácil para você sentir dor do que a falta
dela, do que sentir o buraco imenso que
se tornou sua vida sem a presença dela.
Não me pergunte como me senti, você
sabe. Kailan, meu filho, você já conhece
toda a parte ruim de se ter uma
companheira, não acha que esteja na
hora de conhecer a parte boa?
Deixo Kailan pensativo, não sei
o que o prende, mas isso é algo que ele
precisa resolver sozinho.
Um dos meus me avisa que
temos visita, quando chego em uma das
alas comuns vejo um homem próximo a
Lua... Próximo demais. Rosno
demonstrando a minha presença e ele se
afasta.
-Olá Supremo, me chamo Luke. –
ele diz, mas não tira os olhos de Lua.
-Luke, se quiser continuar com
seus olhos, acho bom tira-los de cima da
minha mulher. – ele olha de mim para
Luana e sorri para ela.
-Você não me disse que era
comprometida.- ele se afasta e eu não
entendo o que está acontecendo.
-Conheci Luke e seu irmão Dan
quando estávamos a caminho daqui.-
Luana me explica a situação.
-Entendo... O que faz aqui Luke?
-Vim lhes deixar a par de uma
situação, a alguns dias atrás os portões
foram abertos e haviam demônios soltos
por todo o mundo, mas isso não foi a
pior parte do que aconteceu. Eu vi
anjos... O próprio Cadreel e acho que
vi... o pai de todos eles também.
Conheci uma garota, Elisabhet... Eles
disseram que ela tem um ano para evitar
que o apocalipse aconteça... Isso o que
ocorreu nesses dias foi só uma prova do
que virá caso não consigamos prevenir o
apocalipse.
Olho para Lua, ela não parece
surpresa com o que ele diz.
-Nós sabemos de tudo isso. – ela
diz.
-ótimo, então precisamos formar uma
força para ajudar nessa batalha! – Luke
fala sem paciência, ele parece irritado.
-Não, toda a ajuda que a matilha
irá oferecer será você, seu irmão e seu
pai. – não entendo Luana, mas não a
contesto.
-Você ouviu o que eu disse?! Ela
é só uma criança!! – ele grita na cara de
Lua.
-E é exatamente por isso que ela
é a única capaz de vencer... Ela foi
escolhida, Luke, não seria dado um peso
e uma tarefa a ela se ela não fosse capaz
de conclui-la.
Ele olha de mim para Lua e sai
irritado.
-Tem certeza minha lua? –
pergunto a ela quando sei que ele não
pode mais nos ouvir.
-Eu tenho. Devo confiar que ele
fez a decisão correta ao escolhe-la.
Agora precisamos ter fé, meu amor.
-Falando em fé... Eu e você
teremos um encontro.
-Encontro?
-Sim... Você não queria que
fôssemos devagar e tivéssemos tudo?
Então, vista-se que virei te pegar.

Kailan
Não digo para ninguém onde
estou indo quando faço minhas malas e
pego o carro. Dirijo por toda a noite e
chego aos alojamentos ainda na
madrugada. Tive que obrigar Loren a me
dar sua cópia da chave do quarto que
divide com Bia, vendo-a agora dormir
tranquilamente, percebo que valeu a
pena.
Bia está com sua pele chocolate
descoberta, puxo seu cheiro para mim e
meu lobo deseja sair, ele quer correr
para ela como sempre fez... Quer
colocar sua cabeça em seu colo e sentir
seu leve carinho, qualquer coisa vinda
dela sempre foi o paraíso para nós dois.
Tiro minha roupa e me transformo, já em
forma de lobo, cheiro sua pele exposta e
um rosnado involuntário sai do fundo do
meu peito.
Bia desperta com isso, ela se
assusta e quando percebe que sou eu,
suspira em alivio. Bia abre os braços
como sempre fez quando eu vinha até
ela, acho que ela sempre soube que
quando meu lobo vem ao seu encontro
era porque desejava ser acalentado,
acarinhado... Caminho até ela e Bia
abraça-me, ela põe a cabeça em meu
pescoço e respira entre os meus pelos,
fechos os olhos e fico ali por um tempo,
ela é tudo para mim.
Afasto-me um pouco e olho para
ela, desejo que ela veja nos meus olhos
o que sempre quis mostrar, que eu a
amo, que cuidaria dela por toda a vida,
que esperaria o tempo que fosse preciso
até que ela estivesse preparada para me
aceitar... Mas esperar está doendo, está
me machucando... Saber que Bia teve
namorados, saber que ela estava longe
de mim e se apaixonando por outra
pessoa era como ser atingido milhares
de vezes. Mas eu precisava que ela...
vivesse. Mesmo que fosse com outras
pessoas, precisava que ela conhecesse o
mundo sem mim e que mesmo assim me
escolhesse no final.
Seus olhos enchem de lágrimas e
ela me pede:
-Transforme-se.
Fico em cima de Bia quando me
transformo de volta, continuo a olhando
e dizendo: eu nunca vou te deixar.
-Kailan... Você sempre falou
melhor quando esteve calado, mas eu
preciso ouvir, pelo menos só hoje, por
favor, preciso ouvir.
Uma lágrima escorre por seu
rosto e como não queria perder o
contato com ela, só lambo sua bochecha
para que a lágrima não caia, ela sorri
com meu gesto.
-Você definitivamente parece um
cachorrinho. – rosno com o que ela diz,
mas sorrio com seu riso.
Ela fica séria logo depois.
-Fale.
-Eu... nunca te deixarei sozinha,
Bia. Eu quero você por toda a minha
vida... Eu nunca tive um mundo só meu,
sempre fui um estranho em qualquer
local que estivesse, mas se eu estiver ao
seu lado, nada disso importa, fica
comigo? – ela aperta os olhos com
força.
-Eu não... posso.
-Porque não?
-Nós ficaremos juntos até
quando? Até ou eu ou você
encontrarmos o nossos destinados.
Gargalho.
-Pirralho! Isso não é piada!
-É só por isso que não fica
comigo?
-Tecnicamente sim.
-Ham... – não sei como dizer
isso a ela.
-Ham o que? O que significa
‘ham’? – ela diz já me olhando torto.
-Eu e você somos companheiros.
– ela fica calada por tempo demais...
-Como assim?
-Eu... Fui modificado, nenhum
lobo consegue sentir meu cheiro.
Ela arregala os olhos e me olha
irritada.
-Há quanto tempo sabe disso? –
sei que o ‘disso’ que Bia diz não é sobre
os laboratórios e sim sobre nossa
ligação.
-Eu... sempre soube.
-Sai de cima de mim, Kailan! –
não, não... não vou deixar que ela fuja
agora.
-Não vou te deixar ir.
-Você me enganou por todos
esses anos! – ela diz e espero não
demonstrar, mas isso me magoa.
-Eu... te esperei por todos esses
anos. O que você faria se eu te dissesse
que era seu companheiro? Nós éramos
só duas crianças! Diga-me que aceitaria
e que ficaria comigo.- ela acalma o
semblante.- vê, você não o faria! Eu te
esperei Bia... Esperei que você
crescesse, que vivesse outros amores, eu
fiquei te vendo crescer de fora... E isso
era o suficiente para mim, mas não é
mais. Eu preciso de você. Sei que não
pode sentir meu cheiro, espero que
confie o suficiente em mim para
acreditar quando digo que você é minha,
porque eu sou seu... Porra, eu fui seu
desde o momento em que bati meus
olhos em você e eu era só uma criança
assustada. Olhe para mim Bia, eu nunca
menti para você... Olhe para mim e diga
que no fundo sempre soube, por favor...
Ela ergue a mão e toca em minha
face, Bia parece hipnotizada pelos meus
olhos.
-Seus olhos... Você nunca mentiu
para mim.
-Não... Só esperava o tempo em
que você pudesse ver a verdade,
esperava que você viesse até mim. Isso
vai me matar, mas se você quiser que eu
saia, se quiser viver em um mundo sem
mim, eu faria isso por você.
Mas ela não diz nada, Bia só me
olha... E eu sei, é ela, sempre foi ela...
Aquela que me vê de verdade, aquela
que eu sempre irei precisar, aquela que
jamais me abandonaria.
Não sei quem começou, mas
estamos nos beijando, arrasto a roupa de
Bia por seu corpo vagarosamente
sempre olhando em seus olhos,
esperando algum indicio de repulsa ou
negação, mas o que vejo lá é sempre
entrega e confiança. Toco-a do modo
que sempre esperei que tocasse, beijo-a
do modo que sempre quis beijar, amo-
a... E espero que ela saiba o quanto irei
ama-la em cada dia de sua vida, porque
agora ela é minha e é para sempre.

Bia

Acordo, mas faço de tudo para


não mexer nenhum músculo. Kailan está
me apertando de encontro ao seu corpo
com posse e um sorriso involuntário
toma o meu rosto. Depois de uns dez
minutos assim, eu fico entediada e tento
sair do seu agarre, sinto o seu peito
retumbar em um rosnado atrás de mim e
meu corpo é arrastado de encontro ao
seu, só que dessa vez uma de suas mãos
está possessivamente em meu seio e a
outra quase no vão entre minhas pernas.
Pirralho tarado. Um riso
involuntário foge de mim com o
pensamento e o sinto sorrir, ele estava
acordado...
Kailan morde de leve o espaço entre o
meu pescoço e ombro, o que me causa
um arrepio, ele sorri ao ver que me
afetou e seu hálito em meu pescoço
causa-me um novo arrepio.
-Eu amo você, Bia. – são as
primeiras palavras que ele diz, as
palavras retumbam no quarto silencioso
como se ele tivesse dito-as em um alto
falante.
Penso em tudo pelo o que eu e
Kailan passamos, penso na nossa
infância juntos e em todas as nossas
brigas. Quando o pirralho me procurava
quando era uma criança, eu só o
enxotava para longe de mim... Não
entendia aquele olhar dele, como se
estivesse vendo algo precioso, isso me
irritava.
Então crescemos, nossas brigas
fizeram com que ambos criássemos um
certo espaço em nosso relacionamento.
Mas quando sabia através de alguém da
matilha que ele estava irritado, chateado
ou triste... Eu sempre dava um jeito de
aparecer na floresta. Nem sempre fazia
carinho no lobo de Kailan, as vezes nós
só brigávamos, eu fazia qualquer coisa
para tirar aquele olhar triste do seu
rosto, até mesmo sua irritação comigo
era melhor do que sua tristeza. E quando
ficávamos tempo demais na floresta e as
estrelas já estavam no céu, nós
dormíamos juntos, aquecíamos nossos
corpos com o contato e como em um
tratado silencioso, fingíamos que essa
cena jamais havia ocorrido.
O meu primeiro beijo foi o beijo
roubado que Kailan me deu... E todos os
outros depois desse... Eu só ficava
tentando encontrar alguém capaz de me
fazer sentir o que Kailan me fez sentir
naquele dia, mas eu não encontrei. E
embora minha primeira vez não tenha
sido com ele, o que aconteceu ontem
entre nós dois foi quase sagrado, eu sei
disso.
-Pirralha? – desperto com sua
voz preocupada.
-Merda. – mil vezes merda.
-O que aconteceu? – ele me
pergunta com seus olhos já espelhando
agonia.
-Eu...
-O que?! Eu te machuquei?! –
agora ele realmente parecia preocupado,
mas eu não conseguia falar.
-Eu....
-Bia, porra pirralha! Fala o que
tem de errado! – ele rosna impaciente.
-sempre te amei. – digo em um
sussurro, meus olhos estão esbugalhados
ao constatar o fato. Será que só eu que
não havia percebido isso ainda? Eu saí
do território de Noah porque meu pai
praticamente me obrigou a isso, Noah
sempre me tratou como uma filha... E
ainda tinham todas as piadinhas das
outras pessoas. O medo dos outros
machos da matilha em se aproximarem
de mim, eles tinham medo de Kailan...
Porque ele sempre esteve ao meu redor,
me sondando, aguardando, sendo
paciente.... Eu nunca vi Kailan com
outra garota, nunca ouvi nem um rumor
de uma namorada.
-E porque isso seria errado? –
ele me pergunta já com seus olhos
cerrados.
Mas eu ainda estava abismada
demais com toda a minha constatação e
meu atestado de lerdeza universal, então
não respondi e ele levou isso para o
lado ruim, pois se levantou e começou a
se vestir.
-Já se arrependeu, pirralha?
Pensei que fosse demorar um pouco
mais para me enxotar dessa vez. – ele
não olha para mim quando fala isso.
-Kailan...
-Porque eu pensaria diferente?
Claro que você iria fazer isso.
-Kailan... – continuo tentando
chamar sua atenção, mas ele não cala a
maldita boca.
-Foi sempre assim não é?
Comigo atrás de você como um cãozinho
adestrado! – ouvir essas coisas me
magoa, mas sei que ele só as diz por que
está milhares de vezes mais magoado do
que eu... Não foi minha intenção causar
mal a Kailan, nunca desejaria seu
sofrimento. Ele suspira forte e sei que o
pirralho vai voltar a falar.
-CALA A PORRA DA BOCA,
PIRRALHO! – grito antes que ele
comece a falar, Kailan se vira em minha
direção, seus olhos estão brilhando de
modo perigoso, seu peito sobe e desce
em movimentos rápidos.
-VOCÊ SEMPRE FOI UMA
PIRRALHA MIMADA! – ele grita de
volta.
-Você é um idiota presunçoso!
-Você é uma fresca!
-Você é um troglodita!
A cada nova ofensa, um se
aproximava mais do outro.
-Mimada.
-Babaca.
-Linda...- nem ouço direito essa
última coisa que ele diz.
-Eu disse que te amo, porra! – o
sorriso de Kailan se abre em seu rosto,
maldito bastardo!
-Era exatamente isso o que
queria ouvir, minha pirralha...
Ele me pega de qualquer jeito e
me joga em cima da cama.
-Kailan, seu idiota! – grito
enquanto estou gargalhando com seu
gesto.
Paro de rir quando percebo que
ele está quieto demais, Kailan me olha
de cima... Seu dedo toca meus lábios e
contornam o sorriso bobo que eu tenho
certeza que ainda está em minha cara.
Mordo seu dedo e ele sorri.
-Talvez você possa repetir o que
disse. – ele me diz com um sorriso de
lado.
-Talvez você precise merecer. –
rebato com o mesmo sorriso.
O pirralho desce seu corpo
sobre o meu e me beija, possessivo,
duro, intenso.
Sei que não posso sentir o cheiro
dele, mas cheiro a sua excitação e
automaticamente fico no mesmo patamar
que ele.
-Kailan... Preciso te perguntar
algo.
-Hm. – ele diz enquanto dá
lambidas em meu pescoço, o que me faz
estremecer.
-Kailan! É sério! – ele dá uma
mordida de leve onde antes estava sua
língua e se afasta minimamente para me
olhar nos olhos.
-Ontem foi sua primeira vez? –
ele fica um tempo me encarando antes de
responder.
-Sim, foi. Mas porque está me
perguntando isso? Fiz algo que te
desagradou?
-Não! Longe disso! É que... Eu
só parei para pensar que nunca te vi com
ninguém...
-Isso porque eu não estive.
-Nada?
-Nada.
-Porque não?
-Porque nenhuma outra jamais
seria você. – e esse é Kailan,
extremamente sincero.
-Mas eu... estive com outras
pessoas. – e ele sabia, sei disso.
-Eu sei. Sabia o que você
significa para mim, Bia. Você não tinha
como saber e eu não tenho como te
cobrar algo, entende? Quando percebi o
que você é para mim, como poderia ter
outra mulher? Ter sexo com outra
pensando em você, para quê? Eu te
esperei porque sabia que o tempo que
fosse iria valer a pena porque seria com
você. Sei que tiveram caras em sua vida,
isso não foi algo que me agradou, mas
foi algo com que eu tive que lidar... Eu
sempre quis que voltasse para mim.
-Voltasse para você? – pergunto
intrigada e já com lágrimas nos olhos
por tudo o que ele disse.
-Meu pai um dia me disse que
companheiros são como dois lados de
um único corpo que desejam somente
ser inteiros por mais uma vez, pedaços
de um todo que serão sempre trazidos
até sua outra metade, então eu esperei
que você voltasse para mim. Porra! –
ele diz quando percebe minhas lágrimas-
porque você está chorando?
Rapidamente enxugo minhas
lágrimas, ou tento.
-Sinto muito se te machuquei.-
digo fungando.
-Eu não disse isso... Porra Bia!
Eu não disso isso para te deixar assim,
me desculpa!
-Para de se desculpar, Kailan!
Eu que tenho que pedir desculpas por
ser uma lerda e não ter percebido antes
que o meu companheiro estava bem em
minha frente.
Ele me dá o maior sorriso do
mundo e eu o olho sem entender, mas ele
não responde. Só me olha daquele jeito
que sou capaz de enxergar sua alma,
então percebo...
Companheiro.
Eu o reconheci, o chamei sem
nem perceber. Aproveito que Kailan
parece um pateta me olhando e sorrio
enquanto o jogo na cama e inverto
nossas posições. A camisa que ele havia
posto é retirada rapidamente. Sorrio
com minha boca encostada em seu
abdômen e vejo-o erguer uma
sobrancelha.
-O que pensa que está fazendo,
pirralha? – ele diz, mas sua voz está
grossa de desejo.
-Me desculpando... E percebi
que não conheço todas as suas
tatuagens...- digo enquanto beijo uma
caveira.
-Eu posso te apresentar a todas
se quiser.
Foi assim que passamos a
próxima meia hora, ele me contando a
história por trás de cada desenho e eu
beijando seu corpo em cada local que
sua pele era coberta, até que Kailan não
conseguia mais me explicar nada. Ele só
me olhou daquele modo que amo, como
se eu fosse a razão de sua existência, e o
próximo beijo que dei nele foi mais que
um beijo... Eu o mordo.
A marca que aparece em Kailan
toma seu pescoço no exato local em que
o mordo. Lambo o sangue do seu
pescoço limpando sua ferida, e logo
depois passo a língua sobre os meus
lábios.
Kailan me olha atordoado, seus
olhos brilham, mas ele não move um
músculo sequer.
-Kailan, porque não se move? –
pergunto realmente intrigada.
-Porque se eu me mover vou
pular em você e te montar, não serei
gentil, Bia... Estou a margem aqui. Então
é melhor você sair e deixar que eu me
acalme. – sair? Não mesmo. Nunca tive
medo do lado negro de Kailan e não
será agora que começarei a ter.
Abaixo meu corpo até tocar cada
parte dele, esfrego-me... Passo o meu
rosto no seu com uma breve caricia e
quando chego em seu pescoço, sussurro
em seu ouvido.
-Monte-me companheiro.
Kailan não espera uma segunda
ordem, ele faz exatamente o que pedi.
Seu olhar está perdido como se
estivesse em um outro plano, como se
degustando cada mínimo movimento que
os nossos corpos compartilham.
Kailan chega cada vez mais
forte, mas mesmo assim não me
machuca, eu e ele compartilhamos da
força e resistência que a magia nos
proporcionou. Sinto meu corpo se
derreter, é como se os nossos corpos se
fundissem e quando pensei que não seria
capaz de sentir prazer maior, ele me
morde e todo o meu mundo explode.
-Minha menina...- ele sussurra quando
me põe deitada em cima de seu peito e
faz carinho em minhas costas.
-Meu menino, meu...pirralho...
Meu... Companheiro. – digo enquanto
minhas pálpebras pesam e o sono me
toma. Sinto exatamente o que Kailan
disse, eu voltei e sinto-me inteira pela
primeira vez em minha vida.

Ravi

Estava jogando videogame com


Sofia, na verdade prestava mais atenção
as caretas que ela fazia do que na tela do
jogo.
-Sabe... Alguém me prometeu
algo para depois que a guerra
terminasse... – Não queria a pressionar,
mas vamos lá, estava ficando difícil
conviver com essa mulher e acho que
nunca tomei tantos banhos gelados em
minha vida.
Ela pausa o jogo e me olha de
modo sério, ficou em dúvida se Sofia
vai brigar comigo ou rir, nunca dá para
saber quando o assunto é ela.
Sofia se ergue e fica em frente a
mim.
-Ótimo, um strip-tease! –digo só
para irrita-la, mas ela não sorri, ok...
Assunto sério então.
-Você me mostrou o seu outro
lado na guerra, Ravi... Um lado que sei
que não se orgulha, seu lado assassino e
frio... Eu quero que veja meu outro lado
também.
Ela fecha os olhos e uma luz azul
toma toda a minha casa. Sofia tem os
olhos como água, quase brancos. Seus
cabelos são tão dourados que parecem
ouro e sua orelha é um pouco pontuda na
ponta. Seu cabelo praticamente arrasta
no chão e ela usa um vestido solto que
não cobre muito do seu corpo e uma
coroa pende em sua cabeça. É como se a
personagem mais sexy do meu jogo se
personificasse em minha frente. E sabe o
que me matou? O olhar dela inseguro
pensando que eu iria rejeita-la por ser
tão perfeita assim para mim.
-Minha ninfa sexy, agora
poderemos brincar... Eu posso fingir que
sou o cara mau e você é a princesa. –
digo erguendo as duas sobrancelhas de
modo sugestivo o que a faz chorar de
tanto rir.
-É sério Ravi... – seguro em seu
rosto, beijo cada canto de sua face.
-Você é perfeita... Sei que
escolher ficar comigo completamente é
abrir mão de parte do seu poder, está
disposta a fazer isso por mim?
-Depende, você está disposto a
me ter por perto? Vamos combinar que
eu não sou a melhor pessoa para se
convi...- não deixo que ela termine a
frase, a beijo enquanto a carrego em
direção ao meu quarto.
Não são necessárias palavras
quando ambos ficamos nus e nos
tocamos com delicadeza. Ao nosso
redor gotículas de água voam e brilham
no escuro como pequenos vagalumes
azuis e assim, nesse cenário quase de
conto de fadas que minha sacerdotisa se
entrega para mim completa e
incontestavelmente minha.
Casa comigo?
Luana

Olho-me ao espelho, Noah não


me disse absolutamente nada sobre o
nosso encontro, então não sei se estou
vestida adequadamente. Escolhi uma
calça jeans, blusa com manga três
quartos e decote e um salto quadrado.
Ouço uma batida na porta,
suspiro e vou abrir. Noah está lá com
uma camisa social e calça jeans, fico um
tempo só o olhando, ele sorri e tira de
detrás de suas costas um imenso buquê
de rosas amarelas. Meu sorriso logo se
alarga, amo flores.
Seguro o buquê, é lindo...
-Acho que não deveria te dar
mais flores. – o encaro sem entender.
-Porque não? – o questiono.
-Porque eu só quero que olhe
deste modo- ele aponta para flores e
para mim-, quando estiver olhando em
minha direção.
Largo as flores na mesinha
próxima e o puxo para dentro o
beijando.
-Acho que não posso fazer isso
com as flores.- digo entre risos.
-Tem razão, então acredito que
tenha vencido da minha mais nova
concorrência.
-Humrum... – respondo enquanto
beijo sua mandíbula.
-Lua... – ele geme, amo quando
Noah fica a minha mercê, como se
estivesse enfeitiçado pelo meu toque.
-Hum...- continuo com meu
caminho de beijos até chegar próximo
ao seu ouvido.
-Nós vamos sair...- ele sussurra
sem muita certeza.
-Nós... Poderíamos passar a
noite aqui... Eu quero você, Noah...
Ele me afasta de vez do seu
corpo, me olha de cima a baixo.
-Prometo que no fim dessa noite
me terá, e você minha querida... Não
deveria ter me tentado desse jeito....-
seu sorriso é predador quando me olha
mais uma vez-, nós iremos ao nosso
encontro e ele terminará em sua cama,
com você se contorcendo de prazer.
O que dizer diante disso?! Como
uma boa menina, segurei em sua mão e
fui rebocada até seu carro. Noah passa o
rádio e deixa uma música tocando bem
baixo, o encaro e ele ora aperta o
volante, ora seca sua mão na calça... Ele
está nervoso. Quando vejo que vai
repetir o movimento mais uma vez com a
mão, a seguro e ele me olha.
-Eu amo você. – digo e Noah
sorri, ele suspira alto e parece relaxar
um pouco.
Não sei para onde exatamente
ele está me levando, passamos por uma
placa onde tem escrito o nome dele e o
alvará de construção, esse é o novo
empreendimento de Noah, um novo
condomínio... Só não sei por que ele
está me trazendo aqui...
-O que estamos fazendo aqui?
Esqueceu algo?
Nos últimos dias ele tem estado
muito nessa construção, mal o vejo.
-Você verá. – ele diz
simplesmente enquanto estaciona o
carro.
O lugar é uma construção, as
paredes ainda não estão terminadas, há
material e poeira em todo o canto. Ele
segura em minha mão quando andamos
no meio de toda a bagunça do canteiro
de obras.
A iluminação começa a mudar, é
como se vagalumes estivessem rodeando
os escombros e é lindo... Meus sapatos
fazem um barulho quando dou mais
alguns passos e percebo que nós agora
estamos andando em cima de um deck de
madeira, tem uma mesa com velas e
duas cadeiras logo a frente e mais a
frente dela um lago todo iluminado.
Olho para tudo ao meu redor, é
um contraste gigantesco: uma obra
inacabada, a delicadeza da mesa, a
beleza da iluminação e a obra de arte
que é o lago a minha frente.
-Você gostou? – ele me pergunta.
-É perfeito...- sussurro ainda
olhando para tudo ao meu redor.
Noah puxa a cadeira para mim e
sento-me. Seus olhos intercalam entre o
vermelho e o negro, isso só acontece
quando ele está excitado ou nervoso...
Nunca antes havia visto meu
companheiro nervoso como hoje.
Duas pessoas vestidas
impecavelmente caminham até a nossa
mesa e nos serve vinho, dois lobos...
-Noah... Porque eles estão aqui?
– pergunto intrigada.
-Precisava de alguém para nos
servir.- o olho intrigada e ele me
responde sem nem precisar que abra a
boca para perguntar-, não me importo
que me vejam te mimar, Lua... Meu povo
deve saber que o seu alfa só se ajoelha
diante de uma pessoa no universo, faria
qualquer coisa por você. Não me
importo que me vejam como um tolo
romântico, quero que eles saibam que
cada batida do meu coração ocorre por
sua causa.
Meu companheiro mudou muito...
Assim como eu. Ele e Kanut, eu e
Briana... Fomos personalidades que se
fundiram e se tornaram um.
-Quero que essa noite seja
perfeita para você. – ele diz.
-Ela já é, você está aqui. – digo
verdadeiramente, qualquer lugar no
mundo seria perfeito se fosse ele a estar
ao meu lado.
Conversamos sobre coisas
banais, comemos um prato delicioso e já
estávamos na sobremesa. Noah me
explicou que ficou muito tempo nessa
construção porque precisava concluir a
cozinha de uma das casas para que
pudesse usar hoje.
Olho ao longe no lago e quando
procuro Noah em seu assento, ele não
está mais lá. Noah está ajoelhado em
minha frente, novamente consigo sentir
seu nervosismo extremo.
-Acho que eu tive séculos para
ensaiar para esse momento, mas mesmo
assim não faz diferença. – sinto uma
vontade louca de passar meus dedos em
seu rosto, mas fico parada em meu lugar
esperando que ele termine de falar. –
eu... te amo. E essas três palavras
parecem ser tão pouco para resumir tudo
o que sinto por você... Eu me senti
queimar por toda a eternidade, queimei
como o sol por toda uma vida, eu
busquei você minha Lua... A brisa que
acalentou a minha dor, e passaria mais
uma eternidade queimando se fosse para
te ter no final, em meus braços. Nós
finalmente podemos parar de lutar
contra o destino, Lua... Nós finalmente
vencemos. Você é o maior prêmio que eu
poderia receber, eu te quero como minha
de toda e qualquer forma existente,
quero que em qualquer religião ou
continente as pessoas saibam que você é
minha, casa comigo?
Dessa vez não espero nem ele
terminar a frase, ajoelho-me a sua frente,
estou chorando e sorrindo ao mesmo
tempo.
-Sim, essa é a palavra que
sempre direi cada vez que me pergunta
se desejo ser sua, sim.
Rimos e choramos juntos, ele me
abraça e logo depois põe o anel em meu
dedo... O anel que sua mãe lhe deu e ele
me ofereceu agora pela terceira vez...
Na primeira eu não aceitei, na segunda
aceitei, mas depois de um tempo o
deixei em cima de sua cômoda... Essa é
a terceira, e eu jamais irei tira-lo do
meu dedo, assim como Noah jamais irá
sair do meu coração.

Loren

Já sabem o que aconteceu


comigo? O óbvio, Kailan não desgruda
de Bia, o que me fez sair do quarto. Eu
só fui para aquela faculdade porque Bia
insistiu muito em ficarmos juntas já que
Sarah está na Rússia, mas agora não
tenho isso como desculpa e perder meu
tempo em um lugar que não quero estar
não está na minha lista de coisas para
fazer em vida.
O resultado disso sou eu sem
rumo. Já se sentiu como se estivesse
perdida no universo? Você para e vê
todas essas pessoas vivendo
incansavelmente e correndo atrás de
seus objetos e pensa que você está
vivendo dentro de um sonho. As pessoas
sempre perguntam: o que você quer
fazer da sua vida?! E estranhamente
temos que ter essa resposta pronta assim
que terminamos o colegial, mas vamos
lá, que porra eu vivi para saber
responder a essa pergunta?! Então eu
decidi não fazer faculdade nenhuma, o
que foi um pouco complicado de
explicar para os meus pais. Eu só vou
viajar por aí... Conhecer gente nova,
descobrir novas culturas... A Sarah já
fez um itinerário para mim com todos os
locais pelos quais tenho que passar,
agora eu serei uma mochileira.
Decidi começar minhas viagens
logo após o casamento de Lua e Noah, o
que será daqui a alguns dias...
Todos estão novamente no
território de Noah, Sarah está chegando,
Bia e Kailan já estão aqui, meus pais
também... Toda a família está reunida
novamente, mas dessa vez não é para
uma reunião de guerras, é para algo bom
e isso por si só já me deixa tranquila.
Ah, eu tenho uma novidade!
Descobri que brilho no escuro! Não
estou brincando, um dia levantei para ir
no banheiro e quando me olhei no
espelho tinha uma mão brilhando em
meu pescoço. É claro que me
desesperei, daí lembrei que foi ali onde
Miguel me segurou, parece que eu tenho
pó de anjo em mim. Miguel foi um dos
motivos pelos quais resolvi sair
viajando por aí, descobrir que meu
companheiro é um idiota meio que me
fez perder alguma perspectiva de vida.
Quando Bia apareceu marcada
por Kailan, Ravi surtou e brigou com os
dois dizendo que eram jovens demais,
mas a Bia acabou brigando com ele e a
situação toda terminou com o Ravi tendo
que mimar a Bia por seu perdão.
Lua anda a flor da pele, o
costume é ter a noiva cuidando de todos
os preparativos de seu casamento, no
caso de minha tia, quem está cuidando
de tudo é Noah. Nem mesmo o vestido
foi ela quem escolheu, Raquel está
fazendo um vestido especial para ela.
Alicia parece mais feliz... Ela se
parece tanto com Noah... Alicia passa
uma segurança e força que inspira a
qualquer um e ouvi dizer que a sua
matilha é a mais organizada e dedicada.
Voltando ao meu pseudo-
companheiro, eu via meus pais em sua
eterna lua de mel, em seu eterno amor...
Sempre quis isso para mim, foi isso o
que quis por toda a minha vida, queria
alguém que me amasse tanto quanto meu
pai ama a minha mãe, queria me derreter
por alguém como minha mãe se derrete
por meu pai... Foi isso o que sempre
quis para o meu futuro, e o que recebo?
Miguel. A vida não é justa.

Lua

Finalmente é o grande dia, não


consegui comer nada desde cedo, estou
andando de um lado para o outro o
tempo inteiro. Noah me colocou em uma
das casas vazias, ele me disse que eu
não poderia olhar o lado externo até a
hora da cerimônia, então cá estou eu,
presa. Nem preciso dizer que o meu
querido noivo e companheiro tem estado
insuportável nos últimos dias, Noah
anda louco com ligações, vai para a
cidade mais do que o costume e sempre
está exausto, mas o pior de tudo, ele
nunca me diz o que está aprontando para
o nosso casamento, nada, nadinha.
Minha amiga Raquel criou um
vestido para mim, ele é lindo... Olho-me
ao espelho, não uso branco, meu vestido
é quase um dourado, mas bem
apagadinho, é como se fosse um tom de
areia com algum brilho, se é que isso
existe. O vestido abraça completamente
o meu corpo, ele é transparente em sua
maioria e muito bem trabalhado no
busto... Raquel é uma estilista realmente
muito boa. Não faço nada com o meu
cabelo, só o deixo solto e no meu rosto
não há quase maquiagem nenhuma, um
lindo buquê com minhas rosas
preferidas está em cima de uma
poltrona. Eu ando de um lado ao outro
porque pedi para Raquel ir buscar Ian e
ela está demorando demais para o meu
gosto.
Finalmente a lôra chega
novamente, mas está só.
-Onde ele está?
-Merda Lua, me diz que não vai
sair correndo no dia do seu
casamento?!- ela responde a minha
pergunta com outra, o que já me deixa
em alerta.
-Onde ele está?!
-Ele... Me disseram que Ian foi
embora.
Eu não espero que Raquel diga
nada mais, só corro. De longe ainda
posso ouvi-la gritar:
-Ele está te esperando no altar,
sua maluca!
Mas eu corro para o lado oposto
ao meu casamento, corro para o meu
amigo.

Ian

Hoje seria o casamento de Lua e


eu realmente desejo toda a alegria
àquela pequena, mas... Ver Lua e Noah
unidos dessa forma faz meu coração
doer... Não por ciúmes dos dois, mas
por saber que jamais seria eu nessa
situação, minha chance passou.
Estou ainda nas terras de Noah,
no mesmo local onde fiquei quando
Priscila morreu e Lua me encontrou e me
chamou para acompanha-la, estou me
despedindo...
-Ian... – ouço a voz de Lua e um
imenso dejavú me toma, foi exatamente
a mesma coisa há dezoito anos atrás. A
diferença era que Lua estava fugindo e
eu... eu também.
-O que está fazendo aqui?!
-Eu não acredito que iria embora
sem se despedir de mim! – ela empurra
o meu ombro emburrada.
-Eu jamais me despediria de
você, Você, minha amiga, estará sempre
comigo. Aqui- aponto para o meu peito,
ou o que sobrou do meu coração-, e
aqui- aponto para a lua cheia no céu.
Ela corre para os meus braços e
me aperta enfiando o rosto em meu
peito, suspiro... Lua vai ser sempre uma
menina para mim, mesmo que tenha um
companheiro, uma filha, um reino... Ela
sempre será a menina que irá me abraçar
e fazer com que o meu coração tenha um
pouquinho de paz.
-Você está linda... Feliz? –
pergunto e ela acena com a cabeça. - ,
então não fique triste por mim, Lua... Me
dê um presente, não fique triste por mim.
-Só se você me der um presente
de casamento. – ela diz com um sorriso
maroto nos lábios.
-Tudo bem...- digo um tanto
receoso com o que virá.
-Prometa, que jamais irá desistir.
– ela diz séria e seus olhos cintilam em
um azul profundo.
-Não desistir é o que eu tenho
feito nos últimos dezoito anos. –digo por
que é a verdade.- Agora, você tem um
casamento para ir, já fez os votos?
-Votos?! Ninguém me falou sobre
votos!- gargalho, é bem a cara de Lua
esquecer seus votos no próprio dia do
casamento.
-Acho que terá que improvisar-
aponto para Alec que a aguarda com um
buquê na mão a um metro de distância.
Lua faz uma cara engraçada e
acena. Abaixo-me e toco os meus lábios
no dela.
-Pra dar sorte, lobinha. – vejo
Lua dar as costas e ir de encontro ao seu
companheiro, e dessa vez nós
caminhamos em direções opostas, dessa
vez eu estou só e de repente a promessa
que acabei de fazer a Lua parece com
algo que não serei capaz de cumprir.

Noah

Estou esperando Lua no altar, eu


e toda a matilha, todos os nossos
familiares e amigos. Olho para o
caminho que Lua deveria percorrer e
Raquel me lança um olhar de sinto
muito.
Onde você está? – pergunto
usando nossa ligação.
Indo em direção a você. – ela
responde e eu suspiro, aceno para
Raquel saber que tudo vai bem.
Então minha Lua aparece... No
momento em que ela pisa o pé no
caminho aberto entre todos os nossos
amigos, todas as pétalas de rosas
amarelas que havia no chão começam a
brilhar e voar ao redor de todo o
ambiente, demorei para acertar esse
detalhe com os bruxos, mas aqui estava,
perfeito como havia imaginado.
Ela olha tudo ao redor
maravilhada, por alguns segundos vejo
Lua abaixar o buquê e erguer suas mãos
ao redor tentando pegar alguma das
pétalas. Sorrio com seu gesto.
Não está esquecendo de algo?
Ela me olha e se concentra
novamente em caminhar.
Caminhar em direção a mim, seu
lugar.

Luana

Seguro no braço do meu irmão,


Alec olha para mim com um sorriso
imenso.
-O que?!- pergunto sabendo que
tem outro motivo por trás de sua
felicidade.
-Vou ser pai. – ele diz
gargalhando enquanto continuamos
caminhando.
Onde você está? – ouço Noah
em minha mente.
Indo em direção a você. –
respondo.
Pulo nos braços de meu irmão.
-Eu vou ser tia, não acredito!!!
Parabéns!!!
-Calma lá, vai terminar de
estragar seu vestido. – quando ele diz
isso, olho para baixo e percebo que
sujei toda a barra, não está tão mal
assim, fora que estou descalça e meu pé
não é a coisa mais bonita de se admirar.
-Você continua um moleque,
maninha. – meu gêmeo diz enquanto
bagunça todo o meu cabelo.
-Alec!!- grito com ele enquanto
bato em suas mãos.
-Senti falta disso.- ele diz sério.-
está pronta para caminhar até o altar? –
Alec faz uma reverencia e me oferece
novamente seu braço.
-Pronta como nunca estive.-
respondo e me apoio no braço de meu
irmão.
Dei meu primeiro passo, meus
pés descalços tocando o solo que hoje é
sagrado para o nosso povo, essa é minha
casa. Parei um pouco para pensar sobre
os nossos mortos, mas sorri... A melhor
coisa para eles será consagrar essa terra
novamente com vida. Olho para cima e
vejo olhos vermelhos me encararem,
Noah está lindo com uma roupa formal
preta, ele não sorri... Só me olha como
se não tivesse mais nenhuma outra
pessoa no mundo, meu companheiro,
meu universo... Dou meu primeiro passo
para perto dele e rosas amarelas voam
ao meu redor, essa é a coisa mais bonita
que já vi... Principalmente por ter sido
ele a pensar em cada mínimo detalhe.
Fico um tempo tentando pegar as pétalas
até ouvi-lo em minha mente.
Olho ao redor, toda a minha
família sorri, minha filha chora, e um
sentimento acolhedor toma meu peito,
será que é isso ao que chamam
felicidade?
Continuo andando em direção ao
meu companheiro e mais uma vez eu
estava pronta para dizer que ele é e
sempre será a completa razão da minha
existência, meu companheiro, meu alfa,
meu amor.
Essa não é uma cerimônia
convencional, não há ninguém para dizer
o quão sagrada é essa união, nenhum
padre jamais saberia o quão sagrada ela
é. Então somos só nós dois e nossos
juramentos diante das pessoas que são
importantes em nossas vidas. A única
coisa que escolhi aqui foi a música que
tocaria quando eu estivesse dizendo
meus votos a Noah, coisa essa que ele
desconhece.
Quando fico de frente para Noah,
alguém pega meu buquê, meu irmão
beija a minha testa, mas eu não tiro os
olhos de Noah... Pisco meus olhos e
duas lágrimas rolam pela minha face.
Noah dá um passo em direção a
mim, fica em minha frente como se não
existisse ninguém nos observando. Então
a música de Bryan Adans começa a
tocar, Heaven, e eu digo cada palavra da
letra para ele, em sua mente.
Estive pensando em nossos
tempos mais jovens...Havia só você e
eu, éramos jovens, selvagens e livres.
Agora nada pode tirar você de mim...
Nós já estivemos naquela estrada
antes, mas agora acabou, você me faz
voltar para ter mais. Porque meu amor,
você é TUDO o que eu quero e quando
você está em meus braços quase não
consigo acreditar, estamos no paraíso!
E o amor é tudo o que eu preciso e
encontrei em seu coração... Não é tão
difícil de ver, estamos no paraíso!
Uma vez na vida encontramos
alguém que vira a sua vida de ponta
cabeça, que te anima quando está mal.
Agora nada pode mudar o que você
significa para mim...Há muita coisa a
dizer, mas apenas me abrace...Pois o
nosso amor irá iluminar o caminho.
Eu esperei a tanto tempo para
que algo acontecesse, para o amor
chegar...Agora nossos sonhos tornam-
se reais, na alegria e na tristeza, eu
estarei lá por você!
Sempre... –ouço-o falar em
resposta à música.
Dessa vez eu uso a minha boca
para falar, Noah está com seus olhos
marejados e eu já estou chorando há
muito tempo atrás, fungo e busco as
palavras.
- Eu te amo. E agora entendo o
que disse quando me pediu em
casamento, você me falou que essas três
palavras jamais seriam o suficiente, e
elas não são. Lembro-me de cada coisa
pela qual passamos, lembro-me da nossa
cabana, de como você me protegeu
quando eu estive ferida, lembro-me do
seu amor incondicional a mim... Isso foi
em outra vida. Nessa outra vida, nós
juramos amor e respeito um ao outro e
morremos por isso, morremos para
termos a chance de um dia podermos
viver e cumprir essa promessa mútua.
Esse dia é hoje, o tempo é agora e
finalmente podemos respirar, pois estar
sem você, Noah, é como estar em
constante busca por ar, você é a minha
vida e jamais duvide disso. Eu, Luana,
líder do clã Aesir- os primeiros mestres
da magia a andar sobre a terra-, Luna da
Pride de lobos, te aceito Noah, para ser
meu por toda a eternidade.
Consigo dizer antes de voltar a
chorar, Noah me encara com um sorriso
imenso e a música que ele escolheu para
mim começa a tocar, é a música de
Joahn Legend, You e I. E Noah faz o
mesmo que eu fiz, ele diz cada palavra
da letra só para mim.
Você passa maquiagem apenas
por passar, acho que não sabe o quanto
é linda. Experimente todos os vestidos
que tem, mas para mim você já estava
ótima a uma hora atrás. Se seu espelho
não quiser lhe mostrar a verdade, eu
serei quem vai lhe dizer: de todas as
garotas, você é a única que amo e não
há mais ninguém no mundo essa noite.
E todas as estrelas, você as faz brilhar
como se nos pertencessem, e não há
mais ninguém no mundo, só você e eu.
Apenas você e eu...
Todos prestam atenção quando
você passa, os holofotes estão em você,
todos estão olhando. Diga aos que te
querem que estão apenas perdendo
tempo, nem façam fila, pois ela é toda
minha. E essa é uma noite que não
quero esquecer, e jamais quero sair do
teu lado. Você fica em dúvida se é
mesmo a que quero, nem precisa pensar
nisso, nem pense.... De todas as
garotas, você é a única que amo e não
há mais ninguém no mundo essa noite.
E todas as estrelas, você as faz brilhar
como se nos pertencessem, e não há
mais ninguém no mundo, só você e eu.
Apenas você e eu...
Sempre...- respondo para ele.
Noah coça a garganta quando a
música termina, ele suspira. Sua voz sai
mais forte do que já é, ele está
prendendo o choro e choro ainda mais
ao vê-lo nessa situação.
-Lua... Eu sei que para sempre é
um tempo longo, mas eu não me
incomodarei em passar ao seu lado – ele
sorri ao dizer isso-. Você é minha
menina, minha mulher e nunca irei
cansar de dizer o quanto você é perfeita.
Eu te amo, e mais do que isso, te aceito.
Era isso o que faltava para nós dois há
dezoito anos atrás, aceitação. Faltava a
maturidade de sabermos que uma
relação só existe quando ambos cedem
em prol do outro, quando há respeito
mútuo, amor sem maturidade para se
saber amar é só uma bomba relógio,
ambos aprendemos isso. Você foi a
mulher que destruiu meu mundo e sei
que meus pais estariam orgulhos se
pudessem te conhecer, digo que destruiu
meu mundo porque depois que te
conheci todo o resto ficou cinza quando
não te tinha ao meu lado e eu finalmente
pude entender o que minha mãe me
disse: escolha uma mulher que destruirá
seu mundo. Essa mulher é você. Eu te
escolhi há centenas de anos e continuo te
escolhendo a cada dia, sempre foi você
e será sempre você. Eu, Noah, Supremo
Alfa da Pride de lobos e segundo em
comando do clã Aesir, te aceito Luana,
para ser minha por toda a eternidade.
Ouço palmas, mas a única coisa
que penso é em beija-lo. Nunca entendi
os casais que faltavam se comer em um
beijo em cima do altar, e aqui estávamos
nós fazendo exatamente a mesma coisa.
Toda a matilha uiva em uníssono e
depois um silêncio gigantesco se faz.
Quando eu e Noah paramos de nos
beijar e olhamos para frente, todos eles
estavam prostrados em reverencia.
Eu vou fazer desse lugar seu
lar, companheira – ouço seu timbre em
minha mente.
Você já fez.
Epílogo
26 anos depois.

Vittore

Finalmente o ciclo se refez, tanto


o passado quanto o presente estão
seguros, minha sobrinha está deitada em
meu peito e embora tenha passado por
muita coisa, está inteira, que é o que
mais importa no momento. Megan se
tornou em tão pouco tempo a alegria da
minha existência, nunca poderia
agradecer o suficiente a Elloah por isso.
-Mestre... Temos... Problemas. –
ele olha de mim para Megan, mas sei
que ela está adormecida, eu só posso ter
sonífero no meu terno, ela sempre dorme
em cima de mim.
-Diga.
-Dracon está dizendo que
descobriu o paradeiro daquela que
possui poder sobre você.
-Como ele descobriu algo que eu
não fui capaz? – há quase três décadas
estou em busca de Sarah, mas não
consegui encontrar sequer resquícios de
sua existência.
-Mestre... Alguns dos nossos
estão seguindo um pessoal dele, o que
deseja que eu faça?
-Nada. Cuidarei disso
pessoalmente. – ele me reverencia e sai.
Ainda fico um tempo ali sentindo o peso
de Megan sobre mim... Lembro-me do
que aconteceu há tantos anos atrás, de
como fui capaz de tomar o total controle
do corpo da garota... Eu disse tudo
àquilo para ela porque queria assustá-la,
se ela não conseguia se defender de
mim, também não conseguiria se
defender dos muitos inimigos que
colecionei ao decorrer das eras. Só
queria que ela levasse a maldita
profecia a sério e pudesse se cuidar
sozinha, então ela fez isso e muito bem.
Tão bem que nem eu mesmo era capaz
de localiza-la.
Convenci-me por todo esse
tempo que isso foi o melhor que poderia
acontecer. Na época eu não sabia o que
significava a palavra amor e afeto,
Megan me ensinou isso... Mas eu
conheço Megan, ela é o meu sangue.
Não faz sentido sentir isso com Sarah.
Sacudo minha cabeça renegando
esses pensamentos e acordo Megan, ela
reclama em demasia e acaba levantando.
-Tenho que resolver algumas
coisas. – digo e ela levanta como um
sonambulo e começa a subir as escadas,
sei para onde ela estaria indo, para o
meu quarto.
-E preciso que você vá embora.
– digo, não sei o que vai acontecer se
encontrar Sarah, não sei o que farei e
tudo o que não preciso nesse momento é
de Megan metendo o bedelho em meus
assuntos.
-Você está me expulsando? – ela
cerra seus olhos em jade para mim.
-Sim querida, até mais. Não
esteja aqui quando eu voltar.
-Te amo também seu idiota! –
ouço-a gritar quando já estou correndo
em alta velocidade.
Sarah, Sarah... No que você se
meteu dessa vez?

Loren

Como previsto em minha vida,


rodei o mundo. Foi realmente bom, mas
têm uns cinco anos que terminei meu
curso de direito. Nas minhas andanças
por aí, o que mais vi foi gente sendo
injustiçada por uma lei que só existe
para poucos. Então cá estou eu,
advogada. Meu pai fica com os olhos
brilhantes quando me vê atuando, segui
sua profissão e ele está muito orgulhoso
com isso.
Eu estava voltando para casa,
meu padrão de vida aumentou muito já
que meu pai e minha mãe gostaram tanto
da ideia de viajar pelo mundo, que me
largaram a frente da empresa dos dois e
fizeram o mesmo que eu, fazer o que,
esse são Leandro e Raquel.
Enfim, estava eu voltando para a
minha casa, acionei o portão automático
e entrei na garagem com o carro, então
ouvi uns barulhos esquisitos... Devagar
fui ver o que era, o que?! Sou curiosa.
Novamente o cheiro de pêssegos me
inebria e mesmo se eu quisesse parar de
caminhar ao encontro do odor, é mais
forte do que eu... É como um chamado.
Encontro em um canto, jogado,
sujo e ferido... Miguel.
Eu poderia dar alguns passos
para trás e fingir que ele está aqui em
frente em minha casa somente pelo
acaso do destino... Mas como sou
sortuda, quando dou um passo para trás,
piso em algo que faz barulho. Ele geme
e abre seus olhos, lindos olhos
caramelos, merda, como eu ainda
consigo ficar paralisada por causa desse
cara?
Ele senta com sua cara confusa,
sangue sai de cortes em seu corpo, ele
olha de um lado ao outro, parece
confuso. Então se foca em mim e vocês
não vão adivinhar a primeira coisa que
ele me diz, estranhamente não é: vou te
matar.
-Você é bonita. – é o que o anjo
do mal me diz e eu fico ali estarrecida.-
quem é você? – ele continua. Como
assim quem sou eu?
-Loren, e você? – dizem que
quando encontra um maluco tu precisa
ser doido na mesma medida, então estou
entrando no jogo.
-Angelo. – Angelo?! Farejo o ar
e nope, definitivamente esse cara é o
Miguel.
-Ham, então ‘Angelo’, o que está
fazendo aqui? – o questiono.
-Eu não sei.
-Onde é sua casa?
-Eu não sei.
-Quem te machucou?
-Eu não sei.
Ele me olha com expectativa
como se eu fosse capaz de responder a
todas as suas perguntas, vocês lembram
da cara que o gato do Shrek faz?
‘Angelo’ consegue fazer isso muito bem.
E eu não acredito em mim
mesma quando o ajudo a se levantar e o
levo para dentro da minha casa.
Ian

Estou no meu cafofo, me afastei


de todo mundo ao decorrer dos anos.
Seguro uma arma em uma mão enquanto
entorno mais uma garrafa de vodka.
Prometa para mim que não irá
desistir.
Ouço a voz de Lua em minha
mente, encaro a garrafa vazia e arma em
minha mão e a promessa que fiz a 26
anos atrás parece algo dito em outra
vida...
Se existisse algum sentido,
qualquer que fosse, eu poderia
continuar... Mas eu estive tentando me
convencer por todos esses anos que sou
capaz de viver em um mundo sem ela, e
eu não sou, jamais serei. Então qual
sentido em continuar? Talvez desistir
também seja um continuar de algum
modo. Destravo a arma e aumento o
som, a introdução de uma das minhas
músicas favoritas começa a tocar, é
wish you where here de Pink Floyd.
Com a arma destravada, me jogo
no encosto no sofá e aponto o cano para
o meu queixo enquanto digo as frases da
música e as malditas lágrimas escorrem
pelo meu rosto.
-“Então, então você acha que
consegue diferenciar o Paraíso do
Inferno, céus azuis da dor?! Você
consegue diferenciar um campo verde de
um frio trilho de aço? Um sorriso de
uma máscara, você acha que consegue
diferenciar?!” – jogo a garrafa na parede
e continuo com a arma engatilhada e
apontada para mim- “Eles fizeram você
trocar seus heróis por fantasmas? Cinzas
quentes por árvores? Ar quente por uma
brisa? O conforto do frio pela mudança?
Você trocou um papel de figurante numa
guerra por um papel principal numa
cela?!” – memórias dela voltam até
mim, não faz sentido... Não faz sentido
viver em um mundo sem você – “Como
eu queria... Como eu queria que
estivesse aqui! Somos apenas duas
almas perdidas nadando em um aquário
ano após ano! Correndo sobre este
mesmo velho chão, o que encontramos?!
Os mesmos velhos medos! Queria que
estivesse aqui...”
Um soluço vem atrás do outro,
meu dedo coça para terminar logo com
isso, desistir... Um novo começo.
-Porra Priscila! Só me diz, me
diz que eu não deveria desistir, me dá
um sinal, qualquer coisa, me diz que eu
não deveria apertar esse gatilho e
acabar de vez com a minha miséria!
Com quem eu penso que estou
falando? A música acaba e estou só
novamente.
Fecho meus olhos e quando iria
apertar o gatilho sinto mãos me
impedindo, puxo o ar e sinto o cheiro
dela... Eu queria abrir os olhos e
encontra-la lá, mas eu sei... Sei que
quando o fizer o cheiro irá sumir e
encontrarei só o vazio me encarando de
volta. Então não abro meus olhos. Sinto
mãos segurando as minhas, depois sinto
mãos tocando o meu rosto, fazendo o
caminho que minhas lágrimas fizeram,
eu a sinto... Decido fazer algo que ainda
não tinha feito, uso minha velocidade e
tento segura-la. Abro meus olhos quando
minha mão se fecha em um pequeno
pulso. Mas não há nada em minha
frente... Olho para a minha mão que está
fechada, mas mesmo assim há um
circulo perfeito entre os meus dedos, eu
definitivamente estou segurando algo,
seu cheiro impregna o lugar, meu
coração bate descompassado.
-Priscila?
-Não desista... – ouço uma voz
sussurrar antes que o que quer que eu
houvesse segurado sumisse bem diante
dos meus olhos.
Sinopse Livro III, Meu Anjo

SINOPSE SUPREMO ALFA, LIVRO III


(final) – MY ANGEL

Vittore vive na terra desde que


ela foi criada, Cain foi seu primeiro
nome e a ele foi dada a maldição que
carrega até hoje. Frio, calculista, cruel,
ele conhece outros sentimentos ao
encontrar Sarah, agora uma mulher. Seus
frios olhos azuis o hipnotizam e ele faz
de tudo para não se ver a mercê dessa
mulher que está fadada a ser a sua ruína.
Ian viveu muito tempo em
tristeza ao perder sua companheira, no
dia que quase desiste, uma chama de
esperança toma o seu coração. Ele vai
fazer de tudo para ter a sua companheira
de volta, por qualquer meio e de
qualquer forma. Ian acaba criando uma
armadilha com sua magia e prende... Um
anjo. Ela é ruiva como Priscila era, mas
suas características em comum param
por aí, o ser a sua frente jura que não é a
Priscila, mas ele sente... Ele sabe... Ela
é sua e ele jamais a deixará novamente...
Só precisa convencê-la disso.
Miguel é jogado na terra depois
de cair em uma armadilha forjada pelos
seus semelhantes, viveu muito tempo em
agonia sendo prisioneiro de uma
vampira sádica. Ele esqueceu quem era,
esqueceu seu nome... Seu ser foi
fragmentado em milhares de pedaços.
Megan o curou, o ajudou, o deu um
nome... Angelo. Então novamente ele foi
feito prisioneiro, novamente suas
memórias foram apagadas, ele só se
lembra do nome, Angelo. Acorda e vê
uma linda mulher, pensa que ela é
perfeita, então ele a segue, cada passo,
cada gesto... Ela era perfeita.

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