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Reforma Religiosa Protestante e Contra

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Reforma Religiosa Protestante e Contra-reforma da Igreja Católica

Reforma Religiosa Protestante

Durante toda época da Idade Média, que coincide com as monarquias do período do feudalismo na
Europa, a religião ocupava um lugar de destaque na vida dos povos europeus, sobretudo no início da
Idade Moderna (1453-1789).

O cristianismo tinha-se consolidado, a vida do Homem, desde o nascimento até à sua morte passava pela
prática de actos religiosos. O nascimento, o baptismo e o enterro deviam se realizar em conformidade
com a norma e prática dos cristãos. A necessidade de se garantir uma boa vida depois da morte obrigava
os fiéis cristãos a terem que praticar actos bondosos que passavam pelo pagamento do dízimo e
indulgências, doações em favor da Igreja. A igreja Católica Romana era complacente com práticas de
cobrança das indulgências, algumas vezes de forma exagerada, em prejuízo das populações e fiéis da
igreja. A heresia, no século XVI, por volta de1500, estava morta, a Igreja Católica não tinha outras igrejas
como rivais e praticava abusos em favor do Clero. Propagava-se que para alguém ter boa vida depois da
morte ele devia pagar indulgências, comprar imagens santas, pagar pontualmente o dízimo (10% do
rendimento da pessoa). Nesta conformidade, a Igreja Católica tornou-se rica mas essa riqueza apenas
beneficiava o clero.

Não havia distribuição proporcional da riqueza. Foi nessa situação que surgiu a contestação contra os
actos praticados pela Igreja Católica. O mentor do protesto foi o Bispo alemão Martinho Lutero. A
motivação da reforma protestante ocorreu em 1517, quando Lutero se deparou com o dominicano Tetzel
que vendia indulgências em Wittnberg. Em resposta a este acto abominável, no dia 31 de outubro de
1517, Lutero escreveu e apresentou 95 teses que criticavam a Igreja Católica e Papa. Lutero fixou as suas
teses na porta da igreja, na catedral de Wittnberg.

A Reforma Protestante foi um acontecimento de maior dimensão na Europa no século XVI. Ela foi
fomentada por razões políticas e religiosas. Nessa época o principal embate acontecia entre a Igreja, isto é
o Papa e as Monarquias. O Papa pretendia ter poder sobre todos os monarcas. É assim que a primeira tese
de Lutero se referia ao domínio espiritual sobre o povo e detinha um certo controlo administrativo dos
reinos, que eram desejados pelos reis. Como forma de garantir o direito divino, os governantes cobiçavam
o poder espiritual e ideológico pertencentes à Igreja Católica e ao Papa. A título de exemplo, a usura, ou
seja empréstimos com juros, era considerado um pecado pela Igreja, que também criticava e condenava a
acumulação de bens e do lucro. Foi a venda de indulgências que motivou a Reforma Protestante de Lutero
e seus seguidores. Ao mesmo tempo, a população estava cansada de ser explorada pela Igreja católica, ela

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sentia a falta do propósito. Os mosteiros e bispados ocupavam o lugar central na vida das monarquias, as
Igrejas detinham muitas terras e o clero vivia explorando os camponeses.

É preciso referir que, apesar de Lutero ter sido mais conhecido no movimento de Reforma, na verdade, o
movimento teve como base as ideias do professor e teólogo inglês John Wycliffe. Wicliffe levantou várias
questões sobre a Igreja Católica, entre elas a necessidade de se enquadrar a figura do Papa. É assim que
Wycliffe dizia que “Nosso Papa é Cristo”, ele tinha como propostas reformistas: a pobreza apostólica; a
escritura como única Lei da Igreja; Os eleitos são a Igreja, não o Papa e os cardeais; Cristo é o cabeça da
igreja, não o Papa. Ora seguindo a lógica de Wycliffe, Lutero dizia que “ é audacioso assegurar que o
Papa possa livrar as almas do Purgatório. Se ele é bondoso, se ele pode fazer isso, então ele é cruel em
não livrá-las todas:”

Algumas das teses de Lutero são:

 16ª Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, semidesespero e a
segurança;
 20ª Portanto, sob a remissão plena de todas as penas, o Papa não entende simplesmente todas,
mas somente aquelas que ele mesmo impôs;
 27ª Pregam futilidades humanas quantos alegam que momento em que a moeda soa ao cair na
caixa a alma se vai do purgatório;
 34ª Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por
homens;
 36ª Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão da pena e culpa, pela fé
em Cristo, mesmo sem carta de indulgência;
 75ª A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um
homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

Naquele tempo, a acção de Lutero se repercutiu por toda Europa, no ano 1518 Lutero foi acusado de
heresia, foi chamado em Roma. O monge recusou a ordem papal e manteve suas ideias e posições, que
também expressavam a opinião de boa parte da população, que estava a favor de Lutero. Foi assim que
em 1520, Lutero recebeu uma “Bula Papal”, que ordenava que ele se retirasse ou seria excomungado.
Como resposta, ele, juntamente com os estudantes e professores da Universidade de Wittnberg
queimaram a Bula em praça pública, desvalorizando o Papa. Em seguida, em 1520, Lutero redigiu três
ratados que estabeleciam as bases do Luteranismo e o início da Reforma Protestante: A Nobreza Cristã da
Nação Alemã; da Servidão Babilónica da Igreja; da Liberdade de um cristão.

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Em 1521, foi organizada uma assembleia, a “Dieta de Worms”, onde Martinho foi considerado herege.
Depois disso ele foi obrigado a ter que exilar-se no Castelo de Wartburg, onde ele permaneceu por um
ano e fortaleceu seus ideais. Além das 95 teses, Lutero teve papel importante na tradução da Bíblia,
assim, ele publicou obras como: Tradução da Bíblia para o alemão (apenas existia a Bíblia em Latim);De
servo arbítrio (da Vontade cativa); Von den Juden und ihren Lügen (Sobre judeus e suas mentiras).

Lutero teve apoio de docentes e príncipes, por exemplo Melanchton, professor da Universidade de
Witteburg apoiou as ideias reformistas. Melanchton redigiu a “ Confissão de Augsburgo” em 1530, que é
um documento com 21 artigos que defendiam o protestantismo e indicavam os 7 erros da Igreja: Sola fide
(Somente a fé); Sola scriptura (Somente a Escritura); Solus Cristus (Somente Cristo); Sola gratia
(Somente a Graça) e Soli Deo gloria (glória somente a Deus).

Ora as ideias reformistas protestantes tiveram alcance em França e Holanda, tiveram como principal líder
João Calvino que fundou o Calvinismo. Calvino apresentou a “doutrina de predestinação “, segundo a
qual a salvação não dependia das boas acções e graça do Papa, a salvação não dependia dos fiéis, mas sim
de Deus que escolhia as pessoas que deveriam ser salvas. As sínteses das doutrinas luteranas e calvinistas,
com alguns traços da liturgia católica, transformaram a Inglaterra em uma nação oficialmente protestante.
Henrique VIII fundou a Igreja Anglicana, como religião de estado, livrando-se do Papa. John Knox,
seguidor de Calvino, introduziu o Protestantismo na Escócia. Para os protestantes, as igrejas devem ser
governadas por religiosos eleitos pelas comunidades, os presbíteros, livres da tutela do Estado. Seus fiéis
são chamados presbiterianos.

A reforma protestante politicamente representou uma grande evolução, a partir dessa reforma, apoiados
pelas ideias de Maquiavel, ao publicar seu livro “O Príncipe”, os monarcas e príncipes iniciaram uma
reforma na governação deixando de depender directamente e somente do Papa, até ao momento da
reforma era o Papa quem colocava a coroa na cabeça do rei ou príncipe. Foi assim que, Luís XIV da
França, ao receber o trono, se recusou que fosse o Papa a lhe colocar a coroa na cabeça dizendo: “ Le roy
c´est moi1 - o rei sou eu!”, Luis XIV arrancou a coroa das mãos do Papa e colocou-a, sozinho, na sua
cabeça. Por isso se pode dizer que a reforma protestante reforçou o poder dos monarcas e também das
igrejas locais, diminuído o poder do Papa.

Para entender o movimento da reforma protestante há ter em conta que nessa época os rei tinham um
poder limitado, dependiam, em parte, do Papa. Quando este não estivesse de acordo com o
comportamento dum monarca excomungava-o, era o maior castigo que um cristão podia receber do Papa.

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É interessante lembrar que, no século XX, Jacques Chirac, antigo Presidente da França, usou uma expressão
idêntica, para se opor aos que não aceitavam suas ideias. Ele disse: “ C´est moi qui decide!- sou eu quem decide!”

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A Contra-reforma Católica

Quando a reforma protestante despontou na Europa, houve certos fiéis e cardeais que se opuseram a esse
movimento. Nem todos desejavam reforma a Igreja Católica e nem todos rejeitaram a autoridade do Papa,
foi o caso de Inácio de Loiola (1491-1556). Ele fundou a ordem dos Jesuítas. Loiola na verdade não
desejou desobedecer o Papa, apoiava-o. Ele afirmava que para a salvação era importante continuar
obedecer Roma e ao Papa. Loiola mobilizou outros crentes para não abandonarem a Igreja Católica que
ele via como a melhor e mais antiga Igreja Cristã.

A partir de 1540, o próprio Papado se envolveu em acções para contrapor a reforma protestante. Este
movimento recebeu o nome de contra-reforma Católica. Para tal, o Papado tomou algumas medidas como
a criação do Tribunal de Santa Inquisição para julgar os hereges. Ao mesmo tempo no campo da literatura
algumas obras foram proibidas de circularem entre os fiéis da Igreja Católica. Os culpados depois de
julgados eram condenados à morte por fogo, sendo queimados vivos para desencorajar os que pretendiam
abraçar o protestantismo. Foi em 1540 que se realizou um Concílio Geral da Igreja Católica, “O Concílio
de Trento”, na fronteira entre a Alemanha e Itália. Forma realizadas três sessões e houve três resultados a
partir desse Concílio: houve condenação dos principais abusos do clero em desfavor dos fiéis; foi definida
a doutrina correcta da Igreja Católica; foi criado um sistema eficiente de supervisão eclesiástica para
monitorar e controlar os cardeais, bispos e frades. Em complemento foi montada a ortodoxia, uma
iniciativa para promover ofensiva educacional segundo a doutrina da Igreja Católica.

Com aquelas acções e medidas a Igreja Católica se reforçou no Mundo, ela readquiriu os terrenos que
havia perdido no contexto das guerras entre católicos e protestantes. Na Polónia, o catolicismo cresceu,
passando a ser o país europeu com mais católicos.

A fase mais decisiva da luta entre protestantes e católicos aconteceu no Sagrado Imperio Romano, tendo
começado em 1618-1621, quando imperador Fernando II, apoiado por tropas espanholas, dos católicos
alemães e do Papado, derrotou os protestantes da Boémia. Foi desta forma que o catolicismo se tornou
religião privilegiada em Boémia e na Morávia. Encorajado por este sucesso o imperador Fernando II
tentou reduzir a influencia dos príncipes protestantes na Alemanha. Apesar da ajuda recebida da
Inglaterra, Holanda e Dinamarca, em 1629 as tropas do imperador venceram e foi proclamado o Édito de
Restituição que reclamava grandes porções de terras em favor da Igreja Católica, essas terras estava na
posse dos protestantes. Mas os protestantes não se renderam e com o auxílio do rei Gustavo Adolfo da
Suécia conseguiram derrotar as forças do imperador em Breitenfeld, em 1631, e em Lützen, em 1632.

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Nesse quadro, a Espanha interveio para auxiliar o imperador, enquanto a França entrou na guerra para
ajudar os protestantes. Esta guerra se generalizou na Europa.

As rivalidades políticas e religiosas no contexto da contra-reforma católica, que duraram cerca de um


século, tiveram seu desfecho nas batalhas de Nördlingen (1634), Wittstock (1636), Recroi (1643) e
Jankau (1646). A guerra terminou com a paz de Münster-Westfalia. A partir dessa época as fronteiras
religiosas e políticas dos Estados da Europa Central foram estabelecidas e ficaram inalteráveis por cerca
de cem anos.

De 1500 a 1688, no Nordeste da Europa ocorreu a ascensão do Estado Moderno. Os estados ainda
confiavam na boa intenção dos nobres para refundar os territórios, até 1660 surgiram novas monarquias,
que nunca se libertaram completamente da estrutura de governação que havia antes, por exemplo, os
Tudor ainda dependiam dos juízes da paz, que eram proprietários de terras locais e eles não recebiam
qualquer vencimento (salário) pelas suas acções. Apesar disso, um aparte da aristocracia ainda chegou a
se rebelar contra Isabel I em 1659-1670 e muitos pares apoiaram o Parlamento contra Carlos I. A política
dos impostos forçados, numa altura de preços elevados e alto desemprego, casos que provocaram as
revoltas francesas, o mesmo sucedeu na Inglaterra, surgiram insurreições contra as monarquias, tal como
as revoltas em Inglaterra de 1549 a 1607, tal como se viu na Revolução Burguesa Inglesa.

Outras revoltas ocorreram em 1549 (Peregrinação da Graça na Inglaterra) e o Movimento de Convenção


na Escócia e em 1638. Algumas instituições, como as igrejas já tinham a protecção dos monarcas,
havendo pouca interferência estatal. Tanto na França como na Inglaterra, o movimento de reforma que
pretendia ter mais poder local fracassou, os monarcas tiveram mais poder, diferentemente da Itália e
Alemanha onde os principados tinham mais poder, apoiados pelas igrejas protestantes. Depois de 1660, e
sobretudo depois de 1688 o poder foi restabelecido, repartido entre o parlamento e o monarca. Faziam
parte do Parlamento os proprietários de terras, comerciantes e a coroa. O poder era inda absoluto, mesmo
após 1707, quando a Escócia se incorporou na Inglaterra formando a Grã-Bretanha, enquanto em França,
o colapso e fracasso de Fronde desimpediu a intenção de Luís XV de querer impor o absolutismo.

Concluindo, a reforma protestante e a contra-reforma católica tiveram implicações na configuração do


poder político e religioso na Europa. A contra reforma contribuiu para o reforço da centralização do poder
político na França e Inglaterra. Enquanto a reforma protestante favoreceu a descentralização na Alemanha
e Holanda, a título de exemplos. Ao entrar no século XVIII, vai-se assistir a aceleração de processos de
expansão e colonização, era o início do poder colonial nas Américas, África e Ásia.

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