Perícias Médicas Odontológicas e Antropológicas 1
Perícias Médicas Odontológicas e Antropológicas 1
Perícias Médicas Odontológicas e Antropológicas 1
ANTROPOLÓGICAS
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SUMÁRIO
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1. MEDICINA LEGAL E PERÍCIAS MÉDICAS
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A especialidade foi passado, é tendência para o futuro. É eterna e contínua.
“Tem ela, a Medicina Legal, tantos admiradores, como vêdes, que é
semelhante a certas mulheres bonitas: sempre dão que falar de si”, Afranio
Peixoto (1938).
O especialista em medicina legal e perícias médicas tem em sua expertise a
prioridade máxima de não negar o que é legítimo e não conceder o que não é devido.
A sua função primordial em auxiliar na justiça social é a principal diferença dessa
especialidade das outras áreas da medicina chamadas de medicina assistencial e
como demonstrado pode ser considerada uma das especialidades mais antigas da
medicina.
Em seguida iremos falar sobre a perícia odontológica e suas particularidades e
a importância da antropologia forense.
3
2. ODONTOLOGIA FORENSE
Figura 1
4
As identificações realizadas por odontolegistas nos desastres em massa
alcançam aproximadamente 70% das identificações que se tem realizado
mundialmente, comprovando ser um método de tradição e provada eficácia. (FRARI
et al, 2008).
Além disso, faz-se imprescindível citar que os elementos dentais são os órgãos
mais duráveis do corpo humano. (TERADA et al., 2011),exemplo disso, são em casos
de guerra, acidentes de grande magnitude e desastres naturais, a identificação
dentária torna-se necessária devido a grande decomposição dos corpos. (BRKIC et
al. apud MARTINHO, 1997). Contudo, os meios de identificação odontolegal citados
na literatura são: arcada dentária, grupo racial, anatomia do crânio, dna, rugoscopia
palatina, determinação do sexo pelas características cranianas, estimativa da idade
pelos dentes, determinação da idade pelo ângulo mandibular, estimativa da altura
usando os dentes, fotografias do sorriso e a autópsia virtual.
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3. REVISÃO DE LITERATURA
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4. PERÍCIA EM FORO CRIMINAL
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cadáveres; exame de exumação, realizado mediante a retirada do cadáver da
sepultura; e exame laboratorial, para verificar toxicologia e identificação de DNA.
Figura 2
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Figura 3
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genético. A datiloscopia é outro método eficaz e bastante utilizado; entretanto, em
algumas situações, os dados das impressões digitais não estão disponíveis no local
onde ocorreu o crime, ou ainda, pode ocorrer a destruição das impressões digitais por
putrefação ou carbonização, o que inviabiliza o uso desse método.
Sendo assim, o exame de um corpo por meio da boca e das arcadas dentárias pode
ser fundamental em uma perícia criminal, já que não existem dentições análogas, os
dentes são estruturas altamente resistentes e fornecem informações individuais que
podem auxiliar nas investigações.
5. IDENTIFICAÇÃO HUMANA
Figura 4
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quais as polpas digitais tenham sido destruídas; em grandes catástrofes; em casos de
dilaceração do corpo e em perícias antropológicas (no crânio esqueletizado).
Figura 5
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Independentemente do método utilizado para identificação do cadáver, os
resultados da comparação de ante-mortem e post-mortem levam a uma das quatro
situações seguintes:
Identificação positiva: existe singularidade suficiente entre os itens
comparáveis nos bancos de dados;
Identificação presumível (possível): existem características em comum entre
os itens comparáveis nos dados ante-mortem e post-mortem, entretanto, informações
oriundas de ambas as fontes podem ser insuficientes;
Evidência insuficiente para identificação: não existe evidência suficiente
disponível;
Exclusão das evidências de identificação: existem tanto discrepâncias
explicáveis como inexplicáveis entre os itens comparáveis nos dados ante-mortem e
post-mortem.
A Odontologia Legal é útil na identificação de vítimas mortais, principalmente
nas situações de catástrofes e de conflitos armados que ocorrem frequentemente, na
identificação de agressores em processos criminais, passando por avaliação e
reparação de danos corporais, e até na identificação de alguns tipos de intoxicações.
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O cirurgião-dentista deve ser detalhista ao registrar dados referentes à
identificação do paciente, anamnese, exame físico geral, extra e intrabucal com
preenchimento de odontograma (ausências dentárias, restaurações, tratamentos
endodônticos, implantes, giroversões, próteses, dentre outras características), plano
de tratamento com opções terapêuticas e valores correspondentes, bem como no que
concerne à evolução do tratamento. As anotações presentes em fichas clínicas sobre
os procedimentos efetuados, associados aos materiais restauradores e às
particularidades morforradiográficas dos elementos dentários e áreas circundantes,
podem permitir uma identificação positiva de vítimas.
Figura 6
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pessoais, entre outros. Além disso, os dentes e materiais odontológicos possuem
considerável resistência física e química à ação do calor, de traumatismos e alguns
agentes químicos.
A resistência dos dentes e dos materiais restauradores é fator que viabiliza a
utilização do método odontológico nas identificações post-mortem, principalmente nos
corpos carbonizados e/ou calcinados, putrefeitos e esqueletizados. Com efeito, a
indestrutibilidade é uma característica que confere maior resistência ao dente do que
ao próprio osso a altas temperaturas (600-650° C).
Tendo em vista a diversidade de procedimentos reabilitadores que podem ser
efetuados durante a prática clínica, torna-se importante que o cirurgião- -dentista
esteja atento para o correto registro, acondicionamento e arquivamento das peças que
compõem a documentação odontológica: o prontuário odontológico, exames por
imagem, modelos de gesso e fotografias. Além disso, marcas para identificação em
próteses dentárias são importantes porque, ainda que possam ser obtidos, os
registros odontológicos de um paciente edêntulo têm chances de não reproduzir o
estado atual dos rebordos e osso alveolar. Informações comumente utilizadas para
marcas de identificação em próteses dentárias removíveis incluem o nome da pessoa,
número da carteira de motorista e/ou outra informação numérica.
Por saber da importância clínica e legal do prontuário odontológico para resguardar o
exercício da Odontologia, o CFO disponibiliza um modelo de prontuário, devendo o
cirurgião-dentista observar o seu conteúdo e adaptá-lo à sua rotina clínica.
b. Marcas de Mordida
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detalhes, em situações em que estes existem, a identificação das marcas pode ser
extremamente útil para estabelecer uma ligação entre a pessoa mordida e o mordedor
ou excluir os inocentes.
A dentição humana possui uma singularidade de indivíduo para indivíduo, ou
seja, é única e possui diferenças entre as pessoas. Até mesmo nos casos de gêmeos
homozigóticos, diferenças são observadas, de acordo com estudos que comprovaram
não haver dois indivíduos com a mesma dentição. A marca de mordida constitui uma
lesão produzida pelos dentes humanos e/ou animais, na pele, em alimentos, vestuário
ou em outro tipo de objeto, que resulta da aplicação de forma acentuada dos dentes
numa base que é passível de ser deformada. Geralmente, são observadas em casos
de abuso sexual, homicídios, violência doméstica, assaltos, abuso infantil, entre
outros.
Figura 7
Figura 8
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Figura 9
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da saliva existente no objeto que foi alvo da agressão, registrando-se que uma marca
de mordida é acompanhada pela presença de saliva.
A tecnologia pode ser utilizada para ajudar nas investigações criminais por meio
de reprodução de objetos mordidos nas cenas de crimes. Quando a moldagem do
local da marca da mordida é impossibilitada (marcas de mordida em alguns tipos
alimentos), a reprodução desses objetos pode ser feita utilizando-se a prototipagem
rápida. Além disso, os avanços tecnológicos podem ser empregados para a
identificação do agressor por meio da análise do DNA presente na saliva encontrada
na marca da mordida.
O conhecimento da análise das marcas de mordida por parte do odontolegista
é de extrema importância no âmbito criminal. Essa é uma ferramenta interessante que
pode ser utilizada pelo odontolegista em investigações criminais.
c. Queiloscopia
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Figura 10
Figura 11
d. Rugoscopia Palatina
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orientação e configuração variam de forma significativa em indivíduos diferentes. Por
serem imutáveis, em condições normais, por toda a vida, inclusive até certo período
após a morte, as rugas palatinas são eficientes na identificação humana em cadáveres
recentes, mas não correspondem a uma técnica útil na investigação de suspeitos na
cena de um crime. Entretanto, alguns eventos, como extrema sucção digital e
constante pressão devido ao tratamento ortodôntico, podem provocar alterações nos
padrões das rugas palatinas.
Figura 12
Figura 13
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A rugoscopia palatina como sistema de classificação foi proposta em 1930 pelo
pesquisador espanhol Trobo-Hermosa, mas várias formas de classificação foram
sugeridas nos anos seguintes. Uma delas é a elaborada por Cormoy, que criou um
sistema que classifica as rugas palatinas, de acordo com as suas dimensões, em três
categorias: ruga principal (acima de 5 mm), ruga acessória (variando de 3 a 4 mm) e
fragmentos (com menos de 3 mm). Aliado com a forma em linha, curva e angulada,
aponta-se, também, a origem, a direção de cada ruga e a possibilidade de
ramificações.
A análise e a classificação das rugas palatinas podem ser feitas de modo a se
preservarem as provas que podem ser usadas no futuro, por meio de modelos de
gesso ou de fotografia do palato registrados ante-mortem
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forma, torna-se imprescindível a atuação do odontolegista na coleta do material
genético que será analisado.
A análise genética pode, ainda, ser feita por meio da saliva humana, pois o
DNA salivar mantém-se estável e pode ser recuperado sobre a vítima viva ou no
cadáver, dependendo do tempo em que ocorreu a lesão. A análise da saliva pode ser
feita, por exemplo, em casos de violência em que restaram na vítima marcas de
mordida.
Nessa situação, o DNA salivar encontrado na marca de mordida pode ser
fundamental para a descoberta do agressor. As investigações criminais podem contar,
também, com a análise de DNA salivar deixado em objetos e restos de alimentos na
cena do crime, o que pode levar à identificação do criminoso.
A atuação do especialista em Odontologia Legal é de extrema importância, e a
análise odontológica é um meio muito utilizado, sendo o principal uso dessa
especialidade voltado à identificação de agressores em processos criminais e vítimas
mortais nos casos de catástrofes e conflitos.
Os dentes e materiais restauradores têm alta resistência, inclusive a
temperaturas elevadas. Além disso, o lábio possui marcas exclusivas do indivíduo, e
as rugas do palato são imutáveis durante toda a vida, inclusive até certo período após
a morte. Esses são alguns fatores que fazem a cavidade oral apresentar um grande
potencial para a identificação. O cirurgião-dentista deve ser cuidadoso ao guardar o
prontuário, as radiografias e os modelos em gesso dos pacientes, cabendo-lhe anotar
todas as informações, pois estas podem servir para a identificação positiva de vítimas .
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Importa esclarecer qual o objeto de estudo dessa disciplina que lida
principalmente com restos humanos e que muito se tem desenvolvido nas últimas
duas décadas. Corpos em adiantado estado de decomposição, em que os traços
faciais já não permitem qualquer tipo de reconhecimento, esqueletos, ossos,
fragmentos ósseos, ossos/corpos queimados são todos materiais que podem ser
considerados casos de antropologia forense.
Convém referir ainda que os antropólogos forenses também trabalham com
indivíduos vivos, nomeadamente na estimativa da idade tanto de menores sem
documentação como de indivíduos mais idosos que nunca souberam exatamente a
idade que têm e que, numa dada fase da vida, precisam da validação legal da idade.
Para ver com mais detalhe quais as atribuições atuais da antropologia forense ver
Cunha (2017).
Figura 14
9. A PERÍCIA
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reconhecimento é praticamente impossível, mas mesmo que não o fosse nunca
poderia ser suficiente para se devolver um corpo à família.
Uma vez feita a recuperação dos vestígios humanos - a qual deve ser efetuada
com a participação de antropólogos forenses, a identificação inicia-se pela avaliação
dos fatores genéricos de identidade, denominado perfil biológico, que engloba quatro
parâmetros: a ancestralidade, isto é, a origem geográfica; a idade à morte, mais
concretamente o grupo etário; o sexo e a estatura.
Estes quatro parâmetros possibilitam criar um perfil que, uma vez confrontado
com os dados das supostas vítimas, permite fazer exclusões. Ou seja, se a vítima
analisada for uma mulher, com uma idade entre 20 e 30 anos, de ascendência
europeia e com uma estatura entre 160 e 165 cm, e se na listagem de desaparecidos
só constarem homens, naturalmente que pode ser feita uma exclusão. Mas se em
uma outra relação de desaparecidos constarem cinco mulheres com esse perfil, os
fatores de identidade podem fazer o "desempate".
Em outras palavras, uma vez diminuído o leque de indivíduos desaparecidos
na análise comparativa, examinam-se os fatores individualizantes, ou seja, as
características únicas tais como variantes anatômicas, lesões ósseas, marcas de
cirurgias, entre outros. Sendo essas particularidades individualizantes e exclusivas de
cada indivíduo, a sua confrontação com os dados antemortem dos desaparecidos,
especificamente com a informação clínica e imagiológica, pode permitir a identificação
positiva.
Há assim duas grandes etapas no processo de identificação: a primeira é uma
fase reconstrutiva, em que se tenta captar o máximo de informação através do exame
do corpo, e a segunda, uma etapa comparativa, em que essa mesma informação é
comparada com as características da suposta vítima.
A avaliação do sexo faz-se para os indivíduos adultos prioritariamente com
base nos ossos da bacia. Os ossos pélvicos femininos, ao estarem adaptados ao
parto, têm uma série de particularidades - bacia mais baixa e larga, por exemplo - que
permitem uma boa discriminação entre os dois sexos. Atualmente, é possível, através
da análise métrica da bacia, quantificar a probabilidade de ser homem ou mulher, o
que constitui um resultado muito mais objetivo. Também o crânio (Fig.1 abaixo) e os
ossos longos permitem uma boa avaliação sexual.
A estimativa da idade à morte remete sempre para um grupo etário, ou seja,
para um intervalo de idade, e nunca para um valor preciso. Para os não adultos (com
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menos de 20 anos), há um conjunto grande de indicadores ósseos e dentários
(desenvolvimento e erupção) que resultam numa boa aproximação à idade. Já a
estimativa da idade dos adultos é bastante mais problemática. Quanto mais velho for
o indivíduo, mais amplo é o intervalo etário estimado. Há toda uma série de alterações
degenerativas no esqueleto que são avaliadas, desde a sínfise púbica na pélvis às
costelas.
O modo como os vários indicadores são cruzados tem-se revelado crucial para
a obtenção de bons resultados. Já para avaliar a região geográfica de origem (a
ancestralidade), o crânio, particularmente a face (Fig.1 abaixo), é a zona esquelética
mais informativa. Através de uma análise métrica e não métrica é também possível
quantificar a probabilidade de ancestralidade africana, europeia ou asiática. Por fim,
a estatura é calculada com base no comprimento dos ossos longos, sendo o fémur,
por ser o maior destes, o mais indicado.
Sobre os fatores individualizantes, as placas de osteossíntese (colocadas em
cirurgias para consolidar fraturas), as marcas de cirurgia, os osteófitos (vulgarmente
conhecidos como bicos de papagaio) e fraturas ósseas antigas ilustram bem aquilo
que se examina no esqueleto. Quando nenhum dos fatores é suficientemente
individualizante, ou quando não há elementos antemortempara a confrontação, pode-
se recorrer à aproximação facial, considerada uma subárea da antropologia forense.
Esta requer peritos muito especializados, e o Brasil conta com alguns deles.
24
Figura 15
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sua vez tem implicações marcantes na resolução de casos criminais e na justiça,
nomeadamente na condenação de homicidas. Veja-se o exemplo de um crânio
totalmente esqueletizado com um pequeno orifício circular de entrada de um projétil
situado (localizado na parte de trás da cabeça). A sua etiologia (causa) é altamente
consistente com homicídio, ou seja, a vítima foi, muito provavelmente, executada.
A violência no Brasil é, infelizmente, fartamente conhecida, fazendo da
necessidade de exames antropológicos algo óbvio. O fogo é cada vez mais um meio
usado para ocultação do crime. Os casos das mortes em microondas e em que os
corpos são colocados dentro de pneus de automóveis para serem
queimados/destruídos a temperaturas muito elevadas são dois exemplos mais
flagrantes e, lamentavelmente, associados ao Brasil. Nestes casos torna-se
particularmente difícil discriminar uma fratura térmico induzida (provocada pela ação
do fogo) de uma fratura resultante de uma agressão. Uma vez mais, os progressos
na investigação sobre ossos queimados têm permitido resultados cada vez mais
seguros.
Figura 16
26
Responder à questão de quando morreu pode ser particularmente difícil quando
o corpo já está totalmente esqueletizado, já que a decomposição é um processo
multifatorial onde há que ter em conta vários parâmetros. Por exemplo, um corpo com
o crânio esqueletizado, as extremidades mumificadas e o tórax saponificado
(transformação química do corpo que o protege da decomposição) e que ainda
preserve as roupas vestidas, ou seja, diretamente associadas ao corpo, estas poderão
dar uma contribuição importante para a avaliação do período de tempo decorrido
desde a morte.
A etiqueta da roupa poderá remeter para o fabricante que, por sua vez, poderá
dizer há quanto tempo o modelo em causa foi fabricado, o qual estabelecerá um limite
temporal. Ou seja, se o modelo foi fabricado há 3 anos, a morte não poderá ter
acontecido antes disso. Este é apenas um exemplo de como o exame antropológico
é um exame holístico, em que tudo tem que ser levado em consideração. Claro que
há também alguns métodos de cronologia absoluta e relativa, onde entram disciplinas
como a botânica, a química e a entomologia forenses.
Há uma lógica e necessária interligação entre as três grandes questões de um
exame de antropologia forense: há quanto tempo morreu, de que/como morreu e
quem era. De nada vale dizer que foi uma morte violenta se não se souber quem era
a pessoa. Por outro lado, se a morte tiver acontecido há mais de 50 anos, por exemplo,
o caso poderá estar prescrito, mostrando que a dimensão legal do caso também é
importante.
27
Figura 17
28
Apesar de haver algumas publicações científicas sobre o desenvolvimento da
disciplina no Brasil, ainda falta um levantamento mais exaustivo que englobe a sua
origem e história. Sheila Mendonça de Sousa, antropóloga biológica do Rio de
Janeiro, pode ser considerada uma precursora da antropologia forense no Brasil, já
que a aplicação dos métodos e técnicas da área tem origem no campo da antropologia
física/ biológica.
As razões para o tardio desenvolvimento da disciplina no Brasil, sobretudo
quando comparado com outros países da América Latina, como a Argentina, têm sido
imputadas à ditadura militar (1964-1985) e à falta de apoios e incentivos estatais.
Apesar de existirem profissionais a fazer exames de antropologia forense nos
institutos médico legais (IMLs) brasileiros há pelo menos três décadas - como no caso
de Brasília, onde o grupo de antropologia forense foi criado em 1992, a verdade é que
somente em 2012 foi criada a Associação Brasileira de Antropologia Forense (Abraf).
Ou seja, só então começa uma verdadeira interação entre os profissionais que tem
resultado em um verdadeiro salto qualitativo e em uma maior visibilidade internacional
dos trabalhos desenvolvidos.
As perícias de antropologia forense são predominantemente feitas nos IMLs,
com algumas exceções, como é o caso de Porto Alegre, com o Departamento Médico
Legal (DML) do Instituto Geral de Perícias (IGP), ou de Natal, com o Instituto Técnico
Científico de Perícia (ITEP-RN). São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo
Horizonte, Guarulhos e Goiânia têm IMLs bem conhecidos, com muito bons peritos.
O mesmo acontece em cidades menores como Aracaju e João Pessoa. Os peritos
são sobretudo odontologistas e médicos.
Belo Horizonte conta, muito provavelmente, com a maior equipe de
profissionais dedicados à antropologia forense, com cerca de nove profissionais que
têm sido essenciais, entre muitos outros exemplos, na identificação das vítimas do
trágico desastre em massa de Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro de 2019.
Em Salvador, temos outro caso de equipe de referência, que inclui duas
médicas e duas odontologistas. O Serviço de Antropologia Forense de Porto Alegre
foi criado em 1997 e, em 10 anos (1997-2006), examinou 334 casos. Já o Rio de
Janeiro conta apenas com um perito na área desde 2010, ano da criação do Serviço
de Antropologia Forense (Safo) - desde então coordenado por Marcos Paulo Salles
Machado (IML-AP).
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À semelhança dos outros serviços de antropologia forense, também este está
ligado ao Departamento de Polícia Técnico Científica da Polícia Civil, tutelado pela
Secretaria de Segurança Pública. Ou seja, pode ser considerado como uma unidade
da polícia. No Safo, de 2011 a 2017 foram analisados 196 casos.
Outro centro de referência é o Laboratório de Antropologia Forense do Centro de
Medicina Legal (Cemel), criado em 2005 por Marco Aurélio Guimarães na Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Esse
centro analisou 66 casos de indivíduos totalmente esqueletizados de 1999 a 2009.
Como se pode verificar pelos exemplos dados, é muito difícil fazer uma análise
comparativa da frequência de casos nos vários IMLs já que, sobretudo, a forma como
são contabilizados não é uniforme.
A USP tem liderado a investigação em antropologia forense feita no Brasil, e
verifica-se que são sobretudo os odontólogos que publicam na área. Um dos grandes
problemas encontrados ao longo dos anos é a falta de capacitação específica entre
os profissionais. A partir de 2012 surgiram ações pontuais da Academia de Polícia
(Acadepol) e workshops promovidos pela Cruz Vermelha Internacional. Em 2014,
surge o primeiro curso de especialização em antropologia forense, em Salvador, que
capacitou como especialistas três das peritas do IML Nina Rodrigues. Em 2017 foi
criado o curso de especialização em antropologia forense e direitos humanos da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o apoio do Centro de Arqueologia
e Antropologia Forenses (Caaf) da mesma universidade.
Merecem também destaque as formações tuteladas pela Polícia Federal,
especialmente as de 2017, coordenadas por Carlos Palhares, que tiveram um papel
mobilizador e agregador com peritos de quase todos os estados do Brasil. O fato de,
no país, serem sobretudo odontologistas a fazer perícias antropológicas é um caso
praticamente ímpar no panorama mundial, só encontrando paralelo no Sri Lanka.
Seria importante que outras formações de base, como a biologia e a antropologia
biológica pudessem ser reconhecidas para a prática de antropologia forense, o que
ainda não aconteceu. Não menos importante é a certificação internacional dos peritos,
que é uma garantia de qualidade - algumas especialistas brasileiras começaram a
fazê-lo, havendo já algumas certificadas.
O já referido artigo de Gorka e Plens identificou 34 instituições onde são feitas
investigações em antropologia forense no Brasil. Entre elas, as faculdades de
odontologia lideram a produção científica, a dizer, a USP, a Universidade Estadual de
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Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Goiás (UFG). Também os centros
de investigação que têm coleções osteológicas identificadas têm, mais recentemente,
sido beneficiados por esses verdadeiros "laboratórios de investigação" que são as
coleções.
O Brasil conta hoje com, pelo menos, sete coleções de esqueletos identificados
que estão começando a permitir a validação dos métodos a serem aplicados na
resolução dos casos forenses. Alguns desses centros, como é o caso do Centro de
Estudos em Antropologia Forense (Ceaf) da Universidade de Pernambuco (UPE),
participam ativamente no ensino e na divulgação das ciências forenses, como é o caso
do mestrado em ciências forenses da UPE, em Recife, único no país. Uma revista
dedicada à antropologia forense acaba de ser criada: o primeiro número
do BrazilianJournalofForensicAnthropology& Legal Medicine está no prelo, graças à
dinâmica da Abraf.
O papel da antropologia forense na identificação de restos mortais dos
desaparecidos da ditadura merece ser destacado. O Grupo de Trabalho de Perus
(GTP), sediado em São Paulo e criado em 2014, tem analisado centenas de
esqueletos encontrados em uma vala comum do cemitério de Perus (oficialmente
Cemitério Dom Bosco), localizado na zona norte da cidade de São Paulo. Após anos
de pesquisa, o GTP viu o seu esforço recompensado com a identificação positiva de
duas das vítimas, em 2018.
As valas comuns se configuram como uma grave violação dos direitos humanos
e são um crime que não prescreve. O GTP pode ser considerado como uma das
respostas à condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) em 2011, que levou a uma intensificação dos grupos de trabalho de reparação,
justiça de transição (referente aos reparos às violações dos direitos humanos), direito
à memória e à verdade. O Grupo de Trabalho do Araguaia, estabelecido em 2011,
também merece ser salientado. Ele tem localizado os prisioneiros políticos
desaparecidos em áreas rurais.
Igualmente merecedor de referências é a integração de peritos especialistas
em antropologia forense nas equipes de disastervictimidentification (identificação de
vítimas de desastres; DVI). Neste aspecto, o Brasil apresenta um bom nível
internacional e está perfeitamente capacitado para fornecer uma resposta rápida e
eficiente, como é o caso do mais recente desastre de massa que afetou o país, em
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Brumadinho, já aqui referido, mas também de outros, como os acidentes dos voos
1907 da Gol, em 2006, e 447 da Air France, em 2009.
Figura 18
Perito do DF Samuel Ferreira na área atingida pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG) —
Foto: Arquivo pessoal
Figura 19
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Figura 20
Cranotanatognose:
Busca conhecer o intervalo de tempo volvido após a morte. Para identificação
de óbitos mais recentes, comumente são utilizadas a temperatura corpórea, a
presença e fixação de livores hipostáticos e a rigidez cadavérica. Na identificação de
óbitos não recentes, são verificadas, principalmente, as fases de putrefação do corpo.
Figura 21
33
Figura 22
Livor cadavérica em pessoa que permaneceu em decúbito ventral após a morte. Observe a geometria
dos livores, que correspondem à forma dos objetos contra os quais esteve apoiado.
Identificação humana:
Genérica: busca determinar a espécie do material biológico examinado, se é
humano ou animal.
Específica: a idade pode ser estimada por meio da análise de centros de
ossificação, da sínfise pubiana, da contagem de osteócitos e da mineralização e
erupção dos dentes. A partir da puberdade e por meio da morfologia óssea da pelve
e do crânio, pode-se estabelecer o gênero do indivíduo. A estatura por meio da medida
dos ossos, e a etnia por meio das medidas antropométricas (estudo das medidas e
dimensões das diversas partes do corpo humano), ainda que comum a miscigenação.
Individual: busca determinar a identidade do cadáver por meio da comparação
de dados de provável indivíduo com os da ossada.
34
exemplo, no entusiasmo com que participam nas ações de formação, na qualidade
das perícias realizadas, nas apresentações dos congressos da Abraf e na recente
criação de uma revista científica da especialidade por parte dessa associação. A Abraf
sem dúvida tem alavancado e dinamizado a disciplina. Ainda assim, falta uma maior
visibilidade internacional do trabalho desenvolvido no Brasil, que pode ser conseguido
por uma maior participação em congressos internacionais e, sobretudo, por mais
publicações em revistas internacionais revisadas pelos pares.
Assim, é possível concluir que a odontologia legal adquire um papel relevante
no processo de identificação, sendo incontestável a fundamental importância do
odontolegista visto que, a identificação trata-se de um processo que necessita ser
incorporado no contexto da perícia médico-legal e odontológica, fornecendo
esclarecimentos à justiça de maneira eficaz para uma identificação positiva.
Convêm ressaltar, do mesmo modo, a importância de alertar os colegas cirurgiões-
dentistas para a necessidade do correto preenchimento e arquivamento dos
prontuários odontológicos, uma vez que, além da importância clínica, eles podem
fornecer esclarecimentos relevantes à Justiça.
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