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A Maravilhosa Cidade Espetáculo No Palco Do Jornalismo Belle Époque

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro, RJ – 4 a 7/9/2015

A maravilhosa cidade espetáculo no palco do jornalismo Belle Époque1

Marta Eymael Garcia SCHERER 2


Escola Superior do Ministério Público da União, Brasília, DF

Resumo

No ano – e em um evento – que comemora os 450 anos do Rio de Janeiro, nada mais
apropriado do que revisar a produção jornalística de uma época em que a cidade vivia seu
esplendor. Na virada do século XIX para o XX, a então Capital Federal foi palco de grandes
transformações, relatadas por uma imprensa poderosa e atuante, que registrava a vida
carioca em clima de Belle Époque Tropical. Através dos textos impressos e expressos de
seus jornalistas, com especial ênfase para as crônicas de Olavo Bilac, este artigo aborda a
relação da comunicação com a cidade espetáculo por excelência, o Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Rio de Janeiro; crônica; Belle Époque; Olavo Bilac; história do jornalismo

Foi notadamente ao longo do século XIX que o homem consolidou algo portentoso na
história da vida humana moderna ocidental: a cidade. Não apenas por ser o palco de duas
das mais intensas experiências vividas pelo homem - a máquina e a revolução - mas
também por causa da majestade do cenário e suas implicações, a cidade produziu novas
formas de se relacionar e comunicar.

Saudada pela grande maioria como o ápice do progresso humano, a vida citadina também
encontrou críticos, que não foram poucos. De todas as maneiras, não passou desapercebida
por aqueles homens e mulheres que rompiam com modos de vida há séculos arraigados. Os
entusiastas eram maioria, como se pode ver num artigo de 1908, escrito pelo arquiteto
alemão August Endell, quase que alegoricamente intitulado Beleza da Metrópole: “Força
inventiva, pertinácia audaz, coerência admirável, síntese de projetos audaciosos e trabalhos
individuais esmerados – tudo isso plasma ao nosso redor um mundo tão rico e tão cheio de
vida que nenhuma época jamais conheceu” (FABRIS, 2000. p. 69).

1
Trabalho apresentado no GP História do Jornalismo do XV Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento
componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2
Doutora em literatura, jornalista, assessora-chefe do Ministério Público Federal de Santa Catarina, professora orientadora
na Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) email: martascherer@gmail.com

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Como explica Adrian Gorelik (apud MIRANDA, 1999, p.55) no texto O moderno em
debate: cidade, modernidade, modernização: “A cidade americana não é apenas o produto
mais genuíno da modernidade ocidental, mas também, ademais, é um produto criado como
uma máquina para inventar a modernidade, estendê-la e reproduzi-la”. O Rio de Janeiro é a
cidade brasileira paradigmática desta modernidade americana, estudá-la e entendê-la é
fundamental para pensarmos a relação da comunicação com a vida citadina. É preciso se
debruçar sobre o Rio de Janeiro não somente como um lugar, mas quase como uma
‘máquina’ criada para inventar e reproduzir os tempos modernos e que, como tal, presta-se
“à multiciplidade de olhares entrecruzados que, de forma transdiciplinar, abordam o real na
busca de significados.”(PESAVENTO, 2002, p. 9).

Foi atráves do porto desta maravilhosa, que agora completa 450 anos, e pelos mais de
quinhentos mil habitantes que viviam no Rio de Janeiro em 1890, número que dobra até
1920, que se vivenciou o início da modernidade brasileira. É a partir dela e deles que se
desenvolverão mudanças fundamentais nos processos comunicacionais que implicavam
diretamente em mudanças na vida urbana e social. A maior cidade do país, terceiro porto
americano em volume de comércio, superado apenas por Nova Iorque e Buenos Aires,
serve como paradigma para todo Brasil, da mesma forma que Paris era o modelo a ser
seguido pelas capitais americanas.

Embora o Rio de Janeiro estivesse muito longe de ser Paris e não apresentasse as condições
que hoje conhecemos como as de uma metrópole, as pessoas sentiam-se como cidadãs
cosmopolitas. Ainda que a industrialização somente se consolide no país em meados do
século XX, fatores como o fluxo de informações, a violenta urbanização, a imigração e os
avanços tecnológicos fizeram com que os habitantes do Rio de Janeiro vivessem um estado
de euforia modernizadora. Nessa fase, como explica Beatriz Sarlo, “a cidade é vivida a uma
velocidade sem precedentes, e as conseqüências desses deslocamentos rápidos não são
apenas funcionais. A experiência e a luz modulam um novo elenco de imagens e
percepções”. (SARLO, 1997, p.203)

Durante os anos 1903 a 1906 grandes transformações de natureza econômica, social,


política e cultural agitaram a então Capital Federal. A implementação das novidades no Rio
de Janeiro foi realizada em ritmo acelerado e cercada de polêmicas. José Murilo de
Carvalho lembra que a capital econômica, política e cultural do país sentiu de forma muito

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mais intensa que as demais cidades brasileiras as mudanças que vinham sendo gestadas
desde o império e que culminaram com a abolição da escravidão e na proclamação da
República. E que essas transformações fizeram com que “de uma maneira ou de outra, para
melhor ou para pior, grande parte dos fluminenses foi pela primeira vez envolvida nos
problemas da cidade e do país” (CARVALHO, 1987, p.16). A cidade era o cenário das
sucessivas substituições, no qual, no dizer de Nicolau Sevcenko, “a nova classe
conservadora ergue um decor urbano à altura de sua empáfia”(SEVCENKO, 1989. p30) .

É nesse movimento, que se convencionou chamar de bota-abaixo, que as transformações da


urbe carioca aparecem com mais nitidez e se cristalizam. Com o nome oficial de “Plano de
Embelezamento e Saneamento da Cidade": o popularmente famoso bota-abaixo trouxe
grandes mudanças para a capital do país. Tal plano nada mais era do que a reformulação e
ampliação do antigo “Plano de Melhoramentos”, de 1875, que previa a abertura de grandes
eixos de circulação da cidade e que havia sido elaborado por uma comissão da qual faziam
parte o próprio Pereira Passos –agora prefeito - e os engenheiros Jerônimo de Rodrigues de
Morais Jardim e Marcelino Ramos da Silva.

No Rio de Janeiro do início do século, essa questão da territorialidade


manifesta-se de forma latente. Nesse período, conhecido como a Belle
Époque, a cidade vai passar por modificações decisivas na sua estrutura
urbana. Através da reforma de Pereira Passos (1904), é realizada uma
série de medidas para estabelecer a sintonia da cidade com a modernidade.
Mas esta sintonia é precária, lacunar e, sobretudo, artificial. (VELLOSO,
1990, vol. 3, n. 6).

Um dos mais importantes cronistas do período e da história do jornalismo brasileiro, João


do Rio escreveu sobre o desaparecimento do Rio de Janeiro antigo, o que lastimava, já que
“uma cidade moderna é como todas as cidades modernas”, nas quais o progresso se impõe e
“destrói vinte ruas e solta sobre as ruínas um automóvel.” É em tom de lamento que o
jornalista escreve:

O Rio - cidade nova - a única talvez no mundo – cheia de tradições, foi-se


delas despojando com indiferença. De súbito, da noite para o dia,
compreendeu que era preciso ser tal qual Buenos Aires, que é o esforço
despedaçante de ser Paris, e ruíram casas e estalaram igrejas, e
desapareceram ruas e até ao mar se pôs barreiras. Desse descombro surgiu
a urbs conforme a civilização, como ao carioca bem carioca, surgia da
cabeça ao pés o reflexo cinematográfico do homem das outras cidades. Foi
como nas mágicas, quando há mutação para a apoteose. Vamos tomar

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café? Oh! Filho, não é civilizado! Vamos antes ao chá! E tal qual o
homem, a cidade desdobrou avenidas, adaptou nomes estrangeiros, comeu
à francesa, viveu à francesa. (RIO, 1909, p.214)

Lima Barreto, outro grande jornalista do início do século XX, faz coro a João do Rio,
quando escreve que as autoridades acreditam ser necessário que o Rio se aproxime mais de
Buenos Aires e, em tom irônico, afirma: “A capital da Argentina não nos deixa dormir”. E
continua, na mesma crônica publicada em 1911: “Esse furor demolidor vem dos forasteiros,
dos adventícios, que querem um Rio-Paris barato ou mesmo Buenos Aires de tostão”
(BARRETO, 2004, p.101). Foram muitas e rápidas as transformações – concretas e
ideológicas - que tentaram tornar possível essa semelhança entre as metrópoles americanas,
sobretudo os do Sul do continente, entre as quais o Rio de Janeiro se destaca ao lado de
Buenos Aires, com as do mundo europeu. Tal semelhança, entretanto, enfrentava um
grande obstáculo para que pudesse se concretizar: o fato de que, nas palavras de Nestor
Canclini, “tivemos um modernismo exuberante com uma modernização deficiente”
(CANCLINI, 2003, p.67).

A tensão na construção dessa modernidade que se impôs é relatada por muitos escritores da
época, assim como a necessidade do Brasil em se inserir no mundo moderno. Em conto
como sugestivo nome de Evolução (HARDMAN apud CARVALHO, 1988, p. 24),
Machado de Assis coloca na fala de um dos personagens o que passava pela cabeça de
muita gente: "O Brasil é uma criança que engatinha, só começará a andar quando estiver
cortado de estradas de ferro". Escrito em 1884, duas décadas antes das reformas que
marcaram a tentativa de entrada na modernidade através da modernização, a frase mostra
como o sentido de progresso já era vivido pelas gentes daquele final de século.

Entre tantas crônicas que narram estes eventos, encontramos uma de Olavo Bilac, outro dos
mais importantes jornalistas do período, que conta sobre a inauguração de um monumento e
das mudanças na cidade:

A cidade, antes de entregar-se no regabofe do carnaval, teve uma linda


festa, suave e civilizada: a inauguração da fonte artística, que os
industriais portugueses Ramos Pinto & Irmãos ofereceram ao Rio de
Janeiro, e que o prefeito municipal mandou colocar no jardim da praça da
Glória. No lindo e sóbrio discurso (agora incluído no volume das
Relíquias da Casa Nova), com que Machado de Assis inaugurou o busto
de Gonçalves Dias no Passeio Público, há alguns períodos que devem ser
lembrados hoje: “Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins

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públicos... Talvez este busto emende o costume; mas, supondo que não,
nem por isso perderão os que só vierem contemplar aquela fonte que me
ditou páginas tão magníficas” (...) Assim falava o mestre, há cinco anos,
no Passeio Público. E nessas palavras está bem indicado e definido o
deplorável abandono que, naquele tempo, ficavam os jardins públicos,
entregues à solidão e ao silêncio, sossegados e ermos como capelas
solitárias.Em cinco anos, porém, houve um milagre. Gonçalves Dias não
ficou ali, no Passeio, como num cemitério: o jardim está todos os dias
cheio de uma alegre multidão. E outros jardins foram criados, e todos eles
estão cheios de gente, da manhã à noite. Se, em cinco anos apenas,
relendo este trecho do famoso discurso, já podemos registrar uma tão
extraordinária mudança nos hábitos da população – que não será se
cotejarmos a época de hoje com a de há vinte ou trinta anos? (BILAC,
25/02/1906)

O texto nos mostra, ainda, como o sonho da modernização a todo custo é vivido nas capitais
periféricas e apresenta uma abordagem sui generis. Ao desejar transformar os hábitos e
investir na remodelação arquitetônica faustuosa, concentrando forças para formar uma
sociedade ‘elegante’, a modernidade vivida aqui é como uma vitrine ricamente adornada.
Essa fachada transparece uma mentalidade que se quer cosmopolita, mas que antepõe as
representações simbólicas ao desenvolvimento propriamente dito.

O caso do Brasil – que em menos de duas décadas passa de um sistema escravocrata para o
trabalho livre e sai da monarquia para a república – é exponencial para entender como a
modernidade se deu na periferia: de forma tardia e acelerada. Sintetizando esse novo país,
sua Capital Federal vive “tempos eufóricos”, usando a expressão tão bem empregada por
Antonio Dimas ao referir-se aos primeiros anos do século XX.

Esse sentimento eufórico era gestado e corroborado por grande parte da elite intelectual
que através de seus textos publicados nos periódicos criava um Rio de Janeiro supostamente
à imagem e semelhança de Paris. Ainda que dentro dessa realidade tenhamos vozes
dissonantes, sendo as figuras de Euclides da Cunha, João do Rio e Lima Barreto as mais
conhecidas, e que de fato mostravam uma outra e diversa cidade, a imagem que se tinha era
a de que agora, sim, o Rio de Janeiro entraria definitivamente na lista das capitais modernas
e elegantes.

As cidades, que como nós são organismos vivos em constante evolução,


também têm suas crises (...) Vamos morrendo e as cidades vão vivendo;
uma doença que, em cada um de nós pode durar um ano, pode nelas durar
um século; e felizes de todos nós, daqueles que vivem bastante para poder
apreciar, em conjunto, uma dessas peripécias críticas na existência de uma

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vasta aglomeração humana. Estamos gozando essa felicidade, no Rio de


Janeiro – os que atravessamos vivos estes últimos dez anos. Dez anos de
‘muda’ em tudo: no aspecto e na essência, na forma e no fundo, na
superfície e no âmago (BILAC, 16/02/1908)

“Não houve poeta, cronista mais carioca do que Bilac” (BARRETO, 1961, p.234). A
afirmação de Lima Barreto pode ser facilmente comprovada na leitura dos textos em prosa
de um dos líderes dos intelectuais da então Capital Federal, que aspirava e respirava
transformações por todos os lados. “Tu és para mim como uma cidade maravilhosa,
defendida por muralhas altíssimas. E, em torno dessas muralhas, eu ando rodando, rodando,
de noite e de dia, palpando essas pedras que me ensangüentam as mãos. Cidade da luz,
cidade do bem! Quando abrirás as tuas portas?” (Bilac, 11/06/1890), pergunta-se o
jornalista, antecipando os tempos que viriam.

Em texto que envia para ser publicado na capital paulista, correspondente que era do jornal
O Estado de S. Paulo, Bilac escreve do alto das Paineiras, lugar onde gostaria de ficar para
todo o sempre, observando de longe “a suja e amada cidade de S.Sebastião”. Como um
contraponto à figura do flâneur, amplamente estudada por Walter Benjamin, que percorre as
ruas em meio à multidão, o cronista rejubila-se por estar distante, sem ouvir as intrigas, as
calúnias e tudo mais que corrói o ambiente urbano. Fixa-se, então, num dos temas que mais
o revoltam: a sujeira da cidade. Em diversos textos e com os mais variados pretextos
aparece a opinião sincera de Bilac de que o Rio de Janeiro é uma cidade imunda. Do alto
das Paineiras a sujeira não se vê, mas o cronista não pode esquecê-la:

Oh! Ficar assim, aqui, para todo o sempre, vendo lá embaixo, estendida à
beira da água ou descendo as colinas, com a casaria branca se destacando
do fundo verde da vegetação, - a suja e amada cidade de S.Sebastião!...
(...) E lembra-se ainda que, vistas de perto, aquelas casinhas são sujas; e
de que aquelas praias tão bem desenhadas, são na realidade uma sucessão
de atoleiros; e de que aquela orla clara de espumas é um torvelim de cisco,
de limo e de algas podres; e de que aquelas ruas são esburacadas e
imundas; e de que ali embaixo medra uma politicagem que é capaz de ir
até o assassinato...Ah, como seria bom poder ficar aqui para todo o
sempre, em sossego!(BILAC, 11/11/1897).

O olhar do cronista vai ao encontro do relato de Luis Edmundo, em O Rio de Janeiro do


Meu Tempo, no qual o historiador dá ênfase ao fato de que a paisagem é belíssima e
privilegiada, porém “ Na madrugada do século o Rio de Janeiro ainda é um triste e

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miserável agrupamento de telhados mais ou menos pombalinos, feio, sujo, torto,


dessorando os vícios e os preconceitos da velha cidade de Mem de Sá.” (EDMUNDO,
1957, p. 24).

Em 1892 a situação era tão precária que “os obituários este ano registram ostensivamente
de 40 a 60 casos de febre amarela por dia. Já não há como fugir à realidade terrível: o Rio
de Janeiro está assolado por uma peste horrorosa”(BILAC, 24/01/1892). No mesmo texto
Bilac diz que a ‘hedionda’ cidade merece mais do que nunca a denominação de
“Pestópolis’, já que além da febre, quem lá vive ainda tem que conviver com a falta de água
e a má qualidade dos alimentos. Em outra crônica, publicada sete anos depois, continua a
lamentar que não se dê ouvidos aos médicos, que há sessenta anos dizem que a causa da
febre amarela é a falta de saneamento das cidades, “mas nada se tem feito. Os dias passam,
e a gente continua a esperar que as redes aperfeiçoadas de esgotos, as drenagens de solo e
os abastecimentos d’água caiam do céu por descuido. (BILAC apud DIMAS, 2006, p. 312).

Quando no início da República ressurgiu a ideia de mudar a capital do país para o Planalto
Central com objetivo de integrar o território, projeto que já havia sido defendido no século
anterior e que agora estava previsto na Constituição, a opinião pública e publicada se
divide. Olavo Bilac defende a mudança da capital, já que é preciso povoar e desenvolver o
interior do Brasil, porém mostra que mesmo a sujeira que tanto combate não seria motivo
para se transferir junto com os poderes públicos.

Não cuideis que o planalto da Formosa me faça inveja. Mesmo sem


câmaras, sem palácio da Presidência e sem amanuenses, o meu Rio de
Janeiro não teme a concorrência da vossa Cabrália ou Paschoalia ou Vera
Cruz ou Goyaz. Tereis palácios de mármores, parques de luxo, avenidas e
boulevards, carruagens e restaurantes... Mas, ó infortunados! Não tereis o
mar e não tereis as nossas mulheres daqui, estas divinas e coquetes
fluminenses, que são as mulheres mais elegantes da América. Ide-vos
todos para a vossa Formosa: deixe-me a mim com a minha Feia. Amo-a
assim mesmo, amo as suas ruas finas, torcidas e sujas como intestinos,
amo as suas imundices e os seus vícios, os seus horrores de cortesã
precoce, a sua futilidade, a sua paixão pelo mexerico e pelo boato, os seus
arrebiques de gaiteira, os seus medos, os seus calçamentos esburacados, as
suas casas ignóbeis e caras, - amo-a sobre todas as cidades, e sobre todas
as coisas, - pelo mar que a beija e pelas mulheres que a enchem! (BILAC,
20/06/1895)

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Sua paixão pelo Rio de Janeiro não o impede de relatar e analisar a complexa realidade da
urbe, momento em que acentua a ironia em seus escritos, fazendo com que os interesses
urbanos e comunitários intermedeiem suas posições políticas. O cronista transforma a
cidade em personagem, com direito a nome e até título em francês: Mademoiselle
Sebastianópolis. Para deixar sua amada em condições de igualdade com Buenos Aires, a
maior “rival” por ser vizinha e latino-americana, o cronista não hesita em defender o
concreto em detrimento da arte. “ Porque nosso grande mal tem sido este: quisemos ter
estátuas, academias, ciência e arte, antes de ter cidades, esgotos, higiene e conforto”
(BILAC apud DIMAS, 2006, p.558), afirma em crônica de 19 de abril 1903. Critica o
conselho municipal por regenerar o teatro antes de construir a rede de esgoto, defende que
não há civilização sem limpeza.

Apesar de dizer que sabe que ninguém precisa de sua opinião, pois suas palavras não hão de
“consertar aquilo que já anda torto desde o tempo de Estácio de Sá”, sugere que a melhor
maneira de honrar a memória dos cidadãos ilustres é fazer com que a cidade seja digna e
civilizada. Para justificar sua posição perante os leitores, escreve uma espécie de parábola e
conta a história, supostamente verídica, de um bêbado que repentinamente enriquece ao
receber uma herança inesperada, o que o faz sair pela rua comprando tudo o que vê, mas
esquecendo-se de se banhar, vestir e arrumar a própria casa. Então, escreve o cronista:

Ah, como te pareces com esse boêmio desaventurado, minha pobre cidade
do Rio de Janeiro! Maltrapilha e triste, arrastando pelas ruas esburacadas
os teus mulambos e a tua melancolia, queres ter o luxo antes de ter o
conforto, e fazes questão de ter monumentos quando ainda não tens
esgotos... Já tenso teu altivo Pedro I, cercado de caboclos e jacarés, no
meio de um jardim maltratado, que é um valhacouto de vagabundos; tem
o teu Pedr’Alvares Cabral envergonhado, voltando a face para não ver
aquele medonho casarão em ruínas perto do qual o plantaram; tens o teu
Osório, colocado em frente a um cais arrebentado e junto de um mercado
podre; tens o teu Caxias, já todo estragado pelas mãos dos meliantes
notívagos; e tens o teu João Caetano, o teu José Bonifácio, o teu Alencar,
todos eles condenados à imobilidade perpétua, em praças que não tem
calçamento, esquecidas das vassouras da limpeza pública, e em cujos
buracos cresce o mato bravo. Agora vais ter o teu Rio Branco e o teu
Tiradentes... Como se, tendo muitas estátuas e muitos monumentos,
ficasses livre da imundice e da febre amarela. (...) Plantar a estátua de um
grande homem numa praça imunda não me parece homenagem
agradável... sempre haveria tempo para cobrir de estátuas esta amada
cidade, quando, saneada, calçada e lavada, ela já não lembrasse uma das
torpes cidades da China ou da Turquia. (BILAC, 20/04/1902)

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Ao escrever a Revista do Anno de 1895 para a Gazeta de Notícias, Bilac comenta que é em
vão que desperdiça papel, tinta e bico de pena a favor dos melhoramentos da cidade, pois,
segundo ele, os cariocas têm uma opinião ‘inabalável’ e parecem nunca querer mudar.
Lastima o cronista: “1895 viu repetir-se a tentativa, a tantas vezes feita, do alargamento das
nossas ruas. Querem dar a Sebastianópolis alguns boulevards amplos e claros, por onde o
povo e o ar possam a vontade circular Mas Sebastianópolis parece ter boas razões para se
opor a isso”(BILAC, 05/01/1896).

É assim que Olavo Bilac apoia as mudanças planejadas no momento que Pereira Passos
assume a Capital Federal, em janeiro de 1903, e lança suas metas de governo, escolhido que
fora para tal tarefa pelo presidente Rodrigues Alves. Consciente do volume e das
proporções que tomariam as reformas, o prefeito nomeado exigiu carta branca para executá-
las, o que lhe foi concedido através de uma lei promulgada em dezembro de 1902. “ A lei
era equívoca, arbitrária e visivelmente anticonstitucional, atribuindo poderes tirânicos ao
prefeito e retirando qualquer direito de defesa à comunidade”, afirma Nicolau Sevcenko
(1993. p.46). Com tantos poderes e um empréstimo equivalente a 4 milhões de libras, não
foram poucas as críticas ao novo prefeito. Lima Barreto foi o maior dos críticos das
administrações do Rio de Janeiro de seu tempo, como nesta crônica intitulada O prefeito e
o povo:

Vê-se bem que a principal preocupação do atual gove rnador do Rio de


Janeiro é dividi-lo em duas partes: uma será européia e a outra, a indígena
(...)
De resto, municipalidade supõe-se ser, segundo a origem, um governo
popular que cuide de atender, em primeiro lugar, ao interesse comum dos
habitantes da cidade (comuna) e favorecer o mais possível a vida da gente
pobre. (…) Municipalidades de todo o mundo constróem casas populares;
a nossa, construindo hotéis chics, espera que, à vista do exemplo, os
habitantes da Favela e do Salgueiro modifiquem o estilo das suas barracas.
Pode ser... (BARRETO, 1956, p.117)

Nas crônicas de Bilac, entretanto, somente elogios aparecem. O fato de chegar a aparecer na
foto oficial da comissão de obras não é aqui mero acaso, o jornalista definitivamente estava
ao lado de quem transformaria ‘Pestópolis” na Paris dos trópicos. Com ironia, critica
contundentemente o jornal que diz ser quixotesco o programa da recém empossada

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administração. No texto, conclama Pereira Passos a não ter medo das sovas e a ser D.
Quixote, como o foi para Paris o Barão de Haussman, para Lisboa o Marquês de Pombal e
Torcuato Alvear para Buenos Aires. É esse o Bilac que escreve o texto a seguir, que muito
já foi transcrito em trabalhos sobre o período, mas que vale a pena repetir:

Chorai barracões de todos os estilos, de todos os feitios, de todas as cores,


góticos, manuelinos, egípcios, amarelos, vermelhos, azuis, altos, baixos,
finos e grossos que encheis a cidade, que oprimis o solo, que tapais o
horizonte, que ofendeis os olhos, que nauseais as almas! Chegou a vossa
última hora...Um prefeito, que não gosta de monstros, jurou guerra
implacável e feroz à vossa raça maldita: preparai-vos todos para cair,
fortalezas de mau gosto, baluartes de fealdade, templos de hediondez -,
como já caiu o vosso companheiro do largo do Paço, aos golpes dos
martelos abençoados da Prefeitura! (BILAC apud DIMAS, 2006, p.532).

No período do bota-abaixo vemos o cronista exacerbar todo seu entusiasmo e amor pela
cidade. Os textos nos remetem à imagem de um jovem deslumbrado com a possibilidade de
ver seu sonho concretizado, mas não podemos esquecer de sua então posição de intelectual
a serviço do poder público. Na foto oficial da comissão de obras, afinal, vemos a figura do
cronista em meio aos engenheiros e políticos. Com tanto ‘engajamento’, parece óbvio que
escreva que seu ‘bom povo da linda e amada cidade’, está delirante por, finalmente, não
receber somente “Imposto e pau; ruas tortas e sujas; casas imundas...e às vezes atravessadas
por balázios; estados de sítio e bernardas; febre amarela e tédio”, mas sim ganhar de
presente “uma avenida esplêndida bordada de palácios, e cheia de ar e de luz.”

Um perfeito porta-voz da belle époque carioca é como Jeffrey Needell (1993, p.235) rotula
Olavo Bilac, por sua posição de representante da civilização e crítico do ‘atraso’ urbano. É
considerado o cronista de sua geração que lutou de forma mais contundente, clara e objetiva
pela melhoria da condição urbana. Suas crônicas defendem continuamente as reformas,
sempre na ânsia de vertransformada a então Capital Federal na Paris dos trópicos,
projetando em seus textos a cidade ideal que gostaria que fosse tornada real. Já nos
primeiros meses de 1905 nos dá detalhes sobre as negociações do empréstimo destinado às
obras de saneamento, comemorando a nova era de progresso e reabilitação moral que se
inicia, já que

Os minutos da imundice e do opróbrio estão contados. Se o Diabo não se meter


no meio dos projetos, o Rio de Janeiro deixará, dentro de poucos anos, de abrigar

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no seu seio o espantalho da febre amarela. O trabalho já começou. Não se dá um


passo na velha e imensa cidade que se não sinta a influência de uma
administração inteligente a capaz. Ajardinam-se praças, abrem-se ruas, deitam-se
por terra pardieiros, reformam calçamentos, decretam-se medidas enérgicas
contra as epidemias. Parece que a Providência Divina quis enfim descerrar-nos
os olhos e obrigar-nos a ver aquilo que uma voluntária e criminosa cegueira nos
encobria. (BILAC, 17/05/1903)

Nos 20 anos que publicou em periódicos, o jornalista Olavo Bilac escreveu sobre quase
todas as questões e visões da sua ‘amada sebastianópolis’, desde relatos policiais até o
aparecimento de novas tecnologias, passando pelos hábitos da população, o mundo da arte,
a situação financeira e política do país. Em todos, a peça principal é a cidade do Rio,
tematizada e analisada como nenhum outro assunto em seus escritos.

Ao lado de outros jornalistas de seu tempo, Bilac deixou registro desse momento tão crucial
na história da 'cidade maravilhosa', momento esse, que moldou uma nova percepção do
espaço e do tempo, propiciou o aparecimento da massa, dessa multidão, um personagem
absolutamente novo e que foi ressaltado em livros e telas dos artistas mais afinados com seu
(novo) tempo. É assim que pela primeira vez que o texto impresso tem um público amplo,
seus ‘clientes’ no novo negócio que se instala junto com o capitalismo. “Esta ‘legibilidade’
da urbs influenciará no próprio perfil do homem de letras: antes de saber escrever com
elegância clássica, será preciso que ele aprenda a ‘ler’ a cidade”. (DOMINGOS, 2005,
p.100).

Para ler este lugar de contradições entre o concreto e o real, de alteridades e cisões, é
preciso que o intelectual saia da torre de marfim e caminhe pelas calçadas, pois a rua é o
espaço fundamental da modernidade. É nela que se apresentam as novidades e que as
pessoas se ‘chocam’, se tocam, se consumem. Nas palavras do ‘especialista’ João do Rio
(2009, p.50), a rua é “expansão de todos os sentimentos da cidade” 3, onde se condensam as
diretrizes fundamentais do novo espaço urbano que traz a cidade como um ser vivo, ser esse
que trabalha e que é moldado ao sabor do movimento das multidões.

“O interesse atual pela cidade moderna tem se desprendido da própria cidade como
dispositivo modernizador, isto é, do que a cidade tem significado historicamente em nossas
histórias modernas” (GORELIK apud MIRANDA, 1999, p.57). No Rio de Janeiro da
3
RIO, João do. A Rua. In: A alma encantadora das ruas. A alma encantadora das ruas. Organização Raúl
Antelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 50.

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virada do século XIX para o XX, o jornalismo o ganha lugar de destaque ao trabalhar para
seu desenvolvimento, discutindo as transformações urbanas, as novas formas de viver, as
relações da urbe com sua gente. É nas páginas impressas que encontramos anotações e
processos que têm como plano de fundo o mesmo cenário: a maravilhosa cidade espetáculo.

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arquivo de periódicos da Biblioteca Nacional

______________Chronica. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 17/05/1903– texto recolhido no


arquivo de periódicos da Biblioteca Nacional

_______________Chronica. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 25/02/1906 – texto recolhido do


arquivo de periódicos da Biblioteca Nacional.

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