Fossilização Deficiencia Generalização
Fossilização Deficiencia Generalização
Fossilização Deficiencia Generalização
Brasília - DF
2010
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Stricto Sensu - Mestrado em Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
Brasília - DF
2010
FÁTIMA ROSELI DIAS GARZESI
Brasília-DF
2010
Dissertação de autoria Fátima Roseli Dias Garzesi, intitulada “O proceso de
fossilização de conceitos em crianças com e sem deficiência intelectual”,
apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia
da Universidade Católica de Brasília, em 15 de setembro de 2010, defendida e
aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:
_______________________________________________________________
Profª. Drª.Tânia Maria De Freitas Rossi
Orientadora
Mestrado em Psicologia - UCB
_______________________________________________________________
Profª. Drª. Divaneide Lira Lima Paixão
Mestrado em Psicologia - UCB
_______________________________________________________________
Profª. Drª. Ana da Costa Polônia
Examinadora Externa - UNB
_______________________________________________________________
Profª. Drª. Nara Liana Pereira Silva
Membro Suplente - UFJF
Brasília-DF
2010
(..) Maculados por uma feroz autocrítica
resultante da introjeção do julgamento do
outro ao longo da nossa trajetória escolar,
temerosos diante de tantas regras e da forma
que, com freqüência, vira forma, não
compreendemos muita vezes que o nosso texto
é (pode ser) uma aventura de criação, um fértil
diálogo entre pensamento, linguagem e
emoções, um lugar de inscrição de nossas mais
autênticas marcas. Incompleto sim, porque
representa um recorte possível do grande texto
da experiência, das idéias e sensações, e, em
última instância, um recorte das infinitas
possibilidades do grande Texto da Vida - este
que todos os dias lemos e escrevemos, o que
preenchemos com a nossa energia vital,
inventado página por página, do nascimento
até a morte (...)
Muito Obrigada!
RESUMO
The purpose of this research was to describe and understand how it develops
fossilization process of artificial concepts in two groups of students 07-12 years of
age, one with typical development and the other with intellectual disabilities, enrolled
in public schools of Distrito Federal, 06 with typical development and 06 with
disabilities intellectual. To collect the data, we used the task of double stimulation
developed by L. S. Sakharov has been applied in the school environment and
recorded by video camera. The data were analyzed microgenetically. The results
show that all children have reached some level of fossilization of strategies to signify
the concepts studied, and only three children with intellectual disabilities not reached
by the thought of true concepts, focusing on not pseudo-concept and of potential.
Children with typical development required more interventions in Zone of Proximal
Development that children with intellectual disabilities and both groups do not
internalize the concept immediately. As climbed higher levels of abstraction, the task
itself and mediation receiving the demanded flexibility of thinking to grasp a new
concept, aided by the metacognition of choices and justifications that sustained them.
We conclude that children with focal intellectual disabilities, although they present
limitations in the expressive intellectual functioning, were able to generalize and
abstract concepts at different levels. The mediation process proved to be
indispensable for organizing mental abstractions and generalizations and the more
efficient is the quality of effective mediation, the greater the chance the child has to
learn new meanings, is, to form a concept and fossilize. Internships Zone Proximal
Development described by Gallimore and Tharp did not show functional analysis of
the process of fossilization, because the second enmeshed the first stage, as regards
the help of another individual more capable. The third and fourth stage cannot be
seen so tight because configure a dialectical synthesis: the processes of fossilization
and desfossilização happen concurrently and not so in separate, as postulated by the
authors.
Introdução
contato com signos, sejam eles gestos, palavras, ações ou outros, desenvolvendo
as funções psicológica superiores (BRIONES, 2000).
Resultados semelhantes foram alcançados por Abella e Da Ros (2003), em
uma atividade pedagógica grupal, envolvendo uma mediadora e cinco jovens com
deficiência intelectual. O estudo mostrou que, por meio das interações sociais, os
sujeitos puderam refletir sobre suas vivências pessoais, atribuir sentidos a objetos e
situações ausentes, extrapolar a denotação para ingressar em um nível de leitura
simbólica mais complexo. A mediação permitiu aos jovens que participaram do
estudo interpretar e atribuir sentidos à metáfora e suplantar a dimensão imediata e
prática que eram as características do pensamento, antes da atividade que foi
desenvolvida. As vivências compartilhadas por e na mediação semiótica
compuseram cenas de relações interpessoais que permitiram aos sujeitos alcançar
níveis de complexidade em suas maneiras de pensar, compatíveis com aqueles que
se situam no processo de formação de conceitos, como uma forma superior de
atividade mental.
Um estudo de caso longitudinal permitiu a Padilha (2000) registrar e
interpretar aspectos do campo simbólico de uma jovem com deficiência mental com
dezessete anos de idade e chegar a conclusões que corroboram a abordagem
histórico-cultural acerca da natureza social do desenvolvimento humano, de uma
forma geral. O processo de simbolização elementar é transformado em um estado
mais complexo mediante a organização do contexto discursivo e do contexto de
aprendizagem feita por um mediador competente. Generalizar, interpretar signos e
transferir conhecimentos para outras situações são formas de funcionamento
psicológico que demandam a vivência de experiências significativas, numa
verdadeira relação de ensinar e aprender.
Pode-se afirmar que há consenso de que o desenvolvimento depende não
apenas da inserção do sujeito, tenha ele um desenvolvimento típico ou não, em um
contexto social, mas, sobretudo dos processos mediacionais que lhe são dirigidos de
modo a constituir funções psicológicas superiores. A dimensão filogenética,
conquanto base biológica que dá suporte ao desenvolvimento, é superada,
dialeticamente, quando a criança incorpora e desenvolve signos (ou conceitos). Em
outras palavras, ela se apropria da cultura e, ao mesmo tempo, torna-se produtora
de cultura.
18
2. Aportes Teóricos
necessita estar em relação constante com o outro, pois é através das interações
sociais que ele se constitui como sujeito e se humaniza. Em outras palavras, o
“filhote” de ser humano aprende a ser humano.
Desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao
desenvolvimento, um aspecto necessário e universal no processo de
desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas. Assim, pode-
se considerar que é por intermédio das suas interações com outros seres humanos
que o homem se constrói, ou seja, o homem não nasce homem, humaniza-se nas
interações que estabelece no decorrer da sua existência. O ser humano vive desde
seu nascimento sendo mediado pelo outro, nenhum ser humano vive no mundo
sozinho e essa relação que se desenvolve com o mundo é uma relação mediada
pelos sistemas simbólicos.
Esses sistemas simbólicos são os instrumentos e os signos. Os instrumentos
são elementos mediadores na relação do sujeito com o mundo. São produzidos a
partir de objetivos tendo a função de auxiliar o ser humano na atividade relacionada
ao trabalho e orientado externamente. Os signos são instrumentos psicológicos que
ajudam nos processos psicológicos e não em ações concretas, constitui um
elemento-meio da atividade interna e é orientado internamente. Signo é algo que está
no lugar de alguma coisa para alguém (ROSSI, 2006).
Instrumentos e signos se interligam mutuamente sendo “dialeticamente distinto
no desenvolvimento cultural do sujeito.” (ROSSI, 1993, p. 24). Seu desenvolvimento
ocorre em espiral, evoluindo para degraus superiores. Tanto os instrumentos quanto
os signos são passados de geração para geração, nesse percurso o ser humano se
transforma em um ser social através de um processo de internalização, de
comportamentos e signos culturalmente desenvolvidos. Esse ajuste entre o signo e o
instrumento, onde o primeiro tem o controle interno e o segundo um controle externo
do comportamento humano, essa ligação, esse controle e direção da natureza do
comportamento são “fusionais do desenvolvimento ontogenético.” (ROSSI, 1993, p.
25)
Ao utilizar os signos e instrumentos, o ser humano transforma a memória
natural, a atenção e a percepção involuntárias, o pensamento pré-verbal e a
linguagem pré-intelectual com os quais aportou ao mundo e que são de natureza
hereditária. Essas funções psicológicas elementares se transformam em funções
psicológicas superiores.
22
1
A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada em 1995, quando a Organização das
Nações Unidas realizou em Nova York o simpósio chamado “Deficiência Intelectual: Programas,
Políticas e Planejamento para o Futuro”. Em outubro de 2004, a Organização Pan-Americana da
Saúde e a Organização Mundial da Saúde realizaram um evento, no qual o Brasil participou em
Montreal, Canadá, evento esse que aprovou o documento “Declaração de Montreal sobre Deficiência
Intelectual”.
24
profissionais, com ênfase no que falta, no defeito. Vigotski entende que a deficiência
intelectual:
por semelhança temos, antes, uma associação por contraste.” (VIGOTSKI, 2001, p.
183).
A terceira fase do desenvolvimento do pensamento por complexos é o
Complexo em Cadeia e fundamenta-se no princípio da combinação dinâmica e
temporal de determinados elos, em uma cadeia única e da transmissão do
significado através de elos isolados dessa cadeia. O traço mais marcante desse
complexo é que ocorre sempre a passagem de um traço ou atributo a outro. Um
atributo dado pelo significado da palavra utilizada para designá-lo se desloca pelos
elos da cadeia complexa. Cada elo está unido, por um lado, ao anterior, e por outro,
ao seguinte. Ao inserir um elo no complexo, o mesmo se torna membro isônomo, ou
seja, membros iguais por meio do traço associativo. O pensamento por complexo é
de natureza concreta e figurada, surge em primeiro plano por seu sentido funcional,
é um igual entre iguais; e um entre muitos outros traços. Sua diferença está no
momento da construção do conceito, na relação existente entre o geral e o
particular. È justamente no complexo em cadeia que os elementos concretos
particulares estabelecem vínculo em si, podendo não ter semelhança em comum
com um objeto, mas mesmo assim, pode pertencer a um complexo por ter
semelhança com alguns elementos e esse com um terceiro e assim sucessivamente.
O Complexo Difuso, a quarta fase, tem como característica básica a
combinação, por via associativa, de elementos concretos particulares, cujo resultado
é um complexo derivado de uma combinação de vínculos difusos e indefinidos ou
grupos de imagens ou objetos. Nessa fase, revela-se com clareza um traço
importante no desenvolvimento do pensamento por complexo do sujeito que, apesar
de conseguir definir seus contornos, apresenta essencial ausência de limites.
Apreende relações fluidas e criativas entre os elementos, que escapam ao olhar do
observador desatento, ainda que factuais.
A quinta e última fase é chamada de Complexo de Pseudoconceito,
correspondendo à transição para um estágio superior que é a formação de
conceitos. É o ponto que separa o pensamento por complexo do pensamento por
conceitos.
altera seu pensamento. Nesse sentido, a palavra analisa os objetos para abstrair e
generalizar suas características.
2.3 - Fossilização
Toda abordagem de investigação conduz aos métodos de investigação e à
análise, o mesmo ocorre com as abordagens mais novas que constroem seus
próprios métodos. Todos os experimentos psicológicos fundamentavam-se em
estruturas estímulo-resposta. O sujeito era confrontado com alguma situação de
estímulo elaborada para influenciá-lo de alguma forma. Os psicólogos examinavam
e analisavam as respostas obtidas perante aquela situação estimuladora, tal
movimento, próximo das ciências naturais, preparou o percurso para as abordagens
psicológicas que se seguiam. Apesar de enfatizar e reconhecer sua estrutura
metodológica, o pesquisador não concordava com ela, pois, os processos
psicológicos através desse método eram estudados de forma controlada. Somente
os processos psicológicos elementares poderiam ser analisados por esse método
(VIGOTSKI, 2003).
Para estudar as funções psicológicas superiores, especificas do ser humano,
a abordagem materialista, da análise histórica do comportamento humano, foi a
base utilizada por Vigotski (2003), conforme já mencionado. O método que decorre
da vertente assumida opõem-se às abordagens naturalísticas do desenvolvimento
humano. Nesta, a natureza é a única forma de afetar os seres humanos. O
desenvolvimento histórico somente é determinado pelos eventos naturais, em
oposição à abordagem dialética que admite a influência da natureza sobre o ser
humano. “O homem age sobre a natureza e cria, através das mudanças provocadas,
novas condições naturais para sua existência.” (VIGOTSKI, 2003, p. 80).
São três os princípios que dão suporte aos estudos dessa perspectiva
metodológica: a análise de processos e não de objetos; ocupar-se de não apenas
41
experimentos psicológicos têm como base o estudo das funções rudimentares, onde
passado e presente se encontram. “Aquele que é e aquele que foi. A forma
fossilizada é o final de uma linha que une o presente ao passado, os estágios
superiores do desenvolvimento aos estágios primários.” (VIGOTSKI, 2003, p. 85). O
ponto chave do método dialético é estudar um evento historicamente, em seu
processo de mudança.
O método de estimulação dupla tem caráter funcional e foi criado justamente
para analisar e descobrir as características fossilizadas, rígidas, automatizadas e
mecanizadas dos processos superiores do comportamento.
los com ajuda de alguém. Assim, o que a criança pode fazer hoje com ajuda, no
nível potencial, amanhã, conseguirá fazer sozinha no nível real. O processo abrange
todas as funções e atividades que a criança consegue realizar com ajuda de alguém,
de uma pessoa que media e intervém ensinando a criança. É através do
aprendizado que cria-se a zona de desenvolvimento proximal, nível que a faz
ascender os processos internos do desenvolvimento. Assim, aprendizado não é
desenvolvimento. O aprendizado leva ao desenvolvimento que ativa seus os vários
processos: “o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de
desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e
especificamente humanas.” (VIGOTSKI, 2003, p. 118).
O ensino consiste, nessa perspectiva, no acompanhamento do desempenho
através da Zona de Desenvolvimento Proximal. É possível afirmar que o ensino
ocorre quando o acompanhamento é oferecido em pontos da ZDP nos quais o
desempenho requer acompanhamento (GALLIMORE e THARP, 2002).
A criança, no contexto escolar recebe informações necessárias de pessoas
mais capazes, no caso do professor, para construírem um significado. Com essas
informações as crianças poderão desenvolver novas funções, testar novos
conhecimentos, agregando-os aos já existentes.
Seguindo essa linha de raciocínio, o processo desenvolvimental, no que se
refere à aprendizagem, tem como principal objetivo que a criança internalize
conteúdos e modos de funcionamento psicológicos mediados pelo outro social;
aprenda a operar com eles e os automatize ou fossilize. Logo, a fossilização torna-
se uma etapa necessária da relação entre desenvolvimento e aprendizagem. A
assistência a ser oferecida à criança pode ser realizada através de seis meios
distintos: Modelagem, Gerenciamento das Contingências, Realimentação
(feedback), Instrução, Questionamento e Estruturação Cognitiva (GALLIMORE e
THARP, 2002).
I- Modelagem consiste no processo que disponibiliza comportamentos a serem
imitados. Através dela pode-se dar assistência ao desempenho, que se efetiva
durante toda a vida adulta. Nas escolas, tanto os professores como os colegas,
são fontes de assistência às crianças e até mesmo aos adultos.
II- Gerenciamento das contingências são os meios pelos quais se efetivam
recompensas e punições como conseqüência de um determinado
comportamento desejável ou não. No ambiente escolar essas estão focalizadas
46
Capacidade RETORNO
inicial
Capacidade
ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
----------------------------------------------------------------
Especialistas
Fossilização Estágios iniciais
Treinadores
escola deve garantir a assistência ao desempenho de todos que ali convivem, desde
as crianças aos seus gestores.
O aprendizado humano é de natureza social, é parte de um processo em que
a criança desenvolve seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a
cercam. Ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais
funcionam apenas quando a criança interage em seu ambiente histórico-cultural
convivendo e integrando-se juntamente com outros.
3- Delineamento Metodológico
3.1- Método de estudo
Esta pesquisa é um estudo de casos, de cunho qualitativo, que pretendeu
descrever e compreender como se desenvolve o processo de fossilização de
conceitos artificiais em dois grupos de alunos de 07 a 12 anos de idade, um grupo
com desenvolvimento típico e o outro com deficiência intelectual, regularmente
matriculados na rede pública de ensino do Distrito Federal.
A opção pelo estudo de caso de cunho qualitativo deve-se ao fato de ser uma
das modalidades de investigação que enfatiza a compreensão de um dado
fenômeno como base do próprio conhecimento, que estuda as relações complexas
que o habitam, evitando modelos explicativos que isolam e atomizam variáveis. O
fenômeno humano é apreendido como um ato subjetivo de construção, a ser
elucidado por meio de explicações ou compreensões das relações entre variáveis,
tornando o processo um ato social de construção de conhecimento, abalizado na
história social do sujeito, no contexto em que o mesmo está inserido. Esta opção
metodológica faculta que o fenômeno seja estudado em seu processo de
transformação e mudança, em um dado contexto histórico, inclusive a apreensão da
gênese dos dados e sua relação com o processo de transformação, em acordo com
a perspectiva histórico-cultural.
Neste contexto investigativo, considera-se que processo de fossilização é um
tipo de processo no qual um dado modo de funcionamento psicológico se torna
mecanizado e automatizado. Apresenta como característica principal a autonomia e
automatização o funcionamento ou desempenho, que, antes, era realizado somente
com o auxílio de outra pessoa mais experiente (GALLIMORE e THARP, 2002). É o
caminho ou processo que ocorre gradualmente, na resolução de uma tarefa que vai
do desempenho assistido, ao não assistido, da regulação externa, feita por um outro
50
3.3- Participantes
Participaram da pesquisa 12 (doze) alunos regularmente matriculados na
Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, sendo 06 (seis) com deficiência
intelectual, atestada por laudo expedido por profissional habilitado, incluídos em
classes regulares e 06 (seis) com desenvolvimento considerado típico, estando
todos na faixa etária compreendida entre 07 (sete) e 12 (doze) anos de idade. Os
participantes residem na cidade de Taguatinga- Brasília-DF e são provenientes de
estratos socioeconômicos considerados médio. A idade, a escolaridade, o sexo e a
escola podem ser visualizados nos Quadros 1 e 2, que se seguem.
2- A inclusão das crianças com deficiência intelectual na série correta em defasagem ano/idade.
53
3.4- Instrumentos
Para a coleta de dados, foi utilizado a tarefa de dupla estimulação3
desenvolvida por L. S. Sákharov que oportuniza o estudo do desenvolvimento de
conceitos artificiais a partir do uso de duas séries de estímulos. A primeira série
desempenha a função do objeto da atividade do sujeito. A segunda série tem a
função de um signo cujo objetivo é organizar a atividade. Visa descrever como o
sujeito atribui significado à palavra, descortinando os enlaces semânticos nela
contidos, o que permite examinar minuciosamente os processos psíquicos que estão
embutidos nas várias etapas do desenvolvimento, na medida em que o sujeito cria
estratégias para chegar à formação do conceito (ROSSI, 1993).
O método de dupla estimulação foi desenvolvido opostamente ao método de
Ach (apud VIGOTSKI, 2001), conforme já mencionado, que privilegiava a
memorização.
Na tarefa de dupla estimulação, as relações entre objetos-estímulos se
invertem, pois o problema está presente desde o início e continua norteando o
sujeito a cada etapa do desenvolvimento do conceito. Os meios para se solucionar o
problema são inseridos um a um, e não dependem da memorização das palavras
que designam o conceito. O método permite observar como ocorre o processo de
formação de conceitos, como o sujeito opera com os signos, lida com o objeto,
emprega e aplica a palavra funcionalmente.
Para aplicar a tarefa de dupla estimulação, foram confeccionados 25 blocos
de material emborrachado, sendo 4 quadrados, 4 triângulos, 3 círculos, 6
semicírculos, 3 hexágonos e 5 trapézios, nas cores azuis, vermelho, laranja, preto,
verde, roxo, branco e rosa, nos tamanhos grandes e pequenos e em duas
espessuras diferentes, com a metade das peças mais grossa e a outra mais fina.
Na base de cada bloco4 foi afixada uma palavra sem sentido (sem um sentido
convencional e arbitrário definido), a saber, BLO, TAC, MIR e CAT, cada uma
representando uma categoria de blocos. A palavra BLO caracteriza os blocos que
são grandes e grossos; TAC designa os blocos grossos e pequenos; CAT
caracteriza os blocos finos e grandes e MIR designa os blocos finos e pequenos.
3 Método de dupla estimulação, tarefa de dupla estimulação e prova de dupla estimulação serão utilizados
indistintamente.
4
Peça e bloco serão utilizados indistintamente
54
cores e formas, realizando uma rápida exploração das peças (sem, contudo,
desvirar os blocos). A seguir, informou-se à criança as regras do jogo:
(1) O objetivo do jogo é o de descobrir o que significa cada palavra colada no bloco;
(2) Ela não poderá desvirar o bloco para ler a palavra ali colada;
(3) Quando escolher um bloco deverá dizer qual o motivo da escolha;
(4) Ela ganhará o jogo se descobrir o significado de cada uma das palavras que lhe
forem apresentadas.
Em que estes dois blocos (escolhas erradas) se parecem? Em que eles são
diferentes?
b) Caso ocorresse algum acerto fortuito, não intencional, perguntaria-se:
Em que estes dois blocos (escolha correta) se parecem? Em que eles são
diferentes? O que eles têm em comum para serem BLO? Ou o que este bloco tem,
que este outro também tem?
Pediu-se à criança que descrevesse os blocos que foram corretamente nomeados,
destacando e dando consciência das características de cada bloco (abstração) e
comuns entre os dois blocos (generalização). Pediu-se à criança que fizesse a
metacognição do modo de funcionamento psicológico usado para conceituar os dois
blocos corretos.
c) Buscou-se todos os blocos que pertenciam à mesma categoria.
d) Introduziu-se novo bloco, retirando as pistas e verificando se a criança pode
resolver o problema sozinho (se modificou o modo de resolver o problema e
incorporou a ajuda anterior e a fossilizou).
e) Introduziu-se todos os demais blocos até finalizar a atividade, questionando os
motivos da escolha e solicitando a metacognição.
A tarefa foi dada como concluída no momento em que a criança conseguiu
identificar todos os blocos pelos seus atributos criteriais. Nesse momento ela
internalizou um novo conceito que antes não existia.
A aplicação das tarefas foi registrada através de recurso áudio visual
(filmadora) e sua transcrição foi efetivada no programa Word (versão 2007),
seguindo orientação de Bauer e Gaskell (2002), que referenciam que coletas feitas
com registro áudio visuais, devem ser transcritas na íntegra para posterior análise. A
identidade dos participantes foi preservada, utilizando-se um pseudônimo para cada
um deles.
4- Resultados
Após a transcrição do material gerado na aplicação da tarefa, este foi
organizado de acordo com os seguintes critérios:
1- Conceituação: BLO, MIR, TAC e CAT
a) Identificação: escolhas e justificativas da criança referentes à
categorização de cada bloco;
57
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um Único
Significado
Complexo Associativo
Estágios
Pensamento Complexo Coleções
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 01 07 01 01
Abstração
Conceito Conceito Potencial 05 02
Conceito Propriamente Dito 05 02 04 04 06 06 06 06
59
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um Único
Significado
Complexo Associativo
Estágios
Pensamento Complexo Coleções
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 01
Abstração
Conceito Conceito Potencial 03 06 04 06 02
Conceito Propriamente Dito 05 01 06 02 06 04 02
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição espacial
Atribuição de um Único
Significado
Complexo Associativo
Estágios
Pensamento Complexo Coleções
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 01 02
Abstração
Conceito Conceito Potencial 01 04
Conceito Propriamente Dito 05 01 06 06 06 06 04 04
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição espacial
Atribuição de um Único
Significado
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um Único
Significado
Complexo Associativo
Estágios
Pensamento Complexo Coleções
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 02 07
Abstração
Conceito Conceito Potencial 04 04 02 08 06 03
Conceito Propriamente Dito 05 06 06 04 01
64
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um único significado
Complexo Associativo
Pensamento Complexo Coleções
Estágios
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso 01
Complexo Pseudoconceito 05 01
Abstração
Conceito Conceito Potencial 07 05 04 09 06 04
Conceito Propriamente Dito 04 06 06 04
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J E J E J
Abstração
Conceito Conceito Potencial 05 02 03 18 01 04 05 06 06 21 11 24
Conceito Propriamente Dito 21 18 21 05 21 17 21 18 21 01 20
66
67
O Quadro 9 mostra que Joana efetuou 28 (vinte e oito) tentativas, das quais
as escolhas foram formuladas por complexo do tipo pseudoconceito 02 (duas),
conceito potencial 05 (cinco) e conceito propriamente dito 21 (vinte e uma). As
justificativas relativas às escolhas feitas evidenciaram 08 (oito) respostas por
complexo do tipo pseudoconceito, 02 (duas) por conceito potencial e 18 (dezoito) por
conceito propriamente dito.
Para Fredy, foram constatadas 24 (vinte e quatro) tentativas, sendo que nas
escolhas predominou o conceito propriamente dito 21 (vinte e uma), seguido pelo
conceito potencial, 03(três). As justificativas utilizadas apontaram para o conceito
potencial em 18 (dezoito) respostas, o conceito propriamente dito em 05 (cinco) e o
complexo do tipo pseudoconceito em 01(uma) resposta.
Gisele executou 23 (vinte e três) tentativas das quais 21 (vinte e uma)
escolhas foram concentradas no conceito propriamente dito, 01(uma) no conceito
potencial e 01 (uma) no complexo do tipo pseudoconceito. Nas justificativas foram
utilizadas o conceito propriamente dito em 17(dezessete) respostas, o complexo do
tipo pseudoconceito em 02 (duas) respostas e o conceito potencial em 04 (quatro).
Andressa efetuou 26 (vinte e seis) tentativas e suas escolhas se
concentraram no conceito propriamente dito 21 ( vinte e uma ) e no conceito
potencial 05 (cinco). Em 18 (dezoito) justificativas, houve uma concentração no
conceito propriamente dito. Andressa emitiu 02 (duas) justificativas por pensamento
por pseudoconceito e 06 (seis) justificativas por conceito potencial.
Hélio realizou 29 (vinte e nove) tentativas, com 02 (duas) escolhas efetivadas
pelo complexo do tipo pseudoconceito, 06 (seis) por conceito potencial e 21 (vinte e
uma) por conceito propriamente dito. Nas justificativas houve a predominância do
conceito potencial, com 21 (vinte e uma) respostas, seguidas de 07 (sete)
justificativas por complexo do tipo pseudoconceito, e 11(onze) por conceito
propriamente dito.
Rafael realizou 31 (trinta e uma) tentativas e evidenciou 20 (vinte) escolhas
por meio de conceito propriamente dito e 11 (onze) por conceito potencial. As
justificativas concentraram-se no conceito potencial com 24 (vinte e quatro)
respostas, seguidos pelo complexo do tipo pseudoconceito com 06 (seis) e pelo
complexo difuso com 01 (uma) justificativa.
68
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
01 01
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um único significado
Complexo Associativo
Pensamento Complexo Coleções
Estágios
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso 01
Complexo Pseudoconceito 04 13 01 05 03 03 02
Conceito Potencial 05 03 03 03 03
Conceito Abstração do Conceito
Conceito Propriamente Dito 05 05 04 06
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Complexo Associativo 01
Estágios Pensamento
Complexo Coleções
por
Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 03
Conceito Potencial 04 06 01 07 02 05 06
Conceito Abstração do Conceito
Jonas realizou 27 tentativas, das quais 09 (nove) para o bloco BLO, 07 (sete)
para o bloco MIR, 05 (cinco) para o CAT e 06 (seis) para o TAC.
As escolhas referentes ao bloco BLO concentraram-se no conceito
propriamente dito e no conceito potencial, com 05 (cinco) e 04 (quatro) escolhas
respectivamente. Nas justificativas houve 06 (seis) respostas por conceito potencial
e 03 (três) por complexo do tipo pseudoconceito.
No bloco MIR, foram observadas 06 (seis) escolhas por conceito
propriamente dito e 01 (uma) escolha por conceito potencial. Já as justificativas 07
(sete) foram realizadas por conceito potencial.
No bloco CAT, 01 (uma) escolha foi realizada por meio do pensamento por
complexo associativo, e as outras 04 (quatro) divididas entre o conceito potencial e o
conceito propriamente dito. As justificativas de Jonas foram todas efetivadas no
conceito potencial.
No TAC, 06 (seis) escolhas foram evidenciadas por intermédio do conceito
propriamente dito e 06 (seis) justificativas por conceito potencial.
71
Número de tentativas 10 16 07 06
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados Amontoados de Objetos
Disposição Espacial
Complexo Associativo
Estágios Pensamento
Complexo Coleções
por
Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 09 15 03 07 05
Conceito Potencial 05 11
Conceito
Abstração do Conceito
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados Amontoados de Objetos
Disposição Espacial
Atribuição de um único significado
Complexo Associativo
Pensamento Complexo Coleções
Estágios
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 01
Conceito Potencial 03 07 01 06 03
Conceito Abstração do Conceito
Conceito Propriamente Dito 05 02 06 01 04 04 06 03
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um único significado
Complexo Associativo
Pensamento Complexo Coleções
Estágios
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito
Conceito Potencial 01 06 03 01
Conceito Abstração do Conceito
Conceito Propriamente Dito 05 06 03 04 03 06 06
74
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J
Imagem Sincrética ou
Amontoados de Objetos
Amontoados Disposição Espacial
Atribuição de um único significado
Complexo Associativo
Pensamento Complexo Coleções
Estágios
por Complexo Cadeia
Complexo
Complexo Difuso
Complexo Pseudoconceito 04 02
Conceito Potencial 03 03 01 01
Conceito Abstração do Conceito
Conceito Propriamente Dito 05 01 05 03 04 04 06 06
Escolhas/Justificativas E J E J E J E J E J E J
76
77
Número de tentativas 11 05 06 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à
análise/ síntese de 02 01
diferença s e semelhanças
TOTAL 20 04 00 01
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
79
Número de tentativas 11 05 06 06
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 20 04 00 01
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
01 01 01 01
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 08 06 06 04
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando á 15 02 05 03
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Das 08 (oito) tentativas realizadas por Fredy no bloco BLO, 01(uma) foi
correta, 01 (uma) incorreta e 06 (seis) parcialmente corretas. No bloco MIR, das 06
(seis) tentativas, 02 (duas) respostas foram corretas e 04 (quatro) parcialmente
corretas. No TAC foram 06 (seis) tentativas, todas parcialmente corretas. No bloco
CAT, das 04 (quatro) tentativas, 02 (duas) respostas foram corretas e 02 (duas)
parcialmente corretas.
No bloco BLO foram realizadas 64 (sessenta e quatro) intervenções, 15
(quinze) com regulação da atenção/percepção, incitando à análise/síntese de
diferenças e semelhanças, 31(trinta e uma) intervenções através de regulação por
meio de solicitação de complemento do raciocínio, 06 (seis) intervenções com
82
Número de tentativas 08 06 06 04
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
01 01 06 02 00 04 00 00 06 02 00 02
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 64 11 25 06
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
01 01 01 01
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 07 06 06 04
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 05
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 09
Resultado da 01 01 01 01
metacognição/ processo de
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Gisele realizou 23 (vinte e três) tentativas, sendo que no bloco BLO foram 07
(sete) respostas, 01 (uma) correta, 02 (duas) incorretas e 04 (quatro) parcialmente
corretas. Nos blocos, MIR e TAC, das 06 (seis) tentativas realizadas em cada bloco,
todas as respostas foram corretas. No bloco CAT, das 04 (quatro) tentativas, todas
as respostas também foram corretas.
No bloco BLO, houve 09 (nove) intervenções. Dentre elas, 05 (cinco) com
regulação da atenção/percepção incitando a análise/síntese de diferenças e
semelhanças, 03 (três) intervenções com regulação por meio de solicitação de
complemento do raciocínio e, 01 (uma) intervenção através de regulação de
atributos já enunciados. Não foram necessárias intervenções nos blocos CAT, TAC
85
Número de tentativas 07 06 06 04
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
01 02 04 06 00 00 06 00 00 04 00 00
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 09
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
01 01 01 01
desenvolvido,
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 10 06 06 04
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 03 05
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 08 07
Resultado da 01 01 01 01
metacognição/ processo de
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 10 06 06 04
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
06 00 04 06 00 00 02 02 02 04 00 00
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 08 07
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
01 01 01 01
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 11 08 06 04
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 10 04 05 04
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 31 16 15 12
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 11 08 06 04
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
00 07 04 00 00 08 00 00 06 01 00 03
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 31 16 15 12
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
01 01 01 01
desenvolvido,
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 11 10 06 04
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 11 15 03 01
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 16 24 04 02
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 11 10 06 04
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
00 06 05 00 01 09 00 00 06 00 00 04
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 15 24 04 02
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido, 01 01 01 01
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Nº tentativas 28 24 23 26 29 31
Respostas 18 08 02 05 01 18 17 02 04 18 02 06 01 07 21 00 07 24
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à análise/ 03 25 05 08 23 30
síntese de diferenças e
semelhanças
TOTAL 25 106 09 15 74 46
Resultado da metacognição/ 04 04 04 04 04 04
processo de fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
94
95
Nº tentativas 28 24 23 26 29 31
Respostas 18 08 02 05 01 18 17 02 04 18 02 06 01 07 21 00 07 24
1- O desempenho é
assistido por
indivíduos mais 25 106 09 15 74 46
capazes
2- O desempenho é
auto-assistido
3- O desempenho é
desenvolvido, 04 04 04 04 04 04
automatizado e
fossilizado
4- Desautomatização
do desempenho 01 01 01 02 01 01
97
98
Número de tentativas 14 09 07 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 20 07 05 05
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 29 08 06 06
Resultado da
metacognição/ processo de
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 14 09 07 06
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
00 13 00 00 06 03 00 04 03 00 03 03
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 29 08 06 06
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 09 07 05 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 07 04 05 01
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 10 07 13 12
Resultado da
metacognição/ processo de
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 09 07 05 06
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
00 03 06 00 00 07 00 00 05 00 00 06
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 10 07 13 12
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 10 16 07 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 16 21 04 01
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 23 33 15 03
Resultado da
metacognição/ processo de
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 10 16 07 06
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
00 09 00 00 15 00 00 07 00 00 05 00
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 23 33 15 03
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Gustavo utilizou 74 (setenta e quatro) tentativas, todas realizadas por meio de
desempenho assistido por indivíduos mais capazes, para conceituar os blocos.
No bloco BLO, foram realizadas 23 (vinte e três) intervenções, no MIR, 33
(trinta e três), no CAT, 15 (quinze) e no TAC, 03 (três). O modo de funcionamento
mental de Gustavo esteve preso a forma dos blocos, permanecendo durante toda a
105
Número de tentativas 09 07 04 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 03 02
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 13 04 02
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 09 07 04 06
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido,
01 01 01 01
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 06 06 04 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 03 01
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 13 06
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
108
Número de tentativas 06 06 04 06
C I P/C C I P/C C I P/C C I P/C
Respostas
00 00 06 03 00 03 03 00 01 06 00 00
1- O desempenho é
assistido por indivíduos 13 06
mais capazes
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
01 01 01 01
desenvolvido,
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do
01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 08 06 04 06
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à 05 01
análise/ síntese de
diferenças e semelhanças
TOTAL 15 06
Resultado da
metacognição/ processo de 01 01 01 01
fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Número de tentativas 08 06 04 06
2- O desempenho é auto-
assistido
3- O desempenho é
desenvolvido, 01 01 01 01
automatizado e fossilizado
4- Desautomatização do 01
desempenho
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
Foram realizadas 21 (vinte e uma) intervenções na Zona de Desenvolvimento
proximal de Roberto por meio de desempenho assistido por indivíduos mais
capazes. Não foi verificada intervenção com desempenho auto-assistido. Para
identificar o desempenho automatizado e fossilizado, houve 04 (quatro) intervenções
e na desautomatização do desempenho 01 (uma).
No bloco BLO, foram 07 (sete) intervenções, das quais, 06 (seis) de
desempenho assistido por um indivíduo mais capaz e 01 (uma) para verificar o
desempenho automatizado e fossilizado.
112
Nº tentativas 36 27 39 26 22 24
Respostas 00 26 09 00 03 24 00 36 00 10 00 16 12 00 10 14 06 04
1- Regulação da atenção/
percepção, incitando à análise/ 37 17 42 05 04 06
síntese de diferenças e
semelhanças
TOTAL 49 42 74 19 19 21
Resultado da metacognição/ 04 04 04
processo de fossilização
Legenda: C- Corretas; I- Incorretas; P/C- Parcialmente Corretas
113
114
Nº tentativas 36 27 39 26 22 24
2- O desempenho é auto-assistido
4- Desautomatização do desempenho 01 01 01
116
117
análise das semelhanças entre os blocos pode levar a crer que se está diante de um
conceito potencial: um bloco grande. A justificativa, entretanto, mostra que a forma
(vínculo concreto e factual) foi que norteou a escolha da criança.
Os dados evidenciam que todas as justificativas realizadas pelas crianças
estão aquém da escolha, a demonstrar possivelmente um nível de desenvolvimento
mais elevado. Quando as crianças justificam suas escolhas e que, mostram os
aspectos genéticos da escolha feita:
Pesquisadora: “Esse é um BLO” (círculo, grande, grosso e vermelho) “Eu quero que você olhe e
pegue outro BLO para mim.”
Joana: (Ela levanta da cadeira e pega um círculo, grande, fino e preto)
Pesquisadora: “Por que você escolheu essa?”
Joana: “Porque é igual a essa”. (Aponta para o círculo grande, grosso e vermelho)
Pesquisadora: “Eles são iguais em quê?”
Joana: “Na forma” (Faz o movimento na mesa de um círculo)
Pesquisadora: “Esse não é um BLO. Esse é um CAT. Olhe para as peças e pegue um BLO.”
Joana: (Pega um círculo, pequeno, grosso e roxo e vira)
Pesquisadora: “Não pode virar. Por que você escolheu essa?”
Joana: “Por que... tem a mesma forma também.”
Pesquisadora: “Esse aqui é um BLO” (quadrado grande, grosso e azul e mostra a palavra escrita
atrás) “Ele é um BLO, olhe para as peças e pegue para outro BLO.”
Fredy: (Pega um quadrado, grande, grosso e vermelho)
Pesquisadora: “Por que você escolheu esse?”
Fredy: “Porque ele é igual a esse.” (aponta para o quadrado, grande, grosso e azul)
Pesquisadora: “Por que ele é igual?”
Fredy: “Porque eles são do mesmo jeito.” (passa o dedo indicador envolta das duas peças).
Pesquisadora: “Que jeito?”
Fredy: (Sorri)
Pesquisadora: “Você falou que são iguais porque são do mesmo jeito. Que mais? Por que eles são
iguais?”
Fredy: “Porque eles são quadrado?”
Pesquisadora: “Que mais?”
Fredy: “Porque os dois são BLO?”
Pesquisadora: “O que mais?”
Fredy: (Sorri)
Pesquisadora: “Olhe para eles.”
Fredy: “Porque os dois são...” (coloca um do lado do outro) “Não sei não.”
Pesquisadora: “Vamos ver ser ele é um BLO? Ele é um BLO (mostra a palavra escrita atrás do
quadrado, grande, grosso e vermelho).
Pesquisadora: “Esse não é BLO. Esse é TAC. Olhe bem para as peças e pegue um BLO.”
Joana: (Pega um círculo, pequeno, grosso e azul.)
Pesquisadora: “Por que esse é um BLO?” “Por que você escolheu essa?”
Joana: “Porque ela é parecidississíssima, com essa.” (círculo, grande, grosso e vermelho)
Pesquisadora: “Por que ela é parecida com essa?” (círculo, grande, grosso e vermelho com o
círculo, pequeno, grosso e azul)
Joana: “Porque tem a mesma forma e...”
Pesquisadora: “Porque tem a mesma forma. Mas olha, tem alguma coisa que elas são diferentes.”
Joana: “O nome?”
Pesquisadora: “Olha para elas. Veja em que elas são diferentes.”
Joana: (Olha para as duas peças por dezenove segundos)
Pesquisadora: “Em que elas não são iguais?”
Joana: “Na cor.”
Pesquisadora: “E o que mais?”
Joana: (Abaixa a cabeça, deita sobre o braço direito, olha para as duas peças, levanta) “No
tamanho.”
Pesquisadora: “No tamanho. Esse é um BLO.” (Aponta para o círculo grande, grosso e
vermelho) “O BLO é?”
Joana: “Grande.” (Fala baixo e faz o gesto de grande com as mãos)
Hélio: “De todos.” (Trapézio grande, grosso e roxo; hexágono grande, grosso e preto; quadrado
grande, grosso e vermelho; círculo grande, grosso e vermelho; quadrado grande, grosso e
azul; e triângulo grande, grosso e vermelho.)
Pesquisadora: “Me explica. Como assim? Qual corte? Qual grandeza?”
Hélio: “Grandeza porque todos é.”
Pesquisadora: “Todos são o que?”
Hélio: “Grandes.”
Pesquisadora: “Esse é um BLO.” (Mostra a palavra atrás do círculo grande, grosso e vermelho.)
“Todas essas peças são BLO: (Trapézio grande, grosso e roxo; hexágono grande, grosso e
preto; quadrado grande, grosso e vermelho; círculo grande, grosso e vermelho; quadrado
grande, grosso e azul; e triângulo grande, grosso e vermelho.) “Você falou para mim que é ela é
BLO. O BLO, ele é...?”
Hélio: “Grande.”
Salienta-se que, ao longo das intervenções houve crianças que utilizaram das
palavras “largo”, “gordo”, “menores” e “maiores” para se referir à espessura,
recorrendo à Função Normativa que, segundo Luria (1986), são palavras mais fáceis
de serem recordadas em seu contexto:
Hélio: (Olha para as peças, bate o dedo indicador na mesa. Olha para o hexágono grande,
grosso e preto.) “Eu achei essa.” (Hexágono pequeno, fino e laranja.)
Pesquisadora: “Por que essa é um BLO?”
Hélio: “Porque parece com essa.” (Aponta o hexágono grande, grosso e preto.)
Pesquisadora: “Esse é um MIR. Esse não é um BLO. Olhe para o BLO.” (Hexágono grande,
grosso e preto.) “E olhe para essa que você escolheu.” (Hexágono pequeno, fino e laranja.) “E
veja no que eles são diferentes. Tem uma diferença entre eles. Em quê? Qual a diferença?”
Hélio: (Olha para o hexágono grande, grosso e preto. Circula a peça e fala:) “ Nos cortes.”
Pesquisadora: “Como assim nos cortes?”
Hélio: “Tipo assim, esse aqui é mais largo.” (Passa o dedo na lateral do hexágono grande, grosso
e preto) “Esse aqui é menor.” (Passa o indicador na lateral do hexágono pequeno, fino e laranja.)
Pesquisadora: “Esse aqui, ele é...?” (Hexágono pequeno, fino e laranja.)
Hélio: “Menor.”
Pesquisadora: (Aponta com o indicador para o hexágono grande, grosso e preto.)
Hélio: “Maior.”
Pesquisadora: “O BLO, ele é...?”
Hélio: “Maior.”
Andressa: (Olha para as peças e fala para si mesma: grande e grosso.) “Esse é grande e
grosso.” (Pega o quadrado grande, grosso e azul.)
Pesquisadora: “Esse é um BLO.” (Mostra a palavra escrita atrás do quadrado grande, grosso e
azul.) “Tem mais? Pode pegar.”
Hélio: “Grande.”
Pesquisadora: “Grande e...”
Hélio: “Pequeno na lateral.”
Pesquisadora: “Quando ele é pequeno na lateral ele é o que?”
Hélio: “Ele é grande em cima.”
Pesquisadora: “Ele é grande e...?”
Hélio: “Fino.”
Pesquisadora: “Então o CAT é...?”
Hélio: “Grande e fino.”
Pesquisadora: “Esse aqui é um CAT. (Trapézio, grande, fino e branco) “Pegue para mim outro
CAT.”
Joana: (Pega um trapézio grande, fino e vermelho)
Pesquisadora: “Por que você escolheu esse?”
Joana: “Porque ele é fino e grande”.
Andressa: “Existe.”
Pesquisadora: “Qual a diferença?”
Andressa: “Porque eles são pequenos.” (Aponta para os TAC.) “E grossos. E eles” (Aponta para
os BLO) “são grandes e grossos.”
Pesquisadora: “Então o TAC, ele é...?”
Andressa: (Sorri, coloca a mão na testa e diz:) “Ah não. Pequeno e grosso.”
Pesquisadora: “Pegue para mim outro BLO. Olha aqui se tem mais BLO” (mostra as peças sobre a
mesa)
Odair: (pega um trapézio grande, fino e branco)
Pesquisadora: “Por que esse é um BLO?”
Odair: “PO, PO, porque esse aqui é um BLO?” (gagueja, mostra o trapézio grande, fino e branco
e olha para cima)
Pesquisadora: “É.”
Odair:”Po, po, porque é igual na roupa” (gagueja algumas palavras que não dá para ser
identificada, olha para frente e para o lado direito) “e, e, e na”.
Pesquisadora: “Olhe para eles para você falar. Você esta olhando lá para fora, Senta direitinho, olhe
para cá. Você tem que olhar para a peça. Esse aqui não é um BLO, esse é um CAT” (mostra a
palavra escrita atrás do trapézio grande, fino e branco) “Olhe para o CAT e olhe para o BLO” (
mostra o quadrado grande, grosso e vermelho; trapézio grande, grosso e roxo; círculo grande,
grosso e vermelho; quadrado grande, grosso e azul e para o triângulo grande, grosso e
vermelho) “E me diga qual a diferença entre eles”
Odair: “Qual a diferença?”
Pesquisadora: “É. A diferença.”
Odair: (pega com a mão direita e com o dedo indicador passa em cima dos quatro lados)
“Porque tem isso”
Pesquisadora: “Esse é um BLO.” (Quadrado grande, grosso e azul.) “Olhe para a peça e pegue
para mim outro BLO.”
Jonas: (Olha para as peças e pega um quadrado grande, grosso e vermelho.)
Pesquisadora: “Por que esse é um BLO?” (Quadrado grande, grosso e vermelho.)
Jonas: “Porque é igual esse aqui.” (Coloca o dedo no quadrado grande, grosso e azul.)
Pesquisadora: “Igual em que?”
Jonas: “Em...” (Coloca a mão na testa)
Pesquisadora: “Vamos ver se ele é um BLO. Ele é um BLO.” (Mostra a palavra escrita atrás do
quadrado grande, e grosso.) “Você falou que ele é igual, ele é igual em que?”
Jonas: (Levanta os olhos para cima.) “É.. esse daqui” (Coloca a mão esquerda sobre o
quadrado grande, grosso e azul) “Quadrado. E esse daqui também é quadrado” (Coloca a mão
esquerda sobre o quadrado, grande grosso e vermelho.)
Pesquisadora: “Esse é um BLO.” (Quadrado grande, grosso e vermelho) “Olhe para ele, olhe para
as peças e pegue um BLO para mim.”
Odair: “Um BLO?”
Pesquisadora: “É um BLO.”
Odair: (Ele pega um trapézio grande, grosso e roxo)
Pesquisadora: “Por que você escolheu essa peça?”
Odair: (Coloca o cotovelo sobre a mesa e a mão direita, apoia a cabeça) “Porque eu escolhi um
BLO” (bate a mão na peça)
Pesquisadora: “...Pegue um BLO para mim.” (Mostra a palavra escrita atrás do trapézio pequeno,
grosso e vermelho.)
Edson: (Pega um trapézio grande, fino e branco.)
Pesquisadora: “Por que esse é um BLO?” (Aponta para o trapézio grande, fino e branco.)
Edson: “Ele é tamanho grande.” (Aponta para o trapézio grande, grosso e roxo. E para o trapézio
grande, fino e branco.)
Pesquisadora: “Então o BLO é...?”
Edson: “Grosso.”
Pesquisadora: “Grosso e...?”
Edson: “E grande.”
Anderson: “Porque esse aqui é um pouco mais fino e quadrilátero.” (aponta para o quadrado
grande, fino e verde)
Pesquisadora: “Esse é um CAT” (mostra a palavra escrita atrás do quadrado grande, fino e
verde) “Esse não é um BLO. Esse é um CAT. Qual a diferença que existe entre eles?”
Anderson: (coloca a mão sobre o quadrado grande, grosso e azul e o quadrado grande, grosso
e vermelho) “Esse é grosso.” (coloca a mão sobre o quadrado grande, fino e verde) “Esse é fino.”
Pesquisadora: “Esse é um BLO” (mostra a palavra escrita atrás do trapézio grande, grosso e
roxo) “Pegue para mim mais BLO.”
Roberto: (Pega o triângulo grande, grosso e vermelho)
Pesquisadora: “Por que esse é um BLO?” (triângulo grande, grosso e vermelho)
Roberto: “Ele é grande e grosso” (Olha para a pesquisadora)
Pesquisadora: “Esse é um BLO” (Mostra a palavra escrita atrás do triângulo grande, grosso e
vermelho) “Aqui são os BLOs. O BLO ele é?”
Roberto: “Grande e grosso.”
Pesquisadora: “Esse aqui é um MIR.” (semicírculo pequeno, fino e verde.) “Pegue para mim outro
MIR.”
Jonas: (Pega um semicírculo pequeno, fino e laranja, e vira.)
Pesquisadora: “Não pode virar, ta? Por que esse é MIR?” (Semicírculo pequeno, fino e laranja)
Jonas: “Porque são da mesma altura.” (Coloca o semicírculo pequeno, fino e laranja ao lado do
semicírculo pequeno, fino e verde.)
Pesquisadora: “E o que mais?”
Jonas: “Porque eles são mais pequeno.”
129
Pesquisadora: “Esse é um MIR.” (Mostra a palavra escrita atrás do Semicírculo pequeno, fino e
laranja.) “Pegue outro MIR.”
Jonas: (Pega o triângulo pequeno, fino e rosa.)
Pesquisadora: “Por que esse é MIR?”
Jonas: “Porque são do mesmo tamanho” (coloca o triângulo pequeno, fino e rosa ao lado do
semicírculo pequeno, fino e laranja e ao lado do semicírculo pequeno, fino e verde.)
Pesquisadora: “Qual o tamanho?”
Jonas: (Olha para cima) “Menor.”
Pesquisadora: “Esse é um TAC.” (mostra a palavra escrita atrás do triangulo pequeno, grosso e
roxo) “Pegue para mim outro TAC!”
Anderson: (olha para as peças, bate o dedo indicador na mesa, olha para o triângulo pequeno,
grosso e roxo e para o círculo pequeno grosso e roxo) “E esse aqui.” (trapézio pequeno grosso
e vermelho)
Pesquisadora: “Porque esse?”
Anderson: “Porque ele é pequeno e tem ...”
Pesquisadora: “Pequeno e ... ?”
Anderson: “Grande, não, grosso.”
Pesquisadora: “O TAC ele é ... ?”
Anderson: “Pequeno e grosso.”
Pesquisadora: “Muito bem. Esse aqui agora é o TAC” (mostra o trapézio pequeno, grosso e
vermelho)
Roberto: “Um TAC.” (balança o corpo na cadeira)
Pesquisadora: “Pegue para mim outro TAC.”
Roberto: (Pega o triângulo pequeno, grosso e roxo)
Pesquisadora: “Por que esse é um TAC?” (triângulo pequeno, grosso e roxo)
Roberto: “Por que ele é pequeno e grosso.”
em outro lugar, possivelmente, na qualidade das mediações que lhes são destinadas
e na ênfase na constituição das funções psicológicas superiores.
Foram executadas 26 (vinte e seis) tentativas por Andressa, com
desenvolvimento típico, e por Edson, com deficiência intelectual. Ambos possuem 10
(dez) anos de idade e cursam o Quinto Ano do Ensino Fundamental. O que os difere
é o diagnóstico: deficiente intelectual
É possível que o desenvolvimento das crianças de ambos os grupos seja
determinado, dentre outros fatores, pelo processo de escolarização que potencializa
a aprendizagem e novos desenvolvimentos e pela faixa etária que proporciona em
tese, maiores experiências e interações sociais.
As escolhas efetuadas por meio de complexo do tipo pseudoconceito, por
exemplo, esteve mais presente nas justificativas das crianças com desenvolvimento
típico (Joana, Hélio e Gisele), escolhas essas pautadas por vínculos factuais e
concretos.
Deve-se ressaltar, mais uma vez, o fator idade e escolaridade, Joana e Gisele
são mais novas, uma com 07 (sete) anos e a outra, 09 (nove) anos de idade, já
Rafael tem 12 (doze) anos de idade; Joana cursa o Segundo Ano e Gisele o Quarto
Ano, Rafael o Quinto Ano do Ensino Fundamental.
Nas crianças com deficiência intelectual o maior número de escolhas
executadas por complexo do tipo pseudoconceito, foram realizadas por Odair, 08
(oito) e Edson o menor número, 01 (uma). No conceito potencial o maior número foi
de Gustavo, 16 (dezesseis) e o menor foi de Anderson 01 (uma). Já no conceito
propriamente dito, o maior número foi de Edson e Anderson, 21 (vinte e uma), o
menor, de Jonas, com 19 (dezenove) escolhas. Esperava-se que Jonas por ser mais
novo, 09 (nove) anos de idade, por cursar o Terceiro Ano do Ensino Fundamental
obtivesse um número maior de escolhas, o que não ocorreu.
As crianças com deficiência intelectual demonstraram necessitar de mais
apoio e intervenções para conceituar.
As escolhas efetivadas por um dos atributos dos blocos, pela união dos
objetos a partir de suas semelhanças entre eles, conceito potencial, Gustavo, com
deficiência intelectual, foi quem realizou um número maior de escolhas, 16
(dezesseis). Já Gisele, com desenvolvimento típico e Anderson, com deficiência
intelectual, utilizaram o conceito potencial apenas 01 (uma) vez. Ambos abstraíram e
131
atributos criteriais dos blocos. Esperava-se que acontecesse o contrário, que Hélio e
Rafael, por serem mais velhos e estarem em um nível de escolaridade mais
avançado, conseguissem justificar um número maior de escolhas, ou seja, abstrair e
generalizar os atributos criteriais dos blocos. Ressalta-se que Joana, Andressa,
Hélio e Rafael, fazem parte do grupo de crianças com desenvolvimento típico. A
questão que está posta refere-se não só ao desenvolvimento cognitivo das crianças
em questão, mas também à própria escolarização e critérios diagnósticos da
deficiência intelectual, o que não é foco desta investigação.
Já nas crianças com deficiência intelectual, o maior número de justificativas
foi de Roberto com 14 (catorze) e o menor foi de Odair, Jonas e Gustavo, que não
efetuaram nenhuma justificativa por conceito propriamente dito.
Existe uma inversão com relação ao conceito potencial e o conceito
propriamente dito no que tange as escolhas e as justificativas. No conceito potencial
as escolhas diminuíram com relação às justificativas, ou seja, as crianças efetuaram
menos escolhas e mais justificativas, com exceção de Joana e Gustavo. Joana
realizou 05 (cinco) escolhas e 02 (duas) justificativas; e Gustavo 16 (dezesseis)
escolhas e nenhuma justificativa. Já por conceito propriamente dito, as justificativas
diminuíram em relação às escolhas, ou seja, as crianças realizaram mais escolhas e
justificaram menos.
Ademais o maior número de respostas corretas, ou seja, por conceito
propriamente dito, nas crianças com desenvolvimento típico, foi de Joana, 18
(dezoito) e, nas crianças com deficiência intelectual Roberto com 16 (dezesseis)
respostas corretas.
As respostas incorretas foram efetivadas por meio de pensamento por
amontoados ou pensamento por complexo. Fredy, com desenvolvimento típico, foi
quem efetuou o menor número, 01 (uma) resposta. Joana, Hélio e Rafael, também
com desenvolvimento típico realizaram o maior número de respostas incorretas, 07
(sete). No grupo das crianças com deficiência intelectual as respostas em maior
número foram efetivadas por Gustavo, 36 (trinta e seis) e o menor número de Edson
e Anderson, sem nenhuma resposta efetuada nesses estágios.
Já as respostas parcialmente corretas, estas realizadas pelo conceito
potencial, ou seja, por um dos atributos dos blocos, no grupo de crianças com
desenvolvimento típico, o maior número de respostas parcialmente corretas foi de
134
(setenta e quatro). Vale ressaltar que, Hélio tem 12 (anos) e Gustavo 09 (nove) anos
de idade; o primeiro cursa o Quinto Ano e o segundo o Terceiro Ano do Ensino
Fundamental.
É surpreendente constatar que, no geral, as crianças com desenvolvimento
típico necessitaram de mais ajuda de um indivíduo mais capaz, (duzentas e setenta
e cinco) intervenções e as crianças com deficiência intelectual necessitaram de um
número menor de intervenções nesse estágio, (duzentas e vinte e quatro).
No estágio de desempenho auto-assistido, não foi efetivada nenhuma
intervenção. Entende-se que há carência de distinção entre esse estágio e o
anterior, a classificação feita por Gallimore e Tharp (2002), não se mostra funcional
na análise empreendida neste trabalho, por falta de elementos que diferencie
desempenhos do primeiro e do segundo estágios.
no estágio II, portanto, uma criança é capaz de desempenhar uma tarefa
sem assistência externa. Entretanto, isso não significa que o desempenho
esteja plenamente desenvolvido e automatizado. A regulação pode ter
passado do falante adulto para a criança, mas a função de controle ainda se
apega à verbalização aberta sob forma do discurso autodirigido.
(GALLIMORE e THARP, 2002, p. 181).
6- Considerações Finais
7- Referências
ABELLA, Sandra Iris Sobrera; DA ROS, Silvia Zanatta. “De vez em quando pesa na
cabeça da gente”: análise de imagem visual por um grupo de pessoas com história
de deficiência. UFSC, 2003. Disponivel em:
http://www.lab-eduimagem.pro.br/frames/seminarios/pdf/e5sanabe.pdf. Acesso em
março 2010.
AITA, Aline Brutt; COSTAS, Fabiane Adela Tonetto; FREITAS, Ariane Meneghett.
Formação em conceitos em crianças com necessidades educacionais
especiais na educação infantil. Universidade Federal de Santa Maria. 2005.
Disponível em:
http://w3.ufsm.br/prograd/downloads/File/Formacao%20de%20Conceitos.pdf
Acesso em março 2010.
BEYER, Hugo Otto. Por que Lev Vygotski quando se propõe uma educação
inclusiva? Cadernos:: edição: 2005. n 26. Disponível em:
http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2005/02/editorial.htm. Acesso em março 2010.
LUZ, Angela de Oliveira Camargo. “Será que precisa aprender isso?” Um estudo
sobre as condições e possibilidades de abstração em jovens com deficiência mental.
1999, 129f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, 1999.
PADILHA, Anna Maria Lunardi. BIANCA- O ser simbólico: para além dos limites da
deficiência mental. 2000, 244f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade
Estadual de Campinas, São Paulo, 2000.
VAN DER VEER, René ; VALSINER, Jaan. Vygotsky – uma síntese. (Tradução
Cecília C. Bartalotti) São Paulo: Loyola, 1996.
ANEXOS
145
ANEXO 1
Termo de Consentimento
Carta – convite
Eu,_________________________________________________________________
autorizo meu filho(a)_________________________________________________
a participar da investigação e ser filmado.
146
Anexo 2
Grade de caracterização da formação de conceitos artificiais na criança
segundo Vigotski (2001)
A criança, primeiramente
4–Complexo Difuso escolhe qualquer figura, depois
junta com outras figuras por
algum traço semelhante.
147
Anexo 3
Grade de análise semântica da palavra segundo Luria (1986)
FUNÇÃO CARACTERÍSTICAS
Anexo 4
Grade de análise da capacidade de desempenho: Zona de Desenvolvimento
Proximal, segundo Gallimore e Tharp (2002)
ESTÁGIOS CARACTERÍSTICAS