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Monografia Issenguel
Monografia Issenguel
Monografia Issenguel
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Instituto Superior de Ciências da Educação
--ISCED—
Departamento de Ciências Sociais
Repartição de Filosofia
LUANDA
Opção: Filosofia
LUANDA
2019
Autor: António João Sebastião Issenguel
Opção: Filosofia
LUANDA
2019
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus queridos pais, Julieta Manuel e João Domingos
Issenguel, pela brilhante orientação e educação que me proporcionaram, pelo incentivo,
colaboração e paciência que demonstraram durante a minha formação informal, formal e não
formal sem a qual a minha teoria de vida seria sectária e banal.
II
AGRADECIMENTO
Ex aequo, aos meus pais por me terem gerado e por me encorajarem a seguir sempre
adiante, contornando os obstáculos da vida;
Aos meus irmãos em todas as esferas, os meus irmãos consanguíneos, aos meus irmãos
escuteiros, aos meus colegas, aos meus irmãos do grupo dos leitores do Centro Pastoral Nossa
Senhora do Monte pelo carinho, pela amizade, pelos incansáveis encorajamentos, pelos apoios,
pelas prestigiosas orientações e pelas críticas que permitiram despontar o meu desenvolvimento
académico e profissional;
Ao meu orientador, professor mestre Manuel da Piedade pela dedicação, pela escolha e
por sua abertura ao diálogo, amoroso e crítico;
À todos os meus professores desde o ensino primário até ao ensino superior pelos
ensinamentos transmitidos por meio das suas várias técnicas e métodos;
À toda minha família em geral, que directa ou indirectamente deu o seu apoio
incondicional nos momentos em que sempre precisei.
III
RESUMO
Este trabalho cujo título é “A Ética como Base para Formação de Cidadãos Cientes e
Conscientes à Luz da Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino “Lei n.º 17/16” de Angola”
traça um percurso exploratório sobre os pressupostos éticos essênciais para formação de cidadãos
lúcidos e conscientes em Angola. A fundamentação teórica começa com uma reflexão histórica
sobre a ética e termina apresentando os desafios da sociedade contemporânea e a missão da ética
para o sistema de educação e ensino angolano. Para melhor reflexão do problema, traçou-se um
objectivo geral e seis objectivos específicos, essencialmente assentes na teoria e na sabedoria
tendo em conta o contexto histórico, social e cultural nacional e internacional tendente a
formação de cidadãos cientes e conscientes. Para viabilizar a recolha de dados usou-se no que diz
respeito ao método de abordagem, o método hipotético-dedutivo; no que diz respeito ao método
de procedimento, usou-se o método histórico. Quanto as técnicas usou-se a pesquisa documental,
pois a mesma baseou-se na actual Lei Bases do Sistema Educação e Ensino de Angola e na
Constituição da República de Angola; a pesquisa bibliográfica baseou-se em fontes como livros,
artigos, teses, monografias e jornais. Portanto, a concepção ética para formação de cidadãos
cientes e conscientes pressupõe a transmissão, assimilação e acomodação das virtudes humanas,
da cosmologia racional e da educação republicana.
IV
ABSTRACT
This work, entitled “Ethics as the Basis for the Formation of Aware and Conscious
Citizens in the Light of the Basic Law of the Education and Teaching System” “Law no. 17/16”
for the formation of lucid and conscious citizens in Angola. The theoretical foundation begins
with a historical reflection on ethics and ends by presenting the challenges of contemporary
society and the mission of ethics for the Angolan education and teaching system. For a better
reflection of the problem, one general objective and six specific objectives were set, essentially
based on theory and wisdom, taking into account the national and international historical, social
and cultural context, aiming at the formation of aware and conscious citizens. To enable data
collection, the hypothetical-deductive method was used with regard to the approach method;
Regarding the method of procedure, the historical method was used. As for the techniques,
documentary research was used, as it was based on the current Basic Law of the Education and
Teaching System of Angola and the Constitution of the Republic of Angola; Bibliographic
research was based on sources such as books, articles, theses, monographs and newspapers.
Therefore, the ethical conception for the formation of aware and conscious citizens presupposes
the transmission, assimilation and accommodation of human virtues, rational cosmology and
republican education.
V
ÍNDICE
DEDICATÓRIA..................................................................................................................... II
AGRADECIMENTO ........................................................................................................... III
RESUMO ............................................................................................................................. IV
ABSTRACT ........................................................................................................................... V
INDÍCE ............................................................................................................................... VI
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 8
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 13
1.1. Reflexão sobre o contexto histórico da ética ...................................................... 13
1.1.1. A ética aristocrática dos antigos ........................................................................ 14
1.1.2. A ética judaico-cristã na idade média ................................................................ 17
1.1.3. A ética republicana e o humanismo moderno ..................................................... 18
1.1.4. A ética da vida e o humanismo contemporâneo ................................................. 20
1.2. A ética africana: ubuntu .................................................................................... 21
1.3. A ética no contexto cultural tradicional angolano ............................................... 22
1.3.1. A ética vitalista e antropológica......................................................................... 23
1.3.2. A ética comunitária ........................................................................................... 24
1.3.3. A axiologia cultural angolana ............................................................................ 26
1.3.3.1. Solidariedade ............................................................................................... 27
1.3.3.2. Religiosidade ............................................................................................... 27
1.3.3.3. Optimismo ................................................................................................... 28
1.3.3.4. Dinamismo................................................................................................... 28
1.3.3.5. Emotividade ................................................................................................. 28
1.3.3.6. Biocentrismo ................................................................................................ 28
1.3.3.7. Respeito ....................................................................................................... 29
1.4. Formação de cidadãos cientes e conscientes (omnilaterais) ................................ 29
1.4.1. Definição do conceito formação ........................................................................ 30
1.4.2. Cidadãos cientes e conscientes .......................................................................... 30
1.4.3. Formação de cidadãos omnilaterais nos objectivos da Lei N.º 17/16 ................... 31
1.5. Ética e cidadania omnilateral ............................................................................ 33
1.6. Desafios da sociedade contemporânea e a missão da ética para o sistema de
educação e ensino angolano ..................................................................................................... 34
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA............................................... 37
2.1. Opções metodológicas ...................................................................................... 37
2.2. Contexto da pesquisa: Lei n.º 17/16 de 7 de Outubro ......................................... 39
2.3. Modelo teórico de análise ................................................................................. 40
2.4. Métodos e técnicas de recolha de dados ............................................................. 41
2.5. Limitações da pesquisa ..................................................................................... 42
CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS..... 43
3.1. Os pressupostos éticos para formação de cidadãos omnilaterais .......................... 43
3.1.1. Virtudes humanas para cidadãos omnilaterais .................................................... 43
3.1.1.1. Valor da solidariedade .................................................................................. 47
3.1.1.2. Valor da indignação ...................................................................................... 48
3.1.1.3. Valor do compromisso .................................................................................. 48
3.1.1.4. Valor da ternura ........................................................................................... 48
3.1.1.5. Valor da responsabilidade ............................................................................. 48
3.1.2. Carácter ético da cosmologia racional................................................................ 48
3.1.3. O ideal de uma educação republicana ................................................................ 50
3.2. As três grandes questões éticas no contexto actual de Angola ............................. 51
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 53
GLOSSÁRIO......................................................................................................................... 54
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................... 55
INTRODUÇÃO
Pois bem, está constatação leva a rever e analisar o processo da construção ética e moral
da sociedade angolana, posto que, quando o assunto diz respeito sobre o modo como deve-se
viver e conviver com os outros, ou seja, como se juntar e se ajustar numa teia de relações
humanas, é imperioso falar de formação de cidadãos que podem e devem participar da autoridade
e da reverência soberana de modo ciente e consciente; ciente porque é fundamental que o cidadão
conheça o mundo que o rodeia para nele encontrar o seu lugar, para aprender a viver e nele
inscrever as suas acções; e consciente porque o objectivo da sociedade é promover a vida boa não
para alguns, mas para todos daí urge a necessidade de inscrever-se sabiamente as acções sem
entrar em confronto com os outros e com o mundo. Neste caso, deve-se abraçar o pragmatismo,
ou seja, deve-se conforme sugeriu Imbamba abraçar a militância no “ango-realismo-crítico”
envolvendo a ética (teoria e a sabedoria) para ter-se uma sociedade onde os cidadãos saibam
estabelecer relações sociais sadias e equilibradas. No contexto da educação angolana este é um
dos desafios da nova Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino.
Realmente, a ética nos proporciona duas dimensões fundamentais que permitem recuperar
e reconstruir o homem e com ela a alma vital da sociedade que é a cultura: a primeira dimensão é
a teoria que consiste na capacidade de fazer leitura interior do contexto no qual nossa existência
vai se desenvolver e a segunda dimensão é a sabedoria que consiste na prática ou na realização
coerente do texto interiorizado proporcionando uma vida feliz e livre na medida do possível.
- Quais os pressupostos éticos que estão na base para a formação de cidadãos cientes e
conscientes em Angola?
- A educação de docentes e discentes orientada para virtudes, pois é a virtude que faz o
Homem humano, ou seja, no sentido normativo permite o Homem atingir a sua excelência: a
exigência cultural e a sabedoria;
- Estabelecer a orientação ética para educação angolana nas dimensões teórica e prática
(sapiencial);
9
- Apontar as teorias e as sabedorias humanas no contexto histórico, social e cultural
nacional e internacional;
Justificativa: As razões que estão na base para escolha desta temática são:
1.ª Pela necessidade do Sistema de Educação e Ensino em assimilar e acomodar nos seus
seis subsistemas de ensino e nos seus quatro níveis de ensino a disciplina de Ética para formação
integral do indivíduo, pois para além dos valores fundamentais que correspondem à base técnica,
tecnológica e científica sólida, ela deve abarcar os valores essenciais que proporcionam a
possibilidade de cooperação e a noção de formação de cidadania.
2.ª Pelo facto de vivermos uma fase apocalíptica e declarante da idiotice social marcada
pela onda midiática de casos de corrupção e outros crimes cometidos por pessoas escolarizadas
que colocam em cheque a escolarização particularmente de Angola.
3.ª Pelo facto de verificar incoerência educativa na aplicação dos fins do Sistema de
Educação e Ensino, isto é, nota-se um distanciamento dantesco entre o que a Lei 17/16 de 7 de
Outubro contempla e o que se faz na prática, dando-se pouco interesse sobre as disciplinas que
problematizam e estabelecem fronteiras da nossa convivência.
4.ª Pelo facto de conceber a Ética como base para coerência educativa em Angola e, com
isso, para formação de cidadãos omnilaterais (cientes e conscientes) e, sobretudo com
capacidades intelectuais, laborais, cívicas, morais, ética, estéticas e físicas, ou seja, cidadãos
teóricos, práticos, justos e sábios.
Importância do estudo: Este estudo importa muito, visto que, poucos autores e
investigadores adentram com facilidade sobre as questões históricas, sociais e culturais ligadas a
ética, contudo nesta abordagem monográfica verifica-se uma articulação sobre estas questões
numa linguagem simples e coerente;
10
Por outra, constitui uma abordagem puramente filosófica, pois identifica e descreve
radicalmente as duas faces da ética que permitem recuperar e reconstruir o homem e com ela a
alma vital da sociedade que é a cultura, uma ligada a teoria e outra ligada a sabedoria;
O primeiro capítulo que versa sobre a fundamentação teórica são descritas os contextos
históricos da ética envolvendo a suas respectivas teorias e sabedorias; são abordadas questões
éticas ligadas a teoria e a sabedoria no contexto tradicional angolano; é identificada a axiologia
angolana e as exigências para formação de cidadãos omnilaterais; definiu-se ainda os conceitos
de formação e cidadãos cientes a conscientes do ponto de vista nominal e real, identificou-se a
linha legislativa ligada a formação de cidadãos omnilaterais e inferiu-se sobre ética, cidadania e
sobre a missão da ética no Sistema de Educação e Ensino de Angola
11
Por fim, a conclusão, encerra o estudo buscando analisar a importância real da ética no
processo de formação de cidadãos cientes (teórico) e conscientes (sábio) contemplada no artigo
n.º 3, na sua alínea a) da Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino.
12
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
“Falar de ética é tratar essencialmente da reflexão que se faz toda vez que é preciso identificar a melhor maneira de
viver e conviver. ”
O homem é um ser social, histórico e cultural que no ponto de vista essencialista pode
ser concebido como um animal racional (Aristóteles), como um animal que pensa (Descartes) ou
como um animal que cria (Bergson) e no ponto de vista existencialista é concebido como um ser
que escapa a todas as definições nas quais pretendem aprisioná-lo, ou seja, é um ser que
transcende todas as categorias, todas as essências e todos os arquétipos considerados como
específicos (Sartre).
De modo genérico, o Homem é um ser social porque é fundamental viver com os outros
para construir uma família, uma comunidade, uma nação, uma cultura porque é um ser ético,
porque precisa comunicar, partilhar as suas emoções, os seus bens e as suas ideias com outros,
por certo a ética tem a ver com a convivência e com o pensamento sobre a vida partilhada,
conforme defendia Aristóteles (Política, II, 71-72) “o homem, por natureza, é um animal político
[isto é, destinado a viver em sociedade]” e acrescenta ainda que “o homem que não consegue
viver em sociedade, ou que não necessita viver nela porque se basta a si mesmo, não faz parte da
cidade; por conseguinte, deve ser uma besta ou um deus” (ARISTÓTELES, Op. Cit., II, 114-
116). Ora, os gregos usavam a expressão idiótes, i.e., idiota, para designar aquele que vivia a vida
13
privada, que recusava a política, que dizia não a política. Desta feita, sem sequestro semântico um
ser antiético, antissocial ou apolítico é na perspectiva grega um idiota.
Enfim, ser humano é cultural conforme afirma Imbamba (2010) porque a “cultura é
aquilo pelo qual o homem enquanto homem se torna grandemente homem”, com isso, para que o
homem seja autenticamente humano deve saber criar, avaliar, criticar e projectar uma cultura
consentânea às exigências da sua humanidade. Outrossim, porque não nasce pronto, ou seja,
porque possui uma natureza incompleta que permite aperfeiçoar-se numa acção transformadora
ciente e consciente no interior de uma cultura. Diz-se aqui cultura no sentido nominal do termo
colere que significa cultivar e cuidar; como conjunto de valores, hábitos, costumes e
conhecimentos que uma determinada sociedade cultiva e cuida para não apodrecer, alvitrar,
degradar e exaurir. Logo, o Homem torna-se humanos na vida social, histórica e cultural.
Com isso, a reflexão sobre a ética exige uma compreensão da teoria e da sabedoria
humana no contexto histórico, social e cultural. Nesse sentido, tratar-se-á de forma clara, precisa
e sucinta sobre os quatro períodos históricos da ética: A ética aristocrática dos antigos que tinha
como modelo ético o Cosmos, onde a razão era usada como instrumento teórico para
compreensão da ordem e harmonia; a ética judaico-cristã na idade média que tinha como modelo
ético a divindade encarnada, ou melhor, a fé é usada como instrumento teórico para contemplar
Deus; a ética republicana ou humanismo moderno que tinha como modelo ético o próprio
homem, pois o homem se colocada no centro e considera a razão como a fonte da liberdade e da
felicidade; e a ética da divinização do humano (humanismo contemporâneo) e a ética da vida que
consiste na noosfera caracterizada pelo espírito de comunhão e de harmonia entre os humanos e
deles para com a terra.
Conforme foi dito, a ética aglutina duas dimensões, a teoria e a sabedoria. A primeira no
ponto de vista etimológico provém do grego theion (o divino) e orao (eu vejo), com efeito, para
os gregos a teoria consistia em ver ou contemplar o divino, e este divino era o Cosmos ou Logos
cuja essência mais íntima é simultaneamente harmonia e ordem. Ademais, surge a necessidade do
homem conhecer o mundo transcendente e imanente que o rodeia para nele encontrar o seu lugar,
para aprender a viver nele e inscrever sabiamente as suas acções. E o conceito sabedoria entre os
14
gregos sophia (sabedoria contemplativa) e phronesis (sabedoria prática) e entre os latinos
sapientia tem “muito a ver com inteligência, com conhecimento, em suma, com certo saber”
(COMTE-SPONVILLE, 2002, p. 135). Ora, a sabedoria grega aristocrática consistia em evitar
dois grandes males que paralisam e impedem de alcançar a plenitude, que são: a nostalgia (o
apego ao passado) e a esperança (a preocupação com o futuro), isto significa na visão grega que
devemos parar de habitar permanentemente nestas duas dimensões do tempo porque nos desviam
do instante presente e consequentemente nos impedem de viver plenamente. Impõe-se fazer um
esclarecimento imediato sobre estes dois grandes termos anacrónicos.
Por outro lado, a nostalgia é uma palavra de consonância grega formulada a partir de
nostos que vem de nethai, “regressar”, “voltar para casa” e algos que significa “sofrimento”,
neste sentido, nostalgia é o desejo doloroso de voltar ao lar. Kundera, apud Ferry (2012a)
distingue especificamente três tipos de nostalgia: A nostalgia sentimental que está associada a
alguma felicidade perdida, como a perda do ninho familiar, as férias desfrutadas na infância, os
amores passados; a nostalgia histórico-política é a motivadora de todas as “restaurações” sociais e
políticas, o que pode traduzir elogio do tempo passado e a última nostalgia é a grega ou
cosmológica que consiste na volta a ordem cósmica perdida e; do outro lado, a esperança é um
termo que etimologicamente provém do grego Spes e significa sopro, ou seja, esperança é aquilo
que impulsiona e que inspira os desejos que pretende-se inscrever no futuro.
Por conseguinte, estes dois freios impedem a viver plenamente o instante presente. Para
os gregos a ética consistia em “juntar-se ou ajustar-se ao cosmos” (FERRY, Op. Cit.a, 2012a, p.
27). Na realidade, trata-se de uma ética cosmológica. Verbia gratia, segundo Ferry (2012), os
estoicos defendiam que o Cosmos era um organismo vivo onde cada órgão devia estar no seu
devido lugar de modo a funcionar ordeiramente e harmoniosamente. Com efeito, Luc Ferry
(2008) sublinha que um dos representantes da história do pensamento ocidental sobre a sabedoria
cosmocrática é o Ulisses que na tentativa de regressar a sua terra natal, Ítaca parou numa ilha
encantadora onde manteve-se como prisioneiro e amante da Calipso, nome que vem do verbo
grego Calyptein e significa esconder. Nesta ilha é dado a Ulisses uma proposta extraterrestre, que
é de ser imortal, de estar na “boa-venturança”, de ter a beleza e o vigor eterno caso aceitasse
viver com Ela naquela ilha, porém Ulisses rejeitou e a sua rejeição tem um significado abissal,
pois para Ulisses a vida deslocada, a vida longe de casa, sem harmonia, fora do seu lugar natural,
15
a margem do cosmos é pior do que a própria morte. Outrossim, Ele reconheceu que é bem melhor
viver como mortal do que ser imortal num lugar vazio, sem sentido, mesmo que paradisíaco, com
uma mulher que não se ama, mesmo que seja sublime, longe do seu lar.
16
1.1.2. A ética judaico-cristã na idade média
19
1.1.4. A ética da vida e o humanismo contemporâneo
A ética da vida tem como característica fundamental a “cidadania da terra” que implica
uma atitude participativa de concordância intrínseca com a pluralidade visando garantir o futuro
da terra e da humanidade.
A abordagem sobre a ética afrinana (ubuntu) será feita de forma breve, isto porque os
seus fundamentos estão intimamente ligados a concepção ética tradicional dos países da África
subsaariana, isto é, dos países que se encontra na parte sul do Deserto do Saara, cuja teoria,
sabedoria, definição e instrumento teórico para contemplação da participação vital serão
aprofundados no subtema posterior associado a um dos países da África subsaariana, no caso
Angola.
Sabedoria da ética africana consiste em respeitar a hierarquia social que se relaciona com
a aceitação da condição e da posição de uma pessoa em sua existência e, por outro lado, o
reconhecimento do outro e da solidariedade para com ele buscando o fortalecimento mútuo. Por
conseguinte, necessitar o outro é reconhecer a sua importância, o seu valor como humano.
Desde já, importa lembrar que existe uma escassa literatura sobre a ética na cultura
tradicional angolana, isto deve-se em parte do facto da oralidade ocupar o primeiro lugar no
processo de conservação e transmissão do património cultural, nas manifestações artísticas,
religiosas e sociais, por outra, deve-se aos desvios argumentativos no tratamento das questões
éticas limitando-se na descrição da conduta humana, isto é, na moral, porém isso não
comprometerá a qualidade informativa sobre a visão ética na tradição angolana, pois urge a
necessidade de conhecer a identidade cultural, os acervos de valores culturais ínsitos na cultura
tradicional angolana, o manancial da vivência e sua riqueza moral para se superrar o
“obscurecimento do horizonte ético”, a “pobreza antropológica” e o aviltamento do valor da vida
imanentes na sociedade angolana, visto que, a “cultura é uma propriedade só do homem, pelo
homem e para o homem, porque é ela que faz dele um ser especificamente humano, racional,
estético, crítico e eticamente empenhado” (IMBAMBA, Op. Cit. 2010, p. 27). Entretanto, a
reflexão sobre a ética abre o caminho para transformação cultural aprofundando a união dos
benefícios e criticando a presença ou o aparecimento do maléfico.
No sentido próprio do termo, importa chamar atenção a dois aspectos bem trabalhado
por Cortella, e, que permitem passar pelo crivo os elementos cadentes de uma determinada
cultura, falo precisamente dos aspectos tradicionais e arcaicos da cultura, pois ambas veem do
passado, todavia aquilo que vem do passado e precisa ser guardado, protegido, levado adiante
porque é benéfico e engrandece a própria cultura chamamos de tradicional; e aquilo que vem do
passado e precisa ser superado, jogado para fora, descartado, abandonado, deixado de lado
porque avilta, deprava e degrada a própria cultura chamamos de arcaico. Como é notória, dentro
22
da cultura angolana existem aspectos arcaicos e tradicionais que precisam ser descartados e
protegidos.
23
“um fenómeno absolutamente originário, portanto, irredutível à matéria” (MONDIN, apud
IMBAMBA, idem, p. 203).
Outrossim, apesar da ética biocêntrica reconhecer a vida nos minerais, vegetais, animais,
antepassados e em Deus a ética Bantu e particularmente angolana é antropocêntrica, visto que, o
homem é considerado aqui como “a força suprema, a mais poderosa entre os seres criados”
(ALTUNA, Op. Cit. 2014, p. 253), pois o “muntu”, a pessoa humana e, por conseguinte, o único
ser somático que possui vida com inteligência encontra-se no centro da pirâmide vital, ou seja, os
antepassados, os animais, as plantas e os minerais estão destinados a realizar a plenitude humana.
Contudo, quem domina a pirâmide vital é Deus; Ele que é a fonte da vida.
Logo, “ser pessoa não é uma realidade inata, mas adquirimo-lo na comunidade na
medida em que agimos intencionalmente, desta forma as crianças e os jovens não são pessoas,
pois não têm intencionalidade moral” (MENKITI, apud SILVA, Op. Cit., 2017, p. 9). Pois bem,
cabe fazer a seguinte constatação: a responsabilidade, a liberdade, a vontade e a consciência
social é o que confere o estatuto de “muntu”, por isso, um jovem ou um mais velho que não tem
estas qualidades, que não é circuncisado e não passou nos ritos de iniciação não é considerado
25
pessoa. Quanto aos ritos de iniciação, no nosso país, “há grupos que desconhecem e outros que
praticam parcialmente. Por isso, as nossas afirmações referem-se só aos grupos que exigem os
ritos de iniciação” (ALTUNA, idem., 2014, p. 279).
Por fim, Boff (2009) lapidou a definição conceitual de ética da vida como sendo a
Ecologia (do grego, “oikos” que significa casa e “logos” que significa estudo), este conceito foi
criado em 1866 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel (1834 – 1919), no sentido próprio do termo,
ecologia é o estudo do inter-relacionamento de todos os sistemas vivos e não vivos entre si e com
o meio ambiente, entendido como uma casa. Porém, Frei Betto (2011) sugere uma viragem
paradigmática de ecologia para “Ecobionomia”, uma vez que a ecobionomia (do grego, oikos
significa casa, bios significa vida e nomos administração, regra) seria a administração da vida da
casa. Aliás, a casa não é constituída aqui simplesmente por quatro cantos e teto (casa física), mas
constituída pelo conjunto das relações que o ser humano estabelece com o meio natural. Neste
caso, é algo existencial (habitável), globalizante e deve ter bom astral.
De modo geral, “todo e qualquer ser humano tem cultura” (ROCHA, 1996, p. 8), e toda
cultura sã visa continuamente humanizar o homem. Ora, a comunidade humana é constituída por
diversos componentes substantivos ou indicadores sociais que definem, identificam, constroem,
sustêm e dão dignidade, nobreza e estima a cultura do grupo humano, tais como: as formas
organizativas, os sistemas de decisão, a visão do mundo, o meio ambiente, a memória e as
relações de produção. De certo que, “a grandeza e a miséria duma cultura depende da grandeza e
da miséria dos seus valores” (IMBAMBA, apud MONDIN, idem, p. 45 – 46). Numa vertente
particular, esses indicadores sociais estão presentes na cultura angolana, todavia dentre os
indicadores sociais abordar-se-á numa perspectiva tradicional a visão do mundo, o coração, a
alma, a valoração que o homem tem por si e pelos outros, ou seja, a axiologia angolana.
Do ponto de vista axiológico, as existências dos valores estão associadas a aquilo que a
maioria compreende, aceita e respeita porque são premissas importantíssimas da boa convivência.
Importa sublinhar que o termo “valor” é usado em três âmbitos principais: económico, ético e
ontológico, porém o termo no âmbito do nosso interesse é o ético, pois neste, a palavra valor quer
dizer, em grego areté, em latim virtus e pode ser entendida aqui como “virtude moral com a qual
26
e pela qual se afrontam graves perigos e se realizam grandes proezas, ou nobreza duma pessoa”
(IMBAMBA, ibidem., p. 46). Ou ainda, para Chambisse, apud Pequenino (2013, p 23) a virtude é
“o valor moral adquirido por esforço voluntário, isto é, uma força para fazer o bem e que se
adquire através de exercícios bons”.
Pretendo desde já, discorrer sobre algumas disposições valorativas de coração, natureza
e carácter na tradição cultural angolana cuja presença no indivíduo aumenta a estima moral.
Demais, os valores orientam as principais escolhas e decisões de comportamento a nível pessoal
ou social e, importa destacar que a “reflexão sobre as virtudes não torna ninguém virtuoso”
(COMTE-SPONVILLE, 2009, p. 11 - 12). Pois bem, impera, ou melhor, é necessário encarná-los
e praticá-los na vida diária porque o bem é para ser feito e não para ser simplesmente
contemplado, uma vez que, “fazer bem é estar sempre alegre” (ESPINOZA, apud COMTE-
SPONVILLE, Op. Cit. 2002, p. 20). Outrossim, pretende-se a brevidade na descrição de cada um
dos valores tradicionais essenciais de Angola.
1.3.3.1. Solidariedade
1.3.3.2. Religiosidade
A religiosidade africana está presente em todos os sectores sociais, pois a tradição bantu
apresenta uma visão espiritualista de intercomunhão entre o mundo visível e o invisível. “Por isso
é que se tem afirmado que o negro é ´incuravelmente religioso´” (ALTUNA, idem, p. 367). Na
27
verdade, a religiosidade é parte inerente da formação do homem que se impregnam desde muito
cedo. Desta feita, a experiência religiosa é uma vivência permanente. Isto porque a religião dá
sentido à sua vida.
1.3.3.3. Optismismo
1.3.3.4. Dinamismo
1.3.3.5. Emotividade
Altuna (2014) considerada a emotividade como sendo a grande virtude negra que
expressa apreensão da realidade e a grande força vital de Deus. Pois o negro africano sabe que o
visível repousa no invisível, por isso, se apreende mais aos valores da efectividade que ao do
raciocínio utilitário. Dito de outro modo, a comunhão, a participação vital inibe a indiferença no
seio da comunidade, posto que a sabedoria consiste em inibir a indeferença e o confronto com os
membros da comunidade entre si, com o mundo invisível e com o planeta.
1.3.3.6. Biocentrismo
28
diferentes, que vão desde vegetativa, sensitiva e intelectiva, como é óbvio a vida não é
propriedade exclusiva do homem.
1.3.3.7. Respeito
Para Erich Fromm (2014), Respicere é olhar para o outro e não ter medo, é não temer,
portanto, é ter a capacidade de ver uma pessoa tal como é, é ter conhecimento de sua
individualidade singular. Ora, a lei da hierarquia dos seres defende que “Quem deu a vida ao
outro é seu superior; quem está mais próximo da fonte vital numa mesma descendência tem
também a precedência social” (ALTUNA, idem., p. 204). Por exemplo, é tipicamente africano
uma criança levantar-se diante da presença de um mais velho.
Enfim, todos esses valores visam garantir o bem-estar, a felicidade, a paz, isto é,
impedem o apequenamento da vida.
A formação de cidadãos cientes e consciente exige uma sólida base científica e uma
formação de solidariedade social. Contudo, a ciência é uma ferramenta poderosa para uma
melhor intervenção no mundo e a solidariedade permite criar a percepção de fraternidade e
construir uma sociedade mais cooperativa do que competitiva. Pois tal como defende Comte-
Sponville (idem., p. 133), “O único humanismo que vale é agir humanamente” e agir
humanamente consiste em olhar o outro como outro e não como estranho, consiste em recusar a
morte paulatina da fraternidade, consiste em congregar na paz e impedir qualquer forma de
segregação ou de apequenamento da vida.
Importa destacar que, a cidadania omnilateral (no latim omni significa “o todo”) deve ser
fruto de uma formação integral que envolva a “anatomia” filosófica do homem, ou seja, a
tricotomia: corpo (soma), alma (psiqué) e espírito (pneuma). Onde a soma é a parte física do
homem; a psiqué o aspecto intelectual do homem e o pneuma é o sopro divino existente no
homem, que faz com que ele busque o divino, pois só um espírito entra em contacto com outro
espírito. Aliás, precisa-se trabalhar esta tricotomia para se ter cidadãos com valores sólidos e
vivos dentro de si mesmo; precisa-se passar da transcendência para a imanência educacional, pois
29
o homem deve evitar o mal e praticar o bem não por causa de um punidor humano ou divino, mas
para não desvalorizar o seu grande e imenso valor humano tridimensional.
O conceito formação etimologicamente deriva da palavra latina formatio, que quer dizer,
acção e efeito de formar ou de compor o todo do qual são partes. Especificamente formação
corresponde a estruturação, organização dada aquilo que estava informe ou insuficientemente
organizado.
Numa vertente real, Cortella (Op. Cit. 2014a, p. 107) concebe a formação como um
esteio que “constrói um conjunto de atitudes e habilidades”. Ou seja, a formação permite que os
valores sejam transformados na relação de convivência e comunicação. Grosso modo, ela
envolve a instrução e a educação, isto é, permite que o ser humano descubra os factos da natureza
de modo a ser erudito, outrossim molda e desperta as potências dormentes no próprio sujeito.
Com isso, sublinha-se que a formação corresponde à coerência educativa, a simbiose entre a
educação e a instrução visando garantir uma sociedade com cidadãos cientes e conscientes.
O conceito cidadão está apoiada ao vocábulo latino civita e civitatem e significa acção
da vida em sociedade.
30
por Hans Jonas (filósofo da ética da responsabilidade) no seu imperativo ético “comporta-te de
tal maneira que os efeitos de tuas acções sejam compatíveis com a permanência da natureza e da
vida humana na terra” (apud Boff, idem., p. 38). Desta feita, é responsável aquele que responde o
que fez e o que não fez. Além disso, “a responsabilidade é noção humanista ética que só tem
sentido fazer o sujeito consciente” (MORIN, 2015, p. 117). Efectivamente, “Ser cidadão é ter
direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos
civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos”
(ARANHA, 2012, p. 118).
Cidadão omnilateral ou cidadão ciente e consciente, tal como defende Morin (Op. Cit.
2003, p. 17) é aquele que tem uma cabeça bem-feita com aptidão para colocar, tratar os
problemas e com princípios organizadores, valores, habilidades e bases científicas que permitem
ligar os saberes e lhes dar sentido. Diz que, a formação de cidadãos omnilaterais envolve teoria
(ciência) e sabedoria (consciência), teoria entendida aqui como “conhecimento vivo que conduz a
grande aventura da descoberta do universo, da vida, do homem” (MORIN, Op. Cit. 2015, p. 15) e
sabedoria entendida aqui em dois sentidos: O primeiro sentido é rabelaisiano “ciência sem
consciência é apenas ruina do homem” (MORIN, idem., p. 11) e o segundo sentido é intelectual
consiste em fazer uma autorreflexão em torno da enorme massa do saber quantificável e
tecnicamente utilizável para não envenenar o nosso habitat natural.
Para o efeito, a Lei n.º 17/16 exige uma mudança de paradigma, pois precisamos refletir,
rever e olhar de outro jeito o Subsistema de Educação e Ensino, a carga horária e o modo como
se ensina as disciplinas que imanam o estabelecido acima; precisa-se ainda alicerçar a educação a
partir de um projecto educativo entre o binómio família e escola, que deva se processar numa
interacção constante. Isso significa que “a Escola precisa também formar escola de pais”
(CORTELLA, idem.a, p 106) e precisa acomodar a ideia aristotélica que defende o facto de que o
Estado é a instância competente para educar, todavia a educação dos pais é relevante para
transformar o homem em cidadão. A criança desde a tenra idade, o adolescente ou o jovem é o
mesmo, com isso, as capacidades não devem ser apenas treinadas como componentes ou
conteúdos curriculares, mas como componentes imanentes da relação de convivência e
comunicação na escola e na família.
32
contempla as questões éticas como essenciais para formação de cidadãos cientes e conscientes,
todavia no plano prático verifica-se uma secundarização ou mesmo terceirização das questões
ligadas a formação de cidadãos omnilaterais. Conforme defende Dewey, apud Nogueira Jr.
(2009, 107) “a teoria e prática estão imbricadas, isto é pensar e agir são coexistensivos e só
devem ser entendidos em conjunto”.
A ética começa na morada humana, na casa concreta das pessoas, expandindo desta
para a comunidade, cidade, Estado e, para o planeta terra. Com isso, na nossa casa não se deve
viver de qualquer modo, devendo-se transmitir, assimilar e acomodar a forma organizativa, a
forma do fazer, o sistema de decisão, a visão do mundo, o meio ambiente, a memória e a relação
de produção da colectividade. Além disso, a assimilação e acomodação deste corpo de valores
sociais deve ser de forma crítica tendo em mente a genial frase de Heráclito (500 a.C.) “o ethos é
o daimon do ser humano” (apud BOOF, idem., p. 33). Porquanto, daimon em grego clássico é o
anjo bom, o génio protetor, isto quer dizer que, “a casa é o anjo bom do ser humano” (apud
BOOF, ibidem, p. 33).
33
Com efeito, um cidadão omnilateral (ciente e consciente) exerce tal como defende Boff,
a “cidadania da terra” promovendo e defendendo a qualidade de vida estabelecida entre o homem
e a natureza, ordenando responsavelmente os comportamentos com os outros e com mundo
circundante, para que se possa viver na justiça, na cooperação e na paz, no interior da casa
comum.
Em tom estritamente informativo lembra-se que Imbamba (2010), afirma que está a se
viver um período marcado pela podridão cultural decorrente da deterioração patológica dos
valores, pela maior saga que envergonha a humanidade, pela crise humana, pois a nossa atitude
tem ferido mortalmente a biosfera, tem alvitrado, depravado e degradado o ecossistema. Com
isso, está em nossa mercê a decisão colectiva de abraçar um novo paradigma civilizatório que é a
“fase planetária”. Ademais, é importante refletir para impedir a destruição e a devastação do
sentido cordial das coisas e da natureza. Ora a saúde do universo está na nossa mão e o prazo
desta decisão colectiva é até 2030.
A profunda crise que se vive leva a sublinhar que a pessoa pode cumprir as suas
obrigações (externa), mas ser humanamente mau (interna). Desta feita, precisa-se implementar
uma profunda reforma interior, pois as reformas exteriores, embora necessárias são precárias e
insuficientes para a formação de cidadãos omnilaterais. Sublinho que Huberto Rohden (1997),
concebe que todo ser humano é um universo, isto é, unidade (uni) que se desdobra em
diversidade (verso), ou seja, somos universos em miniatura governados pelo cosmos de dentro
chamado por ele de “consciência”. Por conseguinte, devemos apostar numa educação
34
cosmocrática e univérsica, visto que, Kosmos para os gregos denominava beleza e mundus para
os romanos denominava puro. Neste sentido, a educação cosmocrática e univérsica torna o
homem belo e puro, para isso os agentes da educação devem assimilar e acomodar o postulado de
Paulo Freire (1996), que o acto de ensinar está associado a decência (ética) e a boniteza (estética),
contudo, a prática educativa deve ser um testemunho rigoroso de decência e pureza, uma crítica
permanente aos desvios éticos.
A crise que vivemos é uma crise global e civilizacional que começou a partir de 1989
com o triunfo económico e político do sistema de capital, que com sua política de “ajustes
estruturais” tende produzir pobreza e miséria, porquanto da diminuição dos investimentos e
gastos sociais, como menos escolas, menos merenda, menos combate a cólera, menos
saneamento básico, menos locais de lazer público. Do outro lado, gera desenvolvimento
económico criando a riqueza, ou seja, hoje vivemos o “maquiavelismo económico” cuja
perspectiva é obedecer a lógica acumulativa de riqueza mesmo a custa de um permanente
processo de exploração social. Em consequência deste tipo de economia, degradamos a natureza
e os trabalhadores são cada vez mais instrumentalizados e mecanizados.
35
prática, dando-se pouco interesse sobre as disciplinas que problematizam e estabelecem fronteiras
da nossa convivência, conforme afirma Kundongende (2013, p. 26) “o homem de hoje é fruto do
que fizemos dele, ou melhor, do que não fizemos dele”. Por assim dizer, tem se castrado o
processo de formação integral do indivíduo. Outrossim a revolução ética consiste em “preparar a
terra para lançar a semente, pôr o adubo, extrair as ervas daninhas, regar sempre, podar e proteger
contra a acção nefasta dos bichos, usando desinfectantes e outros métodos de prevenção”
(KUNDONGENDE, Op. Cit., 2013, p 27), dito de modo simples, consiste em auscultar o daimon
(anjo bom), em vista disso, o nosso Sistema de Educação e Ensino precisa assimilar as figuras
exemplares, que souberam escutar e ser orientado pelo daimon (anjo bom), que viveram valores
em suas biografias, realizaram projectos significativos e mobilizaram os outros a buscar também
o daimon, tais como profetas, filósofos, santos, artistas e pessoas simples.
As pessoas buscam a felicidade exteriormente, mas ela está dentro da gente. Portanto, o
anjo bom que é a fonte da criatividade ética e moral, que permite morar bem juntos e felizes, que
permite discernir o bem o mal está imanente no Homem, desta feita, precisa-se de conteúdos
curriculares capazes de despertar esta potencialidade dormente extirpadora do relativismo moral,
da miopização midiática, do biocídio em todas as vertentes, da formação bancária, do cinismo
educativo, da agregação de falsos valores, da ansiedade consumista e da erotização plástica.
36
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA
“[...], penso Alice, e continuou. ´O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar
para sair daqui? ´”
“Isso depende muito de para onde você quer ir” respondeu o gato”.
Lewis Carroll
Importa desde já realçar que a produção de conhecimento é definida por três questões
cruciais e absolutamente humana que orientam, instigam, provocam e desafiam as nossas
escolhas: Quero? Devo? Posso? Nestas questões residem aquilo que nós chamamos de dilema
ético. De modo particular, viveu-se este dilema durante todo processo de construção
monográfica, ou seja, se pode plagiar? Sim. Mas será que se deve plagiar? Não. Isso corresponde
a postura eticamente aceitável e respeitável, corresponde a resposta de honra do projecto de
produção do saber e do exercício de reflexão e acção. Com isso, para dizer que há coisas que
pode-se na produção e construção monográfica, mas não deve-se e uma delas é o plágio isto
porque “consiste em um grave acto antiético e ilegal, pois fere o princípio da honestidade
intelectual e os direitos autorais de outrem” (CASTRO, p. 8, 2017).
Pois bem, numa primeira visão pedagógica e filosófica importa destacar a definição de
método segundo a perspectiva nominal. Ora, a palavra método etimologicamente provém do
grego onde meta significa por, através de; e hodos significa caminho. Desta feita, método é o
37
caminho que usamos para atingir um determinado fim. Descartes afirma, apud Cortella (2018)
que o método permite que a razão seja usada correctamente. Por outra, na perspectiva real,
científica e segundo Trujillo Ferrari, apud Prondanov e Cesar de Freitas (2013), o método “é um
traço característico da ciência, constituindo-se em instrumento básico que ordena, inicialmente, o
pensamento em sistemas e traça os procedimentos do cientista ao longo do caminho até atingir o
objectivo científico preestabelecido”.
39
seus respectivos objectivos; o quinto capítulo diz respeito aos recursos humanos, materiais e
financeiros; o sexto capítulo diz respeito a administração e gestão do Sistema de Educação e
Ensino; o sétimo e o último capítulo diz respeito as disposições finais e transitória.
Stritu sensu, os artigos da nova Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino usados
para construção teórica desta monografia são:
O artigo n.º 2, nos seus pontos 1, 2 e 3, que de forma resumida apresenta a definição real
de educação destacando o seu objectivo principal que é de preparar o indivíduo de forma integral
para responder às exigências da sociedade, que consiste na consolidação da paz, na unidade
nacional, na promoção e protecção dos direitos da pessoa humana, do ambiente e no
desenvolvimento científico, tecnológico, económico, social e cultural de Angola. Outrossim, faz
referência do Sistema de Educação e Ensino como conjunto de estruturas, modalidades e
instituições de ensino que executam o processo educativo.
O artigo n.º 3, na sua alínea a) que de forma resumida contempla um dos fins do Sistema
de Educação e Ensino destacando o desenvolvimento harmonioso, articulando a vertente
intelectual, laboral, cívica, moral, ética, estética, científica, tecnológica e técnica.
40
Friedrich Nietzsche, Emmanuel Kant, Luc Ferry, Mario Cortella, Leonardo Boff, Frei Betto,
André Comte-Sponville, Clóvis Filho, Edgar Morin, Humberto Rohden, Renato Janine , José
Imbamba, João Kundongende e tantos outros cuja menção constam na bibliografia.
A ética e outras disciplinas que problematizam o modo como devemos viver e conviver
como Formação de Atitude Integradora, Educação Moral e Cívica, Estudo do Meio e Filosofia
têm tido pouco espaço curricular, atendendo a este facto empírico pode-se perceber que a
formação de futuros cidadãos cientes e conscientes que começa desde a tenra idade não terá uma
base sólida, uma vez que, a preparação da personalidade do cidadão omnilateral aglutina a
vertente teórica e salvadora, se a intenção é formar seriamente cidadãos conscientes deve-se
trabalhar estas questões desde os primeiros anos de escolarização da pessoa, ou melhor, se a
intenção é ter uma sociedade com cidadãos cientes e conscientes precisa-se conceber a ética
como a base, como a bússola e como o astro maior que ilumina a conduta dos indivíduos de um
país.
Para viabilizar a recolha de dados usou-se no que diz respeito ao método de abordagem
o método hipotético-dedutivo, pois iniciou-se a partir da percepção da lacuna existente no
processo de formação de cidadãos omnilaterais acerca do qual formulou-se as hipóteses testando
a predição da ocorrência do fenómeno abrangidos pela hipótese e no que diz respeito ao método
de procedimento usou-se o método histórico procurou-se compreender a ética ao longo da
história influenciado pelo contexto cultural particular de cada época; quanto as técnicas usou-se a
41
pesquisa documental, pois a mesma baseou-se na actual LBSEE de Angola e na CRA; a pesquisa
bibliográfica baseou-se em fontes como livros, artigos, teses, monografias e jornais que
discorrem sobre a ética, metodologia e cidadania propiciando um esclarecimento científico,
objectivo e coerente sobre o problema que me propus a resolver sob novo enfoque tendo em vista
a uma conclusão inovadora.
42
CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
“À medida que as matérias são destinguidas e ganham autonomia, é preciso aprender a conhecer, ou seja, a separar
e unir, analisar e sintetizar, ao mesmo tempo.”
Edgar Morin
Esta análise é uma resposta afirmativa não apenas a problemática deste trabalho, mas
também a concepção do “ango-realismo-crítico” proposto por José Imbamba que consiste no
exercício mental que permite diagnosticar, analisar e avaliar a cultura angolana propondo novos
remédios e projectos que permitem garantir um futuro melhor e seguro para todos.
1.ª A coerência entre o que se diz e o que se faz: O educador deve inibir a distância entre
o que fala e o que pratica (discurso – prática), de tal maneira que é possível alcançar a coerência
total, contudo um educador virtuoso afasta no idioma da sua memória a frase farisaica “faz o que
eu digo e não o que eu faço”. Portanto, para que a teoria repercute deve ser movida por uma
prática.
2.ª A tensão entre a palavra e o silêncio: O educador deve trabalhar criticamente a tensão
entre a palavra e o silêncio, no sentido, de abrir espaço para que o educando tome a palavra
terminando de sugerir o silêncio permanente dos mesmos e concomitantemente criando uma
“pedagogia da pergunta e da contestação das respostas”.
43
3.ª A subjectividade (consciência) e a objectividade (mundo): O educador ciente e
consciente deve ter a nítida noção que a subjectividade pode criar a objectividade, pois não se
transforma o mundo sem transformar primeiro a consciente das pessoas.
6.ª Ler o texto à partir da leitura do contexto: O educador deve ser capaz de testemunhar
a experiência da relação entre a leitura do texto e a leitura do contexto.
O grande pensador britânico Beda, apud Cortella (p. 42, 2014a) disse algo estupendo
que resume a concepção de virtude de Freire e aspira virtudes para nós “Há três caminhos para o
fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que se ensina; e não perguntar o que se
ignora”. Por conseguinte, numa perspectiva inversa e afirmativa, efectivamente existem três
caminhos para o sucesso: ensinar o que se sabe (generosidade mental); praticar o que se ensina
(coerência ética) e perguntar o que se ignora (humildade intelectual).
Ora, existem várias virtudes dentro do contexto tradicional angolano, entretanto destaca-
se a virtude biocêntrica. De facto, as virtudes correspondem as manifestações positivas que uma
pessoa consegue transmitir ou transparecer na sociedade. Com isso, tendo em conta que a vida
está no centro da esfera ética angolana urge a necessidade de discorrer sobre dois assuntos
fundamentais ligados a vida: o aborto e o aviltamento do planeta.
É importante sublinhar que não se deve encarar a questão do aborto como algo óbvio,
pois se encarar-se desta forma este assunto será como uma âncora que paralisará actuação radical,
a forma de viver e conviver bem, falsificará a postura social e ética. Neste sentido, é importante
ter um pensamento progressista para descortinar a máscara deste grandíssimo problema social.
44
Segundo a médica Natércia de Almeida sustenta que existem dois factores fundamentais
que levam as pessoas a abortarem:
Primeiro factor é o alto índice de gravidez “não desejada” devido à pobreza e a educação
sexual da população particularmente das adolescentes e o segundo factor é a existência de uma lei
“altamente” restrita do aborto. (Fonte: XI Congresso Internacional dos Médicos).
A questão do fundo sobre está problemática é se o feto é uma criança indefesa, ainda não
nascida, com direitos e interesses próprios a partir do momento da concepção? A resposta
afirmativa desta questão, traduz o facto de que permitir o aborto, equivale a permitir o
assassinato, e abortar é pior do que abandonar a morte um bebê indesejável. Caso a resposta for
negativa, os que se dizem “pró-vida” podem ser vistos a partir de duas perspectivas distintas: ou
estão incorrendo em um erro terrível ou são sádicos, puritanos, fanáticos, ávidos não por salvar
vidas, mas por castigar as mulheres por aquilo que consideram um pecado sexual.
Pode-se logo identificar que existem dois eixos polarizados: um que concebe que o feto
é um sujeito moral, uma criança não nascida, a partir do momento da concepção e outro que
concebe o feto como recém-concebido que não passa de um aglomerado de células sob o
comando não de um cérebro, mas apenas de um código genético, e que nesse caso, é uma criança
tanto quanto um ovo recém-fertilizado é um frango.
45
Dentro do quadro dos que defendem a penalização do aborto subentendem-se duas
ideias fundamentais:
No ano de 2017 efetuou-se uma marcha em Luanda por mais de três centenas de
mulheres contra a proposta do Código Penal em penalizar o aborto, organizado pelo Movimento
Autónomo de Mulheres e pelo Ondjango Feminino. Dentro do teor desta marcha destaca-se dois
cartazes publicados pelo Jornal Gazeta (2017) que diziam: “Nem caixão, nem prisão” e outro
tinha os seguintes dizeres “Sou livre! Eu decido! ”. Pelo que, cabe fazer uma reflexão em torno
da segunda proposição.
Nesta frase coexistem duas vertentes paradoxais: a primeira é que ela tem um pendor
revolucionário, visto que pretende juntar forças para alterar o quatro da situação por elas
46
consideradas maléfica, e por outro lado, vejo certa ingenuidade em suas falas, ou seja, a liberdade
de cada um está condicionada pela convivência. Diz mais, dentro do quadro do social “sou livre”
quando nada nem ninguém me impede de agir. Contudo, não existe liberdade absoluta, pois o
limite são os outros e a lei. Por isso, “onde não há lei, também não há liberdade” (SPONVILLE,
2002, p. 67). Além disso, a liberdade consiste em ser isento de constrangimento e de violência da
parte de outrem, o que não se pode dar onde não há lei. Daí que é ético e político aquilo que a
maioria decide, todavia isso não deve impedir de ser livre de pensar diferente.
3.1.1.1.Valor da solidariedade
47
3.1.1.2. Valor da indignação
Significa reconhecer que há vida em tudo, que o amor pode neutralizar o ódio de
milhares de pessoas e, que devemos colocar no centro das nossas acções a dignidade da pessoa
humana, conforme disse Gandhi, apud Boff (2000, p. 68) “Tudo que vive é teu próximo”. Desta
feita, a ternura é o aperfeiçoamento do comportamento político e humano de lutador do povo na
sua relação com a colectividade.
É a capacidade de dar resposta eficaz aos problemas que nos chegam na realidade
complexa actual. Neste caso, na esfera económica precisamos deslocar o nosso eixo para a
produção do suficiente e decente para todos; na esfera social precisamos deslocar o eixo para
cooperação, ou seja, para razão cordial e na esfera natural precisa-se celebrar uma aliança
sinergética entre a utilização racional do que precisamos e a preservação do capital natural.
Em linhas gerais, a cosmologia racional visa dar soluções coerentes e racionais sobre os
problemas suscitados pela realidade do mundo. No entanto, estes problemas estão relacionados
com as noções de espaço, tempo e vida. Pois bem, segundo Japiassú; Marcondes (2001, p. 65)
filosoficamente espaço é o meio homogêneo e ilimitado, definido pela exterioridade de suas
partes no qual a percepção externa situa os objectos sensíveis e seus movimentos. E o tempo é o
48
movimento constante e irreversível obtido por intermédio do espaço através do qual o presente se
torna passado, e o futuro, o presente. De forma explicita, isto significa que o tempo marcha num
só sentido (passado, presente e futuro). Com isso, somos forçados a prosseguir irreversivelmente
a mesma marcha para diante; de forma oposta o espaço é reversível, isto significa que é possível
percorrer em sentido inverso regressando ao ponto de partida.
Nos termos do disposto da alínea a) do artigo n.º 2 da Lei Bases do Sistema de Educação
e Ensino, a educação é definida como um processo planificado e sistematizado de ensino e
aprendizagem, que visa preparar de forma integral o indivíduo para responder as exigências da
vida individual e colectiva. Por outra, a Constituição da República de Angola nos termos do
artigo n.º 1 define Angola como uma República soberana e independente, baseada na dignidade
da pessoa humana e na vontade do povo angolano, que tem como objectivo fundamental a
construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso
social. A partir destes dois artigos podemos conceber que o ideal da educação angolana é
republicano ou deve ser republicano, ou seja, os indivíduos devem ser formados de modo a
responderem positivamente o ideal republicano cujo princípio fundamental é a virtude. Diz mais,
para ser republicano de verdade é preciso ter uma nobreza de alma, e uma elevação moral que
consiste no respeito do bem público inibindo a usurpação das coisas públicas por intermédio de
particulares.
Uma educação republicana deve assimilar e acomodar fundamentos éticos que permitem
inibir, castrar ou mesmo exterminar os inimigos da república.
50
Corrupção: é o grande perigo da república, ela desencadeia morte, ignorância e crimes;
perturba o elo social básico que é a confiança. Infelizmente temos notado fruto das informações
midiáticas muitos servidores públicos acusados de desvios de bens públicos e outros crimes
anormais num estado republicano.
Paulo de Tarso apóstolo de Cristo, padroeiro da nossa cidade capital, pois celebra-se a
festa da cidade de Luanda no dia em que se festeja a conversão de São Paulo ao cristianismo. Ele
definiu ética de forma simples, coerente e concisa “«Tudo me é permitido», mas nem tudo é
conveniente” (I Cor. 6, 12). De lembrar que, Paulo em latim significa pequeno, neste caso, Paulo
outrora sentia-se grande porque se dedicava a perseguir os discípulos de Cristo e teve de se tornar
pequeno para elevar os outros por meio das suas actividades missionárias. Já no nosso tempo,
esta definição foi bem trabalhada e popularizada por Cortella (2009, p. 106), pois para ele a ética
é o “conjunto de princípios e valores que você usa para responder as três grandes perguntas da
vida humana: Quero? Devo? Posso? ”. Ou seja, na linguagem paulina tudo posso, mas nem tudo
devo e para a pessoa alcançar a paz de espírito precisa engendrar três caminhos ligados a moral: a
distinção, a escolha e a prática.
Distinção: o homem pela sua condição racional deve saber distinguir o bem do mal, o útil
do prejudicial, o justo do injusto. Com efeito, é isso o que distingue essencialmente o homem dos
outros animais. Neste caso, ele deve saber que roubar, corromper e matar são males e praticar a
solidariedade é um bem.
Como exemplo nítido de niilismo dentro da sociedade Angola destaco: o aborto, a jarda, a
prostituição, a corrupção, a violência contra criança. Pois os que praticam tais acções negam o
sentido dos ideiais tradicionais angolanos e inclinam-se no egoísmo.
52
CONCLUSÃO
Na opinião de Edgar Morin (2005, p. 11) uma “ciência sem consciência”, isto é, uma
ciência sem reflexão filosófica, ética e política é insuficiente e radicalmente mutilada. Ora, a
consciência pode ser entendida como o instrumento teórico para compreensão da realidade e pode
ser concebida em dois sentidos: O primeiro sentido é rabelaisiano “ciência sem consciência é
apenas ruina do homem” (MORIN, apud, p. 10) e o segundo sentido é intelectual consiste em
fazer uma autorreflexão em torno da enorme massa do saber quantificável e tecnicamente
utilizável para não envenenar o habitat natural. Deste modo, ao longo desta investigação teve-se
em atenção o propósito de compreender os pressupostos éticos que estão na base para formação
de cidadãos cientes e conscientes à luz da Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino de
Angola.
Tendo em conta o estudo realizado fruto das ideias de vários autores conclui-se que:
Os pressupostos éticos que estão na base para formação de cidadãos omnilaterais são: as
virtudes humanas que permitem o homem atingir a excelência tendo em conta as exigências
culturais e a sabedoria nacional e universal; a cosmologia racional que visa dar soluções
coerentes e racionais sobre os problemas suscitados pela realidade do mundo e a educação
republicana que permite proporcionar um treinamento moral dos cidadãos e inibir, castrar ou
mesmo exterminar os inimigos da república, tais como o patrimonialismo e a corrupção.
Consciente: aquele que tem juízo prático de distinguir o bem e o mal e apreciar moralmente
nossos actos e os actos dos outros.
Imanente: termo que diz respeito aquilo que está na natureza ou na realidade.
54
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