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Compreensão e Produção de Textos em Língua Materna 1

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COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS EM LÍNGUA

MATERNA

1
Sumário

Sumário .................................................................................................................... 1

NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2

Textos populares....................................................................................................... 3

As quadrinhas e a repetição de letras ..................................................................... 4

Produção coletiva de textos ................................................................................... 23

Produzindo textos a partir de outros textos ......................................................... 30

Referências Bibliográficas ..................................................................................... 46

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Textos populares

Vamos estudar diversos assuntos que poderão nos ajudar a planejar nossas

práticas pedagógicas. Estas práticas são muito produtivas quando usamos os textos

populares no processo de leitura e de produção escrita de nossos alunos. O processo

de alfabetização desenvolvido com a utilização de diversos tipos de textos torna nosso

trabalho pedagógico mais rico, porque estamos proporcionando às crianças o

conhecimento da diversidade cultural por meio dos textos escritos. Já vimos em outras

unidades textos narrativos, instrucionais, informativos, publicitários, literários e lúdicos.

Nosso interesse é promover a alfabetização em um contexto onde circula a

diversidade textual, por isso, nesta unidade, vamos falar de textos populares,

mostrando como podemos utilizá-los para alfabetizar e ampliar nossos conhecimentos.

Os textos populares que estaremos enfocando são quadrinhas, parlendas e cantigas

de roda. Também vamos desenvolver atividades com outros tipos de textos: adivinhas,

trava-línguas e poemas. Com o trabalho desta unidade, nos vamos: - vamos

relembrar as quadrinhas e trabalhar a repetição de letras, vogais e consoantes nas

palavras. Vamos explorar o mundo da parlenda para, a partir desse tipo de texto,

estudar, também, a relação entre letras e sons, além de desenvolver outras atividades

de leitura e escrita. Vamos utilizar as cantigas de roda para trabalhar a formação de

palavras e a criação de textos para desenvolvimento da linguagem oral e escrita.

Desenvolver o tema da repetição de letras, vogais e consoantes utilizando as

quadrinhas. Identificar a parlenda como um excelente recurso pedagógico para

ensinar aspectos da relação entre letras e sons e atividades de leitura e escrita.

Desenvolver atividades de interpretação e produção textual e formação de palavras a

partir de temas das cantigas de roda. Nosso trabalho está organizado em três seções:

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Nas três seções, desenvolveremos muitas atividades que Você poderá utilizar como

recursos pedagógicos em sua sala de aula.

As quadrinhas e a repetição de letras

Objetivo: Desenvolver o tema da repetição de letras, vogais e consoantes

utilizando as quadrinhas. - No processo de alfabetização, podemos contar com a

diversidade textual para desenvolver a leitura e a escrita dos nossos alunos. Assim,

utilizamos textos informativos, biográficos, instrucionais, poéticos e populares entre

outros. A diversidade textual permitirá aos alunos a aquisição de um conhecimento

amplo dos textos que circulam na sociedade, de seu funcionamento nas práticas

sociais e, com certeza, terão facilidade de compreendê-los e produzi-los quando

precisarem. Nesta seção, vamos ampliar nosso trabalho de leitura e de escrita,

utilizando a quadrinha. Quem não se lembra de uma quadrinha de infância? Esta é

muito conhecida: Lembrete As quadrinhas são compostas de quatro versos rimados

e têm temas líricos, amorosos, humorísticos, satíricos ou anedóticos. Mocinha de

blusa branca com lenço da mesma cor mocinha diga a seu pai que eu quero ser seu

amor. Você lembra alguma quadrinha que recitava quando criança na sala de aula?

Então vamos escrevê-las.

As quadrinhas, parlendas, cantigas de roda, adivinhas, trava-línguas, canções

são expressões da cultura popular que foram passando de geração a geração por

meio da tradição oral. Muitas destas expressões não têm autor, são de domínio

público, por isso não sabemos quem as compôs. Mas grandes poetas como Carlos

Drummond de Andrade e Manuel Bandeira também fizeram quadrinhas. Usamos

essas expressões para cantar, recitar e brincar. Porém, em muitos lugares do Brasil,

principalmente nas metrópoles, tais manifestações culturais estão sendo esquecidas

e substituídas por programas televisivos, jogos eletrônicos ou outros recursos

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tecnológicos. Por isso, é importante resgatar, na escola, aquelas expressões culturais

tão ricas. Sabemos que podemos fazer isso no processo de alfabetização, já que

muitas estão registradas em livros e na memória das pessoas. Falando em resgate,

vamos fazer uma pesquisa? Quais são os recursos de linguagem da quadrinha que

facilitam a memorização? Converse com pessoas mais velhas de sua comunidade

sobre expressões populares, ou seja, textos populares. Pergunte se elas conhecem

algumas quadrinhas; faça a mesma pergunta às crianças. Depois registre aqui quais

foram as respostas que Você obteve. Colecione as quadrinhas em um caderno para

usar como material de leitura em sala de aula. As quadrinhas são textos que podemos

usar no processo de leitura e de escrita em toda a primeira fase do Ensino

Fundamental, ou seja, no início de escolarização. E têm a finalidade de criar situações

descontraídas, lúdicas, de aprendizagem na sala de aula. É importante contar às

crianças o que são as quadrinhas e para que são usadas. Como dissemos, a

quadrinha é uma estrofe de quatro versos, ou seja, um quarteto. As rimas são simples,

assim também como as palavras que fazem parte de seu texto. Para diversificar o

contexto de aprendizagem, vale trabalhar semanalmente diferentes quadrinhas para

que os alunos tenham contato frequente com esse gênero; isso também vale para

outros textos do mesmo gênero: cantigas de roda, parlendas etc. Para que seus

alunos tenham oportunidade de trabalhar com quadrinhas, desenvolva a seguinte

atividade. Escreva no quadro a quadrinha a seguir e leia ou cante para as crianças. A

rosa vermelha é meu bem querer a rosa vermelha e branca hei de amar até morrer.

Leia com as crianças apontando as palavras. Para saber se as crianças conseguiram

construir algum significado da quadrinha, pergunte a elas qual foi o tema central e

converse a respeito de flores. Depois da leitura, peça as elas que desenhem duas

rosas e pintem de cor vermelha e branca. Lembre-se que talvez as crianças não

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conheçam uma rosa. Mostre fotos e figuras. Você pode aproveitar o momento e falar

das diversas formas de afeto, falar de flores (tipos de flores, seu cheiro, beleza etc.) e

também ensinar as cores. Em relação ao tema “flor”, informamos às crianças que a

rosa é um tipo de flor e que há rosas de várias cores: branca, vermelha, rosa e amarela.

Se na sua região não há locais, jardim, praças, que tenham rosas, mostre às crianças

outros tipos de flores nativas de sua região. Quando falamos das cores das rosas,

simultaneamente, estamos também nos referindo ao tema “cor”. Podemos mostrar as

cores, buscando as flores ou outros tipos de plantas que existem na escola ou próximo

dela. As quadrinhas são textos curtos, fáceis de memorizar e, como vimos, podemos

aproveitar o tema da quadrinha para ensinar às crianças outros temas. Neste sentido,

estaremos partindo de um texto para ensinar outros assuntos. Desenvolva uma

atividade didática para a sala de aula. Inicialmente, investigue os nomes de flores ou

outras plantas de sua região que os seus alunos conhecem. A partir dos nomes

indicados pelas crianças, Você irá trabalhar a escrita das palavras. Poderá também

explorar as cores nesse exercício.

Os textos utilizados para leitura e brincadeiras em sala de aula oferecem

oportunidades de reflexão a respeito da língua escrita. Já que usamos a quadrinha da

rosa para estudar alguns temas: afeto, flores e cores, vamos explorar a parte da

linguagem.

Exercite seu lado escritor. Crie uma quadrinha utilizando algumas palavras de A Rosa

Vermelha. Outra sugestão para Você compor sua quadrinha: use nome de pessoas

que conhece, assim, estará homenageando alguém especial. Lembre-se de usar as

rimas. Você percebeu como foi interessante e divertido elaborar uma quadrinha com

as palavras que selecionou? As crianças também irão gostar de fazer a mesma coisa

com sua ajuda em sala de aula. Ou seja, as crianças podem criar várias quadrinhas.

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Você registrará o texto no quadro, lerá em voz alta palavra por palavra, para que elas

façam a relação entre a escrita e os sons das letras da palavra. Posteriormente, elas

copiarão no caderno. Este trabalho visa à produção espontânea das crianças e,

consequentemente, ao aprendizado da escrita.

Agora vamos explorar a quadrinha da rosa, para termos um exemplo de como

textos simples e curtos conduzem à leitura, à escrita e ao trabalho mais específico

com a correspondência entre sons e escrita. A rosa vermelha é meu bem querer a

rosa vermelha e branca hei de amar até morrer. Para que os alunos percebam que

repetimos as mesmas letras para escrever as palavras, podemos promover atividades

que os levem a essa descoberta, por exemplo: circular as letras repetidas. Podemos

começar pelas vogais: a e i o u. Não precisamos trabalhar todas as vogais de uma

vez só, fazemos aos poucos: primeiro trabalhamos uma vogal ou duas e depois as

demais. O mesmo procedimento pode ser feito com as consoantes. Na quadrinha

sobre a rosa, o e aparece em várias palavras: vermelho, bem, meu querer, até.

Perceba que dependendo da letra que está ao lado da vogal e, seu som muda. Em

“bem”, o som do e é nasalizado, ou seja, quando pronunciamos esta palavra o som

sai pelo nariz. Por isso, é importante lermos as palavras para que os alunos percebam

os sons das letras e que, às vezes, usamos a mesma letra para escrever diferentes

palavras. E percebam também que seu som pode ser diferente, dependendo da letra

que está ao seu lado, como vimos em unidades anteriores. Assim o som de e é

diferente em bem, vermelho, meu, até e querer. Chamamos de fechado o som de

“meu” e de aberto o som de “até”. Para que seus alunos tenham oportunidade de

trabalhar com quadrinhas em ocasiões especiais, realize a atividade a seguir. Já que

estamos falando de rosa, vamos trabalhar a seguinte quadrinha em sala de aula.

Mamãe é uma rosa que papai escolheu eu sou o botão que a rosa deu. Esta quadrinha

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é uma boa sugestão para homenagear as mães em seu dia e trabalhar vários assuntos:

O múltiplo significado das palavras Você pode mostrar também que antes da rosa

desabrochar, ela é um botão. Se na escola ou perto da escola tiver uma roseira,

mostre às crianças um botão e uma rosa desabrochada. Trabalhar as relações

familiares. Criar frases com as palavras da quadrinha. Recriar a quadrinha a partir de

lacunas em que são inseridos nomes próprios do pai, da mãe e do filho. Circular a

letra e das palavras e fazer um quadradinho na letra o, para que as crianças percebam

a repetição dessas vogais nas palavras. Destacar do texto uma palavra com a letra m,

uma com a letra d, outra com a letra p e outra palavra com a letra q, para que as

crianças percebam a diferença de som destas consoantes. rosa (flor; pessoa meiga,

bonita e carinhosa) botão (de roupa; de rosa; de aparelho eletrônico) Nesta última

questão, os alunos destacarão da quadrinha palavras com as letras p, q, d, porque,

como o desenho destas letras é muito parecido, com certeza alguns alunos, no início,

terão dificuldade em diferenciá-los e fazer a relação entre som e letra.

Sobre este assunto, vamos ler um texto de Miriam Lemle, retirado do livro Guia

Teórico do Alfabetizador, da Editora Ática, p.8, e desenvolver uma atividade. “As letras

do nosso alfabeto têm formas bastante semelhantes, e por isso a capacidade de

distingui-las exige refinamento na percepção. Tomemos alguns exemplos. A letra p e

a letra b diferem apenas na posição da barriguinha em relação à haste vertical,

colocada abaixo da linha de apoio ou acima dela. O b e d diferem apenas na posição

da barriguinha em relação à haste. O p e q diferem entre si por esse mesmo traço,

isto é, a posição da barriguinha. Note que os objetos manipulados em nosso dia-a-dia

não se transformam, ao mudarem de posição. Uma escova de dentes é sempre uma

escova de dentes, esteja virada para cima ou para baixo. Um copo de cabeça para

baixo, ainda é um copo. Mas um b com a haste para baixo vira um p, e um p virado

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para o outro lado vira q. Do mesmo modo, um n com uma corcova a mais vira m, um

e alongado para cima passa a valer l, um a sem o seu cabinho passa a ser o e assim

por diante. São sutis as diferenças que determinam a distinção entre as letras do

alfabeto. A criança que não leva em conta conscientemente essas percepções visuais

finas não aprende a ler.” Você percebe que na sala de aula os alunos têm dificuldade

em saber diferenciar as letras que a Miriam Lemle destacou no texto? Se tiverem,

planeje um trabalho específico para que essas crianças superem essa dificuldade.

Para isso, sugerimos duas quadrinhas que poderão entrar no seu planejamento de

aula visando trabalhar palavras com as letras p, q, b e d Amar e saber amar são

pontinhos delicados. os que amam são sem conta, os que sabem são contados. Aqui

tens meu coração, mete a mão, tira-o com jeito; Lá verás que amor tão grande em

palácio tão estreito. Temos várias possibilidades de desenvolver atividades na sala de

aula, utilizando as quadrinhas. Os poemas com mais estrofes também são outro

recurso textual excelente para trabalhar a relação entre sons e letras, principalmente

os que têm muitas rimas. Para estimular o trabalho com rimas em versos de poemas

maiores que as quadrinhas, adaptamos de Assmann, Juracy (org). Literatura e

Alfabetização, Porto Alegre, Editora Artmed, 2001, p.186-88, para Você desenvolver

em sala de aula as atividades seguintes: Esta menina tão pequenina quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem si nem

fá mas inclina o corpo para cá e para lá.

A Bailarina

Não conhece nem lá nem si, mas fecha os olhos e sorri. Roda, roda, roda com os

bracinhos no ar e não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um

véu e diz que caiu do céu. Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Mas depois

esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças. (A bailarina.

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Peça a cada um que represente por meio de um desenho a profissão que

deseja seguir. Recolha os desenhos e organize um painel que pode ser chamado “Eu

quero ser”. Comente sobre as profissões que as crianças escolheram. Escreva no

quadro ou em uma folha de papel pardo o poema A Bailarina. Omita de todo o texto a

palavra bailarina, inclusive o título. Faça a leitura do poema sem a palavra bailarina.

Depois da leitura pergunte às crianças o que a menina quer ser. Ao fazer a perguntar,

chame a atenção dos alunos para as rimas do poema, dizendo-lhes que a palavra

reveladora do desejo da personagem rima com menina e pequenina. Descoberta a

palavra pela turma, as lacunas do texto são preenchidas com a palavra bailarina. Leia

novamente o poema com as crianças. Peça que elas indiquem as palavras que rimam.

Se as crianças estiverem escrevendo, peça a elas que copiem o poema no caderno e

circulem as palavras que rimam e relacionem, por exemplo: pequenina rima com

bailarina etc. A seguir, Você pode propor as seguintes questões e atividades: Quem

vê a menina do poema? Onde está a menina do poema enquanto dança? Circule as

estrofes do poema que apresentam os movimentos de uma bailarina. Ilustre a estrofe

(parte) do poema de que mais gostou, utilizando lápis de cor ou de giz, ou mesmo o

lápis de escrever, o lápis preto. Os trabalhos podem ser expostos no quadro mural da

sala juntamente com os realizados na atividade inicial sobre as profissões. As

quadrinhas são textos que surgiram da tradição cultural popular, que vão passando

de geração a geração. A repetição, a rima e o ritmo favorecem a memorização. É

muito importante trabalhar a leitura e a escrita de textos da tradição popular, porque

estaremos resgatando uma manifestação cultural que vem sendo substituída por

outras e pode desaparecer. Podemos explorar diversos temas partindo das

quadrinhas. Destacar as letras das palavras é um modo de ensinar a relação entre

desenho das letras e seus sons. É necessário destacar a repetição de letras na escrita

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das palavras para que as crianças percebam que usamos as mesmas letras para

escrever palavras diferentes. Recriar quadrinhas favorece a formação da consciência

da sílaba e da palavra.

Resumindo

Parlendas e a relação entre letras e sons Objetivo: Identificar a parlenda como

um excelente recurso pedagógico para ensinar aspectos da relação entre letras e sons

e atividades de leitura e escrita.

Na seção anterior, falamos das quadrinhas, um tipo de texto da tradição cultural

popular, assim como a parlenda. As quadrinhas, as cantigas de roda, as parlendas

são textos que as crianças gostam muito, por isso não podem ficar fora do nosso

planejamento de ensino. Além do mais, ensinando-os para nossas crianças de forma

criativa e divertida no processo de alfabetização, estamos revitalizando a nossa

cultura. Vamos voltar um pouco ao passado. Estas eram as palavras que o seu Pedro

ensinava aos filhos quando as crianças estavam trocando a dentição de leite pela

dentição definitiva. Toda vez que um dentinho de leite amolecia e ficava no ponto de

ser extraído, seu Pedro amarrava um pedacinho de linha ao redor do dente mole do

filho e puxava. Pronto! Era assim que era feita a extração do dente. Depois pedia ao

filho que recitasse os versinhos e jogasse o dentinho em cima do telhado da casa.

Essa ação seu Pedro aprendeu com as pessoas mais velhas de sua cidade, São João

do Piauí. A parlenda ele também aprendeu com os mais velhos. Contudo não sabia

que esses versinhos são chamados de parlenda. As parlendas são conjunto de

palavras com organização rítmica em forma de verso, que podem rimar ou não.

Mourão, mourão tome teu dente podre dá cá meu são. Veja que as parlendas são

recitadas pelas pessoas, mesmo que elas não saibam quem as criou e se, de fato,

têm este nome. Todos nós aprendemos parlendas na nossa infância. Qual é a criança

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que não conhece esta? Uni duni tê Salamê minguê um sorvete coloré o escolhido foi

você. A parlenda é um texto que podemos usar no nosso planejamento com objetivo

de exercitar a leitura e a escrita como também explorar temas do cotidiano das

crianças. Voltemos à parlenda mourão, mourão/ tome teu dente podre/ dá cá meu são.

Partindo deste texto, podemos trabalhar um tema muito relevante e de significado para

as crianças: o cuidado com os dentes. Assim, antes de trabalhar a parte da linguagem

como leitura e escrita de algumas palavras, podemos falar às crianças da importância

de cuidar dos dentes para mantê-los sãos, ou seja: escovar os dentes pelo menos três

vezes ao dia; escovar os dentes pela manhã e depois das refeições; trocar a escova

de dentes pelos menos de três em três meses. Com estas explicações, as crianças

vão entender o significado da palavra são (substantivo de gênero masculino) e sã

(substantivo de gênero feminino) que é saudável, tem saúde, sadio. E que podre é o

antônimo de são e sã, dependendo do contexto. Consideramos esses significados

conforme o contexto, isto é, o texto em que a palavra está inserida e de acordo com o

tema que está sendo abordado. No caso da parlenda mourão, mourão a troca de um

dente podre por um são. Na parte de interpretação da parlenda tome teu dente

podre/dá cá meu são, explicamos às crianças sobre um acontecimento natural do ser

humano, que é a troca de dentes de leite por dentes definitivos, e que muitas crianças

na sala de aula estão passando por essa fase. Já na parte do trabalho específico de

linguagem podemos trabalhar com as crianças diversas questões: É importante

ressaltar, aqui, que devemos estudar o significado das palavras conforme o sentido

do texto em que está inserida e, claro, conforme o seu aspecto morfossintático.

Vamos comparar a palavra são em dois contextos diferentes. Identificação das

palavras dente são, podre no texto, reconhecimento de antônimos de palavras

partindo de exemplo de são e podre até chegar às outras palavras antônimas, tais

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como bom/mau, bem/mal, saudável/ doente. “tome teu dente podre/dá cá meu são”.

“Muitos animais são ferozes”. No texto A a palavra são é um adjetivo e tem o

significado de sadio. No texto B, a palavra são é o verbo “ser” flexionado na terceira

pessoa do plural do presente do modo indicativo. Para enriquecer sua aula, sempre

procure ampliar os conhecimentos e as experiências das crianças em relação ao tema

em foco. Por exemplo, quando Você for falar do tema higiene dos dentes, procure um

posto de saúde em sua cidade e peça alguns folhetos sobre higiene bucal. Leve para

a sala de aula e mostre às crianças como os especialistas da área de odontologia

ensinam a cuidar dos dentes. Depois, peça que contem o que descobriram com a

pesquisa na sala de aula. Dessa forma, será criado um momento de socialização do

que foi pesquisado pelas crianças. Para ampliar o conhecimento de parlendas, peça

às crianças de sua turma que façam uma pesquisa com os pais e com as pessoas

mais velhas para saber o seguinte: Se elas conhecem a parlenda Mourão, Mourão.

Caso conheçam, com quem aprenderam. Como usavam e usam a parlenda. Temos

várias possibilidades de criar situações pedagógicas atraentes no processo de

alfabetização na sala de aula utilizando as parlendas, já que muitas são conhecidas

pelas crianças. Para momentos lúdicos de aprendizagem, podemos organizar

atividades que levem as crianças a movimentar o corpo e ao mesmo tempo aprender

a ler um texto. Assim, não precisamos ficar só na sala, podemos usar o pátio da escola

ou outro lugar em que se pode desenhar no chão com a ajuda das crianças, que

gostam de brincadeiras. Qual é a criança que não gosta de sair um pouco da rotina

da sala de aula? Por isso, podemos planejar aulas também em outros lugares da

escola. Muitas parlendas não têm um significado claro, são brincadeiras com os sons

das palavras e, portanto, muito interessantes para desenvolver as habilidades

auditivas e de pronúncia dos sons, de forma lúdica. A parlenda seguinte é um exemplo

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de texto que podemos levar para fora da sala de aula. Devemos ler a parlenda e

desenvolver uma atividade de leitura e escrita na sala de aula, antes de desenvolvê-

la fora da sala. Vamos exemplificar como o trabalho com parlendas pode ser agradável,

prazeroso e produtivo refletindo sobre as possibilidades de exploração de um texto

popular muito conhecido. Hoje é Domingo pede cachimbo cachimbo é de barro dá no

jarro o jarro é fino dá no sino o sino é ouro Você também terá a oportunidade de

verificar se as pessoas mais velhas, que foram entrevistadas, tinham o hábito de

extrair os dentes dos filhos como fazia seu Pedro. Você poderá esclarecer às crianças

que hoje, como muitas sabem, são os dentistas que extraem os dentes de leite das

crianças. É muito bom registrar alguns fatos que acontecem no nosso contexto de sala

de aula. Para isso, durante a atividade de apresentação das pesquisas, Você deve

tabular a pesquisa das crianças preenchendo o quadro seguinte, até mesmo para

valorizar o trabalho delas. Esta parlenda tem várias rimas, ou seja, repetição de sons

em várias posições dos versos: domingo/cachimbo; é/pé; barro/jarro; fino/sino;

ouro/touro; valente/ gente; fraco/buraco; fundo/mundo. Com a leitura em voz alta da

parlenda escrita no quadro, as crianças vão perceber que há palavras que rimam, mas

que por causa de uma letra, ou mais letras, são diferentes, veja o caso de: sino/fino

barro/jarro fundo/mundo ouro/touro Para que as crianças tenham oportunidade de

explorar a leitura a partir da parlenda:

Hoje é Domingo.

Hoje é Domingo pede cachimbo cachimbo é de barro dá no jarro o jarro é fino

dá no sino o sino é ouro dá no touro o touro é valente dá na gente a gente é fraco cai

no buraco o buraco é fundo acabou-se o mundo. É essencial explicar que algumas

palavras são parecidas e por causa de uma letra (na escrita) e de um som (na fala)

elas se modificam e também mudam de significado. Para exercitar a identificação de

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palavras parecidas, podemos pedir às crianças que apontem, no quadro, palavras

parecidas, mas que tenham letras diferentes. Daí vamos relê-las e perguntar o

significado de cada uma às crianças. Embora a parlenda não permita uma

interpretação única e indiscutível, explique o significado das palavras que as crianças

não conhecem. Dê exemplos formulando um texto oral com a palavra e, depois,

escreva-o no quadro. Por exemplo: “O jarro de flores que fica em cima da mesa da

sala da casa de dona Júlia é de barro e está pintado de verde. Ela não gosta que as

crianças peguem no seu jarro, pois tem medo que ele caia no chão e se quebre.”

Quando Você dá um exemplo, como o do texto anterior, a criança pode entender

melhor o que significa a palavra jarro. Todos os textos oferecem oportunidades de

focalização de um tópico da língua escrita. Como exemplo, observamos que na

parlenda Hoje é Domingo, vamos encontrar palavras grafadas com dois rr: barro e

jarro e também com um r no meio de palavras: buraco e ouro. Podemos aproveitar em

outra aula e escrever novamente a parlenda no quadro para ensinar a diferença de

som do dígrafo rr e do som de r, se Você achar que é o momento, pois possivelmente

as crianças irão perguntar por que algumas palavras são escritas com um r e outras

com dois rr. Para não ficar complicado no início, podemos dizer que: Dois r (rr) tem o

som de r de rato e um r no meio de palavra tem o som do r de caro. Depois de explorar

a parlenda em sala de aula, leve as crianças para o pátio da escola ou para outro local

em que Você possa desenhar e escrever no chão, usando o giz. Vamos desenvolver

um joguinho de memória, seguindo estes procedimentos: Divida a turma em grupos.

Desenhe vários quadrados no chão, mais ou menos oito. Escreva uma palavra em

cada quadrado: sugerimos as palavras parecidas que rimam: jarro, barro, fino, sino,

ouro, touro, valente, gente. Conte até três e fale uma palavra, por exemplo: valente, o

grupo que chegar primeiro à palavra certa e elaborar oralmente uma frase usando a

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palavra, marca um ponto. Repita o procedimento anterior com todas as palavras. O

grupo que acertar mais palavras e elaborar boas frases ganhará o jogo. O joguinho

no pátio tem como objetivo o aprendizado de palavras parecidas e que rimam. Além

disso podemos, verificar se as crianças aprenderam a diferenciar os significados

dessas palavras, elaborando oralmente frases que tenham sentido. De volta à sala de

aula, elas poderão escrever as frases ou pequenos textos com as palavras do joguinho.

Vamos selecionar palavras entre as que as crianças usam com mais frequência

para trabalhar em sala de aula os sons de r e rr. Escreva no quadro aquelas com um

r e som de r de caro e as com dois rr, conforme o indicado. Palavras com um r e som

de r Palavras com dois rr É fundamental explicar para as crianças, no processo de

alfabetização, que não escrevemos palavras iniciadas com dois rr. É importante

chamar a atenção para a separação de sílabas no fim de linha quando há letras

repetidas: ss e rr. A primeira letra fica numa sílaba e a segunda, na outra. Para que

as crianças memorizem esses fatos da língua, Você deve reforçá-los com cartazes e

com exercícios. Para exercitar algumas palavras que trabalhamos no texto Hoje é

Domingo, vamos desenvolver atividades de adivinha com as crianças. Procure as

respostas abaixo. touro/ fraco/ buraco/ jarro/ ouro/ sino 1) É amarelado, mas não brilha

como o sol e rima com touro 2) É feito de barro ou porcelana e mamãe coloca flores

3) Rima com ouro e é muito forte 4) Contrário de forte 5) Tem na parede e no chão,

pode ser raso ou fundo 6) Badala na torre da igreja 32 Nesta seção, falamos de vários

assuntos e desenvolvemos atividades que, com certeza, o ajudarão no seu fazer

pedagógico. É importante lembrar que: A parlenda é um texto da tradição cultural

popular que pode servir de contexto para o ensino da leitura e da escrita. A partir da

parlenda, podemos desenvolver outros temas que contribuem para a educação da

criança, como cuidar da higiene bucal. A mudança de um som/letra de uma palavra

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altera seu significado, por exemplo: sino/fino; fundo/mundo. Não usamos dois rr no

início de palavras. Podemos criar adivinhas, utilizando as parlendas como fizemos em

algumas atividades, para tornar as aulas mais divertidas. Resumindo o gato comeu

cadê o gato? foi pro mato cadê o mato? o fogo queimou cadê o fogo? a água apagou

cadê a água? o boi bebeu Conforme o texto que está sendo trabalhado em sala de

aula, crie adivinhas como as anteriores para que as crianças relacionem as palavras

com o significado. Para exercitar, vamos criar algumas adivinhas para a parlenda

seguinte, pois Você poderá usá-la na sala de aula. Escreva as adivinhas que você

criou e discuta com os colegas e em sua sala de aula. cadê o boi? foi carregar trigo

cadê o trigo? a galinha espalhou cadê a galinha? foi botar ovo cadê ovo? o frade

bebeu cadê o frade? tá no convento. Como vimos, o trabalho com parlendas é

prazeroso e contribui para que a criança vá consolidando a consciência dos limites da

palavra, conheça os seus diversos significados e aprofunde seu conhecimento da

representação gráfica dos sons.

Cadê o toucinho que estava aqui?

Objetivo: Desenvolver atividades de interpretação, produção textual e formação

de palavras a partir de temas das cantigas de roda. Nesta seção, vamos continuar

trabalhando com os textos populares. Desta vez, relembraremos as cantigas de roda,

tão marcantes da nossa infância e que até hoje fascinam as crianças. Assim,

trabalhamos a diversidade cultural por meio de gêneros textuais diversos. Além de

contribuir para manter nossas tradições culturais, levando as cantigas de roda para a

sala de aula, elas servirão como contexto para o aprendizado da leitura e da escrita.

Também, como fizemos nas outras seções, desenvolveremos temas significativos a

partir das cantigas. Além do mais, o trabalho pedagógico com as cantigas de roda

proporciona aulas interativas, divertidas e prazerosas. Em muitas cidades do Brasil,

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devido à violência, muitas crianças não têm mais a oportunidade de brincar de roda

na rua. A única opção de lazer, às vezes, é assistir televisão. Dessa forma, deixam de

conhecer uma tradição cultural popular que já foi tão viva em outros tempos. Se Você

tem alunos que não brincam de cantiga de roda na rua, pode resgatar o costume e

criar essa oportunidade na escola.

Pergunte às crianças se elas têm costume de brincar de roda no bairro onde

moram e quais cantigas conhecem? Escreva o resultado da pesquisa no quadro a

seguir. Conforme o resultado da pesquisa, Você verá se a tradição de brincar de roda

é um tipo de atividade que faz parte do lazer das crianças ou não. Você tem alguma

fita ou CD de cantigas de roda? Se ainda não tem, seria oportuno fazer uma campanha

na comunidade para adquirir. Se conversar com os colegas, Vocês podem planejar

uma forma de conseguir os recursos financeiros necessários para comprar toca CDs

ou gravadores. Vocês podem fazer rifas, sorteios, bingos, feiras, festas, pedágio. A

escola poderá, então, revitalizar as cantigas de roda, tornando a rotina e os horários

de recreio mais alegres. Cantigas de roda que as crianças conhecem Número de

crianças que brincam de roda no bairro O resgate das tradições culturais da

comunidade é uma tarefa importante da escola. Essa retomada dos costumes e dos

saberes populares eleva a autoestima e fortalece os laços entre as pessoas da família,

entre as gerações e os diversos segmentos sociais do grupo. A identidade cultural

depende desse esforço de valorização dos bens simbólicos. Para que as crianças

também se envolvam nas atividades de pesquisa e conheçam um pouco da história

das pessoas mais velhas do bairro onde moram, realize esta atividade. Peça a elas

que perguntem aos vizinhos mais velhos se eles brincavam de roda e quais as

cantigas que eles conhecem. Com o resultado da pesquisa, as crianças vão perceber

se as pessoas mais velhas tinham a brincadeira de roda como uma atividade de lazer.

18
Relatar sua experiência é um modo de exercitar o texto oral. Peça às crianças que

relatem como foi a pesquisa. As crianças também podem relatar a experiência em um

texto escrito, pois é uma forma de Você acompanhar o desenvolvimento da sua escrita.

Agora, vamos exemplificar como Você pode desenvolver algumas atividades de leitura

e de escrita, utilizando as cantigas de roda na sala de aula. Vamos começar com uma

das cantigas de roda mais conhecidas: Se Esta Rua Fosse Minha. Se esta rua, se

esta rua fosse minha eu mandava, eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com

pedrinhas de brilhantes para o meu, para o meu amor passar. Nesta rua, nesta rua

tem um bosque que se chama, que se chama solidão dentro dele, dentro dele mora

um anjo que roubou, que roubou meu coração. Se eu roubei, se eu roubei teu coração

tu roubaste, tu roubaste o meu também se eu roubei, se eu roubei teu coração é

porque, é porque te quero bem. Essa cantiga de roda é riquíssima de temas que

podemos desenvolver em nossa sala de aula. Inicialmente é interessante organizar o

ambiente para que as crianças possam unir as mãos e movimentar o corpo, cantando

esta cantiga. Isso pode ser feito em sala, no momento da aula, utilizando o texto para

introduzir temas a serem estudados, ou pode ser feito como momento de lazer e

recreação. Com essa atividade, as crianças vão desenvolver algumas habilidades que

Você indicará na atividade a seguir.

Brincar de roda (alunos e professor), cantando a cantiga. Desenhar uma rua

ladrilhada, conforme a imaginação delas. Para instigar mais um pouco as crianças,

podemos levá-las a pensar em um lugar mágico ladrilhado de brilhantes e onde seria

esse lugar. O desenho é uma forma de expressar a imaginação, assim, com certeza

as crianças vão representá-la, construindo seus desenhos. Escrever o texto Se Esta

Rua Fosse Minha no quadro e ler em voz alta com as crianças. Se as crianças já

conseguem ler, podem ler sozinhas sem a sua ajuda. É importante escrever o texto

19
no quadro e lê-lo, mostrando palavra por palavra para que as crianças aprendam

desde cedo a escrever as palavras de modo ortográfico. Porém, sabemos que, até

elas conseguirem isso, vão escrever de várias formas tentando imitar a fala. Trabalhar

a interpretação da cantiga de roda, fazendo perguntas às crianças, com o objetivo de

levá-las a construir uma significação do texto. Sugestões de perguntas: -De que fala

essa cantiga de roda? -Podemos imaginar uma rua ladrilhada de pedras preciosas? -

Para quem seria essa rua tão bonita? -Quais as situações reais em que enfeitamos a

rua, a casa, a escola, a igreja? -O que utilizamos como enfeite? Explorar o vocabulário,

pois as crianças talvez desconheçam algumas palavras, por exemplo: Ladrilhar: cobrir

ou revestir com ladrilhos. Ladrilhos são tijolos para forrar o chão ou revestimento de

cerâmica para revestir paredes. Bosque: mata, floresta, selva. Vamos estudar as

palavras do texto com outra atividade? O objetivo aqui é perceber se os alunos lêem

palavras do texto misturadas a outras palavras parecidas. Anteriormente mostramos

algumas possibilidades, temas que podem ser trabalhados na sala de aula, por

exemplo: interpretação, vocabulário entre outros. Atividades que resumem conversas,

observações e debates são muito produtivas para organizar as ideias. Esta é uma

habilidade necessária em várias situações da vida. Já que Você exercitou a escrita

elaborando um texto descritivo, vamos desenvolver uma atividade sobre o tema

intertextualidade, para que se possa comparar dois textos parecidos.

Paraíso

Se esse rio fosse meu, eu não deixava poluir. Joguem esgoto em outra parte

que os bichos moram aqui. Se esse mundo fosse meu, eu fazia tantas mudanças que

ele seria um paraíso de bichos, plantas e crianças.

Muitos escritores modernos fazem seus textos usando ideias e modelos que

vêm da tradição popular. Quando um texto usa partes de outro, baseia-se em outro

20
ou faz lembrar estruturas de outro texto, podemos dizer que existe intertextualidade.

Isso não significa imitação ilegal, ou seja, plágio. O autor usa deliberadamente esse

recurso de criatividade. Agora responda as perguntas abaixo: Antes de terminar o

estudo desta Unidade, verifique a sua compreensão dessa atividade na parte de

respostas. Quais são as evidências de intertextualidade entre os dois textos? Qual é

o tema que pode ser explorado a partir desse poema? Justifique a escolha do título.

Trabalhar a interpretação textual, explorando o significado das cantigas.

Produzir textos a partir de temas dessas cantigas. Extrair palavras e substituir

letras/sons para escrever palavras conhecidas da nossa língua. Compreender que um

texto pode lembrar outro por meio do recurso da intertextualidade. Desenvolver várias

atividades de aprendizagem de leitura e escrita, utilizando a cantiga de roda. É um

recurso didático essencial para o professor utilizar no processo de leitura e escrita na

alfabetização das crianças, na abordagem e resgate da tradição de textos populares.

Vamos saber mais sobre textos populares lendo o texto a seguir. “O que são poemas,

canções, cantigas de roda, adivinhas, trava-línguas, parlendas e quadrinhas? As

adivinhas, as cantigas de roda, as parlendas, as quadrinhas e os travalínguas são

antigas manifestações da cultura popular, universalmente conhecidas e mantidas

vivas através da tradição oral. São textos que pertencem a uma longa tradição de

uso da linguagem para cantar, recitar e brincar. A maioria deles é de domínio público,

ou seja, não se sabe quem os inventou: foram simplesmente passados de boca a

boca, das pessoas mais velhas para as pessoas mais novas. Os poemas servem para

divertir, emocionar, fazer pensar. Geralmente têm rimas e apresentam diferentes

diagramações. São textos com autoria, isto é, geralmente sabemos quem os fez.

Convite Poesia É brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião só

que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam Todos nós conhecemos poemas,

21
pois são textos de conhecimento popular. São parecidos com as canções, só que não

são musicados. Alguns são feitos especialmente para crianças. Os poemas, assim

como as quadrinhas e os trava-línguas, “brincam” com os sons das palavras e com o

seu significado. Tenho sede Traga-me um copo d’água Tenho sede E esta sede pode

me matar Minha garganta pede Um pouco d’água E os meus olhos pedem Teu olhar

A planta pede chuva Quando quer brotar O céu logo escurece Quando vai chover Meu

coração só pede Teu amor Se não deres Posso até morrer. (Canção de Dominguinhos

e Anastácia) (poema de José Paulo Paes) As adivinhas servem para divertir e

provocar curiosidade. São textos curtos, geralmente encontrados na forma de

perguntas: O que é, o que é? Quem sou eu? Qual é? Como? Qual a diferença? O que

é, o que é que cai em pé e corre deitado? Resposta: A chuva Os trava-línguas brincam

com o som, a forma gráfica e o significado das palavras. A sonoridade, a cadência e

o ritmo dessas composições encantam adultos e crianças. O grande desafio é recitá-

los sem tropeços na pronúncia das palavras. O rato roeu a roupa do rei de Roma, O

rato roeu a roupa do rei da Rússia, O rato roeu a roupa do Rodovalho... O rato a roer

roía. E a rosa Rita Ramalho Do rato a roer se ria. As parlendas são conjuntos de

palavras com arrumação rítmica em forma de verso, que podem rimar ou não.

Geralmente envolvem alguma brincadeira, jogo, ou movimento corporal. Boca de

forno Forno Tira um bolo Bolo Se o mestre mandar! Faremos todos! E se não for?

Bolo! As cantigas de roda são textos que servem para brincar e divertir. Com bastante

frequência se encontram associadas a movimentações corporais em brincadeiras

infantis. Cai Cai Balão cai, cai balão cai, cai balão aqui na minha mão. Não cai não,

não cai não, não cai não Cai na rua do sabão.

As quadrinhas são estrofes de quatro versos, também chamadas de quartetos.

As rimas são simples, assim como as palavras que fazem parte do seu texto. Roseira

22
dá-me uma rosa; Craveiro, dá-me um cravo; Menina dá-me um abraço, que eu te dou

meu coração.” (texto retirado do livro Alfabetização: livro do professor. 2a ed.,Ana

Abreu et al., Brasília, FUNDESCOLA/SEF/MEC, 2001, p.52-55) Ra re ri ro rua perua

saia do meio da rua. uni pandi cirandi deu picoti deu pandi picoté ticotá é pi san vá A

seguir, temos alguns textos populares que Você poderá utilizar em seu planejamento,

para desenvolver algumas atividades com os alunos em sala de aula. Quadrinhas A

rosa vermelha é meu bem-querer a rosa vermelha e branca hei de amar até morrer

Parlendas Dedo mindinho seu vizinho maior de todos fura bolo mata piolho. O macaco

foi à feira não sabia o que comprar comprou uma cadeira para a comadre se sentar.

Cantiga de roda Roda Pião O pião entrou na roda, ô pião [bis] roda pião, bambeia pião

[bis] sapateia no terreiro, ô pião [bis] faça uma cortesia, ô pião [bis].

Produção coletiva de textos

Ao longo de nosso trabalho, temos falado muito sobre diversos gêneros de

texto. Nesta unidade vamos cuidar especialmente da produção coletiva de textos. Há

muitas coisas que fazemos em grupo, como praticar esportes, dançar, cantar,

conversar. Essas atividades coletivas sempre nos trazem satisfação. Produzir um

texto coletivamente pode também ser muito divertido e é uma maneira eficiente de

ajudarmos uns aos outros. No nosso cotidiano, muitas vezes, precisamos escrever

junto com outras pessoas: trabalhos em grupo, cartas coletivas, petições, convites,

relatórios e outros textos. Quando duas ou mais pessoas trabalham juntas, sempre

surge oportunidade de partilharem informações e de se ajudarem mutuamente.

Quando as crianças começam a produzir textos, além dos espontâneos, em que

23
escrevem livremente, a escrita coletiva é uma oportunidade de exercício do processo

como um todo, desde a organização das ideias até a revisão final. Nesta unidade,

teremos condição de discutir o trabalho coletivo, sugerindo ideias que podem ser

desenvolvidas por Você para enriquecer sua própria experiência e seu trabalho

pedagógico. Vamos exercitar a produção de diálogos como são encontrados nas

histórias em quadrinho. Buscaremos inspiração em uma ou mais obras de arte para a

produção de nossos textos conjuntos. Nosso trabalho está organizado em três seções:

Nosso horizonte Com o trabalho desta unidade, nos vamos: - Reconhecer que a

produção de diálogos de histórias em quadrinhos é uma atividade produtiva para a

sala de aula. Identificar estratégias de produção coletiva de textos a partir de fábulas

e outros contos populares infantis. Vamos enfatizar as habilidades de produzir

coletivamente textos reais e de transformar textos promovendo a reflexão linguística.

Trabalharemos com histórias, especialmente fábulas e contos populares. Produzindo

diálogos dinâmicos e Objetivo: Reconhecer que a produção de diálogos de histórias

em quadrinhos é uma atividade produtiva para a sala de aula. Nesta seção vamos

exercitar a produção de diálogos como são encontrados nas histórias em quadrinho

(HQ). Vamos também buscar inspiração em uma ou mais obras de arte para a

produção de nossos textos conjuntos. Produzir diálogos é uma habilidade muito

especial porque, ao escrevê-los, temos de ser fiéis às características do personagem.

Um homem adulto fala diferente de um menino e ambos, por sua vez, falam diferente

de uma mulher adulta ou de uma menina. Além disso, cada personagem se expressa

de acordo com o seu papel social e a ação que está desempenhando naquele

momento: de professora, de namorado, de médico, de crianças brincando etc. As HQ

incorporam muito dessa dinâmica das interações da vida real. Por isso é um bom

exercício trabalharmos, sempre em grupo, diálogos que poderão preencher os

24
balõezinhos de uma HQ. Você tem o hábito de ler histórias em quadrinho? Já teve

oportunidade de levá-las à sua sala de aula? Se seus alunos não estão familiarizados

com esse gênero, sugerimos que dedique algumas aulas a explorar as suas

características, como, por exemplo, a sucessão das ações representadas na forma

como os quadrinhos se apresentam; balões que representam diálogos e balões que

representam pensamentos; histórias que são obras abertas, isto é, que permitem mais

de uma interpretação ao final. O último balão da direita é empregado para indicar o

pensamento da personagem.

Este trabalho em grupo é muito enriquecedor porque a troca de ideias permite

que um leitor ajude o outro a compreender a história e a selecionar melhor as palavras.

Quando temos que formular os diálogos, pensamos na seleção das palavras, na

organização das frases, na pontuação e em muitos outros aspectos da fala e da escrita.

Para que seus alunos exercitem a criação de diálogos coletivamente, desenvolva a

seguinte atividade. Se Você puder, amplie uma historinha curta, colocando balões nos

lugares onde deve ser escrita a fala da personagem. Se não puder, leve uma cópia

para cada aluno. Incentive seus alunos a discutirem o enredo da historinha. Nas

discussões, eles poderão propor enredos diferentes, mas é importante tentar

acompanhar o que a historinha sugere pelos desenhos. Os alunos podem sugerir um

título. Cada frase que reproduz uma fala ou um pensamento deve ser apresentada

por qualquer aluno que deseje fazê-lo e depois discutida e reformulada. Você pode

sugerir alterações. Enquanto escreve no quadro, Você vai chamando a atenção dos

alunos para detalhes da escrita: desenho das letras, uso de maiúsculas, acentos,

grafia das sílabas, pontuação... Releia cada frase, reavaliando-as para que as

crianças compreendam que lemos muitas vezes enquanto escrevemos. Durante todo

esse processo, é muito importante que os alunos aprendam a dar e a acatar sugestões

25
e críticas e, principalmente, se familiarizem com a dinâmica da produção conjunta de

texto: um aluno fala de cada vez, pedindo licença com o braço levantado. Os alunos

podem, copiar as frases escritas pelo professor no balão da sua folha. Além de

escrever os textos do diálogo dentro dos balões, ou seja, o discurso direto das

personagens, um exercício muito produtivo é a narração da história em outras

palavras, elaborando um texto independente da imagem. Assim, depois de uma

atividade oral de interpretação e compreensão dos episódios de uma história em

quadrinho, o professor pode levar os alunos a produzirem coletivamente um texto

narrativo recontando a história. Nesse caso, há duas possibilidades de inserir o

diálogo: A seguir, Você encontra duas historinhas com o Cebolinha. Na primeira, ele

dá banho em seu cachorro Floquinho. Na segunda, Cebolinha está tentando fazer

uma escultura. São duas situações engraçadas de que seus alunos vão gostar. Reflita

sobre os pensamentos dos personagens. Guarde uma cópia da historinha sem os

balões e faça outras com sugestões de balões, para seu futuro trabalho em sala de

aula. Elas lhe vão ser úteis para que seus alunos vejam a história com o mesmo

enredo, mas com variações. mantendo o discurso direto pelo uso de travessão no

início de cada fala; indicando de forma indireta quem vai falar e o que vai falar pelo

uso de verbos como: disse, falou, retrucou, respondeu, afirmou.

A composição coletiva de textos, mesmo quando as crianças ainda não sabem

escrever, é um exercício que favorece a construção de diversas habilidades

necessárias para a produção de textos orais e escritos. Pelo trabalho coletivo, as

crianças acompanham as diversas etapas do processo: estabelecer objetivos para o

texto; associar o texto a uma prática social (se for um convite, por exemplo); estudar

o tema; decidir o gênero de texto; conhecer a organização do texto no espaço;

selecionar e organizar as idéias; decidir a ordem em que serão escritas; selecionar o

26
vocabulário; formular as frases; grafar as palavras corretamente, pontuar; reler para

avaliar; reformular quando necessário; avaliar a coerência textual; avaliar se os

objetivos foram alcançados. Na nossa vida diária, estamos sempre lidando com

textos. Durante a última semana, com que textos Você lidou? Procure se lembrar e

consulte também as pessoas de sua convivência. Faça um levantamento de textos

que estão normalmente presentes no seu meio social. Podem ser textos manuscritos;

impressos; textos eletrônicos, como os que Você obtém nos caixas eletrônicos dos

bancos; propagandas de supermercado etc. Pense, especialmente, nos textos que

Você produziu. A seguir, vamos conversar mais sobre sua produção de textos para

dar-lhe mais subsídios. Já vimos que a produção de texto individual ou coletiva passa

por diversas etapas. Precisamos ter sempre em mente algumas estratégias de

produção. Devemos analisar todas as etapas já mencionadas, observando quais delas

realizamos conscientemente. Nesse processo, identificamos também os

procedimentos que ainda precisamos incorporar na nossa prática para melhorar nossa

produção. Lembre-se que, pela vida toda, estamos sempre procurando melhorar

nossa produção de textos. Nunca chegamos a um ponto satisfatório. Enquanto

estamos vivos podemos melhorar. Todas as oportunidades que surgirem de produção

coletiva devem ser aproveitadas de forma que Você vá mostrando a seus alunos quais

são os procedimentos reais de elaboração de textos. Podem ser utilizados na sala de

aula para a produção coletiva: convites, avisos, bilhetes, cartas, requerimentos,

relatórios, planejamentos, receitas, instruções, entre outros inúmeros gêneros de texto.

Quando escrevemos na vida real, planejamos, rascunhamos, reelaboramos,

revisamos, até que o texto esteja satisfatório. Esses procedimentos devem ser

construídos pouco a pouco, enquanto a criança escreve espontaneamente e participa

de atividades de produção coletiva. Uma atividade que pode ser muito produtiva na

27
criação de textos coletivos é a formulação de uma história a partir de uma figura, uma

foto ou um quadro. A análise da imagem já é em si uma atividade que desenvolve a

criatividade, a imaginação, a observação e a habilidade de descrição. A apreciação

da arte, especialmente, é um exercício estimulante 61 e enriquecedor para as crianças.

Sempre que possível, Você deve incentivar seus alunos a focalizarem a atenção em

uma imagem e a interpretarem as mensagens subentendidas que pode trazer. A

formulação de texto a partir da imagem, coletivamente, desenvolve também todos

aqueles procedimentos componentes do processo da escrita citados anteriormente.

Para a apreciação da arte e produção conjunta de textos. Leve à sala de aula a

reprodução da pintura As Gêmeas de Albert Da Veiga Guignard. Guignard nasceu no

estado do Rio de Janeiro em 1896 e faleceu em Belo Horizonte em 1962. Estudou na

Alemanha, na Suíça, na Itália e na França. Ele é um dos grandes mestres da moderna

pintura brasileira. Comente com seus alunos que este quadro foi pintado em 1945. A

roupa que as moças estão usando revela a moda da época. Analise as cores, as linhas,

o estilo do traço, compare com outros desenhos conhecidos das crianças.

Quando produzimos textos, coletivamente, os alunos vão compreendendo os

mecanismos que constituem a coesão textual, isto é, como uma ideia está ligada às

outras. Um texto não é um amontoado de frases desconexas ou colocadas de

qualquer jeito umas depois das outras. Elas obedecem a uma ordenação e a uma

progressividade que constituem uma certa lógica. Essa ordem pode ser baseada na

sucessão temporal dos acontecimentos, quando se trata de narrativa, mas pode ser

baseada numa ordem das ideias. Para que seus alunos brinquem com a falta de lógica

de uma história, desenvolva a atividade de produção coletiva de textos com narrativa

sanfonada. Se eles já escrevem de forma independente, Você deixa que trabalhem

sozinhos, mas se ainda não escrevem, podem ditar para que você escreva. Escolha

28
uma figura para a produção de texto. Decidam em conjunto um título para ele. Dobre

uma folha em tiras em forma de sanfona. Escolha um voluntário. Entregue o papel

para que escreva a primeira frase da história. Esconda a frase escrita, dobrando-a e

passe para outro aluno. Assim sucessivamente. Desmanche as dobras e leia como o

texto ficou. O resultado deverá ser engraçado. Aproveite para mostrar que, nesse tipo

de produção, quando não sabemos o que vem antes no texto, não podemos construir

um texto que seja coerente e que tenha coesão. Ao se trabalhar a narrativa sanfonada,

o resultado final foi um texto sem coerência e sem coesão se comparado às narrativas

orais coesas que os alunos produziram, motivados por fotografias ou outras

reproduções. Para produzir um texto coeso, o autor, que está escrevendo, vai sempre

relendo e conferindo o que vem anteriormente. Assim, à medida que o texto progride,

vão sendo feitas referências explícitas ou implícitas ao que foi dito ou escrito

anteriormente. Por exemplo: Esta é a figura de duas moças. Elas estão usando

vestidos estampados. Ambas têm cabelos negros e são muito parecidas. Não é à toa

que o quadro se chama As Gêmeas. Nesse texto, as palavras destacadas se referem

a “duas moças” que vem antes. São mecanismos como esses que dão coesão a um

texto tornando-o um verdadeiro texto e não um simples amontoado de palavras e

frases. Vimos nesta seção que a produção coletiva de diálogos, histórias e outros tipos

de texto é um procedimento que oferece oportunidade para que as crianças aprendam

muito sobre a estrutura dos textos e o funcionamento da escrita. Mas lembre-se que

Você deve alternar as atividades individuais e coletivas de forma que as crianças se

sintam motivadas a participar. 63 Quando o professor escreve um texto formulado

coletivamente, as crianças compreendem que o processo de produção vai desde a

organização das idéias até a revisão. Os diálogos de histórias em quadrinho são bem

representativos das interações reais e dos papéis sociais que as pessoas

29
desempenham. Quando produzimos diálogos, temos de ser fiéis às características

sociais e psicológicas dos personagens. Reproduções de obras de arte levadas à sala

de aula podem ser fonte de inspiração na produção de textos orais e escritos. Na

produção conjunta de textos, quando produzimos um trecho sem nos apoiarmos no

contexto anterior, isto é, no que já foi escrito, o resultado é uma composição textual

sem lógica e sem coesão.

Produzindo textos a partir de outros textos

Objetivo: Identificar estratégias de produção coletiva de textos a partir de

fábulas e outros contos populares infantis. - Na nossa prática pedagógica de produção

coletiva de textos, podemos partir de textos já existentes, para que as crianças se

sintam estimuladas a completá-los ou reordená-los tornando-se coautores. Entre

esses textos está a fábula, que, por ser um gênero tradicional, já deve fazer parte do

acervo de histórias conhecidas pelas crianças. Se ainda não faz, é uma boa

oportunidade de enriquecer a experiência com histórias trabalhando com fábulas. A

fábula pode ser definida como uma narrativa curta, cujos personagens são objetos,

animais, vegetais ou seres humanos e que tem por objetivo divertir e instruir.

Geralmente, as fábulas terminam com uma lição de moral. Nesta seção, vamos

trabalhar com fábulas, mas Você e seus alunos deverão sentir-se muito livres para

dar à história diferentes finais, incluindo ou não uma lição de moral. Antes de começar

a trabalhar as fábulas com seus alunos, procure ler algumas. A nossa cultura preserva

várias delas, principalmente as escritas por Esopo e La Fontaine. O primeiro viveu na

Grécia no século IV A.C. No século XVII, La Fontaine, escritor francês, inspirou-se em

30
Esopo e em Fedro, fabulista latino que viveu em Roma no primeiro século da era Cristã,

e reescreveu fábulas antigas e criou outras novas. O grande escritor brasileiro

Monteiro Lobato dedicou um de seus livros infantis a uma coletânea de fábulas. É em

seu livro Fábulas que fomos encontrar as que vamos adaptar nesta unidade para seu

uso em sala de aula. Para conhecer a íntegra das fábulas selecionadas, procure esse

livro de Monteiro Lobato. Observe que, ao reproduzir as fábulas, ele permitiu que os

moradores do Sítio do Pica-Pau Amarelo discutissem os seus finais, muitas vezes

sugerindo outros desfechos. Principalmente a boneca Emília é muito criativa ao criticar

a moral das fábulas e propor outros finais. 65 Tomavam sol à beira de um brejo uma

rã e uma saracura. Nisso chegou um boi que vinha para beber água. – Quer ver, disse

a rã, como fico do tamanho deste animal? – Impossível rãzinha, ponderou a saracura.

Cada qual como Deus o fez. –Pois olhe lá, respondeu a rã estufando-se toda. Não

estou quase igual a ele? – Não, falta muito amiga. A rã estufou-se mais um bocado. –

E agora? – Ainda está longe. A rã fez novo esforço. – E agora? – Que nada. A rã,

concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que,

plaf! rebentou como um balãozinho de elástico. O boi, que tinha acabado de beber,

lançou um olhar de filósofo sobre a rã moribunda e disse: – Quem nasce para dez réis

não chega a vintém. Analise o texto e indique quais são as características que fazem

dele uma fábula.

A FÁBULA DA RÃ E DO BOI

Leia a fábula seguinte adaptada por Monteiro Lobato para Você familiarizar se

melhor com esse gênero. Um pastorzinho, notando certa manhã a falta de várias

ovelhas, enfureceu-se, pegou uma espingarda e saiu para a floresta. – Eu não me

chamo Nestor se não trouxer, vivo ou morto, o miserável ladrão das minhas ovelhas!

Hei de procurar dia e noite, hei de encontrá-lo, hei de arrancar-lhe o couro. E assim,

31
furioso, a resmungar as maiores pragas, continuou em busca do ladrão. A certa altura,

já cansado, lembrou-se de pedir ajuda aos céus. – Valei-me, meu Deus! Prometo-vos

vinte reses se me fizerdes dar de cara com o infame ladrão. Por uma coincidência,

assim que o pastorzinho disse aquilo, apareceu diante dele uma enorme onça de

dentes arreganhados.

A FÁBULA DO PASTOR E A ONÇA

Para desenvolver uma atividade de produção coletiva. Leve para a sala de aula

(em um cartaz) e leia a fábula a seguir: Depois de ler e comentar com seus alunos o

início da fábula, Você vai propor a eles dois finais para a fábula: Final A: O pastorzinho

fica com medo da onça. Final B: O pastorzinho pega um pedaço de pau e afugenta a

onça. Seus alunos poderão escolher livremente o final A ou o final B, formando dois

grupos na sala conforme o final escolhido. Em cada grupo deverão discutir o desfecho

escolhido e responder às seguintes perguntas, que decorrem dessa opção. Final A:

perguntas: - Que faz o pastorzinho quando fica amedrontado? - O que faz a onça? -

O que acontece com as ovelhas? Final B: perguntas: - Como o pastorzinho enfrenta

a onça? - O que faz a onça? - O que acontece com o rebanho? As respostas às

perguntas deverão ser bem discutidas. Em seguida, o professor vai ao quadro e

escreve as respostas completando a fábula. Apresente então aos seus alunos a moral

da fábula em sua versão original. Eles devem discuti-la e decidir se essa moral se

adapta melhor ao final A ou ao final B. Pode ser até que eles decidam que a moral se

encaixa em ambos os finais. Moral da fábula O Pastor e a Onça: No momento do

perigo é que se conhecem os heróis.

Era uma vez uma jovem cigarra que tinha o costume de cantar o dia inteiro ao

lado de um formigueiro. Seu divertimento era observar as formigas no eterno trabalho

de encher seus depósitos de alimentos. Mas passou o tempo e veio a estação da

32
chuva e do frio. Sem ter o que comer, a cigarra resolveu bater à porta da formiga. TIC,

TIC, TIC.

A FÁBULA DA CIGARRA E A FORMIGA

Vamos apresentar outra fábula para que Você faça uma atividade de produção

coletiva: Final A: A formiga não recebe a cigarra e bate com a porta na cara dela.

Perguntas: - O que diz a formiga quando manda a cigarra embora? - O que diz a

cigarra ao ver que a formiga não quer ajudá-la? - O que acontece com a cigarra? Final

B: A formiga acolhe a cigarra em sua casa quentinha e lhe dá comida. Perguntas: - O

que diz a formiga quando acolhe a cigarra? - O que diz a cigarra ao ser bem recebida?

- O que acontece com as duas novas amigas? Moral da fábula A Cigarra e a Formiga:

Quem não provê o seu futuro morre de fome e privações. Você pode trabalhar com

outras fábulas. As crianças podem ser orientadas a descobrir a moral da história e

redigir coletivamente apenas uma frase que resuma essa mensagem. Com essas

estratégias de trabalho, levamos os alunos a compreenderem que a escrita está muito

relacionada com a leitura, e que é preciso reler o texto para pensar como ele deve

continuar. A produção de textos depende de uma sequência lógica de ideias que se

complementam em direção a uma determinada conclusão. 68 Para produzirmos

textos coletivamente podemos partir de músicas que as crianças já conhecem. Vamos

trabalhar na sala de aula com a música Bicharia de Enriquez-Bardotti, na versão de

Chico Buarque. Se você tem o disco, trabalhe de forma que as crianças conheçam

bastante a letra da música e saibam cantá-la. Au, au, au. Hi-ho hi-ho. Miau, miau,

miau. Cocorocó. O animal é tão bacana Mas também não é nenhum banana. Au, au,

au. Hi-ho hi-ho. Miau, miau, miau. Cocorocó. Quando a porca torce o rabo Pode ser o

diabo E ora vejam só. Au, au, au. Cocorocó Era uma vez (e é ainda) Certo país (E é

ainda) Onde os animais Eram tratados como bestas (São ainda, são ainda) Tinha um

33
barão (Tem ainda) Nunca trabalhava E então achava a vida linda (E acha ainda, e

acha ainda) Au, au, au. Hi-ho hi-ho. Miau, miau, miau. Cocorocó. Leve o texto para a

sala de aula copiado para todos os alunos. Peça que identifiquem todos os nomes de

animais que são personagens. Escreva no quadro as palavras que eles identificaram.

Os alunos devem criar em conjunto uma história em que entrem todos esses animais.

Sugira que eles dêem um nome a cada um dos bichos. Cada bicho poderá estar

associado a uma qualidade ou característica: − o gato era arisco; a galinha era vaidosa;

o jumento era pensativo; o cachorro era bravo; o porco era comilão etc. A associação

de qualidades aos respectivos bichos vai ajudar seus alunos a começarem a perceber

como usamos adjetivos para atribuir qualidades a pessoas e seres. Vá escrevendo o

texto no quadro e relendo para conferir com os alunos se está formando sentido.

Quando estiver pronto, revise, relendo e comentando as qualidades do texto narrativo.

BICHARIA O animal é paciente Mas também não é nenhum demente. Au, au, au. Hi-

ho hi-ho. Miau, miau, miau. Cocorocó. Quando o homem exagera Bicho vira fera E

ora vejam só. Au, au, au, Cocorocó. Puxa, jumento (Só puxava) Choca galinha (Só

chocava) Rápido, cachorro Guarda a casa, corre e volta (só corria, só voltava) Mas

chega um dia (Chega um dia) Que o bicho chia (Bicho chia) Bota pra quebrar E eu

quero ver quem paga o pato Pois vai ser um saco de gatos Au, au, au. Hi-ho hi-ho.

Miau, miau, miau. Cocorocó.

Durante o processo de produção coletiva, as crianças vão compreendendo que um

texto deve ter uma organização. A ordem de ideias pode surgir mais facilmente no

texto oral. Por isso é importante que, antes de escrever, haja sempre uma

oportunidade de falar a respeito das ideias que serão utilizadas, por meio de debates,

conversas, comentários. Quando contamos oralmente uma história ou um

acontecimento real, somos impelidos pelos objetivos do momento a dar uma certa

34
progressão nas ideias para que o nosso ouvinte acompanhe com interesse. Isso deve

ser aproveitado na produção do texto escrito. Há muitos exercícios que podem levar

a criança a compreender essa ordenação do texto. As histórias sem texto, com as

quais Você trabalhou, podem servir para composição de textos orais que servirão de

base para textos escritos. Uma outra atividade que estimula de forma lúdica a

habilidade de ordenar as ideias é aquela em que as partes do texto ou das frases

estão fora de ordem e trabalha-se com a descoberta da ordenação correta. Você pode

criar muitos exercícios dessa natureza com textos conhecidos dos alunos.

O Roque do Ratinho até que as crianças estejam bem familiarizadas com ele.

Em todas as linhas desse texto as palavras estão fora de ordem. Os alunos devem

reescrevê-las formando sentenças coesas, isto é, colocando as palavras na ordem

correta. Cada aluno pode ir ao quadro e resolver uma das frases com o auxílio da

turma e o apoio do professor. vez uma Era ratinho pequenino Um que ratinha uma

pequenina namorava dois os e dia todo encontravam se esquina na buraquinho num

ralo de um Roque, roque, roque, roque, roque Roque, roque, roque, roque, roque

namorando o rato a ratinha e É Roque, roque, roque, roque, roque Roque, roque,

roque, roque, roque beijando e ratinha se a o rato É dia lhe todo trazia ratinho O

defumado, toucinho de pedaço um farinha de pouquinho um queijinho um e bocadinho

manteiga de e um focinho no Roque, roque, roque, roque, roque Roque, roque, roque,

roque, roque badalando, igreja sino o igreja da É Roque, roque, roque, roque, roque

Roque, roque, roque, roque, roque 70 Depois de pronto, o poema vai ficar assim: Era

uma vez Um ratinho pequenino que namorava uma ratinha pequenina e os dois se

encontravam todo dia num buraquinho de um ralo na esquina Roque, roque, roque,

roque, roque É o rato e a ratinha namorando, Roque, roque, roque, roque, roque É o

rato e a ratinha se beijando O ratinho lhe trazia todo o dia Um pedaço de toucinho

35
defumado, E um pouquinho de farinha e um queijinho E um bocadinho de manteiga

no focinho Roque, roque, roque, roque, roque É o sino da igreja badalando, Roque,

roque, roque, roque, roque É o rato e a ratinha se casando Essa atividade pode ser

feita com as frases inteiras misturadas, para serem colocadas no quadro de pregas

na ordem correta. A fábula pode ser definida como uma narrativa curta, cujos

personagens são objetos, animais, vegetais ou seres humanos e que tem por objetivo

divertir e instruir. Existem fábulas bem conhecidas que podem ser trabalhadas em sala

de aula. As fábulas tradicionais sempre se concluíam com uma lição de moral, mas

autores modernos têm reescrito fábulas dando outros finais que nem sempre

preservam a lição de moral anterior. Uma forma de trabalhar fábulas em sala de aula

é propor que os alunos criem um final para elas. Podemos dar relevo às personagens

de uma narrativa associando-lhes atributos que virão sob a forma de adjetivos. Pode-

se desenvolver a coesão textual apresentando as palavras de uma frase fora de ordem

e pedindo aos alunos que formem com elas frases coesas

Objetivo: Construir estratégias de produção coletiva de textos reais e de análise

linguística. Os textos da vida real e a reflexão linguística Como já vimos na seção

anterior, Você deve aproveitar todas as oportunidades reais da escola para escrever

em conjunto com os seus alunos. Vamos ampliar um pouco mais esse tema, refletindo

sobre as características do processo de produção de um texto. Quando produzimos

textos na vida real, estamos participando de práticas sociais. Temos um objetivo claro

e de acordo com esse objetivo tomamos muitas decisões antes e durante o trabalho.

Podemos traduzir algumas das decisões preliminares em perguntas que são de várias

ordens: Assim, quando realizamos uma atividade de produção coletiva, mesmo no

processo inicial de alfabetização, já estamos levando nossos alunos a construírem

essas estratégias comunicativas necessárias à produção de textos em qualquer

36
situação real. A escrita não se restringe à grafia das palavras e à organização das

frases; ela é uma forma de comunicação que envolve aspectos mais amplos que

devem ser considerados desde o início da aprendizagem. textuais: Qual é o nosso

objetivo ? Que gênero de texto vamos produzir? Qual é o mais adequado aos nossos

objetivos? linguísticas: Qual a linguagem que vamos utilizar: coloquial ou formal? Que

vocabulário vamos selecionar? Como vamos organizar as frases? interpessoais: A

quem se dirige o texto? Quem vai ler? O que espera de nosso texto? Como vamos

tratar o nosso leitor? informacionais: Que informações vamos fornecer? Motive as

crianças a enviarem uma mensagem de afeto. Sugira que escrevam uma cartinha.

Comece a escrever no quadro negro dentro do formato normal de carta, reforçando

com as crianças essas convenções: - Local, data - Vocativo Escreva as frases que as

crianças forem ditando espontaneamente. Sugira reformulações se forem necessárias.

Chame a atenção para a escrita das palavras, para o uso de maiúscula e a pontuação.

Releia várias vezes e aceite sugestões de modificação. Copie ou peça a um aluno

para copiar em um papel especial, colorido. Peça que todos coloquem o próprio nome

no lugar da assinatura, mesmo que precise de outra folha de papel. Coloque o nome

do destinatário no envelope. Vá com a turma abraçar o aniversariante e entregar a

carta pessoalmente. Se for possível, entregue-a junto com uma flor. É muito

importante que as produções feitas na escola não percam o sentido ou se transformem

em exercícios completamente desligados da vida prática. Nem sempre é possível que

o exercício de escrita tenha uma utilidade imediata e real. Mas sempre que possível o

professor deve ligá-lo a um fim mais objetivo.

Podemos usar os trabalhos para: Pouco a pouco as crianças vão

desenvolvendo a noção de autoria, isto é, vão construindo a noção de que podem

emitir suas próprias ideias e que um texto não é a repetição de ideias prontas. Além

37
disso, vão compreendendo que os autores se comprometem com o que escrevem e

que a assinatura tem um valor social significativo. fazer exposições; formar jornal

mural; compor pequenos livros e deixar no cantinho da leitura para que os colegas

leiam; organizar em um caderno de lembranças da escola para dar à família. Vamos

apresentar uma situação em que a produção coletiva de textos pode contribuir para

desenvolver o sentido do comprometimento do autor com o texto que produz.

Imaginemos que os alunos estão com vontade de ampliar o horário de recreio nas

sextas-feiras (pode ser a respeito de uma outra reivindicação real da turma em relação

à escola: uso do auditório; uso do pátio; licença para uma excursão etc.). Proponha

que façam um abaixo-assinado, ou seja, uma solicitação coletiva ao diretor da escola.

Use os procedimentos já detalhados de produção coletiva de textos. Peça que os

alunos incluam no texto o compromisso de obedecer aos limites e as regras de

disciplina que o diretor estabelecer. Peça que todos assinem. Encaminhe e peça a

resposta por escrito ao diretor. Crie outras situações de produção coletiva em que os

alunos devem assinar se comprometendo a cumprir acordos. Além desses objetivos,

a produção coletiva de textos é uma oportunidade em que o professor estimula a

reflexão a respeito dos gêneros, ou seja, os formatos de texto e suas características.

Ao escrever no quadro, Você vai revelando em voz alta conceitos e conhecimentos

que um redator mais maduro já apreendeu observando o funcionamento dos textos

na sociedade. Quais são as estruturas mais adequadas, por que usamos linguagem

formal ou informal, por que podemos ou não usar gíria, por que usamos certas formas

de tratamento... são questões que vão surgindo no decorrer da escrita e que podem

ser discutidas com os alunos. Em relação às questões linguísticas, é importante

considerar que a criança vai sugerir palavras que domina na língua oral e ainda não

sabe ler nem escrever. É uma excelente oportunidade de chamar a atenção para a

38
grafia das palavras, principalmente daquelas que oferecem mais dificuldades e que o

professor já identificou como problemáticas na produção individual do aluno. Lembrete

Corrigir imediatamente no texto do aluno pode levá-lo a se inibir na produção,

escrevendo só o que tem certeza de que está certo. Mais produtivo que corrigir no

texto individual do aluno, sempre que ele tenta escrever o que ainda não sabe, é

anotar esses casos e focalizá-los com mais insistência na hora da produção coletiva.

Assim, sem perder de vista que o objetivo principal é a formulação de texto com

sentido e com objetivo determinado, Você também pode chamar bastante atenção

para: espaços entre as palavras; acentos; maiúsculas; parágrafos; pontuação;

vocabulário, sinônimos; diversas possibilidades de organizar a frase; elementos de

coesão entre uma ideia e outra; comparação entre a pronúncia dialetal e a escrita;

grafia de sílabas complexas; sons que têm várias formas de escrita; escrita que

representa sons diferentes dependendo do contexto da palavra; questões gramaticais

(concordância) e uso de palavras como preposições e conjunções.

A produção coletiva de textos é uma oportunidade para que Você leve os alunos

a refletirem sobre as decisões que tomamos ao escrever um texto, já que a língua é

muito flexível e oferece infinitas possibilidades de organização das frases. Uma das

decisões que temos que tomar diz respeito ao ponto de vista que adotamos ao

escrever. Nesse texto do exemplo anterior, o autor se inclui na informação pelo uso

do pronome no plural nossa.

A produção coletiva de textos, Você dá oportunidade aos alunos para que eles

reflitam a respeito de questões de construção textual mais ampla que a simples grafia

das palavras. Sempre que puder produzir em conjunto, seja uma frase, seja um texto

maior, procure mostrar aos alunos como aquele texto funciona realmente na

sociedade e quais as justificativas para que tenha essa forma e não outra. Muitas

39
vezes o gênero determina quais são as estruturas próprias de cada texto. Quando

escrevemos textos, tomamos decisões relacionadas ao objetivo da mensagem que

estamos escrevendo. As decisões que tomamos estão relacionadas ao objetivo do

texto e têm caráter textual, linguístico, interpessoal e informacional. Trabalhar com

textos que tenham um objetivo real é mais produtivo e ensina a função do texto na

sociedade. A produção coletiva é uma oportunidade de estimular a reflexão acerca de

questões linguísticas. Reescrever textos variando a estrutura é uma forma de

compreender a flexibilidade da língua. Ao escrever um texto podemos optar entre

diversos pontos de vista. Resumindo Para aprofundar a reflexão sobre os temas

discutidos nesta Unidade, sugerimos a leitura do livro: Garcez, Lucília Helena do

Carmo Técnica de Redação: o que é preciso saber para escrever bem, São Paulo:

Martins Fontes, 2001. As crianças da primeira série normalmente não produzem

textos espontâneos. A relação que elas estabelecem com a escrita é, via de regra,

extremamente artificial, porque se pressupõe que, uma vez que ainda não dominam

a convenção ortográfica, elas não são ainda capazes de desenvolver com a escrita

atividades significativas. Seus exercícios costumam ser, assim, absolutamente

controlados pela professora, que reproduz a orientação pedagógica vigente. A partir

da introdução (geralmente fora do contexto de uma discussão prévia sobre escrita)

das primeiras sílabas e famílias silábicas, começam os exercícios para escrita de

palavras: cópias, ditados, e ditado mudo (sic); a partir de certo momento começa a

produção de frases com palavras já socializadas pela classe. Todos conhecemos,

como típicas dessa fase, frases como: A bola é da Lalá. A bola é bonita. Lalá pega a

bola. A bola é bela. em que as crianças reproduzem o vocabulário das cartilhas, sem

entender muito bem o sentido de escrever conjuntos de frases semelhantes aos que

elas são chamadas a ler na cartilha. Pode-se dizer, portanto, que, a partir do seu

40
primeiro contato com a escrita, as crianças são submetidas de forma sistemática a

uma série de exercícios que as distanciam progressivamente da noção de texto, para

elas tão natural em termos de produção oral, quando ingressam na escola. As crianças

passam a reproduzir mecanicamente, nas primeiras séries, os exercícios que os

vários métodos impõem, de tal forma que, na terceira ou quarta série, quando se

supõe que elas sejam capazes de produzir “redações” (que se esperaria que fossem

textos), o resultado costuma ser desastroso. As crianças fazem o que aprenderam,

isto é, suas redações se reduzem a conjuntos de frases sem as características básicas

de um texto. Costuma-se concluir, então, que “as crianças escrevem mal”. Parece

evidente que as crianças acabam desenvolvendo uma relação tão artificial com a

escrita, na escola, simplesmente porque sua produção escrita é controlada e

censurada desde a primeira série. E as razões de tal controle, se por um lado são

óbvias (as crianças não dominam ainda a ortografia), são também profundamente

injustificadas. As crianças podem perfeitamente escrever, produzir TEXTOS

ESPONTÂNEOS NA 1a SÉRIE (evidências da utilização, pela criança, de sua

percepção fonética da fala para representar e segmentar a escrita) textos, antes de

dominarem a convenção ortográfica. É, aliás, somente a partir de uma relação natural

com a escrita que elas vão entender a sua convencionalidade e a necessidade, daí

decorrente, de fixar a forma das palavras. Nesta breve nota, em que não nos é

possível discutir em profundidade todas as questões polêmicas sugeridas já nos

parágrafos precedentes, pretendemos apenas mostrar que os textos espontâneos da

primeira série são evidência de um elaborado processo de reflexão e construção de

hipóteses sobre a escrita por parte das crianças, aprendizes da escrita. Os dois textos

seguintes foram produzidos espontaneamente por crianças de primeira série de

escolas urbanas de periferia, de Aracaju e de Campinas, respectivamente. São textos

41
típicos que exemplificam os casos que analisaremos mais adiante. I O sapo voador o

sapo vai a o ispaso lã ele ve o sol e posa ni uni praneta ch Amado marte ele ve um

mostro ele fala socoro o vucao come co a sai lava o motro ao otoo o sapo o sapo foi

para o fogete quado ele OH egou na terra ele foi ce um soldado II Era um vez uma

bela ador mesida que chamava Elizabéte apareseu umbripi abechou tivagarinho e

oseste anâodimirarão é lalevãotou e falou quei é voce eu sou abrlslpi um brisipe

obrisipi falou euquérocaza com vose eu tabeiquéro cazar comvoce vivérão fezes para

sebre nacasté lo cazarão parasebre Examinaremos, em primeiro lugar, alguns casos

em que as crianças fazem hipóteses sobre a forma escrita de palavras novas a partir

do que já conhecem sobre a ortografia do português. Convém sempre lembrar que o

aprendiz de escrita que aceita o desafio da própria escrita, que se propõe como

objetivo a escrita de palavras que muitas vezes nunca viu escritas, cometerá muito

mais “erros” de ortografia do que aquele que escrever menos e/ou escrever apenas

palavras cuja forma já foi, 80 de alguma maneira, exercitada com ele. Vejamos,

portanto, algumas hipóteses que fazem aprendizes mais “ousados”, a quem a idéia

de escrever um texto não assusta, não impede de aceitar o desafio da escrita de novas

palavras:

1) Hipótese Fonética: a criança reflete sobre a própria pronúncia e a utiliza como

referência para a escrita. Exemplos: íspaso, posa, ni (em), praneta, vucao (vulcão),

comeco (começou), sai (sair), qual (quem).

2) Hipótese Ortográfica: a) a criança utiliza letras que são admitidas pelo sistema

ortográfico no contexto em questão, mas não na palavra a ser representada.

Exemplos: ce (ser), cazar; b) a criança utiliza letras que já viu a ortografia e escolheu

para representar determinado som. Exemplos: ispaso, socoro, fogete, apareseu, vose,

vivérão. c) hipercorreção: a criança generaliza regras ortográficas a partir da

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constatação de casos de não correspondência som/letra. Exemplos: sootoo (a partir

de hipóteses fonéticas como “patu” — corrigida para “pato” — a criança generaliza a

representação com a letra “o” do que reconhece como som do [u] na palavra “soltou”).

A segmentação de um enunciado para fins de escrita é também um problema

que o aprendiz tem que resolver, uma vez que os critérios de segmentação de que se

vale a ortografia (classes morfológicas) são desconhecidos da criança que, ao

ingressar na escola, não está habituada à reflexão metalinguística que tal

segmentação pressupõe. E justamente o aprendizado da escrita que vai estimular no

falante nativo de determinada língua esse tipo de reflexão. Assim, ao entrar em

contato com a escrita, a criança muitas vezes se utiliza de critérios diversos para

resolver problemas de segmentação. Seu ponto de referência é, em muitos casos, a

percepção fonética dos enunciados que quer registrar por escrito. Ela demonstra

grande capacidade para perceber fatos fonéticos e fonológicos ocorrentes em juntura

de palavras, que passam já despercebidos ao falante adulto alfabetizado, o qual,

condicionado pelos critérios morfológicos de segmentação da escrita, “ouve” a própria

fala através da forma ortográfica. O critério para segmentação usado pela criança

costuma ser, portanto, no início da produção de textos espontâneos, o grupo tonal ou

subpartes do grupo tonal (entendendo-se grupo tonal como uma unidade de

informação carreada, na fala, por um padrão ritmo/entoacional especifico). É freqüente,

assim, que ela segmente menos do que a escrita exige. Exemplos: umbripi (um

príncipe), abechou (a beijou), oseste (os sete), anãodimirarão (anões admiraram),

euquérocaza (eu quero casar), tabeiquéro (também quero), comvoce, parasebre (para

sempre). As hipóteses do aprendiz da escrita não são, no entanto, e nem poderiam

ser, categóricas. Desde que ele é exposto a textos escritos, percebe que há outros

critérios em 81 jogo para segmentação dos enunciados, embora não perceba bem

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quais sejam. Faz, portanto, outras hipóteses de segmentação além da hipótese

fonética. Assim é que, algumas vezes, segmenta mais do que a ortografia exige, a

partir da atribuição de conteúdos semânticos específicos a subpartes de palavras.

Exemplos: ador mesida (adormecida), é lalevãotou (ela levantou). Convém registrar

ainda que os textos espontâneos permitem constatar que a criança, em muitos casos,

já faz muitas hipóteses que correspondem às expectativas da ortografia, tanto no caso

da forma de palavras isoladas como no tocante à segmentação dos enunciados. A

escola, obsessiva na correção dos “erros”, não sabe como avaliar os muitos acertos...

Até aqui, a análise do linguista, que os dados colhidos em textos espontâneos

permitam fazer. Mas a análise em si não basta para que se compreenda o que

acontece na escola no tocante ao ensino da escrita. Ela convida, sim, a que se façam

alguns comentários, porque evidencia o grande descompasso que há entre a criança,

aprendiz da escrita, seus pontos de referência e de partida (enunciados orais

contextualizados), e o adulto, de há muito condicionado a pensar a língua através da

própria escrita, e habituado, portanto, à reflexão metalinguística.

Seria importantíssimo que, para a prática didática eficaz, os professores fossem

capazes de reconhecer os percursos das crianças e de entender, assim, as hipóteses

que elas fazem a respeito da escrita. Na verdade, é só refletindo sobre as próprias

hipóteses que a criança pode entender e aprender, sem grandes perplexidades, os

critérios e convenções da escrita. A escola, infelizmente, não propicia tal

aprendizagem. As crianças, de modo geral, estabelecem uma relação quase que

traumática com a escrita porque a escola costuma reduzir seu ensino à correção

ortográfica. Avalia-se a produção dos alunos segundo critérios categóricos de “certo”

ou “errado”, aplicados sempre ao produto, porque a escola não sabe (ou não quer)

avaliar o processo de aquisição da escrita. Isso pressuporia entender todos os

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estágios pelos quais passa o aprendiz da escrita na direção da forma convencional, e

acompanhar as hipóteses que faz a partir de todos os dados de escrita que estão ao

seu dispor. Cabe perguntar, à guisa de conclusão, se à escola, enquanto instituição,

interessaria mudar seus critérios de avaliação, relativizar os conceitos de

“certo”/ ”errado”, entender, enfim, os percursos diferentes dos alunos na aquisição da

escrita, mas responder a essa pergunta exigiria o compromisso de narrar a verdadeira

história do aprendiz da escrita e da representação que dele faz a escola.

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Referências Bibliográficas

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KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes,1985.

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