Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

A Filha Do Don 5 - Ane Le

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 328

Livro: A filha do Don – Império família Caccini

Autora: Ane Le
Capa: Vic_designer_
Leitura crítica e betagem: Valquíria Souza
Revisão: Joelma Pauline
Diagramação: Ane Le

Copyright © 2024 Ane Le

Todos os direitos reservados. Proibida, dentro dos limites estabelecidos pela


lei, a reprodução total ou parcial desta obra, o armazenamento ou a
transmissão por meios eletrônicos ou mecânicos, fotocópias ou qualquer
outra forma de cessão, sem prévia autorização da autora Ane Le.

Esta é uma obra de ficção, portanto, nomes, personagens, lugares e


acontecimentos são produtos da imaginação da autora. Quaisquer
semelhanças com nomes, datas e acontecimentos reais são mera
coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Sumário
Sinopse
Nota da Autora
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Leia um pouco mais
Agradecimentos
Leia outras obras da autora
MÁFIA + CASAMENTO FORÇADO + AGE GAP + HOT

Conheça Giulia Caccini, a cativante filha do diabo, cuja astúcia


rivaliza com a do seu notório pai, Rocco Caccini. Impulsiva e determinada,
ela apaixonou-se por Adler na adolescência e está disposta a tudo para tê-lo,
mesmo que isso envolva armar uma cilada para forçar um casamento.
Adler Ziegler, avesso a compromissos e, especialmente, a
casamentos, sempre fugiu das investidas audaciosas de Giulia. No entanto,
um inesperado jogo do destino o coloca em uma situação inescapável, e ele
se vê obrigado a casar contra sua vontade.
Agora, Giulia precisa conquistar não apenas o coração de Adler,
mas também superar as consequências de sua armação. Será que um
relacionamento que começou com artimanhas pode florescer em algo
verdadeiro? Adler conseguirá perdoar Giulia e permitir que o amor se
instale em seu coração?
Embarque nesta envolvente saga da família mafiosa, repleta de
paixão, intrigas e reviravoltas, e descubra se Giulia e Adler conseguirão
transformar um início conturbado em um amor duradouro. Prepare-se para
mais uma emocionante aventura, onde os limites do certo e errado se
misturam em meio ao calor da paixão.
Olá, queridos leitores, é um prazer recebê-los novamente. Se você
está chegando agora, seja muito bem-vindo ao meu universo literário.
Os Caccini, uma família imensa, carregam consigo histórias
singulares. Como em qualquer núcleo familiar, a perfeição não é o forte
deles. Giulia, em particular, foi um desafio e uma das personagens mais
complexas que já criei. Impulsiva, mimada e rebelde, mas com um coração
imenso, ela busca a felicidade, mesmo que para isso tenha que agir por
impulso. Afinal, quem nunca cometeu um ato impulsivo? Ou se iludiu com
um amor de adolescência?
Giulia chega para quebrar padrões. Estamos acostumados a ver
vilões encantados por mocinhas, mas aqui os papéis se invertem. Uma
mulher que, num ato desesperado, comete o que pode ser o maior erro de
sua vida. Convido você a ler a história de Giulia com mente e coração
abertos. Espero que, assim como eu, se apaixone por seu processo de
amadurecimento.
Adler, por sua vez, revelará toda a sua ira. Esteja preparado para
enxergar todos os lados, compreendendo os pontos de vista dos dois
personagens. Ele é intenso e frio, prometendo uma rendição gratificante.
Lembrem-se de que este livro é o quinto da série, podendo ser lido
separadamente, mas aconselho a leitura dos anteriores para uma
compreensão mais profunda. Você pode encontrar os livros anteriores desta
série diretamente no meu perfil da Amazon.
Apesar de ser um livro de mafioso, não dou tanto ênfase à máfia,
mas sim ao romance entre os personagens, contudo, gatilhos como traição,
rejeição, tortura, violência física e verbal estão presentes. Este livro é uma
mistura irresistível de DARK ROMANCE, AGE GAP, MÁFIA e HOT. Se
alguma dessas tropes não estiver no seu radar de preferências, talvez seja
melhor procurar outra leitura. No entanto, se você estiver disposto a se
aventurar por caminhos intensos e eletrizantes, garanto que encontrará uma
narrativa envolvente que vai desafiar seus limites e proporcionar uma
experiência única. Prepare-se para uma jornada cheia de paixão, intriga e
emoções ardentes.
Realizei algumas pesquisas para trazer mais veracidade à história,
no entanto, usei da minha licença poética para dar melhor coerência e
proporcionar emoções ao leitor. É importante ressaltar que o conteúdo não é
recomendado para menores de 18 anos, dada a presença de cenas de sexo
explícito e palavras fortes.
Por fim, mas não menos importante, convido todos vocês a me
acompanharem no Instagram: Autora Ane Le.
Espero que aprecie, boa leitura.
Que esta história seja um lembrete de que, mesmo nos momentos
mais obscuros, o amor e a coragem podem guiar-nos para a
felicidade verdadeira.
Aos vinte anos, no auge da juventude, eu sou uma estudante de
urbanismo e arquitetura, inserida em um mundo de privilégios, cortesia da
riqueza da minha família. Admito que a parte mimada é uma herança
indesejada, cortesia do meu pai.
Apesar da vida abastada, minha existência é marcada por uma
monotonia que me impede de aproveitar as festas e as extravagâncias
típicas da minha idade. A falta de amigos, além das primas, e a ausência de
experiências amorosas contribuem para o tédio que permeia meus dias
acadêmicos.
Suspiro longamente, cansada do tédio que é fazer faculdade sem
poder vivenciar as festas repletas de jovens fazendo besteiras que se
arrependerão no dia seguinte, se é que vão se lembrar de alguma coisa. As
extravagâncias etílicas dessas ocasiões, ao menos, são evitadas para
preservar a dignidade contra ressacas humilhantes.
Apesar do amor que sinto por minha família, minha condição de
nascer em uma família mafiosa é algo que detesto intensamente. Ser mulher
nesse ambiente é ainda mais desafiador; proibições sobre relacionamentos e
o peso de manter minha pureza são imposições que me frustram. O simples
ato de beijar é uma proibição radical e, em pleno século XXI, isso soa
absurdo.
Sou grata ao meu pai por me permitir estudar, diferentemente de
muitas mulheres da máfia que enfrentam casamentos arranjados aos dezoito
anos.
Meu pai é meu amor e herói, ocupando um lugar especial em meu
coração. Apesar dos desafios, agradeço por ele me dar a oportunidade de
perseguir meus sonhos.
Minha mãe, Dona Luara, é minha fonte de inspiração, uma mulher
forte que amo profundamente. Meu irmão, Luigi, é a paixão da família,
bonito e educado, é um verdadeiro príncipe.
Eu me esforço para ser a filha exemplar que meus pais desejam,
mas a verdade é que não herdei a personalidade carismática do meu irmão,
fato que meus pais reconhecem, embora prefiram ignorar por enquanto.
Desde a adolescência, nutro um amor platônico por Adler, um
sentimento que todos ao meu redor parecem preferir ignorar. Não rotulo
isso como uma simples paixão, pois sei que é muito mais profundo. Eu o
amo verdadeiramente.
Aos dezoito anos, comecei a implorar para o grande amor da
minha vida me presentear com pelo menos um beijo, mas o lerdo do Adler
não cede por nada nesse mundo.
Minha paixão por Adler começou no auge da minha adolescência,
quando ele apareceu pela primeira vez no aniversário da minha tia Alice.
Impossível não notá-lo: alto, forte, cabelos castanhos, olhos escuros como a
noite, e sempre vestindo seu impecável terno branco feito sob medida. O
que mais me chama a atenção é sua escolha pelo branco, enquanto a
maioria dos mafiosos opta por ternos pretos. Adler é diferente, sempre
usando branco.
Apesar das semelhanças físicas com meu tio Enzo, seu irmão, eles
são completamente distintos. Difícil de explicar.
Sua personalidade também é um contraste evidente. Enquanto meu
tio Enzo é brincalhão, falante e sempre com um sorriso no rosto, Adler é o
oposto. Nunca o vi sorrir, sempre sério, falando pouco e agindo de maneira
fria, especialmente comigo. Talvez seja assim apenas comigo.
Ah, o que eu vi nesse homem? Ele é simplesmente deslumbrante!
E quando digo deslumbrante, quero dizer irresistivelmente lindo. Lindo,
sexy, atraente... e suas mãos enormes, que parecem medir o dobro do
tamanho das minhas, me fazem imaginar várias coisas, admito, são
pensamentos um tanto ousados, mas não posso evitar.
A ideia de um casamento arranjado para ele ou para mim me
enlouquece. Ouvindo as conversas ao redor, percebo a pressão que fazem
para que ele se case logo, considerando sua idade. Pelos meus cálculos,
Adler é quinze anos mais velho que eu e, mesmo nas investidas descaradas
que faço nele — sim, não tento esconder que o desejo —, ele insiste em
dizer que sou apenas uma criança, que ele é muito velho para mim, e ainda
me manda procurar alguém da minha idade. Será que ele não conhece a
história da minha mãe e tias? Idade na nossa família não é um critério, e
agradeço por isso.
Já ouvi sussurros sobre um casamento arranjado para mim
também. Ninguém confirmou, mas sei que pensam em me casar com Theo.
Não quero e não vou me casar com ninguém além de Adler. Ainda
não sei como vou conseguir esse casamento, mas sei que vou. Minha
certeza é que não vou desistir desse homem, de jeito nenhum. Eu o amo e
tenho total certeza disso. Só vou descansar quando tiver o coração dele,
quero que Adler me ame também, quero me casar com ele, e vou conseguir,
mesmo que ainda não saiba como.
Minha esperança está no casamento do meu irmão. Luigi e Jasmine
vão se casar amanhã, e mal posso esperar para vê-lo. Falando nisso, meu
irmão é incrível e Jasmine é linda, parece ser super legal. Eles são sortudos
por terem encontrado um ao outro.
— Giulia, está pensando no tio Adler de novo? — Jade perguntou,
evidenciando o óbvio, e eu ri.
Estávamos na casa de campo dos meus pais, aproveitando um
momento de relaxamento entre eu e minhas primas antes de retornarmos
para o casamento no dia seguinte.
— Ela não faz outra coisa — Beatriz debochou, rindo.
— Deixem-na em paz, suas chatas! — Bianca, a mais tranquila
entre nós, saiu em minha defesa.
Sempre juntas, reclamando da complexidade de nascer e viver na
máfia. Jade e Bianca eram as sensatas, enquanto eu e Beatriz éramos as que
causavam mais confusão. Todas buscávamos maneiras de esquecer os
problemas. Jade estava prometida e só conseguia lamentar a proximidade
do casamento. As gêmeas, apelidadas carinhosamente de B1 e B2, estavam
apreensivas, pois já estavam na idade, mas até agora o tio Renzo não havia
mencionado nada, e esperávamos que permanecesse assim.
— Jade, ele disse algo sobre ir ao casamento amanhã? —
Perguntei, ansiosa por qualquer sinal de que ele estaria presente.
— Não, eu nem vejo meu tio direito.
— Que chato! — Bufei, frustrada por não obter confirmação.
— Esquece meu tio, Giulia, ele é velho para você — Jade falou de
maneira rude, cansada de ouvir minhas obsessões sobre ele.
— Jade, minha querida, deveria falar com mais respeito comigo,
primeiro porque sou a mais velha — sim, sou um ano mais velha que as B1
e B2, e dois anos mais velha que nossa bebê Jade. — E segundo, em breve,
muito em breve, serei sua tia.
As meninas caíram na gargalhada, e eu me juntei a elas.
— Não custa sonhar — Beatriz debochou novamente.
— Cala a boca, Beatriz, deixe-me sonhar em paz.
— Torço para que você seja feliz com ele, Giulia. Escuto você falar
dele há anos, então imagino que não seja apenas uma paixão adolescente —
viu? Bianca sempre a mais sensata entre nós.
— Você é um amor, Bia — apertei suas bochechas, vendo-as
corarem.
— Vou pegar mais vinho, não aguento mais ouvir sobre o tio Adler
— Jade se levantou e entrou para buscar vinho.
Estamos no jardim, desfrutando de um momento tranquilo com
vinho, música e conversas, que, na maioria das vezes, giram em torno do
Adler.
— Sabe, eu fico pensando no que nos aguarda — Beatriz estava se
referindo a ela e à irmã. — Seu pai já disse que vai deixar você terminar a
faculdade antes de arrumar um casamento — ela falou comigo. — Jade já
está prometida, mas lá em casa nunca mencionaram nada sobre isso.
— Papai deve esperar que você termine a faculdade também —
Bia comentou com a irmã.
Beatriz está cursando moda e, com muita insistência, tio Renzo
permitiu que ela fosse para a faculdade. Bianca ainda não começou seus
estudos, alegando não saber o que quer fazer, e nós não questionamos. As
gêmeas têm dezenove anos e são de uma beleza única, deixando meu tio
louco de ciúmes. Jade não fica para trás, sendo uma mistura incrível de
Enzo e Alice. Afinal, nossa família é linda, não tinha como ser diferente.
— E você, Bianca? Por que ele está esperando então? Você não
estuda.
Bia arregalou os olhos com o que a irmã disse, talvez imaginando
que será a próxima a se casar por causa disso.
— Para de assustar sua irmã, Beatriz. Se for para casar, será
fazendo faculdade ou não. Duvido muito que eles nos entreguem para
qualquer um — falei, tranquilizando Bia.
— Opa! — Jade voltou com a garrafa de vinho e um saquinho de
salgadinhos na mão, típico de tio Enzo. — Então meu pai não se inclui
nesse meio, não é? — Referia-se ao seu noivo, e todas nós rimos, com
respeito, é claro.
— Jade nem conhece o noivo, mas já sabe que não presta —
Beatriz riu.
— Pra vocês verem que estão melhor que eu — Jade brincou,
revelando a descontração que aquele momento proporcionava.
Não sei muito sobre o noivo dela, na verdade, ninguém sabe. O
pacto foi selado quando ainda eram crianças, este ano ele apenas mandou
um anel, dizendo que vai marcar a data do casamento, mas não se
preocupou em vir oficializar o noivado. Bom, já sabemos que não podemos
esperar muito desse cara, não é mesmo?
O que dizem por aí é que ele é um cretino e passa cada noite com
uma mulher diferente, mas isso são apenas boatos e não sabemos da
veracidade dos fatos.
— Só quero me casar com o meu amor e ter um vestido desenhado
pela minha tia Alice — enchi meu copo com mais vinho e compartilhei meu
sonho.
— Jade, conseguiu o número do seu tio? — Perguntei pela
milésima vez.
— Claro que não. Da última vez, você o encheu de mensagens e
ligações, o coitado foi obrigado a trocar de número e eu levei uma bronca.
Comecei a rir, pois ela tem razão. Mandei várias mensagens e
liguei várias vezes, mas o infeliz nunca respondeu nem atendeu.
— Vamos dançar! — Beatriz colocou uma música animada, e nos
levantamos para acompanhá-la no ritmo.
Amo estar com elas; somos mais que primas. Mesmo morando
distantes, sempre marcamos de nos encontrar uma vez por mês. Nos
consideramos amigas-irmãs.
A noite com as meninas foi maravilhosa. Dançamos, bebemos,
comemos besteiras, rimos bastante e também nos lamentamos bastante.

Estou terminando de me arrumar para o casamento. Passamos o dia


no SPA, foi relaxante, exatamente o que eu precisava. Fui ao quarto
entregar o buquê para Jasmine, como minha mãe pediu, e ela está um
escândalo, sério, sem palavras para definir. A menina é linda!
Cheguei ao jardim da casa e fiquei procurando entre os convidados
chatos o meu convidado preferido.
— Procurando alguém em especial? — Luigi me assustou. Estava
tão aérea que nem reparei quando ele se aproximou.
— Não. Por que eu procuraria? — Respondi com ironia.
— Você tem razão, não há motivos para procurar ninguém em
especial.
— Pois é.
— Mas se estava procurando um homem que só anda de terno
branco, desista, ele não vem — jogou a bomba no meu colo e saiu rindo.
Murchei na mesma hora. Por que ele não vem? Ele é tão amigo do
meu irmão. Me arrumei toda à toa, que raiva! Por que Adler tem que ser tão
antissocial? Não pode simplesmente participar de uma festa em família?
Meu irmão também faz questão de tripudiar em cima do
sofrimento alheio.
Sentei-me perto das minhas primas para assistir à cerimônia que já
vai começar. O bom é que não demorou muito, o que mais gosto no
casamento dentro da máfia, sem dúvidas, é essa parte: não tem enrolação.
A cerimônia foi linda, como já era de se esperar. Por questão de
segundos, fiquei me imaginando ali, casando com o homem que eu amo.
Acho que por isso chorei feito criança; boa parte do meu choro era emoção,
mas a outra era a esperança de que um dia isso fosse realmente acontecer.
Sou uma boba, eu sei, mas não consigo evitar. Já tentei tirá-lo do
coração várias vezes, mas ele não sai.
Todos dançavam alegremente, enquanto eu tentava disfarçar o
gosto amargo dessa champanhe horrível. Sinceramente, preferiria um bom
vinho ou algo mais forte, mas não posso me dar a esse luxo na frente dos
outros. Preciso manter as aparências, ser uma mocinha comportada; afinal,
há pessoas importantes aqui e não quero envergonhar meu pai.
— Uma dança? — Theo se aproximou, estendendo a mão para
mim.
Um sorriso se formou em meu rosto. Theo, o irmão de Jasmine, é
verdadeiramente um Gato, com "G" maiúsculo para combinar com sua
imensa beleza. Embora nossos pais alimentem a ideia de nos casarmos,
ambos rejeitamos completamente essa absurda proposta. Eu porque amo
outra pessoa e ele por ser um galanteador incorrigível. Theo é incrivelmente
charmoso e considerado o rei das mulheres, fazendo com que até mesmo as
casadas deem uma olhada furtiva nele. Além disso, ouço boatos sobre
festinhas que ele e meu futuro marido organizam, o que me irrita de certa
forma.
— Não quero correr riscos desnecessários, querido Theo —
brinquei com ele, dando um gole na minha bebida terrível.
— Que risco, minha linda? É apenas uma dança, não um pedido de
casamento — desta vez, foi ele quem riu e eu o acompanhei.
— Ainda bem, não quero nenhuma louca apaixonada vindo atrás
de mim para me infernizar.
Theo soltou uma gargalhada.
— Ah, Giulia, você é encantadora! — Elogiou, todo galante.
— É apenas uma dança, não se apaixone — deixei minha taça na
mesa ao lado e segurei sua mão.
— Sem riscos, você está segura comigo — Theo assegurou.
Assenti. Sabíamos que entre nós havia apenas um carinho fraternal,
sem riscos de envolvimento emocional.
— Theo — chamei-o, encarando seus olhos.
— É nessa parte que você me beija? — Perguntou rindo,
claramente em tom de brincadeira.
— Não, seu bobo! Queria te fazer uma pergunta.
— Pergunte.
— Sabe por que o Adler não veio? — Perguntei, buscando
informações sobre sua ausência.
— Resolvendo um assunto importante — Theo respondeu,
mantendo uma expressão séria.
— Hum... — murmurei, ponderando sobre a resposta.
— Sabe que esse é um jogo arriscado, não sabe? — Theo soltou
um suspiro profundo.
— Por que diz isso? — Questionei, curiosa.
— Giulia — ele respirou fundo. — Adler é um cara legal, mas ele
não é para essas coisas.
— Que coisas? Amor? — Arrisquei adivinhar.
— Que seja. Você vai acabar sofrendo mais que o necessário.
— Está falando isso porque quer que eu me case com você! —
Decidi brincar, provocando um tom mais leve na conversa. Theo riu.
— Eu agradeceria muito se você se casasse com outro homem.
Pelo menos assim, eu escaparia de casar com você.
— Credo! Sou tão ruim assim? — Fingi indignação.
— Não é ruim, mas não quero me casar.
— Então me ajude com o Adler, sei que vocês conversam e até
saem juntos para festinhas com mulheres.
— Como sabe disso, Giulia? — Theo estreitou os olhos, intrigado.
— Boatos — desconversei, mantendo um ar de mistério.
— Como quer que eu te ajude com isso?
— Não sei, me ajude a encontrá-lo pelo menos. É muito difícil
encontrá-lo.
— Não faço ideia de como você possa encontrá-lo.
— Você não está sendo de grande ajuda, Theo! — Revirei os olhos,
expressando minha frustração.
— No dia da coroação do seu irmão, ele estará aqui, com certeza.
— Será? — A animação tomou conta de mim diante dessa
perspectiva. — Ele nunca se envolve em nada.
— Pode confiar, ele estará aqui — Theo assegurou.
— Obrigada, Theo! — Agradeci com um beijo em sua bochecha.
— Por nada. Apenas tome cuidado com suas decisões, tudo bem?
— Entendido.
Deitei minha cabeça em seu ombro e continuamos a dançar,
aproveitando o momento.
Hoje, me sinto plenamente realizado como homem. No entanto,
nem sempre foi assim. Já passei por momentos em que duvidava alcançar
sequer um terço do que possuo atualmente.
Na minha juventude, meu pai era meu herói e, verdadeiramente,
sempre o será. Não posso negar o amor que sempre nutri por aquele
homem. A peculiaridade é que meu pai tinha duas famílias, mas isso nunca
foi um segredo para minha mãe. Só percebi essa situação quando ainda era
criança. A outra família não tinha conhecimento da nossa existência, pois
meu pai inventava viagens de negócios para passar mais tempo em nossa
casa. Contudo, do nosso lado, isso nunca foi um mistério; quando ele
precisava partir, compreendíamos bem o motivo.
Fico a me perguntar como minha mãe aceitou essa realidade.
Embora ele nunca tenha deixado faltar nada, o que era oferecido
para a outra família era compartilhado conosco também. No entanto,
acredito que o elemento crucial em falta era a lealdade.
Se minha mãe aceitava, quem sou eu para julgar, não é mesmo?
Quando meu pai faleceu, eu estava nos primeiros passos da minha
iniciação na máfia. Apesar de ser um filho fora do casamento, ele desejava
que eu herdasse, juntamente com meu meio-irmão legítimo, a liderança da
família. Embora soubesse que não seria o Capo, seria alguém próximo ao
meu irmão, mantendo em segredo nosso parentesco. Meu pai era habilidoso
em conseguir o que queria, sempre com uma facilidade que despertava
inveja.
Infelizmente, o tempo não nos permitiu concretizar esse plano.
Ele partiu cedo, deixando meu meio-irmão como herdeiro da
máfia, enquanto eu ficava à margem. Contudo, decidi não desistir e
continuei minha iniciação sozinho, reconstruindo o pouco que meu pai
havia me ensinado.
A saúde da minha mãe também se deteriorou. Surpreendentemente,
a falta do meu pai a mergulhou em uma profunda depressão. É difícil
acreditar que o amor possa ter efeitos tão devastadores, mas testemunhei a
gradual decadência dela. A cada dia, ela se tornava mais magra e desiludida
com a vida.
Mesmo sendo considerada a "outra", minha mãe era feliz. No
entanto, a ausência do meu pai tornou-se insuportável para ela. Meus
próprios olhos testemunharam o poder do amor, ou melhor, a ausência dele,
conforme minha mãe definhou lentamente, perdendo sua beleza e
permitindo que a depressão a consumisse.
A situação piorou ao ponto de minha mãe não ter mais condições
de ficar comigo. Mesmo contra minha vontade, fui obrigado a morar com
Enzo. Na época, relutava, mas ele se revelou um sujeito excepcional,
acolhendo-me como se sempre tivéssemos compartilhado uma vida juntos.
Iniciei meu treinamento de maneira séria, e é graças a isso que
conquistei respeito. Apesar de ser um filho bastardo, sei que muitos pensam
e até comentam sobre isso às minhas costas, mas nenhum deles tem
coragem de fazer qualquer comentário desrespeitoso na minha frente.
Enzo sempre foi firme, nunca permitindo que qualquer pessoa
questionasse esse assunto. Meu irmão é excepcional, igual a ele nunca
encontrei ninguém. Ele costuma brincar dizendo que herdei o
temperamento difícil do papai, enquanto ele ficou apenas com a parte boa.
E sinceramente, tenho que concordar. Enzo ficou com todos os aspectos
positivos, e a parte desafiadora ficou mesmo no meu DNA.
Atualmente, minha família consiste em Enzo, Alice e meus
sobrinhos. Apesar de ficar um pouco afastado, levo todos no meu coração
para onde quer que eu vá. A esposa do meu irmão é incrível! Alice é como
uma irmã para mim, e a respeito profundamente. Ela abriu as portas de sua
casa e sempre me tratou como um rei, sem fazer distinção entre mim e meu
irmão.
Hoje, ocupo a posição de subchefe da máfia alemã e também
realizo alguns trabalhos adicionais quando alguma máfia aliada precisa de
ajuda. Alguns me chamam de "exterminador", mas prefiro deixar esses
apelidos de lado. Não me vanglorio do meu trabalho, embora tenha certeza
de que o executo com a máxima excelência.
— Pensando em quê? — Theo chamou a minha atenção, erguendo
uma sobrancelha.
— Pensando na vida.
— Pensando na vida aqui? Não fode, Adler! — Começou a rir,
levantando o copo.
Estávamos na boate que comprei há alguns anos, meu refúgio
preferido nas raras folgas. Gosto de estar aqui.
— Não sei o que você está fazendo aqui bebendo ao meu lado, vai
para as suas sacanagens.
— Sacanagem é com você, eu não costumo fazer orgias —
retrucou, fazendo-me rir.
Theo tinha razão, as orgias ficam comigo e a parte mais intensa do
sexo fica com ele. O cara é fã de BDSM[i].
— Faz pior que orgias.
— Fala isso porque nunca fez. Se fizer um dia, não vai querer
saber de outra coisa.
— Tá louco? Quero saber dessas coisas malucas que você faz não.
Vou lá deixar alguém me chicotear?
Theo riu.
— Ninguém me chicoteia não.
— Você que chicoteia elas.
— Exato, meu caro! — Assumiu, com animação.
— Tô fora!
— Hoje vai fazer as suas orgias com quantas?
— Pretendo me divertir com muitas.
— Rapaz, deixa um pouco para mim — falou em tom de
brincadeira. — Mudando de assunto rapidinho... você vai na cerimônia do
Luigi?
— Querer, eu não queria ir não. Mas vou, não posso deixar de
comparecer.
— Certo. Sabe que Giulia vai estar lá, não é? — Theo não
conseguiu disfarçar o quanto achava engraçada a situação e caiu na
gargalhada.
Bebi a dose do meu copo todo de uma vez. É só falar nessa menina
que sinto os meus cabelos branquearem. A sobrinha de Alice é
completamente louca, desde a adolescência vive no meu pé e, quando fez
dezoito anos, insistiu para que eu a presenteasse com um beijo. Posso com
isso? Claro que neguei, e negaria quantas vezes fosse preciso. Essa menina
só vai sair do meu pé quando Rocco arrumar um casamento para ela. Não
vejo a hora disso acontecer, mas o diabo parece não estar ao meu favor e
está enrolando para casá-la.
— Infelizmente... aliás, por falar nisso, quando sai o casamento de
vocês dois? — Joguei a bomba no colo dele, afinal, todos sabem que as
famílias pensam em um casamento para os dois.
— Você tá doido?! Tô fora dessa parada aí, irmão.
— Até quando? Porque você sabe que eles querem casar vocês
dois — Theo fez uma careta, resmungando.
— Não vou casar com ela não. Giulia é apaixonada por você, vou
me meter nessa história não. E outra, não quero saber de casamento.
— Rapaz... não inventa essa parada que essa menina é apaixonada
por mim não. Me tira fora dessa.
Quando lembro que Jade passou o meu número para ela e essa
garota me infernizou, ligou não sei quantas vezes, mandou um milhão de
mensagens e até fotos, algumas até de biquíni. Tive que trocar de número e
ir lá na casa do meu irmão chamar atenção da minha sobrinha.
— Nem um beijinho, Adler? A menina não é feia, muito pelo
contrário, Giulia é bonita pra cacete!
— Você acha? Então fica com ela.
— Vai dizer que nunca reparou nela?
— Eu? Jamais! Faço nem questão de olhá-la. Sem dar corda ela já
fica no meu pé, você imagina se eu der corda, tô fodido, ela me enforca —
ele caiu na gargalhada e eu o acompanhei.
— Aí, vou te falar, você jogou algum feitiço na menina, ela só sabe
falar de você.
— Theo, quando ela perguntar por mim, por favor, diga que eu
morri.
Levantei-me, ouvindo-o rir.
Giulia é excessivamente mimada, acredito que seja por isso que ela
persiste em me procurar. Afinal, eu a rejeitei e, pelo temperamento que
percebo que ela tem, aceitar a rejeição não parece ser algo fácil para ela.
Isso é algo que lamento, pois, na minha perspectiva, ela terá que aceitar
essa rejeição, querendo ou não.
Não busco compromissos e muito menos dores de cabeça. Isso
significa que eu quero essa garota longe de mim. Apesar de minhas palavras
parecerem duras, são sinceras. Nas poucas vezes em que nos encontramos
— e foram poucas, de fato —, deixei claro que não haverá nada entre nós,
nunca.
Tentei não ser rude, mas com ela, seja sendo brusco ou não, ela
simplesmente não desiste.
Ponderei a ideia de conversar com o pai dela, mas parece ser
irrelevante. Todos estão cientes dessa fixação dela por mim e, infelizmente,
ninguém toma providências. Por isso, procuro evitar ao máximo estar em
reuniões familiares ou da máfia, especialmente aquelas em que tenho
certeza de que ela estará presente.
Confesso que não a vejo como uma pessoa má, mas é mimada e
vive em uma realidade completamente diferente da minha.
— Que tal uma festinha particular? — Perguntei ao me aproximar
de duas lindas mulheres — meu ponto fraco... mulheres!
— Mas é claro, chefe! — Uma delas prontamente concordou, com
um sorriso safado no rosto. E a outra, mais esperta, já grudou no meu
paletó.
O que eu mais adoro na minha boate é a liberdade sexual. Aqui não
há pudor; se houver atração mútua, a conversa flui e ambos topam ir para o
quarto. Vale tudo, desde que ambas as partes concordem.
Para mim, também não existe aquele velho ditado: "onde se ganha
o pão, não se come a carne". Por aqui, já fiz a festa com todas e repito
sempre que posso.
Hoje, despertei com uma energia mais positiva do que o habitual,
mesmo que costume acordar animada todos os dias. Finalmente chegou o
dia da cerimônia de posse do meu irmão. Apesar da presença de algumas
pessoas chatas que inevitavelmente estarão presentes, uma delas em
particular tem o poder de iluminar meu dia. Mal posso esperar para revê-lo,
já que faz um tempo considerável desde nosso último encontro.
— Bom dia, família! — Cumprimentei meus pais.
Após um beijo carinhoso no rosto da minha mãe, ao me aproximar
do meu pai, fui envolvida por um abraço caloroso.
— Bom dia, filha — mamãe se levantou. — Já estou de saída,
preciso organizar algumas coisas.
Ela se aproximou do meu pai, trocando um beijo afetuoso.
Observar a relação deles sempre me encanta. É um amor verdadeiramente
inspirador.
— Animado para o dia de hoje, pai? — Iniciei uma conversa
enquanto saboreávamos o café da manhã.
— Apenas mais um dia como tantos outros — ele me lançou um
sorriso encantador, acompanhado de uma piscadela.
Minha mãe é deslumbrante, uma mulher perfeita em todos os
sentidos, mas meu pai, uau... meu pai é incrível demais! Eles formam um
casal simplesmente perfeito!
— Pai, você é um gato, sabia? — Comentei brincando. Ele riu, um
som que eu adoro.
— Estou envelhecendo, cheio de rugas e cabelos brancos.
Levantei-me e me aproximei dele, abraçando-o e depositando um
beijo carinhoso em sua bochecha.
— Mas para mim, você é o homem mais lindo deste mundo todo!
Ele delicadamente puxou a cadeira, deslizando-a até o seu lado, e
bateu suavemente para indicar que eu deveria me sentar.
— Eu te amo, minha princesa! — Ele acariciou ternamente meu
rosto. — Hoje é um dia especial para o seu irmão. Tenho certeza de que
você é uma filha maravilhosa e não fará nada de errado, não é mesmo?
— Nadinha — confirmei, sorrindo.
— Ótimo. Se arrume e fique ainda mais linda do que já é, se isso
for possível, é claro.
— Não está querendo me arranjar um marido, não é, pai?
— Por que eu iria te arranjar um marido? Você já tem um, e muito
em breve estarão casados.
— E que marido seria esse? — Revirei os olhos.
— Um aí, vou contar agora não — ele riu.
— Ah, pai! — Bufei, levantando-me. — Não inventa essa história
de me casar com o Theo. Nós somos só amigos, nada além disso.
Estava saindo da sala de jantar, mas ainda escutei sua voz
brincalhona:
— Melhor ainda, da amizade para o amor é um pulo.
Recuso-me a aceitar essa história de casamento com o Theo. Eu
fujo para as montanhas, para o lugar mais distante possível, mas não me
casarei com ele. Eu amo o Adler, e por que meu pai não fala sobre eu me
casar com ele?
Tenho certeza de que ele sabe do que sinto, afinal, nada passa
despercebido por ele.

Todos da família já estavam presentes, exceto o Adler. Comecei a


pensar que talvez ele não fosse aparecer.
— Tia — sentei-me ao lado da tia Alice. — O Adler não vai vir?
— Daqui a pouco ele está aí. Ficou de resolver um negócio para o
seu pai antes.
Conheço bem o tipo de "negócio" que ele está resolvendo,
provavelmente algo relacionado à sua posição mais sombria.
— Ah, sim.
Peguei uma taça de champanhe que o garçom passava servindo,
fazendo uma careta ao provar. Que horrível!
— Giulia, para de ficar atrás do Adler. Você vai se meter em
encrenca — tia Alice tentou me alertar com um tom preocupado. Mas quem
disse que eu ouvia?
— Poxa, tia, você sabe que eu gosto dele.
— Eu sei, minha querida. Mas você precisa entender que não é isso
que o Adler quer. Sem contar que o seu pai nem cogita a ideia de um
casamento entre vocês dois.
— Meu pai quer me casar com o Theo, mas eu não quero.
— Theo é a melhor opção para você.
— Ah, tia! Ele é um galinha! — Resmunguei, fazendo uma careta
expressiva.
— E o Adler não?
— Preciso pelo menos beijar esse homem uma única vez — falei
decidida, com um olhar desafiador, pensando em esquecer essa ideia depois.
— Duvido que ele aceite tal coisa. Respeita a nossa família demais.
— Mas é só um beijo, tia. Ele não vai desrespeitar ninguém por
causa disso, até porque ninguém precisa saber.
— Sabe, Giulia, olho para você e lembro de quando eu tinha a sua
idade. Era exatamente assim quando eu era jovem, inconsequente. Já te
falei sobre todo o sofrimento que as minhas atitudes impensadas me
trouxeram, não é mesmo?
— Você sempre amou o tio Enzo. Sabe que esse sentimento não se
apaga do dia para a noite.
— Sei também que nada que eu te falar vai mudar o que você quer.
Ah, Giulia, eu já fui você um dia — ela sorriu com nostalgia, enquanto eu
ponderava sobre suas palavras.
Eu estava prestes a responder à minha tia quando senti, como se
tivesse sido atraída por uma força invisível, o exato momento em que Adler
entrou no salão. Meus olhos foram automaticamente direcionados para o
homem que mexe com o meu coração.
— Ele é tão lindo! — Suspirei, deixando-me levar por uma
expressão de encantamento.
— Tenho que admitir, Adler é muito bonito. Não é à toa, se parece
com o meu marido — nós duas rimos, compartilhando um momento de
descontração.
Observei-o conversando com a nossa família e, em seguida, se
aproximou de onde eu e tia Alice estávamos, sua presença despertando uma
reação de borboletas no meu estômago.
— Alice — cumprimentou ela com um beijo carinhoso na cabeça.
— Giulia — me deu um simples aceno de cabeça. Senti uma pontada de
inveja no cumprimento carinhoso que ele direcionou para a minha tia,
enquanto para mim, foi bastante frio.
— Oi, Adler — abri um sorriso, tentando disfarçar minha
decepção.
— Sente-se comigo — tia Alice propôs, e eu fiquei animada com
essa possibilidade.
— Vou tomar um banho e depois eu volto — avisou, dando mais
um beijo na minha tia e sumindo do nosso campo de visão.
— Tia, eu vou lá — falei, decidida. Ela arregalou os olhos.
— Vai aonde, Giulia? Ele foi tomar banho! — Protestou, olhando
para mim com repreensão.
— Só quero falar com ele.
— Giulia, não faça nada que vá se arrepender depois.
— Eu não vou, prometo — sorri confiante para ela e me levantei.
Antes, olhei bem para ter certeza de que não tinha ninguém me
vigiando e subi as escadas, indo em direção ao quarto de visita que tenho
certeza que Adler está usando para se ajeitar.
Por sorte, a porta não estava trancada e eu entrei. O barulho do
chuveiro me fez ter a certeza de que ele está aqui, e essa confirmação eu
tenho ao ver o seu terno branco em cima da poltrona.
Peguei o seu terno em minhas mãos, inspirando o seu cheiro. Adler
tem um cheiro forte, másculo, incrivelmente sedutor.
Coloquei o seu terno no mesmo lugar e me olhei no espelho. Eu
não sou uma mulher feia, por que Adler não me nota?
De repente, uma ideia impulsiva toma conta da minha mente, e
sinto-me tentada a arriscar, é um tudo ou nada. Como não sou do tipo que
recua, optei pelo tudo. Despi-me, ficando apenas de calcinha, e deitei-me na
cama, aguardando Adler sair do banheiro.
Eu sei, é uma loucura, mas é preciso um pouco de insanidade
quando se trata desse homem. Não aguento mais ser ignorada por ele. Estar
seminua certamente atrairá a atenção dele.
O som da porta do banheiro se abrindo faz meu coração acelerar.
Adler para na minha frente, com a toalha enrolada na cintura e os olhos
arregalados. Enquanto meus olhos percorrem seu corpo, é exatamente como
eu imaginava: irresistível.
Não, não é como eu imaginei; é ainda melhor.
— Que porra é essa, Giulia? — Cuspiu as palavras, expressando
surpresa e repreensão.
Forcei o sorriso mais sensual que consegui, questionando
internamente se estava sendo realmente sedutora.
— Uma surpresinha para você — engatinhei até a beirada da cama,
tentando tocá-lo, mas ele se afastou.
— Você ficou louca?! — Praticamente gritou, pegando o meu
vestido que estava jogado no chão e o arremessando na minha direção. —
Veste essa porcaria e sai daqui! — Ignorei o seu pedido e levantei-me,
aproximando-me dele.
— Vai dizer que você não me quer? — Passei as mãos por seu
peitoral incrivelmente definido, mas ele me impediu de continuar,
segurando os meus pulsos.
— Não me faça perder a cabeça com você, Giulia. Em respeito à
sua família, estou pedindo com educação. Coloca a sua roupa e dê o fora
daqui!
— Adler, é impossível que você não sinta nada por mim — dei um
beijo em seu queixo e ele fechou os olhos, tentando conter suas próprias
emoções.
— Giulia, não seja tão impulsiva — quando ele abriu os olhos,
pude perceber que ainda estava bastante nervoso.
Ignorando o aviso, fui mais ousada, deslizando minha mão sobre o
seu pau por cima da toalha. Surpreendentemente, constatei sua ereção
firme.
— Viu? Você me quer... então por que se fazer de difícil? —
Insisti, e ele empurrou minha mão.
— Eu sou homem, porra! — Justificou o fato de estar excitado
para mim.
Sorri, sentindo-me vitoriosa por tê-lo provocado.
— Então ceda ao que seu corpo está pedindo — passei a língua por
seu peitoral e o empurrei, fazendo-o cair sentado na cama.
Não dei tempo para que ele questionasse e subi em seu colo,
rebolando de maneira provocante.
Eu quero esse homem e vou jogar pesado. Estava decidida a seguir
adiante com meu plano sedutor.
Suas mãos fortes apertaram as minhas bochechas, forçando-me a
encará-lo.
— Eu não vou fazer isso, você ouviu? Não me abrigue a tirá-la de
cima de mim e desse quarto à força. O seu pai não vai gostar de saber que a
filhinha dele está praticamente pelada, em cima de mim e me implorando
para fodê-la.
Antes que eu tenha tempo de responder, a porta do quarto é
escancarada e um Luigi furioso entrou.
— Que diabos é isso, Adler? — Exclamou Luigi.
Adler retirou-me de cima dela com uma facilidade surpreendente,
quase me fazendo desequilibrar.
— Luigi, não é o que parece — Adler tentou se explicar.
Apanhei meu vestido e o segurei diante de mim, tentando
desesperadamente cobrir meu corpo.
Não planejei toda essa situação para acabarmos sendo pegos, mas
agora era tarde demais; a confusão estava instaurada, e eu previa uma
tempestade se aproximando.
O pensamento de estrangular Giulia dominava minha mente.
— Luigi, não é o que você está pensando — busquei
desesperadamente me justificar, levantando as mãos em um gesto
suplicante. — Eu sei que a situação parece terrível agora, mas, acredite, não
aconteceu nada, absolutamente nada.
Luigi, com raiva transbordante, estreitou os olhos na minha
direção.
— Não aconteceu porque eu cheguei a tempo, não é? —
Questionou furioso, apontando acusadoramente para mim.
— Não, claro que não! — Respondi, negando veementemente com
a cabeça e gesticulando com as mãos em sinal de negação. — Nunca
aconteceria nada entre eu e sua irmã.
Enquanto eu tentava desesperadamente me explicar, Rocco entrou
no quarto e, sem proferir uma palavra, observou-nos silenciosamente. Seu
olhar era intimidador, uma expressão que me afetava, mesmo estando
acostumado a lidar com homens perigosos.
— Giulia? — Rocco finalmente dirigiu a palavra à filha, um olhar
sério indicando suas intenções. Era evidente que ele queria me matar.
— Pai, eu posso explicar — Giulia finalmente quebrou o silêncio,
com gestos nervosos das mãos enquanto tentava encontrar as palavras.
— Isso, Giulia, explique para o seu pai — encorajei-a, apontando
na direção dela e fazendo um gesto sutil para que falasse a verdade.
— Pai, eu gosto do Adler.
O quê? Não! Porra, não era isso que ela deveria dizer. Minha
expressão de incredulidade foi evidente, as mãos levantadas em um gesto
de surpresa e desespero.
— Que diabos é isso, Giulia? — Bradei, nervoso, os punhos
cerrados em uma mistura de raiva e incredulidade. — Fala a verdade, não
aconteceu nada entre nós dois. Para com essa merda de que gosta de mim!
Giulia, relutante, finalmente cedeu à pressão.
— É, não aconteceu nada entre a gente — disse por fim, fazendo-
me respirar aliviado.
— Vistam-se. Espero vocês em meu escritório — Rocco ordenou,
sua voz firme cortando o clima tenso. — Luigi, dê um jeito de atrasar as
coisas lá embaixo sem que ninguém perceba.
— Ah, meu Deus! — Luara exclamou ao surgir no quarto, levando
a mão à boca. — Giulia, o que você fez, minha filha?
Pronto, agora vai aparecer todo mundo aqui.
Luara saiu, puxando Giulia consigo, retirando-a do quarto. Renzo e
Enzo também apareceram, permanecendo em silêncio e observando a cena.
O circo estava armado e o palhaço, aparentemente, era eu.
Quando finalmente todos saíram do quarto, vesti minha roupa e
passei as mãos pelo cabelo, nervoso para caramba.
O que essa garota louca fez? Que vontade de matar essa menina!
Terminei de me ajeitar e fui até o escritório de Rocco. Ao entrar,
deparei-me com Giulia chorando, sendo amparada pela mãe.
No ambiente, estavam presentes meu irmão, Theo, Tom, Renzo e
Luigi, todos com expressões variadas de surpresa e desconforto. O silêncio
pesado pairava no ar, antecipando uma conversa que prometia ser intensa e
desconcertante.
— Olha, Rocco, vou dizer para você o mesmo que falei para o seu
filho: as coisas não são como parecem ser. Eu estava tomando banho, ela
entrou no meu quarto, tirou a roupa, e as coisas terminaram com Luigi
abrindo a porta — expliquei, não querendo prolongar essa situação ridícula.
— Quando entrei, ela estava em cima de você, e você parecia estar
gostando — Luigi retrucou.
— Porra nenhuma! — Revidei, irritado. — Eu estava pedindo para
ela vestir a roupa e sair de lá — um silêncio tenso pairou sobre nós por
alguns segundos.
— Há muitos anos, eu e Tom fizemos dois acordos. Jasmine e
Luigi se casaram, esse era um dos nossos acordos. O outro era o casamento
de Giulia e Theo. Esse é o motivo pelo qual chamei os dois também para
esta reunião — Rocco explicou a razão da presença deles na situação. —
Como darei minha filha em casamento a ele sem honra?
— Eu não toquei na sua filha. Nunca toquei na sua filha —
respondi convicto de que estava certo. — A honra dela está intacta; pode
ficar despreocupado.
— O ato não foi consumado, mas ela foi desonrada. Você se
casaria com ela depois disso, Theo? — Rocco direcionou a pergunta a
Theo, que me lançou um sorriso maldoso. Já sabia sua resposta e, naquele
momento, só desejava poder acabar com ele.
— Não — Theo respondeu friamente.
Desgraçado! Sabia que ele só esperava por um motivo, e agora
tinha a desculpa perfeita para escapar do casamento.
— Eu não tenho nada a ver com isso! — Deixei claro. — Foi ela
quem armou tudo isso; o problema é dela.
— As coisas não funcionam dessa maneira por aqui, Adler —
Rocco explicou tranquilamente, mas eu percebia a tensão subjacente em
suas palavras. — Antes de você chegar, conversei com Renzo e Enzo, e a
melhor decisão no momento é um casamento entre vocês dois. Deixo claro
que é contra a minha vontade, mas não temos outra opção.
— Um caralho! Não me caso! — Exclamei, enfurecido.
— Adler, se essa merda vaza, Giulia nunca conseguirá se casar —
meu irmão se intrometeu na conversa, tentando apaziguar.
— Problema é dela! Quem deveria ter pensado nisso era ela, não
eu. Foda-se, não estou nem aí. Eu não vou me casar!
— Temos uma aliança, e é comum que casamentos aconteçam por
conta dela — Renzo também entrou na conversa, apresentando um
argumento.
— Eu não toquei na garota, ela continua intocável. Não há motivo
para eu me casar com ela — mais uma vez me defendi da ideia absurda.
— Se essa história vaza, quem vai acreditar nisso? — Rocco
questionou.
— A história não vai vazar; tenho certeza que ninguém aqui vai
falar nada.
— Alguns empregados que circulavam lá em cima acabaram
ouvindo a confusão. Quem me garante que ninguém vai falar nada? — Ele
insistia com argumentos de que não havia outra saída.
— Mata todo mundo, porra. Problema resolvido — falei o óbvio.
— Adler, as coisas não funcionam dessa maneira — meu irmão
mais uma vez veio contra mim.
— Não estou entendendo, Enzo. Você está contra mim?
— Estou do lado de ninguém, apenas querendo resolver as coisas
amigavelmente. Temos uma aliança com Rocco; ele é nossa família
também. Não vamos arrumar briga à toa. Você está na hora de se casar; essa
merda toda aconteceu, não temos outra solução.
— Isso é loucura, gente! — Comecei a rir, mas era um riso de
completo desespero. — Eu não toquei na garota — virei-me para falar com
Giulia, que estava cabisbaixa. — Giulia, fale para eles que nada aconteceu
entre a gente — pedi, aguardando que ela falasse alguma coisa, mas a
infeliz apenas balançou a cabeça de um lado para o outro, chorando muito.
— Não é possível! — Joguei os braços para cima. — Ela enlouqueceu;
vocês têm que internar essa menina, ela está louca!
— Mais respeito, Adler. Giulia pode estar errada, mas continua
sendo a minha filha — Rocco chamou a minha atenção, mas eu estava
pouco me importando com o fato de ela ser filha dele; continuava sendo
uma mentirosa e louca.
— Vocês estão me colocando entre a cruz e a espada por causa de
uma armação dela e ainda querem me pedir respeito? Calma? Impossível!
— O casamento de Giulia e Adler deverá acontecer, e o quanto
antes — Rocco sentenciou. — Você é da máfia, sabe como as coisas por
aqui funcionam — ele não deixou espaço para que eu retrucasse. — Lua,
meu amor, leve Giulia e a ajude a arrumar as coisas; ela não pertence mais a
essa casa. Assim que Adler for embora, ela irá com ele.
Luara fez o que o esposo pediu, sem sequer questionar. Logo
depois, ele pediu para todos saírem e nos deixarem a sós. Meu irmão não
queria ir, mas por fim, acabou concordando. Enzo temia que eu e Rocco
chegássemos ao extremo do desentendimento, mas, apesar de estar muito
nervoso, sabia como as coisas funcionavam e não colocaria nossa aliança
em risco.
— Adler, sente-se — Rocco apontou para a cadeira. Sentei-me.
— Eu não vou me casar com ela — afirmei.
— Vocês dois não têm escolha. Theo não quer o casamento, não
posso sair matando os funcionários desta casa, até porque nem sei ao certo
quem viu, quem ouviu.
— Isso é desculpa, Rocco. Você sabe que nada aconteceu entre
mim e a sua filha; sabe também que, se quiser, pode silenciar o mundo.
— O trabalho de silenciar as pessoas é seu e não meu — ele
arriscou até uma brincadeira, mas eu não estava para jogos.
— Você sempre soube da fixação da sua filha por mim, aliás, todos
sempre souberam.
— As coisas foram longe demais.
— Não aconteceu nada entre a gente. Nunca encostei na sua filha
— voltei a defender minha palavra. Porra, eu estava certo.
— Eu não posso fingir que não vi nada só porque ela é minha filha,
Adler. Se fosse com qualquer outra pessoa, o casamento teria que acontecer,
porque com minha filha seria diferente? Não posso me tornar um fraco.
— Ninguém precisa saber do que aconteceu. Assunto encerrado.
— Não vou fazer isso. Vai mesmo querer comprar essa briga?
Regras são regras, elas estão aí para serem seguidas. Foi assim com Alice, e
é assim com todo mundo, não posso abrir uma exceção agora.
Cocei minha barba e respirei fundo, tentando me controlar.
— Está dando um tiro no pé da sua filha — deixei o aviso.
— Eu? Está enganado, Adler. Giulia deu um tiro no próprio pé, e
eu não posso fazer nada por ela. Já fiz muito por minha filha, cuidei, criei
da melhor maneira e dei amor. Tentei ensinar todas as coisas que estavam
ao meu alcance da melhor forma; se ela não aprendeu, isso é um problema
dela. Cada um escolhe o caminho que quer trilhar, e Giulia escolheu o dela.
Agora, ela que arque com as consequências dos seus atos.
— Está colocando sua filha dentro de um inferno.
— Ela que aprenda a lidar com o capeta, então — ele falou
friamente.
Inacreditável. Mesmo morrendo por dentro, o cara continuava com
a pose de inabalável e tentava demonstrar indiferença com o que a filha fez.
— Você sabe que ela vai sofrer — precisava apelar para o lado pai
protetor; só assim teria uma chance de me livrar.
— E o que eu poderei fazer, além de odiá-lo por fazer a minha filha
sofrer? Infelizmente, nada — Rocco desabafou, seus olhos revelando a sua
tristeza.
— Isso não pode estar acontecendo por causa de uma loucura de
uma menina mimada — comentei, incrédulo. Comecei a rir, não
conseguindo acreditar nisso.
— Você tem razão. Giulia é mimada, e esse foi o meu grande erro,
mimá-la demais. Mas um dia, quando você tiver os seus filhos, entenderá
que o ponto fraco de um homem sempre será a sua família: esposa e filhos
— Rocco respondeu, seus olhos carregando a experiência e dor de um
homem que aprendeu da maneira mais difícil.
— Rocco, pensa direito, isso é loucura. Você está levando a sua
filha direto para um abismo — argumentei, buscando uma ponta de
compreensão no olhar dele.
— Você acha que estou satisfeito com isso? Você acha que a mãe
dela está? Que a nossa família está? Não. Não estamos. Eu te conheço, sei
que você não quer casamento e que não tem qualquer intenção de tentar
fazer esse ou qualquer outro casamento dar certo. E o pior é que Giulia já
entra nessa relação gostando de você; o sofrimento dela vai ser muito maior.
Você acha que eu, como pai, estou como?
— Evita todo esse sofrimento, vamos esquecer o que aconteceu —
sugeri, buscando uma solução mais sensata.
— Eu, como Don, não posso fazer isso. Eu, como pai, queria fazer
— Rocco enfatizou, mostrando a dualidade em suas decisões.
Já vi que com esse cara não tem conversa, e agora entendo como
sempre gerenciou a máfia, com punhos de ferro. Estou de frente com um
homem que é visivelmente atormentado pela situação de sua filha, mas que
não deixa o lado Don de lado para ajudá-la.
— Como você preferir — levantei-me, pronto para encerrar a
conversa. — Não terei escapatória, mas eu juro que Giulia me pagará por
isso — afirmei, deixando claro que, apesar de aceitar, não esqueceria a
injustiça.
— Adler, saiba que como pai, mesmo que não possa fazer nada,
estarei te odiando pelo sofrimento da minha filha — Rocco declarou com
um olhar pesaroso.
— Com todo respeito, Don. Giulia não é mais problema seu —
rebati, não permitindo que o peso da culpa caísse sobre mim.
Saí do escritório sem olhar para trás. Foda-se, não quero saber se
ele vai levar isso como uma afronta ou não. Nunca tive medo da morte,
nunca tive medo de ninguém; não será a primeira vez. Se como pai ele não
pode livrá-la desse casamento, agora, como pai, vai querer tomar as dores
dela? Quero que se foda!
O clima ficou mais que pesado depois disso. Achei melhor manter
distância de todos. Meu irmão e Alice vieram falar comigo, mas menti,
dizendo que estava tudo bem, e não prolonguei o assunto. Queria ter ido
embora naquela hora, mas precisava esperar a coroação de Luigi. Maldita
hora que eu apareci aqui!
Estou do lado de fora, respirando um pouco, tentando controlar a
dor de cabeça infernal que me atingiu. Não preciso olhar para trás para
saber que alguém está se aproximando de mim.
— Adler — escutei a voz da diaba me chamar, cerrei os punhos,
controlando a vontade de matá-la. Não respondi, e ela ficou na minha
frente, a cara inchada de tanto chorar e os olhos vermelhos.
— Eu não queria que aquilo acontecesse — teve a audácia de
mentir bem na minha cara, olhando nos meus olhos. Tive vontade de rir.
— Você quis, é claro que quis.
— Adler... — a interrompi, não deixando que continuasse com o
seu show.
— Você acredita em Deus, Giulia? — Questionei, e a vi estreitar os
olhos, confusa.
— Por que pergunta?
— Se acredita, comece a pedir para ele interceder por você. Porque
só ele pode te livrar do inferno que você está entrando.
Virei-me, saindo dali e deixando-a boquiaberta.
Não imaginava que as coisas chegariam a esse ponto. Reconheço
que errei, mas jamais poderia antever que alguém entraria naquele
momento, ainda menos toda a minha família presenciando aquela cena.
Parece que sempre estão cientes de tudo. É impressionante!
Naquele momento, tudo que eu queria era ser desejada por Adler,
poder ao menos beijá-lo e, então, quem sabe, ouvir o conselho de tia Alice e
desistir dessa obsessão por ele.
Sei que deveria ter dito que tudo não passou de um mal-entendido,
mas não consegui. Mesmo consciente do meu erro, enxerguei ali a
oportunidade de, finalmente, me casar com o amor da minha vida. Sei que é
uma loucura, tenho plena certeza disso, mas como convencer meu coração
de que isso é errado? Por mais que minha razão compreenda, meu coração
insiste em seguir por caminhos incertos.
O que mais me machucou foi o olhar de decepção que meu pai
lançou na minha direção. Ele nem sequer quis falar comigo depois do
ocorrido, simplesmente ordenou que arrumasse minhas coisas, pois iria
embora com Adler.
Chorei ao arrumar as malas, minha mãe me ajudou. Perguntei se
ela estava me odiando naquele momento e a resposta dela foi:
— Eu não te odeio, minha filha. Sou sua mãe, eu te amo e isso
nunca vai mudar, mas tanto eu quanto seu pai não podemos fechar os olhos
para suas atitudes. Você foi inconsequente e terá que arcar com as
consequências dos seus atos impensados. Você não é mais uma criança,
Giulia. Se fez o que fez, foi porque quis. Eu sei que nada rolou entre você e
Adler, seu pai também sabe, aliás, todo mundo sabe, mas seu pai não
poderia fechar os olhos diante de tantas pessoas. Ele ainda é o Don e deve
agir como tal, independentemente de você ser a filha dele ou não.
Seu pai fez de tudo por você, permitiu que cursasse a faculdade
para só depois se casar. A escolha de jogar tudo isso fora foi unicamente
sua. Poderia ter desmentido na sala, contado a verdade, que realmente nada
aconteceu entre vocês dois, mas duvido muito que seu pai retrocederia. Não
é o ato em si, é o que a fofoca pode gerar. Se não se casa e essa história
vaza, acredita que alguém pensaria que nada aconteceu? Estará condenada a
ficar sozinha para sempre ou se casar com qualquer um. Apesar de muito
magoado, seu pai está tentando fazer o melhor por você, mas saiba que, a
partir do momento que você sair dessa casa, não será mais nossa
responsabilidade e estará sozinha. Eu e seu pai não poderemos fazer mais
nada por você. Espero que esteja preparada para enfrentar a vida.
Juro, as palavras da minha mãe foram como flechas cravadas em
meu coração, mas ao mesmo tempo, senti uma pontinha de alívio ao
perceber que ela não me odiava pelo que fiz.
Ao abordar Adler, meu corpo inteiro se arrepiou com suas palavras
e o olhar odioso que ele lançava na minha direção. Contudo, a parte mais
difícil foi quando tivemos que realizar o pacto de sangue. Os olhos de Adler
expressavam um ódio profundo, como se eu fosse a pior coisa do mundo.
Após a coroação de Luigi, Adler decidiu que era hora de partir.
Despedi-me emocionada de minha mãe, enquanto meu pai apenas se
despediu com um adeus frio, sem qualquer demonstração de carinho.
Entendo sua decepção como pai.
Espero que um dia ele possa me perdoar, pois não consigo me
imaginar vivendo sem seu amor.
A viagem transcorreu em absoluto silêncio, Adler sequer dirigiu
um olhar na minha direção. Não busquei iniciar uma conversa, sabia que
aquele não era o momento apropriado. A jornada foi longa e cansativa,
passando a maior parte do tempo dormindo.
Agora, estamos chegando ao seu apartamento e o silêncio continua
a reinar entre nós.
— Seu apartamento é deslumbrante! — Elogiei assim que
entramos, permitindo-me observar o lugar. Era claramente a cara de Adler,
completamente decorado em tons brancos. Elegante, mas sem cair na
extravagância.
Curiosamente, gostaria de entender a razão por trás da sua fixação
pelo branco. No entanto, isso teria que ser questionado quando ele estivesse
mais tranquilo comigo; se perguntasse agora, poderia mandar-me para o
inferno.
Adler passou por mim, ignorando por completo o elogio ao seu
apartamento, e dirigiu-se à cozinha. Caminhei atrás dele, sentindo-me um
tanto perdida sobre como agir.
— Em qual quarto posso ficar? — Perguntei, vendo-o parar com o
copo de água a meio caminho da boca, estreitando os olhos para mim.
— Qualquer um — ele retomou o copo aos lábios, bebendo o
líquido.
— Como vou saber qual é o seu quarto?
— Entra em qualquer um — seu tom de voz tornou-se mais áspero,
indicando crescente irritação. Enfiou a mão no bolso da calça, apoiou-se na
bancada e começou a mexer no celular.
— Adler, podemos pelo menos... — tentei falar, mas ele me
interrompeu abruptamente.
— Não! Não podemos! — Gritou, passando por mim rapidamente,
negando-me a oportunidade de dizer mais alguma coisa.
O impacto da porta batendo com firmeza fez meu corpo
estremecer. Um segurança surgiu, segurando minhas malas.
— Licença — ele falou. — Onde posso colocá-las?
— É... bem, eu não sei — fui sincera. — Deixe por aqui mesmo;
depois eu as levo para o quarto.
O homem assentiu e se retirou. Subi as escadas em busca de um
quarto. Abri três portas, encontrando quartos vazios. A quarta porta não
abriu; estava trancada, e desconfio que seja o quarto de Adler.
Escolhi o quarto ao lado do que acredito ser o dele e desci para
pegar as malas. Subi com dificuldade, pois estavam bastante pesadas, e
comecei a arrumar minhas coisas.
Sei que esse início será complicado. Adler parece ser um homem
rancoroso, e até que ele esqueça toda essa confusão, precisarei suportar sua
ignorância e frieza.
Três dias se passaram e nenhum sinal de Adler. Desde a minha
chegada, ele não deu as caras. Não faço ideia de como funciona a rotina
desta casa e se alguém aparece para trabalhar. Até agora, ninguém veio,
nem mesmo para preparar alguma refeição. Com minha falta de habilidade
culinária, tenho sobrevivido à base de macarrão instantâneo e alguns
biscoitos, que já estão quase acabando. A despensa também está quase
vazia. A cozinha é um caos. Caso ninguém apareça para arrumar, precisarei
dar um jeito nisso.
No segundo dia, liguei para minha mãe, mas sua voz ainda
transparecia tristeza, o que me deixou profundamente incomodada. Mandei
mensagens para meu pai, mas ele não respondeu. Ontem, tentei entrar em
contato com a tia Alice, sabendo que ela mora por perto, mas ela informou
que ainda estavam voltando de viagem, pois decidiram ficar lá mais um
tempo.
Nos últimos três dias, fiz chamadas de vídeo com minhas primas,
sendo o ponto alto do meu dia. Apesar de conhecerem minha loucura, não
me julgaram. Pelo contrário, evitaram tocar no assunto. Jade disse que
apareceria hoje, já que voltaram de viagem, ela e tia Alice.
A porta se abriu, e eu praticamente pulei do sofá, na esperança de
ser Adler. Para minha alegria, era ele. No entanto, Adler fingiu não me ver,
dirigindo-se à cozinha, mas logo deu meia-volta.
— Que porra é aquela? — Apontou na direção da cozinha.
Arqueei uma sobrancelha, sem entender exatamente do que ele
estava falando.
— Está falando das vasilhas?
— Vasilhas? Aquilo está uma nojeira! O que você fez durante esses
dias?
— É que eu não sei se alguém vem limpar, não sei a rotina da casa
— tentei me justificar.
— Tem alguém para limpar... você! — Gritou, muito irritado. —
Você não está na casa dos seus pais, garota. Aqui é: sujou, limpou! Quer
comer? Faz comida! Não quero bagunça dentro da minha casa, você
entendeu?
— Tudo bem, vou limpar.
Adler subiu as escadas e eu corri para a cozinha, pronta para
organizar a bagunça que fiz. Nunca lavei uma vasilha na vida, mas para
tudo há uma primeira vez.
Quando estava quase terminando a minha tarefa, Adler apareceu,
surpreendendo-me ao dirigir a palavra sem gritar.
— Alice daqui a pouco vai chegar aí para fazer a medida do
vestido — informou.
— O casamento já tem uma data? — Sequei as mãos e virei-me
para encará-lo, demonstrando surpresa.
— Sábado.
— Sábado agora? — Arregalei os olhos e ele assentiu. — Mas
faltam poucos dias, eu nem organizei nada.
— E você quer organizar o que? Você só precisa estar lá, assim
como eu — ele deu de ombros com indiferença.
— Mas e a decoração?
— Você está achando que esse é um casamento feliz, Giulia? Não
tem festa! — Falou com um tom de desdém, franzindo a testa.
Meu coração se comprimiu no peito. Tudo bem, eu mereço ouvir
isso.
— É que eu pensei...
Ele me interrompeu, erguendo a mão para impedir que eu
continuasse.
— Pensou errado, aliás, você está sempre pensando errado —
Adler saiu da cozinha, mas dessa vez, fui atrás dele.
— Vai sair novamente? — Arrisquei perguntar, fazendo um gesto
com as mãos para expressar dúvida.
— Isso não é da sua conta — respondeu rudemente, franzindo as
sobrancelhas.
— Onde passou todas essas noites, Adler? — Questionei, tentando
ler sua expressão facial.
Adler empertigou-se, encarando-me furioso. Seus olhos lançavam
chamas e sua expressão era de pura ira. Deu passos lentos em minha
direção, como um predador aproximando-se de sua presa, saboreando o
momento. Instintivamente, dei alguns passos para trás, surpreendida e
amedrontada pela intensidade de sua fúria.
— Vamos esclarecer as coisas aqui, Giulia. O que eu faço ou deixo
de fazer não é da sua conta — sua voz era dura e seus olhos faiscavam
raiva.
— Mas claro que é, nós vamos casar! — Revidei, tentando manter
minha posição, mas ele soltou uma risada irônica.
— Por que você armou aquela merda. Não estou de acordo com
esse casamento e nunca estarei. No que depender de mim, você será a
última mulher que eu terei qualquer tipo de envolvimento. Então não espere
nada de mim, além do desprezo — engoli em seco.
— Adler, eu sei que as coisas aconteceram de um jeito errado, mas
não podemos pelo menos tentar?
— Nunca! Eu nunca vou tentar absolutamente nada com você. Te
desprezo de uma forma que você não faz ideia. Não venho para casa porque
não suporto olhar na sua cara.
Suas palavras eram duras e seu olhar estava carregado de desprezo.
Senti meus olhos queimarem com as lágrimas que estavam prontas para
cair.
— Olha, tudo bem, eu sei que errei, mas não tem como voltar atrás
e mudar as coisas. Não quero passar a vida toda em guerra com você.
— Eu acho que você não compreendeu, Giulia — abriu um sorriso
de canto de boca. — Nem guerra eu quero com você. Tudo que eu mais
quero é distância.
— Não precisa falar assim, Adler.
— Ah, precisa, precisa sim. Pensou o quê? Que ia armar essa
loucura toda e viveríamos como um casal apaixonado? — Riu de forma
amarga.
— Podemos construir um amor, assim como foi com os meus pais,
assim como foi com a tia Alice e o seu irmão — tentei argumentar,
buscando uma esperança.
Adler soltou uma risada de deboche.
— Você vive em um mundo de conto de fadas, Giulia. Isso aqui
não é um romance. É um pesadelo. Entenda uma vez por todas: entre nós,
não há espaço para amor. E quer saber qual a diferença deles e da gente?
— Qual?
— É que elas eram fáceis de serem suportadas, já você eu não
consigo tolerar.
Senti um aperto no peito; suas palavras foram como golpes
certeiros. Fechei os olhos, respirando fundo, tentando conter as lágrimas
prestes a escapar.
— Um dia, essa raiva que sente por mim, vai passar? — Perguntei,
minha voz embargada pela emoção.
Ele ignorou minha fragilidade e continuou a avançar. Seus passos
eram calculados, fazendo-me recuar cada vez mais.
— Eu não sinto raiva de você, sinto desprezo, é diferente.
Adler virou-se abruptamente e caminhou em direção à porta, seus
passos pesados ecoando pela sala.
— Adler? — Gritei seu nome, tentando chamá-lo de volta, com um
nó enorme na garganta, quase chorando.
— O que é? — Virou-se para me olhar, seus olhos demonstrando
impaciência.
Decidi encarar a situação de frente, tentando expor meus
sentimentos.
— Eu amo você! — Confessei, desesperada por alguma reação
positiva. No entanto, a resposta foi uma risada irônica, amplificando minha
dor.
— Descubra como desamar então, porque eu jamais irei retribuir
esse sentimento — tentei argumentar, buscando uma ponte entre nós.
— Como pode ter tanta certeza? Talvez se tentarmos… — ele
estreitou os olhos, interrompendo-me com um grito cheio de nervosismo.
— Eu nunca vou tentar nada com você, sua garota mimada! Eu
prefiro passar a vida toda comendo dezenas de mulheres na rua a ter que
encostar em você. Eu sinto repulsa dessa sua cara! — Suas palavras foram
como facadas, e não consegui mais conter as lágrimas, deixando-as rolar
livremente por meu rosto. — Você é tudo que eu não suporto em uma
mulher. Mimada, chata, insuportável, egoísta, não respeita nada e nem
ninguém, só faz o que quer e quando quer. Nem se você fosse a última
mulher do mundo ou a mais gostosa eu tentaria alguma coisa com você.
Não espere nada de mim, Giulia. Você não queria o casamento? Terá o
casamento, mas só isso, porque a mim você jamais terá.
Adler bateu a porta com força, deixando-me ali, destruída e
encharcada em lágrimas.
Minhas pernas cederam, e meu corpo inteiro tremeu, envolto por
uma onda avassaladora de dor e tristeza profunda. Sem forças para suportar
o peso emocional, desabei no chão, entregando-me às lágrimas
compulsivas. O coração parecia pulsar uma dor física, como se a qualquer
momento decidisse desistir, deixando-me sucumbir a esse abismo de
sofrimento.
Será que Adler encontrará em seu coração a capacidade de me
perdoar um dia? Ou suas palavras, impregnadas de desdém, eram a mais
pura verdade? Cada uma delas parece ecoar em minha mente,
atormentando-me com a incerteza cruel do meu destino.
É uma dor dilacerante, uma sensação de humilhação que se
entranha na alma. Sinto-me desprezada, como se minha existência fosse um
fardo insuportável. Neste momento, sou a própria personificação da
decadência, a pior versão de mim mesma, afogada em um mar de tristeza
avassaladora.
Arrastei a cadeira com a frieza de quem está acostumado com
situações assim. Despojei-me do paletó, entregando-o casualmente a um
dos meus soldados, enquanto o homem à minha frente, ajoelhado e com o
rosto marcado pelo sangue, choramingava de dor. Seu nariz, alvo do meu
golpe certeiro, vertia sangue de forma quase poética.
— Cadê o dinheiro? — Minha voz ecoou com um timbre baixo,
mas penetrante.
Com a mesma indiferença, retirei meu Rolex do pulso e entreguei
ao soldado. Não permitiria que meu paletó fosse manchado por esse verme
traiçoeiro, tampouco que um dos meus relógios favoritos fosse maculado.
— Eu não...
Não dei espaço para suas mentiras, desferindo um chute certeiro
em seu rosto, fazendo-o tombar para trás, gemendo de dor.
— Eu juro... eu juro... — ele balbuciou entre cuspes generosos de
sangue.
— Para que prolongar o sofrimento? — Ergui-me e me aproximei,
puxando-o pelos cabelos para que se ajoelhasse novamente. — Diga onde
está o dinheiro que roubou, quem colaborou contigo, e sua morte será
rápida.
— Não, por favor, não me mate! — Ele sacudiu-se
desesperadamente, implorando pela própria vida.
Sem piedade, desferi socos em sua face e barriga, jogando-o ao
chão. Enquanto ele gemia e chorava de dor, afastei-me para buscar um pano
e limpar as mãos.
Ao contemplar minha camisa branca, agora salpicada com
respingos de sangue, esbravejei em frustração.
— Odeio ficar sujo, ainda mais com o sangue de um verme! —
Concluí a limpeza das mãos, jogando o pano irritado sobre a mesa.
Retornei à posição onde o traidor jazia. O sujeito é lamentável, um
verdadeiro fracasso, limitando-se a choramingar.
Normalmente, poucas coisas na vida conseguem me tirar do sério,
mas traição dentro da nossa organização é uma delas, especialmente quando
acompanhada desse choro inútil. Eles sabem que é em vão, no entanto,
persistem, implorando pela vida como se isso fosse fazer alguma diferença.
Essa atitude irrita profundamente.
Aliás, falando em coisas que me irritam, Giulia se tornou uma
delas. Só de cogitar isso, minha irritação cresce, e acabo descontando nos
meus impulsos, chutando o rato quase morto no chão.
— Eu conto, eu conto! — Ele gritou, finalmente se rendendo.
Um pequeno sorriso satisfeito escapou dos meus lábios, e retornei
à minha posição na cadeira.
— Estou todo ouvidos.
Ele começou a detalhar o roubo, compartilhando que foi feito junto
com outros dois soldados. No entanto, antes mesmo que ele concluísse a
narrativa, saquei minha pistola e disparei contra sua testa. Não necessitava
de todos os detalhes; o que ele havia revelado já era suficiente.
Levantei-me com calma.
— Descanse em paz — falei enquanto passava por ele, dirigindo-
me para me servir um pouco de uísque. — Deixe-o onde está — avisei ao
soldado prestes a remover o corpo. — Traga os outros dois; quero que
testemunhem o destino que os aguarda — virei toda a dose de uma única
vez.O líquido desceu, cortando minha garganta e enchi o copo novamente.
O dia se desenhará longo, e parece que só conseguirei relaxar em
minha boate no final da noite. Tudo que preciso é de um bom sexo, repleto
de muita, mas muita sacanagem. Hoje exigirá mais de uma mulher, algo que
já é de praxe, para satisfazer meus desejos.

Troquei a camisa suja por uma das reservas que sempre mantenho
no carro, afinal, poderia facilmente ter me livrado dos outros dois soldados
traidores, já que eu conhecia a verdade. No entanto, a monotonia de uma
solução tão direta não me atrai. Apesar de ser irritante, o verdadeiro prazer
está em testemunhar suas súplicas pela vida e vê-los sofrer até não
suportarem mais.
Meu celular começou a tocar, e era o Enzo.
Bufei, irritado, revirando os olhos. Desde o incidente, tenho
evitado falar com ele, mas parece que não conseguirei evitar por mais
tempo. Ajustei o celular no painel do carro e atendi a chamada de vídeo.
— Pensei que fosse continuar me ignorando — ele disse assim que
seu rosto apareceu na tela. Enzo estava comendo, como sempre. Não
consigo entender como ele ainda não virou uma bola de tanto que come.
Trocou o vício em cigarros pelo vício em comida. Não adiantou porra
nenhuma.
— Ocupado.
— Resolveu o que precisava?
— Sim.
— Ótimo. Estou te esperando aqui em casa — Enzo respondeu
com um sorriso largo, expressando sua animação.
— Não tem como ir aí agora, Enzo — minha expressão mostrava
uma mistura de impaciência e relutância.
— Você acabou de falar que resolveu o que tinha para resolver,
então tempo é o que está te sobrando — ele insistiu, erguendo uma
sobrancelha em desafio.
— Estou indo para a boate — dei de ombros, indicando minha
prioridade.
— Ela pode esperar, já o seu irmão não — Enzo retrucou.
— O que você quer?
— Que você venha jantar comigo e Alice — ele propôs, sorrindo.
— Estou sem fome e, pelo visto, você já está comendo —
respondi, observando-o.
Ele soltou uma gargalhada, demonstrando seu bom humor.
— Ah, que nada, isso são só alguns salgadinhos para beliscar.
Ainda não jantamos, estamos te esperando.
— Porra, Enzo! Não fode! — Grunhi, demonstrando minha
frustração.
— Deus me livre! Nem brinca com uma coisa dessas. Foder é tudo
que eu quero na minha vida, para o resto dela — ele riu antes de desligar na
minha cara.
Suspirei resignado. Já estava a caminho da boate, mas fiz o retorno
para ir à casa dele, ciente de que, do contrário, ele não me deixaria em paz.
Conheço bem o meu irmão.
— Adler — Alice me recebeu na porta de sua casa com o mesmo
sorriso carinhoso de sempre. — Já estava com saudades de você vir jantar
conosco — deu-me um abraço caloroso.
— Não agarre ele muito, morena, não esqueça que agora ele é
comprometido — meu irmão sempre tem que soltar uma gracinha.
Alice encarou-o seriamente e rapidinho o bobão murchou, o que
me fez rir.
— Sem gracinhas, Enzo — ela o advertiu.
Meu irmão fica igual uma criança quando é chamado à atenção
pela mãe, e é a minha vez de rir da sua cara.
Sentamos à mesa e Jade falou comigo entre os dentes. Julgo que
tenha falado com Giulia e já saiba da nossa discussão, mas como eu sou o
tio, ela não fala nada comigo a respeito disso.
— E Ravi? — Perguntei sobre o meu sobrinho.
— Deve estar lá na sua boate uma hora dessas, influenciando mal
pra caralho o meu filho.
— Enzo, sem palavrões na mesa de jantar! — Alice ralhou
novamente com ele.
Abri um sorriso de canto de boca para ele, que me mostrou o dedo
do meio, certificando-se de que Alice não percebesse.
Adoro quando Alice briga com ele, até porque Enzo é demais;
parece que não cresceu. Jantamos e conversamos sobre amenidades.
Fico contente que os assuntos "casamento" e "Giulia" não tenham
sido pautas no jantar, mesmo sabendo que Alice está organizando as coisas
do casamento e que foi visitá-la hoje.
Após o jantar, fui para a varanda, acender um charuto e tomar um
uísque que peguei de Enzo.
— E Giulia, Adler? — Enzo apareceu e fez a pergunta que estava
demorando para ser feita.
— Provavelmente em casa, aprendendo como se lava uma vasilha
e varre o chão — traguei o charuto.
— Devia parar de fumar.
— Quem fez promessa foi você e não eu.
— Foda-se. Termina essa merda e vem cá na sala, quero conversar
com você — avisou, entrando.
Já sinto-me irritado, porque sei muito bem o que ele quer
conversar. Até penso em acender outro charuto para fumar, mas não vai
adiantar em nada demorar, capaz de Enzo me esperar até amanhã de manhã
para conversarmos.
— Que bom que não demorou — cruzou as pernas, sentando-se na
poltrona e apontando para que eu me sentasse na da frente.
— Não começa, vai — pedi, ajeitando-me, já esperando a ladainha.
— Está fazendo com Giulia o mesmo que eu fiz com Alice no
começo, colocando a menina para limpar a casa.
— Eu não a coloquei para limpar a casa, falei para ela limpar a
bagunça que ela mesma fez. Qual o problema nisso? Eu mesmo limpo a
minha bagunça. As pessoas fazem isso, não consigo entender onde está o
problema — inclinei-me para frente, apoiando os cotovelos nas minhas
próprias pernas.
— Uma bebida? — Enzo levantou-se, estendendo-me o copo com
um sorriso convidativo.
— Tem mais coisas ainda para falar? — Arqueei uma sobrancelha
e ele riu. — Então quero mais de uma — Enzo gargalhou, revelando seu
contentamento com minha resposta.
Ele me entregou o copo e sentou-se novamente, mantendo o olhar
sério.
— Você deve me escutar por dois motivos, primeiro que sou o seu
irmão mais velho e segundo porque já estive no seu lugar.
— Você não foi obrigado a se casar.
— Já senti muita, mas muita raiva e mágoa de Alice. Fiz e falei
coisas das quais me arrependo até hoje. Só que depois de feito e de falado,
não tem mais volta, meu irmão.
— Confesso que hoje peguei pesado nas coisas que falei com
Giulia, mas, porra, a menina não sabe lavar uma vasilha? Ela veio me
cobrar explicações. Ela não se toca que eu não quero esse casamento? Que
eu não quero ela?
— Você tem razão — ele se levantou e eu semicerrei os olhos.
Tenho razão? — Essa conversa merece mais que uma bebida.
Revirei os olhos e encostei minhas costas na poltrona, expressando
meu cansaço diante da situação.
Pensei que o filho da puta estava concordando comigo a respeito
de Giulia.
— Pensei que estava falando que eu tinha razão no que acabei de
falar da garota.
— A garota, Adler, será a sua esposa daqui há poucos dias, quer
queira ou não — serviu-me mais uma dose de uísque, com uma expressão
que misturava compreensão e preocupação.
— Pra mim, não fará a menor diferença.
— Por que não tenta fazer o casamento dar certo? Se vocês dois se
esforçarem, tenho certeza de que vão ser muito felizes.
— Ficou doido? Não quero! — Exclamei, com um gesto de
desdém e desinteresse.
— Giulia é bonita e, apesar de inconsequente, não é uma menina
má, Adler.
— Pensava assim também, mas hoje tenho as minhas dúvidas.
— Adler, facilita as coisas.
— Por que eu tenho que facilitar? Que eu saiba, ela não facilitou
nada para mim!
— Você está sendo mimado igual a ela.
— Porra nenhuma! Giulia fez o que fez porque não sabe ouvir um
simples “não” — disse, franzindo a testa em frustração. Enzo suspirou
pesado.
— Enfim, quero que tome cuidado com o que vai fazer ou falar,
como eu disse anteriormente, são coisas que não podemos mudar. Espero
que um dia não se arrependa das suas atitudes.
— Não vou me arrepender — garanti, firme.
— Então, tá! Veremos isso depois.
— Sobre as falas, você tem razão. Perco a cabeça e acabo sendo
mais ignorante que o normal, apesar de estar com um ódio enorme daquela
garota, vou tomar mais cuidado com isso.
— Certo, já é um começo — ele sorriu.
— Não é um começo, Enzo, não se iluda, é a única coisa.
— Se você diz — deu de ombros. — Theo chega aqui na sexta —
comentou rindo.
Quando eu lembro daquele puto, a minha vontade é de socar a cara
dele.
— Minha vontade é de dar uma porrada na cara dele.
— O cara é esperto, hein? — Enzo continuou rindo. — Juntou a
fome com a vontade de comer.
— E jogou para cima de mim. Mas beleza, deixa ele, o que é dele
tá guardado — levantei-me. — Valeu pelo jantar, mas vou indo nessa.
Tenho compromissos.
— Compromissos... sei. Vai foder quantas hoje? — Enzo também
se levantou, acompanhando-me até a porta.
— Não costumo ficar contando — sorri.
— Adler, Adler... você tem que criar juízo — ele balançou a
cabeça, com uma expressão entre a preocupação e a incredulidade.
— Obrigado pelo convite, Enzo — dei um abraço nele. — Manda
um beijo para Alice e outro para Jade. Ficarei de olho em Ravi.
— Deixa o meu moleque curtir a vida. Daqui a pouco é ele quem
vai ter que se amarrar. Sobre Giulia, só tenta ser um pouco mais maleável,
tudo bem?
— Tchau, Enzo — ignorei meu irmão e entrei no meu carro,
acelerando diretamente para a minha boate. Precisava relaxar.
Ao adentrar o que considero minha casa, fiquei satisfeito ao ver
que estava cheia, como tem sido todos os dias. Quem não aprecia um local
com boa música, bebida de qualidade, mulheres deslumbrantes, shows
sensuais e muita diversão adulta?
Dirigi-me direto ao escritório, apenas para verificar se há algo que
exige minha atenção imediata. Dei uma olhada rápida e tudo aqui pode
esperar.
Sendo assim, decidi escolher as belas mulheres que me
acompanharão nesta noite. Hoje, preciso transar até esquecer dos problemas
da minha vida.
Hoje é o dia do meu casamento. Minhas mãos estão suando e meu
corpo inteiro treme. A festa e o vestido não são exatamente o que sonhei
para mim. Eu desejava um casamento grandioso e luxuoso, mas tudo bem.
O vestido foi confeccionado com carinho por minha tia e, mesmo não sendo
como imaginei, é muito bonito. Ela dedicou todo o cuidado na sua
elaboração.
A celebração ocorrerá no jardim da casa da tia Alice, com a
presença de poucas pessoas, apenas minha família e alguns membros do
conselho.
Desde a briga com Adler, não tive mais contato com ele. Suas
palavras duras e cruéis ainda ecoam em minha mente, magoando-me
profundamente. Chorei a noite toda. Reconheço meus erros, mas acredito
que não merecia tamanha crueldade.
No entanto, decidi deixar isso para trás. Quero que meu casamento
seja bem-sucedido, por isso não posso permitir que ressentimentos passem a
dominar meus pensamentos. Minha família chegou cedo hoje, mas até
agora apenas minha mãe veio me ver. Não sei se meu pai entrará comigo.
Ele está claramente decepcionado. Se há algo do qual me arrependo, é de
ter desapontado meu pai.
Estou pronta, aguardando apenas o aviso para descer. Se meu pai
decidir não me acompanhar, pedirei a um dos meus tios que o faça.
Certamente, ficarei arrasada, mas compreendo a decisão dele. Hoje é um
misto de tristeza pela ausência do amor desejado e de felicidade por casar
com alguém que realmente amo.
— Giulia? — Virei-me abruptamente ao ouvir meu nome,
surpreendida ao ver Adler parado à porta.
— Adler, o que faz aqui? Não pode ver a noiva antes da hora —
interrompi meu protesto ao notar que ele estava usando um terno preto, uma
visão inédita, já que sempre o vira vestindo branco.
— E por que não? — Indagou ele, desafiando a tradição.
— Dá azar, não é bom para o casamento — um pequeno sorriso
escapou dos lábios dele ao entrar e fechar a porta.
— Não é como se fosse possível ter mais azar — ele puxou uma
cadeira e sentou-se.
Fechei os olhos por um instante, respirando fundo para não
absorver suas palavras.
— Sente-se aí, vamos conversar — apontou para a cadeira atrás de
mim. Assenti, obedecendo ao que ele pediu.
— De preto hoje? — Inquiri, esboçando um sorriso amarelo.
— Achei que combinaria com o momento — engoli em seco, um
nó já se formando na minha garganta.
— Para que veio aqui, Adler? Só para ficar falando gracinhas? —
Perguntei, impaciente.
— Foi mal, Giulia. Não quero ser idiota.
— Mas está sendo!
— Quero conversar com você antes disso tudo acontecer.
— Vai me ofender?
— Não.
— Então pode falar — passei a mão, ajustando meu vestido para
evitar amassados.
Adler cruzou os braços, os olhos fixos em mim com uma seriedade
quase cortante.
— Não temos como voltar atrás nessa loucura toda. Eu não quero
me casar, vou ser bem sincero como já fui todo esse tempo, mas agora o que
eu quero ou não é irrelevante. Você ainda é muito nova, imatura e
inconsequente, por isso cometeu esse grande erro — eu levantei a mão,
interrompendo sua fala com um gesto firme.
— Você disse que não ia me ofender — ele ergueu as sobrancelhas,
um sorriso cínico brincando em seus lábios.
— E não estou. Giulia, você não será feliz comigo, desculpa se
posso parecer grosso nas minhas palavras, mas é a verdade, eu não vou me
apaixonar por você. Não vou largar a minha vida para tentar uma coisa que
eu não quero e que sei que não vai dar certo.
Os meus olhos começaram a se encher de lágrimas, segurei a
vontade de chorar, mas minhas emoções transbordavam.
— Você nem quer tentar — sussurrei, engolindo a vontade de
chorar.
Adler sustentou o olhar, suas feições sérias, e então continuou,
como se despejasse a verdade brutal.
— Não, Giulia. Eu não quero. Mas também não quero ficar te
tratando mal, eu sou homem e não um moleque, não quero ficar
humilhando uma mulher. E sobre tudo que eu falei aquele dia, foi mal, eu
estava nervoso e ainda estou, mas quero que você entenda que esse
casamento não passará de uma fachada, uma obrigação que eu estou tendo
que cumprir. Para mim, não é nada mais que apenas um trabalho o qual eu
preciso executar.
Uau! Adler conseguia ser frio e duro demais comigo. Em poucas
palavras ele conseguia esmagar o meu coração e causar uma dor imensa na
minha alma.
— Adler… — ele não deixou eu retrucar, mantendo-se
imperturbável.
— Estou te pedindo para colaborar e ficará bom para todos. Não
vou ficar no seu pé, você pode sair, trabalhar, fazer o que bem entender.
Mas tome cuidado caso acabe querendo se envolver com alguém, não deixe
ninguém ver, sabe como as coisas funcionam para mulheres no nosso meio.
Abri a boca chocada inúmeras vezes, sem palavras, tentando
processar sua fala. Chacoalhei a cabeça um pouco para reorganizar as
ideias.
— Você está sugerindo que eu me envolva com outro homem? —
Perguntei, incrédula, as sobrancelhas arqueadas em surpresa.
— E porque não? Eu não quero me envolver com você — ergueu
uma sobrancelha, mantendo sua expressão séria enquanto respondia.
— Adler, que absurdo! — Exclamei. — Isso porque você vai se
envolver com outras mulheres, não é? — Uma lágrima escapou, e eu a
enxuguei com o dorso da mão.
— Giulia, eu não vou parar a minha vida.
— Você vai me trair? — Escutei-o suspirar pesadamente.
— Olha, eu não quero que você fique só dentro de casa. Arrume
um emprego, faça algum exercício que goste, procure passar o tempo.
Mente fazia, oficina do diabo.
— Um emprego?
— E porque não? Você não está mais na casa do seu pai, Giulia,
precisa entender isso.
— Mas você tem tanto dinheiro quanto o meu pai — argumentei.
— A questão não é o dinheiro, Giulia. É o amadurecimento. Um
emprego fará bem a você. Dessa forma, você aprenderá a valorizar mais o
seu tempo e o dinheiro — lançou-me uma piscadela.
— Então essa é a sua forma de me punir? Vai me deixar sem
dinheiro e falando na minha cara que vai me trair — ri, sem humor algum.
— Trabalhar não é punição para ninguém. Não deixarei faltar nada
dentro de casa, mas dinheiro eu não te darei, não sou o seu pai. Trabalhe,
ganhe o seu e poderá fazer o que quiser com ele — passei as mãos no
cabelo, nervosa.
— Eu nunca trabalhei, Adler, sequer terminei a faculdade.
— Por opção sua, poderia muito bem ter terminado e só depois se
casado com Theo, que seria muito melhor para você. Quanto a nunca ter
trabalhado, para tudo existe uma primeira vez — assenti, não querendo
mais argumentar sobre isso.
— Você não me respondeu anteriormente. Vai me trair?
— Seria traição se eu te jurasse fidelidade e isso eu não farei. O
que falarei no altar não passará de uma encenação — passei a língua pelos
dentes, fechando os meus olhos com força e segurando a crise de choro que
me invadia. Agora estou com vontade de sentar no chão e chorar feito uma
criança.
— Eu não mereço isso, Adler. Poxa, eu gosto tanto de você... eu te
amo!
— Mas eu não, Giulia, é isso que estou tentando fazer você
entender desde que começou com essa obsessão louca por mim — enfatizou
a sua sinceridade. — Você tem que entender isso para que a gente possa
viver bem, em paz.
— Estamos nos casando, eu quero ficar com você — eu insisti,
meus olhos buscando desesperadamente uma conexão nos dele.
— Pelo amor de Deus, Giulia! — Adler passou as mãos no rosto,
gesto que denotava a sua frustração e nervosismo. — Não me faça ser
ignorante e te tratar mal.
— O que você sugere então, Adler?
— Que vivamos em paz — ele fez uma pausa, olhando diretamente
nos meus olhos. — Faremos a linha do casal feliz quando estivermos em
festas e nada além disso. Quero que você trabalhe, faça o seu dinheiro e
amadureça — Adler apontou para mim como se estivesse destacando um
ponto importante. — Sobre estudar, se você quiser, posso continuar
pagando a sua faculdade, e saiba que não me oponho a você seguir a sua
vida, desde que tome muito, mas muito cuidado. Você sabe que se alguém
descobrir, não terá segunda chance. Poderia falar para você não se envolver
com ninguém para não correr riscos desnecessários, mas vou te impedir
disso a vida toda? Não faz sentido.
— Não quero me envolver com ninguém — eu declarei, firmando
minha posição, mas minhas mãos tremiam, demonstrando a vulnerabilidade
que eu sentia.
— Fica a seu critério — Adler deu de ombros, uma expressão
indiferente no rosto. — Só não quero que você fique em casa sem fazer
nada, isso pode te adoecer.
Meu Deus, como é doloroso ouvir Adler falando assim. Ele não
está nem aí para mim, está sugerindo até que eu me envolva com outra
pessoa.
— Arrumarei um emprego — falei decidida, mas minha voz traía a
tristeza que eu sentia. — Quanto aos estudos, vou esperar um pouquinho e
depois volto.
— Combinado — ele se levantou. — Te espero no altar — avisou,
saindo do quarto, e eu desmoronei, meu corpo curvando-se sob o peso da
desilusão.
— Giulia, Adler estava aqui no quarto? — Minha mãe irrompeu.
— Filha, o que ele te fez? — Ela se aproximou, abaixando-se na minha
frente, preocupação marcada em sua expressão.
— Ele não gosta nem um pouquinho de mim, mãe — solucei,
sentindo a dor se intensificar. Minha mãe franziu a testa, expressando
compaixão.
— Oh, minha filha, você está borrando toda a maquiagem. Não
chora não. Quem sabe com o tempo ele não passe a gostar?
— Ele me disse que posso me envolver com outra pessoa, que ele
não se importa — fiz um gesto de desânimo, e os olhos da minha mãe se
arregalaram.
— O quê? Não, claro que não! Giulia, não vai fazer essa besteira,
você me ouviu? Se alguém descobrir que você está traindo seu marido, você
vai morrer, minha filha, e isso nem eu, nem o seu pai poderemos suportar.
— Foi o que ele disse, mãe. Ainda disse que é para mim arrumar
um emprego, porque não me quer dentro de casa sem fazer nada — encolhi
os ombros, buscando entendimento. Minha mãe fez uma careta pensativa.
— Talvez um emprego seja bom, assim você consegue se distrair e
passar o tempo.
— Ele também disse que vai seguir com a sua vida normal, mãe.
Ele vai me trair! — Lágrimas continuavam a rolar pelo meu rosto ao
recordar suas palavras.
— Minha filha — ela me abraçou com ternura. — Vamos ter
esperanças que um dia isso possa mudar, tá bom? Olha a minha história
com o seu pai, ele também me traiu no começo, mas agora somos tão
felizes. Não estou falando que isso é certo, de maneira alguma. Toda vez
que me lembro, fico com raiva e faço greve de sexo — abri um sorriso. Só
mamãe para me fazer rir nessas horas. — Mas ficou no passado. Ele se
arrependeu, eu perdoei e tenho certeza que ele não fez mais. Vamos ter
esperanças que as coisas vão mudar — assenti, porque a esperança era tudo
que me restava.
— O meu pai vai me levar ao altar?
— Claro que vai.
Abri um sorriso, um pouco mais animada em saber que papai vai
me levar ao altar.
— Viu que ridículo o Adler de preto? Ele quer me humilhar de
todas as maneiras, mãe — comentei, bem chateada. Franzi o cenho para
expressar minha frustração.
— Deixa ele, filha. Está nervoso, mas vai passar, eu tenho fé que
vai passar — minha mãe tentou acalmar, colocando a mão em meu ombro.
— Queria odiá-lo um pouco para não sofrer tanto, mas eu o amo
muito — suspirei, mostrando minha confusão emocional.
— Giulia... — ela me abraçou novamente e eu voltei a chorar.
Nossos gestos eram de conforto e compaixão. Não falamos mais
nada, ficamos assim por um longo tempo, até que eu me acalmei. Ela me
ajudou a retocar a maquiagem e foi chamar o meu pai.
— Pai — puxei o ar com força, evitando chorar quando o vi.
— Você está linda! — Elogiou-me. Sua expressão de aprovação
era visível.
— Pai, eu... — eu queria me explicar, pedir perdão, mas ele me
interrompeu.
— Esse não é o momento, Giulia — estendeu a mão para mim. —
Vamos?
Segurei firme em sua mão e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Delicadamente ele passou o polegar e me deu um beijo na testa. Não
consigo segurar e me desmancho em lágrimas. Hoje eu estou mais
sentimental do que o normal.
— Eu te amo, filha. Te entregar dessa maneira, sabendo que você
vai sofrer, me dói absurdamente. Estou tão chateado, tão decepcionado...
mas nem por um segundo deixei de te amar e nunca vou deixar. Você está
linda e eu queria muito te entregar para alguém que eu tivesse a certeza que
te faria feliz.
— Pai — abracei ele apertado. — Eu te amo tanto!
— Queria te levar embora, fugir com você, sei lá... — passou a
mão no meu cabelo, bagunçando-o todo.
— Está tudo bem, pai — acariciei o seu rosto. — Eu vou ficar
bem, tá bom?
— Quero acreditar nisso — ele suspirou, visivelmente preocupado.
Ao sairmos do quarto, a incerteza pairava no ar. A cerimônia se
desenrolava e eu caminhava em direção ao altar, segurando a mão do meu
pai. Enquanto avançava, uma mistura de medo da rejeição de Adler
perdurar e ansiedade para me casar com ele se entrelaçava em meu coração.
Fui totalmente franco com Giulia, escolhendo cada palavra com
cautela para não feri-la mais do que o necessário. Durante uma conversa
com Alice e Enzo, percebi que Giulia é, antes de tudo, uma jovem imatura e
mimada, mas não mal-intencionada. Ela tem muito a aprender com a vida, e
espero que essa jornada de aprendizado aconteça o mais rápido possível,
pois sei que a vida pode ser uma professora implacável.
Não vou esconder que ainda nutro uma considerável raiva. Essa
intensidade de sentimentos não desaparecerá da noite para o dia, mas
acredito que, se ela cooperar, podemos gradualmente encontrar um caminho
para viver em paz. Depois de nossa conversa, a cerimônia se desenrolou de
maneira simples e rápida. Giulia não estava bem; a tristeza era evidente em
seus olhos, ecoando as palavras que eu havia pronunciado anteriormente.
Fazer o quê, não é mesmo? Eu também não estou nada feliz com
esse casamento, e o máximo que posso cultivar é paciência. Agora, não
adianta mais ficar lamentando; já estamos casados.
— De preto, Adler? — Theo perguntou, se aproximando. — Que
infantilidade é essa? — Começou a rir.
— Minha vontade é quebrar sua cara — demonstrei minha
irritação e ele gargalhou.
Hoje cedo, quando nos encontramos, só não partimos para a briga
porque Luigi interveio, mas os xingamentos foram inúmeros.
— Queria que eu me casasse no seu lugar?
— Você sabe melhor do que ninguém que não aconteceu nada
naquele dia. Poderia muito bem ter casado com ela. Garanto que a honra
dela permaneceria intacta.
Nossos olhares se voltaram para Giulia, que conversava com a
mãe, tias e primas. Parecia ter notado nosso olhar, encarando-nos
imediatamente.
— Agora não precisa mais, já estão casados — Theo deu de
ombros.
— Se depender de mim, a honra dela permanecerá inalterada.
— E por qual motivo? Vocês estão casados, Adler.
— Eu não quero e não vou me envolver com ela — tomei um gole
do meu uísque.
— Você quem sabe, mas eu, no seu lugar, me envolveria com
certeza — ele abriu um sorriso malicioso.
— Se tivesse tanta certeza, teria se casado.
Deixei Theo para trás e fui para a área externa acender um charuto.
Refleti sobre a loucura que minha vida se tornou. Eu, um homem que
sempre evitou relacionamentos e as pressões sobre casamento, agora me
vejo preso em um casamento. Passei a mão na nuca, tentando dissipar a
tensão que se formava ao pensar nisso.
— Adler — revirei os olhos ao ouvir a voz de Giulia.
— Diga.
— Vamos embora? Estou querendo tirar esse vestido, e você disse
que queria ir embora logo.
— Já se despediu de todo mundo? — Ela assentiu. — Ok. Farei o
mesmo e poderemos ir.
Apaguei o charuto e passei por ela sem sequer olhá-la.
Ao chegarmos em casa, segui direto para o meu quarto,
percebendo o olhar persistente de Giulia. Ignorei completamente. Será que
ela esperava que a pegasse no colo e a colocasse deitada na minha cama? Se
for esse o caso, sinto muito por ela.
Estou prestes a sair do banheiro quando ouço batidas na porta do
meu quarto. Obviamente, sei que é ela; afinal, quem mais se atreveria a
bater na porta do meu quarto? Estava planejando terminar meu banho
tranquilamente, me arrumar e seguir para a boate, mas parece que primeiro
terei que descobrir o que Giulia quer, ou ela não desistirá de martelar na
minha porta.
— O que foi? — Seus olhos percorrem todo o meu corpo antes de
voltarem para o meu rosto.
— Posso entrar para conversar com você? — Ela aponta para
dentro. Coço a barba, ponderando se devo ou não permitir sua entrada. —
Não vou te atacar, Adler. Não precisa ficar com medo de mim.
Certo. Abro espaço para ela entrar, observando-a explorar cada
canto do cômodo.
— Seja rápida, estou indo me ajeitar para sair.
— Você vai sair? — Ela estreitou os olhos.
— Sim.
— Vai para a sua boate? — Levantou uma sobrancelha. — Todo
mundo sabe que você tem uma boate de entretenimento, uma hora eu ia
descobrir também — ela se justificou.
— Que seja. O que você quer falar?
Permito-me, pela primeira vez, reparar nela. Giulia está usando
uma camisola de seda branca, que realça ainda mais as curvas do seu corpo,
e os cabelos escuros caídos pelos ombros a tornam irresistível. Meus olhos
vagam por ela involuntariamente, e um turbilhão de pensamentos confusos
invadem minha mente.
Irresistível? Minha mente parece gritar.
Chacoalho a cabeça levemente para recuperar minha sanidade,
tentando afastar os pensamentos indesejados.
— Adler, nós conversamos antes de casar — ela se sentou no sofá
branco aos pés da cama, cruzando as pernas. — E eu entendi tudo que você
me falou. Amanhã mesmo vou procurar um emprego. Mas sobre a questão
de arrumar outra pessoa, não vai rolar. Sei que tudo que você mais quer na
vida é se ver livre de mim, mas não vou colocar a minha vida em risco.
Ao ouvir suas palavras, meu rosto mantém uma expressão séria.
— Não desejo a sua morte — afirmei, com toda sinceridade do
mundo.
Seu olhar encontra o meu, buscando a veracidade nas minhas
palavras. Há um breve momento de silêncio tenso.
— Mas é o que parece quando fala que posso me envolver com
outra pessoa.
— Não se envolve então — dei de ombros, soltando um suspiro.
Minha expressão é resignada, indicando que a decisão é dela.
— Não vou me envolver, mas também não quero morrer virgem de
tudo.
— Explique-se melhor — encostei minhas costas na parede,
fitando seus olhos. Uma sobrancelha se ergueu, indicando curiosidade.
Ela abre um pequeno sorriso e mexe no cabelo, gesto que revela
uma ponta de nervosismo ou desconforto.
Theo tinha razão, Giulia é mesmo muito bonita.
Porra, Adler! Desde quando começou a achá-la bonita? Repreendo
meus próprios pensamentos absurdos, enquanto minha expressão
permanece séria, mas com um toque de confusão.
— Já estamos casados, então temos que consumar o casamento —
murmurou Giulia, suas bochechas atingindo um leve tom rosado, enquanto
seus olhos buscavam os meus em busca de aprovação.
— Pensei que já tivéssemos conversado sobre como as coisas vão
funcionar entre nós — falei impaciente, cruzando os braços sobre o peito.
— Conversamos, eu entendi, mas temos que consumar o
casamento. É uma regra, não é? E eu também não quero ir para o caixão
virgem — ela insistiu, com um tom entre determinação e nervosismo,
brincando com a ponta do cabelo.
Passei as mãos no rosto, tentando conter a frustração. Essa menina
era inacreditável.
— Giulia, eu acho que você não entendeu — fechei os olhos por
um momento, respirando fundo para manter a calma. — Nós não vamos nos
envolver — fui sucinto, mas firme em minha decisão.
— E a consumação do casamento? — Ela repetiu a mesma
ladainha, sua expressão mesclando incredulidade e teimosia.
— Não vai acontecer — afirmei novamente, tentando transmitir
minha decisão de forma clara.
— Isso eu não aceito, Adler! — Ela levantou-se abruptamente, sua
postura tensa, os olhos faiscando com uma mistura de raiva e desafio.
— Você não tem que aceitar. Simplesmente não vai acontecer e
ponto final — respondi com firmeza, mantendo-me firme em minha
posição.
Não aceitando minha decisão, ela tirou a alça da camisola e
deixou-a cair aos seus pés, revelando os seios intumescidos, com bicos
rosados e uma calcinha de renda branca que deixava pouco para a
imaginação. Seu gesto desafiador era uma tentativa final de persuasão.
— Impossível que você não me deseje nem um pouco como
mulher... — acompanhei o movimento dos seus pés saírem lentamente de
dentro do tecido branco e caminharem na minha direção. Seus olhos
brilhavam com uma mistura de determinação e desejo. — Não estou te
pedindo amor, Adler. O que eu quero é sexo, e duvido muito que você não
queira — suas unhas arranharam minha barriga, provocando arrepios.
Pisquei algumas vezes, um tanto desnorteado, até me dar conta do
que estava acontecendo. Segurei os braços de Giulia, impedindo que ela
continuasse me tocando.
— Já falei que não quero! — Berrei, afastando-me dela, sentindo-
me desconfortável com sua insistência.
A garota era tão obstinada que ainda não aceitou o meu não,
puxando a minha toalha.
— Não é isso que ele está dizendo — apontou com o queixo para o
meu pau duro. — Nos casamos e eu exijo a consumação do casamento, ou
então falarei para o conselho que o meu marido não faz...
Não deixei ela terminar e avancei sobre ela, apertando o seu rosto
em minhas mãos, forçando-a a fixar seu olhar em mim.
— É sexo que você quer? — Perguntei, observando-a de perto,
buscando uma resposta clara em seus olhos. Ela fez um leve movimento de
cabeça, assentindo, mesmo com dificuldade em se mexer. — Quer ser
fodida feito uma cachorra na sua primeira vez, Giulia? Sem qualquer
sentimento? — Pude ver uma leve ponderação passear em seus olhos, mas
ela logo balançou a cabeça mais uma vez, concordando.
Soltei o seu rosto e a empurrei, fazendo com que caísse na cama,
sua expressão refletindo uma mistura de nervosismo e excitação.
— Fica de quatro, Giulia, vou fodê-la como você quer — minha
voz saiu firme, carregada de uma mistura de desejo e frustração. Ela
arregalou os olhos, surpresa com minha ordem.
— De quatro? — Sua voz falhou.
— Você não quer ser fodida? Então, anda logo, faça o que eu
mandei — minhas palavras foram mais um comando do que um convite, e
eu senti uma pontada de remorso por estar me rendendo à sua teimosia.
Pensei que dessa vez a garota finalmente desistiria, mas ela fez
exatamente o que eu mandei, apoiando as mãos na beirada o sofá e
empinando a bunda grande na minha direção. Suspirei, resignado com a
situação.
Estou completamente arruinado com essa garota infernal! O pior
de tudo é que meu pau não joga no mesmo time que eu, e ele está doendo
de tanto tesão. Quando foi que comecei a sentir desejo por essa garota? Mas
que porra! Quer saber? Foda-se, vou transar com Giulia até não querer mais
e depois esquecer o que aconteceu aqui.
Aproximei-me dela, abrindo bem as suas pernas e comecei a
acariciá-la bem lentamente por cima da calcinha. Apertei os olhos com
força ao sentir o quanto ela estava quente e molhada.
— Giulia, a hora é agora de desistir — tentei insistir, embora
soubesse que minhas palavras eram mais para mim mesmo do que para ela.
— Não quero desistir — sua voz saiu como um gemido, e me
odeio por ficar ainda mais duro com isso.
Minha vontade é de arrancar sua calcinha e fodê-la agora mesmo,
sem qualquer cerimônia, sem qualquer cuidado, mas sei que não posso ser
tão grosseiro na primeira vez da garota. Mesmo que ela seja uma diaba e
esteja me arrastando para o inferno.
Dei uma leve puxada no seu cabelo para que ela ficasse de pé
novamente, seus olhos me encararam em confusão, sem entender o que
estou fazendo. A verdade é que nem eu sei exatamente o que estou fazendo,
mas não posso deixar de apreciar a beleza de seus seios.
Giulia era de fato uma mulher muito bonita. Abocanhei seu
mamilo, saboreando-o em minha boca, lambendo e mordiscando o bico
intumescido.
— Humm... — ela choramingou, fazendo-me prestar atenção em
seu rosto. Seus olhos estavam fechados, as bochechas rosadas, os dentes
cravados em seu lábio inferior. Porra... ela é linda!
Desviei o olhar, tentando evitar prestar atenção na delicadeza de
seus traços, que, embora um tanto angelicais de uma menina inexperiente,
têm um misto de mulher sexy que predomina no momento.
— Aí! — Giulia soltou um gritinho quando belisquei o bico do seu
peito com o dente, puxando-o e depois mamando para amenizar o atrito.
Abandonei seus seios e a virei de costas, colocando sua mão
apoiada no sofá e abrindo bem suas pernas. Não consigo ser o cara que
pensa somente no próprio prazer. Sou fascinado em ver uma mulher
gozando. Tudo tem que ser na mesma proporção; só ter prazer não me
enche os olhos.
Abaixei-me, rasgando sua calcinha.
— Adler, ficou doido?! — Exclamou, assustando-se com minha
atitude.
— Fica quieta! — Ordenei, passando o dedo por sua vulva de um
lado para o outro, fazendo-a estremecer. Fica difícil resistir quando a diaba
é bonita até na boceta.
Surpreendi-me positivamente ao ver como ela estava molhada.
Impossível que essa mulher seja perfeita até na maneira de ser tão receptiva.
Abri seus grandes lábios com os dedos e passei a língua em seu clitóris, e
ela se agitou.
— Ai, Adler! — Gemeu o meu nome. Diaba saborosa da porra!
Giulia em nada se parece com uma menina inocente; ela rebolou
desavergonhadamente em minha boca e puxou meus cabelos com força,
buscando mais e mais contato da minha língua com seu clitóris.
Meu pau pulsou, e tive que respirar fundo para reorganizar meus
pensamentos e tentar entender o porquê de querer desesperadamente estar
dentro dela. Eu tenho que sentir raiva de Giulia por tudo e não esse tesão
absurdo.
— Ah, Adler! — Giulia chamou-me novamente, gemendo
e anunciando o seu orgasmo.
Deliciosamente, ela goza na minha boca, e não tenho como negar...
é o melhor gosto que já experimentei. Apertei sua bunda, segurando-a
firmemente, tomando todo o seu orgasmo, não querendo deixar passar nem
uma gota.
Rapidamente, me levantei para pegar um preservativo na minha
carteira e ela se virou, ficando de frente para mim. Coloquei sua perna em
cima do sofá, e ela se inclinou para frente, tentando beijar-me, mas recuei e
ela franziu o cenho.
Não. Beijar não estava dentro do acordo. Ela queria sexo e é
somente isso que eu darei a ela, somente isso.
Lentamente fui empurrando para dentro dela. Apertada e quente.
Porra! Eu já deveria imaginar que essa diaba seria quente como o fogo do
inferno.
— Aí! — Choramingou, seu olhar demonstrando dor.
Meu pau não parava de pulsar, estava dolorido. Nossos corpos
estavam quentes, feito brasa acesa.
Coloquei a mão entre suas pernas e acariciei o seu clitóris,
fazendo-a relaxar, tentando amenizar um pouco a dor que estava sentindo.
— Ai, que delícia! — Ela foi abrindo mais as pernas e rebolando.
Fui entrando aos poucos e quando rompi a sua barreira, entrei de
vez, urrando.
— Verdammt nochmal![ii] — Controlei-me ao máximo para não
gozar, estava feito um adolescente fodido que estava transando pela
primeira vez na vida.
— Adler, tá doendo... tá doendo muito — lamuriou.
Acelerei o movimento dos meus dedos em seu clitóris e aos poucos
os seus gemidos de dor foram dando lugar aos de prazer.
Queria entrar forte, fodê-la feito o animal selvagem que eu sou
quando estou transando, mas no momento terei que me contentar e ir
devagar. Continuei movimentando-me em um vaivém lento e doloroso para
mim que estou louco de tesão. Giulia estava de olhos fechados e eu evitava
olhá-la e pensar o quanto ela é bonita.
— Adler! — Giulia gritou e senti suas paredes me esmagarem.
Segurei a sua cintura com firmeza e empurrei contra ela mais forte,
do jeito que eu realmente queria e estava morrendo de vontade de fazer. O
orgasmo de Giulia veio intenso e eu tenho que sustentar o seu corpo para
não desabar. Estoquei mais algumas vezes e encontrei o meu próprio prazer,
urrando e gozando intensamente.
Mesmo depois de gozar, ainda fiquei um tempinho parado dentro
dela, tentando me recuperar.
A experiência foi mais intensa do que eu imaginava e estava
esperando. Quando saí de dentro dela, a camisinha estava suja de sangue.
Fui soltando Giulia aos poucos para que não desabasse na cama e se
machucasse. Ela caiu com as pernas abertas, revelando o quanto estava
inchada e vermelha. Seus fluidos misturados com um pouco de sangue
acabaram molhando o lençol. Saí praticamente correndo, sentindo-me um
idiota. Mas aquela visão era tentadora demais para resistir. Minha vontade
era recomeçar tudo novamente. Nem o homem mais santo desse mundo
conseguiria resistir à cena. A mulher me mostrando o quanto estava inchada
depois de um sexo gostoso, e os fluidos do seu orgasmo escorrendo, é
impossível não se excitar com isso. É demais para qualquer homem.
Admito que meu ego inflou ao ver que consegui proporcionar tanto prazer
na primeira vez dela, ao ponto de deixá-la completamente satisfeita.
Tomei um banho rápido e gelado, necessitando de um momento
para me recompor. Quando saí do banheiro, Giulia já estava sentada na
cama, observando-me atentamente. Sem uma palavra, caminhei até o closet
e vesti meu habitual terno branco.
— Você vai sair, Adler? — Giulia quebrou o silêncio, sua voz
carregada de incertezas e inseguranças.
Por um momento, pensei em ignorar sua pergunta, mas a
honestidade me obrigou a responder.
— Sim — ela se levantou lentamente, mantendo o contato visual
enquanto eu pegava minha carteira e celular.
— Você vai para a sua boate? — Sua voz fraquejou, e eu pude
sentir a urgência por trás daquelas palavras. Era como se Giulia estivesse
segurando a respiração, aguardando minha resposta com a tensão de uma
corda esticada ao limite.
— Vou — disse, pronto para sair, mas fui detido pelo seu tom de
voz alterado.
— Vai ficar com alguma mulher, Adler? — A pergunta foi direta e
a urgência em sua voz era palpável.
Saí do quarto sem responder, mas Giulia não era uma mulher que
aceitava o silêncio. Ela seguiu-me enrolada apenas em um lençol,
esperando por uma resposta.
— Me responde, Adler! — Exigiu, sua voz repleta de raiva e
mágoa. — Você vai transar com outra mulher depois de transar comigo?
— Foi você quem quis transar comigo — respondi friamente.
— Me responde! — Gritou, suas emoções transbordando em cada
palavra.
— Não me contento com uma mulher só, Giulia — falei, sem olhar
para trás, saindo do apartamento sem dar-lhe a chance de replicar.
Existem estados mais profundos que a tristeza, e eu estou
mergulhada neles. Quando Adler saiu de casa me dizendo que não se
contentava com uma única mulher, chorei tanto, mas tanto, que cheguei a
pensar que morreria em lágrimas.
E não, não é drama. Estou sofrendo demais.
Nunca pensei que o amor doesse tanto assim. Tudo bem que as
circunstâncias do meu casamento não foram as melhores, mas será que
Adler precisa me odiar tanto assim? Meu Deus!
Quando estava saindo do quarto hoje cedo, eu o vi e voltei
imediatamente para o meu quarto. Não quero vê-lo, sei lá, acho que olhar
para ele agora me causaria mais dor.
Eu amo o Adler, penso que amo ele até demais.
Estou me anulando, deixando de me amar por causa desse amor e
não sei como reverter essa situação.
Agora que tenho certeza que Adler saiu de casa, estou preparando
alguma coisa para comer.
— Oi — tomei um susto e quase deixei a vasilha que estava na
minha mão cair.
— Jade? — Estreitei os olhos, surpresa em vê-la aqui.
— A própria — ela colocou a bolsa em cima da cadeira. — Como
você está?
— Bem — menti. Eu era boa em fingir. — Como entrou aqui?
— Falei com tio Adler e ele liberou a minha entrada. Te liguei hoje
mais cedo e você não atendeu, também não respondeu minhas mensagens
desde ontem, aliás, nem a minha e nem as das meninas. Estávamos todas
preocupadas.
— Pensou que o seu tio havia me matado? Relaxa, ele ainda não
realizou o sonho dele — abri um sorriso amarelo. — Quer? — Ofereci um
sanduíche para ela.
— Não, obrigada — balancei os ombros, pegando o meu sanduíche
e meu copo de suco. Jade veio atrás de mim e nos sentamos à mesa.
— Giulia? — Jade chamou-me, fazendo com que eu largasse o
meu sanduíche para prestar atenção nela.
— Oi? — Arqueei uma sobrancelha.
— Aconteceu? — Beberiquei o meu suco e respirei fundo,
segurando a vontade de chorar.
— Não quero falar disso agora — afastei o prato, já nem
conseguindo mais tocar no meu lanche, perdi a fome.
— Ele te machucou?
— Não do jeito que você está pensando — recolhi o prato, o copo
e levantei-me, voltando para a cozinha para lavar a minha bagunça. Deus
me livre de Adler ver tudo bagunçado e me dar um esporro daqueles.
— Conversa comigo, Giulia — Jade pediu, andando atrás de mim
novamente.
— Deixa só eu terminar aqui e te conto tudo — pedi e ela assentiu,
concordando.
Preciso desse tempinho para respirar, me acalmar e quando contar
para ela não desabar em lágrimas. Sei que Jade só vai sair do meu pé
quando eu falar o que aconteceu, mas para isso preciso me recuperar, estou
perto de ter outra crise de choro como a de ontem.
Assim que terminei de lavar as vasilhas, subimos para o meu
quarto. Menos risco de sermos pegas conversando sobre esse assunto.
Nunca se sabe quando Adler vai aparecer.
— Eu estou nervosa, Giulia. Vamos, fala logo! — Pediu, sentando-
se na minha cama, sentei-me ao seu lado.
— Nós transamos — despejei de uma só vez e Jade sorriu.
— Ai, meu Jesus! E olha que o meu tio ficava falando para todo
mundo que não queria você — dei uma leve franzida na testa e ela levou a
mão na boca. — Amiga, me perdoa, não foi minha intenção falar isso, me
desculpa, por favor...
— Está tudo bem — abri um pequeno sorriso, tranquilizando-a. —
Imagino as coisas que o seu tio deve falar de mim. Mas enfim, ele não falou
nenhuma mentira, ele não queria mesmo, praticamente o obriguei a ficar
comigo — Jade ficou boquiaberta.
— Como assim?
— Ele não queria consumar o casamento e eu disse que não
aceitava, caso ele não consumasse, eu mesma ia contar para o conselho —
resumidamente contei para ela o que eu fiz para convencer Adler.
— Misericórdia, Giulia! — Ela estava com os olhos arregalados.
— Ele foi cruel com você?
— O sexo foi bom, apesar de que não rolou nem um beijo e nem
carinho, mas foi bom, eu gozei mais de uma vez. Fiquei um pouco
machucada porque era a minha primeira vez e acredito ser normal. Mas o
pior foi depois. O seu tio sempre consegue me destruir com as palavras dele
— puxei o ar com força, enchendo os pulmões para não chorar.
— O que ele te disse?
— Terminamos e ele se ajeitou para sair, suspeitei que ele ia para a
boate, ele vive lá, mas cometi o erro de perguntar se ele ia ficar com outra
mulher.
— Ele disse que ia? — Cada vez mais os seus olhos ficavam
arregalados e ela parecia incrédula.
— Disse que não se contentava só com uma mulher — falei,
sentindo um nó se formar em minha garganta.
— Que absurdo! Ele é um escroto! Não tinha necessidade de falar
isso para você — revoltou-se.
— Fui eu quem perguntei.
— Não senhora. Não minimiza a culpa dele, Giulia. Tio Adler só
faz o que faz com você porque você está sempre defendendo ele em tudo.
Coloca sempre a culpa em você e não se importa com as coisas que ele faz
e fala.
— Tenho que ter paciência. Esse casamento só aconteceu por
minha causa.
— Para de justificar as merdas que ele faz, Giulia! — Jade se
levantou. — Eu estou sendo obrigada a me casar e nem por isso vou ser
uma idiota com o meu noivo, a mesma coisa se aplica a ele. Tudo bem que
eu acho meio difícil ele não ser idiota — assenti, sorrindo. — Giulia, você
tem que se amar — ela voltou a se sentar e segurou nas minhas mãos.
— Eu me amo — afirmei.
— Não é o que está parecendo.
— É só que eu amo demais o seu tio — meus olhos marejaram.
— Você tem que se amar mais do que ama ele, mais que ama todo
mundo.
— Eu sei disso. Hoje acordei disposta a arrumar um emprego e
também quero fazer algum exercício físico para passar o tempo. Ocupar a
mente, sabe? A faculdade eu vou continuar depois, primeiro vou focar no
emprego.
Jade abriu um enorme sorriso, parecendo contente com a minha
decisão.
— Eu acho ótimo! Por que não fala com a minha mãe? Tenho
certeza que ela tem uma vaga para você.
— Vou tentar arrumar outra coisa primeiro. Não é por não querer
trabalhar com a sua mãe, mas é que eu acho que preciso começar a
caminhar com as minhas próprias pernas, entende? Sei que tia Alice me
daria um emprego, não tenho dúvidas disso, mas ela faria isso porque sou
sobrinha dela.
— Entendo. Olha, tem uma conhecida que trabalha com eventos,
ela conversou comigo e minha mãe tem uns dias sobre isso.
Ela está precisando muito de uma pessoa. Eu acho que você se
enquadra bem no perfil que ela procura.
— Sério? — Animei-me. — Como posso falar com ela?
— Deixa eu ligar para ela.
Jade pegou seu celular na bolsa e se afastou para fazer a ligação,
ela falava bem animada com a mulher ao telefone.
— E então? — Perguntei ansiosa assim que ela finalizou a ligação.
— Ela pediu para te encontrar hoje mesmo! — Gritou e pulou de
animação.
Levantei-me, pulando junto com ela.
— Você está falando sério?
— Claro que sim!
Abraçando-a apertadamente, depositei um beijo carinhoso em sua
bochecha.
— Nem acredito! Meu Deus! — Exalei, contagiada pelo momento
de alegria.
— O nome dela é Helga, e ela disse que só vai conversar com você
mesmo, para entender melhor o trabalho, mas que está precisando muito de
alguém. Isso significa que o emprego já é seu.
Celebramos juntas, entre risos, abraços e beijos efusivos. Em
seguida, fui me preparar para a entrevista, tomando um banho para dar o
meu melhor.
Havia algo de cativante em Helga. Desde o momento em que
comecei a trabalhar com ela, há uma semana atrás, sua personalidade
irradiava uma aura calorosa e envolvente. Cada gesto, cada expressão
facial, parecia repleta de vida, fazendo-me sentir instantaneamente à
vontade ao seu lado. Seus olhos brilhavam com uma mistura de sabedoria e
travessura, enquanto seu sorriso contagiante iluminava qualquer ambiente.
Enquanto finalizávamos as últimas tarefas do evento, Helga
quebrou o silêncio com uma pergunta esperançosa:
— E então, o que achou? — Seu tom era suave, mas carregado de
expectativa, como se estivesse ansiosa por minha opinião.
— Eu amei — respondi prontamente, sentindo-me compelida a
compartilhar minha alegria com ela.
Helga piscou para mim, um gesto que transmitia uma cumplicidade
silenciosa.
— Hoje foi um evento pequeno, mas bem remunerado — disse,
com um brilho travesso nos olhos. — Você vai amar quando tiver um
evento enorme, os de moda são os melhores. É uma pena que você não
possa viajar.
Senti um misto de admiração e frustração ao ouvir suas palavras.
Seu entusiasmo era contagiante, mas a perspectiva de não poder
acompanhar esses eventos grandiosos deixou um gosto amargo em minha
boca.
— É uma pena mesmo — murmurei, desanimada.
— Precisa ir para casa correndo ou podemos beber um Champanhe
primeiro?
— Podemos beber — aceitei a oferta com um sorriso.
Enquanto nos sentávamos e Helga servia as taças, ela lançou um
olhar perspicaz em minha direção.
— Eu reparei que você não fala do seu marido — observou ela,
com curiosidade. — Começou a trabalhar logo depois do casamento, que
espécie de casamento é esse?
Senti um aperto no peito ao encarar sua pergunta direta. Falar sobre
meu casamento era complicado.
— Ele é ocupado demais — tentei desviar o assunto.
No entanto, Helga não se deixou enganar.
— Quanta tristeza nesse olhar, hein? O casamento não te faz feliz?
Respirei fundo, sentindo as palavras entaladas na garganta.
— Eu o amo, mas digamos que ele não sinta o mesmo por mim —
confessei, com um sorriso frágil nos lábios.
— E você casou com um cara que não te ama? — perguntou ela,
sua voz carregada de reprovação.
— É um pouco complicado — sorri, não sabendo como explicar.
— Que seja! — Deu de ombros. — Te vejo muito triste pelos
cantos. Apesar de estar sempre sorrindo, os olhos estão sempre tristes.
— Desculpa Helga, prometo que vou sorrir mais… — ela me
interrompeu.
— Não estou falando do trabalho, Giulia. Não tenho nada para
reclamar de você nessa questão. Estou falando da vida, minha linda.
— Meio que eu forcei esse casamento, sabe? Agora estou arcando
com as consequências — não deveria desabafar com ela, mas no momento
eu preciso ou vou explodir. — Tem uma semana que sequer vejo o meu
marido. Ele não faz questão nenhuma de mim. E sabe o que é pior? Não
consigo sentir raiva, ódio ou qualquer outro sentimento que me faça amá-lo
menos.
— Só existe um segredo para amar menos o seu marido.
— E qual é?
— Se amar mais — sugeriu, sua voz suave ecoando no ambiente.
Fiquei sem palavras diante de sua fala e com um gesto decidido,
virei a taça de champanhe, permitindo que suas palavras ecoassem em
minha mente.

— Giulia?
Levei um susto ao ouvir a voz de Adler. Estava subindo as escadas
para ir para o meu quarto e sua presença repentina me fez dar um pulo.
— Que susto! — Exclamei, colocando a mão sobre o peito
enquanto me virava para encará-lo.
Adler estava lá, imponente como sempre, com seu terno branco e
as mãos casualmente enfiadas nos bolsos da calça.
— Onde estava até essa hora? — Perguntou, com uma mistura de
curiosidade e autoridade em sua voz.
Já passava das onze da noite quando Helga me deixou em frente de
casa, após termos compartilhado algumas garrafas de champanhe.
— Estava trabalhando. E você, o que faz em casa tão tarde?
Minha resposta saiu carregada de ironia, uma leve provocação
impulsionada pela raiva que fervilhava dentro de mim pela indiferença de
Adler.
— No seu trabalho é permitido beber? — Ele questionou,
arqueando uma sobrancelha com uma expressão de desaprovação que,
estranhamente, só o tornava mais atraente.
— E quem disse que eu estava bebendo? — Retruquei, embora
soubesse que ele estava certo. O cheiro de álcool em mim era inegável.
— Qualquer um sentiria o cheiro de álcool que exala de você de
longe.
Respirei fundo, contendo o impulso de replicar com mais
sarcasmo. Estava cansada, exausta do jogo de ignorar e ser ignorada.
— Verdade, qualquer um que repare o mínimo em mim. Enfim,
estou cansada, Adler. Boa noite! — Disse com um tom cortante, virando-
me para subir as escadas.
Mas antes que pudesse dar mais um passo, minha própria falta de
equilíbrio conspirou contra mim. Tropecei e senti o salto do sapato virar,
preparando-me para um inevitável tombo desastroso.
Por sorte, antes que pudesse cair, os braços fortes de Adler já
estavam ao meu redor, me segurando com firmeza. Estava presa em seu
olhar, minha respiração pesada enquanto sentia seu corpo tão próximo do
meu que parecia sufocante.
“Álcool e Adler não são uma boa combinação para a minha
dignidade” — pensei, lutando para afastar os pensamentos confusos que
sua proximidade provocava.
Eu estava determinado a evitar conflitos com Giulia, sabendo que
minhas palavras rudes poderiam magoá-la profundamente. No entanto, algo
dentro de mim me impelia a provocá-la, mesmo sabendo que isso só
alimentaria a tensão entre nós. Hoje, decidi esperá-la em casa, pronto para
implicar, embora não conseguisse explicar exatamente por que estava
agindo assim.
Quando Giulia finalmente chegou, sua condição visivelmente
alterada não passou despercebida aos meus olhos atentos. Ela quase caiu e
se machucou feio, o que me fez reagir instintivamente para protegê-la.
— Pode me soltar — ela empurrou-me, tentando se libertar de meu
abraço, mas eu ignorei seu pedido e continuei segurando-a.
O hálito quente de Giulia, misturado com o cheiro de álcool,
envolvia-me de forma quase hipnótica e, por um momento, senti uma
vontade inexplicável de beijá-la. Sacudi a cabeça, tentando afastar aqueles
pensamentos inconvenientes.
— Machucou o pé? — Perguntei, desviando a atenção para a
situação imediata.
— Não.
Eu a soltei, mas ao vê-la resmungar de dor ao tentar andar, não
pude evitar segurá-la novamente.
— Mas que merda, Adler! — Giulia praguejou, empurrando-me
mais uma vez. — Me larga!
— Você está machucada, Giulia. Vamos sentar e me deixe olhar o
seu pé — insisti, tentando manter a calma.
— Não preciso da sua ajuda e que eu saiba você não é médico! —
Ela retrucou.
— Pode deixar de ser mimada? — Respondi, sentindo minha
paciência se esvair aos poucos.
Seus olhos se estreitaram, refletindo uma mistura de raiva e
desafio.
— Vai se lascar! Você só sabe me chamar de mimada, que saco! —
Desferiu um soco em meu peito.
— Se não quer que eu a chame assim, então para de agir como tal
— minha voz saiu firme, mas contida, tentando controlar a crescente tensão
entre nós.
— Que seja! — Ela revirou os olhos, finalmente cedendo e
aceitando minha ajuda.
Giulia, apesar de relutar, permitiu que eu a ajudasse. Peguei-a no
colo, ignorando suas reclamações, e a coloquei com cuidado no sofá. Meus
olhos percorreram o tornozelo inchado dela enquanto eu me abaixava para
examiná-lo.
— Está doendo muito? — Minha voz soava preocupada enquanto
removia a sandália de Giulia.
— Um pouco — ela fez uma careta de dor.
Posicionei o pé dela em um pufe, procurando conforto para a lesão.
Ofereci gelo para ajudar a aliviar o inchaço, recebendo uma expressão
dolorida em resposta.
— Ai! — Giulia choramingou ao sentir o frio do gelo sobre a pele
machucada.
— É para melhorar. Deixa o pé um pouco para cima — instruí,
cuidadosamente.
— Quero ir lá na cozinha comer alguma coisa — Giulia fez bico,
como uma criança de 5 anos.
— O que você quer? Busco pra você — ofereci, tentando manter o
tom amigável.
Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.
— Está todo bonzinho assim por quê, Adler? — Sua pergunta
carregava um tom de desconfiança.
— Só estou querendo te ajudar, mas se você não quiser, beleza,
fica aí sozinha — virei-me para sair, mas então ouvi sua voz atrás de mim:
— Não precisa ser grosso o tempo todo, tá legal? Eu quero um
sanduíche e suco.
Um sorriso escapou de meus lábios, embora ela não pudesse ver
enquanto eu estava de costas.
Rapidamente preparei um sanduíche e peguei o suco na geladeira
para ela.
— Aqui o seu lanche — entreguei, tentando manter a leveza na
voz.
— Obrigada! — Giulia agradeceu, e sua expressão parecia mais
suave do que antes. Talvez houvesse uma pequena trégua em nosso jogo de
provocações e desentendimentos.
— Estou aqui na varanda, qualquer coisa me chama — eu disse a
Giulia, que me respondeu com um simples aceno de cabeça enquanto ela
continuava a comer.
Acendi o meu charuto e conferi a mensagem no meu celular:
Helga:
Ela está entregue e em segurança. Tem uma esposa de ouro, Adler,
e está deixando passar.
Ignorei a mensagem e bloqueei o aparelho, tentando afastar os
pensamentos incômodos que ela trouxe à tona.
— Está fumando? — Escutei Giulia perguntar, interrompendo
meus pensamentos.
— Sim — respondi, sem olhar para trás.
— Deveria parar com essa merda — ela disse, sua voz carregada
de preocupação.
— E você deveria parar de cuidar da vida alheia — rebati,
sentindo-me irritado com sua intromissão.
Pude ouvir seu resmungo enquanto ela processava minha resposta.
— E você tem que parar de ser idiota em tempo integral — ela
contra-atacou e eu balancei a cabeça em exasperação. Às vezes, parecia que
estava lidando com uma adolescente teimosa. E, para ser sincero, às vezes
me via agindo como um adolescente ao seu redor.
Terminei de fumar e decidi voltar para a sala.
— Vou te ajudar a ir para o quarto — ofereci, tentando deixar de
lado a tensão entre nós.
— E vai me dar banho também? — Giulia provocou, com um
sorriso travesso nos lábios.
— Você precisa de ajuda para tomar banho? — Perguntei,
desafiando-a com um olhar.
— Toda ajuda é sempre bem-vinda — ela piscou para mim e abriu
um pequeno sorriso.
— Certo, te ajudarei a tomar banho — respondi, surpreso com sua
resposta direta e cooperativa.
Pensei que ela fosse dizer que estava brincando ou que não
precisava de ajuda, mas ela simplesmente estendeu os braços para mim.
— Então anda, Adler — ela disse. — Me leve no colo, estou com o
pé machucado.
A vontade de deixar essa diaba abusada ali e simplesmente ir para
o meu quarto era forte, mas eu sabia que não seria justo agir assim com ela.
Então, a peguei no colo sem qualquer dificuldade. Giulia envolveu suas
mãos pequenas em volta do meu pescoço, mas logo começou a gritar assim
que entramos em seu quarto.
— Me larga, Adler! Me larga! — Ela gritava, sua voz ecoando pelo
cômodo.
Fiquei totalmente perdido, sem entender o motivo de toda essa
gritaria e agitação.
— O que é, Giulia? — Questionei, completamente confuso,
enquanto a colocava rapidamente sentada na cama e a encarava, tentando
entender o que estava acontecendo.
— Você faz questão de jogar na minha cara que fica com várias,
não é Adler? — Ela disparou, sua voz carregada de raiva.
Estreitei os olhos, tentando entender como chegamos a esse
assunto tão de repente.
— Do nada isso, Giulia? — Perguntei, tentando manter a calma.
— Essa sua camisa suja de batom é para quê? Para esfregar na
minha cara que estava trepando com outra na rua? — Ela esbravejou,
apontando para a marca de batom em minha roupa.
Giulia estava tão furiosa que seu rosto ficou vermelho de raiva.
Puxei a camisa para olhar e vi a pequena marca de batom, então
expliquei:
— Eu não fiquei com outra mulher — defendi-me, tentando
esclarecer a situação.
— Jura? — Ela riu ironicamente, seu sarcasmo evidente.
— Juro — respondi, tentando manter minha paciência diante de
suas acusações.
De certa forma, era verdade, hoje eu não fiquei com outra mulher.
A marca de batom provavelmente aconteceu quando uma das dançarinas da
boate se aproximou para falar comigo.
— Como você é cínico. Sai do meu quarto! — Ela ordenou,
apontando para a porta com firmeza.
— Eu não fiquei com ninguém, isso aqui foi quando uma das
dançarinas da boate veio falar comigo — expliquei, tirando a camisa para
mostrar a marca.
— Sai! — Ela gritou ainda mais alto.
— Acredite você ou não — dei de ombros. — Pouco me importa.
Mas eu vou te ajudar a tomar banho, você me pediu isso lá embaixo e eu
não subi com você no colo à toa.
Ela se levantou, mancando um pouco, mas determinada.
— Não preciso da sua ajuda! — Ela insistiu, sua voz ainda
carregada de raiva.
Não me importei com sua resistência. Puxei sua cintura, trazendo
seu corpo contra o meu. Ela estava de costas para mim, e minha mão firme
em sua barriga me permitia sentir perfeitamente a mudança em sua
respiração, que agora ficou pesada.
— Vou te ajudar mesmo assim — sussurrei em seu ouvido,
enquanto sentia seu corpo estremecer sob meu toque.
— Não quero — sua voz falhou.
Enrolei seus cabelos em minha mão, sentindo a textura macia entre
meus dedos e, com a outra mão, apertei mais forte sua cintura, arrancando
um gemido involuntário de Giulia. Meu pau pulsou, já desejando estar
dentro dela. Comecei a abrir o zíper da sua calça.
— O que... o que você está fazendo? — Gaguejou, sua voz
trêmula, revelando a confusão em sua mente.
— Te ajudando com o banho — respondi calmamente, ignorando
sua hesitação. Abaixei sua calça lentamente.
— Para com isso, Adler — sua voz era fraca e baixa.
Ela tentava resistir, mas sua voz era vacilante.
Meus dedos deslizaram pelas laterais de sua blusa e eu a puxei para
cima, removendo-a sem esforço. Giulia facilitou levantando os braços,
parecendo se render ao inevitável. Em seguida, abri o fecho de seu sutiã,
libertando seus seios.
Quando me preparei para abaixar sua calcinha, ela segurou firme
em minhas mãos, me impedindo.
— Não precisa, isso eu consigo fazer sozinha — disse com
determinação, sua voz recuperando um pouco da firmeza perdida.
Ela se afastou e começou a andar, ainda mancando em direção ao
banheiro. Quando me aproximei, ela foi mais rápida e bateu a porta na
minha cara.
— Privacidade — gritou do outro lado da porta, sua voz ecoando.
Fechei os olhos com força, tentando controlar minha frustração, e
respirei fundo.
— Deixe-me entrar logo, Giulia! — Pedi, minha voz carregada de
raiva contida.
— Não! — Ela respondeu de forma firme, sem dar margem para
argumentos.
A diaba era terrível, e parecia determinada a me manter do lado de
fora. Minha vontade era derrubar a porta e mostrar-lhe quem estava no
controle, mas resisti à tentação. Não permitiria que ela me visse ceder tão
facilmente.
Então, decidi esperar. Se Giulia pensava que eu sairia de lá com o
"pau duro", estava muito enganada. Eu esperaria o tempo que fosse
necessário até ela sair do banheiro.
E é exatamente isso que fiz. Fiquei de plantão na porta do
banheiro, determinado a não ceder até que ela desistisse.
Quando finalmente a porta se abriu, não hesitei. A agarrei,
jogando-a contra a parede com força.
— Adler! — Giulia gritou, surpresa com minha atitude repentina.
Puxei sua toalha, revelando o vislumbre do seu corpo sensual sob a
luz fraca do banheiro.
— Eu não quero... — sua tentativa de protesto foi interrompida por
um gemido quando abocanhei seu peito, sugando sua aréola rosada com
voracidade.
Repeti o processo com seu outro mamilo, sentindo sua respiração
se tornar mais pesada. Deslizei meus beijos e mordidas por sua barriga,
deixando um rastro de calor e desejo em meu caminho.
Abri bem as suas pernas, colocando uma em cima do meu ombro,
deixando-a exposta para mim e sem qualquer enrolação comecei a chupá-la.
Giulia teve que segurar firme em meus cabelos, arqueando o corpo e
gemendo deliciosamente.
O gosto dessa diaba era incomparável!
Suguei e dei uma leve raspada com o dente em seu clitóris,
fazendo-a soltar um gritinho delicioso.
Senti o seu corpo estremecer e sabia que ela estava perto de gozar.
Afastei minha boca e ela protestou, querendo mais da minha boca em sua
boceta. Puxei os seus cabelos, virando-a de costas, colocando o seu rosto na
parede e desferi um tapa bem forte em sua bunda empinada, deixando a
marca dos meus dedos ali. Rapidamente abri minha calça, libertando o meu
pau, que estava desesperado por ela. Peguei um preservativo no bolso da
minha calça e o coloquei, entrando com força nela.
Apertada e quente feito o fogo do inferno.
Diaba gostosa do caralho!
— Adler!! — Giulia gritou, protestando com a minha invasão dura.
— Goza agora, gostosa — sussurrei em seu ouvido, enquanto
estocava com força dentro dela.
Entrei duro, fundo e o orgasmo, que interrompi quando a estava
chupando, veio com tudo e ela gritou o meu nome. Suas paredes me
apertaram tanto que senti vontade de gozar, mas não vou acabar com a
transa que mal começou agora. Respirei fundo me controlando.
Depois que ela teve o seu orgasmo por completo, me sentei na
cama e a coloco para cavalgar em mim. Giulia novamente tentou beijar-me,
mas eu não permiti.
Visão dos deuses essa... ver os seios de Giulia balançando
enquanto ela quica em mim.
É muita tentação!
Giulia senta com vontade, me levando a loucura e, quando ela goza
mais uma vez, não consigo me segurar e vou junto.
Assim que nossas respirações voltaram ao normal, ela se levantou
e eu fiz o mesmo.
— Quer ajuda para ir ao banheiro? — Ironizei, com um sorriso de
canto de boca.
— Não — ela respondeu curtamente, recusando minha oferta sem
rodeios.
— Então tá — respondi, dando de ombros e começando a
caminhar em direção ao banheiro.
— Aonde você vai, Adler? — Ouvi sua voz chamar,
interrompendo meu passo. Parei e me virei para encará-la.
— No banheiro — respondi, confuso com a pergunta óbvia.
— No banheiro do seu quarto, do meu não — ela explicou, sua
expressão séria deixando claro que não estava brincando.
Franzi a testa, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Tá falando sério? — Perguntei, tentando processar a situação.
— Muito sério — ela respondeu com firmeza, sua postura não
deixando espaço para argumentos. — Muito obrigada pela ajuda e por ter
me feito gozar, mas é só isso. Hora de você cair fora do meu quarto — ela
continuou, surpreendendo-me com sua franqueza.
Levantei as sobrancelhas, olhando para ela com incredulidade.
— Vamos, junte as suas coisas e caia fora — ela insistiu, sua voz
firme e determinada.
Inacreditável! Essa garota era uma verdadeira diaba, e eu estava
completamente perdido diante de sua atitude repentina.
— Para de graça, Giulia — pedi, tentando manter a calma diante
de sua insistência.
— Cai fora! — Ela exigiu, elevando o tom de voz.
— Beleza — respondi resignado.
Vesti minha cueca e peguei minhas roupas espalhadas pelo chão.
Ela veio caminhando com dificuldade atrás de mim até a porta.
— Hora de ir atrás de outra, afinal, você não se contenta só com
uma mulher — provocou.
Não tive tempo de argumentar, pois ela bateu a porta na minha
cara, encerrando qualquer possibilidade de discussão. Senti-me pela
primeira vez impotente diante da situação, sem saber ao certo o que fazer
em seguida.
Confesso que foi uma experiência incrível jogar com Adler. Além
de ser uma diversão garantida, foi extremamente satisfatório. Após
momentos de intensos orgasmos, adormeci sentindo-me leve.
No entanto, brincar com ele sempre resulta em feridas, não apenas
físicas — como meu tornozelo inchado —, mas também emocionais.
Enquanto me entregava ao sono, lágrimas escaparam dos meus olhos, talvez
impulsionadas pela cachaça ou por ser muita boba quando o assunto é
Adler.
É difícil não ser afetada pelo conhecimento de que Adler se
envolve com outras mulheres. Por mais que eu tente convencer a mim
mesma de que isso não me machuca, é inevitável. Anseio por mais
dedicação por parte do meu marido, em vez de me contentar com migalhas
de atenção.
Ao acordar, uma mensagem de Helga oferecendo-me um dia de
folga me aguardava. Agradeci profundamente, especialmente porque meu
tornozelo ainda latejava e estava levemente inchado. Não sei o que a
motivou a fazer isso, mas sou imensamente grata.
Desço as escadas com dificuldade, meu estômago reclamando de
fome. Um sobressalto me atinge ao ver Adler sentado à mesa, tomando seu
café matinal.
— Anda muito assustada — comentou ele, sem olhar para trás,
mas parecendo ter superpoderes para saber que eu estava ali.
Passei por ele sem dizer absolutamente nada e fui preparar um café
para mim.
— Bom dia para você também! Dormiu bem? — Perguntou,
ironicamente.
— Bom dia! Dormi muito bem — abri um pequeno sorriso,
decidindo entrar no joguinho de ironia dele.
— Está mancando ainda, acho melhor ir ao médico — observou.
— Só está doendo um pouquinho, daqui a pouco melhora —
respondi, dando de ombros.
— O que fará hoje? — Ele perguntou, com um tom curioso que me
fez arquear a sobrancelha, estranhando a sua pergunta.
— Estou de folga — respondi, mantendo um olhar desafiador.
— Que ótimo! Assim poderá descansar e recuperar o tornozelo
machucado — sua preocupação genuína me pegou de surpresa.
— E desde quando você se importa? — Joguei as palavras, logo
me arrependendo ao ver seu semblante sério e ele se levantar, visivelmente
irritado.
— Eu até tento ter uma conversa saudável com você, mas é
impossível — sua voz soou decepcionada.
— Adler, espera... — caminhei com uma certa dificuldade até ele,
parando na sua frente.
— O que foi? — Ele questionou, com uma mistura de impaciência
e curiosidade.
— Desculpa por ter sido ignorante — eu disse, com sinceridade.
Seus olhos avaliaram-me por breves segundos antes de responder.
— Tudo bem — ele murmurou, antes de virar as costas e se dirigir
até a porta.
— Adler? — Chamei, mais uma vez, e ele parou de andar, virando-
se lentamente para me olhar.
— Sim? — Sua voz soou cautelosa.
— Você vai voltar para casa hoje? — Minha pergunta pairou no ar,
carregada de expectativa. Seu silêncio diante da minha pergunta foi
ensurdecedor e doeu mais do que um tapa na minha cara.
Não vou ficar aqui esperando uma resposta que provavelmente não
vai chegar. Então, recolhi meu resto de dignidade e virei-me para voltar à
cozinha.
— Talvez, sim — escutei-o responder antes de fechar a porta e,
mesmo que pareça ridículo, senti meu coração pular de felicidade dentro do
peito.
Fiz o meu café da manhã e aproveitei o dia para falar com as
minhas primas e a minha mãe. Também mandei uma mensagem para o meu
pai, mas ele ainda está chateado comigo e quase não tem me respondido.
Tudo bem, não vou ficar insistindo, vou esperar o tempo dele.

No restante do dia, aproveitei para dar uma organizada no meu


quarto e resolver algumas pequenas bagunças pela casa. No entanto, ficar
em casa sem fazer nada rapidamente se tornou entediante para mim; senti
falta do meu trabalho.
Mandei uma mensagem para Helga no início da noite, perguntando
se ela ainda estava trabalhando, mas ela não me respondeu. Enquanto isso,
passei o tempo assistindo TV, mas logo me vi entediada. Uma ideia meio
louca surgiu na minha mente e me animei.
Com meu tornozelo muito melhor, andei apressadamente para o
meu quarto, tomei um banho revigorante, escolhi um vestido justo e bonito,
calcei meus saltos e passei uma maquiagem que combinava perfeitamente
com o meu look e com a noite que se anunciava.
Chamei um táxi e fui direto para a boate de Adler, cujo nome
descobri através da minha tia Alice, já que nem isso ele foi capaz de me
dizer.
Na porta, o segurança tentou me barrar, mas assim que disse meu
nome e sobrenome, ele logo percebeu que estava falando com a esposa do
dono. Pediu sinceras desculpas e permitiu minha entrada.
Finalmente, ser a esposa de Adler se mostrou benéfico para algo.
Fiquei espantada com a grandiosidade daquele lugar, o luxo e a quantidade
de pessoas ali dentro.
— Uma margarita, por favor — pedi ao barman, assim que me
aproximei do balcão, decidida a aproveitar a noite.
Rapidamente, o barman preparou o drink e, ao me entregar, ficou
encarando meus pulsos. Arqueei uma sobrancelha e ele riu.
— Desculpe, é que a senhorita não está com identificação —
explicou.
— E qual seria essa identificação? — Indaguei.
— A pulseira de VIP.
— Você fala para cobrar essa margarita? — Ele assentiu. —
Coloca na conta do Adler.
Saí sorrindo, deixando o homem ainda mais confuso com a
situação.
Caminhei entre as pessoas e reparei na enorme escada de vidro,
que provavelmente dava acesso ao escritório de Adler. Havia vários
seguranças ali, mas o que realmente chamou minha atenção foi ver uma
mulher descendo dali, uma mulher que eu conheço bem.
Meu coração disparou e deixei a taça que estava em minha mão
cair no chão, chamando a atenção das pessoas ao meu redor e
principalmente dela... Helga. Parecia que ela estava saindo dali às pressas,
provavelmente ao descobrir que eu estava ali.
Adler também apareceu no topo da escada e ficou me encarando,
mas eu o ignorei completamente; meus olhos estavam fixos nela.
— Giulia, podemos conversar? — Ela perguntou, aproximando-se
de mim.
— O que você faz aqui? Aliás, o que fazia lá em cima? — Meu
tom era carregado de desconfiança. Adler apareceu logo atrás dela.
— Giulia, Helga, vamos subir e conversar. As pessoas estão nos
olhando, não vamos chamar atenções desnecessárias — Adler tentou
amenizar a tensão do momento.
Olhei de um para o outro, incapaz de explicar o turbilhão de
sentimentos dentro de mim.
— Vocês se conhecem? — Perguntei, sentindo-me cada vez mais
confusa. A ausência de resposta de ambos disse mais do que palavras. —
Meu Deus! Vocês transam? — Minha voz ecoou quase como um grito de
incredulidade.
— Giulia, vamos subir e conversar — Adler repetiu, mas fui surda
às suas palavras, perdida em minha própria fúria.
— Não é nada disso, Giulia — Helga falou baixo, quase inaudível.
Então, ontem ele sabia onde eu estava, só quis jogar comigo... e eu
pensando que estava jogando com ele.
— Você está sempre querendo me humilhar, não é, Adler? — Abri
um sorriso sarcástico, meu coração pulsando com raiva.
— Giulia, vamos conversar como dois adultos.
— Foda-se essa história de ser adultos! — Acertei um soco no
peito de Adler, empurrando-o e saí andando apressadamente entre a
multidão, vi um segurança de Adler vindo em minha direção, enquanto eu
rumava para fora da boate. Tentei correr o mais rápido possível, mas o meu
tornozelo não estava me ajudando muito. Já fora da boate, continuei
andando rápido até sair de lá de dentro. Atravessei a rua no meio dos carros
e por pouco não fui atropelada. O segurança que estava me seguindo ficou
para trás, porque um carro quase o atropelou também. Essa foi a minha
sorte!
Como estava andando e olhando para trás, acabei batendo
firmemente em algo e quase caindo no chão, mas braços fortes me
seguraram, fazendo-me constatar que não bati em algo e sim em alguém.
— Desculpe-me! — Exclamei, levantando os olhos para encarar o
homem bonito sorrindo para mim.
— Não precisa se desculpar — sua voz soou forte e, ao mesmo
tempo, suave. — Está tudo bem?
— Sim, está sim — ofeguei, cansada de praticamente correr. —
Pode soltar-me — referi-me às suas mãos em minha cintura.
— Ah, sim! Claro — ele sorriu e me soltou. — Corre bem com
esses saltos — apontou para os meus pés. — Aliás, tem certeza que está
tudo bem?
— Tenho, tenho sim. Obrigada por ter me segurado — passei por
ele, pronta para ir embora, mas me virei, perguntando: — Sabe onde
encontro um táxi por aqui?
— Na próxima rua você deve encontrar.
— Obrigada — voltei a caminhar.
— Espera — ele veio correndo na minha direção. — Pode ser
perigoso ir sozinha, posso te fazer companhia? — Perguntou, caminhando
ao meu lado.
— Acho melhor não. Olha, não me leve a mal, mas eu nem lhe
conheço — ele parou na minha frente e estendeu a mão para mim.
— Prazer, me chamo Kalel — respirei fundo, mordendo o lábio
inferior para não rir.
— Não foi isso que eu quis dizer. Não estou me referindo ao seu
nome, estou falando que não conheço a sua índole — expliquei, cautelosa.
— Como é o seu nome? — Sorriu novamente. O sorriso dele era
bonito, aliás, ele era todo bonito.
Balancei a cabeça, espantando esses pensamentos.
— Giulia — respondi apenas para não ser mal-educada.
Ele colocou a mão no bolso e tirou um cartão, entregando-me.
Desconfiada, peguei e li o seu nome, onde também havia um
número de telefone e um endereço de academia.
— Professor de muay thai — li em voz alta.
— Isso mesmo — confirmou sorrindo.
— Tá legal, Kalel, vou deixar você me acompanhar — rendi-me ao
charme desse professor.
Ele assentiu e voltamos a caminhar.
— Por que estava correndo daquele jeito, Giulia? — Perguntou,
curioso.
— Assunto complicado, deixa pra lá.
— Olha, tem uma sorveteria logo ali — apontou para o nosso lado,
onde realmente havia uma sorveteria aberta. — Um sorvete e uma boa
conversa, o que você acha?
— Não sei — continuei desconfiada das intenções desse homem.
— Giulia, estaremos em um lugar público. Estou de carro, mas não
vou te oferecer uma carona, porque sei que seria absurdo, já que você não
me conhece. Prometo que depois do sorvete, encontro um táxi para você.
Ponderei se isso seria uma boa ideia.
— Quem vai pagar o sorvete? — questionei, já sorrindo.
— Eu, lógico. Quem convida, paga.
— Ótimo — acabei aceitando. — Então vamos.
Afinal, um sorvete e uma boa conversa não me parece uma má
ideia.
— Conhece o muay thai, Giulia? — Perguntou Kalel, enquanto já
estávamos sentados e saboreando nosso sorvete.
— Não, mas estou com planos de começar a praticar algum
exercício — ponderei sobre minha nova fase.
Principalmente agora que estarei desempregada.
— Caso queira conhecer, vá lá na academia. Estou por lá de
segunda a sábado e seria um enorme prazer ensiná-la — ele ofereceu, com
um brilho animado nos olhos.
— Prometo que aparecerei lá qualquer dia desses — prometi,
embora não tivesse a menor intenção de seguir com isso.
— Vou ficar esperando — ele piscou para mim, sorrindo. O sorriso
dele era contagiante, tornando-o ainda mais atraente. — Quer me falar o
que aconteceu para estar correndo desesperadamente daquele jeito?
— Problemas — sorri disfarçadamente, sem vontade alguma de
falar sobre o assunto. — Sempre problemas.
— Quer compartilhá-los? — Ele perguntou, com um olhar gentil.
— Não quero estragar o nosso momento sorvete — brinquei,
soltando um sorriso amarelo.
— Não vai estragar, o fardo só vai ficar menor para você quando
compartilhar os seus problemas — ele insistiu, demonstrando preocupação
genuína.
— É que me decepcionei com duas pessoas que gosto — confessei,
sentindo um peso no peito.
— Entendo... a sensação é horrível, não é mesmo? — Ele falou, em
um tom reconfortante.
— Muito — suspirei pesadamente.
— Bom, Giulia, nada se pode fazer quanto a isso, a não ser dar
tempo ao tempo para que essa decepção possa ser curada. — Ele ofereceu
um conselho sábio, acompanhado de um sorriso tranquilizador.
— O que mais tenho feito nos últimos dias é dar tempo ao tempo,
mas parece que as coisas só têm dado errado. É incrível! — Comentei,
desanimada, mexendo no sorvete sem vontade de tomá-lo.
— Acredite mais em você, Giulia. Tenho certeza de que as coisas
vão começar a dar certo — ele me lançou um sorriso encorajador, que
conseguiu arrancar um sorriso meu também. — Agora vamos encerrar essa
conversa, porque você já até perdeu a vontade de tomar o sorvete e isso eu
não aceito.
Soltei uma risada alta. Kalel parecia ser divertido e, ao mesmo
tempo, compreensivo. Voltei a saborear meu sorvete, um pouco mais
animada na presença desse até então desconhecido, mas muito simpático...
e lindo!
As coisas simplesmente fugiram do controle numa reviravolta
inesperada. A última pessoa que eu esperava ver naquela boate era Giulia.
Mas, pensando bem, com ela, tudo é possível. Giulia é imprevisível, sempre
foi.
A razão pela qual convidei Helga para se encontrar aqui era para
finalizar nosso acordo. Porém, a entrada de Giulia na equação mudou tudo.
Eu só queria entender melhor o ambiente de trabalho dela, explorar as
oportunidades para seu crescimento, até mesmo considerando financiar a
empresa se fosse preciso.
Mas antes que pudéssemos discutir mais, fomos interrompidos pela
notícia de que minha esposa estava no local.
Helga partiu imediatamente para evitar que Giulia a visse, não
querendo revelar nosso plano agora. Infelizmente, não foi rápido o
suficiente. Giulia a viu e o caos se instalou.
Estou furioso com o segurança por perdê-la de vista. Agora, não
faço ideia de onde aquela louca possa estar.
Estou aqui, no meu apartamento, esperando por ela. Porque sei
que, mais cedo ou mais tarde, ela terá que voltar para casa.
E como previsto, mal ouvi a porta se abrir, me dirigi até ela.
— Onde você estava? — Perguntei, direto ao ponto, apoiando-me
na parede e enfiando as mãos nos bolsos da calça.
— Faça um favor enorme para nós dois, Adler. Esqueça que eu
existo — ela tentou passar por mim, mas segurei seu braço com firmeza,
cuidando para não machucá-la.
— Pare de agir como uma criança, Giulia!
— Criança é o caramba! Estou cansada de ouvir você me
chamando assim o tempo todo! — Ela gritou. — E me solta, seu idiota!
Cedi e soltei-a.
— As coisas não são como você pensa — tentei explicar.
— O que eu penso? Que você se envolve com todo mundo? Estou
errada? Me responde! — Giulia continuou gritando.
— Pare de gritar e vamos conversar como adultos.
— Ah, vai se danar! — Ela virou as costas para mim.
— Não é porque eu estava conversando com uma mulher que
tenho algum relacionamento com ela.
Certo, após o casamento, me envolvi com outras mulheres, mas
isso não tem nada a ver com Helga.
Ela se virou novamente para mim, os olhos faiscando de raiva.
— Quero que você e todas essas mulheres com quem se envolve
explodam!
Respirei fundo, precisava ter paciência com Giulia.
— Podemos conversar, Giulia? Como adultos?
Poderia simplesmente ignorá-la e voltar para a boate, mas Giulia
precisa entender que nem tudo o que ela pensa é verdade.
— O que você quer conversar? — Ela cruzou os braços, batendo o
pé impacientemente. — Quer me contar quantas vezes transou com outras
mulheres desde que nos casamos? Incluindo minha chefe? — Ela gritou a
última parte.
— Nunca transei com Helga.
— Então o que ela estava fazendo no seu puteiro?
— É uma boate — corrigi-a, e ela soltou uma gargalhada irônica.
— Você pode ser engraçado quando quer.
— E você pode ser insuportável quando quer — ela estreitou os
olhos, e decidi não entrar nessa discussão. — Helga estava lá para resolver
questões profissionais.
— Que tipo de questões profissionais você teria com ela? Você
trabalha em um puteiro, não em eventos.
Respirei fundo novamente. Giulia é difícil!
— A empresa de Helga não estava indo tão bem quanto parecia.
— Como assim? — Agora Giulia estava interessada no que eu
tinha a dizer.
— Apenas vi Helga algumas vezes antes de você começar a
trabalhar com ela, e todas essas vezes foram em eventos que ela organizou.
Nós dois nunca tivemos qualquer envolvimento além do profissional.
— E por que você mencionou que a empresa dela está mal das
pernas?
— Isso mesmo que você entendeu, a empresa estava enfrentando
dificuldades financeiras. Em resumo, daqui há alguns meses, Helga estaria
afundada em dívidas.
— Meu Deus! — Giulia ficou chocada. — Mas parecia estar tudo
bem.
— Como eu disse, nem tudo que parece, realmente é.
— Como você descobriu isso?
— Através de contatos.
— E por que está se envolvendo nisso?
— Seu trabalho está te fazendo bem, eu acho isso ótimo para o seu
crescimento pessoal — mais uma vez, Giulia revirou os olhos. — Não
quero que, daqui há alguns meses, Helga tenha que te demitir. Percebi que
você gosta desse ramo, então decidi comprar a empresa dela — Giulia ficou
boquiaberta.
— O quê?! — Exclamou. — Você será o meu chefe agora? —
Sorri levemente.
— Não, Giulia. Não serei seu chefe.
— Não estou entendendo, Adler.
— Comprei a empresa, ela será sua.
— Meu Deus! — A expressão dela foi impagável. — Você
comprou a empresa para mim?
— Queria que você soubesse disso depois, mas como sempre, você
não tem paciência para esperar — respondi, com sinceridade.
— Adler, você está falando sério? Ou está brincando comigo?
— Não tenho motivos para brincar.
A reação dela foi totalmente inesperada. Giulia se aproximou e,
num impulso repentino, pulou em meu colo, envolvendo suas pernas em
volta da minha cintura e me abraçando com força. No início, fiquei estático,
sem saber como reagir, mas logo após alguns segundos de surpresa, segurei
sua cintura, dando-lhe apoio para que não caísse.
— Adler, muito obrigada! Muito obrigada! — Ela beijou minha
bochecha, transbordando gratidão.
— Não agradeça, você ainda terá que trabalhar, agora com o dobro
de responsabilidades.
— Ah, não seja tão duro — ela sorriu e, quando se aproximou para
beijar novamente a minha bochecha, nossos lábios se encontraram.
Fiquei novamente paralisado por alguns segundos, e Giulia
aproveitou a oportunidade para passar a língua em meus lábios.
Há quanto tempo eu não beijo alguém? Não consigo me lembrar.
Ela sorriu, seus lábios roçando nos meus.
— Acho melhor irmos dormir — eu disse, afastando nossos lábios.
— Me beija, Adler — ela pediu, sua voz rouca, carregada de
desejo, que refletia em seus olhos.
Seus lábios encontraram os meus novamente e, desta vez, não pude
resistir. Girei com ela em meu colo, pressionando-a contra a parede, meu
corpo colado ao dela, enquanto nos entregávamos a um beijo ardente,
selvagem. Nossos lábios se fundiram em uma dança frenética, explorando,
mordendo, lambendo, numa urgência desenfreada.
Éramos um emaranhado de lábios, dentes, línguas e mãos,
buscando toques desesperados. Fui envolvido por aquele beijo,
completamente entregue aos lábios de Giulia e ao calor de seu corpo contra
o meu.
Puxei os cabelos dela suavemente, fazendo-a inclinar a cabeça para
trás, afastando nossos lábios por um instante. Mas rapidamente os capturei
novamente, em um beijo selvagem e faminto, mordendo seu lábio inferior e
sugando sua língua. Eu ansiava por mais daquela intensidade, desesperado
por cada momento daquele beijo ardente.
— Ah, Adler! — Giulia ofegou, gemendo meu nome entre nossos
lábios.
Abri os olhos e me deparei com ela sorrindo para mim, um brilho
intenso em seu olhar.
A sensação de estar enganando essa garota atingiu-me com força.
Porra, eu sou um cretino, sei disso, um idiota egoísta, mas não quero iludi-
la, não quero alimentar falsas esperanças.
— Giulia, acho melhor pararmos por aqui — alertei, buscando ser
racional. Ajeitei a posição, tentando criar algum espaço entre nós, mas seus
braços, firmes e determinados, mantiveram o contato próximo.
— Por quê? — Perguntou, seu sorriso desvanecendo-se,
substituído por um olhar curioso e penetrante.
— Não quero te iludir — fui sincero. Eu realmente não queria vê-
la sofrendo por uma expectativa vazia.
Seus olhos me estudaram por um momento. Suas pernas, que até
então estavam confortavelmente enroladas em volta da minha cintura,
apertaram-se ainda mais, prendendo-me um pouco mais contra ela. Eu
podia sentir sua respiração quente na minha pele, seu hálito se misturando
ao meu.
— Não está me iludindo, Adler — sua voz era baixa, firme. Seus
olhos não desviavam dos meus.
— É melhor não — tentei me afastar novamente.
— Por que você continua tentando fugir? Não há problema em
você me desejar, assim como eu desejo você — sua voz, antes firme, agora
soava mais suave, carregada de uma certa urgência.
— O problema está aí, Giulia. Eu não quero chateá-la, mas o que
sinto por você é apenas tesão, não nos desejamos da mesma maneira —
falei a verdade.
Seus olhos, antes tão intensos, se fecharam por um instante. Eu
podia sentir que ela estava tentando processar o que eu havia acabado de
dizer. Quando se abriram novamente, todo o brilho que tinham antes parecia
ter desaparecido.
Ela soltou um suspiro pesado e, antes que eu pudesse reagir, desceu
do meu colo. Eu a deixei, observando-a silenciosamente. Minha mente era
um turbilhão de pensamentos.
— Você está certo. Obrigada pela empresa, amanhã falarei com
Helga. Boa noite, Adler! — Sua voz era controlada, mas eu pude detectar
um leve tremor.
Ela virou as costas para mim e subiu as escadas. Eu a observei até
que desaparecesse da minha visão.
Surpreendentemente, ela não gritou, não brigou, não fez o
escândalo que eu estava acostumado a ver. Giulia simplesmente virou-se e
subiu as escadas.
Estranhamente, a vontade de correr atrás dela me invadiu, mas me
segurei. Não queria ser tão egoísta a ponto de ceder ao meu desejo e usá-la.
Não queria machucar Giulia mais do que já havia.
Apesar da raiva que senti dela no início, agora sei que ela não é
má. Não quero causar mais dor a ela.
Não sei como descrever o turbilhão de emoções que invadiu meu
coração quando Adler revelou que comprou a empresa de Helga para mim.
Cheguei ao apartamento com um ódio fervente por ele, mas em
questão de minutos, estava nos seus braços, completamente rendida.
É incrível o poder que Adler exerce sobre mim. Às vezes, desejo
odiá-lo com todas as minhas forças, mas simplesmente não consigo. Se ao
menos eu pudesse sentir um pouco de raiva, talvez esse amor intenso que
sinto por ele diminuísse e eu sofreria menos. No entanto, não há espaço
para mágoas ou raiva quando o amor é tão profundo.
Aquele beijo... Meu Deus, foi além das minhas expectativas! Eu
poderia passar a noite toda e toda a vida apenas beijando aquela boca
maravilhosa. Mas sei que não será fácil conseguir outro beijo de Adler.
Parece que estou sempre lutando, sempre insistindo.
Mas estou cansada disso. Cansada de lutar, de insistir. Claro, me
senti frustrada quando ele encerrou o beijo e o clima quente, queria mais,
muito mais. No entanto, não vou implorar. Se ele acha que é melhor
pararmos, então assim será.
Entendi que não adianta ficar implorando por mais de Adler. Com
ele, isso não funciona. Fui dormir com uma pontada de tristeza por desejar
mais dele, mas ao mesmo tempo, dormi feliz por ele ter comprado a
empresa para mim. Meu coração tolo insiste em acreditar que ele fez isso
porque se importa comigo, nem que seja um pouquinho. Mas se importa.
Ao descer para tomar café da manhã, não o encontrei, mas isso já
era de se esperar vindo de Adler.
Agora estou chegando ao escritório de Helga. Preciso conversar
com ela e me desculpar.
— Helga? — Bati suavemente na porta. — Posso entrar? —
Esperei pela sua resposta, ansiosa para iniciar a conversa.
— Entre, Giulia — sua voz soou acolhedora quando autorizou
minha entrada.
Assim que entrei, aproximei-me dela.
— Licença — disse, educadamente. — Podemos conversar?
— Claro — ela sorriu, levantando-se. — Bom, acredito que você já
saiba. Então, sente-se na sua cadeira — apontou para a cadeira que antes
ocupava.
— Não! Por favor, continue sentada aí — insisti, demonstrando
meu respeito.
Ela abriu um pequeno sorriso, concordando, e voltou a se sentar.
— Você já sabe a verdade, não é? — Perguntou, um pouco
confusa.
Sentei-me na cadeira à frente.
— Sim, mas antes de começarmos, eu gostaria de me desculpar
pela forma ofensiva como falei com você ontem.
— Tudo bem, não precisa se desculpar — Helga foi compreensiva.
— Preciso, sim, e faço questão. Ficarei muito feliz se você puder
me desculpar — insisti, querendo reparar o erro. Helga sorriu.
— Minha querida, você é minha chefe agora, não tenho nada do
que desculpar.
— Eu já te considero minha amiga, estou errada?
— Não, você está certa. Também te considero minha amiga —
trocamos sorrisos carinhosos.
— Ótimo! Amigas erram e pedem desculpas. Basta saber se você
vai aceitar as minhas? — Perguntei, mais tranquila agora que sentia que as
coisas estavam se acertando.
— Estão mais que aceitas — Helga me tranquilizou. Respirei
aliviada.
— Quando o assunto é o meu casamento, acabo saindo do controle
— confessei, abaixando o olhar, um pouco envergonhada.
— Não sei se posso opinar sobre esse assunto, mas eu não acredito
que ele não se importe com você da maneira como havia me falado antes —
Helga ofereceu uma perspectiva diferente.
— Como assim? — A encarei, surpresa.
— Seu marido me procurou e parecia muito preocupado com o seu
futuro. Comprou essa empresa para você e, vou te falar, ele me ofereceu um
valor acima da média. Ontem ele ficou bem preocupado em você vê-lo com
outra pessoa, que no caso era eu, e não tinha nada demais — ela riu. — Seu
marido sabia que você não ia entender bem.
— Sério tudo isso que você está falando? — Minha surpresa era
evidente.
— Seríssimo! Olha, eu acho que ele só não percebeu ainda o
quanto gosta de você.
— Helga, não me iluda! — Ralhei, rindo nervosamente, mas meu
coração começava a se encher de esperanças novamente.
— Não estou iludindo, acredite em mim.
— É tão difícil quando o assunto é o meu marido — suspirei, um
pouco cansada de toda essa situação.
— Uma vez até comentei com você... eu te acho linda, Giulia, um
mulherão, mas precisa se valorizar mais, se amar mais — Helga ofereceu
uma perspectiva empoderadora.
— É, eu sei disso. Vou procurar ocupar mais a minha cabeça com o
trabalho e esquecer um pouco desse amor louco.
— Agora você é uma mulher de negócios — Helga piscou para
mim. — Por que não começa mudando o visual?
— Como assim? O que mudar o visual tem a ver? — Indaguei,
curiosa.
— Dizem... — ela apoiou os cotovelos na mesa — que quando
mudamos o visual, damos uma renovada na nossa vida. Eu acho, minha
opinião, ok? — Ela sorriu.
Assenti, entendendo sua sugestão. — Parece uma ótima ideia! —
Exclamei, animada com a perspectiva de mudança.
Talvez mudar o visual seja exatamente o que eu preciso.
— Você precisa se encontrar, Giulia. Mude completamente, deixe o
seu marido se perguntando o que aconteceu com aquela antiga Giulia.
Deixe-o louco, sem entender absolutamente nada.
— Você tem razão! — Levantei-me, sentindo-me muito
entusiasmada com a ideia. — Estou precisando mesmo dar uma reviravolta
na minha vida.
— Isso, você precisa se tornar mais mulherão, consegue
compreender? Não que você não seja, mas precisa dar mais personalidade a
essa mulher incrível. Quem te olha agora pensa que você é uma garotinha,
tem carinha de meiga, mas acho que se mudarmos isso, vai ficar ainda
melhor — enquanto fala, Helga gesticula com as mãos de forma animada,
movendo os braços para enfatizar suas palavras.
— Ai, Helga, muito obrigada por isso, eu estava mesmo precisando
desse toque.
Helga se levantou, aproximando-se de mim.
— Fico muito feliz de passar essa empresa para você. Pouco tempo
juntas e eu sei que você é a pessoa ideal para isso
— Nada vai mudar, eu ainda tenho muito que aprender com você.
Por enquanto, essa cadeira continua sendo sua — segurei as suas mãos
firmemente, demonstrando gratidão e respeito.
— De jeito nenhum!
— Faço questão.
— Mas e o seu marido? — Seus olhos se estreitam ligeiramente,
preocupada com a possível reação de Adler.
— Ele comprou a empresa e me deu, não foi? — Helga anuiu. —
Então eu faço o que eu quiser, e meu desejo é esse.
— Você não existe, Giulia — deu-me um abraço carinhoso, que
retribui com muito afeto. — Vamos marcar esse salão? Tenho uma amiga
maravilhosa que cuida de um cabelo como ninguém.
— Quero sim, mas vamos marcar para o final da tarde? Depois do
trabalho vou passar na academia de um colega que fica aqui pertinho.
Ela sorriu e se recostou um pouco, olhando para mim com
curiosidade.
— Academia? — Arqueou a sobrancelha. — Colega? Hum...
— É. Conheci um professor de muay thai e me interessei — eu
olhar era de pura surpresa, mas continuou a sorrir, piscando para mim de
forma brincalhona.
— No professor ou na aula? — Soltei uma risada.
— Na aula, né Helga. Você sabe que só tenho olhos para Adler.
Rimos, voltando a nos sentar para conversarmos mais sobre o
trabalho.
Ao entrar na academia, fui recebida por uma música suave
preenchendo o ambiente, enquanto alguns alunos se dedicavam aos treinos.
Passei o olho pelo local, tentando encontrar Kalel entre os presentes.
— Giulia — dei um pulo, levando a mão ao peito ao ser
surpreendida pela voz de Kalel por trás de mim.
— Aí! Que susto! — Exclamei, ainda tentando recuperar o fôlego.
Ele sorriu, divertido com minha reação.
— Anda muito assustada, hein? — Brincou. — Chegou em casa
bem ontem?
— Cheguei — respondi, tentando normalizar minha respiração
após o susto.
— Fico feliz que tenha aparecido por aqui. Veio pronta para treinar
hoje? — Ele riu, apontando para meus saltos.
Eu adorava um salto alto.
— Não acredito que este seja o look apropriado para treinar —
respondi, entrando na brincadeira.
— Realmente não é — concordou.
— Mas eu vim dizer que vou começar a partir de amanhã.
— Jura? — Ele parecia surpreso com a notícia.
— Sim.
— Que maneiro!
— Só posso de manhã bem cedinho ou no final do dia.
— No final do dia, pode ser?
— Claro — respondi, concordando com sua sugestão. — Eu até
prefiro também, não gosto muito de acordar bem cedo.
— Então estamos combinados.
— Amanhã eu volto.
— Te espero amanhã. Não vai me enganar, hein, Giulia? — Ele
piscou de forma divertida, arrancando-me um sorriso.
Nos despedimos e eu segui diretamente para o salão. Assim que
entrei, avistei Helga e, ao mostrar a foto do corte e cor de cabelo que
escolhi, tanto ela quanto a cabeleireira ficaram boquiabertas.
— Você tem certeza disso, Giulia? Eu estava falando em dar uma
repaginada no visual, mas não tão radical — Helga expressou sua surpresa,
enquanto a cabeleireira observava atentamente.
— Não acha que vai ficar legal? — Perguntei, sentindo uma
pontada de insegurança.
— Vai ficar maravilhoso, não tenho dúvidas! — Helga respondeu,
demonstrando confiança na escolha.
— Então vai ser esse mesmo — confirmei, sorrindo.
— Ok. Gostei muito da escolha — elogiou a cabeleireira.
Algumas horas se passaram e eu já me sentia um pouco cansada,
com uma leve dor de cabeça. Graças a Deus, estávamos finalizando o
processo no salão. A parte do corte foi a mais dolorida para mim, já que
estava acostumada com os cabelos longos, sempre os usei assim.
— Giulia, está incrível! — Helga elogiou, animada com o
resultado.
Olhei para o espelho e, ao ver o novo corte, senti uma mistura de
emoções. Meus olhos se arregalaram e fiquei boquiaberta. Estava chocada
com a transformação, parecia uma pessoa completamente diferente, uma
nova Giulia.
— Meu Deus! — Exclamei, chamando a atenção de ambas.
— Não gostou? — A cabeleireira demonstrou preocupação.
Helga também arqueou as sobrancelhas, aguardando minha reação.
— Eu amei! — Minha voz transbordava de empolgação e comecei
a rir, feliz com o que via no espelho: a nova versão de mim mesma.
— Ficou ainda mais bonita! — Helga me enalteceu.
— Minha dor de cabeça até passou — comentei, rindo à toa ao me
ver no espelho com o visual novo. — Sabe o que vou fazer, Helga?
— O quê?
— Sair para dançar.
— Queria muito te acompanhar, mas hoje estou cansada — Helga
explicou.
— Tudo bem. Sairei para dançar no puteiro do meu marido.
A cabeleireira arregalou os olhos com minha fala e Helga caiu na
gargalhada.
— Você tem certeza disso, Giulia?
— Absoluta! — Afirmei, mais certa do que nunca, de que era
exatamente isso que faria.
Hoje sairia para dançar, beber e mexer com a cabeça de Adler. Ele
já conheceu a Giulia menina e não gostou, agora mostraria para ele a Giulia
mulher e, dessa vez, não me importava se ele gostaria ou não.
Fiquei completamente balançado com aquele beijo de Giulia, e
estou me odiando por isso. Não consegui dormir e acabei voltando para a
boate, na vã tentativa de tentar esquecer aquela diaba. Mesmo organizando
uma festa e chamando as melhores meninas, não consegui me envolver com
elas, algo completamente incomum para mim.
É a primeira vez que isso aconteceu na minha vida!
Passei o dia inteiro pensando naquele beijo, atormentado pelo que
aconteceu. Descontei minha frustração desferindo socos na mesa, agindo
como um louco ao pensar repetidamente no assunto.
Enquanto desferia socos na mesa, uma mistura de raiva e confusão
me dominava. O que diabos estava acontecendo comigo? Por que um
simples beijo mexeu tanto comigo?
Um soldado adentrou o espaço, seus olhos se arregalando ao me
ver agitado.
— Senhor, está tudo bem? — ele perguntou, visivelmente
preocupado. Eu apenas assenti, impaciente com a interrupção, e peguei os
papéis que ele trouxe.
Ele mencionou algo sobre uma mulher que estava agitando a boate,
e a curiosidade me atingiu em cheio.
— De graça? — Perguntei, erguendo as sobrancelhas em surpresa.
— Sim, senhor. Ela simplesmente subiu ao palco e está arrasando
— ele respondeu, com um brilho de animação nos olhos.
Não pude resistir. A ideia de algo novo para focar minha atenção
era tentadora demais.
— Então, vamos lá dar uma olhada — murmurei, deixando os
papéis de lado e me levantando.
Enquanto atravessava a multidão em direção ao palco, minha
mente estava cheia de expectativa. Quando finalmente cheguei perto o
suficiente para ver, a visão me deixou momentaneamente sem fôlego. Ela
dançava com uma sensualidade magnética, seus movimentos hipnotizantes
em meio à luz suave do palco. Seus cabelos platinados brilhavam,
contrastando lindamente com o vestido azul claro que abraçava suas curvas.
Havia algo familiar naquela mulher, algo que mexeu comigo de uma forma
que eu não conseguia entender.
Meu coração acelerou quando vi Giulia virar-se para mim. A
princípio, o choque me paralisou. Aquela mulher deslumbrante, com seu
cabelo platinado e sua beleza escultural, era minha esposa! Uma mistura de
emoções conflitantes me inundou, mas a raiva começou a dominar.
Eu me lancei entre a multidão, indiferente a quem estava no
caminho, e subi ao palco como um furacão. Agarrei Giulia pelos braços,
arrastando-a através da agitação da boate.
— O que você pensa que está fazendo, Adler? — Ela gritou,
lutando contra meu aperto, enquanto eu a conduzia.
— O que diabos você estava pensando? — Gritei de volta, minha
voz se sobrepondo à música pulsante ao nosso redor.
Ela continuava a resistir, suas palavras sendo abafadas pelo barulho
ensurdecedor. Ignorando seus protestos, eu a carreguei escada acima até
meu escritório, onde a joguei no sofá com uma mistura de desespero e
raiva.
— Que porra você estava fazendo? — Eu rosnava, minhas mãos
tremendo de frustração, enquanto eu passava os dedos pelos cabelos. — O
que fez no seu cabelo?
— Você quase me machucou, sabia? — Ela apontou um dedo na
minha direção, sua voz firme. — E o que há de errado com o meu cabelo?
Não gostou? — Agarrou meu paletó, com um sorriso travesso brincando em
seus lábios.
— Que brincadeira de mau gosto é essa, Giulia? — Segurei suas
mãos, impedindo-a de me tocar. — Subir no palco da minha boate e se
exibir dessa forma? Você enlouqueceu?
Giulia recuou, mantendo os olhos fixos nos meus.
— Eu só estava dançando! — Ela insistiu.
— Dançando com esse minivestido? Se exibindo para todos
aqueles homens lá embaixo? Mas que porra, Giulia! — Minha raiva era
palpável. Não apenas pela situação, mas porque, no fundo, eu sabia que ela
estava certa.
— E desde quando você se importa com isso? Que eu saiba, você
não se importa com quem olha ou deixa de olhar para mim — eu sarcasmo
era evidente.
— Então é isso? Armou todo esse circo para tentar me causar
ciúmes? — Tive que rir, Giulia estava sendo ridícula. Ela se aproximou
novamente.
— Não armei nada para isso, mas parece que o efeito foi esse, não
é mesmo, Adler? — Ela era ousada, mas sabia exatamente como mexer
comigo.
— Não! — Bradei e ela deu um passo para trás, surpresa com meu
tom de voz. — Você só tem me causado raiva e dor de cabeça, só isso!
— Não estava fazendo nada demais, apenas dançando — balançou
os ombros, demonstrando não se importar com o que eu estava falando.
— Sua garota mimada e petulante! — Avancei sobre ela, fazendo-a
cair no sofá e colocando meu corpo sobre o dela.
— E está se importando tanto por quê? Se sou mimada e petulante,
me deixa em paz! — Revidou gritando.
Ela não abaixaria a cabeça por nada, é sempre petulante e muito,
mas muito, irritante.
— Você quer morrer, Giulia, é isso que você quer? — Senti meu
sangue ferver.
— Quem me mataria? Você? — Sua gargalhada foi desafiadora.
— Não duvide de mim, garota mimada. Acha que vou tolerar esse
tipo de coisa? — Minha paciência estava se esgotando rapidamente.
— Você disse que eu poderia me envolver com outra pessoa, Adler.
Se esqueceu? Não estou entendendo todo esse ciúme — ela sabia
exatamente como tocar no meu ponto fraco.
— Não descaradamente assim. Não vou tolerar esse tipo de coisa,
Giulia, não vou tolerar você querendo me fazer de otário na frente das
pessoas.
— Mas eu posso tolerar você fazer isso comigo?
— Eu não faço isso com você!
— Jura que não? E já se envolveu com quantas aqui no seu
puteiro? Todas? — Ela provocou, aproximando o rosto do meu.
Minha mente foi imediatamente transportada para a noite anterior,
para os lábios dela nos meus, para o momento em que perdi o controle.
— Você me deixa com raiva, me enlouquece... — mal consegui
terminar a frase, quando seus lábios tomaram os meus em um beijo faminto.
Envolvido nesse turbilhão de sensações que invadiam meu ser,
mergulhei de cabeça na voracidade do momento, devorando os lábios de
Giulia. Num impulso, puxei seus cabelos suavemente, mordendo seu lábio
inferior com uma intensidade que o fez sangrar levemente, e então o
saboreei, captando o leve gosto metálico de seu sangue. Para minha
surpresa, ela não demonstrou qualquer incômodo com o pequeno ferimento,
ignorando-o por completo enquanto envolvia suas pernas em torno de
minha cintura, pressionando seu corpo contra o meu, o que me deixava tão
excitado quanto uma pedra.
Tentei recuar para clarear meus pensamentos, mas ela não
permitiu. Sua firmeza aumentou ao redor de mim e, então, mandei qualquer
resquício de sensatez que ainda persistia para o inferno, entregando-me por
completo ao calor do momento.
Segurei suas pernas com determinação, erguendo-a em meus
braços, enquanto suas costas encontravam o vidro com um leve impacto,
arrancando dela um resmungo. Num gesto impulsivo, enlacei uma porção
de seus cabelos entre meus dedos, enquanto depositava beijos molhados ao
longo de seu pescoço.
— Adler... — ela gemeu meu nome.
Sem cerimônia, puxei com força seu vestido, rasgando-o, e um
grito escapou dos lábios dela.
— Você rasgou meu vestido! — Ela protestou, visivelmente
irritada.
— Foda-se! — Respondi, abocanhando um de seus seios, sugando
seu mamilo rosado, ignorando completamente sua queixa. Não desejava vê-
la usando esse maldito vestido nunca mais.
Giulia jogou a cabeça para trás, arqueando ainda mais o corpo,
enquanto seus gemidos envolventes preenchiam todo o espaço da sala. Com
cuidado, afastei um pouco nossos corpos, garantindo que ela não caísse, e
deslizei minha mão por cima de sua calcinha, acariciando sua boceta quente
e molhada.
Então, ergui-a, posicionando-a de costas para mim, com o rosto
pressionado contra o vidro, e levantei seu vestido, dando tapas firmes em
cada uma de suas nádegas, marcando-as com a força de meus dedos e
deixando sua bunda avermelhada.
— Ai! — Ela choramingou. — Adler, as pessoas lá embaixo vão
nos ver.
Conscientemente, ela provavelmente notou a agitação na boate.
— Mas não é exatamente isso que você queria, Giulia? —
Respondi, sem revelar que ninguém lá embaixo conseguia nos ver,
deixando-a acreditar nisso.
— Não! Eu não quero! — Ela tentou escapar da posição, mas eu
não permiti. Inclinei-me em sua direção, sussurrando em seu ouvido.
— Só você pode vê-los, então aproveite a vista enquanto é fodida.
Ajoelhei-me, deslizando meus dedos pelas laterais de sua calcinha
e rasgando-a sem hesitação, ouvindo seus protestos, mas logo seus
murmúrios foram abafados pelos gemidos intensos que escapavam de seus
lábios assim que minha língua entrou em sua boceta.
— Adler! Adler! — Ela começou a gritar meu nome, contorcendo-
se em êxtase, enquanto entregava-se a um orgasmo avassalador.
Sem dar tempo para que se recuperasse totalmente, despi-me
rapidamente e a penetrei com vigor, mergulhando profundamente,
provocando gritos em sua boca. Firmei minha mão em sua cintura com
determinação, enquanto a outra encontrava-se livre para segurar seus
cabelos, mantendo seu corpo firme para que eu pudesse intensificar os
movimentos de vai e vem, entrando e saindo dela com força, indo até o
fundo.
Confesso que fiquei encantado com esse novo visual dela; o cabelo
curto e platinado só serviu para realçar ainda mais sua beleza. Naquela
posição, de costas para mim, com sua postura tão provocante, ela se tornava
irresistível.
— Adler... espera! — Sua voz saiu trêmula.
— O que foi? — Minhas próprias palavras saíram entrecortadas.
— Deixe-me virar.
Relutantemente, me retirei de dentro dela. Giulia se virou e um
sorriso radiante se espalhou por seu rosto. Sem conseguir resistir, mergulhei
novamente em sua boca, marcada pelo batom vermelho. Ela envolveu suas
pernas em volta da minha cintura e eu a penetrei mais uma vez.
Cada gemido dela se tornou meu, enquanto me perdia nessa
maravilhosa sensação.
Não tinha ideia de que transar enquanto nos beijávamos seria tão
incrível.
Depois que Adler me buscou, como um verdadeiro homem das
cavernas, exploramos cada canto do seu escritório. Nosso tesão era quase
palpável um pelo outro, não podíamos contê-lo. Transamos em todos os
cantos daquele lugar. Em pé, encostada no vidro, com a visão completa da
boate — o que devo admitir que foi eletrizante —, no chão, no sofá e até
em cima da sua mesa. Aquele escritório ficou pequeno para saciar nossa
fome de desejo e prazer.
A experiência foi tão incrível que não consigo colocar em palavras.
Tive orgasmos múltiplos e o tanto que beijei Adler, não tem comparação.
Estava satisfeita, mas, como sempre, ele tem que estragar tudo.
Simplesmente me cedeu o seu paletó, já que havia rasgado minha roupa, e
mandou um dos seus guardas me levar para casa. Adler mal olhou para mim
quando eu estava indo embora.
Entretanto, se ele achava que eu iria chorar ou implorar para ficar,
estava enganado. Fui embora sem olhar para trás. Deixei para chorar
minhas mágoas e frustrações em casa, sozinha.
Se tem uma coisa que este casamento me ensinou foi isso: ser
independente e forte.
Às vezes, penso em ligar para minhas primas, mas não quero
perturbá-las com algo que fui eu quem buscou. Então, fico quieta na minha.
Quando vou dormir, estou ferida, mas ao acordar já estou
cicatrizada, e é isso que importa. Estou começando a achar que essa luta
pelo amor de Adler é em vão, que ele nunca vai gostar de mim. Sei que a
gente transa e é bom, mas não passa disso para ele. Para mim, é mais do que
só sexo, é amor. Mas para Adler é apenas desejo nu e cru.

Como previsto, o dia seguinte foi revigorante e minhas feridas já


não doíam mais... não como no dia anterior. Levantei-me para me preparar
para mais um dia. Fiz minha higiene matinal e desci para tomar meu café
antes de ir para o trabalho. Para minha surpresa, encontrei Adler sentado à
mesa. Coisa rara de se ver, mas quando acontecia, era sempre com algum
propósito e na maioria das vezes, esse propósito tinha a intenção de me
machucar. Respirei fundo e o cumprimentei.
— Bom dia! — Murmurei, tentando parecer indiferente, evitando o
contato visual, mas sentindo o peso do olhar de Adler sobre mim, como
brasas ardentes.
Cedi à curiosidade e encarei-o, sentindo-me um tanto intimidada.
Sempre me perco naqueles olhos enigmáticos de Adler, mas mantenho
minha postura, escondendo qualquer vestígio de insegurança, pois se ele
perceber que me intimida, toda a minha imagem de força e determinação
será em vão.
— Bom dia, Giulia! — Respondeu ele, finalmente.
Sentei-me à sua frente e, em silêncio, comecei a servir-me.
— Esse cabelo ficou ótimo em você — desviei o olhar do prato
para encará-lo novamente, surpreendendo-me com o elogio.
Bom, pelo menos foi um elogio, certo?
— Obrigada! — Respondi brevemente. Preciso manter a
indiferença, não posso deixar transparecer a mínima felicidade com as
palavras dele.
— Sobre o que aconteceu ontem... — ele começou a falar, mas o
interrompi levantando o dedo em riste, silenciando-o.
— Podemos falar disso depois? Quero aproveitar meu café da
manhã em paz — um pequeno sorriso brincou em seus lábios, mas
desapareceu rapidamente enquanto ele assentia.
Respirei aliviada. Não estava pronta para confrontos logo de
manhã. Tentei enrolar o máximo que pude na hora de comer, sabendo que
ele estava impaciente, batucando os dedos na mesa... ah, como isso me
irritava!
Não posso adiar mais. É hora de encarar isso de frente, mesmo que
suas palavras me machuquem, como ele sempre faz.
— Pode falar — falei, finalmente.
— Pensei que fosse comer até o almoço — ele resmungou,
impaciente como sempre. Revirei os olhos.
— Adiante o assunto, tenho que ir trabalhar.
— Ontem não usamos camisinha — ele disse, direto ao ponto. Dei
de ombros.
— E daí?
— Você usa algum método contraceptivo? — Ele tirou uma caixa
do bolso e estendeu na minha direção. Confusa, arqueei as sobrancelhas.
— O que é isso? — Perguntei.
— Pílula do dia seguinte. Ontem nos descuidamos, ambos estamos
errados. Isso não deve acontecer mais — ele explicou, sua impaciência
palpável.
— Transar sem camisinha ou não transar? — Perguntei, fazendo-o
levantar uma sobrancelha interrogativa. — Não vai acontecer mais de
transar sem camisinha ou não vai acontecer mais de transarmos? — Ouvi-o
bufar.
— Só toma o remédio — peguei a caixa, mas hesitei.
— E se eu não quiser tomar?
— Não complica as coisas, Giulia — ele disse, visivelmente
estressado.
— Meu corpo, minhas regras — rebati, firme.
— Isso não é hora para birras, Giulia. Se não tomar esse remédio,
pode engravidar.
— E qual o problema nisso? Que eu saiba você precisa de
herdeiros, não é? — Provoquei.
— Porra! — Ele se levantou com agressividade, socando a mesa.
— Eu não quero um filho.
— Como assim você não quer um filho? — A informação me
atingiu como um raio, um calafrio percorrendo minha espinha.
— Não é o momento para ter um filho — sua voz soava suave,
como se tentasse amenizar a situação.
— Você não quer ter um filho agora, não quer ter um filho nunca
ou não quer ter um filho comigo? — Minhas palavras saíram impetuosas,
uma onda de emoção subindo dentro de mim.
Adler fechou os olhos com força, respirando profundamente antes
de responder.
— Todas as opções são válidas — então, sem mais uma palavra,
ele passou por mim e saiu, deixando-me com uma lágrima solitária
escapando de meus olhos. Sabia que, no final dessa conversa, eu terminaria
magoada, mas parecia que, no fundo, sempre esperava por algo diferente.
Fui trazida de volta ao presente pelo som de uma voz
desconhecida.
— Senhora? — Tomei um susto, quase caindo da cadeira.
— Aí! Que susto! — Levantei-me, colocando a mão sobre meu
peito, onde o coração batia acelerado. — Quem é você? — Estreitei os
olhos.
— Me chame de Heidi. A senhora deve ser a esposa do Sr. Ziegler,
certo?
— Meu nome é Giulia — apresentei-me à senhora de meia-idade
parada diante de mim.
— Estou aqui para limpar a casa, o Sr. Ziegler pediu que eu
começasse hoje. A senhora não se lembrou de que eu começaria hoje? —
Heidi sorriu. — Desculpe, não tive a intenção de assustá-la.
Como explicar para ela que não tenho uma boa relação com meu
marido e que não fazia ideia de que ela viria?
— Que cabeça a minha — abri um falso sorriso. — Esqueci
completamente. Bom, já estou de saída, fique à vontade.
— Preciso preparar algo para o almoço? A senhora tem
preferência?
— Não precisa. Estarei de volta só no jantar e não tenho
preferência, como de tudo — peguei minha bolsa. — Tenha um ótimo dia
de trabalho.
— Para a senhora também!
Estava prestes a sair quando me lembrei da caixinha de remédio.
Voltei para pegá-la, aproveitando para pegar água e beber logo essa droga.
Era apenas o começo de um dia que prometia ser longo.

O dia de trabalho começou comigo indo direto resolver pendências


com Helga sobre um novo evento que estamos organizando. Aproveitei
também para mandar uma mensagem para minha tia Alice, pedindo o
contato da ginecologista dela. Vou marcar uma consulta para mim, ainda
mais agora que tomei essa bomba de hormônios.
O dia no escritório parecia se arrastar, como eu previa. Finalmente,
chegou a hora de ir para a academia. Como é perto, decidi caminhar.
— Kalel? — Chamei por ele assim que entrei. A música estava
baixa e o ambiente calmo, sem alunos por perto como no dia anterior.
— Oi, Giulia. Você veio mesmo! — Ele apareceu, todo sorridente.
— Sim. Cadê o pessoal?
— Nesse horário, normalmente, não dou aulas, mas abri uma
exceção para você — ele explicou.
— Oh, meu Deus! Por que você não me disse antes? Posso vir pela
manhã.
— Não, não. Está tudo bem! E então, está animada para começar?
— Bastante! — Sorri. — Mas primeiro preciso pagar, você ainda
não falou sobre os valores comigo.
— As primeiras aulas serão gratuitas — ele lançou-me uma
piscadela. — Caso goste e queira continuar, depois falaremos sobre os
valores.
— Tem certeza?
— Absoluta!
Percebi que sou totalmente sedentária quando em menos de vinte
minutos de aula eu já estava morrendo de cansaço.
— No começo é assim mesmo, aos poucos você vai pegando o
ritmo — ele tentou me animar, enquanto eu respirava pesadamente.
Eu e Kalel já estávamos sentados, bebendo água.
— Não precisa tentar amenizar as coisas, sei que fui um fracasso
— Kalel riu.
— Não se cobre tanto, Giulia — ele levantou-se e eu fiz o mesmo.
— Vamos continuar?
— Vamos — respondi com dificuldade, extremamente ofegante.
Em um momento de distração, enrosquei meus pés e quase caí,
mas Kalel me segurou, evitando que eu passasse por essa humilhação. Eu
estava encarando ele, perto demais, e percebi como ele é ainda mais bonito
de perto.
Suspirei profundamente e o vi fazer o mesmo.
— Acho que é melhor terminarmos por hoje, estou bastante
cansada — afastei-me rapidamente dos seus braços e esbocei um sorriso
sem graça.
— Tudo bem, continuaremos amanhã — ele disse, aceitando.
Assenti, indo pegar minhas coisas.
— Tchau, Kalel, e obrigada pelo treino de hoje.
— Giulia? — Virei-me para encará-lo, quando ele segurou no meu
braço. — Nos veremos amanhã, certo?
Seu olhar era intenso e eu precisei respirar fundo antes de
responder.
— Sim — estranhamente, eu estava ansiosa para o próximo treino.
— Não desista do treino. Tenho certeza que fará bem.
— Não vou desistir — afirmei, decidida a continuar.
— Então, até amanhã — ele sorriu para mim.
— Até.
Kalel soltou meu braço e eu saí praticamente correndo dali.
Será que rolou alguma coisa entre nós? Ou será que foi só a minha
imaginação?
Sacudi a cabeça, tentando afastar esses pensamentos.
— Para com isso, Giulia! Que loucura! Uma faísca? — Falei
comigo mesma, rindo. — Eu acabei de conhecer o cara. Ele é meu
professor! Eu sou casada, e mesmo que meu marido não mereça, eu o amo.
Essa é só uma carência momentânea que me faz ver coisas onde não tem —
expliquei para a minha mente em crise.
Isso, só pode ser isso... carência!
Adler não me dá atenção nem carinho, e quando recebo um pouco
de atenção de outra pessoa, começo a enxergar coisas que não existem.
Toda vez que eu e Giulia transamos, voltamos à estaca zero
novamente. Cinco dias sem termos uma conversa decente. Estou mais
ocupado na boate e ela tem andado muito ocupada também ultimamente.
Normalmente, quando chego em casa, ela já está dormindo, e quando a vejo
pela manhã, ela toma um café rápido e vai trabalhar, não deixando espaço
para uma conversa prolongada além de um cumprimento de "bom dia".
Outro dia, perguntei se ela havia tomado o remédio. A resposta de
Giulia foi bem típica dela. A diaba me mostrou o dedo do meio e mandou-
me para o inferno. Entendi isso como um sim e ri da sua atitude.
— Parece que alguém está transbordando felicidade hoje — Enzo
adentrou meu escritório, mastigando seus salgadinhos, que deixavam um
rastro de farelos por onde passava. — Está até rindo.
— Será que não consegue comer isso lá fora? Vai sujar todo o
lugar — resmunguei, apontando para os farelos espalhados pelo chão.
— Ah, para com isso — ele se jogou na cadeira à minha frente,
lançando os papéis na mesa com um gesto despreocupado. — Aqui está o
que você pediu, mas me diz, qual é o mistério por trás desse sujeito?
— Nenhum — respondi curtamente, abrindo o dossiê e começando
a ler.
— Fiz uma pesquisa rápida, como você me pediu, mas posso cavar
mais fundo se necessário — Enzo ofereceu, inclinando-se para frente.
— Não será necessário — declarei, mantendo o foco nos
documentos à minha frente.
— Esse sujeito não parece representar ameaça alguma —
comentou Enzo, com um olhar pensativo.
— Ele é limpo demais, não acha? — Acrescentei, examinando as
informações.
— Pode ser apenas alguém levando uma vida tranquila — Enzo
deu de ombros, mostrando indiferença.
— Mas algo não parece certo — refleti em voz alta, mergulhando
em meus pensamentos. — Sem parentes, sem histórico, é estranho.
— Se quiser mais alguma coisa, é só me avisar — ele levantou-se.
— Mas agora preciso sair, antes que a Alice descubra que estou aqui no seu
puteiro — soltei uma risada alta.
— Vai lá, cachorrinho.
— Por que está rindo, Adler? — Ele arqueou uma sobrancelha,
desafiador. — Logo você estará nessa mesma situação. Ou já está? Já está
começando a se perguntar quem anda rondando a sua esposa — o cara saiu
do escritório rindo, sem me dar oportunidade de mandá-lo para o inferno.
Não vou dar ouvidos ao Enzo, ele não sabe do que está falando.
Idiota! Quer saber? Que se dane! Vou eu mesmo descobrir quem é esse
sujeito. Só se pode conhecer a verdadeira essência de alguém olhando nos
olhos dele.
Peguei meu paletó, carteira, chaves e celular e me dirigi direto para
o endereço indicado por Enzo.
Entrar no apartamento não foi difícil. Acendi as luzes e tudo
parecia normal. Abri a geladeira, peguei uma cerveja barata e me acomodei,
aguardando meu anfitrião.
— Quem é você e o que faz aqui? — Ele apareceu finalmente, seu
olhar um misto de surpresa e desconfiança.
— Aceita uma cerveja? — Ofereci, levantando a garrafa em sua
direção.
— Você entrou na minha casa e mexeu na minha geladeira? — Ele
riu ironicamente, mas se acomodou no sofá em frente. — O que te trouxe
até aqui? Sabe que invasão de domicílio é crime, não sabe?
— De leis eu entendo — inclusive, sou profissional em descumpri-
las. — Só queria bater um papo contigo.
— E por quê? — Ele me encarou, a expressão séria.
— Você é o instrutor da minha esposa na academia.
— Dou aulas para muita gente.
— Mas a minha esposa é especial para você, afinal, cedeu-lhe um
horário diferenciado — ironizei.
— Ah, você é marido da Giulia? — Ele pareceu confuso.
— Bingo! Ela não te contou que era casada? — Indaguei, um tanto
intrigado.
— Não, nunca mencionou nada sobre isso, mas claro que percebi a
aliança no dedo dela — ele falou com naturalidade. — Sobre o horário das
aulas, é o que funciona melhor para ela.
— É sempre tão flexível assim com todos os alunos?
— Tenho que ser. É dali que tiro o meu sustento — ele explicou,
com seriedade.
— Entendo — terminei minha cerveja e coloquei a garrafa vazia
sobre a mesa. — Não tem parentes vivos?
— Está investigando minha vida? — Ele soltou uma risada,
claramente surpreso com a pergunta.
— Algum problema nisso?
— Não, nenhum.
— Pois me pareceu.
— Com todo respeito, senhor, não entendo o motivo de ter
invadido minha casa e estar vasculhando minha vida.
— Gosto de saber quem está por perto da minha família, apenas
precaução.
— Justo. Todo cuidado é pouco — ele concordou, parecendo mais
relaxado.
Apoiei os cotovelos nos joelhos, inclinando-me para frente,
encarando Kalel com firmeza.
— Preciso ter cuidado com você, Kalel?
Nossos olhares se cruzaram por alguns segundos antes dele
levantar as mãos em sinal de rendição, soltando uma risada descontraída.
— Não será necessário. Sou apenas o professor da sua esposa.
Estou em desvantagem aqui.
— Por qual motivo?
— Você sabe o meu nome, mas eu não sei o seu.
— Não precisa saber o meu nome, só precisa guardar o meu recado
— levantei-me e ele fez o mesmo.
— E qual seria esse recado? — Ele perguntou, com curiosidade.
— Encoste um dedo na minha esposa, machucando-a, e nunca
mais encostará em ninguém.
— Não pretendo encostar nela, muito menos machucar a Giulia. É
como disse antes, sou apenas o professor.
— Por que eu não acredito em você? — Vi Kalel engolir em seco,
seus olhos vacilando por um momento antes de ele responder.
— Acho que o ciúme está te cegando — soltei uma gargalhada
áspera.
— Te darei um voto de confiança — aproximei-me, meu olhar
perfurando o dele com intensidade. — Mas saiba que caso você faça
alguma coisa, mesmo que procure o buraco mais fundo para se esconder, eu
ainda te acharei. Mesmo que se esconda no inferno, eu te buscarei e nada,
absolutamente nada do que passa pela sua cabeça neste momento será o
suficiente para se livrar de mim. Se fizer alguma coisa com Giulia, eu te
matarei aos poucos e da maneira mais dolorida possível — sem esperar por
sua resposta, saí do apartamento tão rápido como entrei, deixando a ameaça
pairando no ar.
Giulia e esse professor têm se aproximado bastante nos últimos
dias, ela tem ficado mais tempo na academia e chegado mais tarde em casa.
Esse recado era necessário.
Por mais que esse homem diga com toda convicção de que ele é
uma boa pessoa, ainda sim sinto algo de estranho nessa história.
Espero que seja só paranoia minha.

Vim direto para casa, pois sabia que encontraria Giulia acordada
nesse horário. E como já era de se esperar, aqui estava ela, sentada na
varanda, com uma taça de vinho na mão, cantarolando uma música
qualquer que eu não faço a mínima ideia de qual seja.
— Boa noite, Giulia! — Cumprimentei-a, fazendo-a saltar da
espreguiçadeira e derrubar o vinho no chão.
— Céus, Adler! Que susto! — Ela exclamou, surpresa.
— Posso me juntar a você no vinho? — Ofereci, ignorando sua
reação.
— Se eu disser que não, você vai dar meia volta e sumir? —
Retrucou e um sorriso escapou-me.
— Não.
— Então não precisa perguntar — ela se recompôs, e eu busquei
uma taça.
— Dia pesado? — Tentei quebrar o gelo, sentando-me ao seu lado.
— O que faz em casa tão cedo? Algum problema no puteiro? —
Ela provocou, como sempre.
Decidi ignorar suas provocações.
— Quero te fazer companhia hoje.
— Dispenso — respondeu, direta como um raio.
Não pude evitar um sorriso diante de sua resposta afiada. Giulia
era assim, sempre tinhosa.
— Como vão as aulas na academia? — Mudei de assunto.
Seus olhos me analisaram.
— Como sabe disso? — Ela não esperou minha resposta, rindo
ironicamente. — Ah, é claro que sabe — revirou os olhos.
— Está gostando?
— Sim.
— E o professor?
— Gosto dele, é gentil e me ensina muito bem — ela deu um gole
no vinho. — Espera! Você não está implicando com o meu professor, não é?
Giulia percebeu rápido minha intenção, como sempre.
— Não. Só estou querendo conversar, ser gentil com você — ela
riu, deixando claro que não acreditava em mim.
— Você, sendo gentil, Adler? Conta outra. Fala logo o que você
quer?
— Ok. Quero transar com você — fui direto, como ela pediu.
Seus olhos se arregalaram e ela começou a tossir, se engasgando
com o vinho.
Senti-me engasgada com o vinho e a sinceridade avassaladora de
Adler. Que proposta sedutora! Por mais que eu tentasse negar, meu desejo
por ele era colossal.
— Está melhor? — Ele exibiu um sorriso malicioso, desfrutando
do meu desconforto.
Recuperei-me do embaraço e decidi rapidamente o que fazer.
Deixei a taça na mesa ao lado, levantei-me sob o olhar atento de Adler e
inclinei-me sobre ele.
— Você é bastante direto quando deseja algo, não é mesmo? —
Afrouxei sua gravata.
— Muito.
— Proposta sedutora, Adler.
— Basta você aceitar — sua mão espalmou-se em minha cintura,
puxando-me para seu colo.
Entrelacei os dedos em seu pescoço, sentindo-o duro sob mim. Ele
segurou firme em minha nuca e me puxou para um beijo fervoroso. Nossos
lábios se consumiam de uma maneira arrebatadora, e suas mãos passeavam
por meu corpo, me apertando, fazendo-me soltar pequenos gemidos entre os
beijos, incendiando-me com um desejo absurdo. Estava quase arrancando
nossas roupas e transando loucamente ali mesmo.
Mas eu não podia ser tão tola. Adler acreditava que me tinha na
palma da mão e que, por eu o amar, podia fazer comigo o que quisesse.
Estava na hora dele entender que meu amor por ele não podia anular o que
sentia por mim. Foi difícil até para mim entender isso, mas com muito
esforço, estava conseguindo.
Afastei nossas bocas, tomando fôlego, e me aproximei de seu
ouvido.
— Você está quente — sussurrei. — E duro.
— Com tesão, assim como você.
Um sorriso enorme brincou em meus lábios.
— O beijo foi ótimo — soltei as mãos dele da minha cintura e
ergui-me. Adler me encarou, confuso. — Mas quanto ao sexo, vou declinar
— bebi o restante do vinho na taça, deixando-a vazia sobre a mesa. — Hoje
não estou a fim — saí da varanda sem olhar para trás. Mesmo cheia de
desejo, não aceitaria a proposta dele.
— Giulia! — Adler veio pisando duro na minha direção e segurou
meu braço, impedindo-me de subir para o quarto. — Duvido que você não
esteja a fim — seu corpo pressionou o meu contra a parede.
— Sabe qual é o seu problema, Adler? — Dei um sorriso de canto.
— Não, eu não sei. Diga-me qual é?
— É que você se acha irresistível.
— Por que está se fazendo de difícil? — Ele perguntou,
inclinando-se para mim.
— Não querer transar com você é me fazer de difícil? Melhore,
Adler. O mundo não gira em torno de você.
— Se eu descobrir que você está se envolvendo com outra pessoa...
— comecei a rir alto, cortando-o.
— Você vai fazer o quê? Se eu bem me lembro, foi você quem
falou para eu me envolver com outra pessoa — empurrei-o para longe de
mim. — Vê se me erra, Adler!
— Não me faça de bobo, não me deixe descobrir... — ele estava
tentando falar, mas levantei um dedo na sua direção, calando-o.
— Fique tranquilo, farei sem que você saiba — subi as escadas
rapidamente, evitando que ele me agarrasse novamente.
— Giulia! — Ele gritou.
— Vá se ferrar! — Entrei no quarto, trancando a porta e corri para
tomar um banho bem gelado.
Nunca teria coragem de traí-lo. Amo-o demais, falei aquilo só para
implicar mesmo e acho que surtiu efeito.
— Isso, Giulia! Você foi incrível hoje, meus parabéns garota —
elogiei-me na frente do espelho. — Você é maravilhosa!
Estava orgulhosa.

Passei quase toda a noite virando de um lado para o outro, quando


finalmente consegui adormecer, tive um sonho quente e maravilhoso com
Adler. Que ironia!
O dia começou com uma ducha fria para diminuir o fogo que me
consumia. Quando desci para tomar café, dei de cara com Adler sentado à
mesa, saboreando um café quente. O que ele está fazendo aqui todos os dias
agora? Antes quase nunca aparecia, e agora é presença constante?
— Bom dia, Adler — cumprimentei, tentando disfarçar a tensão, e
me sentei.
— Bom dia, Giulia! Dormiu bem? — Perguntou, olhando para
mim.
— Sim — respondi com um sorriso forçado. — E você?
— Não dormi — ele respondeu seco, sem maiores detalhes.
— Então, foi aproveitar a noite no seu puteiro? — Provoquei,
apesar de já estar irritada com ele.
— E o que isso importa? — Ele devolveu, asperamente. Que
cachorro!
— Não importa mesmo — respondi, tentando parecer indiferente.
Mas, por dentro, estava morrendo de curiosidade e raiva só de pensar que
ele poderia ter ido se divertir com outra mulher.
Adler se levantou.
— Arrume suas coisas e tire uns dias de folga do trabalho —
anunciou.
— Por quê? — Perguntei, levantando-me pronta para confrontá-lo.
— Vamos para a festa de renovação de votos dos seus pais —
explicou.
Sorri de orelha a orelha, quase pulando de felicidade.
— Você está falando sério?
— Não costumo brincar.
Aproximei-me para abraçá-lo, mas ele não retribuiu o gesto. Não
me importei. Estava radiante com a notícia.
— Obrigada, Adler! — Agradeci, mesmo assim.
— Não me agradeça — ele respondeu, frio como sempre.
— Eu agradeço sim — insisti, ainda abraçada a ele. — Vamos ficar
na casa deles, certo?
— Sim. Seu pai faz questão — ele confirmou.
Levantei os pés, mesmo estando de salto para alcançar a sua boca e
arrisquei um selinho rápido. Adler enfiou a mão em meu cabelo, puxando-o
com força, enquanto colava nossos lábios novamente, em um beijo intenso.
Deixei-me levar pelo momento e, quando percebi, estava com as pernas
entrelaçadas em sua cintura, sendo arrebatada por aquele beijo quente e
gostoso.
Escutamos um pigarro.
— Jesus, me perdoem — a voz de Heidi nos trouxe de volta.
Desço rapidamente do seu colo e tento ajeitar meu cabelo. Adler
faz o mesmo, ajeitando seu terno.
— Estou indo trabalhar. Viajamos no final da tarde — avisou,
saindo dali e me deixando com a senhora a minha frente, que estava
vermelha como um tomate.
— Perdoe-me, senhora — ela pediu novamente.
— Obrigada, Heidi! — Agradeci, com um sorriso enorme, e ela me
encarou sem entender absolutamente nada. — Quase que me deixei levar
pela emoção do momento — comentei, aproximando-me dela. — Você
merece até um beijo por me salvar — e assim fiz, deixando um beijo rápido
em sua bochecha. Peguei minha bolsa e saí, deixando-a ainda mais confusa.
Corri para o trabalho, precisava avisar Helga que estarei de folga
nos próximos dias. As festas na casa dos meus pais costumam durar o final
de semana inteirinho e vai ser o máximo! Estarei novamente com as minhas
primas e poderei matar um pouquinho a saudade que sinto de todos eles.
Poderei abraçar e beijar muito o meu pai e a minha mãe. Que saudade eu
sinto deles! Também sinto saudades do meu irmão.
Já sabia da data de casamento dos meus pais, mas se eu pedisse
para ir, provavelmente Adler falaria que não só para implicar comigo. Saber
que a iniciativa partiu dele, sem que eu precisasse pedir, me deixou com o
coração mais bobo ainda e muito mais apaixonado por ele. Como faço para
amar menos esse homem?
Giulia é daquelas mulheres que têm o poder de enlouquecer
qualquer homem. Ontem à noite, ela quase me fez explodir de raiva ao usar
meu desejo para me provocar, acendendo uma chama que me deixou
completamente em brasa, antes de simplesmente desaparecer. Fiquei com
uma vontade incontrolável de ir para a boate, procurar as mulheres mais
sensuais e passar a noite toda transando. Mas mesmo com todas as
tentações ao meu redor, meu corpo teimoso só queria uma coisa: a diaba.
Passei a noite em claro, afogando meus pensamentos em uísque e
charutos, enquanto contemplava a beleza do céu estrelado. Vi a noite se
transformar em dia e, só por volta das seis da manhã, recebi uma ligação de
Rocco sobre a festa que ele e sua esposa dariam, celebrando mais um ano
juntos no dia do casamento deles.
Fiquei me perguntando qual era o sentido de tudo aquilo. Mas
acabei deixando para lá. Se é o que eles gostam de fazer, quem sou eu para
julgar? A princípio, pensei em inventar qualquer desculpa para não ir, mas
considerei como Giulia ficaria chateada e acabei confirmando nossa
presença.
Rocco insistiu para que ficássemos em sua casa, algo que no início
recusei, preferindo um hotel. Mas ele foi tão insistente, alegando que
também fazia questão do meu irmão em sua casa, que acabei concordando,
sem muita alternativa.
Quando avisei Giulia, sua reação não foi a que eu esperava, mas
confesso que gostei bastante. Tenho certeza de que, se não fosse pela
chegada da senhora que faz a limpeza em nossa casa, teríamos aproveitado
muito mais. Porque eu sei exatamente onde tudo aquilo iria terminar...
Provavelmente, estaríamos nus, suados e ofegantes na cama. Ou até mesmo,
sobre a mesa do café da manhã. Quando se trata de Giulia, qualquer lugar é
lugar.
— Senhor, licença — o soldado entrou no meu escritório. — Esses
são os papéis que precisa assinar antes da sua ausência.
— Ótimo! Deixe aí no canto, daqui a pouco olho eles — respondi,
sem interromper minha tarefa.
— Senhor, me permite fazer uma pergunta? — O soldado pediu,
visivelmente hesitante.
— Faça — respondi, ainda ocupado com os papéis.
— Não tem programado as festinhas particulares? As meninas
querem saber se está acontecendo algo de errado.
De repente, parei o que estava fazendo e o encarei.
— Não há nada de errado. Apenas não estou interessado —
respondi, tentando ser breve.
— Ahh, sim, claro, entendo. É que elas pensaram que o senhor iria
dispensá-las — ele disse, um pouco aliviado.
— Pode tranquilizá-las.
— Ok. Qualquer coisa só chamar.
Ele se retirou e eu me recostei na cadeira, passando as mãos na
cabeça. O que estava acontecendo comigo?
Levantei-me para me servir uma dose de uísque e acender um
charuto, só assim para conseguir ficar um pouco mais calmo. Pouco depois,
Enzo, meu irmão, entrou feito um furacão.
— Porra! Que susto! — quase deixei o copo cair. — Acha que está
na sua casa para entrar assim? — Reclamei, irritado com a sua súbita
aparição.
— O que está acontecendo com você? Seu mau humor está
triplicando. Precisa trabalhar isso na terapia, Adler — ele disse, sentando-se
na cadeira.
— Não estou com tempo para brincadeiras — peguei o meu copo e
o charuto e me sentei.
— Sabe que está cedo para estar bebendo uísque, não sabe?
— Não sabia que existia um horário.
— Gente, que bicho te mordeu?
— Fala logo o que você quer e vaza, Enzo!
— É Giulia, não é? — Ele bateu uma mão na outra, como se
tivesse acertado uma aposta. — Claro que é. Só uma mulher tem o poder de
deixar o homem louco assim.
Dei um soco na mesa, irritado para caramba por ter que aguentar
Enzo na minha cabeça.
— Fala logo o que você quer! — Rosnei, não querendo ouvir nada
sobre aquela maldita diaba que não quer sair da minha cabeça.
Enzo riu e eu estreitei os olhos, deixando claro que a qualquer
momento eu pularia em seu pescoço.
— Só queria saber que horas vocês vão embarcar? — Indagou.
— E por que diabos você precisa saber disso? — Rebati, minha
voz carregada de impaciência.
— Porque quero viajar em família — respondeu, um sorriso
brincando em seus lábios como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Que horas você pensa em sair daqui?
— Daqui uma hora.
— Estou terminando de resolver umas coisas aqui, então vou sair
no início da noite — falei, os dedos batucando nervosamente na mesa,
minha mente já em outro lugar: na diaba.
— Beleza! — Exclamou, levantando-se num rompante. — Nos
encontramos lá. Só não esquece de tomar aquele remédio, Adler, senão
pode dar um treco!
Disparei um objeto qualquer que estava na mesa em sua direção.
Enzo teve que correr para não ser atingido, seus passos rápidos ecoando
pela sala. Ouvi ele me xingar enquanto batia a porta e não pude evitar soltar
uma risada. Só meu irmão para me tirar do sério e ao mesmo tempo me
fazer sorrir.

Ao chegar em casa no final da tarde, fui direto para o quarto de


Giulia. A porta estava entreaberta, e lá estava ela, cantando e dançando
enquanto organizava suas coisas. Fiquei ali parado, observando-a pela fresta
da porta, sem interromper o espetáculo que ela estava proporcionando.
Não podia negar, Giulia era deslumbrante, com suas curvas
invejáveis. Depois da visita ao cabeleireiro, com o novo corte e a tintura,
ela ficou ainda mais radiante. O visual mais maduro combinava
perfeitamente com sua personalidade.
Balancei a cabeça, desistindo de apenas observá-la, e segui para o
meu quarto. Organizei minhas coisas na mala, em pouco tempo já estava
tudo pronto. Decidi voltar ao quarto de Giulia, dessa vez batendo levemente
na porta antes de entrar.
— Posso entrar? — Perguntei.
— Claro — ela respondeu, e eu entrei.
— Pronta? — Inquiri.
— Sim — ela virou-se, exibindo um sorriso radiante,
transbordando felicidade pela viagem.
— Então, vamos — saí na frente e Giulia veio logo atrás,
arrastando sua mala com esforço.
— Não vai oferecer para carregar minha mala, Adler? — Ela
brincou.
Abri um sorriso, mas como estava de costas, ela não pôde ver.
— Por que faria isso? Estou ocupado com a minha.
— Que cavalheiro você é! — Escutei-a bufar.
Comecei a descer as escadas, enquanto ela vinha atrás com
dificuldade por causa do peso da mala.
— Não sou um cavalheiro.
— Adler, me ajuda! — Ela bateu o pé no chão, fazendo birra como
uma criança. — Está muito pesada!
— Me passa aqui — rendi-me, pegando sua mala e descendo com
ambas.
Giulia desceu na minha frente.
— Finalmente!
Decidi não prolongar o jogo de provocações. Percorremos o
caminho até a pista onde o jatinho particular já nos aguardava em silêncio, e
a viagem não foi muito diferente. Giulia acabou adormecendo durante o
voo, enquanto eu me concentrei em ler alguns relatórios.
— Como é bom estar na Itália! — Exclamou Giulia, animada,
assim que pousamos, estendendo os braços para pegar um pouco de ar.
Eu preferia a Alemanha, mas optei por não expressar minha
opinião.
Direcionamo-nos diretamente para a casa dos pais de Giulia. Ao
avistá-los, foi uma comoção. Giulia correu em direção a eles, abraçando-os.
Sua mãe, emocionada, chorou bastante.
— É maravilhoso tê-los aqui, Adler — Rocco deu um tapinha no
meu ombro. Apenas assenti.
— Venha, vou levá-los para o quarto. Imagino que estejam
cansados. Eu e Rocco já estávamos saindo, mas pediremos que sirvam o
jantar para vocês no quarto.
— Para onde vocês pensam que vão? Mal chegamos — Giulia fez
aquele biquinho infantil que era típico dela.
— Vamos sair para dançar com Alice, Enzo, Melanie e Renzo —
Luara falou, animada.
— Que ótimo! Divirtam-se — ela sorriu, finalmente entendendo o
motivo para sua mãe estar de saída.
Subimos as escadas, as duas conversando animadamente. Percebi
que Rocco ficava me observando, mas não disse nada.
— Adler? — Rocco chamou quando as duas meninas saíram
andando na frente.
— Sim? — Virei-me para encará-lo.
— Relaxe, você não está na casa de um inimigo. Sou seu sogro.
— Não pensei que fosse meu inimigo.
— Mas está agindo como se fosse. Não fique tenso, estamos em
família.
Assenti, mais uma vez sem dizer nada.
— Amor? — Luara o chamou. — Onde você e Adler estão?
Encerramos aquela conversa e fomos ao encontro das duas.
— Estamos logo atrás de vocês — Rocco avisou.
— Que saudade eu estava desse quarto! — Giulia falou,
melancólica.
Fiquei na porta do quarto, observando a interação entre mãe e filha.
— Vem, Adler, entre — Luara me convidou.
— Vá se acomodar e arrumar suas coisas — Rocco insistiu e
Giulia ficou apenas me encarando.
— Em qual quarto vou ficar? — Perguntei, percebendo quão idiota
era aquela pergunta.
— Aqui, com Giulia, afinal, vocês são casados! — O pai de Giulia
abriu um sorriso e me deu um tapinha no ombro.
É claro que ficaríamos no mesmo quarto; somos casados e, para
todos os efeitos, somos um casal feliz e normal.
Entrei no quarto e permiti-me observá-lo. A decoração era
completamente diferente do quarto sem graça em que Giulia dormia no
apartamento. Esse quarto tinha a cara dela.
— Filha, já vamos. Amanhã tomamos café da manhã juntos e
podemos conversar melhor — Luara abraçou a filha, despedindo-se, e
depois fez o mesmo comigo. Fiquei sem reação e não retribui ao abraço.
Rocco beijou a cabeça de Giulia e, em seguida, me deu um leve
aceno de cabeça, despedindo-se.
Quando eles fecharam a porta, fiquei sem saber o que fazer, de
certo modo, senti-me sufocado.
— A cama é grande, não vamos ter problema quanto a isso —
comentou Giulia, parecendo perceber meu desconforto.
— Tudo bem, costumo dormir pouco e são poucas noites.
— Certo. Vou tomar banho e depois mexo na mala — avisou,
dirigindo-se ao banheiro.
Deixei minha mala no canto do quarto e sentei-me na beirada da
cama, mexendo no celular. Poucos minutos depois, escutei a porta do
banheiro se abrir e meus olhos foram direcionados para Giulia, que estava
totalmente sexy com uma toalha enrolada em seu corpo, os cabelos
molhados, com as pontas pingando água em seus ombros.
Giulia era tentadoramente linda!
Nossos olhos se encontraram e o ar do quarto pareceu ter sumido,
sufocando-nos de desejo. Assim como eu, pude perceber que ela também
tinha dificuldade para respirar. O desejo era avassalador. Deixei o celular
em cima da cama e me levantei. Fui tomado por um tesão incontrolável e
caminhei até ela.
— Adler? — Giulia ofegou. — O que está fazendo?
Não pude responder, pois nem eu mesmo sabia ao certo o que
estava fazendo, o que estava acontecendo comigo. Tudo que eu sabia no
momento era que Giulia estava mexendo com minha cabeça e que a
desejava muito, absurdamente. Tomei sua boca em um beijo voraz,
chupando seus lábios sem suavidade, explorando cada cantinho de sua boca
com minha língua.
Não estava preparada para a intensidade que emanava dos olhos de
Adler. Fui completamente envolvida pela sua aura sedutora, sentindo-me
como uma presa enredada em sua teia irresistível. E, para ser honesta,
estava relutantemente disposta a me entregar a ela.
Envolto pela energia do momento, Adler reivindicou minha boca
com uma ferocidade voraz. Seu tesão me inebriou e qualquer tentativa de
resistência desvaneceu-se, substituída pelo desejo profundo de ceder ao
poder avassalador de seu toque. Cada célula do meu corpo vibrava com a
eletricidade do seu contato. Seu corpo firme pressionou o meu contra a
parede, enquanto sua ereção provocava intensamente contra mim,
aumentando a já fervente temperatura que nos envolvia.
— Adler... — meu gemido escapou entre os beijos ansiosos,
ecoando pelo cômodo.
Só percebi que ele havia desenrolado minha toalha quando a
mesma caiu suavemente ao chão, deixando-me completamente nua sob o
escrutínio faminto de seus olhos ardentes. Senti suas mãos explorando cada
centímetro do meu corpo, apertando e acariciando. Cada toque me deixava
em êxtase e minhas pernas tremiam com a antecipação do que estava por
vir. Seus lábios deixaram um rastro de beijos molhados por meu pescoço,
arrepiando-me até os cabelos.
Em um movimento habilidoso, ele me ergueu sem esforço e,
enlacei minhas pernas firmemente em sua cintura, aproximando ainda mais
nossos corpos, quase fundindo-os em um só.
— Ah! Que delícia! — Joguei a cabeça para trás, entregue ao
prazer exuberante que sua boca proporcionava ao sugar meus mamilos, uma
sensação eletrizante percorrendo meu corpo.
Sua pegada selvagem, seus beijos intensos, os apertos e mordidas
que me faziam tremer de desejo eram exatamente o que eu precisava. Adler
sabia como me levar à loucura. Com a confiança e autoridade de um
predador satisfeito, Adler me carregou até a cama com calma, como se cada
passo fosse uma parte da coreografia de um espetáculo sensual. Com um
gesto firme e sem hesitação, ele abriu bem minhas pernas, chupando-me
sem qualquer enrolação. Sua boca quente e faminta me envolveu num
vendaval de sensações, e eu me agarrei ao lençol, cravando minhas unhas
enquanto as ondas de prazer me faziam morder o próprio lábio, arrancando
um pouco de sangue.
— Adler... Adler! — Eu gemia seu nome repetidamente,
completamente submersa na luxúria do momento.
Na verdade, não sei se estou chamando, pedindo ou implorando.
Tudo o que sei é que estou totalmente entregue a esse homem.
Um orgasmo poderoso me atinge, e meu corpo todo começa a
tremer em uma reverberação de prazer. Ele não para de me chupar, até que
finalmente me deixa esgotada. Sinto-me sensível e puxo seus cabelos,
retirando sua boca de mim.
Quando ele se levanta, avanço em seu corpo, despi-o com
urgência, expondo-o nu para mim. Quero que ele esteja tão à mercê quanto
estou para ele. Minha boca se enche de saliva ao ver seu pau ereto. Ajoelho-
me diante dele, a boca já úmida e aberta, e passo a língua na ponta,
fazendo-o gemer deliciosamente para mim.
De certa forma, esse gemido dele me dá confiança e, aos poucos,
começo a descer mais e mais, tomando todo o comprimento na minha boca,
sendo cuidadosa para não machucá-lo com a minha inexperiência. Ele
segura meus cabelos, guiando-me, mostrando-me como ele gosta de ser
chupado.
Era muito erótico chupá-lo. Ele era o maestro experiente e eu a sua
aprendiz devota. Sob as orientações de suas mãos, eu aprendia a arte de
levá-lo à beira do êxtase e depois guiá-lo de volta.
Eu me entreguei totalmente, sentindo cada músculo tenso de seu
corpo sob minhas mãos, cada gemido escapando de seus lábios entreabertos
me encorajava a me aprofundar ainda mais. E assim, entre a saliva, o toque
e os suspiros de desejo, eu fui aprendendo a arte de dar prazer a Adler com
a minha boca. Sob o olhar faminto dele, sinto-me como uma deusa,
dominando-o.
De repente, em um gesto selvagem, ele me puxa, jogando-me na
cama com uma força irresistível. Sua brutalidade, característica única que
me atrai ainda mais. Ele me coloca de costas para ele, bem empinada. Um
tapa forte atinge a minha bunda, fazendo-me choramingar. O som dos tapas
fortes na minha bunda ecoa pelo quarto, deixando-me arrepiada e fazendo
com que meu corpo arqueie-se involuntariamente.
Sinto-me incrivelmente molhada, minhas pernas entreabertas e
prontas para recebê-lo. O som do pacote do preservativo sendo aberto faz
meu coração bater ainda mais rápido. A ansiedade é palpável, a excitação
me consumindo.
— Adler! — Gritei quando ele me penetrou de uma só vez,
deixando-me com as pernas bambas e o coração disparado, uma
maravilhosa e poderosa mistura de prazer e intensidade.
Sua mão firme apertava minha cintura, a outra enrolava meus
cabelos, puxando-me para encontrar seu ritmo inebriante. Cada estocada era
uma explosão de prazer, me fazendo sentir como se meu corpo estivesse
prestes a se despedaçar. É incrível, forte e absolutamente delicioso!
Os espasmos começaram a me dominar, mas Adler parou de se
movimentar, permanecendo parado dentro de mim.
— Não goze agora, Giulia — seu sussurro foi provocativo,
próximo ao meu ouvido, e minha respiração se tornou irregular. — Quero
mais de você esta noite, quero tudo — ele voltou a se mover, lenta e
deliberadamente, mantendo-me à beira do precipício do prazer.
— Ahhh! Não sei se consigo aguentar, Adler! — Murmurei, entre
gemidos ansiosos.
Ele saiu de dentro de mim e um vazio momentâneo me consumiu,
mas logo fui inundada pela sensação de sua língua quente e ágil na minha
boceta, levando-me ao limite.
No entanto, quando estava prestes a alcançar o ápice, ele parou e
voltou a me penetrar. Mudamos de posição e ele me colocou para cavalgar,
sua boca ocupada com meus seios.
Ele segurou firmemente minha cintura, impedindo-me de me
mover.
— Adler, pare com isso! — Exigi, minha frustração crescendo com
cada momento de prazer que ele me negava.
— Me negou sexo, Giulia. Lembra-se disso? — Um sorriso
malicioso brincava em seus lábios.
Além de safado e gostoso, ele também era vingativo.
Bufando de irritação e desejando gritar de prazer, eu tremi de tesão,
meu corpo ansiando por mais uma vez, implorando por aquilo que só ele
podia me dar.
Adler me tirou de cima dele e me jogou na cama, um movimento
hábil que me fez sentir como se fosse uma boneca em suas mãos
experientes. Levantou minhas pernas, posicionando-as em seus ombros, e
voltou a me penetrar profundamente.
Estou completamente consumida por ele... e desta vez, Adler
permite que eu goze. O orgasmo vem de forma tão intensa que não consigo
controlar, um grito espontâneo escapa dos meus lábios. Ele também
sucumbe ao prazer, gemendo em uníssono comigo.
Após a intensidade do clímax, sinto-me exausta e completamente
satisfeita, mas uma sensação de apreensão paira sobre mim. Não estou
preparada para abrir os olhos e encarar o vazio que costuma preencher o
espaço depois de um sexo com Adler. O que será que ele fará ou dirá desta
vez que me machucará? Com medo, permaneço de olhos fechados.
— Giulia? — Ouvi a voz dele chamando meu nome, mas decidi
ficar mais alguns segundos de olhos fechados.
Porém, como a vida não me permitiria ser uma boneca de
porcelana para sempre, abri os olhos lentamente para encarar a realidade.
— Oi?
Não sei se foi o resquício do êxtase do sexo intenso ou a visão de
Adler, mas parecia que eu via um brilho diferente em seus olhos, uma
centelha que nunca havia percebido antes.
— Vamos tomar um banho juntos? — Ele perguntou, e minhas
sobrancelhas se ergueram em surpresa. Pisquei várias vezes, tentando
entender se ouvi corretamente.
— Você disse o que eu acho que ouvi? — Perguntei, ainda
tentando processar a proposta.
— Eu disse que quero mais de você esta noite, muito mais — seus
lábios se curvaram em um sorriso malicioso, enquanto me pegava no colo e
me levava até a banheira.
Confesso que um sorriso bobo tomou conta do meu rosto e meu
coração batia descompassado. Eu era completamente apaixonada por esse
homem!
Tomamos um banho de banheira e, mais uma vez, o sexo foi
incrível. Adler definitivamente tomou tudo de mim, como havia prometido.
Agora, estou deitada na cama, exausta e, um pouco dolorida.
— Já vai fugir novamente? — Questionei, observando Adler
vestir-se rapidamente. Não consegui controlar a impetuosidade de minhas
palavras.
— Vou beber um uísque e fumar um charuto — ele respondeu, sem
me olhar.
— Você vai voltar? — Tentei não parecer tão necessitada da sua
atenção.
— Quando for dormir — sua voz era mais gentil, menos rude do
que das vezes anteriores.
— Adler?
— Agora não, Giulia — ele finalmente se virou para me encarar.
— Você sente medo quando sente vontade de estar comigo? —
Sentei-me na cama, o lençol enrolado em torno do meu corpo nu, olhando
para ele com expectativa.
— Não sinto medo — seus olhos se encontraram com os meus.
— Mas sempre se afasta — tentei encontrar algum entendimento.
— Porque gosto de ser assim — sua resposta foi direta.
— Não podemos viver um momento normal? — Perguntei,
tentando não soar tão vulnerável.
— O que seria um momento normal para você?
— Namorar, ficar juntos, essas coisas — tentei não soar
desesperada.
Adler coçou a barba, ponderando minhas palavras.
— Não curto essas coisas, Giulia. Não quero iludir você.
— Você já viveu algo parecido? — Arqueei a sobrancelha,
esperando ansiosa por sua resposta.
— Não — sua resposta foi rápida e sem hesitação.
— Então, como você pode ter certeza de que não gosta dessas
coisas? — Argumentei, esperando que ele reconsiderasse.
Adler respirou fundo e sorriu de canto.
— Só vou fumar e beber, já volto — pegou seu celular e saiu do
quarto.
Me joguei na cama, com um sorriso no rosto. Embora ele não
tenha permanecido, senti que consegui mexer com ele de alguma forma.
Não posso estar tão iludida assim, não posso estar vendo coisas onde não
existem. Essa vez foi diferente, eu sei disso, meu coração sente isso.
Saí do quarto, precisando desesperadamente de espaço e ar fresco
para respirar. Meu coração martelava no peito, e minha mente estava
mergulhada em um turbilhão de confusão. O que estava acontecendo
comigo? Por que me sentia tão fora de controle perto de Giulia?
Deveria odiá-la, mas em vez disso, meu desejo por ela parecia
crescer a cada momento. Era como se estivesse preso em um ciclo vicioso
de atração e repulsa, incapaz de encontrar uma saída.
Peguei um charuto e um uísque caro que encontrei no armário de
Rocco. Precisava de algo para acalmar meus nervos e clarear minha mente
confusa. O aroma do charuto se misturava com o calor do uísque,
proporcionando uma sensação reconfortante enquanto eu tentava colocar
meus pensamentos em ordem.
A verdade era que eu não entendia mais nada. Antes, minha vida
era clara, minha mente afiada e minhas decisões firmes. Agora, tudo parecia
desmoronar ao meu redor, e eu me via deslizando por um caminho
desconhecido e perigoso.
Talvez fosse verdade, talvez eu estivesse evitando outras mulheres
porque, no fundo, sabia que nenhuma delas poderia preencher o vazio que
Giulia deixava em mim. Mas admitir isso era como abrir uma porta para um
abismo de incertezas.
— Posso me juntar? — Renzo, o tio de Giulia, apareceu ao meu
lado de repente, um sorriso leve nos lábios.
— Pensei que tivesse saído para dançar — olhei para ele, curioso.
Renzo pegou a garrafa de uísque, serviu-se e se acomodou na
cadeira ao meu lado.
— Saímos. Melanie exagerou um pouco na bebida, acabou
passando mal e está dormindo.
— Entendo.
— Você não deveria estar com sua esposa? — Ele me olhou de
soslaio, um brilho divertido nos olhos. — Todo começo é complicado,
Adler — ele se inclinou para trás na cadeira, tomando uma postura
relaxada.
— Pois é — respondi, sem vontade de prolongar a conversa.
— Giulia tem o mesmo gênio do pai, mas tenho certeza de que
você consegue se adaptar — ele pegou o copo e eu fiz o mesmo, enchendo-
o.
— Estou tentando — admiti, bebendo um gole.
— Você tem um ponto positivo, no entanto — renzo virou-se para
mim com um sorriso. — Não é tão idiota quanto o seu irmão — ele riu.
— Enzo é... o Enzo — sorri, lembrando-me do jeito peculiar do
meu irmão.
— Eu sei. Não conte para ninguém, mas tenho uma certa afeição
por ele, mesmo quando me irrita. Ele é como um irmão para mim.
— Irritar as pessoas é a especialidade dele — concordei, rindo.
— Ainda não conseguiu descobrir o que está sentindo? — Estreitei
os olhos, tentando entender onde Renzo estava querendo chegar e por que
mudou de assunto tão rapidamente. — O que está sentindo por Giulia —
explicou.
— Eu sei exatamente o que sinto por ela.
— E o que é?
— Quer mesmo conversar sobre isso? — Acendi outro charuto e
ofereci a ele, que recusou.
— Estou com tempo.
— Atração, desejo. Nada além disso — afirmei, tentando
esclarecer isso mais para mim do que para ele. Renzo riu.
— É meu caro, pensei que estava confuso, mas é bem pior que
isso.
— Por que diz isso?
— Porque eu já estive no seu lugar e posso afirmar que essa fase
de negação é a pior — fiquei em silêncio, já de saco cheio dessa conversa
chata. — É justamente nessa fase que fazemos besteira por não aceitar o
que estamos sentindo e as consequências são complicadas, mas você vai
descobrir ainda. Sabe o que eu aprendi?
— Diga — falei apenas por educação, pois não estava nem um
pouco disposto em saber o que ele aprendeu.
— Que não adianta falar e aconselhar, só deixando quebrar a cara
para aprender — sorriu.
— Você fala como se eu estivesse apaixonado e futuramente fosse
me arrepender por não aceitar isso — dessa vez, fui eu quem ri.
— E não está? — Questionou, arqueando uma sobrancelha.
— Claro que não! — Respondi com convicção. — Já disse que o
que sinto por Giulia é atração. Todas as vezes que me lembro que nos
casamos por uma armação dela, sinto vontade de matá-la.
— Certo, você casou por uma armação dela, mas agora que estão
casados, você consegue enxergar a sua vida sem ela? — Sua pergunta me
pegou totalmente de surpresa e diante do meu silêncio, Renzo soltou uma
gargalhada.
— Nunca parei para pensar nisso — justifiquei o meu silêncio. —
Posso muito bem seguir a minha vida sem ela — respondi por fim.
— Não foi o que acabou de parecer. Se tivesse tanta certeza, não
teria demorado tanto para responder.
— Foi como eu disse, não havia pensado nisso e a sua pergunta me
pegou desprevenido. Apenas por isso demorei a responder.
— Faça o seguinte então — ele levantou-se, deixando o copo em
cima da mesa. — Afaste-se de Giulia e veja se aguenta ficar longe.
— Que conversa mais sem sentido — ri, achando uma loucura
tudo isso.
— Faça melhor, Adler. Deixe Giulia de bandeja para o novo
professor. Até porque quem não dá assistência, você já sabe, não é? Abre
concorrência.
Levantei-me num rompante.
— Como sabe disso? — Perguntei, irritado.
— Ouvi ela falando dele com as minhas filhas, ela parecia bem
interessada — virou-se de costas. — Isso não é problema para você, não é?
Afinal, o que você sente por ela é só tesão — falou olhando-me sobre os
ombros e saiu assobiando.
Sinto a raiva percorrer meu corpo enquanto aperto o copo com
força. O vidro se estilhaça, cortando minha mão, mas o ardor dos cortes é o
menor dos meus problemas. Deixo a bagunça para trás e vou direto para o
quarto. Ao abrir a porta, vejo Giulia dormindo apenas com a minha camisa.
Em outro momento, ficaria excitado ao vê-la assim, mas agora a raiva me
domina. Seguro seu braço e a acordo.
— O que está acontecendo, Adler? — Ela perguntou confusa,
abrindo os olhos lentamente. — O que foi?
— O que você tem com aquele professor? — Bradei, perdendo a
cabeça. — Você está falando dele para todo mundo, não é? O que vocês
têm?
Ela deu-me um tapa na mão.
— Me solta! — Levantou-se. — Você enlouqueceu? De repente
está falando sobre isso? — Olhou para a minha mão e se assustou. — O que
aconteceu na sua mão? — Passou os dedos em seu queixo, limpando o
sangue que ficou ali.
— Como é engraçado, não é, Giulia? Fica conversando sobre o seu
professor com as suas primas. Está bem interessada nele, não é?
— O quê?! Claro que não! Quem te falou isso?
Respirei fundo, passando as mãos no cabelo, tentando me acalmar.
— Quer saber? Esquece — não deveria estar me importando tanto
com isso. — Foda-se tudo isso! — Virei-me para sair do quarto, mas ela
segurou meu braço.
— Adler, onde você vai? Calma, vamos conversar.
— O que você quer falar? Que está gostando do seu professor? —
Ri, ironicamente. Odiando-me por estar me importando tanto com essa
história.
— De onde você tirou esse absurdo, Adler? Pelo amor de Deus!
— Quer saber? Fique à vontade para gostar de quem você quiser.
— Eu gosto de você — sussurrou.
Fechei os olhos por alguns segundos e lentamente tirei a sua mão
do meu braço.
— Não dá certo, Giulia, não tem como dar certo. Esquece tudo que
aconteceu hoje.
— Não faz isso... por favor — sua voz falhou.
Sinto um nó estranho se formar na minha garganta e não consigo
ter reação.
— Deixa eu ver a sua mão?
— Não.
— Só quero ver se você está bem — insistiu.
— Eu estou bem. É você que não vai ficar bem se eu continuar
aqui.
— Por que fala isso? Vai me machucar?
— Fisicamente não, mas emocionalmente sim.
Se eu ficar aqui, vou acabar falando coisas que não quero porque
estou com raiva. Então, saí do quarto, mas Giulia é insistente e vem atrás de
mim.
— Adler, para! — Giulia gritou assim que abri a porta do carro. —
Por que toda vez você faz isso?
— Eu sou assim.
— Vai pra onde?
— Não sei.
— Vai ficar com alguém? — Sua voz estava fraca, arrisco dizer
que ela estava chorando, mas não olhei para o seu rosto para ter certeza. —
Me responde, Adler! — Exigiu.
— Só vou esfriar a cabeça.
— Se sair, pode esquecer que eu existo, Adler, e não estou
brincando. Cansei de ser o seu brinquedinho que você tira da gaveta quando
quer, usa e depois guarda novamente — escutei-a fungar, olhando-a e tendo
a certeza de que realmente está chorando. — Hoje foi incrível e tinha tudo
para terminar bem, mas você é sempre um idiota, que foge das coisas.
Pergunto-me se realmente tem a idade que diz ter, porque às vezes parece
que tem quinze anos de tão moleque que é.
— Pensa da maneira que quiser — entrei no carro, ela correu e
segurou a porta.
Lágrimas rolavam em seu rosto e me amaldiçoei pela primeira vez
ao ver o que estava fazendo com ela.
— Eu te amo, mas não vou mais insistir em você.
— Melhor assim.
— Aprenderei a te odiar da mesma maneira que me odeia — bateu
a porta do carro com força e correu para dentro da casa dos seus pais.
Dei vários socos no volante.
O pior de tudo é que eu não odeio Giulia. A verdade é que eu não
sei o que sinto por ela e isso está me matando. O fato de não conseguir me
controlar quando o assunto é ela está me enlouquecendo.
Claro que retornei ao quarto com a esperança de que Adler viesse
correndo atrás de mim. E, como era de se esperar, isso não aconteceu. Ele
nunca fazia! Era incrível sua habilidade em não se importar com nada, nem
ninguém, especialmente comigo. Conheci pessoas frias antes, mas ninguém
se igualava ao meu marido.
Reconheço que errei ao concordar com tudo aquilo que nos levou
ao casamento, mas até quando Adler continuaria me julgando por isso? Era
passado, não havia como voltar atrás, mesmo que desejasse fazer diferente.
Adler iria me odiar para sempre? Lágrimas brotaram só de lembrar que ele
não demonstrou preocupação quando mencionei que poderia esquecê-lo se
partisse. A verdade, por mais dolorosa que fosse aceitar, era que Adler não
sentia absolutamente nada por mim.
Eu o amava profundamente, isso era inegável, mas era tão doloroso
amá-lo que, por vezes, desejava não sentir mais esse amor. Queria que ele
desse uma única chance ao nosso casamento. Que se permitisse viver esse
momento, quem sabe as coisas não mudariam? Ele poderia até mesmo
começar a gostar de mim. Porém, ele não queria. A única coisa que Adler
desejava era ter relações sexuais comigo de vez em quando. Eu não era, e
nunca seria, uma boneca à qual ele brincava quando bem entendia. Tinha
sentimentos, e se eu não os protegesse, ninguém o faria por mim.
Ao ouvir alguém bater à porta, levantei-me apressadamente,
iludida ao pensar que poderia ser Adler.
— Oi, mãe — limpei as lágrimas e forcei um sorriso. — Voltou
mais cedo, não é?
— Ele está aí? — Ela apontou para o interior do quarto.
— Não.
— Posso entrar?
— Claro — abri a porta para ela passar.
Fechei a porta e caminhei em direção a ela, que se dirigia ao sofá
ao pé da cama.
— Sente-se aqui — ela bateu no sofá, indicando o lugar ao seu
lado.
— O que houve, mãe?
— Comigo, nada. Mas contigo, sim, não é? — Ela começou a
acariciar meus cabelos.
— Estou bem — menti, com um sorriso falso.
— Pode enganar o mundo, mas a mim, tua mãe, não. Te conheço
como ninguém.
Ela tinha razão. Eu não conseguia mentir para ela. E, para ser
sincera, eu estava cansada de fingir ser forte. Deixei as lágrimas fluírem.
— Estou exausta — disse. — Cansada de correr atrás dele — deitei
no colo dela, e ela continuou a acariciar meus cabelos.
— Senti que precisava de mim. Chamei teu pai para nos irmos
embora. As coisas estão muito difíceis, não estão?
— Sim, muito! Adler é tão complicado, mãe. Ele não suporta nem
um pouco a minha presença.
— Não posso acreditar nisso, filha.
— Pois acredite. Acho que ele me odeia — solucei.
— Não é verdade. Basta olhar como ele te olha para saber que não
te odeia.
— Então, por que ele me faz sofrer tanto?
— Acredito que ele ainda não sabe o que sente por você.
— Hoje parecia que tudo estava bem. Mas, como sempre, ele
estragou tudo.
— Quer me contar o que aconteceu?
— Estávamos bem, o que é raro. Ele disse que ia descer para beber
e fumar, mas que voltaria para dormir comigo. Mãe, ele estava tão certo de
que voltaria para dormir comigo que criei esperanças. E, de repente, ele
aparece aqui todo nervoso, me acusando de estar interessada no meu
professor de muay thai. Meu professor é bonito, sim, não sou cega, consigo
ver a beleza dele. Mas é só isso, juro que nunca passou pela minha cabeça
me envolver com ele ou com qualquer outro. Amo Adler demais para isso.
— Ele estava com ciúmes. Isso mostra que ele se importa.
— Acho que ele só queria estragar tudo mesmo, como sempre faz.
— Ele saiu ou está aqui pela casa?
— Saiu — levantei o rosto para encará-la. — Mãe, falei com ele
que, se saísse, poderia me esquecer. E ele nem se importou.
— E vai cumprir o que falou?
— Tenho que tentar, não é? Ou então, minha palavra não valerá
mais nada.
— Você tentou se resolver com ele, mas ele não quis, certo? —
Assenti. — Acho que agora você deveria dar um tempo.
— Isso que vou fazer.
— Deixe Adler perceber a mulher incrível que ele está perdendo.
— Você acha mesmo que sou incrível ou está falando isso porque é
minha mãe?
— As duas coisas — rimos. — Nunca duvide de como você é
incrível, minha filha. Se respeite e se valorize, só assim você conseguirá
isso de outra pessoa. Ame-se e então, outras pessoas a amarão.
— Obrigada por tudo, mãe. Eu te amo! — Abracei-a com força.
— Eu também te amo muito, e me dói ver-te sofrer assim.
— Vou ficar bem, prometo — sorri, afirmando mais para mim do
que para ela.
— Eu sei que vai, você sempre foi esperta — sorriu e beijou-me na
testa. — Vou te deixar descansar. Se precisar, sabe onde me encontrar.
— Boa noite, mãe!
— Boa noite, filha!
Minha mãe saiu do quarto, e eu corri para trancar a porta. Se Adler
pensa que pode chegar aqui a qualquer hora e entrar, ele está muito
enganado. Não abrirei a porta de maneira nenhuma.
Depois da breve conversa com a minha mãe e do seu carinho,
sinto-me um pouco melhor.
Mandei uma mensagem no grupo das minhas primas, dizendo que
estou ansiosa para nos reencontrarmos amanhã, e deitei-me para dormir.

Acordei com a luz do sol inundando o quarto. Consultei o relógio


ao lado da cabeceira, que indicava oito horas da manhã. Adler não surgiu,
pelo menos não aqui no quarto; não ouvi batidas na porta. Realizei minha
rotina de higiene matinal e desci para tomar café. Fiquei contente ao ver
toda a minha família ali: meus pais, tios, tias, primas, meu irmão e sua
esposa. Meu marido não estava presente, mas também não esperava
encontrá-lo.
Após o café, me preparei para passar o dia na piscina com minhas
primas e agora, ao cair da noite, estou finalizando os preparativos para a
festa.
A porta se abriu abruptamente, e revirei os olhos ao ver Adler
parado ali.
— Boa noite, Giulia! — Adler não deixou escapar a oportunidade
de me cumprimentar.
— Boa — respondi, sem demonstrar nenhum entusiasmo. —
Tentei entrar no quarto durante a noite, mas a porta estava trancada.
Terminei de passar meu batom vermelho, sem me dar ao trabalho
de responder. Quando estava indo em direção a porta, sua mão segurou meu
braço, impedindo-me.
— Temos que conversar.
— Ah, agora quer conversar? — Arqueei uma sobrancelha e sorri
ironicamente. — Você teve todo o tempo para vir falar comigo e não fez.
Agora estou indo para a festa e não quero me atrasar.
— Vou tomar um banho e descemos juntos.
— Não vou esperar — puxei meu braço, soltando-me de seu
aperto. — Não quero estar lá com você.
Peguei meu celular e saí do quarto, sem olhar para trás.
Devo confessar que foi difícil para mim dizer não para Adler, mas
sabia que era necessário. A festa já tinha começado e os convidados
estavam todos aqui. Claro que chamei a atenção por chegar sem meu
marido, mas isso pouco me importava. Juntei-me com minhas primas para
beber, dançar e aproveitar a noite.
Que Adler se danasse! Ele não merecia o meu amor! Evitei olhar
para onde ele estava, mas senti meu corpo queimar, sabendo que ele me
encarava durante a noite inteira.
— Giulia — Theo se aproximou com um sorriso cativante. —
Linda como sempre!
— E você está ainda mais gato! — Retribuí o elogio.
— Não me elogie muito, seu marido pode não gostar — brincou.
— O problema é dele! — Disse, um resquício de frustração
escapando em minhas palavras.
— Problemas no paraíso?
— Nunca foi um paraíso.
— Casamento é complicado mesmo, Giulia.
— Adler é que é complicado, Theo — esvaziei minha taça de
champanhe de um gole só.
— Não posso negar.
— Arrependimento de não ter me casado com você — Theo soltou
uma gargalhada.
— Não me venha com essa, Giulia. Não me coloque nessa história,
estou fora.
— O casamento não rolou, mas e uma dança? — Apontei para a
pista, onde vários casais se moviam ao som da música.
— O que o seu marido vai pensar disso?
— Tem medo dele? — Ri.
— Medo não, respeito, é diferente — ele me lançou um olhar
cúmplice.
— É só uma dança, Theo — insisti. — Somos amigos, não tem
nada demais nisso, amigos também dançam.
Era verdade, eu e Theo éramos amigos, e eu precisava dessa
distração.
— Tá, tudo bem, sua insistente — ele sorriu, deixando seu copo na
bandeja de um garçom que passava. — Só uma dança, ok?
— Ok, só uma dança — concordei, sentindo uma faísca de
empolgação. Estava ansiosa para me soltar na pista.
Entramos no meio dos casais e começamos a dançar.
Theo era tão charmoso e cheiroso. Por que não me apaixonei por
ele? Era uma pergunta que martelava na minha mente enquanto nossos
corpos se moviam em harmonia com a música, eu me pegava desejando que
o tempo pudesse voltar e as coisas fossem diferentes.
Não saí na noite passada, mas também não voltei ao quarto. Na
verdade, me sentia perdido, sem saber o que dizer ou fazer. Decidi, então,
ficar só com meus pensamentos.
Quando o assunto é Giulia e nosso relacionamento, fico
completamente confuso. Sinto-me como se estivesse em uma encruzilhada,
desejando-a intensamente, mas ao mesmo tempo afastando-a.
Passei um tempo caminhando pelo jardim, depois peguei outra
garrafa de uísque e fiquei bebendo sozinho na varanda. Por sorte, ninguém
apareceu para me perturbar, e eu não precisei fingir interesse em conversas
vazias.
Hoje de manhã cedo, Rocco e Luigi me procuraram para ajudá-los
com um problema relacionado a uma carga. Quando cheguei, já era hora da
festa. Tentei conversar com Giulia, mas ela não quis. Optei por não insistir,
afinal, hoje era um dia especial para ela e eu não queria estragar.
Tomei um banho rápido e desci. Agora estou aqui, no canto,
admirando a beleza da minha esposa. Giulia é deslumbrante, isso é
inegável! No entanto, em nenhum momento seus olhos se voltaram na
minha direção, o que me deixou frustrado.
Felizmente, nesta festa, só estavam presentes amigos próximos da
família. Seria insuportável ter que fingir interesse em conversas com
pessoas falsas e bajuladoras.
Apertei o copo com força quando vi Giulia e Theo conversando,
quase o quebrando e machucando minha mão já ferida da noite passada.
Rapidamente, peguei um guardanapo para estancar o sangue.
— Se automutilando? — Enzo perguntou, rindo ao se aproximar de
mim.
— Me deixe em paz, Enzo!
— Por que está aqui sozinho? Venha se juntar a nós — ele apontou
para a mesa onde estava toda a família.
— Prefiro ficar sozinho.
— Está com raiva porque Giulia e Theo estão dançando?
Olhei na direção dos dois e minha irritação só aumentou ao vê-los
dançando.
— Porra! — Joguei o guardanapo sujo na mesa e saí dali, deixando
Enzo rindo.
Não vou ficar ali assistindo aos dois dançarem como se nada mais
importasse. A mera visão da interação entre eles, ver Giulia rindo para ele,
me incomodou mais do que eu esperava. A vontade de ir lá e separá-los, ou
até mesmo socar a cara de Theo, era quase irresistível.
O indivíduo fez uma grande cena para evitar se comprometer com
ela, e agora está agindo de maneira descontraída ao lado de Giulia? Theo é
um imbecil!
Decidi que seria melhor ficar ali sozinho, em vez de dentro da
festa. Sentei-me embaixo de uma árvore e comecei a mexer no meu celular.
Estava perdido em meus próprios pensamentos quando ouvi uma voz.
— Ciúmes?
Olhei para o lado e vi a última pessoa que queria ver naquele
momento... Theo.
— Me deixe em paz! — Falei, voltando minha atenção para o
celular, ignorando-o.
— Trouxe para nós — ele ergueu uma garrafa de uísque e dois
copos.
Não podia recusar, ainda mais que precisava de uma boa dose.
Assim que ele me entregou o copo cheio, virei tudo de uma vez.
— Opa, calma lá, amigão.
— Não sou seu amigão — cortei logo, minha raiva por Theo
aumentando.
— Éramos amigos, não somos mais? — Ele sorriu de forma
debochada.
Peguei a garrafa de sua mão e enchi meu copo mais uma vez.
— Dane-se! — Ignorei sua pergunta e virei mais uma vez a dose
toda.
— Não sinto nada por ela, Adler, pode ficar tranquilo. Jamais
faltaria com respeito à esposa do meu amigo. Foi só uma dança — ele
tentou se explicar.
— Não precisa se explicar.
— Preciso sim, afinal, você não gostou do que viu.
— Quem disse que eu não gostei? Estou pouco me importando.
— Não precisa ficar se fazendo de durão. Confessa logo que está
rendido pela menina e vai ser feliz.
— Não viaje, Theo — o repreendi, irritado.
— Quem está viajando é você. Fica aí se fazendo de difícil e está
totalmente rendido. Até quando você vai prolongar esse sofrimento de
vocês dois?
— Você deveria cuidar mais da sua vida, está bem ocupado
cuidando da vida dos outros.
— Só estou tentando te alertar e faço isso porque gosto muito de
você e da Giulia. Quero ver vocês dois felizes.
— Ficou sentimental, Theo?
Ele soltou uma gargalhada.
— Não me provoque, Adler — ele se levantou. — Estou tentando
te ajudar, ser um bom amigo, mas você tem que dar a cara para bater.
— Valeu.
— Aproveite o uísque sozinho — ele saiu e eu encolhi os ombros,
pouco me importando.
Fiquei ali por um tempo, bebendo, mas infelizmente, ao olhar para
o copo vazio em minha mão, percebi que a bebida não resolveria meus
problemas.
— Adler? — Desta vez, é a voz de Giulia que me tirou dos meus
pensamentos perturbadores.
— Oi? — Levantei a cabeça para encará-la.
— Está na hora da foto em família, meus pais fazem questão de
você lá.
— E você?
— O que tem eu?
— Faz questão que eu esteja lá? — Escutei sua respiração pesada.
— Você é meu marido, ficaria constrangedor se eu estivesse
sozinha na foto.
— Não respondeu à minha pergunta.
— Vai vir ou não, Adler? — Ela emburrou a cara e cruzou os
braços.
— Vou — levantei-me e me aproximei dela, que recuou dois
passos, demonstrando que não queria ficar perto de mim. — Vamos? —
Apontei para frente.
Giulia saiu na frente, pisando firme. Abri um pequeno sorriso,
achando graça da sua maneira emburrada, e estranhamente feliz por ela ter
vindo me chamar.
Na hora de tirar a foto, os homens estavam abraçados com suas
esposas e eu fiz o mesmo com Giulia, segurando firme em sua cintura,
colando suas costas ao meu corpo, deixando-a totalmente sem graça e
surpresa. Inclusive as pessoas ao nosso redor também fizeram cara de
espanto.
Quando a sessão de fotos terminou, os casais se dirigiram para a
pista de dança. Giulia já estava de saída quando segurei sua mão.
— Quer dançar?
— Com você? — Arregalou os olhos, surpresa.
— Sim, comigo.
Com o Theo que não seria, é claro.
— Estou cansada, Adler.
— É só uma dança, Giulia — insisti, ansiando por aquele
momento.
— Tudo bem, mas só uma.
Vibrei internamente, sentindo-me vitorioso, e nos dirigimos para a
pista de dança. Coloquei seu corpo junto ao meu e afundei a cabeça em seu
pescoço, absorvendo seu delicioso aroma, tão sedutor quanto ela.
— Giulia, sobre ontem eu… — ela me interrompeu.
— Você disse que seria só uma dança.
— Não quer conversar sobre o que aconteceu ontem?
— Não.
— Por quê?
— Vai mudar alguma coisa? Vai mudar o que eu senti ontem,
Adler? Não, não vai mudar em nada, não vai mudar o que eu sinto sempre
que você me machuca — abri a boca para responder, mas Giulia me
silenciou, colocando o dedo em meus lábios.
— Obrigada pela dança, mas estou cansada.
Ela se afastou, saindo de meu abraço e sumindo no meio das
pessoas. Deveria deixá-la sozinha, pois sei que tenho causado muita dor a
ela, mas não consigo evitar. Como um tolo egoísta, vou atrás.
Subi as escadas correndo e a encontrei no corredor.
— Me deixe sozinha, Adler! — Exigiu, continuando a andar.
— Espera! Vamos conversar?
— O que você quer conversar? — Ela parou de andar e se virou
para me encarar, seus olhos estavam vermelhos e seu peito subia e descia
rapidamente.
— Não sei — confessei. Droga, eu era muito confuso. — Não
estou sabendo lidar com essa situação.
— Você gosta de mim, Adler? — Se aproximou. — Acha que pode
vir a gostar, pelo menos? — Fiquei em silêncio, sem saber o que responder.
— Giulia...
— O que? — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Você nem
sequer possui sentimentos por mim, não sabe nem se vai chegar a possuir,
aliás, não faz nem questão disso.
— Eu realmente não sei o que te falar.
Não consigo encontrar palavras, nunca estive nessa situação, não
sei o que fazer ou falar.
— Gosta de mim pelo menos um pouquinho? Sei lá, sentiu pelo
menos dó ao me ver sofrer? Se a resposta for sim, me deixe quieta. Tenta
não se aproximar mais de mim. Não consigo aceitar viver só com o tesão
que sente por mim. Quero mais, Adler, eu quero amor e você não pode me
dar. Então a única coisa que eu te peço é que não me faça sofrer, não mais.
Se estamos nessa situação, foi por minha causa e eu assumo toda a culpa,
mas eu não aceito mais me humilhar e sofrer por você. Vamos fazer o
seguinte, vamos manter as aparências e uma convivência respeitosa, mas só
isso, tá legal? Não me procure mais, eu não quero ir para a cama com você,
porque no final do desejo, só me sobra tristeza e decepção. Sei que se você
me procurar, não vou conseguir dizer não, por isso, estou te pedindo, ou
melhor, implorando, não me procure mais para satisfazer os seus desejos.
Virou as costas, entrando no quarto e batendo a porta com força.
Suas palavras perfuraram meu peito como lâminas, e ao encarar os olhos
dela, vi todo o sofrimento que eu havia causado. Uma onda de culpa me
arrastou para um abismo de remorso.
Tenho causado um sofrimento terrível para Giulia e estou me
sentindo a pior pessoa do mundo. Como permiti tudo isso?
— Adler? — A voz de Rocco me trouxe de volta à realidade e
fechei os olhos, respirando fundo.
Definitivamente, eu detestava estar na casa dos outros. Não havia
privacidade, sempre alguém querendo se intrometer onde não era chamado.
— Estava saindo do meu quarto e foi inevitável não ouvir a
conversa de vocês. Podemos conversar no meu escritório? — Rocco
propôs.
— Sim — queria recusar, mas estava na casa dele e era o pai de
Giulia. Não podia ignorar.
Segui Rocco até o escritório, sentando-me desconfortavelmente.
Ele ofereceu um copo de uísque, mas eu neguei.
— Vejo que a situação entre você e minha filha só tem piorado.
Para mim, como pai, não é nada fácil vê-la sofrendo desta maneira. Um dia,
quando você for pai, entenderá isso — estreitei os olhos, não querendo nem
pensar nessa possibilidade. — Sei que não deveria me meter, mas venho
aqui, como pai, humildemente, pedir que deixe Giulia ficar um tempo aqui
em casa. Pelo menos até vocês esfriarem a cabeça.
— Quer que eu vá embora e deixe Giulia aqui? — Minha voz saiu
alterada e me empertiguei na cadeira.
— Sim. Eu e a mãe dela estamos sofrendo vendo nossa filha assim.
— E o que vai mudar se ela ficar aqui?
— Cuidaremos das suas feridas e daremos a ela o que tem faltado,
amor.
Rocco me deu um soco na cara sem sequer levantar a mão.
— Jamais permitirei isso. Voltarei com a minha esposa — minha
voz tremia de raiva e determinação.
— Peço que reconsidere a sua decisão.
— Ela voltará comigo! — Levantei-me, nervoso, pensando na
possibilidade de Giulia ficar aqui sozinha.
Pior, sozinha próxima de Theo. Isso jamais aconteceria!
— Tudo bem, você é o marido, a decisão é sua — ele também
levantou-se. — Se me permite, queria avisar algo antes de encerrarmos essa
conversa.
— Diga.
— Depois não venha me pedir ajuda para reconquistá-la, tudo
bem?
— Ok — falei sem qualquer ânimo, cansado de toda essa situação
infernal.
— Giulia pode estar sentindo muito agora, mas quando ela te
abandonar, quem vai sentir muito é você — Rocco estava prestes a sair do
escritório, quando retruquei.
— Ela não pode me abandonar! — Minha voz ecoou pelo
escritório. Rocco, o pai de Giulia, virou-se lentamente em direção a mim,
seu olhar carregado de uma mistura de raiva e tristeza.
— Não pode, mas vai. Ela pode ser a sua esposa, mas é a minha
filha e eu a conheço desde que nasceu.
Rocco fechou a porta suavemente, deixando-me sozinho naquele
espaço opressivo, mergulhado em incertezas.
O que eu sinto por Giulia para estar sofrendo tanto assim?
Preciso urgentemente de ajuda psicológica. É uma verdadeira
angústia gostar tanto de alguém que demonstra apenas interesse sexual, e
ainda assim eu me pego esperando por algo mais de Adler.
Em algum ponto da minha vida, me perdi. A Giulia de antes,
aquela que valorizava a si mesma, que buscava a própria felicidade, parece
tão distante... Sinto falta de quando eu era genuinamente feliz, antes de
Adler.
Reconheço os erros que cometi amando-o. Amar não justifica tudo,
mas nunca tive a intenção de prejudicá-lo. Ele poderia ao menos tentar,
não? Afinal, de qualquer maneira, ambos teríamos de nos casar em algum
momento das nossas vidas. Mas o problema não é esse; o problema sou eu.
Adler deve sentir uma repulsa imensa pela ideia de ser meu marido.
Preciso que ele pare de me procurar, para que eu possa fortalecer-
me, curar minhas feridas e voltar a sorrir sem depender dele, sem precisar
do seu amor.
Quando retornar para casa, investirei tempo em meu trabalho e em
meu treinamento. São essas atividades que me fazem feliz e que me
distraem. Não serei rude com Adler, não lhe tratarei mal. Ele não merece
isso. O que ele merece é minha indiferença, e é isso que eu darei.
— Filha? — Ouvi a voz firme e conhecida do meu pai,
acompanhada por uma leve batida na porta do meu quarto.
— Já vou — respondi rapidamente, enxugando as lágrimas que
teimavam em escorrer pelo meu rosto, não queria que meu pai me visse
chorando.
— Cansada da festa já? — papai perguntou com um sorriso
afetuoso assim que abri a porta.
— Sim — respondi, forçando um pequeno sorriso amarelo.
— Posso? — Ele apontou para dentro do quarto.
— Claro, entra! — Convidei, deixando-o entrar e fechando a porta.
— Estava conversando a pouco com o seu marido — começou a
explicar, sentando-se no sofá. — Sobre vocês.
— Sério? — Perguntei curiosa, sentando-me ao lado dele.
— Pedi que ele deixasse você ficar aqui em casa por alguns dias.
— E ele?
— Não aceitou — meu pai disse, com um suspiro.
Me surpreendi, ficando boquiaberta. Afinal, na minha cabeça,
Adler queria me ver o mais longe possível.
— Deve ser por causa da minha empresa, de fato, não posso me
afastar tanto tempo — disse a única justificativa plausível que surgiu em
minha mente para justificar o declínio de Adler.
— Está cheia de responsabilidades, hein? — Puxou-me para um
abraço carinhoso. — Estou orgulhoso.
Senti meu peito se encher de alegria ao ouvir aquelas palavras.
Mesmo sendo uma completa idiota, meu pai ainda sentia orgulho de mim.
— Vai aproveitar sua festa e a esposa maravilhosa que você tem —
sugeri, beijando sua bochecha.
— Você vai ficar bem? — Ele perguntou, com uma preocupação
genuína em seus olhos.
— Sou filha de Rocco e Luara, esqueceu? — Respondi, tentando
soar confiante. — É claro que ficarei bem.
— Sei que ficará, você é forte igual a sua mãe — falou, com um
sorriso lindo no rosto.
— Te amo, pai! — Disse, sentindo um nó se formar na minha
garganta.
— Também te amo! — Respondeu, antes de se afastar e me lançar
um olhar de carinho e orgulho.

Estávamos voltando para a Alemanha em absoluto silêncio.


Despedi-me dos meus pais e do meu irmão aos prantos. Não sabia quando
voltaria a vê-los, mas pedi que me visitassem. Adler e eu não trocamos nem
meia dúzia de palavras depois daquele dia. Ele nem voltou para dormir no
quarto. E quer saber? Agradeci por isso. Embora eu ficasse pensando onde
ele poderia estar que não dormiu no quarto, foi melhor assim. Pelo menos,
não tivemos contato e não precisamos fingir que estava tudo bem.
— Eu ficarei no outro apartamento que tenho — Adler avisou
assim que entramos em casa.
— Ok — respondi, vendo a surpresa em seus olhos ao me ver
concordar.
— Vai ser melhor assim — comentou.
— Vai — limitei-me a responder novamente, tentando esconder a
dor que sua decisão me causava.
— Giulia? — Ele me chamou pelo nome, e sua voz carregava um
tom de dúvida.
— Sim? — Tentei demonstrar a maior indiferença que conseguia
sentir.
— Você não vê problema em eu ir morar em outro lugar? — Ele
perguntou, parecendo esperar uma reação mais intensa de minha parte.
Eu tive vontade de gritar que sim, que eu queria tê-lo ali, mas a que
troco? Ter só migalhas? Não, eu não queria mais as migalhas que Adler
tinha a me oferecer. Eu queria tudo o que merecia ter.
— Não, por quê? Deveria? — Respondi com um tom de frieza,
tentando mascarar a dor que suas palavras causavam em mim.
— Não finja que não se importa, Giulia! — Ele deu um passo na
minha direção e eu estendi a mão, parando-o.
— Você quer me ver chorar e implorar para que fique? Lamento te
informar, Adler, mas isso não vai acontecer. Você sempre esteve certo, nós
dois fomos um erro. Eu te coloquei nessa loucura quando em um ato
impensado fiz aquilo. E você jurou me levar ao inferno e eu aceitei. Só que
eu não quero mais viver nesse tormento. Não posso ficar o resto da minha
vida pagando por esse pecado.
— Eu te levei ao inferno... — ele sussurrou, parecendo pensativo
com as minhas palavras.
— E eu não quero mais permanecer nele. Então, fica a seu critério,
se quer continuar aqui ou ir morar no seu outro apartamento — virei-me
para subir as escadas, mas parei diante da sua voz.
— O que dizia sentir por mim, acabou?
Eu respirei fundo. Eu queria dizer que sim, mas não era verdade,
então optei por ser sincera.
— Não, Adler, não acabou. Eu só não quero mais sofrer — falei
olhando-o por cima do ombro e fui para o meu quarto, arrastando a mala
pesada escada acima.
Não vi o que Adler fez depois da nossa conversa, não sei se ele
realmente foi embora. E sinceramente? Eu não queria saber nada dele, não
por agora, não por hoje.
Liguei para Kalel, informando que eu estava de volta e perguntei se
meu horário de hoje ainda estava disponível, como ele me confirmou, corri
para tomar um banho e me arrumar.

— Como é bom vê-la novamente, Giulia! — Kalel se aproximou,


abraçando-me apertado. Seus braços fortes envolvendo-me num gesto
caloroso. — Como foi a viagem?
Pensei em responder que poderia ter sido melhor, mas ele não
precisava saber das minhas frustrações. Optei por ser breve.
— Foi boa, consegui matar um pouquinho da saudade que estava
dos meus pais e meu irmão.
— Imagino que sim — ele sorriu. — Pronta para treinar?
— Prontíssima! — Respondi, tentando esconder minha ansiedade.
Kalel pegou bem leve no treino porque ele disse que fiquei alguns
dias sem treinar, mas sei que ele sempre faz isso comigo porque eu sou
extremamente sedentária e em menos de dez minutos de treino, já estou
morrendo.
— Vai fazer o que agora? — Perguntou, enquanto estávamos
sentados, descansando.
— Nada.
— Que tal um sorvete?
— Acho ótimo! Você paga — levantei-me um pouco rápido e senti
uma tontura. Kalel imediatamente me segurou.
— Giulia? Giulia, você está bem? — Ele estava genuinamente
preocupado.
Pisquei algumas vezes tentando limpar minha visão que ficou
escura.
— Sim, só fiquei um pouco tonta, acho que levantei rápido demais.
— Sente-se — ele puxou a cadeira. — Vou pegar água gelada para
você — assenti, sentindo minha garganta seca.
— Obrigada! — Peguei o copo de água com a mão trêmula.
— Tem certeza que está tudo bem?
— Sim, provavelmente tive um mal-estar porque não comi nada
durante e depois da viagem.
— Tem que se alimentar, Giulia. Já está se sentindo melhor?
— Sim.
— Vem, vamos comer — segurou minha mão com carinho. — Vou
levá-la para comer e depois tomamos sorvete.
— Acho melhor eu ir para casa.
— De jeito nenhum, vamos comer e depois tomar o sorvete — ele
sorriu, sua bondade transparecendo. Sorri, Kalel era tão legal comigo.
— Certo — levantei-me, sentindo-me melhor.
— O que quer comer?
— Você quem vai pagar, então você escolhe — brinquei, levando
nós dois a gargalhada. A leveza do momento me fez relaxar.
Fomos para a lanchonete que ficava perto da academia, eu escolhi
um lanche natural e um suco. Kalel me acompanhou no pedido, exibindo
seu característico sorriso amistoso.
— Antes de você viajar, recebi a visita do seu marido — ele fez a
revelação com naturalidade, como se estivesse contando uma história
casual.
Fui pega de surpresa com essa revelação e quase me engasguei
com o suco que estava tomando.
— O quê? — Perguntei, totalmente confusa.
— Cheguei em casa e ele estava me esperando.
— Ele invadiu a sua casa?
— Sim — Kalel abriu um pequeno sorriso, parecendo não se
importar com isso. Entretanto, eu estava em choque, completamente
desacreditada e fervendo de raiva. Como Adler se atreveu?
— Por que não me falou isso antes? — Ralhei, perdendo
completamente a fome.
— Não sei.
— Ele te fez mal?
— Não, apenas queria conhecer quem estava se aproximando da
esposa dele.
— Jesus! Adler é ridículo! — Falei, indignada.
— Não fala nada com ele, tá legal? Não quero problemas com o
seu marido.
— Claro que eu tenho que falar, Kalel!
— Melhor não, Giulia. Seu marido não estava nada satisfeito com
você treinando, se você falar, só vai causar mais confusão e eu não quero
isso.
— Me desculpa! Não queria te trazer problemas — pedi, muito
envergonhada pela atitude desagradável de Adler.
— Não precisa se desculpar.
— Eu prometo que Adler não te fará mal algum, tá bom?
— Não estou preocupado com isso. Estou preocupado em ele te
fazer mal.
— Não fará — garanti. Não como Kalel estava pensando. Adler já
havia me feito mal o suficiente.
— Desculpe me meter nisso, Giulia, mas seu marido me pareceu
bem agressivo. Tem certeza que você está segura com ele?
— Tenho — respondi, tentando parecer confiante. Não tem como
explicar que meu marido é um mafioso perigoso e que, ao mesmo tempo,
estou segura ao seu lado.
— Tudo bem. Só não queria que você falasse nada com ele e nem
que desistisse das aulas.
— Não vou falar com ele, mas gostaria que me informasse
imediatamente caso ele voltasse a te procurar.
— Avisarei sim.
— E pode ficar tranquilo, não vou desistir das aulas.
— Isso sim é uma ótima notícia — ele abriu um enorme sorriso. —
Senti a sua falta, Giulia — repousou sua mão sobre a minha.
Acabei sorrindo. Acho que eu também senti a falta de Kalel. Ele
era um bom amigo e eu gostava de estar perto dele.
Há dias que Giulia e eu não temos conversado. Ela continua
morando no apartamento e eu disse que iria para outro, mas a verdade é que
acabei fazendo o meu escritório de minha moradia. Tenho sentido a sua
falta como nunca imaginei que fosse sentir. Penso em Giulia desde a hora
que acordo até quando vou dormir.
Já organizei várias festas, com as melhores mulheres e, mesmo
assim, não consigo tirá-la da cabeça. Não consigo chegar nos finalmentes.
Transo por transar, porque prazeroso não é. Na verdade, faço isso porque
sou um completo idiota e não consigo resolver nada da minha vida.
Hoje pretendo ir até a minha casa para conversar com Giulia. Não
dá para continuar do jeito que tá. Sei que assim como eu estou sentindo sua
falta, ela também está sentindo a minha. Não podemos mais continuar com
isso. Somos casados e teremos que conviver a vida toda juntos.
Enzo tem razão quando fala que eu preciso deixar de ser orgulhoso
e cabeça dura. Tô sentindo uma falta do caralho da minha diaba! O seu
cheiro não saiu de mim e é como se eu pudesse sentir o seu corpo ainda
colado ao meu.
Não vou deixar o orgulho falar mais alto. É hora de acabar com
essa palhaçada!
— Senhor? Licença — o guarda bateu na porta do escritório,
tirando-me dos meus pensamentos.
— Sim?
— Chegou esse envelope para o senhor.
— Remetente?
— Anônimo.
— Dê-me aqui — peguei da sua mão e vi seu olhar curioso. —
Pode ir — autorizei sua saída e ele se retirou. Abri o envelope lentamente.
Já era suspeito por ser anônimo, e minha suspeita se confirmou
quando me deparei com várias fotos de Giulia e seu professor de muay thai.
Em uma das fotos ela estava sorrindo lindamente para ele em uma
lanchonete qualquer. Ela parecia tão leve, tão feliz... de um jeito que nunca
a vi sorrir para mim.
Em outra foto, eles estavam na academia. Aquele filho da puta
estava com a minha esposa em seus braços, os dois se olhando de um jeito...
apaixonado? Balancei a cabeça de um lado para o outro, uma mistura de
raiva e incredulidade tomando conta de mim.
Furiosamente, arremessei as fotos para longe, vendo-as voar pelo
escritório. Não satisfeito, peguei o copo que estava em cima da minha mesa
e o arremessei com força na parede, vendo-o se espatifar em mil pedaços,
acompanhado de um barulho ensurdecedor.
— Diaba infernal! — Soquei a mesa e comecei a jogar tudo que
estava em cima dela no chão, tentando aplacar minha fúria. — Por isso ela
não está nem aí para mim, está com aquele miserável! Aquele
professorzinho de merda é um homem morto! — Berrei, sozinho no meu
escritório.
Aquela lá tinha que ser filha do diabo!
Por que estou tão nervoso? Não fui eu quem falei para ela arrumar
outra pessoa? Que ela podia fazer isso?
— Mas isso foi antes! — Respondi a minha própria pergunta,
enlouquecendo ao ponto de falar sozinho.
Giulia terá que me explicar o que essas fotos significam e isso vai
ser agora.
Catei as fotos que espalhei pelo chão quando joguei e saí apressado
da boate, indo direto para casa, provavelmente a essa hora, se ela não
estiver fazendo hora extra com o professor, já estará em casa.
Não me importei com radar, com sinal, com absolutamente nada.
Não quero nem saber das multas, o que quero é chegar em casa e olhar bem
na cara daquela safada.
Abri a porta do apartamento já gritando o seu nome.
— Giulia! Giulia? — Busquei-a pela sala, cozinha e varanda, mas
não a encontrei.
Subi as escadas a cada dois degraus, determinado a chegar ao seu
quarto. Se ela estiver na rua com aquele professor, juro que mato os dois!
Bati desesperadamente na sua porta, quase a derrubando.
— Meu Deus, Adler! — Giulia abriu a porta, com o rosto pálido e
a voz arrastada. — Por que todo este alvoroço? Quem morreu? —
Caminhou lentamente até à sua cama e sentou-se.
— O que você tem? — Meu nervosismo diminuiu ligeiramente ao
vê-la em tal estado.
— Um mal-estar passageiro — passou as mãos no rosto. — O que
aconteceu?
— O que está sentindo? — Ignorei sua última pergunta e
aproximei-me dela.
— Nada de mais, como disse, é passageiro.
— Você emagreceu bastante nos últimos dias, não acha? —
Inevitavelmente, acabei reparando nela e me preocupando. Fazia alguns
dias que não nos víamos. — Seria melhor irmos ao médico.
— Já disse que está tudo bem! — Respondeu, impaciente. — Estou
praticando atividade física, por isso emagreci.
Sua justificativa fez-me lembrar do motivo pelo qual estava ali e
rapidamente me afastei dela.
— O que tem com esse professor, Giulia? Me fala a verdade! —
Exigi.
Ela ficou me encarando, como se não tivesse entendido a minha
pergunta.
— Você bebeu? — Estreitou os olhos.
— Não, não bebi — apertei o envelope com as fotos que estavam
na minha mão.
— Então está falando essa idiotice com base em quê?
— Não se faça de sonsa, Giulia, que de sonsa você não tem nada!
— Já você pode se fazer de idiota tranquilamente, porque idiota,
você é! — Sua boca atrevida não perdeu tempo em revidar.
— Já sei que vocês têm um caso.
— O quê? — Ela aumentou o tom de voz e depois começou a rir.
— Está louco! De onde tirou essa baboseira?
— Que eu saiba, ele é o seu treinador. Por que motivo vocês vivem
saindo? Lanchonete, sorveteria... — comentei sobre o que vi nas fotos.
— Amizade, sabe o que é isso? — Giulia revirou os olhos
enquanto inclinava-se para trás, demonstrando total desinteresse em nossa
conversa. Não me era possível identificar se ela estava falando a verdade ou
se era mestra em dissimular.
— E você sabe qual vai ser o destino dele, não é mesmo? —
Observei, erguendo a sobrancelha.
Repentinamente, ela levantou-se, as pupilas dilatadas em surpresa.
— Você está louco, Adler! Já não bastou ter entrado na casa dele
para ameaçá-lo?
— Ele teve a audácia de chorar no seu ombro, foi? E eu não fiz
nada demais!
— Ele simplesmente me contou. É assim que funciona entre
amigos. Contamos as coisas uns aos outros. Mas você não entende isso, não
é mesmo? Você não tem amigos!
— Amigos? Ah, me poupe! — Avancei para ela, agarrando
firmemente seus braços, e nossos olhares faiscaram.
— O que você pretende? Me bater? — Perguntou, com desprezo
claro em sua voz.
Soltei-na e ela vacilou para trás. Recuperou-se e investiu contra
mim, desferindo uma série de golpes em meu peito.
— Você poderia ter me machucado, idiota! — Gritou. E eu permiti
que me agredisse.
— Você está defendendo esse desgraçado!
— Ele é meu amigo!
— Ele será amigo do diabo agora! — Ela parou de me golpear e
me encarou.
— Adler, por favor, não faça isso — vê-la implorar pela vida dele
só exacerbou minha raiva.
— Você está implorando por aquele cara? Incrível! — Dei um
passo para trás e dei um soco na parede, fazendo-a gritar de susto.
— Não é da forma que você está pensando, Adler. Ele
simplesmente não fez nada!
— E como você explica isso? — Joguei o envelope contra o peito
dela.
— O que é isso? — Ela se abaixou para pegar o papel no chão,
abrindo-o e arregalando os olhos ao ver o conteúdo. — Meu Deus! Quem
faria uma coisa dessas?
— E como você explica? — Insisti.
— Não é como você está vendo nessas fotos. Eles pegaram um
ângulo e momentos específicos para fazer você pensar outra coisa!
— Você abriu caminho para essa merda acontecer, você deu moral
para esse idiota!
— Não foi assim! — Retrucou, com o mesmo tom de voz elevado
que o meu. Nossos nervos estavam à flor da pele. — E mesmo que fosse,
você mesmo disse que eu poderia… — não deixei ela terminar a frase e,
com raiva, aproximei-me novamente.
— Não importa o que eu disse quando estava irritado, maldição!
— Ela recuou alguns passos, com os olhos arregalados.
— Adler, acalme-se! — Seu olhar exalava medo, e saber que eu
era a causa disso me fez sentir péssimo, mas eu não conseguia controlar a
fúria que tomava conta de mim.
— Se essas fotos caírem nas mãos erradas, você está ferrada,
Giulia, entendeu? Se o conselho tem essas fotos, eu serei forçado a te matar,
droga! Você é uma garota mimada e inconsequente, faz tudo errado! —
Gritei, desesperado. E era a pura verdade.
— Você não faz nada errado, não é? Estou diante de um santo! —
Debochou Giulia, com uma risada fria e sarcástica. — Com quantas já
transou desde que nos casamos? Cem? Mil? Duas mil mulheres? Hein?
— Não interessa — não me deixei intimidar. — Isso não fará
nenhuma diferença para mim, mas para você, não posso dizer o mesmo.
— Você teria coragem de me matar? — Questionou, seu tom de
voz demonstrava incredulidade.
Desviei o olhar, evitando seus olhos flamejantes.
— Eu iria contra o conselho por causa de uma traidora? —
Perguntei, sentindo a decepção refletida no brilho apagado de seus olhos.
— Eu sou sua esposa! Isso não importa para você? Posso ser a mãe
dos seus filhos!
Comecei a rir, sentindo uma pitada de loucura na minha
gargalhada.
— Como saberei se esses filhos serão realmente meus? Estamos
diante de uma mulher infiel — ela travou e arregalou os olhos.
— Você teria coragem de desconfiar de mim, Adler? Se eu dissesse
que estou grávida?
— Você teve coragem de me trair, Giulia? Dormiu com outro
homem? — Rebati, sentindo a raiva latejar no meu peito. — Se eu tivesse a
certeza que não, por que eu desconfiaria? Você está devendo? Está
preocupada?
— Não acredito no que estou ouvindo — murmurou, se
aproximando de mim.
— Me deixa quieto, Giulia — tentei me afastar, mas ela segurou
meu braço. — Não temos motivos para ficar falando de filhos!
— Eu exijo uma resposta, me fale, Adler! — Exigiu, sua voz
elevada. — Você acreditaria 100% que o filho é seu? Fala!
— Poderia pensar que o filho é do professor, não poderia? —
Respondi, sentindo uma dor que não ousava reconhecer.
Sua mão atingiu em cheio meu rosto, um som abafado que ecoou
pelo quarto. Quando olhei para ela, vi lágrimas escorrendo por suas
bochechas.
— Você é a pessoa mais fria que eu já conheci no mundo! Eu te
amei com todas as minhas forças, eu dei tudo de mim para estar com você,
mas tudo que você fez foi pisar em mim e estragar tudo que eu sentia por
você. Eu te odeio, Adler, eu te odeio! Se esse casamento não tivesse
acontecido e o Kalel aparecesse na minha vida antes de você, me casaria
com ele sem pensar duas vezes. Quer saber de uma coisa? — Já estava na
porta do seu quarto, explodindo de tanto ódio das suas palavras. — Você
não chega nem aos pés de Kalel, ele sim é homem e se não existisse você,
estaria com ele há muito tempo!
Bateu à porta na minha cara, levando-me à loucura com suas
palavras.
— Giulia, abre essa porta! — Esmurrei a porta, controlando-me
para não derrubá-la.
— Você pode arrombar a porta, me bater, me matar, fazer o que
você quiser, Adler. Nada, absolutamente nada vai mudar o ódio que estou
sentindo por você.
Pensei em derrubar, mas nós dois estamos de cabeça quente e a
probabilidade de as coisas terminarem pior do que já estão, é enorme.
Decido que preciso sair daqui e esfriar a cabeça. Falei muita merda
e tenho certeza de que me arrependerei depois que a raiva passar.
Completaram-se três dias desde a discussão terrível que tive com
Adler. Três dias sem que nos falássemos ou nos víssemos, e sinceramente,
prefiro assim. Adler me feriu profundamente, de uma forma indescritível.
Passei esses três dias dedicando-me a mim mesma, já que não estava me
sentindo bem. Trabalhei de casa, resolvendo questões burocráticas pela
internet, e evitei ir à academia. No entanto, mantive conversas breves por
mensagens com Kalel, pois temo que Adler possa prejudicá-lo.
Hoje, acordei com mais disposição, mas ainda assim decidi
trabalhar em casa e não ir à academia, afinal, é sexta-feira e estou ansiosa
para sair um pouco e me distrair, pois não suporto mais essa tristeza. Estou
orgulhosa de mim mesma, pois achei que não aguentaria tanto sofrimento,
mas fiquei mais forte. Obviamente, ainda amo meu marido; um amor tão
forte não se apaga do dia para a noite. No entanto, percebo que esse amor já
não me domina como antes. Adler não tem mais controle sobre mim.
Na garagem, avaliei as opções de carros de Adler e optei pelo
Porsche. Não sou uma condutora habilidosa, mas hoje estou disposta a ser
audaciosa.
Nossa! Esse carro é uma delícia de dirigir. Enquanto percorro as
ruas, reflito sobre a minha própria insanidade e como fiz da minha vida uma
confusão total.
Calcei meus saltos, peguei minha bolsa e saí de casa determinada a
me divertir, deixando para trás os arrependimentos que tornaram minha vida
difícil. Reconheço que fui tola. Todos ao meu redor me alertaram sobre
minha paixão por Adler, mas agora não adianta lamentar. Cometi um erro e
já paguei por ele. Não aceito carregar esse fardo pelo resto da minha vida.
Se Adler deseja viver entre as centenas de mulheres que
frequentam em sua boate, que assim seja. Eu irei trilhar meu próprio
caminho, mantendo meu coração afastado dessa jornada.
Ao adentrar a boate, o ambiente me agrada instantaneamente.
Observo ao redor, avaliando o local. Não está tão lotado quanto o
estabelecimento de Adler, mas a música é envolvente, as pessoas são
atraentes e os drinks parecem deliciosos.
— Um campari soda, com gelo e uma fatia de limão, por favor —
pedi ao barman, debruçando-me sobre o balcão.
— É pra já — ele sorriu, indo preparar o meu drink.
— Posso pagar a sua bebida? — Ofereceu-me um homem
desconhecido, se aproximando de mim.
Peguei a bebida que o barman estendeu para mim, agradeci a ele e
me virei para o desconhecido.
— Não, obrigada, eu mesma posso pagar a minha bebida — aí,
deixando o desconhecido lá sozinho, com uma expressão não muito
satisfeita com o meu declínio.
Eu não vim procurar homem, até porque não era louca o suficiente
para cavar a minha própria cova, estava ali apenas para me divertir, dançar,
beber e esquecer dos problemas.
Fui para a pista de dança e dancei como se não houvesse amanhã.
Só parava para vir pedir outro drink ao barman, acho que já bebi todos os
drinks feitos na boate. Como estava me fazendo bem esse momento de
distração, sozinha, aproveitando minha própria companhia! Quando foi que
esqueci como é bom estar comigo mesma? Quando me esqueci de viver
para mim?
— Giulia! — Assustei-me ao ouvir a voz tão familiar e me virei,
constatando que era realmente Kalel quem estava ali. — Por que sumiu,
mocinha? — Ele puxou-me para um abraço, que retribuí com carinho.
— Estava um pouco atarefada nesses últimos dias, tive um
tempinho hoje e decidi sair para dançar — menti, sem vergonha alguma de
esconder a situação que tenho passado.
— Espero que você não esteja pensando em desistir dos treinos,
hein? — Balancei a cabeça em sinal negativo e bebi o restinho do meu
drink. — Posso te oferecer uma bebida?
— Por que não? — Sorri, caminhando ao seu lado para o bar.
Eu estava completamente suada e ofegante, então me sentei um
pouco enquanto aguardava o meu próximo drink ficar pronto. Kalel se
sentou ao meu lado.
— Seu marido está aqui? — Perguntou e eu me empertiguei,
desconfortável por falar de Adler.
— Não, ele tem muito trabalho — olhei para as minhas próprias
mãos, mexendo os dedos.
— Certo, não falaremos dele — encarei Kalel, sorrindo, ele era tão
assertivo. — Não sabia que dançava tão bem, parou a pista de dança, viu?
Estavam todos babando no seu gingado — joguei a cabeça para trás, rindo.
— Não seja exagerado, Kalel!
— Não é exagero, você realmente dança muito bem, Giulia — o
encarei novamente, sorrindo. — Você está linda essa noite. Aliás, você
sempre está linda! — Ruborizei diante do seu elogio.
— Você também não está nada mal — brinquei para descontrair o
momento tenso que se formou entre nós dois.
A bebida está me fazendo ver coisas onde não tem, mas caramba,
jurava que a forma como Kalel me olhou ao me elogiar era o olhar de uma
pessoa apaixonada. E eu sei bem como é esse olhar, eu o vejo sempre no
espelho quando penso, falo ou vejo Adler.
Balancei a cabeça, espantando esse pensamento louco. Olhar
apaixonado? Que loucura! Estou mesmo muito carente para pensar essas
bobeiras.
O restante da noite transcorreu magnificamente bem, Kalel é uma
ótima companhia e passaria horas e horas conversando com ele. Agradável
demais, arrancou-me boas risadas.
Na hora de ir embora, ele ponderou sobre a minha carona,
duvidando da minha habilidade na direção — óbvio que fiquei indignada e
afirmei que eu era muito boa no volante, o que era uma mentirinha de leve
também. O trajeto até a casa de Kalel foi a melhor parte da noite, gargalhei
muito com seus olhos arregalados e o medo estampado no seu rosto.
Ok! Eu era uma irresponsável e sabia disso. Não dirigia bem e
ainda estava fazendo isso bêbada. E por mais triste que seja esse meu
pensamento, a morte nunca me pareceu tão agradável como agora. Claro
que não queria causar mal a outra pessoa, colocando a vida de um cidadão
em risco por minha irresponsabilidade no trânsito, por isso, dirigi bem
devagar. Mas com a minha própria vida, eu já não estava me importando
muito.
Estacionei o carro perfeitamente na vaga, como estava antes. Olhei
para a minha obra de arte e sorri orgulhosamente. Talvez eu devesse dirigir
mais, não sou tão ruim quanto imaginava.
Ao abrir a porta do apartamento e tirar minhas sandálias, esses
saltos estavam me matando, ouvi a voz de Adler.
— Se divertiu muito com seu professorzinho, Giulia? — A voz
dele ecoou antes mesmo das luzes se acenderem, fazendo-me estremecer.
Ah, não! Lá vamos nós novamente... o inferno vai começar.
Quando soube que Giulia havia saído de casa com meu Porsche,
fiquei agoniado. E a agonia aumentou quando descobri que ela estava indo
para uma boate. Mas nada se comparou ao que senti ao saber que aquele
professorzinho de merda estava lá com ela.
Coloquei minha pistola na cintura e fui até lá. Não sei explicar o
que me impediu de matá-lo ali mesmo e de arrastar Giulia para fora. Uma
força divina me controlou e eu apenas passei a noite observando-os de
longe. Bebi como um condenado cada vez que ela sorria para ele, de
maneira tão descontraída. Vê-la tão feliz ao lado dele estava me dilacerando
por dentro.
Senti uma dor no peito que nunca havia experimentado antes. Ela
ainda teve a coragem de levá-lo em casa. Óbvio que a segui de longe. E
quando percebi que ela estava voltando para o apartamento, cheguei antes
dela.
Como ela teve a imprudência de dirigir alcoolizada? Giulia nem
sabe dirigir direito, por que pegou meu carro? Maldição! Ela era mais louca
do que eu imaginava.
— Sim, me diverti bastante — a ousada respondeu, acendendo a
luz e me dando uma visão completa do seu corpo suado dentro daquele
vestido, que realçava suas curvas de forma ainda mais atraente do que o
normal, combinado com uma maquiagem que a deixava mais madura do
que sua verdadeira idade.
— Não brinque comigo, sua mimada... — levantei-me nervoso,
mas não pude completar a frase, pois ela me interrompeu.
— Senão o que, Adler? O que fará comigo? — Desafiou-me, seu
tom de voz denotando um enorme deboche e um pouco de desprezo.
— Não queira saber do que sou capaz quando estou com raiva,
Giulia.
— E existe uma versão pior de você do que todas as que já
conheci? Conheço todas as suas facetas de cor e salteado, Adler. E quer
saber? Não me assusta e nem me surpreende mais. Eu não tenho medo das
suas ameaças. Vai em frente, conte ao conselho que tenho um caso, acabe
com o nosso tormento — ela inflou o peito, enchendo-se de razão, e
começou a passar por mim, mas a impedi, segurando firmemente em seu
braço.
— Você é insana, Giulia, mas não ao ponto de desejar morrer.
Então não tente me enganar com essa pose de durona, que não teme o pior,
porque nós dois sabemos que a história é bem diferente.
— Não me compare hoje com a Giulia que você conheceu antes,
Adler. A Giulia de antes te amava mais do que a si própria. A Giulia de hoje
se coloca como prioridade. E você? Bom, você foi só um erro — senti todo
o meu sangue ferver, a raiva me consumindo.
— Você está tendo um caso com aquele desgraçado? — Perguntei,
puxando mais o seu braço, colando nossos corpos e quase encostando
nossas testas, misturando minha respiração acelerada à sua, que parecia
tranquila demais.
— Acreditaria se eu dissesse que não? — Me calei. Porra, eu
queria muito acreditar, mas por que Giulia está sempre com esse merdinha?
— Minha verdade não te interessa, Adler. Você já fez o seu pré-julgamento,
então pense o que quiser.
— Me fale, Giulia, você ficou com aquele filho da puta? — Puxei-
a ainda mais, praticamente colando nossos lábios.
— O que foi, Adler? Tem medo dele ser melhor que você?
E foi nesse momento que eu perdi a cabeça. Empurrei Giulia com
força, batendo suas costas na parede e esmagando seu corpo contra o meu.
Agarrei seus cabelos de forma agressiva e pressionei minha boca contra a
dela.
— Você é minha, entendeu? Toda minha! — Soprei contra seus
lábios, com uma ira que nem eu mesmo conhecia. — Você me pertence,
Giulia! — Declarei com uma possessão que beirava o extremo.
— Eu me pertenço! — Ela rebateu, com os lábios grudados nos
meus.
Por mais que Giulia tentasse se fazer de forte, eu podia sentir o
quanto seu coração batia acelerado e sua respiração irregular. Ela sentia, e
sentia muito.
— Seu coração bate assim por ele? — Questionei, vendo-a estreitar
os olhos na minha direção. — Seu corpo anseia por ele, Giulia? Sua boceta
fica molhadinha assim para aquele merda de professor? — Espalmei a mão
entre as suas pernas e gemi ao sentir o quanto ela estava molhada, a
calcinha de Giulia estava ensopada.
— Adler! — Meu nome sendo chamado em sua boca era uma
mistura gostosa de um gemido contido e dolorosamente como um alerta.
— Você pode não querer ou não admitir, mas você é minha. E
sempre vai ser.
Dessa vez, não dei tempo para que ela retrucasse. Todas as
loucuras que pensei em fazer quando entrei nesse apartamento foram
embora. Agarrei Giulia com voracidade, esmagando seus lábios de um jeito
devastador.
Ela era minha. Porra! Ela era toda minha.
Nossas línguas se misturavam junto com o gosto do álcool, e
nossos lábios tinham dificuldades para acompanhar um ao outro. Estávamos
desesperados.
Giulia rebolava em minha mão enquanto eu a acariciava por cima
da calcinha molhada.
Coloquei a calcinha de lado e enterrei um dedo dentro da sua carne
quente. Ela mordeu meu lábio inferior com força, arrancando sangue.
Retirei o dedo e, com ele completamente lubrificado, massageei seu clitóris
inchado.
Nem por um segundo soltei os lábios de Giulia. Foda-se que
precisávamos respirar. Eu precisava mais desse beijo do que de ar.
Giulia confundia-me. Mudava-me. E fazia-me questionar coisas
que nunca antes foram questionáveis.
A diaba rebolou, encontrando seu próprio prazer, e melou toda
minha mão enquanto eu engolia seus gemidos, sentindo seu corpo amolecer
em meus braços.
Afastei nossas bocas apenas para lamber meus dedos, que antes
estavam dentro dela. O gosto da minha diaba era a coisa mais gostosa que
eu já havia experimentado. Seus olhos brilhavam com o vislumbre do seu
sabor em minha boca. Já ia me abaixando para chupá-la, quando seus dedos
agarraram meus cabelos e me fizeram parar.
— O que pensa que está fazendo? Eu não quero — disse,
deixando-me completamente desacreditado.
— Não se faça de difícil, Giulia. Nós dois sabemos que você quer e
quer muito — ela aproximou o rosto do meu, colando nossos lábios como
eu havia feito antes.
— Não, Adler. Eu não quero foder com você — sussurrou contra
minha boca. — Posso me satisfazer sozinha com meus próprios dedos.
Obrigada pelo delicioso orgasmo, mas é só isso — ela tentou se soltar do
meu aperto, mas não permiti.
— Tem se tocado, Giulia? — Perguntei, a voz rouca. Porra! Já
consigo imaginá-la deitada na cama, com as pernas bem abertas e a boceta
bem molhada.
— Todas as noites — a safada respondeu, sem vergonha alguma.
— Se toca pensando no meu pau enterrado até o fundo dessa
boceta gostosa? — Ela sorriu, empurrando meu peito. E talvez, por eu estar
tão afetado com essa informação, deixei-a me afastar. Grande erro.
— Você não iria gostar de saber em quem eu penso quando me
toco.
E foi assim que ela acabou com o tesão e todo o momento.
Jogando o veneno no ar e saindo correndo, antes que eu pudesse raciocinar
e agarrá-la.
— Giulia! — Subi as escadas correndo em sua direção, mas não
consegui chegar a tempo dela bater à porta do seu quarto na minha cara.
Não sei quantas vezes tive que respirar fundo e contar até dez para
controlar a vontade de derrubar essa porta e fazê-la parar de mentir. Eu sei
que ela pensa em mim, que me deseja e que seu coração bate por mim. E
por mais que eu saiba disso, sinto-me extremamente irritado ao imaginá-la
pensando em outro homem. Porra... nem posso sonhar com essa
possibilidade. Eu enlouqueceria. Certamente, eu enlouqueceria.
Foda-se tudo o que já idealizei ou pensei na minha vida até hoje.
Giulia era minha. Minha esposa e a mulher que mexia loucamente com a
minha cabeça. A única mulher capaz de me enlouquecer até hoje. A única
que me faz pensar nela desde que acordo até quando vou dormir e ainda
aparece em meus sonhos. Giulia se tornou minha quando se jogou em meus
braços naquele dia, fazendo-nos ser pegos pelo irmão dela.
E eu? Bom, eu não sei exatamente quando me tornei dela... mas de
alguma maneira, me tornei.
Irritar Adler, usando Kalel, não foi algo do qual eu me orgulhasse e
sabia que era uma péssima ideia. Contudo, ele conseguia me tirar do sério.
Seu jeito arrogante e prepotente, com toda a certeza de que tinha-me nas
suas mãos, irritava-me. Não podia deixar que Adler fizesse comigo o que
bem quisesse. Já me entreguei demais, se ele não valorizou, o problema era
dele.
Aquela acusação que Adler fazia sobre mim e Kalel era totalmente
sem fundamento. Não sabia de onde ele tirou a ideia de que eu e o meu
professor tivéssemos alguma coisa. Por mais bonito, simpático, educado e
carinhoso que ele fosse comigo, nunca tivemos nada, absolutamente nada.
Kalel era um grande amigo para mim e nunca ultrapassou os limites.
Demorei a pegar no sono na noite passada, pensava que a qualquer
momento ele derrubaria a porta do meu quarto e começaria com toda aquela
perturbação novamente. Mas, para a minha surpresa e alívio, Adler saiu
naquela noite, devia ter ido para o seu "puteiro".
Tomei meu café da manhã tranquilamente, na paz, mas, como
nesse casamento a paz durava pouco, o inferno começou cedo quando tentei
abrir a porta para ir trabalhar e notei que estava trancada.
Que porcaria é essa? Comecei a esmurrar a porta.
— Oi? Tem alguém aí? — Eu gritei, ansiosa por uma resposta do
outro lado.
— Senhora? — A voz veio em resposta, e eu aproximei mais meu
ouvido.
— Quem está aí?
— Trabalho para o seu marido.
— Ah, que maravilha! — Rolei os olhos, mesmo que ele não
pudesse ver. — Você poderia abrir a porta? A chave não está funcionando
por algum motivo.
— Sugiro que entre em contato com o seu marido.
— O quê? Por quê?
— Fui instruído a não abrir — franzi o cenho, sem entender.
— Como assim?
— Por favor, ligue para o Sr. Ziegler.
Bufei irritada, buscando meu celular na bolsa. Adler não tinha
limites, e sua capacidade de arruinar meu dia estava se tornando
impressionante.
— O que foi, Giulia? — A voz dele soava impaciente, como
sempre.
— Por que a porta está trancada?
— Porque eu quero que esteja!
— Como assim? — Eu berrei pelo telefone. — Preciso sair para
trabalhar, Adler! Peça para esse homem abrir a porta!
— Você não vai sair.
— O que está acontecendo? Você está bêbado? Bateu a cabeça? —
Eu continuava gritando, e eu tinha certeza de que ele podia me ouvir sem
precisar encostar o celular na orelha.
— Você gosta de desafiar, não é, Giulia? Quer brincar? Então
vamos ver quem sai por cima.
— Não seja mais estúpido do que o normal. Mande abrir essa
porta, Adler! — Eu gritei com toda a minha força.
Mas, como sempre, ele me ignorou e desligou na minha cara.
Tentei ligar de novo algumas vezes, mas só caía na caixa postal.
Voltei a bater na porta como uma louca, uma imagem do que eu me
tornei desde que me casei com aquele maldito. Não sei por quanto tempo
fiquei ali, socando e gritando em vão, até me cansar e ficar rouca.
Chorei de raiva. Raiva de mim mesma, por ter me permitido chegar
a esse ponto. Raiva daquele monstro, por me fazer passar por isso. Ah, se
arrependimento matasse...
Passei o dia de vigília àquela maldita porta, esperando o momento
em que Adler passaria por ela, pronta para confrontá-lo.
Enquanto preparava um suco, meu celular começou a tocar
incessantemente.
— Kalel! — Atendi, aliviada por ser o meu amigo.
— Giulia, incendiaram minha academia, destruíram tudo! — Sua
voz ecoou desesperada do outro lado da linha. O meu coração se apertou.
— Como assim incendiaram a academia, Kalel? Você está bem? —
Perguntei, preocupada.
— Fisicamente sim, mas psicologicamente estou acabado. Alguma
chance de ter sido seu marido?
Meus olhos se arregalaram, balançando a cabeça em negação
enquanto me apoiava na bancada da cozinha.
— Não. Não, ele não faria isso! — Mas, será que faria? Eu não
tinha certeza.
— Tem certeza de que ele não faria? — Caramba! Não, eu não
tinha certeza.
— Kalel, eu sinto muito... — murmurei, envergonhada,
agradecendo por não estar cara a cara com ele, pois não saberia onde enfiar
a cara.
— Você não tem culpa de nada.
— Sim, eu tenho — eu alimentei os pensamentos de Adler,
insinuando discretamente, através de indiretas, que eu e Kalel poderíamos
ter algo.
— Não, você não tem! — Ele falou com firmeza, tentando me
confortar, mas em vão. — Seu marido é louco, Giulia. Fico imaginando o
que ele pode fazer com você — além de me manter em cárcere privado?
Espero que nada.
— Kalel... — eu mal tive tempo de falar.
— Giulia, você tem fechado os olhos para as insanidades do seu
marido de todas as formas possíveis. Que tipo de amor é esse? Nunca ouvi
você dizer uma coisa boa que ele tenha feito por você. Pelo amor de Deus,
você precisa acordar antes que seja tarde demais — suas palavras sinceras
foram como um soco na minha cara, atingindo-me em cheio. — Agora
preciso desligar, falamos depois.
— Tchau, cuide-se! — Foi tudo que consegui dizer, antes de
encerrar a ligação.
Perdi completamente o apetite pelo suco, adicionando mais um
motivo à minha crescente lista mental de razões para querer matar Adler.
As horas passavam, e eu já tinha formado um buraco no chão de
tanto andar de um lado para o outro. Minha caixa de mensagens para Adler
estava cheia de xingamentos de todos os tipos, mas o miserável não me
respondia.
Finalmente, a porta foi escancarada e Adler, com seu olhar
indiferente, entrou. Corri até ele, parando em sua frente e fervendo de raiva.
— O que é essa história de me manter trancada? — Eu gritei,
segurando-me para não partir para cima dele.
— Estou sem tempo, Giulia — ele disse, passando por mim. Mas
me coloquei em seu caminho novamente, forçando-o a me encarar.
— Você não pode me manter em cárcere privado, seu idiota! —
Minhas têmporas latejavam com a pressão do sangue.
— Não só posso, como vou — ele afirmou, com sua voz monótona
e desinteressada.
— Que absurdo! Eu tenho que ir trabalhar! — Eu argumentei,
desesperada.
— Você precisa de umas férias, Helga cuidará de tudo e você
poderá trabalhar online. Ou prefere sair para ver seu amiguinho professor?
— Ele disse, com desprezo nas palavras.
— Então é isso, você está com ciúmes — eu ri sem alegria. — Foi
por isso que incendiou a academia do Kalel?
— Ele já veio chorar no seu ombro.
— Por que você fez isso, seu imbecil? — Eu não pude me conter e
avancei sobre ele, mas fui detida quando suas mãos seguraram firmemente
meus punhos. — Você se diverte infernizando a vida dos outros, não é? É
isso que te faz feliz, seu monstro!
— Sou um monstro para você, Giulia? Então por que casou
comigo? — Ele me encarou com as narinas dilatadas.
— Porque sou estúpida! Se arrependimento matasse, estaria morta!
— Está realmente arrependida?
— Como nunca estive na vida! — Eu disse, despejando minhas
palavras em sua direção. — Você é como um rolo compressor, Adler,
destruindo tudo e todos por onde passa! — Ele ficou em silêncio por alguns
segundos, me encarando.
— Eu te destruí? — Sua voz era baixa.
— Ainda tem dúvidas? — Eu ri amargamente. — Sinto como se
não aguentasse mais, Adler! Você me magoou, me esgotou, destruiu meus
sonhos, meus sentimentos. Você me destruiu e eu te odeio, odeio tanto por
isso! Desejo que você morra para que eu possa viver livre desse pesadelo!
Adler soltou meus braços e subiu as escadas sem olhar para trás.
Fiquei ali, com o coração acelerado e as lágrimas prestes a caírem. Sempre
que nos encontrávamos, era um embate. Vivíamos um verdadeiro inferno.
Segundos depois, ele desceu com uma bolsa na mão e saiu batendo
a porta, sem sequer olhar para trás.
Meu corpo tremia intensamente, e corri para a cozinha em busca de
água gelada. Esse mal-estar me acompanhava há dias. O estresse era
demais.
A realidade era clara: eu sairia desse casamento morta ou louca.
Meu celular tocou mais uma vez, e desta vez era minha prima Jade,
com notícias alarmantes: Jasmine, esposa do meu irmão, havia sido
sequestrada. Eu não fazia ideia, já que Adler mal falava comigo, exceto
pelas ofensas que trocávamos em nossas brigas constantes.
Meu irmão deve estar em pânico. Oh, meu Deus, só peço que tudo
corra bem e que Jasmine retorne em segurança para casa, para que eles
possam ser felizes juntos.
As palavras de Giulia atingiram-me com uma intensidade
surpreendente. Saber que estou destruindo sua vida causou-me um
desconforto estranho. Desde quando me importo com isso? Preferiria ser
torturado a ouvir aquelas palavras novamente.
Voltei para a Alemanha e cheguei em casa agora à noite. Não
encontrei Giulia ainda, provavelmente está dormindo a essa hora, e é
melhor assim. Não estou com disposição para brigar.
Pego meus charutos, minha garrafa de uísque e vou para a varanda,
buscando relaxar e apreciar minha solidão, que por anos foi minha
companhia constante e agora, estranhamente, me incomoda.
Não consigo tirar aquelas fotos e as palavras de Giulia da minha
mente. O que ela está fazendo comigo é diferente de tudo que já senti nesta
vida. Não sei lidar com esse turbilhão de sentimentos estranhos.
Por um lado, desejo esmagá-la quando me irrita, por outro, quero
protegê-la quando está chorando.
Ao ver o desespero de Luigi com medo de perder sua esposa,
involuntariamente lembrei-me de Giulia. Não gosto nem de pensar nisso,
pois tenho certeza de que não saberia lidar com a situação.
Deixei Giulia presa nesta casa porque preciso de mais informações
sobre esse Kalel. Esse homem não me parece confiável, e meu instinto
raramente falha. Além disso, a história da academia pegar fogo é muito
conveniente. Ele some justamente quando estou atrás dele, não é?
Giulia nunca mais se encontrará com esse homem, isso é certo.
— Adler? — A voz dela me despertou dos meus pensamentos
sombrios. — O que faz aqui?
— Ainda moro aqui — respondi, sem encará-la.
Escutei sua respiração profunda. O som dela fez meu coração
acelerar. Fechei os olhos, tentando controlar meu próprio tumulto
emocional, irritado por sentir-me assim na presença dela.
— Você está bem? — Ela aproximou-se, sentando-se ao meu lado
na espreguiçadeira. Eu continuei fumando meu charuto, evitando olhá-la.
— Não vai me responder, Adler?
— E você se importa? — Questionei, finalmente encarando-a.
Grande erro, pois me perdi em seus olhos deslumbrantes. — Lembro que
desejou a minha morte.
Giulia fechou os olhos por alguns segundos, respirando
lentamente. Sabia que ela estava segurando o ímpeto de me mandar para o
inferno.
— Estava nervosa, por isso falei aquelas coisas.
— Deveria desconsiderar suas palavras?
Nossos olhares permaneceram presos, uma troca silenciosa de
emoções.
— Agora que você voltou, terei minha liberdade de volta? — Ela
perguntou, ignorando a minha pergunta.
— E você usará para quê? Correndo para ver aquele
professorzinho de merda? — Retruquei.
— Não começa, Adler — ela suspirou, parecendo exausta.
— Você se apaixonou por ele, Giulia? — Soltei a pergunta sem
pensar. Seus olhos se arregalaram.
— De onde tirou essa ideia absurda? Ele é apenas um amigo. Meu
Deus! Pare de pensar que gosto de Kalel de outra forma que não seja
amizade!
— Que amizade linda! — Soltei uma risada irônica, enchendo
novamente meu copo com o líquido escuro.
Porra! Estava aliviado por ela não ter se apaixonado por aquele
idiota.
— Não importa o que você pensa, o que importa é a minha
verdade! Você não acha infantil essa atitude de colocar fogo na academia de
Kalel? Era o trabalho dele! — Ela questionou.
— Atitude ridícula e sem sentido — concordei, vendo-a arquear
uma sobrancelha.
— Se sabe disso, então por que fez?
— Eu não fiz.
— O quê?
Bebendo todo o líquido do meu copo de uma vez, o enchi
novamente. Estar perto de Giulia me deixava nervoso.
— Não seria tão estúpido a ponto de incendiar a academia sem
ninguém dentro. Além disso, jamais mataria aquele verme dessa maneira,
sem antes torturá-lo — expliquei.
— Você está dizendo que não foi você?
— Parece que sim.
— Mentiroso!
— Pense o que quiser. O que importa é a minha verdade! — Imitei
seu tom de voz.
— Então quem fez? — Giulia cruzou os braços, desafiadora.
— Tem que perguntar para ele — respondi, mantendo minha
postura calma.
— Como? Você nem me deixa sair mais! — Ela exasperou.
— Acha que não sei que conversa com ele através do celular? —
Uma pequena dose de sarcasmo coloriu minha voz. Giulia ficou
boquiaberta.
— Além de cárcere privado, também colocou uma escuta no meu
celular? — Seu tom era de incredulidade.
Ajeitei minha postura, ficando mais ereto, e aproximei-me do rosto
dela, sentindo sua respiração ficar pesada.
— Há algo que eu não possa ver ou ouvir, Giulia? — Sussurrei.
— Não... não — sua voz saiu falhada e insegura.
— Não preciso grampear o seu celular para saber disso. Você se
faz de esperta, mas é ingênua, não consegue ver a maldade perto do seu
nariz — continuei, mantendo-me firme.
— Discordo de você — seus olhos desafiaram-me e seu rosto
aproximou-se ainda mais do meu. — Posso ver a maldade agora mesmo na
minha frente.
— Claro que pode — abri um pequeno sorriso, apreciando seu
desafio.
— Maldito o dia em que gostei de você! — Sua expressão era uma
mistura de raiva e pesar.
— Concordo.
— O que você sente por mim, Adler? — Sua voz suavizou, e seu
olhar encontrou o meu.
— Que diferença isso faz agora? — Minha resposta saiu mais fria
do que eu pretendia.
— Você me odeia? — Ela permaneceu firme, esperando minha
resposta.
Fiquei em silêncio por um momento, lutando contra a turbulência
de emoções dentro de mim. Porra! Odiá-la era a última coisa que eu sentia.
— Não te odeio — finalmente, a resposta escapou de meus lábios,
carregada de uma complexidade que eu mesmo não entendia.
— Pois saiba que eu te odeio! — Ela cuspiu as palavras com fúria.
Soltei uma risada e enfiei a mão em seus cabelos, puxando-os levemente,
ouvindo-a ofegar.
— Não é o que seus olhos me dizem agora — murmurei, próximo
aos seus lábios entreabertos, ajudando-a a respirar, já que estava ofegante.
— Escuto as batidas do seu coração e posso sentir seu corpo tremer, Giulia.
Está excitada?
— Não! — Respondeu rapidamente, sua voz carregada de mentira.
— Poderia enfiar dois dedos dentro da sua boceta agora e te
garanto que sairiam bem molhados — ela piscou, sua respiração ficando
cada vez mais pesada.
— Eu te odeio... — sua voz era um sussurro quase inaudível.
— Não, você não odeia — apertei mais seus cabelos entre meus
dedos, vendo-a morder o lábio inferior. — Suas bochechas estão vermelhas,
está quente, não é?
— Me solta — ela tentou afastar meu braço com sua mão trêmula.
— É isso que você quer? Que eu a solte?
— Sim — sua resposta foi vacilante.
— Não, Giulia, não é isso que você quer… sabe o que você quer?
— Minha voz era um sussurro rouco.
— O... o quê? — Ela gaguejou.
— Você quer que eu te foda até esquecer o próprio nome. Quer que
eu te chupe até ter um orgasmo incrível e depois te penetre duro e fundo,
prolongando o prazer e te fazendo ter outros orgasmos — passei a língua
em seus lábios e ela puxou a respiração com força. — Você quer que eu te
dê tanto prazer que não consiga sentar no outro dia, e toda vez que se sentir
dolorida, lembrará da transa intensa e deliciosa que tivemos — ela soltou o
ar lentamente. — Estou errado?
— Sim... sim... você está muito errado!
Soltei seus cabelos e ela quase caiu da cadeira, seu corpo mole.
Tive que segurar em seus braços para impedi-la de cair.
— Então tá, já que estou errado, boa noite, Giulia, deixe-me
continuar apreciando o silêncio.
— Como eu te odeio, meu Deus! — Ela se levantou, toda nervosa,
e foi pisando duro para dentro do apartamento.
— Giulia? — A chamei, e ela parou, virando-se para me olhar.
— O que é?
— Lembre-se de trocar a calcinha — falei, rindo, e ela me mostrou
o dedo do meio, saindo rapidamente do meu campo de visão.
Sorri com seu atrevimento e rebeldia. Por mais difícil que seja
admitir, gosto desse jeito impaciente e atrevido dela.
Já entendi que eu e Adler nunca vamos nos entender. Parece que
estamos sempre prestes a explodir em uma briga. Cada encontro é uma
tormenta de emoções, e ele consegue me irritar ao extremo.
No entanto, quando o vi, algo dentro de mim mudou. Por mais
raiva que eu queira sentir dele, só consigo sentir amor. É estranho admitir
isso, mas é a verdade. Senti falta de ouvir a sua voz, mesmo que seja para
discutir, mas senti.
Saber que ele não atentou contra a vida de Kalel me deixou mais
tranquila.
— Giulia, tudo bem? — Kalel perguntou assim que atendeu à
minha ligação, sua voz carregada de preocupação.
— Sim e você, como está? — Respondi, tentando manter um tom
de normalidade.
— Me reerguendo, mas também com saudades de você. Quando
vai aparecer?
— Logo — respondi sem muita certeza. Não sei quando Adler vai
parar com essa palhaçada de me manter trancada. — Sobre a academia, não
foi Adler — falei, por fim, sorrindo, aliviada.
— Como você sabe?
— Ele me disse, não foi ele — meus lábios se curvaram em um
sorriso leve. Kalel soltou uma risada baixa do outro lado da linha.
— É claro que ele ia falar que não foi ele. Pensou que ele
assumiria?
— Sim, Adler não se importa com isso, se ele tivesse feito, com
toda certeza ele teria confessado.
— Desculpe, Giulia, mas não consigo acreditar no que o seu
marido está falando, porém, se confia nele, respeito isso — senti a
sinceridade em suas palavras.
Respirei fundo e sentei-me na cama. Kalel parecia estar bem
chateado.
— Olha, sei que Adler não é a pessoa mais legal do mundo, mas
ele me garantiu que não fez e pude ver verdade em seus olhos, acho que
você deveria pedir à polícia para investigar e descobrir quem realmente fez.
— Certo, farei isso.
— Está chateado? — Perguntei, preocupada.
— Um pouco.
— Posso pedir ao meu pai para te ajudar a reabrir a academia, ele
pode ser o financiador — ofereci uma solução para essa situação
complicada.
— Não é só por isso... sinto falta da minha amiga.
— Também sinto falta de tomar sorvete com você — deixei
escapar um sorriso, mesmo que ele não pudesse ver.
— Vamos nos encontrar, então?
— Amanhã eu te ligo e a gente fala sobre isso, tá bom? — Sugeri,
tentando esconder a incerteza que me consumia.
Como eu iria encontrá-lo se Adler mantinha-me em cárcere
privado?
— Ok.
Nos despedimos e encerrei a ligação, sentindo-me um pouco mais
leve e esperançosa.
Kalel estava estranho, irritado com alguma coisa, e eu podia sentir
a tensão em sua voz. Provavelmente é por causa dos problemas que vem
enfrentando. Ele sempre foi meu ombro amigo, ouvindo minhas
lamentações e procurando me animar quando estou triste. Agora é minha
vez de retribuir o apoio.
Decidi que amanhã conversarei com Adler para que essa privação
absurda acabe de uma vez por todas. Não posso mais permitir que ele
controle minha vida dessa maneira.
Por agora, vou tomar um banho revigorante e trocar essa calcinha
que está arruinada. Que raiva que sinto de mim mesma por ficar tão
excitada perto de Adler! Mas não posso deixar que isso me enfraqueça. É
hora de me reerguer e tomar as rédeas da minha própria vida.

Acordei sentindo-me muito mal, não sei o que comi de errado


ontem à noite, mas já acordei vomitando. Tomei um banho, fiz minha
higiene matinal e desci, encontrando Adler sentado à mesa, tomando café.
— Bom dia! — Cumprimentei-o educadamente, tentando ignorar a
sensação de desconforto em meu estômago.
— Bom dia! — Seus olhos encontraram os meus. — Dormiu bem?
— Sim — respondi brevemente, servindo-me um pouco de suco.
— Arrume as coisas, viajaremos daqui a pouco — sua voz soou
firme e determinada.
Parei o que estava fazendo e prestei atenção no que ele dizia.
— Vamos viajar?
— Aniversário do seu irmão. Jasmine não a convidou?
— Sim, ela me mandou mensagem, mas é que pensei que você não
quisesse ir — admiti, surpresa com a notícia repentina.
— Iremos embora assim que o parabéns terminar — ele deixou
claro, não dando margem para discussão.
— Tudo bem. Tenho tempo de comprar um presente antes? —
Perguntei, já pensando nos detalhes logísticos.
— Não. Compre quando chegar lá — sua resposta foi direta e
concisa.
— Vou avisar a Helga para tomar conta de tudo — concluí,
tentando me manter calma diante da notícia da viagem repentina.
Adler apenas anuiu e voltou a tomar o seu café em silêncio,
deixando-me inquieta com o que estava por vir.
Abri as mensagens para falar com Helga e havia uma de um
número desconhecido, acompanhada de um vídeo e uma mensagem urgente
para abrir o mais rápido possível. Curiosa, abri e fiquei paralisada ao ver o
conteúdo do vídeo. Era Adler, transando com três mulheres ao mesmo
tempo.
— O que foi? — Ele questionou ao ver minha reação, e meus olhos
encontraram os dele, a dor dilacerante se espalhando por todo o meu ser. —
Giulia? — Ele chamou novamente, preocupado com minha reação.
Minha cabeça começou a latejar e meu estômago revirou ainda
mais. Larguei o celular, empurrando a cadeira para trás, deixando-a cair no
chão, e corri em direção à lixeira mais próxima para vomitar.
— Giulia, o que está acontecendo? — Adler perguntou,
aproximando-se, visivelmente preocupado.
Escutar a voz dele só aumentava minha náusea, e o vômito parecia
não ter fim. Ele tentou se aproximar mais, mas estendi a mão, pedindo que
ele parasse.
Finalmente, consegui me levantar, buscando freneticamente um
pedaço de papel para limpar minha boca suja. A sensação de asco só crescia
dentro de mim.
— Por que você faz essas coisas comigo? Por que me magoa
tanto? — Minha voz saiu baixa e falhada, carregada de dor.
Eu estava arrasada, as lágrimas já escorriam pelo meu rosto.
— Do que está falando? O que tinha naquele celular que te deixou
desse jeito? — Adler questionou, sua expressão mostrando confusão e
preocupação.
— Veja você mesmo — apontei para o celular que deixei em cima
da mesa e ele foi até lá. Enquanto isso, eu lutava para controlar minhas
emoções à beira do desespero. — Me responda com sinceridade, pelo
menos uma vez na sua vida, seja sincero comigo. Isso aconteceu antes ou
depois de se casar comigo?
Adler colocou o celular na mesa e virou-se para me encarar.
— Giulia...
— Responde o que eu perguntei! — Gritei, a frustração
transbordando em minha voz, mas ele permaneceu em silêncio, me fitando.
— Pensei que você não poderia me magoar mais, mas estava tão enganada.
Você sempre pode fazer mais, sua felicidade é me destruir, não é? Sente-se
bem ao me ver sofrendo? Então pode comemorar.
— As coisas não são como você pensa, deixe-me explicar — ele
tentou interromper, mas minha raiva não me permitiu.
— Claro, fale, estou doida para ouvir sua explicação.
— Não casei por amor, Giulia, estava puto da vida com esse
casamento e quis continuar como se não estivesse casado.
Soltei uma gargalhada amarga, a ironia da situação me atingindo
em cheio.
— Sua explicação é tão ou mais ridícula que você. Cheguei a jurar
que você um dia fosse me amar, meu Deus, como fui tola! — Fechei os
olhos por um momento, tentando controlar a avalanche de emoções que me
invadia, minhas mãos tremiam violentamente.
— Não tenho interesse nessas coisas do amor — sua voz soou
indiferente, e isso só aumentou minha dor.
— Não, você não tem, o seu único interesse é me destruir. Você
jurou fazer da minha vida um inferno, mas você fez mais do que isso, Adler.
O inferno agora me parece um paraíso perto do que estou vivendo com
você. É por isso que você cansou de falar que não se contenta apenas com
uma, não é? — Minhas palavras saíam em um misto de raiva e tristeza,
ecoando pelo cômodo.
— Tente se acalmar e vamos conversar — ele se aproximou
cautelosamente, mas minha raiva estava em ebulição.
— NÃO! Nunca mais encoste um dedo em mim. Tenho nojo de
você, nojo! Maldita hora que me entreguei para você. Você destruiu todos
os meus sonhos e sentimentos. Cheguei aqui apenas como uma jovem
sonhadora, uma menina que estava começando a se tornar mulher e, agora,
o que eu sou Adler? Uma mulher infeliz e sem sonhos. Não há nada mais
triste no mundo do que pararmos de sonhar. Porque sonhar nos motiva e até
isso você tirou de mim. Eu te odeio e te amaldiçoo! Quero que você morra!
— Meu desabafo saiu em um grito sufocado pela dor que me consumia.
— Não fale coisas nas quais vá se arrepender — sua voz soou
calma, mas sua expressão denotava uma certa tensão.
Comecei a rir, uma risada histericamente misturada com lágrimas,
ecoando pelo ambiente.
— Se tem uma coisa, uma única coisa que me arrependo na vida, é
de ter te amado e me casado com você. Eu era feliz, Adler, eu sorria antes
de você, agora só sei chorar — minhas palavras saíram em meio a soluços,
a dor latejando em cada sílaba.
— Sinto muito por isso — ele parecia genuinamente perturbado,
mas isso não me confortava.
— Não, você não sente! — Retruquei, com a voz trêmula de fúria.
— Você não sente nada, porque monstros não sentem. É o que você é, um
monstro, o pior ser humano existente neste mundo.
Um silêncio pesado se instalou entre nós, apenas o som abafado
das nossas respirações cortando o ar.
— Vá se arrumar, fique mais calma e então conversaremos —
Adler finalmente quebrou o silêncio, sua voz soando frágil, quase inaudível.
— O que temos para conversar? Nada! Que você encontre alguém
nessa vida que faça você sofrer ao ponto de preferir a morte do que viver —
virei-me, deixando-o para trás, e subi as escadas correndo, a angústia me
sufocando.
Tranquei-me no quarto e permiti-me finalmente chorar toda a
minha dor, as lágrimas lavando a minha alma dilacerada.
Eu o amei tanto, por Deus, porque Adler me destruiu desta
maneira? Por que me faz sofrer tanto?
Que todo esse amor que sinto no meu peito vá embora, isso é tudo
que desejo. Que Deus tenha misericórdia de mim e me faça esquecer esse
homem para sempre!
Giulia evitava me olhar nos olhos, e, por mais que eu fosse egoísta,
conseguia entender seus motivos. Durante toda a viagem, ela fez questão de
me ignorar, inclusive no aniversário do irmão. Tinha tudo meticulosamente
planejado para que retornássemos após os parabéns, mas isso não
aconteceu. Giulia não estava bem, e eu temia ser o responsável por afundá-
la em uma depressão profunda. Não me perdoaria por isso; já fiz muito mal
a ela. Decidi, então, estender nossa estadia na Itália, onde ela parecia
encontrar algum conforto ao lado dos pais.
Enquanto isso, eu seguia em busca de quem enviou aquele vídeo
terrível. Suspeitava fortemente de um dos funcionários da boate, mas ele
simplesmente desapareceu antes que pudesse interrogá-lo. Outra pessoa que
sumiu do mapa foi Kalel, o tal professorzinho de merda. Sua ausência só
alimentava minhas suspeitas contra ele. Não confiava em quem parecia
nunca ter cometido um pecado na vida. Isso simplesmente não era natural.
— Fala — eu atendi, direto ao ponto.
— É assim que você saúda o seu irmão preferido? — Enzo
provocou.
— Só tenho você de irmão — dei de ombros. Enzo soltou uma
gargalhada.
— Por isso mesmo, deveria me tratar melhor.
— Fala logo. Novidades? — Cortei o papo furado.
Pedi a Enzo para rastrear tanto o funcionário desaparecido quanto
o tal Kalel.
— Se eles não estiverem mortos e enterrados, se enfiaram em
algum buraco bem difícil de encontrar.
— Não conseguiu nada?
— Não.
— Já foi melhor nisso, está ficando velho e enferrujado —
provoquei.
— Me respeita, Adler! Estou fazendo o meu melhor — Enzo
retrucou.
— Faça mais do que o seu melhor, Enzo — fui incisivo.
— Vai se ferrar! — Ele encerrou a ligação, demonstrando
claramente sua irritação.
Estava entrando na casa dos pais de Giulia, após ir fazer um favor
para o Rocco, quando a encontrei sentada no sofá, me esperando.
— Podemos conversar? — Perguntou, encarando-me.
— Posso só tomar um banho antes?
— Claro.
Subi as escadas e fui direto para o banheiro. A água quente batendo
contra minha pele servia de contraponto para os pensamentos tumultuados
que invadiam minha mente. A situação entre nós estava tensa, e cada
conversa parecia ser um campo minado pronto para explodir em uma nova
discussão.
Vesti uma roupa confortável, preparando-me para a guerra que
estava por vir.
De volta à sala, encontrei Giulia imóvel, como se o tempo não
tivesse passado desde que subi as escadas.
— Estou aqui — avisei, acomodando-me ao seu lado. Ela se
afastou um pouco.
— Te chamei para conversar e nem sei por onde começar — ela
abriu um pequeno sorriso, mas seus gestos nervosos denunciavam sua
apreensão. — Já tinha planejado tudo o que ia dizer, mas agora, diante de
você, parece que as palavras simplesmente evaporaram.
— Sem problemas, temos tempo — levantei-me e servi-me de
uísque. — Aceita alguma bebida?
— Não, obrigada! — Ela recusou com um gesto breve.
Sentei-me novamente, mantendo a garrafa ao meu alcance.
— Na maioria das vezes não consigo controlar as minhas emoções
e acabo estourando e até mesmo falando coisas que não queria falar — ela
respirou fundo, buscando se acalmar. — Quero que saiba que não desejo a
sua morte, falei aquilo, mais uma vez, na hora da raiva e me arrependo.
— Tudo bem, não levei a sério — tomei um gole do meu copo e o
enchi novamente.
— Você sempre deixou claro o que gostava, não deveria ter ficado
tão surpresa com o que vi — ela tentou justificar-se.
— Você não deveria ter visto — respondi, procurando manter a
firmeza.
— Certo — ela ajeitou-se no sofá. — Só queria te pedir desculpas
por minhas palavras.
— Desculpas aceitas. Peço perdão também pelo conteúdo do vídeo
— fui sincero.
— Você realmente se arrepende? — Seus olhos estavam
marejados, revelando sua angústia.
Parei o copo no meio do caminho, encarando-a profundamente. Era
evidente o quanto ela estava sofrendo.
— Não queria que você tivesse visto aquilo — admiti, com pesar.
— Mas não se arrepende de ter feito, não é? — Ela mordeu o lábio
inferior, lutando contra as lágrimas.
— Giulia, não vamos por esse caminho, por favor — pedi,
evitando aprofundar a ferida.
— Desculpa — ela limpou uma lágrima que escapou rapidamente.
— Tudo começou errado entre nós dois e continuamos indo pelo
caminho errado, constantemente estamos nos magoando e nos agredindo
com palavras, isso não está legal. Olha só para você, é possível ver há
quilômetros de distância a sua tristeza. Sinto-me mal por ser o causador da
sua dor, de verdade, mas não posso te prometer algo que não posso te dar —
minhas palavras saíram pesadas, carregadas de sinceridade.
— Que seria? — Ela perguntou, com a voz trêmula, esperando
uma resposta que talvez já soubesse.
— Não posso te amar, Giulia! — Falei de uma vez, encarando-a
com firmeza.
— Por que não pode? — Ela questionou, com um misto de dor e
esperança em seus olhos.
— Porque esse sou eu! Não sei amar, Giulia, não insista em algo
que não vai acontecer, não lute por uma causa perdida — minha voz soou
firme, mas havia uma tristeza subjacente em minhas palavras.
— Por que você não se permite, Adler? Você sequer está tentando
— Giulia desafiou, seus olhos brilhando com uma mistura de frustração e
esperança.
— Não quero tentar, é isso que você precisa entender, eu não quero
amar — respondi, com a voz firme, mas carregada de uma melancolia que
mal conseguia esconder.
Ela assentiu, resignada, e levantou-se, como se carregasse o peso
do mundo em seus ombros. Quando ela passava por mim, impulsivamente
segurei seu braço.
— Vi minha mãe morrer por amor diante dos meus olhos, não
posso permitir que o mesmo aconteça comigo, muito menos com você —
minha voz falhou por um momento, revelando a vulnerabilidade que estava
escondida atrás da minha determinação.
Giulia desabou em lágrimas, soluços partindo de seu peito com
uma dor dilacerante. Sem pensar, a puxei para perto de mim, envolvendo-a
em um abraço protetor, deixando-a despejar toda sua angústia contra meu
peito. Por dentro, eu me odiava por ser o motivo de sua aflição.
Abandonei o copo de uísque, focando toda minha atenção em
confortá-la, acariciando seus cabelos em um gesto de consolo. Sentia-me
um merda por ser o causador de tanta dor nela.
— Larga-me — ela tentou se afastar, mas eu a segurei firme.
— Não vou soltá-la até que se acalme — minha voz saiu mais
suave, mas ainda cheia de determinação.
Levantei seu rosto entre minhas mãos, encontrando seus olhos
marejados e, por um instante, todo o peso do mundo pareceu repousar sobre
mim.
— Não posso me acalmar em seus braços, Adler — Giulia
desabafou, suas palavras carregadas de resignação e desesperança. — Ainda
insistia em nós dois, eu ainda queria acreditar, mas agora sinto que não
acredito mais, que não posso insistir mais. Estou tão cansada, tão sem
ânimo. Já se sentiu morto mesmo respirando? É essa sensação que eu tenho
quando acordo e já não tenho mais sonhos para realizar. Quando já não
tenho mais ânimo para lutar. Sabe? Tinha muito medo de morrer, a ideia de
deixar as pessoas que eu amo, me apavorava, mas agora, sinto-me
apavorada por ainda estar viva e sentir-me desta maneira. Apavora-me não
conseguir encontrar um caminho que tenha uma luz.
Engoli um nó na garganta, incapaz de formular qualquer resposta
diante da profundidade da sua dor.
— Não diga essas coisas, Giulia — supliquei, sentindo-me
impotente diante da sua angústia.
— Não, por favor, não se sinta culpado. Você não tem culpa — sua
voz era um sussurro carregado de amargura. — A culpa é minha por insistir
e acreditar que isso daria certo. Quão idiota eu fui, Adler? Quem em sã
consciência aceita amar por dois? É como se eu tivesse visto um buraco
negro sem saída e voluntariamente me joguei dentro dele. É assim que eu
me sinto. E agora, onde está a saída? Onde está a saída que eu não
encontro?! — Ela desferiu um soco fraco em meu peito, antes de render-se
novamente às lágrimas.
Fechei os olhos, sentindo o peso de cada uma de suas palavras, e a
abracei com mais força, como se pudesse protegê-la de todo o sofrimento
que a cercava, sofrimento esse que eu causava.
— Não faz isso com você... — sussurrei, lutando contra a dor que
ameaçava consumir-me por completo.
— Não me olha desta maneira — ela suplicou, ao encarar-me com
olhos carregados de emoção.
— Que maneira? — Perguntei.
— Como se você se importasse — a voz dela tremia, revelando
toda a fragilidade de seu coração partido.
— Te ver mal, me deixa mal — confessei, deixando escapar a
verdade que tentava sufocar.
— Então como quer que eu acredite que não sente nada por mim?
Para de me confundir! Deixe-me ficar na casa dos meus pais, por favor,
preciso afastar-me um pouco de você e disso tudo, ou então morrerei
sufocada — sua voz estava carregada de dor e súplica.
— Deixarei — concordei a contragosto. — Voltarei para a
Alemanha e você ficará um tempo com eles.
— Obrigada! — Ela se afastou do meu abraço, e dessa vez não
insisti para que ficasse.
Sinto-me estranho, como se um fogo desconhecido queimasse
dentro de mim, consumindo-me lentamente. Não sei explicar essa sensação,
mas sei que não posso ignorá-la.
Levantei-me, seguindo-a até as escadas.
— Giulia? — Chamei seu nome. Ela virou-se para encarar-me,
surpresa com minha súbita aproximação.
Aproximei-me, segurando seus braços, nossos corpos agora tão
próximos que podia sentir o calor emanando dela.
— Deixe-me, Adler! — Ela tentou empurrar-me, mas eu não
recuei.
— Não sei o que sinto por você — confessei, e vi seus olhos se
arregalarem em choque.
— O que está falando? — Ela perguntou, confusa.
Não tinha palavras para explicar, então agi por instinto. Segurei sua
cintura, levantei seu rosto, delicadamente, e juntei nossos lábios em um
beijo.
Tudo dentro de mim gritava: Saudades!
Sim, eu sentia saudades do toque dela, do sabor de seus lábios, da
proximidade que só ela me proporcionava. Eu sentia saudades de Giulia!
E agora, diante desse turbilhão de emoções, o que eu faria? Como
lidaria com esse sentimento avassalador que insistia em se fazer presente?
Como combinado, Adler partiu no dia seguinte. Não nos
despedimos, por escolha minha. Ouvi sua batida na porta do meu quarto por
volta das quatro da manhã, mas decidi não responder. Estava me
protegendo, protegendo meus sentimentos. Ontem à noite, ele confessou
não saber o que sentia por mim, acendendo uma pequena faísca de
esperança ao beijar-me com fervor. Mas, como sempre, deixou a chama
apagar ao se calar e não conseguir se explicar. Eu queria mais, merecia
mais.
Não derramei lágrimas com sua partida. A vontade estava lá, mas
engoli o choro, tomei um banho gelado e encarei o dia fingindo que Adler
nunca havia cruzado meu caminho e me atropelado como um rolo
compressor. Não me permitiria chorar por ele novamente.
Meus pais, como sempre, foram cordiais e não tocaram no assunto.
Mamãe conseguiu ingressos para um desfile de moda e nos divertimos
naquela noite. Meu pai não nos acompanhou, mas no dia seguinte,
organizou um passeio ao parque, repleto de doces memórias da minha
infância. Sabia que tudo o que estavam fazendo era para me ver bem e,
especialmente, para não me deixarem sozinha. Por isso, uma semana depois
da companhia deles, decidi conversar e esclarecer que eu apreciava tudo,
mas que não precisavam fazer isso. Estava bem e queria me reerguer por
conta própria.
Ingratidão? Arrogância? Não, nada disso. Pelo contrário, era
extremamente grata por tudo que meus pais fizeram por mim. Mas minha
vida inteira fui protegida por eles, principalmente pelo meu pai, e talvez
isso tenha contribuído para o meu comportamento mimado.
Queria ser uma Giulia diferente. Uma versão diferente da que
deixou a Itália e, especialmente, diferente da que era na Alemanha.
Falando na Alemanha, minha conexão se resumia a Helga, que
tocava a empresa enquanto eu trabalhava remotamente da Itália, minha tia
Alice e minha prima Jade. Apenas elas.
Sentia falta? Não vou fingir que não, mas estava lidando bem com
a situação. A ferida, após quase um mês, havia parado de sangrar, mas o
curativo ainda estava lá, pronto para ser arrancado a qualquer momento.
Sentada em meu café habitual, conferia o relatório que Helga me
enviou. Ao final, um recado inesperado capturou minha atenção.
"Giulia, Kalel, seu ex-professor, entrou em contato. Ele disse que
precisa falar com você sem que seu marido saiba. Aqui está o contato dele,
pediu para que você ligasse."
Surpreendi-me com toda essa clandestinidade, o recado passado
por meio de um anexo de trabalho. Decidi ligar, afinal, fazia tempo que não
nos falávamos. No segundo toque, ele atendeu:
— Giulia? — Sua voz soava animada ao me ouvir.
— Oi, recebi seu recado através de Helga. Está tudo bem?
— Como posso estar bem com seu marido me perseguindo?
— Adler está te perseguindo? — Questionei, perplexa com a
revelação.
— Como um cão farejador. Não sei o que ele quer comigo, Giulia,
mas estou correndo risco de vida. Não tenho paz, vivo mudando de lugar,
fugindo como um bandido. Tentei entrar em contato com você todos esses
dias e não consegui.
Torci o nariz, culpando-me por sua dificuldade, já que ele não
conseguiu porque eu havia trocado de número.
— Vou ver o que posso fazer para que Adler pare com essa
loucura.
Eu também não entendia a obsessão de Adler por Kalel e, naquele
momento, queria estrangular o idiota por estragar a vida do cara.
— Podemos nos encontrar?
— Não estou na Alemanha, estou na casa dos meus pais, na Itália,
mas prometo tentar resolver isso — garanti, mesmo sem ter certeza. Afinal,
eu não tinha qualquer influência sobre Adler.
O homem que havia me esquecido por dias agora iria me ouvir?
Duvidava.
— Obrigado, Giulia! Se cuida, viu? Sinto muito a sua falta.
— Se cuida também, Kalel. E me desculpe por essa bagunça em
sua vida — pedi, envergonhada por causar isso a ele.
— Te amo, Giulia!
Fiquei paralisada ao ouvir isso, incapaz de responder. A ligação foi
encerrada e eu ainda estava em choque.
Espera... o que ele disse? Que ele me amava? Ah, claro, Kalel me
considerava uma amiga e é normal amigos se amarem, certo?
Sacudi a cabeça para afastar os pensamentos tumultuados, e meu
telefone tocou novamente. Era minha mãe, lembrando-me do casamento de
Theo e Elisa. Ainda não havia comprado meu vestido. Corri para
providenciar um e, em seguida, planejei conversar com meu pai sobre o que
poderia ser feito para deter a obsessão sem sentido de Adler por Kalel.
Não queria ter qualquer contato com aquele homem que, no papel,
era meu marido.
Foi uma luta conseguir comprar um vestido. Céus, esses dias longe
da Alemanha e de toda a tristeza que me consumia lá, me fizeram ganhar
peso desenfreadamente. Minhas medidas já não eram as mesmas e isso me
assustou. Fiz um lembrete mental para fechar a boca e parar de me entregar
aos montes de biscoitos deliciosos do café que frequentava todos os dias.
Minha mãe foi comigo em busca do vestido, e ela só conseguia rir
do meu desespero, mas também concordou que eu estava algumas medidas
acima do meu peso ideal.
— Filha? — Mamãe bateu na porta do meu quarto enquanto eu me
maquiava antes de vestir o vestido.
— Sim? — Girei a cadeira para encará-la.
— Posso entrar?
— Claro! — Minha mãe entrou, fechou a porta e sorriu para mim,
aproximando-se.
— Eu e seu pai estamos muito felizes em vê-la tão bem —
comentou, sentando-se na beirada da minha cama.
Ah, mamãe... como eu queria estar realmente bem.
— Também estou feliz de estar aqui com vocês — falei
sinceramente.
— Sabe o que eu reparei quando fomos escolher o vestido? — Ela
arqueou a sobrancelha, me desafiando silenciosamente.
— Estou comendo demais — expliquei, sem entender onde ela
queria chegar.
— Há quanto tempo sua menstruação não desce, Giulia? — Foi
direto ao ponto.
Arregalei os olhos e levei a mão à boca.
— Mãe... — sussurrei, o desespero começando a tomar conta de
mim.
— Aqui está — ela estendeu a sacola para mim, que antes estava
em sua mão. — Aqui há dois testes, faça os dois, por favor.
Com as mãos trêmulas e uma expressão pálida, peguei a sacola de
suas mãos, forçando minhas pernas a se levantarem e irem até o banheiro.
Eu estava desnorteada.
Então tudo que eu vinha passando começou a vir à tona: o mal-
estar que me acompanhava desde a Alemanha, os enjoos corriqueiros, o
ganho de peso, a sensibilidade... Céus! Os testes em minhas mãos deram-
me a certeza de que meu mundo desabaria novamente.
Adler não me quer...
Adler não quer filhos...
Pior ainda... aquela discussão que tivemos uma vez, onde ele
insinuava que se eu estivesse grávida poderia ser de Kalel... Meu Deus!
Saí do banheiro com os testes nas mãos, lágrimas nos olhos e o
coração apertado.
Não era necessário dizer nada, minha mãe já sabia. E ela, como
sempre, maravilhosa, correu para me abraçar e me acolher, como a boa mãe
que sempre foi.
Malditos dias infernais que tenho passado sem aquela diaba na
minha casa e, principalmente, na minha vida.
Tudo parece errado, fora do lugar. Droga! Eu tinha minha vida em
ordem, minha estabilidade. E agora tudo desmoronou por causa de uma
mimada inconsequente.
Uma mimada inconsequente que está conseguindo me enlouquecer
de saudades. Sinto falta do cheiro dela, da sua voz, mesmo que seja para
gritar comigo e me xingar. Sinto falta da bagunça que ela fazia na minha
casa. E também na minha vida.
Maldição! Me amaldiçoo por estar assim. Mil vezes maldição!
Estou acabado por causa de uma garota que mal saiu das fraldas. Que
inferno!
Não faço mais nada direito. Não tenho ânimo para trabalhar, nem
para ir à minha boate, que por anos foi o meu lugar preferido no mundo.
Não planejo mais festas e nem deixo nenhuma outra mulher se aproximar
de mim. Porque nenhuma é ela: a maldita diaba.
Deixei Giulia na casa dos pais, pensando que, pela primeira vez em
nosso casamento, estava tomando a decisão certa. Mas não, foi a pior
escolha da minha maldita vida. E só percebi isso tarde demais. Sete dias
depois, liguei para minha diaba e descobri que o número havia mudado.
Enlouqueci. Liguei para Rocco como um louco desesperado por
ela. Nossa conversa, pela primeira vez em todos esses anos, não foi
amigável. Dane-se que ele era o pai dela, ela era minha esposa. Rocco não
agiu como pai quando a entregou para mim de bandeja, e agora queria se
fazer de pai? Garanti que iria buscá-la naquele mesmo dia, e ele me
ameaçou, dizendo que se eu fizesse isso, começaríamos uma guerra. Enzo
correu para onde eu estava, provavelmente porque Rocco o alertou, mas ele
sabia que eu não ligava para a ameaça. Só não fui até lá porque fui
impedido.
Um dia depois, Rocco estava na minha casa, junto com Enzo.
— O que faz aqui? — Perguntei, sem me importar com a
amigabilidade.
— Quero conversar sobre minha filha. — Rocco respondeu, e eu
corrigi imediatamente.
— Minha esposa! — Retruquei, e ele ergueu uma sobrancelha.
— Não deixa de ser minha filha.
— Adler, escute o Rocco — Enzo, o traidor que o trouxera para
dentro da minha casa, finalmente falou, e eu estreitei os olhos na direção
dele.
Contra minha vontade, sentei-me no sofá, pronto para ouvir o que
ele tinha a dizer, mas não fui cortês o suficiente para convidá-lo a sentar-
se. No entanto, ele não precisava de um convite para ocupar meu sofá,
encarando-me como se fôssemos inimigos; talvez, neste momento, seja
exatamente o que somos.
— Uísque — Enzo nos entregou os copos cheios e ficou ali, caso as
coisas esquentassem.
— Giulia está se recuperando — Rocco começou. — Eu e Luara
estamos dando todo o apoio que ela necessita neste momento. Quando
minha filha saiu de dentro da minha casa, ela era uma jovem alegre. Ao
retornar para minha casa, tudo o que vejo é uma garota destruída.
— Que eu me lembre, eu te disse naquele dia que estava jogando a
sua vida no inferno e você não se importou.
— Eu agi como um Don agiria, e você sabe disso — virou seu
líquido e bateu o copo na mesa de vidro à nossa frente. Enzo foi encher
novamente, mas ele recusou.
Eu nem toquei na minha bebida, já havia bebido demais naquela
manhã e em todas as outras, e em todos os dias.
— E agora quer agir como pai?
— E como eu não agiria? Não imaginei que você pudesse fazer tão
mal para minha filha!
— Não venha jogar a culpa nas minhas costas, Don Caccini —
falei ironicamente. — Você teve uma parcela gigantesca no sofrimento de
sua filha!
— Sim, eu tive. Não estou me ausentando dela, mas o causador foi
você e não eu. Conviva com esse sentimento de culpa você. Eu agi como
deveria ter agido e agora estou aqui mais uma vez, agindo como devo.
— Como Don ou como pai? — Não pude deixar de ser irônico.
— O Don é meu filho Luigi, eu estou aqui como pai. E, como pai,
afirmo: Giulia não voltará, não agora.
— E como marido, eu afirmo: Giulia voltará! — Travamos uma
batalha visual intensa.
— Galera, vamos nos acalmar! — Enzo interferiu. — Adler errou
muito com Giulia, mas você está agindo errado, Rocco. Entendo que Giulia
é sua filha, mas é esposa dele, passou a ser responsabilidade dele.
— Deixe para falar isso na sua vez, Enzo. Quando Jade estiver
casada com aquele filho da puta que não dá a mínima para sua filha.
Porra! Eu sou pai, não posso ver minha filha morrendo aos poucos por
causa de uma atitude inconsequente dela. Giulia já pagou demais por esse
pecado, chega! — Ele se levantou e eu fiz o mesmo. — Giulia ficará comigo
até que ela esteja recuperada. Adler não a ama, por que a quer aqui? Por
acaso ela é seu esporte favorito? Sente prazer em maltratá-la? — Suas
palavras eram como socos em minha cara. — Não estou te falando que ela
morará comigo, estou te pedindo uns dias e eu mesmo a trarei de volta.
Mas, se recusar meu pedido, então teremos uma guerra e que vença o mais
forte. Os laços com a máfia alemã serão desfeitos e esse casamento não
valerá mais nada.
— Você não pode fazer isso — Enzo retrucou.
— Eu posso. Você sabe que eu posso. Você, como pai, Enzo, sabe
que faremos qualquer coisa por nossos filhos, mesmo que isso custe a nossa
própria vida — meu irmão ficou em silêncio, pois no fundo, ele sabia que
faria o mesmo por Jade. — Um mês, Adler, é tudo o que proponho. Um mês
com Giulia na minha casa sem sua interferência, depois ela volta para sua
casa e o inferno que você impõe que ela viva. Conte isso como umas férias
da tortura dela — foi tudo o que ele disse e saiu da minha casa, sem
esperar minha resposta.
Um mês que parecia durar uma eternidade.
— Adler! — Enzo invadiu meu espaço, sua voz ressoando pelo
ambiente.
A dor latejava em minha cabeça, intensificada pelo tom estridente
de sua voz.
— Porra, Adler, você está destruído! — Ele me encarou, jogado no
sofá. — Olha essa casa, porra! Tudo aqui fede, inclusive você.
Eu cerrei os punhos, lutando contra o impulso de gritar com ele.
— O que você quer? — Minha paciência já estava no limite.
— Eu vim te ver. Estamos todos preocupados com você.
— Como pode ver, estou bem. Agora pode ir embora.
Enzo soltou um suspiro frustrado, claramente não satisfeito com
minha resposta.
— Bem? Você chama isso de bem? Olha só para você, Adler. Olha
a sua volta! — Ele estendeu os braços, indicando a bagunça ao nosso redor.
— Você é o homem mais caprichoso que eu conheço na vida, e a sua casa
parece um lixão. Sempre foi controlado e tem bebido como se não houvesse
amanhã. Não há uma garrafa cheia dentro da sua casa, estão todas vazias
espalhadas pelo chão.
— Obrigado por me lembrar de comprar mais — minha resposta
veio carregada de sarcasmo, mas Enzo não estava para brincadeiras. Ele
segurou meus ombros, sacudindo-me com firmeza.
— Olhe para você, Adler. Porra, parece um mendigo! Fedorento,
mal cuidado. Não corta o cabelo, não faz a barba, sequer toma banho... que
nojo! Quando foi a última vez que comeu? — Ele me encarou com
preocupação genuína.
Empurrei Enzo, levantando-me do sofá, minha raiva borbulhando
sob a superfície.
— O que é, porra? Virou minha mãe agora? Não fode, Enzo! Vai
embora!
— Eu não vou embora! Durante todos esses dias eu respeitei o seu
silêncio e a sua vontade de ficar sozinho, mas chega! — Enzo declarou,
firme e determinado. — Você é o meu irmão, e eu não vou te ver
definhando como a sua mãe ficou.
Seus olhos buscaram os meus, e eu me senti subitamente
confrontado com a realidade que estava tentando evitar.
— Desculpa, eu não quis falar isso... — Enzo tentou se aproximar,
mas eu estendi a mão, pedindo-lhe para parar.
— Pensei que não, mas eu sou como ela, Enzo... — minha voz saiu
num sussurro, a confissão pesando em minhas palavras.
— Foi uma comparação ridícula que eu fiz, Adler. Não me dê
ouvidos, desculpe — ele tentou se redimir.
— Não. Não. Você tem razão. Eu sempre tive medo de terminar
como a minha mãe, de amar tanto alguém ao ponto de morrer de amor. E
esse medo não me fez perceber que eu já a amava — eu admiti, deixando a
verdade vir à tona.
As palavras saíam com dificuldade, como se cada uma delas
arrancasse um pedaço de minha alma.
— Não acabarei como ela, irmão. Giulia é a minha esposa e eu a
quero — afirmei, determinado a mudar o rumo das coisas.
Enzo colocou uma mão em meu ombro, transmitindo confiança.
— Todo mundo erra, irmão. E todo mundo merece perdão. Lute
pelo seu perdão. Lute pela Giulia. Ela te ama, com todos os seus defeitos,
ela te ama. A reconquiste e mostre a ela que você merece o amor dela.
Uma sensação de determinação tomou conta de mim. Era hora de
agir.
— Eu a amo — sussurrei para mim mesmo, uma afirmação que já
existia há muito tempo, mas que eu só agora reconhecia.
— Eu sei disso — Enzo sorriu, compartilhando da minha certeza.
— Sei que você me pediu, como irmão, para dar esse um mês a ela,
mas eu não posso esperar mais, preciso ver a minha esposa e eu vou buscá-
la. Desculpe te causar essa guerra.
O sorriso de Enzo se alargou, revelando sua aprovação.
— Que comece a guerra então, vá buscar sua esposa.
Agradecido, eu o abracei, surpreendendo-o com o gesto repentino.
— Obrigado, irmão! — Senti uma gratidão genuína em minhas
palavras.
— Tome um banho antes de ir — Enzo me empurrou brincalhão.
— Fedido pra caralho!
Ri com seu comentário, sentindo um peso sair dos meus ombros.
— Prepare o jatinho — pedi, subindo para o meu quarto.
— Prepararei, e todos iremos para o casamento de Theo e Elisa —
Enzo me lembrou, e eu arqueei uma sobrancelha, lembrando-me da ocasião.
— Ultimamente você não tem se importado com muita coisa, então estou
aqui para te lembrar — ele piscou para mim. — E quanto ao
professorzinho, fique tranquilo, continuo na cola dele.
Um sorriso se formou em meus lábios. Meu irmão era um aliado
valioso.
Como eu suspeitava, Kalel não era quem dizia ser, e descobrimos
isso com Enzo na sua cola. O próprio infeliz armou o incêndio na sua
academia para me culpar perante Giulia. Ele pode ter fugido, mas não por
muito tempo. Tenho certeza de que Enzo o encontrará, e enfim poderei
confrontá-lo para descobrir sua verdadeira identidade e entender o que ele
quer com a minha esposa.
Eu ignorei todos os sinais que o meu corpo me dava, avisando que
eu estava gerando uma nova vida. Talvez, no fundo, eu só estivesse com
medo de encarar a verdade que estava diante dos meus olhos.
Chorei muito no colo da minha mãe. Não foi por tristeza, porque se
eu dissesse que estou triste, estaria mentindo. Chorei de emoção e também
de preocupação. Meu filho não teria um lar estruturado, nem amor para ser
criado, totalmente diferente de mim, que cresci no meio de tanto amor. Isso
é a única coisa que me entristece.
Recuperei-me do choque inicial e me arrumei para o casamento
dos meus amigos. Os meus problemas eu resolveria em outra hora. Estava
viciada nisso: adiar as preocupações.
A cerimônia foi um espetáculo lindo, e eu me emocionei ao ver o
tamanho do carinho entre os olhares dos noivos. Embora Theo e Elisa
digam que esse casamento é apenas um acordo benéfico para ela, todos à
volta deles sabem que isso é uma grande mentira. Espero que eles
descubram logo o que sentem um pelo outro e que não se machuquem
desnecessariamente.
Apesar da minha mãe ter dito que não contou para ninguém sobre
os testes positivos, constantemente eu via os olhares do meu pai sorridente
na minha direção. Ele sabia. Ele sempre sabia de tudo.
Os noivos abriram a pista de dança, levando outros casais com
eles. Peguei um suco que o garçom passou servindo e os acompanhei,
sorrindo.
Estava feliz por eles. Não era porque o meu casamento não deu
certo que eu desejaria que o dos outros também não desse.
Hoje vejo a importância de ouvir os pais. Talvez se eu tivesse feito
o que o meu pai queria, eu estaria ali, feliz, dançando com Theo.
Rapidamente balancei a cabeça, espantando esses pensamentos.
Não poderia invejá-los, foi a minha escolha. E olhando-os juntos, percebi
que Theo não era para mim; ele pertencia a Elisa.
Sentia olhares fervorosos na minha direção, e quando me virei para
ver de onde vinham esses olhares tão quentes, deparei-me com a pessoa que
eu vinha lutando todos esses dias para esquecer: o meu marido.
Adler estava diferente, mais magro, barba grande e cabelo por
cortar, mas ainda assim, continuava extremamente bonito e atraente. O que
esse homem tinha que me encantava tanto?
Queria dar as costas a ele e desaparecer daqui. Eu ainda não estava
curada o suficiente para estar diante dele, mas se eu saísse correndo agora,
ele saberia que ainda me tem em suas mãos.
Então, como uma boa Caccini, que aprendeu a mascarar seus
sentimentos, empinei o nariz e sustentei o seu olhar. Conforme ele foi se
aproximando, meu coração acelerou e minha respiração ficou pesada. Dei
uma golada no meu suco, tentando amenizar a secura na minha garganta.
— Giulia! — Cumprimentou-me, seu timbre de voz baixo e nem
um pouco autoritário, como eu estava acostumada a ouvir.
— Adler — repeti o seu cumprimento, com um sorriso falso no
rosto.
— Está linda! — Elogiou-me, varrendo os olhos pelo meu corpo.
Arqueei as sobrancelhas. Sério que ele chegaria aqui depois de dias e falaria
apenas que eu estou linda? Aff! — Vamos lá fora, podemos conversar em
paz? — Propôs, apontando para a saída do salão, percebendo minha
expressão de descontentamento.
— E temos algum assunto para conversar? — Retruquei, sem
desviar o olhar do seu, enquanto bebericava o meu suco.
— Suco ao invés de champanhe que você diz tanto detestar? Você
está mudada — observou, e eu senti um frio percorrer a minha espinha.
Droga! Adler não poderia desconfiar de nada sobre a gravidez,
pelo menos não por agora.
— Vamos — acabei concordando e caminhando para o jardim,
tentando fugir da sua observação e dos seus olhos analisadores.
Sentei-me num banco próximo à fonte no centro do jardim,
buscando a calmaria proporcionada pelo som da água, que camuflava as
batidas frenéticas do meu coração.
— Senti a sua falta — ele começou, mas foi interrompido por uma
gargalhada horrorosa minha.
Cazzo! Ele sentiu a minha falta? Ah, qual é desse cara?
— Você tem alguma coisa relevante na qual queira realmente
conversar comigo? — Questionei, encarando-o e deixando transparecer
toda a minha raiva.
— Eu realmente senti a sua falta.
Respondíamos um ao outro rapidamente, afinal, estávamos com as
respostas na ponta da língua.
— E não pensou em sequer me ligar?
— Você trocou de número.
— Se você quisesse, você conseguiria o meu número ou poderia
ter vindo me visitar.
— Seu pai me pediu um mês longe de você — ele explicou,
deixando-me ainda mais intrigada. — Ele só queria que você se recuperasse
um pouco de todo o mal que eu lhe causei. Eu nem deveria estar aqui, pois
corro sério risco de ter começado uma guerra por descumprir o tempo que
seu pai pediu — estreitei os olhos, confusa.
— Você quis vir atrás de mim? — Pisquei algumas vezes, tentando
assimilar toda aquela informação.
— Sim. Sete dias longe de você e eu já havia enlouquecido —
confessou, com um olhar sincero e até mesmo abatido. — Eu te fiz muito
mal, Giulia. Sou um homem todo errado e, para ser honesto? Não sei se
mereço o seu perdão, mas eu o quero. E farei o que for preciso para recebê-
lo — arregalei os olhos, era muita informação para assimilar. — Não queria
que fosse dessa maneira, mas eu preciso falar — aproximou-se de mim no
banco.
— Precisa falar o quê?
— Que eu te amo, Giulia. E que eu sou idiota por ter demorado
tanto tempo para perceber.
O mundo pareceu congelar no momento em que suas palavras
ecoaram no ar, e eu senti meu coração ameaçar sair pela boca.
Meu Deus! Era isso que eu tanto esperei ouvir. Essa declaração, tão
longamente aguardada, ecoava dentro de mim como uma sinfonia celestial.
Meus olhos se prenderam aos de Adler e, por um instante, eu jurei
que via algo além da mera reflexão da luz. Seria possível? Será que ele
também sentia o que eu sentia? Será que me amava de verdade?
Agora, com essa informação tão impactante, o que diabos eu faria?
Deveria ignorar todas as tribulações pelas quais passamos e simplesmente
perdoá-lo, para podermos finalmente viver nosso amor?
Céus! Eu desejava isso mais do que tudo, mas ao mesmo tempo, eu
ansiava por ser valorizada e respeitada. Se isso fosse acontecer, Adler
precisaria se esforçar mais do que nunca.
Pisquei várias vezes, lutando contra as lágrimas teimosas que
insistiam em brotar.
— Você realmente acha que pode aparecer assim e achar que está
tudo resolvido? — Minha voz saiu em um sussurro trêmulo, enquanto eu
lutava para manter a compostura e resistir à vontade de me jogar em seus
braços.
— Não, Giulia, eu sei que não é suficiente. É por isso que estou
aqui. Volte comigo para a Alemanha. Deixe-me mostrar o quanto mudei, o
quanto estou disposto a me redimir de todos os erros. Deixe-me provar que
sou capaz de te fazer feliz. Eu sei que não posso apagar o passado, mas
prometo um futuro repleto de felicidade. Então, se ainda houver um
resquício de sentimento por mim em seu coração, me dê uma chance.
Deixe-me provar que posso merecer seu amor.
Maldição! Esse homem sempre foi um verdadeiro cavalo selvagem
comigo, e agora aqui está, todo apaixonado, galante e incrivelmente
eloquente?
Oh, Adler, se você soubesse o quanto eu desejo sentir seus lábios
sobre os meus...
— Preciso mesmo voltar para a empresa — eu disse, tentando soar
indiferente, reprimindo a vontade insana de sair pulando de felicidade.
Adler sorriu. Droga! Ele sorriu!
Quando foi que eu o vi sorrindo desse jeito? Que sorriso
encantador!
— Prometo que não vai se arrepender — ele segurou minha mão e
se aproximou.
Rapidamente, retirei minha mão da sua, levantando-me e me
afastando.
— Eu disse que voltaria por causa do trabalho, não por você —
declarei, caminhando de volta para o salão de festas, mas antes de me virar,
pude vislumbrar mais uma vez aquele sorriso em seus lábios.
Ele sabia que isso não era verdade. Eu não estava voltando por
causa da empresa... Eu estava voltando por ele e para ele.
Mas Adler não me ganharia tão facilmente desta vez. Ele teria que
esforçar-se muito mais para merecer ter ao seu lado a sua família: eu e
nosso filho.
Adentrei o apartamento, que por meses foi minha casa e o palco de
inúmeras batalhas entre mim e Adler. Estranhamente, ao invés de
lembranças amargas, fui tomada por uma onda de nostalgia e um
reconfortante sentimento de pertencimento. Que ironia, não é?
Deixei escapar um suspiro profundo e vasculhei o ambiente com os
olhos, constatando que o apartamento estava num estado de desordem total,
algo que nunca testemunhei antes.
— Desculpe pela bagunça, tive uns dias difíceis — Adler falou,
percebendo minha expressão enquanto observava a desordem.
— Entendo — assenti. — Já está tarde, preciso descansar. Amanhã
tenho que ir cedo à empresa. — Anunciei, dirigindo-me para a escada.
— Não quer comer algo antes?
— Não, obrigada.
— Certo. A equipe de limpeza virá amanhã para colocar tudo em
ordem.
Assenti novamente, mas desta vez sem proferir palavra alguma.
Dirigi-me ao meu quarto e estranhei a cama desarrumada, além de duas
camisas de Adler jogadas sobre ela. Ele passou rapidamente por mim,
recolhendo as peças.
— Desculpe, Giulia.
— Você dormiu no meu quarto? — Indaguei, arqueando uma
sobrancelha.
— Era o único lugar onde conseguia sentir você mais próxima. Seu
cheiro estava mais forte aqui — levantei ainda mais a sobrancelha,
encarando-o sem piscar. — Desculpe também por isso — ele deixou minha
mala na porta e saiu.
E ali fiquei eu, atônita, com o coração disparado, tentando
assimilar os últimos acontecimentos.
Quem diabos é esse Adler e o que fizeram com o homem com
quem me casei?

No dia seguinte, acordei sentindo um enjoo forte, algo que nunca


tinha experimentado antes. Fiquei debruçada sobre o vaso sanitário por
cerca de vinte minutos e, mesmo após um banho frio, meu corpo ainda
parecia estar em rebelião.
Decidi que hoje mesmo ligaria para o médico, aquele mesmo que
sempre cuidou da minha tia Alice. Faríamos minha primeira consulta e eu
pegaria os remédios necessários para garantir um crescimento saudável para
o bebê e para aplacar esse mal-estar repentino. Mas imagine só se Adler
perceber? Estarei em apuros, pois com certeza essa repentina fase de
bondade dele acabará na mesma hora.
Minha mãe me ligou e conversamos. Ela está preocupada por eu
ter voltado para a Alemanha sem passar por uma consulta antes, mas eu
prometi que hoje mesmo iria ao médico.
Ao descer para o café da manhã, não encontrei Adler, apenas a
senhora simpática e corajosa que veio organizar essa bagunça.
— Giulia! Como a empresa sentiu sua falta! — Helga correu até
mim quando me viu, abraçando-me. — Uau! Como a casa da sua mãe fez
bem, viu? Olha só para você, está radiante. Até ganhou curvas mais
generosas — ela observou e eu sorri, meio sem graça.
Não é que eu me importasse com o comentário sobre meus
quilinhos a mais, mas sim com o medo de que outras pessoas também
percebessem e acabassem suspeitando, especialmente o meu marido.
Se Adler realmente quiser mudar e estiver falando a verdade
quando diz que me ama, então que ele faça isso por mim e não apenas
porque estou esperando um filho dele. Se é que ele quer esse bebê e acredita
que é dele. Nunca se sabe o que pode passar pela mente perturbada dele.
O dia passou incrivelmente bem, cheio de trabalho acumulado.
Quando percebi, já era início da noite e eu precisava correr para o
consultório.
A primeira consulta foi rápida. Fiz um exame de sangue para
confirmar a gestação e agendamos a ultrassonografia para o dia seguinte.
Ao abrir a porta do apartamento, fui recebida pelo cheiro delicioso
que invadiu minhas narinas, despertando minha fome voraz. Meu estômago
protestou imediatamente. Caminhei lentamente até a cozinha e encontrei
Adler mexendo nas panelas. Ele percebeu minha presença e virou-se para
me encarar, lançando-me um sorriso deslumbrante.
Adler havia cortado o cabelo e feito a barba, estava incrivelmente
atraente! Meu Deus... ele era um espetáculo de homem. E ali, naquela
cozinha, que apesar de grande, agora parecia pequena para a presença
imponente dele, tornava-se ainda mais irresistível e sedutor vê-lo
cozinhando.
— Estou preparando schnitzel[iii], com batatas fritas e uma salada
para o jantar — comunicou-me, mais gentil do que nunca.
— Ah! — Respondi com um som indefinido, sem saber
exatamente como reagir. — Vou tomar um banho.
— Posso te esperar para o jantar? — Perguntou, seu olhar cheio de
esperança.
Aff! Queria ser forte o bastante para dizer não, apenas para não
ceder, mas como resistir a esse aroma delicioso?
— Sim.
Praticamente corri para o banheiro e me joguei debaixo do
chuveiro gelado. Não conseguiria resistir por muito tempo se Adler
continuasse agindo como o homem dos sonhos.
Passei mais tempo no chuveiro do que o esperado, tentando
elaborar um plano para descobrir se ele estava sendo sincero ou se era
apenas mais um jogo doentio.
Quando desci, Adler já não estava mais na cozinha. Ele havia
preparado a mesa de jantar na varanda, com velas acesas e até flores. Se a
nossa situação fosse diferente, eu poderia até suspirar e me entregar aos
seus braços.
Pensei em pedir desculpas pela demora, mas desisti. Era ele quem
precisava se esforçar para me esperar com paciência. Cansei de esperá-lo.
Adler puxou a cadeira para que eu me sentasse. Sim, foi a primeira
vez que ele agiu como um cavalheiro comigo, e eu agradeci. Não conseguia
ser tão rude.
— As flores são para você — apontou para o buquê de lírios no
canto da mesa. — Espero que goste.
— Obrigada, Adler! — Respondi com um sorriso, mas por dentro
estava radiante, como se fogos estivessem sendo soltos em comemoração.
Ele começou a me servir vinho, mas recusei, inventando que estava
com uma leve dor de cabeça e preferia um suco.
— Como foi o seu dia? — Perguntou, servindo-me um pouco de
suco de maçã.
— Seremos assim de agora em diante? Jantaremos e falaremos
sobre como foi o nosso dia?
— Eu gostaria muito que sim. E você, Giulia, não? — Encarou-me.
— Por mim, tudo bem — desviei o olhar. Ele era intenso, caramba.
Precisei dar uma boa golada no meu suco.
Jantamos praticamente em silêncio, às vezes Adler puxava algum
assunto, como se eu tivesse gostado de ter ficado esses dias na Itália ou
como estavam as coisas na empresa. Conversas amenas.
— O jantar estava delicioso! — Elogiei, após repetir duas vezes.
Estava realmente muito bom.
— Fico feliz que tenha gostado — sorriu.
Caramba! Agora ele ficaria distribuindo sorrisos só para me
atormentar? Ele nunca foi de sorrir. Que sorriso lindo...
— Você cozinha muito bem — tornei a elogiar, tentando parar de
olhá-lo.
— Arrisco uma coisa ou outra na cozinha, mas não sou tão bom —
Adler deu de ombros, enquanto eu já me preparava para dar boa noite e
sumir da frente desse grande gostoso. — Eu queria te fazer uma proposta —
ele começou.
— Uma proposta? — Repeti, desconfiada.
— Eu sei que errei — abri a boca, mas ele levantou o dedo,
interrompendo-me. — Eu sei que não posso desfazer o que fiz, mas posso
prometer que vou fazer tudo diferente. Eu vou mudar, eu vou me redimir, se
você apenas me der uma chance.
— Adler... — tentei interrompê-lo, mas ele continuou.
— Tenho na minha cabeça que o amor faz mal e por isso vivo
numa guerra interna entre ouvir meu coração, que insiste em amar você e
fazer tudo por você; ou minha mente, que vive me alertando que eu vou
sofrer, que meu fim será o mesmo da minha mãe. Olha, eu sei que isso não
é justificativa para tudo que eu fiz. Nada justifica. Entretanto, eu quero
buscar ajuda para entender meus próprios conflitos e gostaria que você
estivesse comigo nesses momentos.
— Do que está falando? — Indaguei, perplexa.
— Eu quero fazer terapia, Giulia. E pensei que pudéssemos fazer
juntos.
— Terapia de casal? — Estreitei os olhos.
— É... acho que é esse negócio aí mesmo — respondeu, coçando a
barba, parecendo envergonhado. — Acha muito ridículo? Se você não
quiser, tudo bem, esquece essa loucura e eu posso… — essa vez, fui eu
quem o interrompi.
— Eu acho ótimo! — Concordei, vendo-o sorrir.
A maneira como ele falou comigo foi engraçada, pela sua falta de
jeito, mas eu concordo com a sua proposta. Talvez seja isso que precisamos
desde o início dessa loucura.
Primeiro, eu daria dois socos na minha própria cara e depois, bem,
eu consideraria seriamente matar Enzo. Por que diabos eu fui ouvir aquele
idiota?
Terapia de casal? Que merda!
A consulta foi um completo desastre! A terapeuta nos fez expressar
as mágoas que sentíamos um pelo outro. Porra! Fui arrasado por Giulia, que
jogou na minha cara tudo sem dó. E eu? Bem, como o grande idiota que
sou, só consegui falar sobre a armação para nos casarmos, algo que nem me
magoa mais. Na verdade, hoje até agradeço por essa louca ter entrado na
minha vida.
— Não foi tão ruim assim — Giulia comentou quando chegamos
em casa. Era a primeira vez que ela falava desde que saímos do consultório.
— Não sei, não... — passei as mãos nos cabelos. Não foi ruim, foi
pior do que isso. Porra, foi péssimo. Com toda certeza eu mataria Enzo.
— Vai desistir na primeira consulta? — Virou-se para mim,
colocando as mãos na cintura. Linda!
— Se você quiser continuar, continuaremos.
— De quem foi a ideia de fazermos terapia, Adler? — Estreitou os
olhos na minha direção. Minha diaba era esperta demais.
— Quero fazer de tudo para te reconquistar, Giulia. E cometi a
loucura de pedir ajuda a Enzo — seus lábios se tornaram uma linha fina até
que ela explodiu em uma gargalhada contagiante, que me levou a sorrir
também.
— Certo, talvez ter pedido ajuda ao tio Enzo não tenha sido a sua
melhor ideia — falou entre risos, e eu balancei a cabeça concordando. —
Mas eu queria continuar, pelo menos mais algumas consultas, o que acha?
O que eu achava? Eu faria tudo o que ela quisesse.
— Então, vamos continuar — concordei, sorrindo e desistindo da
ideia de matar o meu irmão. — Quer sair para jantar?
— Hoje estou cansada, meus pés estão me matando — apontou
para os saltos incrivelmente altos, que mesmo assim, a deixavam bem
menor que eu. — Vou tomar um banho e a gente come em casa mesmo,
pode ser?
Assenti, como um cachorrinho adestrado. Afinal, eu concordaria
com tudo o que ela quisesse, desde que isso a trouxesse de volta para mim.
— Mas não precisa cozinhar, que tal pedirmos uma pizza?
— Pizza e uma massagem nos seus pés? — Indaguei, com um
sorriso malicioso.
— Proposta tentadora, não terei como recusar — ela também
sorriu, dando-me as costas e indo para o seu quarto.
Porra! Eu estava perdidamente apaixonado. E sentia uma falta
enorme de tê-la em meus braços. Contudo, serei paciente. Farei tudo
direitinho.
Estava grato por comermos pizza hoje. Há dias eu estava igual um
maluco na cozinha, procurando receitas na internet e torcendo para dar
certo só para agradá-la. Giulia parece contente com a rotina de chegar em
casa e me ver na cozinha, preparando nosso jantar. E para mim, isso que
importa, vê-la feliz ao meu lado.
Eu quero, nossa, como eu quero fazê-la feliz. Mal posso esperar
para ver os seus mais lindos sorrisos direcionados a mim.
A pizza não demorou para chegar. Giulia desceu vestindo um
pijama larguinho. Reparei que ultimamente ela tem usado roupas mais
largas do que estava acostumado a vê-la usar. Talvez seja por suas curvas
estarem mais generosas, não sei se a incomoda. E eu espero que não,
porque a diaba está gostosa pra caramba, enlouquecendo-me todos os dias
com essa bunda grande empinada.
Minha mão já está implorando por um alívio e minha mente já não
aguenta mais imaginá-la nua, em todas as posições possíveis para mim.
— Adler! — Giulia estalou o dedo na frente do meu rosto,
despertando-me e eu a encarei. Já havíamos comido e eu estava terminando
a massagem nos seus pés. — Está no mundo da lua?
— O que você estava falando?
— Nada importante — tirou os pés de cima do meu colo e se
ajeitou no sofá. — O que estava pensando?
— Em como sinto saudades de tê-la para mim — falei, sem nem
pensar. E era verdade, eu estava morrendo de saudades.
Giulia abriu a boca, mas não falou nada e eu pude ver suas
bochechas corarem.
— Acho melhor irmos dormir — ela desconversou, levantando-se.
Num impulso, eu a puxei, trazendo-a para o meu colo. Seus olhos
se arregalaram.
— Não sente a minha falta? — Perguntei, rouco.
— Adler... — sussurrou, com a voz tão desejosa como a minha.
— Um beijo, Giulia, um único beijo. Porra, eu preciso muito sentir
os seus lábios ou vou enlouquecer — segurei firmemente em sua nuca.
Quando finalmente nos aproximamos, há uma breve hesitação.
Então, nossos lábios se encontram em um beijo hesitante, inicialmente
suave, exploratório. Sinto o calor de sua respiração misturando-se com a
minha, criando uma sensação embriagadora que envolve nossos sentidos. À
medida que o beijo se aprofunda, mergulho em um turbilhão de sensações.
Sua boca se torna mais ávida, mais exigente. Cada toque é uma promessa de
mais, uma promessa de prazer e êxtase. Minhas mãos percorrem sua pele,
explorando cada centímetro com uma devoção frenética.
O tempo parece desacelerar, como se estivéssemos suspensos em
um momento eterno de paixão e luxúria.
E quando finalmente nos separamos, estamos ofegantes, os lábios
inchados e os corações acelerados. Anseio por mais, muito mais dela. Tomo
seus lábios novamente, dessa vez, num beijo quente e acelerado, apertando-
a contra mim, querendo tomar mais dela. Eu quero tudo. Com ela. Só com
ela.
Giulia espalmou as mãos no meu peito, afastando-me.
— Adler, eu preciso respirar — falou, ofegante.
— Eu mereço ser castigado, sei que mereço — soprei contra os
seus lábios, com a testa encostada na sua. — Mas eu não estou suportando
te olhar e não poder te tocar. Porra, Giulia, eu te amo! Você é a minha
mulher, a futura mãe dos meus filhos, eu preciso de você. — Ela se afastou
e arregalou os olhos.
— Mãe dos seus filhos? — Exclamou, parecendo surpresa.
— Claro que sim.
— Você disse que... — a interrompi, esmagando seus lábios.
— Esquece o que eu disse antes. Esquece quem eu fui antes. Tente,
por favor, viver comigo como eu quero ser agora... o melhor para você —
falei, ainda com nossas bocas grudadas. — Eu quero tudo com você, Giulia.
Eu te amo, minha diaba! — Apertei seus cabelos e a beijei novamente.
Ela era minha mulher. A mulher da minha vida, era óbvio que eu
queria viver absolutamente tudo com ela. E se Giulia quisesse me dar
filhos, então eu me esforçaria para ser o melhor pai.
Eu não erraria, não mais.
— Adler, você vai me sufocar — falou, sorrindo e se afastando. —
Não era para você ter me beijado, não foi esse o nosso combinado —
encarou-me seriamente, mas logo sorriu, dando-me um selinho. — Mas
tudo bem, eu gostei. Contudo, não pense que eu já o perdoei, ok? Aceitei o
beijo porque eu quis — se desfez do meu agarro e se levantou. — Você
ainda precisa se esforçar mais. E, como sou boazinha, lhe darei uma boa
dica: meu aniversário é daqui a três dias, eu gostaria de estar com a minha
família.
Caralho! Como eu esqueci o aniversário dela?
Porra! Mil vezes porra!
Enzo vai ter que me ajudar, mais uma vez.
Minha diaba sorriu, sabendo que me pegou desprevenido e foi para
o seu quarto, rindo da minha cara de desespero.
Corri para pegar o meu celular e ligar para o meu irmão. Foda-se
que está tarde, ele é irmão mais velho e tem a obrigação de me ajudar a
qualquer hora.
Adler mais uma vez me surpreendeu. Beleza que eu joguei a deixa
sobre o meu aniversário, que eu queria passar com a minha família, pensei
que ele fosse organizar alguma surpresa lá em casa, mas ele fez melhor do
que isso, ele levou-me para a Itália, reuniu toda a nossa família, com direito
a festa e tudo. Eu não poderia estar mais feliz.
— Seu marido planejou tudo sozinho — minha mãe comentou,
enquanto eu observava Adler sentado, conversando com meu pai e meu
irmão.
— É, estou sabendo — mordi o cantinho da boca para não sorrir
feito uma boba. — O bolo que Jasmine fez estava uma delícia, ela tem
mesmo mãos de fada. E os doces de Eliza também estavam divinos —
comentei, desviado a atenção sobre o assunto do meu marido.
Não que eu não gostasse de falar sobre isso com a minha mãe. A
verdade é que eu só quero fugir desse assunto mesmo para não parecer uma
boba apaixonada.
— Tudo muito gostoso mesmo — concordou comigo. — Acha que
conseguirá esconder por quanto tempo mais? Suas tias já perceberam, é só
questão de tempo para que Adler também perceba — apontou para a minha
barriga. — Ele não tem te visto nua, não é? — Balancei a cabeça em sinal
negativo. — Você precisa contar, minha filha — suspirei pesado.
— Eu sei, mãe. Acredite, eu vou contar logo. É só que estamos
finalmente nos dando tão bem, que eu não quero estragar as coisas, sabe?
— Você acha que estragaria?
— Não sei... Adler me confunde. Mas eu não quero que ele me
trate bem só por causa do bebê.
— Adler só não percebeu ainda porque não tem te visto nua e você
anda usando roupas mais largas. Também porque é homem, e homem tem o
raciocínio mais lento — falou e eu tive que concordar, levando nós duas a
rirmos da situação.
Conversamos mais um pouco e eu contei para ela que o bebezinho
é realmente real, eu fiz a ultrassom dias atrás e fiquei impressionada com a
força do seu coraçãozinho, tão forte, tão vivo.
Chorei no dia da ultrassonografia e me emocionei ao relembrá-la
para a minha mãe, que já foi logo me alertando sobre não descobrir o sexo
do bebê, afinal, não podemos estragar a tradição da família.
Vi Adler se aproximando, enquanto minha mãe se retirava,
lançando-me um sorriso complacente.
— Tenho um lugar para te levar — ele anunciou, parando diante de
mim.
— Que lugar seria esse? — Perguntei, franzindo as sobrancelhas.
— Confie em mim — pediu, estendendo a mão na minha direção.
Segurei sua mão e deixamos a casa dos meus pais, nossas mãos
entrelaçadas, cientes dos olhares curiosos de nossa família sobre nós.
— Gostou da festa? — Ele perguntou, ligando o carro.
— Amei! — Confirmei, lançando-lhe um olhar de soslaio, que foi
correspondido por seu próprio sorriso.
Adler não dirigiu por mais de cinco minutos antes de parar em
frente a uma mansão próxima à casa dos meus pais.
— Onde estamos? — Perguntei, confusa.
— Vem comigo — ele ignorou minha pergunta, saindo do carro e
abrindo a porta para mim, segurando minha mão mais uma vez.
— Adler, não vai me dizer de quem é essa casa?
— Calma, logo você saberá — sorriu.
Fiquei hipnotizada pela imponência da mansão, parando por um
momento para admirar sua fachada majestosa. Depois, dei o primeiro passo
em direção à porta principal. Ao empurrar as pesadas portas de madeira, fui
imediatamente envolvida por um ambiente de luxo e sofisticação.
— Uau! — Exclamei, impressionada. — Que casa deslumbrante!
— Eu sei o quanto você ama a Itália — Adler comentou, fazendo-
me encará-lo. — E sei também o quanto valoriza estar perto da sua família.
Não posso me afastar por muito tempo da Alemanha e, para ser sincero, não
quero. Amo morar lá. Entretanto, minha vida está onde você estiver. Então,
decidi comprar esta casa, onde você poderá decorar da maneira que preferir
e podemos vir passar alguns dias aqui, sempre que desejar — eu estava
boquiaberta. — Também tem um quintal enorme, onde, quando tivermos
filhos, eles poderão brincar. Aliás, também estou vendo uma casa para
comprar na Alemanha. Acho que uma casa seria melhor para construir uma
família do que um apartamento e... — Adler começou a falar
animadamente, e eu estava emocionada.
Joguei-me em seus braços, silenciando-o com um beijo ardente,
nossos lábios se encontrando com paixão, explorando-se ávidos, enquanto
suas mãos apertavam minhas costas e deslizavam para minhas nádegas,
apertando-as com desejo.
Adler estava agindo de maneira irresistível. Tudo tão certo. Como
não me render?
Suas mãos enormes me puxaram com firmeza para o seu colo, e eu
envolvi minhas pernas em volta de sua cintura, sentindo sua ereção
pulsante, o que me fez gemer ansiosamente. Eu sentia tanto a sua falta.
Ele me conduziu até uma bancada, me colocou em cima dela,
fazendo meu vestido subir até a cintura, e começou a se esfregar em mim
por cima da calcinha. Adler não parava de beijar meus lábios, absorvendo
cada gemido meu.
— Eu preciso de você, Giulia. Maldição, eu preciso tanto —
murmurou contra meus lábios. Eu estava prestes a negar, quando ele
continuou. — Eu sei que sou um idiota e, porra, sei muito disso, mas não
suporto mais ficar sem você, Giulia. Pelo amor de Deus, eu te amo e te
quero. O que preciso fazer para te ter? Quer que eu me ajoelhe e implore
por perdão? Farei. Se você me pedir, juro que farei.
Mordi o lábio, segurando uma risada, e afastei nossos rostos um
pouco para encará-lo.
— Então ajoelhe — disse, e vi um pequeno sorriso se formar nos
cantos de seus lábios.
— Você é uma verdadeira diaba, Giulia Ziegler — ele disse, me
fazendo estremecer ao chamar-me assim.
Adler depositou um beijo em meus lábios e começou a se abaixar
para se ajoelhar diante de mim. Meus olhos se arregalaram, surpresa,
porque por mais que ele tenha falado isso, nunca pensei que realmente faria.
— Ei, era só brincadeira — segurei sua camisa, impedindo-o. —
Não pensei que realmente fosse se ajoelhar diante de mim.
— E por que não? Já te fiz tantos males, Giulia, que me ajoelhar
diante de você para pedir perdão é o mínimo que posso fazer. Acredite em
mim quando digo que farei qualquer coisa para tê-la novamente. Estou
rendido e não lutarei mais contra isso. Quero ser seu e quero que seja
minha, Giulia, para sempre.
E então, Adler realmente se ajoelhou, deixando-me perplexa.
— Adler, meu Deus, não faça isso!
— Não há desculpas que possam justificar o que fiz. Eu estava
cego pela raiva, e não percebi que estava destruindo o único tesouro
verdadeiro que tinha: o seu amor. Agora, olhando para trás, vejo claramente
o quanto fui tolo, o quanto perdi ao deixar você partir. Mas também vejo a
força e a dignidade que você demonstrou em meio ao caos que causei. Você
é a luz que ilumina minha escuridão, a única que pode trazer redenção ao
meu coração. Sei que palavras são insuficientes diante da magnitude do
meu erro, mas juro por tudo o que é mais sagrado que farei tudo ao meu
alcance para compensar o mal que causei. Amo você mais do que jamais
soube expressar, e se houver uma chance, uma única chance, de
reconquistar seu amor, lutarei com todas as forças do meu ser para merecê-
lo novamente.
Fiquei sem palavras diante da sinceridade e do arrependimento
palpável do homem que tanto amo, aquele que partiu meu coração. Uma
onda de emoções me inundou, permitindo que as lágrimas rolassem
livremente por minhas bochechas.
Com um gesto tímido, incapaz de articular palavras diante da
torrente de sentimentos, chamei Adler. Ele se ergueu e, com ternura,
enxugou minhas lágrimas, beijando delicadamente meu rosto.
— Não quero mais te ver chorar, Giulia. Não de tristeza. Daqui
para frente, só quero te ver feliz — ele murmurou suavemente.
— Você precisa parar com essas coisas — resmunguei, fungando.
— Não vou parar, Giulia. Não quero jamais parar de te amar — ele
insistiu.
— Oh, Adler... — murmurei, puxando sua camisa e, entre
lágrimas, colando nossos lábios em um beijo desesperado.
Sim, o futuro é incerto, e tenho vivido em uma constante batalha
entre o orgulho e o coração. Até quando vou me esconder atrás dessa
máscara de mulher que não quer ceder ao homem que ama? E se eu não
quiser mais ser difícil? E se eu quiser me entregar, sem medo, sem reservas,
sem olhar para o passado?
Ah... quem pode me julgar? Estou diante do meu amor, o pai do
meu filho, meu marido.
Sabe de uma coisa? Que se dane o orgulho. Eu vou viver esse
amor. E vou me entregar, sem remorso algum, para esse homem
maravilhoso.
Afinal, meu corpo, minha alma, meu coração e principalmente a
minha boceta clama por ele há dias.
Giulia precisava entender que eu faria qualquer coisa para tê-la.
Sim, absolutamente qualquer coisa. Se ela me pedisse o mundo, eu
encontraria uma maneira de embalar o universo em uma caixa de presente e
entregá-lo a ela de bom grado.
Agora, compreendo por que meu irmão é tão cachorrinho da minha
cunhada. O amor nos transforma em bobos. É um sentimento avassalador,
que nos consome e nos deixa desesperados por mais. É mais viciante do que
qualquer droga.
Afastei nossos lábios por um momento apenas para admirar sua
beleza. Seus lábios inchados e rosados, bochechas coradas, cabelos
desalinhados e um corpo capaz de fazer qualquer homem se ajoelhar por
ela. Inclusive, eu.
Amém por ela ser minha!
Sorri, feliz por tê-la em meus braços e retomei o beijo, descendo
meus beijos por seu pescoço, tirando as alças de seu vestido e libertando
seus mamilos intumescidos. Massageei-os com as mãos, e ela inclinou a
cabeça para trás, gemendo. Passei a língua em volta de seus mamilos e os
suguei, sentindo-os endurecer em minha boca. Os seios de Giulia estavam
simplesmente maravilhosos, inchados e convidativos. Mamei com
voracidade, ocasionalmente beliscando-os com os dentes, arrancando dela
gemidos de prazer.
Deslizei minha mão para baixo, entre suas pernas, acariciando-a
sobre o fino tecido da calcinha. Ela estava receptiva, deliciosa e
incrivelmente molhada.
Estava prestes a abaixar seu vestido quando congelei, me afastando
abruptamente. Meus olhos se fixaram em sua barriga, redonda,
perfeitamente redonda. A verdade me atingiu com força: Giulia estava
grávida.
Porra! Ela estava grávida!
— Adler... — ela me chamou, com a voz trêmula, capturando
minha atenção com seus olhos arregalados. — Calma, vamos conversar —
ela pediu, visivelmente nervosa.
Desviei o olhar de seu rosto e novamente me fixei em sua barriga.
Grávida. Porra! Giulia estava grávida! Um filho… Meu filho...
— Adler... — mais uma vez, ouvi-a me chamar, mas eu estava
atordoado demais para responder.
Como se o ar tivesse sido sugado de meus pulmões, corri para fora
da casa, parando na frente da porta, respirando fundo, deixando o vento
gelado bater em meu rosto.
Grávida, caramba... e eu não tinha percebido. Eu não sabia. Como
diabos eu não percebi?
— Adler! — Ela chamou pela terceira vez, e eu me virei para vê-la
ali parada, os olhos marejados e um olhar preocupado. Giulia já havia
colocado o seu vestido, mas tudo que eu conseguia enxergar agora era a sua
barriga.
— Por que não me contou? — Questionei, finalmente
recuperando-me do choque.
— Eu ia contar.
— Quando ia contar? — Rebati, sentindo-me atordoado. Não
estava nervoso, estava apenas surpreso.
— Olha, eu descobri poucas horas antes de você reaparecer aqui na
Itália. Estávamos vivendo uma loucura, eu sequer percebi os sinais que o
meu corpo dava. E aí você reapareceu com todas aquelas palavras
carinhosas e querendo mudar, eu não queria que fizesse isso só porque estou
grávida. Ou pior, que tornasse a duvidar de mim como naquele dia em que
brigamos e você chegou a falar que se eu ficasse grávida, você não saberia
se era realmente seu — ela falou, abaixando a cabeça.
Porra, eu era mesmo um idiota.
— Giulia — coloquei o dedo em seu queixo, levantando seu rosto
para que me encarasse. — Desculpe por ter falado aquilo. Eu sou um
grande idiota. Nunca desconfiei de você, falei aquilo porque estava com
ciúmes e também porque eu sou um homem muito imbecil — ela abriu um
pequeno sorriso, assentindo. — Vamos mesmo ter um bebê? — Fiz a
pergunta mais idiota do mundo, mas precisava ouvir dela.
— Sim — sorriu, com os olhos brilhando.
Novamente me coloquei de joelhos diante dela e levantei seu
vestido.
— Adler, o que está fazendo? — Giulia estreitou os olhos.
— O que eu deveria ter feito no momento em que constatei que
você estava gerando o fruto do nosso amor — abracei sua cintura e beijei
carinhosamente sua barriga, que mesmo pequena, já revelava que nosso
filho ou filha estava crescendo. — Eu prometo que serei o melhor pai do
mundo para essa criança e todas as outras que ainda teremos — encarei
Giulia e vi lágrimas em seus olhos.
Voltei a abraçar sua cintura e beijar sua barriga. Eu não poderia
estar mais feliz. Mais bobo e mais apaixonado.
Levantei-me, segurando-a com carinho em meus braços, e a beijei
com toda a intensidade do meu amor. Caminhei com ela nos braços de volta
para dentro da casa e, desta vez, a depositei delicadamente no sofá. Como
uma verdadeira deusa que era, comecei a despi-la, admirando cada
milímetro do seu corpo, rendendo-me à sua beleza.
Abri bem suas pernas, espalhando sua lubrificação com os dedos, e
em seguida, sob seu olhar atento, levei os dedos melados até minha boca,
provando o sabor delicioso dela. Comecei a penetrá-la com os dedos,
fazendo-a gemer alto, antes de me dedicar ao seu clitóris, chupando-o e
lambendo toda sua vulva.
Giulia gritava e seu corpo estremeceu, anunciando seu orgasmo
iminente. Segurei firme em suas coxas e a devorei, liberando todo o seu
prazer e me embriagando com seus fluidos. Neste momento, ela era minha
prioridade, meu foco, e eu estava determinado a levá-la ao êxtase absoluto.
Tirei minha roupa rapidamente, ansioso para estar dentro dela.
Encaixei-me em sua entrada, roçando meu pau, brincando com seu clitóris,
e ela mordeu meu lábio inferior, envolvendo suas pernas em volta da minha
cintura e puxando-me, buscando mais contato.
Eu obedeci, penetrando-a bem devagar, sentindo suas paredes
apertadas e incrivelmente quentes me envolverem. Soltei um gemido rouco,
desejando fodê-la até a exaustão.
— Precisamos ir devagar por causa da gravidez? — Perguntei,
preocupado, e a vi revirar os olhos.
— O bebê está seguro, Adler. Só me fode, vai.
E assim, a mulher da minha vida, a minha diaba, acabou com toda
a minha sanidade. Eu a fodi com força, profundamente, desesperadamente e
completamente apaixonado.
Beijávamo-nos, mordíamo-nos um ao outro, nos lábios, no
pescoço, nos ombros, nos seios dela.
Eu investia tão fundo e forte que via seus seios perfeitos
balançarem, me fazendo abocanhá-los.
Estávamos perdidos um no outro, e era a sensação mais incrível
que já experimentei.
Sexo é bom, mas sexo com amor era simplesmente incrível.
Passamos a noite inteira em nossa nova casa, explorando cada
canto daquela mansão e fazendo amor em todos os cantos possíveis.
Pela manhã, voltamos à casa dos pais de Giulia para arrumar
nossas coisas e nos despedirmos, pois logo voltaríamos para a Alemanha.
No entanto, Luigi precisou dos meus serviços e adiei a viagem até depois
do almoço. Enquanto isso, Giulia decidiu ir até o café que costumava
frequentar quando estava na cidade.
— Adler, acompanhe-nos — Rocco me chamou, levantando seu
copo de uísque. Ele estava na sala de sua casa, junto com Luigi.
Entre mim e meu sogro não havia mais rixas, e hoje entendo que
tudo que ele fez foi pelo bem de sua filha.
— Obrigado pelo serviço, Adler — seu filho agradeceu.
— Ao dispor — peguei o copo e me sentei.
— Enzo me disse que você estava rastreando o ex-professor de
Giulia — Rocco comentou.
Anotação: cortar a língua do meu irmão fora.
— Até agora não tenho nada concreto contra esse sujeito. Enzo
descobriu que ele realmente não era quem dizia ser, mas só isso, nenhuma
acusação real. No entanto, não confio nele e muito menos na aproximação
repentina que ele teve com Giulia. O cara incendiou a própria academia
para me incriminar — concluí, esvaziando o copo de uísque.
Ainda não conseguimos rastrear o tal Kalel. Enzo ainda o
perseguia, mas toda vez que nos aproximávamos, o homem desaparecia.
— Cazzo! Esses caras estão cada vez mais espertos. Há meses
estou tentando rastrear o maldito filho do Claus e também não consigo —
Luigi explicou.
— Quem é Claus? — Perguntei, alheio ao assunto.
— No passado, ele foi meu consigliere, mas me traiu — Rocco
começou a contar. — Invadiu minha casa tentando me matar. Luara o
matou. — Estreitei os olhos e ele sorriu, orgulhoso da esposa. — Anos
depois, descobrimos que ele tinha um filho, e esse maldito estava
atrapalhando nossos negócios. Mas o mais estranho é que há alguns meses
ele desapareceu completamente, ficou em silêncio, nem atrapalhava mais
nossos negócios. Isso é muito suspeito.
— É, quando o inimigo fica em silêncio, é sinal de que algo está
errado — concordei, lembrando-me de como Kalel também estava
silencioso. — Vocês pelo menos sabem quem é o inimigo? Já o viram
alguma vez?
— Tenho apenas uma foto embaçada desse maldito — Luigi
mexeu no celular. — Lutar contra o desconhecido é ainda mais difícil,
Adler. Estou cansado de bater cabeça com esse sujeito — Ele me mostrou a
foto.
Peguei o celular em minhas mãos e ampliei a foto.
Caramba! Eu conhecia aquele homem, conhecia muito bem. A foto
pode estar embaçada, mas reconheço aquele olhar, aquele olhar falso de
homem inocente.
— O que foi, Adler? — Rocco indagou, encarando-me.
— É o Kalel. Caramba! O ex-professor de Giulia! — Falei,
surpreendendo-os.
— Como assim? — Rocco exclamou.
— Você está dizendo que esse sujeito esteve perto de minha irmã
todos esses meses? Bem debaixo de nossos narizes?
— Onde está Giulia? — Perguntei, levantando-me.
— Luara disse que ela foi até a cafeteria que gosta — Rocco me
informou.
— Preciso levar Giulia e protegê-la. Sabia que esse cara não se
aproximou dela à toa. Caramba, agora tudo faz sentido. Ele quer atingir
vocês usando-a — falei, desesperado.
Minha esposa estava em perigo. Ela esteve em perigo todo esse
tempo, e eu não a protegi.
Não poderia estar mais feliz. Finalmente, eu e Adler estávamos nos
entendendo, e meu casamento estava se transformando no que sempre
sonhei. Só eu e Deus sabíamos o quanto desejei que Adler me amasse, o
quanto sonhei com o que estava vivendo naquele momento.
Deveria ter planejado uma maneira melhor de contar a Adler sobre
a gravidez, mas aprendi que nada no meu casamento era planejado. E estava
tudo bem. Talvez até tivesse sido melhor assim, sem um plano elaborado.
Terminei de comer meus bolinhos e beber meu café, deixei o
dinheiro sobre a mesa e avisei ao segurança que iria ao banheiro antes de
voltarmos para a casa dos meus pais.
Assim que entrei no banheiro, ouvi a porta ser trancada e olhei para
trás, surpresa ao ver Kalel ali.
— Que susto, Kalel! — Levei a mão ao peito. — O que faz aqui?
— Ele abriu um pequeno sorriso e se aproximou.
— Não está feliz em me ver, Giulia? — Sua voz tinha uma leve
provocação.
— Estou. Mas... — comecei, sentindo um desconforto crescer. —
Mas fiquei surpresa em vê-lo aqui.
— Está com medo de que o seu marido descubra que estou aqui,
ou está com medo de que ele descubra que você está aqui comigo? — Ele
perguntou, desafiador.
— Não é nada disso. E, aliás, não estou gostando da maneira como
está falando comigo. O que eu te fiz? — Cruzei os braços, sentindo-me
defensiva. — Sei que Adler está te importunando e quanto a isso... — tentei
explicar, mas ele me interrompeu.
— O que você fez a respeito? Por que até então você não se
importou comigo, só em viver a sua vida! — Sua voz estava cheia de
frustração.
— Estava acontecendo muitas coisas, Kalel — tentei suavizar o
tom da conversa. — Agora que as coisas estão se resolvendo, vou falar para
Adler te deixar em paz — ele arqueou uma sobrancelha com ceticismo.
— Esse homem nunca te escutou antes, Giulia. O que te faz pensar
que agora ele atenderia a um pedido seu?
— Nós dois estamos nos entendendo e Adler parece estar
mudando. Vou conversar com ele, eu juro, vou resolver essa situação —
minha determinação era firme. Kalel riu, de uma maneira que me assustou.
— Não vai me dizer que está se humilhando para aquele merda
novamente? Porra, Giulia, pensei que fosse mais esperta.
— Por que está falando dessa maneira comigo? — Perguntei,
magoada com seu tom agressivo.
— Para ver se você acorda! — Ele explodiu, avançando alguns
passos e me fazendo recuar. — O homem te humilhou de várias maneiras.
Você não viu o vídeo? — Meus olhos se arregalaram em choque.
— Foi você... — sussurrei, a verdade caindo sobre mim como uma
tonelada de tijolos.
— Tentei abrir seus olhos, mas você é burra demais. Porra! —
Kalel continuou, frustrado.
— Não me chame de burra! — Retruquei, minha voz subindo em
defesa. — Não é porque somos amigos que você tem o direito de falar
assim comigo. O que deu em você? — Encarei-o, desafiadora. Ele respirou
fundo, passando as mãos pelo rosto com exasperação.
— Eu me apaixonei, Giulia — confessou, pegando-me de surpresa
mais uma vez.
— Do que está falando? — Pisquei algumas vezes, ainda tentando
processar tudo.
— Giulia, deu tudo errado. Eu estraguei tudo — Kalel
desesperadamente passou as mãos pelos cabelos.
— Kalel, o que está acontecendo? — Eu finalmente me permiti
aproximar dele, buscando entender a confusão que o dominava.
— Vamos embora, Giulia — ele segurou minhas mãos com
firmeza, como se sua vida dependesse disso.
— Embora? Como assim? — Estreitei os olhos, tentando decifrar o
que se passava em sua mente.
Meu Deus! Que diabos de conversa era essa?
— Sim, Giulia, vamos fugir juntos. Eu sei como te fazer feliz. Eu
jamais te trataria como aquele imbecil tratou — eu rapidamente puxei
minhas mãos para longe, interrompendo qualquer contato.
— Você enlouqueceu, Kalel? Eu sou casada! — Minha paciência
se esgotava diante dessa proposta absurda.
— Que grande casamento, Giulia! — Ele debochou, seus olhos
faiscando desdém. — Um marido que não se importa contigo, que não te
valoriza. Você realmente quer passar o resto da vida assim?
— Não fale do que não sabe.
— Qual foi a desculpa que ele inventou para te convencer de sua
mudança? Esse homem nunca vai mudar, Giulia. Nem por você, nem por
ninguém.
— Kalel, chega. Eu preciso ir. Essa conversa acabou para mim —
minhas palavras eram firmes, determinadas a sair dali, mas ele bloqueou
meu caminho, seus olhos lançando um olhar ameaçador.
— Pensei que fosse mais sagaz que sua mãe, mas me enganei.
— Minha mãe? — Por que ele mencionava minha mãe agora?
— Sim, Giulia, sua mãe. Aquela mulher desgraçada — meus olhos
se arregalaram, a raiva fervendo dentro de mim, e eu ergui a mão para
desferir um tapa em seu rosto, mas ele segurou meu braço.
— Não insulte minha mãe, seu idiota! — Minha voz ressoou com a
raiva que se acumulava dentro de mim.
— Sua mãe é uma assassina, Giulia. Ela matou meu pai e ainda
não pagou pelo que fez — ele me encarou, a seriedade em seus olhos
cortando-me profundamente. — Sua mãe é culpada pela morte do meu pai.
Eu planejei minha vingança durante anos.
Foi então que tudo se esclareceu, o desespero tomando conta de
mim. Recuei, os passos vacilantes me levando para trás até que minhas
costas batessem contra a parede. Meu coração martelava no peito, o medo
me envolvendo como um manto sombrio.
— Kalel... — sussurrei seu nome, um arrepio percorrendo minha
espinha.
— Eu ia causar à sua mãe a mesma dor que sofri todos esses anos,
Giulia. Eu tiraria dela sua filha, assim como tiraram de mim meu pai.
— Kalel, por favor, não — minhas palavras saíram em um apelo
desesperado. — Não faça nada comigo, por favor.
Ele se aproximou lentamente, e eu recuei até não ter para onde ir,
abraçando minha barriga com força, como se pudesse proteger meu bebê
dali.
— E sabe o que descobri, Giulia? — Kalel avançou e meu corpo
inteiro estremeceu. — Julguei tanto o idiota do Breno quando ele se
envolveu com sua cunhada, mas agora entendo. Estou completamente
apaixonado por você. Entendo por que ele nunca quis machucá-la.
— Se realmente me ama, não faça isso — minha voz tremia,
implorando.
Ele segurou meus braços, puxando-me para perto, e eu tremi ainda
mais. Senti suas mãos percorrendo meus braços, uma onda de náusea me
dominando. Fechei os olhos, negando com a cabeça.
— Por favor... — minhas palavras se misturaram com lágrimas.
Sua mão repousou em minha barriga e eu abri os olhos
abruptamente, encarando-o. Seus olhos também se arregalaram. Ele
percebeu. Meu Deus, ele percebeu!
Kalel levantou minha blusa, seu olhar horrorizado fixado em
minha barriga.
— Você está grávida — não foi uma pergunta, e eu não consegui
responder. — Por que deixou ele fazer isso com você? — Ele ecoou, um
traço de nojo em sua voz. — Por que permitiu que ele colocasse esse
monstro dentro de você, Giulia?
— Não fale assim do meu filho, seu... — avancei novamente, mas
ele me segurou, prendendo meus braços.
— Você é mais tola do que eu pensava, Giulia. Estragou tudo —
rle me soltou abruptamente, afastando-se. — Vá embora — sua ordem me
surpreendeu. — Saia! Desapareça! — Gritou, fazendo-me estremecer.
Não hesitei nem por um segundo e corri para fora daquele
banheiro. Pensei que Kalel iria me impedir de escapar, até me surpreender
ao perceber que ele simplesmente me deixou ir.
— Senhora, o que houve? Por que demorou tanto? — O segurança
perguntou, não percebendo nada.
Ele não percebeu Kalel entrando no banheiro? Aff!
— Não importa! Vamos embora! — Abandonei qualquer
explicação e me dirigi apressadamente ao carro.
Quando eu estava quase lá, com o segurança abrindo a porta para
mim, uma moto em alta velocidade veio em minha direção, e tudo o que
ouvi foi o estrondo do meu corpo colidindo com a lataria do carro.
Desesperado. Era assim que me sentia naquele momento.
Tudo aconteceu diante dos meus olhos, arrancando-me um grito
estrangulado. Giulia estava prestes a entrar no carro quando uma moto em
alta velocidade a atropelou, de propósito. A moto, pilotada por aquele
desgraçado do Kalel, depois colidiu contra uma parede. Ele sofreu alguns
ferimentos e foi levado pelos capangas de Rocco. Mas foram poucos
ferimentos em comparação ao que eu faria com ele.
Giulia, por outro lado, estava ensanguentada nos meus braços. Ela
não desmaiou em momento algum, mas seu corpo tremia e ela gritava
desesperadamente que estava perdendo nosso bebê.
Nunca senti tanto medo em toda minha vida. Meu corpo tremia,
meu coração parecia querer sair pela boca, e eu havia esquecido como
respirar, a falta de ar me consumindo.
Peguei minha esposa no colo com todo cuidado possível e ordenei
ao motorista que nos levasse para o hospital mais próximo. Lidarei com
aquele maldito depois. Minhas prioridades naquele momento eram Giulia e
nosso bebê.
— Adler, eu não quero perder nosso bebê — ela falou, chorosa.
— Não vai perder. Vocês vão ficar bem — acariciei seu rosto,
tentando soar positivo e transmitir tranquilidade.
Na verdade, por dentro, eu estava enlouquecido. Desesperado.
Surtando.
O pânico atingiu-me ainda mais quando o médico não autorizou
minha entrada e tive que deixá-la sozinha. Minhas mãos tremiam enquanto
eu agarrava meus próprios cabelos com desespero, meu olhar fixo em um
ponto distante, tentando enxergar além das paredes daquele corredor que
me aprisionava.
— Adler! — Luara, mãe de Giulia, apareceu, correndo até mim e
me abraçando. Ela estava chorando. Mais atrás, vi Rocco. — Como ela
está?
— Eu não sei — murmurei, envergonhado por não poder dar
notícias sobre sua filha e por não tê-la protegido.
— Giulia ficará bem — Rocco falou, parecendo calmo demais para
a situação.
— Vou buscar um café — Luara disse, olhando para o marido
antes de se afastar.
— Não se culpe — Rocco colocou a mão em meu ombro, e eu o
encarei, surpreso por ele entender como eu me sentia. — Já estive no seu
lugar. Não foi culpa sua. Giulia é forte, ela ficará bem.
— Você não entende — minha voz escapou num sussurro rouco.
— É como se... como se estivesse sufocando, sabe? Como se o ar ao meu
redor se transformasse em correntes de ferro, me prendendo, me afogando...
Eu me sinto tão... tão perdido — murmurei, sentindo os olhos marejarem.
— Não sei o que farei se algo acontecer com ela.
— Eu te entendo, Adler — ele soou compreensivo. — Há coisas
que não conseguimos evitar. Acarretamos inimigos ao longo de nossas
vidas, e eles sempre reaparecem para nos prejudicar. Tentamos evitar o
maior número de falhas, mas, às vezes, acontecem. Eu também estou mal,
não se engane com a minha aparência tranquila, é que eu preciso parecer
forte para que minha esposa se mantenha calma. Luara não sabe que quem
atropelou Giulia foi o filho de Claus, e eu gostaria que não comentasse
nada, pelo menos por enquanto. Deixe que eu converse com ela, não quero
que minha esposa se sinta culpada por algo que não tem culpa. E quanto à
minha filha, ela é forte como o pai — ele abriu um pequeno sorriso
carinhoso ao falar dela.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, o médico apareceu e nos
informou que minha esposa estava bem, apesar das leves escoriações, e que
nosso bebê também permanecia vivo, embora Giulia precise de repouso
absoluto. Nem esperei que ele autorizasse, simplesmente corri para o
quarto, louco para vê-la.
— Giulia! — Sentei na beirada da cama e a abracei com cuidado
para não machucá-la.
Eu estava com o meu mundo em meus braços.
— Ele tentou me matar, Adler — ela soluçou. — Ele tentou matar
nosso filho.
— Ei, calma, agora vocês estão seguros — acariciei suas costas,
buscando acalmá-la.
— Kalel apareceu dentro do banheiro da cafeteria — ela contou,
afastando-se para me encarar.
Giulia relatou tudo o que aconteceu nos mínimos detalhes, e meu
ódio por aquele maldito só crescia, principalmente ao vê-la machucada
dessa maneira.
— Ele vai pagar pelo que fez — afirmei, tomado pela raiva. —
Ninguém nunca mais te fará mal, eu prometo — e isso incluía eu.
— Eu quero te pedir um favor — ela falou, surpreendendo-me.
— Qual?
Giulia se aproximou do meu ouvido e cochichou, certificando-se
de que apenas eu pudesse ouvir, enquanto seus pais, mais distantes,
permaneciam parados na porta, incapazes de escutar.
— Você tem certeza disso? Eu não acho que... — tentei
argumentar, mas fui interrompido por ela.
— Eu quero, Adler! — Giulia afirmou, determinada.
— Giulia, esse é um caminho sem volta. Você não precisa fazer
isso — insisti.
— Adler! — Ela cruzou os braços, estreitando os olhos e fazendo
um bico. Fechei os olhos por um momento, respirando fundo.
— Certo, será como você quiser — concordei, contrariado.

Giulia passou 24 horas em observação e agora está de volta à casa


dos seus pais. Respirar aliviado é pouco para descrever o que sinto por vê-la
bem novamente. Nunca me senti tão desesperado e impotente em toda
minha vida. É uma sensação aterrorizante.
— Rocco — bati na porta de seu escritório, e ele autorizou minha
entrada.
— Vai ao galpão? — Ele perguntou.
— Sim, mas antes preciso conversar com você.
— Sente-se — apontou para a cadeira em frente à sua mesa. —
Uísque? Charuto? — Ofereceu-me, mas eu neguei.
Então, contei a Rocco sobre o pedido de Giulia, precisando de sua
opinião e esperando que ele a dissuadisse.
Rocco se recostou na cadeira e respirou fundo, parecendo
pensativo.
— Giulia tem sangue quente correndo em suas veias — ele disse,
após longos segundos de silêncio. — Se esse é o pedido dela, deixe que
faça — determinou, surpreendendo-me.
— O quê? Isso é loucura! Giulia está nervosa agora, mas depois ela
vai se arrepender.
— Todo esse tempo casado com ela e ainda não a conhece, Adler?
— Ele sorriu. — Se Giulia coloca uma coisa na cabeça, ela está
determinada a fazer. Então, que seja com você ao lado — balancei a cabeça,
atordoado.
— Ela é louca — exclamei, levantando-me, e vi o pai de Giulia
assentir, sorrindo.
— É minha filha — ele orgulhou-se.
— É a mulher da minha vida — também falei orgulhoso.
— Eu sei que sim. E Adler? — Ele me encarou antes de sair de seu
escritório. — Estou feliz por vocês. Apesar de tudo, você se tornou um bom
homem para minha filha. Saiba que minha casa também é sua — assenti,
sem dizer mais nada, e saí.

Atenção: Cena de violência (pode gerar gatilhos)


Entrei no galpão e constatei que Luigi já havia passado por ali,
claramente muito nervoso. Kalel não estava tão machucado quanto está
agora.
— Acorda, bela adormecida — o chamei, dando um tapa em sua
cara. Ele me encarou, os olhos vacilantes.
— Veio fingir que se importa com Giulia? Quando nós dois
sabemos que para você seria muito melhor que ela tivesse morrido — ele
cuspiu as palavras, com dificuldade devido ao sacode que Luigi lhe deu.
— Não preciso me explicar para você — falei, tirando meu paletó.
— E você também não precisa falar nada, afinal, mortos não falam —
acertei um soco em sua cara, fazendo-o tombar da cadeira onde estava
amarrado, pelado e completamente molhado. Comecei a chutá-lo, ouvindo
seus gritos.
— Bater num homem amarrado é fácil, seu covarde — ele gritou.
Meu sorriso aumentou de tamanho, como se a fera dentro de mim
tivesse finalmente despertado. Abaixei-me e desamarrei Kalel. Peguei
quatro socos ingleses e dei dois a ele, usando dois.
— Então brigamos de homem para homem. Você quis algo que é
meu, Kalel, grande erro seu.
— Você nunca se importou com Giulia. Já eu, bom, eu estive
várias vezes ao lado dela.
Porra! Esse imbecil estava jogando um jogo perigoso para ele. Se
tinha uma coisa na qual eu era bom, além de executar minhas missões com
excelência, era no soco. Sempre fui bom em luta.
O primeiro soco voou em sua direção, rápido como um relâmpago.
Ele mal teve tempo de reagir, sentindo o impacto chocante contra seu rosto.
A dor explodiu dentro dele, fazendo-o gritar. E eu não parei, como um
animal que eu me tornava quando estava tomado pela raiva, continuei a
desferir vários golpes em seu rosto. O desgraçado era péssimo na luta, não
sei como cogitou essa ideia.
O rosto de Kalel escorria sangue e, derrotado, ele caiu no chão,
tossindo e se contorcendo de dor. Eu me afastei, ofegante e suado.
Peguei o martelo e o puxei pelos cabelos, jogando seu corpo contra
a mesa e agarrando sua mão direita.
— Adler! — Ele gritou, se debatendo.
— Está com medo? Seu merda! — Vozeei, acertando o martelo em
cada um dos seus dedos, com força, com vontade, esmagando-os e fazendo-
os sangrar bastante. Kalel era um frouxo e gritava sem parar.
Repeti o mesmo processo com a outra mão e depois o soltei. O
homem caiu novamente no chão, encolhido, rouco de tanto gritar,
agonizando de dor.
— Eu queria te torturar muito mais. Queria que você gritasse até
perder a voz. Que sofresse até desejar a morte, mas infelizmente eu não
posso fazer isso — encarei-o, revelando meu desejo com firmeza. —
Porque se eu começar a te torturar, Kalel, só irei parar quando te matar —
sua expressão se tornou desconfiada diante da minha determinação. — E
esse prazer, eu não terei.
— Do que está falando? — Ele perguntou, a voz baixa e sofrida.
Saí do galpão sem responder, dirigindo-me ao carro. Abri a porta
do carona e ajudei Giulia a descer.
— Tem certeza disso? — Perguntei mais uma vez.
— Absoluta — ela me encarou com firmeza. Assenti, sem saber
mais o que dizer ou fazer para que ela desistisse.
— Giulia? — Kalel se surpreendeu ao vê-la ali, um fio de
esperança passando por seus olhos. Mal sabia ele que ela não estava ali para
beneficiá-lo. — Eu sinto muito e...
— Cala a boca! — Ela gritou, interrompendo-o. — Você tentou me
matar, tentou matar o meu bebê — sua voz transbordava mágoa e raiva.
— Giulia, você não pode colocar um monstro no mundo. Não
entende que esse bebê é amaldiçoado pelo sangue da sua família e da
família dele?
— Cala a boca! — Ela gritou ainda mais alto, e me preocupei com
sua saúde, aproximando-me. Mas ela estendeu a mão, pedindo
silenciosamente que eu recuasse. — Eu podia deixar que Adler te torturasse
até que não aguentasse mais, mas você mexeu comigo e não com ele.
Mexeu com o meu filho! Que mãe aceitaria isso? Eu tenho sede de
vingança. Passei a noite toda sonhando com a sua morte — Giulia falava
com uma frieza que eu desconhecia, até parecia Rocco diante de mim. Kalel
estava com uma expressão apavorada. — Não será Adler que te matará,
Kalel. Será eu — contou, sorrindo.
— Tem certeza disso? — Tive que perguntar mais uma vez, antes
de lhe entregar a arma carregada e engatilhada.
— Como eu nunca tive na vida — declarou, sorrindo, e pegou a
arma.
— Giulia, não... Giulia... — Kalel implorou, rastejando pelo chão.
Giulia se aproximou dele e, com um brilho nos olhos, descarregou
a arma, atirando por todo o corpo de Kalel.
— Ei, chega — segurei sua mão, enquanto ela continuava
apertando o gatilho, mesmo estando sem munição. — Olha para mim —
virei-a. — Como está se sentindo? — E como a legítima filha do diabo,
Rocco Caccini, Giulia sorriu tranquilamente.
— Eu estou ótima. Vamos para a nossa casa? — Segurou minha
mão.
Rocco estava certo, Giulia tinha sangue quente correndo em suas
veias. Puxei-a pela cintura e beijei seus lábios, apaixonadamente. Ela
retribuiu com fervor.
E tem como não amar? Essa mulher foi feita para mim.
Voltamos para a Alemanha, a minha mãe tem me ligado umas três
vezes ao dia, preocupada comigo e com o bebê. Meu pai também me ligou,
falando que qualquer dia desses vai vir me visitar. Fiquei radiante com essa
possibilidade.
Ao voltarmos, Adler fez questão de passarmos na consulta com o
médico daqui. Fizemos a ultrassonografia e tudo está certo com nosso bebê.
Decidi dar uma chance para ele e para o nosso casamento, mas
dessa vez, nos meus termos. Adler teria que ser um bom homem para mim e
eu prometeria amadurecer cada vez mais. Deixei claro que não aceitaria
passar por nada parecido com o que já tinha me feito passar. E as mudanças
têm aparecido gradualmente.
Compramos nossa casa aqui na Alemanha, com um quintal
enorme, que ele fez questão, dizendo que era para os nossos filhos correrem
à vontade. Nem nasceu o que está na minha barriga e ele já planejou mais
um monte.
Ele ainda tem se esforçado para preparar nossos jantares, embora
tenhamos saído mais nos últimos dias, conhecendo belos restaurantes e nos
deliciando com a comida. E não vou negar que amo vê-lo na cozinha, mas
sair para jantarmos é bem mais gostoso.
Adler está sempre grudado em mim, como se não pudesse sair de
perto. Não o vejo em outro lugar, nem passando a noite fora. É como se
estivesse preso aqui, grudado em mim. Exceto quando me vejo obrigada a ir
para o trabalho.
Ainda não tivemos aquela conversa. A que me inquieta mais do
que gostaria de admitir. Por enquanto, estamos nos permitindo viver o que
deveríamos ter vivido desde o começo do nosso casamento. Mas sei que
esse assunto não pode ser evitado por muito mais tempo. É algo que me
perturba profundamente. Não suporto a ideia de Adler frequentando aquele
puteiro, palco de tantas traições.
Adler anda mais atencioso ultimamente, especialmente por causa
da gravidez e do que aconteceu na Itália, quando tirei a vida de Kalel. Ele
me pergunta todos os dias como estou, se tenho tido pesadelos. Mesmo que
não o diga explicitamente, sei que ele está preocupado com a possibilidade
de eu estar sendo atormentada pelo fantasma de Kalel.
Bem, para todas essas perguntas, a resposta é um sincero não. Não
sinto remorso algum por tê-lo matado. Afinal, ele não hesitou em tentar me
matar. É até assustador e doentio o alívio que senti ao vê-lo partir deste
mundo. Eu sabia que ele representava uma ameaça para minha família. E eu
não poderia permitir que alguém cheio de ódio, especialmente por minha
mãe, continuasse respirando o mesmo ar que nós. Eu poderia ter deixado
Adler resolver isso, mas quando penso que poderia ter perdido meu filho
por causa desse homem maldito, o sangue mafioso que corre em minhas
veias falou mais alto.
Ainda estamos fazendo terapia, o que tem nos ajudado muito,
embora Adler deteste, ele faz para me agradar. Eu tenho adorado e a cada
consulta saio de lá me sentindo uma mulher mais madura.
— Giulia? — Já estava prestes a sair do escritório, quando Helga
entrou na minha sala.
— Sim?
— Gostaria de conversar com você. Posso? — Ela apontou para a
cadeira à frente da minha mesa.
— Claro, sente-se — deixei minha bolsa de lado e me acomodei.
— Vim me despedir — estreitei os olhos, completamente confusa.
— Durante anos, esta empresa foi minha vida, mas agora estou vivendo um
novo momento. Conheci um cara legal, ele não é daqui, mora em Nova
Jersey e, bem, estou indo para lá com ele. Acho que, nesta altura da vida,
mereço viver um grande amor.
Apesar da surpresa com sua decisão, senti felicidade por ela ter
encontrado alguém.
— Eu entendo, Helga — oh, se entendo. O amor é capaz de mudar
nossa cabeça completamente. De nos trazer novos rumos, novos ares. —
Você merece ser feliz — sorri genuinamente feliz por ela, embora um pouco
triste por perder uma grande amiga e colega de trabalho.
— Não sei se você continuará na empresa, mas saiba que, seja qual
for sua decisão, mesmo de longe, estarei te apoiando — estreitei os olhos.
Como assim ela não sabe se vou continuar?
— Por que diz isso? — Questionei, confusa.
— Giulia, minha amiga, este trabalho foi uma terapia para sua vida
amorosa tumultuada. Acredito que agora que se resolveu no amor, as coisas
vão se ajeitando aos poucos e logo você também encontrará seu caminho na
vida profissional.
— Vou sentir sua falta, Helga — abri um sorriso carinhoso. — Dos
seus conselhos e de suas palavras sábias.
— Pode me ligar e mandar mensagens sempre que quiser.
Assenti, levantando-me, e ela fez o mesmo. Nos abraçamos
apertado e tive certeza de que sentiria muito a falta dela.

— Adler? — Chamei, percorrendo a casa em busca dele.


— Aqui no jardim! — Ele gritou, atraindo minha atenção.
Caminhei até lá e sorri ao ver o quão belo estava.
— Nossa, ficou perfeito! — Elogiei, radiante.
— Amanhã eles vão apenas finalizar a piscina. Pedi para
colocarem grades de proteção ao redor para manter nossos filhos sempre
seguros. — meu sorriso se alargou. Ele sempre falava em "nossos filhos",
no plural. — Vem comigo — ele segurou minha mão, entrelaçando nossos
dedos.
— Para onde vamos? — Questionei enquanto caminhávamos pelo
jardim.
— Não seja tão curiosa.
Nos aproximamos das flores de lírios, que me fizeram sorrir ainda
mais, pois foram um presente dele. Próximo às flores, havia uma mesa
montada para dois, decorada com velas e a luz do luar complementando o
ambiente.
— Pensei que seria bom jantarmos aqui hoje — ele disse, olhando
para mim.
— Ficou lindo, Adler — sorri, emocionada.
Adler estava tão romântico. Realmente o homem dos meus sonhos.
Ele puxou a cadeira para que eu me sentasse e me serviu de suco de maçã,
enquanto abria sua cerveja.
— Helga vai embora — comentei, enquanto ele colocava comida
em nossos pratos. Ele me encarou, com os olhos estreitos, tão confuso
quanto eu fiquei quando descobri. — Ela se apaixonou e o homem mora em
Nova Jersey, ela está indo viver com ele.
— Isso é bom, não é? — Ele respondeu.
— É, sim.
— Terá que contratar alguém para trabalhar com você,
especialmente alguém que possa viajar para trabalhos fora da Alemanha —
sugeriu.
— Não temos nada agendado fora daqui, ainda bem. Quanto a
contratar alguém, eu ainda não sei. — comentei, lembrando das palavras de
Helga. — Talvez eu não tenha tanta certeza de querer continuar trabalhando
nisso pelo resto da minha vida — Adler me analisou por alguns segundos e
assentiu.
— Certo, pense bem sobre isso. Caso não queira continuar,
podemos vender. Tenho certeza de que posso encontrar um bom comprador.
— Eu sei que sim.
Gostava desse lado do Adler, que me apoiava sem questionar. Por
um momento, pensei que ele ficaria chateado, mas seu olhar me deu a
certeza de que não.
— Por falar em trabalho e certezas na vida, eu tenho algo para te
contar.
— Hum? — Deixei escapar enquanto mastigava, desviando minha
atenção para ele. Adler pegou alguns papéis que estavam na mesa e os
empurrou na minha direção.
— O que é isso? — Rapidamente percebi que eram relacionados à
venda de algum imóvel.
— Eu vendi a boate — revelou, deixando-me boquiaberta, peguei
os papéis em minhas mãos e examinei-os com mais cuidado. — Eu te disse
que quero recomeçar, Giulia. Quero provar, dia após dia, que mudei. Quero
construir um novo futuro com você e nossa família em formação. Não vou
cometer os mesmos erros, nunca mais. A boate não cabia mais na minha
vida, muito menos em nosso presente e futuro, então, eu a vendi.
— E como você está se sentindo com isso? — Indaguei, ainda
chocada com sua revelação. Claro que em algum momento discutiríamos
esse assunto, mas não esperava que ele fosse vender; cheguei a cogitar que
ele colocaria alguém para cuidar do estabelecimento em seu lugar.
— Estou ótimo! Essa era uma decisão que eu deveria ter tomado
quando nos casamos, mas fui burro demais. Espero que não seja tarde.
Sabe, Giulia, já falei sobre minha mãe para você. Ela amava tanto meu pai
que, quando ele não estava mais aqui, preferiu a morte a continuar vivendo.
Na minha cabeça tola, eu acreditava que se amasse alguém teria o mesmo
fim que ela. Eu tentei evitar te amar, fiz de tudo para isso, mas mesmo com
todos os meus erros, você sempre esteve lá. Quando você desistiu de mim,
senti que meu mundo havia desabado. Quando foi morar com seus pais e eu
fiquei sem você, percebi que não morreria por te amar demais, morreria por
não te amar.
— Adler... — engoli em seco, lágrimas já escorrendo pelo meu
rosto. Eu estava sensível demais.
— Não quero só te dizer isso, palavras não são suficientes. Quero
te provar que mudei e ainda mudarei muito mais por você. Fui um idiota e
mereço seu desamor e até desprezo, mas continuarei insistindo em nós, te
amando e mostrando que quero reconquistar seu amor. Farei de tudo,
Giulia. Você pode não me amar como antes e talvez nunca volte a ser como
antes, mas morrerei tentando recuperar esse sentimento.
Depois que Adler se declarou para mim, tivemos algumas noites
juntos. Estava dando a ele a oportunidade de mostrar que mudou. Até
transamos algumas vezes, mas não voltei a dizer que o amava, embora não
fosse segredo, e também não aceitei compartilhar o mesmo quarto, pelo
menos não ainda. Adler estava se esforçando e eu queria ver mais.
Confesso que a venda da boate derrubou uma boa parte do muro de
defesa que eu havia construído.
— Gostei que vendeu — confessei, sorrindo. — Vamos continuar
tentando — repousei minha mão sobre a dele.
Queria pular em seu colo, beijar sua boca e gritar ao mundo o
quanto o amava, mas ainda não era o momento. Se eu esperei tanto tempo,
ele podia esperar um pouco mais.
— Você acha que um dia será como antes, Giulia? Voltará a me
amar? — Pude ver a esperança brilhando em seus olhos.
— Se você não cometer os mesmos erros, então sim, eu acho que
sim — sorri. Mal sabia ele que meus sentimentos por ele nunca mudaram.
— Então quero te fazer um pedido.
— Mais surpresas? — Tomei um gole do meu suco, sorrindo. Eu
estava verdadeiramente feliz.
Adler levantou-se e aproximou-se de mim, segurando uma pequena
caixa elegante adornada com detalhes em ouro e pérolas. Meu coração
disparou. Ele se ajoelhou e eu chamei seu nome silenciosamente, sem
conseguir emitir qualquer som.
— Giulia, eu quero ser para você tudo o que sempre sonhou. Quero
que daqui para frente seja tudo da maneira certa. Você disse que se eu não
errasse mais como um dia errei, poderia voltar a me amar como antes, e eu
anseio por isso — com mãos trêmulas de excitação, ele abriu a caixa
lentamente, revelando um anel deslumbrante de diamantes. — Você quer se
casar comigo? Dessa vez, do jeito que sempre desejou.
— Ai, Adler... — balbuciei, emocionada demais.
— Aceita ser minha para sempre, Giulia? Dessa vez, da maneira
certa.
— Sim, eu aceito — balancei a cabeça em êxtase.
Com delicadeza, ele segurou minha mão e colocou o anel junto
com a nossa aliança de casamento.
Eu não queria me fazer de difícil, não agora, não nesse momento e
nessa circunstância. Puxei sua camisa e tomei sua boca em um beijo
apaixonado e cheio de desejo.
Havia chegado o dia do nosso casamento. Dessa vez, não havia
raiva, mágoa ou sede de vingança. Estávamos nos casando por amor, muito
amor.
Não vi minha esposa hoje, mas posso imaginar o quão linda ela
está. A barriga de Giulia cresceu bastante nos últimos dias e eu fico bobo,
babando com o crescimento do nosso filho dentro dela.
— Um brinde a este dia que eu sabia que chegaria — propôs Enzo,
levantando seu copo. — O dia em que meu irmão se tornaria um
cachorrinho da minha sobrinha.
Revirei os olhos. Enzo sempre tinha que soltar uma piadinha… ou
então não seria o Enzo.
— Um homem sem uma mulher é apenas um menino — Renzo
falou, sorrindo. — Feliz por vocês dois. É bom demais amar e ser amado —
também levantou seu copo.
— Um brinde ao meu genro, que finalmente se rendeu ao amor e
aos encantos da minha linda filha. — Rocco entrou na onda do meu irmão.
— Então, um brinde — fiz o mesmo que eles.
Bebemos o uísque em nossos copos e Enzo os encheu novamente.
Eu estava ansioso pra caramba, parecia até a primeira vez que estava me
casando.
— Adler, meu irmão, nos conte como é se sentir completamente
rendido — Enzo provocou-me, como sempre.
— Não tenho que falar nada para você — ignorei-o e Renzo riu.
— Está rindo do quê, Renzo? Seu humor é péssimo, assim como o
do Adler — meu irmão resmungou.
— Você que é chato demais, Enzo! — Renzo retrucou. — Graças a
Deus parou de comer aqueles salgadinhos irritantes.
— Eu não parei porque quis ou para agradar vocês — bufou,
irritado ao lembrar que foi proibido pelo médico devido à sua saúde. Meu
irmão teve um pico de pressão muito alta. — Não sei como Melanie e
Giulia aguentam esse mau humor de vocês.
— Não sei como a santa da minha irmã, Alice, te aguenta, isso sim.
— Eles não mudam nunca — Rocco comentou comigo enquanto
seu irmão e o meu continuavam a discutir.
— Não sei como você aguenta — falei e ele deu de ombros, rindo.
— Eu sou um ótimo marido, Renzo. Sua irmã ama o meu senso de
humor. Já percebeu como eu pareço ser bem mais novo que você? É porque
tenho o costume de sorrir. Já você, com essa cara emburrada, está
envelhecendo na velocidade da luz.
— Você não tem espelho em casa, não é? — Renzo riu. — Olha
essa sua cara murcha, Enzo. Eu só não dou uns socos na sua cara porque
você já é feio de natureza, se ficar machucado vai assustar as pessoas.
— Você não me dá uns socos porque não pode, ou já se esqueceu
que... — Renzo o interrompeu.
— Porra! Vai jogar isso na minha cara até quando? Quer que eu
drene todo o meu sangue e te devolva? Não fode, Enzo! E nem vem com
essa conversa, que não somos irmãos só porque me doou sangue — eu e
Rocco rimos alto.
— Deus me livre de você devolver meu sangue depois que se
misturou com esse sangue ruim seu. Já pensou se esse mau humor seu passa
para mim? Credo!
— Ohhhh! — Rocco chamou a atenção deles. — Vamos parar com
isso? Hoje é o dia do Adler e vocês estão com essas brigas bobas de
sempre. Vocês já são velhos, tá na hora de parar com isso.
Como duas crianças birrentas, os dois ficaram se olhando com
deboche.
— Eu vou parar, mas só porque estou de saco cheio desse velho
rabugento e mal-agradecido — meu irmão não perdeu a oportunidade de
alfinetar um pouco mais, e Renzo mostrou-lhe o dedo do meio. — Que
atitude infantil, Renzo! — Meu irmão revirou os olhos e nós rimos.
— Por isso ninguém aguenta ficar perto de vocês — Luigi entrou
na sala onde estávamos, rindo das brincadeiras dos tios.
— Fala para ele quem é o seu tio preferido, Luigi — Enzo
provocou, olhando para Renzo com um sorriso debochado.
— Ih, tio, não me coloca no meio dessa briga, não — Luigi pegou
um copo e também se serviu.
— Eu ouvi briga? — Theo chegou, sempre pronto para animar o
ambiente. — Se for para quebrar a cara do Adler, eu tô dentro.
— Não lembro de ter te convidado, Theo — brinquei e ele
gargalhou.
— Giulia faz questão da minha presença — Theo respondeu,
provocando-me.
— Filho da puta — xinguei, mas logo comecei a rir.
— Não ofenda minha querida sogra — Luigi entrou na brincadeira,
arrancando risadas de todos.
— Feliz demais por vocês, irmão — Theo apertou minha mão e
deu dois tapinhas no meu ombro.
— Feliz por você também — puxei-o para um abraço apertado.
Theo era mais que um amigo, era como um irmão para mim.
— Vamos brindar ao amor — Luigi propôs outro brinde,
entregando um copo ao Theo.
Brindamos, todos sorridentes por termos mulheres incríveis ao
nosso lado. Mas como em todo momento leve entre nós, Enzo tinha que
abrir a boca.
— Vou fazer uma fofoca... Adler vendeu o puteiro — ele contou,
jogando-me na cova dos leões, sendo motivo de muitas piadas e zombarias.
Eu queria matá-lo, mas não podia, afinal, ele era meu irmão e
padrinho de casamento.

Eu esperava Giulia ansiosamente sob a sombra fresca das árvores.


A cerimônia e a festa foram organizadas exatamente como ela queria. Vê-la
feliz e na correria para que tudo saísse como planejado encheu meu coração
de contentamento.
— Adler — Enzo se aproximou, sussurrando perto do meu ouvido.
— Não fode — respondi, mas não pude conter um sorriso. Ele riu.
— Só queria te dizer que te amo e tenho muito orgulho do homem
que você se tornou.
Virei-me para encará-lo e não pude evitar sentir um calor
reconfortante ao ver o brilho de afeto nos olhos do meu irmão. Puxei-o para
um abraço, uma expressão rara de carinho entre nós.
— Eu também te amo, irmão — declarei, sentindo uma onda de
gratidão por tê-lo ao meu lado.
Enzo sempre foi mais que um irmão para mim. Ele foi meu amigo,
meu protetor e meu exemplo de homem. Sempre esteve lá quando precisei,
sem hesitar, e sou eternamente grato por isso.
A música começou a tocar, anunciando a chegada da noiva. Meu
coração acelerou ao vê-la, acompanhada por seu pai. Parecia a primeira
vez.
Seus passos eram leves, seu sorriso radiante iluminava o ambiente.
Mal pude conter a emoção ao vê-la se aproximando, tão deslumbrante e
radiante.
Quando finalmente ela chegou até mim, nossos olhares se
encontraram e tudo ao nosso redor pareceu desaparecer. Senti o mundo
inteiro desaparecer, deixando apenas nós dois ali, no centro de tudo.
Segurei suas mãos, sentindo a conexão entre nós mais forte do que
nunca. Seus olhos expressavam tanto amor e confiança, que meu coração
transbordava de felicidade.
A cerimônia aconteceu de maneira rápida e simbólica, pois já
éramos casados, essa foi apenas uma lembrança boa que queríamos guardar
em nossas memórias. Então, antes que ela fosse encerrada, virei-me para
Giulia.
— Meu amor, hoje diante de todos nossos amigos e familiares,
quero te dizer o quanto você significa para mim — minhas palavras saíam
carregadas de emoção, refletindo todo o amor que eu sentia por ela. — Com
você, aprendi o verdadeiro significado da felicidade, do amor e do
companheirismo. Você é minha luz, minha inspiração e meu lar. E hoje,
diante de todos aqui, quero fazer uma promessa solene a você. Prometo te
amar, te respeitar e te apoiar em todos os momentos. Prometo ser seu
parceiro em todas as aventuras e desafios que a vida nos apresentar. E
prometo fazer de você minha prioridade, minha fonte de inspiração e meu
porto seguro. Você é a pessoa que escolhi para amar e cuidar pelo resto dos
meus dias. Eu te amo mais do que as palavras podem expressar, e mal posso
esperar para começar essa nova e verdadeira jornada ao seu lado.
— Eu te amo, Adler — sua resposta foi tão sincera e emocionada,
que me fez sentir como se meu coração fosse explodir de felicidade.
— Ama? Ama como antes? — Perguntei, sem conseguir conter a
esperança em meus olhos.
Giulia aproximou-se, segurou meu paletó e sussurrou contra meus
lábios:
— Eu nunca deixei de te amar como antes — sua confissão foi
como música para os meus ouvidos, enchendo-me de uma felicidade
indescritível. — E, aliás, você fica muito mais bonito de branco do que de
preto — comentou sorrindo.
Sorri, sentindo-me completo e renovado pelo amor dela. Sem
hesitar, tomei seus lábios em um beijo apaixonado, ouvindo aplausos e
assobios dos nossos convidados.
Adler era como um mestre na arte de me fazer sentir mimada,
realizando cada um dos meus desejos, mesmo que detestasse admitir isso.
Nossa fuga do segundo casamento, durante a festa, foi uma escapada
emocionante para Sylt[iv], onde planejávamos desfrutar de três dias de pura
lua de mel.
Enquanto eu contemplava a praia da janela do nosso quarto de
hotel, ele se aproximou por trás. Seus braços envolveram minha cintura, e
um sorriso brotou em meu rosto.
Seus lábios encontraram meu pescoço, traçando um caminho de
beijos suaves que enviaram arrepios por todo o meu corpo. Inclinei a cabeça
para trás, entregando-me ao toque dele, ansiosa por mais.
A mão dele deslizou pela minha barriga, suave e firme,
encontrando o tecido da minha calcinha. Um suspiro escapou dos meus
lábios quando seus dedos começaram a acariciar-me por cima do tecido,
provocando uma onda de calor deliciosa.
Sem dizer uma palavra, ele me virou gentilmente, seus olhos
escuros brilhando com desejo enquanto me capturava em um beijo
apaixonado. Nossas línguas dançavam em um ritmo sensual, cada
movimento carregado de paixão.
As mãos dele exploravam meu corpo com uma urgência crescente,
incendiando meus sentidos e despertando um desejo avassalador. Num
impulso irresistível, ele me ergueu em seus braços e levou-me até a cama,
aumentando ainda mais a antecipação.
Seus lábios desceram novamente por meu pescoço, deixando um
rastro de beijos incandescentes enquanto suas mãos deslizavam pelo meu
corpo, explorando cada centímetro. Ele sorriu maliciosamente antes de
deslizar meu vestido pelos meus ombros, revelando meus seios ansiosos por
suas carícias.
Adler tomou meus seios com avidez, arrancando gemidos intensos
de prazer. Eu me entreguei aos seus toques. Ele lambeu meus mamilos,
provocando sensações eletrizantes, antes de se concentrar em minha barriga
com carinho, fazendo-me emocionar com sua ternura. Um sussurro de "eu
te amo" escapou de seus lábios antes de abrir minhas pernas, revelando a
luxúria em seu olhar enquanto me explorava.
Quando suas mãos desceram por minhas coxas, eu sorri
ardentemente feliz, sabendo que ele me levaria ao ápice do prazer. Adler
provocou-me através da calcinha, despertando um desejo avassalador antes
de rasgá-la com brutalidade.
Ele chupou-me com voracidade, explorando a minha boceta com
sua língua habilidosa, levando-me à beira do êxtase. Agarrei seus cabelos,
gritando seu nome enquanto me entregava ao prazer que ele me
proporcionava.
Meu corpo tremia de prazer, e ele parecia determinado a me levar
além dos limites, levando-me ao êxtase repetidas vezes.
Implorando entre gemidos, eu desejava retribuir o prazer que ele
me concedia.
— Adler... por favor — pedi, ansiando por tocá-lo da mesma
maneira intensa que ele me tocava. — Deixe-me chupá-lo.
Adler ergueu o olhar para mim, seus lábios brilhando com meu
gozo, um sorriso malicioso brincando em seu rosto enquanto ele se afastava
um pouco.
— Você quer me chupar, amor? — Ele murmurou, sua voz rouca
carregada de desejo.
Minha respiração estava acelerada, meus sentidos ainda zumbiam
com o prazer que ele me proporcionou, mas eu ansiava por retribuir o favor.
— Sim, eu quero — respondi, minha voz um sussurro carregado de
luxúria.
Adler deitou-se de costas na cama, sua expressão uma mistura de
expectativa e excitação enquanto eu me ajoelhava entre suas pernas.
Desabotoei a sua calça e a abaixei, revelando seu pau duro e ansioso por
atenção.
Ele pulsava com desejo, a cabeça inchada e brilhante, uma visão
tentadora que me deixava ainda mais faminta por ele. Sem hesitação,
inclinei-me para frente, envolvendo sua virilidade com meus lábios.
Adler soltou um suspiro profundo, seus dedos se enrolando em
meu cabelo enquanto eu o acariciava com a língua, saboreando cada
centímetro dele. Meus movimentos eram lentos e deliberados, buscando
provocá-lo, levá-lo ao limite do prazer.
Senti suas mãos em meu rosto, guiando-me com ternura,
encorajando-me a ir mais fundo, a tomá-lo completamente. Eu obedeci,
aumentando o ritmo, sentindo seu membro endurecer ainda mais em minha
boca. Não desviei os olhos dos seus, tornando o momento mais excitante.
Eu me sentia radiante ao proporcionar tanto prazer a Adler. Seus
gemidos roucos ecoavam pelo quarto, enquanto eu o levava cada vez mais
fundo em minha boca, mesmo com a dificuldade imposta pelo seu tamanho
generoso, sentindo o ardor nos cantos da boca e os olhos se encherem de
lágrimas.
— Sua boca é uma tentação, minha diaba, mas eu não vou gozar
nela, não ainda — ele falou, puxando meus cabelos e me colocando deitada
novamente na cama.
Com mãos ansiosas e desejosas de estarmos completamente nus,
arranquei sua camisa enquanto ele terminava de tirar meu vestido. Meus
dedos arranhavam seu peitoral, enquanto ele voltava a devorar meus seios,
seu pau pincelando minha entrada, provocando meu clitóris, levando-me à
loucura mais uma vez. Eu rebolava, faminta por mais.
— Adler — resmunguei, erguendo o corpo em busca de mais
contato.
— Já vou te dar o que você quer — ele prometeu, entrando em
mim de uma vez só, arrancando um grito de satisfação.
Adler não era gentil, era intenso e delicioso, empurrando com
força, indo fundo, me penetrando de uma maneira que me deixava
extasiada.
Gemi, gemi alto, sentindo minha garganta queimar enquanto era
levada ao ápice do prazer com suas investidas generosas e brutais.
Meus seios balançavam enquanto ele os apertava com força,
causando uma dor deliciosamente prazerosa antes de voltar a sugá-los,
aumentando minha sensibilidade ao máximo.
— Eu te amo, Giulia! — Declarou, mordendo meu lábio inferior.
— Eu também te amo, Adler... eu também te amo!
— Goza comigo — ordenou e, como se meu corpo estivesse em
sintonia com o dele, eu alcancei o clímax.
— Ahh! — Mordi seu lábio inferior com força, cravando as unhas
em suas costas.
— Porra, Giulia, como você é deliciosa... como eu te amo — ele
também alcançou o clímax, derramando jatos quentes do seu gozo dentro de
mim.

Envolvida pela serenidade da praia de Sylt, no cair da tarde,


caminhava devagar pela areia macia, sentindo o suave toque das ondas
acariciando meus pés descalços. Meu vestido leve ondulava com a brisa,
enquanto eu acariciava suavemente minha barriga, onde nosso bebê estava
crescendo.
Adler caminhava ao meu lado, segurando minha mão com firmeza
e ternura. Seu olhar transbordava de amor, e seus olhos brilhavam com a
mesma admiração que havia me conquistado desde sua primeira declaração.
— É simplesmente mágico — eu disse, apontando para o
horizonte, onde o sol começava a mergulhar no mar.
— Sim, é lindo, mas não se compara à sua beleza, meu amor. Você
está radiante hoje — ele me abraçou delicadamente.
Sorri, sentindo-me verdadeiramente feliz e amada por tê-lo ao meu
lado. Sentamo-nos juntos na areia, contemplando o mar enquanto as ondas
dançavam suavemente. Uma sensação de paz nos envolvia.
— Mal posso esperar para conhecer nosso pequeno ou pequena —
ele disse, colocando a mão sobre minha barriga com ternura. — Estou tão
ansioso para segurar nosso filho nos braços.
— Eu também — respondi, sentindo meu coração transbordar de
emoção. — Estou grata, enfim, somos uma família.
— Nada me faz mais feliz do que estar ao seu lado, Giulia — ele
sorriu, beijando suavemente minha testa.
Abraçamo-nos mais uma vez, perdendo-nos na beleza do momento
e no amor calmo e tranquilo que finalmente estávamos construindo.
Naquela praia, naquele instante, éramos apenas nós dois, permitindo-nos
viver as melhores experiências do amor e da expectativa pela nova vida que
estava por vir.
O dia tão esperado havia chegado, envolto em expectativas e um
leve nervosismo. O sol começava a pintar o horizonte quando Giulia
despertou com contrações, anunciando que nosso filho estava prestes a
nascer. Naquela madrugada, o mundo parecia suspenso em um silêncio
expectante enquanto nos preparávamos para receber o presente da vida.
Corri para o hospital, temendo o desconhecido e ansiando pelo
momento que tanto esperávamos. Giulia aparentava mais serenidade do que
eu, o que me trouxe um alívio momentâneo ao chegar ao hospital. Sabia que
estávamos em boas mãos.
Enquanto Giulia seguia para a sala de preparação, liguei para toda
nossa família, anunciando que o grande dia havia chegado.
Ao adentrar a sala, meu coração se apertou ao ver o semblante
sofrido de Giulia, embora seu sorriso me desse forças. Seus olhos
revelavam a intensidade da dor.
— Tem certeza de que quer o parto normal? — Perguntei,
temeroso por seu sofrimento.
— Tenho certeza — sua determinação era palpável, enquanto
segurava minha mão com firmeza, buscando conforto em meio à agonia do
momento.
Giulia demonstrava uma coragem que me inspirava. Ela enfrentava
as dores com uma serenidade admirável.
Porra, eu não queria que ela passasse por tanta dor.
— Você está indo incrivelmente bem, amor — eu disse, tentando
transmitir toda minha admiração.
— Obrigada por estar ao meu lado — ela sorriu, ainda que fraco.
— Sempre estarei ao seu lado, sempre — afirmei, beijando sua
testa suada.
As horas pareciam se arrastar, mas finalmente o momento chegou.
Com um esforço sobre-humano, minha esposa trouxe nosso filho ao mundo
e o som do seu primeiro choro inundou a sala, trazendo alívio e alegria para
todos nós.
— É um menino, um lindo menino — a médica informou.
— Ele está aqui — murmurei, mal conseguindo conter a emoção
ao ver nosso filho pela primeira vez. — Ele é perfeito! — Lágrimas quentes
escorriam pelo meu rosto.
Giulia sorriu em meio às lágrimas, exausta, mas radiante de
felicidade.
— Nosso pequeno — ela sussurrou, estendendo os braços para
segurar nosso filho pela primeira vez.
Segurei sua mão com carinho enquanto ela o acolhia, sentindo uma
onda de amor e gratidão me envolver.
— Eu te amo, Giulia. Obrigado por esse presente. Obrigado por
tudo. Você mudou minha vida. Nunca me senti tão vivo como estou me
sentindo agora. Eu te amo demais e juro por tudo que é mais sagrado nesse
mundo, viverei para te fazer feliz — beijei seus lábios, os olhos repletos de
lágrimas.
— Eu te amo, Adler. Somos uma família!
Nosso pequeno voltou a chorar, demonstrando toda sua vitalidade.
Naquele momento, eu soube que nossa vida nunca mais seria a mesma.
Rocco havia acertado novamente a aposta de milhões, prevendo
que seria nosso pequeno Leon. Começávamos a suspeitar que ele subornava
os médicos para obter essa informação, pois era difícil acreditar que alguém
pudesse ter tanta sorte em seus palpites.
Eles ficaram hospedados em nossa casa por vinte dias, Luara foi de
grande ajuda para Giulia nesse início turbulento. Leon era um bebê voraz,
sempre mamando e raramente dormindo, o que nos deixava exaustos.
Da porta do quarto, observei minha esposa se acomodando na
poltrona de amamentação, nosso filho aninhado em seus braços. Ela
irradiava serenidade e amor, enquanto se preparava para alimentar nosso
pequeno.
Um sorriso se formou em meus lábios ao ver como Leon sugava
com avidez os seios de Giulia, faminto por cada gota de amor materno. Meu
pequeno era esperto e aquilo me enchia de orgulho.
Giulia percebeu minha presença e me lançou um beijo carinhoso.
Aproximei-me e sentei-me ao seu lado, contemplando aquela cena com
admiração. A conexão entre uma mãe e seu filho era algo verdadeiramente
belo.
— Você é incrível! — Elogiei, sentindo meu coração transbordar
de amor e admiração por ela. — Ver você cuidando tão bem do nosso filho
é a coisa mais linda que já vi.
— Ele é tudo para mim — ela murmurou, a voz embargada pela
emoção. — Não consigo mais imaginar minha vida sem ele.
— Eu também não consigo imaginar minha vida sem vocês.
Giulia sorriu, os olhos brilhando com ternura.
Minha esposa era perfeita em todas as facetas da vida, mas como
mãe, ela havia se transformado na sua versão mais bela e genuína. Era
emocionante observar Giulia, agora tão madura, cuidadosa e amorosa com
nosso pequeno. Era um retrato de amor puro e incondicional, e eu me sentia
infinitamente grato por fazer parte daquela família.
Ela havia terminado de amamentá-lo, e eu o peguei, colocando-o
para arrotar enquanto Giulia se encaminhava para tomar um banho e se
alimentar. Nosso pequeno praticamente adormecia em meus braços, seus
dedinhos se movendo suavemente em gestos involuntários.
— Incrível, não é, filho? — Murmurei suavemente, sabendo que
ele ainda não compreendia minhas palavras, mas sentindo a necessidade de
expressar meus pensamentos. — Você acabou de chegar a este mundo, e já
trouxe tanta luz para nossas vidas.
Leon emitiu um chorinho suave, e eu me levantei, balançando-o
gentilmente.
— Você ainda tem muito para descobrir aqui, muitas aventuras
para viver e muitas histórias para contar. E eu estarei aqui a cada passo do
caminho, para te guiar, para te apoiar, e para te amar incondicionalmente.
Sorri enquanto observava sua respiração tranquila, maravilhado
com a pureza e a inocência que ele representava.
— Você é o nosso amor que transbordou, filho. E mesmo que as
palavras não possam descrever completamente o amor que sinto por você,
saiba que você é o maior presente que já recebemos. E que você é o cara
mais sortudo do mundo por ter uma mãe tão incrível como ela.
Silenciei-me, pois Leon já havia adormecido e eu não queria
perturbá-lo. Sorri, emocionado e transbordando gratidão por ter uma família
tão linda e incrível. Nunca imaginei vivendo tantas coisas maravilhosas.
Nunca pensei que fosse ser tão feliz nesse casamento.
Eu fui um grande idiota e passarei o resto da minha vida me
redimindo com Giulia.
O amor se constrói, ele não nasce de uma hora para outra; não
acredito ser possível amar à primeira vista. Você pode se apaixonar, sentir
atração, mas o amor não. O amor nasce da convivência. A gente ama o que
conhecemos da pessoa. Foi assim que meu amor por Giulia nasceu, cresceu
e hoje transborda.
Ela segurou minha mão, tirou-me do abismo que eu mesmo criei, e
mostrou-me as maravilhas do amor. Se eu não fosse tão tolo, teria vivido
isso antes, mas tudo bem, antes tarde do que nunca. Graças a Deus por
Giulia ser uma mulher bondosa, por me amar e me dar mais uma chance. A
última chance, pois não precisarei de mais nenhuma, acertarei para nunca
mais errar com ela.
A diaba é a mulher da minha vida, e eu viverei para ela e nossa
família.
Entro em casa, deixando meus saltos pelo caminho, após um dia
exaustivo no consultório, e sou recebida pelas risadas contagiantes dos
meus filhos, que estão na sala de jantar.
Adler se acostumou a preparar o jantar para as crianças todos os
dias, envolvendo-as na cozinha como suas ajudantes. Ele tem todo o
cuidado necessário para que elas não se machuquem e, juntos, fazem uma
verdadeira festa. No final, a refeição sempre está divina.
Não sei como descrever meu marido, o novo Adler, que a cada dia
me surpreende mais. Foi uma mudança incrível, uma transformação da água
para o vinho, que tem enchido meu coração de amor a cada dia do nosso
casamento.
Quando Leon completou dois anos, descobri que estava grávida
novamente e foi uma alegria imensa. Passamos por todas as emoções do
parto novamente, entre angústia, ansiedade e pura felicidade. Sofie nasceu
linda, saudável e é minha cópia fiel em tudo, enquanto Leon se parece mais
com o pai.
Sofie é mimada e tem o pai na palma da mão, mas tem um coração
enorme e é muito carinhosa. Já Leon é mais reservado, centrado e
observador. Atualmente, ele está com oito anos e Sofie fará seis na próxima
semana. Junto com os filhos de Luigi, são as paixões dos meus pais, que os
recebem para férias todos os anos.
Eu e Adler pensamos em ter mais um filho quando Sofie tinha dois
anos, mas nessa altura eu já estava focada na faculdade.
Surpreendentemente, decidi cursar psicologia e hoje sou terapeuta de casais.
É minha verdadeira paixão. Descobri minha vocação através das terapias
que eu e Adler fizemos. Vendi a empresa que antes pertencia a Helga e
passou a ser minha, investindo o dinheiro em meu consultório.
A faculdade não apenas me ajudou na vida profissional, mas
também na pessoal.
— Mamãe! — Sofie gritou ao me ver, estendendo os bracinhos
enquanto estava presa em sua cadeirinha.
— Oi, meu amor! — Aproximei-me, dando-lhe um suave beijo na
cabeça. — Oi, filho — cumprimentei também Leon, beijando sua cabeça
carinhosamente.
— Oi, mãe — ele respondeu com um breve sorriso.
Encarei meu marido, que estava encantador com um avental
enrolado na cintura e uma tigela nas mãos, servindo nossos filhos.
— Oi, meu amor! — Fiquei na ponta dos pés para dar-lhe um beijo
rápido, ouvindo as crianças exclamarem “que nojo”.
Nós dois rimos, observando Sofie cobrir os olhos com as mãos e
Leon revirar os olhos.
— Senti a sua falta — Adler sussurrou, sorrindo.
Era o que ele sempre dizia, todos os dias, e isso me fazia um bem
danado, pois me sentia amada.
Me sentei e jantamos juntos, entre risadas e muitas brincadeiras.
Era assim todos os dias: especiais, felizes, transbordando amor.
Passo a tarde fora, e Adler é quem busca nossos filhos na escola,
ficando com eles até eu chegar. Optamos por não ter babás, e
surpreendentemente temos dado conta. Adler passa mais tempo em casa
com eles, e quando precisa sair para alguma missão urgente da máfia, deixa
as crianças com tia Alice e tio Enzo, embora isso aconteça raramente.
Pela manhã, ficamos todos juntos em casa, desfrutando de
momentos de qualidade com as crianças. Eu as levo para a escola, e Adler
as busca. Nossa rotina, apesar de corrida, é satisfatória.
Juntos, nós construímos um lar cheio de risos, amor e
compreensão. Cada dia é uma aventura, cada desafio é uma oportunidade de
crescimento e aprendizado.
Após o jantar e uma deliciosa sobremesa preparada por meu
marido, demos banho nas crianças, lemos uma história e ajudamos Leon
com suas atividades escolares. Finalmente, colocamos os pequenos para
dormir, tendo um momento a sós para nós dois.
Tomamos banho juntos, cheios de carícias e, ao deitarmos na cama,
Adler já veio me envolvendo, mordendo e beijando meu pescoço.
— Espera, tenho algo para te contar — falei, rindo com a cócega
que sua barba fazia.
— É muito urgente? Ou pode esperar um orgasmo? — Ele
perguntou com um sorriso malicioso, mas eu estava ansiosa para
compartilhar a novidade.
— É importante — respondi, resistindo à tentação do momento.
— Então, me conta — ele disse, encarando-me com curiosidade.
— Hum... — fiz uma careta, antes de soltar a notícia. — Lembra
que conversamos sobre aumentar nossa família? — Ele assentiu. — E se eu
te disser que isso está acontecendo?
Seus olhos se arregalaram levemente em surpresa antes de se
encherem de pura alegria.
— Você está grávida? — Ele perguntou, seus olhos brilhando.
Assenti, sorrindo boba. Ele me abraçou com força, envolvendo-me
em um calor reconfortante.
— Isso é incrível, amor! — Ele murmurou, a emoção clara em sua
voz. — Eu amo ser pai, amo demais — beijou-me. — E amo você, minha
diaba, você me faz o homem mais feliz do mundo!
— Eu também te amo, meu amor. — retribuí o beijo, brincando. —
Mas agora você me deve um orgasmo delicioso — Adler riu, um som que
eu adorava ouvir.
Apesar de meu marido ser reservado quanto a expressar
verbalmente seu amor, ele demonstra todos os dias com gestos carinhosos
conosco. Em seu cuidado e carinho pela nossa família, vejo o quanto ele me
ama.
Adler prometeu que eu nunca mais choraria de tristeza, e tem
cumprido fielmente essa promessa. Desde que nos acertamos, tudo é
alegria. Claro, como todo casal, temos nossos desentendimentos, mas nunca
mais houve mágoas profundas. E não passamos uma noite sequer brigados.
Tudo se resolve no mesmo dia, sem guardar rancor.
Sua mudança foi inspiradora, e sinto-me honrada por tê-lo ao meu
lado, compartilhando cada vitória e desafio.
Nossa vida não é perfeita, mas é perfeita para nós. Cada dia é uma
nova aventura, uma oportunidade de crescer, aprender e amar mais
profundamente. E enquanto Adler desce uma trilha de beijos por meu
corpo, demorando-se na minha barriga, onde a beija com devoção, sei, sem
sombra de dúvida, que o melhor ainda está por vir. Pois juntos, como uma
família unida pelo amor, não há limites para o que podemos alcançar.
Hoje sou feliz como nunca imaginei que seria.
Sou realizada em todos os aspectos da minha vida e não poderia
ser mais grata.
E assim, com o coração transbordando de amor e gratidão, tenho a
certeza de que é no calor do amor, na alegria dos dias simples, que
encontramos o verdadeiro tesouro da vida. Neste momento, neste lugar, sou
completa.

FIM.
— Porra, não sei por que aceito essas coisas — Enzo resmungou,
enquanto todos ríamos da sua situação.
— Porque você é o tio avô mais legal de todos, esqueceu? — Falei,
soltando uma risada.
— Ah, que piada, hein? Quem devia estar aqui era você, Adler! —
Enzo reclamou, com um bico nos lábios.
— Para de reclamar, Enzo! — Renzo o repreendeu, segurando o
riso. — Agora deixa eu tirar uma foto sua — pegou o celular e clicou. —
Como você está ridículo! — Zombou, exibindo a foto para todos.
— Eu vou quebrar a sua cara, Renzo! — Enzo partiu para cima
dele, mas ficou todo desajeitado por causa da fantasia, arrancando ainda
mais gargalhadas de todos nós.
— Vai lá fazer a Marie feliz, Enzo, não liga pra esses idiotas —
Rocco falou, segurando o riso.
Marie, minha filha mais nova, estava fazendo dois anos hoje. Ela
escolheu o vovô Enzo, como ela o chamava, para ser o urso em sua festa
com tema de Marsha e o Urso. Eu agradeci internamente por isso. Rocco
também.
Na festa, ele era o alvo das piadas e das fotos. Meu irmão estava
claramente incomodado, mas eu só conseguia rir da sua desgraça, com
Renzo provocando-o sem parar. Meu irmão estava provando do próprio
veneno.
Após o parabéns, os homens se reuniram para beber enquanto as
mulheres se divertiam e as tias da recreação brincavam com as crianças.
— Cara, não sei como aguentei isso, que calor infernal! — Enzo se
jogou na cadeira, tirando a fantasia. — O que foi, Renzo? Tá procurando
um dentista? Toda hora mostrando esses dentes aí — reclamou, irritado.
— Cadê seu senso de humor, grande brincalhão? Parece que tá
ficando velho e rabugento, hein? — Renzo continuou provocando.
— Vai se ferrar! — Meu irmão, infantil como sempre, mostrou o
dedo do meio.
— Vocês nunca vão parar com isso? — Theo perguntou.
— Nunca! — Eles responderam em uníssono.
— Melhor vocês se acostumarem a ignorá-los, é o único jeito —
Rocco aconselhou.
— Renzo e Enzo, a dupla dinâmica — Luigi brincou.
Eu ignorei todos, enquanto saboreava minha bebida, observando
minha esposa. Giulia estava linda, e eu não conseguia parar de admirá-la.
As curvas que ela adquiriu após três gestações a deixaram ainda mais
deslumbrante. Minha mulher era incrível, e eu um completo apaixonado e
ciumento.
Porra, eu nem conseguia imaginar a vida sem ela. Estava ficando
velho, e ela cada dia mais linda.
— Olha só o babão ali, não tira os olhos da esposa — Enzo
provocou, como sempre.
— Ah, me erra, Enzo!
— Tá ficando velho, Adler, precisando de uns remedinhos aí para
ajudar? — Ele continuou, arrancando risadas dos outros.
— Por que, Enzo, você já tá precisando? — Eu nem precisei
responder, porque Renzo se adiantou.
— Eu não, mas achei uns na sua carteira — meu irmão rebateu, e
Renzo ficou furioso. — Não vem mentir, Renzo, a gente sabe que você não
dá conta mais sem a ajuda de um remedinho.
Renzo partiu para cima do meu irmão, e precisamos intervir. Foi
uma confusão só, com todo mundo se xingando, mas no final estávamos
todos juntos de novo, rindo e nos provocando.
Era sempre assim, encontros caóticos, cheios de risadas e
confusões.
Apesar de tudo, eu amava essa família que me acolheu de coração
aberto.
Amava a família que eu construí.
Amava, era louco, apaixonado e completamente rendido pela
mulher que me mudou completamente e me apresentou um novo mundo. O
mundo mais incrível que eu já pude vivenciar, onde todos os dias sou
presenteado com o mais puro e verdadeiro amor.
Se há uma vida melhor do que a de pai e esposo apaixonado, eu
desconheço.

Agora sim, FIM.


Caros leitores,
À medida que concluo esta narrativa, sinto-me profundamente
grata por sua companhia ao longo desta jornada literária. Cada página
escrita foi uma viagem emocional, e sua presença enriqueceu
significativamente essa experiência.
Quero expressar minha sincera gratidão por dedicarem seu
precioso tempo e energia para embarcar nesta aventura comigo. Espero que
tenham encontrado momentos de inspiração, reflexão e entretenimento ao
longo do caminho.
Obrigada por permitirem que esses personagens e suas histórias
povoassem sua imaginação e tocassem seus corações. Se esta narrativa
conseguiu despertar alguma emoção em vocês, então considero minha
missão cumprida.
Gostaria de expressar meu profundo agradecimento novamente a
Val, cujo apoio inabalável tem sido uma constante nesta longa jornada.
Também agradeço a Joelma, cuja delicadeza e cuidado ao revisar minhas
obras são inestimáveis. À minha família, que permanece ao meu lado em
todos os momentos, quero transmitir meu amor e gratidão.
Que estas palavras finais sirvam como um lembrete do quanto
valorizo sua leitura e apoio. Que possamos nos encontrar novamente em
outras páginas, em outras histórias, compartilhando novas aventuras e
experiências.
Com toda minha gratidão,
Ane Le.
Uma dívida entre as máfias Russa e ‘Ndrangheta, resultou em um
casamento como pagamento.

Luara cresceu com espírito livre, sonhadora e não imaginava que uma
tempestade estava para chegar. Sofreu a maior decepção da sua vida quando
descobriu que o seu pai, o homem que sempre acreditou ser o seu herói, deu
a sua mão em casamento quando ela ainda era um bebê para o homem que
hoje era considerado o mais temido de todos os tempos, como quitação de
uma dívida.
Ela estava prestes a entrar para a escuridão, já que estava de casamento
marcado com o Don da máfia mais temida e poderosa de toda a Itália,
conhecido por seus inimigos como Diabo.
E agora, o que ela faria ao saber que tinha uma passagem apenas de
ida para o inferno?
LEIA AQUI

Melanie Salvatierra é uma jovem de apenas 17 anos, que foi criada por seu
pai, o Capo da máfia mexicana. Ela nunca havia saído de casa, foi criada
numa redoma até o seu pai descobrir que lhe restavam poucos dias de vida.
Num ato desesperado de deixar a sua filha protegida, o Capo mexicano
selou um acordo com a máfia italiana, prometendo a sua única filha em
casamento para o subchefe.
O Subchefe da máfia italiana, Renzo Caccini, é um homem de 34 anos, frio
e calculista. Ele executa os serviços mais sujos e silenciosos dentro da
organização. Conhecido por todos como “a morte”, ele é um exímio
matador.
Sua vida era organizada e tranquila, mas tudo mudará quando uma
ruiva, dezessete anos mais nova, passar a ser sua responsabilidade.
Ao completar a maioridade, Melanie é obrigada a se casar com Renzo e
mergulhar de cabeça na escuridão do subchefe sombrio e gélido.
Revelações serão feitas e ela descobrirá que toda a sua vida foi uma
completa mentira.
LEIA AQUI
Alice Caccini nasceu em berço mafioso. Única menina no meio de dois
irmãos superprotetores, ela era a princesa da máfia mais poderosa de toda a
Itália.
Mas engana-se quem pensa que ela amava fazer parte dessa organização.
Tudo que Alice mais sonhava era em viver uma vida normal.
Proporcionando regalias para ela, Alice sempre ficou escondida de toda
sujeira e sua família a mandou para Milão, com intuito de que ela estudasse
e realizasse o sonho de se tornar uma famosa estilista. Adotando uma nova
identidade para não correr perigo, finalmente ela se sentia livre e apesar das
regras impostas por sua família, Alice pensou estar vivendo a sua tão
sonhada vida normal.
Até que um dia ela encontrou um homem que chamou a sua atenção e a
atração foi instantânea.
Alice não pensava em se envolver com ninguém, mas como resistir a um
homem tão educado, gentil, galante, engraçado e bonito?
Ele era o combo perfeito para que ela vivesse o seu conto de fadas… mas o
que Alice não podia imaginar, era que por trás daquela fachada de bom
moço, escondia um mafioso perigoso.
Alice pensou que estava segura ao fugir daquele homem, mas após alguns
anos ele voltou para tomar o que era dele: ELA!
LEIA AQUI
Herdando o trono da máfia italiana, aos 25 anos, agora é a vez de Luigi
Caccini mostrar o seu valor e o sangue mafioso que corre em suas veias,
assumindo suas obrigações dentro da organização, como o novo Don.
Luigi foi ensinado desde cedo sobre a importância da honra e lealdade à
família. No entanto, se vê no epicentro do conflito quando seu pai escolhe a
sua futura esposa.
Criado por um mafioso cruel e uma mãe dócil. Seria ele capaz de governar
a máfia tão bem quanto o seu pai?
Jasmine Marino é a filha do chefe da segurança da família Caccini. Uma
menina doce, que está prestes a completar dezoito anos. Sempre foi
obediente ao seu pai e nunca descumpriu suas regras.
Ela cresceu sabendo que se casaria com um homem escolhido por sua
família. Mas o que ela não podia imaginar era que teria que se casar com o
novo Don, herdeiro do trono e mais conhecido como “Filho do Diabo”.
LEIA AQUI
Ele é um mafioso impiedoso.
Ela foi salva por ele.
Ele é sombrio.
Ela o considera um anjo.
Chiara Collalto foi salva pelo Don quando tinha apenas 12 anos e, desde
então, é mantida sob os seus cuidados.
Lucca Savoia é um homem implacável nos negócios. Com um
temperamento difícil e de poucas palavras, ele não tem paciência para os
assuntos do coração.
Em uma noite turbulenta, ao ir à casa de um traidor, Lucca se depara com
uma linda menina de cabelos longos correndo em sua direção, caindo nos
seus braços.
O mafioso frio se torna o protetor da linda menina de olhos expressivos.
LEIA AQUI

Lorenzo Savoia é o subchefe da máfia italiana. Um homem de 34 anos, que


não acredita no amor e aprecia sua vida de libertinagem.
Acostumado a ter uma, duas ou até mais mulheres na cama, ele nunca se
contentou com apenas uma.
Até ela chegar...
Giovanna Ferri foi salva pelo subchefe e agora pertence a ele.
Após a morte dos seus pais, foi levada por seu tio para o convento, onde
ficou até completar 21 anos.
Ela estava em completo desespero por seu tio dá-la como esposa a um
homem trinta anos mais velho.
Até que ele chegou...
Lorenzo não queria uma mulher dentro da sua casa, ainda mais uma mulher
tão desorganizada como Giovanna.
Em meio ao caos da convivência, eles descobrem que o amor não bate na
porta, ele entra sem pedir licença.
LEIA AQUI

AGE GAP + GRUMPY x SUNSHINE + SLOW BURN

Eles eram o oposto um do outro. Ele tinha a vida feita; ela estava
começando a viver; ela sorria à toa; ele quase não ria; ela amava cores; ele
detestava; ela era a alegria em pessoa; ele, a seriedade; ela era o furacão e
ele a calmaria. Estilo de vidas diferentes, gênios diferentes, mas havia algo
em comum entre os dois: a atração inegável que um sentia pelo outro.
Vincent O’Connel é um homem frio e autoritário. Aos 42 anos, Tenente-
coronel das forças armadas, vê sua vida virar de cabeça para baixo ao sofrer
um acidente na última missão. Ferido, teve que se afastar das suas funções
para se recuperar da lesão. Procurando calmaria para passar sua estadia
enquanto se recuperava, ele foi morar numa cidadezinha do interior. O que
o Tenente não esperava era que um furacão de um metro e meio, cabelos
cor de fogo, corpo curvilíneo, 17 anos mais nova e com uma língua afiada
fosse aparecer no seu caminho bagunçando toda a sua vida organizada.
Briella Moore tem apenas 25 anos e uma mãe narcisista que durante todos
esses anos controlou a sua vida, mas finalmente ela criou coragem para
seguir o seu próprio caminho e foi parar numa cidadezinha com poucos
habitantes, para recomeçar. O que Briella não poderia imaginar era que o
seu vizinho da frente era um homem incrivelmente gato e mal-humorado,
que lhe atrairia à primeira vista.
Ela só queria recomeçar uma vida tranquila, mas tudo mudou quando ela
passou a desejar loucamente se perder nos braços musculosos do seu
vizinho.
LEIA AQUI

[i]
BDSM é um acrônimo que engloba uma variedade de práticas eróticas e sexuais consensuais. A
sigla se refere a:
Bondage e Disciplina (BD): Envolve o uso de amarras, restrições físicas ou psicológicas para criar
sensações de dominação ou controle.
Dominação e Submissão (DS): Explora dinâmicas de poder, com um parceiro assumindo um papel
dominante (dom) e o outro um papel submisso (sub).
Sadismo e Masoquismo (SM): Envolvem práticas que causam ou recebem dor, sendo o sadismo
associado ao prazer em infligir dor e o masoquismo ao prazer em recebê-la.
O BDSM é praticado entre adultos que consentem e é baseado em comunicação, respeito mútuo e
limites estabelecidos. É importante destacar que a segurança, a consensualidade e a sensatez são
pilares fundamentais dessas práticas.
[ii]
"Verdammt nochmal" em alemão é uma expressão que pode ser traduzida aproximadamente para
"maldição" ou "droga". É uma forma de expressar frustração ou irritação em situações desafiadoras.

[iii]
É uma fina fatia de carne, geralmente de porco, mas também pode ser de frango ou vitela, que é
batida, empanada e frita até ficar dourada e crocante por fora, e macia por dentro.

[iv]
Sylt é a maior das Ilhas Frísias. Fica no estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha.

Você também pode gostar