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2 RENZO (Imperio Familia Caccini) - ANE LE

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Copyright © 2023 Ane Le

Todos os direitos reservados.

Capa: Vic_designer_
Revisão: Amanda Mont’Alverne Diagramação: Ane Le Imagens: Canva

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos são produtos da imaginação da autora. Quaisquer
semelhanças com nomes, datas e acontecimentos reais são mera
coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


desta obra, através de quaisquer meios tangível ou intangível sem o
consentimento escrito da autora.

Plágio é crime.
A violação autoral é crime, previsto na lei nº 9.610/98, com
aplicação legal pelo artigo 184 do código penal.

Criado no Brasil.

Obra registrada.
SUMÁRIO

Copyright © 2023 Ane Le


SUMÁRIO
SINOPSE
NOTAS DA AUTORA
DEDICATÓRIA
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo
Agradecimentos
Mais obras da autora
SINOPSE

Melanie Salvatierra é uma jovem de apenas 17 anos, que foi


criada por seu pai, o Capo da máfia mexicana. Ela nunca havia saído de
casa, foi criada numa redoma até o seu pai descobrir que lhe restavam
poucos dias de vida. Num ato desesperado de deixar a sua filha protegida, o
Capo mexicano selou um acordo com a máfia italiana, prometendo a
sua única filha em casamento para o subchefe.

O Subchefe da máfia italiana, Renzo Caccini, é um homem de 34


anos, frio e calculista. Ele executa os serviços mais sujos e silenciosos
dentro da organização. Conhecido por todos como “a morte”, ele é um
exímio matador.

Sua vida era organizada e tranquila, mas tudo mudará quando uma
ruiva, dezessete anos mais nova, passar a ser sua responsabilidade.
Ao completar a maioridade, Melanie é obrigada a se casar com
Renzo e mergulhar de cabeça na escuridão do subchefe sombrio e gélido.
Revelações serão feitas e ela descobrirá que toda a sua vida foi uma
completa mentira.
NOTAS DA AUTORA

Olá, meu querido leitor, tudo bem? Que bom tê-lo por aqui, seja
mais uma vez, seja a primeira vez!

Peço, por favor, que antes de iniciar a leitura, leia essa nota e se
atente aos gatilhos presentes neste livro.
Primeiramente gostaria de agradecer por escolher esse livro para ler
e também lembrá-lo que esse é o 2º livro da série família Caccini. O
primeiro livro você pode ler clicando aqui: ROCCO - Império família
Caccini
Diante disso, preciso deixar claro que esta é uma história de
romance dark e com alguns temas que podem gerar gatilhos como: traição,
morte, violência psicológica, tortura e uso de drogas lícitas e ilícitas.

Lembrando também que é um Age Gap, onde o nosso vilão — não


podemos chamá-lo de mocinho, rs — tem uma diferença significativa de
idade com a nossa mocinha.

Renzo é um homem difícil por ser muito frio, mas dê-lhe uma
chance de mostrar que o amor mudará a sua percepção de vida. Nossa
mocinha é forte e fará do limão, uma doce limonada.

Garanto que não irá se arrepender se escolher levar essa leitura até o
final.

Se em algum momento da leitura você se sentir desconfortável,


abandone-a e procure algo mais leve para ler. Considere sempre a sua
saúde mental.
Finalizando, é preciso lembrar que esse livro não é recomendado
para menores de 18 anos, pois além dos temas já mencionados, contém
cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão.
Atenção: Realizo algumas pesquisas para trazer mais autenticidade
à história. No entanto, alguns eventos e acontecimentos são criados para dar
melhor coerência e proporcionar emoções ao leitor.

Espero que aprecie, boa leitura.


DEDICATÓRIA
A todas as Melanie’s da vida, que mesmo com medo, atearam fogo
em si mesmas, viraram cinzas e renasceram.
Capítulo 1

Melanie Salvatierra

— No puedes hacerme esto, por favor, papá.[i]

— Hija, sera mejor.[ii]

— Mejor para quien, papi?[iii]

Continuávamos a brigar constantemente desde que ele me disse que


eu teria que me casar.

— Me iré en cualquier momento, no puedo dejarte solo.[iv]

— No estaré solo, tengo a Giovanni.[v]

— No discutas más conmigo, Melanie, ve a tu habitación.[vi]

— Te amo papá, pero no te perdonaré por esto[vii] — disse com o


coração dilacerado, sentindo-me extremamente chateada com ele.

— No digas tonterías, chica.[viii] — Papai também parecia chateado,


mas irredutível quanto ao casamento.

Subi as escadas correndo, entrei no meu quarto, fechei a porta e


escorreguei, sentando-me no chão e chorando bastante. Não consigo
acreditar que o meu pai me entregou de bandeja para uma mafioso, logo ele,
que sempre prometeu me deixar fora de toda essa confusão.

Eu não tenho amigas, nunca fui para escola, estudei em casa a vida
inteira. Meu pai queria me proteger de tudo e de todos, mas agora eu te
pergunto, para quê? Para me entregar depois para um mafioso cruel? Não
consigo entender o que ele está querendo fazer.

Sei que meu pai está doente e que a qualquer momento ele pode
morrer, e isso me dói profundamente, ele é tudo que tenho nessa vida. Mas
não consigo aceitar que ele me entregou a um desconhecido, meu coração
sangra só de imaginar minha vida sem meu pai e pior ainda, minha vida nas
mãos de um monstro.

Meu pai me criou sozinha, minha mãe morreu ao me dar a luz e esse
é o meu maior medo ao gerar uma criança. Não que meu pai não tenha me
criado bem, muito pelo contrário, ele fez de tudo para amenizar a falta que
minha mãe faz na minha vida, mas mesmo assim é um vazio que ninguém
consegue preencher.

Mesmo sem nunca tê-la conhecido, sinto muito a sua falta. Queria
ter compartilhado com ela todas as coisas que meninas compartilham com a
mãe, mas eu nunca tive uma figura materna em minha vida. Meu pai nunca
mais se casou. Ele a amava muito e ainda a ama. Às vezes o pego sofrendo
por sua falta.

— Mel? — Escutei Giovanni bater na porta, chamando-me.

Meu coração acelerou. Ele era meu segurança desde quando eu tinha
12 anos e tenho uma quedinha por ele, mas Giovanni só me enxergava
como uma pequena criança.

Me levantei, enxuguei o rosto com o dorso da mão e abri a porta.

— Oi?

— Você está bem?


— Você já sabia? — questionei e a cara que ele fez dispensava
qualquer resposta. — Por que não me disse?

— Não podia, eram ordens do seu pai — explicou-se.

— Eu estou perdida, Giovanni. — Puxei o ar com força, evitando


cair no choro novamente.
— Vai ficar tudo bem.

— Você o conhece?

— Sim.

— E como ele é?

— Como ele é o que, Mel?

— Fisicamente.

Entendo que beleza não é tudo, mas sei que ele é uns bons anos mais
velho do que eu e tenho medo de que seja pavoroso.

— Se ele é bonito? — Assenti. — Sei lá, não reparo nessas coisas


em homem, não. Só sei que ele é muito velho para você.

Ai, Jesus! Será que ele é um daqueles velhos barrigudos? Não, meu
pai não faria isso comigo… faria?

Balancei a cabeça de um lado para o outro.

— Só queria saber como ele é. — Dei de ombros. — O que falam


dele? — perguntei curiosa.

— Melhor você nem saber. — Ele se virou para sair do quarto, mas
segurei no seu braço.
— Não, por favor, eu quero saber — insisti. — Eu tenho esse direito
— tentei convencê-lo.

— Alguns o chamam de “a morte”.

Senti meu corpo inteiro se arrepiar.

— Por que?

— Ele é um matador profissional, muito temido por outras máfias.


O Don sempre manda ele fazer trabalhos que ninguém consegue executar.
Ele é conhecido assim por entrar, eliminar suas vítimas e sair sem que
ninguém o veja. Dizem que ninguém nunca escapou das suas mãos. Quando
ele é destinado a matar alguém, sem dúvidas, essa pessoa vai morrer.

— Meu Deus! — Levei a mão na boca. — Meu pai não podia ter
feito isso comigo. — Andei de um lado para o outro. — O que vai ser da
minha vida agora?

— Olha, Mel… essas coisas são só histórias que as pessoas contam.


— Tentou amenizar o estrago que já estava feito. — Contudo, não acreditei
quando o seu pai me disse. Não acho legal ter ele no comando da máfia
mexicana.

— Meu pai disse que é por isso que tenho que me casar, eu não
posso comandar a máfia por ser mulher.

— Mas eu poderia te ajudar. Não sei porque seu pai colocou esse
cara no comando; — Giovanni pareceu estar mais indignado com o fato do
cara comandar a máfia do que eu estar me casando com esse monstro.

— Poxa, Giovanni, eu estou cagando para essa merda de máfia!


Estou preocupada comigo e você aí, se importando com quem vai comandar
a máfia?.
— Foi mal, Mel. É claro que estou preocupado com você. — Puxou-
me para um abraço.

Acabei deixando as lágrimas rolarem. Minha vida nunca mais vai


ser a mesma, essa é a única certeza que eu tenho.

Hoje é o meu noivado e eu passei o dia todo chorando. Podem falar


que é drama, mas eu não consigo evitar. Minha vida não poderia estar pior.
Além da questão do casamento, meu pai está cada dia mais doente e eu não
posso fazer nada, isso me entristece demais.

Eu e ele discutimos todos os dias pelo mesmo motivo: o casamento


que arranjou para mim. Eu ouvi tantas coisas horríveis a respeito do meu
noivo que não consigo aceitar que meu pai, o homem que tanto amo nessa
vida, teve coragem de fazer isso comigo.

— Melanie, é hora de descer — meu pai apareceu na porta, me


informando.

— Eu não vou! — Bati o pé no chão, fazendo pirraça igual criança,


mesmo que meu pai estivesse do outro lado da porta e não pudesse me ver.
— Você não tem escolha. — Deu mais dois tapas fortes na porta.
— Eu tenho sim, não vou descer, não vou noivar e muito menos me
casar com esse monstro.
— Sempre fiz de tudo por você, mas não me desobedeça e muito
menos me falte com respeito. Estou falando que você vai e ponto final. Não
me obrigue a fazer o que eu não quero, Melanie.

— O que você vai fazer, papai? Vai me bater? Tudo bem. Uma surra
não é nada perto do que fez com a minha vida. Você vai me entregar de
bandeja para um monstro.

— Você tem dez minutos para descer — avisou. — Te encontro lá


embaixo. Não teste minha paciência. Sempre fui um ótimo pai e nunca
encostei em você, mas para tudo se tem a primeira vez. Não estamos
brincando aqui, Melanie, aquelas pessoas que estão lá embaixo são
perigosas, não teste a paciência deles.

Tudo ficou em silêncio, anunciando que ele já havia partido. Que


ódio! Estava me sentindo traída pelo o meu próprio pai… que sensação
horrível.

Ao longo desses dias eu fui pesquisando e procurando informações


sobre o meu noivo. Preciso saber onde estou pisando, né? Pois bem, não
encontrei nada, nada, sabe o que é nada de bom? Então. Ninguém fala bem
desse cara. A única explicação plausível para o meu pai ter feito isso é que
ele ficou louco, caducou de vez.

Eu já refiz essa droga de maquiagem umas quinze vezes, mas toda


vez que me lembro dessa merda, começo a chorar e estrago tudo
novamente.

Respira fundo, Melanie, você é forte, você tem que ser forte.
— Filha abre, sou eu. — Escutei meu pai bater na porta novamente
— Trouxe uma pessoa para falar com você. — Conclui ser alguém de fora,
porque ele estava falando em inglês. Seria o meu noivo?

Essa probabilidade deixou-me ainda mais apavorada.

— Não quero falar com ninguém, pai, eu não vou descer — afirmei
com afinco.

— Oi, Mel. — Não consegui reconhecer essa voz, mas era doce. —
Me chamo Luara, eu gostaria de conversar com você, apenas conversar, não
vou pedir para que desça sem ser da sua vontade, só quero conversar um
pouquinho com você.

Penso um pouco. Luara, Luara, tento me lembrar desse nome, eu já


ouvi... claro! A mulher do Don. Lembro de ouvir meu pai e Giovanni
comentando algo sobre esse casamento.

Não posso deixar a esposa do Don esperando, então corri para abrir
a porta e, para a minha surpresa, me deparei com uma linda menina, ela era
jovem, totalmente diferente do que eu imaginava.
Capítulo 2

Melanie Salvatierra

Conversei com a mulher do Don Caccini e ela era uma mulher


educada e muito carinhosa, me encorajou a descer e enfrentar os meus
medos de frente, mas não me julgou por estar apavorada, afinal, pelo o que
ela me contou, passou pela mesma situação. A única diferença é que ela foi
dada como pagamento de uma dívida, e eu, porque o meu pai estava à beira
da morte.

Que ironia, não? É até ridículo associar, mas o meu pai estava à
beira da morte por uma doença, já eu, estou porque ele me entregou.

Respirei fundo, retoquei a maquiagem e me preparei para descer. É


hora de encarar essas pessoas e fazer a minha melhor encenação de boa
menina. Você é forte, Melanie, bora, garota! disse olhando-me no espelho,
me encorajando.

Assim que comecei a descer os primeiros degraus da escada, olhares


foram direcionados a mim, alguns surpresos e outros visivelmente
maldosos, a maioria dos velhos nojentos que estão presentes.

Cheguei ao final da escada e meu pai veio me receber. Apesar de ter


muitos olhares sobre mim, um em especial chamou a minha atenção,
fazendo-me encará-lo. Apesar da postura séria, um pouco assustadora e do
olhar gélido, havia uma tensão muito forte, que fez com que eu sentisse
meu corpo inteiro se esquentar. Certeza que as minhas bochechas estavam
vermelhas feito um pimentão.
Tudo gritava: é ele, é o seu noivo.

Surpreendi-me ao ver que ele não é tão velho quanto eu imaginei


que fosse, muito pelo contrário, ele era bem bonito, assustador, mas bonito.
Alto, musculoso, com traços marcantes no rosto e tatuagens espalhadas por
sua mão e pescoço… bom, são as que eu consigo ver, porque ele está de
terno. Cabelo cortado e a sobrancelha impecavelmente feita.

Meu olhar recaiu para a sua boca, perfeitamente desenhada.

Papai chamou a minha atenção e só então me dei conta de que


acabei me perdendo na intensidade daquele olhar.

Pigarreei e pisquei algumas vezes, tentando me recuperar.

Pedi desculpas ao meu pai por minha relutância e desobediência,


não gosto de chateá-lo.

— Jamais te decepcionaria, papai — afirmei e ele me abraçou com


carinho.
Fui apresentada ao Don e a sua esposa, que eu já conheci. Don
Caccini foi simpático ao me cumprimentar, pedindo para que eu o chamasse
de Rocco, já que agora farei parte da família. Entretanto, o homem ao seu
lado não fez questão alguma de ser simpático e continuou me olhando da
mesma maneira. Estava me sentindo intimidada e, estranhamente, quente.

Não queria desviar o olhar, na verdade, eu não conseguia desviar,


era uma força magnética estranha, que por mais que eu estivesse me
sentindo incomodada, ainda sim queria permanecer o encarando.

— Vamos logo adiantar isso, tenho que ir embora. — Finalmente ele


abriu a boca e pude constatar que a sua voz, rouca e com um timbre forte,
era tão assustadora quanto a sua aparência.
Ele desviou o olhar do meu e soltei o ar, que não sabia que estava
prendendo.

Então esse é o meu noivo. Constatei o que já imaginava.

— Vamos — O Don concordou, segurando na mão de Luara. Ela


piscou para mim, sorrindo e todos juntos caminhamos para a sala de jantar.
A celebração começou, um ritual que a máfia fazia para todos os
noivados. Don Caccini falou algumas palavras e pegou a lâmina para cortar
a palma das nossas mãos. É assim feito para todos, uma vez que as palmas
são cortadas e as mãos apertadas, unindo o sangue, não existe mais volta.

Meu futuro noivo estendeu a mão para que fizessem o corte e eu fiz
o mesmo. Senti a lâmina queimar a palma da minha mão e o sangue
escorrer e nesse momento uma lágrima idiota insistiu em cair do meu rosto.
Ele pareceu gostar de ver o medo estampado em meu rosto, pois abriu um
sorriso de lado, se divertindo com o meu desespero.

Se vocês estão pensando que eu estava chorando pela dor física que
foi causada em minha mão, vocês estão muito enganados, nada se
comparada a dor que sentia dentro do meu peito.

— ... Pelo sangue e pela honra — o Don falou as palavras finais,


encerrando a celebração com muitos aplausos desses idiotas que são
coniventes com toda essa merda.

O que me doía mais era olhar para o homem que eu gostava e ver
que ele estava aplaudindo também. Meu coração estava esmagado. Não
tinha mais volta. Fui entregue à morte.
Esperei até que todos se distraíssem, inclusive o meu noivo, que não
parou de me encarar, e vim para o jardim. Precisei de um ar puro. Eu era
muito sensível, sempre fui assim, então qualquer coisa sentia vontade de
chorar e não queria chorar na frente daquele homem. Sentia como se ele
fosse me esmagar a qualquer momento somente com o seu olhar. Que Deus
me proteja de todo mal.

— Escondida, querida noiva?

Tomei o maior susto ao ouvir a sua voz e novamente senti aquele


arrepio estranho percorrer o meu corpo.

— Por que eu me esconderia? — indaguei, tentando ao máximo


manter a minha voz firme.
— Eu que devo te fazer essa pergunta, por que você se esconderia?
— Sorriu, de um jeito debochado

— Não estou me escondendo, Senhor Renzo, apenas vim tomar um


ar fresco — expliquei. O que não era nenhuma mentira, afinal, eu realmente
precisava de um ar fresco para não desabar na frente de todos,
principalmente na frente dele.

— O que você tem com o soldado que faz a sua segurança? Não me
recordo o nome dele.
Meus olhos se arregalaram mediante a sua pergunta. Além de
assustador, é um exímio observador.

— O quê? Com o Giovanni? Nada! Ele apenas faz minha segurança


como você mesmo disse — respondi a verdade.

Claro que vez ou outra sentia o meu coração acelerar na presença


dele, mas até hoje era o único homem que havia chegado tão perto, o único
que fazia parte da minha vida, além do meu pai. Eu e ele não temos nada e
nem tenho certeza da maneira como gosto dele, mas esse homem não
precisa saber dessas coisas.

— Não se faça de sonsa, garota! — respondeu ríspido, parecendo


nervoso. Conforme ele foi se aproximando, fui ficando mais apavorada. —
Você acha que pode mentir para mim? Eu reparei como vocês olhavam um
para o outro. — Segurou firme no meu braço e o seu olhar foi tão
penetrante, que era como se ele pudesse ler a minha alma.

— O senhor está me machucando, peço, por favor, que me solte. —


Ele continuou me encarando e eu continuei sustentando o seu olhar, neste
momento demonstrar todo o medo que estou sentindo seria uma burrice. —
Eu já disse que não tenho nada com ele, ele faz minha guarda desde nova,
conheço ele há muito tempo, apenas isso — expliquei mais uma vez, com
uma falsa calmaria.

— Se você quer continuar mentindo, tudo bem, mas saiba que eu sei
que é mentira, se vocês não tem nada é porque ainda não tiveram
oportunidade. Te aconselho a disfarçar mais quando olhar para ele.

Pelo menos sei que burro ele não é. Tive vontade de rir do que
acabei de pensar, mas me segurei e fiz uma anotação mental: disfarçar
melhor a maneira como olho para Giovanni. Embora eu ache que a única
maneira de como o olho é com carinho, só queria que ele pudesse me
proteger desse homem, assim como tem feito todos esses anos.
— Senhor Renzo, o senhor está me machucando — avisei
novamente e senti ele afrouxar o aperto. — Já falei que está vendo coisas
onde não tem.

Idiota! Minha vontade é falar isso, mas nem tudo que a mente
pensa, a boca deve expressar. Melhor evitar, né?

— Se eu descobrir que você tem alguma coisa com ele, eu vou


matar vocês dois, entendeu? — Mordi o canto da boca, ficando em silêncio.
— Eu perguntei se você entendeu, Melanie. — Ouvir meu nome saindo da
sua boca me causou uma sensação estranha. Ele me sacudiu e eu balancei a
cabeça veemente que sim, afirmando que havia entendido. — Ótimo, agora
entre! — ordenou e soltou os meus braços.

Saí correndo para dentro de casa, não queria ficar perto dele nem
mais um minuto. Entrei e dei de cara com Luara.

— Que cara de assustada é essa, Mel? — perguntou preocupada,


formando um vinco na sua testa.

— Não é nada. — Respirei fundo e ao olhar na direção da porta, vi


Renzo entrar.

— O que ele fez? — Luara questionou, olhando para onde o meu


olhar estava direcionado.

Pisquei repetidas vezes e balancei a cabeça de um lado para o outro,


voltando a minha atenção para ela.

— Nada, apenas conversamos.


Não precisei olhar para saber que ele estava se aproximando, o seu
perfume era marcante demais para demonstrar a sua presença antes mesmo
dele chegar de fato no lugar. Perguntou para Luara onde estava o marido
dela e se afastou, indo de encontro ao Don.

Quando ele estava perto de mim, não conseguia respirar direito.

— Tem certeza que vocês só conversaram?

— Sim. — Passei a mão no rosto, tentando pensar em outra coisa


para falar e mudar o assunto. — Você se casou com quantos anos mesmo?

— Dezoito.
— Ah! — murmurei desanimada.

Então minha vez está chegando, que tristeza!

— Você tem dezessete, não é?

— Sim, faço dezoito daqui quatro meses. Terei que me casar quando
fizer dezoito ou só quando meu pai se for?

Ainda não tive coragem de conversar com o meu pai sobre isso.
Pensar que ele pode ir embora a qualquer momento me deixa terrivelmente
triste e apavorada.

— Eu não sei qual foi o acordo feito por eles, mas acho que só
quando seu pai partir, mas posso perguntar a Rocco depois.

— Eu agradeceria muito.
Ficamos conversando mais um pouco, mas logo eles começaram a
se despedir para ir embora. A maioria das pessoas já havia ido, só tinha
assistido a minha desgraça mesmo e foram embora felizes da vida, rindo da
minha tragédia.
Ao final da noite, ouvimos barulhos de tiros e ficamos desesperados.
Aconteceu tudo muito rápido, os tiros começaram e os homens correram,
nos arrastando para o esconderijo secreto que havia na minha casa. Dentro
da minha própria casa, onde cresci e fui criada todos esses anos e não fazia
a mínima ideia que existia.
— Pai, você vai entrar, né? O senhor não pode se arriscar, está
fragilizado — alertei, puxando-o para dentro comigo.

— Eu tenho que ir, estão invadindo a minha casa, filha, mas você
ficará bem.
— Pai, você promete que volta?

— Sim. — Puxou-me para um abraço e eu o abracei bem apertado.


Meu pai se foi, deixando o meu coração apertado.

Depois de alguns minutos angustiantes, Giovanni nos avisou que


poderíamos sair.
Voltamos para a sala principal e encontramos os rapazes, todos bem.
Escutei-os conversando sobre um noivado, não sabia quem era a futura
noiva, mas percebi que era o Capo Enzo que iria se casar.

Como um borrão, o terror voltou, um homem apareceu atirando e


acertou o braço do Capo alemão. Rocco se jogou na frente da sua esposa
para protegê-la e Giovanni fez o mesmo comigo. Renzo sacou a sua arma e
começou a atirar.

Estava com medo, com muito medo! Meu corpo inteiro tremia
muito, calafrios terríveis tomavam conta de mim. Nunca passei por uma
situação parecida.
— Já acabou, fica calma, tá? — Giovanni me tranquilizou e foi lá
fora verificar se estava tudo limpo.

Enzo reclamava do tiro que acertou seu ombro e seu paletó estava
encharcado de sangue.

— Já verifiquei lá fora, está limpo, dá para todo mundo sair —


Giovanni voltou avisando. — O Senhor e a Mel terão que sair também, não
é seguro aqui — alertou o meu pai.

— O nome dela é Senhorita Melanie, Giovanni, não a chame pelo


apelido novamente. — Do nada a voz de Renzo ecoou ríspida por todo o
ambiente, chamando a atenção de todos.

— Tudo bem, peço desculpas, Senhor — Giovanni se redimiu,


abaixando a cabeça em sinal de respeito.
Tadinho! Não precisava disso… que homem idiota esse Renzo
Caccini!

— Pai, o senhor está bem? — Ignorei completamente o olhar


furioso dele e passei as mãos no rosto do meu pai, abraçando-o fortemente.
— Eu também estou bem, tá? — Enzo gritou, chamando a atenção
para ele e todos rimos da sua carência.

— Era melhor se tivesse morrido — Renzo, ignorante como sempre,


cortou o momento descontraído.
— Vamos embora logo — Rocco chamou, sem paciência.

Estávamos nos preparando para sair e tudo aconteceu em câmera


lenta, diante dos meus olhos. O homem que estava caído no chão não havia
morrido, tirou uma arma sabe lá Deus de ontem e acertou um tiro certeiro
na cabeça do meu pai. Pisquei diversas vezes ao sentir o sangue respingar
no meu rosto. Meu pai caiu em meus braços.
— Socorro! Alguém me ajuda! — gritei, sacudindo o corpo do meu
pai. — Pai, pai, pai, fala comigo! — implorei, mas ele não respondeu. —
Você me prometeu que voltaria… você prometeu!

Continuei sacudindo-o e beijei o seu rosto, sem me importar com o


sangue que havia ali.

Braços fortes me puxaram, afastando-me do meu pai e eu me debati.


Olhei para Renzo me segurando e continuei esperneando, tentando sair do
seus braços.

— Não! Me solta! Me solta! Meu pai… meu pai — minha voz saiu
esganiçada, a dor estraçalhando-me por dentro.

Quando entramos no carro, ele se sentou atrás comigo em seu colo e


alguém, que eu não consegui reparar quem era, dirigia. Debati-me e dei
socos no peito de Renzo, mas ele não pareceu se importar e abraçou-me
ainda mais apertado, mas não para machucar.

Aos poucos eu fui parando de me debater e chorei baixinho.


— Meu pai, meu pai morreu — lamentei, sentindo tudo dentro de
mim doer.

— Vai ficar tudo bem, ragazza[ix]. — A mão grande de Renzo


alisava os meus cabelos.
— Eu vi meu pai morrer, meu pai morreu… diante dos meus olhos,
ele morreu — repetia desesperadamente.

Eu não sabia dizer o que estava sentindo, mas a dor era imensa, não
conseguia mensurar.
— Shiu! — Continuou fazendo carinho nos meus cabelos e puxou
meu rosto contra o seu peito. — Vai ficar tudo bem.
Por mais estranho que possa parecer, ele estava conseguindo me
acalmar. Doía muito só de imaginar que eu não iria ver mais o meu pai. O
homem da minha vida morreu na minha frente e eu não pude fazer nada
para impedir. Agora estou sozinha nesse mundo, não tenho ninguém esse
pensamento me faz entrar em desespero novamente
Capítulo 3

Renzo Caccini

Quando eu vi Melanie descendo as escadas, entendi o motivo pelo


qual o pai dela a escondia. Ela é linda, ruiva natural, cabelos compridos e
olhos claros, com a pele branquinha igual floco de neve… linda demais!

Estamos chegando no hotel onde eu e meu irmão nos hospedamos e


a ruivinha sentada no meu colo não parou de chorar um minuto sequer.

O que ela viu foi uma cena muito pesada, o pai sendo assassinado na
sua frente. Confesso que fiquei com dó dela, e olha que isso é uma coisa
muito rara, aliás, nem me lembro a última vez que senti dó de alguém.

Saí com ela do carro e assim que a tirei do meu colo, o desespero
pareceu consumi-la novamente. Ela chorou copiosamente sentada no chão e
Luara se ajoelhou na sua frente, a abraçando.

— Lua, eu estou sozinha nesse mundo, meu pai me deixou, eu estou


sozinha — a ruivinha falou em meio aos soluços.
— Você não está sozinha, eu estou aqui, tá? Eu vou cuidar de você,
eu prometo. — Minha cunhada chorou junto com ela.

Elas ficam por um tempo abraçadas e chorando juntas, enquanto eu,


Rocco e Giovanni ficamos apenas olhando. É foda, porque não sei lidar
com essa coisa de choro e sentimentos.
— Luara, vamos tomar um banho, você está toda suja e Melanie
também precisa de um banho — Rocco chamou sua esposa.

Meu irmão e sua esposa entraram em seu quarto e eu coloquei


Melanie no nosso e fui dispensar Giovanni. Ele não era mais necessário.

— Pode ir embora — avisei.

— Mas e ela? — Apontou com a cabeça para dentro do meu quarto.


— É minha função cuidar dela — argumentou.

— Essa função passou a ser minha agora.

— Ok. — O soldado se retirou. Ele era esperto demais para saber o


seu lugar e sábio para não questionar a minha ordem.

Não me passou despercebido que a ruivinha tem interesse por esse


merda e tentei não pensar nessas coisas para não ficar com raiva. Voltei para
dentro do quarto e a encontrei sentada no chão, ao lado da cama, abraçada
ao próprio joelho.
Abaixei-me para falar com ela e pigarreei, procurando uma maneira
gentil de falar com ela.

Cazzo![x] Preciso ser legal nesse momento, mas eu nem sei falar com
as pessoas sem ser ignorante, é foda! Tenho que tentar.

— Vem comigo, você precisa de um banho — a chamei e ela


levantou o olhar para me encarar. Seus lindos olhos claros estavam
vermelhos por conta do choro.

— Eu quero o meu pai, eu preciso do meu pai — choramingou.

— Seu pai não vai voltar, ruivinha. Não é o que você quer, mas tudo
que você tem agora sou eu, sei que não é uma coisa boa, mas é o que tem.
Prometo pegar leve com você. — Melanie abriu um pequeno sorriso —
Mas só dessa vez. — Esclareci e o seu sorriso sumiu. — Vem, você precisa
tomar um banho. — Estendi a mão e ela aceitou.

Fomos para o banheiro, enchi a banheira com água morna para ela
poder tomar um banho e tirar todo o sangue que está impregnado em seu
corpo e cabelo.

— Vou ficar te esperando lá fora, qualquer coisa me chama.

— Tá.

— Não tranca a porta, beleza?

Balançou a cabeça assentindo.

Saí do banheiro e deixei ela ter o momento dela. Pedi para não
fechar a porta porque fiquei com medo, ela não está em um bom momento,
talvez pudesse fazer alguma besteira.

Não sou um homem carinhoso, não sou romântico, nem nada dessas
coisas, não sei ser nem simpático, mas hoje vou me esforçar, a menina está
em uma situação foda. Não tem família, não tem amigos, só tem aquele
idiota que faz a segurança dela, mas esse cara não me desce, tem algo de
errado com ele e eu vou descobrir o que é.

Fui até a varanda e acendi um cigarro. Porra! Muito tempo sem


fumar, já estava ficando louco.

Traguei o meu cigarro tranquilamente para dar um tempo a ela, mas


percebi que estava demorando muito, então decidi ir até lá para ver o que
estava acontecendo.
Encostei o rosto na porta para escutar algum barulho, mas não
consegui ouvir nada. Será que essa menina fez alguma merda?
Abri a porta e fiquei paralisando vendo-a só de toalha, com os
cabelos molhados, parada bem na minha frente.

— Eu já estava saindo.

Suas bochechas coraram - incrivelmente linda!

— Acabei ficando preocupado com a sua demora e entrei —


expliquei o motivo da minha invasão à sua privacidade.

Ficamos nos encarando por um tempo e precisei reunir todo o meu


autocontrole para despertar desse transe.

Girei nos calcanhares e rapidamente sai do banheiro, com ela


andando atrás de mim.

O maldito do meu pau deu sinal de vida. Que caralho! Agora estou
de pau duro por causa de uma menina de dezessete anos.

O quão ridículo e absurdo isso pode ser?

— Eu poderia usar uma camisa sua? — Arqueei uma sobrancelha.


— É que não trouxe roupa e a minha está suja de sangue.

— Pega aí dentro da mala. — Apontei para onde estavam as minhas


coisas e voltei para a varanda, para fumar mais um cigarro. — Tenta
descansar — gritei para que ela pudesse ouvir.

— Tá bom.

Um cigarro só não seria capaz de me acalmar, terei que fumar o


maço inteiro. Que caralhos eu estou pensando? Ficar excitado com uma
menina menor de idade?

Porra, Renzo!
Capítulo 4

Melanie Salvatierra

Me surpreendi com toda gentileza de Renzo. Percebe-se o quanto


ele estava se esforçando para ser educado, do jeito estranho dele, mas
estava tentando e nesse momento é o que eu preciso.

Peguei uma das tantas camisas de cor escura que estava dentro da
sua mala e vesti. Até que não ficou muito grande, como eu havia imaginado
que ficaria. Ele era um homem alto, mas eu também não era tão baixinha.

Renzo perguntou se eu queria comer algo antes de descansar, mas


diante de tamanha tristeza, nem fome conseguia sentir. Vou sentir falta do
meu pai brincando comigo sobre eu ser comilona.

Tudo me fazia lembrar dele. Não sei o que vai ser da minha vida
sem a presença do homem mais forte, corajoso e amoroso que eu já
conheci. Para muitas pessoas, ele foi o Capo José, comandando a grande
organização mexicana, mas para mim, ele foi meu pai e meu amigo. Nunca
me tratou mal, nunca foi um mafioso comigo, dentro de casa ele se
dedicava apenas a ser um super pai. E conseguiu, ele cumpriu o seu papel
com excelência até o fim. Mesmo que tenha dado minha mão a um homem
sombrio e desconhecido, tenho certeza que papai fez isso num ato de
desespero e pensando ser o melhor para mim.
Arrependi-me de ter passado esses últimos dias brigando com ele.
Deitei na cama para tentar dormir, mas não consegui. Quando
fechava os meus olhos, via a cena da morte do meu pai e reviver era
doloroso demais.
Já chorei tanto que minha cabeça estava doendo bastante. Decidi me
levantar e ir até a varanda, onde sei que Renzo estava. Antes de anunciar a
minha chegada, fiquei parada, reparando um pouco nele. Estava sentado de
costas, sem camisa, onde consegui ver com perfeição as incontáveis
tatuagens que tem. Ele tragou o cigarro e soltou a fumaça para o alto.

Balancei a cabeça de um lado para o outro. O pouco que ele foi


gentil comigo já está me fazendo olhá-lo de outra maneira.

— Achei que estava dormindo — comentou quando me viu.

— Não consegui.

— Pensando no que viu? — Virou para me encarar.

— Sim.
— Senta aí. — Apontou para uma espreguiçadeira ao lado da dele.

— Suas tatuagens são legais. — Me sentei e falei sobre as suas


tatuagens para puxar algum assunto, mas não estava mentindo, elas
realmente eram bonitas.

— Também gosto — respondeu inexpressivo.

Ele era um cara complicado, não me dava espaço para conversar,


sempre com poucas palavras e com a expressão fechada. Fiquei sem jeito
quando estava perto dele, não sabia como agir ou o que falar. Sentia um
pouco de medo dele, confesso.

— Consigo ver a fumaça saindo na sua cabeça.


— Como assim? — Pisquei, confusa.

— Você está pensativa e pela sua cara não é nada relacionado ao seu
pai.

— Você é observador, né?

Isso é outra coisa que reparei nele, Renzo é extremamente


observador.

— Sim, gosto de observar as pessoas.

Assenti.

— O que vai acontecer comigo agora? — questionei. Embora


estivesse com medo da resposta, precisava pensar nisso, afinal, estou
sozinha no mundo.

— Não sei. Você ainda não tem idade para se casar, vou ver com o
meu irmão amanhã.

— Vou poder continuar no México?

Desconfiava que não, mas só queria ter certeza para não criar
nenhuma esperança.

— Acredito que não. Você agora passou a ser nossa


responsabilidade, não vamos deixá-la para trás.

— Entendi. — Suspirei pesado.

Estava me sentindo cansada, mas não conseguia dormir. O cansaço


era mental e esse era o pior tipo que tinha.

— Por que você não tenta descansar? — perguntou mais uma vez,
parecendo poder ler os meus pensamentos.
— Eu não estou conseguindo.

Renzo apenas deu-me um leve aceno de cabeça e não respondeu


nada. Voltamos a ficar em silêncio absoluto.

— Seu pai te escondeu muito bem de todo mundo — abordou,


surpreendendo-me ao puxar assunto.

— Sim, ele sempre fez questão de me manter fora dos assuntos da


máfia. — Abri um pequeno sorriso ao lembrar da maneira protetora que
papai cuidava de mim. — Não entendi porque ele fez esse acordo, eu sei
que ele estava com a doença muito avançada, mas não pensei que ele fosse
fazer isso.

— Ele tinha os motivos dele.

— Você está conformado?

— Com o casamento? — Balancei a cabeça, afirmando. — Tenho


que cumprir com minhas obrigações na máfia.

Então isso que eu sou, um compromisso da máfia. E o que você


esperava, Melanie? Que fosse o amor da vida dele?

— Entendo.

— Mas ainda tem um tempo até isso acontecer. Você faz dezoito
quando?

— Daqui quatro meses.

— Falta pouco, então.

Renzo pareceu tão decepcionado quanto eu. Contudo, vê-lo tão


insatisfeito com esse casamento deixou-me, sei lá… chateada?

Mas porque eu estaria chateada se eu também não queria me casar?


— Sim. — Um vento fresco me fez sentir frio e passei as mãos nos
braços, tentando me esquentar.

— Está com frio?

— Sim.

— Quer entrar?

— Estou com medo de ficar sozinha — confessei, sorrindo


envergonhada.

— É compreensível. — Ele pagou o cigarro, deve ter sido o quarto


que ele fumou desde que estou aqui. — Vou ficar lá até você dormir.

Quem é esse homem e o que ele fez com o Renzo malvadão?

— Sério? — Um vinco se formou na minha testa, espantada.

— Não se acostume, estou abrindo uma exceção hoje.

E o Renzo malvadão está de volta.

— Por mim está ótimo.

Nos levantamos e entramos. Ele mexeu na mala, pegou uma camisa,


vestiu e se deitou na cama.

— Vai, deita aí. — Apontou para o seu lado — Não vou sair daqui
enquanto você não dormir.

— Você não vai dormir? — Deitei-me ao seu lado, mas o mais


afastada possível, capaz de eu virar e cair no chão de tão na beirada que
estou.

— Estou sem sono.

— É acostumado a dormir tarde?


— Quase nem durmo.

— Nossa, que ruim! — Ele apagou a luz e fiquei apavorada,


repassando as imagens de terror na minha mente. — Eu estou com medo,
Renzo — contei, apertando o travesseiro.

— Calma ruivinha, está tudo bem, só estamos nós dois aqui.

Eu gosto quando ele me chama de ruivinha.

Sem pensar, me aproximei dele e deitei a minha cabeça em seu


peito, sentindo-me mais segura desta maneira. Esperei até que ele
reclamasse e me pedisse para sair, mas como ele não fez, continuei aqui.

Acordei assustada com Renzo praticamente pulando da cama. Sua


expressão parecia assustada e eu não entendi o motivo. Sentei-me
subitamente, tremendo estar acontecendo alguma coisa grave. Talvez outra
invasão igual aconteceu ontem na minha casa?

— O que foi?

— Olha a hora. — Apontou para o relógio na mesinha ao lado da


cama.

— Oito horas — disse a hora em voz alta, tentando entender o que


tem de errado com ela. — O que tem a hora? — inquiri, totalmente confusa.
— Não me lembro a última vez que dormi tanto — confessou,
passando as mãos no cabelo.

Escutamos alguém bater na porta e ele foi abrir.

— Você estava dormindo? — Escutei a voz de Rocco e me levantei,


indo até eles.

Don Caccini informou que estaria indo viajar com Luara, que
também apareceu para se despedir e mais uma vez, foi muito carinhosa
comigo. Fomos informados que eu iria para a Itália e ficaria na casa dos
pais deles até que chegasse o dia do meu casamento.

— Você está bem? — perguntei assim que eles fecharam a porta. A


expressão que se formou no rosto de Renzo era estranha, ele não pareceu
nada satisfeito com a decisão do irmão.
A cada coisa que ele fazia, deixava-me ainda mais confusa. Renzo
fez questão de deixar claro o seu descontentamento com o casamento, mas
não gostou quando o irmão disse que eu ficaria na casa dos pais dele?

Meu Deus! Será que ele ainda mora com os pais? Por isso a
insatisfação?

— Sim. Vou arrumar as coisas.

— Eu tenho que passar na minha casa e pegar as minhas, não tenho


nada aqui.

— Giovanni já cuidou disso, ele pegou o essencial, o restante você


compra lá. Agora vai se adiantar — falou com rispidez e foi para a varanda.
Fiz o que ele mandou, fui ao banheiro e escovei meus dentes com
uma escova nova que tinha lá. Tomei um banho morno e quando saí do
banheiro já tinha roupas minhas dentro de uma mala, provavelmente
Giovanni que trouxe, mas cadê ele? Não o vejo desde ontem.

Me arrumei e esperei ele falar que podemos ir, não quero ir lá nele,
porque percebi que hoje já acordou diferente do Renzo de ontem a noite.

Dei uma olhadinha na varanda e o vi fumando. Caramba, que


homem viciado em tabaco!

Fumando um cigarro atrás do outro desse jeito, não vai demorar


muito e vai morrer. Melhor para mim, né? Misericórdia, Melanie! Você não
é assim, para com esses pensamentos!

— Vamos comer alguma coisa dentro do avião mesmo, estamos


atrasados — avisou, voltando para o quarto e pegando as malas.
— Tá bom. Renzo?

Vou me arriscar e perguntar, tomara que ele não seja tão ignorante.

— Fala — Virou-se para me olhar.

— Você mora com os seus pais?

Ele me encarou por alguns segundos e abriu um sorriso de canto de


boca.
— Não. Agora vamos!

Respirei aliviada com essa informação e caminhamos para fora do


hotel.
Sei que a partir de agora minha vida nunca mais vai ser a mesma.

Só espero que as coisas não sejam tão ruins quanto tenho


imaginado. De onde você estiver, papai, olhe por mim.
Capítulo 5

Renzo Caccini
Há dois dias que a ruivinha estava aqui na Itália, morando na casa
dos meus pais. Ontem foi o enterro do pai dela, dei uma passada lá rápida e
voltei para os meus compromissos, ela ainda parecia estar muito abalada,
então não me aproximei, apenas observei de longe. Não sabia muito bem
lidar com essa coisa de sentimentos, ainda mais com o sofrimento de uma
outra pessoa, então preferi ficar apenas olhando.
Eu não estava indo na casa da minha mãe para não ter que encontrar
com ela. Dormimos juntos naquele dia e para minha surpresa eu consegui
descansar, nem me lembrava a última vez que tinha dormido bem daquele
jeito.

Eu estava à frente da máfia enquanto meu irmão curtia sua lua de


mel. Ele ainda não confessou, mas é nítido como estava apaixonado por
Luara. Digo mais, ele estava de quatro pela minha cunhadinha. Inclusive, eu
sei que tem dedo dela nessa história da Melanie ficar na casa da minha mãe.
Conhecendo bem o meu irmão, ele jamais tomaria essa decisão se não fosse
para agradá-la. Mas tudo bem, foi até melhor, eu não tenho paciência com
ninguém, ter uma pessoa estranha dentro da minha casa ia ser muito ruim.

Adiantei minhas coisas aqui na máfia, tenho que ir ver Samantha, eu


estava louco para gozar gostoso, muitos dias sem um bom sexo, isso estava
me deixando mais estressado do que de costume.

— Podemos ir, senhor? — Carlos, que é meu segurança de


confiança, entrou perguntando.
— Sim.

— Vamos para casa?

— Para o apartamento. — Ele apenas assentiu.


Não precisava explicar, ele sabia qual apartamento eu me referia.

Uns trinta minutos depois, entrei no apartamento. Samantha me viu


e veio correndo na minha direção.

— Você voltou — constatou toda empolgada e se jogou nos meus


braços.

— Vai para o quarto, daqui uns minutos estou entrando. — Ela se


virou e se foi, sem questionar, afinal, ela sabia o que eu vim fazer aqui.

Servi uma dose do meu uísque preferido, que deixo aqui para
quando eu venha e bebi, enquanto fumava um cigarro.
Meu celular vibrou e peguei ele no bolso da calça, vendo que era
uma mensagem do meu irmão.

Rocco:
Como Melanie está?
Eu:
Desde quando você se importa?

Rocco:
Luara quer saber. Facilita minha vida, bastardo!

Eu:
Sei lá, vi ela ontem no enterro do pai dela, mas não me aproximei e
nem falei com ela.

Rocco:
Visite ela hoje e me diga como está.

Eu:
É uma ordem?

Rocco:
Você só vai fazer se for uma ordem? Se a resposta for sim, então é
uma ordem.

Eu:
Foda-se!
Rocco:
Aguardo sua resposta.

Eu:
Estou ocupado.

Rocco:
Estarei esperando.

Não respondi. Virei o copo todo de uma vez e apaguei meu cigarro,
indo para o quarto. Assim que entrei, encontrei ela deitada na cama, me
esperando do jeito que eu gosto. Hoje não queria preliminares, queria sexo
bruto, precisava descontar a minha raiva.

Nem eu mesmo sabia o motivo de estar tão nervoso nesses últimos


dias.

Coloquei o preservativo e Samantha já empinou a bunda para mim,


ficando de quatro.

Transamos loucamente por algumas horas, mas tive que me esforçar


bastante para conseguir gozar.

— Hoje você me machucou bastante — falou com uma voz dengosa


e um sorriso safado no rosto.

— Preciso ir. — Comecei a vestir minha roupa.

— Você já vai? Poxa! Por que tão cedo?

— Toma um analgésico e cuida desses roxos.


Não respondi sua pergunta, até porque não devia satisfação.

— Tá bom. Você vai voltar?

— Não.

— Como ela é?

Sei a quem ela está se referindo, mas decidi me fazer de


desentendido.

— Ela quem?

— Sua noiva.

— Normal.

— Normal?

— Sim, Samantha — respondi de um jeito ríspido e foi o bastante


para ela entender que não quer falar sobre o assunto. — Preciso ir. —
Deixei um dinheiro em cima da mesa e saí.

Eu costumava gozar mais de uma vez na mesma transa, mas dessa


vez eu tive dificuldade até para gozar uma vez. Porra! Não sei o que está
acontecendo. Samantha sempre atendeu todas as minhas necessidades
sexuais. Não temos nada sentimental, mas eu gosto do sexo dela, gosto
bastante, mas eu não a amo, disso eu tenho certeza.

Não faço o tipo BDSM, mas curto um sexo violento, com tapas,
puxões de cabelos, chupões e mordidas, mas não faço o tipo dominador.
Não gosto de carinho, não curto beijo na hora do sexo, acho que isso
envolve sentimentos, faz a linha mais carinho e amor e não é o que eu
procuro na cama. Não que eu não beije na boca, eu beijo, é raro, mas
acontece normalmente nas preliminares, mas durante o sexo não, é um
limite que impus. Olhei a hora no meu relógio de pulso e constatei que já
era tarde, talvez eu nem encontrasse Melanie acordada, mas precisava ir vê-
la para falar com Rocco. Até quando o cara estava longe, ele enche o saco.
Capítulo 6

Melanie Salvatierra

Senti o cheiro do perfume de Renzo misturado com nicotina. Que


droga! Estou sonhando com esse homem?

Esfreguei o rosto e me sentei na cama, levantando para ir ao


banheiro, mas ao olhar pela janela, tomei o maior susto ao vê-lo sentado no
parapeito, fumando o seu cigarro.
— O que você está fazendo aqui? — Levei a mão no peito,
assustada.

— Fala baixo, se minha mãe ouvir que eu invadi a casa dela de


novo, ela vai me matar.
Achei graça da forma como ele falou, parecia realmente com medo
da fúria de dona Giovana.

— Como você entrou aqui? — Olhei para a porta que eu havia


deixado trancada, que continuava fechada e meu quarto é no segundo andar,
o que me faz duvidar que ele tenha entrado pela janela, sendo que também a
deixei trancada.

— Entrando — respondeu de modo raso, apagou o cigarro e se


aproximou de mim.

— O que você quer? — Arqueei as sobrancelhas.

Certeza que ele não veio até aqui só para ficar olhando para a minha
cara.
— Vim ver como você está.

— Sério isso? — Abri um pequeno sorriso, duvidando muito do que


disse.

— Luara pediu — confessou.

— Ah, sim! — Suspirei… estava me sentindo decepcionada com o


que ele falou? Por que eu estaria?

Já desconfiava que isso não ia vir dele, porque ele me viu no enterro
do meu pai e não veio falar comigo. O que eu poderia esperar dele, não é?

— Por que aquele prego está lá embaixo? — Estreitei os olhos,


confusa com a sua pergunta. — O Giovanni — esclareceu.

— Ele veio me ver e seu pai o autorizou a continuar fazendo minha


segurança.

— Vou falar com meu pai amanhã. — Deu mais um passo à frente,
com um olhar furioso.

— Falar o quê?

Sei que ele não quer mais que o Giovanni fique próximo a mim, mas
não entendo essa implicância, ele nem se importa comigo.

— Ele não precisa mais fazer a sua segurança, um homem da minha


confiança vai fazer isso.

— Não, Renzo! Eu conheço Giovanni e confio nele, ele é o mais


próximo de uma família que eu tenho.

Não estou falando nenhuma mentira, Giovanni é a única coisa que


me restou do meu passado.
— Você acha que eu sou idiota? Tenho cara de trouxa ou algo
parecido? Você nunca considerou ele como família, o que você enxerga nele
é outra coisa. — Recuei na cama até bater as costas na cabeceira, assustada
com a maneira que ele estava me olhando.

— N-não sei porque você está agindo assim — gaguejei


ridiculamente, demonstrando o meu medo.

Essas mudanças de humor dele me assustam muito.

— Eu sei que você gosta daquele idiota lá embaixo, mas fique


sabendo que não é reciproco, Melanie.

— E como você poderia saber disso?

Não queria enfrentar ele, muito menos ser alvo da sua fúria, mas a
maneira como Renzo falou me fez me sentir um nada. Ele acha que eu não
posso ser desejável?

— É visível, garota. Ele não gosta de você.

— Isso é o que você acha.

Tudo bem, eu também acho, mas não vou deixar ele me rebaixar
dessa maneira.
— Tenho certeza.

— Tanto faz, não faço questão que ele goste de mim. — Balancei os
ombros.

— Eu não quero ele fazendo a sua segurança, não confio nele.

— Não confia ou só quer enaltecer o seu ego?

— Que ego o que, garota! — Passou o dedo indicador na


sobrancelha. — Ele não vai continuar fazendo sua segurança e pronto.
— Vai sim — enfrentei-o determinada e ele me olhou bravo. —
Rocco disse que eu sou responsabilidade dele, você não manda em mim.

Renzo avançou em mim, colocando o seu corpo sobre o meu,


deitando-nos na cama.

Meu coração acelerou e minha respiração ficou mais rápida.

— Ainda, Melanie, ainda… — Sua voz era sussurrada e causava-me


arrepios. — Você vai se arrepender muito por estar me desafiando.

— Isso é uma ameaça?

Encarei os seus olhos com firmeza, fazendo o possível para disfarçar


o medo.

— Entenda como você quiser, mas saiba que eu não vou aliviar para
o seu lado.

— Por que você me odeia tanto? É por causa da sua amante? — Vi


confusão passar por seus olhos. — Como eu sei disso? Todo mundo sabe —
respondi o óbvio. — Eu serei a esposa idiota que fica te esperando em casa
enquanto você se diverte com a sua amante.

— Você não sabe o que está falando.

— Então é mentira? Você não tem uma amante? — afrontei.

— Isso não é da sua conta.

Ele não negou e nem precisava, não é segredo para ninguém.

— Nem meu segurança é da sua conta — continuei o confrontando.

O medo de morrer já não existia mais, minha vida tinha perdido o


sentido no momento em que vi meu pai morrer nos meus braços.
— Não brinca comigo, garota! Posso não ser tão legal quanto você
pensa.

— Nunca pensei em você como uma pessoa legal.

— Você me tira do sério. — Ele fechou os olhos e os seus dedos


adentraram os meus cabelos, puxando levemente os fios. Não era doloroso,
mas um calafrio percorreu toda a minha espinha.

— Não é muito difícil fazer isso.

— Se eu pegar você junto com esse cara... — Nem o deixei


terminar, sabia de cor e salteado essa frase dele.

— Já sei, vai me matar e vai matar ele? Acertei? — Dei um sorriso


debochado.

— Não vejo a hora de tirar esse sorriso da sua cara. — Ele também
riu, mas de uma maneira sombria e extremamente assustadora.

— E como você faria isso?

Era um tanto mórbido, mas esse jogo assustador, de enfrentar a


morte cara a cara me deixava empolgada, a sensação era boa.

Seu rosto se aproximou mais do meu e fechei os meus olhos,


sentindo o seu cheiro cada vez mais perto, me embriagava. Apesar do
cheiro de nicotina existente nele, o seu perfume se sobressaia e ele cheirava
muito bem.

— Não queira nem saber como farei isso, ruivinha,

Fechei os olhos com força, repreendo-me por gostar tanto de ouvi-lo


me chamar assim.
Senti o seu corpo sair de cima do meu e demorei um pouquinho para
abrir os meus olhos, não sabia se ele poderia ver através do meu olhar o
quanto estava gostando. Renzo parecia ler a minha alma todas as vezes que
me olhava, não queria arriscar.

Bem devagar, os abri e não o encontrei mais no quarto. Soltei o ar


que estava preso nos meus pulmões, era sempre assim quando estava em
sua presença, ele parecia me sufocar.

O que foi isso que eu senti? Eu queria ser beijada por ele? Não, não
pode ser.
Balancei a cabeça repetidas vezes de um lado para o outro e me
levantei, indo para o banheiro, lavei o meu rosto com água gelada numa
tentativa em vão de amenizar o calor que estou sentindo.

Quando voltei para me deitar, tudo que conseguia pensar era sobre o
que acabou de acontecer.

Eu só podia estar louca de querer que aquele monstro me tocasse


com aquelas mãos sujas e aquela boca pavorosa que sabe lá Deus onde
passou.

Preciso fazer terapia.


Os dias estavam passando rápido e eu e Alice estávamos nos
aproximando bastante, ela era bem diferente dos irmãos, carinhosa e alegre.
Fiquei muito feliz por ter ela aqui comigo. Gostava muito da Luara
também, ela foi muito gentil e carinhosa comigo naquele dia, mas ainda
estava em viagem com o marido, não a vi mais desde então. Torna as coisas
mais fáceis quando temos amigos.

— O que você quer fazer hoje? Não quero mais assistir filmes de
romances, fico muito sensível — Alice falou, se deitando na cama comigo.

— Você já se apaixonou, Lice? — perguntei porque há dias estou


com essa dúvida.

Ela ficou com uma expressão séria.

— Sim.
Surpreendi-me com a sua resposta. Alice era mais velha que eu,
tinha 21 anos, mas ainda não era casada, o que é estranho, porque na máfia
as meninas casam cedo.

— Sério? Eu conheço a pessoa?

— Acredito que não — Bateu o dedo no meu nariz, brincando. —


Curiosa!

— Sou curiosa mesmo. — Ri. — Por que vocês não estão juntos?
— Longa história. — Ela ligou a televisão.
— Me conta? — insisti, me corroendo de ansiedade para ouvir. —
Gosto de ouvir histórias de amor — justifiquei-me.

— Outro dia eu conto.


— É estranho encontrar na máfia uma menina da sua idade sem
estar casada — comentei.

— Minha família está tentando me deixar fora de toda essa merda.

— Isso é muito bom! — Abri um pequeno sorriso, ficava feliz por


ela conseguir se manter distante dessa sujeira, mas triste por não ter
ninguém que interceda por mim desta maneira.

— Agora seremos a sua família, não fica triste, tá? — Percebendo a


minha voz melancólica, ela me abraçou.

— Obrigada, Lice. — A abracei mais apertado. — Posso fazer só


mais uma pergunta sobre o assunto da sua paixão?

Alice riu.

— Pode sim.

— Por que você não se casou com ele?

— Não deu certo — respondeu apática.

— Hum.
Queria saber mais sobre a história dela, mas se ela não quiser falar,
tudo bem, vou respeitar.

— Apenas não deu certo, a vida tem dessas coisas, é complicado. —


Suspirou. — Eu gostava muito dele, na verdade eu o amava, mas nós dois
nunca daríamos certo.
— Você ainda gosta dele, não é?

— Talvez. — Balançou os ombros, sorrindo.


— Você gosta, sim! Por que não ficam juntos? Ele não é da máfia?
— Tá louca? Ele me odeia com todas as forças.
— Ele te odeia? Como assim?

— A gente se envolveu, ele mentiu para mim, eu menti para ele e


acabamos separados, nos encontramos atualmente e as coisas fugiram um
pouco do controle. Ele nunca vai me perdoar por uma coisa que eu mesma
nem fiz.

Senti profunda tristeza em suas palavras.

— Não entendi nada, mas tá bom. Sinto muito por vocês.


— Tudo bem, não era para ser mesmo. Nosso relacionamento
começou errado, não tinha como acabar bem.

Escutamos alguém bater na porta e a mãe de Alice abriu a porta.


— Olá, meninas, vim avisar que eu e seu pai estamos indo para
Tulum encontrar Rocco e Luara — Giovana avisou, mas não estava com
uma expressão feliz, muito pelo contrário, parecia extremamente
preocupada.

— O que aconteceu? — Alice questionou.

— Parece que Luara sofreu um acidente.


Arregalei os olhos, sentindo o meu coração acelerar.

— Vamos com você, mãe.

— Não filha, não vamos tumultuar, eu mando notícias.

— Tá bom.

Giovana se despediu de nós duas com um abraço carinhoso e saiu.

— Estou preocupada com a Luara. O que você acha que aconteceu?


— Não sei, vamos esperar minha mãe mandar notícias. Esse mundo
em que vivemos é muito perigoso.
— Eu vou estar correndo perigo quando me casar com o seu
irmão… — Pensei em voz alta.

— Provavelmente, mas ele não vai deixar nada acontecer com você.
— Como se ele se importasse comigo. — Ri, achando engraçado a
maneira como ela falou, como se ele se importasse.

— Se importa sim, boba, ele só é muito idiota e ainda não percebeu.


— Pelo visto você não conhece o seu irmão.

— Esses homens da máfia são todos idiotas, eles gostam de bancar


os fodões, por isso não me envolvo com mafiosos. — Riu.
— Mas algum dia você terá que se casar com um.

— Espero estar morta nesse dia.

Gargalhamos.
— Credo, Lice, não diz essas bobeiras.

— Estou falando sério, não quero me casar, ainda mais com um


mafioso.
— E o que você pretende fazer quando chegar a sua vez?

— Minha vez não vai chegar, vira a boca para lá. Meus irmãos não
vão deixar isso acontecer.
— Deus te ouça.

Sabia como era ruim passar por esse momento e eu não desejava
isso para ninguém.
Fizemos pipoca e voltamos para o quarto, onde ficamos deitadas
assistindo filme.
Acabo não prestando atenção no filme, estava ansiosa por notícias
de Luara e temerosa pelo que deveria ter acontecido.
Capítulo 7

Melanie Salvatierra

Alguns longos dias se passaram e graças a Deus eu e Renzo não


temos nos visto com frequência, mas todas as vezes que estivemos juntos,
brigamos.

Outra notícia boa é que Luara melhorou e já está em casa.

Meu futuro marido não tinha paciência nenhuma, tudo que eu fazia
ou deixava de fazer o irritava. Já eu, sou uma pessoa extremamente
paciente, entretanto, estava chegando ao meu limite com tamanha
ignorância daquele homem.

Dona Giovana teve que proibir a entrada do próprio filho na sua


casa, de tão infernal que estava a situação.

Renzo era extremamente provocador, e não, não estou falando no


bom sentido, ele sentia prazer em ficar me provocando, aí quando eu perdia
a paciência, ele não gostava.

Até tentei me aproximar dele, porque eu queria viver minimamente


bem, mas já desisti, não é possível ter qualquer tipo de relação saudável
com aquele homem. Não estou pedindo para nos amarmos loucamente, mas
queria ao menos ter uma vida civilizada, que ambos nos respeitássemos,
mas não dá.

O homem era um poço de ignorância, parecia até que eu estava


vivendo na época da pedra, onde os homens das cavernas saíam arrastando
as mulheres pelos cabelos. Renzo reclamava da roupa que eu usava,
arrumava confusão ao chegar e ver eu conversando com o Giovanni. Ele já
até bateu no pobre coitado, Giovanni levou um soco ao me defender de uma
das milhares discussões que eu e ele tivemos.

Meu noivo foi pedir ao irmão, o Don Caccini, que dispensasse o


meu segurança, mas pedi ajuda a Luara para que conversasse com o seu
marido e pedisse para Giovanni ficar até o dia do meu casamento.

Não fiz isso para provocá-lo, acontece que Giovanni era a única
lembrança viva que eu tenho do México, da minha vida antes da morte do
meu pai. Perder tudo tão rápido me deixa apavorada.

Hoje percebi que o clima da casa não está agradável. Escutei alguns
gritos e choro da Alice, mas fiquei sem jeito de ir até ela porque a família
estava toda reunida, não quis atrapalhar e nem me envolver, não sei o que
está acontecendo.

— Por que você tinha que fazer isso comigo, papai? — Suspirei
pesado, falando sozinha enquanto estou me vestindo.

— Falando sozinha? Ficou doida?

Escutei sua voz grave preencher o quarto e revirei os olhos, vestindo


rapidamente a minha blusa.
— Você sabe que existe uma coisa chamada educação? É gratuita,
pode ser utilizada sem moderação.

— Não testa minha paciência, sua ruiva do capeta. — Passou as


mãos no cabelo, impaciente.

Senti vontade de rir ao escutar um dos milhares de apelidos que ele


me colocou, mas me segurei, não vou dar esse gostinho para ele.
— Você pode me respeitar? Eu, hein!

— E você me respeita? Caralho, eu falei que não quero aquele


cachorro te lambendo e você foi chorar fazendo cena pra Rocco deixar que
ele fique? Você jogou baixo usando Luara nisso!

Sabia que ele ia encher o saco voltando nesse assunto.


— Cada um joga com as armas que tem. — Balancei os ombros e
peguei a escova para pentear os meus cabelos.

— Quero ver qual vai ser suas armas quando a gente se casar.

— Até lá eu já pensei em uma forma de te matar.

Não, eu não perdi o medo dele, mas eu percebi que demonstrar é


muito pior. A mãe dele mesmo me aconselhou a nunca demonstrar e não
abaixar a cabeça.

— Não brinca comigo, seu projeto do diabo. — Renzo avançou


sobre mim, virando-me abruptamente e pressionando o seu corpo contra o
meu na parede.

— Para de me encher o saco. — Tentei empurrá-lo, mas falhei


miseravelmente.
Por que tão musculoso, senhor?

— Você testa todos os meus limites. — Apertou mais os meus


braços e senti minhas pernas tremerem.

— Você está me machucando, me larga ou eu vou começar a gritar


— ameacei.

— Grita, grita mesmo, grita enquanto pode, depois que você estiver
dentro da minha casa, eu quero ver quem vai te salvar. — Uma mão que
estava no meu braço foi para o meu pescoço, mas o seu aperto não era forte
ao ponto de machucar, não igual ele estava apertando os meus braços.

— Para! Você tá me machucando! — avisei, encarando o seu olhar


trevoso.

Estava sentindo um medo absurdo dele e não sei como disfarçar.

— Demônia! — Soltou-me e deu um soco na parede, bem ao lado


do meu corpo. Estremeci.

Podia quebrar a mão, né? Mas nem para isso ele presta.

— Por que você sente prazer em me machucar? Parece um louco!


— Passei a mão no braço e depois no pescoço.

— Se arruma logo, temos um noivado para oficializar. — Ignorou o


que eu havia perguntado antes, mas agora nem eu me importava, essa
história de noivado me surpreendeu.

— De quem?

— Alice.

Meus olhos quase saltaram para fora de tão surpresa que eu fiquei
com essa informação.

— Alice? Como assim Alice?

— Alice, porra, Alice. Conhece outra?

Fechei os olhos por alguns segundos, segurando-me para não


mandá-lo a merda e começar uma nova briga.

— Mais é um grosso mesmo — resmunguei.

Peguei os brincos em cima da mesinha e os coloquei.


— Você não viu como sou grosso. — Abriu um pequeno sorriso
com a sua piadinha sem graça de duplo sentido.

— Não faço questão de ver.

— Mas vai fazer, acredite em mim.

— Humildade também é gratuita, pode utilizar.

— Então tá, depois que ficar gamadinha quero ver você falar isso.

Aproximei-me com um sorriso travesso no rosto e fui empurrando o


seu corpo e ele se deixou ser levado até ficar sentado na cama. Inclinei o
meu corpo para deixar o rosto perto do seu ouvido e sussurrei:

— Não posso gamar em você, já sou gamada em outra pessoa.

Joguei a bomba e saí correndo feito um foguete do quarto. Não fazia


ideia de onde tirei tanta velocidade para correr, mas naquele momento o
flash com certeza perderia para mim.

Ele correu atrás de mim me xingando por todo o caminho até a sala.

Claro que falei aquilo só para provocar, afinal, não poderia deixar
ele sair ganhando em todas as vezes que vem me irritar.

— Olha só, garota, você não abusa da minha boa vontade —


esbravejou, tentando me alcançar.

Cheguei perto das pessoas na sala e respirei aliviada, eu estava


segura. Todos nos olharam sem entender a situação e eu ri, os
cumprimentando.

— O que foi, Rocco? Você acha que essa garota é santa só porque
tem essa cara de sonsa? Essa menina é uma peste! — falou com o irmão,
me difamando na frente de todos e saiu pisando duro, xingando na sua
língua natal.
— Esse cara é doido — comentei com Lua depois que todo mundo
se afastou de nós duas.

Contei para ela o que tinha passado com Renzo, a princípio ela riu e
pediu desculpas, mas falei que tudo bem, eu entendia que essa situação
louca poderia ser engraçada para quem estava de fora. Depois nos
lamentamos bastante. Por mim, por ela e agora por Alice.

Meu coração partiu ao ver Alice daquela forma, quando ela desceu,
ela estava desesperada, pedindo ajuda para todo mundo. Eu até entendia o
desespero dela, já passei por isso, mas no momento não conseguia entender
o porquê de tudo aquilo, só fui entender depois, quando o noivo chegou e
contou tudo que aconteceu entre os dois. Eu sabia que Alice era doidinha,
mas não imaginei que ela fosse tão louca.
Capítulo 8

Bônus – Alice

O idiota do meu irmão estava agora arrumando confusão por causa


de umas fotos que minha cunhada tirou, acreditem, não tem nada demais
nas fotos, ficaram todas lindas. Luara é uma mulher bonita, tem que
valorizar a beleza dela, mas não, nesse mundo da máfia o que esses homens
querem é esconder a beleza das suas mulheres.
Eu odeio ter nascido na máfia. Meu sonho é fugir de toda essa
merda!

Uma vez até que tentei, planejei tudo direitinho, mas quando chegou
a hora, eu descobri uma coisa que me fez mudar os planos e agora me
encontro aqui, perdida no meio desse mundo cruel. Pelo menos eu consegui
estudar e abrir meu próprio negócio, a maioria das mulheres do nosso
mundo não fazem nem metade disso, o que é muito triste.

Fui direto para o meu escritório, estava sem saco para ouvir meu pai
e meu irmão falando que ela era responsabilidade de Rocco e que não
podemos nos meter. Que coisa mais ultrapassada!

Levei um grande susto ao abrir a porta e encontrar o meu passado


sentado bem na minha cadeira.

— Mio Dio, che spavento![xi]

— Ti sono mancato, amore mio?[xii]


Pronunciou as palavras em italiano perfeitamente, com todo o seu
charme.

— O que faz aqui? — perguntei tentando controlar o pânico que


estava me consumindo.

— É assim que você recebe o grande amor da sua vida? Você já foi
mais carinhosa. — Abriu um sorriso debochado, típico dele.

— O que você quer? — Ele pareceu ignorar a minha pergunta e


continuou me encarando severamente, sem responder. Meu corpo todo
estava tremendo muito. — Eu vou sair — avisei já me virando, mas a sua
voz firme me fez parar.

— Se eu fosse você não faria isso, você não vai querer contar toda a
verdade para sua família, ou vai?

Apertei os olhos com força. Desgraçado!

— O que você quer? — repeti a pergunta, fechando a porta e me


virando novamente para ele.

— Vim para prestigiar e parabenizá-la, seu ateliê ficou muito bonito.

— Obrigada! Era só isso? — Eu estava, eu juro que estava tentando


ser indiferente, mas olhar para esse homem me fazia reviver um passado
que, apesar de tudo, foi incrivelmente bom.
— Claro que não, meu amor, não viria de tão longe só para isso.

— Não me chame assim.

— Assim como? De meu amor? — Levantou-se e caminhou


tranquilamente até onde eu estava. A cada passada que ele dava, meu
coração acelerava ainda mais.
— O que você quer? De verdade, o que você quer? — perguntei
com a voz esganiçada.

— Quero você e quero o meu filho.

Cambaleei para trás, sentindo-me tonta.

— Que filho? Está louco?

— Acha que eu sou idiota? — Avançou em mim, extremamente


nervoso e jogou-me no sofá.

Soltei um grito com o susto do impacto.

— Não me machuque — pedi, encolhendo-me com medo.

— O que aconteceu com a criança? Eu recebi uma cópia do exame


que você fez naquele dia antes de fugir. Você estava grávida de um filho
meu! — berrou, cuspindo as palavras com extrema raiva na minha cara.

— Eu perdi — confessei, sentindo o meu coração despedaçado ao


reviver essas lembranças.

— Mentirosa! — gritou, fazendo-me tremer de medo.

— É verdade, eu estou falando a verdade.

— Como isso aconteceu? — Se afastou, passando as mãos no


cabelo, bagunçando-os.

— Eu voltei e não tive coragem de contar. As máfias eram rivais. —


Pensei um pouco sobre aquela época. — Aliás, o que você está fazendo
aqui?

— Não somos mais rivais há alguns anos, selamos um bom acordo.


— Arregalei os olhos, ainda mais temerosa. — Continua contando —
apressou-me, curioso pela história que nos envolvia.
— Estava em Nova York para um desfile, senti uma dor absurda,
uma cólica muito forte e quando dei por mim, estava sangrando muito.
Corri para o hospital. — Engoli seco, reviver aquilo me doía muito, mas
muito mesmo. Puxei o ar, tomando forças para continuar. — Quando
cheguei no hospital… — minha voz falhou, ficando embargada por um
choro que estava próximo. — Bom, o resto você já sabe. — Não quis
continuar falando para não chorar.

— Você tirou nosso filho, Alice?

Estreitei os olhos, sua acusação era ridícula!

— O quê? Claro que não! — afirmei, totalmente indignada com o


seu questionamento.

— Você tirou nosso filho. Porra, Alice! — Deu um tapa na minha


mesa. — Podia ter ficado comigo.

— Eu não tirei! — gritei, me levantando para me defender.

— Você acha que vou acreditar nisso? — Virou, mostrando-me os


seus olhos furiosos, com um ódio direcionado a mim que eu nunca havia
visto antes. — Você fugiu quando descobriu quem eu era, você sabia que
nossas máfias eram inimigas, que nós dois não poderíamos ficar juntos e
que muito menos você poderia ter esse bebê.

— Eu não tirei, você precisa acreditar em mim. — Aproximei-me


dele, não conseguindo segurar mais as lágrimas. Doía, doía muito reviver e
doía ainda mais a sua desconfiança. Jamais o tiraria. Jamais tiraria o meu
filho. — Você me conhece, sabe que eu seria incapaz de fazer isso.

Eu sei que naquela época eu não poderia ter aquele filho, mas eu ia
fazer de tudo para tê-lo, eu jamais conseguiria abrir mão dele por livre e
espontânea vontade. Morreria por ele.
— Eu te conheço? — Deu uma risada alta, que arrepiou-me os
cabelos de tão pavorosa. — Eu não te conheço, eu nunca te conheci. Você
mentiu para mim, foi covarde, preferiu me abandonar do que enfrentar as
coisas ao meu lado.

— Você também mentiu para mim! — revidei, agora sem medo. Eu


não deixaria ele jogar a culpa toda nas minhas costas, muito menos me
acusar de uma coisa que eu não fiz.

— Ah, claro! — Riu. — Você queria que eu me apresentasse assim:


Oi, eu sou um mafioso, muito prazer?

— E você queria que eu falasse que era de uma família de mafiosos?

— Bastava falar seu nome verdadeiro, apenas isso. O resto eu


mesmo ia saber.

— Eu sei que errei nisso, mas que droga! Eu só queria viver uma
vida normal.

— Que vida normal, Alice? Que porra de vida normal? Você sabe
que nesse mundo não tem vida normal. Você deixou a gente se aproximar,
você deixou essa merda toda chegar até aqui.

— Você também! — Joguei as mãos para o alto, exausta. — Para de


jogar a culpa toda em mim.

— Alice, se você tivesse falado seu nome verdadeiro, eu jamais teria


me aproximado de você e nada disso teria acontecido.

— Esse é o problema — sussurrei.


Ficamos nos encarando por um tempo. Meu Deus! Eu amo tanto
esse homem.
— Você sabe qual o seu futuro? — Quebrou o silêncio após longos
segundos, que mais pareciam uma eternidade, perdida em seu olhar.
— Qual?

— Você é minha, Alice.

Meu coração disparou… caramba, eu sempre fui dele, eu sempre


quis ser dele.

— Você não está com raiva?

— Se prepare para se despedir disso tudo. — Levantou o dedo,


rodando, indicando que estava falando do meu ateliê. — E da sua vida aqui
na Itália.

— Do que está falando?

— Vou falar com seu irmão.

— Você não pode fazer isso — implorei, o desespero voltando a me


consumir.

— Não posso? É claro que posso. Aliás, não só posso, como eu vou.

— Por favor, não faça isso.

— Você vai me pagar muito caro por ter ido embora, por ter tirado a
vida do meu filho.

Nos seus olhos havia uma mistura de raiva e muita, muita dor. Eu
entendo que ele tenha sofrido muito, mas poxa, eu também sofri bastante.

— Pelo amor de Deus, eu não fiz isso!

— Aproveite seus últimos dias de paz.


Ele saiu da sala me deixando desesperada. O que ele vai fazer? Vai
contar para todo mundo? Eu estou perdida!

Me escondi tanto dele. Pensei que ele nunca fosse me encontrar,


afinal, já se passaram dois anos e acreditei que a máfia que ele comandava
era rival a do meu irmão. Eu fugi tanto dessa vida da máfia, mas não tem
como fugir do que nasce para ser o nosso destino, não é?
Capítulo 9

Melanie Salvatierra

Depois que todo mundo foi embora, eu resolvi vir ao quarto de


Alice, conversar um pouco com ela.

— Posso entrar? — Dei duas leves batidas e abri uma fresta.

— Pode sim — autorizou. Me aproximei e vi os olhos dela inchados


de tanto que chorou. — Isso dói, né? — Apontou para o curativo na palma
da mão, onde havia sido cortado.

— Dói. — Sorri e me sentei ao seu lado. — Como você está?


— Péssima. — Sorriu fraco. — Agora minha família me odeia. Sou
a decepção do meu pai, eu vi a forma como ele me olhou, ele estava muito
decepcionado.
— Sua família não te odeia, eles te amam. Seu pai te ama, ele vai
superar isso, só ficou nervoso na hora.

— Nem sei o que vai ser da minha vida agora.


— Era dele que você estava falando naquele dia. — Não foi uma
pergunta, eu estou afirmando ao lembrar da nossa conversa.

— Ele foi o único homem na minha vida. Eu o amei tanto, Melanie!


— confessou e, embora tenha colocado no passado, deu para perceber que o
sentimento ainda existe.
— Você gosta tanto dele, por que acha que vai ser um casamento
ruim?

— Você disse certo, eu gosto dele, ele não gosta de mim… não
mais.

— Talvez ele goste, já que ele está fazendo questão de se casar com
você.

— Ele só quer se vingar, Mel, não se iluda.

Alice fala com uma tristeza tão grande que eu fico com muita dó
dela.
— Lice, vocês tem um passado, essas coisas não se esquecem assim,
com tanta facilidade. O que aconteceu para chegar nesse nível? Que você
acha que ele te odeia?

— Eu menti pra ele, menti em tudo. — Começou a chorar e a puxei


para um abraço.
— Vai ficar tudo bem. — Acariciei os seus cabelos.

— Eu me arrependo de ter fugido, mas eu não queria me envolver


com um mafioso e quando descobri que ele era da máfia Alemã, eu me
desesperei, porque eu sabia que ele e meu irmão eram inimigos. Eu tinha
outros sonhos, outros planos, eu precisava ir embora, não podia estragar
tudo só porque estava perdidamente apaixonada por ele. — Soluçou.

— Você não sabia?

— Não. Eu usei outro sobrenome, eu disse que morava na Itália só


por causa dos estudos. Ele não desconfiou porque minha família sempre me
deixou escondida. Eu também não desconfiei que ele era mafioso. Ele era
educado e até carinhoso. Tinha um lado possessivo, mas eu já estava tão
acostumada com isso por conta dos meus irmão e meu pai que eu não me
importei, pensei que era o jeito dele de mostrar o quanto gostava de mim,
mas na verdade ele era assim porque foi criado na máfia e por aqui, esse é o
perfil de todos os homens.

— Você não ficou com medo de depois descobrirem que você não
era mais virgem? — perguntei bem baixinho essa parte.

— Eu estava tão apaixonada por aquele homem que nem pensei


nisso. Eu só queria viver feliz ao lado dele. Pensei em fugir e nós dois
começarmos a vida em outro lugar. Não pensei nas consequências, não
pensei em nada, só queria viver aquele amor.

— Só se sai da máfia morto — repeti a frase que sempre ouvi do


meu pai.

— Eu sei de tudo isso, Mel, mas quando a gente ama, paramos de


agir com a razão e passamos a agir com emoção.

— É bom? — Pigarreei, sentindo as minhas bochechas esquentarem


e ela riu.

Pelo menos consegui tirar um sorriso sincero de Alice.


— Sexo? — Balancei a cabeça confirmando. — Com ele foi ótimo!
Ele é um homem muito gostoso, tudo com ele era bom.

Alice não parece perceber, mas os seus olhos brilham muito quando
fala dele… é tão bonito!

— Queria perder com alguém que eu gostasse também.

— Você acha que gosta do Giovanni?


— Sim, eu gosto dele desde quando o conheci, mas não sei se gosto
dele a esse ponto, compreende? Tenho um carinho enorme por ele, mas sei
lá, ele tinha sido o único homem, que tem mais ou menos a minha idade,
com quem eu tive contato.

— Mas seus olhos nem brilham quando fala dele.

— Não?

— Não. — Ela riu e eu também. — Acho que você gosta dele, mas
não da forma como pensa.

— Ele nunca me olhou com outros olhos, enfim, acho que você está
certa. Mas eu queria perder minha virgindade com alguém que eu gostasse,
sei lá, alguém legal. Queria sair, conhecer um homem legal, beijar bastante,
rolar aquela química, igual você descreveu com Enzo, sabe? — Alice
assentiu, sorrindo. — E depois me entregar, mas fazer isso porque eu quero
e gostei da pessoa, não porque sou obrigada, igual terei que fazer com o seu
irmão.

— Meu irmão te mataria só de ouvir você falando isso.

— Faço das suas palavras as minhas, irmãzinha.

Eu e Alice pulamos da cama ao ouvir a voz de Renzo.

Mas que bosta! Como esse homem se materializou aqui do nada?

— O que você está fazendo no meu quarto? — Alice questionou ao


irmão, mas seu olhar estava direcionado a mim, então ele nem se deu ao
trabalho de respondê-la. — Ouvir as conversas dos outros é falta de
educação, mamma[xiii] sempre ensinou isso.

— Sai, Alice — mandou, com uma falsa calmaria.


— Não vou sair. — Minha cunhada cruzou os braços, determinada a
ficar.

— Eu mandei você sair, Alice! — gritou. — Não vou falar de novo,


caralho!

Nós duas arregalamos os olhos, com medo.

— Vai, Alice — pedi, com medo de que as coisas pudessem piorar.


— Vai ficar tudo bem. — Tentei tranquilizar tanto ela quanto a mim mesma.

Se eu não morrer antes, um dia ficará tudo bem.

— Qualquer coisa você grita, tá? — Assenti. — Não faz nada com
ela, por favor. Estávamos apenas conversando, é coisa de garotas. — Renzo
continuou em silêncio, com o olhar furioso preso ao meu. — Vou chamar o
papai.

— Sai, Alice, caralho! — berrou e ela saiu correndo.

Ele caminhou até a porta, fechando-a e puxei o ar com força,


pedindo ajuda a Deus para enfrentar toda a fúria deste homem.

— Agora somos nós dois. — Sua voz era tenebrosa e muito


ameaçadora.

Eu estava desesperada, sentia meu corpo todo tremendo, minha


cabeça doía, minha garganta estava seca. Meu Deus, me ferrei legal. O que
vou fazer agora?

— Renzo, calma, eu posso explicar. — Mentira, na verdade eu não


posso explicar nada, mas essa é a única forma de eu evitar uma morte lenta
e dolorosa. — Não sei ao certo o que você ouviu, mas não é bem assim
como entendeu.
— Eu estou esperando, Melanie, explique-se.

Essa falsa calmaria dele tornava as coisas muito piores.

Como eu vou explicar, meu Deus? Bora, Melanie, use essa sua
cabecinha, vamos garota, você é esperta.

— Eu e sua irmã estávamos conversando sobre coisas que mulheres


conversam, você deve ter entendido errado porque pegou na metade da
conversa.

— Então me conte a conversa inteira, estou com tempo sobrando. —


Olhou para o seu relógio de pulso, conferindo as horas e voltou a me
encarar, com as sobrancelhas arqueadas.

— Pode ser amanhã? Estou um pouco cansada hoje, muitos


acontecimentos.

— Agora! — bradou e eu estremeci. — Eu quero ouvir agora. Não


estou com paciência, se eu fosse você já estaria inventando uma boa
desculpa.

— O que você ouviu exatamente? — Faço-me de sonsa, pois só


assim vou conseguir tempo para pensar em algo mirabolante para sair dessa
enrascada.

— Ouvi o suficiente.

— O suficiente quanto?
— Tá querendo me fazer de idiota, garota? Anda, abre essa boca,
fala logo, estou perdendo o pouco de paciência que ainda me resta.

— Se você ouviu a conversa, então eu não tenho o que explicar. —


Acabei de fechar o meu caixão, certeza que selei a minha morte.
— Então quer dizer que você quer perder a sua virgindade com o
Giovanni? — Deu dois passos na minha direção e recuei.

— Não falei nada disso! — defendi-me, pois não era verdade o que
ele estava falando.

— Posso chamar ele aqui agora, você quer, Melanie? — Balancei a


cabeça veemente de um lado para outro em sinal negativo. — Por que não?
Não é isso que você estava desejando até uns segundos atrás? Aproveita e
realiza o seu desejo, aproveita enquanto você ainda tem tempo, enquanto
vocês dois ainda estão respirando.

— Renzo, eu não falei que queria perder a minha virgindade com


ele. — Queria gritar, mas o medo era tanto que eu só conseguia sussurrar,
não sabia nem se ele estava me ouvindo. — Eu falei que queria perder com
um cara legal e também falei isso sem pensar. Para de inventar as coisas!

— Sem pensar o caralho! Você acha que eu sou trouxa? Que eu não
percebo seu olhar de idiota apaixonada para aquele idiota?

— Você tá vendo coisa onde não tem.

— Sabe o que eu estou vendo? É que eu te deixei pensar que você


tinha uma liberdade que nunca existiu. Eu te deixei pensar que você podia
fazer e falar o que quisesse, mas não é assim que essa porra funciona! —
Avançou em mim como um animal feroz, apertando o meu pescoço e
batendo as minhas costas na parede.
— Me solta, você está me machucando — alertei, já ficando sem ar.

— Estou te machucando? — Sorriu. — A intenção é exatamente


essa. Você ainda não viu nada, Melanie. Eu te disse várias vezes para se
comportar, para não despertar o demônio que existe dentro de mim e você
me ouviu? Não! Você não ouve caralho nenhum! Você me afronta, me tira
do sério. Porra! É um caralho! Eu te dei liberdade demais antes dessa droga
de casamento, mas isso acabou, você está ouvindo? Toda essa sua
brincadeirinha acabou, durou tempo demais.

Escutamos batidas na porta e ele aliviou o aperto. Respirei fundo,


buscando por ar.

— Renzo? O que está acontecendo aí, meu filho? Abre a porta! —


Era a voz da mãe dele.
— Filho, sua irmã foi nos procurar para falar que você está muito
nervoso. Podemos conversar? Não faça nada de cabeça quente. — Agora
era o pai dele quem o alertava.

— Desçam para a sala, estou indo para lá com a Melanie — Renzo


gritou para eles escutarem.
— Vamos fazer o que na sala? — questionei.

Estou com medo absurdo da maneira que ele estava me olhando.


— Eu te disse que a palhaçada acabou. Anda, vem logo! — Enrolou
a mão nos meus cabelos e saiu puxando.

Tive que praticamente correr para não ser arrastada pelos cabelos.
Saí tropeçando nos meus próprios pés escada abaixo e só não caí porque ele
estava me segurando forte.
Chegamos na sala e a mãe dele e Alice me olhavam apreensivas,
enquanto o pai dele só ficou observando, sem qualquer expressão no rosto.

— O que aconteceu, Renzo? — o pai dele por fim abriu a boca,


perguntando.
— Aconteceu que acabou a palhaçada. — Ele me jogou com tudo
no sofá e me encolhi de medo. Agora, mais do que nunca, estava me
sentindo sozinha.

Queria tanto o meu pai.

— Não faz isso, vai machucá-la! — Alice me defendeu.


— Cala a sua boca, Alice, não se mete! — Renzo despejou sua raiva
na irmã.

— Meu filho, calma, explique o que está acontecendo — Giovana


pediu com toda a sua calma e paciência.

Sentia lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Eu estava


assustada, nunca passei por nada parecido.

— Acontece é que eu dei mordomia demais para essa garota. Eu


deixei vocês mandarem nessa droga de noivado e casamento, mas acabou.
Melanie é apaixonada por esse soldado de bosta que faz a segurança dela.
— Os pais dele me olharam surpresos e Alice balançou a cabeça de um lado
para o outro. — E eu peguei ela falando que queria ficar com ele.
— Eu não falei isso — tentei me defender, mas o seu grito estridente
me fez recuar.

— Cala a sua boca! — vociferou. — Sabem o que vai acontecer


com ela se isso acontecer, vocês não sabem? — Todos ficam em silêncio e
eu me senti tão exposta, humilhada e envergonhada. E pior, por uma coisa
que não era verdade. — Então a partir de hoje ninguém se mete mais nos
meus assuntos, ninguém vai se meter mais nas minhas decisões
relacionadas a essa garota. Giovanni não faz mais a segurança dela. Melanie
não mora mais aqui. A partir de hoje ela vai embora comigo e vai dançar
conforme a minha música, e já deixo avisado que não vou voltar atrás da
minha decisão. Ela fica comigo até o dia do casamento — avisou os seus
termos e todos ficaram em silêncio.
— Melanie, arrume suas coisas — Vincent virou-se para falar
comigo.

— Pai, você não pode deixar isso acontecer, Renzo vai infernizar a
vida dela, ele já faz isso aqui em casa — mais uma vez, Alice tentou me
defender.

— Não se mete, Alice. Melanie é responsabilidade do seu irmão e se


ela está faltando com respeito ao noivado dos dois, seu irmão tem total
poder de decisão sobre isso. Agradeça-o por não matá-la, caso contrário, se
essa fosse a decisão dele, não poderíamos fazer nada — disse e saiu da sala.

— Mas ela não fez nada, gente! Renzo, você está fazendo uma cena
à toa!

— Filha, não se mete nisso — Giovana alertou-a e olhou para mim.


— Vamos subir Melanie, eu te ajudo a arrumar as suas coisas. — Balancei a
cabeça em sinal negativo, chorando baixinho.

Eu não queria ir embora, não queria ficar morando com ele. Ele
sempre desconfiou que eu tinha sentimentos por Giovanni e eu fui imatura
por alimentar isso nele, sei lá, acho que eu gostava de vê-lo nervoso com
essa história, porque era o único momento que ele realmente parecia se
importar comigo, mas não é verdade o que ele está falando, eu não me
deitaria com Giovanni, muito menos arriscaria a minha vida. Agora as
coisas iriam piorar muito, não tenho dúvidas disso.

Pai, porque você me deixou?

— Mel, não dificulta as coisas, vamos lá arrumar sua mala, falta


pouco para o casamento, não vai fazer muita diferença — Giovana insistiu.
Só de ouvir essa palavra "casamento" eu chorei ainda mais,
encolhida no sofá.
— Deixa, mamma, se ela não quer levar nada, ótimo, ocupa menos
espaço na minha casa. — Renzo segurou o meu braço e me puxou para que
eu me levantasse do sofá, mas eu fiz força para continuar sentada. — Não
vai vir por bem? Tudo bem, não me importo em te levar por mal. — Puxou-
me com muita força, arrastando-me para fora da casa.

— Renzo, não faz isso com ela! — Ouvi Alice gritar.


— Cala boca, Alice, vai cuidar da sua vida e do seu noivo, porra!

Renzo começou a me empurrar para dentro do carro e Giovanni


apareceu.
— Melanie, o que está acontecendo? — perguntou, mas nem
consegui responder, pois ele me jogou com tudo dentro do carro e bateu a
porta.

— Você não faz mais a segurança dela, aliás, não chegue nem perto
dela. — Escutei Renzo falar com ele.

— O que aconteceu, senhor Renzo?

— Vai embora, volte para o México.


— Por que? — Ele pareceu perdido, sem entender o que estava
acontecendo.
— Você estará evitando que eu enfie uma bala na sua cabeça.

Entrou no carro e deu partida. Olhei para a janela, deixando as


lágrimas rolarem.
— Guarde suas lágrimas, seu inferno nem começou — falou com a
voz carregada de puro ódio.

O que eu fiz para merecer isso, meu Deus? Por que meu pai fez isso
comigo?
Capítulo 10

Renzo Caccini

Eu estava cego de tanto raiva, minha vontade era pegar o


desgraçado do Giovanni e torturá-lo bastante antes de matá-lo. Eu não
confiava nesse homem. Nem eu mesmo sei explicar o porquê de tanto
enfurecimento.

Estacionei o carro na garagem e retirei ela do banco de trás à força.


Melanie chorava de soluçar, mas eu não conseguia sentir nada além de ódio,
então não me compadecia nem um pouco do seu desespero. Se eu fosse ela,
guardava todas essas lágrimas, porque mais para frente ela vai precisar, não
iria aliviar.

Meu erro foi deixar ela achar que podia brincar comigo. Dei muito
espaço para ela, afinal, é uma garota de apenas dezessete anos que perdeu a
única família que tinha, mas eu cansei de bancar o bonzinho, isso
definitivamente não combinava comigo.

— Você está me machucando — murmurou enquanto eu a arrastava


para dentro do apartamento.

— Cala sua boca, não quero nem ouvir sua voz — vociferei,
extremamente irritado.

A cada vez que ouvia a voz de Melanie, lembrava-me da conversa


que presenciei entre ela e minha irmã.
Tirei-a do carro e arrastei-a para dentro do elevador, onde ela se
encolheu no canto, assustada. Entramos na minha casa e ela continuava a
chorar desesperadamente. Optei por morar em apartamento já que não fico
muito em casa, mais viajo do que paro aqui.

Abri a porta do quarto e a joguei com tudo em cima da cama. Seus


olhos claros estavam arregalados e seu rosto todo vermelho por conta do
choro excessivo.

— O que você vai fazer comigo? — perguntou com a voz


embargada e trêmula por conta do medo.
— Nada. Você vai ficar aqui até que eu tenha vontade de ver sua
cara novamente.

— Você vai me trancar aqui?

— Sim. — Saí do quarto e tranco a porta.

— Renzo, não! Por favor, não! — gritou, batendo desesperadamente


na porta.

Fui para a varanda, acendi um cigarro e me servi de uma dose


generosa de uísque.

Melanie já parou de gritar, provavelmente percebeu que não fará a


menor diferença para mim. Ela tinha que me agradecer, porque outro em
meu lugar já teria colocado uma bala no meio da testa dela e daquele
trouxa. Eu nem sei porque não fiz isso, seria muito melhor se eu tivesse
feito, assim teria me livrado de um casamento.

O problema é que os olhos dessa peste ruiva tinha algo que me


fascinava, não sei falar o que era, só sabia que ela era uma feiticeira.
Servi-me de mais um pouco e virei todo o líquido de uma vez.
Estava sentindo uma coisa diferente que eu não sabia explicar, nunca senti
isso antes, esse ódio fora do normal. Inferno! Bebi outra dose e decidi ir ao
apartamento de Samantha. Nada melhor para relaxar que um bom sexo. Vou
fazer isso agora.
Terminei de fumar meu cigarro, coloquei minha arma no coldre,
peguei minha jaqueta e abri a porta do apartamento, pronto para sair, mas
me deparei com o meu irmão parado ali.

— O que você quer? Estou de saída — avisei, já sem paciência.

— Conversar e beber do seu velho e bom uísque.

— Na sua casa tem uísque e se quer conversar, procura uma


psicóloga — respondi mal-humorado, mas Rocco pareceu não se importar.
— Entra nesse caralho logo, Renzo! — Empurrou-me e entrou.

Paciência nunca foi o forte da nossa família.

— Tenho que sair, cara, e você está me atrapalhando.

— Vai ir encontrar Samantha? — perguntou já se sentindo à vontade


e se se servindo de uma dose do meu uísque mais caro, figlio di puttana.[xiv]

— Sim.

— Senta aí, vamos conversar um pouco.

— Fala, Rocco. — Bufei, sentando no sofá. Ele me entregou um


copo e se sentou no outro sofá à minha frente.

Meu irmão era frio e implacável como Don, eu o admirava muito,


mas ele tinha um lado que poucos conhecem, ele era muito família. Amo
meu irmão demais. Ele sempre me protegeu, assim como eu fazia com ele.
Nossa diferença de idade era pouca, de apenas um ano, mas mesmo assim
ele sempre desempenhou o papel de irmão mais velho impecavelmente
bem. Durante nosso treinamento, fomos a companhia e o alicerce um do
outro. Sei que ele daria sua vida pela minha, assim como eu daria a minha
vida pela dele.

— Cadê Melanie?

— Deve ter cansado de chorar e deve estar dormindo — respondi


indiferente, estava cansado desse assunto.

— Papai me ligou para falar. — Bebericou sua bebida. — Estou de


acordo com a sua decisão.

— Independente, eu não iria mudar de ideia. — Deixei claro que


mesmo que ele seja o Don, mande em tudo e em todos, eu não mudaria
minha decisão. Se caso ele exigisse isso, pela primeira vez na vida,
entraríamos em conflito.

— Eu sei disso. — Abriu um pequeno sorriso. Meu irmão sabe que


somos cabeça dura igual ao papai — Conversei com os conselheiros.

— Sobre?

— Vocês dois.

— E aí? — Acendi um cigarro e ele me pediu um também.

— Ela faz dezoito daqui um mês, porém, perdeu sua família e está
prometida a você, ela não tem ninguém. Então, vocês podem se casar hoje
mesmo se quiser.

— Vou esperar até que ela faça dezoito.

— Por que?
— Porque sim. Não tenho motivos para adiantar o casamento.

— Tem certeza? — Ele arqueou uma sobrancelha, observando-me


com cautela.

— Absoluta. — Rocco riu. — Você acha que eu gosto dela? — Meu


irmão permaneceu em silêncio. — Cazzo! Eu não gosto dela.

— Se você diz. — Balançou os ombros e se levantou. — Estou indo


nessa.

— Veio aqui só para encher meu saco?

— Sempre. Vai na casa da Samantha ainda?

— Não. — Depois de conversar com meu irmão, eu estava mais


calmo e minha vontade de ir até lá já passou.

— Vocês já comeram?

— Qual é, Rocco? Virou a mamãe?

— Vai se foder. — Nós dois rimos — Ela deve tá com fome.

— Problema dela, agora vai embora. — Abri a porta para que ele
saísse.

— Me expulsando?

— Sempre. Igual você faz comigo quando fico na sua casa.

— Você quer tomar café, almoçar e jantar na minha casa.

— Você é meu irmão mais velho, serve para isso.

— Te amo, irmão. — Puxou-me para um abraço.

— Também te amo, irmão.


Nos despedimos e ele foi embora. Me sentia bem mais calmo depois
da sua visita.
Pensando bem no que ele falou, Melanie realmente deveria estar
com fome.
Capítulo 11

Melanie Salvatierra

Cansei de chorar, tomei um banho, peguei uma cueca e uma camisa


que tinha aqui nesse quarto, vesti e apaguei.

Acordei ao sentir alguém me observando e pelo cheiro único que só


esse homem tem, sei que é o meu noivo. Eu conseguiria sentir a presença
desse homem a quilômetros de distância.
— Oi. — Sentei-me e o cumprimentei, ele estava em pé ao lado da
cama, encarando-me com o mesmo olhar indecifrável de sempre. — Tudo
bem? — perguntei porque não sei o que o trouxe até aqui e sinceramente,
espero que não seja para brigar.

— Está com fome?

Seu tom de voz estava mais calmo, o que fez com que eu respirasse
aliviada.

— Um pouco.

— Sabe cozinhar, Melanie?

Gostava quando ele me chamava pelos apelidos doidos que


inventou, mas gostava ainda mais quando me chamava pelo meu nome.

— Quase nada, mas posso tentar fazer alguma coisa.

Assentiu.

— Levanta e vem comer — chamou e saiu do quarto.


Definitivamente eu não conseguia entender esse homem, ele era
muito bipolar. Iria acabar enlouquecendo. Era melhor eu desistir de tentar
entendê-lo.
Levantei, fui ao banheiro fazer xixi e escovar os meus dentes. Desci
as escadas indo direto para a cozinha, o cheiro estava maravilhoso e minha
barriga deu sinais de que estava gostando desse cheiro tanto quanto o meu
nariz.

— Você sabe cozinhar? — questionei, surpresa ao vê-lo tirando algo


do forno.

— Risotto alla milanese[xv], gosta? — perguntou, ignorando a minha


pergunta anterior.

— Eu nunca comi, mas o cheiro está ótimo.

— Senta aí, então. — Apontou para a cadeira e eu me sentei.

Renzo serviu um pouco no meu prato, depois no dele, e buscou um


vinho, enchendo nossas taças.

— Sei que você é menor de idade, mas uma taça não te fará mal.

— Nunca bebi — confessei.

— Espero que goste.

Beberiquei um pouco do líquido rosé que estava na taça.

— É gostoso — expressei-me e eles apenas assentiu. Levei uma boa


garfada da comida à boca, surpreendendo-me muito positivamente com o
sabor. — Nossa, isso aqui está uma delícia! — balbuciei, ainda de boca
cheia.

— Obrigado! — limitou-se a responder.


— Você cozinha há muito tempo? Aprendeu com quem? —
Encarou-me com as duas sobrancelhas arqueadas e entendi que estava
fazendo perguntas demais. — Desculpa.

— Eu moro sozinho desde novo. Aprendi a cozinhar olhando


receitas na internet. — Depois de alguns segundos de silêncio, ele decidiu
me responder.

— Sério? Bem que você poderia me ensinar. Posso beber um pouco


mais desse vinho?

— Acho melhor não, é a primeira vez que você bebe e você ainda
nem é maior de idade.

— Tá bom. — Coloquei um pouco mais do risoto no meu prato.

— Só mais um pouco. — Por fim, acabou concordando e encheu


minha taça. Sorri. — Me fale mais sobre você, Melanie. — Parei o garfo na
metade do caminho e o encarei desconfiada. Desde quando Renzo é de
puxar conversa? — Se não quiser falar, tudo bem. — Deu de ombros.

— Eu quero — apressei-me a responder, afinal, não tínhamos uma


boa convivência e talvez esse fosse um bom jeito de começar. — Me fale o
que você quer saber?

— Qualquer coisa, fale de você.

— Minha mãe morreu ao dar à luz e meu pai me criou sozinho. —


Limpei a garganta, falar do meu pai era doído. — Ele foi um ótimo pai,
sabe? Eu o amo demais e sinto muito a sua falta.

— Lamento. — Ele parecia sincero e eu sorri. — Seu pai sempre te


escondeu de todo mundo. — Foi mais uma afirmação do que uma pergunta.
— Sim. Ele não queria me envolver nessas coisas da máfia. Por isso
não consegui entender o porquê desse acordo de casamento.

— Ele teve os motivos dele. — Deu uma golada no seu vinho. —


Você nunca fez nenhum programa de garota "normal"? — Fez as aspas com
os dedos.

— Não.

— Não? Nada? — Dessa vez foi ele quem se surpreendeu.

— Não. Nada — reiterei o que já havia dito. — Nunca fui ao


shopping, nem na lanchonete, nem na igreja… sempre fiquei trancada
dentro de casa.

— Então por que Giovanni fazia a sua segurança? — Coçou o


queixo com o polegar.

— Não sei. Papai tinha muito medo, mas eu nunca soube de quê.
Acho que Giovanni estava lá para que eu não tivesse necessidade de sair,
afinal, tudo que eu precisava era ele quem comprava. Nunca saí de casa
para nada. Até quando eu passava mal, um médico ia lá em casa para me
examinar.

— Estranho — concluiu pensativo. — Ele te esconder para não ter


que te propor um casamento, eu até entendo, mas esse excesso é estranho.
Você nunca desconfiou de nada?

— Não. Desconfiaria de quê? — perguntei enquanto continuava


comendo o risoto e vi que Renzo já tinha terminado.

— Dessa proteção excessiva.

— Não. Porque toda vez que eu perguntava, ele falava a mesma


coisa, que era porque alguém poderia querer se casar comigo. — Balancei
os ombros.

— Entendo.

Sua expressão continuava pensativa, o que me fez questionar:

— Você acha que tem alguma coisa estranha nisso?

— Talvez, mas não vamos pensar nisso. Você gostou mesmo, hein?
— Apontou com o queixo para o meu prato.

— Costumo comer muito.

E era verdade, sempre me alimentei bem.

— E é magrinha.

— Genética, eu acho. — Sorri.

— Só se for da sua mãe, né? — comentou rindo e eu o acompanhei.

Na verdade eu não me pareço em nada com o papai.

— Meu pai era gordinho.

— Sim.

— Bom, já que você fez a comida, eu vou lavar os pratos. —


Recolhi a louça e a levei para a pia.

Estava lavando os pratos enquanto Renzo estava fumando na


varanda. Eu gostei da nossa conversa, gostei desse Renzo mais tranquilo
que ele aparentou estar hoje de noite. Talvez possamos ser amigos. Distraí-
me pensando no futuro e acabei deixando um prato cair no chão.

— Droga! — resmunguei.

— Está tudo bem aí? — Renzo entrou. — Vai me dizer que nunca
lavou pratos antes? — Abriu um sorriso debochado.
— Não, mas eu sei como fazer. — Abaixei-me para recolher os
cacos de vidro.
— Caralho, Melanie! Não faz isso! — gritou e eu o olhei assustada.
O que eu fiz de errado?

— O que eu fiz?

Renzo olhou-me de um jeito estranho e subitamente avançou,


segurando firme na minha cintura e colocando-me sentada na bancada ao
lado da pia, encaixando o seu corpo musculoso no meio das minhas pernas.

Nossos olhos se encontram e ficamos nos encarando por segundos.


Eu estava me sentindo atraída por ele? Estava me sentindo perdida naquele
olhar ofuscante que parecia ver através da minha alma.

Engoli seco quando o seu rosto se aproximou do meu. Sua mão


subiu pelas minhas costas e firmou na minha nuca, segurando-me firme e
juntando os nossos lábios. A princípio não sabia ao certo o que fazer, mas
abri a boca e dei passagem para a sua língua, e lentamente e com cuidado
ele explorou-me, beijando-me de um jeito ardente.

Ele apertou minha cintura com força e instintivamente rebolei,


sentindo-o excitado. Sua ereção dura roçou no meio das minhas pernas e
soltei um gemido contra os seus lábios.

Levantei os braços e ele tirou a camisa que eu estava vestindo,


deixando-me apenas com a sua cueca. Seus dedos brincaram com os meus
seios expostos e caramba… isso era bom, muito bom!

Renzo afastou-se num rompante e eu pisquei várias vezes, tentando


entender o que aconteceu.
— Isso não podia ter acontecido! — vociferou passando as mãos
pelo cabelo, extremamente nervoso.

— Como assim não podia? — Ele ficou em silêncio. — Renzo?

— Não, Melanie, isso não podia ter acontecido. Você só tem


dezessete anos, porra! Esquece toda essa merda. — Pegou a arma, o celular
e as chaves do carro que estavam em cima da mesinha e saiu, deixando-me
aqui sozinha e confusa.
Eu perdi o meu juízo, só pode. Se ele não tivesse parado, até onde
eu seria capaz de ir?

Sentia-me ofegante e um tanto decepcionada. Eu queria que ele


tivesse continuado?
Desci da bancada, vesti a camisa, catei os cacos de vidros que ainda
estavam ali e terminei de lavar os pratos.

Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando esquecer a


loucura que aconteceu há poucos segundos.
Fui para a sala, deitei-me no sofá e liguei a televisão, fiquei
esperando Renzo voltar para que pudéssemos conversar. Por que ele ficou
assim? Será que eu beijo mal? Talvez ele não tenha gostado, mas era só ele
falar, não precisava disso tudo.

Se ele não gostou do meu beijo, tudo bem, foi a primeira vez que
beijei, não tinha como ser perfeito, mas eu gostei do dele, gostei muito mais
do que eu deveria ter gostado. Ele tem uma pegada que só Jesus, que
homem forte!
Credo, olha os pensamentos que estava tendo? Até segundos atrás
estava detestando esse homem e agora estou toda derretida pelo o seu beijo.
Fiquei pulando de canal em canal, nada que preste passando. Fui até
a geladeira e só tinha coisas de gente fitness, credo! Cadê as bobeiras? Os
chocolates? Será que esse homem não come essas coisas? Que careta!

Por isso que ele era todo gostoso assim. Melanie, desde quando você
passou a achar esse homem gostoso? Repreendi-me por esses pensamentos
idiotas.

Peguei uma maçã e voltei para o sofá. Será que ele iria demorar?
Queria muito conversar com ele, mas estou até com medo de que ele me
trate mal, ele é super bipolar, nunca sei com qual personalidade dele estou
lidando.
Talvez ele tenha ido para casa da amante. Nossa, se ele fez isso é
muito, mas muito mais idiota do que pensei que fosse.

Estou sentindo uma pontinha de ciúmes? Eu hein, Melanie? Ficou


doida, foi? Odeio esse homem, então por que estou sentindo ciúmes?

Não, não é ciúmes, é apenas ego ferido por imaginar que ele me
deixou aqui naquela situação para ir atrás da outra.

E que situação, viu? Foi a primeira vez que beijei e já estava ficando
pelada.

Ri com esse pensamento. Quem te viu, quem te vê, hein, Melanie?

Eu nunca vi a amante, mas todos falavam que o caso deles era de


longa data. Eu já perguntei para Alice e Luara, no começo elas não queriam
me falar, mas de tanto eu insistir, elas acabaram cedendo e me contaram o
que elas sabiam. Acredito que essa mulher seja importante na vida dele.

As horas foram passando e nada do Renzo chegar. Não tenho


telefone e muito menos o número dele para ligar com o telefone fixo que
tem aqui.
O sono foi vencendo e já nem sabia mais o que estava passando na
televisão.

Não sei por quanto tempo eu cochilei, mas acordei com o barulho da
porta se abrindo. Era ele. Essa constatação fez o meu coração acelerar.
— Por que dormiu no sofá? — ele perguntou sem me olhar.

— Estava te esperando — confessei, sentando-me.


— Para que? — Renzo ainda não me olhou, ele estava de costas lá
na cozinha bebendo água.

— Conversar? — Levantei e me aproximei dele, com passos


vacilantes.
— Melanie, esqueça aquilo que aconteceu, já falei.

— Por que? Você não gostou? Olha para mim — pedi, chateada com
essa indiferença dele.
— Eu vou ir dormir. — Tentou passar por mim, mas eu coloquei as
mãos em seu peito, impedindo-o de ir.

Nossas respirações ficaram ofegantes e finalmente ele me encarou.

— Conversa comigo — pedi baixinho.

— O que você quer conversar?

— Por que você saiu daquele jeito?

— Porque não era para ter acontecido.

— Foi tão ruim assim?


— Porra, Melanie! — Deu uma risadinha. — Ruim? Você não sabe
do que está falando. — Ele passou as mãos pelo rosto, como se estivesse
lutando contra si mesmo.
— Então por que está fugindo?

— Não dá, tá legal? Você só tem dezessete anos.


— O problema é a idade? Eu não me importo com isso.

— Também, Melanie, esse é só um dos problemas.


— O outro é a sua amante? — Arrependi-me no momento em que
fiz a pergunta, pois seu olhar ficou sério demais.

— Não vamos falar disso, boa noite! — Passou por mim e foi em
direção as escadas, fui atrás dele e quando começou a subir, confessei:
— Eu gostei, Renzo — falei alto para que ele pudesse ouvir.

— Você não sabe do que está falando.

— Não sou nenhuma burra! — chiei, irritada por ele estar me


tratando desta maneira.

— Não falei isso. Apenas disse que você não sabe do que está
falando, nunca havia feito isso antes.

— Então para saber se eu gostei, eu tenho que fazer isso com outra
pessoa? Tudo bem, farei e depois volto para te falar.

Como se eu tivesse despertado a fera que existe nele, Renzo se virou


e veio na minha direção em uma rapidez que me assustou. Ele me
pressionou na parede e me encarou sério, bufando de raiva, posso ver o ódio
estampado em seus olhos.
— Nunca mais repete isso, você está me ouvindo? Você é minha,
Melanie, vai ser para sempre! — Apertou o meu queixo, mas não para
machucar.
Coloquei as mãos em seus ombros, pegando impulso, e subi no seu
colo, passando as pernas por sua cintura e rebolando. Não sei de onde eu
tirei tanto atrevimento, eu só posso estar louca mesmo.

— Não faz isso, ragazza — pediu, fechando os olhos.


— Mas eu quero fazer — sussurrei no seu ouvido.

— Melanie, para… se eu perder a cabeça não vai ter mais volta —


afirmou, abrindo os olhos.
— Então perde. — Rebolei novamente.

Nem eu sabia que era tão assanhada assim.


Ele caminhou comigo em seu colo e cuidadosamente colocou-me
deitada no sofá, beijando o meu pescoço de um jeito gostoso, deixando-me
toda arrepiada.

Fechei os meus olhos, ansiando por outro beijo, mas o senti se


afastar. Demorei para abrir os olhos e enfrentar novamente a sua rejeição,
mas assim que fiz, constatei mais uma vez que ele deixou-me sozinha.
Não queria ser tão burra ao ponto de chorar por ter sido rejeitada,
mas não consegui evitar e deixei que as lágrimas rolassem.
Estava nítido que ele não se interessava por mim. Que raiva desse
desgraçado! Que raiva de mim mesma!
Capítulo 12

Melanie Salvatierra

Depois daquele episódio caótico, eu não tive mais contato com


Renzo, isso mesmo, moramos na mesma casa, mas não nos víamos. Ele saia
bem cedinho e volta tarde da noite, isso quando voltava. Sabia que ele
estava me evitando e no fundo isso me doía um pouco. Tenho sonhado com
nosso beijo todas as noites e era uma grande merda.

Sentia-me tão chateada com tudo que nem me lembrei mais do


Giovanni, acredita? Logo eu, que sempre gostei da sua presença. Agora os
meus pensamentos eram povoados por Renzo e tenho me odiado por isso,
até nos meus sonhos esse mal-humorado todo tatuado parece.
Faltavam apenas dois dias para o nosso casamento. Até hoje só saí
desse apartamento para ir até Giovana, a mãe dele, resolver algumas
questões do casamento e fazer as medidas do vestido com Alice.

Por falar em Alice, ela estava tão triste, parecia que as coisas entre
ela e o noivo estavam indo de mal a pior e isso antes do casamento, imagina
depois? Logo após o meu casamento é o dela, exatamente três semanas
depois e ela estava tão desesperada que chegava a dar pena da sua situação.
O plano era ela se casar antes de mim, mas como já estou morando com o
meu noivo, decidiram que era melhor eu me casar antes.

Irei me casar no dia do meu aniversário, imagina só que presentão?


Só rindo mesmo!
Hoje era dia de fazer a última prova do vestido. Graças a Deus ia
poder sair desse apartamento, não aguentava mais ficar trancada aqui
dentro. Fiquei trancada a minha vida toda, mas era na minha casa, aqui eu
não me sinto em casa. Conferi no relógio as horas e peguei minha bolsa
para ir ao encontro de Alice no ateliê. O cão de guarda que o Renzo colocou
atrás de mim já estava lá fora me esperando, sério como sempre, mal me
dirigia a palavra, por isso eu preferia o Giovanni, a gente passava horas e
horas conversando.

— Boa tarde, senhorita Caccini — cumprimentou-me quando


apareci na porta de entrada.

— Melanie, meu nome é Melanie e meu sobrenome é Salvatierra —


lembrei-o, detestando ouvi-lo me chamar com o sobrenome que terei daqui
há dois dias. Passei por ele pisando firme e posso jurar que vi um sorriso
nos seus lábios.

Hum, até que esse segurança é bonitinho, hein?

Misericórdia, por que estou olhando para a beleza do homem?

— Tudo bem, senhorita Salvatierra. — Pude sentir a ironia nas suas


palavras, mas deixei para lá. — Podemos ir. — Abriu a porta do carro para
mim, que agradeci.

Fomos o trajeto todo em silêncio, como sempre. Quando cheguei no


ateliê, Alice estava com aquela carinha triste de sempre.

— Oi, Lice — Puxei-a para um abraço carinhoso.

— Oi, Mel. Como você está?

— Bem e você?
— Bem, também. — Sorriu, mas nem o pequeno sorriso era capaz
de esconder toda a tristeza em seu olhar.

— O que aconteceu?

— Vou fechar o meu ateliê.

— Por que?

— Depois do casamento vou morar na Alemanha.

— Ah, sim! — Verdade, lembrei-me que Enzo é alemão. — Abre


um lá.

— Enzo disse que não quer...

— Poxa, Lice, que coisa chata.

— Nem me fala, mas vamos lá experimentar o seu vestido.

Segurou na minha mão e me arrastou para dentro. Experimentei o


vestido e ela fez os últimos retoques. Alice é talentosa demais e é uma pena
ela ter que abrir mão do seu talento por causa do casamento.

Ficamos conversando um pouco, mas a minha barriga já estava


reclamando de fome.

— Vou passar em algum restaurante para jantar, vamos? — A


convidei, acabei de ter essa ideia.

— Não, Mel, obrigada! — Suspirou, parecendo bem cansada. —


Vou para casa, estou sem fome.

— Fica bem, tá? Qualquer coisa aparece lá em casa para a gente


conversar.

— Vou aparecer sim.


Nos despedimos e voltei para o carro.

— Eu vou parar em algum restaurante para jantar antes de ir para


casa — avisei ao Roni, o carinha que faz a minha segurança.

— Tenho ordens para te levar de volta para casa.

— Eu estou com fome e vou parar para comer, Roni, que saco! —
Bufei, irritada.

— Tudo bem. Irei avisar o Senhor Caccini.

Revirei os olhos.

— Tá, faz o que quiser, só me leva para comer. — Afundei-me no


banco do carro.

Estava de saco cheio de tudo isso.

Fui para o restaurante jantar sozinha e caramba, que paz! Apesar do


segurança estar me vigiando, senti uma pontinha de liberdade e isso me fez
sorrir.

Só saí de lá após a sobremesa, estava satisfeita e pronta para voltar


para a minha prisão, mas antes de entrar no carro escutei alguém me
chamar.

— Mel?

Virei-me e encontrei Giovanni. Sorri surpresa, pensei que estivesse


no México. Fui em sua direção para cumprimentá-lo, mas Roni me segurou.

— Você não tem autorização para chegar perto dela — falou


seriamente com Giovanni.

— O quê? — Tentei puxar o meu braço do seu aperto. — Para de


doideira, Roni, ele é meu amigo.
— São ordens, senhorita.

— Eu vou falar com ele, me larga. — Puxei o braço e ele soltou,


temendo me machucar. — Como você está? — Aproximei-me de Giovanni.

— Bem e você?

— Estou indo.

— Só vim te dar os parabéns adiantado e desejar boa sorte no seu


casamento.

— Você não vai estar lá?

— Não fui convidado. — Abriu um pequeno sorriso.

— Não acredito nisso. — Renzo é um idiota mesmo! — Claro que


você está convidado, Giovanni.

— Melhor não arrumar confusão, Mel.

— Senhorita Salvatierra, precisamos ir agora — Roni chamou-me e


decidi não entrar em conflito com ele, afinal, só estava fazendo o seu
trabalho.
— Vai lá, Mel, fica bem e qualquer coisa me procura.

Giovanni puxou-me para um abraço apertado.

— Tchau, fica bem também. — Afastei-me dele e o vi ir embora.

— O senhor Caccini está te esperando em casa — Roni avisou


quando entrei no carro.

— Já foi fazer fofoca? Pior que mulher, hein?!

Fofoqueiro de uma figa!


— É o meu trabalho.
— Que seja. — Balancei os ombros.

Já até sabia que o inferno me esperava. Fiquei olhando a rua pela


janela enquanto o carro se movia e minha única vontade era sumir.

Já entrei em casa me deparando com a cara de bunda do Renzo. Se


os olhos dele fossem uma metralhadora, com toda certeza eu estaria morta
nesse exato momento. Estava sem saco para ter que enfrentá-lo. Estava tão
cansada psicologicamente.

— Se eu aparecer morta, a culpa é sua — cochichei baixinho para


Roni ouvir e ele me deu um pequeno sorriso.

— Pode sair, Roni — Renzo ordenou com a voz grossa e autoritária.

— Sim, senhor. — Ele se retirou, deixando-me sozinha com o


perigo.

Ficamos só nós dois na sala e toda a raiva que ele estava sentindo
por mim. Decidi ignorá-lo. Fui andando em direção às escadas para ir para
o meu quarto.

— Onde você pensa que vai?

— Para o quarto? — Virei-me lentamente para encará-lo.

— Por que desobedeceu minhas ordens? Eu disse que não queria ele
perto de você! — bradou.

— Qual é o problema? Ele só foi me cumprimentar, não tem nada


demais nisso — respondi tranquilamente, estava tão de saco cheio que não
conseguia sequer brigar. Se Renzo quisesse gritar, me trancar no quarto, eu
não iria me opor.

— Eu disse que não quero! — ele praticamente gritou.


— Problema seu, Renzo. — Ri. — Eu o conheço há muitos anos —
argumentei. Já havia perdido o medo de morrer, só pode.

— Como é? Problema meu? — Ele riu alto e eu me assustei com


sua risada maquiavélica. — Você só pode ser louca, garota!

— Devo ser mesmo.

— Você ainda não entendeu como as coisas funcionam, né?

— Eu já sei como as coisas funcionam, Renzo. — Suspirei pesado.


— Sábado estaremos casados. Eu viverei eternamente um inferno na minha
vida. Você mandará em mim e eu terei que ser sua cadelinha que obedece
sem questionar. Você nunca estará em casa porque sua prioridade é a sua
amante. — Seus olhos se estreitaram, ainda mais nervoso, e abriu a boca
para retrucar, mas eu fui mais rápido e não deixei. — Espera, porque ainda
não terminei. Eu terei que fazer o papel de boa esposa perante a sociedade e
ignorar o fato de que todos, eu disse todos, tá? Sabem que você tem uma
amante na qual é apaixonado.

— Melanie…

— Não! Não adianta dizer que não, porque está nítido nessa sua
cara. Aí depois de algum tempo terei que ser obrigada a engravidar, porque
você precisa de herdeiros e sua querida amante não pode dar, porque filhos
fora do casamento não é aceitável. É assim que as coisas funcionam,
Renzo! — Quando dei por mim, já estava gritando. — Eu serei a trouxa que
fica com a parte pior do casamento, que são suas grosserias e seu mau
humor dos infernos, e ela, a que fica com a parte boa. Ah, quer saber? Estou
cansada! — Joguei as mãos para cima e depois bati na lateral do meu corpo,
descontrolada. — Eu não tenho ninguém nesse mundo, eu sou sozinha.
Giovanni é a única pessoa que me restou e você ainda quer me proibir de
falar com ele? Roni estava lá, ele viu que não aconteceu nada, que saco! É
um inferno tudo isso que vivo. Desde quando meu pai morreu eu vivo os
piores dias da minha vida. — Nem notei que estava chorando até que uma
lágrima pingou na minha mão.
— Olha… — Ele se aproximou, mas estendi a mão.

— Não! Não chega perto de mim! Não precisa fingir que se importa
com o que eu sinto.
— Melanie, calma.

Minha respiração estava ofegante. Eu estava no meu limite de


tristeza e raiva.

— Calma? Que calma, Renzo? Logo você falando de calma?


Quando é que você tem calma? Nunca! Eu vivo trancada aqui dentro,
sozinha. Não faço nada. Passo todos os dias aqui lembrando da morte do
meu pai. Aí porque eu falei com um conhecido, você quer me tratar mal?
Ficou semanas sem nem olhar na minha cara, me evitando e agora quer
fingir que se importa com quem eu falo ou deixo de falar? Me deixa em
paz! Me deixa em paz até o dia do casamento, pelo amor de Deus, eu
preciso de paz! — Solucei.

Suas mãos enormes puxaram-me para um abraço e eu me sentia tão


fraca que nem consegui me contrapor.

Eu não sabia que estava precisando tanto de um abraço até ele me


abraçar. Chorei feito uma criança com a cabeça enterrada no seu peito,
inundando sua camisa escura com as minhas lágrimas.

— Vamos lá para cima, você toma um banho quente e eu preparo


alguma coisa para jantar, pode ser? — falou baixinho perto do meu ouvido
e odiei-me por ficar toda arrepiada.
— Eu já jantei — Funguei —, mas não me importo em jantar
novamente — admiti e ele sorriu. — Você não vai mais brigar?

— Agora não. Você está precisando relaxar um pouco, mas depois


conversaremos sobre isso.

Estava bom demais para ser verdade. Bom demais para ser o Renzo.
— Tá bom — concordei, era melhor do que nada, eu realmente
estava precisando de um descanso para a minha mente.

— Vem. — Segurou na minha mão e subimos juntos as escadas. Se


alguém visse essa cena, poderia jurar que somos um casal normal.

— Por que estamos indo para o seu quarto? — indaguei, confusa.

— Vou encher a banheira para você.


Assenti e entramos no seu quarto, era a primeira vez que eu entrava
aqui e era tudo tão a cara dele, tão escuro e sombrio.

Renzo foi para o banheiro encher a banheira, mas rapidamente


voltou.
— Fica à vontade. Vou fazer alguma coisa leve para a gente comer e
tomar um vinho.
— Tá bom.

— Te espero lá embaixo, sem pressa, tome o tempo que for


necessário para você. — Ele já ia saindo quando segurei o seu braço,
fazendo-o parar.
Uma corrente elétrica percorreu todo o meu corpo e posso jurar, pela
maneira como ele me olhou, que também sentiu essa tensão.

— Obrigada!
— Não precisa agradecer. Agora vai lá e não se acostume, as coisas
não serão sempre assim. — Gentil feito coice de mula, esse era o meu
futuro marido.
Assim que ele fechou a porta, corri para o banheiro, tirando
rapidamente a minha roupa e entrei na banheira, a água estava uma delícia.
Sentia-me sufocada ainda pelo choro que estava entalado na minha
garganta, mas não consegui chorar.
Capítulo 13

Renzo Caccini

Não sei o que deu em mim, estava pronto para infernizar a vida da
ruiva, mas ao vê-la chorar tão desesperadamente daquele jeito me
desmontou.
— Isso é tudo que você conseguiu, Roni? — perguntei ao pegar os
papéis da sua mão.
— Sim, senhor.

Melanie apareceu no topo da escada.

— Tudo bem, pode se retirar. — Dispensei o soldado.

— Licença.

Ele estava saindo, mas antes o escutei falar com Melanie.

— Fico feliz que esteja viva, senhorita Salvatierra — sussurrou para


ela, que abriu um lindo sorriso para ele.

Mas que porra! Por que essa peste me irrita tanto?


— Você costuma sempre se dar bem com quem faz a sua segurança?
— Não começa, Renzo — repreendeu-me e foi para a cozinha, prontamente
fui atrás dela. — Que isso que você fez?

Ela estava linda em um vestido florido rodado e cabelos molhados


soltos. Seu olho estava vermelho por conta do choro, era visível.
— Renzo? — Estalou o dedo, chamando a minha atenção. — Tudo
bem?

— Sim. — Balancei a cabeça. — O que você perguntou? — Acabei


não escutando, estava no mundo da lua pensando nessa feiticeira.

— O que é isso que você fez? — repetiu, apontando para o doce.

— Você disse que tinha jantado então eu fiz uma sobremesa. Já


comeu Zabaglione?[xvi] — Pela cara que ela fez, já vi que nunca nem ouviu
falar.

— Não. Mas parece uma delícia. — Sentou-se à mesa e eu fiz o


mesmo. — Que delícia! — Levou um punhado do doce na boca,
saboreando-o. — Dios mío, qué delicia! — gemeu, com esse sotaque
gostoso.

— Una delicia. — Estava me referindo mais a ela do que ao próprio


doce.

— Hablas español? — Pareceu surpresa.

— Sí. Está sorprendida?

— Por qué no hablaste antes en español?

— Falta de costumbre. — Balancei os ombros.

— Você fala muito bem em espanhol, é uma pena que não sei falar
nada em italiano. Acho bonito o sotaque.

— Posso te ensinar algum dia.

— Está falando sério? — Sorriu, animada com a possibilidade.

— Sim. — Gostava dessa simplicidade dela. Coisas pequenas para


ela é como se fosse algo grandioso.
— Vamos tomar vinho ou não? — perguntou, bastante animada,
nem parecia aquela menina indefesa que há pouco teve uma crise de choro.

— Claro. — Levantei e busquei um vinho especial, que sabia que


agradaria o paladar dela.

— Hum, vinho tinto. — Bebericou o líquido que coloquei no seu


copo. — Muito bom!

— Mi affascini e questo mi spaventa.[xvii]

— O que você disse? Não vale falar em italiano, eu não entendo. —


Melanie fez um biquinho tão lindo que senti vontade de mordê-lo.

— Depois você descobre o que é.

— Repete o que você disse?

— Mi affascini e questo mi spaventa. Più di quanto tu possa


immaginare e più di quanto io possa sopportare.[xviii]

— Não entendi nada, mas sei que falou mais coisas, isso não vale!
— Cruzou os braços, irritada, fazendo birra igual criança e isso me fez rir.

— Você está mais tranquila, Melanie? — Mudei o assunto.

— Sim.

— Vamos até a varanda, tomamos um vinho e conversamos melhor


— propus, e eu aproveitei para fumar meu cigarro, estou louco para acender
um.

— Tudo bem.

Fomos para a varanda, cada um sentado na sua respectiva


espreguiçadeira e eu acendi o meu cigarro.
Eu não sei o que essa ruiva tinha e porque ela mexia tanto comigo.
Quando ela entrou eu queria matá-la, mas aí ela me desarmou, não aguentei
vê-la chorando daquela forma. Essa feiticeira ruiva dos infernos!

— O que você quer conversar? É sobre eu ter ido falar com


Giovanni?

— Também. — Traguei meu cigarro.

— Vai começar a brigar?

— Não. Você disse que conhece ele desde quando tinha 12 anos?

— Isso mesmo.

— Antes disso, quem fazia sua guarda?

— Era um outro soldado, o Rodriguez, mas ele morreu.

— Entendi. Seu pai confiava muito no Giovanni?

— Acho que sim. Já ouvi eles discutindo algumas vezes, mas meu
pai sempre me dizia que era sobre negócios.

— Qual o sobrenome do Giovanni?

— Martinez.

— Você já chegou a conhecer a família dele?

— Não. — Olhou-me desconfiada com o interrogatório. — Por que


está fazendo esse monte de perguntas?

— Nada, apenas curiosidade — menti, pois não queria preocupá-la.

— Sei. — Duvidou, visivelmente intrigada.

Não, Melanie, você não sabe! Quando eu disse que não confiava
nele, eu tinha razão. O sobrenome dele nunca foi Martinez, nem sequer
encontrei um registro desse cara. É como se ele não existisse. Me
perguntava como o José foi idiota em contratá-lo. De duas uma: ou ele era
burro e foi enganado; ou ela sabia quem era o Giovanni de verdade. Iria
pesquisar mais sobre ele, não vou desistir. Só vou sossegar quando tiver
certeza de quem é esse desgraçado e o que ele quer perto da Melanie.

— Renzo? Você está estranho hoje.

— Estava pensando em algumas coisas.

— Hum. Já que você não vai brigar, acho que vou deitar, estou com
um pouco de dor de cabeça.

— Tudo bem. Sábado é seu aniversário, mas também é o nosso


casamento, então não poderemos fazer nada. Quer sair qualquer dia desses
para comemorar? — sugeri, surpreendendo a mim mesmo por essa decisão.

Tá vendo como essa feiticeira mexe comigo? De onde eu tirei essa


ideia ridícula? Porra!

— Comemorar o aniversário ou o casamento? — Sorriu lindamente


para mim.

Porra, Melanie! Não sorri assim para mim, eu não mereço os seus
sorrisos.

— O que você quiser.

— Quero! — concordou rapidamente.

— Então, tá, depois podemos combinar de fazer alguma coisa que


goste.

— Gostaria de viajar.

— Certo, providenciarei isso.


— Seria ótimo! — Se levantou, sorrindo. — Boa noite, Renzo.

— Boa noite, Melanie.

Ela entrou, sumindo do meu campo de visão. Essa garota me


encantava. Ela era forte, mais forte do que ela pensava. Não conheceu a
mãe, perdeu o pai. Nunca conheceu o mundo. Sempre viveu presa e mesmo
assim tinha um brilho nos olhos que era fascinante. Apesar do seu
atrevimento, que por sinal eu acabava gostando, tá aí uma coisa que eu
jamais confessaria em voz alta. Mas apesar de tudo, ela era uma boa
menina.
Depois do nosso beijo eu não a toquei mais e a evitei. Estava
confuso, não sabia o que estava acontecendo. Naquele maldito dia eu fui até
a Samantha e pela primeira vez na vida não consegui transar com uma
mulher.

Essa feiticeira ruiva está me deixando louco.


Capítulo 14

Melanie Salvatierra

Acordei com uma dor de cabeça horrorosa hoje. Ontem bebi um


pouco de vinho e por não ser acostumada, fiquei bem alegrinha.

Hoje eu ainda não o vi, provavelmente só o verei no altar.

Após um bom banho gelado e um analgésico, coloquei o vestido de


casamento, que ficou a coisa mais linda desse mundo! Alice fez do jeito que
eu pedi. Sou romântica, então quis um corte estilo princesa, com algumas
rendas por todo ele.

A mulher chegou para fazer a minha maquiagem e arrumar o meu


cabelo, optei por deixá-lo solto e pedi que a maquiagem fosse bem clarinha.

— Você está linda, Mel! — Luara exclamou, sorrindo


brilhantemente ao me ver.

— Obrigada!

— Feliz aniversário, aliás! — Abraçou-me forte.


— Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos
anos de vida... — Alice entrou cantando, com um bolo pequeno nas mãos e
uma velinha em cima.

— Gente, eu não posso chorar — disse já emocionada e não


conseguindo segurar as lágrimas.
— Feliz aniversário, minha cunhada número dois. — Entregou-me o
bolo e deu-me um abraço cuidadoso. — Aqui está meu presente. — Deu-
me uma caixinha felpuda preta.
Apaguei a velinha, fechando os olhos e fazendo o meu pedido: que
minha vida não seja sempre um tormento, que um dia eu possa suspirar e
sorrir por ter uma vida feliz.

Coloquei o bolo em cima da mesinha e abri o presente de Alice,


encantada com o lindo colar, que tinha um pingente laranja, lembrando
muito a cor dos meus cabelos.
— Eu também trouxe presente! — Agora foi a vez de Luara me
entregar uma caixinha com lindos brincos, coincidentemente ou não, eles
também tinham as mesmas cores do colar.

— Vocês combinaram. — Elas balançaram a cabeça em sinal


negativo, rindo. — Obrigada meninas, eu amei! — Abracei as duas de uma
vez. — Vou usar hoje mesmo. — Coloquei o par de brincos e Alice me
ajudou a fechar o colar.

— Meu pai vai entrar com você? — Alice perguntou.

— Não. Eu conversei com ele e expliquei que quero entrar sozinha,


não quero colocar outra pessoa no lugar do meu pai e ele entendeu.
— Eu faria o mesmo — Lua concordou com a minha decisão.

— Está mais que certa, mas agora está na hora de você ir. Te desejo
toda sorte do mundo. — A irmã de Renzo me abraçou apertado e com
carinho. Alice não parecia em nada com os irmãos. Além da aparência um
pouco semelhante com Rocco, não havia quase nada semelhante com o meu
futuro marido.
— Que você seja muito forte para enfrentar os problemas e que a
sua recompensa seja a felicidade — Luara desejou-me e acabei me
emocionando novamente, pois era exatamente isso que desejava para a
minha vida, mas infelizmente não acreditava que seria possível.

— Feliz aniversário, Melanie! — desta vez foi Giovana quem


entrou, desejando-me felicitações e abraçou-me. — Seus presentes eu
mandei enviar para a sua casa, em nome de todos da nossa família. —
Sorriu gentilmente.

Era estranho pensar que agora aquela seria oficialmente a minha


casa, mas estranho ainda porque eu não sentia que ali era o meu lar.

— Obrigada!

— Estão todos esperando, vim buscar vocês e especialmente a


noiva. Vamos? — a mãe dele chamou e mesmo querendo correr para bem
longe e gritar que eu não iria, balancei a cabeça em sinal positivo.

Caminhei junto delas até a entrada que estava montada no jardim da


casa da família Caccini. As meninas falaram palavras encorajadoras para
mim e foram para os seus lugares.

Puxei o ar com força. Não tinha jeito, tenho que encarar. Agora
minha vida iria mudar de uma vez por todas e se antes estava ruim, certeza
que ficaria pior.

A música começou, anunciando a minha entrada. Senti minhas


pernas falharem quando dei um passo para frente e vi aquelas pessoas me
encarando.

Senti o vento gelado em meu rosto e só então percebi que deixei


escapar algumas lágrimas.
Por mais que não fosse um dia tão esperado e feliz, era para o meu
pai estar aqui ao meu lado, me dando apoio e segurando firme a minha mão,
encorajando-me.

— Você é forte Mel. Vai em frente. — Olhei para Giovana e só


então percebi que ela ainda estava ao meu lado.

— Sim, eu sou forte — repeti para que os meus ouvidos pudessem


ouvir da minha boca e entender que eu não só sou, como preciso ser.

Giovana sorriu e foi para o seu lugar.

Dei alguns passos vacilantes à frente e levantei o olhar, encontrando


aqueles olhos gélidos direcionados para mim. Renzo estava lindo em seu
terno preto italiano impecavelmente feito sob medida. Sua expressão
continuava inexpressiva, ele sequer estava demonstrando o seu
descontentamento com esse casamento.

Tentei segurar, eu juro que tentei, mas uma tremedeira me atingiu e


o choro que estava entalado na minha garganta foi liberado.

Aproximei-me do meu futuro marido com as mãos e pés suados e o


corpo gelado.

— Está linda, Melanie! — Renzo elogiou-me baixinho.

— Obrigada! — agradeci com a voz trêmula.

O padre deu início a cerimônia, que graças a Deus não se prolongou,


fizemos nossos votos e enfim falamos sim um para o outro. Agora eu me
tornei oficialmente esposa do subchefe da máfia italiana Renzo Caccini.

— Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.


Encarei o meu agora marido e seus olhos também se fixaram em
mim, abrindo um pequeno sorriso e me dando um selinho casto.

Todos aplaudiram e pisquei repetidas vezes, sentindo o mundo girar


ao meu redor. As mãos de Renzo ainda estavam firmes na minha cintura e
sentir os seus lábios tocarem os meus novamente causou-me um rebuliço no
estômago. Por que tenho que me sentir assim quando ele me toca?

— Agora você é oficialmente a minha senhora Caccini — afirmou


com um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

Acabei sorrindo também com o jeito divertido que ele falou.

Às vezes, digo bem às vezes mesmo, Renzo não parecia tão ruim
quanto era.

A festa estava legal e não podia dizer que estava sendo ruim,
consegui até me divertir.

Claro que teria sido melhor se eu tivesse me casando com alguém


que eu amo e se meu pai estivesse aqui.

— Ah, papai! Como eu sinto a sua falta! — disse olhando para o


céu.

Aproveitei a distração de todos na festa e vim para uma parte mais


afastada do jardim.
— Enfim casada, Mel. — Olhei para o lado, assustando-me ao ouvir
a voz de Giovanni.
— Se Renzo te ver, ele vai arrumar a maior confusão — falei
preocupada com a dor de cabeça que isso poderia causar para todos nós.

— Já estou indo embora. Só passei para te dar um abraço. — Sorri,


caminhando até ele e o abraçando. — Te prometo que vou te livrar desse
casamento.

Ia respondê-lo que infelizmente isso era impossível, mas ouvimos


alguém se aproximar ele saiu correndo.

— Melanie, o que faz aqui? — A voz de Renzo ressoou em meus


ouvidos, deixando todo o meu corpo em alerta. Será que ele viu o
Giovanni?

— Só precisava de um pouco de ar puro. — Tentei ser o mais


natural possível, mas ao ver suas duas sobrancelhas arqueadas e aquele
olhar questionar para mim, sei que falhei.

— Por que está assustada? — perguntou, ainda me analisando.

— Você chegou de repente, acabei me assustando — disse meia


verdade, afinal, realmente me assustei com a sua chegada repentina.

— Vamos entrar, as pessoas estão perguntando de você.

— Me dê só mais dois minutinhos? — Ele ponderou. — É que olhar


para as estrelas faz com que me lembre do meu pai.

— Certo, Melanie. Só não demora.

Assenti e o vi sair.
Procurei ao redor por Giovanni, mas graças a Deus não havia
nenhum sinal dele. Virei-me para voltar para dentro da casa, mas vi duas
mulheres conversando e o assunto em questão, eu, chamou-me atenção,
então fiquei à espreita ouvindo escondido.

— Que dó eu tenho da noiva — a que era mais baixinha e tinha


cabelos cacheados, comentou.

— Que nada, menina, ela está muito bem se casando com o


subchefe, afinal, além do cargo importantíssimo, ele é um Caccini, qualquer
uma daria a vida para se casar tão bem assim — a outra que era mais alta e
tinha cabelos claros respondeu. — Fiquei sabendo que ela nem italiana é,
soube por alto que é mexicana.

— E de que importa? Meu marido trabalha diretamente com o


Renzo Caccini e me contou que ele tem uma amante e que banca todos os
luxos dela — a de cabelo cacheado cochichou, olhando para os lados,
verificando se alguém estava por perto ouvindo.

— E quem não sabe disso? Todos sabemos da amante, não é segredo


para ninguém. As más línguas falam por aí que ele a ama.
Fechei os olhos tentando me controlar, minha respiração já estava
acelerada. Era humilhação demais.

— Pois é, sinto dó da menina. Casando-se com um homem que é


completamente apaixonado pela amante. Nem as maiores pecadoras
merecem algo tão cruel. — Como já havia percebido, a de cabelos
cacheados se compadecia da minha situação.

Não podia ouvir mais nada daquilo, era demais para mim, meu
estômago já estava embrulhando e o gosto amargo se fazia presente em
minha boca.
Aproximei-me das duas e, ao ouvir o barulho dos meus passos, elas
se viraram, com os olhos extremamente arregalados.

— Senh… senhora Caccini — gaguejou, enquanto a de cabelos


claros apenas me olhava assustada, seus lábios formando uma linha fina.

Eu queria gritar naquele momento com aquelas duas fofoqueiras,


mas não o fiz, elas não tinham culpa de nada. O único culpado de toda essa
história era o Renzo e é dele que tenho que sentir raiva. O que as duas
estavam fazendo nada mais era do que quase todos lá dentro da festa
também estavam, alguns rindo da minha desgraça e outros se
compadecendo da tragédia que era o meu casamento.
— Não fiquem aqui fora perdendo o melhor da festa, entrem e se
divirtam. — Forcei o sorriso mais simpático que poderia dar a elas naquele
momento e saí de lá.

A cada passo que eu dava para dentro daquele lugar novamente, era
como se um punhal estivesse sendo cravado no meu peito e a cada vez que
eu me aproximava da festa e daquelas pessoas, esse punhal entrava mais e
mais.

Mas foi só quando eu vi Renzo e nossos olhos se encontraram que


esse punhal dilacerou o meu peito. Ele seria o meu tormento, o homem
capaz de me destruir… O meu próprio marido.

— Por que você está com essa cara, Melanie? — Renzo perguntou
ao se aproximar, estava tão perdida em meus pensamentos que não o
percebi vindo em minha direção.
Pisquei algumas vezes e respirei fundo, segurando a vontade de
chorar;

— Quero ir embora.
— O que você tem?
— Nada. Eu só quero ir para casa — respondi calmamente, embora
dentro de mim o mar estivesse revolto.

— Ansiosa para chegar em casa? — falou com tom malicioso, mas


estava sem paciência para suas gracinhas.
— Sim. Quero dormir!

— Tem certeza que não aconteceu nada? — Arqueou a sobrancelha.


— Droga, Renzo! — Bufei. — Já disse que não, eu só quero ir para
casa.

— Tudo bem. Vamos nos despedir das pessoas, então.


Assim fizemos e fomos para casa.

Eu não deveria estar com tanta raiva, afinal nosso casamento foi um
acordo, mas poxa vida, que mulher se sentiria bem no meu lugar? Toda essa
situação era depreciativa.
Entrei depressa e subi para o meu quarto.

— Melanie? O que aconteceu? — Tentei fechar a porta, mas ele a


segurou com o pé.

— Você ainda pergunta o que aconteceu? Cínico! — Estava


praticamente gritando, não conseguindo mais controlar a minha fúria.

— Não me faça perder a paciência, fala logo o que aconteceu.

— Aconteceu que você sente prazer em me humilhar, não é? — Ele


fez uma cara de desentendido digno de Oscar.
— Eu faço merda todo dia, você poderia especificar qual foi a dessa
vez? Te juro que não lembro.
— A sua amante, Renzo, a sua amante.

— O que tem Samantha? — Agora ele parecia mais perdido do que


nunca e essa sua pose de sonso estava me deixando mais irritada.
— O que tem? — Ri alto desse cinismo dele. — Todo mundo sabe
do que vocês dois tem, do grande amor que um sente pelo outro. Você acha
justo eu ouvir no dia do meu casamento as pessoas cochicharem sobre isso?
É humilhante, Renzo… É humilhante saber que todo mundo dessa cidade
sabe do seu romance fora do casamento! Tudo bem que ela chegou na sua
vida antes de mim, mas o que custava manter isso só entre vocês? Por que
precisa mostrá-la para o mundo? É tanto amor assim que não conseguem
fazer as escondidas?

Engoli seco, lutando contra a vontade de chorar… não, eu não


choraria na sua frente, muito menos por esse motivo.
— Melanie…

— Melanie é uma porra! — bramei, perdendo toda a compostura. —


Vá para o inferno com a sua amante! — Dei as costas para ele e passei as
mãos no rosto. — Vá ficar com ela, Renzo. Imagine que foi com ela que se
casou e aproveitem a noite de núpcias.
Não me virei para ver a sua cara, mas ouvi a porta bater com muita
força, o que me deu a certeza de que ele saiu com muita raiva.

Que se dane! Também estou espumando de raiva e eu tenho o direito


de estar assim, já ele, não.

Não quero nem saber se ele foi atrás dela.


Tirei o vestido, tomei um banho morno e desci para a cozinha, fui
procurar algo para comer.
Acho que Renzo foi atrás da amada dele, pois não está aqui
embaixo.

— Roni? — chamei o segurança que apareceu na porta, tinha dias


que eu não o via, achei que estava de folga.
— Olá, senhora Caccini — cumprimentou-me de cabeça baixa.

— Por que você estava sumido?

— Ocupado — respondeu de modo raso e virou-se para sair.

— Espera — o chamei novamente e dessa vez ele me olhou. —


Misericórdia, o que aconteceu no seu rosto? — O rosto dele estava um
pouco machucado e o olho bem roxo.
— Nada, senhora. Parabéns pelo casamento e felicidades.

Nem me dei ao trabalho de responder sua congratulação.

— Você não me respondeu. O que aconteceu com você?


— Cometi uma falha, Senhora.

Assim que ele me falou isso, minha cabeça foi exatamente para o
dia em que ele sumiu, foi quando ele brincou comigo e Renzo achou ruim.
Não… espera! Ele não seria capaz disso.

Claro que seria!


— Roni, foi o Renzo quem fez isso?

— Licença, Senhora. — Ele saiu sem me falar mais nada e nem


precisava, porque eu já tinha a minha resposta.
Subi as escadas correndo e entrei no quarto dele com tudo. Imaginei
que ele não estivesse aqui, vim mais na hora do nervoso mesmo, ia sentar-
me aqui e esperá-lo chegar para tirar satisfação, mas surpreendi-me ao
encontrá-lo no quarto apenas de cueca branca.
O homem tinha o corpo todo tatuado e era completamente sarado,
não havia uma gota de resquício de gordura. Renzo era todo definido, coxas
grossas, barriga saradinha, bíceps fortes e um peitoral que me fez salivar.
Sem falar na marca exata que aparecia na sua cueca boxer… isso é… isso
é… caramba, isso é assustador!

— O que foi dessa vez? — Meu coração bateu tão acelerado que
pensei que poderia infartar. — Veio para ficar me olhando? — Sorriu.

Rapidamente levantei o olhar, encarando novamente os seus olhos e


recuperando o meu juízo. Não totalmente, mas o suficiente para não perder
o foco.

— Por que você bateu no Roni?

— Quem te disse que eu bati nele? — Cruzou os braços.

— Eu vi que ele está machucado e isso só aconteceu depois daquele


dia que brincou comigo, aí foi só ligar um mais um e tinha a resposta.

— Se você já tem a sua resposta, por que está me perguntando?

— Renzo, você não pode fazer isso. Ele não fez nada.
— Eu não pago ninguém para ficar brincando com a minha mulher.
— Aproximou-se de mim e minha respiração começou a falhar, engoli seco.
Deveria odiar ouvi-lo falando: minha mulher. Mas dentro de mim
estava soltando fogos.
Eu era uma traidora, traía a mim mesma quando estava perto desse
homem.

— Você não pode sair batendo em todo mundo que fala comigo,
desse jeito ninguém vai querer me dirigir a palavra!

— Não só posso, como vou fazer — afirmou. — O que eu fiz foi só


uma lição para que os outros soldados saibam que não é para ficar de
brincadeiras com você. Não quero um novo Giovanni na sua cola.

— Meu Deus, você é louco! — Joguei os braços para o alto.

— Nunca disse que não era. — Agora ele estava tão próximo que eu
podia sentir a sua respiração quente. — Está nervosa, Melanie? —
sussurrou.

— Não — menti. Estava nervosa para caramba, minhas pernas


tremiam e minhas mãos suavam. — Por que eu estaria?

— Não sei, estou te perguntando.

— Vou para o meu quarto. — Virei-me rapidamente para sair, mas


ele puxou-me pelo braço, fazendo o meu corpo colidir contra o seu.

— Você não entrou aqui no meu quarto só para isso. — Apertou


minha cintura.
— Foi… só para isso — ofeguei.

— Agora que entrou, eu não vou te deixar sair. — Chutou a porta


com o pé, fazendo-a fechar.

— Vai fazer o quê? — Minha voz quase não saiu por conta da
respiração acelerada.
— Nem queira saber o que tenho planejado para você, esposa.
Tomou minha boca num beijo selvagem. Nossas línguas colidiam-se
desesperadamente, nossos lábios se devoravam sem delicadeza.

Seus dedos enormes adentraram os meus cabelos, puxando-os para


trás e arrancando de mim um gemido contido.

Seus dentes morderam o meu lábio inferior, puxando-o e chupando-


o ao soltar. A outra mão enorme desceu, indo direto para a minha bunda,
apertando-a com força de uma maneira deliciosa.
Apoiei as mãos nos seus ombros, impulsionei-me para subir em seu
colo e cruzei as pernas em volta da sua cintura, rebolando
desavergonhadamente.

Renzo tomou os meus gemidos e suas mãos passearam


demasiadamente por meu corpo.
— Gostosa — sussurrou contra os meus lábios. — Hoje você vai ser
minha — afirmou olhando nos meus olhos e deitando-me na cama.

Era tanto desejo em seus olhos, refletindo o que também estava nos
meus.
Apesar da insegurança, insensatamente eu estava desejando isso,
estava desejando que ele me tomasse para ele.
Capítulo 15

Renzo Caccini

Quando Melanie me contou que ouviu pessoas comentando sobre a


minha vida, fiquei com muita raiva, detesto pessoas fofoqueiras. Se cada
um tomasse conta da sua própria vida, as coisas funcionariam melhor.
Vou descobrir quem foi, não me interessa se foram duas, dez, trinta
ou cinquenta pessoas, todo mundo que falou terá que pagar por isso. Minha
vida particular não interessava a ninguém. Não dependo de porra nenhuma
desses miseráveis para viver.

Mas o que me deixou com mais raiva ainda foi ela mandar eu ir
ficar com a Samantha, aquilo deixou-me a ponto de explodir. Como ela
poderia pensar que eu iria para lá depois do nosso casamento?

Quis revidar as suas falas, não para me defender, pois não havia
defesa, mas para dizer que não era nada daquilo que ela estava pensando.
Nunca existiu amor nesse caso, mas suas palavras duras e regadas de
tristeza deixaram-me pela primeira vez na vida sem saber o que responder.
Optei por sair do quarto do que perder a cabeça e falar qualquer coisa que
fosse me arrepender depois.

Amei vê-la aqui no meu quarto, mas odiei saber que veio para tirar
satisfação sobre Roni. Apenas deixei um aviso para ele e todos os outros.
Não queria ninguém de gracinha com a ruivinha. Ela era simpática demais
com todo mundo e isso me irritava.
Eu não ia mexer com a Melanie, eu sei que a gente tem que
consumar o casamento, mas eu ia deixar até que ela se sentisse confortável
ao meu lado, mas quando eu a vi entrando aqui no meu quarto, meu pau
reagiu na hora, não tive como negar o desejo incontrolável que sentia por
essa demônia ruiva.

Nesse momento ela estava deitada na minha cama, com os cabelos


cor de cobre espalhados por meus lençóis, deixando-me louco de tanto
tesão.

Melanie não precisava fazer absolutamente nada para chamar a


minha atenção e deixar-me maluco. Isso é o que mais me assustava,
geralmente gosto das mulheres mais assanhadas e chamativas, totalmente o
contrário de Melanie, que é mais reservada.

Tirei o seu vestido apressadamente, deixando-a só de calcinha.


Queria ir mais devagar para apreciar a beleza extraordinária da ruiva, mas a
lascívia er tão grande que não conseguia esperar mais.

Certeza que essa mulher vai me enlouquecer, linda demais! Seu


corpo cheio de pintinhas era a porra de uma escultura maravilhosa.

Ajoelhei-me na beirada da cama e a puxei pelas pernas, abaixei sua


calcinha e tive que respirar fundo para não perder a cabeça ao ver sua linda
boceta com poucas penugens da mesma cor dos seus cabelos.

Estou fodidamente perdido.

Porra, Renzo! Quando foi que ficou tão fascinado por uma mulher
antes?

— Está tudo bem? — A voz de Melanie trouxe-me de volta.


Apenas assenti, incapaz de responder que não, não estava nada bem
quando eu estava perdidamente louco de tesão por ela.

Passei o polegar por sua fenda, abrindo-a, e ela soltou um gemido


contido, que atingiu diretamente o meu pau, fazendo-o pulsar dentro da
cueca desesperadamente.

Cazzo, sua ruiva… não geme desse jeito!

Melanie era receptiva e apenas com um simples toque senti o meu


dedo ficar molhado.

Continuei acariciando-a e quando percebi que ela estava prestes a


ter um orgasmo, tirei o dedo e o levei na boca, tendo os seus olhos
fascinantes cravados em mim.

Ela arfou e involuntariamente passou a língua nos lábios,


umedecendo-os.

O conjunto do gosto dela, mais sua cara extremamente sexy,


juntamente com sua boceta toda molhada na minha frente e com o seu
cheiro me embriagando, foi demais para mim. Agarrei suas coxas com força
e enfiei a cara no meio das suas pernas, lambendo-a como um animal feroz,
devorando a sua boceta.

— Renzo! Díos! — exclamou, adentrando os dedos nos meus


cabelos e os puxando. — Renzo! — gemeu ainda mais alto quando eu dei
uma leve mordida no seu clitóris e depois o chupei com força, logo depois
passando a língua, massageando o seu pontinho sensível e pulsante.

Essa ruiva era a minha perdição e sua boceta o meu paraíso.

— Ah… Renzo! — Contraiu, tentando fechar as pernas, mas eu não


permiti e então coloquei o dedo na sua entrada, circulando-o ali, mas
tomando cuidado para não entrar e machucá-la. — Renzo! — Melanie
gozou, gemendo atordoada.

Seu gosto era bom e me fazia querer mais, então continuei


chupando-a. Era a porra do gosto mais gostoso que já havia experimentado
na vida.

Volte a si, Renzo, vai viciar na primeira vez que chupou a menina?

Minha mente lutava constantemente para me alertar do perigo que


era estar tão entregue a uma transa.

Mas o que eu poderia fazer? A ruiva não facilitava, ela era gostosa
ao extremo!

— Ai! — Estremeceu e senti que ela chegaria ao orgasmo


novamente, e embora eu tenha gostado muito do seu gosto, queria mesmo
era estar enterrado dentro dela.

Levantei-me e os seus olhos questionadores estavam sobre mim.


Pude sentir que ela estava um pouco frustrada por eu ter interrompido o seu
orgasmo e quis rir dos seus olhinhos pidões. Ela queria mais, Melanie era
puro fogo, mas ainda não sabia disso, entretanto, eu estava disposto a me
queimar todas as vezes que ela quisesse.

Tomei seus lábios com fome, beijando-a sem qualquer cuidado e


puxei o seu corpo para cima, colocando-me sobre ela.

Eu que nunca fui apegado a essa coisa de beijo, tenho desejado


constantemente os seus lábios desde que os provei pela primeira vez.

Melanie era mais viciante que nicotina.

Abaixei minha boxer até o meio das pernas, tamanho o desespero de


me afundar na ruivinha, e pincelei o meu pau na sua entrada. Eu estava
latejando, mas precisava ser cauteloso, era a primeira vez dela.

Ela voltou a gemer, perdida em suas próprias sensações e eu me


embriagava com os seus gemidos, engolindo-os todos só para mim.

Pressionei, entrando um pouco e ela contraiu, afastando os nossos


lábios e encarando-me com as pupilas dilatadas. Seus lábios estavam
levemente entreabertos, ajudando-a na respiração.

Puta que pariu, essa desgramada não facilitava… Por que tão bonita
e tentadoramente sexy sem fazer qualquer esforço?

— Vai doer muito? — perguntou bem baixinho e suas bochechas


coraram.

Tentadoramente graciosa.

— Farei o possível para que não doa tanto.

— Tá bom, pode ir — autorizou e eu empurrei mais um pouco,


sentindo suas paredes me esmagarem.

Eu poderia facilmente gozar agora, com apenas a glande dentro


dela, igual um adolescente idiota que estava transando pela primeira vez na
vida.

— Ai, está doendo muito — resmungou, com os olhos cheios de


lágrimas. — Já foi tudo?

Não pude segurar a risada diante do seu questionamento. Estou


suando frio de tanto esforço que tenho que fazer para não entrar de vez e
fodê-la do jeito que estou desejando.

— Só a cabeça — respondi sincero. — Posso ir mais? —


praticamente implorei, eu precisava entrar mais ou então enlouqueceria.
— Pode.

Entrei mais um pouco e ela mordeu o lábio inferior, cravando a unha


nas minhas costas. Encostei na sua barreira e parei, encarando-a. Seus olhos
estavam cheios de água e seu rosto completamente vermelho por conta da
dor. E ncostei nossos lábios e a beijei com delicadeza, brincando com a sua
língua, explorando tranquilamente os seus lábios saborosos. Melanie foi
relaxando, abrindo as pernas e se entregando ao beijo. Senti que ali era o
momento exato e entrei, rompendo a sua barreira e tomando a sua
virgindade para mim.

Engoli o seu grito, ainda beijando-a com o máximo de delicadeza


que conseguia diante a situação.

Eu sabia que não era digno de algo tão puro como a sua virgindade,
mas eu era um cretino e me sentia o homem mais sortudo do mundo por
isso.

Não me mexi ainda, continuei beijando-a para que reduzisse a dor.

— Pronto ruivinha, já foi. — Acariciei o seu rosto e beijei sua testa,


ela estava suada. — Agora você é mais minha do que nunca — disse com
uma possessão absurda. — Quando estiver confortável, me avisa.

Assentiu, mas não autorizou, por isso continuei quieto.

Cazzo! Só eu sei como está difícil ficar parado aqui dentro dela. Tão
quente. Tão apertada.

— Pode se mexer — permitiu e eu tive que beijá-la por isso,


extremamente grato.

Movimentei-me, entrando e saindo bem devagar. Seus gemidos


eram baixos e contidos, muitíssimo agradável.
Estava tentando me controlar, mas Melanie não parecia disposta a
cooperar. Enlaçou as pernas na minha cintura e mordeu o meu pescoço.

— Ah! Que delícia, Renzo… que delícia! — lamuriou no meu


ouvido.

Foi o estopim para mim, já não era possível me controlar mais com
uma mulher tão receptiva.

— Minha. Só minha! — falei, alucinado, completamente dominado


pelo tesão.

Perdi-me dentro dessa mulher, metendo cada vez mais forte e


rápido. Distribuindo apertos, beijos, mordidas e chupadas por seu corpo.
Seus seios pequenos e redondos cabiam perfeitamente em minha
boca e sem qualquer cortesia eu os chupei, deixando-os extremamente
avermelhados, com a marca da minha boca e dentes.

Eu queria devorá-la. A luxúria era tão insana que sentia que cada
vez que tomava mais dela, mais eu queria. Não era o suficiente, eu estava
desejando-a cada segundo mais, mesmo tendo-a em meus braços.

Temia que nunca fosse o suficiente… temia ficar viciado… temia


conhecer o desconhecido, sentimentos que nunca se apossaram de mim…
temia muito, mas não o suficiente para não querê-la, muito pelo contrário, o
temor não chegava nem perto do desejo.

Melanie gozou na sua primeira vez com o meu pau enterrado fundo
nela e foi alucinante. Não pude segurar mais e derramei-me dentro dela,
urrando.
Encostei nossas testas, misturando nossas respirações ofegantes e
senti o mundo girar.
Eu ainda não sei o quê, mas algo aconteceu dentro de mim, pude
sentir uma pequena luz piscar dentro de toda a minha escuridão.

E isso me assustava.
Capítulo 16

Melanie Salvatierra

Abri os meus olhos e constatei que estava sozinha no quarto. Não


havia nenhum sinal da presença dele aqui, o que me dizia que ele havia
saído há algum tempo. Questionei-me se ele ficou exausto como eu fiquei e
se acabou descansando um pouco.

Movimentei-me e senti um desconforto chato entre as pernas, uma


ardência muito incômoda.
Levantei-me para ir ao banheiro fazer xixi e percebi que estava
assada. Limpei-me tomando cuidado para não machucar ainda mais. Abri o
armário do seu banheiro e peguei uma toalha nova para tomar banho,
deliciando-me na água quente desse enorme banheiro.

Ao sair, reparei que o lençol não era o mesmo, ele havia tirado, mas
eu não saberia dizer se foi antes ou quando estava no banheiro. Fiquei tão
cansada após o sexo que se ele tirou, não percebi.

É constrangedor e um tanto ultrapassado ter que provar a


virgindade, mas enfim, regras são regras.

Como se virgindade fosse algo tão precioso assim. Fiquei virgem


por dezoito anos e não levei mais que alguns segundos para perder.
Pensei que doeria absurdamente, e claro que doeu, mas foi uma dor
suportável e gostosa. Acredito que foi mais fácil por ele ser um homem já
experiente e saber conduzir a situação muito bem.
Enquanto a gente fazia sexo... Posso falar que foi sexo, né? Já que
não existiu sentimento... Não por parte dele, já a burra aqui não pode dizer
o mesmo. Eu não o amo, mas sei lá, sinto algo diferente em relação a ele. É
tão estranho sentir atração por um homem complicado, que ora ou outra
está me tratando mal. Eu devo ter enlouquecido!

Cheguei a pensar que gostava de Giovanni, mas nunca tive certeza


do tanto desse gostar, mas hoje eu sei que só confundi as coisas por não
conhecer nada além daquilo. O que eu sempre senti por Giovanni era
gratidão e carinho, muito carinho. Nunca, nem por um segundo, senti
tamanha atração por ele como sentia por Renzo Caccini.

Giovanni foi um bom amigo, esteve comigo nos meus piores


momentos e sempre cuidou de mim. Eu o amo como se fosse o meu irmão
mais velho… é isso, o sentimento que tenho por ele nada mais é do que
fraternal.

Com o subchefe malvado eu sinto um desejo carnal surreal. Queria


mais do seu beijo e dos seus toques. O que me fazia questionar se
repetiremos a dose. Eu quero, com toda certeza e falta de vergonha na cara,
eu quero. Sou uma vergonha para o universo feminino por desejá-lo tanto
assim, mas o que posso fazer? Gozar daquela maneira foi uma das melhores
sensações que já senti em toda a minha vida. Extraordinário.

Renzo me levou ao céu, mas sei que em algum momento me puxará


para o seu inferno novamente.

Fui para o meu quarto, vesti uma roupa confortável e como perdi o
sono, pensei em descer, mas fiquei com receio de não encontrá-lo. Seria
decepcionante demais pensar que após o que aconteceu entre nós dois ele
saiu, e pior ainda, minha mente começou a pensar maldades como ele ter
ido até a outra.
Entretanto, não me aguentei de ansiedade e curiosidade e desci. Fui
direto para a varanda, onde ele costumava ficar e o encontrei sentado, só de
calça de moletom, sem camisa, bebendo e fumando.

Bem estilo Renzo Caccini mesmo.

Esse pensamento fez-me sorrir e recriminei-me por prestar tanta


atenção nele, pior ainda por gostar tanto disso.

— Sem sono? — perguntou, sem nem olhar para trás.

— Você é algum vidente para saber que eu estou chegando? —


Aproximei-me e ele riu, um sorriso contido, mas um sorriso.

— Ouvi os seus passos.

— Mas eu nem fiz barulho.

— Sem sono? — refez a pergunta anterior.

— Sim.

— Amanhã vamos viajar — avisou, surpreendendo-me.

— Para onde?

— Brasil.

Meus olhos brilharam ao lembrar que lá o clima era quente e


agradável. Nunca fui ao Brasil, aliás, nunca viajei antes, vir para a Itália foi
minha primeira viagem, mas adorava ver as revistas que Giovanni levava
para mim dos países.

— Você está falando sério? — Sorri, muito animada.

— Sim.

— Que lugar do Brasil?


— Rio de Janeiro.

— Não acredito! — Praticamente estou gritando. — Você tá falando


sério mesmo?

— Por acaso eu costumo brincar? — Arqueou as sobrancelhas,


encarando-me.

Decidi ignorar a ignorância dele para o bem da minha saúde mental.

— Uma lua de mel? — Minha pergunta era um tanto boba, mas no


meio de tanta animação, acabei só percebendo quando já havia feito.

— Como se fosse. Tenho negócios com um amigo no Rio, há muito


tempo que não vou lá e presumi que você gostaria de conhecer o Brasil, irei
fazer as duas coisas, te apresentar o país acalorado e resolver meus
negócios.

— Que tipo de negócios? Máfia?

— Sim.

— Nem sabia que no Brasil existia isso. — Suspirei, desanimando-


me um pouco.
— É diferente.

— Diferente como? — Sentei-me ao seu lado, curiosa.

— Você vai ver.

— Já estou curiosa.

— Imagino. — Apagou o cigarro no cinzeiro que estava ao seu lado


e bebeu o restante do líquido que estava em seu copo.
— Seu amigo é casado? — Renzo encarou-me com uma expressão
engraçada e logo tratei de me explicar. — Estou perguntando porque como
você vai resolver seus negócios, ela seria minha companhia.

— Pode-se dizer que sim.

— Pode-se dizer?

— É. Digamos que ela também foi submetida.

— Lá também tem esse negócio de ser prometida?

— Não. Ela foi o pagamento de uma dívida. Como se fosse a


história da Luara, só que um pouco diferente.

— Coitada!

Fiquei com dó da menina sem ao menos conhecê-la.

— Acontece — disse com indiferença, como se aquilo fosse a coisa


mais normal do mundo… e bom, para ele era.

— Eu não sei falar português. — Lembrei-me desse pequeno


detalhe.
— Estarei sempre ao seu lado, pode ficar tranquila. Levarei Roni
também, ele fala perfeitamente a língua e vai te ajudar.

— Você é demais! — Joguei-me em seu colo, passando as pernas


pela lateral do seu corpo e me sentando de frente. No primeiro momento ele
se assustou, mas logo suas mãos firmes foram parar na minha cintura.

— Vai descansar, ruivinha, vamos sair cedo amanhã.

— Queria ficar com você — falei manhosa, passando os braços por


seu pescoço e beijando sua boca.
— Para de brincar com fogo, você vai acabar se queimando —
sussurrou contra os meus lábios e os pelos do meu corpo se arrepiaram.
— E se eu quiser me queimar? — Encarei seus olhos.

— Você acha que consegue? — indagou, todo safado e já senti seu


pau pulsar embaixo de mim.

— Acho que não. — Fiz um biquinho, decepcionada por querer,


mas ainda estava muito dolorida, então não conseguiria sentir nada além de
dor.

— Então para de brincar e vai dormir, se ficar me atiçando, vou te


comer.

Às vezes esse jeito rude de Renzo arrancava-me boas risadas.

— Tá bom. — Levantei. — Você não vem? — perguntei com um


fio de esperança. Eu queria estar com ele e queria que ele quisesse estar
comigo também.

— Não.

— Poxa! — murmurei, chateada.

— Boa noite, Melanie! — respondeu-me com indiferença e senti


que era o momento de ir.

— Boa noite! — retribuí, indo para o meu quarto.

Subi as escadas devagar, ainda com esperança de que ele mudasse


de ideia e viesse, mas não aconteceu, então entrei no meu quarto e me
deitei, apagando as luzes e ligando o ar condicionado bem geladinho.

Sei que não posso esperar muita coisa do meu marido e também sei
que sou carente, mas caramba, que mulher não quer receber carinho após a
sua primeira vez? Ou, sei lá, após ir para a cama com o homem?

Renzo era extremamente quente na cama, faz tudo pegar fogo, mas
fora dela é uma frieza que me incomoda.

Contudo, não irei me importar com isso, não agora, estou feliz que
amanhã vamos viajar, melhor ainda, irei conhecer o Brasil.
Capítulo 17

Melanie Salvatierra

Após longas horas de voo, que foram extremamente cansativas,


chegamos ao Brasil. A viagem foi péssima, Renzo não abriu a boca e toda
vez que puxei assunto, ele respondeu com pouquíssimas palavras.

Se ele soubesse como isso me irritava…

Não faria diferença alguma, afinal, ele não se importa mesmo.

Chegamos no hotel e não tivemos muito tempo para descansar


porque vamos a uma festa do amigo dele. Tive que comprar roupas
adequadas para esse país tão acalorado. Renzo disse que não era para eu me
arrumar muito, pois era uma festa simples. Pedi que ele entrasse em contato
com a Luara, porque lembrei-me que ela tinha uma amiga brasileira e
poderia me dar algumas dicas do que vestir.

Seguindo seus conselhos, optei por uma blusa simples e um short


jeans, e nos pés uma sandália de salto baixo.

Passei apenas um rímel, blush clarinho e um batom. Melhor não


exagerar para não errar.

Estávamos hospedados no Copacabana Palace, um lugar que muito


me agradou, porque além de toda a beleza do quarto, contávamos com uma
piscina semi privada e vista panorâmica para o mar.

Já pronta, fui para a sala, onde Renzo estava me esperando.


Suspirei ao encontrá-lo tão lindo, vestindo uma camisa polo preta,
uma bermuda de alfaiataria nude e um sapato oxford. Bem estilo brasileiro
mesmo… sedutoramente lindo.
— Esse short não está muito curto, não? — questionou, fazendo
uma careta.

— Não — respondi seriamente. Eu, hein! Agora ele vai implicar


com minhas roupas? Não posso acreditar nisso.

— Tem outro, Melanie?

— Tem, um menor que esse.


Senti vontade de rir com a cara que ele fez, mas me segurei.

— Vamos logo, então.

Entramos no carro e novamente o silêncio voltou a tomar conta do


lugar. Fiquei olhando pela janela, observando um pouco da cidade, era tudo
muito diferente do México e do que já havia conhecido da Itália.

Assustei-me um pouco ao vê-lo subir um morro e conforme ele ia


subindo, havia homens armados.

Tudo bem que eu estava acostumada a conviver com esse tipo de


situação, mas o que me surpreendeu foi a forma tão explícita que eles
ficavam.

— Fica tranquila. Isso aqui é do meu amigo que te falei —


comentou, parecendo ler os meus pensamentos.

— Não é muito perigoso?

Olha eu falando de perigo ao lado do próprio… santa ironia,


Melanie.
— Perigoso, Melanie, é sério isso? — Riu e eu também ri,
concordando com ele que minha pergunta foi um tanto idiota.

Roni e outros dois guardas vieram com a gente também, mas em


outro carro.

Renzo estacionou perto de uma quadra e caminhamos para dentro


do lugar, onde havia bastante gente e uma música bem alta.

Olhei para os lados reparando em algumas pessoas e como eu já


imaginava, as mulheres brasileiras eram bem bonitas, com corpos
volumosos e um bronze de dar inveja.

— Não sai de perto de mim — avisou.

Assenti concordando. Pra onde mais eu iria?

Chegamos perto de um rapaz e uma menina, que suspeito ser o casal


que ele havia mencionado antes, o tal amigo. Minha dúvida foi sanada
quando ele nos apresentou.

Fiquei admirada ao vê-lo falar português tão facilmente.

— Esse é o Gregório, dono do morro, e essa é a Maria Eduarda,


mulher dele — traduziu para mim.
— Muito prazer, me chamo Melanie — respondi em espanhol, pois
achei que fosse mais fácil de entender do que em Inglês. Eles pareceram
entender.

— Prazer, Melanie! — Maria Eduarda respondeu, também em


espanhol e sorriu para mim. Ela era muito bonita! — Poderemos nos
comunicar desta maneira.
— Feliz que fala a minha língua. — Sorri aliviada, seria ruim ter
que conversar por meio de tradução.

— Bom, vejo que a Eduarda não tem qualquer dificuldade em se


comunicar com você, o que facilita as coisas. Vou resolver umas coisas com
Gregório e já volto. Roni ficará aqui — Renzo avisou. — Não saia daqui,
tudo bem?

— Tá bom.

Ele saiu junto com o rapaz e fiquei um pouco tímida, não sabia
como puxar assunto com ela.

— Você é muito bonita, Melanie! — elogiou-me.

Ainda bem que ela era simpática e parecia fazer questão de


conversar comigo, o que me deixou mais confortável.

— Você também é belíssima, Maria! — retribui o elogio com toda


sinceridade, afinal, ela era linda mesmo. — Aliás, vocês brasileiras são
lindas.

— Nossa, ninguém me chama de Maria. — Riu. — Me chama de


Duda, por favo.r — Assenti, se ela preferia assim, então a chamarei da
maneira que ela gosta. — Você bebe? Quer beber alguma coisa?

— Eu só bebi vinho duas vezes. O que tem para beber?

— Você tem quantos anos? — Olhou-me com incredulidade.

— Fiz dezoito sábado e você? — Já que ela perguntou minha idade,


tomei a liberdade de perguntar também.

— Dezenove, vou fazer vinte mês que vem — informou. — Vou


pegar duas cervejas, talvez você não goste de primeira, mas depois você vai
gostar — garantiu e sumiu rapidamente no meio daquela multidão, voltando
segundos depois com duas long neck.

— Obrigada! — Dei uma golada e até que não era tão ruim, um
pouco amarga, mas estava tão gelada que desceu bem nesse calor.

— Vocês são casados? — perguntou após tomar um longo gole da


sua bebida.

— Casamos sábado, no dia do meu aniversário.

— Nossa, que presentão, hein? — gracejou.

— Nem me fala. — Sorri e quis mudar de assunto. — Você fala


espanhol muito bem.

— Queria morar fora e cursei espanhol e inglês, mas acabei


largando o curso de inglês na metade, mas consigo falar e entender algumas
coisas.

— Que legal! Assim não me sinto tão sozinha como em casa —


murmurei baixinho.

— Você é feliz no seu casamento? — perguntou Duda após ouvir


meu desabafo.

— Mais ou menos. — Dei outra golada, mas dessa vez mais


generosa. — E você é casada?

— Mais ou menos isso. Moramos juntos.

— E você é feliz?

— Não sei. Não tenho opção, sabe? Sou obrigada a isso. — Duda
parecia bem triste ao falar sobre a sua situação.
— Achei que brasileiro não tinha essas coisas de serem prometidos
ou obrigados a se casar.
— Pois é, também pensei. Difícil demais.

— Desculpe perguntar isso, se não quiser responder tudo bem, sei


que sou bastante curiosa. — Ela sorriu. — Como ele te obrigou?

— Minha melhor amiga se meteu em uma confusão depois que


viemos morar no morro e ela estava devendo muita droga, não tínhamos
como pagar e ele disse que eu poderia ser o pagamento. No começo achei
ridículo, mas era isso ou a vida dela.

— Que nobre da sua parte se submeter a isso por conta de uma


amiga.

— Nem me fala, mas não vamos mais falar de tristeza, vamos


dançar. — Animou-se rapidamente.

— Senhora — Roni me chamou. — O Senhor Caccini está me


chamando, deixarei outro segurança aqui, não se afaste, ok?

— Tá bom, mas aconteceu alguma coisa? — perguntei preocupada.

— Nada demais — respondeu vagamente e saiu.

— Vem, vamos dançar. — Duda tocou no meu braço, logo iniciando


uma dança.

Ela começou a dançar bem entusiasmada e fiquei olhando, sorrindo.


Não saberia rebolar tão bem como ela, de certo eu passaria vergonha.

— Eu não sei dançar assim — expliquei quando ela me chamou


novamente.
— Vem que eu te ensino… rebola assim — pediu que eu colocasse
as mãos nos joelhos e foi me ensinando.

Até que peguei o jeito e me diverti. Ficamos dançando não sei por
quanto tempo e bebendo, já me sentia bem animada e minha bexiga
apertou, avisando que precisava liberar todo o líquido que já consumi.

— Preciso ir ao banheiro — falei próximo ao seu ouvido, para que


ela pudesse entender.
— Vem, vou te levar. — Ela puxou-me tão rápido que nem deu
tempo de avisar ao segurança e acabei perdendo-o de vista no meio de
tantas pessoas.

Usamos o pequeno banheiro, que ficava no canto da quadra, bem


distante de onde estávamos e quando íamos voltar, ela voltou correndo para
dentro, avisando que esqueceu de retocar a maquiagem. Fiquei na porta
esperando.

Um homem parou na minha frente e falou algo em português que eu


não consegui compreender. Apenas abri um sorriso. Ele falou mais alguma
coisa e o cheiro forte de álcool fez-me perceber que ele estava bêbado.

Virei-me para verificar se a Duda estava voltando e o homem


segurou meu braço com força.

— Solte-me! — ordenei, mas ele não pareceu entender, pois


continuava sorrindo e falando sei lá o quê. — Sou casada e meu marido
pode chegar a qualquer momento. — Levantei o dedo mostrando a aliança
para ver se ele conseguia entender.

Alguém o puxou e um tiro ressoou por todo ambiente, assustando as


pessoas e até fazendo-as correrem.
Renzo segurou o homem pela camisa e o encarava com muita raiva
no olhar. Tudo aconteceu muito rápido, ele deu uns dois socos bem forte no
rosto dele, arrancando sangue e o jogou no chão, ordenando que ele ficasse
de joelhos.
Duda já havia aparecido e estava me abraçando. Renzo sacou a
arma, apontando para a cabeça do homem e ninguém parecia se importar.

— Vamos sair daqui — ela me chamou, mas eu não fui. Saí do seu
abraço e parei-me ao lado do meu marido.
— Não faz isso, por favor… não na minha frente — implorei. — Eu
não quero me lembrar de você matando alguém, já chega as memórias que
tenho da morte do meu pai. Por favor, para.

Eu não queria olhar para Renzo e me lembrar dele assassinando


alguém. Sabia perfeitamente o que ele fazia, mas ver era demais para mim.
Finalmente ele me encarou e guardou a arma. Respirei aliviada.

— Cuida disso, Gregório, não quero ele vivo — falou para o marido
de Duda e segurou no meu braço. — Vamos embora, Melanie.
Gregório se desculpou com Renzo pelo ocorrido e disse que
mandaria um presente para ele para que tudo ficasse bem entre os dois… a
cabeça do homem bêbado que mexeu comigo.

Meus olhos se arregalaram e mal pude acreditar no que havia


escutado.
Renzo veio dirigindo igual um louco pelo caminho. Chegamos no
hotel e ele estava super nervoso, me arrastando até o quarto.

— Você está me machucando — resmunguei, sem entender porque


estava sendo motivo da sua fúria.

— Cala a boca! — Abriu a porta do quarto e me empurrando.

— O que eu fiz, Renzo?


— Eu falei para você não sair de lá, caralho!

— Eu queria ir ao banheiro — justifiquei-me.

— Foda-se, era para me esperar.

— Era para eu fazer xixi nas calças? — Encarei-o, desta vez sem
medo, eu não havia feito nada e não pagaria por erro de outra pessoa. — Eu
estava apertada.

— Agora um desgraçado vai morrer por causa dessa sua


desobediência.

— Você não precisa matar ninguém e não coloque a culpa em mim,


ele que se aproximou, eu disse que era casada.

Sua expressão de raiva pareceu ter suavizado um pouco.


— Ele vai morrer — garantiu. — Uma hora dessa já deve estar
morto.
— Você não pode simplesmente matar todo mundo que chega perto
de mim — cuspi as palavras, totalmente espantada com essa situação… isso
era um absurdo!

Ele avançou em mim, segurando o meu queixo, praticamente


encostando o seu rosto no meu.

Acabei ficando assustada com o seu ataque repentino.

— Eu posso e vou, Melanie, está me ouvindo? Eu vou matar


qualquer um que se aproximar de você, qualquer um — prometeu.
— Eu estou com medo — confessei baixinho.

Seus olhos ainda ficaram me encarando por uns segundos, mas ele
logo me soltou e rumou para fora do quarto.
— Onde você vai? — indaguei. Renzo deixava-me confusa com
suas atitudes inesperadas.

— Me deixa! — Bateu à porta forte.


Não conseguia entendê-lo, por mais que eu quisesse e tentasse, não
dava.
Escutei um estrondo vindo da sala, de algo se quebrando. Abri a
porta e corri até lá para ver se estava tudo bem. Encontrei-o no pequeno bar
montado na sala e uma garrafa espatifada no chão, que foi arremessada na
parede.

Esse jeito dele me amedrontava.


— Renzo — o chamei, mas ele não respondeu...
Me aproximei dele, que estava em pé, e passei a mão levemente no
seu braço. Senti o seu corpo ficar tenso.
— Me deixa, eu já falei — Afastou-se o meu toque.

— Está tudo bem, calma — falei de forma tranquila, tentando


acalmá-lo.
Ele se virou, puxando a minha cintura e colando nossos corpos,
enterrando a cabeça nos meus cabelos. Surpreendendo-me mais uma vez
com a sua atitude repentina.

— Fiquei louco só de ver outro homem encostando em você —


admitiu, inspirando fundo a fragrância dos meus cabelos e depois olhando-
me intensamente nos olhos.
— Eu sou sua — declarei, totalmente insana por querer ser dele.

— Você é toda minha, ruivinha. — Sorriu, passando o polegar pelo


o meu rosto, desenhando cada traço.
Passei os braços por seu pescoço, ficando na pontinha dos pés e
alcancei sua boca, beijando com desejo os seus lábios. Ele retribuiu, sua
língua pedindo passagem para que explorasse a minha boca de um jeito
selvagem e atraente.

Fomos andando até o sofá sem interromper o beijo. Ele tirou a


minha blusa rapidamente e o meu sutiã. Puxei a sua camisa, também a
tirando.

Suas enormes mãos passeavam por minhas costas e braços,


apertando-os, até chegar nos meus seios, onde seus dedos brincavam numa
carícia gostosa e dolorosa ao beliscar levemente o bico, arrancando-me
gemidos intensos.
Ele beijava meu pescoço e descia até os meus seios, abocanhando-os
por inteiro, chupando-os com vontade, enquanto sua mão desceu para o
meu short e começou a me acariciar por cima do tecido grosso.
— Eu quero você — supliquei, enlouquecida de desejo.

— Você já me tem. — Sorriu e o meu coração quase saltou do peito.

Sua fala deixou-me feito boba. Atingiu-me com tanta força que meu
coração até errou as batidas.

Meu short foi desabotoado e retirado. Ele se afastou um pouco para


admirar-me com o olhar, enquanto eu estava só de calcinha deitada no sofá.

— Você é linda demais, Melanie — elogiou-me, bastante excitado, e


desceu a minha calcinha.

Seus dedos deslizaram por minha boceta, abrindo-me para recebê-


lo.

— Ah, Renzo! — choraminguei, rebolando na sua mão.

Ele acelerou os movimentos dos dedos, desta vez os retirando de


dentro de mim e fazendo movimentos circulares no meu clitóris.

Meu corpo já amoleceu e os espasmos me atingiram com força.


Gozei com os seus toques, gemendo despudoradamente para ele.

Renzo retirou os dedos e de um jeito extremamente sensual os levou


à boca, chupando o meu gozo e sorriu, parecendo bastante satisfeito com o
meu gosto.

— Só sentir o seu gosto nos meus dedos não mata a minha vontade
— falou e abriu bem as minhas pernas, enfiando a cabeça entre as minhas
coxas e me levando à loucura mais uma vez com a sua boca e língua.
Ele me chupava como se eu fosse a sua comida predileta, com
vontade. Sua língua explorava cada pedacinho de mim. Eu estava perdida
em tantas sensações diferentes e gostosas que estava sentindo. Gemia,
chamava o seu nome, puxava os fios do seu cabelo, arranhava seus braços,
me contorcia… era alucinante.
Explodi em mais um delicioso orgasmo e ele tomou tudo de mim,
sugando-me até a última gota.

Meu corpo inteiro tremia e meu corpo parecia que entraria em


combustão de tão quente.
Queria muito retribuir ao Renzo todo o prazer que ele me
proporcionava, por isso decidi que hoje queria ser mais ousada. Aproveitei
que ele se afastou para tirar a roupa e me levantei, segurando as suas mãos e
tendo seus olhos sobre mim totalmente confusos. Desci as mãos até a sua
bermuda, abrindo o botão e depois o zíper, abaixando-a e olhei admirada
para o volume exorbitante que exibia na sua cueca. Sem mais delongas,
libertei o seu membro duro e espalmei a mão em seu peito, obrigando-o a se
sentar no sofá. Ajoelhei-me na sua frente e o segurei em minhas mãos,
masturbando-o devagarinho.

Animei-me com o seu gemido rouco e, um pouco mais confiante,


passei a língua pela sua cabeça robusta, sentindo o gosto do seu líquido pré-
ejaculatório.

Passei o dedo nesse líquido viscoso e transparente e o levei à boca,


saboreando-o, para só depois engolir o máximo que conseguia do seu pau.

— Porra, Melanie! Não faz isso… — gemeu, sua voz regada de


rouquidão e seus olhos tomados pela luxúria.
Desci o máximo que consegui, olhando para cima, diretamente em
seus olhos, e sua mão se enrolou nos meus cabelos. Senti seu pênis no
fundo da minha garganta, fazendo-me sentir uma leve ardência, mas não
parei, eu não queria parar. Chupá-lo era mais gostoso do que imaginei.
Acelerei o movimento de sobe e desce, sentindo minha saliva
escorrer para os meus dedos que estavam deslizando por onde não
conseguia abocanhar.

— Você é gostosa demais, ruivinha, não vou aguentar — ofegou. —


Caralho, Melanie! — Puxou meus cabelos com força, tirando minha boca e
colocando-me debruçada contra o sofá, ainda ajoelhada no chão.

Sorrio ao saber que consegui enlouquecê-lo, do mesmo jeito que ele


fazia comigo.

Renzo ajoelhou-se atrás de mim, deu um tapa na minha bunda e


pincelou o seu pau na minha entrada, que já pulsava, ansiosa para recebê-lo.
— Eu vou te comer tão gostoso — sussurrou no meu ouvido,
puxando meus cabelos para trás. — Tá sentindo, ruivinha safada? O meu
apau deslizando nessa boceta gostosa?

Eu sentia… como eu sentia… cada centímetro entrando em mim,


deixando-me completamente preenchida por ele.

— Ah, Renzo! — Apertei as almofadas, gemendo ao sentir sua


pelve bater na minha bunda, suportando-o todo dentro de mim.

— Estou louco por você… completamente louco por sua boceta


gostosa! — reiterou, mordendo o meu pescoço, entrando e saindo devagar
de dentro de mim e apertando ainda mais os meus cabelos.
Eu estava no meu limite do tesão e quando eu explodir, não sei se
conseguirei continuar.

— Renzo, eu quero ficar por cima — falei, ansiosa para estar no


controle.

Ele nem questionou, apenas saiu e se sentou no sofá, batendo na


perna, chamando-me para o seu colo, e eu fui. Passei as pernas pela lateral
do seu quadril e sentei com cuidado, para que eu não terminasse essa transa
totalmente destruída, assada e dolorida.
— Você está me enlouquecendo — declarou contra os meus lábios,
mordendo o inferior e depois o chupando.

— Ohhh — choraminguei ao recebê-lo por completo. — Isso é tão


bom, Renzo… tão bom. — Descia e subia sem pressa, apreciando essa
sensação incrivelmente boa de estar cheia dele.
Meus peitos sacudiram conforme eu fui acelerando os movimentos e
comecei a cavalgar intensamente. Renzo não perdeu a oportunidade e os
abocanhou, chupando-os e, vez ou outra, deixando uma mordida
estranhamente satisfatória.

Eu gostava muito dessa mistura de ardência e volúpia intensa que


ele me causava durante o sexo.

Renzo era o pacote completo na cama.

Só precisava aprender a ser também fora dela.


Capítulo 18

Renzo Caccini

Levantei com cuidado para não acordar a ruivinha e fui para o


banheiro tomar um banho. Consegui descansar um pouco ao lado dela.
Ficamos acordados até de manhã, transando feito dois loucos e só paramos
porque ela disse que não aguentava mais e agora estava deitada na cama
dormindo tranquilamente.
Liguei o chuveiro e entrei debaixo da água. Enquanto sentia o
líquido quente escorrer pelas minhas costas, fiquei pensando em tudo que
estava acontecendo. Não estou me reconhecendo, aquele Renzo nervoso e
agindo por impulso não era eu, eu nunca fui assim, normalmente sou mais
centrado, mas aquela demônia ruiva estava me deixando louco, mudando a
rota da minha vida.
Tudo que tinha feito era pensar em seus cabelos cor de cobre, todos
os dias, todas as horas… era um inferno!

Acreditei que a nossa primeira transa tinha sido o melhor sexo da


minha vida, mas eu estava totalmente enganado, essa noite foi o melhor, o
mais incrível, sem dúvidas. Perdi as contas de quantas vezes eu gozei e de
quantas vezes Melanie gozou, e mesmo tendo gozado bastante,
inacreditavelmente eu ainda conseguia sentir um tesão absurdo, essa mulher
causava essas coisas em mim. Ela não sabia o poder que tinha sobre o meu
corpo e minha mente, ficava louco só de olhar para ela. Rosto angelical,
com algumas sardas, olhos azuis, cabelos longos e ruivos, um corpo de
deixar qualquer um doido e um sorriso capaz de derrubar muralhas.

Sua estatura não era baixa, mas como sou bastante alto, ela era
menor do que eu. Linda, extremamente linda, uma beleza fora do normal.
Sua inocência era algo que me irritava e ao mesmo tempo me atraia como
um imã. Ela era só uma garota começando a viver, não conhecia muito da
malícia do mundo, sempre viveu reclusa, mas tenho certeza que aos poucos
vai pegando o jeito. Já pude perceber que Melanie é muito inteligente e
aprendia as coisas rápido.

Precisava colocar meus pensamentos em ordem, precisava voltar a


ser o mesmo Renzo de sempre. Não conseguia ser eu mesmo quando estava
perto dela. Ela me mudava por completo. E isso não era bom.

Ontem eu fiquei louco em ver aquele bastardo querendo a minha


esposa, minha vontade era estourar a cabeça dele ali naquela hora, mas ao
ver a ruivinha desesperada, não tive coragem, não sei o que essa menina faz
comigo.

Samantha tem me ligado e me manda mensagem todo dia, toda hora,


mas não estou com cabeça sequer para falar com ela.

— Vai ficar me olhando até que horas? — perguntei ao sentir a


presença dela assim que entrou e agora estava parada, encostada na parede,
encarando-me, lindamente usando minha camisa.

— Fica ainda mais gato molhado — elogiou-me, com um sorrisinho


safado e acabei sorrindo também.

É inevitável, ela me faz bem.

Tenho gostado bastante de ver essa Melanie mais desinibida.


— Então junte-se a mim. — Nem precisei chamá-la duas vezes,
rapidamente ela tirou a camisa e entrou.

Linda! Com uma carinha de quem foi bem comida a noite inteira.
Seu corpo estava cheio de marcas, mas ela não parecia se importar. Eu
ainda não mostrei para ela o jeito bruto que eu gosto, mas não vai demorar
muito. Ela é receptiva, gostosa demais.

— Você está tão pensativo. — Deslizou as mãos pelo meu peito.

— Queria te levar na praia, mas você está com muitas marcas —


comentei, um tanto desanimado por tê-la deixado assim e estragar nossa ida
à praia.

— Eu coloco um maiô — respondeu plácida, parecendo não se


importar.
— Você não se importa com essas marcas?

— Não. — Suas bochechas ruborizaram, deixando-me ainda mais


encantado. Tudo nela é lindo demais. — Eu gosto — confessou baixinho.

— Gosta, é? — Apertei a sua cintura, colando seu corpo ao meu.

— Sim. Isso é ruim?


— De jeito nenhum. — Deixei um beijo em seus lábios. — Isso me
agrada muito.

— Tem alguma hora do dia que ele tem descanso? — Referiu-se ao


fato de eu já estar duro.

Ri. Mas também estava surpreso, sempre fui um homem ativo, mas
ultimamente, com Melanie, tenho me surpreendido com o meu próprio
apetite sexual.
— Não, e nem pode.

— Tadinho. — Fez biquinho, fingindo estar com pena do meu pau


que não estava tendo descanso. Graças a Deus por isso.

— Tadinha de você. — Encostei suas costas na parede e ela já


enlaçou as pernas na minha cintura. — Você é uma cachorra safada,
ruivinha. — Puxei seus cabelos e mordi seus lábios.

— Ah, Renzo! — gemeu contra a minha boca. — Me fode gostoso


— pediu com a voz manhosa.

Porra! Que delícia ouvi-la pedindo para que eu faça tudo que tenho
desejado fazer a todo momento, desde que bati os olhos nela descendo
aquelas escadas no dia do nosso noivado.

Não esperei mais nada e sem enrolação, encaixei-me na sua entrada


e deslizei meu pau para dentro da sua boceta quente e molhada.

Essa mulher é minha perdição, tenho total certeza disso. Quero viver
dentro dela… da minha mulher.
Capítulo 19

Melanie Salvatierra

Fazia uma semana que estávamos no Brasil e eu estava vivendo os


melhores dias da minha vida. Renzo tem me tratado bem, do jeito dele, mas
bem. Ele era um pouco frio em questão de sentimentos, mas estava se
esforçando para fazer minhas vontades e ser educado.

Fomos à praia quase todos os dias junto com Duda e Gregório. A


Duda era um amor, o relacionamento dela era um pouco conturbado, igual
ao meu, mas ela era uma menina incrível, já gosto dela demais. Quero
voltar ao Brasil mais vezes e reencontrá-la. Renzo os convidou para irem lá
em casa, na Itália. Fiquei muito feliz e estou torcendo para irem, quero
apresentá-la para Alice e Luara, tenho certeza que elas vão amar conhecê-
la.
Agora estou terminando de me arrumar porque vamos a uma boate,
essa será nossa despedida do Brasil e já estou sofrendo com isso. Eu amei
esse país! A comida é maravilhosa, a praia é linda, o povo é muito
acolhedor… enfim, eu amo o Brasil!

Durante essa semana eu fiz tudo que não havia feito em dezoito
anos. Renzo me levou ao shopping, fui à praia, fomos jantar em vários
restaurantes diferentes, fomos a um parque e agora estamos indo à uma
boate, estou muito animada e feliz.

— Estou pronta — avisei, entrando na sala.


Meu marido olhou-me da cabeça aos pés, com uma intensidade no
olhar tão grande que arrepiou-me toda.

— Você não vai sair com essa roupa — falou, já ficando com cara
emburrada.

— Não começa, vai? — Aproximei-me dele, pegando o copo de


uísque da sua mão e colocando-o em cima da mesa. — Sou toda sua, para
de bobeira, — Beijei o cantinho da sua boca.

Estava usando um vestido preto brilhoso justo, que tinha um decote


lindo nas costas.

— Muito curto, Melanie, vai trocar. — Sinto sua voz suavizando.


Desci beijos por seu pescoço. — Não me atiça, vamos acabar não indo a
lugar nenhum. — Segurou-me firme e pude sentir que já estava duro. —
Para, ruivinha — pediu, já com a voz calma.

Eu amo quando ele me chama assim.

— Então vamos, quero curtir essa noite com o meu marido. —


Enlacei meus dedos nos seus, apertando sua mão.

— Vamos, Melanie, mas se algum homem chegar perto de você,


pode o considerar morto — afirmou grosseiro.

— Você tem que parar com essa mania de querer matar todo mundo.
— Tá avisada, fica só perto de mim.

Respirei fundo. Confesso que esse jeito boçal de Renzo me


incomodava bastante.

Durante o trajeto não falamos mais sobre o assunto da minha roupa,


aliás, não falamos mais nada, fomos ouvindo uma música qualquer que
passava na rádio.

Chegamos à boate e o lugar estava muito cheio. Logo encontramos


Duda e Gregório em uma área mais reservada, mas ainda sim com bastante
gente. Nos cumprimentamos e os meninos já pediram suas bebidas.

— Mel, como você está linda! — Duda elogiou-me, sorridente.


— Você também está linda demais!

— Vou sentir a sua falta. — Abraçou-me, parecendo sincera.

— Eu também vou sentir a sua — falei a verdade. Gostei muito dela


e com toda certeza sentiria saudades.

— Agora eu vou voltar a fazer nada da minha vida. — Revirou os


olhos, ficando com um semblante triste.

— Vai ficar tudo bem, tá?

Ela sorriu, assentindo.

— Vamos dançar? — chamou, se animando.

— Vamos.

Eu não sei dançar como a Duda, mas me arrisquei e acabei me


divertindo muito. Dançamos perto dos meninos e pude sentir os olhos do
Renzo em mim, queimando-me por inteira.

Esse homem mexia demais comigo.

Durante essa semana transamos todos os dias, o tempo inteiro,


bastava a gente ficar sozinhos e pronto, era pegação na certa, não posso
reclamar, porque estava viciada… viciada nele.
Aproximei-me dele e sussurrei no seu ouvido que iria pegar uma
bebida. Fui até o bar com Duda, que ficou logo na frente. Nem precisei
olhar para trás para saber que seu olhar estava fixo em mim.

— Vamos beber caipirinha? — Duda propõe.

— Vamos.

Eu já bebi com ela na praia e gostei bastante, por isso concordei em


beber a mesma bebida que ela.

Gregório se aproximou, chamando Duda para fazer alguma coisa,


que não consegui entender o que era, e ela foi reclamando. Enquanto isso,
aguardei o barman preparar nossas bebidas e deixarei a de Duda lá em cima
da mesinha.

— Escutei a bela falando em espanhol. — Virei-me para o lado e vi


um rapaz falando comigo, também em espanhol. — Você é muito linda! —
elogiou-me com um sorriso mais simpático do que sensual.

— Obrigada, mas se eu fosse você não falava comigo, sou casada e


meu marido é bem ciumento — alertei, olhando rapidamente para onde ele
estava sentado e já o vi levantar e caminhar lentamente até onde estamos.

— Calma, só te elogiei. — Sorriu despreocupadamente.

— Não fala comigo, por favor, não tenho nem roupa para ir no seu
velório — avisei, já com medo do que Renzo possa fazer.

— Velório? Como assim? — o homem perguntou confuso.

Peguei as duas caipirinhas e dei as costas ao homem, deixando-o


sem entender nada. Encontrei Renzo na metade do caminho e parei na sua
frente.
— Vamos nos sentar. Estou levando a caipirinha de Duda. —
Levantei o copo, mostrando-o.

— O que ele estava falando com você? — perguntou, totalmente


sem paciência.

— Nada.

— Como nada? Eu vi ele falando com você. — Estreitou os olhos.

— Não disse nada demais, ele me cumprimentou e eu já avisei que


era casada e pronto, morreu o assunto.

— Tem certeza?

— Sim — garanti, voltando para o lugar onde estávamos e coloquei


os copos em cima da mesa. — Agora vem dançar comigo. — Puxei-o, que
relutou.

— Não sei dançar, Melanie.

— Eu também não, mas o que importa? — Sorri, tentando


convencê-lo, e por fim, consegui.

Dançamos agarradinhos e foi incrivelmente bom.

Eu gostava do Renzo, gostava mais do que eu imaginei que fosse


gostar, mas esse ciúmes dele me incomodava e me assustava um pouco.
Entretanto, não ia ficar me preocupando com isso agora, tinha conseguido
controlá-lo um pouco, mas não sei se conseguirei sempre. Ele tem
melhorado em tantas coisas que espero que aprimore nesse jeito ciumento
também.

Agora tudo que eu queria era aproveitar a minha última noite no


Brasil.
Capítulo 20

Renzo Caccini

Nossa viagem foi ótima, conheci um pouco melhor minha esposa e


aproveitamos bastante. Ela era uma menina muito simples, qualquer coisa a
agradava e a deixava feliz. Um dos maiores motivos do meu encantamento
por ela foi perceber que Melanie era extraordinária.

Pretendia repetir mais vezes, queria viajar para mais lugares junto
dela, percebi que é algo que ela gostou muito de fazer e eu também gostava,
então juntarei o útil ao agradável.

Desde que chegamos da Itália, notei uma mudança no


comportamento de Melanie, ela claramente estava estranha. Até perguntei o
motivo, mas ela não quis falar.

Terminei de tomar o meu banho, peguei minha arma, celular,


carteira e chaves do carro, pronto para sair, precisava resolver uns assuntos
pendentes.

Desci as escadas e a encontrei na cozinha, comendo.

— Eu fiz um sanduíche para você — avisou, sorridente.

— Obrigado! Coloca na geladeira que mais tarde eu como, vou sair


agora.

— Já vai sair?
— Volto para jantar com você — afirmei, deixando um beijo em sua
testa e saindo.

— Renzo? — chamou-me assim que abri a porta para sair de casa.

Virei-me e a encontrei atrás de mim, seus olhos curiosos pareciam


tristes.

— Sim?

— Você vai encontrar a Samantha?

— Sim — falei a verdade, não irei mentir para ela.

— Tá bom. — Girou rapidamente nos calcanhares e saiu, indo para


a varanda.

Fechei a porta e fui atrás dela.

— Melanie? — desta vez fui eu quem chamei, aproximando-me.

— Não, tudo bem, pode ir.


— Não é o que está pensando.

— Não? — Virou-se, ficando de frente para mim. — Então é o que,


Renzo? — Encarou-me com os olhos cheios de água. — Você já vai correr
para os braços da sua amante.

— Eu vou lá terminar tudo com ela — garanti e vi os seus lindos


olhos dobrarem de tamanho, surpresa com o que ouviu.

— Você está falando sério?

— Sim, ruivinha.

Melanie sorriu e pulou nos meus braços, beijando-me.


— Então vai lá. — Deu-me mais um selinho e se afastou. — Te
espero para jantar.

— Estarei aqui.

Saí do apartamento e entrei no meu carro pensativo. Enquanto


dirigia pelas ruas movimentadas, refleti o quanto a minha vida mudou em
pouco tempo. Desde que Melanie chegou, tudo se transformou e de um jeito
estranho, essa transformação foi para melhor.

Não queria ficar enganando a minha esposa, por isso iria acabar
tudo com Samantha. Nunca pensei que um dia eu fosse fazer isso, mas tudo
que eu preciso tenho em casa. Melanie era carinhosa e atenciosa, sem
contar que o sexo era incrível.

Estacionei e não perdi mais tempo, entrei no apartamento pronto


para colocar um ponto final.

— Você voltou! — Samantha gritou animada, jogando-se nos meus


braços, mas rapidamente a afastei. — O que aconteceu? — Um vinco se
firmou na sua testa, encarando-me confusa.

— Você vai voltar para o bordel — avisei de uma vez.


— O quê? Por que isso agora? Eu não me importo de você estar
casado.

— Já está decidido, Samantha. — Deixei claro que não havia


discussão quanto a isso.

Minha decisão estava tomada, eu viveria com a minha esposa e não


manteria um caso extraconjugal. Desde que a ruivinha foi morar lá em casa
e eu pude conhecê-la melhor, experimentar de perto todo o seu atrevimento
e doçura, não busquei e nem quero outra pessoa além dela.
— Não faça isso comigo, meu amor. — Chorou, tentando me tocar,
mas me esquivei. — Eu te amo… por favor — implorou.

Confesso que tinha um carinho por ela, foi uma boa companheira
durante todo esse tempo, não tinha nada para reclamar de Samantha.
Contudo, as coisas mudaram, sinto que eu mudei e os meus sentimentos
também.

— Você volta, mas pedirei que liberem algum outro serviço para
você, pode ser no bar, na cozinha ou então na limpeza. Deixarei a seu
critério. — Decidi fazer isso em consideração a tudo que já vivemos.

— Renzo, calma, vamos conversar. O que aconteceu? — Enxugou o


rosto com o dorso da mão. Samantha estava chorando muito.

Infelizmente algum lado sairia machucado e nem posso dizer que


não queria que fosse assim, já que eu fui o culpado dessa história ter
chegado onde chegou. Prolonguei demais o meu caso com ela sabendo das
minhas responsabilidades e que nós dois éramos um caso impossível.

— Não temos mais o que conversar, arrume as suas coisas, você


volta amanhã mesmo — falei decidido e virei-me para sair.

— Você não pode fazer isso comigo — gritou. — Você não pode
fazer isso com o seu filho!

Parei na hora e girei tão rápido para encará-la que fiquei até tonto.

— O que você disse? — inquiri, não querendo acreditar no que eu


acabei de ouvir.

— Eu estou grávida! — Abriu a gaveta pegando dois testes de


farmácia e lançando-os na minha direção.
— O quê? Como assim? — repeti as mesmas perguntas,
desacreditado.

— A gente transa, esqueceu? Descobri essa semana, eu ia te contar,


mas você sumiu.

— Não tem como você estar grávida. — Passei as mãos pelo rosto,
desesperado. — A gente transa de camisinha — falei mas lembrei-me de
uma vez em que havia bebido demais e transei com ela sem usar
preservativo. Porra! — Aconteceu uma vez só e eu não gozei dentro.

— Mas eu estou grávida e é seu!

Se ela realmente estiver grávida, eu sabia que era meu. Afinal,


Samantha mal saia do apartamento e era vigiada o tempo todo por um dos
meus soldados.

— Isso não podia ter acontecido! — Cocei os olhos, sentindo-me


completamente perdido. — Porra!

— Você vai me mandar de volta mesmo assim? — perguntou ainda


chorando, mas não a respondi, eu precisava de um tempo para pensar. —
Renzo, aonde você vai? Você não vai me responder? — Seguiu-me até a
porta.

— Depois a gente conversa, Samantha — falei já saindo.

Não conseguia pensar direito nesse momento.

— Você vai me mandar de volta? — repetiu a maldita pergunta.

— Não. — Bati a porta e saí dali sem saber o que fazer.

Entrei no carro e o ar parecia ter sumido dos meus pulmões. Abri as


janelas e soquei o volante.
— Caralho! Porra!

O que vou fazer agora? O que falarei para a mulher que está me
esperando para jantar em casa?

Acelerei e saí dirigindo feito um louco pela cidade por longos


minutos, estava sem rumo. Parei em um bar de esquina, afastado da cidade,
e entrei. Sentei-me na banqueta e pedi uma garrafa de uísque, sabia que
naquela espelunca teria a pior bebida possível, mas não me importava, tudo
que eu queria era encher a cara e por alguns minutos esquecer essa maldita
vida.
Merda! Merda! Merda! Mil vezes merda! Um filho fora do
casamento, isso não podia estar acontecendo, não podia!

Já tinha bebido duas doses generosas quando conferi o meu celular,


notando uma mensagem do meu irmão.

Rocco:
Onde você está?
Eu:
No bar.
Rocco:
Qual bar?

Ele estava online, então rapidamente me respondeu.

Eu:
Estou longe. O bar é bem afastado da cidade.
Virei outro copo e logo o enchi novamente.

Rocco:
O que aconteceu?

Meu irmão me conhecia melhor do que qualquer pessoa. Suspeitava


de que me conhecia melhor do que eu mesmo.

Eu:
Depois a gente conversa.

Rocco:
Me manda a sua localização.
É uma ordem!

Mandei minha localização. Não porque ele me deu uma ordem, mas
sim porque eu estava precisando dele.

Tinha certeza que ele iria surtar quando eu contar, vai me encher de
esporro, mas me ajudará a encontrar uma solução.
Capítulo 21

Melanie Salvatierra

Não conseguia mensurar a felicidade em que fiquei quando Renzo


me disse que ia até a casa de Samantha para terminar tudo com ela.
Finalmente as coisas parecem estar se ajeitando.

Ele disse que ia vim para jantarmos juntos, então precisava preparar
alguma coisa, não queria que ele chegasse e tivesse que fazer comida,
queria fazer uma surpresa.

— Roni, você pode me emprestar o seu celular? — pedi, abrindo a


porta.

Sabia que o encontraria do lado de fora, como de costume, parado


ao lado da porta.
— Para quê? — Arqueou uma sobrancelha, confuso.

— Quero olhar uma receita na internet — expliquei, sorrindo feito


uma boba.

Eu estava feliz.

— Tem um notebook na gaveta da sala, ali à direita. — Apontou. —


Pode usá-lo, já está conectado à internet.

— Obrigada! — Fechei a porta e fui pegar o notebook.


É ruim não ter celular, né? Se bem que eu nunca tive acesso a um,
então não faz tanta falta.

Pesquisei uma receita fácil para fazer, mas que fosse gostosa, pois
queria agradar Renzo. Olhei várias e tudo parecia difícil, que saco!

Finalmente encontrei um macarrão ao molho branco que me pareceu


mais fácil, então arriscarei nesse. Sem falar que esse prato iria combinar
com um bom vinho. Renzo tinha uma pequena adega montada aqui dentro
do apartamento. Apesar de beber bastante uísque, ele apreciava um bom
vinho, como um italiano nato.
Já na cozinha, coloquei a mão na massa, literalmente. Fiz a maior
bagunça, queimei o meu braço e quase coloquei o fogo no apartamento,
sem falar em toda a sujeira.

Roni entrou e começou a rir da situação, mas logo se dispôs a me


ajudar e por fim consegui terminar o macarrão e ele parecia bem gostoso.

Agradeci a ajuda de Roni e como ele não quis comer agora, guardei
um pouco na vasilha para ele. Agora estava indo limpar a sujeira e lavar
esse montão de vasilhas.

Cozinhar dava trabalho e eu acho que não nasci com o dom.

Depois de longos minutos, tudo estava limpo e a mesa posta. Corri


para tomar um banho e me arrumar, queria estar cheirosa e bonita esperando
pelo o meu marido.

Optei por um vestido larguinho, pois já pensei nos benefícios que


poderia trazer. Eu havia me tornado uma safada e a todo momento pensava
em transar com Renzo novamente. Mas o que eu poderia fazer? O homem
era simplesmente incrível na arte de me proporcionar orgasmos intensos.
Passei perfume e penteei os cabelos, deixando-os soltos.

Ao descer, conferi as horas no relógio que ficava na parede. Já


passava das 21h e ele ainda não havia chegado.

Liguei a televisão e fiquei assistindo. As horas foram passando e


nem sinal dele. O sono tomou conta de mim e acabei dormindo ali mesmo,
no sofá.

Acordei sentindo dor no pescoço, pois estava deitada de mal jeito.


Olhei para os lados e ele ainda não havia chegado. Me levantei e abri a
porta, encontrando Roni ainda ali.

— Oi. Você tem alguma notícia do Renzo? — perguntei um tanto


sem graça, já que ele sabia que eu estava esperando por ele.

— Não, senhora.

— Você não consegue contato com ele?

— É urgente? Não posso incomodá-lo sem motivo — explicou e eu


assenti, entendendo.

— Boa noite!

— Boa noite, senhora.

Fechei e a porta e subi, indo direto para o quarto dele. Entrei e me


deitei na cama, aqui tinha o cheiro dele.

Eu fracassei e não tinha nada pior do que fracassar consigo mesmo.


Renzo era tudo que eu sempre pensei detestar em um homem, e no entanto,
não havia como negar, estava gostando dele.

E doía bastante, porque não era recíproco.


Até agora ele não voltou e já era de madrugada, ele devia ter ficado
na casa da amante.

Será que tinha outra explicação? Prefiro acreditar que tenha. Ele não
mentiria para mim desse jeito, por que ele faria isso?

Peguei no sono novamente enquanto pensava mil coisas.

Acordei ao ouvir a porta do quarto bater com força.

— O que você está fazendo aqui? — Renzo perguntou, falando tudo


embolado, visivelmente bêbado.

— Oi, estava esperando você chegar — confessei baixinho.

— Já cheguei, pode ir para o seu quarto — falou de maneira


grosseira.

— Onde você estava? — Os pequenos raios de sol que entravam


pela janela mostravam-me que já estava de manhã. — Está tudo bem?

— Quero descansar, vai para o seu quarto.

— Não posso ficar aqui com você? — Ele estava tentando tirar a
camisa, mas por conta do seu estado, estava tendo dificuldade. — Deixa
que eu te ajudo. — Aproximei-me para ajudá-lo.

— Não, Melanie, vai para o seu quarto! — gritou, assustando-me.


— Quero ficar sozinho, sai!

— O que aconteceu, Renzo? Por que você está diferente?

— Eu não te devo satisfação, agora sai do meu quarto. — Segurou


forte em meu braço e me tirou do seu quarto, batendo a porta na minha cara.

Fiquei sem entender o que aconteceu, o que eu fiz de errado? Renzo


saiu daqui de um jeito e voltou completamente diferente.
Corri para o meu quarto e tranquei a porta, eu não era obrigada a
aturar essa ignorância.

Chorei de raiva. Raiva do idiota que ele era e da burra que eu sou
por acreditar nele. Claro que ele não ia terminar nada com aquela mulher,
ele gostava dela, devia ter passado a noite lá, por isso voltou assim, sendo o
Renzo que era no começo.

Que inferno de vida!

Por que eu me apaixonei por ele, Deus?

Nem sei por quanto tempo fiquei chorando e me lamentando, mas


minha cabeça já estava doendo e meus olhos pesados, então rendi-me
novamente ao sono. Finalmente dormindo eu poderia esquecer da dor que
afligia meu coração.

Uma semana… sete malditos dias que eu e Renzo não conversamos


e nem nos vemos. Na verdade, eu o vejo porque fico vigiando a hora que
ele sai e chega em casa, isso quando chega, porque tem dias que ele não
volta e quando ele vem, chega tarde e sai super cedo.

Só tenho saído do quarto quando ele não está em casa. Ele não me
procurou, então eu que não vou correr atrás desse idiota.

Não sei o que aconteceu, certeza que ele não terminou com a
Samantha, se ele tivesse terminado nós dois estaríamos bem, mas ele não
teve nem a hombridade de vir falar comigo, mas tudo bem, se ele quer
assim, então assim será.
Se eu chorei? Todos os dias, não vou negar. Entretanto, posso sofrer
sozinha, mas não vou correr atrás de ninguém. Não pensem que é orgulho,
porque não é, nunca fui uma pessoa orgulhosa, muito pelo contrário, sou
muito maleável e tranquila, o que eu tenho é vergonha na cara mesmo, não
vou ficar me sujeitando a ser humilhada por ele.

Terminei o meu banho e desci para preparar um lanche. Desci


tranquila porque sei que nesse horário ele ainda não chegou.
Comi sozinha, como tem sido todos os dias. Suspeito que será
sempre assim, estou destinada a viver em minha própria companhia.

Voltei para o meu quarto e me preparei para deitar. Era tudo que
tinha feito, ido do quarto para a cozinha, no máximo ficava alguns
minutinhos na varanda.

Escutei uma batida na porta e meu coração bobo acelerou, foi


inevitável não pensar que seria ele ali.

Fiquei indecisa se deveria ir abrir ou não.

— Senhora, está acordada? — Era a voz de Roni e estranhei de


imediato sua aparição, pois não era do seu feitio entrar dentro de casa,
muito menos vir ao meu quarto.

— Oi. — Abri a porta. — Aconteceu alguma coisa?

— Sim. O senhor Renzo está no hospital.

— Hospital? Como assim? — perguntei, já ficando nervosa e, ao


mesmo tempo, preocupada.
— Houve uma invasão na casa do Don Caccini, infelizmente o
senhor Renzo acabou levando um tiro, mas fique tranquila, ele está
consciente.

— Ai meu Deus! — Levei a mão ao peito esquerdo, em uma


tentativa em vão de acalmar o meu coração que batia desesperado. — Sabe
se Luara está bem? — Preocupei-me imediatamente com o bem-estar da
gestante.

— Todos estão bem, senhora.

— O que eu faço? — questionei, afinal, são dias sem sequer olhar


na cara de Renzo.

— A levarei para o hospital.


— Não acho uma boa ideia, ele não gostaria de me ver lá — falei
um tanto sem graça, mas era a verdade, sou a última pessoa que ele quer
ver. — Poderia me manter informada?

— Ele quem estava chamando pela senhora.


— Está falando sério? — Estreitei os olhos, desacreditada.

— Sim. O Don Caccini ordenou que eu a levasse até o hospital.


— Tá bom, só um minuto, irei me trocar.

— Te espero lá embaixo. — Virou-se, descendo as escadas.

Corri para me ajeitar e quis me estapear por estar sorrindo feito uma
tola. Saber que ele está chamando por mim deixou-me feliz, apesar de
preocupada por ele estar machucado.

Peguei minha bolsa, coloquei uma muda de roupa para ficar no


hospital com ele, meu livro que estava lendo e produtos essenciais de
higiene, como escova de dentes, e desci correndo.

— Estou pronta — avisei.

— Ótimo, vamos.
Ele me conduziu até o carro e dirigiu rapidamente até o hospital.
Chegamos em menos de dez minutos. Roni conversou com a recepcionista
e logo fomos liberados.

No corredor encontrei a família dele. Cumprimentei a todos


cordialmente e notei a falta de Luara.

— Oi, como está a Luara? — perguntei para Rocco.

— Ela está bem, foi só um susto. — Anui, sorrindo ao afirmar o que


Roni havia me dito. — Vamos para casa, você ficará com o Renzo, ele
passou por uma cirurgia. Acredito que deva acordar só amanhã, mas ele está
bem e antes de entrar no centro cirúrgico, estava chamando por você.

Meu sorriso aumentou de tamanho. Então era verdade, ele estava


chamando por mim.

— Tudo bem.

— Se precisar de alguma coisa você avisa, querida. — Giovana


depositou um beijo carinhoso na minha bochecha.
O pai de Renzo também se despediu e todos foram embora.

— Senhora, estarei aqui fora qualquer coisa — Roni avisou.


— Obrigada!

Entrei no quarto e o encontrei dormindo, tão sereno e indefeso, nem


parecia o mesmo Renzo de sempre. Aproximei-me e delicadamente passei
as mãos por seu rosto, infelizmente sentia falta desse idiota, mesmo eu
querendo negar com todas as forças, acabei me apaixonando.

Eu sei que terei que fazer o papel de esposa e cuidar dele, mesmo
ele não merecendo.

Tirei o meu livro de dentro da bolsa, sentei-me na cadeira de


descanso e voltei a ler para passar o tempo.

Fiquei umas duas horas lendo, entre esse tempo a enfermeira entrou
para olhá-lo e decidi me levantar para buscar um café, já estava com sono.

— Vou pegar um café. — Abri a porta e avisei ao Roni, que estava


parado ali do lado.

— Eu busco. — Se prontificou.

Roni era sempre muito educado e prestativo, não tinha nada o que
reclamar dele.

— Obrigada!

— Só um café ou deseja alguma coisa para comer?


— Só o café já está bom.

Voltei para o quarto e o aguardei.

A porta se abriu e virei-me para olhar, pensando ser o Roni, mas


para a minha surpresa era Samantha, a amante do meu marido.

— Meu Deus, o que aconteceu com o meu homem? — Entrou feito


um furacão e se aproximou de Renzo. Sim, ela encheu a boca para falar
“meu homem”. — O que você faz aqui, garota? — Olhou-me com
desprezo.

— Sou a esposa dele, esqueceu?


— Ah, a corna! — Riu. — Tinha me esquecido de você.
— Samantha, aqui não é lugar para isso, se você não me respeita,
respeite pelo menos o Renzo — pedi, tentando ser o mais civilizada
possível.

Não vou discutir com ela, não vou entrar nessa rivalidade idiota.
— Vaza daqui, sua idiota! — Desviou da maca e veio na minha
direção, rapidamente me levantei.

— Você quem tem que sair daqui, sua louca. — Revidei, sem medo
algum dela. — Você querendo ou não, eu sou a esposa dele.
— Vamos ver até quando — debochou, rindo.

— Segundo as leis, é até a morte.


A mulher ficou vermelha e levantou a mão para me acertar um tapa,
mas Roni foi mais rápido e a segurou.

— Me larga, seu idiota! — Empurrou o segurança. — Se Renzo


souber que você encostou em mim, ele vai te matar — berrou, totalmente
descontrolada.
— Saia daqui, você não tem autorização para entrar — avisou,
soltando a desvairada.
— Quem disse isso? Claro que eu tenho, sou a mãe do filho dele! —
declarou, cruzando os braços e encarando-me.

Senti o mundo girar à minha volta e pisquei repetidas vezes,


tateando atrás de mim para encontrar algo para me apoiar, ainda bem que
tinha a cadeira, senão teria caído.
— O que foi que você disse? — perguntei, minha voz saiu baixa e
arrastada.
— Isso mesmo que você ouviu, estou grávida. Renzo não comentou
com você? — Acariciou a barriga. — Claro que não comentou, o corno é
sempre o último a saber.

Não via mais nada na minha frente, meus olhos se encheram de


água, senti uma raiva absurda e sem pensar, avancei nela e a segurei pelos
cabelos, não dando tempo dela revidar e acertando um tapa estalado no seu
rosto.

— Sua vagabunda! — gritei, querendo bater mais nela, porém Roni


me segurou.

— Não senhora, não faz isso — pediu, segurando-me e me


impedindo de estapear mais essa vadia.

— Sua desgraçada, você me bateu. — Passou a mão no rosto, onde


estava vermelho e com a marca certinha da minha mão. — Renzo vai ficar
sabendo disso — ameaçou.

Sim, eu bati e fiz com gosto, com vontade.

— Saí daqui, saia daqui antes que eu te bata muito mais.

A raiva, o desespero e o medo tomaram conta de mim. Na minha


cabeça as palavras dela ecoavam sem parar: estou grávida.

— Eu vou, mas eu vou voltar. — Virou-se e saiu tão rápido quanto


chegou.
Soltei-me do aperto de Roni e o encarei.

— Isso que ela acabou de falar é verdade?


— Não sei, senhora — mentiu, não tendo nem a decência de olhar
em meus olhos.

— Você sabe, claro que você sabe, aliás, todos sabem, não é
mesmo? — Um nó se formou na minha garganta e enxuguei uma lágrima
que escorreu pela a minha bochecha.

Roni ficou em silêncio e eu saí do quarto.

— Onde a senhora vai?

— Me deixe em paz!

— Senhora, não posso te deixar sair, desculpe. — Segurou o meu


braço de uma maneira gentil. — Isso custaria minha vida.

— Tudo bem, Roni. — Engoli o choro e toda a minha dor e voltei


para o quarto.

Não seria imatura o suficiente para colocar a vida de um homem


inocente em risco.

— Deixarei a senhora sozinha, qualquer coisa me chame. — Saiu,


fechando a porta.

Olhei para a cama onde aquele homem desprezível estava deitado e


o maior pecado passou pela minha cabeça. Por que ele não morreu?

Naquele dia em que ele me levou para a sua casa, ele disse que me
levaria ao inferno, que eu deveria guardar as minhas lágrimas, pois o pior
ainda estava por vir.

Eu deveria ter acreditado nele, no entanto, não imaginei que ele me


queimaria dessa maneira tão cruel.
Renzo quebrou o meu coração em mil pedaços e me destruiu de
formas inimagináveis.
Capítulo 22

Melanie Salvatierra

Eu não preguei o olho essa noite, enquanto o bonitão dormia


tranquilamente. Sentia repulsa só de olhar para a cara dele.

Roni entrou diversas vezes no quarto para ver como eu estava, ele
era um bom rapaz.

Fui ao banheiro para passar uma água no meu rosto e fazer xixi, me
olhei no espelho e vi que meus olhos estavam inchados. Chorei muito essa
noite, ainda não conseguia acreditar no que eu ouvi, esperava que fosse
mentira, talvez ela tivesse feito isso só para me provocar.

Não seja tola, Melanie. Seu coração está querendo te trair, fazendo
tê-la esperanças.

— Melanie? Você está aí? — Escutei Renzo me chamar e meu corpo


ficou tenso.

Respirei fundo. Agora era hora de conversarmos, não vou esperar


até que ele se recupere. Não adiarei nem mais um segundo esse assunto.

Saí do banheiro e quando nossos olhos se encontraram, meu coração


disparou.
Por favor, coração, não seja tão idiota!

Ele já estava sentado na cama, com as costas apoiadas nos


travesseiros
— Por que você estava chorando? — Sua voz grossa invadiu os
meus ouvidos e fechei os olhos. Eu senti saudades desse timbre vigoroso.

— Samantha está grávida? O filho é seu? — perguntei sem rodeios e


o vi, pela primeira vez na vida, ficar surpreso.

— Como você sabe disso?

Ele não negou… céus, ele não negou!

— Então é verdade. — Passei a mão no rosto, rindo de nervoso. —


Você vai ser papai e nem fez questão de me avisar, querido marido?

— Senta aqui, vamos conversar.

— Conversar o que, Renzo? Desde quando você sabe disso? —


Estreitei os olhos na sua direção e deixei visível nele todo o meu desprezo.

— Fiquei sabendo no dia em que fui terminar com ela — confessou,


olhando para as suas próprias mãos. Ele parecia envergonhado e chateado,
mas agora isso não importava.

— E você quer conversar agora? — Ri. Eu estava em desespero. —


Você teve uma semana para conversar e você não quis, aí agora que eu
fiquei sabendo, você quer conversar? Até quando você ia me esconder isso?
Até quando seu filho nascesse? — gritei, não conseguindo me controlar.

Eu estava furiosa. Magoada. Destruída.

— Eu não sabia como te falar, Melanie. A gente estava se acertando,


eu fui lá para terminar com ela e fiquei sabendo disso, fiquei louco, não
sabia o que fazer. — Tentou se defender e isso me fez rir em deboche.

— E decidiu esconder? Me ignorar? Me tratar mal? É assim que


você resolve os seus problemas?
— A gente conversa sobre isso em casa, é melhor.

— Não tem mais nada o que conversar, Renzo.

— Não podemos fazer mais nada, tá legal? — falou nervoso,


suspirando pesadamente. — Agora é aceitar esse filho.

— Eu não tenho que aceitar nada, o filho não é meu!

— Mais é meu, caralho!

— Você disse certo, é seu, fica com a sua amante, cuide do seu filho
e esqueça que eu existo.

— Não seja boba, Melanie. Sabe que você vai ser para sempre
minha esposa.

— Posso até ser sua esposa no papel, mas não espere nada além
disso.

— Tá falando que não vai mais ficar comigo? — Renzo riu.

— Exatamente. Caso contrário, estarei fazendo obrigada e fique


ciente que isso é estupro, não sei se você está acostumado com tal ato. —
Pude ver seus olhos ficarem vermelhos ao ouvir minhas palavras duras. Ele
até tentou se levantar, mas por conta da perna, não conseguiu.

— Não brinca comigo, garota, você não me conhece.

— Você quem brincou comigo! — gritei. — E você tem razão, eu


não te conheço e também não faço questão de conhecer. Você é bem pior do
que eu imaginei.

— Vamos nos acalmar e conversar melhor depois.

— O que eu preciso fazer para viver livre de você? Morrer? Se for


preciso, então farei. — Eu estava tão cansada psicologicamente e minha
alma tão dolorida, que nem tinha mais controle do que estava falando.

— Para de falar besteira, sua garota mimada.

— Mimada? — Ri histericamente. — Você acha que eu estou sendo


mimada? Você é mais idiota do que eu pensava.

— Sua demônia ruiva, você pensa que está falando com quem? —
Mais uma vez ele tentou se levantar, mas não conseguiu, xingando.

— Atrapalho? — Escutamos a voz de Rocco.

— Não — Renzo respondeu.

— Posso falar com você? — pedi, virando-me para encará-lo.

— Claro, vamos lá fora.

— Não! Vai falar aqui na minha frente, minha esposa não tem
segredos de mim.

Tudo bem, se ele quer assim, então falarei aqui mesmo.

— Você já deve saber que meu marido terá um filho fora do


casamento. Diante disso, eu posso pedir a separação? — Procurei saber,
afinal, não entendia bem as leis da máfia, porque nunca fiquei por dentro.

— Vamos sentar e conversar, Melanie? — Rocco pediu de um jeito


apaziguador.

— Que separar o que, garota? Eu mato você antes disso acontecer


— Renzo gritou, ameaçando.

— Calma, Renzo, as coisas não vão se resolver assim, você está


errado. — É a primeira vez que vejo Rocco chamar a atenção do irmão.
— Quero saber se posso levar isso até o conselho para me separar
— reafirmei a minha dúvida.

— Não, Melanie, você não pode se separar. Um filho fora do


casamento não é aceitável dentro da máfia, o que pode ser feito é quando
ele nascer, Renzo tomá-lo, sendo assim, tornará seu filho e dele.

— O quê? Eu não quero! Não é meu filho, eu não quero! —


declarei, alterada.

Eu sei que a criança não tem culpa, mas eu não sei se conseguiria
criar um filho daquela mulher.

— Eu entendo seu nervosismo agora, podemos sentar mais para


frente e conversar, acharemos a melhor maneira de resolver a situação.
Meus pais podem ficar com o bebê. Te garanto que vamos resolver, mas a
separação não está em discussão — o Don deixou claro que o meu tormento
continuaria.

— Isso é injusto demais. — Olhei para cima, deixando as lágrimas


rolarem. — Eu não mereço isso, de verdade eu nunca mereci isso — falei,
olhando para Renzo, eu quero que ele veja toda a dor que está me causando.
— Você é cruel… você me destruiu.

— Melanie…

— Eu te odeio, Renzo. — Passei por Rocco e saí do quarto, ouvindo


Renzo me gritar.

— Melanie! Melanie, volta aqui agora!

— Senhora, onde vai? — Roni perguntou, me seguindo pelo


corredor.

— Para casa.
Ele apenas assentiu e caminhou em silêncio ao meu lado.

Era irônico e ridículo a forma que o meu coração apanhava pela


mesma pessoa que acelerava suas batidas.

Mais uma semana se passou. Renzo estava em casa, sem poder


andar ainda, mas a partir de amanhã que ele iria poder começar a usar
muletas.

Ele estava mais insuportável do que nunca e o pior é que eu tenho


que cuidar desse maldito safado, sendo que tudo que mais quero no mundo
é matá-lo com as minhas próprias mãos.

Todos os dias dormia com a cabeça doendo, após chorar de tanta


tristeza, e acordava tendo que engolir o meu orgulho e amor próprio. Já era
demais processar a ideia de que o meu marido terá um filho fora do
casamento, mas era ainda pior quando a amante não dava um minuto de
sossego. A infeliz ligava todos os dias. A maioria das vezes ele gritava,
mandando que ela parasse de ligar e sempre a tratava com indiferença, mas
fingia que nem estava vendo, muito menos ouvindo.

Tenho ignorado-o da melhor maneira que consigo e se não fosse por


ter que cuidar dele, estaria fazendo isso 100%, mas infelizmente ainda
tenho que me comunicar e estar perto para saber do que ele precisa, medicá-
lo, levar comida e auxiliar no banho.

Preparava todas as refeições dele, o almoço e jantar eram


horrorosos, afinal não sabia cozinhar e fazia questão de fazer a pior comida
possível. Ele reclamava e eu não estava nem aí, sem contar que ele me fazia
experimentar tudo primeiro antes de comer, porque achava que estava
envenenado.

Essa parte era engraçada, mas eu me esforçava para não demonstrar.

— Melanie. — Estava saindo do meu quarto quando ouvi ele me


chamar.

Revirei os olhos, respirando fundo e indo até o seu quarto.


— Oi? — Abri a porta, encontrando-o sentado na cama.

— Vai ao mercado?
— Sim. Vou comprar algumas coisas que estão faltando para fazer a
janta.

— Melhor comprar comida, você não consegue fazer nada de bom


— resmungou.
— Não, quero fazer a comida, estou aprendendo — insisti. É claro
que não perderia a chance de me vingar dele de alguma maneira.

— Aprendendo como? Cada dia tá pior, sem querer ofender, mas é


melhor comprar.

— Tá — acabei concordando porque nem eu mesma aguentava


comer mais a comida que fazia. — Mas mesmo assim vou ao mercado, aqui
não tem nada de bom, só coisas diet e eu não sou obrigada a comer isso
mesmo não precisando.

Detesto esse jeito de Renzo só comer coisas saudáveis, mas adoro


como essa vida saudável o deixa gostoso.

Opa, Melanie… não vamos por esse caminho.

— Tá bom. Roni vai te acompanhar.

— Tchau. — Virei-me para sair, mas antes me lembrei da


recomendação. — Não levanta da cama.

Ele abriu um sorriso largo e rapidamente saí do quarto.

Não iria cair em tentação. Não sei porque ainda me importava com
esse idiota.

— Vamos? — chamei Roni, que como sempre, estava parado do


lado de fora da porta.

— Vamos, senhora.

Roni tem sido um bom amigo, sim, a gente tem conversado mais,
ele é uma boa pessoa. No dia que cheguei do hospital eu estava arrasada
demais e me surpreendi quando ele conversou comigo, me disse coisas
legais e até me tranquilizou. Ele disse que achava que Samantha estava
inventando e que não estava grávida e, no fundo, bem lá no fundinho, é isso
que eu desejava todos os dias.

Chegamos ao supermercado e eu já fui direto na parte dos doces.


Naquela casa tudo era muito fitness e eu não aguentava mais comer coisas
diet, queria algo bem gorduroso.
Eu estava escolhendo uns doces quando um rapaz se aproximou
escolhendo o dele, parecia que eu o conhecia de algum lugar. Roni estava
do outro lado me olhando, não gostava quando ele ficava muito em cima,
por isso, ele tem procurado me dar mais espaço.

— Disfarça e finge que não estou falando com você — o rapaz que
estava com uma jaqueta de frio, boné e óculos falou comigo.

— Giovanni? — perguntei baixinho, reconhecendo a sua voz, mas


ele estava mais magro. — Saudades de você! — falei quando ele acenou
com a cabeça, confirmando que era ele.
Tive vontade de abraçá-lo, mas não podia.

— Disfarça — pediu novamente e eu voltei a mexer nos chocolates.


— Também estou com saudades.
— O que faz aqui?

— Vim te avisar que você não está sozinha, eu estou perto de te tirar
desse casamento.

— Como você vai fazer isso? — Estreitei os olhos, olhando para


ele, mas rapidamente me lembrei de Roni e fingi estar lendo o rótulo de um
doce.

— Só confia em mim, tá bom?


— Tá bom — concordei mesmo sabendo que o que ele estava
falando era impossível.

— Agora eu tenho que ir, fica bem. — Saiu com rapidez, não me
dando a chance de me despedir.

Roni veio em minha direção.


— Quem era? Estava falando com você? — perguntou, encarando-
me com uma expressão desconfiada.
— Não sei quem é e nem o que ele disse, falava em italiano —
menti, sentindo-me um pouco mal por estar fazendo isso com ele.

— Já escolheu? — Referiu-se ao doce e assenti. — Vamos embora,


então.
— Tá bom.

Pagamos as coisas e saímos do supermercado, Roni estava


colocando as coisas no porta malas e quando fui entrar no carro, parei ao
escutar a voz de Samantha.
— Melanie, que bom te encontrar. — Ela parou ao meu lado,
sorrindo.

Que mundo cruel… o que eu fiz para merecer ter que me encontrar
com essa mulher?

— Não pode chegar perto da Senhora Caccini, peço que se retire. —


Roni se colocou ao meu lado.

— Calma, cão de guarda, não vou mordê-la, só quero entregar uma


coisinha.

— Tudo bem, Roni — o tranquilizei. Eu não deveria ouvir essa


mulher, mas a curiosidade sempre fala mais alto. — O que você quer me
entregar?
— Aqui está a ultrassonografia do meu filho com o Renzo, entregue
a ele e diga que na próxima já saberei o sexo, se ele quiser me acompanhar,
vai ser melhor ainda curtir esse momento ao lado do pai do meu bebê, nossa
família juntinhas. — Entregou-me a pasta, que eu segurei com a mão
trêmula e saiu.
Abri na mesma hora e o resto de esperança que eu tinha foi embora.

— Senhora, não caia no jogo dessa mulher.

— É verdade. Roni, olha aqui, ela está grávida. — Mostrei as


imagens para ele e um nó se formou na minha garganta.

— Entra no carro, senhora — pediu, mas eu estava paralisada,


olhando aquele exame que tinha em mãos. Eu não podia acreditar, era real.
— Por favor, senhora, vou levá-la para casa.
— E agora, Roni? O que eu vou fazer? — Solucei, não conseguindo
mais segurar as lágrimas.

— Vai ficar tudo bem, ela está querendo te desestabilizar, não


permita isso.
Ele abriu a porta e me colocou, com todo cuidado, sentada, indo
para o banco do motorista, dando partida no carro.

Chorei em silêncio, me agarrando na minha única esperança que


tinha agora, a promessa que Giovanni me fez.
Capítulo 23

Renzo Caccini

As coisas não estavam fáceis, cazzo! Levei dois tiros na perna e


ainda não conseguia andar; Melanie mal olhava na minha cara; Samantha
dizia que estava grávida; e tinha esse sumiço do Giovanni que estava me
preocupando. Quando um inimigo está muito quieto, é porque ele está
planejando alguma coisa, e boa coisa tenho certeza que não é.
Desconfiei desse homem desde o primeiro dia em que o vi. Nesses
anos todos que estou na máfia, nunca me enganei, tenho certeza que agora
não vai ser diferente.
Eu não tenho mais nada com Samantha, mas não posso mandá-la de
volta para o bordel, primeiro precisava saber se ela realmente estava
grávida e se esse filho era meu. Se for meu, eu vou pegá-lo, jamais irei
abandonar o meu sangue. Tinha ciência de que Melanie não era obrigada a
aceitar ser mãe dessa criança, mas não posso rejeitá-lo, se ele for meu, essa
criança vai morar com a gente.

A cada dia que passava, ela fazia mais e mais coisas para me
provocar, era cada comida horrorosa, que, misericórdia. Obviamente que eu
a fazia experimentar primeiro, afinal, nada mais perigoso que uma mulher
ferida.

Roni tem sido um ótimo segurança, ele tem amparado Melanie nesse
tempo. Não estou com ciúmes pela aproximação dos dois, foi eu quem pedi
que ele fizesse isso. Fiquei extremamente preocupado quando ela disse que
teria coragem de se matar para viver livre desse casamento, então eu pedi
que ele fingisse ser amigo dela, ficasse mais próximo e conversasse com
ela, e assim ele tem feito.

Ao final do dia pedia o relatório completo de tudo que eles


conversaram e de como ela estava.

Por mais incrível que possa parecer, até mesmo para mim, que
nunca me importei com ninguém, estava me sentindo um lixo por estar
fazendo-a sofrer tanto.
Nunca pensei que fosse me sentir assim por alguém, mas a ruivinha
tinha o poder de mexer comigo.

— Aqui está. — Melanie entrou feito um furacão no quarto e jogou


uma pasta no meu colo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e o rosto
avermelhado, demonstrando que chorou.

— O que é isso? — perguntei confuso. — Por que está chorando?

— Isso é a ultrassonografia do seu filho — gritou e eu abri a pasta.


— Ela realmente está grávida.

Passei a mão pelo rosto, num ato de nervosismo.

— Melanie, calma — pedi, sem saber o que falar nesse momento.


Ainda tinha esperança que fosse mentira e que eu e Melanie voltaríamos a
nos dar bem.

— Calma? Você está me pedindo calma? Você vai ter um filho fora
do casamento e eu terei que aceitar, e você ainda me pede calma? Que
droga, Renzo! — Chorou de soluçar e isso doeu absurdamente em mim.
— Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo, acredite em
mim — confessei, pois era verdade. Se eu pudesse voltar atrás, faria
diferente.

— Não queria? Será mesmo? Se não queria, por que fez? Por que
não largou ela? — perguntou baixinho e pude sentir toda a dor das suas
palavras, atingindo-me profundamente, causando em mim também uma dor
por vê-la passar por todo esse sofrimento.

— Eu não sei, apenas aconteceu… — Suspirei pesadamente,


sentindo-me o pior homem do mundo por fazer isso com uma menina tão
doce. — Mas eu não encostei mais nela depois da nossa viagem — admiti,
tentando ao menos me defender um pouco. Se é que tinha defesa.

— E no dia que você chegou de manhã? — inquiriu, estreitando os


olhos.

— Eu estava no bar, fiquei sabendo da gravidez nesse dia e fui


beber, não sabia o que fazer.

— Por que eu deveria acreditar em você?

Melanie parecia surpresa e, ao mesmo tempo, mais tranquila ao


saber disso.

— Eu não tenho porque mentir. Pergunta para o Rocco, ele estava


comigo a noite toda — afirmei, encarando-a. — Depois de você, eu não
quis outra pessoa. — Ela mordeu o lábio inferior, analisando-me. — Eu
disse que estava ficando viciado em você.

— Vou deitar — avisou, ignorando tudo que eu falei e se virando


para sair. — Se precisar de alguma coisa você chama.
— Melanie? — a chamei antes que saísse do quarto e ela se virou
para me olhar.

— Oi?

— Estou com saudades — confidenciei, sem vergonha alguma.


Embora fosse difícil para mim confessar meus sentimentos, precisava que
ela soubesse como estava me sentindo. Era torturante olhá-la todos os dias e
não poder tocá-la, sentir o seu cheiro adocicado de longe e não poder
enterrar o rosto em seu pescoço, absorvendo o seu aroma que tanto me
acalma.

— Eu também — também confessou, bem baixinho, mas pude


ouvir.

— Fica aqui comigo — insisti, pois eu queria muito tê-la aqui.

— Não.

— Por que não, Melanie? Estamos com saudades um do outro.

— Porque as coisas não se resolvem assim, estou magoada e esse


não é o melhor momento para fingir que nada está acontecendo.

— E vamos ficar assim até quando?

Era um inferno não poder levantar e ir até ela, queria tanto beijar sua
boca.

— Eu não sei. — Limpou uma lágrima solitária que escorreu no


rosto. — É muita coisa para absorver, preciso de um tempo.

— Tudo bem, então, tome seu tempo — concordei, mesmo


contrariado. — Só não demore muito, não estou suportando mais essa
distância.
Melanie pareceu pensar, mas rapidamente saiu do quarto.

Afundei-me na cama, praguejando.

Tá foda ficar perto sem poder tocá-la. Ela virou o meu vício e sem
ela estou ficando louco.

Durante a semana que fiquei sem vir em casa, eu bebi todos os dias
e fui dormir louco, porque só assim para não ir até ela. Não sabia o que eu
iria dizer a respeito da Samantha, mas deveria ter falado, não queria que ela
soubesse daquela maneira.

Nesse momento só pensava em fazer alguma coisa para ficar de boa


com a minha ruivinha, preciso dela e quero ela, quero ela como nunca quis
nada em toda minha vida.

Sei que ela precisa de espaço e vou respeitar, em tão pouco tempo
ela viveu muitas coisas, a perda do pai é a principal e sei que ela ainda não
superou, mas darei um jeito de compensá-la por toda essa bagunça.

Melanie se tornou mais viciante do que a minha nicotina. Ela é a


minha calmaria.

Vou te reconquistar, ruivinha… custe o que custar eu a terei


novamente em meus braços.
Capítulo 24

Melanie Salvatierra

Entrei no quarto e desabei. Eu era muito sentimental e detestava


isso, porque acabava sofrendo demais.

Quando eu ouvi ele falando que estava com saudades, minha


vontade era pular em cima dele e beijá-lo até saciar tudo que me afligia,
mas eu não tive coragem, estava muito magoada e preciso colocar para fora
todo esse peso que estava no meu coração.
Após passar alguns minutos chorando, decidi tomar um banho
quente, vesti uma camisola e me deitei, queria dormir, mas o meu
pensamento estava no outro quarto. Só sabia pensar nele e no quanto sentia
falta dos seus toques e beijos quentes.

Por que eu tenho que gostar tanto dele? Por que ele me atrai dessa
maneira intensa? Ai meu Deus, me ajuda!
Acabei pegando no sono enquanto pensava nele e sonhei com a
nossa viagem e nossas transas ardentes dentro daquele hotel.

Acordei de sobressalto, estressada por ele povoar até os meus


sonhos. Nem dormir em paz eu não podia.
Inevitável não acordar queimando de desejo por Renzo. O sonho foi
tão bom e real que poderia jurar que ele realmente estava me tocando
novamente.
Abri as pernas e desci minha mão para que pudesse me tocar, mas
eu sabia que não seria o suficiente, eu queria mais, eu queria ele.

Levantei decidida a enfiar o orgulho dentro da gaveta e satisfazer o


meu desejo. Renzo Caccini era um cretino da pior espécie, mas ele teria que
prestar para algo como marido. Ele teria que me dar todo o prazer que
merecia. Queria orgasmos intensos e não aceitava nada menos que isso, já
que tudo que ele tinha feito ultimamente era me magoar.

Orgulho não iria me levar a lugar nenhum e muito menos iria me


fazer gozar gostoso, então decidi que esta noite não terei vergonha na cara e
sim, prazer.

Troquei a camisola por uma bem sexy e tirei a calcinha. Vesti um


robe por cima e fui ao seu quarto. Assim que abri a porta, ele virou-se,
acordando e me olhando. Renzo tinha o sono muito leve, às vezes pensava
que ele nem dormia.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, acendendo o abajur.

— Sim, aconteceu. — Desfiz o nó do robe e o deixei cair sobre os


meus pés.

— Porra, Melanie, você veio no meu quarto assim? Cazzo! —


Sentou-se na cama, passando as mãos no rosto e encarando-me com puro
desejo.

— Fica quietinho — pedi, me aproximando.

Com cuidado para não machucar a sua perna, puxei a sua calça de
moletom junto com a sua cueca, abaixando até abaixo do seu joelho,
segurei o seu membro rígido e me sentei em seu colo, encaixando-o na
minha entrada e deslizando lentamente por ele, sentindo-o centímetro por
centímetro dentro de mim.
Ele gemeu rouco e eu choraminguei quando o senti por completo
dentro de mim. Estávamos pulsando, tamanho era o tesão que já me fazia
querer gozar.

— Melanie… — ele ia falar algo, mas coloquei o meu dedo na sua


boca, calando-o, e encostei nossas testas.

— Não fala nada, por favor — pedi, sentindo uma lágrima quente e
cheia de sentimentos escorrer por minha bochecha, pingando bem no seu
peito.

— Eu preciso falar que estava morrendo de saudades de você.

— Não, não fala, por favor, não fala. — Eu não queria ouvir nada,
porque a cada maldita palavra que ele falava, o meu coração idiota batia
descompassado dentro do peito.
Era para ser só uma transa para matar o desejo, mas quando o senti
dentro de mim, foi inevitável manter os sentimentos de fora.

Eu não deveria gostar dele, minha parte racional insistia nisso, mas
agora era tarde para ter racionalidade.

Mexi-me, rebolando com o seu pau dentro de mim e um gemido


gutural escapou dos seus lábios. Um tapa forte e estalado atingiu a minha
bunda e eu também gemi, cravando a unha nos seus braços.

Sentei bem lentamente, tirando-o praticamente por completo de


dentro e descendo devagarinho, sentindo-o pulsar desesperadamente
enquanto as minhas paredes o apertavam.

— Caralho, ruivinha. — Ele fez uma expressão sofrida, como se eu


estivesse torturando-o. — Preciso de comer forte ou então vou enlouquecer.
Sorri, gostando do efeito que conseguia causar nele. A luxúria era
recíproca.

Eu estava com muito tesão e já queria gozar, entretanto, queria


prolongar o máximo que conseguia essa sensação de estar completa, que
sentia quando o tinha dentro de mim.

Seus dedos tocaram o meu queixo, levantando o meu rosto e


fazendo nossos olhos se encontrarem.

Droga, eu não queria que ele visse o que estou sentindo.

— Não me negue o seu olhar, Melanie. — Acariciou o meu rosto


com o polegar — Esses são os olhos mais lindos que eu já vi em toda a
minha vida.

— Não faz isso… — praticamente implorei.

Não, Renzo, não me faça te amar.

Seus lábios se aproximaram e fechei os olhos, sentindo todo o meu


corpo estremecer quando seus lábios macios tocaram os meus. A
eletricidade percorreu todo o meu corpo e eu me entreguei… de corpo, alma
e coração, eu me entreguei.

Dei passagem para que a sua língua explorasse a minha boca e


aprofundasse o beijo, tornando o sexo mais quente e gostoso.

Acelerei os movimentos, sentando mais rápido, sentindo uma leve


dor no pé da barriga que se dissipou conforme o prazer foi ficando mais
intenso.

Meus lábios foram chupados com intensidade e mesmo que


precisássemos recuperar o fôlego, nos afastarmos não era uma
possibilidade.
Havia dor sobre tudo o que estava acontecendo entre nós, mas,
acima de tudo, havia saudades e muita vontade.

— Senti falta — confessei, murmurando contra a sua boca.

— Eu também senti falta, minha ruiva.

Minha ruiva… minha… era tolice, mas eu adorava quando ele


falava que eu era dele.

Porque sim, eu queria ser dele.

Intensidade. Suor. Respirações ofegantes. Corações acelerados. E o


clímax nos atingiu.

Um tremor tomou conta do meu corpo, anunciando as ondas


arrebatadoras de um orgasmo intenso que me tomou e Renzo veio junto,
derramando seu líquido quente todo dentro de mim.

Um silêncio pairou sobre nós e o arrependimento começou a tomar


conta de mim. Não deveria ter vindo, muito menos me entregado desta
maneira. Ele não merecia.

Ameacei sair de cima dele, mas suas mãos fortes me seguraram e


nos encaramos.

— Fica aqui comigo hoje, ruivinha, sinto saudades do seu cheiro e


de acordar vendo seus cabelos cor de cobre espalhados por meu peito.

Puxei o ar com força, enchendo os meus pulmões. Não queria me


iludir, mas também não podia negar que tenho ouvido coisas dele que
mexem muito com o meu coração.

Não respondi, não havia respostas naquele momento.


Levantei e ele saiu de dentro, puxando-me novamente para o seu
peito, não se importando com a sujeira que estávamos fazendo. E quer
saber? Nem eu me importava.

Fechei os olhos, ouvindo as batidas do seu coração e tentando


controlar o meu que parecia estar desesperado.

— Desculpa por tudo, minha ruiva linda, eu ainda vou te fazer feliz,
isso é uma promessa. No lugar de todo choro que eu te causei, colocarei mil
sorrisos. Não cansarei até fazê-la a mulher mais feliz do mundo — se
declarou e meus olhos se encheram de lágrimas.
E só então, aqui, deitada em seus braços, é que eu me dei conta de
que não tinha outro lugar no mundo em que eu queira estar.

É aqui que eu descobri que eu amo Renzo Caccini.

Acordei e Renzo não estava ao meu lado. Olhei no relógio e vi que


já era meio dia. Caramba, dormi muito. Levantei tão rápido que acabei
ficando tonta e tive que voltar a me sentar na cama. Não comi nada ontem,
por isso essa tontura repentina.

Hoje o médico ia vir aqui cedo para olhar a perna do Renzo e liberá-
lo para começar a usar as muletas e eu não consegui acordar a tempo.
Levantei mais devagar desta vez e, ao constatar que já estava bem,
fui para o meu quarto tomar um banho e trocar de roupa.

Desci as escadas para preparar um lanche para mim e não encontrei


Renzo, mas encontrei Roni na cozinha.

— Olá, Roni — o cumprimentei, sendo retribuída com um aceno e


um sorriso gentil. — Você viu o Renzo?

— Ele pediu para avisar que foi ao hospital.

— Hospital? Mas o médico ia olhar ele aqui, ele piorou? —


indaguei, já ficando preocupada.
— Não, ele está bem. A Samantha passou mal e foi hospitalizada —
explicou, fazendo-me respirar aliviada, mas logo lembrei-me que por mais
que eu não queria me entregar aos meus sentimentos em relação a ele,
existia uma criança inocente no meio.

— E você sabe se está tudo bem com o bebê?


— Preocupada com a criança, Melanie? — Escutei a voz de Renzo
me questionar e virei-me para olhá-lo, que já apareceu usando as muletas.
— Pode sair, Roni — falou com o segurança.

Ele não estava com uma cara boa e fiquei curiosa com o que poderia
ter acontecido.
— O que aconteceu? — perguntei assim que Roni nos deixou a sós.
— Você se importa? — Tinha um tom de deboche na sua voz e eu
fiquei sem entender.

Pensei que estávamos bem depois dessa madrugada.


— Me importo com a criança. — Fui sincera, afinal, estava pouco
me importando com a Samantha.

Apesar de ter gritado que não queria essa criança, e eu realmente


não a queria como filho, não desejava que nada de mal acontecesse.

— Mas até ontem você não se importava.

— O que está acontecendo, Renzo? Qual o seu problema? — Cruzei


os braços aguardando uma explicação para a sua mudança repentina.

— Samantha foi parar no hospital porque foi envenenada.

— Meu Deus do céu! — Coloquei a mão na boca, horrorizada com


tamanha crueldade.

— Ela está bem, mas o bebê não resistiu.

Pude sentir uma pontada de tristeza na sua voz, o que era totalmente
compreensível.

— Eu sinto muito, Renzo. — Tentei me aproximar, mas ele se


afastou.

— Sabe o que é mais engraçado, Melanie? É que ela recebeu um


chocolate em meu nome, porém eu não mandei nada, e é o mesmo
chocolate que você comprou no supermercado ontem quando foi com o
Roni. — Arregalei os olhos, assimilando o que ele está insinuando. — Eu
encontrei o entregador e sabe o que ele me disse? Que quem pediu para
entregar foi uma moça ruiva. Para completar a merda toda, Roni disse que
te viu conversando com um homem estranho no supermercado, justamente
na sessão de chocolate. Olha que porra, Melanie!
— Espera... Você não está pensando que eu fiz isso, não é?
— Tudo me leva a crer que sim, você não acha?
— Como assim tudo te leva a crer que sim? Eu seria incapaz de
fazer isso, Renzo, eu não teria coragem de matar uma criança, eu não teria
coragem de matar ninguém! — vociferei, extremamente nervosa e ofendida.

— Então me explica, Melanie, me explica por que aquele


entregador, antes de morrer, te descreveu direitinho? Por que você estava
conversando com aquele homem no supermercado, quem era? Giovanni?

Pisquei repetidas vezes. Não posso entregar Giovanni, ele não seria
capaz de fazer isso. Seria? Não, claro que não, ele só estava querendo me
ajudar — Responde, era ele? — repetiu a pergunta, nervoso.

— Não, eu não sei quem era — menti, mesmo sabendo que as


consequências da minha mentira poderiam ser dolorosas.
— Você está mentindo, Melanie, consigo sentir o cheiro de mentira
a quilômetros de distância e você quer mentir justo para mim? — Balançou
a cabeça de um lado para o outro. — Porra, era errado, eu sei, mas era o
meu filho!

— Eu não fiz isso, você tem que acreditar em mim. — Tentei me


aproximar mais uma vez e ele entendeu a mão, impedindo-me.
— Não chegue perto de mim. Você ficar chateada com tudo, beleza,
eu entendo, mas era meu filho, depois eu dava um jeito na Samantha, mas a
criança não tinha nada com isso.

— Eu não fiz isso! — gritei — Acredita em mim, por favor...


— Eu quero acreditar, mas preciso que você fale a verdade para
mim. — Mordi o cantinho da boca. Estava com medo de confessar que era
Giovanni e Renzo fazer algo contra ele. — Estou indo para o México —
avisou e com dificuldade por conta da perna, virou-se para subir as escadas.
— Eu vou também? — Andei atrás dele.

— Não. Roni e um outro segurança ficarão fazendo a sua segurança.


— Renzo... — Ele nem deixou eu terminar de falar.

— Chega, Melanie, não quero ouvir mais nada.

Meu Deus, quando eu acho que as coisas vão melhorar, elas só


pioram. Eu seria incapaz de fazer isso, alguém armou para mim, eu jamais
faria tamanha atrocidade, jamais!
Capítulo 25

Melanie Salvatierra

Hoje acordei me sentindo muito mal. Ontem depois daquela


confusão não me alimentei novamente e agora estava aqui com dor no
estômago, vomitando e me sentindo tonta.

— Bom dia, senhora! — Roni apareceu na porta do meu quarto, que


estava aberta — Me chamou?
— Sim. Você poderia ir até a farmácia comprar um remédio para
mim?

— O que a senhora tem? Quer que eu ligue para o senhor Renzo?

— Não! — respondi rapidamente. — Não é nada demais, apenas


estou enjoada e um pouco tonta. — Roni riu e eu me surpreendi, pois era a
primeira vez que via ele rindo. — Tá rindo de que? — questionei, confusa.

— Senhora, com todo respeito, mas quando minha esposa teve esses
sintomas, era bebê a caminho.

— Você tem esposa? — Estreitei os olhos, pasma com essa


revelação. — E você vê ela quando? Você tá sempre aqui.

— Eu acabei de falar que a senhora pode estar grávida e o que te


chocou foi o fato de eu ter uma esposa? — Ele gargalhou e eu fui junto.
Realmente era para eu estar preocupada com a possibilidade de estar
grávida.

— Desculpa, é que fiquei surpresa, não imaginei que fosse casado.


— Tudo bem. Vou até a farmácia e já volto, Robert ficará aqui se
precisar. — Referiu-se ao novo segurança.

— Tá bom. Obrigada!

Ele saiu, fechando a porta do quarto e só então, sozinha, é que me


dei conta do que pode estar para acontecer. Será que eu estou grávida? Meu
Deus! Se Renzo já desconfiava de mim, agora ele vai achar que tem certeza.
Vai saber o que pode se passar na cabeça dele, imaginando os motivos que
me levaram a fazer o que ele pensa que eu fiz.

Voltei a ficar nauseada e tive que respirar fundo para controlar a


vontade de ir correndo para o banheiro vomitar.

Eu fiquei bem chateada ontem, na verdade, eu venho me chateando


direto com todos esses acontecimentos, não estou sabendo lidar com tudo
isso. Primeiro foi a morte do meu pai e depois veio tudo junto, como se
fosse uma avalanche de problemas. Fiquei pensando que eu sou tão nova
para passar por tantas coisas. Acabei de completar dezoito anos, mas parece
que já tenho mais, me sinto cansada.

Ontem eu dormi pensando que pudesse ter sido o Giovanni quem


fez aquilo com Samantha, porque ele estava na mesma sessão e comprou o
mesmo chocolate, mas por que ele faria isso? Por que me prejudicaria dessa
maneira? Sem contar que não posso acreditar que ele seja capaz de tamanha
crueldade.

— Voltei, senhora. — Roni deu duas batidas de leve na porta e eu o


autorizei a entrar, me levantando para pegar a sacola da sua mão. —
Licença — pediu, todo educado, antes de entrar de fato no quarto. — Aqui
estão os testes, comprei uns quatro, acho melhor a senhora fazer todos, vou
esperar lá fora.
— Não, espera aqui no quarto mesmo.

— Não acho uma boa ideia, senhora. — Torceu um nariz, com uma
expressão vergonhosa.

— Fica, por favor, estou com medo de desmaiar depois de ver o


resultado do exame — confessei e ele abriu um pequeno sorriso,
concordando com o meu pedido.

Fui para o banheiro com as pernas trêmulas, tinha medo de não


conseguir me manter em pé de tanto que tremiam. Meu corpo estava gelado
e a palma das minhas mãos suadas.

Li na caixa do produto as instruções, para saber como fazer, mas


estava tão nervosa que o xixi não queria sair.

Vamos, Melanie, faça essa droga de xixi logo!

Forcei e finalmente consegui fazer todos os testes que Roni trouxe.


Quando passou o tempo indicado para sair o resultado, olhei umas
quinhentas vezes para a caixa e os benditos testes em cima da pia, não podia
acreditar que havia um positivo em todos eles.

Qual a probabilidade de quatro testes darem errado?

Peguei papel para limpá-los e os guardei na sacola, jogando-os na


gaveta do banheiro.

Não sei qual vai ser a reação do meu marido, aliás, não sei qual vai
ser a minha reação depois que o choque passar. Ainda estou desacreditada.

Pedirei Roni para comprar uns dez e farei todos, só assim para
começar a processar essa informação.
Ao abrir a porta, levei o maior susto ao ver Roni caído no chão.
Ajoelhei-me ao seu lado e o sacudi, sentindo sangue nas minhas mãos, que
vinha do seu corpo.

— Aí, meu Deus! — exclamei assustada. — Você tomou um tiro?


— perguntei como se o homem desacordado no chão pudesse tirar a minha
dúvida. — Roni? — Balancei seu corpo, tentando acordá-lo.

Sua camisa preta estava ensopada de sangue.

Como eu não ouvi o que aconteceu com ele?

Levantei e corri para a porta, ia gritar por Robert, para que ele
pudesse nos ajudar, mas não foi necessário, logo ele apareceu e carregava
nas mãos uma arma com um silenciador no cano.

— Foi você — constatei, sussurrando e dando alguns passos para


trás. — Foi você quem atirou no Roni.

— Vamos sair daqui agora. Presta bem atenção, Melanie. Você vai
sair comigo como se nada tivesse acontecendo, entendeu? — Se aproximou
e segurou forte no meu braço. Balancei a cabeça concordando. — Se algum
outro soldado perguntar, você inventa que estamos indo em algum lugar.
Entendido? — Anui, com medo de gritar e ele me acertar um tiro. — Agora
vamos logo.

Puxou-me, arrastando-me escada abaixo. Assim que chegamos no


estacionamento, um outro segurança ficou nos encarando e forcei-me para
esconder a minha expressão de pavor. Temia que ele desconfiasse e o pior
poderia acontecer.

— Tudo bem, senhora? — questionou, se aproximando de onde


estávamos.
Pensei em contar a verdade, mas antes que eu pudesse falar alguma
coisa, Robert respondeu.

— Ela não está se sentindo bem, o senhor Caccini pediu que eu a


levasse ao hospital, estamos indo. — O outro soldado apenas assentiu e
Robert abriu a porta do carro, mas acabei ficando paralisada.

— Entra ou eu vou meter uma bala na sua cabeça — ameaçou-me,


falando bem baixinho para que o outro não pudesse ouvir.

Fiz o que ele mandou e passei as mãos pelos os meus braços,


tentando amenizar o frio que estava sentindo.

— Para onde vamos? — perguntei assim que ele sentou no banco do


motorista e deu partida no carro.

— Não é da sua conta — respondeu rudemente e decidi ficar calada.

Robert dirigiu até um local abandonado, que não ficava muito longe
do nosso apartamento, e tirou-me do carro, colocando-me em outro veículo.

Meu coração batia a mil, agora eu não estava pensando só em mim,


havia outra vida em jogo.

Que Deus me protegesse e que Renzo me achasse. É tudo que pedia.

— Coloca esse saco na cabeça. — Jogou no banco de trás um saco


preto.

Coloquei sem questionar, não havia porque fazer escândalo ou tentar


lutar, se eu fizesse qualquer coisa errada agora, poderia custar a minha vida.

O carro continuou balançando, o que indicava que continuávamos


andando.

— Não tira, entendeu?


— Entendi. — Engoli em seco.

Agora ele pareceu estacionar e o medo foi ficando cada vez mais
forte. Ouvi a porta do carro sendo aberta e ele me puxou para fora.

Tropecei algumas vezes e só não caí porque ele me segurava com


força, mas não dava para enxergar absolutamente nada com isso na cabeça.

Ele colocou-me sentada com cuidado na cadeira. Robert não parecia


querer me machucar, o que me fazia pensar que estava trabalhando para
outra pessoa.

— Quando você escutar o barulho da porta, pode tirar o saco da


cabeça — instruiu.

Escutei os seus passos se afastando e o barulho da porta se


fechando, então tirei o saco. Olhei à minha volta e vi que estava em um
quarto onde só tinha essa cadeira em que estou sentada e um colchão sujo
no canto.

Que lugar é esse, meu Deus? Quem me sequestrou? E por que


fizeram isso?
Capítulo 26

Renzo Caccini

Vim para o México com a mente a mil, estou passando por um


turbilhão de coisas ao mesmo tempo. Eu cheguei a desconfiar que
Samantha não estava grávida, mas ela realmente estava. Claro que quando
nascesse eu ia pedir DNA, mas era meu filho, ela não ficou com mais
ninguém, disso eu tinha certeza, até porque tenho guardas a vigiando direto.
Óbvio que eu não queria um filho fora do casamento, mas já que
aconteceu, não queria que ela perdesse.

Sei que acusei Melanie, mas tudo levava até ela, não foi Samantha
que me contou, até porque não cheguei a conversar com ela, já que a
mesma estava desacordada quando fui ao hospital. Quem me contou foi o
segurança que agora está fazendo a guarda de Melanie junto com Roni. Ele
era um dos que ficava no apartamento de Samantha e viu quando o menino
entregou o chocolate a ela, mas segundo ele, achou que fosse algum amigo.
Para tirar essa história a limpo, fui atrás desse menino e o mesmo, após
alguns minutos de tortura, descreveu Melanie e me pegou de surpresa. Logo
depois lembrei do que Roni disse sobre o homem no supermercado e
quando a questionei sobre isso, ela mentiu, eu sei que mentiu, dava para ver
nos olhos dela, como também dava para ver que ela falava a verdade a
respeito de Samantha, mas eu estava tão cego de raiva, cansado dessa
merda toda, que acabei descontando nela. Errei mais uma vez e a magoei.
Quando chegar em casa irei chamá-la para conversar e pedir
desculpas por ter desconfiado dela.

Nesse momento meus homens estavam vasculhando a casa do José,


o pai de Melanie, pois preciso descobrir algo sobre esse Giovanni, preciso
tomar as rédeas dessa situação, já que agora terei que assumir a máfia
Mexicana. Por enquanto meu homem de confiança estava comandando
tudo, mas logo terei que fazer isso. Só que antes preciso resolver toda essa
merda.

— Senhor — um dos meus guardas me chamou. — Achamos isso


endereçado a sua esposa. — Ele me entregou uma carta do José para
Melanie.

Peguei o envelope e o guardei para entregar a Melanie, não vou


abrir, é algo destinado à ela, não tenho esse direito.

Meu celular apitou e ao olhar no visor, não reconheci o número da


mensagem e a abri.

Desconhecido:
Onde está sua querida esposa? Ela é uma bela ruiva. Cuidado, o
inimigo pode estar na sua casa.

Meu coração disparou ao ler essa mensagem e liguei para Roni, mas
ele não me atendeu. O que fez meu desespero aumentar.

Liguei direto para o meu irmão.

— Fala, fratello[xix] — Rocco atendeu no primeiro toque.

— Vai lá em casa, coisa rápida.


— O que está acontecendo? — perguntou, parecendo preocupado
com a minha afobação.

— Recebi uma mensagem anônima falando da Melanie e Roni não


está atendendo a minha ligação, e ele só não me atende se estiver morto.

— Estou indo para lá agora.


— Não demora — supliquei.

Fiquei agoniado aguardando um retorno. Andei de um lado para o


outro sem parar, quase fazendo um buraco no chão. Estava nervoso pra
caralho e algo dentro de mim gritava, falando que tinha alguma coisa de
errado acontecendo.

Ignorando esse lado maldito que só pensava coisas ruins, logo


suspeitei de um trote, alguma piadinha de mal gosto ou até mesmo uma
possível ameaça. Não tinha como ninguém entrar lá em casa, a não ser que
um dos meus homens me traia. Esse pensamento me deixava mais
preocupado do que nunca.

Rocco estava demorando muito para retornar a minha ligação e isso


me afligia mais. Pensei em ligar para ele, mas era melhor eu esperar, liguei
mais algumas vezes para Roni e nada dele me atender, tinha alguma coisa
de errado, eu tinha certeza.

Finalmente meu irmão me retornou.

— Fala.

— Levaram a Melanie e Roni foi baleado, mas está vivo, mandei-o


para o hospital.
— Como assim levaram a Melanie? — perguntei desesperado. Roni
que me perdoasse, mas estava pouco me fodendo para ele, queria saber da
minha mulher. — Ela estava dentro de casa, caralho. Cadê o Robert? —
Referi-me ao outro soldado, aquele que antes fazia a segurança de
Samantha e agora estava lá com Roni para fazer a de Melanie.

— Nos traiu. Ele não está aqui e os outros seguranças, que ficam na
garagem, disseram que Melanie saiu junto com ele. Já comecei uma busca
atrás dos dois. Agora é esperar Roni acordar para saber mais informações.

— Coloca todo mundo atrás desse figlio di puttana[xx], quero a


cabeça dele, pague uma boa recompensa, não importa o valor, eu quero
aquele maldito numa bandeja. — Passei a mão no cabelo. — A gente tem
que encontrar a Melanie. — Suspirei pesado.

— Você tem que ficar calmo.

— Não tem como ficar calmo, pegaram minha mulher, dentro da


minha casa. Cazzo[xxi]! Isso é inadmissível! — xinguei todos os palavrões
possíveis.

— Vamos fazer de tudo para encontrá-la — Rocco garantiu e eu sei


que ele não estava falando como Don, mas sim como o meu irmão.

— Quero que façam o impossível, temos que encontrá-la, estou


voltando hoje mesmo.

— Tudo bem, te espero.

Desliguei o celular, guardando-o no bolso, e peguei a primeira coisa


que tinha na minha frente, arremessando a garrafa na parede e a espatifando
por completo no chão.

Estava com raiva de mim por ter permitido que algo assim
acontecesse com a minha esposa dentro da minha casa. Angustiado por não
saber ao certo o que aconteceu e com medo. Sim, pela primeira vez na
minha vida eu me encontrava com medo. Com medo de que algo ruim
aconteça com a minha ruivinha. Com medo de não vê-la mais sorrir daquela
maneira linda, que iluminava os meus dias. Com medo de não ver mais os
seus cabelos cor de cobre espalhados por meus lençóis e peito. Com medo
de não ouvir mais o som da sua risada que tanto me acalmava

Pela primeira vez na vida o meu coração estava se aquecendo por


uma mulher… a minha mulher.

Sei que precisava ficar calmo e agir com sabedoria, não podia deixar
o medo e o pânico me dominarem. Mas pensar na minha linda ruiva em
perigo fazia-me perder o juízo.

Melanie não iria embora da minha vida e ninguém vai tirá-la de


mim. Fiz muitas coisas erradas, mas não errarei novamente. Trarei a minha
ruiva mais cheirosa desse mundo de volta para os meus braços, e, quando
ela estiver no meu abraço, não a soltarei mais. Trarei de volta os seus
sorrisos e, quando ela sorrir, nunca mais haverá uma lágrima de tristeza.

Vou te achar, minha ruivinha, eu prometo.

Irei matar todos que estiverem envolvidos nessa merda e não vai ser
uma morte tranquila não, quero uma morte lenta e dolorosa. Quem fez isso
vai se arrepender amargamente por ter tocado no meu bem mais precioso.
Capítulo 27

Melanie Salvatierra

Estou dentro desse lugar já faz algumas horas e ninguém apareceu.


A vontade de fazer xixi era tanta que tive que correr para o banheiro, tão
sujo quanto o restante do lugar. Estava lavando as mãos quando escutei um
barulho. Suspeitava que alguém entrou no quarto. Eu sei que o mais seguro
era ficar aqui dentro quietinha, mas não me aguentei de tanta curiosidade e
abri a porta, deparando-me com a última pessoa que imaginei encontrar.

— Giovanni? — Arregalei os olhos surpresa e ele sorriu para mim.

— Te falei que ia te tirar daquele casamento. — Puxou-me para um


abraço. — Estava com saudades, Mel.

— Eu também. — Pisquei algumas vezes para me situar de toda


essa loucura. — Por que me trouxe para cá?

— Por enquanto vamos ficar aqui, o Renzo já está te procurando. —


Saber disso deixou o meu coração agitado, pelo menos sei que ele não deu
graças a Deus por eu sumir. — Depois vamos voltar ao México e assumir a
máfia.

— O quê? Que história é essa? O mais sábio não seria sumir no


mundo? — perguntei o lógico. Giovanni era doido de me sequestrar e
depois colocar a cara para bater? Renzo iria esmagá-lo.

— Senta aqui, Mel — chamou-me para sentar no colchão, se


sentando ao meu lado. — Tem muita coisa que você ainda não sabe.
— Como o que?

— É complicado te explicar tudo, mas vou tentar resumir.

— Fala logo, Giovanni! — exigi. Ele deveria me dar uma boa


explicação.

— Nós somos irmãos.

As paredes do quarto pareciam girar e meu estômago embrulhou.

— Você está de brincadeira, não é? Papai só teve um filho, no caso,


eu.

— José não era seu pai, Melanie.


— Do que você está falando? — Levantei-me rapidamente e andei
de um lado para o outro, colocando a mão na cabeça. — Claro que ele é
meu pai, ele sempre foi meu pai, ficou doido?

Giovanni não estava normal. Será que estava drogado?

— Ele te criou, mas não é o seu pai de sangue.

— Como não? Eu vi fotos da minha mãe e sou a cara dela! —


Retruquei, já gritando, nervosa com tanta loucura.

Soltei uma risada alta. Isso era um absurdo, uma loucura da cabeça
de Giovanni, um delírio.
— Senta, deixa eu te explicar com calma.

— Para! Eu não quero ouvir mais nada, o que você está falando é
um absurdo.

— Mas é a verdade, Mel.

— Se o José não era meu pai, quem é?


— O nome do nosso pai é Antônio e ele é irmão do José…

Entendi a mão, não o deixando terminar.

— Você está insinuando que minha mãe traiu o meu pai? Você só
pode estar louco! — Joguei as mãos para o alto e depois as bati na lateral do
meu corpo.
O que mais de ruim poderia acontecer na minha vida? Era uma
loucura atrás da outra. Daqui a pouco eu iria parar no hospício.

— Calma, Mel, escute o que eu tenho para te falar.

— Você está mentindo, confundindo minha cabeça, para com isso!

— José foi viajar a trabalho e deixou o Antônio tomando conta das


coisas da máfia e da sua mãe,e nessa época eu já existia. Meu pai tinha um
caso com minha mãe que era uma prostituta e me teve, ele nunca me
reconheceu e o José ficava me dando todo suporte necessário, nunca me
faltou nada, porque ele não permitiu. Nesse tempo que ele estava viajando,
nosso pai acabou tendo um caso com a sua mãe e ela ficou grávida de você,
sabemos que você não é filha do José porque ele nunca pôde ter filhos.

— É alguma brincadeira de mau gosto? — Um nó já começava a se


formar na minha garganta. — Porque se for, pode parar, não estou gostando
nada disso.

— Não é brincadeira, Mel, é a verdade, depois disso Antônio sumiu


no mundo e José espalhou para todos que você e sua mãe haviam morrido,
por isso toda essa proteção. Quando eu completei idade o suficiente para
poder me tornar um soldado, ele permitiu que eu me aproximasse de você,
claro, sem contar a verdade, e foi o que eu fiz. O Antônio nunca foi
encontrado, por mais que José tenha procurado em todos os lugares, o
homem simplesmente sumiu. — Escutei tudo quieta, sem saber o que falar.
— Seu pai ficou com medo de que um dia ele pudesse voltar e descobrisse
sobre a sua existência, então ele permitiu esse casamento, como uma forma
de te proteger.

— Tá, supomos que essa história toda seja verdade. — Meu Deus!
Eu só posso estar louca de acreditar nisso. — Qual o seu plano?

— Não estamos supondo nada, Mel, é verdade. Enfim, não podemos


voltar para o México agora. Antônio me procurou e… — interrompi
novamente a sua fala.

— O quê? — berrei. — Esse homem tá aqui? — Desesperei-me


com essa possibilidade. — Se meu pai queria me proteger dele é porque ele
não é uma boa pessoa!

— Calma, Mel, você está comigo, não vou deixar nada acontecer
com você. Voltando ao que eu estava falando, ele me procurou e me propôs
uma parceria, e como ele estava com muito dinheiro, acabei aceitando. Era
a única forma de te livrar desse casamento e tomar a máfia mexicana de
novo. — Giovanni se levantou e segurou na minha mão.

— Como você vai fazer isso?

Eu estou assustada e não é pouco.

— A única maneira de fazer isso é matando Renzo e sua família.

— Você ficou doido, Giovanni? — Puxei a minha mão do seu toque.


Querendo esbofetear a sua cara por tamanha idiotice. — Pelo amor de Deus
não faz isso, vamos embora, a gente some desse lugar e deixa tudo isso para
trás.
— Não vou deixar nada para trás, Melanie. Essa máfia é minha,
você como mulher não pode assumir, mas eu posso e vou, é só uma questão
de tempo. Vou te usar de isca para atrair Renzo e a corja dele, depois vamos
matá-los e eu vou assumir tudo.

— Então você está me usando para isso? — Decepção esbanjava na


minha voz.

— Não pense por esse lado, vou te dar sua liberdade, era tudo que
você queria, não era?

Queria gritar que não, que mudei de ideia… aliás, não sei, eu não sei
mais o que eu queria, só sabia que não queria fazer parte dessa loucura.

— Foi você quem enviou o chocolate envenenado para Samantha?

— Sim. Com a ajuda do Robert. É uma pena que ela tenha


sobrevivido.

— Ela estava grávida, Giovanni, pelo amor de Deus! — Afastei-me


mais dele. Estou com medo desse Giovanni, nunca pensei que ele fosse
capaz de tanto.

— Bom, não está mais. — Deu de ombros, pouco se importando. —


Até resolver tudo, te deixarei aqui nesse quarto, porque é muito arriscado
você andar por aí, não confio no Antônio.

— Desiste dessa história louca, por favor... — implorei,


aproximando-me novamente dele.

— Tenta absorver as coisas boas que você vai levar desta história,
volto aqui mais tarde. — Deixou um beijo carinhoso na minha testa e saiu.

Meu Deus, estava mais ferrada do que nunca. Não sei nem o que
pensar. Descobri que meu pai não é meu pai, que minha mãe traiu meu pai,
que Giovanni queria matar o Renzo, que estou grávida do Renzo e que eu o
amo. Não queria que ele morresse, estou desesperada, vou acabar ficando
doida com todas essas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
Agora eu entendia o que sentia por Giovanni, sempre foi fraternal,
mesmo não sabendo e ainda não tendo certeza, meu coração sempre o teve
como um irmão.

Faz dois dias que eu estava dentro desse quarto fedorento. Giovanni
sempre vinha me trazer comida e até me fazia companhia. Era uma situação
complicada e eu sabia que ele não era uma pessoa ruim, só estava perdido.
Contudo, confesso que estou com medo, medo de que aconteça algo com
ele, com Renzo, comigo e meu bebê.

Quase não tenho dormido, só consigo descansar quando Giovanni


está aqui dentro do quarto comigo, mas agora ele não está e eu estou
morrendo de sono, então decidi deitar um pouquinho, mas quando comecei
a pegar no sono, a porta se abriu. Um homem que eu nunca vi na vida
entrou, ele se parecia um pouco com o meu pai, então imaginei que fosse o
Antônio.

Rapidamente me sentei.

— Atrapalhei o seu sono, filhinha?


Meu corpo inteiro se arrepiou ao ouvir a voz dele e senti nojo
quando ele me chamou de “filhinha”.

— Não. Cadê o Giovanni? — perguntei com medo e na esperança


de que ele pudesse aparecer.

— Teve que sair. — Puxou a cadeira e se sentou na minha frente.

— O que você quer aqui?

— Apenas vim conferir com os meus olhos como você é parecida


com a sua mãe.

— Já conferiu, pode ir — cuspi as palavras antes mesmo de pensar.

— Atrevida igual ela. — Riu.

— Minha mãe gostava de você? — indaguei, pois era difícil


imaginar isso.

— Se sua mãe gostava de mim? — Gargalhou. — Sua mãe me


odiava, garota.

Pisquei repetidas vezes com a sua afirmação.


— Mas Giovanni me disse que vocês tiveram um caso.

— Seu irmão é tão burro e inocente quanto você. Sua mãe nunca
gostou de mim.
— Então eu não sou sua filha?

— Infelizmente, é sim. Meu irmão, aquele imprestável, não podia


nem ter filhos.
Santo Cristo, estou ficando cada vez mais confusa. Ia abrir a boca
para questionar, mas ele me interrompeu.
— Vou te contar uma historinha, de como tudo aconteceu. —
Apoiou os cotovelos nas pernas, inclinando o corpo para frente. — Me
encantei assim que vi a sua mãe, mas ela já estava prometida ao José. Eles
se casaram e eu sempre fiquei na minha, mas sua mãe desconfiava das
minhas olhadas com segundas intenções para ela. Um dia José teve que
fazer uma viagem importantíssima para a máfia e não podia levá-la. Fiquei
com a função de cuidar dela. Uma certa noite eu consegui entrar em seu
quarto, ela sempre trancava a porta, mas claro que eu consegui abrir e
forcei-a ficar comigo. Foi a noite mais deliciosa da minha vida, ainda
consigo ouvir os gritos dela, pedindo por socorro. — Riu, parecendo se
lembrar com exatidão da cena.
— Você estuprou minha mãe? — perguntei desacreditada e enojada
com esse homem inescrupuloso.

— Várias vezes naquela mesma noite e todas as vezes que eu


desejava até José voltar de viagem. No começo ela gritava, fazia de tudo
para sair, mas depois ela começou a se calar e apenas chorava em silêncio
enquanto eu fazia o que queria com ela. Antes do seu pai voltar, eu fugi. O
idiota me procurou por anos, mas nunca me encontrou, sempre fui mais
esperto do que aquele velho sonso.

— Seu desgraçado! — Inclinei-me para frente e cuspi na sua cara.

— Sua vagabunda! — Ele me segurou com uma mão pelos cabelos,


levantando-me com brusquidão e com a outra mão livre limpou o rosto.
Encarou-me de um jeito tenebroso e sorriu. — Você é gostosa igual a sua
mãe. — Passou a mão no meu rosto e meu corpo ficou tenso.

— Me larga, eu sou sua filha — gritei e me debati, entrando em


pânico.
— Depois que eu matar o idiota do Giovanni, o seu marido e a
família dele, irei curtir muito com você, filhinha — falou de forma
maliciosa e gritei, chamando por Giovanni. — Depois que eu me cansar, te
darei para os meus guardas, tenho certeza que eles vão curtir muito, não é?
— perguntou para um homem, que apareceu repentinamente no quarto. Ou
ele já estivesse lá e eu não reparei.
— Muito, chefe — o nojento afirmou, rindo.

— Larga ela, Antônio — a voz de Giovanni se fez presente e fechei


os olhos, agradecendo por ele ter chegado ali.
— Chegou quem faltava na festinha.

— A gente combinou que você não ia chegar perto dela. —


Giovanni sacou sua arma.
— Ah, meu querido filho… eu precisava muito de você para me
ajudar a pegar essa vagabunda, mas agora não preciso mais, te suportei por
muito tempo porque você estava sendo útil, mas agora não preciso mais de
você. — Antônio soltou os meus cabelos e caí de joelhos no chão, sentindo-
os doer bastante por conta do impacto.

Levantei a cabeça e o monstro já estava apontando sua arma para


Giovanni, assim como ele também estava com ela apontada na direção do
nosso pai.

O guarda que estava no canto se aproximou de mim e mirou na


minha cabeça.

Abracei o meu próprio corpo e chorei de soluçar pensando no bebê.

— Deixa ela fora disso — meu suposto meio-irmão pediu.


— Abaixa sua arma — Antônio ordenou. — Se você não abaixar
sua arma, eu vou matar a sua irmãzinha. — Giovanni olhou-me para mim
antes de ceder. — Agora chuta ela para perto de mim. — Assim ele o fez.
— Como eu sou um pai muito bom, não irei te matar agora, vou deixar você
sangrando e morrer sozinho. — Um tiro ressoou dentro do quarto e soltei
um grito estridente ao ver Giovanni cair no chão.

— Giovanni, Giovanni. — Corri até ele, sem me importar com


aqueles outros homens armados ali. Sua barriga estava sangrando e
pressionei a ferida com as duas mãos.

— Me desculpa. Mel, me desculpa — pediu, com a voz fraca.

— Isso não importa agora, fica calmo.

— Essa cena de família é linda, mas tenho outras coisas para


resolver. Cuide do seu irmão, querida Mel. — Antônio saiu do quarto junto
com o outro homem.
— Aguenta firme, por favor, você tem que aguentar, Renzo deve
estar vindo, ele vai nos encontrar.

— Quando ele me encontrar, ele vai me matar. — Riu rapidamente e


logo começou a tossir. — Não tiro a razão dele, eu fiz merda, acreditei
naquele desgraçado. Fui ganancioso, queria a máfia para mim, queria ser
reconhecido.
— Isso não importa agora, vai ficar tudo bem, eu prometo. — Puxei
a barra do meu vestido com força, rasgando-o. — Fica quietinho, vou tentar
estancar o sangue.

— Consegue me arrastar até aquele canto? — Apontou para onde


estava o colchão.
— Sim, acho que sim.

Puxei ele com toda a minha força, mas ele era muito pesado e só foi
possível levá-lo até lá porque ele se esforçou e foi se arrastando.

Peguei o lençol que tinha no colchão e junto com o pedaço do meu


vestido, pressionei a ferida.
— Se eu morrer, quero que saiba que sempre te amei, mesmo você
não sabendo que era minha irmã, eu cuidei de você e estive ao seu lado
mesmo quando você pensou que eu estava distante. Me perdoe por tudo,
por favor.

— Não fala isso, você não vai morrer. — Chorei abraçando-o com
cuidado. — Eu estou grávida — contei baixinho, com medo de que mais
alguém ouvisse.

— O quê? — Tossiu mais uma vez e levou a mão na barriga,


reclamando de dor.

— Estou grávida. — Fiz carinho nos seus cabelos. — Quero que


meu filho conheça o tio dele.

— Você merece ser muito feliz, você é incrível. — Abriu um sorriso


fraco.

— Seja forte, por você, por mim, pela gente, por favor.

— Eu vou ser… — sussurrou.


Cadê você, Renzo? Aparece logo, por favor. Você me fez várias
promessas e precisa cumpri-las, vem me buscar logo!
Capítulo 28

Renzo Caccini

Estou ficando louco, já fazem dois dias que não tenho nenhuma
notícia da minha ruivinha.

Ontem eu decidi abrir a carta que o pai da Melanie deixou para ela,
pois pensei que ali poderia ter alguma resposta e meu choque foi grande.
Agora ficava pensando se foi Giovanni quem sequestrou ela, se ele teria
coragem de machucar a própria irmã. Tem esse pai dela também que o José
mencionou na carta, seria ele? Não sei mais o que pensar. Não conseguia
comer, não conseguia dormir, só pensava nela, só queria encontrar ela.
Encontramos Robert morto dentro do carro que foi abandonado por
ele. Roni ainda continuava internado, mas já estava bem melhor.

Enzo chegou ontem da Alemanha para tentar ajudar no caso, mas


ainda não temos respostas.

Meu celular apitou com mais uma mensagem.

Desconhecido:
Se quiser a sua garota, me encontre no galpão hoje às 21h, vou te
mandar o endereço mais tarde.

Virei a tela do celular para Enzo, mostrando-o a mensagem.


— Já estou rastreando — informou, deixando-me mais esperançoso
de uma possível localização.

— Tem como ser mais rápido? — perguntei, nervoso.

— Estou fazendo o possível.

— Fratello, vamos comer alguma coisa enquanto ele procura —


meu irmão me chamou, tentando tirar-me de cima de Enzo para que ele
pudesse trabalhar em paz e também tentando fazer-me comer algo, pois
desde que Melanie foi sequestrada, perdi completamente o apetite.

— Não, vou esperar aqui.


— Renzo, olha para mim. — Segurou no braço, tomando minha
atenção para si. — Você está há dois dias sem comer, sem dormir, você nem
sequer tomou um banho. Você precisa se acalmar, centralizar as suas
emoções.

— É minha mulher, caralho, não tem como ficar calmo.


— Desse jeito você não vai conseguir encontrar ela. Precisa se
alimentar — reiterou o que havia falado antes.

— Não quero comer, Rocco, vou esperar aqui — fui sucinto na


minha resposta.

— Senhor. — Escutamos a voz de Roni.

— Já recebeu alta? Está se sentindo bem? — indaguei, pois não


sabia que ele iria receber alta, sem contar que Roni é um bom segurança.

— Sim.

— Espera só um minuto para conversarmos — pedi, virando-me


para falar com Enzo. — Conseguiu?
— Não, infelizmente o cara usou um telefone dentro desse café. —
Mostrou na tela do seu computador um mapa. — Irei acessar as câmeras de
toda essa região para encontrar o homem e fazer o reconhecimento facial
para achá-lo.

— E o Giovanni, encontrou algo?

— Ainda nada.

— Cazzo! — Dei um soco na parede com força, machucando os nós


dos meus dedos.

— Vamos encontrar, Renzo, antes das 21h você terá a localização —


o Capo alemão me afirmou.

Assenti e saí do escritório para conversar a sós com Roni.

Perguntei para ele sobre todos os detalhes que se lembrava, mesmo


que ele já tenha me falado algumas coisas no hospital, mas é sempre bom
relembrar, afinal podia ser que deixássemos algo passar.

— O que você fazia no quarto dela? — questionei sobre a parte que


mais me chamou atenção. Roni não entrava lá, a não ser que fosse uma
urgência.

— Ela acordou passando mal e pediu que eu fosse até a farmácia.

— Sim, mas na linha do tempo do que você me contou, tudo


aconteceu quando você chegou da farmácia. Você disse que Melanie não
viu quando tudo aconteceu com você, mas se você estava dentro do quarto
dela na hora, onde ela estava?

— No banheiro, senhor.

— E você continuou no quarto por que?


— A Senhora Caccini me disse que estava tonta e bastante enjoada,
então eu suspeitei que ela estivesse grávida. — Engoli seco e meu coração
acelerou com essa nova informação. — Fui até a farmácia comprar os
testes, quando voltei, ela pediu que a esperasse no quarto pois estava com
medo de desmaiar e foi ai que tudo aconteceu.

— Grávida? — murmurei, digerindo essa informação.

— Não sei, Senhor, tudo aconteceu quando ela entrou para fazer os
testes.

— No banheiro dela, certo? — repetia as informações dada por ele


como se eu fosse um idiota e não tivesse entendido nada.

— Sim.

Peguei as chaves do meu carro e saí apressadamente de onde


estávamos. Vi Rocco vir atrás de mim.

— Onde você vai desse jeito? — Segurou a porta do carro,


impedindo-me de entrar.

— Para a minha casa. — Forcei a porta, mas ele continuou


atrapalhando.

— Fazer o quê?

— Preciso ir lá, Rocco. — Suspirei pesado, tentando não perder a


paciência.

— Eu te levo, então.

Assenti e entregue a chave na sua mão.

O galpão onde estávamos ficava a menos de cinco minutos da minha


casa, então chegamos rápido. Nem esperei por Rocco, assim que ele
estacionou, saltei do carro e fui correndo para dentro. Subi os degraus da
escada de dois em dois até chegar no quarto dela.

Olhei em volta procurando no banheiro os testes, mas não encontrei


nada, até o lixo eu revirei.

— O que você está procurando? — Meu irmão parecia confuso,


observando-me atentamente da porta.

Não respondi, apenas continuei procurando. Abri a gaveta do


pequeno armário e havia uma sacola toda enroladinha. Sem paciência para
abri-la, rasguei e encontrei os testes.

Meu coração quase saltou pela boca.

— Você tem como me dizer que caralhos está acontecendo, Renzo?


— bradou, sentindo-se perdido diante da minha conduta estranha.

— Melanie, ela está grávida! — Encarei o meu irmão, em completo


desespero, mostrando-lhe os testes em minhas mãos. — Preciso achar
minha mulher, Rocco, preciso encontrá-la. — Eu estava me tremendo, o
desespero havia me tomado. A angústia e um medo absurdo predominava
sobre mim, tirando-me do eixo.

— Calma, vamos encontrá-la.

— Você não está entendendo, eu preciso encontrá-la agora, não


posso deixar nada acontecer com ela. — Passei por ele, saindo do banheiro.
Eu precisava de ar ou então morreria sufocado pela impotência de no
momento não poder fazer nada para salvá-la.

Era horrível a sensação de medo. Era horrível ter, agora duas,


preciosas vidas em suas mãos e estar impedido de agir.
Escutei o telefone do meu irmão tocar e quando o olhei, ele estava
sorrindo.
Meu coração palpitou, eram boas notícias, eu sentia isso.

— O que foi?

— Ele achou, Enzo encontrou a localização de onde Melanie está.

Corri, descendo e indo para o carro. Meu irmão teve que correr
também para me alcançar, ou então ficaria para trás.

Eu não podia esperar nem mais um segundo para ir ao encontro da


minha ruivinha. Minha esposa, mãe do meu filho e a mulher da minha vida.

A traria de volta para mim, para nossa família e cumprirei as minhas


promessas. Melanie sorrirá e todas as lágrimas irão cessar.

Infelizmente não podia apagar o passado, não havia borracha, mas


podia garantir um futuro incrivelmente lindo, onde o passado será apenas
uma lembrança na qual ela não terá tempo para se lembrar.
Capítulo 29

Melanie Salvatierra

Giovanni estava dormindo. Era tudo que ele fazia, passava a maior
parte do tempo desacordado e isso estava me preocupando bastante. Tinha
medo de que ele não fosse aguentar por estar perdendo muito sangue.

Tenho esperanças de que Renzo vai conseguir nos encontrar a


tempo.

Antônio não trouxe comida e nem água filtrada, então eu estava


faminta. Fiz conchinha com a mão para pegar água na torneira da pia e
levar para Giovanni.

Estava me sentindo constantemente nauseada, acredito que seja por


estar muito tempo sem me alimentar.
Contei para Giovanni as coisas que Antônio me disse e vi
sinceridade no seu olhar e na sua fala quando afirmou que não podia
imaginar que aconteceu dessa maneira. Segundo ele, o meu pai, José, nunca
havia entrado em detalhes do que tinha acontecido no passado.

— Aguenta firme, tenho certeza que logo vamos sair daqui — disse
para Giovanni, encorajando-o. Ele estava tossindo bastante, febril também e
como havia perdido muito sangue, suspeitei que estivesse querendo desistir.

— Você precisa sair daqui.


— Nós vamos sair daqui juntos. — Deixei claro que não havia outra
opção.

— Sabe que se Renzo nos encontrar, eu estarei morto e você presa a


esse casamento para sempre, né?

— Sei que estarei presa para sempre, mas não vou deixar você
morrer, quando sairmos daqui você vai para um hospital.

— Você é muito ingênua, Mel. Renzo jamais me deixará vivo. Eu


fiz por merecer a morte, só não queria morrer pelas mãos daquele
desgraçado que diz ser nosso pai.

— Você não vai morrer pelas mãos de ninguém, para de falar


besteiras.

— Não tenho tanta certeza disso. — Ele tossiu novamente e dessa


vez, começou a sair sangue pela boca.

Me desesperei, mas não pude demonstrar para ele o tamanho do


meu desespero, seria muito pior. Giovanni tinha que ficar calmo para que
conseguisse aguentar firme.

Questionava-me toda hora porque Renzo está demorando tanto. Meu


Deus, ilumina o caminho desse homem para ele nos achar aqui e abençoa o
coração dele para não matar Giovanni, é só o que pedia.

A porta se abre e Giovanni me segurou, fraco do jeito que estava,


mas tentando me proteger.

— Vamos bonequinha do papai, hora de passear — avisou, com


aquela voz nojenta.

— Para onde você vai levar ela? — Giovanni perguntou com a voz
arrastada.
— Cala a boca, seu moribundo, nem para morrer rápido você presta.
— Voltou o olhar asqueroso para mim. — Anda garota, levanta logo, estou
de saco cheio de você e do inútil do seu irmão. — Giovanni continuou
segurando-me. — Acho melhor ele te soltar. — Apontou a arma para ele.

— Estou levantando. — Olhei para Giovanni suplicando para que


me soltasse. — Pode me soltar, vai ficar tudo bem.

— Se você for com ele, ele vai te matar.

— Tudo bem, fica quietinho aqui que já já alguém te acha. —


Deixei um beijo carinhoso na sua cabeça, tirei-o com cuidado do meu colo
e me levantei.

Era óbvio que estava com medo, mas não poderia fazer mais nada.
Para onde eu correria?
— Linda cena. — Bateu palmas, rindo ironicamente. Antônio era
um nojento. — Família é uma coisa espetacular.

Aproximei-me dele com passos vacilantes. Eu estava com medo por


mim, mas principalmente pelo meu bebê.

— Agora nós vamos brincar, filhinha, vamos lá assistir seu


maridinho morrer. — Segurou com firmeza nos meus cabelos e os puxou,
causando uma ardência absurda no meu couro cabeludo. — Anda, sua
vagabunda. — Desferiu um tapa no meu rosto por eu não ter andado. Senti
o gosto metálico do sangue escorrer dentro da minha boca.

— Seu desgraçado, não encosta nela. — Giovanni tentou se


levantar, mas não conseguiu.

Quando Antônio apontou a arma para a cabeça de Giovanni,


escutamos vários tiros do lado de fora.
— Acho que você tem problemas — falei sorrindo, enquanto
Antônio estava com os olhos arregalados.

— Ri mesmo, vagabunda, ri mesmo, porque depois você vai estar


chorando enquanto eu e meus soldados fodemos você. — Deu outro tapa e
me jogou no chão.

Já estava desnorteada e minha visão embaçada.

Antônio saiu do quarto, batendo à porta com força. Passei a mão


pelo o meu rosto e percebi que estava sangrando pelo meu nariz e minha
boca.

Que dor infernal! Como esses homens aguentavam ser torturados?


Não estava aguentando os dois tapas que levei.

— Você está bem? — Giovanni perguntou, preocupado.

— Melhor que você. — Abri um sorriso torto para ele.

— Não parece. — Foi a vez dele rir.

— Ficou tão feio assim? — Apontei para o meu rosto.

— Você é linda, não tem como ficar feia — elogiou-me de forma


carinhosa. — Parece que seu marido veio te buscar.

— Veio nos buscar, você vai sair daqui comigo — afirmei mais uma
vez.

— Se eu morrer, faça com que o Renzo torture ele, por favor.

— Você não vai morrer! — falei rudemente, já estava cansada de


afirmar a mesma coisa para ele.

A porta se abriu novamente e um Antônio desesperado entrou


correndo.
Arrastei-me para trás numa tentativa em vão de fugir dele.

— Levanta, vagabunda, levanta agora. — Agarrou novamente nos


meus cabelos, levantando-me e apontando a arma para a minha cabeça.

Ao olhar para a porta, encontrei Renzo, Rocco e Enzo entrando e


nos encarando. Os olhos do meu marido estavam fixos nos meus.

Nunca senti tanto alívio em ver seus olhos gélidos como estava
sentindo agora.

Renzo percorreu o olhar por todos os cantos do desse quarto até


pousarem em mim, onde pude sentir o meu coração parar por breves
segundos com tanta intensidade que sentia. Eu esperei por ele, como eu o
esperei…

Assim que ele desviou o olhar, acompanhei-o e estremeci ao vê-lo


encarar Giovanni com o mesmo olhar indecifrável de sempre.

— Se você tentar me matar, eu atiro na cabeça dela — Antônio


avisou, visivelmente nervoso.

— Quem disse que eu quero você morto? — Renzo o respondeu na


maior tranquilidade.

Confesso que a maneira gélida que ele se comportava e o seu olhar


amedrontador causaram certo medo até em mim. Queria nem imaginar o
que ele faria quando tiver Antônio em suas mãos. Também não podia falar
que me importava, já que seria a maior mentira.

— As coisas vão funcionar da maneira que eu quero, entendeu? —


Antônio apertou o cano da pistola na minha cabeça. — Vou sair daqui com
sua garotinha viva e você não vai atrás de mim, senão vou matá-la e não
estou brincando.
Renzo puxou a cadeira e se sentou.

Estreitei os olhos. O que ele pensava que estava fazendo? Ele


deveria me tirar das mãos desse maluco logo!

— Essa história toda me cansa muito, estou sem tempo. — Passou


os dedos por sua arma, como se estivesse brincando com ela. — Você sabe
que não vai sair daqui com ela, por que fica insistindo nessa ilusão idiota?

— Se você ameaçar atirar em mim, eu mato ela, não estou


brincando — reafirmou.

— Olha, vou te dar um conselho, se eu fosse você escutava


atentamente o que tenho para falar. Solta ela, vai ser melhor para você, se
você continuar fazendo com que eu perca a porra do meu tempo, vai ser
muito pior. Estou começando a ficar nervoso e garanto que você não vai
querer me ver nervoso.

— Começa a andar, garota, agora — Empurrou-me.

— Era para você ter ouvido ele — dessa vez foi Rocco quem falou,
enquanto Enzo estava no cantinho do quarto, comendo um pequeno pacote
de salgadinhos.

Eles não estavam vendo que estava em perigo? Por que está todo
mundo tão tranquilo?

— Cansei dessa palhaçada. — Renzo levantou e arremessou a


cadeira de madeira na parede, quebrando-a. Tanto eu, quanto Antônio,
levamos um susto.

Foi apenas um segundo de distração, mas o suficiente para que o


meu marido me salvasse. Um barulho de tiro ressoou e um vapor quente
passou pela lateral da minha perna. Antônio gritou e finalmente soltou-me.
— Caralho — esbravejou, passando a mão na perna e constatando
que foi atingido.

Abaixei-me colocando as mãos nos ouvidos, não sabia o que poderia


vir agora e, mesmo tentando abafar o barulho, pude ouvir outro tiro e uma
arma caindo do meu lado.

Olhei rapidamente para trás e Antônio estava ajoelhado no chão,


com a perna e aparentemente o braço sangrando.
— Eu te dei uma boa opção, mas vocês sempre querem o mais
difícil, estou cansado disso. — Renzo revirou os olhos e se aproximou de
mim, estendendo-me a mão e imediatamente me levantei, correndo para o
seu abraço.

Vi uns homens entrarem e arrastarem Antônio para fora, que foi se


debatendo e gritando.

Meu marido levou os dedos até o meu queixo e levantou o meu


rosto, olhando em meus olhos.

— Você está bem? Foi ele quem fez isso no seu rosto? — Assenti.
— Vai indo com Rocco e Enzo que eu vou resolver um negócio com seu
irmão.

Espera, como ele sabia que Giovanni era meu irmão?

— Como você sabe disso? — indaguei, piscando algumas vezes,


confusa.

— Fiquei sabendo no dia que te levaram, mas depois a gente


conversa sobre isso, agora preciso que você vá com eles.
— Não. O que você tem para resolver com Giovanni?
— Por favor, Melanie, faz o que estou te pedindo. — Ele continuava
segurando a arma, o que me fez entender perfeitamente o que ele pretendia
fazer. — Leva ela — pediu olhando para Rocco e Enzo, que estavam ali no
canto.
— Não, por favor, não faz isso, não mata ele — implorei. — É o
meu irmão, o mais próximo que tenho de uma família, não faz isso. Ele só
queria me livrar de um casamento infeliz, fez isso porque me ama, mas ele
me protegeu, levou um tiro para me proteger, não faz isso, eu estou
implorando. — Lágrimas quentes rolaram por meu rosto.

— Leva ela, Rocco — pediu mais uma vez, de forma rude.


— Estou esperando vocês lá fora. — Rocco se aproximou,
surpreendendo-me ao tomar essa decisão de não me levar à força, como o
irmão havia pedido. — Qualquer que for sua decisão, estarei contigo. —
Deu um tapinha no ombro dele e saiu.

— Já que o Rocco não quer levar, faz esse favor, Enzo. — Renzo
tentou mais uma vez.

— Não vou me meter em assuntos de família, estou fora — o Capo


da máfia alemão deixou claro sua decisão e também saiu, deixando apenas
nós três.

— Não faz isso — insisti, encarando os seus olhos.

— Por causa dele você está aqui, ele quem te trouxe para essa merda
toda! — vozeou, demonstrando toda a sua insatisfação e raiva de Giovanni.

— Sua culpa também! — rebati. Talvez eu não estivesse sendo


justa, mas quem até hoje tinha sido justo comigo? Que se dane a moral! —
Você me deixou sozinha, você desconfiou de mim. Tudo que aconteceu tem
uma boa parcela de culpa sua! — Passei a mão na cabeça, sentindo-a doer.
— Você não pode fazer isso, ele é meu irmão, é minha única família.

— Que família, Melanie? Você nem sabia que ele era seu irmão.
Você poderia estar morta agora e tudo porque esse merda te trouxe para cá.

— Ele está certo, Mel, vai lá para fora, está tudo bem — Giovanni
falou pela primeira vez desde que Renzo chegou.

— Não! Cala sua boca! — gritei com ele. Giovanni não poderia
aceitar morrer tão facilmente. Todo mundo erra e tinha direito a uma
segunda chance. — Você não pode matá-lo. — Segurei com as duas mãos
no seu rosto. — Eu já sofri demais, olha tudo que eu estou passando, só
estou te pedindo para não fazer isso, é a única coisa que eu peço, por favor.
Todo mundo erra e tem direito de acertar. Você não pode decidir quem
morre ou vive. Você já errou muito, Renzo, principalmente comigo, não
erre mais.

Ficamos nos encarando por alguns segundos.


— Me espera lá fora.

— Nada que eu falar vai te fazer mudar de ideia, não é? — Afastei-


me dele. Nervosa e cansada desse Renzo que acha que pode tudo e que
sempre estarei disposta a perdoá-lo. — É sempre assim, você faz o que
quer, você não me escuta e nem me dá o direito de falar. Estou cansada
Renzo, estou realmente cansada. — Puxei o ar com força. — Aconteceram
tantas coisas em tão pouco tempo que estamos juntos, eu só queria sumir de
tudo isso, mas infelizmente não tem como. Faz o que você tem que fazer,
não adianta eu falar, pedir ou implorar. Só quero que você saiba que eu
nunca, você ouviu? Nunca vou te perdoar! Você pode me obrigar a ficar
com você, você pode fazer o que quiser, mas eu nunca te perdoarei por isso.
Se aí dentro — Apontei para o peito esquerdo dele — tem algum
sentimento por mim, por mínimo que seja, pode até ser sentimento de pena,
não me importo, se você sente alguma coisa, você não vai fazer isso.
Dei as costas para o idiota do meu marido, indo até Giovanni e
abaixei-me para falar com ele.

— Eu não posso fazer nada, infelizmente. Nessa droga de vida, nós


mulheres não temos direito de fala e muito menos de tomar decisões,
estamos aqui só para sofrer e carregar chifres. — Meu irmão abriu um
pequeno sorriso. — Mas quero que saiba que eu te amo muito e obrigada
por todo esse tempo que você se dedicou e cuidou de mim. — Solucei e
Giovanni se inclinou um pouco para enxugar as lágrimas do meu rosto.
— Eu te amo, Me. — Mesmo com dor, puxou-me para um abraço e
eu o apertei. — Aí, devagar, essa doeu.

— Desculpa. — Sorri com o coração carregado de tristeza. — Te


amo! — Deixei um beijo na sua bochecha e saí sem olhar para a cara de
Renzo.
Não ia adiantar eu ficar, implorar, espernear ou tantas outras coisas,
ele faria isso comigo lá dentro ou não.

Eu estava tão cansada, fisicamente e psicologicamente, que mesmo


que seja pecado e até egoísmo da minha parte, teria sido melhor se tivesse
morrido.

— Vai ficar tudo bem, Mel. — Enzo me abraçou assim que me


aproximei deles.

Estava abalada e receber esse abraço fez com que eu desabasse em


lágrimas.
— Não, não vai.

— Renzo não é um cara ruim. — Tentou me acalmar.

— Não vou opinar porque o irmão dele está aqui do lado — falei e
ouvi Rocco rir.

Sim, eu ouvi o Don Caccini rir!

— Meu fratello te ama, Mel.

Agora fui eu quem soltei uma risada alta.

— Você só pode estar contando piada.


— Olha a prova aí na sua frente. — Apontou para a entrada da casa
e virei para ver do que ele estava falando.

O que eu vi, fez-me chorar ainda mais, mas agora era um choro de
alegria. Renzo estava trazendo meu irmão carregado em seu ombro.

Antes eu já era sentimental, mas com a gravidez virei uma manteiga


derretida.
Capítulo 30

Renzo Caccini

Encaminhei Giovanni para um hospital da minha confiança e tenho


guardas vigiando ele.

Trouxe Melanie para casa e o médico da família estava examinando


ela.

Quando eu olhei em seus olhos e vi que apesar dos machucados, ela


estava bem, foi a maior sensação de alívio que já tive na vida. Essa mulher
mexia muito comigo, mexia tanto que não fui capaz de matar o Giovanni
por causa dela. Quando foi a última vez que tive piedade de alguém?
Nunca. Isso nunca me aconteceu antes.

Nos dias que se passaram, a Samantha se recuperou e mandei-a de


volta para o bordel, já tinha uns dias que não tenho qualquer vínculo com
ela.

— Senhor Caccini. — O médico apareceu na sala. — Sua esposa


está bem, foi apenas um corte superficial na boca e machucado no nariz. Ela
também está muito fraca, me relatou que está sem comer ou beber água,
então sugiro que o senhor leve algo leve para ela comer e recomendo
bastante líquido.

— Tudo bem, obrigado! — O acompanhei até a porta.


O médico não falou nada sobre a gravidez dela, o que me fez pensar
que talvez ela não tenha falado nada com ele para que eu não soubesse.
Esperarei até que ela queira falar sobre esse assunto comigo, não invadirei
mais o espaço dela.

Fui até a geladeira e tirei algumas coisas para preparar uma comida
leve e gostosa para ela comer, mas antes subi com uma garrafa de água e
um copo para ela se hidratar.

Entrei em seu quarto e a encontrei deitada na cama, do mesmo jeito


que a deixei para o médico examiná-la.
— Oi — chamei a sua atenção e ela me encarou com aqueles lindos
olhos claros. — O médico recomendou que você bebesse bastante água. —
Enchi o copo e a entreguei.

— Obrigada! — Bebeu rapidamente. — Estava mesmo com sede.

— Vem, vamos tomar um banho. — Estendi a mão e ela pegou sem


reclamar.

Levei-a para o meu quarto e enchi a banheira com água morna,


queria fazer o possível para que ela relaxasse depois dos dias que teve.

— Enquanto toma banho, vou fazer alguma coisa para você comer
— avisei e ela apenas balançou a cabeça concordando e foi para o banheiro.

Voltei para a cozinha, dando-lhe toda a privacidade que precisava, e


comecei a preparar a sopa de legumes. Enquanto a sopa estava no fogo, fiz
um suco de laranja, que sabia ser um dos favoritos dela.

— Roni — chamei o segurança que estava na porta e ele


rapidamente veio até mim. — Vou até o quarto levar isso para Melanie e
irei te chamar, acredito que ela vai gostar de te ver.
Melanie era muito carinhosa e acabou pegando uma amizade com o
Roni. Apesar de eu não gostar de ver ela distribuindo sorrisos para mais
ninguém além de mim, estou aceitando qualquer coisa para vê-la bem. Se é
para ver minha ruivinha feliz, eu faço qualquer coisa. Aliás, eu ainda
precisava ser perdoado por ela.
— Sim, Senhor, fico feliz em vê-la bem também.

Dei um leve aceno de cabeça para ele e fui para o quarto. Coloquei a
bandeja com comida em cima da cama e bati na porta do banheiro.

— Vamos sair, sua comida já está pronta — avisei.

— Já estou saindo.

— Peguei no seu quarto um pijama de frio.

— Pode colocar aqui dentro para mim?

Respirei fundo e abri a porta, evitando ao máximo olhá-la para não


cair em tentação. Não suportaria vê-la pelada na banheira e não ir correndo
até lá saciar o desejo que estou sentindo. Mas não podia fazer isso, Melanie
estava fraca e precisava de descanso. Por isso deixei o pijama na bancada
da pia e do mesmo jeito que entrei, de costas para ela, eu saí, aguardando-a
do lado de fora.

Meu corpo não parecia aceitar muito bem essa distância e para
amenizar o tesão fodido que estava sentindo, virei-me para sair e ir fumar
um cigarro.

— Pronto. — Ela saiu do banheiro rapidamente e eu desisti de sair


do quarto.
Melanie estava linda com uma calça moletom e blusa de manga.
Estava frio e quando escolhi esse pijama foi pensando em deixá-la
aquecida.

— Estava saindo? — questionou, sentando-se na cama.

— Desisti.
Fui até ela, peguei a bandeja, coloquei em seu colo e me sentei aos
pés da cama, observando-a comer.

— Isso aqui está uma delícia! — falou ainda de boca cheia,


comendo depressa.

— Tenta comer um pouco mais devagar para não passar mal —


alertei e ela assentiu.

Ficamos em silêncio até que ela terminasse de comer.

— A gente tem que conversar.

Anui, pois sabia que tínhamos mesmo, mas agora não era o
momento.

— A gente conversa depois, agora você tem que descansar um


pouco.

— Você vai ficar aqui comigo?

— Vou ficar até você dormir, depois vou resolver uns assuntos e
volto, mas Roni ficará aqui, fique tranquila.

— E cadê ele?

— Vou chamá-lo, está aqui do lado de fora esperando para falar com
você. — Levantei e fui até a porta, chamando o segurança.

— Roni! — Melanie sorriu largamente. — Ai meu Deus! Que bom


ver que você está bem! — exclamou animada e se levantou, indo na direção
dele e o abraçando, deixando Roni todo sem jeito

Ele não devolveu o abraço de imediato, mas ao acenar para ele


autorizando, ele a abraçou também.

— É muito bom te ver bem, obrigada por tudo! — a ruivinha


agradeceu se afastando.

Ufa! Ainda bem que não demorou. Estava prestes a surtar vendo ela
em outros braços.

— É bom ver a senhora bem também.

— Agora você tem que descansar um pouco — avisei e ela


concordou.

Roni saiu do quarto e pedi que ela me esperasse aqui no quarto


enquanto eu ia tomar um banho, estava necessitado de um. Agora com ela a
salvo aqui em casa, conseguia respirar aliviado.

Banhei-me rapidamente, mas quando retornei para o quarto, ela já


estava dormindo.

Sorri ao ver seus cabelos espalhados em meus lençóis.

Aqui era o lugar de Melanie, no nosso lar.

Peguei a coberta e cobri o seu corpo. Pensei que logo eu veria ali no
seu corpo uma linda barriga de grávida. Melanie estaria gerando o melhor
de mim.

Dei um beijo casto na sua testa e fui me arrumar para sair. Ainda
havia pendências para resolver.
— Fique de olho nela — pedi ao Roni antes de sair de casa.

— Sim, senhor.
Dirigi para o meu destino o mais rápido possível, pois queria voltar
logo para o cheiro da minha ruivinha.
Capítulo 31

Renzo Caccini

Atenção ao gatilho: este capítulo contém cenas de torturas. Caso


seja sensível a esse tipo de conteúdo, favor pular.

Estava sem dormir há dias, sem comer também, não estava vivendo
mais. Pensa no ódio que estou?

Entrei no galpão e encontrei o infeliz amarrado suspenso, como


ordenei aos meus homens.

Vou descontar todo o medo, angústia e raiva que passei sem Melanie
durante esses dias nesse moribundo.

— Feliz demais em revê-lo. Não fizemos as devidas apresentações


— falei, puxando a cadeira e me sentando na sua frente.

Peguei um cigarro e o acendi, fumando tranquilo enquanto o


observava.

— Você já sabe quem eu sou, por que perder tempo com isso?
— Não gosto de nada rápido, perde a graça. — Traguei o cigarro,
soltando a fumaça devagar. — Me conte sobre o seu envolvimento com a
mãe da Melanie. — O homem continuou calado. — Isso não foi um pedido,
foi uma ordem.
O maldito começou a contar e a cada palavra proferida por ele, a
minha fúria só ia aumentando. Além de ser um desgraçado da pior espécie,
ainda era um estuprador de merda. E o pior é que ele parecia gostar do que
fez, pois falava com satisfação.

— Você sabe o que acontece com um estuprador? — perguntei e os


seus olhos se arregalaram. — Claro que sabe, seu olhar de medo já diz tudo.
— Ri, jogando o cigarro no chão e pisando em cima para apagá-lo.

— Eu não estou com medo.

— Não é o que parece. Você encostou na minha mulher e isso me


deixou muito nervoso.

— Eu ia fazer pior com a sua mulher. — Riu. — Ia brincar com ela


e depois meus guardas iam se divertir também.

Meu sangue ferveu e até me esqueci que queria fazê-lo sofrer aos
poucos. Levantei e avancei sobre ele, dando vários socos no seu rosto,
assistindo com prazer o sangue escorrer em minhas mãos.

— Você vai matá-lo só batendo? Esperava mais de você. — Olhei


para trás imediatamente ao reconhecer a voz do idiota do Enzo.

Ele estava sentado comendo aqueles salgadinhos horríveis que ele


gostava, juntamente com meu irmão, que estava bebendo uísque.

— Posso saber o que vocês estão fazendo aqui?

— Nada para fazer em casa, vim assistir. — Rocco deu de ombros.

— Eu não ia perder isso por nada. Agora que sou da família, tenho
que participar dessas coisas.
— Cala sua boca, você não é da família, é agregado — rebati,
revirando os olhos.

— Não deixo de ser da família. Agora anima isso ai, quero emoção.

Mostrei o dedo do meio para ele, que riu junto com o meu irmão.

Foi bom eles terem aparecido, senão ia matar esse verme no soco e
ele não merecia morrer assim, ele merecia mais.

— Vamos começar a brincadeira.

— Vai para o inferno. — Antônio cuspiu sangue.

— Você primeiro, depois eu te encontro lá.

Pedi ao meu soldado para que trouxesse o equipamento de choque e


que descesse as amarras para que os seus pés tocassem o chão com água.
Levei a ponta do fio desencapado entre os seus dedos e me diverti com os
seus gritos. Não deixei muito tempo para que ele não morresse de imediato.
Mas ele era fraco e acabou desmaiando.

— Odeio gente fraca — resmunguei. — Acordem ele — ordenei aos


soldados que ali estavam.

Sentei-me com o meu irmão e Enzo. Eu e meu irmão fumamos dois


cigarros, mas Enzo não fumou, pois estava largando o vício, por isso ficava
comendo esses salgadinhos de forma desesperada.

Antônio acordou e eu fui me divertir mais um pouco. Pedi que meus


homens o segurassem contra a parede e peguei quatros pregos e o martelo.

— Não! Não! Não! — ele gritou, implorando, mas era tarde demais.

Posicionei o prego no centro da palma da sua mão e martelei,


pregando-o na parede. Depois enfiei um prego nas suas canelas. Ele gritou
muito e novamente desmaiou.

— Que cara frouxo — Rocco comentou, rindo.

— Esse velho já está me irritando. — Voltei para a mesa e bebi meu


uísque.

— Vou comprar mais uns salgadinhos, me esperem para continuar


— Enzo avisou.

— Para de comer essas merdas — falei e ele riu, se levantando.

— Estou tentando parar de fumar.

O Capo saiu e eu fiquei conversando com o meu irmão.

— Conversou com Melanie?

— Ainda não, ela estava cansada.

Ele assentiu.

— E o bebê?

— Não falamos sobre nada.

— Certo, então acho melhor você terminar com isso logo. —


Apontou para onde Antônio estava, já acordando. — E voltar para a sua
mulher. Vê-lo sofrer é legal, mas nada comparado a estar em casa. — Deu-
me um meio sorriso.

— Eu concordo com o Don — Enzo falou, anunciando a sua volta.

— Vamos acabar com isso, então. — Levantei-me decidido.

Peguei minha faca preferida e pedi que abaixasse as calças dele. Em


meio aos seus gritos e súplicas, que foram ignorados, eu cortei o seu pau
fora. Antônio não chegou a desmaiar por completo agora, mas ficou
extremamente fraco. Então foi aí que eu terminei o serviço. Com a mesma
faca, eu enfiei na sua barriga. Os olhos dele se arregalaram, encarando-me
com pura dor e arrependimento.

A partir daqui deixei a minha mensagem: qualquer um que ousar


mexer num fio de cabelo sequer da minha mulher, será massacrado.

Com a lâmina ainda cravada dentro dele, puxei-a para cima,


rasgando sua barriga, o estripando.

— Eu adorei. — Enzo bateu palmas. — Toda vez que forem fazer


um show desses, me convidem.

— Cala a boca — refutei, limpando as minhas mãos.

Fui direto a saída, indo pegar no meu carro uma camisa limpa e
seguindo para o meu próximo destino.

— Onde você vai? — meu irmão perguntou.

— Ao hospital.

— Já sabe o que vai fazer? — Dessa vez foi Enzo quem indagou.

— Sim.

Fui direto para o hospital antes de ir para casa. Entrei no quarto e


Giovanni se assustou ao me ver.

— Melhorando? — perguntei, sentando-me na poltrona.

— Sim.

— Quero te fazer uma proposta.

— Não vai me matar? — Estreitou os olhos, confuso e, ao mesmo


tempo, surpreso.
— Infelizmente não, vontade não me falta, mas estaria comprando
uma briga à toa com Melanie.
Ele riu.

— Mel e sua doçura que incrivelmente adoça tudo e todos por onde
passa. — Dou um meio sorriso, não posso discordar dele. — Que proposta?

— Você fez tudo isso porque queria assumir a máfia mexicana,


certo? — Aquiesceu. — Não tenho interesse em ir morar lá e preciso de um
subchefe para assumir toda aquela merda e colocar tudo em ordem, se você
for capaz disso, considere feito.

— Claro que sou capaz, mas por que você está fazendo isso?

— Aquilo lá é uma merda, cheia de problemas, não estou afim de


dor de cabeça, tenho outras coisas para me preocupar, mas não pense que eu
confio em você, porque ainda não confio. Para conquistar minha confiança
você terá que trabalhar bastante, então fique ciente que qualquer passo
errado eu vou meter uma bala na sua cabeça e não terá Melanie para te
proteger — deixei claro como as coisas funcionariam e me levantei para
sair.

— Obrigado, não vou te decepcionar, chefe.

— Não me agradeça, estou fazendo isso pela Melanie. — Fui


sincero, porque se dependesse de mim, ele já estaria morto.

— Você a ama? — Mantive-me calado, pois não daria satisfação da


minha vida, muito menos dos meus sentimentos para ele. — Claro que ama,
está na cara — afirmou, rindo.

— Cuida da sua vida, você tem muito trabalho pela frente. — Saí do
quarto.
Agora eu iria direto para casa, direto para a minha ruiva.
Capítulo 32

Melanie Salvatierra

Acordei faz um tempo e fiquei conversando com Roni, ele me


contou o que aconteceu nos últimos dias e fiquei surpresa e também
preocupada ao saber que Renzo estava sem dormir e comer todos esses dias.

Tentei preparar uma comida, algo que o agradasse, mas eu era um


desastre. Fiz um macarrão ao molho branco, era o mais fácil e mais tragável
que eu conseguia preparar.

— O que faz de pé? — Levei um susto ao ouvir a voz dele.

— Nem ouvi você entrando.


— Não respondeu minha pergunta, você precisa repousar.

— Vim preparar alguma coisa para a gente comer. — Ele fez uma
cara engraçada e tive que rir, sei que é porque minha comida era horrível.
— Roni me ajudou, não deve estar tão ruim assim.

— Vou preparar a mesa. — Ele começou a colocar os pratos.

Nos servimos e nos sentamos. Renzo encheu a sua taça de vinho e a


minha com suco. Arqueei a sobrancelha para ele, que riu para mim.

Ele já sabia que estava grávida? Como? Optei por não falar nada
antes de conversarmos sobre nós dois e comemos em silêncio.

Observei enquanto ele levava os pratos. Renzo era muito bonito!


Assim que ele terminou, fomos para a varanda. Ele pegou um
cigarro, mas logo o guardou e tive que rir. Era óbvio que ele sabia da
gravidez, — Tenho uma coisa para te entregar. — Estendeu para mim uma
carta. — Quando estava vasculhando sua casa atrás de alguma prova contra
Giovanni, encontrei essa carta, seu pai deixou para você.

Peguei-a com os dedos trêmulos.

— Você já leu?

— Sim, desculpe por isso, mas li porque achei que poderia ter
alguma pista sobre você.

— Tudo bem, vou me decepcionar com meu pai? — perguntei antes


de abri-la.

— Não.

"Oi filha, se você achou essa carta é porque eu não estou mais ao
seu lado. Quero que saiba que eu te amo muito, independente de qualquer
coisa eu te amo e serei eternamente o seu pai. Você deve estar se
perguntando por que eu estou falando isso? Bom, filha, sua mãe foi o
grande amor da minha vida, eu a amei muito, todos os dias da minha vida,
até o meu último suspiro eu a amei. Mas cometi um erro ao deixar sua mãe
aos cuidados do meu irmão Antônio. Ele abusou dela. Eu não podia ter
filhos e sua mãe ficou grávida devido a um desses abusos. Mas não pense
que você é um erro, porque você nunca foi. Sua mãe criou traumas que a
machucaram profundamente, mas juntos superamos tudo e vivemos os
melhores momentos da gestação. Infelizmente sua mãe veio a falecer no
parto, ela lutou bravamente para te colocar no mundo, mas antes de falecer
ela te conheceu, filha, olhou em seus olhos e disse que você era a filha do
amor, sim, você foi criada e gerada com muito amor, desde o princípio
quando descobri que você crescia no ventre da sua mãe, eu te amei, nem
por um segundo eu te neguei e com sua mãe não foi diferente. Ela era uma
mulher forte e você é exatamente como ela, forte, doce, amável e
maravilhosa. Quando eu te peguei nos braços pela primeira vez e você me
olhou, foi ali que entendi que meu mundo havia ganhado um novo motivo
para existir, o melhor motivo de todos. Sua mãe não pode compartilhar
comigo todos os melhores momentos do seu crescimento, mas sei que de
onde ela estiver, ela está muito feliz pela mulher fantástica que você se
tornou, e eu também, filha, eu morro de orgulho de você.
Sabe o Giovanni? Ele é seu meio-irmão, ele é filho do Antônio com
uma outra mulher. Eu quis aproximar vocês, sem ter que te contar a
verdade, você era muito nova e eu não queria que sofresse. Ele fez um bom
trabalho cuidando de você, espero que ele continue fazendo isso depois que
eu partir.
Peço que me perdoe por toda a proteção excessiva, mas sempre tive
medo de que o Antônio a encontrasse, por isso eu fiz esse acordo de
casamento, sei que você estará segura e assim partirei em paz.
Filha, não deixe ninguém tirar esse brilho que você tem, essa
vontade de viver que emana de você, não perca sua essência por nada e
nem ninguém, eu acredito em você, você pode revolucionar o mundo e
mudar as pessoas com seu amor, confie e acredite em você sempre. Meu
maior orgulho é ser seu pai. Te amo e sinto saudades. Obrigado por todos
esses anos ao seu lado me fazendo o homem mais feliz do mundo."

Não consegui conter as lágrimas e chorei de soluçar. Meu Deus, que


saudades do meu pai.

Renzo me abraçou forte e ficou assim em silêncio até que eu me


acalmasse.
— Eu amo você, pai, e estou morrendo de saudades — disse
olhando para o céu, que apesar de um pouco nublado, ainda estava lindo.

— Seu pai foi um bom homem.

— Sim, ele foi. — Enxuguei as lágrimas com o dorso da mão. —


Precisamos conversar — falei, não podendo mais adiar.

— Sim.

— O que vai acontecer com o meu irmão?

— Vai voltar para o México.

— Você vai puni-lo?

— Deveria, mas não vou. — Sorri.

Renzo tirou um peso do meu coração.

— Obrigada por isso.

— É o mínimo que posso fazer.

— E ele vai sair da máfia? — Estou curiosa para saber o que vai
acontecer com Giovanni, mas Renzo é sempre de poucas palavras.

— Não. Só se sai da máfia morto.

Sempre ouvi isso do meu pai.

— Então o que vai acontecer com ele? — continuei insistindo para


saber, estava morrendo de curiosidade.

— Curiosa. — Sorriu. — Ele vai se tornar meu subchefe e ficará no


meu lugar na máfia mexicana.

Uau! Mais uma vez ele conseguiu me surpreender.


— Você está falando sério? — Assentiu. — Por que você está
fazendo isso?

— Não fui um bom marido, estou precisando me redimir um pouco.


— Balançou os ombros.

Achava fofo esse jeito torto dele de tentar consertar as coisas.

— É, você não foi um bom marido mesmo não.

— Eu sei disso.

— E o que você vai fazer a respeito?

— Pedir desculpas? — Encarou-me sem jeito, coçando a cabeça.

— É um bom começo. — Tinha vontade de rir dele, mas não fiz,


continuei séria.

— Isso é novo para mim, nunca precisei disso antes.

— Sempre tem uma primeira vez para tudo.

— Você tem razão. — Ele ficou pensativo por uns segundos. — Não
sei nem por onde começar, Melanie. — Continuamos nos encarando. — Eu
não sei usar palavras bonitas, nem ser romântico, mas sei lá, queria ficar de
boa com você, fazer esse casamento dar certo.

— Continua... — pedi, pois precisava ouvir mais dele.

— Queria te pedir desculpas por ter desconfiado de você, eu só


desconfiei naquela hora porque estava com raiva, muita coisa estava
acontecendo, mas eu já sabia que você não tinha feito aquilo, você jamais
faria algo assim, não é do seu caráter.

— E por que não me disse isso logo depois?


— Sei lá, como te falei, nunca precisei dessas coisas, estou
aprendendo nesse casamento tanto quanto você.
— E cadê a Samantha? — Senti o gosto amargo na boca ao falar o
nome dela.

— De volta ao bordel.

— Não vai ficar mais com ela? — Engoli em seco.

— Não. — Meu coração pulou dentro do peito de alegria — Quero


ficar de boa com você no nosso casamento — reafirmou o que havia dito
anteriormente. — Você me odeia muito?
Estreitei os olhos. De onde ele tirou isso?

— Eu não te odeio, Renzo.

Muito pelo contrário…

— Você acha que podemos fazer dar certo?

— Só depende de você.

— De mim?

— Sim. Você acha que consegue melhorar?

— O que você quer que eu melhore?

Opa! Estamos avançando, viu?

— Deixar de ter uma amante já é um bom avanço. — Sorri


abertamente para ele, que me retribuiu com outro sorriso lindo.

— Me desculpa por tudo, Melanie, você nunca mereceu passar por


isso. — Pude ver sinceridade em seus olhos — Eu vivi um inferno sem
você, não sabia o quanto você era importante até não te ter mais aqui
comigo, esses dias foram difíceis. — Suspirou. — Senti falta do seu cheiro,
dos seus cabelos espalhados pela cama e espalhados pela casa também. —
Ri, já sentindo as lágrimas tomarem os meus olhos. — Senti falta de toda a
sua bagunça. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta de alguém
bagunceiro.

Nós dois rimos.

— Nem faço tanta bagunça assim. — Fiz biquinho, defendendo-me.


— Eu senti medo — confessou, bem baixinho, mas eu consegui
ouvir. — Foi a primeira vez na vida que eu senti isso na vida.

— Medo de quê?
Eu queria e precisava ouvir dele.

— De perder você — respondeu olhando em meus olhos e o meu


corpo inteiro tremeu. — Eu não sei o que você fez comigo ruivinha, mas eu
não quero ficar sem você, sem poder te tocar, sem poder sentir seu cheiro,
de ouvir sua risada, de admirá-la em como fica linda quando ruboriza, de
ouvir sua voz que me acalma e me traz paz... Sei que talvez você nunca vai
me perdoar por toda essa merda que fiz, mas eu estou disposto e quero
muito fazer diferente, mudar as coisas, recomeçar ao seu lado. Não te
prometo flores, nem nada muito romântico, porque eu não consigo ser
assim, mas prometo dar o melhor que tem em mim. — Balançou a cabeça
de um lado para o outro, dando um sorriso torto. — Sei que não é muito,
mas perto de você eu me torno uma pessoa melhor, eu sei disso, eu sinto
isso.

Queria gritar para ele que é o suficiente. Meu Deus!

— Você disse que não sabia falar coisas bonitas. — Funguei,


admirada com suas palavras.
— E não sei. O que estou falando aqui não chega nem perto das
coisas que você merece ouvir. Sei que não sou o homem ideal para você,
mas posso tentar chegar pelo menos perto disso.

— Acho que é o suficiente — afirmei, fazendo-me de modesta. No


fundo, bem lá no fundinho, isso era mais que o suficiente, era tudo que eu
precisava.

— Você está falando sério?


— Sim. — Sorri, colocando a mão na minha barriga — Acho que
nosso bebê merece uma família "tranquila". — Fiz aspas com a mão na
parte do tranquila, porque sei que não era para tanto. — E eu também
preciso de um pouco de tranquilidade.

— Acho que nosso bebê vai ter uma mãe maravilhosa. — Renzou
levantou e ajoelhou na minha frente. — Você quer casar comigo, Melanie?
— perguntou, surpreendendo-me novamente.

Não pude conter uma gargalhada.

— Já somos casados.
— Vou repetir minha pergunta e quero ouvir a sua resposta, não
estou falando do casamento arranjado, estou falando de um recomeço. Você
quer casar comigo?

— Quero — respondi de imediato. Eu nem precisava pensar, era


óbvio que eu queria.

— Você é perfeita! — Ele pareceu respirar aliviado com a minha


resposta e beijou-me rapidamente, mas logo o afastei.
— Espera...Você não ficou surpreso quando mencionei o bebê. —
Lembrei-me desse detalhe.
— Roni tinha me contado a história e eu achei os testes no seu
banheiro — explicou.

— Você está feliz?

— Muito! Vamos comprar uma casa, o que você acha? Você pode
decorá-la do jeito que quiser, fazer o quarto do bebê, vai ter quintal e tudo
que você desejar.

Oh, céus! Que homem maravilhoso é esse?

— Eu acho ótimo! — Animei-me com a ideia dele.


— Então vamos comprar uma casa. Mas agora... — Parou de falar,
olhando-me de cima a baixo.

— O que foi?
— Estou morrendo de saudades.

— Eu também estou, mas fiquei sabendo que você está sem dormir,
então precisa descansar.
— Quero você, Mel. — Beijou meus lábios novamente. — Preciso
de você. — Passei as pernas por sua cintura e ele me pegou no colo.

— Eu também quero você — admiti.

Renzo me carregou no colo escadas acima e me levou para o seu


quarto.

Não adiantava eu lutar contra esse casamento, contra esse


sentimento, as coisas aqui não funcionam de maneira fácil. A máfia não era
um conto de fadas. Só de ele querer melhorar já era um avanço e tanto,
estarei ligada a ele para sempre, que pelo menos seja leve.
E para ser bem sincera? Estou cansada, não quero lutar contra nada
mais. Só quero e preciso ser feliz.
— Cazzo, ruivinha, tive tanta saudade desse cheiro gostoso que você
tem — disse, cheirando meu pescoço e me deixando toda arrepiada.

Ele me deitou na cama com cuidado, pegou meus pés e beijou, subiu
distribuindo beijos por todo o meu corpo, sem deixar de me olhar nos olhos.
Eu me sentia venerada. Passou as mãos pela lateral do meu corpo, tirando o
meu vestido. Agora eu estava apenas de calcinha, afinal não tinha muito
costume de usar sutiã, meus peitos eram pequenos, então não fazia questão.

Renzo abocanhou os meus mamilos, chupando-os um de cada vez.


Estava com tesão absurdo e queria gozar apenas com a sua chupada no meu
peito. Acreditava que por conta da gravidez eles estavam mais sensíveis,
pois senti um prazer indescritível quando seus dedos arranharam o bico e
depois os chupou deliciosamente.

Enquanto ele dava atenção aos meus peitos com a boca, sua mão foi
para o meio das minhas pernas. Abri-as, dando-lhe toda a liberdade que
precisava, e dedos começaram a me acariciar por cima da calcinha.
— Eu quero mais, Renzo — supliquei, não estava aguentando mais.

— Calma, mio amore, tudo no seu tempo, sem pressa. — Sorriu,


falando com aquela voz rouca e gostosa que tanto me instigava.
— Não estou aguentando. — ofeguei, apertando o lençol entre os
meus dedos.

— Vou acabar com a sua tortura — avisou e desceu uma trilha


molhada com a sua língua por meu corpo.
Tirou a minha calcinha e abrindo-me com os seus dedos, deslizou a
língua por meu clitóris.
— Ahhhh! — Gemi, desavergonhadamente.

Renzo não teve dó de mim e sugou-me com força, como se quisesse


tomar tudo que eu tenho para oferecer e ainda mais. Sincronizados com a
sua língua habilidosa, seus dedos começaram a me invadir, preenchendo-me
e dando-me mais prazer. Ele entrava e saía com os dedos, enquanto a língua
brincava fervorosamente com o meu clitóris, lambendo-o.
Cheguei ao meu limite e explodi num clímax intenso e arrebatador.
Gritei por seu nome e agarrei os seus cabelos, apertando os fios entre os
meus dedos.

— Deliciosa, minha ruivinha. — Levantei e ele passou a língua


pelos lábios, lambendo qualquer resquício do meu gozo que tenha ficado
por ali. — Preciso de você. — Colocou seu corpo sobre o meu, sem deixar
seu peso cair.

Seu pau pincelou a minha entrada, trazendo de volta a volúpia. Abri-


me bem para recebê-lo e lágrimas preenchem os meus olhos quando me
senti completamente preenchida por ele.

— Aqui é o melhor lugar do mundo — alegou, movimentando-se


devagar, entrando e saindo de forma tortuosa e alucinante.
— Então me faça gozar gostoso mais uma vez — pedi, dominada
pelo tesão.

E assim ele fez, atendendo ao meu pedido, Renzo meteu forte, duro
e fundo em mim. Do jeito que ele gostava, do jeito que me ensinou a gostar.
Nossos corpos balançavam em um vai e vem delirante, sua língua
brincava com a minha enquanto o seu pau me fodia com vigor. Seus lábios
chupavam os meus deliciosamente, enquanto sentia-me melada, pulsando
ao seu redor, esmagando o seu pênis.
— Ah… Melanie… minha ruivinha — gemia rouco contra os meus
lábios.

— Renzo! Oh! Renzo! — choraminguei diversas vezes o seu nome.


Foi intenso, cheio de saudades e desejo, mas também havia
sentimentos, talvez os mais rasos por parte dele, mas ainda sim estavam
presentes e era incrível. Tornava o sexo mais acalorado e gostoso.

Gozei, em um orgasmo poderoso, levando tudo de mim. Mordi o


lábio inferior do meu marido com força e senti o meu próprio gozo escorrer
pelas minhas pernas e molhar a cama. Renzo sorriu e soltando um gemido
gutural, jorrou-se dentro de mim.

Puxei a sua nuca e o beijei com fervor, enquanto sentia seu sêmen
quente inundar a minha boceta. Era incrível!

Ele caiu ao meu lado e nós dois rimos. Estávamos felizes, e agora,
satisfeitos.

— Você prefere menina ou menino? — perguntei quebrando o


silêncio e virando-me de lado para ficar de frente para ele.

— O que vier para mim está ótimo. Você tem preferência?

— Não. Achei que você tivesse preferência.


— Acho que quero uma menina.

Estreitei os olhos. Renzo era uma caixinha de surpresas para mim.


— Menina?
— Por que o espanto? — Riu, fazendo carinho nos meus cabelos.

— Geralmente os homens preferem meninos, principalmente na


máfia.
— Eu prefiro menina, queria outra de você correndo pela casa.

Oh, céus! Como aguentar essa Renzo falando tantas coisas lindas
para mim em tão pouco tempo?
— Para de falar essas coisas bonitas para mim, já sou sensível,
grávida então, fico mais ainda.

— Não estou falando nada demais, apenas a verdade, queria que


fosse uma menininha igual você, mas se for menino está tudo bem também.
— Eu te amo, Renzo! — declarei e foi a vez dele se surpreender.

Eu já não podia guardar mais, precisava falar ou iria explodir. O


amava e não precisava mais esconder ou fingir meus sentimentos.
— Você disse que me ama? — questionou, parecendo incrédulo.

— Sim, eu disse que te amo.

— Você está falando sério?


— Claro que sim. — Sorri, achando sua reação engraçada e fofinha.

— Poxa, ruivinha, faz isso não, eu não mereço tanto não. Você já me
deu uma família e agora o seu amor. Não poderia estar mais feliz, sou um
bastardo de muita sorte mesmo. Você me faz o homem mais feliz desse
mundo. Sou louco, apaixonado por você. Vou te fazer feliz, eu prometo. —
Puxou-me para um beijo ardente, explorando cada cantinho da minha boca
com a sua língua, sugando os meus lábios com fervor.
Nossas bocas eram o encaixe perfeito da paixão.

— Vamos sair para jantar? Uma coisa romântica, dessas que casais
normais fazem? Que tal a gente namorar? Começar do zero? — Afastou
nossos rostos e disparou a falar. Caí na gargalhada. — O quê? É uma ideia
ridícula, né? Esquece isso.

— Não, eu adorei a ideia, só achei engraçado a forma que você


falou — expliquei, não querendo quebrar o clima que estava muito bom. —
Então tá, vamos namorar — concordei e me levantei.
— Você vai aonde?

— Para o meu quarto.


— Seu quarto é aqui comigo. Essa semana vamos escolher a casa
juntos.

— Mas não estamos namorando?


— E o que quê tem? — Arqueou a sobrancelha.

— Mal começamos a namorar e já vamos escolher casa para


morarmos juntos? — brinquei, rindo, e ele pareceu ficar ainda mais
confuso.
— Não entendo bem de namoro não, nunca namorei, como é isso?
Não podemos escolher uma casa, é isso? — Não conseguia parar de rir dele.
— Qual é, Melanie? Vai ficar zombando de mim? — Demonstrou sua
insatisfação com a minha crise de riso.
— Não, amor, só achei engraçado, mas eu adorei a ideia, meu
namorado. — Inclinei o corpo para frente e o beijei.
Era lindo e tão engraçado ver Renzo Caccini querendo consertar as
coisas e fazer nosso casamento dar certo.

— Onde você quer jantar hoje?

— Você quem decide, quero algo romântico — deixei claro a minha


única exigência, eu merecia isso.
— Mas eu não sei fazer essas paradas, você quer velas, flores, essas
coisas?

— Não. Quero as coisas românticas à lá Renzo mesmo.

Meu marido sorriu tão lindamente que meu coração se aqueceu.

— Vamos nos arrumar, então, vou te levar em um lugar legal.


Ele se levantou, dando-me um beijo e depois um tapa estalado na
bunda. Fomos nos arrumar e eu não conseguia tirar aquele sorriso bobo do
rosto, já estava com as bochechas doendo.
Capítulo 33

Melanie Salvatierra

Uma semana… sete dias que estava namorando o Renzo. Só de


pensar nisso tinha vontade de rir. Ele era todo atrapalhado, mas era fofo
demais, o jeito que ele tentava ser carinhoso era engraçado. Ele não levava
jeito, mas estava se esforçando muito. E era o que realmente valia a pena.

Saímos para jantar quase que a semana toda, mas nesses dois
últimos dias não temos saído porque estou passando mal. Sentia uma
vontade absurda de comer e depois colocava tudo para fora. Ele sempre
cuidava de mim, me colocava para tomar banho, fazia alguma coisa leve
para mim comer, deitava comigo e assistia aos meus filmes de romance, ria
quando eu chorava nas cenas, fazia cafuné até eu pegar no sono, sem contar
o sexo que estávamos fazemos todos os dias.

Eu sei que ele gostava de uma pegada mais violenta, embora ele
nunca tenha me falado nada, mas antes de descobrir a gravidez eu percebi
como ele gostava de me deixar marcada, de me dar uns tapas, essas coisas,
agora que estou grávida ele não tem feito mais e eu estou sentindo falta,
mas não sei como dizer isso para ele.

Escolhemos nossa casa também, ela ficava perto da casa de Rocco e


Luara e tinha um jardim enorme, vou poder plantar minhas flores e vai ter
bastante espaço para meu bebê brincar. Sério, eu estou muito feliz, muito
mesmo.
As coisas mudaram bastante em sete dias, chega ser inacreditável.
Até em casa ele tem ficado mais, vem almoçar e sempre chega antes do
jantar, isso todos os dias, e às vezes, ainda aparece aqui de tarde com um
doce que eu gosto. Confesso que estou ficando mal acostumada com esse
novo Renzo e morria de medo de que ele voltasse a ser o antigo. Entretanto,
procurava não ficar pensando nisso, queria curtir e aproveitar esse momento
que estou vivendo.

Estou o esperando para irmos a primeira consulta de pré-natal, ele


fez questão de me acompanhar, mas estava atrasado e vamos acabar
perdendo a consulta.

— Roni? — chamei o meu segurança.

— Sim, senhora? — Atendeu-me de prontidão.

— Renzo deu alguma notícia?

— Não. — Torceu o nariz.

— Você pode me levar na consulta?

— Acho melhor esperarmos.

— Vou acabar perdendo — comentei, chateada com a falta de


compromisso do meu marido.

— Tudo bem, então, vou ligar para o senhor Caccini.

Assenti.

— Tá bom, vou pegar minha bolsa.

Minha chateação era por ele ter combinado uma coisa comigo e não
ter aparecido, mas tá bom, não vou ficar dando importância a essas coisas.
Roni me levou até a clínica, que não ficava longe de onde
morávamos, por isso não me atrasei. E foi indicação da Giovana, mãe do
Renzo. Era uma clínica de confiança da família. Logo após fazer o cadastro
na recepção, não demorou cinco minutos e a médica me chamou.

Levantei e olhei para os lados, com esperança de que ele pudesse ter
chegado, mas nada.

— Tudo bem, senhora Caccini? — A médica me cumprimentou


assim que entrei no consultório e me sentei.

— Melanie, me chame de Melanie, por favor.

Ela se apresentou como Doutora Alessandra e ficamos conversando.


A médica queria me conhecer um pouco melhor, saber mais da descoberta
da minha gestação e assim tornar um vínculo médico e paciente formidável
Receitou-me algumas vitaminas e solicitou alguns exames que toda
gestante deve fazer.

— Agora vamos olhar como está o seu bebezinho.

Chamou para uma sala que ficava em anexo a sua e explicou-me


como o exame iria ser feito. Então tive que ir ao banheiro fazer xixi e como
estava de vestido, precisei retirar apenas a calcinha

Deitei-me na maca e estremeci ao sentir o aparelhinho de ultrassom.


Não doía, mas estava nervosa por saber que veria, pela primeira vez, meu
bebê.

— Boa tarde! — A voz de Renzo preencheu a sala e eu sorri, feliz


por vê-lo ali. — Licença — pediu para a doutora Alessandra. — E
desculpe-me pelo o atraso — falou baixinho no meu ouvido e deu-me um
beijo carinhoso na testa.
— Boa tarde! — A médica sorriu para ele, gentilmente. — Chegou
na hora certa, vamos ver o bebê agora.

Na tela só era possível ver umas imagens borradas na cor cinza e


preta. Apertei a mão de Renzo, angustiada com o silêncio da doutora.

— Está tudo bem? — Decidi perguntar.

— Sim — respondeu com um enorme sorriso. — Bem que eu


desconfiei que a sua barriga estava grandinha demais para o tempo.

Pisquei algumas vezes e um vinco se formou na minha testa.

— Poderia explicar? — Renzo pediu, tão confuso quanto eu.

— Claro, vou mostrar, — Ela deu zoom e apontou com o dedo um


pequeno grãozinho de feijão na tela. Emocionei-me ao vê-lo ali, tão
pequenino. — Esse aqui vamos chamar de bebe número 1, e esse aqui —
Mexeu o aparelho e apontou para outro — , vamos chamá-lo de bebê
número 2.

Meu coração quase saltou pela boca de tão rápido que batia.

— Você está falando que são dois bebês aí dentro? — meu marido
fez a pergunta que eu queria fazer, mas estava sem voz.

— Exatamente, vocês terão dois bebês e serão idênticos, eles estão


na mesma placenta, só não conseguimos ver o sexo ainda por conta do
tempo, mas daqui algumas semanas já vamos conseguir saber.

Eu nem conseguia falar nada de tão emocionada que estava, mas


Renzo sorri para mim e eu retribuí. Fomos presenteados em dobro, estava
tão feliz.
Saímos do consultório depois da doutora passar as últimas
recomendações, pois segundo ela, uma gravidez gemelar é sempre de risco,
então preciso ter cuidado em dobro.

— Desculpa o atraso — Renzo pediu novamente assim que


entramos no carro.

— Tudo bem.

— Tive um imprevisto, mas corri ao máximo para chegar a tempo.

— Pelo menos você veio, isso que importa. — Sorri, pois era
verdade. O que importava era ele ter vindo, isso significou muito para mim.

— Vamos comer? Você deve estar com fome e agora você come por
três. — Lançou-me uma piscadela e eu ri.

— Verdade, vamos comer!

— Quero te entregar uma coisa antes. — Inclinou-se para pegar uma


caixinha no banco de trás do carro e me entregou.

— Um presente para mim? — inquiri, animada.

— Sim.

Abri o embrulho, ansiosa para saber o que era e mais uma vez fui
surpreendida.

— Um celular? — Abri a boca, admirada.

— Sim. Para você poder falar comigo quando quiser, sem ter que
pedir para o Roni. Para você falar com Luara e Alice e até mesmo com seu
irmão. — A parte do Giovanni ele falou entre os dentes. A verdade é que
Renzo só o manteve vivo por causa de mim.
— Obrigada, eu amei! — Inclinei-me para o lado e o abracei,
beijando a sua boca. — Nunca tive um celular antes — falei o que ele já
sabia.

— Eu tomei a liberdade de anotar alguns números na sua agenda,


espero que não se importe.

— Não me importo, obrigada! — Gostava dessa maneira gentil que


ele estava me tratando. — Agora tenho que pensar em um presente para
você também.

— Não precisa.

— Mas namorados se presenteiam, né? Preciso retribuir.

— Você já retribuiu, ganhei dois presentinhos que estão


guardadinhos aí. — Passou a mão na minha barriga, enchendo-me de
felicidade.

— Te amo! — Beijei rapidamente a sua boca e ele riu contra os


meus lábios.

Sei que ele gostava quando eu dizia isso. Em todas as vezes que ele
ficava um pouco mais nervoso ou alterado por alguma razão, eu o abraçava
e dizia que o amava ele mudava completamente, ficando calmo e tranquilo
novamente. Estou amando essa nova fase da minha vida e desejo que ela
permaneça para sempre.

Passamos em um restaurante e comemos uma comida deliciosa, com


direito a sobremesa e tudo, depois fomos para casa.

— Cansada? — perguntou assim que entramos no quarto.

— Não. Por que?


— Olha aí no quarto. — Apontou com a cabeça para a cama, onde
havia uma enorme caixa.

— Outro presente? — Sorrio.

— Abre.

Fiz como ele pediu e encontrei um lindo vestido verde claro, sapatos
de salto médio preto e uma caixinha menor, onde haviam joias, um colar e
um par de brincos de esmeraldas.

— Que lindo, Renzo! — elogiei, encantada. — Vamos aonde?

— Tem uma festa de um conhecido, queria que fosse comigo.

— Quando?

— Hoje de noite. Luara também vai estar lá.

— Eu amei! — Passei os braços em volta do seu pescoço, fiquei na


pontinha do pé e dei um selinho. — Obrigada!

— De nada. — Desceu beijos até o meu pescoço, arrepiando-me


toda. — Já te falei como você ficou ainda mais gostosa depois da gravidez?
— Fiquei nada. — Fiz biquinho.

— Ficou sim, ainda mais linda. — Mordeu meu pescoço e soltei um


gemido.
— Você nem transa comigo igual antes — falei bem baixinho, com
certa vergonha.

— Como assim? — Afastou-se, sentando na beirada da cama e


puxando-me para o seu colo.
— Ah… é que antes você fazia com mais intensidade, entende? —
Ele arqueou uma sobrancelha e fez uma cara de quem queria rir, mas estava
segurando.

— Me explica melhor — pediu, se divertindo às custas do meu


constrangimento.

— Você entendeu, Renzo, está zombando de mim. — Tentei


levantar, mas ele não deixou.
— Não estou, conversa comigo, o que estou fazendo de errado que
não está te agradando na hora do sexo? — Minhas bochechas esquentaram.
— Tá vermelha por que, ruivinha? — Ele riu e eu tentei me levantar de
novo, mas ele continuou me segurando.

— Você está zombando de mim — reclamei novamente, fazendo


cara de zangada.
— Não estou, só quero saber o que estou fazendo que não está te
agradando e como posso agradá-la.

— Eu não falei que você não está me agradando, mas é que antes
você era mais violento, sabe? Você me batia mais e me marcava, eu gostava
disso.

— E porque você está falando baixinho como se alguém além de


mim pudesse te ouvir? — Gargalhou.

— Porque eu fico com vergonha.

— Não precisa ter vergonha de mim, ruivinha. É sexo duro que você
gosta? — Sentia minhas bochechas esquentarem ainda mais com a sua
pergunta. — Eu também gosto, minha gata. Gosto muito, mas fico com
medo de machucar você e os nossos bebezinhos.
— Mas isso não machuca, eu perguntei para a doutora.
— Você o quê? — Renzo deu uma risada tão gostosa e contagiante,
que eu tive que rir junto. — Eu criei um monstrinho, foi? — Levantou-me
pela cintura, como se eu não pesasse nada e colocou-me deitada na cama,
pondo com cuidado o seu corpo sobre o meu. — Então se a médica liberou,
acho que temos um tempinho antes de irmos para a festa — sussurrou no
meu ouvido, esquentando-me por completo e fazendo-me ansiar pelo que
estava por vir.

Sem enrolação, ele tirou o meu vestido e a minha calcinha e se


levantou, despindo-se. Admirei aquela bela visão de homem gostoso
ficando pelado para mim e salivei.
Puxou-me pelas pernas, arrancando-me um grito e colocou-me na
beirada da cama, se ajoelhando na minha frente e levando minhas pernas
para cima dos seus ombros.

Renzo abriu-me por completo e enfiou, literalmente, a cara na


minha boceta e me devorou. Sim, eu fui devorada, sem qualquer delicadeza.
Sua língua chicoteou o meu clitóris, seus dentes morderam-me levemente e
seus lábios sugaram-me vorazmente.

Eu gritei, apertei o lençol, apertei as pernas em volta da cabeça dele,


chamei o seu nome, ofeguei e um clímax incrivelmente prazeroso tomou
conta de mim.

— Renzoooo! Ahhh! — Gozei tão forte que pensei que fosse tudo
que eu pudesse dar a ele neste momento, mas eu estava enganada, meu
marido sempre tirava mais de mim. Com ele, o prazer era sem limites.
Já fui puxada para cima novamente e sua boca agora devorava os
meus mamilos, de um jeito doloroso e bom… muito bom.
Senti sua cabeça robusta brincando com a minha entrada e pouco a
pouco ele me invadiu, alargando-me para recebê-lo. Eu amava essa ardência
que sentia quando estava sendo completamente preenchida por seu pau
grande e duro.

Renzo socou forte e fundo até as suas bolas baterem contra a minha
pélvis.

— Gostosa demais, mio amore — gemeu, fodendo-me com vontade.

— Estava com saudades de você assim — confessei e pude ver o


brilho em seus olhos.

— Você é perfeita para mim — declarou, tomando a minha boca


num beijo quente.

Rolamos na cama, invertendo as posições, mas sem tirá-lo de dentro


de mim. Agora eu estava por cima e enquanto quicava, meus peitos
balançavam, sendo apertados por suas mãos enormes e fortes.

Uma de suas mãos enrolou os meus cabelos e a outra estapeou a


minha bunda com força, deixando-a ardida e, possivelmente, marcada.

— Estamos ficando sem tempo, ruivinha. Quero fodê-la de quatro.

Ele nem precisou pedir duas vezes e eu já estava em pé, debruçada


contra a cama e bem empinada para recebê-lo.

Foi forte e incrível quando ele entrou de uma só vez. Socando uma,
duas, três, quatro… várias vezes bem fundo em mim.
Dentro.

Fora.
Dentro.
Fora.

Era alucinante e eu encontrava-me perdida, suada e ofegante.

— Renzo! Ahhh! Renzo! — Agarrei-me com força ao travesseiro e


gozei, sentindo minhas pernas virarem gelatinas.

Seus braços tiveram que me sustentar para que eu não caísse e senti
seus jatos quentes jorrarem dentro de mim.

— Isso foi incrível! — falei, bastante ofegante e com ele ainda


dentro de mim.

— Você é incrível! — Deixou beijos gostosos nas minhas costas e


saiu, fazendo nosso gozo escorrer por minhas pernas. — Mas agora temos
que nos arrumar para sairmos.

Ele entendeu a mão para mim e juntos fomos para o banheiro.


Tomamos um banho cheio de carícias, mas sem penetração, mas o
suficiente para gozarmos mais uma vez.
Capítulo 34

Melanie Salvatierra

Terminei de me arrumar e fiquei encantada com o que vi no espelho.


O vestido deixou minha barriguinha com um pequeno calombo à mostra e
eu estava apaixonada!

Sempre tive medo de pensar em gestar, minha maior preocupação


era na hora do parto, não queria que acontecesse o mesmo que aconteceu
com minha mãe, mas neste momento, estava tentando deixar esse medo
guardado na gaveta, pois queria viver todas as maravilhas que a
maternidade poderia me trazer. Agora entendia porque minha barriga estava
tão grande, tinha dois bebezinhos aqui dentro, mas isso não é nem metade
de todo o amor que tem meu coração.

— Bellissima, amore mio. — Renzo entrou no quarto, todo lindo


com o seu terno preto feito sob medida.

— Já te falei como você fica sexy falando em italiano? —


Aproximei-me dele, consertando sua gravata que estava torta.

— Você me fascina, estou apaixonado por você. — Puxou-me para


um abraço e sussurrou no meu ouvido.

— Você está falando sério?


— Mais que sério, minha bela ruiva, sou louco por você e agora
pelos nossos bebês.
Meu coração estava bobo, ele ficava batendo descompassado ao
ouvir essas palavras.

— Não vejo a hora de saber o sexo dos bebês — comentei ansiosa,


trocando o assunto sentimental para não ficar ansiosa e borrar a
maquiagem.

— Só no dia em que nascer.

— Como assim? — Apertei os olhos em sua direção. — Você não


quer saber?

— É tradição na nossa família, só sabemos o sexo no dia do


nascimento, enquanto isso temos que fazer nossas apostas.

— Apostas? Não estou entendendo. Eu só vou poder saber no dia do


nascimento? Tá falando sério?

— Estou — respondeu rindo. — A gente aposta dinheiro e agora as


apostas valem por dois.
— Mas eu queria saber agora para poder comprar as coisinhas. —
Fiz biquinho, choramingando.

— Nem adianta fazer esse biquinho gostoso, não tem nem conversa
sobre isso.

— Que saco! — resmunguei, mas logo suspirei convencida. — Mas


se não tem jeito, então tá. A gente pode ir comprando tudo neutro?

— Você acha que é o que?

— Não sei e você? — devolvi a pergunta.

— Estou pensando ainda, preciso apostar certo, é muito dinheiro


envolvido — brincou.
— Eu posso participar também?

— Não, porque mãe sempre sabe.

— Como vou saber, Renzo? — Cruzei os braços, levantando as


sobrancelhas.

— Sei lá, mãe tem essas coisas de sentir… — Balançou os ombros.


— Mas agora vamos, senão vamos nos atrasar.

— Tá bom. — Peguei minha bola, entrelacei minha mão na dele e


descemos.

Retoquei o batom no caminho e conversamos mais um pouco sobre


descobrir o sexo só no nascimento. Renzo me explicou que isso vem desde
antes dele nascer. Luara tinha comentado algo do tipo, mas pensei que fosse
escolha de Rocco e não uma tradição.

Chegamos na festa e o local estava bem decorado. Era uma mansão


enorme, as pessoas estavam bem arrumadas, a música baixa e muita bebida.

— Renzo, que prazer revê-lo em minha casa. — Um homem de


cabelos grisalhos o cumprimentou. — Belíssima esposa — elogiou-me,
olhando para mim da mesma maneira nojenta que Antônio olhou.

Apertei com firmeza a mão de Renzo, deixando evidente o meu


desconforto diante desse homem.

— Leonard, é um prazer estar em sua casa novamente, festa linda


como sempre. — Renzo retribuiu o cumprimento, mas sem sutileza, sua voz
era gélida e o seu olhar demonstrava sua insatisfação. — Sugiro que não
elogie minha esposa novamente, posso me esquecer dos nossos negócios.
— Isso foi uma ameaça? — O tal de Leonard retrucou.
— Foi uma certeza. Elogie minha esposa novamente ou olhe para
ela da forma como olhou e você estará morto.

— Desculpa. — Pareceu estar realmente arrependido ou estaria com


medo? — Sejam bem-vindos. — Deu um aceno de cabeça e se retirou.

— Precisava disso tudo? — perguntei rindo enquanto andávamos


em direção a Luara e Rocco.

— Precisava.

— Amiga. — Luara se levantou e me abraçou, ela estava com um


barrigão lindo, perto de ganhar seu primeiro bebê. — Oi, Renzo.

— Boa noite! — Rocco nos cumprimentou também.

Devolvemos os cumprimentos com educação e eu e Luara ficamos


sentadas conversando sobre o nosso novo assunto favorito: gestação, bebês
e tudo mais que envolvia esse tema.

Nossos maridos foram fazer negócios e foi então que entendemos o


porquê deles quererem vir a uma festa como essa.

— Amiga, vou chamar o Rocco e ir embora, não estou me sentindo


muito bem — Luara avisou, já se levantando.

— O que você tem? — perguntei preocupada.

— Apenas cansaço de final de gravidez, você vai entender como é


logo, o seu ainda vai pesar mais. — Riu.

— Eu vou com você — ofereci-me para acompanhá-la até onde


estava o seu marido.

— Agradeço a gentileza, mas não precisa. Fica à vontade comendo


seus tacos[xxii], que eu sei que você gosta. — Lançou-me uma piscadela.
Assenti sorrindo. Dei a sorte de nessa festa ter uma parte somente de
comida mexicana, claro que os tacos que comia lá no México eram muito
mais saborosos que estes, mas mesmo assim, esses estão gostosos.

Fiquei sentada sozinha, enquanto Renzo deu continuidade ao seu


trabalho. A Alice foi embora para a Alemanha, ela fazia uma falta enorme,
se estivesse aqui, estaria animando esse lugar.

— Boa noite, Melanie! — Levantei a cabeça para olhar quem estava


falando comigo e me deparei com a Samantha. O cabelo estava um pouco
diferente, cortado na altura do ombro e escuro, mas seus olhos continuavam
os mesmos, tão sombrios quanto os de Renzo quando o conheci.

— O que você faz aqui? — Estreitei os olhos, surpresa e


desconfiada por vê-la aqui.

— Renzo me convidou para relembrar os velhos tempos, só não


pensei que ele fosse te chamar também. — Riu.

— Mentirosa!

— Mentira? Então onde está o seu querido marido? — Assim que


ela fez a pergunta, olhei para o lado e não o encontrei, meu coração gelou.
— Daqui a pouco ele deve aparecer, já terminamos o que tínhamos para
fazer — debochou e simplesmente saiu, não me dando nem chance de
retrucar.

Eu vou matar o Renzo, eu juro que vou matá-lo!

Levantei-me nervosa e caminhei em volta do Jardim, procurando-o.


Vi o segurança que está cobrindo a folga de Roni me observar a uma certa
distância, provavelmente nem ele havia reconhecido que aquela era a
Samantha e por isso não a impediu de chegar até a mim.
Como essa mulher entrou aqui?

Não encontrei Renzo e fui para o Jardim, onde havia lindas flores.
Vi o segurança me procurar ao longo, ele era um tanto devagar e seu jeito
perdido me fez rir. Eu estava bem na sua frente, mas mesmo assim ele
continuava olhando para os lados.

— Melanie, o que faz aqui? Por que saiu sozinha? — Escutei a voz
do meu marido e virei-me para encará-lo. — O que aconteceu? Alguém fez
alguma coisa com você? Está se sentindo bem? — perguntou, se
aproximando.
— Você fez comigo, Renzo, você sempre faz comigo.

— O que eu fiz dessa vez? Foi porque te deixei sozinha? Me


desculpa, amor, eu tive que resolver tudo sozinho, Luara não estava se
sentindo bem. — começou a se explicar.

Se fosse em outro momento eu ia achar lindo ele me chamando de


amor, mas agora eu estava com raiva.

— Não estou falando sobre isso. — Cruzei os braços, fazendo birra


igual criança.

— Então é o quê? Não estou entendendo.

— Você trouxe aquela mulher aqui?

— Que mulher? — Levantei as duas sobrancelhas, encarando-o com


frieza. Esse sabia se fazer de sonso, viu?

— Que mulher, Renzo? Quem mais poderia ser?

— A Samantha? — Um vinco se formou entre as suas sobrancelhas


e uma expressão pensativa tomou o seu rosto. — Eu não trouxe ela, eu nem
tenho mais contato com ela. Ela está aqui?

— Ela está e disse que foi você quem a convidou.

— Claro que não. Você acha que eu seria capaz de uma coisa
dessas? Até parece, Melanie! — Ele parecia bem ofendido com a minha
desconfiança. — Eu não sei porque ela estava aqui, provavelmente a
trabalho. Depois dos negócios, eles costumam dar uma festa particular para
os que querem ficar. Não tenho nada a ver com isso e você precisa acreditar
na minha palavra.

Respirei aliviada. No fundo eu sabia que ele não faria isso, mas
mesmo assim tive ciúmes e fiquei nervosa.

— Me desculpa, ela veio falar comigo e eu acabei acreditando.


— O que ela te disse?

— Que vocês estavam... Você sabe. — Não quis falar, pois só de


pensar ficava com nojo. — Estava na cara que era mentira, acabei me
deixando levar pelos ciúmes.
— Tudo bem. — Suas mãos seguraram o meu rosto e nossas
respirações se misturaram. — Você precisa acreditar em mim quando eu
falo que quero só você. Quero fazer nossa família dar certo, meu amor. Eu
te amo!

Pisquei repetidas vezes, paralisada ao ouvir suas últimas palavras. O


mundo parecia girar ao meu redor.

— O que você acabou de falar? — perguntei desacreditada,


precisava ouvir novamente.
— Eu te amo, ruivinha. — Renzo sorriu e me deu um selinho.
— Você está falando sério? — Parecia uma tola insistindo para que
ele reafirmasse o que acabou de dizer, mas meu coração insistia para que eu
ouvisse mais um milhão de vezes dele para que pudesse acreditar.

— Amo você e nossos filhos. — Beijou minha testa e depois a


pontinha do meu nariz. — Eu vou dar um jeito nela, tá bom?

— Tá bom. — O abracei forte. — Eu também te amo!

— Que cena mais linda. — Ouvimos a voz de Samantha e nos


viramos. — Família linda. — Renzo me puxou para trás dele e quando
olhei, me apavorei ao vê-la com uma arma em punho.

— Abaixe essa arma, Samantha.

— Senão o que? Você vai me matar? Não me importo. Eu já morri


quando você me largou por causa dessa vadia — gritou, chamando a
atenção de mais dois seguranças de Renzo que estavam a uma certa
distância e o meu, que estava perdido.

Renzo levantou a mão, fazendo sinal para que eles não fizessem
nada.
— Vamos conversar. — Levou a mão ao coldre, puxando sua arma.

— Se você não vai ficar comigo, não vai ficar com mais ninguém.
Foi a última coisa que ouvi antes de vários disparos serem feitos.
Fechei os olhos, apertando-os com força e abracei o meu próprio corpo,
temendo que pudesse ser atingida.

Senti o corpo de Renzo tombar para trás, batendo contra o meu e


abri os olhos. Samantha já estava no chão e com sangue espalhado em volta
do seu corpo, ela havia sido alvejada várias vezes. Os seguranças estavam
formando uma barreira em volta, para dissipar os curiosos que se
aproximavam naquele momento.

Assim que olhei para Renzo, que estava cambaleando, tentando se


manter de pé, vi o sangue em sua mão. Ele estava pressionando a barriga.

Meu Deus! Ele tomou um tiro.


A constatação fez meu sangue parar de circular e tudo em mim
congelar.

— Não precisa ficar desesperada, está tudo bem — disse ao encarar


os meus olhos arregalados. — Não olha muito para o sangue, você está
ficando pálida.

— Você vai ficar bem, né?

Dois seguranças se aproximaram para segurá-lo.


— Senhor Caccini, iremos levá-lo até o carro — um deles falou.

Ele segurou firme na minha mão e se apoiou a um dos homens.


— Fica aqui do meu lado — pediu.

Eu estava em choque, processando tudo que tinha acabado de


acontecer, mas não sairia do lado dele nem se ele quisesse.

— Eu vou ficar, meu amor, eu vou ficar.

Entrei no banco de trás do carro e ele entrou logo depois de mim,


com muita dificuldade. Apoiou a cabeça no meu ombro e continuou
tentando pressionar a ferida com as mãos.

— Para o hospital de sempre — falou com o segurança, que estava


no banco do motorista.
Era mais um hospital comprado pela família Caccini. Suspeita que
tudo e todos nessa cidade pertenciam a eles.
— Renzo, você levou quantos tiros? — perguntei preocupada ao ver
a quantidade de sangue e ao senti-lo fraco.

— Dois, a vadia me acertou em cheio — respondeu rindo e tossiu,


cuspindo um pouco de sangue.
— Não fala nada, fica quietinho — supliquei, levando minhas mãos
até a sua ferida e tentando fazer pressão, pois ele já estava fraco e não
conseguia. — Dirija mais rápido! — gritei, pedindo ao segurança.

— Melanie… — sussurrou.
— Não, não fala nada. — Colei meus lábios aos seus. — Fica
quietinho. Você vai ficar bem, você precisa ficar bem. — Chorei em
silêncio, murmurando contra os seus lábios, impedindo-o de falar.

Pude senti-lo rir e depois um silêncio apavorante tomou conta do


carro.

— Renzo? — chamei preocupada com o seu silêncio.

— Ruivinha… — Pude sentir a sua respiração pesada e depois


sumiu.

— Renzo! — gritei. — Renzo, fala comigo! — Sacudi seus ombros,


espalhando o sangue que estava nas minhas mãos. — Não faz isso… —
Solucei, o desespero já havia tomado conta de mim. — Fala comigo, por
favor. — Deitei a cabeça no seu peito, não me importando com a
quantidade de sangue que havia ali.

Eu só queria ouvir o seu coração bater acelerado.


— Senhora, chegamos — O segurança avisou. Ele já havia
estacionado o carro e eu nem percebi.
Não queria me afastar, tinha medo de deixá-lo e não senti-lo nunca
mais.

Mas sei que era necessário, então desci do carro e tudo aconteceu
muito rápido. Enfermeiros e médico se aproximaram, levando-o e me
deixando aqui, paralisada, com um choro entalado na garganta e uma dor
surreal no meu peito.
Entrei naquele hospital sentindo minhas pernas flutuarem. Eu vi que
o segurança estava o tempo todo ao meu lado, mas ainda assim, sentia-me
vazia, sozinha.

Uma enfermeira se aproximou, perguntando se eu estava


machucada, pela quantidade de sangue que havia nas minhas mãos, vestido
e rosto. Apenas balancei a cabeça em sinal negativo e continuei andando
sem destino.

Olhava reto, evitando piscar para não desabar.

Acabei sendo levada pelos meus próprios pés para uma capela, onde
entrei e ajoelhei-me, pedindo a Deus que tivesse piedade de mim. Não era
justo, agora que eu estava começando a ser feliz. Eu não poderia aceitar que
o meu destino fosse cruel e sofrido dessa maneira.
O que fiz de tão errado para merecer tamanho sofrimento?

Levantei-me e voltei para aquele corredor branco, gelado e


aterrorizante. A família de Renzo estava lá, a mãe chorando, o pai com a
mesma expressão indecifrável de sempre, Rocco visivelmente desesperado
e Luara correndo para me acolher.
Me informaram que Alice e Enzo estavam a caminho e que meu
marido estaria passando por uma cirurgia, pois a bala havia perfurado o
pulmão.
Eu ouvia tudo que eles falavam. Eu sentia os seus abraços e apertos
de mão acolhedores, mas não era o suficiente para me tranquilizar. Eu
precisava ouvir a voz dele, o timbre forte que me causava arrepios. Os
braços fortes que me acolhiam. As mãos que deixavam o meu corpo quente.

Renzo teria que sobreviver e cumprir tudo, absolutamente tudo que


me prometeu. Ele não pode me deixar e deixar os nossos filhos, eu não
aceitava!

As horas foram torturantes e quando o médico avisou que ele


precisaria de doação de sangue, foi um desespero, pois o pai não poderia
doar por já ter tido hepatite. Rocco não foi compatível e nem a mãe. Eu e
Luara estamos grávidas e não podemos.

Alice e Enzo então apareceram. Ela veio correndo na minha direção,


chorando desesperada.

— O meu irmão… como está o meu irmão?

— Ele precisa de doação de sangue, ainda não achamos ninguém


compatível, mas eu vou encontrar. — Rocco garantiu.

Alice abraçou-me ainda mais apertado e juntas choramos.

— Qual tipo sanguíneo? — Enzo perguntou.

— O negativo — Giovana se manifestou.


— Farei os exames e me coloco à disposição para doar. Sou da
mesma tipagem sanguínea dele. — Assim que Enzo falou isso, meu coração
deu piruetas dentro do peito e pude ver o brilho nos olhos de Alice.
— Obrigada, Enzo! Muito obrigada! — agradeci emocionada.
— Não me agradeça, Melzinha. Isso sairá caro para o seu marido —
brincou, rindo.

— Ouvi algo a respeito de doação de sangue? — Giovanni também


apareceu, perguntando. — Coloco-me à disposição também.

Oh, céus! Não sabia nem como agradecer tamanha benção. Há


segundos atrás tudo parecia perdido e agora encontro-me esperançosa
novamente.
Capítulo 35

Melanie Salvatierra

Um mês se passou e Renzo continuou no hospital. O médico disse


que ele estava respondendo bem ao tratamento, entretanto, continuou na
UTI, em coma, respirando por aparelhos.

Há quase 72h foi feita a extubação[xxiii] e graças a Deus estava tudo


certo, estamos apenas esperando-o acordar.

Esses últimos dias têm sido difíceis, eu ficava mais no hospital do


que em casa, não tenho dormido direito, estava com uns quatro dedos só de
olheiras, sem exagero. Não comia direito também, emagreci e a barriga
cresceu.

Rocco, Enzo, Luara, Alice, Giovanni e os pais de Renzo faziam de


tudo para me ajudar, revezavam comigo no hospital e lá em casa também,
eu nunca ficava sozinha. Até o Roni tem se empenhado em estar ao meu
lado, não tirou nenhuma folga esse mês, mesmo eu insistindo para que ele
vá ficar com a família.
Lua estava quase ganhando o seu bebezinho, por isso ela tem ficado
mais em casa comigo, Rocco não deixava ela ficar no hospital, porque era
difícil esse final de gestação.

Deixei Rocco lá no hospital e vim para casa tomar um banho e


comer.
— Mel, Rocco quer falar com você. — Lua apareceu na porta do
quarto e me estendeu o celular.

— Alô.

— Mel, ele acordou! — contou, sua voz explodindo de alegria, pude


sentir o quanto ele estava aliviado.

Assim como eu.

— Acordou? Renzo acordou? — gritei e pulei, tamanha era a minha


felicidade. — Ele está bem?

— Sim. Um pouco aéreo ainda, mas o médico disse que é normal,


vem para cá.

— Sim, estou indo, obrigada por me ligar. — Devolvi o celular para


Luara assim que ele encerrou a ligação e corri para o closet para pegar uma
roupa, estava apenas de toalha, pois havia acabado de sair do banho.

— Finalmente aquele preguiçoso acordou — Luara comentou,


sorrindo. Ela estava sentada na cadeira que ficava no canto do quarto
enquanto eu vestia minha roupa.

— Nem me fala, esperei ansiosamente por isso. — Peguei a escova


e passei rapidamente nos cabelos.

— Fico muito feliz em ver que vocês estão bem.

— Estamos nos esforçando para isso, agora eu tenho que ir. — Dei
um beijo na sua bochecha e peguei a minha bolsa. — Quer que eu peça
Roni para te deixar em casa?

— Claro que não! — Se levantou. — Eu vou para o hospital


também.
— Tem certeza?

— Sim.

Saímos juntas e Roni nos levou para o hospital, dirigindo o mais


rápido possível, mas com cuidado.

Jurava que o hospital não ficava longe da minha casa, mas dessa vez
demorou uma eternidade para chegarmos lá. Eu já estava agoniada, roendo
as unhas de nervoso.

Até o corredor do hospital pareceu ficar maior. Andava, andava e


nada de chegar até o quarto dele.

Finalmente quando cheguei, parei na porta.

— O que foi, Mel? — Lua perguntou, confusa com a minha atitude.

— E se ele não se lembrar de algumas coisas? E se ele voltar a ser o


Renzo de antes? — Pensar nessa possibilidade era desesperador.

— Calma, Mel, vai dar tudo certo. — Passou as mãos no meu


cabelo, tranquilizando-me.

Abri a porta e encontrei todos da família dentro do quarto, mas não


havia outra coisa mais importante aqui senão aqueles olhos indecifráveis
me encarando.

Engoli em seco e o meu corpo inteiro tremeu. Deus, como eu amava


esse homem!

Tentei segurar as lágrimas, contudo, foi inevitável não chorar ao vê-


lo bem ali na minha frente, acordado e aparentemente bem.

— Mais uma vez, obrigado Enzo e Giovanni — ele agradeceu aos


meninos por terem doado sangue a ele.
Seu timbre de voz parecia mais rouco, mas ainda assim, era ele, era
real. Renzo acordou e estava na minha frente, conversando e ao ouvir a voz
dele, agora tenho certeza que é real, ele voltou.

— De nada, chefe. — Giovanni deu um breve aceno de cabeça para


ele, beijou o topo da minha cabeça e saiu do quarto.

— Não me agradeça, irei cobrar esse favor eternamente — Enzo


falou com o seu jeito brincalhão e meu marido riu.

Que saudades desse sorriso.

Aos poucos todos foram se despedindo dele e saindo do quarto,


deixando-nos a sós.

Ensaiei tantas coisas para quando esse dia chegasse e agora me


encontrava aqui, sem saber o que fazer.

— Vem cá — chamou-me, com um pequeno sorriso no canto da


boca. — Deita aqui pertinho de mim. — Não hesitei, caminhei até ele e fiz
o que pediu.

Senti o seu cheiro foi um alívio para a minha alma. Quando seus
braços me puxam para um abraço e ouvi as batidas do seu coração, desabei
em choro. Um choro que ao mesmo tempo era doloroso por conta da
saudade, e feliz pela alegria de tê-lo de volta para mim.

— Eu quase morri de saudades, não faz mais isso comigo —


murmurei baixinho.

— Eu também, mio amore. — Segurou meu queixo, levantando o


meu rosto que estava enterrado em seu peito e fazendo-me olhar em seus
olhos. — Você está ainda mais linda.

— Estou nada, seu mentiroso. — Sorri.


— Está sim, só precisa se alimentar melhor, porque está bem
magrinha. Esses bebês estão sugando a mamãe, é? — Afundou o rosto nos
meus cabelos, sorvendo o meu cheiro.

— Estão, mas um pouco é culpa sua que demorou para acordar.

— Desculpa, não quero perder mais nem um segundo das nossas


vidas — afirmou, olhando-me nos olhos. — Agora nada mais nos impede
de ficarmos juntos e construir uma família feliz. — Deu-me um selinho. Foi
eletrizante sentir os seus lábios nos meus novamente, mesmo que tão
rapidamente. — Eu te amo, ruivinha, obrigado por tudo!

— Eu também te amo.

Abracei-o novamente e ficamos assim por um bom tempo,


agarradinhos e em completo silêncio. Nos afastamos quando o médico
entrou para examiná-lo novamente. Renzo estava ansioso querendo saber
quando poderia ir embora e o médico garantiu que se ele continuasse se
recuperando bem, em breve iria.

— Vamos viajar? — ele perguntou do nada.

— Viajar?

— Sim. Umas férias nós quatro, para poder descansar um pouco a


mente, você está precisando de um pouco de paz e descanso.

Não podia discordar dele, estava precisando mesmo.

— Acho ótimo, mas isso tem que ser depois que o bebê de Luara e
Rocco nascer.
— Com certeza, preciso ver meu sobrinho ou sobrinha nascer
primeiro — concordou comigo. Renzo era muito apaixonado pelo irmão,
isso era evidente.
— Então depois a gente viaja. Vamos para onde?

— Não sei. Você prefere calor ou frio?

— Calor, quero praia. — Não precisei nem pensar muito para


responder.

— Então vamos para a praia. — Deu-me outro selinho. — Estou


com saudades de fazer um amor gostoso com você.

— Amor, é? — Ri. — Achei que a gente não fazia amor.

— Se a gente se ama é claro que fazemos amor.

— Você está duro, Renzo? — Estreitei os olhos questionando. Posso


senti-lo pulsar na minha barriga.

— Feito rocha — respondeu rindo.

— Você acabou de acordar, sossega, homem.

— Primeira coisa que vou fazer quando a gente chegar em casa é


foder gostoso com você. — Engoli seco e apertei as coxas, tentando
controlar o tesão que começava a me tomar. — Ficou toda molhadinha, né,
sua safada? — Deu um tapa estalado na minha bunda e gargalhou. —
Podemos resolver isso agora, ruivinha.

— Fica quieto, Renzo. Não começa com essas coisas — o repreendi,


sentindo minhas bochechas esquentarem.

— Acho lindo a forma como você tem vergonha do seu marido.


— Estava com saudades de ver esse sorriso — confessei, admirando
o seu rosto.

— Eu estou com saudades de tudo em você, ruivinha, mas tem uma


coisa que eu nunca vou perdoar vocês.
— O quê? — perguntei curiosa.

— Como vocês tiveram a coragem de me deixar receber sangue do


Enzo? Você tem noção do quanto eu já escutei e do quanto vou escutar pelo
resto da minha vida? Segundo ele, agora somos irmãos, eu não mereço
tanto castigo assim.

Gargalhei, pois era engraçado o seu desespero ao saber que agora


teria Enzo no seu pé, fazendo várias piadinhas.
— Enzo é uma boa pessoa — admiti. Gostava do Capo alemão e
teria uma gratidão eterna com ele, assim como Giovanni, por ter ajudado
meu marido quando ele mais precisou.

— É sim, mas se você contar para alguém que eu disse isso, eu te


mato, ruivinha.
Rimos bastante, lembrando das coisas que Enzo falava e
continuamos deitados.

Conversamos também sobre a nossa família e ele me pediu para o


deixar a par de tudo que aconteceu enquanto ele estava desacordado.
Capítulo 36

Renzo Caccini

Estou de volta em casa e tudo estava indo bem. Estive frente a frente
com a morte pela primeira vez e podia dizer que não era uma boa
experiência. Agora conseguia compreender o pânico que as minhas vítimas
sentiam ao me ver. Já sabiam que eu chegava trazendo a morte e que não
tinha outra saída.
Foi assim que me encontrei quando estava em coma, como se eu
estivesse lutando com a morte e ela fosse me vencer, mas graças a uma
força maior, minha família e minha esposa, estou vivo e bem.
Meu maior castigo por ter ficado vivo foi ter recebido a doação de
sangue de Enzo. Ele me atormentava tanto com isso, em todas as ocasiões
possíveis. Até mensagem aquele idiota me mandava.

Todo santo dia eu tinha que aguentar uma nova piadinha dele no
grupo da família. Já não entendia porque inventaram esse grupo, entendia
muito menos o motivo de terem adicionado aquele babaca agregado.
Nessa vida nada saia de graça e o preço que eu estava pagando era
enorme. Enzo era uma pedra no meu sapato.

Melanie é uma mulher maravilhosa. O tempo todo em que fiquei


desacordado só conseguia lembrar dela e sentir o seu cheiro. É como se ela
fosse o meu lar.
Demorei para perceber que a amava, eu nunca tive esse sentimento
antes, então era difícil para mim acreditar que isso pudesse realmente estar
acontecendo. O amor era uma coisa em que eu não acreditava, ou melhor,
não queria acreditar. A maior fraqueza de um homem como eu, que vive
uma vida perigosa, se encontra aí: no amor, na família. Hoje eu sou um
homem vulnerável. Minha mulher e meus filhos são os bens mais preciosos
do mundo para mim, mato e morro por eles.

Logo depois que saí do hospital, Luigi, meu sobrinho, nasceu, lindo
e saudável. Rocco e Luara estavam radiantes e eu e Mel também, afinal
somos os padrinhos do pequeno e ficamos muito felizes com esse presente.
Desejo vida longa para o meu sobrinho e muito amor para meu irmão e
minha cunhada.

Não via a hora dos meus nascerem também, mas ainda faltava um
pouquinho.

Agora nada mais nos impedia de viajarmos. Minha ruivinha já


conversou com a médica dela, que liberou a viagem, só não podemos ir para
um lugar muito longe, pois ela já estava com uma barriguinha bem
grandinha. E posso falar? A coisa mais linda que já vi. Minha mulher estava
linda demais, ficava encantado toda vez que olhava para ela, certeza que me
apaixonava um pouquinho mais a cada segundo.

Não era um cara muito romântico, era difícil para mim falar tudo
isso que estou pensando para ela, mas sei que ela sabe, não precisamos de
muitas palavras, a gente sente e sei que isso basta.

Claro que reforço todos os dias o meu amor por ela, é sempre bom
dizer. Eu achei que por ser mais velho, mais vivido, ia ensiná-la muitas
coisas, mas estava enganado, minha ruivinha é quem me ensinou, sem ela,
não me tornaria esse homem que sou hoje.
Não deixei de ser o Renzo mafioso, muito menos a morte, como
muitos me chamam, ainda sou o mesmo, mas da porta para fora. Quando
abro aquela porta e entro na minha casa, eu me torno apenas o Renzo
marido da Melanie, nada além disso.

Aprendi com minha ruivinha que amar e ser amado é gostoso


demais. Hoje posso dizer com convicção que sou um homem completo e
feliz, se eu soubesse que viver assim era tão bom, não tinha feito tanta
merda nessa vida e muito menos no meu casamento, mas enfim, vivendo e
aprendendo sempre.

— Amor, estou pronta. — Minha ruivinha desceu as escadas,


mostrando-se linda como sempre. — Acho que Roni já levou tudo para o
carro — comentou animada.
— Então vamos. — Entrelacei meus dedos aos seus, havia se
tornado uma das coisas que eu mais gostava de fazer com ela, andar de
mãos dadas. — Pronta para as férias? — perguntei ao abrir a porta de casa.

— Mais que pronta!

Outra coisa que aprendi sobre a minha ruivinha é que ela adorava
sair, viajar, ela tinha sede de conhecer o mundo e eu vou realizar seus
sonhos e desejos. Todos eles, sem exceção.

Não tinha como não amar essa menina, ela era linda, doce, gentil…
Queria conseguir falar para ela tudo que pensava dela, mas não encontraria
palavras suficientes para descrevê-la. Essa mulher cuidou de mim em todas
as vezes que precisei, sem reclamar. Esteve ao meu lado e acreditou em
mim, quando nem eu mesmo acreditava. Como não amá-la? Impossível!
— Estou ansiosa para colocar minha barriga no sol. — Sorriu,
batendo palmas, entusiasmada.
— Vai ficar ainda mais linda bronzeada. — Abracei-a apertado antes
de dar partida no carro.

Estamos indo para Spiaggia dei Conigli[xxiv], pretendia ficar lá por


uma semana e preparar uma surpresa para minha ruivinha, ela merecia essa
paz, essa felicidade e eu preciso oferecer tudo de melhor para ela. Minha
maior recompensa sem dúvidas é quando a vejo sorrindo.

Eu sei que estou agindo feito um bobo apaixonado, mas hoje


consigo entender o Rocco, é o que eu realmente eu sou, um bobo
apaixonado por essa mulher. Antes eu zombava do meu irmão por ele estar
de quatro por sua esposa e fazer todas as suas vontades. Olha que ironia,
hoje me encontro no mesmo lugar, e quer saber de uma coisa? Estou
amando essa nova vida, essa nova fase, esse novo eu que sou quando estou
ao lado dela.

Melanie, sem dúvidas é a luz em toda essa escuridão que era minha
vida.
Capítulo 37

Melanie Salvatierra

Espreguicei-me, abrindo os meus olhos, e percebi que o meu marido


não estava na cama. Levantei e peguei a sua camisa que estava em cima da
cadeira, vestindo-a, e fui para onde sabia exatamente onde encontrá-lo.

Encostei-me no cantinho da porta e fiquei observando-o nadar na


piscina. Estávamos em um hotel maravilhoso, de frente para a praia e tinha
uma piscina enorme na varanda, Renzo gostava de ficar aqui para fumar.
Ele já havia diminuído bastante o tabaco quando descobriu a minha
gravidez e depois que acordou do coma, ele reduziu ainda mais.

Ele nadava de um lado para o outro, dando-me a visão de suas


costas largas e braços grandes, ambos consumidos pelas tatuagens.

Abri um sorrisinho safado ao sentir-me excitada apenas em ver esse


grande gostoso, que era o meu marido, nadar. Se eu não estivesse grávida,
com toda certeza teria ficado durante essa viagem, afinal parecemos dois
coelhos, saímos poucas vezes do hotel, acreditem se quiser, ficamos mais
aqui juntinhos e vamos à praia de manhã. Até na hora das refeições só umas
duas vezes que saímos para jantar fora, mas acho que gosto mais desses
nossos momentos a dois, em que tudo começa com muito carinho e termina
com um sexo louco e delicioso.

Quando que eu me imaginei viver isso? Entrei nesse casamento


pensando que viveria o resto da minha vida em um inferno e olha eu aqui
sendo feliz. Claro que nem tudo é perfeito, nós não somos perfeitos, meu
relacionamento não é perfeito, mas estamos tentando fazer com que dê
certo e estamos nos esforçando muito. Eu quero ser feliz, mereço ser feliz e
farei por onde para ter a felicidade constantemente na minha vida.
Eu amo meu marido e sei que ele me ama, temos força de vontade
para construir uma história bonita e sei que vamos conseguir.

Alisei a minha barriga, pensando em como era abençoada. Passei


por coisas difíceis, eu sofri muito, não posso negar, comi literalmente o pão
que o diabo amassou. Primeiro eu perdi o meu pai, que para mim foi a dor
mais dolorosa que já senti. José é e sempre será meu pai, um laço sanguíneo
nunca vai ser maior que laços de amor.

Acreditava que todo esse sofrimento veio para me tornar uma


pessoa mais forte e madura. Às vezes, sentia como se eu tivesse vivido uns
cinquenta anos. Se eu olhar para a Melanie de alguns meses atrás e olhar
para a Melanie de hoje, a mudança será evidente. Já não era tão frágil como
antes, mas ainda assim era a mesma doce Mel de sempre. Meu pai sempre
teve razão, por mais difícil que seja, não podemos perder nossa essência.

Renzo saiu da piscina, ainda de costas para mim, acendeu um


cigarro e bebeu o uísque que estava em seu copo.

Nesse tempo pude conhecer muito sobre meu marido, a primeira


coisa era que ele não dormia, isso mesmo, ele deitava e ficava pouquíssimo
tempo deitado, mas ele não dormia, porque a cada movimento que a gente
faz, ele acorda. A segunda coisa é que ele não conseguia largar seu cigarro e
seu velho uísque, mas isso não me incomodava, aprendi a gostar dele de
todos os jeitos. A terceira coisa é que ele se esforçava muito para ser um
bom marido, vivia lutando uma luta interna contra ele mesmo, entre ser
carinhoso e ignorante. Tenho ficado feliz que o lado carinhoso esteja
vencendo. A quarta coisa é que ele era incansável e insaciável, gostava de
um sexo quente e violento — devo confessar que também estava viciada.

— Vai ficar ai parada até que horas? — perguntou, ainda sem se


virar para me olhar.

A quinta coisa e não menos importante é que ele sempre sabia


quando tinha alguém por perto, nunca conseguia chegar de surpresa.

— Estava só apreciando a vista maravilhosa. — Caminhei até ele,


que se virou para mim, apagando o cigarro.

— Você fica ainda mais maravilhosa com minha camisa, ela te cai
muito bem. — Passou as mãos molhadas por minha cintura. — Aliás, tudo
em você cai muito bem. — Beijou o meu pescoço, arrepiando-me.

— Desse jeito me apaixono ainda mais — brinquei.

— A intenção é sempre essa. — Ele sorriu. Caramba, já falei quanto


eu amo vê-lo sorrir? — Vamos tomar um banho de piscina comigo?

— Banho, é? — Minha voz soou mais maliciosa do que o esperado.

— Estava pensando em algo mais quente na piscina — sussurrou


baixinho em meu ouvido. — Pensei em você sentadinha na beirada
enquanto eu te chupo bem gostoso. — Desceu a mão até o meio das minhas
pernas e eu as abri, dando passagem para ele me acariciar por cima da
calcinha. Gemi contra os seus lábios. — Depois de você ter gozado bem
gostoso, eu pensei que podia te comer dentro da piscina até você não
aguentar mais.

Ofeguei, estava quase gozando só de ouvi-lo falar.


— Acho que eu aceito essa sua proposta irrecusável.
Choraminguei, perto, muito perto de gozar.

— Nada disso. — Ele parou, frustrando-me e o encarei seriamente.


— Quero você gozando mais de uma vez na minha boca. — Puxou a
camisa e eu levantei os braços para que ele pudesse tirá-la.

Depois fomos para a piscina, já estava ansiando por tudo que ele
havia prometido.

Depois de vários orgasmos intensos, acabei pegando no sono e


como de costume, quando acordei, Renzo não estava na cama.

Levantei e fui para o banheiro tomar banho, mas me assustei assim


que saí do banheiro e encontrei uma mulher no meu quarto.

— Quem é você?

— Me chamo Carlota e o Senhor Renzo pediu que eu viesse para


ajudá-la, desculpe-me pelo susto — disse educadamente.

— Tudo bem. — A mulher era uma senhora com pouco mais de


cinquenta anos e provavelmente não me faria nenhum mal, além do mais,
Renzo quem a mandou, né? — Mas vou me arrumar para o quê?

— Não posso falar, Senhora. — Sorriu.


— Melanie — falei e ela me olhou confusa. — Meu nome é
Melanie, pode me chamar pelo nome ou de Mel, nada de senhora, por favor.
— Retribui o sorriso gentil dela.

— Tudo bem, Melanie. Terei que te vendar assim que sairmos


daqui.

— O quê? Não! — Como podia confiar em alguém assim? Aí já era


demais.

— Terá que confiar em mim. Atenda o seu telefone, por favor, é o


Senhor Renzo.

Nem havia percebido que o meu celular estava tocando, mas corri
para atendê-lo.

— Oi, mio amore.

— Cadê você? Tem uma moça aqui, ela disse que foi você quem
mandou, ela vai me vendar, Renzo — disse essa parte baixinho, como se a
mulher não fosse escutar e ele riu.

— Tudo bem, pode confiar na Carlota.

— Por que tudo isso?

— Apenas confie em mim.

Respirei fundo.

— Tá bom. — Nos despedimos e encerramos a ligação. Virei-me


para a senhora. — Desculpe-me por isso, Carlota, é que já passei por tantas
coisas que não sei em quem posso confiar.
— Tudo bem, Senh... — Estreitei os olhos para ela. — Melanie. —
Ela riu e eu também — Vamos nos arrumar?
— Vamos — respondi ansiosa para saber o que ele estava
aprontando.
Ela me deu uma lingerie branca e um vestido branco, daqueles
longos, simples, mas bonito, bem praiano. Passou em mim uma maquiagem
bem clarinha e na cabeça colocou uma coroa de flores.

Pensei que Renzo poderia estar preparando um jantar romântico ou


então que faremos algumas fotos na praia. Só sei que eu estava adorando
toda essa surpresa.

— Está linda, Mel — elogiou Carlota.

— Obrigada! — Sorri, gostando do que estava vendo no espelho.

— Licença, vou colocar essa venda em você. — Mostrou-me o pano


e eu assenti. — Andaremos bem devagar para não corrermos riscos, tudo
bem?

— Certo. Vou colocar algum sapato?

— Não, será descalça mesmo.

— Tudo bem. — Já imaginava por ser look praia.

Andamos bem devagar e senti os meus pés afundarem na areia e um


vento gelado bater contra o meu rosto.

— Chegamos? — indaguei, não me aguentando de curiosidade.

— Quase — avisou e andamos mais um pouquinho. — Agora


chegamos. — Ela retirou a minha venda.

Abri os olhos e não pude acreditar no que estava vendo. Tinha flores
por todo o caminho e um pequeno altar montado de frente para o mar, onde
meu marido me esperava.
Sorri e chorei ao mesmo tempo diante dessa cena linda de
casamento. Pisquei algumas vezes, ainda não acreditando que ele havia
feito tudo isso para mim.

Nossos olhares se encontraram e ele sorriu, chamando-me. Embora


minhas pernas estivessem trêmulas, forcei-as a irem em sua direção.

— Quando eu acho que você não pode ficar ainda mais linda, você
vai lá e me surpreende — elogiou-me assim que me aproximei.
— Obrigada! — Funguei, sou mesmo uma manteiga derretida. —
Você está lindo! — Ele enxugou minhas lágrimas com os seus dedos. — O
que é isso tudo?

— Você disse que se casaria comigo e aqui estou eu, me casando


com você novamente.
— Por que você faz essas coisas? — Eu não sabia se sorria ou se
chorava.

— Porque eu te amo e porque você merece.


— Você disse que não sabia ser romântico, seu mentiroso. — Dei
um tapa no seu braço e ele riu. — Eu também te amo muito. — Fiquei na
pontinha dos pés, segurei sua camisa e o beijei apaixonadamente.

— Calma, o beijo é só depois do sim. — Afastou nossas bocas,


brincando.

— Vamos nos casar pela segunda vez? Cadê o juiz?


— Só eu e você... Quer dizer, eu, você, nossos filhos, o céu e o mar
como testemunhas.

Meu Deus! Esse homem… o meu homem… ah! ele é incrível!


— Não poderia ser mais perfeito — concordei, pois aqui estava tudo
que eu queria.

— Prometo te amar, te respeitar, ser fiel, cuidar e te proteger. Amar


e proteger nossos filhos. Ser melhor como marido. Prometo colocar o
mundo aos seus pés. Não posso prometer que mudarei da água para o vinho,
infelizmente não sou perfeito, mas eu prometo que tentarei ser o melhor
para você, sempre. Prometo que daqui para frente eu pretendo te fazer
chorar só de alegria, no que depender de mim, tristeza nunca mais. Você
merece o mundo, minha doce Mel. — Tirou um lenço do bolso da sua
camisa e estendeu para mim, sorrindo, enquanto as minhas lágrimas não
paravam de rolar. — Obrigado por me salvar, por me amar e por acreditar
em mim. Eu te devo a minha vida. Você me salvou de mim mesmo e eu
nunca poderei retribuir. Você aceita se casar comigo? Seja minha esposa
para sempre? — Abriu uma caixinha revelando uma pequena aliança, linda
e toda delicada.

— Sim, meu amor. — Minha voz estava embargada pelo choro. —


Eu diria sim para você quantas vezes fosse necessário. — Ele deslizou a
aliança no meu dedo, ela é tão fininha que ficava linda junto a aliança do
nosso primeiro casamento.

— Eu prometo te amar, te respeitar, ser fiel, carinhosa, prometo ser


uma boa mãe para os nossos filhos, prometo ser uma boa esposa, te ajudar
no que for necessário e estar sempre ao seu lado. Prometo nunca soltar a sua
mão e jamais permitir que a escuridão volte para a sua vida. Obrigada por
acreditar no nosso amor, por mudar pela nossa família, hoje eu sou a mulher
mais feliz desse mundo. — Deslizei a aliança também no dedo dele —
Obrigada por isso hoje, cada dia que passa eu te amo mais e mais e me
torno mais feliz. Eu amo nossa família e tudo que estamos construindo
juntos.

— Uma vida toda é muito pouco para eu te amar, ruivinha. —


Abraçou-me, tirando-me do chão e me beijou com amor.

Éramos a cura um do outro. Nosso recomeço.


Em pensamentos eu só sabia agradecer: Obrigada, papai!
Epílogo

Melanie Salvatierra

Meses depois…

Estou parada na porta observando Renzo brincar com as crianças.


Eu sei que ele notou que estou aqui, ele sempre sabe, mas como também
sabe que eu gosto de admirar a minha família, ele não se importa, continuou
brincando como se não tivesse ninguém olhando.
Tenho muito orgulho da família linda que construímos. É tudo tão
nosso, que caramba, é lindo demais! Não tinha como explicar, só nós dois
sabemos a importância de todo tijolinho que colocamos no nosso
relacionamento, dia após dia Isso mesmo, é uma construção, eternamente, a
melhor construção da minha vida.

Ele era um ótimo pai, bom marido e um excelente homem. Não me


importava o que ele fazia da porta para fora de casa, o importante é como
ele era aqui dentro.

Eu o amo tanto!

Voltei as minhas lembranças para o dia mais importante da minha


vida:

— Tem certeza que você está bem para sair, amor? — Renzo
perguntou preocupado.

— Tenho sim.
Estou no final da minha gestação e a doutora informou que a
qualquer momento posso entrar em trabalho de parto, caso isso não
aconteça, no início da semana que vem faremos o parto. Estou que não
aguento de ansiedade.

Chegamos na casa dos pais de Renzo, hoje eles estão completando


sessenta anos de casados e todo ano é uma festa, eu acho lindo esse amor
deles.

Passei a festa toda encantada com o pequeno Luigi, lindo demais e


carismático, isso com toda certeza ele puxou de Luara, mas se parece com
o pai, mas não totalmente, seus olhos e alguns traços também lembram ela,
ele é uma misturinha.

Pego-me pensando se os meus filhos nascerão parecidos comigo ou


com Renzo.

Minha barriga está tão pesada que sinto vontade de fazer xixi toda
hora, fora que a dor nas costas está me matando.

— Tudo bem, amiga? — Luara perguntou.

— Tudo, só preciso ir ao banheiro. — Levantei e senti a água


escorrer pelas minhas pernas.

— Sua bolsa estourou! — Luara exclamou, fazendo uma cara


engraçada.

— Pelo amor de Deus, não faz escândalo — pedi. — Renzo vai dar
o maior chilique.

— Renzo! — Luara gritou, ignorando o meu pedido e ele veio


correndo. — A bolsa dela estourou.
— Como assim estourou? — questionou com uma cara de espanto e
minha única reação foi rir. — Por que você está rindo? O que aconteceu?
Sente dor?

— Não, Renzo, estou rindo da cara de todos vocês. Vamos para o


hospital, ligue para a médica.

— Vai nascer? Hoje? — Enzo precisou dar um leve tapa na cabeça


do meu marido para ele acordar.

— Não, vai nascer daqui quinze dias. Acorda, bestalhão, seus filhos
vão nascer. — O Capo alemão respondeu o óbvio e todos riram. — Eu
dirijo, você não está em condições. — Pegou a chave da mão de Renzo. —
Bora para o hospital, galera, hoje chega ao mundo mais dois integrantes
da família e eu estou pronto para ganhar dinheiro. Vem meninos! — gritou
sua aposta, animado.

— Você sabe que teremos que dividir essa, não é? — Luara falou. —
Também apostei em meninos.

Renzo me pegou no colo e me levou com cuidado para o carro,


enquanto Enzo dirigiu. Alice veio também, estava sentada no banco do
carona.

— Também apostei em menino, na verdade, quase todo mundo


apostou, que raiva, terei que dividir o dinheiro — Alice resmungou.

— Você apostou o quê? — perguntei para Renzo.

— Adivinha? — Ele riu e eu já imaginei.

— Ele, meu irmão e minha mãe apostaram que são meninas — Alice
só me confirmou o que já sabia.
Chegamos no hospital o mais rápido possível, estão todos aqui,
minha família. Queria muito que meu pai estivesse aqui também, mas seja
lá onde ele estiver, sei que está muito feliz por mim. Meu irmão também
está vindo para cá.

— Vai dar tudo certo, estarei ao seu lado. — Renzo segurou na


minha mão, tentando me acalmar, ele sabia como eu tinha medo desse
momento.

Nos preparamos e entramos no centro cirúrgico. Tomei a anestesia


e a sensação que tenho é que estou indo para a morte, credo! Não consegui
evitar o choro, me emociono só em saber que irei conhecer meus amores.

Após alguns minutinhos, escutamos um choro alto e forte, nasceu...


Escutamos outro chorinho, esse mais calmo... Meus filhos, meus filhos
nasceram. Não contenho as lágrimas.

— Aqui estão, papai, são duas princesinhas lindas. — A médica


entregou uma para Renzo e a enfermeira colocou a outra perto de mim.

— São meninas, amor — falei emocionada.

— Sim, minha rainha, lindas principessas[xxv]. — Encarei os seus


olhos e pela primeira vez, o vi chorar. — Amo vocês! — Se declarou e me
beijou.
Depois do parto, tive que ficar um tempo em observação antes de
descer para o quarto, mas estava louca para pegar minhas filhas no colo.
Graças a Deus a médica apareceu pouco tempo depois e me liberou para ir
ao quarto.

Quando cheguei lá, ele estava babando nas nossas princesinhas.

A enfermeira entrou e auxiliou-me com a amamentação. Era difícil


alimentar duas criancinhas famintas.

— Obrigado por tudo isso, meu amor. — Renzo me beijou


apaixonadamente, enquanto nossas pequenas mamavam. — Vocês são
lindas demais! Que sortudo eu sou! — Admirou o momento.

Uma de nossas princesas soltou o peito e chorou.

— Essa aqui é mais nervosa, parece mais comigo. — Ele a pegou no


colo, colocando-a para arrotar. — Essa se chamará Beatriz. — Sorri,
satisfeita com a escolha do nome.

— Gostei do nome.

— Essa aqui é mais calminha, se parece com você. — Acariciou a


careca da nossa filha que ainda mamava. — Essa é a Bianca.

— Eu adorei os nomes.

— Você é a melhor coisa que já me aconteceu na vida, não consigo


explicar o que estou sentindo, só sei que é grande demais esse sentimento.
Não estou me aguentando de tanta felicidade.

— Te amo! — declarei-me. Apaixonada era muito pouco para


descrever o que eu sentia por minha família.
A porta se abriu e a turma do barulho entrou. Estavam todos aqui,
até meu irmão.
As bebês já haviam arrotado e Bianca estava dormindo no meu
colo, enquanto Beatriz estava acordada no colo do pai.

— Eu não acredito que perdi essa aposta — Alice comentou


chateada.

— Eu sabia, irmão — Rocco disse, abraçando Renzo. — Lindas,


parabéns para vocês dois. Temos que comprar mais armas, hein?

— Com toda certeza — Renzo confirmou e eu revirei os olhos.


Todos nos parabenizaram.

— Não acredito — Enzo praticamente entrou gritando e todo mundo


o olhou, sem entender. — Melzinha tão bonita e elas tinham que nascer
logo a cara desse bastardo? Isso não vale.

Ri baixinho.

— Pare de elogiar minha mulher, seu idiota, esqueço que você é o


marido da minha irmã e quebro a sua cara — Renzo rebateu.

Agora pronto, começou a implicância.

— Você não pode quebrar minha cara, somos irmãos. — Todos


riram, até Renzo. Esse homem é uma figura.

E só de lembrar desse dia, já me emocionei. Admirei o meu homem


tão mudado, minhas filhas já prestes a fazer um aninho, é, a vida passa
rápido, temos que aproveitar todos os momentos.
— Vamos chamar a mamãe para brincar? — meu marido propôs
animado e as meninas deram um gritinho quando me viram.

— Mamma, mamma. — Estenderam os bracinhos gordinhos para


mim.

— Oi, meus amores. — Sentei-me no chão ao lado deles.

Brincamos bastante, colocamos as meninas para dormir e descemos


para Renzo fazer a janta. Sim, eu ainda não sabia cozinhar muito bem,
melhorei bastante, mas ainda sim prefiro a comida dele. Enquanto ele
cozinhava, eu fiquei andando pelo quintal da minha casa e agradecendo a
Deus por tudo que tenho hoje. Sou muito abençoada.

— Pensando na vida, mio amore? — Virei-me para olhá-lo, que


estava estampando um sorriso lindo no rosto… o sorriso do amor da minha
vida.

— Só pensando em como sou abençoada por ter vocês na minha


vida.

— Nós que temos sorte por ter uma mulher incrível como você. —
Abraçou-me apertado. E sei que aqui, nos braços do meu homem, é o
melhor lugar do mundo.

— Tenho uma surpresa para você.

— Uma surpresa, é? — Balancei a cabeça em sinal positivo. — O


que é?

— Tá guardadinha e só vai chegar daqui uns meses. — Levei a sua


mão na minha barriga.
Em um primeiro momento ele arregalou os olhos, surpreso, e depois
sorriu largamente, os olhos brilhando de felicidade.
— Você está falando sério?

— Sim.

— Sou o homem mais feliz do mundo. — Pegou-me no colo,


arrancando de mim um gritinho e nos rodou.

E foi assim que a morte deixou de ser escuridão. O amor muda tudo,
o amor muda o mundo.

Apenas ame, amar é revolucionário.

FIM.
Agradecimentos

Agradeço à Deus todos os dias por ter me mostrado o caminho em


um dos momentos mais difíceis da minha vida, que foi através dessa luz
que descobri o amor pela escrita.
Deixo meu agradecimento mais que especial também para todos que
estão ao meu lado me dando apoio todos os dias: à todos vocês que
chegaram aqui e me deram uma oportunidade.
Minha grande amiga Val, que sempre está ao meu lado me dando
apoio.
À Joice também, que sempre está me mandando mensagens
carinhosas.
À minha Mands, que revisa os meus livros com todo carinho e
paciência.
Não posso deixar de agradecer a minha família também, que sempre
esteve ao meu lado me encorajando.
Enfim, gratidão ao universo pelas bênçãos recebidas.

Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu dessa história.


Melanie, sem dúvidas, é uma das minhas personagens mais incríveis, ela
tem uma força surreal. E apesar de passar muita raiva com Renzo, acabei
me apaixonando por ele e pela história de amor deles.

Um grande beijo e até a próxima.


Mais obras da autora

Uma dívida entre as máfias Russa e ‘Ndrangheta, resultou em um


casamento como pagamento.

Luara cresceu com espírito livre, sonhadora e não imaginava que


uma tempestade estava para chegar. Sofreu a maior decepção da sua vida
quando descobriu que o seu pai, o homem que sempre acreditou ser o seu
herói, deu a sua mão em casamento quando ela ainda era um bebê para o
homem que hoje era considerado o mais temido de todos os tempos, como
quitação de uma dívida.
Ela estava prestes a entrar para a escuridão, já que estava de
casamento marcado com o Don da máfia mais temida e poderosa de toda a
Itália, conhecido por seus inimigos como Diabo.

E agora, o que ela faria ao saber que tinha uma passagem apenas de
ida para o inferno?

LEIA AQUI
Ela é a pólvora.

Ele é o fogo.

Pura combustão.

Você acredita em destino?

Raoni Venturini não esperava que sua vida de certezas fosse abalada
por Amabel Cesarini, a mulher de cabelos violeta que tornou sua vida
agridoce.

Amabel Cesarini é uma mulher fora dos padrões, mas uma


personalidade segura e que aprendeu a amar-se incondicionalmente. E
agora, cercada de perigos dispostas a pôr um fim em sua vida, ela está em
fuga!

Seu destino? Goiânia, atravessando o caminho, a paz e as certezas


do Fazendeiro milionário Raoni Venturini.

O homem mais rico do país tem poucos amigos, é desacreditado do


amor, aprecia sua solidão, e vez ou outra, quer uma boa companhia sem
qualquer compromisso. Mas, não esperava encontrar a mulher de fios
violeta, determinação aguçada e uma vida turbulenta.
Eles são caminhos distintos, mas o destino acaba de torná-los
incapazes de fugir dos seus propósitos.

Raoni e Amabel estão prestes a descobrir que a vida não é o seu


plano perfeito feito de sonhos imperfeitos, senão o fogo que deles queima
em suas nuances agridoces.

LEIA AQUI

Ele é um mafioso impiedoso.

Ela foi salva por ele.

Ele é sombrio.

Ela o considera um anjo.

Chiara Collalto foi salva pelo Don quando tinha apenas 12 anos e,
desde então, é mantida sob os seus cuidados.

Lucca Savoia é um homem implacável nos negócios. Com um


temperamento difícil e de poucas palavras, ele não tem paciência para os
assuntos do coração.
Em uma noite turbulenta, ao ir à casa de um traidor, Lucca se depara
com uma linda menina de cabelos longos correndo em sua direção, caindo
nos seus braços.

O mafioso frio se torna o protetor da linda menina de olhos


expressivos.

LEIA AQUI

O que você vai encontrar nesta leitura: Relacionamento com homem


mais velho. Mocinha virgem. Hot de tirar o fôlego. Um pouco de ação e
moderadamente uma comédia para tirar a tensão. +18

Lorenzo Savoia é o subchefe da máfia italiana. Um homem de 34


anos, que não acredita no amor e aprecia sua vida de libertinagem.
Acostumado a ter uma, duas ou até mais mulheres na cama, ele nunca se
contentou com apenas uma.

Até ela chegar...

Giovanna Ferri foi salva pelo subchefe e agora pertence a ele.


Após a morte dos seus pais, foi levada por seu tio para o convento, onde
ficou até completar 21 anos.

Ela estava em completo desespero por seu tio dá-la como esposa a
um homem trinta anos mais velho.
Até que ele chegou...

Lorenzo não queria uma mulher dentro da sua casa, ainda mais uma
mulher tão desorganizada como Giovanna.
Em meio ao caos da convivência, eles descobrem que o amor não bate na
porta, ele entra sem pedir licença.

LEIA AQUI

+18

CEO viúvo;

Mocinha órfã, que foi abandonada grávida;

Hot de tirar o fôlego e,

Um clichê que vai te fazer suspirar.


Aurora Becker é uma jovem órfã, que luta dia após dia para
sobreviver, tendo seu maior refúgio a vida que construiu com seu namorado
e, futuramente, com seus filhos, contudo, seu castelo de fantasias vai à ruína
quando ela descobre sua traição. Tomada pela raiva, Aurora acaba
acertando uma garrafa na cabeça dele e, com medo de ter cometido um
assassinato, foge, deixando tudo para trás. O que Aurora não contava é que
o destino cobraria rapidamente suas ações e ela acaba sendo atropelada pelo
famoso Jordan Ressler.

Ele, um CEO de tecnologia frio e viúvo, tem uma visão insensível


das relações, mas nem mesmo Jordan podia imaginar que sua tranquilidade
poderia acabar ao atropelar uma jovem grávida. Então, tomado pelo
desespero e pela sensação de culpa, Jordan se vê na obrigação de cuidar
dela e das crianças.

Aurora e Jordan, com isso, tem o destino entrelaçado em


circunstâncias dolorosas, mas juntos eles irão descobrir que laços de sangue
não são mais importantes que laços do coração.

LEIA AQUI
Tropes: Aposta + hate to love + erótico.

Leona Vogel é uma advogada de 27 anos, que ainda busca seu espaço no
mercado de trabalho. Fugindo de um passado traumatizante, procura um
novo recomeço em uma nova cidade.

Andrei Seifer é um renomado advogado, que no auge dos seus 33


anos, só pensa em viver intensamente, sem qualquer compromisso.

Certa noite ambos se encontram numa boate, onde Andrei aposta


com um conhecido que conseguiria levar a mulher misteriosa, que
eventualmente frequenta o lugar, para cama. O seu charme, que sempre
encantou as mulheres por onde passava, não foi o suficiente para agradá-la
e, pela primeira vez na vida, ele se vê recebendo um fora, o que deixa o seu
ego ferido. A partir daí o advogado passa a ter como obsessão: levar a
mulher que o rejeitou para a cama.

LEIA AQUI
[i]
Você não pode fazer isso comigo, por favor, pai
[ii]
Filha, vai ser melhor.

[iii]
Melhor para quem, papai?

[iv]
Vou embora a qualquer momento, não posso deixar você sozinha.

[v]
Não estarei sozinha, tenho Giovanni.

[vi]
Não discuta mais comigo, Melanie, vá para o seu quarto.

[vii]
Eu te amo pai, mas não vou te perdoar por isso.

[viii]
Não fale besteira, garota.

[ix]
Menina
[x]
Porra.
[xi]
Meu Deus, que susto!
[xii]
Sentiu minha falta, meu amor?
[xiii]
Mãe.
[xiv]
Filho da puta.
[xv]
O risotto alla milanese é uma das especialidades mais famosas de Itália. A
característica que sobressai neste prato é o facto de ter uma tonalidade amarela devido ao uso de
açafrão.
[xvi]
É uma sobremesa italiana, muito leve, que se obtém batendo gemas, açúcar e vinho Marsala
numa tigela colocada dentro de um tacho com água a ferver.

[xvii]
Você me encanta e isso me assusta.
[xviii]
Você me encanta e isso me assusta. Mais do que você pode imaginar e mais do que eu posso
suportar.

[xix]
Irmão.
[xx]
Filho da puta.
[xxi]
Porra.
[xxii]
Taco é uma comida típica do México, popular também nos Estados Unidos, feita com
massa fina de milho frita chamada de tortilla, que é moldada no formato de uma concha para receber
um recheio.
[xxiii]
É a retirada do tubo endotraqueal, isto é, da via aérea artificial.

[xxiv]
A Spiaggia dei Conigli ou Isola dei Conigli é um praia localizada em Lampedusa, na
Itália.
[xxv]
Princesas.

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