Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Você Também Estava Lá 1st Edition Colleen Oakley Full Chapter Download PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 57

Você também estava lá 1st Edition

Colleen Oakley
Visit to download the full and correct content document:
https://ebookstep.com/product/voce-tambem-estava-la-1st-edition-colleen-oakley-2/
More products digital (pdf, epub, mobi) instant
download maybe you interests ...

Você também estava lá 1st Edition Colleen Oakley

https://ebookstep.com/product/voce-tambem-estava-la-1st-edition-
colleen-oakley/

Reminders of him 1st Edition Colleen Hoover

https://ebookstep.com/product/reminders-of-him-1st-edition-
colleen-hoover/

No te olvidaré 1st Edition Colleen Hoover

https://ebookstep.com/product/no-te-olvidare-1st-edition-colleen-
hoover-2/

No te olvidaré 1st Edition Colleen Hoover

https://ebookstep.com/product/no-te-olvidare-1st-edition-colleen-
hoover/
Tal vez mañana 1st Edition Colleen Hoover

https://ebookstep.com/product/tal-vez-manana-1st-edition-colleen-
hoover/

O Resgate do Tigre 1st Edition Colleen Houck

https://ebookstep.com/product/o-resgate-do-tigre-1st-edition-
colleen-houck/

A Viagem do Tigre 1st Edition Colleen Houck

https://ebookstep.com/product/a-viagem-do-tigre-1st-edition-
colleen-houck/

A Maldição do Tigre 1st Edition Colleen Houck

https://ebookstep.com/product/a-maldicao-do-tigre-1st-edition-
colleen-houck/

Bizimle Ba■lad■ Bizimle Bitti 1st Edition Colleen


Hoover

https://ebookstep.com/product/bizimle-basladi-bizimle-bitti-1st-
edition-colleen-hoover/
Obras da autora pelo Grupo Editorial Record publicadas
Antes de partir
Perto o bastante para tocar
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

O11v
Oakley, Colleen
Você também estava lá [recurso eletrônico] / Colleen Oakley ; tradução Sarah
Barreto Marques. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2022.
recurso digital
Tradução de: Vou were there too.
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5838-118-1 (recurso eletrônico)
1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Marques, Sarah Barreto. II. Título.
22-77766
CDD: 813
CDU: 82-31(73)

Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária - CRB-7/6643

Copyright © 2020 by Collen Oakley

Título original: You Were There Too

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.


Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, por quaisquer meios, sem a
prévia autorização por escrito da Editora.

Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos


pela:
EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA.
Rua Argentina, 171 — 3º andar — São Cristóvão
20921-380 — Rio de Janeiro — RJ
Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução.

Seja um leitor preferencial. Cadastre-se no site


www.record.com.br e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções.

Atendimento e venda direta ao leitor:


sac@record.com.br
Para meu marido, Fred
DOROTHY: É engraçado, mas sinto como se já conhecesse
vocês há muito tempo. Mas não seria possível, seria?
ESPANTALHO: Não vejo como. Você não estava por perto
quando eu fui recheado e costurado, estava?
HOMEM DE LATA: E eu fiquei lá, enferrujando por muito,
muito tempo.
DOROTHY: Ainda assim, eu queria conseguir lembrar, mas
acho que isso não importa. Agora nós nos conhecemos,
não é?
— O mágico de Oz
Prólogo

O CÉU AINDA ESTÁ AZUL.


E é nisso que não consigo acreditar. Não no fato de que, por
algum motivo, eu esteja caída no chão, quando poucos minutos
atrás estava de pé, firme no solo.
Ou que segundos atrás o cano de uma arma (uma arma!)
estivesse apontado para mim (para mim!), como se eu estivesse
num estúdio cinematográfico, e não no meio de uma multidão de
desconhecidos, que zanzava para lá e para cá, alheia ao fato de que
suas vidas logo estariam inextricavelmente conectadas.
Eu pisco e depois observo, com os olhos semicerrados, o céu
azul-cerúleo, maravilhada com sua beleza contínua, sua alegria
obstinada, que de alguma forma não se abalou com o que acabou
de testemunhar. E então recobro minha consciência bruscamente. E
me dou conta do peso em meu peito, um corpo me prendendo no
asfalto, as batidas do meu coração martelando em meus ouvidos.
Ao virar minha cabeça, desvio os olhos do céu e logo em seguida
desejo não ter me mexido.
Há sangue por todo lado. Ou talvez não por todo lado, mas assim
como um pedaço de espinafre cravado no dente, é algo que salta
aos olhos. É a única coisa que consigo ver.
O pânico toma conta de mim. Viro-me para a esquerda, meus
olhos procurando freneticamente. E é quando o vejo. O topo da
cabeça dele, na verdade.
Está imóvel.
Como uma fruteira em uma pintura amadora.
Como o céu.
Como minha respiração.
Tento inspirar, encher os pulmões, mas não consigo, e não tem
nada a ver com o peso em meu peito.
Se mexe, penso. Ou digo em voz alta, mas não sei se estou
falando comigo mesma ou com o corpo me aprisionando ao chão.
De qualquer forma, ninguém obedece.
— Saia! — grito, empurrando com toda a força. E, finalmente,
estou livre. Inspiro de novo, o odor denso e metálico de sangue
enchendo as narinas.
Acho que não é meu.
Mas não tenho certeza de nada.
Ou talvez não seja verdade.
Eu sabia que esta hora chegaria, não sabia? Os sinais sempre
estiveram presentes, dispersos como um quebra-cabeça incompleto,
mas presentes.
Tento me levantar, ir até ele, mas minhas pernas bambeiam
enquanto me dou conta da outra coisa da qual tenho certeza — e
não consigo acreditar que eu tenha me questionado, mesmo que por
um segundo.
É ele.
Sempre foi ele.
Sumário

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 1

O ESCRITÓRIO É FRIO E pouco decorado. Conto as plantas (três), observo


o ponteiro dos segundos do relógio de latão que está na estante
completar duas voltas em torno do eixo e encaro o quadro largo na
parede, uma mancha solitária de tinta vermelha no centro. Olho
para qualquer lugar, exceto para Nora, a mulher impecavelmente
bem-vestida, de coque e postura ereta, sentada na cadeira executiva
à minha frente — não porque ela está folheando meu portfólio e eu
nunca me senti à vontade testemunhando a avaliação do meu
trabalho, e sim porque ela está usando um lencinho no pescoço. Só
de olhar para ele, apertado como um nó de correr, amarrado bem na
altura de suas clavículas, me dá um arrepio. Como as pessoas
conseguem usar coisas amarradas no pescoço? Nunca entendi.
Mesmo quando era criança, se minha mãe colocasse uma roupa de
gola alta em mim, eu agarrava essa parte da peça e fazia pirraça até
que ela me deixasse trocar.
Tenho certeza de que fui estrangulada até a morte em alguma
vida passada.
Harrison acha macabro, mas uma vez ouvi um desses videntes
que aparecem de madrugada na televisão dizer que muitos medos
com os quais nascemos vêm das nossas vidas passadas. Por
exemplo, se você tem medo do mar, talvez tenha se afogado ou sido
estraçalhado por um cardume de piranhas, ou algo do tipo.
Harrison também acha que eu devia parar de assistir a esses
programas com videntes que ficam passando de madrugada.
A sala está silenciosa, exceto pelas batidas ritmadas da caneta de
Nora na mesa, como os tiros de uma metralhadora. Há um padrão:
ela faz uma pausa para virar a página e volta a batucar enquanto
olha fixamente — de forma reflexiva, eu espero — para as fotos de
minhas pinturas.
Existem treze galerias de arte em Hope Springs, Pensilvânia (um
número alto, a meu ver, para uma cidade com dois mil habitantes, e
olha que eu sou artista). Só três exibem arte contemporânea, esta e
outras duas que já rejeitaram minhas pinturas. Traduzindo? Essa é
meio que minha última chance. Mas estou otimista, porque, pelo
menos aqui, cheguei por meio de um contato — um ex-professor da
faculdade, Rick Haymond, cobrou a um amigo o favor que ele lhe
devia, que cobrou outro favor a Nora, e aqui estou eu.
— Mia?
— Oi — respondo, encontrando seu olhar.
— Isso aqui é um retrato de... Keanu Reeves?
Pigarreio.
— Hum, é.
A caneta para. Ela ergue os olhos para mim, esperando uma
explicação.
— É uma das obras da minha última série.
Ela aguarda, e eu pigarreio de novo.
— Já viu The $25,000 Pyramid? — pergunto.
— Perdão?
— O game show.
— Acho... Acho que já.
Ela semicerra os olhos, sem saber onde a conversa vai dar.
— Sabe quando os famosos começam dizendo um monte de
palavras aleatórias, tipo, “rodas, botões, bolas”, e o participante tem
de adivinhar qual é a categoria? Tipo, nesse exemplo, a categoria
seria “coisas que são redondas”.
— Sei.
— Então, acho isso fascinante, um grupo de coisas que
aparentemente não têm nenhuma relação, mas que, na verdade,
têm algo em comum, sim. É assim que escolho os temas das minhas
séries.
Ela continua me fitando, e eu não consigo entender se está
perplexa ou entediada.
— E Keanu Reeves?
— O tema era “coisas medíocres”.
Seus olhos permanecem fixos nos meus, mas ela não responde.
Nora me lembra um daqueles detetives de série policial, o que é
paciente e espera o suspeito cansar e se render. Eu me rendo. Seria
uma péssima criminosa.
— Nessa série também tem o pirulito Tootsie Pop laranja.
— O Tootsie Pop laranja — repete ela.
— É, porque o laranja não é ruim, mas não é o favorito de
ninguém, não é mesmo? Seguindo essa lógica, temos calças capri,
tomate industrializado... Por isso pintei os tomates com a etiqueta
colada... Páscoa...
Ela quebra o contato visual enquanto falo, então vou diminuindo
o tom de voz.
Ela encara a imagem por um segundo e ergue os olhos outra vez,
com o cenho franzido.
— Você acha Keanu Reeves medíocre? Mas ele é tão lindo,
modesto e... respeita tanto as mulheres.
Ela dá tanta ênfase à última frase que cerra o punho.
— É. — concordo sem muita convicção. Por ele ser tudo isso e
pela empolgação da minha entrevistadora, algo me diz que não seria
prudente explicar que estou me referindo à falta de talento na
atuação, e não à pessoa dele. — Foi mais engraçado quando eu
pintei. Antes... — Vou diminuindo meu tom de voz de novo, pois não
sei como terminar essa frase. Antes que ele se tornasse uma espécie
de patrimônio cultural?
— Hum. — Ela folheia mais algumas páginas, sem compromisso.
Então, mais para a mesa do que para mim, diz: — Que...
interessante.
Mas a maneira como a entonação de Nora descende ao fim da
frase em vez de ascender como em um elogio é o que me faz
entender que ela, na verdade, não acha interessante. Também me
faz entender que não vou conseguir uma exposição nesta galeria.

Quando ponho os pés no calor do meio-dia de junho, quase trombo


em dois homens de braços dados. O que está usando sandálias e
short xadrez de um tom verde azulado puxa o outro para trás para
me deixar passar.
— Desculpe! — digo enquanto levo a mão à barriga, um instinto
materno e protetor para com o feto que atualmente reside em mim.
Em seguida, desvio do homem e continuo andando.
Esgueirando-me para lá e para cá, entre outros turistas bem-
vestidos, passo por uma loja de chocolate, de azeites variados e por
uma de temperos e especiarias. Dezessete tipos de sal! Foi o que
sussurrei para Harrison, há quatro meses, quando nós éramos um
dos casais de turistas e entramos lá para dar uma olhada. Nem sabia
que existia mais de um. Conhecendo a mim e a minha falta de
habilidades culinárias há quase oito anos, isso não o surpreendeu.
Quando entro na Mechanic Street, meu celular vibra na bolsa e eu
o pego. É uma mensagem de Harrison.
Como foi lá?
Rolo a tela pelos gifs até encontrar um tanque de guerra e mando
para ele.
Foi tão ruim assim? Você usou seu vestido da sorte?
Estendo o braço com o celular na mão, certificando-me de que
meu maior achado — um vestido amarelo de transpassar que
comprei em um brechó e que estava usando na noite em que
conheci Harrison — está enquadrado e clico em “enviar”.
Pelo visto, não dá tanta sorte assim.

Deslizo o telefone para dentro do bolso da frente da pasta do


portfólio, trocando-o pelas chaves do carro. Então, destranco meu
Toyota, entro, giro a chave na ignição e começo a viagem de quinze
minutos para casa.
Faz cinco meses que eu e Harrison decidimos nos mudar de
supetão para esta cidadezinha, o que parece algo que eu faria, mas
não Harrison. Era janeiro na Filadélfia, e estava nevando. De novo. O
tipo de neve fria e úmida que se infiltra em suas roupas e te
congela, e faz com que você queira nunca mais sair do apartamento,
e, se você sai, te faz achar que nunca mais vai conseguir se aquecer
de novo.
— Vamos embora daqui — disse Harrison numa sexta-feira à
tarde, ao chegar em casa após um longo plantão e horas extras no
hospital.
Ele estava tendo semanas difíceis, com longas jornadas de
trabalho, sem contar o fato de ter perdido um menino de oito anos
na mesa de cirurgia, durante uma apendicectomia de emergência.
Ele não falava muito sobre o assunto — nunca fala —, mas acho que
aquilo mexeu muito com ele.
— E ir para onde?
— Para qualquer lugar que não seja aqui — replicou ele.
Harrison não é do tipo espontâneo, então concordei na hora.
Dirigimos em direção norte pela 95 e fomos parar em Hope Springs,
uma cidadezinha a oeste do Rio Delaware. Tinha mais lojas de
antiguidade e galerias de arte do que qualquer cidade necessita, e
fiquei embevecida com seu charme e com o jeito que a neve, por
alguma razão misteriosa, não parecia tão úmida nem fria e se
empilhava em graciosos montículos brancos ao longo da estrada, e
não em montes lamacentos, como aos que estávamos acostumados.
No domingo, quando estávamos fazendo as malas para ir embora
de Hope Springs e agoniados com a viagem de volta à cidade
grande, eu disse:
— Queria que a gente pudesse morar aqui. — Que é o que eu
sempre digo quando viajamos para algum lugar.
— A gente pode — respondeu Harrison.
Depois, ele disse que vinha pensando nisso havia meses: em
como um hospital de cidade grande era estressante, como trabalhar
em um hospital menor talvez fosse menos correria e o deixasse
respirar um pouco. Então por que não agora e por que não em Hope
Springs? E talvez fosse porque eu tivesse acabado de ter meu
segundo aborto espontâneo e minha primeira grande decepção
profissional e tudo isso aconteceu na Filadélfia, e não em Hope
Springs, ou talvez porque estivesse realmente convencida de que a
neve ali era menos fria, menos úmida e mais bonita, ou talvez
porque o nome da cidade, que remetia à primavera e à esperança,
de repente parecesse significativo, como um presságio, eu disse
“ok”. Embora tenhamos levado alguns meses para fazer entrevistas e
amarrar pontas soltas na Filadélfia, foi assim que acabamos nos
mudando do apartamento onde moramos juntos por sete anos e
vindo morar aqui.
Duas cercas brancas de madeira em ângulo reto flanqueiam a
entrada da nossa garagem, e é só por isso que sei onde virar, já que
tudo na rua de duas pistas da nossa casa parece igual: verde e
arborizado. Posiciono o carro entre elas e dirijo devagar no caminho
de cascalho até avistar a casa de pedra. É uma casa de fazenda
reformada, de três quartos e do século XIX, o que a faz ter um misto
bacana do charme antigo com a tecnologia de uma geladeira Sub-
Zero. O estúdio — uma garagem separada da casa que tem espaço
para um carro só e que fica no quintal — tem janelas nas quatro
paredes. Uma iluminação fantástica. Foi o que me ganhou. Ou talvez
tenha sido simplesmente a ideia de ter um estúdio só meu em vez
de uma sala de trinta metros quadrados que comportava uma
televisão, uma estantezinha e um futon impregnado de lascas de
tinta acrílica endurecida, verniz, gema de ovo (consequência de uma
fase têmpera e infeliz de DIY) e várias outras substâncias
provenientes de meus empreendimentos artísticos dos últimos anos.
O futon, onde, nos meus vinte e poucos anos, comia inúmeros
pratos de macarrão com manteiga e torradas com Nutella e assistia
a reprises de Family Feud, e depois, nos meus vinte e tantos,
transava loucamente com Harrison durante seus curtíssimos
períodos de folga entre os plantões da residência de cirurgia no
Hospital Thomas Jefferson. Ele me convenceu a doar o futon para a
caridade quando nos mudamos. “Está começando a feder”, foi o
argumento gentil que usou, como se estivesse conversando comigo
sobre mandar para eutanásia um animal de estimação querido cuja
qualidade de vida houvesse se deteriorado. Agora, em vez de
desligar o carro e ir para o estúdio pintar, que é o que eu deveria
fazer, sinto uma urgência repentina de pegar meu Corola enferrujado
e passar por todas as lojas Goodwill daqui até a Filadélfia, até
encontrar meu futon e trazê-lo de volta para casa.

— Desculpe o atraso — anuncia Harrison ao entrar pela porta


naquela noite, por volta das nove horas da noite, embora seja a
terceira vez na semana que ele chega em casa depois de anoitecer.
Harrison é um dos quatro cirurgiões gerais da equipe do Hospital
Fordham, que atende não só os oito mil habitantes de Fordham, mas
também muitas cidadezinhas em volta, incluindo Hope Springs.
Embora tenha dito que um hospital menor significava menos
correria, ultimamente parece que tem sido o contrário. Ele
arremessa as chaves na caixa de papelão, que está substituindo uma
mesinha para o hall de entrada, já que não consegui comprar uma
ainda.
Ele se inclina por trás da poltrona amarelo-clara na qual estou
sentada — uma das poucas coisas que consegui comprar para a
casa nova. Ofereço a bochecha, e ele a beija, sua barba grande
(que, assim como a casa, também era nova) arranhando meu rosto.
— Seu dia melhorou? — pergunta ele.
— Não muito.
Ele vai até a cozinha, de onde vem o som da porta da geladeira
sendo aberta e, então, o da cerveja sendo destampada. Quando ele
reaparece no vão da porta, a cerveja está sendo entornada em sua
boca. Harrison toma três grandes goles, fazendo pausas para engolir.
— Acho que estou matando os tomates — comento.
A casa veio com uma horta que estava abandonada desde
quando o último proprietário se mudou. Eu planejava cuidar dela,
começando pela remoção das ervas daninhas, mas percebi que não
conseguia distinguir o que era erva daninha e o que era planta.
Depois, o sistema de irrigação parou de funcionar. E os coelhos, ou
roedores, ou insetos, também vieram participar até que cada folha
(das plantas e das ervas daninhas) ficasse parecendo um queijo
suíço. Foi aí que percebi que a jardinagem requer uma dedicação
contínua e que não tenho a menor ideia do que estou fazendo.
— Bem, aposto que eles merecem — retruca ele.
— Harrison, estou falando sério. As folhas estão amareladas, o
que, de acordo com esse site que estou lendo, significa ou excesso
ou falta de água, ou falta de nitrogênio no solo, ou que estão
doentes.
— Hum. Isso reduz bastante as possibilidades.
— Exatamente.
Olho para seu perfil, reparando em sua armação preta e
quadrada, em sua gravata-borboleta desfeita, com as pontas
pendendo frouxas de ambos os lados do colarinho desabotoado,
como um noivo no fim da festa, a barba de marrentão com a qual
ainda estou me acostumando, e sinto um orgulho passageiro por
termos ficado juntos. Médicos não faziam meu tipo. Preferia os caras
que faziam bicos e se esqueciam de pagar o aluguel aos que tinham
a carteira assinada. Traumas envolvendo abandono era um bônus.
Mas, sendo bem sincera, Harrison estava usando uma camiseta dos
Skid Row em uma galeria de arte quando o conheci, então não
estava tão na cara assim que ele era um cidadão funcional.
Sorrio, lembrando-me de como as coisas eram no começo. A
ansiedade por vê-lo. A adrenalina que sentia só de ler o nome dele
no identificador de chamada do celular ou ouvi-lo batendo à porta. É
óbvio que esse nível de entusiasmo e encanto não dura para
sempre. A paixão é como um rio impetuoso que, com o tempo, ou
seca até não passar de uma gota e some ou provoca uma erosão na
terra até se tornar um desfiladeiro largo e profundo.
Harrison e eu demos sorte.
Temos um desfiladeiro.
— Sabe, é estranho.
Ele apoia a cerveja no baú antigo que às vezes usamos como
mesa de centro e afunda na almofada do sofá ao meu lado.
— Eles podiam ter aquelas lojas que vendem coisas de
jardinagem aqui, com funcionários que entendessem de plantas e
pudessem ajudar os leigos em situações tipo essa.
Dou um chega pra lá nele com o cotovelo.
— Ah! — Ele agarra minha mão, entrelaça os dedos nos meus e a
vira para cima com delicadeza. Olha para ela. Fricciona o polegar
pelas manchas azuis e vermelhas.
— Pintou hoje?
— Um pouco — respondo.
Quando digo “um pouco”, quero dizer “quarenta e cinco minutos”.
Embora, quando nos mudamos para cá, a ideia de Harrison fosse
que eu focasse em minha arte, não tive nenhuma sessão proveitosa
nem pintei nada que prestasse nas cinco semanas que se passaram
desde quando descemos do caminhão de mudança amarelo. No
início, disse a mim mesma que era porque estávamos nos
adaptando. Mas, a esta altura, sei que se trata de algo mais...
permanente. Um abalo em minha confiança que começou quando
aquele bigodudo do Phillip Gaston fez aquela crítica da primeira
exposição que eu fiz na vida, lá na Filadélfia, no ano passado. “Uma
mostra amadora e sem coesão, que se baseia excessivamente em
um tema muito complexo, sem o talento necessário para acrescentar
profundidade e substância.”
— Usou máscara?
Ele está me provocando. Tenho sido supercuidadosa com esta
gravidez, a ponto de perguntar a Harrison se ele achava que inalar o
cheiro das tintas acrílicas que eu usava poderia prejudicar o
desenvolvimento do feto. Ele disse que não, mas, mesmo depois de
ter procurado na internet e me mostrado a prova de que o uso era
permitido durante a gravidez, considerei em voz alta se usaria
máscara.
— Não usei. Acha que eu deveria ter usado?
— Não — responde ele, e faz uma pausa, dando um sorriso de
canto de boca. — Mas, se nosso bebê nascer com doze dedos, já
sabemos o porquê.
— Harrison!
Ficamos ali sentados em silêncio por um minuto, deixando as
palavras “nosso bebê” no ar. Pelo menos para mim, elas estão.
Penso nos dois bebês que perdemos e respiro fundo para me
recompor. Não sabia que era possível ficar de luto por algo que
nunca tive. Por uma pessoa que nunca conheci. Mas estou. E me
pergunto se a tristeza vai abrandar com o tempo, ou se o medo de
perder outro vai desaparecer um dia. Coloco a mão na barriga,
desejando em silêncio que este não se vá.
Como se lesse minha mente, Harrison me envolve com seu braço
comprido, puxando-me para perto dele. Na terça-feira, quando fui à
farmácia, não encontrei o desodorante que ele sempre usava, então
peguei uma fragrância nova, e o cheiro amadeirado penetrante faz
cócegas em meu nariz. Aninho a cabeça no peito dele como se
pudesse abrir uma passagem secreta e ficar ali para sempre.
— Que cheiro bom...
— Sério? Achei que estivesse parecendo um adolescente que
tomou um banho de perfume do pai.
— Não — respondo, e, embora seja diferente, uma fragrância
nova, ainda é ele. Ainda é o meu Harrison. — O seu cheiro.

Estou numa balsa. Pelo menos acho que é uma balsa — uma balsa
grande, levemente oscilante, cheia de carros e pessoas —, mas não
sei aonde ela está indo nem por que estou a bordo. O céu está
nublado, da cor das cinzas de uma fogueira em um acampamento
abandonado. Um bando de gaivotas grasna lá no alto, e eu olho
para elas. Depois que passam, volto a observar o horizonte.
E então o vejo. Ele está longe, na areia do litoral, e, por mais que
eu não consiga enxergar seu rosto, sei que é ele. Um vento forte
achata seu cabelo desgrenhado, colando os fios em sua testa e
fazendo com que a parte de trás voe para todos os lados como
confetes de carnaval.
De repente, ele está no barco, na minha frente. E a parte do meu
cérebro que sabe que isso é um sonho se pergunta se vai ser um
sonho com beijos. Espera que seja um sonho com beijos. A atração
que sinto por ele é tão intensa que tenho de me esforçar para que
meus joelhos oníricos fiquem onde estão, que meu estômago onírico
pare de revirar como se fosse uma boneca de pano Raggedy Ann
rolando escada abaixo.
— Oi — cumprimenta ele, com os lábios se curvando em um largo
sorriso que condiz com o meu.
— Oi — respondo.
Ele pega minha mão. Embora eu saiba que ela deve estar gelada
— ele está de casaco, e eu só estou usando um vestido de alcinha
—, me sinto aquecida.
Em seguida, estamos no meio de um museu, simples assim. Um
quadro se metamorfoseando em outro de um jeito que só acontece
nos sonhos. Estou olhando para uma escultura que parece a do
Homem com o nariz quebrado, de Rodin, mas na verdade é o
semblante assustador do Phillip Gaston, que começa a falar. A gritar
comigo. Não consigo entender as palavras, mas estou, ao mesmo
tempo, achando perfeitamente plausível que uma escultura esteja
falando comigo e constrangida que isso esteja acontecendo na
frente dele. Então ele chega muito perto de mim, os botões macios
de seu casaco encostam em meu braço nu, sua respiração esquenta
meu pescoço. Ele também está dizendo algo, mas não consigo me
concentrar. Todos os sons se mesclam formando um bipe contínuo
que aumenta cada vez mais, e eu acordo.
Abro os olhos enquanto Harrison se senta, colocando os óculos e
fazendo um movimento certeiro para desligar o bipe do alarme do
celular.
— Que horas são? — pergunto com a voz rouca.
Tento engolir a culpa, mesmo me sentindo boba por me sentir
culpada. Foi só um sonho. Ele é só um sonho.
Mas é que, às vezes, ele parece tão real! E tem sido assim por
todos esses anos que ele vem protagonizando meus devaneios
noturnos.
— Três e trinta e cinco — responde Harrison, depois se arrasta
para fora da cama e liga para o hospital, batendo a porta do quarto.
Mas ainda consigo ouvir o timbre grave de sua voz no corredor.
Fico deitada, tentando voltar para o mesmo sonho, mas não
consigo.
Quando estava no ensino médio e percebi que o mesmo homem
aparecia em meus sonhos o tempo todo, foi empolgante, uma
novidade. Um homem bonito, fruto da minha imaginação dominada
por hormônios. Também achei que devia ser comum, algo que
acontecia com a maioria das pessoas, mas, quando comentei isso
com minha irmã, Vivian, ela chiou.
— Quem dera que um homem gostoso me visitasse em meus
sonhos toda noite!
— Não é bem assim — retruquei, constrangida por ela ter feito
aquilo parecer tão sexual, embora às vezes fosse bastante sexual. —
E não é toda noite.
E não era. Estava mais para a cada duas semanas, ou até meses.
Com o tempo, notei que só acontecia com certa frequência quando
eu estava passando por grandes mudanças: me formando, me
casando, engravidando. Voltei a ter esses sonhos quase todo dia na
última semana — mais do que nas gestações anteriores, e me
pergunto se é porque nunca cheguei a esse estágio da gravidez.
Porque esta gravidez está vingando. Conforto-me com todos os
sinais que consigo achar.
Mas enfim, depois da resposta de Vivian, nunca mais toquei no
assunto. Com ninguém. Nem com Harrison — mas ainda me
pergunto se ele também não sonha com alguém. Uma mulher
parecida com Camila Alves que ele não menciona para não magoar
meus sentimentos. Então, penso na intensidade das interações em
meus sonhos e uma pontada de ciúme faz meu estômago embrulhar.
Pensando bem, espero que Harrison não tenha fantasia alguma.
A porta do quarto se abre, e Harrison ressurge ao meu lado.
— Preciso ir — sussurra, curvando-se para dar um beijinho na
minha bochecha.
Viro meu rosto, e então seus lábios pousam nos meus; me estico
para segurar seu rosto, separando seus lábios com a língua.
— Hummm... — Ele suspira, recuando alguns centímetros para
me olhar. — Por que isso?
Remexo as sobrancelhas, meio safada. A expressão dele reflete a
minha.
— Três minutos. Só tenho três minutos — afirma.
— Serve — respondo.
Ele abre um sorriso e se joga na cama num movimento rápido, e
eu rio, pois ele parece um adolescente doido para transar. Enquanto
seu corpo encontra o meu de forma tão familiar, sua barba roça em
minha bochecha e seus lábios vão ao encontro da minha orelha.
— Dios Mia — sussurra ele.
É uma frase nossa, que Harrison criou depois que nos beijamos
pela primeira vez, encolhidos debaixo do toldo minúsculo de uma
lavanderia, escapando do aguaceiro repentino que caiu enquanto
saíamos da galeria de arte e estávamos a caminho de um bar. Na
noite em que nos conhecemos.
— Dios Mia — murmurou ele nesse dia, quando nossos lábios
finalmente se separaram, os dois sem fôlego, o nariz dele ainda a
milímetros do meu.
Ergui apenas uma das sobrancelhas, evitando mover qualquer
outra parte do meu corpo e arriscar acabar com o clima. Só estudei
espanhol no ensino médio, mas era o suficiente para saber que “ai,
meu Deus” era do gênero masculino: Dios mío. Perguntei-me se eu
tinha ouvido errado e disse:
— Pensei que fosse “mío”.
— Quê? — perguntou ele, rindo enquanto roçava os lábios nos
meus outra vez. E foi então que entendi que tinha ouvido certo. E
que ele estava me provocando.
— Você disse “mía” — sussurrei no meio do beijo —, era para ser
“mío”.
— E você disse que não sabia nada de espanhol — respondeu ele,
e então estava com os dedos em meu cabelo e a boca na minha, e
eu não dei a mínima para o fato de que a água da chuva estava
escorrendo pelo toldo e caindo bem em cima do meu ombro e da
minha bolsa, molhando tudo que estava dentro dela.
Agora, com as palavras dele em meu ouvido e os músculos de
suas costas se contraindo sob minhas mãos, uma onda de amor e
felicidade toma conta de mim, e qualquer que seja a culpa que eu
estava sentindo por causa daquele meu sonho ridículo dissolve
quase tão rápido quanto a noite.
Quase.
Capítulo 2

— FINLEY ESTÁ COM PIOLHO — anuncia Vivian, minha irmã.


— Que nojo...
Faço uma careta e acomodo meu celular entre a orelha e o ombro
para poder raspar o fundo do copinho do iogurte com a colher.
— Você não tem noção. Tive que sair do trabalho mais cedo para
buscá-la na escola, desembolsar uma grana naquele pente especial
e no xampu de piolho, e, quando chegamos em casa, a babá foi
embora porque ela não lida com insetos. Ela disse isso, literalmente!
Não lido com insetos. E agora sinto como se esses bichos estivessem
andando em mim, e eu queria simplesmente queimar tudo aqui em
casa. GRIFFIN! — Ela grita, e eu afasto o celular alguns centímetros
do ouvido. Olho pela janela panorâmica acima da pia da cozinha e
encaro os galhos murchos dos pés de tomate se rebelando para fora
do jardim selvagem, como se quisessem escapar. Vivian ainda está
gritando. — NÃO PODE COMER PAPEL HIGIÊNICO! — Sua voz
finalmente volta ao volume normal. — Então, como você está? Já
terminou de desfazer as malas?
Na semana anterior, em um momento de fraqueza, cometi o erro
de confessar a Vivian que talvez estivesse me sentindo meio sem
rumo, que não tinha certeza se a mudança tinha sido a decisão certa
para mim, e é óbvio que ela bancou a terapeuta e ficou falando
sobre períodos de adaptação e estágios da vida, e sobre como eu
precisava terminar de desfazer as malas — que isso era um passo
simbólico para eu aceitar onde estou ou alguma bobagem do tipo.
Vivian é psicóloga do ensino médio de uma escola particular em
Maryland e, às vezes, tem dificuldade de se desligar do trabalho.
Penso em como responder, mas, antes que eu consiga dizer algo,
sinto uma pontada na barriga. Respiro fundo, acaricio onde senti a
dor, mas ela já passou, tão rápida quanto veio.
— Mia? Está tudo bem?
— Está. Não foi nada.
Tento me lembrar da outra coisa que Vivian me disse na semana
passada. Que vou estar sensível a qualquer dorzinha ou incômodo
por causa do que passei e não posso me estressar porque a gravidez
é cheia de dores e incômodos.
— FINLEY, PARA DE CUSPIR NO SEU IRMÃO! Então, desfazendo
as malas?
— Estou vendo isso — respondo, embora não esteja. Não muito.
Tenho a intenção de desfazê-las. De comprar o que está faltando,
como a mesa para o hall de entrada, mas as opções são infinitas. Ou
talvez essa casa seja infinita e espaçosa demais. Moramos num
apartamento do tamanho de uma caixa de sapato por tanto tempo
que não sei o que fazer com tanto espaço nem como preenchê-lo. O
que é irônico, já que trabalhei por um bom tempo em uma loja de
móveis caros na Filadélfia; primeiro no departamento de vendas,
depois como consultora de design, ajudando os clientes a escolher
as peças perfeitas e a decidir onde colocá-las.
Mas, bem lá no fundo, sei que a culpa não é da casa nem do
tamanho dela, e de repente deixo escapar algo que tenho tido pavor
de admitir (para mim mesma e mais ainda para Harrison).
— Tenho a sensação de que eu não deveria estar aqui.
— Como assim?
— Não sei. Não sei explicar. Mas continuo achando que a
qualquer momento a gente vai pegar o carro e voltar para a
Filadélfia. Que nosso apartamento ainda está nos esperando. Que
vamos voltar pra casa.
— Acho que é normal. Vocês moraram lá por o quê? Sete anos?
E, honestamente, Mia... — disse ela, com gentileza — Você nunca
lidou bem com mudanças.
Sei que ela está se referindo ao divórcio de nossos pais. A como
eu passei meses chorando até dormir. A como comecei a fazer xixi
na cama aos onze anos. E a como, no Natal, convenci a mim mesma
de que minha mãe ia voltar a morar conosco. Que seria nosso
grande presente naquele ano. Nem preciso dizer que foi um dia
frustrante.
— NÃO, FINLEY! VOCÊ ACABOU DE TOMAR IOGURTE. CHEGA DE COMER. E
lembre-se: os hormônios da gravidez deixam a gente à flor da pele.
Eles te fazem achar que está ficando maluca. Aguente firme. Tenho
certeza de que assim que vocês terminarem a mudança e o bebê
chegar tudo vai ser diferente. Vai ser melhor. Você vai ver.
Meu olhar se volta para a horta e para os pés de tomate pintados
de bolinhas amarelas. Suspiro. É um conselho sensato, o único tipo
de conselho que Vivian dá. E, embora eu odeie quando ela está
certa, desta vez realmente espero que esteja.

Há apenas sete pés de tomate no atacadão True Value: seis deles


têm brotinhos verdes pendendo dos caules, e a folhagem do sétimo
está amarelada e caída como a da horta lá de casa. Fricciono com
cuidado uma das folhas do pé mais prejudicado com a ponta dos
dedos para ver se dá a mesma aflição.
— Sulfato de magnésio — diz uma voz grave atrás de mim.
Em vez do homem que eu esperava ver, meus olhos encontram os
de uma mulher de cabelo grisalho e volumoso. Ela é alta, magra e
com a papada, as bochechas e o queixo enrugados. Por baixo do
avental vermelho, está com uma blusa florida aberta na região do
colo, onde repousa um colar grosso de contas azuis brilhantes. O
crachá que consta apenas seu nome diz “Jules”.
— Oi? — pergunto, sem ter certeza se ela estava falando comigo,
embora esteja olhando diretamente para mim.
Ela faz um gesto para a planta cuja folha ainda estou segurando.
— O solo provavelmente está com deficiência de magnésio. O
sulfato pode ajudar. Não é falta de água, porque ela está recebendo
a mesma quantidade que as outras. E não acho que seja fungo,
porque não tem pintinhas pretas nas folhas.
Ela olha de relance para o caixa, perto do qual um homem de
pescoço largo e mãos grossas está contando o troco de um cliente,
depois inclina a cabeça para mais perto, tão perto que consigo sentir
a acidez de seu hálito.
— Marty provavelmente vai te dar esse de graça se você comprar
mais uns dois. Já passou a época de plantio, e ele quer se livrar
desses pés.
— Ah, eu já tenho pés de tomate em casa, mas eles estão que
nem esse aqui. Vim atrás de alguma dica, na verdade.
— Hum — resmunga ela —, sulfato de magnésio. Mas não
vendemos aqui. Você vai ter que ir até o Giant.
— Obrigada.
Ela assente e se vira para ir embora.
— Peraí — peço, desejando, de alguma forma, fazer o download
de todas as informações da cabeça dela para a minha. Fui tão
ingênua ao achar que cuidar de uma horta seria fácil, que a parte
mais difícil, que era plantar, já tinha sido feita e em poucos meses eu
estaria colhendo berinjelas roxas, com a casca brilhosa (se é que há
berinjelas naquela horta, não sei identificar nem metade da
vegetação), e tomates fartos e redondos que Harrison poderia
transformar em molho para o macarrão ou em salsa mexicana, ou
em qualquer outra coisa que se possa fazer com tomate.
Ela olha de novo para mim, paciente.
— Pois não?
— Vocês têm algum serviço, tipo, de pessoas que vão a sua casa
e cuidam do seu jardim ou algo assim? Sou nova nisso e não tenho
a menor ideia do que estou fazendo.
— Serviço de jardinagem?
— Quer dizer, não preciso que cortem minha grama... — Embora,
pensando bem, eu precise, sim. Harrison não consegue manter a
grama sempre aparada porque ela cresce muito rápido, e ele leva
duas horas para percorrer o quintal com o cortador dirigível que
comprou quando nos mudamos. Eu me ofereci para cortar, mas ele
mencionou minha condição delicada, e eu não insisti. Principalmente
porque, no fundo, eu não queria cortar a grama.
— Bem, de qualquer forma, não fazemos isso — responde ela. —
Você vai ter que chamar uma empresa de paisagismo. Mas aqui tem
uma oficina de jardinagem que acontece uma vez por mês. Em
maio, foi sobre rotação de culturas, mas a próxima aula vai ser
nesse sábado. Acho que vai ser sobre espécies anuais de verão, mas
eu precisaria confirmar.
— Obrigada — respondo, e ela me deixa sozinha com a planta
doente. Ela tem uma aparência tão abatida que quase não consigo
deixá-la ali, sabendo que ninguém irá comprá-la nesse estado. Sua
manteiga derretida. Consigo ouvir Harrison dizendo isso e imaginá-lo
tirando sarro de mim quando levo algo que foi abandonado para
casa. Foi o caso do futon, que avistei na esquina da nossa rua, do
gato que encontrei na Sansom Street e que descobrirmos ser mais
selvagem que um pobre coitado, da luvinha rosa que achei no banco
do ônibus — essa eu deveria ter deixado lá. Mais tarde, me sentindo
culpada, pensei: “E se alguém voltou lá para procurar?” Mas, na
hora, ela parecia tão solitária, tão vulnerável sem seu par, que não
aguentei. Harrison só ficou me olhando, com as sobrancelhas
arqueadas, pelo que pareceu umas vinte e quatro horas, depois que
expliquei a situação a ele.

Quinze minutos depois, enquanto passo pela porta de vidro


automática do mercado Giant para comprar sulfato de magnésio, me
lembro de Harrison dizendo naquela manhã que o café estava
acabando.
Pego uma cesta, penduro-a no braço e me dirijo à seção de grãos
e cereais, onde fico inspecionando os variados tipos de café — torra
média, colombiano, com avelã, French vanilla — embora vá acabar
pegando o café blend e suave da Folgers, como sempre. Então, o
cheiro de pão fresquinho saindo do forno me atrai até a padaria, e
coloco uma fatia quentinha de pão ciabatta na cesta. Perambulo
pelos corredores e pela seção de hortifrúti, o que costuma deixar
Harrison pê da vida: sem lista, só pegando coisas que chamam
minha atenção. Hoje, pego um pedaço de queijo Gruyère, um pote
de muçarela fresca, tomates, um pacote de Cheetos e uma bandeja
com fatias triangulares de melancia.
Vou em direção ao caixa e tenho aquela sensação incômoda de
que estou esquecendo alguma coisa. A resposta me vem como um
flash: sulfato de magnésio. Óbvio! O motivo pelo qual vim até aqui.
É por causa de momentos como esse que acredito na expressão
“cérebro de grávida”.
Não acho o sulfato em nenhum lugar na parte de sal e
condimentos e tenho que perguntar a dois estoquistas até
finalmente encontrá-lo escondido entre os produtos de beleza e
bem-estar. O único tamanho que eles têm é o de doze quilos, e eu o
levo, carregando-o como uma criança de colo.
Na fila do caixa, me distraio com uma chamada na capa de uma
revista de fofoca especulando quantos bebês a princesa Kate está
carregando em seu ventre real. Embora ela provavelmente nem
esteja grávida e embora seja insensível da minha parte, não consigo
controlar meus pensamentos e achá-la gananciosa. Ela já não tem
três filhos?
O caixa registra os produtos e me entrega a nota fiscal. Vou até o
fim da esteira, onde um homem idoso e calvo de avental preto me
entrega duas sacolas plásticas com as compras no mesmo momento
em que a porta de vidro automática, a quase vinte metros de
distância, se abre, chamando minha atenção. Um homem entra na
loja.
Congelo. Sinto um frio percorrer minha espinha. Meu coração
palpita e para.
Talvez para sempre.
É ele. Então, como se eu tivesse desejado que ele fizesse aquilo,
ele ergue o olhar, que encontra o meu.
— Senhora?
Hesito por um instante.
Viro a cabeça em direção ao homem calvo, que está segurando
meu saco de doze quilos de sulfato de magnésio.
— Ah, perdão — digo, antes de olhar para as sacolas em minhas
mãos. Com pensamentos desordenados, alguns segundos se passam
até eu finalmente transferir todas as sacolas para uma mão só e
conseguir carregar o sulfato no braço direito.
Quando ergo o olhar para a porta novamente, não há mais
ninguém lá.
Ele se foi.
Como uma aparição.
Um sonho.
Cheia de compras, corro até a porta e então paro na entrada.
Olho para a seção de hortifrúti e para os corredores aonde ele possa
ter ido. Passo os olhos por vários clientes, mas nenhum é ele.
Cogito entrar na loja de novo, ir a todos os corredores até achá-
lo, mas balanço a cabeça. Não poderia ser ele. Óbvio. Ele é um fruto
da minha imaginação. Era só alguém parecido. Ouço a voz de Vivian
em minha cabeça. Os hormônios da gravidez te fazem achar que
está ficando maluca. Tenho me sentindo indisposta ultimamente,
esquecida, perdida em pensamentos. Deve ser só cansaço.
Mesmo assim, dou uma última olhada ao redor antes de sair pela
porta e sentir o calor escaldante que está fazendo.
Capítulo 3

ESTOU COMENDO UMA FATIA DE melancia quando ouço a porta se abrindo


e batendo. Não são nem cinco horas, é cedo demais para Harrison
estar em casa, então ergo a cabeça, com o coração disparado.
Ao escutar o som familiar das chaves batendo na caixa de
papelão e dos passos sobre a madeira, sinto uma onda de alívio,
mas só solto a respiração quando ele aparece no vão da porta da
cozinha.
— Que susto!
— Você não me pediu para chegar cedo em casa? — pergunta
ele, arrancando o paletó do terno e afrouxando o nó da gravata-
borboleta num movimento fluido.
Eu o encaro, sem expressão.
— Espere, hoje é sexta-feira?
Estou mesmo perdendo a conta. Ou talvez seja o problema de
não ter um emprego... todos os dias parecem os mesmos.
— É — responde ele.
— Raya está vindo!
Dou um salto do banquinho e me atiro em Harrison.
Ele me envolve com os braços.
— Vou fingir que este entusiasmo todo é para mim. E vou
começar a cozinhar, porque, mesmo que Raya diga que está
trazendo o jantar, nós dois sabemos que ela vai esquecer.
— Não, não vai — respondo, dando-lhe um beijinho no braço.
Ele pega uma fatia de melancia e dá uma mordida, então um rio
de suco cor-de-rosa escorre por seu queixo. Ele limpa com as costas
da mão.
— O mímico vem com ela?
— Marcel é um artista performático — corrijo.
— Ele é mímico.
Faço uma pausa.
— Ok, ele é mímico.
— Não acredito que ela ainda está com ele.
— Bem, melhor ele do que Jesse, né?
— Verdade.
— E ela gosta mesmo dele, então você precisa ser legal.
— Eu sempre sou legal — responde ele.
— Você sempre é legal — concordo.
— Mas não posso prometer não revirar os olhos se ele citar David
Bowie de novo. Juro que foi, no mínimo, três vezes!
— Muito justo. Como foi o trabalho? Qual foi a emergência da
madrugada dessa vez?
— Apendicectomia — responde ele, e seus ombros caem como se
só agora estivesse se permitindo sentir o peso da situação.
Faço uma pausa. Apendicectomia é um dos tipos de cirurgias
mais comuns e fáceis que Harrison faz, assim como as de vesícula,
mas, desde quando perdeu o menino de oito anos em sua mesa de
cirurgia, na Filadélfia, ele tem ficado emocionalmente abalado com o
procedimento. Não que ele fale muito sobre o assunto. Tenta se
distanciar, se desligar, como todos os médicos têm de fazer caso
queiram sobreviver aos fatos que testemunham. Mas alguns
pacientes, como Noah, inevitavelmente o afetam. Harrison carrega
esse fardo como pedras nos bolsos. E eu me preocupo que, um dia,
ele não consiga mais suportar a carga.
— Como foi?
— Foi... interessante, na verdade. Quando a enfermeira fez o
ultrassom para confirmar a apendicite, também confirmou uma
gravidez.
Ergo as sobrancelhas.
— A mulher não sabia?
— Agora ela sabe. Acho que ficou bem surpresa. Quase se
esqueceu da dor.
— Mas correu tudo bem? Não sabia que uma mulher grávida
podia ser operada.
— Correu. Foi por laparoscopia. O risco é bem baixo.
— Olha só você, salvando duas vidas de uma vez. — Lanço uma
piscadinha para ele. — Meu herói!
Ele revira os olhos.
— Aconteceu mais alguma coisa interessante hoje?
Minha mente voa para o homem que vi no Giant. O homem que
pensei ser ele. Cogito contar para Harrison. Pior que tenho uma
história engraçada, eu diria, rindo. Mas é engraçado? Penso de novo
em como me sentiria se Harrison estivesse tendo sonhos recorrentes
com uma mulher.
— Nada. Vou trocar de roupa.

— Pensei que a gente não fosse chegar nunca — declara Raya


enquanto passa por mim no hall de entrada, uma hora mais tarde.
— O sinal do celular estava uma merda, e passamos da entrada
certa, o quê? Oito vezes?
— É, não está muito bem sinalizada — respondo enquanto a
abraço.
Ela tem cheiro de Raya, uma mistura de produtos químicos ácidos
(da tinta vermelho-clara com que sempre tinge o cabelo) e óleo
essencial de hortelã-pimenta.
— Seu cabelo está enorme — comenta ela, passando os dedos
por minhas tranças escuras.
Em um impulso, cortei o cabelo depois que perdemos o segundo
bebê. Certa manhã, saí de casa com os fios ondulando até o meio
das costas, e, quando Harrison chegou em casa à noite, eles mal
chegavam ao queixo. Um corte navalha, como o cabeleireiro disse, e
gostei do quão forte soou. As pontas irregulares e afiadas, era como
eu me sentia.
Another random document with
no related content on Scribd:
übliche Mittel angewendet, die man nicht gerade als Unrecht
bezeichnet, die aber doch auch nicht zu den ganz soliden zählen.
Dass sein persönlicher Charakter ein ehrenwerter war, dafür
sprechen das grosse Zutrauen und die Auszeichnung, welche ihm
von den Gelehrten, seinen Geschäftsfreunden und seinen
Mitbürgern entgegengetragen wurden.

So war der Name Elzevier, noch ohne Hinzutreten des


Elements, welches seinen eigentümlichen Ruhm begründen sollte,
der Typographie, ein sehr gut renommierter geworden. Ludwig selbst
sollte eine Buchdruckerei nicht besitzen, wohl aber erleben, dass
sein Enkel Isaack, zweiter Sohn des Matthias, eine solche (1616)
erwarb. Noch konnte man nicht auf den künftigen typographischen
Ruhm schliessen, und die Werke, die Ludwig in den verschiedenen
Offizinen ausführen liess, zeichneten sich in Nichts vor hundert
anderen aus, wenn man auch später, als der Nimbus das Haus
umgab, oft versucht hat, einen besonderen Wert herauszufinden, wo
keiner vorhanden war.

Ludwig näherte sich dem Ende seiner


Ende Ludwigs.
Laufbahn, auf die er mit Befriedigung
zurückschauen konnte. Der unbekannte
Handwerker war ein durch Europa angesehener Mann geworden.
Vier Söhne hatten den Beruf des Vaters ergriffen; ein Enkel übte die
Buchdruckerei; sie konnten sich in ihrer Wirksamkeit gegenseitig
stützen und ergänzen. Sein neues Vaterland war in seiner Freiheit
anerkannt, es war ihm beschieden, auch seinen religiösen
Überzeugungen sich ruhig hingeben zu können.

Doch sollten seine letzten Tage noch in peinlicher Weise eine


Störung erleiden. Ludwig hatte erlangt, dass sein Sohn Matthias
1607 ihm als Vicepedell adjungiert wurde. Am 11. Nov. 1616 wurde
ein Teil der Universitätsgebäude vom Feuer zerstört und die
Untersuchungsrichter gaben der Nachlässigkeit der Pedelle allein
die Schuld. Matthias wurde seines Amtes enthoben; über Ludwig
wurde der Beschluss noch nicht gefasst. Die Möglichkeit ist wohl
nicht ausgeschlossen, dass dies Ereignis heftig auf ihn eingewirkt
hat; Thatsache ist es, dass er gleich zu Anfang des Februar 1617
starb und am 4. Febr. neben seiner Frau, die ihm schon vor drei
Jahren im Tode vorangegangen war, begraben wurde. Übrigens
wurde Matthias in demselben Jahre wieder in sein Amt eingesetzt,
das er bis zu seinem Tode behielt. 1636 war ihm das Recht
zugestanden, sich durch seinen Schwiegersohn, Peter Caron,
vertreten zu lassen.

Nach dem Tode des Vaters übernahmen der Ludwigs Söhne.


älteste Sohn Matthias und der vorletzte
Bonaventura das Leydener Geschäft, jedoch bereits am 3. Septbr.
1622 übertrug der erstere seinen Anteil auf seinen ältesten Sohn
Abraham.

Der zweite Sohn Ludwigs, Ludwig ii., wahrscheinlich 1566


geboren, ging 1590 als Buchhändler nach dem Haag. Seinen Laden
hatte er in einem grossen Saal des Palais der Generalstaaten,
vorzugsweise de Zaal genannt, an dessen Wänden
Buchhändlerstände ringsum eingerichtet waren. Mit einer kurzen
Unterbrechung in den Jahren 1598-99 stand er an der Spitze des
Haager Etablissements, welches keine grosse Bedeutung hatte, und
nur eine ganz geringe Verlagsthätigkeit entwickelte. Ludwig ii. starb
wahrscheinlich 1621. Das Geschäft erwarb Bonaventura und
übergab es wieder in demselben Jahre an Jacob Elzevier, den
dritten Sohn des Matthias. Jacob zog sich 1636 zurück, ging in
Staatsdienst über und siedelte sich schliesslich in Gensingen im
Kurpfälzischen an. Das Haager Geschäft blieb als Filiale bei dem
Leydener. Von dem dritten Bruder Aegidius weiss man nur, dass er
in der Abwesenheit Ludwigs eine kurze Zeit das Haager Geschäft
besorgte. Er starb als Kaufmann in Leyden 1651.

Der vierte Bruder Justus (geb. 1575) erhielt in Utrecht das


Bürgerrecht als Buchhändler. Von seinen vier Kindern war das
älteste, Ludwig iii., der später so berühmte Gründer des
Amsterdamer Hauses. Sein Todesjahr ist nicht bekannt. Ein Enkel
von ihm, Peter, trieb kurze Zeit den Buchhandel in Utrecht und
verschwand 1675 von der geschäftlichen Bühne. Der fünfte Sohn
wurde Landschaftsmaler, der siebente, Adrian, trat in die Dienste der
Ostindischen Compagnie und wurde 1609 von den Wilden auf den
Bandainseln ermordet.

Bevor wir an die weitere Geschichte des Stammhauses in


Leyden unter Bonaventuras und Abrahams Leitung gehen, müssen
wir der Thätigkeit des zweiten Sohnes des Matthias, des
Buchdruckers Isaack, gedenken, die fast ihr Ende erreicht hatte, als
die zuerstgenannten die ihre begannen.

Isaack war am 11. Mai 1596 in Leyden


Isaack, Ludwigs
geboren. Am 14. Febr. 1616 verheiratete er sich Enkel.
mit Jaquemine Symons van Swieten, einer
Waise, und wurde wahrscheinlich durch ihr Vermögen in die Lage
versetzt, eine Druckerei erwerben zu können, denn seine grossen
für den Grossvater ausgeführten Druckwerke datieren aus dem
Jahre 1617. Isaack fuhr fort vorzugsweise für Matthias und
Bonaventura, später für Bonaventura und Abraham zu drucken. Es
finden sich auch Druckwerke vor, die keine andere Firma als die
Isaacks tragen, doch lässt sich daraus nicht schliessen, dass er als
Verleger und Konkurrent seiner Verwandten aufgetreten wäre,
sondern nur, dass solche Werke im Selbstverlage der Autoren
erschienen sind.

Am 9. Febr. 1620 erhielt Isaack die Stellung


Isaack,
als akademischer Buchdrucker, in der die Familie Universitäts-
bis zu ihrem Ende 1712 blieb. Gleich bei der Buchdrucker.
Begründung der Universität Leyden war der
Beschluss gefasst, einen gelehrten, namhaften und erfahrenen
Mann zum akademischen Buchhändler und Buchdrucker zu
ernennen. Die Wahl fiel auf Wilhelm Sylvius, der in Antwerpen mit
dem Titel königl. Buchdrucker etabliert war (1579), Sylvius starb
bereits 1580. Sein Nachfolger war der berühmte Christoph Plantin
(1584), der Antwerpen verlassen hatte, jedoch bald wieder nach dort
zurückkehrte. Seine Offizin und sein Amt gingen auf seinen
gelehrten Schwiegersohn, Franz von Rapheling, über; das Amt erbte
nach dessen Tode (20. Juli 1597) der Sohn Christoph, der ihn jedoch
nicht vier Jahre überlebte. Der Senat erwählte nun (1602) Johann
Paedts (Patius) zu seinem Nachfolger. Er starb 1620 und das Amt
wurde auf Isaack Elzevier übertragen. Als Universitätsbuchdrucker
war er verpflichtet, eine und eine halbe Presse für den Druck der
kleinen Universitäts-Schriften zur Disposition zu halten. Er hatte für
gute Korrektur und dafür zu haften, dass keine willkürlichen
Änderungen gemacht wurden; die Besorgung der Bücher zur
Frankfurter Messe übernahm er zu festgesetzten Bedingungen.
Jährlich erhielt er eine Entschädigung von 50 Gulden.

Das Universitätsgebäude lag, und liegt noch,


Die Druckerei.
in einer breiten, von einem Kanal, dessen Ufer
mit grossen Bäumen bepflanzt waren, durchzogenen Strasse, der
„Rapenburg“. Das Gebäude war früher ein Nonnenkloster gewesen,
die Seitenfront kehrte es nach der Strasse, daneben lief eine Mauer,
in welcher sich der Eingang zu dem Universitätshof und dem
botanischen Garten befand. Das angrenzende Haus hatte Matthias,
Isaacks Vater, am 26. Aug. 1608 gekauft. Als Isaack nun
Universitätsbuchdrucker geworden war, teilte er dem Senat mit, dass
er bereit sei, das Haus seines Vaters zu beziehen, wenn man ihm
gestatten wollte, längs seinem Hause in dem unbenutzten Winkel
des Universitätshofes, der dem Ganzen keineswegs zur Zierde
gereichte, ein Atelier anzubauen. Es würde dies eine sehr grosse
Annehmlichkeit für die Professoren und die Studierenden sein. Man
fand den Vorschlag annehmbar und gestattete Isaack ein Gebäude
von 14 Fuss Tiefe, bestehend in einem Parterre mit einem hohen
Dach, zu errichten. Der Eingang für seine Arbeiter sollte jedoch
durch sein Haus sein, und das Hofthor nur für die Besucher der
Universität dienen. Auch hinsichtlich der Anbringung der Fenster
wurden ihm verschiedene Beschränkungen auferlegt. In diesem
bescheidenen Lokal, das jetzt verschwunden ist, blieb die Druckerei
bis zu ihrem Aufhören.

Die Massregel der Universität, Isaack zu


Isaack erwirbt die
ihrem Buchdrucker zu ernennen, war gewiss eine Offizin Erpenius.
glückliche, denn durch die Ausführung
schwieriger Arbeiten, unter welchen namentlich das Theatrum
geographiæ veteris in Folio, für Rechnung des Buchhändlers J.
Hondius, besondere Erwähnung verdient, hatte er sich bereits einen
guten Namen erworben, und sich auch in anderer Weise, durch den
Ankauf der Buchdruckerei des berühmten Orientalisten Erpenius
(Th. van Erpe), klüglich vorbereitet. Nicht damit zufrieden, die
orientalischen Sprachen zu lehren und Werke herauszugeben, hatte
Erpenius eine Druckerei in seinem Hause eingerichtet, die er selbst
überwachte. Nach seinem plötzlichen Tod an der Pest am 13. Nov.
1624 legte die Universität grosses Gewicht darauf, seine Druckerei
für Leyden zu erhalten. Mit dem seinem Geschlechte eigenen
Geschäfts-Instinkt war Isaack den Wünschen der Universität bereits
zuvorgekommen, und hatte alle Stempel, Matrizen und Schriften des
Erpenius erworben.

Als Druckerzeichen nahm Isaack eine Ulme


Druckerzeichen.
an, die von einem Rebstock voll Trauben
umschlungen wird, daneben steht ein Einsiedler;
die Devise lautet: non solus. Der Baum mit dem Rebstock deutet
dasselbe an, was das Bund mit den Pfeilen ausdrücken will. Dies
Druckerzeichen wurde bis 1712 benutzt. Ein anderes, von Isaack
verwendetes: ein Palmbaum mit der Umschrift Assurgo pressa, war
ursprünglich das Insigne des Erpenius. Im übrigen bedienten sich
Isaack sowohl als auch Bonaventura und Abraham mitunter der
Marke des Vaters.

Trotz des günstigen Fortgangs des


Isaack giebt das
Geschäfts fasste jedoch Isaack den Entschluss, Geschäft auf.
dasselbe aufzugeben, angeblich aus Besorgnis
um die Folgen des langwierigen Krieges in Deutschland. Durch
Vertrag vom 24. Dez. 1625 übergab er die Offizin mit 5 Pressen und
1 Kupferdruckpresse, 10 000 Kilo Schriften, Stempeln, Matern etc.
seinem Bruder Bonaventura und seinem Neffen Abraham für die
Summe von 9000 Gulden, und 2000 Gulden für das Lokal. Im
Februar 1626 legte er auch sein Amt nieder und verliess in den
letzten Tagen des Jahres Leyden, trat in den Marinedienst und hatte
1632 Kapitänsrang. 1648 finden wir ihn in Delft in Association mit
seinen zwei jüngsten Söhnen, um eine Brauerei zu betreiben. Er
starb in Köln am 8. Okt. 1651.

Wir kehren nun zu dem Stammgeschäft Bonaventura und


zurück. Bonaventura, wahrscheinlich so nach Abraham.
dem berühmten Gelehrten Bonaventura Vulcanus
(de Smidt) aus Brügge genannt, war 1583 in Leyden geboren. Sein
Vater liess ihn zeitig Geschäftsreisen machen. Abraham, in Leyden
am 14. April 1592 geboren, war an Stelle seines Vaters eingetreten.
Er hatte in Leyden studiert und sich bei seinem Bruder Isaack mit
der Typographie vertraut gemacht. Am 21. Mai 1621 heiratete er
Katharina van Waesberghe, Tochter des Admiralitätsbuchdruckers in
Rotterdam, und kam dadurch in eine unabhängige Stellung, sodass
er sich als Buchhändler etablieren konnte. Ein Glück für
Bonaventura war es, nachdem 1625 die Druckerei Isaacks ihm noch
zugefallen war, einen Mitarbeiter gefunden zu haben, der sich
namentlich der Buchdruckerei widmete.

In demselben Jahre heiratete Bonaventura Sahra van Keulen,


Tochter des berühmten Gelehrten Daniel Colonius, für ihn ein
doppelter Vorteil, indem er nicht nur in eine sehr angesehene Familie
eintrat, sondern auch in nähere Verbindung mit einer grossen Anzahl
der bedeutendsten Gelehrten trat, die sich nun vorzugsweise der
Pressen der Elzeviere bedienten.

Dass unter den obwaltenden Verhältnissen die Stellung als


Universitätsbuchdrucker den Elzeviers nicht entgehen konnte, ist
fast selbstverständlich. Man gewährte ihnen das Recht, die alte
Lokalität innezubehalten, und bewilligte ihnen ein jährliches Gehalt
von 100 fl., das auf 200 und später auf 300 fl. erhöht wurde.
Die nun folgenden 26 Jahre waren die des
grössten Glanzes des Hauses. Das Streben der Der Glanz des
Associés war von Beginn ab darauf gerichtet, Hauses.
sich von dem Alltäglichen zu emanzipieren und
ihren Erzeugnissen mehr und mehr den Stempel der
Vollkommenheit aufzudrücken. Schon ihre ersten Druckwerke
übertrafen die Isaacks, und jedes Jahr zeigt einen Fortschritt, sei es
in der Schrift, in der Ornamentierung, oder in dem Druck. Schritt für
Schritt kann man diese Elzeviere auf ihrem Wege zur Vollendung
verfolgen, bis sie, nach zehn Jahren, Meisterwerke wie ihren Cäsar,
Terenz und Plinius v. J. 1635 hervorzubringen imstande waren.
Ihnen verdankt man die Initiative zu allen den Unternehmungen,
welche den Namen Elzevier zu einem unsterblichen in der
Geschichte der Buchdruckerkunst und des Buchhandels gemacht
haben. Im Jahre 1625 begannen sie die Sammlung der kleinen
„Republiken“, für welche sie ein Privilegium vom 15. Mai 1626
erhielten. 1629 weihten sie die Reihe der lateinischen Klassiker in
dem berühmten Duodez durch den Horaz und den Ovid ein; 1641
die Kollektion der renommiertesten Schriften einer neueren Zeit mit
dem Cid; die Sammlung französischer Klassiker mit Régnier 1642.
Daneben folgten aber auch Bücher in grösserem Formate, darunter
verschiedene orientalische Werke.

Ihren Hauptruhm bilden jedoch die


Die kleinen Aus-
Duodezausgaben der Klassiker zu billigen gaben.
Preisen. Zwar waren solche kleinere Ausgaben
nicht ohne Vorbild, wir erinnern nur an die „Aldinen“, im allgemeinen
war man jedoch bei den grossen Formaten geblieben, bis mit den
Elzevieren die Ausnahme Regel wurde. Die Bändchen, von den
berühmtesten Kritikern und Kommentatoren der Zeit besorgt,
nahmen im Sturm das Publikum für sich ein. Das Oktavformat blieb
nur für die Ausgaben mit vielen Noten und Varianten. Durch den
billigen Preis von 1 fl. als Mittelpreis für einen Band von etwa 500
Seiten steigerte sich der Absatz enorm. Die Durchschnittsgrösse der
Auflagen ist nicht bekannt, sie muss aber eine bedeutende gewesen
sein.

Übrigens fehlte es nicht an Stimmen, die diese handlichen


Bändchen als eine Herabwürdigung der Gelehrsamkeit bezeichneten
und als eine rein kaufmännische Manipulation verdammten.
Trotzdem suchten die Gelehrten eine Ehre darin, dass ihre Werke
den Kollektionen einverleibt wurden. Ja, selbst Autoren, deren
Schriften von den Elzevieren nachgedruckt waren, schrieben ihnen
verbindliche Briefe auf Grund der auf den Nachdruck verwendeten
Sorgfalt. Das Format wurde in ganz Holland und Belgien standard
und auch von mehren Pariser Buchhändlern angenommen. Bald
bemächtigte auch die Sammelwut sich der kleinen Bändchen. Noch
vor Ablauf des Jahrhunderts wurde von Liebhabern berichtet, die
sich das Allernotwendigste versagten, um eine komplette
Elzeviersammlung zu besitzen.

Mit der Beschaffung des Papiers scheinen


Papier und Kor-
die Elzeviere manchmal Not gehabt zu haben. rektur.
Öfters wenden sie französisches an, das jedoch
schon in Frankreich auf Grund der dortigen Abgaben sehr teuer zu
stehen kam, wie viel mehr also im Auslande. Während des Krieges
mit Frankreich war die Einfuhr von Papier ganz verboten und die
Elzeviere bezogen grosse Massen aus Deutschland, klagen jedoch
öfters, dass dieses oder jenes Werk nicht recht gefördert werden
könne, weil das in Frankfurt bestellte Papier nicht angekommen sei.
In Betreff der Korrektheit der Elzevier-Ausgaben sind von
einander abweichende Stimmen laut geworden. Viele loben dieselbe
sehr, viele tadeln derb die Inkorrektheit. Der Grund ist nicht schwer
zu finden. Die Elzeviere waren nicht, wie die Aldi, Stephane, oder
wie Badius, Morel, Oporin begeisterte Gelehrte, die im Interesse der
Wissenschaft Typographen geworden waren und einen Hauptteil der
litterarischen Arbeit auf sich nahmen; sie waren praktisch-tüchtige
Geschäftsleute, welche die Typographie hochhielten, aber nicht in
der Lage waren, durch ihre persönlichen Kenntnisse zur Förderung
der Wissenschaft beizutragen. Man darf sich nicht von ihrem Titel
„akademischer Buchdrucker“ oder von den gutgeschriebenen
lateinischen Anreden in ihren Verlagswerken irreleiten lassen;
letztere sind Arbeiten ihrer litterarischen Freunde, namentlich des
Dan. Heinsius. Sie gaben sich alle Mühe, für gute Korrektoren zu
sorgen, diese waren aber selten; oft mussten sie sich deshalb in
Betreff der Korrektur auf die Verfasser selbst verlassen, die
bekanntlich selten diese Arbeit in befriedigender Weise üben. So
giebt es neben sehr gut korrigierten Ausgaben der Elzeviere auch
fehlerreiche. Im allgemeinen sind ihre lateinischen Klassiker
sorgsam korrigiert, der Virgil von 1676 gilt sogar als ein nicht leicht
zu erreichendes Muster, auch ihre französischen und italienischen
Ausgaben, obwohl Nachdrucke, waren öfters weit korrekter als die
Originale. Viele bekannte Namen fanden sich unter ihren
Korrektoren nicht vor, berühmte gar nicht.

Als eine Eigentümlichkeit der Elzevierischen


Das ausländische
Geschäftsorganisation wurde schon der Geschäft.
ausgedehnte ausländische Vertrieb erwähnt, der
bereits von Ludwig begonnen und sowohl (seit 1630) von dem
Leydener als später von dem Amsterdamer Haus in System
gebracht wurde.
Die meisten Glieder der Familie begannen ihre Thätigkeit mit
dieser Branche. Selbst nach seiner Association mit Matthias und
Abraham setzte Bonaventura seine Reisen fort; doch nötigten ihn
später die steigenden Geschäfte, diesen Teil der Arbeit dem Neffen,
Ludwig, zu überlassen, bis dieser sich 1638 in Amsterdam etablierte.
Er wurde von Johann, dem ältesten Sohn Abrahams, dieser wieder
von Daniel, Bonaventuras Sohn, abgelöst.

Als letzterer später dem Geschäft Ludwigs in Amsterdam


beitrat, setzte er seine Reisen für dieses fort.

Über die Depots in Frankfurt, Italien und Paris wurde schon


oben gesprochen. Eine grosse Bedeutung hatte die Verbindung mit
den skandinavischen Ländern. Kopenhagen, der Hauptsitz der
Litteratur im Norden, war gewohnt, sich in Frankfurt zu versorgen.
Als jedoch der Verkehr im 30jährigen Krieg immer schwieriger
wurde, hielten die Holländer mit ihrem merkantilen Genie es für
angebracht, die litterarische Versorgung des Nordens zu
übernehmen. Der erste, der den Versuch machte, war der
Buchhändler Johann Jansson aus Amsterdam und der Erfolg war ein
so glänzender, dass die dänischen Buchhändler bittre Beschwerden
über die Eindringlinge führten. Eine Merkwürdigkeit war, dass der
Buchhandel dort in den Kirchen betrieben wurde, was erst aufhörte,
als Christian iv. die prachtvolle Börse baute, in deren erstem Stock
eine Menge Detail-Läden, namentlich für den Buchhandel, sich
befanden. Hier mieteten Jansson und die Elzeviere Lokale. Ihr
Handel muss ein sehr bedeutender gewesen sein, denn sie liessen
besondere Kataloge drucken, von welchen einer auf uns gekommen
ist: Catalogus omnium librorum, qui hoc tempore in officina
Elzeviriana prostant. Hafniæ 1642. Man sieht, es handelt sich um
eine vollständige Filiale. Wer sie dirigierte, ist nicht bekannt; die
Elzeviere selbst besuchten jedoch oft Kopenhagen. Nicht weniger
gut als dort waren sie in Schweden angeschrieben, und die für die
Wissenschaften eingenommene Königin Christine machte ihnen
vorteilhafte Anerbietungen, um sie zu bestimmen, ein Haus dort zu
gründen. Sie lehnten es ab, dagegen kamen die Verhandlungen mit
Joh. Jansson zustande, der 1647 das Privilegium, eine Druckerei
anzulegen, erhielt (vgl. S. 157).

Zu dem Glanze des Leydener Hauses trug


Eigenschaften
jeder der Associés bei. Bonaventura leitete mit der
grossem Geschick den bibliopolischen und Associés.
kaufmännischen Teil des Geschäfts, wozu ihn
eine sorgfältige Vorbereitung geeignet machte. Daniel Heinsius.

Mit ihm verhandelten gewöhnlich die Gelehrten


und die Kunden. Abraham besorgte mit gleicher Sorgfalt und grosser
Hingebung das typographische Departement. Eine gute Hülfe hatten
sie in Ludwig ii., bis dieser selbst sich etablierte. Eine ganz
wesentliche Stütze für das buchhändlerische Geschäft war der
berühmte Gelehrte Daniel Heinsius, der so eigentlich die Seele der
litterarischen Produktion war. Heinsius war 1580 in Genf geboren. In
Leyden war er der bevorzugte Schüler von Jos. Scaliger und später
von dessen Nachfolger. Er war ein Universalgenie, in allen Fächern
des Wissens zuhause, zugleich ein Dichter von gutem Geschmack.
Ganz natürlich, dass ein solcher Mann einen Verleger im Guten
sowohl wie im Bösen vollständig beherrschen konnte. In beiderlei
Hinsicht übte er auf die Elzeviere, speziell auf Bonaventura, einen
grossen Einfluss. Ihm verdanken sie den Besitz einer Reihe der
besten Verlagswerke, bei deren Herausgabe er ihnen zuhilfe kam,
indem er die Einleitungen und Dedikationen, mit welchen die
Verleger ihre Werke begleiteten, schrieb. Er war jedoch eine
streitsüchtige, egoistische Natur und hielt die Elzeviere von
denjenigen Gelehrten ab, die bei ihm nicht in Gunst standen.

Bonaventura selbst zeigt sich auch nicht


Tod Abrahams
durchweg als liebenswürdiger Charakter, u. Bonaventuras.
namentlich scheint er von einem mitunter
hässlichen Geiz beherrscht gewesen zu sein. Nichtsdestoweniger
suchte man gern eine Verbindung mit den Elzevieren und rühmte
ihre Genauigkeit, Pünktlichkeit und ihren Eifer, sowie ihr warmes
Interesse für ihren Beruf, dem sie einen förmlichen Kultus erwiesen.
Liebenswürdiger als Bonaventura dürfte Abraham gewesen sein,
Wenigstens spricht für seine Beliebtheit, dass die Universität nach
seinem Tode, am 14. Aug. 1652, ihm zu Ehren eine goldene
Medaille prägen liess, eine Auszeichnung, mit der sie sehr sparsam
war. Dagegen geschah nichts zu Ehren Bonaventuras, als dieser
einen Monat später, am 17. Septbr. 1652, verschied.

Die Auszeichnung Abrahams fällt um so mehr auf, als schon


1649 Differenzen mit der Universität auf Grund der von den
Elzevieren angesetzten Preise entstanden waren. Es kam sogar in
Frage, ihnen die Emolumente zu entziehen, während sie ihrerseits
auf Erhöhung derselben antrugen. Bei dem Tode Abrahams und
Bonaventuras war noch nichts entschieden, doch muss ein
Ausgleich stattgefunden haben, denn man bewilligte den
Nachfolgern die bisherigen Emolumente, und so blieb es bis zum
Erlöschen des Hauses 1712.

Bonaventura vermachte seinem ältesten Johann und


Sohne Daniel sein Haus auf der Rapenburg und Daniel.
seinen Anteil an allem, was er in Verbindung mit
Abraham besessen hatte. Ein Gleiches that Abraham in Betreff
seines Sohnes Johann.

Johann, der älteste Sohn Abrahams aus seiner Ehe mit


Katharine van Waesberge, war das einzige von dessen Kindern,
welches der väterlichen Laufbahn folgte. Er war zu Leyden im Febr.
1622 geboren; 1638 wurde er, 16 Jahre alt, nach Paris gesandt,
wohl weniger um sich in der Typographie, als im Französischen zu
vervollkommnen und um neue Verbindungen anzuknüpfen oder die
alten zu pflegen. Schon 1643 ist er wieder dort, zum Vertrieb von
Büchern; 1641 ging er nach Dänemark; 1644 wieder nach Paris.
1647 heiratete er Eva van Alphen aus Leyden; 1649 etablierte er
sich im Hause des Grossvaters Bonaventura.

Daniel, der älteste Sohn Bonaventuras und der Sarah van


Keulen, war im Aug. 1626 in Leyden geboren. Aus seiner Jugendzeit
wissen wir nur, dass er 1645 nach Paris ging, um seine Ausbildung
zu vollenden. Dort blieb er gegen drittehalb Jahre, um dann in
Leyden zu studieren, dabei nahm er jedoch an den Geschäften teil.

Es war eine schwere Last, welche auf den


Trennung
Schultern der jungen Männer ruhte. Sie Daniels von
begannen jedoch guten Mutes ihr Werk. Ihre Johann.
Ausgaben der Nachfolge Christi und des Psalters
von 1653 gehören zu den besten Erzeugnissen der Elzeviere. Aber
die Aussichten für die Zukunft waren weniger freundlich, als bisher.
Gleichzeitig mit den Vätern war eine grosse Zahl der gelehrten
Freunde und Ratgeber von der Bühne abgetreten; die Universität
befand sich in einer Krisis; die Zeiten waren vorbei, wo die Arbeiten
ihrer Professoren die gelehrte Welt in Bewegung setzten, sie
genügten nicht mehr, um einer Druckerei eine Fülle von Arbeit und
Ehre zu bringen. Dabei war das Verhältnis der jungen Männer zu der
Universität ein nicht ganz ungestörtes. Es fehlte ihnen noch an der
nötigen Erfahrung und Autorität, um glücklich über alle Klippen
wegzukommen, Eigenschaften, die dagegen der Amsterdamer
Ludwig in hohem Grad besass. Diejenigen berühmten Gelehrten, die
durch Heinsius den Leydener Elzevieren entfremdet worden waren,
näherten sich Ludwig; selbst Leydener Gelehrte suchten die
Verbindung mit ihm. Diese Umstände, dazu Johanns schwankender
Charakter werden wohl mitgewirkt haben, um Daniel zu bestimmen
aus dem Geschäft zu treten und sich mit seinem Vetter Ludwig in
Amsterdam zu verbinden. Ein weiterer Grund mag wohl auch seine
Heirat mit Anna Bierninck, Enkelin von seinem Onkel Justus und
Nichte und Mündel Ludwigs, gewesen sein. Er trennte sich nach
zwei und einem halben Jahre von Johann.

Wir werden nun Ludwigs und Daniels Schicksale in


Amsterdam verfolgen, um dann zu dem Leydener Geschäft und
dessen traurigem Ende zurückzukehren.

Der Gründer des Amsterdamer Geschäfts,


Ludwig iii. und
Ludwig iii., ältester der vier Söhne des Justus, das Amsterdamer
war 1604 in Utrecht geboren. Früh vaterlos, Haus.
wurde er, um zu studieren, nach Leyden gesandt,
wo er bei seinem Onkel Matthias wohnte und Gelegenheit fand, sich
mit Buchhandel und Typographie bekannt zu machen. Durch seine
vielen Reisen kreuz und quer durch Europa hatte er sich vortrefflich
für ein eigenes Etablissement vorbereitet. Er war 33 Jahr alt
geworden; Aussichten auf eine selbständige Stellung in dem
Leydener Geschäft waren nicht vorhanden; Konkurrenz wollte er
demselben nicht machen. Er wählte deshalb Amsterdam zum
Schauplatz seiner Thätigkeit. Wennauch vorzugsweise
Handelsstadt, war Amsterdam doch durch seine gelehrten
Gesellschaften bekannt, und besass eine Art von Universität in
seinem neu errichteten Athenäum, welches schon berühmte Lehrer
zu den Seinigen zählte. Die Leydener Verwandten hatten nichts
gegen das Etablissement einzuwenden, sie hofften sogar Vorteile
durch energische Verbreitung ihrer Artikel seitens Ludwigs zu
erreichen und druckten auch anfänglich mehrere Werke für ihn.

Jedoch Ludwig war der Mann, um ganz auf


Aufblühen des
eigenen Füssen zu stehen. Kaum etabliert, Hauses.
suchte er die Verbindung mit dem berühmten
Hugo Grotius, der als schwedischer Gesandter in Paris lebte. Ohne
Freigeist zu sein, hatte Ludwig auf seinen Reisen doch in religiösen
Angelegenheiten einen freieren Blick erworben, als seine Leydener
Verwandten, die eine grosse Strenggläubigkeit entweder wirklich
besassen, oder durch die Verbindung mit der Universität zu zeigen
gehalten waren. Er war so recht geeignet, als Verleger die
unabhängigen Geister um sich zu versammeln. Er zählte sogar zur
katholischen Kirche übergetretene zu seinen litterarischen Freunden,
ohne dass dies ihn verhinderte, Schriften zu verlegen, welche die
Katholiken wenig schonten. Seit 1642 druckte er alle Werke des
Cartesius, was auf die volle Unabhängigkeit seines Charakters
deutet, denn man weiss, welche heftigen Angriffe der Autor seitens
der holländischen Theologen auszustehen hatte, sodass es in
Leyden sogar verpönt war, den Namen Cartesius zu nennen. Auch
die Werke der Schüler und Anhänger desselben gab Ludwig heraus,
ebenso die Schriften der französischen Jansenisten.

Jedenfalls lag es gleich von Beginn ab in Ludwigs Absicht, eine


Druckerei anzulegen. Im Jahre 1640 besass er eine solche,
wennauch nach einem beschränkten Massstabe, denn seine Mittel
waren nicht bedeutend. Er liess sowohl bei seinen Verwandten, wie
bei anderen Kollegen, namentlich bei Fr. Hackius in Leyden drucken,
der von allen Buchdruckern den Elzevieren am nächsten stand, um
so mehr als ein Sohn des Hauses Hackius, Cornelius, mit
Margaretha Elzevier, Schwester von dem in Utrecht als Buchhändler
etablierten Peter und Nichte Ludwigs, verheiratet war.

Es dauerte nicht lange, so stand das Amsterdamer Geschäft


dem Leydener gleich. Von 1640-45 kamen 219 Verlagsartikel
heraus. Die Geschäfte wuchsen so rasch, dass es Ludwig nicht
immer möglich war, die nötige Ordnung und Pünktlichkeit zu zeigen;
er sah sich deshalb nach Hülfe um. So wurde die Association mit
Daniel am 1. Mai 1655 abgeschlossen. Bei dieser Gelegenheit
gingen eine Menge Verlagsartikel des Leydener Geschäfts auf
Daniel über und von dieser Zeit an begannen auch die Amsterdamer
Pressen, die berühmten Duodeze zu reproduzieren, auf welche das
Leydener Geschäft bis jetzt faktisch das Monopol gehabt hatte. Die
Zahl der von Ludwig und Daniel, während eines neunjährigen
Zusammenwirkens, herausgegebenen Werke beträgt gegen 150;
auch der Anfang ihres Hauptwerkes, der grossen Bibel von
Desmarest, stammt aus dieser Zeit.

Als Zeichen bedienten sie sich der Minerva


Druckerzeichen.
mit der Aegide, dem Ölzweig und der Eule und
mit der Devise Ne extra oleos. Der Gedanke der
Devise ist dem Wettrennen der Alten entlehnt, bei welchem das Ziel
durch eine Reihe von Ölbäumen bezeichnet war. Die Warnung:
„nicht über die Ölbäume hinaus“, heisst also soviel als: „Halte dich
innerhalb der richtigen Grenzen, und schiesse nicht über das Ziel
hinaus“.
Das Geschäftslokal war „opt Water in den
Olm-boom“. Diese Bezeichnung „Auf dem Geschäftslokal.
Wasser“ hatte ein Hauptquai in Amsterdam, wo
vorzugsweise die Lokale der Buchhändler und Buchdrucker sich
befanden. Die Elzeviere bewohnten dort nach und nach
verschiedene Häuser; wenn sie nichtsdestoweniger als „in der Ulme“
wohnhaft fort firmierten, so ist dies durch die Sitte erklärlich, die
Häuser nicht nur nach den, von dem Besitzer über den Thorweg in
Stein gehauenen Emblemen, sondern auch nach den beweglichen
Schildern der gewerbetreibenden Bewohner zu bezeichnen.

Im Jahre 1664 zog sich Ludwig zurück, und


Ludwigs Tod.
lebte auf seinem schönen Landsitz, welchen er
halbwegs zwischen Amsterdam und Utrecht
besass. Sein Name findet sich fernerhin nur auf der Bibel
Desmarests, welche 1669 in 2 Bdn. in Folio vollendet wurde. Sie war
bei dem Ausscheiden Ludwigs Gegenstand eines besonderen
Übereinkommens unter den Associés geblieben. Ludwig starb 1670
in Leyden, infolge eines Beinbruchs.

In allen Angelegenheiten der Familie war Ludwig stets als das


Oberhaupt betrachtet worden, und er hatte gesucht, ihr Interesse,
wo er konnte, wahrzunehmen. Seine Rechtschaffenheit und Einsicht
wurden überall anerkannt. In seinem Testament zeigt er sich als
einen durchaus noblen Mann, sowohl gegen Andere, als auch gegen
seinen Associé. Es sollten alle Rechnungen mit ihm ohne irgend
eine Revision geordnet werden. Es war ihm freigestellt, die Artikel zu
den Druck- und Papierkosten ohne Zinsen und sonstige Lasten zu
übernehmen, und die daraus entstehende Schuld erst in langen
Terminen unter 4% Verzinsung zu zahlen.
Die Weiterführung des ausgedehnten und
vielseitigen Geschäfts war für Daniel mit seinen Daniels weitere
Wirksamkeit.
alleinigen Kräften eine schwere Aufgabe, wozu
die grösste Energie notwendig war. Hierzu kamen noch ungünstige
Zeitverhältnisse. Kurz nach der Übernahme brach der Krieg mit
England aus, der zwei Jahre (1665-67) mit wechselndem
Kriegsglück, aber unter fortwährender Hemmung der Geschäfte,
dauerte. Daniel nahm deshalb Jakob Zetter in sein Geschäft, der
den buchhändlerischen Teil sehr gut leitete. 1669 fesselte er den
jungen Heinr. Wetstein, der bestimmt war, selbst einen
bedeutenden Platz in der niederländischen Typographie
einzunehmen, an sich. Wetstein war 1649 in Basel geboren, wo sein
Vater Professor der griechischen Litteratur war. Er hatte eine
vortreffliche wissenschaftliche Erziehung genossen, aber sein Trieb
zur Typographie war ein unwiderstehlicher. Am besten glaubte er
seinen Zweck in Holland zu erreichen, trat daher mit seinem 20.
Jahre bei Daniel in die Lehre und blieb 7 Jahre bei ihm. 1676
verheiratete sich Wetstein und etablierte sich dann als Buchhändler.
Er war mit Zetter zusammen dem Hause Elzevier von grossem
Nutzen. Daniels Buchhandlung hatte vorher nur aus Verlags- oder
Kommissionsartikeln bestanden; jetzt fügte Wetstein ein
vollständiges Sortiment neuer und alter Bücher hinzu. 1674 gab
Daniel, durch Wetstein unterstützt, seinen grossen Lagerkatalog,
über 20000 Werke enthaltend, heraus.

In den Jahren 1667-1672 wurden über 100 neue Werke


gedruckt, daneben die grosse Bibel fortgesetzt. Daniel sammelte, als
letzter der bedeutenden Elzeviere, die ganze Ehre des Namens auf
sich und wurde als einer der Buchdrucker majorum gentium
betrachtet. Als im Jahre 1672 ein grosser Brand einen bedeutenden
Teil des Blaeuschen Geschäfts vernichtete und Blaeu in
Verlegenheiten kam, kaufte Daniel eine Anzahl von dessen
Verlagsartikeln. Auch von Hackius machte er bedeutende
Erwerbungen.

Trotz der schweren Zeiten hat man sich also Daniel nicht als
mutlos geworden zu denken, und noch in den Jahren 1675-1680
verliessen 90 Verlagswerke, unter welchen sich einige seiner
bedeutendsten Leistungen befinden, seine Pressen.

Da überraschte ihn der Tod mitten unter den


Daniels Tod.
Vorbereitungen zu einer Menge neuer
grossartiger Unternehmungen. Am 13. Oktbr.
1680 unterlag er dem wiederholten Anfall eines heftigen Fiebers, wie
solche in Amsterdam nicht selten auftreten.

Die Verhältnisse waren schwer zu


Die Elzevier-
beherrschen. Zwar beabsichtigte die Witwe das schriften.
Geschäft fortzusetzen, sah aber bald die
Notwendigkeit einer Beschränkung ein. Zuerst kam die Reihe an die
Schriftgiesserei, bei welcher Gelegenheit ein Licht über die
Entstehung der Elzevier-Schriften geworfen wird. Es gelang dem
Herrn Alfons Willems, im Plantinschen Museum in Antwerpen ein
Schreiben von der Witwe Daniels an die Witwe des Balthazar
Moretus aufzufinden, in welchem erstere den Plantins ihre
Schriftgiesserei anbietet, mit 27 Sorten von Stempeln und 50 Sorten
Matern „gemaekt wesende bij Christoffel van Dyck, de beste
meester van sijnen en onsen tijdt, en bij gevolge de beroemste
gieterije, die ooyt ist geweesi“. Beigefügt ist eine Schriftprobe, ein
einzelnes Blatt in Plakatformat, mit der Überschrift: „Proeven van
Letteren die gesneden ziin door Wylen Christoffel van Dyck, soo als
de selve verkoft sullen werden ten huyse van de Weduwe Wylen

Você também pode gostar