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LIVRO – PAULA

CONHECENDO A PERSONAGEM

1. Paula criança (onde nasceu, como foi a infância).

Quase não tenho fotos da minha infância para contar algo


específico sobre o momento registrado. Mas as imagens que trago
na memória, essas ninguém poderá apagar. Posso dizer que os
primeiros anos da minha vida foram absolutamente normais para os
padrões da época, meu pai era funcionário da Vale do Rio Doce e
nas décadas de 1970 e 1980 o salário que ele ganhava era
suficiente para pagar as despesas e sempre ter roupas, calçados e
brinquedos nas datas comemorativas. Tenho muito orgulho por ter
nascido e sido criada na rua Baturité, bairro da Glória. Onde os
meus anos ali foram também de glória. A infância é sempre a época
que quero guardar no melhor da minha memória. Lembrar com
alegria e saudade desse tempo que embora algumas vezes difícil
para os adultos a criança Paula não tem do que reclamar.

Meu pai, Paulo de quem eu recebi o mesmo nome sempre teve


orgulho do nosso estereótipo: negra, com cabelo crespo todo pra
cima viajávamos para o Rio de Janeiro algumas vezes por ano para
visitar os parentes. Sempre aproveitávamos para fazer passeios
turísticos e os gringos amavam tirar fotos ao lado de uma criança
“típica brasileira”, eu não entendia o porquê disto, mas eu sabia que
meu pai se enchia de orgulho das três filhas lindas que ele tinha.

Minha família sempre foi miscigenada meus primos eram brancos


com cabelos lisos e loiros e minha mãe para acompanhar o
seguimento da família cortava meu cabelo com franja, penteava
com escova e o resultado era o que ela esperava. Nessa época eu
não tinha a menor noção do que é um cabelo afro, crespo ou
cacheado. A falta de informação fazia com que eu não me
enxergasse como negra e nessa época não havia bandeiras, tão
pouco conversas abertas sobre as características ou a valorização
da beleza em si.
Sempre estudei em colégio particular, rodeada de crianças brancas,
mas não havia uma distinção de cor ou raça, éramos todos
semelhantes querendo a mesma coisa: brincar, passar o tempo
juntos e aprender! Nesse tempo nunca ouvi palavras que
depreciassem a minha imagem até os meus 9 anos de idade.

Quando eu tinha 9 anos, minha avó faleceu vítima de um infarte


fulminante. Seu corpo foi enviado para a casa de um tio em Vila
Velha, bem próxima a minha casa. Como eu sempre ia pra lá,
naquele dia havia uma movimentação diferente, algumas crianças
brincavam e jogavam bola, pedi para jogarem a bola pra mim e o
que eu ouvi foi: “tá vendo alguém preto aqui?”. “A gente não gosta
de preto e ninguém vai brincar com você!”. Aquelas palavras
entraram na minha mente como flechas, eu nunca havia sido
rejeitada. Mas a pior parte desse episódio que hoje sei que foi um
trauma, foi quando entrei na sala e vi o corpo da minha avó
Berenice sendo velado. A mulher cheia de vida que amava um bom
forró estava ali, deitada em um caixão, com ataduras em seu rosto.
Eu tinha uma relação de amor muito forte com a minha avó,
sonhava que quando fizesse 15 anos poderia ir morar com ela.
Apesar de ela ser de uma família muito bem financeiramente,
deixou tudo para trás e seguiu para o Rio de Janeiro onde morava
em uma quitinete. Mas estar com ela, ver seus porta joias, suas
gavetas de maquiagem, a imagem de uma mulher muito forte,
vaidosa com as unhas sempre vermelhas me encantava. Ela me
dava tanto amor que não consigo explicar em palavras o sentimento
que tive ao vê-la sem vida. A partir desse dia minha vida mudou.
Passei a ter pesadelos, ter alucinações e minha mãe ficou muito
preocupada com a minha saúde mental.
Eu andava pelas ruas e me escondia atrás dos postes, comecei a
me odiar. Passei a ter raiva da cor da minha pele, dos meus
cabelos que meu pai tanto se orgulhava. Hoje sei que aquelas
palavras despertaram a minha identidade, passei a me ver como
uma pessoa fora dos padrões, não encontrava na TV, revistas ou
filmes alguém parecido comigo que fizesse sucesso, ou fosse o
principal. Os negros que eu via eram os empregados das novelas,
os motoristas dos filmes, presos ou interpretavam papéis de
bandido. Eu tinha um sonho de ser paquita. Mas como com essa
cor? As crianças da minha cidade faziam shows nas praças e pra
mim sobrava sempre a função de coreógrafa, nunca fui chamada de
paquita mesmo sendo dona dos discos, sabendo montar todas as
coreografias, ou seja, eu era a Marlene Matos das paquitas
capixabas.
Dos 9 aos 11 anos tive que fazer terapia, as alucinações causadas
pelo trauma me fizeram desaprender várias coisas, dentre elas, ler
e escrever. Olhava para os livros e não identificava as letras ou
junções de palavras.
Em uma sessão de terapia disse para o psicólogo que eu não
gostava do meu cabelo e queria raspar a cabeça. A sensação era
que eu precisava me livrar daquele cabelo. Minha mãe assustada,
questionou o psicólogo sobre o que fazer com esse desejo. Sua
resposta foi que ela atendesse ao meu pedido. Não tive a cabeça
raspada, mas meus cabelos foram cortados o mais curto que pode
e que meus pais pudessem suportar a dor de ver uma filha mutilada
em sua vaidade. Sim, eu desejava uma mutilação, uma destruição
daquela moldura que, aos meus olhos, daquela época me deixavam
absolutamente feia.
Quando o meu cabelo começou a crescer e não estava liso como
eu sonhava, pedi para os meus pais que o alisassem e, assim, com
9 anos tive o cabelo alisado em casa pela primeira vez. E só parei
de alisar com 33 anos.
2. Paula adolescente.

Sempre fui agregadora, na adolescência era rodeada de amigos,


namorados não faltavam. A menina risonha, que juntava todos ao
seu redor, que não faltava nas festas era por dentro a mais insegura
de todas. Não confiava em mim mesma, mas não deixava que
ninguém soubesse disso. Minhas batalhas eram de fora para
dentro. A minha alma era machucada, mas a vitrine era intacta
cheia de coisas bonitas e alegres. Afinal, existem lugares em que a
faixada é deslumbrante, mas o seu interior é muito insuficiente.
Eu não parava para me questionar, não buscava perguntas dentro
de mim que não tivessem respostas. A raiz do meu cabelo sempre
tinha que estar intacta. Hoje, quando recebo mensagens de clientes
e pessoas que me seguem me deparo com as perguntas que não
conseguia fazer a mim mesma. O porquê de desejar tanto um
cabelo que não era meu? As respostas que tenho são simples: o
cabelo liso sempre remeteu ao sensual e aquilo que é bom. Eu não
queria ser confundida com algo que não fosse bom, queria ter a
imagem perfeita e uma raiz crespa não era sinônimo de
imperfeição.
Eu tenho uma amiga que era parceira nos alisamentos. Eu e a
Fabiola nos juntávamos em um dia de sábado e uma alisava o
cabelo da outra. Eu não estava tão sozinha no mundo ela também
tinha os seus grilos. Nas brincadeiras de paquita, sobrava para ela
o papel da que ela menos gostava. Seu cabelo loiro não era liso
como o da Letícia Spiller ou da Andrea Sorvetão. Ela tinha que ser
a paquita com que menos se identificava apenas por seu cabelo ser
crespo.
Aos 17 anos entrei para a faculdade de Comunicação Social, Rádio
e TV, afinal, comunicação era o meu lance na vida. Infelizmente não
consegui terminar esse curso por falta de recursos. Passei um
tempo em São Paulo e não conseguia um trabalho fixo por lá.
Quando voltei para o Espírito Santo a faculdade ficou para trás e
minha vida tomou outro rumo.
3. Paula namoro e casamento.

Em 1999 minha vida deu uma grande virada. Algumas pessoas de


uma igreja evangélica foram fazer um culto na minha casa. O dia
era 24 de março e nunca vou esquecê-lo. Aliás, tenho esse dia
tatuado em mim como um memorial.

Um ano após a minha conversão parti para o seminário em


Petrolina. O Seminário Betânia mudou a minha vida. As referências
sobre caráter, casamento, tolerância e respeito que recebi naquele
lugar foram fundamentais. Ali também conheci pessoas que levo
para a minha vida. Amigos leais, pessoas com quem sempre
poderei contar em momentos difíceis e também compartilhar as
alegrias que a vida me traz.

Foi no Seminário que conheci o meu marido. Marcio havia vindo da


cidade de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais para ser
seminarista. Amigos de turma, sempre nos identificávamos nos
assuntos. Éramos muito amigos, nosso temperamento era muito
diferente, mas queríamos coisas muito parecidas da vida. No
terceiro ano, ano fomos fazer estágio, fui para o Tocantins e o
Márcio para Aracaju, quando voltamos nosso sentimento ia além da
amizade e decidimos namorar. Mas o namoro de um seminarista
cristão é muito diferente dos namoros que vemos. Não havia beijo
ou pegação, havia muita conversa e um compromisso firmado.
Namorar assim pode ser estranho, mas na verdade é uma das
melhores formas de conhecer o outro e compartilhar os planos para
o futuro. Não condeno quem namore diferente disso, mas asseguro
que o que nos fortalece até hoje é sermos antes de tudo amigos.
Marcio é sem dúvidas o meu melhor amigo, companheiro de
trabalho, de viagem. Nossa relação foi além de um sim no altar, é
uma relação estabelecida em uma rocha chamada Deus. Somo um
cordão de três dobras que dificilmente se romperá, a terceira
pessoa desse cordão é Deus e é Ele quem nos une a cada dia e
pretendo seguir assim até o fim.
Nos casamos em 8 de janeiro de 2005, dia do aniversário do
Marcio. Assim que nos casamos fomos para o campo missionário,
plantar igrejas no Sertão. A primeira cidade foi Trindade, em
Pernambuco.
Quando chegamos em Trindade não tínhamos absolutamente nada.
O Reverendo Darlan que era presidente da Primeira Igreja
Presbiteriana de Petrolina, comprou um fogão e uma geladeira,
nosso colchão era emprestado por um casal de amigos: Patrícia e
Gutemberg, que hoje estão no Senegal, mas nossa ligação de
amizade permanece forte e sempre que possível estamos juntos.

Trindade foi o primeiro degrau do nosso crescimento. Foi nesse


lugar que nos conhecemos como casal, plantamos uma igreja e
sem dúvidas fomos muito felizes fazendo o que Deus havia nos
enviado para fazer e vivendo os primeiros anos do nosso
casamento.

4. Paula mãe.

Quando me casei estava com 28 anos, minhas irmãs já eram mães


e sempre batia a insegurança de não conseguir engravidar. Com
um ano e meio de casada comecei a conversar com Márcio sobre a
possibilidade de ter filhos. Mas ele sempre foi relutante, tinha a
preocupação com a parte financeira, o que ganhávamos mal dava
para vivermos. Ele tinha alguns grilos de sua infância. Seu pai
morreu muito jovem e sua mãe enfrentou muitas batalhas para criar
os três filhos.

A bíblia fala em provérbios 19:20 – 21 “Ouça conselhos e aceite


instruções, e acabará sendo sábio. Muitos são os planos do
coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor”.
Ao me aconselhar com Sinara Muniz, amiga e ex-professora do
seminário ela contou a sua experiência e testemunho de como
Deus cuidou em cada detalhe de sua família, providenciando tudo o
que seus filhos precisavam todos os dias. Suas palavras vieram
como um bálsamo em nossas vidas, a maior preocupação do meu
marido era não conseguir dar coisas básicas para um filho. Mas
após essa conversa ele sentiu um grande alívio e decidimos seguir
com o plano de termos um bebê, quatro meses após essa conversa
eu já estava grávida.
Tive uma gravidez muito conturbada, após o resultado positivo
vieram as más notícias, meu corpo não estava dando conta do
processo de gerar um filho. Eu continuava sangrando mês a mês,
minha pressão ficou alta e passava boa parte do tempo em
repouso. Mas eu tinha o lado missionária dentro de mim gritando
por fazer aquilo que havia sido chamada e mesmo correndo risco
eu me aventurava em longas caminhadas preparando ações de
impactos evangelísticos e com a parte social dos projetos em que
estávamos envolvidos.

Eu já estava grávida de cinco meses quando partimos para um


retiro de carnaval. Lá uma amiga, Vera Medeiros, olhou para mim e
disse que o meu estado não era normal. Ela já havia passado três
vezes pela experiência da maternidade e me levou até o seu
médico. Nessa consulta descobri que estava com quadro de pré-
eclâmpsia, Vera havia notado o inchaço anormal em meu corpo,
seu olhar foi fundamental para que a minha vida e do meu bebê
fossem salvas.

A recomendação do médico era que eu ficasse em repouso sem


voltar para Trindade, mas eu estava prestes a receber uma equipe
em um compromisso agendado com um ano de antecedência.
Contrariando as ordens médicas embarquei em uma Van de volta.

Trabalhei durante cinco dias em um ritmo muito acelerado. Quando


os visitantes foram embora o inchaço era grande e procurei o
hospital da cidade. A notícia não era nada boa, eu deveria seguir
imediatamente para Petrolina e procurar um hospital com maiores
recursos. No final daquele dia, o inchaço era maior e a dor de
cabeça era insuportável. Parti para Petrolina com urgência, mas
não consegui chegar, fui obrigada a parar na cidade de Ouricuri em
um hospital para ser medicada. A sensação de morte era presente
do tempo todo, eu nunca havia passado por nada parecido em toda
a minha vida.

Na manhã seguinte, mais um pastor veio em nosso socorro. O


querido Natanael nos levou até Petrolina.
Ao chegar na cidade o grande amigo, Wellington Alves, nos
socorreu e me levou ao maior hospital de Petrolina. O quadro de
pré-eclâmpsia estava agravado, não havia previsão de alta, não
sabíamos se o bebê nasceria antes do tempo, estávamos perdidos
e sem respostas efetivas. Minha mãe largou tudo o que estava
fazendo no Espírito Santo e correu para me dar o apoio necessário.

Os dias foram passando e o meu estado espirava cuidados, fiquei


um mês internada, o inchaço não cedia e a pressão não baixava. A
decisão dos médicos foi me transferir para Recife. Uma ambulância
foi acionada e uma enfermeira precisava me acompanhar. Partimos
em uma mini- ambulância para Recife em uma viagem de 700
quilômetros. O motorista corria muito porque passaríamos pelo
“polígono da maconha”, uma região muito perigosa e sem leis. A
enfermeira, na verdade era apenas uma auxiliar que dormiu durante
todo o percurso, minha mãe e meu marido se sentaram ao lado da
maca em posições nada confortáveis e tudo o que eu conseguia
fazer naquele momento era rir. Não sei se esse riso era de
desespero ou se eu estava me sentindo tão em paz por dentro que
não havia nada a fazer, a não ser rir.

Chegando em Recife fomos recebidos por Rodrigo, única pessoa


que conhecíamos na cidade, ele cedeu sua própria casa para que
meu marido e minha mãe ficassem hospedados, mas a distância
entre sua casa e o hospital era enorme. Rodrigo conversou com um
casal de sua igreja que gentilmente hospedou e ofereceu todo o
suporte que a minha família precisava. Os irmãos Álvaro e Agnes
foram dois anjos nesse período, receberam meu marido e minha
mãe como se fossem parte da família.

Ainda na ambulância uma equipe veio me receber, no primeiro


atendimento viram que a situação era mais grave do que parecia,
minha pressão estava muito alta. Eu me lembro da cadeira de rodas
e dos rostos preocupados dos atendentes do hospital. Fiz todos os
exames com urgência e o resultado era preocupante, meu bebê não
estava recebendo oxigênio suficiente. A primeira informação foi que
tentariam adiar a gravidez o máximo de tempo possível. Eu estava
com 24 semanas e os médicos queriam prolongar por mais 8
semanas, para que desse tempo do bebê ganhar peso e nascer
saudável.
24 horas após dar entrada no hospital e estar medicada, minha
pressão não baixava, um quadro de hemorragia interna foi
diagnosticado e os médicos decidiram fazer o meu parto com
urgência, antes disso, já haviam adiantado que se fizessem uma
cesariana para tirar o bebê, não nasceria vivo. Meu coração não
estava aflito, mesmo recebendo os piores prognósticos eu sabia
que algo muito especial estava para acontecer. Hoje, parando para
pensar vejo que o meu coração e emoções estavam blindados por
algo extraordinário, eu não senti em nenhum momento que alguma
coisa daria errado. Nunca cogitei a hipótese de sair do hospital de
braços vazio. Dentro de mim uma força muito especial dizia que eu
e o meu bebê viveríamos.

Quando meu marido foi informado do meu quadro e da gravidade


perdeu o chão. Sua primeira reação foi correr para uma Lan Houser
e enviar e-mails para amigos, igreja e familiares pedindo orações.
Nesse momento recebemos muito apoio emocional, palavras de
incentivo e ajuda financeira. Nosso bebê não tinha sequer um
enxoval.

No dia 24 de março de 2007 nasceu nossa pequena Acsa,


coincidentemente mesma data da minha conversão a Cristo. Sim,
eu recebi Jesus em 24 de março de 1999 e oito anos após minha
conversão Deus estava reafirmando que jamais me deixaria só.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, Ele estaria
comigo.

Apesar da Acsa nascer com apenas 28 semanas, ela nasceu com


todos os órgãos funcionando, contrariando a perspectiva médica. A
maior preocupação era o seu pulmão funcionar, mas ela respirava
sozinha. Um bebê minúsculo com apenas um quilo, mas já uma
vencedora.

Eu não pude ver o meu bebê, no hospital em que estávamos não


havia uma UTI para mim e eu precisava de cuidados especiais. Fui
transferida para outro hospital e a Acsa ficou na incubadora onde
havia nascido.

Internada em uma UTI, recebi transfusão de sangue e todos os


cuidados necessários, sentia tanta dor que não conseguia me
levantar e andar. Os dias passaram e tudo o que eu desejava era
conhecer a minha filha, segurá-la, ver seu rosto e cuidar dela, mas
a cada tentativa de levantar da cama a dor parecia me segurar
ainda mais. Após 5 dias internada, com muito esforço e conversa
consegui voltar para o hospital onde Acsa estava, eu cheguei a
fingir que estava recuperada apenas para conseguir sair daquela
UTI e voltar para a minha filha que eu nem conhecia. Esses foram
os dias mais longos da minha vida, as horas se arrastavam e o
tempo não passava.

Quando finalmente entrei na UTI Neonatal e vi a minha filha não


consegui me conter e todas as lágrimas vieram à tona, chorei
copiosamente ao lado do meu marido. Finalmente tinha o meu bem
mais precioso em minhas mãos. Quando digo mãos é exatamente
onde a Acsa cabia, sua cabeça preenchia com exatidão a palma da
minha mão. Mas ela era linda, perfeita, eu não cansava de olhar
para aquele pequeno ser. Ao tirar sua roupa fiquei assustada, achei
que sua genitália tinha algum problema e procurei a pediatra que riu
da minha angustia, Acsa era normal, mas faltava gordura e carne
para preencher aquelas partes, mas em pouco tempo ela ganharia
o peso necessário e teria uma linda bundinha de bebê. Depois eu
soube que a mesma preocupação passou pelo meu marido e minha
mãe, mas cada um procurou a médica em segredo com medo de
ser algo anormal e todos tiveram a mesma resposta.

Com um quilo e setecentos gramas nossa filha deixou a UTI e


partimos todos para casa em Trindade. Com todo o cuidado e
carinho, nosso amigo Reverendo Aldo Marcos fez questão de nos
levar. A gentileza ao dirigir com cuidado, fazer paradas para saber
se estava tudo bem foi mais um cuidado de Deus conosco. Ele
poderia apenas nos levar, mas ele dizia que a carga era muito
preciosa e precisava se cauteloso. As questões como enxoval,
berço e tudo o que um bebê precisa haviam sido resolvidas através
das ofertas de amigos da igreja, da faculdade que frequentei 8 anos
antes e até de pessoas que eu nunca vi.

Um bebê que nasce prematuro precisa de muitos cuidados, visitas


frequentes ao pediatra, alimentação diferenciada, remédios e muita
atenção para qualquer ação diferente. O leite que um bebê
prematuro toma é mais caro do que o normal e morando no sertão
nordestino os recursos eram muito limitados. Mas novamente vi o
cuidado de Deus e me lembrei das palavras da querida Sinaria.
Uma amiga que morava em Santa Catarina contou sobre o
nascimento da Acsa para uma senhora chamada Virginia que
decidiu ajudar nossa filha mensalmente e isso trouxe um grande
alívio. Ela recebeu durante três anos uma quantia significativa que
deu para cobrir todos os gastos e cuidados que ela precisava.

Hoje nossa filha Acsa é uma adolescente cheia de vitalidade,


inteligente, com talento musical e que nos enche de orgulho. O
bebê minúsculo cresceu e já sonha com o seu futuro.

5. Paula profissional (como entrou para o mundo dos cabelos)

Desde que nos casamos, eu e o Marcio vivíamos como


missionários, a ajuda que chega para um missionário em campo na
maioria das vezes é pequena, e é por algo maior que trabalhamos
nesse meio. Um missionário chega onde o governo não vai, é ele
que ampara a mãe que tem cinco ou seis bocas para sustentar
trabalhando sol a sol na roça do sertão árido. É o missionário que
segura a mão do pai que perde seu filho vítima de um acidente ou
assassinato em terras onde não há lei, esse trabalho não é
divulgado por nenhum grande veículo, mas são os missionários que
cuidam de milhares de pessoas desamparadas e deixadas à
margem em um país tão grande como o Brasil.

Viver como missionário é viver em abnegação, mas as


necessidades existem e foi assim que resolvi fazer um curso de
cabeleireira para ajudar na renda da família. Estávamos morando
em Rosário, no Maranhão, montei na sala de nossa casa um
pequeno espaço para trabalhar. Tinha apenas um espelho, uma
cadeira de plástico simples e para colocar o material usei a fruteira
da cozinha. Nessa época resolvi parar de alisar o meu cabelo e
resgatar sua forma original. Procurei um outro salão para cortar as
pontas do meu cabelo, ao mostrar para o dono que estava deixando
a química de lado e cuidando para que o natural voltasse ouvi a
seguinte frase: “desiste você não vai conseguir”, ele não falou isso
por mal, mas afirmou que eu voltaria em breve para o alisamento.
Quando cheguei em casa tive uma atitude ousada: entrei no
banheiro e cortei todo o meu cabelo com uma tesoura de unha, o
mais curto que consegui. Naquele momento veio a imagem da
menina que pediu para os pais rasparem sua cabeça esperando
que o cabelo nascesse liso. Eu cortei todo o meu cabelo e trouxe de
volta o que ela mais temia. Desta vez, eu queria resgatar o que ela
rejeitou: a minha identidade.

Ainda em Rosário comecei a despontar como boa profissional, o


número de clientes aumentava e a sala virou um salão. Nessa
época tive que me mudar para Morros, no Maranhão e me tornei
representante de uma marca nacional que vendia cosméticos
profissionais com a proposta de restaurar a fibra capilar, porém os
resultados não cumpriam o esperado. Eu sentia a necessidade de
buscar algo que agisse com maior verdade, profundidade e que me
desse um resultado mais eficaz. Eu sentia que não vendia uma
verdade. Olhava para os cabelos das minhas clientes e sabia que o
resultado não condizia com a promessa da marca. Eu sabia dentro
de mim que poderia existir algo que realmente tratava os fios da
maneira que eles precisam, mas não sabia que o segredo estava
dentro de mim, na minha curiosidade e questionamentos. Fui
ficando cada vez mais inquieta e inconformada com marcas que
simplesmente se preocupam com o financeiro e não com a saúde
real tanto capilar como emocional do ser humano. Muito marketing
e pouco serviço. Via clientes juntando o que podiam para investir
em algo que elas acreditavam e eu me sentia cumplice de um
engodo.

6. ESTUNDANDO PARA MUDAR

Comecei por conta própria estudar sobre a estrutura dos ativos


naturais. Como morava em uma região onde eu tinha acesso a
muitos ativos. Azeite de Andiroba, manteiga de Cupuaçu, óleo de
babaçu, Copaíba, óleo de pequi, entre outros eram abundantes na
região, mas pouco explorado na cosmética. O óleo de andiroba, por
exemplo era usado pelas donas de casa para matar piolho nas
crianças. O cheiro empreguinava e demorava até dois dias para sair
da cabeça. Era matéria-prima pura e a minha curiosidade queria
explorar o que aquela terra dava e pouca gente valorizava.
Mergulhada em livros e artigos científicos eu passava horas na
internet buscando por mais artigos, a ciência publicada naqueles
escritos me estimulava a experimentar cada vez mais o que existia
ao meu redor. Eu precisava descobrir uma maneira de usar aquilo
tudo nos cabelos das minha clientes, mas eu não podia
simplesmente sair passando óleos nos cabelos sem entender suas
propriedades e sem conhecer a compatibilidade com os fios. Eu
precisava saber como associar tudo aquilo ao cabelo.

Um ativo natural mal manipulado pode trazer grandes estragos, pois


o grau de toxidade pode ser comparado ao de um veneno, a prova
disso é que alguns óleos essenciais e plantas podem causar graves
intoxicações levando até a morte.

A minha intenção nunca foi criar cosméticos, eu queria apenas


aprender como usar os recursos naturais nas minhas clientes, não
tinha pretensão de vender nenhum produto, apenas os meus
serviços como cabeleireira.

Chega uma hora em que o estudo por conta própria não é


suficiente, assim como ficar muito tempo em um mesmo lugar pode
levar ao desgaste. Meu marido adoeceu e precisou se ausentar do
trabalho missionário, mas as contas não deixavam de chegar e eu
precisava fazer algo para segurar as pontas da família até que ele
se recuperasse. Tive a ideia de montar um kit com cinco produtos
para cuidar do cabelo que estava recebendo produtos químicos. Eu
garanto que não pensava em nenhuma hipótese ser fabricante de
algo. Tudo era artesanal e precisava ficar na geladeira porque a
durabilidade era muito curta.

O meu primeiro kit continha cinco produtos: um pré-poo de 10ml,


uma geléia regeneradora, um higienizante, uma loção e um elixir.
Tudo em porções muito reduzidas para serem usadas em um curto
espaço de tempo. Montei cinquenta kits e vendi a R$100,00,
precisava ter dinheiro circulando para manter a casa. Mas o que eu
nem imaginava aconteceu, os kits fizeram sucesso e quem comprou
um veio atrás de outro e indicou para outras pessoas. Fabriquei na
cozinha de casa mais cem kits e vendi todos em pouco tempo. Em
menos de um mês não conseguia mais contar quantos kits estava
vendendo. Era fazer e já ter pessoas esperando. Em uma cidade de
sete mil habitantes isso era muita coisa.

Nessa época eu não fazia mais química nos meus cabelos, mas
ainda aplicava nos cabelos das minhas clientes, na verdade, fui eu
quem levei o sistema de escova progressiva para Morros e criei um
exército de mulheres alisadas.

Em um determinado dia, atendendo a uma cliente muito querida


chamada Simone ela viu a minha expressão de tristeza ao receber
mais uma cliente para alisar os cabelos. Eu não gostava do que
estava fazendo, mas precisava manter a minha família. Nesse dia,
ao ver a minha angústia a Simone me falou com muita sinceridade
que aquilo não era mais pra mim, pois não me fazia bem.

Boletos são vencedores, parece uma piada, mas não é, eles


sempre precisam ser quitados para que algo que precisamos
continue entrando. Eu tinha muitas contas para pagar, mas tomei
uma decisão: não alisar o cabelo de mais ninguém. Essa notícia
assustou o meu público eu tinha muitas clientes que só se achavam
bonitas se estivessem com os cabelos lisos, coisa que hoje sei que
não é verdade e defendo isso com toda a minha convicção. A maior
prova é quando recebo uma mulher com a autoestima baixa pelos
danos causados por anos de química nos cabelos e já nas
primeiras sessões elas começam a se olharem de forma diferente.
Isso me traz uma ótima sensação de que o meu exército não é de
mulheres alisadas ou cacheadas e sim de mulheres aceitas, em
primeiro lugar, por elas mesmas. Essas mulheres sou eu, me divido
e misturo com as suas histórias, até as de quem eu não conheço
porque sei exatamente pela minha experiência o que elas estão
vivendo e passando.
7. Paula criadora.
8. Paula empresária.

 O livro será escrito na primeira pessoa (Paula narrando sua


história).
 A Introdução será o motivo que a levou querer contar sua
história e motivar outras pessoas.
 As narrativas devem ser objetivas com uma linguagem bem
simples.
 Os capítulos serão definidos pela personagem e autora do
livro.
 É importante que você defina os tópicos de cada capítulo.
 O ideal é ser feito em ordem cronológica.
 Lembre como você narra sua história durante seus cursos.

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