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1 - O Acordo

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LUCY

BERHENDS
_________________________
__________________________

DESTINADA A VOCÊ
O ACORDO
Copyright © Berhends, Lucy
Todos os direitos são reservados à
autora, sendo esta uma produção
independente. É uma obra de ficção e
qualquer semelhança com a realidade é
mera coincidência.
1ª Edição. Formato digital
Março de 2015
Capa e revisão: Lucy Berhends
Foto da capa: pixabay.com. - atribuição
não requerida
luberhends@bol.com.br
facebook.com/autoralucyberhends
Querido leitor,

Dedico esta obra a todos vocês que


prestigiam os novos autores brasileiros.
É de conhecimento público que um dos
maiores problemas do Brasil é a falta de
investimento em cultura, porém,
ultrapassando todos os obstáculos,
atualmente surgem bons escritores e
grandes leitores.
Este romance se passa nas cidades
de Salvador, na Bahia e Madri, na
Espanha. Ele possibilitará que vocês
façam um passeio com os personagens
por belíssimos lugares. Espero que se
apaixonem por Alfonso e Brisa como eu
me apaixonei.
Apreciem a leitura,
Lucy Berhends
Sinopse
A empresa da família Ribeiro
passava por dificuldades e precisava do
apoio da família Javier. Eles fizeram um
acordo para reerguer a empresa que
envolvia um matrimônio entre seus
filhos.
Brisa estava determinada a mudar
os termos do acordo e convencer seu
prometido de que poderiam encontrar
outra solução.
Alfonso estava mais do que
disposto a seguir o acordo à risca. Uma
vez que sua família empenhou sua
palavra, ele não voltaria atrás.
Eles encontrariam uma saída para
esse impasse? Seria possível que o
amor nascesse de uma relação
arranjada?
Prólogo

O dia não poderia estar mais


perfeito. Uma linda mulher na minha
cama, sem compromissos, sem
promessas e sem amanhã. O que mais eu
poderia querer da vida?
- Assim, querido. Isso! Não pare.
Oh, meu Deus! - Ela chiava em meu
ouvido me deixando quase surdo. Se ela
continuasse assim eu não duraria muito
tempo.
- Venha comigo, princesa! - Ela
convulsionou de prazer me levando ao
ápice e alcancei o meu próprio prazer.
Assim, nos perdemos em mais uma
aventura sem amarras.
- Uau! Se for sempre assim, acabo
me apaixonando. Vou deixar meu número
de telefone. Promete que me liga? - Ela
perguntou com voz melosa e assim,
como num conto de fadas, a princesa
virou abóbora, mas para minha
salvação, ouço batidas na porta - salvo
pelo gongo.
- Alfonso, você está aí? - Pergunta
o Sr. Esteban Javier, meu pai.
- Droga, Daniela, espera um pouco
aqui. - Falei com a minha mais recente
conquista.
- É Graciela. Meu nome é Graciela.
Maldición! O nome dela é o que
menos importa agora. Preciso ver o que
o meu pai quer. Me vesti apenas com
uma calça confortável e me dirigi à sala,
fechando a porta atrás de mim.
- Olá, Sr. Javier, a que devo a
honra da visita? Saudades do filhão?
Meu pai observou minha expressão
de forma desconfiada e deve ter
deduzido o que eu estava fazendo no
quarto. Suas próximas palavras
confirmaram.
- Eu preciso conversar com você e
não posso ser interrompido, portanto
quem quer que seja que está com você,
peça para se retirar. O motorista está lá
embaixo na garagem.
Se eu não conhecesse meu pai
muito bem, poderia contestar o seu
pedido. Pedido não, ordem. Afinal, sou
um homem de 30 anos, independente e
estou em minha casa, mas sei que se ele
está interferindo na minha vida pessoal é
porque tem algo sério para falar.
Voltei para o quarto e me deparei
com a princesa mais que disponível para
repetir a dose. Pena que dessa vez não
daria para aproveitar mais um pouco.
- Manuela, infelizmente a nossa
brincadeira acabou, princesa. Preciso
resolver algo urgente, mas tem um
motorista à sua disposição para leva-la
onde quiser.
- Eu posso te esperar aqui, delícia.
- Ela falou com olhar de pedinte.
Essa é a hora que você percebe que
não dá para continuar sendo gentil ou ela
nunca vai ceder.
- Não! Eu preciso que você saia
agora!
Bem, se um olhar pudesse matar,
com certeza eu já teria partido dessa
para melhor.
- Eu vou, seu babaca. Não precisa
me destratar. E meu nome é Graciela.
GRA-CI-E-LA!
Mulheres! Se era gentil, elas
grudavam. Se era direto, me tornava um
babaca. Como entendê-las? Sorri
interiormente, pois não havia meio
termo.
Sai do quarto para ver a garota
passar por meu pai espumando de raiva
e sinto uma pontinha de pena por eu não
ter aproveitado mais.
- Ah, filho, você não tem jeito.
Sempre se aproveitando dessas garotas
que não podem ter um futuro com você.
- Posso te garantir, pai, que o
proveito foi mútuo. A diversão valeu
para os dois. - Olhei para o meu pai,
sorrindo de lado - Então, confesso que
estou curioso. O que o traz aqui tão
repentinamente?
Meus pais têm acesso à minha casa,
já que a minha mãe, Sra. Esperanza,
prefere supervisionar os meus auxiliares
domésticos pessoalmente. Coisas de
mãe! E como nunca tive nada a
esconder, meu pai também tem acesso
irrestrito.
- Alfonso, você sempre soube que
temos um acordo com a família Ribeiro
e Brisa Ribeiro estará fazendo 22 anos
na próxima semana. Já é tempo de
conhecê-la, querido. - Meu pai falou
com um olhar determinado.
Eu sempre soube do acordo que foi
feito entre as famílias Javier e Ribeiro.
Na época eu tinha quinze anos e desde
que o acordo foi firmado, eu fui
orientado a não me envolver
emocionalmente com nenhuma garota.
Os acordos feitos pela família
Javier sempre foram honrados. Inclusive
o casamento de meus pais foi fruto de
um deles, embora eles se amem. Parece
antiquado que atualmente haja alianças
desse tipo, mas isso ainda acontece
quando se tem um grande patrimônio a
zelar.
- Pai, até onde eu saiba não havia
idade estabelecida para que o acordo
fosse cumprido.
- É verdade, querido, mas tenho
informações de que a garota tem
buscado conquistar independência
financeira, já trabalha, concluiu a
faculdade e tem falado em sair de casa.
Você sabe que há muito em risco. Ela já
teve alguns encontros, embora nada
duradouro uma vez que também está
ciente do acordo.
Respirei fundo ao perceber que
chegara o momento de assumir minhas
responsabilidades. Não que eu já não as
assumisse. Sou o vice-presidente da
Javier Empreendimentos e tenho que
lidar com grandes decisões diariamente.
- Você vai ter que conquistá-la,
filho. Estou informado de que ela está
relutante em cumprir o acordo,
acreditando que pode negociar com
você sem que tenha que chegar ao
matrimônio, mas eu e você sabemos que
não voltamos atrás em nossa palavra.
- Ah, então a minha pequena
prometida está relutante? Hum, isso está
começando a ficar divertido. Em quanto
tempo o jato pode ficar pronto para eu
partir?
Capítulo 1
Ela

- Ah, meu Deus, o que vocês estão


aprontando? Onde eu estou?
- Calma, filha, já estamos
chegando. Se contarmos deixa de ser
surpresa.
Meus pais, Sr. Carlos Ribeiro e
Sra. Laura Ribeiro, vendaram meus
olhos desde que saí de casa e eu já estou
começando a me agoniar. Adoro
surpresas, mas ao mesmo tempo que
estou com boas expectativas, estou
começando a me preocupar, pois estou
ouvindo pequenos soluços da minha
mãe. Espero que sua emoção seja por
um bom motivo.
- Venha, querida, desça do carro
devagar e nos deixe direcioná-la.
Sentindo meu coração palpitar
rapidamente, deixei que eles me
conduzissem para onde quer que eu
estivesse indo. Ouvi o barulho de um
elevador e repentinamente me pararam
quando escutei o clique de uma porta.
- Surpresa!
Tirei a venda e vi todos os meus
amigos reunidos em torno de uma mesa
cheia de doces e salgados. Estou
fazendo 22 anos e não poderia ter
presente melhor.
- Como vocês conseguiram fazer
isso sem que eu desconfiasse? Melhor
aniversário de todos os tempos. Todos
que eu amo estão aqui. Obrigada pela
surpresa. - Agradeci realmente
emocionada e me sentindo querida.
- Pensou que tínhamos esquecido
de você, não é? - perguntou Clara, minha
amiga.
- Eu já estava começando a
procurar por telefones de psicólogos,
pois a depressão estava começando a
chegar. - Disse aos risos a ela.
- Exagerada. Você sabe que nunca
vou deixar ninguém ocupar o meu posto
de melhor amiga. - Clara falou, em tom
de provocação para que minhas outras
amigas ouvissem. Ela é minha amiga
desde sempre, pois as nossas mães são
amigas de infância.
- Parabéns, Brisa! Estou aqui caso
o posto de melhor amiga fique vago, ok?
- Brincou Tatiana, amiga e colega de
trabalho. Os demais na sala riram e um a
um vieram me abraçar e desejar
felicidades.
- Obrigada mais uma vez. Não
sabem o quanto aprecio estar
compartilhando essa data com vocês. -
Sorri para todos em agradecimento.
- Bem, querida, acontece que essa
não é a única surpresa, - meu pai disse
olhando para minha mãe, que estava
começando a soluçar novamente - como
a minha menina já é adulta, por menos
que eu queira acreditar, eu e sua mãe
decidimos satisfazer um desejo seu
ainda que contrarie a nossa vontade...
Minha mãe, muito emocionada,
continuou falando: - Oh, querida, você
sempre será nossa menina, mas o que
estamos querendo dizer é que...
compramos esse apartamento para você.
A partir desse momento a comoção
foi geral. Todos se emocionaram ao
perceber a emoção da minha mãe e eu
por sentir um misto de sensações:
felicidades, saudades antecipadas da
casa dos meus pais, sentimento de
independência e da responsabilidade
que a acompanha.
- Pai, mãe, sou muito grata por
terem posto os meus desejos acima dos
seus. Sei que liberdade requer
responsabilidade e farei por merecer o
voto de confiança. Sou a filha mais
sortuda do mundo por ter vocês como
pais e a casa de vocês sempre será meu
doce lar.
Depois de grandes emoções, todos
aproveitaram a noite ouvindo música
ambiente, conversando e saboreando as
bebidas e os quitutes que eram servidos.
Meu apartamento era bem acolhedor,
estava situado no Bairro da Barra,
próximo ao Farol, em Salvador. Tem
uma sala de estar e de jantar maior do
que eu realmente preciso, cozinha
americana e três suítes. Já imagino as
noites do pijama com a assanhada da
Clara.
O apartamento ainda tem pouca
mobília, pois meus pais deixaram para
que eu escolhesse. O melhor é que não
fica muito longe da casa dos meus pais,
que moram em uma região considerada
nobre, o Corredor da Vitória, bairro da
Graça. Eu gosto de saber que estou
próxima, me dá maior sensação de
segurança.
As despedidas começaram a
acontecer por volta das 23 horas,
restando apenas eu, meus pais e Clara.
- É lindo, adorei! Nem acredito que
tenho a minha própria casa. Eu não teria
encontrado lugar melhor se tivesse
procurado. É simplesmente perfeito. -
Eu disse com os olhos cheios de
lágrimas.
- Assim como você, querida. Boa
filha, estudiosa e com um futuro
promissor na empresa. - Meu pai falou,
o que mais uma vez emocionou a minha
mãe.
- Eu senti falta de Ben em minha
festa. Houve algum contratempo? -
Perguntei, lembrando de alguém que
ultimamente estava se tornando um
pouco mais que um amigo para mim. Eu
realmente tenho apreciado passar mais
tempo com ele.
- Ah, quase esqueço. - Clara foi até
o quarto e voltou com um buquê de rosas
amarelas na mão. - Ben iria me matar se
eu esquecesse. Ele viajou e deixou isso
para você. Percebi que os olhos de
Clara brilharam ao falar nele. Peguei o
buquê e cheirei. Li o cartão que dizia:
“Como gostaria de estar com você
nesse dia, mas estou viajando a trabalho.
Espero em um futuro bem próximo te dar
rosas vermelhas. Felicidades!” B.
Meu rosto enrubesceu e me peguei
tendo bons pensamentos sobre um futuro
com ele. Mas antes de pensar em algo
mais à frente com alguém, preciso tirar
alguns obstáculos do caminho. Meu pai
me tirou do devaneio.
- Brisa, você sabe que esse ano a
nossa empresa é uma das patrocinadoras
do Carnaval da Bahia e eu já não tenho
mais paciência para participar dessas
coisas. Tem um camarote reservado e
gostaria que você representasse a
empresa em meu lugar. Chame seus
amigos para que se divirtam com você.
Eu quero que aproveite bastante a vida,
filha, mas com responsabilidade, pois
você sabe que mais cedo ou mais tarde
teremos um acordo para cumprir.
Olhei para minha mãe que pareceu
se entristecer um pouco. Maldito
acordo! Amo meu pai e sei que na época
o único jeito de salvar a empresa era
por meio de uma aliança que garantisse
a segurança das próximas gerações dos
Javier e dos Ribeiro.
- Preciso achar um jeito de mudar
os termos desse acordo. Sei que na
época era necessário, mas não quero me
prender a alguém que nem conheço.
Eu tinha visto algumas fotos do meu
suposto futuro marido na internet. Na
maioria, ele estava acompanhado por
uma linda mulher. Ele é muito bonito,
alto, moreno, olhos escuros e marcantes,
mas é importante mais que beleza para
manter um relacionamento.
- Brisa, querida, sei que é difícil
iniciar um relacionamento assim, mas
vocês terão tempo para se conhecer
antes dele colocar uma aliança em seu
dedo e acredito que vocês poderão ter
muito em comum. - Disse meu pai.
Assenti, já não querendo prosseguir
com a conversa, porém cada vez mais
convencida de que precisava fazer algo
a respeito.
Capítulo 2
Ela

O Carnaval de Salvador é a maior


festa de rua do mundo. As músicas e
ritmos são contagiantes, a mistura
musical envolve axé, pagode, samba,
reggae, música eletrônica e até forró.
Alguns dos maiores cantores brasileiros
se apresentam em trios elétricos,
conduzindo multidões seja em blocos de
Carnaval ou foliões pipoca - aqueles
que não participam de blocos.
A empresa da minha família,
Construtora Carlos Ribeiro, é uma das
patrocinadoras do Carnaval, o que além
de dar visibilidade à marca, nos
possibilita ter um camarote só nosso.
Escolhi o circuito Barra-Ondina para
aproveitar a folia.
Convidei alguns amigos, alguns
funcionários da empresa e alguns
representantes de empresas que estão
relacionadas à nossa. Contratei uma
equipe de decoração, uma de apoio, uma
de salão de beleza e massagem, e alguns
DJs para dar mais uma opção musical
além dos trios. Os convidados comiam e
bebiam à vontade, o que me
tranquilizava, pois foi uma das minhas
principais preocupações. Os cantores
que passavam sempre anunciavam a
marca da empresa e alguns até
ressaltavam a qualidade dos
empreendimentos. Senti-me muito
orgulhosa por representar a empresa.
Olhei para os lados e observei que
todos os convidados se divertiam e que
tudo estava ocorrendo dentro do
planejado. Isso me deixou mais
confortável para aproveitar com meus
amigos. Peguei uma caipirosca que
estava sendo servida e senti a mistura
doce e azeda descer na minha garganta.
Não estava acostumada a beber, então
decidi ir devagar com a bebida.
- Vamos lá, Brisa, vamos dançar. -
Minha amiga me puxou para o meio do
camarote onde havia algumas pessoas
dançando. Resolvi extravasar e dancei
bastante ao som de batidas mixadas.
- Estou tão feliz, Clarinha! O
sentimento é de que tudo está perfeito na
minha vida e nada de ruim pode
acontecer. - Falei, com um pouco de
esforço por causa da música alta. Tomei
mais um gole da bebida e me senti mais
leve para mexer ao som da música.
- Se você está feliz, eu também
estou. Estamos juntas e misturadas. -
Sorri e continuei dançando.
Senti um arrepio e a sensação de
que alguém estava me fitando e me
seguindo com os olhos. Olhei para os
lados e não percebi nada de anormal.
Enfim, continuei dançando ainda que a
sensação continuasse. Duas mãos
circularam a minha cintura e me virei
para ver quem era. Um par de olhos
castanhos claros me olhava com uma
mistura de alegria e desejo.
Não sei se foi a felicidade de rever
Ben ou a adrenalina do Carnaval e da
bebida que fez eu me jogar nos braços
dele em um abraço mais que amistoso.
Ele aproveitou para cheirar meu
poscoço e depositar pequenos beijos lá.
Senti arrepios que me davam a ideia de
como seria se tivéssemos momentos de
mais intimidades.
Ainda abraçada a Ben, olhei para
um canto um pouco escuro do camarote
e vi dois homens conversando e me
olhando. O rosto de um deles não era
desconhecido, mas não conseguia
recordar de onde o conhecia. Talvez
seja por conta da pouca luminosidade
daquele local. Resolvi deixar pra lá,
pois não tinha como eu reconhecer todos
os convidados, uma vez que não eram
apenas da minha empresa.
Voltei minha atenção para o homem
bonito que estava na minha frente,
aproximadamente 15 centímetros mais
alto que os meus 1,70 m, cabelo loiro
escuro e corpo magro, com pequenos
músculos proporcionais. - E então,
voltou hoje de viagem? - Perguntei,
realmente curiosa.
- Voltei no início da noite, linda, só
passei em casa para tomar um banho e
vim direto pra cá. Estava com saudades
demais para deixar pra outro dia. - Ele
falou, dando um beijo em minha testa e
se afastando apenas o suficiente para
enlaçar suas mãos nas minhas.
- A recíproca é verdadeira, gatinho.
Vem, vamos dançar! - Ele cumprimentou
Clara com um abraço, pegou uma
cerveja e veio dançar com a gente. Seus
olhos só saiam dos meus para passear
pelo meu corpo e eu estava bastante
contente por isso. Percebi que minha
amiga perdeu um pouco o ânimo e pediu
licença para falar com outros amigos,
nos deixando a sós.
- Hum, estou sabendo que alguém
está morando só. Gostei muito da
informação. Espero que o convite para
conhecer sua humilde residência não
demore muito. - Ben conseguia me
provocar com tão poucas palavras. Iria
começar a amadurecer a ideia.
- Vou pensar em uma festinha de
inauguração para os amigos. - Falei,
enfatizando a palavra amigos. Embora
eu esteja tentando me aproximar mais de
Ben, não quero avançar muito no
relacionamento antes de tirar algumas
pedras do caminho.
- Amigos, hein? Estarei aguardando
o convite. - Sorri, agradecida por Ben
ser tão espirituoso, perceber que estava
tentando ir devagar e ainda assim
continuava próximo. É muito fácil estar
com ele.
A noite transcorreu como previsto,
com todos se divertindo como se espera
em uma festa de Carnaval. O camarote
iria receber convidados em mais dois
dias e o primeiro era importante para
medir o nível de satisfação. Saí da pista
de dança e caminhei entre os que ali
estavam, cumprimentando todos e fui
apresentada a pessoas influentes que
vieram com alguns convidados.
A sensação de estar sendo
observada com veemência nunca me
abandonou, porém não vi maiores
motivos para me preocupar. Estava
conversando com Clara e Ben, mas
minha amiga me puxou para ir ao
banheiro. Ao chegar lá, me olhei no
espelho e percebi que precisava retocar
a maquiagem. Usei uma sombra que
destacava meus olhos esverdeados e
penteei meus cabelos negros, ajeitando o
franjão que eu gostava de usar
lateralmente. Fiquei satisfeita com o que
vi e fiz uma nota mental de pedir à
equipe do salão para fazer alguns
penteados nos próximos dias de
Carnaval.
Clara é loira, de olhos azuis, o que
a fazia ter beleza exótica em uma terra
que predomina mulheres morenas. Ela
teve alguns encontros, mas já faz algum
tempo que a vi durar em um
relacionamento. Falta de opção com
certeza não era.
Estávamos terminando de nos
maquiar quando entraram duas mulheres
lindas no banheiro, uma delas
comentando: - nossa, você viu que
moreno? Aquilo é que é homem de
verdade. Ele exala masculinidade. Ah,
se Deus desse asas à cobra...
As duas riram, se abanando como
se estivessem dizendo sem verbalizar
que a temperatura havia aumentado.
Clara olhou para mim e rolou os olhos.
Rimos juntas. - Acho que vou procurar
por esse moreno aí fora. Vai que eu
tenha mais sorte que essas meninas. -
Ela brincou, ao mesmo tempo que
saíamos à caça do moreno delicioso.
Capítulo 3
Ele

Cheguei à Salvador faltando três


dias para o início do Carnaval. Já tinha
vindo algumas vezes à cidade e sempre
fui muito bem recebido. As pessoas aqui
são muito calorosas e a cidade tem
muitos lugares bonitos para se conhecer.
Eu tenho um apartamento em um apart
hotel da cidade, situado no bairro de
Ondina, em frente ao mar. Como eu
venho ao Brasil com uma certa
regularidade devido aos negócios, achei
necessário ter um lugar fixo, que eu
também usava para diversão pessoal.
Aqui também é a cidade onde mora a
minha futura esposa, portanto faz parte
do pacote conhecer o local.
Vim com meu irmão, Marco Javier,
que sempre teve vontade de conhecer o
Carnaval da Bahia. Ele é diretor
financeiro da empresa e somos muito
unidos, o que é um bônus, pois convivo
com ele dentro e fora da empresa.
Trabalhamos juntos e saíamos para nos
divertir muitas vezes também. Ele tem
28 anos e, assim como eu, faz muito
sucesso com as mulheres.
Salvador é uma cidade quente e as
mulheres são mais quentes ainda.
Conheço mulheres de muitos países e as
brasileiras com certeza estão no topo da
minha lista. Por onde passava, o clima
era de Carnaval. Desde o aeroporto até
chegar ao meu apart. Recebi alguns
convites para o camarote da Construtora
Carlos Ribeiro e tenho a intuição de que
minha noiva estará lá. Não a conheço
pessoalmente, pois sempre tentei adiar
esse momento, entretanto já ouvi
rumores de que é muito bonita. Dos
males o menor já que independente da
aparência que tivesse, o acordo teria
que ser cumprido, mas se é bonita,
melhor.
Aproveitei as noites antes do
Carnaval para apresentar a cidade a
Marco, que ficou encantado. Visitamos
alguns botecos e fomos a um ensaio pré-
Carnaval. Conheci garotas, me envolvi
rapidamente com algumas e no terceiro
dia acabei levando uma loira linda pra
casa. Como sempre a noite foi
maravilhosa, mas a partir de agora eu
teria que me concentrar no objetivo
maior que me trouxe ao Brasil e dei um
jeito de dispensar mais essa princesa.
- Marco, preparado para uma das
maiores diversões de sua vida? -
Perguntei a meu irmão.
- Cara, eu não sei se vou me
divertir mais em correr atrás dessas
mulheres lindas ou de ver você se
entregando pra forca. Vai ser divertido
ver o conquistador espanhol encerrando
a carreira. - Marco me provocou.
- Quem disse que eu preciso
encerrar a carreira? Isso não está no
contrato. Eu só preciso ser discreto. -
Falei, pegando a chave do apart e saindo
em direção ao taxi que me lavaria à
folia. Meu irmão sorriu e
complementou:
- Ainda bem que esse acordo
recaiu sobre o filho mais velho. Estou
muito bem solteiro e pretendo continuar
assim. - Balancei a cabeça em
concordância. Pelo menos ele tinha
escolha.
Chegamos ao camarote onde nos
identificaram com uma pulseira verde. O
espaço era relativamente grande e de
aparência bonita, bem decorado e com
excelente atendimento. Algumas pessoas
estavam bebendo, outras dançando e
outras assistindo às passagens dos trios.
Marco assistiu um pouco e seus
olhos ficaram vidrados. A mistura
cultural era algo surpreendente. Havia
muita gente bonita e comecei a perceber
alguns olhares em nossa direção, porém
ninguém me chamou a atenção.
Repentinamente, todos os
acontecimentos em volta ficaram para
segundo plano. Uma morena linda estava
chegando à pista de dança junto com
uma loira. Eu não consegui parar de
olhar naquela direção. Ela tinha o corpo
mais perfeito que eu já vi em uma
garota, cabelo na altura dos ombros e
lindos olhos. Olhei em volta pra ver se
ela estava com alguém e percebi que
ninguém marcava território. Não entendi
como uma princesa como aquela
pudesse estar desacompanhada de um
homem.
Eu sabia que estava em um lugar
onde não deveria me expor, mas parecia
que um imã me puxava àquela princesa.
Dei dois passos na direção dela, que
dançava livremente, quando vi um rapaz
agarrá-la pela cintura por trás. Não sei
explicar o motivo, mas raiva me subiu
como se eu tivesse algum direito a
reivindicá-la.
Pela reação dela, os dois tinham
intimidade e provavelmente tinham mais
que amizade. Decidi recuar, mas não sou
de fugir de um desafio. Marco falou algo
comigo e quando viu que eu não
prestava atenção, procurou com o olhar
qual era o meu foco. Nesse momento,
ela olhou em minha direção franzindo o
rosto, o que a deixava ainda mais linda.
Seu olhar não demorou e voltou sua
atenção ao rapaz.
- Mano, você não tem jeito mesmo.
Veio aqui com uma intenção e já está à
caça. Tenho pena de sua futura esposa. -
Marco disse, me dando tapinhas nas
costas.
- O que? Não enche, Marco.
Continuo com o mesmo objetivo de
quando cheguei aqui. - Meus olhos
instantaneamente voltaram para o mesmo
alvo como se tivessem vida própria.
- Sei. - Meu irmão respondeu com
sarcasmo.
Bebi um copo de uísque após o
outro olhando fixamente na mesma
direção. Duas garotas passaram por nós
e uma delas me encarou, me avaliando
de cima abaixo. Essa seria presa fácil
em outro dia, mas hoje nada conseguia
tirar o meu foco. Marco saiu para a pista
de dança e em pouco tempo já estava
agarrado com uma garota. Quando
percebi que o rapaz não sairia de perto
da morena, resolvi dar a noite por
encerrada, apostando todas as fichas em
que ela estaria lá no outro dia de festa.
Capítulo 4
Ela

Esta noite eu estava usando um


vestido bastante estampado em cores
vibrantes que combinavam com toda a
alegria do Carnaval. Liguei pra Clara e
ela me disse que já estava a caminho.
Queria saber das novidades, pois ela
não foi para casa sozinha.
Clara é filha de um empresário que
presta serviços à empresa de meu pai e
as duas famílias tem uma relação
pessoal muito boa. Ela tem 23 anos e já
tem seu próprio apartamento desde os
21.
Meu pai mandou o motorista me
buscar para que ele ficasse mais
tranquilo. Ele considerou mais seguro,
sem falar que eu poderia estar livre para
tomar uns drinks uma vez que eu não
estaria dirigindo. Cheguei ao camarote
mais cedo que os convidados para
conferir se tudo estava em ordem.
Quando percebi que estava tudo
pronto, procurei a equipe do salão para
fazer um penteado. Resolvi fazer uma
trança lateral nos cabelos e enfeitá-la
com pequenas florezinhas. Maquiaram-
me de forma que combinasse com tudo o
que eu estava usando e me preparei para
receber os convidados.
Tudo estava funcionando
normalmente como na noite anterior,
Clara e Ben logo chegaram e depois de
fazer o meu papel de anfitriã fui me
divertir também. Ben colocou um braço
em minha cintura e ficou atento à minha
conversa com Clara.
- Brisa, minha noite foi
sensacional. Felipe tem pegada, amiga, e
ainda consegue ser carinhoso ao mesmo
tempo. Daqui a pouco ele estará
chegando. – Minha amiga falou, olhando
para mim, mas desviando o olhar na
direção de Ben às vezes. Acho que ela
estava com um pouco de vergonha por
ele estar ouvindo nossa conversa.
Demonstrando raiva, Ben falou:
- De onde você conhece esse rapaz,
Clara? Você é louca de sair com um cara
que acabou de conhecer? - Ben parecia
furioso.
- Eu já o conhecia de vista, já tinha
sido apresentada anteriormente, mas
apenas ontem tivemos a oportunidade de
nos conhecer melhor. Aliás, o que você
tem a ver com isso, mesmo? Sou maior
de idade e você não é nada meu pra se
preocupar tanto. - Clara não tem freio na
língua quando algo a chateia. Eu também
não entendi a reação de Ben. Deve ter
um bom motivo.
- Eu me considero seu amigo e
entendo que amigos devem cuidar uns
dos outros. Então, vocês se conheceram
melhor? O que isso quer dizer, no
sentido bíblico?
Minha amiga olhou furiosa para
ele, mas seus traços mudaram, quando
afirmou: - os detalhes sórdidos só conto
pra Brisa. Depois. Enfatizou na última
palavra e saiu com um sorriso no rosto
nos deixando a sós.
- Ben, deixa Clara em paz. Ela
deve saber o que está fazendo. - Ele me
olhou, suavizando os traços faciais e me
beijou rapidamente. Dancei bastante,
tomei algumas bebidas e continuei
fazendo minhas funções de anfitriã.
Em algum momento, fui à cozinha
verificar o abastecimento de comida e
bebidas e ao retornar me deparo com
alguém que eu não pretendia ver tão
cedo, quiçá nunca. Lá estava o cara que
eu tanto conhecia através da mídia, mas
que preferia nunca conhecer
pessoalmente. Nesse momento, senti que
meu mundo caía.
Confesso que pessoalmente ele era
muito mais bonito que nas fotos,
acontece que a sua beleza nunca foi o
problema, apenas o que a sua presença
representava. Ele me olhou percebendo
que eu o fitava e começou a caminhar
em minha direção. Engoli em seco, mas
não me movi. Esperei pra ver o que
aconteceria. Com um sotaque espanhol,
ele me abordou:
- Olá, princesa, tudo bem? Eu sou
Alfonso Javier. Estou visitando a Bahia,
já estive aqui outras vezes, mas achei
que a história de ter sereias aqui era
apenas lenda. Vocês existem de
verdade? - Ele me perguntou em tom
galanteador.
Sério que ele vai fingir que não me
conhece e se aproximar com uma
cantada barata? - Pois é, elas existem e
não podem ficar muito tempo fora do
mar. Preciso ir. - Tentei me afastar me
perguntando até quando ele continuaria
com esse fingimento e começaria a falar
sobre o acordo.
Dei dois passos, mas ele me
segurou pelo braço, me arrastando para
um canto mais escuro. O camarote
estava iluminado apenas com o jogo de
luzes que dava uma atmosfera de boate e
alguns lugares não eram alcançados pela
iluminação. Ele me encostou à parede,
levantou meus braços e encostou os
lábios em meu ouvido. - Antes de tudo,
me diga seu nome. - Esperou a minha
resposta enquanto esfregava a ponta dos
lábios indo de meu ouvido até a nuca.
Meu cérebro dizia para eu gritar ou
tomar qualquer atitude, mas o meu corpo
não respondia, estava inerte.
Tentei abrir os lábios para
responder alguma coisa, quando fui
tomada por um beijo que fez as minhas
funções cerebrais paralisarem de vez. A
única coisa que eu sabia naquele
momento era que meu corpo estava à
mercê dele para fazer o que bem
entendesse e eu não protestaria, pois não
teria força para fazê-lo. Suas mãos
começaram a se movimentar, descendo
de meu pescoço, aos meus seios, meu
ventre, chegando até as minhas pernas,
subindo em uma lentidão que estava me
conduzindo ao desespero. Meu corpo
pedia mais, esqueci tempo, espaço e
tudo o mais à minha volta. Correspondi
à paixão de suas carícias como algo de
que eu precisava para viver, ofegante,
entregue.
Ele se afastou um pouco para falar
com voz rouca: - vamos sair daqui e
procurar um lugar mais reservado? -
Nesse momento, um pouco da razão
retornou à minha mente e me encontrei
olhando assustada para ele. Onde eu
estava com a cabeça?
Ele parecia confuso por causa do
meu olhar. Olhei para os lados e ao
perceber que não chamava a atenção
respondi: - quem te deu a liberdade de
me beijar desse jeito? Olha, eu sei quem
você é e porque está aqui, mas não tinha
o direito de me abordar desse jeito. Eu
não sou sua propriedade. - Saí batendo
os pés, furiosa com ele e comigo mesma
por não entender como me deixei levar
desse jeito.
Ele ficou apenas me olhando de
longe, confusão e desejo transbordando
de seus olhos. Voltei para o lado de Ben
que me perguntou se algo havia
acontecido. Respondi apenas que já
estava um pouco cansada e que gostaria
de ir. Ele assentiu, conversei com os
responsáveis pelas equipes de apoio,
deleguei funções e me despedi de todos.
Antes de sair, meus olhos se voltaram à
procura de Alfonso e lá estava ele,
dessa vez com a atenção voltada para
outra morena que falava animadamente.
Não sei por que, mas senti uma
pontada de ciúme e angústia por não ser
o foco de sua atenção dessa vez. Entrei
correndo no carro e logo estava na
segurança de meu apartamento.
Capítulo 5
Ele

- Mais forte, mais forte! Isso! Mais,


mais... - Alguém estava gritando tão alto
que parecia querer se certificar que o
prédio todo escutava. Acordei por causa
de um barulho que infelizmente não
estava sendo provocado por mim e
minha cabeça estava estourando. Acho
que bebi demais. Minutos depois, os
gritos cessaram e meu irmão apareceu
na porta do meu quarto.
- Mano, valeu por ter me chamado
para vir ao Brasil com você. Cara, que
garota é essa que está em minha cama?
Se você não me vir mais fora do quarto
hoje, não me interrompa. - Meu irmão
disse em tom de brincadeira.
Olhei pra ele e levantei da cama
para ir em direção à suíte. - Só peça
para ela fazer menos barulho. O mundo
inteiro não precisa saber o que vocês
estão fazendo. - Respondi, com cara de
poucos amigos já que a ressaca estava
me matando.
Eu poderia ter trazido uma garota
pra casa ontem. Muitas mulheres se
insinuaram pra mim, porém eu não estou
conseguindo tirar uma certa morena de
olhos verdes da cabeça. Eu nem sei
como vou cumprir alguma porra de
acordo quando estou tão enfeitiçado por
outra mulher. Vim ao Brasil na intenção
de conhecer a minha noiva, passei dois
dias no camarote de sua família e ainda
não tive o mínimo interesse em conhecê-
la. Provavelmente, ela estava lá, mas
como não vi seus pais, deixei as
apresentações para outro momento.
Olhei para o relógio e vi que já
tinha passado de meio dia. Com sorte, o
dia passaria rápido para que eu pudesse
reencontrar minha sereia. Minha. Sim,
ela seria minha. Ela nem ao menos disse
seu nome, mas hoje eu pretendia
conseguir mais que isso dela.
Depois de uma tarde na piscina do
apart, comecei a me arrumar para mais
uma noite de folia. Percebi que a
acompanhante de meu irmão não estava
mais em casa, pois o silêncio imperava
e ele estava com cara de satisfeito. Se
eu conseguisse tirar aquela morena da
minha mente, talvez eu também estivesse
assim, mas estou em busca de mudar
isso hoje. Apressei meu irmão para que
chegássemos cedo. Não quero perder
qualquer oportunidade de me aproximar.
Entrei no camarote e logo fui
recebido pela equipe de apoio. Peguei
uma bebida e me dirigi à varanda. Os
convidados começaram a chegar e a
avenida começava a ferver. Passei a
observar os foliões e imaginei o quanto
essa festa deveria ser esperada. Parecia
que não existiam problemas lá fora e
que todos eram felizes.
Marco logo encontrou a sua garota
e comecei a imaginar mais uma noite de
barulho. Se eu tivesse sorte, eu também
teria a minha dose. Virei para pegar uma
bebida quando deparei com a minha
sereia. Observei que eu não era o único
homem que olhava pra ela com desejo
naquele camarote, mas algo possessivo
me dominava. Eu queria ser o único a
poder tocá-la.
Para o meu azar, o cara que estava
com ela nos dias anteriores se
aproximou e a beijou. Ela não parecia
corresponder muito, mas não o impediu.
Observei quando ela olhou para os
lados como se estivesse procurando
algo, o que parece ter encontrado assim
que seus olhos se encontraram com os
meus.
Ela ficou petrificada, puxou uma
respiração funda e desviou o olhar, se
voltando para o rapaz. Maldición!
Tenho que dar um jeito de ficar sozinho
com ela. Pensei em fazer algo e resolvi
agir no mesmo momento. Fui até a
cozinha e ofereci uma boa quantia em
dinheiro para que o garçom a chamasse
até lá com a justificativa de que algo
estava acontecendo. Como previ, ele
não pensou duas vezes e pegou o
dinheiro partindo para chamá-la.
Ela veio sem demora e mais uma
vez tive a oportunidade de tê-la só pra
mim. - Ei, sereia, o problema não é na
cozinha, é comigo. Sou eu quem está
pegando fogo. - Ela me olhou assustada
e para minha surpresa tomou meus
lábios com desespero. Nos beijamos
como loucos e aos poucos o beijo foi
amenizando e se tornando mais terno.
Ficamos ali por minutos e pela primeira
vez nesses dias, senti que tudo estava
certo. Nossos corpos se separaram e ela
sorriu timidamente.
- De - desculpa por ter te atacado
desse jeito. Eu não sei o que deu em
mim. Não me julgue, por favor, eu só
não sei... - A puxei para mais um beijo
prolongado.
- Não se desculpe por ter feito o
que tinha vontade. Estava com desejo de
fazer isso desde o momento que você
chegou aqui. - Mais uma vez ela deu um
sorriso de tirar o fôlego.
- Eu não posso ficar aqui com
você. Eu preciso atender aos
convidados e... Não sei se você
observou, eu estou acompanhada.
- Se você é a representante da
empresa, então entendo que realmente
precise dar atenção a todos. Quanto a
estar acompanhada, você acabou de
provar que ele não é com quem você
gostaria de estar, portanto dê um jeito de
se livrar dele.
Ela me olhou confusa e afirmou: -
olha, sei que acha que tem algum direito
sobre mim, mas precisamos conversar.
Eu sei que parece ser difícil, porém
podemos encontrar um meio termo e...
- Não acredito em meios termos.
Eu quero você e você me quer, então vá
lá e acabe logo com isso. - Seu olhar
mudou de confusão para fúria.
- Não pense que pode me dar
ordens. Você acabou de me conhecer e
se considera o que? Meu dono? - Mais
uma vez senti o vazio entre nós quando
ela se afastou.
Passei o resto da noite a
observando. Ela não fez o que eu pedi,
porém evitou ficar sozinha com o garoto.
Ele tentou levá-la para dançar e tentou
beijá-la, mas foi mal sucedido em todas
as tentativas. Às vezes eu a flagrava me
olhando e eu pronunciava “minha”. Ela
sempre desviava o rosto.
Quando percebi que os convidados
estavam indo embora, sumi das vistas
dela, entretanto não deixei de observá-
la.
Capítulo 6
Ela

Essa noite foi muito confusa pra


mim. Não consegui voltar aos braços de
Ben, pois a impressão que eu tinha era
de que estava traindo Alfonso. Droga!
Como posso estar traindo um noivo
arranjado? O meu sentimento deveria
ser de que estava traindo Ben e não o
contrário, embora não tenhamos nada
definido.
Fiquei mais confusa ainda e
frustrada com o fato de que Alfonso não
tentou me abordar novamente. Não sei
qual era o jogo dele, em um momento me
queria, em outro desaparecia. Não
gostava de pessoas inconstantes assim, o
melhor seria que eu esquecesse esses
dias e quando eu tivesse a oportunidade,
conversaria com ele e tentaria rever o
acordo entre nossas famílias. Era isso.
Ben era uma aposta mais segura.
O motorista me deixou em frente ao
meu prédio e esperou que eu entrasse.
Era madrugada e ele não me deixaria
correr riscos. Saudei o porteiro e subi.
A minha mente não parava de martelar
com perguntas sem respostas. Após
pegar o elevador, fui em direção ao meu
apartamento e para minha surpresa, tinha
alguém na frente dele. A minha primeira
reação foi de dar a volta e correr o mais
rápido possível, mas parei quando ouvi
alguém chamar: - sereia!
- Co - como você conseguiu subir
aqui? Como achou meu apartamento?
- Não se assuste, linda, mas como
eu não tinha certeza que a veria
novamente eu a segui até aqui ontem. Eu
disse que era seu namorado e pela sua
descrição o porteiro me disse qual era o
apartamento. Sabe, você não está muito
segura aqui. Foi muito fácil entrar no
prédio. - Olhei para ele e tentei lembrar
dos pensamentos que estava tendo há
poucos instantes, mas meus pensamentos
logo se tornaram uma bagunça e meu
olhar se transformou em desejo.
Ele me puxou para os seus braços e
nos beijamos ofegantes ali mesmo no
corredor. O beijo se prolongou e ele
tomou a chave de minha mão para entrar
no apartamento. Empurrou-me contra a
porta, levantou meus braços e voltei a
sentir o melhor sabor que já tinha
sentido em minha vida.
Respirávamos com dificuldades,
quando ele começou a levantar meu
vestido, o retirando em um só puxão.
Seu olhar se tornou mais escuro ao ver-
me apenas de lingerie e saltos. - Linda! -
Ele disse depois de me avaliar. Voltou a
me beijar e pegar em lugares nunca antes
explorados. A sensação que eu tinha era
indescritível. O prazer me dominava em
cada lugar que eu era tocada a ponto de
sentir dor em algumas partes.
Sempre fui responsável quando
tinha encontros, pois sabia que
precisava rever o acordo antes de
avançar com algum garoto. Já tive
carícias mais ousadas anteriormente,
porém nada que me comprometesse.
Dessa vez, eu não conseguia pensar,
pois o desejo que eu sentia por ele era
mais forte do que a razão.
- Quarto - Ele falou, com voz
rouca, e eu o direcionei até lá. Eu
comecei a tirar suas roupas, o deixando
apenas com uma boxer. Ainda que não
estivesse completamente nu, dava para
ter uma ideia do que eu poderia esperar.
Eu deveria estar assustada, mas vê-lo
me deu água na boca. Ele era lindo, bem
definido e completamente proporcional
ao seu tipo.
- Lindo! - Eu falei, retribuindo seu
elogio. Nos beijamos em todas as partes
expostas do nosso corpo. Ele tirou meu
sutiã suavemente deixando meus seios
duros e desejosos à mostra. Como se
estivesse me adorando, sugou os
mamilos, aumentando a minha
necessidade de tê-lo dentro de mim.
Depois de explorar minhas sensações,
ele tirou minha calcinha e parou mais
uma vez para me olhar.
- Está gostando do que vê? -
Perguntei o provocando.
- Muito. - Ele respondeu, me
agarrando. Eu senti sua ereção latejando
no meu ventre e puxei sua boxer.
Perguntei-me se aquilo caberia em mim,
mas decidi que a melhor resposta seria
experimentar.
- Não demore, Alfonso, eu
preciso... - Ele não pensou duas vezes.
Sabia que eu já estava pronta para
recebê-lo e sem pestanejar penetrou
centímetro a centímetro. Senti uma dor
fina e acho que tive alguma reação,
porque ele parou e me olhou. Aos
poucos, meu corpo começou a se
acostumar e a relaxar, então ele
continuou. Nos amamos até chegar ao
êxtase. Ele me puxou para perto de si e
adormecemos um nos braços do outro.
Capítulo 7
Ele

Acordei, sentindo um braço em


volta de mim. Olhei pra ela e sorri
satisfeito pela noite ter saído como
planejei. Ela dormia tranquilamente ao
meu lado. Comecei a relembrar como
tinha sido a noite anterior, sua entrega
sem reservas e como omitiu um grande
detalhe: era virgem. Sempre tive receio
de me relacionar com virgens, pois elas
geralmente estão em busca de algo mais
duradouro e isso sempre foi uma coisa
que não podia oferecer a nenhuma
garota.
A minha família é tradicional na
Espanha e todos os acordos firmados
sempre foram cumpridos por gerações.
Quando as alianças precisavam
envolver matrimônio, o primogênito
sempre era quem se sacrificava. Nesse
caso, Marco está livre para fazer suas
próprias escolhas e eu fico feliz por ele.
O único modo de ele ter que se amarrar
a um matrimônio forçado seria se acaso
engravidasse alguma garota.
Na minha família, não nascem
filhos bastardos. Isso se mantém por
gerações e crescemos sabendo disso.
Inclusive o único ponto de quebra do
acordo seria caso eu engravidasse
alguém, mas as nossas perdas
financeiras seriam gigantescas, portanto
sempre evitei correr esse risco. Marco
sabe de suas responsabilidades, por isso
eu sei que ele é muito cuidadoso, já que
propaga aos quatro ventos que não
pretende se casar tão cedo.
A minha sereia estava tão linda
dormindo que tentei fazer o possível
para não acordá-la, mas estava com
muita sede e precisava me levantar para
ir até a cozinha. Desfiz seu abraço
suavemente e me levantei. Olhei para
ela e me senti completo, com desejo de
que esse dia não tivesse mais fim. -
Linda! Minha sereia, você é linda e é
toda minha!
Eu não conseguia acreditar que
fizemos amor e nem ao menos sabia o
seu nome. Assim que ela acordasse, eu
saberia tudo o que precisava saber, mas
tinha certeza que uma garota tão linda só
podia ter um nome lindo. Sorri
internamente.
Fui em busca da cozinha,
observando pela primeira vez o
apartamento, já que quando entrei, a
última coisa que eu poderia pensar era
no ambiente em que eu estava. Imaginei
que ela tinha uma posição muito boa na
empresa, pois além de seu apartamento
estar localizado em um lugar
privilegiado, a sua decoração e mobília
eram de última geração e de muito bom
gosto.
Abri a geladeira e enchi um copo
com água bastante gelada. Precisava
matar a minha sede de água já que a
minha outra sede estava longe de acabar.
Bebi mais alguns goles e fui em direção
à sala. Havia uma televisão grande, um
sofá maior do que uma pessoa solteira
realmente precisaria e muitas almofadas
arrumadas sobre um felpudo tapete.
Acredito que ela decorou de modo que
tivesse espaço para receber amigos. Na
parede havia alguns quadros de arte
abstrata em cores vibrantes que
contrastavam com as cores frias dos
mobiliários.
Em uma estante, havia alguns livros
e CDs organizados e alguns porta-
retratos. Se eu tivesse o poder de voltar
atrás e não ter decidido ir até a sala, eu
o faria nem que fosse para prorrogar a
minha decepção. Dentre as diversas
fotos tinha uma em que se encontrava Sr.
e Sra. Ribeiro e ela estava entre eles.
Não precisava ser tão bom entendedor
para perceber quem ela era: Brisa
Ribeiro.
- Maldita traidora! Ela sabia quem
eu era e brincou comigo o tempo todo.
Se fez de difícil, beijou aquele cara na
minha frente, mesmo sabendo que tinha
um compromisso comigo. Comigo! -
Falei sozinho, parado na sala dela. Eu
não podia acreditar que alguém me fez
de bobo desse modo. Logo alguém com
quem eu iria passar o resto da vida.
Péssimo jeito de iniciar um
relacionamento. Droga!
Entrei silenciosamente no quarto,
peguei minhas roupas e parei para olhá-
la: - agora já sei seu nome, sereia, e
você nem precisou me dizer. - Saí do
seu quarto e do seu apartamento o mais
rápido possível.
Cinco dias depois...

Há dois dias liguei para o Sr.


Ribeiro, dizendo que estava pronto para
conhecer a minha noiva. Informei-lhe
que já estava no Brasil há alguns dias e
que não desejava postergar mais esse
encontro. Ele concordou e perguntou
quando e onde eu gostaria que
acontecesse. Marquei no escritório para
dali a dois dias.
Há dois dias que Marco voltou
para a Espanha. Como não estou lá, ele
precisava assumir as funções na minha
ausência. Fui para a Construtora Carlos
Ribeiro e me apresentei na recepção
como o noivo da Srta. Brisa Ribeiro. A
recepcionista informou que eu estava
sendo aguardado e me conduziu até o
escritório do Sr. Ribeiro. Ele me
recebeu com um aperto de mão e um
sorriso que não demonstrava muita
alegria ao me ver.
- Como foi a viagem, rapaz?
Chegou a tempo de aproveitar o
Carnaval? - Ele me perguntou, batendo
nervosamente um lápis sobre a mesa
escura.
- Sim. Aproveitei os convites que
vocês nos enviaram e me diverti muito,
obrigado! - O ar estava um pouco
pesado por sabermos que teríamos que
tratar de assuntos que ultrapassavam os
negócios. Eu o conhecia por já termos
feito muitas negociações, já que nossas
empresas são do mesmo ramo.
- Não há de que, meu caro. Logo
seremos parte de uma mesma família e a
empresa será sua também. - Assenti,
sabendo que aquilo de fato aconteceria,
uma vez que um dos pontos do acordo
seria passar parte das ações para o meu
nome. A empresa precisou de
investimentos no passado e não tinha
nenhuma garantia para dar em troca.
Como as ações tinham perdido o valor,
meus pais ajudaram a reestruturar a
empresa com a garantia de que eu teria
uma grande parcela quando ela fosse
valorizada, e por ser uma empresa de
família, acordaram em realizar um
matrimônio em tempo oportuno para que
a empresa continuasse a pertencer à
família Ribeiro.
- É verdade. Logo serei parte da
família. E por falar nisso, onde está a
minha noiva? Ela já chegou? - Senti a
tensão no rosto envelhecido do meu
futuro sogro.
- Bem, quanto a isso, eu gostaria
que você tivesse um pouco de paciência
com minha filha. Você deve imaginar
que não será tão fácil para ela e eu ainda
não falei que você está no Brasil. Achei
melhor apresentá-lo primeiro. Talvez te
conhecendo pessoalmente, as coisas se
tornem mais fáceis. - Sondei o rosto
dele em busca de algum sinal que me
permitisse entender que ele queria voltar
atrás.
Não sou ingênuo ao ponto de não
saber que se ele tivesse a oportunidade,
tentaria renegociar o acordo, ainda mais
sendo Brisa filha única. Sei que faria o
possível para vê-la feliz, porém ambos
tínhamos muito a perder e sabíamos que
não haveria volta. Os meus planos era
que pudéssemos ter uma vida feliz, por
que não? Eu só não poderia prometer
toda aquela coisa de romance. Essas
coisas nos distraiam, davam o poder de
se tornar uma marionete nas mãos de
outra pessoa. Isso não era pra mim. Não
comigo.
- Não tenho tanta certeza que tudo
poderá ser mais fácil quando ela me vir,
mas as coisas são como são. Existe um
acordo, não há nenhum motivo para
quebrá-lo, somos saudáveis e temos a
mesma área de interesse profissional.
Não vejo motivos para não seguir em
frente. - Afirmei com frieza, de modo
que deixasse claro que os termos seriam
cumpridos à risca. Era assim que eu
tratava de negócios e esse não deixava
de ser mais um.
Lembrei da morena que estava em
meus braços há cinco dias e fui tomado
por um misto de dor e alegria. Dor por
ter sido enganado, por ela ter me feito
de bobo e alegria porque a química que
houve entre nós é um bom sinal de que o
matrimônio será bastante satisfatório.
- Ela está ciente de todos os
termos, rapaz, eu apenas gostaria que
você tentasse tratar desse assunto como
algo que vai além dos negócios já que
estamos falando de um futuro juntos, e
reitero o pedido por um pouco mais de
paciência com ela.
Assenti, não querendo continuar a
conversa sem que ela estivesse presente.
- Então, a que horas ela chega?
Capítulo 8
Ela

- Bom dia, Lúcia. Meu pai já


chegou? - Perguntei à recepcionista da
nossa empresa. Cheguei ao escritório um
pouco atrasada naquela manhã. Já faz
alguns dias que não durmo direito.
- Bom dia, Brisa. Seu pai está no
escritório dele, mas não está só. Ele e o
seu noivo estão te aguardando. - Gelei
com a menção de meu noivo e pela
reação de Lúcia, acho que parecia
assustada.
Há cinco dias, o cretino me deixou
só em meu apartamento depois de ter
tomado a minha virgindade. Tudo
parecia tão bem, nos amamos com febre,
calor e quando acordei, me deparei com
a minha cama fria e vazia. Pensei que
ele estava em outro ambiente do
apartamento, porém quando o procurei
não havia qualquer sinal. Sequer um
bilhete. Dias passaram e nem ao menos
uma ligação recebi. Ele poderia
facilmente ter conseguido meu número
de telefone.
Estou cada vez mais decidida de
que eu precisava renegociar os termos
desse acordo. Não poderia pensar em
viver com alguém tão inconstante desse
jeito. A vida é uma só e não pretendia
vivê-la sem compartilhar o mais sublime
dos sentimentos - o amor. Não, eu me
negava.
- Obrigada, Lúcia. Por favor, não
deixe que ninguém nos incomode. -
Passei na copa antes para tomar um
copo de água. Precisava tentar relaxar
para ter essa conversa. Segui em direção
ao escritório de meu pai.
Abri a porta e me deparei com o
homem mais lindo que já pus os olhos,
mas não podia deixar que essa visão me
distraísse. Cumprimentei meu pai com
um beijo na testa e estendi a mão para
saudar Alfonso. Ele me olhou com olhos
felinos, como se estivesse avaliando
uma presa e, para minha surpresa, me
puxou suavemente depositando em meus
lábios um beijo casto. Senti uma chama
se iniciar pelo meu corpo, contudo juntei
todo o meu autocontrole para me manter
firme.
Me enfureci com sua atitude, mas
fiz o possível para disfarçar. Não
deixaria que isso me abalasse e
atrapalhasse a conversa que precisava
ter com ele. Estava muito determinada e
esse tipo de atitude só fortalecia minha
convicção de que precisava buscar uma
saída.
- Então, enfim tenho o prazer de
conhecer a minha futura esposa, - ele
iniciou - Brisa Ribeiro. Acho que devo
agradecer aos nossos pais pelo acordo.
Acredito que não teria escolhido tão
bem. Você me lembra das lendas sobre
sereias brasileiras que ouvia quando era
menino.
Senti um arrepio tomar o meu
corpo ao lembrar de como ele me
chamava de sereia quando estávamos
juntos. Eu sabia que ele estava querendo
jogar, como se não me conhecesse.
Nesse jogo, era possível que dois
jogassem. Ele não iria me desestabilizar.
- Bem, se isso foi um elogio, só me
resta agradecer Sr. Javier. Imagino qual
seja o motivo que o traz até aqui e
gostaria de conversar sobre esse assunto
com o senhor. Se possível, agora
mesmo. - Sabia que ele era um
negociador implacável, mas eu também
era. Ninguém subestimava minha
inteligência.
- Minha noiva, para que tanta
formalidade? Chame-me apenas de
Alfonso e espero poder te chamar só de
Brisa. Lindo nome, por sinal. - Disse a
última frase olhando para o meu pai em
um meio sorriso.
- Alfonso, certo. Como você sabe,
e este é o motivo da sua presença aqui,
temos um acordo que envolve negócios
e que tem como fim o matrimônio entre
nós para que nenhuma das partes tenha
perdas financeiras. Nossos pais deram
suas vidas para construir suas empresas
e firmá-las no mercado, portanto
ninguém deve sair perdendo. Apesar de
sabermos de tudo isso, sabemos também
que acordos podem ser mudados desde
quando seja do interesse dos envolvidos
e desde que ninguém saia perdendo com
a mudança...
- Acordos só são mudados quando
são mal feitos. Na minha família todos
são muito bem amarrados para que não
haja necessidade de modificações
futuras. Além disso, não faço parte dos
envolvidos que têm interesse em fazer
qualquer mudança. - Ele me respondeu
com os olhos frios de quem sempre dá a
resposta final.
- Me responda apenas uma coisa,
então: você pretende se entregar ao
relacionamento a ponto de deixar as
emoções rolarem? Pretende dar espaço
para nascer amor nessa relação?
- Não quero que essa seja a base
para o nosso casamento. Devemos
começar uma relação sabendo que
precisa ser bem sucedida em nome das
nossas famílias e da família que
possamos vir a formar, mas não quero
sentimentos tão inconstantes
determinando o nosso convívio. Existem
muitas formas de amar e pretendo nutrir
muito carinho e respeito pela minha
esposa e filhos.
Carinho e respeito isso é tudo o
que ele poderia me oferecer e eu
deveria estar grata? - Sendo assim, eu
insisto na possibilidade de ampliarmos
a nossa conversa e pensarmos em rever
alguns termos do acordo. O que está me
oferecendo não é o suficiente, quero
mais.
Seu olhar não expressava qualquer
emoção. Seus olhos se mantinham
presos aos meus e por um momento tive
receio de me deixar levar por eles. Ele
parecia conseguir ler a minha mente
apenas com o olhar e isso me deixava
confusa.
Se eu cedesse a todos os pontos
desse acordo, sabia que iria me
machucar, pois não conseguiria viver ao
seu lado sem desenvolver sentimentos.
Droga, o pouco convívio que tive com
ele já fora o bastante para que
sentimentos começassem a surgir. Não
saberia separar as coisas e sabia que
isso acabaria em dor. Dor sentida
apenas por mim.
Repentinamente, meu pai se
levantou e falou: - filha, pense bem, o
Sr. Javier está apenas...
Alfonso também levantou e cortou
a fala do meu pai. - Perdão, Sr. Ribeiro,
eu acho que os ânimos estão exaltados e
não gostaria de continuar essa conversa
agora. - Ele voltou sua atenção para mim
- Brisa, você daria a honra de jantar
comigo amanhã?
Capítulo 9
Ela

- Uau, Brisa! Ele te chamou para


jantar? Sua lingerie está combinando?
Está usando aquele conjunto vermelho
lindo que você comprou recentemente?
Não esqueça a cinta liga...
- Chega, Clara! – Falei, sorrindo. A
minha amiga não tem jeito mesmo - É
apenas um jantar. Eu preciso tentar
mudar a mente dele e convencê-lo de
que é o melhor para ambos.
- Ah, Bri, eu em seu lugar pegaria
um voo para Vegas e me casaria hoje
mesmo. Sei que você tem um rolo com
Ben, mas aquele espanhol eu não
deixaria escapar. Pelo menos tire uma
casquinha, amiga. - Eu não tinha contado
a ela sobre a nossa noite. Ainda não tive
oportunidade. Logo ela saberia, pois não
escondíamos nada uma da outra. Pelo
menos eu não.
- Vamos marcar uma noite do
pijama para que eu te conte algumas
novidades e sobre a nossa conversa de
hoje, ok? Agora vem e faz minha
maquiagem.
Clara chegou à minha casa de
tardinha já mexendo em meu armário
para escolher um vestido e separar
acessórios. Parecia que Alfonso tinha
me pedido em casamento de tão animada
que ela estava. Pensando nisso, me
entristeci, pois se o acordo seguisse em
frente, ninguém nunca me pediria em
casamento. Agora estava pronta com
maquiagem, cabelos arrumados e um
vestido que mais mostrava do que
escondia. Optei por uma sandália alta,
de salto dez centímetros preta que
contrastava com o vestido levemente
estampado.
Ao olhar no espelho, achei que
estava bonita e mais preocupada com a
aparência do que gostaria de estar. -
Lembre-se, Brisa, você tem que
convencê-lo. O jantar é para isso. -
Falei comigo mesma. Peguei uma bolsa
preta de franjinhas e saí para a batalha.
Marcamos num restaurante
maravilhoso de um apart hotel em frente
ao mar. Ele se ofereceu para me buscar
em casa, mas neguei, achando melhor ir
com meu próprio carro. Cheguei à
recepção, me identifiquei e o atendente
me conduziu até à mesa que ficava em
uma das melhores localizações.
Observei que não havia mesas ao redor
e deduzi que Alfonso havia reservado
esse espaço para nos dar maior
privacidade. Saber que teve essa
preocupação derrubou um bloco da
parede que estendi contra ele. Não
posso me impressionar com cada ato.
Alfonso estava sentado,
tamborilando a mesa com a ponta dos
dedos e tomando uma taça com água.
Estava simplesmente lindo usando
apenas calça jeans e uma camisa de
mangas compridas. Delicioso! Seu olhar
cruzou o meu e senti algo umedecer
entre minhas pernas. - Foco, Brisa. -
Falei, internamente.
- Sereia, você está linda. Correção:
você é linda. Estou tentado a transferir
nosso jantar para uma suíte já que eu não
quero compartilhar essa imagem com
mais ninguém. - Ele levantou e pegou
minhas mãos depositando ali um leve
beijo.
Puxei minha mão antes que eu
implorasse para que ele beijasse outras
partes do meu corpo também. Ele
pareceu sentir a minha tensão, pois deu
um meio sorriso. Sentei à sua frente,
tomei alguns segundos para admirar sua
beleza antes de responder: - prefiro ter
essa conversa aqui mesmo. Não há
necessidade de um lugar mais privado.
Somos seres civilizados, não somos?
- Eu sou. Quase sempre. - Disse
com tom galanteador. O garçom
aguardou que os pedidos fossem
realizados e se afastou. Eu pedi como
entrada uma casquinha de siri e, para o
jantar, uma mariscada, que é uma
espécie de moqueca com diversos frutos
do mar. Sugeri que ele compartilhasse
esse prato comigo para conhecer melhor
a culinária local e ele assentiu.
Tomamos um pouco de vinho,
observando as ondas do mar batendo
contra as rochas próximas a nós.
Limpei a garganta e comecei: -
vamos retomar a conversa? - Ele me
olhou fixamente. - Eu pensei na seguinte
possibilidade: passaríamos as ações
combinadas para o seu nome desde que
você assine um compromisso de nos
vender uma parte delas posteriormente.
A família Ribeiro continuaria como
sócia majoritária e você, por deter parte
das ações, teria poder de voto e
participação nos lucros. Desse modo
ninguém sairia perdendo. O que acha?
- E onde o nosso casamento entra
nisso? - Ele perguntou, passando suas
pernas contra as minhas sob a mesa.
O meu raciocínio começou a fugir,
mas consegui recuperá-lo a tempo. -
Casamento? Onde o nosso casamento
entra nisso? - Oh, Deus, já estava
começando a me derreter com seu toque.
Preciso retomar meu autocontrole. - Eu -
eu acho que nesse caso não precisaria
ter mais casamento. - respondi com voz
trêmula.
- Não! - Ele foi enfático. - Você
quer acabar logo com a melhor parte do
acordo, sereia? Pense no quanto seria
satisfatória a nossa vida a dois. Você
pode negar que sai faíscas quando
estamos juntos?
Engoli em seco, pois eu não
poderia negar, mas o desejo não poderia
ser o condutor principal de uma relação.
Eu só entraria nisso se houvesse outras
garantias.
- Por favor, pense você. Eu não
quero um matrimônio embasado apenas
no desejo. E se o desejo acabar?
Viveremos fadados a uma vida sem
felicidade apenas porque não tivemos
alternativa?
Ele arrastou a cadeira para ficar ao
meu lado, mirou meus olhos e
aproximou seu corpo mais à frente. -
Desde o momento que o acordo foi
assinado, não havia mais alternativas e
eu não costumo lutar contra o inevitável,
principalmente quando não quero lutar.
Cabe a nós nunca deixar que o desejo
acabe.
Ele puxou minha nuca e me beijou
apaixonadamente. Sem forças, me
entreguei ao sabor de seus lábios pelo
que pareceu durar minutos. Afastamo-
nos sem dizer qualquer palavra, apenas
nos olhando. Começou a passar seu
polegar em meu pescoço e minha nuca
transformando os arrepios em desejo
líquido nas minhas partes íntimas. Ele
aproximou os lábios do meu ouvido e
falou: - vamos à minha suíte. Eu peço
para que o garçom entregue nosso jantar
lá.
Ele tomou minhas mãos e me
conduziu ao elevador. Eu não consegui
ter qualquer reação que o impedisse de
ir em frente. Resolvi aproveitar o
momento e deixar pra resolver os
problemas depois.
Capítulo 10
Ele

Chegamos ao meu apart com tanta


pressa que parecíamos dois animais no
cio. Estava me sentindo como um
adolescente ansioso para tocar um corpo
feminino pela primeira vez. Eu
necessitava desse contato. Dessa vez
não conseguimos sequer chegar ao
quarto e o meu carpete foi o nosso ninho
de amor.
Chupei seus lábios, sentindo sua
doçura viciante. Tê-la em meus braços
fazia parecer que estava tudo certo no
mundo e a sensação que eu tinha era que
nunca teria o suficiente dela. Juntei todo
o meu autocontrole para adorar seu
corpo, o que me dava um enorme prazer,
e ela não se limitava em sua entrega.
- Deixe-me amá-la, querida. Deixe-
me mostrá-la o quanto somos bons
juntos. - Sussurrei, depositando
pequenos beijos por toda a extensão do
seu corpo.
- Alfonso, eu quero... Eu preciso...
- Ela implorava, expressando sua ânsia.
- Daqui a pouco, amor. Eu preciso
sentir seu gosto, sereia. - Continuei meu
ritual de tortura. A necessidade pulsava
em meu corpo e pela sua reação, ela
também se sentia assim. Desci até seu
baixo ventre e passei a beijá-la ali. Ela
começou a se contorcer e aquilo me
deixava cada vez mais louco.
- Eu quero te sentir também. Me
deixe te provar. - Percebi que sua boca
enchia de água ao olhar para o meu
membro duro. Como eu negaria um
pedido desses?
- Sim, querida. Venha aqui. - A
conduzi carinhosamente em direção ao
meu membro. - Só não te garanto que
posso deixá-la por muito tempo, linda.
Quero que a gente chegue ao clímax
juntos. - Ela balançou a cabeça em
consentimento e eu tive um vislumbre do
que é chegar ao paraíso. Aquela boca
inexperiente cobrindo minha ereção foi
uma sensação indescritível. Já tive
minha cota de mulheres, mas algo nela
era diferente. Talvez o fato de saber que
temos um vínculo ou talvez por outro
motivo. Apenas não saberia explicar
qual.
Após algum tempo, a puxei de
frente a mim e tomei sua boca, sentindo
o meu gosto e o dela misturados. Ela
arqueava o corpo, pedindo
silenciosamente para que eu a possuísse
e eu recebi o convite mais que
agradecido. Posicionei-a sentada em
cima de mim e iniciamos ali o vai e vem
de que os nossos corpos tanto
necessitavam. Fizemos amor como se
compartilhássemos mais que desejo,
havia algo que eu não soube denominar.
Terminamos ofegantes um sobre o
outro e eu a puxei para deitar ao meu
lado enquanto acariciava a maçã do seu
rosto. Ela se aconchegava como um
bichano à procura de carinho. Minha
barriga roncou e lembrei que não
havíamos jantado.
- Hum... fiquei de avisar ao
restaurante o momento de trazer nosso
jantar. Você deve estar com fome, não?
Fique aqui, não demoro. - Peguei o
telefone e solicitei que apressassem o
serviço. Em alguns instantes, a sirene
tocou e nosso jantar chegou.
- Que cheiro delicioso! Agora que
senti, percebi que estava realmente com
fome. - Ela falou, avaliando o meu
corpo até chegar aos meus olhos. Meu
membro reagiu diante da sua inspeção.
- Se você continuar me olhando
assim, vamos ter que comer o jantar frio.
- Disse com um sorriso torto. - Mais
tarde, Sereia.
Ela se ofereceu para pôr nosso
jantar nos pratos, me explicando um
pouco da tradição culinária da Bahia. -
Na Espanha tem um prato semelhante, a
paella, mas não leva dendê na receita. -
Eu disse, levando o garfo à boca.
- Já comi paella, é muito bom! -
Respondeu, experimentando um pouco.
- Oh, meu Deus, isso aqui está divino.
Uma das melhores moquecas que já
comi, mas como é uma comida pesada,
não vou exagerar. - Sorri ao me
perguntar como ela conseguia transmitir
tanta leveza em um momento e ser tão
intensa em outros.
Após o jantar, fomos para o quarto
e nos amamos mais algumas vezes. O
assunto do acordo não voltou à tona e eu
preferi assim, por enquanto.
******

Acordei com o toque do celular.


Ainda estava sonolento e levantei
limpando os olhos. Olhei para o meu
relógio e percebi que eram dez horas da
manhã. Embora não fosse muito cedo, eu
precisava recarregar as baterias. Olhei
para o celular e identifiquei de quem era
a ligação. Droga, o que ela queria?
Acho que posso adivinhar.
- Javier. - Disse com tom
impaciente.
- Alfonso, querido, por onde você
anda? Já tentei falar contigo inúmeras
vezes. Está viajando a trabalho? Por que
não falou comigo? Eu poderia ter ido à
sua casa antes da sua viagem. - Cecília
era uma das tantas amantes que já tive na
Espanha. Geralmente eu me relacionava
poucas vezes com a mesma garota para
que nenhuma delas imaginasse que
poderia ter mais de mim. Cecília
pareceu entender muito bem o que eu
estava procurando e também não estava
em busca de um relacionamento,
portanto nos víamos eventualmente.
- Eu estou no Brasil e não estou a
trabalho, princesa. Quando eu voltar
gostaria muito de te encontrar, pois
preciso te explicar algumas coisas. Vou
te ligar para ir ao meu apartamento e lá
conversamos, tudo bem? Agora não é o
melhor momento.
- Brasil? Mas, se não está a
trabalho, o que você...
- Depois. Quando voltar eu te ligo.
Até breve. - Disse, encerrando a
ligação.
Me virei para voltar pra cama
quando me deparei com Brisa em pé me
olhando. - Não precisava ter desligado.
Eu já estou de saída. - Disse, catando
suas roupas no caminho, indo em
direção ao banheiro e batendo a porta.
- Sereia, você entendeu mal. Vem
aqui, vamos conversar. - Falei em tom
de desespero. O silêncio imperava e
isso me incomodava. Eu preferia que ela
me batesse ou gritasse comigo, mas esse
silêncio estava me matando. - Vamos lá,
querida, fale comigo. Eu posso explicar
tudo.
Ouvi o barulho do chuveiro e
resolvi aguardar. Alguns minutos depois,
ela saiu do banheiro vestida e parecia
continuar chateada. Eu a segui em
direção à sala e ela sentou no sofá com
as mãos cobrindo o rosto. Levantou a
cabeça e me olhou por alguns instantes. -
Eu preciso que você realmente reveja
alguns pontos do acordo. Podemos ser
práticos. Estamos em pleno século XXI
e hoje não se faz mais arranjos de
casamento. Não quero uma relação em
que os maiores sentimentos não estejam
envolvidos e não quero me relacionar
com alguém que dorme hoje comigo e
mais tarde com outra. Me entenda, eu
não suportaria.
Passei as mãos por meus cabelos e
respirei fundo. Voltamos à estaca zero. -
Linda, eu tive com você uma das
melhores noites de minha vida e se as
demais noites forem parecidas com essa,
eu duvido muito que sinta sequer a
necessidade de olhar para outra mulher,
muito menos tocá-la. Eu não nego que
me relacionei com algumas mulheres na
Espanha e a ligação era de uma delas,
porém o que você ouviu era eu tentando
colocar um ponto final em nosso
envolvimento. Eu nunca tive
compromisso com qualquer mulher que
não seja você.
- Se eu aceitar me casar com você,
sei que aparecerão muitas como ela para
me assombrar. Não me sinto pronta para
passar por esses constrangimentos. - Ela
disse, acusadoramente.
- E acaso você ficou sentada me
esperando sem ter nenhum
envolvimento? Sei que era virgem, mas
isso não a impedia de se relacionar mais
intimamente com alguém. Não fui eu
quem a fez de boba, fingindo ser outra
pessoa durante o Carnaval. Não fui eu
quem estava me esfregando com outro
homem diante do meu futuro esposo.
- Você acha que eu o enganei? Você
se aproximou de mim, perguntando o
meu nome como se não tivesse me
reconhecido. Se alguém foi enganada,
esse alguém fui eu. Não tive uma relação
mais íntima com Benito nem com
ninguém. Eu precisava resolver essa
coisa entre a gente antes de ir além com
alguém.
- Pra início de conversa, eu
realmente não sabia quem você era. Só
descobri ao ver fotos dos seus pais em
seu apartamento. Outro ponto é: você
precisa falar com esse... Como é o nome
mesmo? Esquisito? Pra dar um fim ao
que vocês tinham. Você é uma mulher
comprometida e em breve nos
casaremos.
Ela arregalou os olhos ao perceber
que eu não havia a reconhecido no
Carnaval e o motivo de eu tê-la
abandonado em seu apartamento, mas
quando continuei minha fala, o susto se
transformou em ira. - Olhe para o meu
dedo. Eu não tenho uma aliança nele,
portanto não sou comprometida com
ninguém ainda. Eu vou conversar com
Ben apenas pelo fato de que não o quero
envolvido nesse cabo de guerra. Ele
merece conhecer alguém com menos
complicações do que eu tenho, mas
quero que saiba que nenhum dos seus
argumentos me convenceu de que se
levarmos adiante todos os termos do
acordo, teremos um matrimônio bem
sucedido.
O cansaço me tomou, abaixei
segurando minhas pernas e decidi
recuar. Acho que nós precisávamos de
tempo pra pensar e amenizar os ânimos.
Iria deixá-la ganhar essa batalha, mas
nunca a guerra. Ela seria minha. Ela era
minha.
- Tudo bem. Estarei voltando para
a Espanha nos próximos dias e espero
que você possa tomar decisões como,
por exemplo, terminar o que você tem
com esse... Esquisito. Eu tomarei
decisões semelhantes lá. Estarei à
distância de um telefonema, caso você
precise. Vamos tentar agir como adultos
e buscar uma forma do nosso
matrimônio iminente vir a funcionar.
Ela me olhou, pegou sua bolsa e
saiu do apartamento sem responder
nada.
Capítulo 11
Ela

Três meses depois...

- Olha você, Clara. Eu não tenho


coragem.
- Calma, Bri, seja qual for o
resultado, estamos nisso juntas. -
Estávamos do lado de fora do banheiro,
onde estava o teste, olhando fixamente
para a porta. As instruções diziam que
em três minutos era possível ver o
resultado. Foram os três minutos mais
longos da minha vida.
- Será que já deu tempo de ver? -
Perguntei à Clara, nervosamente.
Clara entrou no banheiro e eu
permaneci na porta com a cabeça baixa.
Ela saiu e eu levantei a cabeça para
encontrar algum vislumbre da resposta,
mas seu rosto não demonstrava nada.
Repentinamente, ela gritou:
- Ah, meu Deus, eu serei tia.
Positivo! Você está grávida, Bri. - Senti
como se fosse sugada por um túnel que
não havia qualquer luz. Minha primeira
reação foi de choque, saber que me
tornaria mãe aumentava a quantidade de
responsabilidades que eu já possuía.
Alguém dependeria de mim, um pedaço
meu e de Alfonso. Depois, passei a
sentir medo do porvir. O que estaria me
esperando agora? Que opções eu teria
diante do acordo? Qual seria a reação
de Alfonso ao saber da gravidez? Eu
contaria a ele assim que tivesse
oportunidade.
- Gra - grávida? Eu estou grávida?
- Lágrimas rolaram do meu rosto e
enquanto eu estava vivendo meus
conflitos, minha amiga estava
celebrando o meu ‘estado interessante’.
Eu estava perdida em meus pensamentos
enquanto ela já fazia planos sobre a cor
do enxoval, possíveis nomes e outras
coisas que só Clara poderia pensar
numa situação dessas.
- Nós podemos pintar o quarto de
amarelo e...
Interrompi os devaneios de minha
amiga. - Alfonso disse que estaria a um
telefonema de distância. É exatamente o
que vou fazer. Ligarei para que ele
venha ao Brasil o mais rápido possível
e aqui tomaremos decisões. - Eu disse,
determinada.
- Puxa, Brisa, eu aqui tagarelando e
você toda preocupada, não? Querida,
quero que saiba que seu bebê será muito
amado. Por você, por mim, por sua
família e acredito que também pelo pai
dele. Ele ou ela será tão lindo, Bri. Vai
quebrar muitos corações.
- Obrigada, querida. Eu sei que
meu bebê será muito amado. Eu sei.
**********

- Sr. Javier, desculpe incomodá-lo,


mas tem uma ligação para o senhor. É a
Srta. Ribeiro, sua noiva. Posso
transferir? - Ouvi uma voz feminina
próxima ao telefone.
Alguns segundos depois, escutei a
voz que fez o meu corpo todo
estremecer. Como era possível estar
abalada apenas por ouvir sua voz?
- Sereia, você está aí? - Respirei
fundo, tentando não demonstrar meu
nervosismo. Durante esses três meses,
ele me ligou algumas vezes para falar de
assuntos cotidianos, como o trabalho,
mas não tocou no assunto do acordo.
Conseguimos ter algumas conversas
divertidas, sorri quando ele me contava
sobre algum acontecimento corriqueiro
que foi engraçado e compartilhei
acontecimentos que se destacaram no
meu dia a dia. A saudade estava me
matando.
- Oi, estou aqui. Eu preciso que
você venha ao Brasil assim que for
possível. Não crie alarde, mas temos
assuntos em comum que não podem
esperar muito. - Tentei soar tranquila.
- Aconteceu algo? Você está bem? -
Ele perguntou, preocupado.
- Sim, aconteceu. Sim, estou bem.
Quando poderá vir?
- Vou fazer os ajustes para estar no
Brasil logo. Estou com alguns
problemas na empresa, mas vou delegar
funções e estarei aí assim que eu puder.
- Ele falou, parecendo ansioso.
- Ok, me deixe saber quando
estiver chegando. Até lá.

***********

Eu tinha conversado com Ben sobre


a minha situação com Alfonso e pedi sua
compreensão, pois não poderia investir
em uma relação sem futuro. Ele tentou
argumentar, dizendo que eu não deveria
me casar por obrigação e que
poderíamos buscar outra alternativa
juntos, mas eu não queria continuar
envolvendo Benito nesse rolo.
Depois de muita conversa,
discussão e ressentimento, Ben se
confortou em mantermos uma relação de
amizade. Nada que o tempo não curasse.
Clara não conseguiu disfarçar seu ânimo
ao saber do meu rompimento com Ben e
algo me diz que ela nutre sentimentos
por ele. Ela nunca me disse nada, mas já
percebi e ficaria muito feliz se eles se
acertassem.
Nós três saíamos às vezes para uma
happy hour ou um jantar entre amigos.
Às vezes eu pegava Ben me encarando,
porém eu não alimentava suas
esperanças e torcia para que ele
superasse logo. Contei à Clara, em
detalhes, tudo o que havia acontecido
entre eu e meu prometido. Ela ficou
extasiada e dizia que eu estava
apaixonada. Eu continuava negando.
Meus pais me perguntavam,
eventualmente, como as coisas estavam
indo entre eu e Alfonso e as minhas
respostas eram sempre vagas, fazendo
com que eles acreditassem que os
termos do acordo estavam de pé. Eu
achei melhor contar ao pai do meu filho
sobre o bebê antes de comentar com os
meus pais. Ele tem o direito de saber
antes de todos, ou quase todos, pois
Clara já sabia.
Só comecei a desconfiar da
gravidez nesse último mês, pois o meu
ciclo sempre foi irregular e eu achei que
os meus problemas emocionais
poderiam estar o afetando. Logo que
soube, me assustei e tive medo,
entretanto agora estava começando a me
acostumar e até a gostar da ideia de ser
mãe. Olhei para o meu ventre e falei
com o meu bebê:
- Tenha paciência com sua mãe,
queridinho. Tudo se resolverá, eu
prometo.
Capítulo 12
Ele

Convoquei os diretores para


atribuir funções na minha ausência e
pedi ao meu irmão para me substituir
nas decisões que demandavam mais
responsabilidades. Marco era muito
competente e fazíamos uma grande dupla
na administração da empresa. Se não
tivéssemos alguns problemas a resolver
lá, ele me acompanharia ao Brasil, pois
se apaixonou pelo país e pelas
brasileiras. Acredito que uma baiana em
particular chamou sua atenção.
Tomei o jato da empresa que iria
me levar ao Brasil. Só de imaginar quem
eu encontraria lá, já ficava duro. Minha
sereia precisava conversar comigo e
pelo que entendi, tinha que ser logo. Só
espero que não tenha nada a ver com o
contrato, porque para mim, ele é
irrevogável.
Decidi ir direto ao seu
apartamento. A noite estava iniciando e
eu não costumo deixar para amanhã o
que eu posso resolver hoje. Cheguei à
portaria e me identifiquei como o noivo
de Brisa. Como da outra vez, não tive
dificuldades em subir até o seu
apartamento, apenas disse que queria
fazer uma surpresa. Definitivamente,
esse prédio não é seguro.
Cheguei à porta do seu apartamento
e antes de tocar a sirene, ouvi vozes. Ela
estava com companhia, provavelmente
aquela amiga dela. Ouvi risos e uma voz
que me fez congelar: havia um homem na
casa. Em minha mente, se passaram
várias cenas e em todas elas eu estava
sendo enganado. Toquei a sirene
intermitentemente. Eu não pararia até
que ela me atendesse e eu pudesse ver
com meus próprios olhos quem estava
lá.
- Calma, já estou indo! - Ela gritou
lá de dentro. Brisa abriu um pouco a
porta e eu a escancarei, entrando em sua
sala. Trinquei os dentes ao perceber
quem estava com ela. O tal de Benito, ou
Esquisito como eu o apelidei, estava lá
de pé com um sorriso de lado que tive
vontade de arrancar aos socos.
- O que você está fazendo na casa
da minha noiva? - Perguntei, dominado
pela ira.
- Ele é meu amigo, Alfonso, e como
tal, tem todo o direito de vir à minha
casa. - Ela respondeu, enquanto eu o
encarava.
- Amigo? A última vez que o vi, ele
estava com suas mãos passeando por seu
corpo, te beijando e você quer me dizer
que ele é seu amigo? - Dei dois passos
em direção ao cara. Já vi que esse é
daqueles tipos insistentes.
- Saia da casa dela agora. Ou eu
mesmo te colocarei pra fora daqui. - Ele
nada respondeu e continuou me olhando
com um pequeno sorriso na face.
- Ele não vai sair. O único intruso
aqui é você. Ele foi convidado. - Ela
gritou, apontando o dedo para mim.
- Brisa, eu prefiro ir, querida,
vocês precisam conversar. Não se
preocupe, eu estou bem. Se ele fizer
qualquer coisa que te desagrade, me
procure. - Ele virou para me olhar. - Se
você a conhecesse um pouco melhor,
saberia que nada do que fez era
necessário. Ainda não conheci uma
garota tão honesta como Brisa e eu sinto
muito que não foi a mim que ela
escolheu. - Ele saiu nos deixando a sós.
Voltei minha atenção para ela, que
me fitava com raiva nos olhos. - Você
ainda não terminou seu casinho com esse
cara? Enquanto eu estava te dando um
tempo para se acostumar à ideia de que
haveria casamento, você estava se
divertindo com outro? - Soltei tudo,
como uma bomba-relógio prestes a
explodir. Eu tinha conversado com
Cecília assim que cheguei à Espanha.
Deixei claro que não tinha a intenção de
me envolver mais com ela, expliquei
toda a situação e pedi para que não me
procurasse mais, embora tenha recebido
recados de seus telefonemas depois
disso, mas nunca retornei.
Ela começou a chorar e culpa me
invadiu. - Está vendo por que não
daríamos certo juntos? Você me sufoca,
invade a minha vida, me dá ordens e não
tem nada pra me oferecer em troca. - Ela
soluçava, lágrimas caindo. - Eu não
tenho mais nada com Ben desde que nos
falamos da última vez. Eu não queria
continuar o envolvendo em nossa
bagunça.
- E por que ele estava aqui, sereia?
Não vê que ao alimentar uma amizade
com ele, estará alimentando falsas
esperanças? - perguntei, baixando o meu
tom de voz.
Ela me olhou como se desse conta
de algo. - Eu não estava pensando por
esse lado. Ele me ofereceu sua amizade
e eu aceitei. A partir daí, Ben nunca
insinuou algo que pudesse me fazer
mudar de ideia.
Eu me aproximei e lhe dei um
abraço. Ficamos assim por algum tempo,
até que minhas mãos começaram a ter
vida própria, iniciando um passeio por
seu corpo, que se arqueou, convidando a
continuar a doce tortura. Aproximei a
minha boca da sua em um beijo que
iniciou terno, mas que passou a se
aprofundar, nos deixando ofegantes.
Comecei a dar pequenos beijos em
toda a extensão de seu rosto até seu
pescoço e nuca, e ela dava pequenos
gemidos que me enlouqueciam cada vez
mais. Minhas mãos chegaram às suas
pernas, foram subindo vagarosamente e
estacionou no centro do seu prazer. Eu
massageei aquele lugar, fazendo-a se
contorcer. Continuei com a tortura e em
pouco tempo, ela lançou a cabeça pra
trás e estremeceu. Quando eu me
preparava para nos dar mais prazer, ela
me parou.
- Eu preciso falar com você. Eu
não posso continuar isso. Temos que
conversar. - Ela disse, ainda tremendo.
Percebi medo em seus olhos o que me
deixou preocupado.
- O que poderia ser tão importante
a ponto de nos impedir de fazer amor?
Você está querendo me deixar louco? -
Perguntei, juntando todo o meu controle
para dominar o incêndio em meu corpo.
- Me diga uma coisa: quando
pensou nessa coisa de casamento, estava
pensando em ter uma família completa?
Quer dizer, pensava em filhos?
- Claro que sim. Sempre pensei em
ter herdeiros que um dia estariam me
ajudando a dirigir a empresa, assim
como eu e Marco ajudamos meu pai.
Porém, penso que não precisamos nos
apressar. É algo para depois de alguns
anos de casados. - Ela me olhou,
apreensiva.
- E o que você acha de pais que
dividem a custódia da criança, mas
possuem vidas independentes um do
outro?
- Não estou gostando nada dessa
história. Aonde você quer chegar? Você
me freou pra conversar sobre isso?
- Por favor, me responda. -Ela
implorou.
- Tudo bem. Em minha opinião, a
partir do momento que existe uma
criança em jogo, os responsáveis por ela
devem fazer o que for preciso para lhe
dar um lar estável e isso quer dizer que
a única forma seria através do
casamento. - Respondi, sem pensar duas
vezes.
Ela me olhou confusa. - E o que
garante que o casamento pode trazer
esse lar estável? Há muitos casais que
se casam sem amor e os filhos acabam
pagando por isso.
- Concordo, mas é dever dos pais
impedir que isso aconteça e
proporcionar um ambiente saudável para
a as crianças. Eu não entendo e nem
quero entender de outra forma. Para
mim, só há esse caminho. Ainda não
estou entendendo o porquê de tantas
perguntas.
Ela respirou fundo e soltou a
notícia: - Estou grávida.
- Grávida? - Eu esperava que ela
fosse me dizer qualquer coisa, menos
que estava grávida. Sempre tive
relações protegidas, mas com ela eu não
pensei nas consequências, me deixei
levar pela paixão do momento, sem
maiores preocupações, afinal iríamos
nos casar.
- Sim, você será pai. - Pai.
Comecei a testar a palavra em minha
mente. Incrivelmente, não senti repulsa,
vontade de fazer acusações ou dúvidas.
Pai. Eu seria pai.
- E você está bem? Quer dizer,
você já foi ao médico, já fez exames? O
bebê está bem?
- Não fui ainda porque achei que
você poderia querer me acompanhar. Eu
gostaria de compartilhar esses
momentos com você. Isso é, se você
quiser, claro.
- Sim, eu estarei te acompanhando
em tudo o que for preciso. Como eu
disse, os pais precisam assumir suas
responsabilidades e eu não costumo
fugir das minhas. - Falei, ainda tentando
me acostumar à ideia.
- Eu sei que não será possível me
acompanhar sempre, pois você mora na
Espanha, eu moro aqui no Brasil e...
- Você está grávida e não há mais o
que discutir. Nós vamos nos casar o
mais rápido possível.
Capítulo 13
Ela

- Casar? Assim de uma hora pra


outra? Você não queria ser pai tão cedo
e agora está querendo algo tão
definitivo?
- Um filho é definitivo. Não era o
que eu queria agora, mas ele é um fato e
eu não vou lutar contra o que não posso
mudar. Nós iríamos nos casar de
qualquer jeito. Qual a diferença entre
amanhã ou daqui a um ano?
- Eu não posso tomar uma decisão
como essa sem pensar primeiro.
- Não há o que pensar. Em minha
família não nascem filhos bastardos e o
meu não será o primeiro. Se você se
negar ao matrimônio, eu acionarei os
meus advogados para tomar as ações a
que tenho direito da sua empresa e esta
deixará de pertencer à família Ribeiro.
Além disso, pedirei a guarda do meu
filho, pois não pretendo ser um pai de
fim de semana.
Baixei minha cabeça, me sentindo
desolada por saber que não havia mais o
que fazer. Teria que me casar pelos
motivos errados. Eu nunca saberia o que
é se sentir amada pelo marido. Só me
restaria tentar congelar minhas emoções
para que eu não sofra muito. Sabia que
não seria tarefa fácil, mas iria tentar.
- Então, posso marcar a data do
casamento? Daqui a um mês estaria bom
pra você? - Suas perguntas me
sufocavam sem me dar espaço para
pensar.
- Marque para quando você achar
melhor e me avise para que eu possa
falar com os meus pais. A minha mãe
ficará feliz em organizar o casamento. -
Eu disse, mantendo a cabeça baixa.
- Sereia, vem cá. Não fique assim
como se eu estivesse decretando sua
sentença de morte. Nós temos tudo para
sermos um casal bem sucedido. Sei que
você será uma boa mãe, me esforçarei
para ser um exemplo para meu filho e
temos química, que é algo muito
importante em um relacionamento.
Química, desejo ou qualquer
palavra que possa denominar. Isso é
tudo o que temos. Ele me abraçou e
assim permanecemos por um tempo. Saí
de seus braços e fui em direção ao meu
quarto. Precisava tomar um banho para
esfriar a mente.

**********

- Oh, querida, estamos tão felizes


porque vamos ter um neto para mimar.
Esse é o maior presente que vocês
poderiam me dar. Prometo que vou fazer
o casamento mais bonito que essa
cidade já viu, apesar de terem optado
por uma cerimônia íntima e do
pouquíssimo tempo que me deram. -
Disse minha mãe, com bastante
entusiasmo.
- Bem vindo à família, rapaz.
Estamos muito contentes que finalmente
vocês se acertaram. - Meu pai falou,
apertando a mão de Alfonso.
- Sou eu quem deve agradecer pelo
privilégio de fazer parte dessa família e
de ter conhecido uma garota tão linda.
Obrigado, Sra. Ribeiro, por se oferecer
a preparar a cerimônia. Você pode entrar
em contato com a minha mãe que ficará
mais que satisfeita em ajudá-la. -
Alfonso fazia parecer que essa seria a
celebração mais esperada por nós.
Quem o ouvisse, diria que o amor seria
a principal motivação do nosso
casamento.
Eu havia ligado para os meus pais
e pedido para preparar um jantar, pois
teríamos um anúncio a fazer. Foi
marcado para dali a dois dias e agora
aqui estávamos reunidos em uma mesa
de jantar. Após conversarmos assuntos
triviais, Alfonso pediu a palavra e
anunciou o nosso casamento, a chegada
do nosso bebê e colocou uma aliança de
noivado com uma linda pedra rosa em
meu dedo. Todos se emocionaram, nos
abraçaram, até Francisca, nossa auxiliar
doméstica, saiu da cozinha para me dar
um abraço.
Após o jantar, meu pai levou meu
noivo ao escritório para conversar sobre
a empresa e eu fui para a varanda com a
minha mãe. Precisava respirar um pouco
de ar puro.
- Filha, nós estamos muito felizes
com a notícia, mas não estou
conseguindo encontrar essa felicidade
em você. A pressa desse casamento foi
uma decisão espontânea ou foi
pressionada pela gravidez?
- Oh, mãe, você sabia que eu estava
em busca de uma saída para não casar
apenas por conta de um contrato, eu
gosto dele e somos bons juntos, contudo
eu queria um casamento por amor.
Cheguei até a acreditar que esse
sentimento poderia estar surgindo nele,
mas ele sempre joga o contrato na minha
cara e faz ameaças. Tenho tanto medo de
sofrer. - Falei, com lágrimas escorrendo
dos olhos.
- Queridinha, sua mãe já tem
experiência suficiente para perceber que
não é só um contrato que os move. Há
sentimento, sim. Vocês são apenas
cabeça-dura demais para admitir.
- Quero muito que você tenha,
razão, mãe, mas eu preciso preservar o
meu coração. Ele já conseguiu tudo o
que poderia ter. Só terá o meu amor se
puder me retribuir. - Eu falei, decidida.
- Cuidado, filha, para não se
machucar e impedir que algo bonito
cresça entre vocês. Eu e seu pai te
amamos muito e já amamos nosso
netinho. - Minha mãe falou, emocionada.
- Obrigada, mãe. Eu também amo
muito vocês. Vou andar um pouco pelo
jardim, ok? - Levantei e comecei a
caminhar devagar. Parei para olhar as
novas rosas que estavam desabrochando
lá. Cheirei algumas e caminhei em
direção à piscina. Meu telefone tocou.
- Bri, Ben me ligou e me contou o
que aconteceu em seu apartamento.
Desembucha! Conte tudinho, não me
esconda nada. - Só Clara pra me fazer
sorrir em uma hora dessas.
- Resumindo, Clarinha, ele ficou
com ciúme de Ben, nós discutimos, eu
disse que estava grávida e vamos nos
casar daqui a um mês. - Ouvi um grito
do outro lado que quase me deixou
surda.
- Minha melhor amiga vai se casar
e vai se tornar mãe. Onde você está,
agora? Nós temos que comemorar. Ah, e
temos que pensar na despedida de
solteiro. Podemos contratar alguns
dançarinos e...
- Ei, espera. Calma! Eu ainda estou
tentando ingerir o fato de que vou me
casar e você já está planejando a
despedida de solteiro? Lembre-se de
que esse não é um casamento comum,
típico de final de novelas. Nós estamos
casando para fazer a coisa certa,
entendeu?
- Ai, você tem que deixar tudo mais
chato, não? Vou te deixar com seus
pensamentos, mas depois eu te ligo para
nós combinarmos tudo. Já estou até
imaginando aqueles caras fortões
tirando a camisa...
Desliguei o telefone com um
sorriso no rosto que já havia me
abandonado há alguns dias. Sentiria
saudades de Clara quando eu estivesse
na Espanha. Precisava dar um jeito de
tê-la perto de mim. Sua presença me
alegrava e me dava segurança. Decidi
voltar pra casa e me encontrar com os
demais.
Capítulo 14
Ele

Com o casamento marcado, nós


dormimos juntos todas as noites, às
vezes no meu apart e outras noites no
apartamento dela. Depois de nos
casarmos, moraríamos na Espanha. Hoje
tínhamos médico marcado para
sabermos como anda a saúde da mamãe
e do nosso bebê.
- Bom dia, temos um horário
agendado com Dra. Macedo. Está em
nome de Sra. Javier. - Falei com a
recepcionista. Quando marquei a
consulta, dei o nome de casada para
evitar questionamentos.
- Sim, senhor. Vou pegar os
documentos da paciente e daqui a pouco
a Dra. estará chamando. - Assenti,
sentando ao lado de Brisa.
Após dez minutos, fomos chamados
para entrar na sala. O consultório era
sofisticado, com mobiliários modernos e
o mais completo sistema disponível
atualmente na área de obstetrícia. Eu
também escolhi a obstetra mais
conceituada de Salvador.
- Bom dia, como estão? Sentem-se.
- Sentamos de frente para a médica. - O
que os trouxeram até aqui? Serão pais
ou estão tentando descobrir ainda? - A
médica era bem simpática.
- Estou com atraso de três meses no
meu ciclo menstrual e fiz um teste de
farmácia que deu positivo. - Brisa disse,
parecendo ansiosa.
- Tudo bem. Vamos então confirmar
se temos um bebê crescendo em sua
barriga e como está a saúde de vocês. -
Ela entregou uma espécie de bata à
minha noiva e pediu para que vestisse
no banheiro. Brisa voltou vestido e a
médica a direcionou para deitar em uma
maca a fim de fazer uma
ultrassonografia.
- Nesse estágio, é preferível uma
transvaginal. Algum problema? -
Perguntou a médica.
- Não, tudo bem.
Os procedimentos foram iniciados
e Dra. Macedo nos mostrou um pequeno
ponto em uma TV de alta definição. -
Aquele ali é seu bebê. Ele tem cerca de
treze semanas, está do tamanho e com o
peso certo de acordo com o tempo de
gestação. Quer ouvir as batidas de seu
coração?
- É possível, doutora? - Perguntei,
entusiasmado.
- Claro, ouça como esse
coraçãozinho está batendo. Ele será um
menino forte. - A médica falou.
- Ou menina. - Brisa disse, olhando
pra mim. - Só espero que venha com
saúde. O sexo é o que menos importa.
A médica continuou com os
procedimentos e pediu para que Brisa se
trocasse no banheiro. A emoção tomou
conta de nós, parecia que agora eu tinha
algo real. Eu seria pai. Algumas
lágrimas desceram pelo rosto de minha
noiva, mas dessa vez não me preocupei,
porque eram de alegria.
- Bem, vou passar alguns
suplementos que ela precisa tomar para
ajudar na formação do bebê. Aqui
também tem uma lista de alimentos que
devem compor as suas refeições de
agora em diante. Seguindo tudo
direitinho, vocês terão uma criança
saudável. Alguma dúvida?
- Ela precisa ficar em repouso? -
perguntei, enquanto Brisa se aproximava
e sentava ao meu lado.
- Não, necessariamente. A não ser
que se sinta muito cansada ou demonstre
algum problema de saúde. Nesse caso,
vocês devem me procurar
imediatamente. Fora isso, ela pode levar
uma vida completamente normal.
- E sexo? Tem algum impedimento?
- Olhei para Brisa que sorria, sacudindo
a cabeça. A médica também deu um
pequeno sorriso.
- A prática sexual na gravidez é
muito saudável e até indicada. A não ser
que surja algum sangramento ou
qualquer problema de saúde, vocês
podem e devem ter uma vida sexual
ativa. A gravidez libera alguns
hormônios que ativam o desejo sexual
feminino, portanto essa fase deve ser
aproveitada.
- Obrigada, Dra. Macedo. Foi
muito esclarecedor.
- Por nada. Você deve fazer uma
consulta mensal para acompanhar o
desenvolvimento do seu bebê. Passei
alguns exames também que devem estar
prontos na próxima consulta. Até lá. -
Ela falou pra Brisa, se despedindo com
um aperto de mão.
Saímos da clínica e eu convidei
minha noiva para almoçarmos. Como ela
ama frutos do mar, fomos até um
restaurante à beira mar, na Cidade
Baixa, em Salvador. Dessa vez, ela
pediu bolinhos de bacalhau como
entrada e moqueca de camarão para o
almoço. Mais uma vez resolvi
acompanhá-la.
- Deus, é incrível ver aquela
coisinha se formando e saber que está
dentro de mim. É tão pequeno, mas já
sinto como se fizesse parte da família,
como se sempre existisse. - Ela falou,
com brilho nos olhos.
- É o chamado instinto materno,
sereia. Eu também senti algo mais
palpável hoje depois que ouvi seu
coração. Então você prefere uma
pequena sereia, não? Pensando bem,
uma pequena sereia parecida com você
seria um grande presente. - Falei, com
voz sedutora.
- Pequena sereia? - Ela perguntou,
sorrindo.
- Filha de sereia, pequena sereia é.
- Ela chorou de tanto rir e eu queria que
momentos assim se eternizassem. Vou ter
que me desdobrar, mas é de momentos
assim que eu quero viver.
Capítulo 15
Ela

Tudo estava pronto para o grande


dia. Escolhi uma pequena capela que
fica no Centro Histórico da cidade, pois
não queria uma festa grande. Na noite
anterior, conheci meus futuros sogros e
futuro cunhado. Jantamos em um
restaurante juntamente com meus pais.
Eles são muito simpáticos e acredito que
teremos um convívio agradável.
- Oh, minha querida. Desde o
momento que eu soube do contrato, rezei
para que nosso filho tivesse sorte e que
você fosse uma garota adorável. Parece
que minhas orações surtiram efeito. -
Sra. Javier falou, se levantando para me
abraçar.
- Eu espero corresponder às
expectativas da família. Obrigada por
estarem aqui e por todo o apoio. - Eu
disse, em resposta.
- Como não estaríamos se somos os
maiores responsáveis por esse
matrimônio? - Sr. Javier falou, sorrindo.
Todos se confraternizaram, Sr.
Javier e meu pai contaram histórias
sobre o dia dos seus casamentos e
nossas mães contaram histórias sobre a
nossa infância.
- Lembro que quando era criança,
Alfonso falou: ‘pai, eu quero ser
astronauta, quando crescer’ e seu pai
respondeu: ‘a única forma de você
chegar à lua será administrando a
empresa. Você fará administração e nem
o céu será o limite para você’. - Todos
riram na mesa, mas eu fiquei me
perguntando se ele conseguia ser feliz
sem ter feito suas próprias escolhas na
vida.
- Cara, você está ferrado com a
mamãe. Ela vai contar todos os seus
podres. - Marco falou, arrancando
gargalhadas de todos.
Após o jantar, eu fui para a casa
dos meus pais, pois estaria me
arrumando lá e Alfonso foi para o seu
apart junto com a sua família. Percebi
que ao sair do restaurante, muitas
mulheres viraram a cabeça para olhar
pra o meu noivo e seu irmão. Eu me
aproximei mais dele de modo
possessivo e tive que concordar
mentalmente: meu futuro esposo era
lindo.

**********

- Bri, como você está linda! Eu


ainda não me conformo de você não ter
me deixado fazer a despedida de
solteiro. Seu noivo foi para a Espanha
semana passada. Quem te garante que
ele não fez? - Eu tinha tirado todas as
esperanças de Clara fazer a tal
despedida cheia de homens nus. Em vez
disso, fizemos um programinha do tipo
cinema e lanchonete. Depois, fizemos a
festa do cabide em meu apartamento. Só
eu e ela, claro. Assistimos alguns
seriados e tomamos sorvete. Minha
amizade com Ben ficou um pouco
abalada depois do episódio. Talvez seja
melhor assim.
- Esquece a despedida, vem, me
ajuda com os últimos ajustes. - Ela me
ajudou a colocar a tiara de flores em
meus cabelos. Não optei pelo véu de
noivas. Achei melhor algo mais simples.
Meu vestido também era simples,
branco, mas seus detalhes com pequenas
pedras deixavam-lhe bonito. Minha mãe
entrou no quarto e tapou a boca,
demonstrando admiração.
- Meu Deus, filha, você está
simplesmente perfeita. - Ela falou com
lágrimas rolando em seus olhos. - Minha
menina cresceu tão rápido, hoje se
tornará uma mulher casada e logo será
mãe. Oh, querida, sentirei tanto a sua
falta.
Eu me emocionei também, mas
tentei me controlar. - Mãe, é melhor
parar ou eu vou chegar à igreja com a
maquiagem toda borrada. Eu também
sentirei falta de vocês, mas nem pense
em esquecer que tem filha, pois eu e seu
neto estaremos sempre aqui. - Sorri,
tentando controlar as lágrimas e minha
mãe me deu um abraço forte.
- Hora do show. - Clarinha gritou.
*********
Chegamos à capela com atraso de
cerca de vinte minutos. Aproximei-me
da porta e senti um arrepio de medo e
alegria ao mesmo tempo. Meu noivo
estava lindo no altar e seus olhos
brilharam ao me ver. Me perguntei se
minha mãe tinha razão e se ele realmente
tinha sentimentos por mim, apenas não
reconhecia.
A cerimônia foi perfeita e não foi
demorada, como eu pedi. Depois do
grande ‘sim’ que dissemos um ao outro,
Alfonso me beijou tão profundamente
que por um momento esqueci onde
estávamos. Foi necessário que o padre
limpasse a garganta, chamando a
atenção, para que voltássemos a si. Tudo
foi perfeito e marcado por lágrimas de
alegria. Embora as circunstâncias não
tenham sido as melhores, me senti como
uma noiva de verdade e decidi
aproveitar esse grande dia.
A festa seria na área verde de um
grande hotel da cidade. Partimos para lá
agora como Sr. e Sra. Javier. Ainda
precisava me acostumar em ser chamada
assim. - Como está se sentindo, Sra.
Javier? - Perguntou o meu esposo.
- Estou muito bem, Sr. Javier. -
Disse sorrindo. - E você, meu marido,
está aproveitando a noite? - Resolvi
entrar na brincadeira.
- Não o suficiente, minha esposa.
Mais tarde, tenho certeza que terei mais
diversão. - Me provocou, com olhar
sedutor.
Chegamos à recepção e a maioria
dos convidados já estava lá. Fomos
cumprimentar todos, agradecendo pela
presença e todos nos parabenizaram. Eu
convidei Ben, mas não o vi na
cerimônia. Esse foi mais um ponto de
discussão entre eu e Alfonso, mas dessa
vez não abri mão. Não estávamos tão
próximos, porém ele continuava sendo
meu amigo.
Fizemos todas as formalidades que
os noivos geralmente fazem. Dançamos
juntos e com nossos familiares, os mais
próximos discursaram sobre amor e
amizade, e jantamos em uma grande
mesa com os parentes e amigos. Após o
jantar, reuni todas as garotas solteiras
para jogar o buquê. Olhei para Clara e
mirei na direção da minha amiga. Eu
poderia dar uma forcinha ao destino,
não? Joguei na direção dela, mas quando
virei, percebi que quem havia pegado o
buquê foi Tatiana, uma amiga da
empresa.
Olhei para ela, levantando a
sobrancelha e observei que estava
olhando fixamente para Marco. Como
assim? Será que eu perdi alguma coisa?
Todos aplaudiram e fui em direção à
Clara. - Que pena, Clarinha. Tentei jogar
para você, mas o buquê caiu nas mãos
de Tatiana. Você sabe se ela está com
alguém?
- Não sei, Bri, mas vi que ela
estava secando seu cunhado com os
olhos e percebi que ele também a
encarava. Será que tem algum rolo aí?
- Também não faço ideia, contudo
sei que você vai acabar descobrindo,
não?
- Ah, se vou. As fofoqueiras de
plantão vão me deixar atualizada logo,
logo. - Clara era fogo. Quando ela
encucava com alguma coisa, investigava
até descobrir.
- Clarinha, e sobre Ben, você o viu
por aqui? - O rosto de minha amiga
mudou e ela pareceu chateada.
- Não vi e nem quero ver. Quero
que Ben fique bem distante de mim e por
favor, querida, não me pergunte nada
agora. Aproveite seu casamento e
quando tivermos oportunidade,
conversaremos. - Eu fiquei tão
envolvida com os preparativos do
casamento que não percebi se algo
estava acontecendo com minha amiga.
- Agora é minha vez de dizer: eu te
amo e estamos juntas aconteça o que
acontecer. Conte comigo, minha amiga.
Nem sonhe em preencher a minha vaga
de melhor amiga, ok? - Ela me deu um
abraço apertado e lágrimas rolaram dos
nossos olhos. Meu marido se aproximou
de mim, envolvendo a minha cintura.
- Sra. Javier, estou louco para ficar
sozinho com você, tirar esse vestido
lindo de seu corpo e amá-la pela
primeira vez como minha esposa.
Minha. - Ele sussurrou no meu ouvido.
- A ânsia não é só sua, meu marido.
Eu compartilho desse pensamento.
- Eu já te disse o quanto está linda
hoje?
- Sim, algumas vezes, mas é sempre
bom escutar da pessoa certa. Você
também está mais que lindo.
Simplesmente delicioso.
- Maldición, acho melhor nos
despedirmos de todos. Quero minha
esposa só para mim, agora.
Depois de um longo dia, decidimos
que já era o momento de nos retirarmos,
nos despedimos de todos e fomos para a
cobertura desse mesmo hotel para a
nossa primeira noite como casados. Dalí
a dois dias voaríamos para a Europa.
Capítulo 16
Ele

Chegamos à nossa suíte o mais


rápido que pudemos. Abri a porta e
Brisa fez movimento de entrar, mas eu a
tomei nos braços e entrei carregando-a
em meu colo. - A tradição é só quando
entramos em nossa casa. - Ela falou,
sorrindo pela minha reação inesperada.
- Por via das dúvidas, achei melhor
fazer isso aqui também. Em casa,
faremos novamente. Vou apelar pra tudo
que nos traga sorte. - Disse, levando-a
para o quarto.
- Hum, eu acho que a tradição
também diz que o noivo deve tirar o
vestido da noiva, para isso, tem que
abrir cada botão do vestido. - Ela me
provocou e respirei aliviado ao
perceber que ela estava blefando, já que
o vestido tinha apenas dois botões e era
fechado por zíper.
- Se seu vestido tivesse mais
botões que esses, querida, eu teria uma
briga com você, pois eu os arrancaria de
uma só vez. - Ela sorriu demonstrando
desejo e me apressei para iniciar a noite
de núpcias. - Já te disse que está linda
nesse vestido? Contudo ele terá que sair
agora, minha esposa. - Estava gostando
de como essa expressão soava: ‘minha
esposa’.
Amamo-nos vagarosamente nos
perdendo um no outro, nossos corpos
sedentos, pedindo mais e mais. Não sei
se a culpa era da gravidez, mas ela
estava se mostrando insaciável. Desse
modo, eu terei que mantê-la sempre
grávida. A barriga estava começando a
despontar e aquilo me dava mais
excitação. Talvez por ser uma prova da
minha masculinidade e virilidade ou
aquelas coisas de macho que nos faziam
parecer homens da caverna. Fizemos
amor até a madrugada e, ofegantes,
dormimos nos braços um do outro.
Acordamos próximo ao horário do
almoço e pedimos serviço de quarto.
Ficamos na cama durante todo o dia
conversando trivialidades e fazendo
planos para o futuro.
- Eu quero tentar o parto natural,
porém tenho muito medo do que ouço as
pessoas contarem. Falam sobre
complicações, que o cordão umbilical
pode ficar preso no bebê e pré-
eclâmpsia.
- Eu não entendo por que as
pessoas ficam amedrontando uma
gestante com essas histórias. Cada caso
é um caso. Vamos conversar com a
médica sobre os tipos de parto e o mais
seguro para você e nosso filho.
Continuamos a falar sobre a
gravidez um pouco mais e passamos o
dia alternando entre conversar e nos
amar. Assistimos a um filme de suspense
e me divertia muito quando Brisa tapava
os olhos em alguma cena. Fizemos uma
lista de filmes que gostaríamos de
assistir juntos e fizemos planos para
quando chegássemos à Espanha. Ela
disse que continuaria dando suporte à
empresa de sua família mesmo à
distância e eu concordei desde que ela
não se estressasse. Quando resolvemos
dormir já era tarde da noite e teríamos
algumas programações para o outro dia,
como um almoço em família na casa de
meus sogros.
***********

- Então, filha, quais são os planos


para quando chegar à Europa? - Sr.
Ribeiro perguntou à Brisa.
- Eu já articulei com o pessoal da
empresa que continuaria trabalhando e
contribuindo da forma que for possível
mesmo à distância. Estarei participando
das principais reuniões por
videoconferência e quando minha
presença for indispensável, virei ao
Brasil. - Ela respondeu e eu lhe dei um
olhar mortal.
- Primeiro conversaremos com a
médica para saber se é seguro você
fazer viagens longas assim. Eu,
particularmente, prefiro que você
descanse um pouco de suas
responsabilidades na empresa e deixe
esses planos para daqui a algum tempo.
Tenho certeza que eu e seu pai podemos
resolver tudo o que for preciso.
- Tudo bem, vou conversar com a
médica, mas se ela me liberar, nada vai
me impedir de continuar lidando com os
assuntos da empresa. Eu não suportaria
ficar em uma casa sem fazer nada. - Ela
falou com ar arrogante.
- Ah, querida, te garanto que não
ficará desocupada. A Espanha tem
lugares lindos para você conhecer e
preparar um enxoval para o bebê não é
algo do dia para a noite. Você não vai
tirar de mim o prazer de te acompanhar,
não? - Minha mãe estava bastante
excitada em se tornar avó e já tinha
grandes planos para a minha esposa.
- Claro que não, Sra. Javier, será
uma honra ter sua companhia. Eu já
visitei a Europa algumas vezes, mas
nunca fui à Espanha. Como eu sabia que
havia a possibilidade de morar lá,
deixei para quando acontecesse. - Me
perguntei se o acordo parecia tão
amargo a ponto dela não ter interesse em
conhecer a Espanha.
- Me chame pelo primeiro nome,
querida, afinal somos família agora.
- Tudo bem, Esperanza.
- Onde Marco está, mãe? -
Perguntei, observando que ele não
estava almoçando conosco.
- Eu não vejo seu irmão desde
ontem, filho. Ele me ligou hoje pela
manhã apenas para dizer que estava bem
e que não viria para o almoço. - Percebi
preocupação nos olhos de minha mãe.
- Não se preocupe. Ele já conhece
um pouco da cidade e tenho certeza de
que está realmente muito bem.
Almoçamos e decidimos conhecer
alguns pontos turísticos de Salvador.
Fomos ao Pelourinho, onde conhecemos
um pouco da arte barroca, igrejas
antigas e casarões. Descemos o
Elevador Lacerda e fomos para o
Mercado Modelo comprar alguns
souvenires para levar como lembrança.
Aproveitamos para fazer um lanche na
parte superior do Mercado, de onde era
possível ver a Bahia de Todos os
Santos. A cidade é realmente bonita.
De lá, fomos ver o pôr do sol no
Farol da Barra. A minha mãe se
apaixonou pelo local e disse nunca ter
visto um pôr do sol mais bonito. Essa
cidade agora seria minha segunda casa,
pois aqui a minha sereia nasceu e foi
criada. Eu queria que meu filho também
sentisse amor por esse lugar.
À noite, saímos para jantar em um
restaurante de comida típica nordestina,
mas não demoramos. Tínhamos que
descansar, pois estaríamos viajando
cedo no outro dia.
Capítulo 17
Ela

Minha mãe, como sempre, estava


emocionada e soluçando por ter que se
despedir de mim. - Calma, mãe, não
brinque com as emoções de uma
grávida. Eu estarei aqui quando for
possível e você pode ir pra lá quando
quiser. - Lhe dei um abraço apertado e
um beijo no rosto.
Meu pai se aproximou e beijou a
minha testa. - Sua família sempre estará
aqui para você, querida. Cuide de minha
menina, Alfonso. - Ele disse, tentando
controlar as emoções.
- Essa será minha principal missão,
Sr. Ribeiro. - Meu marido me olhou com
ternura.
- Se você não vier aqui antes, nos
veremos quando o meu neto estiver para
nascer, Bri. Quero ser uma das
primeiras a ver esse rostinho lindo. -
Saber que minha mãe estará comigo em
um momento tão importante, me trazia
conforto.
- Ok, agora é a minha vez. A
madrinha do bebê precisa se despedir
da comadre. - Clara falou com seu jeito
extrovertido.
- Madrinha? De fato, eu nem tinha
lembrado desse detalhe.
- Não lembrou, mas eu lembrei e
não ia deixar ninguém assumir mais esse
posto. Não é, dindo? - Ela se abaixou
como se estivesse conversando com o
bebê. Todos caímos na gargalhada.
Clara tem o dom de transformar drama
em comédia. É uma das coisas que
adoro em minha amiga.
- Tudo bem, comadre, vou sentir
sua falta. Juro que estou tentando pensar
em uma maneira de convencê-la a morar
em Madri.
- Também sentirei sua falta, Bri. -
Dessa vez, ela se emocionou e tentou
disfarçar, limpando algumas lágrimas
que rolaram.
- Vamos, amor? Já está na hora do
nosso voo. - Meu marido me chamou,
abracei todos e me juntei à minha nova
família para embarcarmos.
**********

- Bienvenido a España, mi muje. -


Devido ao acordo, eu cresci aprendendo
a falar espanhol. Alfonso também fala
muito bem o português, acredito que
pelo mesmo motivo. Sabíamos que a
língua não podia ser uma barreira para o
nosso matrimônio. Além do espanhol,
aprendi inglês, uma vez que era
importante para o mundo dos negócios.
Como havia prometido, me
carregou ao entrar em nossa casa para
manter a tradição. Olhei para os lados e
percebi que estava diante de uma linda
casa, com uma mistura de mobiliários
rústicos e modernos. Ele me levou para
conhecer cada cômodo e percebi que é
um lugar onde crianças poderiam
crescer felizes. A casa possuía quatro
suítes, duas salas, cozinha e amplo
espaço externo com piscina.
- Fique à vontade para mudar o que
achar necessário, querida. É a nossa
casa e quero que se sinta confortável. -
Meu marido falou.
- Tudo é de muito bom gosto, mas
talvez eu queira deixá-la um pouco mais
parecida comigo. Vou tentar mexer na
decoração, aproveitando o máximo do
que já tem aqui. - Parece que a minha
resposta o surpreendeu. Talvez ele
imaginasse que ficaria deslocada, que
estranharia o lugar, porém se agora essa
era a minha casa, eu pretendia
transformá-la em um lar. Ele deus dois
passos em minha direção e me agarrou,
me beijando profundamente. Suas mãos
passaram a se mover por meu corpo e eu
já sabia onde isso terminaria. Acho que
estava começando a gostar da vida de
casada.
Depois de fazermos amor, eu
estava deitada com ele na cama,
assistindo TV quando o meu telefone
tocou. Vi que era Clara e atendi.
- E então, chegaram bem? Já
inaugurou a casa com o espanhol
gostosão? Como ela é? - Minha amiga
me encheu de perguntas.
- Clarinha, você não tem vida
própria não? Às vezes eu acho que você
está vivendo através de mim. - Brinquei.
- Sim para as duas perguntas e a casa é
linda.
- Ah, eu sabia que esse homem não
deixaria você quieta. É... Eu preciso
falar com você. Estou atrapalhando
algo? - Senti tensão em sua voz.
- Não atrapalha, mas me deixou
preocupada. O que está acontecendo?
- Bem, eu sei que você agora é uma
mulher casada e bla bla bla, porém
quero falar sobre algo do nosso tempo
de solteira. Por favor, querida, não me
interrompa antes que eu termine. - Não
estava gostando nada dessa história.
- Pare de enrolar, Clara, fale logo.
- Certo. É... Que eu sempre tive
uma queda por Ben, não sei se você
desconfiava, mas como você tinha um
rolo com ele, eu meio que deixei pra lá.
Eu jamais me envolveria com alguém
que estivesse com você e acredito que
nem ele. Então, o que quero dizer é que
como ele não está mais com você,
acabou rolando de a gente se encontrar
em alguns lugares em comum e
ultimamente nós estamos saindo juntos.
Fiquei em silêncio, tentando
lembrar das evidências e que eu cheguei
a desconfiar. Os olhares dela, momentos
de tristeza e que talvez a atração não era
só de sua parte. Agora entendo o
excesso de ciúme dele quando ela
estava saindo com outra pessoa.
- Brisa, você está aí? Fala alguma
coisa. Olha, se isso te ofende eu juro
que...
- Oh, Clara, eu só quero o melhor
para vocês dois. Torci muito para que
Benito encontrasse alguém legal. Que
bom que vocês estão se acertando. Fico
feliz, de verdade.
- Obrigada, Bri, é muito importante
ouvir essas palavras suas. Não deixaria
nada abalar nossa amizade. Vou deixá-la
voltar para seu marido espanhol agora. -
Ela falou, se despedindo. Voltei para a
cama e Alfonso estava com o olhar
distraído, como se estivesse perdido em
pensamentos.
- Querido, foi Clara ao telefone.
Ela estava me dizendo... - Ele me
interrompeu.
- Você está realmente bem por sua
amiga estar saindo com seu ex? Eu
percebi sua expressão e seu silêncio
quando ela te perguntou algo e você
respondeu o que ela queria ouvir. Eu sei
que você não queria se casar, mas não
pensei que estava praticamente te
arrastando pela coleira. Percebi que me
enganei ao vê-la tão arrasada ao
telefone.
- Oh, meu Deus, você entendeu tudo
errado. Eu apenas... - Mais uma vez, fui
interrompida.
- Eu preciso esfriar a cabeça.
Tenho que sair, não me espere acordada.
- Ele pegou sua carteira, as chaves do
carro e saiu batendo a porta. Eu fiquei
parada olhando para lá sem acreditar na
cena que acabei de presenciar. Isso foi
ciúme? Se ele diz que não há
sentimentos em jogo, como poderia estar
com ciúme? Droga! Eu não manteria
uma relação sem diálogo e respeito. Era
o mínimo que ele devia me oferecer.
Capítulo 18
Ele

Fui até um bar nas proximidades da


minha casa e pedi uma bebida. León já
sabe qual a minha preferência e logo me
trouxe uma dose de Xerez, a qual tomei
de uma só vez. Eu não sabia o que está
acontecendo comigo, pois nunca fui de
ter esse tipo de reação com mulher
alguma. Ciúme para mim, sempre foi um
sentimento de gente fraca que se deixava
dominar pela desconfiança e nunca foi
algo que pretendi nutrir. Essa mulher
estava me deixando louco e eu não sabia
lidar como esse tipo de coisa, era tudo
muito novo.
- Mais uma dose, León. - Pedi ao
barman e ele trouxe sem demora.
- Cara, o que está acontecendo com
você? Sempre que vem aqui é para
relaxar ou comemorar alguma conquista.
Nunca te vi assim tão pra baixo. - León
falou, ao mesmo tempo que preparava a
bebida de outro cliente.
- Se eu soubesse o que estava
acontecendo, estaria agora tentando
resolver. Maldição! Não sei lidar com o
que foge do meu controle.
- Porra, Alfonso apaixonado? É
isso mesmo? Eu vivi para ver esse dia. -
León bateu em meu ombro e saiu,
sorrindo. Eu o fitei assustado e sacudi a
cabeça, tentando negar que ele estivesse
com razão. Repentinamente, meu
telefone tocou, peguei rapidamente
pensando que poderia ser Brisa, mas a
ligação era de Cecília.
- Cecília, já não te pedi para me
deixar em paz? Já tenho problemas
demais para adicionar mais um à lista. -
Falei, em tom arrogante.
- Puxa, Alfonso, não é porque não
temos mais uma relação que não
podemos ser amigos. Onde você está
agora? - Ela perguntou, parecendo
sincera.
- Estou naquele bar que sempre
vou, próximo de casa, mas não quero
que apareça aqui. Hoje não estou pra
conversa, entendeu?
- Claro, querido, só quero que
saiba que tem uma amiga aqui para
conversar, quando precisar. - Deliguei o
telefone, voltando meus pensamentos
para a minha linda esposa e a cena
desnecessária que fiz. Já era hora de
voltar e me desculpar.
Fechei a conta e saí do bar, me
sentindo meio tonto. Acho que bebi um
pouco demais. Cheguei em casa de
madrugada e subi as escadas para ir até
o quarto. Quando cheguei lá, Brisa
dormia sossegadamente. Passei a mão
por seus cabelos e me aproximei para
cheirá-los. Minha sereia tinha um
perfume natural delicioso que eu não
cansava de sentir. Fui para o banheiro,
tomei banho e me deitei ao seu lado. No
outro dia eu teria que convencê-la a me
perdoar.

***********

Acordei com uma tremenda dor de


cabeça e ela já não estava mais na cama.
Fui ao banheiro fazer a minha higiene,
tomei um analgésico e desci as escadas
para procurá-la. Ela estava na cozinha
preparando um sanduiche e embora eu
tenha feito um pouco de barulho para
que percebesse a minha presença, fingiu
que não me viu.
- Dá para preparar pra dois. Esse
sanduiche está com a cara ótima. - Falei,
tentando quebrar o gelo. Ela não
respondeu, mas começou a preparar
outro sanduiche. Nos sentamos à mesa e
passei a fitá-la, porém ela não levantou
a cabeça, comendo silenciosamente.
Resolvi tomar a iniciativa.
- Ei, eu sei que deve estar zangada
comigo, mas eu não sei o que deu em
mim. Eu gostaria que você me
desculpasse, pois sei que a minha
reação foi descabida.
Ela levantou a cabeça para me
olhar. - Por que você reagiu daquele
jeito? Eu não entendo. Você sabia que
geralmente quem tem esse tipo de reação
tem medo de perder o outro, ou seja,
envolve sentimentos? Eu realmente não
entendi e concordo que foi
desnecessária.
- Eu sei, querida. Vamos tentar
apagar aquela conversa, ok? Estamos
começando um relacionamento e
gostaria que fosse com o pé direito.
- Tudo bem. Só te peço que tente se
controlar da próxima vez. Sou uma
mulher casada agora e pretendo viver
como tal, te respeitando acima de tudo.
- Obrigado, sereia, vem cá. - A
puxei para meu colo e passei a depositar
pequenos beijos em toda a extensão do
seu rosto e pescoço. Nos beijamos
apaixonadamente e decidimos deixar
para continuar o café mais tarde.
Tínhamos pressa em nos pertencer.
************

As semanas se passaram sem


contratempos. Brisa estava trabalhando
em casa, participando de
videoconferências, fazendo telefonemas
e analisando relatórios. Era competente
e contribuía muito nas decisões da
empresa. Visitamos uma nova médica,
altamente recomendada e minha esposa
gostou muito dela. Ela considerou
melhor que Brisa evitasse viagens
longas durante a gravidez, o que me
deixou mais despreocupado, pois tirou
aquela ideia louca de que ela poderia
permanecer viajando para resolver
questões da empresa. A gravidez estava
indo muito bem e ela não sentia mal
estar. O bebê estava crescendo
saudável, sua barriga já estava saliente e
na próxima consulta já poderíamos
saber se seria menino ou menina.
A minha mãe estava torcendo por
uma menina, uma vez que ela não teve
nenhuma, apenas eu e meu irmão. Eu e
Brisa estávamos neutros, preferindo
apenas que viesse com saúde. A
empresa da minha família continuava
prosperando, fechando grandes contratos
e mantive minha rotina, sempre
chegando em casa no fim da tarde.
Tentei me policiar para não trabalhar
demais e deixar minha esposa muito
tempo só nessa fase tão sensível.
Às vezes, saíamos para jantar fora
ou caminhar próximo a um lago.
Mantivemos uma rotina diária de
corrida antes de ir ao trabalho. Eu já
costumava fazer isso, mas agora tinha
que ir no ritmo dela, que estava com a
barriga cada vez mais pesada, o que a
deixava linda demais. Discutíamos por
bobagens do dia a dia, mas resolvíamos
logo, terminando sempre na cama. Não
tocamos no assunto do acordo ou do seu
ex, Ben, embora cada vez que lembrava
dele, algo me corroía por dentro.
Como havia prometido, minha mãe
a levou para conhecer alguns pontos
turísticos de Madri. Eu as acompanhei e
fomos primeiro ao Palácio Real de
Madrid e Brisa ficou bestificada ao
descobrir que o palácio possuía mais de
mil quartos. Continuamos nosso passeio
em direção à Gran Via, onde compramos
algumas peças para o enxoval do nosso
bebê e paramos para almoçar em um
grande restaurante.
- Estou adorando conhecer, Madri,
Esperanza. Eu devia ter vindo antes. -
Brisa falou, saboreando sua refeição.
- Não se preocupe com isso. Agora
aqui é a sua casa e você terá a
oportunidade de conhecer muito mais.
Temos que marcar para que você assista
a uma tourada.
Interrompi a conversa. - Mãe, você
sabe que Brisa não pode ter emoções
fortes. Vamos deixar esse programa para
depois que o meu filho já estiver
nascido, tudo bem?
- Deixe de ser estraga prazeres,
Alfonso. Eu apreciaria muito,
Esperanza, e também tenho interesse em
conhecer o famoso estádio do Real
Madrid. - Ela falou, de forma
desafiadora. Soltei um suspiro.
- O que acha da comida, querida? -
Mudei de assunto.
- Perfeita. Embora sinta saudades
do dendê, aqui tem muitos frutos do mar,
então não estou estranhando a culinária,
pelo contrário.
No final da tarde, fomos à Plaza
Mayor, uma espécie de praça rodeada
por prédios históricos. Seus olhos
brilharam ao reconhecer a beleza do
lugar.
- Linda! - Eu falei.
- Devo concordar. Essa praça é
linda. - Minha esposa falou e eu me
mantive em silêncio a fitando. Ela
percebeu que eu não respondia e olhou
para mim.
- Querida, eu realmente não estava
falando da praça. - Ela levantou as
sobrancelhas em percepção e agarrei a
sua cintura, lhe dando um beijo casto.
Fomos em direção a um bar e meu braço
permaneceu possessivamente em sua
cintura. Algo em meu interior se
alegrava por saber que ela era só minha.
Capítulo 19
Ela
Alfonso pediu para que eu me
arrumasse, pois iríamos a um evento
beneficente em que grandes empresários
estariam presentes. Passei o dia em um
spa, onde fiz depilação, unhas, cabelos e
maquiagem. Escolhi um lindo vestido
pérola que evidenciava a minha barriga
e usei um conjunto de esmeraldas,
presente da minha sogra. Me olhei no
espelho e gostei da minha aparência. A
barriga já começava a pesar, mas eu
gostava de estar grávida. Eu me sentia
mais feminina e realmente abençoada
por ter o dom de gerar um pequeno
humano dentro de mim.
- Querida, me ajuda com a
gravata... - Alfonso parou, me olhando
com os olhos arregalados. - Você está...
Está simplesmente maravilhosa.
Perfeita, eu... - Se aproximou e me
beijou profundamente sendo
correspondido por uma chama que
tomava o meu corpo. Por mim, não
sairíamos do quarto e esqueceríamos
essa tal festa.
- Hum, será que poderíamos deixar
de ir a esse evento? - perguntei,
arqueando meu corpo em um convite
silencioso.
- Maldición! Temos que parar,
sereia. Temos que ir à essa festa. É
importante para as nossas empresas, mas
quando voltarmos, poderemos retomar
desse ponto. - Ele me beijou mais uma
vez e aumentou a distância entre nós.
- Vamos, então, não devemos nos
atrasar. - Saímos e a limusine já nos
esperava na entrada.
Chegamos ao local em cerca de
uma hora. Havia alguns fotógrafos na
entrada do evento e logo fomos
solicitados para tirar fotos. Alfonso
agarrou a minha cintura, nos deixando
bastante próximos. A festa era em uma
espécie de mansão rodeada de bastante
área verde e nos dirigimos a uma mesa
que estava reservada. Alfonso me
chamou para caminhar pelo local, pois
ele precisava cumprimentar algumas
pessoas. Ele me apresentou a alguns
casais e paramos para conversar com
um e outro. Avistei meu cunhado, que
logo veio em nossa direção.
- Droga, Alfonso, vendo Brisa cada
dia mais linda, me deixa sentido por não
ser o irmão mais velho. Se eu fosse, o
acordo seria comigo. - Ele provocou o
irmão, me dando um beijo no rosto.
- Nada disso, Marco, Brisa já
estava destinada a mim. Vá procurar sua
própria mulher para admirar. - Meu
marido disse, me abraçando por trás e
sorrindo para o irmão.
- Bem, quem sou eu para negar uma
ordem de meu irmão mais velho, não?
Farei isso. Vou procurar uma mulher
para admirar e um pouco mais, mas acho
que nenhuma aqui será tão bonita quanto
minha cunhada. - Ele piscou para mim e
se afastou.
- É, querida, acho que todos os
homens aqui estão pensando como o meu
irmão e estão com inveja de mim. -
Permaneceu abraçado por trás, beijando
meu pescoço.
- Não comece nada que você não
pode terminar. - Falei, já sentindo a
necessidade do meu corpo.
Nesse momento, uma linda loira se
aproximou de nós. - Alfonso, querido,
eu sabia que você viria. Já viu os meus
pais? Eles estavam falando sobre você
agora. Parece que está surgindo um
grande contrato que poderá beneficiar a
sua empresa e a deles. - A garota falou,
sem ao menos voltar o olhar em minha
direção.
- Cecília, acho que ainda não tive o
prazer de apresentá-la à minha esposa.
Essa é Brisa e querida, essa é Cecília,
filha de grandes amigos e empresários. -
Ele nos apresentou e se eu sabia ler um
pouco o que os olhos dizem, eu diria que
o dela estava apontando um punhal em
minha direção. Não gostei dela.
- É um prazer conhecê-la. Alfonso,
vamos falar com os meus pais agora.
Você não se importa não é, queridinha? -
Ela perguntou, me medindo de cima
abaixo.
- Eu vou, Cecilia, mas minha
esposa irá comigo. - Ponto pra mim! Ela
não gostou muito de sua resposta, talvez
quisesse um momento a sós com ele,
mas eu não lhe daria essa oportunidade.
Ele me apresentou aos pais dela, que
foram muito simpáticos, e passaram a
falar de negócios. Em alguns momentos,
Alfonso me pedia opinião, fazendo com
que eu interagisse com eles. Cecília
parecia se desmanchar a cada vez que
Alfonso falava e suas investidas não
eram nada discretas.
Algumas peças foram leiloadas e
meu marido comprou um conjunto de
diamantes rosas composto por colar,
brincos e pulseira para mim. Fiquei
muito feliz, pois como toda mulher,
gosto de joias, mas por ser um presente
dele, tinha mais valor para mim.
Jantamos e conversamos um pouco mais
com alguns empresários.
- Alfonso, preciso ir ao banheiro. -
ele concordou, beijando o meu rosto.
Quando entrei, havia duas mulheres
saindo da frente do espelho e eu fiquei
sozinha lá. Usei a cabine e voltei para
lavar as mãos e retocar minha
maquiagem. Estava terminando, quando
uma loira alta parou ao meu lado.
- Então, você é o presente de grego
que Alfonso teve que engolir por conta
de um acordo, não? Sabia que se ele não
fosse obrigado a se casar, era comigo
que ele estaria? Estávamos namorando
firme quando o pai dele pediu para que
cumprisse o contrato. Ele deixou bem
claro que não queria, mas não magoaria
seus pais. Portanto, não se apaixone,
pois logo, logo ele dará um fim a esse
casamento.
O mundo começou a girar. Eu não
estava me sentindo bem e saber que o
que essa cobra dizia podia ser verdade,
eu tinha vontade de vomitar. Ela sabia
sobre o acordo, isso era sinal de que
existia um fundo de verdade na fala
dela. Resolvi parecer indiferente.
- Não é isso que eu percebo quando
estou com ele. Se ele não teve escolha,
hoje tem, e é comigo que permanece
casado.
- Por enquanto. Ele precisa manter
as aparências, não? Como foi a sua
despedida de solteiro, pois a dele foi
maravilhosa e, detalhe, em meus braços.
- Ela falou, me provocando.
- Mentirosa! - Revidei, furiosa.
- E tem mais: uma noite dessas,
vocês brigaram e ele pediu para que o
encontrasse em um bar. Adivinha quem o
consolou?
-Aonde você quer chegar com
tantas mentiras?
- Pergunte a ele como foi sua
despedida de solteiro e onde ele estava
naquela noite. Tenho certeza de que ele
não irá mentir para você.
Saí, batendo os pés. Não podia dar
crédito a essa louca, mas ela trouxe
informações que eu não tinha como
contestar. Estava muito confusa, sem
saber em que acreditaria. Não queria ter
ciúmes, mas também não queria ser
passada pra trás.
- Querida, o que aconteceu? Você
está bem? - Alfonso me perguntou,
preocupado.
- Apenas... Foi um mal estar, mas
estou ficando melhor. Eu preciso falar
com você, pode ser? - Ele se despediu
dos amigos e me levou para um local
mais isolado.
- O que foi, Brisa? Aconteceu algo
no banheiro?
- Eu... Eu só queria saber sobre
algumas coisas que de repente se
passaram em minha mente.
- Tudo bem, então pergunte.
- Você fez despedida de solteiro? -
Percebi que ele congelou.
- Por que esse tipo de perguntas
agora? Quem andou tentando te
influenciar? - Ele parecia apavorado.
- Responda, Alfonso. Por favor,
responda.
- Sim, Brisa, Marco preparou uma
festa surpresa já que eu havia me negado
a ter uma. Permaneci por um tempo, mas
logo fui embora deixando com que ele e
nossos amigos se divertissem.
- E... E pra onde você foi naquela
noite que você teve um rompante de
ciúme? - Ele respirou fundo e
respondeu.
- Fui a um lugar que costumava ir
sempre. Fui a um bar próximo de casa.
Eu realmente não estou entendendo o
porquê dessas perguntas.
Minhas pernas fraquejaram e a
última coisa de que me lembrava foi
que Alfonso vinha em minha direção,
tentando me segurar.
Acordei em um quarto sozinha.
Como tinha poucos mobiliários,
provavelmente era um quarto de visitas.
A porta estava aberta e eu escutava
vozes que pareciam estar distantes.
Estava meio tonta, mas resolvi me
levantar para encontrar alguém
conhecido. Andei por um corredor e
logo ouvi vozes mais altas que pareciam
vir de um quarto próximo. Fui em
direção à porta e olhei para dentro dele,
reconhecendo quem lá estava. Cecília
estava de frente a mim e Alfonso de
frente à ela. Na posição que ele estava,
não era possível me ver. Quando ela
percebeu a minha presença, inclinou seu
corpo e tomou os lábios de meu marido.
Eu não podia acreditar no que os
meus olhos estavam vendo. Tudo o que
ela disse se confirmava naquele
momento e enquanto eu estava no quarto
ao lado, desmaiada, eles estavam se
divertindo. Não! O meu pior pesadelo
estava acontecendo diante dos meus
olhos.
Ele não me amava. Estava
cumprindo apenas os termos do acordo e
vivendo uma vida paralela. Eu não
conseguiria lida com isso. Eu precisava
sair dali.
Andei o mais rápido que as minhas
pernas conseguiram e parei ao chegar à
área verde. Percebi que estava
prendendo a respiração e tentei inspirar
um pouco de ar puro que me daria força
para sair dali. Aproximei-me da saída e
Marco veio em minha direção.
- Brisa, para onde está indo? Cadê
Alfonso? - Ele questionou, me
acompanhando.
- Ele está resolvendo alguns
assuntos e eu não estava me sentindo
muito bem. Preciso ir para casa. - Falei,
esperando que ele se conformasse com
essa resposta e me deixasse ir.
- Alfonso deixou você ir embora
sozinha? Brisa, isso está mal contado.
Deixe-me falar com meu irmão e...
- Não! Marco, não preocupe, a
limo está me esperando e me levará em
segurança, e seu irmão realmente
precisa resolver esse assunto.
Meu cunhado me acompanhou e
quando pensei que havia me livrado
dele, a porta ao meu lado se abriu e ele
entrou no carro.
- Não vou deixá-la sozinha. Sei que
alguma coisa está acontecendo e
Alfonso se zangaria muito se soubesse
que a deixei ir só.
Me dei por vencida, soltando a
respiração. - Me responda uma coisa,
Marco, havia amigas de seu irmão na
despedida de solteiro dele?
Marco me olhou desconfiado,
talvez com receio de me dar a resposta
incorreta. - Ninguém que você precise
se preocupar, cunhada. Todos ali eram
amigos e nada mais. Algumas dessas
amigas se você ainda não conheceu,
logo irá conhecer. Fazem parte do nosso
convívio, como Ana, Cecília,
Alexandra...
- Ok, não precisa continuar. Eu
estava apenas curiosa. - Voltei minha
atenção às ruas lá fora e continuei
fitando a janela até chegar em casa.
Capítulo 20
Ele

- Como assim, ela voltou para o


Brasil? Que merda de bilhete é esse? -
Questionei a meu irmão, o segurando
pela gola da camisa.
- Cara, não consegui segurá-la e
dessa vez ela não me deixou
acompanhar. Ela entrou no quarto e em
pouco tempo saiu, segurando uma mala
pequena. Eu a enchi de perguntas, mas
ela apenas disse que não precisava se
preocupar, pois você saberia onde
encontrá-la. Ligue para o aeroporto, de
repente, ela ainda não embarcou.
- Maldición! - Liguei para o
aeroporto e depois de olhar os registros,
houve a confirmação de que ela havia
fretado um jato particular e já havia
partido. Tentei ligar para seu telefone
desde que cheguei e só caía na caixa de
mensagens. Falei com os pais dela,
avisando que logo estaria lá.
- Vou pedir para preparar nosso
jato, estarei partindo para o Brasil logo
pela manhã.
- Eu vou com você. - Assenti,
acreditando que talvez a companhia dele
fosse necessária para que eu não fizesse
besteiras.
- Esteja pronto no início da manhã.
- Falei, retirando minha gravata e me
preparando para um banho.
- O que você aprontou para que ela
chegasse a esse ponto? - Marco
questionou.
- Foi um monte de mentiras que a
louca da Cecília inventou e como os
pontos se ligavam, ela acabou
acreditando e para acabar de completar,
Cecília me agarrou e me beijou.
- Mano, você está ferrado. Brisa
viu esse beijo?
- Não sei. A única coisa que sei é
que estava discutindo com Cecília,
tentando dar-lhe um choque de
realidade, quando ela me surpreendeu
com um beijo. Decidi deixá-la com seus
devaneios e quando voltei ao quarto,
Brisa não estava mais lá. Procurei por
toda a festa e depois você me ligou.
**********

Cheguei ao Brasil no horário


próximo ao meio dia. A minha ânsia não
me deixaria ir a qualquer lugar, senão ao
apartamento de Brisa. Marco me
acompanhou até lá e quando percebeu
que eu estava controlado e não faria
qualquer besteira, disse que teria umas a
coisas a resolver e me deixou. Bati na
porta de seu apartamento e aguardei,
tentando perceber se havia algum
barulho.
Ninguém atendeu, mas insisti.
Depois de algum tempo, percebi que se
ela estivesse em casa, não me atenderia,
pois não havia qualquer movimento.
Voltei para a portaria e perguntei se
alguém a tinha visto. O porteiro negou e
me dirigi para o lugar que ela
possivelmente estaria: a casa dos seus
pais.
Fui logo reconhecido pelo
segurança da casa, que me deu acesso
imediato. Estacionei e logo minha sogra
veio ao meu encontro.
- Querido, como vai? Entre, por
favor. - Ela disse estendendo a mão.
- Sra. Ribeiro, você deve saber o
que me traz aqui. Preciso falar com
Brisa. Preciso explicar algumas coisas a
ela que ficaram mal entendidas. - Falei,
quase sem respirar.
- Eu sei. O dia estava amanhecendo
quando ela chegou aqui. Descansou um
pouco, mas logo saiu. Disse que ia para
a casa de Clara, mas como sabia que
você a procuraria, pediu para que não
fosse atrás dela.
- Infelizmente, eu não posso atender
ao seu pedido, eu realmente preciso lhe
explicar o que aconteceu... - Fui
interrompido.
- Alfonso, eu conheço a minha filha
e sei que se você for atrás dela agora, as
coisas podem ficar piores. Eu te peço
um pouco de tempo. Dê esse espaço a
ela, para que possa pensar. Eu sinto que
vocês se amam, mas precisam afastar
alguns fantasmas para que vivam em
paz. Um deles é assumir seus
sentimentos e reconhecer que o destino
foi muito generoso com vocês.
Parei para pensar em suas palavras
e finalmente me dei conta de que minha
sogra tinha razão. Eu precisava assumir
para mim mesmo que a amo. Precisava
assumir que a amei desde o dia em que
pus meus olhos nela. Tinha que assumir
que a minha falta de ar era porque eu
precisava de sua presença para respirar
e que ela se tornou o meu mundo.
Como eu não havia me dado conta?
Por que fugi tanto desse sentimento?
Talvez para não sentir o que eu sinto
agora: desespero. Não existe um mundo
que não inclua Brisa para mim e eu farei
o possível para ter a minha sereia de
volta, nem que eu precise rastejar. Vou
dar um passo para trás para que eu
possa dar dois para frente.
- Sra. Ribeiro, eu estarei em meu
apart caso Brisa queira falar comigo,
tudo bem? Vou seguir seus conselhos,
mas amanhã virei aqui. Mesmo que não
a veja, preciso saber como ela está e
estarei esperando o momento que ela
esteja pronta para falar comigo.
Gostaria de contar com sua ajuda.
- Claro, querido, fomos nós quem
aproximou vocês dois, então queremos
muito que a relação de vocês dê certo.
Pode vir aqui quando quiser e a deixarei
saber que está lutando pelos dois.
Capítulo 21
Ela

Já fazia cinco dias que eu estava no


Brasil e em todos os dias Alfonso vinha
até a casa dos meus pais. Todos os dias,
ele trazia um presente diferente
acompanhado de algumas flores. Sabia
que a maioria dos homens enchiam suas
mulheres de presentes quando
aprontavam, mas confesso que cada
gesto dele quebrava mais um bloco da
minha parede de gelo.
A minha mãe se tornou fã número
um dele e a sua torcida para que
conversemos é contínua. Seus presentes
são peculiares e me traz grandes
recordações. Primeiro, eu recebi uma
pequena boneca em forma de sereia, no
segundo dia, eu ganhei uma miniatura do
Elevador Lacerda, o terceiro presente
foi uma camisa com uma linda imagem
do pôr do sol no Farol da Barra, o
quarto foi um porta-retratos com uma
foto nossa no Plaza Mayor e o último foi
miniaturas de um touro e de um homem
vestido de toureiro. Sorri com esse
último, pois mostrava que ele estava
cedendo.
Logo quando cheguei ao Brasil,
procurei Clara, pois precisava
conversar com alguém que fosse neutra
nessa história. Ela se assustou, pois não
sabia que eu estava aqui.
- Bri? O que houve?
Joguei-me em seus braços e soltei
todo o choro que estava preso em minha
garganta desde que saí da Espanha. - Ele
estava me traindo esse tempo todo,
Clara. Ele não sente nada por mim,
estava puramente cumprindo o acordo.
- O que a fez achar isso, querida?
Eu não me engano com essas coisas. Eu
vi o quanto ele gostava de você. - Ela
parecia confusa.
- Era tudo mentira, Clarinha. Tudo
mentira. - Eu solucei deitando a cabeça
em seu colo e fiquei ali por mais tempo.
Ela se manteve em silêncio, apenas
acariciando meus cabelos e o sono
acabou me vencendo, já que eu não tinha
dormido desde o dia anterior.
Horas depois, acordei e olhei em
volta para identificar onde estava. Eu
estava deitada no sofá, na sala do
apartamento de minha amiga. - Clara? -
Chamei alto.
- Oi, acordou, mamãe? Venha
comer alguma coisa. Estou achando que
você não está alimentando o meu
afilhado o suficiente. Eu quero ver sua
barriga explodindo, venha.
- Você parece Alfonso falando
sobre eu me alimentar... - Lembrei-me
do motivo pelo qual estava ali. Tinha me
permitido esquecer por um momento. A
tristeza me invadiu imediatamente.
- Sente-se aqui. É hora de comer e
não de conversar. Quando ele nascer,
quero ter bochechas bem gordas para
apertar. - Agradeci internamente por ter
uma amiga tão bem humorada.
Comi um pedaço de lasanha que
era a especialidade de Clara. Eu sempre
fui a degustadora de suas receitas. Ela
inventava e eu experimentava.
Terminamos o almoço, ela ligou a TV e
assistimos alguns seriados.
- Quer falar agora, Bri?
- Sim, obrigada por sua paciência.
É... Eu o vi beijando uma vadia loira em
uma festa beneficente.
Contei tudo o que tinha acontecido
à Clara, sem poupar os detalhes. Ela
ouviu atentamente, fazendo pequenas
perguntas e estava pensativa como se
estivesse tentando ligar os pontos.
Quando terminei de contar tudo, ela
balançou a cabeça e me olhou com jeito
de que a resposta seria obvia.
- Será que você não vê o que está
debaixo do seu nariz? Essa mulher
armou tudo, querida. Ela o quer, mas ele
quer você e ela está tentando afastá-la
do seu caminho. Deve haver uma
explicação para o beijo que viu e você
só saberá qual é quando ouvi-lo. Não
abra mão do gostosão espanhol, Bri.
Tenho certeza de que ele te ama e tenho
certeza que ele é correspondido, senão
você não estaria aqui.
- Eu... Eu não sei, mas acho que
realmente estou apaixonada. Acho que
tentei me controlar tanto para não nutrir
sentimentos por ele que camuflei os que
já estavam aqui desde o dia que o
conheci.
- E quanto a conversar com ele?
Você não acha que posso ter razão?
- Eu odiei aquela mulher no
momento que pus os olhos nela. Sei que
ela seria capaz de fazer tudo o que fez,
mas alguns pontos ainda estão soltos e
ainda não me sinto preparada para
conversar com Alfonso. Preciso pensar
um pouco mais.
Permaneci até à noite na casa da
minha amiga, conversando sobre
diversos assuntos, dentre eles, a sua
relação com Ben. Eles pareciam ter se
acertado e o namoro estava indo de
vento em popa. Voltei para casa com o
dia já escuro e minha mãe me falou
sobre a visita do meu marido.
Agora já faz cinco dias que não o
vejo e estou começando a amadurecer a
ideia de que devo recebê-lo para
conversar. Eu preciso entender tudo o
que aconteceu e se vale a pena dar outra
chance à nossa relação. Será que posso
confiar em alguém que mal conheço,
cujo passado quer nos assombrar? Eu
preciso de mais tempo para entender até
onde estou disposta a ir e manter meu
coração em segurança.
Capítulo 22
Ele

Após oito dias sem ver minha


sereia, estava começando a entrar em
desespero. Todos os dias, tinha notícias
de sua saúde e do bebê, sempre levava
presentes, mas quando sua mãe lhe
perguntava se gostaria de conversar,
tudo o que eu ouvia era ‘tenha paciência,
querido, ela logo vai ceder’. Eu já não
aguentava mais aquela situação.
Sempre que saía da casa de seus
pais, abria uma garrafa de uísque e
tomava até que o sono e a bebedeira me
vencessem. Eu precisava desse suporte
para dormir e acreditar que no próximo
dia ela iria conversar comigo. Depois
de tantos dias, o meu desejo era
sequestrá-la daquela casa e fazê-la me
ouvir à força, mas eu sabia que nada
adiantaria se o fizesse. Só me restava
esperar.
- Droga, cara, você está acabado.
Nem eu te receberia desse jeito. Quase
não está comendo, está bebendo uísque
como se fosse água e está deixando a
barba crescer. Quem é você e o que fez
com meu irmão?
- Não enche, Marco. Ela não quer
me receber e eu não sei lidar com essa
porra. Pelo visto você está tendo mais
sucesso do que eu, não? Quase não para
em casa.
- Estou vendo uma garota, mas não
mude de assunto. Venha, você precisa se
cuidar pra não assustá-la quando quiser
falar com você.
Ele me entregou um barbeador e me
empurrou para o banheiro do quarto.
************

- Bom dia, Sra. Ribeiro, como está


a minha sereia hoje?
- Já disse para me chamar de
Laura, ou melhor, pode me chamar de
mãe. Sua esposa está muito disposta.
Vamos confiar que hoje possa ser um
bom dia.
Além das flores, dessa vez o
presente era uma almofada de coração
bordada com a frase ‘eu te amo’.
Imaginei que talvez a demonstração de
meus sentimentos pudesse derreter suas
camadas de gelo. Minha sogra me deu
um sorriso e saiu em direção ao quarto
para levar o presente e fazer a mesma
pergunta que foi feita nos últimos sete
dias.
Aguardei por alguns minutos e logo
ela retornou com um grande sorriso no
rosto. Arregalei os olhos, sem acreditar
que finalmente poderia ter a
oportunidade de conversar com minha
sereia. Laura me abraçou e me beijou na
testa.
- Filho, finalmente ela vai te
receber, mas eu continuarei pedindo a
você que tenha paciência. Ela está em
um momento muito sensível e terá que
convencê-la. Siga seu coração que com
certeza ele te direcionará pelo caminho
certo.
- Obrigado, mãe. - percebi que ela
se emocionou ao me ouvir chamá-la
assim. Eu realmente construí uma
família e lutaria por ela com todas as
armas. Fui para o quarto de Brisa e a
porta estava fechada. Dei três batidas e
ouvi uma voz longe dizendo ‘entre’. Eu
abri a porta e bebi da visão que me
deixava sedento. Meus sentimentos se
renovaram ao vê-la e meu desejo era de
tê-la em meus braços e não deixá-la sair
de lá nunca mais.
- Brisa, como vocês estão? Eu... Eu
fiquei preocupado. - Ela me olhou por
alguns segundos e baixou as vistas.
- Estamos bem, eu acredito. Logo
farei nova consulta e saberei melhor
como o bebê está. Você será informado.
- Gelei por seu tratamento. Eu não
gostaria de ser informado, eu gostaria de
participar de todo esse momento que
também é meu. De fato, paciência seria
a palavra-chave em nossa conversa.
- Ok, querida, eu estarei com você
em todas as consultas e descobriremos
juntos se ele está bem. Acredito que
você esteja confusa por tudo o que
aconteceu, mas se me deixar explicar,
compreenderá tudo. - Iniciei o assunto.
- Vamos fazer da seguinte forma: eu
te pergunto e você me responde com
sinceridade, tudo bem? Não quero que
minta para me poupar. Eu preciso saber
a verdade.
- Desse jeito está ótimo para mim.
Comece, querida, não tenho nada a
esconder. - Falei, demonstrando
segurança.
- Você já teve algum tipo de
relacionamento com aquela mulher, que
não seja amizade?
- Sim. Nós fomos amantes por
algum tempo, mas ela sempre soube do
acordo. Eu nunca a enganei nem mulher
alguma. Sempre deixei claro que não
haveria futuro em qualquer relação que
não fosse com você.
- Não parecia que ela sabia disso.
Ela parecia bem decidida a me tirar do
caminho. Responda-me: aconteceu algo
entre vocês em sua despedida de
solteiro?
- Ela foi convidada por Marco,
pois ele sabia que já não tínhamos nada
um com o outro. Ela tentou investir em
mim lá e esse foi um dos motivos pelo
qual fui embora mais cedo. A única
pessoa que eu queria naquele momento,
estava a milhares de distância de mim. -
Percebi que ela deu um pequeno sorriso
e eu senti uma ponta de esperança.
- Na noite que você foi ao bar,
vocês se encontraram lá?
- Claro que não, querida, nós
tínhamos acabado de discutir por conta
de ciúme e eu jamais desejaria que você
sentisse o mesmo que eu estava sentindo
naquele momento.
- Mas ela sabia onde você estava.
- Aquela desgraçada! Ela me ligou,
dizendo que tinha interesse em minha
amizade e me perguntou onde eu estava.
Eu apenas disse e pedi para que ela não
aparecesse. Eu queria ficar só.
- Certo. E aquele beijo que eu
presenciei no evento beneficente? Não
foi nada amistoso. - Seu tom de voz
aumentou um pouco. Eu tentei me
controlar.
- Ela me surpreendeu com o beijo.
Eu estava discutindo com ela, pois
percebi na hora que seus
questionamentos naquele dia só
poderiam ser fruto de algo que ela te
disse. Eu estava pedindo para que me
deixasse em paz naquele exato momento.
Ela assentiu, ainda parecendo
desconfiada. Ficou em silêncio por um
bom tempo, então eu quebrei o gelo.
- Acho que faltou você me
perguntar sobre uma coisa: se eu
realmente quis dizer a frase que está na
almofada. - Ela avivou os olhos,
demonstrando insegurança. - Então, eu te
respondo: sim, ela é a frase mais
verdadeira que eu já disse a alguém. Eu
juro que tentei lutar com toda a minha
força contra qualquer sentimento que me
dominasse, que desse poder a outra
pessoa. Foi mais forte do que eu. Amo o
seu olhar, amo o seu sorriso, amo o seu
corpo, amo sua inteligência, amo sua
teimosia e amo a família que você me
deu, enfim, EU - AMO - VOCÊ.
Lágrimas saíram de seus olhos e
finalmente tive minha sereia em meus
braços. Ela me beijou profundamente,
ofegando e com pressa. Tínhamos pressa
um do outro. A distância desses dias
pareceu anos.
- Eu também te amo muito, muito,
muito. - Ela disse as palavras que eu
mais sonhei em escutar nos últimos
tempos.
Continuei depositando pequenos
beijos por todo o seu corpo e percebi
sua necessidade. - Seu nome não deveria
ser Brisa, querida, deveria ser furacão.
Você virou a minha vida de cabeça pra
baixo.
Ela sorriu e continuamos a nossa
doce tortura. Precisávamos nos tocar,
nos sentir, saber que éramos de verdade
e não apenas um sonho. Fizemos amor
como se fossemos apenas um. Nossos
corpos se comunicavam e falavam a
mesma língua. Se eu tivesse o poder,
congelaria aquele momento.
Ficamos deitados, entrelaçados um
no outro. Eu tinha medo até de respirar e
algo acontecer. Dormimos juntos e nos
amamos mais algumas vezes. Enfim,
levaria minha sereia de volta para casa.
No outro dia, acordamos juntinhos
e me alegrei em saber que todas as
minhas manhãs seriam assim. Levantei-
me e comecei a procurar pelas coisas
que ela tinha trazido da Espanha. Já era
hora de arrumar a mala.
- Linda, onde estão suas coisas?
Precisamos nos organizar para voltar
pra casa. - Ela me olhou, insegura.
- É... Eu estava pensando se não
seria melhor eu passar mais algum
tempo aqui. Eu gostaria de passar mais
um tempo com meus pais antes do nosso
filho nascer.
Eu fitei seu rosto, me perguntando
por que eu não estava gostando nada
daquela história.
- Nem que o inferno se congele. -
Falei alto, mas lembrei do conselho de
minha sogra de que deveria ter
paciência, então baixei o tom de voz. -
Sereia, eu passei o inferno longe de
você. Será uma tortura viver mais dias
sem sua presença. Será que não percebe
isso?
- Eu preciso que confie em mim,
Alfonso. Não estou desistindo de nós, eu
continuo sendo sua esposa e logo estarei
de volta à nossa casa, apenas gostaria de
passar um tempo com meus pais e com
Clara.
Engoli em seco, juntando todo o
meu autocontrole. - Você promete que
não demora? Promete lembrar que tem
um marido louco para que volte para
casa?
Uma lágrima desceu de seu olho. -
Oh, eu te amo tanto, Alfonso. Prometo
que quando menos esperar, estaremos
juntos em nossa cama.
- Eu também te amo. Sendo assim,
voltarei para casa. A empresa deve estar
uma bagunça sem mim e sem Marco lá.
- Marco não está lá?
- Não. Eu desconfio que a Bahia
tem algum feitiço, pois ele se motiva a
vir ao Brasil todas as vezes que venho e
algo me diz que isso é culpa de uma
mesma mulher.
- Alguém já perguntou ‘o que é que
a baiana tem’, mas acredito que os
espanhóis já estão descobrindo. - Ela
disse, brincando.
Nos despedimos do modo mais
delicioso possível e no início da tarde
retornei à Espanha.
Capítulo 23
Ela
Eu amo a Bahia, eu amo Salvador,
mas o amor da minha vida não estava lá,
então estava de volta à minha nova casa.
Faz uma semana que Alfonso voltou e
todos os dias me ligava, pedindo para
que eu voltasse. Eu já estava morrendo
de saudades dele e resolvi não
prolongar a minha estadia na casa dos
meus pais.
Decidi fazer uma surpresa e não
avisei que estava retornando. Já estava
no aeroporto de Madri e sentia a doce
sensação de que estava em meu lar. Eu
me adaptei muito rápido à cidade e já
estava apaixonada por ela. Seria a
cidade de meu filho, o país que meu
filho nasceria.
Peguei um táxi e dei o endereço da
minha casa. Nesse horário, Alfonso
ainda deveria estar no trabalho e quando
ele chegasse eu estaria em casa. Já
estava excitada por imaginar o que me
esperava mais tarde.
O táxi parou no portão da casa,
paguei um valor maior do que a viagem
custava e entrei em casa. A minha casa.
Passei pelo jardim e percebi que a porta
da frente estava aberta. Provavelmente
os auxiliares se esqueceram de fechar.
Aproximei-me da porta e ao chegar no
batente percebi que havia vozes
exaltadas. Decidi permanecer onde
estava e tentar escutar o que acontecia.
Reconheci que as vozes eram de
Alfonso e de Cecília. Droga! O que essa
mulher fazia em minha casa?
- Eu já te pedi para me deixar em
paz, Cecília. Será que eu nunca vou me
livrar de você? - Meu marido falou.
- Eu não suporto saber que você
está feliz ao lado de outra pessoa. É
você quem eu quero e faria qualquer
coisa para ficar com você. - Cecília
respondeu, com voz melosa.
- Suas ações estão me dando nojo.
Como você foi capaz de inventar tantas
histórias para Brisa? Meu Deus, até
aonde vai o mundo de ilusões que você
criou em sua mente?
- Contei um monte de mentiras para
ela porque eu gostaria que todas fossem
verdade. Eu tinha esperanças de que
você apenas honrasse o acordo, depois
acabasse com esse arranjo e ficasse
comigo. Tudo saiu do controle a partir
do momento que você se apaixonou por
ela. Por que ela e não eu, Alfonso?
- Eu poderia passar o dia
enumerando os motivos de meu coração
tê-la escolhido ao invés de você, mas eu
não perderia o meu tempo. Você não
merece mais um segundo meu.
- Você acha que sua mulher voltará
a confiar em você? Ela sempre terá um
pé atrás. Ela sempre se perguntará se
alguma coisa do que eu disse era
verdade. Nunca serão totalmente felizes,
pois a desconfiança sempre estará entre
vocês.
Nesse momento, resolvi entrar na
sala. Ela me olhou assustada, abrindo a
boca, mas não conseguiu pronunciar
mais nenhuma palavra. - Eu acreditei
em meu marido antes mesmo de decidir
conversar com ele sobre o que tinha
acontecido. Até hoje, ele nunca precisou
mentir para mim e acredito que nunca
será necessário. A verdade brilha em
seus olhos e mais: Amor. Eu vejo amor
em seus olhos e só vejo quando ele olha
para mim.
Ela continuou me olhando, como
uma criança pega em flagrante. - Ele me
ama e eu sinto intensamente o mesmo,
portanto ninguém terá forças para
destruir o que temos juntos. Meu bebê
não é fruto de um acordo, é fruto de
amor. O mais perfeito e sublime
sentimento compartilhado entre duas
pessoas. E sabe o que mais? Fora da
minha casa, fora da vida do meu marido,
fora da minha família. FORA!
Ela saiu batendo os pés e meu
marido veio em minha direção para me
dar um abraço. Ele me tomou no colo,
me carregou para o quarto e, sem trocar
mais palavras, nos perdemos em
sensações, tentando transmitir os nossos
sentimentos por meio de toques e do
olhar. Eu me senti adorada pelo modo
que ele me pegava, pelo modo que suas
mãos mapeavam o meu corpo. O mundo
lá fora não existia e éramos apenas nós.
- Eu te amo, sereia. - Tapou meus
lábios com seus beijos, me impedindo
de responder. Logo seus lábios foram
para outras partes do meu corpo.
- Eu também te amo, meu gostosão
espanhol. - Ele parou de me beijar e me
olhou.
- Gostosão espanhol? - Ele
perguntou e eu apenas assenti, sorrindo.
Amamo-nos desesperadamente como se
o mundo fosse acabar no outro dia.
Horas depois, Alfonso estava com
as mãos em minha barriga de seis meses,
acariciando. Percebi que ele estava
bastante pensativo e acabei deixando a
curiosidade me dominar.
- Uma moeda por seus
pensamentos. - Eu falei, o tirando do
transe.
- Sabe, Brisa, eu sou grato por
termos nos encontrado e por estarmos
casados, mas eu gostaria que o caminho
que trilhamos para chegar até aqui
tivesse sido diferente.
- Por que está pensando nisso
agora? O que importa é que estamos
juntos e nada pode mudar isso.
- Eu sei. - Respondeu, me dando
um beijo. - Não é possível mudar o
passado, mas eu posso reescrever a
nossa história.
- Aonde você quer chegar com toda
essa conversa, Alfonso?
Ele se levantou da cama, se
ajoelhou, tirou a aliança do meu dedo e
perguntou: - querida, quer casar
comigo?
As lágrimas passaram a ter vida
própria e a rolar livremente pelo meu
rosto. - Mas... Mas nós já somos
casados.
- Agradeço aos céus todos os dias
por isso, porém quero renovar os nossos
votos, nos casarmos pelo motivo certo
agora e compartilhar com o mundo o
nosso amor. - Eu o abracei, emocionada.
Ele tomou a minha mão esquerda e
colocou a aliança em meu dedo anular.
- Sim, eu aceito hoje, aceitarei
amanhã e aceitarei sempre. Eu te amo.
Epílogo

- Por que ela está demorando desse


jeito? - Hoje nós estávamos
completando um ano de casados e
estávamos renovando nossos votos
através de outro casamento. Eu estava
mais nervoso que no primeiro, pois
dessa vez eu sabia que estava me
casando com a mulher da minha vida.
- Calma, Alfonso, ela já está
chegando. - meu irmão riu, observando o
meu nervosismo.
- E você, Marco, quando vai estar
aqui no altar?
- Agora que amarrou as chuteiras,
tenho que aproveitar que a oferta
aumentou. O papel de tio cabe muito
bem a mim e é só o que pretendo ser por
um longo tempo.
- Veremos o que o destino te
reserva. - meu irmão rolou os olhos e
bufou.
Minha mãe se aproximou com a
minha pequena no colo. Quando ela me
viu, lançou seu corpo à frente, pedindo
para que a pegasse. Luiza já estava com
sete meses e todos eram apaixonados
por ela. Fazia sucesso em qualquer lugar
que ia. Hoje não estava sendo diferente.
Eu estendi as mãos e ela se jogou em
meus braços.
- Cadê a princesa do papai? - Ela
sorria e me fitava esperando que eu
brincasse novamente. Minha mãe a
pegou de meus braços e ela balançou
suas perninhas em contentamento. -
Aproveite, mãe, que quando Clara pegá-
la da senhora, ninguém mais toma de
seus braços. Aquela garota mima essa
menina demais.
- Verdade, filho, e Luiza também é
louca por ela. Quando tiver sua própria
prole, ela será uma grande mãe.
Cerca de vinte minutos se
passaram, os quais passei
cumprimentando alguns convidados e
tentando controlar a minha ânsia.
Posicionei-me novamente no altar e
repentinamente ouvi a marcha nupcial.
Olhei para a frente e a vi mais linda do
que ontem e menos do que amanhã.
A certeza de que eu deveria
renovar os nossos votos me tomou. Ela
continuava linda, nada demonstrava que
tinha se tornado mãe há pouco. Seu
corpo era perfeito e depois da gravidez,
foi impressionante como voltou à forma
tão rapidamente.
Seu pai a conduziu ao altar e
estendi a minha mão em um convite para
que ela se aproximasse logo. Alguns
convidados perceberam e sorriram. Eu
não fazia questão de esconder a pressa
que tinha para reafirmar o meu amor.
Quando ela já estava ao meu lado,
roubei-lhe um beijo rápido e ela disse
baixinho: - ainda não chegou o momento
do beijo, querido.
- Sempre é o momento do beijo.
Não será um padre quem vai me dizer
quando devo beijar a minha esposa. -
Ela sorriu e voltou sua atenção para o
padre. Como da outra vez, a cerimônia
não demorou, mas dessa vez a festa
seria no mesmo local. Decidimos fazer
uma celebração menos tradicional e um
DJ foi contratado para animar os
convidados em um grande espaço com
decoração de boate.
Brisa trocou o vestido e fomos
dançar. Observei que Marco estava com
a baiana que ele levou ao apartamento
no Carnaval. Perguntei-me como ela
havia chegado até ali, se tinha parentes
na Espanha ou se ele a trouxe.
Todos estavam se divertindo. Até
os meus sogros estavam na pista de
dança. Luiza já estava dormindo e a
babá que contratamos para nos ajudar
estava tomando conta, mas sei que as
avós e a madrinha sempre iam lá
conferir se estava tudo bem. Alguém
tocou o meu ombro e me virei para ver
quem era. Benito estava com uma mão
na de Clara e a outra estendida para
mim.
- Alfonso, gostaria de te
parabenizar pela família linda. Vocês
são um exemplo de casal e um dia
espero ter algo parecido com o que
vocês têm.
Estendi a mão e apertei a sua. -
Obrigado. Eu tenho que concordar com
você. A minha família é linda.
Ele assentiu antes de perguntar: -
sem ressentimentos?
Eu respondi sem pestanejar. -
Claro. Amigo de minha esposa é amigo
meu. Seja sempre bem vindo à nossa
casa.
Ele abraçou Brisa, depositando um
beijo em sua testa e a felicitou.
Aproveitamos a nossa noite como se
fosse o nosso primeiro casamento.
Dançamos, bebemos e namoramos
muito. Pedi para que o DJ parasse de
tocar e peguei o microfone para me
pronunciar. Bati uma colher na taça e
pedi atenção.
- Obrigado a todos por terem vindo
compartilhar conosco essa data tão
importante. Hoje estamos celebrando
mais que um casamento. Hoje
celebramos o nosso amor. Eu espero que
um dia cada um de vocês encontre isso
ao lado de outra pessoa, e se já
encontraram, valorizem, assim o amor
durará por toda a vida. - Voltei minha
atenção à minha esposa. - Minha sereia,
você sabe que os nossos caminhos já
estavam cruzados antes mesmo de nos
conhecermos. Eu pertencia a você e
você pertencia a mim. Temos grandes
responsabilidades e por isso não
pudemos fazer muitas escolhas na vida,
mas gostaria que você soubesse que se
eu as pudesse fazer, a minha escolha
novamente seria você. Eu te amo.
Uma chuva de aplausos explodiu à
nossa volta e minha esposa correu em
direção aos meus braços. Lágrimas
caiam de seu rosto quando ela me olhou
fixamente e falou apenas para mim.
- E se eu pudesse escolher também,
a minha escolha seria sempre você. Eu
te amo. Para sempre. - Nos beijamos
apaixonadamente e parecia que não
havia mais tempo ou espaço. Tínhamos
sido destinados um ao outro duas vezes:
uma, por influência de nossas famílias e
a segunda, pela escolha dos nossos
corações. Éramos felizes e a impressão
que eu tinha era que tudo estava certo no
mundo.

FIM
Bônus
Um trecho de
“Destinada ao Prazer:
Meu Vício”
Prólogo

Ele

– Porra, Zeus, se ela quisesse, teria


se livrado daquele casamento. Ela não
queria se casar, estávamos indo bem e
de repente aquele cara chega e exige que
se cumpra o acordo. Ela devia ter
lutado. – Eu estava insatisfeito pelo fato
do meu relacionamento com Brisa ter
escorregado de minhas mãos.
Ainda não tínhamos nada concreto,
mas estávamos chegando lá. No alto dos
meus 29 anos, claro que já tive alguns
namoros e outros relacionamentos que
deram certo por um tempo, mas nunca
quis levar adiante. Era muito fácil eu me
saturar de uma mulher.
– Se quiser encher a cara, Ben,
então vamos fazer isso, mas não
trancado dentro de casa como um cão
abandonado. Vamos encher a cara na
balada. Tem uma casa noturna que abriu
recentemente chamada Tonight e todos
estão falando sobre ela. Parece que só
entram as melhores. Vamos lá, porra.
– Que merda é essa que está
acontecendo comigo? Sempre era eu
quem enjoava das garotas. Sempre era
eu quem terminava os relacionamentos
ou ditava qual era a hora de parar de
foder uma mulher e estou ferrado assim
por causa de uma que nem ao menos
levei pra cama.
– Você não a levou pra cama? –
Zeus perguntou em risos. – Então está
explicado. Você está se lamentando por
algo que não teve, cara. Porra, garota
esperta. Conseguiu te botar na coleira
sem ao menos te dar alguns orgasmos.
Devo parabenizá-la.
– Vá se foder! Eu não vou discutir
com você o tipo de relação que eu tinha
com Brisa, pois ela foi alguém que pela
primeira vez me fez pensar em ter mais.
Em compartilhar algo além de sexo.
– Realmente? Só pode estar
nascendo uma boceta em você. Só quero
ver o que os caras vão falar quando eu
contar essa história a eles. Você vai
virar motivo de piada.
– Abra a boca e eu quebro essa sua
cara de cantorzinho de banda boy band.
Ninguém precisa saber de porra
nenhuma da minha vida e eu tenho que
impor respeito pra que aqueles babacas
não saiam da linha.
Eu era produtor de uma banda de
pop rock e sempre viajava por todo o
Brasil e mais alguns países em turnê. Eu
tinha grandes contatos e o agendamento
de shows estava se tornando uma tarefa
fácil, uma vez que a banda estava
ganhando notoriedade.
Com 27 anos, Zeus era o vocalista
da banda No Return e um grande amigo.
Nós já compartilhamos algumas garotas
na cama e gostávamos muito. Nunca tive
pudores em relação ao sexo. A única
que me fez pensar na possibilidade de
rever meus conceitos foi Brisa e ainda
assim, se ela mostrasse interesse em
vivenciar outros tipos de relação sexual,
eu não a privaria. Contanto que eu fosse
o condutor.
– Eu sei das suas
responsabilidades perante a banda e
ninguém pode negar que você rala pra
caralho. Nós devemos o que somos a
você. Eu sei que sou gostosão, canto
bem e etc., mas não chegaríamos onde
estamos sem a sua forma de administrar
e os seus contatos.
Eu sei o quanto batalho e não sou
modesto quanto a elogios. Quero ter
reconhecimento por meu trabalho, pois
sei que o faço muito bem. Dizem que eu
sou o produtor da vez, meu nome tem
sido propagado pela mídia e
diariamente recebo propostas e pedidos
de bandas para que eu as produza, mas o
meu foco agora está voltado para a No
Return.
Por ser uma banda emergente, as
músicas estão tocando por todo lugar e o
número de fãs cresce a cada dia. Zeus
atualmente é um dos caras mais cotados
para participar de programas de
auditório e de entrevistas na TV.
A música “Nunca mais serei o
mesmo” está entre as top mais pedidas
nos meios de comunicação e fala de um
amor que tinha tudo para dar certo, mas
que todo o universo conspirou contra e o
destino tinha outros planos para ele.
– Porra, eu sou o cara mesmo, pode
me bajular. Eu arranco as cabeças que
forem necessárias por minha banda.
Vocês são a minha segunda família.
– Então, papai, sai dessa e vamos
comer umas vadias por aí. Estou com
medo de ficar aqui mais um minuto e
virar uma bichinha como você.
– Foda-se! Eu vou. Não adianta
chorar pelo leite derramado, não é? Vou
seguir seu conselho: pegar umas bocetas
e tirar Brisa do meu sistema.
– É assim que se fala, bro.
Mulheres, aguardem que os melhores
estão chegando.
Capítulo 1

Ele

Chegamos à Tonight e logo o


segurança nos reconheceu. Tentamos ser
o mais discreto possível, pois Zeus já
estava se tornando bastante conhecido e
não queríamos badalação demais.
Nossos planos eram de nos divertirmos
e não de sermos esmagados por garotas
histéricas.
Entramos na casa de show e me
tranquilizei ao perceber que o local era
bem seletivo. Havia muitos homens de
boa aparência e muitas mulheres
bonitas. A casa ficava situada em um
bairro nobre do Rio de Janeiro, cidade
onde estávamos nos estabelecendo.
Os integrantes da banda eram parte
de Salvador e parte do Rio, mas
consideramos melhor permanecer mais
tempo no Rio devido a necessidade de
estar mais perto das grandes emissoras
de rádio e TV. A moradia aqui nos
poupava de ficar mais tempo na ponte
aérea além do que já ficamos.
– É hoje, man, que você vai sair
dessa seca toda. Olhe ao redor e me
diga do que mais você precisa além
dessas beldades que estão aqui? Porra,
hoje vai ser difícil escolher. Tem pra
todos os gostos: loira, morena, mulata,
ruiva. Caralho, já vi que vou ter que
levar mais de uma pra me contentar.
– Talvez você tenha razão e isso
seja o que estou precisando. Bola pra
frente. Vou pegar uma bebida e depois
vou à caça. Chega de me torturar por
algo que não posso mudar.
– Vamos lá, também vou tomar
alguma coisa.
Entornei duas doses de uísque e
passei a avaliar o local. Toda a
decoração era de bom gosto e ao mesmo
tempo refinada e jovial. Tudo foi
pensado para demonstrar que era um
ambiente de alto nível, mas com espaço
suficiente para garantir a diversão.
A pista de dança era enorme e a
seleção musical muito boa. Bem, eu sou
suspeito, pois de música eu entendo. O
meu gosto é bastante eclético, mas sei
diferenciar entre música de qualidade e
as de mau gosto.
Continuei minha inspeção pelo
local, observando como casais
dançavam se esfregando uns nos outros e
como alguns flertavam. Definitivamente,
aquele era um lugar para buscar uma boa
foda. Eu sei que não sairei
desacompanhado daqui hoje.
Olhei para o meu lado e vi que
Zeus já estava com a sua língua enrolada
em uma ruiva peituda. Pelo modo que se
beijavam, parecia que iriam transar ali
mesmo. Eles pararam de se beijar e ela
me olhou com um convite nos olhos. Eu
já conhecia esse tipo de olhar e sabia
que ela queria foder com nós dois.
Eu até poderia pensar nessa
possibilidade, mas estava afim de tomar
todas primeiro e ver o que dava. Dei as
costas, me movimentando e ouvi meu
amigo falar baixinho: - não ligue não,
gatinha. Ele está com dor de corno.
Resolvi ignorar e fui para o meio
da multidão. Me encostei em várias
garotas que se mostraram mais que
dispostas a ficar comigo e flertei com
elas. Uma delas botou a mão em meu
pau sobre o jeans e me apertou. Minha
ereção ficou latente e sorri, lhe dando
esperanças.
Quem sabe poderia ser ela. Não
estava procurando o amor da minha
vida, mas sim uma foda, e quanto mais
fogosa a gatinha fosse, melhor. Decidi
me movimentar um pouco mais pela
pista de dança.
Fui ao bar pegar mais uma bebida e
ao retornar, fui abordado por uma
morena linda, de olhos cor de mel,
traços marcantes no rosto e uma boca
divina. Passei a imaginar aquela boca
sugando o meu pau e continuei meu
escrutínio pelo seu corpo. E que corpo.
Tinha lindas pernas e uma bunda
que sabia encher muito bem uma saia
justa. Viva às saias justas! Elas facilitam
muito o nosso trabalho.
– Oi, bonitão. Eu sou Amanda, mas
pode me chamar apenas de Manda ou
Mandinha. O que o traz aqui? Está
procurando por alguém ou já encontrou?
– Definitivamente já encontrei,
linda. Eu sou Benito, mas pode me
chamar de Ben. – Me aproximei para
cumprimentá-la e beijei o cantinho dos
seus lábios.
Ela me deu um pequeno sorriso e
disse: - acredito que terei um grande
prazer em te conhecer.
– Ah, sim. Com certeza o prazer
será todo nosso. – Eu falei, me
aproximando e a puxei para um beijo.
Nossas línguas se entrelaçaram e senti o
doce gosto de seus lábios.
Ela juntou seu corpo ao meu de
modo que nem vento passaria entre eles
e se esfregou em minha ereção. Porra! Já
fazia algumas semanas que eu não fodia,
mas parecia anos.
Meu pau ganhou vida própria
naquele momento e queria navegar em
águas desconhecidas urgentemente. Eu
continuei me torturando e a beijando,
parando apenas para depositar pequenos
beijos desde seu pescoço ao seu colo e
ela reagiu arqueando seu corpo.
Falei em seu ouvido: – eu quero te
foder.
Ela me lançou um olhar lascivo e
sussurrou:
– E eu quero ser fodida.
Eu precisava sair dali e encontrar
um lugar pra comer essa putinha o mais
rápido possível. Adoro mulher safada e
disponível. Essas estão dispostas a tudo
e mais um pouco, mas eu não sou um
amante egoísta. Sinto prazer em
satisfazê-las também.
– Vamos sair daqui, linda. –
Saímos de mãos dadas até o bar, pois eu
precisava falar com Zeus. Me aproximei
com Amanda e a ruiva estava sentada no
colo dele. Ela olhou de mim para a outra
garota e passou a língua em seus lábios.
Esta noite eu não estava afim de um
ménage. Talvez em uma outra noite.
– Porra, Ben, quem é essa gostosa?
Vamos fazer um quarteto, cara. – Meu
amigo me perguntou, sem discrição
alguma. Amanda sorriu e pelo visto, ela
toparia.
– Hoje ela é só minha, Zeus. Talvez
amanhã a gente marque alguma coisa não
é, linda?
Ela olhou de mim para Zeus e
respondeu: – Pode ser. – Mandinha
estava pra qualquer negócio.
Repentinamente, a música da nossa
banda “Nunca mais serei o mesmo”
começou a tocar e as pessoas
começaram a gritar e a levantar as mãos
para o alto para dançar no embalo da
melodia.
Zeus olhou pra mim e sorriu tão
orgulhoso quanto eu por saber que
estávamos colhendo o fruto da nossa
batalha, da nossa busca incessante pra
tentar conseguir espaço no cenário
musical. Meu amigo me empurrou de
volta para a pista de dança e eu não
resisti, embora meu pau quisesse ir por
outro caminho.
Puxei minha conquista para perto
de mim e estávamos dançando juntinhos
quando de repente meu amigo me
chamou para mostrar uma cena: um
rapaz estava tentando arrancar um beijo
de uma das mulheres mais bonitas que já
vi em minha vida. Ela não parecia estar
muito disposta e tentava empurrá-lo.
– Porra, Ben, que loira gostosa do
caralho é aquela? Pelo visto, ela não
está afim daquele cara, mas o papai
aqui, ela não vai resistir. Toma conta da
ruiva pra mim, que tenho que ir atrás
daquela deusa.
Olhei novamente pra lá e arregalei
os olhos em reconhecimento. Tive que
parar o meu amigo. – Fique aqui. Você
não vai a lugar nenhum. Confie em mim,
ela não vai querer você e pelo visto
ninguém. Tome conta de Amanda que eu
já volto.
Me aproximei e empurrei o babaca
que estava tentando beijá-la à força.
– Tire as mãos dela, filho da puta.
Essa garota está comigo.
Ele me olhou desconfiado e
resolveu prosseguir.
– Eu não vi ninguém com ela,
portanto não banque de dono do
galinheiro e venha me tirar da parada.
Eu quero essa loira gostosa e apesar de
ela estar resistindo, sei que também me
quer.
O cara estava visivelmente bêbado
e lhe dei um ultimato, tentando evitar
quebrar a sua cara.
– Saia de perto dela agora ou não
respondo por mim.
Ele saiu de perto...
Dela.
Mas veio pra cima de mim, para
me enfrentar. Eu juro que tentei manter
meu controle, mas quando senti seu
ataque, me defendi antes, mirando o seu
olho, dei-lhe um murro fazendo com que
cambaleasse até cair. Esse vai estar com
um olho roxo pela manhã.
Agarrei a mão de Clara e saí
puxando em direção à saída da casa.
Percebi que ela estava bêbada e que não
havia me reconhecido. Eu teria muitas
perguntas a lhe fazer.
– Meu herói! Que recompensa você
quer em troca, bonitão? Pra aquele lá eu
não daria, mas pra você eu dou sem
pensar duas vezes.
Ela gargalhou como se tivesse dito
a coisa mais engraçada do mundo e
repentinamente, começou a soluçar. Zeus
veio em minha direção com as duas
garotas e nem esperou para que eu
explicasse a situação.
– Que porra, Ben, eu não conhecia
esse seu lado fura-olho. Podia deixar,
que eu mesmo daria um jeito naquele
bichinha que estava tentando pegá-la à
força. – ele pegou na mão de Clara e
começou a puxar. – Vamos, minha deusa,
fui eu quem te vi primeiro. Vamos sair
daqui.
Eu o parei. – Caralho, Zeus, eu a
conheço. Ela é minha amiga, cara. Não
sei que diabos ela está fazendo aqui no
Rio nem nesse lugar, mas o fato é que
está e logo vou descobrir o porquê.
- Amiga? Porra! Você tem uma
amiga gostosa assim e ficou naquela
fossa? Eu só quero amigas assim se for
com benefícios. Sério mesmo, cara?
Amiga?
Passei as mãos pelo rosto e
expliquei a ele. – Ela é a melhor amiga
de Brisa. Nós três nos conhecemos em
um evento em Salvador, comecei um
rolo com Brisa e me tornei amigo de
Clara. É isso.
Zeus balançou a cabeça,
demonstrando que não compreendia e
Clara continuava soluçando. – Meninos,
não briguem. Eu só quero saber quem
vai me levar pra o hotel, se vai ser o
meu herói ou esse outro gostosão aí. Se
os dois quiserem me levar, estou
topando. – Ela falou e começou a
gargalhar novamente.
Voltei minha atenção pra Zeus. –
Cara, pode ficar com a ruiva e a morena.
Eu tenho que levá-la em segurança. Do
jeito que está, é capaz de acontecer
alguma coisa e me sentiria culpado se
acontecesse.
Zeus olhou para as duas garotas ao
seu lado e elas sorriram mais que
satisfeitas em compartilhá-lo.
Eu saí com Clara, rezando para que
ela ao menos soubesse me passar o
endereço do hotel ou eu teria que levá-la
para a minha casa.
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