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4825-Texto Do Artigo-18915-1-10-20211122

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Um livro inteiro, “Metade cara, metade máscara”:

a poeticidade da dor da retomada/reencontro em


Eliane Potiguara

Ketlen Lima de Souza


Universidade Federal do Acre
ketlima17@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5780-6214

Selmo Azevedo Apontes


Universidade Federal do Acre
selmoapontes@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-8985-0762

Durante muito tempo, tivemos grandes escritores que versaram sobre di-
versos assuntos, inclusive os assuntos indígenas. No entanto, por mais que se
estuda para conhecer algumas culturas, essa produção indigenista, nem sem-
pre consegue chegar ao âmago de um determinado conhecimento outro. Com
raríssimas exceções, os autores indigenistas tatearam/tateiam os segredos cul-
turais, avizinhando-se do fundamento de uma epistemologia indígena. Ago-
ra, viceja uma mudança de paradigma, pululam produções realizadas pelos
próprios representantes dos povos originários, os indígenas. Essa mudança de
perspectiva a partir de dentro faz com que a perspectiva da narrativa mude…
Deixaram de ser “fonte” de dados, de “objeto” de pesquisas, para serem su-
jeitos, coautores, e autores da exposição de seus conhecimentos milenares, de
seus saberes, de suas ciências, de suas lutas, sabores e dissabores. Isso repre-
senta um ganho de leituras refinadas, ou perspectivas diferenciadas no registro
a partir do outro, outrora excluído sistematicamente do poder discursivo. As-
sim, esses autores/narradores, donos das vozes em primeira mão cantam suas
raízes, suas dores, seu exílio, suas diásporas externas e internas, os conflitos
gerados pelos processos de tentativa de apagamentos epistêmicos originais,
epistemicídios.
Um livro pode ser apenas um texto pessoal. Mas no caso da produção
dos autores indígenas, um livro nunca versa somente sobre o “eu”, e sim sobre
o “eu coletivo = nós”, o eu-povo, eu-etnia, o grande “eu” que só se funda na
identidade do “nós”. Por isso, o livro é um testemunho dos caminhos enfren-
tados pelos povos indígenas no processo de tentativa de apagamento sistemati-
zado de seu processo identitário. E isso fez com que Eliane Potiguara reunisse,
em um grande tecido, os vários fios do tempo do povo Potiguara, no processo
físico e psicológico de enfrentamento desse grande projeto da mesmicidade
exploratória implantada no projeto do pensamento colonial.

RECEBIDO EM: 24/03/2021


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APROVADO EM: 14/07/2021
MUIRAQUITÃ: REVISTA DE LETRAS E HUMANIDADES | Jul-Dez | ISSN: 2525-5924, v. 9, n. 2, 2021. RESENHA

Metade Cara, Metade Máscara da autora Eliane Potiguara, publicado no Rio de Janei-
ro pela Grumin Edições (Grupo de Mulheres – Educação Indígena), ano de 2019, na 3º
(terceira) edição, com 164 páginas, tem um trabalho gráfico rico em detalhes étnicos; é
um conjunto de poesia, de luta e resistência, e denúncia da violência que povo Potiguara
viveu e vivencia. O livro não destaca apenas a trajetória deste povo em si, mas, destaca,
principalmente, como o papel dessas mulheres indígenas (principalmente da autora) é
importantíssimo na continuidade dos povos indígenas por meio da (re)vivência da ances-
tralidade.
O livro é dedicado à Marcha das Mulheres Indígenas ocorrida no ano de 2019,
em Brasília, e possui a apresentação de Ailton Krenak. Este grande intelectual indígena
evidencia a importância da produção literária de Metade Cara, Metade Máscara como um
marco na escrita feminina contemporânea indígena, assim como a relevância de Eliane
Potiguara como herdeira de antigas tradições de afirmação étnica dos povos originários,
com sua atuação em vários papéis para a resistência de seu povo.
O material também conta com o prefácio de Liane Schneider, professora de Letras/
Inglês (UFP) com foco em literaturas contemporâneas, que compara Rita Joe, mulher in-
dígena canadense da tribo Mi´kmaq com Eliane Potiguara, do Brasil. A professora relata
que, apesar de contextos diferentes, os lugares de fala se assemelham: as duas atuando
como vozes ativas dos povos nativos sobre as decisões que dizem respeito às suas pró-
prias vidas. E assim, através da voz poética, buscam ressignificar a história/narrativa não
contada, partindo da perspectiva destes povos originários.
Na sequência, o texto possui mais dois escritos: um, de Julie Dorrico; e o outro,
de Ana Paula da Silva, respectivamente. A primeira afirma que a identidade literária de
Eliane Potiguara é marcada por ancestralidade e resistência política, ao mesmo tempo
que narra a trajetória de vida pessoal e coletiva que representa, de um lado, diáspora,
exílio e escravização; do outro lado, resistência, redenção e esperanças indígenas. A se-
gunda destaca a mobilidade forçada das mulheres indígenas que sofrem dupla violência:
por serem mulheres e indígenas, representando a exclusão da exclusão.
A dinâmica do livro é composta de uma breve contextualização histórica. Na verda-
de, situa o leitor dentro da narrativa histórica não contada pelos invasores, ou traz relatos
da jornada pessoal/familiar da autora. E ainda, em certos capítulos, mostra o quê/como
o povo Potiguara se organizou, principalmente as mulheres, para se manterem vivas até
os dias de hoje, reafirmando suas tradições e ancestralidade. A autora faz uso de dois per-
sonagens ao longo do livro: um casal que não luta apenas pelo direito de estarem juntos,
mas pelo direito de todos os povos originários estarem juntos, vivendo com dignidade. E
dessa forma, ela vai evidenciando os fios, as tranças a partir das quais foram elaboradas
esse grande tecido cultural do nordeste indígena brasileiro.
O primeiro capítulo “Invasão às Terras Indígenas e a Migração: separação de Ju-
rupiranga e Cunhataí efeitos da colonização para a família e a mulher, racismo e into-
lerância” destaca toda violência sofrida pelos povos indígenas durante a colonização

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para o estabelecimento da “civilização” visando a expansão econômica do capitalismo


europeu com base na exploração e extermínio dos que estavam nestas terras. A conse-
quência disso: mortes, em sua maioria de homens, e fuga de mulheres com seus filhos
para locais distantes. No entanto, esse exílio, essa diáspora não assegura nenhum tipo de
garantia, pois não tinha como esconder o fato de serem índias, que de fato fica claro re-
petidas vezes, e é materializado em seu poema Brasil, “Que faço com a minha cara de índia?”
(POTIGUARA, 2019, p. 32), escrito com tintas de sangue, sistematizando os efeitos
do racismo, intolerância para com as mulheres indígenas. Sua identidade é seu próprio
corpo, sua face identitária, que, por mais longe que se vá, sempre será “identificada”,
“apontada”.
O capítulo seguinte, “Angústia e Desespero pela Perda das Terras e pela Ameaça à
Cultura e às Tradições: dor e revolta de Jurupiranga e Cunhatí”, retrata a perda da terra
que é a consequência principal da colonização e da neocolonização. Essa perda/expul-
são da terra, posteriormente, acarreta vários outros tipos de violências, destacando-se a
violência da experiência do racismo, por “saírem” de seus espaços sagrados e entrarem
em contato forçado com a sociedade dominante que tenta eliminar de várias formas a
ascendência e a descendência indígenas através da miscigenação. A terra é seu espaço
sagrado. Mas “a terra sagrada é onde o indígena está”; por isso, a luta contra o projeto
de apagamento proposto pela colonização e a tentativa de supressão identitária ocultado
na mesmicidade.
Outra preocupação gira em torno da cultura e tradições que constantemente são
ameaçadas. A mulher indígena é responsabilizada pelo cuidado e a transmissão cultural
às gerações futuras, assim como acontece em outras sociedades patriarcais. Um novo
caminho encontrado por esse povo, especificamente pelas mulheres, foi a organização fe-
minina para participação efetiva em conferências internacionais para denunciar todos os
tipos de violência que elas sofriam. Outra forma de ação foi a criação da Rede Grumin de
mulheres indígenas, que visa, igualmente, a denúncia da violação dos direitos indígenas
das mulheres e dos direitos à saúde reprodutiva.
No terceiro capítulo “Ainda a Insatisfação e a Consciência da Mulher Indígena:
revolta e desespero da Cunhataí”, a personagem principal ganha destaque e se torna um
elemento significativo para a resistência das mulheres indígenas, por seu papel ativo,
de mulher guerreira que se organiza para a vida. Simbolicamente, Cunhataí é retratada
como a própria natureza que guarda a memória das tradições e mantém laços fortes com
os antepassados, que luta contra todo o tipo de destruição do seu povo, da sua terra, e
que não deixa de agir para encontrar seu companheiro. “Porque não brinco com a esperança/
E vou vivendo a realidade/ Do passado e do presente/ Enquanto teu corpo ausente/ Chama pelo
futuro verdade! / Clama por uma vida crescente!” (POTIGUARA, 2019, p. 78)
Em “Influência dos Ancestrais na busca pela Preservação da Identidade: a impor-
tância da família, dos avós e dos antepassados indígenas”, ocorre uma reivindicação de
espaço pelos povos indígenas para a preservação e vivência de suas identidades buscando

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alicerçar o compromisso cultural e o pensamento indígena no conhecimento dos mais


velhos, consequentemente, fortalecendo laços familiares estendidos, e certos valores que
a sociedade dominante está perdendo ou se já possuíram um dia.
O feminino é tratado como uma força interna e transcendente que possui sua base
na herança ancestral da família ou de uma cultura, com o intuito de cumprir a missão
de passá-la adiante. O despertar da alma acontece por meio do conhecimento ancestral.
Esse movimento não deve acontecer somente com as mulheres, mas igualmente com
homens para que a parceria homem-mulher esteja seguindo os princípios dos direitos
humanos. A força ancestral é o que nos faz perceber os pontos negativos do processo em
que estamos envolvidos e, a partir desse reconhecimento, lutar contra.
A pajelança é a maior expressão de defesa dos direitos e da propriedade intelectual
indígenas. Como cita a autora, ser líder espiritual, em qualquer lugar, cultura ou tradi-
ção, significa estar conectado consigo mesmo, o que remete a nossas culturas e espiri-
tualidades tradicionais; o poder de fazer com que o cérebro e o espírito relembrem dos
ensinamentos ancestrais, elementos espirituais passados de pais/mães para filhos/filhas.
Aqueles que trazem consigo uma natureza iluminada terão uma educação voltada para
a espiritualidade, focando na trajetória espiritual individual tanto quanto coletiva, assim
permitindo expandir essa energia espiritual para toda a comunidade exercendo a cura. O
ato da cura é doação, e envolve um ciclo de morte e vida, de criação e de arte exclusiva-
mente indígena.
Pele de Foca é uma metáfora, é um poema, é a vida encontrado novo brilho: “A luz se
abriu e a minha pele de foca voltou a se umedecer” (POTIGUARA, 2019, p.94). Eliane Poti-
guara encontra algumas respostas em Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do
arquétipo da mulher selvagem, de Clarissa Pinkola Estés (1999). Ela cita uma problemati-
zação que vem da tentativa de minimização da cosmovisão indígena através do antago-
nismo “ego versus alma” da cultura branca dominante. Ao incentivar cada indígena a se
fortalecer individualmente e internamente, faz com que estes busquem, nas raízes ances-
trais, saídas coletivas para vida do povo indígena. Nesse processo de fortalecimento, o
feminino indígena ganha destaque e importância, pois encontra-se na mulher indígena a
sabedoria de estar mais aberta para o aprofundamento interior e da busca da ancestrali-
dade.
Perceber-se neste ponto do livro que a descoberta da escritora Clarissa Pinkola faz
emergir o processo de consciência individual de sua trajetória, da sua vida como prática
de luta que atravessou várias dores: pessoa de origem indígena, mulher, de família po-
bre, migrante dos territórios indígenas por ação violenta da neocolonização algodoeira,
vítima pela racismo ambiental e pelo racismo contra as mulheres que serviam de objeto
sexual para colonos, que, apesar de tudo, ao incorporar os ensinamentos das mulheres de
sua família, soube encontrar caminhos para o enfrentamento consciente.
Partindo do individual para o coletivo, outro fator citado de grande importância é a
organização indígena, o movimento indígena consciente. Existe uma diversidade de lu-

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tas específicas espalhadas pelo país que refletem processos históricos de reconhecimento
de cidadania como pessoa indígena pertencente a um povo. Essas lutas muitas vezes ba-
tem de frente com interesses político-econômicos dominante; ou, algumas organizações
praticam o paternalismo, tratam os povos indígenas sob tutela. No entanto, recorrendo
ao processo histórico, os povos indígenas são capazes de protagonizarem suas histórias e
serem livres de uma vez por todas do caráter tutelar.
A resistência é uma realidade que defende as identidades, as culturas e as etnias
para que elas tenham qualidade de vida e que seu modo de vida seja respeitado, pela di-
ferença e especificidade. A cosmovisão indígena ressalta a biodiversidade como centro da
vida, na qual o ser humano faz parte dela, pois tudo, de alguma forma, está conectado/
interconectado como fios. Tudo é sagrado, portanto, tudo merece respeito. O autorres-
peito e o respeito ao próximo é uma máxima; aqui vale lembrar que esse outro pode ter
forma humana, animal, vegetal, inanimada ou não. Devido à sensibilidade e ao processo
da maternidade, a mulher tem relevância no processo de transformação da sociedade,
pois é com ela que o homem aprende; é construindo uma nova relação equitativa, juntos,
podem conseguir essa transformação.
A discussão do quinto capítulo gira em torno da “Exaltação à Terra, à Cultura e à
Espiritualidade Indígenas: Tupã mostra a caminhada dos povos indígenas a Cunhataí e
a Jurupiranga, através da natureza, da cultura e dos tempos”. O território e a cultura são
as bases de sustentação de um povo. O território não é apenas um espaço físico, mas tam-
bém um espaço ético marcado por cultura e tradição, ancestralidade, vida e biodiversida-
de. Não é possível separar a cosmovisão indígena desse espaço, pois é ele que legitima a
existência dos demais. A exaltação da cultura é uma forma de resgate e preservação. É
uma autoafirmação na poesia e na vida, de acordo com a autora. Um exemplo da valo-
rização das etnias indígenas é a associação ao registro civil, a recuperação da força no-
minal do assento do nome: um nome como marca identitária, um emblema, um escudo.
No próximo “Combatividade e Resistência - resistência do casal separado em bus-
ca dos direitos humanos dos povos indígenas: a história de Jurupiranga, o guerreiro”,
capítulo dedicado ao personagem masculino que vivencia a separação de sua família e
a destruição/exploração do continente americano por invasores de lugares distintos do
planeta; daqueles que não morreram assassinados, doenças o fizeram morrer. A luta dele
(Jurupiranga) acontece simultaneamente em dois ambientes: o físico e o transcendental.
O último, encontrado no self selvagem, é o que dá suporte para lutas deste mundo ma-
terial.
Para encerrar a trajetória dos personagens no capítulo 7, “Vitória dos Povos: O reen-
contro com a identidade, o divino, o espírito, o amor – Jurupiranga ressurge e permanece
unido para sempre com Cunhataí – Representação do amor eterno e da preservação da
identidade indígena e das vivências do cotidiano”, um final de reencontros e esperança,
revelando o amor, em formas diversificadas, como elemento da união, apesar de toda a
experiência do massacre e da ausência daquilo que conheciam antes como mundo.

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Muitos povos indígenas, em processos diaspóricos, não voltaram para suas aldeias
(espaço físico/material), mas isso não quer dizer que não encontraram respostas em si
mesmo e em seus pares, pois a ancestralidade não pode ser negada. Ela existe. Isso tam-
bém não quer dizer que não lutaram por seus espaços, sejam eles de qualquer forma, pois
a luta faz parte do que é ser pessoa indígena. A mulher e o homem indígena podem jun-
tos construir uma sociedade mais justa, desde que não seja retirado o direito da mulher
de efetiva participação, sem o machismo e o patriarcado que visa, entre outras coisas, o
extermínio de relações equitativas. A mulher indígena é tão guerreira quanto o homem
indígena, e precisa ser reconhecida por isso, para a transformação da realidade na qual
muitos vivem, num inferno social.
Metade Cara, Metade Máscara é um bom começo para aqueles que não conhecem a
literatura indígena. O espaço contemporâneo abre possibilidades de expressão artística
de várias formas, assim como abre formas de acesso (mesmo que não estejam tão aber-
tas como gostaríamos que fosse) para aquelas elitizadas, canonizadas, consagradas pelo
tempo. Apesar de ser quase autobiográfico em alguns poemas, não deixa de ser coletivo
ao representar uma etnia brasileira, e, certamente, não deixa de representar muitas situa-
ções, vivências e lutas dos povos originários do país.
A máscara que a pessoa de origem indígena é levada a tomar para si muitas vezes
não é sua verdadeira cara. Existe o papel social a ser desempenhado por ela, mas não da
maneira que a sociedade capitalista, branca, patriarcal e hegemônica espera. Este papel
está muito mais voltado para lutar e resistir por seus direitos, do que simplesmente abrir
mão deles; pois, ao abrir mão de seus direitos inalienáveis, significa morte simbólica e
real. A cara, a face real, não fictícia, quase que evidencia a epidérmica identidade: ca-
belo, pele, rosto, evidenciam historicidades que não se apagam, e que revivem, de tempo
em tempo, memórias adormecidas nos corpos.
Ao ler a poesia e a vida dessas pessoas indígenas, cristaliza o processo grego; a
catarse envolve escritora e leitores em diversos momentos da dor no processo de cura in-
dividuais e coletivas que instigam transformações materiais, espirituais e psicológicas. O
destaque é o arquétipo mental da pessoa indígena em diáspora e em conflito, que reflete
toda dor que emerge e se faz presente na realidade vivida, mas que busca e encontra no
inconsciente coletivo indígena significados para a sua existência e resiliência. Eliane Poti-
guara apresenta, em Metade Cara, Metade Máscara, esse processo: uma literatura engajada,
literatura testemunho, literatura como ferramenta de luta, de enfrentamento do processo
catártico de retomada identitária que pulula no corpo, a face da identidade feminina in-
dígena.
REFERÊNCIAS
ESTÉS, C. P. Mulheres que Correm com os Lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Editora
Rocco, 1999.
POTIGUARA, E. Metade cara, metade máscara. 3ª ed. Rio de Janeiro: Grumin Edições, 2019.

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