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Etiologia Das Conjuntivites Felinas e Abordagem Ao Seu Diagnóstico
Etiologia Das Conjuntivites Felinas e Abordagem Ao Seu Diagnóstico
Etiologia Das Conjuntivites Felinas e Abordagem Ao Seu Diagnóstico
2014
LISBOA
UNIVERSIDADE DE LISBOA
2014
LISBOA
Ao meu avô Leonel.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Dr. Diogo Magno, por ter aceitado ser meu orientador e pela simpatia com que
me recebeu, por todos os conhecimentos transmitidos e por todo o apoio e disponibilidade
demonstrada.
À Professora Doutora Esmeralda Delgado, minha co-orientadora, pelas valiosas sugestões, pela
paciência, pela disponibilidade demonstrada e por todo o apoio e incentivo transmitidos ao longo
da elaboração deste trabalho.
Ao Dr. Jorge Cid, por me ter cedido a oportunidade de realizar o meu estágio no Hospital
Veterinário no Restelo. Agradeço a toda equipa médica e auxiliar que o constitui, por todos os
ensinamentos e pelo exemplo de excelência e dedicação nos cuidados prestados a todos os
animais.
Aos meus pais, que me permitiram chegar até aqui. Obrigado por me apoiaram, por acreditaram
em mim e confiarem nas minhas decisões. Ao meu irmão, pela amizade, serenidade e por todos
os momentos em que me encorajou a avançar. Aos meus avós, especialmente ao meu avô
Leonel, por saber o quanto era importante para ele presenciar este momento.
Às minhas colegas de estágio, Ana, Madalena, Rita, com quem partilhei as alegrias, as minhas
dificuldades e fragilidades e que sempre me ouviram e ajudaram. Obrigado pela amizade!
Aos colegas que me acompanharam durante estes anos de curso, especialmente à Sílvia e à
Inês, que me apoiaram nas piores fases do curso.
Às minhas amigas de longa data, Júlia, Mónica, Soraia e Susana, pela amizade e pelo apoio
incondicional.
À Dra. Ana Botas, que foi uma ajuda preciosa nesta fase, que me proporcionou serenidade e que
me ajudou a encontrar, a compreender e a aceitar o “porquê” e o “para quê”.
i
ii
ETIOLOGIA DAS CONJUNTIVITES FELINAS E ABORDAGEM AO SEU DIAGNÓSTICO
RESUMO
A conjuntivite é uma doença ocular frequente no gato. A maioria das conjuntivites são infecções
primárias causadas particularmente pelo herpesvírus felino-1 (HVF-1) e pela Chlamydophila felis
(C. felis). Outros microrganismos envolvidos incluem o Mycoplasma felis (M. felis) e o calicivírus
felino (CVF).
O objectivo deste estudo retrospectivo é contribuir para a caracterização das conjuntivites felinas
na população em estudo, estudando os principais agentes patogénicos da conjuntiva, o HVF-1, a
C. felis, o M. felis e o CVF. Foram analisados os parâmetros raça, género, idade, estado vacinal,
tipo de vida, rastreio de FIV e FeLV, sinais clínicos oculares e do tracto respiratório superior,
resultados dos testes de diagnóstico e tratamento prescrito.
A população em estudo consistiu em 54 gatos com conjuntivite que se apresentaram à consulta
de Oftalmologia num hospital veterinário de Lisboa entre 2010 e 2013.
Material e métodos: A colheita de amostras conjuntivais para realização de PCR real-time foi
efectuada com uma zaragatoa no fundo de saco conjuntival inferior. Foi utilizado o PCR real-time
para detecção de HVF-1 (n=31), de C. felis (n=21), de M. felis (n=7) e de CVF (n=7). A colheita de
amostras conjuntivais para realização de citologia conjuntival (n=28) foi realizada após anestesia
tópica ocular com oxibuprocaína, sendo obtidas com uma escova de citologia deslizada sobre a
conjuntiva palpebral inferior. As lâminas foram coradas com Giemsa.
Resultados: O HVF-1 foi detectado em 10/31 gatos (32,3%) e a C. felis em 3/21 (14,3%). O M.
felis e o CVF não foram detectados em nenhum gato afectado (0/7). Inclusões interpretadas como
inclusões de C. felis foram detectadas em todos os gatos positivos a C. felis por PCR e num
negativo. Não foram detectados corpos de inclusão de Mycoplasma spp. no exame citológico.
O diagnóstico etiológico é importante para a escolha da melhor abordagem terapêutica na
conjuntivite felina mas não é possível determinar a etiologia apenas com base nos sinais clínicos.
O PCR real-time é vantajoso e constitui uma boa abordagem para o diagnóstico etiológico. A
citologia conjuntival pareceu ser uma ferramenta de diagnóstico útil na infecção por C. felis. Na
impossibilidade de realização destes testes, a abordagem é baseada na história e sinais clínicos e
na resposta à terapêutica.
iii
iv
ETIOLOGY AND DIAGNOSTIC APPROACH OF FELINE CONJUNCTIVITIS
ABSTRACT
Conjunctivitis is a very common ocular disease in cats. Most cases of conjunctivitis are primary
infections associated with feline herpesvirus-1 (FHV-1) and Chlamydophila felis (C. felis). Other
microorganisms involved are Mycoplasma felis (M. felis) and feline calicivirus (CVF).
The aim of this retrospective study is to contribute to feline conjunctivitis characterization in the
studied population, investigating the major conjunctival pathogens, FHV-1, C. felis, M. felis and
FVC. The following parameters were analyzed: breed, sex, age, vaccination status, habitat, FIV
and FeLV status, ocular and upper respiratory tract clinical signs, results of diagnostic tests and
treatment.
The studied population included 54 cats with conjunctivitis that attended the Ophthalmology
Referral Consult at a veterinary hospital in Lisbon between 2010 and 2013.
Materials and methods: Conjunctival samples for real time PCR were collected by rolling a cotton
swab along the inferior conjunctival sac. PCR analysis for presence of FHV-1 (n=31), C. felis
(n=21), M. felis (n=7) and FCV (n=7) was performed. Conjunctival samples for conjunctival
cytology (n=28) were collected under topical anesthetic with oxybuprocaine chlorhydrate, by rolling
a cytobrush along the inferior palpebral conjunctiva. Conjunctival smears were stained with
Giemsa.
Results: FHV-1 was detected in 32,3% (10/31) and C. felis in 14,3% (3/21) of the cats. M. felis and
FCV were not detected in any affected cat. Inclusions interpreted as chlamydial inclusions were
detected in all cytologic smears from cats positive for C. felis by PCR and in one negative cat.
Mycoplasma spp. inclusion bodies were not detected on cytologic examination.
In feline conjunctivitis, an etiologic diagnosis is important for choosing therapeutical approach, but
it is not possible to determine the etiology based on clinical signs. The real-time PCR is useful in
the etiologic diagnosis. Conjunctival cytology seemed to be a good diagnostic tool for C. felis
infection. When it is not possible to perform these tests, we must choose therapeutics based on
history and clinical signs and response to therapy.
v
vi
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................................... i
RESUMO ........................................................................................................................................ iii
ABSTRACT..................................................................................................................................... v
ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................. vii
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................................... xi
ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................................................... xi
ÍNDICE DE GRÁFICOS ................................................................................................................. xi
LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................................................................... xii
I. BREVE DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O ESTÁGIO......... 1
II. ETIOLOGIA DAS CONJUNTIVITES FELINAS E ABORDAGEM AO SEU DIAGNÓSTICO ..... 3
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................... 3
1.1. Introdução......................................................................................................................... 3
1.2. Anatomofisiologia da Conjuntiva ....................................................................................... 4
1.3. Conjuntivite ....................................................................................................................... 5
1.3.1. Sinais clínicos de conjuntivite ................................................................................... 5
1.3.2. Diagnóstico ................................................................................................................ 6
1.3.2.1. Exame oftalmológico .......................................................................................... 7
1.3.2.1.1. Teste de Schirmer .......................................................................................... 7
1.3.2.1.2. Exame da conjuntiva ...................................................................................... 7
1.3.2.1.3. Corantes oculares .......................................................................................... 8
1.3.2.2. Diagnóstico laboratorial ...................................................................................... 8
1.3.2.2.1. Colheita de amostras ...................................................................................... 8
1.3.2.2.2. Citologia ......................................................................................................... 9
1.3.2.2.3. Cultura .......................................................................................................... 10
1.3.2.2.4. PCR .............................................................................................................. 11
1.3.2.2.5. Serologia ...................................................................................................... 11
1.3.3. Diagnóstico diferencial ............................................................................................. 11
1.4. Conjuntivites Infecciosas ................................................................................................ 12
1.4.1. Herpesvírus felino-1 ................................................................................................. 12
1.4.1.1. Etiologia ............................................................................................................ 12
1.4.1.2. Epidemiologia ................................................................................................... 13
1.4.1.3. Patogénese ...................................................................................................... 13
1.4.1.4. Sinais clínicos ................................................................................................... 15
1.4.1.5. Doenças associadas ao HVF-1......................................................................... 17
vii
1.4.1.6. Diagnóstico ....................................................................................................... 17
1.4.1.6.1. Detecção de antigénio .................................................................................. 18
1.4.1.6.2. Detecção de anticorpo .................................................................................. 19
1.4.1.7. Tratamento ....................................................................................................... 20
1.4.1.8. Prognóstico....................................................................................................... 24
1.4.1.9. Prevenção e controlo ........................................................................................ 24
1.4.1.10. Importância na Saúde Pública .......................................................................... 25
1.4.2. Chlamydophila felis .................................................................................................. 25
1.4.2.1. Etiologia ............................................................................................................ 25
1.4.2.2. Epidemiologia ................................................................................................... 26
1.4.2.3. Patogénese ...................................................................................................... 27
1.4.2.4. Sinais clínicos ................................................................................................... 28
1.4.2.5. Diagnóstico ....................................................................................................... 29
1.4.2.5.1. Detecção de antigénio .................................................................................. 29
1.4.2.5.2. Detecção de anticorpo .................................................................................. 30
1.4.2.6. Tratamento ....................................................................................................... 30
1.4.2.7. Prognóstico....................................................................................................... 32
1.4.2.8. Prevenção e controlo ........................................................................................ 32
1.4.2.9. Importância na Saúde Pública .......................................................................... 32
1.4.3. Mycoplasma spp. ..................................................................................................... 33
1.4.3.1. Etiologia ............................................................................................................ 33
1.4.3.2. Epidemiologia ................................................................................................... 33
1.4.3.3. Patogénese ...................................................................................................... 33
1.4.3.4. Sinais clínicos ................................................................................................... 35
1.4.3.5. Diagnóstico ....................................................................................................... 35
1.4.3.5.1. Detecção de antigénio...................................................................................... 35
1.4.3.6. Tratamento ....................................................................................................... 36
1.4.3.7. Prevenção e controlo ........................................................................................ 36
1.4.3.8. Importância na Saúde Pública .......................................................................... 37
1.4.4. Calicivírus felino....................................................................................................... 37
1.4.4.1. Etiologia ............................................................................................................ 37
1.4.4.2. Epidemiologia ................................................................................................... 37
1.4.4.3. Patogénese ...................................................................................................... 38
1.4.4.4. Sinais clínicos ................................................................................................... 39
1.4.4.5. Diagnóstico ....................................................................................................... 40
1.4.4.5.1. Detecção de antigénio .................................................................................. 40
viii
1.4.4.5.2. Detecção de anticorpo .................................................................................. 41
1.4.4.6. Tratamento ....................................................................................................... 41
1.4.4.7. Prevenção e controlo ........................................................................................ 42
1.4.5. Conjuntivite bacteriana ............................................................................................ 42
1.4.6. Conjuntivite parasitária ............................................................................................ 43
1.4.7. Conjuntivite fúngica ................................................................................................. 44
1.5. Conjuntivites Não Infecciosas ......................................................................................... 45
1.5.1. Queratoconjuntivite eosinofílica felina ...................................................................... 45
1.5.1.1. Etiopatogénese ................................................................................................. 45
1.5.1.2. Apresentação clínica ........................................................................................ 45
1.5.1.3. Diagnóstico ....................................................................................................... 46
1.5.1.4. Tratamento ....................................................................................................... 47
1.5.1.5. Prognóstico....................................................................................................... 47
1.5.2. Queratoconjuntivite seca ......................................................................................... 48
1.5.2.1. Etiologia ............................................................................................................ 48
1.5.2.2. Apresentação clínica ........................................................................................ 49
1.5.2.3. Diagnóstico ....................................................................................................... 49
1.5.2.4. Tratamento ....................................................................................................... 49
1.5.2.5. Prognóstico....................................................................................................... 50
1.5.3. Conjuntivite lipogranulomatosa ................................................................................ 50
1.5.4. Conjuntivite alérgica ................................................................................................ 51
2. OBJECTIVOS ........................................................................................................................ 53
3. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................................... 53
3.1. População em estudo ..................................................................................................... 53
3.2. Colheita de amostras ...................................................................................................... 54
3.3. Análise estatística ........................................................................................................... 54
4. RESULTADOS ...................................................................................................................... 55
4.1. Caracterização da população em estudo ........................................................................ 55
4.1.1. Raça ........................................................................................................................ 55
4.1.2. Género .................................................................................................................... 55
4.1.3. Idade ....................................................................................................................... 55
4.1.4. Vacinação ................................................................................................................ 56
4.1.5. Habitat ..................................................................................................................... 56
4.1.6. Infecção por FIV ou por FeLV .................................................................................. 56
4.2. Sinais clínicos ................................................................................................................. 56
4.2.1. Sinais oculares ........................................................................................................ 56
ix
4.2.2. Sinais do tracto respiratório superior........................................................................ 58
4.3. Métodos de diagnóstico laboratorial................................................................................ 58
4.3.1. Resultados do PCR real-time................................................................................... 58
4.3.2. Resultados da citologia conjuntival .......................................................................... 59
4.3.3. Comparação entre resultados da citologia conjuntival e PCR .................................. 60
4.4. Tratamento ..................................................................................................................... 60
4.5. Características associadas aos gatos PCR-positivos a HVF-1 (n=10) ............................ 60
4.6. Características associadas aos gatos PCR-positivos a Chlamydophila felis (n=3) .......... 62
5. DISCUSSÃO.......................................................................................................................... 63
5.1. Caracterização da população em estudo ........................................................................ 63
5.2. Métodos de diagnóstico laboratorial................................................................................ 65
5.2.1. PCR real-time .......................................................................................................... 65
5.2.2. HVF-1 ...................................................................................................................... 66
5.2.3. Chlamydophila felis .................................................................................................. 67
5.2.4. Mycoplasma felis ..................................................................................................... 68
5.2.5. Calicivírus felino....................................................................................................... 69
5.3. Citologia conjuntival ........................................................................................................ 69
5.4. Comparação entre resultados da citologia conjuntival e PCR real-time .......................... 71
5.5. Tratamento ..................................................................................................................... 71
5.6. Características associadas aos gatos PCR-positivos a HVF-1 (n=10) ............................ 72
5.7. Características associadas aos gatos PCR-positivos a C. felis (n=3).............................. 74
5.8. Limitações do estudo ...................................................................................................... 75
6. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 77
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 79
ANEXOS ....................................................................................................................................... 95
Anexo 1: Tabela com testes de PCR real-time realizados. ........................................................ 95
Anexo 1: (continuação) Tabela com testes de PCR real-time realizados. .................................. 96
Anexo 2: Tabelas de contigência das variáveis categóricas investigadas.................................. 97
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Anatomia da conjuntiva: conjuntiva palpebral (A), conjuntiva bulbar (B), fórnix dorsal (C),
fórnix ventral (D), superfície bulbar ou posterior da membrana nictitante (E) e superfície palpebral
ou anterior da membrana nictitante (F) (Adaptado de Gelatt & Brooks, 2011). ............................... 4
Figura 2. Gato com conjuntivite. Notar a presença de hiperémia conjuntival, quemose e
corrimento ocular (adaptado de Ketring & Glaze, 2012; utilizada com permissão). ......................... 5
Figura 3. Instrumentos utilizados para colheita de amostras citológicas e microbiológicas a partir
de tecidos da superfície ocular: (A) zaragatoa; (B) espátula de Kimura, extremidade romba de
lâmina de bisturi; escova de citologia (Adaptado de Maggs, 2008a; Featherstone & Heinrich,
2013). ............................................................................................................................................. 9
ÍNDICE DE TABELAS
ÍNDICE DE GRÁFICOS
xi
LISTA DE ABREVIATURAS
xii
TSA Teste de sensibilidade a antibióticos
VSD Doença virulenta sistémica (Virulent systemic disease)
VS-FCV Calicivírus felino virulento sistémico (Virulent systemic feline calicivirus)
WSAVA World Small Animal Veterinary Association
xiii
I. BREVE DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O
ESTÁGIO
1
radiológica juntamente com o médico veterinário. Na ecografia foi possível assistir e fazer a
identificação das diferentes estruturas e a avaliação da ecomorfologia, em conjunto com o
médico veterinário.
No serviço de cirurgia foi possível acompanhar e participar nas várias tarefas tais como:
realização dos exames pré-anestésicos, preparação pré-cirúrgica do animal (preparação e
administração da pré-medicação e anestesia, tricotomia, lavagem e desinfecção do animal),
monitorização anestésica, ajudante de cirurgião e acompanhamento pós-cirúrgico dos
pacientes, a nível do internamento.
No serviço de internamento foram realizadas as tarefas de monitorização dos animais
hospitalizados (temperatura, frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial, glicémia),
preparação e administração da medicação (oral, intramuscular, endovenosa e subcutânea),
alimentação, cuidados de higiene e bem-estar e passeios. Foram ainda realizadas outras
tarefas, tais como colocação de cateteres endovenosos, colheita de sangue para análise,
algaliação em canídeos e felídeos machos, realização de pensos, realização de
electrocardiograma (ECG) e auxílio na preparação das altas. Também foi realizada
discussão dos casos internados com o médico veterinário.
No turno nocturno coube ao estagiário auxiliar nos casos de emergência médica e cirúrgica
e assegurar, juntamente com o médico veterinário e o enfermeiro de serviço, as tarefas do
internamento dos animais hospitalizados.
No serviço de laboratório e análises internas foi permitido executar e interpretar exames
como hemograma, bioquímicas sanguíneas, esfregaços sanguíneos, pesquisa de
hemoparasitas, provas de coagulação, tipificação do grupo sanguíneo, citologias
(conjuntivais, de pele, de PAAF, de líquido cefalorraquidiano), testes rápidos de diagnóstico,
exame coprológico, urianálise, urocultura e teste de sensibilidade a antibióticos (TSA), e
ainda realizar a preparação e envio de amostras para análise laboratorial.
Foi ainda possível assistir a várias sessões de formação interna realizadas por médicos
veterinários residentes e sessões de formação sobre novos produtos veterinários.
2
II. ETIOLOGIA DAS CONJUNTIVITES FELINAS E ABORDAGEM AO SEU
DIAGNÓSTICO
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1. Introdução
A conjuntivite é provavelmente a doença ocular mais comum no gato doméstico. No entanto,
a sua causa exacta pode ser difícil de determinar, particularmente na fase crónica da
doença (Stiles, 2013). Existem diferentes etiologias de conjuntivite no gato (Hartmann,
Hawley, Werckenthin, Lappin & Hartmann, 2010). A maioria dos casos de conjuntivite felina
é de origem infecciosa (Waters & Barnett, 2004; Hendrix, 2009; Hillström et al., 2012;
Maggs, 2012a). Os microrganismos mais comuns são o herpesvírus felino-1 (HVF-1) e a
Chlamydophila felis (C. felis) (Gould, 2001; Rampazzo et al., 2003; Glaze, 2008; Hendrix,
2009). Estes são agentes patogénicos primários da conjuntiva (Maggs, 2010b), sendo
responsáveis pela grande maioria das conjuntivites no gato (Maggs, 2008b). O Mycoplasma
spp. é relatado como causa de conjuntivite felina (Maggs, 2008b; Stiles, 2012). No entanto,
este microrganismo também é isolado em gatos saudáveis (Hendrix, 2009). O calicivírus
felino (CVF) também tem sido descrito como agente etiológico de conjuntivite (Stiles, 2012),
embora seja uma causa pouco frequente e um agente patogénico conjuntival de menor
importância (Ramsey, 2000; Crispin, 2002a; Maggs, 2005). A conjuntivite bacteriana
primária é rara no gato (Waters & Barnett, 2004). Causas de conjuntivite não-infecciosa
incluem conjuntivite (queratoconjuntivite) eosinofílica, queratoconjuntivite seca, conjuntivite
lipogranulomatosa e conjuntivite alérgica (Glaze, 2008). Alterações anatómicas, trauma,
corpos estranhos ou neoplasias, entre outras causas, também podem dar origem a
conjuntivite (Hartmann et al., 2010; Hillström et al., 2012). Posteriormente serão descritas as
causas mais comuns e bem documentadas de conjuntivite no gato.
Um diagnóstico etiológico é fundamental para a instituição precoce e adequada do
tratamento e, no caso das conjuntivites de natureza infecciosa, para a implementação de
medidas de profilaxia e prevenção da transmissão da infecção (Waters & Barnett, 2004;
Hillström et al., 2012). Frequentemente não é possível determinar a etiologia apenas com
base nos sinais clínicos (Crispin, 2002a; Maggs, 2008b; Hillström et al., 2012), pois os sinais
clínicos de conjuntivite são frequentemente semelhantes nas diversas etiologias (Waters &
Barnett, 2004). O PCR é geralmente o método de diagnóstico de eleição para determinar a
etiologia da conjuntivite no gato (Hillström et al., 2012).
3
1.2. Anatomofisiologia da Conjuntiva
A conjuntiva, uma membrana mucosa móvel e elástica (Maggs, 2008b), desempenha um
papel importante na dinâmica lacrimal, na protecção imunológica do globo ocular, na
mobilidade ocular e na cicatrização da córnea (Hendrix, 2013). A conjuntiva reveste a
superfície interna das pálpebras (conjuntiva palpebral), começando na margem palpebral e
estende-se em profundidade até à órbita para dar origem ao fórnix ou saco conjuntival no
qual inverte o sentido, estendendo-se depois sobre a porção anterior do globo ocular até ao
limbo esclerocorneano (conjuntiva bulbar). A conjuntiva também reveste as superfícies
palpebral e bulbar da membrana nictitante (conjuntiva nictitante). A conjuntiva palpebral é
contínua com a epiderme da pálpebra, tal como a conjuntiva bulbar é contínua com o
epitélio da córnea (Hendrix, 2013).
Histologicamente, a conjuntiva é composta por epitélio não-queratinizado com células
caliciformes e substância própria subjacente. O epitélio da conjuntiva está coberto pela
película lacrimal précorneal, uma camada protectora e nutritiva essencial para a conjuntiva.
As células caliciformes são responsáveis pela produção da camada de mucina da película
lacrimal précorneal (Maggs, 2008b). A substância própria está dividida em camada
superficial e profunda. A camada superficial contém numerosos linfócitos que, quando
estimulados por antigénios, formam folículos activos (Maggs, 2008b). A camada profunda é
fibrosa e contém os vasos conjuntivais e nervos. A conjuntiva tem um fornecimento
sanguíneo extenso (Hendrix, 2013). Os vasos conjuntivais superficiais (finos, tortuosos,
móveis, muito ramificados) recobrem os vasos episclerais mais profundos (de maior
diâmetro, rectos, imóveis) (Maggs, 2008b).
Figura 1. Anatomia da conjuntiva: conjuntiva palpebral (A), conjuntiva bulbar (B), fórnix dorsal
(C), fórnix ventral (D), superfície bulbar ou posterior da membrana nictitante (E) e superfície
palpebral ou anterior da membrana nictitante (F) (Adaptado de Gelatt & Brooks, 2011).
4
1.3. Conjuntivite
A conjuntiva responde a uma agressão através de um número limitado de mecanismos
(Hendrix, 2013). A inflamação da conjuntiva caracteriza-se tipicamente por quemose (edema
conjuntival), hiperémia conjuntival e corrimento ocular (Maggs, 2008b).
Existem vários critérios de classificação da conjuntivite tais como a sua duração, natureza
do corrimento ocular, aparência e etiologia (Tabela 1). Destes, a classificação etiológica é a
mais importante e, sempre que possível, deve realizar-se um diagnóstico etiológico como
base para uma terapêutica racional (Maggs, 2008b).
5
A ténue ligação da conjuntiva aos tecidos subjacentes permite que o edema se desenvolva
rapidamente (Hendrix, 2013). A quemose pode ser causada por qualquer estímulo que
resulte em inflamação aguda (Maggs, 2008b). O vasto fornecimento sanguíneo, bem como
de tecido linfóide, permite o desenvolvimento agudo de hiperémia e duma resposta
inflamatória celular (Hendrix, 2013). A hiperémia ocorre geralmente como resultado da
libertação de mediadores inflamatórios. Ocasionalmente pode ocorrer devido à diminuição
ou obstrução da drenagem venosa (Maggs, 2008b). O corrimento ocular deve-se à estase
vascular, exsudação celular e à saída de fluido dos vasos sanguíneos envolvidos (Petersen-
Jones & Stanley, 2009). De acordo com o seu principal componente, o corrimento ocular
pode ser caracterizado como seroso (“epífora”), mucoso, purulento, sanguíneo, ou uma
combinação destes como, por exemplo, mucopurulento (Maggs, 2008a; Petersen-Jones &
Stanley, 2009). A epífora, ou aumento do lacrimejo, pode resultar de drenagem nasolacrimal
inadequada, do aumento de produção lacrimal em resposta a irritação ocular, ou uma
combinação de ambos (Petersen-Jones & Stanley, 2009). A presença de epífora por si só
raramente é sinal de doença primária da conjuntiva, a não ser que seja acompanhada por
outros sinais, tais como aumento da produção de muco, formação de folículos, hiperémia ou
blefarospasmo (Maggs, 2008b). Embora o muco seja um componente habitual da película
lacrimal précorneal, qualquer irritação da superfície ocular pode desencadear o aumento da
sua produção (Petersen-Jones & Stanley, 2009). A exsudação de células inflamatórias pode
resultar no aparecimento de corrimento ocular purulento (Martin, 2010b). Um corrimento
mucopurulento também está frequentemente associado a uma infecção bacteriana
(Petersen-Jones & Stanley, 2009; Martin, 2010b). O corrimento sanguinolento é encontrado
na conjuntivite ulcerativa ou traumática (Maggs, 2008b). O desconforto, dor ocular e prurido
manifestam-se habitualmente através de blefarospasmo e escoriações perioculares
(Ledbetter, 2013). Outros sinais clínicos que podem estar presentes incluem, por exemplo,
ulceração e hemorragias conjuntivais, que podem ocorrer em conjuntivites graves (Petersen-
Jones & Stanley, 2009).
À medida que a conjuntivite se torna crónica, as células caliciformes aumentam em
quantidade e há proliferação do epitélio (hipertrofia papilar). Os folículos linfóides
representam uma reacção inespecífica a uma estimulação antigénica crónica. Também se
podem formar membranas inflamatórias. As membranas verdadeiras consistem em fibrina e
detritos celulares e estão aderentes ao epitélio subjacente, enquanto as pseudomembranas
são constituídas por material semelhante, mas não estão aderentes e são facilmente
removidas (Maggs, 2008b).
1.3.2. Diagnóstico
Todos os animais devem realizar um exame físico e oftalmológico completo. A causa da
conjuntivite pode por vezes ser determinada unicamente com base na história e no exame
6
oftalmológico. Quando a causa não é evidente após o exame completo, a conjuntiva é
facilmente acessível para colheita de amostras para realização de testes de diagnóstico
laboratoriais (Hendrix, 2013).
7
precisa de lesões ao nível dos órgãos acessórios, córnea, câmara anterior e lente (Rosolen,
Multari, Woods & Jongh, 2009).
8
Figura 3. Instrumentos utilizados para colheita de amostras citológicas e microbiológicas a
partir de tecidos da superfície ocular: (A) zaragatoa; (B) espátula de Kimura, extremidade
romba de lâmina de bisturi; escova de citologia (Adaptado de Maggs, 2008a; Featherstone &
Heinrich, 2013).
1.3.2.2.2. Citologia
A citologia conjuntival é um método rápido e simples para a caracterização e, em alguns
casos, para o diagnóstico de doenças que envolvam a conjuntiva. Pode ser utilizada
isoladamente ou em combinação com a cultura para guiar a terapêutica inicial. A citologia
permite a identificação de microrganismos (ex. bactérias) e fornece informações como as
9
características morfológicas (ex. bastonetes/ cocos), de coloração (gram-positivas ou gram-
negativas), número e localização (intracelular/ extracelular) (Featherstone & Heinrich, 2013).
Os corantes tipo Romanowsky (ex. Diff-Quick, Wright-Giemsa) são utilizados para a
detecção de bactérias, hifas fúngicas e corpos de inclusão (de C. felis, de Mycoplasma spp.
ou virais), células inflamatórias e neoplásicas (Featherstone & Heinrich, 2013). O corante
Gram permite a caracterização do tipo de bactérias identificadas (Maggs, 2008b; Young,
2013). A visualização directa do agente patogénico pode sugerir a presença duma infecção
activa (Foley, 2010). O exame citológico de uma conjuntiva saudável revela células de
epitélio colunar e escamoso e células caliciformes (Featherstone & Heinrich, 2013). As
células queratinizadas são pouco comuns (Hendrix, 2013). Podem ocasionalmente estar
presentes bactérias mas os linfócitos, neutrófilos, monócitos e células plasmáticas
encontram-se raramente. Os mastócitos e os eosinófilos estão normalmente ausentes
(Featherstone & Heinrich, 2013). O exame citológico raramente conduz a um diagnóstico
específico (Slatter, 2001). No entanto, os neutrófilos são tipicamente observados na
conjuntivite aguda, particularmente na conjuntivite de origem viral ou bacteriana. Os
linfócitos e células plasmáticas são mais típicos de uma conjuntivite crónica e, muitas vezes,
imunomediada. Os eosinófilos são encontrados na conjuntivite alérgica ou imunomediada,
especialmente no gato (queratoconjuntivite eosinofílica) (Maggs, 2008b).
As lâminas também podem ser enviadas para testes de imunofluorescência (IFA). Esta
técnica detecta antigénio, através da utilização de anticorpos marcados com um corante
fluorescente, direccionados contra epitopos do microrganismo que são expressos na
superfície da célula do hospedeiro. A utilização prévia de fluoresceína no olho pode levar a
resultados falsos-positivos nos testes de IFA (Maggs, 2002b).
1.3.2.2.3. Cultura
A cultura não é habitualmente realizada, sendo geralmente realizada apenas após o
insucesso da terapêutica antibiótica inicial. A cultura geralmente detecta um microrganismo
presente na microbiota conjuntival. Existem muitas causas de conjuntivite que resultam no
sobrecrescimento da microbiota e, portanto, a causa da conjuntivite normalmente não deve
ser atribuída às bactérias isoladas (Maggs, 2008b). Outra desvantagem é a inerente demora
nos resultados (Featherstone & Heinrich, 2013). Por norma, o tratamento deve ser instituído
antes dos resultados estarem disponíveis (Champagne, 2001).
No gato, a utilização da cultura é mais frequente para o isolamento de C. felis, Mycoplasma
spp., HVF-1 ou CVF (Maggs, 2002b; Petersen-Jones & Stanley, 2009). A cultura documenta
uma infecção activa na data da colheita da amostra. É frequentemente pouco sensível, mas
muito específica (Foley, 2010). Com o aumento da disponibilidade de testes de PCR, a
utilização da cultura para fins de diagnóstico clínico de rotina tem vindo a decrescer, por ser
uma técnica morosa, tecnicamente exigente e dispendiosa (Sykes & Rankin, 2013a).
10
1.3.2.2.4. PCR
O PCR amplifica pequenas quantidades de DNA (ácido desoxirribonucleico) para níveis
detectáveis (Lappin, 2010). Três modificações comuns da técnica original incluem o PCR
nested, reverse transcriptase (RT)-PCR e PCR real-time (Gould & Papasouliotis, 2013). O
RT-PCR é um método de detecção de RNA (ácido ribonucleico) (Gould & Papasouliotis,
2013). Para isso, é utilizado o passo da transcriptase reversa para conversão das
sequências de RNA para DNA (Lappin, 2010). O PCR real-time é um método quantitativo,
que permite determinar a quantidade de DNA presente numa amostra (Gould &
Papasouliotis, 2013). Os resultados são geralmente mais rápidos do que os da cultura
(Lappin, 2010).
Ao contrário da cultura, o PCR não requer a presença de microrganismos viáveis (Maggs,
2002b). Assim, um resultado positivo não representa necessariamente a presença de uma
infecção activa (Veir & Lappin, 2010). Quando comparado com outros métodos de detecção,
foi demonstrado que o PCR possui uma maior sensibilidade e especificidade para a
detecção de HVF-1, C. felis e M. felis e CVF. Por conseguinte, é geralmente o método de
diagnóstico de eleição para estes agentes (Hillström et al., 2012). A sensibilidade e
especificidade do PCR dependem de vários factores, tais como os primers utilizados, as
condições de termociclagem e a técnica escolhida (convencional, nested ou PCR real-time)
(Sjödahl-Essén et al., 2008).
Devido à sensibilidade desta técnica, podem ocorrer resultados falsos-positivos se houver
contaminação da amostra durante a colheita ou no laboratório. Resultados falsos-negativos
podem ocorrer se não forem garantidas as condições apropriadas durante a colheita ou
transporte da amostra. As infecções agudas geralmente possuem maior quantidade de DNA
(ou RNA) nas amostras, pois nas infecções crónicas a resposta imunitária já atenuou o
microrganismo. Além disso, a padronização entre os laboratórios que oferecem técnicas de
PCR é reduzida e, deste modo, os resultados podem variar entre laboratórios (Lappin,
2010).
1.3.2.2.5. Serologia
Não é rotineiramente utilizada para diagnóstico dos agentes patogénicos da superfície
ocular (Rampazzo et al., 2003). A serologia dá evidência de que houve exposição ao
microrganismo, mas não está automaticamente correlacionada com doença clínica (Maggs,
2002b). O valor diagnóstico de alguns testes serológicos é limitado, pois estes não fazem a
distinção entre a vacinação, infecção activa ou exposição (Gould & Papasouliotis, 2013).
11
conjuntival ou de congestão episcleral (Hendrix, 2013). A distinção entre hiperémia
episcleral e hiperémia conjuntival é muito importante, pois permite a diferenciação entre
doenças mais profundas e intra-oculares, tais como glaucoma e uveíte, de doenças mais
superficiais da superfície ocular, tais como conjuntivite e queratite superficial. A congestão
episcleral e conjuntival podem coexistir (Maggs, 2008b).
A conjuntivite pode ser primária ou secundária, como manifestação de doenças intra- ou
extra-oculares ou sistémicas (Ledbetter, 2013). Frequentemente, os sinais clínicos de
conjuntivite não permitem fazer esta diferenciação ou o diagnóstico etiológico (Maggs,
2008b). A proximidade anatómica, o fornecimento sanguíneo comum e o extenso tecido
linfóide e vascular podem levar a que a conjuntiva seja secundariamente afectada por outras
doenças oculares e perioculares tais como queratite primária, doença orbitária, blefarite,
queratoconjuntivite seca, dacriocistite, uveíte e glaucoma (Maggs, 2008b; Ledbetter, 2013).
Agentes irritantes ou que causam fricção no olho também podem estar na origem de
conjuntivite (Maggs, 2008b). Doenças sistémicas podem manifestar-se inicialmente através
de conjuntivite (Ledbetter, 2013). Por conseguinte, a conjuntivite deve ser considerada como
um sinal clínico potencial de diversas doenças oculares ou sistémicas (Maggs, 2008b).
12
1.4.1.2. Epidemiologia
O HVF-1 é um vírus ubiquitário e extremamente bem conservado na população felina
(Maggs, 2008b). Estudos serológicos estimam que cerca de 97% dos gatos foram expostos
ao vírus, quer através da vacinação ou da transmissão entre gatos (Maggs et al., 1999b;
Maggs, 2008b). A prevalência é geralmente mais elevada em colónias de gatos e em
animais mais jovens (Gaskell et al., 2012).
O HVF-1 é excretado nas secreções oculares, nasais e orais. A transmissão do vírus a
gatos susceptíveis dá-se maioritariamente via contacto directo com um gato infectado, que
se encontre em fase de excreção viral activa (Gaskell et al., 2012). Os gatos com infecção
aguda e os gatos com infecção viral latente (estado de portador) que experienciam um
episódio de reactivação viral constituem as principais fontes de infecção (European Advisory
Board on Cat Diseases [ABCD], 2012b; Gaskell et al., 2012). Os primeiros excretem uma
maior quantidade de partículas virais nas suas secreções do que os últimos (Stiles, 2003;
Hartley, 2010a). A transmissão também pode ocorrer através de fómites ou de
macrogotículas, que podem ser dispersadas pelo espirro a distâncias de 1 a 2 metros
(Maggs, 2005; Gaskell et al., 2012). No entanto, os aerossóis não são considerados uma
fonte importante de transmissão (Gaskell et al., 2012). O meio ambiente não constitui
normalmente uma fonte de infecção a longo prazo (Gaskell et al., 2012). Não existe
evidência de que ocorra transmissão uterina e não se conhecem reservatórios não-felídeos
ou hospedeiros alternativos (Gaskell, Dawson, Radford & Thiry, 2007).
Após a exposição ao HVF-1, estima-se que pelo menos 80% dos gatos se tornem
portadores de infecção latente para o resto da vida. Destes, cerca de 45% assume
importância epidemiológica, devido à subsequente reactivação e excreção viral. Os
episódios de reactivação viral podem ocorrer espontaneamente, após situações de stress ou
após administração de corticosteróides (tópicos oculares ou sistémicos) (Maggs, 2008b;
Gould, 2011). Factores de stress incluem, por exemplo, doenças concomitantes,
realojamento, cirurgia, parto e lactação (Stiles, 2003). A reactivação viral pode também estar
associada à imunossupressão sistémica provocada pela infecção por FeLV (vírus da
leucemia felina) ou por FIV (vírus da imunodeficiência felina) (Andrew, 2001). A excreção
viral, que não ocorre imediatamente após o episódio de stress, começa cerca de uma
semana depois. Segue-se uma fase refractária de vários meses em que novo episódio de
reactivação viral é menos provável (Gaskell et al., 2012).
1.4.1.3. Patogénese
A infecção primária (primeira exposição) ocorre mais frequentemente em gatinhos e jovens
adultos, após o declínio dos anticorpos maternos. Os gatos vacinados continuam com algum
risco de infecção, pois as vacinas apenas induzem imunidade parcial (Gould, 2011). O HVF-
1 possui um tropismo elevado para o epitélio da conjuntiva, nasal e faringe (Gaskell et al.,
13
1979 citado por Hartley, 2010a) e em menor grau para o epitélio da córnea (Nasisse et al.,
1989 citado por Stiles, 2013).
O HVF-1 produz doença por dois mecanismos distintos, que requerem abordagens
terapêuticas diferentes (Maggs, 2005). O primeiro mecanismo é a infecção citolítica e resulta
da replicação viral activa (citólise). A citólise pode ocorrer durante a infecção primária ou
após a reactivação viral da infecção latente. O segundo mecanismo resulta de inflamação
imunomediada (Maggs, 2005).
Após entrar através da mucosa conjuntival, nasal ou oral, há um período inicial de rápida
replicação viral e citólise das células epiteliais nestes locais (Maggs, 2008b). A infecção
resulta em erosão epitelial, necrose epitelial multifocal, com infiltração neutrofílica,
exsudação fibrinosa e inflamação (Stiles, 2003; Gaskell et al., 2012).
A conjuntivite é tipicamente a lesão inicial desta fase, devido à replicação preferencial do
vírus no epitélio da conjuntiva. As úlceras dendríticas da córnea (erosões epiteliais lineares
ou ramificadas) resultam dos efeitos citopáticos directos do vírus no epitélio da córnea
(Andrew, 2008). A ulceração simultânea das superfícies conjuntival e corneana leva à
exposição da substância própria da conjuntiva e do estroma da córnea, permitindo a
formação de simbléfaro, isto é, adesões permanentes entre quaisquer das superfícies da
conjuntiva ou entre a conjuntiva e a córnea (Maggs, 2005). Se a infecção viral ocorrer antes
da abertura das pálpebras, pode ocorrer inflamação aguda da conjuntiva, com acumulação
de corrimento mucopurulento no saco conjuntival e distensão palpebral (ophthalmia
neonatorum) (Maggs, 2005; Stiles, 2012). A oftalmia neonatal pode ser causada pelo HVF-1
através da transmissão materna ou infecção após o nascimento (Stiles, 2013). Em casos
graves pode causar lesões graves na córnea e perfuração do globo ocular (Crispin, 2002a;
Gould, 2011).
Esta fase citolítica também causa rinite, através da erosão da mucosa nasal e exposição do
osso subjacente e cartilagem (Maggs, 2005). A replicação viral pode causar osteólise nos
turbinados nasais, que pode ser permanente (Gaskell et al., 2012). A consequente
deformação e remodelação destes tecidos após a doença aguda pode ser um factor
predisponente para o desenvolvimento de rinosinusite crónica (Maggs, 2005).
A excreção viral ocorre 24 horas após a infecção e geralmente persiste durante 1 a 3
semanas (Gaskell et al., 2012). Embora rara, a virémia e infecção sistémica podem verificar-
se particularmente em animais debilitados ou neonatos (Gaskell et al., 2012; Sykes, 2013b).
O envolvimento pulmonar primário também pode ocorrer. A infecção bacteriana secundária
pode agravar a patogenicidade do vírus, sendo possível o desenvolvimento de pneumonia
bacteriana ou sinusite. A resolução clínica das lesões dá-se geralmente em 2 a 3 semanas
(Gaskell et al., 2012).
Durante a infecção primária os viriões do HVF-1 invadem as terminações nervosas
sensoriais do nervo trigémeo e ascendem até ao gânglio trigémeo, onde estabelecem
14
latência (Gould, 2011). A latência representa uma fase quiescente da infecção viral, não-
replicativa, durante a qual não existe doença clínica (Stiles, 2003). O vírus não é detectável
durante esta fase (ABCD, 2012b). No entanto, durante esta fase ocorre transcrição de
pequenas cadeias de RNA denominadas LATs (Latency-associated transcripts) (Townsend,
Stiles, Guptill-Yoran & Krohne, 2004; Gould, 2011; Maes, 2012). A detecção de LATs é
considerada a forma mais precisa para determinar se o vírus estabelece latência num
tecido. Embora seja debatida a possibilidade de o HVF-1 estabelecer latência em outros
tecidos, como a córnea (Gaskell et al., 2007; Gould, 2011), apenas foram detectados LATs
no gânglio trigémeo (Townsend et al., 2004). A transcrição de proteínas virais mínima
durante a latência permite a evasão da resposta humoral e da resposta mediada por células
(Gould, 2011).
A reactivação viral pode ocorrer periodicamente, com replicação viral e migração do vírus ao
longo dos nervos sensoriais até aos tecidos epiteliais periféricos (Maggs, 2005; Gould,
2011). Esta resulta na re-excreção do vírus, que pode ser assintomática (excreção
subclínica) ou pode estar associada a sinais de doença clínica, que é designado por
recrudescência (Gould, 2011; Maes, 2012). A doença recrudescente pode resultar de citólise
ou do desenvolvimento de doença imunopatológica (Gould, 2011).
O principal exemplo de doença herpética imunopatológica é a queratite estromal, embora a
conjuntivite crónica imunopatológica também ocorra (Maggs, 2008b). A queratite estromal
consiste na infecção e inflamação do estroma corneano (Andrew, 2008). Durante períodos
de ulceração epitelial prolongada, resultante dos efeitos citopáticos directos do vírus, a
supressão da resposta imunitária local permite a entrada do vírus no estroma corneano
(Crispin, 2002b; Maggs, 2005; Andrew, 2008). A queratite estromal resultante deve-se a
uma resposta imunitária dirigida contra antigénios virais persistentes na córnea, o que dá
origem a uma lesão estromal que não resulta da replicação viral (Maggs, 2005; Andrew,
2008). Uma vez que a queratite estromal se desenvolve após uma ausência prolongada do
epitélio corneano, esta não parece ser uma manifestação de infecção primária (Andrew,
2008). Evidências recentes sugerem que um mecanismo imunomediado semelhante pode
estar envolvido na rinosinusite crónica (Johnson, Foley, De Cock, Clarke & Maggs, 2005;
Hartley, 2010a).
Convém salientar que apenas uma minoria dos gatos infectados sofrem episódios de
doença crónica ou recidivante ao longo da vida, presumivelmente devido ao
desenvolvimento de respostas imunitárias invulgarmente exuberantes ou suprimidas contra
o vírus (Maggs, 2005).
15
corrimento nasal seroso, conjuntivite e corrimento ocular seroso (Gaskell et al., 2012; Stiles,
2013). A inflamação neutrofílica é acentuada e origina um corrimento ocular e nasal
purulentos (Stiles, 2013). A conjuntivite é geralmente bilateral, com hiperémia conjuntival,
quemose, corrimento ocular seroso a mucopurulento e blefarospasmo (Gould, 2011; Stiles,
2012). Em casos graves pode haver áreas de ulceração conjuntival (Stiles, 2013).
A queratite ulcerativa provocada pelo HVF-1 é muito frequente (Stiles, 2012). Hartley
(2010a) sugere que, até prova em contrário, a etiologia de uma úlcera da córnea felina deve
ser atribuída ao HVF-1 (Stiles, 2012). As úlceras dendríticas são consideradas
patognomónicas da infecção por HVF-1. Estas progridem rapidamente para úlceras
geográficas (Hartley, 2010a; Gould, 2011), (Gould, 2011). As úlceras estão geralmente
limitadas ao epitélio corneano, excepto quando a infecção bacteriana secundária causa
progressão da úlcera e ocorre envolvimento do estroma corneano (Stiles, 2013), podendo
até originar um descemetocélio ou perfuração da córnea (Hartley, 2010a). As úlceras
dendríticas são lesões subtis (Crispin, 2002b; Gould, 2011) e a sua identificação requer a
utilização dos corantes oculares e observação com um meio de aumento (Hartley, 2010a;
Gould, 2011). Nesta fase inicial existe necrose e descamação do epitélio da córnea e da
conjuntiva, mas não há exposição do estroma subjacente, razão pela qual podem ser
difíceis de detectar com a fluoresceína (Maggs, 2008a) Assim, o corante Rosa Bengala pode
ser mais vantajoso (Maggs, 2005; Glaze, 2011). As úlceras geográficas são Rosa Bengala
negativas e fluoresceína positivas (Ramsey, 2010a).
O risco de formação de simbléfaro é elevado nos casos graves (Stiles, 2012). O simbléfaro
ocorre normalmente durante a infecção primária e é menos provável em gatos adultos com
conjuntivite herpética recidivante (Stiles, 2013). As possíveis complicações oculares
associadas ao simbléfaro incluem a oclusão dos pontos lacrimais, com consequente epífora
crónica, a oclusão dos ductos da glândula lacrimal, com consequente QCS, alterações da
mobilidade das pálpebras e da membrana nictitante e opacidade da córnea, que pode
causar perda de visão (Crispin, 2002a; Hartley, 2010a; Glaze, 2011).
Em casos graves pode ocorrer dispneia e tosse. A ulceração oral é pouco comum.
Ocasionalmente, podem ocorrer infecções generalizadas e pneumonia viral primária,
particularmente em animais jovens e debilitados (Gaskell et al., 2012). Os sinais
neurológicos têm sido descritos como sequelas raras da infecção (Gaskell et al., 2007). A
infecção concomitante com o FIV e com o FeLV podem levar ao agravamento da doença
(Gaskell et al., 2012). A doença primária é geralmente auto-limitante, ocorrendo recuperação
clínica em 10 a 20 dias (Maggs, 2008b), mas o curso clínico pode ser variável (Stiles, 2013).
No gato adulto, a presença de sinais oculares está mais provavelmente associada a um
episódio de reactivação viral da infecção latente (Stiles, 2003). A doença recrudescente
caracteriza-se por sinais clínicos semelhantes aos da infecção primária, já referidos
anteriormente, mas habitualmente menos graves (Gould, 2011). Pode afectar os mesmos
16
tecidos da doença primária (conjuntiva, córnea e tracto respiratório superior) e a queratite
pode ser ulcerativa ou não ulcerativa. Pode ser unilateral e é tipicamente menos grave,
embora frequentemente mais crónica e recidivante do que a infecção primária. Geralmente
não está associada a sinais clínicos de doença generalizada e de doença do tracto
respiratório superior (Maggs, 2008b). A cicatrização das úlceras da córnea é mais lenta do
que na infecção primária, pois podem ter uma evolução crónica (Hartley, 2010a).
A queratite estromal é uma manifestação clínica pouco comum da infecção por HVF-1, mas
que ameaça a visão de forma significativa (Andrew, 2008). É caracterizada por alterações
inflamatórias crónicas, que incluem infiltração do estroma por células inflamatórias
(particularmente linfócitos), edema corneano grave, neovascularização superficial ou
profunda, pigmentação, fibrose e formação de cicatrizes (Maggs, 2005; Ramsey, 2010b;
Gould, 2011). A ulceração epitelial pode estar presente ou ausente (Hartley, 2010a;
Ramsey, 2010b).
1.4.1.6. Diagnóstico
O diagnóstico de HVF-1 como causa de conjuntivite pode por vezes ser problemático,
sobretudo no gato adulto (Stiles, 2014). Devido à dificuldade de estabelecer um diagnóstico
definitivo em muitos gatos, o diagnóstico presuntivo pode ser baseado nos sinais clínicos
(Tabela 2), e resposta ao tratamento (Maggs, 2012a; Stiles, 2013). O diagnóstico
confirmatório da infecção por HVF-1 requer a detecção laboratorial do vírus (Gaskell et al.,
2007; Stiles, 2014).
A detecção viral nos gatos com infecção primária é relativamente fácil, uma vez que o HVF-
1 é excretado em grandes quantidades. Porém, nesta fase da infecção os sinais clínicos são
geralmente característicos e auto-limitantes, o que torna o diagnóstico laboratorial definitivo
menos necessário. Pelo contrário, a detecção viral é importante nos gatos com doença
crónica ou recidivante, devido à ambiguidade da apresentação clínica, especialmente se o
tratamento antiviral estiver a ser ponderado. No entanto, a reduzida quantidade de vírus
presente nesta fase torna a detecção mais difícil (Maggs, 2008b).
17
Tabela 2. Características clínicas da queratoconjuntivite infecciosa felina (Adaptado de Maggs,
2008b).
Chlamydophila
Sinais clínicos Herpesvírus felino-1 Calicivírus felino
felis
Anorexia/ Letargia +++ ± ++
Espirros +++ ++ +
Corrimento nasal +++ ++ ++
Ulceração oral – – +++
Ptialismo + ± +++
Corrimento ocular +++ ++ +
Conjuntivite +++ +++ –
(hiperémica) (quemótica)
Queratite +++ – –
18
clínico consistente com o HVF-1 deve permitir a realização do diagnóstico (Gaskell et al.,
2007; Stiles, 2014).
Alguns laboratórios disponibilizam comercialmente painéis de PCR para detecção
simultânea de outros agentes patogénicos implicados na doença ocular, que podem incluir a
pesquisa de HVF-1, CVF, C. felis e Mycoplasma spp. (Sykes, 2013b).
O isolamento viral é considerado o gold standard no diagnóstico do HVF-1 (Maggs, 2005).
(Gaskell et al., 2007). Quando existe infecção concomitante com o CVF, a presença do
último pode obscurecer a presença do HVF-1, pois produz efeitos citopáticos mais
rapidamente (Sykes, 2013b). Possui uma boa sensibilidade na infecção aguda, mas na
infecção crónica a sensibilidade pode ser muito baixa (Andrew, 2001; ABCD, 2012b). No
entanto, é menos sensível do que o PCR (Stiles et al., 1997; Burgesser et al., 1999), é um
teste moroso e existem dificuldades logísticas de transporte e processamento das amostras.
Por estas razões, não é rotineiramente utilizado no diagnóstico do HVF-1 (Maggs, 2005;
ABCD, 2012b; Sykes, 2013b).
A imunofluorescência pode ser utilizada para detecção do HVF-1 em amostras conjuntivais
ou corneanas (Gaskell et al., 2012). As principais limitações da IFA incluem a sua baixa
sensibilidade, particularmente em infecções crónicas, a possível interferência da
fluoresceína nos resultados e a natureza subjectiva da interpretação laboratorial (Maggs,
2005; ABCD, 2012b). Devido a estas limitações e à disponibilidade de técnicas de
diagnóstico alternativas, a IFA possui um valor diagnóstico limitado (Maggs, 2005).
Em qualquer gato com conjuntivite, é aconselhável a realização de uma citologia de
conjuntiva. Na conjuntivite por HVF-1, a citologia frequentemente revela células epiteliais e
neutrófilos (Stiles, 2013). As inclusões virais não são habitualmente visualizadas (Hillström
et al., 2012; Stiles, 2014).
19
1.4.1.7. Tratamento
A abordagem terapêutica é variável, dependendo da fase da infecção e da gravidade da
doença (Gould, 2011). Os pilares do tratamento incluem a terapêutica antiviral e o
tratamento de suporte e a antibioterapia. As terapêuticas adjuvantes incluem a lisina e o
interferão (IFN) (Maggs, 2008b; Gould, 2011).
Na infecção primária, a terapêutica de suporte constitui a base do tratamento na maioria dos
gatos (Maggs, 2005). Os principais objectivos terapêuticos são a prevenção e tratamento
das infecções bacterianas secundárias e a manutenção da nutrição e hidratação adequadas
(Maggs, 2005; Maggs, 2008b). A antibioterapia tópica está indicada quando há ulceração da
córnea para prevenir o subsequente envolvimento do estroma corneano (Maggs, 2005;
Stiles, 2012) e a antibioterapia sistémica está indicada na presença de doença respiratória
aguda (Gaskell et al., 2007; Hartley, 2010b; ABCD, 2012b). Dado o frequente envolvimento
concomitante da C. felis e do Mycoplasma spp., as tetraciclinas tópicas e sistémicas são
uma boa opção (Maggs, 2008b; Stiles, 2012). A limpeza da conjuntiva e pálpebras e narinas
é importante (Stiles, 2003; Maggs, 2008b). Na ausência de ulceração da córnea, pode
aplicar-se um agente lubrificante, que protege e hidrata a superfície ocular (Maggs, 2005;
Maggs, 2008b).
Como a resolução cirúrgica do simbléfaro grave é difícil, deve fazer-se o desbridamento
mecânico das adesões iniciais (Stiles, 2013). Este procedimento pode ser realizado sob
anestesia tópica e com uma zaragatoa estéril (Stiles, 2003). O tratamento da ophthalmia
neonatorum consiste na abertura prematura da fenda palpebral, após a qual é recomendada
a irrigação frequente da superfície ocular (Gould, 2011). Nestes casos também está indicada
a utilização de antibióticos tópicos e de lágrimas artificiais (Stiles, 2013).
Na doença primária e no gato adulto com conjuntivite e/ou queratite recrudescente, os
agentes antivirais devem ser considerados quando os sinais oculares são graves,
persistentes ou recidivantes, especialmente quando há envolvimento da córnea (com ou
sem ulceração) (Maggs, 2008b; Gould, 2011).
Na doença recrudescente, o principal objectivo do tratamento é limitar a gravidade,
frequência e duração dos episódios (Maggs, 2005). Os antibióticos tópicos ou sistémicos
geralmente não estão indicados nesta fase.
Os antivirais utilizados em oftalmologia veterinária são análogos de nucleósidos. Possuem
uma acção virostática, pois actuam na replicação viral. Exercem a sua acção através da
inibição competitiva da DNA polimerase e interrupção da síntese do DNA viral (Gould, 2011;
Hartley, 2010b; Clode, 2013). Os antivirais não foram desenvolvidos especificamente para o
HVF-1 e, por conseguinte, para o gato (Maggs, 2010a).
Os antivirais tendem a ser mais tóxicos do que os agentes antibacterianos, o que limita a
sua administração sistémica (Maggs, 2010a). Como exercem uma acção virostática
requerem uma aplicação tópica frequente para serem eficazes. Deste modo, é
20
recomendável a aplicação pelo menos 4 a 6 vezes por dia, especialmente na fase inicial da
doença (Maggs, 2005; Maggs, 2008b), durante 21 dias (Stiles, 2003; Gould, 2011). O
tratamento tópico deve ser continuado durante pelo menos 1 semana após a resolução das
lesões oculares (Maggs, 2005; Stiles, 2013). Os antivirais tópicos podem causar irritação
ocular em alguns gatos (Stiles, 2013).
A eficácia in vitro de vários fármacos antivirais contra o HVF-1 foi avaliada e estes
demonstraram ter uma potência variável: trifluridina (trifluorotimidina)>> idoxuridina
ganciclovir > vidarabina cidofovir penciclovir >> aciclovir (Nasisse et al., 1989 citado por
Maggs, 2008b; Maggs & Clarke, 2004). Em Portugal, os produtos antivirais oftálmicos estão
actualmente limitados ao ganciclovir e ao aciclovir e os antivirais sistémicos ao aciclovir e ao
valaciclovir (um pro-fármaco do aciclovir) (Infarmed, 2014). Estudos in vitro indicam que o
ganciclovir possui uma boa eficácia contra o HVF-1.O aciclovir é pouco eficaz in vitro contra
o HVF-1, no entanto, parece ser eficaz no tratamento da queratoconjuntivite se a aplicação
tópica for frequente (5 vezes por dia) (Gould, 2011; Maggs, 2010a). O aciclovir e o
valaciclovir não devem ser utilizados no gato porque são potencialmente tóxicos quando
administrados por via oral, estando associados a supressão da medula óssea (Hartley,
2010b; Maggs, 2010a; Gould, 2011).
Para além dos antibióticos e antivirais tópicos já referidos, o desbridamento do epitélio
pouco aderente às margens da úlcera superficial com um cotonete, sob anestesia tópica
pode ser útil (Maggs, 2008c; Hartley, 2010b; Maggs, 2013b). A queratotomia em grelha está
contra-indicada no gato (Hartley, 2010b; Maggs, 2013b), pois pode predispor ao
desenvolvimento de sequestro de córnea (LaCroix, van der Woerdt & Olivero, 2001). O
desbridamento de úlceras estromais não deve ser realizado (Hartley, 2010b).
A decisão de utilizar agentes anti-inflamatórios tópicos em gatos com doença ocular
associada ao HVF-1 deve ser ponderada e criteriosa (Nasisse et al., 1991 citado por Spiess,
Sapienza & Mayordomo, 2009; Stiles, 2013). Estes fármacos podem ser úteis em alguns
casos devido à inflamação que o vírus provoca, particularmente em gatos com conjuntivite
crónica ou com queratite estromal, nos quais a terapêutica antiviral pode não ser suficiente
(Stiles, 2003). Na queratite estromal, possivelmente resultante de um mecanismo
imunomediado a terapêutica anti-inflamatória pode ser indicada, geralmente em conjunto
com um antiviral (Maggs, 2005).
Os corticosteróides tópicos ou sistémicos estão geralmente contra-indicados em gatos
infectados ou com suspeita de infecção por HVF-1 (Andrew, 2008; Maggs, 2008b; Glaze,
2011; Stiles, 2013). Os efeitos prejudiciais dos corticosteróides em gatos com infecção por
HVF-1 são conhecidos e incluem imunossupressão local, inibição da epitelialização da
córnea e aumento da actividade das proteases e das colagenases (Andrew, 2008;
Hollingsworth, 2009). Podem, assim, agravar a doença ocular (Stiles, 2013), podendo
causar úlceras da córnea mais profundas e persistentes, edema e vascularização da córnea
21
e formação de sequestro de córnea. Adicionalmente prolongam o período de excreção viral
e induzem a reactivação viral (Maggs, 2005). Na tentativa de minimizar estes riscos, há
autores que sugerem a utilização de corticosteróides tópicos em combinação com antivirais,
mas não existe evidência da eficácia desta abordagem terapêutica (Gould, 2011). Stiles
(2013) afirma que, mesmo em combinação com antivirais, os corticosteróides devem sem
evitados.
A utilização de anti-inflamatórios não esteróides e de ciclosporina tópica, em combinação
com a terapêutica antiviral, também tem sido defendida (Stiles, 2013). No entanto, na
presença de ulceração ou de outro sinal de infecção lítica activa, os fármacos anti-
inflamatórios de qualquer tipo não são recomendados, pois podem potenciar a persistência
de antigénio e promover a sua entrada no estroma corneano (Maggs, 2005). Stiles (2013)
afirma que, na sua abordagem clínica, inicialmente aplica a terapêutica antiviral sem o
recurso a anti-inflamatórios e avalia a resposta ao tratamento dentro de 2 a 3 semanas. Na
reavaliação, se a inflamação persistir e for marcada, adiciona um anti-inflamatório não
esteróide (AINE) tópico, como diclofenac 0,1%, ou ciclosporina 0,2% tópica ao regime de
tratamento antiviral (Stiles, 2013).
Estudos experimentais sobre os efeitos dos AINEs tópicos no tratamento da queratite
estromal em espécies não-felinas têm produzido resultados contraditórios. Estes estudos
descrevem melhoria clínica, com ou sem utilização de antivirais, aumento da gravidade da
doença herpética, ou nem ocorre melhoria nem agravamento clínico (Glaze, 2011; Gould,
2011; Stiles, 2013).
Embora seja referida por alguns autores, a utilização de ciclosporina tópica em gatos
infectados com HVF-1 também é controversa (Maggs, 2005; Andrew, 2008; Spiess et al.,
2009; Gould, 2011).
A sua eficácia no tratamento da queratite estromal felina ainda não foi avaliada (Hartley,
2010b), no entanto, a sua utilização mostrou ser eficaz na resolução clínica da queratite
estromal causada pelo herpesvírus simplex-1 (HVS-1) em humanos (Rao, 2006;
Heiligenhaus et al., 1999 citado por Stiles, 2013).
Os interferões têm sido utilizados nos gatos com doença ocular associada ao HVF-1, mas
os estudos clínicos que comprovam a sua eficácia são escassos (Stiles, 2013). Os
interferões são citoquinas espécie-específicas com propriedades antivirais, antiproliferativas
e imunomoduladoras (Katze, He & Gale, 2002; Hartley, 2010b). Os IFNs de tipo I são
produzidos por células infectadas por vírus e têm actividade antiviral não-específica em
células adjacentes não-infectadas (Doménech et al., 2011). Actualmente são utilizados dois
IFNs na prática clínica: o interferão-alfa recombinante humano (rHuIFN-α) e o interferão-
ómega recombinante felino (rFeIFN-ω) (Alcalá, Gómez, Duato & Corrales, 2006). O rHuINF-
α, não sendo espécie-específico, pode ter uma actividade in vivo menor nas células felinas.
Além disso, a administração parentérica pode levar ao desenvolvimento de anticorpos
22
neutralizantes e consequente perda de eficácia após 3 a 7 semanas e pode provocar efeitos
adversos (Doménech et al., 2011).
Apesar de os IFNs desempenharem um papel fisiológico importante no controlo de
infecções virais, os estudos realizados têm produzindo resultados contraditórios (Maggs,
2012b).O rHuIFN-α e o rFeIFN-ω inibem a replicação in vitro do HVF-1 (Hartmann, 2012;
Sykes & Papich, 2013b). Num estudo, o efeito antiviral in vitro do rFeIFN-ω foi superior ao
do rHuIFN-α (Sieback et al., 2006). Haid et al. (2007) investigaram os efeitos do tratamento
tópico e oral com rFeIFN-ω previamente à infecção experimental com o HVF-1 e os
resultados não demonstraram efeitos benéficos, quer clinicamente quer em termos da
excreção viral. Slack et al. (2013) demonstrou que a administração tópica ocular de doses
elevadas de rHuIFN-α e de rFeIFN-ω em gatos com queratoconjuntivite, resultante de
infecção viral natural, não melhorou a doença clínica ou a excreção viral. São necessários
mais estudos clínicos para avaliar a eficácia dos IFNs no tratamento da doença herpética
(Gould, 2011; Sykes, 2013b).
Na prática clínica, os IFNs são comummente usados topicamente nos casos de
queratoconjuntivite (Hartmann, 2012; Sykes & Papich, 2013b). A administração tópica é
preferível à via sistémica pois é atingido um efeito antiviral directamente no local da
aplicação. No entanto, é necessária a aplicação frequente (Hartmann, 2012). É
recomendada a administração em combinação com fármacos antivirais (análogos de
nucleósidos) (Sieback et al., 2006; Hartmann, 2012). Em gatos com manifestações oculares
de infecção por HVF-1 tem sido recomendado o uso tópico de IFN-α ou IFN-ω a cada (q) 4 a
6 horas até resolução clínica (Hartmann, 2012; Gaskell et al., 2012; Stiles, 2012).
Sabe-se que a administração da lisina oral em humanos infectados com HVS-1 reduz a
gravidade, a frequência e o tempo de recuperação (Griffith et al., 1978 citado por Maggs,
2005). O aminoácido L-lisina reduz a replicação in vitro do HVF-1. O mecanismo antiviral é
desconhecido, mas pensa-se que se deve ao antagonismo da arginina, um aminoácido
essencial para a replicação viral (Maggs, Collins, Thorne & Nasisse, 2000; Hartley, 2010b;
Maggs, 2010a; Clode, 2013). Os dados obtidos nos estudos sobre a segurança e eficácia da
lisina sugerem que a administração oral de lisina é segura, reduz os episódios de excreção
viral em gatos com infecção latente e reduz a gravidade da conjuntivite em gatos com
infecção primária (Stiles, Townsend, Rogers & Krohne, 2002; Maggs, Nasisse & Kass, 2003;
Fascetti, Maggs, Kanchuk, Clarke & Rogers, 2004; Maggs, 2010a). No entanto, existe
evidência de que a administração de lisina não é eficaz em grupos de gatos, como abrigos,
provavelmente devido ao stress provocado pela administração (Maggs et al., 2007; Rees &
Lubinski, 2008; Drazenovich et al., 2009; Maggs, 2010a). A recomendação actual é a
administração de 500 mg de lisina por via oral, na forma de bólus (não como suplemento
alimentar), duas vezes por dia (Maggs, 2010a) durante a doença aguda e como medida
profiláctica a longo prazo nos gatos com sinais crónicos recidivantes (Maggs, 2005), quando
23
necessário e até resolução dos sinais clínicos (Stiles, 2003; Greene & Calpin, 2012). Nestes
casos, Nos gatinhos, a dose recomendada é de 250 mg duas vezes por dia (Stiles, 2013).
Têm sido investigadas outras terapêuticas adjuvantes, como a lactoferrina. A lactoferrina é
uma glicoproteína produzida pelas células epiteliais das mucosas de muitos mamíferos que
possui propriedades antivirais, entre outras (Maggs, 2005). A lactoferrina bovina demonstrou
inibir a replicação in vitro do HVF-1, possivelmente através da inibição da adsorção e/ou
entrada do vírus na célula (Beaumont, Maggs & Clarke, 2003).
1.4.1.8. Prognóstico
O prognóstico para a resolução da doença ocular causada pelo HVF-1 é geralmente bom,
com a terapêutica e a duração de tratamento adequadas (Stiles, 2014). A doença aguda,
geralmente auto-limitante, e o estabelecimento de latência neuronal para o resto da vida
são, na maioria dos gatos, as únicas sequelas expectáveis da infecção. Uma minoria dos
gatos pode sofrer episódios de doença crónica ou recidivante ao longo da vida,
presumivelmente devido ao desenvolvimento de respostas imunitárias invulgarmente
exuberantes ou suprimidas (Maggs, 2005).
1.4.1.9. Prevenção e controlo
A prevenção e o controlo da infecção por HVF-1 em gatos domésticos que vivam em
pequenas populações passam essencialmente pela vacinação. Em grupos maiores, em que
a prevalência e excreção viral se supõe superior, é necessária uma abordagem combinada
entre a vacinação e medidas para minimizar ou prevenir a transmissão do vírus (Gaskell et
al., 2007; Radford, Coyne, Dawson, Porter & Gaskell, 2007).
Uma vez que a infecção por HVF-1 é muito prevalente, é facilmente transmissível e pode
ocasionalmente provocar doença grave e, em alguns casos, sinais clínicos crónicos
(Richards et al., 2006), a vacinação contra o HVF-1 é recomendada para todos os gatos
(Day, Horzinek & Schultz, 2010; ABCD, 2012b; Scherk et al., 2013).
Actualmente existem vacinas para o HVF-1 polivalentes, associadas às vacinas para o CVF
e para outros antigénios vacinais (Richards et al., 2006; ABCD, 2012b). Estão disponíveis
comercialmente dois tipos de vacinas: vacinas vivas atenuadas e vacinas inactivadas, de
administração parentérica. As vacinas intranasais, embora ainda disponíveis nos EUA, já
não estão disponíveis na Europa (ABCD, 2012b). Estas vacinas não proporcionam uma
protecção completa; induzem protecção contra a doença clínica, reduzindo a gravidade dos
sinais clínicos, e reduzem a excreção viral, mas não previnem a infecção ou a latência viral
(Richards et al., 2006; Gaskell et al., 2007; ABCD, 2012b). Deste modo, os gatos vacinados
continuam a desempenhar um papel importante na população como reservatório do vírus
(Gaskell et al., 2012).
Para a vacinação de rotina, qualquer tipo de vacina é apropriado (Gaskell et al., 2012). As
vacinas vivas atenuadas parentéricas são seguras, embora ocasionalmente possam ser
24
observados sinais clínicos transitórios após a sua administração. Na maioria dos casos não
é possível esclarecer qual das componentes da vacina (HVF-1 ou CVF) é responsável. Este
tipo de vacina mantém alguma capacidade patogénica se ocorrer exposição oronasal
acidental à vacina (Gaskell et al., 2007). As vacinas inactivadas geralmente possuem
adjuvante, o que pode causar reacções locais ou sistémicas. Raramente, podem
desenvolver-se sarcomas associados à vacinação no local da injecção, particularmente
quando são utilizados adjuvantes à base de alumínio (Gaskell et al., 2012). A utilização de
vacinas inactivadas é geralmente escolhida em fêmeas gestantes e em gatos infectados
com FIV ou FeLV (Richards et al., 2006).
Os anticorpos maternos geralmente persistem até às 6 a 8 semanas de idade (Greene &
Levy, 2012). A primovacinação consiste na administração de duas doses, às 8 a 9 semanas
de idade, com a segunda dose 3 a 4 semanas depois, às 12 semanas de idade (Gaskell,
Dawson & Radford, 2010; ABCD, 2012b). No entanto, as directrizes de vacinação da AAFP
(American Association of Feline Practitioners) e da WSAVA (World Small Animal Veterinary
Association) recomendam a primeira dose às 6 semanas de idade, repetida a cada 3 a 4
semanas até às 16 semanas de idade. A primeira revacinação deve ser realizada 1 ano
após a última dose da primovacinação. Depois disso, a AAFP e a WSAVA recomendam a
revacinação a cada 3 anos, excepto nos casos em que o animal se encontre numa situação
de elevado risco de exposição. Nesta situação, pode ser considerado um reforço vacinal
adicional (Gaskell et al., 2010; Day et al., 2010; Scherk et al., 2013). Nas directrizes da
ABCD é recomendada a revacinação anual, excepto nos gatos em situações de risco
reduzido, por exemplo, gatos sem acesso ao exterior que não tenham contacto com outros
gatos (ABCD, 2012b).
25
O ciclo de desenvolvimento da C. felis é único, envolvendo duas formas morfológicas da
bactéria: o corpo elementar (CE) – extracelular, infeccioso e metabolicamente inactivo - e o
corpo reticulado (CR) – intracelular, não-infeccioso e metabolicamente activo. A reprodução
da C. felis inicia-se com a endocitose dos CEs pelas células epiteliais do hospedeiro. No
interior de inclusões intracitoplasmáticas, os CEs reorganizam-se e formam os CRs. Estes
multiplicam-se por divisão binária e a inclusão aumenta suficientemente de tamanho de
modo a ser observada ao microscópio. Em seguida, os CRs reorganizam-se em CEs, que
são libertados da célula quando ocorre lise, e consequentemente podem infectar outras
células do hospedeiro. Este ciclo dura aproximadamente 2 dias (Willey et al., 2009a; Sykes
& Greene, 2012). O CE está adaptado para uma sobrevivência prolongada no ambiente
extracelular, proporcionada pela sua estrutura rígida que lhe confere resistência a factores
físicos e químicos (Longbottom & Coulter, 2003). No entanto, apenas sobrevivem durante
alguns dias à temperatura ambiente e são facilmente inactivados pela maioria dos
desinfectantes (Sykes, 2013a).
Com base em técnicas de DNA fingerprinting foram documentadas pelo menos duas
estirpes (Pudjiatmoko et al., 1997 citado por Sykes, 2005). Estudos serológicos revelam que
podem existir várias estirpes de C. felis, que podem diferir na virulência (Sykes, 2005).
Mais recentemente foi detectada a presença de Neochlamydia hartmannellae, através de
PCR, em gatos com conjuntivite. Este microrganismo pertence à família Parachlamydiaceae,
um grupo de microrganismos semelhantes às clamídias que vivem em simbiose com
amebas. No entanto, o significado clínico da mesma na conjuntivite do gato permanece por
determinar (von Bomhard et al., 2003; Sykes, 2005).
1.4.2.2. Epidemiologia
A C. felis tem uma distribuição mundial. A prevalência da infecção varia entre as populações
de gatos em estudo, com o método de detecção utilizado, com a idade dos gatos e com a
presença ou ausência de doença clínica. A infecção é mais comum em ambientes com
vários animais, particularmente em colónias e gatis (Sykes, 2013a).
A seroprevalência é elevada, com mais de 10% de gatos domésticos não vacinados (Gunn-
Moore et al., 1995 citado por Sykes & Greene) e até 64% de gatos de gatis com anticorpos
detectáveis contra a C. felis (Gould & Papasouliotis, 2013). Em gatos com conjuntivite a C.
felis foi isolada em até 56% dos animais (Hartmann et al., 2010; Wills et al., 1988 citado por
Sykes & Greene, 2012). A prevalência da C. felis em gatos saudáveis é baixa (Sykes, 2005).
Em gatos domésticos clinicamente saudáveis, com conjuntivite activa ou com história de
conjuntivite, ou com conjuntivite activa, 0%, 4,6% e 7,3% tiveram PCR positivos,
respectivamente (Low, Powell, Veir, Hawley & Lappin, 2007). As co-infecções com outros
agentes patogénicos, tais como o HVF-1, CVF, Mycoplasma spp. também podem ocorrer
26
(Wills et al., 1998 citado por Sykes, 2005; von Bomhard et al., 2003; Low et al., 2007;
Hartmann et al., 2010)
A infecção por C. felis é mais comum em gatos jovens, especificamente com idades
compreendidas entre os 2 meses e 1 ano de idade. A partir desta idade, a prevalência da
infecção diminui progressivamente, presumivelmente devido ao aumento da imunidade
natural com o avançar da idade. A infecção é menos provável em gatos com mais de 5
anos. Gatinhos com menos do que 8 semanas de idade encontram-se presumivelmente
protegidos pelos anticorpos maternos, embora as infecções neonatais ocorram (Sykes,
Anderson, Studdert & Browning, 1999b; Sykes & Greene, 2012).
A transmissão ocorre por contacto directo com as secreções oculares de um gato infectado,
fómites ou, menos frequentemente, por aerossóis (Sykes, 2013a). Os gatos com conjuntivite
são considerados a principal fonte de infecção, uma vez que a aparência de conjuntivite é
coincidente com a excreção ocular de C. felis (TerWee et al., 1998; Holst, Krook, Englund,
Lagerstedt & Bölske, 2011). No entanto, a excreção pode continuar por um período após a
resolução dos sinais clínicos (Holst et al., 2011). Pensa-se que os neonatos adquirem a
infecção principalmente através do contacto com a mucosa genital da progenitora durante o
parto (TerWee et al., 1998; Sykes & Greene, 2012). A excreção vaginal da C. felis foi
descrita em gatos, porém desconhece-se se a transmissão venérea ocorre nesta espécie e
se sim, qual a sua importância epidemiológica (Holst et al., 2011; Sykes & Greene, 2012).
1.4.2.3. Patogénese
A C. felis é um agente patogénico primário da conjuntiva, sendo uma causa importante de
conjuntivite no gato (Sykes, 2005). Também infecta o tracto respiratório superior e é também
isolado no aparelho gastrointestinal e no aparelho reprodutor (Cullen & Webb, 2013).
A patogénese da C. felis permanece desconhecida, embora a C. felis tenha uma predilecção
pelas células epiteliais da conjuntiva (TerWee et al., 1998; Sykes, 2005). A conjuntivite
resulta da lise celular que ocorre durante a libertação dos corpos elementares (Cullen &
Webb, 2013). A inflamação da membrana nictitante também é comum (Masubuchi et al.,
2002; Sykes & Greene, 2012). Adicionalmente, ocorre disseminação sistémica com
desenvolvimento de febre e infecção de vários tecidos, tais como pulmão, amígdalas,
fígado, rim, baço, aparelho gastrointestinal e peritoneu (TerWee et al., 1998; Masubuchi et
al., 2002; Sykes, 2013a). Porém, desconhece-se o significado da presença da C. felis nestes
tecidos (Sykes, 2005). A infecção pode ser transmitida experimentalmente por transfusão
sanguínea, com desenvolvimento de sinais clínicos sistémicos e de conjuntivite. Esta fase
sistémica da doença é, no entanto, menos frequentemente descrita na infecção natural
(TerWee et al., 1998). Não obstante, pode explicar a razão pela qual a terapêutica tópica
não é suficiente (Sykes, 2005). A terapêutica sistémica é geralmente necessária para
27
eliminar a excreção da C. felis (Sparkes et al., 1999 citado por Owen, Sturgess, Harbour,
Egan & Gruffydd-Jones, 2003).
A infecção torna-se frequentemente crónica e insidiosa, podendo persistir durante vários
meses. Durante esta fase o animal pode apresentar conjuntivite intermitente ou passar por
períodos assintomáticos. Desconhece-se, porém, se a cronicidade da doença se deve à
reinfecção repetida ou à persistência da C. felis na conjuntiva e em tecidos não-oculares
(Sykes, 2013a). Em gatos não tratados, a C. felis foi isolada a partir da conjuntiva até 215
dias após a infecção experimental. No entanto, na maioria dos casos, a excreção conjuntival
termina cerca de 60 dias após a infecção (Sykes, 2005). Em alguns gatos infectados, para
além da excreção ocular, também ocorre excreção vaginal e rectal prolongada, o que leva
alguns autores a sugerir que o aparelho gastrointestinal e o aparelho reprodutor podem ser
locais de persistência da C. felis (Sykes, 2005).
As co-infecções com outros agentes patogénicos, tais como HVF-1, CVF, Bordetella
bronchiseptica, Mycoplasma spp. ou FIV podem aumentar a gravidade da infecção (Sykes &
Greene, 2012). A co-infecção com o FIV prolongou a duração dos sinais clínicos e pode
levar ao desenvolvimento de conjuntivite crónica (O'Dair, Hopper, Gruffydd-Jones, Harbour
& Waters, 1994). Outras bactérias podem também actuar como agentes oportunistas
secundários e agravar a doença (Sykes & Greene, 2012).
28
Pode verificar-se uma melhoria dos sinais clínicos dentro de algumas semanas (Sykes,
2005), mas se não for tratada, a infecção pode dar origem a conjuntivite crónica e pode
ocorrer um estado de portador prolongado (Owen et al., 2003; Maggs, 2008b; Stiles, 2013).
Com a cronicidade, a hiperémia, a quemose e o corrimento ocular diminuem (Ramsey,
2000; Rampazzo et al., 2003), mas pode verificar-se o desenvolvimento de membranas,
hiperplasia conjuntival e formação de folículos linfóides (Ramsey, 2000; Rampazzo et al.,
2003; Maggs, 2008b).
Os sinais clínicos sistémicos observados na infecção experimental, adicionalmente à
conjuntivite, incluem febre, letargia, claudicação e perda de peso (TerWee et al., 1998;
Sykes & Greene, 2012). Embora o mecanismo proposto para a claudicação seja o
desenvolvimento de poliartrite, não existem estudos que o comprovem (Sykes & Greene,
2012).
1.4.2.5. Diagnóstico
Não sendo possível estabelecer um diagnóstico definitivo de conjuntivite por C. felis apenas
com base nos sinais clínicos (Tabela 2) (Sykes, 2005), este requer a detecção da bactéria
em zaragatoas ou raspagens conjuntivais (Richards et al., 2006; Stiles, 2012).
29
transporte específico e é tecnicamente exigente, dispendiosa e demorada (Sykes, 1999a;
Sykes, 2005). Assim, a cultura não é rotineiramente realizada, sendo apenas utilizada em
investigação (Rampazzo et al., 2003; Sykes & Greene, 2012).
O PCR é actualmente a técnica laboratorial de eleição para o diagnóstico desta infecção
(Gould, 2001; ABCD, 2008). O PCR é mais sensível do que a cultura (Sykes et al., 1999a;
Sykes & Greene, 2012). Este método é rápido, sensível e, como a viabilidade do
microrganismo não é necessária para a realização do PCR, as condições de transporte são
mais simples do que as da cultura (Sykes & Greene, 2012). Têm sido desenvolvidos vários
testes de PCR para a detecção de C. felis (Sykes, 2013a). No entanto, existe uma variação
considerável nas taxas de detecção entre diferentes laboratórios (Sandmeyer, Waldner,
Bauer, Wen & Bienzle, 2010; Sykes, 2013a).
1.4.2.6. Tratamento
O tratamento consiste na antibioterapia tópica e sistémica (Sykes & Greene, 2012). As
clamídias são susceptíveis às tetraciclinas, eritromicina, rifampicina, fluoroquinolonas e
azitromicina (Stamm, 1998 citado por Sykes, 2005). As tetraciclinas são geralmente
consideradas o antibiótico de eleição para o tratamento da infecção por C. felis (ABCD,
2008). Sykes e Greene (2012) sugerem as seguintes opções terapêuticas para o tratamento
da clamidiose felina: doxiciclina, amoxicilina – ácido clavulânico, pradofloxacina,
enrofloxacina e azitromicina.
A doxiciclina é actualmente considerada o tratamento de eleição para a infecção por C. felis
(Dean, Harley, Helps, Caney & Gruffydd-Jones, 2005; Sykes, 2013a). A evidência de que a
C. felis persiste e é excretada a partir de tecidos extraoculares, em conjunto com os estudos
que compararam o tratamento sistémico e tópico, demonstram que a terapêutica sistémica é
mais eficaz na diminuição dos sinais clínicos e na excreção da C. felis do que a terapêutica
tópica (Sparkes, Caney, Sturgess & Gruffydd-Jones, 1999; Maggs, 2008b; Maggs, 2012b;
Stiles, 2012). Dentro das várias opções de antibióticos sistémicos, a doxiciclina parece ser a
mais eficaz na eliminação da infecção (Sturgess, Gruffydd-Jones, Harbour & Jones, 2001;
30
Owen et al., 2003; Gerhardt, Schulz, Werckenthin & Hartmann, 2006; Hartmann et al., 2008).
O tratamento com doxiciclina deve ser realizado por um período de tempo prolongado,
durante 21 a 28 dias, de forma a assegurar a eliminação da infecção (Dean et al., 2005;
Sykes & Greene, 2012). As doses recomendadas são 5–10 mg/kg a cada 12 horas ou 10–
15 mg/kg a cada 24 horas, durante 3 a 4 semanas PO (Sykes & Grene, 2012). Alguns
autores defendem que o tratamento deve ser continuado por mais 2 semanas após a
resolução dos sinais clínicos, para evitar as recidivas (Owen et al., 2003; Sykes & Greene,
2012). Para além disso, recomenda-se que todos os gatos que estão em contacto sejam
tratados, uma vez que pode haver infecções assintomáticas, que podem resultar em
reinfecções cíclicas (Owen et al., 2003; Dean et al., 2005; Maggs, 2012b).
A administração de doxiciclina pode causar esofagite e formação de estenose esofágica
(German et al., 2005; Frowde, Battersby, Whitley & Elwood, 2011). Deste modo, e sempre
que possível, deve evitar-se fraccionar os comprimidos (Sykes & Greene, 2012; Sykes &
Papich, 2013a).
O tratamento tópico com oxitetraciclina (q4-6h) pode ser associado ao tratamento sistémico,
especialmente se a conjuntivite for grave (Ramsey, 2000; Maggs, 2012b; Stiles, 2012). Esta
pomada oftálmica pode causar uma reacção de hipersensibilidade em alguns gatos
(Ramsey, 2000; Crispin, 2002a). Em alternativa pode ser utilizado o cloranfenicol (Glaze,
2008). As pomadas oftálmicas triplas de neomicina – polimixina B – bacitracina são
ineficazes contra a C. felis (Glaze, 2008; Maggs, 2012b; Morgan & Rothrock, 2012).
A amoxicilina – ácido clavulânico (12,5–25 mg/kg PO, a cada 8 a 12 horas durante 4
semanas) é uma alternativa eficaz à doxiciclina (Sturgess et al., 2001; Sykes & Greene,
2012).
Em humanos, as infecções por Chlamydia trachomatis são susceptíveis ao tratamento com
azitromicina e quinolonas (Sykes & Greene, 2012). No gato, a enrofloxacina (dose máxima
de 5 mg/kg PO a cada 24 horas durante 2 a 3 semanas) parece ter uma eficácia similar à
doxiciclina (Gerhardt et al., 2006; Sykes & Greene, 2012). No entanto, o risco de
degenerescência da retina em gatos tratados com enrofloxacina (Gelatt et al., 2001) faz com
que a doxiciclina seja preferida (Sykes & Greene, 2012). A pradofloxacina (5–10 mg/kg PO
suspensão oral a cada 24 horas durante 6 semanas), que possui um risco de toxicidade
retiniana reduzido (Messias et al., 2008), é menos eficaz no tratamento do que a doxiciclina
(Hartmann et al., 2008). O tratamento com azitromicina revelou ser ineficaz na eliminação da
infecção, pois o efeito na redução da excreção é apenas temporário, pelo que não é
actualmente recomendado por não ser vantajoso quando comparado com a doxiciclina
(Owen et al., 2003; Sykes & Greene, 2012).
31
1.4.2.7. Prognóstico
O prognóstico geralmente é bom. A resposta ao tratamento com doxiciclina é relativamente
rápida, verificando-se uma melhoria clínica 24 a 48 horas após o início do tratamento (Dean
et al., 2005; Sykes & Greene, 2012). A ausência de resposta ou apenas uma resposta
temporária ao tratamento pode reflectir a presença concomitante de outros agentes
patogénicos, tais como o HVF-1 ou CVF. Nestes casos, a resposta inicial ao tratamento
pode resultar da resolução da infecção bacteriana secundária e da infecção por C. felis
(Sykes, 2005; Sykes & Greene, 2012).
32
Greene, 2012). No entanto, devem ser tomadas precauções de rotina quando em contacto
com gatos com conjuntivite (Sykes, 2013a).
1.4.3.2. Epidemiologia
O Mycoplasma felis tem sido a espécie patogénica predominante, mas outras espécies têm
sido isoladas no gato, como por exemplo o Mycoplasma gateae e o Mycoplasma cynos
(Hartmann et al., 2010; Haesebrouk et al., 1991 citado por Gould & Papasouliotis, 2013). A
infecção é comum tanto em colónias de gatos como em gatos domésticos e o Mycoplasma
spp. tem sido isolado em gatos saudáveis e doentes (Willoughby & Bennet, 2004).
A transmissão dá-se predominantemente por contacto directo ou fómites, especialmente em
ambientes com elevada densidade populacional ou fracas condições de higiene (Sykes,
2013c).
1.4.3.3. Patogénese
Os Mycoplasma spp. são bactérias isoladas a partir das membranas mucosas de animais
saudáveis, mas a elevada taxa de isolamento em animais doentes sugere que também
desempenham um papel patogénico sob determinadas circunstâncias (Gould &
Papasouliotis).
Os micoplasmas aderem às células das membranas mucosas do hospedeiro, onde
permanecem extracelulares, e os mecanismos patogénicos incluem a produção de
hemolisinas, proteases e nucleases, que provocam lesão celular (Moore & Nasisse, 1999;
33
Quinn et al., 2002; Gould & Papasouliotis, 2013). Alguns micoplasmas podem tornar-se
intracelulares, o que resulta em infecções crónicas persistentes (Greene & Chalker, 2012).
O papel do Mycoplasma spp. como causa de conjuntivite no gato é pouco claro e alvo de
debate na literatura consultada (Stiles, 2013). Se por um lado os Mycoplasma spp. são
considerados como constituintes da microbiota do saco conjuntival felino, pois são
frequentemente isolados em gatos com olhos saudáveis (Low et al., 2007), por outro são
implicados como agentes patogénicos da conjuntiva, pois são isolados em gatos com
conjuntivite (Low et al., 2007; Maggs, 2008b; Hartmann et al., 2010; Stiles, 2013). Em gatos
com conjuntivite, o Mycoplasma spp. foi o microrganismo mais prevalente, em comparação
com o HVF-1 e com a C. felis (Low et al., 2007; Sandmeyer et al., 2010).
Experimentalmente, o M. felis causou conjuntivite em gatos saudáveis e jovens em alguns
estudos, mas noutros estudos não (Stiles, 2013). Estudos demonstram que a prevalência da
infecção por Mycoplasma spp. é superior em gatos com conjuntivite comparativamente com
gatos clinicamente saudáveis. As prevalências detectadas por PCR ou cultura em
zaragatoas conjuntivais de gatos com conjuntivite foram 9,6% e 25%, respectivamente,
comparativamente aos valores de 2,3% e 0% encontrados nos gatos clinicamente saudáveis
(Low et al., 2007; Haesebrouk et al., 1991 citado por Greene & Chalker, 2012). Estes
resultados são compatíveis com o possível papel deste agente na patogénese da
conjuntivite felina (Greene & Chalker, 2012).
No entanto, alguns autores referem que é pouco provável que os Mycoplasma spp. sejam
agentes patogénicos primários da conjuntiva mas que é possível que actuem como agentes
patogénicos secundários na presença de um factor predisponente, como uma co-infecção
com o HVF-1 ou C. felis, ou em animais imunocomprometidos (Whitley, 2000; Gould, 2001;
Stiles, 2012; Sykes, 2013c).
O M. felis ou o M. gateae foram ainda isolados e associados a casos de gatos com queratite
ulcerativa, queratomalácia ou ambos. Embora não se pense que tenham sido os agentes
etiológicos primários, pensa-se que foram clinicamente relevantes para o quadro clínico
(Gray, Ketring & Tang, 2005).
Embora o Mycoplasma spp. também seja associado ao desenvolvimento de doença
respiratória, o seu papel também é pouco claro (Veir, 2011; Gaskell et al., 2012). Há autores
que consideram que o Mycoplasma spp. é um agente etiológico na doença do tracto
respiratório superior felina, quer actue como agente patogénico primário, quer como agente
patogénico secundário oportunista (Bannasch & Foley, 2005; Kompare, Litster, Leutenegger
& Weng, 2013). Bannasch e Foley (2005) detectaram taxas superiores deste agente em
gatos com doença do tracto respiratório superior comparativamente com gatos saudáveis
(Veir, 2011). Todavia, são igualmente isolados na orofaringe e na cavidade nasal de gatos
saudáveis (Tan et al., 1977 citado por Veir, 2011; Randolph et al., 1993 citado por Veir,
2011).
34
Por norma, o Mycoplasma spp. não é encontrado no tracto respiratório inferior do gato
(Willoughby & Bennet, 2004). Porém, a maioria dos Mycoplasma spp. que habitam o tracto
respiratório superior já foram isolados em gatos com doença respiratória inferior (Chandler &
Lappin, 2002; Foster, Martin, Allan, Barrs & Malik, 2004).
O M. felis e M. gatae também foram associados a casos de artrite (Ernst & Goggin, 1999;
Liehmann, Degasperi, Spergser & Niebauer, 2006; Zeugswetter, Hittmair, Arespacochaga,
Shibly & Spergser, 2007). O M. gateae é considerado como um agente da microbiota da
conjuntiva e do tracto respiratório superior do gato, sendo provavelmente pouco patogénico
nestes locais (Moore & Nasisse, 1999; Willoughby & Bennet, 2004).
1.4.3.5. Diagnóstico
1.4.3.5.1. Detecção de antigénio
Na citologia conjuntival, os Mycoplasma spp. são observados como aglomerados de
estruturas basófilas de pequenas dimensões, com forma cocóide ou cocobacilar. Têm uma
aparência semelhante aos corpos de inclusão da C. felis, mas estes aglomerados são
visualizados ao nível da membrana citoplasmática das células epiteliais. A resposta celular é
caracterizada pela predominância de leucócitos polimorfonucleares (Whitley, 2000; Hillström
et al., 2012). O seu tamanho reduzido torna a sua visualização ao microscópio electrónico
difícil. Devido à ausência de parede celular, não coram com corante de Gram (Sykes,
2013c). Hillström et al. (2012) concluíram que são muito frequentemente obtidos resultados
35
falsos-negativos, pelo que a citologia não é um método de diagnóstico fiável para a
detecção de M. felis.
A cultura bacteriana tem sido o método de diagnóstico tradicional para a detecção de M.
felis. (Hartmann et al., 2010; Söderlund, Bölske, Holst & Aspán, 2011). O isolamento desta
bactéria pode ser realizado a partir de uma zaragatoa conjuntival (Rand, 2006). Outras
amostras podem ser submetidas para cultura, como por exemplo, zaragatoas da cavidade
nasal ou de córnea (Sykes, 2013c). No entanto, o significado clínico de uma cultura positiva
é de difícil interpretação, uma vez que o M. felis é encontrado na conjuntiva de animais
saudáveis e, portanto, o seu isolamento não confirma o envolvimento etiológico e os
resultados devem ser interpretados juntamente com o quadro clínico e com os resultados de
outros testes de diagnóstico (Quinn et al., 2002; Crispin, 2005; Sykes, 2013c). Deve ser
investigada a possibilidade de co-infecções com outros agentes infecciosos (Crispin, 2005).
Mais recentemente, o PCR tem sido utilizado para a detecção e diferenciação de espécies
de Mycoplasma (Greene & Chalker, 2012; Sykes, 2013c). O PCR é mais sensível do que a
cultura e, adicionalmente, os resultados são obtidos mais rapidamente (Chalker, Owen,
Paterson & Brownlie, 2004; Hartmann et al., 2010; Söderlund et al., 2011). Tal como na
cultura bacteriana, um resultado de PCR positivo para Mycoplasma spp. pode ser pouco
esclarecedor (Sykes, 2013c).
1.4.3.6. Tratamento
O Mycoplasma spp. e a C. felis têm padrões de susceptibilidade a antibióticos semelhantes
(Maggs, 2008b). Como podem ocorrer co-infecções entre estas duas bactérias (Glaze &
Gellat, 1999; Hillström et al., 2012), as tetraciclinas tópicas e sistémicas são uma excelente
escolha para o tratamento da conjuntivite por Mycoplasma spp. (Maggs, 2008b). A
oxitetraciclina pode ser utilizada topicamente e a doxiciclina pode ser administrada
oralmente (Stiles, 2013).
Em gatos com infecção do tracto respiratório superior, o tratamento com doxiciclina ou
pradofloxacina sistémicas demonstraram ser eficazes contra Mycoplasma spp. (Hartmann et
al., 2008; Greene & Chalker, 2012; Kompare et al., 2013).
O prognóstico é bom quando se utiliza um antibiótico apropriado. Alguns gatos podem
desenvolver doença crónica (Rothrock, 2012).
36
1.4.3.8. Importância na Saúde Pública
As infecções por Mycoplasma felis não têm sido consideradas como um risco para a Saúde
Pública. No entanto, existe um caso documentado de infecção zoonótica (Greene & Chalker,
2012) numa pessoa imunocomprometida (Bonilla et al., 1997).
1.4.4.2. Epidemiologia
O CVF possui uma distribuição mundial, geralmente com prevalências mais elevadas em
grupos de gatos (Radford et al., 2007). O vírus é predominantemente excretado nas
secreções orais, nasais e oculares. A transmissão ocorre principalmente por contacto directo
(Hurley & Sykes, 2003; Gaskell et al., 2012). A maioria dos gatos com infecção aguda
excreta o vírus durante cerca de 30 dias após a infecção (Radford et al., 2007). Porém,
alguns gatos podem desenvolver uma infecção persistente (estado de portador),
caracterizada por excreção viral mais ou menos contínua por períodos de tempo variáveis,
embora a maioria dos animais acabe por eliminar a infecção espontaneamente (Coyne et
al., 2006; Richards et al., 2006; Coyne, Gaskell, Dawson, Porter & Radford, 2007; Radford et
al., 2007). A transmissão indirecta através de fómites também é importante, particularmente
em gatis (Radford et al., 2007; Sykes, 2013a). Os aerossóis não são considerados como um
meio de transmissão importante (Gaskell et al., 2012).
37
O CVF infecta gatos domésticos e outros membros da família Felidae (Pesavento et al.,
2008; Gaskell et al., 2012). Não são conhecidos reservatórios ou hospedeiros alternativos
do vírus e a transmissão uterina parece não ocorrer (Radford et al., 2007).
Apesar da vacinação, os portadores estão distribuídos pela população, com prevalências
aproximadamente de 10% em gatos domésticos e de 25% a 75% em colónias. Estes
animais desempenham um papel crucial na epidemiologia da infecção (Radford et al., 2007).
Pensa-se que o vírus persiste nas amígdalas e em outros tecidos da orofaringe de gatos
portadores, pois pode ser detectado nestes locais. O mecanismo de persistência da infecção
não é totalmente conhecido, mas pensa-se que a evolução viral leva à variação antigénica
da proteína da cápside viral, o que permite ao vírus a evasão da resposta do sistema
imunitário do hospedeiro (Coyne et al., 2006; Radford et al., 2007; Sykes, 2013a).
Estudos em colónias endemicamente infectadas têm demonstrado que, apenas uma minoria
está verdadeiramente persistentemente infectada. Nestes animais há evolução progressiva
da mesma estirpe viral ao longo do tempo e pensa-se que não existe fase latente, ao
contrário do que acontece com os portadores do HVF-1. Em contraste, a maioria dos gatos
portadores passam por ciclos de reinfecção, com uma variante da mesma estirpe ou com
diferentes estirpes que circulem na população. Alguns gatos parecem ser resistentes à
infecção, o que pode estar relacionado com a idade ou com mecanismos de resistência
determinados geneticamente (Coyne et al., 2006; Coyne et al., 2007; Radford et al., 2007;
Pesavento et al., 2008; Gaskell et al., 2012). Adicionalmente, a excreção viral é variável
entre indivíduos (Coyne et al., 2006; Radford et al., 2007).
1.4.4.3. Patogénese
O CVF é primariamente um agente patogénico do tracto respiratório superior (Stiles, 2013).
É também uma causa importante de doença da cavidade oral, mas não é considerado um
agente patogénico ocular importante (Gould & Papasouliotis, 2013). Também pode causar
poliartrite (Bennet, 2010; Gaskell et al., 2012).
A infecção ocorre por via nasal, oral ou conjuntival (Gaskell et al., 2012). A replicação viral
ocorre sobretudo na cavidade oral e nos tecidos do tracto respiratório superior,
particularmente na mucosa do septo nasal, nasofaringe e amígdalas. No entanto, as estirpes
de CVF podem diferir no tropismo dos tecidos que afectam (Gaskell et al., 2012). Algumas
estirpes têm tropismo para o pulmão, enquanto outras podem ter predilecção pelas
articulações (Gaskell et al., 2012). O vírus também pode ser detectado nas fezes e
ocasionalmente na urina (Foley, 2006; Gaskell et al., 2012). Subsequentemente, o vírus
dissemina-se sistemicamente, com virémia transitória 3 a 4 dias após a infecção, e pode ser
detectado noutros locais (Foley, 2006; ABCD, 2012a). Em cultura de células, a replicação do
CVF causa efeitos citopáticos, provavelmente devido à apoptose de células infectadas
(Radford et al., 2007; Pesavento et al., 2008; MacLachlan & Dubovi, 2011a). A infecção leva
38
ao aparecimento de áreas de necrose epitelial multifocal, com infiltração neutrófila e
exsudados fibrinosos (Gaskell et al., 2012). As úlceras orais surgem inicialmente como
vesículas que posteriormente rupturam. A regeneração destas lesões ocorre dentro de 2 a 3
semanas (Radford et al., 2007; ABCD, 2012a). As lesões pulmonares ocorrem menos
frequentemente (Gaskell et al., 2012).
O CVF também é descrito na literatura consultada como uma causa de conjuntivite no gato,
embora seja uma causa mais rara (Crispin, 2002a; Stiles, 2014). Comparativamente ao
HVF-1, o CVF possui uma patogenicidade baixa para a conjuntiva, embora possa causar
conjuntivite (Cullen & Webb, 2013). No entanto, alguns autores questionam se o vírus
desempenha verdadeiramente um papel como agente patogénico da conjuntiva (Ramsey,
2000) e é sugerido que os sinais oculares estão provavelmente associados à co-infecção
com outros agentes infecciosos (Crispin, 2005).
Mais recentemente, têm sido descritos surtos de doença virulenta sistémica (VSD) grave
com elevada mortalidade, associados a estirpes de CVF hipervirulentas (calicivírus felino
virulento sistémico - VS-FCV) (Pedersen, Elliott, Glasgow, Poland, & Keel, 2000; Hurley et
al., 2004; Pesavento, MacLachlan, Dillard-Telm, Grant & Hurley, 2004; Reynolds et al.,
2009). Nestes casos, o vírus consegue aceder a compartimentos celulares que
habitualmente não estão associados à infecção por CVF (Gaskell et al., 2012). A infecção
por VS-FCV causa lesão epitelial e endotelial, levando ao aparecimento das lesões e sinais
clínicos associados (Pesavento et al., 2004; Pesavento et al., 2011).
O CVF é descrito como um potencial factor no desenvolvimento da gengivo-estomatite
crónica (Radford, et al., 2007; Pesavento et al., 2008; ABCD, 2012a). A gengivo-estomatite
crónica é uma síndrome multifactorial, em cuja etiologia podem estar envolvidos vários
agentes infecciosos como também vários factores inerentes ao hospedeiro (Lyon, 2005;
Gaskell et al., 2012; Greene & Marks, 2012).
39
localizações podem ocorrer raramente. Algumas estirpes mais virulentas podem causar
pneumonia, com dispneia associada (Gaskell et al., 2012).
Outras estirpes de CVF produzem uma síndrome de claudicação transitória e pirexia, que
podem ocorrer com ou sem doença oral e respiratória. Estes animais apresentam dor,
letargia e anorexia e na maioria dos casos, a resolução clínica ocorre dentro de 24 a 48
horas. Adicionalmente, algumas estirpes podem causar infecções subclínicas (Gaskell et al.,
2012).
Gatos afectados por VS-FCV, para além dos sinais clínicos de infecção do tracto respiratório
superior, habitualmente graves, apresentam sinais clínicos distintivos que incluem, edema
subcutâneo, sobretudo na face e nos membros, alopecia e ulceração no nariz, lábios, região
periocular, pavilhão auricular e almofadinhas plantares. Alguns gatos podem desenvolver
icterícia; vómito e/ ou diarreia (devido ao envolvimento do tracto gastrointestinal, incluindo
fígado e pâncreas). Os animais também desenvolvem coagulopatias, que se podem
manifestar por petéquias, equimoses e, raramente, epistaxis e hematoquézia (Hurley &
Sykes, 2003; Gaskell et al., 2012; Sykes, 2013b). Os gatos adultos são frequentemente mais
afectados (Gaskell et al., 2012; Sykes, 2013b).
1.4.4.5. Diagnóstico
Quando a conjuntivite é observada em conjunto com sinais clínicos característicos de CVF
(ulceração oral), a realização de testes laboratoriais para pesquisa de CVF deve ser
considerada (Ramsey, 2000). O diagnóstico confirmatório pode ser realizado a partir de
zaragatoas conjuntivais ou orofaríngeas (Gaskell et al., 2012; Stiles, 2014).
40
o transporte (Marsilio, Di Martino, Decaro & Buonavoglia, 2005; Gaskell, Dawson & Radford,
2010; ABCD, 2012a). Contudo, o PCR seguido pela sequenciação permite a diferenciação
entre as estirpes de CVF, o que é útil no estudo epidemiológico da doença, nomeadamente
na diferenciação entre as estirpes infectantes e as vacinais (Sykes et al, 2001; Richards et
al., 2006; Gaskell et al., 2012).
Mais raramente, os testes de imunofluorescência podem ser realizados em amostras
citológicas ou em amostras de tecidos, mas trata-se de um método menos sensível do que o
isolamento viral ou PCR (Marsilio et al., 2005; Hurley & Sykes, 2003; Sykes, 2013b).
1.4.4.6. Tratamento
A terapêutica de suporte e a antibioterapia de largo espectro constituem a base do
tratamento da infecção por CVF (Gaskell et al., 2010). Actualmente, não existe nenhum
fármaco antiviral disponível para o tratamento do CVF (ABCD, 2012a). Como o CVF é um
vírus RNA, os agentes antivirais oftálmicos disponíveis para o tratamento do HVF-1, um
vírus DNA, não são eficazes (Stiles, 2012). A ribavirina demonstrou ser eficaz contra o vírus
in vitro, mas possui elevada toxicidade para o gato, o que impede a sua utilização (Gaskell
et al., 2012). Alguns clínicos recorrem ao IFN (Radford et al., 2007). Estudos mostraram que
o rHuIFN-α e o rFeIFN-ω f reduzem a replicação in vitro do CVF, contudo, não existem
estudos controlados in vivo (Hartmann, 2008; ABCD, 2012a; Hartmann, 2012).
A antibioterapia de largo espectro está indicada nos casos mais graves de doença oral e/ ou
respiratória e de suspeita de infecção bacteriana secundária (Radford et al., 2007; ABCD,
2012a; Sykes, 2013b). Pode ser utilizada amoxicilina com ácido clavulânico, doxiciclina ou
azitromicina (Ruch-Gallie, Veir, Spindel & Lappin, 2008; Litster, Wu & Constable, 2012). Se a
administração oral for difícil, pode ser administrada cefovecina por via subcutânea (SC)
(Radford et al., 2007; Lister et al., 2012). Pode ser utilizado um antibiótico tópico se se
suspeitar de conjuntivite causada por infecção bacteriana secundária (Crispin, 2002a; Stiles,
2012).
O suporte nutricional e a manutenção da hidratação são essenciais. A estimulação da
alimentação é muito importante (Radford et al., 2007; ABCD, 2012a). Os casos mais graves
podem necessitar de hospitalização e fluidoterapia. Quando a anorexia é prolongada, pode
ser indicada a colocação de um tubo de esofagostomia ou de gastrotomia. De igual forma,
também é essencial a limpeza regular dos corrimentos nasais e oculares. Os fármacos
mucolíticos (por exemplo, cloridrato de bromexina) podem ajudar a limpar as vias aéreas na
41
fase mais crónica e a nebulização com soro fisiológico também podem ser benéfica
(Ramsey, 2000; ABCD, 2012a; Gaskell et al., 2012).
O prognóstico para a resolução da conjuntivite causada por CVF é geralmente bom (Stiles,
2014).
42
exposto a uma situação de stress ou está imunodeprimido (Whitley, 2000; Crispin, 2002a;
Waters & Barnett, 2004).
Comparativamente ao cão, os gatos têm taxas relativamente mais baixas de isolamento
bacteriano no saco conjuntival (Maggs, 2002b; Espínola & Lilenbaum, 1996 citado por Stiles,
2012). São isoladas bactérias a partir do saco conjuntival em 4 a 67% de gatos saudáveis
(Gould & Papasouliotis, 2013). A microbiota é composta por uma população mista,
predominantemente gram-positiva (Hamor, 2001; Maggs, 2002b; Grahn & Wolfer, 2009). As
bactérias gram-positivas predominantemente isoladas incluem: Staphylococcus spp.,
Corynebacterium spp., Streptococcus spp, Bacillus spp. As bactérias gram-negativas
predominantemente isoladas incluem: Pseudomonas spp., C. felis, Mycoplasma spp.,
Parachlamydia acanthamoebae (Gould & Papasouliotis, 2013).
Os sinais clínicos incluem hiperémia conjuntival, corrimento ocular mucoso a mucopurulento,
quemose e, em conjuntivites crónicas, presença de folículos linfóides (Whitley, 2000).
O diagnóstico baseia-se no exame oftalmológico e na realização de uma citologia de
conjuntiva. A cultura bacteriana e o TSA estão indicados nos casos mais graves, quando
não se obtém uma resposta favorável à terapêutica ou nos casos de conjuntivite crónica ou
recidivante (Martin, 2010b).
O tratamento envolve a correcção da causa primária e a antibioterapia tópica (Whitley, 2000;
Maggs, 2008b). A selecção do antibiótico é habitualmente empírica e pode ser direccionada
pelos resultados da citologia conjuntival (Champagne, 2001; Maggs, 2008d; Martin, 2010d).
Os antibióticos de largo espectro, incluindo as combinações triplas de antibióticos de
neomicina – polimixina B – bacitracina (em Portugal apenas existe a combinação de
polimixina B – neomicina), ou o cloranfenicol são adequados para o tratamento empírico da
conjuntivite bacteriana (Champagne, 2001; Hamor, 2001; Ghran & Wolfer, 2009). Em casos
de infecção não complicada, a maioria dos animais demonstra uma resposta rápida e
favorável a uma terapêutica de curta duração (7 dias) e as recidivas não são comuns
(Maggs, 2008b; Martin, 2010b). Quando isto não se verifica ou a conjuntivite responde
apenas temporariamente à antibioterapia tópica, o diagnóstico inicial deve ser questionado
pois a etiologia bacteriana é pouco provável (Hamor, 2001; Maggs, 2008b). A terapêutica de
suporte consiste na limpeza ocular com colírios para remoção do corrimento ocular (Maggs,
2008b; Martin, 2010b).
43
encontrada sob as pálpebras, membrana nictitante, no saco conjuntival ou nos ductos da
glândula lacrimal de cães, gatos e carnívoros silvestres (Rodrigues et al., 2012).
A T. callipaeda é transmitida pela Phortica variegata (Diptera, Drosophilidae), vulgarmente
conhecida como “mosca da fruta”. Este vector, quando se alimenta das secreções lacrimais
de um hospedeiro infectado, ingere as larvas L1 depositadas pelas fêmeas adultas de T.
callipaeda. O mesmo insecto deposita posteriormente as L3 infectantes enquanto se
alimenta das secreções oculares de outros hospedeiros (Rodrigues et al., 2012; Pimenta et
al., 2013; Sousa et al., 2013). A presença destes nemátodes no olho pode causar epífora,
conjuntivite, corrimento ocular, blefarospasmo, queratite e úlceras da córnea, possivelmente
resultantes da lesão mecânica provocada pela cutícula com estriações transversais
proeminentes do parasita (Otranto & Traversa, 2005; Rodrigues et al., 2012).
O diagnóstico depende da visualização directa dos parasitas em animais com sinais clínicos
oculares (Pimenta et al., 2013). O tratamento da telaziose ocular inclui a remoção mecânica
dos nemátodes sob anestesia local (Maggs, 2008b; Pimenta et al., 2013), seguida pela
aplicação de um antibiótico tópico e um anti-inflamatório até resolução da conjuntivite (Stiles,
2013). Adicionalmente, é recomendado o tratamento antiparasitário (Bianciardi & Otranto,
2005). No gato, estão documentadas como eficazes as seguintes opções terapêuticas:
aplicação da combinação imidaclopride – moxidectina em spot-on (Tosco et al., 2010 citados
por Rodrigues et al., 2012) e administração da combinação milbemicina oxima –
praziquantel oral (Motta et al., 2012 citados por Rodrigues et al., 2012).
44
1.5. Conjuntivites Não Infecciosas
1.5.1.1. Etiopatogénese
A etiologia da QCE permanece desconhecida, mas supõe-se que a doença ocorre devido a
uma resposta imunomediada a um estímulo antigénico desconhecido (Maggs, 2008c;
Spiess, Sapienza & Mayordomo, 2009). De acordo com o tipo de células encontradas na
lesão, Prasse e Winston (1996) sugeriram que a patogénese da doença possa ser explicada
por reacções de hipersensibilidade tipo I ou IV (Andrew, 2008).
Pensa-se que o HVF-1 possa estar implicado na patogénese da QCE (Nasisse et al.,1998).
Deste modo, o papel do vírus nesta condição foi objecto de vários estudos, nos quais o
HVF-1 foi detectado em gatos diagnosticados com QCE (Nasisse et al., 1998; Morgan et al.,
1996 citado por Spiess et al., 2009; Dean & Meunier, 2013). Porém, em estudos recentes,
foi detectado DNA de HVF-1 em 6% a 49% das córneas e/ou conjuntivas de gatos sem
sinais oculares (Nasisse et al., 1998; Burgesser et al., 1999; Townsend et al., 2004; Volopich
et al., 2005; Low et al., 2007). o DNA viral detectado pode representar uma infecção viral
activa, um vírus latente que permaneceu na córnea ou DNA proveniente de partículas virais
remanescentes (Townsend et al., 2004). O papel do HVF-1 na etiopatogénese da QCE
permanece, assim, indeterminado (Allgoewer et al., 2001; Andrew, 2001; Spiess et al., 2009;
Gould, 2011).
Embora existam semelhanças histológicas, não parece haver relação entre a doença e o
complexo granuloma eosinofílico felino. Em animais diagnosticados com QCE, não são
encontradas lesões dermatológicas típicas do complexo granuloma eosinofílico (Allgoewer
et al., 2001; Spiess et al., 2009; Dean & Meunier, 2013).
45
deriva da sua principal característica, a infiltração de eosinófilos encontrada nas amostras
examinadas por citologia e histopatologia (Spiess et al., 2009; Dean & Meunier, 2013). A
doença é diagnosticada numa vasta faixa etária e não existe predisposição rácica (Andrew,
2008).
Clinicamente, a QCE manifesta-se inicialmente por neovascularização superficial perilimbal
da córnea. O edema da córnea é característico no bordo da lesão (Moore, 2005; Spiess et
al., 2009). À medida que a doença progride, a lesão apresenta-se como uma massa de
forma irregular, vascularizada, com infiltrados de cor rosa a esbranquiçada, que formam
placas esbranquiçadas na córnea. Geralmente, as lesões têm origem no quadrante nasal
temporal superior e no quadrante nasal inferior (Andrew, 2001; Moore, 2005; Spiess et al.,
2009; Dean & Meunier, 2013). A conjuntiva bulbar e/ou a membrana nictitante também
podem estar afectadas e, em casos mais avançados, toda a superfície da córnea pode estar
alterada (Glaze & Gelatt, 1999; Moore, 2005; Andrew, 2008; Maggs, 2008c).
Hiperémia conjuntival e quemose, espessamento e/ou hiperémia da terceira pálpebra,
prolapso da terceira pálpebra, blefarospasmo, epífora e corrimento ocular mucoso a
mucopurulento são outros dos sinais clínicos que podem ser encontrados (Allgoewer et al.,
2001; Moore, 2005). Na maioria dos casos, as lesões são unilaterais mas pode ocorrer
envolvimento bilateral (Maggs, 2008c; Spiess et al., 2009; Dean & Meunier, 2013). O
envolvimento bilateral tem sido considerado como resultante da progressão da doença
(Spiess et al., 2009). Concomitantemente podem ocorrer úlceras da córnea, particularmente
no bordo da lesão (Maggs, 2008c; Spiess et al., 2009; Dean & Meunier, 2013).
Adicionalmente, Dean e Meunier (2013) sugerem que as úlceras da córnea podem estar
presentes previamente ao desenvolvimento da QCE.
1.5.1.3. Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na aparência clínica da lesão e confirmado por citologia ou
histopatologia de amostras conjuntivais ou corneanas. A citologia revela presença de
numerosos eosinófilos e mastócitos. Em gatos saudáveis, não são encontrados
normalmente eosinófilos e mastócitos na conjuntiva ou córnea. Consequentemente, a
presença de uma destas células inflamatórias, com a típica aparência clínica de infiltração
da conjuntiva ou córnea é considerada patognomónica de QCE. Também são identificados,
embora menos frequentemente, neutrófilos, linfócitos, células plasmáticas e macrófagos.
Prasse e Winston (1996) compararam resultados de citologias e de histopatologias de
animais com QCE e encontraram tipos de células semelhantes em ambos os exames
(Allgoewer et al., 2001; Andrew, 2008; Spiess et al., 2009; Dean & Meunier, 2013).
46
1.5.1.4. Tratamento
O tratamento da QCE consiste tipicamente na aplicação de corticosteróides tópicos, tais
como o acetato de prednisolona 1% ou a dexametasona 0,1%. A frequência de aplicação
inicial deve ser de 3 a 4 vezes por dia, dependendo da gravidade. À medida que a lesão
entra em remissão, a frequência de aplicação é reduzida gradualmente até à dose de
manutenção necessária para controlar a doença. Geralmente, a terapêutica de manutenção
aplicada 1 a 2 vezes por dia é suficiente para evitar recidivas (Stiles, 2013). A resposta
inicial ao tratamento é habitualmente favorável, porém, as recidivas são comuns após a
descontinuação do tratamento (Moore, 2005; Andrew, 2008; Maggs, 2008c). O tratamento
de um olho potencialmente infectado com HVF-1 com corticosteróides tópicos representa
um risco (Maggs, 2008c; Gould, 2011). Este dilema levou à procura de tratamentos
alternativos, como a ciclosporina tópica (0,2 a 1%) (Andrew, 2008).
Existem poucos estudos sobre o tratamento da QCE com ciclosporina A tópica (Allgoewer et
al., 2001; Spiess et al., 2009). Spiess et al. (2009) demonstrou que a utilização de
ciclosporina A tópica 1,5% é eficaz no controlo da QCE. Embora a lesão tenha melhorado
na maioria dos casos, observaram-se recidivas nos meses seguintes. Neste estudo, blefarite
foi um dos raros efeitos secundários observado. No outro estudo mencionado (Allgoewer et
al., 2001), 3 dos 5 gatos desenvolveram sinais graves de irritação ocular, quemose e
hiperémia conjuntival. Porém, não se conseguiu determinar se esta reacção resultou do
fármaco. Segundo Stiles (2013), a associação tópica de ciclosporina com um AINE também
é eficaz em alguns casos, embora a regressão das lesões seja mais demorada do que com
corticosteróides tópicos.
O tratamento com acetato de megestrol também está descrito na bibliografia (Moore, 2005;
Maggs, 2008c; Stiles, 2013). (Spiess et al., 2009; Stiles, 2013). Porém, é uma alternativa
controversa (Sila & Davidson, 2011), pois possui numerosos efeitos secundários, tais como
polifagia, diabetes mellitus, supressão adrenocortical, alterações comportamentais,
hiperplasia mamária benigna e neoplasia e, para além disso, pode agravar infecções virais
latentes (Plumb, 2011). Devido aos seus potenciais efeitos adversos, a sua utilização não é
recomendada como terapêutica de primeira linha (Moore, 2005; Spiess et al., 2009; Dean &
Meunier, 2013).
Tal como o papel do HVF-1 na doença, também o papel dos antivirais no tratamento da
QCE permanece pouco claro (Stiles, 2013). Embora alguns casos melhorem apenas com
tratamento antiviral (Andrew, 2008; Maggs, 2008c), não existem estudos que demonstrem a
eficácia dos mesmos no tratamento da QCE (Moore, 2005).
1.5.1.5. Prognóstico
Devido ao carácter crónico da doença, a QCE apenas pode ser controlada, não curada
(Spiess et al., 2009). O controlo da doença requer terapêutica de manutenção a longo termo
47
ou até para toda a vida (Spiess et al., 2009; Stiles, 2013). O período de tempo médio até
resolução dos sinais clínicos é de cerca de 2 meses (Dean & Meunier, 2013). O
cumprimento da terapêutica prescrita, como também a monitorização da progressão da
doença são importantes para uma resposta favorável ao tratamento e para evitar possíveis
complicações como, por exemplo, ulceração de córnea (Gray & Morgan, 2008).
1.5.2.1. Etiologia
Segundo Ramsey (2010b), a infecção por HVF-1 é a causa mais comum de QCS no gato. A
maioria dos casos ocorre secundariamente a blefaroconjuntivite crónica ou recidivante
causada por HVF-1 (Stiles, 2013). Experimentalmente, observou-se uma diminuição
transitória nos valores do teste de Schirmer. Pensa-se que isto resulta da lesão que o vírus
induz nas glândulas lacrimais ou da oclusão dos dúctulos lacrimais (Nasisse et al., 1989;
Hartley, 2010a; Gould, 2011). Para além disso, o HVF-1 provoca diminuição das células
caliciformes da conjuntiva e instabilidade da película lacrimal précorneal em gatos infectados
experimentalmente, que persiste para além da aparente resolução clínica. Estas alterações
levam a deficiências qualitativas da pelicula lacrimal (Lim et al., 2009; Gould, 2011).
Em contraste com a QCS no cão, nesta espécie ainda não foi identificada uma componente
hereditária ou imunomediada (Stiles, 2013). A diminuição da produção lacrimal secundária à
administração de fármacos lacrimotóxicos, como as sulfonamidas, ainda não foi descrita no
gato (Crispin, 2002c; Stiles, 2013). A anestesia geral e a administração tópica ou sistémica
de atropina também reduzem transitoriamente a produção lacrimal (Cullen, Lim & Sykes,
2005; Miller, 2008). A QCS neurogénica pode ocorrer secundariamente a perda de
inervação parassimpática das glândulas lacrimais (nervo cranial VI) e em outras alterações
neurogénicas, nomeadamente as que envolvam o nervo trigémeo (V) e disautonomia (Glaze
& Gelatt, 1999; Miller, 2008). A doença pode estar associada a qualquer trauma que afecte
directamente as glândulas, ou que provoque lesão nos nervos responsáveis pela inervação
48
das mesmas (Crispin, 2002c; Martin, 2010c; Miller, 2008). Gatos com agenesia palpebral
também podem evidenciar QCS, devido à ausência de glândulas ou de dúctulos (Miller,
2008; Ben-Shlomo, 2012).
1.5.2.3. Diagnóstico
O diagnóstico da QCS felina é baseado na presença de sinais clínicos compatíveis e de
valores do teste de Schirmer diminuídos (Stiles, 2013). Os resultados do teste de Schirmer
podem ser de difícil interpretação no gato, uma vez que o intervalo de valores normais é
muito variável. Por outro lado, os resultados podem ser influenciados por situações de
stress, provavelmente devido ao controlo autónomo da secreção lacrimal e alterações
temporárias do fluxo lacrimal. Frequentemente, os resultados são inferiores aos valores
médios normais no acto da consulta médica (Maggs, 2008a). Contudo, o teste de Schirmer
deve continuar a ser realizado, mas interpretado com cautela (Maggs, 2008a). Resultados
inferiores a 5 mm/min., repetidos e consistentes, associados à presença de sinais clínicos
típicos são considerados diagnóstico de QCS (Glaze & Gelatt, 1999; Cullen et al., 2005). A
possível presença de infecção por HVF-1 deve ser investigada, uma vez que esta é uma
causa subjacente comum (Crispin, 2002c).
1.5.2.4. Tratamento
O tratamento da QCS felina é semelhante ao tratamento da QCS canina (Stiles, 2013),
excepto nos gatos com infecção por HVF-1, nos quais a utilização de ciclosporina é
controversa (Maggs, 2005; Gould, 2011). Os principais objectivos terapêuticos são: tratar a
causa subjacente, se for conhecida e se possível; estimular a produção lacrimal, através da
utilização de fármacos lacrimoestimulantes; repor e suplementar a película lacrimal
précorneal, pela aplicação de lacrimomiméticos e tratar infecções bacterianas secundárias
(Maggs, 2002a). Os fármacos lacrimoestimulantes incluem a ciclosporina A, o tracolimus e a
pilocarpina (colinérgico) (Grahn & Storey, 2004).
A ciclosporina A tópica é actualmente o fármaco de eleição para o tratamento da QCS
canina (Maggs, 2002b; Grahn & Storey, 2004). A sua eficácia e segurança ainda não foram
determinadas no gato. No entanto, as complicações oculares são pouco comuns, excepto
quando se verifica hipersensibilidade conjuntival (Allgoewer et al., 2001; Grahn & Storey,
49
2004; Stiles, 2013). A pilocarpina pode ser utilizada para o tratamento da QCS neurogénica
(Ghran & Storey, 2004; Miller, 2008). É um agente colinérgico que tem sido utilizado para a
estimulação parassimpática da glândula lacrimal (Maggs, 2002b). Quando administrada
topicamente, este fármaco é irritante, induzindo uveíte, com miose e hiperémia conjuntival
(Maggs, 2002b; Ghran & Storey, 2004). Isto levou à sugestão da administração off label por
via oral (1 a 2 gostas da solução oftálmica 0,25 a 0,50% dissolvida no alimento) (Maggs,
2002b; Stiles, 2013). O animal deve ser monitorizado para possíveis efeitos sistémicos de
toxicidade, tais como vómito, hipersalivação e diarreia (Maggs, 2008d). O tratamento de
suporte é assegurado pela aplicação de lágrimas artificiais quando necessário (4 a 6 vezes
por dia) e aplicação de antibióticos tópicos para prevenir a infecção bacteriana (Stiles,
2013). A transposição do ducto parotídeo está reservada para os casos em que o
tratamento médico não é bem-sucedido ou é impraticável (Crispin, 2002a; Maggs, 2002b;
Stiles, 2013). De notar que esta técnica cirúrgica raramente elimina a necessidade de se
continuar com o tratamento tópico (Miller, 2008).
Segundo Ramsey (2010b), a maioria dos gatos com QCS devido à infecção por HVF-1 não
desenvolvem QCS permanente ou de duração prolongada. Quando o vírus entra em
latência, normalmente a produção lacrimal melhora e os sinais clínicos resolvem. O
tratamento de suporte está indicado durante a fase activa da infecção.
1.5.2.5. Prognóstico
O prognóstico da QCS felina aguda que ocorre secundariamente à infecção por HVF-1 é
normalmente bom. Pelo contrário, o prognóstico da QCS crónica ou complicada, com
queratite estromal ou ulceração de córnea recidivante atribuída ao HVF-1 é geralmente
reservado (Ramsey, 2010b).
50
Read e Lucas (2001) sugerem que a radiação solar ultravioleta pode desempenhar um
papel na patogénese da lesão das glândulas de Meibomius, uma vez que a doença ocorre
predominantemente em animais com pouca ou nenhuma pigmentação palpebral e em
animais com idades entre os 6 e os 16 anos. Para além disso, o facto de ser mais comum
em gatos de pelagem branca e de, por vezes, ocorrer em associação com carcinoma das
células escamosas também pode estar relacionado com a radiação actínica (Read & Lucas,
2001; Maggs, 2008b).
O tratamento pode ser cirúrgico, médico ou conservativo. A excisão cirúrgica das lesões tem
sido recomendada quando as lesões parecem estar na origem da irritação ocular e
demonstrou ser curativa. Num estudo com 13 gatos foi realizada a excisão da lesão em 8
casos, com resolução dos sinais de irritação ocular associada e sem recidivas durante o
período de seguimento de 4 a 21 meses. A excisão de uma grande parte do tecido glandular
das glândulas de Meibomius pode levar a problemas inerentes à inadequada componente
lipídica da película lacrimal précorneal. O tratamento médico com antibiótico tópico parece
reduzir a irritação ocular, embora não a elimine. Esta é uma alternativa ao tratamento
cirúrgico, quando este não é possível (Read & Lucas, 2001).
51
2005). Outras alternativas incluem a ciclosporina tópica, os AINEs tópicos, os anti-
histamínicos e os estabilizadores dos mastócitos (Maggs, 2008b; Maggs, 2011). Os dois
últimos são comummente utilizados nos humanos, mas não existem estudos controlados
sobre a sua segurança e eficácia em Medicina Veterinária (Maggs, 2008b). Se se suspeitar
de hipersensibilidade medicamentosa, deve-se suspender a administração do fármaco
(Hendrix, 2013).
52
2. OBJECTIVOS
Os objectivos deste trabalho são contribuir para a caracterização das conjuntivites felinas na
população em estudo de 54 gatos. Pretende-se estudar os principais agentes patogénicos
da conjuntiva, o herpesvírus felino-1 e a Chlamydophila felis, mas também o Mycoplasma
felis e o calicivírus felino. São analisados os parâmetros raça, género, idade, estado vacinal,
tipo de vida, testes de FIV e FeLV, sinais clínicos oculares e do tracto respiratório superior,
resultados dos testes de diagnóstico realizados e tratamento prescrito nos animais
afectados.
3. MATERIAL E MÉTODOS
53
Espanha; PCR real-time, laboratório Dnatech, Lisboa) ou pesquisa de HVF-1,
Chlamydophila felis e Mycoplasma felis (painel ocular felino: PCR real-time, laboratório
Idexx, Espanha) ou pesquisa de HVF-1, Chlamydophila felis, Mycoplasma felis e CVF
(painel respiratório felino: PCR real-time, laboratório Idexx, Espanha).
54
4. RESULTADOS
Persa 13 (24,1%)
Siamês 5 (9,3%)
Chartreux 2 (3,7%)
Sphynx 1 (1,9%)
Ragdoll 1 (1,9%)
0 10 20 30 40
Nº gatos
4.1.2. Género
Relativamente ao género, 33 gatos pertenciam ao género masculino (61,1%) e 21
pertenciam ao género feminino (38,9%), verificando-se uma ligeira sobre-representação de
machos. Destes, 24 dos machos estavam orquidectomizados (24/33; 72,7%) e 12 das
fêmeas estavam ovariohisterectomizadas (12/21; 57,1%).
4.1.3. Idade
A idade dos gatos afectados variou entre os 2,4 meses e os 12 anos, com uma média de
idades de 4 anos (3,9 ± 3,5 anos). Quando os gatos foram distribuídos com base em
diferentes grupos etários, a maioria pertencia ao grupo etário entre 1 aos <5 anos de idade
(20/54; 37,0%) e ao grupo etário dos 5 aos 10 anos de idade (18/54; 33,3%). Apenas 2
gatos (3,7%) tinham mais de 10 anos. Os restantes animais tinham menos de 1 ano de
55
idade, com 10 gatos (18,5%) com idades compreendidas entre os 2 e os 6 meses de idade
(Gráfico 2).
40,0 20 (37,0%)
35,0 18 (33,3%)
30,0
25,0
Nº gatos
20,0 10 (18,5%)
15,0
10,0 4 (7,4%)
5,0 2 (3,7%)
0 (0,0%)
0,0
< 2 meses 2 - 6 meses 7 - 11 meses 1 - < 5 anos 5 - 10 anos > 10 anos
4.1.4. Vacinação
Sabe-se que 14 dos gatos da população em estudo estavam vacinados contra HVF-1 e
CVF. Destes, 11 também foram vacinados com a componente vacinal contra a C. felis. Nos
restantes gatos, não existe história de vacinação prévia, desconhecendo-se o seu estado
vacinal.
4.1.5. Habitat
A maioria dos gatos (43/54; 79,6%) tinha um tipo de vida interior (indoor), ou seja, eram
gatos que viviam exclusivamente no interior de uma habitação. Destes, 11 gatos (11/54;
20,4%) possuíam um tipo de vida interior e exterior (indoor/ outdoor), isto é, vivem no interior
de uma habitação e possuem acesso ao exterior e 4 gatos (4/11) estavam vacinados.
56
Gráfico 3. Sinais clínicos oculares encontrados nos gatos com conjuntivite (n=54).
40
34 (67,0%)
35
30
25
20 17 (31,5%)
15
11 (20,4%) 11 (20,4%) 10 (58,8%)
10
6 (11,1%)
4 (7,4%)
5 2 (3,7%)
Queratite ulcerativa
57
Gráfico 4. Classificação do corrimento ocular (n=34).
14
12 (35,3%)
12
10
Nº gatos
8
6 (17,6%) 6 (17,6%)
6 5 (14,7%)
4
2 (5,9%) 2 (5,9%)
2 1 (2,9%)
0
58
Tabela 3. Frequência de gatos positivos a HVF-1, C. felis, M. felis e CVF por PCR real-time.
Chlamydophila Mycoplasma
HVF-1 CVF
felis felis
Nº 10/31 3/21 0/7 0/7
% 32,3% 14,3% 0% 0%
Nº
Inflamação neutrofílica 18
Inflamação linfocítica-plasmocítica 2
59
4.3.3. Comparação entre resultados da citologia conjuntival e PCR
A citologia conjuntival e a pesquisa de C. felis através de PCR apenas foram realizadas em
15 gatos. Neste grupo (n=15), foram visualizadas inclusões intracitoplasmáticas de C. felis
em apenas 3 gatos. Pode verificar-se que houve concordância entre os gatos PCR-positivos
a C. felis e os resultados da citologia conjuntival. Destes 2 gatos, um foi negativo a HVF-1 e
a Mycoplasma felis e o outro animal foi negativo a HVF-1. Foram observadas inclusões
intracitoplasmáticas compatíveis com C. felis num gato PCR- negativo a C. felis. Este gato
também foi PCR-negativo aos outros três agentes pesquisados. Nos restantes gatos
negativos a C. felis por PCR, não foram encontradas inclusões de C. felis (Tabela 5).
4.4. Tratamento
O tratamento instituído nos vários casos incluiu antivirais tópicos (ganciclovir) (n=37),
antivirais orais (famciclovir) (n=5), rHuIFN-α tópico (n=15), rHuIFN-α oral (n=5), lisina oral
(n=34), antibióticos tópicos (n=46), antibióticos PO (n=17), AINEs tópicos (flurbiprofeno)
(n=4), ciclosporina tópica (n=2), corticosteróides tópicos (n=1), anti-histamínico tópico (n=1),
lágrimas artificiais (n=3) e fármacos midriáticos e ciclopégicos (anticolinérgicos) tópicos
(tropicamida 1%) (n=2).
7
6
6
4
3
3
2
2
1 1 1
1
0 0 0 0 0 0 0 0
0
queratite ulcerativa
Corrimento ocular Nº
Seroso 2
Purulento 1
Sanguinolento 1
Acastanhado 1
Não classificado 1
61
Quando os gatos PCR-positivos foram comparados com os gatos PCR-negativos, não se
verificou uma diferença estatisticamente significativa entre a presença de sinais associados
ao tracto respiratório superior e a detecção de HVF-1 (Anexo 1). Observou-se assim uma
correlação negativa entre a presença de sinais do tracto respiratório superior e a ocorrência
de infecção por HVF-1. Os sinais associados ao tracto respiratório superior estavam
presentes em 6 gatos.
Neste grupo (n=10), 8 gatos realizaram citologia conjuntival e verificou-se 1 caso em que
foram visualizadas inclusões intracitoplasmáticas de C. felis no exame citológico. No
entanto, não foi realizado PCR para detecção deste agente patogénico e, portanto,
desconhece-se se se trata de um caso de co-infecção por HVF-1 e C. felis. Relativamente
às restantes citologias, 4 foram classificadas como conjuntivite neutrofílica, 1 como
conjuntivite linfocítica-plasmocítica e 2 como citologias normais de conjuntiva.
62
5. DISCUSSÃO
63
resposta à irritação da superfície ocular. A infiltração de células inflamatórias pode ocorrer e
manifesta-se pelo aparecimento de um corrimento purulento (n=12), que também pode estar
associado com uma infecção bacteriana (Petersen-Jones & Stanley, 2009; Martin, 2010b). A
percentagem relativamente elevada de gatos com corrimento purulento é concordante com
o número significativo de gatos com inflamação neutrofílica na citologia conjuntival. O
corrimento sanguinolento (n=5) é encontrado na conjuntivite ulcerativa (Maggs, 2008b), o
que pode ser compatível com a patogénese dos agentes patogénicos da conjuntiva,
nomeadamente o HVF-1 e a C. felis (Maggs, 2005; Cullen & Webb, 2013).
A conjuntivite pode causar algum grau de dor e desconforto ocular, que se manifesta por
blefarospasmo (Martin, 2010b; Ledbetter, 2013), sendo um sinal expectável (n=11).
A presença de folículos linfóides (n=6) representa uma reacção inespecífica a uma
estimulação antigénica crónica (Maggs, 2008b). No exame citológico, dois gatos tinham uma
inflamação linfocítica-plasmocítica, que também está associada à inflamação crónica da
conjuntiva (Maggs, 2008b).
A epífora (n=11) pode resultar de drenagem nasolacrimal inadequada, do aumento de
produção lacrimal em resposta a irritação ocular, ou uma combinação de ambos (Petersen-
Jones & Stanley, 2009).
A queratite (n=17) é um sinal ocular comum em gatos com conjuntivite, especificamente na
infecção por HVF-1. De facto, a queratite ulcerativa herpética é muito frequente no gato, o
que leva Hartley (2010a) a sugerir que a etiologia de uma úlcera da córnea no gato deve ser
atribuída ao HVF-1, até prova em contrário.
Embora o sequestro de córnea possa desenvolver-se em qualquer gato, existe uma
predisposição nas raças Persa, Himalaia, Birmanesa, e parece haver uma maior
susceptibilidade no gato Siamês (Maggs, 2008c). A causa da doença é desconhecida, mas
pode ocorrer após queratite ou ulceração da córnea crónica, razão pela qual o HVF-1 tem
sido implicado na etiologia desta condição (Maggs, 2008c; Gould, 2011). O vírus é
detectado em cerca de 50% de biópsias de animais com sequestro (Nasisse et al., 1998
citado por Maggs, 2008c). De facto, os casos de sequestro de córnea ocorreram em gatos
da raça Persa com queratite ulcerativa, comprovando-se a tendência descrita na bibliografia.
Porém, o HVF-1 não foi detectado no gato que realizou PCR. Não obstante, em gatos com
sequestro de córnea, a biópsia parece ser o tipo de amostra mais vantajoso para a detecção
do vírus (Volopich et al., 2005).
O simbléfaro (n=4) é uma sequela frequente da infecção por HVF-1 (Andrew, 2001). A
infecção por HVF-1 foi confirmada num dos dois gatos em que foi realizado PCR.
Um quadro clínico com sinais associados ao tracto respiratório superior (n=15), queratite
(4/15) e conjuntivite é sugestivo da síndrome coriza. Na realidade, a infecção por HVF-1 foi
confirmada em seis gatos com sinais respiratórios e a infecção por C. felis em dois gatos.
64
Se partirmos do paradigma de que a maioria dos casos de conjuntivite felina é de origem
infecciosa (Waters & Barnett, 2004; Hendrix, 2009; Hillström et al., 2012; Maggs, 2012a), os
principais diagnósticos diferenciais de um gato com conjuntivite é o HVF-1, a C. felis e o
Mycoplasma spp. No entanto, nestes casos de conjuntivite verificamos que, por si só, os
sinais clínicos de conjuntivite não nos permitem reconhecer a etiologia da conjuntivite. Numa
tentativa de realizar um diagnóstico clínico, embora nos possamos guiar pelo quadro clínico
que o animal apresenta, a verdade é que, na maioria dos casos, a realização de testes
laboratoriais, ou seja, citologia conjuntival e/ou PCR, revela-se essencial.
Sabe-se que as vacinas contra o HVF-1, CVF e C. felis não induzem uma protecção
completa (Richards et al., 2006). Os gatos vacinados continuam em risco de contrair
qualquer uma destas infecções.
Cerca de 80% dos gatos deste estudo são gatos que vivem exclusivamente no interior de
uma habitação. O contacto com outros gatos e, em consequência, a probabilidade de
contacto directo e/ou indirecto com agentes infecciosos como os abordados neste estudo é
menor. Contudo, no caso do HVF-1, cerca de 80% dos gatos tornam-se portadores do vírus
e cerca de metade sofre episódios de reactivação periódicos, que pode ser sintomática
(Maggs, 2008b; Gould, 2011). Também a infecção por C. felis pode ter uma evolução
crónica e insidiosa (Sykes, 2005). Não podemos excluir a possibilidade de entrada de novos
animais na habitação e a presença destes agentes é comum na população felina.
A infecção concomitante com FIV ou FeLV pode levar ao desenvolvimento de conjuntivite
crónica (O’Dair et al., 1994; Andrew, 2001; Duarte, Alberto, Delgado, Sales Luís & Tavares,
2008). A imunossupressão causada por ambos os vírus também pode estar associada à
reactivação viral do HVF-1 (Andrew, 2001). Estas são informações importantes a ter em
conta num gato com suspeita de conjuntivite causada por HVF-1 ou C. felis infectados por
FIV e/ou por FeLV.
65
quando o gato se encontrava a fazer medicação com antibióticos. O tratamento com
antibióticos com espectro de acção contra a C. felis, nomeadamente doxiciclina, antes da
colheita da amostra, pode afectar os resultados do PCR (Lappin, 2010; Sykes & Rankin,
2013b).
Pelas razões referidas, compreende-se também o número reduzido de PCR realizados para
pesquisa de M. felis e de CVF. Sendo o HVF-1 e a C. felis considerados os principais
agentes patogénicos da conjuntiva e estando a realização destes testes condicionada, a
pesquisa destes agentes não é frequente. No entanto, alguns laboratórios comerciais
disponibilizam actualmente estes testes como painéis, que incluem PCR para HVF-1, C.
felis, M. felis e CVF, que são os agentes considerados no diagnóstico diferencial de
conjuntivite no gato.
5.2.2. HVF-1
No presente estudo, a proporção de gatos infectados por HVF-1 foi de 32,3% (10/31). Este
valor é consistente com as frequências de HVF-1 previamente publicadas. Low et al. (2007)
detectaram HVF-1 em 12,2% dos gatos com conjuntivite, utilizando o PCR real-time em
amostras conjuntivais. As taxas de detecção em gatos com doença ocular relatadas em
outros estudos variaram entre 18% e 89%, verificando-se uma grande variabilidade nas
frequências encontradas (Westermeyer, Kado-Fong & Maggs, 2008).
Neste grupo (n=31), a etiologia da conjuntivite não foi determinada numa quantidade
significativa dos gatos em que se suspeitava de conjuntivite por HVF-1. Existem várias
hipóteses para este resultado.
É possível que outro microrganismo tenha sido responsável pela conjuntivite. Na verdade,
três gatos obtiveram resultados positivos a C. felis. Nos casos em que apenas o HVF-1 foi
pesquisado, a C. felis e o M. felis podem ter sido a causa de algumas conjuntivites. O CVF é
considerado um agente patogénico da conjuntiva de menor importância (Ramsey, 2000) e,
para além disso, nenhum dos gatos apresentava sinais característicos deste vírus (úlceras
orais). Nos gatos em que não foi detectado nenhum agente patogénico conjuntival, é
possível que a conjuntivite tenha outra etiologia. Causas não-infecciosas de conjuntivite
incluem, por exemplo, reacções de hipersensibilidade (Crispin, 2005).
Outra hipótese é que o HVF-1 pode ter desempenhado um papel no processo inicial da
doença ocular, mas na altura da colheita da amostra o vírus poderia já não estar presente
ou estar presente em quantidades abaixo dos limites detectáveis, mesmo que a inflamação
ainda estivesse relacionada com o vírus. Isto é compatível com a patogénese do HVF-1, em
que são considerados dois mecanismos pelos quais o HVF-1 causa doença: através da
citólise, que resulta da replicação viral activa, ou por mecanismos imunomediados (Sykes et
al., 1999b; Rampazzo et al., 2003; Low et al., 2007). Esta é uma resposta pouco comum ao
vírus, que resulta de uma reacção imunomediada, em que não ocorre replicação viral ou
66
esta é muito reduzida Nestes casos, a detecção do vírus é mais difícil (Maggs, 2005). Assim,
os casos crónicos e recidivantes, embora possam ser desencadeados inicialmente pelo
HVF-1, podem subsequentemente ser perpetuados por uma resposta imunomediada.
No presente estudo, as diferenças nos protocolos de PCR real-time para detecção de HVF-1
e C. felis dos dois laboratórios podem ter afectado os resultados obtidos. Quando
comparado com outros métodos de detecção, o PCR possui uma maior sensibilidade. No
entanto, a sensibilidade desta técnica é variável entre laboratórios (Maggs & Clarke, 2005).
Porém, na prática clínica é comum recorrer-se a laboratórios comerciais.
O método de colheita das amostras também pode afectar os resultados (Lappin, 2010;
Sykes & Rankin, 2013b). Neste estudo, a colheita foi realizada através de um esfregaço
conjuntival com zaragatoa estéril, por ser uma técnica simples e menos traumática (Maggs,
2002b; Featherstone & Heinrich, 2013). No entanto, a amostra obtida é pouco celular,
comparativamente com uma amostra colhida através de raspagem ou escova de citologia
(Maggs, 2002b). Assim, em alguns casos é possível que não se tenha obtido uma
quantidade suficiente de células, particularmente em animais com dor ocular e pouco
colaborantes. Segundo Maggs (2005), como o HVF-1 é um vírus intracelular obrigatório,
seria expectável que quanto maior fosse o número de células colhidas, maior fosse a
probabilidade de detecção do vírus. Assim, uma amostra obtida por raspagem ou com uma
escova de citologia estaria associada a um aumento da detecção do vírus (Maggs, 2005).
Contudo, Westermeyer et al. (2008) não encontrou diferenças nas taxas de detecção do
HVF-1 das amostras conjuntivais que foram colhidas com zaragatoa e das que foram
colhidas com escova de citologia.
O tipo de população estudada também pode influenciar a taxa de detecção do vírus (Low et
al., 2007). Em populações com elevado número de animais (ex. colónias) é esperada uma
maior percentagem de infecções por HVF-1, C. felis e CVF do que em gatos de proprietários
individuais que vivem em habitações (Helps et al., 2005; Gaskell et al., 2012). Os gatos
incluídos neste trabalho pertencem todos a proprietários individuais e a maioria (79,6%) vive
exclusivamente no interior de uma habitação, pelo que os contactos com outros gatos serão
à partida muito pouco prováveis.
67
infeccioso, é possível que a causa da conjuntivite possa ter sido o M. felis (nos casos em
que não foi pesquisado). O CVF é uma causa pouco frequente. Nos gatos em que não foi
possível determinar a etiologia da conjuntivite, outras causas de conjuntivite não-infecciosa
devem ser consideradas, pois podem ter sido a causa da conjuntivite em alguns casos.
Outra hipótese é que em alguns casos podem ter sido obtidos resultados falso-negativos. A
não detecção do HVF-1 em alguns dos casos (já discutida anteriormente), particularmente
nos gatos com queratite e sinais associados ao tracto respiratório superior, como a não
detecção da C. felis podem ter ocorrido. Como já foi explicado previamente, por norma a
pesquisa de C. felis não é realizada nos gatos que se encontravam a fazer tratamento com
antibióticos. É então pouco provável que a detecção desta bactéria tenha sido influenciada
pelo tratamento antimicrobiano.
Embora menos prováveis, resultados falso-negativos também podem ocorrer associados ao
método de colheita e à técnica de PCR. Como já referido relativamente ao HVF-1, as
diferenças nos protocolos de PCR existentes entre laboratórios pode influenciar os
resultados obtidos, podendo as taxas de detecção diferir entre os laboratórios (Lappin,
2010). A realização dos testes de PCR em dois laboratórios distintos pode ter afectado os
resultados neste trabalho. A frequência de infecção por C. felis determinada por PCR em
três laboratórios diferentes variou entre 2 a 17% (Sandmeyer et al., 2010).
Sendo a C. felis uma bactéria intracelular obrigatória, a colheita de uma quantidade
suficiente de células é importante (ABCD, 2008; Sykes, 2013a). Como já foi referido
relativamente ao HVF-1, é possível que em alguns casos a colheita com zaragatoa não
tenha optimizado a recolha de células epiteliais em quantidade suficiente e,
consequentemente, a detecção da bactéria.
68
que levou os autores a considerarem a possibilidade de a proporção de M. felis naquela
população ser baixa. Uma situação semelhante pode ter acontecido no presente trabalho,
sobretudo devido ao número reduzido de amostras conjuntivais avaliadas.
69
inflamação neutrofílica pode apenas representar uma inflamação não específica como
resultado ao sobrecrescimento da microbiota da conjuntiva (Maggs, 2002b).
A inflamação linfocítica-plasmocítica (n=2) está associada à inflamação crónica da
conjuntiva ou a condições alérgicas (Raskin, 2010).
A hiperplasia conjuntival (n=3) pode estar associada a causas como queratoconjuntivite
seca, doença crónica, trauma resultante de agentes irritantes mecânicos e deficiência em
vitamina A (Raskin, 2010). Este achado no exame citológico não fornece informação sobre a
possível etiologia da conjuntivite.
Está descrito na bibliografia que os eosinófilos não são encontrados com frequência em
gatos com conjuntivite (Nasisse et al., 1993 citado por Hillström et al., 2012). Os eosinófilos
são encontrados na conjuntivite alérgica e na conjuntivite eosinofílica felina (Allgoewer et al.,
2001; Maggs, 2008b). Podemos inferir que é provável que nenhum dos gatos apresentasse
conjuntivite devido a estas etiologias.
Duas citologias conjuntivais foram interpretadas como conjuntivite bacteriana. Um gato foi
PCR-negativo a HVF-1. Na realidade, a conjuntivite bacteriana primária é rara no gato
(Waters & Barnett, 2004). Pode, no entanto, ocorrer secundariamente a outras doenças
oculares e quando os gatos estão imunocomprometidos (Crispin, 2002a). Neste caso, não
dispomos de informação que nos permita afirmar se se trata de uma conjuntivite bacteriana
primária ou se apenas se trata de um sobrecrescimento da microbiota da conjuntiva.
A citologia conjuntival é considerada um método de diagnóstico pouco sensível para a
detecção de C. felis (Sykes, 2013a) porque as inclusões são observadas principalmente nas
2 primeiras semanas após infecção (Hoover et al., 1978 citado por Hillström et al., 2012). No
presente estudo, as inclusões intracitoplasmáticas foram detectadas em 5 amostras
conjuntivais. O mesmo tem ocorrido em vários estudos, em que são visualizadas inclusões
de C. felis em amostras conjuntivais de gatos com conjuntivite (Rampazzo et al., 2003; von
Bomhard et al., 2003; Volopich et al., 2005; Hillström et al., 2012). Uma vez que os
resultados falso-positivos ou falso-negativos podem ocorrer, a confirmação do diagnóstico
requer a realização de um teste de PCR.
Não foram encontrados corpos de inclusão compatíveis com Mycoplasma spp. em nenhuma
das amostras conjuntivais examinadas (n=28). A citologia conjuntival é um método de
diagnóstico pouco sensível e específico para o diagnóstico de infecção por M. felis, obtendo-
se frequentemente resultados falso-negativos ou falso-positivos (Hillström et al., 2012).
Assim, isto pode significar que as inclusões de Mycoplasma spp. não estavam presentes ou
que não foram observadas nestes exames citológicos.
Na infecção por HVF-1, as inclusões intranucleares são ocasionalmente encontradas
(Hillström et al., 2012). A sua presença foi relatada com o corante de Pappenheim (Volopich
et al., 2005). Estas inclusões virais não são normalmente visíveis quando são utilizados
corantes do tipo Romanowsky como por exemplo, o Wright-Giemsa (Andrew, 2001; Hillström
70
et al., 2012). Esta informação é concordante com o estudo de Hillström et al. (2012), que
não detectou nenhuma inclusão viral com um corante do tipo Romanowsky e com o
presente estudo, onde também foi usado o corante Giemsa.
Slatter (2001) refere que a citologia raramente conduz a um diagnóstico específico. De facto,
os achados citológicos não são específicos de nenhuma causa de conjuntivite e, portanto,
não foram úteis para a determinação da etiologia da conjuntivite. No entanto, neste estudo,
a citologia conjuntival pareceu ser útil no diagnóstico da clamidiose quando são detectadas
inclusões de C. felis no exame citológico. Este resultado empírico é corroborado por alguns
estudos que relatam uma elevada concordância entre a citologia conjuntival e o PCR no
diagnóstico da infecção por C. felis, em gatos com conjuntivite aguda (Rampazzo et al.,
2003), e que relatam a utilidade da citologia conjuntival quando estão presentes muitas
inclusões típicas de C. felis (Hillström et al., 2012). Pode também ser uma ferramenta útil
quando se suspeita de sobrecrescimento da microbiota da conjuntiva e na decisão de quais
os casos em que os antibióticos tópicos estão recomendados. De facto, os antibióticos
tópicos são frequentemente prescritos nos casos de conjuntivite. Porém, esta abordagem é
apropriada em duas situações: para o tratamento da conjuntivite bacteriana primária, que é
rara, e quando o objectivo é limitar o sobrecrescimento da microbiota conjuntival (Maggs,
2008b).
5.5. Tratamento
A realização do diagnóstico etiológico permite a escolha do regime terapêutico adequado
(Powell, 2003). Contudo, por vezes o tratamento instituído para a conjuntivite felina é
71
empírico (Diehl, 2007), ou porque a realização de testes é condicionada pela situação
económica dos proprietários, ou porque o gato exibe sinais característicos de um
determinado agente etiológico, mesmo que se tenha obtido um resultado negativo no PCR.
Um exemplo desta situação é um gato com úlceras dendríticas da córnea, patognomónicas
da infecção por HVF-1. Contudo, o tratamento empírico está associado a algumas
desvantagens. Por exemplo, os antivirais tópicos são relativamente caros, podem provocar
irritação ocular e necessitam de uma aplicação muito frequente.
O regime terapêutico instituído nos gatos com conjuntivite consistiu maioritariamente no
tratamento antiviral (antiviral, lisina e IFN) e/ ou na antibioterapia tópica e sistémica. Do
tratamento antiviral, destaca-se os antivirais tópicos, prescritos nos casos de infecção
herpética confirmada por PCR, nos casos em que o animal exibe sinais oculares
patognomónicos da infecção por HVF-1 apesar de se ter obtido um resultado PCR-negativo
e, ocasionalmente, nos casos em que não foi possível a realização deste teste devido ao
factor económico dos proprietários. A lisina e o IFN constituem o tratamento coadjuvante da
infecção herpética. Tendo em conta que apenas 3 gatos foram PCR-positivos a C. felis, a
elevada prescrição de antibióticos tópicos reflecte o tratamento empírico nos casos em que
não foram realizados testes de diagnóstico adicionais e os casos em que se suspeitou de
sobrecrescimento da microbiota conjuntival. A antibioterapia sistémica refere-se sobretudo à
doxiciclina, prescrita nos casos de clamidiose. Os AINEs, a ciclosporina, os corticosteróides
e os anti-histamínicos tópicos, as lágrimas artificiais e os fármacos midriáticos e ciclopégicos
tópicos são utilizados como tratamento paliativo.
72
sub-representados neste estudo. No entanto, verificamos que 3 dos gatos com HVF-1
pertencem ao grupo etário de elevado risco (<1 ano).
Dos 10 gatos com HVF-1, apenas 3 tinham história de vacinação prévia; nos restantes gatos
o estado vacinal é desconhecido. Sabe-se que as vacinas contra o HVF-1 protegem contra a
doença clínica, reduzindo a gravidade dos sinais clínicos, mas não previnem a infecção ou o
estabelecimento da infecção latente (Gaskell et al., 2007). Nestes três casos a vacinação
não preveniu o desenvolvimento de conjuntivite. No estudo de Rampazzo et al. (2003), a
probabilidade de um gato desenvolver conjuntivite causada por HVF-1 não foi afectada pela
vacinação, uma vez que 56% dos gatos com conjuntivite estavam vacinados.
Os gatos que têm contacto com outros animais têm um risco mais elevado para contrair a
infecção por HVF-1 (Sykes et al.,1999b). Os gatos que têm acesso ao exterior têm uma
maior probabilidade de estabelecer contacto com outros gatos potencialmente infectados.
Neste grupo, a maioria dos gatos (n=7) tinha um estilo de vida indoor. Pode colocar-se duas
hipóteses para esta elevada frequência de infecção em gatos com um tipo de vida
exclusivamente interior: os gatos mais jovens (<1 ano) podem ter sido adoptados num
abrigo em que o vírus era muito prevalente ou podem ter adquirido a infecção através da
progenitora; os gatos com idades >1 ano podem ser gatos portadores de infecção latente
em que um episódio de stress (ex. viagem) levou à reactivação viral e doença
recrudescente. Também não podemos descartar a hipótese de ter sido introduzido um novo
gato com infecção activa na habitação.
Todos os gatos com história de conjuntivite tinham mais de 1 ano de idade. É possível que a
causa do episódio anterior de conjuntivite tenha sido o HVF-1 e que estes casos
representem episódios de reactivação viral latente.
Como já foi referido anteriormente, a progressão dos sinais oculares e a doença ocular
bilateral (n=8) é frequente (Martin, 2010b). Os sinais clínicos associados à doença
recrudescente podem ser uni- ou bilaterais (Maggs, 2008b).
O elevado número de gatos com corrimento ocular era expectável. O corrimento ocular
surge associado à conjuntivite (Maggs, 2008b) e é um sinal frequente tanto na infecção
primária como na doença recrudescente (Maggs, 2005; Gould, 2011). Inicialmente o
corrimento ocular é seroso (n=2) mas, frequentemente, pode tornar-se purulento (n=1)
(Maggs, 2005).
A queratite é outro dos sinais expectáveis num animal com HVF-1, pois resulta dos efeitos
citopáticos directos do vírus no epitélio da córnea (Maggs, 2005; Andrew, 2008). Pode
ocorrer na infecção primária ou na doença recrudescente (Maggs, 2005; Gould, 2011).
As causas do desenvolvimento de epífora já foram referidas anteriormente. Na infecção por
HVF-1, a conjuntivite grave pode causar lesão dos pontos lacrimais, o que origina epífora
crónica, que pode persistir após a resolução da conjuntivite (Stiles, 2003). A epífora surge
assim como uma sequela da infecção.
73
O simbléfaro é comum em gatos jovens com história compatível com infecção por HVF-1
(Andrew, 2001). Em casos graves de conjuntivite herpética, pode ocorrer adesão entre as
superfícies da conjuntiva ou entre a conjuntiva e a córnea (Stiles, 2012).
A ausência de blefarospasmo neste grupo não era esperada. A doença ocular associada ao
HVF-1 habitualmente causa dor, mesmo nos gatos só com conjuntivite (Stiles, 2003).
Como seria de esperar, a maioria dos animais infectados com HVF-1 apresentavam sinais
associados ao tracto respiratório superior. A infecção primária está associada a sinais de
rinite, tais como espirros e corrimento nasal seroso ou purulento (Maggs, 2005; Gaskell et
al., 2012). Na doença recrudescente resultante de reactivação viral, os sinais do tracto
respiratório superior podem ou não estar presentes (Maggs, 2008b; Stiles, 2012). Na
bibliografia também é referido que um gato com espirros tem uma probabilidade de estar
infectado com HVF-1 cerca de três vezes (2,7) maior do que gatos infectados com C. felis
(Sykes et al., 1999b).
O exame citológico de quatro gatos com HVF-1 revelou uma inflamação neutrofílica. De
facto, na bibliografia está descrito que a infecção por HVF-1 é uma causa comum deste tipo
de inflamação (Raskin, 2009). No entanto, este achado não é específico da infecção por
HVF-1, pelo que não é considerado vantajoso para o diagnóstico.
Relativamente às citologias com características normais (n=2), Hillström et al. (2012)
obtiveram resultados semelhantes. Nesse estudo, 4/9 gatos com PCR positivo para HVF-1
não apresentavam inflamação ou apenas uma inflamação ligeira no exame citológico.
Após confirmação da presença do HVF-1, o tratamento antiviral foi instituído nestes animais.
74
Há registo de que um gato estava vacinado; no entanto, a vacinação não previne a infecção
ou a excreção mas reduz a gravidade dos sinais clínicos (Richards et al., 2006; ABCD,
2008; Sykes & Greene, 2012). Um gato tem hábitos de vida semi-livre, o que possibilita o
contacto directo com outros gatos possivelmente infectados e as suas secreções oculares.
O gato infectado com FeLV apresentava conjuntivite crónica, com duração de cerca de 2
meses. A imunossupressão que este vírus causa pode levar ao desenvolvimento secundário
de infecções oportunistas (Sykes & Hartmann, 2013), o que pode ser o caso desta infecção
por C. felis. À semelhança do FIV (O’Dair et al., 1994), o FeLV também pode levar ao
desenvolvimento de conjuntivite crónica (Duarte, Alberto, Delgado, Sales Luís & Tavares,
2008).
A conjuntivite era unilateral em dois gatos e bilateral em um gato. Como é descrito na
bibliografia, a conjuntivite pode ser inicialmente unilateral, mas geralmente progride e torna-
se bilateral (ABCD, 2008; Maggs, 2008b).
O corrimento ocular, neste caso purulento (n=2), é um sinal característico associado à
conjuntivite. Com a progressão da infecção é comum haver progressão de um corrimento
ocular seroso para mucopurulento (Crispin, 2002a; ABCD, 2008). Como se veio a verificar,
não se esperaria que a queratite fosse encontrada neste grupo, pois a doença da córnea é
rara e, se presente, deve-se provavelmente à co-infecção com o HVF-1 (Sykes, & Greene,
2012).
A C. felis também pode infectar o tracto respiratório superior, mas os sinais de rinite são
menos frequentes e geralmente ligeiros (Gould & Papasouliotis, 2013; Stiles, 2013). Alguns
gatos desenvolvem espirros ou corrimento nasal (Sykes & Greene, 2012), como foi
observado nestes dois casos.
Neste grupo foram observadas inclusões intracitoplasmáticas de C. felis em todos os gatos
que realizaram citologia (n=2) (já discutido previamente). A inflamação neutrofílica foi
observada em todos os gatos PCR-positivos, que realizaram citologia conjuntival (n=2). Este
resultado está de acordo com os resultados de von Bomhard et al. (2003) e de Hillström et
al. (2012), em que se verifica a mesma tendência. Segundo von Bomhard et al. (2003), a
ausência de inflamação neutrofílica torna menos provável a detecção deste agente.
Após a confirmação da infecção por C. felis, foi instituído o tratamento com doxiciclina
sistémica nestes gatos.
75
Em segundo lugar, por se tratar de um estudo retrospectivo, os parâmetros são analisados
depois de a doença ter ocorrido (Fronteira, 2013). Isto traz limitações relativas às
informações existentes, pois nem sempre foram registadas todas as informações pertinentes
para o estudo. A classificação da gravidade da conjuntivite ficou limitada por essa razão.
Por último, a utilização de dois laboratórios para a realização dos testes de PCR real-time e
a inerente variabilidade dos protocolos pode ter influenciado os resultados. No entanto, a
comparação de diferentes protocolos de PCR não foi um dos objectivos deste estudo.
76
6. CONCLUSÃO
O estudo realizado permitiu descrever as características de uma população de 54 gatos com
conjuntivite. Permitiu obter alguns dados sobre a abordagem ao diagnóstico e à terapêutica
da conjuntivite no gato.
Em primeiro lugar, os resultados deste estudo deram ênfase à natureza infecciosa da
conjuntivite felina. O HVF-1 e a C. felis foram frequentemente encontrados neste grupo de
gatos. No entanto, o Mycoplasma spp. e o CVF também devem ser considerados no
diagnóstico diferencial. E, embora se parta habitualmente deste paradigma, são
reconhecidas várias outras causas de conjuntivite no gato.
O diagnóstico etiológico é importante para a escolha da melhor abordagem terapêutica na
conjuntivite felina, mas neste estudo constatou-se que não é possível determinar a etiologia
apenas com base nos sinais clínicos. A quemose, a hiperémia conjuntival e o corrimento
ocular foram os sinais clínicos mais registados. Estes são os sinais que caracterizam a
inflamação conjuntival. Como tal, a presença de conjuntivite por si só, deve ser considerada
um “sinal clínico” e não um diagnóstico, pois este padrão clínico parece ser comum a todas
as etiologias de conjuntivite, ocorrendo apenas variações relativamente ao grau de
gravidade do mesmo (ligeiro, moderado, grave).
Frequentemente, o quadro clínico não é suficiente para se fazer a diferenciação entre os
agentes infecciosos associados à conjuntivite felina. Por exemplo, sabe-se que a infecção
por HVF-1 pode causar conjuntivite em associação com queratite e/ou sinais de doença
respiratória superior (Maggs, 2005), enquanto a C. felis é principalmente um agente
patogénico da conjuntiva, e a quemose é o sinal predominante (Sykes, 2005). Neste estudo,
verificou-se que, por vezes, o quadro clínico apresentado por estes agentes pode ser muito
semelhante. Para além disso, embora não se tenha verificado neste estudo, a co-infecção
entre estes agentes pode ocorrer (Rampazzo et al., 2003; Hartmann et al., 2010).
Para determinar a etiologia da conjuntivite recorreu-se habitualmente à realização da técnica
de PCR real-time e da citologia conjuntival. O PCR real-time demonstrou ser vantajoso e
constituir uma boa abordagem para o diagnóstico etiológico. Consistiu numa forma de
confirmar o envolvimento do HVF-1 e da C. felis no processo clínico ocular.
O diagnóstico etiológico permitiu a escolha adequada da terapêutica. A confirmação da
infecção por HVF-1 foi útil para identificar os animais nos quais o tratamento com antivirais,
lisina e IFN está mais indicado. Também a confirmação da infecção por C. felis permite a
escolha da antibioterapia mais adequada a esta bactéria. Além disso, permite a
implementação de medidas de profilaxia, pois é recomendado que todos os gatos que estão
em contacto sejam tratados para prevenir as reinfecções cíclicas.
A citologia conjuntival pareceu ser uma ferramenta de diagnóstico útil na infecção por C.
felis. É um método simples, rápido, pouco dispendioso e que não requer a utilização de
77
equipamentos muito sofisticados. Pode também ser uma ferramenta útil na decisão de quais
os casos em que os antibióticos tópicos estão recomendados.
A realização destes testes de diagnóstico é dispendiosa. A actual conjuntura económica do
país condiciona frequentemente o consentimento dos proprietários para a realização destes
testes, particularmente do PCR. Nestes casos, o clínico baseia a sua abordagem (i) na
história clínica e sinais clínicos observados e (ii) no tratamento empírico e resposta à
terapêutica. Nestes casos, a adesão dos proprietários ao regime terapêutico é ainda mais
importante. Na verdade, há clínicos que começam a abandonar os testes laboratoriais para
o diagnóstico de HVF-1 e C. felis em gatos com conjuntivite e apostam na abordagem
clínica (Maggs, 2012a).
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Young, K.M. (2013). Eyes and associated structures. In R.L. Cowell & A.C. Valenciano
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(4th ed.). (pp. 149-171). St. Louis: Mosby Elsevier.
Zeugswetter, F., Hittmair, C.M., Arespacochaga, A.G., Shibly, S. & Spergser, J. (2007).
Erosive polyarthritis associated with Mycoplasma gateae in a cat. Journal of Feline
Medicine and Surgery, 9 (3), 226-31.
94
ANEXOS
95
Anexo 1: (continuação) Tabela com testes de PCR real-time realizados.
NA NA NA NA
NEG NEG NA NA
NA NA NA NA
NA NA NA NA
NEG NA NA NA
NEG NEG NA NA
NA NA NA NA
NA NA NA NA
NEG POS NEG NEG
NA NA NA NA
NA NA NA NA
POS NEG NEG NEG
NEG NEG NA NEG
POS NA NA NA
POS NEG NEG NEG
96
Anexo 2: Tabelas de contigência das variáveis categóricas investigadas.
HVF-1
– + Total
Total 21 10 31 p = 0,106
HVF-1
– + Total
Tipo de vida Sem acesso ao
18 (58,1%) 7 (22,6%) 21
exterior
Com acesso ao
3 (9,7%) 3 (9,7%) 6
exterior
Total 21 10 31 p = 0,358
97
98