Competitividade No Varejo
Competitividade No Varejo
Competitividade No Varejo
Resumo: Neste início do século XXI muitos estudos têm como foco as alianças estratégicas
que nos segmentos industriais se dá através da integração vertical da cadeia de produção, essa
estratégia de cooperação busca a aquisição de novas vantagens competitivas em segmentos
altamente competitivos. Assim como nos segmentos industriais o setor varejista tem visto sua
lucratividade decair com o aumento da concorrência. A entrada de grandes redes
internacionais a partir da década de 1990 exigiu que os pequenos e médios comerciantes
locais buscassem também alternativas para a ampliação de suas vantagens competitivas. Os
pequenos varejistas não dispondo de poder de barganha dentro da estrutura de sua indústria
passaram a buscar nas redes de cooperação elementos que pudessem contribuir para a sua
permanência no mercado. Este artigo visa identificar como está ocorrendo este processo e
quais os benefícios e os entraves à formação de redes associativistas entre varejistas
concorrentes.
1 Introdução
2 Metodologia
comprador ou eleva seu desempenho. O valor criado para o comprador deve ser, contudo,
percebido por ele, para que seja recompensado com um preço-prêmio (PORTER, 1989).
No processo de cooperação as empresas devem ter claro que os seus elos
internos devem ser compartilhados com os demais componentes da aliança formada, inclusive
proporcionando novos elos entre cadeias.
(CASAROTTO FILHO; PIRES, 1999, p. 44) porque envolvem definições de marketing mix,
armazenagem, distribuição e transportes, requisitando recursos humanos altamente
capacitados para estas funções, que elevariam demasiadamente os gastos das pequenas
empresas.
É em um cenário de hiperconcorrência que as empresas devem procurar
desenvolver habilidades que criem vantagens competitivas sustentáveis e, por mais
contraditório que isso possa ser, as organizações devem procurar a cooperação acima da
competição.
integrando as cores da marca, a sua fachada e ambiente interno. Essa rede utiliza a sua marca
como nome principal das lojas, tanto em veículos de entrega como no material promocional e
em seus luminosos, deixando em segundo plano suas marcas independentes, apesar de
juridicamente serem distintas.
A segunda meta foi a integração dos objetivos individuais de cada
associado, culminando em um planejamento estratégico único para toda a rede. O passo
seguinte foi a integração dos sistemas de informações, instalando computadores ligados em
rede em todas as lojas e disponibilizando um software único de gestão. Através desta rede são
disponibilizadas todas as informações referentes a negociação com fornecedores, pesquisas de
mercado (contratadas pela associação), informes de reuniões e até mesmo as atas das
assembléias.
Visto as restrições de capital de giro dos pequenos varejistas, fato comum
em todos os segmentos do país, e a sua necessidade de oferecer uma maior quantidade de
produtos, de forma a competir com os home centers que disponibilizam até 60 mil itens, a
rede criou o Centro Integrado de Logística (CIL). Este centro é composto por um depósito
central que armazena os produtos de maior valor agregado (normalmente item de
acabamento), minimizando os investimentos individuais em estoque e criando assim estoques
estratégicos.
As lojas participantes da rede estão deixando de ser “depósitos de materiais
de construção” para se tornarem show rooms, desta forma os varejistas podem concentrar seus
recursos nos produtos de alto giro (materiais brutos) disponibilizando apenas um mostruário
dos produtos de acabamento. Quando é efetuada uma venda de um destes produtos é emitido
um pedido ao CIL que poderá entregar em 24 horas na própria loja ou diretamente ao cliente,
constituindo-se assim em um sistema de logística integrado, reduzindo os custos operacionais
de entrega mediante o compartilhamento de veículos e fretes entre a CIL e lojistas e entre os
lojistas.
Essa rede também utiliza o marketing cooperado, ou seja, desenvolve
material promocional – folders, propaganda em TV, rádio, outdoor, etc – em conjunto,
compartilhando seus custos. Uma das atividades de suporte mercadológico da rede é a
constante realização de pesquisas, dentre as principais destaca-se pesquisas de preço junto a
fornecedores e concorrentes, ranking de compras da rede, marketing share e as principais
tendências do mercado.
Embora Casarotto Filho e Pires (1999) apliquem seus conceitos nos casos
específicos de consórcios para exportação, estes também podem ser utilizados para a
avaliação de outros processos de alianças estratégicas entre pequenas e médias empresas.
Esses autores propõem que os consórcios, assim como as redes associativistas, devam prestar
alguns tipos de serviços aos integrantes da rede: (a) informações periódicas: busca de
informações junto a centros de pesquisa, internet e revistas especializadas; (b) pesquisas de
mercado; (c) difusão de informações; (d) campanhas de marketing; (e) serviços financeiros;
(f) participação em feiras; (g) consultorias; (h) projetos específicos: relacionados a parcerias,
treinamentos, eventos, entre outros; (i) formação (em processo de internacionalização); (j)
convenções e meetings.
Lipnack e Stamps (1994) propõem uma reflexão em torno de alguns
aspectos importantes que atuam como os grandes motivadores dos processos de cooperação,
que seriam as seguintes políticas: (a) aquisição e compras conjuntas; (b) armazenagem e
estocagem conjuntas; (c) coordenação de fornecedores; (d) serviços profissionais; (e)
marketing conjunto; (f) venda em conjunto; (g) pesquisa de mercado; (h) avaliação de
necessidades comuns; (i) marca conjunta; (j) prospecção de oportunidades e ameaças; (l)
desenvolvimento conjunto de produtos e serviços; (m) desenvolvimento conjunto de
processos; (n) compartilhamento de processos de pesquisas e inovações; (o) transferência e
difusão de tecnologia; (p) programa conjunto de qualidade; (q) benchmarking; (r)
compartilhamento de padrões internos; (s) certificação de padrões internacionais; (t)
conhecimentos especializados e habilidades específicas de comércio (treinamento); (u)
habilidades básicas comerciais/profissionais (treinamento); (v) habilidades gerais
(treinamento).
A luz destes dois autores, Lipnack e Stamps (1994) e Casarotto Filho e Pires
(1999), pode-se identificar o grau de integração das redes apresentadas nos cases anteriores.
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Diante da análise destes atributos pode-se averiguar que as duas redes focos
deste estudo encontram-se em dois estágios distintos dos processos de alianças estratégicas. O
segundo case, a rede de supermercados, apesar de atuar no mercado a mais tempo não
apresenta o grau de integração verificado no primeiro case.
Nota-se que isso pode estar acontecendo devido as atividades de
benchmarking que a rede de materiais de construção se utilizou ao longo do tempo, ao buscar
inovações neste segmento em diversas feiras e congressos sobre alianças estratégicas e
cooperativismo.
Outro fator decisivo para a sua rápida evolução está relacionado com o tipo
de concorrência que estavam enfrentando e as suas decisões estratégicas para superá-la.
Enquanto a rede supermercadista se via acuada pela concorrência no quesito preço, a rede de
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materiais de construção se sentia pressionada também pela oferta de produtos dos grandes
varejistas, e estavam dispostos a encontrar alternativas para solucionar esse problema dentro
das limitações financeiras de uma pequena empresa.
A transformação das lojas convencionais em show rooms é resultado direto
desta política, que visa reduzir o custo de manutenção de estoques através da criação de
estoques estratégicos de produtos de alto valor agregado e baixo giro em um único depósito,
que funciona como uma espécie de atacadista que repassa essas mercadorias ao preço de custo
às empresas associadas.
As demais atividades implementadas pela rede de materiais de construção –
consultoria e assessoria, treinamento, integração dos sistemas de informação e gerenciamento
(via software), compartilhamento de marca e layout – vieram agregar ainda mais valor e
competitividade às pequenas empresas, que isoladamente não poderiam contar com tais
serviços.
Apesar da rede supermercadista já disponibilizar produtos de marca própria,
não houve a constatação de uma integração de ambiente de loja, layout e mesmo de utilização
da marca, um exemplo disso é o destaque dado ao nome do supermercado em detrimento ao
nome da rede nos próprios folders promocionais.
Já a rede de materiais de construção busca fortalecer sua marca, utilizando-
se dela em destaque nas fachadas, folders e na própria integração do ambiente de loja e de seu
layout, fortalecendo também alguns outros aspectos como o atendimento, ao fornecer
treinamento e capacitação aos funcionários de todos os associados e promover a integração
logística da rede. Essa concepção se faz importante para estabelecer o valor da marca para o
cliente, de modo a criar uma relação de diferenciação perante a concorrência.
Este quadro demonstra o compartilhamento das funções presentes na cadeia
de valor das redes analisadas. Pode-se perceber que as funções iniciais são as primeiras
integradas pelas empresas participantes de alianças estratégicas entre concorrentes. A busca
pelo ganho através da redução dos custos de aquisição é a base de sustentação de todas as
atividades das redes.
As maiores dificuldades dizem respeito a integração das funções finais,
visto que as redes varejistas não corroboram a função venda (pois mesmo unidas continuam
competindo entre si), e a integração mercadológica depende da coordenação dos objetivos
individuais.
As redes que compartilham um maior número de funções de suas cadeias de
valor passam a adquirir vantagens através de outras atividades de apoio e primárias, como o
desenvolvimento tecnológico, a capacitação dos recursos humanos, a integração logística e,
principalmente, a disseminação de conhecimento e know how.
Todas as vantagens que estão sendo adquiridas pelas redes de pequenas
empresas varejistas estão modificando o cenário concorrencial onde estão inseridas,
reestruturando a matriz das cinco forças, que passa a contar com um novo ator dentro da
estrutura de rivalidade interna, que altera não só esta, mas também o relacionamento com os
fornecedores e com os clientes.
Para as pequenas empresas participantes e, até mesmo para as grandes, isso
promove novas barreiras de entrada, elimina e seleciona novos concorrentes e pode
proporcionar o aumento da lucratividade, na medida em que os concorrentes percebam que a
concorrência deve ficar restrita a uma “área implícita de acordo cooperante” (MINTZBERG;
QUINN, 2001, p. 193).
9 Conclusão
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Referências
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
IGLIORI, Danilo C. Economia dos clusters industriais e desenvolvimento. São Paulo: Iglu:
FAPESP, 2001.
LIPNACK, Jessica; STAMPS, Jeffrey. Rede de informações. São Paulo: Makron Books,
1994.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ed. Porto Alegre: Bookman,
2001.