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All content following this page was uploaded by Larissa dos Santos on 03 November 2018.
RESUMO
Este artigo tem por propósito estabelecer uma discussão sobre a Revolução Haitiana e a
violência colonial que preencheu o clima da ex-colônia francesa de Saint Domingue
que culminou no levante da única rebelião escrava que conquistou a emancipação
desejada, assim como suas repercussões soaram no mundo colonial escravagista.
ABSTRACT
This article aims the addressing of a discussion about the Haitian Revolution and the
colonial violence that filled the climate of the former French colony of St. Domingue
that culminated in the uprising of the only slave rebellion that conquered an
emancipation, as well as its repercussions that went around in the colonial slave world.
1
Graduanda de Biblioteconomia na ECA-USP, artigo feito para a disciplina de História da Cultura e da
Comunicação I.
2
INTRODUÇÃO
Veremos, então, como a violência do sistema colonial levou a tal ato único e
para Trouillot (1995) inimaginável mesmo quando estava no decorrer. E como isso
afetou os escravos em uma descolonização (Fanon, 1961) para que eles pudessem
combater o âmago colonialista. A violência que a instauração do mundo colonial causou
em formas sociais diferentes, acabando com sua autonomia e aculturando-o, investindo
em cidades que podem sim ser retomadas pelos povos.
A escolha do tema foi feita devido como o mundo colonial constrói uma
violência que se torna insustentável, prestando atenção na relevância que a revolução
tem na linha do tempo da história e por seu espalhamento no mundo que causou um
efeito borboleta, tendo reações fortes de todo o mundo, que responde com
incredulidade, repressão, vilanização e admiração, além da falta de conteúdo sobre dada
a importância que a revolução teve como influenciador da abolição nas Américas e em
conquistar transformações radicais no continente, e as raízes da crise socioeconômico e
política do Haiti de hoje está no tratamento pós-revolução que o Haiti sofre, que
transformou-o de a colônias mais rica e próspera para um caos social.
2
JAMES, Cyril Lionel Robert; The black Jacobins. [S.I]: Vintage books, 1963. 3-5p.
5
prospera em meio dos horrores da escravidão, considerada a mais rica colônia europeia
de todos os tempos, representado mais de um terço do comércio exterior da França e
indispensável para a manutenção da sociedade europeia, responsável pela metade da
produção de café e açúcar no mundo, o que era um grande motor capitalista da época.
Este quadro não está oposto ao que C. L. R. James em sua obra Os jacobinos
negros, referencial importante deste artigo, retrata:
Esta era uma imagem constante dos escravos nas plantações de açúcar que
exigiam trabalho incessante e árduo, o que não traz choque a constatar que a expectativa
de vida de um escravo era de três anos em meio a isso. Com uma terra tropical assolada
fortemente pelo sol e rodeada de insetos nas plantações, era necessário cavar uma
grande vala para garantir a circulação do ar das canas do açúcar, e as canas jovens
necessitaram de atenção extra para os primeiros três ou quatro meses e atingiam a
6
Na obra Peles negras, máscaras brancas (1952), Fanon explicita que a sociedade
não escapa a influência humana e que é pelo homem que a sociedade chega a ser,
deixando o prognóstico nas mãos daqueles que quiserem sacudir as raízes contaminadas
do edifício, obtendo um tipo de “reificação” que a alienação colonial se expressa na
“invenção” do ser negro pela perspectiva negativa do outro com uma certa
“coisificação”:
3
[…] desde os navios negreiros, pelo suicídio, pela greve de fome, pela recusa de medicamentos, o
vento da revolta começou a soprar: os negros deixavam os corpos aos brancos e iam reunir-se no
mundo de suas avós. ” (HURBON, 1988, P. 67)
4
Vodu é um ramo de uma tradição religiosa teísta-animista baseada nos ancestrais africana, com raízes
primárias entre os povos Fon-Ewe da África Ocidental, no país atualmente chamado Benin,
anteriormente Reino do Daomé, onde ele é hoje em dia a religião nacional de mais de sete milhões de
pessoas. (CHARLES, Hùngbónò. Vodu haitiano. Disponível em: <
https://ocandomble.com/2011/03/21/vodu-haitiano-2/>. Acesso em: 29 de maio 2018).
7
divertia abertamente. “Mamãe, olhe o preto, estou com medo! ” Medo, medo!
E começavam a me temer. Quis gargalhar até sufocar, mas isso tornou-se
impossível (FANON, 1952, p. 105).
E assim, sufocados pela imagem que o branco europeu colonial impôs em si,
demonizando-o para a justificativa de seus atos perversos, por seus trabalhos forçados
durante todo o dia e até tarde da noite, aculturação, punições apenas por um racismo
sadista, estupro, matança, doenças, subalimentação, preconceito de cor e todas as outras
finitas violências coloniais, eles explodem na noite do dia 14 de agosto de 1791,
liderados por Boukman, um alto sacerdote do Vodu e capataz de uma fazenda, que
acompanhava as notícias da Revolução Francesa e seu ressoar que se espalhou pelo
mundo: liberdade, igualdade e fraternidade, tais conceitos chegaram à ilha de São
Domingos trazidos diretamente da França pelo escravo liberto Vincent Ogé, que
inspirou Bouman, que reúne os escravos pela única conexão que todas aquelas línguas,
etnias diversas e divergentes, aglomeradas para impedir que se juntassem e causasse
rebelião, são ligados pelo Vodu em um discurso na clareira da floresta da Montanha
Vermelha, após fazer encantamentos de Vodu, declara:
5
Abater um europeu é matar dois coelhos com uma só cajadada, suprimir ao mesmo tempo um
opressor e um oprimido: restam um homem morto e um homem livre; o sobrevivente, pela primeira
vez, sente um solo nacional sob a planta dos pés. Nesse instante, a Nação não se afasta dele, ela se
encontra aonde ele vai, onde ele está – nunca mais longe, ela se confunde com a sua liberdade. É da
violência, portanto, que o 'filho da violência” retira a própria humanidade. Se o opressor se faz homem à
custa do oprimido, agora o oprimido faz-se homem, 'um outro homem, de melhor qualidade', à custa do
opressor, pois 'a violência, como a lança de Aquiles, pode cicatrizar os ferimentos que faz'. Para Sartre, é
chegada a hora de 'enfrentar esse espetáculo inesperado', o striptease do humanismo burguês – 'essa
ideologia mentirosa' e 'refinada justificação da pilhagem' que apenas 'caucionavam' as agressões dos
exploradores. (ALMEIDA, Silvio; Sartre: direito e política. Boitempo, 2016. p.172)
9
Outra figura importante que levou a batalha enquanto Toussaint estava vivo, e
especialmente, após sua morte, era seu general Jean Jacques Dessalines, que, lutou na
batalha de Creta-à-Pierrot contra o exército enviado por Napoleão em 1802 e liderados
pelo general Charles Leclerc que era o seu cunhado, com aproximadamente dezoito mil
franceses contra os mil e trezentos de Dessalines e L’Ouverture. Jean usou como
motivação uma tocha acesa por um barril de pólvora aberta afirmando que iria explodir
o forte inteiro caso os franceses invadissem. Tal ato pode ser a descrição de Dessalines,
que era conhecido como o homem que não tomava prisioneiros e incendiava vilas
inteira em nome da revolução7.
6
Após sua queda do poder em 1815, Napoleão às vezes refletia sobre a oportunidade que ele perdeu
em não se aliar a Toussaint. No início de 1802, ele elaborou uma carta para L’ Ouverture oferecendo-lhe
uma promoção e oportunidade para cooperar em um programa de militares franceses de expansão no
Caribe, embora a carta nunca tenha sido enviada. “[...] com um exército de vinte e cinco a trinta mil
negros, o que eu não poderia ter feito? ”, o que é certamente diferente de seu discurso inicial. (POPKIN,
Jeremy. A Concise History of the Haitian Revolution. [S.I]: John Wiley & Sons: 2012, p. 116.
7
BRITO, Anderson Silva de; Os libertadores do Haiti (1) Jean-Jacques Dessalines. Disponível em:
<http://correionago.ning.com/profiles/blogs/os-libertadores-do-haiti-1>. Acesso em: 30 de maio 2018.
11
Dessalines passou a ser o líder dos antigos escravos, algo que ele mesmo era, da
revolução depois da morte de Toussaint, lutando ao lado do líder dos mulatos Alexandre
Pétion, contra o exército francês. A última batalha da insurreição haitiana aconteceu em
04 de dezembro de 1803, quando resto do exército colonial francês de Napoleão
Bonaparte se rendeu às forças Dessalines que tinha como slogan de campanha
“liberdade ou morte! ”, dias depois do seu ataque ao forte Vertières. Com a rendição do
exército francês, agora liderados por Rochambeau, já que seu antecessor tinha falecido
por febre amarela, doença esta, que caiu em muitos soldados franceses, e assim, termina
no campo de batalha, a rebelião. Dessalines anunciou a Declaração de Independência
em primeiro de janeiro de 1804, a que é considerada oficial, declarando-se Imperador
do Haiti, e noticiando que:
E assim, chega ao fim a única rebelião a ter sucesso em grandes escalas. Ela
mata mais de cem mil habitantes da ilha, deixando poucas partes de seu território
intactos da destruição e com uma liderança instável. A revolução dos negros repercute
imediatamente em todos os cantos do mundo, especialmente em colônias escravistas
que fez ascender a chama abolicionista, causando um impacto imediato nas relações
diplomáticas com as nações imperialistas escravagistas, que tomaram medidas para
sufocar a recém proclamada República do Haiti e endureceram suas políticas escravas
causando dificuldades para o mais novo país declarado independente, que sofreu para
receber legitimação e continuar livre. Como posto por Fanon, a destruição de um mundo
12
colonial não é apenas abolir uma zona escravagista e sim, um enterro profundo de
relações ou uma expulsão territorial:
Como vimos o que é a Revolução Haitiana neste artigo, agora partiremos para
seus impactos dissertando sobre alguns tópicos, tais como: endurecimento das leis
escravas, a negação para reconhecer o Haiti como um novo país e não mais uma colônia
intrínseco a marginalização do levante negro em busca de sua emancipação perante as
outras nações em face do medo de que o exemplo revolucionário se repetisse
ocasionando em o excessivo ressarcimento coagido pela França pelo custo da
insurreição e seu reconhecimento oficial, sobretudo nas Américas, o embargo
econômico imposto pelos Estados Unidos de Thomas Jefferson causando uma isolação
que ajudou na instabilidade política e desastre econômico do jovem país e revoltas
inspiradas, como a German Coast Uprising, além de alimentar a faísca abolicionista em
todo o mundo e reforçar o seu discurso de que a escravidão não iria durar.
[...] foi um choque ter que comparecer diante de um oficial negro que
tratava os visitantes “com toda a dignidade e importância de um grande homem
dirigindo-se aos seus inferiores ” em nenhum lugar do mundo Atlântico os
brancos jamais se encontraram em tal situação. O relato de Raguet enfatizou a
destruição causada pelos longos anos de turbulência na ilha, observando a
condição ruinosa das antigas plantações e a pobreza dos negros que agora
cultivavam, mas ele também comentou sobre “a civilidade que encontrou no
camponês em viagens” e que isso contrariava suas suposições sobre o atraso
dos negros. Nas cidades, ele encontrou homens com "um grau de polidez e
urbanidade de maneiras pouco concebíveis", e dedicou um longo capítulo às
mulheres do país, apontando que, achava um contraste com as mulheres
brancas de classe média nos Estados Unidos. “Eles são capazes de se sustentar
respeitosamente e serem muito úteis ao seu país através de seus vários
empregos. ” Em suma, ao contrário do que a maioria dos brancos supunha que
aconteceria necessariamente se os negros tentassem formar um país próprio,
as cartas de Raguet mostravam que a nova república do Haiti era uma
sociedade funcional, com um governo, uma economia e uma civilização
própria. (POPKIN, 2012, pg. 138, tradição da autora)
14
8
POPKIN, Jeremy. A Concise History of the Haitian Revolution. [S.I]: John Wiley & Sons: 2012, p. 148-
153.
8
A dívida só foi quitada oficialmente em 1947. E o presidente do Haiti, em 2003, Jean Bertrand Aristide
lançou uma campanha pedindo reembolso desta dívida da, exigindo a devolução pela França de US$
21.685.135.571,48, equivalentes, segundo seus cálculos. (FOLHA. País marcado por golpes se rebelou
contra escravidão. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0103200406.htm>.
Acesso em: 31 de maio 2018)
16
país totalmente, com as consequências sentida nos dias atuais e, para muitos, uma ação
neocolonialista. Como posto por Popkin, a dívida e o Código Rural estavam
intrinsecamente ligados, esta que foi uma política criada por Boyer para o
desenvolvimento do país, e um breve panorama social:
Nos campos de cana fora da cidade, as tropas federais uniram-se aos plantadores
para combater os rebeldes escravos - uma aliança entre o poder governamental e a
agricultura com bases escravistas que seria a definição da jovem nação norte-americana
como um país escravagista nos anos levando à Guerra de Secessão. Ao longo do
conflito que iria selar o destino dos escravos que ousaram sonhar em liberdade. Uma
brutalidade se seguiu, mais de 95 escravos que se rebelaram morreram, em batalha e nos
julgamentos que se seguirem, sendo executados e tendo suas cabeças decepadas,
colocadas em estacas para que servissem de exemplo.
10
Quigley, Bill. Porque os EUA devem milhares de milhões ao Haiti. Disponível em:
<http://resistir.info/a_central/divida_haiti_jan10_p.html>. Acesso em: 26 de março de 2018
18
O que essa rebelião teve a ver com a revolução haitiana? Tudo. Por ser passar
em Louisiana agora norte-americana, outro impacto do levante do Haiti, onde teve altos
fluxos migratórios de haitianos que gira em torno de 2 mil11. Há pouca dúvida de que os
participantes da German Coast Uprising tomaram como inspiração o levante haitiano,
apenas que seu fim não foi igual.
Este não é o único exemplo, eles são, de fato, numerosos como Clavin afirma:
Um exemplo ainda melhor que Clavin nos dá, é que a revolução haitiana era
constante na sociedade norte-americana abolicionista. Eles compravam biografias de
Toussaint vindas da Europa e gostava de espalhar que ele “nunca quebrava sua palavra”
e era um líder militar e político fora da curva, e usava a revolução como argumento
sólido para sua agenda. O que também acontecia ao contrário, os escravagistas
argumentavam sobre a “selvageria” e “brutalidade” da revolução e como Dessalines era
um exemplo do negro raivoso que iriamos soltar em nossa sociedade se permitimos tal
coisa. Os mesmos discursos se seguiram na Guerra da Sucessão, quando estavam
querendo legitimar o negro no exército:
11
BLACKBURN, Robin. The Overthrow of Colonial Slavery. Londres: Verso, 1988, pg. 282.
19
Presidente dos Estados Unidos John Quincy Adams, um defensor da Doutrina Monroe
de tráfico negreiro, e excluí o Haiti12.
No Brasil em 1805, o medo de um “novo Haiti” não era nada diferente. Devida a
situação bastante semelhante, tornou-se epidêmico entre os senhores sentirem-se
temoroso com qualquer menção haitiana, enquanto os negros, tomaram consolo no
exemplo caribenho, solanco soldados negros usavam medalhões com o rosto de
Dessalines estampado.
12
In War and Peace: The Americas' Broken Promises to Haiti. Disponível em: <
https://www.telesurtv.net/english/analysis/In-War-and-Peace-The-Americas-Broken-Promises-to-Haiti-
20160904-0013.html>. Acesso em 1 de junho 2018.
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
TROUILLOT, Michel-Rolph. Silencing the past: power and the production of history.
Boston: Beacon Press, 1995. 191p.