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Consumo de Agua e Geracao de Efluentes e

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“Cândido Tostes”, Mar/Jun, nº 367/368, 64: 10-18, 2009

CONSUMO DE ÁGUA E GERAÇÃO DE EFLUENTES EM UMA


INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

Water consumption and effluent generation in a small dairy industry

Claudety Barbosa Saraiva 1


Regina Célia Santos Mendonça 2
Adbeel de Lima Santos 3
Daniel Arantes Pereira 4

SUMÁRIO

A indústria de laticínios constitui parcela importante da indústria alimentícia e sua contribuição


em termos de poluição dos cursos de água é importante: portanto, é necessária e obrigatória a
redução do volume de efluentes gerado por ela, bem como o tratamento prévio de seus despejos
líquidos. Este trabalho teve como objetivo determinar o consumo de água e geração de efluentes
em um laticínio de pequeno porte. Foi feito um monitoramento que visou observar principalmente:
o processo de produção, os resíduos gerados, quantidade de água e efluentes gerados em cada linha
de processamento. O coeficiente de consumo de água do laticínio é de 3,2 L.L-1 de leite processado
e o coeficiente de geração de efluentes de 3,5 L.L-1 de leite processado. Concluiu-se que apesar da
média do coeficiente do consumo de água da indústria estudada ser um valor bastante próximo aos
encontrados em dados da literatura e de organismos públicos, pequenas mudanças de comportamento
e conscientização podem reduzir este valor, a fim de diminuir gastos energéticos e volume de
efluente gerado, sem prejudicar a higienização ao longo do processo.
Palavras-chave: consumo de água; efluentes; laticínios e meio ambiente.

1 INTRODUÇÃO volume de água disponível no planeta e a restrição


da quantidade e/ou da qualidade da água já afeta a
As atividades humanas, desde muito cedo, vêm sobrevivência de 1,4 bilhão de pessoas (ALMEIDA
provocando grandes impactos no meio ambiente. et al., 2002). O Brasil é um país privilegiado no
Pode-se dizer que, desde o início da Revolução que diz respeito à quantidade de água e talvez por
Industrial, com a implantação de técnicas de conta deste fato não dê a devida atenção a este
produção e consumo de intensa degradação, foram bem econômico. O desperdício e a poluição de
provocados enormes impactos aos sistemas naturais nossas águas compõem um triste retrato que revela
e transformações dramáticas ao ambiente natural. a urgente necessidade de campanhas de educação
A crescente preocupação com a disponibilidade ambien tal que modifiq uem a fo rma como a
mundial da água vem exigindo de onforme CAMARGO sociedade tem tratado esta questão.
(2002), o modelo econômico de desenvolvimento Dentre as atividades industriais, o setor de
criado pelo homem acabou por modificar e alimentos destaca-se por um maior consumo de
aperfeiçoar, em vários aspectos, a relação do mesmo água e uma maior geração de efluentes por unidade
com o seu meio ambiente, acarretando em todos nós produzida, além de gerar um grande volume de
uma nova consciência em relação à utilização desse lod o nas estaçõ es com tratamento biológ ico
recurso. A água de boa qualidade encontrada na (RAMJEAWON, 2000).
natureza é essencial para a vida no nosso planeta. A indústria de laticínios caracteriza-se por
No entanto, esta riqueza tem se tornado consumir grande quantidade de água para operações
cada vez mais escassa. Em apenas 25 anos (de de processamento e limpeza, tendo por outro lado,
1970 a 1995) houve uma redução de 37% no a geração de vazões elevadas de efluentes (1,1 a

1 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora e Professora do CEPE/ILCT/EPAMIG, claudety@epamig.br


2 Prof. Adjunto do Departamento de Tecnologia de Alimentos, UFV/Viçosa- MG.
3 Bacharel em Ciência e Tecnologia de Laticínios, Pesquisador e Professor do CEPE/ILCT/EPAMIG
4 Graduado em Zootecnia, Pesquisador e Professor do CEPE/ILCT/EPAMIG
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6,8 m3. m-3 leite processado) contendo nutrientes, A vazão dos efluentes líquidos das indústrias
poluentes orgânicos persistentes e agentes de laticínios está relacionada diretamente com o
infectantes. Neste cenário, considera-se como volume de água consumido por ela. Segundo
atitude necessária à implementação de sistemas de Strydom et al. (1997), o valor da relação entre
tratamento de efluentes otimizados e integrados vazão dos efluentes líquidos e a vazão da água
com a identificação dos pontos críticos de geração consumida pelo laticínio situa-se entre 0,75 e 0,95.
dos despejos líquidos no processo produtivo para O fato de o último valor limite estar bem próximo
que se tenha uma produção sustentável. de 1, muitos projetistas por medida de segurança
Em uma indústria de laticínios a vazão dos adotam este valor. Por essa razão, é extrema-
efluentes líquidos varia ao longo do dia e depende mente importante o conhecimento do volume de
diretamente das operações de processamento ou água consumido por uma indústria de laticínios,
de limpeza que ocorrem na empresa. Existem pois de posse deste dado é possível avaliar a
também as variações sazon ais devidas às corresp ondente vazão de efluentes líquidos
modificações introduzidas no perfil qualitativo e, produzidos por ela.
ou, quantitativo da produção, nos horários de Na Tabela 1 são mostrados alguns dados
produção, nas operações de manutenção, entre referentes à variação e às médias de taxas de consumo
outras (MACHADO et al., 2002). de água de indústrias de laticínios de Minas Gerais.

Tabela 1 – Variação e médias das taxas de consumo de água das indústrias de laticínios

Taxa de Consumo de Água (L.L-1 de


Recepção diária de leite Número de leite)
Laticínios (L.dia-1) Laticínios
Variação Média
10.000 a 20.000 3 0,9 a 2,0 1,5
Laticínios de > 20.000 25 0,4 a 7,1 2,3
cooperativas
Até 10.000 19 1,4 a 5,6 2,9
Laticínios 10.001 a 20.000 9 0,3 a 6,7 3,1
independentes > 20.000 6 1,5 a 5,1 3,5

Fonte: MINAS AMBIENTE/CETEC (1998).

Tabela 2 – Taxas aproximadas de consumo de água (em L.L -1 de leite recebido) para fabricação de vários
produtos lácteos

Produto Nova
Austrália Bélgica Finlândia Japão Noruega
Zelândia

Valor típico: 2,5 2,1 3,8 4,6 - 7,0 3/


Manteiga e leite
em pó (spray)
Faixa: 0,7 – 7,2 1,7 – 8,6 0,9 - 3,0 4/

Valor típico: 2,5


Caseína (ácida)
Faixa: 1,7 - 3,2

Caseína, Valor típico: 2,5


manteiga, leite
em pó (spray) Faixa: 1,4 - 6,9

Valor típico: 1,1 2/ 1,7 1,6


Queijo
Faixa: 3,5 -5,0 1/ 0,6 - 1,5 1,0 - 3,0 27 - 37
1/
requeijão; 2/
manteiga; 3/
inclui condensado de vapor; e 4/
indústrias maiores.
Fonte: International Dairy Federation (1981).
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A Tabela 2 apresenta valores de taxas de de 500 mL de amostras do efluente do laticínio e


consumo de água publicados pela Internacional do corpo receptor a serem analisados. As amostras
Dairy Federatio n-IDF (1 981), relativos aos do efluente global do laticínio foram coletadas de
diversos países da Europa, Japão e Nova Zelândia. hora em hora até encerramento das atividades. As
A proposição deste estudo foi determinar o amostras do corpo receptor foram coletadas três
consumo de água e geração de efluentes de um vezes ao dia nos horários de 7, 12 e 15 horas. As
Laticínio de pequeno porte. amostras do corpo receptor foram coletadas 10 m
da jusante e montante.
2 MATERIAL E MÉTODOS A análise de temperatura do efluente e das
amostras do corpo receptor foi feita no momento
A indústria de laticínios em estudo, localizada da coleta.
na Zona da Mata mineira, tem capacidade de Após a coleta diária, as amostras foram
recepção de 8000 L.dia -1. Atualmente, recebe, em mantidas sob refrigeração para sua preservação e
média, 4000 L.dia-1, sendo todo o transporte feito posteriormente colocadas em gelo, acondicionadas
em latões. O laticínio produz queijo mussarela, em caixas isotérmicas e conduzidas ao Laboratório
requeijão em barra, requeijão em pote, iogurte, de Análises de Águas Residuárias Agroindustrial
manteiga e ricota. É cadastrada no IMA desde 2000. do Departamento de Tecnologia de Alimentos da
Para a quan tificação do coeficiente de UFV. Para realização d as análises foi feita
consumo de água e geração de efluentes gerados amostragem composta das amostras coletadas
foram monitoradas todas as linhas de produção e durante o dia.
observados aspectos como processo de fabricação,
resíduos gerados, volume de água utilizado em cada 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
linha de produção, quantificação do efluente
gerado e procedimentos de higienização. 3.1 Co nsumo de água e gera ção de
Para quantificação do volume de água utilizado efluentes do laticínio em estudo
em cada linha de produção, foi feita medição da vazão
da mangueira utilizada na fábrica, e no momento do O consumo de água é variável com o tipo de
processamento foi determinado com cronômetro indústria, as técnicas, os processos e equipamentos
digital o tempo em que a mangueira permaneceu aberta. utilizados nas etapas de processamento.
O volume de água medido representaria o volume O coeficiente médio de consumo de água na
necessário à fabricação de determinado produto, unidade industrial em estudo foi de 3,2 L.L -1 de
englobando a higienização antes e depois do processo. leite processado. Resultados semelhantes foram
Para elaboração do hidrograma de vazão, e encontrados por Machado et al. (2002), avaliando
como a unidade em estudo não possui hidrômetro, indústrias com capacidade de recebimento e
em noites anteriores à medição, a bomba foi ligada processamento de leite entre 10.000 e 20.000 L.dia-
e encheu-se a caixa de água por completo e no dia 1
, nas quais os coeficientes de consumo de água
seguinte a bomba foi desligada antes do expediente, variaram entre 3,0 e 4,5 L.L-1 de leite processado.
e não mais lig ada até o en cerramen to d as Por outro lado, Silva (2006) encontrou
atividades. No intervalo de hora em hora, durante coeficiente de consumo de água de 6,1 L.L -1 de
todo o expediente, foi feita a leitura da altura de leite processado em uma indústria de laticínios de
água na caixa, com auxílio de uma trena. Foi peq ueno porte, localizado n a Zo na d a Mata
utilizada a mesma metodologia para a caixa de mineira. Entretanto, Castro (2007), realizando
água do gerador de vapor. Após as medidas de todas estudo no mesmo laticínio, em épocas diferentes,
as alturas e dimensões das caixas foi determinado encontrou coeficiente de consumo de água médio
o volume de água gasto por hora no laticínio ao de 5,7 L.L -1 de leite processado.
longo de um dia de processamento. A medição foi Carawan e Stengel (1996) relatam que em
repetida novamente em três ocasiões e o resultado pro gramas efetivos de redução d e po luição
impresso como média horária. consegue-se minimizar em até 25 % o consumo
Para caracterização físico-química dos de água e, consequentemente, a geração de resíduos.
efluentes líquidos foram determinados demanda Braile e Cavalcanti (1979) afirmam que as
bioquímica de oxigênio (DBO 5), demanda química maiores fontes de despejos líquidos da indústria
de oxigênio (DQO), pH, temperatura, sólidos de laticínios estão geralmente contidas na área de
totais, sólidos suspensos, sólidos dissolvidos, óleos elaboração e embalagem do prod uto final.
e gorduras de amostras do efluente global e amostras Complementam que, de um modo geral, as águas
montante e jusante do corpo receptor. As análises de lavagens correspondem ao mesmo volume de
foram feitas conforme descrito em APHA (1995). leite processado, e, para fábricas que processam
Durante os meses de abril, junho e novembro vários produtos, têm-se um coeficiente de geração
de 2007 e maio de 2008 foram coletados um volume de efluente de 1,1 a 6,8 L.L-1 de leite processado.
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O coeficiente médio de geração efluentes do o valor encontrado para a linha de processamento


laticínio foi de 3,5 L.L -1 de leite processado. do queijo no laticínio foi inferior aos valores
Strydom (1997), no Projeto Minas Ambiente, cita encontrados nos países citados (Tabela 4).
que o valor da relação entre a vazão de efluentes Entretanto, o valor encontrado para o proces-
líquidos e vazão de água consumida pelos laticínios samento de iogurte foi muito superior aos mostrados
costuma situar-se entre 0,75 e 0,95. Na unidade na Tabela 4.
avaliada, o valor encontrado da relação foi de 1,09. Tal fato se deve à etapa de resfriamento do
A utilização de processos tecnológicos de iogurte, em que a água entra no tanque de camisa
produção de alimentos que reduzam a quantidade dupla à temperatura ambiente, portanto, requerendo
de água e, consequentemente, a produção de um volume maior de água para o resfriamento do
efluentes é de grande importância, e coerente com produto.
o modelo de desenvolvimento sustentável que Na Tab ela 5 são mo strados os v alores
preserve o meio ambiente onde está instalada a máximos de efluentes gerados no processamento
unidade industrial. do leite para alguns produtos lácteos.
Menezes (1999) considera ainda que reduzir a Quando se comparam os coeficientes de
poluição por meio do uso racional de matéria-prima, geração de efluentes entre a Tabelas 3 e 5, nota-se
água e energia significa mais uma opção ambiental que os valores de efluentes gerados nas linhas de
econômica e definitiva. Diminuir os desperdícios produção no laticínio estudado foram inferiores,
implica em maior eficiência na produtividade e com exceção da linha de processamento de iogurte.
menores investimentos em soluções de problemas
ambientais. Os produtos finais podem ficar mais 3.2 Análises do efluente
baratos e, consequentemente, mais competitivos.
Na Figura 1 encontra-se o hidrograma de Os resultados das análises realizadas do
vazão do consumo de água utilizada no laticínio. efluente global da indústria em estudo e na montante
No gráfico observa-se o comportamento e jusante do corpo receptor são apresentados na
da média da vazão de água utilizada durante o dia. Tabela 6. Nesta tabela também são apresentados
Pode-se observar que o pico máximo de consumo alguns valores encontrados para efluentes não-
de água ocorreu no período da manhã, ou seja, tratados da indústria de laticínios pela European
entre 9 e 10 horas. Entre as 12 e 13 horas, este Commission (2006) e Associação Brasileira de
consumo decresce e volta a aumentar no final do Indústria de Queijo (ABIQ, 2007).
exp ediente. Este co mportamento é ex plicado Ao se observar os resultados apresentados na
principalmente em função da limpeza que ocorre Tabela 6 verifica-se grande variação nos parâmetros
nos intervalo de maior pico e o menor consumo analisados que pode ser explicado em função das
acontece no horário de almoço, com a redução diferenças que ocorrem na produção ao longo do dia
das atividades. e no decorrer da semana, bem como pela falta de
padronização dos processos de higienização.
A determinação das faixas de variações diária
que ocorrem nas características dos efluentes é de
fundamental importância para uma estação de
tratamento de efluentes, principalmente por
processos biológicos, o qual é dependente dessas
variações.
Vale ressaltar que nas dependências do
laticínio em estudo encontra-se um estábulo que
também lan çam seus efluentes g erad os sem
qualquer tratamento prévio no mesmo corpo
receptor, córrego Marimbondo, onde são lançados
Figura 1 – Hidrograma de vazão de consumo de os efluentes do laticínio. O ponto de lançamento
água no laticínio. dos efluentes do estábulo está à montante do ponto
de lançamento dos efluentes do laticínio.
Na Tabela 3 é mostrado o coeficiente do Pode-se observar que houve grande variação
consumo de água e o coeficiente de efluentes nos valores de pH do efluente global. Esta variação
gerados por litro de leite processado no laticínio. do pH destes efluentes quando lançados sem
Na Tabela 4 são mostrados alguns valores tratamento prévio no corpo receptor poderá causar
de coeficiente de consumo de água por litro de grandes prejuízos ambientais, inclusive com a morte
leite em outros países. de todas as formas de vidas. Valores baixos de pH
Comparando-se os valores de água foram encontrados durante os processamentos de
consumida nas Tabelas 3 e 4, pode-se observar que mussarela e iogurte. O maior valor de pH foi
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encontrado no horário de limpeza, entre 16 e 17 fato pode ser explicado pela existência de descarte
horas, devido a utilização de soda cáustica. De de efluente proveniente do estábulo sem nenhum
acordo com a Resolução CONAMA n o357, de 17 tratamento acima do ponto coletado. O maior valor
de março de 2005, o pH de efluentes para serem encontrado de pH da jusante foi no período da tarde,
lançados nos corpos receptores deverão estar entre entre 13 e 17 horas, quando ocorre o processamento
5 a 9 (BRASIL, 2005). Ao se comparar as faixas de da ricota, requeijão, manteiga e limpeza.
variação dos valores de pH do laticínio, verifica-se De acordo com Von Sperling (1996), em
que os mesmos encontram-se dentro das faixas dos ambientes naturais não poluídos a concentração de
valores encontrados pela European Commission DBO5 deve ser baixa, na faixa de 1 a 10 mg.L-1; caso
(2006) e pela ABIQ (2007). o corpo d’água receba poluição orgânica, DBO5 devem
Com relação ao ponto de coleta da montante, ser bem mais elevados. De acordo com a Resolução
o maior valor de pH observado foi às 17 horas. Este no57, de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005), as

Tabela 3 – Volume de água utilizado e efluente gerado por litro de leite processado no laticínio

Atividade/Produto Coeficiente do Consumo de Água (L. L-1) Coeficiente de Efluente Gerado (L. L-1)

Recepção 0, 243 0, 243


Iogurte 10 10

Manteiga 1,0 1,1


Queijo mussarela 1,55 2,32
Ricota 0,2 1,1

Requeijão (barra) 1,4 1,4


Requeijão (pote) 1,39 1,4

Tabela 4 – Água consumida por litro de leite processado de alguns produtos

Coeficiente do Consumo de Água* (L.L-1)


Produtos
Suécia Dinamarca Finlândia Noruega

Leite e iogurte 0,96 a 2,8 0,60 a 0,97 1,2 a 2,9 4,1

Queijos 2,0 a 2,5 1,2 a 1,7 2,0 a 3,1 2,5 a 3,8

Leite em pó e, ou, produtos líquidos. 1,7 a 4,0 0,69 a 1,9 1,4 a 4,6 4,6 a 6,3

* Inclusive água de resfriamento.


Fonte: CETESB (2006).

Tabela 5 – Coeficiente de efluentes gerados na indústria de laticínios por litro de leite processado em
diferentes produtos lácteos

Coeficiente de Efluente Gerado


Tipo de Produto
(L. L-1)
Produtos brancos (leite, cremes, iogurte). 3
Produtos amarelos (manteiga e queijo) 4
Produtos especiais (concentrado de leite ou soro e produtos lácteos desidratados)
5
Fonte: European Commission-Integrated Pollution Prevention and Control (Jan/2006).
Tabela 6 – Resultados das variáveis analisadas para o efluente global, 10 m da montante e jusante do corpo receptor e alguns valores encontrados na

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literatura.

Fonte: (1) European Commission – Integrated Pollution Prevention and Control (Jan./ 2006); e (2) ABIQ (2007).

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NR = análises não-realizadas.
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águas para estarem na condição classe 2, por exemplo, impedindo, dessa maneira, a transferência do
devem apresentar DBO 5 menor que 5,0 mg.L -1 . oxigênio da atmosfera para a água. Os óleos e as
Observa-se na Tabela 7 um valor elevado de DBO5 graxas em seu processo de decomposição reduzem o
para a montante e jusante do corpo receptor oxigênio dissolvido, elevando a DBO 5 e a DQO,
proveniente do descarte inadequado do efluente. causando alteração no ecossistema aquático. Na
A variação da DQO no efluente global e legislação brasileira, Resolução CONAMA no 357,
nas amostras da montante e jusante do córrego de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005), a
Marimbondo é respectivamente 917,97 a 6.950,64 recomendação de concentração de óleos vegetais e
mg.L -1 , 2 37,3 2 a 4.08 2,90 mg.L -1 e 153 ,45 a gorduras animais é até 50 mg.L -1 e ausência de
2.082,90 mg.L -1 . As faixas de variação estão materiais flutuantes.
dentro das variações encontradas por Afonso et O valor encontrado para sólidos totais da
al. (2002) e pela European Commission (2006) montante do corpo receptor mostra que este se
para efluentes brutos de laticínios não-tratados. encontra com uma quantidade bastante signifi-
A Deliberação Normativa Conjunta COPAM/ cativa de sólidos antes da descarga do efluente do
CERH n o 1, de 5 de maio de 2008, estabelece as laticínio. Este fato é explicado pelo lançamento
condições de lançamento de efluentes nos corpos d de efluentes do estábulo, que contribui para o
água um valor de DBO5 e DQO, respectivamente, de aumento de sólido s totais e a d iminu ição de
até 60 mg.L-1 e 180 mg.L-1. (MINAS GERAIS, 2008). oxigênio dissolvidos desta água.
O coeficiente DBO 5/DQO do efluente global A faixa de variação de sólidos do efluente de
do laticínio estudado foi de 0,58. Segundo Machado laticínio estudado foi de 5.298 a 5.350 mg.L-1 para
et al. (2002), os efluentes líquidos brutos (não- sólidos totais e de 1.812 a 2.900 mg.L-1 para totais
tratados) de laticínios apresentam valores de suspensos, respectivamente, estando muito
DBO 5/DQO na faixa de 0,50 a 0,70. Quanto maior superiores aos valores encontrados por Kong et al.
for esse valor, maior será a fração biodegradável (2000), que são de 1.017 a 2.261 mg.L-1 para sólidos
dos efluentes e mais indicado é o seu tratamento totais e 190 a 366 mg.L-1 de sólidos suspensos. A
por processos biológicos. diferença acontece principalmente pelo desperdício
A faixa de variação de temperatura do efluente no laticínio e falta de padronização de processos e
global foi de 19 a 47 °C. A temperatura é uma variável higienização, além da descarga dos efluentes líquidos
muito importante na qualidade da água, uma vez que a do estábulo. Pode-se notar ainda nos parâmetros
elevação da temperatura aumenta a taxa das reações avaliados na indústria que há predominância de
químicas e bioquímicas, diminui a solubilidade dos gases sólidos voláteis nas amostras o que confirma a
como oxigênio dissolvido, causando danos aos presença de matéria orgânica no efluente.
organismos (MATOS, 2004). A maior temperatura
foi encontrada no período entre 16 e 17 horas, quando 4 CONCLUSÃO
ocorre filagem da mussarela e limpeza com água quente.
Com relação às variações das amostras da montante e Concluiu-se que apesar da média do
jusante não houve grande variação, conforme mostrado coeficiente do consumo de água da indústria ser de
pelos valores da Tabela 6. De acordo com a Resolução 3,2 litros de água para cada litro de leite processado,
CONAMA no 357, de 17 de março de 2005 (BRASIL, valor bastante próximo aos encontrados em dados
2006), a temperatura para lançamento de efluentes da literatura e de organismos públicos, pequenas
nos corpos receptores deverá ser inferior a 40 ºC, sendo mudanças de comportamento e conscientização
que a variação de temperatura do corpo receptor não podem reduzir este valor, a fim de diminuir gastos
deverá exceder a 3 ºC na zona de mistura. energéticos e volume de efluente gerado, sem
A faixa de variação de gordura para o efluente prejudicar a higienização ao longo do processo.
global foi de 735 a 1.333,5 mg.L-1. O valor encontrado As linhas de processamento de queijo e
foi superior aos valores obtidos pela European man teig a, com a geração de soro e leitelho
Commission (2006) e ABIQ (2007) (Tabela 6). Este respectivamente, foram as que mais contribuíram
fato pode ser explicado pelo enorme desperdício que para o aumento de efluentes tanto em termos de
existe dentro do laticínio, principalmente no envase volume quanto em termos de matéria orgânica.
da manteiga e do requeijão, no descarte do leitelho e O foco principal é minimizar a geração de
a falta de padronização da higienização. efluentes e destinação correta dos subprodutos
A pequena solubilidade de óleos e graxas como soro e leitelho. Na maioria das vezes não é
constitui fator negativo no que se refere à sua preciso altos investimentos, como por exemplo,
degradação em unidades de tratamento de despejos colocar válvulas nas mangueiras de forma a não
por processos biológicos. A presença de material permitir escoamentos e gastos desnecessários e
graxo nos corpos d’água, além de acarretar conseqüentemente redução da geração de efluentes,
problemas de origem estética, diminui a área de Vários tipos de ações podem, portanto, contribuir
contato entre a superfície da água e o ar atmosférico, de forma preventiva para o setor laticinista.
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SUMMARY CAMARGO, A. L. B. As dimensões e os desafios


do desenvolvimento sustentável: concepções,
The dairy industry is an important segment entraves e implicações à sociedade humana. 2002.
of the food industry and its contribution in terms Dissertação (Mestrado em En genh aria de
of water course pollution is important. Thus, it is Produção) – Programa d e Pó s-graduação em
necessary and mandatory to reduce the volume of Engenharia de Produção, Universidade Federal de
the effluents it generates as well as to conduct a Santa Catarina, Florianópolis, 2002.
previous treatment of its liquid dejects. This work
aimed to determine water consumption and effluent CARAWAN, E.; STENGEL, M. J. Water and
generation in a small dairy. Monitoring was carried wastewater management in a dairy processing
out aimed at observing mainly the production plant. North Caroline: North Caroline Agricultural
process, residues generated, amount of water and Extension Service. 1996. Disponível em: <http:/
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dairy’s water consumption coefficient is 3.2 L.L -1 wqwm/cd28.htmL>. Acesso em: 9 Jun. 2007.
of processed milk and the effluent generation
coefficient is 3.5 L.L -1 of processed milk. It was CASTRO, V. C. Diagnóstico do consumo de água
concluded that, although the dairy’s water da geração de efluentes e de resíduos sólidos em
consumption coefficient mean is a value very close um laticínio de peq ueno porte. 2007 . 52 f.
to those found in the literature data and public Dissertação (Mestrado em Ciencias e Tecnologia
organs, small changes in behavior and awareness de Alimentos) Universidade Federal de Viçosa.
can reduce this value, so as to decrease the energy
waste and volume of the effluent generated, CETESB. Companh ia d e Tecnologia de
without harming sanitation along the process. Saneamento Ambiental. Guia técnico ambiental
Keywords: consumption of water, effluents, da indústria de produtos lácteos (Série P + L). São
dairy and environment. Paulo: CETESB, 2006. 89 p. (CDROM)

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