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Tratamento de Efluentes Da Indústria de Frigoríficos

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TRATAMENTO DE EFLUENTES DA INDÚSTRIA

DE FRIGORÍFICOS
Por Jaqueline Cremonini - RC: 23864 - 20/12/2018

DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-ambiental/tratamento-de-efluentes

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ARTIGO DE REVISÃO 

[1] [2] [3]


CREMONINI, Jaqueline , NEDEL, Tamires , HIGARASHI, Martha Mayumi

CREMONINI, Jaqueline. NEDEL, Tamires. HIGARASHI, Martha Mayumi. Tratamento De


Efluentes Da Indústria De Frigoríficos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do
Conhecimento. Ano 03, Ed. 12, Vol. 04, pp. 124-138 Dezembro de 2018. ISSN:2448-
0959

Contents [hide]

RESUMO
INTRODUÇÃO
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 PERFIL DO SETOR NO BRASIL E NO MUNDO
2.2 EFLUENTES GERADOS NO PROCESSO PRODUTIVO DA INDÚSTRIA DE FRIGORÍFICOS
2.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DOS EFLUENTES LÍQUIDOS
2.4 CONSUMO DE ÁGUA E GERAÇÃO DE EFLUENTES EM FRIGORÍFICOS
2.5 PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS EFLUENTES LÍQUIDOS
3. TRATAMENTOS CONVENCIONAIS
4. TRATAMENTOS AVANÇADOS
5. ANÁLISE DAS EXIGÊNCIAS DE TRATAMENTO SEGUNDO AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

RESUMO
Devido ao elevado consumo de água nos seus processos, a indústria alimentícia de
frigoríficos é responsável por grande geração de efluentes com alta carga orgânica. Estes
devem ser devidamente tratados para que possam ser lançados nos corpos hídricos em
níveis seguros e sustentáveis para o meio ambiente. Considerando que o Brasil é um dos
maiores produtores de carnes e que este setor deve apresentar intenso crescimento nos
próximos anos, o presente trabalho teve por objetivo mostrar uma visão geral deste
importante setor da indústria de alimentos no país por meio de uma revisão
bibliográfica. Foram descritos o perfil de crescimento econômico do setor, o tratamento
convencional utilizado e algumas possíveis alternativas de tratamentos avançados
aplicáveis aos frigoríficos de acordo com as características de seus efluentes, por fim, a
legislação brasileira aplicada ao lançamento de efluentes em corpos de água, bem como,
os valores permitidos para os principais parâmetros químicos e físicos.


Palavras-chave: tratamento de efluentes industriais, frigoríficos, carne de frango, carne
de porco. a d k J
INTRODUÇÃO
O acelerado aumento do estabelecimento de indústrias de diferentes setores resulta em
impactos negativos ao meio ambiente quando ocorre o descumprimento de normas e
regulamentos com relação a descarga de efluentes em corpos hídricos (PRABAKAR et al.,
2018). A produção de alimentos é um dos principais setores responsáveis ​pelos danos
ambientais (GONZÁLEZ-GARCÍA et al., 2014). No Brasil, a indústria alimentícia tem se
desenvolvido continuamente, alcançando além de um padrão internacional de qualidade,
posições significativas de liderança no ranking mundial de mercado e de produção
(MORETTO, 2011).

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), o faturamento da


indústria alimentícia brasileira em 2017 foi de R$ 642,61 bilhões, sendo R$ 137,6 bilhões
oriundos da indústria de produtos alimentares derivados de carne, ou seja, cerca de
21,41% do rendimento total (ABIA, 2018). A carne é um importante componente dos
hábitos alimentares em muitos países (MORAN; WALL, 2011), sendo o Brasil um dos
maiores produtores e exportadores de carne suína e de frango (CARO et al., 2018).

Em conformidade com as projeções do agronegócio realizadas pelo Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2017), entre as carnes, as que projetam
maiores taxas de crescimento da produção no período 2016/17 a 2026/27, são a carne
de frango, que deve crescer anualmente a 2,8%, e a suína, cujo crescimento projetado
para esse período é de 2,5% ao ano.

Tendo em vista a relevância deste setor para o país, os aspectos ambientais relacionados
ao manejo adequado das águas residuais estão cada vez mais relevantes, uma vez que
os principais problemas ambientais derivados dessa atividade econômica são o elevado
consumo de água, a geração de efluente com alta carga orgânica e o uso intensivo de
energia, como a eletricidade e o combustível (BUGALLO et al., 2014).

O presente artigo mostra uma visão geral dos frigoríficos no Brasil, sendo este um
importante setor da indústria de alimentos. O trabalho considera informações gerais
sobre a atividade, uma descrição do processo produtivo, os tratamentos de efluentes
convencionais e avançados utilizados, e também uma análise preliminar das exigências
de tratamento segundo as legislações federais.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 PERFIL DO SETOR NO BRASIL E NO MUNDO


As projeções de carnes para o Brasil mostram que esse setor deve apresentar intenso
crescimento nos próximos anos (OECD-FAO, 2015). A produção total de carnes em
2016/17 está estimada em 28,5 milhões de toneladas e a projeção é para o final de
2027 produzir 34,3 milhões de toneladas de carne de frango, bovina e suína. Essa
variação entre o ano inicial da projeção e o final resulta num aumento de produção de
20,3% (MAPA, 2017). O crescimento anual projetado para o consumo da carne de frango
é de 2,6% no período 2016/17 a 2026/27. O consumo de carne de frango projetado para 
a d k
2026/27 é de 11,9 milhões de toneladas, um aumento de 29,5 % no consumo. A carne
J
suína passa para o segundo lugar no crescimento do consumo com uma taxa anual de
2,4% nos próximos anos. Em nível inferior de crescimento situa-se a projeção do
consumo de carne bovina, de 1,5% ao ano para os próximos anos (MAPA, 2017). A
Figura 1 apresenta as perspectivas no consumo de carnes de frango, suína e bovina para
os anos entre 2017 e 2027.

Figura 1 – Consumo de carne frango, bovina e suína em milhões de toneladas, até 2027.

Fonte: Adaptado MAPA, 2017.

Com relação as exportações, segundo o relatório de projeções de longo prazo para a


produção e demanda mundial divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos, o comércio mundial de carne irá crescer em torno de 22% até 2023 (USDA,
2014). No Brasil, as carnes de frango e de suínos lideram as taxas de crescimento anual
das exportações até 2026/2027 – a taxa anual de crescimento nas exportações prevista
para carne de frango é de 3,3%, e para a carne suína, 3,5%. O crescimento das
exportações de carne bovina deve situar-se numa média anual de 3,0% (MAPA, 2017).

2.2 EFLUENTES GERADOS NO PROCESSO PRODUTIVO


DA INDÚSTRIA DE FRIGORÍFICOS

2.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DOS


EFLUENTES LÍQUIDOS
Os procedimentos de abate e processamento de carne geram efluentes com
características muito distintas (PEREIRA et al., 2016). As águas residuais deste setor
apresentam altas concentrações de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda
química de oxigênio (DQO), carbono orgânico total (TOC), nitrogênio total (TN) e sólidos
suspensos totais (SST) (BUSTILLO-LECOMPTE et al., 2014). Os autores também
apontam que estas características podem ser resumidas na Tabela 1 de acordo com suas
faixas e médias para efluentes de frigoríficos.

Tabela 1 – Características comuns nas águas residuais de frigoríficos.

Parâmetro Faixa Média

TOC (mg/l) 100 e 1200 546

DBO (mg/l) 610 e 4635 1209

COD (mg/l) 1250 e 15.900 4221



TN (mg/l) a 50 e 841 d k427 J
SST (mg/l) 300 e 2800 1167

pH 4,90 e 8,10 6,95

Fonte: Bustillo-Lecompte et al., 2014.

Devido à alta toxicidade do efluente, é extremamente necessário tratá-lo antes de sua


disposição em corpos d’água ou no solo (PEREIRA et al., 2016), apesar de que alguns
frigoríficos antigos não possuem um tratamento apropriado para a descarga de sangue e
águas residuais (RAHMAN et al., 2014).

2.4 CONSUMO DE ÁGUA E GERAÇÃO DE EFLUENTES


EM FRIGORÍFICOS
A indústria de processamento de carne utiliza grandes volumes de água para manter as
condições higiênicas adequadas (LIU; HAYNES, 2011), promovendo a desinfecção de
todos os setores e limpeza das instalações (KIST et al., 2009). A composição das águas
residuais depende das diversas práticas no processo de abate de matadouros e
frigoríficos (BUSTILLO-LECOMPTE et al., 2016).

Os efluentes líquidos de frigoríficos estão se tornando uma das principais preocupações


mundiais devido as elevadas quantidades de água utilizada durante o abate,
processamento e limpeza das instalações (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR, 2017).
Entre as indústrias de bebidas e alimentos, a de processamento de carnes é uma das
maiores consumidoras de água doce (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR, 2015).

Uma indústria com abate de 103.000 frangos por dia, localizada no Rio Grande do Sul,
por exemplo, possui um consumo total médio de água a 1800 m³ dia-1, cujas médias
ultrapassam 10 litros por ave abatida (KIST et al., 2009).

Estudos sugerem o tratamento de águas residuais com qualidade para reutilização da


água na indústria de processamento de carne (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR, 2016),
tornando-se uma alternativa para a redução do consumo.

2.5 PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS EFLUENTES


LÍQUIDOS

3. TRATAMENTOS CONVENCIONAIS
Os efluentes gerados em frigoríficos podem ser segregados em duas principais linhas,
com características específicas: 1) Linha Vermelha: efluentes originados no processo
industrial com conteúdo proteico e gorduroso (vísceras, ossos e sangue) representando
cerca de 80 a 85% da vazão total da fábrica; e 2) Linha Verde: efluentes dos
estabelecimentos hidrossanitários, lavanderia, refeitório, purga de caldeiras,
compressores e torres evaporativas que possuem baixo valor nutritivo e alto grau de
contaminação biológico (OLIVO, 2006).

a d k J
As etapas de tratamento podem ser divididas nos seguintes níveis: tratamento
preliminar, tratamento primário, tratamento secundário e tratamento terciário ou
avançado (FRICK, 2011). Sendo aplicado processos de tratamento químicos, físicos ou
biológicos (GUPTA; ALI, 2013).

O tratamento preliminar é realizado por meio de gradeamento, medidor de vazão,


peneiramento, caixa de areia e caixa de gordura (FRICK, 2011). Em frigoríficos, o
sistema de gradeamento e caixa de areia é utilizado para os efluentes provenientes da
linha verde que apresentam excrementos, areia e penas. O peneiramento é muito
utilizado para segregação de penas, vísceras, ossos e demais sólidos que serão
encaminhados para produção de farinhas na fábrica de subprodutos (OLIVO, 2006).

Os sistemas mais utilizados para tratamento primário são os de decantação e flotação


que baseiam-se no processo de coagulação/floculação, por ser eficiente e de baixo custo
(SCHATZMANN, 2009; GUPTA; ALI, 2013). O principal objetivo é remover os sólidos
suspensos do efluente, incluindo os sólidos flutuantes e sedimentáveis (FRICK, 2011).

Um estudo sobre a clarificação, formação de floco e a eficiência de remoção de fósforo


em efluentes brutos provenientes de um frigorífico de suínos mostrou que ensaios com
coagulantes como sulfato de alumínio e tanino vegetal, mostraram melhor resultado nos
parâmetros visuais de clarificação (pH ajustado à 8,5) enquanto que os ensaios
utilizando o coagulante Policloreto de Alumínio (PAC) não mostraram bons resultados. As
eficiências de remoção de fósforo foram satisfatórias para os tratamentos em que foram
utilizados os coagulantes PAC e sulfato de alumínio (pH 8,5), 75,9% e 91%,
respectivamente (RODRIGUES, 2016).

No tratamento secundário dos efluentes da indústria de frigoríficos geralmente


predominam os mecanismos biológicos sendo constituído primeiramente de uma etapa
anaeróbia, para conversão dos compostos mais complexos em compostos mais simples,
para posterior assimilação em uma etapa aeróbia. A etapa anaeróbia geralmente é
realizada em lagoas de estabilização e a etapa aeróbia em sistema de lodos ativados ou
lagoa aerada (SCHATZMANN, 2009).

O sistema de lodos ativados é muito utilizado tanto para tratamento de despejos


domésticos como industriais em situações em que há necessidade de elevada qualidade
do efluente e reduzidos requisitos de área. Em contrapartida, o sistema de lodos
ativados necessita de um maior índice de mecanização que os demais processos,
implicando em maior dificuldade de operação e maior consumo de energia elétrica (VON
SPERLING, 1997).

Os sistemas de lagoas de estabilização constituem-se na forma mais simples de


tratamento de efluentes. São indicadas para regiões de clima quente e países em
desenvolvimento devido aos altos requisitos de área, operação simplificada, necessidade
de poucos ou nenhum equipamento e clima favorável, com temperatura e insolação
elevadas (SCHATZMANN, 2009).

Os sistemas anaeróbios incluem os digestores de lodo como os reatores anaeróbios de


manta de lodo, tanques sépticos e lagoas anaeróbias. As principais características da 
decomposição anaeróbia são a baixa produção de sólidos, baixo consumo de energia,
a d k J
baixo custo de implantação e operação, tolerância a elevadas cargas orgânicas e baixos
tempo de detenção hidráulica (RODRIGUES et al., 2016).

Um estudo desenvolvido em Belo Horizonte – MG buscou avaliar o desempenho do


sistema reator anaeróbio de manta de lodo (ou Upflow Anaerobic Sludge Blanket –
UASB) seguido por filtro anaeróbio no tratamento de efluentes de abate de frangos. O
monitoramento do sistema foi realizado por meio de análises físico-químicas do afluente
e dos efluentes da caixa de gordura, reator UASB e filtro anaeróbio. Conclui-se que o
sistema reator UASB seguido de filtro anaeróbio apresentou alto desempenho na
remoção de sólidos e carga orgânica sendo uma alternativa viável para o tratamento de
águas residuárias de frigoríficos (RODRIGUES et al., 2016).

4. TRATAMENTOS AVANÇADOS
Os padrões de descarga de efluente gradualmente mais restritivos impulsionaram o
desenvolvimento de tecnologias avançadas aplicadas ao tratamento de águas residuais.
Embora possam ser usados tratamentos físicos, químicos e biológicos para o tratamento
de efluentes de frigoríficos, cada processo apresenta vantagens e desvantagens,
dependendo das características do efluente, da tecnologia disponível, assim como os
padrões de lançamento exigidos pela legislação (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR,
2017).

Uma técnica que vem se destacando como uma alternativa frente aos tratamentos de
efluentes convencionais é processo eletroquímico chamado de eletrofloculação. Um
estudo em um frigorífico e abatedouro de suínos utilizou a eletrofloculação para o
tratamento de efluente e obteve resultados de remoção de cor em torno de 98%,
turbidez em torno de 99% e remoção de DQO de 81%, considerando as análises das
variáveis sobre os ensaios ao nível de confiança de 95% (BIASSI, 2014).

Outro estudo buscou avaliar o tratamento do efluente por meio dos processos de
eletrocoagulação e eletroflotação em um frigorifico de aves. Os resultados demonstraram
remoções de DQO superiores a 60% para ambos os tratamentos. Já a cor obteve
remoções na eletroflotação (grafite) de 91% e na eletrocoagulação (alumínio) de 96%.
Em relação a turbidez houve 85% de remoção na eletroflotação e 94% na
eletrocoagulação com eletrodo de alumínio. Sendo ineficiente na eletrocoagulação com
ferro por causa da oxidação do ferro e liberação de cor. O desgaste do eletrodo é maior
para o eletrodo de alumínio e não há desgaste na eletroflotação (PAULISTA et al., 2016).

Os tratamentos anaeróbicos podem ser amplamente utilizados devido as altas


concentrações orgânicas presentes no efluente de frigoríficos. O alto teor de gordura e
proteína indica que os resíduos dos matadouros podem ser considerados um bom
substrato para o processo de digestão anaeróbia, devido à sua elevada produção de
metano (PALATSI et al., 2011).

Contudo, em alguns casos os tratamentos aeróbicos ou anaeróbicos não realizam a total


remoção da matéria orgânica do efluente que podem ser tóxicas ou resistentes ao
tratamento biológico (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR, 2015), sendo necessário a
combinação com métodos avançados para o atendimento aos padrões e limites de

a d k
descarga previstos na legislação. De acordo com os autores, os processos avançados de
J
oxidação (PAOs) podem ser aplicados como uma alternativa para melhorar a
biodegradabilidade de compostos não-biodegradáveis, refratários e tóxicos que podem
estar inseridos nos efluentes de frigoríficos.

A não biodegradabilidade dos efluentes alimentícios industriais está diretamente


relacionada com o alto teor de gordura, corantes e aditivos aos processos, os quais
geralmente são compostos orgânicos de estrutura complexa, de difícil degradação pelas
técnicas convencionais de tratamento, o que vem a ocasionar inibição e/ou paralisação
do metabolismo de certos micro-organismos (MORETTO, 2011).

Um estudo proposto para o tratamento terciário de efluente frigorífico revelou que o


processo integrado Fenton-Coagulação conduzido nas condições operacionais
[Fe+2]/[H2O2] de 0,800 e pH de coagulação 5,50 alcançou uma eficiência de remoção de
DQO superior a 71%, e pode, portanto, ser usado para o tratamento terciário de efluente
frigorífico com o objetivo de degradação de matéria orgânica recalcitrante (não
biodegradável) (ALMEIDA et al., 2015).

Estudos também apontam que o tratamento biológico combinado com processos


avançados de oxidação permite alcançar uma degradação altamente efetiva em termos
de custo com remoções percentuais de 91 e 86% para TOC e TN de efluentes de
frigoríficos, respectivamente, além de 55,72% de conversão do TOC para
CH4 (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR, 2016).

5. ANÁLISE DAS EXIGÊNCIAS DE TRATAMENTO


SEGUNDO AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS
A Lei N° 9.433 de 8 de janeiro de 1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e
apresenta como principais objetivos a garantia de disponibilidade de água em padrões de
qualidade adequados à atual e às futuras gerações, utilização racional e integrada,
incentivo ao aproveitamento de águas pluviais, prevenção e defesa de eventos
hidrológicos críticos, sejam eles de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos
recursos naturais (BRASIL, 1997).

Dentro deste contexto, a Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)


N° 357 de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes para o seu enquadramento, também estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes. Em conjunto com a CONAMA N° 430 de 13 de maio de 2011,
estas resoluções garantem o lançamento de efluentes em níveis seguros e sustentáveis
para o meio ambiente.

As normas e regulamentos destinadas a indústria de processamento de carne, variam


significativamente em todo o mundo (BUSTILLO-LECOMPTE; MEHRVAR, 2015). No Brasil,
os limites de lançamento de águas residuais em corpos hídricos podem ser observados
na Tabela 2.

Tabela 2 – Parâmetros estabelecidos para o tratamento do efluente da indústria.


Resolução CONAMA
Parâmetros
a d
N° 357 (Rio Classe II) k
N° 430 (Lançamento) J
DBO (mg/L) ≤ 5 mg/L 60% de eficiência

DQO (mg/L) – –

SS (mg/L) – –

SSV (mg/L) – –

SD (mg/L) 500 –

ST (mg/L) – –

Turbidez 100 UNT –

Cor 75 mg Pt/L –

Oxigênio
≥ 5 mg/L –
dissolvido

Temperatura – ≤ 40°C

Nitrato 10,0 mg/L N –

Nitrito 1,0 mg/L N –

3,7mg/L N, para pH ≤ 7,5

2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤


8,0
NTK (mg/L) 20,0 mg/L N
1,0 mg/L N, para 8,0 < pH ≤
8,5

0,5 mg/L N, para pH > 8,5

Prata total 0,01 mg/L Ag 0,1 mg/L Ag

Zinco total 0,18 mg/L Zn 5,0 mg/L Zn

Sulfato total 250 mg/L SO4 –

Até 0,030 mg/L, em ambientes


lênticos
PO4 (mg/L) –
Até 0,050 mg/L, em ambientes
intermediários

Óleos minerais: até 20 mg/L;


Óleos e graxas
Virtualmente ausentes Óleos vegetais e gorduras
(mg/L)
animais: até 50 mg/L;

pH 6,0 a 9,0 5,0 a 9,0

Fonte: Adaptado Resolução CONAMA N° 357 e N° 430.

Segundo a Resolução CONAMA N° 357 de 17 de março de 2005, o parâmetro DBO


deverá ser inferior a 5,00 mg/L para que rios de Classe II não sofram alterações na
qualidade da água. Os parâmetros presentes nesta resolução dependem da classe do rio,
sendo assim, quanto menor a classe, mais restritivos serão os limites. Em rios de Classe
I, por exemplo, o limite para a concentração de DBO é de 3 mg/L.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo buscou realizar uma revisão bibliográfica do atual perfil de crescimento
do setor de frigoríficos no Brasil, técnicas convencionais e avançadas de tratamento de
efluentes aplicáveis aos frigoríficos e por fim, a legislação brasileira aplicada ao 
lançamento de efluentes em corpos de água. Após a pesquisa bibliográfica ficou evidente
a d k
que esse setor da indústria alimentícia brasileira tem tido uma posição de destaque da J
economia do país e apresenta forte tendência de crescimento para os próximos anos. As
técnicas de tratamento convencionais são as mais utilizadas nas estações de tratamento
dos frigoríficos devido a elevada carga orgânica do efluente. Felizmente, com o
progresso das pesquisas em torno das técnicas avançadas para remoção de substâncias
presentes na água e exigência dos orgãos ambientais, os métodos avançados estão
sendo incorporados por esse setor, a fim de obter um efluente final com maior qualidade
para ser lançado no meio-ambiente.

REFERÊNCIAS
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do setor de alimentos e bebidas. 2017. Disponível em:
<https://www.abia.org.br/vsn/anexos/faturamento2017.pdf>. Acesso em: mai. 2018.

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regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº
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[1]
Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental. Mestranda no Programa de Pós-
Graduação em Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC;

[2] Graduação em Engenharia Ambiental. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em


Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC; 
a d k J
[3] Graduação em Química. Professora efetiva do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.

Enviado: Agosto, 2018

Aprovado: Dezembro, 2018

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Jaqueline Cremonini
Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC;


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