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ISSN 2177-3548

A ética amorosa de bell hooks e a FAP: Interlocuções entre feminismo


negro e clínica comportamental
bell hooks’ amorous ethic and FAP: Dialogue between Black
feminism and clinical behavior analysis
La ética amorosa de bell hooks y la FAP: Interlocuciones entre el feminismo
negro y la clínica conductual
Sayuri Miranda de Andrade Kuratani1,5, Laís Maria Souza de Cerqueira2,5, Luana Karina dos Santos Pereira3,5,
Raíssa Santos Monteiro da Silva3,5, Ana Carolina Aires Mendes4,5

[1] Universidade Federal do Recôncavo da Bahia [2] Universidade Federal da Bahia [3] Consultório particular [4] Universidade do Estado da Bahia [5] As autoras
são membros do Grupo de Trabalho de Questões Raciais e Análise do Comportamento vinculado à Associação de Analistas do Comportamento da Bahia (Casa
Comportamental) | Título abreviado: Interlocuções entre bell hooks e FAP | Endereço para correspondência: Sayuri Kuratani – Serviço de Psicologia – UFRB – Rua
do Cajueiro, 1015. Cajueiro. Santo Antônio de Jesus/Bahia | Email: sayurikuratani@gmail.com | doi: org/10.18761/VEEM.019.nov21

Resumo: O artigo é um ensaio teórico, que propõe articular os conceitos da FAP (Functional
Analytic Psychotherapy – Psicoterapia Analítica Funcional) com a obra de bell hooks, espe-
cialmente o que a autora afro-americana teoriza como ética amorosa. O objetivo é apontar
que esta literatura feminista negra pode ser um recurso teórico e terapêutico para auxiliar o
desenvolvimento de habilidades interpessoais orientadas pela FAP. Para tal, discutimos como
a subjetividade da população negra é conformada no Brasil e discorremos sobre o alto nível
de sofrimento psíquico que se manifesta nessa população, em decorrência das violências
sofridas. Por fim, apontamos caminhos que a clínica comportamental pode trilhar para cons-
truir uma prática competente ao atendimento de queixas relacionadas ao racismo e aprimo-
rar habilidades terapêuticas que atendam às necessidades de grupos raciais não dominantes.
Ressaltamos também que tais conhecimentos devem ser mobilizados para além da clínica,
buscando generalizar os comportamentos que definem essa ética amorosa.
Palavras-chave: psicoterapia analítica funcional; bell hooks; análise do comportamento;
amor; racismo.

Nota: Agradecemos aos professores do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da


Bahia: Leonardo de Oliveira Barros e Yuri Sá Oliveira Sousa. Agradecemos também ao psicó-
logo clínico Sidarta Rodrigues e ao advogado Jonata Wiliam Souza da Silva por terem embar-
cado conosco nos caminhos do amor.
Declaramos que não possuímos conflito de interesses.
Declaramos que os cuidados éticos pertinentes a este estudo foram respeitados.

Revista Perspectivas 2022 Ed. Especial: Estresse de Minorias pp.321-341 321 www.revistaperspectivas.org
Abstract: This article is a theoretical essay which proposes to articulate FAP’s (Functional
Analytic Psychotherapy) concepts and bell hooks’ theory, specially her discussion about love
ethics. The goal is to point out that this piece of black feminist literature can be used as a theo-
retical and therapeutical resource to assist the development of interpersonal skills guided by
FAP. For such, we discuss how black people’s subjectivity is structured in Brazil, and the high
level of suffering they have because of the racism. Finally, we indicate paths that the behavioral
clinic can tread to build a competent practice in complaint handling/attendance related to
racism and improve therapeutic skills that answer the needs of non-dominant racial groups.
In addition, we emphasize that this knowledge must be mobilized to areas beyond the clinic,
seeking to generalize the behaviors that define these love ethics.
Keywords: functional analytic psychotherapy; bell hooks; behavioral analysis; love; racism.

Resumen: El artículo es un ensayo teórico, que propone articular los conceptos de la FAP
(Functional Analytical Psycotherapy – Psicoterapia Analítica Funcional) con el trabajo de bell
hooks, especialmente lo que la escritora afroamericana teoriza como ética del amor. El objetivo
es señalar que esta literatura feminista negra puede ser un recurso teórico y terapéutico para
ayudar al desarrollo de habilidades interpersonales orientadas por la FAP. Para eso, discutimos
cómo se configura la subjetividad de la población negra en Brasil y discutimos el alto nivel de
sufrimiento psicológico que se manifiesta en esta población, como resultado de la violencia
sufrida. Finalmente, señalamos caminos que la clínica conductual puede seguir para construir
una práctica competente en el tratamiento de las quejas relacionadas con el racismo y mejorar
las habilidades terapéuticas que atiendan a las necesidades de los grupos raciales no domi-
nantes. Resaltamos también que dicho conocimiento debe incentivarse más allá de la clínica,
buscando generalizar los comportamientos que definen esta ética amorosa.
Palabras clave: psicoterapia analítica funcional; bell hooks; análisis del comportamiento;
amor; racismo.

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Em nossa cultura cada pessoa costuma possuir uma para ajudar o consulente2 a desenvolver uma vida
definição própria de amor. Enquanto alguns usam que lhe seja mais significativa e com relações so-
esse termo como forma de mostrar afetividade por cioafetivas mais saudáveis (Kohlenberg & Tsai,
alguém – seja uma expressão familiar ou romântica 1991/2001). Um método de amplificar o desenvol-
–, outros utilizam-no como forma de resistência e vimento desse repertório, tanto para consulentes
combate à opressão. como para terapeutas, é o modelo ACL (Awareness,
Para bell hooks1, o amor é a reunião de várias Courage, Love – Consciência, Coragem e Amor) –
ações, como carinho, afeição, reconhecimento, res- que será aprofundado posteriormente –, mas que
peito, compromisso, confiança, honestidade e co- propõe aplicar as regras da FAP utilizando uma
municação. A feminista negra destaca o quão va- linguagem acessível e amorosa, que seja capaz de
lioso é pensar no amor com comprometimento e aprofundar relações interpessoais na clínica.
intenção, pois torna possível que ele seja visto como Apesar de nossa cultura colocar o amor como
ação – ou seja, que passemos a nos comportar de uma questão central nas narrativas cotidianas (seja
forma amorosa (hooks, 2000/2020). em filmes, novelas, músicas, livros), numa socieda-
A filosofia behaviorista radical possui uma vi- de racista, que agride a comunidade negra de diver-
são semelhante quanto ao entendimento de que sas formas cotidianamente, pessoas negras tendem
sentimentos são comportamentos, que se manifes- a encontrar em suas trajetórias muito mais contex-
tam na interação entre o indivíduo e o seu ambiente tos de violência do que contextos amorosos.
social (Guilhardi, 2002). Para Guilhardi (2017), o Frequentemente pessoas negras crescem sendo
amor pode ser compreendido como uma constru- violentadas por falta de acesso a uma vida mini-
ção socioverbal, não sendo um sentimento, mas mamente digna (em condições de moradia, saúde,
um conjunto de sentimentos, que tem sido asso- educação e lazer extremamente precarizadas), so-
ciado a contingências de reforçamento positivo, tal frem com a violência institucional que se manifesta
como descrito por Skinner (1987, p. 296): “o que é muitas vezes através de violência policial, intensifi-
o amor… a não ser um outro nome para o uso de cada por políticas de guerra às drogas, expectativas
reforçamento positivo…ou vice-versa”. Contudo, de suspeição criminal em locais elitizados, dentre
não há uma definição precisa sobre o termo, tor- outras formas de hostilidade (Akotirene, 2018;
nando-se dependente de uma análise funcional e da Borges, 2019; Mizael & Sampaio, 2019; Piedade,
história de vida individual. Desse modo, não tenta- 2017). Por meio de uma construção histórica de
remos conceituá-lo, mas apoiaremos as discussões desumanização da população negra – cujos mem-
seguintes utilizando como referência a Psicoterapia bros são postos como desprovidos de subjetivida-
Analítica Funcional (FAP – Functional Analytic de (Pacheco, 2008) – pessoas negras muitas vezes
Psychotherapy) e a importância que ela dá para as passam a vida inteira sem ter direito a conhecer
interações humanas e os processos clínicos media- e cultivar o amor. Considerando esse contexto de
dos por sentimentos característicos de amor. vida aversivo, evidenciamos a importância do afeto
Tratando-se de relações interpessoais, dentro direcionado à população negra como prática revo-
das terapias comportamentais contextuais, a FAP lucionária e antirracista. Desse modo, buscamos
tem se mostrado potente para o desenvolvimento articular os fundamentos da FAP com a obra de
de vínculos terapêuticos, utilizando a relação tera- bell hooks, especificamente o que a autora defende
pêutica como fonte de mudança de comportamento como ética amorosa.

2  O termo cliente proposto pela FAP possui uma forte cono-


1  Escolha da autora Gloria Jean Watkins em escrever sob o tação de prestação de serviços, por isso as autoras desse arti-
pseudônimo bell hooks em letras minúsculas como forma go adotam a utilização do termo consulente, que diz respeito
de dar ênfase não à pessoa, mas ao que está sendo discutido a uma pessoa que busca pelo atendimento especializado em
(hooks, 1989/2019a). Citaremos dessa forma em respeito à relação a certas questões, o que nos parece mais apropriado
filosofia de bell hooks. para descrever uma relação terapêutica.

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A escolha pela teoria da intelectual afro-ame- Mizael & Sampaio, 2019; Pacheco, 2008; Tavares
ricana se dá pela compreensão da ética amorosa & Kuratani, 2019), é um mecanismo de opressão
como um modo de se relacionar socialmente orien- que traz um grande sofrimento à população ne-
tado pelo amor e pela construção de uma política gra brasileira. Pessoas negras têm maiores níveis
que reúna ações coletivas de combate ao racismo, de ansiedade, estresse crônico, transtorno de es-
ao machismo e demais forças opressivas (Silva & tresse pós-traumático e depressão em decorrência
Nascimento, 2019), dando espaço para a criação do racismo (Faro & Pereira, 2011; Graham, West
de vínculos e o fortalecimento de subjetividades & Roemer, 2015; Pieterse, Neville, Todd & Carter,
não dominantes (não-brancas). hooks (2000/2020) 2011; Williams, Kanter & Ching, 2017). Apesar de
apresenta o “amor” como uma estratégia de desco- tais evidências, questões relativas ao racismo têm
lonização para uma vida mais libertadora, em que sido pouco ou não abordadas por psicólogas3 de
seja possível alcançar o bem-estar emocional indi- uma forma geral – o que é visível se notarmos a au-
vidual e comunitário. sência de inclusão do fenômeno às teorias e a falta
Skinner (1953/2003) e outros pesquisadores de contextualização racial no setting terapêutico.
escreveram sobre as possibilidades de a Análise do Não são raros os relatos dos consulentes que
Comportamento ser útil na superação de proble- vivenciaram situações de opressão4 onde os per-
mas sociais relevantes. Entretanto, a identificação petradores da violência foram as psicoterapeutas,
e priorização do que consideramos problema no seja por realizarem comentários explicitamente
mundo é arbitrária, depende do que acessamos de racistas (bem como sexistas, transfóbicos, religio-
informação sobre as realidades. Logo, identificamos sos, etc.), seja por deslegitimarem ou invalidarem
o risco de intervenções comportamentais negligen- o sofrimento do consulente ao reagir a um relato
ciarem as relações raciais. Portanto, se faz inevitável como “Eu sofro por causa do racismo” responden-
a produção de conhecimento que construa interse- do frases do tipo “Não existe racismo no Brasil”.
ção entre Análise do Comportamento e discussões Violências como essas já haviam sido denunciadas
voltadas a grupos sociais não-dominantes. Nesse pela intelectual brasileira Lélia Gonzalez (1984, p.
cenário, a Análise do Comportamento vem apri- 226): “Racismo? No Brasil? Quem foi que disse?
morando suas discussões ainda incipientes, contudo Isso é coisa de americano”.
indispensáveis ao campo da psicoterapia e ao com- Disso decorre o fato de que muitas psicólogas
promisso social proposto pela teoria skinneriana. desconhecem os efeitos do racismo em seus con-
O presente artigo se trata de um estudo teórico, sulentes negros, o que pode levá-las a incorrer no
uma revisão narrativa da literatura, que tem como erro de patologizar um sofrimento que é fruto desse
objetivo propor que a literatura feminista negra, contexto de violência. Não raro, pessoas negras são
produzida por hooks, possa ser um recurso teórico rotuladas como “paranoicas” ao relatarem que estão
e terapêutico para o desenvolvimento de habilida- sendo perseguidas ou que se sentem inferiorizadas
des interpessoais para consulentes e terapeutas FAP, pelas pessoas em seu entorno (Tavares & Kuratani,
ao provocar uma reflexão sobre a possibilidade 2019). Fazer um diagnóstico como esse, centralizar
dessas habilidades serem orientadas por uma ética o problema no indivíduo e colocar sua queixa como
amorosa, antirracista e antipatriarcal.  fantasia é mais uma forma de perpetrar o racismo,
além de produzir mais violência em um contexto
que deveria ser de acolhimento e apoio ao enfren-
Subjetividade da população negra
e clínica analítico-comportamental 3  Segundo o livro Quem é a psicóloga brasileira? – Mulher,
Psicologia e Trabalho (2013) organizado por Louise Lhullier e
hegemônica publicado pelo Conselho Federal de Psicologia, 88% dos pro-
Diversos estudos têm evidenciado que o racismo fissionais de Psicologia são mulheres. Desse modo, adequa-
estrutural, sistema de hierarquia de poder no qual mos à linguagem de gênero pertinente a este artigo.
determinados grupos se sentem superiores em re- 4  Conforme a denúncia realizada pela Revista Uol: Após
lação a outros (Akotirene, 2018; Almeida, 2019; trauma na terapia, negros buscam psicólogos da mesma cor
Borges, 2019; Gonzalez, 1984; Kilomba, 2019; (Bernardo, 2020).

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tamento dessas questões. Como argumenta hooks Mesmo assim, psicoterapeutas que carregam a
(1984/2019b), se não conseguirmos enfrentar a marca histórica da hegemonia branca seguem em
dominação nas relações em que há cuidado, não função de suas histórias de vida, regadas em sua
seremos capazes de acabar com a dominação nas maioria a privilégios e poder, e externalizam (de
relações institucionalizadas de poder. forma consciente ou não) valores particulares.
Uma das premissas que sustentam a Análise do Tal fato fica mais evidente ao tensionarmos que a
Comportamento é a relação de controle que é es- Análise do Comportamento tem como base o mo-
tabelecida entre variáveis dependentes e indepen- delo selecionista de comportamento calcado no tri-
dentes, ou seja, são as variáveis ambientais/contex- pé filogênese, ontogênese e cultura, entretanto vem
tuais e as variáveis comportamentais. Para Skinner negligenciando o fator cultural nas temáticas de
(1953/2003) essa relação de controle existe mesmo relevância social. Destarte, enquanto analistas do
quando não estamos conscientes das suas causas e comportamento, podemos reconhecer que o fato de
efeitos. Sidman (1989/2009) aponta o uso de puni- um indivíduo ter acesso a reforçadores importantes
ção ou ameaça de punição por meio das agências e diferenciados conforme o grupo social hegemô-
controladoras para que as pessoas se comportem de nico ao qual pertence (no contexto brasileiro: ser
uma dada maneira, o que significa que as relações homem cis, branco, heterossexual e cristão) opera
sociais operam sob o uso recorrente de controle co- de maneira muito mais potente do que o conheci-
ercitivo. Esse tipo de controle possui efeitos colate- mento sobre determinadas regras e variáveis cultu-
rais, e para a população negra eles são ainda mais rais existentes (Nicolodi, 2020; Nicolodi & Arantes,
significativos, pois em última instância resultam em 2019; Terry, Bolling, Ruiz & Brown, 2010).
políticas de morte. Desconhecer o racismo e seus efeitos, estando
Assim, as agências de controle podem ser en- dentro de uma cultura racista, potencializa a pro-
tendidas como estruturas sociais (formadas por babilidade de que a terapeuta cometa as chamadas
indivíduos e organizações) que manipulam de- microagressões raciais, que são agressões verbais
terminados comportamentos e variáveis, através ou não-verbais cometidas contra grupos étnicos
de contingências de reforçamento e punição. O não-dominantes, de forma consciente ou incons-
governo, religião, psicoterapia, economia e edu- ciente, com ou sem o intuito de ofender e humilhar
cação foram as agências exploradas por Skinner (Williams, Kanter & Ching, 2017). Neste sentido,
(1953/2003), devido ao sucesso na forma como mesmo um olhar lançado a uma pessoa negra pode
operam, principalmente sobre o modo como esta- expressar racismo, ainda que o autor do ato não es-
belecem práticas de controle e poder. Sendo assim, teja consciente do próprio comportamento.
a psicoterapia não está fora dos contratos estabele- No artigo Intersectionality and Research In
cidos socialmente, ainda que alguns profissionais Psychology, a psicóloga Elizabeth Cole (2009) in-
que a manejam se isentem de analisar os estrutu- forma sobre a recente preocupação das psicólogas
rantes sociais que organizam a vida dos sujeitos no tocante às questões de raça/etnia, gênero, classe
que sofrem no consultório. Essa realidade tem sido social e sexualidade; evidencia, no entanto, como
frequentemente experimentada por pessoas negras poucas pesquisas têm sido realizadas acerca da ar-
durante as sessões de psicoterapia, o que constitui ticulação dessas categorias sociais. A analista do
inclusive uma infração ética, levando em conside- comportamento Laís Nicolodi (2020) caminha na
ração o Código de Ética Profissional do Psicólogo mesma direção e defende a investigação das catego-
(2005), em seus princípios fundamentais: rias sociais de gênero, raça e classe nas contingên-
cias de reforçamento, para que seja possível uma
VII. O psicólogo considerará as relações de po- intervenção social eficiente por meio do planeja-
der nos contextos em que atua e os impactos des- mento de políticas públicas.
sas relações sobre as suas atividades profissionais, Martins, Lima e Santos (2018) chamam atenção
posicionando-se de forma crítica e em conso- para o fato de existirem poucos estudos que relacio-
nância com os demais princípios deste Código. nem as microagressões raciais com a saúde mental
(Conselho Federal de Psicologia, 2005, p. 7). de mulheres negras (pardas e pretas), mais especifi-

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camente. Isto porque a variável gênero exerce uma branca é o preterimento afetivo de mulheres negras
importante influência na subjetividade humana, de (Akotirene, 2018; Gonzalez, 1984; Pacheco, 2008;
modo que as experiências de mulheres negras e de Ribeiro, 2019). Na medida em que as escolhas afeti-
homens negros são muito diferentes, apesar da va- vas ocorrem a partir da pigmentação da pele, quan-
riável racial trazer sofrimento a ambos. Conforme to mais preta, maior será a dificuldade de mulheres
evidenciam os autores, enquanto os homens negros negras serem escolhidas para relacionamentos ín-
estão mais suscetíveis à violência policial e à crimi- timos. Para as mulheres negras é negado o convite,
nalidade, as mulheres negras estão mais propensas o desejo, a escolha de se envolver em uma história
a sofrer violência doméstica, relações abusivas e vio- de amor. A solidão assombra as mulheres negras
lências sexuais como assédio e estupro (Akotirene, (Gonzalez, 1984; hooks, 2000/2020; Pacheco, 2008;
2018; Borges, 2019; Mizael e Sampaio, 2019). Ribeiro, 2019).
O Brasil é um país planejado para conceder pri- Uma das possíveis explicações para a dificul-
vilégios a uma minoria em termos quantitativos. dade de pessoas negras de construir vínculos sau-
Em razão disso, a pesquisadora Carla Akotirene dáveis ou abandonar relacionamentos abusivos é
(2018) no livro “O que é interseccionalidade?” le- a educação parental e/ou informal, a exemplo de
vanta a necessidade de se atentar aos atravessamen- quando as crianças negras são ensinadas desde a
tos das múltiplas avenidas identitárias confluindo e infância a tolerar violência e nomeá-la como amor
incidindo sobre o mesmo indivíduo. A partir desse (hooks, 2000/2020). Tradicionalmente meninas
olhar interseccional é possível identificar as violên- aprendem que os meninos gostam delas quan-
cias sistemáticas e contínuas que as mulheres ne- do lhes puxam pelo cabelo ou lhes agarram com
gras sofrem, e de que forma essas violências afetam força pelo braço; meninas devem aceitar as flores
sua subjetividade. pelo pedido de desculpas; se os cuidadores batem
As violências contra pessoas negras foram per- é para o bem estar dessa criança; se fragilizam os
petradas imbuídas na ideia da cultura europeia adolescentes oscilando entre momentos de risos
hegemônica, que no primeiro momento postulou e apontamentos de fracasso é para formar adul-
a animalização de pessoas negras, e depois da dita tos responsáveis (hooks, 1984/2019b; 1989/2019c;
“abolição da escravatura” pôs em curso o apaga- 2000/2020). Vivemos em uma estrutura social na
mento do processo histórico de identidades não- qual homens devem performar violência para
-brancas, produzindo a falsa narrativa de subjetivi- afirmação da própria identidade masculina, e
dade humana universal. Tal discurso considerava, mulheres devem acolher, aceitar, perdoar e trans-
portanto, que não haveria necessidade de pautar formar o homem em questão. Essas violências
diferenças de raça e classe que foram estabelecidas patriarcais contribuem para minar a autoestima
historicamente entre mulheres brancas e negras – de mulheres negras. Quando a vida é permeada
de modo que a realidade de mulheres negras vem por pouco ou nada de amor, “o que cai na rede é
sendo invisibilizada (Akotirene, 2018; Borges, 2019; lucro”. As mulheres negras tendem a sofrer maior
Mizael, 2019; Piedade, 2019). privação social, além de comumente aprenderem
É no corpo negro que evocam as representa- que merecem pouco, estando mais suscetíveis a
ções raciais negativas. Os cabelos encaracolados aceitarem e se conformarem com qualquer tipo
ou crespos, lábios grossos, nariz achatado e pele de relacionamento amoroso que conseguirem
retinta são traços da negritude marginalizados na estabelecer, mesmo aqueles em que há violência
sociedade que se espelha no padrão normativo de (hooks, 1984/2019b). Nesse ponto, ressalta-se
beleza da branquitude (Borges, 2019; Gonzalez, que, para hooks (2000/2020), um relacionamento
1984; Kilomba, 2019; Pacheco, 2008). Destinam amoroso não refere-se apenas a relações român-
como elogios a pessoas negras frases como: “você ticas, mas também a relações com a família, com
é uma negra bonita”, “você é negra, mas tem tra- amizades e com a comunidade. Para a autora,
ços finos”, ou seja, “elogios” que giram em torno de “amar bem é a tarefa em todas as relações signifi-
diminuir a forma como o outro existe no mundo. cativas, não apenas nos laços românticos” (hooks,
Uma das implicações desse desvio da hegemonia 2000/2020, p. 170).

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Além disso, as mulheres negras sofrem com (Akotirene, 2018; Almeida, 2019; Borges, 2019;
o fenômeno da infantilização (Akotirene, 2018; Mizael & Sampaio, 2019). Para Akotirene (2018),
Gonzalez, 1984; Kilomba, 2019), pois tiveram o di- enquanto mulheres brancas temem que seus filhos
reito de falar por si mesmas historicamente negado, sejam cooptados pelo patriarcado, mulheres negras
independente da faixa etária. Essas mulheres são temem que seus filhos sejam assassinados pelas ne-
conformadas socialmente como incapazes de pro- cropolíticas estatais. Entendemos que ocorre uma
dução intelectual. Em decorrência disso, costumam negação para que mulheres negras maternem seus
ser questionadas sobre suas falas, opiniões, posicio- filhos, seja por serem responsáveis pelo cuidado pa-
namentos nos relacionamentos afetivos, acadêmi- rental dos filhos das mulheres brancas, seja porque
cos, no trabalho e/ou na própria psicoterapia. Para seus filhos podem ser executados a qualquer mo-
a filósofa Djamila Ribeiro (2019), se ocorre convi- mento pela invasão de um camburão na favela sob
vência somente com uma única classe social, pas- a justificativa de guerra ao tráfico de drogas.
samos a acreditar que somente aquele grupo tem A filósofa Vilma Piedade (2017), no livro
capacidade para cargos específicos, o que corrobora Dororidade, em bom e pleno pretoguês5 escreve o
para o sentimento de inadequação, de não perten- seguinte:
cimento de pessoas negras, mesmo quando galgam
posições de poder. A autopercepção que se afirma é É isso, mas não é simples assim, pro feminis-
de ser uma fraude – o que tem sido nomeado como mo, pra sociedade brasileira! Pra ser Dialógico
“síndrome do impostor”. Esses atravessamentos re- Interseccional, o Feminismo precisa mudar
sultam em diferença, desigualdade e sofrimento. ainda mais a cor, ficar mais preto. São muitos
Outra violência direcionada a sujeitos negros é tons de Pretas. Entender por que razão deter-
o discurso da meritocracia (Mello & Moll, 2020), minados grupos estão mais expostos a traba-
na qual supostamente as pessoas estariam em igual- lhos mais pesados, doenças, moram em bairros
dade de condições e, portanto, a população negra periféricos, acessam menos serviços, recebem
deveria apresentar os resultados semelhantes à salários menores, possuem baixa escolaridade
população branca em termos de estabilidade aca- ou, às vezes, nenhuma. (Piedade, 2017, p. 24)
dêmica, profissional, econômica, amorosa, etc. Se (itálico da autora).
pessoas negras por vezes não correspondem a tais
expectativas é porque elas não são suficientes – se- No atendimento clínico para mulheres negras,
gundo parâmetros da hegemonia branca. Tal dis- portanto, é preciso levar em consideração diversos
curso desconsidera o contexto restrito de acesso aos fatores que não atravessam as vivências de mu-
recursos e as violências em curso (Akotirene, 2018; lheres brancas. Em decorrência dessas vivências,
Almeida, 2019; Borges, 2019; Mizael & Sampaio, muitas mulheres negras experimentam uma sen-
2019; Piedade, 2017). Sempre haverá um único sação constante de desconfiança, o que dificulta o
exemplo preto de sucesso para ser usado de argu- estabelecimento de um vínculo terapêutico, prin-
mentação por pessoas brancas: “se João conseguiu cipalmente se a terapeuta for branca (Tavares &
você também consegue”, “precisa se esforçar mais” Kuratani, 2019). Compreender essa dimensão é
– afinal de contas para o senhor branco, o preto é fundamental para realizar uma condução terapêu-
sempre preguiçoso. Segundo Ribeiro (2019), há tica adequada e verdadeiramente acolhedora.
uma romantização e naturalização das dificuldades
enfrentadas por pessoas negras. 5 Em Racismo e sexismo na cultura brasileira (1984), Lélia
O Brasil é um país que se organiza de forma Gonzalez argumenta que pretoguês é linguagem brasileira
desigual, instituindo privilégios para grupos hege- construída a partir da estrutura social racista, onde mulheres
mônicos e marginalizando outros grupos a partir negras: a “mãe preta”, a “bá” foram as responsáveis pelo cui-
da negação de direitos fundamentais, como direito dado parental das crianças brancas, o que possibilitou a trans-
missão dos valores africanos para a cultura brasileira. Vilma
à vida. Há políticas estruturais em curso para a di- Piedade (2017) retorna a crítica de González para explorar o
zimação da população negra. O genocídio da popu- vínculo que liga as mulheres negras, a dor. O livro Dororidade
lação negra aconteceu ontem e é problema de hoje é escrito em linguagem pretoguês.

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Alguns estudos têm evidenciado que uma noção Do mesmo modo, existem os comportamentos-
de pertença e identidade social é um importante pre- -problema e os de melhora da terapeuta que ocor-
ditor de melhora na saúde mental e na autoestima de rem na sessão, e são denominados como T1 e T2,
pessoas negras (Faro & Pereira, 2011; Martins, Lima respectivamente. A FAP inicia um movimento de
& Santos, 2018). Os autores argumentam que se por vanguarda nas terapias comportamentais ao siste-
um lado a consciência das opressões de gênero e raça matizar a função dos comportamentos da terapeuta
possibilita o reconhecimento das microagressões no processo clínico, partindo do pressuposto de que
que ocorrem no cotidiano – o que pode ocasionar tais comportamentos vão interferir na emissão dos
uma piora na saúde mental de quem percebe que CCRs do consulente e afetar, consequentemente, os
está sendo alvo de violências –, por outro lado pode resultados da terapia. Assim, tanto a terapia ou a
fornecer importantes estratégias de enfrentamento supervisão em FAP pretendem aumentar a sensi-
das opressões, o que inclui a compreensão de que bilidade da terapeuta em identificar as suas habili-
o problema não está com sua imagem, e sim com o dades e dificuldades interpessoais, desenvolvendo
sistema opressor. Nesse sentido, tendo em vista as processos de aprendizagem dentro e fora da sessão
possíveis melhorias na saúde mental e na autoima- – para consulentes, terapeutas e supervisores. Nessa
gem de mulheres negras que se reconhecem enquan- sistematização, Kohlenberg e Tsai (1991/2001) de-
to grupos minoritários e fortalecem-se mutuamente, senvolveram cinco regras orientadoras para o exer-
defendemos aqui a necessidade de que o fomento à cício da FAP e que nos ajudam a entender quais os
conscientização das opressões estruturais ocorra seus fundamentos e a sua proposta.
dentro do contexto terapêutico. Para tal, propomos A regra 1 é observar os CCRs. Essa é a regra ful-
a interlocução do pensamento da feminista negra cral da FAP, pois tomada a consciência dos CCRs, a
bell hooks e seus estudos sobre amor, gênero e raça terapeuta pode estar atenta às suas próprias reações
associado aos fundamentos da Psicoterapia Analítica em relação aos comportamentos do consulente, e
Funcional. assim avaliar se sua reação será para reforçar, punir
ou extinguir tais comportamentos (Kohlenberg &
Tsai,1991/2001). A regra 2 descreve que os CCRs de-
Psicoterapia Analítica Funcional vem ser evocados e consequenciados pela terapeuta,
(FAP) sobretudo CCRs 2. Ainda assim é comum que CCRs
1 sejam evocados, o que demandará da terapeuta
Conceitos e regras da FAP tentativas de diminuir suas ocorrências, ao mesmo
A FAP é um modelo de psicoterapia comportamen- tempo em que se mantém atenta para evocar melho-
tal baseado na filosofia behaviorista radical que foi ras (Hartmann, Oshiro & Vartanian, 2018).
sistematizada por Kohlenberg e Tsai (1991/2001). A regra 3 é reforçar o CCR 2, promover contin-
Apresenta como foco a produção de mudança du- gências que aumentem a probabilidade de ocorrên-
rante a sessão clínica, tornando assim, a relação tera- cia dos comportamentos de melhora. Kohlenberg
peuta-consulente um aspecto central da sua prática. e Tsai (1991/2001) ressaltam o papel do reforça-
Um dos principais conceitos dessa terapia são os mento natural nesse processo, alertando que o uso
comportamentos clinicamente relevantes (CCR) do de reforçamento arbitrário deve ser utilizado com
consulente, que são comportamentos que ocorrem parcimônia e de modo transitório até que se con-
durante a sessão. A observação e intervenção des- siga estabelecer o uso de reforçadores naturais. Na
tes pela terapeuta, no momento em que ocorrem, regra 4, é importante que a terapeuta esteja atenta
conduzirão o processo terapêutico. Os CCRs podem aos efeitos reforçadores ou punidores do seu com-
ser: comportamentos-problema – CCR 1; compor- portamento com relação aos CCRs do consulente.
tamento de melhora – CCR 2 ou interpretação do Regra base para o processo clínico, ela reafirma a
consulente sobre seus comportamentos – CCR 36. necessidade da terapeuta estar presente, observan-

6  O CCR 3 foi descrito neste artigo conforme a referência ci- mais recente, Holman, Kanter, Tsai e Kohlenberg (2017) cate-
tada (Kohlenberg & Tsai, 1991/2001), contudo, em publicação gorizam os CCRs em dois tipos apenas: o CCR 1 e o CCR 2.

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do suas reações e as consequências delas. Essas ob- ocorrer pelas duas vias: da terapeuta e do consu-
servações serão muito úteis para uma análise dos lente. A possibilidade dessa relação ser bidirecional
comportamentos da terapeuta e como estes se rela- torna-a semelhante às demais relações do consulen-
cionam com a conceitualização do caso e os objeti- te, constituindo uma aliança terapêutica que não se
vos terapêuticos. funda pela impessoalidade e pelo distanciamento
A regra 5 discorre sobre a terapeuta oferecer emocional da terapeuta, características popular-
ao consulente interpretações comportamentais que mente atribuídas a psicoterapeutas.
afetem seus comportamentos. Descrever relações A autorrevelação pode funcionar também como
funcionais, possibilitando ao consulente observar validação, principalmente através do relato de ex-
as variáveis que controlam seu comportamento é periências emocionais da terapeuta que são seme-
um processo clínico relevante que essa regra busca lhantes às relatadas pela consulente, o que pode
promover. É preferível que as relações funcionais amplificar a sensação de compreensão e a aceita-
descritas possam ser de CCR, ou até mesmo que ção de sentimentos difíceis por parte da consulen-
especifiquem variáveis que ocorrem na sessão e te (Moriyama, 2012), além de estreitar o vínculo de
fora da sessão, construindo paralelos que sinalizem intimidade na relação terapêutica. Contudo, é im-
uma possível generalização (Kohlenberg & Tsai, portante destacar que a autorrevelação não ocorre
1991/2001). de forma arbitrária; é uma estratégia que deve estar
Observa-se que na proposta da FAP, portanto, de acordo à conceituação do caso, passando por uma
deve-se buscar fazer a modelagem dos comporta- avaliação em relação à pertinência, ao momento e à
mentos de melhora do consulente na própria ses- frequência, bem como às possíveis funções e con-
são clínica, o que se consegue por meio de reações sequências da revelação para o processo (Peterson,
naturais da terapeuta aos CCRs, pois reações mais 2002). Moriyama (2012) alerta que uma grande
naturais tendem a ter um efeito reforçador intrínse- quantidade de autorrevelações da terapeuta ou falas
co quando se trata de interação entre pessoas, além que indiquem comparação podem ser muito aversi-
de ocorrerem no intervalo mais curto possível en- vas e invalidantes para alguns consulentes.
tre a resposta do consulente e a consequência dada
pela terapeuta (Vandenberghe & Pereira, 2005). Intimidade e amor na FAP
Isso significa que os comportamentos da terapeuta Intimidade é definida em nosso entendimento
devem ser genuínos, provocando o desenvolvimen- comportamental por repertório interpessoal que
to de uma relação que seja verdadeira e íntima, à envolve a revelação dos pensamentos ou senti-
medida que terapeuta e consulente experimentam mentos mais profundos, e que em geral resulta em
as sensações de estarem presentes e conectados aos uma sensação de conexão, apego e proximidade
processos que ocorrem no setting clínico. com o outro (Kohlenberg & Tsai, 1991/2001). A
Um outro pressuposto importante da FAP é construção de relacionamentos de intimidade im-
que grande parte das psicopatologias existentes plica necessariamente em vulnerabilidade, o que
possuem relação com o desenvolvimento de rela- para a pesquisadora Brené Brown (2012/2016)
ções interpessoais, tanto em termos de causa como significa incerteza, correr riscos e exposição emo-
de tratamento (Baruch et al., 2011), o que mostra cional. A vulnerabilidade se apresenta em dife-
a importância do desenvolvimento de uma rela- rentes topografias e nos mais variados contextos,
ção terapêutica que seja genuína e íntima, e que tal seja quando expressamos uma opinião impopu-
repertório possa ser generalizado para outros am- lar, pedimos ajuda ou admitimos amar alguém;
bientes do consulente. no trabalho, com a família ou parceiro amoroso.
Algumas condições são necessárias para que o Segundo bell hooks (2000/2020), nós não somos
processo de intimidade se estabeleça, dentre elas capazes de amar se permanecermos apegados ao
comportamentos de autorrevelação e responsivi- poder. Para ambas as autoras, estar vulnerável é
dade (R. Kohlenberg, B. Kohlenberg, & Tsai, 2011), estar exposto numa relação.
que serão decisivos para a qualidade dessa relação. Cada expressão de intimidade é caracteri-
É interessante ressaltar que a autorrevelação pode zada pelo risco, ou seja, a possibilidade de cen-

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A ética amorosa de bell hooks e a FAP: Interlocuções entre feminismo negro e clínica comportamental 321-341

sura ou punição do comportamento pelo outro em detrimento de um comportamento controlado


(Kohlenberg & Tsai, 1991/2001). Sendo assim, é por respostas privadas do tipo “Eu quero”, “Eu gos-
importante compreender as diferentes histórias e to”. Se essa mãe, ao invés de ensinar a filha a estar
marcadores sociais que incidem sobre os indivídu- sob controle dos desejos dela, reforçasse comporta-
os e observar cuidadosamente os comportamentos mentos da filha de explorar o ambiente, experimen-
vulneráveis daqueles que têm ou tiveram um his- tar as roupas e avaliar como está se sentindo diante
tórico envolvendo invalidação, abuso e rejeição, já delas, provavelmente isso fortaleceria o repertório
que em muitos desses casos, comportamentos de de controle privado da jovem, o que aumentaria
revelar-se foram extremamente punidos ou consis- contextos para um senso de si mais fortalecido.
tentemente não reforçados. Um modelo importante a ser descrito nesse
Ainda sobre esse tema, destacamos que o es- trabalho é o ACL, em inglês: Awareness, Courage,
tudo acerca da formação do Self tem sido também Love. Consciência, Coragem e Amor são os termos
desenvolvido pela FAP. Entende-se o self como que foram definidos para apresentar a FAP de um
“uma especificação dos estímulos controladores da modo mais acessível para a comunidade de tera-
resposta verbal ‘Eu’” (Kohlenberg & Tsai, 1991/200, peutas e público-geral. Apesar de serem conceitos
p. 141). Esse “senso de si mesmo” tem sido com- pouco precisos para a própria teoria, tais definições
preendido como resultante de aprendizagem dos sinalizam um tipo de abordagem clínica sensível
processos verbais iniciados nos primeiros estágios aos processos que estabelecem intimidade nas in-
de desenvolvimento infantil. Os estudos sobre Self terações interpessoais. Explicados em associação
têm demonstrado que compreender a sua constitui- com as regras da FAP e com os conceitos básicos
ção pode ser um caminho relevante para dar luz a de Análise do Comportamento, estas definições
alguns repertórios interpessoais problemáticos e/ou podem facilitar a prática da terapeuta e contribuir
patológicos (Ferro-García & Valero-Aguayo, 2017; para a disseminação da teoria (Hartmann, Oshiro
Sadi, 2011; Souza & Vandenberghe, 2005). É indi- & Vartanian, 2018). Além disso, esses termos po-
cativo que quanto mais respostas verbais de “Eu” dem auxiliar a terapeuta na sua relação com o pró-
sob controle privado existirem, maiores as chances prio trabalho e a vida pessoal, na medida em que
de o indivíduo experienciar o seu senso de si mes- revê e atualiza os seus valores e suas relações inter-
mo de forma mais estável e saudável (Kohlenberg & pessoais de um modo geral.
Tsai, 1991/2001). De modo inverso, se o senso de si Em paralelo com as regras da FAP, vemos que a
mesmo estiver mais sob controle público, mais pro- Consciência relaciona-se com as regras 1 (observar)
blemática será a experiência de si, o que implicará e 4 (estar atento aos efeitos do seu comportamen-
diretamente em seus relacionamentos interpessoais to no consulente), indicando comportamentos de
(Kohlenberg & Tsai, 1991/2001). atenção e discernimento dos CCRs; Coragem com
As respostas verbais de “Eu” são aprendidas ao a regra 2 (evocar CCRs), o que demanda comporta-
longo do desenvolvimento da criança, tornando-se mentos de exposição e intimidade do consulente e
mais complexas com o tempo. Uma resposta ver- também da terapeuta; E o Amor está mais próximo
bal relacionada a controle privado está mais sob da regra 3 (reforçar comportamentos de melhora),
controle de estímulos internos, e as respostas sob já que esta regra prediz uma relação íntima e genu-
controle público mais relacionadas ao ambiente ína na qual a terapeuta possa reforçar naturalmente
(Kohlenberg & Tsai, 1991/2001). Tomemos como os CCRs 2 do consulente e que esses, por sua vez,
exemplo uma jovem que chega ao consultório des- sejam reforçadores para a terapeuta (Hartmann,
crevendo ter dificuldades para escolher roupas Oshiro & Vartanian, 2018).
para comprar. Ela compra apenas na presença da Para Kanter, Holman e Wilson (2014), Amor é
sua mãe, e é levada a adquirir as peças que sua mãe um termo de nível médio; este tipo de termo re-
aprova. Podemos dizer que, grosso modo, o com- úne várias relações verbais em uma definição que
portamento da jovem na loja com a sua mãe está se mostra ser mais cognoscível. Os autores citados
mais sob controle do público (aprendeu a evitar crí- acima argumentam que um termo de nível mé-
ticas da mãe atendendo às necessidades da mesma), dio não possui uma precisão comportamental tal

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como os conceitos básicos da Análise Experimental Nessa direção, os autores da FAP ao elaborar
do Comportamento, mas por outro lado tem uma o que chamam de Green FAP, implicam-se em
utilidade pragmática que acessibiliza a teoria e co- um importante movimento de preocupar-se com
labora para a sua disseminação. valores relacionados à consciência social, justiça
Segundo Vandenberghe (2017), o amor tera- social, sustentabilidade e modelos alternativos de
pêutico pode significar a retenção do reforçamen- democracia (Tsai, Kohlenberg, Bolling & Terry,
to que não beneficiaria o consulente, ou quando 2011), inaugurando os primeiros compromissos
a terapeuta reforça uma melhora do consulente, da FAP com uma mudança social. Para Fideles e
mesmo que seja incômodo para ela. Podemos con- Vandenberghe (2014, p. 21), a Green FAP está sen-
cluir que amor relaciona-se com o reforçamento do do utilizada “quando há atenção declarada nos va-
comportamento de melhora e ainda que não seja lores pessoais e no aumento de consciência social
indicado reforçar comportamentos-problema, é de consulente e terapeuta”.
importante que quando emitidos, a terapeuta possa Nesse sentido, podemos citar o livro The
ter um repertório característico de empatia e aco- Practice of Functional Analytic Psychotherapy
lhimento com o consulente e com a história de vida (Kanter, Tsai & Kohlenberg, 2010), que traz uma
que produziu tais comportamentos (Hartmann, coletânea de textos que refletem a prática da FAP
Oshiro & Vartanian, 2018), aumentando as chan- com grupos diversos e socialmente vulneráveis,
ces da relação terapêutica tornar-se mais íntima, como mulheres, minorias sexuais – minorias em
vulnerável e reforçadora para ambos os indivíduos. termos qualitativos sociais –, adolescentes e pes-
Muñoz-Martínez e Follette (2020) trazem al- soas com transtornos mentais graves. No capítulo
gumas limitações com relação ao uso do amor na FAP and Feminist Therapies: Confronting Power
terapia FAP, argumentando que o termo vincula-se and Privilege in Therapy, as autoras Terry, Bolling,
ao reforço positivo, não havendo correspondência Ruiz e Brown (2010) propõem um modelo que vai
com outros processos básicos, como punição ou além dos CCRs. Elas incluíram o Sociopolítico 1 e
extinção, que são fundamentais para a melhora do o Sociopolítico 2 (SP1 e SP2) para análise dos casos
consulente. Desse modo, segundo os autores, o ter- clínicos, sendo o SP1 comportamentos que ocor-
mo não se apresenta como suficiente para descrever rem na sessão que reforçam relações de poder e pri-
uma mudança terapêutica, uma vez que não abran- vilégios e o SP2 como melhoras terapêuticas que
ge a complexidade das respostas contingentes que reduzem comportamentos de poder e privilégios.
ocorrem no processo clínico. Segundo as autoras, os SP2 são comportamentos
As limitações apresentadas por Muñoz- que podem aumentar o acesso a reforçadores im-
Martínez e Follette (2020) são legítimas e acredi- portantes para os indivíduos pertencentes a grupos
tamos que as terapeutas FAP devem buscar refletir não-dominantes. Nesse modelo, tanto os SP1 ou
sobre tais questões. Nesse sentido, advogamos que SP2 podem ser emitidos pela terapeuta ou pelos
o amor dentro da clínica possa também ser exer- consulentes, o que nos lembra que o papel da te-
cício da ética profissional e da coerência e respeito rapeuta e seu nível de conhecimento e consciência
aos consulentes e às suas histórias de vida. social são decisivos para o tratamento de queixas
vinculadas a estruturas de desigualdade e iniquida-
Contribuições da FAP para a diminuição do de de direitos sociais.
racismo contra a população negra É importante citar também o modelo Addressing
Como descrito anteriormente, o foco da FAP está (Hays, 2001), que tem sido utilizado por terapeutas
no “aqui e agora” – a característica mais impor- comportamentais contextuais, funcionando como
tante que torna um problema adequado à FAP um levantamento das variáveis que constituem a
é que ele possa ocorrer durante a sessão (Tsai, identidade do indivíduo e podem colaborar para
Kohlenberg, Bolling & Terry, 2011). Porém, isso análises culturais mais complexas, indicando tam-
não exime temas sociais ou atitudes consideradas bém posições de privilégio. Addressing é um acrôni-
polêmicas ou sensíveis, pelo contrário, os torna mo em inglês, que busca caracterizar as dimensões
indispensáveis. de idade, deficiência, desenvolvimento, religião, et-

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A ética amorosa de bell hooks e a FAP: Interlocuções entre feminismo negro e clínica comportamental 321-341

nia e raça, status socioeconômico, orientação sexu- Ética amorosa de bell hooks e FAP:
al, origem indígena, nacionalidade e gênero. aproximações e possibilidades de
Ressalta-se que as variáveis em relações de po- interlocução
der e privilégio podem mudar conforme o contexto
dos indivíduos. Por exemplo, considerando a ques- A feminista e professora afro-americana Gloria
tão de raça e gênero: uma mulher negra possui me- Jean Watkins, mais conhecida como bell hooks,
nos poder e privilégios do que uma mulher branca, é doutora em Literatura pela Universidade da
contudo essa mesma mulher branca possui menos Califórnia, além de professora, intelectual, escritora
privilégios do que um homem branco. Logo, tais e crítica sobre cultura. hooks escreve sobre diversas
relações vão se estabelecer através de aspectos cul- temáticas, sendo uma das grandes referências nas
turais, sociais e históricos específicos de cada loca- discussões sobre gênero, racismo e classismo. Em
lidade ou país. uma das suas obras All about love – new visions,
Desse modo, vemos que o desenvolvimento escrita em 2000 (traduzida apenas em 2020 para a
de uma relação entre a FAP e as teorias feminis- versão brasileira), bell hooks discute sobre o amor
tas e raciais vêm sendo realizadas, embora este seja e a construção de uma ética amorosa para vivermos
um movimento ainda incipiente. Recentemente em uma sociedade mais saudável. A autora postu-
estratégias da FAP e da Terapia de Aceitação e la que não deveríamos pensar o amor como um
Compromisso (ACT) foram utilizadas para redu- sentimento, um substantivo, e sim como uma ação
zir preconceitos raciais em um grupo de estudan- – ação essa que necessita de outros componentes
tes universitários negros e brancos através do Racial para que possa existir: “Para amar verdadeiramen-
Harmony Workshop (Williams, Kanter, Peña, Ching te, devemos aprender a misturar vários ingredientes
& Oshin, 2020), um treinamento desenvolvido para – carinho, afeição, reconhecimento, respeito, com-
atenuar microagressões raciais, que obteve como promisso e confiança, assim como honestidade e
resultados o fortalecimento da identidade racial comunicação aberta” (hooks, 2000/2020, p. 47).
dos estudantes negros e o aumento do afeto positi- O termo “amor” em nossa sociedade tem sido
vo entre os participantes. supervalorizado e também posto de maneira muito
Esforços tem sido realizados também aqui no controversa na prática cotidiana. Aprendemos por
Brasil, indicando a preocupação social e técnica diversos meios que o amor é instantâneo – qua-
de psicólogas comportamentais em construir um se como um passe de mágica ou uma obrigação
modelo de clínica antirracista (Tavares & Kuratani, quando se trata de familiares, por exemplo – e algo
2019) e não-patriarcal (Costa, 2019; Fideles & inerente ao ser humano. Enquanto seres humanos
Vandenberghe, 2014), adaptado às necessidades es- possuímos um aparato biológico que nos permite
pecíficas de grupos racializados, de mulheres e de in- aprender a amar e, em geral, a formação de vínculo
divíduos que possuem a sua vida e o seu sofrimento afetivo é recompensadora para os seres humanos,
associados ao racismo, machismo, violência domés- pois favorece a sobrevivência da espécie (Bartels
tica, desigualdade social e demais processos que se & Zeki, 2004). Nesse sentido, podemos supor que
articulam pelo racismo estrutural e pelo patriarcado. grande parte das pessoas está inclinada a vincular-
Como argumenta hooks, as lutas feministas e -se afetivamente a outras pessoas, entretanto nem
antirracistas não competem entre si, não são opos- sempre encontramos um ambiente social que favo-
tas. Para ela “a teoria feminista teria muito a oferecer reça o aprendizado do que seria o repertório com-
se mostrasse às mulheres os caminhos pelos quais portamental de amar.
o racismo e o sexismo se interconectam” (hooks, hooks (2000/2020) discute ao longo de toda sua
1984/2019b, p. 92), de forma a construir uma prática obra o quanto a falta de clareza sobre o que é amar
social que seja revolucionária e comprometida poli- e como amar impedem-nos de manter vínculos ge-
ticamente. Na seção seguinte discutimos os concei- nuínos, que nos proporcionem bem-estar. A autora
tos de hooks e como eles podem ser úteis para forta- diz que frequentemente as pessoas confundem o
lecer a prática FAP em uma perspectiva antirracista, repertório de amar com a catexia, que seria o ato
através da ética amorosa proposta pela autora.

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de investir energia mental e emocional em direção coragem e amor, trocando as posições de maneira
a outra pessoa – em suma, dedicar-se a uma relação fluida” (p. 214).
não significa necessariamente amar a pessoa com A autorrecuperação é um conceito trazido por
quem se relaciona. A partir da perspectiva com- hooks, que descreve “como as pessoas oprimidas,
portamental, Vandenberghe (2017) caminha nesta dominadas ou politicamente vitimadas se recupe-
direção ao referir que “amor significa providenciar ram, sobre como as pessoas colonizadas agem para
segurança e aceitação, expressar compaixão quando resistir e se livrar da mentalidade do colonizador”
o outro se abre, ouvir o que aquela pessoa realmen- (hooks, 1990/2019d, p. 406), dando ênfase a um
te precisa e suprir essa necessidade”(p. 214). processo de cuidado de si, que através do amor e
hooks considera que relações onde abuso ou da linguagem (desenvolvendo outras narrativas),
negligência estão presentes não estão verdadeira- pode contribuir para uma transformação coletiva.
mente sustentadas no amor, uma vez que amor e O individual e o coletivo são transformados através
violência são opostos, não podem coexistir. Tendo da conexão curativa, cuidando de si tanto quanto
em vista que, como abordamos anteriormente, do outro, em um movimento possível para a disso-
a vivência de pessoas negras é frequentemente lução do poder.
atravessada por diversas violências, a autora argu- Podemos relacionar esse conceito com o pró-
menta que a ética amorosa é uma possibilidade de prio processo clínico em psicoterapia, especialmen-
resistência e cuidado, que pode fortalecer a saúde te com o modelo que citamos das autoras Terry,
mental desse grupo: “Nos últimos tempos, tenho Bolling, Ruiz e Brown (2010), as quais buscam
dito com frequência que a saúde mental é o cam- identificar comportamentos que fortalecem ou que
po mais importante na contemporaneidade, uma bloqueiam relações de poder e privilégios dentro
fronteira revolucionária central para as pessoas da relação terapeuta-consulente. Na condução em
negras, porque não é possível resistir efetivamente psicoterapia, considera-se que para além de identi-
à dominação quando se está tão perdido” (hooks, ficar e reforçar comportamentos de melhora no que
1990/2019d, p. 406). se refere a possíveis SP2 (sociopolítico 2 – ver na
Em Writing beyond race: living theory and seção anterior), é relevante problematizar tais com-
practice (2013), ainda sem tradução no Brasil, bell portamentos e situações, buscando compreender a
hooks traz o quanto essa narrativa racista promove história subjacente da pessoa e acessar recursos teó-
o ódio à população negra de forma que esse ódio se ricos que possam endossar uma formulação de caso
torna introjetado. Uma vez que a maioria dos espa- que seja baseada em aspectos individuais, mas tam-
ços reproduz a hegemonia branca, pessoas negras bém esteja sensível a variáveis sócio-políticas. Desse
crescem com intensas sensações de inadequação, modo, entender uma queixa de baixa autoestima de
inferiorização, subvalorização – passando, assim, uma consulente negra apenas como produto da his-
a sentir um auto-ódio e ao mesmo tempo a agre- tória familiar pode não ser suficiente, é necessário
dir outras pessoas negras. Para hooks, portanto, a considerar também, por exemplo, onde ela estudou,
libertação da dominação branca é possível através em qual bairro viveu, quantas pessoas negras exis-
da prática do amor, uma vez que é uma prática com tem em seu local de trabalho ou sala de aula.
grande potencial transformador interno e externo. A terapeuta passa a ter papel crucial para o
Essa reflexão de bell hooks corrobora o pressupos- desenvolvimento desse processo, e não pode se
to central da FAP, que é a transformação das rela- eximir de iniciar um letramento racial (Tavares &
ções interpessoais do consulente a partir de uma Kuratani, 2019), caso não tenha conhecimentos
vinculação genuína, recíproca e amorosa com a te- que precisem ser mobilizados no atendimento a
rapeuta. Para Vandenberghe (2017), uma conexão pessoas negras. Inclusive, acredita-se que uma te-
capaz de ser curativa demanda reciprocidade e dar rapeuta FAP poderá usar da autorrevelação (Miller,
e oferecer amor, de modo que sentimentos, pen- Williams, Wetterneck, Kanter & Tsai, 2015), vul-
samentos e necessidades possam ser percebidos e nerabilizando-se e assumindo o seu pouco ou ne-
validados por ambos os indivíduos. Para o autor, nhum conhecimento sobre racismo estrutural ou
“tal reciprocidade ocorre quando ambos mostram relações étnico-raciais. Mas não somente, a tera-

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peuta deve se implicar no processo de aprendiza- ACL imprescindíveis para serem desenvolvidas em
gem sobre tais relações junto ao consulente. psicoterapia, independente do gênero da terapeuta.
Importante destacar que a terapeuta pode A raiva (ou a dificuldade de expressá-la), por
agravar o sofrimento associado ao racismo, como exemplo, é uma emoção comumente relatada por
descrito no estudo de Gouveia e Zanello (2019), pessoas negras em psicoterapia, que pode estar
no qual foram relatados o silenciamento e apaga- atrelada às frequentes violências que sofrem ou pela
mento das questões trazidas por mulheres negras necessidade de estarem sempre em alerta, buscan-
em psicoterapia com psicólogas brancas e negras. do se defenderem. Dentro da terapia FAP, podemos
Invisibilizar as questões raciais por si só é cometer manejar essa emoção de forma a garantir que essa
uma microagressão racial. Cometer uma microa- seja validada, e ao mesmo tempo fortalecer a rela-
gressão, por sua vez, impossibilita a existência de ção entre terapeuta e consulente, abrindo possibi-
uma relação genuinamente amorosa. Esse tipo de lidades para que a terapeuta ofereça compreensão
comportamento pode ser entendido como um T1 e segurança a fim de que a emoção possa ser expe-
ou SP1, e é primordial que além do letramento ra- rienciada no espaço clínico.
cial, a profissional possa estar em contato com a A tomada de consciência do momento presente
sua rede profissional, compartilhando com colegas é fundamental para pensar nas intervenções cabí-
e supervisores os seus posicionamentos e interven- veis nessa situação. É crucial que as intervenções
ções clínicas. possibilitem que as necessidades da terapeuta e
Para Miller et al. (2015), é necessário ter uma consulente sejam olhadas reciprocamente e respon-
competência para atendimento clínico multicultural. didas com reações naturais e genuínas, atendendo
Os autores sugerem o modelo ACL como uma pos- à regra 3 da FAP – reforçar comportamento de me-
sibilidade de reunir técnica e experiência na amplia- lhoras com um responder natural.
ção de competências interpessoais que são relevantes hooks postula que a raiva também deve ser
para o atendimento de pessoas com origens étnicas acolhida, e expressa sua posição no trecho abaixo,
e raciais não dominantes. As habilidades desenvol- quando se refere à raiva de mulheres negras contra
vidas pelo modelo ACL podem ser descritas como mulheres brancas:
comportamentos interpessoais que podem aumen-
tar a capacidade de terapeuta e consulente desenvol- Talvez tenhamos necessidade de espaços onde
verem relações de intimidade, através de uma série parte dessa raiva e hostilidade reprimidas pos-
de habilidades que envolvem consciência de si e do sa ser expressada abertamente, para que possa-
outro, expressão emocional, expressão de opiniões, mos identificar suas raízes, compreendê-las e
pensamentos e valores, pedidos que indiquem ne- investigar possibilidades de transformar a raiva
cessidades, comportamentos de dar amor, aceitação interiorizada numa energia construtiva e auto-
e compreensão (Kanter, 2016). afirmativa que possamos usar de modo eficaz
hooks (1990/2019d) ao falar sobre o compor- para resistir à dominação das mulheres brancas
tamento de autovigilância de mulheres negras em e forjar laços significativos com aliadas brancas.
seus ambientes profissionais, alerta que “infeliz- (hooks, 1994/2017, p. 147).
mente, o legado associado a ser a ‘exceção’ pre-
judica nossa capacidade de nos relacionar umas Compreender essa raiva é entrelaçá-la por
com as outras” (p. 200), sendo que esta dificuldade uma ética amorosa, na qual seja possível construir
pode ser acentuada quando em uma relação entre ações de amor para si e para os outros através da
mulheres brancas e negras, já que dentro da cul- criação de relações significativas, em que pesso-
tura supremacista branca, mulheres brancas sem- as negras possam sentir conforto em afirmarem
pre exerceram domínio sobre as mulheres negras suas subjetividades, recebendo e ofertando amor.
(hooks, 1984/2019b). Por si só esta pode ser uma A afirmação dessa subjetividade relaciona-se com
contingência que dificulta a construção do vínculo o que hooks (2001) nomeia como amor-próprio
de intimidade entre terapeuta branca e consulen- (self-love), que não se refere a uma perspectiva
te negra, o que tornaria as habilidades do modelo individualista e sim, ao contrário, amor-próprio

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envolve uma noção de “Eu” na qual o indivíduo fortalecer o seu senso de si mesmo e favorecer a
permite-se amar e ser amado, reconhecendo e lu- construção da identidade étnico-racial.
tando contra as fontes de abuso e violência, forta- A autora traz a reflexão de que somente a partir
lecendo os vínculos comunitários. de uma conduta direcionada ao bem-estar coleti-
A perspectiva de entender essa noção de “Eu”, a vo, não apenas individual, é possível viver uma vida
partir do reconhecimento das fontes de dominação mais plena e significativa Seguir uma ética amo-
e colonização sobre as subjetividades negras, e dar rosa, segundo hooks, “pressupõe que todos têm o
abertura para que relações nutridas pelo cuidado, direito de ser livres, de viver bem e plenamente”
responsabilidade, comprometimento e conheci- (2000/2020, p. 123). Viver de forma orientada por
mento passem a constituir o olhar sobre si e sobre uma ética amorosa significa cultivar respeito nas
as relações interpessoais, torna legítima a defesa relações com outros seres e agir com honestidade,
de que conhecer a si é um ato de amor e de jus- com comprometimento.
tiça e, consequentemente, um ato político (hooks, As psicoterapias em grupo, os grupos de apoio
2000/2020). como Alcoólicos Anônimos (AA), por exemplo,
Para a FAP, a noção de “Eu” caracteriza-se pe- possibilitam um lugar de acolhimento às pessoas
las descrições verbais que uma pessoa faz sobre si que participam, quando suas vidas são permeadas
mesma e é elaborada inicialmente a partir das suas por agentes punidores. Os encontros se tornam
primeiras interações com os cuidadores e figuras reforçadores quando os participantes descobrem
significativas na infância. Observa-se que em um outras pessoas que experimentam problemas se-
contexto de invalidação das respostas privadas do melhantes. Essa comunidade constrói relações
indivíduo, a noção de self pode desenvolver-se de curativas na medida em que oferece gestos de acei-
modo não saudável ou patológico. Um indivíduo tação, respeito, conhecimento e reconhecimento
que está mais sob controle dos outros para definir das violências sofridas e de quem se é. Para hooks
a si mesmo ou a suas opiniões e escolhas, prova- (2000/2020) isso é o amor em ação.
velmente encontrará dificuldades em ter uma vida O Racial Harmony Workshop, realizado em
mais satisfatória e significativa. Amar a si próprio uma universidade estadunidense, é um bom mode-
será um caminho necessário, e também árduo para lo a ser citado de experiência em grupo. Os autores
esses indivíduos. Tratando-se de pessoas de raças e (Williams et al., 2020) reforçam que uma experiên-
etnias não dominantes, definir seu self estando mais cia como essa pode ser uma possibilidade eficaz de
sob controle privado é um processo difícil, pois é aumentar a conexão inter-racial e gerar melhores
permeado pelas invalidações, microagressões e ou- resultados acadêmicos e qualidade na saúde mental
tros tipos de violência que ocorrem de modo crô- da comunidade.
nico. Assim, essas pessoas podem vir a encontrar Entendemos, desse modo, que a FAP possui um
em uma psicoterapia FAP alternativas de se expres- arcabouço teórico-prático que permite desenvolver
sarem e desenvolverem coragem, compreensão e práticas antirracistas através da criação de relações
amor, além da possibilidade de emitirem respostas interpessoais embasadas por uma ética amorosa,
verbais sobre si que sejam estáveis e corresponden- como conceitualizado por hooks. E, principalmen-
tes ao que sentem, pensam e desejam. te, que essas práticas e conhecimentos antirracis-
Nessa direção, hooks (1990/2019d) afirma que tas não se estabeleçam apenas na clínica, mas que
“uma vez que muitas de nós, mulheres negras/não se generalizem em outros ambientes. A existência
brancas, geralmente superamos obstáculos dificí- de uma coerência entre quem se é dentro e fora do
limos para chegar a um ponto em que recebemos espaço terapêutico é um dos pontos principais da
reconhecimento, podemos facilmente ter uma falsa FAP, pois apenas assim é possível construir uma re-
sensação de legitimidade” (p. 198), o que ressalta a lação genuína e verdadeira para além da teoria, a
primazia de que terapeutas que atendam esse pú- partir dos próprios valores colocados em prática no
blico não recuem em oferecer validação e compre- cotidiano. Essa relação entre teoria e prática é trazi-
ensão de modo genuíno, reforçando relatos de si da também no pensamento de hooks (1994/2017)
que estejam sob controle privado, com o intuito de quando a autora diz “quando nossa experiência vi-

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vida da teorização está fundamentalmente ligada a O modelo ACL possui diversas similaridades
processos de autorrecuperação, de libertação cole- com a ética amorosa proposta por hooks, e a litera-
tiva, não existe brecha entre a teoria e a prática” (p.
tura dessa autora pode assessorar o desenvolvimen-
85-86) ou quando a autora refere-se ao tipo de pe- to de habilidades interpessoais de terapeutas FAP.
dagogia que acredita: “não quero que os alunos cor- Os conceitos teóricos de hooks podem facilitar a
ram nenhum risco que eu mesma não vou correr, criação de vínculos entre terapeutas e consulen-
não quero que partilhem nada que eu mesma não tes que já possuem esse repertório literário ou que
partilharia” (p. 35). Tsai e Kohlenberg (2009/2011),trazem queixas relacionadas a racismo, privilégios
no prefácio do livro, ressaltam brilhantemente que raciais, machismo e misoginia.
terapia não se trata de seguir regras apenas, mas Sugerimos que as colaborações da obra de
também de criar uma proximidade entre pesso- hooks possam adentrar a clínica a partir do uso
as que possa ser especial e inesquecível. Para eles,de textos e livros da autora na sessão terapêutica,
“quando você corre riscos e fala a sua verdade com- como recurso para incitar uma reflexão ou como
passivamente, você dá aos seus clientes aquilo que indicação de leitura para consulentes, correspon-
só você pode dar – seus pensamentos, sentimentos dendo aos objetivos da biblioterapia – método que
e experiências únicas” (p. 8). utiliza textos literários como dispositivos para o
A partir dessas conceituações trazidas, é pos- cuidado terapêutico (Caldin, 2001).
sível verificar semelhanças entre o pensamento de Para terapeutas, reafirma-se que a teoria de
bell hooks e os fundamentos da FAP, pois ambos hooks pode ser um contributo para o desenvolvi-
compreendem o amor não como um sentimen- mento de habilidades terapêuticas fundamentais
to, e sim como um conjunto de comportamentos da FAP, e que seja uma aprendizagem intencionada
engajados em uma conexão genuína que envolve para uma ética amorosa e com propósito antirra-
cuidado, respeito, honestidade, comprometimen- cista. A teoria de hooks é potente para endossar um
to, comunicação e confiança. Realizar uma in- projeto político comprometido com a afirmação de
terlocução desses dois pensamentos no contexto subjetividades negras e poderá motivar terapeutas
terapêutico e também em contextos ampliados FAP a construírem esse projeto dentro da clínica
pode, portanto, potencializar ações efetivas contra comportamental. Contudo, ter conhecimento e pôr
o racismo e em prol de uma sociedade mais em- em prática todos os fundamentos da FAP não é su-
pática, respeitosa e amorosa. Utilizar-se da teoria ficiente no atendimento às pessoas negras: é preci-
de hooks para auxiliar o desenvolvimento de ha- so ter consciência das opressões raciais e praticar
bilidades da FAP pode ser fundamental, mas mais cotidianamente ações antirracistas – dentro e fora
que isso, acreditamos que integrar esses conheci- da clínica.
mentos pode oferecer a terapeutas e consulentes Outro aspecto favorável para o uso de hooks na
uma vida embasada por comportamentos de amor clínica é que a autora possui a intenção de tornar
que se retroalimentam em relações interpessoais e sua obra a mais acessível possível, utilizando um
que solidificam o propósito de construir políticas estilo de redação que distancia-se da linguagem
de amor e justiça. acadêmica convencional, com o intuito de alcan-
çar leitores que estão fora desse ambiente (hooks,
1994/2017).
Considerações Finais Há alguns anos atrás, o texto traduzido de
hooks “Vivendo de amor”, divulgado no site Portal
Este artigo buscou apontar as articulações teórico- Geledés (2010), teve uma grande repercussão na
-práticas da FAP com a literatura feminista de bell internet e vez ou outra aparece no relato de mulhe-
hooks, defendendo que as teorias do feminismo ne- res negras em psicoterapia com a primeira autora
gro podem ser uma base filosófica e ética que pode deste artigo, no qual as consulentes narram suas
orientar as práticas de psicólogas, principalmente histórias e experiências de desamor, referencian-
na aplicação dos recursos terapêuticos elaborados do o texto como uma possibilidade de reflexão e
por pesquisadoras/es da FAP. revisão da sua história de vida. O texto provocava

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uma sensação de apoio e compreensão a essas mu- tirracista, baseada na criação de uma comunidade
lheres, alcançando aquilo que hooks defende. Para pedagógica engajada na ética amorosa, facilitando
ela, uma teoria pode ser um local de cura. É a pos- processos para o exercício da liberdade e o fim da
sibilidade de nomear ou reconhecer a dor e a expe- dominação (hooks, 1994/2017).
riência humana. Na obra Ensinando a transgredir Em último argumento, reafirmamos que este
(1994/2017), ela ressalta o quão grata é às pessoas artigo é um ensaio que busca discutir uma proposta
que “ousam criar teoria a partir do lugar da dor e da teórico-prática para a clínica comportamental, con-
luta, que expõem corajosamente suas feridas para tudo, é relevante que tal proposta possa ser avaliada
nos oferecer sua experiência como mestra e guia, de acordo com as especificidades do atendimento,
como meio para mapear novas jornadas teóricas” a formulação do caso e o estilo pessoal da terapeu-
(hooks, 1994/2017, p. 103). ta. Além disso, faz-se necessário que as discussões
O que é descrito por hooks nesse ponto nos di- aqui trazidas possam ser objetos de estudos futuros,
reciona para o entendimento de que a FAP é uma que verifiquem os resultados do uso dessa literatura
terapia transformadora, que se projeta para além para o desenvolvimento de habilidades terapêuticas
dos espaços clínicos, reivindicando uma mudança e para as intervenções clínicas em queixas vincula-
intensa e curativa nas relações interpessoais, nas das ao racismo e demais processos étnico-raciais.
quais o amor – tal como bem descrito por hooks – Esperamos que este trabalho possa suscitar curio-
possa ser incorporado como ação política. Quando sidade e abertura com a temática e que experiências
esse passar a ser visto como um conjunto de ações desse tipo possam ser analisadas e compartilhadas
que proporcionam a autorrecuperação e o cuidado, no ambiente da Análise do Comportamento e da
podemos imaginar uma sociedade na qual existam Psicologia Clínica.
recursos disponíveis para enfrentar os abusos, vio-
lências e demais coerções sociais que pessoas ne-
gras e grupos vulneráveis vivem cotidianamente. Referências
Acreditamos que profissionais de psicologia e
psicoterapeutas estão em posição privilegiada para Akotirene, C. (2018). O que é interseccionalidade?
iniciar o exercício dessa ética amorosa em seus con- Letramento: Justificando.
sultórios, instituições e em suas comunidades. Almeida, S. L. (2019). Racismo estrutural. Sueli
A literatura de hooks possui também um forte Carneiro; Pólen.
potencial para a escuta e o planejamento de ações Amâncio, L. (2001). O género na psicologia: uma
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lheres, crianças e idosos em situação de violência 15(1), 9-26. http://www.scielo.mec.pt/pdf/psi/
ou em relacionamentos abusivos (de parceiros ou v15n1/v15n1a01.pdf
familiares), já que a autora discute amplamente o Bartels, A., & Zeki, S. (2004). The neural correlates
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e violência. hooks reforça que o que conhecemos neuroimage.2003.11.003
como amor está frequentemente entrelaçado à Baruch, D. E., Kanter, J. W., Busch, A. M., Plummer,
violência em nossa sociedade (o que nos impele a M. D., Tsai, M., Rusch, L. C., Landes, S. J., &
combater essa ideia), defendendo então uma noção Holman, G. I. (2011). Linhas e evidências que
de amor como uma ação, que nos direciona para dão suporte à FAP. Em Tsai, M., Kohlenberg,
a libertação, a autorrecuperação e o amor-próprio R. J., Kanter, J. W., Kohlenberg, B., Follete,
(hooks, 2000/2020). Nesse mesmo sentido, a obra W. C., & Callaghan, G. M. (Eds.), Um guia
de hooks possui um impacto na área da educação, para a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP):
já sendo utilizada em cursos de formação de profes- Consciência, Coragem, Amor e Behaviorismo,
sores no Brasil. Inspirada na obra de Paulo Freire, (Conte, F. C. S. & Brandão, M. Z. S. Orgs. da
ainda que ao mesmo tempo crítica de algumas de tradução.) (pp.43-60). ESETEc. (Obra original
suas produções, hooks preconiza uma educação an- publicada em 2009).

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Informações do Artigo

Histórico do artigo:
Submetido em: 28/06/2021
Aceito em: 29/07/2021
Editora Associada: Táhcita M. Mizael

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