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Virus ProsdocimiFarias 2021 Helius
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All content following this page was uploaded by Francisco Prosdocimi on 25 March 2021.
Francisco Prosdocimi1
Sávio Torres de Farias2
______________________________________________________________________________
1
Doutor em Bioinformática pela UFMG
Professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da UFRJ
prosdocimi@bioqmed.ufrj.br
2
Doutor em Genética pela UFMG
Professor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da UFPB
stfarias@yahoo.com.br
Resumo Abstract
O presente ensaio visa propor uma mudança The current essay aims to propose a modifica-
na forma pela qual os vírus têm sido entendi- tion in the way viruses have been understood
dos pelos seres humanos. Normalmente tidos historically in biology. Often took as infec-
como agentes infecciosos, os vírus na verdade tious agents, virus are actually the most abun-
são as entidades biológicas mais abundantes dant biological entities in our planet and per-
em nosso planeta, tendo uma função absoluta- form functions that are absolutely crucial both
mente crucial na ecologia e na evolução da vida for ecology and evolutionary biology. If we
na Terra. Se consideramos a teoria biossemióti- take on account biosemiotics theories that de-
ca, que define a vida enquanto um processo fine life as a process operated by organic
operado por códigos orgânicos, concluímos codes, we must conclude that virus should be
que os vírus devem ser enquadrados dentro da considered inside the category of living be-
categoria de seres vivos uma vez que eles com- ings because they indeed understand the most
preendem a linguagem mais básica da biologia, basic language of biology as they present pro-
ao apresentarem proteínas codificadas na for- teins encoded by nucleic acids. Plus, the viral
ma de ácidos nucleicos. Além disso, a anatomia physiology and anatomy must be understood
e fisiologia viral devem ser compreendidas as an alternative form reached by those organ-
como um tipo de estratégia alternativa alcança- isms to express their genetic information. In
da por esses organismos para expressarem suas that sense, viruses do not need to infect cells
informações genéticas. De fato, vírus não ne- to manifest their metabolism; they merely
cessitam infectar células para manifestar seus need to get access to ribosomes in order to be
metabolismos, eles precisam unicamente ter capable to replicate their information. Finally,
acesso ao ribossomo para serem capazes de re- it is possible to suppose that some viral
plicar suas informações. Finalmente, é possível groups are older than cells, being possibly
supor que alguns grupos virais sejam mais an- contemporaries to the pré-cellular subsystems
tigos do que as células e contemporâneos aos known as progenotes. Viruses are crucial
subsistemas pré-celulares conhecidos como symbiotic agents that facilitate the evolution
progenotos. Os vírus são agentes simbióticos and promote plasticity to the genomes. They
cruciais para a evolução e plasticidade dos ge- present fundamental relevance to: (i) organize
nomas, são importantes para organizar a cro- the chromatin and allow efficient DNA pack-
matina e permitir o empacotamento do DNA, ing, (ii) allow the development of some or-
têm relevância no desenvolvimento de órgãos gans in multicellular organisms, and (iii) reg-
em organismos multicelulares e são importan- ulate the equilibrium in ecosystems.
tíssimos para o equilíbrio dos ecossistemas.
Palavras-chave: Vírus. Simbiose. Endossim- Keywords: Virus. Symbiosis. Endosymbiosis.
biose. Origem da vida. Progenotos. Ecossis- Origin of life. Progenote. Ecosystems. Biose-
temas. Biossemiótica. miotics.
1 Introdução
são vistos pela grande maioria das pessoas como agentes infecciosos malignos.
Os vírus são essas entidades que nos atacam em nossos momentos de maior
fazendo-as replicar suas informações genéticas até que nossas células explodam
medo e uma visão catastrofista sobre o papel dos vírus se torna ainda mais forte
próprias células infectadas junto com eles. Por isso, doenças virais como a
como esse que passamos no parágrafo anterior e, de fato, essa é a visão mais
corriqueira sobre esse grupo “maldito” de entidades chamadas vírus. Mas o que
vezes menores do que uma bactéria comum. Eles não possuem uma estrutura
nucleico – que pode ser de DNA ou RNA e que contém a informação genética e
conteúdo viral (pol), proteínas de recombinação, que fazem com que o genoma
envelope ou capsídeo (env). E nada além disso. Por não terem membrana
estão em sua forma encapsulada. Essas são duas das principais razões pelas
quais eles não têm sido considerados seres vivos. Uma outra razão comumente
usada está relacionada à sua falta de autonomia, ou seja, eles são sistemas que
dependem de outro sistema (no caso, células) para sobreviverem. Por não terem
estrutura celular, metabolismo nem autonomia, eles não são considerados seres
vivos. A visão mais difundida hoje em dia, sugere que o metabolismo viral
essas afirmações clássicas sobre a natureza íntima dos vírus. No presente artigo,
devem ser vistas como a maneira mais fundamental através da qual os vírus
dados interessantes sobre a função ecológica dos vírus nos ecossistemas, já que
devem ser vistas como não excludentes e nos levam a repensar o papel dos
vírus, assim como sua história natural. As três linhas são: (i) a origem primitiva
dos vírus, (ii) o modelo de escape e (iii) a redução celular. Nesse sentido,
sugere-se que os vírus não formam um grupo monofilético único que seria
evolução.
organismo enquanto ser vivo. Nesse sentido, devemos notar que o próprio
essa planta e uma espécie de vespa da família dos agaonídeos. Para cada uma
das espécies de figo, existe uma espécie de vespa particular que poliniza cada
nem por isso nos arriscaríamos a dizer que os figos ou cada uma das espécies de
vespa não seriam organismos vivos, mesmo que sua autonomia seja
micrômetros. Além disso, eles não possuem apenas poucas dezenas de genes
Uma das explicações para a origem e evolução deste grupo de vírus encontra
polimerases deveriam ter sido encapsulados junto com genes para proteínas de
similares. Embora menos provável, é possível que alguns grupos virais tenham
O terceiro modelo que tenta explicar a origem dos vírus propõe que esses
planeta. Esse modelo é chamado de “virus first”, que poderia ser traduzido
sempre isso tenha acontecido dessa forma. Assim, para entendermos melhor os
cenários sobre a origem dos vírus e sua relação com os organismos celulares,
devemos agora nos debruçar sobre os mais recentes modelos que versam sobre
bem conhecidos (PETROV et al., 2015). Esse ancestral chamado de FUCA teria
vida que usam uma estratégia de cima para baixo consideram que essa primeira
célula deveria ter sido o ancestral comum entre os dois grandes grupos de
ao fato de que uma série de estudos vêm sugerindo que os eucariotos surgiram
para Last Universal Common Ancestor), de acordo com as ideias de Carl Woese
(WOESE, 1998).
Pois bem, antes que o LUCA surgisse, Woese (1998) sugeriu a existência
genética lateral. Teria sido na época dos progenotos que as vias bioquímicas
proteínas para que as vias bioquímicas pudessem ser organizadas. Dessa forma,
abertos onde proteínas parecidas com aquelas usadas nos capsídeos virais
teriam surgido. Dessa forma, não parece absurdo supor que alguns tipos de
vírus poderiam ter surgido ainda antes do surgimento das primeiras células e
replicar.
hoje observamos entre vírus e células. Dessa forma, é possível supor que alguns
grupos virais sejam descendentes de uma era pré-celular. Nesse caso, enfatiza-
estão inseridos.
tiver uma quantidade de matéria muito maior do que hoje imaginamos, seria
possível propor que, em algum momento futuro, essa matéria voltará a se atrair
toda essa matéria não visível – presente, por exemplo, nos buracos negros –
teoria conhecida como a teoria do Grande Colapso (ou Big Crunch). Nesse
assim como sabemos que há mais matéria do que aquela que conseguimos ver.
permitiram perceber que nosso corpo humano apresenta pelo menos o mesmo
“holobionte’ tem sido utilizado para indicar mais claramente que somos
seguir.
Por ora, vale salientar que, cada vez mais, os vírus têm sido vistos como
oceanos podem ter uma relevância crucial para a ciclagem de nutrientes como o
2015). A cada novo estudo realizado com técnicas cada vez mais sensíveis, o
origem viral.
5 Retrovírus endógenos
humanos e que podem representar até 10% do nosso genoma (BATZER &
estudos têm demonstrado que eles podem ter uma relevância importantíssima
regiões onde a cromatina deve ser dobrada (SOSA et al., 2013). Além disso, os
muitas vezes únicos para aquela espécie. É possível supor que muitos desses
Dessa forma, os vírus que estão incrustrados dentro dos nossos genomas ainda
6 Conclusões
É incrível notar como a importância dos vírus tem sido subestimada por
nossa falsa compreensão de que esses seres vivos tenham papel relevante
grande parte de seus genes, além de sua membrana, é possível considerar que
de se supor que nos próximos anos e décadas alcançaremos uma visão mais
de sua patogenicidade, hoje elas são entendidas como importantes agentes para
são apenas seres vivos em um senso estrito, eles são também organismos
Agradecimentos
trabalho.
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