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Considerações Sobre Práticas de Letramento em Inglês em Um Colégio Público
Considerações Sobre Práticas de Letramento em Inglês em Um Colégio Público
Considerações Sobre Práticas de Letramento em Inglês em Um Colégio Público
sobre práticas
de letramento
em inglês em um
colégio público
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Paulo Henrique Arruda Silveira1
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1. INTRODUÇÃO
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uma triangulação, obtida com as ferramentas de pesquisa usadas em 2018.
Finalmente, nas considerações finais, resgatamos as principais discussões
teóricas do trabalho, apresentamos as barreiras e possíveis desdobramentos
da pesquisa e constatamos existir divergências entre as aspirações e deman-
das dos alunos e o que é privilegiado na disciplina de Inglês do colégio.
Com relação às diversas razões pelas quais a autora entende ser crucial a
revisão dos letramentos dominantes, é destacado o modo pelo qual o mundo
contemporâneo é apresentado devido à globalização, como também o fluxo da
circulação da informação, o encurtamento das distâncias temporais e espaciais,
tal como a presença da multissemiose, que é entendida como a associação de
sistemas semióticos, como linguagem verbal e não verbal em um texto.
A escola, principalmente a escola pública, também se modificou, de modo
que, nos anos 90, houve a universalização do acesso ao ensino fundamental
(SILVEIRA, 2019). Por conta dessa universalização, os letramentos vernacu-
lares desconhecidos e ignorados, como o funk e o rap, presentes no universo
dos estudantes da periferia e docentes das classes populares, existem hoje
de forma enfática nos contextos escolares e não escolares.
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Ademais, o surgimento cada vez mais rápido e intenso de tecnologias,
como celulares, tablets e computadores e de práticas sociais concernen-
tes às ocorrências da contemporaneidade e com textos multissemióti-
cos circulantes demandaram da escola trabalhos que vislumbram essa
realidade, como, por exemplo, a abordagem com multiletramentos, que
remete a duas categorias específicas e importantes de multiplicidades e
que estão presentes em nossa sociedade: a multiplicidade semiótica de
constituição dos textos em que se comunica e informa e a multiplicidade
cultural das populações (ROJO, 2012). Por conta disso, ocorreu e ocorre
transformação nas tecnologias e nos textos da atualidade. É indispensá-
vel que ocorra, também, mudanças na forma como a escola trabalha com
os letramentos demandados por essas alterações (ROJO, 2012), como o
emprego de elementos que fazem parte da rotina dos estudantes, como
músicas, aplicativos, vídeos, dentre outros meios. Desse modo, alguns
dos postulados dos Novos Estudos do Letramento (NEL) são os de que
o letramento é mais bem assimilado como um grupamento de práticas
sociais (SILVEIRA, 2019). Como é historicamente situado, não pode ser
entendido como algo fora do contexto social ou atemporal, muitas vezes
encarado apenas por um ponto de vista funcionalista.
Tendo em conta as discussões sobre os NEL, optou-se por expor duas
nomenclaturas utilizadas por Street (1984): letramento autônomo e
letramento ideológico. O primeiro, como o próprio nome diz, tem um
panorama autônomo e contempla o letramento “em termos técnicos,
tratando-o como independente do contexto social, uma variedade autô-
noma cujas consequências para a sociedade e a cognição são derivadas de
sua natureza intrínseca” (STREET, 1993, p.5). Ou seja, o contato escolar
com a escrita, sem considerar algum tipo de contexto e a visão do ser
como autônomo e que não sugestiona ou é sugestionado por outros,
propiciaria a esse indivíduo automaticamente desenvolver-se, alcançar
níveis superiores e crescer econômica e/ou socialmente (SILVEIRA,
2019). Consequentemente, observar-se-ia uma abordagem homogênea
e artificial do tema a ser trabalhado em sala de aula com os estudantes
e um decréscimo de poder, segundo Batista Júnior e Sato (2016), visto
que o modelo autônomo contribui para o domínio de uma cultura escrita
sobre a outra, ou da prática escolar sobre a prática do dia a dia.
Por outro lado, o enfoque ideológico “vê as práticas de letramento como
indissoluvelmente ligadas às estruturas culturais e de poder da sociedade e
reconhece a variedade de práticas culturais associadas à leitura e à escrita
em diferentes contextos” (STREET, 1993, p.7). Diferentemente da primeira
concepção, essa última leva em conta os diferentes modos de pensar e ver o
mundo, bem como as diversas esferas sociais possíveis. Entendendo existir
variação de tipos de letramento por vários domínios, contextos e práticas,
de forma que a esfera em que um indivíduo se localiza, a comunidade ao
seu entorno, suas metas, visão de mundo, dentre outros elementos que
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influenciam suas vivências pessoais, depreende-se que essa mudança pro-
porcionaria experiências distintas umas das outras.
Barton (1994) esclarece que diversas culturas ou diferentes períodos
históricos acarretam usos distintos da escrita, uma vez que as relações
sociais atreladas aos diferentes domínios do dia a dia das pessoas pres-
supõem ideologias variadas. Essas experiências estão vinculadas aos con-
ceitos de eventos e práticas de letramento que, embora em um primeiro
momento possam parecer semelhantes, apresentam diferenças conceituais
importantes, que influenciam essas experiências e que estão associadas às
noções de práticas e eventos de letramentos. “As práticas de letramento
se referem às valorações que a modalidade escrita recebe nas diversas
vivências, ao passo que os “eventos de letramento são as ocasiões em
que a escrita medeia a interação” (BRAGANÇA; BALTAR, 2016, p.5). De
acordo com os autores mencionados anteriormente, implicações gerais
para o âmbito escolar parecem mostrar que a ação docente deveria levar
em consideração os valores relacionados às práticas de letramento dos
alunos, de modo a influenciar os eventos de letramento.
Em resumo, por trás de práticas e eventos de letramento existiriam sig-
nificações associadas aos diferentes contextos culturais, sociais, históricos,
políticos, que influenciariam a dinâmica das relações de leitura e escrita.
Levando em conta a temática deste trabalho, pautada no ensino de
Inglês no colégio público, indaga-se de que modo as práticas de letramento
são desenvolvidas no ensino da língua, uma vez que, por ser a língua
inglesa frequentemente associada à ascensão econômica e social, acaba
por levantar questões pertinentes aos estudiosos do campo da educação
associadas a jogos de poder, conflitos de interesse, parâmetros de exclusão
e inclusão, ideologias, dentre outros fatores.
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na escola regular parece ter a sua essência voltada para a evolução dos
níveis de conhecimento linguístico do aluno, especialmente o sintático
e o léxico, dado que existe uma série de relatos sobre o uso de práticas
pedagógicas, na escola, voltadas, ainda, a listagem de palavras, traduções
e resoluções de exercícios. Jucá (2016) também explica que o curso de
idiomas e a escola regular possuem objetivos e finalidades educacionais
diferentes no tocante ao ensino de línguas. A escola não teria o papel de
ensinar apenas o conteúdo, deixando de levar em consideração valores
sociais, culturais, políticos e ideológicos, pois aprender outro idioma
iria além de estar apto a usar essa língua para finalidades comunicati-
vas (SILVEIRA, 2019). A língua, por conseguinte, não seria neutra, mas
carregaria as maneiras de pensar, ideologias e crenças. Da mesma forma,
compreende-se que o educador irá transmitir aos seus alunos as suas
formas de ver o mundo, além do conteúdo da língua inglesa.
No ensino de inglês, o aprendizado é, várias vezes, focado em uma pers-
pectiva homogeneizante e mercadológica, como se uma pessoa só conse-
guisse ascensão socioeconômica se fosse fluente no idioma e possuísse
conhecimento de certa cultura, corroborando com o ponto de vista domi-
nante, ao invés de realizar diálogos com a sua própria cultura. Com relação
a este ponto, Edmundo (2013) aponta que as determinações sociais não são
neutras, mas, sim, condicionadas pelas exigências pertencentes às esferas,
como ciência, tecnologia e sociedade, usando o conceito de “capital cultu-
ral” defendido por Bourdieu (1982), ao explicar que, muitas vezes, a língua
inglesa é entendida como uma mercadoria ou um sinal de prestígio e status,
simbolizando possibilidades de ascensão social e/ou profissional.
Sobre a língua inglesa, depreende-se que a adequação a padrões europeus
e/ou americanos de pronúncia e imitações de comportamentos e padrões
culturais anglo-saxônicos ou eurocêntricos representariam manifestações
do tipo de ensino baseado no letramento autônomo (SILVEIRA, 2019).
Além disso, ocorreria a tentativa de imposição desses modelos a outras
culturas, normalmente a dos indivíduos que estão aprendendo o idioma
inglês, ao invés de valorização de outras maneiras de pensar. Defende-se,
pois, uma concepção distinta acerca da questão do letramento, que abranja
não somente dimensões linguísticas, mas também as diferenças culturais
e sociais, proporcionando uma visão crítica, e respeito às diferenças e
tolerância. Em consequência, a motivação pelo aprendizado de uma língua
estrangeira se daria por outro viés, como aponta Tílio (2012):
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O aprendizado de um idioma pautado no ponto de vista acima contri-
buiria, também, para que o indivíduo desenvolvesse a sua consciência com
relação aos processos de funcionamento da língua e do mundo e para com
seu senso crítico. O letramento em língua inglesa, em suma, seria “algo que
leva a uma consciência das diferenças culturais e do pensamento crítico
a respeito dos acontecimentos, significados e do contexto social com os
quais o aprendiz se depara” (SEABRA, 2007, p. 51). O pensamento crítico e
a consciência permeariam, pois, o ensino da língua em um viés associado
ao letramento ideológico. Tratando-se da escrita e leitura, por exemplo,
a quantidade de estudos que abordam o ensino dessas habilidades sob o
viés do letramento autônomo é vasta, mostrando que as questões culturais
ligadas ao uso da língua são negligenciadas e a utilização de estratégias de
leitura é supervalorizada e transferida de uma língua para a outra.
4. METODOLOGIA
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Sobre o lócus de pesquisa, o colégio público escolhido como cenário da
pesquisa foi fundado no ano de 1965. A instituição possui, atualmente, mais
de 1300 alunos matriculados em turmas de Ensino Fundamental e Ensino
Médio e 89 docentes efetivos em regime de dedicação exclusiva, além de 11
substitutos. De acordo com o site oficial, a escola é voltada para a formação
do indivíduo crítico, criativo e comprometido com a construção de uma
sociedade mais livre, justa e fraterna. Em sua filosofia encontram-se prin-
cípios como o destaque para a construção do saber, como tarefa primordial
da escola, o compromisso com um programa ligado às diversas disciplinas
e áreas, fomento ao trabalho interdisciplinar, dentre outros pontos.
O foco deste trabalho foi uma turma de 30 alunos do 1° ano do Ensino
Médio. Optou-se por trabalhar apenas com esta turma devido ao crono-
grama curto e a maior conciliabilidade dos horários das aulas com os do
pesquisador. A turma era composta por discentes na faixa etária média
de 15 anos, de bairros e classes sociais distintos, uma vez que o método
de entrada no colégio se dá por meio do sistema de sorteio.
Antes de iniciar a pesquisa na instituição, o projeto teve de ser apro-
vado pela Plataforma Brasil, que se trata de uma base de dados nacional
de registros de pesquisas com pessoas. Também foram distribuídos
termos de compromissos aos estudantes, aos seus responsáveis e ao pro-
fessor. Os nomes reais dos participantes foram substituídos por nomes
fictícios, com o intuito de preservar as suas identidades.
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em algo dito, tentava exemplificar com situações envolvendo os próprios
alunos. Caso percebesse a presença de dificuldade de assimilação, explicava
em português ou pedia para que o parceiro da dupla esclarecesse a matéria
para o outro que estava com dificuldade de entender o conteúdo.
Considerando a observação realizada entre março e julho, percebeu-se
uma ênfase maior nos aspectos estruturais da língua, como vocabulário, gra-
mática, interpretação de texto, escuta (listening) e pronúncia. Os exercícios
em sala, bem como os trabalhos e avaliações eram voltados para esse fim,
o que remete à explicação de Street (1993) sobre o letramento autônomo.
Entende-se, sob a ótica da observação em sala de aula, que outros aspectos
associados ao letramento ideológico, como empoderamento, problematiza-
ções e autonomia dos alunos poderiam ter sido mais bem trabalhados, além
do foco em aspectos linguísticos. Estes aspectos, por sua vez, foram bem
desenvolvidos e planejados pelo professor, de modo que boa parte da turma
conseguia compreender e formular estruturas complexas da língua inglesa.
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a três vezes por semana, quatro a cinco vezes por semana, sempre e nunca”.
Observou-se que a maioria dos estudantes que responderam ao questionário
possui contato com o inglês ao menos duas vezes por semana.
A terceira pergunta foi feita com o propósito de descobrir em quais
contextos o estudante acha mais importante usar adequadamente a língua
inglesa. Eles podiam marcar quantas alternativas quisessem (SILVEIRA,
2019). Essas alternativas eram divididas em atividades sociais, em casa, no
curso de inglês, na escola, na lan house e, finalmente, havia um espaço em
branco que podia ser completado com uma sugestão. Constatou-se que a
esfera que mais teve marcações (77,7%, ao todo) foi a esfera escolar, seguida
de atividades sociais, com 50%, e pelo curso de inglês, com 38,8%. Foi
notório o número grande de marcações em “atividades sociais”. Tomou-se a
cautela de deixar escrito no questionário que atividades sociais se referiam
a encontros, festas, idas ao shopping, dentre outros eventos, pretendendo
delimitar esses contextos. Grande parte dos participantes acha importante o
adequado uso da língua inglesa nessas situações. Via de regra, existem ideias
associadas aos pressupostos do letramento autônomo (STREET, 2014), em
que o uso correto da língua é associado ao ambiente da escola. No entanto,
esse ponto de vista se modifica conforme a percepção de que é importante
saber usar o idioma de forma adequada nas atividades sociais.
Pretendeu-se, também, depreender do aluno para qual fim é importante
aprender a língua inglesa. Nesse item, era permitido marcar mais de uma
opção. Vale ressaltar que as possibilidades de marcação eram conhecimento
intelectual, crescimento profissional, compreensão de séries, músicas e
livros, comunicação com outras pessoas, interesses acadêmicos, intercâm-
bio, aprovação em processos seletivos e, por fim, a compreensão de que não é
importante aprender inglês. Notou-se que, além de finalidades relacionadas
à ascensão social, existem, também, finalidades comunicativas e pessoais.
Ao examinarmos os questionários respondidos, notamos que as tecnologias
de informação e comunicação parecem ter papel considerável nas práticas de
letramento dos alunos fora do ambiente escolar, no âmbito da língua inglesa.
Ainda sobre análise dos questionários, houve algumas respostas que nos
levaram a questionamentos. A que estariam associados, por exemplo, os “inte-
resses acadêmicos”, alternativa que recebeu muitas marcações? Quais seriam
as atividades sociais atreladas à língua inglesa de que os adolescentes partici-
pam? Visando buscar respostas que respondessem aos matizes não captados
nos questionários, foram realizadas entrevistas com alguns dos participantes.
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geraram dúvidas e que foram assinaladas pela maioria dos estudantes. Foram
entrevistados os alunos Jussara, Otávio, Reginaldo, Josiane e Vânia3, que tinham
entre 15 e 16 anos e frequentavam as aulas de inglês, na sala em que a pesquisa
foi feita. Esses discentes foram selecionados em virtude da importância de
esclarecimento de dúvidas sobre os questionários que preencheram.
Abordou-se, primeiramente, a questão de número 4 do questionário,
que procurava depreender dos participantes a razão pela qual é importante
aprender inglês. Esta questão tinha o seguinte enunciado: “Você considera
importante aprender inglês para crescimento profissional, conhecimento
intelectual, compreensão de séries, livros e músicas, comunicação com
outras pessoas, intercâmbio, interesses acadêmicos, aprovação em proces-
sos seletivos, outros motivos ou não acha importante aprender inglês?” A
opção “interesses acadêmicos” recebeu muitas marcações e, devido a isso,
buscaram-se verificar quais seriam esses interesses acadêmicos (SILVEIRA,
2019). A pergunta da entrevista foi formulada da seguinte maneira: “Quais
seriam os interesses acadêmicos que você marcou?” Otávio alegou ter esco-
lhido essa alternativa, porque almeja seguir a carreira de professor de Inglês,
apesar de muitas pessoas não falarem bem da profissão. Jussara explicou que
marcou essa alternativa, pois deseja cursar Medicina e, para ser aprovada na
residência, é necessário conhecer a língua inglesa, além de levar em conta,
também, o mercado de trabalho, posto que, segundo ela, o idioma é o básico
que um indivíduo deve possuir. Josiane focou na questão do intercâmbio,
devido ao inglês ser, em suas palavras, “a língua do momento”, o que faz
com que a pessoa tenha que saber fala-lo. Reginaldo, que pretende estudar
fora do Brasil, crê que em qualquer lugar que for, terá contato com o inglês,
visto ser esta a língua mais falada do mundo
Na segunda pergunta da entrevista (“quais seriam as atividades sociais?”),
indagou-se sobre a última questão do questionário, a qual era semelhante ao item
4, abordando, entretanto, o uso do Português. A alternativa “interesses acadêmi-
cos” também teve muitas respostas. Otávio alegou ser importante que as pessoas
conheçam regras gramaticais, pois se utiliza a língua a todo o momento. O estudante
mencionou, ainda, a probabilidade de um candidato não ser aceito para a vaga que
pretende em uma entrevista de emprego devido ao uso de um “português ruim”.
Reginaldo disse que, se um indivíduo não tiver uma formalidade em sua fala,
em determinado momento importante da sua vida, não “irá longe”. Jussara falou
sobre a questão da entrada no ensino superior. Para a discente, é crucial, antes de
tudo, ter boa gramática, pois no processo de seleção o candidato realiza
provas de redação e, quando entra na faculdade, se depara com a língua
inglesa, dependendo do curso que escolhe.
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Vânia mencionou os alunos do Curso de Direito, o qual possui vocabulário
mais específico. A entrevistada, por entender que o Português é a nossa
língua materna, alegou que precisamos saber falá-la de qualquer maneira.
Ela acredita ser importante saber conversar adequadamente, para, segundo
suas próprias palavras, conseguir algo na vida e concluiu alegando ser pre-
ciso cursar o 3° grau para conseguir emprego. Josiane concordou com Vânia
e acrescentou a necessidade de um indivíduo saber escrever corretamente,
tanto com relação ao ensino superior quanto ao mercado de trabalho. Como
explicado por Edmundo (2013), as determinações sociais são subordinadas
às demandas que pertencem às esferas como ciência, tecnologia e sociedade.
Nos depoimentos dos estudantes acima, percebe-se certas tendências deles
a relacionar o idioma a algo que permitiria a ascensão social.
É possível notar, nas duas primeiras questões (Você considera impor-
tante aprender inglês para/ Você considera importante aprender por-
tuguês para), que os interesses acadêmicos estão associados às opor-
tunidades de ascensão social, o que converge com os pressupostos do
letramento autônomo. Quando se trata de estudos relacionados à lín-
gua inglesa, acredita-se que as aulas de inglês que foram observadas
endossam essa visão, pois são voltadas para a aquisição da língua e não
trabalham, de forma suficiente, com aspectos socioculturais.
A terceira pergunta da entrevista estava relacionada ao item do questio-
nário que buscava depreender dos participantes os contextos em que eles
achavam mais importante saber usar corretamente o inglês, cuja opção “ati-
vidades sociais” foi muito escolhida. A pergunta estava escrita da seguinte
maneira: “Em que contextos você acha mais importante sabe usar ade-
quadamente o inglês? Em atividades sociais, na escola, na própria casa, no
curso de inglês, na lan house ou em outros contextos (quais são eles?)?”
Perguntou-se ao grupo de estudantes quais seriam essas atividades sociais
que eles marcaram nos questionários (a pergunta desse item da entrevista
foi formulada da seguinte maneira: “quais seriam essas atividades sociais?”).
Otávio disse que, por jogar muitos jogos virtuais, se envolve em fóruns e
conversas com pessoas norte-americanas. Segundo o aluno, é conhecer
a língua para ter boa comunicação, além de compreender os diálogos e
histórias dos jogos. Explicou, também, que as gírias do universo dos jogos
também contemplam a língua inglesa. Questionado sobre qual gíria mais
usa, Otávio disse utilizar as gírias “LOL” 4, “LMAO” 5, “ROFL”6. As tecnologias
de informação e comunicação (TIC) possuem um papel considerável nas
práticas de letramento do entrevistado. Esses letramentos poderiam ser
4. Abreviação de “laughing out loud” que, na língua portuguesa, quer dizer algo como “rolando de
rir” ou “rindo muito alto.”
5. Sigla de “laughing my ass off”, que significa algo como “me borrei de tanto rir”.
6. “Rolling on the floor laughing” que, em português, pode ser entendido como “rolando no chão de
tanto rir”.
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mais bem abordados em sala de aula, seguindo a explicação de Rojo (2012),
de que as escolas deveriam ofertar não somente as práticas de letramentos
mais prestigiadas ou hegemônicas, mas também as vivências dos estudantes.
Outra pergunta feita aos alunos na tentativa de esclarecer dúvidas
sobre o questionário foi acerca do uso que eles fazem da língua inglesa
com relação a textos literários. Constatou-se um número significativo
de discentes que frequentemente possuem contato com contos, poemas,
romances, dentre outros gêneros.
Finalmente, foi perguntado aos estudantes se eles pensam que algo pode-
ria ser mudado nas aulas de línguas. Houve consenso entre eles com relação
à necessidade de mudanças nas aulas (SILVEIRA, 2019). Josiane e Jussara
disseram que as aulas são muito concentradas no livro didático. Segundo
as alunas, o contato com diferentes elementos seria proveitoso, como um
vídeo, música, brincadeira, texto, dentre outros meios. Vânia destacou que
existia uma deficiência na conversação. A estudante acreditava que, pelo
fato de haver duas aulas semanais, seria possível ter uma aula voltada para
conversação e outra voltada para o livro, como ocorria no curso de inglês
em que frequentava. Ademais, segundo ela, o trabalho apenas com a obra
didática se torna entediante e as lições devem ser mais dinâmicas. Reginaldo
falou sobre o trabalho com música e mencionou a possibilidade de trabalhos
com listening e interpretação de texto. Otávio falou sobre atividades com
filmes, trabalho com livros, jogos e a possibilidade de trazer uma pessoa
de fora do Brasil para conversar com a turma. Percebeu-se que, de verdade,
existe uma rotina nas aulas, envolvendo focando nas atividades com o livro.
Longe de criticar a existência de uma rotina, uma vez que se entende sua
importância e necessidade para o aprendizado, acredita-se que a integração
de outros recursos, além do livro didático, iria melhorar as aulas e possibilitar
que as práticas de letramento dos estudantes fossem mais bem aproveitadas.
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sobre uma nova maneira de pensar são adquiridas, uma vez que cada língua
representa uma maneira diferente de se conceber o mundo. A sua fala vai ao
encontro das ideias de Tilio (2012), que pensa que a língua estrangeira pode
orientar e sensibilizar o aluno para o mundo multilíngue e multicultural em
que se encontra, além de conscientizá-lo sobre a multiplicidade cultural e
fazer com que ele respeite aos outros e se conheça, visto que, para o autor,
é através do olhar dos outros indivíduos que o ser aprende a se conhecer.
Conforme o que foi observado em sala de aula e no decorrer das entrevis-
tas com os estudantes, percebe-se existir, ainda, um foco exagerado no livro
didático e o desejo por parte desses alunos em trabalhar com livros e textos
além do material oficial. Os gêneros textuais trabalhados são os que estão
contidos no livro didático e de forma funcional, que está relacionada ao pro-
cesso de aquisição de linguagem, apenas. Nas entrevistas e questionários com
os discentes, percebeu-se que estes possuem experiências ricas e letramentos
diversos no tocante à língua inglesa, relacionados a sites, jogos, livros e apli-
cativos. O ambiente virtual possui influência expressiva nesses letramentos.
Sintetizando a análise, observou-se afinco e empenho por parte do
professor acerca da aquisição do inglês em sala de aula. O docente busca
aprofundar o conteúdo explicado e trabalhar fala, pronúncia, escrita e
leitura com os alunos nas atividades, tentando fazer com que tenham
maior contato com a língua. Ademais, ele se preocupa com o aprendi-
zado dos discentes e tenta esclarecer e explicar as suas dúvidas. Acerca
dos discentes, eles possuem com o docente uma relação de admiração
e respeito. Percebeu-se, no entanto, pelas suas atitudes, determinada
desmotivação durante a realização das atividades em sala. As práticas
de letramento dos alunos parecem não ser levadas em conta durante as
aulas de Inglês, havendo, portanto, divergências acerca do que é ofertado
e a lacuna entre letramentos não escolares e escolares.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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As práticas de letramento em inglês dos discentes são variadas, conforme as
percepções obtidas nos questionários. Nas entrevistas efetuadas com cinco
estudantes, aprofundamos as percepções dos questionários e observamos
as relações que os entrevistados têm com a língua inglesa. Tem-se como
exemplo o universo dos jogos, que envolve fóruns de discussão, comunida-
des, gírias, inclusive a comunicação com outros jogadores de outros países,
que ocorre através da língua inglesa, principalmente.
O contato com livros e o modo como estes são usados, assim como as fina-
lidades que os alunos possuem no tocante às obras, envolvendo até mesmo
o Português, foi algo a ser considerado e que ocorre dentro de sala de aula
e no planejamento das atividades. Conforme a entrevista com o professor,
as aulas são planificadas com rigor e levam em conta o aprendizado da lín-
gua por meio de atividades abrangendo habilidades de pronúncia, escuta,
leitura e escrita. Essas atividades são baseadas, no entanto, no modelo de
letramento autônomo, segundo as percepções durante a entrevista.
Na sala de aula, a despeito da competência e enorme experiência do
docente no tocante ao ensino da língua e aquisição de aspectos do léxico,
morfossintáticos e pronúncia, percebe-se que os letramentos dos estu-
dantes são pouco valorizados. Conclui-se que há divergências entre as
aspirações e interesses dos alunos na disciplina de Inglês, as práticas de
letramento que estão presentes na sua vida social e o conteúdo dado na
sala de aula. A despeito de os alunos possuírem vivências múltiplas com
a língua no seu cotidiano, há um hiato entre os seus letramentos e o que
é trabalhado na disciplina de língua inglesa, gerando uma demanda, por
parte dos estudantes, de atividades em sala de aula que tentem contemplar
trabalhos que vão além do livro didático e que façam parte de suas rotinas,
como filmes, músicas, livros, dentre outros suportes.Com essa percepção,
não existe pretensão de juízo de valor sobre o trabalho do docente. Pelo
contrário, reafirma-se que o professor possui enorme experiência no âmbito
didático-pedagógico. Falta, entretanto, um olhar um pouco mais voltado
para as práticas socioculturais dos alunos.
O autor deste trabalho gostaria, também, de relatar as dificuldades da
pesquisa. Uma dessas dificuldades se deu devido ao número de participantes.
Apesar de 27 discentes da turma terem preenchido os questionários, apenas
18 tiveram os seus termos de compromisso assinados pelos responsáveis, o
que gerou dificuldades na coleta e utilização dos dados.
Concluindo, espera-se que este trabalho possa ter colaborado nas dis-
cussões a respeito do letramento em língua estrangeira, principalmente
no âmbito do colégio público, apontando para a viabilidade de abordagens
didático-pedagógicas mais significativas e socialmente pertinentes.
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Considerations about English literacy practices in a public school
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REFERÊNCIAS:
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19