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Arte e Cultura

Do Renascimento ao Romantismo

APMN / 1º.Ano / 2º.Semestre

Estas duas imagens tratam do momento em que o corpo de Jesus é levado para o túmulo
após a sua retirada da cruz.
As duas obras foram pintadas com uma data relativamente próxima, porém, é notória a sua
diferença técnica, como o aspecto do tratamento da pintura que cada artista impôs. Estas
diferenças refletem as aspirações de cada artista e a época onde se inserem.

A imagem da figura 1, transmite fortes emoções, Rafael aplicou fascinantemente os seus


conhecimentos e técnicas nesta pintura, e percebemos as referências bíblicas nela
representadas.
No primeiro plano, vemos o corpo de Jesus morto, recentemente retirado da Cruz onde fora
crucificado, ainda com sangue a escorrer das feridas feitas na sua flagelação, às quais
chamamos as Cinco Santas Chagas, uma em cada mão, em cada pé e uma nas costela do
lado esquerdo, que lhe fizeram com um arpão para espetar até ao coração.
O Seu corpo está a ser transportado para o túmulo por dois homens romanos. Sei que são
romanos devido às suas vestes e calçado. Ambas as figuras vestem togas de cores nobres,
o vermelho, o azul e o verde, ainda com debruados e bordados dourados. O seu calçado é
ao estilo romano, uma sandália com cano alto.

As figuras em segundo plano são Santos, pois estão representadas com auréolas. E este
elemento salienta mais a certeza de que as duas figuras que transportam o corpo de Jesus
são Romanas, pois são as únicas representadas sem auréola.
As figuras santas foram pintadas descalças e com vestes de cores neutras e discretas.

Neste mesmo plano, do lado esquerdo, estão representados São Nicodemos e São Pedro.
Segundo a Bíblia, estão presentes no momento da deposição de Cristo. Nicodemos foi um
seguidor de Jesus que ajudou a retirar o seu corpo morto da cruz e acompanhou-o até ao
túmulo. São Pedro, conhecido como “o Discípulo Amado” e o mais jovem apóstolo, esteve
igualmente presente na deposição de Jesus da cruz, acompanhando as três Marias,
principalmente a Mãe de Jesus e acompanhou o seu corpo até ao túmulo.
Pedro é a figura com uma aparência mais jovem e Nicodemos mais velha, barbudo e já com
cabelos brancos.
No grupo de figuras femininas do lado direito, estão representadas as três Marias que
suportam a Virgem desmaiada pelo sofrimento de ver o seu filho morto.
Maria Cleofa, irmã da Virgem Maria, tia de Jesus e mãe de S.Tiago, é provavelmente a
figura que a segura pela cintura enquanto o seu olhar angustiado e magoado se direciona a
Jesus. Neste momento está também presente Maria Salomé e outra santa Maria que não
consigo identificar. Na bíblia, refere Maria Madalena como uma das discípulas e seguidora
mais dedicada a Jesus e uma das três Marias que seguram a Virgem. Mas, nesta pintura é
incompreensível que seja uma das Marias representada no grupo das tras, as suas
características na arte visual sacra são maioritariamente os cabelos soltos e a toga
vermelha, por isso faz sentido que seja a figura representada ao centro da imagem que
segura a mão de Jesus.
A Igreja Católica assume-a no seu passado como pecadora, por ser uma mulher que
praticava os prazeres carnais e por ser submissa, talvez daí ser representada com vestes
vermelhas, uma cor estimulante e que seduz, para além de representar também a paixão.

O cenário representa e mostra-nos o caminho desde o Monte Calvário, onde Jesus foi
crucificado, até ao túmulo onde irá ser sepultado.
Ao fundo no lado direito, conseguimos ver o Calvário com três cruzes, a do centro onde
Jesus foi crucificado, flagelado e morto, com uma escada recostada utilizada para retirar o
corpo, e as outras duas onde foram crucificados dois ladrões, segundo a Bíblia. Ainda são
notórias a silhueta de duas figuras que parecem vir a correr e uma delas com um braço no
ar.
No lado esquerdo do cenário situa-se a gruta onde está o túmulo de Jesus, para onde está
a ser transportado neste momento, atrás de São João.

Esta imagem está dividida em três momentos. Na paisagem ao fundo do lado direito está o
Monte Calvário, com as cruzes dos crucifixos, estes elementos evidenciam o assunto da
Deposição de Cristo da Cruz. O momento das figuras ao redor de Jesus com tristes
expressões cita o momento da Lamentação de Cristo, enquanto as figuras romanas estão a
levar Jesus para o túmulo, representando o Sepultamento de Cristo.
Esta imagem é emocionalmente forte por condensar estes três poderosos momentos
sacros, é uma pintura que foi muito bem pensada e executada. É de facto extraordinário
como Rafael conseguiu pintar e executar uma composição equilibrada entre as figuras, sem
corromper o assunto narrativo.
A composição está equilibrada principalmente pela posição das figuras em primeiro plano
que formam um U. A torção do corpo de Jesus influencia a perspectiva que temos das duas
figuras romanas que o seguram. Rafael sem dúvida que se inspirou na forma da figura de
Cristo da escultura Pietá de Miguel Ângelo. A figura que está de costas para nós, dá-nos a
impressão que está mais perto, e as pernas de cristo pintadas sobrepostas a essa figura
destaca mais esse aspecto, enquanto a outra figura que segura o corpo parece estar mais
distante. Esta torção de Jesus quase torna a pintura numa imagem 3D. A tensão tangível
nos músculos das duas figuras romanas que o seguram dão a impressão de que estão em
andamento.
Nicodemos, Maria Cleofa e a Virgem Maria também estão inclinados para o mesmo sentido
do jovem romano, atribuindo um ligeiro destaque à figura de Maria Madalena que se inclina
em direção a Jesus segurando-lhe a mão.
Ao posicionamento de Maria que segura a Virgem, de joelhos com as pernas viradas para
nós enquanto torce o tronco, e a Virgem desmaiada, cedente da consciência e das forças
esquematizada com torção acentuada, espiralada, chamamos de Figura Serpentinata, que
parece ter sido inspirada nas esculturas de Miguel Ângelo.
Existe um sentimento de ordem e segurança na disposição das figuras na composição, as
figuras respiram à vontade na imagem e estão claras. Rafael executou uma estupenda
simetria que atribui equilíbrio à composição.

Não só as formas e posições das figuras atribuem equilíbrio à composição, como também o
uso das técnicas de cores e tonalidades.
Aplicou a perspectiva atmosférica, um método de obter profundidade pela alteração das
tonalidades por influência do ar. A luz refletida dos objetos têm que sobressair, o que faz
com que suas relações tonais se tornem mais claras, "frias" e pouco saturadas, pela ação
da atmosfera. Dá noção de profundidade à pintura.

Em termos de cor, Rafael equilibra o uso de vermelhos, azuis, amarelos e verdes, usando a
técnica Cangiante. Podemos observar as alterações de matizes durante as variações de
tonalidades para destacar melhor as zonas mais claras ou iluminadas em contraste com a
sombra. Como por exemplo, aplicar amarelo para pintar as zonas claras, pelo facto de
aplicar branco muitas vezes não o ser suficiente para destacar essa zona e desarmoniza o
elemento ou o objeto. Na imagem, esta característica reflete-se na paisagem, assim a
noção de longitude em relação aos personagens não é discrepante. O amarelo liga e junta
todos os elementos e figuras na imagem.

A técnica Chiaroscuro é uma das bases aplicadas para contrastar as cores e atribuir
volumetria às figuras para além de tornar a pintura quase teatral, como acontece por
exemplo nas esculturas de Miguel Ângelo, que também transmitem tal sensação pela forma
como esculpe as figuras obtendo, extraordinariamente, contrastes de luz e sombra.

Outra técnica que Rafael usa é o Sfumato, visível por exemplo no esbate das tonalidades
na pele e nas vestes. É uma técnica totalmente inovadora que marca o Renascimento, pois
nas épocas anteriores, inclusive do gótico para trás, as cores e tonalidades eram aplicadas
de maneira muito plana e limitada, não havia o esbatimento das cores, aplicavam-se
diretamente.

É extraordinário também a noção de Rafael em aplicar o contraste quente-frio ao pintar o


corpo de Jesus morto com tons mais claros e frios, realçado nas mãos de Maria Madalena e
Jesus.

Recebeu grande influência dos mestres da pintura renascentista Michelangelo e Leonardo


da Vinci. As transparências muito subtis nas vestes de certeza que foram inspiradas no Da
Vinci e o pronunciado esforço físico das figuras com marcados escorços e torções, como
nas expressões de grande intensidade dramática, influenciadas por Miguel Angelo.

Todos estes aspectos na composição e aplicação das cores destacam delicadeza e


suavidade, perfeição das formas e harmonia, ordem e equilíbrio. Aspectos Clássicos que
no Humanismo Renascentista os artistas foram buscar.

A pintura da “Deposição” de Fra Angelico em comparação com a de Rafael, é mais suave,


de expressão plana, o traço é mais limitado e menos robusto, menos realista porque não
transparece tanto a volumetria.
A figura de Jesus, ao centro da imagem, representado com as pernas encurtadas, dá a
impressão que está a ser arrastado para o túmulo pela figura que está atrás de si, que é
Nicodemos. Representado com uma expressão triste e cabeça baixa enquanto o seu olhar
se direciona para o Céu, como se estivesse a lamentar. Este gesto de olhar para o Divino é
característico do Renascimento.
Nas laterais, as duas figuras que seguram as mão de Jesus são a Virgem Maria e São João
Evangelista. Sabemos que é Maria pela torga que tapa também a cabeça e ser azul, muitas
vezes é referenciada com estas características, mesmo nos dias de hoje em algumas
igrejas, as estátuas que representam a Virgem, tem estas características. E a figura do lado
direito, São João, pelo facto de ser considerado o discípulo mais amado por Jesus e estar
presente no momento da sua Deposição junto a Maria, estas figuras parecem estar a beijar
as mãos de Cristo, que está nesta posição que lembra a crucificação.

Percebe-se o movimento pelo Sudário de Turim, pelas pregas que fazem do arrastamento
de Jesus. Também as figuras laterais têm uma posição em um ângulo que dá a sensação
de se estarem a erguer.
O vazio do túmulo aberto faz sobressair a figura de Jesus, enquanto o sudário cria um
retângulo encurtado, onde as dobras do sudário e a delicada sombra de Cristo atingem um
novo pico de refinado realismo.

Em relação à paisagem, é notável a atenção à natureza características que remetem esta


obra para os inícios do Renascimento, como o tapete millefiori, ou seja, o solo rico em
elementos vegetativos, os bosques folhados nas laterais e o céu com as nuvens que
também parecem estar em movimento. Do lado esquerdo está uma palmeira estilizada, que
simboliza o martírio, fazendo alegoria e referência à flagelação de Cristo, que morreu pelos
nossos pecados.

Para além de tratar a pintura com cores mais desvanecidas em relação à obra de Rafael,
aplica técnicas de contraste de cores e o chiaroscuro, porém subtil.
Neste caso, a luz parece unificar todos os elementos da cena e através do chiaroscuro
permite uma plástica dos volumes. Vem da direita contra-picada iluminando perfeitamente o
bosque do lado esquerdo, como se estivesse a ser refletida uma luz dourada do pôr do sol
apenas nessa área.

Angelico, para além de usar a luz como um elemento unificador dos elementos da imagem,
utiliza uma composição sóbria e um pouco hierarquizada. Por exemplo, a figura de Cristo
está ao centro em forma de cruz, e interligando a cabeça de todas as figuras, sendo a
cabeça de Jesus mais alta, imaginamos um triângulo, símbolo da Santíssima Trindade,
simbolizando o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Aplicou também a perspectiva linear situando o ponto de fuga no túmulo onde Cristo será
colocado, dando uma noção do espaço em profundidade. Podemos Angelo estava ciente
das teorias da perspectiva implementadas por Leon Battista Alberti.

As auréolas das figuras ainda representadas como na baixa idade média, na idade
medieval, tal como a cor azul lazuli aplicada nas vestes das duas figuras laterais que
seguram Jesus.
Comparado com a pintura medieval ou gótica, a pintura de Angelico no modo de pensar a
composição e o espaço, fez resultar uma qualidade e competência muito diferentes daquilo
que se produziu enquanto pintura no final dessas épocas, por exemplo o uso da perspectiva
e da variação cromática. Angelico combinou a influência do elegantemente decorativo
gótico com o estilo mais realista dos mestres da Renascença como o pintor Masaccio, e
estas características realçam-no enquanto um dos primeiros pintores do Renascimento.

Há mais elementos na pintura que se inserem no estilo gótico, como as expressões faciais
suavizadas, os gestos e posturas ainda um pouco rígidas em relação às da imagem da
figura 1 que são muito mais fluidas, o tratamento dos planejamentos executado com uma
pincelada menos esbatidas entre zonas de sombra e luz e uma composição vertical.
No que toca à plasticidade das pinturas, Rafael trata-a com mais volumetria, robustez e
realismo, a tinta a óleo é muito favorável para tais características. Enquanto Angelico trata-a
com uma característica mais estática, pois a têmpera em relação ao óleo seca mais rápido,
porque tem clara de ovo na sua composição e não permite tão facilmente usar o sfumato.
Ambos os artistas são da época Renascentista, Angelico pintou durante o início dessa
época, uma época em que a filosofia, o paradigma e a cabeça das pessoas mudaram,
começaram a ter uma visão antropocentrista, os artistas uma estética artística da
antiguidade clássica porém mais liberais e fiéis às suas ideias, não estão presos às regras
como na antiguidade clássica. Dando mais importância à individualidade, focam-se no
humanismo e no Homem como o que está acima de tudo, é quem está mais elevado, e
deixam o ideal de adoração ao que é divino, começam a fazer arte para os Homens.
Para além de terem bagagem de mestres anteriores, as suas obras são únicas,
conseguimos perceber que uma obra é feita por eles sem estar identificada, e é isso que
torna as suas obras originais. Ambos podem pintar o mesmo tema, mas o conhecimento e
influências que têm refletem no modo como cada um executa a pintura sobre o tal tema.
A técnica, o desenho, a composição e o tratamento da pintura determinam a sua identidade
enquanto artistas.

Outro aspecto que denota a diferença entre estes dois artistas e época em que praticavam
a sua arte, está em como as auréolas das figuras são representadas em cada imagem.
Sabemos que Angélico antecedeu Rafael porque as auréolas que pintou são características
em como eram representadas na época medieval, e na pintura de Rafael já são mais
discretas, não destacando tanto o divino e centrando a importância no Homem.

Webgrafia:
https://www.todamateria.com.br/rafael-sanzio/
https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-19093/rafael/
https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/deposicao-rafael/

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