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Teoria Do Conhecimento
Teoria Do Conhecimento
Teoria Do Conhecimento
br/teocon-gs0031-
ago-2022-grad-ead-np/)
1. Introdução
Boas-vindas à disciplina de Teoria do Conhecimento!
2. Informações da Disciplina
Ementa
Em Teoria do Conhecimento, serão apresentadas as contribuições realizadas
pela Filoso�a no que tange às questões sobre o que é o conhecimento, como
este se realiza e suas respectivas possibilidades, elementos esses que com-
põem o objeto de estudo da Epistemologia. Para isso, será investigado o fenô-
meno do conhecimento, quais são os problemas que cercam sua produção, as
possibilidades de produção do conhecimento em seu caráter epistemológi-
co/gnosiológico, a relação existente entre sujeito e objeto na produção do co-
nhecimento e as várias teorias que se dedicam a analisar a origem do conhe-
cimento.
Objetivo Geral
Os alunos da disciplina Teoria do Conhecimento terão uma compreensão �lo-
só�ca acerca da forma pela qual o homem historicamente se relacionou com o
conhecimento e de que formas esses processos re�etem nos resultados alcan-
çados pela civilização tecnológica contemporânea. Para isso, contarão não só
com as obras de referência, mas também com outras referências bibliográ�-
cas, eletrônicas, links de navegação e vídeos.
Objetivos Especí�cos
• Estabelecer o primeiro contato com a área da Teoria do Conhecimento,
bem como reconhecer as suas principais de�nições.
• Conhecer os principais problemas da Teoria do Conhecimento.
• Rastrear a terminologia utilizada no tratamento da Teoria do
Conhecimento, bem como compreender cada termo criticamente.
• Compreender a importância do estudo da disciplina para a formação do
pro�ssional em Filoso�a.
• Reconhecer e examinar os principais problemas referentes à possibilida-
de do conhecimento.
• Compreender as doutrinas do dogmatismo, do ceticismo e do criticismo.
• Compreender as implicações do problema da origem do conhecimento.
• Analisar as correntes racionalistas e empiristas.
• Conhecer os principais �lósofos racionalistas e empiristas e suas formu-
lações.
• Conhecer as propostas apriorista e intelectualista do conhecimento.
• Conhecer as propostas �losó�cas em torno da essência do conhecimento:
realismo e idealismo.
• Diferenciar a proposta intelectualista e apriorista do racionalismo, do em-
pirismo e de outras correntes de pensamento, como o voluntarismo.
• Aplicar os conceitos na construção, re�exão e análise das questões epis-
temológicas.
• Pesquisar e contextualizar a teoria com a prática.
(https://md.claretiano.edu.br/teocon-gs0031-
ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivos
• Conhecer as principais de�nições sobre o conhecimento e sobre a teoria
do conhecimento.
• Conhecer os problemas centrais da Teoria do Conhecimento.
• Rastrear a terminologia utilizada no tratamento da Teoria do
Conhecimento, bem como compreender cada termo criticamente.
• Analisar as relações entre pensamento e linguagem na Teoria do
Conhecimento.
Conteúdos
• Conhecimento: de�nições e distinções.
• Problemas gerais da Epistemologia.
• Re�exões epistemológicas: visão histórica, conceituação e objeto de es-
tudo.
• As questões fundamentais no objeto de estudo da Teoria do
Conhecimento.
• A relação sujeito-objeto e o processo do conhecimento.
• Esquemáticas do conhecimento.
• Relação entre linguagem e pensamento na Teoria do Conhecimento.
Problematização
O que se entende por conhecimento? Qual o objeto de estudo da Teoria do
Conhecimento ou Epistemologia? Como os teóricos interpretaram a Teoria do
Conhecimento? Por que contextualizar os conceitos da Teoria do
Conhecimento? Quais os problemas da Teoria do Conhecimento? Como os co-
nhecimentos da Teoria do Conhecimento podem auxiliar o pro�ssional da
Filoso�a?
Bons estudos!
1. Introdução
Conhecimento não é uma palavra estranha ao nosso vocabulário; no entanto,
isso não quer dizer que saibamos de�ni-la com adequação. Neste ciclo de
aprendizagem, estudaremos os conceitos e de�nições sobre o conhecimento,
como também as principais informações sobre a área da Teoria do
Conhecimento. Bons estudos!
2. O que é o conhecimento?
Antes mesmo de adentrarmos nos temas especí�cos da Teoria do
Conhecimento, é fundamental passarmos pela seguinte questão: o que é o co-
nhecimento? De modo geral, costumamos de�nir o conhecimento como o mo-
do pelo qual um sujeito se apropria intelectualmente de um objeto. No entanto,
outros elementos também precisam ser levados em conta. Como introdução
geral ao tema, assista ao vídeo a seguir do Canal Saúde O�cial. Ciência e
Letras – Epistemologia.
3. De�nição tradicional do conhecimento:
"crença verdadeira justi�cada"
A clássica de�nição de Platão sobre o conhecimento, no livro Teeteto, pode ser
um bom ponto de partida: "conhecimento é opinião verdadeira acompanhada
da explicação racional, e que sem esta deixava de ser conhecimento" (PLATÃO,
2001, p. 125). Todo conhecimento é uma crença, uma opinião (doxa); no entan-
to, precisa ser verdadeira e justi�cada racionalmente.
Para �nalizar este tópico, assista na sequência um vídeo que trás a de�nição
tradicional do conhecimento.
5. Primeiro contato
A Teoria do Conhecimento tem como objetivo geral re�etir sobre o próprio co-
nhecimento.
Até este momento, vários focos de análise de nossa disciplina já foram inves-
tigados: a natureza, com os �lósofos pré-socráticos; o homem, com os clássi-
cos antigos; Deus, com os medievais etc. Agora é hora de nos questionarmos
sobre o conhecimento humano.
Para tentar solucionar, ou pelo menos esclarecer, esta difícil aporia, convida-
mos você a pensar em algumas características do ato de conhecer.
• Quem conhece?
• O que é conhecido?
Pois bem, vamos tentar construir alguns conceitos básicos para alicerçarmos
nossa investigação?
Sujeito e objeto
O processo do conhecimento humano possui essencialmente dois elementos:
sujeito e objeto. Que tal tentarmos uma de�nição para eles? Vamos lá...
Como você pôde perceber, nem sempre os objetos são coisas empiricamente
existentes, como é o caso de uma ideia �losó�ca.
O que será que Pascal quis dizer com isso? E o que será que queremos dizer
quando a�rmamos ser o homem o sujeito por excelência?
Simples, sendo o sujeito aquele que pensa, e o homem o único animal que pos-
sui a faculdade de pensar, conclui-se que o homem é o sujeito conhecedor por
excelência. Assim, pois, ele (o homem) conhece coisas, fatos, fenômenos e
ainda tem a possibilidade, num processo autorre�exivo, de conhecer-se a si
mesmo, ou alguém esqueceu a famosa máxima socrática herdada do oráculo
de Delfos: “conhece-te a ti mesmo”?
Todavia, permanece uma pergunta: como é que nós, animais racionais, sujei-
tos por excelência, conhecedores universais, nunca tínhamos pensado sobre o
que é o conhecimento?
Para responder esta intrigante questão, ninguém melhor do que o excelso �ló-
sofo de Königsberg, Kant (2008, p. 63):
Por isso, é preciso pensar! Temos que ter coragem! A Filoso�a exige que
re�itamos sobre a totalidade, não se esqueça...
“O homem é o culpado dessa menoridade (intelectual) quando sua causa reside não na falta
de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo [...]”. Re�ita sobre essa
frase de Kant.
Conhecimento
Após o incentivo (ou o puxão de orelha) kantiano, convidamos você a penetrar
de�nitivamente na questão inicial, que até agora �cou sem solução. Com efei-
to: o que é o conhecimento?
Todo este léxico carrega, de alguma forma, as ideias de: aprender, saber, reco-
nhecer, ter ideia, ter noção etc. Desta forma, pela investigação etimológica, po-
demos a�rmar que o conhecimento está relacionado a saber, a ter consciência
de algo.
Uma vez que o sujeito e o objeto são os elementos básicos para que ocorra o
conhecimento e tendo em mente que conhecer guarda o sentido de ter consci-
ência de, saber algo de, ter ideia de, podemos forjar algumas de�nições. Veja:
Se vista pelo lado do sujeito, podemos dizer que quando ocorre o conhecimen-
to, o sujeito invade a esfera do objeto, ou seja, ele sai de sua esfera de origem e,
adentrando na esfera do objeto, capta informações e as interioriza. Mas, cuida-
do! Isso não quer dizer que o sujeito suga o objeto fazendo este se tornar parte
dele. Con�ra o esquema:
Para exempli�car estas ideias, vamos forjar um exemplo. Imagine que uma
criança vá a um sítio e lá tenha contato com um cavalo. Ao ver aquele animal
desconhecido, questiona um adulto sobre o que vem a ser aquilo, e este lhe
responde que aquilo é um animal chamado cavalo. A criança então formará
uma imagem mental do cavalo e, sempre que alguém mencionar a palavra
“cavalo” saberá do que se trata, pois armazena em sua memória as proprieda-
des do que vem a ser um cavalo (animal com quatro patas, coberto de pelos
etc.).
Você percebeu que o exemplo anterior recorda a teoria das ideias de Platão,
que nos fala que antes de memorizarmos o ente, temos em nossa alma (ani-
ma) as suas características primordiais (sua essência) e, independente de co-
nhecermos um objeto de cor ou textura diferente, sabemos identi�car o nome
pelo qual o objeto é apreendido?
Neste processo, a dúvida é o eixo central que irá possibilitar um mais profun-
do conhecimento sobre o próprio conhecimento.
Isso acontece diariamente conosco sem nos darmos conta. Tente pensar em
algum exemplo; aliás, esta estratégia de buscar exemplos já é uma forma de
tentarmos nos aproximar do conhecimento das coisas.
Agora que empreendemos este vôo panorâmico sobre algumas questões, pro-
blemas e pressupostos da Teoria do Conhecimento, cabe-nos mais uma per-
gunta.
6. Por que estudar Teoria do Conhecimento?
Tal como a pergunta sobre a identidade do conhecimento, esta se mostra de
difícil solução. Entretanto, vamos tentar resolvê-la. Segundo Moser et al (2004,
p. 4),
Como o conhecimento tem valor para nós, podemos e muitas vezes temos até o de-
ver de adotar uma postura crítica perante a sua aquisição. Sem deixar de lado a
sensatez, devemos assumir a máxima responsabilidade pelas nossas crenças e, por
conseguinte, avaliar cuidadosamente os testemunhos das outras pessoas sempre
que possível.
Muitos �lósofos nos dias de hoje negam que as questões �losó�cas acer-
ca do conhecimento tenham um caráter especial. Defendem que a
Epistemologia precisa de ser “naturalizada”: quer dizer, aproximá-la de
uma ou mais ciências, talvez da Psicologia Cognitiva. Outros �lósofos
defendem que a Epistemologia está morta. Estas perspectivas são di�-
cilmente separáveis: a distinção entre a transformação radical e a aboli-
ção imediata não é nítida. Contudo, penso que o naturalismo está enga-
nado e que os obituários da Epistemologia são prematuros.
Cinco problemas
Será que há assuntos acerca dos quais podemos ter conhecimento, en-
quanto há outros acerca dos quais não podemos ter mais do que opinião
(ou fé)? Será que há uma quantidade signi�cativa de formas de discurso
que �cam simultaneamente fora do domínio do “factual” ou do que “tem
sentido”? O objetivo é traçar uma fronteira que separe a área do conheci-
mento de outros domínios cognitivos (ou talvez o cognitivo do não cog-
nitivo). b) O problema “interno” pergunta se há fronteiras signi�cativas
no interior do domínio do conhecimento. Por exemplo, muitos �lósofos
têm defendido que há uma distinção fundamental entre o conhecimen-
to a posteriori, ou “empírico”, e o conhecimento a priori, ou “não empíri-
co”. O conhecimento empírico depende (de uma forma ou de outra) da
experiência ou observação, ao passo que o conhecimento a priori é inde-
pendente da experiência, fornecendo a matemática o exemplo mais cla-
ro. Contudo, outros �lósofos negam que se possa fazer tal distinção.
Ou, dito de outro modo, se nos pudermos mostrar onde erram os argu-
mentos céticos, é de esperar aprender importantes lições sobre conheci-
mento e justi�cação. Não é necessário estar no espaço das conclusões
céticas para nos interessarmos pelos argumentos céticos.
Dada esta perspectiva de Epistemologia, é fácil ver por que razão o ceti-
cismo é especialmente difícil de ignorar. O ceticismo é o gato com o rabo
de fora do racionalismo ocidental: um ataque argumentativamente so-
�sticado à argumentação racionalista. Representa o caso extremo da
tradição da investigação crítica re�exivamente aplicada. Desde os pri-
mórdios da Filoso�a ocidental, tem havido uma contradição que defen-
de que os limites da razão são muito mais estreitos do que os epistemó-
logos otimistas gostam de pensar, que a própria idéia de razão é uma ar-
madilha e uma ilusão e que, mesmo que não o fosse, o conhecimento ci-
entí�co e �losó�co acaba por não ser o que se pensa que é. Se o ceticis-
mo não pode ser refutado, a perspectiva racional destrói-se a si própria
(WILLIAMS, 2001, p. 1-5).
conjunto de regras ou leis, mais ou menos sistematizadas, aplicadas a uma área es-
pecí�ca; conhecimento especulativo, metódico e organizado de caráter hipotético e
sintético [...] (HOUAISS, 2009).
Por estas de�nições já é possível ter uma noção do que sejam as teorias, mas
sugerimos que, neste momento inicial, você a compreenda apenas como res-
postas, como soluções a determinados problemas.
Este exemplo nos ajuda a compreender alguns dos conceitos tratados. A cozi-
nheira conhece as particularidades do preparo das comidas, provavelmente
porque aprendeu com alguém, por isso, sabe que se juntar óleo e água em uma
panela quente o óleo espirrará, mesmo desconhecendo os fundamentos cientí-
�cos deste efeito (o óleo espirra porque a água ferve em uma temperatura infe-
rior à do óleo, e por isso começa a evaporar, o que empurra o óleo para cima). A
ajudante (sujeito), por sua vez, desconhece os efeitos (objeto), mas com a reco-
mendação da cozinheira, ela muda sua forma de agir, e assimila esta nova in-
formação, somando-a as informações que já possui.
Por esta teoria, toda vez que seu time precisa decidir uma partida por decisão
de pênaltis, recomenda ao técnico que escale um goleiro canhoto.
O que você achou destes exemplos? Eles dão margem para outras questões?
Problema do critério
Para tratar deste problema, vamos retomar algumas coisas.
Descobriu?
Vamos lá...
Isso quer, simplesmente, dizer que a nossa busca por conhecimento é uma
busca pela verdade do conhecimento. Não basta conhecermos a coisa, nós
queremos conhecer a verdade.
Tudo isso nos leva a concluir que a certeza é uma necessidade inerente ao
próprio conhecimento.
9. Pensamento e linguagem
Seguindo a estratégia adotada em tópicos anteriores, de partir das ideias bási-
cas e ir acoplando informações para expandi-las e transformá-las em conhe-
cimento, vamos procurar entrar nas questões pertinentes a este tópico.
Já sabemos que, na relação entre sujeito e objeto, surge a necessidade de res-
ponder a certas indagações e que estas respostas são o que chamamos de teo-
rias. As teorias, por sua vez, possibilitam a vivência e a convivência com o
mundo que nos cerca.
Até agora estamos sempre recorrendo a uma capacidade do ser humano, sem
que percebamos isto. Qual é esta capacidade?
Mais do que uma relação entre pensamento e linguagem, podemos dizer que é
apenas pela linguagem que o pensamento é possível, pois a linguagem é o veí-
culo por meio do qual o pensamento se constitui e se manifesta.
Pois vamos fazer um teste: tente imaginar alguma coisa que não tenha víncu-
lo algum com aquilo que você já conhece e que representa através de sua lin-
guagem.
Se você respondeu que não conseguiu pensar em nada, você está correto.
Realmente é impossível pensar em alguma coisa que não tenha relação com
outras que você já conhece.
Se você se atentar para a maneira como produz e como transmite seus pensa-
mentos, perceberá que a esquemática ocorre de maneira quase textual.
Quando pensamos criamos um “texto mental”, e ainda muitas vezes simula-
mos um discurso, como se estivéssemos conversando ou explicando algo para
alguém.
Os diferentes léxicos podem ser entendidos, neste sentido, como as formas es-
pecí�cas de a linguagem se comunicar durante os tempos. Examinando o lé-
xico teremos noção, não só de como pensaram os �lósofos em cada época,
mas também poderemos ampliar nossos conhecimentos sobre os conteúdos
até agora estudados.
Desde já, cabe saber que, tal como tem importância para o mundo ocidental, o
advento da modernidade é também decisivo para a Filoso�a, e para a
Epistemologia em especial.
Para exempli�cá-los, vamos nos utilizar mais uma vez do exemplo da criança
e do cavalo. Sabemos que a criança (sujeito) teve contato com o cavalo (objeto)
no sítio e criou uma imagem mental dele, passando a conhecê-lo; se pergun-
tássemos ao �lósofo antigo o que tinha ocorrido, ele, certamente, responderia
que ela acrescentou ao seu pensamento uma ideia ou conceito, e que toda vez
que comunicasse algo sobre o cavalo (por exemplo, “O cavalo é bonito”), estaria
formulando um juízo.
É importante ler com atenção o esquema, que segue uma ordem numérica de
disposição. Perceba que o conhecimento humano segue um grande e comple-
xo esquema, que ainda não está terminado, pois nos resta dizer algo sobre ar-
gumento e conclusão.
• O que é argumento?
• O que é conclusão?
Você achou que as perguntas tinham acabado? Nada disso! Lembre-se que foi
pelas perguntas que a Filoso�a “nasceu”!
Sócrates é homem.
11. Considerações
Neste ciclo, estudamos os aspectos introdutórios da Teoria do Conhecimento,
como também as principais questões que envolvem essa área. Tais questões
levam a perspectivas distintas acerca do conhecimento e, por esta razão, no
próximo ciclo, veremos algumas concepções decorrentes dessas perguntas
(dogmatismo, ceticismo, pragmatismo, subjetivismo, relativismo e criticismo).
Preparado? Vamos lá!
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Objetivos
• Reconhecer e examinar os principais problemas referentes à possibili-
dade do conhecimento.
• Compreender as doutrinas do dogmatismo, ceticismo, pragmatismo,
subjetivismo, relativismo e criticismo.
• Pesquisar os principais pensadores que lidam com esses problemas na
História da Filoso�a.
Conteúdos
• Uma análise dos conceitos que versam sobre a possibilidade do conhe-
cimento: dogmatismo, ceticismo, pragmatismo, subjetivismo, relativis-
mo e criticismo.
• Principais pensadores representantes das propostas epistemológicas re-
lacionadas à possibilidade do conhecimento.
Problematização
O que se entende por possibilidade do conhecimento? O seu ponto de vista re-
presenta qual corrente �losó�ca: dogmática, cética ou criticista? Como os
conceitos da Teoria do Conhecimento contribuem com a sua prática pro�ssi-
onal? É possível obter o conhecimento? Como os teóricos responderam às
questões epistemológicas do dogmatismo, ceticismo e criticismo? Por que é
necessário compreender o processo do conhecimento? Quais são as respos-
tas a�rmativas e negativas do problema?
1. Introdução
Após introduzirmos a problemática da Teoria do Conhecimento, vamos inves-
tigar as diferentes perspectivas resultantes das questões colocadas pela epis-
temologia. Nesse sentido, abordaremos, neste ciclo, o primeiro grande proble-
ma da Epistemologia: a questão acerca da possibilidade do conhecimento.
Formulação do problema
Descrevemos anteriormente como se dá o processo do conhecimento.
Dissemos, dentre outras coisas, que ele envolve sujeito e objeto e que desta re-
lação nasce o conhecimento.
Vimos ainda que da relação entre sujeito e objeto se origina uma imagem
mental, que pode ser de�nida como o próprio conhecimento, ou pelo menos,
uma dimensão importante dele.
Estas a�rmações não são difíceis de entender. Certamente, até aqui, graças a
exemplos e esquemas, você conseguiu entendê-las, entretanto (e na Filoso�a
sempre existe um “entretanto”) esta esquemática ainda necessita de algumas
indagações.
O que até agora vimos como algo claro e ordenado é passível de questiona-
mentos, e estes questionamentos originarão o problema da possibilidade do
conhecimento.
Estas questões põem em cheque o que vimos até agora, por isso, vamos
explorá-las mais um pouco:
• Será que realmente ocorre a relação entre sujeito e objeto que origina o
conhecimento?
• O conhecimento é possível?
• Como? Por quê?
Com estas perguntas situamos nosso problema, com isso, podemos partir para
o reconhecimento das implicações.
Implicações do problema
É preciso estar ciente, antes de adentrar nas implicações, da radicalidade des-
te problema, sua importância originária, uma vez que ele de�nirá todo nosso
horizonte de pesquisa e, apenas adiantando para ilustrar, se partirmos do
pressuposto da impossibilidade do conhecimento, toda Epistemologia, e por
extensão, todas as áreas do saber humano mostrar-se-ão inúteis e ine�cientes.
Com isso, será nossa tarefa prosseguir a investigação para saber como, por
que etc. é possível o conhecimento.
Se, por outro lado, optarmos pela perspectiva negativa, assumiremos a postu-
ra de que o homem não é capaz de conhecer as coisas, fatos e fenômenos que
o circundam, e, consequentemente, que não nos é possível conhecer a verda-
de, já que o que julgamos ser verdadeiro, diante desta postura, não passará de
cogitações sem fundamento.
Neste caso não nos restará alternativa a não ser desistir de nossa análise, já
que o conhecimento seria impossível.
Vamos adiante!
Vamos lá?!
Dogmatismo
Para compreender a corrente �losó�ca que defende a possibilidade do conhe-
cimento, ou seja, o dogmatismo, é mister iniciarmos com as seguintes ques-
tões:
Proveniente do grego dógma, traduzido por Hessen (2003, p. 29) como doutrina
estabelecida, também carrega o signi�cado de decisão, opinião, decreto, e pos-
sui familiaridade com o verbo doké, que guarda o signi�cado de parecer.
O dogma é, segundo o Dicionário eletrônico Houaiss (2009): “qualquer doutrina
de caráter indiscutível em função de supostamente ser uma verdade aceita
por todos”, ou seja, é um preceito aceito de forma irre�etida.
[...] doutrina que crê na possibilidade de conhecer a verdade absoluta das coisas de
modo direto e imediato, por meios empíricos, racionais ou supra-racionais
(BAZARIAN, 1994, p. 94).
Mas, por que será que isso acontece? A resposta quem nos fornece é Hessen
(2003, p. 30, grifo nosso):
O fato de, para o dogmatismo, o conhecimento não chegar a ser um problema, re-
pousa sobre uma visão errônea da essência do conhecimento. O contato entre su-
jeito e objeto não pode parecer questionável se não se vê que o conhecimento
apresenta-se numa relação. É o que ocorre com o dogmático. Ele não vê que o co-
nhecimento é, essencialmente, uma relação entre sujeito e objeto. Ao contrário,
acredita que os objetos do conhecimento nos são dados como tais, e não pela fun-
ção mediadora do conhecimento [e apenas por ela]. Ele desconsidera esta última. E
isso vale não apenas para o campo da percepção, mas também para o do pensa-
mento. Segundo a concepção do dogmatismo, os objetos da percepção nos seriam
dados diretamente, corporeamente, e assim também os objetos do pensamento.
Num caso desconsidera-se a percepção, por meio da qual determinados objetos que
nos são dados; no outro, desconsidera-se a função pensante.
Pelo que analisamos até agora, algumas características podem ser salienta-
das:
Poderíamos dizer que as máximas do dogmatismo seriam: “as coisas são as-
sim porque são”; e “isso é assim e pronto, não tem discussão”.
Você já ouviu alguma destas expressões? Em que ocasião? Quais outras expressões você
acrescentaria a estes exemplos? Re�ita sobre e isso e troque ideias com seus colegas de
curso.
Por ser uma atitude radical, o dogmatismo não atua somente na esfera episte-
mológica, mas também em outras esferas, o que nos leva a compreendê-lo em
três dimensões gerais. Com efeito: dogmatismo teórico, que estudamos até
agora; dogmatismo ético, que se refere aos valores morais e dogmatismo reli-
gioso, que diz respeito aos valores religiosos.
a) Pirro (360-270 a.C.). Pirro ensinou que, para o homem, a única atitude cabível é a
suspensão (epoqué) total do juízo, pois não pode a�rmar de coisa alguma que seja
verdadeira ou falsa, justa ou injusta.
b) Carnéades (214-129 a.C.), que admitia que o homem pode conhecer o que é prová-
vel, não a verdade.
Ceticismo absoluto
[...] foi o so�sta, da antiga Grécia, Górgias, que sustentava as três teses seguintes: 1)
o ser não existe; 2) se ele existisse não poderíamos conhecê-lo; 3) ainda que pudés-
semos conhecê-lo não poderíamos comunicá-lo aos outros. Outro �lósofo grego da
época, Pirro, a�rmava que é impossível conhecer qualquer coisa de verdadeiro.
Dado que os nossos juízos sobre a realidade são contraditórios e não existem co-
nhecimentos e juízos verdadeiros, é melhor suspender o juízo (essa suspensão de
juízo ele chamava de epoche).
Quer saber mais sobre este assunto? Procure, nas diversas fontes, informações e dados so-
bre o so�sta Górgias e sobre Pirro.
Ceticismo relativo
A vertente relativa do ceticismo nega apenas parcialmente a possibilidade do
conhecimento, ou seja, é uma atitude mais moderada que concebe a
impossibilidade, não de todas, mas de algumas parcelas ou domínios do
conhecimento.
Um dos mais conhecidos destes so�stas foi, sem dúvida, Protágoras de Abdera (que
viveu no século. 5 a. C.). Partindo dos ensinamentos de Heráclito, de que tudo �ui e
muda, e das variações da sensação conforme as disposições subjetivas do nosso
espírito, Protágoras inferiu disso a relatividade e subjetividade dos nossos conheci-
mentos. Sua doutrina enunciou com a célebre fórmula: “O homem é a medida de to-
das as coisas”. Com isso ele queria dizer que a forma de conhecimento das coisas
depende do homem e varia de um homem para o outro. [...]
Aplicando sua fórmula ao conhecimento dos deuses, ele dizia: “quanto aos deuses,
não posso saber se existem ou não existem, ou como é a �gura deles, pois muita
coisa impede de sabê-lo, sobretudo a obscuridade do assunto e a brevidade da vida
humana”.
O ceticismo relativo ainda abarca outras formas de descrença, como nos mos-
tra Hessen (2003, p. 32):
O cético poderia, certamente, encontrar uma saída. Poderia indicar o juízo “o co-
nhecimento é impossível” como duvidoso e dizer: não há nenhum conhecimento, e
mesmo isto é duvidoso. Também aqui, há um conhecimento sendo expresso, a sa-
ber, o conhecimento de que é duvidoso que haja conhecimento. Por um lado, por-
tanto, a possibilidade do conhecimento será a�rmada pelo cético e, por outro, será
posta em dúvida. No fundo, encontramo-nos diante da mesma autocontradição de
antes.
Ao que nos parece, a crítica deste estudioso é pertinente, uma vez que revela a
fragilidade de um sistema que se apoia no ceticismo. Hessen se serve do
próprio argumento cético para desconstruí-lo, a saber, se o conhecimento é
impossível, como seria possível ao cético conhecer esta impossibilidade? Não
estaria ele se contradizendo? Pois é, este é um argumento autodestruidor.
Vejamos a ilustração:
Estas outras respostas que nos dispomos a analisar a partir de agora são clas-
si�cadas por Bazarian (1994) como modalidades de ceticismo relativo, classi�-
cação que optamos por seguir.
DESCRIÇÃO E
MODALIDADE EXEMPLO
COMENTÁRIO
MODALIDADE DESCRIÇÃO E COMENTÁRIO EXEMPLO
Pragmatismo
Segundo esta corrente, conhecimento verdadeiro é aquele que signi�ca ser co-
nhecimento útil, valioso, fomentador da vida, pois o homem não é essencial-
mente um ser teórico ou pensante, mas sim um ser prático, um ser de vontade
e de ação: "verdadeiro, segundo essa concepção, signi�ca o mesmo que útil,
valioso, promotor da vida" (HESSEN, 2000, p. 40).
Subjetivismo e Relativismo
Subjetivismo e relativismo são linhas muito próximas, a ponto de serem con-
fundidas e complementadas. Com relação ao subjetivismo, trata-se da possibi-
lidade em que o sujeito conhece de fato o objeto, mas de um ponto de vista
particular: "restringe a validade da verdade ao sujeito que conhece e que julga.
Este pode ser tanto o sujeito individual ou indivíduo humano quanto o sujeito
genérico ou o gênero humano" (HESSEN, 2000, p. 36).
Já o relativismo é a posição que a�rma a não existência de verdade absoluta e
universalmente válida, reduzindo, assim, o seu discurso de verdade como re-
lativo ao contexto externo e às circunstâncias locais: "também para ele, não
há qualquer validade geral, nenhuma verdade absoluta. Toda verdade é relati-
va, tem validade restrita (HESSEN, 2000, p. 37).
Criticismo
Esta linha de pensamento compartilha questões tanto com o dogmatismo co-
mo também com o ceticismo. Assim como o dogmatismo, o criticismo está se-
guramente convencido de que há um possível conhecimento, que há uma ver-
dade. No entanto, partilhando, por sua vez, também com o ceticismo, junta tal
con�ança de conhecer com a descon�ança da determinação de qualquer tipo
de conhecimento. Com isso, ele examina todas as a�rmações da razão huma-
na e não aceita nada de modo despreocupado:
Por toda parte pergunta sobre os fundamentos, e reclama da razão humana uma
prestação de contas. Seu comportamento não é nem cético nem dogmático, mas
criticamente inquisidor - um meio termo entre a temeridade dogmática e o deses-
pero cético. Germes de criticismo existem em todo lugar onde haja re�exões episte-
mológicas. É o que ocorre, na Antiguidade, com Platão e Aristóteles e também com
os estoicos; na Idade Moderna, com Descartes e Leibniz e, mais ainda, com Locke e
Hume. O verdadeiro fundador do criticismo, entretanto, é Kant, cuja �loso�a é cha-
mada exatamente assim (HESSEN, 2000, p. 43).
5. Considerações
Como vimos neste ciclo, as posturas intelectuais impactam diretamente no
que é considerado como objeto do conhecimento (dogmatismo, ceticismo,
pragmatismo, subjetivismo relativismo e criticismo). No próximo ciclo, vere-
mos outra questão fundamental para a Teoria do Conhecimento, dessa vez re-
lacionada às origens ou fontes do conhecimento, com o racionalismo, empi-
rismo, apriorismo e o intelectualismo. Até a próxima etapa!
(https://md.claretiano.edu.br/teocon-gs0031-
ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivos
• Compreender as implicações do problema da origem do conhecimento.
• Analisar as correntes do racionalismo e empirismo.
• Conhecer os principais �lósofos racionalistas e empiristas e suas formu-
lações.
Conteúdos
• Análise acerca dos principais conceitos que fundamentam a origem do
conhecimento: racionalismo e empirismo.
• Principais representantes racionalistas e empiristas na História da
Filoso�a.
Problematização
O que se entende por origem do conhecimento? De que maneira as posições
do racionalismo e empirismo contribuem para a sua formação e prática pro-
�ssional? Quais as fontes do conhecimento? Por que é necessário levar em
consideração a questão da origem do conhecimento para compreender o pro-
cesso cognoscente? De que maneira o sujeito e objeto se apresentam nas li-
nhas teóricas referentes às origens do conhecimento? Como os teóricos res-
ponderam às questões epistemológicas do racionalismo e do empirismo?
1. Introdução
Após re�etirmos sobre a possibilidade do conhecimento, neste ciclo chega-
mos a uma segunda questão em Teoria do Conhecimento: qual seria a fonte e
o ponto de partida do conhecimento? De onde provêm as ideias, os conceitos e
representações? Ou seja, estudaremos o problema da origem do conhecimento.
Podemos dizer que as duas correntes �losó�cas que estudaremos neste ciclo –
racionalismo e empirismo – apresentaram a mesma �nalidade: abandonar a
pesquisa do “ser” e passar para a investigação do “conhecer”; porém, partiram
de premissas distintas no que diz respeito à origem do conhecimento.
Mas o que isto signi�ca? Signi�ca que estamos agora operando num nível di-
ferente do apresentado no ciclo anterior, e isso precisa �car bem entendido an-
tes de prosseguirmos. Lá a questão com a qual nos ocupávamos girava em tor-
no da possibilidade inicial de conhecer, enquanto que aqui estamos num nível
diferenciado, com efeito, após aceitar que o conhecimento é possível, quere-
mos saber como.
Mas meu juízo contém um elemento que não está na experiência. Meu juízo não diz
simplesmente que o sol bate na pedra e que ela, então, torna-se quente. Ele a�rma
que entre esses dois processos existe uma coerência interna, causal. A experiência
mostra que um processo segue-se ao outro. Eu adiciono o pensamento de que um
processo ocorre por meio de outro, é causado pelo outro. Meu juízo “o sol aquece a
pedra” exibe, pois, dois elementos, um deles proveniente da experiência, o outro
proveniente do pensamento. A questão, agora, é saber qual dos dois é decisivo. A
consciência cognoscente apóia-se de modo preponderante (ou mesmo exclusivo)
na experiência ou no pensamento? De qual das duas fontes do conhecimento ela
extrai seus conteúdos? Onde localizar a origem do conhecimento?
Como é possível perceber, Hessen principia sua re�exão com o juízo “o sol
aquece a pedra”, e a partir dele começa a especular sobre as origens do conhe-
cimento. Como sei que o sol aquece a pedra? Esta pergunta �ca implícita na
continuidade do argumento, à qual ele responde: pela experiência.
Hessen nota, entretanto, que seu juízo não é unicamente pautado na experiên-
cia (pelos sentidos do tato e da visão), já que há nele uma ideia de causa, a sa-
ber “se a pedra está quente é porque o sol a aqueceu”. Com isso ele quer nos
mostrar a existência de dois elementos: a experiência e o pensamento; experi-
ência pela percepção empírica do aquecimento da pedra e pensamento pela
dedução de uma coisa a partir da outra, ou seja, estabelece-se uma relação.
A pergunta sobre a origem do conhecimento humano pode ter tanto um sentido ló-
gico quanto psicológico. No primeiro caso, a questão tem o seguinte teor: psicologi-
camente, como se dá o conhecimento no sujeito pensante? No segundo caso: em
que se baseia a validade do conhecimento? Quais são seus fundamentos lógicos?
(HESSEN, 2003, p. 48).
A partir do debate das perguntas levantadas por Hessen, a saber, “como se dá
o conhecimento no sujeito pensante?”, e “em que se baseia a validade do co-
nhecimento?”, nos é permitido prosseguir para o reconhecimento das princi-
pais respostas formuladas na História da Filoso�a.
Antes de analisarmos mais de perto essas posições vejamos o que nos infor-
ma Moser, Mulder e Trout (2004, p. 112) sobre elas de forma geral:
• O que é racionalismo?
• Quais são suas características?
• Quem são seus representantes?
O que nos dizem as de�nições? Pois bem, podemos notar que tanto Hessen
quanto Bazarian são concordantes em a�rmar que o racionalismo é a doutrina
ou “ponto de vista” que concebe a razão (ratio, em latim) como fonte do conhe-
cimento, ou seja, o conhecimento segundo a concepção racionalista provém
da razão.
Mas o que signi�ca dizer que o conhecimento é fruto da razão? Como ele ocor-
re? Para responder estas perguntas devemos recorrer à relação entre sujeito e
objeto já examinada anteriormente.
Já possuímos, portanto, um ponto para nos apoiar, contudo ainda não su�ci-
ente, uma vez que outras perguntas acabam necessariamente surgindo, pois
se o conhecimento se origina na razão:
Para responder estas perguntas retornamos o diálogo com Hessen, que diz:
Ocorre algo assim quando, por exemplo, eu expresso o juízo “o todo é maior que a
parte”, ou “todos os corpos são extensos”. Em ambos os casos, percebo que deve ser
assim e que a razão estaria se contradizendo se quisesse a�rmar o contrário. E por-
que tem que ser assim, é assim sempre e em toda a parte. Esses juízos, portanto,
possuem necessidade lógica e validade universal.
Algo completamente diferente ocorre com o juízo “todos os corpos são pesados”, ou
“a água ferve a 100 graus”. Aqui, posso apenas julgar: “é assim”; todavia, de forma al-
guma, “deve ser assim”. Em si e por si mesmo, é perfeitamente pensável que a água
ferva a uma temperatura mais alta ou mais baixa. Do mesmo modo, não há qualquer
contradição em pensar num corpo que não possui peso, pois o conceito de corpo
não contém a nota característica de peso. Não há qualquer necessidade lógica asso-
ciada a esses juízos e falta-lhes, assim, a validade universal. Até hoje, podemos ape-
nas julgar que, até onde pudemos constatar, a água ferve a 100 graus e os corpos são
pesados. Esses juízos, portanto, só valem dentro de um campo determinado.
Mas por que será que isso acontece? Hessen (2003, p. 49) conclui:
Agora, antes de iniciar o próximo tópico, assista ao vídeo a seguir que também
aborda sobre o racionalismo.
5. Principais representantes do racionalismo
Dentre os autores racionalistas, estudaremos: Descartes, Malebranche e
Spinoza. Vejamos a seguir sobre cada um deles.
Se alguém quiser investigar a sério a verdade das coisas, não deve escolher uma ci-
ência particular: estão todas unidas entre si e dependentes umas das outras; mas
pense apenas em aumentar a luz natural da razão, não para resolver esta ou aquela
di�culdade de escola, mas para que, em cada circunstância da vida, o intelecto
mostre à vontade o que deve escolher. Em breve �cará espantado de ter feito pro-
gressos muito superiores aos de quantos se dedicam a estudos particulares, e de ter
obtido não só tudo o que os outros desejam, mas ainda coisas mais elevadas do que
as que podem esperar (DESCARTES, 1985, p. 13).
(https://mdm.claretiano.edu.br/teocon-g02627-2021-01-grad-ead-np/wp-
content/uploads/sites/813/2019/12/10.png)Fonte: Shovel, 2018.
Figura 2 Verdade e Pós-verdade (http://www.em-rede.com/site/internet-livre/p%C3%B3s-verdade-para-al%C3%A9m-
das-fake-news).
No entanto, resta uma questão: se corpo e alma não interagem entre si, bem
como a alma está isolada de todas as outras almas, como é possível então o
intelecto conhecer a verdade e as coisas externas? Retomando o neoplatonis-
mo de Plotino e de Agostinho de Hipona, Malebranche leva em consideração o
conhecimento das coisas através do princípio da participação na natureza di-
vina: de fato, a alma está separada de todas as coisas, mas, por conta de sua
natureza, ela possui uma relação direta e imediata com Deus, conhecendo,
portanto, todas as coisas não por si mesmas, mas por meio da “visão divina”,
da qual participa.
Todas as atividades da alma que nos parecem causar efeitos sobre o corpo são na
realidade, causas ocasionais, que agem tão somente pela e�cácia da vontade de
Deus. O mesmo pode-se dizer sobre as supostas ‘ações’ do corpo sobre a alma
(REALE; ANTISERE, 2005, p. 8).
Assista, também, ao vídeo a seguir, que trás outras contribuições para o enten-
dimento da teoria de Malebranche.
Baruch Spinoza (1632-1677)
Embora também racionalista, diverge de várias ideias da ética cartesiana. Ele
também concebe que o ser humano é constituído de corpo e alma, mas não o
considera a partir do dualismo de “substâncias” distintas. Para Spinoza,
Descartes criou uma ambiguidade ao propor o conceito de substância. Em
Princípios da Filoso�a, Descartes tinha a�rmado que, “quando concebemos a
substância, concebemos uma coisa que existe de tal maneira que só tem a ne-
cessidade de si própria para existir” (DESCARTES, 1997, p. 45). Ora, levando em
consideração essa de�nição, somente Deus (res in�nita) poderia ser então,
uma substância – e não mais o pensamento (res cogitans) e a matéria (res ex-
tensa), consideradas como criaturas. Para sair desta situação, Descartes apre-
sentou uma segunda de�nição de substância: são também substâncias aque-
las realidades criadas (tanto as pensantes como as corpóreas) que, para existi-
rem, “só têm necessidade do concurso ordinário de Deus”, diferentemente dos
atributos, que dependem de outras coisas criadas para existirem (DESCARTES,
1997, p. 45).
Embora a segunda de�nição sirva para resolver o problema criado pela pri-
meira, é inegável a ambiguidade em torno do conceito de substância: trata-se
daquilo que “depende” e, ao mesmo tempo, “não depende” de outra coisa para
existir. Ao perceber essa contradição conceitual, Spinoza conclui que a única
maneira de resolver essa aporia seria considerar a existência de uma substân-
cia só, de modo unívoco e radical, como causa sui (causa de si mesma): “por
substância compreendo aquilo que existe em si e que por si mesmo é concebi-
do” (SPINOZA, 2016, p. 13). Portanto, para o autor, só Deus pode ser causa de si
mesmo: “por Deus compreendo [...] uma substância que consiste de in�nitos
atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e in�nita”
(SPINOZA, 2016, p. 13).
Se Deus é a única realidade que pode ser identi�cada como substância, o que
seria então o pensamento e a matéria? Segundo Spinoza, pensamento e maté-
ria não seriam substâncias, mas atributos in�nitos de uma única substância:
“o atributo é aquilo que, da substância, o intelecto percebe como constituindo a
sua essência” (SPINOZA, 2016, p. 18). Na realidade, a substância (Deus) possui
in�nitos atributos constitutivos de sua essência; no entanto, a �nitude do inte-
lecto humano concebe apenas dois: o pensamento e a extensão (materialida-
de).
Também é interessante que você assista aos vídeos a seguir, que mencionam
o racionalismo de Spinoza:
6. Empirismo
Tal como o racionalismo, o empirismo vem tentar responder à questão sobre a
origem do conhecimento.
• “(Do grego, empeiría = experiência) Doutrina que a�rma que a única fonte
de nossos conhecimentos é a experiência, recebida pelos nossos senti-
dos” (BAZARIAN, 1994, p. 99).
• “O empirismo defende que todas as nossas ideias são provenientes de
nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato)”
(COTRIM, 1992, p. 67).
Nihil est in intellectu quod prius non feurit in sensu (nada existe no intelecto
que antes não tenha estado nos sentidos). Esta máxima empirista nos fornece
a primeira pista sobre o processo de conhecimento.
Como podemos notar, a ideia central é que para se conhecer algo é antes ne-
cessário experimentá-lo. Experiência aqui signi�ca um conhecimento obtido
por meio dos sentidos. Por exemplo, experimentamos uma cadeira quando por
intermédio dos meus sentidos estabelecemos contato com ela (vendo, pegan-
do, cheirando etc.).
Desta forma:
Com base nessas percepções, vai aos poucos formando representações e conceitos
gerais. Estas, portanto, desenvolvem-se organicamente a partir da experiência.
Seria inútil procurar por conceitos que já estivessem prontos no espírito ou que se
formassem independentemente da experiência. A experiência aparece, assim, co-
mo a única fonte de conhecimento (HESSEN, 2003, p. 55).
Como você pode notar, cada campo da ciência possui maior a�nidade com
certas doutrinas epistemológicas. E não se esqueça: a Filoso�a é o alicerce de
todo o saber humano.
Por exemplo, imaginemos que um biólogo cria a seguinte tese: “Todas as abe-
lhas possuem uma asa maior que a outra”. Para comprovar esta tese, de acor-
do com os empiristas, é preciso que primeiramente ele observe cuidadosa-
mente o máximo de abelhas possíveis, de diferentes espécies, lugares, climas
e sob condições diferentes etc.
Mas, após toda a nossa discussão, você pode estar se perguntando: e a razão,
qual é o papel da razão nesta esquemática toda? Segundo os empiristas, a ra-
zão teria unicamente o papel de organizar os conhecimentos obtidos pela ex-
periência.
Não tem o poder, mesmo o espírito mais exaltado ou entendido, mediante nenhuma
rapidez do pensamento, de inventar ou formar uma única nova ideia simples na
mente, que não tenha sido recebida pelos meios antes mencionados; nem pode ne-
nhuma força do entendimento destruir as ideias que lá estão [...]. Gostaria que al-
guém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou seu paladar, ou tentas-
se formar a ideia de um aroma que nunca cheirou; quando puder fazer isso, con-
cluirei também que um cego tem ideias das cores, e um surdo noções reais dos di-
versos sons (LOCKE, 1999, p. 63-64).
Existem apenas duas fontes para as ideias: 1) A sensação, cujo estímulo é ex-
terno, resulta da modi�cação feita na mente por meio dos sentidos; 2) A re�e-
xão, que se processa internamente, é a percepção interna que a alma tem da-
quilo que nela ocorre. Portanto, a re�exão �ca reduzida à experiência interna
do resultado da experiência externa produzida pela sensação.
Quanto ao que é dito da existência independente de coisas não pensantes sem ne-
nhuma relação com seu ser percebido, isso parece completamente ininteligível.
Seu esse est percipi [ser é percebido], e não é possível que tenham alguma existên-
cia fora da mente ou das coisas pensantes que as percebam (BERKELEY, 2010, p.
59).
Observe outra tirinha e identi�que como o “penso, logo existo” de Descartes di-
aloga como “ser é ser percebido” de Berkeley. Essa questão também não pode-
ria estar relacionada ao conceito de “sociedade do espetáculo” (https://brasi-
lescola.uol.com.br/videos/guy-debord-e-a-sociedade-do-espetaculo.htm) de
Guy Debord (1931-1994)? O que essa tirinha nos leva a pensar?
(https://mdm.claretiano.edu.br/teocon-g02627-2021-01-grad-ead-np/wp-
content/uploads/sites/813/2019/12/11.gif)Fonte: Macanudo, Folha de S. Paulo, Ilustrada E7, segunda-feira, 27
jul. 2009.
vestibulares.html).
Com isso, Hume põe um termo �nal sobre a questão das ideias inatas, pois o
indivíduo só pode ter ideias depois de ter impressões. Somente as impressões
são originárias; as ideias são sempre derivadas.
Desta forma, tais relações e princípios não podem ser observados como parte
da experiência, pois não pertencem aos objetos, mas sim a uma associação da
imaginação. As associações entre ideias (semelhança, contiguidade e causali-
dade) não existem nas coisas materiais; são apenas modos pelos quais se pas-
sa de um objeto a outro, de um termo a outro, de uma ideia particular a outra.
8. Considerações
Neste ciclo, estudamos as duas primeiras respostas quanto à origem do co-
nhecimento: racionalismo e empirismo. No próximo ciclo, veremos outras du-
as respostas: intelectualismo e apriorismo kantiano. Para compreender os
próximos conteúdos, você precisará saber os conceitos básicos do racionalis-
mo e empirismo. Caso tenha alguma dúvida, retome os conteúdos e entre em
contato com seu tutor.
(https://md.claretiano.edu.br/teocon-gs0031-
ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivos
• Compreender as tentativas de reconciliação do racionalismo e o empi-
rismo com o intelectualismo e o apriorismo.
• Conhecer a proposta intelectualista do conhecimento de Aristóteles e
Tomás de Aquino.
• Re�etir sobre a crítica kantiana a respeito das bases do racionalismo e
empirismo e sua proposta de síntese criticista.
Conteúdos
• Signi�cado do termo intelectualismo e sua história.
• O intelectualismo em Aristóteles e Santo Tomás de Aquino.
• A apriorismo kantiano como alternativa de mediação entre o racionalis-
mo e o empirismo.
Problematização
De que maneira o intelectualismo e o apriorismo kantiano continuaram com
o questionamento acerca da origem do conhecimento? Como os dilemas
existentes entre o racionalismo e o empirismo foram mediados ou reconcili-
ados com o intelectualismo e o apriorismo? Quais diferenças estão presentes
entre as abordagens intelectualistas e aprioristas?
Bons estudos!
1. Introdução
Neste ciclo, ainda continuaremos com as respostas que visam resolver o pro-
blema da origem do conhecimento: qual seria a fonte e o ponto de partida do
conhecimento? No entanto, abordaremos outras correntes �losó�cas que se
ocuparam de responder não somente a essa pergunta epistemológica, como
também propor uma mediação entre o racionalismo e o empirismo: a) o inte-
lectualismo (Aristóteles e Tomás de Aquino); b) apriorismo (Immanuel Kant).
Pronto(a) para mais essa etapa?
2. O que é intelectualismo
Intelectivo é o termo empregado para de�nir o intelectualismo, provem do la-
tim intellectus, que traduzido para o português signi�ca entendimento.
Mesmo que a forma de intelectualismo provenha dos gregos clássicos o termo
aparece no século 19 com Schelling, no diálogo Bruno, ou princípio natural e
divino das coisas, de 1802, contrapondo-o ao materialismo. Posteriormente
aparece nas obras Hegel.
Como explica Russelot (1999, p. 19), Santo Tomás destaca a inteligência em seu
ato “nous” e o inteligível em ato “noéton”. O intelectualismo é entendido como
doutrina que põe todo o valor, toda a intensidade da vida e a própria essência
do Bem (idêntico ao ser) no ato da inteligência.
A Idade Média nos deixou uma situação que ainda perdura entre os pensado-
res contemporâneos. Nesse momento histórico debate-se que o conhecimento
do Bem não é problema intelectual, mas sim, consiste em submeter-se à von-
tade de Deus que é onipotente e livre no que respeita à determinação do que é
bem ou mal.
3. Intelectualismo epistemológico
Gnosiologia
Platão, em 428 ou 427 a.C. descreveu a razão como o elemento que diferencia o
homem dos outros seres da natureza, explicando que a alma humana possui
capacidade intelectiva, a qual pertence ao mundo das ideias e é moldada pelo
Demiurgo segundo o “bem” e a “verdade”.
Abstração
Platão (2001) defende que a objetividade dos conhecimentos das ciências está
garantida pela existência de um mundo para além do individual, contingente
e transitório (um mundo para além das coisas particulares que nos rodeiam),
nesse mundo diferente estão os modelos, em forma de realidades objetivas e
universais, essências das coisas visíveis, imperfeitas e numéricas que povo-
am a terra, o qual ele denomina mundo das ideias.
Aristóteles (1987) rejeita a teoria das ideias de Platão explicando que o conhe-
cimento dos sentidos não pode ser descartado, uma vez que nos leva à consta-
tação da existência de seres individuais e que, só partindo da forma e da exis-
tência deles, podemos atingir sua essência.
Para Aristóteles, então, a substância (essência) não pode estar separada do ob-
jeto, como pensava Platão. Defende que é preciso diferenciar o essencial do
que é acidental no próprio objeto, desconsiderando a possibilidade da existên-
cia de um mundo separado – Mundo das ideias nos moldes da república de
Platão que contém as essências das coisas que existem no mundo físico. Sua
pesquisa envolve outra �nalidade porque, além de �lósofo, era biólogo, físico e
botânico.
Sabemos que Platão, para alcançar a contemplação das essências que segu-
ram as coisas individuais, utilizava a dialética, mas como Aristóteles explica
o processo de abstração das essências contidas nas coisas individuais?
Como você pôde ver em ciclos anteriores, para que seja possível o processo de
conhecer deve existir: o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível. Estes es-
tão ligados um ao outro e condicionam-se reciprocamente em uma relação de
correlação. Acrescentemos que, além disso, sempre estão unidos pela intenci-
onalidade, sem fundir-se um no outro no ato de conhecer: o sujeito apreende
os objetos, que é diferente dele e pela intencionalidade lhe confere existência
como objetum (o que está diante dele).
Observe que, pelos sentidos conhecemos o objeto em sua forma acidental (alto,
baixo, grande, pequeno, desta cor, com este cheiro), isto é, pela visão e audição
captamos o objeto como ele é, sem intermediações ou imagens. Por essa razão,
nesta primeira etapa se fala em intuição.
Formação do conceito
Nossos sentidos captam a dimensão material (cor, tamanho, forma extensa
etc.), mas este conhecimento não revela as qualidades inerentes do objeto.
Derisi (1985) compara esta forma de conhecer com uma correspondência fe-
chada, da qual conhecemos a existência, o tamanho, peso, a cor etc., mas não
apreendemos o conteúdo interno, que equivale à essência que universaliza o
indivíduo dentro da espécie.
1. para identi�cá-los escuto seu canto, nesse caso utilizo o aparelho auditi-
vo;
2. para apreender a cor e o tamanho, utilizo a visão;
3. para saber se é fêmea ou macho, utilizo a memória;
4. para sentir a suavidade das penas, utilizo o tato; em que seria necessário
também empregar a inteligência prática para caçá-lo.
5. Além disso, pela observação conheço as preferências alimentícias dos di-
ferentes pássaros que podem ser agrupados em: granívoros, frugívoros,
onívoros ou psitacídeos.
Temos por um lado o mundo das “coisas reais”. O mundo do que é real. Real
vem de res (coisa). As estruturas que o compõem, chamamos de categorias.
As categorias do mundo real são:
Agora se esses objetos são físicos, a mesa, o cavalo, a pedra têm localização no
espaço, tem categoria espacial.
Se fossem psíquicos, como ideias que estão no campo da consciência não teri-
am a categoria espacial.
Por outro lado os objetos físicos sejam químicos, biológicos etc., terão cada um
suas categorias regionais próprias.
Tais objetos matemáticos não são invenção do sujeito. Do quadrado não pode-
mos dizer que é um círculo porque possui seu próprio ser; do três (3) podemos
dizer que é um meio oito (8), mas nesse caso estamos nos referindo ao símbolo
que utilizamos para representá-lo, o número independe do símbolo para ser.
Estes objetos, ideais, diferente dos objetos reais que existem no tempo são
atemporais.
O rio pode desaparecer, a terra pode desaparecer, a vida inteligente pode desa-
parecer, mas em algum canto do universo existirá um quadrado, um círculo,
três objetos quaisquer. Os fatos físicos que determinam os objetos reais não al-
teram os ideais.
Você pode pensar: o que faz que a vaca seja vaca e não ave?
Nem o material com que está feita, nem o tamanho, a cor, nem chifres ou pe-
los, nem a quantidade de neurônios ou músculos, porque todos esses são aci-
dentes, o que a faz ser é a essência, e só nós somos capazes de conhecer as es-
sências porque possuímos um entendimento agente, como parte da inteligên-
cia.
A Inteligência é uma vida, é tudo que há na vida de mais perfeito. O ser é duplo: ma-
terial e imaterial. Pelo ser material, que é restrito enquanto que cada coisa é apenas
o que é, a pedra é pedra, e não mais. Pelo ser imaterial que é amplo, não é restringi-
do pela matéria, assim a coisa não é somente o que ela é, é também outros seres de
certa maneira (SANTO TOMÁS apud ROUSSELOT, 1999, p. 33).
5. Juízo realizado pela inteligência
No ato de conhecer, o objeto se faz presente como imagem e, partindo dela, a
inteligência apreende a essência, o universal. A imagem, que é um conceito
subjetivo que possibilita ao sujeito a apreensão do conceito objetivo, que cor-
responde ao objeto transcendente. A objetividade do conceito é mínima, mas
su�ciente para permitir ao intelecto agente a apreensão do objeto real. Com to-
dos esses elementos reunidos, a inteligência realiza o juízo.
Note que, para chegar ao conceito, a inteligência toma por abstração um as-
pecto essencial da realidade: consolida partindo de Platão e Aristóteles o con-
ceito de homem. Assim como diferentes uniões de metais com distintos ca-
racteres particulares participam do conceito de mineral.
Raciocínio
O raciocínio resulta da comparação de dois ou mais juízos para concluir uma
nova verdade. Desse modo, o raciocínio para alcançar a verdade pode ir:
Assim como todo conceito termina em um juízo, todo raciocínio também cul-
mina em um juízo.
O tipo superior de ato intelectual é uma intelecção simples. O tipo ideal de in-
telecção simples é a apreensão superior. Nossas ideias das essências materi-
ais são o objeto da nossa inteligência aqui e agora (ROUSSELOT, 1999, p. 86).
Note que foi colocada a palavra entendimento e não intelecto para evitar con-
fusão com o modelo empirista de Locke (2007), no qual o entendimento não
supera o modelo dado pelos sentidos.
Somente em função do ser sensível a inteligência unida aos órgãos pode represen-
tar seja o ser geral, seja o ser supra-sensível. Nosso conhecimento natural se esten-
de tão longe quanto o conhecimento sensível o guiará. [...] Os princípios racionais e
conceitos gerais são adquiridos com a ajuda dos sentidos (ROUSSELOT, 1999, p.
86-87).
Mas, se o objeto e o sujeito são dois elementos diferentes, que garantia temos
de que o conhecimento corresponde com o que é verdadeiro e, portanto, não se
trata de uma “miragem”?
Derisi (1985, p. 55) diz que: “Conhecer não é representar, é apreender um objeto
distinto do sujeito. O objeto no ato de conhecer primeiro é cogitatum e logo por
re�exão é lógico”.
8. Intelectualismo metafísico
Gilson (1987) explica que a fórmula de Parmênides: “Não há nada nos sentido
que não esteja no intelecto e não há nada no intelecto que não tenha passado
antes pelos sentidos”, sem o componente “errantes”, foi reproduzida por Santo
Tomás em De Intellectu. Onde explica que a primeira parte da máxima: “Não
há nada nos sentido que não esteja no intelecto” corresponde com a realidade
dos anjos e a segunda: “não há nada no intelecto que não tenha passado antes
nos sentidos” com a realidade cognitiva dos homens.
Com base nas ideias de Santo Tomás, notamos como a inteligência abstrai o
ser ou essência (conceito) da realidade material percebida pelos sentidos
(phantasma). Essa imagem do ser material que provém dos sentidos (phantas-
ma) e é assumida pela capacidade abstrativa da inteligência (o entendimento
agente) que a separa das realidades individuais, criando uma imagem abstra-
ta (sem características individuais) e universal, a qual caracteriza todos os in-
divíduos dessa classe. Esta imagem em que a essência está despojada dos aci-
dentes individuais (como conceito) continua correspondendo �elmente ao ob-
jeto transcendente (percebido pelos sentidos), cujo processo de veri�cação é
possível no juízo que, por sua vez, identi�ca e separa os conceitos e cuida para
que estejam de acordo com a realidade. Alcançar a verdade é possível na a�r-
mação ou negação que o juízo realiza do conceito.
Observe que esse processo cognitivo leva adiante a inteligência e está caracte-
rizado pelo aspecto de absoluto, à medida que a verdade sobre a realidade não
vale só para o sujeito cognoscente; a verdade, que a inteligência abstrai do da-
do sensitivo, vale incondicionalmente.
O ponto central para Santo Tomás; qual é a potência mais nobre: a inteligência ou a
vontade? Eram problemas que os escolásticos se punham explicitamente, e, ao
mesmo tempo que suas respostas a essas questões os classi�cavam em
intelectualistas ou voluntaristas. Há na escolástica uma questão principal, podia-se
quase dizer única: a da conquista do ser.
Na sequência, assista aos vídeos a seguir e amplie ainda mais seus conheci-
mentos:
9. O apriorismo: Immanuel Kant
Da mesma forma que o intelectualismo, o apriorismo também considera a ex-
periência e o pensamento como fontes do conhecimento, no entanto, se distin-
gue do intelectualismo porque desconsidera a expressão nihil est in intellectu
quod prius non fuerit in sensu (nada está no intelecto, que não tenha passado
pelo sentido). De acordo com Hessen (2000, p. 62), “nosso conhecimento apre-
senta, como o nome dessa tendência já diz, elementos que são a priori, inde-
pendentes da experiência”. Com isso, o apriorismo não acredita que todos os
conceitos procedem originariamente da experiência, mas também do pensa-
mento.
Dessa maneira, �ca evidente para Kant que o conhecimento cientí�co não po-
de provir, nem tão somente do racionalismo (juízos analíticos a priori), nem
unicamente do empirismo (juízos sintéticos a posteriori). É preciso, então,
achar outra forma de juízo que não seja unilateral, que quebre com a polariza-
ção e diminua o “abismo” existente entre racionalismo e empirismo.
Olhando para esses dois tipos de juízos existentes na história, Kant concluiu
que a ciência só poderia sair desse problema criado entre racionalismo e em-
pirismo se existisse um terceiro tipo de juízo. Com isso, apresenta como solu-
ção o juízo sintético a priori.
Mas, o que são os juízos sintéticos a priori? Segundo Kant, são juízos que, ao
mesmo tempo, unem a universalidade e necessidade dos juízos analíticos
com a sinteticidade ampli�cadora de conhecimento dos juízos sintéticos a
posteriori. Neste sentido, os juízos sintéticos a priori:
Como posso chegar a dizer daquilo que acontece em geral algo completamente dis-
tinto e reconhecer que o conceito de causa, embora não contido no conceito do que
acontece, todavia lhe pertence e até necessariamente? Qual é aqui a incógnita X
em que se apoia o entendimento quando crê encontrar fora do conceito A um predi-
cado B, que lhe é estranho, mas, todavia, considera ligado a esse conceito? Não po-
de ser a experiência, porque o princípio em questão acrescenta esta segunda repre-
sentação à primeira, não só com generalidade maior do que a que a experiência po-
de conceder, mas também com a expressão da necessidade, ou seja, totalmente a
priori e por simples conceitos (KANT, 2001, p. 71).
Em cada uma das faculdades, Kant identi�ca formas sintéticas a priori especí-
�cas:
Se, porém, todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que to-
do ele derive da experiência. Pois bem poderia o nosso próprio conhecimento por
experiência ser um composto do que recebemos através das impressões sensíveis
e daquilo que a nossa própria capacidade de conhecer [...] produz por si mesma [...].
Denomina-se a priori esse conhecimento e distingue-se do empírico, cuja origem é
a posteriori, ou seja, na experiência (KANT, 2001, p. 62-63).
Pelas condições da nossa natureza a intuição nunca pode ser senão sensível, isto é,
contém apenas a maneira pela qual somos afetados pelos objetos, ao passo que o
entendimento é a capacidade de pensar o objeto da intuição sensível. Nenhuma
destas qualidades tem primazia sobre a outra. Sem a sensibilidade, nenhum objeto
nos seria dado; sem o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem
conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas. Pelo que é tão necessário
tornar sensíveis os conceitos (isto é, acrescentar-lhes o objeto na intuição) como
tornar compreensíveis as intuições (isto é, submetê-las aos conceitos). Estas duas
capacidades ou faculdades não podem permutar as suas funções. O entendimento
nada pode intuir e os sentidos nada podem pensar. Só pela sua reunião se obtém
conhecimento (KANT, 2001, p. 115).
10. Considerações
Neste ciclo, estudamos duas outras respostas que compõem o problema da
origem do conhecimento: o intelectualismo e o apriorismo. Como observado,
as duas propostas tentam mediar ou conciliar os extremos defendidos pelo ra-
cionalismo e pelo empirismo.
ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivos
• Veri�car a questão da essência do conhecimento e as teorias que, histo-
ricamente, tentaram responder a esse problema.
• Re�etir sobre os conceitos e critérios da verdade.
• Conhecer as críticas ao conhecimento abstrato em Schopenhauer.
• Analisar os limites do conhecimento nas propostas de Schopenhauer e
Nietzsche.
• Compreender as críticas de Nietzsche ao problema moral do conheci-
mento.
Conteúdos
• O problema da essência do conhecimento.
• Conceito e critério de verdade.
• Representações intuitivas e abstratas em Schopenhauer: relação e limi-
tes.
• Nietzsche e o problema da verdade: moralismo e perspectivismo.
Problematização
O que se entende por essência do conhecimento? O que é a verdade e quais
são os seus critérios? Quais novidades Nietzsche e Schopenhauer apresen-
tam na Epistemologia contemporânea? Qual o papel crítico da vontade no
conjunto das diversas teorias do conhecimento? De que forma Nietzsche uti-
liza sua genealogia da moral no âmbito da Epistemologia?
1. Introdução
Nesse último ciclo de aprendizagem, abordaremos três pontos: primeiro, estu-
daremos o derradeiro problema epistemológico, acerca da essência do conhe-
cimento, bem como as possíveis respostas oferecidas a essa questão (objeti-
vismo, subjetivismo, realismo, idealismo e fenomenalismo); segundo, passare-
mos rapidamente pela questão do conceito e critérios da verdade no campo da
Epistemologia; terceiro, apresentaremos dois críticos do conhecimento per-
tencentes à corrente �losó�ca do voluntarismo: Schopenhauer e Nietzsche.
• Por meio de "soluções pré-metafísicas", que optam por não fazer referên-
cia ao estatuto ontológico do sujeito e do objeto, identi�cadas por corren-
tes �losó�cas como: objetivismo e subjetivismo.
• Através de "soluções metafísicas", que fazem uso do caráter ontológico
na discussão do problema, identi�cadas pelas seguintes linhas �losó�-
cas: realismo, idealismo e fenomenalismo.
Soluções pré-metafísicas
Dentro das soluções pré-metafísicas acerca do problema da essência do co-
nhecimento, podemos identi�car duas formas: objetivismo e o subjetivismo.
Soluções metafísicas
Como já mencionado, as soluções pré-metafísicas não são as únicas maneiras
de responder ao problema da essência do conhecimento. Fazendo uso do cará-
ter ontológico do sujeito e do objeto, com soluções tipicamente metafísicas, o
problema da essência do conhecimento pode ser visto de três formas: o realis-
mo, o idealismo e o fenomenalismo.
Realismo
Idealismo
No primeiro caso, o realismo a�rma que as coisas não são mais que percep-
ções da consciência subjetiva. É subjetivo porque o conhecimento do sujeito é
caracterizado a partir de suas sensações, ou seja, as percepções sensíveis que
cada indivíduo possui. A forma como determinado sujeito percebe um objeto é
diferente da forma como outro o experimenta, pois a percepção de cada um
acerca dos objetos não é igual.
Fenomenalismo, ou Criticismo
Nossa razão vê, entretanto, da mesma forma, ao redor de si, um espaço para o co-
nhecimento das coisas em si mesmas, se bem que nunca possa ter delas conceitos
determinados e se limite apenas a fenômenos (1980, p. 76).
3. A crítica do Voluntarismo
Ao longo de nossos estudos, observamos o quanto a Filoso�a valorizou teorias
fundadas na racionalidade, nos dados da experiência, no idealismo metafísi-
co, na objetividade antimetafísica etc. Os autores do voluntarismo,
Schopenhauer e Nietzsche, no entanto, escapam da polaridade sujeito-objeto e
formalizam suas teorias em direção contrária: não é a razão, não é a experiên-
cia, muito menos o apriorismo que governa a busca pelo conhecimento, mas
sim a vontade.
Nesse sentido, Schopenhauer e Nietzsche promovem uma reviravolta na
Teoria do Conhecimento e apresentam questionamentos que redimensionam
o que se imaginava saber sobre a possibilidade, origem e essência do conheci-
mento.
Vemos, pois, que DE FORA jamais se chega à essência das coisas. Por mais que se
investigue, obtên-se tão somente imagens e nomes. Assemelhamo-nos a alguém
girando em torno de um castelo, debalde procurando sua entrada, e que de vez em
quando desenha as fachadas. No entanto, este foi o caminho seguido por todos os
�lósofos que me antecederam.
Esta revolução no ponto de vista do conhecimento irá abrir caminho para �loso�as como a
de Nietzsche e para a psicanálise de Freud, apesar deste, provavelmente, não ter conhecido
a obra schopenhaueriana antes de elaborar suas teorias sobre a psique humana, reconhece
apenas que o aparelho repressivo já havia sido elucidado por Schopenhauer antes dele
(Conf. EAGLETON, 1993).
O corpo humano visto de fora não passa de uma REPRESENTAÇÃO como qual-
quer outra. Mas compreendido por dentro se revela como elo de uni�cação en-
tre a VONTADE e a REPRESENTAÇÃO. Segundo Batalha (1968, p. 185):
O ato voluntário e a ação do corpo não são dois fenômenos objetivos diferentes, li-
gados pela causalidade: não estão entre si na relação de causa e efeito. Constituem
um só e mesmo fato, que se apresenta de duas maneiras: de um lado imediatamen-
te; de outro, como representação sensível. A ação do corpo é o ato da vontade objeti-
vado, isto é, visto na representação. O corpo é a vontade objetivada, isto é, tornada
perceptível. Sob o ponto de vista da representação, o corpo é o objeto imediato; sob o
novo ponto-de-vista, é objetivação da vontade. A vontade é o conhecimento a priori
do corpo; o corpo é o conhecimento a posteriori da vontade.
Essa conclusão analógica revela que: se de um lado o meu corpo aparece co-
mo representação, e do outro como vontade, todas as outras coisas que conhe-
ço na representação são do outro lado, ou, em si mesmas, vontade. Portanto,
Schopenhauer (2005) propõe que o mundo como representação só encontra
seu sentido interno se compreendemos o seu outro lado, em que se apresenta
como vontade.
As representações de ordem abstrata não formam senão uma só classe, a dos con-
ceitos, apanágio exclusivo dos homens deste mundo: a faculdade, que ele possui, de
formar noções abstratas e que o distingue dos outros animais é a razão. [...] As re-
presentações intuitivas compreendem todo o mundo visível, ou a experiência em
geral, com as condições que a tornam possível – tempo e espaço; reveladas pela in-
tuição a priori, representam as leis de toda experiência possível e, ao mesmo tem-
po, os princípios da pluralidade e da diferenciação.
[...] veri�ca-se que espaço, tempo e causalidade indicam apenas uma �gura do prin-
cípio de razão, a do devir. “Devir” porque se trata da construção dos objetos da efeti-
vidade, em constante mudança (BARBOZA, 2006, p. 36).
[...] rege a terceira classe de objetos para o sujeito, a parte formal das representa-
ções, as intuições a priori das formas do sentido externo e interno, isto é, o espaço e
o tempo, que [...] formam, ao lado da causalidade, o princípio de razão do devir.
Neste contexto, espaço e tempo são tomados isoladamente, sem referência à sua
aplicação às intuições. De tais formas resultam leis que traduzem a necessidade e a
universalidade da aritmética e da geometria. [...] O espaço é secundário em relação
ao tempo, pois este é a forma primária do ser-consciente, é a forma do sentido in-
terno, onde o sentido do mundo se constitui. Isto se traduz nas vezes em que a pró-
pria geometria precisa ser temporalizada e suas �guras são traduzidas em fórmu-
las numéricas (BARBOZA, 2006, p. 37).
Por meio dessa nova faculdade, ou seja, da razão, torna-se o homem, um ser
atemporal, que pode executar racionalmente projetos para o futuro, conservar
informações do passado e até mesmo “dissimular” e apresentar-se de maneira
diversa do que realmente é. Os motivos que movimentam a vontade humana
podem aparecer in abstracto vários de uma só vez em sua consciência, e ape-
nas por essa razão o homem traz para a consciência o fato de que um motivo
exclui o outro.
Os conceitos permitem apenas pensar, não intuir, e tão somente os efeitos que o ho-
mem produz por eles são objetos da experiência propriamente dita. É o caso da lin-
guagem, da ação planejada e re�etida, da ciência e de tudo que delas resulta. A fala,
como objeto da experiência externa, manifestamente não é outra coisa senão um
telégrafo bastante aperfeiçoado que comunica sinais arbitrários com grande rapi-
dez e nuances sutis. Que signi�cam, porém, semelhantes sinais? Por acaso, quando
alguém fala, traduzimos o seu discurso instantaneamente em imagens da fantasia,
que voam e se movimentam diante de nós com rapidez relâmpago, encadeadas,
transformadas e matizadas de acordo com a torrente das palavras e suas re�exões
gramaticais? Que tumulto, então, não ocorreria em nossa cabeça durante a audição
de um discurso ou a leitura de um livro! Mas de modo algum se passa dessa forma.
O sentido do discurso é imediatamente intelectualizado, concebido e determinado
de maneira precisa, sem que, via de regra, fantasmas se imiscuam. É a razão que
fala para a razão sem sair de seu domínio, e o que ela comunica e recebe são con-
ceitos abstratos, representações não intuitivas, as quais, apesar de formadas uma
vez pra sempre e em número relativamente pequeno, abarcam, compreendem e re-
presentam todos os incontáveis objetos do mundo efetivo.
No entanto, cabe destacar que, temos que ter em mente que a razão abstrata
não lida com a “verdade” propriamente dita. A ciência não nos oferece certeza
maior que a intuição. Como comenta Pernin (1999, p. 67):
As ciências apresentam um encadeamento de conhecimentos que vai do geral ao
particular, partindo dos princípios para descer até as consequências. Elas são pois
tanto mais perfeitas quanto mais seus princípios são subordinados uns aos outros,
ao invés de serem simplesmente coordenados; desse modo, é claro que o verdadeiro
�m da ciência não é a certeza mas a disposição ordenada, favorecendo o reagrupa-
mento dos conhecimentos de maneira exaustivas. A ciência abrevia, classi�ca e or-
dena os conhecimentos de acordo com a razão.
[...] um conceito possui generalidade não porque é abstraído de muitos objetos, mas,
ao contrário, justamente porque a generalidade, ou seja, a não determinação do par-
ticular, é essencial ao conceito como representação abstrata da razão, apenas por
isso podem diversas coisas ser pensadas mediante um mesmo conceito
(SCHOPENHAUER, 2005, p. 89).
Como os conceitos são abstratos, não intuitivos e sempre gerais, eles podem
ser representados por uma circunferência. Veja a seguir como Schopenhauer
apresenta as relações entre os conceitos utilizando as esferas.
Essas podem ser esferas intercambiáveis, como os conceitos de necessidade e con-
sequência, que seriam representados na seguinte esfera:
Pode, também, uma esfera encerrar duas ou mais esferas, que se excluem e ao mes-
mo tempo preenchem a esfera. Por exemplo:
Uma esfera também pode estar contida parcialmente em outra. Por exemplo:
Duas esferas conceituais, sem comunicação aparente, também, podem estar conti-
das em uma terceira que, embora frequentemente muito extensa as encerra. Para
representá-las teríamos a seguinte �gura:
Podemos ainda combinar essas �guras de modo diverso, por exemplo, a quarta �-
gura com a segunda (adaptado de SCHOPENHAUER, 2005, p. 90-91).
A virtude é tão pouco ensinada quanto o gênio; sim, para ela o conceito é tão infru-
tífero quanto para a arte e em ambos os casos deve ser usado apenas como instru-
mento. Por conseguinte, seria tão tolo esperar que nossos sistemas morais e éticos
criassem caracteres virtuosos, nobres e santos, quanto que nossas estéticas produ-
zissem poetas, artistas plásticos e músicos (SCHOPENHAUER, 2005, p. 353-354).
Isso nos mostra como Schopenhauer estabelece as possibilidades e limites
para o conhecimento. Trata-se, na realidade, de uma crítica contundente às
pretensões da razão (ao otimismo hegeliano em especial).
Esse deslocamento temático, que acaba por fundar a Filoso�a Moderna, não
acontece à revelia. Antes, conforme explica Fogel (2002), ele está alicerçado
numa compreensão e interpretação caracteristicamente moderna que pressu-
põe que toda a realidade possível se faz e precisa se fazer como ou a partir da
bipartição entre sujeito e objeto, corpo e alma, homem e mundo.
Para ele [Nietzsche], não resta dúvida de que, herdeiros dos progressos do
Iluminismo, julgamo-nos liberados das cadeias da ignorância e da superstição.
Con�antes nas possibilidades advindas da utilização industrial da ciência e da téc-
nica, estamos certos de poder descobrir todos os segredos do universo e construir
uma sociedade expurgada de todas as formas de opressão, violência, exploração.
A�nal, somos devotos do deus Logos, con�antes em sua onipotência. Nietzsche, po-
rém, meditou sobre o lado obscuro, as conseqüências que poderiam resultar do oti-
mismo desenfreado embutido nessa convicção. Esse otimismo representa, para ele,
a face resplandecente de um avesso sombrio: o mesmo progresso conduz inexora-
velmente à exaustão dos valores herdados da tradição, à sua impossibilidade de
dar sustentação a futuros projetos viáveis, no campo quer do conhecimento, quer
da ética, quer da política.
A re�exão sobre a ciência, isto é, uma investigação sobre as questões a�ns do co-
nhecimento, do pensamento, do intelecto, da razão, da consciência, do conceito, da
verdade, encontra-se no âmago da �loso�a de Nietzsche. Tema constante de seus
estudos, dos primeiros aos últimos textos, a presença desta problemática não indi-
ca, porém, a elaboração de um conceito de ciência. Situando-se em uma perspecti-
va tão global que, na maioria das vezes, não estabelece uma diferença essencial en-
tre a racionalidade �losó�ca clássica e a racionalidade cienti�ca moderna, o que
interessa a Nietzsche é realizar uma crítica radical do conhecimento racional tal
como existe desde Sócrates e Platão. Se não existe em Nietzsche propriamente uma
questão epistemológica, se ele formula uma recusa de uma teoria do conhecimento,
é porque o problema da ciência não pode ser resolvido no âmbito da própria ciên-
cia. Em outras palavras, não tem sentido criticar a ciência em nome ou a partir da
ciência, visando seu aperfeiçoamento, ao estabelecimento de uma verdade cada
vez mais cientí�ca. A ciência, considerada pela primeira vez como problemática,
suspeita, questionável, foi o problema novo, terrível e apavorante tematizado por
Nietzsche.
Justamente por isso foi dito no início deste tópico quão questionável pode ser
a a�rmação sobre a existência de uma Teoria do Conhecimento em Nietzsche,
uma vez que em sua acepção, sobretudo moderna, a Teoria do Conhecimento
vem realizar um ideal de verdade que possui o conhecimento como seu ponto
de partida e chegada, isto é, seu interesse nunca poderá ultrapassar o próprio
conhecimento, tampouco poderá por em xeque sua estrutura fundamental co-
mo a bipartição da realidade entre sujeito e objeto, por exemplo.
Não temos nenhum órgão para o conhecer; para a "verdade": nós "sabemos" (ou cre-
mos, ou imaginamos) exatamente tanto quanto pode ser útil ao interesse da grege
humana, da espécie [...] (NIETZSCHE, 2001, p. 250).
6. Considerações
As considerações especí�cas deste ciclo se voltaram para a apresentação da
questão da essência do conhecimento, bem como sobre autores que funda-
mentaram suas teorias sobre o conceito de "vontade". Esperamos que tais con-
tribuições possam ressoar signi�cativamente no término desta disciplina.
Retome os principais temas dos ciclos e tire suas dúvidas com o seu tutor.
7. Considerações �nais
Chegamos ao �m dos estudos da disciplina Teoria do Conhecimento.
Todavia, a busca pelo conhecimento nos conduz a caminhos diversos que po-
dem suscitar novos aprendizados e práticas que, posteriormente compartilha-
dos, enriquecem o aluno e o professor. No anseio de que as atividades e as su-
gestões contemplem a valorização do conhecimento, a autonomia da aprendi-
zagem e a satisfação dos educandos, desejamos a você bons estudos!