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Ancestral Do Futuro
Ancestral Do Futuro
Ancestral Do Futuro
-"Para a maioria dos ocidentais que buscam entender e se beneficiar de práticas religiosas
que, em sua maior parte, perderam-se após a Revolução Industrial e Cartesiana, é uma armadilha
fácil pensar que Sabedoria Mística é coisa dos Antigos. Outra armadilha mais fácil ainda é
pensar que só se identificando ou achando os textos, as orações, os oferecimentos em suas
formas e linguagem absolutamente originais, nós poderemos esperar reproduzir os resultados
místicos que eram comuns entre povos que viveram à milhares de anos atrás. Pensar e agir assim
é, realmente, uma armadilha e significa enveredar por uma rua de mão única em direção a um
destino inatingível! Esta armadilha é armada por preconceitos culturais e por aqueles que
precisam se sentir "melhor" do que os outros membros da raça humana"-.
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Desde cedo, eu experimentei junto a mim a "presença" do Orisa Orunmila, ao qual hoje sou
devotado. Mas, sentia-me confuso quanto a isso especialmente quando me achava entre
espiritualistas meus confrades e com eles discutia a essência de nossa própria forma de louvação
bem brasileira aos Orixás: a Umbanda Esotérica.
Freqüentemente, nesses momentos, quando eu respeitosamente questionava meus maiores
com relação às origens de certos rituais dos Orixás cultuados na Umbanda Esotérica,
paradoxalmente eu esbarrava em um forte preconceito cultural anti-africano, o qual classificava
tais origens pejorativamente como "africanismo" e que era mais sucintamente expressado pelo
pensamento de que os conhecimentos africanos estavam 300 anos fora de sintonia e que, agora,
éramos "nós" os que atualmente detinham os reais segredos do poder místico.
E a origem desta minha interrogação era que o nome do Orisa Orunmila Ifa não estava
incluído dentre os sete nomes principais que atribuíamos aos Orixás Ancestrais na Umbanda
Esotérica: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xango, Yemanjá, Yori e Yorimá.
Tal relação de nomes hierárquicos era a honrada convicção daquele grupo a aquele tempo e
tudo em nome de uma Sabedoria que consideravam mais antiga ainda do que a Africana: a
Sabedoria Esotérica. Eu acabava por me conformar com tal "convicção", mas sentia-me um
prisioneiro no quarto fechado do conhecimento alheio. Um dia rebelei-me espiritualmente contra
tudo e todos! Decidi iniciar minha própria jornada à procura de conhecimentos, mas não tinha
parâmetros definidos.
Eu só tinha dúvidas que me atormentavam:
Por que um Orisa que não era cultuado na Umbanda Esotérica "gritava" em minha cabeça
tradições que não eram as de meus ancestrais raciais?
Por que um adivinho que não era da religião afro-brasileira, afirmara que eu era um Babatunde
(um Pai que retornou), sem que nenhum de nós dois soubéssemos, à aquela época, o que tal
palavra significava?
Por que uma Entidade Espiritual da Umbanda, insistia que eu fosse submergido na Eerupee, a
Lama, quando nenhum de meus mestres conhecia um tal ritual?
Então, em minha jornada que pensei solitária, pois, na verdade, eu estava sendo guiado por
mestres espirituais desencarnados, deparei-me novamente com um aforisma esotérico que antes
me parecia banal: conhece a ti mesmo!
E, desta vez, fez-se luz em minha mente: como eu poderia conhecer o mistério dos Orixás
se eu não havia ainda decifrado o enigma de mim mesmo?
A reflexão sobre este ponto fez-me assumir o problema de minha própria alteridade bem
brasileira: se eu acreditava na reencarnação, tinha que assumir que dentro de mim eu carregava
as marcas do destino de meus antepassados índios espoliados, de negros escravizados e de
brancos opressores! No entanto, eu aceitara como verdadeira a supremacia da herança espiritual
helena-semítica, consubstanciada na Sabedoria Esotérica, em detrimento de todas as outras.
E esta minha jornada à procura de conhecimentos levou-me a explorar, descobrir e assimilar
as convicções de raiz das etnias africanas Bantu e Sudanesa, bem como também as convicções
de raiz da raça Tupi-Guarani brasileira e as dos Egípcio-Heleno-Semita que realmente compõem
os Três Pilares da Umbanda Esotérica, constituindo-se na Filosofia das Forças Vitais da
Natureza.
E, assim, eu que já era um Mestre de Linha da Umbanda, forjei-me também em Babalawo,
Pajé e Místico Esotérico!
Foi então que pude preencher a lacuna da existência do Orisa Orunmila Ifa na Umbanda
Esotérica por compreender que sob a denominação de "Yorimá", o qual, neste credo, é "patrono"
da Falange dos "Pretos-velhos", primeiramente existia a figura do Orisa Obaluaiye, o Senhor da
Terra da Vida, e, acima dele, a do Orisa Orunmila Ifa, o Senhor dos Destinos Humanos.
Da mesma forma, a denominação "Yori" atribuída à Falange das "Crianças" da Umbanda e
cujos "patronos" são São Cosme e São Damião, havia eclipsado os Gêmeos Sagrados Ibeji,
chamados Taiwo e Kehinde! Também os Ere e os Tobossi africanos haviam sido sincretizados
no terceiro gêmeo africano - Idowu - aquele que, na Umbanda, é conhecido por "Doum"!
Axé! Eu havia realizado minha própria síntese esotérica!
A partir dessa síntese, confirmei a mim próprio o que já presentia: que em termos de
Umbanda Esotérica, as denominações Tupan, Zambi, Olorun e Jeovah são nomes diferentes nos
quais diferentes raças expressam o mesmo conceito de Deus Único, Onipotente e Onipresente!
E quer os chamemos por Guaracy, Yacy e Rudá - Xangô, Yemanjá e Yori - São Gerônimo,
N.S. da Conceição e São Cosme e São Damião, todos são Seres Espirituais de Origem Divina
para os que assim os chamam e que todos eles, incluídos os demais restantes, eu posso agrupar
sob a denominação genérica e atual de Orixás Ancestrais, sem com isso estar ofendendo, por
diminuir ou engrandecer, nenhuma corrente religiosa. O ponto de semelhança entre eles é
inquestionável em sua grandeza: Deus!
Passou-se o tempo e, nos dias atuais, eu esperava que todos nós praticantes da Filosofia das
Forças Vitais da Natureza já tivéssemos crescido em conhecimentos e que, após 30 anos,
pudéssemos enfocar as semelhanças básicas daquilo em que cada um acredita e desta forma ter
respeito pelas diferenças críticas em nossas práticas religiosas individuais.
Mas, a pouco tempo atrás, eu senti, melhor dizendo, eu li, nas palavras de um Ifa Babalawo
altamente educado e respeitado, missionário africano baseado na Califórnia - EUA, quase o
mesmo antigo preconceito cultural que havia tentado me enjaular no passado, só que em sentido
inteiramente oposto.
Em sua honrada convicção, ele generosamente estendia sua mão aos descendentes daqueles
que haviam sido exilados de suas pátrias pela diáspora da escravidão, expressando em forma de
parábola a convicção de que o conhecimento místico atual das religiões de origem Afro, na
América do Norte e América Latina, era como "águas barrentas": este conhecimento místico
tinha tido seu valor na sustentação da crença nos Awon Orisa no período de provações, mas
agora era dispensável porque, através daquele que assim se expressava e de seus confrades, todos
poderiam beber a "água límpida" da Antiga Sabedoria Africana.
Esta é a honrada e generosa convicção daquele Babalawo e seus confrades. Mas, após quase
400 anos de sangue, suor e lágrimas para ter o direito de expressar livremente nossas crenças
religiosas neste Brasil, não pude aceitar a implicação, subentendida em suas palavras, de que as
convicções de cunho exclusivamente africano são as únicas de real valor ou sabedoria.
E, então, meditando sobre todos esses desencontros espirituais, passados e presentes,
operou-se em mim nova síntese suplementar: eu resolvi, sem abrir mão dos títulos de Mestre
Itaoman e o de Babalawo Babatunde por mim conquistados na Umbanda Esotérica, adotar os
simples nomes espirituais de Oberefun Si Okojumide (Yoruba) e Piron (Tupi-Guarani) e que me
foram outorgados e mandados usar por meus Mestres Espirituais como sêlos de proteção e
penhor de perdão alcançado por meus erros passados, através de meus méritos passados,
presentes e futuros.
O primeiro nome - o africano - me foi revelado num Jogo de Búzios por um "Preto Velho",
Pai Vicente de Angola (etnia Bantu), mas é expresso em Yoruba (etnia Sudanesa) significando
"Aquele que rezava para o navio aportar logo", tamanho fôra seu sofrimento e horror a bordo do
navio negreiro, horror e sofrimento estes que foram comuns a todos na Diáspora.
Louvo aqui àquele Babalawo que "A da Ifa fun" ou "criou Ifá para mim" naquele Jogo de
Búzios, o mais correto e imparcial que já ví em toda minha vida.
O segundo deles - o indígena - significando "Falcão", revelou-me diretamente meu Mestre
Xamânico Espiritual Caboclo Pedra Preta, em uma visão astral na contra-partida espiritual de
nossa Cachoeira Sagrada na "Terra da Pedra da Cruz de Fogo", que é o que significa o topônimo
"Itacuruçá", cidade berço e sede da T.U.O. - Tenda Umbandísta Oriental aonde pontificou meu
Mestre Yapacani na Corrente das Santas Almas Benditas do Cruzeiro Divino.
Adotei-os porque eles representam a angústia e o desespêro, mas também toda esperança
daqueles que tiveram de fazer a longa travessia do oceano para serem escravizados em terras
estranhas e aí aprender e aceitar as individualidades religiosas ancestrais de cada grupo étnico já
aqui existentes, também massacrados e espoliados de seus direitos, mesclando seus conceitos
espirituais em uma nova forma religiosa momentânea que lhes desse um ponto de resistência
comum, transformando-a assim em semente de sobrevivência espiritual para seus descendentes.
E assim o fiz porque senti que em ambos os casos anteriormente relatados, separados por
quase 30 anos, a fraqueza humana que precisa sentir que o seu próprio modo é o melhor ou o
único modo, diminui o potencial do Mana, da Benção, da Mandinga e do Axé de todas as
Divindades, porque exclui o conhecimento ou a sabedoria de qualquer outra pessoa ou grupo
diferente daqueles que se erigem em árbitros da Espiritualidade.
Se eu também me colocasse nessa posição de árbitro do que vale a pena ou não, nunca
poderia avaliar o trabalho de outros, cujas prática e ritual podem diferir honestamente do modo
como encaro a Realidade Paralela, porque agir desta forma seria o mesmo que auto questionar a
própria autoridade absoluta da qual eu pudesse me sentir investido.
E, assim, aumentei meu conhecimento espiritual sobre mim mesmo, pois resolvi não ficar
congelado em minha prática ritual, recusando-me a usar sempre e sempre as mesmas
experiências passadas dos outros, sem nunca acrescentar nada de bom ao Porvir. Pois, esta
posição de árbitro da Espiritualidade me faria, em vez de navegante do Rio do Conhecimento,
um náufrago, não em "águas barrentas", mas em águas estagnadas!
E eis o que o conhecimento de mim próprio me ensinou:
Acredito em Deus: Único, Absoluto, Onipresente e Onisciente seja qual for o Nome que a
Humanidade Lhe atribua através dos Tempos e Lugares.
Tenho como minha verdade que Ele reflete sua Infinita Bondade pelo Universo de sua
Criação, através de Seres Espirituais de Origem Divina a quem denomino de Orixás Ancestrais.
Compreendo o Mana, a Benção, a Mandinda e o Axé (Força Espiritual) dos Orixás
Ancestrais como energia vivente, atuante e onipresente em nome de Deus por todo o Universo,
não como estórias dos Contos da Carochinha de qualquer origem!
Tenho como Básico que a Espiritualidade pode se expressar de muitas formas.
Aceito que grupos diferentes que, por diferentes razões, começaram a usar este "feixe" de
energias de modos diferentes, agem de modo perfeitamente lógico: simplesmente é um
reconhecimento das condições e realidades atuais donde eles praticam as suas convicções.
Acredito que todas as Entidades Espirituais Superiores entendem as mudanças de
comportamento, meios e palavras que foram impostas aos descendentes de seus antigos fiéis por
meios sociais adversos como conquista, escravidão e colonização, não ficando passivas e
ferreamente agarradas ao Passado como se fossem seres humanos.
Afirmo que Elas são o Eterno Presente, seja de que forma esse Presente se afigure a cada
um dos humanos!
Decidi que em vez de enfocar meus esforços nas diferenças em ritual, palavras, idioma ou
oferendas, prefirei sempre enfocar o fato de que, se o que se pratica é feito com carinho e
devoção, com caráter e consideração, os resultados serão realizados!
Assim, vidas podem ser melhoradas; enfermidade pode tornar-se saúde; pobreza pode dar
vez à abundância; ignorância pode ser mudada em conhecimento. Em última instância, importa
aos beneficiários destas transformações que palavras e em que língua, que ritual ou quais
oferendas realizam essas benesses???
Mas, ainda hoje, cada grupo religioso atual tende a rejeitar muita coisa de outro grupo por
causa das diferenças que lhes foram impostas pela realidade do cotidiano, cada um achando que
a "sua" própria maneira é a "única" correta, e, muito freqüentemente, os homens põem em
julgamento não os resultados, mas sim se eles foram obtidos pelos meios que eles acham os
únicos corretos. Se esses meios não refletirem seus próprios modos, serão capazes de negar que
aqueles resultados foram propiciados pelas Divindades e dirão, do alto de sua Antiga Sabedoria:
pura sorte!
Fé na Essência da Sabedoria Divina dos Orixás Ancestrais, prefiro eu dizer! Pois, se nós
aprendermos a utilizar e trabalhar com estas energias viventes da Realidade Paralela na
Realidade em que hoje nós vivemos, para mim, os modos antigos já mudaram: eles já não são
mais Sabedoria Antiga e sim, simplesmente, Sabedoria.
E, desta forma, conhecendo a mim próprio, resolvi o paradigma de minha crença pessoal: a
Sabedoria dos Orixás Ancestrais não é algum Mistério Antigo, congelado ou encapsulado no
tempo. Ela é eterna e infinita, sempre pertinente ao tempo e condições em que é aplicada.
Assim, o Odu de um Jogo de Ifá "lançado" para um indivíduo em 2000 tem pouquíssima
referência com a forma "específica" deste mesmo Odu à 500 anos atrás em uma cultura
totalmente diferente: deste Odu, só me resta aceitar a "essência de sua Sabedoria". Ou seja, os
Odu, viventes e atuais, devem ser aplicados e interpretados em relação a energia de um ser
humano que vive no tempo presente e em relação à forma cultural a que ele pertence. O mesmo
se aplica a seus rituais e orações. E isto é saber aplicar a Essência da Sabedoria dos Odu de Ifa,
quando nos diz no Odu Ogunda Meji:
E da compreensão de todas essas Essências dos Odus, adveio-me o auto conhecimento que
o Orisa Orunmila Ifa me concedeu, pois hoje eu sei que quando minha Ori Orun ("cabeça-no-
além") se "ajoelhou" perante o Todo Poderoso e Misericordioso Olorun foi para pedir-Lhe que
me concedesse a honra de poder tornar-me um Ancestral do Futuro, por ser um dos compiladores
do marco atual brasileiro de uma nova maneira de sentir, pensar, traduzir e expressar a Sabedoria
dos Orixás Ancestrais, trazendo-a para a compreensão deste povo, neste tempo, neste dia e nesta
hora.
E, ao estender a todos os que aqui lêm a oportunidade de Auto Conhecimento, através deste
"Espelho Mágico Virtual", eu estarei bem cumprindo o meu Destino nesta Terra-da-Vida. Que
tu procures bem cumprir o teu, se ele for, como o meu, o de estar sempre aprendendo, uma vez
que aquele que só sabe ensinar é porque nada aprendeu!
A RAIZ AFRICANA
1 - ILE IFA
2 - Ilu Aiye Odara 4 - Awon Orisa
1 - ILE IFA
A CASA DE ORUNMILA-IFA
Ifá é um Sistema de Oráculo Sagrado originário da milenar cultura africana Iorubá e é parte
integrante da religião naturalista que nos foi legada pelos descendentes dos povos africanos
sudaneses escravizados no Brasil.
Enretanto, com o passar de mais de um século de sua chegada, miscigenou-se com anteriores
conhecimentos espirituais Bantos e Angolenses aqui já aclimatados a mais de dois séculos, esta
simbiose vindo a constituir-se em um dos Três Pilares Místicos sobre os quais ergueu-se a
Umbanda do Brasil, à ela legando, dentre outros, dois elementos principais: o conceito dos
Orixás e o Jogo dos Búzios.
Mas, foi só tardiamente, quando passadas as fases da escravização e colonizacão, que os
estudiosos do esoterismo das religiões africanas reformuladas no Brasil deram-se conta de que,
subjacente às graciosas e/ou confusas lendas dos escravos africanos, existiam uma Teogonia,
uma Mística e uma Liturgia de grande alcance espiritual, cultural e social que haviam sustentado
a fé dos descendentes daqueles povos, mesmo na tragédia da escravidão.
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E foi assim que os estudiosos confirmaram que os Awon Babalawo ou os "muitos Senhores do
Segredo" (título pelo qual os sacerdotes africanos eram conhecidos) sempre tiveram e ainda têm
uma bela, firme e complexa visão própria da Existência Humana, na qual o Orun ou "Mundo
Sobrenatural" está em estreita relação com o Aiye ou "Mundo Natural", considerados
complementares entre si e que se fundem completa, harmônica e belamente na Ilu Aiye ou
"Terra da Vida", ou seja, a própria Natureza Terrestre.
Desta forma, a Religião dos Orixás, além de viva e atuante, é também fruto da convivência
mais que milenar de nossos ancestrais africanos com a Natureza ou, talvez, que o seu modo ver a
Natureza fosse fruto de sua atávica convivência com as suas Entidades Sobrenaturais.
Então, como também deposito minha fé nos Orixás e tendo recebido em minha Iniciação o
título de Babatunde ou um "Pai que retornou", espelhando-me nos conhecimentos ensinados nos
ese itan ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", os quais se constituem na Tradicão Oral Ancestral dos
Awon Babalawo e que fazem parte de sua memória atávica por mais de 2.000 (dois mil) anos,
vou discorrer aqui sobre a concepção da Ilu Aiye ou "Terra da Vida" ou "Casa de Ifá", com toda
fé nos Awon Orisa, mas também adaptando a Tradição Ancestral Africana ao entendimento das
pessoas, tempo e lugar atuais.
Pois é isto que me confere a qualidade de Babalaô que sou nesta Nova Terra da Vida, o Brasil,
sem que entretanto me esqueça da necessária e proverbial prudência que sempre foram apanágio
dos Baba Li Awo para que não Ohun mi, ou seja, "não recaia sobre mim" a responsabilidade de
haver porventura traído algum Ero ou "segredo" dos quais sou um dos guardiões.
Assim sendo, os nossos Awon Odu ou "Fundamentos da Tradicão Oral", passados da bôca do
mestre ao ouvido do discípuo,afirmam que a Existência transcorre em dois grandes planos:
1 - Orun ou Mundo Sobrenatural ou Além
2 - Aiye ou Mundo Natural ou Terra-da-Vida
Mas esses dois grandes planos de Existência não são assim tão distintos, pois os Versos dos
Contos de Ifá contam que as Entidades Sobrenaturais já "viveram" sobre a Terra no Ode Aiye ou
"Local Terrestre para as Divindades", quando elas aqui vieram reger a Criação do Mundo
Natural.
Além disso, esta tradição religiosa afirma que tudo o que existiu, existe ou existirá no Mundo
Natural foi plasmado no Mundo Sobrenatural e lá tem o seu exato Duplo. Desta sorte, todos os
Seres existentes são denominados por um só termo: Ara ou "Corpo" ou "Ser Existente".
Os Versos dos Contos de Ifá falam com freqüência em 600 (seiscentos) Ara Orun Imole, entre os
quais situam-se os Orisa ou "Imole Funfun" ou "do Branco" mas, isto significa muito mais que
este número místico tinha a função de emprestar grandeza ao conceito de Divindade, o que
importa em dizer-se que eles, os Imole, são uma grande quantidade desconhecida.
Estes Versos deixam entrever que existem graduações de ordem, digamos, funcional, nesse
grandioso conceito de Divindade, as quais se situam nos Meseesan Orun ou "Nove Além", ou,
melhor dizendo, os Nove Planos de Existência desta Tradicão Africana Sudanesa.
Todos estes Planos de Existência no Além, os quais seria fastidioso tentar aqui definir, têm a
Ile ou "Terra", como eixo central e comum de suas esferas de ação e, portanto, como ponto de
passagem e de retorno para que todos os Ara por ela, a Terra, intercambiem os seus planos de
existências diferenciadas.
Para isso, necessitam de um meio, quer ele seja os seus sacerdotes ou os seus Filhos de Santo
ou, preferencialmente, seus lugares sagrados e devocionais, tal como era o caso dos Origi ou
"Montículo Sagrado" do Orisa Orunmila na Cidade Santa de Ile Ife em África, a Ilu Aiye Odara
ou "Terra da Vida Feliz". Este também é o caso, no Brasil, dos atuais Peji ou "Assentamentos"
dos Candomblés de Nação Africana e dos Congás dos Umbandistas.
Daí a Terra ser invocada e chamada a testemunhar em todos os tipos de pactos,
particularmente em relação à guarda de segredos. Ki Ile Jeeri ou "que a Terra testemunhe" é a
mais ritual das fórmulas empregadas em juramentos solenes e daí que todo o Assentamento de
um Ôrixá deva ser baseado na Ota ou Pedra que lhe seja própria, "assentada", consagrada e
"alimentada" por seus fiéis e estes dizerem: -"A força dos Orixás está na pedra."-
O que eqüivale a dizer-se: na "Terra" ou na "Natureza"! Portanto, como disse anteriormente,
Terra e Além estão indissoluvelmente interligados em minha mente e daí também saber que
todos os "Além" podem se intercambiar nesta Terra da Vida e que todos os Seres que nela
existem, mesmo os inanimados, possuem Ase, a Centelha de Energia da Vontade Divina (Aba)
que os criou e os faz existir (Iwa). Daí muitos desavisados tratarem os fiéis aos Orixás por
"animistas", misturando o conceito de Ase com o conceito de "alma" ou "espírito" de suas
próprias filosofias religiosas.
Assim sendo, ainda que seja perante OLORUN que cada Ara Orun e/ou Onile deva "ajoelhar-se"
para pedir o seu novo Destino antes de reencarnar-se, sendo ÊLE o seu verdadeiro Eleda ou
"Criador", ao renascer na Terra da Vida o novo Ser Vivente tem o seu Destino controlado pelo
Orisa Orunmila-Ifa, que através do Oráculo de Ifá dos Babalawos, com seus conselhos,
exemplos, parábolas e "falas" conhecidas por Odu ou "Essência dos Fundamentos de Tradição
Oral", ajudam cada Ser Humano a bem consumar o Destino por ele próprio solicitado a
OLORUN.
Assim, toda a Natureza criada por OLORUN é também a "Casa de Ifá" e todos os Seres
Humanos são suas Omo ou "Crianças" e é por isso também que os fieis tratam os Babalawos por
Baba ou "Pai", ainda que Baba também possa se traduzir por "Senhor".
Também é verdade que, neste processo de reincarnação, o Ser que deverá vir à Terra da Vida
solicita ou aceita estar ligado a algum Imole Irunmole ou Imole Igbamole (ser masculino e ser
feminino: qualidades humanas emprestadas aos Imoles), que também lhe "comunicarão"
algumas qualidades de sua matéria primordial (Ase Funfun ou "do Branco", Ase Dudu ou "do
Preto" e Ase Pupo ou do "Vermelho"). Desta forma, na Terra-da-Vida, este novo Ser Vivente
deve devotar-se a algum Irunmole (Entidade Espiritual Masculina) e/ou Igbamole (Entidade
Espiritual Feminina) ou por ele/ela ser "possuído" no transe mediúnico.
Esta Entidade Espiritual comunicante com o novo Ser Vivente, depois de detectada e
confirmada a sua influência pelos processos do Oráculo de Ifá, deve ser considerada como o
"possuidor" da Ori Inu ou "Cabeça Interna", ou seja, da nova "Personalidade Individual
Terrestre" daquele novo Ser Humano e/ou Ancestral novamente encarnado, ou seja, o seu
Oluware, portanto, e no máximo, o seu Oba Mi ou "Meu Senhor" ou Iya Mi ou "Minha
Senhora", pois que o seu verdadeiro Criador sempre foi, é e será Deus.
Assim, sempre por intermédio do Orisa Orunmila em sua Divinação Sagrada de Ifá, aqueles
demais Awon Orisa podem ajudar ou cobrar do Ser Humano os compromissos com eles
assumidos, de forma que ele possa bem consumar seu Destino ou corrigir os desvios que poderão
levá-lo ao fracasso, mas sem jamais interferir no livre arbítrio de cada ser.
Foi sobretudo este relacionamento "pré-estabelecido no Além" com os Awon Imole ou "Seres
Sobrenaturais de Categoria Divina" a parte da Teologia Iorubá que foi a mais lembradada pelos
descendentes de seus féis escravizados e que levou à criação dos Candomblés de Nação Africana
no Brasil para cultuá-los, assim como, foi o Culto aos Awon Onile ou "Ancestrais" a parte mais
absorvida e praticada pela Umbanda do Brasil.
Entretanto, é somente o Ara Orun Imole Irunmole Oju Kotun Orisa Funfun Orunmula-Ifa que
é o verdadeiro Arauto dos Desígnios Absolutos de Deus sobre o Destino de todos os Seres
Terrestres, destino este que pode ser confirmado ou corrigido pela Divinação Sagrada de Ifá,
para que cada "Criança" nascida na "Casa de Ifá" tenha condições espirituais de muito bem
cumprir aquilo que ele próprio solicitou a Olorun no Além e, assim, poder apresentar-se
novamente perante Êle em seu Ol'ojo ou "Dia Marcado" para retornar ao Além, acrescentando a
seu Duplo no Além a Soma de seus sucessos ou fracassos em relação a seu Destino nesta Terra
da Vida, já não tão Ilu Aiye Odara.
E esta é a verdadeira função da Divinação Sagrada de Ifá : fazer com que as "Crianças" de
Orisa Orunmila-Ifa cresçam em méritos espirituais por conhecerem à si próprias e bem cumprir o
seu próprio Destino livremente escolhido no Além perante Deus!
2.
OYE TI O BA WU ENI
NI A TA IFA ENI PA
"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual recebemos para jogar Ifá"
Em que pese que cada uma das Divindades que eram cultuadas na África Sudanesa tivessem o
seu próprio "corpus" sacerdotal, os elementos principais do sacerdócio eram os sacerdotes do
Orisa Funfun Orunmila, cuja Divinação Sagrada de Ifá regia a vida espiritual dos Yoruba.
Nos antigos tempos, todos os sacerdotes do Orisa Orunmila Ifa eram saudados pelo termo
genérico de Ol'orunmila ou "Aquele que tem Orunmila". Aqueles que o povo sabia mais ligados
à Divinação Sagrada, saudavam-nos como Baba Onifa.
Mas, no exercício de suas funções específicas, os Sacerdotes do Orisa Orunmila eram
denominados por Baba Li Awo, ou seja, o Pai (baba) + que Tem (li) + o Segredo (awo), termo
este que foi simplificado para Babalawo ou Babalaô nos atuais compêndios eruditos. O
Babalawo era, pois, o ponto central em volta do qual gravitava a Ritualística e a Liturgia Yoruba.
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( Vou ler depois )
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Isto porque as funções de um Babalawo não se restringiam à Divinação Sagrada e nem ao culto
organizado do Orisa Orunmila: ele tinha que ter conhecimentos especializados sobre os cultos de
todas as outras Imole ou "Divindades" e, nessa faixa, atuava tanto no atendimento aos devotos de
todos os Imole, quanto no aconselhamento e assessoramento aos sacerdotes dos mesmos Imole.
E também porque, fosse qual fosse a devoção de um Yoruba, antes de tudo mais, seu primeiro
dever era com si próprio, ou seja, o dever de bem consumar o seu Iwa ou "Destino", que havia
sido livremente escolhido por sua Ori Orun ou "Cabeça no Além", ou seja, antes de se tornar um
Ara Aiye ou "Corpo da Vida" com a sua correspondente Ori Inu ou "Cabeça Individual" nesta Ilu
Aiye ou "Terra da Vida". E, especificamente nisso, só um Babalawo podia ajudá-lo, guiá-lo ou
socorrê-lo.
E era por ser um sacerdote do Orisa que é o Arauto dos Destinos dos Humanos que, ainda que
um Babalawo atuasse na área específica de outros sacerdotes; conhecesse ou receitasse aplicação
de mais ou menos 400 Ewe ou "Folhas Sagradas" e "Medicinais"; controlasse a prescrição e a
execução das Adimu ou "Oferendas Defensivas"; exercesse o controle do Oso ou "Poder
Mágico", sendo portanto um Ifatoso ou Ifá (ifa) + Tem (Ti) + Poder (Oso) ou, portanto, "Aquele
que tem o poder mágico de Ifá" para o manejo dos objetos rituais portadores do Ase ou "Força
Mágica Vital"; receitassem e aplicassem as Ogun ou "Práticas de Medicina Natural, Mágica e
Psico-Somática"; defendessem aos fiéis dos Aje ou "Feitiços"; praticassem os Ipese ou "Magias
Retaliatórias" e fornecessem os Awure ou "Amuletos de Boa Sorte", a sua máxima
especialização era a prática constante do A da Ifa fun, ou seja, a "Divinação Sagrada de Ifá",
através dos instrumentos consagrados Opon e Opele, para revelar aos fiéis qual era o seu Kpoli
ou "Destino Pessoal".
Com tantas responsabilidades, um Babalawo precisava ter um intenso treinamento específico
que, em geral, começava aos 7 anos de idade e, na verdade, só terminava por sua morte, uma vez
que, devendo ele próprio ensinar o Awo ou "Segredo" a outro futuro Babalawo antes de sua
própria morte, ensinar tornava-se uma nova forma de continuar aprendendo com a experiência de
seus ancestrais.
Aproximando-se, assim, desde a tenra idade à um Ojugbonan ou "Mestre de Ensino", um
menino Yoruba agregava-se à família do mesmo e passava a ser conhecido como umOmo Awo
ou "Filho do Segredo" e tinha a obrigação de obedecer e servir ao seu Mestre como obedeceria e
serviria a seu próprio pai.
Mais tarde, em pleno aprendizado, quando já acompanhava o seu mestre em suas saídas
públicas, este aprendiz recebia a denominação de Akopo ou "Aquele que carrega a Bolsa", numa
clara alusão à sua nova obrigação de carregar a Apo ou "Bolsa" que continha os Abira ou
"Conjunto de Objetos Sagrados" que seu Mestre usava ao praticar a Divinação Sagrada.
Como Akopo, o menino em crescimento era submetido à uma disciplina curricular intensa
onde se testava, antes de tudo, a sua capacidade de memorização. Além da observação visual e
auditiva das práticas de seu Mestre, o aprendiz praticava a identificação e a memorização das 16
(dezesseis) figuras gráficas básicas, chamadas Ona Ifa, para depois então aprender e memorizar
as totais 256 (duzentas e cinqüenta e seis) possíveis combinações capazes de serem feitas.
Era quando ele já começava a praticar com a forma rudimentar do instrumento Opele ou
"Corrente de Ifá" preparado para ele por seu Mestre. Assim, ele aprendia que ao combinar entre
si as Ona Ifa dos 16 Odu Baba ou "Fundamentos de Tradição Básicos", formavam-se 256 novas
figuras combinadas, mas entre si derivadas e, portanto, denominadas Omo Odu ou "Filhos de
Odu". E se o 1º Odu aparecesse combinado com ele mesmo - e isso era válido e possível para
todos os 16 Odu básicos - estas figuras duplicadas eram chamadas de Odu Meji ou "Odu de
Dois", ou ainda melhor, "Odu Duplo".
Depois, ele aprendia a Ordem de Precedência Hierárquica entre esses 256 Omo Odu, ordem de
precedência esta que viria a se constituir na base de sua decisão na prática do Igboigbo ou
"procurar o Oculto", quando da escolha entre respostas alternativas à uma pergunta específica.
Em seguida, ele aprendia a própria essência da Divinação Sagrada: a memorização dos Ese
Itan Ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", os quais faziam parte de um conjunto maior, os Itan
Atowodowo ou "Contos dos Tempos Ancestrais" que se constituíam-se nas Escrituras Sagradas
dos Yoruba, na realidade jamais escritas, mas lembradas oralmente de geração para geração por
mais de um milênio.
Por teoria, os Akopo que aspiravam vir a ser um Babalawo precisavam memorizar pelo menos
4 (quatro) Ese ou "Versos" para cada um dos 256 Omo Odu, o que representava a memorização
de 1024 Ese para que ele pudesse começar a praticar por conta própria. Entretanto, na prática,
era admitido que ele começasse à adivinhar quando já soubesse, pelo menos, 1 (hum) Ese para
cada um dos 256 Omo Odu.
Após isso, ele aprendia e praticava a correta composição e execução dos Adimu ou
"Sacrifícios Propiciatórios" - na verdade, este termo significava "Abrigar-se" - prescritos nos Ese
Itan Ifa, enquanto procurava aumentar o seu conhecimento sobre as Ewe Ifa ou "Folhas Sagradas
de Ifá" e as Ewe Ifin ou "Folhas de Limpeza" e mais as 300 e poucas Ewe Orisa ou "Folhas
Sagradas dos Orisa" que estavam ligadas à Divinação Sagrada.
Só então ele aprendia sobre as Oogun (medicinas), os Aje (feitiços), os Ipese (magias
retaliatórias) e os Awure (amuletos de boa sorte) nos quais podia aplicar todo esse conhecimento
adquirido tão exaustivamente.
Se o antigo Akopo conseguia chegar até nesse ponto, ele recebia de seu Ojugnonan o seu
cobiçado prêmio: a sua Owo Awo ou "Mão do Segredo", a famosa "Mão de Ifá".
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A "Mão de Ifá" era, pois, a coroação de anos de esforços e estudos, sendo sancionada em ritual
próprio que promovia a junção do Natural com o Sobrenatural, do Método com a Intuição
Psíquica, induzida pelo transe mediúnico leve, que abria canais da percepção extra-sensorial do
Babalawo para a presença do Ase dos Orisa Orunmila Ifa e do Imole Esu, já que o Babalawo
jamais "caía" em transe mediúnico possessivo, sendo essa, na verdade, além de todos os
conhecimentos já referidos, a grande diferença oculta, o Ero ou "Segredo" exotérico, entre o
verdadeiro Babalawo (Senhor do Segredo) e o Babal’Orisa (Pai do Orisa) ou "Pai-de-Santo".
Esta "Mão de Ifá" era representada materialmente por um conjunto de 16 (dezesseis) caroços
dos frutos do Dendêzeiro, limpos de suas cascas moles, suas cascas duras polidas pelo uso
constante e consagrados em ritual próprio, conhecidos em específico por Ikin (coquinhos de
dendê), juntamente com um tabuleiro de madeira, geralmente circular, com mais ou menos 35
cm de diâmetro, levemente polido o seu fundo, mas com uma borda entalhada mais alta, a qual
delimitava um "espaço sagrado", tabuleiro este chamado de Opon Ifa, justamente o "Tabuleiro de
Ifá". Como o termo Awo pode significar "segredo" ou "tabuleiro", os Babalawo também eram
conhecidos pelo título de "O Senhor do Tabuleiro".
Recebia também o segundo instrumento consagrado, o Opele Ifa ou a "Corrente de Ifá", agora
confeccionado com uma dupla corrente de ferro, cada lado mantendo juntas 4 meias-sementes da
oko (árvore) Opele Oga (Schebera Columgensis), derivando daí o nome pelo qual este
instrumento era conhecido.
Mas, antes de receber estes instrumentos consagrados, o antigo Omo Awo, tendo passado pela
fase de Akopo, era submetido agora a um dos rituais mais antigos da Humanidade: ele era
"mergulhado" na Eerupe ou "Lama", matéria prima primordial da Existência, matéria de onde
viemos e para qual um dia voltaremos e onde, ritualmente, "morria" o antigo Omo Awo e
"nascia" o novo Babalawo.
Só a partir daí, o novo Babalawo podia praticar a Divinação Sagrada por si próprio mas,
mesmo assim, à cada 16 dias, no Ojo Awo ou "Dia do Segredo", ele devia se reunir com seu
Ojugnonan, para continuar seus estudos e, com isso, ser apoiado pelo mesmo em sua incipiente
prática pública.
Tentei transmitir aqui, aos leitores, parte das dificuldades da Iniciação de um verdadeiro
Babalawo do passado; não sei se consegui, mas tenho a certeza que nem mesmo aqueles que já
passaram pelas Iniciações dos "Terreiros de Nação", poderiam minimizar este tipo de Iniciação,
tal como era praticada naquela época. De mais a mais, sociológica e religiosamente falando, a
Iniciação ao Sacerdócio do Orisa Orunmila era e ainda é a única iniciação intelectual entre todos
os outros cultos aos Orisa e Ebora.
Ademais, como existiam 4 (quatro) graduações superiores na carreira de um Babalawo, sendo
que a última tinha 16 (dezesseis) supra-divisões, pode-se sentir que o tempo de estudos e práticas
de um Babalawo não terminava nunca e tornar-se respeitado e em ascensão na "carreira"
escolhida, era tarefa para toda uma vida.
E se falamos em "carreira" é em sentido figurado, porque ninguém pretendia tornar-se
Babalawo para ganhar dinheiro, pois era popularmente conhecido um Verso dos Contos de Ifá:
-"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifá eni pá"-
-"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual receberemos para jogar Ifá"-
-" Um ancião que aprendeu Ifá, não precisa comer nozes de Kolla deterioradas."-
Porque não era quanto ganhava um Babalawo de Eru ou "Pagamento" que fazia a sua fama; a sua
reputação era proporcional ao seu sucesso em aliviar as aflições de seus fiéis consulentes e não
os seus bolsos: nos Versos dos Contos de Ifá pode-se ler que até o pequeno pagamento
estipulado para seus serviços, muitas vezes, era determinado que parte dele deveria ser disribuído
entre os necessitados ou financiar um repasto comunal.
Daí a maior procura de seus serviços e, à medida que sua reputação se firmava, ele ascendia à
classe dos Oluwo ou "Senhores do Segredo", tendo acesso à cargos públicos e jamais precisaria,
"comer nozes de Kolla deterioradas", isto é, não passaria dificuldades financeiras. Mas, a única
forma para isso era estudar, praticar muito e bem cumprir seus deveres rituais para com o Orisa
Orunmila, não lhe bastando somente uma efêmera fama.
Mas isso não era fácil se ele não estivesse realmente capacitado, porque embora fosse
possível, mais teórica que praticamente, a um Babalawo inescrupuloso obter destreza suficiente
no manejo dos Ikin ou "Coquinhos de Dendê" para forçar o "aparecimento" de uma determinada
Ona Ifa 0u "Trilha de Ifá" que lhe interessasse, ele sempre esbarraria no fato de seus consulentes
conhecerem meios de impedir tal prática, mesmo que, aparentemente, o Babalawo estivesse
seguindo o sistema regular de normas.
E isto era uma das mais importantes conseqüências da ação divulgadora dos Akisa ou
"Aqueles que louvam a Divindade", leigos graduados no culto e que recitavam para o povo as
lendas e os louvores do sistema, nas quais apareciam com freqüência precedentes históricos que
clarificavam, na mente dos consulentes, quais eram as regras a serem obedecidas pelos
Babalawo. Qualquer desvio mínimo destas regras por parte de um Babalawo, era imediatamente
repudiado pelo consulente e severamente punido pela Confraria de seus pares.
Ademais, o Babalawo que intentasse qualquer desonestidade, mesmo que fosse para agradar
ao consulente, ainda esbarraria no fato de que, além de não precisar dizer-lhe qual o objetivo que
o levava à consulta, este podia até inverter ocultamente este seu objetivo, mesmo no caso de
escolha entre respostas alternativas.
Portanto, ser um Babalawo não era uma tarefa fácil e graciosa, mas sim árdua e espinhosa em
estudo, prática, tempo, memória e perspicácia ao usá-la, embora a sua "carreira" fosse passível
de erguê-lo, social e politicamente, na sociedade Yoruba, até acima do poder dos Oni ou "Reis",
pois até estes deviam consultar a Divinação Sagrada, senão para si mesmo, mas necessariamente
para os próprios "Negócios do Estado", pois também o alto funcionalismo do Estado era
escolhido ou sancionado pela Divinação Sagrada.
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Assim sendo, todo Babalawo se esforçava para alcançar, sucessivamente, as 3 (três) categorias
imediatamente superiores de sua "carreira" e, se alcançadas estas três, estivesse habilitado
também por seu nascimento em uma das 16 (dezesseis) famílias nobres fundadoras de Ile Ife ou
"Cidade Santa de Ifé", ele habilitava-se a disputar ainda uma das 16 (dezesseis) supra-divisões
hierárquicas e vitalícias dos Awoni Babalawo ou "Adivinhos dos Segredos do Rei" ou do
"Estado".
O primeiro degrau desta ascensão na carreira religiosa era a condição de Elegan ou "Aquele
que tem Elegan" e aqui compreendendo-se "Elegan" como o conjunto composto pela já
conhecida Apo ou "Bolsa", mais o seu conteúdo Abira ou "Conjunto de objetos sagrados e folhas
medicinais", todos eles portadores de Ase Orisa (força Mágica dos Orisa) e com os quais se
praticava, além da Divinação Sagrada, uma terapia médica natural e psico-somática. Quase
sempre, nesta fase, eram desvinculados de qualquer cidade, sendo muitas vezes itinerantes.
Ao contrário dos mais graduados, o Babalawo Elegan era obrigado a manter a sua cabeça
sempre totalmente raspada e a descobrí-la, caso portasse alguma cobertura, quando em presença
de outros Babalawo de categorias superiores.
O segundo degrau de ascensão na carreira, após alguns anos de prática, era a obtenção da
condição de Ol'osu ou "Aquele que Tem o Tufo de Cabelos", numa clara alusão da permissão de
deixar crescer um "tufo" de cabelos circular, na parte lateral posterior direita do crânio raspado,
demonstrando assim que já eram plenamente habilitados e em pé de igualdade com os Adosu dos
outros Orisa, os quais usavam o mesmo Osu ou "Tufo de Cabelos" (Na verdade, nestes, "Osu"
não é só um "tufo de cabelos").
Mas para ser um Ol'osu, o Babalawo precisava pertencer à uma família estabelecida em uma
vila ou cidade que tivesse erguido um Origi, um pequeno "monumento religioso", um protegido
montículo de terra batida de mais ou menos 35 cm de altura, quase sempre muitíssimo antigo,
recoberto de "cacos" de cerâmica ou de louça quebrada, com uma pedra pontuda no topo,
projetando-se para cima. Embora o conteúdo do Origi fosse, devesse e deva permanecer secreto,
era notório ali a dedicação ao Imole Esu Agba, o "Esu Ancestral".
Era quando atingia este estágio de Ol'osu que o Babalawo tinha direito a possuir a sua segunda
Owo Ifa, a segunda "Mão de Ifá", ou seja, o seu 2º conjunto de Ikin ou "conjunto de 16
coquinhos de dendê", que todo Babalawo Ol'osu devia possuir.
O terceiro degrau na ascensão religiosa de um Babalawo era a condição de Ol’Odu ou "Aquele
que Tem o Odu". Embora o termo Yoruba Odu, em seu significado mais restrito, signifique algo
"grande" ou "volumoso", no Culto do Orisa Orunmila, este termo tem três outros sentidos
referenciais:
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Primeiro sentido referencial:
- nele, Odu pode significar a "Figura Gráfica" que é riscada no Iyerosun ou "Pó Branco
Consagrado" do Opon ou "Tabuleiro";
Segundo sentido referencial:
- nele, Odu pode significar o conjunto de Ese (Verso)de um Itan Ifá (Conto de Ifá), ligados
ritualmente às 256 figuras gráficas acima citadas. É quando o termo Odu merece realmente o
designativo de "Fundamento de Tradição";
Terceiro sentido referencial:
- nele, Odu designa especificamente um "objeto físico", um recipiente de madeira, de forma
cilíndrica, pintado nas cores brancas, vermelha e preta e que simbolizavam respectivamente os
princípios do Iwa ou "Poder da Existência", do Ase ou "Poder da Realização" e do Aba ou
"Poder da Essência", cujos elementos físicos portadores da magia de cada um destes poderes
acham-se no seu interior, e, ainda, respectivamente, representam os Imole Irinwo Funfun ou os
"Orixás Geradores da Brancura", as Igbamole Iyami Dudu ou as "Eborás Grandes Mães
Gestantes da Negritude" e os Orisa Omokurin e Ebora Omobirin Pupo ou os "Orixás e Eborás
Descendentes da Vermelhidão".
Assim, pois, este Odu, enquanto objeto material, era um símbolo de extraordinário poder e era
típico da Cultura Yoruba, com a sua prática junção do Natural com o Sobrenatural, que os
Babalawo Ol’Odu pudessem usar estes Odu, enquanto objetos, como assento ritual em
cerimônias públicas, mas consistindo, entretanto, grave sacrilégio que estranhos sequer
tentassem abrí-los.
Normalmente, este objeto sagrado, o Odu, era guardado sobre a Itage ou "Plataforma de terra
batida" mais alta que o chão do Sasara ou "Alcova" do Akodi Okanran ou "cômodo principal" do
Ile Ifa ou a "Casa de Ifá", onde era terminantemente proibida a entrada de mulheres e, até, de
homens não iniciados no culto. Desta forma, estes Odu e até sua versão menor, o Apere, eram
construidos de forma a não serem facilmente abertos, pois dizia a lenda, não sem uma certa
ironia:
Portanto, ser um Babalawo Ol’Odu era ser o detentor de um extraordinário Oso ou "Poder
Mágico" e só a partir deste ponto um Babalawo era realmente um Ifatoso ou "Aquele que tem o
Poder Mágico de Ifá".
Eram estas, pois, em resumo, as três primeiras graduações que um Babalawo podia alcançar
por seus próprios e exclusivos méritos.
A seguir, ou paralelamente à terceira graduação especial, havia um outro posto que era mais
um reconhecimento de mérito específico, de certa forma um título honorífico, mas que era
necessário para se alcançar algumas funções públicas e, até indispensável à algumas outras: era o
título honorífico de Oluwo ou Senhor do Segredo.
Por exemplo: um Babalawo assistente dos Awoni Babalawo tinha que ser um Ojugnonan ou
Mestre. Mas isto podia ser alcançado pelo reconhecimento dos méritos de pedagogo de um
Babalawo, o que o tornava, automaticamente, num Oluwo.
E assim chegamos ao patamar maior do Sacerdócio do Orisa Orunmila Ifá e, portanto, do
Credo Yoruba, o quarto degrau da ascensão da carreira religiosa de um Babalawo: a categoria
superior dos Awoni ou Adivinhos Reais.
É verdade que o acesso a esta categoria superior era restrito aos Omo Bíbi ou Bem Nascidos
da Cidade Santa de Ilê Ifé. Entretanto, tal procedência e descendência ilustre não eliminava a
necessidade de um Omo Awo iniciante percorrer todo o processo iniciatório Elegan -Osu -
Ôl’Odu para alcançar o título honorífico de Oluwo. O fato de um Omo Awo ser também um
Omo Bíbi não lhe abria todas as portas : apenas não lhe fechava a última.
Assim, teoricamente, qualquer Babalawo iniciante podia aspirar vir a ser algum dia, um
Awoni desde que:
1) - fosse um Babalawo praticante;
2) - tivesse "status" de Ôl’Odu;
3) - obtivesse a reputação de Oluwo;
4) - fosse nascido em Ilê Ifé e em uma das 16 famílias aristocratas.
Na realidade, todos os não nascidos em Ilê Ifé jamais chegariam ao posto de Awoni e seriam
sempre considerados Elú ou Estrangeiro na Cidade Santa de Ifé pelos Awoni Babalawo.
Mas, os que ascendiam à categoria de Awoni Babalawo, obtinham uma função específica
vitalícia, ligada a um título também específico, a saber, por ordem de importância : Araba,
Agbonbon, Agesinyowa, Aseda, Akoda, Amosun, Afedigba, Adilofu, Obakim, Ôlorí Iharêfá,
Lodagba, Jolofinpe, Megbon, TedImole, Erinmi, Elesi.
Mas, na verdade, tirando-se o título de Araba que tinha a primazia do Culto e o de Ôlorí
Iharêfá que era chefe dos Babalawo que se encarregavam de assuntos do Estado, tratava-se mais
de uma titulação aristocrática do que uma graduação religiosa, sobretudo se nos lembrarmos de
que a tradição política Yoruba diz que foram 16 Chefes de Clãs Familiares que se reuniram para
a fundação da Cidade Santa de Ilê Ifé, assim como a tradição religiosa reza que também 16 eram
os Imole que vieram ajudar a reger a criação do Âiyé, instalando-se no Odé Âiyé, a morada das
Divindades quando estiveram na Terra.
Como na Divinação Sagrada tudo é 16 + 1, aos 16 Babalawo Awoni devemos acrescentar o
Oni ou Rei que, na verdade, em Ilê Ifé, era um teocrata submetido à uma sociedade secreta
religiosa -a Oxôgboni- do mesmo modo que aos 16 Imole do Odé Âiyé acresceu-se o Imole Esu.
E, na verdade, havia mais uma restrição na carreira final de um Babalawo : o título de Araba,
sendo o mais importante, era exclusivo do clã familiar Ilê Oketaxé, o aristocrata Clã da Casa dos
Oketaxé. Mas, à parte o título de Araba, os outros 15 títulos dos Awoni eram hierarquizados
segundo a antigüidade no posto que era ocupado vitaliciamente.
Como o Credo Yoruba asseverava que os Orisa são atraídos do Ôrun para o Âiyé pelo som dos
tambores sagrados, também o Orisa Orunmila tinha os seus tambores: chamavam-se Firigba,
Jongbondan e Keregidi. Todos os anos eles soavam, atraindo Orisa Orunmila, em 4 Grandes
Festivais:
Nestes Festivais, somente os Awoni podiam dançar portando o Ìrùkêrê ou Chicote-Insígnia, feito
de pêlos da barbicha de bode com o grosso cabo de 1" (uma polegada), símbolo de seu "status"
no culto e, portanto, também de seu aristocrático nascimento.
Como vimos no início deste relato, o Povo Yoruba saudava os devotos do Orisa Orunmila por
diversas denominações, conforme a atuação, fama e/ou categoria que identificava nos mesmos.
Portanto, impõem-se uma pergunta :
Como o povo identificava as diversas categorias de Babalawo?
Como se pareciam ou se diferenciavam eles?
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O que equivale a dizer-se que nenhum Babalawo podia realizar a Divinação Sagrada em proveito
próprio e/ou barganhar com o Destino dos fiéis dos Awon Orisa.
Foi por respeitarem e, principalmente, fazerem respeitar estas poucas regras básicas que essa
linhagem de homens religiosos, os Babalawo, conseguiu estabelecer por mais de 1400 anos, em
sua própria terra e entre seus próprios fiéis, uma reputação de dedicação e honestidade. E é um
eminente etnógrafo e pesquisador ocidental, W. Bascon (1969) quem remarca este fato:
Assim, foi em respeito à essa antiga, merecida e honrosa reputação, que eu escrevi, quase
sempre, usando o tempo do verbo no passado, pois notícias recentes de viajantes e etnólogos
radicados no território desses antigos Impérios (Nigéria, Benin, Daomey e Togo), demonstram
que quase trezentos anos de "guerra, suor e lágrimas" desmantelou a estrutura sócio-religiosa-
cultural daquele povo e muitos se esqueceram, não conheceram ou desobedeceram ao antigo
provérbio Ulkumy-Nàgô:
-"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifa eni pa"-
-"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual recebemos para jogar Ifá "-
4.
As origens do conceito dos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina dos povos sudaneses é tão
antiga que perde-se na Noite dos Tempos Passados. Mas, a estratificação de seus graus
hierárquicos já é identificável a partir do III século D.C. e é extremamente complexa por refletir
também o início da organização social e política daqueles povos.
Léo Frobenius (1913), erudito pesquisador e etnógrafo ocidental, estudando a religião dos
Iorubás, principalmente à época em que a mesma ainda não havia assimilado conceitos religiosos
alienígenas de origens islâmica e cristã, disse com propriedade:
"A religião dos Iorubás encontrava-se num estágio requintado de evolução, podendo medir-se
pela religião grega, quer pelo número de episódios, quer pela riqueza de personagens, quer pela
profundidade das instituições."
E os episódios, os personagens e a profundidade das instituições encontram-se nos
milenares Ese Itan Ifa (Versos dos Contos de Ifá) dos Itan Atowodowo (Contos dos Tempos
Imemoriais) preservados pela Tradição Oral dos Iorubás por mais de dois mil anos.
E dado que indubitavelmente foi a Tradição dos Sudaneses que legou à Umbanda o
Conceito dos Orixás, vamos aqui discorrer sobre eles de acordo com o Mito da Criação
Universal, segundo os próprios Iorubás.
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Os milenares Ese Itan Ifa (Versos dos Contos de Ifá) em seus Odu (Fundamentos de Tradição
Oral), falam com freqüência nos Awon Imole, isto é, nos "Muitos Seres Sobrenaturais de
Categoria Divina":
"Awon Irinwo Irunmole oju kotun, ati awon Igbamole oju kosi."
"Muitos Irinwo Irunmole do Lado Direito e muitas Igbamole do Lado Esquerdo."
Outras vezes, falam em 600 (seiscentos) Imole, classificando-os em 400 (quatrocentos)
Irunmole (Divindades Masculinas) e em 200 (duzentas) Igbamole (Divindades Femininas).
Mas, isto significa muito mais que os Imole eram e são considerados como divididos em
Irinwo Imole ou Irunmole ou "Divindades Geradores" e Igba Imole ou Igbamole ou "Divindades
Gestantes" e todos os pesquisadores eruditos e os religiosos africanos também estão de acordo
em considerar lógica a tradição de que estes 600 Imole são um número místico com a função de
emprestar grandeza ao conceito de Divindade, o que importa em dizer-se que eles, os Imole, já
eram e ainda são uma grande quantidade desconhecida.
Assim sendo, na Teogonia Iorubá, no mais alto dos Meesan Orun ou "Nove Além" ou
"Planos da Existência", denominado Ajal'orun ou "Teto do Além", portanto, no ápice do poder
espiritual, está OLORUN, justamente "Aquele que" (O) + "tem" (LI) + "o Além" (ORUN).
Ele é o Ala Iwa Aba L'Ase ou "Supremo Criador dos Princípios e Poderes que tornam
possíveis e regulam toda a Existência" em todos os seus Nove Planos:
- o Iwa ou a "Qualidade do Branco" ou "Poder da Existência";
- o Ase ou a "Qualidade do Vermelho" ou "Poder da Realização" que dinamiza a Existência;
- o Aba ou a "Qualidade do Preto" ou "Poder da Essência" que dá propósito à Realização.
Ele não era considerado, pois, um Imole: para o Povo Iorubá OLORUN é a denominação
para o conceito de Deus Uno, Todo Poderoso, Infinito e Eterno!
Daí o distanciamento que todos os outros Seres Espirituais têm que Dele manter, pois nada
na Criação é capaz de suportar-Lhe o magnífico esplendor, sem a sua expressa permissão!
Consoante este conceito universal de Deus, Incriado e Criador, Único e Todo-Poderoso,
OLORUN não tem culto específico e nem sacerdócio particularizado. Mas, apesar disso, Ele não
é tão remoto ou indiferente aos assuntos humanos. Pelo contrário, Ele está sempre muito
próximo aos Seres de sua Criação: as preces e os apelos sinceros do coração humano O
alcançam.
"OLORUN, com seu próprio Hálito Divino, criou o Irunmole Orisa Orisanla, de Orisa (Ôrixá) +
Nla (Grande), a "Grande Divindade Masculina da Qualidade do Branco".
Em seguida, OLORUN criou a Igbamole Oduduwa, a Iyangba, de Iya (Mãe) + Ni Gba (que
recebe), a "Grande Divindade Mãe da Qualidade do Preto".
Ao Irunmole Orisa Orisanla e à Igbamole Oduduwa, OLORUN delegou os poderes para a
geração e gestação de todas as condições para que os Seres existissem no Além e no Universo.
Em terceiro lugar, com a Eerupe ou "Lama", mistura de Água e Terra, mas também
vivificada por Seu Hálito e Centelha Divina (Fogo e Ar), OLORUN criou o Imole Esu Agba, o
"Terceira Cabaça", ou "Terceiro Ser Criado" ou ainda, o "Esu Ancestral", o Imole da
Dinamização, da Transformação e da Restituição, quer no Além ou quer na Terra-da-Vida e,
portanto, portador de todas as Qualidades do Vermelho, do Preto e do Branco.
O Imole Esu Agba é, portanto, o primeiro Ara Orun ou "Corpo do Além", ou seja, a
"Primeira Individualidade Espiritual" a ser criada com o concurso da Matéria combinada: Fogo
(Centelha Divina), Ar (Hálito Divino), Água e Terra (Eerupe, a Lama).
Sua qualidade de "Terceiro Ser Criado" o constituiu em Osije ou "Mensageiro Divino" com
permissão expressa de se apresentar perante OLORUN que somente receberá Oferendas se elas
forem conduzidas por Imole Esu Osije.
Em seguida, houve a Criação de todos os Awon Imole, os muitos "Seres Sobrenaturais de
Categoria Divina", ainda criados diretamente por OLORUN, ou seja:
Num primeiro momento da Criação, OLORUN criou os Awon Irunmole Orisa Funfun (os
Seres Sobrenaturais Masculinos da Qualidade do Branco). Conheceram-se 50 (cinqüenta) deles
que realmente portam o nominativo Orisa e que são considerados não gerados mas geradores;
pertencem ao Oju Kotum (Lado Direito); ao Irinwo (Poder Gerador Masculino); à Iwa (Classe de
Poder da Existência), expressado materialmente pela cor Funfun (Branca).
O principal Irunmole Orisa Funfun é, como já vimos, Orisanla. Daí decorre seu maior título
Obatala - de Oba (Senhor) + Ni (tem) + Ala ( a Veste Branca), ou seja, o "Senhor que tem a
Veste Branca".
Em seguida, vem o Orisa Funfun cujo título é Orunmila, porque dizem os Awon Babalawo
ancestrais de Ile Ife, a Cidade Santa dos Iorubás, que este nominativo significa "Aquele que pode
abrir o Além", provindo de : Orun (Além) + Emi (Eu) + Ela (Abrir). E é realmente Orunmila, o
Orisa que responde à preces dos Humanos, através do A Da Ifa Fun ou "Criar Ifá para alguém"
de sua Adivinhação Sagrada pelo Opon Ifa (Tabuleiro de Ifá) e o Opele Ifa (Corrente de Ifá).
Desta forma, Orunmila-Ifa é o Arauto dos Desígnios de Deus para os Destinos Humanos e
que, para isso, pode apresentar-se frente a OLORUN e suportar-lhe o magnífico esplendor.
Num segundo momento da Criação, OLORUN criou as Awon Igbamole Iyangba Dudu (os
Seres Sobrenaturais Femininos Grandes Mães da Qualidade do Preto), dentre elas a Iyangba
Nanan Buruku ou a Grande Mãe Ancestral da Qualidade do Preto (dudu), ainda que por vezes se
as chamem pelo termo Iya Mi ou "Senhora Minha".
Elas pertencem ao Oju Kosi (Lado Esquerdo), à Igba (Poder Gestante Feminino), à Aba
(Classe de Poder da Essência), expressado materialmente pela cor Dudu (Preta). Conheceram-se
muitas delas que são consideradas as "não geradas" mas "gestantes". Entre elas podemos citar :
Yemideregbe ou "Aquela que vem da Laguna" que, no Brasil, é conhecida como Iemanja ou "a
Mãe dos Filhos-peixes".
Do relacionamento mitológico dos Irunmole Irinwo Funfun com as Igbamole Iyangba
Dudu, surgiriam outras duas classes de Seres Sobrenaturais considerados como Descendentes
Masculinos e Descendentes Femininos desses relacionamentos:
Os Omode Okunrin ou "Descendentes Masculinos" pertencem ao Ase (Classe de Poder da
Realização), expressado materialmente pela cor Pupo (Vermelha), ou então, por múltiplas
combinações das três cores-símbolos: Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se junto ao Ojun
Kotum (Lado Direito da Criação) e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Funfun
(Qualidade da Brancura), são também denominados por Orisa Omode Okunrin ou seja "Orixá
Descendente Masculino".
As Omode Obirin ou "Descendentes Femininos" também pertencem ao Ase (Classe de
Poder da Realização), expressado materialmente pela cor Pupo (Vermelha), ou então, por
múltiplas combinações das três cores-símbolos: Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se junto
ao Oju Kosi (Lado Esquerdo da Criação), e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Dudu
(Preto), são também tratadas por Ebora Iyami, porque este termo também pode traduzir-se por
"Senhora" (Iya) "Minha" (mi), o que gerou muitas confusões posteriores entre os conceitos das
Entidades Grandes Mães Gestantes (Iyangba Iyami = Minha Grande Mãe Ancestral) e o das
Entidades Filhas Geradas (as Ebora Iyami = Entidade Feminina Senhora Minha), quando da
transposição, durante o cativeiro no Brasil, da Teologia em língua Iorubá para as Lendas
contadas em língua portuguesa estropiada.
Vê-se, assim, que a classificação de Imole (Seres Sobrenaturais de Categoria Divina)
abrange a todos os Ara Orun (Seres do Além) que não sejam os Onile (Senhores da Terra ou
Ancestrais). Ela é uma classificação superior comum a todos os Seres Sobrenaturais de Categoria
Divina.
Assim, ao se dizer que tal ou qual Entidade Espiritual é, ou não, um Orisa ou uma Iyami ou
uma Ebora, não se está de maneira alguma rebaixando o seu "status" espiritual e sim melhor
qualificando-o quanto a sua função/atuação na Hierarquia Divina.
Desta forma, quanto à sua atuação mais ancestral, aceita e ensinada pelos Babalawo, o
Imole Esu não é um Orisa porque não pertence à Brancura. Ele pertence à uma categoria única,
exclusiva e importantíssima na Classe dos Imole: a posição de Terceiro Criado diretamente por
OLORUN.
Imole Esu, não tendo sido gerado, também não é gerador; pertence igualmente ao Oju
Kotun e ao Oju Kosi, pois como Osije ou "Mensageiro Divino" anda por todos os Nove Além.
Por ser o Grande Dispensador do Poder do Iwa, Aba e Ase carrega em seu Ado Iran (Cabaça
Mágica) as múltiplas combinações das três cores-símbolos Funfun, Dudu e Pupo. Também, por
delegação unânime de todos os Orisa, das Iyami, dos Orisa Omode Okunrin e as Ebora Omode
Obirin, ele é o Enugbarijo (o Boca Coletiva), capaz de falar por todos nós a OLORUN no
momento que em que for cumprir sua missão de Mensageiro Divino.
Assim sendo, toda essa classificação dos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina, hoje
conhecida como parte da "Dijina dos Ôrixás", é muito importante quando dos rituais de "feitura"
dos fiéis e/ou do "Assentamento" de uma Entidade Espiritual num lugar devocional mas, no
Brasil, após a perda de valores iniciatórios causada pela escravidão e a catequese católica
forçada, mais a conseqüente reunião de todos os Seres Sobrenaturais em um só espaço físico -
inicialmente o do Candomblé de Nação - o apelativo de "Ôrixá" firmou-se para designar a todos
os Seres Sobrenaturais de Categoria Divina indiscriminadamente, quer fossem da Direita ou da
Esquerda, ou, quer fossem "Pais", "Mães" ou "Filhos", quer, ainda, fossem da qualidade do Preto
ou do Vermelho. Alguns, até chamam Esu por "Ôrixá" porque pressentem sua importância, mas
desconhecem sua verdadeira essência !!!
O próprio Orisanla, no Brasil, ficou mais conhecido pela contração do termo Orisa Nla em
Orinxanalá, depois em Oxanlá e posteriormente criando-se a nova fonética "Oxalá", sob a qual é
passou a ser muitas vezes confundido com OLORUN e, outras vezes, sincretizado com as
características católicas e esotéricas do Senhor Jesus, o Cristo.
A principal Igbamole Ebora Dudu é a grande Divindade do Preto, a Igbamole Iyangba
Oduduwa que é a Parceira Gestante do Casal Divino, mas que está praticamente esquecida no
Brasil. Como esquecidos estão Oranfe, Agbona, Erikiran, Erinle, Oluwa, Oke, Agbala, Ikire,
Hoho, Ija, Olufon, Eteko, Oluorogbo, Oluwonfin, Oxaogiyan, etc...
Desta forma, assim, mais tardiamente, a própria a Umbanda Esotérica fixou seus parâmetros
sobre as características esotéricas de apenas um Orisa Funfun, cinco Irunmole e uma Iyami, mas
também chamando a todos por "Ôrixá": Oxalá, Ogum, Oxosse, Xangô, Yemanjá, Yori (Ibeje),
Yorimá (Obaluaiye).
Mas, ainda no Brasil, o maior dos esquecidos foi o Ara Orun Imole Irunmole Orisa Funfun
Oju Kotum Orunmila Ifa, o Senhor dos Destinos Humanos e, talvez, por isso, este país não
encontre o rumo da felicidade e da justiça social que espero em OLORUN que ele mereça e, um
dia, alcance.
Assim sendo, esta HP existe para redimir tal esquecimento !!!
5.
IMOLE ESU
"Esu, aqui está minha Oferenda!
Por favor, diga a Olorun
que aceite esta Oferenda
e alivie meu sofrimento! "
— Fórmula ritual com que os fiéis devem oferecer o Ebo destinado ao Imole Esu —
Mas, na sua feroz repressão a este atributo e à sua representação fálica, esses catequistas
"esqueceram-se" das outras atividades primordiais desse Imole! E esse "esquecimento" influenciou
duradouramente até aos iorubanos escravizados e "catequizados" no Brasil, fazendo com que eles
pouco repassassem aos seus futuros descendentes e/ou dependentes religiosos outros atributos mais
importantes que haviam por detrás daquela representação fálica agora repudiada.
Do Mito da Criação Universal, segundo os Iorubás.
É em respeito ao conceito ancestral que os Iorubanos tinham de suas Divindades que
enumerarei aqui os principais 16 (dezesseis) títulos descritivos dos atributos que o Imole Esu tinha
antes do advento de sua "conversão" forçada em "diabo", em nome de uma pretensa superioridade
racial e cultural de "conquistadores" que levaram à África mais de trezentos anos de guerras, sangue,
suor e lágrimas.
Também só nos referiremos aqui a Esu por seu título ancestral iorubano de Imole ou "Ser
Sobrenatural de Categoria Divina", para bem diferenciá-lo do conceito de Satã, Caipora ou Êxú de
Tronqueira que a perda de valores religiososo africanos, causada sobretudo pela escravidão e o
sincretismo forçado com o Catolicismo e o Islamismo, permitiu insinuar-se até na mente de muitos
que se dizem "Pai de Santo", quanto mais na mente de seus mais simples seguidores atuais.
Assim, com o devido respeito, começamos por saudar ao Imole Esu:
Mo ju iba, Esu Oba Baba awon Esu! Iba se, o!
Saudações, Esu Senhor e Pai de todos os Esus!
Que esta homenagem se cumpra!
E pedimos-lhe Ago ou "licença" para citar o seu Orisirisi ou "Contos Imemoriais" onde se fala de seus
dezesseis maiores atributos, sobretudo ligados ao Culto de Ifá, e que são tão negligenciados hoje em
dia até pelos seus El'esu ou "Sacerdote de Esu"!
Eis aqui seus dezesseis títulos e suas correspondentes "qualidades", os quais sempre foram
ligados aos 16 Odu ou "Fundamentos de Tradição" dos Itan Ifa ou "Contos de Ifá" de Ile Ife ou
"Cidade Santa de Ifé":
1. Esu Yangi - o Senhor da Laterita Vermelha
2. Esu Agba - o Senhor Ancestral
3. Esu Igba Keta - o Senhor da Terceira Cabaça
4. Esu Okoto - o Senhor do Caracol
5. Esu Oba Baba Esu - o Rei e Pai de todos os Eshus
6. Esu Odara - o Senhor da Felicidade
7. Esu Osije - o Mensageiro Divino
8. Esu Eleru - o Senhor da Obrigação Ritual
9. Esu Enu Gbarijo - o Senhor da Boca Coletiva
10. Esu Elegbara - o Senhor do Poder Mágico
11. Esu Bara - o Senhor do Corpo
12. Esu L'Onan - o Senhor dos Caminhos
13. Esu Ol'Obe - o Senhor da Faca
14. Esu El'Ebo - o Senhor das Oferendas
15. Esu Alafia - o Senhor da Satisfação Pessoal
16. Esu Oduso - o Vigia dos Odus
Pouca semelhança entre estes nomes e aqueles que, hoje em dia, se lhe atribuem? Paciência!
Somem a estes nomes 350 anos de guerras, escravidão, aculturação por sobrevivência e catequese
forçada "goela abaixo" dos vencidos e chegaremos facilmente, com o devido respeito, às
"Tronqueiras" e à troca de nomes do "Senhor da Laterita" por "Exú do Lodo", o "Senhor dos
Caminhos" por Exú "Tranca-Ruas" e o "Senhor do Corpo" por "Exú Caveira", como veremos a seguir.
Assim, tendo visto as denominações, vejamos agora as qualificações.
Esu Yangi é a sua primeira forma mais importante e a que lhe confere a qualidade de Imole ou
"Divindade", pois nos Ritos da Criação, segundo o Credo Iorubá:
-"O ar e as águas moveram-se conjuntamente e
uma parte deles mesmos transformou-se em lama.
Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo,
a primeira matéria dotada de forma,
um rochedo avermelhado e lamacento.
OLORUN admirou esta forma e soprou sobre o montículo,
insuflando-lhe Seu Hálito e lhe deu vida.
Esta forma, a primeira dotada de existência individual,
um rochedo de Laterita,
era Esu Yangi."-
Assim, fica claro que Imole Esu foi criado diretamente por OLORUN, mas não da própria e primordial
matéria divina, da qual Ele já havia feito Obatala e Oduduwa, o Casal Divino, mas sim daquela
matéria que iria formar toda existência genérica subseqüente, ou seja, a Eerupe ou "Lama", da qual
seria criada também toda a Humanidade que um dia Ebora Iku ou a "Morte" devolverá a essa mesma
lama.
Então, Imole Esu é o primeiro Ser criado da Existência Genérica e o símbolo por excelência do
Elemento Criado. Por isso ele é chamado também de Esu Agba ou "Eshu Ancestral". Assim, os seus
assentamentos ou sacrários mais antigos e tradicionais eram um simples pedaço de Laterita vermelha
enfiado no solo, na Orita Meta ou "Encruzilhada de Três Caminhos". Algumas vezes, a Laterita
vermelha estaria cercada por 7, 14 ou 21 hastes de ferro, mas deste metal bem enferrujado que é o
"esqueleto" do metal novo.
Como os mitos da Criação, segundo os Iorubás, demonstram que Imole Esu foi criado logo após
Obatala e Oduduwa por OLORUN, ele é, portanto, o Igba Keta ou a "Terceira Cabaça" ou o
"Terceiro Criado", sendo símbolo da Existência Diferenciada e, em conseqüência, o elemento dinâmico
que leva à propulsão, à mobilização, à transformação e ao crescimento. Nesta variante múltipla, ele é
o princípio dinâmico que participa forçosamente de tudo o que virá a existir.
E assim foi-se processando a Criação, segundo o Credo Iorubá.
Os Orisirisi Esu continuam contando como Imole Esu logo descontrolou-se e começou a
devorar toda a existência, sendo obrigado por Orunmila, após uma longa perseguição, a vomitar tudo
de volta; entretanto, tudo em maior quantidade, muito melhor e mais perfeito do que quando o
ingerira.
E, tendo sido picado em milhares de pedaços pela espada de Orunmila, transformou-se no
"Mais Um" ou o "Um multiplicado pelo Infinito", no Esu Okoto ou "Eshu do Caracol", cuja estrutura
óssea espiralada parte de um ponto único, abrindo-se para o Infinito e no qual os Iorubanos
conceituavam o crescimento e a multiplicação.
Desta forma, Esu Yangi também multiplicou-se “infinitamente" e, tendo se tornado no símbolo
da restituição e da recomposição, tornou-se ele próprio no Oba Baba Esu ou "Rei" e o "Pai" de todos
os outros Imole Esu que dele seriam e foram "cortados” e que para sempre acompanhariam os
Imole e todos os mortais.
Os Ese Itan Ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", contam-nos a razão da denominação das outras
variantes múltiplas de Imole Esu.
Numa explanação livre dos versos desses Contos, no que se refere ao Imole Osetuwa,
podemos ler que quando os Imole vieram à Terra para coadjuvar Obatala e Oduduwa a reger a
Criação, OLORUN ensinou-lhes tudo quanto precisavam saber para que a vida na Terra fosse Odara
ou "Feliz".
Mas, apesar de os Imole fazerem tudo quanto lhes tinha sido prescrito por OLORUN,
sobrevieram na Terra todos os tipos de desgraças, sobretudo uma terrível e prolongada seca.
Os Imole reuniram-se e chegaram à conclusão de que os fatos desastrosos estavam além da
sua compreensão e que deveriam mandar alguém, sábio e instruído, à presença de OLORUN para
que Este lhes mandasse a solução dos problemas que afligiam a Terra, agora sob o risco de total
desaparecimento.
Orunmila, o Orixá da Divinação Sagrada, partiu nessa missão e data daí o fato de que ele
passou a ser um dos três Imole que podem apresentar-se perante OLORUN e suportar-Lhe o
esplendor. Ao lhe ser permitido facear OLORUN, Orunmila ouviu Dele que a razão para todas as
desgraças que assolavam a Terra estava no fato de que eles, os Imole, não haviam convidado para
morar no Ode Aiye, ou seja, a "moradia dos Imole na Terra", ao Ser que se constituía no décimo
sétimo dentre eles. Quando assim o fizessem, tudo voltaria a frutificar!
E foi assim que Orunmila tornou-se o "Arauto de OLORUN" para a ligação dos dois mundos, o
Orun ou "Além" e o Aiye ou "Terra". Retornando ao Ode Aiye, Orunmila começou a procurar pelo
"décimo sétimo", o qual deveria ser convidado a morar com eles.
Depois de muitas tentativas infrutíferas, decidiram que uma poderosa Aje ou "Senhora do
Feitiço" - a Ebora Osum - deveria conceber um filho de Oso ou "Senhor do Poder Mágico", filho esse
que receberia, ainda no ventre materno, o Ase ou "Força Mágica" de todos os Imole por imposição
conjunta de suas mãos, para que se transformasse assim no Mensageiro por excelência das Oferendas
dos Imole e se acabassem as desgraças que assolavam a Terra.
Assim foi gerado um filho do "Feitiço com o Poder Mágico", o qual recebeu o nome de Osetuwa
e este novo Orixá Gerado passou a tentar cumprir o seu dever de mensageiro, mas sem obter
absolutamente nenhum sucesso!
Até que um dia, em aflição, lembrou-se de procurar o quase desconhecido Imole Esu Odara ou
"Eshu da Felicidade", para pedir-lhe conselhos e ajuda.
E Osetuwa dirigiu-se a Esu Odara e pediu-lhe a ajuda para levar as Oferendas dos Imole a
OLORUN. E Esu Odara respondeu a Osetuwa:
-" Como??? Jamais pensei que você viesse me avisar antes de partir!
Por este seu gesto, hoje o Orun lhe abrirá as portas."-
E, então, Osetuwa e Esu Odara puseram-se a caminho e partiram em direção aos portões do Orun.
Quando lá chegaram, as portas já se encontravam abertas!
Osetuwa, então, pôde entregar as Oferendas dos Imole a OLORUN e Este, aceitando-as por
virem através de Imole Esu, deu a Osetuwa ..."todas as coisas necessárias à sobrevivência do
Mundo". Osetuwa voltou ao Aiye ou "Mundo Material" e tudo frutificou novamente!
Tão gratos lhe ficaram os Imole que o cobriram de presentes e o celebraram como o único
dentre eles que conseguira levar as Oferendas ao Orun. Mas Osetuwa, com humildade, levou todos
os presentes que recebera e deu-os todos a Esu Odara.
Quando os deu a Esu, o mesmo disse:
-“Como??? Há tanto tempo eu entrego os sacrifícios
e nunca houve ninguém para retribuir-me a gentileza!"-
-“Você, Osetuwa, todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a Terra,
se não os entregarem primeiro a você
para que você os possa trazer a mim,
farei com que as Oferendas não sejam aceitas!"-
E foi assim que Osetuwa tornou-se em um poderoso Akin Oso ou "Manipulador do Poder",
duplamente por seu nascimento e pela confirmação de Imole Esu Odara, por ter mostrado a todos
os Imole que Esu era realmente o Osije ou "Mensageiro Divino" e que também tinha o poder de
aceitar ou recusar os sacrifícios rituais porque era o verdadeiro Eleru ou "Senhor da Obrigação
Ritual".
A partir de então, os seiscentos Imole decidiram dar ao Imole Esu um “pedaço de suas
próprias bocas” para que ele pudesse falar por todos, quando fosse perante OLORUN, pois era
patente que ele era o outro Imole, além de Orunmila, que podia apresentar-se perante OLORUN.
Imole Esu, muito sabiamente, “uniu todos esses pedaços em sua própria boca” e assim tornou-se o
Enu Gbarijo ou "Boca Coletiva" de todos os Imole.
Desde então, como retribuição de Esu aos outros Imole, cada um destes possui ao seu lado o
seu Esu Okoto ou "Eshu do Caracol", o "Mais Um", a quem ambos delegam os seus poderes. Desta
forma, por delegação espontânea de todos os Imole, Esu tornou-se também o Elegbara ou "Senhor
do Poder Mágico". E como toda a Criação é também regida pelos Imole, todo o Ser vivente no Aiye
ou "Mundo", assim como possui o seu Olori, ou seja, o seu Orisa ou sua Ebora, que são o "Senhor"
ou a "Senhora" de sua Ori ou "Cabeça", também tem que ter o seu Esu Bara ou "Esu do Corpo", pois
Bara vem de Oba=Senhor + Ara=Corpo.
Isto explica muitas coisas que são atribuídas nos cultos afro-brasileiros a Exú, pois que ele é
responsável pela natural atividade sexual, que é um atributo do corpo, pois sem ela não há
procriação, que é multiplicação e abundância, quer seja vegetal, animal ou humana.
E, para isso, Imole Esu, sendo o Elegbara e o Bara, recebeu de OLORUN os instrumentos-
símbolos desta sua ação dinamizadora e frutificadora:
- o Ado Iran, a Cabaça arredondada de longo pescoço, o recipiente de poder mágico que contém
inesgotável Ase ou Força Mágica, bastando ser apontada a um objetivo para emanar e propagar esse
poder mágico;
- o Gorro ou Penteado tradicional em coque de ponta alongada e caída, terminada na forma da
glande peniana humana, símbolo da Reprodução.
Daí ser o pênis humano, em ereção, uma de suas mais populares e ancestrais representações,
feitas em pedra, como as da localidade africana de Tondediru, ou, mais simplesmente, modeladas em
barro à beira dos caminhos. E este foi, como já dissemos no início, um dos aspectos de Imole Esu
que mais escandalizou os missionários de outras religiões, que então dispararam contra ele todas as
suas “armas”.
Nunca atentaram para o fato de que em nenhum dos milhares de Versos de Contos de Ifá,
Imole Esu jamais - repitamos - jamais assume a função de procriador e mais: suas diversas formas
multiplicativas têm por origem a divisão do seu próprio Ser em “milhares” de partes pela espada de
Orunmila.
Mas Imole Esu tinha uma outra função capital que despertou o interesse dos catequistas das
novas religiões, que nela viram a oportunidade otimizada para a destruição de sua importância entre
os Iorubás: a sua função de Executor Divino.
Como Imole Esu é o Mensageiro Divino e o Senhor do Carrego Ritual prescrito por Orunmila-
Ifa, ele é também o L'Onan ou "Senhor dos Caminhos", tanto dos benéficos (Ona Rere), quanto dos
maléficos (Ona Buruku), que ele abre ou fecha aos mortais conforme verifique se os sacrifícios
prescritos aos fiéis foram ou não cumpridos, ajudando aqueles que os cumprem e punindo os que,
devidamente avisados, não o fazem.
Por isso, ele é também o Ol'obe ou "Senhor da Faca", significando ser o Executor dos
Sacrifícios, mas também, no sentido ritualístico, "Aquele que tem o poder de vida e morte". À Obe ou
"Faca", Imole Esu junta ainda a sua Opa ou "Bolsa", na qual carrega os seus objetos ritualísticos
mágicos, entre eles os "fragmentos de cabaças", símbolo do Ser destruído mas, por sua vez,
destruidor, talvez um dos seus emblemas mais temidos e somente manipulados por seus El'esu, ou
seja, pelos Sacerdotes do Imole Esu.
Por tudo isso, Imole Esu está sempre "do lado de fora", nos “caminhos”, onde tem seu lugar
predileto, a Orita Meta ou "Encruzilhada de Três Caminhos", onde ele aceita, carrega, transporta e
premia, mas, também, de onde vigia, adverte, recusa e pune.
Foi então que os primeiros catequistas de outras religiões passaram a pregar que todas as
desgraças acontecidas aos fiéis dos Orisa Yoruba, merecidas ou não, derivavam da ação nefasta e
indiscriminada de Imole Esu, o qual apenas faria o Mal pelo Mal.
Por sua vez, o povo Yoruba escravizado viu nesta interpretação equivocada de Executor por
Malfeitor, uma nova arma para se defenderem e passaram a ameaçar abertamente os seus inimigos
com as artes punitivas do Imole Esu, que assim começou a transformar-se em "Êxú" e a sincretizar-
se, nas mentes mais fracas, com a figura do "diabo” medieval católico.
Daí a ele começar a ser representado e apresentado como um Ser tenebroso e mau foi apenas a
mesma “descida de ladeira” por onde escorregaram os sincrético cultos afro-brasileiros, notadamente
a Umbanda Popular, até estarem lançadas as bases do “sincretismo dentro do sincretismo" e
aparecer a Kimbanda que, na verdade, nada mais é que o "ponto mais alto da curva do desespero” a
que foram lançados os povos escravizados no Brasil.
Mas, na realidade, no Credo Iorubá, Imole Esu é o símbolo, não da subtração, mas sim da
restituição que os humanos devem fazer, através de Oferendas, daquelas coisas que eram necessárias
à sobrevivência do Mundo e que OLORUN deu aos Imole Osetuwa e Esu para salvá-la e não para
destruí-la.
E é na execução das Oferendas com esta intenção, que só Esu Elebo ou "Senhor das Ofendas" é
capaz de tornar aceitável a OLORUN, que está a "chave" que permite ao fiel alcançar o seu objetivo.
E se conseguir alcançar o seu objetivo, naturalmente obterá também a satisfação (Alafia) dos seus
anseios maiores; assim, deve agradecer também a Esu Alafia ou "Senhor da Satisfação Pessoal".
É sobretudo sob as múltiplas variantes de Bara, Enu Gbarijo, Elebo e Alafia que o Orisa
Orunmila se utiliza do Imole Esu para poder atuar como o Arauto dos Awon Orisa sobre os
destinos humanos na Divinação Sagrada de Ifá, quer através do Opon ou "Tabuleiro" e do Opele
ou "Corrente de Ifá", quer através dos "Búzios".
Por isso mesmo, os Odu ou "Fundamentos de Tradição" sempre aconselham a Pa Esu, ou seja,
a apaziguar ao Imole Esu e não a tentar suborná-lo para ter um “malfeitor” às ordens.
Imole Esu é, pois, o Princípio Restaurador do Equilíbrio no Credo Iorubá. Daí as suas
representações pouco conhecidas, à fora sua representação fálica, ora “fumando cachimbo”,
simbolizando a absorção e a ingestão, ora “tocando flauta”, simbolizando a doação e a restituição.
E assim, os Orisirisi Esu contam corno ele distribui generosamente crescimento e honras,
“vomitando-os" após ter ingerido todo tipo de alimentos e bebidas rituais das Oferendas e como há
um determinado elemento, o Aasaa ou "Fumo de rolo" picado que infalivelmente provoca essa
inusitada transformação, multiplicação e restituição”.
Tudo isso ele assim faz em troca de somente três coisas: a coragem do fiel em tentar cumprir
seu próprio destino; respeito do fiel aos Fundamentos de Tradição dos Orixás e a oferta de seu Ebo ou
"Oferenda" específico que lhe é destinada no seu ritual próprio, o Ipade, cujo literal significado é
justamente “ato de reunião de apaziguamento” e não para pedidos de destruições e vinganças
aleatórias, como pensam aqueles que, na verdade, não conhecem a essência do Senhor Imole Esu,
porque se esqueceram ou não conhecem mais as suas raízes espirituais ancestrais, ou, pior ainda, as
renegam!
A oferenda Ebo é constituída de elementos materiais muito simples, mas de profundo
significado, ao contrário do que se vê "despachado" pelas esquinas de nossas cidades e que quase não
guardam relação alguma com o seu significado original:
- Omi (a Água), a Oferenda por excelência, que fertiliza, apazigua e vitaliza tanto o Além quanto a
Terra, especialmente se for a Omi Ato (água de chuva), a “Água-sêmen” do Céu!
- Epo (o Azeite de Dendê): símbolo da dinâmica da realização, da descendência, relacionada com o
Eje Pupo ou “sangue vermelho” ou essência do Vermelho dos elementos gerados;
- Otin (bebida destilada branca): vinho de palmeira em áfrica e cachaça no Brasil, relacionada com o
Eje Funfun ou “sangue branco” ou essência do Branco dos elementos geradores;
- Iyefun (a farinha): qualquer farinha, a qual é símbolo do Eje Dudu ou “sangue preto” ou essência
do Preto dos elementos gesta ntes e fecundos, como o Akasa, bolinho de pasta branca de milho
deixado de molho, ralado e cozido, envolto na folha africana Ewe Eko, no Brasil, substitída pela "folha
de bananeira".
Dito isto (e mais haveria), eis porque tão poderosa divindade sempre foi e ainda é cultuada e
servida antes até que servidos e cultuados sejam os Orixás, em qualquer situação e lugar ...
Remarquemos a mais que, especificamente no Ebo de seu Ipade, Imole Esu não recebe
sangue animal e sim seu sucedâneo transmudado - o Epo ou "Azeite de Dendê".
Assim, sem ferirmos a Tradição Ancestral, podemos afirmar que é um direito da Corrente
Astral do Aumbhandan - A Umbanda Esotérica do Brasil - não se utilizar de sacrifícios de sangue,
nem mesmo parar preceituar tão poderosa divindade.
Usos e costumes ancestrais de outros povos, legítimos e fundamentados à sua época, podem
muito bem serem transmudados em novos tempos, como já acontecia mesmo em África, aonde os
Babalawos tinham, a seu critério, o poder de substituir os animais preceituados para oferenda por
suas penas, escamas e couros, devendo o valor de mercado do animal a ofertar ser distribuído, em
esmolas, entre os carentes de sua comunidade.
Por outro lado, a atuação do Imole Esu como Mensageiro dos Orixás para a entrega de
oferendas a OLORUN, dificilmente é compatível ou coerente com a sua posterior identificação com o
"Satã" pelos cristãos e muçulmanos. Tal tentativa de analogia, só se explica por não se encontrar no
Credo Iorubá a idéia de “diabo” ou “inferno”, como se os entendem em outras religiões não-africanas.
De fato, mesmo face à situação irregular dos suicidas, no pensamento Iorubá seres carentes de
coragem em enfrentar seu próprio destino, os Iorubanos jamais criaram a idéia grosseira de uma
eterna punição; para eles, prêmio ou castigo eram provações a serem experimentadas aqui mesmo
nesta Terra ou pela falta de retorno à ela.
Assim, a idéia de um "Exú" essencialmente trevoso e mau é uma contrafação sincrética com o
“diabo” medieval católico, forçada e imposta pela escravidão e conseqüente perda de valores
iniciatórios das religiões africanas no Brasil, mas que nunca existiu em África em tempo algum.
E, muito embora nas lendas populares, Imole Esu passasse a ser conhecido como "manhoso",
“trapaceiro" e notoriamente "encrenqueiro", mormente se não for "apaziguado" por seu Ebo, a sua
suposta imagem de malignidade decorre, na verdade, de ele ter o importante papel de Executor
Divino, punindo aqueles que descuram as oferendas prescritas para eles, mas recompensando aqueles
que as cumprem.
Entretanto, ele nada faz por conta própria, servindo fielmente a OLORUN e ao Orisa Orunmila-
Ifa. Também, os Orisa e as Ebora podem convocá-lo para se utilizar da variedade de punições
postas sob o seu comando. E isto porque, com imensa sabedoria, o Credo Iorubano ancestral prega
que Orisa algum pune diretamente seus “Filhos", mesmo os transviados, os transgressores e os
ofensores: isto é função do Imole Esu.
Os Versos dos Contos de lfá dizem que Imole Esu é também encarregado por OLORUN para
vigiar as ações de outras Divindades no Aiye ou "Terra". E isto só pode se dar, dizem os fiéis, porque
ele é notável e notoriamente equânime no seu papel de Executor Divino.
É por tudo isso que todos os devotos de todas os Orisa e Ebora se voltam para Orunmila-lfa
em tempos de dificuldades, buscando essa equanimidade e, a conselho dos Babalawo, oferendam a
Imole Esu e, por seu intermédio, a OLORUN.
Para que os Babalaôs não se excedam nas prescrição dessas oferendas, Imole Esu está
sempre presente na Divinação Sagrada de Ifá, como o décimo sétimo Ikin ou "Coquinho de Dendê", o
Olori Ikin ou "Senhor da Cabeça dos Coquinhos de Dendê Consagrados", o qual leva a sua efígie
gravada.
Por essa razão, este décimo sétimo lkin é também chamado de Oduso ou "Vigia dos Odu", do
verbo Iorubá So ou "Vigiar", ou seja, colocado no Tabuleiro de Ifá em uma posição tão privilegiada
quanto a do Babalaô, ele representa Esu Oduso que é o Vigia dos Odu ou "Signos-Resposta" do
Sistema lfá e, conseqüentemente de suas verdadeiras interpretações pelos Babalaôs, pois todo o bom
cumprimento do Iwa ou "Destino" do Consulente depende de se bem compreender a Mensagem que
Orisa Orunmila quer transmitir ao Consulente.
Daí se compreender que a ligação do Imole Esu com o "Jogo de Ifá" é inquestionável.
Assim, como vemos, Imole Esu não é nem mau nem tenebroso, antes, pelo contrário,
freqüenta o Orun ou "Além", reporta-se diretamente a OLORUN e dialoga com os Imole ou
Divindades e com os Onile ou Antepassados. Ele também não é indiscriminadamente vingativo , mas
é o Transformador Divino que trata com equanimidade Divindades, Ancestrais, Babalaôs e Humanos
por ordens de OLORUN.
E nada executa por sua própria vontade, mas cumprindo fielmente as ordens de OLORUN e os
ditames do Iwa ou "Destino" livremente escolhido por cada Ori Orun ou "Individualidade no Além" de
cada fiel e, através de Orunmila-Ifa, cumpre também as ordens das Divindades.
E se ele é considerado “trapaceiro" e “encrenqueiro”, o é pelos culpados, porque ele é o fiscal de
OLORUN junto aos Orisa e, ainda, o Vigia dos Babalaôs e do bom cumprimento das obrigações
rituais e sacrificiais por cada Fiel.
E se ele pode até matar, conforme se lê em diversos Ese dos Itan Ifá, é também ele que
representa a Vida e a sua dinamização ou continuação, através do legítimo e natural prazer sexual
que leva os humanos a procriar.
E se assim é há milênios, a Imole Esu só é devida a coragem de cada fiel em tentar realizar o
seu Destino livremente escolhido antes de nascer, a sua Oferenda específica - o Ebo - do seu ritual
Ipade e a nossa saudação, não de medo ou horror, mas de respeito, como a ele fez Osetuwa:
— "Agba Esu, Mo ju iba ! Iba se o!“ —
— "Esu Ancestral, presto-lhe minha homenagem!“-
-“Oh! Que esta homenagem se cumpra!" —
Assim sendo, quero terminar esta explanação com a tradução livre, mas coerente, de parte de um dos
Versos dos Contos de Ifá, o do Odu Obara Meji:
Obara ni,
ki ndojubole Ki n'ba buru,
Ki Elegbara o jeki ngo lo
Nje ikuderin Moforibale l'Elegbara.
—"Obará Meji pediu que eu me prostrasse em reverência,
cobrindo minha cabeça.
Que eu deveria me prostrar e me cobrir em respeito,
para que Elégbará me permitisse prosseguir
em meu caminho de felicidade e riqueza.
Assim, minha morte transformar-se-á em longa vida de alegria.
Portanto, curvo-me ante Elégbará!" —
Então, assim, também eu o faço e assim também eu peço:
— "Imole Esu, aqui está minha oferenda!“—
— “ Por favor, peça a OLORUN que aceite esta oferenda
e alivie meu sofrimento!"—
Tó! (Assim seja!) Adupê, ó! (Oh, Obrigado!)
Mana, Axé e Benção
Baba Oberefun Si Okojumide
6.
A DIÁSPORA NEGRA
a Pai-de-Santo aos Sudaneses
no Brasil
OSSANYIN
(Data festiva : 12 de Janeiro)
OXOSSI
(Data festiva : 20 de janeiro)
OGUM
(Data festiva : 23 de abril)
EXÚ
(Data festiva : 13 de Junho)
NANAN
(Data festiva : 26 de Julho)
OBALUAIYE
(Data festiva : 16 de Agosto)
IBEJI
(Data festiva : 27 de Setembro)
XANGÔ
(Data festiva : 30 de Setembro)
IANSAN
(Data festiva : 04 de dezembro)
OXUM
(Data festiva : 08 de dezembro)
OXUMARÊ
(Data festiva : 08 de dezembro)
OMULU
(Data festiva : 17 de dezembro)
Aché e Mandinga
Baba Oberefun Si Okojumide
A raiz ameríndia
O "TUYABAÉ-CUAÁ E A SANTIDADE"
3.
O ENCANTAMENTO
O BATUQUE E O OMOLOCÔ
6.
OBALUAYÊ
(Data festiva : 16 de Agosto)
OMULU
(Data festiva : 17 de dezembro)
UMBANDA, A SENHORA DA
LUZ VELADA
1. Umbanda zodiacal
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( Vou ler depois )
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O conhecimento do movimento dos astros na Abóboda Celeste sempre foi comum a todos os
povos da Antiguidade. Séculos de observações celestes fizeram os Antigos constatarem que
certas estrelas eram fixas, enquanto outras moviam-se. Além disso, de um ponto de observação
fixo na Terra, o Sol parece deslocar-se pelo Espaço em um movimento circular, passando sempre
pelos mesmos grupos estelares, os quais, para serem memorizados, foram sendo agrupados em
"desenhos" hipotéticos que receberam significativos nomes, tão bem escolhidos, que até hoje
perduram : Carneiro, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário,
Cabra, Aquário e Peixes.
Como a maioria desses "desenhos" lembram seres animados - Carneiro, Leão, Touro,
Cabra, Gêmeos, etc - os Gregos chamaram todo esse conjunto por ZOÉ, significando Vida ou
Existência e, assim, a cultura greco-latina cunhou a palavra ZODÍACO. Mas, em razão dessa
aparente viagem do Sol e seu séquito de planetas por esse círculo de constelações fixas, já os
anteriores Vedas Indianos a chamaram de Estrada dos Anjos, ou seja, KEJA-DEVA e que
resultou em nossa língua, passando antes pela língua árabe, em CALENDÁRIO.
Por aparentar ser circular, esta Estrada dos Anjos e da Vida foi dividida, a grosso modo, em
12 (doze) partes iguais, correspondendo à cada constelação 30 graus ou trinta dias do ano,
começando no dia 21 de Março, o qual marca o Ano Novo Esotérico em todo o mundo. Também
por marcarem um determinado espaço do Calendário, cada uma dessas Constelações passou a ser
conhecida como o seu símbolo particular, ou seja, o seu SIGNO ZODIACAL.
Cremos inabalavelmente que tudo o que existe, foi feito pela Vontade Divina.
Assim, sendo Deus o único Ser Uno e Eterno, toda a obra de Sua Criação é dualista e Sua
Vontade está eternamente presente em qualquer ponto do Universo espiritual, astral ou físico,
traduzindo-se por uma Eterna Corrente de Vontade Criadora que permeia toda a Criação e que,
sendo uma conseqüência de Deus e não Ele próprio, ela é Polarizada em atração e repulsão,
pólos positivo e negativo. Todo Ser vivente ou reagente nasce ou reage quando esses dois pólos
opostos são postos em contato.
Do mesmo modo, como os Signos Zodiacais também representam Vida e Movimento, a
Antiga Sabedoria primeiramente classificou-os por Polaridade :
QUALIDADE
POLARIDADE
Positivos
Carneiro Gêmeos Leão Libra Sagitário Aquário
Negativos
Touro Câncer Virgem Escorpião Capricórnio Peixes
2- QUALIDADE ELEMENTO
A Eterna Corrente de Vontade Criadora é absorvida por Mediadores Espirituais Divinos, os
quais cada religião denomina à sua feição e nós, na Umbanda Esotérica, denominamos por
Orixás Originais. Esta Eterna Corrente de Vontade Criadora polarizada, em contato com cada
Orixá Original, sofre uma nova modificação diferenciada e busca manifestar-se através de
Vibrações Astrais que geram e mantêm a Energia, em todas as suas formas de manifestação que
conhecemos e que ainda desconhecemos.
Assim é que, no Princípio, a polarização da Energia Espiritual com a Energia
Consciencional gera a Energia Etérea ou Astral. Esta Energia Astral, embora indiferenciada e
sutil, já é de qualidade material, sendo as variações de intensidade de suas vibrações energéticas
que induzem a formação das Forças Sutis Elementares que geram os Elementos, os quais buscam
manifestarem-se na Natureza.
Nessa busca, elas tornam novamente a se polarizar grupalmente, ou seja, dois pares tomam
caraterísticas opostas : 1 e 2, expansão e locomoção; 3 e 4, contração e coesão.
A primeira e mais sutil dessas vibrações energéticas evolui da Energia Astral Indiferenciada por
aumento de freqüência vibracional e gera a Força Sutil Elementar que dá origem ao estado
gasoso da Matéria, ao qual a Antiga Sabedoria referia-se por Elemento AR
A segunda dessas vibrações, evolui da anterior por intensificação de freqüência vibracional para
dar origem ao estado ígnêo da Matéria, ou seja, ao Elemento FOGO.
A terceira também evolui primeiramente da Energia Astral Indiferenciada, mas por diminuição
de freqüência vibracional, dando origem ao estado líquido da Matéria, ou seja, ao Elemento
ÁGUA.
A quarta dessas vibrações, evolui de sua anterior por coesão de freqüência vibracional para dar
origem ao estado solido da Matéria, ou seja, ao Elemento TERRA.
Assim, também os Signos Zodiacais foram classificados pelos Elementos que representam:
QUALIDADE ELEMENTOS
AR Gêmeos Libra Aquário
FOGO Carneiro Leão Sagitário
ÁGUA Câncer Escorpião Peixes
TERRA Touro Virgem Capricórnio
2- MOVIMENTO
QUALIDADE MOVIMENTO
CARDINAIS
Carneiro Câncer Libra Capricórnio
(iniciação)
FIXOS
Touro Leão Escorpião Aquário
(consolidação)
MUTÁVEIS
Gêmeos Virgem Sagitário Peixes
(renovação)
A partir dessas classificações é possível estabelecer-se todas as demais correlações entre os Signos
Zodiacais e tudo quanto existe nos Reinos Mineral, Vegetal e Animal da Natureza.
Assim também, várias as religiões, à partir da denominação que criaram para os Mediadores
Espirituais Divinos - Devas, Espíritos Ancestrais, Potestades, Arcanjos - ligam-se ao processo de
Criação e sua representação pelo Zodíaco, pois todas elas, no seu mais íntimo cerne, creêm
primeiramente em um Ser único, Eterno e Infinito : Deus, seja qual for o nome que se Lhe
atribuirmos.
Mas, como a Umbanda Esotérica pode estabelecer a relação particular entre cada Signo Zodiacal
e seus Orixás Ancestrais?
A Matemática sempre foi uma ciência universal, no tempo e no espaço, sendo que um de seus
axiomas de mais fácil compreensão é aquele que anuncia :
A Umbanda Esotérica prega que determinados Orixás Ancestrais são os Senhores de
determinadas Vibrações Energética denominadas pelo termo "Vibração Original".
Assim , estas são as Correlações das Vibrações Originais:
VIBRAÇÕES ORIGINAIS
Oxalá Senhor da Vibração Original Espiritual
Yemanjá Senhora da Vibração Original Mental
Ibeje Senhor da Vibração Original Etérea
Oxosse Senhor da Vibração Original Eólica
Xangô Senhor da Vibração Original ígnêa
Ogum Senhor da Vibração Original Hídrica
Obaluaiyê Senhor da Vibração Original Telúrica
A Antiga Sabedoria dos Povos que estabeleceu o Keja-Devas e Zoé afirma que, para a Humanidade
:
CALENDÁRIO
Sol é o símbolo de sua parcela Espiritual
Lua é o símbolo de sua parcela Mental
Mercúrio é o símbolo de sua parcela Etérea
Vênus é o símbolo de sua parcela Eólica / Telúrica
Júpiter é o símbolo de sua parcela Ígnêa / Hídrica
Marte é o símbolo de sua parcela Hídrica / ígnêa
Saturno é o símbolo de sua parcela Telúrica / Eólica
Então, pelo axioma matemático acima enunciado, podemos agora estabelecer a correlação destes
conhecimentos derivada :
Assim, fica estabelecida a Correlação entre os Orixás Ancestrais e a Estrada dos Anjos e da Vida,
podendo cada ser humano conhecer as Influências Místicas que sobre ele agem e, então, auto-
analizar-se para corrigir o rumo de suas ações, já que as influências astrais podem ajudar ou
contraporem-se à sua própria tendência, mas nunca dominar sua vontade.
Pois, o homem é sempre sensível ao seu meio ambiente e esse ambiente é afetado pelas
radiações eletro-magnéticas que, vindas do Espaço Sideral, são refletidas e ampliadas com as próprias
radiações do Sol e da Lua, dando origem aos diferentes fenômenos físicos que caracterizam os doze
meses do Calendário.
E o Homem pode sintonizar-se com estas influências místicas pela data de seu nascimento, isto
é, se ele concientizar-se que naquele momento em que ele pela primeira vez recebeu o hausto da vida
em seus pequeninos pulmões, imperava uma Vibração Astral de um dos Signos da Estrada dos Anjos
e da Vida - o Zodíaco - regida por um Astro Celeste que reflete a Vibração Original Divina modificada
pela individualidade espiritual de um Orixá Ancestral.
Eis porque a Antiga Sabedoria dos Povos já dizia que :
Portanto, o mais ínfimo dos Seres merece todo nosso respeito por que tem correpondência com
o Altíssimo Ser e, por essa correspondência, todos os Seres se tornam "Um" com o Universo.
Eis porque afirmamos que a Umbanda Esotérica é a Filosofia das Forças Vitais da Natureza e
porque todo aquele que professa este credo tem a obrigação de seguir os ditames da Magia
Naturalista que, hoje, chama-se Ecologia !
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron
Para os Nascidos em :
ÁRIES : de 20/03 a 18/04 || LIBRA : de 22/09 a 22/10
TOURO : de 19/04 a 19/05 || ESCORPIÃO : de 23/10 a 21/11
GÊMEOS : de 20/05 a 20/06 || SAGITÁRIO : de 22/11 a 20/12
CÂNCER : de 21/06 a 21/07 || CAPRICÓRNIO : de 21/12 a 19/01
LEÃO : de 22/07 a 21/08 || AQUÁRIO : de 20/01 a 17/02
VIRGEM : de 22/08 a 21/09 || PEIXES : de 18/02 a 19/03
OXY
e que simbolizamos pelo Signo do Circulo Cruzado.
SENHOR OXALÁ
É o Mediador Divino na Criação no Universo.
É o Senhor Primaz da Vibração Original Espiritual
que criou, insufla e mantém a Vida na Humanidade.
Tem a regência do Astro Rei Sol, nessa qualidade
influenciando o Signo de Leão.
Ver a Relação Esotérica no Signo de Leão.
SENHOR OGUM
É o Mediador Divino que reflete o Princípio da Luta
Sagrada
Tem a regência do Planeta Marte.
É o Senhor Primaz da Vibração Original Ígnêa
(elemento Fogo), nessa qualidade influenciando o Signo
de Áries.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Hídrica
(elemento Água), nessa qualidade influenciando o Signo
de Escorpião.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Áries e de Escorpião
SENHOR OXOSSE
É o Mediador Divino que reflete o Princípio
da Lei da Causa e do Efeito.
Tem a regência do Planeta Vênus.
É o Senhor Primaz da Vibração Original Eólica
(elemento Ar), nesta qualidade influenciando o Signo de
Libra.
É o Senhor Secundário da Vibração Original
Telúrica
(elemento Terra), nesta qualidade influenciando o Signo
de Touro.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Libra e de Touro
Ponto Riscado de Xangô na Lei de Pemba
SENHOR XANGÔ
É o Mediador Divino que reflete o Princípio da
Justiça Divina.
Tem a regência do Planeta Júpiter.
É o Senhor Primário da Vibração Original Ígnêa
(elemento Fogo), nesta qualidade influenciando o Signo
de Sagitário.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Hídrica
(elemento Água), nesta qualidade influenciando o Signo
de Pisces.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Sagitário e de Pisces
SENHORA YEMANJÁ
É a Mediadora Divina que reflete o Princípio
Passivo Gerante
Tem a regência do Satélite Lua.
É a Senhora Primaz da Energia Mental,
nesta qualidade influenciando o Signo de Câncer.
Ver Relação Esotérica no Signo de Câncer
Senhores Yori
São os Mediadores Divinos Unidos que refletem
o Princípio Criado Equilibrador
Têm a regência do Planeta Mercúrio.
São os Senhores Primários da Vibração Original
Etérea
(elemento Astral/Éther).
São os Senhores Secundários das Energias
Elementares Eólica e Telúrica,nesta qualidade
influenciando o Signo de Gêmeos e Virgem.
Ver Relação Esotérica no Signo de Gêmeos e de Virgem
Ponto Riscado de Yorimá na Lei de Pemba
SENHOR YORIMÁ
É o Mediador Divino que reflete o Princípio da
Potência da Palavra da Lei
Tem a regência do Planeta Saturno.
É o Senhor Primário da Vibração Original Telúrica
(elemento terra), nesta qualidade influenciando o Signo
de Capricórnio.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Eólica
(elemento ar), nesta qualidade influenciando o Signo de
Aquário.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Capricórnio e de
Aquário.
Já existe toda uma literatura Umbandista sobre o "como" e o "porque" preparar-se
tais objetos talismânicos e até amuletos. Mas, em toda essa literatura não existia
nenhuma referência de como se situar o Ser Humano - agente ou paciente - dessa
Magia de Pemba e nem como classificá-lo ou individualizá-lo nessas condições.
Abordar esse "esquecido" tema foi o objetivo principal do livro - Pemba, A Grafia
Sagrada dos Orixás -, de Mestre Itaoman, publicado em 1990 e do qual se
extraem os apontamentos elucidativos que se seguem.
O Ser Humano é, por excelência, o Ponto de Junção entre o Plano Espiritual
e o Plano Material porque suas funções cerebrais transmitem a percepção do
Mundo Físico, captadas por seus cinco sentidos básicos, à sua Consciência
Individual, a qual tem o poder de aperceber-se, para além dos reflexos instintivos,
daqueles substratos astrais contidos nesses contatos, gerando a percepção extra-
sensorial.
Por isso mesmo, a Matemática Pitagórica relacionou o Ser Humano à
Entidade Matemática Cinco (número 5) , justamente pela existência dos cinco
sentidos humanos : visão, audição, tato, olfato e gosto. Daí decorre o fato da
Geometria Esotérica relacioná-lo com o Polígono Piramidal por este objeto ter
cinco (5) superfícies: quatro verticais inclinadas e uma base horizontal plana.
A Magia Talismânica Heleno-Semita simboliza-o pelo Pentagrama, a famosa
Estrela de Cinco Pontas, por assim melhor poder expressá-lo em sua Dupla
Polaridade :
E, para isso, a Magia Talismânica de Umbanda tem seus próprios símbolos
sagrados para representar aos seus Ôrixás, Guias e Protetores, aos Planetas e
Signos Zodiacais, às Forças Elementares da Natureza, à Numeralogia e Grafia
Sagrada com que cria e grafa Nomes Próprios e/ou Iniciáticos, bem como pode
representar os Vórtices e Canais de Energias Sutis que percorrem o organismo
intra e supra corpóreo do Ser Humano, caminhos de energias estes que são,
também, controlados pelo Imolé Eshu Bara, o Senhor Guardião do Corpo e dos
Caminhos do Destino de cada um de nós, os quais ele abre ou fecha conforme os
méritos e os deméritos de nossas ações conscientemente perpetradas.
Com o conjunto desses Símbolos e com sua Grafia Sagrada, à qual os
Umbandistas denominam por Lei de Pemba, a Umbanda não precisa recorrer à
simbologias de origem egípcia, tântrica, hebraica, grega ou latina para compor
seus Sinetes ou Talismãs.
É de se notar, também, que as representações das formas geométricas (e a
matemática que as inspiraram), não são propriedade exclusiva de nenhuma
civilização ou época. Elas existem desde sempre na Natureza : a espiral da casca
de um caracol, o oval de um seixo rolado, o triângulo de uma lasca de sílex, o
cubo, a pirâmide, o hexágono e muitas outras formas encontráveis nos minérios e
cristais, a forma poligonal de uma estrela-do-mar !
Não há aqui espaço para o ensinamento das correlações entre os Símbolos
Sagrados de Umbanda e os símbolos de outras procedências, tais como
Astrologia, Alquimia, Cabala e Magia. Mas, realmente, a correlação existe e quem
quiser aprofundar-se no assunto em questão pode referenciar-se no livro de
Mestre Itaoman acima citado, embora seja difícil encontrá-lo nas livrarias.
Por isso mesmo, vamos limitar-nos a apresentar os doze Sinetes Astrais
básicos referentes aos doze Signos Zodiacais, de forma que cada pessoa possa
encontrar aquele referente à data de seu nascimento e, então, utilizar-se dele, por
sua conta e risco, para obter proteção contra "temporais astrais" que,
infelizmente, certos ambientes ou pessoas mal vibrados podem ocasionar.
O material em que devem ser confecionados é aquele referido como o metal
característico do Signo Zodiacal, encontrável no tópico Influências Místicas, Item
Influências, sub-item Data de Nascimento, nesta mesma Home Page.
Sobre um dos seus lados, cada Sinete Astral tem gravado os Símbolos
Umbandistas relativos ao Signo Zodiacal, o Planeta Regente, o Orixá de
Nascimento, a Força Sutil do Elemento da Natureza, o símbolo do Vórtice Astral
captador de energias sutis de seu organisno extra-corpóreo e o símbolo astral
sintético da Entidade Espiritual Guardiã de seu corpo físico e astral, ou seja, seu
Imole Eshu Bara.
Em seu outro lado, tem signos cabalísticos não reveláveis publicamente, ou
seja, só são reveláveis dentro da relação Mestre-Discípulo.
Cada um desses Sinetes Astrais é, pois, comum a todas pessoas nascidas
sob esse mesmo Signo Astral e por todas elas podem ser utilizados, mas apesar
de abaixo relacionarmos os Doze Sinetes Astrais Básicos para seu simples
conhecimento, é evidente que para grafá-los magisticamente é necessário ter-se
sido iniciado na Lei de Pemba de Umbanda, a Grafia Sagrada dos Orixás :
simplesmente cópiá-los e portá-los não levará ninguém a resultado
algum!
Gêmeos Câncer
De 20/05 a 20/06 De 21/06 a 21/07
Leão Virgem
De 22/07 a 21/08 De 22/08 a 21/09
Libra Escorpião
De 22/09 a 22/10 De 23/10 a 21/11
Sagitário Capricórnio
De 22/11 a 20/12 De 21/12 a 19/01
Aquário Peixes
De 20/01 a 17/02 De 18/02 a 20/03