(Tópicos) John R. Searle - A Redescoberta Da Mente-Martins Fontes (2006)
(Tópicos) John R. Searle - A Redescoberta Da Mente-Martins Fontes (2006)
(Tópicos) John R. Searle - A Redescoberta Da Mente-Martins Fontes (2006)
Tradução
EDUARDO PEREIRA E FERREIRA
. / AQUtSlÇAO
COMPRA ( Y ) DOAÇÃO( )
M artins Fontes
Sao Paulo 2006
Esta obra fo i publicada originalm ente em inglés com o títu lo
TH E REDISCOVERY OF THE M IN D
por The M IT Press, Cambridge, Massachusetts, em 1992.
C opyright © 1992, Massachusetts In s titu te o f Technology.
Copyright © 1997, Livra ria M a rtin s Fontes Editora Ltda.,
São Paulo, para a presente edição.
I a edição 1997
2a edição 2006
Tradução
ED U A R D O PEREIRA E FERREIRA
Revisão técnica
M aria Viviane do Am aral
Veras Costa Pinto
Revisão da tradução
Jefferson Luiz Camargo
Revisões gráficas
Teresa Cecilia de O liveira Ramos
Eliane Rodrigues de Abreu
D iñarte Zorzanelli da Silva
Produção gráfica
Geraldo Alves
P aginação/Fotolitos
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
06-2792 CDD-128.2
Agradecimentos........................................................ V II
In tro d u çã o ................................................................ 1
Notas.......................................................................... 357
B ib lio g ra fia .............................................................. 367
índice onom ástico.................................................... 377
AGRADECIMENTOS
V. M inando os fundamentos
tais, e que não temos que nos preocupar com questões epis-
têmicas. Esta não é, de modo algum, a questão. Penso que
é mensamente d ifíc il estudar fenômenos mentais, e o
único guia para a m etodologia é o universal - use qualquer
ferramenta ou arma que esteja à mão, e aferre-se a qual
quer ferramenta ou arma que funcione. A idéia que estou
apresentando aqui é diferente: a epistem ologia do estudo
do mental não determina sua ontologia mais do que a
epistem ologia de qualquer outra disciplina determina sua
ontologia. Pelo contrário, no estudo da mente, como em
qualquer outro lugar, todo o problem a da epistem ologia é
alcançar a ontologia preexistente.
I. O m istério do m aterialism o
II. Behaviorism o
dos” . Com isto ele quer dizer que cada expressão ide n ti
fica o objeto a que se refere em termos de suas p ro prie
dades essenciais. Essa sensação de dor que tenho agora é
essencialmente uma sensação de dor porque qualquer coi-
sa idêntica a essa sensação teria que ser uma dor, e este
estado cerebral é essencialmente um estado cerebral por
que qualquer coisa idêntica a ele teria de ser um estado
cerebral. Assim , parece que o teórico da identidade que
declara que dores são determinados tipos de estados
cerebrais, e que esta dor específica é idêntica a este esta
do cerebral específico, seria forçado a considerar tanto
que é uma verdade necessária que, em geral, as dores são
estados cerebrais quanto que é uma verdade necessária
que esta dor específica é um estado cerebral. Mas nenhu
ma dessas alternativas parece correta. Não parece certo
afirm ar quer que as dores em geral sejam necessariamente
estados cerebrais, ou que m inha dor atual é necessaria
mente um estado cerebral; porque parece fá c il im aginar
que alguma espécie de ser pudesse ter estados cerebrais
como esses sem ter dores, e dores como essas sem estar
nesses tipos de estados cerebrais. É até possível conceber
uma situação na qual eu tivesse exatamente essa mesma
dor sem ter esse mesmo estado cerebral, e na qual eu tives
se exatamente esse mesmo estado cerebral sem ter dor.
O debate sobre a força desse argumento m odal con
tinuou por alguns anos, e ainda persiste (Lycan, 1971,
1987; Sher, 1977). D o ponto de vista de nossos presentes
interesses, quero chamar a atenção para o fato de que se
trata essencialmente da objeção de senso comum em rou
pagem sofisticada. A objeção de senso comum a qual
quer teoria de identidade é a de que você não pode iden-
A HISTÓRIA r e c e n t e d o m a t e r ia l is m o 61
V Funcionalism o caixa-preta
e dizer:
Tabela 2.1
O padrão geral exibido pelo m aterialism o recente.
X. Os ídolos da trib o
/. Cérebros de silício
Então, neste caso, você saberia que eles estão totalm ente
enganados. Isto é, você quer berrar:
IV. Resumo
II. Subjetividade
P Propriedades emergentes
II. Reducionismo
1. Redução ontológica
A mais im portante form a de redução é a redução
ontológica. É a form a na qual se pode demonstrar que
objetos de determinados tipos consistem em nada exce
to objetos de outros tipos. Por exemplo, pode-se demons
trar que cadeiras são nada exceto coleções de moléculas.
Esta form a é claramente im portante na história da ciên
cia. Por exem plo, pode-se demonstrar que objetos mate
ria is em geral são nada exceto coleções de moléculas,
pode-se demonstrar qu£ genes consistem em nada exceto
m oléculas de D N A . Parece-me que esta form a de redu
ção é aquilo a que estão visando as outras formas.
3. Redução teórica
Reduções teóricas são as favoritas de teóricos na lite
ratura, mas me parecem bastante raras na prática efetiva da
ciência, e talvez não seja surpreendente que a mesma meia
dúzia de exemplos seja repetidamente dada nos livro s didá
ticos padrões. D o ponto de vista da explanação científica,
as reduções teóricas são interessantes sobretudo se nos per
mitem realizar reduções ontológicas. De qualquer maneira,
a redução teórica é basicamente uma relação entre teorias,
em que as leis da teoria reduzida podem (mais ou menos)
ser deduzidas a partir das leis da teoria redutora. Isto de
monstra que a teoria reduzida é nada exceto um caso espe
cial da teoria redutora. O exemplo clássico que se costuma
apresentar em livros didáticos é a redução das leis dos
gases às leis da termodinâmica estatística.
5. Redução causal
Esta é uma relação entre quaisquer dois tipos de co i
sas que possam ter capacidades causais, em que se
demonstra que a existência e, a fo r tio r i, as capacidades
causais da entidade reduzida são inteiram ente explicá
veis em termos das faculdades causais dos fenômenos
redutores. Assim , por exem plo, alguns objetos são s ó li
dos, e isto tem conseqüências causais; objetos sólidos
são im penetráveis por outros objetos, são resistentes a
pressão etc. M as essas capacidades causais podem ser
explicadas causalmente pelas capacidades causais de
m ovim entos vibratórios das moléculas em estruturas em
agregados.
Ora, quando as concepções em que tenho insistido são
acusadas de serem reducionistas - ou às vezes insuficiente
mente reducionistas - , quais desses vários sentidos efeti
vamente os acusadores têm em mente? Penso que redução
teórica e redução lógica não são os intencionados. Aparen
temente, a questão é se o reducionismo causai de minha
concepção induz - ou fracassa em induzir - à redução onto-
lógica. Sustento uma visão de relações mente/cérebro que é
uma forma de redução causai, conforme defini a noção: ca
racterísticas mentais são causadas por processos neurobio-
lógicos. Isto im plica redução ontológica?
Geralmente, na h istória da ciência, as reduções cau
sais bem-sucedidas tendem a levar a reduções ontológi-
cas. Porque, onde temos uma redução causai bem-sucedi
da, simplesmente redefinim os a expressão que denota os
fenômenos reduzidos de ta l form a que os fenômenos em
questão possam então ser identificados com suas causas.
Assim , por exemplo, termos relativos a cores foram uma
r e d ü c io n is m o e a ir r e d u t ib il id a d e d a c o n s c iê n c ia 167
V Superveniência
A > 's \0 1
SS1
2. Unidade
E característico de estados conscientes não-patológi-
cos que se apresentem a nós como parte de uma seqüên
cia unificada. Não tenho exatamente uma experiência de
uma dor de dente e também uma experiência visual do
sofá que está situado a poucos metros de m im , e de rosas
que se projetam de um vaso à m inha direita, do modo
como visto por acaso uma camisa listrada ao mesmo
tempo em que visto meias azul-escuras. A diferença cru
cial é esta: tenho minhas experiências da rosa, do sofá e
da dor de dente inteiram ente como experiências que são
parte de um único e mesmo evento consciente. A unidade
existe em pelo menos duas dimensões, as quais, persistin
do nas metáforas espaciais, chamarei de “ horizontal” e
“ vertical” . Unidade horizontal é a organização de expe
riências conscientes por curtos períodos de tempo. Por
exemplo, quando fa lo ou penso uma sentença, mesmo
uma sentença longa, m inha ciência da parte in ic ia l daqui
lo que disse ou pensei continua mesmo quando esta parte
não está mais sendo pensada ou falada. Esse tip o de
memória icônica é essencial para a unidade da consciên-
Cla>e talvez até a m em ória de curta duração seja essen-
cial. Unidade ve rtica l é uma questão de estar ciente
simultaneamente de todas as diversas características de
qualquer estado consciente, conform e ilustrado por meu
188 A REDESCOBERTA DA MENTE
3. Intencionalidade
A m aior parte da consciência, mas não toda, é inten
cional. Posso, por exem plo, simplesmente estar num
estado de espírito de depressão ou exultação sem estar
deprim ido ou exultante por qualquer coisa em particular.
Nesses casos, meu hum or, como ta l, não é intencional.
Mas geralmente, eñi qualquer estado consciente, o esta
do é d irig id o a uma coisa ou outra, ainda que a coisa à qual
é d irig id o não exista, e nesse sentido ele tem intenciona
lidade. Em um núm ero m uito grande de casos, a cons
ciência é verdadeiramente consciência de algo, e o “ de”
em “ consciência de” é o “ de” de intencionalidade.
A razão por que achamos d ifíc il d istin g u ir entre
m inha descrição dos objetos sobre a mesa e m inha des
crição de m inha experiência dos objetos é que as caracte
rísticas dos objetos são precisamente as condições de
satisfação de minhas experiências conscientes deles. As
sim , o vocabulário que u tiliz o para descrever a mesa -
A ESTRUTURA DA CONSCIÊNCIA: UMA INTRODUÇÃO 189
4- Sensação subjetiva
A discussão de intencionalidade naturalmente nos re
bote à impressão subjetiva de nossos estados conscientes.
190 A REDESCOBERTA DA MENTE
5. Transbordamento
Estados conscientes em geral referem-se a algo mais
que seu conteúdo im ediato. Denom ino este fenômeno
“ transbordamento” . Considere um tipo extrem o de caso.
Sally olha para Sam e repentinamente tem uma idéia num
lampejo: “ E isso m esm o!” Caso solicitada a relatar o pen
samento, podia começar assim: “ Bem, subitamente com
preendi que nos últim os dezoito meses estive perdendo
meu tempo num relacionamento com alguém que é total
mente inadequado para m im , que, quaisquer que fossem
seus outros m éritos, m inha relação com Sam era baseada
numa premissa falsa de m inha parte. Repentinamente
ocorreu-me que não poderia nunca ter um relacionamento
duradouro com o chefe de um bando de m otoqueiros
como os H e ll’s Angels, porque...” E por aí afora.
Em tal caso, o conteúdo im ediato tende a extravasar,
a associar-se a outros pensamentos que de certo modo
eram parte do conteúdo, mas que de outro não eram.
Embora isto seja ilustrado m elhor com um caso extremo
como esse, creio que o fenômeno é geral. Por exem plo,
enquanto olho agora pela janela para as árvores e o lago,
198 A REDESCOBERTA DA MENTE
11. H um or
M encionei anteriorm ente que m uitas vezes temos
disposições de ânimo que não são em si intencionais, ape
sar de conscientes. Posso estar em um estado de espírito
eufórico ou deprim ido, com um hum or alegre ou abatido,
e esses não precisam ser conscientemente voltados a ne
nhuma condição de satisfação intencional. Por si mesmo,
um estado de espírito nunca constitui todo o conteúdo de um
estado consciente. Antes, o hum or fornece a tonalidade ou
cor que caracteriza o conjunto de um estado consciente
ou uma seqüência de estados conscientes.
Sempre estamos com algum tip o de humor? A res
posta depende de quão amplamente queremos d e fin ir a
noção de humor. Certamente nem sempre estamos com
um hum or que tenha um nome num idiom a como o inglês.
Agora, nem estou especialmente eufórico nem especial
mente deprim ido; nem estou extasiado, nem em desespe
ro; na verdade, nem estou simplesmente entediado.
Contudo, parece-me que há o que alguém poderia deno-
minar uma “ tonalidade” para minhas experiências pre-
sentes. E isto me parece convenientemente assim ilável à
20 2 A REDESCOBERTA DA MENTE
1 , Autoconsciência
V
2. Introspecção
Os estados mentais conscientes são conhecidos por
uma capacidade especial, a capacidade para a introspec
ção? Em capítulos anteriores, tentei lançar dúvida sobre
esta concepção, que é predominante tanto na filosofia
quanto no senso comum. Como no caso da autoconscien-
cia, há não somente uma noção técnica, mas também uma
A ESTRUTURA DA CONSCIÊNCIA: UMA INTRODUÇÃO 207
3. In c o rrig ib ilid a d e
M uitas vezes se d iz que não podemos estar equivo
cados sobre os conteúdos de nossas próprias mentes. Na
concepção cartesiana tradicional da mente, os relatos de
prim eira pessoa de estados mentais são de algum modo
incorrigíveis. De acordo com esta concepção, temos um
certo tip o de autoridade de p rim e ira pessoa em relatos
sobre nossos estados mentais. Tem-se sustentado, até,
que essa in co rrig ib ilid a d e é um sinal seguro de que algo
é m ental (R orty, 1970). Contudo, se você reflete sobre
isso por um m om ento, a afirm ação de incorrigibilidade
parece obviamente falsa. Considere S ally e Jimm y. Mais
tarde, S a lly podia chegar a dar-se conta de que estava
completamente equivocada quando pensou estar apaixo
nada por Jim m y; que o sentimento fora atribuído incorre
tamente; era, na realidade, somente uma form a de amor
passageiro. E alguém que a conhecesse bem podia saber,
desde o in ício , que ela estava enganada.
A ESTRUTURA DA CONSCIÊNCIA: UMA INTRODUÇÃO 209
III. Conclusão
DE JEsUs*o t
F A FI
Í5 ? ° A V IT Ó R '^
^ O inconsciente
V. Freud e o inconsciente
I. Introdução ao “Background”
que não são e não poderiam ser parte desse mesmo estado
consciente. Por si só, o conteúdo efetivo é insuficiente para
determinar as condições de satisfação.
IX . Síntese da argumentação
Deveríamos dizer:
*
E característico das explanações intencionalistas do
com portam ento humano e anim al que p a d rõ e s de com
portam ento sejam explicados pelo fato de que o agente
tem uma representação desse mesmo padrão, ou uma re
presentação logicam ente relacionada a esse mesmo pa
drão em seu aparato intencional, e essa representação atua
causalmente na produção do padrão de comportamento.
Assim , dizemos que as pessoas na Grã-Bretanha dirigem
na esquerda porque seguem a regra: d irija na esquerda; e
que não dirigem na d ire ita porque seguem esta mesma
regra. O conteúdo intencional atua causalmente na p ro
dução do comportamento que representa. Há, de im edia
to, duas restrições. P rim eiro, o conteúdo intencional da
regra não produz o com portam ento unicamente por si
mesmo. N inguém , por exem plo, sai d irig in d o sim ples
mente para estar seguindo a regra, e ninguém fala somen
te por amor à observância das regras do inglês. E, segun
do, regras, princípios etc., podem ser inconscientes e, para
todos os propósitos práticos, são freqüentemente inaces-
o ESTUDO PROPRIAMENTE DITO 345
V. Conclusão
C a pítulo 1
C a p itu lo 2
membros têm dores assim como nós, ou não têm. Se têm, en
tão o fato de se recusarem a denominá-las dores não tem inte
resse. Os fatos permanecem os mesmos, independentemente
de como nós ou eles optemos por descrevê-los. Caso, por outro
lado, eles realmente não tenham nenhum tipo de dor, então são
bem diferentes de nós e sua situação não tem aplicabilidade à
realidade de nossos fenômenos mentais.
✓
C a p ítu lo 3
C a p ítu lo 4
C a p ítu lo 5
C a p ítu lo 6
C a p ítu lo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10