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Artigo Liberdade e Perfeição em Spinoza
Artigo Liberdade e Perfeição em Spinoza
Artigo Liberdade e Perfeição em Spinoza
bandolim.fernando@gmail.com
1 Bolsista Fapesp.
3 No final do século xix e início do século xx, Bertrand Russell travou um intenso
debate com o hegeliano H. F. Bradley a respeito das expressões “relações internas” e
“relações externas”. As expressões designavam, respectivamente, o vínculo de neces-
sidade que perpassa toda e qualquer relação, por oposição a relações plurais norteadas
pela contingência. Na ocasião, Russell cunhou o termo “relações externas” para sa-
lientar a pluralidade e contingência da realidade, por oposição ao monismo de Bladley
que configurava a realidade sob o prisma de uma necessidade interna que culminava
num modelo de Absoluto que Russell se negava aceitar (Cf. russell, 1980, cap. vii).
4 Marilena Chauí designa com a expressão “metafísica do possível” a visão de mun-
do edificada pela tradição teológica judaico-cristã que, partindo da imagem de Deus
como pessoa transcendente, “dotada de vontade onipotente e entendimento onisciente
criadora de todas as coisas a partir do nada, legisladora e monarca do universo” (chaui,
2009, p. 61). Segundo essa imagem, essa pessoa é capaz de revogar arbitrariamente as
leis universais que ele próprio criou, e é responsável por uma complexa teleologia que
orienta a parte substancial da moralidade ocidental e a concepção de realidade que
domina o espírito do homem ocidental.
5 Difícil se conceber um autor mais antagônico ao pensamento spinozista que Kant.
Para que se perceba isso, basta que se formule a seguinte questão: como Spinoza, caso
estivesse vivo no século XVIII, reagiria à proposta de um tribunal dirigido pela razão
com o objetivo de julgar a própria razão? Essencialmente sistemático e finalista, o
pensamento kantiano se funda sobre a prática de separar pares conceituais (necessida-
de/liberdade, natureza/homem, condicionado/incondicionado, fenômeno/númeno,
lei interna/lei externa, etc.) com o objetivo de demonstrar que o homem é um ser
incondicionado. É pouco provável que Spinoza nutrisse qualquer espécie de simpatia
por uma filosofia que, rotulando-se de revolucionária (copernicana), se pauta numa
concepção de liberdade como exercício da (boa) vontade, uma noção de dignidade
que sublima o homem e o retira de sua existência efetiva, e que propõe uma ética
universal que reproduz a velha confusão (judaico-cristã) a respeito do significado do
termo “lei”.
i.
ii.
referências bibliográficas
chaui, Marilena (2009) A negação do livre arbítrio. In martins, André
(org). O mais potente dos afetos: Spinoza e Nietzsche. São Paulo: Martins
Fontes.
levy, Lia (1998) O autômato spiritual: a subjetividade moderna segundo a
Ética de Espinosa. Porto Alegre: l&pm.
matheron, Alexandre (1986) Individu et commaunité chez Spinoza. Paris :
Les Editions de Minuit.
russell, Bertrand (1980) Meu desenvolvimento filosófico. Rio de Janeiro:
Zahar.
spinoza, Benedictus de (2008). Ética. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica.