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Estratégias de Atendimento Psicológico A Pacientes
Estratégias de Atendimento Psicológico A Pacientes
Estratégias de Atendimento Psicológico A Pacientes
https://doi.org/ 10.1590/1982-3703003178982
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Agradecimento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Disponível em www.scielo.br/pcp
Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
Abstract: This aim of this study was to describe the psychological care strategies used with
stomized patients and their relatives in a hospital inpatient unit of a public university of the Brazil’s
largest public university in the preoperative period and preparation for the hospital discharge.
This is an exploratory-descriptive study with a qualitative approach that focuses on an extension
program that offers interdisciplinary care for this population. Psychological interventions were
recorded in a field diary and data were submitted to content analysis and interpreted in the
perspective of theoretical assumptions of Health Psychology. Psychological assistance includes
the following strategies: clinical history survey, identification of psychological needs of the patient
in the pre-surgical period, meetings with the health team providers to discuss the cases in order
to elaborate the therapeutic plan, orientation to family, psychological and qualified listening in
the bed, orientation to the patient and evaluation of his/her psychological state, with a view to
preparing him for discharge. Psychological care has enabled the welcoming of these patients,
during the hospitalization, focusing on the patient’s needs resulting from surgical intervention
and stomization. The psychological support has strengthened the autonomy and minimized the
suffering associated with the surgery and its consequences, in view of the limits imposed by the
chronic intestinal illness, besides enabling articulated care with the surgical and nursing staff,
ensuring continued patient assistance focused on development of the self-care skills.
Keywords: Surgery, Ostomy, User Embracement, Self Care Skills, Hospital Psychology.
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Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Atendimento Psicológico a Pacientes Estomizados e Familiares.
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Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
zação do íleo ou do intestino grosso para a eliminação sequelas persistentes, como desnutrição, indisposi-
fecal. Essas intervenções cirúrgicas são denominadas, ção, desânimo e fadiga crônica, bem como o agrava-
respectivamente, de ileostomia e colostomia (Rocha, mento de outros problemas físicos e psicossociais que
2011). O procedimento requer a hospitalização do decorrem do procedimento cirúrgico (Sonobe, Bari-
paciente que, atualmente, pode se estender entre chello, & Zago, 2002).
cinco e sete dias. O preparo cirúrgico inicia-se no aten- No cenário brasileiro, ainda são escassos os estu-
dimento ambulatorial e se completa na véspera da dos que se dedicam a investigar os aspectos psicoló-
realização da intervenção. Após a cirurgia, o paciente gicos relacionados ao contexto da hospitalização e
é preparado para a alta hospitalar, que ocorre, apro- tratamento cirúrgico em pacientes estomizados (Silva
ximadamente, após três dias de pós-operatório, caso et al., 2017). Particularmente, há necessidade de com-
não haja complicação (Silva, Santos, Rosado, Galvão, preender as dimensões psicológicas envolvidas. Uma
& Sonobe, 2017). das maneiras de suprir essa lacuna do conhecimento
A confecção do estoma intestinal requer o uso e prover diretrizes seguras para o cuidado é explorar a
do equipamento coletor (bolsa) de colostomia, que perspectiva dos profissionais da equipe de Psicologia
acarreta sérias mudanças físicas e psicossociais para que atuam junto aos pacientes e seus familiares. Uma
os pacientes e seus familiares, podendo desencadear das contribuições potenciais desse enfoque é permi-
sentimentos negativos, tais como tristeza, repulsa, tir uma aproximação direta ao contexto específico
insegurança frente à complexidade dos cuidados no qual o suporte psicológico é oferecido, durante a
necessários e medo do futuro, que parece se tornar internação hospitalar para a realização do procedi-
cada vez mais incerto, além de um persistente mal-es- mento cirúrgico. O presente estudo se justifica pelo
tar associado à sensação de estar mutilado e incapa- pressuposto de que as pessoas que convivem com as
citado para levar uma vida normal (Silva et al., 2017). doenças colorretais crônicas necessitam de apoio psi-
Esses sentimentos podem acarretar intenso sofri- cológico sistematizado para fortalecimento de estra-
mento e aprofundar o pessimismo do paciente ante tégias de enfrentamento adequadas para lidar com
a situação de perda do controle da função intestinal e os desafios que vivenciam no seu processo de adoe-
aos prejuízos na qualidade de vida. Alguns sentimen- cimento e tratamento. Nesse sentido, ainda são raras,
tos podem se tornar potencialmente autodestrutivos tanto quanto necessárias, pesquisas empíricas, pro-
por ativarem ou exacerbarem conflitos preexistentes, duções teóricas e/ou relatos de experiência institu-
deixando o paciente confuso e atordoado por dúvi- cional que apresentem, sistematizem e fundamentem
das e inquietações a respeito de questões existenciais propostas de intervenções implementadas junto aos
relacionadas à vida e à morte. Muitos estomizados pacientes hospitalizados, nos períodos pré e pós-ope-
desenvolvem transtornos de ansiedade e depres- ratório mediato. Particularmente, torna-se interes-
são. O doente se indaga sobre a validade de sua vida sante conhecer quais são as repercussões emocionais
em condições que limitam sua liberdade de usufruir das intervenções psicológicas em pacientes submeti-
uma existência plena frente às acentuadas restrições dos a procedimentos invasivos.
laborais, de lazer e sexuais, tornando-se vulnerável a O seguimento profissional deve abordar a com-
alterações de ordem psicológica, emocional e social plexidade dos aspectos terapêuticos, incluindo as
(Cardoso et al., 2015; Gordon, Fischer-Cartlidge, & necessidades psicológicas e problemas vivenciados
Barton-Burke, 2017). no cotidiano pelos pacientes e seus familiares (Freitas,
A incidência das implicações psicossociais e dos Oliveira-Cardoso, & Santos, 2017). É necessário que o
prejuízos emocionais pode estar vinculada à cirurgia atendimento psicológico seja centrado nas necessida-
realizada, que tem como consequência graves altera- des identificadas para que seja possível ajudá-los a ela-
ções no processo de viver que restringem a autonomia borar e se adaptar ao processo de tratamento cirúrgico,
em virtude da incontinência fecal adquirida, além de que poderá resultar na confecção de estoma intestinal.
outros problemas fisiológicos decorrentes do próprio Nesse contexto, a atenção psicológica deve ser vista
tratamento, como distúrbios gastrintestinais e menor como parte de um cuidado mais amplo e integral, a ser
absorção de nutrientes no caso dos ileostomizados, oferecido pela equipe interdisciplinar para promover
o que requer a suplementação de nutrientes especí- as condições facilitadoras do autocuidado. Cabe ao
ficos. Em alguns casos, o tratamento pode ocasionar psicólogo que atua no contexto hospitalar contribuir
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Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Atendimento Psicológico a Pacientes Estomizados e Familiares.
para amenizar o sofrimento do paciente, acolhendo-o 2008, este programa foi implementado com o objetivo
e oferecendo suporte profissional, além de articular a de inserir alunos no contexto assistencial e desenvol-
equipe multiprofissional e favorecer maior aproxima- ver habilidades de cuidado, consideradas primordiais
ção do paciente com seus familiares. O cuidado psico- para a formação do futuro profissional, além de favo-
lógico se esmera para fortalecer o vínculo de confiança recer o desenvolvimento de projetos de pesquisa em
com a equipe de saúde, essencial para que se possa nível de iniciação científica, mestrado e doutorado.
efetivar a assistência à saúde e, especialmente, para A meta perseguida era possibilitar a experiência de
assegurar a adesão aos tratamentos prescritos (Silva & participação efetiva de profissionais e alunos em for-
Gaspar, 2013). Atualmente, considera-se que a adesão mação na área da saúde nos cuidados oferecidos pela
ao plano terapêutico é um ponto crítico dos cuidados equipe cirúrgica, para expandir o conhecimento téc-
no contexto das DCNTs. nico-científico e compreender a atuação da enferma-
Considerando esses pressupostos, o objetivo gem na contrarreferência dessa clientela para o nível
deste estudo foi descrever as estratégias de atendi- secundário.
mento psicológico utilizadas com pacientes estomi- Em 2009, com a expansão do escopo do programa,
zados e seus familiares no pré-operatório e na prepa- houve a inserção dos pós-graduandos enfermeiros,
ração para a alta hospitalar. o que ampliou a integração das atividades junto às
equipes cirúrgica e de enfermagem. Posteriormente,
Método foram incorporados profissionais de outras áreas da
Estudo descritivo e exploratório, com abordagem saúde, incluindo psicólogos, que passaram a integrar
qualitativa, que focaliza um programa de extensão a equipe interdisciplinar, atuando junto aos pacien-
que oferece cuidados, sob enfoque interdisciplinar, tes e familiares no contexto da internação hospitalar.
para pacientes estomizados e seus familiares, em Isso possibilitou ampliar tanto as áreas profissionais
uma unidade de internação hospitalar de uma uni- abrangidas como as estratégias assistenciais ofereci-
versidade pública do interior paulista. A abordagem das por esse programa, incluindo-se o cuidado psico-
qualitativa foi escolhida por permitir ao pesquisador lógico. Desde então, a equipe multidisciplinar passou
aprofundar-se no universo dos significados das ações a ser constituída por médicos, enfermeiros, psicólo-
e relações humanas (Minayo, 2001, p. 22). gos, fisioterapeuta e assistente social.
Para assegurar as exigências éticas de sigilo e O programa de extensão tem por objetivos servir
anonimato dos participantes do estudo, estes foram de campo de ensino-aprendizagem do cuidado pré-
identificados somente pela inicial do nome, seguida -operatório de pacientes candidatos à estomia, pro-
das informações referentes a sexo e idade. mover o ensino do autocuidado voltado aos pacientes
A presente pesquisa busca contribuir com subsí- estomizados e ao familiar/cuidador, preparando-os
dios para a sistematização do atendimento interdis- para a alta hospitalar mediante o ensino do autocui-
ciplinar em unidade de internação cirúrgica. É parte dado e o encaminhamento para o Programa de Osto-
integrante de um projeto aprovado pelo Comitê de mizados. Assim, quando o paciente não é capaz de
Ética e Pesquisa da instituição universitária a qual satisfazer adequadamente suas necessidades bioló-
os pesquisadores estão vinculados, Protocolo CAAE gicas, psicológicas e sociais no contexto domiciliário,
58356416.2.0000.5393. A Resolução no 510, de 7 de busca-se identificar outras pessoas que possam auxi-
abril de 2016, aprovada pelo Conselho Nacional de liá-lo no autocuidado, principalmente os familiares.
Saúde (CNS), trata dos aspectos éticos de pesquisas Desse modo, almeja-se aumentar a capacidade de
em ciências humanas e sociais. Essa resolução asse- autonomia e independência do paciente, com a parti-
gura o respeito às diferentes tradições de pesquisa e cipação ativa e efetiva da família (Orem, 2001; Sonobe,
a proteção aos direitos humanos dos participantes Barichello, & Zago, 2002).
envolvidos em pesquisas (Resolução n. 510, 2016). Para assegurar o alcance dos objetivos propostos
O Programa de Extensão e Pesquisa Aprendendo pelo programa de extensão e pesquisa são realizadas
com o ensino de pacientes estomizados e seus familiares reuniões mensais da equipe interdisciplinar, com dis-
foi proposto por uma das pesquisadoras, que é enfer- cussões sobre os atendimentos realizados, aprofun-
meira docente com sólida experiência de inserção damento sobre as repercussões fisiológicas e clínicas
profissional como estomaterapeuta desde 2000. Em do tratamento cirúrgico para os pacientes e familiares,
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Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
bem como a supervisão das atividades de cuidado na 2000; Gioia-Martins, & Júnior, 2001). Considerando
unidade de internação cirúrgica. Além disso, a partici- que a Psicologia Hospitalar pode constituir uma
pação semanal nas visitas da equipe interdisciplinar estratégia de atuação em Psicologia da Saúde, é pos-
de saúde tem ampliado a compreensão da situação sível denominá-la, como propõem alguns autores,
clínica dos pacientes e familiares, contribuindo para de “psicologia em contexto hospitalar”. Esse posicio-
complementar e aperfeiçoar a atuação dos psicólogos. namento tem ganhado força atualmente (Gorayeb,
A inserção dos profissionais da Psicologia na 2015), lembrando que o trabalho do psicólogo na
equipe interdisciplinar foi pautada em pressupostos área de saúde vem se desenvolvendo de forma cres-
da Psicologia da Saúde (Miyazaki, Micelli, Valerio, cente e consistente nas últimas décadas (Miyazaki
Santos, & Rosa, 2002; Sebastiani & Maia, 2005), cujo et al., 2002). Essa expansão se deve ao fato de que a
marco remonta à segunda metade do século XX, com profissão, ao longo das últimas décadas, encontrou
a construção de uma nova ordem paradigmática no no hospital um terreno fértil para sua consolidação
campo das Ciências da Saúde, a partir da estruturação (Ferracioli, Vendruscolo, & Santos, 2017).
da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1945. De acordo com Simonetti (2006), a Psicologia
Segundo Alves (2011), a Psicologia da Saúde sur- Hospitalar – ou, se assim preferirmos, a “psicologia
giu em um período de intensas mudanças sociais, polí- em contexto hospitalar” – é o campo de tratamento
ticas e econômicas, mais precisamente na década de dos aspectos psicológicos que orbitam em torno do
70 do século XX. Visto por esta perspectiva histórica, adoecimento, visando à minimização do sofrimento
este campo da Psicologia como ciência e profissão em decorrência das terapêuticas e buscando atenuar
se organiza em torno da necessidade de dar expres- suas consequências adversas especialmente durante
são às necessidades de ajustamento dos indivíduos às a hospitalização. Diante das potencialidades trans-
suas novas condições de saúde. O campo continuou a formadoras do trabalho do psicólogo nos hospitais,
evoluir e a expandir-se nas décadas seguintes, cons- sua inserção gradual foi incrementada a partir da
tituindo-se atualmente em um componente funda- década de 1970, na medida em que o profissional foi
mental que norteia as ações de saúde desenvolvidas se integrando de forma crescente às equipes multi-
pelas equipes multidisciplinares. O psicólogo tende a disciplinares.
se especializar em certas áreas ou contextos de aplica- O psicólogo que atua na instituição hospitalar
ção, como promoção, prevenção e proteção à saúde, não pratica somente Psicologia de forma genérica,
ou atuar em contextos especializados para o trata- mas Psicologia Médica, a qual se caracteriza pelo
mento de doenças, como os hospitais, ambulatórios estudo das situações psicológicas envolvidas na
e centros de saúde. Pode, ainda, atuar diretamente na produção da saúde do paciente, com destaque para
comunidade (Alves, 2011), na atenção básica junto à os aspectos orgânicos que se encontram prejudica-
Estratégia Saúde da Família (ESF). dos. Os aspectos psicológicos são vistos e tratados
como dimensões associadas à saúde física, dife-
A Psicologia da Saúde é o conjunto de contribui- renciando-se das práticas tradicionais de consultó-
ções educacionais, científicas e profissionais espe- rio e da postura clássica do psicoterapeuta (Gorayeb,
cíficas da Psicologia para a promoção e manu- 2001; Miyazaki et al., 2002). Portanto, é preciso pro-
tenção da saúde, prevenção e tratamento das duzir novos conhecimentos que permitam identificar
doenças, na identificação da etiologia e diagnós- e intervir nas necessidades e demandas específicas
ticos relacionados à saúde, à doença e às disfun- que aparecem nesse contexto. A produção de conhe-
ções, bem como no aperfeiçoamento do sistema cimento a partir das condições concretas que emer-
de políticas da saúde (Matarazzo, 1980, p. 815). gem na prática hospitalar permitem a sistematização
do cuidado psicológico.
A prática da Psicologia da Saúde envolve a inte- Para subsidiar o presente estudo, os registros
gração de serviços à comunidade, ensino e pesquisa das intervenções realizadas pela equipe de Psicolo-
no contexto da realidade brasileira, contribuindo gia foram sistematicamente anotados em diário de
para a construção de um novo saber e uma nova pers- campo durante o período de janeiro a dezembro de
pectiva clínica, fundamentando no referencial teóri- 2016. Os dados colhidos foram submetidos à análise
co-metodológico da Psicologia Hospitalar (Chiattone, de conteúdo indutivo, segundo o modelo preconizado
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Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
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por Minayo (2001). Segundo esta autora, a análise de aspectos pré-operatórios e gerais da cirurgia, como
conteúdo indutivo é um conjunto de técnicas, que opções terapêuticas e suas consequências para a vida
podem ser aplicadas aos dados qualitativos para a do paciente. Além das atividades de rotina da enfer-
compreensão do fenômeno investigado. maria cirúrgica, os conteúdos educativos focalizam
Os resultados deste estudo foram sistematizados a demarcação do estoma e o ensino pré-operatório.
e interpretados à luz dos aportes da Psicologia Hospi- No pós-operatório imediato o ensino focaliza o auto-
talar, lembrando que “teorias são explicações parciais cuidado para os pacientes estomizados e seus fami-
da realidade”, que “colaboram para esclarecer melhor o liares/cuidadores na transição para a alta hospitalar e
objeto de investigação, ajudam a levantar as questões, encaminhamento ao Programa de Ostomizados para
o problema, as perguntas [...] e permitem maior clareza cadastramento e aquisição de equipamentos coleto-
na organização dos dados” (Minayo, 2001, p. 18). res, bem como o seguimento especializado em nível
Para elaborar a análise do material colhido no secundário, mantido pelo governo federal e gerido
campo de investigação foram seguidos os passos pelo município de procedência do paciente (Orem,
descritos por Minayo (2001): (1) ordenação, (2) clas- 2001; Sonobe, Barichello, & Zago, 2002).
sificação e (3) análise propriamente dita. A sistemati- Concomitantemente, e em conjunto com o pro-
zação dos dados e sua transformação em linguagem fissional de enfermagem, são realizados os atendi-
científica foram inspiradas nos cuidados metodoló- mentos psicológicos para identificar a demanda e
gicos preconizados em estudos disponíveis na litera- necessidades de aprendizagem e estratégias favorá-
tura, como o desenvolvido por Miyazaki et al. (2002). veis de autocuidado. O propósito é buscar minimizar
O tratamento do material conduziu os pesquisadores o sofrimento psíquico do paciente por meio do aco-
à teorização sobre os dados, ao produzir o confronto lhimento emocional, extensivo aos seus cuidadores
entre a abordagem teórica adotada e os aportes obti- familiares, respeitando-se a singularidade e perso-
dos com a investigação de campo (Minayo, 2001). De nalidade de cada pessoa. Ademais, os profissionais
acordo com a concepção hermenêutica-dialética, é do programa participam da visita clínica semanal da
importante ressaltar que o ciclo de pesquisa jamais equipe cirúrgica, quando ocorre a discussão dos casos
se fecha porque o estudo produz conhecimentos pela equipe interdisciplinar e se realiza o planeja-
afirmativos, que provocarão novas questões, que vão mento cirúrgico para a semana seguinte.
exigir aprofundamento posterior, configurando uma No atendimento psicológico inicialmente se faz
espiral dialética. uma triagem psicológica, por meio de observações
participantes nas enfermarias, para observação da
Resultados e discussão rotina da unidade de internação e dos pacientes, dos
Neste tópico foram contextualizados os atendi- atendimentos oferecidos e dos cuidados realizados
mentos realizados pela equipe de Psicologia e explo- pela equipe interdisciplinar. Posteriormente, esta-
radas as vivências dos participantes do estudo. beleceram-se os dias mais adequados para a realiza-
A assistência psicológica aos pacientes estomi- ção dos atendimentos, visto que no pré-operatório
zados e seus familiares compreende um amplo leque o paciente passa por vários exames especializados e
de atividades, alocadas nas seguintes modalidades: procedimentos, além do jejum, e que no pós-opera-
levantamento da história clínica, identificação das tório a maioria apresenta fadiga devido às repercus-
necessidades psicológicas dos pacientes, reuni- sões fisiológicas e psicossociais da cirurgia realizada,
ões para discussão dos casos e elaboração do plano em geral de médio e grande portes, e à exigência de
de cuidados terapêuticos, reunião com familiares, canalização das energias para a recuperação pós-ci-
escuta psicológica junto ao leito, orientações focadas rúrgica. A técnica da observação participante consiste
no autocuidado, entrega de material didático como na investigação social na qual o observador (pesqui-
recurso suplementar às intervenções, avaliação do sador) interage por meio de questionamentos quando
estado psicológico e preparo para a alta hospitalar. necessário (Meirinhos & Osório, 2010).
Como os atendimentos de enfermeiros e psicó- Além da observação participante aplica-se tam-
logos são realizados no pré-operatório, há uma pre- bém uma entrevista semidirigida com os pacientes
ocupação com a atualização dos aportes teóricos para identificar características individuais e contex-
oferecidos aos profissionais, mediante o ensino dos tuais da experiência de adoecimento e tratamento,
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Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
além de identificar possíveis indicadores de risco que ecimento se deu após um evento estressor, que gerou
justifiquem o encaminhamento para uma avaliação episódios de constipação intestinal. O quadro clínico
mais ampla, quando necessário, de modo a favore- se agravou e se mostrou não responsivo ao tratamento
cer o acompanhamento psicossocial. As informações clínico convencional. Depois de vivenciar um longo
colhidas na triagem, assim como os aspectos socio- itinerário terapêutico, a paciente recebeu indicação
demográficos, hábitos de vida, conhecimento sobre de cirurgia.
diagnóstico médico e tratamentos, táticas de enfren- A participante contou que, antes desse desfecho,
tamento e níveis de adaptação ao adoecimento e às apelou para múltiplas tentativas para solucionar os
terapêuticas instituídas podem subsidiar o planeja- sintomas por conta própria. Iniciou lavagens intesti-
mento das intervenções implementadas pela equipe nais frequentes no domicílio, sem orientação médica.
multidisciplinar durante a internação, favorecendo a Esse quadro evoluiu para constipação crônica grave,
oferta de suporte aos pacientes e familiares (Bultz et que resultou na indicação de procedimento cirúrgico,
al., 2011; Gaspar, 2011). ao qual foi submetida com confecção de ileostomia,
No contexto investigado, todas as ações e inter- apesar de a equipe cirúrgica não ter conseguido esta-
venções psicológicas são desenvolvidas a partir de belecer um diagnóstico físico específico. Anterior-
estratégias que se baseiam nas denominadas “tecno- mente, a paciente havia recebido diversos diagnósti-
logias leves” de saúde. O conceito de tecnologia leve cos de transtornos mentais, incluindo Transtorno de
está ancorado em reflexões acerca do pensar e do agir Personalidade Cluster B e Transtorno de Ansiedade
no âmbito das organizações de saúde (Gonçalves & Generalizada. O tratamento psiquiátrico foi iniciado,
Schier, 2005). O uso preferencial de tecnologias leves mas logo interrompido pela paciente, que descon-
pressupõe a adoção de uma concepção do trabalho fiava da resolutividade dos medicamentos psicotrópi-
vivo em saúde, como norteador da gestão do cuidado cos prescritos.
(Merhy, 2002). A noção de tecnologia utilizada nesse Mediante o atendimento realizado conjunta-
contexto recebe uma definição ampla e não se limita, mente pela psicóloga e pela enfermeira, e da análise
exclusivamente, aos equipamentos e aparelhos tec- integrada dos relatos da paciente, leitura dos relató-
nológicos, mas inclui saberes e fazeres que concorrem rios médicos, dos resultados de exames especializa-
para a produção da saúde e do cuidado, abrangendo dos, do relatório de atendimento da psiquiatria e das
a organização das ações humanas no âmago dos pro- discussões da equipe multidisciplinar acerca do qua-
cessos produtivos. dro clínico, estabeleceu-se a hipótese de possível pre-
A maior parte dos atendimentos é realizada disposição somática para desenvolver a fisiopatologia
de forma conjunta pelos psicólogos e enfermeiros, colorretal. Contudo, a questão emocional parece ter
como estratégia para favorecer uma melhor com- sido o fator determinante para o desencadeamento da
preensão dos fenômenos observados, o que permite condição disfuncional de saúde.
a integração dos sinais e sintomas da doença física Apesar de não haver um consenso em relação
com os comportamentos e dimensões intra e inter- ao papel do fator psicoemocional no desenvolvi-
subjetivas dos pacientes e familiares. Para contextu- mento da DII, é reconhecida há décadas a influên-
alizar a experiência da Psicologia será apresentado cia do componente psicossomático no seu desen-
o relato de dois casos atendidos por uma psicóloga cadeamento. A patologia resultaria da complexa
e uma enfermeira. Esses casos foram selecionados interação entre corpo, mente e ambiente, e o fator
por permitirem ilustrar didaticamente os principais
precipitador seria constituído pelo estresse psicoló-
aspectos dos atendimentos voltados ao cuidado psi-
gico decorrente dos quadros de agudização e reagu-
cológico no contexto hospitalar.
dização dos sintomas predecessores (Sonobe et al.,
2015). Nessa direção, é necessário lançar um olhar
Caso clínico 1 para além dos sintomas físicos, incluindo uma pers-
O primeiro caso refere-se a uma paciente de 38 pectiva voltada para o acolhimento integral da sub-
anos, casada, ileostomizada havia 10 meses por DII, jetividade do paciente, que possibilite um enten-
católica, cozinheira hospitalar (à época afastada do dimento mais abrangente de suas necessidades e
emprego) e procedente de uma cidade do interior dificuldades psicológicas, assim como das dimen-
paulista. A paciente relatou que o início de seu ado- sões simbólicas do adoecer.
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Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Atendimento Psicológico a Pacientes Estomizados e Familiares.
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Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
ponto é compreensível, pois na maioria das vezes é têm sua aplicação exequível no contexto hospitalar,
angustiante ouvir uma pessoa doente relatar seus devido ao pouco tempo que a maioria dos pacientes
conflitos e temores, revoltas e dores, expectativas e estomizados permanecem internados (Brasil, 2011, p.
fantasias, sonhos e frustrações. O profissional que 56). Isso dá margem para a aplicação de outras téc-
se põe na posição de ouvinte necessita estar aberto nicas de intervenção, tais como o aconselhamento
e genuinamente permeável às experiências de dor e e a orientação psicológica, com vistas a promover o
sofrimento do outro, vivências que via de regra mobi- autocuidado, com vistas a assegurar a adaptação do
lizam intensas emoções em quem escuta. Para poder paciente após a alta hospitalar.
escutar e assimilar tudo o que o paciente tem a dizer, A orientação psicológica é uma ferramenta uti-
o psicólogo recebe em sua formação o treinamento lizada no esclarecimento de processos emocionais
necessário, que o qualifica como o profissional mais vivenciados pelo paciente e na obtenção de informa-
adequado para realizar esse tipo de intervenção alta- ções relacionadas ao adoecimento junto a outras pes-
mente especializada (Simonetti, 2006). soas adoecidas e seus familiares, preparando o terreno
O atendimento articulado com a equipe cirúrgica para a oferta de instruções e encaminhamentos neces-
e de enfermagem se mostrou especialmente valioso sários (Botega, 2011). Por meio da orientação psicoló-
nos casos clínicos narrados. De fato, a articulação dos gica o psicólogo aborda aspectos da cirurgia, avalia o
dados clínicos, colhidos a partir de diversas fontes e conhecimento e compreensão do paciente e de seus
registros, permitiu corroborar o pressuposto de que a familiares a respeito do adoecimento e das terapêu-
assistência às pessoas em processo de adoecimento ticas preconizadas, a fim de ajudá-los a elaborarem
por neoplasia colorretal e DII deve ser interdiscipli- a condição de estomizado intestinal. São fornecidas
nar, com adoção dos princípios da integralidade e ativamente informações qualificadas, que os ajudam
humanização do cuidado, devido à necessidade de a ressignificar valores pessoais e a combater os efei-
considerar os aspectos psicossomáticos e fisiopato- tos nefastos da estigmatização. Além disso, busca-se
lógicos na avaliação, assistência, tratamento e segui- desmistificar preconceitos e falsas crenças, visando à
mento desses pacientes, além do apoio permanente redução dos níveis de estresse e ansiedade que, se não
aos cuidadores familiares. controlados, podem complicar o pós-operatório. O
estabelecimento de um vínculo de confiança na rela-
Acolhimento e escuta psicológica: ção com o paciente é um requisito fundamental para
convertendo o sofrimento em que se possam atenuar suas inseguranças em relação
conhecimento e ações de autocuidado ao presente e suas incertezas frente ao futuro.
Para a realização dos atendimentos psicológicos A tarefa de orientação psicológica junto ao leito
são utilizadas as técnicas de acolhimento emocional e do paciente é substancialmente favorecida pelo tra-
orientação psicoeducativa, lastreadas na educação em balho conjunto das profissionais de Psicologia e
saúde, tanto para os pacientes como para os familiares. enfermagem. O enfermeiro está qualificado a expli-
Ademais, busca-se o fortalecimento de estratégias de car, por meio de uma linguagem acessível e tecni-
enfrentamento que se mostrem integrativas, ou seja, camente fundamentada, os procedimentos clínicos
adaptativas. A discussão dos casos com a equipe mul- e as necessidades de autocuidado com a estomia.
tidisciplinar contribui para a identificação das deman- Durante os atendimentos, o esclarecimento imediato
das psicológicas vinculadas à hospitalização. de dúvidas e a correção de crenças equivocadas são
Conceitualmente, acolhimento tem sido definido estratégias fundamentais para aprimorar as habilida-
como o compromisso coletivo para cultivar os víncu- des de autocuidado do paciente, mas não se reduzem
los de maneira responsável, reconhecendo e incluindo a uma tarefa meramente cognitiva, uma vez que os
as diferenças, estimulando a coprodução de auto- aspectos afetivos também precisam ser devidamente
nomia e a valorização da vida, em todos os contex- considerados e trabalhados. Isso ficou patente nos
tos de saúde. Dessa maneira, o foco do acolhimento relatos obtidos durante o processo de orientação psi-
emocional é direcionado para o alívio das angústias cológica, mediante o acolhimento das angústias e
do paciente. Os modelos tradicionais de psicoterapia, medos trazidos na fala e na expressão emocional de
embora sejam poderosos instrumentos consagrados cada paciente: “Agora consigo entender porque tenho
na prática do psicólogo, na maioria das vezes não que usar a bolsinha. Quando o médico me falou que
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Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Atendimento Psicológico a Pacientes Estomizados e Familiares.
eu teria de usar, fiquei assustado, nem sabia o que eu os familiares, consiste em uma ferramenta funda-
tinha” (S., masculino, 64 anos). “No começo não é fácil mental para subsidiar o trabalho do psicólogo no
aceitar, mas quando a gente entende, fica menos difí- contexto hospitalar, tornando-se um instrumento
cil” (R., feminino, 34 anos). valioso para o alcance de resultados favoráveis, inde-
Tanto no relato de S. como de R. fica evidenciada pendentemente do prognóstico clínico. O psicólogo,
a necessidade que o paciente sente de conhecer sua devido às características de sua especialidade, está
condição, para poder atribuir um significado à sua capacitado a trabalhar com o que a pessoa tem de
experiência penosa e, assim, nomear aquilo que está mais íntimo e que repousa no cerne de sua subjetivi-
acontecendo com seu corpo e transtornando sua vida. dade afetada pela condição mórbida (Benites, Neme,
Na vivência inicial do corpo doente, o sentimento pre- & Santos, 2017).
ponderante é de um profundo estranhamento, que A escuta realizada pelo psicólogo difere da exer-
traduz a reação emocional frente à ruptura biográfica citada por outros profissionais, tendo em vista que, a
que a doença instaura, conforme se constatou em um partir de sua formação específica, ele está treinado a
dos depoimentos: “A gente fica assustado, né? Tudo não julgar, não influenciar e não direcionar a decisão
muda, a vida fica de ponta-cabeça. Por isso é muito do paciente para algum tipo de desfecho esperado.
importante isso que vocês fazem. Ajuda muito” (J., Muitas vezes, isso exige uma disciplina mental espe-
masculino, 69 anos). cífica da parte do profissional, uma atitude de absti-
Com o adoecimento, as atividades cotidianas nência de gratificação, de renúncia à tentação de estar
são interrompidas de maneira muitas vezes brusca sempre certo e ter a palavra final sobre o que seria
e irreversível e também ocorrem alterações drásticas mais indicado e desejável para a vida do paciente.
nos papéis sociais até então desempenhados pelo Com sua intervenção, o psicólogo hospitalar pontua o
paciente. Além disso, a doença grave, de curso pro- discurso do próprio sujeito, questiona sobre suas cer-
gressivo e incapacitante, é acompanhada de um trata- tezas aparentes, identifica os mecanismos de defesa
mento cirúrgico que traz como consequência brutal a mais utilizados, desconstrói as fantasias inconscien-
necessidade de ter o corpo permanentemente conec- tes do paciente frente à hospitalização e à estomia
tado a uma bolsa, o que pode ser sentido como uma intestinal, acolhe as emoções e valida os sentimentos
excrescência, um dispositivo artificial que desequili- ambivalentes e paradoxais que acompanham a vivên-
bra a harmonia de um organismo percebido como um cia da iminência de mudanças catastróficas.
todo harmônico até o momento da eclosão da doença: Nos atendimentos psicológicos realizados tam-
“Foi um grande choque, fiquei muito assustada. Eu bém identificamos as manifestações de luto antecipa-
nem sabia o que era essa bolsinha e que iria conviver tório pela perda da saúde (Cardoso & Santos, 2013). Os
para sempre com isso” (S., feminino, 62 anos). pacientes tiveram que aprender a conviver com uma
Desse modo, o paciente pode se manter vulnerável parte do seu corpo que não funcionava mais. Alguns
a uma série de sentimentos negativos, como sentir-se conseguiram acionar estratégias de enfrentamento
socialmente aniquilado, indigno de continuar vivendo mais efetivas, por serem pessoas anteriormente ati-
ou irremediavelmente incapacitado para tocar sua vas, que contavam com irrestrito apoio familiar e
vida com a mesma dignidade de outrora. Por conse- possuíam mecanismos de defesa mais elaborados.
guinte, a ruptura provocada no seu viver tem o impacto A resposta emocional também é influenciada pelas
de uma experiência catastrófica e devastadora, como experiências prévias de enfrentamento, sendo mais
um cataclismo psicológico de grandes proporções, um adaptativa para aqueles que já haviam vivenciado
terremoto que tem seu epicentro no cerne do próprio alguma situação grave, profundamente frustrante ou
corpo e que se irradia para todas as dimensões impor- ameaçadora da continuidade da vida. Outros pacien-
tantes do viver. Isso abala definitivamente os alicerces tes, que experimentavam pela primeira vez uma cir-
da identidade do sujeito: “Não sei como reagi na hora cunstância tão extraordinariamente adversa, não
que o médico me contou, mas é uma mudança muito conseguiram entrar em contato com a gravidade da
grande no nosso corpo de um dia para o outro, senti situação real, por utilizarem de forma abundante de
muito medo” (A., feminino, 59 anos). estratégias mais primárias, como a negação e a mini-
Nesse sentido, a escuta psicológica sistemati- mização (Borges, et al, 2006). Em contrapartida, os
zada, exercida tanto com os pacientes quanto com profissionais de saúde muitas vezes não se sentem
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Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
suficientemente preparados para abordar as questões intestinal, o que ficou patente nos relatos de redução
relacionadas à morte e ao morrer (Carvalho & Mar- de preocupações e angústias, além da valorização da
tins, 2015; Oliveira-Cardoso, & Santos, 2013; Santos, & comunicação e expressão das emoções e sentimentos
Hormanez, 2013). dos pacientes perante seus familiares, a partir de situ-
Percebemos que a maior parte dos pacientes ações vivenciadas no cotidiano hospitalar. Embora
havia sido comunicada previamente sobre a neces- nem todos os pacientes apresentem o mesmo grau
sidade de se submeter à cirurgia com confecção de de envolvimento e domínio de estratégias mais adap-
estoma intestinal, todavia, nunca havia tido contato tativas para minimização do sofrimento decorrente
com uma bolsa coletora ou com uma pessoa estomi- da doença e do tratamento cirúrgico, a diminuição
zada. Além disso, os pacientes, via de regra, tinham da autoculpabilização tem sido considerada posi-
pouquíssimas informações sobre as repercussões que tiva, produzindo o alívio das ansiedades vivenciadas
a condição de estomizado acarretaria para sua vida. durante a fase de hospitalização.
Quando se torna iminente conviver com essa rea- O desenvolvimento das atividades do programa
lidade, tal desconhecimento pode gerar ansiedade de extensão e pesquisa tem possibilitado a construção
aguda, acirrando a angústia frente ao desconhecido e de uma perspectiva interdisciplinar capaz de poten-
alimentando fantasias persecutórias durante a hospi- cializar as ações de todos os participantes, além de
talização, o que pode dificultar o preparo para a cirur- constituir um espaço de aprendizado para o desen-
gia. Elaborar tais vivências com a ajuda do psicólogo volvimento de um trabalho em equipe interdiscipli-
é requisito para a elaboração e aceitação da nova con- nar. Desse modo, a aquisição de conhecimentos pelos
dição de estomizado. psicólogos sobre o tratamento cirúrgico, as reações
fisiológicas e a atuação dos outros profissionais de
saúde que prestam assistência ao estomizado têm
Considerações finais
contribuído para o aperfeiçoamento das habilidades
Este estudo possibilitou descrever as estratégias
para o atendimento no contexto hospitalar nos perío-
de atendimento psicológico disponibilizadas para
dos pré e pós-operatório mediato.
pacientes estomizados e seus familiares no pré-ope-
Destaca-se a importância da atuação do psicó-
ratório e na preparação para a alta hospitalar. Consta-
logo no contexto da hospitalização, especialmente no
tou-se que a atuação da profissional de Psicologia no
perioperatório, quando o paciente está prestes a ter
programa de extensão e pesquisa tem possibilitado
sua rotina profundamente alterada na medida em que
o exercício da interdisciplinaridade na assistência a
se tornar um indivíduo estomizado. Manter uma visão
essa clientela. Os atendimentos têm permitido culti-
humanizada e integral desses pacientes e familiares
var uma visão integral do paciente, destacando-se as
possibilita um trabalho compartilhado com diversos
dimensões subjetivas do adoecimento colorretal crô-
integrantes da equipe interdisciplinar, na busca das
nico e suas consequências.
melhores estratégias para minimização do sofrimento
Considera-se que os atendimentos psicológicos
suscitado pelo adoecimento, pelas consequências
proporcionaram benefícios que vão além do aco-
mutilatórias da cirurgia e, principalmente, pelo pro-
lhimento e da orientação psicológica, devolvendo o
cesso de estomização, de modo a produzir alívio da
protagonismo aos pacientes e familiares para que eles
ansiedade.
possam se perceber, refletir sobre as situações nas
Os resultados obtidos sugerem que o suporte
quais estão envolvidos e desmistificar o processo de
psicológico proporcionado contribui para fortalecer
estomização, aumentando assim o senso subjetivo
a autonomia e minimizar o sofrimento associado à
de controle sobre a condição crônica. Considera-se
cirurgia e suas consequências, frente às limitações
que essa habilidade seja importante especialmente
impostas pelo adoecimento crônico intestinal, além
na transição para a nova etapa do tratamento e dos
de possibilitar o atendimento articulado com a equipe
cuidados domiciliares, que se iniciam após a alta hos-
cirúrgica e de enfermagem, assegurando assistên-
pitalar.
cia continuada ao paciente com foco no desenvolvi-
Na atuação conjunta das psicólogas com os enfer-
mento de competências de autocuidado.
meiros, durante a implementação do programa de
Assim, o paciente é preparado para enfrentar
extensão, foi possível melhorar o entendimento dos
os novos desafios que certamente terá pela frente,
pacientes e familiares sobre a necessidade da estomia
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Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Atendimento Psicológico a Pacientes Estomizados e Familiares.
fomentando condições facilitadoras da aceitação de dível para o processo de adaptação e ajustamento psi-
seu estado de saúde e manutenção das estratégias de cológico, que se inicia com a ressignificação da esto-
autocuidado no âmbito da comunidade. A aceitação, mia como um bem (e não um “mal” necessário) para
como desfecho pretendido, é um requisito imprescin- melhorar a qualidade de vida.
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Atendimento Psicológico a Pacientes Estomizados e Familiares.
Recebido 24/04/2017
Reformulado 25/05/2018
Aceito 19/06/2018
Received 04/24/2017
Reformulated 05/25/2018
Approved 06/19/2018
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Psicologia: Ciência e Profissão 2019, 39, e178982, 1-16.
Recibido 24/04/2017
Reformulado 25/05/2018
Aceptado 19/06/2018
Como citar: Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Estratégias de atendimento psicológico a pacientes estomizados e seus familiares. Psicologia: Ciência e Profissão,
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Cómo citar: Silva, N. M., Santos, M. A., Barroso, B. C. T., Rosado, S. R., Teles, A. A. S., & Sonobe, H. M. (2019).
Estrategias de Atención Psicológica a Pacientes Ostomizados y sus Familiares. Psicologia: Ciência e Profissão, 39,
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