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Mediação Pedagógica e Educação Mediada Por Tecnologias Digitais em Tempos de Pandemia
Mediação Pedagógica e Educação Mediada Por Tecnologias Digitais em Tempos de Pandemia
Mediação Pedagógica e Educação Mediada Por Tecnologias Digitais em Tempos de Pandemia
Lidiane Goedert1
Klalter Bez Fontana Arndt2
1
Doutora em Educação (UMinho). Professora Efetiva na Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). Endereço Postal: Avenida Madre Benvenuta, 2007, Itacorubi, Florianópolis/SC, CEP: 88.035-
001. E-mail: lidiane.goedert@udesc.br. ORCID: 0000-0002-7665-871X
2
Douranda no Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSC). Endereço Postal: R. Eng.
Agronômico Andrei Cristian Ferreira, 240-432 - Carvoeira, Florianópolis/SC, CEP: 88040-000. E-mail:
klalter.fontana@gmail.com. ORCID: 0000-0003-2536-0777
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1 INTRODUÇÃO
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e/ou pela impressão de material escolar, entregues às famílias que não têm acesso à
internet.
Esse cenário educacional totalmente novo obrigou educadores e gestores
escolares a debaterem sobre a realidade educacional e a adotarem estratégias que
pudessem ser substitutivas ao ensino presencial. Todo esse movimento teve como
uma de suas pautas centrais a discussão sobre a mediação pedagógica via o uso de
tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem. Afinal, enquanto no
ensino superior existe uma normativa que regulamenta a Educação a Distância, na
educação básica essa era uma discussão ainda ausente ou bastante primária entre
os educadores. Por conta disso, não é de estranhar o quanto as práticas de ensino
remoto causaram desconfortos e receios entre todos os envolvidos na comunidade
escolar.
São tantas as prerrogativas, que não faltam questões que nos levam a refletir
sobre esse momento. Os professores foram convidados a participar do processo de
definição das estratégias didático-metodológicas para a reposição/continuidade das
aulas? Foi levado em consideração o contexto sócioeconômico dos alunos, bem como
o acesso às redes digitais? Como o processo de mediação pedagógica, com
componente online, tem sido concebido e acompanhado nas propostas
implementadas pelas instituições de ensino em substituição às aulas presenciais?
Como fica a formação docente frente aos novos desafios que se apresentam à
Educação mediada por tecnologias digitais no cenário da pandemia? Quais os novos
desafios apresentados? Como pensar em estratégias que não ampliem ainda mais o
abismo das desigualdades sociais em nosso país?
Todo o processo para implantação do ensino remoto no contexto da Pandemia
é novo, o que requer um olhar atento para as condições e particularidades que
envolvem o uso das tecnologias digitais na educação. Embora vários e importantes
debates estejam sendo realizados em torno desse cenário, o propósito deste artigo é
fazer um recorte e contribuir, em especial, nas discussões sobre mediação
pedagógica e educação mediada por tecnologias digitais. Assim, busca-se discutir o
conceito de mediação pedagógica, destacando as especificidades desse processo
quando o contexto de ensino e aprendizagem não é o presencial, ou seja, em
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educacional claro e que seja significativo aos sujeitos envolvidos. Não pode ser algo
atropelado, feito de forma aligeirada para atender demandas de cumprimento de
currículo.
Após esses esclarecimentos iniciais e necessários, consideramos pertinente
refletir sobre como o processo de mediação pedagógica tem sido concebido e
desenvolvido pelas instituições de ensino e pelos profissionais da educação que não
estão habituados a desenvolver atividades educativas não presenciais e/ou mediadas
por tecnologias digitais. Para fundamentar a análise, nos baseamos na concepção de
Vygotsky sobre a organização adequada (intencional) do processo de aprendizagem.
Goedert (2019) observa que ela se faz necessária ao desenvolvimento intelectual e
mobiliza múltiplos processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam
impossíveis de acontecer. Além disso, a autora ressalta que a mediação pedagógica
na percepção de Vygotsky é um elemento decisivo e essencial no desenvolvimento
intelectual, “sendo compreendida como ações realizadas no processo de interação
entre o sujeito, o objeto da aprendizagem, outros sujeitos envolvidos e o próprio meio
onde a experiência se realiza” (GOEDERT, 2017, p. 53).
Segundo os estudos sociointeracionias de Vygotsky, os sistemas simbólicos ou
signos, como a linguagem, a escrita e o sistema numérico, assim como os sistemas
de instrumentos, são criados pela sociedade ao longo do andamento da história
humana e modificam a estrutura social e a condição de seu desenvolvimento cultural
(MACHADO & TERUYA, 2009; GOEDERT, 2017). São elementos culturais essenciais
às interações e mediações que estabelecemos com o meio e com os outros.
Assim, o aprendizado perpassa necessariamente pelo processo de mediação
pelo qual os sujeitos interagem (com os outros e com o meio) e se desenvolvem no
ambiente sociocultural em que estão inseridos. De acordo com a teoria sociocultural
de Vygotsky, as interações são a base para que o indivíduo consiga compreender (por
meio da internalização) as representações mentais de seu grupo social - aprendendo,
portanto. A construção do conhecimento ocorre primeiro no plano externo e social
(com outras pessoas) para depois ocorrer no plano interno e individual. Nesse
processo, a sociedade e, principalmente, seus integrantes mais experientes (adultos,
em geral, e professores, em particular) são parte fundamental para a estruturação de
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que e como aprender. Essa compreensão das interações é essencial para não
deslocarmos o conceito de mediação em Vygostky do seu contexto e para
enterdermos a sua importância na ação educativa. Para que ocorra a internalização
das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas (VYGOTSKY,
1988), a mediação passa a ser vista como um elemento essencial na educação, que
vai atuar diretamente no nível de desenvolvimento potencial, ou seja, naquilo que o
sujeito é capaz de aprender, só que mediante a interação com outras pessoas ou com
o meio (incluindo aqui as tecnologias criadas).
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Em sua essência, ser professor hoje, não é nem mais difícil nem mais fácil do
que era há algumas décadas atrás. É diferente. Diante da velocidade com
que a informação se desloca, envelhece e morre, diante de um mundo em
constante mudança, seu papel vem mudando, senão na essencial tarefa de
educar, pelo menos na tarefa de ensinar, de conduzir a aprendizagem e na
sua própria formação que se tornou permanentemente necessária.
(GADOTTI, 2003, p. 15)
Mas, o que temos presenciado é uma formação deficiente dos professores para
realizar essa mediação, muitas vezes online, diante de um cenário inesperado de
pandemia. De repente, esses profissionais se viram obrigados a gravar aulas, adequar
materiais didáticos, orientar famílias e interagir virtualmente com crianças, sendo que
muitas vezes eles próprios não possuem familiaridade com drives online e plataformas
virtuais. É importante considerar, ainda, que muitos professores possuem acesso
limitado às tecnologias necessárias para promover tais atividades.
Além disso, temos a questão de exposição do professor, que agora vê seu
material e suas falas extrapolando as salas de aula presenciais e sendo
compartilhadas no mundo digital. Tudo isso gera insegurança, um elemento a mais de
desestabilização dentro de um cenário epidemiológico que por si só já é bastante
caótico. São muitos os especialistas realizando lives, prescrevendo o que o professor
deve (ou não) fazer e quais os recursos digitais que pode utilizar para promover
atividades não presenciais. São tantas expressões novas que o professor acaba se
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Referências
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VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
1988.
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