Science">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Benveniste

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

r do Nascimento Flores

ne Teixeira
A lingüística comporta a enunciação:
Émile Benveniste

o leitor deverá perceber, a seguir, certa desproporção quanto à ênfase


dada a Émile Benveniste em relação aos demais autores da lingüística da
enunciação. Isso se deve a um motivo: ele é considerado o lingüista da
enunciação e conseqüentemente o principal representante do que se
convencionou chamar de teoria da enunciação. Não se trata aqui de estabelecer
hierarquias, mas de reconhecer uma filiação epistemológica. I
Émile Benveniste talvez seja o primeiro lingüista, a partir do quadro
saussuriano, a desenvolver um modelo de análise da língua especificamente
voltado à enunciação. O lugar desse autor é singular no contexto histórico em
que suas reflexões foram produzidas: o apogeu do estruturalismo nas ciências
humanas como método rigoroso de análise de fenômenos antes excluídos da
investigação científica.
O estruturalismo moderno teve seu início com Saussure - em especial,
com a leitura hjelmsleviana de Saussure - a partir da clássica dicotomia Zanguei
paroZe (língua/fala). O objeto da lingüística foi concebido, na perspectiva
estruturalista, como um sistema de relações internas do qual se deveria reter
as leis de organização. Disso resultou o objetivo geral de investigar as
regularidades do sistema, abstraindo, para tanto, toda a referência a elementos
externos ao método.
Foi o dinamarquês Louis Hjelmslev quem proporcionou ao formalismo
estrutural a axiomatização radical, projetando para o campo semiótico a tese
de que subjaz uma estrutura à ordem dos sistemas simbólicos. A Glossemática'
foi responsável pela imagem matematizada da teoria lingüística, imagem esta
que se mantém até hoje. Os ProZegômenos possibilitaram a ele apresentar ao
público de sua época as noções de forma e substância. É a partir delas que o
autor deverá pensar a estrutura como um nível puramente combinatório.
30 Introdução à lingüística da enunciação

A teoria de Hjelmslev exerceu forte domínio sobre a intelectual idade da


época, exatamente por reunir em tomo de si o ideal de cientificidade que se
almejava para as ciências humanas em geral. A ele filiam-se, cada um a seu
modo, Algirdas-Julian Greimas, Jean Dubois, Roland Barthes (em alguns de
seus estudos), Bemard Pottier, entre outros.
No estruturalismo de Hjelmslev não há espaço para aquele que enuncia.
As estruturas são conformadas ao ideal da repetibilidade e, portanto, em
oposição à enunciação e seus mecanismos - por natureza, sensíveis à
irrepetibilidade do aqui agora. A enunciação é desde sempre vista com certa
desconfiança em função do forte componente contextual que era exigido para
que seus fenômenos fossem devidamente explicados. Quanto a isso, pode-se
dizer que havia um princípio que interditava acesso a ela pelos estruturalistas:
o princípio da imanência. Acreditava-se que abordá-Ia era dar lugar a
fenômenos extralingüísticos, exteriores ao sistema, logo, sem pertinência para
uma visão estrutural da língua.
É claro, portanto, o clima adverso com o qual se deparou Benveniste, quando
J da proposta para incluir os estudos da enunciação e por eles os da subj etividade no
objeto da lingüística, tendo por base o mesmo estruturalismo saussuriano. Pois,
se de um lado Benveniste mantém-se fiel ao pensamento de Saussure - na justa
medida em que conserva concepções caras ao saussurianismo, tais como estrutura,
relação, signo -, por outro apresenta meios de tratar da enunciação ou, como ele
mesmo diria, do homem na língua. Esta é a inovação de seu pensamento: supor
sujeito e estrutura articulados.'
Justifica-se, enfim, o fato de François Dosse (1993) tê-lo tratado sob o
rótulo da "Exceção francesa" ou ainda de que Thomas Pavel (1990) somente
se refira a ele quando trata da filosofia da linguagem na França. Ora, Benveniste
é um estruturalista,' sua semântica é pautada pelos princípios estruturais.'
Em testemunho disso estão os numerosos artigos publicados em Problemas
de lingüística geral (I e 11) que retomam a teoria de Saussure. A esse respeito
é pertinente lembrar, em especial, as noções de estrutura e de signo, ambas
redefinidas a partir das próprias bases saussurianas, presentes em textos como
A natureza do signo lingüistico (1939) e "Estrutura" em lingüística (1962).
Isso, porém, não deve levar a crer que Benveniste seja um continuador
stricto sensu de Saussure. Ao contrário, a teoria da enunciação é responsável
por instaurar um pensamento diferenciado acerca da linguagem. Na tentativa
A lingüística comporta a enunciação: Émile Benveniste 31

de circundar esse pensamento, para esta introdução, foram considerados alguns


textos, constantes em Problemas de lingüística geral I (PLC I) e Problemas de
lingüística geral 11 (PLG 11), que julgamos essenciais para o entendimento da
teoria desse autor. São eles:

I!l Em PLG r:6 "Estrutura das relações de pessoa no verbo" (1946), "A
natureza dos pronomes" (1956), "Da subjetividade na linguagem" (1958),
"As relações de tempo no verbo francês" (1959), "Os verbos delocutivos"
(1958), "A filosofia analítica e a linguagem" (1963), "Os níveis da análise
lingüística" (1964);

I!l Em PLG u: "O antônimo e o pronome em francês moderno" (1965), "A


linguagem e a experiência humana" (1965), "A forma e o sentido na
linguagem" (1967), "Estrutura da língua e estrutura da sociedade",
"Semiologia da língua" (1969), "O aparelho formal da enunciação" (1970).

A seguir, utilizamos esses textos para desenvolver a apresentação de


alguns eixos temáticos da obra de Émile Benveniste.
O primeiro eixo é o da (inter)subjetividade na linguagem. A perspectiva
semântica desenvolvida por Benveniste está relativamente sintetizada em um
texto, "A semiologia da língua", que estabelece oposição entre dois níveis de
significação: o semiótico e o semântico. Na tentativa de responder à pergunta
"o que é a significação?", o autor recorre à noção de signo e diz que está
articulada à de significação no estudo da língua. Assim, vincula-se à idéia de
língua como sistema de signos, em uma remissão clara a Saussure, definindo
o signo como unidade semiótica. Em outras palavras, ele é necessariamente
um elemento de dupla relação cuja unidade é submetida a uma ordem
semiótica. Unidade porque decomponível do todo que é a linguagem e
submetida porque limitada à ordem da significação.
Nessa perspectiva, o primeiro modo de significação corresponde ao nível
"intralingüístico" em que cada signo é distintivo, significativo em relação
aos demais, dotado de valores opositivos e genéricos e disposto em uma
organização paradigmática. A esse nível Benveniste denomina de semiotico.
Desse ponto de vista, não interessa a relação do signo com as coisas denotadas,
nem da língua com o mundo. /
O segundo modo de significação resulta da atividade do locutor que coloca
a língua em ação e é denominado de semântico. O critério utilizado é o da
32 Introdução à lingüística da enunciação

comunicação para definir a palavra como a unidade de operações sintagmáticas


que se realizam no nível da frase.
É necessário enfatizar a diferença percebida nos dois níveis quanto
ao tratamento dado à referência." No semiótico, ela está ausente; no
semântico, é definidora do sentido porque este se caracteriza pela relação
estabelecida entre as idéias expressas sintagmaticamente na frase e '1 situação
de discurso. A conclusão decorrente é que Benveniste, ao propor um nível de
significado que engloba referência aos interlocutores, apresenta um modelo
de análise da enunciação em que os interlocutores referem e co-referem na
atribuição de sentido às palavras." Essa distinção possibilita o entendimento
da categoria de pessoa e dos conceitos de intersubjetividade e de enunciação,
básicos em sua teoria.
Para estudar a intersubjetividade em Benveniste, é fundamental a ela
juntar a discussão sobre a estrutura do sistema pronominal pessoal e sobre a
enunciação. Em Estruturas das relações de pessoa no verbo, o autor diz
que uma teoria lingüística da pessoa verbal deve ser feita com base na
estrutura opositiva entre elas; por isso é que ele distingue as duas primeiras
pessoas (eu e tu) da terceira (ele) a partir de duas correlações: a de
personalidade e a de subjetividade.
A primeira separa o "eu/tu" - em que existe uma concomitância entre a
pessoa implicada e o discurso sobre ela - do "ele" - privado da característica
de pessoa e evidenciado como a forma verbal para indicar a não-pessoa. Essa
oposição é feita por meio de uma tripla especificidade de "eu/tu" em relação
a "ele". A categoria de pessoa caracteriza-se pela sua unicidade, inversibilidade
e ausência de predicação verbal. A segunda correlação opõe "eu" a "tu". "Eu"
é interior ao enunciado, exterior a "tu" e transcendente a este, portanto, é a
única pessoa realmente subjetiva.
Disso conclui-se que, com Benveniste, a categoria de pessoa adquire
outro estatuto, porque não basta defini-Ia em termos de presença/ausência do
traço de pessoalidade, mas é necessário concebê-Ia em termos de subjetividade.
O "eu" é pessoa subjetiva; o "tu" é apenas pessoa: "Poder-se-á, então, definir
o tu como a pessoa não subjetiva, em face da pessoa subjetiva que eu representa;
e essas duas 'pessoas' se oporão juntas à forma de 'não-pessoa' ."9

Isso fica bem mais claro em A natureza dos pronomes, em que o autor
ratifica a oposição anterior. A diferença entre a pessoa e a não-pessoa reside
A lingüística comporta a enunciação: Émile Benveniste 33

no tipo de referência que estabelecem. O par "eu/tu" pertence ao nível


pragmático da linguagem, pois, definido na própria instância de discurso,
refere a realidades distintas cada vez que enunciado, enquanto o "ele" pertence
ao nível sintático, já que tem por função combinar-se com a referência objetiva
de forma independente da instância enunciativa que a contém.
Depreende-se daí que a unicidade decorrente do uso das formas "eu/tu"
é conferi da pela instância de discurso, e a não-unicidade de "ele" está ligada
à sua independência com relação à enunciação. A dêixis, por sua vez, passa a
ser entendida, na perspectiva enunciativa, como aqueles signos que,
pertencentes ao paradigma do "eu", também fazem remissão à instância de
discurso e só nela podem ser devidamente apreendidos. Assim concebida a
noção de pessoa, percebe-se a importância de um tema complexo na obra de
Benveniste, o da (inter)subjetividade.
Em "Da subjetividade na linguagem" há a afirmação do caráter constitutivo
da linguagem, com a impossibilidade de estabelecer oposição entre ela e o
homem, negando conseqüentemente o aspecto instrumental da linguagem.
Segundo Benveniste, opor o homem à linguagem é opô-lo à sua própria natureza:

Não atingimos jamais o homem reduzido a si mesmo e procurando


conceber a existência do outro. É um homem falando com outro
homem que encontramos no mundo, um homem falando com outro
homem, e a linguagem ensina a própria definição do homem."

Nesse texto, é retomada a divisão do sistema pronominal em pessoa e não-


pessoa, porque o sujeito, nessa concepção, é produto de umjogo de interação
J
dado pelo uso das formas lingüísticas que, pertencentes à língua, possibilitam
a passagem de locutor a sujeito num processo de apropriação da língua.
O fundamento da subjetividade é dado pela categoria de pessoa presente
no sistema da língua mediante determinadas formas (o pronome "eu", por
exemplo). Vale lembrar, porém, que essa subjetividade é dependente da
inversibilidade aludida quando do tratamento do par "eu/tu". Essa
inversibilidade assegura a intersubjetividade sem a qual não faz sentido falar
de categoria lingüística de pessoa.
O fundamento intersubjetivo em que "Eu não emprego eu a não ser
dirigindo-me a alguém, que será na minha alocução um tu" é constitutivo da
pessoa em função da inversibilidade. Assim, "a linguagem só é possívei porque
34 Introdução à lingüística da enunciação

("
t~ada locutor se apresenta como sujeito, remetendo a ele mesmo como eu no
Lseu discurso?" e ao outro como um "tu".
Gostaríamos de insistir na leitura desse texto porque, com base nele, é corrente
uma interpretação psicologista da subjetividade na obra de Benveniste. Ora, isso
não é possível de sustentar devido, ao menos, a algumas observações.
Benveniste é bastante claro em fazer distinção entre o que é da ordem
da linguagem e o que é da ordem da língua. 13 A intersubjetividade está para a
linguagem assim como a subjetividade está para a língua.
A linguagem é condição de existência do homem e como tal ela é sempre
referida ao outro, ou seja, na linguagem se vê a intersubjetividade como
condição da subjetividade. 14 Nesse ponto, vale repetir Benveniste em algumas
[
passagens em que a distinção língua/linguagem é bem nítida: 15

1°)"Tanto para o sentimento ingênuo do falante como para o lingüista, a


linguagem tem como função 'dizer alguma coisa'. O que é exatamente
essa 'coisa' em vista da qual se articula a língua, e como é possível
delimitá-Ia em relação à própria linguagem't?"

2°)"[ ... ] a linguagem é [... ] um fato humano; é, no homem, o ponto de


interação da vida mental e da vida cultural e ao mesmo tempo o
instrumento dessa interação. Uma outra lingüística poderia estabelecer-
se sobre os termos deste trinômio: língua, cultura, personalidade" .17

~ Sobre a intersubjetividade, diz Benveniste: "[ ...] não atingimos jamais o


( homem reduzido a si mesmo e procurando conceber a existência do outro". 18

\ Ou ainda: "caem assim as velhas antinomias do 'eu'e do 'outro', do indivíduo


\ e da sociedade. Dualidade que é ilegítimo e errôneo reduzir a um só termo
original [... ]".19 E acrescenta: "é numa realidade dia/ética que englobe os
\ dois termos e os defina pela relação mútua que se descobre o fundamento
lingüístico da subjetividade"."
'<, A língua, para o autor, é o sistema ao qual os falantes de uma comunidade
_. estão expostos desde sempre. Conclui -se disso que a intersubjetividade é condição
da subjetividade, assim como a linguagem é condição da língua. Há aqui uma
\ espécie de anterioridade lógica, ou seja, é porque existe intersubjetividade que se

l podepensar em subjetividade. O sujeito, para se propor como tal na linguagem,


tem de estar, ele mesmo, constituído pelo outro.
A lingüística comporta a enunciação: Émile Benveniste 35

Enfim, não subjaz à lingüística de Benveniste uma concepção idealista


de sujeito porque a sua teoria da enunciação não fala do sujeito em si, mas da
representação lingüística que a enunciação oferece dele. Claudine Normand,
em um texto que busca elucidar os termos da enunciação em Benveniste,
formula uma tese surpreendente: não existe o sintagma sujeito da enunciação
na obra deste autor, e acrescenta:

Se nos interrogamos sobre a coincidência dessa ausência e dessa


presença repetitiva em outros lugares, procurando compreender por
que ele não usou essa expressão que lhe é atribuída, pode-se fazer
algumas conjecturas. Queria ele jazer uma teoria do sujeito? Não
lhes foram atribuídas abusivamente as interrogações que
preocupavam nos anos 60, na França, aqueles que procuravam juntar
a psicanálise, o marxismo e a lingüística?"

Em resumo, quanto ao primeiro item, a intersubjetividade na linguagem,


é possível dizer que Benveniste aborda a questão desde o ponto de vista
lingüístico sem, contudo, encerrar-se em uma visão idealista de sujeito.
O segundo eixo diz respeito à concepção de aparelho formal da enunciação.
N o texto "O aparelho formal da enunciação", Benveniste concebe uma oposição
entre a lingüística das formas e a de enunciação. À primeira caberia a descrição
das regras responsáveis pela organização sintática da língua, ou seja, nela admite-
se um objeto estruturado, devendo-se descrever as regras imanentes a ele. A
segunda pressupõe a anterior e inclui no objeto de estudo a enunciação.
Para Benveniste, "a enunciação é este colocar em funcionamento a língua
por um ato individual de utilização"." Com essa afirmação, separa-se ao
mesmo tempo o ato - objeto de estudo da lingüística da enunciação - do
produto, isto é, o discurso. Esse ato é o próprio fato de o locutor relacionar-se
com a língua com base em determinadas formas lingüísticas da enunciação
que marcam essa relação. Enunciar é transformar individualmente a língua -
mera virtualidade - em discurso. A semantização da língua se dá nessa
passagem. A enunciação, vista desse prisma, é produto de um ato de
apropriação da língua pelo locutor, que, a partir do aparelho formal da
enunciação, tem como parâmetro um locutor e um alocutário. É a alocução
que instaura o outro no emprego da língua.
Esse quadro teórico dá conta do processo de referenciação como parte
da enunciação, isto é, ao mobilizar a língua e dela se apropriar, o locutor
36 Introdução à lingüística da enunciação

estabelece relação com o mundo via discurso de um sujeito, enquanto o


alocutário co-refere. Conforme Benveniste, "o ato individual de apropriação
da língua introduz aquele que fala em sua fala. [...] A presença do locutor em
sua enunciação faz com que cada instância de discurso constitua um centro
de referência interno"."
y Muitos são os temas que ainda devem ser retomados e amadurecidos a
partir desse raciocínio de Benveniste: o escopo da referência; o lugar da sintaxe
e da morfologia em uma reflexão de natureza enunciativa; a problemática da
dêixis," o estatuto dos elementos nominais (associados ao paradigma do "ele")
em teoria da enunciação, entre outras." O fato é que, de qualquer prisma que
se olhe, é preciso perceber que o aparelho formal da enunciação não está
limitado a formas específicas, mas é integrante da língua em sua totalidade.
A partir disso, o tema que adquire estatuto central na obra de Benveniste
é o da referência. Quando dissemos anteriormente que a distinção entre os
níveis semiótico e semântico colocava em relevo a questão da referência -
ausente no primeiro, característica do segundo -, isso não pode levar a pensar
que é uma referência ao mundo ou a algum tipo de ontologia que é posta
nesse raciocínio. E isso, ao menos, por um bom motivo: não há a possibilidade
de se pensar uma referência objetiva em um quadro teórico estrutural como o
oriundo de Ferdinand de Saussure. A concepção sistêmica de Saussure,
incorporada integralmente por Benveniste, exclui qualquer relação com algo
que não esteja na própria estrutura. De certa forma, podemos dizer que há
incongruência quando, por exemplo, se fala que Benveniste trata, por meio
da noção de nível semântico, do extralingüístico. Em uma concepção estrutural
de língua, nada que não seja definido nas relações do sistema pode pertencer
ao sistema, portanto, não há o "extra" em teorias que pressuponham o quadro
estruturalista. Isto é um princípio.
Assim, cabe perguntar: o que querem dizer alguns leitores de Benveniste
quando afirmam que ele é o primeiro autor a incluir a questão da referência
nos estudos lingüísticos de origem saussuriana? Evidentemente isso é uma
verdade, o que é atestado pela própria apresentação que estamos fazendo de
sua obra. Porém, é uma verdade muito particular: esse autor inclui a referência
nos estudos lingüísticos, mas é de uma referência ao sujeito e não ao mundo
que se trata aqui. O aparelho formal da enunciação é uma espécie de dispositivo
(q~e as línguas têm para que possam ser enunciadas. Esse aparelho_nada mais
lé que a marcação da subjetividade na estrutura da língua. --
A lingüística comporto o enunciação: Émile Benveniste 37

Nesse sentido, o aparelho formal da enunciação é fundamento estrutural


de uso da língua. Justifica-se, assim, que o conceito de enunciação seja o "colocar
em funcionamento a língua por um ato individual de utilização"," pois cada
vez que o locutor se apropria do aparelho formal da enunciação - e por ele se
apropria da língua toda - produz um uso novo e como tal irrepetível.
Essa irrepetibilidade deve-se ao fato de que jamais tempo, espaço e pessoa -
categorias fundamentais em enunciação - podem ser perenizadas no uso da
língua. E isso é Benveniste mesmo que explica, pois "a referência é parte
integrante da enunciação". 27 A clareza é total: referência à enunciação - ato individual
de utilização da língua no qual estão tempo/espaço/pessoa - e não ao mundo.
Portanto, não devem causar estranheza as frases utilizadas para definir o
nível semântico, quando Benveniste afirma que "[ ...] é necessário introduzir
aqui um termo a que foi desnecessário apelar na análise semiótica: aquele do
'referente', independente do sentido, e que é objeto particular a que a palavra
corresponde no caso concreto da circunstância de USO";28 ou ainda "a língua
se acha empregada para a expressão de uma certa relação com o mundo". 29

Ora, é evidente que ao falarmos estabelecemos uma certa relação com o


mundo, mas mediada, na opinião de Benveniste, pelo sujeito. Não é uma
relação qualquer, ela é, pois, dependente da enunciação. Se assim não fosse,
teríamos de admitir que a língua é uma nomenclatura superposta à realidade.
Contrariamente a isso, o uso da língua é sempre instaurador de sentidos novos.
Como diz o autor, o referente é o objeto particular a que a palavra corresponde
no caso concreto da circunstância de USO.3D

Além disso, Benveniste utiliza a noção de referência para estabelecer o l~~


valor semântico daquilo que chama de frase - que poderia ser também chamada ~ rJ"\1
de enunciado - e, a respeito disso, diz ele: "se o 'sentido' da frase é a idéia u:P:.
que ela exprime, a 'referência' da frase é o estado de coisas que a provoca, a ;~
situação de discurso ou de fato a que ela se reporta e que nós não podemos ,(~
jamais prever ou fixar"," Em outras palavras, se não podemos prever ou fixar V
a referência da frase é porque esta é sempre única a cada instância de discurso.
Essas explicações de Benveniste se distribuem em toda a sua obra; já em
1956, em "A natureza dos pronomes", ele anunciava: "Qual é, portanto, a
'realidade' a qual se refere eu ou tu? Unicamente uma 'realidade de
discurso?'." Ou ainda, em 1969, em "Semiologia da língua": "o semântico
toma necessariamente a seu encargo o conjunto dos referentes, enquanto o
38 Introdução à lingüística da enunciação

semiótico é, por princípio, separado e independe de toda a referência. A ordem


semântica identifica-se ao mundo da enunciação e ao universo de discurso","
----' Enfim, as imprecisões que muitas interpretações da obra de Benveniste
I têm mostrado são decorrentes do próprio uso que o autor faz de alguns termos.
Claudine Normand" chama essa imprecisão termino lógica de bricolagem
teórica, considerando-a uma das principais dificuldades para ler os textos de
desse autor. 35 Quanto à questão da referência, a autora parece ter a mesma
compreensão que temos. Em Émile Benveniste: quelle sémantique? (1996), ela
I afirma que a vontade de ultrapassar a lingüística das unidades em direção a uma
! lingüística da frase ou do discurso obriga-o a introduzir a questão da referência
I ligada à da enunciação. Para a autora, em O aparelho formal da enunciação,
~ Beneviste estende o papel da enunciação a toda a língua, incluindo os não-
I indicadores de pessoa, ou seja, os termos de estatuto estável, pleno e permanente
. na língua. Soma-se a esses, acreditamos, a própria sintaxe que não poderia ser
\ estudada, dentro do quadro benvenistiano, sem referência à enunciação.
L Diretamente ligada à questão da referência é a noção de dêixis. Esse tema
é bastante polêmico nos estudos da enunciação e, em especial, na teoria
de Benveniste. Michel Lahud (1979) está entre os que melhor estudam a
problemática no Brasil. Segundo ele, ao conceber sua teoria em conformidade
com os princípios saussurianos, exclui qualquer possibilidade de se pensar a
dêixis como um fenômeno de referência ao "mundo dos objetos". 36 É importante
salientar que o conceito de signo mobilizado por Benveniste é aquele presente
na vertente saussuriana dos estudos lingüísticos, ou seja, o signo como entidade
de dupla face constituída porum significante e um significado. O signo na teoria
de Saussure é concebido no interior do sistema do qual é constituinte e no qual
é constituído independentemente da referência ao mundo.
A seguir, propomos uma leitura das noções de dêixis e de referência na
obra de Benveniste, considerando sua evolução em alguns textos-chave do
pensamento do autor.
Em "A natureza dos pronomes", ele considera que a diferença entre pessoa
e não-pessoa reside no tipo de referência estabelecida. Os pronomes "eu/tu"
pertencem ao nível pragmático da linguagem, pois, definidos na própria
instância de discurso, referem a uma realidade distinta a cada vez que são
enunciados. Segundo ele, "eu é o indivíduo que enuncia a presente instância
de discurso que contém a instância lingüística eu"." O "ele" pertence ao nível
A lingüística comporta a enunciação: Émile Benveniste 39

sintático, já que tem por função combinar-se com uma referência objetiva de
forma independente da instância enunciativa que a contém. A diferença é,
portanto, de natureza e de função. As propriedades da não-pessoa são:

[00'] 1° de se combinar com qualquer referência de objeto; 2° de não


ser jamais reflexiva da instância de discurso; 3° de comportar um
número às vezes bastante grande de variantes pronominais ou
demonstrativas; 4° de não ser compatível com o paradigma dos
termos referenciais como aqui, agora, etc."

Benveniste, nesse momento, separa os signos pertencentes à sintaxe da


língua daqueles que são relativos à instância de discurso. Quanto a esses
últimos, assinala que têm existência lingüística apenas quando são usados.
"A forma eu só tem existência lingüística no ato de palavras que a profere"."
Assim, a função desses signos é a de promover a comunicação intersubjetiva.
Com base nesse raciocínio, poderíamos dizer que a dêixis se liga à categoria
de pessoa, ou seja, ao paradigma do "eu/tu", enquanto os elementos não-
dêiticos se ligam à não-pessoa, ou seja, ao paradigma do "ele". Com a
separação entre os "indicadores auto-referenciais" - do paradigma do "eu" -
e os chamados de "terceira pessoa", há dois tipos de referência que remetem
a direções distintas que podem ser esquematizadas da seguinte forma:

Eu/tu - categoria de pessoa - referência dêitica.

Ele - categoria de não-pessoa - referência não-dêitica.

Se no texto de 1956, "A natureza dos pronomes", Benveniste separa os


signos pertencentes à sintaxe da língua daqueles que são relativos às instâncias
do discurso, em "Da subjetividade na linguagem", de 1958, a distinção é
entre categorias da língua e categorias do discurso. O que se percebe aqui é
também uma dupla referenciação: a objetiva que contempla os signos "plenos"-
do paradigma do "ele" - e a subjetiva que contempla os signos "vazios" auto-
referenciais - do paradigma do "eu/tu". Há um acréscimo, porém: ao opor o
"eu/tu" ao "ele", o autor opõe a esfera subjetiva da língua à esfera objetiva.
Nesse caso, então, teríamos: esfera subjetiva da língua e categoria de pessoa,
de um lado, e esfera objetiva e categoria de não-pessoa, do outro. Mas o que
esses termos significam nesse contexto teórico?
40 Introdução à lingüística da enunciação

A categoria de pessoa, como vimos, é o fundamento lingüístico da


intersubjetividade e a sua referência é ao "eu". Nesse sentido, Benveniste
formula o conceito de dêixis de uma forma bastante diferente, se comparada
às teorias lógicas e filosóficas que se dedicaram ao tema. Para ele, o mecanismo
da dêixis está marcado na língua e é colocado em funcionamento cada vez
que um sujeito a enuncia. Assim, os dêiticos, embora possuam um lugar na
língua, são categorias vazias e subjetivas porque, sendo signos concretos,
somente adquirem estatuto pleno na e pela enunciação de "eu".
A esfera não-subjetiva ou objetiva da língua também tem estatuto
lingüístico, mas, nesse caso, de não-pessoa. O fato de Benveniste considerar
que esses signos relacionam-se a uma realidade objetiva não autoriza a ver aí
uma realidade ontológica, mas uma referência à própria língua.
No entanto, a dupla referenciação (subjetiva e objetiva) parece se desfazer
nos últimos textos de Benveniste. O autor esboça outra alternativa para tratar
do mecanismo da dêixis. Em "O aparelho formal da enunciação", de 1970, o
sistema de referenciação é visto como um elemento constitutivo da língua, ou
seja, a referência é um termo integrante da língua na sua totalidade, o qual é
agenciado pelo sujeito e deste depende para ter sentido. Assim, o centro de
referência passa a ser apenas um: o sujeito e sua enunciação. Diz ele:

[... ] na enunciação, a língua se acha empregada para a expressão


de uma certa relação com o mundo. A condição mesma dessa
mobilização e dessa apropriação da língua é, para o locutor, a
necessidade de referir discurso, e, para o outro, a possibilidade
de co-referir identicamente, no consenso pragmático que faz de
cada locutor um co-Iocutor. A referência é parte integrante
da enunciação."

Acrescenta ainda Benveniste que todo o mecanismo da referência é regido


pelo processo da enunciação entendida como o "colocar em funcionamento a
línguapor um ato individualde utilização"." Esse ato de uso da línguaé constitutivo
da enunciação e "[ ...] faz com que cada instância de discurso constitua um
centro de referência interno"."
Ora, esse mecanismo único de referência já estava previsto em
Benveniste no texto de 1958, "Da subjetividade na linguagem", quando ele
diz o seguinte:
A lingüística comporta a enunciação: Émile Benveniste 41

É preciso ter no espírito que a "terceira pessoa" é a forma do


paradigma verbal (ou pronominal) que não remete a nenhuma
pessoa, porque se refere a um objeto colocado fora da alocução.
Entretanto existe e só se caracteriza por oposição à pessoa eu do
locutor que, enunciando-a, a situa como "não pessoa". Esse é seu
status. A forma ele [... ] tira o seu valor do fato de que faz
necessariamente parte de um discurso enunciado por "eu"."

A partir disso, podemos formular uma observação: Benveniste acaba


propondo, em especial no texto de 1970, um mecanismo de referenciação
único, qual seja, o sujeito e a sua enunciação. Com isso, tanto os signos plenos
como os vazios estão submetidos ao centro enunciativo do discurso. Quanto à
dêixis, diz Benveniste:

As formas denominadas tradicionalmente "pronomes pessoais",


"demonstrativos", aparecem agora como uma classe de
"indivíduos lingüísticos" de formas que enviam sempre somente
a "indivíduos", quer se trate de pessoas, de momentos, de lugares,
por oposição aos termos nominais, que enviam sempre e somente
a conceitos. Ora, o estatuto destes 'indivíduos lingüísticos' se deve
ao fato de que eles nascem de uma enunciação, de que são
produzidos por este acontecimento individual [... ]. Eles são
engendrados de novo cada vez que uma enunciação é proferida, e
cada vez eles designam algo novo."

Observe-se que, nesse trecho, Benveniste admite a existência de "termos


nominais" que enviam sempre a "conceitos" como integrantes da língua. Isso
corrobora o que dissemos anteriormente sobre o caráter lingüístico da esfera
não-subjetiva da língua.
Enfim, se toda a língua passa a ser regida por um mecanismo único de
referenciação que especificidade teriam os dêiticos em relação aos elementos
não-dêiticos da língua? Em "O aparelho formal da enunciação", diz Benveniste:
O ato individual pelo qual se utiliza a língua introduz em primeiro lugar o
locutor como parâmetro nas condições necessárias da enunciação. Antes da
enunciação, a língua não é senão possibilidade de língua. Depois da enunciação,
a língua é efetuada em uma instância de discurso, que emana de um locutor,
forma sonora que atinge e que suscita uma outra enunciação de retorno."
Mesmo que nesse artigo o autor fale explicitamente do "eu/tu" e do "ele",
a língua parece estar relacionada, como totalidade, ao "eu". Um exemplo
42 Introdução à lingüística da enunciação

dessa centralidade do "eu" é o que Benveniste afirma sobre a asserção -


enunciados que contêm a forma "ele": "Em seu rodeio sintático, como em
sua entonação, a asserção visa a comunicar uma certeza, ela é a manifestação
mais comum da presença do locutor na enunciação"."
Podemos, a partir disso, concluir que o fato de a língua estar integralmente
ligada à referência e ao "eu" não significa que a dêixis não tenha um mecanismo
que lhe é próprio, qual seja, a característica de somente adquirir sentido no
, uso feito pelo "eu". Assim, poderíamos dizer que, em um sentido amplo, para
Benveniste, toda a língua é dêitica, na medida em que precisa ser referida a
quem a enuncia para ter sentido. A dêixis nesse autor não é o mecanismo de
referência ao mundo, mas ao sujeito. Assim, todos os elementos da língua
I
precisariam ser analisados na instância de discurso que contém "eu", o que,
convenhamos, amplia significativamente o escopo da teoria.
\ -:--- É o conceito de enunciação que instaura um nível que não se reduz nem
à língua nem à fala, mas que constitui ambas. A enunciação é o ato de tomar
fala a língua. Benveniste procurou esboçar um quadro formal dos caracteres
enunciativos "no interior da língua", sendo os dêiticos também dela
constitutivos; no entanto, é bom lembrar, antes de definir o lugar exato que
cabe a essas partículas na língua, que ele havia chamado a atenção para o fato
de que empregar a língua não é o mesmo que concebê-Ia como um sistema. O
aparelho formal da enunciação apaga as fronteiras entre língua e fala, visto
que os elementos que o constituem pertencem, concomitantemente, aos dois
níveis. Esse apagamento tem uma conseqüência: o mecanismo da referência
é único e tem estatuto enunciativo.

Notas
I Em agosto de 2004, ocorreu em Porto Alegre o 10 colóquio Leituras de Émile Benveniste, cujas atas
encontram-se reunidas no n. 138 da revista Letras de Hoje. Consta da publicação uma série de artigos
apresentados e discutidos por ocasião do colóquio que testemunham a atualidade do pensamento do autor
nas mais diferentes intersecções.
2 L. Hjelmslev, Prolegômenos: a uma teoria da linguagem, Rio de laneiro, Perspectiva, 1975.
3 Sobre Benveniste, vale ainda lembrar o depoimento de Merquior: "Benveniste era um mestre extremamente
culto que escondia sua enorme erudição sob uma modéstia exemplarmente discreta. Digno aluno do
maior discípulo de Saussure, Antoine Meillet, morreu pobre, respeitado por seus colegas, mas totalmente
esquecido pela fama um tanto ou quanto exagerada desfrutada pelos gurus estruturalistas (ainda me lembro
como calávamos, reverentes, ao passar pela porta de sua sala no caminho para o concorrido seminário de
Lévi-Strauss no Collêge de France)" (De Praga a Paris: o surgimento, a mudança, a dissolução da idéia
estruturalista, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1991, p. 27).
A lingüística comporta a enunciação: Émile Benveniste 43

4 Não se pode deixar de registrar que Benveniste é um lingüista que mantém fortes laços com outras áreas,
como a Filosofia analítica, a Psicanálise, a Sociologia, a Antropologia, entre outras. A esse respeito vale
lembrar os textos Observações sobre a função da linguagem na descoberta freudiana (1956) e Estrutura
da línguo estrutura da sociedade (1968).
5 Isso não quer dizer que Benveniste deixe de ampliar muitas das idéias estruturalistas ou até mesmo de
subvertê-Ias. Nonnand (1996) considera-o um continuador de Saussure ao mesmo tempo em que, com a
inclusão das questões de subjetividade, tenta ultrapassá-lo,
6 Serão referidas, neste momento, as datas originais dos textos para que o leitor possa visualizar uma cronologia
da obra de Benveniste, no entanto, sempre que se fizer alguma citação será das publicações brasileiras.
7 A seguir, trataremos com mais especificidade da noção de referência na obra de Benveniste.
8 Resta ainda acrescentar que os termos "frase" e "palavra", em uma perfeita confirmação das reflexões do
autor, adquirem, nesse contexto, o sentido amplo de "discurso" ou de "língua em ação" e não o sentido
canônico dado pelas teorias do léxico ou da sintaxe.
, É. Benveniste, Problemas de lingüística geral I, Campinas, Pontes, 1988, p. 255 [grifos do autor].
,oIdem, p. 285.
"Idem, p. 286 [grifos do autor].
"Idem, ibidem [grifos do autor].
"Essa diferença aparece em vários momentos da obra do autor, entre os quais citaremos, aqui, apenas um a
título de ilustração. Em "A natureza dos pronomes", diz ele: "a universalidade dessas formas e dessas noções
faz pensar que o problema dos pronomes é ao mesmo tempo um problema de linguagem e um problema
de línguas, ou melhor, que só é um problema de línguas por ser, em primeiro lugar, um problema de
linguagem" (idem, p. 277) [grifos nossos].
14 Em Flores (2004), encontra-se o argumento para defender um kantianismo em Benveniste. 'l.. ]o kantianismo
aparece em Benveniste precisamente no momento em que há a recusa do em si. O sujeito não é uma coisa.
Independentemente do lado que se olhe, ele é uma condição formal para que o homem exista. Mas, para
que exista como linguagem, porque opor o homem à linguagem é opô-lo a sua própria natureza. O sujeito
é linguagem, e a intersubjetividade é a sua condição. Eis o a priori radical de Benveniste" (p. 221).
15 Os destaques são nossos.
I6Idem, p. 8.
"Idem, p. 17.
"Idem, p. 285 [grifos nossos].
"Tdem, p. 287 [grifos nossos].
~Oldem, ibidem [grifos nossos].
'e. Norrnand, Os termos da enunciação em Benveniste, em S. L. Oliveira; E. M. Parlato (org.), O
falar da linguagem, São Paulo, Louise, 1996, p. 145.
22É. Benveniste, Problemas de lingüística geral 11, Campinas, Pontes, 1989, p. 82.
"Idem, p. 84.
24Cf. V. Flores; S. Silva, "Aspecto verbal: uma perspectiva enunciativa do uso da categoria no português
do Brasil", em Letras de hoje, Porto Alegre, EDIPUCRS,2000.
"Gostaríamos de registrar que não achamos adequado tratar da enunciação, em Benveniste, apenas nos
textos especificamente a ela dedicados, pois acreditamos que esse seja um eixo de articulação de toda a
obra do autor. Lembremos os estudos sintáticos, lexicais, históricos, bem como aqueles ligados
a outras áreas como a psicanálise e a filosofia da linguagem que integram a bibliografia benvenistiana.
Defendemos a idéia de que Benveniste nunca perdeu de vista o princípio de que não se pode conceber a
linguagem em separado do homem. Opô-lo à linguagem é opô-I o a sua própria natureza, como ele mesmo
diria. É verdade que a denominação de lingüista da enunciação é bastante adequada a esse autor, porém
é injusta quando aqueles que a empregam esquecem a grande parte de sua obra dedicada aos estudos
comparativistas, sintáticos e culturais, apenas para citar estes. Parece-nos oportuno esse registro já que,
há alguns anos, fomos brindados com a publicação brasileira do Vocabulário das instituições indo-européias
e sua referência ainda é rara na literatura da área (cf. Flores, 2004).
26Benveniste, op. cir. p. 82.
"Idem, p. 84.
"Idem, p. 231.
29Idem, p. 84.

Você também pode gostar