Science">
Formalismo e Estruturalismo
Formalismo e Estruturalismo
Formalismo e Estruturalismo
Por causa disso, a Poética não foi alçada aos estudos superiores; seu
lugar foi ocupado pela Teoria da Literatura na condição de uma ciência
focada no conhecimento das obras literárias. No século XIX, ela abrigou
tanto a Filologia e a Crítica Textual quanto a História da Literatura. A Filolo-
gia e a Crítica Textual dirigiram-se a questões linguísticas, associando-se,
na mesma época, à Linguística Histórica, o que as levou ao gradual aban-
dono dos estudos literários – que coincidiram predominantemente com a
História da Literatura e sua gêmea, a Literatura Comparada. A elas cabia o
exercício de duas tarefas complementares:
O Formalismo Russo
Os intelectuais e artistas russos fizeram sua estreia na modernidade nas duas
primeiras décadas do século XX. Os primeiros quadros não figurativos de Kandinsky
datam de 1910. O pássaro de fogo e A sagração da primavera, de Igor Stravinsky,
datam respectivamente de 1910 e 1913, e nessas obras o compositor rompe com
as regras musicais até então aplicadas para o ritmo, a melodia e a harmonia. Um
ano antes, em 1912, jovens poetas como Vielimir Khlebnikov e Vladimir Maiakovski
publicaram um almanaque provocador, intitulado Bofetada no gosto público, con-
siderado, desde então, o manifesto do grupo futurista na Rússia.
Chklovski dispunha de bons exemplos para mostrar que estava correto; afinal,
seus conterrâneos – os citados Kandinsky, na pintura; Stravinsky, na música; e
Maiakovski, na poesia – recorreram aos materiais mais diversificados para criar algo
inteiramente novo, despreocupando-se se esse novo reproduzia ou não o mundo
conhecido. No caso de Kandinsky, mesmo a representação figurativa desaparecia,
pois sua pintura era abstrata, lidando apenas com formas geométricas desprovidas
de conteúdo. Mas o poeta Vielimir Khlébnikov também podia redigir um poema
em que desaparecesse a preocupação com a comunicação de um significado:
todo seu valor aparece, não apenas enquanto imagem e sonoridade, proprieda-
de que as palavras têm, como bem exploraram os simbolistas em poemas como
o de Cruz e Sousa:
Vitor Chklovski toma, pois, como ponto de partida de suas reflexões, a dife-
rença entre a linguagem empregada na comunicação cotidiana e a linguagem
poética, destacando a importância desta última, que garante “a ressurreição da
palavra”, como intitula um de seus primeiros artigos. (CHKLOVSKI, 1973). A pa-
lavra poética revitaliza, pois, a linguagem como um todo; mas, como pode ser
banalizada ao ser frequentemente utilizada, requer constante renovação, o que
ocorre graças aos procedimentos empregados que a tornam novamente singu-
lar, provocando outra vez o estranhamento.
o sabiá” ou “nosso céu tem mais estrelas”(DIAS, 1998, p. 19) sem nem mesmo
lembrar que foi o poeta maranhense que os escreveu, falando da saudade que
sentia de sua terra natal, quando morava em Portugal e estudava na Universida-
de de Coimbra. Graças à popularidade do poema, palmeiras e sabiás tornaram-
-se sinônimos de Brasil, migrando para as mais diversas formas de manifestação,
verbais e não verbais.
Para recuperar o sentido desses versos, não basta mais repeti-los: é preciso
recriá-los, como fez nosso modernista Oswald de Andrade, que deu conta do
mesmo sentimento de exílio e solidão adicionando o humor e a paródia ao texto
de Gonçalves Dias:
Os passarinhos daqui
Eu quero tudo de lá
Um sabiá na
palmeira, longe.
um outro canto.
O céu cintila
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Vou voltar
Foi lá e é ainda lá
Uma sabiá
Vou voltar
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor
E anunciar o dia.
(HOLANDA, 2007)
O Estruturalismo Tcheco
Os formalistas russos congregaram pesquisadores associados à Universida-
de de São Petersburgo, entre os quais destacamos Vitor Chklovski. Mas também
professores da Universidade de Moscou compartilharam estudos sobre a lingua-
gem poética, sobre o ritmo na poesia e sobre a narrativa. Alguns voltaram-se so-
bretudo a questões linguísticas, como Roman Jakobson, enquanto outros, como
Vladimir Propp, ocuparam-se com a forma das histórias populares, construin-
do uma tipologia que auxiliou o conhecimento das sequências narrativas nos
contos. Também dedicados aos estudos da literatura foram:
nome pelo qual o grupo ficou conhecido. Mas o Estruturalismo Tcheco notabi-
lizou-se igualmente por estabelecer as conexões entre os estudos literários e a
Estética graças à colaboração de Jan Mukarovski.
Com isso, contudo, os formalistas acabaram por cindir uma obra em forma e
conteúdo, como se esses fatores pudessem ser examinados de modo separado.
Foi para tal problema que Mukarovski apresentou uma solução, referindo-se à
noção de que a obra literária é uma estrutura, construída por diferentes elemen-
tos que constituem uma unidade orgânica. Nesse sentido, todos os elementos
estão unidos entre si de modo que a alteração de um deles determina a mudan-
ça do conjunto. No caso da “Canção do exílio”, por exemplo, o fato de Oswald
de Andrade ter trocado a palavra palmeiras, de “Minha terra tem palmeiras’” por
palmares, em “Minha terra tem palmares”, provoca uma imediata transformação
no todo do poema, porque afeta seus significado, ritmo e objetivo. Palmeiras ou
palmares são vocábulos que não representam apenas semelhanças fônicas em
contraposição a sentidos diversos, mas também estabelecem uma relação entre
si e com o conjunto do texto onde aparecem.
Para os formalistas, uma obra artística caracteriza-se por uma série de proce-
dimentos destinados a provocar um efeito sobre seu destinatário. Esses procedi-
mentos serão tanto mais efetivos quanto mais singulares e originais, gerando uma
sensação de estranhamento no público. Tinianov, desenvolvendo a ideia básica de
Chklovski, procurou entender as transformações históricas experimentadas pela
literatura a partir desses critérios: tal como a linguagem da comunicação diária, os
gêneros e estilos se desgastam, determinando a necessidade de modificá-los. A
paródia é o primeiro sinal de desgaste de uma forma, de um estilo, de um tipo de
Texto complementar
........................................................................................................................................................
Estudos literários
1. Quais foram os conceitos incorporados por V. Chklovski à Teoria da Literatura
e o que eles significam?