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1livro A Produção Do Territorio Goiano

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A produção do território goiano

Economia - Urbanização - Metropolização

Tadeu Alencar Arrais

Goiânia, junho de 2011


A ordem global é desterritorializada, no sentido de que separa
o centro da ação e a sede da ação. Seu espaço, movediço
e inconstante, é formado de pontos, cuja existência
funcional é dependente de fatores externos. A ordem local,
que reterritorializa, é a do espaço banal, espaço irredutível,
porque reúne numa mesma lógica interna todos
os seus elementos: homens, empresas, instituições,
formas sociais e jurídicas, e formas geográficas.
O cotidiano imediato, localmente vivido, traço de
união de todos esses dados, é a garantida da comunicação.
Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global
e de uma razão local, convivendo dialeticamente.

Milton Santos, 2008


Sumário

Sobre as escolhas ... 4

O território produzido ... 6

Economia ... 13
Geografia econômica ... 13
Integração econômica ... 16
Economia contemporânea ... 33

Urbanização ... 64
Conceito de urbanização ... 64
Primórdios da urbanização ... 68
Urbanização contemporânea ... 77

Metropolização ... 97
Conceito de metropolização ... 97
Formação territorial ... 101
Região Metropolitana de Goiânia ... 115

Conclusão ... 130

Bibliografia ... 133


Sobre as escolhas

A produção do território goiano – economia, urbanização e metropolização é resultado


de estudos inéditos sobre o território goiano. O objetivo foi construir uma narrativa, ao mesmo
tempo, global e regional. Global porque as mudanças na economia e na política nacional e
mundial produzem efeitos no território goiano, uma vez que as políticas cambiais ou mesmo
as barreiras fitossanitárias e comerciais em uma economia com perfil agropecuário influenciam
os cenários de decisões dos atores sociais que atuam no território goiano. Regional porque
a globalização, longe de apresentar-se como um processo homogeneizador, encontra-se
estreitamente articulada aos processos agrícolas e industriais que criaram, por seu turno,
especializações produtivas regionais.
Cada capítulo, exceção para o primeiro, que versa sobre o tema que norteará a reflexão,
é dividido em três partes. A primeira é conceitual e tem o propósito de localizar o debate
na perspectiva geográfica. A segunda aborda os processos de formação territorial, elemento
necessário para a compreensão da terceira parte, que versa sobre as dinâmicas contemporâneas
e os respectivos rebatimentos territoriais.
Nos três capítulos lidamos com fontes semelhantes: dados secundários (demográficos e
econômicos) que cobrem um espectro temporal que se estende do início do século XX até os
últimos resultados do Censo Demográfico de 2010, complementados por fontes documentais,
como leis, estudos técnicos e relatórios corporativos. A literatura geográfica permitiu a
compreensão de conceitos que aparecem, sempre, relacionados aos processos territoriais.
Conceitos de rede, intraurbano, urbanização, metropolização, entre outros, permitiram maior
inteligibilidade dos processos territoriais. Trabalhos de campo, realizados durante o ano de
2010, foram úteis para aprimorar a percepção das rápidas transformações na agropecuária e na
estrutura fundiária metropolitana. Mapas, gráficos e imagens facilitaram a compreensão dos
processos territoriais a partir da visualização, por exemplo, da forma de atuação de diferentes
atores sociais, como as incorporadoras e os grupos ligados ao segmento agroindustrial.
Quanto à estrutura do texto, optamos por uma linguagem menos árida, por acreditar
que uma narrativa técnico-científica não pode estar descolada das questões que envolvem o
cotidiano. Um texto técnico-científico deve estimular a capacidade de problematização, além de
ser inteligível, sem que isso implique em reducionismo. Por isso evitamos inflacionar o texto de
citações e não dispensamos a descrição por acreditar que ela faz parte da natureza do trabalho
do geógrafo. Contudo, a descrição assume uma linha distinta daquela própria do empirismo

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geográfico, especialmente por articular conceitos aos dados secundários. Mas não se trata de um
estudo sobre os conceitos geográficos e sim de um de um estudo sobre a produção do território
goiano utilizando insumos teóricos da geografia. E produção implica, sempre, em considerar as
relações entre política e economia como dimensões inseparáveis na análise territorial.
Enfim, resta dizer que algumas lacunas, a exemplo das discussões sobre o planejamento
governamental e o desenvolvimento regional e urbano, serão foco de atenção do segundo
volume, intitulado A produção do território goiano – planejamento e desenvolvimento.

Boa leitura

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O território produzido
A década de 1990 marcou a emergência de um discurso na América Latina, anunciado
na década anterior na Europa e nos Estados Unidos, sobre o fim do poder regulamentador dos
estados nacionais. Para amparar tal discurso, fruto de uma estratégia geopolítica, disseminou-
se uma ampla bibliografia no cenário político e acadêmico mundial. K. Ohmae (1996), em
livro com o título sugestivo de O fim do Estado-Nação ilustra essa linha de pensamento que
selava a união entre as consultorias econômicas internacionais, as grandes corporações e um
conjunto de intelectuais engajados organicamente na missão de provar a ineficiência, em todos
os meridianos, do Estado-nação. Em um mundo globalizado, de intenso fluxo de capitais,
não haveria lugar para essa representação caduca, adjetivada por Ohmae (1996) de “ilusão
cartográfica”.1
Mas qual o propósito desse discurso?
Para a América Latina, o debate foi acompanhado da palavra desregulamentação, o
que abriu caminho para duas estratégias políticas articuladas. A primeira estratégia propagou
a ampliação das trocas internacionais por meio da falsa ideia de abertura das fronteiras, o que
aumentou a drenagem de renda comercial dos países periféricos por meio de um sistema de
trocas desiguais. A segunda estratégia colocou as privatizações dos setores estratégicos da
economia, sobretudo as telecomunicações e a produção de energia, como condição sine qua
non para retomada do crescimento econômico. De repente dispor dos ativos fundamentais para
a economia nacional, seja no Brasil ou na Argentina, tornou-se um excelente negócio. As duas
estratégias, somadas ao ajuste fiscal, formaram o tripé de sustentação do discurso sobre a crise
do Estado-nação.2 Fiori (1997, p.12) assim resume esse receituário:
Um programa de estratégia sequencial em três fases: a primeira consagrada à
estabilização macroeconômica, tendo como prioridade absoluta um superávit fiscal
primário envolvendo invariavelmente a revisão das relações fiscais intergovernamentais
e a reestruturação dos sistemas de previdência pública; a segunda, dedicada ao que
o Banco Mundial vem chamando de ´reformas estruturais´; liberação financeira e
comercial, desregulação dos mercados, e privatização de empresas estatais; e a terceira
etapa, definida como a da retomada dos investimentos e do crescimento econômico.
(1997, p.12)

A eficácia do discurso da globalização econômica pressupôs que todos acreditassem, por


um lado, que o território nacional existisse fora da história e, por outro, que se fechassem os
olhos à realidade, especialmente a dos grandes centros urbanos que sentiam as consequências

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da chamada década perdida, tais como o desemprego, a galopante inflação e o aumento da
pobreza. Hirst e Thompson (1998) alinhavaram uma série de pontos sugestivos do conteúdo
ideológico da globalização, citando o fato de a internacionalização da economia ter precedentes
históricos, as empresas “genuinamente transnacionais parecem ser relativamente raras” e os
fluxos financeiros globais continuarem concentrados na “tríade da Europa, Japão e América do
Norte.” Estes autores acrescentam ainda que os mercados globais inscrevem-se no âmbito da
regulação e do controle do Estado.
O que estava e está em jogo, na verdade, é a disputa pelo território nacional e seu
suposto fim era um indicativo de que isso se tornara imprescindível para as estratégias dos
grupos econômicos internacionais e do capital financeiro, assim como as grandes potências,
especialmente os Estados Unidos. Nem mesmo o discurso da soberania, próprio da territorialidade
westfaliana, serviria mais à nova ordem geopolítica mundial, pois a persistência desse discurso
pressupunha admitir que os recursos naturais (especialmente os energéticos), o mercado de
consumo e a propriedade intelectual estivessem protegidos pelo manto nacional.
No plano concreto, a exploração de recursos minerais, o estímulo à ocupação de terras
para fins de colonização, a ampliação da fronteira agrícola, além da exploração energética são
claros indicativos de segmentos cuja importância do Estado ainda é destacada. Entretanto, o
Estado atua também na garantia da circulação, a partir da regulação e/ou investimento direto em
rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos etc, e por isso age tanto como ente regulador quanto
como investidor direto no território, fato que resultou em críticas, pois o discurso neoliberal
pressupõe uma falsa separação entre os interesses imediatos do mercado e a regulação estatal.
Mas, por que, então, a estratégia neoliberal logrou resultados na década de 1990?
A questão é que sempre fomos acostumados a pensar o território nacional como algo
natural e não como um produto da história.3 A estratégia de secularização impediu que o
pensássemos a partir dos conflitos, pois a imagem de geometrias coesas sempre foi de mais fácil
compreensão, fato reforçado pelos vários mitos de fundação, para utilizar a expressão de Chauí
(1982), que fraciona e seleciona a história para operar uma imagem positiva sobre o passado
e o futuro de uma dada formação territorial. A análise histórica demonstra que seu surgimento
esteve vinculado ao projeto de modernidade e ao processo de expansão do capitalismo, o que
torna difícil a separação entre os conceitos de território e de estado. Seus valores são, portanto,
os valores construídos na modernidade, e a utilização do adjetivo nacional no contexto da
modernidade agradou a nascente burguesia. Portanto, a criação dos estados nacionais definiu
uma cartografia aparentemente homogênea, construída a partir da ideia de soberania nacional,
que pressupunha a capacidade de intervir na infraestrutura, de controlar a economia e as políticas
fiscais, assim como de garantir a unidade nacional. Entretanto, independente do discurso e das
práticas neoliberais, em diferentes contextos, os estados nacionais ainda exercem forte poder de
regulação territorial. Harvey (2005, p.79) assim localiza a questão:
Atualmente, há pouquíssimos aspectos da produção e do consumo que não estão
profundamente afetados, direta ou indiretamente, por políticas do Estado. No entanto,

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não seria correto afirmar que o Estado apenas recentemente se tornou agente central para
o funcionamento da sociedade capitalista.

Mas o Estado, visto por dentro das fronteiras, também está distante de constituir-se de
uma planície isotrópica. No interior de suas fronteiras encontramos as mesmas contradições
e conflitos próprios do capitalismo. Está aí outra propriedade do Estado, que é a de lidar com
a produção de territórios desiguais. E não se trata de uma desigualdade natural, demarcada
por diferenciações de vegetação, relevo, hidrografia, povoamento etc, e sim de uma de uma
desigualdade produzida histórica e espacialmente. Uma desigualdade que demanda uma ação
territorial de sua parte para combater, por meio do planejamento, as chamadas desigualdades
regionais. Na história política e econômica brasileira, tanto a desigualdade regional apareceu
como naturalizada quanto o planejamento, nas suas diferentes escalas, veio carregado de
positividade.
Em clássico trabalho sobre o planejamento e a SUDENE (Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste), Oliveira (1977, p.24) coloca que o planejamento foi uma
forma de “racionalização da reprodução ampliada do capital”. A análise de Oliveira (1977)
deve ser compreendida a partir do contexto político e econômico próprio do último quartel do
século XX, quando o planejamento passou a ser alvo de críticas movidas por vários espectros
ideológicos. Por um lado, não há como negar que a expansão do capitalismo e a necessidade
de modernizador o território brasileiro, como prerrogativa política, abriu pouca margem para
participação popular nas decisões. Por outro lado, a própria noção de intervenção foi associada,
negativamente, a problemas como o déficit público, reproduzindo uma visão de que as demandas
da sociedade, a exemplo do consumo e do emprego, seriam resolvidas pelo mercado. Souza
(2002, p.45) localiza a critica ao planejamento da seguinte forma:
Largamente desacreditado e associado a práticas maléficas e autoritárias na esteira da
‘crise do planejamento (urbano e regional)’ que, inicialmente em um plano ideológico,
chegou ao Brasil nos anos 80 (sob influência das críticas de corte marxista iniciadas na
Europa e nos EUA nos anos 70), a própria palavra planejamento deveria, para vários
analistas, ser banida e, na melhor das hipóteses, substituída por outras.

Não há dúvidas de que o planejamento, em suas diversas modalidades (urbano, regional,


territorial etc.), envolve relações assimétricas de poder, muito embora ainda persista um
discurso que advogue sua neutralidade. O poder, portanto, encontra-se na gênese analítica
do conceito de território. O poder resulta de relações assimétricas entre atores sociais com
força desigual na arena política, o que significa que não ocorre no vazio e um dos objetivos
da análise territorial é revelar como essas ações se manifestam territorialmente. A análise das
mudanças na paisagem regional agrícola, como a substituição de cultivos de soja e milho por
cana-de-açúcar, revela relações de poder manifestadas, por exemplo, pela instalação de usinas,
contratos de arrendamento, circuitos de fornecedores regionais, exploração de mão-de-obra,
sistemas de irrigação etc. Os objetos técnicos que compõem a paisagem regional, portanto,

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são funcionalizados para atender as demandas do modelo produtivo hegemônico. Tais objetos
têm uma história que quase sempre é esquecida em função do conteúdo da modernidade que
encerra. Santos (1997, p.70) coloca algo interessante sobre os objetos técnicos:
Objetos não agem, mas, sobretudo, no período histórico atual, podem nascer predestinados
a um certo tipo de ações, a cuja plena eficácia se tornam indispensáveis. São as ações
que, em última análise, definem os objetos, dando-lhes um sentido. Mas hoje, os objetos
‘valorizam’ diferentemente as ações, em virtude de seu conteúdo técnico.

Ação e poder, como sujeito e verbo, não podem ser separados por vírgula. O conceito
de poder tem sido debatido na geografia, a exemplo de Claval (1979), Raffestin (1993), Souza
(1995) e Castro (2005). A noção de um poder que emana exclusivamente do Estado aponta
para uma perspectiva de ultravalorização dessa forma institucional, tradição que remonta tanto
às linhas liberais quanto a algumas matrizes marxistas. Raciocínio semelhante ocorre quando
se analisa o poder a partir da consideração das classes sociais hegemônicas e homogêneas
que disputam a dominância, para utilizar uma linguagem bastante comum na década de 1970,
no aparelho estatal. A expressão “Estado burguês” resumia bem essa compreensão. O poder,
para retomar Foucault (1979), deve ser concebido menos como uma propriedade e mais como
uma estratégia, o que o torna relacional. Mas não se trata de negar, no campo da política, a
construção de hegemonias tácitas nem a capacidade de alguns atores sociais de atuar de forma
mais incisiva no território. Partimos do princípio de que é a qualidade da ação que revela os
predicados dos atores sociais responsáveis pela produção de um dado território.4 A literatura,
especialmente a urbana, destinou energia para a construção de tipologias sobre os atores sociais,
como podemos verificar em Vasconcelos (2011). As tipologias, geralmente, são acompanhadas
de uma descrição modelística das diferenciações no quadro de ações dos atores sociais que
se enquadram, em linhas gerais, nas ações com objetivo racionais, como descritas por Weber
(1992).5 A proposição de uma tipologia dos atores sociais, entretanto, escapa aos nossos
objetivos. Ainda assim, é oportuno destacar alguns pontos:
a) A heterogeneidade dos atores sociais não constitui impedimento para a construção
de estratégias comuns com vistas a uma maior eficiência programática. A retomada de
um programa de incentivos fiscais atende tanto ao setor rural quanto ao setor industrial.
De igual modo, é possível que sindicados trabalhistas possam apoiar essa estratégia por
defenderem uma agenda de geração de empregos.
b) O quadro de interesses dos atores sociais é sensível às mudanças conjunturais
econômicas e políticas. As mudanças na política cambial atingem diferentemente,
especialmente em um território com economia de base primária, a indústria e o setor
agropecuário; ao mesmo tempo em que a desvalorização cambial facilita as importações
de bens de capital, também desvaloriza as commodities.
c) A escala de ação é variável, não sendo mais restrita ao local ou ao regional. Corporações
como a Perdigão, a Unilever, a Cosan e o Carrefour acionam seus estoques e direcionam

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sua produção para localidades cada vez mais variadas. O cálculo econômico, portanto,
influencia a escala. O mesmo se pode dizer de movimento sociais de trabalhadores rurais
que utilizam com muita propriedade as redes de comunicação para atuar no território.
d) A ação no território, invariavelmente, implica em relações contratuais e de conflito
com outros atores sociais. A substituição de culturas temporárias, como da soja pela
cana-de-açúcar ou mesmo a luta pela atração de montadoras, cujo exemplo mais recente
é o apoio para a instalação de montadora da Suzuki no município de Itumbiara, revelam
consensos e conflitos entre os governos estadual e municipal e entre representantes dos
segmentos comercial e industrial, entre outros.
e) Entre a miríade de atores sociais que produzem o território, o destaque é para o
Estado, na medida em que ele é responsável pela dotação de infraestrutura, pela regulamentação
jurídica, pelo financiamento da produção, além de constituir um contínuo palco de disputa pelo
atendimento de diferentes demandas sociais, uma vez que detém o monopólio do poder político.
Castro (2005, p.77-78) oferece um argumento que reforça esse contexto:
Afinal, se o poder, enquanto essência da capacidade para fazer ou para obter algo não está
restrito à lógica e ao aparato estatal, o poder político territorialmente centralizado está.
Neste sentido, todas as geografias do poder dobraram-se à necessidade de incorporar a
forma Estado. Mas mesmo com esta incorporação elas muitas vezes empobreceram as
potencialidades explicativas dos fenômenos políticos territorialmente institucionalizados,
quando não consideraram a extensão e os limites das relações antinômicas e complexas,
porém não mutuamente exclusivas, que existem entre atores estatais burocráticos, atores
econômicos-financeiros e atores sociais na constituição do território.

Essas características se encaixam na denominação genérica de ator sintagmático, descrita


por Raffestin (1993, p.40) da seguinte forma:
O ator sintagmático combina todas as espécies de elementos para ‘produzir’, lato sensu,
uma ou várias coisas. O Estado é um ator sintagmático por excelência quando empreende
uma reforma agrária, organiza o território, constrói uma rede rodoviária etc. A empresa
é um ator sintagmático quando realiza um programa de produção. Isso significa que
o ator sintagmático articula momentos diferentes de realização de seu programa pela
integração de capacidades múltiplas e variadas.

Na perspectiva de análise adotada, tanto a noção jurídico-política de território, quanto a


econômica, da forma analisada por Haesbaert (2004), encontram-se imbricadas, o que justifica
a centralidade das ações do Estado em nossa análise.6 O território que está em discussão é,
portanto, um recorte do território nacional. Trata-se de um recorte territorial, porque compreende
limites intra-nacionais, mas também de um recorte político, pois tratamos de uma forma jurídico-
política dotada de certo nível de autonomia na distribuição dos recursos, regulação econômica e
atendimento das diversas demandas da sociedade goiana.
O importante é perceber que as ações dos atores sociais desencadearam mudanças
demográficas, econômicas e sociais, integrando o território goiano às dinâmicas econômicas

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nacionais e internacionais. A decisão de edificar uma nova capital, promover a colonização de
áreas “vazias”, criar sistemas de transporte ou mesmo construir usinas hidrelétricas não ocorre
fora das relações contratuais e de exploração de atores sociais com menor poder de negociação
na arena política. A narrativa da edificação de Goiânia ou mesmo a modernização da agricultura
são suficientes para ilustrar os conflitos que emergem na produção do território. Nos dois casos,
tanto a decisão esteve condicionada a arranjos políticos, travestidos muitas vezes pelo manto
jurídico de um Estado laico e democrático, quanto reforçou a integração do mercado interno,
atendendo às demandas da expansão do capitalismo em uma economia periférica. Nos dois
casos, tanto a indústria da construção civil quanto a produção de insumos químicos e mecânicos
foram beneficiadas pela atuação do Estado. Um exemplo recente em Goiás foi a construção
da hidrelétrica da Serra do Facão, localizada no rio São Marcos, em áreas dos municípios de
Catalão e Davinópolis. No mesmo dia, 19/10/2010, foram inauguradas seis usinas hidroelétricas
no território goiano. Em função da demanda de energia exógena, já que a produção goiana é
superavitária, famílias de pequenos agricultores foram desterritorializadas, isso sem contar a
perda de biodiversidade, uma vez que o padrão de alagamento, com a correlata construção de
enormes espelhos d´água tem ocorrido em porção significativa das bacias hidrográficas do Sul
Goiano, como alertam com frequência pesquisadores do Departamento de Geografia da UFG-
Catalão, a exemplo de Mendonça (2004) e Mesquita (2009).
Em resumo, três princípios nortearam a análise:
O primeiro é considerar que a narrativa sobre a modernização no território goiano foi
carregada de certa positividade, de modo a nos fazer acreditar que sua constituição
esteve livre de conflitos. Os sucessivos governos brasileiros fiaram esse discurso, pois
o horizonte de crescimento econômico sempre figurou entre suas principais ambições.
O segundo é compreender que a produção do território gerou uma paisagem regional
desigual, condição necessária para a integração ao sistema nacional e global. Integração
aqui é utilizado como eufemismo de subordinação. De acordo com Lipietz (1998), não
há parcelas pobres ou ricas de uma região, mas regiões que dispõem diferencialmente de
riqueza e de pobreza no mesmo território. Isso nos leva a refletir sobre os geografismos,
expressão cunhada por Lacoste (1998) para lembrar que os espaços não têm propriedade
de sujeitos e não existem fora das relações sociais.
O terceiro é a noção de totalidade. Como assinalou Santos (1997, p. 94) “A totalidade
é o conjunto de todas as coisas e de todos os homens, em sua realidade, isto é, em suas
relações, e em seu movimento”. Sua apreciação, como cita Santos (1997), ainda depende
das cisões. Para apreender essas cisões, procedemos de três formas: um recorte temporal
(formação), um recorte espacial (diferenciação) e um recorte analítico (categorização).

Enfim, os apontamentos direcionam para a unidade do livro. A partir dos estudos


sobre economia, urbanização e metropolização será possível reconhecer que as dinâmicas

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contemporâneas são resultado de processos históricos com repercussão diferencial no território.
Mas a análise só terá sucesso se formos capazes de demonstrar como essas transformações
repercutem em nosso cotidiano. Eis o maior desafio das páginas seguintes.

Notas
1. A expressão “ilusão cartográfica” é encontrada em Ohmae (1996) e Badie (1995). Para o primeiro: “Os indícios,
então, são tão exaustivos como perturbadores: em uma economia sem fronteiras, os mapas focalizados nas nações
que costumamos utilizar para entender a atividade econômica são totalmente enganadores. Precisamos, tanto os
gerentes como os formadores de políticas, encarar finalmente a verdade embaraçosa e desconfortável: a velha
cartografia já não funciona. Ela se tornou apenas uma ilusão” (OHMAE, 1996, p.14). Para o segundo, “A ilusão
cartográfica já não é suficiente para dissimular esta pluridimensionalidade das relações, que já só abusivamente
são internacionais. As relações entre nações – aliás, cada vez mais difíceis de territorizalizar – passaram a ser
apenas um aspecto do funcionamento de uma cepa mundial feita também de redes de relações, de proliferação e de
volatilidade de alianças, elas próprias inscritas em diversos espaços”. (BADIE, 1995, p. 14)
2. Boron (1994, P.199) explica as questões sobre a América Latina da seguinte forma: “A discussão sobre a crise
do Estado assistencialista tem que ser enquadrada à luz destes parâmetros porque, em caso contrário, se reduziria
a uma simples contraposição abstrata de preferências doutrinárias que pouco tem a ver com a realidade efetiva
das coisas. A ofensiva neoliberal prescinde desses dados e se apóia em uma visão profundamente ideologizada
do funcionamento do capitalismo que ignora o papel central que o Estado joga no processo de acumulação. Sua
retórica antiestatista não se compatibiliza com a maciça presença do gasto público e as sutis, mas penetrantes
formas de intervenção estatal que caracterizaram desde sempre o funcionamento dos capitalismos realmente
existentes”.
3. Para um estudo sobre a genealogia da nação, consultar Hobsbawm (1990).
4. Ao escrever sobre ação social, Weber (1992, p.40), fez as seguintes considerações: “A ação social, como toda
ação, pode ser: 1) racional com objetivos: determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do
mundo exterior como de outros indivíduos, e utilizando essas expectativas como condições ou meio para chegar aos
fins racionalmente planejados e perseguidos. 2) racional com base em valores: determinada pela crença consciente
no valor – ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma com se lhe interprete – próprio e absoluto de uma
determinada conduta, sem relação alguma com o resultado, ou seja, puramente no mérito do valor. 3) afetiva,
especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais atuais, e 4) tradicional: determinada por um
costume arraigado”.
5. O termo “ator social” designa um conjunto amplo que engloba os segmentos econômicos, os movimentos
sociais, o Estado, a sociedade civil etc. À revelia de as tipologias terem, sobretudo, uma função didática, o nosso
foco é demonstrar a qualidade da ação na produção do território, o que nos fez, nesse momento, distanciar das
tipologias. Vasconcelos (2011), utilizando-se da expressão “agentes sociais”, propõe uma lista de 20 denominações
úteis para aqueles que optarem por uma análise tipológica.
6. Haesbaert (2004, p.40) sintetiza assim as vertentes do conceito de território: “-política (referida às relações
espaço-poder em geral) ou jurídico-política (relativa também a todas as relações espaço-poder institucionalizadas):
a mais difundida, onde o território é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se exerce um
determinado poder, na maioria das vezes – mas não exclusivamente – relacionado ao poder político do Estado. –
cultural (muitas vezes culturalistas) ou simbólico-cultural: prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que
o território é visto, sobretudo, como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao
seu espaço vivido. – econômica (muitas vezes economicista): menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das
relações econômicas, o território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na
relação capital-trabalho, como produtivo na divisão ´territorial´ do trabalho, por exemplo.”

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Economia
Geografia econômica
Pierre George (1965) definiu o campo da geografia econômica como aquele cujo objetivo
é a espacialização e o estudo das formas de produção, circulação e consumo. O cerne do
argumento estava em procurar compreender as práticas produtivas a partir das formas espaciais
ao longo do tempo e em escalas variáveis, o que diferia das análises econômicas clássicas,
pautadas, sobretudo, na consideração do espaço abstrato, em oposição ao espaço concreto,
sugestivo das linhas da geografia econômica de caráter descritivo. O vínculo entre geografia
e economia estaria, portanto, na espacialização da produção, do consumo e, especialmente, da
circulação. Fazer essa geografia era descrever os tipos de indústria, os sistemas de geração de
energia, a produção de matéria-prima (geografia industrial), a produção de alimentos e criação
(geografia agrícola) e os modais de transporte (geografia da circulação). Esse tipo de estrutura
do conhecimento é tributário do período pós-guerra e dos modelos de desenvolvimento que
viam na economia, especialmente na industrialização, o caminho para uma sociedade moderna,
daí a presença frequente do tripé analítico industrialização-modernização-urbanização.
No mesmo período, a forma de compreensão da economia começa a mudar, vítima do
próprio esquema de interpretação, das pressões do mercado de consumo urbano, da transferência
de tecnologia e das mutações no mundo do trabalho que atingiram o modelo de acumulação
fordista. Harvey (1992) direcionou sua compreensão para alterações no padrão fordista de
acumulação, argumento compartilhado por Benko & Lipietz (1994), quando avaliam a forma
de regulação fordista baseada em vultosos investimentos do Estado e beneficiada pelos efeitos
da aglomeração. O crescente movimento de internacionalização da economia exigiu, por seu
turno, novos modelos interpretativos, dentre os quais a noção de centro e de periferia, associada
à teoria da dependência, que apareceu como uma das mais comuns. Oliveira (2003) avalia
que essa visão implicou na valorização das relações de oposição entre as nações, obliterando
a questão das diferenciações internas dos espaços nacionais. As interpretações econômicas,
especialmente ligadas às relações entre as nações, são exemplos das dualidades espaciais.
Na geografia, o encontro com a economia teve um fértil campo de pesquisa na análise
urbana, afinal a cidade passava a ser considerada, já no terceiro quartel do século XX, uma
espécie de sujeito da modernização e, por consequência, local da indústria moderna, do setor
financeiro, da mão-de-obra especializada, da inovação etc. Santos (1979) pesquisou a economia
urbana a partir da compreensão das relações entre o “circuito superior” e o “circuito inferior”.

- 13 -
Ambos, conforme o autor, estão relacionados à modernização tecnológica.1 Em outro estudo,
publicado originalmente em 1978, Santos (2003) cita que a aproximação entre a economia e as
teorias espaciais ocorreu por intermédio do planejamento. Ao criticar a nova ciência econômica,
o autor colocava que “A nova ciência espacial deveria, portanto, basear suas reflexões numa
ciência econômica a-espacial (2003, p.20). O distanciamento do espaço, o negligenciamento de
sua historicidade, respondeu, portanto, às demandas da economia capitalista. Tempos depois
a economia redescobre o espaço por intermédio da aglomeração, sem abrir mão, contudo, da
análise modelística, movimento conhecido como “nova geografia econômica”. O título do
livro de Fujita, Krugman & Venables (2002), Economia espacial – urbanização, prosperidade
econômica e desenvolvimento humano no mundo ilustra essa perspectiva. Segundo os autores:
Em outras palavras, não deve ser difícil convencer economistas de que a geografia
econômica – o estudo de onde a atividade econômica ocorre e o porquê – é um assunto
interessante e importante. Contudo, até a alguns anos, este era um assunto que a economia
convencional muito negligenciava. Mesmo agora, livros introdutórios parecem descrever
uma economia curiosamente sem corpo, sem cidades ou regiões (a maioria desses textos,
de fato, literalmente não faz menção a questões como as razões da urbanização ou o
papel da localização nas decisões econômicas. (Fujita, Krugman & Venables,
2002, p. 15-16)

Na verdade, a importância da questão espacial na análise econômica resulta do


reconhecimento da necessidade de considerar outros parâmetros para medidas de desenvolvimento
ou mesmo para o estabelecimento de metas que não consideravam apenas o crescimento
econômico stricto sensu. No Brasil, a frase “É preciso esperar o bolo crescer para depois
repartir”, adquiriu força de premissa na política econômica Por traz dessa premissa persistia
uma noção de crescimento econômico mensurado a partir de indicadores abstratos, próprios dos
modelos neoclássicos. O problema desse entendimento é o cuidado que se deve ter para que
o procedimento metodológico, expresso na quantificação, não substitua a leitura espacial ao
ponto de não compreender que as dinâmicas econômicas têm rebatimento no território. Veio de
economistas como Celso Furtado uma concepção de economia ligada ao projeto nacional, o que
implicou em considerar que as questões estruturais da economia estão vinculadas ao processo
histórico de acumulação capitalista, tornando o território, portanto, determinante nas estratégias
do Estado e também dos grupos econômicos nacionais e internacionais.2
Em se tratando de Goiás, acumulamos uma razoável literatura sobre os aspectos
econômicos do território. Considerando apenas os estudos globais, identificamos algumas
características. Uma linha com foco na avaliação e na descrição dos setores de produção e
infraestrutura, a exemplo de Maia (1984, 2005), e outra que prioriza a formação econômica
do território goiano, bem representada por Bertran (1978, 1988). Há trabalhos verticalizados
sobre o papel do Estado na economia, como Costa (1987) e, com um recorte a partir da
década de 1970, Silva (2007). Estevam (1998) nos oferece uma das mais apuradas leituras
da economia goiana, pois sua perspectiva teórica permite compreender os condicionantes da

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formação territorial alinhados à economia nacional e aos arranjos regionais contemporâneos.
Na geografia, são escassas as obras com foco global na economia goiana. Gomes (1969),
no final da década de 1960, escreveu um trabalho pioneiro, abarcando temas que podem ser
compartilhados com as modernas linhas de pesquisa da geografia econômica contemporânea,
pois considerou os aspectos setoriais da economia (agricultura, pecuária, mineração, transporte
e comunicação, indústria e comércio) de maneira global. A maior parte dos estudos econômicos
da geografia goiana, entretanto, abordam a formação econômica regional, ancorando-se em
aspectos temáticos, como Barreira (1997), Deus (2002) e Arrais (2007).
Mas, em que, de fato, a análise da geografia econômica pode contribuir para a
compreensão do território goiano? Para responder essa questão é necessário, primeiramente,
esclarecer os princípios nortearão a análise:
a) O marco temporal da análise é a incorporação do território goiano ao sistema de
produção capitalista, o que significa que a integração é avaliada a partir de tal contexto
histórico, permitindo reconhecer que a integração ocorreu subordinada ao regime de
acumulação do Sudeste brasileiro, reforçando o quadro das desigualdades regionais
herdado do período colonial.
b) O atendimento das demandas nacionais relacionadas ao setor agropastoril (programas
de colonização, função de fronteira agrícola, extração de carvão para siderurgia,
Proálcool etc.) ocasionou a perda progressiva da cobertura vegetal e da biodiversidade
do cerrado, além do comprometimento dos recursos hídricos, o que se agravou com
a expansão das monoculturas da soja e da cana-de-açúcar.
c) O reconhecimento de que o desempenho do padrão primário de nossa economia é
influenciado por mudanças conjunturais, como a política cambial e alfandegária,
variações climáticas e questões fitossanitárias, demonstrando a fragilidade do tripé
grãos-mineração-carnes.
d) A leitura econômica não deve estar presa a modelos estanques, que consideram os
setores clássicos da economia (primário, secundário e terciário) como algo abstrato,
muito menos a economia rural e urbana como realidades desarticuladas.
e) O papel do Estado na capitalização diferencial do território, o que implicou na dotação
de infraestrutura de transporte, comunicação e energia, como também financiamento
via crédito da produção e deslocamento de plantas industriais, além dos programas de
transferência de renda e previdência rural e urbana que mudaram significativamente
o perfil econômico dos municípios brasileiros.
Finalmente, é imprescindível compreender a economia goiana levando em consideração
o processo de urbanização contemporâneo. Em 2010, segundo dados do IBGE (BRASIL, 2011),
apenas a Região Metropolitana de Goiânia e o Entorno do Distrito Federal aglomeraram mais
de 5,5 milhões de pessoas, o que dá ideia do mercado de trabalho e do potencial de consumo,
como também de duas regiões que sentem, mais do que o restante do território, os impactos

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dos reveses econômicos estruturais, notoriamente o desemprego, a precarização do trabalho e
o déficit habitacional.

Integração econômica
Do ponto de vista econômico, o território goiano começou a despertar interesse da
metrópole portuguesa a partir do primeiro quartel do século XVIII. Com a economia aurífera,
é formada uma primeira rede urbana para sustentar as atividades econômicas, o que também
ocorre com as lavouras de gêneros básicos e o gado criado de forma extensiva. Estudiosos
como Palacin (1994) assinalaram a importância dos garimpos na dispersão do povoamento
do território goiano e seu vínculo com a economia externa, uma vez que parte do ouro era
drenado para além do Atlântico. A base da economia goiana, no século XIX, constituiu-se,
fundamentalmente pela agricultura de subsistência e a pecuária extensiva. Ainda assim, esse
conjunto de atividades, pouco diversificado e regionalmente articulado com a rede de vilas
e povoados, não implicou em isolamento. Cunha Mattos (MATTOS, 1979), Governador da
Província de Goiás entre 1823 e 1826, relatava que o comércio goiano consistia na exportação
de produtos advindos do gado (couro, peles, solas), do café, do algodão, entre outros gêneros
provenientes da atividade agropecuária e a importação, como era de se esperar, consistia de
produtos manufaturados, bebidas, metais, tecidos, sal etc. A célula dessa sociedade era, sem
dúvida, a fazenda, modelo de organização social com especificidades regionais. Estevam (1998)
a adjetiva de “fazenda goiana”, pois a autossuficiência implicou na adoção da poliatividade
como estratégia de sobrevivência, sem excluir algum grau de transformação primária, como da
mandioca em farinha, do leite em queijo e da banha do porco em sabão.
A situação descrita no parágrafo anterior é dinamizada a partir do primeiro quartel do
século XX. Bertran (1978, p.98) lembra que o processo de reintegração regional ocorre por dois
fatores: “Primeiro, a ferrovia transpondo o Paranaíba. Segundo, em 1914, a primeira guerra
mundial, vigorosamente sentida em benefício da economia goiana.” Os dois fatores estão
claramente relacionados, pois a ferrovia permitiu a integração, via ampliação das trocas, com o
Sudeste Brasileiro.
Mas o que Goiás tinha a oferecer? E, antes disso, como era o arranjo regional do território
goiano no primeiro quartel do século XX?3
Em 1920 havia 49 municípios dispersos em um imenso território, que compreendia uma
linha longitudinal de aproximadamente 1400 km, estendendo-se do rio Paranaíba até o encontro
do rio Araguaia com o rio Tocantins, no Bico do Papagaio, como se verifica na figura 01. A
parte setentrional era menos povoada, com meios de locomoção precários e estrutura agrária
mais concentrada, diferente da parte meridional, com cidades que ensaiavam certo dinamismo
econômico, como Anápolis, Bomfim, Morrinhos e Catalão. O Recenseamento de 1920 apresenta
informações sobre o número de estabelecimentos rurais nos municípios goianos. Percebe-se, a
partir da análise da figura 02, a concentração dos estabelecimentos rurais na parte meridional

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Figura 01 - Goiás: quantidade e área dos estabelecimentos rurais, 1920

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Figura 02 - Goiás: população dos municípios, 1920

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do território goiano. Em Morrinhos havia 1.172 estabelecimentos rurais, seguido de Catalão,
com 945. Contudo, as áreas dos municípios da parte setentrional eram mais extensas. Somente
dois municípios, Porto Nacional (8.607.700 hectares) e Pedro Afonso (6.780.600 hectares),
com 553 e 121 estabelecimento rurais respectivamente, agrupavam uma área equivalente a
23,3% do território goiano (BRASIL, 1927). Dados sobre o valor médio do hectare no Brasil
em 1920 colocavam Goiás em penúltimo lugar, com valor médio de 8$ réis, na frente apenas
do território do Acre, com valor médio de 6$ réis. As terras mais valorizadas localizavam-se no
Distrito Federal, 510$ reis, São Paulo, 161$ réis e Rio de Janeiro, 106$ réis (BRASIL, 1927). A
valorização média era diferente em relação às zonas de ocupação do território goiano; ademais,
a chegada da ferrovia motivou a valorização fundiária nas faixas Sudeste/Sul do território
goiano, como assinala Borges (1990).4

Figura 03 - Brasil: produção de arroz, 1920

Figura 04 - Brasil: rebanho bovino, 1920

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As figuras 03 e 04 se referem à posição ocupada por dois dos principais produtos da
economia goiana em 1920. Ao mesmo tempo em que permitiram a integração, a agricultura
e a pecuária movimentavam o mercado inter-regional, sendo o gado moeda de troca bastante
utilizada regionalmente. No contexto nacional, em 1920, Goiás aparece como terceiro em
rebanho bovino, com 3.020.769 cabeças, e em quarto lugar na produção de arroz. Parte da
produção, de fato, atendia outros estados, como São Paulo; à medida em que o mercado se
ampliava efetivavam-se as condições de articulação (estradas e ferrovias) com o Sudeste
Brasileiro. Só o município de São Paulo, em 1920, abrigava 579.033 pessoas, passando na
década de 1940 para 1.326.261, o que dá uma ideia da demanda por gêneros alimentícios para
esse mercado (BRASIL, 1926, 1950). Cano (1998, p.59), ao avaliar o impacto da crise de 1929
na economia paulista e sua relação com a periferia nacional, expressa um argumento que se
encaixa nessa perspectiva de análise:
Desarticulado o comércio exterior, isto causaria forte reversão no abastecimento interno:
as restrições às importações forçariam a periferia nacional a importar, agora, produtos
manufaturados de SP; este, por sua vez, deveria, crescentemente, importar mais matérias-
primas e alimentos de outros estados. Passava-se, portanto, a integrar o mercado nacional
sob o predomínio de SP. À periferia nada mais restava do que ajustar-se a uma função
complementar da economia de SP, embora mantendo ainda sua antiga dependência do
exterior, através de suas exportações tradicionais.

Voltando aos dois argumentos de Bertran (1978), constata-se que a expansão da


produção do arroz no início do século XX beneficiou-se da expansão da ferrovia, o que permitiu
a ampliação das trocas com outros mercados consumidores. O periódico A Informação Goyana
divulgava regularmente dados sobre a economia goiana, especialmente o balanço de exportações
pela ferrovia. Muito embora existissem, no início do século XX, relações comerciais com
Pará, Maranhão, Piauí e Bahia, a partir da comercialização de gado vacum, cereais, açúcar,
borracha, marmelada, fumo, entre outros, a maior parte das trocas mercantis ocorria com
São Paulo e Minas Gerais, fato dinamizado com a ferrovia, pois a precariedade nas vias de
transporte constituiu-se de um gargalo que encarecia as mercadorias, especialmente na parte
setentrional do território goiano. Mesmo o gado, mercadoria autotransportada, era prejudicada
pelas dificuldades nas estradas e pontes, isso sem falar nas tropas e carros-de-bois. Artigo de 1ª
página de A Informação Goyana (A.6, v5, n.2), de 1921, relatava as dificuldades dos criadores
do Sudoeste Goiano, dentre as quais aquelas relativas ao acesso aos frigoríficos de Barretos e
ao circuito de atravessadores, que incluía, além dos boiadeiros, invernistas, negociantes de gado
gordo e comissários, resultava em um valor de comercialização quatro vezes menor do que
aquele praticado nas praças do Rio de Janeiro.

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Tabela 01 - Exportação de Goiás pela Estrada de Ferro Goyas – 1915/1916
Produtos 1915 1916 Produtos 1915 1916
Arroz (kg) 3.218.417 5.907.378 Manteiga (kg) 4.688 4.900
Fumo (kg) 133.130 209.984 Milho (kg) 32.960 170.015
Porcos (cabeças) 4.176 7.197 Feijão (kg) - 62.526
Cavallos (cabeças) 25 25 Assucar (kg) - 13.852
Toucinho (kg) 92.703 130.61 Bois gordos (cabeças) - 7.021
Couros (kg) 110.762 213.619 Xarque (kilos) - 247.871
Borracha (kg) 8.704 18.403 Peles de veados (kg) - 5.435
Marmelada (kg) 4.688 2.400 Banha (kg) - 27.551
Fonte: A Informação Goyana, a.1, v.1, n.1, 15/08/1917.

Figura 05 - Mato Grosso de Goiás: distribuição do arroz em 1945

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Na Tabela 01 estão descritos produtos transportados pela Estrada de Ferro Goyas. Observa-
se a evolução no volume das exportações entre 1915 e 1916, o que indica a ampliação das trocas
e se confirma nos próximos anos nos quadros estatísticos publicados por A Informação Goyana.
A maior parte dos produtos exportados, a exemplo do arroz e do gado era oriunda da parte
meridional do território, especialmente dos municípios de Catalão, Morrinhos, Corumbayba,
Bela Vista e Goiás. A cultura do arroz, devido ao curto ciclo produtivo e por constituir-se em
gênero de primeira necessidade, predominava nas fazendas. Nota-se, a partir da análise da
Figura 05, a disseminação do cultivo do arroz em 1945. O processo de derrubada das matas para
incorporação de novos espaços, com utilização de machados e enxadas, era pratica comuns no
território goiano.
Outro dado a observar é que reconhecemos certo gradiente de transformação primária,
pois produtos como o charque, a banha, a borracha, o açúcar, o fumo, a manteiga, os couros etc,
exigiam semielaboração para serem comercializados nas praças de Goiás, Minas Gerais e São
Paulo. Em 1919, dados apresentadas por A informação Goiana (v.2, n. 11, p.148), dão conta de
uma evolução significativa na exportação de arroz com casca (6.398.183 kg), de bois (83.598
cabeças) e do charque (724.854 kg), além de outros produtos que não apareciam em 1917, como
farinha de milho (3.555 kg) e telhas (48.225 unidades). O que se pode deduzir é que, na medida
em que a ferrovia avança para o Centro Goiano a partir do primeiro quartel do século XIX,
aumentam as articulações mercantis em duas escalas: primeiro com as próprias cidades que
margeavam a ferrovia, definindo um perfil urbano com ampliação de equipamentos de consumo
coletivo e, segundo, com Minas Gerais e São Paulo, por intermédio das trocas mercantis.
Em linhas gerais, ao adentrar no território goiano via sudeste, a ferrovia não apenas
fundou municípios, como Pires do Rio (1930) e Leopoldo de Bulhões (1948), mas também
dinamizou aqueles existentes, a exemplo de Ipameri e Anápolis e transformou as relações
mercantis com a classe de comerciantes do Triângulo Mineiro, como destacou Estevam (1998).
Porém, a partir da década de 1930, próximo a Anápolis, surge Goiânia, o que repercute na
urbanização e a valorização fundiária, processos que alteram o perfil social e econômico na
faixa oeste do Mato Grosso de Goiás.5 Nesse período se ensaia um arranjo regional, fruto dos
dois primeiros quartéis do século XX, assim resumido:
1) Na faixa de povoamento da Estrada de Ferro Goiás (Figura 06) ocorreu, conco­
mitan­temente, a modernização de equipamentos de consumo urbano nas cidades que
receberam estações da ferrovia e a ampliação das relações comerciais com núcleos
urbanos distantes, por meio de uma redee de transportes rodoviárias secundários.
Como atesta Borges (1990), grandes firmas comerciais instalaram-se em Ipameri,
Catalão e Roncador, reforçando as relações mercantis com o Sudeste Brasileiro e, ao
mesmo tempo, aumentando a diferenciação entre a parte meridional e setentrional do
território goiano.
2) Quando a ferrovia chega a Anápolis, no ano de 1935, a cidade se consolida como polo
comercial com uma arcaica indústria de transformação, como pode ser observado

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Figura 06 - Goiás: área de influência da Ferrovia Goiás, 1920

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pela concentração de máquinas de beneficiar arroz. O nó comercial foi favorecido
pela instalação, no Vale do São Patrício, em 1943, da Colônia Agrícola Nacional de
Goiás, que estimulou a migração e determinou o padrão fundiário regional.6 Assim,
onde termina a Estrada de Ferro Goiás é montada uma estrutura de transporte que
serve como ponto de partida para avançar rumo ao Norte Goiano. Waibel (1958, p.
133), referindo-se ao papel de zona pioneira, assim descreve uma das funções de
Anápolis: “De Anápolis, as mercadorias e as pessoas eram levadas de caminhão para
o norte e para o oeste, num raio de cerca de 150 a 200 quilômetros. Ai derrubava-se
as florestas, cultivavam-se as roças, abriam-se estradas, construíam-se casas e novos
povoados surgiam em lugares que antes não estavam ocupados”. Pouco tempo depois,
a partir da década de 1950, Anápolis passa a ser a cidade goiana de maior articulação
com Brasília, servindo de suporte urbano para a edificação da capital nacional.
3) O Norte Goiano, até então com sua urbanização ligada às dinâmicas ribeirinhas
do Tocantins e do Araguaia, começa a integrar-se à parte meridional do território
goiano, com o avanço da BR-014. Valverde e Dias (1967) destacaram as mudanças
na integração e na valorização fundiária e os conflitos agrários advindos do ciclo
de implantação da BR-014. À proporção que a rodovia avança longitudinalmente,
ocorre a valorização das terras e os conflitos agrários se multiplicaram, demonstrando
o caráter fundiário da urbanização induzida por frentes pioneiras, como assinalado
por Guimarães (1988). Cidades como Porangatu tiveram seu sítio urbano deslocado
para as margens da rodovia, outras tantas cidades ou surgiram com a rodovia ou
tiveram seu perfil urbano por ela determinado. Gomes, Teixeira Neto & Barbosa
(2004) colocam que, dado o número de cidades do antigo Norte Goiano que nasceram
em função da rodovia, o estado do Tocantins pode ser considerado “filho da Belém-
Brasília”.
4) No Mato Grosso de Goiás, Goiânia se consolida como mercado de serviços e consumo,
além da produção insipiente de produtos manufaturados. Estevam (2004) relata que
antes da edificação de Goiânia o alqueire na região próxima da capital não alcançava
Cr$ 100,00. Com o andamento das obras, relata o autor, o preço do alqueire chegou
a Cr$ 15.000,00. O perfil econômico da capital, com a indústria de transformação
(especialmente a construção civil), o comércio e os serviços adequando-se primeiro à
demanda local, uma vez que em 1960 a cidade abrigava mais de 150.000 pessoas e,
em seguida, à demanda regional, pois a capital drena recursos estaduais e o mercado
de consumo regional, o que impulsiona a migração, especialmente para trabalho na
construção civil.
De maneira geral, essas regiões, a partir do final da década de 1950, foram influenciadas
pelo processo de urbanização, incluindo a edificação de Brasília e projetos de nacionais de
incorporação da fronteira agrícola. A oferta de terras, portanto, foi determinante para o arranjo
regional, quando se iniciaram processos conjugados que mudaram a base técnica e o perfil de

- 24 -
exploração econômica das regiões goianas. A chamada modernização da agricultura deve ser
compreendida na relação espaço-tempo e seu retrato não apenas a alteração da base técnica via
mudança no perfil da produtividade global, com progressivo declínio de formas de cultivos
adjetivas, por algum motivo, de tradicionais, como arroz, feijão e mandioca. Também é
oportuno considerar a rápida alteração nas condições de trabalho no campo, com a ampliação
da concentração fundiária e do assalariamento, além da perda da biodiversidade, uma vez que as
culturas e pastagens passam a substituir os diversos estratos de vegetação arbórea dos cerrados.
Segundo Mendonça (2004, p.151):
A modernização da agricultura, enquanto representação social, elaborou discursos de
que o arranjo espacial precisava ser modificado para assegurar a comodidade e conforto
ao sertanejo e, para tanto, não havia dúvida quanto à necessidade de introduzir as novas
técnicas e o modo de vida urbano e industrial no ´sertão´.

Mas, em que consiste a modernização da agricultura? Por que, em muitos casos, a


expressão esta resguardada por uma película positiva?
Se entendermos a modernização a partir das mudanças na base técnica, o comum é
quantificar o consumo de tratores, implementos e insumos agrícolas, o que no Brasil e em
Goiás aumentou significativamente a partir da década de 1950. Na década de 1970, registrava-
se a presença de 5.692 tratores nas propriedades goianas. Desse total, 1.407 encontravam-
se em propriedades no Mato Grosso de Goiás e 1.971 na Vertente Goiana do Paranaíba. Os
municípios de Itumbiara, com 514, e Rio Verde, com 446, concentravam o maior número de
tratores. A capacidade de armazenagem, pela ótica do número de silos, novamente colocava o
Mato Grosso de Goiás em evidência, com 182 dos 459 silos registrados em Goiás. Em relação
ao crédito de entidades governamentais, o Mato Grosso de Goiás registrou 43.690 contratos,
a Vertente Goiana do Paranaíba 43.613 e a Serra do Caiapó 33.322. Os municípios com maior
número de contratos foram Rio Verde, Santa Helena e Itumbiara, com 19.971, 12.750 e 7.429,
respectivamente. (BRASIL, 1970).
Os investimentos, diferencialmente distribuídos no território goiano, não atenderam as
mesmas demandas, mesmo porque a estrutura fundiária do Mato Grosso de Goiás era distinta
daquela da Vertente Goiana do Paranaíba e da Região do Caiapó, esta última correspondendo
ao atual Sudoeste Goiano, região que já se preparava para atender ao chamado nacional; daí a
positividade do discurso da modernização agrícola estar relacionada às necessidades econômicas
nacionais, como equilíbrio das contas públicas a partir da ampliação da pauta de exportações
primárias. Tal perspectiva esta presente no II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento),
documento que qualifica o Centro-Oeste como celeiro nacional, uma velha função que na
divisão internacional do trabalho reservada aos países periféricos (BRASIL, 1973). A partir da
década de 1970, especialmente com a lógica dos chamados CAI (Complexos Agroindustriais)
ficou mais difícil separar a agricultura da indústria.
A mudança ocorrida no Sudoeste Goiano a partir da década de 1970 esteve relacionada
aos condicionantes ambientais e a oferta de terras, o que permitiu ampliar a produção de

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Economia

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soja em curto intervalo de tempo, como observa-se na Tabela 02. Contribuiu para esse fato a
abertura para o mercado internacional e a diversificação do consumo de soja, especialmente
de produtos elaborados e semi-elaborados, como o óleo vegetal que substituiu a gordura
animal, produtos presentes pauta de exportação nas décadas anteriores. A ampliação ocorre,
primeiro, horizontalmente, com o aumento da área plantada e por isso o estoque de terras foi
fundamental. Em seguida, o aumento da produtividade ocorre verticalmente, com a adaptação
das sementes às condições edafoclimáticas e a evolução dos implementos agrícolas e do
maquinário.

Tabela 02 - Brasil e Goiás: área colhida e produção de soja


Área colhida (ha) Produção (t)
Recorte
1969 1975 1984 1969 1975 1984
Brasil 612.115 8.824.492 9.421.202 715.606 9.693.008 15.582.347
Goiás 1.573 55.600 317.303 1.891 73.392 560.916
Fonte: Brasil (1970, 1978, 1985)

Ao mesmo tempo em que o território goiano aumentou a produtividade, também


reforçou os vínculos com o Sudeste Brasileiro, pois os insumos, como máquinas e implementos
agrícolas, além da cadeia química (especialmente fertilizantes), eram, e ainda são, importados.
A produtividade do Estado de Goiás, portanto, colabora com a industrialização do Sudeste
Brasileiro pelo viés do consumo. A simbiose é completa quando as terras dos chapadões são
definitivamente incorporadas, fato comprovado pelo aumento da produção e do consumo de
calcário no Brasil e em Goiás, o que favoreceu o ciclo das oleaginosas. Em Goiás, no ano de
1975 foram produzidos 731.957 toneladas de calcário, quantidade que passou para 879.937
toneladas em 1977. Parte da produção era realizada nos moinhos da Metago (Metais de Goiás
S/A), localizados em Caldas Novas, Ipameri, Goianésia, Palmeiras de Goiás e Itaberaí, além
daqueles particulares em Jataí e Rio Verde. (GOIÁS, 1978). Em 2009, o total da produção de
calcário no território goiano passou para a 2.109,4 mil toneladas (ABRACAL, 2009), o que dá
ideia da expansão da fronteira agrícola, uma vez que o calcário é imprescindível para a correção
da acidez do solo.
É salutar recordar que o aumento da produtividade não se fez sem o correlato aumento
das importações de fertilizantes, realidade tanto regional quanto nacional. Em 2010, como
consta em estatísticas divulgadas pela ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos),
a produção nacional de fertilizantes intermediários foi de 9.339.867 toneladas e a importação,
de 15.269.846 toneladas. Já as importações, especialmente da mistura NPK (Nitrogênio,
Fosfato e Potássio), tiveram maior procedência de países como China, Estados Unidos, Canadá
e Rússia.7 Em Goiás, apenas o fosfato é produzido em Catalão e Ouvidor, o que torna comum
a presença de empresas misturadoras que importam parte dos componentes NPK, a exemplo
da Bungue, da Cargil e da Heringer, em municípios como Catalão, Anápolis e Rio Verde.

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Além dos fertilizantes, registra-se um aumento significativo do uso de herbicidas, fungicidas,
inseticidas etc, mais comuns nas lavouras de soja, milho e cana-de-açúcar. O Estado de Goiás,
em 2009, de acordo com dados da SINDAG (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos
para Defesa Agrícola) foi o quinto maior consumidor de agrotóxicos, dado que não deve ser
motivo de orgulho, já que uso intensivo de agrotóxicos causa problemas ao meio ambiente
rural e urbano, além de implicações na qualidade dos alimentos e no manejo nas lavouras para
os trabalhadores.
A mudança no campo ocorreu concomitantemente com o processo de urbanização,
pois o acesso à base técnica dependeu não apenas de crédito, mas de um padrão fundiário
concentrador, fato que excluiu, por definição, o pequeno produtor, uma vez que a modernização
pressupõe homogeneidade de técnica, de relações contratuais de trabalho, de cultivos, por fim,
de um só modo de produzir por um só grupo de atores sociais, com apoio irrestrito do Estado, já
que são considerados os bastiões da modernização. Opera-se no campo, portanto, uma drástica
substituição de densidades. A densidade humana é substituída pela densidade técnica, porta-
voz da modernização. O campo não se esvazia, ao contrário, ganha em densidade técnico-
informativa (silos, rodovias, pivôs, galpões de criação, pistas de pouso, aeronaves pulverizadoras
etc), representada pela cadeia de insumos e os sempre renováveis implementos agrícolas. A
renovação da frota de tratores e colheitadeiras no campo, em função de novos lançamentos que
possibilitam ou aumento da produtividade, pode ser constatada nos stands de comercialização
nas grandes feiras agropecuárias. Segundo release da Agrishow 2011 (AGRISHOW, 2011),
realizada em Ribeirão Preto, três instituições financeiras contabilizaram R$ 1,755 bilhões em
negócios em negociação de maquinários e implementos agrícolas.
Considerado um espaço aberto, pois suas rugosidades, diferentemente das cidades,
estavam encravadas durante décadas entre os vales e os diferentes estratos arbóreos do cerrado
que escondiam, para os que não queriam ver, uma miríade de atores sociais com sistemas de
produção passados de geração em geração.
Aliás, ainda persiste a dificuldade no debate político nacional de reconhecer no
contexto da diversidade do campo brasileiro a importância de atores sociais como o pequenos
produtores na cadeia agropecuária, seja no que se refere ao consumo de insumos, geração de
emprego ou mesmo à produção para o mercado interno. Relatório divulgado pelo Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA, 2006) sobre os resultados do Censo Agropecuário 2006 e
a agricultura familiar, concluiu que 84% dos estabelecimentos rurais brasileiros são pequenas
propriedades, com área média de 18,37 ha, sendo que o valor bruto da produção atingiu 54
bilhões (quando o valor da agricultura não-familiar atingiu 89 bilhões). São 12,3 milhões
de pessoas ocupadas na agricultura familiar (quando da agricultura não familiar foram 4,2
milhões). Sua participação entre os cultivos impressiona, sendo responsáveis, em 2006, por
87% da produção da mandioca, 70% da produção do feijão, 46% da produção do milho, 38%
da produção do café, 34% da produção do arroz, 21% da produção do trigo e 16% da produção
da soja. (MDA, 2006)

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O contraditório do modelo agrícola adotado é que, apesar de a urbanização forjar um
mercado de consumo para produtos adjetivados de tradicionais, especialmente arroz e feijão,
e também para produtos manufaturados, a economia regional pouco se beneficiou, pois o
padrão de especialização para exportação adotado na agricultura e a progressiva destruição da
pequena propriedade diminuíram a oferta interna. A verdade é que o mercado externo sempre
foi compreendido como motor da economia, o que resultou em certo desprezo com o mercado
interno. A busca pela exportação de soja ou mesmo a produção de cana-de-açúcar no Vale do
São Patrício, para driblar a crise energética internacional com o Próálcool (Programa Nacional
do Álcool), são exemplos de ações motivadas por uma agenda internacional.8
Sendo a modernização acompanhada de positividade no discurso político e econômico,
então é compreensível que os atores da modernização no território goiano sejam grandes
proprietários e grupos agroindustriais, como a COMIGO (Cooperativa Agroindustrial dos
Produtores do Sudoeste Goiano), que começou suas atividades no início da década de 1970, a
partir da necessidade de agregar setores rurais preocupados com a infraestrutura (especialmente
armazenagem) e os custos de insumos na região, já que a produção de arroz e milho ainda era
comercializada nas praças do Triângulo Mineiro. Na escala do bioma cerrado, como destacou
Peixinho (2006), grupos internacionais como a Cargil, a AMD, a Dreyfus, a Bungue e a Perdigão
protagonizaram o processo de modernização.
Na década de 1980, com a incorporação definitiva da soja, começa a transformação e a
agregação de valor, por um lado, e, por outro, a ampliação e a diversificação da cadeia produtiva
(produção láctea, farelo de soja, fertilizantes, rações, sementes etc), algo comum no setor
agroindustrial. À dinâmica da industrialização da agricultura, também é agregada uma rede
de insumos, como embalagens (papel e plásticos), que dinamizam as economias municipais.
Aqui o padrão de organização segue, como em outros segmentos, dois princípios: organização
em rede e a diversificação das áreas de atuação, aproveitando do know how acumulado na
área de armazenagem e transporte, o que abriu um leque de áreas atuação para atores sociais
empresariais, incluindo o setor logístico e a indústria de transformação de base primária. Assim,
a industrialização goiana, em sua gênese, teve como base a produção de bens de consumo não-
duráveis, com a cadeia da alimentação e da transformação de grãos em primeiro lugar, daí não se
estranhar o fato de a intervenção estatal/estadual pautar-se, no primeiro momento, na expansão
da infraestrutura de circulação e estocagem e, em um segundo momento, na necessidade de
transformar a matéria-prima para agregar valor, caso específico da trajetória do cultivo da soja,
como destacado por Arrais (2009) e Salgado (2010).
Registros dos Censos Industriais de Goiás de 1960, 1970 e 1975 demonstram a
predominância da indústria de alimentação (beneficiamento grãos como café e arroz, abate de
animais em frigoríficos e charqueadoras, processamento de leite, panificação etc), seguido da
indústria de transformação de minerais não-metálicos (britamento para construção, extração de
pedras, fabricação de cal, telhas, tijolos, lajotas, cimento etc) e da indústria de madeira (serrarias
e carpintaria). Em 1960, havia 1.596 unidades de industrias de transformação, número que

- 29 -
passou para 4.309 em 1970 e para 7.035 em 1975 (GOIÁS, 1970, 1979). O aumento no número
de unidades ocorreu na maioria dos segmentos, muito embora ainda permanecesse concentrada,
em termos absolutos, nos segmentos da alimentação, transformação de minerais não-metálicos
e indústria madeireira. Em relação ao setor madeireiro merece destaque sua relação com a
urbanização e a demanda estimulada pela edificação de Brasília. Em 1976 havia 814 serrarias
em Goiás. No mesmo ano, do total de 5.602m3 de madeira, 3.540m3 foram destinados ao
Distrito Federal e 1.080m3 para São Paulo (GOIÁS, 1978). A construção civil, mais que a
movelaria, estimulou o desmatamento do cerrado para atender o canteiro de obras. No total,
não estão computados as toras de madeira de lei utilizadas, entre outros fins, como postes
de iluminação pública, fim comum a milhares de aroeira. Ainda hoje é possível verificar nos
bairros de Goiânia postes de aroeira servindo como suporte para a fiação de alta tensão.
Os cinco segmentos de maior representação na indústria da transformação em 1975
(Figura 07), concentraram 50,01% do total da indústria de transformação do território goiano.
Espacialmente considerando as décadas de 1960 e 1970, em que a indústria da transformação
concentrava-se na parte meridional do território goiano, em cidades como Goiânia, Anápolis,
Itumbiara, Morrinhos, Jataí, Goiás e Rio Verde. Na porção setentrional, que incluía o atual
território tocantinense, destacavam-se Porto Nacional, Araguaína e Jaraguá. A distribuição
espacial prova a relação entre urbanização e industrialização, já que a primeira estimulou três

Figura 07 - Goiás, Goiânia e Anápolis – principais gêneros da indústria de transformação, 1975

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demandas, a saber: 1) para a cadeia da indústria da construção civil, especialmente a metalurgia
(laminados, serralheria, funilaria etc) e a fabricação produtos a partir do processamento de
minerais não-metálicos (telhas, tijolos, cimento etc); 2) para a cadeia da indústria da alimentação,
pois as cidades demandavam consumo cada vez maior de bens perecíveis, especialmente
arroz, feijão, café, além de doces e dos produtos originários da panificação; 3) para a cadeia de
vestuário, calçados e tecidos que abastecia o mercado urbano com a oferta de manufaturados
no varejo local e regional.
A incipiente industrialização inicia-se nas décadas de 1950 e 1960, assumindo estatuto
de meta governamental da década seguinte. A política dos distritos industriais, cujo exemplo
mais claro foi a implantação do DAIA (Distrito Agroindustrial de Anápolis), inaugurado em
1976, é um indicativo. Chagas (2009) descreveu vários fatores que levaram à implantação do
distrito em Anápolis, dentre os quais a logística e os modais de transporte, aproveitando a
ferrovia e os entroncamentos, como a BR-414, BR-153, BR-060, GO-330 e GO-220. Em 1980,
o perfil das empresas do DAIA englobava cerâmica, produtos de limpeza, alimentos, doces,
construção e material elétrico. Não por acaso Anápolis, em termos de concentração industrial,
ocupou o segundo lugar no Estado de Goiás, perdendo apenas para Goiânia. (GOIÁS, 1989)

Tabela 03 - Goiás - Número e gênero dos estabelecimentos industriais


Ano
Gênero
1987 1988
Metalurgia 465 381
Construção 829 945
Mecânica 870 685
Mobiliário 1.048 635
Vestuário, calçados e artefatos de tecidos 2.156 1.763
Produtos alimentares 2.854 1.192
Demais gêneros 1.733 451
Total do estado 9.955 7.138
Fonte: Goiás (1989)

Espacialmente, considerando os setores da indústria descritos na Tabela 03, o destaque


continuou para a produção de alimentos, seguido de vestuário, calçados e artefatos de tecido,
setores concentrados nas grandes aglomerações, a exemplo de Goiânia e Anápolis, e abrangendo
um conjunto de atividades como confecções, enlatados, bolachas, açúcar, atomatados etc, que,
por sua vez, congregam frigoríficos, laticínios e usinas de açúcar e álcool. No ano seguinte,
1988, observa-se retração em vários segmentos, à exceção da construção civil. A retração foi
reflexo da anunciada década perdida, sentida em todo o país. Novamente a economia frágil,
com pouca participação dos setores químico, metal-mecânico, de combustíveis e de fármacos
não passou imune aos impactos da década perdida e dos ajustes fiscais resultantes do declínio

- 31 -
dos investimentos estatais. Silva (2007, p.149), em análise sobre a reverberação desse processo
na década de 1990, pondera:
Em 1990, a queda na variação do PIB goiano não foi tão brusca quanto à nacional,
porque o setor agropecuário possuía alta participação na composição do PIB. Os efeitos
perversos da abertura comercial, em primeira instância, foram menos pujantes nesse
segmento. Desse modo, a agricultura cresceu 2,5%, compensando a redução do setor
industrial, que caiu 2,9%.

O fato é que no final da década de 1980, como era de se supor, a urbanização deu mostras
de sua influência na economia. O PIB do setor de serviços, como indica a Figura 08, passou a
representar mais da metade do total e o PIB industrial, que representava 20% em 1980, declinou
para 16,1% em 1984 (GOIÁS, 1989). A força do setor público nas grandes cidades, a indústria
da construção civil, a concentração de serviços em áreas especializadas, como saúde e educação
superior, o setor varejista, entre outros, reforçaram o peso do setor de serviços como gerador de
renda e emprego.

Figura 08 - Goiás: porcentagem do PIB por setor de atividade

Muito embora o território goiano, considerando o PIB, tenha apresentado uma trajetória
de crescimento global, a concentração de renda e a polarização da riqueza em determinados
espaços regionais aumentaram. A participação no PIB, dos 40% da população de menor renda,
em 1970, foi de 13,4%, caindo para 9% em 1985. Como era de se esperar, o outro estrato, dos
10% de renda maior, passou de 41,4% para 49,3% da renda total do Estado. Se o instrumento
estatístico serve para demonstrar o crescimento global, certamente não há motivos para negar o
grau de concentração também indicado pelas estatísticas. (GOIÁS, 1989)
O território goiano adentrou o século XXI com uma base econômica distinta daquela
da década anterior do século XX, especialmente em relação à transformação da matéria prima,
com reforço da indústria de alimentação e do setor mineral, além do complexo de fármacos,

- 32 -
localizado em Anápolis. Fator de estímulo para o crescimento da economia, muito embora ainda
regionalmente desigual, foi o amadurecimento da infraestrutura de circulação e armazenamento
e o crédito estatal, através de programas como o Fomentar (Fundo de Participação e Fomento à
Industrialização do Estado de Goiás), o Produzir (Programa de Desenvolvimento Industrial de
Goiás) e o FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste). O Fomentar e o Produzir oferecem
isenção parcial do ICMS e o FCO financia, com juros que variam de 5% a 10% ao ano, pequenas,
médias e grandes empresas.9 Arrais (2007, p.182), ao avaliar o padrão de financiamento
governamental, acentua:
A política de incentivos fiscais ressurge no plano político brasileiro com muita força
a partir de meados da década de 1990, resultado do enfraquecimento do poder de
investimento em infraestrutura e em grandes projetos estatais nas regiões deprimidas
economicamente. O setor automotivo foi um dos ramos industriais beneficiados pela
guerra fiscal. Empresas como a Volkswagen, Renault, Honda, Toyota, Mitsubishi e
Hyundai, as duas ultimas em Goiás, além de várias empresas dos segmentos agroindustrial
e farmacêutico beneficiara-se da redução expressiva de impostos.

Muito embora o discurso presente nos programas de financiamento seja o de promover


o desenvolvimento harmônico, o que se observa é que as ações estatais, como assinalado
por Salgado (2010), reforçaram o padrão de concentração regional, pois a maior parte dos
investimentos concentrou-se em municípios como Anápolis, Goiânia, Alexânia, Aparecida de
Goiânia, Itumbiara e Rio Verde, além de privilegiar empresas de grande porte. De qualquer
forma, o papel do Estado na competitividade das regiões passou a dar a tônica dos discursos
políticos. Enfim, o final do século XX anuncia a competitividade como o termo mais utilizado
no debate político e econômico goiano.

Economia contemporânea
Qual o retrato da economia goiana no século XXI? Ainda é possível identificar um perfil
regional dessa economia?
Antes de responder a essas questões, é necessário descrever as condições de realização
da produção, da circulação e do consumo, o que nos direciona para o campo da logística. A
logística moderna implica no estudo da cadeia de produção relacionada aos modais e aos custos
de transportes na escala regional e global. Segundo Corò (2003, p.105):
Em uma acepção moderna, a logística deve ser entendida como o conjunto de atividades,
que orientam, em correlação com um fluxo de informações preciso, a movimentação
de mercadorias dentro de uma rede produtiva completa. Em outras palavras, a logística
moderna deve ser interpretada como uma infraestrutura estratégica que, reduzindo
as barreiras físicas e operacionais entre locais de produção e de consumo, permite
organizar a divisão do trabalho em escala global e em ciclos produtivos espacialmente
diferenciados.

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As redes de transporte e comunicação permitem a integração aos diferentes modais
de transporte (rodoviária, aérea, portuária, ferroviária), influenciando o preço dos produtos
e a decisão de grupos econômicos de investir em determinadas cadeias produtivas, algo
que resulta, especialmente, em economias com perfil majoritariamente agropecuário, com
mudanças na paisagem regional num curto período de tempo. Portanto, a noção de tempo e
espaço é fundamental para a compreensão da economia contemporânea. Ao escrever sobre a
unicidade do tempo, Santos (1997, p.160) lembra que “O uso adequado e preciso do tempo
e do espaço multiplica a eficácia dos processos e o poder das firmas capazes de utilizar
essas novas possibilidades”. A eficácia referida por Santos (1997) depende da disposição e
do acionamento das redes de comunicação e circulação por onde mercadorias e informações
circulam. Informação e circulação são predicados imprescindíveis para a produtividade regional
em um mundo globalizado. Nota-se, por exemplo, a relevância das informações sobre regime
pluviométrico ou sobre as variações cambiais para economias com forte peso de commodities.
A economia contemporânea é caracterizada por Castells (1999, p.87) por dois atributos:
É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa
economia (sejam empresas, regiões e nações) dependem basicamente de sua capacidade
de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos.
É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim
como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação,
tecnologia e mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante
uma rede de conexões entre agentes econômicos.

O que se deduz do entendimento de Castells (1999) é que a produção do território


não está separada da produção das redes de circulação e comunicação por meio dos quais o
conhecimento é disseminado. Raffestin (1993, p.209) lembra que:
É conveniente, pois, decifrar as redes por meio de sua história e do território no qual
estão instaladas, por meio dos modos de produção que permitiram a sua instalação e das
técnicas que lhes deram forma.

Essa perspectiva de análise implica em não naturalizar as redes de modo a acreditar que
são partes naturais de um dado território. As redes são históricas e controladas por atores sociais
que as acionam segundo lógicas geopolíticas. São também sociais e políticas (SANTOS, 1997),
bastando para isso recordar que não foram apenas os dormentes que adentraram o território
goiano na década de 1920, mas uma ideia, uma construção política que comunicava o progresso
por intermédio da modernização.
Muito se escreveu que o território goiano é privilegiado em função de sua posição
geográfica central. É como se sua situação econômica não fosse produto de sua inserção na divisão
regional do trabalho, a partir de uma condição periférica. O sucesso econômico seria, portanto,
resultado da junção entre a posição geográfica e os atributos naturais do território. Contudo,
observando a modesta participação no PIB nacional, que em 2009 foi de 2,88% (GOIÁS, 2010),

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o fraco mercado de consumo, menos expressivo que os da Bahia e de Pernambuco e também a
renda per capita, do Distrito Federal colocam reticências nos argumentos substancialistas que
apregoam que o território existe independentemente, e mesmo antes, das relações sociais, que
são, sobretudo, movidas por tensões e equilíbrios de ordem política, social e econômica.
O discurso sobre o território goiano, sempre com um olhar para o futuro, lança como
ponto de partida o pressuposto de que a integração ao mercado nacional não ocorrerá sem passar
por Goiás, pensamento tributário de uma visão geopolítica da década de 1970, quando era
possível imaginar que o Brasil-potência passava pela incorporação do Centro Norte brasileiro
e que a integração seguia um modelo centro-periferia, o que mudou substancialmente com a
abertura econômica que possibilitou novos nexos de regiões do interior do país com o mercado
internacional, algo destacado por Araújo (2000). De qualquer forma, essa linha de análise coloca
a questão da circulação em evidência. Vejamos como se organiza a logística a partir de uma
breve descrição dos modais rodoviário, ferroviário e hidroviário, meios de circulação, regional
e nacional da produção goiana.
l É fácil perceber que a malha rodoviária goiana concentra-se na parte meridional do
território, como representado na Figura 09. A estrutura radial da rede rodoviária do
território goiano é explicada pela presença de rodovias estaduais (GOs 010, 020, 030,
040, 050, 060, 070 e 080), que partem de Goiânia, e federais (BRs 010, 020, 040,
050, 060), que partem de Brasília para diversas regiões do Estado e para o Centro
Norte brasileiro. O principal eixo de circulação longitudinal é a BR-153, que liga o
Sudeste ao Norte do país. A rodovia latitudinal de maior destaque é a BR-060 que
interliga Brasília, Goiânia e Cuiabá, áreas com maior densidade populacional, maior
produção de grãos e também de manufaturados. No Sudoeste Goiano, a rodovia BR-
364, conectando São Simão a Uberlândia e a BR-452, que dá acesso à BR-153, no
município de Itumbiara, favorecem o transporte de cargas para o mercado regional
e para o Sudeste Brasileiro. A partir do sul do Distrito Federal, duas rodovias são
responsáveis pelo fluxo de pessoas e mercadorias. A BR-050 drena parte da produção
do Sudeste Goiano, constituindo região de passagem entre o Triângulo Mineiro, por
intermédio de Catalão. Já a BR-040, a partir de Cristalina, permite acesso a Belo
Horizonte. A alta densidade rodoviária no Sudoeste/Sudeste Goiano justifica-se
pela demanda por transporte de cargas por meio de caminhões, especialmente grãos
e farelo de soja, seja para os portos seja para os armazéns, à espera de melhores
oportunidades de escoamento e valorização dos produtos. Basta observar o número
de oficinas mecânicas pesadas, revendedores de peças e serviços de borracharia,
empresas especializadas em transporte de grãos, produtos manufaturados e cargas
condicionadas a frio ou mesmo pela presença caminhoneiros autônomos em
busca de fretes às margens da BR-060 no município de Rio Verde para identificar
a relevância do modal rodoviário. No Noroeste e Norte Goiano, verifica-se uma
menor densidade de rodovias federais. As rodovias estaduais, a exemplo da GO-163,

- 35 -
Figura 09 - Goiás: sistemas de circulação e produção de energia

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chamada de Estrada do Boi, são importantes artérias para circulação da produção
regional. Há, nessa região, precariedade de vias de circulação regional, fator de
entrave para a circulação da produção agropecuária. O município de Bonópolis é
um dos poucos do território goiano sem acesso por vias pavimentadas. O eixo mais
importante no Norte Goiano é a BR-153, que articula uma rede primária de cidades,
como Porangatu, Uruaçu e Niquelândia. A circulação regional é dificultada pelas
péssimas condições de trafegabilidade entre o Norte e o Nordeste Goiano, assim
como entre o Noroeste Goiano e o Nordeste do Mato Grosso. A densidade da malha
rodoviária (rodovias federais, estaduais, assim como estradas vicinais) acompanha,
desse modo, o perfil das atividades econômicas e os eixos de integração nacionais,
especialmente aqueles que partem de Brasília. Muito embora a descrição do modal
rodoviário tenha sido rápida diante de sua importância para a economia goiana, não
podemos deixar de apontar que inúmeros problemas nas estradas comprometem a
colheita dos cultivos temporários. Quando a colheita da soja coincide com o período
de prolongamento das chuvas, como ocorreu no mês de março de 2011, há perda da
produtividade no campo, em razão das dificuldades de transporte e armazenagem
dos grãos no Sudoeste Goiano. As estradas vicinais sem pavimentação dificultam
não apenas a circulação da produção regional (leite, gado, legumes, grãos, frutas
etc), mas também o cotidiano de inúmeras comunidades no território goiano, que
tem sua mobilidade restrita em função, para citar um exemplo recorrente, da queda
de pontes no período de chuvas.
l A ligação rodoviária com o modal hidroviário ocorre a partir do Porto de São Simão,
no rio Paranaíba, que integra a hidrovia Tietê-Paraná, por onde é escoada, em
maior volume, a produção de soja de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
De São Simão, abaixo da hidrelétrica homônima, são transportados grãos e farelo
de soja com destino, especialmente, para o Porto de Santos (SP). Os produtos
goianos exportados acionam quatro modais, assim conectados: o rodoviário (rede de
circulação do Sudoeste e Sul Goiano a partir dos diversos armazéns ou mesmo direto
das propriedades agrícolas, especialmente no período de colheita), o hidroviário
(hidrovia Tietê-Paraná, passando por Três Lagoas - MS, Presidente Epitáfio - SP,
Mendes - PR, entre outros municípios), e ferroviário (Ferrovia Bandeirantes) e o
naval (transporte marítimo com destino a países europeus e asiáticos, assim como aos
Estados Unidos). Todavia, o Programa de Desenvolvimento do Sistema de Transporte
do Estado de Goiás (GOIÁS, 2007) destaca problemas nesse sistema de integração,
especialmente em relação à navegabilidade de alguns trechos no período de estiagem
e o curto período da safra de soja, o que “torna inviável a disponibilização de elevada
quantidade de barcaças e empurradores” (GOIÁS, 2007, p.30). As operações nos
terminais são de ordem privada, a exemplo do terminal hidroviário de Caramuru que
escoa a produção de soja e farelo de armazéns localizados no Mato Grosso e Goiás

- 37 -
para o Porto de Santos. A fluidez do território a partir do modal ferroviário, portanto,
encontra-se nas mãos de atores sociais da iniciativa privada.
l A ligação ferroviária é o exemplo da refuncionalização da antiga Estrada de Ferro
Goiás, atualmente incorporada à Ferrovia Centro Atlântica, pertencente à Vale,
empresa com tradição no campo da logística.10 A ferrovia integra uma malha ligando
os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia
e São Paulo, possibilitando ligação com outras ferrovias e os portos do Sudeste e
Nordeste brasileiro. Em Goiás, após atravessar o rio Paranaíba, vindo de Uberlândia
e Araguari, passa por Anhanguera, Cumari e Goiandira, com ramal para Catalão
e Ouvidor. Seguindo para o norte, passa por Ipameri, Urutaí e Pires do Rio, onde
se bifurca com destino a Brasília e Leopoldo de Bulhões. A partir dali segue para
Senador Canedo e Anápolis, no Porto Seco, onde chegam produtos para atender as
industriais locais e regionais. Automóveis, fertilizantes, produtos químicos, peças e
equipamentos, remédios etc, são transportados pela ferrovia, atendo demandas de
duas ordens: aquelas de municípios próximos da rede e com perfil minerador, como
é o caso de Ouvidor e Catalão e da demanda regional, drenada para o Porto Seco,
que atende a área mais povoada, assim como a indústria de manufaturados da região.
De Anápolis também partirá a ferrovia Norte-Sul, possibilitando a integração com o
Porto de Itaqui, no Maranhão. Apesar do andamento das obras e do entusiasmo nos
discursos políticos, ainda é cedo para avaliar os impactos desse empreendimento
para a economia goiana.

Além dos três modais, é importante salientar o transporte aéreo e o gasoduto localizado
em Senador Canedo, assim como a produção de energia, insumo indispensável para a realização
das atividades econômicas. Segundo dados da Infraero (2009), em 2009, foram transportados
6.381.157 kg em vôos domésticos. O baixo valor, do ponto de vista das cargas, denuncia as
deficiências aeroportuárias de Goiânia que é suprida, em parte, pela proximidade do Aeroporto
Internacional Juscelino Kubistchek, em Brasília, de onde saem vôos regulares para todas
as capitais brasileiras. Considerando a regionalização da Infraero (Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária), a SRCE (Superintendência Regional do Centro-Oeste), que
ainda inclui aeroportos do Triângulo Mineiro, transportaram 20.831.290 kg, valor inferior ao
volume de cargas domésticas do aeroporto de Brasília, que foi, no mesmo ano, 40.183.623kg.
Tal fato também se explica pelo perfil da produção goiana, ligada ao setor primário e com pouco
destaque para produtos manufaturados, de alto valor agregado.
O Gasoduto da Transpetro interliga a refinaria de Paulínia, em São Paulo, a Brasília,
com ramal para os municípios de Senador Canedo e Goiânia. Trata-se de uma rede essencial
para a economia goiana, perfazendo mais de 900 km de extensão. Sua função é armazenar e
comercializar gasolina, QAV (querosene para aviação) e GLP (gás liquefeito de petróleo). A
paisagem do municipio de Senador Canedo é marcada pela presença de grandes tanques, para

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Economia BOX 02 – Economia

Fonte: http://www.jbs.com.br/. Acesso em 24/12/2010. Acesso em 20/11/2010.

Fonte: http://www.jbs.com.br/ . Acesso em 24/12/2010. Acesso em 20/11/2010.


A figura ilustra a forma de atuação de atores econômicos com capilaridade internacional.
HT TH

AAempresa,
figura ilustra
quea forma
tem suade atuação
origemdevinculada
atores econômicos com capilaridade
à atividade frigoríficainternacional.
no estado Adeempresa,
Goiás quena
tem sua origem vinculada à atividade frigorífica no estado de Goiás na década de 1950, ampliou sua
década de 1950, ampliou sua capacidade de produção a partir da incorporação de
capacidade de produção a partir da incorporação de outras plantas industriais do segmento frigorífico. A
outras
plantas industriais
incorporação do segmento
e ampliação frigorífico.
da produção A incorporação
foi precondição e ampliação
para o processo da produção foi
de internacionalização que
precondição paradoso processo
ocorreu no final anos 2000. de internacionalização
A estratégia, comum em outrosque ocorreu no final foi
ramos industriais, dosa anos 2000.
aquisição de
empresas e marcas em outros países, o que resultou não só no aproveitamento da infraestrutura, mas
A estratégia, comum em outros ramos industriais, foi a aquisição de empresas e marcas
também do patrimônio simbólico de marcas conhecidas pelos consumidores. A multinacional JBS S/A.
em outros
atua países,
em vários o que resultou
segmentos, não só no aproveitamento
como industrialização de carnes, rações,dalácteos,
infraestrutura,
couros etc.,mas
alémtambém
do setor
do patrimônio simbólico de marcas conhecidas pelos consumidores. A multinacional
financeiro por meio de um banco homônimo. Na figura estão representados os principais mercados de
atuação, seja por meio da produção, como nos Estados Unidos e Brasil, seja na exportação, por meio de
JBS S/A. atua em vários segmentos, como industrialização de carnes, rações, lácteos,
bases de negociação. Segundo informações da JBS, sua logística contempla: “16 Centros de distribuição –
couros
Brasil, etc., alémdedo
9 Centros setor financeiro
distribuição por meio
– EUA, 5 Centros de um banco
de distribuição homônimo.
– Austrália, Na de
22 Centros figura estão
distribuição
representados
– EUA, Méxicoos principais
e Porto mercados
Rico - Unidade de atuação,
de Negócios seja
Frango, por meio
2 Centros da produção,
de distribuição como
– Itália, nos
2 Centros
de distribuição – Angola, 1 Centro de distribuição – Argélia, 1 Centro de distribuição
Estados Unidos e Brasil, seja na exportação, por meio de bases de negociação. Segundo – Congo, 1 Centro
de distribuição – República Democrática do Congo, 1 Centro de distribuição – Rússia, subsidiárias no
informações da JBS, sua logística contempla: “16 Centros de distribuição – Brasil, 9
Chile, Egito, Inglaterra, Japão, Hong Kong, Coréia do Sul, Taiwan e China, responsáveis pela distribuição
Centros de distribuição
e comercialização – EUA,
nesses países.”. 5 Centros de distribuição
(http://www.jbs.com.br/ri/). – Austrália,
Em Goiás, 22 Centros
além dos frigoríficos, de
existem
unidades de confinamento
distribuição – EUA, México nos municípios
e PortodeRicoNazário e Aruanã, de
- Unidade o que permite a Frango,
Negócios oferta continua para o
2 Centros
abate. O irônico é que, apesar do destacado rebanho goiano, o preço da carne bovina no varejo registrou
de distribuição – Itália, 2 Centros de distribuição – Angola, 1 Centro de distribuição
significativos aumentos.
– Argélia, 1 Centro de distribuição – Congo, 1 Centro de distribuição – República
Democrática do Congo, 1 Centro de distribuição – Rússia, subsidiárias no Chile,
Egito, Inglaterra, Japão, Hong Kong, Coréia do Sul, Taiwan e China, responsáveis pela
distribuição
  e comercialização nesses países.”. (http://www.jbs.com.br/ri/). Em Goiás,
além dos frigoríficos, existem unidades de confinamento nos municípios de Nazário e
Aruanã, o que permite a oferta continua para o abate. O irônico é que, apesar do destacado
rebanho goiano, o preço da carne bovina no varejo registrou significativos aumentos.

- 39 -
armazenar diesel, gasolina e querosene e esferas para armazenar GLP. Segundo informações da
Transpetro (2010), a capacidade de armazenagem de 80.893 m3 diesel e de 20.32 m3 de GLP.
É fácil perceber em Senador Canedo, e também em Goiânia, no bairro Jardim Novo Mundo, a
concentração de distribuidoras de combustível e gás. As filas de caminhões-tanque denunciam
sua funcionalidade para a economia regional. Em Goiás, segundo dados da ANP (Agência
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível), em 2009 havia 1.341 revendedores de
combustivel automotivo, o que é compreensível considerando a frota de veículos de cidades
como Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Luziânia etc. Outro dado que comprova a
importância de Senador Canedo refere-se à distribuição do etanol, já que a produção das usinas,
considerando o mercado interno, segue para as distribuidoras localizadas em Senador Canedo
e Goiânia, para então seguir para o varejo, nos postos de combustíveis de diferentes bandeiras,
também localizados, ironicamente, nos municipios que abrigam usinas de etanol. A mobilidade
automotiva passa a depender, portanto, de Senador Canedo e Goiânia, isso sem contar a
distribuição de GLP para residências, estabelecimentos comerciais e indústrias, reafirmando
o caráter geopolítico representado pelo monopólio da fluidez, confirmando o papel das redes
assinalado por Raffestin (1993).

Figura 10 - Senador Canedo – área de armazenagem de gás e combustível


Fonte: Foto do autor, dezembro de 2010.

A produção de energia hidráulica, principal matriz goiana, é produto de uma conjunção


de fatores, especialmente a relação entre relevo e hidrografia. O balanço energético de Goiás é
positivo, o que significa que produzimos mais energia do que a necessária para o consumo em
residências, na agricultura, na indústria e nos demais segmentos. Dos segmentos com maior
consumo estão o residencial e o industrial que somaram, em 2009, 61,68% do total da energia
consumida (GOIÁS, 2010). Muito embora represente apenas 9,6% do total, em 2009, o consumo
rural é bastante concentrado, em função da irrigação. Mas o que chama atenção é a relação entre
o setor de transformação mineral e de alimentação e o consumo de energia, já que a demandas

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por energia nessas atividades vem crescendo a cada ano. Entre os seis municípios como maior
consumo no setor industrial em 2010, três (Niquelândia, Alto Horizonte e Ouvidor) estão no
setor mineral e um (Rio Verde) na indústria de alimentação. Em relação ao setor energético ainda
é preciso registrar a geração de energia nas usinas que processam etanol e açúcar. No primeiro
momento, essa geração atende as demandas das plantas industriais. Apenas a Jalles Machado,
em Goianésia, tinha potência para produzir, em 2010, 40.000 kw. Considerando os planos de
expansão do setor sucroalcooleiro e a possível integração das redes de transmissão, é possível
que, no futuro, o balanço de nossa matriz energética seja alterado.

Tabela 04 - Goiás: balanço energético – (10.000 Mwh)


Energia Gerada Energia Consumo
Ano Total Perdas
Hidráulica Térmica Exportada Total
1998 16.375 - 16.375 9.669 812 5.894
2000 21.650 88 21.738 14.310 850 6.578
2005 23.809 298 24.107 14.352 936 8.819
2006 27.553 257 27.810 17.855 974 8.981
2007 27.492 512 28.004 17.733 1.113 9.158
2008 24.329 897 25.226 14.456 1.270 9.500
Fonte: Secretaria da Infra-Estrutura do Estado de Goiás / Superintendência de Energia e Telecomunicações
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2010
Nota: No levantamento da produção de energia hidráulica foi considerado 50% da energia produzida nas usinas localizadas em rios
fronteiriços.

As usinas de Itumbiara e São Simão, responsáveis, em 2009, por 33,72% da energia


gerada no território goiano, estão, segundo dados da Aneel (2008), entre as dez maiores usinas
em operação no Brasil. No mapa goiano da produção de energia, a bacia do Paranaíba é a mais
importante, pois inclui Itumbiara e São Simão, as usinas de Emborcação, Cachoeira Dourada,
além daquelas localizadas no rio Corumbá, São Marcos e Aporé, entre outras. A paisagem da
bacia do Paranaíba impressiona, seja pela falta de vegetação em suas margens, indiferente se
na vertente goiana ou mineira, seja pelos espelhos formados por lagos quase conurbados. Os
impactos ambientais, especialmente em Goiás, em razão da matriz energética nacional, são
constantes, além dos conflitos de uso da água, uma vez que as terras alagadas são ocupadas por
pequenos agricultores que passam, para utilizar um conceito trabalhado por Haesbaert (2004),
por processo de desterrritorialização. Mais uma vez, em decorrência de uma demanda nacional,
o território é acionado para atender uma necessidade nacional. É preciso lembrar, ainda, o
processo de privatização de Cachoeira Dourada, construída na década de 1960 para atender
a demanda do Distrito Federal, ocorrida em 1997. Difícil imaginar, fora de um contexto de
desmonte do Estado nacional, que uma empresa com uma carteira de clientes permanentes e
com possibilidades concretas de expansão, acarretasse prejuízos para o erário público.
A infraestrutura de redes possibilita e reproduz o modelo de subordinação ao Sudeste
Brasileiro, conhecido desde o início do século XX. Oliveira et al (2010), em estudo sobre o

- 41 -
fluxo de comércio interestadual, utilizando dados de 2009, demonstra que 53,3% das compras
e 50,4% das vendas são realizadas no próprio estado. Considerando o fluxo de compra e venda
com os demais estados, os autores constataram forte vinculação com São Paulo, já que “deste
estado provém 48,91% das compras interestaduais e para ele vão 30% das vendas”. (OLIVEIRA,
et al 2010, p.15)
É necessário destacar o monopólio das redes que, com exceção da rodoviária, encontra-
se restrito a determinados atores sociais, especialmente aqueles ligados aos grandes grupos
econômicos. Esse fator é relevante, pois o transporte, em uma economia com forte participação
primária e com igual valorização das exportações, é a base da eficiência logística. Grãos, minérios
e carnes necessitam chegar aos portos com pontualidade e sem perdas no transporte, fato que
denota eficiência logística. A balança de trocas goiana, apesar de positiva, encontra-se pautada
na exportação de produtos primários e na importação de produtos manufaturados, especialmente
bens de consumo duráveis e bens de produção. A subordinação, antes ligada estritamente ao
Sudeste Brasileiro, a partir do final década de 1990, com o processo globalização, passa a ocorrer
também em escala mundial. Há poucas dúvidas que a economia goiana internacionalizou-se nos
últimos anos, bastando para isso averiguar que o número de países de destino das exportações
aumentou de 77, em 2000, para 146, em 2009. O valor das exportações manteve seu progresso,
passando de 544.864 milhões, em 2000, para 4.091.752 milhões em 2008, colaborando para um
saldo positivo na balança comercial. (GOIÁS, 2009)
Mas, qual é o perfil das exportações goianas?

Figura 11 - Goiás: perfil das importações goianas

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Figura 12 - Goiás: perfil das exportações goianas

As figuras 11 e 12 demonstram o peso da exportação de produtos básicos. Trata-se,


especialmente, dos chamados complexo soja e complexo carne que somaram, em 2008, 66,44%
do total das exportações goianas (GOIÁS, 2009). Outra fração importante foi composta por
minérios como cobre, ferroligas, amianto e ouro. Assim, completa-se o perfil básico da economia
exportadora goiana. O aumento nas exportações resultou em maior pressão nos recursos naturais,
com a expansão das monoculturas (soja e cana-de-açúcar) e da mineração. Impressiona que a
participação de produtos industrializados que era de 25,84%, em 2000, declinou para 16,36%,
em 2005, e 14,77% em 2008. A análise do perfil das importações confirma as observações,
pois é formada basicamente de produtos industrializados, representando, em 2000, 91,39%, e
em 2008, 96,12% do total das importações do estado. O peso das importações está na cadeia
automotiva (automóveis de passeio, carga e transporte, motores a diesel, tratores, assessórios
automotivos para mecânica pesada, caixas de direção etc) e no setor fármaco e de medicamentos.
A importação também tem a participação dos insumos agrícolas mecânicos ou químicos, de tal
forma que a agropecuária também contribuiu para o saldo das importações.
Em relação à cadeia automotiva, percebe-se que as montadoras aparecem na lista dos
maiores importadores e também dos maiores exportadores, como é o caso da MMC Automotores
do Brasil, localizada no município de Catalão. As montadoras que atuam no território goiano
(Catalão e Anápolis) importam peças para fabricação de veículos e colheitadeiras e nacionalizam

- 43 -
veículos para comercialização. É possível supor, portanto, que a geração de empregos e a
remuneração sejam maiores nas matrizes do que nas montadoras, isso sem falar no processo de
terceirização no chão da fábrica. O padrão de produção das montadoras, festejado desde a década
de 1990, tem relação com os incentivos fiscais que motivaram o processo de desconcentração
industrial. Santana & Mendonça (2006, p.12), ao avaliarem o processo de precarização do
trabalho nas montadoras, colocam:
No processo de reestruturação produtiva a terceirização é elemento fundamental, pois é
ela que permitirá a redução de gastos com funcionários e com equipamentos no processo
produtivo. São nas empresas terceirizadas que se encontram os maiores índices de
precarização. Geralmente, os trabalhadores das terceiras são acessíveis na admissão e são
facilmente demitidos quando o mercado não esta favorável. No processo de terceirização
podemos encontrar tanto trabalho extremamente qualificado, como também, trabalho
desqualificado. Nas empresas terceirizadas que prestam serviços para Mitsubishi Motors
Company encontramos certo grau de precarização. Elas executam funções degradantes e
em sua maioria não possui os mesmos direitos que os trabalhadores da Mitsubishi.

A observação da economia dos municípios exportadores revela que dos 10 municípios


com maior peso nas exportações, que representaram, em 2008, 51,77% do volume total
exportado pelo estado, três estavam ligados exclusivamente ao setor de minérios. Outros
dois, Palmeiras de Goiás e Mozarlândia, ligaram-se apenas ao setor frigorífico. Isso permite
compreender facilmente que uma caixa de direção ou mesmo um veículo quatro portas não
seja apenas mais caro que uma tonelada de soja, como também agregue maior valor na cadeia
de produção. É possível supor que o impacto do encerramento das atividades de um frigorífico
em Goiânia, com uma economia diversificada, seja menor que em um município de 10.000
habitantes, pois, além da perda de receita tributária, a absorção da mão-de-obra é facilitada pelo
perfil de uma economia de aglomeração, fator assinalado, no caso europeu, por Veltz (1999). Tal
perfil econômico municipal, com predomínio de um grande grupo econômico, é mais suscetível
aos impactos de crises econômicas, tornando as economias municipais dependentes. Por outro
lado, as empresas tornam-se atores sociais hegemônicos nestes municípios, influenciando seu
destino político.
A leitura territorial, pela ótica da balança comercial, auxilia na compreensão dos
padrões de localização regional dessas atividades, fator relevante para a leitura da economia
goiana. Muito se escreveu na literatura regional sobre a especialização das atividades ligadas
ao setor agropecuário em Goiás. É comum as referências ao Sudoeste Goiano como celeiro
regional de grãos, em contraste com outras microrregiões, como o Vão do Paranã. O expediente
metonímico, entretanto, prejudica a visão da totalidade. Na verdade, a produtividade regional
(agrícola, pecuária, mineral e industrial) deve ser avaliada a partir do estoque de terras, do
padrão fundiário, do relevo, da disponibilidade hídrica, da presença de sistemas de escoamento,
das demandas conjunturais da economia, da mão-de-obra, das jazidas, da proximidade com o
mercado de consumo e do crédito destinado aos setores produtivos. A conjunção de tais fatores,

- 44 -
entre outros, aplicam-se na parte meridional do território goiano, o que não significa, entretanto,
que isso se reverbere em qualidade de vida para uma parcela significativa da população.

Figura 13 - Goiás: evolução da área plantada de culturas selecionadas

Considerando a dispersão das culturas temporárias, como milho, soja, cana-de-açúcar,


arroz e feijão, observam-se diferentes gradientes de concentração da produção e das áreas
nos municípios goianos, conforme se verifica nas figuras 14 e 15. Muito embora seja bastante
disseminada nas propriedades rurais, o milho é uma das culturas de maior concentração, com
57,12% da produção e 54,12% da área total do estado concentrada em dez municípios, fato
justificado pela demanda estimulada para a produção de ração para aves e suínos. Não por acaso,
os municípios de Rio Verde e Jataí, maiores produtores de milho, concentravam, em 2009,
30,57% do rebanho de aves do estado. Colabora para a destacada produção de milho no estado
de Goiás a prática da safrinha que, segundo estimativas da CONAB (Companhia Nacional de
Abastecimento) para 2010-2011, atingirá 2.275,5 mil toneladas, pouco menos que as 2.721,14
mil toneladas da safra principal. A eficiência da safrinha do milho depende, principalmente, do
calendário da soja que, por seu turno, depende do calendário pluviométrico, já que o excesso de
chuvas prejudica a colheita da soja, atrasando o plantio do milho.11
Percebe-se, portanto, que a instalação de um complexo como o da Perdigão em Rio
Verde motiva uma reação em cadeia, impactando nos cultivos, no padrão fundiário e também
no perfil do produtor, afinal não é possível imaginar uma substituição nessa escala de produção
com a prevalência de atividades do pequeno produtor. Os novos atores sociais, “produtores
integrados”, muitos sem lastros históricos com a terra, agora são profissionais liberais, com
acesso aos sistemas de crédito que garantem a rentabilidade da atividade. Mais uma vez a
informação comparece como insumo determinante para a economia.

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Figura 14 - Goiás: produção agrícola dos 10 maiores municípios produtores, produtos selecionados, 2009

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Figura 15 - Goiás: área colhida dos 10 maiores municípios produtores, produtos selecionados, 2009

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Os 10 municípios de maior área no cultivo de soja, em 2009, concentraram 52% da
produção e 50,62% da área colhida. Apesar da concentração em municípios como Rio Verde e
Jataí, também se destacam municípios do Entorno do Distrito Federal, como Cristalina e Luziânia,
e do Sudeste Goiano, como Catalão e Ipameri. Além do farelo de soja e dos componentes de
ração, é necessário destacar a produção de óleo vegetal. A produção da soja segue, em linhas
gerais, as áreas com disposição de terras propícias para a mecanização, além de estarem próximas
dos grandes complexos industriais de transformação em Jataí, Rio Verde, Itumbiara, Cristalina,
Mineiros etc. O total da área colhida que em 2002 era de 1.902.950 hectares, passou para
2.315.888 hectares em 2009, ano em que o estado ocupou o quarto lugar na produção nacional.
No mesmo ano o Estado ocupou, de acordo com dados da ABIOVE (2009), o quarto lugar no
processamento de soja, com 20.050 toneladas/dia, o que representou 12% do total processado no
Brasil. Em relação ao refino, foram computadas 3.560 toneladas/dia, o que resultou na terceira
colocação no total nacional. As informações ilustram a diversidade de atividades que envolvem
a cadeia da soja e são indicativos da forma como os grupos econômicos manejam os estoques.
A depender da conjuntura econômica e tributária, a decisão pode ser destinar mais energia ao
refino soja, à exportação in natura ou mesmo à transformação em farelo como componente de
ração. Como lembra Pinazza (2007, p.41):
No começo da década de 1990, a exportação de soja em grãos respondia por apenas
12,4% da demanda total da soja no Brasil. Até a promulgação da Lei Kandir, esse patamar
se manteve razoavelmente estável. Após a desoneração do ICMS sobre a exportação dos
produtos básicos, o ritmo das exportações de soja ganhou força, crescendo, ano após ano,
de tal forma que, no triênio 2003/2005, as exportações de soja em grãos responderam por
38,2% da demanda total do produto no País.

A cana-de-açúcar concentra-se no Sudoeste Goiano. Considerando a evolução das


culturas temporárias a partir de 1995, o cultivo da cana-de-açúcar é aquele de maior aumento,
passando de 115.073 ha em 1995, para 403.970 ha em 2008 (GOIÁS, 2009). O que impressiona
nessa informação é a rapidez das transformações no campo, que não se reduziram às áreas de
cultivo, nem mesmo aos problemas ambientais destacados por Castro et al (2010), Barbalho &
Campos (2010) e Silva (2011). A lógica de implantação segue, em linhas gerais, a disposição
de áreas próprias para o cultivo, a logística de transportes e a possibilidade de subsídios. Em
2000, havia 11 usinas produzindo açúcar e etanol, número que passou para 36 em 2009, sem
contar aqueles em fase de implementação. Também existem outros 51 projetos aprovados pelo
PRODUZIR (Programa de Desenvolvimento Industrial de Goiás), com capacidade prevista de
3.777.566 toneladas de açúcar e 7.704.264 m3 de etanol. A maior parte das plantas concentra-
se na faixa oeste, sudoeste e sul do território goiano. Entretanto, já existem projetos para os
municípios de São Domingos e Flores de Goiás, no Nordeste Goiano.
Em 2009, segundo dados da SEPLAN (GOIÁS, 2010), foram produzidas 1.738.641
toneladas de açúcar e 2.680.604 mil litros de álcool. Itumbiara, Goianésia e Jataí estão entre os
municípios com maior número de destilarias. O que explica a expansão, além do aumento da

- 48 -
Economia

As duas figuras retratam formas geométricas semelhantes. A primeira, do estado do


Kansas, no oeste americano e a segunda, do município de Cristalina, no entorno do
Distrito Federal. Ambas indicam áreas irrigadas por pivô central. As figuras representam
áreas de aproximadamente 600 km2 e 240 km2, respectivamente. O domínio da técnica
muda o ciclo produtivo, resultando em aumento da produtividade. Entretanto, áreas com
esse perfil agrícola são caracterizadas pelo consumo intensivo de água e energia, o que
aumenta o passivo ambiental.

- 49 -
demanda em virtude do consumo automotivo e da disposição de térreas propícias para o cultivo
da cana-de-açúcar, é o financiamento por parte do Estado. O caso de Quirinópolis é exemplar.
A questão é que mesmo o estoque de terras tem seus limites, já que duas culturas não podem
ocupar o mesmo espaço, o que vale, especialmente no caso de Quirinópolis, para as áreas
de pastagem. A área destinada ao cultivo de cana-de-açúcar em Quirinópolis aumentou mais
de 650%, enquanto a de cultivo de arroz declinou 70% e a de soja 16%, entre 2006 e 2009.
A concentração repercutiu nos cultivos tradicionais, o que resultou em rápidas mudanças na
paisagem regional, bem como nas relações de trabalho e produção.
Em 2010, a população registrada pelo Censo Demográfico em Quirinópolis foi de 43.243
pessoas, o que representou um acréscimo de 6.731 pessoas em relação ao Censo Demográfico
de 2000. Em 2000, a população rural era de 5.690 habitantes, reduzindo, em 2010, para 5.064
habitantes (BRASIL, 2000, 2011). O aumento gradativo da população na cidade foi resultado da
migração, especialmente nos últimos três anos, o que gerou demanda por infraestrutura urbana
e habitação no município, bem como a desarticulação da produção da pequena propriedade. Por
outro lado, é preciso registrar que na lista de propriedades com trabalho escravo divulgada pelo
Ministério do Trabalho são citadas usinas de álcool e açúcar nos municípios de Ceres, Jataí,
Itarumã e Porteirão, onde foram libertados, segundo relatório divulgado, em 31/12/2010, 452
trabalhadores em condições caracterizadas como de trabalho escravo. Trata-se da face mais
cruel do processo de modernização. (BRASIL - Ministério do Trabalho, 2010),
Muito embora o arroz, comparado com as culturas de soja, cana-de-açúcar e milho,
apresente um baixo nível de concentração, observa-se uma redução da área plantada de 264.382
hectares em 1995 para 100.870 hectares em 2009. Os dez municípios com maior produção
concentraram 29,28% da área colhida e 41% do total produzido. É na cultura do arroz que se
encontra uma das maiores diferenças de produtividade, em função das áreas irrigadas, como
em Luís Alves, distrito de São Miguel do Araguaia, e Flores de Goiás. Sempre é bom lembrar
que o arroz foi um dos principais produtos da exportação goiana. Em 1920, segundo dados do
Recenseamento Geral, o arroz representava 22,1% da área total cultivada no estado (BRASIL,
1923). Tratava-se de uma cultura disseminada em todo o território goiano. Mas a avaliação da
cultura do arroz não estaria completa sem a referência ao fato de que essa produção é insuficiente
para atender a demanda interna, o que significa que grande parte do arroz consumido em cidades
como Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia são importados in natura e beneficiados em
Goiás. Muito embora se tenha registrado, em 2009, a produção de apenas 60 toneladas de arroz
em casca, Aparecida de Goiânia, em função da política de incentivos fiscais para a indústria de
transformação, concentra parte significativa do beneficiamento do arroz consumido em Goiás.
Considerando os cultivos temporários, constata-se a maior concentração no cultivo do
feijão. Os dez maiores municípios produtores concentravam 73% do total produzido e 72% da
área colhida do estado. Apenas Cristalina e Luziânia, em 2009, foram responsáveis por 39,49%
do total do feijão produzido em Goiás. Colabora para o fato a intensa utilização da irrigação por
pivô central, o que torna o consumo de energia rural o maior do estado. Para se ter uma ideia,

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o consumo de energia rural de Cristalina, em 2009, foi maior que a soma do consumo rural de
outros 76 municípios reunidos (GOIÁS, 2009). As culturas irrigadas de batata inglesa, cebola,
alho e trigo, conforme destacado na Figura 16, concentram-se no município e atendem o varejo
de Goiás e do Distrito Federal. O resultado, além de alta produção e produtividade, é a pressão
nos recursos hídricos em um município cuja maior característica ambiental, além do relevo
plano e alto, é a presença de farta rede de drenagem.

Figura 16 - Cristalina: Porcentagem da participação no total da produção goiana, 2009

O rebanho bovino é menos concentrado que a produção de grãos, pois em 2009 os dez
maiores municípios produtores concentram menos de 20% do total do estado, conforme Figura
17. No total estão contabilizados tanto a criação extensiva quanto o confinamento. Em relação
ao confinamento no território goiano, verifica-se sua importância pelo fato de o Estado contar
como o maior número de associados à ASSOCON (Associação Nacional de Confinadores). São
onze propriedades associadas, localizadas especialmente no Sudoeste e Noroeste Goiano. A
disposição dos pastos no Norte e Noroeste Goiano e a estrutura fundiária da parte setentrional do
território influenciam a dispersão. O gado de corte atende a demanda do mercado frigorífico para
exportação, assim como para o consumo local e a transformação em outros estados. O rebanho
bovino constitui uma espécie de poupança regional, especialmente para pequenos agricultores
descapitalizados. Nova Crixás, São Miguel do Araguaia e Porangatu, com 716.100, 490.000 e
308.000 cabeças de gado, respectivamente, abrigavam os maiores rebanhos em 2009 (GOIÁS,
2010). Outro destaque é para o Sudoeste Goiano, com expressiva participação de Caiapônia,

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Figura 17 - Goiás: produção pecuária dos 10 maiores municípios produtores, efetivos selecionados, 2009

- 52 -
Rio Verde, Quirinópolis e Mineiros, com 389.000, 390.000, 330.000, 320.000 cabeças de
gado, respectivamente. A localização dos frigoríficos em municípios como Goiânia, Inhumas,
Hidrolândia, Palmeiras de Goiás, Mozarlândia, Jataí, Mineiros, Luziânia atendem à lógica do
mercado de consumo e da logística necessária para processamento, já que parte significativa
da carne é exportada, como constatou Lacerda et al (2011). A JBS atua em vários países, o que
denota monopólio e, frequentemente, problemas em relação ao preço da arroba pago ao criador.
Como a soja, a carne também não escapa da lógica da produção e comercialização das bolsas
de valores.
Quanto ao rebanho do gado leiteiro, verifica-se sua concentração no vale do Meia
Ponte. O padrão das propriedades é menor e a localização de laticínios atende à demanda
regional e nacional, especialmente de leite longa vida, produto consumido em ampla escala
nas cidades. A produção concentra-se no eixo sul da BR-153, nos municípios de Piracanjuba,
Morrinhos, Orizona e Itumbiara, com 73.400, 80.010, 48.000 e 33.400 vacas ordenhadas,
respectivamente. A região, correspondendo à linha de influência da faixa sul da BR-153, ao lado
do Triângulo Mineiro, concentra a maior bacia leiteira do Brasil. Silva (2008), em estudo sobre
a pecuária leiteira em Piracanjuba, constatou um perfil de produtores composto por agricultores
familiares, o que significa que a atividade assumiu importância ímpar no cotidiano de centenas
de proprietários e trabalhadores da região. A autora também assinala, entre outros problemas,
a entrada no mercado goiano de empresas que adquiriram laticínios como estratégia para o
aumento da concentração do mercado, o que resultou na maior subordinação dos produtores e
no aumento dos custos de produção. A cadeia láctea é mais um exemplo que demonstra o peso
dos insumos secundários, como das embalagens e transportes, o que diminui a remuneração
do produtor, colocando-o, quase sempre, em condições frágeis nas negociações com os grupos
econômicos de grande porte.
A análise do rebanho de aves e porcos revela, novamente, a forma de atuação de atores
sociais como a Perdigão. O município de Rio Verde, em 2009, foi o maior produtor individual
de aves do Brasil, registrando um plantel de 13.000.000 de galos, frangas, frangos e pintos e
1.320.000 de galinhas. É fácil perceber, portanto, a demanda por ração que implica, por sua vez,
no aumento da procura por milho e soja, principais componentes da ração de frangos. A dispersão
do rebanho de aves guarda relação com a localização das granjas e frigoríficos, como em Itaberaí,
Pires do Rio e Rio Verde. Ao se instalar em um município, uma empresa que processa carne de
frango e suína demanda produtores integrados para garantir o fornecimento de frangos e leitões,
o que torna necessária a participação de produtores dos municípios vizinhos. Nessa equação, é
determinante a distância da propriedade onde serão instalados os galpões para criação. A partir
da Figura 18, retirada do relatório anual de sustentabilidade da BRF-Foods (2009), podemos
visualizar o funcionamento da cadeia produtiva da carne. O destaque, no caso de uma empresa
com o perfil da Perdigão, é a fabricação de sua própria ração, a industrialização da carne e o
regime de controle de matrizes criado pelos produtores associados, funções necessárias para o
abate de dezenas de milhares de frangos e suínos diariamente.

- 53 -
Economia

Pátio da Montadora Caoa – Dezembro de 2010. Foto do autor.

Pátio do Porto Seco – Dezembro de 2010. Foto do autor.

“Portos secos são recintos alfandegados de uso público, situados em zona secundária, nos
quais são executadas operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro
de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro. As operações de movimentação e
armazenagem de mercadorias sob controle aduaneiro, bem assim a prestação de serviços
conexos, em porto seco, sujeitam-se ao regime de concessão ou de permissão. A execução
das operações e a prestação dos serviços conexos serão efetivadas mediante o regime
de permissão, salvo quando os serviços devam ser prestados em porto seco instalado
em imóvel pertencente à União, caso em que será adotado o regime de concessão
precedida da execução de obra pública. O porto seco é instalado, preferencialmente,
adjacente às regiões produtoras e consumidoras. No porto seco são também executados
todos os serviços aduaneiros a cargo da Secretaria da Receita Federal, inclusive os de
processamento de despacho aduaneiro de importação e de exportação (conferência e
desembaraço aduaneiros), permitindo, assim, a interiorização desses serviços no País.
A prestação dos serviços aduaneiros em porto seco próximo ao domicílio dos agentes
econômicos envolvidos proporciona uma grande simplificação de procedimentos para
o contribuinte. In: http://www.receita.fazenda.gov.br/aduana/Eadi.htm. Acesso em
20/11/2010. Um exemplo desse processo é a importação de veículos e peças (kits)
automotivos da matriz sul coreana da Hyundai. Os veículos chegam ao Brasil pelo Porto
de Vitória (ES), de onde são transportados em carretas para o Porto Seco de Anápolis
para concluir o desembaraço alfandegário. Em seguida, os veículos seguem para o
pátio da empresa representante e de lá são distribuídos para as diversas concessionárias
brasileiras. Já as peças para a montagem dos dois modelos produzidos em Anápolis,
chegam via ferrovia, em contêineres. É possível deduzir que as margens de lucros
aumentam significativamente com essas operações, isso sem contar com os incentivos
fiscais.

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A simbiose entre agricultura, pecuária e indústria garante não apenas o aumento da
produtividade regional, como também a incorporação da massa salarial em cidades com o perfil
de Rio Verde, Mineiros, Luziânia, Jataí, Itaberaí, Pires do Rio, Bela Vista de Goiás. No caso do
último, o maior rebanho de aves relaciona-se com a produção de ovos, uma vez que o município
de Bela Vista é o maior produtor, registrando 28.665 dúzias de ovos em 2009. (BRASIL, 2010b)

Figura 18 - Representação da cadeia produtiva da carne


Fonte: BRFoods (2010)

A mineração pode ser considerada uma espécie de economia de enclave, o que vale para
a extração de níquel (Niquelândia, Barro Alto e Americano do Brasil), Amianto (Minaçu), Ouro
(Crixás), Cobre (Alto Horizonte e Americano do Brasil), Nióbio (Catalão e Ouvidor) e Fosfato
(Ouvidor e Catalão), produtos com forte participação na pauta de exportações. Em Goiás, são
exploradas economicamente mais de 40 substâncias minerais. Do ponto de vista do valor, apenas
nove substancias minerais representavam, em 2009, 96,13% do total da riqueza gerada com
a mineração. A produção mineral atende a três demandas: regional, nacional e internacional.
Em relação ao mercado regional, como indica relatório da DNPM (Departamento Nacional de
Produção Mineral), a comercialização de produtos como água mineral, areia, brita, calcário
agrícola, entre outros, assumem maior relevância. Nacionalmente, o fosfato, transformado em

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São Paulo, assim como o Níquel, são destaques. Internacionalmente, o amianto, o nióbio e o
ouro assumem importância impar. De acordo com relatório da DNPM (BRASIL, 2010c), em
2009, 88% do ouro extraído do território goiano foi destinado à Índia.
Podemos considerar a importância da mineração para a economia municipal pelo valor
dos recursos do CEFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais).
Nos municípios mineradores, como destaca a Figura 19, a receita proveniente desse imposto,
como no caso de Alto Horizonte, chega a ser superior aos recursos do Fundeb (Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica). Outro modo de analisar a influência da mineração deriva
dos serviços demandados pelas empresas de mineração com graus de especialidade diferentes,
que podem ir da mecânica pesada até a alimentação de trabalhadores. Tomando como exemplo
a Anglo American (ANGLO AMERICAN, 2009), que atua nos municípios de Catalão/Ouvidor,
Niquelândia e Barro Alto, os gastos com fornecedores locais, em 2008, foram da ordem de 17%,
19% e 36%, respectivamente, o que implica em graus diferentes de envolvimento da economia
local na demanda de consumo de produtos e serviços demandados pela empresa. Entretanto,
é preciso avaliar os custos ambientais da exploração mineral e a dependência econômica dos
municípios em virtude do tempo útil de exploração das minas.12
Já a concentração do setor de transformação acompanha as áreas mais densas do território
goiano. Sua localização é influenciada por um conjunto de fatores, dentre os quais estão: (1) a
oferta logística e a possibilidade de integração intermodal; (2) incentivos fiscais governamentais;
(3) proximidade do mercado de consumo; (4) oferta de mão-de-obra; (5) localização da
matéria-prima. Considerando o número de estabelecimentos industriais, a maior concentração
de unidades está nas micro e pequenas empresas, que corresponderm, em 2010, a 61,34% do
total do estado (GOIÁS, 2010). São esses segmentos, de igual forma, os que mais empregam.
Nesse universo, encontram-se empresas do ramo de vestuários, alimentos, movelaria, bebidas,
construção civil etc.13 A maior concentração, do ponto de vista do número de indústrias, está em
Goiânia, seguido de Aparecida de Goiania, Anápolis, Jaraguá, Rio Verde, Catalão, Itumbiara
e Luziânia, entre outros. Arriel (2010, p. 59-60) faz referência ao deslocamento das indústrias
para o interior do território goiano, citando o declínio da participação industrial da Região
Metropolitana de Goiânia no faturamento, que passou de 36,41%, em 1999, para 21,95%, em
2007. Segundo esse autor:
No caso de Goiás, os dados apontam para uma tendência de deseconomias de
aglomeração na capital, Goiânia, mas o que provocou o ganho de participação na
produção da indústria de outros municípios não metropolitanos, em grande medida, foi
a busca de empresas, as chamadas industrias weberianas, de se instalarem próximas às
fontes de matéria-prima, alem de outras que procuraram por cidades médias, mas com
possibilidades de desenvolver serviços relacionados ao empreendimento industrial.
(ARRIEL, 2010, p.59-60)

O padrão de dispersão das indústrias pode ser comprovado pela distribuição dos empregos
formais. Muito embora a indústria de transformação não seja aquela que mais emprega, sua

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Figura 19 - Goiás: repasses do CEFEM das principais substâncias minerais, 2009

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participação no total de empregos formais, somando a construção civil, agrupou 20,94% do total
de empregos, em 2009 (MTE, 2009). No caso da construção civil, a maior parte se concentra em
Goiânia, cidade que presencia um forte processo de verticalização, resultado do aquecimento
do setor imobiliário. O número de empregos formais registrados em Goiânia, em novembro de
2010, foi de 509.775, dos quais 47.078 na indústria de transformação, o que representou 9,23%.
Entre os municípios com maior destaque proporcional da geração de empregos na indústria
de transformação estão Mozarlândia com 62,89%, Ouvidor com 57,91% e Chapadão do Céu
com 46,65% (MTE-RAIS, 2009). O destaque da Figura 20, entretanto, é a importância do setor
público na geração de empregos nos municípios abaixo de 20.000 habitantes.
O desempenho da indústria, seja em Goiânia, Rio Verde, Cristalina, Catalão, Itumbiara
etc., deve ser avaliado a partir da articulação com o setor primário. E não se trata apenas da
oferta de matéria-prima, mas da renda gerada no setor que movimenta as economias municipais.
Por tal motivo, no período de comercialização da safra, verifica-se aumento dos negócios de
imóveis e veículos em cidades como Jataí, Rio Verde, Itumbiara e Goiânia. Há estreita ligação
entre a renda obtida no agronegócio e o aquecimento do mercado imobiliário e dos bens de
consumo duráveis.
A análise do desempenho do setor varejista é outra maneira de destacar a importância
do setor industrial. Nos principais varejistas de Goiânia (Carrefour, Pão de Açúcar, Wall Mart,
Bretas e Extra), há uma oferta invariável de produtos cuja transformação ocorre no território
goiano, especialmente no setor de alimentação. Pesquisa realizada nessas redes por acadêmicos
da disciplina Geografia de Goiás da UFG, no segundo semestre de 2010, constatou que de uma
lista que incluía cereais, farinha, café, sal, macarrão, lácteos variados, azeite, refrigerantes,
produtos de higiene, ovos, folhas, condimentos etc., oferta de produtos de empresas como Ambev,
Bunge, Perdigão, Piracanjuba e Unilever. Essa última, com a incorporação da marca Arisco,
entre outras, foi responsável pela maior oferta registrada por um mesmo grupo econômico, fato
explicado pela gama de área de atuação, como a produção de alimentos (leite, sorvete, maionese,
temperos etc), produtos de limpeza (sabão em pó, alvejantes etc) e produtos de higiene pessoal
(desodorantes, creme dental, sabonete etc.). A empresa multinacional com sede na Holanda,
atua em diversos continentes, o que torna, especialmente em relação ao Mercosul, sua atuação
mais eficaz, pois é possível manejar os estoques em conformidade com as demandas regionais.
Não é por acaso que encontramos no varejo uma infinidade de produtos que vão da alimentação
até brinquedos, o que indica o grau de internacionalização de nossa economia.
O que deduzimos da análise é que estar próximo da matéria-prima (grãos, minérios, leite,
carnes etc) ou de uma agroindústria que processa óleos ou leite nem sempre garante o menor
preço no varejo. Valorização cambial, problemas de ordem fitossanitária e/ou climática podem
resultar em menor oferta interna. Isso ocorreu em parte do ano de 2010, quando oscilações no
valor do dólar influenciaram não apenas a comercialização de produtos primários, mas também
a decisão de proprietários de investir em determinadas cultivos. O fato é que a decisão de
investir em determinadas culturas ou ampliar o plantel bovino também está condicionada aos

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fatores cambiais. Com o dólar em alta, os produtos primários são valorizados, o que implica,
também, em aumento nos insumos importados, assim como em bens de produção, o que
reverbera no setor industrial. São questões conjunturais, de uma economia globalizada, que têm
relação direta com o chão do consumidor.
Se observarmos a cesta básica brasileira, composta por produtos como carne, feijão,
arroz, farinha, açúcar, café, batata, tomate, óleo, constatamos que tanto a matéria-prima quanto
a indústria de transformação desses produtos estão presentes em diferentes regiões do território
goiano. Tal fato, no entanto, não é suficiente para conter os sucessivos aumentos, a exemplo do
açúcar, que teve variação de 25,17% entre 2009 e 2010, e da carne, com variação de 33,67% no
mesmo período (DIEESE, 2010). A contrapartida do modelo econômico que torna o território
goiano competitivo no cenário nacional, além dos passivos ambientais, são os altos preços
registrados no varejo.

Tabela 05 - Goiânia: custo da cesta básica


Gasto Mensal R$
Produtos Quantidades Variação %
Nov.2009 Nov.2010
Carne 6 kg 66,3 88,62 33,67
Leite 7,5 l 12,98 15,3 17,87
Feijão 4,5 kg 10,35 21,02 103,09
Arroz 3 kg 5,07 5,43 7,1
Farinha 1,5 kg 2,6 2,97 14,23
Batata 6 kg 11,4 9,9 -13,16
Tomate 9 kg 19,62 11,43 -41,74
Pão 6 kg 38,16 42,3 10,85
Café 600 g 6,3 6,57 4,29
Banana 7,5 dz 15,08 12,6 -16,45
Açúcar 3 kg 4,53 5,67 25,17
Óleo 900 ml 2,41 2,54 5,39
Manteiga 750 g 11,15 11,96 7,26
Total da cesta 205,95 236,31 14,74
Fonte: DIEESE (2010)

No início nos perguntados se ainda é possível imaginar um perfil regional para a economia
goiana. É claro que, se observarmos o mercado de consumo, é indiscutível sua concentração
no eixo da BR-060, entre Goiânia, Anápolis e Brasília. De certa forma fomos condicionados
a estabelecer uma leitura regional, sem, contudo, indagar os recortes e assim observamos o
Entorno do Distrito Federal como uma ampla área de expansão urbana ocupada por um terciário
dependente de Brasília, o Nordeste Goiano como uma região de menor densidade demográfica
e agricultura tradicional, o Sudoeste Goiano como uma espécie de celeiro estadual e o Norte
Goiano a partir da pecuária e da mineração. Essa visão reflete apenas uma parte da geografia
regional e muitas vezes cristaliza representações regionais, dificultando a compreensão das

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verdadeiras transformações em curso. Menos a noção de região e mais a técnica de regionalização
deve ser revista.14 A ideia de permanência não corresponde mais ao tempo que dilui o “edifício
regional”. Santos (1997, p. 197) escreve:
As condições atuais fazem com que as regiões se transformem continuamente, legando,
portanto, uma menor duração ao edifício regional. Mas isso não suprime a região, apenas
muda o conteúdo. A espessura do acontecer é aumentada, diante do maior volume de
eventos por unidade de espaço e por unidade de tempo. A região continua a existir, mas
com um nível de complexidade jamais visto pelo homem.

Na verdade, convivemos com uma economia cada vez mais dependente de questões
conjunturais e isso tem toda relação com a diferenciação regional. Economia e política,
portanto, formam os insumos necessários para a compreensão do processo de globalização e
seus rebatimentos regionais. Mas não podemos limitar nossos olhares apenas para integração
econômica, afinal, no chão da fazenda, assim como no chão da fábrica, a produção se realiza
a partir da exploração do trabalho. Desse modo, tanto cortadores de cana-de-açúcar quanto
trabalhadores de montadoras terceirizados, inserem-se na mesma lógica global de produção
e realização do valor. Uma geografia econômica útil deve ser capaz de ultrapassar a análise
abstrata e revelar, no horizonte do cotidiano, as contradições que emergem desse modo de
produzir o território.

Notas
1. Segundo Santos (1979. p.16), “O circuito superior originou-se diretamente da modernização tecnológica e seus
elementos mais representativos hoje são hoje os monopólios. O essencial de suas relações ocorre fora da cidade e da
região que os abrigam e tem por cenário o país ou o exterior. O circuito inferior, formado de atividades de pequena
dimensão e interessando principalmente às populações pobres, é, ao contrário, bem enraizado e mantém relações
privilegiadas com sua região”. A formulação da teoria dos dois circuitos data da década de 1970. Como expressa
o autor, sua relação com a modernização é determinante, o que significa que devemos considerar, atualmente, o
próprio estatuto da modernização técnica, o que altera, em alguns fatos, a teoria. Para uma reflexão crítica sobre
essa teoria, consultar Maia (1999)
2. Furtado (1983, p.05) assim sintetiza os dois principais marcos teóricos da teoria do desenvolvimento econômico.
“A teoria do desenvolvimento trata de explicar, numa perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do
aumento persistente da produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da produção e na forma
como distribui e utiliza o produto social. Esta tarefa explicativa projeta-se em dois planos. O primeiro – onde
predominam as formulações abstratas – compreende a análise do mecanismo propriamente dito do processo de
crescimento, o que exige a construção de modelos ou esquemas simplificados dos sistemas econômicos existentes,
baseados em relações estáveis entre variáveis quantificáveis e consideradas de importância relevante. O segundo
– que é o plano histórico – abrange o estudo crítico, em confronto com uma realidade dada, das categorias
básicas definidas pela análise abstrata. Não basta construir um modelo abstrato e elaborar a explicação do seu
funcionamento”.
3. A divulgação dos quadros estatísticos econômicos, demográficos e sociais requer a adoção de recortes que
facilitem sua comparação temporal e espacial. Quem se dispõe a trabalhar com os quadros estatísticos brasileiros se
depara com diferentes modos de agregação estatística, o que foi resultado das formas de divisão administrativa e da
regionalização adotadas ao longo dos tempos. Em 1872, ainda quando Goiás era Província, os dados populacionais
foram agregados a partir da divisão em Parochias, como a de Santana de Goyas e a do Divino Espírito Santo de
Entre Rios. Naquele período, as informações populacionais ainda incluíam o número de homens livres e escravos
(BRASIL, 1872). Os Recenseamentos da década de 1920 apresentavam informações nos níveis estaduais e
municipais. No Censo Demográfico de 1940 encontramos informações sobre a população de fato, população de
direito e moradores presentes na data do censo. No Censo demográfico de 1960, além dos municípios, a novidade
foi a agregação das informações nas chamadas zonas fisiográficas. Goiás foi regionalizado em 11 dessas zonas, das

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quais a mais conhecida é o Mato Grosso de Goiás. Em 1970, as zonas fisiográficas deram lugar à microrregiões
homogêneas e Goiás foi regionalizado em 15 regiões. Atualmente o IBGE utiliza as microrregiões geográficas e
as mesorregiões geográficas.
4. Em algumas regiões brasileiras ainda sobrevivem práticas de transformação e armazenamento de gêneros
alimentícios típicos das fazendas tradicionais. A carne de lata e a fabricação de sabão a partir da banha do porco
são exemplos. No primeiro caso, a carne do porco, depois de frita, é depositada em recipientes, geralmente
latas de 18 litros, com banha derretida que logo endurece, conservando a carne por meses. O sabão, por sua
vez, é fabricado a partir do derretimento da banha do porco com a inserção de soda cáustica. Essas atividades
marcaram a paisagem da fazenda tradicional e formaram, juntamente com as manifestações culturais e as práticas
produtivas e de criação, um modo de vida que perdurou em parte significativa do território goiano até bem pouco
tempo. O uso intensivo de tecnologia, a monocultura, o assalariamento, entre outros processos, substituíram essas
práticas. Difícil imaginar que trabalhadores assalariados de uma grande propriedade de cultivo de soja ou mesmo
de cana-de-açúcar, por exemplo, dediquem tempo para o processamento da gordura do porco, quando o mais
comum é adquirir óleos vegetais na cidade. Não se trata de uma escolha do trabalhador, mas de uma estratégia
de maximização da exploração da mão-de-obra no campo, agora dedicada às culturas consideradas lucrativas
pelos grandes grupos econômicos. Mas não deixa de ser irônico que a carne de lata, atualmente, seja uma iguaria
valorizada no mercado nacional.
5. O Mato Grosso de Goiás é caracterizado por Faissol (1952) como “... uma extensa região florestal situada na
parte centro-sul do Estado de Goiás. A área de mata original ainda não esta calculada precisamente, mas pode-se
avaliá-la em mais ou menos 20.000 quilômetros quadrados. Ela começa nas proximidades da cidade de Anápolis
e continua até o oeste até a base da serra Dourada, na região do Córrego do Ouro; no sentido norte-sul, vai das
proximidades de Goiânia até um pouco ao norte de Itapaci. Abrange parte dos municípios de Anápolis, Pirenópolis,
Jaraguá, Anicuns, Goiás, Mataúna, Itaberaí e Itapaci. Os municípios de Trindade e Inhumas estão inteiramente
dentro da mata. Sua forma é irregular, com reentrâncias e saliências e com algumas manchas de campo cerrado
dentro da mata. O nome ´Mato Grosso de Goiás´ foi dado por extensão a toda a região ora estudada, em virtude
de já existir esta denominação para a parte central (municípios de Inhumas, Itaberaí, Anápolis, Trindade, Goiânia
e parte de Jaraguá). A origem do nome esta ligada ao tipo de vegetação e mais particularmente ao contraste que
ele forma em relação ao resto da paisagem. Desde o tempo que Saint-Hilaire percorreu esta zona, e provavelmente
mesmo antes, já se conhecia esta parte do Estado como sendo ´Mato Grosso´” (FAISSOL, 1952, p.7).
6. Em Waibel (1958) e Faissol (1952) encontramos referências ao processo de ocupação desencadeado pela Colônia
Agrícola Nacional de Ceres, fundada em 1943. Entretanto, a maior marca da colônia foi a herança da estrutura
agrária regional, menos concentrada do território goiano, e o perfil da população, influenciado pela migração de
mineiros. Uma pesquisa contemporânea sobre a região é encontrada em Castilho (2009).
7. “De modo geral, o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K) são os nutrientes com a maior representatividade
econômica para as indústrias de fertilizantes, de modo que outros nutrientes utilizados no processo produtivo – em
função da baixa quantidade demandada – não possuem expressão para o setor.” (CARVALHO, 2008, p.4)
8. “O art. 2º, do Decreto n. 75.593, de 14 de novembro de 1975, que institui o Pró-Alcóol, consta: “A produção do
álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo será incentivada através da expansão
da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produtividade agrícola, da modernização e
ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas,
e de unidades armazenadoras”. (BRASIL, 1975)
9. De acordo com relatório gerencial do FCO, entre janeiro e setembro de 2010 foram contratados 25.435 projetos,
no valor total de 1.128.589 mil reais. Desse total, 552.138 mil foram destinados ao setor empresarial e 576.451 mil
ao setor rural. Nesse mesmo período, o montante representou 38% do total destinado ao Centro Oeste. (BANCO
DO BRASIL, 2010)
10. “Principal eixo de conexão ferroviária entre as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, a FCA é
controlada pela Vale, que detém 99,9% de suas ações. Criada em 1996, com o processo de desestatização da Rede
Ferroviária Federal (RFFSA), a FCA opera aproximadamente 12 mil vagões e 500 locomotivas monitoradas via
satélite (GPS). Em seus 8023 quilômetros de extensão, a ferrovia passa por 316 municípios em sete estados brasileiros
(Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia, São Paulo) e no Distrito Federal. Atualmente,
a FCA se destaca como um importante corredor logístico de carga geral. Com acesso a portos localizados nos
estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, a malha da ferrovia está na área de influência do Terminal Marítimo
Inácio Barbosa, em Sergipe. A FCA também está interligada com as principais ferrovias brasileiras, permitindo
a conexão com os maiores centros consumidores do país. A variedade de vagões utilizados na ferrovia permite o
transporte de produtos diversificados com a máxima segurança. Entre eles, álcool e derivados de petróleo, soja,
cimento, ferro-gusa, bauxita, clínquer, fosfato e cal, além de produtos siderúrgicos e petroquímicos.” In: http://
vale.com. Acesso em 18/08/2010.

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11. “Mais recentemente, tem aumentado a produção obtida na safrinha, ou segunda safra. A safrinha refere-se ao
milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce,
predominantemente na região Centro-Oeste e nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Verifica-se nas
últimas safras, um decréscimo na área plantada no período da primeira safra, mas que tem sido compensado pelo
aumento dos plantios na safrinha e no aumento do rendimento agrícola das lavouras de milho. Embora realizados
em uma condição desfavorável de clima, os sistemas de produção da safrinha tem sido aprimorados e adaptados a
essas condições, o que tem contribuído para elevar os rendimentos das lavouras também nessa época.”. In: http://
www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_6_ed/index.htm.
12. “A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estabelecida pela Constituição de 1988,
em seu Art. 20, § 1º, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração
da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios.
As alíquotas aplicadas sobre o faturamento líquido para obtenção do valor da CFEM, variam de acordo com a
substância mineral. Aplica-se a alíquota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio. Aplica-
se a alíquota de 2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias. Aplica-se a alíquota de 0,2% para: pedras
preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais nobres. Aplica-se a alíquota de 1% para: ouro.” In.:
http://www.dnpm.gov.br/.
13. A micro empresa é considerada aquela com faturamento igual ou inferior a 240.000,00 reais e a pequena
superior a 240.000,00 e inferior a 1.800,000,00. (GOIÁS, 2010)
14. Para um estudo sobre a relação entre região e regionalização, consultar Haesbaert (2010).

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Urbanização
Conceito de urbanização
Relatório da Organização das Nações Unidas sobre a situação da população mundial,
publicado em 2007, constatou que, em 2008, a maior parte da população mundial vivia em
cidades (ONU-Habitat, 2007). Considerando os países europeus e americanos, a informação
não causa espanto. O destaque, entretanto, é para a África e a Ásia, que terão suas populações
duplicadas até o ano de 2030. A projeção para a Ásia, no ano de 2050, é de 5,2 bilhões de
habitantes e, para a África, 1,93 bilhões, números preocupantes, dado o déficit de serviços
básicos, infraestrutura urbana e moradia em muitos países localizados nesses continentes. No
Brasil, projeções da mesma natureza confirmam o processo diagnosticado estatisticamente pela
primeira vez na década de 1970, quando a maior parte da população brasileira passou a viver
em cidades. As duas constatações direcionam para o incremento populacional em aglomerações
urbanas, muito embora se referindo a formações espaciais diferentes e, por isso, a análise dos
fatores da urbanização não pode estar deslocada dos condicionantes econômicos e sociais das
respectivas formações territoriais.
Dois debates são recorrentes quando nos referimos aos fatores da urbanização. O
primeiro debate relaciona a urbanização ao processo de industrialização, indutor da migração dos
espaços rurais. Nessa narrativa, os países europeus foram considerados aqueles de urbanização
arcaica, e os países subdesenvolvidos os de urbanização precoce.1 Tal debate teve como pano
de fundo a caracterização das redes urbanas (integração territorial por meio da infraestrutura
de transporte e comunicações, por exemplo) e o incremento demográfico, com a formação de
grandes aglomerados urbanos em conseqüência da articulação entre modernização do campo
e industrialização, perspectiva de análise encontrada em Santos (1965, 1982) e Singer (1987).
O segundo debate é sobre o significado do termo urbanização, importante, pois a análise do
processo não se furta à utilização dos quadros estatísticos, como alertado por Geiger (1963),
George (1983) e Clark (1981). Todavia, a utilização dos quadros estatísticos, em séries temporais
e espaciais, sem a devida contextualização histórica e metodológica, pode induzir ao erro e
o primeiro deles é aquele que reduz o conteúdo da urbanização à representação estatística.
O problema é que os estudos comparativos demandam categorias e padrões estatísticos
universalizantes, o que coloca o pesquisador na difícil tarefa de lidar com fontes secundárias,
muitas vezes desatualizadas e metodologicamente díspares, para pensar processos em constante
mutação.

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Urbanização

É fundamental relacionar o quadro da urbanização mundial aos processos políticos e econômicos


e à ação do Estado nacional, pois a crescente concentração de população em áreas urbanas exige
sua presença para atender as demandas de serviços básicos e infraestrutura urbana, típicas, em
algumas formações sociais, do chamado Estado do Bem-Estar-Social. Vejamos o caso brasileiro.
A partir da década de 1930, o Estado começa a montar uma rede de assistência pública para
população nas áreas de educação e saúde, além de programas de infraestrutura urbana e serviços
sociais. Essa trajetória que data do início do século XX acompanha, de certa forma, a cultura
política urbana brasileira, especialmente com a chamada universalização de serviços de saúde
e educação. Mas o fato é que, apesar da universalização e, mais recentemente, programas de
moradia para população de baixa renda, parte significativa das grandes cidades brasileiras ainda
apresenta déficit habitacional e problemas de oferta de serviços básicos e infraestrutura urbana.
Quando comparamos, por exemplo, a situação brasileira com a de alguns países da África e
Ásia, especialmente aqueles inscritos na paisagem política pós-colonial, ficamos a imaginar o
significado trágico da urbanização, uma vez que as demandas de infraestrutura básica estão cada
vez mais distantes de serem atendidas, a exemplo de Jacarta, retratada na figura. Davis (2006)
oferece um retrato nada animador desse universo no livro Planeta Favela.

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De modo geral, entre os sentidos mais usuais do termo “urbanização”, encontramos:
a) O sentido normativo, que implica em averiguar, em cada país, o significado do urbano
a partir de critérios que variam entre a localização e A extensão do sítio urbano,
a densidade demográfica ou mesmo o número de habitante. O domicílio, portanto,
passa a ser determinante, pois, para diferenciar um habitante urbano de um habitante
rural, basta que o primeiro resida em áreas definidas legalmente como urbanas. Desse
fator, então, resultam diferentes definições de áreas urbanas. Há países que adotam
tipologias a partir de um número “X” de habitantes, como Angola e Bélgica, e outros
cruzam densidade demográfica com tamanho populacional, a exemplo dE Canadá e
Estados Unidos (ONU, 2007). No Brasil, é considerada população urbana toda aquela
que reside em cidades (sede do município) ou em vilas (sede do distrito). Como
se percebe, a densidade demográfica e o perfil das ocupações profissionais não são
considerados, o que significa que, estatisticamente, um morador da cidade de Anamã,
no Amazonas, com população de 9.833 habitantes, em 2010, é tão urbano quanto
um residente da cidade de São Paulo, com 10.659.386 habitantes (BRASIL, 2011).
De modo similar, os 119.126 residentes da área rural do município de São Paulo
são considerados rurais, da mesma forma que aqueles que residem na zona rural do
município de Anamã, duas realidades bastante diversas. Essa definição originou-se
do Decreto Lei n.311 de 02 de março de 1938 (BRASIL, 1938).
b) O sentido morfológico, que é usado para diferenciar áreas a partir da presença no
sítio urbano de infraestrutura e de serviços classificados como “urbanos”. No caso
brasileiro, há uma determinação legal de que alguns serviços (telefonia urbana,
coleta de lixo urbana etc.) e infraestrutura (asfalto, iluminação pública, esgotamento,
água tratada etc) estejam circunscritos ao perímetro urbano, o que reforça a visão
de que os espaços rurais, por definição, são arcaicos, atrasados e não necessitam de
infraestrutura e equipamentos de consumo coletivo. Assim, a urbanização passa a ser
sinônimo da expansão desses serviços, fato demonstrado com frequência em planos de
ordenamento urbano. No site da Prefeitura de São Paulo encontramos, por exemplo,
o seguinte informe: “Paraisópolis: Projeto de urbanização transformará a favela
de Paraisópolis em Bairro” (SÃO PAULO, 2009). A ideia é que os investimentos
no sistema viário, a pavimentação de ruas e vielas, além de programas de moradia,
mudarão o perfil da comunidade, o que dota o termo urbanização de positividade,
especialmente nos discursos políticos.
c) O sentido cultural, que nasce da compreensão de que existe uma especificidade na
cultura urbana. A análise é produto de uma tradição que considera a existência de
uma oposição entre campo e cidade que seria resultado do processo de fragmentação
da vida cotidiana urbana, em oposição à cultura rural, mais coesa e movida por
tradições e tempos de trabalho distintos. Identificamos em algumas dessas leituras
certo romantismo que nasce, justamente, da negação da cidade. A visão de oposição
fomentou, tanto na literatura e na música quanto na política, uma espécie de fobia da

- 66 -
grande cidade, identificada como lugar de relações impessoais. Nesse caso, a cidade é
quase sinônimo da grande metrópole, visão próxima daquela apregoada por Howard
(2002) no século XIX, quando propôs o chamado Diagrama dos Três Imãs, agrupando
o melhor da cidade e o melhor do campo. Na verdade, como demonstrou Souza (2006),
tanto cidade quanto campo, ao longo do século XIX, serviram como plataformas de
discursos e diagnósticos sobre as saídas para a sociedade capitalista, o que serviu
tanto para progressistas quanto para conservadores. De modo geral, a relação campo-
cidade ou passa a ser de oposição ou mesmo de subordinação (uma vez que as cidades
irradiariam sistemas de valores hegemônicos) e não de complementaridade, o que
torna o conceito de cultura estático e, por vezes, despolitizado.2
d) O sentido territorial, que compreende a urbanização como um processo e o crescimento
urbano como seu sintoma. Trata-se, na verdade, de um processo de integração
territorial, o que implica em considerar, no conceito de urbanização, a modernização da
infraestrutura (energia, comunicações e transporte) e a integração mercantil (ampliação
das trocas comerciais entre diferentes regiões) como condição sine qua nom para a
realização da produção no ambiente capitalista. A urbanização esteve, especialmente
nos primórdios da Revolução Industrial, associada ao sistema de redes de transporte
(viário e naval), que garantia a articulação entre as cidades e a mobilidade de mão-
de-obra, como ocorreu na Inglaterra vitoriana. Santos (1996), analisando um período
mais contemporâneo, escreveu sobre a urbanização do território, compreendida
como difusão da modernidade nas cidades, independentemente, muitas vezes, do
peso demográfico. A visão reconhece que existem especificidades do meio rural, mas
que são compreendidas a partir do processo de reprodução do capital, que enxerga
o rural e o urbano como espaços integrados. A formação de um mercado integrado,
a ampliação das trocas comerciais, a articulação entre firmas, podem ocorrer tanto
a partir do rural para o urbano quanto do urbano para o rural. Existem argumentos
teóricos para essa linha que podem ser encontrados em Lefebvre (1991, 1999) e Carlos
(2004) e evidências empíricas alinhavadas sobre as refuncionalidades dos espaços
rurais, especialmente por Silva e Grossi (2000, p. 170). Segundo esses autores:
Esse ´novo rural´ como bem o temos denominado, pode ser também resumido em três
grandes grupos de atividades: a) uma agropecuária moderna, baseada em commodities
e intimamente ligada às agroindústrias; b) um conjunto de atividades não agrícolas,
ligadas à moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestação de serviços;
c) um conjunto de ´novas´ atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de
mercados”.

Enfim, para além da análise estatística, o debate sobre a urbanização nos coloca diante das
transformações do mundo contemporâneo e requer uma fuga das armadilhas maniqueístas entre
rural e urbano, pressupondo, igualmente, a necessidade de observar o processo de produção e
reprodução do espaço na escala mundial e local. Castells (1983), no posfácio de A Revolução
Urbana, ao fazer referência à oposição campo-cidade, coloca:

- 67 -
Mas então não existiria mais separação entre ´cidade´ e ´campo´? É a ´urbanização
generalizada´? Na realidade, esta problemática não tem sentido (outro que ideológico)
como tal, colocada nos termos em que se coloca mais frequentemente. Porque ela
pressupõe já a distinção e mesmo a contradição entre rural e urbano, oposição e
contradição que não tem sentido no capitalismo. Os espaços de produção e consumo na
fase monopolista do capitalismo estão fortemente interpenetrados, imbricados, segunda
a organização e o desenvolvimento desigual dos meios de produção e dos meios de
consumo, não se fixando enquanto espaços definidos senão num dos pólos da divisão
social ou técnica do trabalho.

Em Goiás, mesmo no início do século XX, era possível reconhecer as relações de


complementaridade entre cidade e campo, entre o universo da fazenda e o universo da rua,
sinônimo de cidade. De lá para cá, com a implantação de redes de circulação e comunicação,
com o aprofundamento das trocas regionais, nacionais e internacionais, as relações entre campo
e cidade aumentaram em densidade e complexidade, ao ponto de ser difícil, ao menos que se
adote uma visão formalista, reconhecer fronteiras rígidas entre o campo e a cidade. Em muitos
casos, essa fronteira esteve relacionada à ideia do atraso, de vazio populacional, de estagnação,
visão que não coaduna com a realidade heterogênea dos espaços rurais contemporâneos.
De igual forma, não é possível separar os estudos sobre a urbanização dos estudos sobre a
rede urbana, pois essa última fornece uma leitura territorial a partir das funções urbanas, na
proporção que representa a cidade para além do sítio urbano, o que favorece a compreensão
das relações urbano-rural-regionais. É a partir dessa linha de argumentação que analisaremos
a urbanização do território goiano, mesmo porque estas relações foram precondição para a
incorporação econômica, mesmo que em situação periférica, ao mercado nacional.

Primórdios da urbanização
Na genealogia do território goiano, a década de 1970 aparece em destaque nas
abordagens econômica e geográfica, fato justificado pela observação das tendências dos Censos
Demográficos de 1960 e 1970, que apontavam cenários detectados na década de 1980, quando
a maior parte da população do território goiano passou a residir em cidades e vilas.3 Naquele
período, confirmaram-se as taxas de crescimento demográfico acima da média nacional. Era
como se, a cada divulgação dos resultados do censo demográfico, o território goiano adquirisse
conteúdo diferente pelos filtros estatísticos. A interpretação normativa obliterou e, em alguns
casos, substituiu as interpretações processuais com foco no território. A partir de algum lugar
na década de 1970 passamos a incorporar o adjetivo urbano e observar certo discurso moderno
nas discussões políticas. Enfim, ao mesmo tempo em que se enterrava o atraso representado
pelas oligarquias regionais agrárias, festejava-se a urbanização pela via da modernização.
A compreensão faz sentido, especialmente quando observamos o que Santos (2003, p.23)
compreende por urbanização:

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A urbanização é simultaneamente um resultado e uma condição do processo de difusão
do capital. Este destrói autarquias regionais ao penetrá-las e provoca uma especialização
especulativa de acelerar as operações monetárias, as quais crescem em conseqüência
das necessidades do capital. A desintegração das economias regionais, assim como
sua extroversão, gera a concentração urbana, com efeitos cumulativos que as mais das
vezes resultam no fenômeno da macrocefalia. A população que lota estas cidades em
rápido crescimento constitui mão-de-obra barata e, por sua mera presença, garante
o estabelecimento de um estoque de capital fixo que é indispensável a uma maior
lucratividade de empreendimentos industriais. (2003, p.23)

A Figura 21 oferece uma síntese desse argumento para o Brasil, do mesmo modo que
a Figura 22, o serve para o território goiano-tocantinense. Diferentemente do Brasil, a curva
urbana ganha destaque no território goiano-tocantinense entre as décadas de 1970 e 1980,
quando a população rural chegou a 1.459.076 habitantes, representando um decréscimo de
242.493 habitantes, em contraposição ao acréscimo de 1.163.990 no urbano. Em 1970, a
população urbana representava 42,1% do total, passando para 62,2% em 1980. Todavia, é
preciso advertir que a Figura 22 inclui o Estado do Tocantins, o que valoriza a participação
rural, já que os municípios da parte setentrional do antigo território goiano-tocantinense tinham
uma participação relativa na população rural maior que na porção meridional e central. A Figura
23, excluídos os municípios do Estado do Tocantins, desmembrado em 1988, oferece um retrato
mais aproximado do que aconteceu abaixo do paralelo 13°. Entre 1970 e 1980 ocorreu um
acréscimo de 967.033 pessoas no meio urbano e um decréscimo de 314.852 no meio rural.

Figura 21 - Brasil: evolução da população rural e Figura 22 - Goiás: evolução da população rural e
urbana urbana

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Figura 23 - Goiás: população por local de residência

O impacto da migração do campo para a cidade, via de regra, implicou no aumento


da concentração fundiária no campo e no déficit habitacional nas cidades. Os processos de
valorização fundiária (rural e urbano) são consequências da urbanização. Nesse momento,
os interesses antagônicos de atores sociais, como os migrantes e os proprietários fundiários,
começam a se manifestar no urbano.
Mas qual o significado e quais os motivos do incremento populacional nas cidades?
Um primeiro dado a avaliar são as diferenças na fecundidade rural e urbana que
acompanharam, de certa forma, as taxas brasileiras. No Brasil, na década de 1970, a fecundidade
rural era de 7.8 enquanto a urbana 4.7, padrão próximo daquele verificado em Goiás, com 7.5
para o meio rural e 5.2 para o urbano (BRASIL, 1970). A conclusão é que, mesmo com maior
fecundidade no meio rural, ocorreu um decréscimo populacional de 314.852 pessoas. Então a
fecundidade no meio urbano não seria suficiente para explicar o acréscimo de 967.033 pessoas,
fato que anuncia a migração como fator preponderante. Trata-se da migração campo-cidade
estadual e da migração campo-cidade interestadual, bem como cidade-cidade interestadual.4
Outro ponto a considerar é a fragmentação municipal e a criação de áreas urbanas.
Os resultados apresentados no Censo Demográfico de 1980 indicam população urbana para
municípios que não existiam na década anterior, perfazendo um total de 78.824 pessoas
residentes no urbano. Entretanto, é preciso observar o impacto das fragmentações das décadas
anteriores, pois existe uma correlação entre a conversão das áreas urbanas e a consolidação de
áreas de povoamento, a exemplo do Vale do São Patrício. Em 1970, haviam 169 municípios em

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Goiás. Desse total, 35 foram criados em 1953 e outros 39 no ano de 1958, sendo a maior parte
instalada na região do Mato Grosso de Goiás. É possível que a criação de municípios tenha
sido estimulada pela promulgação da Constituição de 1946, que incluiu, além da autonomia
municipal, dispositivos de repartição de recursos uniformes no território brasileiro. Conforme
consta no Art.15, § 4º,
A União entregará aos Municípios, excluídos os das Capitais, dez por cento do total
que arrecadar do imposto de que trata o nº IV, feita a distribuição em partes iguais e
aplicando-se, pelo menos, metade da importância em benefícios de ordem rural.

O imposto a que se refere o §4º é o de renda e proventos de qualquer natureza. É


compreensível, portanto, que a tendência de crescimento tenha reflexo no território nacional,
uma vez que entre 1940 e 1963 foram criados mais de 600 municípios no Brasil. O exemplo
descrito ilustra como uma ação normativa influencia a distribuição de recursos no território.
Mas ainda existem os ingredientes regionais, que permitem compreender a concentração
populacional no Mato Grosso de Goiás. A colonização oficial, por meio da Colônia Agrícola
Nacional de Goiás (CANG), que deu origem ao município de Ceres, a oferta de terras baratas
e férteis em toda região, a ebulição da fronteira, demonstrada pela chegada dos trilhos à cidade
de Anápolis, em 1935, e a posterior ligação, por via terrestre, para o sentido norte, com a
construção da BR-153, favoreceu um intenso povoamento por meio da migração e do posterior
processo de emancipação municipal. Essa trajetória foi comum em municípios da região, a
exemplo de Ceres, Rialma, Rubiataba, Carmo do Rio Verde, Uruana.
França (1985, p.81) diferencia esse povoamento em dois momentos, adjetivando a
região de “Velho Mato Grosso de Goiás” e “Novo Mato Grosso de Goiás”. Sua argumentação
é precisa:
Até 1910, as terras do Velho ´Mato Grosso´ foram praticamente apropriadas pelas
formação de grandes fazendas. A partir de então, com o início da construção da ferrovia
e na medida em que ela foi se aproximando, as terras se valorizaram. Os antigos
proprietários se viram diante de duas alternativas: aproveitar altos preços e realizar
vantajosos negócios de terra ou integrar-se no movimento de abertura de novas formas
de cultivo. Abria-se, dessa maneira, o mercado de terra com o parcelamento dos antigos
latifúndios, geralmente conhecidos como engenhos.

O “velho” Mato Grosso de Goiás correspondia à região de influência direta de Goiânia e


o “novo” às regiões de Ceres, Jaraguá e Goianésia. Outro ponto fundamental para o povoamento
foi, sem dúvida, a cidade de Anápolis. Não por acaso seu acréscimo urbano, entre 1970 e
1980, só tenha sido menor que aquele registrado na capital. Faissol (1952) descreve que essas
transformações econômicas influenciaram o movimento da cidade, citando, por exemplo, o
“licenciamento de até duas construções por dia”.
O aspecto mais interessante da urbanização goiana, entre as décadas de 1960 e 1980, foi a
concentração espacial da população. Em 1960, a maior parte da população urbana concentrava-

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se em cidades da parte meridional do Estado. Considerando a década de 1970, as 10 cidades
com maior população urbana concentravam 55,21% da população urbana total do Estado. Em
1980, a porcentagem passou para 56,79%. Então, mesmo em 1970, quando o estado ainda
abrigava a maior população rural, a concentração manteve-se no mesmo patamar. A mudança
ocorreu nos demais municípios, uma vez que em 1970, dos 169 municípios goianos, em apenas
22 a população urbana era maior que a rural. Em 1980, 95 dos 199 municípios registraram
população urbana maior que a rural, o que contribuiu para o maior acréscimo no total urbano.

Tabela 06 - Goiás: população residente, municípios selecionados – 1970/1980


População População 1970 População 1980
Município
total 1960 Total Urbana Rural Total Urbana Rural
Goiânia 150.306 389.784 371.772 18.012 714.484 702.858 11.626
Anápolis 63.029 107.539 93.063 14.476 180.015 163.132 16.883
Itumbiara 48.979 64.666 34.343 30.323 73.177 59.024 14.153
Rio Verde 36.980 56.740 27.681 29.059 69.902 54.691 15.211
Jataí 27.985 42.772 27.864 14.908 53.387 42.909 10.478
Goianésia 23.042 41.352 14.524 26.825 32.887 23.526 9.361
Morrinhos 23.237 32.085 14.278 17.807 --- --- ---
Inhumas 21.985 30.444 16.786 13.658 31.423 23.568 7.855
Catalão 23.499 27.809 15.674 12.135 39.168 30.605 8.473
Trindade 13.265 22.749 13.972 8.777 43.296 29.645 13.651
Luziânia 23.247 --- --- --- 80.089 67.297 12.792
Total 455.554 815.940 629.957 185.983 1.317.828 1.197.345 120.483
Fonte: Brasil (1970, 1980)

A Tabela 06 serve de exemplo para uma leitura do conteúdo regional da urbanização, de


forma que possamos reconhecer a hegemonia de Goiânia na oferta de trabalho, bens e serviços
que são vistos como oportunidades para migrantes que se destinaram à jovem capital político-
administrativa. Trata-se, portanto, do primeiro gatilho da urbanização do território goiano,
acionado pela migração campo-cidade estadual e pela migração campo-cidade interestadual.
Em 1970, os 10 municípios mais populosos concentravam 77,20% da população urbana total
do território goiano, percentagem que passou para 90,85% em 1980. O saldo positivo em favor
do urbano, no período de 1970 e 1980, tem muito da participação de Goiânia, já que a cidade
contribuiu com 331.086 pessoas em domicílios urbanos, o que representou 34,23% do total
da população urbana do território goiano (Figura 24). Quando somamos a contribuição de
Anápolis, o total passa para 41,07%, o que afirma uma das principais características do processo
de urbanização, que foi a concentração demográfica, fato imprescindível para o processo de
industrialização.
Não se trata apenas do descolamento de pessoas para as cidades, mas do efeito dessa
concentração que implicou na concentração de mão-de-obra e em novas relações de trabalho.

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Figura 24 - Goiás: população urbana e rural 1970

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Nas cidades mais populosas, a especialização funcional dos trabalhadores correspondeu à
fragmentação do espaço para moradia. A divisão do trabalho reverberou na divisão do espaço
e o cotidiano anunciou a emergência do urbano a partir da concentração dos elementos para
reprodução do capital e da força de trabalho. A cidade polariza na escala regional e cria, ao seu
tempo, centralidades na escala urbana. Lefebvre (1969, p.20) argumenta sobre o significado da
vida urbana:
A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e
reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronte ideológico e político) dos modos de
viver, dos padrões que coexistem na cidade.

Concentração, primeiramente, de pessoas, o que significa que Goiânia passou a estimular


demandas nas mesmas proporções, de capitais fixos, bens e serviços, de meios de informação
e da atividade política institucional. Enfim, de uma gama de atributos da modernização, tanto
materiais quanto imateriais, que passam a influenciar a produção do território goiano. A pouca
variação do padrão de concentração populacional indica que a gênese da atual rede urbana do
território já estava desenhada.
A partir de 1980, a migração para Goiânia passou a ser direcionada, num movimento
de segunda origem, para os municípios periféricos, como Aparecida de Goiânia, em função,
especialmente, da valorização fundiária na capital. Não por acaso Aparecida de Goiânia, em
1980, tenha presenciado um dos maiores incrementos relativos da população urbana, passando
de 898 pessoas em 1970 para 20.719 em 1980 e 175.555 em 1991 (BRASIL, 1991). O mesmo
movimento, em escala menor, ocorreu em municípios como Trindade e Senador Canedo. O
complexo regional urbano da Região Metropolitana de Goiânia passa a influenciar sobremaneira
a urbanização do território goiano.
O Entorno do Distrito Federal, região com matriz de ocupação colonial, se prepara para
uma das maiores transformações por que passou o território goiano. Em pouco tempo, ocorre
a conversão de áreas de pastagem e sítios urbanos de origem colonial a um padrão não apenas
urbano, mas metropolitano, já que os municípios se integram, em graus distintos, à capital federal.
A questão fundiária está no cerne dessa integração, pois o Entorno do Distrito Federal atendeu à
demanda não-solvável dos migrantes e da população de baixa renda do Distrito Federal. Vejamos
o caso de Luziânia. Em 1970, sua contribuição do urbano era de 9.521, passando para 67.297
em 1980 e 194.345 em 1991. A Figura 25 ilustra o processo de fragmentação territorial. Em toda
a região, no ano de 1980, a população urbana somava 152.683, passando para 370.939 em 1991,
o que correspondeu a 11,42% do total da população urbana do estado, superior aos 7,24% de
1980 e aos 3,73% registrados em 1970.5 A região concentrava a maior porcentagem em relação
à população não natural de nordestinos em 2000, fato confirmado no Censo Demográfico de
2010 (BRASIL, 2011). Processo semelhante ocorreu em Águas Lindas de Goiás, emancipada
em 1995, ano em que registrou população de 105.746 habitantes. A urbanização no Entorno do
DF esteve relacionada à polarização de Brasília, pois os serviços na área de saúde, educação
e mesmo comércio especializado (eletroeletrônicos, concessionárias etc), especialmente na

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Figura 25 - Goiás: microrregião do Entorno do DF, limites municipais em 1940 e 2005

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década de 1980, ainda eram bastante concentrados no Distrito Federal. Na última década, dois
processos são recorrentes em relação à urbanização do Entorno do Distrito Federal: o primeiro
é a presença de empreendimentos imobiliários nos municípios do quadrante sul, a exemplo de
Valparaíso de Goiás, que atendem à demanda solvável do Distrito Federal; o segundo ponto é a
construção de centralidades em municípios como Luziânia, Formosa, Cristalina, Santo Antônio
do Descoberto, que são resultado da dinâmica do mercado de serviços em associação com a
cadeia do agronegócio.6
O perfil da urbanização do Sudoeste/Sudeste Goiano foi marcado pela emergência
de cidades com mais de 50.000 habitantes e com destacado perfil agropecuário. Jataí e Rio
Verde, que apresentavam taxas de incremento urbano desde 1960, consolidam uma rede urbana
regional e presenciaram, ao lado do seu crescimento, o processo de conversão de áreas de
pecuárias extensiva em áreas de cultura temporária, o que exigiu, a partir da década de 1960,
intenso processo de tecnificação. São, portanto, resultados da modernização agrícola, pois a
mudança na estrutura regional ocorreu pela incorporação de insumos e implementos agrícolas
importados. No Sudoeste Goiano a migração de mineiros e paulistas foi determinante para o
arranjo regional. Itumbiara, no Sul Goiano, favorecida pela ligação com Uberaba, no Triângulo
Mineiro, desenvolveu-se na fronteira do rio Paranaíba como ponto de sustentação da atividade
agrícola, função aprofundada nas décadas posteriores. No Sul Goiano, formado pelas regiões
Sudeste e Sudoeste brasileiro, é que observamos com mais clareza o perfil de urbanização
marcada pela polarização do que podemos chamar de cidades funcionais, ou seja, cidades com
funções suficientemente concentradas para atender a um mercado regional, com a presença de
serviços especializados em nichos econômicos especificos, que podem ser agricultura, pecuária
ou mesmo mineração.
No Norte Goiano, o conjunto de cidades abaixo de 10.000 habitantes na década de
1970 e 1980 assistiu à consolidação da BR-153 adentrando o norte no sentido longitudinal.
Em pesquisa sobre a rede de influência do Norte Goiano, no ano de 2009, Arrais et al (2010)
constataram a densidade de relações de troca mercantis entre os pequenos municípios e, ao
mesmo tempo, as dificuldades enfrentadas pelas comunidades rurais em função, especialmente,
das condições de trafegabilidade das estradas intermunicipais. Porangatu, Uruaçu, Minaçu e
Niquelândia formam, por assim dizer, o quadro de influência regional, complementado pelos
municípios de Ceres, Goianésia e Jaraguá. As quatro primeiras cidades permaneceram, entre
1970 e 1991, com pouca variação da população, demonstrando quadros mais estáveis, com peso
no setor de serviços, do agronegócio e, particularmente, da mineração. Tais cidades inscrevem-
se no quadro de influência de Ceres e Goianésia.
Para além das 246 cidades dispersas no território goiano, há centenas de comunidades
reconhecidas por leis orgânicas municipais como distritos, povoados e aglomerados. A
toponímia dessas localidades revela a relação com a natureza, com o universo da fazenda e com
os aspectos religiosos. Nomes como Linda Vista (Cezarina), Alto Alegre (Mairiporã), Pedra
Funda (Vianópolis), Girassol (Cocalzinho de Goiás), Campo dos Perdizes (Buriti de Goiás),

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Lobeira (Paraúna), Santa Maria (Flores de Goiás, Campo Limpo (Campinaçu), Lagolândia
(Pirenópolis) são alguns exemplos da riqueza de denominações e do equivalente universo
de símbolos e sociabilidade que envolve essas comunidades e suas relações de troca com
as cidades. O universo de pequenas localidades, marcado pela religiosidade e pelo encontro
motivados pelo calendário festivo, vem recebendo atenção da geografia goiana, a exemplo de
Silva (2008), Curado (2011), Lobo (2011). Silva (2008, p.90-91), a partir de um estudo sobre
dois distritos goianos (Cibele e Caiçara), coloca algo interessante sobre a dinâmica da vida
dessas comunidades, que pode ser generalizada para parte significativa do território goiano:
Seja como vila, pouso, patrimônio-agrícola, povoados, ou até mesmo comércio, o que
caracteriza a existência desses lugares – além da indefinição da nomeação –, é justamente
a multiplicidade de funções que se traduzem, a cada tempo, nas diferentes atividades
neles exercidas. De certo modo, a convivência entre operações antagônicas: moderno/
rudimentar e exportação /subsistência sempre foi presença constante nestas vilas. A
religiosidade, a possibilidade do encontro e o estabelecimento de trocas comerciais e
de dádivas existenciais, a realização das festividades, de casamentos, enterros e demais
rituais domésticos - íntimos e sociais - coletivos produzem uma dinâmica social que se
recria a cada tempo, desenhando no espaço essas alterações.

É em um território pontilhado por aglomerados urbanos, cidades, vilas e povoados que o


urbano é anunciado no território goiano. Mas não um urbano que se constrói sob os escombros
do rural, e sim um urbano que se edifica a partir do rural e com o rural, seja por meio da conversão
de áreas rurais em áreas urbanas, seja a partir do consumo de insumos e maquinários ou mesmo
da demanda estimulada para atender as necessidades urbanas por alimentação, fornecimento
de energia, água, lazer etc. Se na sociedade contemporânea, como anotou Lefebvre (1991), a
técnica adquire um caráter determinante, então é possível imaginar que os elementos técnicos
que possibilitaram a modernização favorecem a complexificação das relações cidade-campo,
mesmo porque os espaços rurais são portadores de menor carga de rugosidades (Santos, 2007)
e, portanto, estão abertos às inovações.7

Urbanização contemporânea
A Tabela 07 ilustra situações homônimas, pois os municípios selecionados têm proporção
maior de população urbana. A análise normativa indica que todos os municípios são urbanos,
não revelando, porém, o conteúdo dessa urbanização, porque toma quadros estatísticos como
sinônimos da realidade. Ainda assim, a partir de argumentos distintos, podemos considerá-los
como urbanos.
Alto Horizonte, no Norte Goiano, é um dos 154 municípios goianos, segundo o Censo
Demográfico de 2010, com população abaixo de 10.000 habitantes (BRASIL, 2011). O
município figura entre aqueles com maior participação do setor industrial no Produto Interno
Bruto. O motivo está na mineração do cobre que o tornou, a partir de 2008, um dos maiores

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exportadores goianos. A mineração resultou em incremento da receita municipal e ampliação
dos equipamentos de consumo coletivo e infraestrutura urbana. A extração do cobre ocorre em
áreas que distam aproximadamente 10 km do perímetro urbano. Entretanto, é no perímetro
urbano que notamos os impactos sociais e econômicos da atividade. Um deles, facilmente
percebido em outros municípios com perfil minerador, como Nova Crixás, Crixás e Minaç, é
a valorização fundiária e o aumento nas locações de imóveis. O mercado de trabalho tornou-
se mais especializado em função das demandas da empresa mineradora, que passou a ser um
ator social hegemônico no município. Além da mão-de-obra local e regional, fato atestado
pela migração de pessoas de municípios vizinhos, há forte arrefecimento da economia local,
especialmente no setor de serviços, o que impacta na arrecadação do ISSQN (Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza). O repasse do CEFEM (Compensação Financeira pela
Exploração Mineral) representa incremento considerável na receita municipal. Para se ter
uma ideia, o valor da cota parte do CEFEM de Alto Horizonte do mês de fevereiro de 2010,
equivalente a R$ 1.357.739,26, foi superior ao repasse anual do Fundeb (Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação),
equivalente a R$ 869.703,66. Municípios com perfil de enclaves da mineração articulam-se
com o mundo por meio das trocas comerciais.

Tabela 07 - Goiás: população residente e pib, municípios selecionados


População – 2010 Participação no PIB por setor – 2009 (em mil)
Município
Total Urbana Rural Serviços Indústria Agricultura
Alto Horizonte 4.505 3.863 642 50.992 211.727 6.775
Alto Paraíso 6.854 5.202 1.662 22.285 3.507 8.890
Goianápolis 10.681 9.677 1.004 32.405 6.966 5.056
Rio Verde 176.502 163.621 12.881 1.448.776 1.062.206 273.425
Fonte: Brasil (2010), Goiás (2009).

O contexto de Alto Paraíso é semelhante ao da Cidade de Goiás e de Pirenópolis e


de outros municípios que utilizam dos atributos do sítio municipal para estimular o turismo
ecológico, histórico e/ou gastronômico. Uma característica marcante é a mobilidade de diversos
locais do país, assim como do exterior. Alto Paraíso de Goiás abriga o Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros, com presença de trilhas ecológicas, cachoeiras e formações rochosas
com caráter cênico. O discurso do ecoturismo, nascido de uma demanda urbana moderna,
funcionaliza espaços rurais e, por conseguinte, comunidades de pequenos agricultores passam
a agregar valor turístico a suas propriedades.
A análise do perfil ocupacional da mão-de-obra demonstra, ainda, destacada participação
nos setores de alimentação, hotelaria e serviços suplementares ao turismo. A cidade convive
com a influência de áreas como Brasília e Goiânia, além de uma agenda de eventos culturais
que a torna bastante freqüentada por turistas dos demais estados brasileiros. Outro ponto a
destacar nos municípios com perfil turístico refere-se à presença de domicílios ocasionais em

- 78 -
municípios com perfil turístico. Caldas Novas registrou, em 2010, o maior número absoluto
do território goiano e Rio Quente o maior número relativo, chegando a 45,7% do total de
domicílios, como demonstrado na Figura 26 (BRASIL, 2011). A segunda residência, portanto, é
um dado a ser considerado no estudo das relações cidade-campo, especialmente em municípios
com perfil turístico.

Figura 26 - Número de domicílios de uso ocasional, municípios selecionados, 2010

Goianápolis é um típico município inscrito na lógica metropolitana pelo viés da


agricultura. Sua área territorial, de 162 km2, não revela sua importância para a agricultura
metropolitana. Apesar de o município apresentar maior população urbana que rural, há destacada
participação das atividades rurais na economia municipal. O que isso significa? O fato é que
sua articulação com a capital ocorre a partir das trocas econômicas, por meio da produção de
hortaliças. O município foi responsável, em 2009, por 10,49% da oferta na CEASA-GO (Central
de Abastecimento do Estado de Goiás). A produção de tomates, forte do município, atende
três demandas: feiras locais de Goiânia, CEASA e empresas de alimentação, especialmente de
atomatados, localizadas em Goiânia e Nerópolis. Considerando apenas a oferta de tomate, a
CEASA recebeu, em 2009, remessas de 28 municípios, sendo a maior parte localizada em um
raio de 70 km da capital. (GOIÁS, 2009b). Os espaços rurais próximos à capital, com estrutura
fundiária menos concentrada, atendem à demanda do abastecimento para o pequeno e grande
varejo, assim como o da indústria da alimentação.

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Rio Verde é um exemplo das dificuldades de separar a cidade do campo, seja do ponto
de vista da localização das unidades industriais, seja do ponto de vista do perfil ocupacional ou
mesmo da caracterização da paisagem regional. Há muito, nas áreas rurais é possível reconhecer
gradientes de transformação industrial. A localização das agroindústrias nos arrabaldes das
cidades ou mesmo em áreas rurais (já estamos tratando de complexos que funcionam em redes
e dispõem de armazéns, postos de coleta e processamento) implica em deslocamento de mão-
de-obra assalariada da cidade para o campo. De modo igual, a economia da cidade se organiza
em função da logística demandada pelo agronegócio, bastando para isso verificar os serviços
especializados que atendem à demanda rural. Por tal motivo, o peso da indústria de transformação
é de difícil contabilidade. Interessante é que, mesmo figurando na lista dos municípios com a maior
produção de grãos e um dos maiores rebanhos de bovinos, de suínos e de aves, o setor primário
exerceu menor influência no PIB, já que representou 22% do seu total em 2007 (GOIÁS, 2010).
Considerando o número de empregos formais registrado no município em dezembro de 2009,
constatamos que a indústria da transformação representou 26,97% do total de emprego formais
gerados. Dos 26,97% do setor de transformação, equivalente a 12.251 empregos, a profissão de
magarefe (profissional que lida com corte de carnes) representou 50,59%, equivalente a 6.199
empregos formais, o que dá a ideia da importância do abate de aves e suínos (MTE, 2009).
Pelo exposto, fica constatado que não é mais possível, na análise econômica, considerar os
setores da economia (primário, secundário, terciário) de forma estanque, sem levar em conta
suas capilaridades. O setor de serviços encontra-se intimamente ligado à agropecuária; ademais
seria preciso, nessa contabilidade, considerar o perfil do emprego a partir do domicílio, pois
muitos funcionários das fazendas residem nas cidades. Quando atuam no espaço municipal e
regional, os atores sociais ligados aos grupos agroindustriais não separam o rural do urbano; ao
contrário, estas escalas estão presentes em suas estratégias de maximização dos lucros.
Em uma primeira análise, os quatro exemplos, possíveis de generalização para parte
significativa do território goiano, retratam realidades dispares, do ponto de vista da forma, mas
não das funções. É a função que revela o conjunto de ações dos diferentes atores sociais, na
medida em que tanto campo quanto cidade são refuncionalizados para atender as demandas
contemporâneas do capital. Conforme assinalou Santos (2008, p.127):
A cidade torna-se lócus da regulação do que se faz no campo. É ela que assegura a nova
cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola. Porque ela é obrigada a se
afeiçoar às exigências do campo, respondendo às suas demandas cada vez mais prementes
e dando-lhe respostas cada vez mais imediatas. Como o campo se torna cada vez mais
diferenciado pela multiplicidade de objetos geográficos que o formam, pelo fato de que
esses objetos geográficos têm, conforme já vimos, um conteúdo informacional cada vez
mais distinto (o que se impõe porque o trabalho no campo é cada vez mais carregado de
ciência), tudo isso faz com que as cidades locais deixem de ser a cidade no campo e se
transformem na cidade do campo.

- 80 -
Os processos econômicos influenciam
Urbanização
diretamente as dinâmicas demográficas,
o que pode ser constatada pela avaliação
do crescimento demográfico, padrão mi-
gratório ou estrutura etária populacional
de um determinado território. Vejamos o
exemplo do município de Campos Ver-
des, localizado no norte Goiano. Sua
emancipação ocorreu em 1989, motivada
pelo garimpo de esmeraldas que atraiu
trabalhadores de diversas partes do país.
Em 1991, a população era de 16.648 ha-
bitantes, passando para 8.057 em 2000 e
5.022 em 2010. A efervescência do ga-
rimpo refletiu não apenas na economia,
mas também na ocupação do espaço
urbano, que abrigou comércio e servi-
ços privados dos mais diversos. Atual-
mente, dos 2.326 domicílios registrados
pelo Censo Demográfico de 2010, 117
foram classificados como de uso ocasio-
nal e 530 como domicílios vagos, o que
representou 27,81% dos domicílios do
município, porcentagem sem par no ter-
ritório goiano. Como demonstra a figura,
na região do garimpo, que dista menos
de 1 km da principal avenida da cidade,
a paisagem é de desolação, com casas e
comércios abandonados, o que denuncia
as sombras da riqueza passada. As pirâ-
mides etárias também exemplificam o
impacto da migração, já que a proporção
de idosos no ano 2010 cresceu em vir-
tude, especialmente, do decréscimo po-
pulacional nas faixas abaixo de 44 anos,
independente do gênero, o que denuncia
a migração familiar.

Fonte: Foto do autor, novembro de 2009.

- 81 -
Urbanização

Fonte: Trabalho de campo (2010)

“No meio rural, a terra é meio de produção. O preço no mercado é definido pela apropriação,
propriedade, características do solo, trabalho produtivo nela empregado, rentabilidade, tipo
de produto, localização, máquinas e utensílios agrícolas, produtos químicos utilizados. A terra
rural é também utilizada para outros usos como moradia, estradas, escolas, postos de saúde,
inclusive para represamento de águas utilizadas no urbano, tanto como fonte de energia como de
abastecimento. Contudo, a sua função primordial esta relacionada ao setor primário da economia.
À União compete instituir impostos sobre a propriedade territorial rural que terá suas alíquotas
fixadas de formas a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas e não incidirá sobre
pequenas propriedades rurais, definidas em lei, quando as explore, só ou com sua família, e
que não possua outro imóvel´ (art.153&4º). Na cidade, a terra é fundamentalmente suporte de
atividades do secundário, terciário, concentra diferentes tipos de edificações, equipamentos e
os meios de consumo coletivo (hospitais, escolas, postos de saúde etc.), meios de circulação
e, em especial, moradias, que em geral ocupam mais de 70% do solo urbano. O preço da terra
urbana, das edificações, no mercado, é definido pela apropriação, propriedade, parcelamento,
edificação, localização dos terrenos, edificações, equipamentos, infraestrutura, zoneamento, áreas
de preservação histórica, ambiental e normas de ordenamento territorial, elaboradas pelo poder
municipal”. (RODRIGUES, 2007, p.95). Na figura, uma propriedade rural localizada na divisa
entre Goiânia e Goianira. Ao fundo ainda é possível perceber, entre os postes de concreto, o
cultivo de milho. Na área da propriedade estão previstos 2.000 lotes com área média de 230m2.
Cada lote é comercializado por aproximadamente R$ 60.000,00, o que significa que o negócio
fundiário renderá, sem considerar os juros e reajustes anuais, R$ 120.000.000,00. Dificilmente
essa propriedade, se comercializada de porteira fechada, atingiria tal valor.

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Tais exemplos estariam incompletos sem referência ao perfil regional, o que implica em
considerar as mudanças conjunturais na economia. Santos (1998) escreveu sobre o conceito
de socialização dos meios de produção e consumo. Está certo o autor, pois os circuitos de
produção e do consumo ultrapassam (e os exemplos demonstram esse fato) os limites formais
entre urbano e rural, que geralmente são baseados em análises isoladas do domicílio, na análise
dos setores da economia ou no perfil ocupacional da população. Essa hipótese confirma-se
quando observamos, na escala regional, o movimento de incremento urbano nos municípios
que é explicado, em grande medida, pela emergência e/ou reestruturação das atividades
econômicas que têm impacto mais relevante nos municípios com menor população e, portanto,
mais dependentes, por exemplo, da instalação de um complexo frigorífico ou mesmo de uma
empresa mineradora.
Todavia, há outras evidências para demonstrar a complementaridade entre campo e
cidade. As figuras 27 e 28 ilustram as relações de troca a partir da origem dos insumos e destino
da produção agrícola. São suficientes como evidência das relações monetárias não apenas
entre regiões, mas, sobretudo, entre campo e cidade, na medida em que a comercialização e
os segmentos burocráticos governamentais de pesquisa, fiscalização e controle da produção
agropecuária encontram-se territorializados nas cidades.

Figura 27 - Brasil: destino da produção agropecuária, 2007


Fonte: IBGE, 2007

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Figura 28 - Brasil – origem dos insumos da produção agropecuária, 2007
Fonte: IBGE, 2007

As figuras 27 e 28, exemplares para parte significativa da realidade do território


goiano, demonstram que as fronteiras estão permeadas de fluxos de mercadorias e informação,
revelando as ações dos atores sociais (empresas do segmento agroindustrial, industria química
e mecânica, varejo especializado etc.) na produção do território; representam não apenas
complementaridades, mas, sobretudo, hierarquia e subordinação, demonstrando um sistema
de trocas desigual, já anunciado no início do século XX. Representam, de igual forma,
o circuito da cadeia produtiva agropecuária, tendo a cidade como ponto difusor (técnica,
informação, mão-de-obra etc), podemos considerar a comercialização de sementes, rações,
maquinário, defensivos, vacinas, além fornecimento de energia elétrica e óleo diesel. Para o
processo de tecnificação é imprescindível a presença de profissionais com formação superior
como veterinários, engenheiros e agrônomos, além de técnicos de nível médio, vendedores
especializados, administradores com especialização em finanças, seguridade, logística etc.
O setor agropecuário cria demandas para a indústria, especialmente de renovação do capital
constante, a exemplo das máquinas de processamento de óleos, leite, das colheitadeiras, dos
tratores etc. O que chega aos consumidores finais, seja no mercado regional, seja internacional,
é produto dessas relações de trabalho que ocorrem tanto no campo quanto na cidade.

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A partir dessas relações de hierarquia e complementaridade, a dinâmica demográfica
foi alterada em curto intervalo de tempo, especialmente nos municípios abaixo de 20.000
habitantes. Os dados do Censo Demográfico de 2010 indicam que entre os 10 municípios com
maior incremento demográfico proporcional, em relação ao ano de 2000, sete abrigam população
inferior a 20.000 habitantes. Na verdade, o incremento demográfico deve ser relativizado por
dois motivos: primeiro é o intervalo de tempo de 10 anos, prazo elástico para o estabelecimento
de padrões de crescimento demográfico. O segundo é considerar a relação entre o incremento
absoluto total e o incremento relativo, levando em consideração as mudanças conjunturais na
economia que atingem de forma diferente municípios com perfil demográfico abaixo de 20.000
habitantes ou mesmo aqueles localizados na Região Metropolitana de Goiânia e no Entorno do
Distrito Federal.

Figura 29 - Goiás: municípios com maiores Figura 30 - Goiás: municípios com maior incremento
incrementos populacionais absolutos populacionais relativos

Na Figura 29 (maiores incrementos absolutos), como era de se esperar, aparecem em


primeiro lugar os municípios mais populosos do territorio goiano e incritos nos ambientes
metropolitanos, exceçao para Rio Verde, no Sudoeste Goiano. Já na Figura 30, referente ao
crescimento relativo entre 2000 e 2010, verifica-se um padrão de incremento urbano mais
heterogêneo. A única correspondência refere-se ao município de Águas Lindas de Goiás, que
foi o décimo em crescimento relativo e o quinto em crescimento absoluto. O que se nota é que
o incremento relativo foi maior nos municípios abaixo de 20.000 habitantes, como Chapadão
do Céu, Alto Horizonte, Baliza, Flores de Goiás, Rio Quente e São João D´Aliança. O conjunto

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de fatores ligados às atividades produtivas, seja da agricultura, como em Chapadão do Céu,
seja dos os assentamentos em Flores de Goiás, seja da mineração, como em Alto Horizonte,
explicam o incremento populacional. Mas o fato a que devemos estar atentos é a demanda
urbana estimulada nos municípios com esse perfil, uma vez que as respectivas populações
demandam por serviços e infraestrutura urbanos.
A Figura 31, sobre a tipologia dos municípios, demonstra poucas mudanças em relação
aos anos anteriores, uma vez que a concentração continua presente na Região Metropolitana
de Goiânia e Entorno do Distrito Federal. Os nove municípios acima de 100.000 habitantes
aglomeram 48,97% da população total do território goiano. Os municípios abaixo de 20.000
habitantes – 194 - representaram 20,78% do total da população do território goiano. O padrão
de povoamento segue os eixos da BR-060 e da BR-153. Aspecto interessante é que, em todas as
regiões, observamos municípios abaixo de 10.000 habitantes, demonstrando a heterogeneidade
de ocupação do território goiano. Mas a figura não representa as funções, pois essas, nem
sempre, correspondem ao peso da população total.
A correlação entre dinâmica demográfica e economia nos direciona para o conceito de
rede urbana que é demonstrativa das chamadas interações espaciais. Segundo Corrêa (2010,
p.279):
As interações espaciais constituem um amplo e complexo conjunto de deslocamentos de
pessoas, mercadorias, capital e informação sobre o espaço geográfico. Podem apresentar
maior ou menor intensidade, variar segundo a freqüência de ocorrência e, conforme
a distância e direção, caracterizar-se por diversos propósitos e se realizar através de
diversos meios e velocidades.

A análise das interações espaciais, traduzidas em modelos de interpretação geométricos


da rede urbana, revelam as hierarquias espaciais. Encontramos pistas dessas perspectivas de
estudos na década de 1940. Mombeig (1943), em balanço sobre a evolução dos estudos da
geografia urbana, dava pistas da importância dos estudos sobre rede urbana ao tecer considerações
sobre as funções urbanas. Para o autor:
A função urbana não é menos interessante numa cidade pequena do que numa capital; é
ai menos difícil de estudar e seus diferentes elementos decompõem-se mais facilmente.
É a função comercial, ligada à presença dos meios de transporte, mais freqüentemente, a
razão de ser das pequenas cidades do interior: fazendeiros, colonos, sitiantes, aí trazem
suas colheitas e aí compram roupas, possuem postos (produtos químicos, farmacêuticos,
casas de fazendas como as “Pernambucanas”, depósitos de fumo e cigarro, etc).
(MOMBEIG, 1943, p.21)

O estudo da rede urbana, além de demonstrar as articulações entre campo e cidade,


testemunha as transformações econômicas nas escalas local, regional, nacional e internacional.
Singer (1987, p.141) alerta para o fato de que, no estudo da economia urbana, nenhuma cidade
pode ser considerada de forma isolada, pois

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Figura 31 - Goiás: tipologia populacional dos municípios, 2010

- 87 -
Urbanização

Evolução da rede urbana brasileira

A ideia de rede urbana como expressão do movimento territorial não é nova. O próprio
conceito de rede remete a noção de movimento, fluxo, cruzamentos, nós, cartogramas.
George (1975) enxergou isso muito cedo ao colocar: “A noção de rede urbana (ou de
armação urbana) situa-se a um nível mais elevado, que já não é o da forma, nem o da
estatística, mas o da organização. Trata-se de um sistema de inter-relações entre cidades
de diferentes funções e dimensões, exigindo a criação de relações funcionais de trocas de
mercadorias, de serviços e pessoas. As redes mais simples são as que se polarizam num
centro principal de onde partem as impulsões e as atrações maiores, e que faz o papel
do núcleo direccional para o conjunto da rede cujos principais nós representam pontos
de transmissão” (1975, p.165). A figura, extraída de um clássico estudo publicado por
Geiger (1963), demonstra as áreas de influência das regiões urbanas. Observa-se que a
parte meridional do território goiano, com uma rede urbana em processo de estruturação,
encontrava-se sob a influência da região de São Paulo.

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a cidade não pode produzir nem os alimentos para sua população nem a matéria-prima
para sua indústria. As atividades que fornecem tais produtos – a agricultura e a indústria
extrativa – têm que ser desenvolvidas junto aos recursos naturais, o que impõe uma
ampla dispersão dos que nelas ocupam o espaço. Elas são, por isso, incompatíveis com
as condições urbanas (pelo menos enquanto a produção sintética de alimentos e matérias-
primas não estiver completamente desenvolvida).

Por isso, trata-se de uma visão sistêmica que torna possível compreender os rebatimentos
da economia no espaço por meio da análise dos fluxos e das hierarquias constantemente
reconstruídas. Tais hierarquias são determinadas a partir da verificação do número e da
intensidade dos relacionamentos entre as cidades. Em alguns casos, essa perspectiva de análise
resultou numa visão naturalizada das redes. Estudos da rede urbana foram e são competentes
no sentido de determinar a geometria dos relacionamentos, mas não bastam para identificar o
motivo das mudanças nas hierarquias que resultam de vários fatores, dentre as quais a atuação
das forças do mercado e da ação do estado. Corrêa (2010, p.20) escreve:
É através da rede hierarquizada de localidades centrais, isto é, das numerosas
cristalizações materiais diferenciadas do processo de distribuição varejista de serviços,
que se realiza, em um amplo território sob o domínio do capitalismo, a articulação entre
produção propriamente dita e consumo final.

A evolução da rede urbana goiana pode ser compreendida, nas últimas décadas, pelos
estudos publicados pelo IBGE. Em 1972, foi publicado o estudo intitulado Divisão do Brasil
em regiões funcionais urbanas (BRASIL, 1972) e, em 1993, o estudo Região de Influência de
Cidades (BRASIL, 1993). O mais recente, publicado em 2007, também recebeu o nome de
Região de Influência de Cidades (BRASIL, 2007). Os dois últimos estão representados nas
figuras 32 e 33. O primeiro não apresentou cartogramas, mas sim um sistema de hierarquização
em planilhas. No primeiro estudo, consta o seguinte sobre a rede urbana de Goiânia:
Sua rede, abrangendo quase todo o estado de Goiás, estende-se também pelo leste de
Mato Grosso e vai ganhando área de Salvador no planalto ocidental baiano por sua ação
conjugada com Brasília. “Tem uma área de 920.941 quilômetros quadrados, população
de 3.226.501 habitantes e densidade de 3,5 habitantes por quilômetro quadrado”.
(BRASIL, 1972, p.23)

No estudo de 1972, Brasília ocupava nível de centro regional Tipo B, juntamente com
Anápolis, sendo Goiânia a cabeça de rede. Contudo, naquele período, a capital do país ainda
se estruturava, fato reconhecido nos estudos posteriores, quando passou a ocupar os mais altos
níveis na hierarquia urbana brasileira, em função, especialmente, do seu estatuto político-
administrativo. No primeiro estudo, Palmas não existia, o que implicou na construção de novas
polaridades para o antigo norte goiano, posteriormente emancipado para formação do estado do
Tocantins. A partir de então outros centros foram se consolidando, especialmente ao longo da
BR-153, a exemplo de Paraíso, Araguaína e Gurupi.

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Figura 32 - Níveis de centralidade das cidades goianas e de Brasília e respectivas regiões de influência, 1993

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No segundo estudo, de 1993, o nível máximo de centralidade era exercido por Goiânia,
seguida por um nível classificado como forte, com Anápolis, Araguaína (TO) e Imperatriz
(MA). No Sul Goiano, o destaque era para Itumbiara, que já consolidara sua rede de inter-
relações com o Triângulo Mineiro. Outro conjunto de cidades, como Rio Verde, Catalão e
Ceres, apresentaram grau de influência médio. Do lado leste do território goiano, a influência
majoritária era de Brasília, tendo Formosa, Posse e Campos Belos com polarização fraca no
espaço regional.
No estudo publicado em 2007, com metodologia semelhante, Goiânia aparece como
Metrópole 1C, com região de influência superior à 835 mil km2, o que corresponde a uma
população superior a 6 milhões de habitantes. O espaço de influência compreende extensas
áreas do Tocantins e Sul do Maranhão, além de áreas do oeste baiano. Palmas é alçada à Capital
Regional, com ligações capilares com as várias regiões do território tocantinense. Os Centros-
Sub-Regionais goianos são Anápolis, Itumbiara e Rio Verde, este último apresentando, em
relação ao estudo de 1993, maior nível de centralidade.
É por tudo isso a rede urbana auxilia na análise da urbanização, pois demonstra as
articulações entre os centros urbanos e as articulações do espaço urbano com o espaço rural
e desses com os espaços globais. Não há mais uma linearidade nas relações, pois mesmo os
espaços rurais podem se integrar, por intermédios de redes de diversas ordens, aos espaços
globais. E se integrar significa se subordinar ao mercado internacional, na medida em que o
próprio vocabulário do produtor mudou para se adequar aos padrões financeiros. Não é por
acaso que o termo commodities é tão utilizado nos círculos produtivos. A imagem, a projeção,
portanto, serve para várias escalas (urbana, regional, nacional, internacional), motivo para negar
as visões maniqueístas entre rural e urbano. Ao isolamento e atraso, componente discursivo da
ruralização, verificamos uma contínua integração e as três constatações a seguir são suficientes
para rever isso, mesmo em um território com forte perfil agropecuário.

l A ampliação da oferta de equipamentos de consumo coletivo ocorre em todas as


regiões do território goiano. As escolas e os postos de saúde são exemplos nos
pequenos municípios, pois atendem e se articulam com os espaços rurais, mesmo que,
em muitos casos, precariamente. Instituições de ensino superior com características
de polos regionais estão presentes em todas as regiões do território goiano e em
cidades com perfis econômico e demográfico diferenciados. A UEG, com mais
de 40 unidades, incluindo os pólos, os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, localizados em municípios como Uruaçu, Anápolis, Luziânia, Rio Verde,
Jataí, Goiânia, Itumbiara etc, assim como a UFG (Universidade Federal de Goiás),
sem contar as instituições privadas que ofertam ensino superior. Por outro lado, a
oferta de serviços privados (agências bancárias, lotéricas, bancos postais e o comércio
de eletrodomésticos), é uma realidade crescente em todas as regiões do território
goiano. Não é incomum a presença de revendas de consórcios de motocicletas em

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municípios abaixo de 30.000 habitantes, o que se explica pela crescente utilização do
veículo no espaço rural, devido e a facilidade de crédito, fato que demonstra que esses
municípios entraram para a agenda de atenção dos grupos econômicos financeiros.
l A ampliação das relações financeiras em todos os municípios é demonstrada pelo
número de cadastros na previdência urbana e rural e pelas relações de crédito na
área agrícola, mesmo quando se trata de pequenas propriedades. A previdência
rural e o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)
capitalizaram o campo. Dito de outro modo, a circulação do dinheiro de pessoas
com vínculos com o campo reverbera nas cidades. No Norte Goiano, por exemplo,
a presença dos assentamentos, ao contrário de remeter a situações de isolamento,
exerce peso político e importante papel no aquecimento da economia municipal. No
caso da previdência rural, uma questão é interessante. Em 2009, dos 246 municípios
goianos, 143 apresentaram o valor do benefício rural maior que o urbano, muito
embora apresentem população urbana maior que a rural (DATAPREV, 2009). O
registro de domicílios de agricultores nas cidades justifica essa situação.
l Ampliação das redes de comunicação e de transporte e a universalização da
eletrificação rural aumentaram significativamente o consumo de eletrodomésticos e
eletroeletrônicos adquiridos no varejo regional. Em 1995 havia 72.835 consumidores
de energia elétrica rural em Goiás, número que passou para 137.458 em 2005 e para
163.099 em 2009 (GOIÁS, 2009). Dados do IBGE apontam que, dos 1.886.264
domicílios do território goiano, em 2010, apenas 12.544 não dispunham de energia
elétrica (BRASIL, 2011). Dados do Censo Agropecuário de 2007 dão conta de que
20.697 propriedades rurais em Goiás possuem televisão com antena comum, 83.796
possuem antena parabólica, 4.079 possuem computador, dos quais 1.344 têm acesso
à internet. (BRASIL, 2007b)

Então, para além da extrema fragmentação que tornaria possível admitir cidades isoladas
e espaços rurais arcaicos, convivemos com uma lógica de ampliação das relações cidade-
campo, compreensão reforçada pela análise da rede urbana. No lugar de um hiato existente
entre o campo e a cidade, a contemporaneidade criou uma ponte de conexões. Isso não significa
que não haja diferença, por exemplo, nos padrões de ocupação do solo urbano ou mesmo nas
atividades ocupacionais. O padrão fundiário da cidade atende, além das tradicionais atividades
produtivas, as demandas por habitação, seu principal uso. Tão principal que foi necessário
criar a conhecida expressão solo criado. Em resumo, cria-se espaço nas cidades. No campo, o
padrão fundiário, ocupado por atividades primárias (agricultura, pecuária e mineração), exige
a ocupação de extensas áreas. A dinâmica que se estabelece no campo, considerando o uso do
solo, tem relação com a ampliação horizontal e vertical da produtividade por meio da utilização
de insumos químicos e mecânicos, além do melhoramento de sementes. Moraes, Árabe & Silva
(2008, p.26) assim caracterizam o campo contemporâneo:

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Há uma agricultura familiar ultradinâmica, organizada em cooperativas e
multicooperativas. Há uma agricultura familiar vinculada a agroindústrias processadoras
por contratos mais ou menos formalizados, que reduzem incertezas e custos de transação.
Há uma terceira agropecuária familiar, também razoavelmente moderna e capitalizada,
que produz para subsistência e para importantes mercados regionais. Há, enfim, o
universo da agricultura de subsistência, que mal chega (quando chega) ao mercado da
aldeia vizinha, com parcos excedentes comercializáveis.

É preciso destacar, ainda, a partir da perspectiva de análise desenvolvida por Xavier


(2010) em trabalho sobre os bóias-frias no município de Goianésia, a relação entre o cotidiano
e a reprodução das relações de produção através da apropriação do tempo-trabalho, da moradia
e do lazer. Segundo Xavier (2010, p.32):
É na cidade que os ´bóias-frias´ realizam o consumo, pagam por diversas mercadorias
necessárias à reprodução da força de trabalho. Pelo acesso à água, a energia, o aluguel.
Permitem a sobrevivência de um comércio local, realizam consultas médicas em clínicas
conveniadas às usina, adquirem produtos de estabelecimentos também conveniados à
usina, como farmácias e outras. Recebem seus salários e movimentam suas contas em
um banco de propriedade dos usineiros. Ademais, são eleitores.

O universo cotidiano de exploração do trabalho e realização da mais-valia ocorre em


parte significativa do território goiano. Afinal usinas, granjas, frigoríficos, mineradoras utilizam
expedientes semelhantes para ampliar sua lucratividade. Com isso, não queremos dizer que a
inserção nesse mundo urbano de um residente da cidade de São Paulo seja a mesma daquela
de um residente da cidade de Uirapuru, no Norte Goiano. E as diferenças podem ser muitas,
a começar pela densidade ou, dito de outra forma, a antropização, para lembrar um conceito
recorrente em Veiga (2002). No mesmo trabalho, Veiga (2002) assinala os problemas da forma
de compreensão da urbanização brasileira, chegando à conclusão de que o Brasil é menos urbano
do que se pensa. Sua conclusão, especialmente para aqueles que não conhecem o conteúdo do
Decreto Lei de 1938, pode despertar atenção. A dúvida que persiste é se o quadro das decisões
políticas, no âmbito, por exemplo, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Ministério
da Integração Nacional ou mesmo do Ministério da Educação são influenciados pelo filtro do
referido decreto ou mesmo dos resultados de agregação estatística do IBGE. Carlos (2004,
p.130), ao criticar o autor, salienta:
O que o Autor parece ignorar, é que cidade e campo se diferenciam pelo conteúdo
das relações sociais neles contidas e estas, hoje, ganham conteúdo em sua articulação
com a sociedade urbana, o que demonstra, por exemplo, o desenvolvimento do que
chama pluriatividade. Portanto há na conclusão do Autor uma inversão: no Brasil a
constituição da sociedade urbana caminha de forma inexorável, não transformando o
campo em cidade, mas articulando-o ao urbano de um ´outro modo´, redefinindo a antiga
contradição cidade/campo: este é, ao meu ver o desafio da análise. Significa dizer que o
processo atual de urbanização não se mede por indicadores referentes ou derivados da

- 94 -
taxa anual de crescimento da população urbana, e muito menos pela estrita delimitação
do que seria urbano e rural, como faz o Autor.

A densidade, especialmente aquela traduzida pela fórmula área/habitante, não revela a


natureza das relações sociais e nem mesmo da produção do espaço. Pouco adianta, portanto,
perseguir padrões ideais de densidade. O mesmo raciocínio se aplica à delimitação do perímetro
urbano. Abramovay (2000, p.6) coloca, acertadamente, que “a ruralidade é um conceito de
natureza territorial e não-setorial”. Com o urbano ocorre o mesmo. Não é a definição legal que
cria e reproduz espaços urbanos e ou espaços rurais e sim a natureza da produção/apropriação
do território, que é cada vez mais relacional.
O que nos esforçamos para demonstrar é que a natureza da integração responde às
demandas da sociedade contemporânea, o que nos leva pensar mais em articulação entre cidade
e campo do que em oposição, seja no sentido ambiental, seja econômico ou cultural. Interações
ecológicas demonstradas por meio da poluição dos recursos hídricos e do intensivo consumo de
agrotóxicos no campo afetam o meio ambiente urbano. Do mesmo modo que o lançamento de
esgoto sanitário e resíduos indústrias em rios que cortam cidades afeta as área rurais. De forma
semelhante, problemas em uma determinada safra afetam o varejo e a renda local. O calendário
festivo urbano é bastante influenciado pelo universo rural. Veja-se, por exemplo, o número de
festividades nas grandes cidades que unem o caráter rural e a religiosidade, como é o caso das
folias de reis em Goiânia, documentadas por Almeida (2011).
Na investigação das relações cidade-campo – realidade material –, e urbano-rural –
realidade psicossocial do capitalismo contemporâneo – não podemos nos comportar como uma
espécie de arqueólogos, escavando, procurando nos cantos da cidade uma espécie de homo
ruralis. Tal postura quase sempre é acompanhada de uma narrativa da resistência à grande
metrópole, na busca de uma espécie de enclave que representaria, nessa visão romântica, uma
resistência ao urbano. Devemos ter a clareza de que campo e cidade são espaços produzidos
com intencionalidades e conflitos e uma agenda de mudanças sociais deve conter, sem dúvida,
essas especificidades, sem que isso incorra em reducionismos e maniqueísmos.

Notas
1. “Nos países europeus, a urbanização é antiga. Foi feita lentamente, ao ritmo de sucessivas revoluções tecnológicas.
Tanto as cidades quanto as redes urbanas se organizaram lentamente.” (SANTOS, 2008, p.19). Já nos países
subdesenvolvidos, o autor caracteriza como uma urbanização terciária, como pouco incorporação tecnológica e
inclinação para o consumo, especialmente nas grandes cidades.
2. Williams (1989), em seu estudo sobre a cidade e o campo inglês no século XIX, escreve algo que ilustra bem
as representações negativas sobre a cidade. Segundo o autor (1989, p.11): “Em torno das comunidades existentes,
historicamente bastante variadas, cristalizaram-se e generalizaram-se atitudes emocionais poderosas. O campo
passou a ser associado a uma forma natural de vida – de paz, inocência e virtudes simples. À cidade associou-se
a ideia de centro das realizações – de saber, comunicações, luz. Também constelaram-se poderosas associações
negativas: a cidade como lugar de barulho, mundanidade e ambição; o campo como lugar de atraso, ignorância
e limitação. O contraste entre campo e cidade, enquanto formas de vida fundamentais, remonta à Antiguidade
clássica.”.
3. A urbanização deve ser analisada considerando a formação econômica social dos diferentes territórios. É possível,
por exemplo, falar em urbanização arcaica do território goiano no período colonial, especialmente na economia

- 95 -
mineradora. Entre 1690 e 1740 surgiram inúmeros arraiais, vilas e povoados no território goiano. Muitos desses
assentamentos urbanos tinham em comum, além de uma paisagem urbana marcada por elementos construtivos da
imagem colonial escravista, um sítio urbano próximo dos locais de extração de ouro. Tal qual escreveu Palacin
(1994), bastava água e ouro para se fundar uma vila. Assim foram fundados, entre outros, Arraias (1740), Cavalcanti
(1740), Pilar (1741), Meya Ponte (1731), Porto Real (1738), Santa Luzia (1746), Cocal (1749), Traíras (1735),
Vila Boa (1739), entre tantos outros na porção centro e nordeste do território goiano. Muitas dessas aglomerações
urbanas (cidades, vilas, arraiais), concentravam funções administrativas e judiciárias, além da constituíram em
centros comerciais e por isso concentravam uma parcela significativa da população do território goiano.
4. Gomes, Teixeira Neto e Barbosa (2004) assinalaram o papel da mineração, da atividade agropastorial e das
estradas como fatores decisivos de povoamento do território goiano. Além desses, citam fatores secundários, assim
descritos: “a) Postos aduaneiros e de fiscalização. Antigamente eram conhecidos pelo nome de registros. Geralmente
eram instalados nas regiões fronteiriças do território ou em pontos de passagem de rios e em entroncamentos
importantes de estradas e caminhos. Em volta da maioria deles era comum surgir pequenas aglomerações –
habitadas principalmente por pequenos comerciantes -, algumas das quais se tornaram cidades importantes, como,
para citar apenas um exemplo, Itumbiara, no sul de Goiás. b) Postos de policiamentos e vigia do território. Eram
conhecidos inicialmente pelo nome de presídios e, como os registros, localizavam-se em pontos estratégicos,
sobretudo ao longo dos rios. Aruanã, em Goiás, e Araguacema, no Tocantins, são antigos presídios militares. c)
Pousos de tropas de boiadas. Eram pontos de paradas de rebanhos e tropeiros em direção a outros estados para
comercializar produtos goianos – gado em pé, couro, carne seca, rapadura. Piracanjuba, a antiga Pouso Alto, no
sul-sudeste de Goiás, teve origem em ponto de pouso de tropas. D) Aldeamentos. Estes estabelecimentos foram
previamente construídos para que os religiosos catequizadores dos séculos XVII e XIX confinassem índios sob o
pretexto de protegê-los contra a ação dos predadores ou capitães-de-mato, que os capturavam para transformá-los
em escravos ou simplesmente eliminá-los a mando de ricos fazendeiros que queriam ocupar suas terras. Dentre
outras cidades, São José do Duro (Dianópolis), no estado do Tocantins, e Mossâmedes, em Goiás, surgiram de
aldeamentos indígenas. (2004, p. 63)
5. Paviani (1987) descreve o processo de incorporação de áreas dos municípios de Luziânia dessa forma: “Assim, é
a partir dos anos 70, principalmente após 1975, que se dá a grande expansão rumo à periferia do DF. Claro está que,
ao longo da década de 1960, muitas transações imobiliárias se efetuaram em Luziânia, mas elas tiveram o primeiro
efeito de quebrar o uso da terra anterior, basicamente agropecuário. Era como se os primeiros movimentos de um
gigantesco tabuleiro de xadrez ensejassem os atrativos iniciais para um movimentado jogo posterior”. (PAVIANI,
1987, p.37)
6. A intensa mobilidade de pessoas dos municípios do Entorno do Distrito Federal para o Distrito Federal provoca
reações diversas, especialmente nos discursos políticos, sobre os problemas provocados no DF em função da
migração pendular. Tais argumentos, não raro, invertem a lógica, culpando os migrantes pelos problemas do DF.
Arrais (2008) levanta alguns questões sobre essa discussão, dentre as quais estavam: a dependência do Distrito
Federal no abastecimento de água, bem como no fornecimento de energia que provem do território goiano, além,
entre outros motivos, do fluxo de mão-de-obra que implica em consumo nas diferentes regiões do DF.
7. Santos (1998), referindo-se à relação cidade campo, coloca: “O capital constante que, antes, era um apanágio
das cidades, sobretudo naquelas onde se concentrava a produção industrial, passa, também, a caracterizar o próprio
campo, na forma de implementos, fertilizantes e inseticidas, máquinas e sementes selecionadas” (1998, p.43).

- 96 -
Metropolização
Conceito de metropolização
Há uma estreita ligação entre o conceito de metropolização e as dinâmicas territoriais.
Aliás, uma das questões em comum nos estudos sobre metropolização é a contextualização
da polarização econômica e demográfica nos diferentes territórios nacionais. Em Veltz
(1999), por exemplo, percebemos que o debate francês sobre a metropolização envolveu a
questão da centralizalização dos empregos e da produção que, por sua vez, acompanhou a
concentração demográfica na Île-De-France. Assim, a problemática da metropolização se
inscreve no campo político, uma vez que a concentração econômica, resultado de políticas de
fomento à industrialização, e os desafios da governabilidade nos espaços metropolitanos são
assuntos recorrentes nos debates metropolitanos. A mesma perspectiva de análise é encontrada
na literatura brasileira, bastando para isso verificar os estudos organizados por Ribeiro (2000,
2004) ou mesmo os anais de eventos da ANPUR (Associação Nacional de Pós-Graduação em
Planejamento Urbano e Regional).
Mas qual é o significado do conceito de metropolização?
A palavra, resultado da junção dos substantivos femininos “metrópole” e “ação” fornece
pistas de que se trata de um processo de extensão, de uma ação, de uma atração, de um exercício
de força sobre um determinado território. Observada dessa forma, a metrópole é transformada
em sujeito que exerce uma força centrípeta, influenciando, quando não determinando, as
relações econômicas e sociais sobre o território nacional que é compreendido a partir de uma
rede hierárquica de cidades e não a partir dos conflitos resultantes da produção do território.
Todavia, é uma força relacional, pois existem complementaridades de trocas comerciais e de
força de trabalho entre a metrópole e outras cidades inseridas na mesma rede urbana. Por tal
motivo podemos definir a metropolização como uma das formas de realização de um processo
maior, que é a urbanização. A emergência da forma metropolitana não é apenas resultado do
ocaso da sociedade agrária, mas da modernização territorial, que não prescindiu da articulação
entre campo e cidade.
Mas quais seriam as especificidades do atual processo de metropolização, já que a
compreensão histórica da função das grandes metrópoles, como Londres, sempre implicou em
uma relação de ordem hierárquica diante do território nacional?
De fato, se analisarmos a influência de Londres a partir das descrições de Engels (1985)
ou mesmo de Hobsbawm (1982), notamos, desde muito cedo, a proeminência da metrópole

- 97 -
vitoriana, articulando um sistema de redes nas diversas escalas – regional, nacional, continental
e mundial. Por outro lado, a questão dos desafios da governabilidade não é nova, pois Geddes
(1994) abordou esse aspecto no início do século XX. Na verdade, do ponto de vista histórico,
a metrópole abrigou as mutações no mundo do trabalho e da produção. Não por acaso a capital
vitoriana era demarcada pela imagem lúgubre das fábricas e dos cortiços. Se antes, no século
XIX, as poucas metrópoles foram caracterizadas como centros de produção industrial, agora,
no século XXI, são demarcadas pela territorialização, nas dimensões econômicas e culturais,
dos processos de globalização e inovação, sem destacar ainda o forte peso industrial. Sasken
(1998) caracteriza as metrópoles contemporâneas, a partir dos predicados financeiros, como
sedes de corporações, bancos, além do conteúdo informacional que favorece o fluxo de capitais,
característica presentes em cidades como Nova York, Londres, Tóquio, Paris, Frankfurt,
Zurique, Amsterdã, Sydney, Hong Kong, São Paulo e Cidade do México.1 Ao se referir à função
dessas cidades, Sasken (1998, p.17) coloca:
A intensidade das transações entre as cidades citadas, sobretudo através dos mercados
financeiros, investimentos e fluxos dos serviços, aumentou consideravelmente, assim
como a ordem e a magnitude do processo. Ao mesmo tempo, firmou-se uma profunda
desigualdade na concentração dos recursos e atividades estratégicas, entre cada uma
dessas cidades e outras cidades do mesmo país.

No Brasil, o reconhecimento da metropolização esteve relacionado ao processo de


concentração demográfica e da produção por decorrência da industrialização, fato assinalado
por Santos (1979). Seguindo essa linha de argumentação, é possível identificar a hegemonia da
metrópole a partir do processo de modernização do consumo, da produção e da infraestrutura
nacional que permitiu a integração por meio da ampliação das trocas regionais, fato exemplar
no caso de São Paulo. Na década de 1960, os municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte e Salvador abrigavam uma população total de 6.102.406 habitantes, o que representava
8,6% da população total do Brasil, porcentagem que subiu para 17,76% em 1970, quando o
país atingiu uma população de 70.121.000 habitantes (BRASIL, 1970a). Contudo, os números
referem-se aos municípios de forma isolada, posto que os recortes metropolitanos, próprios do
início da década de 1970, não foram considerados. Apenas a Região Metropolitana de São Paulo,
recuando aos recortes administrativos atuais, abrigava 8.139.730 habitantes em 1970. Então, o
diagnóstico territorial da década de 1970 apontava para uma concentração populacional no
Centro Sul brasileiro, com precedentes históricos, pois São Paulo, desde o final do século XIX,
já assistira processo de concentração demográfica acompanhado pela acumulação de capital e,
concomitante pela subordinação, via sistema de trocas regionais, das demais regiões brasileiras,
processo analisado por Cano (1977).
A concentração industrial e demográfica, somada aos problemas resultantes do
intenso processo de integração territorial, justificou o reconhecimento institucional pela Lei
Complementar número 14, de 8 de junho de 1973 (BRASIL, 1973), por parte do Governo
Federal, de oito Regiões Metropolitanas, compostas pelas capitais e os municípios assim

- 98 -
delimitados: São Paulo (mais trinta e seis municípios), Belo Horizonte (mais treze municípios),
Porto Alegre (mais treze municípios), Recife (mais oito municípios), Salvador (mais sete
municípios), Curitiba (mais treze municípios), Belém (mais um município) e Fortaleza (mais
quatro municípios). Por outro lado, é necessário compreender a estratégia de centralização
das políticas urbanas, própria do período militar e o condicionamento, descrito no Art.6º, da
preferência de obtenção de recursos e financiamentos para os municípios que compõem as
regiões metropolitanas. Os processos de integração territorial foram reconhecidos na legislação
para fins de ação integrada. O Art.5º destaca as ações de interesse metropolitano
I - planejamento integrado do desenvolvimento econômico e social;
II - saneamento básico, notadamente abastecimento de água e rede de esgotos e serviço
de limpeza pública;
III - uso do solo metropolitano;
IV - transportes e sistema viário,
V - produção e distribuição de gás combustível canalizado;
VI - aproveitamento dos recursos hídricos e controle da poluição ambiental, na forma
que dispuser a lei federal;
VII - outros serviços incluídos na área de competência do Conselho Deliberativo por lei
federal. (BRASIL, 1973)

Figura 34 - Brasil: regiões metropolitanas, 2007

- 99 -
Duas questões merecem consideração. A primeira é a perspectiva homogeneizante que
pressupôs uma mesma política de atuação para todas as metrópoles, o que antecipou uma das
principais agendas da intervenção metropolitana, que é a mobilidade coletiva. A outra questão
é a falta de referência na legislação quanto à questão habitacional, fato destacado por Azevedo
& Guia (2000). De qualquer forma, é preciso pensar a trajetória institucional relacionada aos
processos políticos e econômicos, o que fez, por exemplo, com que a Constituição de 1988
transferisse a prerrogativa do estabelecimento de regiões metropolitanas, em seu artigo 25º,
§3º, para os estados. Azevedo & Guia (2000, p.535), ao se referirem ao momento institucional,
colocam:
Forjada numa conjuntura na qual a grande questão era a celebração de um novo pacto
federativo, institucionaliza mecanismos de descentralização e democratização da gestão,
aumentando consideravelmente a autonomia financeira dos estados e, especialmente,
dos municípios.

O efeito da alteração na legislação foi a mudança da imagem das Regiões Metropolitanas


brasileiras, como indicado na Figura 34. Um claro exemplo são as recentes regiões metropolitanas
do Sudoeste do Maranhão e a região metropolitana do Cariri, cujos municípios de maior peso
demográfico, em 2010, eram Imperatriz, com 247.553 habitantes e Juazeiro do Norte, com
249.936 habitantes (BRASIL, 2011). Outra novidade foi a possibilidade que consta no Art.43,
sob o condicionamento da União, de ação prioritária em “complexo geoeconômico e social,
visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais” (BRASIL, 1988).
A partir de leis complementares foram criadas a Região Integrada de Desenvolvimento do
Distrito Federal, a Região Integrada de Desenvolvimento de Juazeiro e Petrolina e a Região
Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina. Em comum entre essas regiões destacamos
a convivência de mais de um nível de institucionalidade. A RIDE-DF compreende municípios
goianos e mineiros, o governo do Distrito Federal e o governo federal ou mesmo a RIDE-
Juazeiro e Petrolina, na fronteira da Bahia e Pernambuco.2
É nesse contexto político e econômico que cidades situadas em espaços considerados
periféricos, como o território goiano, passam a se inscrever na agenda de discussão metropolitana,
por exercerem forte polarização em relação aos espaços regionais. Além disso, há questões
fundamentais em relação à formação territorial goiana que justificam a escolha por priorizar a
discussão sobre a metropolização, dentre as quais destacamos:
a) a cidade planejada motivou intenso processo de migração e valorização fundiária, fator
determinante na condição de oferta de moradia, especialmente nas áreas distantes dos
perímetros planejados.
b) o perfil econômico clássico da metropolização, motivado pela industrialização, não se
encaixa no quadro urbano e regional de Goiânia, uma vez que os serviços, o comércio
e a administração pública foram e continuam sendo atividades econômicas de maior
proeminência.

- 100 -
c) por ser uma cidade planejada, é comum verificar certa concepção de que o planejamento
não logrou os resultados esperados, perspectiva que não localiza o planejamento nos
marcos políticos do processo de acumulação, algo alertado por Vesentini (1987) em
estudo sobre Brasília.
Enfim, para desvendar o processo de metropolização e a influência de Goiânia no
território goiano, para além da consideração das tipologias presentes em estudos como a REGIC
(Região de Influência de Cidades), é preciso lançar mão de uma narrativa que considere os
determinantes de sua formação territorial.

Formação territorial
O Recenseamento de 1920 registrou a presença de 163 estabelecimentos rurais em
Campinas e 221 estabelecimentos rurais em Trindade. Os dois municípios, no mesmo ano,
abrigavam 13.610 pessoas (BRASIL, 1926). Observando a Figura 35, não deixamos de notar
as estradas ligando Campinas ao Sul Goiano, utilizadas para o transporte de gado, de gêneros
alimentícios e de produtos manufaturados para atender à demanda do comércio local, a exemplo
da estrada que ligava Santa Rita do Paranaíba (atual Itumbiara) a Trindade.
Mas, por que utilizar essas informações no início de um estudo sobre a formação territorial
de Goiânia quando o mais convencional seria partir da narrativa da mudança da capital?
Há um motivo. Frequentemente, quando pesquisamos sobre a formação territorial de
Goiânia, encontramos mais referências ao processo de transferência da capital. É possível
deduzir que o discurso construído sobre a genealogia de Goiânia obliterou a história espacial
da região, pois essa começaria na antiga capital e não na sua própria latitude, região densa de
relações sociais comuns na parte meridional do território goiano.
A literatura sobre os motivos da mudança da capital é farta, especialmente em se tratando
da história e do urbanismo, a exemplo de Chaul (1997, 1999) e Ribeiro (2004). De maneira
geral, como resumimos em outro momento (ARRAIS, 2007), a mudança da capital respondeu
a três demandas, assim descritas:
Primeira: como estratégia geopolítica de transferência e consolidação do poder
representado pela figura de Pedro Ludovico Teixeira.
Segunda: como “suporte urbano de uma frente de expansão rural”. (BERTRAN, 1988,
p.98)
Terceira: como recurso simbólico representativo de um Brasil integrado, preocupado
com o interior.
A nova capital marcou a redenção de um projeto regional (ascensão das forças
modernizantes do Sul Goiano) que foi amparado e, de certa forma, apropriado pelo discurso de
integração nacional (a Marcha para o Oeste, posterior à fundação de Goiânia, para qual a nova
cidade representaria a busca da brasilidade). Assim nasce uma cidade compreendida, do ponto

- 101 -
Figura 35 - Goiás: municípios selecionados e estradas, 1920

- 102 -
de vista da forma, como moderna, porém fincada em um território de tradição agropastoril,
o que não era novidade em parte significativa do território nacional, linha de compreensão
explorada por Chaveiro (2001). O alento da modernidade urbana, antes de se materializar no
chão vermelho, ocupou o discurso de Godói (1942, p.47):
A cidade moderna, quando se lhe proporcionam todos os elementos da vida e ao seu
estabelecimento e à sua expansão se prende um plano racional, isto é, que obedece
às determinações do urbanismo, é um centro de cultura, de ordem, de trabalho e de
atividades bem coordenadas. Ela educa as massas populares, compõe-lhes e orienta-lhes
as forças e os movimentos coletivos e desperta energias extraordinárias entre os que ai
vivem e ficam sob sua influencia civilizadora

A trajetória institucional da nova cidade, compreendida a partir do Decreto 3.359, de


demarcação do sítio urbano, em 18/05/1933, do Decreto 3.547, que estabelece o plano piloto,
em 06/07/1933, do Decreto 3.929, de lançamento da pedra fundamental em 21/10/1933 são
indicativos das transformações porque passava a região.3
Mas quais foram os impactos regionais provocados pela nova cidade? Em que ela se
diferenciava da experiência urbana da época?
A lógica colocada na edificação de Goiânia era a de planejar para evitar os problemas
da antiga capital, fato compreensível, já que tudo na nova cidade deveria ser diferente dos
antigos sítios coloniais. A topografia plana, elemento fundamental na conformação da paisagem
urbana, dava a tônica do que a nova cidade deveria ser. Uma comparação do perfil topográfico
latitudinal da Cidade de Goiás e de Goiânia demonstra como a topografia poderia influenciar
a vida cotidiana. O sítio urbano plano e com disposição de uma farta rede de drenagem, com
campos de cerrado e matas de galeria, logo ganhou os contornos de avenidas largas e calçadas
construídas para carros que não existiam. As condições ecológicas, dessa forma, aliadas ao
discurso sanitarista, justificavam, no âmbito ideológico, a mudança, ocultando, dessa forma, as
disputas oligárquicas regionais. O primeiro Plano Diretor de Goiânia, como consta no relatório
de Atílio Correa Lima, dedicou atenção especial ao traçado, cuja marca era o aproveitamento da
topografia para evitar a velocidade do escoamento das águas e favorecer o efeito de perspectiva
do plano radial concêntrico. Outra novidade era o zoneamento. O urbanismo da cidade, nesse
sentido, não fugiria às influências da época, pois o zoneamento, do mesmo modo que a divisão
do trabalho nas fábricas, respondia ao momento político e econômico de um mundo cada vez
mais especializado e funcional. Como consta no primeiro Plano Diretor:
O zoneamento da cidade é feito procurando satisfazer as tendências modernas, de
localizar os diversos elementos da cidade em zonas demarcadas afim de não só obter a
melhor organização dos serviços públicos, como também, para facilitar certos problemas
técnicos, econômicos e sanitários, não se falando aqui na estética. (In: MONTEIRO,
1979, p. 140)

Assim surgem e vão sendo povoados o Centro Administrativo, o Centro Comercial,


a Zona Industrial e a Zona Residencial e os serviços e equipamentos de consumo coletivo

- 103 -
dispostos no núcleo central da cidade lembravam ao passante que aquela cidade seria a marca
de um novo tempo. Não nascera da atividade industrial e sim da “vontade” de um redentor e
passara a representar não apenas a cidade, mas o esforço do estado para entrar na modernidade.
As transformações na paisagem intraurbana oferecem pistas das transformações regionais,
especialmente no que toca à valorização fundiária. Podemos dizer que Goiânia constituiu-se em
um “ambicioso patrimônio”, pois por trás dessas formas urbanas, além da perspectiva religiosa
que encerravam, existia uma estratégia de valorização das terras por parte dos fazendeiros
doadores. Do ponto de vista do negócio fundiário, sempre foi lucrativo transformar hectare
em metro quadrado e, igualmente, reservar um estoque de terras para futuros parcelamentos.
Goiânia se instala a partir de dois processos básicos: doação e venda de terras para construir o
sítio da nova capital. Como consta nos registros de doação reproduzidos em Monteiro (1979),
os fazendeiros abriram mão de aproximadamente 70 alqueires de terra para formar o perímetro
urbano, o que era pouco quando consideramos a média de área das propriedades do município
de Campinas, que era de 97.500 hectares.4 A leitura do Recenseamento de 1920 (BRASIL,
1923) e da Ata de Doação de Terras, lavrada em março de 1932, demonstra as correspondências
entre os doadores e proprietários de fazendas, especialmente Maria Alves Magalhães e Urias
Alves Magalhães, proprietário da fazenda Criméia, Andrelino de Moraes, proprietário da
fazenda Botafogo, Licardino de Oliveira Ney, proprietário da fazenda Catingueiro e Octavio
Tavares de Moraes, proprietário da fazenda Caveiras. A Figura 36 indica o local de construção e
localização das fazendas mais próximas ao plano piloto, o que coaduna nossa afirmação de que
Goiânia transformou-se em um excelente negócio fundiário tanto para os fazendeiros quanto
para o Estado, fato reconhecido pela criação do Departamento de Propaganda e Vendas de
Terras, pelo Decreto no. 4.739, de 20/06/1934, que atuava no perímetro do plano piloto.5

Tabela 08 - Valor das terras de cultura, abrangendo terras de vários tipos, em 1946 (Cr$)
Município Próximo à sede municipal Um pouco afastado Muito afastado
Goiânia 20.000,00 12.000,00 2.200,00
Anápolis 4.000,00 3.500,00 3.000,00
Anicuns 5.000,00 4.000,00 3.500,00
Goiás 500,00 550,00 600,00
Inhumas 4.000,00 3.500,00 2.000,00
Itaberaí 5.000,00 3.000,00 1.500,00
Trindade 5.000,00 3.000,00 1.000,00
Jaraguá 5.000,00 3.000,00 1.000,00
Fonte: Faissol (1952)

A valorização fundiária, na escala regional, reproduziu-se na escala intraurbana, com


o inflacionamento dos lotes. Na Tabela 08, observa-se que as terras mais próximas da capital
aparecem com valores nove vezes superior ao das terras afastadas. A valorização ocorre nos
demais municípios indicados, com exceção da Cidade de Goiás, onde as terras mais afastadas

- 104 -
Figura 36 - Terras adquiridas pelo Estado de Goiás para implantação de Goiânia

- 105 -
aparecem mais valorizadas. Possivelmente são terras localizadas a leste da antiga capital,
portanto mais próximas de Goiânia. A valorização ocorreu de forma radial, tendo como cume
as áreas centrais da nova capital. A crescente oferta e a consequente valorização das terras
justificavam-se por um fato simples. Goiânia, depois de instalada em 1933, incorporou não
apenas a área do município de Campinas, mas também de Hidrolândia, Ribeirão (atual Guapó),
São Geraldo (atual Goianira) e Trindade, que se transformaram em distritos, além de parte
das áreas de Anápolis e Bela Vista de Goiás. Por isso, é possível supor que a área de Goiânia,
na década de 1940, equivalia a mais de 3.500 km2, superior aos atuais 746 km2. Quanto à
população da cidade, incorporando Campinas, era de 26.065 habitantes em 1940, estando os
demais habitantes distribuídos nos quatro distritos de Goiânia, como indica a Figura 38. É
preciso lembrar a distância entre Goiânia e as vilas- sedes desses distritos e as condições de
acesso, afinal 35 km e 32 km de estradas precárias separavam a capital de Hidrolândia e de
Guapó, respectivamente. É difícil imaginar que nos primeiros anos da construção os habitantes
de São Geraldo, Ribeirão, Hidrolândia e Trindade participassem ativamente do contexto urbano
da nova capital, como pode induzir a análise normativa que inclui a população total do município
de Goiânia.

Figura 38 - Goiânia: população da cidade e distritos, 1940

Uma cidade planejada, nos moldes de Goiânia, requereria, sobretudo, uma estratégia de
mobilização de mão-de-obra, demanda solucionada com o estímulo à migração. A mobilização
paralela, sem tanta importância para o Estado, foi a da moradia, pois quase sempre a visão é
de que a condição de migrante é temporária, o que implica que, ao acabarem as tarefas, estes
trabalhadores possam se deslocar para outras áreas. Entretanto, isso não corresponde à verdade,

- 106 -
mesmo porque o migrante, pelo menos no primeiro momento, compartilhava da representação
da cidade como lugar de progresso, resultado da dedicação e do trabalho árduo, o que os fazia
acreditar na sedentarização. De qualquer forma, a visão de comunhão em torno de um projeto
comum não correspondia aos conflitos cotidianos e à exploração dos trabalhadores, como
analisado pela literatura. O fato é que Goiânia, na medida em que aumentava a população,
demonstrava que não era diferente, do ponto de vista da natureza do processo urbano, das
demais cidades brasileiras. Eli Brasiliense (2002, p.44), no romance Chão Vermelho, escreve:
As casas de tábua, onde o governo assinara decretos de zungu, haviam desaparecido. Cada
semana a cidade mudava de feição, esparramava-se para todos os lados, escorraçando
gente pobre do centro.

Para quem imagina que o crescimento urbano a partir de 1970 teria sido a demonstração
inequívoca do processo de segregação espacial, não há porque duvidar da descrição do
romancista, pois o processo de expansão horizontal foi motivada pela valorização das terras e
aos pobres, descapitalizados, só restou distanciar-se das áreas centrais. A ação do mercado, em
associação com o Estado, colocou reticências na imagem de uma cidade planejada, bucólica. O
papel dos atores sociais, como o setor imobiliário e os proprietários fundiários, foi determinante
na configuração do espaço urbano e a segregação (espacial-residencial), portanto, está na
gênese de Goiânia. Está aí, de fato, a novidade na experiência urbana de Goiânia. A escala
da segregação, associada à densidade urbana das áreas centrais e ao contexto da exploração
e disciplinarização do trabalho, diferenciava Goiânia das demais cidades do território goiano.
A densidade, traduzida em relações cotidianas movidas pelas necessidades de reprodução
da vida urbana, distintas daquelas da vida rural, a exemplo do lazer nas áreas programadas e
diferenciadas segundo as classes sociais, o fracionamento do solo, a dinâmica da construção
civil, a centralidade político-administrativa e a apropriação de espaços públicos caracterizavam a
experiência urbana de Goiânia. O argumento de Bernardes (2009, p.40) confirma esse contexto:
Os operários que construíram Goiânia, em sua maioria, participaram de experiências
comuns, homogêneas, nas obras, nas vilas onde moravam, nas suas relações com o
comércio nascente, com o Estado, nas formas de representação e organização. O urbano
que aí surge é constituído pela participação de sujeitos que, embora construtores deste
próprio espaço, são privados, em sua grande maioria, de usufruírem do resultado da
produção de seu trabalho.

A expansão horizontal foi uma das consequências da pressão por moradia, fazendo
surgirem diversos bairros para as camadas populares. Ao mesmo tempo, inicia-se a verticalização
das áreas centrais, como o Setor Central e o Setor Oeste. A Figura 39, da década de 1960, mostra
como as áreas centrais já estavam bastante ocupadas. De 1960 para 1970, Goiânia acrescentou
206.356 habitantes no sítio urbano, e de 1970 para 1980, somaram-se outros 336.427 habitantes,
o que fez a capital abrigar, em 1991, 922.222 habitantes. (BRASIL, 1991)

- 107 -
Figura 39 - Planta funcional da cidade de Goiânia, 1948

Mas, como compreender esse processo a partir da análise intraurbana?


A noção de intraurbano, associada ao uso do solo, permite compreender como a dinâmica
entre mobilidade e centralidade estruturou o espaço urbano a partir da década de 1960, quando,
definitivamente, o zoneamento funcional, com sua centralidade pré-determinada, não mais
correspondeu à realidade urbana. Mesmo antes de 1960 não era possível imaginar um local
para habitação, outro para o comércio e outro para a indústria, cujo limite correspondia, grosso
modo, à faixa da Avenida Independência, onde se instalara a Estação Ferroviária. Nem mesmo
o bairro operário permaneceu o mesmo, pois a chegada de migrantes não cessava, exigindo a
incorporação de novas áreas nos arrabaldes da cidade para atender às camadas não-solváveis.
O mesmo raciocínio serve para o Setor Sul, que muito cedo perdeu sua função de moradia,
descaracterizando o sistema de becos (cul-de-sac) ou mesmo para inúmeras vielas de circulação
na área central, que atualmente servem de estacionamento ou de depósito para os ambulantes.
De alguma forma, os princípios românticos de Howard (2002), que inspiraram o plano original
de Goiânia, desmancharam-se, demonstrando que a ambição daquele urbanismo era tão frágil
quanto seu sucessor, ou seja, o urbanismo moderno, com seu zoneamento aparentemente rígido.
O incremento demográfico implicou na demanda crescente por serviços distribuídos
desigualmente no território. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho foi incapaz de absorver

- 108 -
a mão-de-obra, especialmente na construção civil, não restando alternativa para a população
marginalizada senão se submeter às formas mais precárias de trabalho, o que já se percebia
na área central da cidade. O resultado desse movimento agravou-se na década 1970 e teve
como pano de fundo a questão da habitação, pois as mínimas condições para a reprodução do
trabalho, entre elas a habitação, não estavam disponíveis para as camadas pobres. Em pleno
período autoritário e com forte presença do Estado para garantir o direito à propriedade privada,
formava-se o caldo necessário para motivar a organização dos movimentos sociais na luta pela
moradia. Moysés (2000, 2004) pesquisou o processo de formação da região Noroeste de Goiânia
a partir da ação de atores com o Estado, o mercado imobiliário e os movimentos sociais. A
ocupação da fazenda Caveirinha, no bojo do governo militar, exemplifica a efervescência da
luta pela moradia. Moysés (2004) enxergou o período a partir de duas perspectivas. A primeira
foi a expansão da cidade legal, demarcada pela verticalização, e a ampliação dos loteamentos
legais. A segunda, como coloca o autor, é a expansão da cidade ilegal.
A cidade também cresceu horizontalmente, porém via loteamentos clandestinos,
irregulares e áreas de posse produzidas tanto pelo poder público quanto pela iniciativa
privada. Esses espaços transformaram-se numa arena de conflitos entre o poder público,
os sem teto e as imobiliárias. A meu ver, é nesse período que fica mais explícito o perfil da
cidade dual, vão ocupar a cena política, social e ideológica e marcar de forma definitiva
a dinâmica urbana da cidade no período de 1980-95.

Todavia, a luta pela terra não ocorreu somente na periferia e não teve como resposta
apenas a doação de lotes ou mesmo casas de placas de concreto em regime de mutirão, como na
Vila Mutirão. Áreas do Setor Universitário e do Jardim Novo Mundo foram objeto de ocupação
por movimentos sociais, fato não mais perceptível, já que a paisagem foi transformada, restando
apenas vestígios dessas formas de ocupação. De igual forma, movimentos sociais fomentaram
a ocupação de áreas às margens da Avenida Botafogo, para fins de moradia. Posteriormente,
parte das famílias pobres foram removidas para dar lugar à Marginal Botafogo. Outra história
de ocupação que resultou em conflito ocorreu em 2005, na ocasião da desocupação do Parque
Oeste Industrial. A estratégia de retirada dos moradores foi amparada por forte aparato militar,
além da grande mídia que, historicamente, contribuiu com a criminalização dos movimentos
sociais. No dia do conflito, em 16/02/2005, várias pessoas foram feridas e duas mortas, além
das detenções. A gleba em questão serviu como estoque de terras em uma região de crescente
processo de valorização e verticalização, o que se confirmou nos últimos anos com a implantação
de vários condomínios verticais.
Na história da luta pela terra em Goiânia não apenas os pobres usaram do expediente
de ocupação de terras, posto que atores sociais de peso econômico ocuparam fundos de vales
e áreas públicas para construção de residências e empreendimentos imobiliários de caráter
comercial, a exemplo de shoppings centers, fato documentado por Martins Júnior (1996). Aliás,
as estratégias de criminalização da miséria, reproduzidas por vários segmentos da sociedade,
encontraram na paisagem urbana um fértil campo para reprodução dos preconceitos. Não raro

- 109 -
as áreas pobres são adjetivadas de “invasões” e outros termos depreciativos que camuflam, para
lembrar Souza (2011), seu verdadeiro significado sociopolítico. Já para as edificações de alto
padrão, mesmo situadas em áreas públicas ou ambientalmente impróprias e, portanto, tão ilegais
quanto aquelas ocupadas por pobres, não são reservados epítetos semelhantes. Se o urbano é
produto das contradições de nossa sociedade, então é possível admitir, para lembrar Jacobs
(2000), que os preconceitos em relação aos bairros pobres camuflam não apenas uma visão
conservadora, que apregoa a necessidade de reurbanizacão, mas também a impossibilidade
de reconhecer, na diversificação dos usos do espaço urbano, uma saída para problemas como
segurança, desemprego e déficit habitacional.
Outro aspecto da estratégia dos atores imobiliários são os condomínios horizontais
de alto padrão. A trajetória da implantação desse segmento habitacional em Goiânia não se
diferencia, do ponto de vista da natureza do processo, daquilo que ocorreu em outras cidades
brasileiras. Segundo dados da SEPLAM (GOIÂNIA, 2010), em 2009 havia 10.169 lotes
nos condomínios horizontais da capital, perfazendo uma área total de 12 km2. Nota-se uma
diversificação do padrão arquitetônico, bem como do valor do m2, sendo os mais valorizados os
complexos Alfaville e Jardins e o condomínio Aldeia do Vale. A conversão de antigos estoques
de áreas rurais, como aqueles que margeiam a GO-020, permitiu a expansão desse modelo de
empreendimento imobiliário. Não raro, as áreas recebem generosos investimentos públicos,
seja por meio da urbanização de parques, seja pelos deslocamentos de órgãos públicos, o que
colabora para a valorização fundiária. A implantação do Parque Flamboyant, do Centro de
Cultura e Convenções Oscar Niemayer e do Paço Municipal na região Sudeste de Goiânia
prova que as obras governamentais valorizam área privadas. Aliás, a valorização fundiária
acompanha as políticas de urbanização de parques e bosques. O investimento governamental,
portanto, corrobora para a ampliação dos lucros do capital imobiliário.
Na medida em que o estoque de terras em Goiânia inflacionou, a solução, anunciada na
década de 1970, além das clássicas estratégias de remoção da população pobre para áreas sem
infraestrutura, foi acionar, mobiliar, os estoques de terras mais próximos, ou seja, os municípios
vizinhos que haviam se emancipado. A raiz da Região Metropolitana de Goiânia, portanto,
encontra-se na questão fundiária, e Aparecida de Goiânia constitui o exemplo mais elucidativo
desse processo. Não basta dizer que a migração provocou o rápido incremento demográfico
de Aparecida de Goiânia, como indica a Figura 40. É necessário esclarecer os motivos desse
crescimento, desvendando as ações e estratégias de atores sociais como o Estado e o capital
imobiliário na ocupação dos municípios periféricos. Por isso há uma articulação entre os
processos espaciais (centralização, coesão, especialização, descentralização, segregação etc)
descritos por Corrêa (1989) e o papel dos promotores imobiliários e dos proprietários fundiários
e isso serve tanto para a escala intraurbana quanto para a escala metropolitana. As mudanças no
uso do solo na metrópole goianiense reverberam nos demais municípios.

- 110 -
Metropolização

Fonte: Foto do autor, janeiro de 2011

“Os condomínio exclusivos são o símbolo máximo do que se pode designar como auto-
segregação, a qual representa o contraponto da segregação induzida (que se refere basicamente
aos loteamentos irregulares das periferias urbanas e às favelas; no caso, a segregação é induzida
pela própria pobreza, pelo menor poder aquisitivo, que força uma parcela considerável da
população a se sujeitar a morar em espaços quase desprovidos de infraestrutura, negligenciadas
pelo estado e até mesmo insalubres”. (SOUZA, 1996, p.54). Nos últimos anos, a expressão
condomínio fechado tem sido utilizada de forma diferenciada pelo mercado imobiliário. Desde
os clássicos condomínios Alfaville, retratado na figura, com amplas áreas verdes e espaços de
recreação privados, até loteamentos para camadas populares tem recebido tal epíteto. Apesar das
diferenciações nos padrões urbanísticos dos condomínios e idílicos das residências, a expressão
ainda guarda certa positividade, demarcando espaços que aliam, teoricamente, segurança,
conforto ambiental e acessibilidade.

- 111 -
Figura 40 - Aparecida de Goiânia – evolução populacional

Como esse processo foi estruturado? A maneira tradicional pautou-se na utilização de


mecanismos legais, como a exigência de infraestrutura básica, o que onerou o acesso à terra
urbana na capital, abrindo espaço para a demanda solvável. Mais importante do que o acesso
aos locais de emprego e serviços, o acesso à casa própria, por intermédio de subsídios de lotes
afastados das áreas centrais e, não raras vezes, nos municípios periféricos, foi fator de atração para
o migrante descapitalizado. Essa estratégia, pelo aspecto ideológico que encerra, não encontrou
muita resistência, afinal o que o Estado ofereceu foi a possibilidade de parte da população pobre
realizar o sonho da casa própria. Ao mesmo tempo, houve o estímulo, em municípios localizados
nas franjas da capital, com o surgimento de loteamentos sem infraestrtura e serviços básicos, para
atender à demanda não-solvável, especialmente os migrantes que chegavam à capital sem poder
aquisitivo para adquirir residências ou mesmo entrar no circuito da locação. Ao lado disso, a ideia
de ilegalidade começou a povoar a política urbana, criminalizando a ocupação de áreas, muitas
das quais sob o epíteto de risco ambiental. Na medida em que o m2 do solo encarece em Goiânia
e a chegada de migrantes não cessava, ocorreu uma drenagem da população para os municípios
limítrofes sem infraestrutura básica (coleta de esgoto, água tratada, asfalto, iluminação pública
etc), bem como serviços públicos na área de educação e saúde. Tal processo, comum em várias
regiões metropolitanas brasileiras, foi interpretado como um sintoma de desmetropolização ou
mesmo involução metropolitana. A migração para os municípios periféricos, em grande parte,
resultou do deslocamento de segunda origem. Para utilizar uma expressão vulgar, ao mesmo
tempo em que Goiânia atraía, no primeiro momento, também expulsava, no segundo momento.

- 112 -
Metropolização

A figura ilustra aspectos da ocupação do solo no Jardim Atlântico, na divisa de Goiânia com
Aparecida de Goiânia. Dados da Prefeitura de Goiânia (GOIÂNIA, 2010), registraram a
presença, em 2010, de 1.518 lotes particulares no bairro. Em outros bairros próximos, como o
Faiçalville, o Parque Amazonas e a Vila Rosa, foram registrados, respectivamente, 2.565, 933 e
1.173 lotes particulares. A área total desses lotes é de aproximadamente 3.424.404 m2. Tomando
como padrão a metragem de recentes lançamentos de loteamentos, que raramente ultrapassam
os 280 m2, é possível deduzir que apenas essas áreas poderiam abrigar mais de 12.000 lotes
para fins de habitação popular. As áreas em questão são dotadas de infraestrutura urbana
(iluminação pública, rede de água e coleta de esgoto, asfalto, telefonia etc.), serviços públicos
de saúde e educação, além de linhas de transporte coletivo regulares. Apesar disso, tanto o
poder público municipal quanto a iniciativa privada promovem a expansão horizontal em áreas
com deficiências em infraestrutura urbana e serviços de consumo coletivo e transporte, o que
onera a atuação do poder público. No dia 20 de janeiro de 2010, a Agência Municipal de Meio
Ambiente publicou edital número 5.028 notificando proprietários de lotes a realizar serviços de
limpeza, roçarem e drenagem, sob pena de multa e pagamento de taxas de serviços pela limpeza
executada pela prefeitura. A primeira lista publicada impressiona e sua análise revela, já que
as pessoas físicas e jurídicas são identificas no edital, o processo de concentração fundiária
em setores como Santa Genovera, Jaó, Faiçalville, Jardim Goiás e Parque Oeste Industrial.
Neste último, 16 lotes pertencem a mesma pessoa física. No caso do Faiçalville, outros 20 lotes
são registrados em nome da mesma pessoa jurídica. Os exemplos ilustram as dificuldades do
poder governamental em fazer com que a função social da propriedade, garantida no Estatuto
da Cidade, seja efetivada.

- 113 -
Tabela 09 - Crescimento geométrico - Municípios selecionados na RMG
Município 1970/1980 1980/1991 1991/2000
Goianira 2,09 5,07 6,0
Senador Canedo 1,14 20,62 9,27
Trindade 3,12 5,28 4,93
Aparecida de Goiânia 19,03 13,89 7,3
Goiânia 6,57 2,33 1,94
Fonte: Brasil (1980, 1991, 2000)

A Tabela 09 é a expressão desse processo, na medida em que demonstra que os municípios


selecionados apresentam, entre 1980/1991 e 1991/2000, taxas geométricas muito superiores às
verificadas na capital. Enquanto Goiânia cresceu a taxas de 6,57% entre 1970 e 1980, 2,33%
entre 1980 e 1991 e 1,94% entre 1991 e 2000, Senador Canedo, entre 1980 e 1991 cresceu
20,62%; Aparecida de Goiânia, 13,89% e Goianira, 5,07%, taxas que se reduzem no período
seguinte, muito embora ainda se apresentem muito superiores à média do estado e da capital.
Mas isso não significa, propriamente, que Goiânia perdeu população, pois a vida de relações
(trabalho, estudo e lazer) continuou tendo fortes vínculos com a capital.

Figura 41 - RMG: deslocamento para trabalho e estudo de pessoas acima de 10 anos, municípios selecio-
nados, 2000

A Figura 41 evidencia tal processo, pois 33,11% e 36,46% da população acima de


10 anos de Aparecida de Goiânia e de Senador Canedo, em 2000, deslocavam-se para outro
município para atividades de trabalho e estudo. Em pesquisa no município de Aparecida de

- 114 -
Goiânia, relacionando local de moradia com perfil profissional, Arrais (2006) demonstrou que
nos bairros mais distantes e com maior migração pendular para Goiânia, havia predominância
de trabalhadores domésticos e da construção civil. Impressiona o fato, comprovado pelos
dados do Ministério do Trabalho, para 2009, que, entre as ocupações com maiores estoques
de emprego formal em Aparecida de Goiânia, estivessem a de vigilante, faxineiro, porteiro de
edifício e trabalhador de serviço de limpeza (MTE, 2009). Somado às péssimas condições do
transporte coletivo, é possível deduzir que as pessoas com menor renda e menor qualificação
são as que residem mais distante do mercado de trabalho e, por isso, gastam maior tempo
no deslocamento. Um trabalhador que resida, por exemplo, no bairro Madre Germana, em
Aparecida de Goiânia, e trabalhe no centro de Goiânia gastará aproximadamente 3,5 horas
do seu dia em deslocamento. Com o crescente peso do custo dos transportes no orçamento
familiar, somado às péssimas condições do transporte coletivo, a restrição à mobilidade passa a
ser forte componente da segregação, retrato generalizado para a maior parte dos municípios da
Região Metropolitana de Goiânia.

Região Metropolitana de Goiânia


Será que uma geografia intrametropolitana seria o resultado da soma das diversas
geografias intraurbanas? Certamente que não. Contudo, a interrogação nos coloca diante do
desafio de pensar o arcabouço teórico e a escala de análise. Pinto (2009, 2009b) demonstra
o jogo de escalas na análise metropolitana. De fato, sua interpretação leva à compreensão
das transformações no mercado de terras e na oferta de bens e serviços que implicaram na
formação de centralidades fora do polo metropolitano. Algo novo em relação à forma, mas
previsível na compreensão do processo metropolitano, pois a atuação do mercado e do Estado
nos municípios periféricos não difere, do ponto de vista da natureza do processo, daquilo que
ocorre em Goiânia. 6
Após a inclusão dos municípios pela Lei no. 78, de 25 de março de 2010, o perfil
demográfico da RMG tornou-se mais diferenciado. Os sete municípios incluídos (Inhumas,
Caturaí, Brazabrantes, Nova Veneza, Terezópolis de Goiás, Bonfinópolis, Caldazinha, Bela
Vista de Goiás e Guapó) completam uma espécie de anel no entorno da capital. Do ponto de
vista da forma espacial, a lógica radiocêntrica do plano original de Goiânia reproduziu-se na
escala metropolitana, prejudicando a integração paralela entre os demais municípios. A GO-
010 (acesso para Bonfinópolis), a GO-020 (acesso para Bela Vista de Goiás), a GO-040 (acesso
para Aragoiânia), a GO-060 (acesso para Trindade), a GO-070 (acesso para Goianira) e a GO-
080 (acesso para Nerópolis), além das BRs 060 e 153, permitem acesso à capital. Vejamos o
exemplo de Hidrolândia, que dista 36 km de Goiânia. O município faz fronteira oeste com
Bela Vista de Goiás e leste com Aragoiânia. Entretanto, o acesso mais frequente entre esses
municípios ocorre a partir de Goiânia, pela GO-020 e pela GO-040, não existindo estradas com
boas condições de trafegabilidade que permita o acesso lateral entre os municípios da porção

- 115 -
sul da Região Metropolitana de Goiás. A GO-219, estrada não-pavimentada, parte de Trindade,
passando por Abadia de Goiás, Aragoiânia, Hidrolândia e Bela Vista de Goiás. A estrada
constituiu uma importante via de comunicação regional no período colonial e até as primeiras
décadas do século XX ainda era utilizada como rota para escoamento de mercadorias como
arroz, gado, fumo, já que servia de ponte de ligação da região com a Estrada de Ferro, na altura
de Vianópolis. Atualmente é utilizada para circulação das comunidades rurais, escoamento da
produção agrícola e pecuária, especialmente leite e intermunicipal esporádica.

Figura 42 - Rodovia GO-219. Hidrolândia-Bela Vista de Goiás, Trindade-Abadia de Goiás e Hidrolândia-


Aragoiânia, respectivamente.
Fonte: Fotos do autor, janeiro de 2011.

A partir da análise da Figura 43 e da Tabela10, é possível identificar algumas


diferenciações nos municípios da RMG. À primeira vista, o destaque é para o incremento
populacional absoluto de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade. Entretanto, ao
considerar o incremento populacional relativo, notamos que municípios como Aragoiânia, Bela
Vista de Goiás, Brazabrantes, Caldazinha, Goianira, Hidrolândia, Santo Antônio de Goiás e
Terezópolis de Goiás tiveram acréscimo populacional, entre 2000 e 2010, de 96,50%, 99,8%,
88,04%, 178,22%, 88,55%, 122,02%, 82,91% e 81,47%, respectivamente. É possível supor
que municípios com tal perfil demográfico (a maior parte com população abaixo de 20.000
habitantes) demandem serviços públicos, infraestrutura urbana e moradia, agendas próprias
de cidades mais populosas. Outro dado a observar é o perfil rural de alguns municípios, a
exemplo de Bela Vista de Goiás, Caldazinha, Hidrolândia e Aragoiânia, que ainda dispõem de
considerável estoque de terras rurais. O município de Goianira, resultado da expansão da região
Noroeste de Goiânia, assiste a um processo semelhante àquele do primeiro anel de expansão
da RMG, representado por Senador Canedo, Aparecida de Goiânia e Trindade. Inhumas,
apesar do incremento populacional abaixo dos demais, passa por intensas transformações no
espaço urbano, demonstrado pelas negociações imobiliárias, pela densificação do centro, com
o crescimento do setor de serviços, como concessionárias, agropecuárias, alimentação e varejo
em geral. Na produção agropecuária o destaque é para o setor sucroalcooleiro, que registrou, em
2009, a produção de 480.000 toneladas de cana-de-açúcar em área de 6.386 hectares. (BRASIL,
2009)

- 116 -
Figura 43 - Região Metropolitana de Goiânia: população por local de residência e área urbana, 2010

- 117 -
Tabela 10 - Região metropolitana de Goiânia – Dados demográficos
População 2000 População 2010
Município Área km2
Total Urbana Rural Total Urbana Rural
Abadia de Goiás 145.55 4.971 3.096 1.875 6.868 5.072 1.796
Aparecida de Goiânia 288.46 336.392 335.547 845 455.735 455.264 471
Aragoiânia 218.75 6.424 4.262 2.162 8.375 5.529 2.846
Bela Vista de Goiás 1.276.61 19.210 12.278 6.932 24.539 17.945 6.594
Bonfinópolis 122.25 5.353 4.908 445 7.536 7.021 515
Brazabrantes 123.5 2.772 1.723 1.049 3.240 2.179 1.061
Caldazinha 311.68 2.859 1.194 1.665 3.322 1.918 1.404
Caturaí 207.15 4.330 3.117 1.213 4.670 3.655 1.015
Goianápolis 162.38 10.671 9.805 866 10.681 9.677 1.004
Goiânia 739.49 1.093.007 1.085.806 7.201 1.301.892 1.296.969 4.923
Goianira 200.40 18.719 18.064 655 34.061 33.455 606
Guapó 517.00 13.863 9.916 3.947 14.002 11.354 2.648
Hidrolândia 944.23 13.086 7.836 5.250 17.398 10.455 6.943
Inhumas 613.34 43.897 39.976 3.921 48.212 45.079 3.133
Nerópolis 204.21 18.578 17.253 1.325 24.189 23.208 981
Nova Veneza 123.37 6.414 5.354 1.060 8.129 7.026 1.103
Santo Antônio de Goiás 132.80 3.106 2.564 542 4.690 4.258 432
Senador Canedo 244.74 53.105 50.442 2.663 84.399 84.066 333
Terezópolis de Goiás 106.97 5.083 3.616 1.467 6.562 5.677 885
Trindade 713.20 81.457 78.199 3.258 104.506 100.107 4.399
Total 7.397.20 1.743.297 1.694.956 48.341 2.173.006 2.129.914 43.092
Fonte: Brasil (2000, 2011)

A correlação da Figura 43 com a Tabela 11 ajuda na compreensão da economia


metropolitana, uma vez que emprego e renda são determinantes para moradia e consumo.
Observa-se que o rendimento no município de Santo Antônio de Goiás é 2,66 superior ao
registrado em Brazabrantes. O aumento da massa salarial é resultado do emprego público
federal, com destaque para a Embrapa Arroz e Feijão, localizada na GO-462, na zona rural
de Santo Antônio de Goiás. O impacto da massa salarial do funcionalismo público em um
município com esse perfil demográfico é relevante, o que causa uma distorção na análise e nos
faz comparar os rendimentos dos demais municípios com Goiânia. Os municípios com menor
renda e empregos formais são aqueles resultantes da última inclusão da Lei 78, de 25/03/2010,
com rendimentos abaixo de 800,00, a exemplo de Caldazinha, Brazabrantes e Caturaí. Exceção
para Bela Vista de Goiás e Nerópolis, onde o valor adicionado do PIB, em 2007, foi maior na
indústria. Os laticínios e o processamento de água mineral, no primeiro município, e a indústria
de alimentação (condimentos e temperos), no segundo, são os principais empregadores. Os
demais municípios apresentaram maior peso na composição do PIB no setor de serviços,

- 118 -
incluindo a administração pública. A maior massa salarial de Goiânia justifica-se pela economia
de aglomeração, pelo peso do setor público e, principalmente, do comércio e de serviços que
respondem pela maior formalização do emprego, com exceção de Inhumas, onde identifica-se
uma correspondência entre a população absoluta e o número de empregos formais. Inhumas
é o quinto mais populoso da RMG, atrás de Senador Canedo. Porém, quando se considera o
número de empregos formais, Senador Canedo perde para Inhumas, fato resultante do perfil
econômico e da dependência de Goiânia.7

Tabela 11 - RMG - EMPREGOS FORMAIS E RENDIMENTOS MÉDIOS, 2009


Número de % em
Rendimento
Município empregos Setor de maior participação relação ao
médio (R$)
formais total
Abadia de Goiás 828 790,92 Administração Pública 35,99
Aparecida de Goiânia 94.106 914,39 Serviço 47,35
Aragoiânia 801 769,81 Administração Pública 37,32
Bela Vista de Goiás 3.622 940,77 Indústria de Transformação 32,38
Bonfinópolis 636 782,26 Administração Pública 52,83
Brazabrantes 483 755,47 Administração Pública 35,57
Caldazinha 387 759,28 Administração Pública 65,89
Caturaí 371 853,51 Administração Pública 52,56
Goianápolis 705 944,04 Administração Pública 49,50
Goiânia 509.775 1.503,39 Administração Pública 32,10
Goianira 4.087 833,03 Indústria de Transformação 27,79
Guapó 1.258 868,74 Administração Pública 40,30
Hidrolândia 2.500 858,58 Indústria de Transformação 34,28
Inhumas 8.437 821,52 Indústria de Transformação 31,61
Nerópolis 5.378 916,26 Indústria de Transformação 41,09
Nova Veneza 1.493 963,38 Indústria de Transformação 27,32
Santo Antônio de Goiás 1.116 1.979,84 Serviços 56,98
Senador Canedo 6.405 1.131,21 Administração Pública 32,86
Terezópolis de Goiás 672 798,89 Indústria de Transformação 32,14
Trindade 11.206 894,98 Indústria de Transformação 42,02
Fonte: Goiás (2010), RAIS-MTE(2009)

Ainda há um ponto a destacar sobre a Tabela 11. Trata-se da participação do emprego


formal, por setor, na economia municipal. Dos vinte municípios, em 2009, em dez houve
maior participação na administração pública, oito no setor industrial e apenas dois no setor de
serviços. O dado é suficiente para confirmar a pouca diversificação das economias, pois em
nove municípios a participação de um só setor foi acima de 40% do total dos empregos formais.
Das cinco atividades com maiores participações, quatro estão no setor de administração pública
- Caldazinha em primeiro (65,89%), seguido de Bonfinópolis (52,83%), Caturaí (52,56%) e

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Goianápolis (49,50%) - e uma no setor de serviços - Santo Antônio de Goiás (56,98%). A
Tabela 11 confirma a forte participação do emprego formal do poder público na geração de
renda municipal, o que configura um problema, na proporção que os municípios dependem das
transferências governamentais, especialmente do FPM (Fundo de Participação dos Municípios),
como demonstrou Alencar (2011) e Lacerda (2011). Já aqueles com maior participação na
indústria de transformação dependem de dois ou três grandes empregadores especializados
na área de alimentação e de bebidas, como é o caso de Nerópolis e Hidrolândia. Neste último,
os grandes empregados são empresas de água mineral, laticínio, frigoríficos e curtume. Em
Trindade, além da forte presença da indústria de confecções e similares, a produção de bebidas
é responsável pela oferta no emprego formal do setor. Ainda é preciso assinalar, no caso de
Trindade, o peso do setor informal na geração de emprego, que é fortemente influenciado pelo
fluxo de pessoas e, consequentemente, de renda, para o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno.
Como argumentamos, a oferta fundiária favoreceu a integração nas fronteiras com
Goiânia e, num primeiro momento, atendeu os estratos de baixa renda. Em seguida, aqueles
com melhor poder aquisitivo passaram a adquirir lotes e residências nos municípios periféricos,
seja para moradia permanente, seja para moradia ocasional. Nesse último caso, enquadram-se
os municípios de Hidrolândia, Aragoiânia, Abadia de Goiás e Teresópolis de Goiás. A Tabela
12 permite algumas inferências sobre a questão fundiária e o déficit habitacional. A primeira
refere-se ao número de domicílios particulares não ocupados vagos. Em Goiânia, 10,18%
dos domicílios encontram-se nessa categoria, 11,57% em Aparecida de Goiânia, 9,8% em
Senador Canedo, 6,6% em Trindade, 11,50% em Goianira, 8,66% em Inhumas e 14,88% em
Bonfinópolis. Nos sete municípios selecionados há 75.684 domicílios vagos (BRASIL, 2011).
Dados de pesquisa da Fundação João Pinheiro detectaram um déficit habitacional, para o estado
de Goiás de 167.042 unidades habitacionais (BRASIL, 2007).8

Tabela 12 - Municípios rmg selecionados - Total de domicílios, 2010


Domicílios
Média de
Total de Domicílios particulares não Domicílios não
Município pessoas por
domicílios particulares ocupados de uso ocupados vagos
domicílio
ocasional
Goiânia 482.973 482.587 10.108 49.194 2,69
Aparecida de Goiânia 156.522 156.464 1.701 18.119 2,91
Trindade 34.956 34.888 568 2.309 2,98
Senador Canedo 27.786 27.769 731 2.728 3,03
Goianira 12.056 12.045 307 1.387 2,82
Inhumas 17.312 17.291 463 1.500 2,78
Bonfinópolis 3.004 3.002 177 447 2,50
Goiás 2.217.654 2.212.991 113.446 206.851 2,70
Fonte: Brasil (2010)
* Incluem domicílios particulares ocupados, domicílios particulares não-ocupados fechados e domicílios coletivos.

- 120 -
Então, poderíamos supor que o déficit é artificial. Admitir essa perspectiva, no entanto,
implica em desconsiderar a lógica do mercado, pois o problema habitacional não se localiza apenas
na oferta, mas no poder de compra de parcela da população que reside nas cidades brasileiras, e
na possibilidade da renda fundiária e no mercado de locação constituir um fator de acumulação de
capital. Ao mesmo tempo em que possui a menor média de habitantes por domicílio, o município
de Bonfinópolis registrou a maior relação entre domicílios não ocupados vagos e o total de
domicílios. Como se observa na Figura 44, o mesmo ator imobiliário comercializa lotes em
Goianira, Trindade e Senador Canedo. Como ocorre em outros municípios, o fator que colabora
para isso é o atendimento das demandas de Goiânia, o que prova a integração do mercado de
terras. Apenas em Goiânia, em 2010, a pesquisa do IBGE registrou 49.194 domicílios vagos. Parte
significativa constitui-se de apartamentos e não incluí as áreas em construção no Sul, Sudoeste e
Leste do município, com alguns milhares de imóveis na planta. Não entra nessa conta o número
de lotes vagos que, segundo dados da Prefeitura de Goiânia para 2010 (GOIÂNIA, 2011), foi
de 117.017 lotes. É utilizando esses estoques que atores sociais, como grupos imobiliários com
capilaridade nacional, vêm promovendo a verticalização em áreas de reconhecida fragilidade
ambiental, como o Goiânia 2. Nesse caso, é preciso registrar a atuação da AGB (Associação
dos Geógrafos Brasileiros – Seção Goiânia), que protocolou ação no ministério público contra
um empreendimento imobiliário por localizar-se em área de risco. A demanda é um exemplo
típico de disputa dos atores sociais na produção do espaço urbano e representa, pelo menos
temporariamente, uma vitória para aqueles que lutam por um ambiente urbano equilibrado.

Figura 44 - Encartes publicitários de dezembro de 2010.

Outro fato que tem colaborado para o aquecimento do mercado imobiliário é o


financiamento, a partir do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, que prevê
a construção de 1 milhão de residências, via financiamento em conjunto com o executivo
municipal, os Estados e o setor da construção civil, para população com renda abaixo de
10 salários mínimos.9 Algumas empresas têm preferido, diferentemente do passado, quando
predominava a comercialização de lotes, construir verdadeiros bairros padronizados, com
unidades habitacionais abaixo de 60 m2, para população de baixa renda, de tal modo que a taxa
de lucro é multiplicada, posto que a comercialização de residências implica no domínio da
cadeia de construção. Na verdade, assistimos o uso de velhas fórmulas de valorização fundiária

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Metropolização
GOIÂNIA - DESCRIÇÃO DO VALOR TOTAL DAS RECEITAS PRÓPRIAS, 2010

Descrição Apurado %

Imposto Territorial Urbano 48.019.415,41 7,0017

Imposto Predial Urbano 180.020.726,05 26,249

I.S.T.I. 101.446.707,03 14,792

I.S.S. 303.615.010,20 44,2705

Taxas 11.703.602,22 1,7065

Contribuição 5.140.566,59 0,7495

Multas, juros de mora 10.777.247,83 1,5714

Dívida ativa 20.400.921,22 2,9746

Receitas diversas 2.513.079,04 0,3664

Receita de valor imobiliário 2.180.333.59 0,3179

Total 683.637.275,59 99,9995


Fonte: Goiânia (COMTADA, 2011)

A regulação do uso da propriedade urbana é um importante instrumento para a política


fundiária e a economia municipal. Na participação total das receitas, que inclui transferências
da união e do estado, entre outras, os impostos que incidem sobre a propriedade compõem
destacada fração do montante das receitas de cidades populosas. Em Goiânia, a soma
do ITU (Imposto Territorial Urbano), com o IPTU (Imposto Predial Urbano) e o I.S.T.I.
(Imposto Sobre Transmissão de Imóveis) foi superior, em 2010, ao montante do I.S.S.
(Imposto Sobre Serviços). Considerado isoladamente, o valor do IPTU foi maior, em
2010, que as transferências do Fundo de Participação dos Municípios (128.784.724,34).
Já o I.T.R. (Imposto Territorial Rural), repassado pela união, no mesmo período, foi de
102.912,13. Enfim, os impostos que incidem sobre a propriedade são um excelente indicador
da movimentação do mercado imobiliário, a exemplo do I.S.T.I.

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com taxas de lucro cada vez mais altas na comercialização para as camadas populares. Em
consulta realizada em incorporadoras durante o mês de dezembro de 2010, verificamos que
o m2 em determinado loteamento em Goianira, na divisa com Goiânia, era comercializado a
R$ 186,42. Tratam-se de lotes com área média de 231 m2. Avançando aproximadamente 2 km
para o norte, já em Goiânia, em área com as mesmas características, o valor do m2 passou para
R$ 317,10. Os lotes comercializados nos dois empreendimentos ainda podem ser financiados
em 140 meses com correção pelo IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), o que eleva a
rentabilidade. O valor do m2 se equipara aos encontrados em bairros consolidados, a exemplo
do Setor Santa Genoveva. Em comum entre esses e tantos outros lançamentos imobiliários
observa-se sua proximidade dos troncos viários de acesso à capital e a promessa de conforto
ambiental.

Figura 45 - RMTC - Rede Metropolitana de Transporte Coletivo


Fonte: http://www.rmtcgoiania.com.br/linhas-e-trajetos/toda-rede.

A observação da Figura 45 ilustra por que os eixos rodoviários são importantes


insumos para a compreensão da dinâmica fundiária. O anel rodoviário é formado por Goiânia,
integrando os municípios mais populosos, limítrofes Leste, Oeste, Noroeste e Sul, que são
aqueles com mancha conurbada ou em processo de conurbação, com destaque para os terminais
de Senador Canedo, Trindade, Goianira e Aparecida de Goiânia (Garavelo, Maranata, Cruzeiro,
Veiga Jardim, Vila Brasília e Araguaia). Como se observa, a área limítrofe sul dispõe de maior
número de linhas e terminais, fator justificado pela maior demanda por integração da malha
urbana. Observa-se também o padrão de integração radial, com pouca articulação lateral entre

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os municípios, especialmente no arco leste. No Plano Diretor de Goiânia (GOIÂNIA, 2010),
o mapa de planejamento viário descreve um anel metropolitano interligando os municípios
de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Trindade e Goiânia a partir da avenida Perimetral
Norte, o que permitira acesso para as rodovias BR-153 e GO-060 e poderá, caso efetivado,
melhorar o fluxo de veículos. No que tange a paisagem urbana, o que se nota é uma tendência
de diversificação dos espaços que margeiam as saídas radiais da capital. Se antes abrigavam
mecânicas pesadas, distribuidoras, empresas de alimentação, marmorarias, metalúrgicas,
revendas de piscinas, concessionárias de veículos pesados e implementos agrícolas, firmas
de logística, atividades que demandam grandes áreas, além dos motéis, agora têm a função
habitacional.
Mas, por que é importante compreender a forma de estruturação da rede de transportes?
Primeiro porque favorece a oferta de mobilidade, tanto para os deslocamentos para
trabalho, estudo e lazer quanto para o transporte de mercadorias, permitindo integrar os mercados
de consumo e produção. Segundo porque a expansão garantiu a valorização fundiária, fato
comprovado pela localização estratégica dos diferentes condomínios horizontais e loteamentos
ao longo dos principais eixos viários de acesso à capital.
A análise empreendida até aqui demonstra que a compreensão da geografia metropolitana
requer uma leitura que ultrapasse a análise intraurbana. A perspectiva territorial implica,
certamente, na consideração de conceitos como mobilidade e centralidade, instrumentos
importantes para a compreensão da integração e da fragmentação da RMG. Lévy (2002) salienta
que a mobilidade é uma relação social construída a partir da mudança de lugar. É relação social
porque, segundo o autor, a mobilidade envolve uma acessibilidade (presença dos sistemas
de circulação e transporte) e uma competência (o acesso a partir do preço). Acessibilidade e
competência formam, ainda segundo o mesmo autor, um capital social para os indivíduos que
os detêm. Já a centralidade, em termos simples, responde pelo rebatimento espacial do mercado
pela concentração diferencial de serviços, do setor varejista e de equipamentos de consumo
coletivo no espaço intrametropolitano.
Que impactos podemos observar que tornam possível o reconhecimento do processo de
metropolização?
1) O primeiro e mais tradicional é a mobilidade. A hipótese é que a comparação dos dados
de mobilidade de 2000 e 2010 (BRASIL, 2001, 2011), quando disponibilizados pelo
IBGE, ainda apontará para um intenso fluxo para a capital. No entanto, a tendência
é de uma maior heterogeneidade no padrão de deslocamento temporário para a
capital, na proporção que pessoas que integram outros estratos de renda e residem em
condomínios horizontais ou chácaras localizados nas proximidades (Senador Canedo,
Bela Vista de Goiás, Hidrolândia, Santo Antônio de Goiás etc), serão identificados na
pesquisa sobre deslocamento temporário.
2) A integração espacial acompanhou a integração do mercado de consumo, favorável à
capital, mas com crescente relação de complementaridade com outros municípios. Em

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Aparecida de Goiânia, por exemplo, é comum centros de distribuição de mercadorias.
Em Senador Canedo existe o centro de distribuição de combustíveis e GLP da
Transpetro e várias distribuidoras de combustível e gás, sem os quais o cotidiano da
capital estaria comprometido. O mesmo exemplo, relacionado ao setor de produtos
hortifrutigranjeiros, serve para Goianápolis, que salda a demanda da indústria de
alimentação e da CEASA (Centrais de Abastecimento do Estado de Goiás). Assim, é
possível, em várias áreas, reconhecer uma integração econômica motivada por fatores
locacionais, fundiários e incentivos fiscais.
3) O mercado fundiário é outra demonstração da integração. É compreensível que o
estoque de terras nos municípios limites aumente de acordo com o distanciamento
das áreas urbanizadas ou mesmo da proximidade de áreas rurais ainda remanescentes.
O estoque de terras, como ocorreu a partir de 1970, atendeu à pressão das camadas
populares. Atualmente, atende a demanda solvável de Goiânia. O número de
moradias de segunda residência e de condomínios horizontais é visível nas margens
dos eixos viários, o que ocorre com chácaras de lazer, pousadas e pesque-pagues. Ao
longo da GO-020 há os condomínios Alta Vista, Portal do Cerrado, além daqueles
de acesso, como o Villa Verde e o Mansões Morumbi, em Senador Canedo. Na
saída para Aragoiânia, no município de Abadia de Goiás, na GO-040, o Condomínio
Copacabana, em Trindade, ao longo da GO-070, o Condomínio do Lago, o mesmo
ocorrendo em Terezópolis, no condomínio Santa Branca, com acesso pela BR-060.
As transformações na paisagem urbana ocorrem nas demais cidades e podem ser
interpretadas a partir da consideração das centralidades dos municípios de Aparecida de
Goiânia, Senador Canedo, Trindade e Goianira. Essa perspectiva de análise rompe, de certa
forma, a imagem tradicional da hegemonia do polo central e o epíteto de cidades dormitórios
reservado aos municípios periféricos. Seria ingenuidade imaginar que as forças de mercado
não atuam nos municípios periféricos, mesmo porque existe uma demanda, seja por serviços
e equipamentos públicos, seja no setor varejista, bastando para isso observar o aumento da
população e do seu poder de consumo. Seria igualmente ingênuo supor que esses municípios
são ocupados por camadas homogêneas da população. Há áreas de Aparecida de Goiânia que
passam por intenso processo de valorização imobiliária, tanto em áreas residenciais quanto em
áreas industriais, como ocorre na Avenida Igualdade e na Avenida São Paulo, em Aparecida
de Goiânia ou mesmo na Avenida Dom Manoel, em Senador Canedo. É por isso que devemos
repensar o conceito de periferia, algo assinalado por Santos (1979, p.229), para quem:
A palavra periferia pode ser utilizada em diferentes acepções. Cada disciplina científica
pode lhe atribuir um significado próprio. Em termos geográficos, a periferia não será
definida pela distância física entre um pólo e as zonas tributárias, mas antes em termos
de acessibilidade. Esta depende essencialmente da existência de vias e meios de
transporte e da possibilidade efetiva de sua utilização pelos indivíduos, com o objetivo
de satisfazer necessidades reais ou sentidas como tais. Mas a incapacidade de acesso aos

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bens e serviços é, em si mesma, um dado suficiente para repelir o indivíduo, e também a
firma, a uma situação periférica.

Mas, que estratégias podem ser adotadas para que possamos pensar, de fato, em
integração dos municípios da Região Metropolitana de Goiânia? Essa integração, para além
da expansão da mancha urbana e da intensificação da mobilidade deve ser, sobretudo, social e
política. Todavia, para que isso ocorra, é necessário, na escala metropolitana:
l Política fundiária. A utilização de mecanismos como o IPTU (Imposto Predial
Territorial Urbano) e o ITU (Imposto Territorial Urbano) são imprescindíveis para
estimular a ocupação racional do solo urbano. Tradicionalmente, o estoque de
terras dos municípios limítrofes funcionou como um amortecedor da demanda não-
solvável capital. Tal fato, por um lado, drenou a demanda para esses municípios e, ao
mesmo tempo, favoreceu a concentração de renda na capital. O exemplo típico são
os parcelamentos nas franjas dos municípios para segunda residência, chácaras de
lazer ou mesmo primeira residência. Nesses casos, é comum que os moradores, para
utilizar uma expressão usual, fiquem de costas para a sede do município, na medida
em que a vida cotidiana, a exemplos de compras no varejo e utilização de serviços,
continua sendo efetuada em Goiânia. Enquadram-se nessa situação os condomínios
de chácaras em Senador Canedo, que têm pouca relação com o centro comercial da
cidade. Portanto, os impostos que incidem sobre a propriedade nessas áreas podem
ser majorados progressivamente.
l Política tributária. Considerando a integração dos municípios com a capital, o
ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) pode ser utilizado para atrair
determinados segmentos de empresas para os municípios. Os mecanismos tributários,
como isenção parcial de impostos sobre a propriedade e serviços, favorecem a
construção de especializações econômicas e diversificaram a oferta de empregos.
Mas é preciso uma política integrada, para que não se configure uma espécie de
guerra fiscal metropolitana. Em Aparecida de Goiânia, desde a década de 1990, foi
aprovado um conjunto de leis fomentando a transferência de empresas ligadas ao
setor de serviços, alimentação e logística, o que ampliou a oferta de empregos. Não
por acaso o município é o segundo de maior formalização de emprego na Região
Metropolitana de Goiânia. Muitas empresas da área de serviços, apesar de localizadas
em municípios como Aparecida de Goiânia, executam serviços na capital.10
l Política de descentralização. O uso dos serviços públicos ligados a educação e saúde
é responsável por parte significativa dos deslocamentos para Goiânia. É preciso que a
política de distribuição de serviços públicos seja orientada de acordo com a demanda
dos municípios. Basta verificar o número de leitos em hospitais públicos ou mesmo
vagas em universidades públicas na RMG para comprovar a necessidade de uma
política de descentralização que terá impacto positivo na mobilidade metropolitana.

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Aí a consideração da densidade e da mobilidade deveria ser um critério para a
criação de hospitais regionais, instituições públicas de ensino superior, bem como a
distribuição de equipamentos de consumo coletivos de grande monta.
l Política de gestão compartilhada. As discussões sobre o transporte coletivo, por
sua característica setorial, não são capazes de resolver os problemas que afligem
a população que reside nos municípios da RMG. Os consórcios públicos são
alternativas. Consórcios mais frequentes são aqueles nas áreas de educação, habitação,
aquisição de máquinas pesadas, serviços de saneamento e abastecimento de água,
além do atendimento à saúde. No ano de 2001, foram registrados 20 consórcios
na área da saúde e 18 na área de equipamentos e máquinas em Goiás (BRASIL,
2006), sendo a maior parte fora da RMG. Em se tratando da RMG, é possível pensar,
principalmente, em consórcios na área de saúde, abastecimento de água e coleta de
lixo. Existe a possibilidade de consórcios bilaterais, o que é uma saída, por exemplo,
para o gerenciamento da barragem do ribeirão João Leite, é necessário para conter
um previsível processo de ocupação fundiária que poderia comprometer a área de
abastecimento.
Na verdade, essas questões não são novas e são difíceis de tratar porque implicam no
rompimento da tradição político-administrativa brasileira. A análise da trajetória institucional
do ABC Paulista demonstra que é possível começar a partir dos problemas comuns, como
verificado em Klink (2001). Em alguns casos, os Comitês de Bacia têm apresentado uma boa
forma de lidar com os problemas mais urgentes, o que pode ser o início para estimular um
pensar regional. O principal desafio, portanto, não é reconhecer o processo de integração e sim
aquele situado por Ribeiro (2007, p.46):
Trata-se de construir um sistema institucional de ações cooperativas entre os níveis de
governo e entre estes e os atores da sociedade civil e do mercado. Há hoje um largo
consenso entre especialistas da existência de uma tendência ao policentrismo do poder
urbano, cujos fundamentos são, de um lado, o fato das metrópoles serem o palco de
intervenções orientadas pelas influências, necessidades e interesses de escalas distintas –
global, nacional, regional e local -, nas esferas econômica, cultural e social.

Enfim, o principal quesito para admitir, de fato, a existência de uma região metropolitana
é a existência e o funcionamento de instrumentos políticos que não apenas reconheçam a
integração territorial, mas que favoreçam o compartilhamento das ações e das responsabilidades
sobre o futuro. Para que isso ocorre é fundamental considerar a RMG como uma unidade
territorial onde diferentes atores sociais atuam.

Notas
1. Nas duas últimas décadas surgiram uma série de conceitos que procuram decifrar as formas de desenvolvimento
territorial, tendo como foco a cidade. Dentre esses conceitos podemos citar “Cidades Globais”, de Sassen (1998),
“Cidades Regiões-Globais”, de Scott et al (2001), “Estados Regiões”, de Ohmae (1996) e “Metápoles”, de Ascher
(1998), além da “Pós-Metrólole”, de Soja (2008). Em comum todos esses conceitos, a ideia de que a cidade é um

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ambiente inovador, que existem dificuldades institucionais no trato das demandas locais e que, por isso mesmo,
a análise e caracterização do espaço, seja para intervenção ou mesmo para reflexão, deve incluir os contextos
regionais.
2. Referindo-se ao processo de democratização e a institucionalização das metrópoles, Villaça (1997, p. 03) escreve:
“De qualquer forma, criou-se no Brasil, a ilusão de que a instituição de regiões metropolitanas ou aglomerações
urbanas traria, por si só, alguma vantagem ou ´status´ aos municípios integrantes. Não há, em nossa legislação,
nada nesse sentido. Nem na federal nem nas dos estados (pelo menos dentre os principais).”
3. Os vários decretos da década de 1930 são encontrados, na forma de anexos, nos livros Como Nasceu Goiânia, de
Ofélia Sócrates do Nascimento (MONTEIRO, 1979) e Oscar Sabino Júnior, Goiânia global (SABINO JÚNIOR,
1980).
4. “Alqueire - unidade de medida de superfície agrária equivalente em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás a
10.000 braças quadradas (4,84 hectares), e em São Paulo a 5.000 braças quadradas (2,42 hectares). Hectare = de
hect(o) mais are - unidade de medida agrária, equivalente a 100 ares ou 1 hectômetro quadrado.” In.: http://www.
clickreforma.com.br.
5. Relatório apresentado por Solon de Almeida, Superintendente da Seção Cadastral, em junho de 1936 aponta
que em 1934 foram comercializados 65 lotes (44 na zona residencial e 21 na zona comercial). Em 1935 foram
comercializados 763 lotes (276 na zona comercial, 485 na zona residencial e 1 na zona industrial. Os dados,
dispostos no livro de Monteiro (1979), demonstram um forte aumento das transações imobiliárias.
6. Villaça (2001) escreve sobre a imprecisão semântica da utilização do termo intraurbano, já que espaço urbano seria
mais satisfatória: “A distinção mais importante entre espaço intraurbano e espaço regional deriva dos transportes
e das comunicações. Quer no espaço intraurbano, quer no regional, o deslocamento da matéria e do ser humano
tem um poder estruturador bem maior do que o deslocamento da energia ou das informações. A estruturação do
espaço regional é dominada pelo deslocamento das informações, da energia, do capital constante e das mercadorias
em geral – eventualmente até da mercadoria força de trabalho. O espaço intraurbano, ao contrario, é estruturado
fundamentalmente pelas condições de deslocamento do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força
de trabalho – como deslocamento casa/trabalho -, seja enquanto consumidor – reprodução da força de trabalho,
deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc.” (2001, p.20).
7. Os dados sobre a formalização do emprego são necessários, mas não suficientes para explicar a dinâmica
econômica metropolitana. É preciso considerar a importância do trabalho informal na metrópole, assim como
as formas de precarização que o acompanham. Até nesse caso os municípios estão integrados, uma vez que é
comum vendedores ambulantes, sejam aqueles que atuam em locais específicos, como camelódromos ou mesmo
os que vendem produtos (água mineral, carregadores de celular, guarda-sol, frutas, mel, balas etc.) nos sinaleiros
e os que povoam as avenidas centrais comercializando uma infinidades de “novidades”, residam nos municípios
periféricos. Além da precarização do trabalho, mesmo marcados pela invisibilidade, esses sujeitos transformam
a paisagem da metrópole, criando uma arquitetura própria, também compartilhada por outras cidades do planeta.
Formam verdadeiras “Cidades ocasionais”, termo que “designa diferentes formas de ocupações temporárias do
espaço público, quer sejam de caráter comercial, lúdico, sexual, quer de outra índole, tendo a característica comum
de deixar apenas um rastro e de autogerir as aparições e desaparições”. (PERAN, 2009)
8. “A partir do conceito mais amplo de necessidades habitacionais, a metodologia desenvolvida pela FJP trabalha
com dois segmentos distintos: o déficit habitacional e a inadequação de moradias. Como déficit habitacional
entende-se a noção mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias para a solução
de problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo momento. Por outro lado, o conceito de
inadequação de moradias reflete problemas na qualidade de vida dos moradores: não estão relacionados ao
dimensionamento do estoque de habitações e sim a especificidades internas do mesmo. Seu dimensionamento visa
ao delineamento de políticas complementares à construção de moradias, voltadas para a melhoria dos domicílios
existentes. Com a preocupação de identificar as carências, principalmente da população de baixa renda, os números
do déficit e da inadequação dos domicílios são explicitados para diversas faixas de renda familiar, como feito nas
versões anteriores do estudo. Eles têm como enfoque principal famílias com até três salários mínimos de renda,
limite superior para o ingresso em grande número de programas habitacionais de caráter assistencial.” (BRASIL,
2009, p.15).
9. O programa Minha Casa Minha Vida, Lei nº 11.977/09 abrange, prioritariamente, as regiões metropolitanas e
municípios com mais de 100.000 habitantes, recorte onde se localiza o principal déficit habitacional brasileiro.
Segundo informações da Caixa Econômica Federal, o programa funciona da seguinte forma: “União aloca recursos
por área do território nacional e solicita apresentação de projetos. Estados e municípios realizam cadastramento da
demanda e após triagem indicam famílias para seleção, utilizando as informações do cadastro único. Construtoras
apresentam projetos às superintendências regionais da CAIXA, podendo fazê-los em parceria com estados,

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municípios, cooperativas, movimentos sociais ou independentemente. Após análise simplificada, a CAIXA
contrata a operação, acompanha a execução da obra pela construtora, libera recursos conforme cronograma e,
concluído o empreendimento, realiza a sua comercialização.” (CAIXA, 2010).
10. “A Lei nº 2.711/2007 Institui Incentivo a industrialização no município de Aparecida de Goiânia e da outras
providências. Art. 1 - Fica instituído no município de Aparecida de Goiânia como incentivo a industrialização o
e incremento e instalação de empresas em geral, Instituições Filantrópicas, Entidades Religiosas e Organizações
Não Governamentais, visando o desenvolvimento do Município, tanto nos parques industriais públicos, quanto nas
áreas onde são permitidas essas instalações, em conformidade com a legislação municipal em vigor, o atendimento
pela prefeitura com os seguintes serviços: a) terraplenagem; b)base para pavimentação; c)fornecimento de materiais
para aterramentos”. (APARECIDA DE GOIÂNIA, 2007) Muito embora a Lei seja de 2007, identificamos aumento
dos incentivos fiscais em Aparecida de Goiânia a partir do ano de 1998.

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Conclusão

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgados pelo Jornal O Popular revelaram
o montante de doações disponibilizadas por empresas para o financiamento de campanhas de
deputados federais, deputados estaduais e senadores em Goiás. Os setores que mais contribuíram
com as campanhas no pleito de 2010 estão descritos na tabela a seguir:

Tabela 13 - Doações de campanha política - 2010


Setor Valor (R$) Principais doadores Valor das principais doações
JBS S/A 2.200,000,00
Agroindústria 6.032.423,00 Vale do Verdão S/A Açúcar e Álcool 466,154,00
USJ Açúcar e álcool 386,700,00
Orca Construtora e Concreto Ltda. 700,000,00
Empreiteiras e
3.939.000,00 Telmont Engenharia S/A. 600,000,00
construtoras
Alusa Engenharia Ltda. 480,000,00
Stok Comercial Hospitalar Ltda. 728.730,00
Medicamentos 2.905.730,00 Amil Dist. De Medicamentos Ltda. 500,000,00
Midwau Internacional Labs. Ltda. 300,000,00
Liderança Capitalização S/A. 550.000,00
Bancos e
2.180,000,00 Itau Unibanco S/A. 550.000,00
Seguradoras
Banco BMG S/A. 400,000,00
Sol Brascar Veículos 293.057,00
Veículos /
1.173.640,00 Caoa Montadora de Veículo 200,000,00
Concessionárias
MMC Automotores do Brasil 200,000,00
Fonte: www.tse.jus.br. In: www.opopular.com.br.

As informações obtidas nos autorizam a inferir que economia e política não são
instâncias separadas quando a proposta é analisar a produção de um dado território. E política
tanto no sentido das relações entre os diferentes atores sociais, quanto no sentido de política
institucional, tendo como referência os marcos de uma sociedade heterônoma. A qualidade da
ação territorial (potencial de transformação territorial), como nos esforçamos para demonstrar,
perpassa, também, por mecanismos políticos e jurídicos. Senão vejamos. O setor do agronegócio
(carnes, cana-de-açúcar e grãos) é aquele de maior influência econômica e com maior valor
destinado ao financiamento de campanhas políticas. Não é por acaso que os municípios festejem
a instalação de grandes plantas industriais que alavancarão, segundo argumentos que carecem
de avaliação crítica dos impactos econômicos, ambientais e sociais, as economias municipais.
As empreiteiras e construtoras, aproveitando-se da conjuntura econômica, beneficiam-se da
expansão do crédito público dos programas de financiamento de moradia e das obras públicas
de infraestrutura, além da “flexibilidade” na regulação do solo urbano, especialmente no caso

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da Região Metropolitana de Goiânia. O setor de medicamentos, territorializado em Goiânia e
Anápolis, frequenta as linhas de crédito desde a década de 1980. Sua carteira de negócios inclui
hospitais, clínicas, laboratórios, distribuidores e o varejo, representado pelas inúmeras drogarias.
Tradicionalmente, bancos e seguradoras, sempre atentos ao cenário nacional, influenciam os
quadros de decisões econômicas, especialmente a política de juros e de financiamento. O setor
automotivo, com destaque para as montadoras em Catalão e Anápolis, além das concessionárias,
reivindicam a ampliação dos prazos dos incentivos fiscais e uma reforma tributária que não
coloque em risco o consumo automotivo. Veja-se, por exemplo, as discussões sobre a redução
do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Restaria dizer, ainda, que 13 candidatos,
todos eleitos, concentraram 76,96% do total informado na tabela.
Não se pode negar, diante das evidências, a dimensão política que envolve a produção
do território, afinal os setores doadores influenciam as dinâmicas econômicas municipais e
regionais. Ao atuar no território, esses atores sociais mudam as feições e as funções da paisagem
regional em velocidades próprias de um período já adjetivado por Santos (1994b) de “aceleração
contemporânea”. Note-se o caso do embate sobre as restrições ao cultivo de cana-de-açúcar
nos municípios de Rio Verde e Jataí. Mesmo entre dois segmentos do mesmo setor há conflito
de interesses (a ampliação da cultura de cana-de-açúcar não poderá ocorrer sem colocar em
risco a área destinada ao cultivo de soja e milho, fator preocupante para a cadeia de carnes e
processamento de óleo). A opção econômica, portanto, reveste-se de um conteúdo político, pois
é na escala local-regional que os interesses do Estado, das empresas, de instituições públicas e
privadas, movimentos sociais etc, são materializados.
No contexto do estudo sobre a produção do território goiano, temas como economia,
urbanização e metropolização apareceram conectados, motivo pelo qual foi necessário lembrar
o conteúdo das ações dos diferentes atores sociais que produzem o território: grupos imobiliários,
agroindústrias, varejistas, mineradoras etc. A metropolização, como uma das formas de
realização da urbanização, demonstrou a importância de Goiânia na análise territorial em pelo
menos três aspectos: a) mercado de consumo e produção; b) centro de gestão do território;
c) território de concentração das demandas sociais de diversas ordens (moradia, saneamento,
mobilidade urbana etc). Contudo, como forma de expressão da urbanização, a metropolização,
isoladamente, não explica os liames da produção do território goiano, já que cidades como
Rio Verde, Catalão, Jataí, Itumbiara, Goianésia, Porangatu etc, muito embora não inscritas em
ambientes metropolitanos, sempre foram centros de difusão do capital, de informação e de
gestão do território. Ademais, não admitir tal fato implicaria em reduzir o estudo dos arranjos
territoriais à hegemonia de Goiânia, o que ofusca uma realidade cada vez mais integrada de
parte significativa do território goiano.
O que procuramos oferecer ao leitor, mais que uma visão verticalizada, foi a compreensão
das forças que atuam no território goiano e como, principalmente determinados atores sociais,
especialmente grandes empresas que agem em rede, têm a propriedade, para lembrar Brandão
(2007), de manejar as diferentes escalas (local, regional, nacional, internacional) em busca da

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maior lucratividade. É nesse contexto de conflitos muitas vezes dissimulados que o território é
produzido. As mudanças na paisagem regional são expressão formal, visível, de um processo
que oculta problemas sociais e ambientais que são próprios de nossa matriz de desenvolvimento.
Essa matriz de desenvolvimento será objeto de discussão do segundo volume, intitulado A
produção do território goiano – planejamento e desenvolvimento.

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