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O Dinheiro e o Poder, A Luz Da Espiritualidade - Mariza Bandarra
O Dinheiro e o Poder, A Luz Da Espiritualidade - Mariza Bandarra
O Dinheiro e o Poder, A Luz Da Espiritualidade - Mariza Bandarra
Li-Cheng
3
APRESENTAÇÃO
AGRADECIMENTO
Ao CRIADOR...
Pela VIDA e por todas as oportunidades de regeneração
que concede aos nossos espíritos...
A JESUS...
Por sua ENERGIA DE AMOR e SEUS ENSINAMENTOS
DIVINOS...
“Só espero, Alfredo, que com a sua morte a polpuda pensão que paga
ao nosso filho, não se extinga! Apenas duas coisas boas restaram do nosso
relacionamento! O Raul e o dinheiro que nunca negou a ele! Pena que você
tenha desprezado a atenção que o nosso filho merecia... Tenho pena de você!
Pena porque não terá mais a oportunidade de conhecer o rapaz maravilhoso
que ele é!”
“Eu gosto muito do Cris... Ele é realmente o meu pai. Afinal, ele me
criou desde os meus três anos, mas...” - e levantando-se se aproxima do
caixão, olhando fixamente o rosto do pai – “Pois é, coroa... Gostaria de ter
tido mais contato com você... Afinal, é meu pai de sangue! Tenho amigos que
se relacionam muito bem com os dois pais que têm. O Carlos então, adora os
dois. É uma festa! Convive numa boa com eles!” – e com uma expressão
tristonha, esconde uma lágrima furtiva – “Por que você nunca quis papo
comigo...?! É... Na verdade, pra mim, o seu nome nunca foi Alfredo... Há
muito tempo que você pra mim, é o Daddy Money!!!”
“Como será que vai ficar a pensão das crianças...?! Com certeza vai
cair tudo em inventário... Ainda mais que eles são menores! Se o dinheiro
ficar preso, como eu vou manter o mesmo padrão de vida para eles...?! Tenho
que consultar urgente um bom advogado!!! Puxa, Alfredo... Se em vida você
só criou problemas para mim, agora depois de morto acho que vai ser pior!!!
Que droga!!! Se eu tivesse tido mais paciência pra suportar a convivência com
você, agora poderia ser uma viúva rica!”
***
12
O ano de 1946 estava chegando ao fim... 1947 seria o início da
carreira profissional de Alfredo Constantino Siqueira.
Ele conseguira superar as dificuldades financeiras em seu caminho...
Oriundo de família classe média baixa, ele completara o esforço dos pais para
pagar a faculdade de Direito, estudando à noite e trabalhando de dia num
escritório de advocacia. No início como boy, percebendo o salário mínimo.
Demonstrando garra e inteligência, passara a recepcionista, sendo mais tarde
requisitado como datilógrafo. Granjeara a confiança e a simpatia de seu chefe
que, depois de decorridos os três primeiros anos de sua faculdade, resolveu
custear a mesma até ao seu término, colocando-o como estagiário remunerado.
- Sou um cara feliz e sortudo!... – assim ele falava sempre com o
otimismo que lhe era peculiar – Tenho uns pais maravilhosos que não medem
esforços para que eu possa vencer na vida! E, ainda por cima, um patrão que
até parece um segundo pai! Um dia irei retribuir tudo isso!!!
Durante o período de faculdade, apaixonara-se intensamente por uma
colega, que cursava duas turmas mais atrasadas. Um forte amor se firmou
entre eles. Feliz, ele não cansava de repetir para Paulina que ela seria para
todo o sempre o amor de sua vida.
Já formado, foi contratado para seguir trabalhando no mesmo
escritório de advocacia, mas dessa vez, no exercício de sua profissão. Sua
vida, portanto, seguia em ascensão.
- Como você pôde fazer essa defesa tão absurda! – falou indignada à
noite, quando se fecharam no quarto para dormir – Defender um ladrão safado
e, ainda por cima achar que foi um grande feito!
- Quê isso, querida...?! Ladrão não...
- Já lhe disse antes, Alfredo – ela, decepcionada, corta as palavras do
aturdido marido – Para mim e para a vida espiritual, o seu cliente rico não
passa de um ladrão!!!
A discussão estendeu-se por um bom tempo...
- Querida... Procura entender... Eu não estou cometendo nenhum
ilícito! Estou no exercício de minha profissão... Defendendo um cliente! Toda
ação tem duas faces... Depende do ponto de vista por onde é observada...
- Chega, Alfredo... Por favor chega! Você não vai me convencer
nunca!!!
Mas ele não parava de querer se explicar... Na verdade, procurava
convencer a si mesmo, pois a ambição de crescer material e socialmente, já
havia criado raízes em seu íntimo.
20
- Veja bem, meu amor... – ele ainda tentava – Eu quero dar um
futuro melhor e mais garantido para a nossa filha... Não quero que ela passe o
mesmo desconforto e humilhação pelos quais passei em minha vida e
adolescência.
- Não me venha com desculpas esfarrapadas!... É um absurdo o que
você está dizendo!... Ter pouco dinheiro não é nenhuma humilhação! Para
mim, humilhação é possuir bens em detrimento da moral e dos bons
princípios!
- Mas...
- Nem mas, nem porém... Nem nada! – ela o interrompe magoada e
irritada ao mesmo tempo - Por causa dessa sua ambição desmedida, você não
tem nem mais tempo para a sua família! Como quer acompanhar o
crescimento da nossa filha, como você dizia querer fazer, se não tem tempo
para ela...?!
Alfredo ainda deseja argumentar, mas Paulina, virando-se de costas
para ele, segue em direção à cama, falando agora quase chorando: - Não estou
conseguindo enxergar mais em você, o homem pelo qual me apaixonei.
Irritado com a não aceitação da esposa às suas idéias, ele sai do quarto
em direção ao escritório pensando com amargura: “ É... Mas viver bem como
estamos vivendo, com dinheiro folgado ela gosta... Queria ver se faltasse esse
dinheiro, se ela pensaria da mesma maneira!”
Tão ligeiro saíra que não percebeu o pranto sentido em que Paulina se
afundara.
Passando em frente ao quarto da filha ele pára. Observando-a dormir
sente a antiga ternura: “Mas é para o seu próprio bem, minha queridinha, que
tanto tenho trabalhado. Um dia você vai entender isso!” E fechando a porta
cuidadosamente, vai para sua mesa de trabalho. Não consegue trabalhar, com
as palavras da esposa ressoando ainda em sua mente.
Mergulhado em um redemoinho de pensamentos conflitantes, ele se
levanta à procura de um sonífero. Atira-se no sofá, aguardando o efeito deste.
“Melhor dormir aqui... Assim, longe de mim, Paulina vai repensar o que
disse...” E, graças ao calmante, cai no profundo sono dos justos...
***
Mais confuso ainda, Alfredo resolve caminhar pela rua... Mal andara
alguns passos, ouve atrás de si uma risada roufenha, debochada. Vira-se
ligeiro e não vê ninguém... Angustiado ele segue caminhando.
Todavia, surgindo como do nada, um ser repelente grita num tom
raivoso à sua frente: - Ahhh... Finalmente te encontro, seu miserável
safado!...Filho de uma cadela!!!
- Quem é você e o que quer de mim...?! – desespera-se Alfredo.
- Ahhh... O que eu quero...?! Saborear a minha vingança!!!
- Saborear que vingança...? Não entendo o que você diz!
- Pisou em mim quando vivia na riqueza e agora não sabe de nada, seu
cretino?!!! – e soltando outra risada cavernosa continua – Mas agora...
Estamos ambos na mesma situação! – e raivoso ele grita aproximando-se mais
ainda - E eu estou aqui por tua causa, miserável... Desgraçado!!!!!!!
Atordoado, Alfredo responde incrédulo - Mas o que eu lhe fiz...? Nem
ao menos me lembro de você!
- Pois então faça um esforço para se lembrar do que fez comigo!!!
Sem saber o que fazer, Alfredo pergunta a si mesmo: “Como eu posso
saber o que aconteceu com este cara, se não me lembro quase nada de minha
vida...?”
Num abrir e fechar de olhos, mais uma visão de sua existência terrena
surge nitidamente no quadro de sua mente.
***
“Como eu sinto falta de não ter os meus pais ao meu lado neste
momento... Um dos dias mais importantes de minha vida!” - Fátima assim
pensava, preparando-se para comparecer à sua formatura – “Mas tenho a
minha avó querida, que substituiu os dois com muito amor... Com tamanha
dedicação durante todos esses anos!... Se não fosse por ela, com certeza minha
vida teria sido muito triste... Pois, somente o dinheiro não me daria a
felicidade da qual eu usufruo junto a ela!”
Terminando de se vestir, olha feliz para a sua imagem refletida no
espelho e, impostando a voz, fala para si mesma: - Doutora Fátima Almeida
Siqueira!!! Futura assistente do Dr. Ângelo Furtado!”
“Nunca vou me esquecer também do apoio que recebi do tio Ângelo,
durante toda a minha formação acadêmica... Dos anos em que ele me orientou,
deixando-me praticar ao seu lado, no Hospital das Clínicas, durante as férias
da faculdade!”
E, novamente fazendo pose, ela fala em voz alta, como se estivesse
treinando: - Muito obrigada, Dr. Ângelo Furtado... É uma honra receber de
suas mãos o meu diploma!
- Falando sozinha, minha querida...?! – comenta sorrindo a avó,
entrando no quarto – Está linda, meu amor!!! Mas, pára de se olhar tanto no
espelho, que já estamos um pouco atrasadas para a cerimônia!
***
***
***
***
***
68
Alfredo recém chegara em seu escritório, acompanhado de um novo
cliente importante. Ele marcara o encontro com este, na garagem do prédio.
Ocupando todo um andar do luxuoso edifício comercial, seu escritório
possuía uma entrada secundária, por um dos elevadores de serviço que subia
diretamente do sub-solo. Era este de uso privativo dos proprietários de
escritórios e consultórios particulares, e de firmas ali estabelecidas. A nenhum
funcionário era permitido o uso desse elevador.
No saguão de serviço, uma das portas facilitava a ligação direta à sala
particular de Alfredo. Tinha, portanto, a vantagem de entrar e sair sem ser
visto pelos seus assessores nas salas contíguas, nem pelos clientes que o
aguardavam na sala de espera. Estava assim assegurada uma total discrição,
quando recebia um cliente especial.
Enquanto subiam pelo elevador, o deputado Fragoso Costa, um desses
clientes especiais, procurava disfarçar o nervosismo que sentia. Era a primeira
vez que iria tratar de um sigiloso assunto, com o famoso advogado das causas
difíceis. Com uma conversa trivial, Alfredo deixou à vontade seu novo cliente.
Quando entraram na sala, sentindo-se seguro com a privacidade, livre
de olhares indiscretos, Fragoso iniciou sua apresentação.
- Foi um seu cliente, o deputado Anacleto Siqueira quem recomendou
sua excelente orientação profissional. Posso igualmente contar com seus
serviços advocatícios...?!
- Depende de quais serviços meus, o ilustre deputado necessita... –
fala Alfredo com um sorriso gentil – Mas... Vamos direto ao assunto para que
eu possa saber em que posso ajudá-lo!
A consulta transcorreu sem maiores problemas. Procurando ser claro e
objetivo, Fragoso foi explicando a verdadeira intenção pela qual necessitava
da orientação de Alfredo. Precisava, com urgência, encontrar um meio seguro
para lavar substancial quantia de dinheiro, que ele desviara de uma verba
destinada à Educação.
E assim, mais uma vez, Alfredo cobrando altos honorários, ajudou a
um cliente corrupto e fraudulento a ocultar desvio de dinheiro da área
governamental.
Em fração de segundos, essa visão foi substituída por relances de
outros acontecimentos...
***
***
***
***
***
***
***
- Tio Ângelo... Vamos saltar do carro, mas não abra os olhos ainda! –
exclama Fátima alegre, estacionando o veículo em frente à porteira da
chácara. - Pronto!... Pode olhar agora!
Ângelo se surpreende! À pedido da sobrinha nunca mais retornara ao
local, após a assinatura do contrato de compra, quatro meses atrás.
- Fátima... Está maravilhosa!!! A começar por esta linda trepadeira
florida... Como se chama...?
Carregada de flores rosas, a planta já cobria parte do telhado que
protegia o largo portão de ferro.
- Sete léguas! . Não é linda...?! E veja que eu mandei plantá-la
também em toda a extensão da cerca que demarca a propriedade – ela explica
entusiasmada, apontando o dedo em direção da mesma. - Já pensou, tio...
Quando tudo estiver florido como vai ficar lindíssimo... Não é mesmo...?!
- Tem razão, querida... A escolha da trepadeira tem algum
significado...?
- É claro! São sete léguas em direção a uma vida nova, carregada de
novas oportunidades, para todos aqueles que aqui vierem se tratar!
- Você, minha querida, é incrível! – fala este sorrindo. E, apreciando
ao longe a chácara bem tratada, com jardins à volta e pomares também já se
desenvolvendo, ele se espanta com a rapidez da obra.
- Estou estupefato!!! Como conseguiu realizar uma mudança tão
grande em tão pouco tempo ?!
- Ora, tio... Obra com dinheiro na mão, não tem demora! - ela ri, e
olhando ao infinito, emite uma energia positiva para o pai - Mais uma vez,
obrigada, papai!!! Gostaria que você estivesse aqui para ver o que consegui
com o seu dinheiro!!!
Achando comovedora a atitude dela em relação ao pai, o tio comenta:
- Se ele estivesse aqui, certamente estaria muito orgulhoso de você!
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Tais comentários invadem o sono de Alfredo, atraindo-o para o
local, como espectador. Ele também se admira com a beleza da obra realizada.
Comovido com o pensamento por ela emitido, concorda com o primo. “Tem
razão, Ângelo, estou muito orgulhoso da minha filha!” E, surpreso, assiste a
um inesperado acontecimento.
- Ah... A placa está encoberta... Afinal, posso saber qual o nome que
você deu à sua clínica...? Que grande mistério é esse?!
- Tio, eu lhe trouxe sozinho aqui, antes de qualquer pessoa, para que
nós dois fizéssemos uma pequena homenagem íntima! - fala num tom solene -
Como é você quem vai inaugurar a clínica logo mais, retire agora o véu que
encobre o nome que dei à nossa casa, desde o primeiro tijolo recomposto!
Com cuidado, Ângelo remove o pano verde e a surpresa o comove,
apreciando em silêncio o que se achava escrito:
Morada do Renascimento
Alfredo Constantino Siqueira.
- O que achou, tio...? Gostou?! – pergunta Fátima ansiosa por saber
sua opinião.
- Sim, querida... Gostei, achei justa sua lembrança. Afinal, foi a
herança dele que propiciou a realização de seu sonho!
- Exatamente, tio Ângelo... Mas vou lhe explicar todos os significados
que existem nesta obra... Primeiro o seu nome: O lugar onde se renova uma
vida desorientada... Depois, o significado da trepadeira Sete Léguas já lhe
expliquei... O significado da cor rosa, das flores e das letras do título, é
espiritual: é a Cor do Raio Divino de Jesus que nos trás a Harmonia, a
Evolução e o Amor... Colocar o nome do meu pai significa para mim, a
reabilitação de sua memória... Com o emprego do seu dinheiro em prol da
regeneração de vidas destroçadas pelo vício... É transmutar o negativo em
positivo.
- É tudo muito comovente, querida!... - Ângelo aprova com carinho -
Agora quero ver a transformação da casa! Por tudo o que acabo de ver aqui,
estou muito curioso!
Feliz com a aprovação do tio, Fátima, entrando no carro, vai
explicando: - Observe o calçamento de pedra até a entrada da casa... São
pedras irregulares... Percebeu...?!
- Evidente que estas devem ter algum significado! – este comenta
sorrindo.
- Acertou, tio!... As pedras irregulares que calçam o caminho até à
Casa do Renascimento, significam os obstáculos a serem vencidos para se
encontrar a harmonia na vida! As plantas e as árvores nos levam à meditação
sobre a renovação da vida... Brotam, nascem, crescem e dão flores ou frutos,
que por sua vez, se abrem em sementes que, ao caírem sobre a terra, dão
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continuidade ao ciclo da vida... Por isso é tão importante trabalhar a terra
durante o tratamento!
Tomando a direção do caminho de terra que circundava a chácara,
Fátima continua sua demonstração: - Veja, tio... Ali estão as hortas, que
também serão cuidadas pelos pacientes... Mais adiante, as estrebarias, com
cavalos mansos, não só para serem tratados, mas também para serem
montados. A ligação do homem com o animal é um ponto também muito
importante no tratamento... Mais abaixo está o canil com cachorros
Weimaraner, cuja raça é aconselhada para conviver com pacientes, por sua
docilidade, companheirismo e inteligência... Bem mais longe, temos o curral,
com duas vacas para produzirem leite. Os pacientes terão a oportunidade de
aprender a tratá-las, a retirar leite, a fazer manteiga e queijo. E finalmente o
lago com os peixes... A pesca e o cuidado com a criação de peixes também
colaboram para reabilitação dos drogadidos.
- Querida, tudo é tão fantástico que nem sei o que dizer! Você pensou
em tudo!
- Não... Fiz de acordo com a sua orientação!
- Mas superou em muito o que eu lhe aconselhara!
- Bem... Foi nesse ponto que o bem-vindo dinheiro do pai colaborou!!!
- ela comenta rindo satisfeita – Assim teremos o essencial para ajudar a um
tratamento de recuperação, que será de primeira linha!... A assistência médica,
tanto física como psicológica e mais a orientação espiritual, eu tenho certeza
de que irão proporcionar a regeneração total dos pacientes aqui tratados!...
Não lhe parece...?
- Certamente, minha querida... Eu também creio nisso!
- Então... Vamos ver a casa, tio!... - e direcionando o carro para lá,
Fátima continua mostrando o que havia sido feito ao redor desta - A piscina
semi-olímpica, a sauna seca e à vapor, ambas importantíssimas para a
desintoxicação dos drogadidos e mais a sala de ginástica.
Apesar de cada vez mais empolgado com o que via, Ângelo pergunta
um pouco apreensivo: - Mas, do que você se desfez para construir tudo isso...?
- Ora, tio... Resolvi vender as inúmeras ações que o pai acumulou...
Reservei os apartamentos para a ampliação da clínica, na medida em que esta
for sendo necessária. Já tenho um excelente projeto, que vou lhe mostrar
quando entrarmos na casa... São bangalôs que poderão abrigar muito mais
pacientes.
Estacionando o carro, Ângelo surpreende-se com o jardim à volta da
casa: - Que beleza, querida! Gramado, flores, arbustos, tudo já plantado!
- Foi idealizado e executado por um paisagista profissional. - e rindo
da expressão do tio, fala rapidamente - Não precisa perguntar... Foi graças ao
dinheiro do pai, sim!!!... Como também, a aquisição de todo material elétrico
e eletrônico de última geração, necessários a quaisquer exames clínicos. E o
equipamento completo de informática e telefonia, ultramoderno.
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A porta de vidro blindex que deixava entrever a sala de recepção,
abriu-se automaticamente quando ambos dela se aproximaram.
Entrando na sala, Ângelo se depara, surpreso, com todo o corpo
médico e os demais funcionários internos e externos, reunidos à sua espera.
Inclusive a sua esposa, fato que mais o surpreendeu...
Após as apresentações formais, Fátima faz um pequeno discurso:
“Na verdade, a inauguração da nossa casa, está sendo realizada neste
momento... Não haverá solenidade alguma à noite, como o nosso diretor,
Dr.Ângelo aqui presente, supunha que houvesse, em função do convite que
recebera...” – fazendo uma pausa, Fátima sorri para o tio - “Conhecendo o
temperamento modesto e avesso a demonstrações festivas, que caracterizam o
seu grande coração humanitário, preparamos com carinho esta singela e íntima
inauguração... Pois bem sabemos que o mais importante para ele, assim como
para todos nós, é a chegada dos nossos pacientes, que ocorrerá no início da
tarde... Sendo assim, peço ao Dr. Ângelo que retire a faixa da placa que
significará o início do funcionamento de nosso atendimento médico!”
Emocionado, Ângelo puxa os cordões que prendiam a faixa de pano
verde, que ocultava a placa colocada acima da larga porta de blindex jateado.
Esta dava entrada à clínica propriamente dita. Ele surpreende-se com os
dizeres escritos na placa de bronze, aumentando mais ainda a sua emoção:
Centro de Regeneração ÂNGELO FURTADO
Após ser efusivamente cumprimentado por todos, Ângelo abraça
simultaneamente a esposa e a Fátima. Comovido com o carinho e, agradecido,
murmura ao ouvido desta: - Por esta eu não esperava... Traidora querida!
- Ó tio... Se não fosse por seu apoio e sua orientação, a herança de
meu pai não seria suficiente para a realização desse meu sonho! Eu é que
tenho de lhe agradecer, do fundo do meu coração, tudo o que você tem feito
por mim!!!
Saindo do abraço, Ângelo se manifesta, agradecendo a homenagem
recebida e, em poucas palavras, demonstra a confiança que deposita em toda a
equipe ali presente: - ...Por enquanto são cinco pacientes apenas... Contudo, no
momento nos encontramos preparados para recebermos mais dez... Porém,
iremos crescer na medida que outros mais necessitem de nossos cuidados...
Tenho a certeza de que sob o Amor e a Luz da Espiritualidade, que nos assiste
nesta empreitada, teremos a capacidade e a força necessárias à recuperação
dos jovens ou adultos que aqui vierem se tratar, para que estes possam refazer
suas vidas, perfeitamente integrados na sociedade!...
Em seguida, Fátima menciona o nome de cada um dos pacientes, que
iriam dar início ao novo tratamento. Sem dizer seus sobrenomes, nem fazer
qualquer referência às suas famílias... Encabeçando a lista, está o nome de seu
irmão Marcos.
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Ao escutar o nome do filho, Alfredo desperta desse sonho tão
nítido sob forte emoção... Chora convulsivamente, como nunca ocorrera em
toda a sua vida... Ter ouvido os comentários da filha e do primo, e
testemunhado o apoio incondicional que este doa amorosamente à filha...
Tendo conhecido a magnífica obra humanitária realizada com o dinheiro que
deixara... Um dinheiro que acumulara em vida por cobiça, oriundo da
corrupção e usado egoisticamente na satisfação de seus sentidos negativos...
Ver este dinheiro sendo utilizado com desprendimento e abnegação, tentando
transmutar o mal causado por este mesmo dinheiro em benefícios e auxílio ao
próximo, deixa Alfredo envolto num emaranhado de sentimentos...
Arrependimento, angústia pela impossibilidade de não poder voltar atrás em
suas atitudes, contrapondo-se à admiração, à gratidão e ao amor, despertados
em seu íntimo.
Uma sentida prece brota de seu coração angustiado...
“Ó Meu Deus... Agradeço por permitir que eu veja o uso benfeitor que
minha filha está dando ao dinheiro que lhe deixei... Dinheiro sujo que recebi
por favorecer impunidade aos traficantes de drogas... Com amor e altruísmo
ela está auxiliando na libertação de meu filho e daqueles que se deixaram
dominar por este maldito vício... Para o qual, infelizmente eu colaborei!”
Atormentado pelo remorso, decidido a se reformar, ele faz uma
promessa: “Jesus... Aceitarei todo o retorno de meus erros com resignação... E
dou graças por esta oportunidade!... Mais adiante, quando tiver conseguido
resgatar parte de meu carma, e me for permitido, farei um apelo para que eu
possa trabalhar no plano de recuperação aos viciados, que meu instrutor
mostrou-me tempos atrás... Que a Sua Luz, Jesus, ilumine os meus passos
rumo à minha redenção!”
***
- Fala sério, mãe!... Por que você está criando caso para eu ir a esta
festa...?! - fala irritada Camila – É igual a todas que eu tenho freqüentado!!!
Nervosa, Cacilda eleva a voz: - Igual, não mesmo!!! Não é uma festa
jovem! Não posso admitir que minha filha de apenas dezessete anos freqüente
um ambiente de homens maduros e libertinos...
- Mãe... Que injustiça!... – esta rebate irritada - Libertinos, por quê???
São empresários bem sucedidos, isso sim!...
- Só porque você já está cursando faculdade, pensa que é madura o
suficiente para gravitar no meio de tubarões!!!... O que você imagina que
aqueles figurões de meia-idade vão querer com uma garota jovem e bonita
como você ?!
- Ora, mãe... Quem é você para me falar isso...?! Não foi assim que
conheceu o meu pai...?!
- Exatamente por isso, minha querida!... Seu pai queria era desfilar na
sociedade com uma jovem bonita ao seu lado...
- E que mal há nisso...?! - responde Camila num tom irônico.
- É que eu pensei que ele estivesse querendo uma família... Fui uma
idiota em acreditar que ele estivesse apaixonado por mim!... Pouco depois que
seu irmão e você nasceram, ele se cansou de mim... E nos jogou para o alto!...
- Mas nunca ele deixou que faltasse nada para nós!!!
- Sim... Dinheiro bastante... Que me fez comer o pão que o diabo
amassou! – e com a voz um tanto trêmula ela acrescenta - Não quero que o
mesmo aconteça com você!!!
Camila nada responde, olhando fixamente para a mãe...
- Entendeu agora, filha, porque eu não quero que você freqüente tais
lugares...?
- Mãe... Como você mudou com o problema do Marcos... Não é a
mesma! Não dá pra reconhecer!... Até namorado você não procura mais!
- Filha... Hoje eu reconheço que errei muito... Estou tentando corrigir
as loucuras que eu fiz... Ver seu irmão destroçando a própria vida, abriu meus
olhos para o enorme erro que cometi, sendo uma mãe ausente.
104
- Ora mãe... Também não é assim... Fomos criados da mesma
maneira e eu nunca me droguei!
- Mas você, querida, tem um espírito mais forte que o dele! - Cacilda,
mais calma, se expressa consciente de seus atos - Não é isso o que estamos
aprendendo na casa de orações...?! Seu irmão, sendo mais inseguro, precisava
de uma maior atenção... Atenção que eu não dei, preocupada comigo mesma!
- Pois eu discordo de muitas coisas que dizem por lá... Foi bom
conhecer um pouco sobre Deus... Ter fé ajuda a aceitarmos dificuldades...
Mas, outrossim, eu creio que na vida material, precisamos sair atrás de nossos
sonhos! Caso contrário, entramos no caminho dos fracassados!
- Camila... Não é bem assim... Você não está compreendendo direito
os ensinamentos de Jesus! Veja o exemplo da sua irmã! Ela está fazendo um
trabalho magnífico de auxílio ao próximo!
- Ora, ora, mãe! Concordo que é maravilhoso o que Fátima está
realizando, mas não é isso o que eu quero para mim! - fala a filha agora um
pouco mais exaltada - Não nasci para levar uma vida dedicada aos fracos,
como o Marcos!!!
- Camila... Minha filha... Não quis dizer que você deve imitar sua
irmã... Mas, cercar-se de pessoas de má influência, não é um caminho bom!!!
- Quê isso, mãe...? Eu quero ser uma excelente advogada e vou
conseguir! O Dr. Eugênio acha que eu tenho toda a possibilidade para alcançar
o que desejo! Ele disse que eu herdei a inteligência e a sagacidade de meu pai!
-Ó Meu Deus!!!... Maldita a hora que você conseguiu o estágio no
escritório dele!!! É um pilantra igual ao seu pai!!!
- Que absurdo dizer isso do Dr. Eugênio!!! Ele é muitíssimo bem
conceituado na área jurídica!!! Estagiar no escritório dele é o sonho
inatingível para a maioria de meus colegas! – e, rindo satisfeita ela afirma - E,
fique sabendo que foi graças ao fato de ser filha de quem sou, que consegui
esse estágio... Eu só poderia estar lá, a partir do terceiro ano de faculdade.
***
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***
***
Feliz com tudo o que acabara de conhecer, Alfredo pensa em sua filha
Camila. “Então ela está casada... Como será o meu genro...?! E quantos filhos
eles devem ter...? Afinal, dos cinco netos até agora só encontrei um!”
Imediatamente ele se reporta, surpreso, ao Fórum. Sua filha Camila
está junto à entrada de uma sala, no corredor, falando ao celular.
- Letícia, minha filha... Vou falar ligeiro porque tenho uma audiência
agora... O almoço foi muito bom sim... Eu não posso me demorar muito,
querida... É que eu não vou poder assistir ao ensaio geral da sua peça... Tenho
que ir a um jantar importante na casa de seus tios... Prometo que estarei na
estréia!... E sua irmã deu notícias...?! ... Eu adoro você, filha!”
Desligando o telefone, Camila entra no tribunal. Alfredo vai atrás
dela. E, orgulhoso, assiste a uma brilhante defesa, realizada por sua filha.
“É verdade o que o safado do Eugênio falou para ela... Pelo visto,
Camila é tão ou mais inteligente e sagaz que eu! Só espero que ela não tenha
seguido o mesmo caminho errado que eu trilhei!” – e do fundo de seu coração
ele faz uma prece – “Ó Jesus... Ilumina a minha filha para que ela não se
desvie nunca do caminho do bem!!!” - em seguida, lembrando-se do
telefonema que Camila dera para a filha, exclama satisfeito para si mesmo –
“Então já sei... Tenho duas netas e uma pelo visto é atriz!... E a outra, o que
estará seguindo na vida...? Preciso conhecê-las... Vou agora mesmo tentar
encontrá-las!”
***
***
***
***
***
***
Pouco tempo depois, Alfredo concretizou mais uma peça em sua casa,
para que Cacilda tivesse a sua privacidade. Um quarto confortável, montado
com todos os apetrechos que lhe agradavam...
Cacilda sentiu-se em paz, adaptando-se rapidamente à nova vivência.
Nada a surpreendia, pois havia sido bem esclarecida sobre a vida astralina,
durante as duas décadas que precederam a sua morte, no Centro de Estudos
Esotéricos que freqüentara assiduamente.
Uma instrutora, já conhecida de Orlando, havia sido designada para
orientá-la no serviço a ser praticado. Emocionada, Cacilda reconheceu a
grande amiga de sua juventude, Judite, que desencarnara muito antes dela. Foi
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um emocionante reencontro. E uma sólida amizade se desenvolveu entre os
quatro trabalhadores.
A partir daí, os dias e as noites transcorreram com muitos
atendimentos aos recém desencarnados, realizados por eles... Mas nem tudo
era apenas serviço, existiam momentos de descanso e lazer que
prazerosamente eles desfrutavam.
Mas, quando Alfredo e Cacilda se encontravam a sós em sua casa,
muitas conversas esclarecedoras surgiam entre ambos. E, a harmonia cósmica
ia se instalando, favorecendo um convívio fraternal.
Foi em uma das primeiras conversas que mantiveram, que Cacilda
tomara conhecimento do desencarne de sua neta Raquel. Quando em vida
terrena, sua família havia escondido dela a passagem repentina da neta, devido
ao estado precário de sua saúde.
Camila, quando estava cuidando da mãe no hospital, disfarçava ao
máximo o próprio sofrimento com a morte da filha. Segurava o pranto, quando
estava à sua frente... Sabia que se aproximava a hora da passagem desta para a
espiritualidade, portanto não achava conveniente aumentar o sofrimento da
mãe com o conhecimento da perda da neta. Tinha certeza de que ambas se
encontrariam no Plano Astral.
Ao saber do ocorrido, Cacilda desejou se encontrar imediatamente
com Raquel. Alfredo explicou então, que ainda não seria possível tal encontro,
mas que dentro em breve ela iria se comunicar com a neta.
Entretanto, omitiu o fato de Raquel ser a reencarnação de sua primeira
esposa, a Paulina. Não sabia como dizer isso... Deixou tal explicação para
quando avó e neta se encontrassem... Certamente, Paulina saberia explicar
melhor que ele.
***
***
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FIM
Mariza Bandarra