A Medicina Sob A Luz Da Espiritualidade
A Medicina Sob A Luz Da Espiritualidade
A Medicina Sob A Luz Da Espiritualidade
APRESENTAÇÃO
Esta obra, sem dúvida alguma, será de grande valia a todos que a
lerem. De caráter simples e, de fácil assimilação, contribui sobremaneira
para a modificação interna de todos que estão em busca de harmonia e
evolução. Possui revelações que descortinam um pouco mais o
conhecimento que nos é elucidado diretamente do plano mental, por
misericórdia de nosso Pai.
È impossível ficar-se indiferente a seu conteúdo. É comovente,
produzindo no leitor, uma sensação de necessidade de crescimento interior.
Agradecemos à sua autora por ter tido a coragem de se entregar
totalmente aos planos superiores, sem receio da crítica humana, e da
incompreensão daqueles que não estão ainda preparados para o inusitado.
E particularmente, agradeço-lhe, também, por ter me guiado com
tanto amor durante todos estes anos, enquanto estamos unidas pelos laços
de filha e mãe nesta encarnação.
“Cem vezes, todos os dias, recordo a mim mesmo que minha vida, interior
e exterior, depende dos trabalhos de outros homens, vivos e mortos, e que
eu devo me esforçar a fim de dar na mesma medida em que recebi.”
ALBERT EINSTEIN
Agradecimento...
Um Irmão na LUZ
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Obrigada Pai, pela Vida que nos ofertou... E por todas as oportunidades de
evolução que nos concede continuamente!
Mariza Bandarra
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JURAMENTO de HIPÓCRATES
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“EU JURO... Por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panacea, e tomo
por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu
poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a
meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se
necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus
próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de
aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar
dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu
mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão,
porém, só a estes.
Hipócrates
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- Menino!... Anda logo com essa arrumação! Tu vai pra escola, não
prum passeio!... Vem tomá logo o teu café!!! – grita a pobre mulher
atarefada em atender aos demais filhos, um de apenas dois anos e o outro
um bebê, enganchado em seu quadril.
Do lado de fora do barraco, ouve-se uma voz masculina bradando: -
Cadê o Godô, Francisca....? Não dá pra esperar mais, tô ficando atrasado
pro emprego!!!
O menino sai correndo do quarto, passando pela mãe, que pergunta
aflita: - E o café, meu filho...?
- Num dá mãe... Eu tomo na escola! Tô indo, pai!!!
- Que Deus te guie, meu filho! – ela o abençoa, angustiada, por vê-
lo saindo dessa maneira.
O bebê chora de fome e ela se senta junto à mesa para amamentá-
lo, enquanto estende um pedaço de pão para o menor ao seu lado.
- Ó meu Padinho Padre Cícero!... Se eu soubesse que ia passar
tanta dificuldade aqui nessa lonjura, não teria largado o meu sertão!...
Miséria por miséria, eu tava lá com os meus!”- ela murmura enquanto
aconchega mais o filho contra o seio.
“Não posso chegar até você, meu filho... Mas o seu pensamento
dirigido a mim, abriu uma fenda para uma comunicação através de sua
mente!”
- Então, meu pai... Diz o que de tão ruim eu fiz para estar neste
desterro!
“Já lhe disse, filho... Somente você poderá desvendar o porquê do
seu sofrimento! Busca a Luz, meu filho, que encontrará a Paz!”
A voz desapareceu e Godofredo, desesperado, caiu em um pranto
desolador. Uma prece brotou em meio ao desespero: - “Meu Deus... Se eu
sou mesmo uma de suas ovelhas, me mostra o caminho de volta!”
Aos poucos ele foi se acalmando e um torpor o levou a vivenciar
mais uma cena de sua vida terrena.
bons empregados que já não são mais necessários. Certamente vai nos
pagar o que a lei determina. O problema é nosso.
Godofredo sente uma revolta incontida: - Mas foram dezoito
anos!... Não dezoito meses! Tudo bem que ela precisa vender a casa, mas
não é assim que se tratam as pessoas que se dedicaram a ela! Foram anos
de muito trabalho, muitas visitas, com a casa sempre cheia nas férias e nos
fins de semana!... Você e a mãe trabalhando nessas ocasiões sem
descanso!!!
- Calma, meu filho... Calma. Também não era assim... Tínhamos
semanas inteiras sem tumulto. Apenas o trabalho de conservação da casa!
Você era muito criança quando veio para aqui... Talvez não se lembre da
miséria que passávamos lá no Rio... E o enorme auxílio que recebemos
para que você chegasse até onde se encontra...? Isso nós não podemos
esquecer... Nunca!!!
- Eu sei disso, meu pai... Eu bem sei e serei eternamente grato ao
Dr. Arthur... Mas continuo achando muita desconsideração da parte de
Dona Eulália para com vocês dois! – ainda revoltado ele argumenta - Não
se consegue da noite para o dia outro trabalho semelhante e, muito menos,
vender uma mansão como esta de imediato. Portanto, ela poderia dar um
prazo maior para a nossa mudança!
- Deixe prá lá, meu filho... – afirma a mãe – Jesus há de prover o
que nós necessitamos!
Mas Godofredo não se conformou com a atitude da Dona Eulália e,
em seu íntimo jurou que ganharia muito dinheiro para que nunca mais seus
pais e irmãos dependessem de mais ninguém.
Rio de Janeiro, assim como todos os caros livros adquiridos, durante todo o
curso que ele realizou na faculdade.
Pasmado, Nonato apenas pode argumentar: - Mas, o Dr.Arthur,
nunca nos disse que algum dia iria nos cobrar tal despesa... – e tremendo de
aflição, ele quase não consegue continuar – Sempre nos disse que era um
prazer pra ele ajudar o nosso filho a se formar.
- O senhor disse bem, “seu” Nonato... Era um prazer para ele.
Contudo, sinto muito dizer, mas o mesmo não ocorre a Dona Eulália.
Quando descobriu o que o marido fez sem consultá-la, ficou indignada.
- Mas ele deu porque quis! Nós nunca pedimos nada pra ele!
- Sim... Mas ele computou tais despesas, como um empréstimo...
Talvez para que Dona Eulália, caso viesse a descobri-las, não o impedisse
de continuar com as mesmas. – considerou Junqueira, procurando não
demonstrar o sentimento de pesar de que estava acometido - Sabe, “seu”
Nonato, ela não é uma pessoa altruísta e desprendida como era o marido. E
acresce que, na verdade, a maioria das ações da firma, herança do pai dela,
sempre pertenceu a Dona Eulália. Ela sempre foi a sócia majoritária da
firma..
- Não entendi bem, doutor... Por favor, pode me explicar mais
fácil...?
- Bem, o que eu quis dizer é que a dona da firma sempre foi a Dona
Eulália... Compreendeu agora...?
- Sim... Sim... – ele concorda balançando a cabeça – Dá pra
entender que ela é daquelas pessoas que quanto mais tem, mais quer... – e
olhando desanimado para o advogado, fala tristemente – Tá certo... Ela
agora tá me cobrando o que ele nos deu... Fazer o quê...?! Já tomei tento de
que não adianta de nada eu querer buscar os meus direitos na Justiça.
Empréstimo é uma dívida que tem de ser paga, não é isso, doutor...?!
- Sim... Além disso, ela alega que seu filho agora é um médico e
assim pode arcar com todas as despesas de vocês. Sinto muito, meu caro...
Nada posso fazer por você. Aliás, minha cliente é ela. É dos interesses dela
que eu tenho de cuidar e prestar contas. Sinto muito mesmo!
Quando Godofredo chegou à noite para o jantar, foi esta situação
que ele encontrou. A raiva lhe subiu à cabeça, principalmente pela
impotência de revide... E a promessa que fizera anteriormente fincou raízes
mais profundas em seu íntimo... “Serei rico... Muito rico!!!”
- Pai!... Você está aqui de novo...?! Que bom ouvir a sua voz,
mesmo me condenando! – ele fala exultante.
“Não estou lhe condenando, filho... Uma vez que você está
pensando em mim, na nossa vida pregressa, posso entrar em sintonia com
seus pensamentos... Meu desejo é alertá-lo para que não caia nas malhas da
auto-piedade, buscando desculpas para fatos errôneos, passados... Tenha
muito cuidado em seu próprio julgamento, meu filho... Que Jesus o
ilumine!”
Sentindo-se abandonado mais uma vez, Godofredo se angustia,
mas sua consciência é atraída ao ponto em que interrompera a visão.
“Não estou fazendo críticas, meu filho... Estou apenas tentando lhe
mostrar aonde você errou!”
Sorrindo, como há muito tempo ele não conseguia, Godofredo
volta a responder: - Eu sei, meu pai... Eu sei disso! Seus comentários muito
têm me esclarecido... Penso que errei muito mesmo! Porém ainda não me
recordo de tudo... E também ainda não sei como reparar o que fiz de
errado!
“Realmente este é um processo lento... O amor do nosso Criador é
imensurável... Ele não nos apressa, para que possamos aprender
profundamente.”
- Mas... Até quando eu viverei neste inferno onde estou...?!
“Até que você tenha se capacitado de toda extensão negativa de
seus erros... Do sofrimento causado aos seus semelhantes, em conseqüência
de seus atos errôneos. Assim... Somente quando adquirir compreensão e
arrependimento sinceros, sua vibração tornar-se-á um pouco mais leve e
você será atraído a um plano melhor que...”
Ansioso, Godofredo interrompe a explanação de seu pai: - Mas que
plano é esse...?! Algum lugar bem melhor do que aqui...?!
- Não muito... Pois continuará sendo de nível umbralino denso...
Porém um pouco melhor... E nesse lugar, servindo a seus irmãos tão
comprometidos quanto você, poderá dar início ao resgate de seus erros.
- Servir a outros espíritos, iguais a mim...?! Isto é um absurdo!!!
“Vejo que você ainda não entendeu o quanto errou, meu filho...
Colaborar para que outros irmãos se libertem de seus erros, é o caminho
para a sua redenção!”
- Então, meu pai... Se é assim que tem de ser... Pelo que estou
entendendo, a minha caminhada de recuperação será bem longa... – analisa
ele desanimado.
“Infelizmente, sim, Godofredo! - responde Nonato denotando
tristeza – Mas... Aos poucos você irá recordando e pesando as suas faltas.
Dessa maneira irá aprendendo a não mais cometer tais erros em uma
próxima experiência de vida terrena.”
- Mas... Por que, pai... Se eu errei tanto assim, como não percebi a
extensão de meus erros...?!
“A verdade, meu filho... É que você não se orientou pelas palavras
Jesus... Esqueceu o ensinamento do Amor Cósmico, tomando atitudes
errôneas que o fizeram retroceder em sua caminhada evolutiva... Você se
deixou levar pela ilusão da vida material e suas tentações, esquecido da
transitoriedade da vida terrena. E isso o impediu de ouvir a voz da sua
consciência cósmica.”
- Tem razão, meu pai... Eu vivia amealhando bens materiais, cada
vez mais, como se eu pudesse carregá-los comigo após a minha inevitável
morte física! Como eu fui tresloucado!... Obrigado, muito obrigado por
24
anos... Você já deve saber... Catedrático desta área e poderei lhe arranjar
uma pós-graduação nesta especialidade.
- Mas, Doutor Sampaio... - Godofredo se surpreende - Eu fico
muito grato ao senhor e sinto-me muito honrado por este seu convite.
Entretanto, desculpe a minha indelicadeza... Acho que o senhor não
entendeu... Eu não disponho de recursos para realizar tal curso. Além do
que, também não disponho de tempo para me dedicar a isso. Tão logo
termine a residência, retornarei em seguida à minha cidade. Tenho de
assegurar de imediato um salário, pois preciso ajudar minha família, que é
muito modesta.
O médico dirige para ele um olhar profundo, como se estivesse em
dúvida sobre o que lhe dizer. Após uma curta pausa, ele volta a falar: - Eu
sei disso, filho... Tomei a liberdade de me informar sobre você.
Mais surpreso ainda, este pergunta um tanto confuso: - Mas, por
que o seu interesse quanto a mim...? Eu nada tenho de especial.
Sorrindo, Sampaio lhe responde: - Vejo agora que além de
competente, você é modesto. Isso é uma qualidade importante em quem
deseja aprimorar seus conhecimentos. Aquele que se acha envaidecido pelo
que já conquistou, acaba por estacionar em sua profissão, transformando-se
em um profissional medíocre. Parabéns! Vejo que estou certo na minha
avaliação sobre você.
Godofredo de tão admirado, fica sem saber o que responder, mas o
médico retoma o diálogo:
- Agora vou lhe explicar o porquê de meu interesse... Quando eu
me deparo com um novato com possibilidades de se tornar um excelente
profissional, eu desejo dar uma chance a ele. Faz parte da minha maneira
de pensar e agir... Como tenho condições de conseguir pós-graduação
gratuita em minha área, coloco-me à disposição de alguém com
capacidade, interessado em realizá-la.
Muito admirado, Godofredo fala comovido:- O senhor, sim,
Dr.Sampaio é uma pessoa muito especial... O que está me oferecendo é
incrível! E, pensando bem... Sendo assim, apesar de nunca ter pensado em
obstetrícia, acho que não devo perder esta grande chance que o senhor está
abrindo para mim!
- Mas não se precipite meu caro jovem... Não precisa aceitar de
imediato. Você tem um bom tempo para avaliar suas inclinações e
preferências.
- De qualquer forma, mesmo que eu não venha a aceitar esta oferta
tão generosa, eu serei eternamente grato ao senhor!
- Mas, querida... Meu amor... Está bem... Faça o que quiser, mas
pelo menos não faça a loucura de sair a esta hora da noite. Vamos dormir...
Descansar... Amanhã tudo será diferente! Me perdoa!
Sentindo uma repentina vertigem, Cristina cambaleia e se
Godofredo não a amparasse, ela teria caído ao chão. Ele a coloca sobre a
cama, preocupado: - Vou medir sua pressão! – e apanhando o aparelho de
dentro de sua maleta, verifica que esta baixou consideravelmente.
Angustiado, revira os remédios à procura de algum adequado. E colocando
sua responsabilidade médica acima da emoção, faz a medicação correta.
Depois retira os sapatos dela e afrouxa suas roupas. Cristina, sentindo-se
sonolenta, não reage, aceita o tratamento e pouco depois adormece.
Godofredo se recosta na cama, atento à sua respiração, verificando em seu
pulso, os batimentos do coração.
Um vulcão de pensamentos explode em sua mente. Entre amor,
preocupação e a certeza de que não está preparado nem desejoso, de
concretizar uma vida em comum, ele se desespera com a situação.
- “Não pretendo, nem nunca pretendi, ter filhos agora... Neste
momento em que grandes oportunidades surgem à minha frente, não posso
desviar a atenção de meus objetivos, enfrentando uma vida conjugal... Por
mais que eu goste da Cristina, não quero me envolver com filhos, esposa,
casa, etc... Eu nunca prometi nada disso para ela!”
Tentando se desculpar, ele busca uma justificativa para sua falta de
ética e de humanidade: – “Interromper uma gravidez tão no início, não
considero nenhum erro, pois é apenas um embrião recém fertilizado... Não
é uma vida ainda... É o mesmo que retirar uma semente, recém plantada, da
terra. Nada se perde! O mesmo acontece com o óvulo recém fertilizado...
Não considero um aborto! Quando já existe um feto em formação, aí sim,
existe uma vida interrompida... Mas no ínício, nada existe!”
Entretanto, ao mesmo tempo em que assim pensava, palavras do
Dr.Sampaio brotaram repentinamente de sua memória:
“Nada mais belo e divino do que o surgimento de uma vida...
Quando eu constato o início de uma gravidez, meu rapaz, sempre me
emociono... Sinto a grandeza, a maravilha da Criação Divina... A união de
duas almas possibilitando o desenvolvimento de um ser humano, através da
fertilização do óvulo... E esta fertilização produzindo minúsculas células a
formar a perfeição de um corpo carnal... O invólucro para mais um espírito
poder ingressar na matéria, para o difícil aprendizado humano... É o ciclo
da vida em busca da perfeição eterna!”
Angustiado, ele afirma para si mesmo, procurando afastar de sua
mente qualquer sinal de culpa: - “Pois Dr. Sampaio, apesar de toda a
admiração que sempre lhe devotei, eu discordo plenamente disso!”
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abandonado aqui neste desterro é porque cometi muitos erros. Não quero
saber deles!!!”
“Mas se não tomar consciência de tudo o que fez meu filho, como
poderá se libertar de todos os seus erros?!” – faz-se ouvir em sua mente a
voz paterna.
- Pai... Meu pai!!! Que alívio sinto ouvindo a sua voz!!! – ele brada
emocionado – Então não estou abandonado...?!
“Não, Godofredo... Suas lágrimas de remorso e seu pensamento
aflito demonstram o seu desejo de evolução. E o auxílio Divino se faz
presente de imediato. Já se esqueceu filho, que eu recebi permissão para
acompanhá-lo em seu resgate?! O Pai deseja que todos os seus filhos
evoluam... Já não lhe afirmei isso...?!”
- É verdade, já havia me esquecido!
“Pois não se esqueça nunca das palavras de Jesus!... Desfaça-se de
seus temores e enfrente os seus erros... Só assim poderá se libertar deles,
aceitando como ensinamento o retorno da energia negativa oriunda dos
mesmos, que se desfaz em si próprio na forma de resgate. Este é o caminho
da evolução!”
A voz paterna desapareceu deixando Godofredo imerso em suas
recordações... Sua consciência cósmica o levou a uma época pouco mais
adiante da última regressão.
cobrando o combinado, meu amigo... Na verdade não foi uma condição que
eu exigi, quando o convidei para ser meu assistente, dividindo meu
consultório com você... Longe disso!... Apenas pedi que você me
acompanhasse no atendimento gratuito no Hospital...
- É verdade!... O senhor não exigiu nada de mim. Eu acatei o seu
pedido.
- O que me deixou muito satisfeito, pois sinceramente pensei que
você desejasse se tornar um médico da estirpe de Hipócrates. Humanitário,
atendendo indistintamente a ricos e pobres. E não fazendo como alguns de
nossos colegas que apesar de muito competentes, infelizmente,
demonstram indiferença pela população carente. Só pensam em amealhar
fortuna. E a verdadeira medicina, em minha opinião, deve ser exercida
como um sacerdócio...
Ele silencia por um instante, olhando para seu ouvinte, que se
mantém calado, pensativamente. Quando volta a falar, sua voz tem um tom
afável, compreensível: - Pela amizade que tenho por você, quero lhe deixar
à vontade para fazer apenas o que achar mais conveniente... Não existe
nenhum compromisso para comigo... Mas pense bem no que eu lhe disse,
meu jovem amigo! Pois o caminho que você trilhar nesta vida, será o
resultado de seu desejo e de sua determinação!
Godofredo sentiu-se envergonhado e para encerrar a conversa,
prometeu que seguiria os conselhos de seu protetor.
Sampaio, aliviado por ter falado abertamente sobre o assunto que o
preocupava, levantou-se, preparando-se para sair. Ofereceu, como de
costume, carona em seu carro, mas Godofredo recusou, alegando que teria
de colocar em ordem algumas fichas de pacientes. Abraçando-o
paternalmente, Sampaio despediu-se, seguindo para sua casa.
Na verdade, Godofredo queria era ficar a sós para pensar sobre a
conversa que tiveram. Não queria que esta se espichasse durante o trajeto
no carro até seu apartamento. Apesar de ter concordado em acatar o
conselho que recebera, ele não se sentia totalmente errado em suas
atitudes...
Estava iniciando uma auto-análise, quando o telefone tocou. Era
uma de suas clientes que estava entrando precocemente em trabalho de
parto.
Demorou um pouco para conseguir um táxi... “Como poderei
conseguir dinheiro para comprar um carro, se não aproveitar ao máximo o
número crescente de clientes ricas...? Para o Doutor Sampaio é fácil porque
ele é um homem rico... Uma paciente a mais ou a menos não faz diferença
alguma!... Ao passo que para mim, uma nova cliente é sempre
importante!... Somente assim, poderei ter a minha condução própria! Além
do prazer imenso de possuir um automóvel!”
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- Para aqueles que não souberam viver com amor... Que levaram
dor e sofrimento aos seus semelhantes!... Que não se enterneceram com os
aflitos e não procuraram aliviá-los de suas aflições! Que só pensaram no
poder do dinheiro e deixaram-se levar por suas tentações!... Que trilharam
uma vida que não merecia ser vivida... Criaram assim, a sua própria dor!
Assustado, Godofredo senta-se no catre e olhando à sua volta, sem
nada ver, pergunta ansioso: - Quem está falando isso...?!!! – mas em
seguida reconhece a voz – Já sei!... É a mesma alma que invadiu a minha
mente quando eu despertei neste inferno... Estou certo....?!
- Sim!... Você está certo!”
- Mas, agora você fala aos meus ouvidos, não em minha mente...
Como pode ser isso...?!
- Porque o seu progresso em reconhecer os própios erros, diminuiu
um pouco a densidade negativa à sua volta, facilitando a projeção de minha
voz.
- E por que não pode projetar também a sua imagem...?!
- Porque ainda é muito densa a energia que o envolve... Apenas um
fio de minha voz consegue penetrar na escuridão onde você se encontra...
Além do que, eu não sou um espírito iluminado, não tenho o poder de
dissolver as trevas... Sou apenas um espírito que gravita no Plano Astral
Médio. E que tive permissão para me comunicar com você!
- Eu perdi a noção do tempo!... É uma coisa que me aflige não
saber se estou há dias ou meses perambulando por aqui... Você sabe...?!
- Sim... Mas espero que não se assuste, pois o tempo no Plano
Espiritual difere em muito da noção que temos dele na Terra... Você está
aqui há 40 anos terrenos, exatamente.
- Quarenta anos...??? Impossível!
- Sim, o que corresponde a uma idade média de um ser humano!
Abismado, Godofredo mal consegue coordenar seu pensamento: -
Estou confuso... Não consigo me lembrar direito quantos anos eu tinha
quando vim parar aqui!... 60... Ou seriam quase 70...?! Ó, céus... Fiz 100
anos aqui ou mais de cem...?!!!
- Isso não importa! A idade que você tinha quando fez a passagem,
já prescreveu... Não existe mais aquele corpo, agora é a idade do seu
espírito que está regendo o seu tempo na espiritualidade... E este tempo,
você ainda não tem conhecimentos necessários para avaliar.
- Mas isto é terrível!!!... – ele faz uma pausa, meditando, para
depois interrogá-la – Porém tem uma dúvida que ultimamente tem me
atormentado... Poderia me dizer se a Cristina teve o meu filho...?! O que
aconteceu ela?!
- Nada posso lhe dizer... Tudo o que você fez na sua vida terrena,
tem que ser revisto através de sua consciência! – e em tom de súplica, a voz
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se despede – Por favor, tente evoluir mais rápido, pois estou lhe
aguardando!
- Me aguardando por quê...?!
Mas a voz já havia silenciado. Ficara o angustiante vazio dentro e
fora de si mesmo. “Por que ela insiste em me esperar...? Que vida nós
trilhamos juntos em alguma ocasião deste tempo louco...?! Não consigo me
lembrar dela!!!”
Gemendo de dor ele se deita novamente, pensando na sua vida
terrena: “O que será que aconteceu com a Cristina...?”
Como se um redemoinho o levasse, ele surge mais uma vez em
outro tempo passado, como espectador de seus próprios atos.
Sabe que foi muito bom desabafar com você...?! Sinto que a minha mágoa
está começando a se desfazer... – e abrindo a porta, fala sentindo-se
realmente aliviada – Por favor, vai embora! Preciso me recompor... Tem
uma pessoa lá em baixo me esperando... Um homem que me ama, como eu
sempre desejei ser amada! Sei que finalmente poderei ser feliz!!! Nunca
mais quero lhe ver... Você faz parte de um passado que desejo esquecer
para sempre!
De tão estupefato, ele nada conseguiu dizer e nem ao menos teve
coragem de pedir perdão. Saiu cabisbaixo, confuso, envolto em um
turbilhão de emoções.
- “Que eu obtenha o seu perdão, por ter tido raiva de você por
tantos anos!”
- Que absurdo, Cristina!... Eu sim, é que tenho de lhe pedir perdão
pelo mal que causei a você!
- “Mas eu já o perdoei há muito tempo... Contudo, a raiva que nutri
por tanto tempo lhe prejudicou bastante. E é por causa disso que necessito
do seu perdão!”
- Ora, Cristina... Que tolice você está me dizendo!... Não vejo
como você possa ter me prejudicado, somente pelo fato de sentir raiva de
mim!... Que, aliás, você tinha todo esse direito!
- “Está enganado, Godofredo!... A minha raiva era uma energia
negativa que eu lhe direcionava, mesmo sem o saber. Pois, toda
negatividade enviada é prejudicial a ambas as partes, ofensor e ofendido,
estabelecendo uma ligação que só poderá ser desfeita, se houver perdão
mútuo. Compreendeu agora...?”
- Nunca pensei que isso pudesse acontecer!... – ele analisa
realmente admirado – Mas... Sendo assim, já está perdoada!!! Quanto a
mim, mesmo perdoado por você, ainda não sei como perdoar a mim
mesmo!...
- “Perdoando a seus ofensores, estará perdoando a si mesmo!
Agora preciso voltar a meu serviço...”
- Não, Cristina! Não vai ainda!... Preciso saber como você está aqui
na Espiritualidade! – ele pede ansioso.
- “Bem... Josué, meu marido na vida terrena, e eu, estamos
habitando o Plano Astral Superior, em seu nível inicial. Exercemos um
trabalho, um pouco semelhante ao que desenvolvemos na Terra, em uma
colônia de recuperação e harmonização para com os espíritos de
adolescentes e crianças, recém-desencarnados em meio à violência.”
- Trabalhando...?! Mas isso é incrível! – exclama Godofredo
surpreso – Pensei que os espíritos bons não trabalhassem...
Cristina o interrompe com uma risada: - “E vivessem rodeados
pelos anjos, ouvindo harpa e nada mais fazendo...? Ora, Godofredo...
Quanto mais iluminado é o espírito, mais ele trabalha auxiliando a
humanidade em seu desenvolvimento! Os anjos e arcanjos coordenam
correntes de Luz em prol da evolução do ser humano! Ou seja, dos espíritos
ainda atrasados, que não conseguem compreender a trajetória evolutiva... E
que também ainda não perceberam a sua origem Divina, a sua integração
na Vida Única, a Vida Cósmica!...”
- Tudo bem... Mas não descansam, nem se distraem...?!
- “Em princípio, os espíritos iluminados não se cansam... Mas o
lazer existe, de acordo com a vontade de cada um... Quanto mais evoluído
o espírito, mais evoluídos também são os seus momentos de quietude e
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lazer... Godofredo, não posso me demorar mais... Que Jesus ilumine o seu
caminho!”
- Cristina!... Não me deixe ainda nesta solidão!!! – ele exclama
angustiado, mas a voz dela sumira. Contudo, a voz paterna atende ao seu
chamado, penetrando em sua mente:
“Filho... Tenha calma... Agradeça a Deus pela oportunidade desse
reencontro com Cristina, que propiciou a harmonia entre vocês dois!”
- Mas eu estou confuso, meu pai! Não entendi bem o que ela me
disse... Tudo o que vejo e ouço aqui neste desterro, é desconhecido para
mim! Não sei o que pensar!
“É desconhecido, porque você ainda não despertou a sua
consciência cósmica... No momento em que isto acontecer, você irá se
lembrar de todas as suas vivências pregressas e de todos os ensinamentos
adquiridos. Tenha calma, filho... Você tem inteligência... Use dela para
analisar as sábias palavras de Cristina... Que Jesus o abençoe!”
Godofredo reerguendo-se do catre, e ainda deslumbrado com o que
acabara de lhe acontecer, surpreende-se sentindo certo alívio em suas
dores. O nauseante odor de suas chagas, também diminuira de intensidade:
“Será decorrência de meu encontro com a Cristina...?” – ele pensa
analiticamente e conclui – “Sim... Foi a energia do perdão!... Incrível!!!
Então... Sendo assim... Quanto mais eu procurar saber quantos erros eu
cometi, para que possa conquistar o perdão de quem sofreu por causa deles,
mais rápido eu sairei deste lugar horrível!...” – e, com sinceridade uma
súplica brota de seu íntimo – “Ó Jesus, ilumina minha mente para que eu
possa desvendar totalmente o meu passado!”
Sentindo-se revigorado, ele dirige-se para a porta. Sua intenção é
andar um pouco, entretanto a visão do local nevoento e sujo ao seu redor,
faz com ele recue, voltando a sentar-se em seu catre: “Ó Céus!!! Por um
momento eu me esqueci do tenebroso lugar onde me encontro... Melhor é
ficar dentro do meu casebre! Estou mais seguro aqui!!!”
Ledo engano! A porta se escancara abruptamente pela invasão de
seu obsessor.
- Ainda não descobriu quem eu sou, seu patife...?! – gargalha a
seus ouvidos o ser hediondo que o persegue – Mas eu tenho paciência...
Saberei assim que você descobrir!!!
Desesperado, Godofredo o enxota com palavras ásperas. Porém seu
agressor voltando a gargalhar, aproxima sua cara deformada, destilando
ódio pelos olhos e exalando fétido hálito, ameaçando-o: - A hora de prestar
contas comigo está chegando, seu verme nojento...! Me aguarde!!! - e às
gargalhadas ele se retira.
Atormentado, sentindo repentinamente suas dores aumentando de
intensidade, Godofredo atira seu corpo dolorido sobre a palha suja que
forma sua cama. “Até parece que levei uma pancada na cabeça!...” –
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única!... E além do que, certamente não irei continuar aqui depois que a
clínica for vendida... Portanto, sem riscos!”
- Dona Zuleika, por favor, não chore mais... Eu estou entendendo o
seu desespero. Apesar de ser contra minha conduta profissional, vou dar
um jeito de fazer o que me pediu! Mas nem pensar em dar qualquer
presente! Vou fazer isto, porque estou condoído com o seu sofrimento e
preocupado com a sua filha!
- Ó Doutor!... – ela exclama entre surpresa e feliz – Muito... Muito
obrigada! O senhor ganhou uma amiga para sempre!!!
- Eu agradeço a sua consideração... – ele fala sorrindo – Mas o que
me fez ceder ao seu pedido, foi o que a senhora disse a respeito de sua
filha... Não sei quais os motivos que uma jovem criada com amor e
prosperidade, possa se sentir tão infeliz!... E agora, mais do que nunca, ela
vai precisar de um psicólogo... O ato tresloucado que ela cometeu, se não
houver tratamento psicológico, poderá ter graves conseqüências. Uma delas
é entrar em um processo depressivo.
- Ai, Doutor... Nem me diz uma coisa dessas! – ela fala realmente
preocupada – Então o senhor poderia me indicar um bom psicólogo...?! Eu
não conheço nenhum... E também poderia conversar com ela, explicar a
situação...?
- Nem precisava pedir Dona Zuleika!... Isto faz parte do meu
atendimento médico. Daqui à uma hora ela já poderá ir para o quarto e
amanhã cedo, se ela estiver bem, poderá dar alta do hospital. Antes disso eu
conversarei com ela... Fique tranqüila!
- Realmente foi errado o que você fez... Mas achar que talvez fosse
melhor morrer é um erro muito maior! Você é muito jovem... Tem uma
vida inteira pela frente!
- Que vida, Doutor...?! A mesmice de sempre?!
- Mas e o pai da criança já sabe que você interrompeu a gravidez...?
- Que pai, Doutor...?! Eu mesma não sei quem ele é!
Admirado com tal resposta inesperada, Godofredo a olha
interrogativamente: - Não sabe...?! Mas o que realmente aconteceu com
você...?! - “Será que ela foi estuprada...?!”, pensa penalizado.
- Quer saber por quê...?! Pra contar pros meus pais...?! Aí sim que a
minha vida vai virar um inferno!
- Não... Absolutamente não! O que você me disser, nunca sairá
daqui! – mas sem hesitar ele vai direto ao motivo de sua desconfiança -
Você foi vítima de estupro...?!
Catarina ri ironicamente: - E alguém ia me querer à força...?! Feia
e gorda do jeito que eu sou...?! Ah, Doutor... Os rapazes que se aproximam
de mim, só pensam em meu dinheiro... Pensa que eu sou boba...?!
Impressionado com o grau do complexo de inferioridade que
atormentava a jovem, ele realmente pensa em ajudá-la:- Mas, então, o que
aconteceu...?!
Ela hesita em contar... E quando fala, seu olhar torna-se
indecifrável: - Já que deseja tanto saber... Eu estou cursando o primeiro ano
de medicina... Até agora, fiz alguns amigos na faculdade, mas nenhum
namorado... Os colegas que se aproximam de mim, em quase sua
totalidade, querem sempre alguma ajuda... Precisam de um dinheiro
emprestado para comprar um livro, pagar a cantina que está em atraso, e
etc... Coisas assim! E eu os ajudo, com a intenção de ser popular na minha
turma... E quando tem festa, seja em boate, ou clube, sou sempre
convidada, mas fico sempre também mofando sentada na cadeira, enquanto
minhas colegas dançam sem parar. – e com um sorriso irônico ela afirma -
Eu sei que a minha presença é a garantia de que as despesas da mesa sejam
pagas sem limite... Sou considerada um banco à disposição da turminha,
mas vou levando... Melhor assim do que ficar sozinha... – nesse ponto, ela
faz uma pausa prolongada, criando coragem para ir até o fim – Pois foi em
uma dessas festas, que fiz a maior burrada de minha vida! Mas isso tudo
ninguém vai saber, não é Doutor...?
- Eu já lhe dei a minha palavra! Fique descansada!... – e sem querer
pressioná-la, Godofredo aguarda com paciência, até que ela resolva
continuar com seu relato.
- Bem... Como eu ia dizendo... Eu já havia bebido umas quantas
doses de Cuba-libre, estava meio tonta, quando escutei na mesa ao lado uns
comentários debochados sobre mim. Não eram colegas meus, eram
veteranos... Atingida em meu amor próprio, sentindo-me humilhada com
66
novo proprietário iria dar um prazo de um mês para que ele procurasse
outro consultório.
“Que droga! Estou numa maré de azar!... Por que eu fui gastar
tanto dinheiro com um carro para o meu pai...? Que asneira!!!” – pensa
irritado consigo mesmo, esquecido da alegria que proporcionara aos pais –
“Agora não tenho meios para montar um consultório em grande estilo!
Corro o risco de perder a minha clientela!!! Talvez o único jeito seja vender
o meu Buick!”
Exasperado por ter de ficar dependendo de ônibus, ele se lamenta: -
Condução de pobre!... Ainda por cima perdi a maior chance de minha
vida! Perdi o filão de ouro da Catarina!!!
Toda essa situação tumultuada já entrava na segunda semana... E
nenhuma notícia de Catarina chegava... “Acabou mesmo! Tenho que tocar
pra frente! Vou vender o carro!”... E premido pelo tempo escasso para a
montagem do consultório, por vezes ele se desesperava, até que finalmente
este ficou pronto. Havia se passado exatamente um mês. Cumprira o prazo
previsto...
Participou o novo endereço à sua clientela, dando assim
continuidade ao seu trabalho, sem ter tido qualquer interrupção no
atendimento profissional. Sentira-se feliz... Pela primeira vez vencera por si
mesmo uma situação difícil, sem ajuda de nenhum protetor.
A secretária que lhe servia, funcionária da Clínica, fez questão de
continuar ao seu lado, abandonando um emprego antigo. Dona Florinda era
uma senhora de idade que conhecia todas as pacientes, o que facilitou
manter intacto, em ordem, o fichário do consultório.
No segundo dia de funcionamento, Godofredo teve uma enorme
surpresa. A última paciente do dia foi Catarina!
Mais magra, com as feições do rosto suavizadas por uma pele
acetinada, um novo nariz afilado e o cabelo bem tratado, ela estava quase
bonita.
Sorridente, comunicou ao aturdido Godofredo, sua decisão: - Estou
aqui para dar início ao nosso namoro!
Sem conseguir se recobrar direito do susto, ele fala com
dificuldade: - Catarina... O que aconteceu...?! Você sumiu sem responder a
minha carta!
- Não fique aborrecido comigo... Foi somente um teste!
- Um teste...?! Por que, Catarina?!
- Já lhe disse para não ficar aborrecido comigo... Mas, eu tinha que
ter certeza de que realmente você me amava...
- Como assim...?! – ele pergunta preocupado.
- Ora, Godofredo... Já tive outros pretendentes e, todos eles, sem
exceção, amavam a minha fortuna. E eu tinha medo de estar enganada
quanto à você.
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ele sentiu-se feliz de uma maneira que não esperava. Não estava
apaixonado, mas o afeto que sentia por ela, intensificou-se.
Ao retornarem para o Brasil, ele surpreendeu-se mais ainda. Seu
consultório estava fechado. Tudo fora transferido para a Clínica e na
garagem estava estacionado o seu Buick.
Surpresa total: Os compradores da clínica e de seu automóvel
tinham sido a mesma pessoa... Honório Fontes, o seu sogro! Este assim
agira, em surdina, como uma avaliação sobre a verdadeira intenção de seu
relacionamento com a filha. Caso ele desconfiasse das intenções de
Godofredo, a compra da clínica e do automóvel seriam apenas
investimentos para ele. Satisfeito com a atuação do pretenso genro,
concordou com o casamento e na ocasião do noivado, devolveu-lhe o carro.
E após a realização das bodas, deu como presente 20% das ações da
Clínica.
Mas a visão não foi interrompida pelo seu grito e ele foi levado a
vivenciar o que se passou após aquela morte física.
Os companheiros de Salvatore subiram imediatamente ao Plano
Astral Médio e quanto a ele, foi atraído ao Umbral. Em grande sofrimento
ali passou o equivalente a setenta anos de vida terrena. Quando finalmente
alcançou o plano de seus antigos companheiros, surpreendeu-se ao
encontrá-los em um belo jardim, na colônia de preparação reencarnatória...
Seus cinco amigos, a esposa de um deles e mais o espírito de uma
jovem que ele desconhecia o receberam com satisfação afetuosa.
- Graças a Deus eu os encontrei!... – exclama Salvatore - Rezei
muito para isso, pois preciso pedir perdão pelo ato criminoso que fiz a
vocês... Mas como sabiam que eu estava para chegar...?!
- Seu pensamento a nosso respeito, nos manteve ligados a você.
Acompanhamos de longe a sua redenção... E já o perdoamos há muito
tempo.
Salvatore, agradecido, sentindo-se liberto de seu crime, admira-se
com o fato da jovem desconhecida também tê-lo perdoado.
- Mas, o que fiz a você, para que precisasse me perdoar...?!
- Eu sou o espírito da criança que não pôde nascer... Que foi
sacrificada ainda no ventre daquela que seria a sua mãe.
- Mas... – Salvatore sente-se confuso – Se a criança não chegou a
nascer, como poderia ter um espírito...?!
- Nós iremos lhe explicar sobre isso... Vamos nos sentar sob a copa
daquela árvore florida. – ela o convida.
Já acomodados, um de seus amigos o avisa: - Este é um
ensinamento que você precisa gravar com firmeza, na sua mente cósmica,
pois necessitará dele na sua próxima encarnação.
- Mas... Como podem saber de que maneira irei reencarnar...? E
quando isso será...?!
- Sabemos disso porque escolhemos reencarnar juntos com você, a
fim de ajudá-lo no cumprimento de sua missão. – complementa outro.
- Missão...?! E por que querem me ajudar...?!
- Porque, se você não se recordou ainda, vou tentar lembrá-lo...
Antes de encarnarmos para a vida terrena, em que passamos juntos como
amigos, nós havíamos nos comprometido ainda na espiritualidade, como
missão, a colaborar para que se extinguisse a Inquisição.
- Não sabia que era uma missão... – fala Salvatore surpreso.
- Missão que você interrompeu... E este foi o seu maior erro! Nós
cinco, minha esposa e você, estávamos assim, resgatando diversos erros
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se passado e ele sentia-se atrelado ao que fazia. Todavia levava uma vida
boa. Casara-se com a enfermeira chefe de sua equipe e constituíra uma vida
satisfatória. Darlene aceitava com naturalidade a atividade ilegal da clínica,
apesar dela mesma ser contrária a abortar. Mas não criticava nem
condenava quem o fizesse. Quisera ter apenas um filho e estava
aparentemente feliz com a vida ao lado de Carlos. Eles moravam em uma
boa casa, confortável, bem construída, mas destituída de qualquer luxo.
Levavam uma vida simples, em harmonia. Se não fosse o medo que se
escondia bem no íntimo de Carlos, de ser descoberto na sua atividade
ilegal, ele poderia considerar-se um homem feliz. Na verdade, já pensava
em terminar com tal atividade. Seria melhor para o seu equilíbrio
emocional. Por vezes sentia angústia com a visão dos fetos dilacerados.
Ao contrário dele, Godofredo nunca estava se sentindo de bem com
a vida... Tinha muito mais do que sonhara para si, entretanto sua ambição
era ilimitada... A sociedade com Carlos tinha sido um erro de previsão. O
lucro era pequeno e o risco muito maior... Acabou por desfazer a sociedade
com o amigo. Esta não o fizera independente do sogro. Os únicos bens que
possuía em seu nome, eram os 20% das ações da clínica e o carro que
periodicamente trocava por um novo. Porém não mais pelos belos carros
americanos. Uma vez que já estavam sendo fabricados automóveis no
Brasil e a importação dos estrangeiros estava proibida.
O relacionamento com Honório sofrera um desgaste considerável...
O sogro descobrira algumas de suas aventuras amorosas e se continha
calado para não magoar a filha, ainda apaixonada pelo marido e que de
nada desconfiava.
Catarina se achava muito envolvida com o consultório que montara
para dar atendimento exclusivamente à infância e à adolescência. E duas
vezes por semana atendia gratuitamente, em uma escola pública, as
crianças pobres necessitadas de tratamento psicológico. Isto irritava a
Godofredo, porque fazia com que ele se lembrasse do abandono em que
deixara as mães pobres da periferia. Mas Catarina continuava uma
companheira agradável e carinhosa, o que também de certa forma o
contrariava, pois o deixava com a consciência pesada, em virtude de suas
traições.
Com a passagem dos anos, Godofredo sedimentara a mudança
radical em sua personalidade, que se iniciara no tempo de juventude.
Tornara-se egoísta e insensível.
Com o falecimento de seus pais em um acidente de ônibus, durante
uma excursão ao Uruguai, ele afastou-se completamente de seus irmãos e
suas famílias. Era como se estes habitassem países diferentes.
Aproximava-se a década de setenta...
Uma boa qualidade Godofredo possuía... Era muito dedicado à sua
profissão, procurando estar sempre atualizado com a evolução científica.
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Neste momento, eles estão passando por uma das ruas cujas casas
são todas de madeira. Os instrutores param defronte a uma destas, rodeada
por um jardim semi-abandonado, e algumas árvores frutíferas. Na sua
fachada, existem apenas duas janelas e uma porta de entrada.
- É aqui que vocês dois vão morar! – explica Frederico.
- Então vamos continuar juntos...?!
- Sim... Para que possam dar continuidade ao trabalho que vinham
realizando... Nesta cidade, os espíritos que se dedicam a um mesmo
trabalho, co-habitam casas ou pensões.
- Existem pensões também...?! – admira-se Godofredo.
- Sim, mas nas pensões residem os espíritos que já passaram pela
experiência de realizar tarefas domésticas, já podendo usufruir de uma
melhoria de conforto.
- Como assim...?! – questiona Carlos impressionado - O que isso
quer dizer...?! Eu pensei que os espíritos vivendo em um plano melhor não
tivessem necessidade de tarefas domésticas, além da execução dos
trabalhos de auxílio aos irmãos necessitados.
- Eu também!... – afirma Godofredo – Como no Umbral, onde nós
estávamos, não existiam tais tarefas?!
- Mas vocês não se deram conta de que a vivência, naquele lugar,
era semelhante a dos mendigos mais renegados na vida terrena...?! –
pergunta Ângelo – Aqueles não tinham casa, viviam pelas ruas, portanto
não tinham o que cuidar.
- É... Faz sentido... - concorda Carlos.
- Aqueles mendigos que vocês não prestavam atenção, quando
passavam pelas ruas em seus automóveis de luxo... Nunca se interessaram
em saber se existiam bons albergues na cidade, e muito menos, fazer
qualquer doação em dinheiro para ajudar a mantê-los!
Encabulados, sentindo o quanto foram egoístas, ambos
permanecem calados.
- Mas vamos entrar! – convida Frederico – Preciso mostrar a vocês
quais os serviços que se fazem necessários, para manter a vida doméstica
em ordem. Uma de suas obrigações...
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como as que foram semeadas nas florestas do Plano Material, todas têm um
grande poder curativo... Infelizmente este é pouco conhecido pela maior
parte da Humanidade, que inconsequentemente, pela ignorância da
realidade da Vida Eterna, extingue tais ervas em queimadas criminosas.
- E quem cuida aqui neste plano, dessas ervas e da semeadura das
mesmas na Terra...?! – questiona Godofredo com grande interesse
despertado.
- Na Terra são os espíritos da Natureza, que têm a seu cargo, a
flora, os minerais e a fauna... Aqui, no Plano Astral, são os espíritos da
Falange dos Caboclos... Espíritos dos índios que tiveram sua experiência de
vida terrena em meio à natureza pura da mata. Adquiriam assim, profundo
conhecimento dos efeitos curativos das ervas, para o equilíbrio da saúde
humana. – complementa Ângelo.
- E eles vivem na cidade...?!
- Alguns sim... Estão se preparando para o reencarne em outras
experiências de vida... Outros vivem na mata que existe na cadeia de
montanhas além da cidade. Cumprem um estágio evolutivo ainda dedicado
à Natureza. Eles vêm aqui somente para trabalhar na manipulação das ervas
destinadas ao tratamento das doenças nos corpos astrais dos encarnados.
Eles contam também com o auxílio de espíritos que habitam um plano
astral mais evoluído. Estes colaboradores passaram sua existência terrena,
tentando proteger a Natureza dos agressores do meio-ambiente, a custo
muitas vezes da própria vida física. Por opção própria, trabalham aqui com
o desejo de dar continuidade ao trabalho que exerciam na Terra, estudando
o poder das ervas curativas.
- E as cirurgias espirituais que médiuns realizam na Terra, como
são feitas...?! – questiona Carlos, bastante impressionado.
- A maior parte das cirurgias é realizada no plano espiritual, sem
que o paciente encarnado tome conhecimento do que está acontecendo com
ele. Entretanto, para que os cientistas e médicos humanos se conscientizem
da necessidade de estudar a relação existente entre matéria e espírito,
muitas são feitas através dos médiuns com bisturi, ou outros objetos
cortantes, sem nenhuma assepsia, em qualquer lugar. E a dor do corte e o
derramamento de sangue são eliminados pela energia da luz.
- Assim como o raio lazer...?! – interrompe Godofredo.
- Podemos dizer que sim... Porém em uma potencia infinitamente
maior do que a utilizada pela ciência humana, e não visível aos olhos dos
encarnados. Essa energia de luz não é transmitida por nenhum aparelho,
mas sim pelo médium condutor ao impor suas mãos sobre a área afetada,
realizando a cicatrização.
- E quanto à falta de assepsia...?! Por que não ocorrem efeitos
colaterais infecciosos?! – admira-se Carlos.
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- Arrependo-me hoje por não ter ido ver de perto o que acontecia
nestes trabalhos!... – lastima-se Carlos.
- Mas, eu vejo que alguns estão recebendo pagamento por isso! –
observa Godofredo – Como eles podem receber dinheiro... Não é
errado...?!
- Sim... Muito errado, contrariando o que foi determinado pela
Espiritualidade de Luz, e comprometendo a missão que eles aceitaram
antes de reencarnarem. – responde Frederico – Mas, observe o que
acontece com esses irmãos!
Impressionados, os aprendizes vêm que tais médicos que
usufruíram de pagamento, foram abandonados pelas Entidades de Luz e,
obsediados por espíritos trevosos, tiveram suas vidas interrompidas em
trágicos acidentes.
Entretanto, outros cumpriam fielmente suas missões, mesmo sendo
desacreditados, e por vezes até perseguidos por fanáticos religiosos que
condenavam com veemência tal prática mediúnica.
- Vocês não se recordam de nada, ao assistirem estes trabalhos...? –
pergunta Ângelo.
Repentinamente Godofredo lembra-se de uma cena vivida, no
Plano Astral Médio, antes de seu reencarne na Terra: - Sim!!!... Carlos e
eu, porém com outras personalidades que não estas de agora, fomos
levados também por outros instrutores a uma projeção futura, para que
observássemos este mesmo trabalho que estamos vendo neste momento!
- Você tem razão!!! – exclama Carlos – Eles estavam nos
mostrando que tínhamos como missão de resgate, reencarnarmos como
médicos. Com o propósito de apoiarmos, através de estudos e palestras, os
médiuns incorporados pelas entidades médicas. Lembro-me bem agora... A
missão era interagir a medicina humana com a medicina espiritual!... Ó
meu Deus!... Como falhamos!!!
- Isso mesmo! Aconteceu bem assim!... Havíamos combinado
também com outros espíritos, que reencarnaram antes de nós dois, na
condição de familiares e amigos, para nos ajudarem no cumprimento dessa
importante missão!... Ó Jesus! Não cumprimos com o nosso acordo!!!
A visão é desfeita e ambos permanecem calados, envolvidos em
profundo remorso.
- Mas em nada adianta vocês se fecharem em arrependimento. Já
estão praticamente com seus resgates concluídos, faltando apenas um
importante serviço. É melhor terem isso em mente!
- É verdade! – exclama Godofredo esperançoso – Você já havia me
dito que eu vou trabalhar acoplado em um médium na Terra, operando
igual a esses médicos que acabamos de ver aqui... Aliás, Carlos, penso que
nós dois faremos isso, não é Irmão Frederico...?!
- Não exatamente assim...
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dimensão mais sutil, do mesmo Sistema Solar, para darem início a uma
nova Humanidade mais evoluída, física e espiritualmente.