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Projeto Urbano 5
Projeto Urbano 5
Projeto Urbano 5
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Paisagem e Desenho Urbano:
Centro e Periferia
• Introdução;
• Uma Dialética Sempre Atual: Centro e Periferia;
• Conurbação Urbana;
• Periferias Urbanas.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Apresentar como contextos diferentes produzem espaços urbanos distintos;
• Analisar a paisagem urbana do centro e bairros de periferias.
UNIDADE Paisagem e Desenho Urbano: Centro e Periferia
Introdução
[...] a cidade representa uma imensa concentração de agentes que exer
cem diferentes atividades nesse espaço. Sendo assim, a expansão urba
na tende a privilegiar determinadas localizações em medida tanto maior
quanto mais escassos forem os serviços em relação à demanda. Em gran
de parte das cidades, a rápida expansão do seu número de habitantes
resulta em uma escassez de solo urbano, bem como de equipamentos
urbanos, resultando na valorização das poucas áreas bem servidas de
infraestrutura. A atuação do mercado imobiliário confere a essas áreas
bem servidas de infraestrutura urbana um privilégio das camadas de alta
renda que possuem reais condições de consumir esse espaço, enquanto
a população de baixa renda fica destinada às zonas mal servidas e que,
por isso, são mais baratas). (SINGER, 1982 apud TESSARI, 2013, p. 32)
É muito cruel pensarmos dessa forma, mas infelizmente é uma realidade cada vez
mais presente no Brasil. As médias e grandes cidades brasileiras atraem um expressivo
número de pessoas e investimentos. As empresas buscam sempre atingir os maiores
lucros, e na sua logística de implantação a possibilidade de minimizar custos com mão
de obra ou transportes se tornam fundamentais para seus objetivos finais.
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conjuntamente com seu centro, isto é, o centro do círculo não preexiste sem o pró
prio círculo.
Isso significa que o centro e a cidade surgem conjuntamente, não havendo uma sepa
ração ou uma inauguração em momentos distintos. O mesmo autor ainda coloca que há
duas características comuns ao conceito de centro (p. 23):
• Teoricamente, os centros são locais de boa acessibilidade para toda a população
da cidade;
• Os centros abrigam instituições de interesse coletivo, ou seja, instituições importan
tes para a vida da cidade.
Esses apontamentos aproximam das concepções de ímã que a autora Raquel Rolnik coloca
em seu livro “O que é cidade”.
O centro de uma cidade existe visto o fácil acesso a esse espaço do território, bem
como a atividades e serviços que interessam a uma boa parte da população. Entretanto,
na cidade contemporânea, não pensamos apenas em um centro único, mas sim em
centralidades. Veremos esse conceito um pouco mais adiante.
Com a expansão urbana, o território começa a ser urbanizado a partir do centro para
áreas mais extremas e afastadas. É um movimento que amplia os limites urbanos e cria
novas lógicas de ocupação territorial (Figura 1).
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pessoas menos abastadas procuram novas áreas para se abrigarem, com um valor eco
nômico mais baixo, mas também com infraestruturas mais precárias.
Esse movimento de expansão urbana gera novas paisagens e novos desenhos urba
nos, muitas vezes bem distintos dos anteriores. Isso ocorre por diversos motivos: a geo
grafia ou o relevo são diferentes, as novas legislações urbanas também podem ser outras,
as condições socioeconômicas, entre outros fatores.
Flávio Villaça (2003) aponta que, no Brasil, o mercado imobiliário predomina sobre
as decisões do Estado no que tange às competências técnicas para produção do espaço
urbano. O resultado disso é uma péssima qualidade urbana das cidades brasileiras.
De Volta ao Centro
Apesar de os centros urbanos serem espaços extremamente valorizados, não é inco
mum ocorrer um fenômeno de precarização do centro nas cidades brasileiras. Mesmo
havendo uma vasta infraestrutura urbana nos centros, com a expansão do território,
muitas pessoas começam a deixá-los e passam a optar por áreas mais novas da cidade.
São novas oportunidades de negócios e novas habitações do mercado imobiliário que
promovem essa urbanização. Um caso típico é o da urbanização do Pacaembu, pela
Companhia City (1925). Em seus cartazes promocionais, essa instituição privada vendia
os terrenos no Pacaembu com o apelo de “morar na cidade, mas com ares do campo”
(Imagem no link a seguir).
Com ações do mercado imobiliário, como essa acima mencionada, as pessoas come
çam a deixar os centros urbanos trazendo gradativamente o abandono e a degradação.
Como a demanda de imóveis é maior do que a procura por interessados em habitar o
centro, os valores de imóveis decrescem rapidamente, bem como o valor de aluguéis.
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Não é incomum encontrarmos em centros urbanos das grandes cidades imóveis
antigos, abandonados e degradados por falta de manutenção. Muitos desses imó
veis são invadidos, o que indica um sério problema de deficit habitacional. O nível de
marginalidade aumenta proporcionalmente ao nível de desinteresse público e privado
com o centro.
Centro
Esses projetos acontecem no mundo inteiro. Podemos citar o Projeto Nova Luz em
São Paulo, a reabilitação do centro e da orla no Rio de Janeiro, os projetos de Docklands
na Inglaterra, a reestruturação urbana da Potsdamer Platz de Renzo Piano (Imagem no
link a seguir).
Conurbação Urbana
Nós apontamos anteriormente que as cidades possuem o fenômeno de expansão ter
ritorial, buscando novas áreas e criação de novas paisagens urbanas. Entretanto, como
essa expansão acontece em muitas cidades vizinhas, em um determinado momento, há
uma aproximação de tecidos urbanos das duas cidades. Praticamente um tecido urbano
incorporase ao outro. A esse fenômeno denominamos conurbação urbana.
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Fonte: https://bit.ly/30wGUaC
Não é incomum que essas conurbações urbanas ocorram nas franjas das cidades, o
que intensificaria a ideia de grandes periferias urbanas.
Periferias Urbanas
Dissemos anteriormente que as periferias estão localizadas nas margens ou franjas
das cidades. Mas vale a pena indicar uma imagem que é icônica das grandes cidades
brasileiras (Figura 3).
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Esse é o bairro do Morumbi, em São Paulo. É o retrato da grande desigualdade social
que temos em nosso país. Áreas muito próximas, inclusive lindeiras com uma diferença
absurda nos aspectos socioeconômicos e culturais.
Do lado direito, há um condomínio de luxo, cercado por muros altos com toda infra
estrutura de lazer. Do lado esquerdo a comunidade de Paraisópolis, uma das maiores
favelas do Brasil. Isso nos leva a pensar se os problemas econômicos e sociais estão tão
distantes dos centros urbanos, ou até mesmo se isso se conforma como uma periferia.
Atualmente, nas grandes cidades temos um conceito de centralidades, no qual não há
um único centro estabelecido. De fato, há o centro histórico, e ele permanece intacto,
com suas funções predominantemente de centro. Mas os bairros, de uma maneira geral,
possuem suas centralidades, que concentram serviços, habitações e comércio.
Contudo, é válido apontar que as periferias das cidades sempre existiram. O valor
dos terrenos é mais baixo se comparados a bairros nobres ou centrais. Os bairros mais
afastados carecem de muitas infraestruturas, como transporte e, algumas vezes, água,
luz e esgoto. Não é incomum que moradores da periferia gastem de duas a três horas
para chegar ao trabalho, visto que a oferta de emprego no seu bairro é baixa e com
rendimentos mais baixos. Nesse percurso, o trabalhador necessita de, pelo menos, dois
transportes públicos até atingirem seu destino final.
É oportuno indicar que bairros periféricos não são, evidentemente, constituídos ape
nas por comunidades ou favelas. Vimos no próprio exemplo acima que bairros consi
derados nobres também apresentam problemas socioeconômicos gravíssimos. Ocorre
que bairros mais distantes possuem uma carência de infraestrutura. Suas ruas, praças,
parques e calçadas também recebem tratamentos completamente distintos, ou seja, o
desenho urbano também é diferente.
Esse quadro pode ser alterado? Acreditamos que sim, principalmente se houver inte
resse da iniciativa privada em investir nessas áreas. Entretanto, ao investir, há um fenô
meno conhecido por gentrificação.
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se transferir para outras áreas da cidade, o que resulta na redução da diversidade social
do bairro. ALCÂNTARA, M. F. de. 2018. Gentrificação. In: Enciclopédia de Antropologia.
São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia.
Disponível em: https://bit.ly/2N4tX4F
Vale a pena indicar que bairros da periferia também possuem suas centralidades
geralmente em espaços onde os primeiros assentamentos urbanos ocorreram. Esses
espaços não são o centro da cidade, mas, enquanto centralidades, respondem às de
mandas daquela população.
Heliópolis-SP
A imagem abaixo (Figura 4) apresenta uma vista aérea da favela de Heliópolis. Sen
do uma ocupação irregular, vemos que os desenhos das ruas vão se conformando no
território, sem grandes preocupações com tamanhos de lotes, ou quadras. A ocupação
é densa, com poucas áreas verdes ou espaços livres. O passeio público também é extre
mamente estreito.
Outra característica pode ser observada na imagem a seguir (link). Muitas edificações
não possuem um acabamento específico, ficando expostos os blocos que construíram
as paredes da edificação, predominando cor terracota e textura do próprio material. As
edificações não possuem recuos e todo espaço, por menor que seja, é destinado a uma
pequena construção. A fiação irregular se emaranha com fiações legalizadas, criando um
espaço visual confuso. Em muitos casos, como a imagem abaixo, não há passeio público
delimitado, mas uma linearidade de cones que separam os transeuntes e os veículos.
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Foto de Rua em Heliópolis-SP. Disponível em: https://bit.ly/3kOJqCr
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O passeio público também é largo, com um canteiro central projetado com ciclo
faixas e faixas exclusivas de ônibus. A fiação da iluminação pública é toda no subsolo,
proporcionando outro aspecto a paisagem urbana (Figura 8).
Em Síntese
O centro e a periferia sempre representaram polos opostos da cidade. A segregação
urbana pode ser vista por toda a cidade, mesmo em bairros nobres, como o Morumbi
em São Paulo. A infraestrutura urbana tão escassa nas periferias se apresenta com
ótimascondições em bairros mais nobres. O papel do arquiteto e urbanista é minimi-
zar os impactos da urbanização desenfreada nas periferias, proporcionando melhores
condições de vida a essa população, ao mesmo tempo em que minimiza os impactos
socioeconômicos em diversas áreas do território.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Vitruvius
https://bit.ly/3qyP1Om
Urbanista às Avessas
https://bit.ly/2Oc16Mq
Leitura
Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo: Lei nº 16.050, de 31 de julho de 2014
https://bit.ly/3rDtyVY
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Referências
ALCÂNTARA, M. F. de. Gentrificação. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2018. Departamento de Antropologia. Disponível em:
<http://ea.fflch.usp.br/conceito/gentrificação>.
VILLAÇA, F. Reflexões sobre o centro de São Paulo. In: Urbanismo: Dossiê São Paulo –
Rio de Janeiro. Campinas: Edição especial da Revista Óculum, 2003.
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