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Leitura em Língua Inglesa
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Leitura em Língua Inglesa
LÍNGUA INGLESA II
GRADUAÇÃO
Unicesumar
RReitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caríssimo(a) acadêmico(a),
Bem-vindo(a) à disciplina de Literaturas em Língua Inglesa II. Este material foi organi-
zado e elaborado a fim de promover o estudo sobre as literaturas em Língua Inglesa.
Nesta disciplina, iremos dar continuidade aos estudos de Literaturas em Língua Inglesa,
comprovando algo que é estudado na disciplina I, que o conceito de Literatura Inglesa
ultrapassa a noção de Literatura da Inglaterra ou Reino Unido.
Em Literaturas em Língua Inglesa I, abordam-se textos específicos das ilhas britânicas,
divididos em fases como Old English, Middle English e Modern English. Devo destacar e
relembrar que o corpus da Literatura Inglesa I foi basicamente em Standard English (In-
glês Padrão), apresentando uma língua inglesa homogênea, ainda que diferente duran-
te o tempo. Contudo, começamos a observar uma ‘mudança’ de estilo e linguagem na
última unidade, quando abordamos a Literatura Romântica Inglesa, que, com o advento
do romance (gênero), chegou mais próximo da burguesia e, consequentemente, dos
seus gostos e modos de falar. Nesta disciplina, veremos outros tipos de ‘inglês’, possibi-
litando entender que a cultura de um povo não está intimamente ligada a sua língua,
mas, sim, ao uso dela.
Em Literatura em Língua Inglesa II, iremos para as ex-colônias inglesas, como os Estados
Unidos propriamente dito, a Índia, e alguns países da África e do Caribe, não mais fo-
cando um estudo temporal e cronológico (com exceção da primeira unidade), mas com
foco geográfico e temático. Dessa forma, estudaremos como os Estados Unidos, a Índia,
o Caribe e alguns países africanos trabalham com o viés do feminismo, da problemática
racial, do pós-colonialismo, da literatura trivial, tendo como aglutinador a língua ingle-
sa, que nem sempre será tão inglesa assim – “escrever em inglês não significa escrever
como um inglês”, dizia Chinua Achebe (apud BONNICI, 2000, p. 45), autor nigeriano que
iremos conhecer nesta disciplina.
Da mesma forma como em Literaturas em Língua Inglesa I, a disciplina de Literaturas em
Língua Inglesa II possibilita ao aluno de Letras reconhecer na literatura um instrumento
importante sobre a leitura, interpretação, análise crítica e conhecimento culturais, além
de conhecer clássicos universais. Outro ponto semelhante é que os textos não serão
exclusivamente em inglês, sendo que você terá oportunidade de ler os textos originais,
comparando-os.
Neste livro, Literatura em Língua Inglesa II, na unidade I – Estados Unidos: Da Colônia à
Jovem República, vamos compreender como o mundo colonial estadunidense influen-
ciou a escrita no Novo Mundo e como a temática desse período ultrapassou fronteiras
temporais.
O terror, o suspense e as literaturas policiais fazem parte da unidade II – Edgar Allan Poe
e as Literaturas de terror e de detetives, em que grandes nomes da literatura em língua
inglesa sobressaíram-se com temáticas de arrepiar leitores de todo o mundo e todas as
gerações.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
42 Considerações Finais
UNIDADE II
51 Introdução
74 Literatura de Terror
82 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
93 Introdução
UNIDADE IV
135 Introdução
UNIDADE V
171 Introdução
I
ESTADOS UNIDOS: DA
UNIDADE
COLÔNIA À JOVEM
REPÚBLICA
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o contexto histórico da formação colonial dos Estados
Unidos.
■ Relacionar os elementos da cultura colonial do Novo Mundo com a
cultura dos novos colonos, em especial, dos puritanos.
■ Estudar os principais textos e autores do período colonial
norte-americano.
■ Estudar textos que, de alguma forma, dialogam com o período
colonial e com a recém-república estadunidense.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Bem-vindo(a) à Nova Inglaterra!
■ Washington Irving (1783-1859)
■ A Independência dos Estados Unidos da América
15
INTRODUÇÃO
Nesta primeira unidade, iremos nos ater à colônia mais importante até então do
Império Inglês, os Estados Unidos. No século XVI, a Inglaterra, desejosa de ser
um império colonial e marítimo, parte para a América e funda a Nova Inglaterra.
Contudo, a formação da colônia é humana e não apenas política, sendo formada,
em muitos casos, de ingleses excluídos, principalmente por motivos de divergên-
cias religiosas e ideológicas. Assim iremos ver que a Literatura Inglesa se expande
com a colonização e nos apresenta os EUA como terreno fértil literário, já que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
possuíam nativos amantes das letras, como será observado na narrativa Walam
Olum, dos índios Delaware.
Nesta unidade, parto de um movimento sincrônico e diacrônico de Literatura,
ou seja, irei fazer relações e diálogos entre textos do período e local, com outros,
afastados geograficamente e espacialmente. Por exemplo, veremos um texto de
Angela Carter, escritora feminista do século XX, que nos apresenta, em Our lady
of the massacre (1979), uma realidade do choque cultural entre índios e colo-
nos na Nova Inglaterra. O mesmo faremos com The Crucible (1953), de Arthur
Miller, o qual mostra a horrenda perseguição às bruxas na fanática e puritana
Salém do século XVII, e com Uncle Tom’s Cabin (1852), texto essencial para
entender a Guerra Civil americana, bem como as relações ente senhores e escra-
vos. Propositalmente, eu escolhi três gêneros diferentes, conto, teatro e romance,
com três vieses também diferentes sobre o período colonial americano: o nativo
indígena, a mulher e o negro.
Chegaremos ao escritor Washington Irving e seus contos, The Legend of
Sleepy Hollow (1820) e Rip Van Winkle (1819), que resumem os primeiros mitos
nativos, essencialmente norte-americanos. Por fim, vamos estudar os desdobra-
mentos literários advindos da Independência dos Estados Unidos da América.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
BEM-VINDO(A) À NOVA INGLATERRA!
Foi a partir desse misterioso leste do país, o que corresponde ao litoral que é
banhado pelo oceano Atlântico, é que a história dos Estados Unidos e, respec-
tivamente, de sua literatura se inicia. A partir do século XVI, quando colonos
ingleses aportaram no lado norte do continente americano, trouxeram para a
terra dos cherokees, iroqueses, algonquinos, comanches e apaches uma nova
língua (a inglesa) e novos gêneros literários. Digo gêneros literários e não litera-
tura, pois os nativos norte-americanos já possuíam sua literatura, muitas vezes
marcada pela oralidade ou por gêneros bem diferentes do que conhecemos. Um
exemplo é o Walam Olum (ou Walum Olum), um suposto texto histórico-nar-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rativo dos índios delaware.
I - Sayewi talli wemiguma wokgetaki. (At first, in that place, at all times,
above the earth).
II- Hackung kwelik owanaku wak yutali Kitanitowit-essop. (On the earth,
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IV- Sohawalawak kwelik hakik owak awasagamak. (He made the extended
land and the sky).
V- Sohalawak gishuk nipahum alankwak. (He made the sun, the moon, the
stars).
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VI- Wemi-sohalawak yulikyuchaan. (He made them all to move evenly).
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ingleses. Todavia, não eram apenas os indígenas que sofreram com o processo de
colonização, mas até mesmo as mulheres pobres e crianças órfãs inglesas: “Em
1620, a Companhia de Londres trazia cem órfãos para a Virgínia. Da mesma
maneira, mulheres eram transportadas para serem leiloadas no Novo Mundo”
(KARNAL, 2007, p. 47).
Em 1979, a escritora Angela Carter (1940-1992) escreveu o conto Our Lady
of the Massacre, parte da coleção Black Venus. Nesse conto, a autora inglesa mes-
cla história e ficção, subvertendo os padrões eurocêntricos e tocando em assuntos
polêmicos para a época, como miscigenação, colonização, gênero e religiosidade.
No conto, podemos ver a violência inglesa contra os índios norte-americanos,
bem como contra suas próprias mulheres.
No título do conto Our Lady of The Massacre, Nossa Senhora do Massacre, Angela
Carter revela a forma monstruosa que os colonos do novo Mundo trataram os
nativos. Por meio da protagonista vemos que o encontro cultural entre ingleses e
nativos desmistifica a visão negativa e preconceituosa sobre os indígenas, como,
por exemplo, o reconhecimento do termo ‘pele vermelha’ é pejorativo, visto que
a pele dos índios é, na verdade, morena (brown), além do fato de que o termo
“canibais” não poderia ser genérico aos nativos.
2 À época em que os ventos mudaram de rumo, eu já tagarelava na língua Indígena, como se aquela fosse a minha língua
materna. [...] Quanto a meu rosto pálido, no fim da colheita, ele havia se tornado marrom como o de qualquer um
deles, e minha mãe me tingiu os cabelos claros com uma tintura escura para que os outros se acostumassem à minha
presença entre eles e, ao fim de um período de seis meses, qualquer um pensaria que aquela a quem eu chamava de ‘mãe’
era a minha mãe biológica e eu, uma índia ali nascida e criada, a não ser pelos meus olhos azuis, que continuaram uma
maravilha. (tradução do autor)
She [an indian] is a handsome woman, not red but wondrous brown
[…] I had heard these Indians were mortal dragons, accustomed to eat
the flesh of dead men, but the pretty little naked children playing with
their dollies in the dust, oh! Never could such [...] be reared on cannibal
meat!3 (CARTER, 2004, p. 266).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
milho (CARTER, 2004, p. 266).
Bellei (2000) e Barbour (1970)
entendem que o texto de Angela
Carter é uma subversão paródica
da história da índia algoquiana,
que queria ser inglesa: Pocahontas.
Pocahontas, que se casou com John
Rolfe, foi uma nativa americana,
filha do chefe Powhatan, indígena
que governou uma grande área na
região de Tidewater, em Virgínia.
O território de Pocahontas e
Powhatan chamava-se, na época,
de Tenakomakah. Muito além das
estórias da Disney, Pocahontas não
se casou com John Smith. Aliás, o English Puritan missionary known as the Apostle to
assentamento de Jamestown não foi the Indians, preaching at a native american camp -
John Eliot (1604-1690)
completamente destruído graças ao
comandante Smith, o qual, apesar de pressionar os colonos com seu ideal: “sem
trabalho, sem comida”, acabou sendo “erroneamente” associado como o “amante”
de Pocahontas e não John Rolfe. O mito de Pocahontas foi citado por John
3 Ela [uma indígena] é uma mulher bonita, não é vermelha, mas, amarronzada […] eu ouvi que estes índios eram dragões
mortíferos, acostumados a comer carne de homens, mas a pequenina e bela criança nua brincando com suas bonecas na
poeira, oh! Nunca [...] poderiam ser elevados a canibais. (tradução do autor)
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comunistas fossem amplamente perseguidos, em um verdadeiro momento de
“caça às bruxas”. Rangel (2011, p. 12) declara que Miller “ajustou a trama histó-
rica com a qual vinha trabalhando para fazer da dramatização da caça às bruxas
uma alegoria dessa caça aos comunistas”.
Miller, após leitura de The Devil in Massachusetts
(1949), de Marion Starkey, vai à Salem para elabo-
rar uma pesquisa historiográfica.
O que Arthur Miller encontra em Salém é uma
ótima história para um livro, com a diferença de que
foi real. A cidade de Massachusetts estava em caos.
Karnal (2007, p. 51) revela que, no ano de 1692, o
fanatismo e a histeria religiosa em Salem assumiam
proporções inéditas: “Nesse ano, um grupo de ado-
lescentes acusou várias pessoas de enfeitiçá-las. O
processo acabou envolvendo muitos membros da
comunidade, entre homens e mulheres”. Surtos Arthur Miller
Fonte: U.S. State Deparment (online)
eram frequentes, e tudo era motivo para protago-
nizar um julgamento público.
Os Processos de Salem já receberam várias explicações. Algumas, de
caráter mais psicológico, lembram as tensões entre mães e filhas, estas
fazendo coisas que não poderiam normalmente fazer e alegando esta-
rem enfeitiçadas. Em outras palavras, alegando o poder do demônio,
uma jovem poderia gritar com sua mãe ou mesmo ficar nua! Afinal,
era tudo obra do demônio... A moral puritana de oração e trabalho era
tão forte que os jovens não podiam, por exemplo, praticar esportes de
inverno como patinar, pois isso era considerado imoral. Assim, diante
dessa vida dura, a possessão passou a ser uma boa saída. Outras expli-
cações remetem às tensões internas das colônias – entre as principais
famílias – em que acusar o membro de uma família rival de bruxo ou
bruxa tinha um grande peso político. [...] (KARNAL, 2007, p. 52-53).
Arthur Miller
Dramaturgo norte-americano, nascido em 17 de outubro de 1915 e falecido
em 10 fevereiro de 2005, foi considerado um dos principais autores do te-
atro norte-americano contemporâneo. Destacou-se também por protestar
contra a perseguição a supostos comunistas no período do macartismo1 .
Nasceu em Nova Iorque e trabalhou como auxiliar em um armazém para pa-
gar os estudos na Universidade de Michigan. Iniciou a carreira como escritor
de comédias para o rádio, tendo como primeiro sucesso o romance Focus,
de 1945. A primeira peça, Todos os Meus Filhos (1947), reflete a influência de
Ibsen em sua obra. Em 1949, escreveu sua peça mais importante, A Morte de
um Caixeiro Viajante, pela qual recebeu o Prêmio Pulitzer.
Na década de 50, com as investigações sobre atividades subversivas pro-
movidas pelo governo dos Estados Unidos, depôs no Comitê de Atividades
Antiamericanas e recusou-se a delatar intelectuais que participavam de reu-
niões comunistas.
Foi declarado culpado por omissão, mas recorreu da decisão e ganhou a
causa. Em 1953, escreveu As Bruxas de Salem, metaforizando tal persegui-
ção e, sete anos depois, escreve o roteiro do filme Os Desajustados para a
segunda esposa, a atriz Marilyn Monroe. Até o fim da vida, produziu contos
e ensaios sobre teatro.
Fonte: ARTHUR (online).
1 Macartismo (em inglês McCarthyism) é o termo que descreve um período de intensa patrulha anticomunista,
perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos Estados Unidos que durou do fim da década de
1940 até meados da década de 1950. Foi uma época em que o medo do Comunismo e da sua influência em
instituições americanas tornou-se exacerbado, juntamente ao medo de ações de espionagem promovidas pela
OTAN. Originalmente, o termo foi utilizado para criticar as ações do republicano Joseph McCarthy, senador
americano por Wisconsin.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Abigail.
Betty, a filha de Parris e prima de Abigail, e Ruth, filha do casal Putnam, come-
çam a ter convulsões e nenhum médico local consegue diagnosticar. Contudo,
tanto Putnam quanto Parris acreditam que Ruth e Betty estão possuídas pelo
demônio, vitimizadas por feitiçaria de Tituba.
Hale, um reverendo ortodoxo local, acusa Abigail e Tituba de bruxaria, mas
Abigail joga a culpa na negra escrava. Tituba, espancada, admite a culpa para
não morrer e é forçada a contar quem mais dentre a vila pratica bruxaria e se
encontra com Satã. As jovens iniciam então um processo de acusação aleatório a
fim de que a culpa se desvie delas, e Abigail aproveita a oportunidade para acu-
sar Elizabeth Proctor, a mulher de John, abrindo seu caminho para o homem.
Justamente essa estratégia é a condutora do enredo de Miller: acusações sem
provas. No texto, é perceptível o reconhecimento que Abigail, Tituba e as outras
garotas têm de que a delação mudaria seus destinos. Agora tinham o poder de
acusar quem quisessem, colocando em suas mãos a vida da população.
Tituba: (assustada com o processo). Senhor Reverendo, eu realmente
acredito que alguém esteja enfeitiçando estas garotas.
Hale: Quem?
4 Tituba é a protagonista do romance I, Tituba: Black Witch of Salem (1986), de Maryse Condé.
5 Vodu, vodum e vudu são termos genéricos que se referem às práticas religiosas animistas, baseadas nos ancestrais,
que têm as suas raízes primárias entre os povos Ewe-Fon do Benin. O vodu é uma religião e não um boneco ou um
feitiço erroneamente citado no pensamento popular. A prática voduísta chegou ao Novo Mundo por meio do tráfico
transatlântico de escravos (século 16 ao século 19).
Hale: Quando o demônio vem até você, ele vem com outra pessoa? (Ela
olha para sua face). Talvez alguém da vila? Alguém que você conhece.
Putnam: Sarah Good? Você viu Sarah Good com ele? Ou Osburn?
(RANGEL, 2011, p. 101).
Abigail: Quero abrir-me. (todos se voltam para ela, assustados. Ela está
em pé [...]). Eu vi Sarah Good com o diabo! Eu vi Goody Osburn com
o diabo! Eu vi Bridget Bishop com o diabo!
[...]
A História de Miller, nos dias de hoje, com certeza seria ambientada nas Re-
des Sociais. O caso que aconteceu em maio de 2014, em Guarujá, onde a
dona de casa Fabiane Maria de Jesus foi morta, acusada de bruxaria (<http://
odia.ig.com.br/noticia/brasil/2014-05-10/perigo-na-rede-social-boatos-no-
-facebook-levaram-a-morte-de-dona-de-casa.html>), é um exemplo. Mui-
tos usuários do Facebook fizeram o papel de Abigail e Tituba, condenando à
“fogueira” uma inocente mulher.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: o autor.
6 Harriet Beecher Stowe Elisabeth (1811 - 1896) foi uma escritora abolicionista estadunidense, que nasceu em berço
religioso e ficou conhecida pela sua novela de 1852, apesar de ter escrito 30 livros, memórias, artigos e cartas.
o mal necessário. Uncle Tom’s Cabin é uma novela que conta de forma roma-
nesca a estória do escravo Uncle Tom (Pai Tomás), bem como a relação entre os
ricos proprietários de terras no sul dos Estados Unidos e a escravidão.
Devido a dívidas, uma família de fazendeiros do Kentucky vende seus escra-
vos, sendo um deles, Tom. O negro é colocado em um barco com destino a Nova
Orleans, mas a bordo, durante a viagem sobre o rio Mississippi, Tom conhece uma
jovem branca chamada Eva. Tom descobre que o pai de Eva, Senhor Augustine
St. Clare, o comprará. Tom e Eva começam a se afeiçoar um ao outro por causa
da profunda fé cristã que ambos partilham.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a publicação de The Sketch Book of Geoffrey Crayon,
Gent. (1819–20), obra esta que contém seus mais
famosos textos: “Rip Van Winkle” (1819) e “The
Washington Irving
Legend of Sleepy Hollow” (1820).
De acordo com Burstein (2007), foi um dos primeiros escritores america-
nos a ganhar aclamação na Europa e o primeiro autor best-seller americano.
The Legend of Sleepy Hollow (1820)
The Legend of Sleepy Hollow, traduzido no Brasil como A Lenda do Cavaleiro
sem Cabeça, foi o conto mais extenso publicado como parte do livro The Sketch
Book of Geoffrey Crayon, com
Washington Irving usando
o pseudônimo de “Geoffrey
Crayon”, em 1820.
A história se passa por volta
de 1790 no assentamento ame-
ricano-holandês de Tarrytown,
Nova Iorque, em uma vila
chamada Sleepy Hollow. O
supersticioso professor Ichabod
Crane, compete com o valentão
Abraham “Brom Bones” Van
Brunt a mão da jovem Katrina Van Tassel, filha única do rico fazendeiro local.
Quando Crane, em uma noite de outono, ao deixar uma festa na casa dos Van
Tassel, é perseguido pelo “Cavaleiro sem Cabeça”, um suposto fantasma de um
soldado, cuja cabeça fora arrancada por uma bala de canhão durante uma “bata-
lha sem nome” da Revolução Americana. O fantasma cavalga todas as noite até
o local da tal batalha a fim de encontrar sua cabeça. Com medo, Ichabod desa-
parece misteriosamente da cidade, deixando Katrina se casar com Brom Bones.
A natureza do Cavaleiro sem Cabeça é deixada em aberto, embora hajam indí-
cios de que seja, na verdade, Brom Bones disfarçado.
que a paisagem mudara, que sua barba está comprida, quase chegando ao chão.
Ao retornar para a vila, não reconhece ninguém, descobre que sua esposa
morreu e que seus amigos íntimos morreram na guerra. Ao observar a estátua
do rei George, Winkle se proclama súdito daquele homem, mas, ao chegar pró-
ximo, vê que é George Washington. Rip Van Winkle dormira durante 20 anos,
representando as pessoas que não compreendiam a nova realidade pós-Revo-
lução Americana.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA
8 Lei do Chá (deu o monopólio do comércio de chá para uma companhia comercial inglesa), Lei do Selo (todo produto
que circulava na colônia deveria ter um selo vendido pelos ingleses), Lei do Açúcar (os colonos só podiam comprar
açúcar vindo das Antilhas Inglesas).
declarou guerra, que ocorreu entre 1776 e 1783, tendo os Estados Unidos como
nação vencedora. As Treze Colônias na América do Norte declararam sua inde-
pendência ratificando a Declaração em 4 de julho de 1776.
Com o “nascimento” dos Estados Unidos, os ideais iluministas, a consciên-
cia política e a busca de uma identidade própria marcaram o
final do século XVIII. Benjamin Franklin (1706-1790) foi um
dos fundadores desse novo país, coassinando a Declaração
de Independência (1776) e a Constituição (1787). Franklin
publicou sátiras no New England Courant (espécie de jor-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
locais, utilizando o mesmo estilo de Geoffrey Chaucer (ROYOT, 2009). A ques-
tão é que Morton era um reformador. Também cronista, temos Robert Beverley
(1673-1722) com History and Present State of Virginia (1705).
Tendo como tema estórias bíblicas, a salvação eterna, o pecado e dogmas
religiosos, o sermão foi o “gênero máximo e bastante popular” (ROYOT, 2009,
p. 15). Nome como o de Roger Williams (1603-1683) e seu The Bloody Tenent
of Persecution, for Cause of Conscience (1644) podem ser um exemplo perfeito
de sermão da época.
As jeremiadas, termo em alusão às Lamentações de Jeremias (lamentação
persistente), referem-se aos textos que seriam
formas de evocações rituais com base no enfraquecimento do fervor
dos colonos. A partir de 1670, eram evocados os perigos da insubordi-
nação e da renúncia da fé, suscetíveis de ameaçar o projeto messiânico
da Nova Inglaterra (ROYOT, 2009 p. 16).
Exemplos de jeremiadas podem ser Wonders of the invisible world (s.d), de Cotton
Mather (1663 - 1728), e The Day of Doom (1662), de Michael Wigglesworth
(1631 - 1705).
A poesia, como gênero diferente dos demais citados, seguia os padrões
ingleses, utilizando-se de temas épicos, satíricos, retóricos e patrióticos
(VANSPANCKEREN, 1994, p. 8). Anne Bradstreet (1612-1672) e Edward Taylor
(1642-1729) são exemplos desse período. A primeira teve sua obra “The Tenth
Muse” (1650), em que figurava seu mais famoso poema “To My Dear and Loving
Husband” (BRADSTREET, online, tradução do autor):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Tell me not, in mournful numbers,,
Life is but an empty dream!
For the soul is dead that slumbers,
And things are not what they seem.
Life is real! Life is earnest!
And the grave is not its goal;
“Dust thou art, to dust returnest,”
Was not spoken of the soul.
Not enjoyment and not sorrow,
Is our destined end or way
But to act that each to-morrow
Find us further than to-day.
Art is long, and Time is fleeting,
And o our hearts, though stout and brave,
Still, like muffled drums, are beating
Funeral marches to the grave.
In the world’s broad field of battle,
In the bivouac of life,
Ben ot like dumb, driven cattle!
Be a hero in the strife!
Trust no future, howe’er pleasant!
Let the dead Past bury its dead!
Act – act in the living Present!
Heart within, and God o’erhead!
Um Salmo à Vida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Que podemos tornar sublimes nossas vidas;
E, na despedida, deixar devemos
Nas areias do tempo nossas marcas –
Marcas que, quiçá, um outro ser,
Da vida velejando sobre o mar solene,
Um irmão, náufrago à deriva,
Avistando-as, a esperança há de reaver.
Em alerta e em ação permaneçamos sempre.
Com o coração a qualquer situação pronto
Alcançar procurando, perseguindo sempre,
A lutar e a esperar aprendei.
O Transcendentalismo
Transcendentalismo é um movimento filosófico e poético desenvolvido na
América do Norte nas primeiras décadas do século XIX. Ele parte da afirma-
ção do transcendental de Kant, como única realidade, ao mesmo tempo em
que expressa uma reação ao racionalismo e uma exaltação ao indivíduo nas
relações com a natureza e a sociedade.
Na literatura, religião, cultura e filosofia, prega a existência de um estado
espiritual ideal que “transcende” o físico e o empírico, defendendo a percep-
ção por meio de uma sábia consciência intuitiva. O conceito surgiu na Nova
Inglaterra, na metade do século XIX, sendo às vezes chamado de “transcen-
dentalismo estadunidense”. Começou como um protesto contra o estado
em que a cultura e a sociedade se encontravam na época - em particular, ao
intelectualismo de Harvard e à doutrina da Igreja Unitária (Doutrina Calvi-
nista e do dogma da Trindade). Os transcendentalistas desejavam dividir sua
religião e filosofia em princípios transcendentais: princípios não baseados
em experiências sensoriais, mas vindos do interior espiritual ou mental do
ser humano.
O transcendentalistas mais conhecidos são Ralph Waldo Emerson (1803-
1882) e Henry David Thoreau (1817-1862).
Fonte: Transcendentalismo (online). Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/Transcendentalismo>. Acesso em: 03 jun. 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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mento de colonização da Nova Inglaterra, foi enredo do texto de Angela Carter,
escritora feminista do século XX, que nos apresenta em Our lady of the massa-
cre (1979) uma realidade chocante, com sua protagonista Sal.
Outro fruto da colonização que também trouxe marcas de sangue ao territó-
rio americano foi a perseguição às bruxas na fanática e puritana Salém do século
XVII, observada na maravilhosa peça de teatro de Arthur Miller, The Crucible
(1953). Já a escravidão e o racismo recém-chegado podem ser conferidos no
texto de Harriet Beecher Stowe, Uncle Tom’s Cabin (1852), cujo contexto tam-
bém serve para entender a Guerra Civil Americana.
Estudamos a vida e obra do escritor Washington Irving e seus contos The
Legend of Sleepy Hollow (1820) e Rip Van Winkle (1819), estórias claramente
europeias apesar de a ação se desenrolar nos Estados Unidos. Por fim, vimos os
desdobramentos literários advindos da Independência dos Estados Unidos da
América e a influência da política na literatura.
Acredito que você, aluno(a), pôde compreender que o nascimento da litera-
tura estadunidense veio de um parto difícil, visto que ainda não se tinha cortado
amplamente o cordão da mãe Inglaterra. Todavia tenho certeza de que, ao ler
sobre a vida e obra de alguns escritores, bem como sobre a temática colonial
presente em outros textos, percebeu que a própria história dos Estados Unidos
permitiu uma rápida autonomia, tanto de autoria, de estética quanto de tema.
gias e dos acervos escolares e universitários hispânicos e asiáticos; somente nas últi-
compreendiam obras de homens brancos, mas décadas do século é feito um esforço
os clássicos nomes de Benjamin Franklin, para incluir os índios e os homossexuais,
Thomas Jefferson, Ralph Waldo Emerson, tanto nas antologias quanto nos progra-
David Thoreau, Nathaniel Hawthorne, Her- mas dos cursos de literatura. Foi quando
man Melville, Walt Whitman, Henry James, as associações de professores e intelec-
Mark Twain, Ezra Pound, T. S. Elliot, William tuais estadunidenses convenceram-se de
Faulkner, Ernest Hemingway, citando que uma história literária dos Estados Uni-
alguns, pressupondo a exclusão de escrito- dos deveria ter um modelo multiétnico e
res judeus e negros e da maioria das obras multirracial que refletisse sobre as relações
escritas por mulheres. Após as duas pri- entre a literatura e a identidade nacional e
meiras décadas do nosso século, algumas confrontasse, de forma radical, os pressu-
mulheres passam a figurar escassamente postos culturais e ideológicos dessa colcha
dentro desse universo, Emily Dickinson e de retalhos criada por tantas mãos.
Edith Wharton, por exemplo. Mas somente
na segunda metade do século passado são
incluídos escritores judeus e negros e os
grupos imigrantes mais tardios, como os Fonte: Santos (2001, p. 3-12).
MATERIAL COMPLEMENTAR
As Bruxas de Salem
Ano: 1996
Sinopse: baseada em uma das melhores peças teatrais do Século
XX, a história de As Bruxas de Salem se passa em Massachusetts,
no ano de 1692. Em um pequeno vilarejo puritano, onde a vida
de todos é dedicada a servir a Deus, algumas adolescentes são
vistas na floresta e são acusadas de estarem “a serviço do diabo”.
À medida que o tempo passa, o povoado é tomado pelos brados
contra a bruxaria. Uma a uma, as inocentes vítimas dessa histeria
em massa são arrancadas de seus lares e de suas famílias.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Pocahontas
Ano: 1995
Sinopse: Pocahontas encontra um misterioso navio com
trabalhadores ingleses e, rapidamente, se torna amiga do
corajoso capitão John Smith. Quando o clima fica pesado entre
seus povos, ela tenta encontrar uma maneira de fazer com que
todos vivam em paz juntos.
Material Complementar
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
II
EDGAR ALLAN POE E AS
UNIDADE
LITERATURAS DE TERROR E
DE DETETIVES
Objetivos de Aprendizagem
■ Conhecer a vida e obra do escritor estadunidense Edgar Allan Poe.
■ Compreender os gêneros gótico, terror e policial.
■ Relacionar os gêneros de terror às obras de autores como Stoker,
Stevenson e King.
■ Relacionar os gêneros de detetive às obras de autores como Conan
Doyle e Agatha Christie.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O Gótico e a Literatura Inglesa
■ Edgar Allan Poe
■ O Romance Policial ou Romance de Detetive
■ Agatha Christie
■ Arthur Conan Doyle
■ Literatura de Terror
51
INTRODUÇÃO
Com o advento do Romantismo nos Estados Unidos, o gênero gótico, até então
exclusivo do mundo britânico, cruza os mares e é apresentado à América.
Geograficamente distantes, a ex-colônia e a ex-metrópole têm, nesse gênero,
similaridades. Nesta unidade, iremos estudar a literatura inglesa por um viés
do medo. Os gêneros góticos, de Detetive e de Terror, serão estudados com sua
estética, tema, títulos e autores de destaque. Ao ler esta unidade, atente-se ao
fato de que essa literatura em língua inglesa teve contribuição de ingleses, esta-
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dunidenses e escoceses.
Iniciaremos abordando sobre o gótico, seu histórico e desenvolvimento, até
chegar aos Estados Unidos pelas mãos do maior contista do gênero, Edgar Allan
Poe. A vida de Poe será confrontada com sua extensa obra, que tematizou o medo,
a loucura e a insanidade, além do simbolismo mágico do século XIX. Textos
como O Corvo, O Gato Preto, O Coração Delator, entre outros, serão aborda-
dos revelando a essência da escrita poeana. Veremos que, com Edgar Allan Poe,
o gótico tematiza a loucura e o psicológico e passa por duas ramificações e/ou
subgêneros: o Romance Policial/Romance de Detetive e a Literatura de Terror.
A estética do romance policial será discutida apresentando autores como
o próprio Poe, a rainha do crime Agatha Christie e o escocês Arthur Conan
Doyle. Aliás, nesta unidade, iremos observar a presença dos detetives na lite-
ratura inglesa, um modelo que fez muito sucesso, desde Dupin, o protótipo de
Edgar Allan Poe, passando pelos detetives de Christie, Poirot e Miss Marple, até
o maior de todos os detetives, Sherlock Holmes.
Por fim, o Terror será analisado desde escritores do século XIX até o atual e
contemporâneo Stephen King, apresentando como o conceito de medo, e escre-
ver sobre o medo, foi se alterando grandemente durante os tempos.
Introdução
52 UNIDADE II
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O GÓTICO E A LITERATURA INGLESA
O romantismo estadunidense teve como grande nome Edgar Allan Poe, autor
que trouxe à América a temática gótica de uma forma brilhante.
O termo gótico vem da palavra gotar, um antigo título escandinavo dado
aos heróis de guerras. De forma geral, o
termo refere-se “àquele de Gotland”, terra
da Suécia. De lá surgem os godos, e gótico
fica sendo o termo para a língua desse povo.
Segundo Menon (2007), sabe-se que os nobres
dessa etnia, os visigodos, passaram a viver na
Ucrânia, em especial na Transilvânia.
A arquitetura gótica é o resquício mais
Gárgula
visível desse povo, referindo-se ao estilo
medieval do século XII, com arcos ogivais, com as abóbadas, com rebuscadas
decorações e ornamentos. Logo, o termo entra no vocabulário medieval, princi-
palmente, quando um monge observou que tal arquitetura teria função didática
na transmissão dos ensinamentos religiosos na Igreja (SHAVER, 1982).
Essa inovação arquitetônica que promete acabar com as igrejas escuras,
colocando nelas vitrais coloridos, arabescos, colunas, semicírculos etc., visava
criar um ambiente no qual se sentisse a presença de Deus, incorporando mesmo
assim algum simbolismo pagão, como as gárgulas, por exemplo. O estilo tinha
como objetivo criar um efeito sobrenatural e mágico no espectador, evocando
uma espécie de terror, vulnerabilidade, temor, o sentir-se à mercê de um poder
1 Horace Walpole (1717 — 1797) foi um aristocrata e romancista inglês e escreveu Castelo de Otranto (The Castle of
Otranto, 1764). A história gira em torno do príncipe Manfred, que se apropria indevidamente de um castelo pertencente
a sua família, mas uma antiga maldição o impede de tomar a posse definitiva do castelo.
gótico, contava a história de Emily St. Aubert que sofre, entre outras desventu-
ras, a morte de seu pai, além de terrores sobrenaturais em um castelo sombrio.
Já, em Northanger Abbey (1818), escrito por Jane Austen, o protagonista lê o
romance de Radcllife e vê em seus amigos a imagem de seres góticos.
Mas se o ambiente continua o mesmo, a ambientação muda: castelos passam
a ser substituídos por casarões, as florestas e abadias passam a ser ruas escuras e
becos, e os monstros e fantasmas passam a ser outros protagonistas, frutos das
loucuras, alucinações e paranoias dos protagonistas. Nisso, Edgar Alan Poe resume
bem a nova configuração desse gótico, que iria se desdobrar em romance policial.
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EDGAR ALLAN POE
casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade, mas ela morre2
de tuberculose dois anos depois da publicação de seu mais famoso poema O
Corvo (The Raven [1845]).
2 Biógrafos e críticos costumam sugerir que o tema de “morte de mulheres bonitas” que aparece frequentemente em suas
obras decorre da perda de mulheres ao longo de sua vida, incluindo sua esposa.
That I scarce was sure I heard you”—here I opened wide the door;—
Darkness there and nothing more.
Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortal ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, “Lenore?”
This I whispered, and an echo murmured back the word, “Lenore!”—
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Merely this and nothing more.
Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately Raven of the saintly days of yore;
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door—
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door—
Perched, and sat, and nothing more.
chamber door,
With such name as “Nevermore.”
But the Raven, sitting lonely on the placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing farther then he uttered—not a feather then he fluttered—
Till I scarcely more than muttered “Other friends have flown before—
On the morrow he will leave me, as my Hopes have flown before.”
Then the bird said “Nevermore.”
Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censer
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Swung by Seraphim whose foot-falls tinkled on the tufted floor.
“Wretch,” I cried, “thy God hath lent thee—by these angels he hath sent thee
Respite—respite and nepenthe from thy memories of Lenore;
Quaff, oh quaff this kind nepenthe and forget this lost Lenore!”
Quoth the Raven “Nevermore.”
“Be that word our sign of parting, bird or fiend!” I shrieked, upstarting—
“Get thee back into the tempest and the Night’s Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Shall be lifted—nevermore!
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E disse estas palavras tais:
“É alguém que me bate à porta de mansinho;
Em seu texto The Philosophy of Composition (1846), Poe explica o passo a passo
de sua escrita e produção de The Raven, considerado como uma “lenta agonia
romântica” (ROYOT, 2009, p. 33). Poe, em seu ensaio, revela que tentou passar
por meio da sonoridade a melancolia (POE, 1967). Buscou, então, um estribilho
que, na palavra nevermore (nunca mais), produziria essa função:
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In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.
Já, na prosa, seu primeiro conto foi Ms. Found In a Bottle (1833), seguido por
vários outros clássicos, como A Queda da Casa de Usher (The Fall of the House
of Usher [1839]) e O Barril de Amontillado (The Cask of Amontillado [1846]):
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ação se confunde com barulhos que antecedem a aparição de
Madeline em sua mortalha. Quando irmão e irmã caem mor-
tos, o narrador, tomado de pavor, vê a casa os Usher desmoronar
dentro do lago, à luz da lua (ROYOT, 2009, p. 34).
Outros contos como O Poço e o Pêndulo (The Pit and the Pendulum, [1842]), O
Gato Preto5 (The Black Cat, [1843]) e O Demônio da Perversidade (The Imp of
the Perverse, [1845]) monstram o porquê de seu nome estar no cânone mundial.
Na leitura complementar, apresento-lhe o conto O Coração Revelador/Delator
(Tell Tale Heart [1843]), um excelente conto sobre loucura e culpa.
Do ponto de vista teórico-crítico, Edgar Allan Poe contribui muito para a teo-
ria literária. Como abordado, em The Philosophy of Composition (1846), o autor
descreve seu método de escrita em O Corvo, pontuando, assim, que a escrita
é um exercício técnico: “aos seus olhos, a unidade orgânica e o efeito único de
uma obra só são alcançados por meio de uma rigorosa elaboração intelectual”
(ROYOT, 2009, p. 33).
Edgar Allan Poe faz parte da cultura popular. Não só estadunidense, mas do
mundo. Poe é pop. As referências ao contista estão na série Supernatural, The
Simpsons, CSI, na série Contos de Edgar, pelo canal FOX, e no canal Warner
Channel, com a série The Following, que mescla suspense, mistério e trama policial.
Em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu de causa ainda hoje desco-
nhecida. Poe foi, segundo Royot (2009, p. 32), por muito tempo desacreditado
pela crítica americana, mas, hoje, é reverenciado como um dos maiores contis-
tas do mundo, bem como o precursor das narrativas de Detetive e de Terror.
5 O conto The Black Cat (O Gato Preto) foi apresentado a você no livro Teoria da Literatura.
Com Os Assassinatos da Rua Morgue (The Murders in the Rue Morgue [1841]),
Poe inaugura dois elementos literários: o romance policial e o “personagem dete-
tive”, próprio dessa tipologia Chevalier Auguste Dupin é um detetive fictício
criado por Edgar Allan Poe, considerado o primeiro detetive da ficção, além de
ser o precursor dos detetives da literatura policial, incluindo Sherlock Holmes,
de Arthur Conan Doyle, e Poirot, de Agatha Christie.
Nos anos seguintes, mais duas histórias policiais de Poe foram publicadas,
The Mistery of Marie Rogêt (O Mistério de Mary Roge [1842]) e The Purloined
Letter (A Carta Roubada [1845]). O auge do texto policial foi quando tais roman-
ces foram publicados em jornais e revistas semanais, como os folhetins, por
exemplo. Ademais, o fator que acabou dando visibilidade a esse subgênero foi a
cobertura policial de crimes.
O Romance Policial ou Romance de Detetive é um gênero pertencente à lite-
ratura de massa, caracterizado basicamente por: um crime, um criminoso, uma
vítima e o detetive, além de uma estrutura narrativa que contenha o suspense ao
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tive costuma receber auxílio dos chamados “auxiliares do saber”, que o auxiliam
na solução de mistérios. De forma paralela, o criminoso e o detetive percorrem
a narrativa, cruzando-se no final do enredo, quando o detetive descobre o assas-
sino e o entrega ao julgador oficial (justiça, por exemplo).
No final do século XIX, Edgar Allan Poe criou o gênero narrativa policial
ao inserir a figura do detetive Auguste Dupin nos contos de mistério “Os crimes
da rua Morgue”, “O mistério de Marie Roget” e “A carta roubada”. Dupin era um
detetive metódico, que trabalhava sozinho e que era escolhido por ser o único
do enredo capaz de encontrar a identidade do criminoso.
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tipo de romance policial em que há vários suspeitos para um crime. Toda a
trama, incluindo a identidade do culpado, será revelada no final do livro. Agatha
Christie, Arthur Conan Doyle e Edgar Allan Poe são exemplos dessa tipologia.
• Noir
Noir é preto em francês. Os romances noir ou literatura noire são o tipo
de romance policial com bastante mistério e suspense. O termo faz analogia ao
caráter sombrio e escuro dos ambientes e cenários, às vezes, “sujos” (tanto fisi-
camente como simbolicamente). O termo se estendeu nos anos 40 ao cinema,
designando tipos de filme. Um elemento interessante do romance noir é que
os personagens são humanizados, inclusive, os detetives e investigadores, que
podem beber, brigar, se envolver sexualmente ou afetivamente. Também exis-
tem outras tramas paralelas, a história, portanto, não gira em torno de apenas
um fato, como o crime, por exemplo, mas em torno de vários.
• Thriller Jurídico e Médico
Os romances policiais em que o protagonista é um advogado, promotor ou
policial investigador são chamados Thrillers Jurídicos. A estes cabem não só
investigar, como também provar a inocência ou a culpa de algum personagem.
Já os Thrillers Médicos são romances policiais protagonizados por médicos, que
usam seus conhecimentos para combater doenças e epidemias, erros médicos
etc., além de descobrirem circunstâncias e causas de morte por meio de análi-
ses clínicas e médicas.
• Romances de Espionagem
James Bond é o grande exemplo de personagem dos romances policiais,
geralmente envolvendo investigações de grandes crimes internacionais. Seu
AGATHA CHRISTIE
No final do séc. XVII, as mulheres inglesas, preocupadas com a igualdade de direi-
tos, delinearam o que seria chamado de Feminismo. Os primeiros textos sobre
a questão do papel da mulher criticavam as restrições de atividades impostas a
elas, sem necessariamente culpar os homens por isso ou dizer de modo geral que
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Indians, o livro foi o romance policial mais ven-
dido da história.
Ten Little Niggers (1939) Agatha Christie
Fonte: Agatha... (2014, online).
Dez pessoas recebem um estranho convite para pas-
sar um fim de semana na remota Ilha do Negro. São elas: Anthony Marston,
Emily Brent, Ethel Rogers, Thomas Rogers, Philip Lombard, Henry Blore, Vera
Claythorne, o general Macarthur, Lawrence Wargrave e o Dr. Edward Armstrong.
Nenhum dos personagens havia se encontrado antes, mas logo ficam sabendo
sobre o passado de cada, pois uma misteriosa voz, na primeira noite, após o jan-
tar, acusa-os, um por um, de crimes cometidos no passado.
Um quadro acima da lareira da sala conta um poema de como dez negrinhos
morreram, bem como os negrinhos de porcelana que enfeitam a mesa de jan-
tar revelam a ligação do que está para ocorrer com a canção de ninar chamada
Ten Little Niggers (cujas versões populares mudam para Ten Little Soldiers ou
Tem Little Indians).
Um a um vai sumindo, sendo assassinados. Impossibilitados de ir embora,
as personagens vão esperando com desespero seu derradeiro final.
Apesar do sucesso com o livro de 1939, Agatha Christie já era conhecida devido ao
sucesso de Murder on the Orient Express (Assassinato no Expresso do Oriente),
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As histórias em que Holmes aparecia foram publi-
cadas na revista Strand. O sucesso foi estrondoso, mas
Arthur Conan Doyle
consumava muito tempo de Doyle, que desejava dedicar Fonte: Genthe (online).
o seu tempo em romances históricos. No final de 1893,
Doyle resolve matar Sherlock Holmes, bem como seu arqui-inimigo, Professor
Moriarty, lançando-os às Cataratas de Reichenbachem “The Final Problem”. Mas
o clamor público, no entanto, faz com que Conan Doyle apresente novamente o
detetive inglês no romance The Hound of the Baskervilles (1902).
Muito antes de Holmes ser criado, Doyle já publicava romances, como The
Mystery of Cloomber (1888) e o inacabado
Narrative of John Smith, publicado apenas
em 2011 (SAUDERS, 2011). Fora dos tex-
tos policiais, Doyle é reconhecido por sua
obra The Lost World (1912). Em O Mundo
Perdido (The Lost World), a estória gira em
torno de uma expedição à bacia amazônica
da América do Sul, onde haveria ani-
mais pré-históricos, como dinossauros. O
romance foi publicado em partes na Strand
Magazine, durante oito meses. Surge, no
livro, o personagem Professor Challenger, Sherlock Holmes
A estória foi base para a franquia Jurassic Park, composta por livros (Jurassic
Park [1990] e The Lost World [1995]) e filmes, de Michael Crichton, em que, em
uma tentativa de criar um parque temático onde vivem dinossauros, acaba em
desastre.
Contudo, foi com The Hound of the Baskervilles (1902) que Conan Doyle
reconfigura um antigo subgênero do gótico, o Terror.
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LITERATURA DE TERROR
A palavra terror vem do latim terror, “medo, terror”; de terrere, “assustar, causar
medo”. Logo, o gênero terror visa causar medo no leitor e não suspense, como os
romances de detetive. A literatura de Terror é subgênero do Gótico e se destaca
nos romances com o uso da psicologia do terror (o medo, a loucura, a devassidão
sexual, a deformação do corpo), do imaginário sobrenatural (fantasmas, demô-
nios, espectros, monstros). O terror pode ser exterior ou interior. No exterior,
quase sempre o medo é baseado na relação do enredo com sangue e à violên-
cia, e, no interior, no psicológico, o temor é gerado a partir da vulnerabilidade
da mente humana a alguma situação ou alguma sensação desconfortável psi-
cologicamente. Contudo, não é raro que ambas as relações se cruzam em cada
página dessa tipologia literária. Escritores como Robert Louis Steveson, Ann
Radcliffe, Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Bram Stoker e Stephen King são exem-
plos do gênero.
O romance de terror tem que ter basicamente dois elementos: o uso da psi-
cologia do terror e do imaginário sobrenatural.
The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde (1886), de Robert Louis Steven-
son
Nascido em Edimburgo, na Escócia, em 1850, Robert Louis Balfour Stevenson
era filho de um próspero engenheiro civil, mas seguiu uma carreira alternativa
à do pai: o curso de Direito na Universidade de Edimburgo. A fascinação de
Stevenson pela vida urbana e pelo “baixo mundo” citadino o distanciou da famí-
lia. Esse submundo apresentou-lhe personagens bizarros, fornencendo um rico
material para suas histórias posteriores. Quando terminou o curso de Direito
em 1875, Stevenson já era um escritor profissional.
As primeiras obras publicadas de Stevenson, “Uma Viagem pelo interior”
(1878) e “Viagens com um burro nas Cervennes” (1879), baseadas em suas pró-
prias aventuras, foram seguidas de sua primeira obra de ficção extensa “A ilha do
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tesouro” (1883). Mas foi com a publicação de “O estranho caso do Dr. Jekyll e Mr.
Hyde” (The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde) que ganhou fama internacional.
Nesse romance que aborda a dupla identidade, temos um advogado chamado
Gabriel Utterson, que investiga estranhas ocorrências entre seu velho amigo, Dr.
Henry Jekyll, e o malvado Edward Hyde. Mal sabe Utterson que ambos são um
só! Temos aí o tema do binarismo presente em todos os seres: o lado bom e o lado
ruim. Esse livro de Stevenson é influência para personagens como Hulk e para
o modelo ou arquétipo dos super-heróis de vida dupla: Clark Kent/Superman,
Bruce Wayne/Batman, Peter Parker/ Homem Aranha etc.
Linehan (2003) aponta que The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde aborda
um conceito muito comum no período vitoriano inglês: o conflito interno. O
romance é interpretado de várias formas, desde o mais comum, que indica uma
dualidade da natureza humana (o bem e o mal coexistem em tudo), ou sob um
olhar freudiano, de que os pensamentos e desejos do consciente são banidos para
o inconsciente, desenvolve lá (no inconsciente) um ser totalmente diferente do
ser externo, movido pela consciência. De forma geral, “O Médico e o Monstro”,
nome popular do romance de Stevenson, aborda muito o caráter de “civilizado
contra selvagem”. Pois Dr. Jekyll vive em constante estado de repressão, contro-
lando seus impulsos, mecanismo este imposto pela sociedade ‘civilizada’. Hyde,
pelo contrário, não respeita nenhuma regra social, mostrando, assim, a tensão
ética e moral da sociedade anglo-escocesa do século 19, fundamentalmente fin-
cada na hipocrisia social.
Stevenson morreu em 3 de dezembro de 1894 de uma hemorragia cerebral,
enquanto trabalhava em sua obra-prima inacabada, Weir of Hermiston, em 1894.
Literatura de Terror
76 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e a satisfação sensual são as únicas
coisas que valem a pena perseguir na
vida. Entendendo que sua beleza irá
desaparecer, Dorian pactua sua alma, Dorian Gray
para garantir que o retrato, em vez dele,
envelheça e desapareça. O desejo é concedido, e Dorian persegue uma vida liber-
tina de experiências variadas e amorais; enquanto isso, seu retrato envelhece e
registra todos os pecados que corrompem a alma.
Vale destacar que a vida do autor de
The Picture of Dorian Gray, Oscar Fingall
O’Flahertie Wills Wilde, ou Oscar Wilde,
influenciou de certa forma o enredo de sua
obra-prima. Inteligente e sofisticado, bem ao
estilo dândi de ser, Oscar Wilde era filho de
um médico e de uma escritora, sendo desde
a tenra infância a companhia de grandes
intelectuais. Após viagens à França e aos
EUA, retornou à Inglaterra, onde se casou
com Constance Lloyd e teve dois filhos, mas,
mesmo após o casamento, Oscar continuou
frequentando todas as rodas literárias, espa-
lhando glamour e comentários nos eventos
sociais em que comparecia.
Dorian Gray e seu retrato
Fonte: Satran (2013, online).
Em 1891, lançou The Picture of Dorian Gray, dando-lhe o auge da vida lite-
rária. Mas as comparações entre Dorian e Wilde (ambos sempre elegantes e
extravagantes) foram crescendo (CARDOSO, 1935), surgindo boatos sobre sua
suposta homossexualidade. Tudo veio à tona, em maio de 1895, em que, após
três julgamentos, foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados,
já que a homossexualidade era severamente condenada por lei na Inglaterra. O
denunciante foi o Marquês de Queensberry, pai de Lorde Alfred Douglas, suposto
amante de Wilde. Sua fama começou a desmoronar. Suas obras e livros foram
recolhidos e suas comédias retiradas de cartaz. Mas Wilde já antecipava o pro-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
6 Todas as passagens claramente de cunho homoerótico foram tiradas da versão publicada. FRANKEL, Nicholas. The
Picture of Dorian Gray: An Annotated, Uncensored Edition. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press (Harvard
University Press), 2011
Literatura de Terror
78 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o sangue dos inimigos (FLORESCU; MCNALLY, 1989). O nome Dráculo vem
do romeno, Draculea (também grafado Drakulya), usado para designar Vlad em
diversos documentos, significa “filho do dragão”, referência a seu pai, Vlad Dracul.
de Stephen King
O maior escritor vivo de estórias de terror
Stephen King
em língua inglesa é, sem dúvida, Stephen
King. Nascido em 1947, Stephen Edwin King é um escritor estadunidense,
mundialmente conhecido pelo gênero de Terror e Ficção Científica. King é um
bestseller e um exemplo de literatura de massa considerada de qualidade. King
publicou mais de 54 romances, muitos considerados novelas. Stephen King tam-
bém escreve o gênero conto, que, atualmente, somam-se em mais de 200.
A qualidade da obra de King é visualizada em seus prêmios: Bram Stoker
Awards, World Fantasy Awards, British Fantasy Society Awards, Medal for
Distinguished Contribution to American Letters (2003), O. Henry Award, World
Fantasy Award for Life Achievement (2004), Canadian Booksellers Association
Lifetime Achievement Award (2007) e Grand Master Award from the Mystery
Writers of America (2007).
Stephen King foi um leitor assíduo de Mary Shelley, Stevenson, Edgar Allan
Poe e Lovecraft. Em seu livro The Philosophy of Horror (1990), Noël Carroll
discute o trabalho de King como um exemplar da moderna ficção de horror, ou
seja, você, aluno(a) de Letras, para compreender a estética do horror na litera-
tura em língua inglesa, tem que, necessariamente, passar por King.
Dos textos de King, eu sugiro a lista abaixo:
1974 - Carrie, a Estranha (Carrie)
1975 - Salem/A Hora do Vampiro (Salem’s Lot)
1977 - O Iluminado (The Shining)
1978 - A Dança da Morte (The Stand)
Literatura de Terror
80 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1995 - Rose Madder (Rose Madder)
1996 - À Espera de um Milagre (The Green Mile)
2009 - Sob a Redoma (Under The Dome)
2013 - Doutor Sono (Doctor Sleep)
Destes, porém, destacam-se “Carrie, a Estranha” (Carrie), de 1974, e “O Iluminado”
(The Shining), de 1977. Na primeira história, em estilo epistolar, a narrativa é
contada baseada em documentos ficionais, extratos de livros, notícias e outras
transcrições, apenas para deixar mais real a história de Carietta “Carrie” White,
uma garota adolescente de Chamberlain, no Maine. A mãe de Carrie, Margaret
White, uma cristã doentiamente fundamentalista, tem uma personalidade
vingativa e estranha, e, no passar dos anos, educou a jovem Carrie de forma con-
denativa. O comportamento abusivo, mental e emocional de Margaret faz com
que desperte em Carrie poderes
‘psíquicos’, que transforma-
rão para sempre a vida da
garota e da comunidade
local. A melhor adaptação
do romance para os cine-
mas foi em 1976, chamado
Carrie, a estranha, dirigido
pelo diretor estadunidense
Brian De Palma, trazendo
no elenco Sissy Spacek como Stephen King ao centro, com seus personagens. O palhaço de It e Carrie
(à Dir.) e Jack, de O Iluminado, e a antagonista de Misery.
Carrie. Fonte: Smith (2014, online).
Literatura de Terror
82 UNIDADE II
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, estudamos a literatura inglesa pelo viés do gótico e de seus subgê-
neros: Romance Policial e Romance de Terror, bem como seus maiores expoentes,
obras e crítica literária.
Estudamos que o gênero gótico, surgido na Inglaterra, passa por uma refor-
mulação até chegar ao Romantismo estadunidense, com Edgar Allan Poe, contista
que ficou conhecido pela sua poesia e prosa gótica.
Estudamos a vida de Edgar Allan Poe, bem como sua obra, marcada pelo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
simbolismo macabro, o fantástico, o medo, a loucura e a insanidade, além do sim-
bolismo mágico do século XIX. Lemos trechos da obra de Poe, bem como o poema
O Corvo e o conto O Coração Delator na íntegra (na Leitura Complementar desta
unidade), percebendo, ali, marcas da escrita poeana, bem como de seu gênero.
Estudamos que foi com Edgar Allan Poe que o gótico passou por duas ramifica-
ções e/ou subgêneros: o Romance Policial/Romance de Detetive e a Literatura
de Terror, que também foram explorados nesta unidade.
Em relação ao romance policial, conhecemos e estudamos a obra de Agatha
Christie e de Arthur Conan Doyle. Também vimos que esses autores desenvol-
veram modelos de literatura com detetives como protagonistas, como Auguste
Dupin, o belga Poirot e a simpática velhinha Miss Marple e o maior de todos, o
detetive Sherlock Holmes. Tal modelo vingou e se tornou de grande valia para a
literatura trivial. Em muitos casos, vimos que o suspense já antecipava o medo,
sentimento esse que se desenvolveu como outro subgênero e que ganhou notorie-
dade nos dias de hoje. Assim, na última parte desta unidade, estudamos a estética
do medo desde Robert Stevenson, no século XIX, até o atual e contemporâneo
Stephen King, considerado o “mestre do horror”, que teve sua obra aproveitada
por grandes cineatas. Tais autores do medo e do suspense são, com seus temas
e obras, essenciais para a compreensão desse complexo mundo da literatura do
medo e do suspense, que foi tão profícuo na literatura em língua inglesa.
É verdade! Nervoso, muito, muito nervoso nenhuma luz brilhasse, e então eu pas-
mesmo eu estive e estou; mas por que você sava a cabeça. Ah! o senhor teria rido se
vai dizer que estou louco? A doença exacer- visse com que habilidade eu a passava. Eu
bou meus sentidos, não os destruiu, não os a movia devagar, muito, muito devagar,
embotou. Mais que os outros estava agu- para não perturbar o sono do velho. Levava
çado o sentido da audição. Ouvi todas as uma hora para passar a cabeça toda pela
coisas no céu e na terra. Ouvi muitas coi- abertura, o mais à frente possível, para que
sas no inferno. Como então posso estar pudesse vê-lo deitado em sua cama. Aha!
louco? Preste atenção! E observe com que Teria um louco sido assim tão esperto? E
sanidade, com que calma, posso lhe con- então, quando minha cabeça estava bem
tar toda a história. dentro do quarto, eu abria a lanterna com
cuidado — ah!, com tanto cuidado! —, com
É impossível saber como a idéia penetrou cuidado (porque a dobradiça rangia), eu a
pela primeira vez no meu cérebro, mas, uma abria só o suficiente para que um raiozinho
vez concebida, ela me atormentou dia e fino de luz caísse sobre o olho do abutre.
noite. Objetivo não havia. Paixão não havia. E fiz isso por sete longas noites, todas as
Eu gostava do velho. Ele nunca me fez mal. noites à meia-noite em ponto, mas eu sem-
Ele nunca me insultou. Seu ouro eu não pre encontrava o olho fechado, e então era
desejava. Acho que era seu olho! É, era isso! impossível fazer o trabalho, porque não
Um de seus olhos parecia o de um abutre era o velho que me exasperava, e sim seu
- um olho azul claro coberto por um véu. Olho Maligno. E todas as manhãs, quando
Sempre que caía sobre mim o meu sangue o dia raiava, eu entrava corajosamente no
gelava, e então pouco a pouco, bem deva- quarto e falava Com ele cheio de coragem,
gar, tomei a decisão de tirar a vida do velho, chamando-o pelo nome em tom cordial e
e com isso me livrar do olho, para sempre. perguntando como tinha passado a noite.
Então, o senhor vê que ele teria que ter
Agora esse é o ponto. O senhor acha que sido, na verdade, um velho muito astuto,
sou louco. Homens loucos de nada sabem. para suspeitar que todas as noites, à meia-
Mas deveria ter-me visto. Deveria ter visto -noite em ponto, eu o observava enquanto
com que sensatez eu agi — com que pre- dormia.
caução —, com que prudência, com que
dissimulação, pus mãos à obra! Nunca fui Na oitava noite, eu tomei um cuidado
tão gentil com o velho como durante toda ainda maior ao abrir a porta. O ponteiro
a semana antes de matá-lo. E todas as noi- de minutos de um relógio se move mais
tes, por volta de meia-noite, eu girava o depressa do que então a minha mão.
trinco da sua porta e a abria, ah, com tanta Nunca antes daquela noite eu sentira a
delicadeza! E então, quando tinha conse- extensão de meus próprios poderes, de
guido uma abertura suficiente para minha minha sagacidade. Eu mal conseguia conter
cabeça, punha lá dentro uma lanterna fur- meu sentimento de triunfo. Pensar que lá
ta-fogo bem fechada, fechada para que estava eu, abrindo pouco a pouco a porta,
85
siasmo de minha confiança, levei cadeiras ninharias, num tom alto e gesticulando com
para o quarto e convidei-os para ali des- ênfase; mas o barulho continuava a cres-
cansarem de seus afazeres, enquanto eu cer. Por que eles não podiam ir embora?
mesmo, na louca audácia de um triunfo Andei de um lado para outro a passos lar-
perfeito, instalei minha própria cadeira exa- gos e pesados, como se me enfurecessem
tamente no ponto sob o qual repousava o as observações dos homens, mas o barulho
cadáver da vítima. continuava a crescer. Ai meu Deus! O que
eu poderia fazer? Espumei — vociferei —
Os oficiais estavam satisfeitos. Meus modos xinguei! Sacudi a cadeira na qual estivera
os haviam convencido. Eu estava bas- sentado e arrastei-a pelas tábuas, mas o
tante à vontade. Sentaram-se e, enquanto barulho abafava tudo e continuava a cres-
eu respondia animado, falaram de coisas cer. Ficou mais alto — mais alto — mais
familiares. Mas, pouco depois, senti que alto! E os homens ainda conversavam ani-
empalidecia e desejei que se fossem. Minha madamente, e sorriam. Seria possível que
cabeça doía e me parecia sentir um zum- não ouvissem? Deus Todo-Poderoso! —
bido nos ouvidos; mas eles continuavam não, não? Eles ouviam! — eles suspeitavam!
sentados e continuavam a falar. O zum- — eles sabiam! - Eles estavam zombando
bido ficou mais claro — continuava e ficava do meu horror! — Assim pensei e assim
mais claro: falei com mais vivacidade para penso. Mas qualquer coisa seria melhor
me livrar da sensação: mas ela continuou do que essa agonia! Qualquer coisa seria
e se instalou — até que, afinal, descobri mais tolerável do que esse escárnio. Eu não
que o barulho não estava dentro de meus poderia suportar por mais tempo aque-
ouvidos. les sorrisos hipócritas! Senti que precisava
gritar ou morrer! — e agora — de novo —
Sem dúvida agora fiquei muito pálido; ouça! mais alto! mais alto! mais alto! mais
mas falei com mais fluência, e em voz mais alto! — Miseráveis! — berrei — Não dis-
alta. Mas o som crescia - e o que eu podia farcem mais! Admito o que fiz! levantem
fazer? Era um som baixo, surdo, rápido as pranchas! — aqui, aqui! — são as bati-
— muito parecido com o som que faz das do horrendo coração!
um relógio quando envolto em algodão.
Arfei em busca de ar, e os policiais ainda
não o ouviam. Falei mais depressa, com
mais intensidade, mas o barulho continu- Fonte: Poe (online).
ava a crescer. Levantei-me e discuti sobre
MATERIAL COMPLEMENTAR
Drácula
Bram Stoker
Tradutor: José Francisco Botelho
Editora: Penguin Companhia
Ano: 2014
Sinopse: quando um agente imobiliário ajuda um conde
a comprar uma propriedade em Londres, não poderia
imaginar o mal que estava levando ao Ocidente. Na partida
de xadrez que se segue, entre esse nobre perturbador (que
pouco aparece, mas é onipresente) e um determinado grupo de adversários (que inclui o professor
Van Helsing e a inteligente Mina Harker), o que está em jogo vai além da luta entre a vida e a morte.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Assista a O Coração Delator, uma animação de 1953 adaptada do conto de Edgar Allan Poe,
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6D7aUJToxDg>. Acesso em: 31 jul. 2015.
Carrie – a estranha
Ano: 1976
Sinopse: Carry White (Sissy Spacek) é uma jovem que não faz
amigos em virtude de morar em quase total isolamento com
Margareth (Piper Laurie), sua mãe e uma pregadora religiosa que
se torna cada vez mais ensandecida. Carrie foi menosprezada
pelas colegas, pois, ao tomar banho, achava que estava morrendo,
quando, na verdade, estava tendo sua primeira menstruação.
Uma professora fica espantada pela sua falta de informação e
Sue Snell (Amy Irving), uma das alunas que zombaram dela, fica
arrependida e pede a Tommy Ross (William Katt), seu namorado
e um aluno muito popular, para que convide Carrie para um baile
no colégio. Mas Chris Hargenson (Nancy Allen), uma aluna que foi
proibida de ir festa, prepara uma terrível armadilha que deixa Carrie ridicularizada em público. Mas
ninguém imagina os poderes paranormais que a jovem possui e muito menos de sua capacidade
de vingança quando está repleta de ódio.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
III
ESTADOS UNIDOS, SÉCULOS
UNIDADE
XIX E XX: TEXTOS E
AUTORES
Objetivos de Aprendizagem
■ Conhecer o contexto literário do século XIX e início do século XX.
■ Conhecer grandes nomes do contexto literário em língua inglesa do
período.
■ Relacionar as mudanças estéticas da literatura mundial, nos textos e
autores dos Estados Unidos, do século XIX e XX.
■ Conhecer a vida e obra de grandes poetas norte-americanos.
■ Conhecer a vida e obra de grandes romancistas norte-americanos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Os séculos XIX/XX e a Literatura Inglesa: o Despertar do Romance
■ Nathaniel Hawthorne (1804 – 1864)
■ Herman Melville (1819 – 1891)
■ Mark Twain (Samuel L. Clements) (1876 – 1910)
■ Kate Chopin (1850 – 1904)
■ Ernest Hemingway (1899 – 1961)
■ F.S. Fitzgerald (1896 – 1940)
■ William Faulkner (1897 – 1962)
93
INTRODUÇÃO
Os contos e romances viram, nos séculos XIX e XX, seu despertar. Desde o
Romantismo francês, a literatura em língua inglesa viu o nascimento de gran-
des obras e autores, que seriam clássicos mundiais. O período vitoriano inglês
teria com Charles Dickens o protótipo do romance moderno, como também
com David Copperfield (1850) e Oliver Twist (1837). O mesmo com Charlotte
Brontë, com Jane Eyre (1847). O polonês Joseph Conrad, o irlândes James Joyce
e a neozelandesa Katherine Mansfield receberam tais influências pela ágil e ativa
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
língua inglesa.
O conceito de literatura nacional surge e o romance passa a ser modelo lite-
rário, tanto que é adotado nos colégios ingleses e americanos. O romancista
desse século passou a ser o porta-voz da cultura de seus países e o livro passa a
ser objeto das massas. Novos conceitos nascem na literatura, como o fluxo de
consciência e a epifania, da mesma forma como o conceito de estilo. Os poe-
tas também aderem as novidades e nomes como Walt Whitman (1819–1892),
Emily Dickinson (1830-1883), Ezra Pound (1885–1972), Henry W. Longfellow
(1807–1882) e os modernos T. S. Eliot (1888–1965) e E. E. Cummings (1894-
1962) passam a fazer parte da controversa, canônica e clássica lista literária em
língua inglesa.
Assim, falar em literatura inglesa é falar de nomes que, por alguma razão,
marcaram a sociedade, seu tempo e a crítica literária, como Nathaniel Hawthorn,
autor de Scarlet Letter, ou Herman Melville, criador da baleia branca Moby Dick.
Também é falar da feminista Kate Chopin e do pai do romance estadunidense,
Mark Twain. Falar da literatura inglesa desse período é citar a tríade Ernest
Heminway, F. S. Fitzgerald e William Faulkner.
Nesta unidade, iremos conhecer um pouco das obras e nomes importantes
da literatura em língua inglesa do século XIX e início do século XX.
Introdução
94 UNIDADE III
Até o século XVIII, o épico era o gênero narrativo mais comum na Europa, tal-
vez por sua essência poética, gênero preferido desde a antiguidade. O “boom”
do conto e do romance vem no alvorecer do
século XIX, e seus autores foram influenciados
pela estética e nomes do romantismo europeu,
como Victor Hugo, com The Hunchback of
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Notre Dame (1831) e Les Misérables (1862).
White (2008) revela que a marca dos romances
do século XIX foi a diferenciação dos livros his-
tóricos e jornais, ou seja, os romances levavam
o leitor a vivenciar outras ‘experiências’, além de
verdades inconvenientes, como a escravidão, o
racismo, a luta de classe, o trabalho infantil, a
criminalidade, a condição da mulher, o colo-
nialismo, a tecnofobia, entre outras. Emile Zolá,
Dickens, Dostoyevsky, Tolstoy, George Eliot e H. G. Wells foram autores decisi-
vos para apresentar um início de debate sobre tais temas.
Na Inglaterra, em especial, no período vitoriano, o escritor Charles Dickens
era seu melhor expoente.
Adotando o pseudônimo Boz, no início da carreira, Charles John Huffam
Dickens popularizou o romance, apesar de também escrever artigos jornalís-
ticos, peças e contos. Em sua obra, apresentou os problemas sociais de uma
Inglaterra industrializada e de mentalidade capitalista: a violência, o desem-
prego, a pobreza, as condições precárias das fábricas, a prostituição e o trabalho
infantil foram seus temas. Dickens é um exemplo de como a literatura tem que ir
além do texto, pois fez questão de participar de atividades sociais a fim de mudar
as condições que denunciava em seus livros. Propôs melhorias na educação, a
criação de hospital infantil e reforma sanitária para seu país (FORSTER, 2006).
Charles Dickens é um escritor realista, sobre isso, Cevasco e Siqueira (1999, p.
56) dizem: “Quem leu Dickens sabe que, ao lado da impressão da vida como ela
1 Fagin, assim como Shylock e Barrabás, faz parte do rol de caricaturas de judeus na literatura inglesa. Para maiores
informações, leia: PARADISO, S. R.; SANTOS, C. B. A imagem do judeu na literatura britânica: Shylock, Barrabás e
Fagin. Revista Diálogos e Saberes, v. 8, n. 1, 2012. Disponível em: <http://seer.fafiman.br/index.php/dialogosesaberes/
article/view/277>. Acesso em: 17 jul. 2015.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do passado se interpõe entre eles. O texto aborda
um tema espinhoso para a época, a emancipa-
ção da mulher.
Nathaniel Hawthorne, Joseph Conrad,
Melville, F. Scott Fitzgerald, William Faulkner,
Charlotte Brontë (1816-1855)
entre outros, são exemplos do que há de melhor
na literatura inglesa do século XIX, contexto em que a experiência do Realismo
e Nacionalismo na literatura em língua inglesa marcou sua estética. Sobre o
Realismo, Ian Watt, em The Rise of the Novel (A Ascensão do Romance [1957]),
revela que o romance tem como elemento “romanesco” naturalmente a estética
realista, já que o intuito do romance, pelo menos inicial, era reportar experiên-
cias humanas autênticas e profundas. O realismo na literature inicia em meados
do século XIX, na França, e se extende a toda Europa, visando agarrar o leitor
pela identificação das banalidades do dia a dia, bem como por fatos da reali-
dade. Nos Estados Unidos, William Dean Howells foi o primeiro autor a trazer
a estética realista ao país, com a obra The Rise of Silas Lapham.
Também, no século XIX, surgem as literaturas nacionais, que irão mode-
lar o futuro romance moderno. Docherty (1999) sinaliza que, de todos os países
anglófonos, a Inglaterra foi o que mais relutou em adotar essa literatura, já que o
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O amante de Lady Chatterley, romance que gerou polêmica por causa de
considerações éticas e sociais feitas pelo autor, por isso foi proibido por 32
anos na Inglaterra. Em 1930, diagnosticado com tuberculose, D. H. Lawrence
falece no sanatório Ad Astra, na França.
Em seu conto The blind man (2004), o protagonista Maurice Pervin, cego e
possuidor de uma horrenda cicatriz no rosto, é casado com Isabel. Eles mo-
ram em uma fazenda, se amam e desejam ter filhos. Entretanto os dois co-
meçam a notar que faltava algo na relação, alguma coisa estava incompleta
entre eles. Certo dia, Bertie Reid, amigo e primo distante de Isabel, do qual
Maurice não gosta, escreve para ela relembrando a amizade antiga, e o casal
consente que Bertie venha visitá-los. Durante a visita, quando os três estão
na sala, Maurice sai em direção à casa do caseiro. Após um tempo, Isabel e
Bertie se preocupam, então o velho amigo vai atrás dele. Esse o encontra no
curral, local onde acontece o clímax da diegese, pois, nesse contato, ambos
trocam sutis e íntimos toques. Maurice, the blind man, pede para ser tocado
em sua cicatriz e solicita que Bertie deixe ser tocado no rosto também, após
a troca recíproca, se direcionam para casa ao encontro de Isabel. A partir
desse acontecimento, o sentimento que envolvia os três muda.
_________________
Fonte: adaptado de Passeri (2011, online).
Outro elemento que se popularizou na virada dos séculos foi o “estilo”. Entendia-se
por estilo o modo de escrita peculiar de cada escritor. No sentido lexicográfico,
estilo é a “maneira ou caráter particular de falar ou escrever; feição especial de
trabalhos de um artista, de um gênero ou de uma época; caráter de uma com-
posição literária ou musical” (AMORA, 2001, p. 290).
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(1890 apud BONNICI, 2004, p. 27), em que o eu-lírico revela a postura seletiva
d’alma que escolhe suas companhias e se isola do restante do mundo, ou seja, a
própria alma dickinsoniana.
Ezra Weston Loomis Pound (1885), nascido em Hailey, foi um poeta, músico e
crítico literário americano que, junto com T. S. Eliot, foi uma das maiores figu-
ras do movimento modernista da poesia do início do século XX nos Estados
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Unidos. Sua originialidade é observada, por exemplo, no uso sensorial das pala-
vras. Sua poesia é pura cinestesia (BONNICI, 2004. p. 27):
Ts’ai Chi’h
__________________________________
[...]
Tudo isso há muito tempo se passou, recordo,
E outra vez o farei, mas considerai
Isto considerai
Isto: percorremos toda aquela estrada
Rumo ao Nascimento ou à Morte? Um nascimento, é certo,
Tínhamos prova, não dúvidas. Nascimento e morte contemplei,
Mas os pensara diferentes; tal Nascimento era, para nós,
2 “Minha poesia não seria o que é se eu tivesse nascido na Inglaterra, e não seria o que é se eu tivesse permanecido nos
Estados Unidos. É uma combinação de coisas. Mas, nas suas fontes, na sua força emocional, ela vem dos Estados Unidos”
(tradução do autor).
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nidense ao modernismo do século XX. Densidade, complexidade, técnicas de
fragmentação, alusão, ironia, paralelismo, justaposição, concretismo, reticências
são exemplos de elementos dessa nova poética. Ninguém, tão bem como Edward
Estlin Cummings, usualmente abreviado como e. e. cummings (como ele assi-
nava), soube trabalhar a linguagem de forma inusitada. Poeta, pintor, ensaísta e
dramaturgo, Cummings ia desde o tradicional, como o soneto, verso livre, poe-
sia em prosa, até as vanguardas positivas do início do século XX. Com ironia,
tem como tema o conservadorismo, a crítica ao sistema político e econômico
do Ocidente e até o progresso massificante. Com mais de 900 poemas e diversas
outras obras, E. E. Cummings brinca com o uso não ortodoxo das letras maiúscu-
las e minúsculas, com a pontuação e com a forma, como no poema The Sky Was3.
o
céu
era
açú car lumi
noso
comestível
vivos
cravos tímidos
limões
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vi
o
letas4
Podemos ver essa herança cultural do período colonial no conto The Young
Goodman Brown (1846), publicado em Mosses from na old manse, que conta
a história do jovem Mr. Brown, que vive com a esposa e filhos na vila de Salem,
em Massachusetts. Mr. Brown, um dia, descobre que na floresta local há encon-
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tros e sabás das bruxas, em que participa a sua então “inocente e pura” mulher.
No romance The maypole of Merry Mount (1837), Hawthorne apresenta como
personagem Thomas Morton, aquele que abordamos na unidade I, o “intruso
e herético advogado inglês”, que deixou a colônia de Massachusetts de cabeços
em pé, autor de New English Cannan (1637).
Mas é pelo romance The Scalet Letter (A Letra escarlate [1850]), que
Hawthorne é conhecido. No texto, ambientado também no século XVII, em
Massachusetts, o autor apresenta a estória de Hester Pryne, acusada de adúltera
por trair o marido com o reverendo local, tendo uma filha.
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origens inglesa e holandesa, e, aos vinte anos, decidiu trabalhar como cama¬reiro
em um navio, viagem essa que ensinou o autor o amor pelo mar. Outras viagens,
como em um baleeiro pelos mares do sul, também forneceriam estórias para sua
obra-prima, o romance Moby Dick (1851).
Em muitas de suas viagens, Melville
desertou do navio. Um caso é especial, o da
Polinésia, em que abandona o navio para
morar entre os nativos nas ilhas Marquesas
por vários meses. Melville regressou aos
Estados Unidos em 1844, como um mari-
nheiro, na fragata chamada United States,
que aportou em Boston (MILDER, 1988).
Lá, se casou em 1847 e, em 1850, mudou-se
para Massachusetts, sendo vizinho e amigo
de Nathaniel Hawthorne. Um ano depois,
publica Moby Dick, seguido de textos de
cunho autobiográfico e poesias. Herman
Melville decide pausar a vida literária para
se dedicar a um cargo público por deze- Herman Melville
nove anos, deixando alguns manuscritos
incompletos, entre os quais Billy Budd, descoberto apenas em 1920. Morreu em
Nova York, em 28 de setembro de 1891, deixando outros clássicos, como White-
Jacket (Jaqueta Branca [1850]), Pierre (1852) e The confidence-man (O homem
de confiança [1857]).
Royot, na citação acima, defende a ideia de que Moby Dick é um romance uni-
versal, pois a baleeira Pequod é a metáfora da humanidade, mostrando os medos
do homem moderno. Moby Dick é uma leitura desafiadora, para começar, devido
sua extensão: mais de 650 páginas!
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
bro de 1835, Mark Twain passou a infância no
Mississippi, tendo que ajudar cedo em casa
devido à precoce morte do pai. Twain foi aju-
dante, entregador, escriturário, aprendiz de
tipógrafo e impressor, mas foi como piloto
fluvial nas águas do Mississipi que teve a opor-
Mark Twain
tunidade de conhecer o jargão que daria a ele o
pseudônimo para a escrita. Aller (2006) revela que Mark Twain significa Mark
Two ou marco dois, um termo usado nas embarcações para dizer que o rio tem
duas vezes 6 pés (uma marca), ou seja, 12 pés, aproximadamente 3,7 metros.
Na época em que foi piloto de embarcação, já escrevia textos de humor e,
depois, também passou a escrever para jornais locais. Sua reputação como escri-
tor satírico veio com o texto The Innocents Abroad (1869), no mesmo ano em
que se casou com Olívia Langdon.
Os textos Roughing It (1970) e The Gilded Age (1973) vieram em seguida,
mas foi com “As aventuras de Tom Sawyer” (1876), romance baseado nas expe-
riências da adolescência do autor no rio Mississipi, que ficou reconhecido em
todo país. Da mesma forma, a obra-prima veio com a “continuação do texto”,
“As aventuras de Huckleberry Finn” (1884).
Outras obras do autor: “O Príncipe e o Mendigo”, “Um ianque na corte do
Rei Artur” (1889), “A tragédia de Pudd’nhead Wilson” (1894) e “Joana D`Arc”
(1896), fazem parte de sua obra literária. O grande escritor e palestrante genui-
namente americano faleceu, em 1910, de ataque cardíaco, um ano depois de ter
recebido o grau de doutor em Letras, pela Universidade de Oxford.
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jovens brasileiros, pois a temática é universal.
“All modern American literature comes from one book by Mark Twain called
Huckleberry Finn.”.
Fonte: Ernest Hemingway.
Feminista à frente de seu tempo, Kate O’Flaherty nasceu em St. Louis, Missouri,
em 1850, no seio de uma família abastada. Aos cinco anos foi encaminhada ao
colégio interno católico – The Sacred Heart Academy. Ainda, em 1855, perdeu
o pai em um acidente, fazendo com que Kate vivesse em um lar estritamente
feminino, com a mãe, a avó e a bisavó, com a exceção da avó, todas viúvas. Avó,
em especial, ensinou a Kate O’Flaherty música, ciências e francês. O que essas
mulheres ensinaram de mais importante foi que as mulheres teriam o mesmo
direito dos homens. A avó materna foi a primeira mulher em St. Louis a se sepa-
rar legalmente do marido, comandando os próprios negócios.
assumiu os negócios.
A obra de Kate Chopin aborda os elementos marcantes da sua vida: o femi-
nismo, as questões raciais e a morte. Seu primeiro romance, At Fault (1890), foi
seguido por coletâneas de contos, Bayou Folk (1894) e A Night in Acadia (1897).
Contudo a fama veio com The Awakening (1899), precursor dos romances femi-
nistas. Seus contos mais conhecidos são Désirée’s Baby (1893) e The Story of an
Hour (1894), estes a deixaram conhecida como a escritora das mulheres e dos
negros. Sobre Désirée’s Baby, Paradiso e Granatiere (2015, s/p) relatam:
O conto Désirée’s Baby foi publicado pela primeira vez na revista Vogue
(1893) e posteriormente na coleção de estórias Bayou Folk (1894), nele
a autora descreve a paixão de Armand, senhor de terras e escravos, por
Désirée, órfã criada pela família Valdomondé. Apesar de pouco saber
sobre a ascendência de Désirée, Armand decide se casar com ela. Po-
rém, quando o filho do casal revela traços multirraciais, Armand ime-
diatamente acusa Désirée de ser de origem africana e ter escondido
isso. A partir deste momento o comportamento dele muda. Torna-se
mais violento com os escravos, mal trata e isola Désirée. Por fim, renega
a esposa e o filho.
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Europa. Lá, escreveu seu primeiro grande trabalho
The Sun Also Rises (1926), seguido de A Farewell to Ernest Hemingway
Arms (1929). Sua experiência pessoal como repórter
durante a Guerra Civil Espanhola foi a base para seu maior romance de sucesso,
For Whom the Bell Tolls (Por quem os sinos dobram [1940]).
Hemingway foi, além de grande escritor, um grande esportista e, por isso,
gostava de escrever sobre caçadores, toureiros, soldados etc. A sua prosa de diá-
logo livre, simples, o uso de eufemismo e linguagem objetiva são marcas de seus
contos. Em relação a seus contos, Hemingway é conhecido por The Old Man and
the Sea (1952), cuja estória é sobre um velho pescador e sua jornada solitária
no mar, da vitória à derrota. Outro brilhante conto é The Killers (Os assassinos
[1927]), que, de forma objetiva, ágil, dá ao leitor uma sensação de claustrofobia.
Com um enredo simples, ambiente minimalista e com predominância de diálo-
gos, conta a estória de dois assassinos em um restaurante. Escrito na década de
1920, no auge do crime organizado, durante a Lei Seca, o conto mostra como a
escrita poética, em detrimento da escrita prosaica, tem capacidade de criar tensões.
Veja um trecho do conto The Killers (LEITE, 2012, online):
homens liam o menu. Do outro extremo do balcão, Nick Adams, que tinha estado
conversando com George quando eles entraram, observava-os.
— Eu vou pedir costeletas de porco com molho de maçãs e purê de batatas.
— disse o primeiro.
— Ainda não está preparado.
— Então por que diabos o põem no cardápio?
— Esse é o jantar. — explicou-lhe George — Pode-se pedir a partir das seis.
George olhou o relógio na parede detrás do balcão.
— São cinco horas.
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— Pois não é. — disse o outro homenzinho — Não é mesmo, Al?— Ficou
mudo.
[...]
até a década de 50, trabalhou para Metro, Fox e Warner, mas, antes, já escrevia
romances, como Soldier’s Pay (1926), Mosquitoes (1927) e Sartoris (1929). Porém
Faulkner entrou em uma nova fase, quando encontrou seu estilo nas obras The
Sound and the Fury (Som e a Fúria [1929]), e Sanctuary (Santuário [1931]), esses
dois últimos são clássicos de sua carreira. Em The Sound and the Fury, o ambiente
é o sul dos Estados Unidos, escravocrata e derrotado na Guerra da Secessão, em
que narra a agonia de uma família da velha aristocracia sulista, os Compson, entre
os dias 2 de julho de 1910 e 8 de abril de 1928. Em Sanctuary, Faulkner brinca
com o título, pois o santuário aqui não tem nada de sagrado, mas sim é metáfora
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de um mundo de lassidão moral mal disfarçado pelas convenções sociais e pela
letra da lei, sempre distorcida ao sabor das conveniências de ocasião.
A obra de Faulkner é grande, possuindo vários romances, coletâneas de con-
tos, poesia e livro infantil. Há uma trilogia que conta a história de uma gente
gananciosa e sem escrúpulos, os Snopes, em The Hamlet (1940), The Town (1957)
e The Mansion (1959). Todavia não podemos falar de William Faulkner se não
falarmos do romance de 1936 Absalom, Absalom!
A seguir, temos um trecho do romance Absalão, Absalão! (1936), que narra
os embates e desencontros das quatro gerações da família Sutpen, protagonizada
por Thomas Sutpen. A história acontece no fictício condado de Yoknapatawpha
e mostra, a partir dos Sutpen, toda a tragédia do homem moderno. O trecho a
seguir diz respeito ao segundo capítulo, em que é narrada a chegada do prota-
gonista ao condado (TRECHO..., online):
Isso foi tudo que a cidade saberia dele por quase um mês. Aparente-
mente, havia chegado à cidade vindo do sul – um homem com cerca
de vinte e cinco anos, como a cidade ficou sabendo depois, porque na
época sua idade não poderia ter sido adivinhada porque ele parecia um
homem que estivera doente. Não como um homem que tivesse ficado
pacientemente na cama e se recuperado para se mover com uma espé-
cie de reservado e ensaiado espanto num mundo em que ele se acredi-
tasse prestes a submeter, mas como um homem que passara por alguma
experiência solitária de fornalha que era mais do que simples febre,
como diz um explorador, que não só tinha que enfrentar a dificuldade
normal da busca que escolhera, mas fora tragado pelo obstáculo adi-
cional e imprevisto da febre também e a combatera com enorme custo,
menos físico do que mental, sozinho e sem ajuda e não peço impulso
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, estudamos uma gama de autores e obras em língua inglesa, prin-
cipalmente o romance, que, como vimos com Ian Watt, em The Rise of the Novel
(A Ascensão do Romance [1957]), a partir do século XVIII, foi o gênero narra-
tivo mais apreciado na Europa.
Vimos que Charles Dickens foi o precursor desse romance na Inglaterra,
com seus textos famosos como A Christmas Carol (Um conto de Natal [1843]),
A Tale of Two Cities (Um Conto de Duas Cidades [1859]), David Copperfield
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(1850) e Oliver Twist (1837), da mesma forma que Charlotte Brontë foi com
Jane Eyre (1847).
O romance em língua inglesa apresentou elementos estéticos novos como o
fluxo de consciência, usado por James Joyce em Ulysses (1922). Aliás, Joyce foi
precursor da epifania na literatura. A rebeldia também veio com o romance no
século XIX e um exemplo é o clássico romance proibido e censurado, devido às
cenas de sexo de D. H. Lawrence, o controverso autor inglês que escreveu Lady
Chatterley’s Lover (O Amante de Lady Chatterley [1928]). Vimos, porém, que
essas novidades trazidas pelo romance afetaram grandes poetas da época, como
Walt Whitman (1819 – 1892), Emily Dickinson, Ezra Pound (1885 – 1972),
Henry W. Longfellow (1807 – 1882) e os modernos, T. S. Eliot (1888 – 1965) e
E. E. Cummings (1894 – 1962), cujos estilo, vida e obra conhecemos.
autor de For Whom the Bell Tolls (Por quem os sinos dobram [1940]); F. Scott
Fitzgerald, autor de um dos livros mais importantes de seu século, The Great
Gatsby (O Grande Gatsby [1925]); William Faulkner, autor de The Sound and the
Fury (Som e a Fúria [1929]), Sanctuary (Santuário [1931]) e Absalom, Absalom!
Considerações Finais
1. Com o estudo desta unidade, verificamos o “despertar do Romance” na literatura
inglesa. Sobre isso, estudamos que houve uma espécie de transição do gênero
épico para o Romance. Esse último trouxe à tona algumas verdades inconve-
nientes e ainda fez que o leitor vivenciasse novas experiências. Considerando
essa ideia, discorra sobre essas verdades inconvenientes.
2. Considerando o conteúdo estudado nesta unidade, comente sobre a literatura
nacional.
3. Charles Dickens é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores nomes da literatura
universal. Responsável por popularizar o gênero romance, o autor apresentou
uma literatura engajada com seu contexto sócio-histórico. Disserte sobre essa
peculiaridade da obra do autor.
4. Na poesia estadunidense, dois são os nomes apontados como os “pioneiros” de
uma escrita que realmente refletia os valores e aspectos da cultura dos Estados
Unidos: Walt Whitman e Emily Dickinson. Em vida, Emily Dickinson teve apenas
10 poemas publicados, sendo que sua vasta obra só viria a público após sua
morte. Sobre o estilo literário da poetisa, reflita sobre quais aspectos se desta-
cam em sua estética e como isso viria a contribuir para a ruptura de paradigmas
de poetas que a sucederam.
5. Moby Dick, de Herman Melville, é um dos romances mais aclamados da história.
Mesmo sem ter lido o romance, muitas pessoas conhecem a famigerada rivali-
dade entre o capitão Acab e a baleia que lhe arrancou a perna. Sobre essa obra,
explique os motivos pelos quais ela figura como a obra-prima de Melville e seus
reflexos na cultura popular.
123
da teria pela frente. Dias de primavera, dias de verão, dias quaisquer – todinhos seus.
Ela murmurou uma rápida oração pedindo que a vida fosse longa. E pensar que ontem
mesmo havia percebido, com terror, que a vida poderia ser longa.
Finalmente, ela se levantou e abriu a porta para as importunações da irmã. Havia um
triunfo febril em seus olhos. Sem se dar conta, portou-se como se fosse uma deusa da
Vitória. Passou o braço em torno da cintura da irmã e, juntas, desceram as escadas. Ri-
chards aguardava as duas na base da escadaria.
Um barulho de chave girando na fechadura. Alguém abria a porta da frente. Era Bentley
Mallard. Suas roupas estavam ligeiramente empoeiradas por causa da viagem. Carre-
gava com elegância a pasta e o guarda-chuva. Ele passara longe da cena do acidente,
e sequer ouvira falar de desastres naquele dia. Ficou perplexo com o grito agudo de
Josephine; estranhou os rápidos movimentos de Richards para evitar que sua esposa o
enxergasse. Mas Richards não fora rápido o suficiente.
Quando os médicos chegaram, informaram-lhes que ela havia morrido de doença do
coração – de felicidade fulminante.
Os Fantasmas de Scrooge
Ano: 2009
Sinopse: Ebenezer Scrooge (Jim Carrey) começa as férias de Natal
como de costume, mesquinho e de mau humor, berrando com seu
fiel assistente (Gary Oldman) e com seu alegre sobrinho (Colin Firth).
Mas quando os fantasmas dos Natais Passado, Presente e Futuro o
levam a uma surpreendente jornada que revela as verdades que o
velho Scrooge reluta em enfrentar, ele deve abrir seu coração para
desfazer anos de maldades antes que seja tarde demais.
O Grande Gatsby
Ano: 2013
Sinopse: O Grande Gatsby acompanha o aspirante a escritor Nick
Carraway enquanto ele deixa o centro-oeste americano e chega à
Nova York na primavera de 1922, uma era de afrouxamento moral,
jazz resplandecente e rios de contrabando. Perseguindo seu próprio
sonho americano, Nick vira vizinho de um misterioso e festeiro
milionário, Jay Gatsby, quando vai viver do outro lado da baía com
sua prima Daisy e seu marido mulherengo de sangue azul Tom
Buchanan. É assim que Nick é atraído para o mundo cativante dos
milionários, com suas ilusões, amores e fraudes. Ao testemunhar
fatos de dentro e fora do mundo que ele habita, Nick escreve um
conto de amor impossível, sonhos incorruptíveis e tragédias que
espelham nossos próprios conflitos em tempos modernos.
A Letra Escarlate
Nathaniel Hawthorne
Editora: Penguin Companhia
Ano: 2011
Sinopse: na rígida comunidade puritana de Boston do
século XVII, a jovem Hester Prynne tem uma relação adúltera
que termina com o nascimento de uma criança ilegítima.
Desonrada e renegada publicamente, ela é obrigada a levar
sempre a letra ‘A’ de adúltera bordada em seu peito. Hester usa
sua força interior e sua convicção de espírito para criar a filha sozinha, para lidar com a volta do
marido e para proteger o segredo acerca da identidade de seu amante.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A Ascensão do Romance
Jose Lira
Editora: Jose Lira
Ano: 2009
Sinopse: mais conhecida pela ironia e morbidez de seus versos
curtos e enigmáticos, a poesia de Emily Dickinson volta-se com
frequência para o amor, visto em sua obra como um sentimento
que transcende qualquer conceituação. Esse folheto reúne as
traduções de vinte poemas românticos, além de uma ‘canção
desesperada’, na qual a autora mostra o melhor de seu talento
criativo.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Ulysses
James Joyce
Organizador: Caetano Waldrigues Galindo
Editora: Penguin Companhia
Ano: 2012
Sinopse: um homem sai de casa pela manhã, cumpre com as
tarefas do dia e, pela noite, retorna ao lar. Foi em torno desse
esqueleto que James Joyce elaborou o enredo desta obra.
‘Ulysses’ é ambientado em Dublin e narra as aventuras de
Leopold Bloom e seu amigo Stephen Dedalus ao longo do
dia 16 de junho de 1904. Bloom precisa superar numerosos
obstáculos e tentações até retornar ao apartamento na rua
Eccles, onde sua mulher, Molly, o espera.
Absalão, Absalão!
William Faulkner
Tradutor: Julia Romeu e Celso Mauro Paciornik
Editora: Cosac Naify
Ano: 2015
Sinopse: ‘Absalão, absalão’, publicado originalmente em
1936, é um romance Ambientado no sul dos Estados
Unidos durante e após a Guerra Civil Americana, e narra
a ascensão e queda de Thomas Sutpen, fundador de
uma dinastia que acaba sendo destruída por sua própria
descendência.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Contos, V.1
Ernest Hemingway
Tradutor: Jose J. Veiga
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2015
Sinopse: neste primeiro tomo, o autor empresta sua
vida ao personagem Nick Adams. É por meio desse
protagonista que o leitor mergulha, página a página,
cada vez mais profundamente nas histórias pessoais
desse escritor. Composto por 28 contos, a obra reúne
fortes e densas narrativas, cheias de aventura, violência,
brutalidade, realismo e nostalgia, com trechos emocionantes,
nascidos da imaginação e da experiência de um homem que viveu intensamente o seu tempo,
e que, por temperamento, sempre abominou o ódio e as falsidades de um mundo injusto e
desassossegado. Hemingway, um dos escritores mais importantes do último século, narra algumas
de suas histórias íntimas, como as de Nick Adams, nos Estados Unidos, na Europa e no Oriente
Médio, e também as suas recordações dos anos de exílio. Além do valor literário, esse livro tem o
sabor de um documento sobre uma vida e uma época que se confundem em aventuras, dúvidas
e esperanças.
MATERIAL COMPLEMENTAR
A Literatura Americana
Daniel Royot
Editora: Atica Editora
Ano: 2009
Sinopse: ao abordar os principais movimentos, escritores
e obras da literatura americana, o autor pretende atrair o
interesse do leitor para que, posteriormente, leia as obras
citadas e se aprofunde no assunto. As primeiras narrativas
mencionadas datam do período colonial nos Estados
Unidos, momento em que a literatura do país ainda
amadurecia. Em seguida, no século XIX, chamada de ‘época
do florescimento’, ele aborda autores relevantes como: Washington Irving, James Fenimore Cooper,
Henry David Thoreau, Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne, Herman Melville e Walt Whitman. Na
segunda metade do século XIX, destacam-se a literatura cômica de Mark Twain, a poesia de Emily
Dickinson e as importantes obras de Henry James, Edith Wharton e Jack London. Já, no século
XX, no período entre guerras, bem como após a Segunda Guerra Mundial, despontam escritores
como: Ernest Hemingway, John dos Passos, Francis Scott Fitzgerald, T. S. Eliot e Eugene O’Neill,
além de John Steinbeck, com seu romance social, e de William Faulkner, com sua literatura realista.
O movimento beatnik, representado por Jack Kerouac e William Burroughs, também tem espaço
nesse panorama, bem como a voz contestadora de J. D. Salinger, o teatro de Tennessee Williams e
Arthur Miller e as premiadas obras de Saul Bellow e John Updike. Também têm presença a literatura
negra americana (com Langston Hughes, Toni Morrison e Alice Walker) e os autores descendentes
das minorias indígenas, asiáticas e hispânicas (como James Welch, Amy Tan e Rudolfo Anaya,
respectivamente), além de escritores contemporâneos, Cormac McCarthy, Paul Auster, Philip Roth,
entre outros.
Material Complementar
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
IV
CARIBE, ÍNDIA E OCEANIA:
UNIDADE
AS LITERATURAS EM LÍNGUA
INGLESA DA DIÁSPORA
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o pós-colonialismo e sua relação com a literatura em
língua inglesa.
■ Conhecer grandes nomes da literatura em língua inglesa do Caribe e
Guiana.
■ Conhecer grandes nomes da literatura em língua inglesa da Índia.
■ Conhecer grandes nomes da literatura em língua inglesa da Oceania.
■ Relacionar obras e autores às temáticas congruentes ao pós-
colonialismo, como gênero, etnia-raça, identidade, classe, língua etc.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A Literatura em Língua Inglesa é Diaspórica?
■ A Literatura Caribenha
■ A Literatura em Língua Inglesa da Índia
■ A Literatura em Língua Inglesa da Oceania
135
INTRODUÇÃO
Introdução
136 UNIDADE IV
Sim.
O colonialismo marcou mais de três quartos da população mundial do planeta,
e, se levarmos em conta formas indiretas, esse dado tende a subir. Colonialismo
é o nome que damos para toda política de exercer o controle ou a autoridade,
por meio militar ou político, sobre um território ocupado e administrado por
um grupo de indivíduos. Paradiso (2014, p. 48) complementa o conceito:
Tal política, quase sempre, é contra a vontade dos habitantes da terra
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
colonizada que, muitas vezes, são desapossados de parte dos seus bens
(como terra arável ou de pastagem) e de eventuais direitos políticos que
detinham. Essa ideologia constitui-se da extensão do território exce-
dente da soberania de uma nação, além de suas fronteiras pelo estabe-
lecimento das colônias do povoamento ou das dependências adminis-
trativas em que as populações nativas diretamente são governadas ou
deslocadas. Colonizadores geralmente dominam os recursos, o traba-
lho e os mercados do território colonial, e podem também impor estru-
turas socioculturais, religiosas e linguísticas na população conquistada.
Embora o colonialismo seja usado frequentemente e permutavelmente
com imperialismo, esse último é usado amplamente quando o controle
é exercitado a partir da revolução industrial, através da influência po-
lítica e econômica das nações ricas sobre os países subdesenvolvidos.
O colonialismo baseia-se na ideia em que os valores dos colonizadores
são superiores aos do colonizado.
São textos diaspóricos, pois a língua em que são escritos, no nosso caso a
inglesa, cruzou os mares em diáspora, ou seja, dispersão.
Esse tipo de texto pode se manifestar de três formas distintas:
1. textos literários escritos por representantes do poder colonial. E aqui
devemos pensar em nomes como Shakespeare e Defoe, trabalhados em
Literaturas em Língua Inglesa I;
2. textos literários escritos por nativos que receberam educação desses
representantes nas cidades da Europa e escritas em línguas europeias,
principalmente a língua inglesa, espanhola, portuguesa e francesa (em
pequena escala). Nesse patamar, temos como maior exemplo o anglo-in-
diano, Rudyard Kipling.
3. textos literários com forte apelo crítico e subversivo, visando uma rup-
tura com a literatura da metrópole, escritos por nativos, cujo objetivo
principal é a formação de uma contraliteratura, como é a literatura cari-
benha e africana.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
coloniais foram diferentes,
ainda que todas as colô-
nias tenham passado por
um processo traumático.
As colônias podem ser
divididas em três grupos
(BONNICI, 2005): colônias
de povoamento, colônia inva-
dida e colônias duplamente invadidas.
Nas colônias de povoamento, as línguas nativas foram praticamente ignora-
das e a língua do colonizador imposta. Brasil, América do Sul, Austrália e Nova
Zelândia são exemplos disso. As colônias invadidas são aquelas com uma cultura
centenária (às vezes, milenar), como a Índia e a África. Nelas, as línguas nativas
continuaram sendo usadas pelos nativos, como sânscrito, yorùbá, banto, além
da língua inglesa, uma língua ‘oficial’ (turística e administrativa).
Nas colônias duplamente invadidas, o processo foi mais doloroso, pois a cul-
tura original fora totalmente destruída e os nativos exterminados, como no caso
do Caribe. Após esse processo, outro aconteceu, de forma alheia, o povoamento
por meio da imigração de europeus, de africanos escravizados e de indentured
laborers (sudoeste asiático e da Índia). No Caribe, as línguas nativas ameríndias
desapareceram, permanecendo apenas a língua europeia.
Dessa forma, a literatura pós-colonial tem autoridade para revelar, por meio
de narrativas, a forma brutal como muitos povos foram subjugados ao regime de
outros, recuperando resquícios que a história apagou, com o dever de estabelecer
uma literatura crítica e reflexiva acerca dos erros de muitos homens e mulhe-
res (leia-se impérios, religiões, ideologias...) que causaram o sofrimento e a dor
de tantos outros ao longo do processo imperialista de dominação nos séculos
XIX e XX.
A LITERATURA CARIBENHA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Caribe é a região do continente americano formada pelo mar do Caribe, por suas
ilhas e por estados insulares. Também é chamado de Antilhas ou Índias Ocidentais.
A literatura caribenha em língua inglesa é praticamente excluída dos cursos de
Letras. Talvez, pela falta de conhecimento, vontade ou até mesmo por um olhar
etnocêntrico, que não observa tais literaturas como inglesas. Realmente não são,
mas, assim como as literaturas africanas, são literaturas “em” língua inglesa, fruto
da colonização britânica pelo mundo. Nesta primeira parte da unidade, irei, de
forma sucinta, apresentar a você um pouco da literatura caribenha em inglês,
ou seja, aquela cuja produção é de autores de países como Antígua e Barbuda,
Bahamas, Barbados, Jamaica, Santa Lúcia, São Cristovão e Neves, São Vicente e
Granadinas, Trinidad e Tobago, Ilhas Virgens e a Guiana Inglesa. Além de terri-
tórios ultramarinos, como Anguilla, Ilhas Cayman e Bermuda (ainda colônias,
britânicas). A poesia “Jamaica”, de 1889, de Tom Redcam, foi pioneira na poé-
tica caribenha (BONNICI, 2004, p. 140).
A poesia caribenha teve um “upgrade” entre as décadas de 30 e 40, quando
se iniciaram agitações políticas e trabalhistas na região, além de novas oportu-
nidades de emprego derivadas do turismo. Assim, novos temas foram surgindo
como o “anticolonialismo”, protesto contra a desigualdade social e o racismo,
além de temas que abordavam a beleza e a estética afroamericana. Décadas mais
tarde, E. K. Brathwhite, M. Carter e Derek Walcott ganharam destaque na poética
caribenha, na década de 50, abordando suas experiências coloniais, problema-
tizando, assim, a história e a identidade cultural do Caribe. (BONNICI, 2004,
p. 140). No final da década de 60, todos os escritores caribenhos já escrevem
A Literatura Caribenha
140 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(Jamaica), Orlando Patterson (Jamaica), Andrew Salkey (Panamá/Jamaica),
Edward Kamau Brathwaite (Barbados), Linton Kwesi Johnson (Jamaica), Michelle
Cliff (Jamaica), Caryl Phillips (S. Cristovão e Neves), Colin Channer (Jamaica)
Marlon James (Jamaica), Marie-Elena John (Antigua), Lasana M. Sekou (St.
Martin), entre outros.
Tais autores têm, em seus textos, muita afinidade conosco: “The colonial
history of the archipela-
gos (including Guyana)
has a great deal of affi-
nities with Brazilian
history, the slave trade,
hybridism and African
pride 1” (BONNICI,
2004, p. 141).
Essa relação com a
África se dá pelo fato
de que, com a coloniza-
ção Inglesa e espanhola
nas ilhas, muitos nati-
vos foram escravizados,
levando muitas etnias à
1 A história colonial do arquipélago (incluindo a Guiana) tem uma grande afinidade com a história do Brasil, como o
trafégo negreiro, o hibridismo e o orgulho africano. (Tradução do autor).
No seu poema The Castaway (1964-5), em The Castaway and Other Poems, perce-
be-se a fragmentação do sujeito pós-colonial, na imagem da história de Robinson
Crusoé. No poema, apresenta-se o “náufrago”, uma metáfora para o sujeito colo-
nial que, vivendo à margem (colonizado caribenho), deseja alcançar o centro
(colonizador inglês). Walcott harmonicamente apresenta em sua obra a estética
e a métrica inglesa e o ritmo crioulo, próprio do Caribe.
O dilema de pertencer a dois mundos é marcado pelas constantes dicotomias
como: étnica e emocional (a paisagem e o tema caribenho cultural). Durante
todo o poema, o autor, por meio dos biografemas e narrativa em primeira pes-
soa, se apresenta como o próprio título supõe: The Castaway, ou seja, o náufrago.
Ora como o náufrago Crusoé (branco, cristão, violento e intelectual), buscando
a pátria inglesa, ora como o náufrago Walcott (negro, pagão e pacífico), acei-
tando sua condição de “nativo” (PARADISO, 2007).
Vejamos um trecho do poema (WALCOTT, 2011, online):
A Literatura Caribenha
142 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Blowing sand, thin as smoke,
Bored, shifts its dunes.
The surf tires of its castles like a child.
A Literatura Caribenha
144 UNIDADE IV
Note que, nos últimos versos, “Between this Africa and the English tongue I
love?”, o eu-lírico questiona a questão da língua. O que falar da poesia caribe-
nha? Inglês ou Creole?
A questão da língua
A língua inglesa da poesia do caribe não é a mesma língua inglesa de Shakespeare,
afinal, ali há um reflexo direto da miscigenação e do multiculturalismo que as
Antilhas viveu. Desde o século XVI, o inglês “pidgin” (o inglês misturado, prin-
cipalmente com o yorùbá) foi o idioma local, até o desenvolvimento do creole
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(mistura das línguas africanas com espanhol, francês e inglês). No período colo-
nial, apesar dos esforços dos colonizadores em impor a língua inglesa oficial
(Standard), o creole tornou-se forte, ainda mais pela presença da oralidade. Hoje,
o creole e o pidgin não são mais vistos como “inglês ruim” (BONNICI, 2004, p.
142), mas como uma variação que até tem poemas, peças e romances próprios.
É justamente esse jogo sonoro de língua, dialetos e creolização que faz as
literaturas do Caribe serem tão ricas.
O poeta Kamau Brathwaite (1930), de Barbados, nos dá um exemplo disso
no poema From Wings of a Dove (1973), vejamos alguns trechos (BONNICI,
2004, p. 144):
And I
Rastafar-I
[...] hear my people
cry, my people
shout:
Down down
white
man, con
man, brown
man, down
down full
man, frown-
ing fat
man, that
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white black
man that
lives in
the town.
Rise rise
locks-
man, Solo-
man wise
man, rise
rise rise
leh we
laugh
dem, mock
dem, stop
dem, kill
dem an go
back back
to the black
man lan
back back
to Af-
rica.
A Literatura Caribenha
146 UNIDADE IV
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(them), an (and) e lan (land).
O mesmo acontece na poesia Kinky Hair Blues, de Una Marson (1905 -1965),
a qual, de apresentar uma crítica ao padrão de beleza branco e a demonização
da estética afroamericana, faz um apelo ao creole, com os termos como dose
(those), gals (girls), jes (just), gwine (going to), oder (other), me by (by me) reve-
lam o apelo ao creole.
Vejamos um trecho (MARSON, online):
Essa mudança da língua tem uma função especial, marcar o locus enunciativo,
ou seja, o local do discurso do eu-lírico: sou caribenho! Isso é muito importante
para se entender, por exemplo, o poema A modern Slave Song (1992), do ‘jamai-
cano’ Benjamin Zephaniah. Nascido Benjamin Obadiah Iqbal Zephaniah, em
Birmingham, em abril de 1958, Zephaniah se considera jamaicano ou anglo-ja-
maicano escritor rastafári e poeta dub.
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DUB POETRY
Dub poesia é uma forma de poesia de origem caribenha, especialmente, da
Jamaica. É um gênero poético derivado do dub music, que, por sua vez, é
um subgênero do reggae. A marca do gênero musical consiste no “falar” ou
cantar um poema anteriormente preparado, sob o ritmo do reggae.
Nascido na década de 1970, a dub music e a dub poetry possuem um dis-
curso cantado com acentuação rítmica acentuada e dramática estilizada nos
gestos do seu cantor/poeta. Seus temas são quase sempre de cunho políti-
co e social.
Um dos maiores nomes da poesia dub é Benjamin Zephaniah, que continua
a publicar no Reino Unido. Outros nomes desse gênero constumam publi-
car suas letras ou em forma de poesia ou de música.
Fonte: Morris (1998, s.p).
A Literatura Caribenha
148 UNIDADE IV
Remember I exist,
When yu lying on me beach
Remember I exist,
When yu trying to sell me beans to me
Remember I exist.
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Remember I exist,
When yu sell dat cotton shirt
Remember I exist,
When yu interviewing me
Remember I exist.
da juventude ali.
Seu romance mais famoso é The Ventriloquist’s
Tale (1997), que aborda o encontro cultural entre
europeus e uapixanas. Sobre ele, Fonseca e Paradiso
(2015, s./p.) sintetizam:
Em The Ventriloquist’s Tale, Melville
demonstra com maestria as marcas
do encontro entre o colonizador eu-
ropeu e o sujeito nativo ameríndio
mediante um amor incestuoso entre
irmão e irmã da família McKinnon.
Na obra, há a representação da cultu-
ra hegemônica europeia por meio do
aventureiro, do religioso e do intelec-
tual, que por sua vez, está interligada
ao grupo familiar de ameríndios da
savana guianesa, envolto em seus cos-
tumes, folclores e mitos (BARZOT-
TO, 2006). A narrativa propriamente
dita é contada de forma não crono-
lógica, ou seja, narrada em flashbacks O encontro de Ameríndios e Europeus na
Guiana Inglesa é o tema do romance de
durante a época da colonização. Melville.
A Literatura Caribenha
150 UNIDADE IV
Um fato curioso sobre The Ventriloquist’s Tale (1997) é que o narrador é um per-
sonagem bem conhecido da literatura brasileira: Macunaíma.
Além do romance, a autora guianense publicou o livro Eating Air (2009)
e dois livros de contos, Shape-shifter (1990) e The Migration of Ghosts (1998),
com seus doze contos abordando o realismo mágico latino-americano. O pri-
meiro livro de contos lhe rendeu os prêmios Commonwealth Writers, Guardian
Fiction e o Macmillan Silver Pen Award, ao retratar a vida pós-colonial no Caribe
(BARZOTTO, 2011).
A prosa de V. S. Naipul (1932 -) tem mais prêmios que livros. Sir Vidiadhar
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Surajprasad Naipaul é um escritor nascido em Trinidad e Tobago, educado em
Londres. De família indiana, assina seus livros como V. S. Naipaul, devido à
dificuldade de pronúncia do nome. Ganhador do Booker Prize, em 1971, e do
Nobel de Literatura, em 2001, por Half a Life (2001), que narra a estória de um
imigrante indiano na Inglaterra.
Romances como A House for Mr. Biswas (1961), A Bend in the River (1979) e
A Way in the World (1994) também são conhecidos, e todos possuem sua marca
registrada: o pessimismo, a ironia e o tom cínico na escrita. Dos romances, des-
taco The Mystic Masseur (1957), um texto mais cômico, que narra a estória de
um escritor de ascendência indiana, que resolve ser político e que, para che-
gar aos rumos de sua ambição, utiliza-se de um excêntrico talento: o de ser um
místico massagista. No conto, temos a coletânea Miguel
Street (1959), cujos contos remetem às experiências de
Naipul, na capital Port of Spain, em Trinidade e Tobago,
entre a comunidade hindu.
V. S. Naipul também escreve não ficções, como An
Area of Darkness (1965), India: A Wounded Civilization
(1977) e Among the Believers: An Islamic Journey (1981).
No Brasil, grande parte de sua obra literária já possui
tradução e publicação.
Por fim, quero apresentar-lhe um escritor muito
utilizado nos estudos pós-coloniais, o são cristovense
Caryl Phillips (1958).
V.S. Naipul
Fonte: Chotiner (2012).
zações geográficas, que têm em comum os laços com a África. Nash, Marta e
Travis apresentam seus conflitos sobre a dificuldade do indivíduo diaspórico
viver ao tentar “cruzar o rio”. Em A Distant Shore (2003), Phillips propõe uma
narrativa divida em duas: a de Dorothy, uma inglesa, e de Solomon, seu vizi-
nho africano. Os protagonistas irão perceber, ao longo do enredo, que a única
coisa que os une é tão somente a língua. Já Dancing in the Dark (2005) conta a
estória real de Bert Williams (1874-1922), o primeiro showman estadunidense
negro. Contudo, a estória de sucesso e fortuna de Williams é construída sobre
o racismo americano, quando ele tem que se caracterizar como um blackface.
Leiamos um importante trecho do romance:
Tudo o que se esperava de um artista negro era que ele cantasse, dan-
çasse, e contasse um pouco de história. [os artistas brancos] costuma-
vam se mostrar tão ridículos quanto podiam quando representavam
um “negrinho”. Sua “maquiagem” sempre incluía lábios vermelhos
enormes e seu vestuário era assustadoramente exagerado. O efeito fatal
que isso teve sobre os artistas de cor foi que eles imitavam os artistas
brancos em sua maquiagem de “negrinhos”. Nada parecia mais absurdo
que ver um homem negro ridicularizando a si mesmo a fim de repre-
sentar a si mesmo (PHILLIPS, 2007, p. 140).
O trecho acima era o desabafo do amigo de Bert Williams, George Walker, sobre
a transformação de William, em um sujeito imponente, em um “negrinho”, desa-
jeitado e trapalhão.
A escrita de Caryl Phillips fez que seu nome constasse nas listas do Sunday Times
de melhores escritores jovens de 1992 e de melhor escritor da Young British Writers.
Seus três maiores sucessos são vencedores de dezenas de premiações literárias.
A Literatura Caribenha
152 UNIDADE IV
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A LITERATURA EM LÍNGUA INGLESA DA ÍNDIA
Rudyard Kipling
Nascido em Bombaim, na Índia, em 30 de dezembro de 1865, Joseph Rudyard
Kipling foi um autor e poeta do império britânico, bem como um de seus solda-
dos, retratando o período colonial inglês na Índia em vários contos, alguns deles
reunidos no volume Plain tales from the hills, de 1888. Lançou The Jungle Book
(O livro da selva), em 1894, que se tornou um clássico para crianças de todo o
mundo, também conhecido pelo seu personagem principal: o pequeno Mogli.
Seguiu publicando The Second Jungle Book (1895), Just So Stories (1902), Puck
of Pook’s Hill (1906) e Kim (1901), um romance de espionagem que aborda a
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vida de Kim, um órfão indiano que vive sob a presença do Império britânico,
tendo como pano de fundo o conflito político entre a Rússia e a Grã-Bretanha
na Ásia Central, no final do século XIX.
Kipling, em 1907, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, mesmo com mui-
tos críticos o considerando o principal representante da literatura imperialista,
o que é bem visível em muitos de seus textos.
Kipling se preocupava com o futuro do império britânico, que, mesmo
sabendo da certeza de seu declínio, sustentava a ética como base para qual-
quer ato inglês. O poeta anglo-indiano faleceu em Londres, em 18 de janeiro de
1936, deixando um legado literário e muitas vezes polêmico, como sua campa-
nha antimiscigenação. Paradiso (2013) revela que esse Kipling é observado no
conto Beyond the pale, escrito em 1888, considerado por Kingsley Amis como
a mais terrível estória na língua inglesa.
No conto, narra-se a história de uma jovem indiana de quinze anos, Bisesa,
que se tornara viúva muito cedo e acaba se apaixonando novamente, por um sol-
dado inglês, Trejago. O soldado conhece-a quando a vê dentro de um cômodo
com janela barrada. Ambos começam uma relação secreta, separada por grades de
ferro e preconceitos raciais. No entanto a origem étnica de ambos culmina numa
tragédia: tanto Bisesa quanto Trejago perdem-se mutuamente, pagando pesada-
mente por terem pisado além dos limites de seus próprios (PARADISO, 2013,
p. 226). O início do conto já antecipa seu fim: “A man should, whatever happens,
keep to his own caste, race and breed” (KIPLING apud BONNICI, 2002, p. 315).
Alice Perin
Já Alice Perrin (1867-1934), também nascida
na Índia, em julho de 1867, permaneceu lá
até o início da década de 1930. Era filha do
general da cavalaria de Bengala John Innes
Robinson. Bengala, terra natal de seu pai, é
uma região repleta de religiosidade hindu, cuja
imagem sempre é retomada em seus textos.
Perrin casou-se em 1886 com o engenheiro e
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também oficial médico do serviço civil indiano
Charles Perrin, em tempos em que a Índia
ainda era controlada pela coroa britânica.
Escreveu diversos romances e coleções base-
O faquir é um asceta hindu. Personagem do
ados em suas experiências lá vividas durante conto de Perrin.
o fim do século XIX e início do século XX.
Conhecida como uma best selling “anglo-indiana”, Perrin conseguia magis-
tralmente expor as relações entre a Índia e a Inglaterra utilizando a ironia e o
bom humor, como no conto The Fakir’s Island (1901), uma história de amor que
tem como pano de fundo a intolerância à cultura alheia.
O conto tem seu espaço e tempo no reinado da rainha Elisabeth, quan-
do uma jovem inglesa (Mona Selwyn) chega à Índia (colônia britâni-
ca) em visita ao seu tio (comandante do forte de Akbar) e dois meses
depois começa um relacionamento amoroso com o soldado George
Robertson.
Ela fica surpresa com a cultura hindu, principalmente pelo ritual hindu
Khoom Mela (ou Kumbha Mela). Em meio a cuspidores de fogo, camas
de pregos, encantadores de serpentes e praticantes do autoflagelação,
Mona e seu amigo inglês vêem um grupo de mendigos hindus e um
velho faquir. O velho faquir e seu grupo, tomados de toda a sorte de
doenças - como varíola e lepra - imploram por esmolas. Mona não en-
tende a razão do pedido e o ataca verbalmente, e seu amigo Kerr gol-
peia o pote de mendicância do velho faquir. Então, o faquir amaldiçoa
a jovem inglesa, desejando que ela se torne tão desfigurada quanto seus
seguidores [os faquires] que ali estavam. George Robertson sai por dois
meses da Índia e quando retorna tem ciência do estado de Mona, defor-
mada pela varíola, a esperar pelo seu amor (PARADISO, 2007, p. 109).
Arundhati Roy
Já Suzanna Arundhati Roy nasceu na Índia em 24 de novembro de 1961. Filha
de mãe indiana cristã, Mary Roy, uma ativista dos direitos da mulher, e de pai
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niais são críticas que surgiram no século XX em decorrência dos Estudos
Culturais. Tais movimentos procuram analogamente desconstruir a ideo-
logia imperialista e patriarcal no cânone literário hegemônico para então
entendê-lo e modificar suas estruturas. Um exemplo é a imagem da mulher
indiana na cultura colonial, que muitas vezes tem sua representação sob a
ótica da opressão, do silêncio e até mesmo da subversão – estratégias para
denúncia e contra-ataque literário.
Assim, em meu artigo “A imagem da mulher indiana nas Literaturas Pós-Co-
loniais. Uma análise em Mia Couto, Arundhati Roy e Rudyard Kipling”, eu
analiso as representações da mulher indiana na literatura pós-colonial, em
especial, com as personagens Dia Kumari, de “O outro pé da sereia” (2006),
de Mia Couto; Bisesa, do conto Beyond the pale (1888), de Rudyard Kipling;
Ammu, de The god of small things (1997), de Arundhati Roy. As duas últimas
foram abordadas aqui nesta unidade.
Leia o artigo completo disponível em: <http://revistas2.uepg.br/ojs_new/
index.php/uniletras/article/view/6014>. Acesso em: 15 de jul. de 2015.
Fonte: Paradiso (2004, online).
Na metade do século XVIII, o inglês James Cook realizou três viagens por ilhas
do Pacífico chegando à Nova Zelândia, transformando a Austrália em uma colô-
nia penal. Os franceses exploraram as ilhas simultaneamente com os ingleses,
determinando a divisão da Oceania entre as potências colonizadoras: Reino
Unido, França e Estados Unidos.
Por fim, gostaria de apresentar-lhe dois autores da Oceania que gosto muito:
o australiano David Malouf e a neozelandesa Katherine Mansfield.
Nascido em Brisbane, na Austrália, em 1934, David George Joseph Malouf
é um dos autores australianos mais premiados, escrevendo romances, contos,
poesia, teatro e até ópera. Seus prêmios incluem o Neustadt International Prize
for Literature, o International IMPAC Dublin Literary Award e o Austrália-Ásia
Literary Award, além da indicação ao Booker Prize. Seu pai era um cristão libanês,
e a mãe, uma inglesa de ascendência judaica. Malouf é gay, mas não escreve sobre
a perspectiva queer, e sim pós-colonial e multicultural, sempre pelo viés da busca
de uma identidade. Alguns exemplos são seus maiores sucessos Remembering
Babylon (Lembrando a Babilônia [1993]) e o romance Ransom (Resgate [2009]).
No primeiro, Malouf aborda as relações interpessoais e as comunidades
que vivem à margem, como os aborígenes australianos. O narrador é um garoto
inglês chamado Gemmy Fairley, abandonado em uma terra estrangeira e criado
por um grupo de aborígenes, nativos. Porém, quando os colonos brancos che-
gam ao local, Gemmy tenta retornar ao seu mundo europeu, mas percebe que
já se encontra lutando contra sua própria identidade.
Em Ransom (Resgate), Malouf reinventa os livros 22, 23 e 24 de Ilíada, nar-
rando a história de dois: Aquiles, temível e respeitado guerreiro e chefe dos
gregos, e Príamo, rei dos troianos, cujo filho Heitor foi morto por Aquiles em
um ato de vingança.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seu primeiro volume de contos. Em meio a uma con-
turbada vida afetiva, sexual e social, vê seu irmão
morrer, em 1915, durante a guerra. Anos depois, sur-
gem os primeiros acessos de tuberculose. Em 1918,
publica seu segundo volume de contos: Prelude, e,
em 1921, Bliss and Other Stories. Dos 88 contos
de Mansfield, eu indicaria a você os cinco a seguir:
Capa de Remembering Babylon (1993)
■ The Woman at the Store (1912). Fonte: Wikimedia Commons (online).
“O prazer de ler é dobrado quando se vive com alguém com quem se com-
partilha os mesmos livros”.
Fonte: Katherine Mansfield
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, nesta unidade, que, para entender as literaturas em língua inglesa da diás-
pora, temos que entender o contexto de escrita dessas literaturas, e, no caso, o
contexto foi o da colonização.
As literaturas em língua inglesa estão também presentes nas ex-colônias
britânicas, que, nesta penúltima parte do material, focou-se no Caribe, Índia e
Oceania (Austrália e Nova Zelândia).
Compreendemos que a diáspora é um movimento de dispersão forçado,
causado por vários motivos, no qual, dentre eles, a escravidão se destacou.
Entendemos que a escravidão negra, de alguma forma, modelou a literatura cari-
benha, estudada na primeira parte desta unidade.
Considerações Finais
160 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e o poeta dub Benjamin Zephaniah. Além disso, vimos que a poética Jamaica,
em especial, assimila elementos da música reggae, dando origem à dub poetry.
Por fim, estudamos a prosa do Caribe com Caryl Phillipis, que tematiza a diás-
pora e o racismo, e V. S. Naipul, sempre tematizando sua ascendência indiana.
Por falar em índia, na segunda parte da unidade, estudamos um pouco sobre
a literatura inglesa da Índia, conhecendo a vida e a obra de autores anglo-india-
nos como Alice Perrin, Rudyard Kipling e Arundhati Roy.
Por fim, conhecemos a contista neozelandesa Katherine Mansfield, que apre-
senta a mulher como protagonista de seus contos, e o australiano David Malouf,
expoente da literatura inglesa da Oceania.
Apocalypto
Ano: 2006
Sinopse: ‘Apocalypto’ é um épico histórico que nos transporta
para uma civilização antiga da América Central. No crepúsculo
da misteriosa civilização maia, o jovem Jaguar Paw é capturado
e levado para uma grande cidade maia, onde enfrentará um fim
trágico. Movido pela força de seu amor por sua esposa e filho, ele
foge em uma desesperada e emocionante corrida para resgatá-
los e salvar seu próprio modo de vida.
Omeros
Derek Walcott
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011
Sinopse: poeta mulato das Antilhas, ganhador do prêmio
Nobel de literatura de 1992, Derek Walcott escreveu um
poema destinado a permanecer entre os mais belos e
instigantes desse século.
Em Omeros, se o mar e os negros pescadores de Santa
Lucia fornecem a matéria-prima, um vasto arsenal de
imagens, ritmos e texturas tropicais, são os arquétipos da
Ilíada e da Odisseia, as personagens míticas de Aquiles, Helena, Heitor e Filoctete (além do próprio
Homero, encarnado em um pescador cego, de nome Sete Mares), que definem as linhas mestras
do poema.
Misto de poesia, mito, romance e roteiro de cinema, Omeros é também uma meditação sobre
questões cruciais do mundo contemporâneo, como a destruição da natureza, a identidade das
minorias e o desenraizamento individual e coletivo.
Das raízes mediterrâneas aos grandes autores da língua inglesa, passando pelo patois crioulo
das Antilhas e os sons africanos que pulsam até hoje nas margens do Caribe, esse é um canto
universal, que funde de modo magnífico o encontro de raças, línguas e culturas que se deu nas
praias americanas.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Dançando no Escuro
Caryl Phillips
Tradutor: Francesca Angiolillo
Editora: Record
Ano: 2007
Sinopse: Caryl Phillips recria a fascinante trajetória de Bert
Williams, grande artista negro da Broadway no início do
século XX. Williams tomou a decisão de pintar no rosto
uma máscara negra e fazia comédia com o preconceito,
que sempre teve raízes fortemente fincadas em solo norte-
americano. No entanto as barreiras que ele derrubou para se firmar sob os holofotes pesaram sobre
sua vida pessoal, e as contradições entre homem sob a maquiagem e o personagem interpretado
tornaram-se cada vez mais irreconciliáveis para o artista.
A História do Ventriloquo
Pauline Melville
Tradutor: Beth Vieira
Editora: Companhia das Letras
Ano: 1999
Sinopse: o primeiro livro de Pauline Melville, uma inglesa que
morou na Guiana, foi um conjunto de histórias sobre os laços
culturais entre Londres e sua ex-colônia na América do Sul.
Estreando agora como romancista, ela volta a contemplar
a Guiana sem receio de tomar partido - sob ‘A História do
Ventríloquo’ está o massacre cultural dos povos indígenas assentados naquele espaço que veio a se
tornar a Guiana Inglesa. Esse livro renova a percepção de como o colonizar transformou costumes
indígenas em superstições.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
LITERATURA AFRICANA EM
V
UNIDADE
LÍNGUA INGLESA
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o conceito de Literatura Africana em Língua Inglesa.
■ Relacionar os estudos de literatura africana em língua inglesa com
os estudos pós-coloniais, compreendendo essa literatura como uma
literatura além de estética, também de engajamento político.
■ Estudar os principais autores do mundo literário africano em língua
inglesa, na Nigéria, África do Sul e Quênia.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Literatura africana em língua inglesa
■ A literatura da Nigéria
■ A literatura da África do Sul
■ A literatura do Quênia
171
INTRODUÇÃO
Introdução
172 UNIDADE V
Podemos dizer que o marco da literatura africana em língua inglesa foi na década
de 50, do século XX. Em 1952, Amós Tutuola escreveu The Palm-Wine Drinkard,
considerado o primeiro romance africano pós-colonial em língua inglesa. Tutuola
apresenta a rica tradição yorùbá [iorubá], usando uma prosa em língua inglesa
fora do padrão. O autor em questão rompe os padrões estético e linguístico euro-
peu e critica o consumismo ocidental, bem como os males da inserção cultural
hegemônica (branca-europeia-cristã) nas sociedades tradicionais da África, fato
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
esse presente na temática de vários autores, como o nigeriano Chinua Achebe,
que, anos depois, seguiria o caminho de Amós Tutuola, escrevendo seu best-
-seller Things Fall Apart.
A colonização inglesa na África foi diferente do processo português. Contudo,
a temática é quase a mesma: processo colonial e suas consequências. Uma dife-
rença, porém, é que a África inglesa experimentou um regime de apartheid
institucionalizado (mesmo que essa segregação acontecesse em todo país afri-
cano colonizado), presente como tema em todos autores da África do Sul, por
exemplo, local em que a segregação racial se instalou oficialmente e legalmente.
Outra diferença é que as literaturas africanas em língua inglesa têm um apelo
muito maior na reescrita histórica, já que a maior parte da historiografia afri-
cana foi feita pelo colonizador britânico.
Os contos, as peças teatrais, os romances e as poesias da África inglesa
trazem um novo olhar sobre os fatos históricos envolvendo o continente, des-
construindo o antigo problema da enunciação, do lócus enunciativo (Quem
fala? De onde fala?). A literatura da Nigéria, Quênia e África do Sul, por exem-
plo, problematizam a relação ente Literatura e História, um diálogo intertextual
e interdisciplinar. Sobre isso, Esteves (1998, p. 12) revela:
não se trata de substituir a história pela ficção, mas de possibilitar uma
aproximação poética em que todos os pontos de vista contraditórios,
mas convergentes, estejam presentes, formando uma representação to-
talizadora, uma forma privilegiada de se ler os signos da história.
A literatura inglesa na África não é somente a literatura dos países africanos colo-
nizados pelo Império Britânico, mas também as que têm a língua inglesa como
oficial ou como segunda língua. Apesar da lista desses países conter nomes como
Namíbia, Botswana, Zimbábue, Zâmbia, Tanzânia, Uganda, Sudão, Camarões,
Gana, Libéria, Serra Leoa e Ruanda, nosso foco será nos três maiores “produto-
res” literários em língua inglesa do continente: Nigéria, África do Sul e Quênia.
Entretanto, devo salientar a você que a literatura é anterior à chegada dos
colonizadores nesses países. Um grande exemplo que sempre utilizo são os poe-
mas sagrados orikis, manifestações líricas, com jogos de palavras, figuras de
linguagem, sonoridade, versificação, paralelismo etc., que são milenares.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Orikis
Se a literatura nos moldes de uma Europa letrada não era uma realidade do
povo yorùbá, na Nigéria, antes da chegada dos britânicos, no séc. XIX, não
significa a ausência de uma literatura própria. Antes da colonização, os yoru-
bás possuíam uma rica e estruturada expressão literária oral, poética e mile-
nar. Se, hoje, a poesia yorùbá, conhecida como Ewi, é conhecida por toda a
Nigéria contemporânea, já existia entre eles, há tempos, um corpus poético
extenso, musical, léxico e semanticamente rico, chamado oríkì [oriki].
Oríkì, no sentido lexicográfico, significa “saudação à cabeça”, vem do yorù-
bá Ori (cabeça) e ikí (saudação, invocação). São poemas sagrados cantados,
que, quando entoados, abordam homenagens aos deuses, aos ancestrais, a
personalidades e, até mesmo, a pessoas comuns. No campo literário, o orìkì
é apenas um dos gêneros literários yorùbá, que abrange também àdúrà
(oração), ofò (encantamentos), Iba (saudação), orin (cantiga), odus (poesia
sagrada de Ifá), itan (lendas), entre outras.
Os orikis são usados no Brasil como parte litúrgica de religiões de matriz-a-
fricana, como o candomblé, por exemplo, especialmente os orikis relaciona-
dos às divindades.
Fonte: Paradiso (2014b, p. 86-104).
recriar ou traduzir toda uma tradição oral para uma tradição escrita (LOTT,
2013, p. 35).
A África inglesa apresentou ao mundo o primeiro Nobel de Literatura africano
com o nigeriano Wole Soyinka, colocando no centro das discussões canônicas
e da crítica literária que o mundo inglês presente no continente negro possui
mais preciosidades que todos os diamantes das minas de Johanesburgo: suas
obras e seus autores.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A LITERATURA DA NIGÉRIA
A Literatura da Nigéria
176 UNIDADE V
Amós Tutuola
Amós Tutuola (1920-1997) foi um escritor nige-
riano famoso por seus livros baseados, em parte, no
folclore yorùbá. Nascido em Abeokuta, na Nigéria,
Tutuola teve pais cristãos, que fizeram que, aos sete
anos, fosse para o Exército da Salvação, em uma
escola primária. Aos 12 anos, frequentou a Escola
Central Anglicana, em Abeokuta, tendo sua edu-
cação limitada em seis anos. Após a morte do pai,
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foi padeiro, ferreiro e mensageiro. Contudo, se saiu
bem como escritor, completando, em 1946, o seu Amós Tutuola
romance O Drinkard Palm-Wine (O bebedor de Fonte: Amos... (online).
Vinho de Palmeira), publicado em 1952.
“O bebedor de Vinho de Palmeira” (1952) é a obra mais conhecida de Tutuola,
em que ilustra os mitos yorùbás, que concernem à morte, como a morada da
morte, a cidade dos mortos, ou a relação do homem com seus antepassados.
Mesmo não citando os nomes dos deuses, aponta as divindades como o próprio
protagonista, que, com seus amuletos (jujus), pode se transformar no que dese-
jar; além disso, há a presença de entidades/objetos, como o tambor, instrumento
musical importantíssimo para a cultura africana, que aparece personificado em
uma relação direta com os habitantes (vivos e mortos) daquela terra. A obra é
considerada a primeira publicação africana na língua do colonizador que conta
as desventuras de um homem que perdeu (para a morte) o seu preparador de
vinho de palmeira e que, para reencontrá-lo (visando trazê-lo de volta a sua casa),
viaja por 10 anos até a longínqua cidade dos mortos, passando por incríveis desa-
fios que misturam realidade e imaginação. Sobre o romance, o dramaturgo Wole
Soyinka (1963, p. 630) disse:
Of all his novels, The Palm-Wine Drinkard remains his best and the least
impeachable. This book, apart from the work of D. O. Fagunwa, who wri-
tes in Yoruba, is the earliest instance of the new Nigerian writer gathering
multifarious experience under, if you like, the two cultures, and exploiting
them in one extravagant, confident whole.
The Palm-Wine Drinkard foi seguido de My Life in the Bush of Ghosts (1954), seguido
por outros livros em que Tutuola continuou a explorar as tradições e o folclore yorùbá.
Tutuola tornou-se um dos fundadores da Mbari Clube, organização dos
Escritores e Editores. Na década de 80, foi pesquisador visitante tanto na
Universidade de Ife, Nigéria, quanto na Universidade de Iowa, nos Estados
Unidos. Faleceu aos 77 anos da hipertensão e diabetes.
Ben Okri
Outro nome da literatura nigeriana é o poeta e romancista Ben Okri, nascido
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A Literatura da Nigéria
178 UNIDADE V
OS ABIKUS E OGBANJES
Os abikus (àbíkus), para a cultura yorùbá, e os ogbanjes, para os ibos, são
seres de mesmo conceito. Os autores Achebe e Okri (ibo) e Soyinka (yorùbá),
mesmo de etnias diferentes, exploram esses elementos folclóricos em suas
obras.
Abiku é um termo da mitologia yoruba, que, segundo eles, é um espírito de
uma criança que teima em morrer, atingindo, assim, a família com azar. Sua
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tradução literal é “criança que vem e vai”. A criança natimorta ou que morre
prematura (até 5 anos de idade) é um abiku. O espírito abiku não quer encar-
nar, logo, tem uma condição de viver pouco tempo na terra, regressando ao
mundo espiritual e espera nascer novamente, começando um ciclo.
Os abikus, quando encarnados, são crianças que têm poderes, como por
exemplo, de ser ponte entre os dois mundos.
Fonte: Okonkwo (2008, s.p).
Tais vertentes estão presentes em sua trilogia, bem como em vários volumes de
histórias, ensaios e poesia, que discutem tudo isso de forma política, simbólica
e satírica. A prosa de Okri é altamente poética, e partes de sua poesia evocam
imagens de seus romances, como em Political Abiku, poema da coletênea An
African Elegy (1992 apud BEN, online):
Wole Soyinka
O dramaturgo nigeriano, Akinwande Oluwole “Wole”
Babatunde Soyinka, popularmente Wole Soyinka, não
só tem grande papel na literatura africana, mas também
na crítica literária africana. Wole Soyinka nasceu em 13
de julho de 1934, na cidade de Abeokuta, Nigéria. Da
etnia yorùbá, estudou na University College e na University
of Leeds, se formando em Literatura Inglesa. Trabalhou
durante seis anos na Inglaterra, no Teatro da corte real
(Royal Court Theater), e depois voltou à Nigéria para se
dedicar ao estudo da dramaturgia africana. Foi professor
de teatro em universidade nigeriana, fundando dois gru- O dramaturgo Wole Soyinka
Fonte: Godwin (2015, online).
pos teatrais: The 1960 Masks e Orisun Theatre Company.
Além da dramaturgia, Soyinka publica romances e poesia, com temas influen-
ciados pela tradição popular Africana. Nos textos, tem como base a mitologia
yorùbá, centralizada na divindade Ogun, o deus da Guerra e do ferro.
As primeiras peças foram escritas quando estava em Londres, destacan-
do-se The Lion and the Jewel (1963) e Death and the King’s Horseman (1975).
Considerada a maior e melhor peça teatral de Wole Soyinka, Death and the
King’s Horseman (A Morte e o Cavaleiro do Rei [1975]), é baseada em um inci-
dente real que ocorreu na Nigéria durante o domínio colonial britânico, quando
A Literatura da Nigéria
180 UNIDADE V
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admirada pelo professor da aldeia, Lakunle, que a deseja por esposa. Sidi não é
contrária ao desejo de Lakunle, mas insiste que o professor pague seu dote, a fim
de manter a reputação da moça. Professor Lakunle, no entanto, é um moder-
nista e, por ser da capital, Lagos, está “contaminado” pelas ideias eurocêntricas,
relutando em participar de uma tradição e cultura que ele considera “arcaica”.
Além das peças, Soyinka escreveu os romances, The Interpreters (1965) e
Season of Anomy (1973). Já a poesia está nas coletâneas Idanre, and Other Poems
(1967), Poems from Prison (1969), A Shuttle in the Crypt (1972), Ogun Abibiman
(1976) e Mandela’s Earth and Other Poems (1988).
Na crítica literária africana, Soyinka é um dos grandes nomes, principalmente,
pela teorização acerca do teatro africano, em especial, o nigeriano. Em The Fourth
Stage: Through the Mysteries of Ogun to the Origin of Yoruba Tragedy, no ensaio
Myth, Literature, and the African World (1976), o autor relê o texto do pensador
alemão Friedrich Nietzsche (1844–1900), The Birth of Tragedy (O nascimento
da tragédia) (1872). No texto de Nietzsche, se coloca a origem da tragédia grega
como o resultado da fusão de duas tendências artísticas antagônicas: o espírito
apolíneo e o espírito dionisíaco, ou seja, uma releitura estética a partir dos mitos
gregos de Apolo e Dionísio. Mas, se o espírito dionisíaco revelado por meio do
exagero, da embriaguês, da orgia e da desmesura e o espírito apolíneo com a ilu-
são, perfeição, harmonia e o poder criativo são matérias-primas do nascimento
da tragédia grega, Soyinka vê nos Orixás Ogun e Obatalá a correspondência esté-
tica de Apolo e Dionísio, abordados por Nietzsche. Obviamente, esse paralelo é
uma crítica à estética hegemônica ocidental. Quando Wole Soyinka revela que
os mitos de Obatalá e Ogun podem ser vistos como base para o nascimento da
tragédia yorùbá, revela uma subversão própria dos autores pós-coloniais, além
de uma releitura. Busca em seu povo as raízes estéticas e artísticas do texto dra-
mático, deixando claro o espaço hifenado entre o mundo nagô e o mundo grego,
isto é, dando-lhe uma alcunha negra, africana, uma subversiva comparação entre
a tragédia grega e a yorùbá.
Por essas e outras é que Soyinka foi o primeiro escritor africano a receber o
Nobel de Literatura (DASENBROCK, 1987).
A Literatura da Nigéria
182 UNIDADE V
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apud FLAWLESS..., online):
[...]
We teach girls to shrink themselves Chimamanda N. Adiche
Fonte: Pearson (2013, online).
To make themselves smaller
We say to girls
“You can have ambition
But not too much
You should aim to be successful
But not too successful
Otherwise you will threaten the man”
Because I am female
I am expected to aspire to marriage
I am expected to make my life choices
Always keeping in mind that
Marriage is the most important
Now marriage can be a source of
Joy and love and mutual support
But why do we teach to aspire to marriage
And we don’t teach boys the same?
We raise girls to each other as competitors
Not for jokes (?) or for accomplishments
But for the attention of men
We teach girls that they cannot be sexual beings
Chinua Achebe
Considerado o pai da ficção africana moderna, Chinua Achebe, nascido Albert
Chinualumogu Acheeb, nasceu em Ogidi, uma aldeia nigeriana em 16 de novem-
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1 A Church Mission Society é um grupo de sociedades evangelistas, fundado em 1799, que trabalha com a Comunidade
Anglicana e as Igrejas Protestantes por meio do mundo com missões de catequização.
A Literatura da Nigéria
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“Escrever em inglês, mas não como um inglês.”
Fonte: Chinua Achebe (apud PARADISO, 2007, p. 3).
Achebe, mais tarde, incluiria tal incidente em Thing Fall Apart. Na University
College (hoje, Universidade de Ibadan), Achebe ganha uma bolsa de estudo para
cursar medicina, mas foca-se em Língua Inglesa, História e Teologia (EZENWA-
OHAETO, 1997, p. 37). Ainda na Universidade, Chinua Achebe escreve seus
primeiros contos: In a Village Church, que explora as relações da vida tradi-
cional nigeriana com o cristianismo, The Old Order in Conflict with the New
e Dead Men’s Path, cuja temática é o conflito entre tradição e modernidade.
Entretanto, nas aulas de religião comparada, na Universidade, Achebe explora
ainda mais as relações e a história do cristianismo e das religiões e religiosidades
tradicionais da África, tema esse o grande leitmotiv de sua obra. Achebe tam-
bém é famoso por sua tese: An Image of Africa: Racism in Conrad’s Heart of
Darkness, uma crítica mordaz ao famoso romance de Joseph Conrad. Hoje, essa
crítica é reconhecida como uma das intervenções mais aclamadas sobre Heart
of Darkness. Entretanto, Chinua Achebe ficou mundialmente conhecido pelo
romance Things Fall Apart (1958, seu primeiro romance, que vendeu mais de
11 milhões de cópias e foi traduzido para mais de 45 idiomas) (THOMPSON,
2008). O romance conta a estória de Okonkwo, que luta contra o legado de seu
fraco pai, se vendo no meio de um conflito cultural: a chegada dos missionários
pública oficial. As etnias nativas principais são os zulus, xhosas, basothos, bapedi,
vendas, tswanas, tsongas, suázis e ndebeles, os quais falam as línguas banto.
A presença europeia acontece no século XV. Exatamente em 1652, um século
e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa
das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento que mais tarde viria a
ser a Cidade do Cabo. Com a presença dos holandeses nas terras e a consequente
migração dos nativos que eram severamente caçados e violentados, conflitos étni-
cos começaram a surgir por causa de território, entre os grupos xhosa, zulu e,
posteriormente, entre os afrikaners. No século XIX, a luta já era entre europeus,
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já que os britânicos queriam controlar a área. Anos seguiram com o controle do
império inglês, mas, dentro do país, muitos grupos focavam a independência.
Com a presença dos europeus, durante os períodos coloniais holandês e bri-
tânico, o racismo se implantava e a segregação racial era informal, mas visível.
Só no século XX que o racismo se institucionalizou e tornou-se legal. Sobre isso,
Chaim e Paradiso (2012, p. 184) relatam:
Como toda colonização é um processo de invasão, divisão e espolia-
ção, com o regime Apartheid não seria diferente. O Apartheid foi um
regime de segregação racial, ou seja, foi uma separação entre brancos e
negros que aconteceu na África do Sul. Em 1902, colonizadores bran-
cos instituíram a segregação racial (separação dos grupos raciais) como
sistema de domínio, privando a população não branca do seu desenvol-
vimento e de direitos políticos e civis. Essa dominação dos brancos, que
limitou os diretos dos negros, foi definida em lei em 1913, expondo os
negros à situação de humilhação dentro das suas próprias terras. Duas
leis impediam o desenvolvimento dos negros: “O Ato das Terras” e as
“Leis do Passe”. A primeira garantia à população branca a maior par-
te das terras sul-africanas e a maioria negra ficaria com uma pequena
parte, privando-os assim do seu desenvolvimento como agricultores
autossuficientes. A população negra só poderia entrar na cidade caso
tivesse emprego permanente, porém, era necessário deixar sua família
na reserva (guetos) e retornar para casa somente quando seus serviços
não fossem mais necessários. A segunda lei exigia que todos os negros
possuíssem um passaporte, pois, assim, a supremacia branca conseguia
movimentar todos os seus passos, até mesmo depois do toque de re-
colher.
Pazzinato e Senise (1997) ainda relata que, no período, os negros deveriam sem-
pre estar com esse passaporte, pois qualquer pessoa branca teria o direto de
Njabulo Ndebele
Njabulo Simakahle Ndebele nasceu em 4 de julho de 1948, em Johanesburgo, na
África do Sul. De acordo com Paradiso e Chaim (2012, p. 463), Ndebele graduou-
-se em Língua e Literatura Inglesa e em Filosofia pela University of Botswana,
University of Lesotho e University of Swaziland, em 1973. Fez seu mestrado em
literatura inglesa pela Universidade de Cambridge, em 1975, e seu doutorado em
Filosofia, em 1983. Njabulo Ndebele foi reitor da Universidade da Cidade do Cabo
e Universidade de Limpopo, além de ter ocupado várias outras posições impor-
tantes em universidades e fundações por toda a África do Sul (RAMRAJ, 2009,
p. 375). Como escritor, destacou-se com o romance The Cry of Winnie Mandela,
recebendo, seu livro de contos Fools and Other Stories, o prêmio Noma, o mais
alto prêmio literário africano. Ndebele também é conhecido por seus ensaios e
críticas culturais, tendo a África como leitmotiv.
Por sua forte influência no mundo acadêmico e literário, Njabulo Ndebele
aproveitou a literatura como instrumento de denúncia contra as mazelas da coloni-
zação e a perversa segregação racial que ainda assombra a África do Sul, como em
seu conto Death of a son, publicado em 1996. No conto Death of a son, observa-
mos o contexto pós-regime Apartheid e como a opressão militar dos colonizadores
brancos e dos policiais, também brancos, afetara a vida do casal de sul-africanos,
Buntu, o esposo, e a narradora, esposa dele, que não revela seu nome. Em meio
aos preconceitos e a opressão, eles tentam incessantemente recuperar o corpo de
seu filho, que foi morto por policiais brancos, mostrando-nos a marcada distin-
ção entre negros e branco, mesmo depois do cessar do regime racista.
Nadine Gordimer
Nadine Gordimer também é
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conhecida por tratar das questões
do regime Apartheid na sua escrita.
Branca, nascida em
Joanesburgo, em 20 de novem-
bro de 1923, falecendo em 2014,
Gordimer foi filha de imigrantes
judeus, o pai um relojoeiro que
migrou da Lituânia e sua mãe que
viera da Inglaterra. Desde a cole-
Nadine Gordimer
tânea de contos de estreia Face to Fonte: Fick (2014, online).
Face (1949) e do primeiro romance
The Lying Days (1953) até The Conservationist (1974), obra com que foi ven-
cedora do Prêmio Man Booker, dedicou-se a ficcionalizar as questões morais e
sociais marcadas pela segregação racial na África do Sul.
Ganhadora do prêmio Nobel de Literatura de 1991, a autora, no início, não
optou por tematizar o apartheid, mas era impossível falar sobre a história da
África do Sul e ignorar o sistema racista que lá estava. Com sua literatura, lei-
tores do mundo todo conheceram os efeitos das “barreiras da cor da pele”, em
uma escrita realista e cruel, com teor altamente histórico-social. Gordimer foi
autora de mais de duas dúzias de livros, incluindo romances, contos, ensaios e
crítica literária.
Os textos importantes de Nadine Gordimer que mais apresentam o horror da
consequência colonial e do regime apartheid são Is there nowhere else where we
can meet? (1951), da coletânea The Soft Voice of the Serpent and Other stories
gada a sair de seu país, devido à guerra civil que ali ocorrera, juntamente com o
restante de sua família a algumas outras pessoas. A única alternativa que resta
a essas pessoas é atravessar o Parque Kruger para fugir da guerra e da escassez
de alimento e ir para a África do Sul, onde estava ocorrendo o ápice do regime
apartheid. O fato é que, nesse Safari, a identidade humana e animal se confun-
dem. Já, no romance July’s People (1981), é retratada a história da família Smales,
que, ao se ver atingida por uma desordem social de grandes proporções, só tem
como solução fugir da cidade dominada pelo homem branco e abrigar-se na
aldeia natal do seu criado negro – July.
JM Coetzee
John Maxwell Coetzee nasceu na Cidade do Cabo, África do Sul, em 9 de fevereiro
de 1940, sendo o filho mais velho, de uma mãe professora e um pai advogado.
A família, mesmo não sendo britânica, usava a língua inglesa como língua ofi-
cial no lar (JM, 2014).
Coetzee recebeu a Educação Primária na Cidade do Cabo, na África, e o
Ensino Secundário, em uma escola católica, os Irmãos Maristas. O Ensino Superior
ocorreu em 1957, graduando-se em Inglês em 1960, e em Matemática em 1961.
Dois anos depois, casou-se com Philippa Jubber (1939-1991), tendo dois filhos,
Nicolas e Gizela. Em 1965, Coetzee ingressou na pós-graduação da Universidade
do Texas, em Austin, e, em 1968, finalizou seu doutorado em Inglês, Linguística e
Línguas Germânicas, tendo como tese os estudos de Samuel Beckett. Durante os
anos de 1968 e 1971, Coetzee foi professor da Universidade de Nova York, pro-
fessor de Literatura da Cidade do Cabo e professor também na Johns Hopkins
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Bonnici (2000, p. 42), “consiste na apropriação do texto canônico pelo escritor
de alguma ex-colônia europeia, consciente de seu papel de mestre no contexto
pós-colonial”. Isto é, Foe traz à tona o que Robinson Crusoé silenciou. O título
do livro é uma paródia ao sobrenome do escritor de Crusoé, Daniel Defoe, que
constrói o mestre dominador Crusoé, criando um narrador que representa a
figura masculina do branco europeu, enquanto que, na narrativa de Coetzee,
a narração é feita por uma mulher, Susan Barton, a qual forçosamente convive
com Cruso, um homem dependente e resignado a sua condição de náufrago,
bem como seu criado Friday, o nativo sem voz. Em Foe, Cruso é uma alusão ao
Crusoé, de Defoe, simbolicamente suprimido de agência e identidade (pela falta
da letra “e”), e Friday é um nativo cuja língua fora cortada (em alusão a sua obje-
tificação e silêncio no romance inglês).
Entretanto, Coetzee é reconhecido pela sua obra máxima, Disgrace (1999),
que ganhou o Booker Prize.
Disgrace, traduzido como Desonra, é, de fato, um marco em sua carreira.
Foi com esse livro que o autor conseguiu a proeza de ganhar dois Book Prizes. O
enredo do livro é um dos mais tristes do escritor. Disgrace é a obra de Coetzee
que melhor representa sua literatura, abrangendo quase que todos os elementos
inerentes de sua escrita: a violência humana, a desonra pública, a inadequação
aos lugares e a incapacidade de se relacionar.
Desonra trata de David Lurie, um professor de uma universidade da
África do Sul que é afastado de seu cargo após se envolver com uma
de suas alunas. Sem saber o que fazer, vai morar com sua filha, uma
fazendeira de trejeitos masculinos que comandava uma pequena coo-
perativa de agricultores. No interior, conhece a ferocidade e a violência
Além dos romances, Coetzee também escreveu dois livros de memórias fic-
cionais, um conjunto de ensaios sobre a literatura e a cultura da África do Sul
e crítica literária. Coetzee é também tradutor de literatura holandesa e africâ-
ner. Assim, como Gordiner e Ndebele, Coetzee é um escritor que, por meio da
escrita, percebe a crueldade da vida e dos homens em um país marcado pela
segregação racial.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A LITERATURA DO
QUÊNIA
A Literatura do Quênia
192 UNIDADE V
MG Vassanji
Moyez G. Vassanji (1950) é outro romancista e editor queniano, que, hoje, entre-
tanto, vive no Canadá. Publicou seis romances e duas coletâneas de contos
(short-stories), relatos de viagem e uma biografia. Por viver na América do
Norte, Vassanji ganhou inúmeros prêmios locais, como Giller Prize de melhor
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ficção no Canadá (ganhou três vezes), Governor-General’s Prize for nonfiction
e o Commonwealth Regional Prize (África).
O tema de Vassanji é a situação dos nativos da África Oriental, bem como
a diáspora dos africanos para outros territórios, como a Europa e a América do
Norte (OJWANG, 2001). Ele, como os demais autores africanos, preocupa-se
com a relação entre literatura e história, principalmente a história colonial, e
quais as consequências dela hoje.
Vassanji tem chamado atenção da crítica literária por centrar questões
como cidadania, sexualidade, origem ética, migração e diáspora em seus textos
(DELBAERE, 2002).
Suas principais obras são The Gunny Sack (1989), The Assassin’s Song (2007)
e as coletâneas de contos Uhuru Street (1992) e When She Was Queen (2005).
Ngũgĩ wa Thiong’o
Ngugi nasceu em 5 de janeiro de 1938 e é o escritor queniano mais conhecido no
mundo. Sua obra divide-se em romances, contos, ensaios, novelas e peças teatrais,
tendo também escrito ensaios sociais e textos infantis. O fato mais importante
de Ngugi é sua relação com a língua inglesa, extremamente conflituosa. O início
da carreira literária de Ngugi foi em língua inglesa, mas, posteriormente, abdi-
cou dela, escrevendo na língua gĩkũyũ.
De acordo com Lott (2013, p. 123-125), Ngugi começou sua carreira pro-
duzindo obras em língua inglesa, tendo o texto mais conhecido desse período a
peça The black hermit (1963) e os romances Weep not, child (1964), The river
2 Micere Githae Mugo (1942) é uma romancista, poetisa, dramaturga, ativista queniana, autora, instrutora e poeta
do Quênia. É também crítica literária e professora de Literatura do Departamento de Estudos Afro-Americanos da
Universidade de Syracuse. Foi exilada na década de 80, assim como Ngugi, pelo ditador Daniel Arap Moi. As publicações
de Mugo incluem seis livros, um em coautoria com Ngugi wa Thiong’o. Ela também é editora de revistas e livros didático
no Zimbabué.
3 Tradução inglesa: I will marry when I want.
A Literatura do Quênia
194 UNIDADE V
Oriental (CAO) ter uma população tão pobre e um abismo social? Esse romance
de Ngugi foi todo escrito em papel higiênico, enquanto seu autor permanecia
preso, o texto, posteriormente, foi revisado e editado.
Depois do exílio, voltou ao Quênia e trabalhou como jornalista para The
Nation, antes de sua pesquisa sobre Joseph Conrad para a Universidade de Leeds,
mas segue a carreira literária, passando, então, a publicar todas as suas obras em
gikuyu, com exceção dos trabalhos de cunho teórico.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“Se eu tivessse um Nobel para dar, daria para o Jorge Amado, que me deu a
sensação do que é o Brasil.”
Fonte: Ngugi Wa Thing’o, 2015 na FLIP, Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ratura africana em língua inglesa é rica e tem uma função a mais do que apenas
literária, ela, como grande parte das literaturas pós-coloniais, serve como meta-
ficção historiográfica, auxiliando a reescrita e releitura da história oficial.
Considerações Finais
1. A literatura africana em língua inglesa tem como marco inaugural a publicação,
em 1952, do romance The Palm-Wine Drinkard, de Amós Tutuola, considerado o
primeiro romance africano pós-colonial. Tal vertente literária tem como uma de
suas características a reescrita da história. Comente sobre a importância desse
processo de reescrita da história na literatura africana em língua inglesa contra-
dizendo a história oficial.
2. A Nigéria, assim como tantos outros países do continente africano e das Amé-
ricas, tem sua histórica marcada pelos conflitos ocorridos durante o período de
colonização. Um dos mais importantes nomes da literatura nigeriana é Amós
Tutuola, cujo romance “O bebedor de Vinho de Palmeira” foi uma das poucas
obras da literatura africana que conseguiu visibilidade internacional, mesmo
abordando temas peculiares à cultura yorùbás, uma das tantas etnias que com-
põem o quadro cultural nigeriano. Pesquise e reflita sobre a recepção dessa obra
por parte tanto da crítica literária quanto dos leitores.
3. Em relação à África do Sul, dois romancistas se destacam, um nativo e uma des-
cendente de judeus. Identifique quais são as críticas presentes em suas obras.
4. Sobre a produção literária do queniano Ngũgĩ Wa Thiong’o, comente os princi-
pais temas abordados em suas obras, sobretudo no tocante à crítica social reali-
zada pelo escritor.
197
Hibisco Roxo
Chimamanda Ngozi Adiceh
Tradutora: Julia Romeu
Ano: 2011
Editora: Cia das Letras
Sinopse: protagonista e narradora de Hibisco roxo,
a adolescente Kambili, mostra como a religiosidade
extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso
industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de
toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do
povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a
irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência
e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do
país.
Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é
obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra
as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato
contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização
tanto no próprio país como, certamente, também no resto do continente.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A Flecha de Deus
Chinua Achebe
Tradutora: Vera Queiroz da Costa e Silva
Ano: 2011
Editora: Cia das Letras
Sinopse: a aldeia de Umuaro, no interior da Nigéria, é regida
pelo sumo sacerdote Ezeulu. Mas nem todos os habitantes
da aldeia o apoiam, o que resulta em brigas internas, além
dos conflitos com aldeias vizinhas. Um dos filhos de Ezeulu,
Oduche, é enviado pelo pai para a igreja do homem branco, a
fim de conhecer sua religião e proteger a aldeia dos perigos que
ela pode trazer. Mas há controvérsias quanto ao envio de um filho ao inimigo. Ezeulu se vê numa
espécie de beco sem saída, tendo de tomar decisões que, por mais bem intencionadas, podem
resultar em desastre para o seu povo.
Contando Histórias
Autor: Vários. Nadine Gordimer (org).
Ano: 2007
Editora: Cia das Letras
Sinopse: organizada pela escritora sul-africana Nadine
Gordimer, esta coletânea traz 21 contos escolhidos pelos
próprios autores, que abriram mão de seus direitos autorais,
revertendo-os para a TAC (Treatment Action Campaign),
campanha em prol do tratamento e da prevenção da AIDS
(<www.tac.org.za>). Trata-se de uma amostra representativa
do que de melhor se produziu na literatura das últimas
décadas. Na literatura africana anglófona, Njabulo Ndebele,
Nadine Gordimer e Chinua Achebe optam por um realismo implacável para relatar os horrores da
guerra e da fome. Contar histórias, mostra-nos este livro, é acender uma luz nas trevas da barbárie.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Site com obras, biografia e materiais diversos sobre a autora Chimamanda Ngozi Adiche,
disponível em: <http://chimamanda.com>. Acesso em: 06 jun. 2015.
Site com obras, biografia e materiais diversos sobre o autor Ben Okri, disponível em: <http://
benokri.co.uk/>. Acesso em: 06 jun. 2015.
Site com obras, biografia e materiais diversos sobre o autor sul-africano Njabulo Ndebele,
disponível em: <http://www.njabulondebele.co.za/>. Acesso em: 06 jun. 2015.
Material Complementar
,
203
CONCLUSÃO
Diversidade – esse é o elemento chave que vimos nesta disciplina. Aliás, apesar da
hegemonia que a língua inglesa teve no mundo inteiro, por meio do processo da co-
lonização britânica, os autores aqui citados transformaram o conceito de literatura,
multifacetando-a, expandindo-a, tendo o inglês como elo. Porém, vimos que muitos
dos autores, principalmente nas unidades IV e V, transformam essa língua.
Em Literaturas em Língua Inglesa II, visitamos muitas ex-colônias inglesas, como os
Estados Unidos propriamente dito, a Índia e alguns países da África, do Caribe, e até
mesmo da Oceania. Você pôde ver que não focamos um estudo temporal e cronoló-
gico (com exceção da primeira unidade), mas com foco geográfico e temático.
Na primeira unidade, “Estados Unidos: Da Colônia a Jovem República”, vimos as
consequências do processo de colonização norte-americano, como isso influenciou
a escrita no Novo Mundo e como a temática desse período ultrapassou fronteiras
temporais. Você foi apresentado(a) à literatura índigena dos Delawares, bem como a
textos polêmicos de Carter, Miller e Stowe, que respectivamente observaram o índio
algoquiano, a mulher e o negro diaspórico no contexto colonial, sob a estrutura de
conto, teatro e romance.
Na segunda unidade, “Edgar Allan Poe e as Literaturas de terror e de detetives”, tema-
tizamos o terror, o suspense e as literaturas policiais. Conhecemos um dos maiores
contistas norte-americanos, Edgar Allan Poe, que trouxe ao mundo literário gêneros
importantes, como o gótico urbano, o romance policial e o romance de horror. Aga-
tha Christie, Arthur Conan Doyle e Stephen King fizeram parte dessa unidade.
Estudamos que, com a chegada do século XIX, o romance ganhou fôlego e os Esta-
dos Unidos já emancipados da Inglaterra, apresentam-nos uma série de romancis-
tas e obras magníficas. Portanto, conhecemos, na unidade III, “A Literatura do Novo
Mundo do século XIX”, os principais nomes da literatura norte-americana, tanto da
prosa quanto da poesia.
Já, na unidade IV, “Caribe, Índia e Oceania: As Literaturas em Língua Inglesa da Diás-
pora”, e na unidade V, “Literaturas Africanas em Língua Inglesa”. Conhecemos, estu-
damos e analisamos autores de ex-colônias inglesas da América Central, da África e
da Oceania, que trasnformaram a língua inglesa, a fim de abordar temáticas sobre
o colonialismo, o nacionalismo e as várias problemáticas da modernidade. Os antes
desconhecidos autores pós-coloniais fizeram-se presentes e, com eles, terminei este
material com a esperança que você, futuro(a) professor(a), realmente professe o que
Antonio Candido sempre falou sobre a função literária: de nos fazer mais humanos!
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209
REFERÊNCIAS
UNIDADE I
1. A Inglaterra se aproveitou da divergência religiosa que havia com a Espanha,
que também considerava que eles estavam saqueando suas terras na Amé-
rica Central, e, dentre vários ataques, uma guerra foi oficialmente declarada
em 1585, da qual os ingleses saíram vitoriosos. Estes partem, em um primeiro
momento sem êxito, à América, desejosos de terem sua liberdade de fé. uma
segunda tentativa, eles começam a se firmar em colônias, como Carolina do
Norte, Carolina dos Sul, Virgínia, Jamestown e Nova Iorque (Nova Inglaterra), a
partir daí inicia-se a história dos EUA, mais especificamente a partir da Carolina
do Norte.
2. O conto mostra uma jovem que, depois de ser agredida sexualmente pelos seus
conterrâneos, sai em busca da sua autodefesa e, ao inserir-se em uma comuni-
dade indígena, passa por um forte processo de aculturação, que marcará para
sempre sua identidade, tanto que em certo momento a única evidência de sua
origem são seus olhos azuis. Nota-se também o preconceito dos colonos ao se
referirem aos índios como os de “pele vermelha”, uma vez que eram morenos, e
generalizando-os como canibais.
3. A obra foi escrita em um período de muita insegurança política, econômica e
militar, e o governo age em uma verdadeira “caça às bruxas” de caráter políti-
co, na verdade, uma caça aos comunistas, em que qualquer pessoa suspeita
era intimida a depor, como Miller foi, e induzida a confessar seus crimes e a
apontar outros suspeitos. Para trazer essa crítica ao seu texto, o autor recorre a
fatos históricos e, além de pesquisar, ele vai até a própria cidade de Salém, em
Massachusetts, buscar sua inspiração, naqueles que, pelo fanatismo religioso,
perseguiam e julgavam condenando à morte homens, mulheres e crianças, por
suspeitarem, e não terem nenhuma prova, que esses praticavam bruxaria.
4. Espera-se como resposta que o(a) aluno(a) pesquise uma dentre as crônicas ci-
tadas no tópico “A Independência dos Estados Unidos da América” e discorra
sobre a abordagem histórica apontada na obra.
UNIDADE II
1. A literatura gótica tem como principais características a ambientação das his-
tórias em cenários que remetem à Idade Média, com a presença de castelos,
palácios, templos, florestas; o apreço por temáticas sobrenaturais, crises morais,
idealização da morte, erotismo, construção de universos fantásticos, com a pre-
sença de fantasmas, monstros e outras criaturas sobrenaturais.
2. O mestre do suspense, Edgar Allan Poe, é um dos escritores que mais teve obras
adaptadas para o cinema (mais de 100 filmes foram inspirados em obras do
autor). O aluno pode apontar como exemplos da influência de Poe na cultura
popular a história em quadrinhos The Crow, de James O’Bar, publicada em 1978
GABARITO
e que, em 1994, foi adaptada para o cinema, com adaptações realizadas por
cineastas renomados como Tim Burton e Federico Fellini. Na música, bandas
como Nightwish, The Alan Parson Project e até mesmo os Beatles compuseram
músicas inspiradas em textos de Poe.
3. O romance policial ou romance de detetive tem como principais características
um crime como ponto de partida, a presença de um criminoso, uma vítima e
um detetive disposto a desvendar o mistério da trama. Outros elementos per-
tinentes ao gênero são a permanente atmosfera de suspense ao longo da nar-
rativa, a presença de “pistas” que contribuem para que o leitor vá juntando as
peças do “quebra-cabeça” juntamente com o detetive, um ambiente fechado e
um desfecho surpreendente para a história.
4. O aluno pode apontar como exemplos de narrativas em que o terror é tanto
exterior quanto interior obras como The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde,
popularmente conhecido como “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Ste-
venson, “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, “Carry”, de Stephen King.
UNIDADE III
1. Esses romances abordaram temáticas importantes e relacionadas ao contex-
to social, de forma a fazer críticas e levar o leitor a refletir sobre temas como
a escravidão, o racismo, a luta de classe, o trabalho infantil, a criminalidade, a
condição da mulher, o colonialismo, a tecnofobia, entre outros, os quais foram
abordados nesses romances.
2. Surgiram no século XIX e modelaram o futuro romance moderno. Essa litera-
tura não tinha nenhum laço com a religião nacional, visto que deveria circular
internacionalmente, dessa forma, sem proselitismo algum, multicultural. Outro
fato interessante a ser pontuado é que, entre as décadas 70 e 80 do século XIX,
tanto a Inglaterra quanto os Estados Unidos inseriram tais literaturas no sistema
educacional, formulando a ideia de cânone moderno. Todo esse processo fez
que o ramancista desse século se transformasse no porta-voz da cultura de seu
país e o livro passa a figurar em ambientes diversificados.
3. O escritor traz em sua obra assuntos relacionados ao período de industrializa-
ção da Inglaterra e a proliferação do capitalismo. No bojo dessa discussão, cabe-
ria tratar de temas como a pobreza, o desemprego, a violência, a precariedade
das condições de trabalho nas fábricas, a exploração do trabalho infantil, dentre
outros.
4. A poesia de Emily Dickinson trazia como principais características destoantes da
tradição literária traços da oralidade, construção de estrofes e versos de forma
irregular, gosto por rimas internas ao invés de rimas finais e uso de travessão de
modo a dar ora velocidade, ora paradas bruscas em seus poemas. Tais caracte-
rísticas viriam a ser percebidas em outros poetas que cada vez mais buscavam
215
GABARITO
UNIDADE IV
UNIDADE V