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A Igreja - Adoração, Ministério e Autoridade - Angel Manuel Rodriguez
A Igreja - Adoração, Ministério e Autoridade - Angel Manuel Rodriguez
A Igreja - Adoração, Ministério e Autoridade - Angel Manuel Rodriguez
19420 / 42642
ORGANIZADOR
Ángel Manuel Rodríguez
Liturgia é aquilo que os cristãos realizam em seus cultos públicos. Adoração é tanto
mais quanto menos que a liturgia, uma vez que inclui as práticas devocionais de
indivíduos e famílias, bem como o louvor coletivo e a oração em público. É menos
no sentido de que liturgia não é somente oração, mas também um ritual. O ritual diz
respeito não apenas ao que uma comunidade faz na presença de Deus, como também
ao que os membros de uma comunidade fazem na interação uns com os outros. 1
LITURGIA NA IGREJA CRISTÃ ATÉ A IDADE MÉDIA
Do 1o ao 3o século
Os eruditos em geral concordam que a adoração cristã do período pós-
apostólico provavelmente tenha se inspirado no culto da sinagoga judaica. 2
A adoração durante os três primeiros séculos não era pública ou totalmente
pública. O contexto para a vida e adoração em comum ocorria nos lares dos
cristãos ou em casas doadas para ser transformadas em local de adoração e
assembleia. 3 A perseguição e o status do cristianismo como religio illicita
(religião não autorizada) não permitiam a construção de templos. Isso
reforçava a diferença entre o cristianismo e o cultus pagão, que era público e
cheio de rituais. 4
O formato em si dos cultos de adoração da igreja cristã desse período não
está totalmente claro. O Novo Testamento e os primeiros documentos pós-
apostólicos dão poucas informações acerca das práticas litúrgicas daquela
época. No 2o e 3o século, encontramos o desenvolvimento de alguns
elementos importantes de ritual e adoração. Dentre eles, estão os seguintes:
1. Um culto de adoração que incluía cânticos, possível recitação da lei e
oração, uma refeição noturna (semelhante à que ocorria no culto da
sinagoga), a qual talvez incluísse a ceia do Senhor. 5 Documentos antigos
mostram que a oração da eucaristia surgiu em tempos bem remotos.
2. Além disso, há evidências de reunião aos sábados e domingos para
adoração. 6
3. A Páscoa logo se tornou a celebração da paixão de Cristo. 7
4. A iniciação por meio do batismo 8 e a disciplina pública para a
restauração daqueles que caíram tomou forma durante esse período. 9
5. A ordenação das pessoas separadas para o ministério por meio da
imposição de mãos é bem documentada. 10
Do 4o ao 6o século
O fim da perseguição do Império Romano e a nova condição concedida ao
cristianismo de religio licita (religião autorizada) mudou drasticamente a vida
da igreja. O tratamento preferencial dispensado por Constantino e outros
imperadores romanos logo concedeu aos líderes cristãos as honrarias de
magistrados civis. Foram então construídos grandes centros de reunião
(basílicas) para abrigar os cultos cristãos. 11
Essas mudanças causaram um impacto profundo sobre a liturgia da igreja.
As honrarias concedidas aos bispos por causa de sua nova posição social
foram importadas para a liturgia (por exemplo, saudação com reverência,
grupos de cantores saudando sua chegada, luzes e incenso os precedendo em
procissões). A logística da liturgia de celebração em grandes espaços
públicos exigiu um aumento nas cerimônias. 12 O interesse renovado na vida
de Jesus e nas terras bíblicas incentivava peregrinações à Palestina. Então os
bispos desenvolveram rituais em locais da peregrinação para reencenar a
história bíblica. Esses rituais eram repetidos na terra de origem dos
peregrinos. 13
A liturgia dos cultos exigia um teor mais teatral. A compreensão tipológica
dos rituais cristãos ajudou os cristãos a entender que sua adoração pública era
uma encenação dos atos salvíficos de Deus em Cristo, para benefício da
humanidade. 14 Além disso, a comunidade cristã transferiu os cultos de
adoração do contexto particular de igrejas nos lares para uma esfera pública,
em basílicas ou templos construídos pelo Estado, nos quais toda a
comunidade podia comparecer. 15
A adoração cristã também sofreu a influência de práticas pagãs que
sobreviveram por meio da interpretação “misteriológica” dos sacramentos,
observância de dia santos, veneração dos mártires e de práticas funerárias. 16
Essa foi a era da mistagogiae, ou seja, da explicação dos mistérios. Nessa
prática, fazia-se uma descrição das cerimônias e uma reflexão teológica sobre
elas. O ensino mistagógico sobre a natureza reverente e temível da
participação da eucaristia resultou em uma assembleia cristã que não mais
comungava. Assim tornou-se, em grande parte, apenas nominal. A explicação
alegórica da liturgia em si levava as pessoas a entendê-la como uma recriação
dramática da vida de Cristo. 17
Associada à crescente ênfase teológica na natureza sacrificial da eucaristia,
ocorreu uma ruptura entre a liturgia e a participação dos leigos na comunhão.
A extensão dessa separação transformou a eucaristia em uma prática quase
que exclusiva do clero. A participação dos leigos foi reduzida à contemplação
do significado das cerimônias e dos símbolos do rito.
Isso foi incentivado pelo aumento das orações anafóricas ou eucarísticas (a
repetição de uma palavra ou expressão no início de diversas frases em
orações) e da intercessão por uma variedade de categorias diferentes de
pessoas (vivas e mortas). Cada vez mais, a eucaristia era vista como uma
oferta por necessidades específicas, não como uma celebração coletiva da
comunidade dos fiéis. Essa tendência continuaria a se desenvolver, chegando
ao auge durante a Idade Média. 18
O que vemos durante esse período é a transformação do cristianismo, de
uma religião com liturgia espiritual e simples para uma religião oficial que se
adaptou às demandas da santificação cerimonial da vida (por exemplo, ritos
para os mortos e para casamentos), do tempo (observância dos dias santos) e
do espaço (construção e decoração de igrejas e lugares santos) para toda a
população. Nesse processo, a adoração se tornou material e extremamente
ritualizada.
Do 7o ao 11o século
A queda do Império Romano ocidental inaugurou um novo período para o
cristianismo latino, possibilitando a transição do fim da antiguidade para a
Idade Média. Durante esse período, emergiu uma nova cultura religiosa
franco-romana em decorrência do renascimento carolíngio e de anos de
evangelização dos reinos germânicos.
Em grande medida, o renascimento carolíngio foi de ordem litúrgica. Livros
de liturgia se tornaram necessários para a celebração do culto: livros de
oração, hinários e manuais. Os governantes queriam unificar o reino por meio
de um culto de adoração cristã mais unido e romanizado. Era preciso usar
tipos específicos de livros para esse propósito: sacramentários (livros de
celebrantes com textos para a celebração da eucaristia); a coleta (oração do
dia), que incluía oração pelas ofertas, o prefácio apropriado para a eucaristia e
a oração a ser feita após a comunhão; os lecionários (textos bíblicos para as
missas do ano eclesiástico); os antifonários (textos cantados para os corais) e
o ordinário (livreto com instruções para a realização de cerimônias). 19 Esses
materiais garantiram a existência de uma série de papéis litúrgicos ao longo
da Idade Média. Dentre eles, encontramos celebrantes, diáconos, cantores,
corais, coroinhas, sacristãos e porteiros. A missa católica romana foi definida
pela reforma litúrgica gregoriana. Carlos Magno a aplicou em seu império
como meio de alcançar unidade religiosa. 20 Além disso, ao longo desse
período, o ano-calendário religioso alcançou pleno desenvolvimento. 21
Outros desenvolvimentos litúrgicos importantes incluem:
1. Penitências particulares que surgiram durante esse período, no contexto
das comunidades monásticas (4o e 5o séculos), apresentaram oportunidades
regulares de confissão de pecados a um líder espiritual. A prática foi
introduzida no continente europeu por meio das atividades missionárias de
monges irlandeses e britânicos. 22 Esse tipo de penitência particular entrava
em conflito com a antiga penitência pública canônica. Ao contrário da
penitência pública, a particular podia ser realizada sempre que o indivíduo
quisesse, embora o perdão só fosse concedido após a conclusão da penitência.
A penitência particular superaria a penitência pública em decorrência de sua
praticidade. 23
2. Ao fim do 5o século, o batismo e a confirmação de bebês se tornou uma
prática mais comum por causa do decréscimo de batismos de adultos, após o
batismo em massa de pagãos que aconteceu quando o cristianismo se tornou
a religião oficial do império ao final do 4o século. 24 Uma nova onda de
batismos coletivos foi realizada durante a conversão das nações germânicas
para a ortodoxia católica. A prática da confirmação por um bispo logo após o
batismo foi, aos poucos, separada do batismo em si e se transformou em um
sacramento independente, feito por um bispo antes da primeira comunhão. 25
3. Os ritos realizados durante esse período ofereceram muitas oportunidades
para o desenvolvimento de hinos e cantos. Partes cantadas da missa
permitiam que o clero e a população participassem de apresentações
musicais. A Liturgia das Horas (orações diárias a serem recitadas pelo clero,
as ordens religiosas e os leigos) incluía versos, 26 salmos, hinos da liturgia e
cânticos. Essa quantidade de canto teve enormes consequências para o
desenvolvimento da música ocidental. 27
Missa particular
Embora não fosse uma prática totalmente incomum no catolicismo, a missa
particular alcançou um novo nível de adesão do 9o ao 13o séculos, por causa
das missas votivas (missa oferecida por uma intenção especial, por exemplo,
pelos mortos). A forma mais extrema de missa particular que surgiu entre o
8o e o 9o séculos foi a missa solitária, na qual o padre realiza a missa sem a
presença de ninguém. As missas particulares exigiram a prática da leitura de
trechos que costumavam ser cantados. Esse costume foi posteriormente
importado para a missa coletiva e é atualmente conhecido como missa baixa.
Ela se tornou normal no catolicismo. Além disso, a arquitetura das igrejas e
catedrais foi modificada pela missa baixa. Um altar deixou de ser suficiente.
Então passaram a ser construídas capelas laterais, rodeando o santuário ou
altares em nichos nos corredores, para a celebração simultânea de missas
particulares. 29
O sacramento da penitência
Durante esse período, o surgimento da penitência particular se tornou a base
para o desenvolvimento do sacramento da penitência, levando praticamente
ao abandono da penitência pública. Aqueles que a favoreciam enfatizavam a
conversão com exame pessoal. Teólogos como Abelardo, Anselmo e Hugo
de São Vítor, do século 12, davam ênfase ao papel da consciência, da
intenção voluntária e da vergonha necessária. Os penitentes precisavam ter o
senso de responsabilidade por seus pecados. Para esses teólogos, a hora da
contrição era o momento do perdão.
Porém, uma reação a essa internalização da penitência estava acontecendo.
Havia o sentimento de que também existia necessidade de um ato exterior: a
confissão dos pecados. O centro da gravidade se deslocou do ato de contrição
para o de confissão. O Quarto Concílio de Latrão (1215) transformou a nova
tendência em prática necessária para todos os cristãos. Impôs aos fiéis a
obrigação anual de confessar ao padre da paróquia, especialmente antes de
receber a comunhão na Páscoa, para depois cumprir da melhor maneira
possível a penitência imposta. 31 O decreto teve o efeito de ampliar o poder
do padre, tornando-o a única pessoa autorizada a conceder absolvição. Isso
colocou o sacerdote em destaque no processo de penitência. 32
A missa
A desintegração litúrgica da Alta Idade Média garantiu que a missa não
fosse mais vista como uma celebração congregacional do sacerdote e dos
fiéis. Ela se tornou um ato teatral do clero, que as pessoas observavam de
forma passiva. 35
A despeito de séculos de desenvolvimento, o cerne da missa medieval
continuava a ser o ritual de recriação da última ceia, ou oração eucarística,
repetindo as palavras de consagração proferidas por Cristo: “Este é o Meu
corpo” e “Este é o cálice do Meu sangue”. Os teólogos da escola patrística
tinham a convicção de que Cristo estava milagrosamente presente nos
elementos da eucaristia – “a presença real” –, mas tomavam o cuidado de não
definir com precisão como essa presença acontecia. Era um mysterion, um
mistério sagrado. Por exemplo, Agostinho declarou: “Creia, para que você
possa comer do Corpo do Cristo.” 36 O desdobramento dessa fala é que a
presença de Jesus no pão da eucaristia só poderia ser alcançada por quem o
recebesse com fé.
No entanto, do 8o ao 14o séculos, teólogos europeus se esforçaram por
definir esse mistério. Ao longo do processo, descobriram as limitações da
língua latina e da metodologia teológica. Não entraremos nos detalhes dessa
longa controvérsia, mas ela é importante para ressaltar a relevância do
renascimento do século 12 que provocou o reavivamento do estudo da lei
canônica e a recuperação da lógica aristotélica, que reforçava o método
escolástico.
A maior contribuição para o debate foi um neologismo escolástico, a
“transubstanciação”. 37 Com isso, tentou-se explicar a transformação
milagrosa do pão no corpo de Cristo, muito embora o objeto material do pão
conservasse a mesma aparência e as mesmas qualidades físicas. O termo
ganhou popularidade imediata e passou a ser usado com regularidade por
teólogos e intérpretes litúrgicos, mesmo havendo opiniões distintas e, por
vezes, contraditórias quanto ao significado preciso do termo.
Quando a igreja latina produziu uma proclamação dogmática no Quarto
Concílio de Latrão (1215) acerca do que os católicos deveriam crer em
relação à presença de Cristo na eucaristia, fez uso desse neologismo. 38
Ainda assim, os teólogos continuaram a discordar, uma vez que os termos
“acidentes” e “substância”, associados à definição de transubstanciação,
permaneciam abertos à interpretação.
Tomás de Aquino fez uma contribuição significativa à discussão da
doutrina em sua Suma Teológica. Ele redefiniu o conceito, afirmando que
logo após as palavras de consagração serem proferidas, a substância do pão e
do vinho deixam de existir, sendo milagrosamente substituídas pela
substância do “corpo e sangue de Cristo”. Esse milagre seria imperceptível
aos sentidos físicos, uma vez que as pessoas sentiriam repugnância diante da
perspectiva de consumir carne e sangue de verdade. 39
A teologia escolástica ajudou a separar a eucaristia de suas raízes
patrísticas. De modo geral, os pais gregos e latinos haviam definido a
eucaristia como um ato tanto de ação de graças quanto de comunhão. No
entanto, ao fim da Idade Média, a eucaristia fora reduzida a um objeto, à
hóstia eucarística, consagrada pelas mãos de um padre. A prática de elevar a
hóstia surgiu na França, ao fim do século 12. A consequência disso foi
transformar a eucaristia em um objeto ou relíquia sagrada por excelência do
corpo de Cristo, para ser vista, reverenciada e adorada, mas não
necessariamente recebida. 40
A Eucaristia
Martinho Lutero
A principal crítica de Martinho Lutero à missa romana é o fato de ter se
transformado em “opus bonum et sacrificium” (“boas obras e sacrifício”). 41
Era considerado um ato de boas obras porque se cria que a missa era
oferecida a Deus por seres humanos a fim de demonstrar piedade e obter Seu
favor. Para Lutero, essa abordagem carecia de fé e, portanto, não passava de
puro legalismo. Além disso, havia uma segunda ofensa: ela era oferecida a
Deus como sacrifício. Lutero destacou que o cânon da missa afirmava com
clareza que um sacrifício estava sendo oferecido: “haec dona, haec munera,
haec sacrificia” (“estes donativos, estes presentes, estes santos
sacrifícios”). 42 Lutero reprovava os católicos romanos por oferecer o
próprio Cristo a Deus Pai, como sacrifício. Sua declaração mais clara a esse
respeito aparece em Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue de Nosso
Senhor, de 1530. Nessa obra, ele afirmou: “A memória, esta sim, deve ser um
sacrifício de ação de graças. O próprio sacramento, porém, não deve ser um
sacrifício, mas uma dádiva de Deus, a nós concedida, a qual devemos aceitar
por gratidão e receber com gratidão.” 43
O fato de essa segunda ofensa também ser considerada uma boa obra revela
como eram inseparáveis as boas obras e os sacrifícios. Lutero admitia que, na
igreja antiga, era habitual os cristãos levarem ao culto religioso presentes de
ação de graças, os quais eram distribuídos depois entre os pobres. Mas
discordava em termos bem claros quanto à apropriação do sacrifício de Cristo
como uma oferta que os seres humanos podiam apresentar a Deus na
eucaristia. Ele entendia que isso era idolatria e o escândalo da missa.
Muitos eruditos consideram que Lutero foi fundamentalmente conservador
em suas propostas de reforma. 44 Ele ensinava a manutenção da maior parte
da estrutura da missa católica romana, mudando a ordem ou suprimindo
aquelas partes que eram contrárias à sua compreensão do evangelho da
salvação pela graça e pela fé somente. Ele insistia na “presença real” de
Cristo nos elementos da eucaristia, ao mesmo tempo em que negava a
doutrina da transubstanciação.
A principal proposta de Lutero para a reforma litúrgica é que ela fosse
sacramenta propter homines, ou seja, os sacramentos deveriam ser aplicados
para benefício dos seres humanos. Essa era sua principal razão para se opor à
missa particular. 45 Lutero tinha a firme crença de que a comunhão das
pessoas era uma das principais funções dessa celebração.
Uma proposta muito importante que emerge da discussão anterior é a ideia
de Lutero de que as pessoas deveriam participar da comunhão com maior
frequência. Embora os fiéis estivessem presentes sempre para a celebração da
missa, eles não participavam da comunhão por causa do grande número de
pré-requisitos espirituais que deveriam cumprir. De igual maneira, a missa
havia se tornado um assunto limitado ao clero. Os sacerdotes eram os únicos
a celebrar o sacramento e a comer e beber os emblemas. Logo, a missa se
tornou uma ocasião para contemplar a Cristo e um ritual para ser observado
de maneira passiva. A fim de incentivar a comunhão, a igreja legislou que os
fiéis participassem da eucaristia pelo menos uma vez por ano, na Páscoa.
Resumindo as propostas de reforma de Lutero: ele defendia a comunhão
frequente e a pregação da Palavra de Deus como meio de alcançar o
verdadeiro centro da adoração cristã. De acordo com Theisen, “a nova missa
é feita com a mentalidade de instruir os fiéis e estimular a fé. Trata-se de um
convite público à fé e ao cristianismo”. 46
Ulrico Zuínglio
Para Zuínglio, o principal propósito da ceia do Senhor era “recordar a
paixão e a morte de Cristo, aceitá-la com fé e participar dos simbolismos
como sinal de profissão”. 47 Em geral, presume-se que Lutero era
sacramentalista, apegando-se à doutrina da presença real de Cristo na
eucaristia, ao passo que Zuínglio é considerado simbolista, reduzindo os
sacramentos, em especial a missa, a um memorial do sacrifício de Cristo
pelos fiéis. James F. White argumentou que Lutero representava “a velha
aprendizagem e piedade”, ao passo que Zuínglio defendia “a nova
aprendizagem e piedade”. 48
As diferenças entre eles ganharam notoriedade na disputa de Marburgo, que
aconteceu em 1529. Nessa reunião, a expressão “Este é meu corpo” foi
vigorosamente debatida. Lutero se concentrava no significado literal das
palavras, já Zuínglio argumentava que o termo “é” tinha o sentido de
“significa”.
A pergunta de Lutero era: “O que acontece com os elementos?” Por sua
vez, o questionamento de Zuínglio era: “O que acontece com a comunidade
celebrante?” James F. White afirma: “Para Zuínglio, o centro das atenções
não era ‘este é’, mas ‘fazei isso’, que a comunidade faz na ceia do Senhor. O
que Lutero não apreciava era o fato de Zuínglio afirmar de uma maneira nova
a realidade da presença de Cristo como a transubstanciação da congregação,
em lugar dos elementos.” 49
A análise de White provê um contexto mais cheio de nuances para a
compreensão das declarações de Zuínglio acerca da eucaristia. Sem dúvida,
Zuínglio era absolutamente contrário a qualquer entendimento literal das
palavras de instituição que defendessem a doutrina da presença real de Cristo
nos elementos da eucaristia e na distribuição literal do corpo e do sangue de
Cristo. Por exemplo, em Commentary on the True and False Religion
[Comentário Sobre a Religião Verdadeira e Falsa], ele escreve: “A carne de
Cristo confere benefícios muito grandes e mesmo imensuráveis em todos os
aspectos, mas conforme eu disse, quando é sacrificada, não comida.
Sacrificada ela nos salvou da morte, mas consumida não apresenta benefício
nenhum.” 50
No entanto, em Attack on the Canon of the Mass [Ataque ao Cânon da
Missa], Zuínglio defende a comunhão espiritual com Cristo na eucaristia em
palavras bem semelhantes às de Lutero e Calvino, ao dizer: “O pão e o vinho
se tornam o corpo e o sangue de Cristo para aqueles que deles participam
com fé.” 51 Fica evidente que ele entendia que essa união com Cristo era
espiritual, em fé. Também acreditava que havia certo perigo na celebração
semanal da eucaristia. Isso poderia levar a uma dependência supersticiosa dos
objetos físicos do pão e do vinho como sinais que apontam para o divino. É
por isso que ele defendia que uma celebração trimestral era suficiente. 52
Zuínglio modificou a estrutura da missa para a nova celebração da ceia do
Senhor. O culto de domingo se transformou em uma reunião na qual a
pregação da Palavra assumiu o centro. É irônico notar que, embora Zuínglio
fosse exímio músico, ele aprovou a eliminação da música na igreja. Mas isso
não aconteceu somente por sua influência. Em Zurique, essas decisões eram
resultado de disputas, sucedidas por um veredito final. 53
Outra reforma litúrgica ocasionada por Zuínglio foi o abandono do
lecionário em favor da leitura de livros inteiros da Bíblia. Ele rejeitava a ideia
de que o mundo físico é capaz de transmitir ou revelar mensagens espirituais.
Por isso, rejeitava o simbolismo visual (somente a Palavra era considerada
salvífica). Retiraram das igrejas de Zurique as imagens, pinturas, velas, vestes
especiais, e as paredes foram pintadas de branco.
Por fim, ele enfatizava o papel da teologia na adoração. Até as orações
eram declarações teológicas precisas, em vez de simples pedidos devotos. O
ponto central estava no ensino e não na devoção.
João Calvino
A teologia e as reformas eucarísticas de Calvino são complexas.
Apresentaremos aqui somente as ideias principais. Assim como Lutero,
Calvino defendia que a eucaristia permitia aos cristãos uma participação no
corpo e no sangue de Cristo de forma verdadeira, real e eficaz. No tratado De
Vera Participatione Christi in Coena, ele escreveu:
Era adequado que Cristo cumprisse em realidade e eficácia tudo que a analogia entre
“signo” e “significado” exige. Logo, é-nos oferecido na ceia, em verdade, uma
comunhão com Seu corpo e sangue – ou (o que significa a mesma coisa) é colocada
diante de nós uma promessa, mediante o pão e o vinho, que nos torna participantes
do corpo e do sangue de Cristo. 54
a verdadeira administração dos sacramentos não pode existir sem a Palavra. Pois
qualquer utilidade que nos advenha da ceia requer a Palavra; quer tenhamos de ser
confirmados na fé, quer exercitados na confissão, quer exortados ao dever cristão, a
pregação é necessária. Portanto, não se pode fazer nada mais perverso do que
transformar a ceia em um ato mudo. 60
Batismo e confirmação
De acordo com Maxwell E. Johnson, a reforma de Lutero “foi um
movimento ‘conservador’, tanto na esfera teológica quanto litúrgica,
valorizando muito e conservando boa parte da tradição litúrgica latina
ocidental em suas reformas dos ritos sacramentais da igreja”. 65
Isso é verdade sobretudo no que diz respeito ao batismo, ao qual
inicialmente quase não fez mudanças. Chegou a dar graças a Deus em Do
Cativeiro Babilônico da Igreja porque Ele “conservou pelo menos esse único
sacramento [do batismo] em Sua igreja ilibado e incontaminado pelas
prescrições dos seres humanos. Fê-lo livre para todos os povos e todas as
classes de pessoas”. 66
Não quer dizer que ele não via necessidade de mudança na maneira que o
rito era praticado dentro do catolicismo. De acordo com John D. C. Fisher, os
reformadores protestantes do século 16 criticaram o rito medieval do batismo
por cinco motivos principais: (1) somente a água devia ser administrada em
nome da Trindade e nada mais era essencial (como a bênção da fonte, o uso
de óleo, velas, sal e saliva); (2) esses acréscimos davam lugar a superstições;
(3) o batismo de crianças em uma igreja vazia, a qualquer momento, diminuía
a honra devida ao sacramento e obscurecia o elemento eclesiástico do
batismo; (4) não se tomava cuidado suficiente na escolha de padrinhos
apropriados; (5) a cerimônia não era significativa, pois era feita em latim. 67
Essas críticas provinham principalmente daquilo que Lutero dissera em Do
Cativeiro Babilônico e foi repetido por todos os reformadores posteriores. No
entanto, quando ele publicou seu primeiro Taufbüchlein (Livreto Batismal),
em 1523, apresentando um ritual reformado para o batismo, além de traduzir
o rito católico romano do fim da Idade Média para o alemão, não fez
nenhuma mudança significativa na cerimônia. Ele revisou o material em
1526, levando em conta a preocupação de muitos cristãos reformados, os
quais não se sentiam à vontade com os elementos extrabíblicos da cerimônia,
muitos dos quais foram excluídos pelo reformador. 68
A despeito de enfatizar a fé, o acesso cognitivo e inteligibilidade dos rituais,
a maioria dos reformadores manteve e defendeu o batismo infantil. Mas por
que o batismo era necessário? Qual era o significado desse rito? Oferecia o
perdão dos pecados, em especial do “pecado original”? Ou era apenas uma
maneira de acrescentar pessoas ao rol de membros da igreja? De acordo com
Nathan Mitchell, embora os reformadores soubessem das controvérsias
ligadas ao conceito de peccatum Adae (pecado original), relutavam em
rejeitá-lo. 69
Calvino afirmou: “Por tal, vê-se que o pecado original seja uma depravação
e corrupção hereditária de nossa natureza espalhada em todas as partes da
alma, que primeiro nos torna réus pela ira de Deus e depois exibe em nós a
obra que a Escritura chama de obra da carne.” 70
Então o que o batismo significa e qual é seu propósito? Para Calvino, o
batismo é “um signo de iniciação pelo qual somos recebidos na sociedade da
igreja, para que, enxertados em Cristo, sejamos contados entre os filhos de
Deus”. Logo, o batismo é um dom divino, porém seu poder não provém do
elemento da água, mas da Palavra de Deus. A água não contém “em si a
virtude de purificar, regenerar e renovar [...]. Paulo une ao mesmo tempo a
Palavra da vida e o batismo da água”. O batismo é eficaz como “símbolo e
documento de nossa purificação; [...] um diploma autenticado, que nos
confirme que todos os nossos pecados de tal maneira nos são perdoados,
prescritos e esquecidos que nunca se apresentarão perante seu olhar, nem
serão recordados ou imputados”. 71
Os reformadores eram críticos ferrenhos do “sacramento de confirmação”,
instituído pela igreja no fim da era medieval. Lutero o chamou de
“affenspiel” (“macacada”), lügentand (“engano fantasioso”) e gaukelwerk
(“baboseira”). 72 Calvino foi ainda mais veemente: “Apresso-me a declarar
que, sem dúvida, não sou um daqueles que acha que a confirmação, conforme
ditada pelo papado romano, é uma cerimônia vazia, uma vez que a considero
uma das astúcias mais letais de Satanás.” 73
O mais irônico é que, embora os reformadores tenham apagado a
confirmação da lista de sacramentos da igreja, todas as principais tradições
que sucederam suas obras de reforma – luterana, reformada (incluindo o
zuinglianismo e o calvinismo) e anglicana – contam com um rito preliminar
que leva ao recebimento da primeira comunhão. 74
Oração diária
Na igreja medieval, a oração diária pública, conhecida como Liturgia das
Horas ou Ofício Divino, era celebrada apenas em casas religiosas ou em
catedrais. Essas orações públicas diárias haviam se transformado em
recitações particulares feitas pelo clero, com as quais os cristãos leigos
tinham pouca familiaridade, muito embora as Vésperas de domingo tenham
permanecido populares nas paróquias. Os reformadores luteranos mantiveram
e transformaram as orações diárias em cultos públicos de oração e adoração.
Esses cultos seguiam o molde antigo, combinando as diferentes partes para
incluir salmos, leitura bíblica (seguindo o ano litúrgico), hinos e oração. A
principal modificação introduzida pelo luteranismo foi o acréscimo de um
sermão: uma exposição ou síntese da lição apresentada. 75
O que vemos nessa síntese é que os ofícios da manhã e da tarde foram
mantidos na prática luterana e receberam certa revitalização com a oração
congregacional e o culto de adoração.
A tradição reformada, que inclui o zuinglianismo e o calvinismo, se
distanciou mais do costume da Liturgia das Horas, mas também manteve
parte dela, adaptando os seguintes tipos de oração usados na igreja medieval:
(1) A coleta era uma oração de uma ou duas frases que começava com uma
expressão que descrevia uma característica de Deus e então transformava essa
afirmação em um pedido. (2) A litania era uma série de pedidos curtos,
seguidos por uma resposta congregacional, que costumava ser repetida
diversas vezes. (3) A oração de súplica poderia ser espontânea ou um texto
lido, preparado com antecedência. O líder ou pastor convidava as pessoas a
orar por temas sugeridos, às vezes fazendo uma oração de abertura sobre o
assunto, sucedida por oração silenciosa, e concluindo com uma resposta do
grupo em uníssono. (4) Na oração livre, as pessoas expressavam
espontaneamente seus pedidos ou motivos de gratidão, concluindo com uma
sentença responsiva coletiva. (5) A oração pastoral, feita pelo pastor, de
forma espontânea ou escrita, apresentava uma perspectiva ampla das
preocupações da congregação. (6) A oração por iluminação ocorria antes da
leitura das Escrituras, rogando ao Espírito Santo que estivesse presente na
leitura da Palavra (nos tempos medievais, essa era a oração pela consagração
da hóstia). (7) Uma oração de ação de graças e dedicação era feita pelos
donativos financeiros levados ao altar (na igreja medieval essa era uma
oração de gratidão pelos elementos da missa). (8) Na igreja medieval, a
oração do Pai Nosso fazia parte da liturgia eucarística, mas na tradição
reformada os novos membros, após o batismo, recebiam permissão para
participar da ceia pela primeira vez e tinham a honra de aprender e proferir o
Pai Nosso. Essa oração podia ser usada em diferentes partes do culto. (9) A
meditação guiada era uma forma de oração na qual o líder – o único que
falava em voz alta – orientava as pessoas em um processo de meditação,
dando tempo para o silêncio, a fim de que cada um, a seu ritmo, pudesse
formar imagens mentais. 76
A principal contribuição dos reformadores para a tradição cristã da oração
pública diária foi a restauração do saltério como hinário congregacional.
Graças ao surgimento das traduções métricas dos Salmos para o francês, foi
possível transformá-los em música. Calvino foi fundamental no incentivo a
esses esforços, contratando músicos e poetas competentes a fim de realizar
essa obra. Depois, reuniu tudo em seu hinário (1542), que recebeu diversos
acréscimos aos 39 salmos originais, com cânticos e orações para uso
congregacional. 77
Casamento
Os reformadores reconheciam que o casamento era, ao mesmo tempo, um
ato sacro e secular, criado por Deus, mas também consolidado como parte da
vida social, governada pelas leis civis. Em Order of Marriage: For Simple
Pastors [Ordem do casamento: para pastores simples], 1529, Lutero revisou
de forma bem conservadora o rito medieval, mantendo muitos elementos
familiares (como o anúncio público da iminência do casamento, o
consentimento, a troca de alianças, a união das mãos e a “bênção nupcial”).
Embora ele não chame o casamento de sacramento, a bênção final diz: “a
união sacramental de Teu querido Filho, o Senhor Jesus Cristo, com a igreja,
Sua noiva”. 78 Assim como Lutero, Calvino concordava que o casamento
não era um sacramento: “Pois, para que haja sacramento, não somente se
requer que seja obra de Deus, mas é necessário ainda que exista uma
cerimônia externa, ordenada por Deus, para confirmar a promessa.” 79
Calvino também rejeitava que o casamento recebesse status de sacramento
porque a cerimônia não é mencionada no Novo Testamento e pelo fato de
nem todos os cristãos receberem a ordem de casar. Além disso, ele cria que
as leis do matrimônio entravam na jurisdição das autoridades civis. Mesmo
assim, segundo ele, por obrigação moral, o Estado deveria prover leis em
estrita conformidade com os princípios cristãos. 80
Os reformadores também rejeitavam a noção de dois estados na vida:
solteiro ou celibatário e casamento. Insistiam que a união sexual foi algo
criado e abençoado por Deus e a condição mais elevada à qual o cristão pode
ser chamado. Como exemplo disso, ambos os reformadores se casaram.
Penitência
A opinião de Lutero em relação ao sacramento da penitência era ambígua. -
James F. White observa que Lutero afirmou que o significado original de
penitência fora esquecido pela igreja medieval. 81 Ele “finalmente se
convenceu de que, na falta de um sinal expressivo, ela não deve ser contada
entre os sacramentos instituídos pelo Senhor, muito embora João 20:22 a 23
contenha palavras de promessa”. 82
Lutero lamentava que, para muitos cristãos medievais, e confissão dos
pecados houvesse se tornado um fardo compulsório, em lugar de um
privilégio. 83 Embora tenha escrito Short Order of Confession Before the
Priest for the Commom Man [Ordem Curta de Confissão do Homem Comum
Perante o Sacerdote], ele não cria que uma confissão eficaz fosse uma
“questão clerical”. 84 Zuínglio foi bem além, insistindo que não havia
“necessidade de nenhum sacerdote” quando um cristão buscava o perdão de
Deus. 85
Fica clara a seriedade que eles atribuíam ao rito da penitência na eucaristia
(o Confiteor do rito medieval). Várias liturgias reformadas expandiram os
ritos de abertura da confissão e reconciliação. Em Form of Church Prayers
[Formas de Orações Eclesiásticas], Calvino começa com uma longa oração
de confissão proferida pelo ministro, o qual convida as pessoas a “seguir
minhas palavras no coração”. 86 O rito de Calvino também incluía a
recitação do Decálogo.
Ordenação
As questões do ministério e sacerdócio no século 16 não podiam ser
separadas da reflexão mais ampla sobre os sacramentos e o sacrifício
eucarístico. Lutero se distanciou do conceito e rito de ordenação da igreja
medieval tardia na obra Ordination of Ministers of the Word [Ordenação de
Ministros da Palavra], em 1539. Ele rejeita a maioria das cerimônias
medievais complexas de ordenação de religiosos (com litanias, reverências,
unções, oferta de cálice e vasilha, vestuário, etc.). Em seu lugar, propõe uma
liturgia relativamente breve, que mantinha a imposição de mãos, mas
substituía as longas orações medievais. 88
A cerimônia refletia a compreensão de Lutero acerca do batismo como o
“verdadeiro sacramento da ordenação”, que transforma todos os cristãos em
sacerdotes. 89 Calvino também tinha bastante consciência da relevância dada
pelos católicos às cerimônias de ordenação de presbíteros, embora se sentisse
inclinado a colocar a ordenação de presbítero “como a número três entre os
sacramentos”. Ele declinou dessa ideia porque reconhecia que, embora esse
rito não fosse “ordinário nem comum a todos os fiéis, era especial e tinha
uma função específica”. 90
1 Frank C. Senn, Christian Worship: Catholic and Evangelical (Mineápolis, MN: Fortress, 1997), p.
3.
2 Senn, Christian Worship, p. 53.
3
Christopher Haas, “Where Did Christians Worship?”, Christian History 12 (1993), p. 1.
4 Earle E. Cairns, Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã (São Paulo: Vida
Nova, 2008), p. 73, 74.
5 Conforme Plínio, o Jovem, testemunha em uma carta ao imperador romano Trajano no início do 2o
século. Cf. Plínio, “Epistle X”, 96, em A New Eusebius, trad. J. Stevenson (Londres: S.P.C.K., 1968), p.
14. Também em “First Apology of Justin Martyr”, 61-67, em Early Christian Fathers, Cyril C.
Richardson, ed., Library of Christian Classics (Louisville, KY: Westminster Press, 2006), v. 1, p. 282-
288.
6 As evidências são escassas, mas existem. Alguns especialistas, como W. Rordorf, Sunday: The
History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church (Filadélfia,
PA: Westminster, 1968), cujos posicionamentos são seguidos por muitos, atribuem a instituição do
domingo aos tempos do Novo Testamento. Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday: A
Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity (Roma: Pontifical
Gregorian University Press, 1977), p. 132-159, demonstrou que o cristianismo na Palestina não foi
responsável pela origem da observância do domingo. Além disso, há evidências de que os cristãos
gentios respeitavam e guardavam o sábado, conforme demonstra o uso da expressão judaica “dia da
preparação” para se referir à sexta-feira na Didaquê 8:1 e em O Martírio de Policarpo 7:1 e 8:1, no
qual se afirma que o julgamento de Policarpo ocorreu em um “sábado grande” (cf. Richardson ed.,
Early Christian Fathers, v. 1, p. 174, 151). A versão copta da Tradição Apostólica instruiu os escravos
a trabalhar somente cinco dias por semanas, a fim de poderem “se dedicar à igreja e se instruírem na
piedade” aos sábados e domingos. Isso também foi preservado nas “Constituições Apostólicas VIII, 33,
em Anti-Nicene Fathers, Alexander Roberts, James Donaldson e A. Cleveland Coxe, eds. (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1995), v. 7, p. 495).
Outra evidência que apoia a continuação da observância do sábado se encontra no fato de que havia
polêmicas contra esse dia, conforme mostra o exemplo da carta aos Magnésios 8, 9:1, na qual os
cristãos são exortados a substituir a guarda do sábado pelo “dia do Senhor” (cf. Richardson (org.),
Early Christian Fathers, v. 1, p. 96). Além disso, a Epístola de Barnabé 15:9 condena a guarda do
sábado, chamando-a de inaceitável e exortando os leitores a “observar o oitavo dia com alegria”. Além
disso, nos lugares onde os cristãos guardavam o sábado, eles eram exortados a não seguir essa prática
como no judaísmo, isto é, em ociosidade, mas se dedicando ao estudo da Palavra. O cânon 16 do
Sínodo de Laodiceia (c. 363-364) especifica: “Os evangelhos devem ser lidos aos sábados, junto com
outras Escrituras” (Philip Schaff, org., Nicene and Post-Nicene Fathers [Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1997], v. 14, p. 133). As Constituições Apostólicas (também conhecidas como Constituições dos Santos
Apóstolos) declaram que se deve jejuar aos sábados (Livro V, 14-20, especificamente 18:1; 20:19
[Alexander Roberts, org., Ante-Nicene Fathers (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995), v. 7, p. 443-448];
VII, 23 [Roberts, ed., Ante-Nicene Fathers, v. 7, p. 469]), atitude amplamente expressa por uma série
de pais da igreja. Parece que o jejum aos sábados remonta à igreja de Roma e dela se espalhou para o
Ocidente. Sócrates, o historiador cristão do 5o século, afirmou, por exemplo, que’ “embora quase todas
as igrejas do mundo celebrem os sagrados mistérios aos sábados, todas as semanas, os cristãos de
Alexandria e Roma, por causa de alguma tradição antiga, deixaram de fazer isso” (“História
Eclesiástica” 5, 22, em Schaff, ed., Nicene and Post-Nicene Fathers, v. 2, p. 132).
7 Tertullian, “On Baptism”, XIX (c. 205), Roberts, ed., Ante-Nicene Fathers, v. 3, p. 678; “Didascalia
Apostolorum”, XXI (metade do 3o século), em Documents of Christian Worship: Descriptive and
Interpretative Sources, J. F. White, ed. (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1992), p. 23.
8 Embora o batismo seja um rito de iniciação no Novo Testamento, a literatura cristã inicial revela o
desenvolvimento de uma cerimônia simples para algo mais sofisticado. Por exemplo, a Didaquê VII,
em Richardson, ed., Early Christian Fathers, v. 1, p. 174 (início do 2o século), registra a necessidade
de instruir os catecúmenos antes do batismo, jejuar de um a dois dias antes da cerimônia e derramar
água sobre a cabeça três vezes em nome da Trindade. No 4o século, autores como Cirilo, Crisóstomo,
Teodoro e Ambrósio incluíram na cerimônia um ato de renúncia e compromisso, seguido pela
condecoração, unção e o batismo em si. Por fim, o novo membro era ungido e vestia uma roupa branca.
Cf. Hugh M. Riley, Christian Initiation (Washington, DC: Catholic University of America Press,
1974), p. 21; e White, Documents of Christian Worship, p. 161.
9 Tertullian, “On Penance”, 203, em Roberts, ed., Ante-Nicene Fathers, v. 3, p. 659-665.
10 Inácio de Antioquia, “Carta aos Magnésios”, VI (c. 115), em Richardson, ed., Early Christian
Fathers, v. 1, p. 95. Hippolytus, “Apostolic Tradition”, II, VII-IX (c. 217), em White, Documents of
Christian Worship, p. 230, 231.
11 J. F. Baldovin, “The Empire Baptized”, em The Oxford History of Christian Worship, G.
Wainwright e K. B. Westerfield Tucker, ed., (Oxford: Oxford University Press, 2006), p. 77-84.
12 Senn, Christian Worship, p. 109-110.
13 Egeria, “Pilgrimage of Egeria”, XXIV-XXV, em Egeria’s Travels, trad. J. Wilkinson, (Londres:
SPCK, 1971), p. 123-126.
14 Senn, Christian Worship, p. 5-6, 109, 110. A interpretação alegórica desempenhará um papel
central durante o renascimento carolíngio da liturgia. Cf. M. Kunzler, The Church’s Liturgy (Nova
York: Continuum, 2001), p. 90, 91.
15 Baldovin, “The Empire Baptized”, p. 80-84.
16 Senn, Christian Worship, p. 110.
17 Os grandes pregadores mistagógicos do quarto século foram Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo
(Antioquia) e Teodoro de Mopsuéstia (Síria) no Oriente, bem como Ambrósio de Milão no ocidente.
James F. White apresenta trechos de sermões e descrições de sacramentos em Documents of Christian
Worship, p. 156-164.
18 Frank S. Senn, The People’s Work: A Social History of the Liturgy (Mineápolis, MN: Fortress,
2010), p. 173-178.
19 Senn, Christian Worship, p. 176-177. Para mais detalhes, ver Donald Bullough, “Roman Books
and Carolingian Renovatio”, em Renaissance and Renewal in Church History, Studies in Church
History, Derek Baker, ed. (Oxford: Blackwell, 1977).
20 M. S. Driscoll, “The Conversion of the Nations”, em Wainwright e Tucker, ed., The Oxford
History of Christian Worship, p. 185-194.
21 Senn, Christian Worship, p. 188-192.
22
Cf. Finnian of Clonard, The Penitential of Finnian, Medieval Handbooks of Penance (Nova York:
Columbia University Press, 1938).
23 Sobre a história do surgimento das penitências, ver C. Vogel, Le Pécheur et la Pénitence Dans
L’Eglise Ancienne (Paris: Le Cerf, 1966) e Le Pécheur et la Pénitence au Moyen Âge (Paris: Le Cerf,
1969).
24 Maxwell E. Johnson, The Rites of Christian Initiation: Their Evolution and Interpretation
(Collegeville, MN: Liturgical Press, 2007), p. 246, 247, 257-259.
25 Johnson, The Rites of Christian Initiation, p. 180-184, 247-257.
26 Verso ou frase curta (de um salmo, por exemplo) declamada ou cantada por um líder no culto
público, seguido por uma resposta dos congregantes.
27 Driscoll, “The Conversion of the Nations”, p. 188; Senn, Christian Worship, p. 206-210.
28 Senn, Christian Worship, p. 221.
29 Senn, Christian Worship, p. 222, 223.
30 Senn, Christian Worship, p. 223-226.
31 “Canon 21”, em Medieval Sourcebook: Twelfth Ecumenical Council: Lateran IV, 1215 -- The
Canons of the Fourth Lateran Council. Disponível em
<http://www.fordham.edu/halsall/basis/lateran4.asp>. Acesso em 23 de julho de 2019.
32 Senn, Christian Worship, p. 227-230.
33 Senn, Christian Worship, p. 230-235.
34 Senn, Christian Worship, p. 236-239.
35 T. Thibodeau, “Western Christendom”, em Wainwright e Tucker, ed., The Oxford History of
Christian Worship, p. 230.
36 Agostinho, Iohannis Evangelium Tractatus, 25.12; 26.1, e Corpus Christianorum Serie Latina
(Turnholti, Bélgica: Brepols, 1953-), v. 36, p. 260.
37 Sobre a história do termo, ver J. Goering, “The Invention of Transubstantiation”, Traditio 46
(1991), p. 147-170.
38 Sobre o texto completo do decreto, cf. Antonio García y García, ed., Constituiones Concilii Quarti
Lateranensis una cum Commentariis Glossatorum, Monumenta Luris Canonici, serie A (Città del
Vaticano: Biblioteca Apostolica Vaticana, 1981), v. 2, p. 42.
39 Tomás de Aquino, Suma Teológica (São Paulo: Loyola, 2016), III.75.1-77.7: 5518-5570.
40 Thibodeau, “Western Christendom”, p. 236.
41 Martinho Lutero, “The Babylonian Captivity of the Church”, em Luther’s Works, A. R. Wentz e H.
T. Lehmann, org. (Filadélfia, PA: Fortress, 1959), v. 36, p. 35.
42 Lutero, “The Babylonian Captivity of the Church”, p. 51.
43 Martinho Lutero, “Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue de Nosso Senhor”, Obras
Selecionadas, (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 1988), v. 7, p. 242.
44
Nathan D. Mitchell, “Reforms, Protestant and Catholic”, em Wainwright e Tucker, ed., The Oxford
History of Christian Worship, p. 317.
45 Em The Private Mass and the Consecration of the Priest [A Missa Particular e a Consagração do
Sacerdote], ele diz: “Se a intenção de Cristo é (conforme dissemos) que o sacramento seja distribuído à
comunidade de Cristo para fortalecer a fé e louvar a Cristo em público, mas vocês a transformaram em
uma obra especial para si mesmos e a desempenham sem o auxílio de outros, vocês a dão aos outros e a
vendem por dinheiro, o que pode ser desmentido em relação a isso?” (Wentz e Lehmann, Luther’s
Works, v. 38, p. 152).
46 R. Theisen, Mass Liturgy and the Council of Trent (Collegeville, MN: St. John’s University Press,
1965), p. 7-8, citado por Mitchell, em Wainwright e Tucker, ed., The Oxford History of Christian
Worship, p. 320.
47 Theisen, Mass Liturgy and the Council of Trent, p. 10.
48 James F. White, Protestant Worship: Traditions in Transition (Louisville, KY: Westminster John
Knox, 1989), p. 58.
49 White, Protestant Worship, p. 59.
50 Ulrich Zwingli, Commentary on True and False Religion, ed. Samuel M. Jackson e Clarence N.
Heller (Durham, NC: Labyrinth, 1981), p. 209.
51 Ver Bard Thompson, Liturgies of the Western Church (Cleveland, OH: Meridian, 1961), p. 142.
52 Em 1525, Zuínglio publicou Action of Use of the Lord’s Supper [Ato de Uso da Ceia do Senhor],
no qual declara que ela deveria ser celebrada somente nas três grandes festas cristãs: no Natal, na
Páscoa, no Pentecostes e na festa dos santos padroeiros de Zurique, São Félix e Santa Régula (cf.
Howard L. Rice e James C. Huffstutler, Reformed Worship [Louisville, KY: Geneva, 2001], p. 30).
53 White, Protestant Worship, p. 62.
54
Citado por Mitchell em Wainwright e Tucker, ed., The Oxford History of Christian Worship, p.
320, 321.
55 Cf. Kilian McDonnell, John Calvin, the Church, and the Eucharist (Princeton, NY: Princeton
University Press, 1967), p. 160-169.
56 João Calvino, A Instituição da Religião Cristã (São Paulo: Editora Unesp, 2009), v. 2, p. 783.
57 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 706.
58 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 706.
59 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 840.
60 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 813.
61Franklin M. Segler e R. Bradley, Christian Worship: Its Theology and Practice (Nashville, TN:
B&H Academic, 2006), p. 33, 34.
62 Segler e Bradley, Christian Worship: Its Theology and Practice, p. 34.
63 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 818. Para mais sobre o esboço, cf. Rice e
Huffstutler, Reformed Worship, p. 34.
64
Segler e Bradley, Christian Worship: Its Theology and Practice, p. 35.
65 Johnson, The Rites of Christian Initiation p. 317.
66 Martinho Lutero, “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”, Obras Selecionadas (São Leopoldo, RS:
Editora Sinodal, 1988), v. 2, p. 375.
67 J. D. C. Fisher, “Lutheran, Anglican, and Reformed Rites”, em The Study of Liturgy, Cheslyn
Jones, et. al., ed., (Nova York: Oxford University Press, 1992), p. 154.
68 Os dois livretos estão disponíveis em: J. D. C. Fisher, Christian Initiation: The Reformation Period
(Chicago, IL: Hillenbrand, 2007).
69 Mitchell, “Reforms Protestant and Catholic”, p. 327, 328.
70 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 1, p. 233.
71 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 717, 718.
72 Arthur Repp, Confirmation in the Lutheran Church (Saint Louis, MO: Concordia Publishing
House, 1964), p. 15.
73 Fisher, Christian Initiation, p. 254.
74 Ver Paul Turner, Meaning and Practice of Confirmation: Perspectives from a Sixteenth Century
Controversy (Nova York: P. Lang, 1987).
75 Edward T. Horn, “The Lutheran Sources of the Common Service”, LCR, v. 10 (1891), p. 261-264.
76 Rice and Huffstutler, Reformed Worship, p. 113-118.
77 O nome do hinário é La Forme des Prières et Chants Ecclésiastiques [A Forma das Orações e dos
Cânticos Eclesiásticos] (cf. Mitchell, “Reforms Protestant and Catholic”, p. 329).
78 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 53, p. 115.
79 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 871.
80 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 872-874.
81 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 36, p. 18.
82 White, Protestant Worship, p. 39.
83 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 53, p. 116.
84 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 53, p. 117, 118.
85 James F. White, Brief History of Christian Worship (Nashville, TN: Abingdon, 1993), p. 129.
86 Thompson, Liturgies, p. 197, 198.
87 Cf. Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 857-861.
88 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 53, p. 125.
89 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 53, p. 122.
90 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 867.
91 Cf. Heinrich Bornkamm, Luther and the Old Testament (Filadélfia, PA: Fortress, 1969), p. 124,
125.
92 Robert Cox, The Literature of the Sabbath Question (Edinburgh: MacLaughlan and Stewart, 1865),
v. 1, p. 384.
93 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 18, p. 77, 81.
94 Cf. Ernest G. Rupp, “Andrew Karlstadt and Reformation Puritanism”, Journal of the Theological
Society 10 (1959), p. 315-319; K. A. Strand, “Sabbath and Sunday in the Reformation Era”, em The
Sabbath in Scripture and History, Kenneth A. Strand, ed. (Washington, DC: Review and Herald, 1982),
p. 217; Marc Lienhard, Martin Luther: Un temps, une Vie, un Message (Genebra: Labor et Fides,
1991), p. 140, 141.
95 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 6, p. 243, 244.
96 Wentz e Lehmann, Luther’s Works, v. 18, p. 81.
97 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 890.
98 João Calvino, Calvin’s Commentaries: The Epistle of Paul the Apostle to the Hebrews and the
First and Second Epistles of St. Peter (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1963), v. 12, p. 48, 49.
99 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 1, p. 376-380.
100 O Calvino, Calvin’s Commentaries: The Epistles of Paul the Apostle to the Galatians, Ephesians,
Philippians and Colossians, v. 11, p. 337.
101 Cf. Sergio Becerra, “Racine Puritaines de la Doctrine du Sabbat Adventiste du Septième Jour:
Étude Historique et Théologique” (Tese de doutorado, Université Marc Bloch, 2001), p. 43-98.
2 A Adoração e os Reformadores
Anabatistas do Século 16
Sergio E. Becerra
Reuniões anabatistas
De acordo com os recursos disponíveis, a adoração anabatista era bem
simples. Ela incluía – pelo menos no início do movimento – leitura da Bíblia,
oração, pregação e cânticos. Uma disciplina dos irmãos suíços, de
aproximadamente 1540, diz:
Os irmãos e irmãs devem se reunir pelo menos três ou quatro vezes por semana para
estudar os ensinos de Cristo e de Seus apóstolos, admoestando uns aos outros no
Senhor. Quando se encontrarem, devem ler algo que entendem que Deus colocou em
seu coração. Os outros devem permanecer em silêncio e ouvir para que não haja dois
ou três falando ao mesmo tempo, impedindo os demais de escutar. O saltério deve
ser lido diariamente por todos. [...] O alimento das refeições durante esses momentos
de reunião deve ser fornecido pelos irmãos em cuja casa o encontro é realizado. [...]
A ceia do Senhor deve ser observada sempre que os irmãos se reunirem. 8
Quando nos reunimos para um encontro, desejamos que nosso coração seja animado
e despertado na graça de Deus, a fim de que possamos andar diante do Senhor com
maior fervor e zelo. Primeiro, as pessoas são encorajadas a refletir com seriedade no
motivo do ajuntamento e preparar o coração para orar, a fim de que sejam dignas
perante o Senhor de interceder pelas preocupações da igreja e de todos seus
membros. Depois disso, damos graças a Deus por todas as coisas boas que Ele nos
deu por intermédio de Cristo. Agradecemos porque nos aceitou em Sua graça e nos
revelou a verdade. Depois disso, fazemos uma oração fervorosa a Deus para que nos
mantenha fiéis e devotos até o fim, pedindo que supra todas as nossas necessidades.
Pedimos que abra nosso coração a fim de que nos beneficiemos de Sua Palavra ao
aceitá-la e guardá-la. Quando a oração termina, o servo da Palavra proclama a
mensagem do Senhor com fidelidade, de acordo com a graça que Deus lhe concedeu,
incentivando-nos a temer ao Senhor e permanecer fiéis a Ele. Depois disso, o servo
entrega a congregação a Deus e despede os presentes, cada um para seu lar. Quando
nos reunimos para celebrar a refeição da lembrança, ou ceia do Senhor, as pessoas
são encorajadas e instruídas com dois ou três dias de antecedência. Entendem com
clareza o significado da ceia do Senhor, como ela é celebrada e como cada um deve
se preparar a fim de ser digno de tomá-la. Cada dia deve incluir oração e ações de
graças. Quando isso acontece e a ceia do Senhor é observada, todos cantam um hino
de louvor a Deus. Então as pessoas são exortadas a viver de acordo com o que
acabaram de expressar. Então são recomendadas ao Senhor e despedidas. 9
A descrição feita por Riedemann de uma reunião huterita é bem semelhante
à dos cultos dos irmãos suíços. Primeiramente, ele mostra que o objetivo
principal das reuniões era encorajar e admoestar, com base na leitura e
pregação das Escrituras. Esperava-se que a comunidade dos santos
conhecesse seu dever cristão perante o Senhor. Isso não quer dizer que não
havia ensino. Na verdade, o básico do evangelho era ensinado de maneira
especial para os descrentes antes do batismo, não para a comunidade dos
salvos. Em segundo lugar, Riedemann explica o propósito das orações e o
verdadeiro espírito com o qual deveriam comparecer diante de Deus.
Terceiro, ele menciona o objetivo da ceia do Senhor como um memorial da
cruz. O preparo correto para essa ordenança é destacado como pré-requisito
para o indivíduo e a comunidade participarem. Quarto, as ações de graças e a
oração recebem destaque como objetivo de um encontro diário em comum,
em contraponto com a ceia do Senhor, que requer um preparo mais completo
e, por isso, não podia ser celebrada com tanta frequência. Por fim, o cântico
de hinos é mencionado como uma maneira adequada de louvar ao Senhor.
Para Friedmann, as duas formas de vida devocional entre os anabatistas em
sua primeira década de existência eram a reunião para celebrar a ceia do
Senhor e a hora diária de oração. 10 Com base no que vimos, isso pode ser
verdade, pelo menos nos períodos de perseguição mais amena ou em áreas
nas quais os anabatistas eram tolerados. Esse era o caso dos huteritas da
Morávia.
Claus-Peter Clasen, em contrapartida, fez um estudo sociológico dos
anabatistas e identificou dois tipos de reunião 11 que, aparentemente,
refletem um ajuste para situações de perseguição intensa. A primeira era uma
pequena convenção de três a dez pessoas. Esses encontros informais
despertavam menos suspeitas das autoridades, permitindo a leitura e o debate
das Escrituras, bem como a oração. Clasen relata uma reunião secreta de três
ou quatro fiéis em Augsburg, que “caminhavam pelos muros da cidade,
conversando [entre si] sobre a Palavra de Deus”, a fim de não serem
detectados pelas autoridades. 12
O segundo tipo de reunião era a assembleia geral. Trata-se de uma reunião
maior, com até centenas de participantes, que costumava acontecer na
floresta, durante a noite. Existem vários relatos dessas reuniões. Elias Schad,
pastor luterano, posteriormente, deixou um relatório escrito do que
testemunhou e o debate que se seguiu entre ele e os líderes anabatistas,
quando se infiltrou em uma reunião do grupo, em 4 de julho de 1576, perto
de Estrasburgo, Alsácia. 13 De acordo com Schad, havia cerca de 200
pessoas presentes, em sua maioria homens. Ele cria que vinham de lugares
distantes, como a Suíça, Breisgau, Westerich, Westerburg (isto é,
Württemberg), Alsácia e talvez até Morávia. Cinco anciãos ou líderes leram
as Escrituras e depois pregaram sobre o que leram, um após o outro. Cada
sermão durou cerca de 15 minutos. Os temas abordados foram a queda, os
sofrimentos de Cristo e Sua redenção. “Eles enfatizaram principalmente que
deviam agradecer a Deus por escolhê-los para sair do mundo, pois eles não
eram do mundo.” 14 Após os sermões, um dos líderes dirigiu os irmãos em
um momento de oração que durou quase meia hora. Essas orações
individuais, proferidas em voz baixa, eram acompanhadas por braços que
balançavam, mãos batendo no peito, suspiros e gemidos, como se viessem do
Espírito. Após as orações, eles cumprimentavam uns aos outros, enviando
saudações aos ausentes. Por fim, um ancião terminou dizendo: “Agora, caros
irmãos, vocês ouviram e entenderam a Palavra de Deus, além de orar com
fervor. Se houver alguém que não entendeu bem, aproxime-se, que nós o
instruiremos! Ou se o Espírito de Deus revelar algo para alguém edificar os
irmãos, venha aqui e o ouviremos de maneira amistosa.” 15
Schad se aproveitou desse costume e foi em frente para pregar. Quando,
mais tarde, perceberam que ele não fazia parte do grupo, debateram com ele,
em especial sobre o batismo infantil e a excomunhão. No momento em que
alguns se exaltaram com o debate e ameaçaram o intruso, o líder do grupo
incentivou a tranquilidade e apelou para o juízo final, que corrigiria quem
havia deixado a verdadeira fé e os que se encontravam em erro. Esse relatório
é típico dos registros escritos deixados por observadores.
Lugares de adoração
Os primeiros anabatistas não se opunham à adoração em templos, mas,
conforme vimos, essa não era uma opção para a maioria deles, por causa da
perseguição intensa. A obra Sabbata, de Johannes Kessler, uma crônica dos
acontecimentos entre 1523 e 1539, afirma que a maioria dos anabatistas em
São Galo, Suíça, apoiava a adoração em igrejas, pois “os apóstolos estavam
dispostos a pregar a Palavra no templo e nas sinagogas”. 16 Os dois
documentos já analisados mencionam sua reunião como grupo de crentes. O
documento suíço subentende a reunião nos lares dos membros, uma vez que
se esperava que o dono da casa oferecesse comida. A confissão de
Riedemann não indica onde os encontros eram realizados. Logo eles foram
proibidos de se reunir e se recusavam a frequentar as assembleias da igreja
instituída pelo Estado, mesmo quando convidados ou ordenados a
comparecer.
Heinrich Bullinger, reformador de Zurique, preserva, em um livro escrito
contra os anabatistas, uma tradução literal de um documento anabatista hoje
extinto, que apontava oito motivos pelos quais eles se recusavam a se reunir
na igreja reformada do Estado. 17 O documento afirma que a igreja
reformada do Estado não era verdadeira porque: (1) não permitia que
ninguém guiado pelo Espírito falasse no culto; (2) não pregava mais sobre a
liberdade de fé cristã; (3) usava a força em questões de fé; (4) defendia seus
ensinos com outros meios além da espada do Espírito; (5) não tinha uma
exclusão ou disciplina para separar os membros puros dos impuros; (6) não
era a igreja de Deus, separada, pura, o real corpo de Cristo, e os anabatistas
eram proibidos de participar da ceia do Senhor com eles; (7) não doutrinavam
antes do batismo, como Cristo ensinou; e (8) costumavam pregar sobre a vida
cristã piedosa, mas condenavam os anabatistas por proclamar a mesma
mensagem.
Dá para entender por que os anabatistas não se uniam aos reformadores
apoiados pelo Estado em sua adoração. Isso está bem relacionado à ideia que
tinham em relação ao que é igreja. Para eles, a igreja verdadeira de Deus é
uma entidade visível, composta por homens e mulheres totalmente
comprometidos com uma vida cristã santa. Não havia, em sua opinião, uma
igreja invisível. A igreja do Senhor é visível e se torna assim por meio da
vida transformada dos cristãos verdadeiros. Logo, não estavam dispostos a
transigir com sua fé, mesmo ao enfrentar perseguição e morte. Recusavam-se
a ocultar sua fé quando os espiritualistas sugeriam que o fizessem a fim de
evitar a perseguição. 18
Líderes de adoração
Os anabatistas demonstravam sua forte ênfase na comunidade tanto em sua
adoração quanto na liderança do movimento. Não queriam ter uma hierarquia
centralizada. Em vez disso, esperavam adorar como uma fraternidade de
peregrinos, liderados por alguém do meio deles.
Caso o pastor necessite, deve ser sustentado pela comunidade que o escolheu, para
que aquele que serve o evangelho também viva dele, conforme o Senhor ordenou
[1Co 9:14]. Entretanto, se o pastor fizer algo que necessita de disciplina, não deve
ser julgado, a não ser pelo testemunho de duas ou três pessoas. Caso pequem [por
falso testemunho], devem ser disciplinados na frente de todos, para que os outros
temam.
Caso um pastor seja excluído ou levado ao Senhor por meio da cruz [execução],
outro deve ser ordenado de imediato em seu lugar, para que o pequeno povo de Deus
não seja destruído, mas mantido e consolado por meio das admoestações. 22
Leitura da Bíblia
Para Harold S. Bender, o componente mais importante da adoração
anabatista era o uso das Escrituras. “A autoridade elevada da Bíblia a
colocava, é claro, no centro do culto. Por isso, sua leitura, exposição ou
admoestação consistia no elemento mais importante.” 24 Uma vez que os
anabatistas eram restauracionistas, propondo um retorno às crenças e práticas
do Novo Testamento, é compreensível que reservassem bastante tempo para a
leitura da Bíblia em busca de orientação e força para sua experiência cristã. É
por isso que apoiavam a restauração de práticas como o batismo do converso,
separação do mundo, não resistência, o uso da remoção na disciplina
eclesiástica e a recusa em fazer juramentos. 25 De acordo com Clasen,
trechos longos da Bíblia eram lidos em voz alta. As seções preferidas eram o
Novo Testamento, os profetas e Salmos. 26 A leitura era feita pelo pastor,
que também pregava com base nas passagens. 27 Tudo indica que a leitura da
Bíblia era um elemento essencial das reuniões anabatistas.
Pregação
Em consequência da leitura das Escrituras, a pregação também era parte
importante da adoração anabatista. No entanto, para os anabatistas, a
pregação tinha um objetivo específico, bem diferente do conceito de pregação
difundido pelos reformadores magisteriais. De acordo com a confissão de
Riedemann, as reuniões e pregações anabatistas tinham como objetivo
“animar e despertar nosso coração na graça de Deus, a fim de que possamos
andar diante do Senhor com maior fervor e zelo”. 28 A confissão dos irmãos
suíços observa: “Os irmãos e irmãs devem se reunir pelo menos três ou
quatro vezes por semana para estudar os ensinos de Cristo e de Seus
apóstolos, admoestando uns aos outros no Senhor.” 29
O primeiro de uma lista de motivos para os anabatistas se recusarem a se
unir à adoração das igrejas estatais era que “os cristãos são chamados a
testemunhar na congregação, mas nenhuma exortação, admoestação, ou
ofício profético é possível onde tudo depende do discurso decorado de um
único homem”. 30 Um teólogo menonita conta que, no anabatismo, a
plenitude do sacerdócio de todos os crentes era asseverada “de maneira
desconhecida entre as igrejas instituídas. O cristão tem não só o direito, mas
também o dever de exortar, compartilhar e testar seu entendimento em meio à
congregação dos fiéis”. 31 Ele prossegue dizendo:
O sermão era o testemunho de um irmão perante os outros, acerca do que Deus havia
feito. Essas experiências confirmavam a veracidade do registro bíblico. No sermão
anabatista, a doutrina e a teologia eram firmemente subordinadas à admoestação.
Eles criam que a verdadeira fé precisava se manifestar em uma vida de devoção e
discipulado. Uma vez que não sabiam o que Deus requeria deles, o problema não era
a falta de conhecimento, mas a falta de obediência. Logo, a função do ministro era
apelar a seus ouvintes, instando-os a se arrepender, amar, demonstrar alegria e sentir
paz. 32
Isso significa que o sermão estava ligado à vida diária dos cristãos, que
precisavam viver à altura do ideal de obediência e santidade esperado da
comunidade dos fiéis. É por isso que o sermão anabatista era formado
principalmente por admoestação e exortação. Ao mesmo tempo, testificava
do que Deus estava fazendo na vida de cada um. Os cristãos se sentiam livres
para testemunhar do poder e da presença do Espírito Santo na vida deles. Isso
transformava a hora do culto em um momento muito prático de
encorajamento que, embora baseado na Palavra de Deus, se aplicava de
imediato à vida da comunidade.
Oração
De acordo com Riedemann, outro objetivo das reuniões anabatistas era a
prática da oração: “Primeiro, as pessoas são incentivadas a pensar com
seriedade no motivo da reunião e a preparar seus corações para a oração, a
fim de que sejam dignas perante o Senhor de interceder pelas preocupações
da igreja e por todos seus membros.” 33 A leitura da Bíblia e a exortação
funcionavam como um preparo espiritual para a oração. Eles faziam pedidos
não só por membros específicos, mas também pelas preocupações do grupo
como um todo.
O modo da oração praticada dependia do ramo particular do anabatismo. Os
holandeses pareciam preferir a oração silenciosa. Já se destacou que havia o
costume de “toda a congregação se ajoelhar quando o ministro chamava e
permanecia em devoção silenciosa até o ministro se levantar de novo. Isso era
feito duas vezes por culto – no início e no fim”. 34 As orações audíveis
foram introduzidas depois, com duas reações diferentes. Um dos oradores
emocionava tanto com suas orações que a congregação chorava. 35 Em
contrapartida, a tradição da oração silenciosa era tão enraizada que essa
mudança foi dolorosa para muitos. Em certo caso, a transição resultou em um
processo judicial. 36
Na Alemanha, parece que as congregações tinham o hábito de fazer orações
audíveis. O relato de um fazendeiro em Württemberg conta que, enquanto ele
caminhava pela floresta, descobriu um grupo de cem homens e mulheres
ajoelhados em oração, enquanto um “homem pregava e orava por eles em voz
alta”. 37 O relato mencionado anteriormente de uma reunião anabatista
realizada à noite perto de Estrasburgo, Alsácia, em 1576, descreve a oração
como um ato individual, que durava de 15 a 30 minutos. O relato conta que
“havia grande murmúrio audível, como se um enxame de vespas estivesse
passando. Eles balançavam os braços e batiam no peito. [...] Suspiravam,
gemiam e vergavam como um velho cavalo cansado puxando um carro ou
uma carroça”. 38 Embora esse testemunho seja, sem dúvida, parcial, é fácil
perceber que as orações desses cristãos eram sinceras, vinham do coração. De
acordo com Clasen, nem todas as orações eram espontâneas. Ele relata o uso
frequente do Pai Nosso e de orações lidas ou recitadas. 39
Hinário
É possível inferir que os anabatistas não incluíam cânticos em seu culto de
adoração. Existem provas de uma relutância inicial aos hinos. 40 Um dos
motivos pode ser que os irmãos suíços, a primeira comunidade de anabatistas,
passou por um curto período de influência zuingliana, que não incluía música
cantada ou instrumental nas reuniões religiosas. Conrad Grebel, um de seus
primeiros líderes, ensinava que no Novo Testamento não havia menção de
nenhuma ordem para cantar. 41 Mas existem evidências suficientes para
demonstrar que esse ponto de vista não foi seguido. O segundo motivo para
não incluir cânticos na adoração era de ordem prática. Temendo a
perseguição, os irmãos simplificaram a adoração e não incluíram a música,
apenas para evitar serem detectados enquanto viviam em circunstâncias
perigosas.
No entanto, os cânticos anabatistas se desenvolveram pouco depois e se
transformaram em uma forma de expressar a profundidade de suas
convicções e das emoções produzidas pela perseguição e pelo martírio.
Bender relata que, entre 1525 e 1560, cinco hinários diferentes foram
produzidos pelos anabatistas. Um era suíço, outro proveniente do baixo Reno
e três eram holandeses. 42 Existe um retrato bem abrangente de que os hinos
anabatistas do século 16 eram históricos e doutrinários. 43 Seus hinos
permaneceram quase que completamente desconhecidos das outras pessoas
da época. Eram escritos para uso interno e circulavam entre os grupos por
meio de transcrições. No fim do século, surgiram hinários impressos, mas a
maioria foi destruída pelas autoridades civis.
Os primeiros hinos anabatistas foram compostos entre os irmãos suíços. 44
Eles retratavam a experiência típica da vida cristã desse grupo, que estava
pronto para sofrer prisão e morte a qualquer momento. Eram, em sua maioria,
músicas de mártires que expressavam o sofrimento heroico de líderes como
Felix Manz, Georg Wagner e Michael Sattler. 45 Os hinos anabatistas
alemães eram bem semelhantes aos dos irmãos suíços. A maioria dos
cânticos huteritas também tinha como tema histórias de mártires, mas havia
um número considerável escrito em defesa de suas crenças em relação à ceia
do Senhor, ao batismo, à não resistência (ou dependência de Deus para
sobreviver) e à vida em comunidade. 46 Os hinos holandeses eram
totalmente diferentes. A maioria deles era do tipo klagelieder (lamento):
rompantes melancólicos, não de raiva, mas de protesto contra os crimes que
as autoridades cometiam. Mesmo nesses cânticos sombrios, conseguiam
transmitir a serenidade dos mártires, dispostos a morrer com uma oração
pelos perseguidores nos lábios, assim como seu Mestre. 47
Essas pessoas deveriam ser advertidas duas vezes em particular e, da terceira vez,
disciplinadas ou removidas perante toda a comunidade, seguindo a ordem de Cristo,
em Mateus 18 [:15-18]. Essa remoção deve acontecer, de acordo com a ordenança do
Espírito (Mt 5:23), antes do partir do pão, a fim de que todos tenham a mesma mente
e, no mesmo amor, possam partir um só pão e comer, além de beber de um só
cálice. 56
A ceia do Senhor
Em um século no qual os debates em relação à eucaristia integravam as
controvérsias mais acaloradas, a ceia do Senhor se tornou um símbolo com
importância especial para os anabatistas. Isso aconteceu porque os cristãos
daquela era entendiam que o partir do pão significava comer e beber com
Jesus. Logo, tratava-se do ato primordial da comunidade de fé. Os anabatistas
sofreram forte influência de Zuínglio na compreensão do sentido da ceia do
Senhor. Criam que se tratava de um memorial do sacrifício supremo de Cristo
na cruz. Não viam a ceia do Senhor ou o batismo como “sacramentos”.
Negavam tanto a doutrina da transubstanciação, defendida pelo catolicismo,
quanto a união sacramental dos luteranos. Conforme um líder anabatista
holandês disse acerca da transubstanciação: “Afirmamos que é uma
blasfêmia, abominação e adultério muito espantoso, sim, um novo bezerro de
ouro [...] ainda assim é chamada por muitos de carne e sangue preciosos e
imperecíveis de Jesus, adorada e honrada com o verdadeiro Filho do Deus
vivo.” 57
Contudo, embora tenham adotado o ponto de vista geral de Zuínglio acerca
da ceia do Senhor, os anabatistas desenvolveram o próprio conceito. Por
causa da ênfase em uma vida de santidade e na disciplina eclesiástica, a
refeição se tornou símbolo de sua união interna com Cristo.
Se acreditam em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, [...] se rejeitam o mundo, o pecado
e o diabo. [...] Se desejam se render a Deus de todo o coração, a alma e o corpo, para,
a partir de então, não viverem mais para si, mas para Deus e Sua igreja, permitindo
que somente o Senhor governe e use todo seu corpo. [E] se têm o desejo de se
unirem a Deus e serem batizados.
(1) O sábado é um dos mandamentos do decálogo e ainda deve ser guardado pelos
cristãos; (2) o sábado é um memorial da criação e uma aliança eterna; (3) o sábado
foi guardado desde o início do mundo por Adão, Abraão e os filhos de Israel, mesmo
antes da entrega da lei no monte Sinai; (4) o sábado não foi mudado, anulado ou
quebrado por Cristo, mas Ele próprio o estabeleceu, confirmou e adornou; (5) o
sábado foi observado pelos apóstolos e por Paulo; (6) o sábado deve ser guardado no
sétimo dia da semana; (7) o sábado é um sinal do sábado eterno e deve ser guardado
de maneira literal enquanto houver mundo, até entrarmos no descanso eterno na
parousia; (8) a guarda do sábado é uma necessidade para o cristão que deseja entrar
no paraíso eterno; (9) aqueles que não guardam o sábado literal serão punidos por
Deus; (10) o papa inventou o domingo. 78
1 George H. Williams, The Radical Reformation (Filadélfia, PA: Westminster, 1962). Os outros
grupos foram os espiritualistas e os racionalistas.
2 C. Arnold Snyder, “Swiss Anabaptism, 1523-1525”, em A Companion to Anabaptism and
Spiritualism, 1521-1700, John D. Roth e James M. Stayer, org. (Leiden: Brill, 2011), p. 44, 48.
3 Robert Friedmann, “Hutterite Worship and Preaching”, Mennonite Quarterly Review 40 (1966), p.
5, 6.
4 Walter Klaassen, Anabaptism, p. 12-14, citado por Edward Poling, “Worship Life in Sixteenth-
Century Anabaptism”, Brethren Life and Thought 37 (1992), p. 121-123.
5 Paul M. Miller, “Worship Among the Early Anabaptists”, Mennonite Quarterly Review 30 (1956),
p. 245.
6 Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”, p. 122.
7 Encontrado em Harold S. Bender et al., “Worship, Public”, Global Anabaptist Mennonite
Encyclopedia Online. Disponível em <http://gameo.org/index.php?title=Worship,_Public>, acesso em
4 de setembro de 2019.
8 Bender et al., “Worship, Public”.
9 Peter Riedemann, “Peter Riedemann’s Hutterite Confession of Faith”, em Confession of Our
Religion, Teaching, and Faith by the Brothers Who Are Known as the Hutterites, John J. Friesen, ed.,
Classics of the Radical Reformation 9 (Scottdale, PA: Herald, 1998), p. 150, 151.
10 Friedmann, “Hutterite Worship and Preaching”, p. 6, 7.
11 Claus-Peter Clasen, Anabaptism: A Social History, 1525-1618, Switzerland, Austria, Moravia,
South and Central Germany (Ithaca, NY: Cornell University, 1972), p. 64-74, citado por Poling,
“Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”, p. 123.
12 Clasen, Anabaptism, p. 90, 91, citado por Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century
Anabaptism”, p. 123.
13 Magister Elias Schad, “True Account of an Anabaptist Meeting at Night in a Forest and a Debate
Held there with Them”, Mennonite Quarterly Review 58 (1984), p. 292-295.
14 Schad, “True Account of an Anabaptist Meeting at Night in a Forest and a Debate Held there with
Them”, p. 294.
15 Schad, “True Account of an Anabaptist Meeting at Night in a Forest and a Debate Held there with
Them”, p. 295.
16 Ernest Belfort Bax, Rise and Fall of the Anabaptists (Nova York: Macmillan, 1903), p. 54, citado
por Miller, “Worship Among the Early Anabaptists”, p. 238.
17 “Answer of Some Who Are Called (Ana) Baptist on Why They Do Not Attend the Churches: A
Swiss Brethren Tract”, Mennonite Quarterly Review 45 (1971), p. 5-32.
18 Cf. Dirk Philips, “Answer to the Two Letters of Sebastian Frank”, em The Writings of Dirk Philips,
Classics of the Radical Reformation 6 (Scottdale, PA: Herald, 1992), p. 455-466.
19 Riedemann, “Peter Riedemann’s Hutterite Confession of Faith”, p. 112.
20 Os Schleitheim Articles formam uma breve profissão de fé atribuída a Michael Sattler, escrita em
1527. Gustav Bossert, Jr. et al., “Sattler, Michael (m. 1527)”, Global Anabaptist Mennonite
Encyclopedia Online. Disponível em <https://gameo.org/index.php?title=Sattler,_Michael_(d._1527) >,
Michael (m. 1527), acesso em 4 de setembro de 2019.
21 “Ampt = Amt ofício. No original, o termo representa qualquer posição ordenada, com funções e
responsabilidades definidas.” Essa é a nota dos tradutores. Michael Sattler, “Schleitheim Articles”, em
Radical Reformation, G. Baylor, ed., Cambridge Texts in the History of Political Thought Michael
(Cambridge: Cambridge University Press, 1991), p. 176, nota 8.
22 Sattler, Schleitheim Articles, p. 176.
23 Paul Peachey, The Growth of the Mennonite Pattern of Church Organization and Administration,
citado por Miller, “Worship Among the Early Anabaptists”, p. 240.
24 Bender et al., “Worship, Public”.
25 Cf. Sattler, Schleitheim Articles, p. 174-179; Robert Friedmann, “The Oldest Church Discipline of
the Anabaptists”, Mennonite Quarterly Review 29 (1961), p. 155-161; Pilgram Marpeck, “Pilgram
Marpeck’s Confession of 1532”, em The Writings of Pilgram Marpeck, Classics of the Radical
Reformation 2, William Klassen e Walter Klassen, ed. (Eugene, OR: Wipf and Stock, 1978), p. 107-
157.
26 Clasen, Anabaptism, p. 355, citado por Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”,
p. 125.
27 Schad, “True Account of an Anabaptist Meeting at Night in a Forest and a Debate Held there with
Them”, p. 292-295.
28 Riedemann, “Peter Riedemann’s Hutterite Confession of Faith”, p. 150.
29 Cf. Bender et al., “Worship, Public”.
30 Philips, “Answer to the Two Letters of Sebastian Frank”, p. 10, 11.
31 C. J. Dyck, “Worship Patterns of Second Generation Dutch Anabaptists”, p. 2, 3, citado por Alvin
J. Beachy, “The Theology and Practice of Anabaptist Worship”, Mennonite Quarterly Review 40 (julho
de 1966), p. 165.
32 Dyck, “Worship Patterns of Second Generation Dutch Anabaptists”, p. 8, citado por Beachy, “The
Theology and Practice of Anabaptist Worship”, p. 169.
33 Riedemann, “Peter Riedemann’s Hutterite Confession of Faith”, p. 150, 151.
34 Miller, “Worship Among the Early Anabaptists”, p. 241.
35 Robert Friedmann, “Mennonite Prayer Books”, Mennonite Quarterly Review 17 (1945), p. 181.
36 Dyck, “Worship Patterns of Second Generation Dutch Anabaptists”, p. 11, citado por Beachy, “The
Theology and Practice of Anabaptist Worship”, p. 176.
37 Clasen, Anabaptism, p. 92.
38 Schad, “True Account of an Anabaptist Meeting at Night in a Forest and a Debate Held there with
Them”, p. 294.
39 Clasen, Anabaptism, p. 343.
40 Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”, p. 126.
41 Conrad Grebel, Letter to Thomas Müntzer, Zurich, 5 de setembro de 1524, em Klassen e Klassen,
org., The Writings of Pilgram Marpeck, p. 38, 39.
42 Harold S. Bender, “Hymnology of the Anabaptists”, Global Anabaptist Mennonite Encyclopedia
Online. Disponível em <http://www.gameo.org/encyclopedia/contents/H95ME.html>. Acesso em 4 de
setembro de 2019.
43 A. J. Ramaker, “Hymns and Hymn Writers among the Anabaptists of the Sixteenth-Century”,
Mennonite Quarterly Review 3 (abril de 1929), p. 93-131.
44 Cf. “‘Six Anabaptist Hymns’ (1526-1529) from the Ausbund”, em Early Anabaptist Spirituality:
Selected Writings, Daniel Leichty, ed., The Classics of Western Spirituality (Nova York: Paulist, 1994),
p. 41-60. Menno Simons, “Two Hymns by Menno Simons”, em The Complete Writings of Menno
Simons: c. 1496-1561, J. C. Wenger, ed. (Scottdale, PA: Herald, 1984), p. 1065-1068.
45 Ramaker, “Hymns and Hymn Writers among the Anabaptists of the Sixteenth-Century”, p. 106.
46 Ramaker, “Hymns and Hymn Writers among the Anabaptists of the Sixteenth-Century”, p. 107.
47 Ramaker, “Hymns and Hymn Writers among the Anabaptists of the Sixteenth-Century”, p. 107,
108.
48 Ramaker, “Hymns and Hymn Writers among the Anabaptists of the Sixteenth-Century”, p. 110.
49 Riedemann, “Peter Riedemann’s Hutterite Confession of Faith”, p. 146.
50 Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”, p. 128.
51 Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”, p. 128.
52 Schad, “True Account of an Anabaptist Meeting at Night in a Forest and a Debate Held there with
Them”, p. 295.
53 Poling, “Worship Life in Sixteenth-Century Anabaptism”, p. 128.
54 Bender et al., “Worship, Public”.
55 Robert Friedmann, The Theology of Anabaptism: An Interpretation, Studies in Anabaptist and
Mennonite History (Scottdale, PA: Herald, 1973), p. 145.
56 Sattler, “Schleitheim Articles”, p. 174, 175.
57 Simons, “Confession of the Distressed Christians: 1552”, em Simons, p. 516, 517.
58 Friedmann, The Theology of Anabaptism, p. 139.
59 Franklin H. Littell, “The Anabaptist Doctrine of the Restitution of the True Church”, Mennonite
Quarterly Review 24 (1950), p. 47.
60 Citado por Friedmann, The Theology of Anabaptism, p. 140, 141. De acordo com Friedmann, essa
parábola e sua explicação também foram usadas por Hans Hut, Pilgram Marpeck e Menno Simons.
61 Citado por William R. Estep, The Anabaptist Story (Nashville, TN: Broadman, 1963), p. 182, 183.
62 Os anabatistas não tiveram padres posteriormente, mas sem dúvida Hubmaier se refere aqui a uma
cerimônia de santa ceia dos primeiros anabatistas, pois ainda usa a expressão católica para designar o
líder espiritual.
63 Balthasar Hubmaier, “A Form for Christ’s Supper”, em Balthasar Hubmaier: Theologian of
Anabaptism, H. Wayne Pipkin e John H. Yoder, ed., Classics of the Radical Reformation 5 (Scottdale,
PA: Herald, 1989), p. 393-406.
64 Ver Harold S. Bender e William Klassen, “Feetwashing”, Global Anabaptist Mennonite
Encyclopedia Online. Disponível em <http://gameo.org/index.php?title=Feetwashing>, acesso em 4 de
setembro de 2019.
65 Sattler, “Schleitheim Articles”, p. 174.
66 Sattler, “Schleitheim Articles”, p. 174.
67 Riedemann, “Peter Riedemann’s Hutterite Confession of Faith”, p. 111.
68 Fritz Blanke, “The First Anabaptist Congregation: Zollikon, 1525”, Mennonite Quarterly Review
27 (1953), p. 17-33.
69 Ver “Balthasar Hubmaier’s Baptismal Order as Followed at Nicolsburg”, em Anabaptist Baptism:
A Representative Study, Rollin Stely Armour, ed., Studies in Anabaptist and Mennonite History 11
(Scottdale, PA: Herald, 1966), p. 143, 144. Veja também uma profissão de fé da época e do século 18
em John Rempel, “Mennonites”, em The Oxford History of Christian Worship, Geoffrey Wainwright e
Karen B. Westerfild Tucker eds. (Nova York: Oxford University Press, 2006), p. 553, 554.
70 Armour, ed., Studies in Anabaptist and Mennonite History 11, p. 140.
71 Daniel Augsburger, “The Sabbath and Lord’s Day During the Middle Ages”, em The Sabbath in
Scripture and History, Kenneth A. Strand, ed. (Washington, DC: Review and Herald, 1982), p. 204-
207.
72 Cf. William Klassen, “Old Testament”, Global Anabaptist Mennonite Encyclopedia Online.
Disponível em <http://gameo.org/index.php?title=Old_Testament&oldid=93180>, acesso em 4 de
setembro de 2019.
73 Bender et al., “Worship, Public”.
74 William Klassen, “Sabbatarian Anabaptists”, Global Anabaptist Mennonite Encyclopedia Online.
Disponível em <http://gameo.org/index.php?title=Sabbatarian_Anabaptists&oldid=77314>, acesso em
4 de setembro de 2019.
75 Cf. Gerhard F. Hasel, “Sabbatarian Anabaptists in the Sixteenth-Century”, Andrews University
Seminary Studies 5 (1967), p. 101-106.
76 Hasel, “Sabbatarian Anabaptists in the Sixteenth-Century”, p. 116, 117.
77 Caspar Schwenckfeld, em S. D. Hartran, ed., Corpus Schwenckfeldianorum (1907-1961), v. 4, p.
479.
78 Hasel, “Sabbatarian Anabaptists in the Sixteenth-Century”, p. 121.
79 Como aconteceu com uma minoria de puritanos ingleses, com os batistas do sétimo dia e
adventistas do sétimo dia, para mencionar os grupos mais importantes. Cf. Bryan W. Ball, The Seventh-
day Men: Sabbatarians and Sabbatarianism in England and Wales, 1600-1800 (Cambridge, UK: James
Clarke & Co., 2009).
3 Adoração nos Primórdios do
Adventismo
Theodore N. Levterov
A adoração dos pioneiros não surgiu no vácuo. Foi influenciada pelo meio
religioso dos Estados Unidos, no século 19. É nesse contexto que se pode
entender melhor as práticas de adoração e experiências dos pioneiros
adventistas. Existem diversos fatores que impactaram e influenciaram a
adoração adventista.
Reuniões campais
O segundo fator que influenciou a adoração dos pioneiros adventistas foi o
estabelecimento de reuniões campais. Um dos marcos principais dessas
reuniões anuais, nas quais as pessoas ficavam acampadas por vários dias para
ouvir pregações poderosas, orar e cantar era um culto bastante carismático,
cheio de êxtase emocional. Aliás, muitos participantes mediam o sucesso de
uma reunião campal pela demonstração do poder de Deus. 6 Peter
Cartwright, pregador de campais, descreveu um dos cultos da seguinte
maneira:
Metodismo
O terceiro fator que contribuiu foi o metodismo, com suas práticas de
adoração no início do século 19. Embora a maior parte dos pastores
metodistas tivesse baixo nível de escolarização, eles eram conhecidos por sua
pregação poderosa, que levava a reações visíveis e audíveis por parte dos
ouvintes durante o culto. Assim, tornou-se comum interromper a pregação
com brados de “Aleluia!”, “Amém!”, ou “Glória!” “Glória!” “Glória!” Com o
tempo, conforme Winthrop S. Hudson observou, os metodistas dos Estados
Unidos se tornaram conhecidos como “metodistas gritalhões”. 9 A adoração
metodista também aceitava e incentivava encontros sobrenaturais com Deus
por meio de sonhos, visões, impressões sobrenaturais, curas, milagres e
outros sinais. 10
Além disso, o metodismo não contava com pastores fixos. Os chamados
ministros itinerantes visitavam as igrejas metodistas locais apenas
periodicamente, obrigando líderes leigos a administrar as congregações. As
mulheres também se envolviam ativamente na vida da igreja e eram bem-
vindas no púlpito para pregar ou apresentar testemunhos pessoais. Como a
maioria dos pregadores metodistas, elas, de modo geral, não eram cultas,
mas, às vezes, afirmavam que as mensagens lhes eram dadas por meio de
sonhos e visões. 11 A adoração dos pioneiros adventistas se assemelha, em
muitos aspectos, à tradição metodista de culto.
Conexão Cristã
O quarto fator que influenciou a adoração dos pioneiros adventistas foi o
movimento da Conexão Cristã. Seu objetivo era reformar as igrejas
existentes, retirando delas as tradições antibíblicas, a fim de que voltassem
para a pureza do cristianismo neotestamentário e suas práticas de adoração.
Além disso, enfatizavam a primazia e importância das Escrituras como fonte
única de autoridade teológica e exemplo de prática cristã. É interessante
perceber que, após o desapontamento de 1844, quando a maioria das outras
denominações se recusava a permitir que os adventistas sabatistas usassem
suas instalações, a Conexão Cristã permitia que eles adorassem em seus
templos. Uma série de cristãos dessa linha também se converteu e passou a
fazer parte do movimento guardador do sábado. 12 Ao passo que Ellen G.
White tinha origem metodista, Tiago White e José Bates, os outros dois
fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia, vieram da Conexão Cristã e
foram influenciados pelas tradições de adoração dessa denominação.
O movimento milerita
O quinto elemento que desempenhou papel significativo no
desenvolvimento da adoração dos pioneiros adventistas foi o movimento
milerita em si. Embora uma característica importante de seu culto fosse o
estudo das profecias apocalípticas, a liderança milerita não exercia um firme
controle externo sobre o movimento. Afinal, Miller jamais quis fundar uma
nova denominação. Ele desejava apenas alertar os cristãos quanto ao retorno
iminente de Jesus. Por isso, o milerismo não impunha conformidade
doutrinária nem uniformidade na adoração. Contudo, a ênfase no estudo da
Bíblia e das profecias causou forte impacto sobre os guardadores do sábado e
seu estilo de adoração.
Embora seja influenciada por todas essas dinâmicas, a adoração dos
pioneiros adventistas se tornou única. Em certo sentido, equilibrava o lado
intelectual e emocional da experiência de adoração. Para os sabatistas, Deus
“não falava somente por meio do estudo das Escrituras, mas também por
meio do reconhecimento da presença pessoal do Espírito Santo e de Sua
atuação na vida do indivíduo”. Assim, a verdadeira adoração dos pioneiros
adventistas deveria ser um encontro holístico com o próprio Deus. 13
As pessoas eram hospitaleiras, e os lares dos que viviam na vila nunca pareciam
cheios demais de convidados, pois sempre estavam prontos para acomodar outra
grande caravana, se necessário [...]. Os lares adventistas costumavam ser chamados
de “hotéis adventistas”, porque muitas pessoas passavam a noite! Em geral, as casas
tinham muitas “camas extras”, que consistiam de um colchão de palha com uma
colcha de penas por cima. Caso houvesse mais pessoas do que camas, as colchas de
pena eram retiradas e espalhadas no chão, dobrando o número de lugares disponíveis
[...]. Todas as mulheres ajudavam com o serviço doméstico e não pareciam se
importar com as inconveniências. Havia coisas interessantes sobre as quais
conversar. Nessas ocasiões, os laços de amizade se fortaleciam, para nunca mais se
romper. 19
Votado: esta Associação recomenda ao nosso povo realizar uma reunião campal
geral todo ano, na época da sessão de nossas reuniões administrativas.
Votado: que a comissão da Associação Geral terá autorização para executar esse
plano da maneira que achar melhor. 20
Estudo da Bíblia
No centro da adoração dos primeiros guardadores do sábado se encontrava
o estudo da Bíblia e das doutrinas. Uma vez que a maioria das igrejas carecia
da presença de um pastor regular, o estudo das Escrituras costumava
substituir a pregação tradicional. Também não era incomum que os fiéis
lessem a Review and Herald a fim de aprender conceitos bíblicos por meio
dessas páginas durante o culto. 22 Afinal, Tiago White reconheceu que, nos
primeiros anos, a Review and Herald era “a única pregadora regular dos
adventistas do sétimo dia, do Maine até Minnesota [...] e suas epístolas de
experiência e exortação eram as únicas reuniões sociais que os mais isolados
desfrutavam”. 23
Apesar disso, não é de se estranhar que o estudo da Bíblia tenha assumido
uma posição essencial na adoração dos pioneiros adventistas. Para começar,
os adventistas sofreram um grande desapontamento em 22 de outubro de
1844. Muitos ficaram confusos, desanimados ou frustrados. Poderiam
continuar confiando na Bíblia e em seus ensinos proféticos? Os adventistas
sabatistas recorreram às Escrituras em um esforço por encontrar respostas.
Ao colocar a Bíblia no centro da adoração, os adventistas agiram em
conformidade com a Reforma Protestante.
Em contrapartida, os primeiros cultos tentavam impedir que os cristãos se
envolvessem com os muitos ensinos fanáticos populares da época e
proporcionar unidade doutrinária entre os fiéis. 24 Aliás, parte do motivo
para os sabatistas terem sido forçados a organizar oficialmente uma
denominação em 1863 foi a necessidade de se diferenciar de pregadores
fanáticos com pontos de vista extremistas e impedir que eles influenciassem o
disperso grupo de sabatistas. Uma vez que não havia um sistema para
conferir a credibilidade de alguém na época, qualquer um poderia aparecer e
alegar ser pastor adventista. Além disso, no início da década de 1850, os
sabatistas precisaram lidar com as primeiras divisões: os movimentos “Grupo
dos Mensageiros” e “Era por vir”, que saíram do meio deles. Os
“Mensageiros” também começaram a publicar seu primeiro periódico,
Messenger of Truth [Mensageiro da Verdade], que falava contra os
guardadores do sábado e questionava alguns de seus principais ensinos e suas
crenças. 25
Dentre os primeiros exemplos de reuniões coletivas dos guardadores do
sábado estão as conferências sabáticas que aconteceram entre 1848 e 1850. A
maior parte dessas reuniões envolvia o estudo da Bíblia e debates sobre
questões doutrinárias. O relato feito por Tiago White da primeira conferência,
que aconteceu em Rocky Hill, Connecticut, por exemplo, ilustra parte da
dinâmica da adoração dos primeiros sabatistas. “Chegamos a este lugar por
volta das quatro da tarde”, conta. Tiago continua:
Depois de batizar seis em nosso meio, o querido irmão Morse foi separado por meio
da imposição de mãos para administrar as ordenanças da casa de Deus. O Espírito
Santo testemunhou por meio do dom de línguas e de manifestações solenes da
presença e do poder de Deus. O lugar ficou temível, mas, ao mesmo tempo, glorioso.
Verdadeiramente sentimos que “jamais vimos coisa assim!” [Mc 2:12]. Agora
reconhecemos que nossa comunhão está com o Pai, o Filho e uns com os outros e
que a fé, de fato, é a certeza de coisas que não se veem. 59
Mas não é correto afirmar que, nessa vida, teremos a carne santa. [...] Fui instruída a
dizer àqueles de Indiana que estão defendendo doutrinas estranhas: vocês estão
dando molde errado a tão preciosa e importante obra de Deus. Mantenham-se nos
limites da Bíblia. [...] Quando os seres humanos receberem carne santa, não
permanecerão na Terra, mas serão levados para o Céu. Embora os pecados sejam
perdoados nesta vida, suas consequências não são removidas por completo. É por
ocasião da segunda vinda que Cristo “transformará o nosso corpo de humilhação,
para ser igual ao corpo da Sua glória” [Fp 3:21]. 70
Participação
Outro elemento da adoração dos pioneiros adventistas do sétimo dia era sua
natureza participativa. Os fiéis não adoravam apenas ouvindo, mas
participavam da experiência. Conforme já observado, o envolvimento das
pessoas era tão valorizado que os adventistas criaram um culto especial para
o compartilhamento de testemunhos pessoais e oração: a “reunião social”.
Conforme mostram os relatos, os testemunhos precisavam ser curtos e todos
eram incentivados a participar. Em um caso, por exemplo, “foram dados 38
testemunhos em 20 minutos”. 71 Outro relato conta que foram apresentados
74 testemunhos em “cerca de 60 ou 70 minutos”. 72
Parece que as reuniões sociais também eram praticadas em diversas
circunstâncias. Ellen G. White, por exemplo, usou esse tipo de encontro com
regularidade em seu ministério. 73 Enquanto estava na Europa, ela introduziu
as “reuniões sociais” em várias congregações adventistas e as incentivou a
integrá-las regularmente à adoração. Ela acreditava que esses encontros
podiam capacitar melhor os fiéis a compartilhar sua fé pessoal com os outros.
Chegou a sugerir que os testemunhos pessoais fossem usados durante o culto
de sábado pela manhã quando não houvesse pastor presente. 74
Em 1897, uma reunião social causou um efeito poderoso sobre os delegados
presentes na Assembleia da Associação Geral em Lincoln, Nebraska.
“Grande liberdade se manifestou na reunião social, com a participação da
grande maioria dos 200 presentes”, observa o relato. Então Ellen G. White
cita alguns testemunhos dos “principais irmãos que compartilharam sua
experiência”. E conclui: “Ao passo que muitos testemunhos nasceram nesse
encontro, havia uma individualidade marcante em cada um, mostrando que
Deus estava concedendo a cada um de Seus servos uma experiência
individual. [...] Foi, como um todo, um dia abençoado para a Associação
Geral.” 75 As reuniões sociais também eram usadas com êxito nas
campanhas evangelísticas. Em uma delas, conta-se que muitos resolveram
“decidir-se pela obediência à Palavra de Deus” à medida que compartilhavam
o próprio testemunho. 76
Com o início do século 20, a adoração adventista se tornou mais estruturada
e litúrgica. É interessante notar que, já em 1906, em um dos primeiros livros
adventistas do sétimo dia sobre “ordem da igreja”, H. M. J. Richards
descreveu a “ordem costumeira” que os adventistas do sétimo dia deveriam
seguir em seus cultos de “pregação”. Parece que essa foi a primeira vez que
uma sugestão desse tipo foi apresentada, mas é provável que ela reflita a
prática tradicional da época. A sequência era a seguinte: (a) o ministro se
dirigia ao púlpito e se ajoelhava, fazendo uma oração silenciosa com a
congregação; (b) hino inicial; (c) oração pública; (d) segundo hino; (e)
sermão; (f) hino final e (g) bênção. Às vezes, havia uma música especial ou
uma curta leitura da Bíblia. Tudo indica que o elemento mais importante do
culto de adoração era a pregação da Palavra. Os anúncios eram feitos antes ou
depois do culto. No entanto, Richards não especifica como os adventistas do
sétimo dia deveriam realizar outros programas como a Escola Sabatina, a
reunião social (ou de oração), os encontros dos jovens, etc. Contudo, parece
que esses programas também seguiam a ordem específica de “outras
denominações protestantes”. 77
O primeiro Manual da Igreja, publicado em 1932, se tornou ainda mais
específico nas recomendações para os cultos de adoração adventistas. Trouxe,
por exemplo, dois “formatos sugestivos” para a realização do culto de
sábado: uma versão mais longa e outra mais curta. Além disso, o manual
também sugeriu uma ordem específica para outras reuniões adventistas de
adoração: a Escola Sabatina, o culto de oração, a santa ceia, entre outros. 78
Assim, com o passar do tempo, o adventismo do sétimo dia desenvolveu um
formato bem mais padronizado e unificado de adoração.
Cânticos
Bem ligada à participação na adoração se encontra outra característica dos
cultos dos pioneiros adventistas, a saber, os cânticos, sobre os quais Ellen G.
White teria muito a dizer. 79 Afinal, os primeiros adventistas sabatistas
consideravam o canto “um ato de adoração tanto quanto a oração”. 80 Tiago
White, que vinha de uma família com rica herança musical, desempenhou um
papel crucial na inserção e no desenvolvimento da música como parte da
tradição adventista de adoração. Antes mesmo do grande desapontamento, ele
frequentemente usava cânticos em suas reuniões. Seu hino preferido se
chamava “You Will See Your Lord Coming” [Você verá Seu Senhor Voltar]
e o cantava com frequência antes de pregar. 81 Em determinado culto, logo
antes de celebrarem a santa ceia, ele se uniu à irmã em canto. A cada coro, o
irmão Clark se levantava, “movia as mãos sobre a cabeça, bradava ‘Glória!’ e
se assentava em seguida”. Tiago White recordou que “a influência da
melodia, acompanhada pela aparência solene e os doces brados do irmão
Clark, parecia eletrizante. Muitos ficaram em lágrimas, enquanto reações de
‘Amém’ e ‘Louvado seja o Senhor’ eram ouvidas da parte de quase todos que
amavam a esperança do advento”. 82
William Spicer também relembrou de quando era menino e via Tiago White
batendo as mãos na Bíblia e cantando à medida que se aproximava do púlpito
da igreja para pregar. “Ao terminar a primeira estrofe e o coro”, relembra
Spicer, “a congregação era envolvida no espírito da canção e unia suas
vozes”. 83
Tiago White também foi o principal responsável pela compilação dos
primeiros hinários dos guardadores do sábado. Em 1849, ele compilou e
publicou o primeiro hinário sabatista: Hymns for God’s Peculiar People That
Keep the Commandments of God and the Faith of Jesus [Hinos Para o Povo
Peculiar de Deus, que Guarda os Mandamentos de Deus e a fé de Jesus]. 84
Totalizava 48 páginas e continha 53 hinos. Os cânticos enfatizavam as duas
doutrinas mais distintivas do grupo de sabatistas: a segunda vinda e o sétimo
dia. Também é interessante perceber que o primeiro hinário foi impresso
antes que os sabatistas tivessem a própria casa publicadora ou qualquer
documento expressando seus pontos de vista doutrinários.
Em 1854, Anna White, irmã de Tiago White, publicou o primeiro hinário
para jovens e crianças sabatistas. Os hinos eram “adaptados para músicas
agradáveis”, livres “dos erros [teológicos] populares e predominantes da
época”. 85 Um ano depois, Tiago White publicou o primeiro hinário com
partitura em um novo título: Hymns for Those Who Keep the Commandments
of God and the Faith of Jesus [Hinos Para Aqueles que Guardam os
Mandamentos de Deus e a Fé de Jesus]. 86 A inclusão de partituras parece
significativa. Primeiro, servia para “promover amplamente a uniformidade e
a correção no canto entre as igrejas espalhadas”. 87 Segundo, foi um passo
rumo ao uso de instrumentos musicais na adoração adventista.
Com base em um artigo escrito por Tiago White anos depois, é possível ter
certeza de que havia argumentos favoráveis e contrários ao uso de
instrumentos musicais na adoração. O mais interessante é que ambos os
grupos citavam as Escrituras e defendiam impetuosamente sua opinião como
o posicionamento bíblico. 88 “A maioria das mãos experientes, que foram as
colunas da igreja”, observou, “se opunha à música instrumental. Eram
contrários até mesmo ao toque puro e solene do órgão para acompanhar a
música cantada na casa de Deus”. Em contrapartida, os jovens entendiam “as
coisas de maneira diferente do que seus pais e avós. Não tinham reservas
religiosas quanto à introdução do órgão, e muitos exultam em ver violinos de
todos os tamanhos e todo tipo de som produzido por instrumentos de cordas e
sopro na casa de Deus”. 89 Embora Tiago White respeitasse a consciência da
geração mais antiga, cria que eles eram “desnecessariamente sensíveis no que
diz respeito à introdução do órgão nos cultos de adoração dentro da
igreja.” 90 Posteriormente, Ellen G. White também incentivou o uso de
instrumentos na adoração. Conforme explicou, “a música deve ter beleza,
suavidade e poder. Ergam-se as vozes em hinos de louvor e devoção.
Utilizem em seu auxílio, se possível, a música instrumental, e deixem
ascender a Deus a gloriosa harmonia, em oferta aceitável”. 91 Assim, aos
poucos, os adventistas começaram a usar instrumentos musicais em seus
cultos de adoração.
Em abril de 1863, Tiago White produziu a última de suas compilações
musicais, um novo suplemento chamado The Sabbath Lute [Alaúde
Sabático]. 92 Após a organização formal da Igreja Adventista do Sétimo Dia,
em 1863, a responsabilidade pela compilação e publicação de novas edições
dos hinários adventistas foi repassada a uma comissão especial de música. O
primeiro hinário oficial da denominação foi impresso em 1869. 93
A qualidade do canto congregacional durante os cultos de adoração também
preocupava alguns. Joseph Clarke, por exemplo, participou de uma
conferência dos guardadores do sábado em 1859 e relatou:
Alegrei-me muito por saudar aqueles que compartilham da mesma fé preciosa; mas
ai! Quando cantávamos, um prolongava uma semínima até ela consumir o tempo de
uma semibreve, além do volume ser demasiadamente alto. Alguns ainda estavam
cantando um verso enquanto outros já haviam passado para parte do verso seguinte.
E a palavra final de cada verso ecoava vez após vez, pois cada um entendia de
maneira diferente qual era a versão apropriada, de acordo com a maneira que cada
localidade cantava, todos com a ideia evidente de que a própria forma era a correta.
Seria demais esperar que vozes diferentes, de lugares distintos, com estilos
diferenciados de canto se unissem em perfeita harmonia. Mas, sem dúvida, há muito
que pode ser melhorado. 94
Dois anos e meio depois, Clarke, mais uma vez, com certo toque de humor,
escreveu que “vozes e ouvidos não cultivados e aqueles que sofrem de surdez
devem ficar atentos, sempre observando a voz para que não se desvie do
acorde correto ou desafine, como costuma acontecer quando bons pulmões e
ouvidos pouco desenvolvidos trabalham juntos”. 95
Embora o conselho de Clarke possa ter algum mérito, e pioneiros
adventistas reconhecessem que o canto congregacional carecia de “elegância
musical”, ainda assim acreditavam que os cânticos “envolvem com eficácia o
coração da congregação” no culto de adoração. 96 E embora estivesse na
moda convidar cantores profissionais para se apresentar nas igrejas, os
primeiros adventistas não mantinham esse tipo de prática, mas encorajavam o
canto realizado por toda a congregação. Em um artigo da Review and Herald
desse período, lemos:
É dever e privilégio da igreja cantar; um dever que ela não pode realizar por
procuração, assim como não pode orar, se arrepender, crer ou ter esperança por
procuração. Nenhum grupo de cristãos, sentindo que tem algo a dizer para Deus na
casa de oração, consentirá em se assentar em silêncio e empregar algumas pessoas
irrefletidas e levianas para se apresentar em nome deles. [...] Não tenho dúvida de
que, há muitos anos, essas performances exclusivas de música sacra dentro da igreja
por poucos cantores profissionais selecionados era, ao mesmo tempo, uma
destituição de um privilégio da igreja e um insulto ao Todo-Poderoso. 97
Como Deus pode ser glorificado se você depende de um coral mundano que canta
para ganhar dinheiro? Meu irmão, quando você enxergar as coisas da maneira
correta, terá em suas reuniões somente canto doce e simples, pedindo a toda a
congregação que se una em louvor. [...] Quando o canto é feito de maneira que os
anjos possam se unir aos cantores, causa-se uma impressão sobre a mente que o
canto de lábios não santificados é incapaz de efetuar. 99
CONCLUSÃO
1 Exemplos incluem: Norval F. Pease, And Worship Him, (Nashville, TN: Southern Publishing
Association, 1967); C. Raymond Holmes, Sing a New Song! Worship Renewal for Adventists Today
(Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1984); Viviane Haenni, “The Colton Celebration
Congregations: A Case Study in American Adventist Worship Renewal, 1986-1991” (tese de
doutorado, Universidade Andrews, 1996).
2 Existem alguns artigos e ensaios acadêmicos, mas todos têm escopo limitado e examinam apenas
um ângulo específico da adoração adventista. Cf. Harold Camacho, “Early Seventh-day Adventist
Religious Meetings” (artigo não publicado, Center for Adventist Research, Universidade Andrews,
1972); James L. Stevens, “Worship among the Pioneers: A Study of the Religious Meetings of the
Early Seventh-day Adventists” (artigo não publicado, Center for Adventist Research, Universidade
Andrews, 1977); Ronald D. Graybill, “Enthusiasm in Early Adventist Worship”, Ministry, outubro de
1991, p. 10-12; James Michael Wilson, “Enthusiasm and Charismatic Manifestations in Sabbatarian
Adventism with Applications for the Seventh-day Adventist Church of the Late Twentieth Century”
(tese de doutorado, Universidade Andrews, 1995).
3 Estou empregando o termo “adventista(s)” em referência geral aos sabatistas (que posteriormente se
tornaram os adventistas do sétimo dia).
4 Mark A. Noll, A History of Christianity in the United States and Canada (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1992), p. 166.
5 William Gerald McLoughlin, Revivals, Awakenings, and Reform (Chicago: Universidade de
Chicago Press, 1978), p. 12, 127.
6 Dickson D. Bruce, Jr., And They All Sang Hallelujah: Plain-Folk Camp-Meeting Religion, 1800-
1845 (Knoxville, TN: Universidade do Tennessee Press, 1974), p. 54, 74.
7 Peter Cartwright e W. P. Strickland, Autobiography of Peter Cartwright, the Backwoods Preacher
(Nova York: Carlton and Porter, 1857), p. 92, 93.
8
Bruce, Jr., And They All Sang Hallelujah p. 76.
9 Winthrop S. Hudson, “Shouting Methodists”, Encounter 29 (inverno de 1968), p. 73-84.
10 Lester Ruth, Early Methodist Life and Spirituality: A Reader (Nashville, TN: Kingswood Books,
2005), p. 161.
11 Catherine A. Brekus, Strangers and Pilgrims: Female Preaching in America, 1740-1845 (Chapel
Hill, NC: University of North Carolina Press, 1998), p. 145; Elizabeth Elkin Grammer, Some Wild
Visions: Autobiographies by Female Itinerant Evangelists in 19th-Century America (Oxford: Oxford
University Press, 2003).
12 Bert Haloviak, “A Heritage of Freedom: Christian Connection Roots to Seventh-day Adventism”
(artigo não publicado, General Conference Archives, Silver Spring, MD, 1995), p. 1-4.
13 Gerald Wheeler, James White: Innovator and Overcomer (Hagerstown, MD: Review and Herald,
2003), p. 51.
14 Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2014), p. 26.
15 Ver uma breve descrição dos primeiros templos adventistas construídos no verbete “Church
Buildings”, em Seventh-day Adventist Encyclopedia, Don F. Neufeld ed. (Washington, DC: Review
and Herald, 1996), p. 362.
16 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v.
2, p. 579.
17 Tiago White, “The Ministry. Nº: 4”, Review and Herald, 8 de agosto de 1865, p. 76.
18 Ver, por exemplo, os três anúncios na seção “Appointments”, Review and Herald, 17 de janeiro de
1865, p. 64.
19
Luella B. Priddy, “Stories of a Pioneer Church,” Youth Instructor, 19 de janeiro de 1926, p. 10.
20 John N. Andrews e Uriah Smith, “Business Proceedings of the Sixth Annual Session of the General
Conference of Seventh-day Adventists”, Review and Herald, 26 de maio de 1868, p. 356.
21 Tiago White, “Convocations”, Review and Herald, 14 de julho de 1868, p. 56.
22 Cf. S. Jackson, “From Bro. Jackson”, Review and Herald, 20 de março de 1855, p. 199; A. O.
Thompson, “[Letters]”, Review and Herald, 11 de junho de 1861, p. 23; William Johnston, “From Bro.
Johnston”, Review and Herald, 7 de fevereiro de 1865, p. 87.
23 Tiago White, “Duties of the Editor”, Review and Herald, 23 de julho de 1861, p. 60.
24 Ver uma excelente visão geral dos diversos grupos extremistas da época em: George R. Knight,
Millennial Fever and the End of the World: A Study of Millerite Adventism (Boise, ID: Pacific Press,
1993), p. 245-266.
25 Theodore N. Levterov, “The Development of the Seventh-day Adventist Understanding of Ellen G.
White’s Prophetic Gift, 1844-1889” (tese de doutorado, Universidade Andrews, 2011), p. 81-83.
26 Citado por: Ellen G. White, Spiritual Gifts: My Christian Experience, Views and Labors in
Connection with the Rise and Progress of the Third Angel’s Message (Battle Creek, MI: James White,
1860), v. 2, p. 93.
27 White, Spiritual Gifts, p. 97, 98.
28 Ellen G. White, Vida e Ensinos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 119.
29 White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 24, 25.
30 Ver [Tiago White], “Sabbath School Lessons”, Youth Instructor, agosto de 1852, p. 2-6.
31 I. C. Tompkins, “From the Church in Memphis”, Review and Herald, 31 de maio de 1864, p. 2.
32 C. O. Rathbun, “From the Church in Lapeer”, Review and Herald, 31 de maio de 1864, p. 2.
33 Alguns exemplos são: D. M. Canright, “Encouraging”, Review and Herald, 6 de novembro de
1866, p. 184; J. B. Ingalls, “[From Bro. J. B. Ingalls]”, RH, 23 de fevereiro de 1869, p. 71; D. M.
Canright, “From Monroe, Iowa”, RH, 14 de dezembro de 1869, p. 198.
34 Allan G. Lindsay, “Goodloe Harper Bell: Pioneer Seventh-day Adventist Christian Educator” (tese
de doutorado em educação, Universidade Andrews, 1982), p. 99, 159.
35 “Sabbath School Department”, em Don F. Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Encyclopedia,
(Washington, DC: Review and Herald, 1996), p. 510, 511.
36 “Sabbath School Offering”, Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Encyclopedia, p. 1259.
37 Tiago White, Preach the Word (Battle Creek, MI: Seventh-day Adventist Publishing, s.d.), p. 1. Cf.
James R. Nix, A Collection of Twelve Early Adventist Sermons that Illustrate Advent Preaching (Silver
Spring, MD: North American Division Office of Education, 1989).
38 Tiago White, “Reflections by the Way”, Review and Herald, 7 de outubro de 1875, p. 108.
39 Cf. L. M. Guilford, “From Sister Guilford”, Review and Herald, 20 de novembro de 1860, p. 7; C.
Ruiter, “[Extracts from Letters]”, Review and Herald, 5 de julho de 1864, p. 47.
40 Ver [Tiago White], “The Chart”, Review and Herald, janeiro de 1851, p. 31. Sobre a arte e o
propósito do diagrama, cf. [Tiago White], “The Design of the Chart”, Review and Herald, fevereiro de
1851, p. 46.
41 Cf. J. R. Towle, “[Letter]”, Review and Herald, 10 de junho de 1852, p. 24 (itálico acrescentado).
42 [Tiago White], “[Note]”, Review and Herald, 22 de julho de 1858, p. 80.
43 Sobre a perspectiva de Ellen G. White acerca da adoração e da centralidade da proclamação da
Palavra, ver capítulo de Denis Fortin, “Teologia de Adoração e Liturgia de Ellen G. White”, nesta obra,
p.98-116.
44 Tiago White, “Western Tour”, Review and Herald, 7 de julho de 1853, p. 28, 29.
45 Joseph Bates, “Report from Bro. Bates”, Review and Herald, 12 de maio de 1859, p. 197.
46 T. M. Steward, “Meetings in Dane, Wis[consin]”, Review and Herald, 6 de setembro de 1864, p.
119.
47 J. Byington, em: “[Report from Bro. Andrews]”, Review and Herald, 21 de junho de 1864, p. 30.
48 Daniel T. Bourdeau, “The Second California State Meeting of Seventh-day Adventists”, Review
and Herald, 3 de maio de 1870, p. 157.
49 H. M. J. Richards, Church Order and Its Divine Origin and Importance (Denver, CO: The
Colorado Tract Society, 1906), p. 9.
50 Ver lista parcial de exemplos em Levterov, “The Development of the Seventh-day Adventist
Understanding of Ellen G. White’s Prophetic Gift, 1844-1889”, p. 25-44.
51 “Ellen G. White to Brother and Sister Hastings”, 29 de maio de 1849, Carta H-1, em: The Ellen G.
White, Letters & Manuscripts with Annotations, 1845-1859 (Hagerstown, MD: Review and Herald,
2014), p. 172.
52 “Ellen G. White to the Church in Brother. Leonard W. Hastings House”, [27] de novembro de
1850, Carta H-28, em The Ellen G. White, Letters & Manuscripts with Annotations, p. 253.
53 Hiram Edson, “[Note]”, Review and Herald, fevereiro de 1851, p. 48.
54 George W. Holt, “Dear Brother White”, Review and Herald, 2 de setembro de 1851, p. 24.
55 Tiago White, “Report of Meetings!”, Review and Herald, 22 de outubro de 1857, p. 196.
56 Tiago White, “Easter Tour”, Review and Herald, 1º de dezembro de 1859, p. 13.
57 Elias Goodwin, “Monthly Meetings in N.Y.”, Review and Herald, 6 de março de 1866, p. 110.
58 Ellen G. White, Life Sketches of Ellen G. White, Being a Narrative of Her Experience to 1881 as
Written by Herself; With a Sketch of Her subsequent Labors and of Her Last Sickness (Mountain View,
CA: Pacific Press, 1915), p. 74.
59 F. M. Shimper, “From Sister Shimper”, Review and Herald, 19 de agosto de 185, p. 15 (itálico
acrescentado). Ver mais exemplos de manifestações carismáticas durante os primeiros anos da história
adventista do sétimo dia em Arthur L. White, Charismatic Experiences in Early Seventh-day Adventist
History (Washington, DC: Review and Herald, s.d.).
60 “Ellen G. White to My Dear Brethren”, abril 1889, Carta 85. Disponível em
<https://egwwritings.org/?ref=en_Lt85-1889¶=4631.1>, acesso em 4 de setembro de 2019.
61 Graybill, “Enthusiasm in Early Adventist Worship”, p. 12.
62 Ellen G. White, “[Visions at Paris, Maine]”, Manuscript 11, 25 de dezembro de 1850, em Letters &
Manuscripts, p. 271.
63 “Ellen G. White to Brethren and Sisters at Bedford”, julho 1854, Carta B-8, em: Letters &
Manuscripts, p. 439.
64 “Ellen G. White to Brother and Sister Pearsall”, julho 12, 1854, Carta P-3, em: Letters &
Manuscripts, p. 432, 433. O “ósculo santo” também era praticado em cerimônias de ordenação.
65 Cf. Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v.
1, p. 311-323; T. M. Steward, “A Delusion Confessed”, Review and Herald, 22 de janeiro de 1861, p.
77, 78.
66 “Ellen G. White to G. I. Butler”, junho 6, 1875, Letter 16. Disponível em
<https://egwwritings.org/?ref=en_Lt16-1875¶=3598.1>, acesso em 4 de setembro de 2019.
67 “Ellen G. White to My Dear Brethren”, abril 1889, Carta B-85. Disponível em
<https://egwwritings.org/?ref=en_Lt85-1889¶=4631.1>, acesso em 4 de setembro de 2019.
68
Ellen G. White, “Sermon at Ashfield, Australia, Camp Meeting”, Manuscript. 49, 1894. Disponível
em <https://egwwritings.org/?ref=en_Ms49-1894¶=6715.1>, acesso em 4 de setembro de 2019.
69 Ella Robinson, S. N. Haskell, Man of Action (Washington, DC: Review and Herald, 1967), p. 168-
176; “S. N. Haskell to Ellen G. White”, 25 de setembro de 1900, WDF-190. Disponível em
<https://egwwritings.org/?ref=en_5BIO.102.2¶=675.680>, acesso em 4 de setembro de 2019;
Norman Bassett, “The Holy Flesh Movement in Indiana, 1900-1901” (artigo não publicado, WDF-190,
Heritage Research Center, Universidade de Loma Linda).
70 Ellen G. White, “Regarding the Late Movement in Indiana”, General Conference Bulletin, 23 de
abril de 1901, p. 419-422.
71 Daniel T. Bourdeau e A. C. Bourdeau, “The Cause in Vt.”, Review and Herald, 9 de fevereiro de
1864, p. 85.
72 C. J. Pearce, “[Extracts from Letters]”, Review and Herald, 17 de janeiro de 1865, p. 63.
73 D. A. Delafield, Ellen White in Europe, 1885-1887: Prepared from Ellen G. White Papers and
European Historical Sources (Washington, DC: Review and Herald, 1975), p. 61, 62.
74 Ellen G. White, “Meeting at Seven Hills”, Manuscript 32, 1894. Disponível em
<https://egwwritings.org/?ref=en_ Ms32-1894.1¶=6134.6>, acesso em 4 de setembro de 2019.
75 “Sabbath Services”, General Conference Daily Bulletin, 22 de fevereiro de 1897, p. 110-112.
76 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 283, 284.
77 Richards, Church Order and Its Divine Origin and Importance, p. 64-66.
78 Church Manual ([Takoma Park, MD]: General Conference of Seventh-day Adventists, 1932), p.
151-169.
79 Cf. Fortin, “Teologia de Adoração e Liturgia de Ellen G. White”, nesta obra, p. 98-116.
80 Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 168.
81 Tiago White, Life Incidents, in Connection with the Great Advent Movement, as Illustrated by the
Three Angels of Revelation XIV (Battle Creek, MI: Steam Press, 1868), v. 1, p. 94.
82 White, Life Incidents, p. 107.
83 William A. Spicer, Pioneer Days of the Advent Movement: With Notes on Pioneer Workers and
Early Experiences (Washington, DC: Review and Herald, 1941), p. 147.
84 [Tiago White], Hymns for God’s Peculiar People at Keep the Commandments of God and the
Faith of Jesus (Oswego, NY: Richard Oliphant, 1849).
85 Ver o prefácio em Anna White, Hymns for Youth and Children (Rochester, NY: Advent Review
Office, 1854).
86 Tiago White, Hymns for Those Who Keep the Commandments of God, and the Faith of Jesus
(Rochester, NY: Advent Review Office, 1855).
87 White, Hymns, p. ii.
88 Tiago White, “Music”, Review and Herald, 17 de junho de 1880, p. 392.
89 White Hymns, p. ii.
90 White, Hymns, p. ii.
91 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 71.
92 [Tiago White], “[Note]”, Review and Herald, 7 de abril de 1863, p. 152. Tiago White havia
compilado e publicado quatro hinários e diversos suplementos antes de 1863.
93 Hymns and Tunes: for Those Who Keep the Commandments (Battle Creek: MI: Steam Press,
1869).
94 Joseph Clarke, “Music”, Review and Herald, 10 de novembro de 1859, p. 200.
95 Joseph Clarke, “Congregational Singing”, Review and Herald, 24 de junho de 1862, p. 29.
96 “Worship in Singing”, Review and Herald, 2 de fevereiro de 1860, p. 83.
97 “Congregational Singing”, Review and Herald, 30 de agosto de 1864, p. 107.
98 William C. Gage, “Music”, Review and Herald, 7 de fevereiro de 1865, p. 86.
99 “Ellen G. White to E. E. Franke”, 11 de dezembro de 1902, Carta F-190. Disponível em
<https://egwwritings.org/?ref=en_Lt190-1902.3¶=9448.10>, acesso em 9 de maio de 2016.
100 Paul Hamel, Ellen White and Music: Background and Principles (Washington, DC: Review and
Herald, 1976), p. 29-39; Ronald D. Graybill, “Singing and Society: The Hymns of the Saturday-
Keeping Adventists, 1849-1863” (artigo não publicado, s.d., Center for Adventist Research,
Universidade Andrews), p. 17.
101 Havia alguns, como I. N. VanGorder, professor de música, que eram contrários a esse tipo de
prática, mas a maioria das pessoas não objetava ao uso de melodias seculares. Cf. I. N. VanGorder,
“[Letter]”, Review and Herald, 21 de julho de 1859, p. 71. Mais informações sobre o assunto podem ser
obtidas em Steve Blotzke, “Early Advent Hymnody and Secular Tunes” (artigo não publicado, s.d.,
Center for Adventist Research, Universidade Andrews).
102 Ronald D. Graybill, “Uriah Smith on the Swanee River”, Insight, 24 de abril de 1979, p. 9-13;
Wayne Hooper e Edward E. White, Companion to the Seventh-day Adventist Hymnal (Washington,
DC: Review and Herald, 1988), p. 19, 20.
103 Graybill, “Uriah Smith on the Swanee River”, p. 10.
4 Teologia da Adoração e Liturgia em
Ellen G. White
Denis Fortin
Adoração a Deus
Um princípio bíblico que ela destacou é que somente Deus deve ser o alvo
da adoração. 9 Em um mundo no qual não são apenas os ídolos de pedra e
madeira que recebem adoração, mas também as realizações humanas, o
orgulho e o dinheiro, somos lembrados de que devemos adorar e servir “ao
Senhor Deus, e a Ele tão somente. [...] Qualquer coisa que se torne objeto de
indevidos pensamentos e admiração, absorvendo a mente, é um deus posto
diante do Senhor”. 10 “Não é o homem que devemos exaltar e adorar; é a
Deus, o único verdadeiro Deus, o Deus vivo, a quem são devidos nosso culto
e reverência.” 11 “O dever de adorar a Deus se baseia no fato de que Ele é o
Criador e que a Ele todos os outros seres devem a existência.” 12 A adoração
ao Deus Criador se manifesta em reverência, alegria e ações de graças. 13
A adoração ao Deus Criador também se fundamenta na observância do
sábado como dia de descanso e adoração. A compreensão de Ellen White
acerca da importância do sábado também apoia os princípios bíblicos e
teológicos que subjazem à sua teologia de adoração (cf. Gn 2:1-3; Êx 20:8-
11; Lv 23:2). Ela correlacionava os conceitos de adoração e escatologia. Cria
que o quarto mandamento do Decálogo convida toda a humanidade a adorar
o Deus Criador e que as profecias do livro de Apocalipse renovam esse
chamado universal para adoração do Deus verdadeiro. Aliás, boa parte do
conflito entre Cristo e Satanás está ligado a quem será adorado pela
humanidade e em qual dia da semana isso deve ocorrer. Ela afirmou: “A
importância do sábado como memória da criação consiste em manter sempre
presente o verdadeiro motivo de se render culto a Deus” – porque Ele é o
Criador, e nós as Suas criaturas. Citando John N. Andrews, concordou que
O sábado, portanto, está no próprio fundamento do culto divino, pois ensina essa
grande verdade da maneira mais impressionante, e nenhuma outra instituição faz
isso. O verdadeiro fundamento para o culto a Deus, não meramente o daquele que se
realiza no sétimo dia, mas de todo culto, está na distinção entre o Criador e Suas
criaturas. Esse importante fato jamais poderá se tornar obsoleto e jamais deverá ser
esquecido. 14
que havia chegado o tempo quando os verdadeiros adoradores não precisariam mais
ir em busca de um monte santo ou de um templo sagrado, mas que poderiam adorar o
Pai em espírito e em verdade. A religião não deveria se limitar a formas e cerimônias
externas, mas ser entronizada no coração, purificando a vida e sendo demonstrada
em boas obras. 20
A EXPERIÊNCIA DE ADORAÇÃO
Reverência
Em seus escritos, Ellen G. White destacou a necessidade de o adorador
apresentar uma atitude apropriada de reverência quando se aproxima de Deus
em adoração. Conforme mostraremos, ela também advertiu que sentimentos
de euforia no culto podem ser indicativos enganosos da espiritualidade
genuína. Uma vez que a verdadeira adoração a Deus é, em primeiro lugar,
uma atividade espiritual, Ellen G. White destacou repetidas vezes que a
reverência a Deus e às coisas sagradas devem ser uma marca do culto cristão.
“Outra preciosa virtude que cuidadosamente se deve cultivar é a reverência.
A verdadeira reverência para com Deus é inspirada por uma intuição de Sua
infinita grandeza e consciência de Sua presença.” 24 Conforme já
mencionado, o Senhor requer reverência e adoração devido ao fato de Ele ser
o Criador. 25
Os cristãos devem demonstrar essa atitude interior de reverência, no sentido
de respeito, em seu relacionamento com o sagrado. 26 Em reação ao pecado
de Nadabe e Abiú, que ofereceram fogo estranho a Deus no santuário terreno,
em desconsideração total pelas instruções divinas de adoração, “o propósito
de Deus era ensinar ao povo que eles deviam se aproximar Dele com
reverência e temor”. 27 Deve-se mostrar reverência pelas coisas sagradas e
pelo “nome sagrado de Cristo”, 28 bem como pelos mandamentos de Deus,
particularmente pelo sábado. 29 Demonstra-se reverência quando a
congregação se prostra ou se ajoelha na presença de Deus, em oração,
durante o culto. 30
É possível que o conselho de Ellen G. White acerca da reverência na casa
de adoração seja a explicação mais explícita de seu conceito de
reverência. 31 Um senso de temor e respeito devem caracterizar os
adoradores ao entrar na presença de Deus durante o culto.
Para a alma crente e humilde, a casa de Deus na Terra é como que a porta do Céu. Os
cânticos de louvor, a oração, a palavra ministrada pelos embaixadores do Senhor são
os meios que Deus proveu para preparar um povo para a assembleia lá do alto, para
aquela reunião sublime à qual coisa nenhuma que contamine poderá ser admitida. Da
santidade atribuída ao santuário terrestre, os cristãos devem aprender como
considerar o lugar onde o Senhor deseja encontrar-Se com Seu povo. 32
Equilíbrio emocional
Em contraste com a reverência, Ellen G. White advertiu as pessoas a não
interpretar sentimentos de euforia como um indicativo válido da
espiritualidade genuína. Em um episódio de fanatismo religioso que
aconteceu em Indiana, por volta de 1900, o qual veio a ser denominado de
“movimento da carne santa”, ela advertiu as pessoas de que “o entusiasmo é
uma ilusão perigosa”. 43 Relatos feitos por testemunhas das reuniões
realizadas nesse estado descrevem o uso de instrumentos musicais estranhos
e barulhentos durante os cultos, bem como de orações longas e pregação
exaltada e histérica. 44 As pessoas eram levadas a buscar uma experiência de
demonstração física, caindo inconscientes no chão. Diziam que esses
indivíduos haviam passado pela experiência do jardim do Getsêmani e
estavam prontos para a trasladação. 45 Ellen G. White condenou esse
fanatismo e os ensinos que levaram a isso. “Meros ruídos e gritos não são
evidências de santificação, nem da descida do Espírito Santo. Suas
manifestações descontroladas só fazem criar repulsa na mente dos
incrédulos.” 46
O Espírito Santo nunca Se revela por esses métodos, em tal balbúrdia de ruído. [...]
A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de
converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que,
se devidamente dirigido, seria uma bênção. As forças das instrumentalidades
satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é
chamado de operação do Espírito Santo. 47
ELEMENTOS DA ADORAÇÃO
Ordem
Com base na tipologia entre os cultos de adoração do Antigo Testamento e
da igreja cristã, Ellen G. White enxergava uma relação íntima entre a
necessidade de reverência e de ordem. Em 1889, em um testemunho
intitulado “O Comportamento na Casa de Deus”, ela escreveu: “É um fato
deplorável que a reverência pela casa de Deus esteja quase extinta. As coisas
e lugares sagrados quase já não são mais discernidos; o que é santo e elevado
não é apreciado.” Ela se perguntava se a causa dessa tendência era a “falta de
legítima piedade nas famílias” ou porque “a elevada norma da religião esteja
abatida até ao pó”. Continuou: “Deus deu a Seu povo na antiguidade
procedimentos precisos e exatos.”
Seu caráter foi mudado? Não é mais o Altíssimo e Todo-Poderoso que domina sobre
o Universo? Não conviria lermos com frequência as instruções que Deus mesmo Se
dignou dar aos antigos hebreus para que nós, que temos a verdade gloriosa
irradiando sobre nós, os imitemos em sua reverência para com a casa de Deus?
Temos motivos de sobra para alimentar espírito de fervor e devoção na adoração a
Deus. Temos até motivos para ser mais ponderados e reverentes em nosso culto do
que os judeus. Mas um inimigo tem estado a trabalhar, a fim de destruir nossa fé na
santidade da adoração cristã. 48
Sem dúvida, White não via a adoração como uma forma de entretenimento.
Sermão
Para Ellen G. White, a parte mais importante do culto era o sermão. “Ao ser
apresentada a palavra da vida, vocês devem se lembrar de que estão ouvindo
a voz de Deus através de Seu servo escolhido.” 54 Embora boa parte dos
conselhos que ela deu sobre a importância do sermão tenha sido escrita no
contexto das mensagens apresentadas em reuniões evangelísticas, os
princípios gerais ainda se aplicam ao sermão pregado durante o culto de
adoração aos sábados. Ela defendia enfaticamente sermões cristocêntricos, 55
simples, curtos, espirituais e elevados, em vez de longos; 56 sermões que
influenciem as pessoas a obedecer à verdade, 57 que expliquem a Palavra de
Deus para as pessoas 58 sem “criar excitação”. 59 O mais importante não é
entreter os ouvintes, mas a forma como as pessoas são levadas à presença de
Deus. Por isso, ela repudiava os sermões que chamava de “teatrais”, quando
os pastores assumiam “atitudes e expressões calculadas a causar efeito”. 60
O momento crucial do culto é quando a Palavra do Senhor é explicada.
O coração de muitos no mundo, da mesma maneira que o de muitos membros da
igreja, está faminto do pão da vida e sedento das águas da salvação. Acham-se
interessados no serviço de canto, mas não estão anelando isso, nem mesmo a oração.
Querem conhecer as Escrituras. Que me diz a Palavra de Deus? O Espírito Santo está
operando na mente e no coração, atraindo-os ao Pão da vida. Veem tudo se mudando
em torno deles. Os sentimentos humanos, as ideias do que constitui a religião, tudo
muda. Eles vão para ouvir a Palavra tal como é. 61
Oração
Os conselhos de Ellen G. White acerca da oração durante os cultos de
adoração são paralelos a seus pensamentos acerca dos outros elementos já
mencionados.
Música
A música e o canto também formavam parte importante do culto de
adoração no tempo de Ellen G. White. Uma vez que “a música faz parte da
adoração a Deus nas cortes do Céu”, ela afirmou: “em nossos cânticos de
louvor devemos tentar nos aproximar o máximo possível da harmonia do
coro celestial. [...] Cantar como parte do culto religioso é um ato de adoração
tanto quanto a prece”. 74 O princípio teológico que guiava seus pensamentos
sobre música e canto é semelhante ao que vimos em relação a outros
elementos da adoração. A ordem e a harmonia encontradas no Céu e nos ritos
do santuário do Antigo Testamento são diretrizes fiéis e confiáveis para o
culto de adoração cristão. 75 Assim, o louvor deve ser bem dirigido e o
cântico congregacional deve ser “suave e simples”. 76 “Não é o cantar forte
que é necessário, mas a entonação clara, a pronúncia correta, e a expressão
vocal distinta.” 77 “Aqueles que incluem o canto no culto de adoração devem
escolher hinos com melodia apropriada para a ocasião, não notas fúnebres,
mas tons alegres e, ao mesmo tempo, solenes.” 78
Ellen G. White também enfatizou o papel especial da música no culto de
adoração. “A música [serve] a um santo propósito, elevando os pensamentos
para aquilo que é puro, nobre e edificante, e despertando na alma devoção e
gratidão a Deus.” 79 Nesse contexto, ela não se opunha ao uso de
instrumentos musicais para acompanhar os cânticos nem para encher o culto
de “beleza” e “suavidade”, a fim de elevar os pensamentos ao Céu. 80
Ordenanças da igreja
As ordenanças da igreja formam outro elemento importante de adoração.
Ellen G. White entendia que Jesus havia instituído três ordenanças para a
igreja: o batismo, a ceia do Senhor e o serviço de lava-pés. Cada um deles
deve ser realizado “de modo a exercer uma influência solene e sagrada”. 81
Por não ser um elemento regular do culto, o batismo pode ocorrer em
qualquer dia da semana. O lava-pés e a santa ceia, por sua vez, costumam
acontecer durante o culto de adoração aos sábados.
Ellen G. White entendia que existe uma ligação bíblica e teológica entre a
Páscoa e a ordenança da ceia do Senhor:
CONCLUSÃO
1 Paul F. M. Zahl et al., Exploring the Worship Spectrum: Six Views (Grand Rapids, MI: Zondervan,
2004), p. 11. Sobre a adoração entre os reformadores, ver os dois capítulos de Sergio Becerra nesta
obra (“A Adoração e os Reformadores Magisteriais” e “A Adoração e os Reformadores Anabatistas do
Século 16”).
2 Uma amostra de livros e artigos publicados sobre adoração inclui: Thomas F. Best, Worship Today:
Understanding Practice, Ecumenical Implications (Genebra: World Council of Churches Publications,
2004); Cornelius Plantiga and Sue A. Rozeboom, Discerning the Spirits: A Guide to Thinking about
Christian Worship Today (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2003); John D. Witvliet, Worship Seeking
Understanding: Windows into Christian Practice (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2003); Philip
Yancey, “A Bow and a Kiss: Authentic Worship Reveals Both the Friendship and Fear of God”,
Christianity Today, maio de 2005, p. 80; Gary A. Parrett, “9.5 Theses on Worship: A Disputation on
the Role of Music”, Christianity Today, fevereiro de 2005, p. 38-42; Thomas G. Long, “Salvos in the
Worship Wars”, Living Pulpit, janeiro-março de 2004, p. 34, 35; Christine A. Scheller, “Missing the
Rupture: How Two Groups Address the Real Issues Behind Church Splits”, Christianity Today, maio
de 2003, p. 42, 43; Andy Crouch, “Amplified Versions: Worship Wars Come Down to Music and a
Power Plug”, Christianity Today, 22 de abril de 2002, p. 86; Donald N. Bastian, “The Silenced Word:
Why Aren’t Evangelicals Reading the Bible in Worship Anymore?”, Christianity Today, 5 de março de
2001, p. 92; Donald G. Bloesch, “Whatever Happened to God?”, Christianity Today, 5 de fevereiro de
2001, p. 54, 55.
3 Uma amostra de livros e artigos publicados recentemente sobre a adoração adventista indica que o
tema é amplamente debatido: Cynthia J. Brown, Experiencing Worship: God Focused, Christ Centered,
Spirit Filled: A Complete Worship Planning Guide for Pastors, Elders, Worship Leaders and Worship
Teams (Lincoln, NE: AdventSource, 2003); Harold B. Hannum, “Worship: Sacred and Secular”,
Elder’s Digest, outubro-dezembro de 2007, p. 18-20; Dan Day, “Inspiring, Intentional Worship”,
Adventist World, edição da NAD, janeiro de 2007, p. 31-33; Audley C. Chambers, “Cyberspace
Worship”, Adventist Review, 11 de janeiro de 2007, p. 12-14; Stephen W. Case, “Bored at Church”,
Insight, 16 de abril de 2005, p. 12; Kate Simmons, “Shaking Hands with God”, Outlook, Mid janeiro de
2005, p. 19; Larissa Stanphill e Angela Shafer, “Worship: When it Counts”, Outlook, Union janeiro de
2005, p. 12-14; Tracy Darlington, “Raise Your Praise”, Insight, 13 de novembro de 2004, p. 4-6;
Thomas J. Mostert, Jr., “Have We Lost Something?”, Pacific Union Recorder, agosto de 2005, p. 3; Ed
Gallagher, “Joy in the House of Prayer”, Outlook, abril de 2005, p. 5; Henry Feyerabend, “The House
of Prayer”, Canadian Adventist Messenger, maio de 2005, p. 10-13; Lilianne Doukhan, “How Shall We
Worship?”, College and University Dialogue 15, nº 3 (2003), p. 17-19; Claudia Hirle, “The Worship
Recognized by Heaven”, Elder’s Digest, outubro-dezembro de 2003, p. 16-17; Roy E. Branson, “The
Drama of Adventist Worship”, Spectrum, outono de 2001, p. 43-45; Ben Protasio, “Corporate Worship
can Speak of God’s Power”, Southwestern Union Record, fevereiro de 2000, p. 6, 7; Ron Thomsen,
“Worship: What is Right? What is Wrong?”, Southwestern Union Record, fevereiro de 2000, p. 7.
4 Ellen G. White, Minha Consagração Hoje (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1989), p. 267.
5 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v.
5, p. 491. Esse testemunho, intitulado “O Comportamento na Causa de Deus” se concentra nos muitos
princípios de adoração que Ellen G. White destacou ao longo de seu ministério.
6 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 491.
7 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p.
84.
8 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 84, 85; cf. p. 261.
9 Ellen G. White, Spiritual Gifts (Washington, DC: Review and Herald, 1945), v. 3, p. 269; cf. Êxodo
20:3-5, 23.
10 Ellen G. White, Filhos e Filhas de Deus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 56.
11 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 133.
12 Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 436.
13 White, O Grande Conflito, p. 436; Ellen G. White, A Fé Pela Qual Eu Vivo (Santo André, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1959), p. 287; Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2015), p. 104.
14 White, O Grande Conflito, p. 437, 438. Cf. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2015), p. 336; Ellen G. White, A Fé Pela qual Eu Vivo, p. 287. “Foi para
conservar sempre na mente das pessoas essa verdade que Deus instituiu o sábado no Éden; e, enquanto
o fato de que Ele é o nosso Criador continuar sendo o motivo pelo qual devemos adorá-Lo, o sábado
permanecerá como sinal e memória disso. Se o sábado tivesse sido universalmente guardado, os
pensamentos e afeições dos seres humanos teriam sido dirigidos ao Criador como objeto de reverência
e culto, e jamais haveria idólatras, ateus ou incrédulos. A guarda do sábado é um sinal de lealdade para
com o verdadeiro Deus, ‘Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas’ (Ap 14:7).
Portanto conclui-se que a mensagem que ordena aos seres humanos adorar a Deus e guardar Seus
mandamentos [Ap 14:6-12] apelará especialmente para que observemos o quarto mandamento” (White,
O Grande Conflito, p. 438).
15 Ellen G. White, Olhando Para o Alto (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1983), p. 170. Cf.
Ellen G. White, “The Right Use of God’s Gifts”, Review and Herald, 24 de novembro de 1896, p. 741.
16 Ellen G. White, “Martin Luther – His Character and Early Life”, Signs of the Times, 31 de maio
de 1883, p. 241.
17 Ellen G. White, E Recebereis Poder (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999), p. 48; Ellen
G. White, Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 217.
18 Ellen G. White, “The Character Acceptable to God”, Bible Echo, 1o de junho 1887, p. 81.
19 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v.
9, p. 143; Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), p. 565.
20 Ellen G. White, Spirit of Prophecy, 4 v. (Washington, DC: Review and Herald, 1969), v. 2, p. 144;
cf. João 4:21-24.
21 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 189; cf. João 3:5-8.
22
Ellen G. White, Medicina e Salvação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 112; cf.
João 17:3.
23 Ellen G. White, “Doing for Christ”, Review and Herald, 16 de agosto de 1881, p. 113. Cf. Ellen G.
White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), v. 2, p. 24; Ellen G.
White, Testemunhos Para a Igreja, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006), v. 9, p. 156; cf.
Mateus 25:34-40; Tiago 1:27.
24 Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 242.
25 White, O Grande Conflito, p. 436, 437.
26 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 91; v. 6, p. 97.
27 White, Patriarcas e Profetas, p. 360; cf. Lv 10:1-11.
28 Ellen G. White, “Bible Religion”, Signs of the Times, 24 de fevereiro de 1890, p. 114.
29 Ellen G. White, “The Rejection of Light”, The Watchman, 23 de junho de 1908, p. 387, 388.
30 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, 3 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), v. 2, p.
312. Cf. Ellen G. White, Spirit of Prophecy (Washington, DC: Review and Herald, 2009), v. 1, p. 28; v.
2, p. 142.
31 Ellen. G. White, “Irreverence in the Youth”, The Youth’s Instructor Articles, 8 de outubro de 1896,
p. 322.
32 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 491.
33 Enquanto esteve na Europa, entre 1885 e 1887, Ellen G. White visitou uma série de igrejas
escandinavas. Após uma dessas visitas em Estocolmo, na Suécia, ela observou que “quase todos os
adoradores europeus manifestam muito mais reverência do que se vê em meio aos norte-americanos.
Assim que adentram o local de adoração, curvam a cabeça e fazem uma oração silenciosa” (Historical
Sketches of the Foreign Missions of the Seventh-day Adventists, George R. Knight, ed. [Berrien
Springs, MI: Andrews University Press, 2005], p. 188).
34 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 492.
35 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 492-494; Ellen G. White, Mensagens aos Jovens (Tatuí,
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 265.
36 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 491.
37 Ellen G. White, A Maravilhosa Graça de Deus (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1974), p. 75; Ellen G. White, Exaltai-O (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), p. 254.
38 White, Medicina e Salvação, p. 213.
39 White, Filhos e Filhas de Deus, p. 179.
40 White, O Grande Conflito, p. 148.
41 White, O Grande Conflito, p. 524; Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2015), p. 298; White, O Desejado de Todas as Nações, p. 769, 770.
42 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 491.
43 Arthur L. White, Ellen G. White, The Early Elmshaven Years, 1900-1905 (Washington, DC:
Review and Herald, 1981), v. 5, p. 105.
44 Em uma carta endereçada a Ellen G. White, Stephen Haskell conta o que viu em Indiana: “Há
grande poder que acompanha o movimento que ocorre aqui. Quase que engloba qualquer um dentro de
seu escopo, caso tenham escrúpulos e se assentem para ouvir com uma atitude favorável em qualquer
medida, por causa da música que é tocada na cerimônia. Eles têm um órgão, um baixo acústico, três
violinos, duas flautas, três tamborins, três trombetas, um grande bumbo e quem sabe outros
instrumentos que eu não tenha mencionado. Eles são tão treinados em seu estilo musical quanto
qualquer coral do Exército da Salvação que você já tenha ouvido. Aliás, seu método de reavivamento é
simplesmente uma cópia completa do método do exército da salvação e, quando alcançam uma nota
aguda, é impossível escutar uma palavra do canto da congregação ou ouvir coisa alguma, a não ser os
gritos dos que estão meio insanos. Não acho que estou exagerando em nada” (S. N. Haskell a Ellen G.
White, 25 de setembro 1900, em A. White, Ellen G. White, v. 5, p. 102).
45 White, Ellen G. White, v. 5, p. 100-102; White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 31.
46 White, Ellen G. White, p. 105, 106.
47 White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 36; cf. p. 31-39.
48 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 495, 496.
49 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 491; cf. Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9
v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 1, p. 145, 146; Ellen G. White, Maranata – o
Senhor Vem! (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1977), p. 234.
50 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v.
6, p. 361; White, Evangelismo, p. 348.
51 D. A. Delafield, Ellen G. White in Europe, 1885-1887 (Washington, DC: Review and Herald,
1975), p. 61.
52 White, Evangelismo, p. 505; White, Maranata, p. 234.
53 White, Evangelismo, p. 502.
54 White, Mensagens aos Jovens, p. 266. Cf. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 493.
55 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 153-160.
56 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, 3 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), v. 1, p.
167, 168; Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017),
p. 311, 337, 338; White, Evangelismo, p. 348, 640.
57 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, 3 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), v. 3, p.
375.
58 White, Evangelismo, p. 153; Ellen G. White, A Revival and a Reformation (Concluded)”, Review
and Herald, 27 de fevereiro de 1908, p. 8.
59 White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 16, 17.
60 White, Evangelismo, p. 640.
61 White, Evangelismo, p. 501.
62 White, Obreiros Evangélicos, p. 178.
63 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v.
4, p. 70, 71; White, Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 64; cf. Ellen G. White, Testemunhos Para a
Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), v. 2, p. 583; White, Obreiros Evangélicos, p.
176.
64 White, Obreiros Evangélicos, p. 177, 178.
65 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 581; White, Obreiros Evangélicos, p. 177.
66 White, Minha Consagração Hoje, p. 19.
67 White, Obreiros Evangélicos, p. 178; White, Profetas e Reis, p. 48.
68 White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 312.
69 White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 311.
70 Ver a compilação de algumas de suas declarações a esse respeito em White, Mensagens
Escolhidas, v. 2, p. 312-316.
71 White, Caminho a Cristo, p. 99, 100; Obreiros Evangélicos, p. 258; Ellen G. White, A Ciência do
Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 510, 511.
72 Cf. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1987), v. 3, p.
266, 270.
73 White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 314, 315.
74 White, Patriarcas e Profetas, p. 594. Cf. White, Educação, p. 168.
75 Cf. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 145, 146.
76 White, Evangelismo, p. 505, 509.
77 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 144.
78 Ellen G. White, “The Schools of the Prophets”, Signs of the Times, 22 de junho de 1882, p. 277,
278; Ellen G. White, Evangelismo, p. 508.
79 White, Patriarcas e Profetas, p. 594.
80 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 71; White, Evangelismo, p. 150. Cf. White,
Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 62; White, Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 144; White,
Evangelismo, p. 503, 504.
81 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 97. Embora tradicionalmente as igrejas protestantes
aceitem somente o batismo e a ceia do Senhor como ordenanças ou sacramentos, os adventistas do
sétimo dia entendem que o serviço do lava-pés, que precede a ceia do Senhor, é uma terceira
ordenança. Ao falar sobre esse ato em O Desejado de Todas as Nações, p. 650, Ellen G. White se refere
à lavagem dos pés como uma ordenança. “Depois, havendo lavado os pés dos discípulos, Ele disse: ‘Eu
vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também’ (Jo 13:15). Nessas palavras, Cristo
não estava somente ordenando a prática da hospitalidade. Queria significar mais do que a lavagem dos
pés dos hóspedes para tirar-lhes a poeira da estrada. Com isso, Jesus estava instituindo um ritual
religioso. Pelo ato de nosso Senhor, essa cerimônia humilhante se tornou uma ordenança consagrada.
Devia ser observada pelos discípulos, a fim de poderem manter sempre em mente Suas lições de
humildade e serviço” (itálico acrescentado; cf. White, Evangelismo, p. 275, 276; leia também a série de
seis artigos de sua autoria, “The Lord’s Supper and the Ordinance of Feet-Washing – n. 6”, Review and
Herald, 31 de maio a 5 de julho de 1898, p. 1).
82 White, Spirit of Prophecy, v. 1, p. 201. Cf. White, Patriarcas e Profetas, p. 539; White,
Evangelismo, p. 273.
83 Ellen G. White, “If Ye Know These Things, Happy Are Ye If Ye Do Them”, Review and Herald, 4
de novembro de 1902, p. 8. Cf. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 652, 653.
84 White, Evangelismo, p. 275, 276.
85 White, A Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 301.
86 Ellen G. White, “The Lord’s Supper and the Ordinance of Feet-Washing – n. 2”, Review and
Herald, 7 de junho de 1898, p. 357.
87 White, Evangelismo, p. 275; Spirit of Prophecy, v. 1, p. 202.
88 White, Evangelismo, p. 275.
89 White, Evangelismo, p. 274.
90 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 651.
91 White, Evangelismo, p. 278.
92 Ellen G. White, “The Lord’s Supper and the Ordinance of Feet-Washing – n. 1”, Review and
Herald, 31 de maio de 1898, p. 1; Ellen G. White, Evangelismo, p. 275; White, Spirit of Prophecy, v. 1,
p. 202.
93 White, Spirit of Prophecy, v. 1, p. 202.
94 Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, 7 v. (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2015), v. 5, p. 1272. Em seus escritos publicados, Ellen White não estabelece
uma conexão teológica entre a ordenança do lava-pés e o batismo, nem subentende que a lavagem dos
pés consiste em uma renovação dos votos batismais.
95 Cf. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 650-660.
96 Ellen G. White, “The Lord’s Supper and the Ordinance of Feet-Washing – n. 5”, Review and
Herald, 28 de junho de 1898, p. 405, itálico acrescentado.
97 Ellen G. White, “The Ordinances”, Review and Herald, 22 de junho de 1897, p. 385, itálico
acrescentado; White, Evangelismo, p. 273, 274.
98 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 656.
99 White, Evangelismo, p. 277.
100 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 500.
5 Por uma Teologia Adventista de
Adoração
Daniel Oscar Plenc
Teofanias patriarcais
Em algumas ocasiões, os patriarcas receberam instruções de Deus por meio
de teofanias. É nesse contexto específico que o tema da adoração vem à tona
nas narrativas. 6 Examinaremos quatro dessas narrativas e seus
desdobramentos para o estudo da adoração.
Gênesis 22:1 a 19
O texto de Gênesis 22:1 a 19 contém o primeiro uso teológico do verbo
“adorar”, do hebraico hāwah, “havendo adorado” (v. 5). 7 A forma verbal
usada aqui (hitpael, um reflexivo futuro), 8 designa tanto uma postura física
quanto uma atitude interior, e significa “prostrar-se, prestar homenagem”. 9
O conceito de temor reverente também se encontra presente na história (Gn
22:12); yāre’, “temer, reverenciar”). Anteriormente, Abraão já havia
construído altares e oferecido sacrifícios de animais (por exemplo, Gn 12:7,
8; 13:4, 18; 22:9; 26:25; Tg 2:21), mas, dessa vez, o sacrifício seria seu filho
Isaque. Podemos derivar pelo menos três princípios que podem ser úteis para
uma teologia da adoração.
Correlação entre revelação e reação
Na adoração, Deus fala, e os seres humanos reagem. Deus já havia falado
com Abraão em sete ocasiões anteriores, e a resposta dele sempre fora
positiva (Gn 12:2, 3; 13:14-17; 15:1-6; 17:1-4; 18:1-15; 21:12; At 7:2-4).
Dessa vez, o diálogo entre Deus e Abraão subentende uma revelação do
Senhor (Gn 22:1, 2) seguida por uma reação positiva de Abraão (22:3). 10
Considerando que a iniciativa é divina, podemos sugerir que a ordem
temporal é importante no diálogo. Deus começa a conversa, mas um ser
humano é Seu parceiro nesse diálogo. Isso subentende que os termos
“revelação” e “resposta” são a chave para a compreensão da adoração
cristã. 11 Robert E. Webber relembra que, na adoração, “Deus fala e age em
meio a Seu povo, o qual deve responder com palavras e atos. Em
consequência, a estrutura da adoração é dialógica, baseada na proclamação e
na reação”. 12
Dinâmica de pedido e submissão
Deus fez um pedido supremo, e Abraão estava disposto a fazer a entrega
suprema. Ele reconhecia que o Senhor tinha o direito de pedir o que já havia
lhe dado: o filho. O livramento do patriarca exigia fé na ressurreição (Hb
11:17-19). Quando Abraão falou: “Eu e o rapaz iremos até lá e, havendo
adorado, voltaremos para junto de vós” (Gn 22:5), não estava entendendo a
adoração como um mero gesto corpóreo de se ajoelhar ou prostrar, mas como
um reconhecimento da superioridade e dignidade divina, bem como da
necessidade humana de reconhecer isso. O Senhor lhe disse: “Agora sei que
temes a Deus” (Gn 22.12), testemunhando assim do fato de que o patriarca
sempre fora submisso à vontade divina. 13
Presença de um sacrifício vicário
O próprio Deus forneceu o sacrifício que pediu para Abraão. O patriarca
disse a Isaque: “Deus proverá para Si, meu filho, o cordeiro para o
holocausto” (Gn 22:8) e, quando o Senhor providenciou, “tomou Abraão o
carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho” (Gn 22:13).
Abraão o ofereceu como sacrifício substituto, por meio do qual seu filho seria
livrado. Sua experiência aponta tipologicamente para o sacrifício vicário de
Cristo. 14 A Bíblia identifica o monte Moriá como o local em que o templo
seria construído, tornando-se o centro do sistema sacrifical em Israel (2Cr
3:1). As Escrituras deixam claro que o ato de adoração presume a oferta de
um sacrifício que viabiliza o diálogo com Deus.
Gênesis 28:10 a 22
Esse texto descreve a teofania mais importante da vida de Jacó. 15 O
encontro de Deus com o fugitivo Jacó em Betel contém alguns dos elementos
estruturais da adoração. Já foi dito que “a adoração cristã precisa ser baseada
de forma sólida em verdades objetivas, mas também deve incluir uma
experiência subjetiva”. 16 A reação de Jacó a uma manifestação de Deus é
uma boa demonstração desse conceito.
Estrutura dialógica
Poderíamos dizer que “na experiência em Betel (“casa de Deus”),
encontramos os três elementos principais de toda adoração: ‘Deus Se revela’
[...] e por fim a resposta humana, completando, assim, o ‘grande diálogo’”. 17
Assim como no caso de Abraão, a experiência de Jacó mostra que a
adoração é, em essência, uma resposta positiva à iniciativa divina. Pode-se
dizer que “adoração é uma conversa entre Deus e os seres humanos, um
diálogo que deveria continuar ininterruptamente na vida do cristão”. 18 Fica
claro que não se trata de um diálogo entre iguais. Em vez disso, nessa
revelação, a onipotência e a transcendência de Deus são reveladas. 19 Logo,
“ao passo que o Senhor é a causa da adoração, a resposta humana consiste na
condição necessária de sua existência”. 20
Resposta de fé à presença redentora de Deus
A escada mística conectava Deus, nas alturas, ao patriarca deitado no chão
(Gn 28:12, 13). A presença divina é mediada a Jacó por meio de uma escada
que seria usada posteriormente a fim de ilustrar o papel mediador e salvador
de Cristo (Jo 1:52). A presença redentora de Deus é comunicada a Jacó por
meio da declaração: “Eis que Eu estou contigo” (Gn 28:15). Talvez possamos
sugerir que a adoração é uma resposta de fé à oferta celestial de redenção. A
adoração em si não tem mérito nenhum. Pelo contrário, trata-se de uma
resposta à salvação. Como disse Pease: “A adoração é a resposta do remido a
Seu Redentor.” 21
Resposta reverente à presença divina
O patriarca afirmou: “Na verdade, o SENHOR está neste lugar, e eu não o
sabia. E, temendo, disse: Quão temível é este lugar! É a casa de Deus,
a porta dos Céus” (Gn 28:16, 17). A resposta de adoração expressa por Jacó
se caracterizou por um temor manifesto em reverência e submissão. Ellen G.
White comentou: “A verdadeira reverência a Deus é inspirada pela percepção
de Sua infinita grandeza e de Sua presença.” 22 Isso está relacionado com a
“proximidade e a distância de Deus: imanência e transcendência”. 23 Já se
destacou que, no conceito de adoração de Ellen White:
Adoração e o Sinai
Êxodo 3:1 a 22
O relato da experiência de Moisés em Horebe, o monte de Deus, revela
elementos semelhantes aos que encontramos nas teofanias patriarcais. Em
Êxodo 3, encontramos uma combinação entre teofania e um chamado divino
para uma missão específica. 27 Os elementos a seguir podem ser extraídos da
leitura desse relato.
Manifestação e chamado divino
Dessa vez, o anjo do SENHOR, que depois é identificado como o próprio
SENHOR (Êx 3:2, 4), aparece para Moisés. Isso é sucedido por um breve
diálogo entre Deus e Moisés (Êx 3:4). Nesse caso, a natureza dialógica do
encontro se tornou um chamado para Moisés realizar uma missão específica
em prol do povo de Deus. A adoração pode se transformar em uma ocasião
na qual o coração se abre para perceber a intenção divina para a vida de
alguém. Adoração e missão não devem ser separadas uma da outra.
Adoração, santidade e reverência
Nesse caso, a santidade de Deus recebe ênfase especial e encontra
expressão visível no símbolo de um fogo que também purifica. 28 Com
frequência, a santidade é associada a uma experiência pessoal de adoração.
No Antigo Testamento, a santidade “subentende pureza, separação e
transcendência”. 29 A presença de Deus no fogo transformou o solo ao redor
em “lugar santo”, levando Moisés a demonstrar respeito ou reverência,
mantendo distância, tirando os sapatos e cobrindo o rosto. Tudo isso foi
acompanhado por uma forte sensação de medo (Êx 3:5, 6). Ele demonstrou
reverência ou respeito a Deus de maneiras que lhe eram familiares.
No Oriente Médio, havia o costume de tirar os sapatos para demonstrar
respeito “antes de entrar num templo, palácio ou mesmo em casas
particulares”. 30 Moisés e Josué receberam a ordem de tirar a sandália na
presença do Senhor (Js 5:15). Esse foi, de fato, um sinal de temor reverente
porque “a presença de Yahweh santifica o solo”. 31 Moisés, Elias e os anjos
cobriram a face diante do Senhor (1Rs 19:13; Is 6:2), reconhecendo assim
que Deus de fato é grandioso e único. Talvez possamos dizer que “a
compreensão básica da verdadeira adoração é que somente Deus é santo”. 32
Redenção, liberdade e adoração
Em decorrência da teofania, Moisés se tornou instrumento de Deus para a
libertação de Israel, o que levaria à adoração (Êx 3:10). As pessoas sairiam
do Egito a fim de servir “a Deus neste monte” (Êx 3:12) ou “para prestar-Me
culto” (4:23, NVI). A relação íntima entre redenção, serviço e adoração
ocorre repetidas vezes no livro de Êxodo (por exemplo, 7:16; 8:1, 20; 9:1, 13;
10:3, 7, 8, 11, 24, 26; 12:27, 31). A verdadeira adoração está associada à
liberdade redentora, sem a qual Deus, o único e verdadeiro alvo de adoração,
seria ignorado.
Êxodo 14 e 15
As narrativas do êxodo e do Sinai contêm elementos que podem enriquecer
nossa teologia de adoração.
Deus era glorificado
O êxodo do Egito foi um ato divino de salvação, por meio do qual Deus foi
glorificado. Os próprios egípcios deveriam reconhecer o Senhor: “E serei
glorificado em Faraó e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que Eu
sou o SENHOR” (Êx 14:4, 17, 18). A travessia do Mar Vermelho também foi
um ato divino de salvação, o qual mostrou com clareza que Deus lutava em
prol dos israelitas, contra os egípcios (Êx 14:13, 14, 25, 30). O êxodo foi um
juízo contra o Egito e um ato de libertação para Israel. Esse evento glorioso
foi considerado “a prova conclusiva do amor de Deus e uma base justa para a
reivindicação divina de Sua devoção”. 33 Em consequência, a canção de
Êxodo 15 pode ser considerada um cântico dos remidos. “Os propósitos de
Deus não incluem somente a libertação de Seu povo, mas também o
estabelecimento de residência em seu meio (v. 13), a fim de se tornar tanto o
alvo de sua adoração (v. 17) quanto uma fonte de bênçãos (v. 13)”. 34
Atuação divina e resposta do povo
A manifestação de Deus durante o êxodo revelou qualidades e operações
divinas dignas de reconhecimento em adoração. Moisés e Israel cantaram ao
Senhor dizendo: “Cantarei ao SENHOR, porque triunfou gloriosamente” (Êx
15:1; cf. v. 21) e “Ele me foi por salvação” (v. 2). “Com a Tua beneficência
guiaste o povo que salvaste; com a Tua força o levaste à habitação da Tua
santidade” (v. 13). O cântico dá ênfase ao poder, à ira, santidade,
misericórdia, grandeza, soberania e eternidade de Deus (v. 6, 7, 11, 13).
Destaca os atos divinos em favor de Seu povo: “Guiaste o povo que salvaste”
(v. 13) e o “adquiriste” (v. 16). Esses atributos e ações levaram Israel a
responder com temor e fé: “O povo temeu ao SENHOR e confiou no SENHOR e
em Moisés, Seu servo” (14:31). Em resposta à bondade do Senhor, Moisés
disse: “Eu O louvarei” (15:2). Miriã e as mulheres saíram com tamborins,
exortando o povo enquanto diziam: “Cantai ao SENHOR” (15:21). Êxodo 15
“nada mais é do que a celebração em forma de culto do evento que fundou a
religião de Israel”. 35 Definiu a nação como uma comunidade de adoração,
em resposta aos atos de salvação do Senhor.
Êxodo 19 e 20
A experiência de Israel no monte Sinai apresenta os fundamentos bíblicos
mais importantes para a adoração. De acordo com Webber, contém os
elementos estruturais básicos da adoração pública: (1) a reunião foi
convocada por Deus; (2) houve uma reação participativa do povo; (3) foi
caracterizada pela proclamação da Palavra; (4) o povo fez o compromisso de
ouvir e obedecer à Palavra; e (5) o encontro foi ratificado por um sacrifício
que apontava para o sacrifício definitivo de Cristo. 36 Foi uma assembleia
convocada por Deus, estabelecida pela Palavra de Deus dada a Seu povo; a
Palavra de Deus foi recebida pelas pessoas reunidas, as quais ofereceram um
sacrifício pela aliança. 37 Outras assembleias emblemáticas de Israel incluem
Siquém (Js 24), a dedicação do templo (1Rs 8), a Páscoa na época de
Ezequias (2Cr 29, 30) e a Páscoa após o exílio (Ne 8, 9). 38 Alguns
elementos teológicos e cerimoniais emergem com naturalidade do texto.
Lembrança e adoração
O Senhor chamou Moisés para descer do monte e lhe pediu que lembrasse
os israelitas: “Como vos levei sobre asas de águia e vos cheguei a Mim” (Êx
19:4). A adoração consiste na reunião do povo de Deus, convocada por Ele, a
fim de celebrar a salvação já efetuada pelo Senhor. Para o cristão, essa
experiência diz respeito, de maneira específica, à lembrança do que Deus
realizou por nós mediante o mistério da morte e ressurreição de Jesus
Cristo. 39
Compromisso presente
A redenção do passado, lembrada na adoração, leva o povo do presente a
ouvir a voz de Deus e ser leal a Sua aliança (Êx 19:5). O prólogo do
Decálogo, em si, se baseia na ideia de uma libertação realizada (Êx 20:1, 2).
Deus Se revelou como o Criador do céu e da terra, forte, zeloso e cheio de
misericórdia. Em seguida, desafiou Israel a temer ao Senhor “a fim de que
não pequeis” (v. 20). 40 Os quatro primeiros mandamentos são respostas de
adoração a Deus. De acordo com John Stott, o primeiro mandamento é o
objeto de adoração que demanda, dos seres humanos, adoração exclusiva a
Deus; o segundo expõe a maneira que Ele deve ser adorado; o terceiro faz um
apelo para que Seu nome seja reverenciado, e o quarto explica o tempo
apropriado para adorá-Lo. 41 Durham sugere que o primeiro mandamento
proíbe associar Deus a outros deuses, e os outros três especificam como Ele
deve ser adorado. 42 Adoração sem compromisso é uma concha vazia.
Adoração e proclamação da Palavra de Deus
Moisés informou o povo acerca de tudo que o Senhor havia ordenado, e
eles ouviram enquanto o líder falava (Êx 19:7, 8). Houve dois diálogos. O
primeiro foi entre Moisés e o Senhor (v. 19), e o segundo entre Moisés (como
mensageiro) e o povo (Êx 20:22). Em reverência, o povo permaneceu a
distância a fim de ouvir as instruções de Deus por intermédio de Moisés. A
proclamação e a aclamação são importantes no ato da adoração. Ouvimos a
proclamação da Palavra e louvamos o Senhor em reverência e disposição de
Lhe obedecer. 43
1 Crônicas 28 e 29
Para celebrar a entronização de Salomão como seu sucessor, Davi
convocou o povo de Israel para se reunir (1Cr 29:1). Em 1 Crônicas 28 e 29,
apresentam-se: (1) o testemunho de Davi; (2) os planos para o templo e as
doações; (3) a dívida de gratidão de Davi para com Deus; e (4) a entronização
de Salomão. A dinâmica da adoração é encontrada nesse contexto, contendo
componentes teológicos e práticas de adoração importantes, que, em sua
maioria, estiveram presentes em outras narrativas. Eles incluem se lembrar
das bênçãos de Deus (a eleição divina [1Cr 28:4], o dom de ter muitos filhos
[v. 5] e, em particular, de ter Salomão [v. 5]). “Lembrar-se” significa “trazer
à memória e declarar os grandes atos de Deus realizados ao longo de nossa
vida”. 45 A adoração também inclui ofertas voluntárias a Deus, oferecidas
espontaneamente e alegremente pelo povo para a construção do templo (1Cr
29:9). Esse alegre serviço a Deus é o que se destaca. Tudo indica que a
doação de recursos materiais como ofertas sempre fez parte da adoração
bíblica (por exemplo, 1Cr 16:29; Sl 96:8; Pv 3:9).
Deus Se revela nessa narrativa como Aquele que abençoa Seu povo. Davi
resume o motivo que o moveu a louvar a Deus: gratidão (1Cr 29:13-14)
porque todas as coisas provêm do Senhor (v. 11, 16). Ao fim do encontro, as
pessoas foram exortadas a louvar a Deus, prostrar-se e prestar tributo a Ele
(v. 20). De fato, essa narrativa contém “uma das melhores orações do Antigo
Testamento”, 46 demonstrando as qualidades do louvor teocêntrico. 47
Neemias 8 e 9
Neemias relata uma experiência memorável para aqueles que regressaram
do cativeiro babilônico. O povo pediu ao escriba e sacerdote Esdras que lesse
“o Livro da Lei de Moisés” (Ne 8:1). Em consequência, houve uma reação
semelhante à vivenciada pelas pessoas da época de Josias (2Rs 22:8-13). No
ato de adoração, alguns princípios já presentes em outras narrativas são
mencionados e outros novos são introduzidos ou ficam explícitos.
Leitura das Escrituras
A congregação era composta “tanto de homens como de mulheres e de
todos os que eram capazes de entender o que ouviam” (Ne 8:2, 3). Esdras se
posicionou em um ponto mais alto que o restante do povo, em um pedestal de
madeira, para ser visto e ouvido com mais facilidade (Ne 8:4). 48 A clareza
da leitura e a compreensão do povo são mencionadas de maneira específica
(Ne 8:8, 9, 12, 13). Talvez a leitura fosse “uma paráfrase, provavelmente em
aramaico” 49 (Ne 8:8). 50 Havia uma leitura diária do livro da lei (v. 18;
9:3). É impossível exagerar a importância da leitura e proclamação das
Escrituras na adoração contemporânea, acompanhada de estratégias e
recursos necessários para tornar empolgante e compreensível sua relevância.
É na leitura da Bíblia que, sob a guia do Espírito, ouvimos a voz do Senhor
instruindo Seu povo.
Adoração como reação à Palavra
“Esdras bendisse ao SENHOR, o grande Deus; e todo o povo respondeu:
Amém! Amém! E, levantando as mãos; inclinaram-se e adoraram o SENHOR,
com o rosto em terra” (Ne 8:6).
A resposta é caracterizada como uma reação (1) audível (Ne 9:5) 51 que
envolveu o corpo em adoração à medida que as pessoas ergueram as mãos e
se prostraram no chão (3) em atitude de adoração. Também houve (4)
expressões sentimentais fortes, como pranto (8:9-11), júbilo e felicidade (v.
12, 17). Já se disse o seguinte acerca desse tipo de adoração: “Toda adoração
autêntica é instrução. [...] O contrário também é verdade: toda instrução cristã
autêntica é adoração.” 52 O envolvimento do corpo humano na adoração é
tão importante que, sem ele, “é absolutamente impossível” 53 adorar.
Adoração e confissão de pecados
O texto afirma de maneira explícita que “fizeram confissão [de seus
pecados] e adoraram o SENHOR, seu Deus” (Ne 9:3) e prometeram Lhe
obedecer (v. 38). A confissão foi feita no contexto de referências a alguns
aspectos do caráter de Deus que dão motivos teológicos para adorá-Lo: a
grandeza do Senhor (Ne 8:6; 9:5), bem como Seu poder criador e mantenedor
(Ne 9:6). A memória é ativada por meio de referências àquilo que o Senhor
fez por Israel: Ele escolheu Abraão (v. 7), olhou para a aflição de Israel,
realizou sinais e prodígios (v. 9, 10), entre outros. São apresentados também
outros motivos de adoração: Deus é justo (v. 8, 33), perdoador e
misericordioso (v. 17, 32). É a esse Deus maravilhoso que as pessoas
confessaram seus pecados e pediram perdão.
Isaías 6:1 a 8
A visão do trono de Deus, registrada em Isaías 6, é valiosa para a teologia
de adoração. Já se afirmou que “Isaías 6 é o locus classicus para o estudo da
adoração”. 54 Alguns encontram os seguintes elementos nessa passagem: (1)
revelação de Deus, (2) reconhecimento da condição pecaminosa do ser
humano, (3) perdão e reconciliação, (4) chamado de Deus, (5) resposta
humana afirmativa e (6) comissão. 55 Isaías 6 é um dos melhores exemplos
de adoração significativa. Olhando para esse capítulo, poderíamos dizer:
Sem dúvida, a adoração pressupõe que Deus existe, mas também subentende que Ele
tem determinadas qualidades ou características. [...] Perante Ele, sentimos o contraste
de nossa finitude; a fragilidade, o caráter tênue e a dependência de nossa existência.
Em alguns casos, os adoradores sentem o peso avassalador da majestade divina.
Percebem como são vazios e insignificantes em comparação com o que estão
vivenciando. 56
Apocalipse 4 e 5
Todo o livro de Apocalipse, sobretudo seus cânticos, é importante para o
estudo da adoração. 59 Já foi mencionado que “o Apocalipse é um livro
centrado na adoração. O grande objetivo – ‘Adorem a Deus!’ – é o tema
central de toda a obra. As profecias do tempo do fim, de maneira especial,
requerem que se faça a distinção entre adoração verdadeira e idolatria (Ap
14:6-12)”. 60
É razoável pensar que as cenas de louvores celestiais consistem em uma
contribuição para a teologia da adoração. “O Apocalipse apresenta o Céu
como uma grande assembleia litúrgica.” 61 Nesta seção, analisaremos
Apocalipse 4 e 5 e 14:6 a 12. Em Apocalipse 4, encontramos: (1) uma visão
do trono celestial (v. 1-3); (2) a descrição dos anciãos e dos seres viventes
que rodeiam o trono (v. 4-8); e (3) um hino de louvor e adoração ao Deus
Criador (v. 9-11). 62 A fim de expressar adoração, o verbo piptō é usado para
descrever o que os seres viventes fazem. Esse verbo é comumente traduzido
por “cair”, “prostrar-se” e, às vezes, designa o gesto de se ajoelhar (Ap 4:10;
5:8, 14).
Visão de Deus, o Criador e Mantenedor
Na visão, Deus está assentado no trono (Ap 4:2, 9, 10; 5:1, 13). Também
encontramos uma referência à Trindade: o Pai está no trono, o Espírito Se
encontra em frente ao trono, representado pelas sete tochas de fogo (Ap 4:5),
e o Filho está no meio do trono, como um Cordeiro (Ap 5:6). A verdadeira
adoração cristã é trinitariana. 63 No contexto da adoração, alguns dos
atributos divinos são mencionados: santidade, onipotência e eternidade (Ap
4:8, 9; cf. v. 10; 5:14). A doxologia dos anciãos considera que Deus é digno
de receber louvor por ser o Senhor Criador, tudo existe por causa Dele (4:11).
Resposta dos seres humanos e celestiais
A resposta dos seres inteligentes na adoração revela diversas coisas. (1) A
adoração é teocêntrica: os 24 anciãos e os quatro seres viventes se encontram
“ao redor do trono” (Ap 4:4-6). Em outras palavras, o centro espiritual e
físico é Deus e o Cordeiro. (2) A adoração é constante e audível: “não têm
descanso, nem de dia nem de noite, proclamando” (v. 8). (3) Também
encontramos diversas expressões de adoração: “glória, honra e ações de
graças” (v. 9), “a glória, a honra e o poder” (v. 11). Aqui há uma ênfase
muito importante para a Divindade: a soberania, o domínio e a eternidade de
Deus. (4) Os 24 anciãos se prostram e adoram (v. 10). À medida que lemos
sobre esse ato sublime de adoração, “a impressão que fica é de muita
atividade e participação”. 64 A adoração no Céu, em Apocalipse 4 e 5, inclui
lembrança, gratidão, devoção e dedicação. 65 Depor as coroas é sinal de
submissão. (5) A adoração também é proléptica: “ela prediz o que acontecerá
no futuro.” 66 “O cântico dos querubins subentende que a certeza do triunfo
futuro de Deus se encontra enraizado em Sua natureza.” 67
Louvores cristocêntricos
Apocalipse 4 se concentra no Deus Criador; o capítulo 5, no Redentor. Em
Apocalipse 5, encontramos: (1) a visão do rolo selado; (2) a busca por
alguém que pudesse abrir o livro (v. 2-5); (3) a visão do Cordeiro que pega o
livro (v. 6, 7); e (4) o cântico de redenção (v. 8-14). 68 Os seguintes
elementos contribuem para uma teologia de adoração: (1) O capítulo contém
a revelação de Cristo como Redentor. Ele é o vitorioso (Ap 5:5) que foi
sacrificado (v. 6, 9, 12). (2) Os quatro seres viventes e os 24 anciãos
participam da adoração cristocêntrica. Eles se prostram perante o Cordeiro (v.
8) e usam harpas para louvá-Lo (v. 12). 69 Finalmente, toda a criação louva o
Pai e o Cordeiro (v. 13), enquanto os seres viventes dizem “amém” e os
anciãos se prostram e adoram (v. 14). Esse é o aspecto distintivo da adoração
no Novo Testamento. Embora os elementos básicos de adoração permaneçam
iguais, “a orientação cristológica é nova”. 70 Deus e Seu Filho “são o centro
e o foco da adoração” e isso acontece “ao redor do trono de Deus”. 71
Apocalipse 14:6 a 12
Essa passagem se encontra no centro do Apocalipse e descreve a
proclamação final do evangelho ao mundo. Os adventistas “entendem que
Apocalipse 14:6 e 7 é um texto fundamental sobre adoração”. 72 Essa
passagem diz respeito à adoração no contexto da crise escatológica, com dois
focos principais: a proclamação (pregação) e aclamação (louvor). 73 Isso
sugere que as características fundamentais da adoração adventista autêntica
são: (1) teocentricidade, (2) centralidade da proclamação, (3) aclamação
contextualizada e (4) fuga dos extremos (emocionalismo ou formalismo
frio). 74 A seguir, encontram-se alguns desdobramentos de uma teologia da
adoração baseados em Apocalipse 14:6 a 12.
Proclamação final do evangelho e da verdadeira adoração
A frase “Temei a Deus e dai-Lhe glória [...] adorai” (Ap 14:7), na
mensagem do primeiro anjo, inclui alguns verbos encontrados em outras
passagens. Por exemplo, “temer” (gr. fobeō), no contexto do juízo divino,
significa “se achegar a Ele com reverência e respeito. Comunica a ideia de
lealdade absoluta ao Senhor, de rendição total a Sua vontade”. 75 “Dar
glória” (gr. doxa) se refere à “honra”, “louvor” ou “homenagem”. 76 O
motivo dado para “adorar” a Deus (gr. proskuneō, “prestar homenagem”,
“adorar”) é que Ele é o Criador de todas as coisas. “A adoração a Deus
contrasta com a adoração à besta (Ap 13:8, 12) e à sua imagem (v. 15). Na
crise final, os habitantes da Terra serão chamados a fazer uma escolha,
semelhante à dos três hebreus em Babilônia, entre a adoração ao Deus
verdadeiro ou a falsos deuses.” 77
O desdobramento é que “o Criador do Universo é o único digno de
adoração”. 78 A teologia adventista encontra aqui um chamado para restaurar
a adoração no sábado. “A mensagem do primeiro anjo, portanto, chama as
pessoas para a restauração da verdadeira adoração, ao apresentar Cristo
perante o mundo, o Criador e Senhor do sábado bíblico.” 79 Isso
provavelmente tem consequências litúrgicas, “logo, é importante que as três
doutrinas distintivas da Igreja Adventista do Sétimo Dia – o sábado, o
ministério celestial e o segundo advento de Cristo – sejam liturgicamente
ilustradas nesses cultos de adoração”. 80
Advertência contra a falsa adoração no tempo do fim
O livro do Apocalipse faz um forte contraste entre a verdadeira e falsa
adoração dos tempos escatológicos. Na segunda mensagem angélica,
Babilônia representa um sistema de falsa adoração e uma mensagem de
infidelidade. “O segundo anjo adverte contra todas as formas de adoração
originadas em mecanismos humanos.” 81 Em contraste, no fim, a mensagem
do terceiro anjo descreve os santos que são obedientes e fiéis.
Mateus 14:22 a 33
Essa passagem contém um dos vários incidentes em que Jesus foi adorado
por Seus discípulos. 83 O termo grego usado aqui, proskuneō (“adorar”,
“prostrar-se”, “ajoelhar”) é o verbo usado com maior frequência para a
adoração no Novo Testamento. A narrativa apresenta para nós alguns
princípios sobre adoração. Primeiro, a adoração é precedida pela presença e o
poder de Jesus. Na hora da crise, Cristo andou sobre as águas e, por meio de
Sua presença e Seu poder, acalmou a tempestade. Ele Se apresentou aos
discípulos dizendo: “Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!” (Mt 14:27).
Houve uma revelação do poder salvador de Cristo que preparou o caminho
para uma resposta de adoração.
Em segundo lugar, assim como em muitas outras partes da Bíblia, a
adoração sempre é uma resposta. Ao fim do episódio, “os que
estavam no barco [os discípulos] O adoraram” (Mt 14:33). A resposta
humana positiva mencionada no Antigo Testamento para as aparições de
Deus – a adoração – é atribuída a Jesus no Novo Testamento. Mateus
menciona experiências semelhantes em outras passagens e mostra que Jesus
não Se opunha à adoração a Si (Mt 2:2, 8, 11; 8:2; 9:18; 15:25; 28:9, 17).
Embora o ato de se prostrar não indique necessariamente adoração, a verdade
é que os discípulos adoraram a Jesus depois de reconhecer Sua filiação
divina. “Verdadeiramente és Filho de Deus!” (14:33). A história conclui com
essa confissão cristológica.
João 4:20 a 24
O diálogo entre Jesus e a mulher samaritana lida, de maneira ampla, com o
tema da adoração. Já se afirmou que “João 4:20 a 24 é a passagem mais
significativa do Novo Testamento sobre adoração”, 84 e é possível que isso
seja verdade. É interessante observar que “a palavra ‘adoração’ ocorre oito
vezes nessa passagem”. 85
O lugar de adoração
Na Bíblia e em todo o Oriente Médio, “a adoração estava intimamente
relacionada a um lugar sagrado”. 86 No caso de judeus e samaritanos, a
pergunta era sobre o lugar correto de adoração: se em Gerizim ou Jerusalém.
A mulher aludiu ao local de adoração de “nossos pais”, pensando talvez que
sua posição tinha o apoio de uma tradição antiga (Jo 4:20). Porém, para
Jesus, nem Gerizim, o monte dos samaritanos, nem Jerusalém, a capital dos
judeus, eram ideais. O novo “lugar” de adoração na Terra não correspondia a
um prédio, mas ao próprio Jesus, o templo verdadeiro. Nele, o objeto e o
local de adoração se unem porque Deus não pode ser reduzido a uma imagem
nem confinado a um lugar. Logo, o questionamento mais fundamental “não
diz respeito ao local de adoração, mas a quem é adorado”. 87 O que
realmente parece importar é “a atitude do coração e da mente, a obediência à
Palavra de Deus, assim como o propósito e método de adoração. Não é o
‘onde’ que importa, mas o ‘como’ e o ‘por quê’”. 88 A adoração se dá no
contexto de um coração que acolhe a verdade. O formalismo na adoração é
eliminado por completo.
Qualidade da adoração
Mais especificamente, o objeto de adoração é o “Pai” (Jo 4:21). É
importante observar que a adoração é uma busca divina: “São estes que o Pai
procura para Seus adoradores” (Jo 4:23). Adorar “em espírito e em verdade”
não é natural para o coração humano (Jo 4:23). A expressão “em espírito”
provavelmente se refira ao Espírito Santo e significa “habilitado pelo
Espírito”. 89 É adoração em verdade porque ela é determinada pela
autorrevelação divina. Essa revelação se manifestou na pessoa de Jesus, que é
identificado como a verdade (cf. Jo 14:6).
Adoração, conhecimento e salvação
Jesus disse à mulher: “Nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação
vem dos judeus” (Jo 4:22). Deus Se revelou de maneira singular aos
israelitas, e essa revelação foi preservada no Antigo Testamento. Os
samaritanos só reconheciam o Pentateuco como instrução divina. 90 Jesus
falou sobre uma nova adoração, movida pelo Espírito Santo, baseada na plena
revelação de Deus. 91 “Essa adoração [...] também será voltada para o Deus
verdadeiro que as Escrituras apresentam e que Se revelou na obra da
redenção.” 92 Jesus conectou a verdadeira adoração ao conhecimento, e o
conhecimento com a salvação. Novamente, enfatiza-se a ideia de que
adoração é a resposta daqueles que foram salvos por seu Redentor.
Lugar de adoração
A adoração requer não só um momento de adoração, mas também um local
específico. Com muita frequência, os salmos presumem que existe um lugar
centralizado de adoração – o templo –, que permite a adoração coletiva e
pessoal. O salmista anseia estar lá: “Quão amáveis são os Teus tabernáculos,
SENHOR dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do
Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!” (Sl 84:1,
2). Um lugar comum de adoração contribui para a união e identidade do povo
de Deus, protegendo as pessoas da idolatria. Deus Se torna disponível para
Seu povo a fim de ser adorado em um lugar específico.
Alegria e adoração
No livro dos Salmos, comparecer à presença do Senhor é uma ocasião de
alegria:
Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo? (Sl 13:1, 2).
Cantarei ao SENHOR,
O salmo termina com a certeza de que Deus agirá em favor daqueles que
sofrem e os livrará de suas aflições. É nessa expectativa de livramento futuro
que o salmo encerra com uma confissão de alegria. Chegará o tempo, diz o
salmo, quando nos alegraremos na salvação divina e cantaremos ao Senhor.
A expectativa futura, alicerçada na esperança e confiança no Senhor, é forte o
suficiente para nos sustentar em meio às experiências sombrias do mundo.
Por isso, confessamos nossa confiança na benignidade do Senhor e nossa
alegria em Sua presença.
Exultai, vós todos que sois retos de coração (Sl 32:1, 5, 10b, 11).
CONCLUSÃO
1 Fernando Canale, “Principles of Worship and Liturgy”, Journal of Adventist Theological Society
20.1-2 (2009), p. 89-112, comenta: “Muitos estudantes e membros da igreja ficam espantados pela
multiplicidade de estilos cristãos de adoração.” O autor extrai da Bíblia e sobretudo de Ellen G. White
os seguintes princípios:
1. Princípios gerais de adoração
a) Princípio de origem (Deus, o Criador)
b) Princípio de existência (discipulado como condição necessária)
c) Princípio de natureza (espírito e verdade)
d) Princípio de apreço (encontro com um amigo)
2. Princípios para a adoração congregacional
a) Princípio de existência (presença divina)
b) Princípio de atração (Cristo ressurreto)
3. Princípios de liturgia
a) Princípio de criatividade (obediência a Cristo)
b) Princípio de conteúdo (distinção entre o sagrado e o comum)
c) Princípio de desconfiança (Sola Scriptura)
d) Princípio de efeito espiritual.
2 Os verbos são hištahawāh (“adorar, prostrar”) e ‘ābad (“servir”), duas das expressões linguísticas
mais comuns para designar adoração na Bíblia hebraica, subentendem uma ação dinâmica. Cf.
Raymond Bailey, “Worship in the New Testament”, Mercer Dictionary of the Bible, Watson E. Mills,
ed. (Macon, GA: Mercer University Press, 1990), p. 970. Os verbos a seguir ocorrem com frequência
nas narrativas bíblicas: “temer” (heb. yârê’ e gr. phobeomai), “dar glória” (heb. kābad e gr. doxazō),
“louvar” (heb. hālal e gr. aineō) e “bendizer” (heb. bârak e gr. eulogueō).
3 A sequência de revelação e reação aparece com consistência como a chave interpretativa para o
senso de adoração. Ver, por exemplo, Alfred Küen, En Culto en la Biblia y en la Historia (Barcelona:
Clie, 1994), p. 35; Donald P. Hustad, Jubilate II: Church Music in Worship and Renewal (Carol
Stream, IL: Hope Publishing, 1993), p. 123-124, 137, 142; James F. White, Introduction to Christian
Worship (Nashville, TN: Abingdon, 1980), p. 17.
4 Robert E. Webber, Worship, Old & New: A Biblical, Historical, and Practical Introduction (Grand
Rapids, MI: Zondervan, 1994), p. 65.
5 David Peterson, Engaging with God: A Biblical Theology of Worship (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1993), p. 48, resume bem essas ideias: “Algo decisivo para a compreensão do conceito de
adoração no Antigo Testamento é a ideia de que o Deus do Céu e da Terra tomou a iniciativa de Se
fazer conhecer, primeiro para os patriarcas de Israel e, depois, por meio dos acontecimentos do êxodo
do Egito até o encontro no monte Sinai, à nação como um todo. O livro de Êxodo proclama que Deus
resgatou Seu povo da escravidão no Egito para que este O servisse ou adorasse com exclusividade.”
6 William H. Gentz, ed., Dictionary of the Bible and Religion, (Nashville, TN: Abingdon, 1986), p.
1122.
7 Alfred P. Gibbs, Worship: The Christian’s Highest Occupation (Dubuque, IA: ECS Ministries,
2012), p. 18, ao comentar sobre o primeiro uso do verbo “adorar”, em Gênesis 22:5, afirma:
“Aprendemos primeiro que a adoração se baseia na revelação divina. [...] A fé sempre pressupõe uma
revelação anterior [...]. Em segundo lugar, descobrimos que a adoração é condicionada pela fé, em
obediência a essa revelação divina.”
8 Tradicionalmente, a forma verbal hištahawāi derivava da raiz verbal šāhah, mas esse não é mais o
caso (embora alguns ainda argumentem em favor desse ponto de vista). Os estudos linguísticos ligados
ao idioma cananeu ugarítico demonstram que a raiz verbal é hawāa. Cf. G. del Olmo Lete e J.
Sanmartín, A Dictionary of the Ugaritic Language in the Alphabetic Tradition (Leiden, Boston: Brill,
2003), v. 1, p. 186.
9 Cf. D. Preuss, “ khwh”, Theological Dictionary of the Old Testament (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 2003), v. 4, p. 250.
10 Pablo Argárate, La Iglesia Celebra a Jesucristo: Introducción a la Celebración Litúrgica (Buenos
Aires: San Pablo, 1994), p. 7, diz que existe um encontro teândrico, ou divino-humano, na liturgia.
11 Cf. Paul W. Hoon, The Integrity of Worship (Nashville, TN: Abingdon, 1971).
12 Robert E. Webber, Worship is a Verb: Eight Principles for a Highly Participary Worship
(Nashville, TN: Abbott Martyn, 1993), p. 17.
13 Em Gênesis 22:5, “adoração” pode significar simplesmente “se prostrar” (cf. Gn 18:2; 19:1).
Gordon J. Wenham, Genesis 16–50 (Dallas, TX: Word, 1994), v. 2, p. 107.
14 Meredith G. Kline, “Genesis”, em Donald Guthrie e J. A. Motyer, org., The New Bible
Commentary (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1970), p. 99.
15 Lawrence Boadt, “Genesis”, em William R. Farmer, org., The International Bible Commentary: A
Catholic and Ecumenical Commentary for the Twenty-First Century (Collegeville, MN: The Liturgical
Press, 1998), p. 381.
16 Warren W. Wiersbe, Real Worship: It Will Transform Your Life (Nashville, TN: Oliver-Nelson,
1986), p. 27.
17 Küen, En Culto en la Biblia y en la Historia, p. 85.
18 Hustad, Jubilate II, p. 105.
19 Alberto Colunga e Maximiliano García Cordero, “Pentateuco”, em Biblia Comentada (Madrid:
Biblioteca de Autores Cristianos, 1960), v. 1, p. 266, 267.
20 Canale, “Principles of Worship and Liturgy”, p. 98.
21 Norval F. Pease, “Worship – A Bible Doctrine”, Adult Sabbath School Lessons, outubro-dezembro
de 1976, p. 55. Cf. Norval F. Pease, “And Worship Him” (Nashville, TN: Southern Publishing, 1967).
22 Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p. 48.
23 Millard J. Erickson, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2015), p. 295-314.
24 C. Raymond Holmes, Sing a New Song!: Worship Renewal for Adventists Today (Berrien Springs,
MI: Andrews University Press, 1984), p. 163-164. Sobre os conceitos de transcendência e imanência,
ver Wolfgang Hans Martin Stefani, “The Concept of God and Sacred Music Style: An Intercultural
Exploration of Divine Transcendence/Immanence as a Stylistic Determinant for Worship Music with
Paradigmatic Implications for the Contemporary Christian Context” (tese de doutorado, Faculdade de
Educação da Universidade Andrews, Berrien Springs, MI, 1993).
25 Colunga e Cordero, “Pentateuco”, v. 1, p. 266, 267.
26 Peterson, Engaging with God, p. 283.
27 John I. Durham, Exodus (Dallas: Word, 1987), p. 41.
28 Colunga e Cordero, “Pentateuco”, v. 1, p. 401.
29 Colunga e Cordero, “Pentateuco”, v. 1, p. 401.
30 Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, 7 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2011), v. 1, p. 541.
31 John F. Craghan, “Exodus”, em Farmer, ed., The International Bible Commentary, p. 413; cf.
Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 541.
32 John MacArthur Jr., True Worship (Chicago: Moody, 1982), p. 60.
33 Hywel R. Jones, “Exodus”, em Guthrie e Motyer, The New Bible Commentary, p. 128.
34 Jones, “Exodus”, p. 128.
35 Craghan, “Exodus”, em Farmer, ed., The International Bible Commentary, p. 425.
36 Webber, Old & New, p. 20, 21.
37 Webber, Old & New.
38 Webber, Old & New, p. 74.
39 Argárate, La Iglesia Celebra a Jesucristo, p. 11.
40
Sobre adoração e a primeira tábua da lei, cf. Francisco Lacueva, Ética Cristiana (Barcelona: Clie,
1975), p. 62-64.
41 John R. W. Stott, Cristianismo Básico (Viçosa, MG: Ultimato, 2007), p. 84-91.
42 Durham, Exodus, v. 3, p. 285-290.
43 C. Raymond Holmes, “Authentic Adventist Worship”, Ministry, outubro de 1991, p. 6, 7.
44 Canale, “Principles of Worship and Liturgy”, p. 102.
45 Argárate, La Iglesia Celebra a Jesucristo, p. 137.
46 H. L. Ellison, “1 and 2 Chronicles”, em Guthrie e Motyer, The New Bible Commentary, p. 383.
47 Luca Mazzinghi, “1 Chronicles”, em Farmer, ed., The International Bible Commentary, p. 663.
48 Adam Clarke, The Holy Bible Containing the Old and New Testaments: With a Commentary and
Critical Notes (Nova York e Nashville: Abingdon-Cokesbury, 1947), v. 2, p. 780.
49 Luis Arnaldich, “Libros históricos del Antiguo Testamento”, Biblia Comentada, v. 2, p. 751.
50 A. E. Cundall, “Nehemiah”, em Guthrie e Motyer, The New Bible Commentary, p. 408.
51 O hebraico ‘amen significa “firme”, “consolidado” e é usado para exprimir aprovação, como em 1
Crônicas 16:36; Neemias 5:13; 8:6. Ver Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo
Dia, v. 6, p. 868.
52 Miroslav Volf, “Worship as Adoration and Action: Reflections on a Christian Way of Being-in-the
World”, em: Worship: Adoration and Action, Donald A. Carson, ed. (Grand Rapids, MI: Baker, 1993),
p. 210.
53 Theodor Filthaut, La formación litúrgica (Barcelona: Herder, 1965), p. 119.
54 Wiersbe, Real Worship, p. 77. Ele também sugere Gênesis 28, Êxodo 34 e Apocalipse 1, 4, 5.
55 Hustad, Jubilate II, p. 102, 103.
56 Richard Rice, The Reign of God: An Introduction to Christian Theology from a Seventh-day
Adventist Perspective (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1985), p. 289.
57 Horton Davies, Worship and Theology in England: The Ecumenical Century 1900-1965
(Princeton, NJ: Princeton University Press, 1965), p. 121.
58 Russel P. Shedd, Adoração Bíblica (São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1987),
afirma que os elementos em Isaías 6:1 a 8 são: (1) contemplação e comunhão (v. 1-4); (2) convicção,
confissão e purificação (v. 5-7) e (3) comunhão (v. 8, 9).
59 Cf. Daniel Oscar Plenc, “Aproximación al significado teológico y litúrgico de los himnos del
Apocalipsis”, Theologika 20.1 (2005), p. 92-113; Anthony Robert Nusca, “Heavenly Worship,
Ecclesial Worship: A ‘Liturgical Approach’ to the Hyms of the Apocalypse of St. John” (tese de
doutorado, Pontifícia Universidade Gregoriana, 1997); C. Raymond Holmes, “Worship in the Book of
Revelation”, Journal of Adventist Theological Society 8.1-2 (1997), p. 1-18; R. Dean Davis, “The
Heavenly Court Scene of Revelation 4–5” (tese de doutorado, Andrews University, 1987); Steven
Grabiner, Revelation’s Hymns: Commentary on the Cosmic Principle (Nova York: Bloomsbury T &
Clark, 2015).
60
Hans K. LaRondelle, How to Understand the End-Time Prophecies of the Bible: The Biblical-
Contextual Approach (Sarasota, FL: First Impressions, 1997), p. 288.
61 Argárate, La Iglesia Celebra a Jesucristo, p. 76.
62 Matthew Henry, Commentary on the Holy Bible; Matthew-Revelation (Nashville, TN: Thomas
Nelson, 1979), p. 459-479.
63 MacArthur Jr., True Worship, p. 73-77. Cf. Henry B. Greene, “The Doctrine of the Trinity and the
Worship of the Church” (tese de doutorado, Fuller Theological Seminary, 1996).
64 C. Raymond Holmes, “Toward an Adventist Theology of Worship”, Ministry, abril de 1983, p. 4.
65 Holmes, Sing a New Song!, p. 21.
66 J. Massyngberde Ford, Revelation (Garden City, NY: Doubleday, 1975), v. 38, p. 95.
67 G. R. Beasley-Murray, “Revelation”, em Guthrie e Motyer, The New Bible Commentary, p. 1288.
68 Beasley-Murray, “Revelation”, p. 1288.
69 A expressão grega eulogia é usada em Apocalipse 5:12, 13 e 7:12.
70 G. W. Bromiley, “Adoração”, em Enciclopédia da Bíblia, Merrill C. Tenney, ed. (São Paulo:
Cultura Cristã, 2008), v. 1, p. 127.
71 Holmes, “Theology of Worship”, p. 4; Holmes, Sing a New Song!, p. 20.
72 C. Raymond Holmes, “Authentic Adventist Worship”, Ministry, outubro de 1991, p. 13.
73 Holmes, “Authentic Adventist Worship”, p. 13, 14.
74 Holmes, “Authentic Adventist Worship”, p. 15, 16.
75 Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, 7 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2015), v. 7, p. 915.
76 Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 915.
77 Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 916.
78 Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 916.
79 Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2019), p. 219.
80 Holmes, Sing a New Song!, p. 89.
81 Nisto Cremos, p. 222.
82 Nisto Cremos, p. 222, 223.
83 Para um estudo aprofundado sobre a adoração a Jesus na igreja cristã, ver Larry W. Hurtado, Lord
Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2003). A fim de
analisar os materiais encontrados, ver p. 259-426.
84 MacArthur Jr., True Worship, p. 7.
85 MacArthur Jr., True Worship, p. 8.
86 Donald Guthrie, “John”, em Guthrie e Motyer, The New Bible Commentary, p. 938.
87 MacArthur Jr., True Worship, p. 51, 52.
88 MacArthur Jr., True Worship, p. 54.
89 Craig S. Keener, The Gospel of John: A Commentary (Peabody, MA: Hendrickson, 2003), v. 1, p.
615.
90 Armando J. Levoratti, ed., Comentario Bíblico Latinoamericano: Nuevo Testamento (Estella,
Navarra: Verbo Divino, 2007), v. 2, p. 623.
91 Guthrie, “John”, em Guthrie e Motyer, The New Bible Commentary, p. 938.
92 Manuel de Tuya, “Evangelios”, Biblia Comentada (Madrid: Editorial Católica, 1964), v. 5, p. 364.
6 Elementos da Adoração Adventista: Sua
Relevância Teológica
Ángel Manuel Rodríguez
ADORAÇÃO A DEUS
O centro da adoração
Sugerimos que a adoração se baseia na consciência da presença ativa de
Deus na vida pessoal e coletiva de Seu povo. 3 Fundamenta-se no
reconhecimento, por parte dos cristãos, de que Deus é exclusivamente digno
de honra e glória supremas e que nada nem ninguém podem ocupar Seu lugar
e receber adoração (Êx 20:2-3; Lc 24:53). Isso se baseia no fato de que Ele é
o Criador de todas as coisas existentes no Universo e, com Seu poder,
sustenta e mantém continuamente Sua criação (Gn 1:1; Ne 9:6; Cl 2:15-17).
Uma vez que todas as outras coisas do Universo pertencem à categoria de
criaturas, é repreensível, até mesmo abominável, substituir Deus no centro da
adoração por qualquer outro ser (cf. Ap 4:11; 5:12). Embora os seres
humanos tenham perdido a vida original em decorrência da rebelião contra o
Criador, Deus decidiu preservar a raça humana por meio da morte de Seu
Filho. A restauração da comunhão com o Senhor por meio do sacrifício
infinito de Seu Filho reafirma que Deus deve ser o alvo exclusivo de
adoração dos seres humanos.
A singularidade de Deus O identifica como o verdadeiro centro da
adoração. Quando os israelitas foram tentados a adorar ídolos, o Senhor lhes
perguntou: “A quem Me comparareis para que Eu lhe seja igual? E que coisa
semelhante confrontareis Comigo?” (Is 46:5). Ele parece estar dizendo ao
povo: “Vão! Explorem o Universo tentando encontrar alguém como Eu. Se
acharem alguém exatamente como Eu, podem adorá-lo.” Mas Deus já tinha
uma resposta: “Eu sou Deus, e não há outro, Eu sou Deus, e não há outro
semelhante a Mim” (Is 46:9). Os poderes do mal que competem com Ele no
palco cósmico pertencem à esfera da criação, ao passo que o Senhor
permanece o único Ser autoexistente: “A Minha glória, não a dou a outrem.
[...] Eu sou o mesmo, sou o primeiro e também o último” (Is 48:11, 12). É
somente perante Ele que os seres humanos podem se prostrar e adorar. Essa
realidade deve ser usada na avaliação sobre a adequação de qualquer aspecto
do culto.
Natureza da adoração
Talvez possamos falar sobre adoração como o reconhecimento de que nossa
vida encontra sua fonte em Deus, de que Ele a restaurou por intermédio de
Seu Filho e constantemente a preserva mediante Seus atos providenciais.
Logo, a adoração sempre é a resposta do ser completo em relação à
majestade, ao mistério e a singularidade de Deus, revelada em Sua obra de
criação, redenção e providência. Confrontados com Ele, os seres humanos
encontram seu lugar de origem e são preenchidos de alegria, ações de graças
e temor reverente que somente a presença de Deus é capaz de inspirar. Os
adoradores chegam à Sua presença com o coração cheio de júbilo a fim de
Lhe agradecer pelas muitas bênçãos que derrama, bem como por Sua
bondade e misericórdia. Também se aproximam com suas preocupações,
provações e fraquezas a fim de apresentá-las diante Dele, regozijando-se e
dando graças diante da expectativa do momento em que Deus os livrará das
tragédias da vida. Em consequência, pode-se sugerir que, no sentido mais
amplo, adoração é um estilo de vida, não apenas aquilo que é feito quando
nos reunimos como família de Deus a fim de O adorar em um lugar
específico. Uma vez que vivemos em Sua constante presença, cada momento
de nossa vida é, em princípio, um ato de adoração que deve evocar gratidão e
ações de graças.
Adoração também é o que fazemos em obediência Àquele que nos trouxe à
vida (Êx 20:3-6). Sua vontade tem importância suprema quando nos
prostramos em Sua presença. O que fazemos em adoração deve refletir nossa
compreensão da instrução bíblica para aqueles que se aproximam de Deus.
Falaremos mais sobre isso ao debater os elementos da adoração e seu
significado. Por ora, nos concentraremos em um elemento. A adoração
acontece não só em um lugar específico, mas também em um momento
particular. A Bíblia ensina com clareza que a comunidade da fé se reúne para
adorar em um momento específico, a saber, no sétimo dia, o sábado. É claro
que também podemos adorar em qualquer outro momento, mas o sábado é
único por ter sido o dia escolhido, santificado e abençoado por Deus. Ao
longo desse dia, cessam as atividades humanas a fim de comparecermos à
presença do Senhor para adorá-Lo. Fazemos isso em obediência Àquele que
selecionou o sétimo dia para ser um lembrete de Sua obra como Criador e
Redentor (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15). O sábado é um memorial que mantém
vivas em nossa mente as razões pelas quais Deus deve ser adorado.
Uma vez que a autoridade, santidade e bênção do sábado são determinadas
pelo fato de que Deus o instituiu durante a semana da criação e que Seu Filho
guardou esse dia, os benefícios recebidos de sua guarda não podem ser
transferidos para outro dia. Nenhum ser humano foi autorizado por Deus para
mudar o dia de descanso e guardar o domingo 4 nem para espiritualizar o
mandamento e tratá-lo como se apontasse somente para o descanso espiritual
em Cristo. 5 Instituir outro dia de adoração especial desrespeita a lei de
Deus. É por adorar ao Senhor no sábado, em obediência à vontade divina,
que também somos capazes de adorá-Lo em qualquer outro momento.
Louvor congregacional
Os cânticos fazem parte da experiência coletiva de adoração dos cristãos do
mundo inteiro. 7 Por meio do louvor, as pessoas partilham com Deus seus
sentimentos de alegria e expressam fé, esperança, gratidão, além de
comunicar suas necessidades. Na Bíblia, o povo de Deus muitas vezes é
exortado (Sl 95:1; 98:1; 149:1) ou ordenado (Sl 9:11; 47:6) a cantar louvores
para o Senhor. O convite é persistente porque é a vida espiritual do fiel que
está em jogo. Isso é tão importante que a Terra inteira é convidada a cantar ao
Senhor (Sl 66:4; 67:4; 68:32), inclusive o mundo natural (Sl 65:13). Essa
ênfase é comum nos salmos e parece chegar ao clímax no 148, no qual o
salmista convoca o cosmo inteiro, incluindo os seres humanos para louvar ao
Senhor. O salmo retrata o momento em que todo o Universo será restaurado à
unidade, cantando o mesmo hino de louvor ao único Deus verdadeiro. 8 O
louvor congregacional consiste em uma expressão profunda de compromisso
coletivo do povo de Deus para com Ele e de sua união em verdade, amor e
alegria.
Em consequência, podemos definir o louvor congregacional como um ato
ritual por meio do qual a união da igreja é expressa de maneira coletiva, à
medida que os membros, em uníssono, erguem a voz em louvor a Deus em
um só espírito, uma só fé e um só propósito. Em outras palavras, a unidade da
igreja e sua união com o Senhor ressurreto são expressas de maneira
particular por meio dos cânticos congregacionais. 9 Os cristãos se unem ao
expressar sentimentos religiosos em comum, emoções e a fé que molda sua
identidade e missão como povo de Deus. A voz, os lábios, a mente e o
espírito são envolvidos de maneira única no louvor congregacional,
enfatizando o fato de que todo o ser, em união com o restante da comunidade
de crentes, se une em adoração ao Senhor. Nesse ato tão significativo, os
cristãos vivenciam verdadeira comunhão uns com os outros e com o Senhor.
Essa sensação de união, expressa por meio do louvor congregacional, só é
superada quando os fiéis se reúnem para participar da Ceia do Senhor. Nessa
cerimônia, eles não só cantam juntos, mas também partilham do mesmo pão e
vinho, representando a obra redentora de Cristo. Cantar em adoração antecipa
o momento em que o cosmo inteiro louvará ao Senhor em uma só voz. No
presente, não cantamos sozinhos, pois a família celestial também nos
acompanha em louvor. Ellen G. White comenta:
Nas asas do louvor, o coração pode se elevar para mais perto do Céu. Deus é adorado
com cânticos e música nas cortes celestiais. Ao expressarmos nossa gratidão,
estamos nos aproximando do culto das hostes celestiais. “O que Me oferece
sacrifício de ações de graças, esse Me glorificará” (Sl 50:23). Cheguemos, pois, com
reverente alegria perante nosso Criador, com “ações de graças e som de música” (Is
51:3). 10
Dízimos e ofertas
A gratidão a Deus, em resposta às muitas bênçãos que Dele recebemos, se
encontra bem no cerne da adoração bíblica (Sl 95:2; 147:7). A melhor
maneira de expressá-la é Lhe devolvendo parte daquilo que nos concedeu,
entregando-Lhe mais uma vez a vida e renovando nosso compromisso
durante a adoração. Aliás, tudo o que fazemos na adoração é uma expressão
de gratidão a Deus, mas isso se torna mais visível e alcança um patamar
único durante a coleta dos dízimos e das ofertas. 13 Nesse momento, nós
literalmente pegamos uma parte daquilo que o Senhor nos deu e devolvemos
a Ele. Rendemos algo, de forma literal e visível, como símbolo de uma vida
entregue ao Senhor. Levar dízimos e ofertas ao Senhor exprime nosso
relacionamento de aliança com Ele e a disposição em continuar a reconhecê-
Lo como o Senhor da aliança, que entrou em um relacionamento formal
conosco depois de nos remir. Vamos adorar porque o Senhor da aliança nos
abençoou ao longo da semana (cf. 1Cr 29:14; Gn 28:22). O dízimo pertence a
Deus, por isso, de maneira voluntária e amorosa, o devolvemos a Ele para
que a igreja, o corpo de Cristo, cumpra a missão que recebeu do Senhor
ressurreto por meio da proclamação do evangelho da salvação (Lv 27:30; Ml
3:10). O Senhor é dono de tudo o que temos, mas decidiu ficar somente com
o dízimo. Ele deixa o restante conosco para ofertas, para o sustento próprio e
para beneficiar os outros. Logo, devolver o dízimo é um dever, por meio do
qual reconhecemos que Deus é nosso Senhor e dono de tudo que temos.
As ofertas são uma expressão fundamental de gratidão porque o montante
doado é determinado por nós, não pelo Senhor. Por meio desse ato de
adoração, a intensidade de nosso amor a Ele flui de um coração agradecido.
Aliás, pode-se dizer que nossas ofertas consistem em uma personificação
física ou concretização da gratidão ao Senhor. Considerando que a gratidão
assume a forma concreta de uma oferta, Deus pode usá-la a fim de abençoar
ou beneficiar Seu povo em outras partes do mundo. Aquilo que os outros
recebem do Senhor é uma parte de nossa gratidão a Ele em forma de oferta.
Em todos esses gestos, Deus deve permanecer no centro da adoração. Precisa
ficar claro que os dízimos e as ofertas não são uma tentativa de obter a
simpatia ou aceitação divina durante a hora de adoração. São uma expressão
de gratidão e alegria porque Ele já nos aceitou e nos abençoou por intermédio
de Seu Filho.
Proclamação da Palavra
A proclamação da Palavra de Deus durante o culto de adoração é parte da
herança protestante na Igreja Adventista. 14 Na disposição dos móveis em
cada congregação, o púlpito está localizado bem no centro da plataforma.
Isso não é por acaso. É do púlpito que a Palavra é proclamada sábado após
sábado. Essa prática define a adoração, baseada na autorrevelação de Deus
nas Escrituras. Ouvimos o Senhor ao Ele nos falar por meio da Palavra
escrita. A pregação transforma nossa adoração em um ato racional de
adoração, porque a fala divina é inteligível (Rm 12:1). No ato da exposição e
proclamação do texto bíblico, a fé é alimentada (At 4:4; Rm 10:14, 17). Na
adoração, aprendemos da Palavra, somos encorajados por ela, instruídos no
serviço cristão, disciplinados e nos alegramos nas boas-novas da salvação em
Cristo (2Tm 3:16-17).
No púlpito, o poder salvador de Cristo por meio de Sua morte é
proclamado, Sua mediação em nosso favor no santuário celestial é ensinada,
e Seu poder em nossa vida cotidiana, divulgado (1Co 1:23; Rm 8:33-34; 2Tm
2:8). Cada sermão deve se concentrar em Cristo. Proclamamos o que Ele fez
por nós; não o que fazemos por nós mesmos. Proclamamos a mensagem que
o Senhor confiou à Sua igreja para os últimos dias; não nossas opiniões
teológicas pessoais. Isso coloca uma responsabilidade pesada sobre quem
prega e também sobre quem ouve a mensagem. O propósito do sermão não é
criar confusão ou controvérsias teológicas, mas permitir que a congregação
ouça a voz de Deus por meio das Escrituras. Nesse momento, nos
aproximamos de Deus com humildade, coração aberto e firme disposição de
seguir Suas instruções. Nossa mente e nossos ouvidos adoram ao Senhor à
medida que ouvimos coletivamente Sua Palavra.
Oração
A oração é uma expressão de nossa necessidade de comungar com nosso
Salvador e Senhor, bem como de interceder uns pelos outros. Ela também
revela a natureza holística da adoração, ao envolver a mente, o espírito e o
corpo. Nas Escrituras, o povo ora a Deus em diferentes circunstâncias,
assumindo posturas físicas diferentes. Às vezes, membros da igreja exprimem
preocupação em relação à postura adequada durante a oração. Alguns
questionam se devemos orar somente de joelhos na igreja ou se também é
aceitável orar assentados ou em pé. Essas inquietações demonstram que, para
muitos membros da igreja, a oração é bastante significativa e querem ter a
certeza de que estão seguindo as instruções divinas em sua prática.
Abordaremos algumas das posturas bíblicas diferentes durante a oração a fim
de explorar seu significado e incentivar a unidade quando nos unimos para
adorar.
De joelhos
Existem muitos exemplos de pessoas que oravam ao Senhor ajoelhados.
Isso sugere que essa era uma prática bem comum. Por exemplo, Daniel orava
nessa posição três vezes ao dia (Dn 6:10). Estêvão se ajoelhou e elevou uma
prece ao Senhor antes de morrer como mártir (At 7:60). Pedro também se
ajoelhou diante do cadáver de Tabita, orando para que ela voltasse à vida (At
9:40; cf. 20:36; Ef 3:14). Às vezes, a pessoa colocava a cabeça sobre os
joelhos enquanto orava (1Rs 1:13). Ajoelhar-se na presença de alguém
exprime ideias diferentes, mas, quando isso ocorre na presença do Senhor,
transforma-se em uma expressão ritualizada da disposição do adorador de
entregar a vida a Deus.
Na Bíblia, ajoelhar significa, às vezes, que a pessoa está disposta ou prestes
a morrer. Por exemplo, durante a batalha, o soldado ferido ajoelha e morre (Jz
5:27; 2Rs 9:24; Sl 20:8; 78:31). Também pode ser um ato por meio do qual a
pessoa entrega voluntariamente a vida a fim de poupá-la. Por exemplo, o rei
Acazias enviou dois capitães de 50 soldados a fim de prender Elias, mas fogo
desceu do céu e os destruiu. O terceiro capitão chegou e ajoelhou perante o
profeta, pedindo-lhe que poupasse sua vida e a de seus soldados, e foi isso
que aconteceu (2Rs 1:13-14). A Bíblia anuncia que, no fim do conflito
cósmico, marcado pela indisposição de criaturas rebeldes em adorar ao
Senhor, todos os seres humanos irão, por fim, ajoelhar diante de Deus e O
reconhecerão como Senhor. Por meio desse ato, declararão que merecem o
julgamento divino contra si mesmos. Isaías anuncia que o Senhor destinou
todos os rebeldes “à espada, e todos vos encurvareis à matança” (Is 65:12). O
salmista acrescenta: “Todos os que descem ao pó se prostrarão perante Ele”
(Sl 22:29). Isso significa que eles renderão a vida ao morrer. Essa será a
experiência escatológica dos ímpios (Fp 2:10-11; cf. Is 45:23).
O salmista diz: “Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do
SENHOR, que nos criou” (Sl 95:6). Em contraste com os ímpios, quando os
fiéis ajoelham durante a adoração, exprimem a convicção de que Deus é seu
criador e redentor. Com o coração cheio de profunda alegria e gratidão,
rendem voluntariamente a vida a Ele em um ato de adoração. Ao se ajoelhar,
os adoradores literalmente voltam ao pó da terra, a partir do qual foram
criados, entregando a vida ao Senhor em oração por vontade própria. Em
outras palavras, quando a congregação se ajoelha de maneira coletiva, entrega
e reconsagra a vida a Ele de modo corporativo. Nesse sentido, isso é uma
lembrança e reafirmação do primeiro momento de nossa vida, quando, após
ouvir a mensagem bíblica de salvação, decidimos entregar a vida ao
Senhor. 15 Quando nos levantamos da oração, o Senhor fortalece nossa vida
espiritual e espera que nos dediquemos mais uma vez a Seu serviço.
Em pé
Ficar em pé na presença do Senhor em oração também era uma prática
comum nos tempos bíblicos, talvez até mais comum do que permanecer
ajoelhado. Um dos casos mais impressionantes se encontra em 2 Crônicas 20,
que narra um ato coletivo de oração. Quando o reino de Judá estava prestes a
ser invadido pelas forças militares combinadas de Moabe e Amom, Josafá
conclamou o povo a orar ao Senhor. Ele ficou em pé em um dos átrios da
casa de Deus e clamou por libertação, enquanto o povo “estava em pé diante
do SENHOR” (2Cr 20:5, 13). Ana apresentou sua súplica a Deus enquanto
estava em pé e o Senhor lhe respondeu (1Sm 1:26). Jó também tinha o
costume de orar em pé (Jó 30:20).
Alguns dos judeus oravam em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas
para exibir sua espiritualidade. Jesus condenou o orgulho, mas não a prática
de orar em pé (Mt 6:5). Pelo contrário, Ele a endossou quando disse aos
discípulos: “E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra
alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas”
(Mc 11:25). Permanecer em pé durante a oração enfatiza o privilégio que
temos de nos aproximar de Deus, ter uma audiência com Ele, apresentar
nossas necessidades e preocupações, cientes de que Ele é capaz de nos
atender. Aqueles que recebiam permissão para ter uma audiência com um rei
se prostravam diante dele a fim de demonstrar honra e respeito, mas depois
ficavam em pé em sua presença e lhe apresentavam sua petição (cf. Et 5:2).
Ficar em pé na oração significa que Deus nos concedeu uma audiência e que
estamos dispostos a reconhecê-Lo como rei do Universo. Quer dizer que
consideramos um privilégio nos aproximar Dele a fim de nos beneficiar com
Sua sabedoria, solicitando guia, bênçãos e favores (2Cr 9:7), para o louvar
(Ap 7:9) e orar pelos outros (Jr 15:1). Ficar em pé diante Dele quer dizer que
somos comissionados a representá-Lo aos outros (cf. Zc 6:5). Deixamos Sua
presença com a fé fortalecida, prontos para servi-Lo.
Assentados
A prática de orar ao Senhor assentado é rara na Bíblia, mas não totalmente
ausente. Um bom exemplo é o rei Davi que “entrou no tabernáculo, assentou-
se diante do SENHOR, e orou” (2Sm 7:18, NVI). Essa é a postura assumida por
um indivíduo ou uma comunidade de fiéis que, assim como um aluno,
reconhece durante o ato de adoração a necessidade de guia e instrução,
assentando-se na presença do divino Instrutor a fim de aprender Dele e Lhe
agradecer por Sua bondade (cf. 2Rs 4:38; Ez 8:1; 33:31). Essas pessoas estão
prontas para servi-Lo e fazer Sua vontade.
Prostrados
Quando prostradas, as pessoas colocam o corpo inteiro na posição
horizontal, com o rosto no chão e, em geral, braços estendidos,
provavelmente apresentando uma oferta. Um dos joelhos permanece dobrado
para facilitar o momento de se levantar do solo. Na Bíblia, a prostração
raramente é associada à oração (cf. 1Rs 1:47; Mc 14:35). Trata-se, em
essência, de uma expressão de homenagem e submissão diante de um
superior humano. A pessoa que buscava a ajuda do rei se prostrava diante
dele em dependência e submissão (2Sm 14:4). A posição também era adotada
para cumprimentar um superior (2Sm 14:22) ou em um ato de homenagem
(1Sm 28:14). Em contextos religiosos, essa era uma das posturas durante a
adoração (cf. 2Cr 20:18). Intensificava a convicção de que Deus era a fonte
da vida humana e o único capaz de preservá-la (cf. Nm 16:45; Js 7:6; 2Sm
7:16). Às vezes, os adoradores compareciam à presença do Senhor e se
prostravam perante Ele em atitude de homenagem, assumindo depois a
postura ajoelhada, provavelmente para orar (Sl 95:6). Prostrar-se diante dos
deuses era uma prática bastante comum em todo o antigo Oriente Médio. Era
a expressão de homenagem, submissão, adoração e dependência. Contudo, na
igreja cristã, essa prática não foi incorporada nos momentos de adoração,
possivelmente porque Deus não Se manifestou mais como habitando em um
lugar específico na Terra (por exemplo, um templo), em direção ao qual a
pessoa se prostrava – Ele Se encontra acessível em todos os lugares por
intermédio de Seu Filho (cf. Jo 4:21-24).
Essa breve revisão das posturas durante a oração na Bíblia indica que não
havia uma posição específica exigida dos adoradores quando falavam com o
Senhor ou Lhe apresentavam seus pedidos. 16 As posturas são importantes
no sentido de que consistem em uma expressão externa de reverência,
sentimento interior, humildade e compromisso com o Senhor. No entanto,
uma posição apenas não é ampla o suficiente para abarcar todas essas
experiências. Por isso, encontramos nas Escrituras uma diversidade de opções
e possibilidades. Durante o culto na Igreja Adventista, oramos assentados, em
pé e ajoelhados. Os olhos ficam fechados porque também participam da
adoração e não queremos que a mente seja distraída pelo comum quando
entramos em comunhão com o Senhor. Mais uma vez, a natureza holística da
adoração vem à tona no fato de que o corpo – olhos, mãos, joelhos e pernas –
sempre se envolve, de uma maneira ou de outra, no ato de adoração. Uma vez
que a adoração deve ser caracterizada pela ordem, é importante que, quando a
comunidade de fiéis se reúne para buscar o Senhor, todos sigam os elementos
litúrgicos comuns aceitos nos cultos de adoração. Aqueles que se ajoelham
para orar enquanto o restante da congregação está orando em pé podem
acabar demonstrando piedade de maneira questionável, mesmo sem ter essa
intenção.
As emoções
Somos seres emocionais. Assim, é simplesmente impossível separar nossas
emoções do ato de adoração. Conforme já indicado, durante esse ato sagrado,
louvamos e damos graças a Deus (Sl 118:28), expressamos alegria e gratidão
por meio de ofertas (1Cr 16:29) e cânticos (Sl 147:1). Também clamamos por
livramento, perdão e orientação (139:23, 24; 142), em resposta à Sua
presença em nossa vida. Às vezes, podemos ser tentados a usar a adoração
como um caminho psicossocial para nos “sentir bem”. Sentir-se bem não é
necessariamente errado se for resultante da atitude de adorar a Deus e
conservá-Lo no centro de nossa vida e adoração. Contudo, conforme já
afirmamos, se a adoração for definida principalmente como uma busca
humana por excesso de estímulo emocional, nesse caso, o lado humano da
adoração assume o palco central no culto. Quando isso ocorre, talvez não
intencionalmente, deslocamos o centro e o foco da adoração para longe do
Criador e Redentor, o verdadeiro centro da adoração. Ao trazermos isso para
nós mesmos, caímos no campo da idolatria. Devemos levar a Deus nossa
gratidão, nossas necessidades, preocupações e nossos temores a fim de louvá-
Lo por aquilo que fez e fará por nós. Tudo que fazemos durante a adoração
como seres emocionais sempre deve ser para a glória de Deus, em gratidão
por Sua bondade. Devemos colocar nossas emoções a serviço desse objetivo
mais importante.
O corpo
É impossível separar a manifestação de nossas emoções dos gestos físicos.
Na adoração, comparecemos à presença do Senhor como criaturas
emocionais e corpóreas. O ato de adoração envolve o corpo como um veículo
de nossas emoções. Na Bíblia, os adoradores levantavam as mãos ao Senhor
para apresentar suas súplicas (Sl 141:2; 1Tm 2:8) ou, conforme já
mencionado, ficavam em pé (Mc 11:25), ajoelhavam (1Rs 8:54) ou se
prostravam com o rosto em terra para adorar (Ne 8:6). Usavam a boca e os
lábios para cantar ao Senhor (Cl 3:16) e os ouvidos para captar o belo som
dos instrumentos musicais (Sl 150:3-5) e escutar a leitura das Escrituras
(1Tm 4:13). Havia procissões que iam até o templo louvando ao Senhor (Sl
68:24-25).
O grau de uso do corpo para expressar emoções varia de uma cultura para a
outra. O que é aceitável em um contexto cultural pode ser ofensivo em outro.
Por isso, é importante que os organizadores do culto de adoração mantenham
em mente que o propósito do culto não é superestimular o uso do corpo
durante a adoração. Mais uma vez, isso tenderia a tirar Deus do centro
exclusivo da adoração. O envolvimento do corpo em danças religiosas sem
dúvida tiraria a mente de muitos da adoração ao Senhor para pensamentos de
autogratificação ou que poderiam ativar lembranças do passado mundano,
nada disso contribuiria para uma atmosfera espiritual adequada durante a
adoração. Ao tentar determinar o que é apropriado ou não no culto, devemos
nos indagar: Isso mantém Deus no centro de nossa adoração? Aliás, essa
pergunta deve ser usada constantemente para avaliar tudo o que fazemos
durante o culto de adoração.
CONCLUSÃO
Vamos à igreja para adorar a Deus, louvar, adorar e Lhe agradecer por
todas as bênçãos, ser instruídos por meio de Sua Palavra, celebrar a Ceia do
Senhor, ser capacitados a proclamar o evangelho e para a comunhão dos
cristãos. A adoração não é uma forma de entretenimento que precisa ser
ajustada conforme o gosto dos indivíduos, usando práticas publicitárias do
campo dos negócios. Nós nos unimos para adorar ao Senhor em obediência a
Ele e para buscarmos, com humildade, instruções das Escrituras acerca de
como fazer isso. A música que apresentamos, os cânticos que entoamos e as
orações que fazemos são nossas frágeis tentativas de louvar ao Senhor e
expressar amor e gratidão Àquele que tanto fez por nós por intermédio de
Cristo.
1 Em geral, reconhece-se que a adoração é o tema teológico chave em Apocalipse, ou que “o tema
central do Apocalipse [...] é a adoração apropriada a Deus” (D. L. Barr, “The Apocalypse of John as
Oral Enactment”, Interpretation 40/2 [1986], p. 56; cf. Richard Buckham, The Climax of Prophecy:
Studies on the Book of Revelation [Edinburgh: T & T Clark, 1993], p. 135. Ele escreve: “Em certo
sentido, o tema de sua profecia [de João] é a distinção entre adoração verdadeira e idolatria.” Já se
afirmou que “a palavra crucial em toda essa seção do livro [Ap 13–14]” é “adoração” (Jon Paulien,
What the Bible Says about the End-Time [Hagerstown, MD: Review and Herald, 1994], p. 122). A
centralidade da adoração no livro é resumida na pergunta: “Quem é digno de receber adoração? A
escolha, em última instância, é entre a adoração a Deus e o Cordeiro, ou a Satanás e seus
intermediários” (Steven Grabiner, Revelation Hymns: Commentary on the Cosmic Conflict [Nova
York: Bloomsbury, 2015], p. 110).
2 Aliás, em Apocalipse, “a adoração da aliança satânica, enfatizada repetidas vezes em toda a visão,
está diretamente ligada ao tema do trono e é contrastada com o chamado universal para adorar a Deus
em 14:7” (Laszlo Gallusz, The Throne Motif in the Book of Revelation [Nova York: Bloomsbury,
2014], p. 216). É surpreendente que toda a Terra adore “o dragão, embora os hinos das visões de João
tenham deixado claro que a adoração adequada só pertence a Deus e a Cristo” (Brian K. Blount,
Revelation: A Commentary [Louisville, KY: Westminster/John Knox, 2009], p. 249).
3 Ver o capítulo 5 desta obra, “Por uma Teologia Adventista de Adoração”, de Daniel O. Plenc.
4 Sobre esse ponto de vista, ver Joseph A. Pipa, “The Christian Sabbath”, em Christopher John
Donato, ed., Perspectives on the Sabbath: Four Views (Nashville, TN: B&H, 2011), p. 119-171.
5 Cf. Craig L. Blomberg, “The Sabbath as Fulfilled in Christ”, em Donato, ed., Perspectives on the
Sabbath, p. 305-358. Esse posicionamento é promovido no livro Do Shabat Para o Dia do Senhor, D.
A. Carson, ed. (São Paulo: Cultura Cristã, 2006).
6 Cf. Anexo I: “Diretrizes Para o Engajamento na Missão Global: Formas de Adoração,
Contextualização e Sincretismo.”
7 Sobre a história do louvor congregacional, ver J. Gelineau “Music and Singing in the Liturgy”, em
Cheslyn Jones et al., ed., The Study of Liturgy (Nova York: Oxford University Press, 1992), p. 493-507;
Alan Dunstan, “Hymnody in Christian Worship”, em Jones et al., ed., The Study of Liturgy, p. 507-519;
e os capítulos 1 e 2 desta obra, escritos por Sergio Becerra.
8 Ver o capítulo 5 desta obra, “Por uma Teologia Adventista de Adoração”, de Daniel O. Plenc.
9 Gelineau, “Music and Singing in the Liturgy”, p. 495, escreveu: “Muitas vozes individuais, porém,
podem ser unidas para que, quando se fundem e seguem o mesmo ritmo, só se escute uma única voz: a
do grupo. Isso proporciona um sentimento muito forte de unidade e pertencimento. Chega a tocar o
mistério essencial da igreja, conhecido como koinonia.”
10 Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 102.
11 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p. 594.
12 Cf. Anexo II: “Uma Filosofia Adventista do Sétimo Dia Sobre a Música.”
13 Sobre a teologia dos dízimos e das ofertas, ver Ángel Manuel Rodríguez, Stewardship Roots:
Toward a Theology of Stewardship, Tithe, and Offerings (Silver Spring, MD: Stewardship Ministries
Department, 1994).
14 Confira o capítulo 1 desta obra, “A Adoração e os Reformadores Magisteriais”, de Sergio Becerra.
15 Sobre a teologia da oração, ver Ángel Manuel Rodríguez, “Prayer: A Theological Reflection”,
Ministry, dezembro de 2006, p. 5-7.
16 Ellen G. White enfatizava a oração de joelhos e nos incentiva a orar assim. Em Obreiros
Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 178, ela escreveu: “Tanto no culto
público, como no particular, temos o privilégio de curvar os joelhos perante o Senhor ao fazer-Lhe
nossas petições.” Jamais devemos considerar que nos ajoelhar é um fardo; é um privilégio. Mais uma
vez, ela comenta: “Tanto no culto público como no particular é nosso dever prostrar-nos de joelhos
diante de Deus quando Lhe dirigimos nossas petições. Esse procedimento mostra nossa dependência de
Deus” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993], v. 2, p.
312). Ajoelhar não é só um privilégio, mas também um dever cristão. Declarações como essas não
devem ser usadas para argumentar que a única posição apropriada para a oração pública é de joelhos.
Ela deixa claro que não é sempre necessário ajoelhar para orar (Ellen G. White, A Ciência do Bom
Viver [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016], p. 510, 511). Enquanto participava da adoração
pública, Ellen G. White às vezes pedia à congregação que ficasse em pé para uma oração de
consagração (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 268, 269), ou permanecesse assentada (Mensagens
Escolhidas, v. 3, p. 267, 268) ou ainda que se ajoelhasse (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 148, 149). É
necessário mencionar que, de acordo com ela, a oração de joelhos não é a única postura adequada
durante a adoração na igreja. Em sua vida particular, ela até orava assentada em sua cama (Ellen G.
White, “The Work in Oakland and San Francisco – nº 3”, Review and Herald, 13 de dezembro de 1906,
p. 9, 10). Fica evidente que não é necessário manter uma postura específica para a oração, como se
unicamente ela fosse a correta durante a adoração.
7 Adoração no Contexto Pós-
moderno
Sung Ik Kim
COMPREENDENDO O MODERNISMO
A ascensão do modernismo
O modernismo pode ser considerado como uma das consequências do
Renascimento e da Reforma Protestante. O Renascimento voltou a atenção
para o mundo físico e o papel dos seres humanos. O Iluminismo, em especial,
provocou uma mudança decisiva no modo pré-moderno de pensar, servindo
como trampolim para a mentalidade moderna. O Iluminismo procurou usar as
capacidades humanas de razão e observação para chegar à verdade, em lugar
da dependência tradicional da religião e superstição. 3 O indivíduo moderno
cria que a razão era o único meio de obter conhecimento confiável. A ciência
era vista em alta conta, como o melhor método para se chegar à verdade. 4
Racionalismo objetivo
O modernismo, que promoveu a supremacia da razão, presumia que a
mente humana é capaz de obter conhecimento absoluto e que, por meio de
sua bondade intrínseca, desenvolveria a sociedade. 6 Em sua análise sobre
esse aspecto do modernismo, Gonçalves chama atenção para a síntese feita
por Robert Webber da influência do racionalismo objetivo sobre cristãos
liberais e conservadores.
Os liberais passaram a enxergar o cristianismo como um mito que não
poderia se conformar ao rigor da ciência moderna. Os conservadores, por sua
vez, olhavam para as mesmas ferramentas da ciência com o objetivo de
provar a validade de sua fé. 7 O mundo do racionalismo, ordenado com
objetividade, despiu a vida de boa parte de seu significado, roubando-lhe
também a liberdade. 8 Um exemplo notável disso é o comunismo, cujo
colapso pode ser visto como um dos marcos simbólicos da queda do
modernismo.
Dualismo sujeito/objeto
Outro aspecto do modernismo descrito por Gonçalves é a distinção aguda
entre sujeito e objeto. Os seres humanos são considerados distintos dos
objetos que examinam. Essa forma dualista de pensar deu origem a distinções
entre a vida humana e a natureza, entre os mundos público e privado e até
mesmo entre o natural e o sobrenatural, o que levou a uma separação entre
religião e ciência. Esse dualismo é percebido por trás da distinção feita entre
o evangelismo da igreja e seus projetos sociais. 9
Individualismo autônomo
Esse aspecto da cosmovisão moderna surgiu a partir da perspectiva
racionalista. O crítico social Os Guinness destaca o impacto de valorização
do particular, o fenômeno moderno de traçar uma linha distintiva entre as
questões públicas e particulares, considerando “a esfera particular uma arena
especial para a expansão da liberdade e realização individual”. 10 À medida
que a atenção se volta para o eu, acontece uma diminuição correspondente da
dependência de outros seres humanos e de Deus. 11 Por isso, muito embora a
esfera particular do eu seja vista como o lugar apropriado da religião, a
dependência do eu tende a tornar Deus desnecessário.
Os desdobramentos dessa tendência causaram um impacto tanto sobre o
ambiente quanto sobre as relações interpessoais. Gonçalves também observa
que a alienação e a solidão foram consequências da onda de crescimento do
individualismo. 12
Objetividade científica
É surpreendente notar que um dos aspectos mais evidentes do modernismo,
a objetividade científica, também sofreu abalos em tempos recentes. As
descobertas feitas ao longo do último século lançam dúvida sobre os
absolutos que o modernismo propôs. A teoria da relatividade, de Einstein, é
um exemplo bem conhecido disso. 13
Progressismo otimista
A ideia de que o progresso é um processo inevitável e contínuo também foi
questionada por problemas ambientais e sociais crescentes, bem como pela
tragédia de duas guerras mundiais. 14 A cosmovisão pós-moderna não conta
com a tendência otimista que caracterizou as gerações anteriores.
COMPREENDENDO O PÓS-MODERNISMO
Definição
O pós-modernismo é uma forma de pensar do final do século 20 que
consiste em um afastamento radical do modernismo. 15 Enquanto o
modernismo buscava na ciência e na razão a verdade definitiva, o pós-
modernismo rejeita “uma verdade de aplicação universal, valorizando a
tolerância como uma virtude soberana”. 16 As raízes filosóficas do pós-
modernismo se encontram na França, com pensadores como Jacques Derrida,
Michel Foucault e Jean-François Lyotard. Também podemos acrescentar o
italiano Umberto Eco e o norte-americano Richard Rorty. Não se trata,
porém, de algo inventado por eruditos. Em seus primórdios, a maior parte da
filosofia pós-moderna se confinava a círculos intelectuais. No entanto, a
infiltração do ethos pós-moderno no pensamento público mais amplo ocorreu
na forma de expressões populares de cultura, como programas de televisão,
filmes, música, arte, ficção, moda, etc. Assim, em essência, acarretou uma
mudança global de cosmovisão. Transformou-se em um fenômeno
observável no mundo inteiro.
A ascensão do pós-modernismo
O termo “pós-modernismo” surgiu no fim do século 19 e início do 20, mas
só se tornou popular na última parte do século 20. 17 Embora tenha diversas
aplicações e significados correspondentes, refere-se, de modo geral, “a uma
disposição intelectual, um conjunto de expressões culturais contemporâneas
que desafiam as principais crenças, valores e princípios da cosmovisão
moderna”, representando “o fim de uma cosmovisão única, universal e todo-
abrangente”. 18 Não deve ser considerado principalmente uma reação ao
modernismo, mas “uma transição entre o que era e o que ainda está por se
tornar”, uma vez que “a mudança de paradigma da era moderna para a pós-
moderna ainda está ocorrendo”. 19 No mesmo período, modernidade e pós-
modernidade podem coexistir.
Relativismo epistemológico
A compreensão pós-moderna da verdade é relativista. Isso se deve, em
grande medida, ao fato de que as fontes anteriores de verdade perderam boa
parte de seu valor como determinantes da realidade. O pós-modernismo
prefere incluir a subjetividade na mistura de caminhos para o conhecimento.
De acordo com esse ponto de vista, “o Universo não é mais visto como uma
realidade mecânica, mas é percebido em termos relacionais e pessoais”. 20
Os pragmáticos pós-modernos não têm como meta de sua filosofia descobrir
a verdade, mas estimular o debate. 21 Segundo o pós-modernismo, é “difícil
separar o verdadeiro do falso, o significativo do insignificante, o importante
do trivial”. 22 Não existe um método universal por meio do qual as pessoas
possam “sentenciar racionalmente ou avaliar, sem espaço para erros,
declarações conflitantes de paradigmas alternativos”. 23 Isso se dá porque
“todos os paradigmas, ou cosmovisões, são iguais, uma vez que cada um
deles tem a própria lógica”. 24
Diálogo participativo
De acordo com Walter T. Anderson, o surgimento da neocrítica foi o
primeiro sinal do fim da era moderna. 25 Essa hermenêutica ensina que
existem muitas maneiras de interpretar um texto. Em vez de entender que o
sentido surge do texto em si, propõe que é o “diálogo participativo” entre o
leitor e o texto que leva ao significado. 26 Os pós-modernos insistem que
isso torna a vida contemporânea significativa e, com o tempo, confere um
sentido de unidade cultural. 27 A redução final da importância do autor
permite ao leitor dedicar menos energia na tentativa de determinar o que “o
autor realmente quis dizer”. 28
Descontinuidade histórica
O pós-moderno argumenta em favor da “impossibilidade de encontrar-se
uma interpretação todo-inclusiva da história que é autêntica ao todo da
história”. 47 Embora creia na descontinuidade da história e enfatize o
presente ao separá-lo do passado, o pós-moderno retorna “seletivamente a
textos históricos e [para], a partir deles, recriar novos contextos a fim de
produzir novos significados”. 48
Foco na experiência
Em consequência da rejeição da razão, o pós-modernismo demonstra um
apetite para experiências sensoriais como em expressões artísticas e
simbólicas. Além disso, a sociedade atual é atraída ao misterioso, o que se
revela no desejo por “pseudoencantamentos”, “contos de fada e fantasiosos,
dinossauros, óvnis e o oculto”. 50 Ao que tudo indica, a sociedade pós-
moderna prefere o hemisfério direito do cérebro, que processa as emoções,
em detrimento do hemisfério esquerdo, que se dedica mais aos raciocínio. 51
Ênfase na comunidade
Ao passo que o modernismo se concentrava no individual, o pós-
modernismo encontra significado e valor na comunidade. Embora as
verdades conhecidas dessa maneira sejam específicas para a comunidade, em
vez de universais, elas são aceitas com maior facilidade nesse contexto.
Esse foco na comunidade local tende a descartar qualquer explicação
unificante de metanarrativa como “histórias de abrangência total. Elas são
substituídas pelo respeito às diferenças e celebração do local e particular, em
detrimento do universal”. 52
A mudança de paradigma para o pós-modernismo envolveu uma alteração
da visão de mundo. Por isso, seguiu-se uma transformação nos valores
culturais mais valorizados. Essas mudanças são raras, mas duradouras.
PRINCIPAIS
DEFINIÇÃO
DEFENSORES
Teologia conservadora, mas Dan Kimball, Mark
Relevantes inovadores na cultura. Driscoll 85
Darrel Guder e George
Hunsberger: 86
direcionamento
Buscam redefinir não só a
anabatista.
estratégia, mas também a
Michael Frost, Alan
eclesiologia, frequentemente
dando ênfase à igreja como uma Hirsch: 87 mistura de
comunidade alternativa, de ideias missionais
Reconstrucionistas direcionamento mais anabatista, “encarnacionais” com
ou como uma comunidade a ser conceitos de
restaurada a suas raízes bíblicas, crescimento e
conforme ilustrado em Atos dos multiplicação de
Apóstolos. igrejas, com ênfase na
restauração da igreja a
suas raízes, conforme
retratado em Atos.
Repensam a teologia básica e a
ética da igreja, usando
epistemologias mais pós- Brian Mclaren, Tony
Revisionistas modernas, socioconstrutivistas, Jones e Nadia Bolz-
atuando com maior consciência Weber 88
em relação às questões de
localização e poder social.
Dentre esses três, são os revisionistas que mais sofrem críticas dos grupos
conservadores cristãos, inclusive da Igreja Adventista do Sétimo Dia, por se
afastarem do conceito protestante principal de expiação, da cruz e da
autoridade das Escrituras. 89 As igrejas emergentes contêm diversas
tendências de estilos de adoração. Embora não exista um modelo prescrito na
rede dispersa de igrejas emergentes, existem tendências comuns, que incluem
uma mistura criativa de práticas cristãs históricas, o uso de estilos musicais
contemporâneos, hábitos devocionais ou espirituais, e uma ênfase no ensino
informal, testemunho e diálogo em uma atmosfera não coercitiva. 90
De modo geral, o movimento emergente também adere à maioria dos
“aparatos da espiritualidade: velas, imagens, incenso, orações de joelho e
canto monástico, com telas, guitarras eletrônicas e televisões projetando
imagens em looping”. 91 Os elementos sensoriais e sinestésicos da adoração,
rejeitados pelos reformadores com justificativas teológicas e pelas
megaigrejas por questões pragmáticas, são usados nas igrejas emergentes. 92
Em reação ao gosto por elementos sensoriais e sinestésicos na adoração,
Patrick Malloy rotula esses estilos como imbuídos de um impulso
católico. 93 O revisionista Brian McLaren também reconhece que, em muitos
aspectos, ele tem mais em comum com os católicos do que com os
protestantes. 94 Gibbs e Bolger também destacam essa tendência: “De fato,
quando se adere a muitas formas não modernas do cristianismo, é possível
acabar se sentindo mais católico do que protestante.” 95
Conforme já mencionado, também é verdade que a igreja emergente é “um
guarda-chuva que abrange muitos movimentos diversos”. 96 Ainda está em
processo de formação. 97 Assim, fica evidente que isso não passa de “uma
forma de expressar nossa necessidade de encontrar novas formas de ser
igreja; formas que estejam conectadas com a cultura emergente”. 98 Trata-se
de uma “expressão recém-criada” que sugere “uma sensação de enraizamento
em uma tradição, mas com a consciência de que algo novo e cheio de vida
está acontecendo ali dentro”. 99
Todos esses processos de transição na adoração afetaram os estilos de
adoração na Igreja Adventista. Na mesma igreja local, diferentes grupos se
reúnem para adorar: a Geração Silenciosa, nascida entre 1925 e 1945, que se
sente atraída a um estilo de adoração mais tradicional; os baby boomers, que
se sentem atraídos a um estilo de adoração contemporâneo; e a Geração X e
posterior, que participa do estilo de adoração emergente. Esses grupos
representam duas culturas diferentes: a moderna e a pós-moderna. Tornam-se
o ponto central de um conflito intenso em muitas igrejas. Algumas igrejas
oferecem dois estilos diferentes de adoração em lugares separados, para
gerações diferentes. Contudo, nesse processo de guerra de estilo de culto,
parece que a maioria das igrejas continua a se concentrar apenas em como
reagir às diferenças entre gerações, em vez de aplicar os princípios
fundamentais de adoração e refletir uma perspectiva bíblica sobre adoração
nessa era de transição cultural e filosófica.
Métodos de proclamação
Existem dois métodos de proclamação pública em um contexto de
adoração: pregação dedutiva e indutiva. A pregação dedutiva é o método por
meio do qual o orador tenta provar o que é tido por verdadeiro usando
métodos racionais. No sermão dedutivo, a premissa principal é apresentada
primeiro e então o restante do sermão apoia a premissa. Para que esse tipo de
raciocínio seja apropriado, os ouvintes devem concordar com o orador e
aceitar a autoridade da Bíblia, da igreja e do pregador. 104
Contudo, para os pós-modernos não é fácil aceitar a autoridade do orador,
pois, para eles, a verdade é relativa e preferem chegar à conclusão por si
mesmos. Outro obstáculo de uma mensagem lógica para os pós-modernos é a
ausência de diálogo. Os ouvintes não contribuem com a proclamação da
Palavra nem participam dela. 105 Os públicos pós-modernos preferem um
diálogo participativo tanto com o texto bíblico quanto com o sermão. Há,
porém, uma exceção: toca-lhes mais quando são usadas histórias para apoiar
um ponto de doutrina do que uma abordagem exclusivamente dedutiva. 106
O sermão indutivo começa com exemplos específicos e se move para
conceitos, conclusões e princípios mais gerais. Rick Gosnell afirma que, “em
vez de começar com verdades para então prová-las”, o sermão “apresenta a
evidência e os exemplos [por meio de detalhes de experiências de vida],
adiando a conclusão até que os ouvintes tenham recebido a oportunidade de
pesar as evidências, refletir nos desdobramentos, para então chegar à
conclusão junto com o pregador ao fim do sermão”. 107
Em outras palavras, a pregação indutiva “convida os leitores a fazer uma
série de pequenas descobertas sobre o texto bíblico, até chegar ao mais
amplo: ‘Então é isso que esta passagem está nos dizendo!’” 108 O pregador
indutivo ajuda os ouvintes a enxergar a verdade de tal maneira que se sentem
“prontos para aceitar, concordar e reagir a essa verdade ao fim do
sermão”. 109 Conforme evidenciado pelo fato de que “as pessoas se
preocupam mais com a morte de alguém muito próximo do que com a
natureza teológica da mortalidade”, a proclamação na adoração deve se
esforçar para que a verdade se torne parte da experiência dos ouvintes, em
vez de uma tentativa de provar a verdade. 110
Por meio desse processo, o sermão se torna parte da experiência dos
ouvintes. 111 O método indutivo permite que os pós-modernos não só
“envolvam suas emoções, seus sentimentos, sua introspecção, intuição e
contemplação a fim de tornar o sermão relevante para si”, como também “os
leva a convencer a si mesmos, em vez de ser convencidos por outros”. 112
Uso de histórias
Os pós-modernos apreciam histórias porque “a história é a linguagem
primária da experiência”. 113 Uma vez que os pós-modernos adotam, em
geral, uma abordagem holística em relação à vida, as histórias os capacitam a
superar a dicotomia entre pensamento e sentimento. São capazes de focar na
experiência de maneira mais eficaz do que qualquer outra forma de
comunicação. 114
Os pós-modernos perderam a própria história. Aceitam como verdade o fato
de que a vida é “uma questão de contar a nós mesmos histórias sobre a vida, e
essa construção da história não é apenas sobre a vida humana, mas é a
própria vida em si”. 115 Ao contar histórias, os pós-modernos conferem a si
mesmos uma identidade. 116
As narrativas continuam válidas no mundo pós-moderno, mas os pós-
modernos não acreditam em metanarrativas nem em histórias abrangentes
que explicam todos os aspectos da vida. Contudo, conforme já mencionado,
eles aceitam narrativas locais. Muito embora não seja possível sacrificar as
metanarrativas bíblicas, podemos começar a comunicar como as
metanarrativas bíblicas afetam nossa vida, dão fé e confiança, além de nos
ajudar a encontrar nossa verdadeira identidade e o propósito da vida. Bruce
Salmon explica como tornar contemporânea a mensagem do evangelho por
meio de histórias:
Participação na adoração
Embora a geração mais jovem esteja na igreja, seus integrantes confessam
que é muito difícil para eles ter um senso de pertencimento por causa da
distância cultural que sentem em relação ao estilo de adoração de seus pais.
Pensando nessa geração mais jovem que não é diferente em suas perspectivas
culturais daqueles que apreciam shows de rock e os diversos canais da TV a
cabo, 139 os dirigentes de culto muitas vezes buscam sermões curtos e
objetivos, por crerem que “um sermão longo não será bem aceito”. 140
Optam por um estilo de adoração que copia a MTV, caracterizado pelo
entretenimento. No entanto, é crucial perceber a existência de um aspecto
crítico além da lacuna cultural entre as diferentes gerações. A geração pós-
moderna mais jovem está ávida por participar da adoração, em vez de ser
mera espectadora do culto. Estão ansiosos por se envolver com tudo o que
está acontecendo. A interação oferecida pela internet é um ótimo exemplo
disso.
O testemunho pessoal durante o culto é um meio poderoso de cativar a
congregação na adoração. Isso também ajuda os não cristãos pós-modernos a
testemunhar sobre Cristo. 141 A pregação indutiva também leva a audiência
a participar da jornada rumo à conclusão. Uma vez que o público pós-
moderno prefere um “diálogo participativo” entre o texto e o orador, o
sermão não deve ser um objeto para ser observado a distância.
Em vez disso, os ouvintes precisam ter liberdade para refletir por meio de
um diálogo participativo e transformar essa pregação em parte de sua
experiência. 142 Os pioneiros adventistas vivenciavam essa participação por
meio da “reunião social”, mesmo no contexto de culto. Se houver permissão
para que testemunhos pessoais façam parte do culto, a adoração será mais
atraente para os pós-modernos.
A Igreja Adventista também precisa proporcionar aos pós-modernos a
oportunidade de servir sua comunidade e ao mundo. 143 Os pós-modernos
desejam muito encontrar um cristão que siga de verdade a vida compassiva
de Cristo. 144 A igreja necessita não só mostrar que Deus e Sua igreja Se
importam com os problemas reais do mundo, mas também ensinar como
sermos agentes de mudança no mundo. Além disso, esse espírito de
compaixão precisa ser expresso diversas vezes enquanto se ora e prega no
culto. Esses adoradores estão em busca de um lugar acolhedor e seguro no
qual possam expandir sua identidade na comunidade, 145 além de
experimentar uma sensação de pertencimento por meio da participação
significativa, sobretudo no contexto da adoração.
A fim de nos beneficiarmos do desejo pós-moderno de se envolver em uma
comunidade significativa, precisamos desenvolver uma teologia holística de
adoração sob a orientação do Espírito Santo. Ellen G. White afirma:
“Religião não é limitar-se a ritos e cerimônias exteriores. [...] Para O
servirmos devidamente, é necessário nascermos do Espírito divino [...].
Também nos comunicará obediência voluntária a todas as Suas ordens. Esse
é o verdadeiro culto”. 146 Isso significa que os dirigentes do culto devem
fazer o maior esforço para chamar “aqueles que professam a fé a fim de se
comprometerem de maneira radical com a família de Cristo, capacitando
membros com ferramentas e contextos com os quais podem se identificar, a
fim de trabalharem juntos”. 147
Necessitamos convidar os pós-modernos a experimentar a autenticidade de
nosso culto por meio de sua participação na prática do evangelho, mediante o
ato de adoração. Essa prática criará e suprirá uma comunidade de adoração
significativa para os pós-modernos.
Foco na experiência
Embora os pós-modernos estejam sedentos por uma experiência espiritual,
essa necessidade “tem mais relação com o sentimento pessoal do que com o
interesse em verdades espirituais”. 148 Essa orientação emocional pode
provocar o efeito negativo de levar os adoradores a depender somente da
experiência humana como fonte de verdade.
Essa tendência pós-moderna enfraquece a autoridade da Palavra, uma vez
que a emoção espiritual “pode prover evidências da verdade, mas não a
verdade; pode revelar sua fonte, mas não é a fonte”. 149 Em muitos casos,
leva os adoradores a ir em busca de um fervor religioso sem qualquer
fundamento para discernir se a emoção provém da verdade.
Por outro lado, tem como efeito positivo a possibilidade de tratar a
adoração de maneira holística. A adoração se transforma em uma abordagem
integradora, na qual “a pregação é subordinada à adoração”. 150 Conforme já
mencionado, para levar o público a participar, sentir e aceitar o evangelho,
necessitamos de uma abordagem conversacional que consiste em uma
narrativa indutiva e orgânica. 151 A experiência emocional na adoração é
importante porque “é possível ser emocional sem ser espiritual, mas não dá
para ser espiritual sem ser emocional”. 152 Sem o aspecto emocional na
adoração, é impossível formular uma adoração holística.
Estética
Enquanto os principais processos de comunicação na sociedade moderna
eram baseados na palavra, no contexto pós-moderno, eles são fundamentados
no visual. 163 Logo, no contexto pós-moderno, a estética se tornou a nova
“linguagem do poder”. 164 Na perspectiva pós-moderna, a adoração com
ênfase estética é atrativa. Dawn aprecia os méritos da adoração estética:
Adoração equilibrada
No contexto pós-moderno de culto, é necessária uma abordagem
equilibrada. A submissão ao ethos pós-moderno é destrutiva à pregação do
evangelho. 176 Mesmo que a experiência seja necessária, é crucial dar
atenção cuidadosa à transmissão de conhecimento; a interpretação dele, por
sua vez, não pode ser negligenciada. 177 Necessitamos tanto de uma
adoração razoável quanto do componente da emoção. Embora se concentrar
no elemento racional não ajude os pós-modernos, focar por completo na
orientação emocional não os leva a uma fé fundamentada nas Escrituras. 178
CONCLUSÃO
1 David J. B. Trim, “‘Watchmen’ over the Flux of Thought: Michel Foucault and the Historical
Development of Postmodernist Philosophy”, em Bruce L. Bauer e Kleber O. Gonçalves, ed., Revisiting
Postmodernism: An Old Debate on a New Era (Berrien Springs, MI: Department of World Mission of
Andrews University, 2013), p. 4. Em 1979, Thomas Oden já havia escrito sobre o colapso do
modernismo e a ascensão do pós-modernismo (After Modernity – What? Agenda for Theology [Nova
York: Harper & Row 1979], p. 49).
2 Oden, After Modernity, p. 60. De acordo com David L. Bosch, a mudança de paradigma de uma era
moderna para a pós-moderna “está emergindo e ainda não ficou claro qual é o formato que acabará por
adotar” (Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission [Maryknoll, NY: Orbis, 1991],
p. 349).
3 Kleber O. Gonçalves, Igreja Relevante: Missão Urbana Para a Pós-modernidade (Engenheiro
Coelho, SP: Unaspress, 2017), p. 24, 25.
4 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 31.
5 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 31.
6 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 45.
7 Robert E. Webber, Ancient-Future Faith: Rethinking Evangelicalism for a Postmodern World
(Grand Rapids, MI: Baker Books, 1999), p. 15, citado por Gonçalves, Igreja Relevante, p. 38.
8 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 45, 46.
9 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 34, 47, 48.
10 Os Guinness, The Last Christian on Earth: Uncover the Enemy’s Plot to Undermine the Church
(Ventura, CA: Regal, 2010), p. 73, 74.
11 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 37, 38, 129, 130.
12 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 49, 50, 58.
13 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 50, 52.
14 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 52-57. Ver mais sobre o progressismo em N. T. Wright,
Surpreendido Pela Esperança (Viçosa, MG: Ultimato, 2009).
15 O pós-modernismo também deve ser distinguido do “secular”, “pluralista” e “contemporâneo”. De
acordo com Miroslav Pujic, a pessoa secular não encontra lugar para Deus nas questões da vida diária,
o pluralista crê em caminhos múltiplos para a verdade, e o contemporâneo denota simplesmente a
situação atual. Os pós-modernos não são seculares per se, mas costumam ser desprovidos do modo
tradicional de se relacionar com Deus (“Re-imaging Evangelism in a Postmodern Culture”, em
Reaching Postmodern Urbanities, ed. John Haeng Kwon [Seoul: Office of Adventist Mission of NSD,
2014], p. 66).
16 Pujic, “Re-imaging Evangelism in a Postmodern Culture”, p. 66, 67.
17 Lawrence E. Cahoone, From Modernism to Postmodernism: An Anthology (Malden, MA:
Blackwell, 2003), p. 2. Cf. Ihab Hassan, The Postmodern Turn: Essays in Postmodern Theory and
Culture [Columbus, OH: University Press, 1987], p. 12.
18 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 61, 62.
19 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 64. Embora às vezes já se ouça o termo “pós-pós-modernismo”, ele
ainda não recebeu ampla aceitação.
20 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 72.
21 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 70-73.
22 Douglas Groothuis, Truth Decay: Defending Christianity Against the Challenges of Post-
modernism (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2000), p. 54, 57.
23 Richard J. Bernstein, Beyond Objectivism and Relativism: Science, Hermeneutics, and Praxis
(Oxford: Blackwell, 1983), p. 8.
24 Pauline Marie Rosenau, Post-Modernism and the Social Sciences: Insights, Inroads, and Intrusions
(Princeton, NJ: Princeton University Press, 1992), p. 128.
25 Walter T. Anderson, Reality Isn’t What It Used to Be: Theatrical Politics, Ready-to-Wear Religion,
Global Myths, Primitive Chic, and Other Wonders of the Postmodern World (San Francisco: Harper-
Collins, 1990), p. 80.
26 Rich Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, em The Challenge of Postmodernism: An
Evangelical Engagement, David S. Dockery, ed. (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1995), p. 376.
27 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 388.
28 Rosenau, Post-Modernism and the Social Sciences, p. 32.
29 Rosenau, Post-Modernism and the Social Sciences, p. 5.
30 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 128.
31
Jean-François Lyotard, The Postmodern Condition: A Report on Knowledge (Mineápolis, MN:
University of Minnesota Press, 1984), p. xxiv.
32 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 75, 76.
33 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 77.
34 Wayne Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 4-5. Disponível em
<http://www.ccws.ca/contemp_pmod/papers/Worship%20in%20a%20Pn%20Context.PDF>, acesso em
20 de outubro de 2014.
35 Anderson, Reality Isn’t What It Used to Be, p. 44.
36 Anderson, Reality Isn’t What It Used to Be, p. 44.
37 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 127, 129.
38 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 377.
39 Harold O. J. Brown, “Evangelicals and Social Ethics”, em Evangelical Armations, Kenneth S.
Kantzer e Carl F. H. Henry, ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1990), p. 279.
40 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 130.
41 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 377.
42 Anderson, Reality Isn’t What It Used to Be, p. 9.
43 O termo deriva de Sheila Larson no livro de Robert Bellah et.al., Habits of the Heart:
Individualism and Commitment in American Life (San Francisco: Harper and Row, 1985), p. 221.
44 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 377.
45 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 377.
46 Conrad E. Ostwalt, Secular Steeples: Popular Culture and the Religious Imagination (Harrisburg,
PA: Trinity, 2003), p. 203.
47 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 78.
48 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 78.
49 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 79, 80.
50 Farely Edward, Deep Symbols: Their Postmodern Effacement and Reclamation (Valley Forge, PA:
Trinity Press International, 1996), p. 27.
51 Cf. Webber E. Robert, ed., Twenty Centuries of Christian Worship (Nashville, TN: Star Song,
1994), p. 372.
52 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 81-83.
53 Uma análise eclesiológica do impacto da era moderna sobre a igreja ocidental em Jonathan S.
Campbell, “The Translatability of Christian Community: An Ecclesiology for Postmodern Cultures and
Beyond” (tese de doutorado, Fuller Theological Seminary, 1999), p. 20-51.
54 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 119, 120.
55 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 24, 25.
56 Peter Berger, O Dossel Sagrado: Elementos para uma Teoria Sociológica da Religião (São Paulo:
Paulus, 2017), p. 144.
57 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 40, 41.
58 James Emery White, “Evangelism in a Postmodern World”, em The Challenge of Postmodernism:
An Evangelical Engagement, David S. Dockery, (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1995), p. 360.
59 White, “Evangelism in a Postmodern World”, p. 360.
60 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 93, 94.
61 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 120, 121.
62 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 120, 121.
63 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 120, 121.
64 Patrick Malloy, “Rick Warren Meets Gregory Dix: The Liturgical Movement Comes Knocking at
the Megachurch Door”, Anglican Theological Review 92/ (2010), p. 443.
65 Carol Doran e Thomas H. Troeger, “Reclaiming the Corporate Self: The Meaning and Ministry of
Worship in a Privatistic Culture”, Worship 60 (1986), p. 200.
66 Eddie Gibbs e Ryan K. Bolger, Emerging Churches: Creating Christian Community in Postmodern
Cultures (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2005), p. 21.
67 Robert E. Webber, “The Crisis of Evangelical Worship: Authentic Worship in a Changing World”,
em Worship at the Next Level: Insight from Contemporary Voices, Tim Dearborn e Scout Coil, ed.
(Grand Rapids, MI: Baker Books, 2004), p. 89.
68 Webber, “The Crisis of Evangelical Worship”, p. 92.
69 Webber, “The Crisis of Evangelical Worship”, p. 80.
70 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 21.
71 Webber, “The Crisis of Evangelical Worship”, p. 89.
72 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 21.
73 Webber, Ancient-Future Worship, p. 151.
74 Dan Kimball, The Emerging Church: Vintage Christianity for New Generations (Grand Rapids,
MI: Zondervan, 2003), p. 32, 33.
75 Malloy, “Rick Warren Meets Gregory Dix”, p. 445.
76 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 21.
77 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 21.
78 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 30. Informações mais detalhadas sobre as igrejas voltadas
para a Geração X nas p. 30-34.
79 Gibbs e Bolger, Emerging Churches , p. 40.
80 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 40.
81 Gibbs e Bolger, Emerging Churches, p. 22.
82 J. Richard Middleton e Brian Walsh, Truth is Stranger than It Used to Be (Downers Grove, IL:
InterVarsity, 1995).
83 D. A. Carson, Becoming Conversant with Emerging Church: Understanding a Movement and Its
Implications (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2005), p. 27.
84 Rick Richardson, “Emerging Missional Movements: An Overview and Assessment of Some
Implications for Mission(s)”, International Bulletin of Missionary Research 37 (2013), p. 132.
85 Cf. Mark Driscoll, Confessions of a Reformission: Hard Lessons from an Emerging Missional
Church (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2006).
86 Cf. Guder Darrell, ed., Missional Church: A Theological Vision for the Sending of the Church in
North America (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998); George R. Hunsberger, ed., The Church Between
Gospel and Culture (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1996).
87 Michael Frost e Alan Hirsch, The Shaping of Things to Come: Innovation and Mission for the 21st
Century Church (Peabody, MA: Hendrickson, 2003).
88 Cf. Brian McLaren, A New Kind of Christian: A Tale of Two Friends on a Spiritual Journey (San
Francisco: Jossey-Bass, 2001); Tony Jones, Postmodern Youth Ministry: Exploring Cultural Shift,
Cultivating Authentic Community, Creating Holistic Connections (Grand Rapids, MI: Zondervan,
2001); Nadia Bolz-Weber, Salvation on the Small Screen? 24 Hours of Christian Television (Nova
York: Seabury Books, 2008).
89 Cf. Kevin Deyoung e Ted Kluck, Why We’re Not Emergent: By Two Guys Who Should Be
(Chicago, IL: Moody, 2008); Kwabena Donkor, The Emerging Church and Adventist Ecclesiology,
Biblical Research Release, v. 8 (Silver Springs, MD: Biblical Research Institute, 2011).
90 Thomas H. Schattauer, “God’s Mission and the Christian Assembly: The Search for an Alternative
Practice of Worship”, Dialog: A Journal of Theology 50 (2011), p. 149.
91 Scott Bader-Saye, “Improving Church: An Introduction to the Emerging Church Conversation”,
International Journal for the Study of the Christian Church 6 (2006), p. 12-23.
92 Malloy, “Rick Warren Meets Gregory Dix: The Liturgical Movement Comes Knocking at the
Megachurch Door”, p. 447.
93 Malloy, “Rick Warren Meets Gregory Dix: The Liturgical Movement Comes Knocking at the
Megachurch Door”, p. 447.
94 Gibbs; Bolger, Emerging Churches, p. 38. Brian McLaren também confessa: “Sou muito mais duro
com os cristãos protestantes conservadores que partilham dessa herança do que com quaisquer outros.
Desculpem-me. Sou, o tempo inteiro, muito simpático aos católicos romanos, ortodoxos orientais e até
mesmo aos temidos liberais, ao passo que estou sempre dando cotoveladas nas costelas de meus irmãos
conservadores, da forma mais incômoda – e alguns poderiam até acrescentar ‘nada generosa’” (A
Generous Orthodoxy [Grand Rapids, MI: Zondervan, 2004], p. 35).
95 Gibbs; Bolger, Emerging Churches, p. 38.
96 Gibbs; Bolger, Emerging Churches, p. 41.
97 Gibbs; Bolger, Emerging Churches, p. 42.
98 Gibbs; Bolger, Emerging Churches, p. 41.
99 Gibbs; Bolger, Emerging Churches, p. 41, 42.
100 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 140, 141.
101 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 141.
102 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 142.
103 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 142.
104 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 382.
105 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 382.
106 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 384.
107 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 383.
108 Thomas G. Long, The Witness of Preaching (Louisville, KY: Westminster/John Knox, 1989), p.
82.
109 Ralph L. Lewis e Gregg Lewis, Inductive Preaching: Helping People Listen (Westchester, IL:
Crossway, 1983), p. 81.
110 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 382, 383.
111 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 382, 383.
112 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 384.
113 Thomas E. Boomershine, Story Journey: An Invitation to the Gospel as Storytelling (Nashville,
TN: Abingdon, 195), p. 18.
114 Boomershine, Story Journey, p. 18.
115 Anderson, Reality Isn’t What It Used to Be, p. 102.
116 Gary B. Madison, The Hermeneutics of Postmodernity: Figures and Themes (Bloomington, IN:
Indiana University Press, 1990), p. 95, 96.
117 Bruce C. Salmon, Storytelling in Preaching: A Guide to the Theory and Practice (Nashville, TN:
Broadman, 1988), p. 33, 4.
118 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 386.
119 Salmon, Storytelling in Preaching, p. 32.
120 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 380.
121 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 381, 382.
122 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 381.
123 Larry W. Poland, “Christ and Culture: The Christian and Media”, em God & Culture, D. A.
Carson e John D. Woodbridge, ed. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1993), p. 264, 265.
124 David F. Wells, No Place for Truth: Or Whatever Happened to Evangelical Theology? (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1993), p. 203.
125 Kleber O. Gonçalves, “Witnessing to Christ in Secular, Post-Christian, Postmodern Contexts”, em
Reaching Postmodern Urbanites, John Haeng Kwon, (Seoul: Office of Adventist Mission of NSD,
2014), p. 27.
126 Craig Van Gelder, “Postmodernism and Evangelicals: A Unique Missiological Challenge at the
Beginning of the Twenty-First Century”, Missiology 30-34 (2002), p. 4.
127 Robert Phillips, “Changes in Technology”, Southwestern Journal of Theology 42 (2000), p. 64.
128 Webber, Ancient-Future Worship, p. 165.
129 Webber, Ancient-Future Worship, p. 150.
130 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 11.
131 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 11.
132 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 11.
133 Ed Stetzer, Planting New Churches in a Postmodern Age (Nashville, TN: Broadman & Holman,
2003), p. 140.
134 Jim L. Wilson, Future Church: Ministry in a Post-Seeker Age (Littleton, CO: Serendipity, 2002),
p. 113, 114.
135 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 163.
136 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 163.
137 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v.
9, p. 143.
138 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 13.
139 Farely Edward, Deep Symbols: Their Postmodern Effacement and Reclamation (Valley Forge,
PA: Trinity Press, 1996), p. 27.
140 Hugh Litchfield, “Changes in Preaching”, Southwestern Journal of Theology 42 (2000), p. 27.
141 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 381.
142 Gosnell, “Proclamation and the Postmodernist”, p. 383.
143 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 153, 154, 163.
144 Chuck Smith, Jr., The End of the World, as We Know It: Clear Direction for Bold and Innovative
Ministry in a Postmodern World (Colorado Springs, CO: WaterBrook, 2001), p. 196.
145 Rich Richardson, Evangelism Outside the Box: New Ways to Help People Experience the Good
News (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2000), p. 99, 100.
146 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019),
p. 189.
147 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 14.
148 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 154.
149Thomas Hohstadt, I Felt God... I Think: Authentic Passion in the 21st Century (Odessa, TX:
Damah Media, 2001), p. 169.
150 Litchfield, “Changes in Preaching”, p. 23-25.
151 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 8.
152 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 9.
153 Charles H. Kraft, Anthropology for Christian Witness (Maryknoll, NY: Orbis, 1996), p. 56, 57.
154 Bruce L. Bauer, “Conversion and Worldview Transformation Among Postmoderns”, em Bauer e
Gonçalves, eds., Revisiting Postmodernism, p. 93, 94.
155 Bauer e Gonçalves, ed., Revisiting Postmodernism, p. 94.
156 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 154.
157 Ver Ángel Manuel Rodríguez, “Elementos da Adoração Adventista: Sua Relevância Teológica”,
nesta obra. Ellen G. White diz, “A verdadeira reverência a Deus é inspirada pelo senso de Sua infinita
grandeza e a noção de Sua presença” (Profetas e Reis [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014], p.
48).
158 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 252. Ver
recomendações detalhadas sobre “O comportamento na Casa de Deus” em Ellen G. White,
Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v. 5, p. 491-500. As
recomendações principais são: (1) dirigir-se em silêncio para seu lugar com decoro; (2) manter um
espírito de verdadeira devoção por meio da meditação silenciosa e mantendo o coração elevado a Deus
em oração, lembrando-se de que os mensageiros celestiais estão no ambiente; (3) escutar com atenção a
Palavra anunciada, como quem está ouvindo a voz de Deus por intermédio do servo que Ele designou;
(4) ensinar as crianças a adorar com reverência; (5) ensinar os adoradores a serem organizados, limpos
e ordeiros com o vestuário, sem condescender com adornos exteriores que seriam completamente
inapropriados para o santuário; (6) ajoelhar-se para orar, etc.
159 Ellen White diz: “O momento e o lugar de oração são sagrados, porque Deus está ali” (Profetas e
Reis [Tatuí, SP; Casa Publicadora Brasileira, 2014], p. 48, 49).
160 White, Profetas e Reis, p. 49.
161 Marva J. Dawn, Reaching Out Without Dumbing Down: A Theology of Worship for the Turn-of-
the-Century Culture (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995), p. 225.
162 Leslie H. Brickman, Natural Church Development and Cell Church (Maitland, FL: Xulon Press,
2005), p. 15.
163 Leonard Sweet, Postmodern Pilgrims: First Century Passion for the 21st Century World
(Nashville, TN: Broadman & Holman, 2000), p. 86.
164 Sweet, Postmodern Pilgrims, p. 93.
165 Dawn, Reaching Out Without Dumbing Down, p. 249.
166 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 13. Ver também Alain Coralie, “Nike Culture
and the Church: An Investigation of Postmodern Consumerist Culture and Its Implications for Church
Life”, em Bauer e Gonçalves, ed., Revisiting Postmodernism, p. 232. Ele também afirma: “O medo se
levanta quando confundimos as tradições da igreja com o evangelho” (Bauer e Gonçalves, ed.,
Revisiting Postmodernism, p. 232).
167
Jill M. Hudson, When Better Isn’t Enough: Evaluation Tools for the 21st-Century Church
(Herndon, VA: Alban, 2004), p. 66.
168 Ellen White enfatiza que “nossas reuniões devem ser intensivamente interessantes. Deve imperar
ali a própria atmosfera do Céu. As orações e discursos não devem ser longos e enfadonhos, apenas para
encher o tempo. Todos devem espontaneamente e com pontualidade contribuir com sua parte e,
esgotada a hora, a reunião deve ser pontualmente encerrada. Desse modo será conservado vivo o
interesse. Nisso está o culto agradável a Deus. Seu culto deve ser interessante e atraente, não se
permitindo que degenere em formalidade insípida” (Testemunhos Para a Igreja, 9 v. [Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2015], v. 5, p. 609).
169 Alain Coralie, “Nike Culture and the Church: An Investigation of Postmodern Consumerist
Culture and Its Implications for Church Life”, em Brucel L. Bawer e Cleber O. Gonçalves, Revisiting
Postmodernism: An Old Debate on a New Era (Berring Springs, MI: Departament of World Mission of
Andrews University, 2013), p. 232.
170 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 159.
171 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 159.
172 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 158, 159.
173 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 13.
174 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 13.
175 Ellen G. White também sugere alguns fundamentos teológicos básicos da adoração: (1) Criador
(“‘A importância do sábado como memorial da criação consiste em manter sempre presente o
verdadeiro motivo de se render culto a Deus’ – porque Ele é o Criador, e nós as Suas criaturas. ‘O
sábado, portanto, está no próprio fundamento do culto divino, pois ensina esta grande verdade da
maneira mais impressionante, e nenhuma outra instituição faz isso. O verdadeiro fundamento para o
culto a Deus, não meramente o daquele que se realiza no sétimo dia, mas de todo culto, está na
distinção entre o Criador e Suas criaturas’” [O Grande Conflito, p. 437]); (2) Redentor (“A cruz de
Cristo será a ciência e cântico dos remidos por toda a eternidade” [Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p.
381]).
176 Coralie, “Nike Culture and the Church: An Investigation of Postmodern Consumerist Culture and
Its Implications for Church Life”, p. 232.
177 Gonçalves, Igreja Relevante, p. 155.
178 Dawn, Reaching Out Without Dumbing Down, p. 72.
179 William Easun, Dancing with Dinosaurs: Ministry in a Hostile and Hurting World (Nashville,
TN: Abingdon, 1993), p. 81.
180 Monte Sahlin, Adventist Congregations Today: New Evidence for Equipping Healthy Churches
(Washington, DC: Creative Ministry of NAD, 2003), p. 14.
181 Sahlin, Adventist Congregations Today, p. 14.
182 Deneault, “Worship in a Postmodern Context”, p. 14.
183 C. Raymond Holmes, Making Worship Meaningful (Washington, DC: Associação Ministerial da
Associação Geral, [s.d.]), p. 3.
8 Ordenanças da Igreja: Batismo, Lava-
pés e Ceia do Senhor
Norman Gulley
O RITO DO BATISMO
Batismo de adultos
O verbo “batizar” vem do grego baptizō, que significa “imergir, mergulhar”
e foi usado por Jesus quando Ele instituiu a prática do batismo cristão:
Rebatismo 4
Só há uma passagem no Novo Testamento para apoiar a prática de
rebatismo (At 19:1-7). Trata-se, inquestionavelmente, de um caso único.
Paulo encontrou em Éfeso 12 homens que haviam sido batizados por João
Batista e os rebatizou em nome de Jesus. É propável que essa não fosse uma
prática comum, pois João também havia batizado Apolo, e não há menção do
rebatismo dele (At 18:26). A Bíblia diz que ele era “eloquente e poderoso nas
Escrituras”, “instruído no caminho do Senhor”, “falava e ensinava com
precisão a respeito de Jesus” (At 18:24, 25) e que só precisava de instruções
“com mais exatidão” sobre “o caminho de Deus” (v. 26).
O batismo somente pela água (João) não exigia o rebatismo pela água e
pelo Espírito (batismo em Cristo). Aliás, o Cristo ressurreto disse aos
discípulos que eles receberiam o batismo do Espírito Santo (At 1:4, 5) e, no
Pentecostes, todos ficariam cheios do Espírito Santo (At 2:4). A palavra
“todos” incluía bem mais que os discípulos, pois Pedro cita a promessa de
João 2:28 a 32: “derramarei do Meu Espírito sobre toda a carne” (At 2:16,
17a). Qual era a diferença entre os 12 homens de Éfeso e todos os outros que
receberam o batismo de João e o Espírito Santo? Esse batismo não incluía o
compromisso com Jesus como o Cordeiro de Deus anunciado por João
Batista. 5 Eles não haviam sido “adequadamente batizados”. 6
O rebatismo não pode ser defendido com base no termo “batismos” (plural),
encontrado em Hebreus 6:2. Há uma dúvida se esse verso se refere ao
batismo cristão, 7 pois o termo costumeiro para o batismo cristão (grego
baptisma) não é usado. O autor usa baptismos, empregado apenas uma vez
para se referir ao batismo cristão (Cl 2:12), 8 mas usado para descrever as
lavagens cerimoniais judaicas (Hb 9:10; Mc 7:4). O plural faz menção a essas
lavagens cerimoniais, não ao batismo cristão. Quem tem um batismo válido e
conhece a verdade acerca de Cristo e do significado do batismo não necessita
ser rebatizado. Os pecados cometidos após o batismo não requerem um
rebatismo, mas arrependimento, que é expresso de forma pública por meio da
ordenança do lava-pés. No entanto, os adventistas creem que o retorno à
igreja de alguém que tenha apostatado requer conversão e rebatismo.
Os novos conversos, que já tenham passado pela experiência do batismo
por imersão em outra denominação cristã, podem escolher ser rebatizados a
fim de expressar seu compromisso com a nova luz que receberam com base
no estudo da Bíblia. Isso não desqualifica seu primeiro batismo por imersão,
mas lhes dá a oportunidade de expressar compromisso com a nova verdade.
Porém, se desejarem, eles podem também entrar para a Igreja Adventista do
Sétimo Dia por profissão de fé. 9
O batismo na história
Nesta seção histórica, apresentaremos brevemente alguns insights sobre o
debate acerca da ordenança do batismo na teologia e tradição cristã.
Começamos com Tertuliano (c. 145-220), o fundador do cristianismo latino,
que se referiu ao batismo como o “sacramento da água”. Ele cria que essa
cerimônia era um veículo da operação divina. 10 Tertuliano argumentou que,
antes da criação, o Espírito pairava sobre a face das águas como símbolo de
Sua presença sobre as águas batismais. Após a invocação de Deus, essa água
alcança “o poder sacramental da santificação”. 11 Tertuliano citou o tanque
de Betesda como exemplo. 12 Segundo ele, o batismo é para quem crê, não
para bebês. 13
Cipriano (c. 200-258) foi o bispo de Cartago que liderou o Concílio de
Cartago (253), no qual ficou decidido que o batismo poderia ser realizado em
bebês com dois, três ou oito dias de vida. 14 No sétimo Concílio de Cartago
(c. 257), Cipriano concordou com Tertuliano, passando a defender que
somente o batismo da igreja é um “batismo salvador”. 15 Agostinho (354-
430), em oposição a Cipriano e Tertuliano, argumentou que a validade do
batismo não era determinada pela condição espiritual e moral de quem o
administrava, mas por Cristo. 16 Também comentou que a lavagem da
regeneração curava os bebês da culpa do pecado original. 17 Esse é seu
pressuposto teológico por trás do batismo infantil, independentemente de
quem o realizasse. Para Agostinho, o batismo em si era tão importante que
poderia ser ministrado até por não membros da igreja. Ele cria que, por ser
um sacramento, o batismo podia comunicar graça ao bebê e removia o
pecado original. O batismo transmitiria regeneração capaz de salvar quem o
recebesse e concederia o dom da vida eterna, mudando, assim,
instantaneamente o destino do recém-nascido. Qualquer bebê que morresse
sem receber o batismo iria para o limbo, sem poder alcançar o Céu. A retirada
do pecado original por meio do batismo infantil adquiriu extrema
importância. Nesse cenário, não há espaço para a fé do batizado.
Tomás de Aquino (1225-1274) acreditava, com base parcial em Ezequiel
36:25, que o batismo podia ser realizado por aspersão, mas reconhecia que “é
mais seguro batizar por imersão, por ser a maneira mais tradicional”. 18 Ele
acrescenta que “o sepultamento de Cristo é representado com maior clareza
por imersão. Esse modo de batismo é usado com mais frequência e é mais
recomendável”. 19 Aquino reconhecia que o ensino deveria preceder o
batismo, mas declarou também que alguém poderia responder em lugar do
bebê ao professar a fé cristã. 20
De acordo com Martinho Lutero (1483-1546), o batismo salva, mas não
sem fé, 21 pois “tudo depende da fé”. 22 O poder do batismo depende “da fé
[...] de quem o recebe”. 23 No entanto, ele argumentava que os bebês deviam
ser imersos, muito embora a aspersão fosse o método costumeiro em sua
época. Entretanto, como os bebês podem exercer a fé? Lutero cria que “os
bebês são auxiliados pela fé de outros, a saber, dos que os levam para ser
batizados”, a fim de que “o bebê seja transformado, purificado e renovado
pela fé inculcada”. 24 Uma vez que a criança não pode exercer fé pessoal,
detectamos uma inconsistência na teologia de batismo de Lutero. Precisamos
perguntar: A “fé derramada” do reformador seria melhor do que a “graça
imputada” pelo papa, que ele rejeitava?
Para João Calvino (1509-1564), a imagem de Deus nos seres humanos não
foi apenas danificada, mas totalmente destruída na queda. Em consequência,
a única esperança se encontra em Cristo, o qual, por meio de Sua graça
irresistível, elege alguns para ser salvos. Em outras palavras, o processo de
salvação é obra de Deus do início ao fim. O batismo é fruto da eleição divina
e não uma boa obra dos eleitos em resposta à graça. Isso explica por que o
batismo de bebês é aceitável para Calvino. O Senhor escolhe os filhos dos
cristãos, e Sua escolha faz do batismo um sacramento. Afinal, Deus separa os
eleitos na eternidade sem a participação deles. Assim, é lógico que Ele renove
Sua escolha no batismo infantil sem a participação da fé no momento da
cerimônia. Calvino destaca que “as crianças são batizadas na penitência e na
fé futuras; mesmo que não estejam ainda formadas nelas, a semente de uma
[ou] de outra fica, no entanto, plantada nelas por uma operação oculta do
Espírito”. 25
Os reformadores rejeitaram o ponto de vista católico do batismo. Por sua
vez, o Concílio de Trento (1545-1563) rejeitou o argumento protestante, ao
afirmar, no cânon 3: “Se alguém disser que, na Igreja Romana, mãe e
professora de todas as igrejas, não há doutrina verdadeira em relação ao
sacramento do batismo, que seja anátema.” 26 No cânon 6, Trento rejeita a
ideia de que o indivíduo que peca após o batismo pode retornar, pela fé, às
promessas feitas por meio do sacramento. Em vez disso, obras humanas de
penitência assumem o lugar das promessas de Deus. 27
O ponto de vista católico do batismo foi apoiado pelo Concílio Vaticano II
(1963-1965). O concílio autorizou que leigos oficiassem o batismo se
nenhum padre ou diácono estivesse presente para realizar a cerimônia em
favor de alguém que estivesse à beira da morte. 28 O batismo é a porta de
entrada para a Igreja Católica e, sem isso, não há salvação. 29 O Catecismo
da Igreja Católica oferece evidências bíblicas e afirma que a imersão
simboliza o sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, seguida pelo
erguimento da água como símbolo da ressurreição de Jesus. 30 O batismo é
chamado de “sacramento da fé”. 31 No entanto, em forte contraste com a fé e
a imersão, o batismo de bebês continua a ser praticado porque “a gratuidade
pura da graça da salvação é particularmente manifesta” dessa maneira porque
“todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados
pessoais, bem como todas penas do pecado”. 32
LAVA-PÉS 35
Fornecer água para lavar os pés era uma cortesia cultural na terra poeirenta
de Israel (Gn 18:4; 19:2; 24:32; 43:24; Jz 19:21; Lc 7:44). Parece que a água
era dada para que as pessoas lavassem os próprios pés. No Antigo
Testamento, há uma referência específica a lavar os pés (Ct 5:3), e há outra
que alude aos vitoriosos lavando os pés no sangue dos derrotados (Sl 58:10).
Somente no caso de Abigail encontramos sua disposição de lavar os pés dos
servos de Davi (1Sm 25:41).
A ordenança do lava-pés
A única referência bíblica ao lava-pés como ordenança é a ocasião em que -
Cristo lavou os pés dos discípulos (Jo 13:1-20; 1Tm 5:10). Não há menção à
lavagem dos pés nos evangelhos sinóticos. De acordo com Lucas, Cristo
disse aos discípulos: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta
Páscoa, antes do Meu sofrimento” (Lc 22:15). A Páscoa foi um prelúdio ao
sacrifício de Jesus, contudo os discípulos discutiam entre si sobre quem
dentre eles era o maior (Lc 22:24; cf. Mt 18:1-5; 20:20-28; Mc 9:33-37;
10:41-45; Lc 9:46-48). Eles enxergavam Cristo como um governante, não
como o redentor, pensando na própria posição e não na paixão de Jesus. Eles
se preocupavam em receber honrarias no reino e não com a expiação que
seria o único caminho para que chegassem lá.
A refeição pascoal estava sendo servida (Jo 13:2), e Cristo “levantou-Se da
ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-Se com ela”.
Então começou a lavar e secar os pés dos discípulos (Jo 13:4, 5). Em seguida,
disse: “Ora, se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós
deveis lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que,
como Eu vos fiz, façais vós também. [...] Ora, se sabeis estas coisas, bem-
aventurados sois se as praticardes” (Jo 13:14, 15, 17). Essa é uma ordem de
Cristo, igualmente válida como um mandamento Seu para comer na Ceia do
Senhor (Lc 22:17-19).
Cristo, que é Deus (Jo 1:1, 14), abaixou-Se para servir os discípulos,
lavando-lhes os pés. Aqui encontramos uma ilustração vívida do propósito de
Sua vinda, descendo do Pai “não [...] para ser servido, mas para servir e dar a
Sua vida em resgate por muitos” (Mt 20:28). A grande descida de Cristo é
resumida em Filipenses 2:5 a 8:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes,
a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando-Se
obediente até à morte e morte de cruz.
A CEIA DO SENHOR 43
Assim como a Páscoa remontava ao livramento do povo de Israel do Egito
e apontava para a frente, para a libertação do povo de Deus no Calvário, a
Ceia do Senhor aponta tanto para o passado, para a libertação no Calvário,
quando para o futuro, a segunda vinda de Cristo e a redenção final de Seu
povo. 44 Assim como a Páscoa foi superada pela Ceia do Senhor, a Ceia do
Senhor será superada pela “ceia das bodas do Cordeiro” (Ap 19:9). Essas três
refeições têm uma coisa em comum: elas celebram o livramento que Cristo
efetuou, libertando Seu povo do Egito, no Calvário e na segunda vinda. Essas
três refeições se concentram no Calvário. A morte de Jesus era tipificada no
sangue derramado para proteger o primogênito na Páscoa. O livramento
proporcionado por Sua morte se desdobrará no livramento final do retorno de
Cristo em glória. A libertação na Páscoa e no segundo advento aponta para o
passado e o futuro, remontando, em ambos os casos, à libertação fundamental
no Calvário.
1 Coríntios
Escrito antes dos evangelhos, 1 Coríntios é o registro mais antigo da Ceia
do Senhor. É útil compará-lo com a inauguração da Ceia do Senhor conforme
registrado nos evangelhos sinóticos. A igreja de Corinto celebrou a Ceia do
Senhor após outra festa (1Co 11:20-26), assim como a primeira Ceia do
Senhor foi celebrada depois da festa da Páscoa (Lc 22:15-20). Qual foi a festa
ágape partilhada pelos coríntios (cf. 2Pe 2:13; Jd 12)? Os coríntios eram
conversos do paganismo. Eles participavam de banquetes para ídolos antes e
depois da conversão. A festa ágape seguia o formato dos banquetes judaicos e
gregos. Era um junta-panelas, no qual pessoas ricas levavam bastante comida,
e os pobres levavam o alimento que tinham. Por ser uma suposta festa do
amor, deveria haver uma partilha de todos os alimentos, a fim de que todos,
tanto os ricos quanto os pobres, comessem da mesma mesa e se fartassem.
Contudo, para que isso acontecesse, a refeição precisaria iniciar no mesmo
horário para todos. Contudo, os ricos começavam a comer quando chegavam,
e os pobres, que precisavam trabalhar, chegavam mais tarde, muitas vezes
depois que a comida já havia acabado 45 (cf. 1Co 11:19-22). Os ricos nem
sequer se assentavam com eles. 46 Era com essa atitude que participavam da
Ceia do Senhor, uma cerimônia que deveria lhes lembrar da necessidade de
salvação de todos os seres humanos e do fato de que Cristo Se tornou pobre e
deu a vida por eles.
Evangelho de João
O sexto capítulo de João apresenta vislumbres importantes da Ceia do
Senhor. Aludindo ao maná que caiu do céu durante a experiência de Israel no
deserto, Jesus afirmou:
Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o
verdadeiro pão do céu é Meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce
do Céu e dá vida ao mundo. [...] Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o
que vem a Mim jamais terá fome (Jo 6:32, 33, 35).
Como o cristão recebe esse pão? Jesus responde: “Em verdade, em verdade
vos digo: quem crê em Mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida” (Jo
6:47, 48). Crer em Jesus é uma maneira de O receber como o pão que
concede vida eterna.
Cristo identifica outra maneira de comer esse pão a fim de receber Sua
vida:
Os católicos costumam pegar esses versos para afirmar que o pão realmente
se transforma no corpo verdadeiro de Cristo, e o sacramento do vinho se
torna o sangue real de Jesus.
Em contrapartida, Cristo está falando em termos espirituais. É o
relacionamento de aliança que torna possível Cristo habitar em quem recebe
os emblemas. Jesus falou sobre isso um pouco mais tarde, quando disse: “Eu
sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá
muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15:5). As metáforas do
pão e do vinho ensinam a mesma verdade espiritual de um relacionamento
vivo entre Cristo e o cristão. Ellen G. White comenta as duas ideias
encontradas nessas palavras de João, dizendo acerca da primeira:
Até esta vida terrestre devemos à morte de Cristo. O pão que comemos é o preço de
Seu corpo quebrantado. A água que bebemos é comprada com Seu derramado
sangue. Nunca alguém, seja santo ou pecador, toma seu alimento diário sem ser
nutrido pelo corpo e o sangue de Cristo. A cruz do Calvário está estampada em cada
pão. Reflete-se em toda fonte de água. Tudo isso Cristo ensinou ao indicar os
emblemas de Seu grande sacrifício. A luz irradiada daquele serviço de comunhão no
cenáculo torna sagradas as provisões de nossa vida diária. A mesa familiar se torna
como a mesa do Senhor, e cada refeição, algo sagrado. 47
Igreja Católica
Em Tomás de Aquino (1225-1274), encontramos a teologia católica mais
completa. Ele recebeu forte influência da filosofia aristotélica 58 e dedicou
muito tempo debatendo detalhes tediosos acerca da relação entre substância e
acidentes, espécies próprias e espécies sacramentais, 59 na tentativa de
explicar a transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo.
Aquino defendia que o corpo de Cristo continua no sacramento enquanto a
espécie sacramental permanece. 60 Ele também afirmava que o sacramento
concede graça para obtenção da vida eterna. 61 Ele não via problema com os
sacerdotes que ofereciam Cristo como sacrifício aos altares católicos. Ele
afirma: “O sacerdote pede que esse sacrifício [a eucaristia] seja aceito por
Deus por meio da devoção dos ofertantes, assim como os antigos sacrifícios
[do Antigo Testamento] eram aceitos por Ele.” 62 Nesse caso, a repetição
dos sacrifícios nos altares católicos é semelhante aos sacrifícios repetitivos no
altar no tabernáculo/templo.
O Concílio de Trento (1545-1563) afirmou que a Igreja Católica,
instruída por Jesus Cristo nosso Senhor e por Seus santos apóstolos, bem como
ensinada pelo Espírito Santo [...] proíbe que todos aqueles que creem em Cristo
ousem acreditar, ensinar ou pregar de outra maneira em relação à sagrada eucaristia
do que a explicada e definida no presente decreto. 63
Aquele que negar a presença do “Cristo inteiro” (divindade e humanidade)
no sacramento, crendo que se trata somente de um “signo, figura ou poder,
que seja considerado anátema”. 64
A transubstanciação é a suposta conversão da substância inteira do pão na
substância do corpo de Cristo e da substância inteira do vinho na substância
de Seu sangue. O Cristo inteiro Se encontraria substancialmente presente em
ambos os elementos. O Concílio de Trento decretou que o Cristo eucarístico
deve ser “adorado” e “carregado com reverência e honra nas procissões pelas
ruas e pelos espaços públicos”. 65 Essa adoração (latim, latria) se deve
somente a Deus, em comparação com a adoração (latim, dulia) dos santos e a
adoração (latim, hyperdulia) da virgem Maria. 66 Podemos simplesmente
afirmar que Cristo não orientou Seus discípulos a adorar os emblemas.
Conforme já explicamos, o ato da eucaristia tem sido interpretado como um
sacrifício. Quando isso é feito, a singularidade do Calvário é, no mínimo,
reduzida. Os sacerdotes assumem o controle e, por meio de sua palavra
sacramental, transformam os elementos no corpo e sangue de Cristo,
oferecendo-Lhe como sacrifício. Em certo sentido, os sacerdotes e a igreja
substituíram Cristo como o único Mediador entre Deus e os seres humanos
(1Tm 2:5).
O Concílio Vaticano II (1962-1965) afirma que Cristo “continua Sua obra
sacerdotal por meio da atuação de Sua igreja”. 67 Assim, os cristãos
“habitam em Cristo [...] por intermédio da igreja” e são unidos a Cristo
“mediante os sacramentos”. 68 A igreja, os bispos, os padres e a eucaristia
são exaltados como a esperança para os seres humanos. O olhar se esquiva de
Cristo para se concentrar em Seus seguidores. Assim, “os bispos canalizam a
plenitude de Cristo de muitas maneiras e em profusão”, 69 a fim de que, em
“certo sentido”, os fiéis “extraiam e derivem sua vida em Cristo” a partir do
bispo. 70 Por meio do ato eucarístico, “a igreja vive e cresce
constantemente”, 71 pois “contém toda a riqueza espiritual da igreja”. 72
Conclui-se que “o ato eucarístico mostra, em si mesmo, ser a fonte e o ápice
de toda a obra de pregação do evangelho”. 73 Nessa linha de raciocínio, “os
sacerdotes cumprem seu principal dever no mistério do sacrifício eucarístico.
Por meio dele, a obra de nossa redenção continua a ser realizada”, 74 de tal
maneira que a igreja pode até ser chamada de “sacramento universal da
salvação”, 75 e “todos os clérigos cooperam com a realização do plano
salvífico de Deus”. 76 A missa parece ser centrada no sacerdote. A adoração
que pertence a Cristo é dada à hóstia, “para levá-la em procissão com grande
pompa, e a exibem como um espetáculo solene, para ser vista, cultuada,
invocada”. 77 De diferentes maneiras, ideias humanas da igreja substituem a
obra de Cristo e do Espírito Santo. O Concílio Vaticano II introduziu dois
avanços ao ritual eucarístico: permitiu que seja conduzido na língua materna
da congregação, em lugar do latim; e autorizou a leitura da Bíblia. 78 Essas
mudanças são periféricas, pois a essência da missa permanece.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que é na “liturgia, pela qual,
principalmente no divino sacrifício da eucaristia, ‘se exerce a obra de nossa
redenção’”. 79 Observe que a Ceia do Senhor (eucaristia) ainda é chamada
de “sacrifício” que realiza a redenção humana. Declara ainda: “O sacrifício
de Cristo e o sacrifício da eucaristia são um único sacrifício.” 80 A crítica
mais grave contra a missa católica é que ela tende a negar a cruz. A missa
falha em fazer justiça à obra de Cristo no Calvário (Hb 1:3; 7:27-28; 9:11-12,
24-28; 10:12-14; Jo 19:30). Já se afirmou que “em nenhuma parte da doutrina
católica romana – com exceção talvez na mariologia – se lança uma sombra
tão clara sobre a obra definitiva de Cristo como na doutrina da oferta
eucarística”. 81
comer a carne e crer em Jesus são a mesma coisa, caso contrário existem dois
caminhos para a salvação: um por meio de comer e beber a carne e o sangue de
Cristo, e outro mediante a crença Nele. E se for esse o caso, então a crucifixão não
seria necessária, pois os discípulos teriam se tornado filhos da vida eterna no instante
em que participaram da carne e do sangue na última Ceia. 112
Frequência da celebração
Paulo afirma que “todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o
cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (1Co 11:26). Isso
mostra que a prática continuará até o retorno de Cristo, mas não prescreve a
frequência de realização da Santa Ceia. Alguns sugerem uma vez por semana,
outros diariamente, mas parece que quatro vezes por ano é a prática mais
comum entre as igrejas protestantes, ao passo que uma frequência maior é
observada no catolicismo romano e oriental. Em geral, os adventistas do
sétimo dia celebram a Santa Ceia quatro vezes ao ano.
CONCLUSÃO
1 Ver a coleção bem útil de artigos sobre a teologia e prática do batismo, escrita por teólogos
adventistas em Die Taufe: Theologie und Praxis, Roberto Badenas, ed. (Bern: Advent-Verlag, 2002);
ver também a tradução para o francês em La théologie et la Pratique du Baptême, ed. Richard
Lehmann (Dammarie-les-Lys: Vie et Santé, 2002).
2 Donald A. Hagner, Matthew 14–28 (Dallas, TX: Word, 1995), p. 886.
3 Sobre a perspectiva adventista acerca do batismo de bebês, ver Herbert Kiesler, “As Ordenanças:
Batismo, Lava-Pés e Ceia do Senhor”, em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, Raoul
Dederen, ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 651, 652; Daniel Heinz e Johann Heinz,
“Ursprung und Entwicklung der Säuglings – und Kindertaufe in der Alten Kirche bis zu Augustinus”,
em Badenas, p. 93-107.
4 Sobre a história e os aspectos teológicos do rebatismo na Igreja Adventista, ver Frank M. Hasel,
“Taufe und Tauferneuerung in der Adventgemeinde – Theologische und Historische Aspekte”, em
Badenas, p. 131-149.
5 Richard M. Longnecker, “Acts of the Apostles”, em The Expositor’s Bible Commentary, Frank E.
Gaebelein, ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1990), v. 9, p. 493.
6 R. C. H. Lenski, Interpretation of the Acts of the Apostles (Mineápolis, MN: Augsburg, 1962), p.
779.
7 F. F. Bruce, Epistle to the Hebrews (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1964), p. 114, 115; Donald
Guthrie, Hebrews: An Introduction and Commentary (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1983), p. 15,
138, 139.
8 Cf. R. McL. Wilson, A Critical and Exegetical Commentary on Colossians and Philemon (Nova
York: T&T Clark, 2005), p. 206.
9 Cf. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p.
51, 52.
10 Tertuliano, “On Baptism”, em Ante-Nicene Fathers, 10 v. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995), v.
3, p. 669-670.
11 Tertuliano, “On Baptism”, em Ante-Nicene Fathers, v. 3, p. 670.
12 Tertuliano, “On Baptism”, em Ante-Nicene Fathers, v. 3, p. 671.
13 Tertuliano, “On Baptism”, em Ante-Nicene Fathers, v. 3, p. 678, 679.
14 Philip Schaff, History of the Christian Church, 8 v. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1962), v. 2, p.
261, 262. Em seu período inicial, a igreja era um movimento missionário no mundo pagão. Por isso, o
batismo de adultos era a principal maneira de ingressar na igreja. Ninguém sabe quando o batismo de
bebês foi inaugurado, mas é possível argumentar que isso possa ter acontecido bem antes de Cipriano,
ou seja, que não foi ele quem deu início à prática.
15 Cipriano, “Concerning the Baptism of Heretics”, Ante-Nicene Fathers, v. 5, p. 565-572.
16 Agostinho, “On Baptism, against the Donatists”, Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian
Church, 14 v. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1997), v. 4, p. 411-514.
17 Agostinho, “A Treatise on the Merits and Forgiveness of Sin, and On the Baptism of Infants”,
Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, v. 5, p. 15-78.
18 Tomás de Aquino, Summa Theologica, 5 v. (Westminster, MD: Christian Classics, 1920), v. 4, p.
2380.
19 Aquino, Summa Theologica, v. 4, p. 2380.
20 Aquino, Summa Theologica, v. 4, p. 2415.
21 A. R. Wentz e H. T. Lehmann, ed., Luther’s Works (Filadélfia, PA: Fortress, 1959), v. 36, p. 59; cf.
“Todos os sacramentos foram estabelecidos para alimentar a fé” (v. 36, p. 61).
22 Wentz e Lehmann, ed., Luther’s Works, v. 35, p. 38.
23 Wentz e Lehmann, ed., Luther’s Works, v. 36, p. 64.
24 Wentz e Lehmann, ed., Luther’s Works, v. 36, p. 73.
25 João Calvino, A Instituição da Religião Cristã (São Paulo: Unesp, 2009), v. 2, p. 751.
26 Martin Chemnitz, Examination of the Council of Trent (St. Louis, MO: Concordia, 1978), v. 2, p.
139.
27 Chemnitz, Examination of the Council of Trent, p. 139-142.
28 Walter M. Abbott, ed., The Documents of Vatican II, (Piscataway, NJ: New Century, 1966), p. 160.
29 Abbott, ed., The Documents of Vatican II, p. 32, 33.
30 Catecismo da Igreja Católica, Edição de Bolso (São Paulo: Edições Loyola, 2000), p. 340.
31 Catecismo da Igreja Católica, p. 348.
32 Catecismo da Igreja Católica, p. 351.
33
Cf. Dederen, “A Igreja”, Tratado de Teologia, p. 616, 617. Ver uma análise mais detalhada da
relevância teológica do conceito adventista de batismo em Rolf J. Pöhler, “Die Theologische
Bedeutung der Taufe und Ihre Implikationen nach dem Zeugnis des Neuen Testaments”, Die Taufe, p.
159-192; e Hasel, p. 121-134.
34 Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 666-671.
Sobre uma exposição mais detalhada do conceito do conflito cósmico, ver Frank B. Holbrook, “O
Grande Conflito” em Tratado de Teologia, p. 1070-1112.
35 Sobre uma análise detalhada das questões relacionadas ao lava-pés com base em uma perspectiva
bíblica, histórica e adventista, ver Cène et Ablution des Pieds, ed. Comité de Recherche Biblique
(Dammarie-lès-Lys: Vie et Santé, 1991).
36 Sobre a relevância e importância dessa ordenança, ver Jean Zurcher, “L’ablution des Pieds est-elle
Encore Nécessarie?”, Comité de Recherche Biblique, p. 217-228. Ver o debate sobre essa prática na
Igreja Adventista em Bernhard Oestreich, “Histoire de l’Interprétation de L’ablution des Pieds dans
l’Eglise Adventiste”, Comité de Recherche Biblique, p. 171-215.
37 “A natureza servil do lava-pés aos olhos dos judeus é vista em sua inclusão entre as tarefas que os
escravos judeus não deveriam ter a obrigação de fazer. [...] Essa tarefa era reservada aos escravos
gentios, esposas e filhos” (George R. Beasley-Murray, John [Dallas, Tx: Word, 2002], p. 233).
38 Dederen escreveu: “Assim como os discípulos cujos pés calçados com sandálias ficavam
empoeirados e precisavam ser lavados novamente, os cristãos batizados em Cristo e purificados por Seu
sangue, enquanto prosseguem na caminhada da vida cristã, tropeçam e precisam da graça salvadora de
Cristo para se limpar da contaminação. Não precisam se rebatizar: ‘Quem já se banhou não necessita de
lavar senão os pés.’ A ordenança do lava-pés é uma confissão muito necessária de nosso egocentrismo
e de nossa necessidade da graça de Cristo, bem como da renovação de nossos votos batismais”
(“Igreja”, em Tratado de Teologia, p. 620). Cf. Kiesler, “Ordenanças”, p. 658. Alguns manuscritos
gregos do Novo Testamento omitem a expressão “senão os pés”, dando a impressão de que lava-pés
não têm o sentido de purificação (cf. Oestreich, “Histoire de l’Interprétation de L’ablution des Pieds
dans l’Eglise Adventiste”, p. 165, 169). Entretanto, são amplas as evidências em favor de conservar a
expressão; cf. Bruce Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament (Nova York: United
Bible Societies, 1994), p. 204. Cf. Andrew T. Lincoln, The Gospel According to Saint John (Londres:
Continuum, 2005), p. 363, 364, que escreve: “Normalmente, a versão mais curta deve ser preferida ao
julgar essas questões textuais. Também, um número expressivo de eruditos acredita que as
considerações internas eliminam a versão mais longa, pois sua presença significaria que a lavagem dos
pés é trivial em comparação com um banho anterior. Entretanto, esse raciocínio baseado em fatores
internos depende da interpretação que se faz do episódio inteiro e, sobretudo, do v. 10. [...] Além disso,
essa forma específica de argumentação é uma espada de dois gumes, uma vez que torna a versão mais
longa a mais difícil, que também seria normalmente preferida e revela os motivos para ter sido omitida
da tradição por um escriba ou escribas – pensou-se que a expressão não seria coerente com o contexto.
É provável que não haja escapatória de alguma forma de circularidade aqui, uma vez que a
interpretação geral da passagem tanto afeta quanto é afetada pelo texto escolhido. Contudo, parece
melhor começar com a leitura mais longa (que possui comprovação mais forte) e tentar encontrar o
sentido da passagem com base nessa forma.”
39 Cf. Oestreich, “Histoire de l’Interprétation de L’ablution des Pieds dans l’Eglise Adventiste”, p.
153-170.
40 Essa ideia foi desenvolvida por Oestreich, “Histoire de l’Interprétation de L’ablution des Pieds
dans l’Eglise Adventiste”, p. 151-170.
41 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p.
131.
42 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 656.
43 Sobre outras análises feitas por teólogos adventistas, ver Comité de Recherche Biblique, p. 9-148.
44 Ver debate e avaliação dos diferentes contextos propostos para a Ceia do Senhor em Roberto
Badenas, “L’arrière-plan de la Cène”, Comité de Recherche Biblique, p. 9-44.
45 Cf. Leon Morris, I Corinthians: An Introduction and Commentary (Downers Grove, IL:
InterVarsity, 1985), p. 156, 157; Gregory J. Lockwood, 1 Corinthians (Saint Louis, MO: Concordia,
2000), p. 384.
46 Cf. Ben Witherington III, Conflict & Community at Corinth: A Socio-Rhetorical Commentary on 1
and 2 Corinthians (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995), p. 248-249.
47
White, O Desejado de Todas as Nações, p. 660.
48 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 661.
49 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 277, 278.
50 Irineu, “Against Heresies”, Ante-Nicene Fathers, v. 1, p. 486.
51 Chemnitz, Examination of the Council of Trent, v. 2, p. 254.
52 Irineu, “Against Heresies”, Ante-Nicene Fathers, v. 1, p. 484.
53 Deus “fala sobre os gentios, a saber, nós, que em todos os lugares oferecemos sacrifícios a Ele, isto
é, o pão da eucaristia e também o cálice da eucaristia” (“Dialogue with Trypho”, Ante-Nicene Fathers,
v. 1, p. 215).
54 Agostinho, “Sermons on Selected Lessons of the New Testament: Sermon XII”, Nicene and Post-
Nicene Fathers of the Christian Church, v. 6, p. 448.
55 Agostinho, “Tractates in the Gospel of John”, Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian
Church, v. 7, p. 172, 173.
56 Agostinho, “Tractates in the Gospel of John”, Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian
Church, v. 7, p. 175.
57 Agostinho, “Treatise Baptism is Called Salvation”, Nicene and Post-Nicene Fathers of the
Christian Church, v. 5, p. 28.
58 Lutero argumentou que Aquino não compreendeu Aristóteles, pois o filósofo “defendia que o
sujeito e seus acidentes são inseparáveis; nenhum pode existir separado do outro” (Wentz e Lehmann,
ed., Luther’s Works, v. 36, p. 29, nota de rodapé, p. 64). Aquino alegava que ocorre uma mudança
substantiva de acidentes (pão e vinho) para o corpo e o sangue de Cristo, enquanto Lutero defendia que
os acidentes (pão e vinho) são inseparáveis do sujeito (corpo e sangue).
59 “Espécie” é um termo filosófico antigo que significa “forma”, não seu sentido biológico moderno.
60 Tomás de Aquino, Summa Theologica, 5 v. (Nova York: Christian Classics, 1981), v. 5, p. 2454.
61 Aquino, Summa Theologica, v. 5, p. 2474, 2475.
62 Aquino, Summa Theologica, v. 5, p. 2514.
63 Council of Trent, v. 2, p. 219.
64 Council of Trent, v. 2, p. 221.
65 Council of Trent, v. 2, p. 276.
66 Council of Trent, v. 2, p. 276.
67 Abbott, The Documents, p. 163.
68 Abbott, The Documents, p. 19, 20.
69 Abbott, The Documents, p. 51.
70 Abbott, The Documents, p. 152.
71 Abbott, The Documents, p. 50.
72 Abbott, The Documents, p. 541.
73 Abbott, The Documents, p. 542.
74 Abbott, The Documents, p. 560.
75 Abbott, The Documents, p. 79.
76 Abbott, The Documents, p. 575.
77 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 811.
78 Abbott, The Documents, p. 155, 156.
79 Catecismo da Igreja Católica, p. 301.
80 Catecismo da Igreja Católica, p. 376.
81 G. C. Berkouwer, The Sacraments (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1969), p. 268.
82 Wentz e Lehmann, ed., Luther’s Works, v. 35, p. 94.
83 Wentz e Lehmann, eds., Luther’s Works, v. 36, p. 29.
84 “Em suma, a missa deve fazer todo tipo de coisa, com exceção de sua obra distintiva, a saber, a fé”
(Wentz e Lehmann, ed., Luther’s Works, v. 35, p. 108).
85 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, v. 2, p. 766, 818, 819.
86 “Esta sagrada refeição é fármaco para os enfermos, consolo para os pecadores, esmola para os
pobres” (Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 816).
87 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 784.
88 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 766, 774.
89 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 803.
90 De maneira objetiva, no pressuposto de Cristo acerca de nossa natureza humana, Ele argumenta
que nós (Nele, em Sua humanidade) participamos da imortalidade divina. Essa é a “admirável
comunicação” – fazendo-se “filho do homem juntamente conosco, fez-nos filhos de Deus juntamente
consigo” (Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 767). “Mas quando aquela fonte de vida começa
a habitar em nossa carne, já não está escondida longe de nós, mas oferece-se claramente, para que
participemos dela. Eis como a carne vivificadora, na qual Ele reside, vem até nós, a fim de que, pela
participação da mesma, sejamos sustentados na imortalidade” (Calvino, A Instituição da Religião
Cristã, p. 772).
91 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 801.
92 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 801, 802.
93 Calvino, A Instituição da Religião Cristã, p. 775-777.
94 João Calvino, Commentary on a Harmony of the Evangelists: Matthew, Mark, Luke, John 1–11
(Grand Rapids, MI: Baker, 1989), v. 17, p. 208.
95 Calvino, Commentary on a Harmony of the Evangelists, v. 2, p. 810.
96 Calvino, Commentary on a Harmony of the Evangelists, p. 839.
97 Ulrico Zuínglio, Reformed Confessions of the 16th Century (Filadélfia, PA: Westminster, 1966), p.
38.
98 G. W. Bromiley, Zwingli and Bullinger, The Library of Christian Classics 24 (Filadélfia, PA:
Westminster, 1953), p. 176.
99 Martinho Lutero, “The Large Catechism”, trads. F. Bente e W. H. T. Dau, Triglot Concordia: The
Symbolical Books of the Evangelical Lutheran Church (St. Louis, MO: Concordia, 1921), p. 565-773.
100 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 187.
101 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 27, 28.
102 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 228. “Note que nem Lucas nem Paulo afirmam que o vinho é
o sangue de Cristo. Por meio disso, percebemos claramente que os outros dois evangelistas apenas
desejavam dizer o mesmo que esses” (Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 229).
103 Ele afirmou: “Basta comparar os dois, e eles se cancelam. Pois o primeiro defende que carne e
sangue estão presentes em virtude da palavra ‘é’. Contudo, se o termo for entendido de maneira literal,
ele acaba destruindo o segundo, que tenta uma interpretação literal, mas afirma, ao mesmo tempo, que
o pão continua a ser pão. Pois se a palavra for entendida de forma literal, o pão não será pão, mas
carne” (Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 191, 192).
104 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 221.
105 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 221.
106 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 216.
107 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 216.
108 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 190.
109 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 192.
110 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 200.
111 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 223.
112 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 205.
113 Ver a contribuição de Oestreich, “Signification”, em Comité de Recherche Biblique, p. 89-118.
114 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 669.
115 White, O Grande Conflito, p. 489.
116 Vatican II, p. 22, 79, 590, 625.
117 “O Verbo de Deus, em Sua natureza humana, não era assim; pois não estava preso ao corpo (ou
gar sunededeto to somati), mas Ele mesmo o manejava, para que estivesse não só Nele, mas também,
na verdade, em tudo. E, embora externo ao Universo, habitava somente em Seu Pai” (Santo Atanásio,
On the Incarnation [Londres: Nutt, 1891], p. 30.
118 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 212, 213.
119 Bromiley, Zwingli and Bullinger, p. 215.
120 “Ao mundo em que Satanás alegava ter domínio, Deus permitiu que Seu Filho viesse como uma
frágil criancinha, sujeito à fraqueza da humanidade. Permitiu que enfrentasse os perigos da vida que
todo ser humano enfrenta; que encarasse o combate como qualquer ser humano precisa encarar, com
risco de fracasso e de ruína eterna” (White, O Desejado de Todas as Nações, p. 49).
9 Apostolicidade da
Igreja
Frank Hasel
DEFINIÇÃO E PERGUNTAS
SIGNIFICADO DA APOSTOLICIDADE EM
DIFERENTES TRADIÇÕES ECLESIÁSTICAS
APOSTOLICIDADE E MISSÃO
ORDENAÇÃO
CONCLUSÃO
1 Conforme o erudito católico romano Herbert Vorgrimmler, a apostolicidade da igreja afirma que “a
igreja existente hoje, a despeito dos acontecimentos e das mudanças históricas, é idêntica, em
substância, à igreja dos apóstolos. Assim como a santidade e a catolicidade da igreja, a apostolicidade
pertence aos marcos identificadores, segundo os quais, na teologia clássica, a ‘igreja verdadeira’ de
Jesus pode ser reconhecida” (Herbert Vorgrimmler, Neues Theologisches Wörterbuch [Darmstadt:
Wisenschaftliche Buchgesellschaft, 2002], p. 56, 57). O teólogo católico romano Ludwig Ott está
convicto de que “dentre todas as confissões cristãs, a Igreja Católica Romana cumpre esses quatro
marcos por si só ou, no mínimo, da melhor maneira possível” (Ludwig Ott, Grundriss der Dogmatik
[Freiburg: Herder, 1957], p. 372).
2 Horst Georg Pöhlmann, Abriss der Dogmatik (Gütersloh: Gerd Mohn, 1980), p. 287.
3 Cf. Sabine Pemsel-Maier, Grundbegriffe der Dogmatik (München: Don Bosco Verlag, 2003), p. 22.
4 Cf. Philip Schaff, The Creeds of Christendom with a History and Critical Notes: The History of
Creeds, 3 v. (Nova York: Harper and Row, 1877), v. 1, p. 28. Essa palavra não se encontra presente no
credo apostólico.
5 Hans Küng, The Church (Nova York: Sheed and Ward, 1967), p. 345.
6 Cf. Wilfried Härle, “Apostolizität”, em Hans Dieter Betz et al., ed., Religion in Geschichte und
Gegenwart, 8 v.(Tübingen: J. C. B. Mohr, 1998), v. 1, p. 654. De maneira semelhante, cf. Alister
McGrath, Christian Theology: An Introduction (Oxford: Blackwell, 1997), p. 491.
7 Cf. Werner Löser, “Apostolic Succession”. Disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/Apostolic_succession>, acesso em 4 de setembro de 2019.
8 Christos Yannaras, Elements of Faith: An Introduction to Orthodox Theology (Edinburgh: T&T
Clark, 2006), p. 140.
9 Eastern Orthodox Catechism, 197, p. 47, citado por Thomas C. Oden, Life in the Spirit: Systematic
Theology, 3 v. (Peabody, MA: Prince Press, 2001), v. 3, p. 358.
10 Já se destacou que, “de acordo com os ortodoxos, o papa desfrutava o status de ‘primeiro entre
iguais’. Isto é, todos os bispos são iguais em essência. Não haveria algo como um episcopus
episcoporum, o ‘bispo dos bispos’. Na Igreja Ortodoxa, alguns bispos – patriarcas, metropolitanos,
arcebispos – desfrutam um status especial em meio a seus irmãos bispos, mas não acima deles”
(Theodore Pulcini, Orthodoxy and Catholicism: What are the Differences? [Chesterton, IN: Ancient
Faith, 1995], p. 7). Pulcini conclui que “a doutrina romana da primazia papal foi uma inovação sem
precedentes no início do cristianismo. Foi formulada como ‘justificativa teológica’ para o poder
político que circunstâncias históricas conferiram à igreja de Roma” (Pulcini, Orthodoxy and
Catholicism, p. 8). Os teólogos ortodoxos creem que o ministério petrino das chaves para o reino é
mantido não só pelo bispo de Roma, mas também pelos bispos de todos os locais (cf. Gregory Rogers,
Apostolic Succession [Ben Lomond, CA: Conciliar, 2000], p. 4). Ver também “Apostolic succession”,
disponível em <https//en.wikipedia.org/wiki/Apostolic_ succession>, acesso em 4 de setembro de 2019,
em que se declara que “a teologia ortodoxa traça uma distinção entre sucessão geográfica ou histórica e
sucessão ontológica ou eclesiológica apropriada. Os bispos de Roma e Antioquia podem ser
considerados sucessores de Pedro no sentido histórico da presença do apóstolo na comunidade
primitiva. Isso não significa que esses bispos são mais sucessores de Pedro do que os outros no sentido
ontológico” (“Apostolic succession”). “Conforme cânones antigos ainda observados na comunhão
ortodoxa, um bispo deve ser consagrado por no mínimo três outros bispos: ‘ordenações de mão única’
não existem. Além disso, os bispos nunca são ordenados ‘de modo geral’, mas somente para uma
comunidade eucarística específica, na devida sucessão histórica e sacramental” (“Apostolic
succession”). Sobre a consagração dos bispos por no mínimo três outros bispos em Yannaras, ver
Elements of Faith, p. 140, 141. Ver a reação ortodoxa às reivindicações papais e da Igreja Católica
Romana ver Michael Whelton, Popes and Patriarchs: An Orthodox Perspective on Roman Catholic
Claims (Chesterton, IN: Ancient Faith, 2006).
11 Cf. Härle, “Apostolizität”, p. 654; Werner Löser, “Apostolic Succession”, em Wolfgang Beinert e
Francis Schüssler Fiorenza, ed., Handbook of Catholic Theology, (Nova York: Crossroad, 1995), p. 27.
12 Härle, “Apostolizität”, p. 654.
13 Isso é destacado de forma sucinta por Otto Karrer, “Apostolizität der Kirche”, em Lexikon für
Theologie und Kirche, Josef Höfer e Karl Rahner, ed. (Freiburg: Herder, 1957), v. 1, p. 765.
14 Löser, “Apostolic Succession”, p. 25.
15 Sobre uma discussão mais detalhada acerca da história do conceito, cf. Carlos Alfredo Steger,
Apostolic Succession in the Writings of Yves Congar and Oscar Cullmann (Berrien Springs, MI:
Andrews University Press, 1993), p. 15-57.
16 Philip J. Hefner, “The Church”, em Christian Dogmatics, Carl E. Braaten e Robert W. Jenson, eds.
(Filadélfia, PA: Fortress, 1984), v. 2, p. 210.
17 Justo L. González, Uma História do Pensamento Cristão: Do Início até o Concílio de Calcedônia,
3 v. (São Paulo: Cultura Cristã, 2004), v. 1, p. 144.
18 Citado por Wilhelm Breuning, “Apostolic Succession”, em Karl Rahner, ed., Encyclopedia of
Theology: The Concise Sacramentum Mundi (Nova York: Crossroads, 1991), p. 38.
19 González, Uma História do Pensamento Cristão, v. 1, p. 144.
20 González, Uma História do Pensamento Cristão, v. 1, p. 144.
21
Citado por Breuning, “Apostolic Succession”, p. 38.
22 Breuning, “Apostolic Succession”, p. 38.
23 González, Christian Thought, v. 1, p. 145.
24 Os adventistas reconhecem, assim como os reformadores do século 16, que a Bíblia é dux (líder),
magistra (professora) e regina (rainha).
25 Cf. Küng, The Church, p. 356, 357.
26 A Igreja Nova Apostólica surgiu por volta da mesma época que a Igreja Adventista do Sétimo Dia,
em 1863, e cresceu até contar com mais de 11 milhões de membros de todos os continentes. Possui
forte orientação escatológica e se considera a igreja apostólica final renovada do tempo do fim, que
aguarda o retorno de Cristo. Liderada por apóstolos eleitos, criou um sistema de orientação apostólica
por meio de apóstolos chefes e distritais. Seus membros acreditam que Cristo transmite Sua Palavra
para nossos tempos por meio dos apóstolos. Essa palavra apostólica consiste em uma segunda fonte de
fé além da Bíblia (cf. Frank M. Hasel, “New Apostolic Church”, em George Thomas Kurian, ed.
Encyclopedia of Christian Civilization [Oxford: Wiley-Blackwell, 2011], v. 3, p. 1658, 1659).
27 Cf. Küng, The Church, p. 355.
28 “Esse Sínodo sagrado ensina que, por instituição divina, os bispos assumiram o lugar dos apóstolos
como pastores da igreja e aquele que os ouve, a Cristo, ao passo que aquele que os rejeita, a Cristo e
Aquele que O enviou (cf. Lc 10:16)” (Walter M. Abbott, ed., The Documents of Vatican II: All Sixteen
Official Texts Promulgated by the Ecumenical Council 1963-1965 [Piscatawa, NJ: New Century,
1966], p. 40).
29 Essa ideia foi expressa com eloquência por Ernst Käsemann no influente artigo “The Canon of the
New Testament and the Unity of the Church”, em Essays on New Testament Themes (Filadélfia, PA:
Fortress, 1964), p. 95-107.
30 Cf. Oden, Life in the Spirit, v. 3, p. 355.
31 Oden, Life in the Spirit, v. 3, p. 352.
32 Já se afirmou corretamente que “nenhuma igreja praticante [...] pode reivindicar santidade ou
apostolicidade a menos que seu sistema doutrinário esteja em conformidade com a Palavra de Deus. E a
igreja é apostólica somente na medida em que toda sua organização é moldada segundo o modelo das
igrejas que os apóstolos fundaram, em tudo aquilo que as Escrituras nos revelam a esse respeito. As
igrejas que mais desejam assumir o título e o caráter de apostólicas são exatamente as que mais se
afastaram de uma adesão fiel à prática que os apóstolos as orientariam a adotar” (William Cunningham,
Historical Theology: A Review of the Principal Doctrinal Discussions in the Christian Church Since
the Apostolic Age [Edinburgh: T&T Clark, 1863], v. 1, p. 25).
33 Cf. Oden, Life in the Spirit v. 3, p. 352.
34 Küng, The Church, p. 354.
35 Cf. Oden, Life in the Spirit, v. 3, p. 350.
36 Ellen G. White afirma: “A maneira por que Cristo trabalhava era pregar a Palavra e aliviar o
sofrimento por obras miraculosas de cura. Estou, porém, instruída de que não podemos agora trabalhar
dessa maneira, pois Satanás exercerá seu poder pela operação de milagres. Os servos de Deus hoje não
poderiam trabalhar mediante milagres, pois espúrias obras de cura, pretendendo ser divina, serão
operadas. Por essa razão o Senhor destinou um meio pelo qual Seu povo deve executar uma obra de
cura física, aliada ao ensino da Palavra. Devem estabelecer-se hospitais, e com essas instituições devem
estar ligados obreiros que façam genuína obra médico-missionária. Estende-se assim protetora
influência em torno dos que vão aos sanatórios em busca de cura” (Mensagens Escolhidas [Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2008], v. 2, p. 54).
37 Cf. “Ordination” em Seventh-day Adventist Encyclopedia (Hagerstown, MD: Review and Herald,
1996), p. 253; e Anexo C nesta obra.
38 Jaroslav Pelikan, A Tradição Cristã: Uma História do Desenvolvimento da Doutrina, A Reforma
da Igreja e o Dogma (1300-1700) (São Paulo: Shedd, 2016), v. 4, p. 237.
39 Lutero foi influenciado por Agostinho nesse assunto de predestinação (cf. Pelikan, A Tradição
Cristã, v. 4, p. 237).
40 Cf. Frank M. Hasel, “O Remanescente na Teologia Adventista Contemporânea”, em Teologia do
Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2012), p. 169-172.
10
O Sacerdócio de Todos os Crentes
Ekkehardt Mueller
Antes do êxodo, parece que os chefes das famílias israelitas atuavam como
sacerdotes. Sob a liderança de Moisés, a tribo de Levi foi separada para servir
no santuário terreno, e os descendentes de Arão foram nomeados sacerdotes
(Êx 28–29; Lv 8). No entanto, Israel como um todo foi chamado de “reino de
sacerdotes” (Êx 19:5, 6). Embora os fiéis, na esfera individual, não servissem
no santuário nem se envolvessem no culto e sistema de sacrifícios, todos
tinham certas funções sacerdotais.
Em Êxodo 19:5 e 6, registra-se parte da aliança feita por Deus com Seu
povo no monte Sinai. O verso 3 foi uma introdução. No verso 4, o Senhor
menciona Seus feitos poderosos e, em seguida, as condições e promessas da
aliança (Êx 19:5, 6). O povo de Israel aceitou a aliança (Êx 19:8) e, pouco
depois, os Dez Mandamentos foram entregues (Êx 20). Embora o povo não
tenha recebido permissão para subir o monte Sinai, todos ouviram Deus falar
a Moisés (19:17-20) e a eles de maneira direta (20:18, 19; Dt 5:23-27). Em
outras palavras, os israelitas tinham acesso ao Senhor.
Há três promessas em Êxodo 19:5 e 6: vocês serão (1) “a Minha
propriedade peculiar dentre todos os povos” (v. 5); (2) “reino de sacerdotes”
(v. 6) 4 e (3) “nação santa” (v. 6). Essas promessas dependiam da obediência.
“A promessa de que Israel seria um reino de sacerdotes enquanto fosse fiel é
um voto de que a nação desfrutaria da proximidade de YHWH e a condição
de santidade que somente um sacerdote vivenciava. [...] Não é a função
sacerdotal que está em destaque, mas o caráter sacerdotal.” 5 Por pertencer a
Deus, Israel também seria um povo “comprometido em todo o mundo com o
ministério da presença de Yahweh” 6 e, por ser um povo santo, seria um
exemplo para as nações. Com base em Êxodo 19:6 (LXX), um erudito
sugeriu que o texto parece enfatizar “uma consciência missionária e a
preocupação em testemunhar ao Umwelt [“arredor”] [...]. A eleição e posse
divina são apresentadas não somente como uma seleção e orientação ao
Senhor, mas também envolvendo um serviço sacerdotal à humanidade”. 7
Além disso, em Êxodo 19:5 e 6, está presente um elemento de coletividade
(“nação santa”, hierateuma na LXX). O texto não é uma declaração polêmica
contra o sacerdócio levítico. Os sacerdotes como classe distinta já são
mencionados no mesmo capítulo (Êx 19:22, 24) e, posteriormente, o
sacerdócio levítico é dedicado oficialmente como ordem separada para o
serviço ao Senhor (Êx 29:28, 29, 39, 40), muito embora o termo “sacerdotes”
se refira ao povo inteiro.
O conceito de Israel como nação sacerdotal em meio aos outros povos
ocorre também em Isaías 61:6. O contexto pode apontar para diversas
características dessa forma de sacerdócio.
1. Esse sacerdócio é formado por pessoas abençoadas pelo Senhor (Is 61:9),
restauradas à sua condição anterior (Is 61:4, 5) e que experimentaram a
justiça, retidão e salvação de Deus (Is 60:16; 61:8, 10; 62:1, 12). O Senhor
fez uma aliança com elas (Is 61:8).
2. Esse sacerdócio é descrito como a noiva do Senhor, que vive em
relacionamento íntimo com Deus e tem acesso a Ele (Is 61:10; 62:4, 5). Ela
exulta em Deus, O louva e O adora. A adoração é uma função sacerdotal (Is
61:3, 10, 11).
3. O Senhor é glorificado por meio dessas pessoas (Is 60:21; 61:3).
4. Elas também são chamadas de “Povo Santo” (Is 62:12), refletindo Êxodo
19:5 e 6, e prefigurando 1 Pedro 1:9. São um povo santo porque Deus é o
Santo de Sião (Is 60:14). Por isso, são convocadas a ter uma vida santa e
cheia de retidão (Is 60:21).
5. Fazer parte de um sacerdócio não é apenas um privilégio, mas aponta
para uma posição de responsabilidade. Os sacerdotes têm uma missão. O
Senhor é a luz desse povo (Is 60:19, 20), e o Messias é seu exemplo (Is 61:1-
3). Por isso, os sacerdotes são chamados para brilhar (Is 60:1, 2), dar exemplo
e ministrar às nações (Is 61:5, 6; 62:10). 8
O Antigo Testamento compreende o sacerdócio de todas as pessoas em
termos de salvação e eleição por Deus. Enfatiza também o chamado à
santidade, obediência, adoração e ao serviço em favor da humanidade para
glória de Deus.
Passagens clássicas
É possível que a doutrina do sacerdócio de todos os crentes já fosse
conhecida durante o início da igreja cristã. De todo modo, ela foi
redescoberta durante a Reforma. As passagens bíblicas clássicas usadas para
apoiar esse conceito são citadas a seguir.
1 Pedro 2:9
O principal texto empregado para apoiar o sacerdócio de todos os crentes é
1 Pedro 2:9, às vezes em conjunto com o verso 5. 13 “Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes Daquele que vos chamou das trevas para a
Sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9).
O contexto de 1 Pedro 2:9 é a passagem mais ampla de 1 Pedro 1:3 a 2:12,
que fala sobre eleição e santidade. No entanto, até mesmo a introdução da
carta contém os temas da eleição (1:1) e santificação (v. 2). Em 1 Pedro 1 e 2,
menciona-se o termo “santo” (hagios) várias vezes. 14 Em 1 Pedro 2:1 a 12,
uma subseção da primeira parte de 1 Pedro, o chamado inicial à conduta e
crescimento do cristão verdadeiro (2:1-3) é sucedido por um debate acerca do
que torna o crescimento possível, a saber, um relacionamento íntimo com o
Senhor e o conhecimento da eleição divina (2:4-10). O verso 4 contém um
comentário sobre Cristo, a “pedra que vive”; o verso 5 também chama os
cristãos de “pedras que vivem”, blocos construtores de uma casa espiritual
para um “sacerdócio santo” (hierateuma). O sacerdócio é melhor
desenvolvido em 1 Pedro 2:9 e 10. A passagem da “pedra” tem natureza
primariamente cristológica; já o texto do “sacerdócio” é eclesiológico. Por
causa do relacionamento com o Senhor e da condição de eleitos, os cristãos
podem crescer e ser motivados a uma vida santa. 15
O contexto do Antigo Testamento para 1 Pedro 2:9 se encontra em Êxodo
19:5 e 6, e Isaías 43:20 e 21. O texto de 1 Pedro 2:9 tem duas partes. Na frase
principal, é feita uma descrição em quatro partes da comunidade de Cristo,
enfatizando sua posição privilegiada. A oração subordinada [“...a fim de
proclamardes...”] se concentra na responsabilidade do povo eleito: seus
membros sentiram o chamado de Deus para sair das trevas e ir para Sua luz.
Assim, a bondade divina e as atividades salvadoras devem ser proclamadas.
Os leitores e ouvintes de Pedro eram, originalmente, “não povo”, mas se
tornaram o povo especial de Deus (1Pe 2:10). 16
Os três termos “raça” (genos), “nação” (ethnos) e “povo” (laos), usados
para descrever a igreja cristã, são paralelos até certo ponto. A primeira
característica da “raça” cristã é que ela é escolhida, ou eleita e chamada (cf. Is
43:20, LXX). Uma vez que Jesus é o escolhido de Deus, Seus discípulos
também são escolhidos. 17 Existe uma relação íntima entre Cristo e Seu
povo. O segundo atributo associado à comunidade cristã tem que ver com o
sacerdócio. Essa característica é única, pois se destaca em meio às outras três
palavras paralelas (“raça”, “nação” e “povo”), apontando na direção de uma
função. Basileion hierateuma, expressão normalmente traduzida por
“sacerdócio real”, também encontrada em Êxodo 19:6 (LXX), pode ser
entendida de maneira diferente. “Sacerdócio” (hierateuma) é um substantivo,
e basileion foi empregado como adjetivo. 18 As outras três descrições da
comunidade messiânica em 1 Pedro 2:9 fazem uso de um substantivo e um
adjetivo, ou de um substantivo e uma expressão preposicionada, que funciona
mais ou menos com função adjetiva. 19 Além disso, o paralelo em 1 Pedro
2:5 fala sobre o “sacerdócio santo” usando um substantivo e um adjetivo. O
mais provável é que basileion, em 1 Pedro 2:9, também deva ser entendido
como adjetivo. 20
O terceiro atributo, “nação santa”, encontrado em Êxodo 19:6, dá destaque
à santidade, assim como ao “sacerdócio santo” de 1 Pedro 2:5. O uso do
termo “santo” em 1 Pedro revela com clareza a conexão entre o Deus santo e
Seu povo. Essa ligação é expressa de maneira explícita em 1 Pedro 1:15 e 16.
A separação de influências negativas e o relacionamento íntimo dos cristãos
com Deus são enfatizados. 21 A comunidade de Cristo é considerada santa,
mas, ao mesmo tempo, é chamada a demonstrar conduta santa. Os cristãos
são aqueles que são chamados a ser santos. 22 Ao levar uma vida santa, o
povo de Deus O glorifica (1Pe 2:12; 4:11).
O último atributo, literalmente “um povo para posse”, nos faz lembrar de
Isaías 43:21. “Conquanto a Terra inteira pertencesse a Deus, o antigo Israel
era seu bem especial, escolhido dentre as nações.” 23 Pedro afirma que isso
também se aplica à igreja de Cristo. Existe um relacionamento muito íntimo
entre Deus e a comunidade messiânica. 24 Esse caráter especial se manifesta
no sacerdócio real e na nação santa.
O sacerdócio cristão é, antes de mais nada, um sacerdócio coletivo. 25 Já se
sugeriu que a ênfase está no aspecto coletivo desse sacerdócio e que a
presença dos conceitos de eleição e santidade também argumenta em favor de
um caráter individual do sacerdócio. Dentre outros motivos, destaca-se que,
no mesmo contexto, Jesus e os cristãos são comparados a pedras (1Pe 2:4, 5).
Essas pedras são vistas – pelo menos por um momento – de maneira
individual. Então elas formam uma casa espiritual. É preciso abrir caminho
para o aspecto individual, muito embora ele não seja predominante. A
perspectiva individual é apoiada por vários outros eruditos. 26
Os quatro atributos destacam que os cristãos sofredores são muito valiosos
para Deus. Pertencem a Ele. Têm privilégios tremendos como povo santo e
escolhido e não devem cair na armadilha de sucumbir a uma baixa
autoestima. Em contrapartida, têm responsabilidades importantes. A
descrição do povo de Deus em quatro partes é importante, talvez até mais do
que a tarefa e ordem que recebem. De acordo com 1 Pedro 2:5, eles oferecem
sacrifícios espirituais 27 e, segundo os versos 9 e 10, proclamam os atos
salvíficos de Deus e Seu chamado das trevas para a luz. 28 A conexão
próxima entre espiritual e “santo” (1Pe 2:5; cf. 1:2) – assim como o
relacionamento entre conduta e fazer o que é certo, no contexto mais amplo –
pode sugerir que os sacrifícios espirituais se referem a um estilo de vida
santo. Assim, o corpo de sacerdotes proclama os atos grandiosos de Deus por
palavras e por um estilo de vida santo. 29
Enquanto alguns eruditos limitam a proclamação a um cenário de
adoração, 30 outros a estendem para além dessa esfera e incluem a missão a
não cristãos. 31 No Novo Testamento, o termo exaggelō ocorre somente em
1 Pedro 2:9 e no final mais curto do evangelho de Marcos (Mc 16:8). Em
Marcos, há uma referência clara à proclamação da mensagem aos outros. A
palavra é relacionada a euaggelizomai e significa “publicar fora” ou
“proclamar solenemente”. 32 O chamado das trevas para a luz de Cristo é
uma linguagem figurada, extraída do judaísmo e usada diversas vezes nesse
sentido no Novo Testamento. 33 Também pode apontar para o batismo. 34 A
iniciativa da salvação pertence a Deus. É por Sua misericórdia e graça que
Ele chama as pessoas para ser Seu povo. Entretanto, por serem chamadas,
elas são desafiadas a ser santas (1Pe 1:15), a proclamar a salvação por
intermédio de Cristo (1Pe 2:9), a seguir os passos de Jesus – mesmo em meio
ao sofrimento (1Pe 2:21) – e a receber uma bênção (1Pe 3:9).
Em suma, os cristãos são o povo santo e eleito de Deus (1Pe 1–2). Eles são
chamados e nascem de novo. Receberam privilégios elevados, antes
reservados para o antigo Israel: raça eleita, corpo real de sacerdotes, nação
santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, destinado para a salvação
final. Com esses privilégios, vêm responsabilidades: ter uma vida santa e
proclamar os atos da salvação de Deus. Isso se expressa por meio do conceito
de sacerdócio real. Em essência, as mesmas características encontradas em
Isaías 43 e seu contexto são reiteradas aqui:
1. Esse sacerdócio é escolhido por Deus e recebeu a salvação. É formado
pelos seguidores do Messias.
2. Por ser propriedade do Senhor, o povo escolhido desfruta um
relacionamento íntimo com Deus e tem acesso a Ele.
3. Não é formado por solitários, mas por indivíduos com seus dons e
talentos que trabalham juntos para o bem comum.
4. O Senhor será glorificado pela salvação e pelo estilo de vida de Seus
filhos. “O propósito de Deus ao nos redimir não é simplesmente nosso
próprio prazer, mas que O glorifiquemos.” 35
5. Por serem santos, os cristãos vivem em santidade. Por exemplo, abstêm-
se “das paixões carnais” (1Pe 2:11) e mantêm “exemplar o [...]
procedimento” (v. 12). Não praticam a “política da violência” nem caem na
“tentação de fazer vingança”; em vez disso, “incorporam uma política
completamente diferente: a política do bem [...] enraizada e baseada na
bondade misericordiosa e no poder de Deus”. 36 Esse sacerdócio é moldado
por “serviço, misericórdia e perdão, que consistem na verdadeira forma de
justiça pessoal, social e política revelada em Jesus, sendo também, portanto, a
revolução messiânica política a ser desempenhada pela igreja”. 37
6. Seus sacrifícios espirituais podem incluir não só fazer o bem, mas
também se oferecer a Deus (Rm 12:1), prover doações financeiras (Fp 4:18),
além de exaltar e louvar o Senhor (Hb 13:15). 38
7. A proclamação das maravilhas de Deus, de Sua bondade e Seu amor vão
além de uma vida exemplar, incluindo testemunho pessoal e missão. 39
Apocalipse 1, 5 e 20
No livro do Apocalipse, três textos chamam os cristãos diretamente de
“sacerdotes”: Apocalipse 1:6; 5:10 e 20:6. Em Apocalipse 1:6, os seguidores
de Cristo são descritos como “reino, sacerdotes” (basileian, hiereis). Em
Apocalipse 5:6, ocorre uma expressão parecida. Dessa vez, reino e sacerdotes
são ligados por “e”: “Tu os tornaste um reino e sacerdotes” (basileian kai
hiereis). A ideia presente nos dois casos é mais ou menos a mesma. No
entanto, em Apocalipse 20:6, há uma diferença. Embora o termo “sacerdotes”
(hiereis) seja mantido, “reino” é substituído pelo verbo “reinar”
(basileusousin).
Enquanto os dois primeiros textos descrevem o reino e sacerdócio dos
santos como uma realidade presente, em Apocalipse 20, reinado e sacerdócio
são aplicados ao futuro. Enquanto os capítulos 1 e 5 de Apocalipse incluem,
de maneira óbvia, todos os cristãos, à primeira vista, em Apocalipse 20, há
uma referência aos mártires e aos cristãos do tempo do fim que não adoraram
a besta e sua imagem nem receberam sua marca (Ap 20:4). É possível optar
por pelo menos dois grupos: “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles
aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados.”
Os mártires seriam então incluídos no grupo mais amplo de todos os crentes.
Apocalipse 1:6 faz parte da introdução do livro, que resume a mensagem do
livro. Nos versos 4 e 5, a Trindade divina é introduzida. Jesus é mencionado
por último, pois os versos seguintes se concentram Nele. Eles o descrevem
como “a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da
terra” e afirmam o que Ele faz e fez: (1) Ele nos ama (Ap 1:5); (2) nos salvou
por intermédio de Seu sangue (Ap 1:5) e (3) nos transformou em reino e
sacerdotes (Ap 1:6). Após a doxologia, Sua segunda vinda é descrita. No
verso 8, o texto volta-se para Deus Pai. Os destinatários de João deixam de
ser as “sete igrejas que se encontram na Ásia” (Ap 1:4) e passam a ser nós
(Ap 1:5), tornando-se mais pessoal e abrangente. 40 Embora a declaração de
que Jesus nos ama seja encontrada no tempo presente, destacando o amor
constante e infindo de Jesus por nós, a salvação e a criação de um reino e
sacerdotes são eventos que se encontram no passado, ao mesmo tempo em
que são uma realidade presente. 41 É claro que elas dependem da cruz. “Aqui
se descreve o aspecto eclesiológico da obra de Cristo.” 42 A afirmação
acerca de reino e sacerdotes se baseia tanto em Êxodo 19:6 quanto em 1
Pedro 2:9. A linguagem é de inauguração no cargo. 43 O termo “reino” deve
ser entendido no sentido ativo, a saber, “reinante”. 44 Entretanto, como
compreender o papel sacerdotal e real dos seguidores de Cristo? Certo erudito
comenta: “Os cristãos cumprem espiritualmente os mesmos ofícios nesta era
ao seguir Seu modelo [de Cristo], sobretudo ao ser testemunhas fiéis que
mediam a autoridade real e sacerdotal de Jesus para o mundo.” 45 Outro
estudioso fala sobre “a ideia de missão” e serviço a Deus. Conforme
Apocalipse 7, a grande multidão servirá ao Senhor em Seu templo celestial.
Além disso, os aspectos sacerdotais incluem “acesso direto a Deus”. 46 Em
contrapartida, o sacerdócio dos cristãos não envolve oferecer sacrifícios
animais, representar a comunidade de crentes ou ser especialistas em
religião. 47 Fica claro que o sacerdócio não depende desses aspectos.
Apocalipse 5:10 faz parte do primeiro hino dirigido a Jesus. 48 Ele é
louvado por Sua morte em sacrifício, por ter comprado para Deus pessoas de
todas as nações e por ter transformado os redimidos em reino e sacerdotes.
Essas declarações remetem a Daniel 7:22 e 23 e a Êxodo 19:6. A condição
dos cristãos de “reino” e “sacerdotes” pode ser paralela à função de Cristo
como Sacerdote-Rei, 49 conforme descreve o Salmo 110 e elabora o livro de
Hebreus. Esses conceitos foram universalizados. 50 No entanto, Apocalipse
5:10 dá um passo a mais, construindo uma possível ponte até Apocalipse
20:6, ao usar o tempo verbal futuro, “e reinarão sobre a terra”
(basileusousin). Os cristãos já são santos e têm um sacerdócio, mas seu
ministério tem dimensão futura. 51 “Os santos são, na esfera coletiva, um
‘reino’ e, na individual, ‘sacerdotes’. Os sacerdotes O servem [a Deus] em
adoração e testemunho.” 52 O texto de Apocalipse 20:4 e 6 se refere com
toda clareza ao tempo durante e após o milênio. Nesse caso, o conceito de
reino e sacerdócio também inclui um aspecto futuro. “Reinarão” se repete em
Apocalipse 22:5.
O Apocalipse difere de 1 Pedro pelo fato de “sacerdócio” não ser
empregado; em vez disso, encontramos o termo “sacerdotes”. Isso pode
permitir, até certo ponto, uma perspectiva individual, mas o termo “reino” e o
plural “sacerdotes” apontam, em primeiro lugar, para uma compreensão
coletiva desses versos. A comunidade cristã forma os sacerdotes ou, de
acordo com 1 Pedro, o sacerdócio. O que é essa prática sacerdotal/real e de
que maneira ela reflete o papel sacerdotal de Cristo (Ap 1) e Sua função real
(Ap 1:5; 11:15; 17:14; 19:16)?
1. Esses sacerdotes têm acesso a Deus (Ap 1:6; 20:6). 53 O governo é
repetido em Apocalipse 22:5. Nesse contexto, os santos são mencionados
vendo a face de Deus. Isso deixou de ser possível após Adão e Eva serem
expulsos do jardim do Éden, mas voltará a se tornar realidade no futuro.
2. Eles adoram a Deus. Por exemplo, a primeira declaração sobre o
sacerdócio dos crentes é encontrada no contexto de adoração (Ap 1:6). A
segunda declaração é sucedida por toda a criação – inclusive os reis-
sacerdotes – adorando a Deus Pai e ao Cordeiro (Ap 5:13). Eles também são
absorvidos pela oração (Ap 5:8). 54
3. Por serem sacerdotes, estão “engajados em serviço subserviente ao
rei”. 55 A designação dos santos no Apocalipse como sacerdotes-reis pode
formar uma inclusão que se estende desde o início do livro (Ap 1:6; 5:10) até
seu final (Ap 20:4, 6; 22:5). Isso significa, por exemplo, que o remanescente,
a grande multidão e os 144 mil também são reis e sacerdotes. A descrição de
sua atitude e suas funções seria, ao mesmo tempo, uma descrição do caráter,
das funções e atividades dos sacerdotes-reis. As características sacerdotais
incluem obediência e fidelidade (Ap 14:12).
4. Seguindo o exemplo sacerdotal de Cristo, eles cuidam dos outros, os
admoestam e incentivam (Ap 1–3).
5. Por serem reis, eles já reinam e reinarão no futuro (Ap 20:6; 22:5). Isso
inclui cumprir responsabilidades, envolver-se em deveres administrativos,
ajudar a “mediar julgamentos” 56 e tomar decisões.
6. Testemunho e proclamação ou missão são outros atributos importantes
dos reis-sacerdotes (Ap 5:13; 12:11; 14:6-12). 57 Esse sacerdócio está
envolvido no “plano divino de salvação”. 58
Linguagem sacerdotal
A carta aos Hebreus trata especialmente de Cristo como sacerdote e sumo
sacerdote. Além dos levitas e de Melquisedeque, os seres humanos não são
chamados de “sacerdotes” ou “sumo sacerdotes” nessa epístola. Contudo,
pode haver alusões a um sacerdócio de crentes em Hebreus. Em Hebreus
10:22, usa-se o termo “aproximemo-nos” (proserchomai), que, no Antigo
Testamento, é empregado diversas vezes no contexto do ministério dos
sacerdotes. 59 Também fala sobre a cerimônia de aspersão e lavagem. Essa
atividade lembra “a consagração de Arão e seus filhos ao sacerdócio”. 60
Outras alusões são encontradas: “acheguemo-nos”, “estão sendo
santificados”, “possuímos um altar” e “ofereçamos [...] sacrifício” (Hb 4:16;
10:14; 13:10, 15, 16). Essas expressões podem apontar para a comunidade
cristã como um sacerdócio. 61 “Todavia, o sacerdócio dos cristãos é
subentendido, jamais mencionado explicitamente. Isso fica mais claro em
Hebreus 13:15 e 16. [...] No entanto, essa atividade sacerdotal nunca é
considerada expiatória em Hebreus. Em vez disso, trata-se de um resultado e
uma resposta à expiação definitiva realizada por Cristo.” 62 De todo modo,
os cristãos podem se aproximar de Deus e ter acesso direto a Ele por
intermédio de Cristo, seu mediador.
Em Romanos 15:16, Paulo afirma que ele é “servo de Cristo Jesus para
trabalhar em favor dos que não são judeus. Eu sirvo como sacerdote
(hierourgeō) ao anunciar o evangelho que vem de Deus” (NTLH). O verso 16
continua com linguagem cerimonial, 63 retratando os gentios como uma
oferta a Deus. Isso sugere que “os cristãos gentios são a ‘oferta’, e Paulo é o
sacerdote que os oferece ao Senhor”. 64 Nesse contexto, o termo aponta para
a atividade missionária. 65 Além disso, o aspecto individual do sacerdócio do
Novo Testamento é evidenciado. Paulo atua como sacerdote ao proclamar o
evangelho aos gentios. Seu ministério sacerdotal envolve a pregação do
evangelho. 66 Esse papel não se restringe aos líderes da igreja. A expressão
“servir como sacerdote” não é encontrada outra vez no Novo Testamento,
mas é usada por Filo e Josefo para denotar “a oferta sacerdotal de sacrifício
[...] algo que todo o povo pode fazer”. 67 Algumas passagens que falam
sobre um sacrifício espiritual 68 parecem subentender o sacerdócio dos
crentes (Rm 12:1; Fp 4:18; 2:17; 2Tm 4:6).
União fundamental
Mesmo existindo cristãos fortes e fracos, crentes atuantes e ociosos,
ministérios específicos e posições de liderança (1Pe 5:2), há unidade (Ef 4:3-
6) e igualdade fundamentais na igreja. A igualdade básica de todos os salvos
é expressa em Gálatas 3:28. “Fundamentalmente, todos estamos em Cristo,
nos beneficiamos do que Ele fez e somos morada do Espírito.” 69 O termo
laos, “povo”, encontrado, por exemplo, em 1 Pedro 2:9, abrange toda a igreja.
No Novo Testamento, não se faz distinção entre leigos e clérigos, muito
embora sejam reconhecidas as diferentes funções dentro da igreja. 70 A
união da igreja também é enfatizada por meio de várias metáforas, como casa
e templo (1Pe 2:5; 1Co 3:16, 17), noiva (Ap 19:7, 8; cf. Is 61:10) e corpo de
Cristo (1Co 12:12-17). Embora os membros da igreja sejam diferentes, todos
são necessários, importantes e interdependentes. Nenhuma classe especial é
favorecida na igreja. Além disso, nenhum grupo tem privilégios mais
elevados ou carrega sozinho a responsabilidade pela obra da evangelização.
A grande comissão
A eleição ao sacerdócio real carrega consigo a ordem de missão,
proclamação e evangelismo, conforme destacado no parágrafo anterior. Nesse
ponto, é feita uma conexão com a grande comissão de Mateus 28:18 a 20 e
Marcos 16:15. Embora a grande comissão tenha sido proferida para os 11
discípulos restantes após o suicídio de Judas, os cristãos do primeiro século
não entenderam que as palavras de Jesus se aplicavam somente aos apóstolos,
mas a todos Seus discípulos. De acordo com Atos 4:24 a 30, uma oração da
igreja primitiva é registrada pedindo ao Senhor ousadia para pregar a Palavra
de Deus. Em resposta, “todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com
intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (At 4:31). Conforme Atos 8:1 a 4
e 11:19, os cristãos, dispersos pela perseguição, pregavam a palavra por onde
passavam. Áquila e Priscila ensinaram Apolo (At 18:26), e ele, por sua vez,
proclamava publicamente o evangelho (At 18:24, 25).
Até mesmo enquanto Jesus ainda estava vivo, o endemoninhado que
recebeu a cura começou a proclamar (kēryssō, Mc 5:20; Lc 8:38), termo
usado para a proclamação das boas-novas por Jesus, João Batista e os
doze. 71 O Novo Testamento parece indicar que a proclamação do evangelho
não se limita a uma classe específica da igreja – é responsabilidade de todos,
de cada um dos cristãos.
O papel da liderança
A liderança é crucial no Novo Testamento. Os líderes são apóstolos,
anciãos/bispos e diáconos (Tt 1; 1Tm 3). Evangelistas, profetas e
pastores/professores também atuavam em algum tipo de posição de liderança
(Ef 4:11). Os líderes precisavam ser respeitados e obedecidos (1Ts 5:12, 13;
Hb 13:17). Eles devem cuidar da igreja (Hb 13:17); pastorear o rebanho (1Pe
5:2); dirigir as questões eclesiásticas (1Tm 5:17), pregar, ensinar e ler as
Escrituras em público (1Tm 4:13; 5:17); manusear corretamente a Palavra da
verdade (2Tm 2:15); cumprir a obra de um evangelista (2Tm 4:5); incentivar,
repreender e advertir os membros da igreja (1Tm 5:1, 2, 20; 2Tm 2:14); lidar
com as heresias (1Tm 1:3, 4); ordenar anciãos (1Tm 5:22) e transmitir a
mensagem a outros, a fim de formar uma corrente de testemunho (2Tm 2:2).
No que diz respeito ao batismo e à Ceia do Senhor, o Novo Testamento não
parece interessado em prescrever quem deve presidir esses ritos e/ou realizá-
los. A lista de qualidades dos líderes é longa. 75 Em 1 Pedro 5:2 e 3, eles são
admoestados a se mostrar dispostos a servir, não ser gananciosos e não
dominar outros membros da igreja. Em vez disso, deveriam levar uma vida
exemplar. É claro que existia a tentação de fazer mau uso da posição de
liderança.
Em contrapartida, o Novo Testamento revela que as decisões não eram
tomadas por um líder específico, e que não era depositada a autoridade
irrestrita nas mãos de um indivíduo. Em primeiro lugar, havia um concílio de
anciãos (ou presbíteros) que fazia certas escolhas. O concílio de presbíteros
havia imposto as mãos sobre Timóteo para ordená-lo (1Tm 4:14). Líderes da
Antioquia, 76 se não da igreja inteira, 77 ordenaram Paulo e Barnabé (At
13:1-3). 78 Em segundo lugar, no caso da substituição de Judas, Pedro
apresentou a questão à igreja, que propôs dois homens. Um deles foi
escolhido por sorte (At 1:12-26). Os sete foram eleitos pela igreja (At 6:1-6).
O Concílio de Jerusalém decidiu como lidar com os gentios que queriam se
tornar seguidores de Jesus (At 15:22). A remoção da comunhão era feita pela
igreja, não somente pelo líder (1Co 5:1, 3-5). 79 Por fim, era possível
questionar um líder da igreja quando ele era inconsistente e necessitava ser
corrigido (Gl 2:11-16; 3Jo). Em decorrência dessa liberdade, a igreja poderia
até se equivocar em seu questionamento, como os coríntios fizeram com
Paulo, por exemplo (2Co 11). A autoridade da igreja é mantida, não
simplesmente transferida para um ou mais líderes.
Uma tarefa importante dos líderes – talvez a mais crucial – é descrita em
Efésios 4:11 a 13. Os líderes precisam capacitar os “santos para o
desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”. 80 Os
líderes não devem assumir o ministério do restante do corpo de Cristo nem
atrapalhar o ministério de seus colegas. Precisam se certificar de que todos
estejam plenamente desenvolvidos e capazes de usar seus dons espirituais
para edificar a igreja.
Ao passo que os líderes devem ser respeitados, eles não são elevados a um patamar
superior de santidade (todos são chamados de “santos”), muito menos para nível
ontológico diferente de participação no sacerdócio de Cristo. Aquilo que todos os
cristãos têm em comum supera em muito as diferenças criadas entre eles pelos
diferentes dons. 81
CONCLUSÃO
Tradição luterana
Os luteranos não acreditam na distinção ontológica entre clero e leigos. 11
Martinho Lutero cria que a essência cristã “não consiste na participação
maior ou menor em Deus, mas somente no batismo, no evangelho e na
fé”. 12 Os pastores luteranos não estão mais próximos de Deus do que a
congregação. Isso porque “todos os cristãos são verdadeiramente de
estamento espiritual [em vez de mundano], e não há qualquer diferença entre
eles a não ser exclusivamente por força do ofício”. 13 Uma vez que é
somente o cargo que diferencia o ministro, não ocorre uma mudança
ontológica em sua natureza. Se deixar de ser servo da Palavra, o pastor
luterano se torna um congregante comum. 14
O “principal foco” do ministério luterano é a “salvação das almas”. 15 “O
ofício pastoral envolve tanto a função de pastoreio quanto a do ensino.” 16
Ao ensinar, o ministro confia a doutrina “a indivíduos designados, a fim de
que seja preservada intacta”. 17 O ministro tem autorização para agir em prol
da congregação. 18 Por questão de ordem, o ministro é aquele que proclama
a Palavra e administra os sacramentos. 19 O papel do pastor não é litúrgico
no sentido sacerdotal católico, no qual os sacramentos requerem a mediação
de um sacerdote. 20 Por meio dos sacramentos, o ministro exercita, em favor
dos leigos, os recursos da graça, ao passo que, no catolicismo romano, os
sacramentos transmitem graça.
A principal função do ministro luterano pode ser resumida em uma palavra:
“servo”. “Lutero colocava no centro de seu conceito dos ofícios não o
senhorio, mas a atitude de servo.” 21 A autoridade do ofício, em vez de ser
uma reivindicação de poder, consiste em “uma poderosa reivindicação de
fraqueza”, de serviço. 22 Essa autoridade, inserida no contexto do sacerdócio
do crente, “nada mais é do que a transferência de autoridade do sacerdócio
inteiro de todos os crentes para um indivíduo”. 23 Todos os cristãos são
sacerdotes dentro de seu respectivo trabalho ou ofício, mas nem todos são
pastores. Logo, permanecem as distinções de autoridade. 24 A autoridade do
ministro luterano reside no ofício e “a igreja local é o centro da
autoridade”. 25 A administração eclesiástica luterana é congregacional, de
forma geral, 26 embora a Comunhão de Porvoo tenha criado uma
ramificação das igrejas luteranas que reivindica sucessão apostólica. 27
Em suma, a natureza do pastor luterano é ontologicamente indistinta da dos
leigos. O ministro luterano não recebe um caráter indelével que não possa ser
apagado. Em vez disso, quando não está mais no lugar de ministro, torna-se
um congregante normal. A função do ministro é servir por meio da pregação,
do ensino e da ministração dos sacramentos. A autoridade do ministro não
reside no indivíduo, mas no ofício pastoral, que é delegado pela congregação.
Como representante delegado da congregação inteira, a autoridade do pastor
excede a autoridade individual dos leigos, mas não difere em tipo. Todos os
cristãos são chamados a fazer o que o pastor faz. Porém, para fins de ordem,
sobretudo na adoração e no serviço coletivos, o ministro recebe
responsabilidade de liderança.
Tradição anabatista
Dentre todos os reformadores do século 16, os anabatistas foram os
praticantes da forma mais completa de sacerdócio de todos os crentes. 28
Cada cristão era pessoalmente responsável pela propagação do evangelho.
Isso contrastava intensamente com as outras igrejas da época. Os católicos
romanos entendiam que a grande comissão de Mateus 28 fora dada para os 12
apóstolos originais, a fim de ser cumprida na conquista religiosa e política do
mundo. Por isso, quase não havia o conceito do dever de cada fiel espalhar o
evangelho. “Os grandes corpos eclesiásticos protestantes, as igrejas de
território em massa do século 16 não estavam muito interessados” em
evangelismo aberto ou missões, “uma vez que todos pertenciam à igreja
‘instituída’ em virtude do batismo infantil”. 29 Mas os anabatistas criam que
todos os cristãos convertidos de verdade eram “servos escolhidos por Deus e
mensageiros que sentiam ter o chamado de propagar sua fé da mesma
maneira que os apóstolos haviam feito na igreja primitiva”. 30 George H.
Williams observa que esse “novo tipo de cristão não era um reformador, mas
um conversor; não um membro, mas um itinerante neste mundo, cuja
verdadeira cidadania estava no Céu”. 31
No que diz respeito à natureza do ministro, a ordenação não era um
sacramento, mas uma mera dedicação ao serviço, na qual a congregação
“separava” os “servos” escolhidos para liderá-la. 32 A Confissão de
Schleitheim (1527) apresenta uma das primeiras descrições anabatistas do
trabalho do ministro. Não havia nenhum indício de teologia sacramental que
tornasse o pastor diferente de seus irmãos na congregação. “O pastor da
igreja deve ser um indivíduo que esteja totalmente de acordo com as regras
de Paulo, que desfrute boa reputação junto àqueles que não pertencem à fé. O
ofício dessa pessoa deve ser ler, exortar e ensinar [a Palavra], advertir,
admoestar ou excluir da congregação, além de dirigir apropriadamente os
irmãos e as irmãs em oração e no partir do pão, bem como em todas as coisas
a fim de cuidar do corpo de Cristo.” 33 “Ele será sustentado pela
congregação que o escolheu em todas suas necessidades, a fim de que aquele
que prega o evangelho também viva dele, conforme o Senhor ordenou.” 34
Essa teologia simples de ordenação permitia que os anabatistas se ajustassem
rapidamente ao sofrimento tão comum de martírio dos pastores de sua
comunidade. 35
A autoridade dos pastores anabatistas vinha das Escrituras e das
congregações a que eles serviam. Ser nascido do Espírito era o elemento
essencial para separar alguém como pastor; a ordenação era um mero
reconhecimento desse elemento espiritual. A ordenação não conferia uma
nova natureza ao pastor nem o tornava superior aos membros da
congregação. Os ministros eram responsáveis por ensinar a Palavra, liderar
nas “ordenanças” (não “sacramentos”) do batismo, lava-pés e Ceia do
Senhor, bem como dirigir a igreja em sua missão de levar o evangelho ao
mundo. Durante seus cultos frequentes (de três a quatro vezes por semana),
após a leitura da Bíblia, aquele “a quem Deus concedeu melhor entendimento
deve explicá-la, enquanto os outros ficam em silêncio e ouvem”. 36
Tradição metodista
Fundado por John Wesley, o metodismo tem forma de organização
episcopal (ou seja, administrada por bispos), mas difere historicamente de sua
raiz anglicana. O termo “conexionalismo” é usado para distinguir a forma de
organização metodista da anglicana, pois a autoridade dos bispos metodistas
“é delegada” pelo corpo de anciãos, não se baseando na sucessão
apostólica. 52 Uma vez que uma das responsabilidades dos bispos é ordenar
e nomear ministros, alguns argumentam que o bispo consiste em uma quarta
ordem de ministros (diácono, ancião, pastor, bispo), embora outros neguem
essa proposta. 53
O ministro recebe autoridade por meio da ordenação, 54 que envolve um
compromisso vitalício, 55 mas não mudança de natureza. O ministro
metodista é “separado, ordenado e licenciado”. 56 No entanto, a natureza
“separada” do ministro não é ontológica – é uma afirmação de que o pastor
recebe o poder do Espírito Santo. 57 Os ministros costumam ser designados
para grupos de duas ou mais congregações, em lugar de apenas uma. Sua
trajetória ministerial é progressiva. Antes de se tornarem “ministros em plena
conexão”, passam pelas funções de acólito, diácono e então ancião. Ao
atingir essa graduação, o pastor é ordenado e pode receber o chamado para
um circuito de igrejas. 58
Os pastores metodistas atuam historicamente como pregadores que realizam
cultos e reavivamento em um circuito de igrejas. O evangelismo (ato de fazer
discípulos, “iniciar pessoas na vida cristã”) 59 costuma ser feito hoje por
evangelistas aprovados pela Conferência. 60
A função do pastor metodista é descrita como um “ministério
quádruplo”, 61 que atua por meio da palavra, dos sacramentos, da ordem e da
adoração. Por intermédio da palavra, o ministro prega, ensina, envolve as
pessoas no estudo e testemunho, realiza aconselhamento com
confidencialidade e visita. 62 Os sacramentos envolvem a realização de
batismos, da Santa Ceia, o treinamento de acólitos, e “outros meios de
graça”, como o casamento, sepultamento, confirmação e recebimento de
membros. 63 A ordem assegura que, por meio do “dom da
administração”, 64 questões organizacionais sejam resolvidas. 65 O serviço
envolve o ministério do serviço, em semelhança com Cristo, bem como a
liderança pastoral diligente para a edificação da igreja. Também inclui a
participação ecumênica, a fim de fazer da “igreja moderna um instrumento
eficaz para a cristianização da sociedade”. 66
Em suma, a ordenação é vitalícia, mas não muda a natureza do ministro.
Em vez disso, é uma licença 67 concedida em reconhecimento da presença
ativa do Espírito Santo na vida do ancião. 68 A função do ministro envolve o
ministério quádruplo da palavra, dos sacramentos, da ordem e da
adoração. 69 A autoridade do ministro é concedida na ordenação, 70 por um
bispo nomeador 71 e um grupo de anciãos eleitores. 72 Esse procedimento
equilibra o conceito hierárquico de autoridade com uma prestação de contas
democrática. 73 A autoridade pastoral continua a ser considerada
“apostólica”, no sentido de que os ministros realizam a obra dos apóstolos da
igreja do 1o século (cf. At 6:2-4). 74
ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ECLESIOLOGIA
ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
Natureza do ministro
No que diz respeito à natureza do ministro, Ellen G. White defende a
igualdade ontológica de todos os crentes. Afirma também que nenhuma
mudança ocorre na natureza do ministro em decorrência da ordenação.
“Muitos alegam que uma posição de confiança na igreja lhes dá autoridade
para ditar o que os outros devem crer e fazer. Essa pretensão não é aprovada
por Deus. O Salvador declara: ‘Vós todos sois irmãos’ (Mt 23:8)” 81 Uma
expressão prática dessa mentalidade é a rejeição do título “reverendo” por
parte dos adventistas do sétimo dia:
Se Cristo estivesse hoje na Terra, rodeado pelos que usam o título de “Reverendo”,
“Reverendíssimo”, repetiria Suas palavras: “Nem sereis chamados guias, porque um
só é vosso Guia, o Cristo” (Mt 23:10). As Escrituras declaram a respeito de Deus:
“Santo e tremendo [“reverendo” dizem outras versões] é o Seu nome” (Sl 111:9). A
que ser humano cabe esse título? Quão pouco o homem revela da sabedoria e da
justiça que essa palavra indica! 82
A comissão do Salvador aos discípulos incluía todos os que creem. Ela abrange
todos os que confiam em Cristo até o fim dos tempos. É um grave erro supor que a
obra de salvar pessoas depende unicamente do pastor ordenado. Todos aqueles a
quem veio a inspiração celestial são depositários do evangelho. Todos os que
recebem a vida de Cristo são mandados 84 a trabalhar pela salvação de seus
semelhantes. Para essa obra, foi estabelecida a igreja; e todos os que tomam sobre si
seus sagrados votos se comprometem a ser colaboradores de Cristo. 85
Esse conceito é difundido em seus escritos.
Todo indivíduo que tenha recebido a Cristo é chamado a trabalhar pela salvação de
seus semelhantes. “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!”
O dever de fazer este convite inclui a igreja toda. Todo aquele que tenha ouvido o
chamado deve fazer ecoar a mensagem pelas colinas e vales, dizendo: “Vem” (Ap
22:17). 86
A obra não é deixada exclusivamente para aqueles que ocupam posições oficiais nem
para os ministros, mas a todos os membros da igreja Cristo concedeu Seu trabalho.
Não deve haver indolentes. 87
Enquanto alguns com talentos especiais são escolhidos para devotar todas as suas
energias à tarefa de ensinar e pregar o evangelho, muitos outros, sobre quem mãos
humanas nunca foram postas em ordenação, são chamados a desempenhar
importante parte na salvação de pessoas. 90
A missão do Salvador é dada a todos os que crerem em Seu nome. Deus deseja
enviar para Sua vinha muitos que não foram consagrados ao ministério pela
imposição das mãos. 91
Deus não Se limita a um homem, ou a um grupo de homens para por eles realizar
Sua obra, mas a todos diz: Vós sois “cooperadores de Deus” (1Co 3:9). Quer isso
dizer que toda a alma que crê deve ter uma parte a desempenhar em Sua sagrada
obra. 94
Em vez de apontar algum deles para ser o líder, Cristo disse aos discípulos: “Não
queirais ser chamados Rabi”; “nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso
Mestre, que é o Cristo” (Mt 23:8, 10).
[...]
A igreja é edificada tendo Cristo como seu fundamento, ela deve obedecer a Cristo
como cabeça. Não deve depender de seres humanos nem ser controlada por homens.
[...] A Rocha da fé é a presença viva de Cristo na igreja. 95
Ellen G. White crê que a autoridade foi transmitida dos apóstolos para a
igreja hoje não por meio da ordenação no episcopado histórico, mas pela
semelhança espiritual à vida e aos ensinos dos apóstolos. Também rejeita a
perspectiva sacramental da ordenação.
Posteriormente, o rito da ordenação mediante a imposição das mãos foi muito mal
utilizado; a esse ato se atribuía uma importância sem fundamento, como se um
poder descesse sobre aqueles que recebiam essa ordenação, habilitando-os
imediatamente para toda e qualquer obra ministerial. Mas, na separação desses dois
apóstolos, não há registro indicando que qualquer virtude tenha sido comunicada
pelo simples ato da imposição das mãos. Há unicamente o singelo relatório de sua
ordenação, e da influência que ela teve em sua obra futura. 97
Tanto Paulo quanto Barnabé já haviam recebido sua missão do próprio Deus, e a
cerimônia da imposição de mãos não acrescentou graça ou qualificação especial. Era
uma forma reconhecida de designar alguém para um cargo específico, bem como um
reconhecimento da autoridade conferida à pessoa. Por ela o selo da igreja era
colocado sobre a obra de Deus.
[...]
Esse gesto era significativo para os judeus. Quando um pai abençoava os filhos,
colocava reverentemente as mãos sobre a cabeça deles. Quando um animal era
destinado ao sacrifício, aquele que estava revestido da autoridade sacerdotal também
colocava a mão sobre a cabeça da vítima. E, quando os dirigentes da igreja de
Antioquia puseram as mãos sobre Paulo e Barnabé, estavam pedindo a Deus que
concedesse Sua bênção aos apóstolos escolhidos, ao serem separados para a obra
específica a que haviam sido designados. 100
Embora ela não veja a ordenação como uma prática sacramental no sentido
católico romano, reconhece que a cerimônia representa a iniciação em uma
nova etapa na vida do ministro:
Há mais uma coisa que quero lhes dizer acerca de algo que sei por causa da luz que
me foi concedida: foi um grande erro irem homens cientes de que são filhos de Deus,
como o irmão Tay, [que] foi para Pitcairn como missionário para fazer a obra, [mas]
sem se sentir na liberdade de batizar por não ter sido ordenado. Isso não é ordem de
Deus, mas arranjo humano. Quando alguém sai com o chamado para trabalhar e
levar almas à verdade, foi ordenado por Deus, [mesmo] que nunca tenha sido
abençoado por uma cerimônia de ordenação. Dizer que esses indivíduos não podem
batizar quando não há outro para fazê-lo [é errado]. Se houver um ministro ordenado
ao alcance, tudo bem. Ele deve ser procurado para realizar os batismos. No entanto,
quando o Senhor trabalhar com um ser humano para ganhar almas aqui e acolá, e
este não souber quando se apresentará a oportunidade para essas pessoas preciosas
serem batizadas, sem dúvida ou hesitação sobre o assunto, ele deve seguir adiante e
batizar essas pessoas. 103
Funções do ministro
Com a ordenação, Paulo e Barnabé foram “autorizados pela igreja, não
somente para ensinar a verdade, mas para realizar o rito do batismo e
organizar igrejas, achando-se investidos de plena autoridade
eclesiástica”. 104 Essa lista de funções inclui três dos quatro elementos do
“ministério quádruplo” proposto pelos metodistas: palavra, sacramentos,
ordem e adoração. 105 “Ensinar” é o ministério da palavra; “batismo”
corresponde ao ministério dos sacramentos (embora não no sentido católico
romano) e “organizar” é o ministério da ordem, o funcionamento adequado
da igreja. Por que Ellen G. White, que cresceu na Igreja Metodista, e manteve
muito em comum com sua antiga denominação, omitiu o ministério da
adoração das funções da “plena autoridade eclesiástica”? Um motivo claro é
que ela não entendia o ministério da adoração como domínio exclusivo do
ministro ordenado. Entre os primeiros metodistas, os ministros eram
pregadores itinerantes, nomeados pela conferência anual a um conjunto de
igrejas. Eles viajavam quase que o tempo inteiro, frequentemente pregando
todos os dias da semana enquanto faziam suas rotas. Muitas igrejas rurais
pequenas só viam o ministro a cada cinco ou seis semanas e, nesse meio
tempo, os cultos semanais eram liderados por leigos das congregações. Uma
eclesiologia não litúrgica e não sacramental não exige a presença de um
ministro ordenado para a realização de cultos de adoração válidos ou
eficazes.
Os primeiros adventistas adotaram um padrão semelhante. Nesse sentido, -
Ellen G. White aconselhou que, se não houvesse ministro presente para
pregar, os leigos deveriam adorar a Deus com cânticos e testemunhos. Não
deveriam esperar um sermão – mesmo que pregado por um ancião leigo –
todo sábado. Isso não quer dizer que a proclamação da Palavra não fosse um
componente essencial da adoração adventista, mas que, se nenhum
“pregador” estivesse presente, a “proclamação da Palavra” poderia ser feita
por um leigo que compartilhasse os resultados de seu estudo pessoal da
Bíblia, com a participação do público, em lugar de fazer uma homilia ou um
sermão formal.
Que os grupos menores não pensem que não podem ter culto quando o pastor não
está. Em casos assim, um de seus membros deve se levantar no púlpito e pregar para
eles. O tempo e a hora são muito preciosos. Os cristãos reunidos se encontram na
sala de audiências do Universo celestial. Devem testemunhar de Deus e o Senhor
Jesus Cristo, que deu Sua vida pelo mundo. O grupo pequeno deve servir a Deus ao
Lhe oferecer adoração espiritual. Quando não houver ministro delegado para falar
aos grupos menores, que cada um testemunhe da verdade e fale com fidelidade e
frequência aos outros do amor de Deus, treinando e educando a alma dessa maneira.
Que cada um busque se tornar um cristão inteligente, desempenhando suas
responsabilidades e sua parte para tornar o culto interessante e proveitoso. 106
Ao falar em “agitar-se em torno das igrejas”, ela quer dizer, com toda
clareza, que o pastor estava tentando cumprir a missão da igreja para os
membros, em vez de liderar e instruir os membros rumo à plena participação
na missão da igreja, cada um conforme seus dons. Essa perspectiva é apoiada
por outra declaração acerca do papel do pastor.
O pastor não deve sentir ser seu dever fazer todas as pregações e todos os trabalhos e
todas as orações; cabe-lhe preparar auxiliares, em todas as igrejas. Que pessoas
diferentes se revezem na direção das reuniões, e em dar estudos bíblicos; assim
fazendo, estarão empregando os talentos que Deus lhes deu, e, ao mesmo tempo,
recebendo o preparo para serem obreiros. [...]
Mas muitos pastores falham em conseguir, ou em não tentar, que todos os membros
da igreja se empenhem ativamente nos vários ramos da obra. Se os pastores dessem
mais atenção a pôr e manter seu rebanho ativamente ocupado na obra, haveriam de
realizar mais benefícios, ter mais tempo para estudar e fazer visitas missionárias, e
também evitar muitas causas de atrito. 109
Então ela exalta a Palavra de Deus como o guia infalível para tudo que o
ministro faz e o padrão por meio do qual sua autoridade é testada.
Autoridade do ministro
Uma vez que o ministério cristão consiste em uma extensão do ministério
de Cristo, sua fonte suprema de autoridade é Deus. Cristo declara: “Toda a
autoridade Me foi dada no céu e na terra” (Mt 28:18). “Embora delegue Seu
poder a ministros inferiores, Sua presença vitalizante permanece ainda em
Sua igreja.” 113 A autoridade se origina em Deus e vem aos seres humanos
somente por delegação, por intermédio da igreja em harmonia com as
Escrituras.
Assim, Ellen G. White reconhece uma base tripla da autoridade do
ministro: Deus, a igreja e as Escrituras. 114 “Tudo é feito em nome e pela
autoridade de Cristo. Cristo é a fonte, e a igreja é o canal de
comunicação.” 115 Contudo, a base objetiva e o padrão da autoridade do
ministro são as Escrituras. Ellen G. White destaca corretamente que qualquer
autoridade humana exercida em detrimento da Bíblia concorre com a
autoridade da Palavra de Deus.
Muitos professos ministros do Evangelho [...] elevam sua opinião acima da Palavra;
e as Escrituras que eles ensinam, repousam sobre a autoridade deles próprios. Sua
autenticidade divina é destruída. [...] Deixa-se parecer a Palavra de Deus cheia de
mistérios e trevas, para desculpar as transgressões de Sua lei. Em Seus dias, Cristo
censurava essas práticas. Ensinava que a Palavra de Deus deve ser compreendida por
todos. Apontava às Escrituras como de autoridade inquestionável, e devemos fazer o
mesmo. A Bíblia deve ser apresentada como a Palavra do Deus infinito, como o
termo de toda polêmica e o fundamento de toda fé. 116
A igreja tem o dever, para com os que caem em pecado, de advertir, instruir e, se
possível, restaurar. “Corrige, repreende, exorta”, diz o Senhor, “com toda a
longanimidade e doutrina” (2Tm 4:2). Lidem de maneira fiel com aquele que fez
algo errado. Advirtam toda pessoa que está em perigo. Não deixem que ninguém se
engane. Chamem o pecado pelo seu verdadeiro nome. Declarem o que Deus disse
sobre a mentira, a transgressão do sábado, o roubo, a idolatria e todos os outros
males. “Não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5:21). Se a
pessoa persistir no pecado, o juízo que foi declarado em harmonia com a Palavra de
Deus será pronunciado sobre ela no Céu. Quando o indivíduo escolhe pecar, está
renunciando a Cristo; a igreja [...] deve dizer a respeito do pecado o mesmo que o
Senhor declara. Deve tratar com ele segundo as instruções divinas, e sua ação será
confirmada no Céu. Aquele que despreza a autoridade da igreja despreza a
autoridade do próprio Cristo. 120
Que os pastores tenham amável cuidado pelo rebanho do Senhor. Falem ao perdido
sobre a misericórdia perdoadora do Salvador. Animem o pecador a se arrepender e a
crer Naquele que pode perdoar. Declarem, com a autoridade da Palavra de Deus:
“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda a injustiça” (1Jo 1:9). [...] Que a igreja aceite, de coração
agradecido, o arrependimento do pecador. E que o arrependido seja conduzido das
trevas da incredulidade para a luz da fé e da justiça. Que sua mão trêmula seja
colocada na amorável mão de Jesus. Tal remissão é confirmada no Céu.
Apenas nesse sentido a igreja tem poder de absolver o pecador. A remissão dos
pecados só pode ser obtida por meio dos méritos de Cristo. Nenhuma pessoa ou
grupo de pessoas têm o poder de libertar alguém da culpa. Cristo encarrega Seus
discípulos de pregar a remissão dos pecados em Seu nome entre todas as nações. No
entanto, eles próprios não receberam o poder de tirar uma só mancha de pecado.
“Abaixo do Céu”, o nome de Jesus é o único nome “dado entre os homens, pelo qual
importa que sejamos salvos” (At 4:12). 121
Jesus não [...] concedeu aos apóstolos, nem a seus sucessores, poder para perdoar
pecados. [...] O Salvador ensinou que Seu nome é o único debaixo do Céu mediante
o qual os seres humanos serão salvos. Todavia, Cristo delegou a sua igreja na Terra,
em sua capacidade organizada, o poder de censurar e remover censura segundo as
regras prescritas pela inspiração. Entretanto, essas ações só deveriam ser
executadas por pessoas de boa reputação, consagradas pelo grande Cabeça da igreja;
pessoas que demonstram, em sua vida particular, o desejo intenso de seguir a guia do
Espírito de Deus. 123
CONCLUSÃO
1 H. Ahaus, “Orders, Holy”, Charles G. Herbermann, ed., The Catholic Encyclopedia (Nova York:
Robert Appleton, 1907–1912), v. 11, p. 279.
2 M. J. Ryan, “Character (in Catholic Theology)” em Herbermann, ed., The Catholic Encyclopedia, v.
3, p. 586.
3 Herbermann, ed., The Catholic Encyclopedia, v. 3, p. 587.
4 Herbermann, ed., The Catholic Encyclopedia, v. 3, p. 587.
5 Ahaus, “Orders, Holy” em Herbermann, ed., The Catholic Encyclopedia, v. 11, p. 279.
6 Herbermann, ed., The Catholic Encyclopedia, v. 11, p. 279.
7 Catechism of the Catholic Church (Nova York: Doubleday, 1994–1995), §1.548.
8 Gabriel Audisio, The Waldensian Dissent: Persecution and Survival, c. 1170-1570 (Cambridge:
Cambridge University Press, 1999), p. 56.
9 Curtis V. Bostick, The Antichrist and the Lollards: Apocalypticism in Late Medieval and Reformed
England (Leiden: Brill, 1998), p. 75.
10 P. De Vooght, “Hus, John”, em Wm. J. McDonald, ed., New Catholic Encyclopedia (Nova York:
McGraw-Hill, 1967), v. 7, p. 271, 272; P. De Vooght, “Hussites”, McDonald, v. 7, p. 273-275.
11 Timothy J. Wengert, Priesthood, Pastors, and Bishops: Public Ministry for the Reformation and
Today (Mineápolis, MN: Fortress, 2008), p. 7.
12 Wengert, Priesthood, Pastors, and Bishops, p. 7.
13 Martinho Lutero, “À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão”,
em Obras Selecionadas (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2009), v. 2, p. 282.
14John H. C. Fritz, “Ministerial Office” em Erwin L. Lueker, ed., Lutheran Cyclopedia (Saint Louis,
MO: Concordia, 1954), p. 683.
15 James H. Pragman, Traditions of Ministry: A History of the Doctrine of the Ministry in Lutheran
Theology (Saint Louis, MO: Concordia, 1983), p. 183.
16 David P. Scaer, “The Office of the Pastor and the Problem of the Ordination of Women Pastors”
em Matthew C. Harrison e John T. Pless, ed., Women Pastors? The Ordination of Women in Biblical
Lutheran Perspective (Saint Louis, MO: Concordia, 2008), p. 262.
17 Scaer, “The Office of the Pastor and the Problem of the Ordination of Women Pastors”.
18 John J. Kleinig, “Ministry and Ordination” em Harrison e Pless, ed., Women Pastors?, p. 325.
19 Pragman, Traditions of Ministry, p. 185.
20 Confissão de Augsburgo, Artigo 21, “Do Culto aos Santos”, afirma que Cristo é “o único Salvador,
o único Sumo Sacerdote, Propiciatório e Advogado diante de Deus”. Disponível em
<https://www.luteranos.com.br/textos/a-confissao-de-augsburgo>, acesso em 24 de setembro de 2019
21 Wengert, Priesthood, Pastors, and Bishops, p. 7.
22 Wengert, Priesthood, Pastors, and Bishops, p. 8.
23 Wengert, Priesthood, Pastors, and Bishops, p. 2.
24 Wengert, Priesthood, Pastors, and Bishops, p. 16.
25 Erwin L. Lueker, “Polity, Ecclesiastical”, em Lueker, org., Lutheran Cyclopedia p. 825.
26 Lueker, “Polity, Ecclesiastical”, p. 825.
27 Fundada em 1992, a Comunhão de Porvoo consiste em uma comunhão de 13 igrejas europeias,
anglicanas e luteranas. As igrejas originalmente envolvidas eram as igrejas anglicanas das Ilhas
Britânicas e as igrejas luteranas de países do norte da Europa. The Porvoo Common Statement
(Londres: Council for Christian Unity of the General Synod of the Church of England, 1993).
Posteriormente, as igrejas anglicanas da Espanha e de Portugal aderiram ao acordo.
28 C. Arnold Snyder, Anabaptist History and Theology: An Introduction (Kitchener: Pandora Press,
1995), p. 86, afirma: “A instituição prática mais próxima de um sacerdócio de todos os crentes é
encontrada no início do anabatismo, embora esse fenômeno não tenha durado muito”; cf. p. 46, 47, 225,
366-368, 383.
29 Robert Friedmann, The Theology of Anabaptism (Scottdale, PA: Herald Press, 1973), p. 149.
30 Friedmann, The Theology of Anabaptism, p. 151.
31 George Huntston Williams, The Radical Reformation (Filadélfia, PA: Westminster, 1962), p. 844,
845.
32 Leonard Gross, “The Golden Years of the Hutterites: The Witness and Thought of the Communal
Moravian Anabaptists During the Walpot Era, 1565-1578” em Studies in Anabaptist and Mennonite
History, nº 23 (Scottdale, PA: Herald Press, 1980), p. 173.
33 John H. Yoder, ed., The Schleitheim Confession (Scottdale, PA: Herald, 1977), p. 13.
34 Yoder, ed., The Schleitheim Confession, p. 13.
35 Yoder, ed., The Schleitheim Confession, p. 13, 14.
36 Michael Sattler, “Congregational Order” em The Legacy of Michel Sattler, John H. Yoder, ed.
(Scottdale, PA: Herald, 1973), p. 44; citado em Malcolm B. Yarnell III, ed., Anabaptists and
Contemporary Baptists (Nashville, TN: Broadman and Holman, 2013), p. 30.
37 Sattler, “Congregational Order”, p. 30.
38 Marianne L. Wolfe, “Polity” em Donald K. McKim, ed., Encyclopedia of the Reformed Faith,
(Louisville, KY: Westminster/John Knox, 1992), p. 283.
39 Eduard Thurneysen, A Theology of Pastoral Care (Richmond, VA: John Knox, 1962), p. 53.
40 Thurneysen, A Theology of Pastoral Care, p. 36.
41 J. William Black, Reformation Pastors: Richard Baxter and the Ideal of the Reformed Pastor
(Waynesboro, GA: Paternoster, 1988), p. 91.
42 William V. Arnold, “Pastoral Care”, em Donald K. McKim, ed., The Westminster Handbook to
Reformed Theology (Londres: Westminster John Knox, 2001), p. 164.
43 Arnold, “Pastoral Care”.
44 Thurneysen, A Theology of Pastoral Care, p. 16.
45 Black, Reformation Pastors, p. 37.
46 Black, Reformation Pastors, p. 240, 260.
47 Wolfe, “Polity”, p. 283.
48 Wolfe, “Polity”, p. 283.
49 Wolfe, “Polity”, p. 283.
50 Black, Reformation Pastors, p. 93.
51 Black, Reformation Pastors, p. 260.
52 Bishop W. L. Harris, The Relation of the Episcopacy to the General Conference (Nova York: Hunt
and Eaton, 1888), p. 39.
53 Harris, The Relation of the Episcopacy to the General Conference, p. 40; cf. Scott J. Jones, United
Methodist Doctrine: The Extreme Center (Nashville, TN: Abingdon, 2002), p. 254.
54 Harris, The Relation of the Episcopacy to the General Conference, p. 267.
55 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church (Nashville, TN:
The United Methodist Publishing House, 2012), p. 218.
56 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 217.
57 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 217.
58 Alan K. Waltz, Dictionary for United Methodists (Nashville, TN: Abingdon, 1991), p. 95.
59 Jones, United Methodist Doctrine, p. 282.
60 Waltz, Dictionary for United Methodists p. 92. Esses “ministérios especializados em serviço,
justiça e amor nas congregações locais e no mundo como um todo” são chamados de diaconias (Waltz,
Dictionary for United Methodists, p. 79).
61 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 221.
62 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 267.
63 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 268.
64 James Albert Beebe, The Pastoral Office: An Introduction to the Work of a Pastor (Nova York:
Methodist Book Concern, 1923), p. 120.
65 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 269.
66 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 270.
67 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 217.
68 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 217.
69 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 267.
70 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 267.
71 Waltz, Dictionary for United Methodists, p. 110.
72 Jones, United Methodist Doctrine, p. 254.
73 Beebe, The Pastoral Office, p. 120.
74 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 217; cf.
Jones, United Methodist Doctrine, p. 27.
75 Russell C. Burrill, “Recovering an Adventist Approach to the Life and Mission of the Local
Church” (tese de doutorado em Ministério, Fuller Theological Seminary, 1997), p. 186; cf. p. 193, 201.
76 Burrill apresenta uma síntese histórica bem documentada da mudança, no adventismo, de pastores
itinerantes para pastores-capacitadores e, depois, pastores-cuidadores em Burrill, “Recovering an
Adventist Approach to the Life and Mission of the Local Church”, p. 184-217.
77 Cf. Tom Glatts, “Advantages of a Multi-Church District”, Ministry, outubro de 2012, p. 16-18;
David J. Cook e Ryan L. Ashlock, “A Job for Superman? A Call to Clarify the Role of the Adventist
Minister”, Ministry, fevereiro de 2013, p. 10-14.
78 Burrill, “Recovering an Adventist Approach to the Life and Mission of the Local Church”, p. 198-
211; E. G. White, Manuscript 150, 1901, citado em Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2014), p. 381.
79 Cf. Denis Fortin, Adventism in Quebec: The Dynamics of Rural Church Growth (Berrien Springs,
MI: Andrews University Press, 2004), p. 177-188.
80 Desde os tempos de Ellen G. White, a relação entre ministério e ordenação mudou. O ancião local
ordenado pode batizar e ministrar a santa ceia, se for autorizado pelo presidente da Associação. Antes
de ser ordenado ou comissionado, uma vez que o período de teste e mentoreamento antes da ordenação
continua a ser praticado, o pastor pode realizar as ordenanças da igreja se tiver sido ordenado ancião
local. No entanto, somente um ministro ordenado pode ordenar diáconos e anciãos locais, organizar ou
dissolver igrejas, ou ainda supervisionar a disciplina de membros. Manual da Igreja Adventista do
Sétimo Dia (Silver Spring, MD: Secretariat, General Conference of Seventh-day Adventists, 2010), p.
34-39, 74-76.
81 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p.
414.
82 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 613.
83 Na década de 1970, a maioria das igrejas dos Estados Unidos ainda tinha o costume de usar o título
“Ancião Fulano de Tal” ao se dirigir a um ministro ordenado e “Pastor Fulano de Tal” ao se dirigir a
um ministro não ordenado.
84 Em inglês: “ordenados” (ordained). [N. da T.]
85 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 822 (itálico acrescentado).
86 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 110.
87 Ellen G. White, “Our Duty and Responsibility”, General Conference Bulletin, quarto trimestre de
1896, p. 766.
88 Ellen G. White, “The Necessity of Connection With Christ”, Review and Herald, 7 de maio de
1889, p. 8 (itálico acrescentado).
89 Ellen G. White, “Abiding in Christ” (sermão pregado em 10 de março de 1908), em Manuscript
Releases (Silver Spring, MD: E. G. White Estate, 1990), v. 6, p. 29 (itálico acrescentado).
90 White, Atos dos Apóstolos, p. 355 (itálico acrescentado).
91 White, Atos dos Apóstolos, p. 110 (itálico acrescentado); cf. Ellen G. White, Mensagens aos Jovens
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 226; Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v.
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 6, p. 444; Ellen G. White, Testemunhos Para
Ministros (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 188; Ellen G. White, “Work for the
Master”, Bible Training School, março de 1912, p. 194; Ellen G. White, “A Preparation for the Coming
of the Lord”, Review and Herald, 24 de novembro de 1904, p. 7.
92 Ellen G. White, Medicina e Salvação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1991), p. 165.
93 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), v.
8, p. 236.
94 White, Testemunhos Para Ministros (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), p. 208, 209.
95 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 414 (itálico acrescentado).
96 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 467.
97 White, Atos dos Apóstolos, p. 162 (itálico acrescentado).
98 White, Atos dos Apóstolos, p. 110 (itálico acrescentado); cf. p. 160. Em sua primeira referência à
ordenação de um ministro (evangelista) durante os primeiros anos adventistas sabatistas da igreja, ela
aludiu a essa ordenação como um comissionamento ao ministério. “Irmãos de experiência e de mente
saudável devem congregar-se, e seguindo a Palavra de Deus e sanção do Espírito Santo, devem, com
fervente oração, impor as mãos sobre aqueles que tenham dado plena prova de que receberam o
chamado de Deus, sendo então separados para se devotarem inteiramente a Sua obra. Esse ato mostraria
a sanção da igreja a sua saída como mensageiros para levarem a mais solene mensagem já dada aos
homens” (Ellen G. White, Primeiros Escritos, p. 101).
99 White, Atos dos Apóstolos, p. 161.
100 White, Atos dos Apóstolos, p. 161, 162 (itálico acrescentado).
101 White, Atos dos Apóstolos, p. 164, 165; cf. Ellen G. White, Paulo, o Apóstolo da Fé e da
Coragem (Campinas, SP: Certeza Editorial, 2004), p. 45, 46.
102 Em 1879, a Associação Geral votou que “somente aqueles que foram biblicamente ordenados
estão adequadamente qualificados para ministrar o batismo e outras ordenanças”. G. I. Butler, “Twelfth
Meeting, November 24, 1879, 7 p.m.”, em “Transcription of minutes of GC sessions from 1863 to
1888”, p. 151, 162. Disponível em
<http://documents.adventistarchives.org/Periodicals/GCSessionBulletins/GCB1863-88.pdf>, acesso em
16 de dezembro de 2015.
103 Ellen G. White, “Remarks Concerning the Foreign Mission Work”, Manuscript 75, 1896 (itálico
acrescentado).
104 White, Atos dos Apóstolos, p. 161 (itálico acrescentado).
105 United Methodist Church, The Book of Discipline of the United Methodist Church, p. 221.
106 Ellen G. White, “Witnesses for Christ”, Review and Herald, 10 de setembro de 1895, p. 577, 578.
107 Ellen G. White, Carta 169, 1904, citada em White, Evangelismo, p. 382; cf. White, Atos dos
Apóstolos, p. 369.
108 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 406.
109 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993), p. 197, 198.
110 Por exemplo, ela escreveu a uma igreja pequena em Ligonier, Indiana, em 1880: “Igrejas recentes
podem ter anciãos e diáconos como líderes, escolhidos para ter a missão e o cuidado em relação à
prosperidade da igreja. No entanto, esses homens não podem se sentir na liberdade de usar a própria
opinião e responsabilidade para excluir nomes da igreja. [...] Eles devem se comunicar com aquele que
foi nomeado presidente da Associação e se consultar com ele. No momento designado, após a questão
ser particularmente analisada, com grande sabedoria e no temor de Deus, com muita humildade e
oração fervorosa, deve-se lidar com os faltosos.” Quando “ocorrerem causas de caráter agravante que
exigem ação por parte da igreja [...] a responsabilidade não foi assumida apenas pelo ancião, o
diácono ou qualquer membro da igreja, mas a igreja esperou, com paciência, a ajuda de conselheiros
sábios e então agiu com o maior cuidado” (White, Manuscript Releases, v. 9, p. 193-195 [itálico
acrescentado]).
111 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 516.
112 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 358, 359 (itálico acrescentado).
113 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 166.
114 Ela reconhecia que a autoridade dos ensinos de Lutero provinha de Deus e das Escrituras, por
meio da igreja. Defendeu que a ordenação de Lutero o transformou em um “autorizado mensageiro da
Bíblia” (Ellen G. White, O Grande Conflito [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018], p. 125,
126).
115 White, Atos dos Apóstolos, p. 122. Cf. p. 28.
116 Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 39, 40
(itálico acrescentado); cf. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2008), v. 2, p. 93.
117 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 802-808.
118 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 805.
119 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 805.
120 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 805, 806 (itálico acrescentado).
121 White, O Desejado de Todas as Nações, p. 806 (itálico acrescentado).
122 Ellen G. White, The Spirit of Prophecy (Washington, DC: Review and Herald, 1969), v. 2, p. 273,
274.
123 White, The Spirit of Prophecy, v. 3, p. 244, 245.
124 Cristo incluiu “como missionários a todos os que cressem em Seu nome. Jesus quer que todo
pastor [...] considere a amplitude de Sua obra e coloque a obrigação de pregar o evangelho ao mundo
sobre o grande número de pessoas a quem compete fazê-lo” (Ellen G. White, “There Is a Work for
All”, The Home Missionary, agosto de 1896, p. 182 [itálico acrescentado], citado em Ellen G. White, E
Recebereis Poder [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999], p. 171).
12
Autoridade da Igreja nos Evangelhos e em
Atos
Teresa Reeve
CONCLUSÃO
1 Ver definição e discussão mais detalhada em Bruce Chilton e Jacob Neusner, Types of Authority in
Formative Christianity and Judaism (Londres: Routledge, 1999), p. 541, 542; Bernard Ramm, The
Pattern of Religious Authority (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1959), p. 10; Yves Simon, A General
Theory of Authority (Notre Dame, MI: University of Notre Dame Press, 1980), p. 3-12; John Skinner,
The Meaning of Authority (Washington, DC: University of America, 1983), p. 6.
2 Os conceitos de autoridade institucional, tradicional e carismática foram desenvolvidos pelo
sociólogo Max Weber, Hans Gerth e C. Wright Mills, ed., From Max Weber: Essays in Sociology
(Nova York: Oxford University Press, 1946), p. 295-298. A autoridade por especialização foi
acrescentada posteriormente. Allan G. Johnson, The Blackwell Dictionary of Sociology: A User’s
Guide to Sociological Language (Oxford: Blackwell, 2000), p. 20-23; Richard Sennett, Authority
(Nova York: Random, 1981), p. 20-22.
3 Marcos 1:27; Lucas 10:19; “Exousia”, H. G. Liddell, R. Scott e H. S. Jones, Greek-English Lexicon
(Oxford: Clarendon Press, 1996), p. 599; “Exousia”, W. Bauer et al., A Greek-English Lexicon of the
New Testament and other Early Christian Literature (Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000),
p. 352-353; Werner Foerster, “Εξουσια”, em Gerhard Kittel e Gerhard Friedrich, ed., Theological
Dictionary of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977), v. 2, p. 562-574. Outras
palavras gregas menos comuns relacionadas a autoridade serão debatidas à medida que surgirem no
texto.
4 Lucas 9:1; “Dynamis”, Liddell, Scott e Jones, Greek-English Lexicon, p. 452; “Dynamis”, Bauer et
al., A Greek-English Lexicon of the New Testament and other Early Christian Literature, p. 262, 263.
5 Foerster, “Exousia”, Kittel e Friedrich, ed., Theological Dictionary of the New Testament, v. 2, p.
563.
6 Cf. George W. E. Nickelsburg, Ancient Judaism and Christian Origins: Diversity, Continuity, and
Transformation (Mineápolis, MN: Fortress, 2003), p. 93-95; Alan F. Segal, “The Jewish Experience:
Temple, Synagogue, Home, and Fraternal Groups”, em Community Formation in the Early Church and
in the Church Today (Peabody, MA: Hendrickson, 2002), p. 28-31.
7 Segal, “The Jewish Experience: Temple, Synagogue, Home, and Fraternal Groups”, p. 21-24. Os
sumos sacerdotes também recebiam certa autoridade civil, delegada por Roma. Alguns judeus, como os
essênios, questionavam a autoridade dos sumos sacerdotes da época.
8 Cf. Hanoch Reviv, The Elders in Ancient Near East: A Study of a Biblical Institution (Jerusalém:
Magnes Press, 1989), p. 137-186. Na época do Novo Testamento, os anciãos eram basicamente
desconhecidos em outros lugares, com exceção do Egito e algumas referências na Ásia Menor. Cf.
Benjamin L. Merkle, The Elder and Overseer: One Office in the Early Church (Nova York: Peter
Lang, 2003), p. 39-42; David Miller, “The Uniqueness of New Testament Church Eldership”, Grace
Theological Journal 6 (1985), p. 316.
9 Números 11:11-30; Esdras 10:8, 9; 2 Crônicas 32:3 (LXX); James Tunstead Burtchaell, From
Synagogue to Church: Public Services and Offices in the Earliest Christian Communities (Cambridge:
Cambridge University, 1992), p. 259-263; Merkle, The Elder and Overseer, p. 38, 39, 46, 47.
10 Burtchaell, From Synagogue to Church, p. 228-233; Merkle, The Elder and Overseer, p. 23-39; cf.
R. Alastair Campbell, The Elders: Seniority within Earliest Christianity (Edinburgh: T & T Clark,
1994), p. 21-23.
11 Campbell, The Elders, p. 20-66.
12 Burtchaell, From Synagogue to Church, p. 204-205; Emil Schürer, The History of the Jewish
People in the Age of Jesus Christ (174 BC - AD 135) (Edinburgh: T & T Clark, 1973-1987), p. 428,
429; Segal, “The Jewish Experience: Temple, Synagogue, Home, and Fraternal Groups”, p. 25, 26.
13 O termo synagōgē, assim como a palavra relacionada ekklēsia, é usado na Septuaginta para se
referir à congregação do povo de Deus (Êx 12:3; Sl 74:2; Jr 26:17; Zc 9:12).
14 Mateus 26:59; Marcos 15:1; Lucas 22:66; João 11:47. Os fariseus provavelmente atuassem como
anciãos, sem ocupar um cargo oficial. Cf. Merkle, The Elder and Overseer, p. 38, 39, 46, 47.
15 Everett Ferguson, The Church of Christ: A Biblical Ecclesiology for Today (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1996), p. 130, 131; A. H. M. Jones, The Roman Economy: Studies in Ancient Economic and
Administrative History (Totowa, NJ: Rowman & Littlefield, 1974), p. 11-19. Nas colônias romanas, a
autoridade era mais centralizada nos magistrados e em um conselho de decuriões da elite. Andrew D.
Clarke, Serve the Community of the Church: Christians as Leaders and Ministers (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 2000), p. 11-58.
16 Richard S. Ascough, “Greco-Roman Philosophic, Religious, and Voluntary Associations”, em
Richard N. Longenecker, ed., Community Formation in the Early Church and in the Church Today
(Peabody, MA: Hendrickson, 2002), p. 4-12; Philip A. Harland, Associations, Synagogues, and
Congregations: Claiming a Place in Ancient Mediterranean Society (Mineápolis, MN: Fortress, 2003),
p. 25-54.
17 Ascough, “Greco-Roman Philosophic, Religious, and Voluntary Associations”, p. 12-18; Segal,
“The Jewish Experience: Temple, Synagogue, Home, and Fraternal Groups”, p. 27-28. O termo
episkopos também é usado ocasionalmente na Septuaginta para se referir a líderes, supervisores e
mordomos em Israel (Nm 4:16; 31:14; Jz 9:28).
18 George Eldon Ladd, Teologia do Novo Testamento (São Paulo: hagnos, 2003), p. 148, 149.
19 A palavra basileia, frequentemente traduzida por “reino”, no grego, se concentra no ato de
governar e no poder real, bem mais do que nos aspectos físicos de um reino; ver “Basileia”, Bauer et
al., A Greek-English Lexicon of the New Testament and other Early Christian Literature, p. 168, 169.
20 Apostolos significa literalmente “enviado”. Não se trata de uma designação grega regular. O
judaísmo inicial contava com o termo shālîach (“enviados”), que eram nomeados como representantes
ou emissários autorizados de curto prazo a fim de cumprir diversas tarefas, testemunhando da vontade e
mensagem daquele que os havia enviado. K. H. Rengstorf e Werner Foerster, “Αποστολος”, em Kittel
e Friedrich, ed., Theological Dictionary of the New Testament, v. 1, p. 413-420; J. A. Büehner,
“Apostolos”, Horst Balz e Gerhard Sxhneider, Exegetical Dictionary of the New Testament (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1994), v. 1, p. 142-146. Walter Schmithals, The Office of Apostle in the Early
Church (Nashville, TN: Abingdon, 1969), p. 96-110; Robert M. Johnston, Women in Ministry: Biblical
and Historical Perspectives (Berrien Springs, MI: Andrews University, 1998), p. 47.
21 A escolha dos 70 lembra os 70 anciãos que Moisés escolheu por ordem de Deus para auxiliá-lo
(Nm 11:11-17).
22 Jon Paulien, John (Boise, ID: Pacific Press, 1995), p. 270; Ferguson, The Church of Christ, p. 66.
Os verbos afēte (“perdoar”) e kekratēntai (“reter”) estão no passivo perfeito, não no futuro, sugerindo
que o perdão ou a retenção já foram concluídos no passado por outro, mas os resultados dessa ação
continuam no presente; cf. Julius R. Mantey, “Evidence that the Perfect Tense in John 20:23 and
Matthew 16:19 is Mistranslated”, Journal of the Evangelical Theological Society 16 (1973), p. 129-
138.
23 Mantey, “Evidence that the Perfect Tense in John 20:23 and Matthew 16:19 is Mistranslated”, p.
134. As tentativas de interpretar essa passagem com base em palpites teóricos de identificação das
palavras originais de Jesus em aramaico são interessantes, mas não saem da esfera da adivinhação.
24 A prioridade petrina não foi presumida na igreja primitiva (por exemplo, Origen, “Commentary on
Matthew 12.10, 11”, Ante-Nicene Fathers [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995], v. 9, p. 455, 456; Saint
Chrysostom, “Homilies on Galatians 1:1-3”, Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church:
Second Series [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1997], v. 13, p. 1).
25 Ferguson, The Church of Christ, p. 47-52.
26 Sobre as portas do inferno, confira Jack P. Lewis, “The Gates of Hell Shall Not Prevail against It”,
Journal of the Evangelical Theological Society 38 (1995), p. 349-367.
27 Mateus 16:18, 19. A declaração “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” não fala sobre
autoridade, mas sobre o poder da morte para conter ou reter o povo de Deus. A Septuaginta, por
exemplo, usa o termo hades como tradução da palavra hebraica sheol (o lugar dos mortos), em
referência aos seres humanos que morrem e, em lugar algum, menciona seres malignos residindo ou
saindo dali (Os 13:14). As portas do inferno dizem respeito a estar à beira da morte (Is 38:10). Cf.
Ulrich Luz, Matthew 8–20: A Commentary (Mineápolis, MN: Fortress, 2001), p. 364.
28 Luz, Matthew 8–20: A Commentary, p. 365; Donald A. Hagner, Matthew 14–28 (Dallas: Word,
1995), p. 472-474. Assim como as passagens semelhantes sobre perdoar (e reter) pecados em João 20, a
forma verbal no passivo perfeito dá pistas de uma ação concluída e resultados contínuos, embora o
significado preciso da rara forma verbal no particípio, junto com o verbo auxiliar (literalmente, “será
tendo estado”), é alvo de debates.
29 Conforme declara Eduard Schweizer, Church Order in the New Testament (Naperville, IL: Alec R.
Allenson, 1961), p. 21, “em princípio, todos estão engajados e não há motivo para distinguir entre
cristãos comuns e os que foram chamados para o serviço”. ver John L. McKenzie, “Authority and
Power in the New Testament”, Catholic Biblical Quarterly 26 (1964), p. 417-419.
30 Josef Blank, “The Concept of ‘Power’ in the Church: New Testament Perspectives”, em Power in
the Church, James Provost e Knut Walf ed. (Edinburgh: T & T Clark, 1988), p. 8, 9; as definições entre
colchetes são minhas. De acordo com Donald Guthrie, em Teologia do Novo Testamento (São Paulo:
Cultura Cristã, 1981), p. 720: “Ele não deu muitas indicações acerca da organização eclesiástica, mas
não deixou dúvida de quais deveriam ser os principais objetivos da comunidade de Seus seguidores.”
31 Atos 2:34, 35; 5:31. Lucas retrata uma série dramática de paralelos entre a vida de Jesus e a vida de
Seus seguidores ao narrar, por exemplo, o recebimento do Espírito Santo, um sermão inaugural sobre
cumprimento e rejeição, encontros milagrosos com um aleijado, um centurião e uma pessoa morta. Por
fim, a jornada final de Paulo a Jerusalém, sua prisão e seus julgamentos. Charles H. Talbert, Reading
Acts: A Literary and Theological Commentary on the Acts of the Apostles (Nova York: Crossroad,
1997).
32 Lucas-Atos traça diversos paralelos entre a experiência de Moisés e Israel e a de Jesus e a igreja. A
escolha exata dos Doze lembra os 12 “filhos” de Jacó, apresentando os apóstolos como os novos
“patriarcas” na reconstituição do povo reunido de Deus na nova aliança (Lc 6:13; 22:29-30; At 7:8;
26:6-7; cf. Tg 1:1; Ap 7:4-8; 12:1; 21:12, 14, 21; 22:2); cf. Hans von Campenhausen, Ecclesiastical
Authority and Spiritual Power in the Church of the First Three Centuries (Stanford, CA: Stanford
University Press, 1969), p. 14-16; Luke Timothy Johnson, The Acts of the Apostles (Collegeville, MN:
Liturgical, 1992), p. 39.
33 Hoi adelfoi (“os irmãos”) é uma expressão usada para toda a comunidade de crentes em Lucas-
Atos, enfatizando o relacionamento familiar no qual a igreja primitiva se via debaixo da autoridade de
Deus (cf. At 11:29; 15:1, 23, 32). Diversas passagens desse tipo em Lucas-Atos se referem claramente
tanto a homens como a mulheres (Lc 6:41-42; 8:21; 17:3; At 3:1, 17; 15:3) e a presente observação de
Maria e outras mulheres entre aqueles que se reuniam sempre sugere que isso também se aplica à
“multidão” a que Pedro se dirigiu (At 1:14-16).
34 Atos 2:34, 35; 5:31. A autoridade foi dada aos apóstolos em Atos para testemunhar, não para se
tornar um corpo administrativo permanente. S. Scott Bartchy, Community Formation in the Early
Church and in the Church Today (Peabody, MA: Hendrickson, 2002), p. 98-101.
35 Talbert, Reading Acts, p. 73. To plēthos pode se referir a uma multidão, congregação ou assembleia
deliberativa, ao passo que tōn mathētōn (“os discípulos”) é usado em Atos para se referir a todos os
seguidores de Jesus. Não há evidência de que houvesse uma assembleia eleitoral nesse período da
igreja (Johnson, The Acts of the Apostles, p. 106). Ao que tudo indica, sete líderes eram nomeados às
vezes para cuidar de cidades judaicas.
36
Deus instruiu Moisés a transferir sua autoridade para Josué antes de morrer, impondo as mãos
sobre ele. A imposição de mãos em outras partes da Bíblia também representa uma separação (Nm
8:10, 14) e transferência de (1) poder resultante em cura (Lc 4:40; 13:13) ou bênção (Gn 48:13-15; Mt
19:13); (2) representação, como em ritos de sacrifício (Lv 1:4; 16:21) e, possivelmente, a consagração
de levitas (Nm 8:10); (3) autoridade (Nm 27:20); e (4) o Espírito Santo (Dt 34:9; At 8:17, 19; 19:6). Cf.
Johnson, The Acts of the Apostles, p. 107; Keith Mattingly, “Laying on of Hands in Ordination: A
Biblical Study”, em Women in Ministry: Biblical and Historical Perspectives (Berrien Springs, MI:
Andrews University, 1998), p. 59-69.
37 Campbell, The Elders, p. 141-175. Isso também sugere que uma apresentação sistemática da
estrutura ideal de autoridade e o processo para alcançá-la dentro da igreja não estavam entre as
principais preocupações de Lucas. Guthrie, Teologia do Novo Testamento, p. 745, 746.
38 Campbell, The Elders, p. 159-175 argumenta ainda que os anciãos eram os chefes das casas nas
quais as igrejas nos lares se reuniam, algo mais difícil de apoiar com qualquer grau de certeza.
39 A. M. Farrar, “The Ministry in the New Testament” em The Apostolic Ministry: Essays on the
History and Doctrine of Episcopacy, ed. Kenneth E. Kirk (London: Hodder & Stoughton, 1947), p.
143; Robert M. Johnston, “Leadership in the Early Church During Its First Hundred Years”, Journal of
the Adventist Theological Society 17 (2006), p. 9-11; Miller, “Eldership”, p. 323-325; Francis D.
Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, 7 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2014), v. 7, p. 687, 688; Ben Witherington III, The Acts of the Apostles: A Socio-Rhetorical
Commentary (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998), p. 374.
40 Raoul Dederen, “The Church: Authority and Unity (Supplement)”, Ministry 68 (maio de 1995), p.
3, 4.
41 C. K. Barrett, Acts 1–14 (Londres: T & T Clark, 1994), p. 602, 607. De fato, conta-se que Paulo e
Barnabé relataram para toda a igreja de Antioquia as realizações de sua primeira viagem missionária,
depois que ela terminou, revelando essa conexão coletiva da igreja com a missão (At 14:26-27).
42 Cheritineō significava, no passado, “eleger pelo levantar da mão”, mas foi ampliado para significar
simplesmente “nomear”, sem referência a recursos (cf. Johnson, The Acts of the Apostles, p. 254). A
igreja em tempos posteriores passou a usar o termo para significar “impor as mãos sobre”, mas não é
garantido que esse conceito já existisse na época de Lucas; cf. Campbell, The Elders, p. 166-170.
43 A gramática grega sugere uma sobreposição dos papéis dos apóstolos e anciãos em Atos 15:2, mas
eles são citados separadamente no verso 4.
44 Essa assembleia envolveu a escuta de discursos deliberativos e a ponderação das evidências
(Witherington III, The Acts of the Apostles, p. 450).
45 Ao que tudo indica, esse Tiago é o irmão de Jesus, pois o apóstolo Tiago já havia sofrido martírio
(At 12:2; cf. Gl 1:19).
46 Na LXX, somente Nabucodonosor inicia uma declaração dessa maneira (egō krinō, “eu julgo”) ao
expressar um decreto que deveria ser obedecido por todas as nações sob sua jurisdição (Jr 51:36; Ez
24:14; Dn 3:29).
47 Ladd, Teologia do Novo Testamento, p. 497. Esses quatro itens estão ligados, em sentido geral, às
expectativas do Antigo Testamento relacionadas à associação entre gentios e judeus (Lv 17–18);
Talbert, Reading Acts, p. 138-144; Johnson, The Acts of the Apostles, p. 267-273. Mais evidente e
menos invasiva que a circuncisão, a observância dessas diretrizes pode ter ajudado a minimizar o atrito
com outros judeus até certo ponto (At 15:21). Além disso, as regras também proibiam atos associados à
adoração pagã e suas festas (Witherington III, The Acts of the Apostles, p. 461-466). Essa carta
encontrava precedente na prática judaica da época (Johnson, The Acts of the Apostles, p. 271). A
afirmação acerca da sanção do Espírito pode se basear, pelo menos em parte, no papel desempenhado
pelo Espírito Santo, de acordo com declarações anteriores de Pedro e Tiago.
48 Dederen, “The Church: Authority and Unity (Supplement)”, p. 6, 7. O debate de Paulo acerca da
carne oferecida a ídolos em 1 Coríntios 8–10 pode ser entendido como um debate ampliado de seu
raciocínio semelhante, o de que era recomendável evitar esse tipo de alimento se ofendesse a
consciência dos outros.
49 A autoridade direta de Paulo, da parte de Deus, é afirmada repetidas vezes em Atos, sobretudo
quando ele relata, durante seus discursos de defesa, a história do chamado que recebeu no caminho para
Damasco (At 22:6-16; 26:16-18).
50 Teresa Reeve, “Autoridade da Igreja em Paulo e nos Escritos posteriores ao Novo Testamento”,
nesta obra.
51 Cf. Guthrie, Teologia do Novo Testamento, p. 743, 744. Diferentemente de episkopos, o título
presbyteros é usado nos escritos de Paulo somente em 1 Timóteo e Tito. I. Howard Marshall, The Acts
of the Apostles (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1991), p. 352; Merkle, The Elder and Overseer, p. 127,
128.
52 Merkle, The Elder and Overseer, p. 125, argumenta que Tiago é identificado aqui como líder dos
anciãos, conforme sugere também o concílio de Jerusalém. É impossível determinar com certeza se
Lucas via Tiago como ancião ou possivelmente (como pode ser o caso em Gl 1:19), como apóstolo.
53 Guthrie, Teologia do Novo Testamento, p. 743; Talbert, Reading Acts, p. 35.
54 As Escrituras citadas são apenas breves exemplos, dentre os destacados anteriormente, que
fornecem evidências para a ideia em questão.
13
Autoridade da Igreja em Paulo e nos Escritos
Posteriores do Novo Testamento
Teresa Reeve
1
1 CORÍNTIOS ROMANOS EFÉSIOS
CORÍNTIOS
12:8-10 12:6-8 4:11
12:28
1. palavra da sabedoria 1. apóstolos 1. profecia 1. apóstolos
2. palavra do 2. profetas 2. ministério 2. profetas
conhecimento 3. mestres 3. ensino 3. evangelistas
3. fé 4. milagres 4. exortação 4. pastores e
4. cura 5. cura 5. contribuição mestres
5. milagres 6. socorro 6. presidência
6. profecia 7. governo 7. misericórdia
7. discernimento de 8. línguas
espíritos
8. línguas
9. interpretação de
línguas
Epístolas gerais
Para entender as epístolas gerais, que são cartas breves, é preciso uma
análise comparativamente desenvolvida da eclesiologia encontrada no corpus
paulino mais amplo. No entanto, diversos aspectos da autoridade da igreja,
sobretudo a preocupação crescente em relação ao problema dos falsos
mestres, recebem atenção explícita nessas obras. Além disso, diversos
vislumbres da organização da igreja e das atitudes em relação à autoridade
podem ser reunidos com base nas principais ideias do pensamento de cada
autor.
É possível que o livro de Hebreus, com sua ênfase na superioridade
incomparável de Jesus, forneça o testemunho mais eloquente de Sua
autoridade suprema. Em Hebreus 3:1 a 6, por exemplo, a autoridade de
Moisés como servo na casa de Deus é contrastada com a autoridade de Jesus
como Filho; um contraste especialmente poderoso no contexto da
antiguidade, no qual o filho mais velho só era precedido pelo pai em
autoridade dentro de casa. 34 Assim como as partes do Novo Testamento já
analisadas, os leitores são elogiados por servir (diakoneō) os santos (Hb
6:10), em vez de ir em busca de honra, como era a prática das culturas
vizinhas. A comunidade inteira, não só um grupo de líderes, deve
restabelecer “as mãos descaídas e os joelhos trôpegos” e atentar [episkopeō, a
forma verbal de episkopos] “diligentemente, por que ninguém seja faltoso,
separando-se da graça de Deus” (Hb 12:12, 15).
Em contrapartida, o conselho final de Hebreus contém duas instruções
acerca dos líderes da igreja. Os leitores originais recebem a ordem de lembrar
e imitar a fé dos líderes que os ensinaram no passado e, posteriormente,
obedecer e se sujeitar aos líderes da época, os quais “velam por vossa alma,
como quem deve prestar contas” (Hb 13:7, 17). 35 Esses versos evidenciam
uma distinção reconhecida entre os líderes e outros fiéis, mas não dão aos
líderes um título formal. Os destinatários também são advertidos contra ideias
estranhas, isto é, ensinos que não estão de acordo com as verdades
transmitidas por líderes fiéis, com muita autoridade (Hb 13:9).
A principal preocupação relativa à autoridade encontrada em Tiago diz
respeito a corrigir a atitude da igreja no tocante ao poder daqueles que o
exercem. Ao que tudo indica, Tiago sabia de uma tendência crescente entre
os cristãos de dar honra e preferência desiguais aos ricos, cuja influência e
autoridade na sociedade tinham o potencial de oferecer benefícios
importantes tanto para os cristãos na esfera individual quanto para a igreja.
Tiago lutou intensamente contra essa tendência, condenando o tratamento
preferencial dispensado aos poderosos da sociedade e advertindo os próprios
ricos quanto à sua real insignificância (Tg 1:9, 10; 2:1-7). 36 Desprezando a
“inveja amargurada e sentimento faccioso” em busca de prazer, posição e
poder que ele identificava na raiz de todos os conflitos dentro da igreja, ele
fez um apelo para que os cristãos admitissem sua verdadeira motivação e se
humilhassem “na presença do Senhor” (Tg 3:14; 2:8; 4:1-8).
Em Tiago 3:1, o conselho é: “Não vos torneis, muitos de vós, mestres,
sabendo que havemos de receber maior juízo.” Como em Paulo, o ensino é
reconhecido não necessariamente como um cargo formal, mas como um
papel ministerial reconhecido, ao qual se pode aspirar. Os anciãos também
são mencionados, com o pressuposto de que seus deveres incluem o cuidado
dos cristãos, conforme afirma Tiago: “Está alguém entre vós doente? Chame
os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo,
em nome do Senhor” (Tg 5:14). 37 Tiago fala com a plena certeza de que
essa oração, recebida por todos com fé, seria (em aparente continuação da
autoridade concedida por Jesus a Seus seguidores) eficaz em salvar ou erguer
o doente e em apelar em prol do perdão dos pecados (Tg 5:13-16; cf. Mt
18:18, 19; Lc 10:1, 9; Jo 20:23). 38
As epístolas de Pedro, assim como as de Paulo, começam afirmando de
imediato a autoridade das credenciais do autor como “apóstolo de Jesus
Cristo”. Os cristãos são aconselhados a agir como pessoas livres, ao mesmo
tempo em que honram a todos e se submetem a todas as instituições
humanas, a fim de que “pela prática do bem, façais emudecer a ignorância
dos insensatos” (1Pe 2:15; ver v. 12-17).
Assim como Paulo, Pedro também fala sobre os dons de Deus a cada
cristão, com o propósito de servir (diakoneō) uns aos outros e de exaltar a
glória e o domínio de Cristo (1Pe 4:10-12). 39 Dois dons específicos são
mencionados: falar, que assume certa autoridade quando se trata de falar “de
acordo com os oráculos de Deus”, e servir, que deve ser feito “na força
que Deus supre”.
A primeira carta de Pedro, assim como a de Tiago, presume a presença de
anciãos nas igrejas, a quem ele escreve, exortando em humildade, “na
qualidade de presbítero como eles”, que “pastoreiem o rebanho de Deus”
(1Pe 5:1, 2; cf. v. 1-4; NVI). A menção aqui feita a indivíduos “que lhes
foram confiados” sugere que esses anciãos tinham obrigações formais na
igreja. 40 Sua carta, porém, destaca que Jesus Cristo é o Pastor chefe, usando
as palavras do próprio Jesus em Mateus 20:25 e Marcos 10:42, a fim de fazer
um apelo para que os anciãos não tirassem vantagem de seu papel com o
propósito de ganhar ou dominar sobre os outros. Pedro instrui os anciãos a,
em vez disso, ser exemplos, lembrando todos: “No trato de uns com os
outros, cingi-vos todos de humildade” (1Pe 5:5). 41
Em sua segunda epístola, considerada seu “testamento final”, Pedro busca
clarificar a firme base da autoridade contínua da igreja, uma vez que aquele
era o tempo em que as testemunhas apostólicas estavam falecendo (2Pe 1:13-
15). Após revisitar a própria autoridade como testemunha ocular de Jesus,
Pedro fundamenta a autoridade futura da igreja nas “palavras que,
anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento
do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos” (2Pe 3:1, 2; cf. 1:15-
21).
Assim como a epístola de Judas, 2 Pedro adverte solenemente contra os
falsos mestres, que alegam falar com autoridade da parte de Deus, mas
prometem “liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção”,
desprezando a autoridade legítima (2Pe 2:19; Jd 8).
Advertido quanto às mesmas tendências, Judas convoca toda a igreja a
batalhar “diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos
santos” (Jd 3), instruindo-os: “Compadecei-vos de alguns que estão na
dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também
compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne” (Jd
22, 23).
1 George E. Ladd, Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2003), p. 701-703. Paulo, por
exemplo, repreende Pedro (Gl 2:11) e se sente na liberdade de interpretar a decisão de Atos 15 (Rm
14:13-23; 1Co 8). Mesmo na carta à igreja de Roma, que Paulo não havia fundado, nem sequer
visitado, ele fala com autoridade.
2 Andrew D. Clarke, Serve the Community of the Church: Christians as Leaders and Ministers
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000), p. 209-247.
3 De fato, assim como Jesus (Lc 9:49, 50), Paulo se alegrou com o fato de que até mesmo na pregação
de pessoas com motivos impuros, “Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto,
quer por verdade” (Fp 1:18; cf. v. 12-18).
4 Harold W. Hoehner, Ephesians: An Exegetical Commentary (Grand Rapids, MI: Baker Academic,
2002), p. 284-301; F. F. Bruce, The Epistles to the Colossians, to Philemon, and to the Ephesians
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1984), p. 68, 70, 275-277; Donald Guthrie, New Testament Theology
(Downers Grove, IL: InterVarsity, 1981), p. 760, 761. O polêmico significado da expressão “a qual é o
seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1:23) se encontra além do
escopo deste estudo.
5 Cf. John K. McVay, “Cabeça, Cristo como” em Gerald F. Hawthorne, Ralph Martin e Daniel Reid,
ed., Dicionário de Paulo e Suas Cartas (São Paulo: Paulus, Vida Nova e Loyola, 2008), p. 168, 169.
6 A aparente contradição entre esse ensino e o decreto do Concílio de Jerusalém em Atos 15 é
minimizada quando se entende que o decreto do concílio foi dado, assim como o conselho do próprio
Paulo, com o propósito de evitar ofender os outros, neste caso, os judeus (At 15:21); Francis D. Nichol,
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 6, p.
698, 699; Ángel Manuel Rodríguez, “Matters of Eating and Drinking”, Adventist Review, 12 de março
de 1998, p. 13.
7 J. Kremer, “Pneumatikos”, em Horst Balz e Gerhard Schneider, ed., Exegetical Dictionary of the
New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1994), v. 3, p. 122.
8 Cf. Deuteronômio 17:7, 12; 21:21; 22:21. As ações lastimadas costumam ser expressas no infinitivo
presente grego, denotando ação habitual contínua. A ordem para entregar “esse homem a Satanás” em 1
Coríntios 5:5 (NVI) pode se dirigir a uma comunidade a fim de excluí-lo. Sobre outros significados
possíveis, cf. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 761.
9 Paulo direciona, às vezes, um indivíduo ou grupo a aconselhar cristãos errantes (por exemplo, seu
representante Timóteo, 2Tm 2:25, 26). Entretanto, eles não têm apenas uma função, mas uma série de
ofícios e posições. O apelo de Paulo em 2 Coríntios 2:5 a 11 para perdoar e consolar alguém que fora
punido pode evidenciar o sucesso dessa prática com respeito ao homem culpado de imoralidade sexual,
de 1 Coríntios 5.
10 Os falsos ensinos que mais incomodavam Paulo incluíam tentativas de promover a necessidade de
guardar toda a lei judaica; a ideia de que o dia do Senhor já havia chegado (2Ts 2:1-3; 2Tm 2:18), a
elevação dos anjos a igualdade com Cristo (Cl 2:18, 19) e exercícios arbitrários de ceticismo (Cl 2:20-
23).
11 Joseph A. Fitzmyer, Romans (Nova York: Doubleday, 1993), p. 646, 647; Douglas J. Moo, The
Epistle to the Romans (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1996), p. 764.
12 Ladd, Teologia do Novo Testamento, p. 716-717; Benjamin L. Merkle, The Elder and Overseer:
One Office in the Early Church (Nova York: Peter Lang, 2003), p. 103.
13 Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1987), p. 582-
586; Romans 12:3; Moo, The Epistle to the Romans, p. 758, 764; Hoehner, Ephesians: An Exegetical
Commentary, p. 521, 538-540; Bruce, The Epistles to the Colossians, to Philemon, and to the
Ephesians, p. 345-347.
14 Muitos eruditos da alta crítica, incluindo Hans von Campenhausen, Ecclesiastical Authority and
Spiritual Power in the Church of the First Three Centuries (Stanford, CA: Stanford University Press,
1969), p. 55-76, argumentam que as igrejas de Paulo eram completamente fluidas e orgânicas, lideradas
somente pelo Espírito, por intermédio dos dons que Ele derramava. No entanto, ao passo que a
condução do Espírito seja, de fato, central nas igrejas de Paulo, alguns dos dons do Espírito Santo
envolvem bem mais autoridade do que os outros, e são aqui reconhecidos dessa maneira.
15 O motivo para essa posição é incerto, mas pode estar ligado à compreensão de que os apóstolos
foram: (1) os primeiros obreiros nomeados por Jesus; (2) os primeiros a pregar o evangelho; ou (3) os
principais líderes da igreja do Novo Testamento.
16 Guthrie, New Testament Theology, p. 768, 769; cf. Hebreus 3:1.
17 Cf. Efésios 2:20; 3:5. Os profetas do Novo Testamento tinham a função especial de guiar a igreja
antes do ajuntamento e do reconhecimento das Escrituras do Novo Testamento; cf. Ladd, Teologia do
Novo Testamento, p. 719-721.
18 Não fica claro, nos escritos de Paulo, se esses outros eram avaliadores das profecias, item por item,
ou da confiabilidade dos profetas em si. Isso precisa ser comprovado por meio de princípios bíblicos
mais amplos (por exemplo, Is 8:20).
19 Guthrie, New Testament Theology, p. 770.
20 Merkle, The Elder and Overseer: One Office in the Early Church, p. 112, 113.
21 Paulo também usa o exemplo do pastoreio para argumentar a favor do direito que ele e outros
tinham para apoiar financeiramente sua obra de ministério (1Co 9:7).
22 Se o trabalho do evangelista Filipe, em Atos 21:8, for típico, o ministério do evangelista gira em
torno de comunicar o evangelho para aqueles que ainda não o ouviram ou aceitaram.
23 Timothy Friberg e Barbara Friberg, “Analytical Lexicon to the Greek New Testament”,
BibleWorks (Grand Rapids, MI: Baker, 2000), 6.0; kubērnetēs, o substantivo relacionado, usado para se
referir a um papel, é usado na Septuaginta e no Novo Testamento para aludir sempre ao piloto de um
navio (Pv 23:34; Ez 27:8, 27-28; At 27:11; Ap 18:17).
24 Moo, The Epistle to the Romans, p. 768, 769.
25 “Ancião” em Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, Don Neufeld, ed. (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2016), p. 63, 64; Campenhausen, Ecclesiastical Authority and Spiritual Power
in the Church of the First Three Centuries, p. 76-78. Os cristãos gentios, ao contrário dos judeus, não
tinham a tradição de serem liderados por anciãos, e o termo episkopos pode ter servido para diferenciá-
los dos anciãos judeus (Ben Witherington III, The Acts of the Apostles: A Socio-Rhetorical
Commentary [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998], p. 429). Outra opção é que presbyteros pode ter se
referido a uma característica daqueles que ocupavam o cargo, ao passo que episkopos se referia à sua
principal função.
26 Já se argumentou que, em Tito 1, presbyteros está no plural, ao passo que episkopos se encontra no
singular, referindo-se, portanto, a um único “bispo” que presidia sobre os anciãos. Entretanto, a
mudança para o singular acontece no verso 6, enquanto ainda está em andamento a descrição dos
anciãos que deveriam ser nomeados (Merkle, The Elder and Overseer: One Office in the Early Church,
p. 142-148).
27 Em Romanos 16:1, Febe também é chamada de oficial diakonos da igreja, pois usa um termo
masculino para se referir a ela como diakonos de determinada igreja; Merkle, The Elder and Overseer:
One Office in the Early Church, p. 104-106.
28 Hoehner, Ephesians: An Exegetical Commentary, p. 547-549.
29 Originalmente, cheirotoneō significava eleger por meio de voto por mão erguida, sendo usado no
Novo Testamento somente aqui e em Atos 14:23. Infelizmente, seu sentido no primeiro século é geral
demais para identificar o meio de escolha.
30 George W. Knight III, The Pastoral Epistles: A Commentary on the Greek Text (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1992), p. 208, 209; Jerome Quinn e William C. Wacker, The First and Second Letters to
Timothy: A New Translation with Notes and Commentary (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000), p. 391-
396.
31 Conforme também havia acontecido quando foram impostas as mãos sobre Josué em Números
27:18-23. Quinn e Wacker, The First and Second Letters to Timothy, p. 396-402.
32 Kevin Giles, What on Earth Is the Church? An Exploration in New Testament Theology (Downers
Grove, IL: InterVarsity, 1995), p. 9.
33 Raoul Dederen, “The Church: Authority and Unity (Supplement)”, Ministry 68 (maio de 1995), p.
9.
34 A força dessa metáfora é melhorada pelo uso de oikos, que significa “casa física” ou “família”.
35 Merkle, The Elder and Overseer: One Office in the Early Church, p. 114, 115.
36 Em Tiago 2:6 e 5:4, dois exemplos específicos de abuso de autoridade pelos ricos são citados:
opressão e perseguição injusta.
37 Guthrie, New Testament Theology, p. 781, 782.
38 No Novo Testamento, salvar pode ter o significado de cura física ou salvação espiritual, podendo,
portanto, ser entendido nos dois níveis. Não existe, na passagem, a promessa de cura imediata. Confira
um debate mais aprofundado a esse respeito em Ladd, Teologia do Novo Testamento, p. 783; Nichol,
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 595, 596; Pedrito U. Maynard-Reid, James: True
Religion in Suffering (Nampa, ID: Pacific Press, 1996), p. 215-218; Luke Timothy Johnson, The Letter
of James: A New Translation with Introduction and Commentary (New Haven, CT: Yale University,
1995), p. 332, 334, 342, 344.
39 De igual modo, Pedro afirma que os profetas da antiguidade serviam (diakoneō) a igreja ao
transmitir as mensagens que recebiam (1Pe 1:10-12).
40 Merkle, The Elder and Overseer: One Office in the Early Church, p. 115, 116. Muitos manuscritos
acrescentam a instrução “exercer supervisão” (episkopeō), associando os presbyteroi e os episkopoi,
assim como acontece em Atos e nas epístolas paulinas.
41 Ángel Manuel Rodríguez, “Pastors and Their Flock: A Study of 1 Peter 5:1-4” em Ron du Preez,
Philip Samaan e Ron Clouzet, ed., The Word of God for the People of God: A Tribute to the Ministry of
Jack J. Blanco (Collegedale, TN: Southern Adventist University School of Religion, 2005), p. 395-412.
42 Colin G. Kruse, The Letters of John (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000), p. 203, 204; D. A.
Carson e Douglas J. Moo, Introdução ao Novo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1997), p. 498.
14
Autoridade e Disciplina Eclesiástica
Miroslav Kiš
CHAMADO À SANTIDADE
Santidade na Bíblia
Na Bíblia, a santidade é um chamado ao reconhecimento da distinção
fundamental entre o comum da esfera humana e a singularidade da esfera
divina, seguida de uma vida que leve em conta esses aspectos. Pessoas,
objetivos, lugares, momentos e cerimônias são considerados santos quando
separados para o serviço exclusivo a Deus ou encontrados em Sua presença
(Êx 3:5; 28:36-38). Essa separação é inviolável e absoluta. Enraíza-se na
“alteridade” incorruptível de Deus e emerge do sentido de que a proximidade
divina acarreta, ao mesmo tempo, bênção e ameaça supremas. Logo, o
respeito pela separação entre o santo e o profano não é deixada à mercê de
escolhas e estratégias humanas (Lv 10:10). Da mesma maneira, as
consequências de ignorar e mesclar essas distinções não estão enraizadas em
alguma convenção ou acordo, mas no encontro entre dois estados de ser
essencialmente incompatíveis (cf. Nm 3:4; 2Sm 6:6-9).
A santidade na Bíblia exprime a natureza única e essencial de Deus. Só o
Senhor é santo (cf. Ap 15:4). Entretanto, a santidade não é apenas um de Seus
atributos, é o fundamento de Sua pessoa. Portanto, trata-se da base de tudo o
mais que é declarado acerca de Deus. É necessária para compreender todas as
Suas palavras e ações, é o fundamento de todo significado e toda existência.
A santidade tampouco é um marco estático ou abstrato do caráter divino.
Deus é santo, e isso significa que Seus atos santos provêm de Seu Ser santo.
Aquilo que Ele faz está em plena harmonia com quem Ele é. Sua santidade
exprime justiça, e Seu ser demonstra perfeição moral (At 3:14).
A Bíblia é clara em atribuir santidade a todas as três pessoas da Trindade.
Jesus chama Deus de “Pai santo” (Jo 17:11). O anjo diz para Maria que Jesus
é “o ente santo”, que será chamado “Filho de Deus” (Lc 1:35). Até mesmo
um demônio confessa publicamente que Jesus é “o Santo de Deus” (Mc
1:24). A terceira pessoa da Trindade é designada “Espírito Santo” diversas
vezes, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (cf. Sl 51:13; Mt 12:31).
SANTIDADE E DISCIPLINA
Santidade e disciplina se encontram intrinsecamente ligados na Bíblia. Seja
quando Deus está presente, seja quando existem coisas ou lugares
consagrados a Ele, sempre encontramos a santidade protegida por um
protocolo rígido. O uso leviano do fogo do altar resultou na morte de Nadabe
e Abiú (Lv 10:1-3). Uzá morreu ao colocar a mão para escorar a arca da
aliança (2Sm 6:6-11). Existe, nessas ocasiões, um princípio subjacente:
“Vocês têm que fazer separação entre o santo e o profano, entre o puro e o
impuro” (Lv 10:10, NVI). Somente os indivíduos separados por um estilo de
vida e conduta específicos, consagrados ao serviço do santuário, poderiam se
aproximar da santa presença, entrar em locais sagrados e tocar objetos santos.
A santidade que a Palavra de Deus declara que ele deve possuir antes que possa ser
salvo é o resultado da atuação da graça divina, ao submeter-se à disciplina e às
refreadoras influências do Espírito da verdade. A obediência do ser humano só pode
ser aperfeiçoada pelo incenso da justiça de Cristo, o qual enche com a fragrância
divina cada ato de obediência. A parte do cristão é perseverar em vencer cada falta.
Deve orar constantemente para que o Salvador sare os distúrbios de sua vida enferma
pelo pecado. Nós não temos a sabedoria nem a força necessárias para vencer; isso
pertence ao Senhor, e Ele concede a todos os que, em humildade e contrição, buscam
Sua ajuda. 2
Irai-vos e não pequeis. [...] Aquele que furtava não furte mais. [...] Não saia da vossa
boca nenhuma palavra torpe. [...] E não entristeçais o Espírito de Deus. [...] Longe de
vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.
Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos
outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou (Ef 4:26-32).
CONCLUSÃO
A graça de Cristo opera para disciplina de todo o tecido humano. Foi Ele quem a
todos criou. Ele redimiu a todos. Ele fez a mente, a força, o corpo e a alma para
participarem da natureza divina. Tudo é propriedade exclusiva Dele. Jesus deve ser
servido com toda a mente, todo o coração, toda a alma e todas as forças. Então, o
Senhor será glorificado em Seus santos, mesmo nas coisas comuns e temporais que
estes desempenham. “Santidade ao Senhor” será a inscrição colocada sobre sua
fronte. 7
1 Cf. Rudolf Otto, O Sagrado (São Leopoldo, RS: Sinodal/EST; Petrópolis, RJ: Vozes, 2007).
2 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 532.
3 David Augsburger, Caring Enough to Confront (Ventura, CA: Regal Books, 1985), p. 6-22.
4 Ellen G. White, “A Holy People”, Review and Herald, 15 de março de 1906, p. 8.
5 White, Atos dos Apóstolos, p. 51.
6 Marlin Jeschke, Discipling in the Church (Scottdale, PA: Herald Press, 1988), p. 74-89.
7 Ellen G. White, “The Little Things – nº 1”, Youth Instructor, 14 de abril de 1898, p. 284.
15
Autoridade Eclesiástica: Origem, Natureza e
Função
Ángel Manuel Rodríguez
EM BUSCA DE UM MODELO
Autoridade da mensagem
Não existe missão sem uma mensagem clara, mas o conteúdo da pregação
precisa ser revestido de autoridade. Só assim ela pode causar impacto no
mundo. Desse modo, é necessário que pensemos sobre a questão da
autoridade da mensagem adventista de forma direta e franca. Isso faz surgir a
pergunta: Qual é nossa justificativa para afirmar que nosso conjunto de
crenças tem tanta autoridade que pode ser usado para identificar a presença
de apostasia no mundo cristão, condenar essa heresia, chamar o mundo à
reforma e inspirar esperança com base no evangelho da salvação, por meio de
Cristo? Talvez possamos acrescentar outra pergunta: Como justificar a
reivindicação de que a mensagem que proclamamos contém os elementos
necessários para a raça humana escapar do engano do tempo do fim e
encontrar refúgio em Cristo? Essas declarações cheias de autoridade têm, por
natureza, dimensão global. Queremos que todos os seres humanos ouçam a
mensagem. Sugeriremos que essas reivindicações são feitas com base em
uma convicção fundamental e em uma série de argumentos de apoio.
Lealdade às Escrituras
A reivindicação de autoridade universal da mensagem proclamada pelos
adventistas se fundamenta de forma incondicional nas Escrituras. A
autoridade dessa proclamação advém da lealdade aos ensinos de Cristo. A
autoridade da mensagem da igreja apostólica também se fundamenta em sua
lealdade aos ensinos do Senhor, o Filho de Deus, para quem as Escrituras têm
plena autoridade. Sua mensagem deveria ser proclamada por Seus seguidores
no mundo inteiro (Mt 24:14) e consistia em todas as coisas que Jesus os tinha
ensinado (Mt 28:19). Eles foram testemunhas de Seu ministério e Seus
ensinos, tendo recebido poder Dele para cumprir a missão. A princípio, o
ensino era transmitido principalmente como tradição oral. Isso era de se
esperar em uma época na qual as cartas apostólicas ainda não haviam sido
reunidas em sua forma canônica atual.
Entretando, os ensinos dos apóstolos logo foram resumidos no que é
chamado de regra de fé (lat. regula fidei), usada pela igreja para preservar a
mensagem apostólica e identificar heresias. Posteriormente, ela se tornou o
que parece ser uma ferramenta hermenêutica usada pela igreja para
interpretar as Escrituras. 10
A autoridade dos escritos apostólicos também era reconhecida e, ao lado da
tradição, eram considerados os fundamentos mais importantes para a
autoridade eclesiástica. A isso foi acrescentado o conceito de sucessão
apostólica que garantiria à igreja que a mensagem cristã, fundamentada nas
Escrituras e na tradição, seria preservada e transmitida aos outros sem
corrupção. Nesse modelo, a autoridade eclesiástica é colocada nas mãos da
ministração da igreja. De acordo com esse conceito, as Escrituras não são a
fonte definitiva de autoridade, mas um (ou o principal) de seus componentes.
Um dos pontos fracos desse sistema é que, em termos de autoridade, as
Escrituras e a tradição coexistem sem um método definido de distinção entre
a autoridade de uma e da outra. A regra de fé pode ter sido útil em si mesma
para a igreja em uma etapa bem inicial de seu desenvolvimento, mas não
deveria ter se tornado outra fonte de autoridade além das Escrituras, mesmo
que se considerasse uma declaração baseada na Bíblia. Ela deveria ter sido
vista como algo que apontava para os escritos apostólicos. Isso significa que
a questão da autoridade suprema permaneceu sem solução.
O ensino apostólico, resumido na regra de fé, foi preservado de forma
completa pelos apóstolos em suas cartas para as igrejas, fornecendo assim
uma fonte confiável e cheia de autoridade para a igreja ensinar e instruir.
Uma síntese não pode substituir a autoridade total (ou até mesmo parcial) do
corpo de ensinos que ela resume. A autoridade da igreja deveria se
fundamentar nos ensinos do Senhor e de Seus apóstolos, conforme
apresentam as Escrituras.
A confiabilidade e autoridade da regra de fé e da tradição só podem ser
ratificadas à luz de sua lealdade à fé apostólica, encontrada nos escritos do
Novo Testamento. A tradição em si deveria ter se prostrado em submissão e
lealdade à Bíblia. Isso quer dizer que a autoridade da igreja só se encontra no
compromisso com os ensinos apostólicos, preservados de forma escrita.
Logo, a sucessão apostólica não é necessária como alicerce sobre o qual
estabelecer a autoridade da igreja. Além disso, essa prática carece de
autoridade bíblica. 11
Alguns podem argumentar que Cristo, não um livro, constituem a
autoridade final da igreja. Ele é, de fato, a autoridade final da igreja, mas é o
Cristo revelado para nós nas Escrituras. É um erro estipular a autoridade da
mensagem da igreja com base em uma interpretação do Verbo de Deus (o
Cristo encarnado) que transcende sua forma escrita, ou de que a Palavra
escrita apenas testifica.
Essas tentativas deixam a igreja praticamente à mercê do subjetivismo. 12
Esse tipo de abstração teológica não pode atuar como o cerne da autoridade
da mensagem da igreja por causa de sua natureza quase amorfa. Sua falta de
especificidade torna impossível seu uso para definir a extensão e os limites
dessa autoridade. Se a Palavra de Deus, entendida como o Verbo de Deus
encarnado em Jesus, o Cristo, nos é conhecida por meio da Palavra escrita,
então a Palavra escrita deveria ser o critério usado para entender o Verbo de
Deus e a mensagem que Ele confiou para a igreja proclamar. A Bíblia
identifica Cristo como o Verbo de Deus, e ela não deve ser separada Dele. O
que sabemos a respeito do Senhor nos foi revelado por intermédio da Palavra
escrita e reafirmado no coração dos cristãos mediante o poder e a iluminação
do Espírito.
Sem dúvida, Cristo deve continuar a ser a autoridade final da igreja, mas
deve ser o Cristo das Escrituras que fala à igreja por meio delas e do Espírito.
Dessa maneira, as dimensões cognitiva e experimental da Palavra nos
pertencem como expressão da graça de Deus. Logo, a autoridade da
mensagem da igreja precisa ser firmemente fundamentada em sua lealdade
exclusiva e compromisso com a fonte bíblica.
Guia do Espírito
O papel do Espírito também é relevante para o tema da autoridade da
mensagem da igreja. Cristo apresentou o Espírito como Aquele que guiaria a
igreja à verdade (Jo 16:13, 14) e também identificou a Palavra de Deus como
a verdade (Jo 17:17). Em consequência, a igreja, sob a orientação do Espírito,
não tem autoridade fora da Escritura; só em harmonia com ela. O Espírito
exerce Sua autoridade na igreja em harmonia com o que Ele mesmo revelou
na Bíblia. A vinda do Espírito no Pentecostes encheu de poder e capacitou a
igreja para cumprir a missão de proclamar a mensagem de salvação ao
mundo. Ele não definiu a mensagem nem acrescentou nada a ela, mas a
tornou relevante para a situação na qual a igreja se encontrava. 13 Na igreja,
a autoridade do Espírito se revela por meio da mensagem das Escrituras e,
por consequência, qualquer alegação de manifestação do Espírito deve ser
testada pelo testemunho das Escrituras. Infelizmente, a história da igreja
cristã revela que a verdade bíblica logo começou a se definir pelo ministério
eclesiástico. Posteriormente, isso levou à instituição do magistério
eclesiástico. A autoridade para determinar a mensagem foi colocada nas mãos
de um grupo da igreja.
Como os adventistas lidam com a questão da autoridade da igreja para
indicar qual é o conteúdo da mensagem bíblica? Por meio do estudo da Bíblia
e da guia do Espírito. Os adventistas vivenciaram a orientação do Espírito por
meio do ministério profético de Ellen G. White. 14 Embora reconhecida
como mensageira do Senhor pela comunidade adventista, ela não é uma fonte
adicional de autoridade para a mensagem da igreja. Nesse caso, a orientação
coletiva do Espírito na igreja, guiando para a verdade bíblica, foi reafirmada
por intermédio de seu dom profético.
A autoridade dos profetas não lhes foi conferida por autoridades
eclesiásticas nem pela igreja como um corpo coletivo de crentes; ela vem
diretamente de Deus. Ele chama as pessoas para o ministério profético e as
investe com autoridade. Esses indivíduos prestam contas somente a Ele. No
entanto, a comunidade de crentes é responsável por testar os espíritos à luz
das Escrituras a fim de definir se realmente provêm do Senhor. Logo, para a
comunidade de crentes, a autoridade divina dos profetas pós-bíblicos é
reconhecida somente se a mensagem que proclamam estiver baseada na
Bíblia. A autoridade final continua a ser a Bíblia, não o profeta
contemporâneo.
No que se refere à mensagem proclamada pela Igreja Adventista, a obra do
Espírito no ministério de Ellen G. White foi confirmadora e
enriquecedora. 15 Por meio de seu ministério, somos constantemente
chamados ao estudo das Escrituras, consideradas a base de toda reforma.
Bem no início de seu ministério, ela escreveu: “Recomendo-vos, caro leitor, a
Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática. Por essa Palavra seremos
julgados. Nela, Deus prometeu dar visões nos ‘últimos dias’; não para uma
nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se
desviam da verdade bíblica.” 16
Base cristológica
A autoridade da igreja para interpretar a Bíblia provém da autoridade de
Cristo, o intérprete supremo das Escrituras. Devemos nos aproximar do tema
com uma perspectiva cristológica. De acordo com os evangelhos, Jesus foi o
verdadeiro intérprete da Bíblia, tendo fornecido não só uma interpretação
confiável e cheia de autoridade, como também rejeitado as interpretações
feitas pelos líderes judeus. Cristo os acusou de não conhecer as Escrituras
nem o poder de Deus (Mt 22:29). De acordo com Jesus, a fim de entender o
real sentido das Escrituras, era preciso primeiro reconhecer que só seria
possível entendê-la por meio Dele (Jo 5:39). A tarefa de Jesus como
intérprete das Escrituras é descrita com clareza em Lucas 24:13 a 22.
A caminho de Emaús, dois de Seus discípulos tentavam encontrar sentido
nos eventos que ocorreram em Jerusalém durante a semana anterior. Estavam
confusos e incapazes de encontrar qualquer significado bíblico nos
acontecimentos que incluíam o anúncio da ressurreição de Jesus pelas
mulheres que foram ao túmulo. Jesus Se uniu a eles e abriu as Escrituras (Lc
24:32). “E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas,
expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc
24:27). É possível que fossem passagens bíblicas conhecidas dos discípulos,
mas que, até então, não haviam sido compreendidas corretamente. Cristo é
apresentado ali como o intérprete final das Escrituras, cheio de autoridade. À
medida que ouviam, a Palavra passou a fazer sentido para eles, erguendo a
nuvem de confusão que os cercava. Seus olhos se abriram e eles
reconheceram que o Cristo da Bíblia e o Cristo que interpretava as Escrituras
para eles eram o mesmo. Durante Seu ministério terreno, Jesus estava
constantemente ensinando as Escrituras para os outros e o fazia com
autoridade (Mt 7:29).
Base pneumatológica
O segundo elemento que fundamenta a compreensão adventista da
autoridade da igreja para interpretar as Escrituras é a obra do Espírito Santo.
Por isso devemos examinar o tema com base em uma perspectiva
pneumatológica. A igreja exerce essa autoridade sob a orientação do Espírito.
Isso ocorre tanto no nível individual quanto no coletivo. Pouco antes de
morrer na cruz, Jesus informou aos discípulos que, com Sua partida, Seu
ministério como intérprete das Escrituras não chegaria ao fim. Ele lhes
prometeu que o parakletos, o Espírito da verdade, os ensinaria e lhes guiaria
à verdade (Jo 14:26; 16:13). 26 O ministério de ensino do Espírito é a
continuação do ministério de ensino de Jesus. É por meio Dele que a voz do
Senhor é ouvida quando a igreja interpreta a Bíblia e a torna relevante para a
vida cristã.
Os crentes foram batizados pelo Espírito, e isso os capacitou a ser guiados
pelo Espírito na compreensão das Escrituras. Paulo escreveu:
Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus,
para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também
falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo
Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais (1Co 2:12, 13).
E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e
alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a
largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo,
que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de
Deus. 28
É possível que Jesus tivesse essa mesma ideia em mente quando disse aos
discípulos, os representantes da igreja: “o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em Meu nome, esse vos [plural] ensinará todas as coisas” (Jo 14:26).
Na leitura da Palavra de Deus, a igreja busca encontrar a mente do Espírito à
qual a comunidade de crentes deve se sujeitar. Há um lugar para o consensus
fidelium operar na interpretação eclesiástica das Escrituras. Foi exatamente
isso que aconteceu quando os pioneiros consolidaram a mensagem da igreja
por meio do estudo das Escrituras e da guia do Espírito. 29 Por conta disso, a
mensagem da igreja é hoje claramente definida para nós.
Precisamos acrescentar que a interpretação eclesiástica das Escrituras sob a
guia do Espírito não concede à igreja infalibilidade em todos os aspectos ou
detalhes da exposição doutrinária. 30 Em vez disso, confirma a autoridade do
conteúdo bíblico, ao mesmo tempo em que dá espaço para o aprofundamento
e refinamento adicional e, se necessário, correção de sua expressão verbal.
Essa compreensão define a leitura eclesiástica das Escrituras como a
comunhão constante entre o Senhor/Espírito e a comunidade de crentes, à
medida que busca obter um entendimento cada vez mais profundo da Bíblia.
Nesse momento de nossa discussão, precisamos enfrentar uma nova
questão: O que acontece quando a igreja estuda as Escrituras, mas não
consegue chegar a um consenso acerca de determinado assunto. Por exemplo,
a lei em Gálatas, o sacrifício diário em Daniel ou a natureza humana de
Cristo? Sugerimos que, nesses casos, a igreja expressa sua lealdade às
Escrituras ao permitir a diversidade de pontos de vista no tema em
consideração. Em outras palavras, após estudar a Bíblia e ser guiada pelo
Espírito, a igreja reconhece que o Espírito não criou o consenso esperado. Ele
pode ter levado a igreja ao reconhecimento de que determinado tema bíblico
não faz parte da mensagem da igreja para o tempo do fim e é permitido,
assim, a existência de opiniões diferentes a respeito deles. Essa é a posição
tradicional da Igreja Adventista. 31 O fato de haver esse tipo de diversidade
na igreja impõe a disposição, por parte de todos os crentes, de preservar o
vínculo amoroso de união em Cristo. É preciso encontrar sua dinâmica e seu
centro comum de atividade na mensagem e missão da igreja.
Existe uma segunda forma de resolver diferenças teológicas na igreja, a
qual era usada no cristianismo inicial em seus concílios para resolver
controvérsias teológicas. Ela consiste em estabelecer a posição teológica
correta por meio de um voto majoritário. 32 Os adventistas jamais usaram
essa prática para definir posições doutrinárias. 33 Contudo, seria útil para nós
identificar os pontos fracos do que a igreja cristã estava fazendo em seus
primórdios.
Em primeiro lugar, nessa abordagem, os fundamentos do debate não eram
extraídos somente da Bíblia, mas também dos escritos dos pais da igreja e, no
caso das controvérsias em relação à Trindade, a partir de conceitos
filosóficos. Em outras palavras, a Bíblia não era a única fonte de definições
doutrinárias. Já se destacou que, “entre os bispos, de modo geral, a escolha da
Bíblia somente como base para a crença havia se tornado ameaçadora e
perigosa demais. Os dias de Lutero ainda pertenciam ao futuro distante. Eles
queriam o conforto da autoridade interpretativa, contanto que fosse curta e
simples”, 34 e definida por voto majoritário.
Segundo, a prática subentende que a decisão da maioria havia suplantado o
papel das Escrituras e do Espírito na criação de consenso na igreja cristã. A
palavra final passou a ser encontrada na voz da maioria. Em terceiro lugar, a
voz da maioria era considerada infalível e correspondia ao Espírito falando à
igreja. A minoria discordante era considerada a voz do inimigo. 35
Nessa perspectiva, as decisões dos concílios foram investidas de autoridade
sem precedentes. Quarto, já que a decisão da maioria era tida como a
expressão da vontade divina, ela era imposta ao restante dos fiéis. Havia
violência significativa dentro da igreja por causa de diferenças no credo,
baseada em acusações de heresia. 36 Essa violência acontecia por meio da
morte dos hereges – aqueles que discordavam da maioria – mas também
incluía “incêndios criminosos, feridas e maus-tratos, exílio, perda de
propriedade, confusão, desordem e divisões profundas na comunidade”. 37
Durante a votação, alguns se sentiam coagidos a adotar o ponto de vista da
suposta maioria, pois tinham medo de sofrer atos de violência por parte da
maioria. 38 Assim, a igreja cristã primitiva considerava a maioria dos
presentes nos concílios os únicos intérpretes verdadeiros da Bíblia. Foi
necessário que Lutero e outros se levantassem para tentar reverter essa prática
por meio da ênfase aos princípios de sola Scriptura que nós, herdeiros da
Reforma, apoiamos sem restrições.
AUTORIDADE FINAL
O fato de a autoridade delegada ser exercida por líderes diferentes, em
níveis diversos, no mundo inteiro, não significa que não exista, dentro da
igreja, uma autoridade delegada final. O desafio é definir como essa
autoridade é expressa, quem deve exercê-la e quais são seus limites.
Conforme já sugerimos, a eclesiologia adventista não permite que a
autoridade delegada final repouse sobre uma única pessoa ou um grupo
exclusivo de religiosos ou teólogos. A autoridade final reside na igreja
mundial, em sua submissão às Escrituras e ao senhorio de Cristo. Baseando-
se no modelo do concílio de Jerusalém (At 15), os adventistas estipularam
que é durante a assembleia da Associação Geral que se ouve a voz da igreja
mundial com autoridade. 47
A assembleia é o núcleo da autoridade delegada, no sentido de que é o
canal por meio do qual a igreja mundial se dirige a si mesma em sua
multiplicidade nacional, étnica e cultural, a fim de reafirmar sua mensagem,
missão e unidade. Logo, o principal objetivo da assembleia não é tratar de
interesses regionais específicos dos territórios a quem representam, mas do
bem-estar da igreja global.
É importante e necessário que reflitamos sobre o papel teológico da
assembleia da Associação Geral e em sua contribuição para nossa
compreensão da natureza da igreja. Aliás, a assembleia em si é uma
expressão eclesiológica importante e, por isso, necessita ser teologicamente
analisada e interpretada. Essa é uma área da eclesiologia adventista que
requer atenção imediata e significativa.
Qualquer tentativa de entender a assembleia da Associação Geral como
uma simples reunião administrativa global perde de vista sua natureza de
forma drástica e até mesmo ameaçadora. Não se pode negar a dimensão
administrativa, mas, nesse caso, a “administração” diz respeito à
administração divina, não de líderes de maneira independente ou semi-
independente Daquele que é o Cabeça da igreja. Ao olharmos para a
assembleia da Associação Geral com base em uma perspectiva eclesiológica,
podemos identificar uma série de conceitos teológicos importantes que são
expressos no ajuntamento dos fiéis.
Catolicidade da igreja
A palavra “católico” vem do grego katholikos e significa geral, universal.
Quando nos referimos a “catolicidade”, estamos falando sobre a expressão
universal e multifacetada da igreja como o corpo de Cristo. Para os
adventistas, a catolicidade da igreja encontra uma expressão particular no
remanescente do tempo do fim, reunido de “cada nação, e tribo, e língua, e
povo” (Ap 14:6). De fato, trata-se de uma comunhão universal de fé. Durante
uma assembleia da Associação Geral, a natureza “católica” da Igreja
Adventista se torna visível no ajuntamento e nas atividades dos delegados
que representam a igreja global.
A natureza inclusiva desse remanescente eclesiológico se manifesta na
diversidade cultural e étnica dos delegados. Aquilo que a igreja é em sua
dimensão global se personifica no ajuntamento de seus representantes durante
a assembleia. Eles se reúnem não a fim de representar os interesses de sua
igreja local, mas com o objetivo de defender o melhor para a igreja mundial
em seu papel de corpo de Cristo. A catolicidade da igreja deve transcender as
agendas geográficas e, possivelmente, limitadas dos delegados, sem
necessariamente ignorá-las.
Apostolicidade da igreja
Ao falar em “apostolicidade”, estamos nos referindo ao compromisso
inegociável da Igreja Adventista com a totalidade das Escrituras como padrão
de fé e prática. A igreja só é apostólica se estiver fundamentada no que está
registrado no Antigo Testamento, nos ensinos de Jesus e em sua expressão
apostólica no Novo Testamento. Durante a assembleia da Associação Geral, a
igreja exemplifica e demonstra, por meio de seus processos de decisão e dos
debates pastorais, doutrinários e teológicos, a supremacia das Escrituras na
vida da comunidade global da fé.
Em outras palavras, a centralidade da Bíblia em diferentes expressões locais
da igreja ao redor do mundo se torna particularmente visível durante a
assembleia. Nessas ocasiões, as Escrituras se tornam a norma que determina
todos os elementos de doutrina e fé. Seus princípios são usados para definir e
estabelecer políticas e para configurar atividades missiológicas globais. Para
que a centralidade das Escrituras governe, é necessário que os delegados
sejam bem versados na Bíblia e estejam abertos à influência iluminadora do
Espírito. Seguidos esses passos, o Espírito então formula um consenso
baseado na Bíblia entre os fiéis para as questões difíceis e, às vezes,
complexas com as quais lidam.
Autoridade da igreja
Conforme já explicado, a autoridade que Cristo deu à Sua igreja é difusa
por toda ela. Com o propósito de que essa autoridade encontre sua expressão
mais completa na igreja global, a Igreja Adventista a delega a alguns de seus
membros. Quando os delegados da igreja se reúnem em uma assembleia da
Associação Geral, essa reunião se torna a mais elevada autoridade da igreja
na Terra, subordinada aos fundamentos das Escrituras, à liderança de Cristo,
seu cabeça, e ao poder do Espírito.
É a mais elevada autoridade porque, por intermédio da assembleia, a igreja
global fala em uma só voz para suas expressões locais e, em seu favor, para o
mundo como um todo. Nessa tarefa, a assembleia transcende o
individualismo e regionalismo, reafirmando a igreja como uma comunidade
global da fé. Isso é indispensável na eclesiologia adventista, pois, para que o
uso da autoridade eclesiástica seja legítimo, ele precisa expressar a vontade
da igreja mundial, mantendo em mente que o controle supremo sempre deve
se encontrar na fidelidade às Escrituras. 48 Nesse contexto, a autoridade
eclesiástica necessita, de maneira específica, ter o objetivo de preservar e
alimentar a unidade da igreja. Essa tarefa requer pensamento global por parte
de todos os delegados. Por isso, é necessário que eles usem a autoridade da
assembleia com seriedade, sempre pensando no bem-estar da igreja mundial,
em espírito de amor e humildade. Nesse processo, as preocupações regionais
devem ser exploradas e analisadas pela perspectiva da igreja global. É
possível até sugerir que a assembleia convide todos os delegados a trabalhar
juntos em humildade quando buscam usar a autoridade da igreja mundial.
Unidade da igreja
Nossos comentários anteriores apontam para o fato de a assembleia da
Associação Geral ser, por definição, uma expressão da união e unidade da
igreja de Cristo. Delegados provenientes do mundo inteiro têm a mesma
mensagem, missão e esperança. Esses três elementos definem sua identidade
e o propósito de sua existência. Essa koinonia em mensagem, missão e
esperança não é criada na assembleia; eles a trazem consigo de sua
comunidade local de fé. Na assembleia, essa união revela de maneira gloriosa
que a unidade da Igreja Adventista é, de fato, um fenômeno global: um
milagre da graça de Cristo por intermédio do Espírito.
Na diversidade de suas culturas e origens étnicas, os delegados revelam, em
espírito de amor e serviço, o vínculo profundo e a unidade que a igreja
desfruta com o Senhor e uns com os outros. Essa koinonia, criada pelo
Espírito e fundamentada nas Escrituras, os capacita a trabalhar juntos como
corpo de Cristo, na eleição de líderes para a igreja mundial, na discussão de
temas bíblicos e doutrinários, e em todas as questões ligadas à administração
da igreja.
Durante a assembleia, essa unidade se expressa e é nutrida pela
proclamação da Palavra, pelos momentos de oração, pelo cântico
congregacional de louvores ao Senhor e pela comunhão constante uns com os
outros. Ao fim da assembleia, quando os delegados se separam uns dos
outros, essa união e unidade permanecem por meio do propósito e da mente
comuns da igreja.
Reunião escatológica
Os delegados vêm de cada nação, povo e língua, viajando de diferentes
pontos geográficos. São reunidos pelo Senhor ressurreto por meio do
chamado do Espírito e do poder do evangelho salvífico em Cristo. Como
indivíduos, são frutos da missão da igreja e revelam o poder do Espírito para
transformar vidas. Sua presença testemunha da eficácia constante do poder da
cruz para atrair todos a Cristo. De maneira única, exemplificam o
ajuntamento escatológico dos remidos no momento da parousia, quando
Cristo “enviará os Seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais
reunirão os Seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade
dos céus” (Mt 24:31).
Essa reunião escatológica também é antecipada na experiência das
congregações locais todo sábado, ao redor do mundo, à medida que os fiéis se
reúnem para adorar ao Senhor, aprender e ser instruídos por Ele, por
intermédio de Sua Palavra. Durante a assembleia, essa reunião transcende a
expressão local, ao juntar representantes de uma extremidade da Terra à
outra. Nesse sentido, a assembleia antecipa e aponta para o glorioso momento
em que o povo de Deus, de todas as eras, comparecerá perante o trono de
Deus e diante do Cordeiro, vestindo roupas brancas e segurando galhos de
palmas nas mãos, exclamando: “Ao nosso Deus, que Se assenta no trono, e
ao Cordeiro, pertence a salvação” (Ap 7:10). A assembleia deve cultivar essa
esperança em espírito de amor e unidade cristã genuína.
É valioso que a igreja vislumbre a assembleia da Associação Geral como
uma expressão dinâmica de aspectos ou dimensões da eclesiologia e
esperança adventista do sétimo dia. Isso contribuirá para fortalecer a
disposição dos delegados para trabalhar juntos como um só corpo, livre de
qualquer espírito dissidente, fundamentado em interesses pessoais. O poder
confiado à assembleia deve ser administrado com cuidado amoroso. É correto
concluir que um dos aspectos eclesiológicos mais significativos da
assembleia da Associação Geral se concentra em seu papel como a expressão
final de autoridade da igreja mundial. Vale a pena repetir que, a fim de que
essa autoridade contribua para a união da igreja, seu uso precisa estar
fundamentado nas Escrituras, levando em consideração o que é melhor para a
igreja como um todo.
Considerando que as decisões são tomadas pela igreja global, confia-se aos
líderes eclesiásticos, autoridade para implementar a vontade da igreja
mundial em suas respectivas áreas do mundo. Como as escolhas são feitas
por representantes da igreja mundial em todos os níveis, a comunidade
mundial de crentes deve cumprir voluntariamente as decisões que ela própria
tomou. Não estamos sugerindo que a autoridade eclesiástica deva ignorar as
necessidades e peculiaridades regionais. O que funciona em um lugar do
mundo pode não ser tão eficaz em outras regiões. A autoridade de Cristo
dentro da igreja busca atender o bem-estar das comunidades locais, onde quer
que elas se localizem.
É importante reconhecer que a unidade em expressão e ação inclui um
elemento de diversidade. A uniformidade parece um alvo inalcançável, pois
não existem duas pessoas exatamente iguais. Embora a unidade em meio à
diversidade seja o objetivo, o elemento controlador deve ser a unidade, não a
diversidade. Em outras palavras, a diversidade é submissa à unidade; a
unidade julga e define os limites e a extensão da diversidade. Ao lidar com
questões tão sensíveis, o principal interesse dos líderes da igreja deve ser
preservar a integridade da mensagem, o cumprimento da missão e a união da
igreja. A liderança deve manter em mente que a diversidade é natural, mas,
ao mesmo tempo, precisa promover e cultivar a unidade.
Autoridade e corrupção
É possível que um dos desafios mais ameaçadores que os líderes enfrentam
ao usar a autoridade que lhes foi confiada seja a tendência natural humana à
corrupção. O poder pode corromper qualquer pessoa. Os líderes devem se
examinar ocasionalmente para determinar qual é a motivação por trás de seu
estilo administrativo e avaliar o processo que usam para tomar decisões. A
corrupção não é um fenômeno que ocorre de um instante para o outro.
Em geral, é um processo de mudança que, a princípio, é quase
imperceptível. Ninguém deve afirmar, por meio de seu estilo administrativo,
que a sabedoria suprema reside exclusivamente em si. A vida dos líderes
deve aliar autoridade externa ou delegada com sua autoridade espiritual
interna. 49
Em outras palavras, o exercício de autoridade delegada sempre deve ser
acompanhado pela presença confirmadora de uma vida plenamente
consagrada ao Senhor. A comunhão pessoal dos líderes com Cristo precisa se
revelar em palavras, no porte, na gentileza e bondade de sua liderança. A
igreja ouve e segue os líderes cuja vida é incondicionalmente dedicada à
integridade da mensagem, ao cumprimento da missão e à união da igreja. Sua
conduta revela que vivem constantemente na presença do Senhor.
Autoridade e fragmentação
O segundo desafio que os líderes enfrentam é o equilíbrio entre as
necessidades locais e globais da igreja. Existe o risco de enfatizar em excesso
a autoridade de um segmento específico da estrutura organizacional em
detrimento da autoridade da igreja mundial. Isso é sinal de fragmentação e
deve ser levado a sério. A fragmentação não reconhece limites. Quanto mais
os líderes se distanciam uns dos outros, maior será a distância criada entre as
unidades específicas que cada líder representa. Isso pode ser evitado se os
líderes cumprirem suas responsabilidades, mantendo em mente que sua
principal preocupação deve ser a comunidade global de crentes, sua
mensagem, missão e unidade. São esses os elementos que devem nos manter
unidos como igreja mundial. 50
Autoridade e consenso
Outro desafio que os líderes enfrentam resulta da necessidade de que a
Igreja Adventista aja por consenso. Eles devem ficar atentos ao fato de que o
consenso precisa ser alcançado com base na melhor expressão de sua
autoridade no que envolve mensagem, missão e unidade. O consenso não
deve procurar encontrar um denominador comum mínimo em relação a
determinado item, mas sua expressão bíblica mais enriquecedora. Aliás, a
autoridade do consenso depende de sua fidelidade às Escrituras. Os líderes
devem se proteger do perigo de usar a autoridade para formular um consenso
que permita perspectivas contraditórias, que causam danos à mensagem e
missão da igreja. Nesses casos, a autoridade que Cristo confiou à igreja se
renderia a pessoas de grupos com interesses próprios, ameaçando a união que
os líderes buscam preservar e cultivar.
CONCLUSÃO
1 Ver uma introdução adventista excelente sobre o tema em Raoul Dederen, “The Church: Authority
and Unity, Part 1: Church Authority: Its Source, Nature, and Expression”, Ministry: Supplement, maio
1995, p. 2-10.
2 Cf. I. Broer, “Exousia Freedom; Ability; Power, Authority”, em Horst Balz e Gerhard Schneider ed.,
Exegetical Dictionary of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1994), v. 2, p. 9. Teresa
Reeve, “Autoridade da Igreja nos Evangelhos e em Atos”, nesta obra.
3 Walter Grundmann, “Dynamai” em Gerhard Kittel e Gerhard Friedrich, ed., Theological Dictionary
of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977), v. 2, p. 284, escreve: “As palavras que
derivam de dyna- têm o significado básico de ‘ser capaz’, de ‘capacidade’ em virtude de uma
habilidade.”
4 Werner Foerster, “Exousia”, em Kittel e Friedrich, Theological Dictionary of the New Testament, v.
2, p. 562 e Broer, “Freedom”, p. 10, o qual comenta brevemente: “A autoridade pressupõe
poder/habilidade.”
5 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 33.
6 Ver debate sobre a relação entre a autoridade divina, sua revelação única em Cristo, autoridade
apostólica e autoridade das Escrituras em Raoul Dederen, “A Igreja”, em Raoul Dederen, ed., Tratado
de Teologia Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 621-623.
7 Ellen G. White, “The Divine Estimate of Worldly Wisdom”, Signs of the Times, 26 de maio de
1887.
8 Sobre a missão da igreja, ver Ángel Manuel Rodríguez, ed., Studies in Adventist Ecclesiology:
Message, Mission, and Unity of the Church (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2013), p.
61-153.
9 Consulte, por exemplo, I. Howard Marshall, A Critical and Exegetical Commentary on the Pastoral
Epistles (Edinburgh: T & T Clark, 1999), p. 612; Philip H. Towner, The Letters to Timothy and Titus
[Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2006], p. 362, 363.
10 No fim do 2o século, alguns cristãos começaram a usar a expressão em latim “regula fidei” ou
“regula veritatis”, ou ainda a grega kanōn tēs alētheias (“cânon da verdade”) para designar “a
pregação apostólica que servia como norma da fé cristã” (Everett Ferguson, “Rule of Faith”,
Encyclopedia of Early Christianity [Nova York: Garland Publishing, 1998], p. 1003). A expressão foi
usada pela primeira vez por Irineu (130-200 d.C.) para se referir à “substância da fé cristã” ou à
“verdade como padrão e autoridade normativa” (Dietmar Wyrwa, “Rule of Faith: Early Church”, em
Erwin Fahlbusch e Geoffrey William Bromiley, ed., Encyclopedia of Christianity [Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 2005], v. 4, p. 758). Aliás, para Irineu, o “cânon da verdade” é definido, em alguns casos,
como “o todo da doutrina cristã, encontrado nas Escrituras e no ensino da igreja” (Ferguson, “Rule of
Faith”, p. 1004). O conteúdo da regra jamais era padronizado e, por isso, não era considerado um credo.
Consistia apenas de uma síntese usada para instruir os novos conversos que não sabiam ler as
Escrituras, no preparo para o batismo e também para se opor às heresias. A regra servia para definir e
preservar a identidade da igreja antiga (cf. Mark D. Chapman, “Tradition”, em John Bowden, org.,
Encyclopedia of Christianity [Oxford: Oxford University Press, 2005], p. 1201-1202). Irineu deu uma
ideia de seu conteúdo ao escrever: “Mas o caminho daqueles que pertencem à igreja abrange o mundo
inteiro, possuindo a tradição confirmada da fé dos apóstolos. Isso nos leva a ver que a fé de todos é a
mesma, uma vez que todos aceitam o mesmo Deus Pai, creem na mesma dispensação acerca da
encarnação do Filho de Deus e reconhecem o mesmo dom do Espírito, seguem os mesmos
mandamentos, preservam a mesma forma de instituição eclesiástica e esperam o mesmo advento do
Senhor, aguardando a mesma salvação do homem completo, ou seja, de corpo e alma. Sem dúvida, a
pregação da igreja é verdadeira e constante, na qual o mesmo caminho da salvação é mostrado no
mundo inteiro” (Contra Heresias, 5.20.1). Ele também argumentou que a regra poderia ser usada como
guia para a exegese das Escrituras (Contra Heresias, 1.9.4; cf. “Rule of Faith”, em F. L. Cross e
Elizabeth A. Livingstone, ed., Oxford Dictionary of the Christian Church (Oxford: Oxford University
Press, 2005), p. 1433. Em alguns casos, a regra de fé era considerada superior às Escrituras (por
exemplo, Tertualiano [160-225 d.C.]; cf. Chapman, “Tradition”, p. 1202). Ver também Prosper S.
Grech, “The Regula Fidei as a Hermeneutical Principle in Patristic Exegesis”, em J. Krašovec, ed., The
Regula Fidei as a Hermeneutical Principle in Patristic Exegesis [Sheffield: Sheffield Academic Press,
1998], p. 589-601.
11 Cf. Norman Geisler e Joshua Betancourt, Is Rome the True Church? A Consideration of the Roman
Catholic Claim (Wheaton, IL: Crossway, 2008), p. 149-164.
12 Ver uma ótima introdução sobre o uso da expressão “Verbo de Deus” na teologia sistemática de
Lois Malcolm, “Word of God 3. Systematic Theology” em Fahlbusch e Bromiley, Encyclopedia of
Christianity, p. 5, p. 752-755. Também é útil a discussão de J. Robert Nelson, The Realm of
Redemption: Studies in the Doctrine of the Nature of the Church in Contemporary Protestant Theology
(Londres: Epworth Press, 1951), p. 105-119, que defende a neo-ortodoxia.
13 Alguns concluíram que o papel do Espírito-Paráclito se localiza em um grupo de indivíduos na
igreja (por exemplo, George Johnston, The Spirit-Paraclete in the Gospel of John [Cambridge:
University Press, 1970] e M. E. Boring, “The Influence of Christian Prophecy in the Johannine
Portrayal of the Paraclete and Jesus”, New Testament Studies 25 [1978], p. 113-123), mas não há
evidências para esse ponto de vista, a menos que consideremos esses indivíduos como profetas.
14 Sobre seu papel, a igreja afirma que, por ser uma mensageira do Senhor, “seus escritos falam com
autoridade profética e oferecem consolo, orientação, instrução e correção para a igreja. Eles também
tornam claro que a Bíblia é a normal pela qual deve ser provado todo ensino e experiência” (“O Dom
de Profecia”, Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia [Tatuí,
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018], p. 278).
15 Ela deixa bem claro que “a nossa regra de fé é a Bíblia, e a Bíblia só” (Ellen G. White, Conselhos
Sobre a Escola Sabatina [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004], p. 84) e que “as palavras da
Bíblia, e da Bíblia somente, deviam ser ouvidas do púlpito” (Ellen G. White, Profetas e Reis [Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2019], p. 626). Ao falar sobre os próprios escritos, declarou: “Os
testemunhos não estão destinados a comunicar nova luz; e sim a imprimir fortemente na mente as
verdades da inspiração que já foram reveladas. [...] Os Testemunhos não têm por fim diminuir o valor
da Palavra de Deus, e sim exaltá-la e atrair para ela as mentes, para que a bela singeleza da verdade
possa impressionar a todos” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, [Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2015], v.5 p. 665). Já se afirmou corretamente que “é possível demonstrar historicamente
que os escritos de Ellen G. White não foram a fonte de qualquer doutrina adventista do sétimo dia. Seus
conselhos enriqueceram o estudo doutrinário adventista e forneceram uma influência de correção e
união, mas seus escritos jamais foram a base para qualquer doutrina fundamental adventista ou
experiência cristã” (Merlin D. Burt, “Ellen G. White and Sola Scriptura”, artigo não publicado,
apresentado no diálogo com o Office of the General Assembly Presbyterian Church [Escritório da
Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana] (USA), Louisville, KY, em 23 de agosto de 2007, p. 9; cf.
Denis Fortin, “Ellen G. White’s Ministry in the Seventh-day Adventist Church”, artigo não publicado
apresentado no diálogo com a World Evangelical Alliance [Aliança Evangélica Mundial], Andrews
University, 7 de agosto de 2007. Ver também George Knight, “Bíblia, o Relacionamento de Ellen G.
White com”, Enciclopédia Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 712-714; e
Jerry Moon e Denis Kaiser, Por Jesus e Pelas Escrituras: A Vida de Ellen G. White”, Enciclopédia
EGW, p. 29, 30.
16 Ellen G. White, Primeiros Escritos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 78 (itálico
acrescentado).
17 Cf. Le Roy Edwin Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 4 v. (Washington, DC: Review and
Herald, 1950-1954).
18 Le Roy Edwin Froom, The Conditionalist Faith of Our Fathers, 2 v. (Washington, DC: Review
and Herald, 1965).
19 Cf. Kenneth A. Strand, ed., The Sabbath in Scripture and History (Washington, DC: Review and
Herald, 1982), p. 132-263.
20 Cf. Bryan W. Ball, The English Connection: The Puritan Roots of Seventh-day Adventist Belief
(Cambridge: James Clarke, 1981), p. 102-119.
21 Cf. Kwabena Donkor, “The Role of the Fundamental Beliefs in the Church” em Rodríguez, Studies
in Adventist Ecclesiology, p. 287-302.
22 A Declaração de Crenças Fundamentais dos adventistas não é um cânon dentro do cânon, mas uma
síntese da mensagem do cânon para a humanidade hoje. Baseia-se no cânon, é constantemente
alimentada por ele e desafia a igreja a voltar à Bíblia a fim de buscar nela guia e correção. A mensagem
flui da totalidade das Escrituras, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.
23 Outra linha de argumentos que pode ser usada para apoiar a autoridade da mensagem da Igreja
Adventista se encontra na origem profética do povo remanescente do tempo do fim. Essa não é a fonte
de autoridade da mensagem da igreja – as Escrituras é que o são –, mas fortalece ou aprimora essa
autoridade, uma vez que a ascensão e a existência do movimento remontam à vontade de Deus para um
momento específico da história. Logo, sua mensagem foi dada por Deus e é relevante para esse
momento histórico. Sobre a natureza profética do movimento adventista ver Hans K. LaRondelle, “A
People of Prophecy”, Adventist Review, 1º de junho 1989, p. 8-10; 10 de junho de 1989, p. 10-12; 15
de junho de 1989, p. 8-10; 22 de junho de 1989, p. 12-14; 29 de junho de 1989, p. 11-13; 6 de julho de
1989, p. 11-13; 13 de julho de 1989, p. 10-12; 20 de julho de 1989, p. 8-10; LeRoy Edwin Froom,
Movement of Destiny (Washington, DC: Review and Herald, 1971), p. 77-90; George R. Knight, A
Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), p.
29-52; Gerhardt Pfandl, “Marcas do Remanescente do Tempo do Fim no Apocalipse” em Ángel
Manuel Rodríguez, org., Teologia do Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica Adventista,
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 140-159.
24 Cf. Richard Davidson, “The Role of the Church in the Interpretation of Scripture”, em Rodríguez,
Studies in Adventist Ecclesiology, p. 323-343.
25 O teólogo luterano Carl E. Braaten, “The Problem of Authority in the Church”, em The Catholicity
of the Reformation, Carl E. Braaten e Robert W. Jenson, ed. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1996), p.
65 comenta: “Perdemos o ofício de ensino da igreja e parecemos ter medo de reconstituí-lo ao lugar a
que pertence nos termos da tradição católica.”
26 Ellen G. White escreveu: “O Espírito de verdade é o único mestre eficaz da verdade divina. Quanto
não deve Deus ter estimado a raça humana, para que desse o Seu Filho a fim de por ela morrer, e
designasse o Seu Espírito para ser o mestre e constante guia do homem” (“Man’s Obligation to God”,
Signs of the Times, 3 de abril de 1884, parágrafo 7).
27 Nesse ponto, é importante levantar a questão da hermenêutica. Recomendamos a leitura de George
W. Reid, ed., Compreendendo as Escrituras: Uma Abordagem Adventista (Engenheiro Coelho, SP:
Unaspress, 2007).
28 Itálico acrescentado.
29 Ver discussão acima.
30 Mesmo caracterizada como “corpo de Cristo”, a igreja não tem o atributo da infalibilidade divina.
Ao comentar sobre o concílio de Jerusalém, Ellen G. White afirmou: “O concílio que decidiu esse caso
era composto dos fundadores das igrejas cristãs judaicas e gentílicas. Estavam presentes anciãos de
Jerusalém e delegados de Antioquia, e as igrejas mais influentes estavam representadas. O concílio não
reinvindicou a infalibilidade de suas deliberações, mas conduziu-se de acordo com um discernimento
iluminado e com a dignidade de uma igreja estabelecida pela vontade divina” (Ellen G. White, História
da Redenção [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015], p. 308, itálico acrescentado). A autoridade
da igreja necessita ser definida no reconhecimento de sua falibilidade. A igreja precisa estar disposta, se
necessário, a reconhecer seus erros com humildade e repará-los.
31 Ellen G. White é bem clara a esse respeito: “Um indivíduo pode ser versado nas Escrituras e certa
parte específica da Bíblia lhe é apreciada de maneira especial, pois é vista de acordo com uma luz
marcante. Outro considera um trecho diferente muito importante. Assim, um e outro apresentam para as
pessoas os pontos que lhes parecem ter maior valor. Tudo isso está de acordo com o desígnio de Deus.
Uma pessoa, em sua interpretação, vacila em sua interpretação de alguma parte das Escrituras, mas isso
deveria causar diversidade e desunião? De maneira nenhuma! Logo, não podemos defender que a
unidade da igreja consiste em entender cada texto bíblico exatamente à mesma luz” (Manuscript
Releases [Silver Spring, MD: E. G. White Estate, 1993], v. 15, p. 149, 150; cf. Jerry Moon, “Unidade
na Diversidade”, Enciclopédia EGW, p. 1345-1348).
32 Essa prática foi documentada com cuidado por Ramsay MacMullen, Voting about God in Early
Church Councils (New Haven, CT: Yale University Press, 2006). Ele analisou os concílios ecumênicos
de 325 a 553 d.C., nos quais a autoridade de alguns pontos de vista doutrinários foi estabelecida por
meio do voto majoritário. É preciso destacar que MacMullen apenas descreveu como os concílios
funcionavam, sem julgar o que era feito. Nós argumentamos que essa prática da igreja era bem
arriscada.
33 Durante a Assembleia da Associação Geral em Mineápolis, no ano de 1888, houve a tentativa de
resolver temas controversos ligados à teologia e interpretação profética por meio de um voto
majoritário. Ellen G. White se opôs a essa prática: “Esta foi uma assembleia muito laboriosa para
Willie, e tive de estar atenta em todo o sentido, para que não se tomassem medidas e resoluções que
fossem prejudiciais à obra no futuro” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2007], v. 3, p. 177). Seu filho, W. C. White, contou à esposa como foi uma
dessas tentativas: “Tivemos uma assembleia notável e certas influências precisaram ser enfrentadas a
cada passo. Existe um grande apelo para que tudo seja colocado em perfeita harmonia, mas, com
frequência, os passos necessários para a harmonia são negligenciados. Quase que existe um fascínio
pela ortodoxia. Tomou-se a resolução em uma reunião universitária de que nenhuma doutrina nova
poderia ser ensinada na instituição até ser adotada pela Associação Geral. Mamãe e eu acabamos com
isso, após uma luta difícil (W. C. White a Mary White, 3 de novembro de 1888, Mineápolis, MN.
“Mother and I Killed it Dead” [Denis Fortin me forneceu essa referência]). George R. Knight esclarece
que uma das categorias de autoridade humana “que a facção de Smith-Butler defendia, em sua tentativa
de conservar o adventismo tradicional, era o desejo de votar uma declaração similar a um credo que
consolidasse a teologia pré-1888. Jones, Waggoner, Ellen White e seu filho Willie foram bem-
sucedidos em resistir a essas tentativas” (George R. Knight, Em Busca de Identidade: O
Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2006], p. 97). A obra do Espírito, por meio do ministério de Ellen G. White, protegeu a Igreja
Adventista de fazer o mesmo que a igreja cristã pós-apostólica fez, a saber, definir a verdade bíblica
usando um voto majoritário.
34 MacMullen, Voting about God in Early Church Councils, p. 110.
35 MacMullen escreveu: “Logo, todas as decisões dos concílios podiam ser atribuídas à presença do
Espírito Santo, pelo menos de acordo com o ponto de vista dos bispos que aprovavam o resultado. [...]
As crenças consideradas erradas sempre eram culpa do diabo” (MacMullen, Voting about God in Early
Church Councils, p. 43, 44). Ele acrescenta: “Usando aquela maneira democrática familiar segundo a
qual a maioria governa e a minoria precisa se sujeitar, o grupo maior nos concílios eclesiásticos fazia
forte pressão psicológica sobre os indecisos e contrários, dizendo que eles simplesmente não existiam,
eram poucos demais para ser levados em conta e estavam em oposição a todo o restante. ‘Nós’ somos
‘todo o mundo’ – esse era o clamor. Se você não se unir ativamente a nossas aclamações, será
considerado herege” (MacMullen, Voting about God in Early Church Councils, p. 101).
36 MacMullen, Voting about God in Early Church Councils, p. 57.
37 MacMullen, Voting about God in Early Church Councils, p. 57. MacMullen comenta que “o credo
podia ser no mínimo um dos fatores que contribuía para brigas de rua, esfaqueamentos dentro da igreja,
discussões em praças públicas e atos de violência de modo geral, sendo, às vezes, o único motivo para
esse tipo de confusão” (MacMullen, Voting about God in Early Church Councils, p. 59). Essas formas
de violência eram vistas como uma expressão da ira divina por causa da heresia (cf. MacMullen, Voting
about God in Early Church Councils, p. 65).
38 MacMullen, Voting about God in Early Church Councils, p. 83. “Após se conseguir maioria, a
decisão do concílio era ratificada. Era como se uma tampa fosse pregada em cima da dissidência.
Obtinha-se consenso em relação aos verdadeiros termos da fé e só era necessário lembrar esse ato final,
não os meios usados para sua obtenção.”
39 Sobre a passagem de João, já se explicou que o verbo se encontra no passivo divino. Logo, “o
perdão vem de Deus. Além disso, na perspectiva de João, somente o sacrifício de Jesus tira o pecado
(Jo 1:29). [...] O texto em questão fala sobre o ministério dos cristãos aos descrentes, mediando o poder
de Deus por meio da mensagem que levam (Jo 20:21; 16:8-11)” (Craig S. Keener, The Gospel of John:
A Commentary [Peabody, MS: Hendrickson, 2003], v. 2, p. 1206, 1207). Confira uma análise adicional
da passagem em Terese Reeve, “Autoridade da Igreja nos Evangelhos e em Atos” e Jerry Moon, Jesse
Tennison e Denis Fortin, “Natureza, Função e Autoridade do Ministro nos Escritos de Ellen G. White”,
nesta obra.
40 Ellen G. White escreveu: “Foi na ordenação dos doze apóstolos que se deram os primeiros passos
na organização da igreja que, depois da partida de Cristo, devia levar avante Sua obra na Terra. [...]
Imaginemos a impressionante cena: a Majestade do Céu tendo em torno de Si os Doze que haviam sido
escolhidos por Ele. Logo os separaria para a obra que havia designado para eles. Por meio desses
frágeis instrumentos, mediante Sua Palavra e Seu Espírito, Ele decidiu colocar a salvação ao alcance de
todos” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018], p. 18;
itálico acrescentado).
41 Ao comentar o papel do concílio de Jerusalém registrado em Atos 15, Dederen concluiu: “Resta
pouca dúvida de que as conclusões do concílio foram consideradas obrigatórias para as igrejas – e não
só as de Antioquia, da Síria e da Cilícia – por serem a interpretação correta e aplicação da vontade de
Deus. Encontramos aqui um exemplo claro de uma grande assembleia que falou não só em tom de
aconselhamento, mas também com autoridade para vigorar uma nova prática. Logo, grandes
assembleias que abordam questões pertinentes à igreja em geral e à preservação da unidade, exercendo
autoridade em escala mais ampla e estendida, são inquestionavelmente abalizadas pelas Escrituras”
(Dederen, “Authority and Unity”, p. 6).
42 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 279.
43 White, Atos dos Apóstolos, p. 89.
44 Na igreja apostólica, os líderes eclesiásticos não ficavam acima da autoridade da igreja. Era
possível tirar do cargo os anciãos que não cumprissem adequadamente as responsabilidades a eles
atribuídas (1Tm 5:19).
45 A prática da igreja de escolher indivíduos para funções específicas é registrada em Atos 6:1 a 6. Os
sete foram selecionados pela comunidade de crentes e nomeados pelos apóstolos por meio da
imposição de mãos para supervisionar a distribuição de doações. O mesmo sistema pode ter sido usado
para a nomeação de presbíteros e diáconos nas congregações locais (cf. At 14:23). Também sabemos
que as igrejas selecionavam indivíduos para representá-las em reuniões e para viajar com os apóstolos
(2Co 8:19; At 15:1, 2). Cf. Dederen, “Authority and Unity”, p. 4.
46 É importante destacar que os adventistas não definem suas crenças em termos de um credo
religioso, mas como a exposição dinâmica da verdade bíblica. Essa verdade é crescente no sentido de
que novos aspectos dela podem ser descobertos por intermédio do estudo da Bíblia, enriquecendo assim
o testemunho da Igreja Adventista ao mundo. O teste crítico para qualquer reivindicação de uma nova
verdade é sua fidelidade às Sagradas Escrituras.
47 Esse ponto de vista foi promovido e apoiado diversas vezes por Ellen G. White: “Foi-me mostrado
que o julgamento de nenhum homem devia render-se ao julgamento de outro. Mas quando o
julgamento da Associação Geral, que é a mais elevada autoridade que Deus tem sobre a Terra, é
exercido, independência e julgamento particulares não devem ser mantidos, mas renunciados” (Ellen G.
White, Testemunhos Para a Igreja, 9.v [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019], v. 3, p. 492).
Certa vez, ela precisou esclarecer seu posicionamento: “Por vezes, quando um pequeno grupo de
homens, aos quais se acha confiada a direção geral da obra, tem procurado, em nome da Associação
Geral, executar planos imprudentes e restringir a obra de Deus, tenho dito que eu não poderia por mais
tempo considerar a voz da Associação Geral, representada por esses poucos homens, como a voz de
Deus. Mas isso não equivale a dizer que as decisões de uma Associação Geral, composta de uma
assembleia de homens representativos e devidamente designados, de todas as partes do campo, não
deva ser respeitada. Deus ordenou que os representantes de Sua igreja de todas as partes da Terra,
quando reunidos numa Assembleia Geral, devam ter autoridade. O erro que alguns estão em perigo de
cometer, é dar à opinião e ao juízo de um homem, ou de um pequeno grupo de homens, a plena medida
de autoridade e influência de que Deus revestiu Sua igreja, no juízo e voz da Associação Geral reunida
para fazer planos para a prosperidade e avançamento de Sua obra” (Ellen G. White, Testemunhos Para
a Igreja [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019], v. 9, p. 260, 261). Seu posicionamento foi
influenciado pelo concílio de Jerusalém, acerca do qual escreveu: “era a voz da mais elevada autoridade
sobre a Terra” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 196). A Igreja Adventista declarou de forma
oficial que “a Associação Geral é a organização superior no tocante à administração da obra mundial da
Igreja, e está autorizada pela Constituição e Regulamento Interno a criar organizações subordinadas
para promover interesses específicos nas diferentes partes do mundo; as organizações e instituições
subordinadas reconhecerão a Associação Geral, reunida em assembleia mundial, como a maior
autoridade entre todas as organizações e instituições adventistas no mundo, depois de Deus”
(Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Divisão Sul-Americana da Associação Geral dos
Adventistas do Sétimo Dia [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019], p. 90). É válido destacar que,
na área da administração eclesiástica, há situações em que a autoridade final está em outros níveis da
estrutura da igreja, incluindo as congregações locais. Mas a decisão de funcionar dessa maneira foi
concedida a esses níveis de administração da igreja pela Associação Geral em assembleia.
48 Dederen, “Authority and Unity”, p. 7.
49 A distinção foi feita por R. P. C. Hanson, “Authority”, em Westminster Dictionary of Christian
Theology, Alan Richardson e John Bowden, ed. (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1983),
p. 58. Ele define autoridade externa como “a atribuída a uma pessoa como líder ou a um cargo como
cargo” e interna como “a autoridade que reside no argumento convincente, ou moral elevada, ou
exemplo espiritual ou experiência”.
50 Ángel Manuel Rodríguez, “Oneness of the Church in Message and Mission: Its Ground”, em
Rodríguez, Studies in Adventist Ecclesiology, p. 243-259.
16
Autoridade e Unidade da Igreja na Teologia
Ortodoxa
Eugene Zaitsev
No entanto, a igreja não é católica por causa de sua extensão exterior, ou pelo menos
não somente por causa disso. A igreja é católica não só por causa de sua identidade
abrangente, não só por unir todos os seus membros, todas as igrejas locais, mas
porque é inteiramente católica, até mesmo em sua menor parte, em cada ato e evento
de sua vida. A natureza da igreja é católica, porque é um Corpo de Cristo; e a união
em Cristo, unidade no Espírito Santo – e essa união é a mais elevada inteireza e
plenitude. 26
Na era apostólica e ao longo do segundo e terceiro séculos, cada igreja local era
autônoma e independente – autônoma por conter em si tudo que é necessário para
sua vida e independente por não depender de outra igreja local ou de bispo fora de si
mesma. 31
Cada igreja local une em si [todas] as igrejas locais, pois possui toda a plenitude da
igreja de Deus e todas as igrejas locais juntas se uniram porque a mesma igreja de
Deus habita dentro de todas. [...] Não se trata de uma associação de partes da Igreja
ou de igrejas, mas da união de diferentes manifestações da igreja de Deus na
existência humana real. É a união da igreja de Deus consigo mesma, por meio de
representações diversas. 32
Autoridade e a Bíblia
É na Palavra escrita que a igreja encontra o fundamento para sua
autoridade. 48 O conceito ortodoxo de autoridade da Bíblia, conforme já
mencionado, difere do protestante. As Escrituras possuem autoridade
completa para a maioria dos cristãos evangélicos ocidentais. Isso significa
que o direito de definir a verdade pertence exclusivamente às Sagradas
Escrituras; não a um grupo de pessoas nem mesmo à igreja. Usar a expressão
“a inspiração das Escrituras” já é se afastar um pouco da abordagem ortodoxa
sobre o tema. 49 A expressão “Escrituras inspiradas” pressupõe, para o
ortodoxo, um texto que se destaca da comunidade de fé no qual foi produzido
e é lido. Parece inapropriado para os ortodoxos responder a uma pergunta
sobre a autoridade das Escrituras, porque a abordagem ortodoxa lida
primariamente com a autoridade da igreja. Quando alguém pergunta: “Por
que devo aceitar o Novo Testamento como um registro verdadeiro e confiável
em seus ensinos sobre Jesus e a fé cristã?”, a resposta costumeira é: “Porque
as Escrituras são inspiradas.” Para o ortodoxo, porém, essa é uma resposta
pós-renascentista, uma abordagem ocidental e protestante que
inevitavelmente leva a certos problemas. 50
A principal dificuldade com esse ponto de vista é que separa o autor das
Escrituras da comunidade eclesiástica na qual ele tinha raízes. Para o
ortodoxo, o apóstolo escrevia com autoridade não só por ser dotado de
autoridade apostólica da parte de Cristo, mas também porque, como apóstolo,
reproduziu os ensinos aceitos por toda a igreja. Em outras palavras, ele
escrevia com autoridade porque o fazia como parte da grande tradição. Os
apóstolos não existiam isolados da igreja, mas faziam parte dela. O ponto de
vista que confere autoridade aos escritos apostólicos por conta de inspiração
ameaça o conceito de apostolado ortodoxo, pois leva a considerar o texto
acima da igreja, não como parte dela.
Do ponto de vista da Igreja Ortodoxa, as Escrituras do Novo Testamento
são aceitas como autoridade não por causa de um processo especial de
inspiração que acompanhava os autores ao escrever, mas por serem escritos
apostólicos. Os apóstolos eram a autoridade viva na igreja do 1o século, e
suas palavras tinham peso por causa dessa autoridade pessoal. Logo, o que
eles diziam enquanto presentes, assim como o que escreviam em epístolas
quando ausentes, tinha a mesma autoridade e precisava ser obedecido (2Ts
2:15). Após a morte dos apóstolos, seus escritos continuaram a ter igual peso
de autoridade na igreja.
Nesse ponto de vista, o autor não é separado de sua comunidade, pois os
escritos apostólicos testemunham da mesma tradição que abarcou toda a
igreja. A mensagem apostólica em uma epístola faz parte do tecido de toda a
tradição apostólica, encontrada em cada comunidade cristã.
A abordagem ortodoxa às Escrituras também é caracterizada pela
experiência litúrgica. A assembleia eucarística semanal é constitutiva da
igreja. Quando se une para a eucaristia, semana após semana, a igreja renova
sua plenitude e permanece o que é. É nessa assembleia que as Sagradas
Escrituras são cantadas e encontram lugar de destaque. Esse canto não é uma
mera leitura de um texto antigo, mas a voz viva de Cristo e Seus apóstolos,
falando diretamente ao coração do crente. Essa experiência de Cristo na
proclamação dos textos bíblicos é definitiva para o cristão ortodoxo. A fé da
igreja, expressada pela adoração litúrgica, torna-se o contexto e as lentes por
meio das quais as Sagradas Escrituras são lidas. 51 É somente dentro da
tradição bíblica da igreja sob a inspiração direta do Espírito de Cristo que se
pode interpretar a Bíblia de maneira apropriada. E isso nos leva ao próximo
tema importante de discussão: a autoridade da tradição na Igreja Ortodoxa.
Autoridade e tradição
A palavra “tradição” é ambígua. Em primeiro lugar, denota a soma total da
herança cristã transmitida de eras anteriores. A Bíblia é somente um item da
tradição em seu sentido mais abrangente. Segundo, o ato de transmitir essa
herança é descrito, às vezes, como “tradição ativa”, com ênfase no processo,
não no conteúdo. O terceiro significado é idêntico ao primeiro, com exceção
de que as Escrituras são excluídas.
A questão da relação entre as Escrituras e a tradição sempre foi controversa
na história da igreja. A. N. S. Lane delineia o desenvolvimento de quatro
pontos de vista diferentes da relação entre as Escrituras, a tradição e o ensino
da igreja. Embora o estudo seja feito da perspectiva ocidental, suas
observações são muito úteis para nosso debate. 52
A primeira é a abordagem coincidente, segundo a qual o ensino da igreja,
das Escrituras e da tradição coincidem. Nessa perspectiva, a tradição
apostólica tem autoridade, mas não difere em conteúdo das Escrituras. O
ensino da igreja também tem autoridade, mas é apenas uma proclamação da
mensagem apostólica encontrada nas Escrituras e na tradição. A
personificação clássica da abordagem coincidente é encontrada nos escritos
de Irineu e Tertuliano.
A segunda é a abordagem complementar, que evoluiu aos poucos da
abordagem coincidente. De acordo com essa perspectiva, a tradição não só
apresenta o conteúdo das Escrituras de forma diferente, como também o
complementa. Logo, as Escrituras se tornaram material e formalmente
insuficientes. Com base em Lane, fica claro que esse ponto de vista surgiu na
igreja cristã, mas não se sabe ao certo como nem quando começou. 53
O terceiro ponto de vista está ligado à Reforma Protestante na Europa. A
atitude dos reformadores em relação à tradição não era nem coincidente nem
complementar, mas subsidiária. Viam a tradição não como uma interpretação
normativa das Escrituras nem como complemento necessário a ela, mas como
uma ferramenta para ajudar a igreja a entendê-la. A tradição, declara Lane,
foi, em certo sentido, destituída de seu caráter santo. 54 O princípio Sola
Scriptura recebeu supremacia na leitura da Bíblia.
A última perspectiva analisada por Lane é chamada de abordagem
desenvolvedora, que se tornou preeminente graças à ideia de
desenvolvimento doutrinário. Assim como o conceito da insuficiência das
Escrituras gerou a necessidade da abordagem complementar, o conceito de
insuficiência da tradição (inicial) deu origem à abordagem desenvolvedora.
Durante o século 17, ficou aparente que a tradição inicial não era suficiente
para embasar os ensinos da igreja na época.
Todas essas abordagens refletem a compreensão ocidental da relação entre
as Escrituras e a tradição. A abordagem da Igreja Ortodoxa ao problema é
totalmente diferente das debatidas acima. Ao mesmo tempo, o conceito
ortodoxo de tradição é crucial para a percepção da ideia de autoridade. 55
Para o cristão ortodoxo, existe uma tradição – a tradição da igreja – que
abrange as Escrituras e os ensinos dos Pais. A igreja e a tradição se
encontram além da história, muito embora ambas existam dentro da história.
Têm valor eterno porque Cristo, o fundador da igreja, não tem princípio nem
fim. Em outras palavras, quando a universalidade da tradição da igreja é
mencionada, ela se refere ao dom do Espírito Santo, que capacita a igreja a
preservar a verdade apostólica livre de adulterações, interrupções e alterações
até o fim. Isso é verdade porque a tradição exprime a mentalidade ortodoxa
comum da igreja como um todo, contra todas as heresias e cisões de todas as
eras.
É importante enfatizar tanto a temporalidade quanto a atemporalidade dos
dois aspectos fundamentais da tradição sagrada. Georges Florovsky escreveu:
CONCLUSÃO
Em nossa pesquisa, abordamos a questão da autoridade e unidade da igreja
da perspectiva ortodoxa. Constatamos que a eclesiologia tem significância
crucial para a Igreja Ortodoxa. É a pedra fundamental de sua teologia. Molda
a teologia ortodoxa em geral e é com base nela que os dogmas ortodoxos
foram deduzidos.
De acordo com a Igreja Ortodoxa, a unidade se manifesta pela união de fé e
consciência, pela doutrina, pela unidade de oração e sacramentos, sobretudo
na eucaristia. A unidade da igreja é tanto interna quanto externa. A unidade
interna da igreja corresponde à unidade do corpo de Cristo e à vida
sacramental da igreja. As diferentes comunidades de cristãos ortodoxos
entram em comunhão por meio dos sacramentos. Essa unidade interna é o
fundamento da unidade externa, isto é, a organização eclesiástica. Se, no
Ocidente, a organização eclesiástica possui valor decisivo e a igreja existe na
unidade do poder eclesiástico contido nas mãos de seu representante único,
no cristianismo oriental, a unidade não é realizada pela união de poder sobre
toda a igreja universal, mas pela união de fé, vida sacramental e tradição. O
conceito ortodoxo de “sobornost” ou “conciliaridade” é importante sobretudo
para a compreensão da unidade da igreja.
Ao mesmo tempo, é possível ver claramente dois modelos de unidade cristã
na Igreja Ortodoxa, com base na ênfase na igreja local ou universal. Se a
igreja local assume prioridade sobre a universal, então a união representa a
comunhão dessas igrejas locais. Todavia, se a igreja universal tem prioridade
sobre a local, então a unidade se cumpre mediante o compartilhamento da
mesma fé e por meio de uma comunhão visível entre os bispos que lideram as
igrejas locais. Em termos ecumênicos modernos, o primeiro modelo enfatiza
a eucaristia como meio de alcançar a unidade, enquanto o segundo a enxerga
mais como um sinal de unidade.
Também vimos que a Igreja Ortodoxa não formula um conceito forte de
autoridade. A ênfase recai sobre o fluxo de graça, verdade e vida
personificados na igreja como um todo. Isso não quer dizer, porém, que, no
pensamento ortodoxo, a noção de autoridade esteja ausente por completo.
Muitos teólogos ortodoxos abordam a questão da autoridade, mas a entendem
como uma categoria da “vida graciosa”, não como alguém que tem status
jurídico. Por causa disso, a principal categoria que se destaca é a tradição. Ela
é um ponto-chave para o conceito de autoridade. Da perspectiva ortodoxa, a
tradição é um dom do Espírito Santo, uma experiência viva, que é revivida e
renovada com o tempo. É a fé verdadeira, revelada pelo Espírito Santo ao
verdadeiro povo de Deus. Essa compreensão ampla e praticamente amorfa da
tradição, porém, não permite que ela funcione como cerne da autoridade
eclesiástica.
Da perspectiva adventista, a autoridade final para a igreja provém do Verbo
de Deus encarnado, Jesus Cristo, que Se manifestou para nós por meio da
Palavra escrita. É essa Palavra que deve ser nosso único critério para avaliar
qualquer voz ou mensagem. Em contraste com o conceito ortodoxo de
unidade da igreja, que é sacramental por natureza, os adventistas dão mais
ênfase ao aspecto missiológico da unidade. É a união de mensagem, missão e
esperança que define a identidade adventista e cria a unidade da igreja pelo
poder do Espírito.
1 Antes da cisão final da Igreja Católica única entre as igrejas ocidental e oriental (que aconteceu em
1054), a palavra “Ortodoxia” não era usada para denotar a parte oriental do cristianismo. Significava fé
“correta” ou “verdadeira”, em geral. Nesse sentido, era igualmente aplicada às duas ramificações da
igreja cristã. Qualquer um que ensinasse o evangelho de acordo com os ensinos de Cristo e dos
apóstolos podia ser chamado de “ortodoxo”. Foi exatamente nesse sentido que Clemente de Alexandria
começou a usar o termo no 2o século, contrapondo a ortodoxia dos cristãos verdadeiros e a heterodoxia
dos falsos mestres. A palavra “ortodoxia” passou a ser associada à parte oriental do cristianismo após a
grande cisão, na qual a ramificação ocidental do cristianismo, liderada pelo papa, recebeu o nome de
católica. A igreja oriental reconhece a própria ortodoxia em seguir estritamente as decisões dos
concílios ecumênicos e em sua oposição à controvérsia do “filioque” e de dogmas novos da Igreja
Católica, como a concepção imaculada e a infalibilidade papal.
2 A Igreja Ortodoxa Russa é a maior. De acordo com informações fornecidas pelo patriarcado de
Moscou, o número de pessoas que pertence à Igreja Ortodoxa Russa passa de 60 milhões. Os
sociólogos consideram esse número superestimado. De acordo com informações estatísticas fornecidas
pelo Ministério das Relações Interiores, somente 7,1 milhões de russos foram à igreja na Páscoa em
2012, ou seja, cinco por cento. Em Moscou, o percentual foi ainda menor: somente 1,5% (SOVA
Center of Information and Analysis). Disponível em <http://www.sova-
center.ru/religion/discussions/how-many/2012/04/d24192/>, acesso em 29 de novembro de 2019.
3 Por esse motivo, “Ortodoxia” ou “Igreja Ortodoxa” são as melhores formas de se referir a uma
grande e diversa família de crentes do mundo inteiro que compartilham da mesma fé.
4 Ernst Benz, The Eastern Orthodox Church: Its Thought and Life (Garden City, NY: Anchor Books,
1963), p. 1.
5 Daniel B. Clendenin, Eastern Orthodox Christianity: A Western Perspective (Grand Rapids, MI:
Baker Books, 1994), p. 15.
6 Citado por Timothy Ware, The Orthodox Church (Baltimore, MD: Penguin Books, 1964), p. 9.
7 Atualmente, as igrejas ortodoxas na América são etnicamente separadas (grega, romena, sérvia) ou
afiliadas canonicamente (por exemplo, a romena sob o Patriarcado Romeno; e a Igreja Ortodoxa na
América). Essas igrejas ortodoxas têm o mesmo território geográfico, por isso, suas jurisdições se
sobrepõem. A maioria tem o próprio sínodo para resolver questões administrativas internas. No entanto,
todas as hierarquias se reúnem periodicamente no evento conhecido como Standing Conference of the
Canonical Orthodox Bishops in America (SCOBA) [Conferência participativa dos bispos ortodoxos
canônicos da América]. Contudo, esse grupo não tem qualquer autoridade administrativa sobre seus
membros. Além dos sínodos individuais e da SCOBA, há um terceiro nível de estrutura eclesiástica na
América, a saber, a Igreja Ortodoxa na América, formada por sete igrejas étnicas com jurisdições
sobrepostas. Entretanto, o sínodo e outras estruturas têm plena autoridade sobre todos os seus membros.
8 Nicholas Afanasiev, The Church of the Holy Spirit (Notre Dame, IN: University of Notre Dame
Press, 2007); Afanasiev, “The Church Which Presides in Love” em John Meyendor, org., The Primacy
of Peter: Essays in Ecclesiology and the Early Church (Crestwood, NY: St Vladimir’s Seminary Press,
1992), p. 91-143.
9 Vladimir Lossky, The Mystical Theology of the Eastern Church (Londres: James Clarke, 1957);
Lossky, “La Tradition et les Traditions”, em Messager de l’Exarchat du Patriarche Russe en Europe
Occidentale 30-31 (1959), p. 101-121; Lossky, Orthodox Theology: An Introduction (Crestwood, NY:
St. Vladimir’s Seminary Press, 1978).
10 John Meyendorff, Rome, Constantinople, Moscow (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press,
1996); Meyendorff, The Byzantine Legacy in the Orthodox Church (Crestwood, NY: St. Vladimir’s
Seminary Press, 1982); Meyendorff, Vision of Unity (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press,
1987); Meyendorff, Catholicity and the Church (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press,
1983); Meyendorff, Living Tradition (Crestwood, NY: St Vladimir’s Seminary Press, 1978).
11 Georges Florovsky, Bible, Church, Tradition: An Eastern Orthodox View, Collected Works, v. 1
(Belmont, MA: Nordland Publishing, 1972).
12 John Zizioulas, Being as Communion: Studies in Personhood and the Church (Crestwood, NY: St
Vladimir’s Seminary Press, 1997); Zizioulas, Eucharist, Bishop, Church: The Unity of the Church in
the Divine Eucharist and the Bishop During the First Three Centuries (Brookline, MA: Holy Cross,
2001); Zizioulas, Communion & Otherness: Further Studies in Personhood and the Church (Londres:
T & T Clark, 2007); Paul McPartlan, Eucharist Makes the Church: Henri De Lubac and John Zizioulas
in Dialogue (Edinburgh: T & T Clark, 1993).
13 Alexander Schmemann, The Eucharist: Sacrament of the Kingdom (Crestwood, NY: St. Vladimir’s
Seminary Press, 1987); Schmemann, Church, World, Mission: Reflections on Orthodoxy in the West
(Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 1979); Schmemann, For the Life of the World:
Sacraments and Orthodoxy (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 1973).
14 Dumitru Staniloae, Theology and the Church (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press,
1980); Staniloae, Liturgy of the Community and the Liturgy of the Heart: From the Viewpoint of the
Philokalia, ([s.l.], 1980); Staniloae, Spiritualitate si comuniune in Liturghia Ortodoxa (Craiova: Editura
Mitropoliei Olteniei, 1986). Cf. Radu Bordeianu, Dumitru Staniloae: An Ecumenical Ecclesiology
(Nova York: T & T Clark, 2011).
15 Cf., Oleg Davydenkov, Dogmaticheskoe Bogoslovie: Uchebnoe posobie (Moscow: PSTGU Press,
2013), p. 453-483.
16 Sergei Bulgakov, The Orthodox Church (Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 1988).
17 Archbishop Hilarion (Troitsky), Bez Tserkvi net spasenia (Moscow, 1998), p. 21.
18 Metropolitan Makarii, Pravoslavno-Dogmaticheskoe Bogoslovie (St. Petersburg, 1857), v. 2, p.
145.
19 Makarii, Pravoslavno-Dogmaticheskoe Bogoslovie, v. 2, p. 145.
20 Metropolitan Philaret (Drozdov), Prostranny Christianskiy Katehisis (Moscow: Isdatel’sky Sovet
Russkoi Pravoslavnoi Tserkvi, 2006), p. 51. Esse detalhe é bem importante. Quando falamos hoje sobre
a igreja invisível da perspectiva adventista, estamos nos referindo a todos os cristãos sinceros que não
pertencem à igreja visível. Nós os denominamos usando as palavras de Jesus: “outras ovelhas, não
deste aprisco” (Jo 10:16).
21
Philaret, Prostranny Christianskiy Katehisis, p. 50.
22 Cf. Davydenkov, Dogmaticheskoe Bogoslovie, p. 486.
23 Evgenii Akvilonov é autor de um livro clássico que analisa e avalia diferentes definições de igreja
(The Church, Scientific Definitions of the Church and Apostolic Teaching on the Church as a Body of
Christ [St. Petersburg, 1894]).
24 Em russo, o adjetivo soborny tem o duplo sentido de “católico” e “conciliar”, ao passo que o
substantivo correspondente, sobor, quer dizer tanto “igreja” quanto “concílio”.
25 Bulgakov, Orthodox Church, p. 60.
26 Florovsky, “The Catholicity of the Church” em Florovsky, p. 41.
27 Nicholas Afanasiev, “Una Sancta”, em Michael Plekon, ed., Tradition Alive: On the Church and
the Christian Life in Our Time (Lanham, MD: Rowman & Littlefield, 2003), p. 14.
28 Nicholas Afanasiev, “The Church Which Presides in Love” em Meyendor, org., The Primacy of
Peter, p. 95.
29 Afanasiev, “Una Sancta” em Plekon, Tradition Alive: On the Church and the Christian Life in Our
Time, p. 14.
30 Radu Bordeianu, “Orthodox-Catholic Dialogue: Retrieving Eucharistic Ecclesiology”, Journal of
the Evangelical Society 44, nº 2 (primavera de 2009), p. 242.
31 Afanasiev, “The Church Which Presides in Love” em Meyendor, ed., The Primacy of Peter, p. 107.
32 Afanasiev, “Una Sancta” em Plekon, Tradition Alive: On the Church and the Christian Life in Our
Time, p. 15.
33 Paradoxalmente, porém, tanto as igrejas católicas quanto as ortodoxas adotaram a posição de
Cipriano, cada uma delas se considerando a igreja verdadeira.
34
Nicolai Afanasiev, “The Eucharist: The Principal Link Between the Catholic and the Orthodox”,
em Plekon, Tradition Alive: On the Church and the Christian Life in Our Time, p. 48.
35 Afanasiev, “Una Sancta” em Plekon, Tradition Alive: On the Church and the Christian Life in Our
Time, p. 25, 26.
36 Timothy Ware, “Church and Eucharist, Communion and Intercommunion”, Sobornost 7.7 (1978),
p. 557, 558.
37 Ver um estudo recente sobre eclesiologia da comunhão em Philip Kariatlis, “Affirming Koinonia
Ecclesiology: An Orthodox Perspective”, Phronema 27, nº 1 (2012), p. 51-66.
38 John D. Zizioulas, Eucharist, Bishop, Church: The Unity of the Church in the Divine Eucharist and
the Bishop During the First Three Centuries (Brookline, MA: Holy Cross Orthodox Press, 2001), p.
126.
39 Ele explora o tema no livro Spirituality and Communion in the Orthodox Liturgy. Cf. Staniloae,
Spiritualitate si Communiune. Ver uma comparação excelente entre as eclesiologias desenvolvidas por
Zizioulas e Staniloae e a descrição que fazem da relação entre a eucaristia e a igreja em Calinic Berger,
“Does the Eucharist Make the Church: An Ecclesiological Comparison of Staniloae and Zizioulas”,
Saind Vladimir’s Theological Quarterly 51, nº 1 (2007), p. 23-70.
40 Staniloae, Spiritualitate si communiune, p. 398.
41 Bordeianu, “Orthodox-Catholic Dialogue”, p. 256.
42 A posição de Afanasiev parece inconsistente quando ele diz: “A Igreja Ortodoxa está
absolutamente certa em se recusar a reconhecer a doutrina contemporânea de que a primazia pertence
ao bispo de Roma. Contudo, essa posição não se fundamenta nos numerosos argumentos que já foram
feitos contra a primazia, mas no próprio fato do não reconhecimento” (Afanasiev, “Church which
Presides in Love”, p. 142). Parece que o autor não tem certeza se a primazia papal é uma questão
canônica ou doutrinária. Por isso, o papel do papa em uma igreja unida continua a ser uma questão
aberta.
43 Bordeianu, “Orthodox-Catholic Dialogue”, p. 258.
44 Alguns teólogos pensam que Zizioulas e Staniloae desconsideraram Afanasiev de forma injusta,
levando ao extremo as consequências de sua teologia. Têm a certeza de que Afanasiev não negava a
importância da união dogmática como ingrediente necessário para a unidade cristã. De fato, ele não
reduziu a questão da primazia papal a um ponto completamente canônico. Escreveu que “a eclesiologia
eucarística exclui a ideia da primazia pela própria natureza” (Afanasiev, “Church which Presides in
Love”, p. 115).
45 O teólogo ortodoxo contemporâneo John Meyendorff fez o seguinte comentário: “A falta de
critérios claramente definidos e imutáveis da verdade na eclesiologia ortodoxa, com exceção de Deus,
Cristo e do Espírito Santo, sem dúvida parece uma das diferenças mais significativas entre a Igreja
Ortodoxa e todos os outros ensinos ocidentais clássicos sobre a igreja” (Meyendorff, Living Tradition,
p. 20).
46 Ver um debate completo sobre o assunto em Don Fairbairn, Eastern Orthodoxy Through the
Western Eyes (Louisville, KY: Westminster John Knox, 2002), p. 11-21.
47 John Zizioulas, Being as Communion: Studies in Personhood and the Church (Crestwood, NY: St.
Vladimir’s Seminary Press, 1985), p. 242, destaca que nenhuma decisão conciliar pode vigorar até que
as comunidades da fé que enviaram seus bispos como delegados ao concílio recebam a decisão. “É por
esse motivo que um concílio verdadeiro só pode receber esse nome a posteriori. Não é uma instituição,
mas um evento do qual toda a comunidade participa e mostra se seu bispo agiu ou não de acordo com
seu charisma veritatis (‘dom da verdade’).” De maneira semelhante, Kallistos Ware, The Orthodox
Church (England: Penguin, 1963), p. 257, declara: “Um verdadeiro concílio ecumênico de bispos
reconhece o que é a verdade e a proclama. Essa proclamação é, então, verificada pela concordância de
todo o povo cristão, uma concordância que não é, de modo geral, expressa formal e explicitamente, mas
vivida.”
48 Ver uma introdução para o problema em James Barr, The Scope and Authority of the Bible
(Londres: SCM, 2002); John Barton, People of the Book? The Authority of the Bible in Christianity
(Londres: SPCK, 1988).
49 Sobre o ponto de vista ortodoxo em relação à Bíblia, ver Florovsky, Bible, Church, Tradition.
50 Cf. Lawrence R. Farley, The Inspiration of Scripture and the Orthodox Church. Disponível em
<http://www.allsaints-ofalaska.ca/index.php/the-orthodox-church>.
51 Isso não quer dizer, é claro, que a Bíblia só é lida durante os serviços litúrgicos. Em vez disso, a
experiência litúrgica e os insights obtidos durante a liturgia e a adoração se tornam normativos para a
leitura particular das Sagradas Escrituras.
52 A. N. S. Lane, “Scripture, Tradition and Church: An Historical Survey”, Vox Evangelica 9 (1975),
p. 37-55.
53 Lane, “Scripture, Tradition and Church: An Historical Survey”, p. 40. O ponto de vista
complementar é encontrado com clareza no gnosticismo e nos ensinos de Clemente de Alexandria, mas
esses não são importantes porque o primeiro foi claramente rejeitado pela igreja e o último não exerceu
influência alguma a esse respeito.
54 Lane, “Scripture, Tradition and Church: An Historical Survey”, p. 43.
55 Ver uma introdução a esse problema em Archimandrite Chrysostomos and Archimandrite
Auxentios, Scripture and Tradition (Etna, CA: The Center for Traditionalist Orthodox Studies, 1994);
Florovsky, Bible, Church, Tradition; Vladimir Lossky, “Tradition and Traditions” em J. H. Erickson e
T. E. Bird, eds., In The Image and Likeness of God (Crestwood, NY: SVS Press, 1974), p. 141-168; C.
Scouteris, “Paradosis: The Orthodox Understanding of Tradition”, Sobornost 4, nº 1 (1982), p. 30-37.
56 Florovsky, Bible, Church, Tradition, p. 47.
57 Esse fato também foi admitido por teólogos ortodoxos. Cf. Nikos A. Nissiotis, “The Unity of
Scripture and Tradition”, Greek Orthodox Theological Review 11 (1966), p. 189.
58 Macarius of Moscow, Introduction to the Orthodox Theology (Moscow: ACT, 2000), p. 430-434.
59 Historicamente, os critérios eram divididos em internos e externos. Os sinais internos da veracidade
da tradição eram: ausência de contradições internas, conformidade com outra tradição apostólica já
conhecida e inquestionável, e conformidade com as Sagradas Escrituras. O significado dos critérios
externos da tradição foi expresso por Tertuliano em sua época: “Aquilo que é registrado da mesma
forma por muitos não é inventado, mas herdado” (citado por: Macarius of Moscow, Introduction to the
Orthodox Theology, p. 437). Vincent of Lérins resumiu esse princípio na conhecida máxima em latim:
Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est (“O que se crê em toda parte, desde sempre,
por todos é verdadeiro”).
60 George Florovsky, “Theological Extracts”, Vestnik 105-108 (1981-1982), p. 193, 194.
61 Davydenkov, Dogmaticheskoe Bogoslovie, p. 40.
62 Davydenkov, Dogmaticheskoe Bogoslovie, p. 19-21.
63 Vladimir Lossky, “Tradition and Traditions”, Moscow Patriarchate Journal 4 (1970), p. 68.
64 Lossky, “Tradition and Traditions”, p. 67.
65 Confira uma introdução adventista à autoridade da igreja em Raoul Dederen, “The Church:
Authority and Unity, Part 1: Church Authority: Its Source, Nature, and Expression”, Ministry (maio de
1995), Supplement, p. 2-10.
66 Dederen, “The Church”, p. 3.
67 Até mesmo alguns eruditos ortodoxos admitem isso. Assim, Christos Yannaras crê que os critérios
para a verdade vêm da filosofia grega, que considerava a interpretação humana algo de importância
suprema. Menciona Heráclito, que costumava dizer: “Sempre que concordamos, lidamos com a
verdade; mas quando nossas sugestões individuais diferem, estamos errados.” Christos Yannaras, The
Belief of the Church: Introduction to the Orthodox Theology (Moscow: Religious Research Center,
1992), p. 214, 215.
68 Ellen G. White deixou bem claro que “a nossa regra de fé é a Bíblia, e a Bíblia só” (Ellen G. White,
Conselhos Sobre Escola Sabatina [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004], p. 84). A conclusão
de seu primeiro livro define o tom de seu posicionamento acerca da relação de seus escritos com a
Bíblia: “Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática. Por essa
Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos ‘últimos dias’; não para uma nova regra
de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica” (Ellen G.
White, Primeiros Escritos [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014] p. 78). Ela foi explícita ao
ratificar o princípio sola Scriptura da Reforma Protestante: “Em nosso tempo, há um grande
afastamento das doutrinas e preceitos bíblicos, e há necessidade de um retorno ao grande princípio
protestante – a Bíblia, e apenas a Bíblia, como regra de fé e prática. [...] Deus terá na Terra um povo
que se fundamentará na Bíblia, e apenas na Bíblia, como norma de todas as doutrinas e base de todas as
reformas” (Ellen G. White, O Grande Conflito [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019], p. 204,
205, 595).
69 Cf. Ángel Manuel Rodríguez, “Autoridade Eclesiástica: Origem, Natureza e Função”, nesta obra.
70 Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Divisão Sul-Americana da Associação Geral dos
Adventistas do Sétimo Dia [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019], p. 90.
71 Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2014), v. 6, p. 820, 821.
17
Tendências e Fatores que Afetam o Futuro da
Organização Eclesiástica Adventista
Lowell C. Cooper
PRINCÍPIOS ORGANIZACIONAIS NO
DESENVOLVIMENTO INICIAL DA ESTRUTURA DA
IGREJA ADVENTISTA 1
Vemos muitas coisas de maneira diferente do que há dez anos e espero que vejamos
muitas outras mais. À medida que chega nova luz, devemos avançar junto a ela e não
nos apegar rigidamente a antigas formas e velhos métodos. Apenas porque algo é
feito de determinada maneira em um lugar não quer dizer que deve ser feito da
mesma forma em outro lugar, nem no mesmo lugar, ao mesmo tempo. 7
Fatores externos
O impacto da tecnologia
Ao longo das duas últimas décadas, o desenvolvimento da tecnologia de
comunicação digital e por satélite mudou drasticamente a capacidade de
indivíduos e organizações reterem, processarem, administrarem e
distribuírem informação. Países inteiros que tinham uma infraestrutura
limitada de comunicação via terrestre conseguiram saltar gerações de
tecnologia e aderir à era da comunicação digital. Segundo Thomas L.
Friedman:
Fatores internos
CONCLUSÃO
Formas de adoração
medida que a Igreja Adventista do Sétimo Dia continua a entrar em
Contextualização e sincretismo
A contextualização é definida neste documento como uma tentativa
intencional e diferenciada de comunicar a mensagem do evangelho de
maneira culturalmente significativa. A contextualização adventista do sétimo
dia é motivada pela responsabilidade séria de cumprir a comissão evangélica
em um mundo muito diverso. Baseia-se na autoridade das Escrituras e na
guia do Espírito, com o objetivo de transmitir as verdades bíblicas de forma
culturalmente relevante. Ao empreender essa tarefa, a contextualização deve
ser fiel às Escrituras e significativa para a cultura anfitriã. É preciso lembrar
sempre que todas as culturas devem ser julgadas com base no evangelho.
A contextualização intencional do jeito de comunicar nossa fé e prática é
bíblica, legítima e necessária. Sem ela, a igreja corre o risco de ter atritos na
comunicação e ser mal compreendida, perder sua identidade ou cair no
sincretismo. Historicamente, as adaptações acontecem no mundo inteiro e são
uma parte crucial da disseminação das três mensagens angélicas para todo
reino, nação, tribo e povo. Isso continuará a acontecer.
À medida que a igreja avança para áreas não cristãs, a questão do
sincretismo – a mistura da verdade religiosa com o erro – se torna um desafio
e uma ameaça constantes. Afeta todas as partes do mundo e deve ser levada a
sério ao analisarmos a prática da contextualização. Esse tema é destacado
pelo entendimento adventista do sétimo dia do grande conflito entre o bem e
o mal, que explica o modus operandi de Satanás, o qual distorce e
compromete a verdade sem negá-la, mas misturando verdade e erro, privando
o evangelho de seu verdadeiro impacto e poder. Nesse contexto de perigo e
possível distorção, a contextualização crítica é indispensável.
Como as consequências do pecado e a necessidade de salvação são comuns
a toda a humanidade, existem verdades eternas que todas as culturas
necessitam saber, as quais, em alguns casos, podem ser comunicadas e
vivenciadas de formas distintas, mas, ao mesmo tempo, equivalentes. A
contextualização tem o objetivo de exaltar todas as crenças fundamentais e
torná-las compreensíveis em sua plenitude.
Na busca pela melhor maneira de contextualizar, ao mesmo tempo em que
se rejeita o sincretismo, certas diretrizes devem ser seguidas:
1. Uma vez que a contextualização acrítica é tão perigosa quanto a ausência
de contextualização, ela não deve ser feita a distância, mas no contexto de
uma situação cultural específica.
2. A contextualização é um processo que deve envolver os líderes da igreja
mundial, teólogos, especialistas em missão, pessoas locais e pastores. Esses
indivíduos devem ter uma compreensão clara dos elementos centrais da
cosmovisão bíblica, a fim de ser capazes de diferenciar verdade e erro.
3. A análise do elemento cultural específico requer uma reflexão
especialmente cuidadosa acerca do significado do elemento cultural
específico em questão.
4. É indispensável o exame de tudo o que a Bíblia diz sobre o assunto em
questão. É necessário refletir em todos os desdobramentos dos ensinos e
princípios bíblicos e pesar quais serão as consequências das estratégias
propostas.
5. Em atitude de oração e reflexão, a instrução bíblica é normativa e deve
ser aplicada ao elemento cultural específico em questão. A análise pode levar
a um dos resultados a seguir:
a. O elemento cultural particular é aceito por ser compatível com os
princípios bíblicos.
b. O elemento cultural particular é modificado para se tornar compatível
com os princípios cristãos.
c. O elemento cultural particular é rejeitado por contradizer os princípios
das Escrituras.
6. O elemento cultural particular que foi aceito ou modificado é
implementado cuidadosamente.
7. Após um período de teste, pode ser necessário avaliar a decisão tomada e
determinar se deve ser descontinuada, modificada ou mantida.
Por fim, toda contextualização verdadeira deve se sujeitar à verdade bíblica
e mostrar resultados para o reino de Deus. A unidade da igreja global requer
uma exposição regular uns aos outros, à cultura uns dos outros e à avaliação
uns dos outros, para que, “com todos os santos”, possamos compreender
“qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o
amor de Cristo” (Ef 3:18, 19).
Statements, Guidelines, and Other Documents (Silver Spring, MD: General
Conference of the Seventh-day Adventist Church Communication
Department, 2010), p. 147-150.
Nota: Essas diretrizes foram elaboradas pela Comissão de Missão Global
(ADCOM-S) e editadas pelo Instituto de Pesquisa Bíblica. Foram as
primeiras de uma série de diretrizes apresentadas à Comissão Diretiva da
Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia para serem avaliadas
em junho e julho de 2003. O objetivo é que as diretrizes sejam usadas,
conforme apropriado, por administradores da igreja, educadores e outros ao
proclamar o evangelho em ambientes predominantemente não cristãos.
Anexo 2
Filosofia Adventista do Sétimo Dia Sobre a
Música
O canto é um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades
espirituais. Quantas vezes, à pessoa duramente oprimida e à beira do desespero, vêm
à memória algumas das palavras de Deus – as de um refrão, há muito esquecido, de
um hino da infância –, e as tentações perdem seu poder, a vida assume novo
significado e novo propósito, e o ânimo e a alegria são transmitidos a outras pessoas!
[...] Como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto quanto a oração. De
fato, muitos hinos são orações. [...] Ao sermos guiados pelo nosso Redentor ao limiar
do Infinito, que resplandece com a glória de Deus, podemos aprender o tema dos
louvores e das ações de graças do coro celestial em redor do trono; e despertando-se
o eco do cântico dos anjos em nossos lares terrestres, os corações serão levados para
mais perto dos cantores celestiais. A comunhão do Céu começa na Terra. Aqui
somos afinados com seu louvor. 4
1 “[A música] é um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais”
(Ellen G. White, Educação [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016], p. 168).
2 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, 9 v. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v.
1, p. 497. Ela também declara que, no futuro: “Antes da terminação da graça [...] haverá gritos com
tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode
confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo. O Espírito Santo
nunca Se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isto é uma invenção de Satanás para
encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, e santificante
verdade para este tempo” (Ellen G. White, Maranata [Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1977], p. 232).
3 White, Educação, p. 167.
4 White, Educação, p. 168.
5 Reconhecemos que, em algumas culturas, a harmonia não é tão importante quanto em outras.
Anexo 3
Declaração de Consenso Sobre a Teologia
Adventista do Sétimo Dia de Ordenação