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Atividade 3

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CP4 – Processos identitários

Atividade 3
Estereótipos, preconceitos e representações sociais

Tertúlia de café na primeira metade do séc. XX

A realidade social, como aliás, a realidade em geral, é apercebida ("conhecida") por parte
dos sujeitos através de "representações"; quer dizer, através de "prismas" que decorrem de
contextos socioculturais complexos.
As noções que temos acerca do "mundo" ou seja, da realidade a que é dado sentido, só o
fazem porque a linguagem e o pensamento lho atribuem. Assim, quando cada um de nós
chegou ao "mundo", este já se encontrava constituído e a nossa "socialização"consistiu (e
consiste) numa adaptação progressiva e seletiva a esse "mundo" que continua a estruturar-
se durante a nossa existência e para além dela.
Para que tudo faça sentido, tenha significado e nos possibilite orientarmo-nos, precisamos
de referências que nos permitam nomear a realidade e agir dentro dela; a essas referências
podemos chamar "conceitos", ou seja, "ideias" que permitem representar seres, objetos ou
ações e lidar com eles.
Muitas dessas noções são de origem social e constituem o chamado " senso comum" que
tem por função tornar possível a comunicação indispensável ao quotidiano; se entrar num
café e pedir uma "bica", sei que me fornecerão uma pequena chávena de uma bebida de café
e água obtida através de uma máquina de pressão e temperatura elevadas, técnica e
comercialmente designada por "expresso".

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Pedir uma "bica" dispensa-nos de pormenores técnicos e científicos e facilita-nos a ingestão
tranquila do nosso "café" ou seja, bebida de café, geralmente consumida ao balcão de um
estabelecimento também designado por "Café" (modernamente, o mais "abrasucado"-
"Cafetaria").
Ora, quando eu era jovem, dizia-se que fazer "vida de café" era não trabalhar ou trabalhar
pouco, não estudar ou estudar pouco e sobretudo "dar muito à língua" e "mexericar". Hoje a
maior parte das pessoas já não tem tempo para fazer "vida de café", a vida está demasiado
rápida e sufocante e os Cafés, ou se tranformaram em agências bancárias ou praticamente
eliminaram as mesas e deram lugar aos grandes balcões do "come-em-pé" onde as "bicas"
entram a escaldar pela goela abaixo e conversa é reduzida ao mínimo do "olá, tudo bem" ?
Assim fazer "vida de café" constituía um "estilo" de vida, um "tipo" de ocupação cuja
especialidade era ou parecia ser, a de estar permanentemente desocupado, essa expressão
correspondia e de certo modo, ainda corresponde, a um "estereótipo", que designava um
tipo de indivíduos que geralmente eram considerados como os que "não faziam nenhum" e
claro, que em relação a eles havia preconceitos, os que passavam a "vida nos cafés" ou
andavam a "polir esquinas" ou eram "madraços" profissionais ou "chulos" ou coisa assim ,
boa coisa é que de certeza, não eram.
No entanto homens como Fernando Pessoa "passaram a vida no café" e hoje ninguém
poderá dizer que Pessoa "não fez nenhum", sendo até celebrado como um herói ,
infelizmente e como de costume, póstumo, da nossa e para utilizar uma expressão sua,
"Pátria/Língua"!
Por este e por muitos mais exemplos, se pode verificar que estereótipos e preconceitos se
implicam mutuamente, decorrem uns dos outros e alimentam-se em reciprocidade e são
enganadoras e abusivas formas de percepção da realidade, que do ponto de vista da vida em
sociedade não costumam trazer nada de positivo, antes pelo contrário: constituindo, em
regra, mecanismos de exclusão ou discriminação negativa.
Só um posicionamento reflexivo e crítico nos permite evitar esclarecidamente as
"armadilhas" e os "alçapões" de uma linguagem estereotipada e de um pensamento
preconceituoso que constituem obstáculos sérios à coesão social, absolutamente necessária
para a construção da vida em comunidade.

ATIVIDADES
1 - Caraterize, a partir dos três primeiros parágrafos do texto, o conceito de "representação
social".

2 - Explicite, apoiando-se, se necessário, no texto a função social "facilitadora" de uma certa


estereotipia.

3 - Identifique no texto um estereótipo e um preconceito.

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4 - Justifique a escolha anterior.

5 - Relacione "estereótipos" e "preconceitos" com a verdade que deve constituir uma


avaliação justa da realidade.

6 - Fundamente a necessidade do desenvolvimento de um espírito reflexivo e crítico que


possibilite essa avaliação.

Empatia, Compaixão e Solidariedade

A identidade estabelece-se através de um conjunto de vínculos que permitem, a cada um


de nós, reconhecer-se e ser reconhecido. Um nome próprio e um nome de família que nos
identificam enquanto indivíduos pertencentes a um primeiro grupo, naturais de uma
determinada freguesia, munícipes de um
determinado concelho, cidadãos de um país e do
mundo.
Nesse mundo, nesse país, nesse concelho, nessa
freguesia e até, nessa família, há, certamente, outros
indivíduos que constituem, face a um sujeito, os
referentes daquilo a que se pode chamar a
alteridade.
A alteridade é tudo aquilo que é da ordem do exterior
a nós, o que é próprio do "Outro" ( alter). A relação que se estabelece entre o mesmo e o
outro, entre o idêntico e o diferente, é a relação que permite aceder ao mundo. O autismo,
por exemplo, significa a ausência da ponte entre o mesmo e o outro e, assim, o
mundo permanecerá sempre desconhecido; ora, o que permanece desconhecido, permanece
inexplorado, inacessível e significa uma espécie de "condenação" a viver na
incomunicabilidade. Só a saída da sua própria esfera permite o acesso à realidade, na sua
plenitude e diversidade.
Falamos da realidade existencial mas também da realidade social que é uma das dimensões
da existência; e nessa dualidade, entre o ser que se situa num contexto circunstanciado por
Tudo o que lhe é outro, é essencial o estabelecimento de pontes entre o sujeito e os grupos
de pertença em que este está inserido como elemento autónomo, mas em relação.
As palavras chave dessa relação são a empatia, a relação compassiva e a
solidariedade.
A empatia significa a participação afetiva e emotiva numa realidade que lhe é, em princípio,
alheia; esta capacidade de estar em sintonia e de reconhecer identidade, ou seja, de
reconhecer o que nos é próprio, mesmo naquilo que está fora de nós, aproxima os seres
humanos. Muitas vezes, essa empatia é mesmo inconsciente: sente-se, antes de se querer.
Mas a vontade pode também ser um fator propiciatório ao estabelecimento da empatia. A

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palavra " empatia" é próxima da simpatia e tem com esta, um radical comum: pathos, ou "
paixão" que, com o logos e o ethos, configura o triângulo que nos torna humanos.
Enquanto o pathos remete para a afecção, o logos remete para a razão e o ethos para o
dever.
A empatia liga-se à reação compassiva face ao outro e ao seu sofrimento; compassiva,
significa que manifesta compaixão e compaixão decompõe-se em "com + pathos" - que
quer dizer, capacidade de sofrer com - de sentir e partilhar o pathos do outro e, assim,
ser capaz de assumir o descentramento de si próprio e a abertura necessária ao acto
solidário. Temos assim, ligados, três pilares fundamentais da relação EU - OUTRO : a
empatia, a reacção compassiva e a solidariedade que, para se efectivar, se traduz
necessariamente, em acções solidárias.

Códigos Institucionais e Comunitários

Immanuel Kant (1724-1804) é um dos maiores vultos do pensamento em geral e do


pensamento ético e deontológico em especial. A sua Ética funda-se na noção do Dever
como, e numa linguagem muito simplificada, instância de compatibilização entre meios e
fins.
Assim o procedimento moral é apenas o que fôr universalizável e esta noção é o principal
pilar de todos os códigos deontológicos.
Para o entendermos nada como ler as palavras do próprio Kant: "No reino dos fins tudo tem
um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela
qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e
portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade". (FMC, II)

TAREFA:
Comente este excerto tendo em conta a necessidade de proceder deontologicamente.

Proposta de trabalho:
O psicólogo norte-americano Bogardus construiu uma Escala de distância social,
através da qual nos é permitido descobrir se somos ou não preconceituosos
relativamente a outras pessoas, grupos, etnias e/ou culturas.
Tendo em consideração que os maiores preconceitos sociais, raciais e culturais da
sociedade portuguesa atual estão dirigidos aos pobres, negros, homossexuais, idosos,
doentes mentais, alentejanos, loiras, ciganos, imigrantes de leste, judeus, chineses,
negros, árabes e comunistas…, identifique e reflicta sobre a (i)legitimidade dos seus
preconceitos a partir das seguintes questões, que, de alguma forma, poderiam
cristalizar a referida Escala de distância social:

1. Casaria com um membro deste grupo?

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2. Aceitá-lo-ia como "amigo íntimo", "colega de escritório" ou "vizinho do
lado"?

3. Aceitá-lo-ia como turista no país?

4. Ou exclui-lo-ia do país?

Como tópico para a desconstrução dos seus preconceitos, não se esqueça que, segundo a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, os princípios da igualdade e da dignidade
humana são extensíveis a todos os homens independentemente do grupo, comunidade,
cultura e religião a que pertençam.

Preconceitos
O tema “Preconceito” é diverso e contraditório, e prejudica a sociedade em geral.
Preconceito (“Pré” + “Conceito”) – as pessoas julgam e conceituam algo ou alguém antes de
conhecer.
Existe também a discriminação (imposição de uma condição de caráter antes de conhecer alguém).
Os tipos mais comuns de preconceito e discriminação são:
 Discriminação social – relacionada com a condição de uma parcela da sociedade;
 Preconceito religioso – devido a uma religião;
 Preconceito racial – devido a uma etnia;
 Preconceito intelectual – devido a um pensamento político ou simplesmente um
pensamento diferente.
Preconceito social
Um dos mais comuns preconceitos, num país onde a desigualdade se torna visível, é o social.
Preconceito religioso
Como o preconceito racial o preconceito religioso é algo de hereditário, passado e transportado pelo
ódio de uma região que tem um certo segmento, uma certa tradição. Estas tradições que são passadas
muitas vezes são colocadas pela religião.
O preconceito religioso está firmemente instalado em várias partes do mundo, é mais antigo do que
o racismo, detalhado já na era de Cristo, há dois mil anos atrás.
Preconceito racial
Nem sempre está associado a pretos e brancos, mas sim a uma diferença de cultura, etnia ou outras
coisas que diferenciem raças dentro de uma mesma composição global.
O preconceito racial começou com o ideal de que um ser ou uma raça era superior a outro. E por
isso, tinha o direito a usar o mais fraco para trabalhos como servos e escravos.
Preconceito Intelectual
Porquê o nome preconceito intelectual? - Preconceito intelectual ou discriminação de pensamento e
escolhas, tem origem no mesmo conceito, de não se poder imaginar ou supor, querer ou desejar,
abertamente, algo ou alguém.
Vemos o preconceito intelectual presente na opção sexual de alguém, a homossexualidade, seja ela
assumida ou não, é uma escolha de cidadão para cidadão, como a cor do carro ou a roupa a vestir.

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Obviamente o preconceito tem que ser reprimido quando passa ao constrangimento de terceiros,
porque como se trata de um pensamento não se pode obrigar a estes a aceitação dessa mentalidade.
O mínimo e justo que pode ser aplicado, como forma de combater este tipo de preconceito, é o
respeito pela opinião.
O preconceito intelectual não se trata somente da homossexualidade, logicamente, diversifica-se
porque os pensamentos num ser são infinitos.
Enfim, o preconceito só existe porque não se pratica o respeito pelo próximo.
A convivência, através de uma atitude comunitária é, talvez, a forma mais adequada de se reduzir o
preconceito.
Assim, como as atitudes em geral, o preconceito tem três componentes: crenças, sentimentos e
tendências comportamentais. Crenças preconceituosas são sempre estereótipos negativos.
Segundo Allport (1954), o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas, que em
determinadas circunstâncias podem-se transformar em raiva e hostilidade. O resultado é o
preconceito e a discriminação.
Já Adorno (1950) diz que a fonte do preconceito é uma personalidade autoritária ou intolerante.
Pessoas autoritárias tendem a ser rigidamente convencionais. Partidárias do seguimento às normas e
do respeito à tradição, são hostis com aqueles que desafiam as regras sociais. Respeitam a autoridade
e submetem-se a ela, bem como se preocupam com o poder da resistência. Ao olhar para o mundo
através de uma lente de categorias rígidas, não acreditam na natureza humana, temendo e rejeitando
todos os grupos sociais aos quais não pertencem. O preconceito é uma manifestação da sua
desconfiança e suspeita.
Há também fontes cognitivas de preconceito. Os seres humanos são “avarentos cognitivos” que
tentam simplificar e organizar o seu pensamento social, o máximo possível. A simplificação
exagerada leva a pensamentos equivocados, estereotipados, preconceituosos e discriminatórios.
O movimento Cidadania em Rede visa sensibilizar e educar os cidadãos para a importância de
ultrapassar e abolir os estereótipos e preconceitos, através da informação e de um trabalho conjunto,
de todos os que procuram uma sociedade de equilíbrio e igualdade.
Um pequeno passo para cada um, um grande passo para a rede!

5- Explicite o mecanismo subjacente ao funcionamento do preconceito e sinalize os


efeitos que o mesmo pode ter.

O formador:
António Costa

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