Aula 24
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módulo
gramática professor
Abaurre • Pontara • Avelar
FIGURAS DE LINGUAGEM
FABIO COLOMBINI
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Que tipo de emoção você experimentaria se estivesse diante das cataratas do Iguaçu, retratadas nesta imagem? Como
a sua emoção poderia ser descrita? Que recursos linguísticos você empregaria em sua descrição para apresentar
o que vê e expressar o que sente?
1
CAPÍTULOs
1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 1
FONDATION GALA - SALVADOR DALÍ, SONO, ANO 1937 OBRA, LICENCIADO POR AUTVIS, BRASIL, 2009
1 Figuras sonoras
e de palavra
1 Introdução
Observe a imagem e leia o texto que a acompanha para responder às questões
de 1 a 7.
Reprodução
(...) Até há pouco a vila tinha apenas uma rua. Chamavam-lhe, por ironia,
a Rua do Meio. Agora, outros caminhos de areia solta se abriram num emara-
nhado. Mas a vila é ainda demasiado rural, falta-lhe a geometria dos espaços
arrumados. Lá estão os coqueiros, os corvos, as lentas fogueiras que começam
a despontar. As casas de cimento estão em ruína, exaustas de tanto abandono.
Não são apenas casas destroçadas: é o próprio tempo desmoronado. (...)
Dói-me a ilha como está, a decadência das casas, a miséria derramada
pelas ruas. Mesmo a natureza parece sofrer de mau-olhado. Os capinzais se
estendem secos, parece que empalharam o horizonte. À primeira vista, tudo
definha. No entanto, mais além, à mão de um olhar, a vida reverbera, chei-
rosa como um fruto em verão: enxames de crianças atravessam os caminhos,
mulheres dançam e cantam, homens falam alto, donos do tempo.
COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 27-28.
4
Aureliano Biancarelli/AE
Mia Couto (António Emílio Leite Couto) nasceu na cidade de Beira, Moçambique, em
1955. Jornalista de formação, dedicou-se à literatura. Poeta, contista e romancista, já foi
comparado a Guimarães Rosa devido à recriação da língua que faz ao escrever. Seu livro
Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra foi filmado pelo cineasta português José
Carlos Oliveira.
1 Mariano (o narrador em 1a pessoa) volta à ilha onde nasceu, Luar-do-Chão, para Figura 2 • Mia Couto.
acompanhar o funeral do avô. Para Mariano, Rua do Meio é um nome irônico.
Explique essa ironia.
Como, durante muito tempo, só existiu uma rua em Luar-do-Chão, é irônico que
ela se chamasse “Rua do Meio”, uma vez que esse nome parece sugerir que haveria
2 Releia.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b) Que tipo de impressão sobre a vila descrita essas imagens provocam no lei-
tor?
Espera-se que os alunos percebam que a ideia das casas “exaustas” e do tempo
portanto, não ficam exaustas. O mesmo raciocínio vale para o uso do adjetivo
5
Professor: Caso os alu- b) De que modo esse uso dos adjetivos ajuda o narrador a tornar mais subjetiva
nos não consigam per-
ceber o deslocamento
a sua descrição de Luar-do-Chão?
de atributos apontado
A escolha desses adjetivos revela o sentimento provocado em Mariano pela
na resposta, explique-
-lhes o processo. Esse
mesmo recurso tornará visão das casas em ruína e pela miséria geral ao seu redor. A decadência de
a ser explorado por Mia
Couto no trecho citado, Luar-do-Chão produz forte impacto sobre a percepção do narrador, que acaba
exatamente como uma
forma de “traduzir”, pa por associar um atributo não físico (a exaustão) a algo material como as casas,
ra o leitor, o impacto que
a visão de Luar-do-Chão e um atributo físico (o processo de desmoronamento) a algo imaterial como
tem sobre Mariano.
o tempo.
Uma descrição subjetiva diz respeito a uma percepção particular, individual, de uma
dada situação. O que é dito não é necessariamente reconhecido por todas as pessoas
que observam a mesma situação. Trata-se da expressão das emoções e dos sentimentos
de quem faz a descrição.
6
5 “Dói-me a ilha como está”. A escolha do verbo nessa passagem revela, mais uma
vez, o desejo do narrador de expressar emoções claramente particulares. O que
ele pode ter pretendido dizer com essa afirmação?
A visão de uma ilha não dói fisicamente. A dor a que o narrador faz alusão, portanto,
é psicológica. Podemos imaginar que ele sofra (“dói”) por ver o estado atual de
Luar-do-Chão, mas também por constatar que o tempo passou e a ilha que ele
vida que “reverbera”, somos forçados a rever o que disse antes e atribuir ao olhar
donos do tempo”
7 Considerando o que você analisou até agora, que sentido pode ser atribuído ao
título Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra?
Espera-se que o aluno perceba o uso metafórico dos substantivos tempo e terra.
A ideia da passagem do tempo é associada ao fluxo do rio; a casa, assim como a terra,
é o que permanece, o que não se desloca. Essas duas interpretações podem ser
associadas também ao olhar de Mariano para Luar-do-Chão. Ele saiu da ilha onde
nasceu e, após muito tempo, volta a ela para acompanhar o funeral do avô. Como
as águas de um rio que flui, o tempo levou-o para longe de sua terra, de sua casa.
7
A linguagem, por ser uma atividade humana, não tem uma existência desvin-
culada do seu uso. Por esse motivo, podemos manipulá-la em função de objetivos
específicos: comunicar-nos, expressar emoções, impressionar, persuadir etc. Para
que esses objetivos possam ser alcançados, empregamos recursos que criam efeitos
de sentidos variados. Na produção de alguns desses efeitos, utilizamos o que se
convencionou chamar de figuras de linguagem.
Isto é essencial!
Figuras de linguagem são recursos estilísticos utilizados no nível dos sons (figuras
sonoras), das palavras (figuras de palavra), das estruturas sintáticas (figuras de sinta-
xe ou de construção) ou do significado (figuras de pensamento) para conferir maior
valor expressivo à linguagem.
2 Figuras sonoras
Em determinadas situações, os falantes sentem a necessidade de explorar
sons para produzir efeitos de sentido. O uso mais frequente de alguns desses
2.1 Onomatopeia
Chamamos de onomatopeia as palavras especiais criadas para representar sons
específicos (“vozes” de animais, ruídos associados a determinadas emoções e com-
portamentos humanos, barulhos da natureza etc.). Observe.
2006 King Features/Intercontinental Press
Figura 3. SCOTT, Jerry; KIRKMAN, Rick. Zoé & Zezé. O Globo, Rio de Janeiro, 16 jun. 2001.
8
2.2 Aliteração
Você já deve ter observado que um dos recursos utilizados em poemas ou letras
de música é a repetição de um mesmo som consonantal.
Segue o seco
A boiada seca
Na enxurrada seca
A trovoada seca
Na enxada seca
9
2.4 Paronomásia
lembre-se!
3 Figuras de palavra
Quando usamos uma palavra em um contexto pouco esperado, ela pode ad-
quirir um novo sentido. Alguns deslocamentos de contexto são tão frequentes na
língua, que passaram a ser reconhecidos como recursos de estilo chamados de
figuras de palavra.
3.1 Metonímia
A metonímia ocorre quando uma palavra é utilizada em lugar de outra, para
designar algo que mantém uma relação de “proximidade” (contiguidade) com o
referente da palavra substituída.
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Há várias situações em que isso pode ocorrer. Algumas das relações que levam
a um uso metonímico de alguma palavra ou expressão são observadas, por exem-
plo, quando se toma:
■■ a parte pelo todo: Ele tem duzentas cabeças de gado em sua fazenda.
■■ o continente pelo conteúdo: Ainda não escutei meus CDs novos.
■■ o autor pela obra: Picasso vai ficar em exposição até o final do mês.
■■ a marca pelo produto: Qual é a melhor marca de bombril que você conhece?
O texto da peça publicitária ao lado é
Reprodução
construído a partir de uma metonímia. Ao
anunciar uma marca de produtos esporti-
vos, o enunciado faz referência a “time de
futebol” por meio de um dos elementos
mais característicos de um time: a cami-
sa do seu uniforme. “Ter amor à camisa”
significa, portanto, “ter amor ao clube, ao
time pelo qual se torce”.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 4.
Superinteressante.
São Paulo, p. 33,
nov. 2008.
Antonomásia
A antonomásia pode ser entendida como um tipo de metonímia que consiste
na identificação de uma pessoa não por seu nome, mas por uma característica
ou atributo que a distingue das demais. Castro Alves, o famoso poeta romântico,
costuma ser chamado de Poeta dos Escravos por ter escrito muitos poemas que
denunciavam o sofrimento dos escravos no Brasil do século XIX.
Sinédoque
Um outro tipo de metonímia é a sinédoque. Ela ocorre quando a substituição
de uma palavra por outra promove uma redução ou uma ampliação no sentido da
palavra substituída. Um conhecido exemplo de sinédoque ocorre no capítulo “Das
negativas”, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis). Após
fazer uma série de ponderações sobre sua vida, o narrador afirma:
Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não com-
prar o pão com o suor do meu rosto.
MACHADO DE ASSIS. Memórias póstumas de Brás Cubas. 18. ed.
São Paulo: Ática, 1992. p. 176. (Série Bom Livro.)
Nesse trecho, o sentido dos termos pão e suor está sendo ampliado. No contex-
to, pão refere-se a alimento, e suor, a trabalho. Para enfatizar o fato de a personagem
nunca ter trabalhado na vida, Machado de Assis recorre a uma sinédoque.
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3.2 Comparação (símile)
A comparação (ou símile) ocorre quando elementos de universos diferentes
são aproximados por meio de um conectivo (como, feito, tal qual, qual, assim como,
tal etc.). Observe a última fala de Snoopy nos quadrinhos a seguir.
2006 United Media Syndicate/
Intercontinental Press
Figura 5. SCHULZ, Charles. Ser cachorro é um trabalho de tempo integral. São Paulo: Conrad/Editora do Brasil, 2004. p. 24.
Figura 6.
BEAUMONT, Peter;
VULLIAMY, Ed.
O pit bull está à solta.
CartaCapital,
São Paulo, p. 48,
20 fev. 2002.
Reprodução
12
Veja um outro exemplo de metáfora no texto a seguir, utilizado em uma peça
publicitária veiculada por ocasião das Olimpíadas de Pequim de 2008.
deira do Brasil.
Veja, São Paulo, p. 38, 13 ago. 2008.
A ideia de “levar algo nas costas” é, por si só, uma metáfora, normalmente empre-
gada para dizer que alguém assume toda a responsabilidade pela existência de algo ou
para que alguma coisa funcione ou dê certo. “Levar um país inteiro nas costas” é uma
metáfora, portanto, para descrever figurativamente a expectativa dos brasileiros em tor-
no do desempenho dos atletas que representaram o Brasil nas Olimpíadas de 2008.
3.4 Catacrese
Caco Galhardo
Figura 9. GALHARDO, Caco. Os pescoçudos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 3 jan. 2002.
Como se chama a parte da caneta que se projeta para baixo a partir da tampa?
Na tira acima, essa parte é chamada de “bracinho”. Poderíamos, também, pensar
em “perninha”. Nos dois casos, reconhecemos alguma semelhança entre a parte
que desejamos nomear e os conceitos de braço e perna.
A catacrese ocorre quando, na falta de uma palavra específica para designar deter-
minado objeto (ou parte dele), ou determinadas ações, utiliza-se uma outra a partir de
alguma semelhança conceitual. “Bracinho”, portanto, é um exemplo de catacrese.
Muitos casos de catacrese acabam por ser integrados ao léxico da língua. Isso
acontece quando os falantes não mais se dão conta dos mecanismos semânticos
que originaram essas soluções: pé da mesa, embarcar em avião, dente de alho, bar-
riga da perna, bico da chaleira etc.
13
3.5 Sinestesia
A sinestesia ocorre pela associação, em uma mesma expressão, de sensações
percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Ela pode ser vista como uma forma
específica de metáfora, na qual são relacionados diferentes elementos sensoriais.
Na chamada abaixo, a sinestesia é usada para evocar, no leitor, uma caracterís-
tica da cantora Elza Soares, conhecida por sua “voz rouca”.
(...) UMA E a história de que você tem uma corda vocal a mais, é verdade?
ELZA Não tenho uma corda a mais, tenho uma corda meio torrrrrta [risos].
Uma. São Paulo, ano 3, n. 23, ago. 2002.
Bicho urbano
Se disser que prefiro morar em Pirapemas
ou em outra qualquer pequena cidade do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada
(...).
GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.
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Exercícios dos conceitos
Observe atentamente a propaganda abaixo para responder às questões 1 e 2.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O Estado de S. Paulo,
São Paulo, Caderno
Cidades, C3, 12 nov. 2003.
2 Nessa propaganda, a figura de linguagem foi utilizada com uma função argu-
mentativa. Explique por quê.
O objetivo da propaganda é convencer o seu público-alvo de que anunciar nos
oferecido por quem anuncia será muito procurado. Sendo assim, a propaganda se
vale da onomatopeia para demonstrar ao interlocutor que seu telefone não parará
Gera, degenera
Gera
Degenera
Já era
Regenera
Gera
ANTUNES, Arnaldo; SCANDURRA, Edgard. Em: SCANDURRA, Edgard. Benzina.
São Paulo: EMI, 1996. Disponível em: <http://www.arnaldoantunes.com.br/
sec_discografia_obra.php?id=161>. Acesso em: 3 jan. 2009.
15
3 O trabalho poético do texto anterior tem como base o uso de uma figura de
linguagem.
a) Qual é essa figura?
A figura presente no texto é a paronomásia.
b) Explique de que forma o uso dessa figura de linguagem contribui para a cons-
trução do sentido da canção.
Os termos derivados do vocábulo gera (degenera e regenera) e da expressão
dispostos de tal forma que indicam o ciclo da vida: contribuem, dessa forma,
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b) Qual é o sentido dessas metáforas?
Todas as metáforas se referem ao fato de que a vida tem bons e maus
(outra) nota baixa em uma prova. Por isso a garota fala dos momentos bons e
ruins de que a vida é feita, sugerindo que a amiga vive um momento ruim, mas
Na fala do último quadrinho (“Esta noite está chovendo no meu vale”), a garota
ou momentos desagradáveis da vida (noite, chuva e vale) que foram citadas pela
colega. Dessa forma, intensifica o valor negativo da nota vermelha que recebeu e
enfatiza o momento ruim que vive, criando assim o efeito de humor da tira.
GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo, São Paulo, 2 jun. 2003.
o seu “lanche”, evidenciando, com essa analogia, o fato de que ela representa,
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2 No segundo quadrinho, qual é a figura utilizada pela mãe dos ratinhos para
demonstrar como se sente? Justifique.
A mãe dos filhotes faz uso de uma comparação: “eu me sinto como uma simples
3 (Enem) Nesta tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas
figuras de linguagem para:
2009 United Media/IPress
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Na composição do excerto, o poeta emprega termos figurados por falta de pa-
lavras mais apropriadas. A figura de linguagem em questão é a:
a) catacrese. c) metáfora. e) perífrase.
b) sinestesia. d) metonímia.
a) Transcreva, dentre os slogans acima (de 1 a 4), aqueles em que esse procedi-
mento é utilizado.
“Vista seu filho como ele gostaria de ser visto.”
b) Analise um dos slogans que você terá apontado na resposta à questão a, explici-
tando o tipo de relação que se estabelece através do processo acima descrito.
A semelhança entre as formas vista (vestir) e visto (ver) leva-nos a uma
pensando no efeito que a roupa causaria nos outros e não para sua proteção
a ideia de que a Xerox está muito à frente de seus concorrentes, pois, mais que
7 (Fuvest-SP) A catacrese, figura que se observa na frase “Montou a cavalo no burro Trata-se de uma cata-
crese porque o termo
bravo”, ocorre em: embarcar, original-
mente, referia-se
a) Os tempos mudaram, no devagar depressa do tempo. apenas à entrada das
b) Última flor do Lácio, inculta e bela, és a um tempo esplendor e sepultura. pessoas em barcos.
Como, no exemplo,
c) Apressadamente, todos embarcaram no trem. as pessoas estão en-
d) Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal. trando em um trem,
temos a ocorrência
e) Amanheceu, a luz tem cheiro. de uma catacrese.
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Capítulo
2 Figuras de sintaxe
e de pensamento
1 Introdução
Observe as tiras abaixo e responda às questões de 1 a 3.
2006 King features Syndicate/
Intercontinental Press
Figura 2. CULLUM, Mark. Gente como a gente. O Globo, Rio de Janeiro, 3 jan. 1997.
1
Gulache. Prato húngaro
feito de carne de boi enso-
1 As duas tiras começam de modo semelhante. Explique.
pada com cebolas, batata-
-inglesa e páprica. Nas duas tiras, uma personagem pergunta à outra se “tem algo para dor”
20
3 Há, na segunda tira, uma fala que explicita a razão do mal-entendido.
a) Transcreva-a.
A fala é “... ou queria dizer curar uma?”.
b) Considerando essa fala, explique como foi criado o humor das tiras.
Nos dois casos, omite-se, na pergunta, o verbo que define o que as personagens
esperam em relação à dor que sentem (desejam curá-la). Essa omissão permite
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As duas tiras exploram uma situação muito comum: alguém que sente uma dor
procura um remédio para curá-la. O fato de o verbo curar não aparecer na fala das
personagens revela a possibilidade de, na produção dos enunciados, omitirmos
alguns termos, quando o contexto permite identificá-los sem problema. Em situa
ções como essas, não se imagina que alguém deseje uma dor de estômago ou de
cabeça. Os autores das tiras exploram justamente a interpretação menos provável
para provocar o efeito de humor.
A análise de fatos linguísticos dessa natureza deixa evidente que nem sempre os
textos apresentam frases estruturadas do modo esperado. É frequente ocorrerem
inversões, omissões e repetições que levam a uma maior expressividade. As alte-
rações intencionais das estruturas sintáticas são chamadas de figuras de sintaxe,
que serão abordadas neste capítulo.
Além das figuras de sintaxe, você também irá estudar as figuras de pensamen-
to, criadas na situação em que procuramos manipular intencionalmente o sentido
de palavras e expressões.
2 Figuras de sintaxe
lembre-se!
Sintaxe é a parte da gramática que se ocupa do modo como as palavras são combi-
nadas na organização dos enunciados.
2.1 Elipse
No caso das duas tiras analisadas, observamos que a omissão de um verbo
(curar) criou a ambiguidade que desencadeou o efeito de humor. Sempre que o
termo omitido puder ser identificado a partir do contexto criado pelo texto, tem-se
uma figura de sintaxe denominada elipse.
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Zeugma
Existe uma forma particular de elipse, chamada zeugma, que ocorre quando
o termo omitido em um enunciado foi utilizado anteriormente. Observe a peça
publicitária a seguir.
Reprodução
“Um banco tem que ser completo para a sua tranquilidade também ser (completa).”
oração oração
principal subordinada
adverbial final
Professor: A figura de
sintaxe chamada de
anacoluto, apresenta-
da no próximo subitem,
também pode envolver
mudança na ordem na-
tural dos enunciados. A 2.2 Hipérbato
diferença entre o anaco-
luto e o hipérbato está Na língua portuguesa, a ordem típica das orações é Sujeito Verbo
na expectativa criada
sobre a forma da estru- Complemento(s) Adjunto(s):
tura: no anacoluto, mas
não no hipérbato, a for- Os alunos fizeram a prova na semana passada.
ma como a construção
sintática é iniciada leva
à expectativa de que a Quando produzimos alguns tipos de inversão nessa ordem (por exemplo, no
sua estrutura seguiria
um rumo diferente do enunciado A prova, os alunos, na semana passada, fizeram.), criamos figuras de sin-
que acaba seguindo. taxe denominadas, genericamente, hipérbatos.
22
Sínquise Professor: Alguns gra-
máticos, como Celso
Cunha, identificam
Algumas inversões são tão radicais que chegam a provocar ambiguidade ou a um tipo particular de
dificultar a compreensão do que está sendo dito. Nesse caso, a figura de sintaxe re- hipérbato – a anástro-
cebe o nome de sínquise. O escritor Raymond Queneau, em um de seus exercícios fe –, constituído pela
inversão entre um ter-
de estilo, escreve um texto inteiramente constituído por sínquises. mo da oração e seu
adjunto. Um exemplo
clássico são os dois pri-
Sínquises meiros versos do Hino
Nacional: “Ouviram do
Ridículo raparigo, que eu me vendo lotado um dia em ônibus da linha S, por Ipiranga as margens
plácidas / De um povo
tração talvez o esticado pescoço, no chapéu cordão eu um percebi. Arrogante e heroico o brado re-
em lacrimejante tom, que contra o senhor ele ao seu lado protesta, encontra-se. tumbante”. Se julgar
interessante, apresente
Encontrões lhe pois daria este, vez gente cada que desce. Vago senta sobre e se se essa forma particular
um lugar dito precipita, isto. Paço no de Roma, dou mais com ele ouvindo tarde, de inversão aos seus
duas horas que no seu sobretudo outro botar, aconselha-o um amigo botão. alunos.
2.3 Anacoluto
Às vezes observamos uma mudança abrupta na estrutura esperada de uma
construção sintática. Esse recurso é chamado de anacoluto. Observe a peça
publicitária.
Reprodução
Figura 4.
National Geographic
Brasil. São Paulo,
p. 20-21, abr. 2008.
Na faixa que aparece sobre o carro, vemos dois enunciados. Um deles mostra
a estrutura canônica do português (SUJEITO + predicado, com o predicado
sendo formado de VERBO DE LIGAÇÃO + PREDICATIVO): “O design ficou muito
esportivo”. O outro enunciado, ao contrário, não segue a estrutura canônica, com
o objeto de decidir (o câmbio) ocorrendo no início do período, e não após o verbo,
como seria esperado: “Já o câmbio, você é quem decide”.
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Sendo realizado em posição inicial, a função esperada para o termo o câmbio
seria a de sujeito, e não a de complemento. Essa expectativa é criada porque, no
enunciado anterior, o termo com o qual se inicia a oração (“o design”) exerce a fun-
ção de sujeito. O efeito dessa alteração sobre a interpretação do enunciado é claro:
embora não corresponda ao sujeito da oração a que pertence, o câmbio é interpre-
tado como o tópico de todo o período. Fatos desse tipo são tratados como casos
de anacoluto, em que a construção do enunciado segue um caminho diferente
daquele que seria o esperado a partir da forma como é iniciado.
Topicalização e anacoluto
As chamadas estruturas de topicalização são aquelas em que um termo, realizado no
início do enunciado, é o tema de todo o conteúdo expresso na oração. Veja alguns exem-
plos: A viagem para Nordeste, o Pedro disse que está pensando em fazer só no final do pró-
ximo ano. / Os pais dos alunos que foram aprovados, os professores falaram que ficaram
bastante orgulhosos com o sucesso dos filhos.
Lembre-se de que a topicalização só deve ser analisada como um caso de anacoluto
quando ocorre a quebra da expectativa criada, sobre a estrutura, a partir da forma
como se inicia a oração. Saber se essa quebra ocorreu ou não depende, na maioria das
vezes, das condições contextuais em que o enunciado é produzido. Nos casos em que
2.4 Anáfora
A repetição de palavras ou termos no início de enunciados cria uma figura de
sintaxe chamada de anáfora. Essa figura é observada no texto do anúncio a seguir,
em que a conjunção se, com valor condicional, ocorre no início de várias orações
subordinadas em sequência.
Reprodução
Se a passagem para a
China está cara demais,
se você odeia Rolinho
Primavera, se o biscoito
da sorte disse para
você não viajar, se você
não tem com quem
deixar o cachorro,
se você tem medo de
se perder em Pequim,
relaxe.
O melhor jeito de
torcer pelos nossos
atletas é com o pé
fincado no Brasil.
24
2.5 Polissíndeto
A coordenação de vários termos da oração por meio de conjunções, especial-
mente as aditivas (e, nem), dá origem à figura de sintaxe chamada polissíndeto.
Um exemplo de polissíndeto ocorre em um belo conto de Clarice Lispector em
que pessoas comuns repartem os alimentos de uma ceia.
2.6 Pleonasmo
Em alguns casos, o desejo de enfatizar uma ideia leva à utilização de palavras
ou expressões que, à primeira vista, pareceriam desnecessárias. Observe os versos
de Camões.
XVIII
137 Vi, claramente visto, o lume vivo
Que a marítima gente tem por santo,
Em tempo de tormenta e vento esquivo,
De tempestade escura e triste pranto.
CAMÕES, Luís Vaz de. Canto quinto. Os lusíadas.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1990. p. 193.
Alguns pleonasmos são considerados vícios de linguagem. Eles ocorrem sempre que a
ideia repetida informa uma obviedade e não desempenha qualquer função expressiva no
enunciado. Veja alguns exemplos: subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro,
sair para fora, ser o principal protagonista etc.
25
3 Figuras de pensamento
Além do trabalho com a linguagem nos níveis sonoro, lexical e sintático, tam-
bém temos a possibilidade de provocar alterações no plano semântico (que diz
respeito ao significado). Quando manipulamos intencionalmente o sentido das
palavras e expressões, criamos figuras de pensamento, algumas das quais são
apresentadas a seguir.
3.1 Hipérbole
2006 King features Syndicate/
Intercontinental Press
3.2 Eufemismo
2006 Wiley Miller/Dist. by
Atlantic Syndication
Figura 7.
26
Quando desejamos evitar o uso de palavras ou expressões consideradas desa-
gradáveis ou inadequadas em uma determinada situação, podemos substituir esses
termos por outros que atenuam a ideia original. Sempre que fazemos isso, criamos
um eufemismo. Observe a placa no cartum da página ao lado.
A placa aconselha os caminhantes a tomar cuidado com o que podem encontrar
em um campo onde pastam bois e vacas. A referência óbvia aos excrementos bovinos
é evitada. Em seu lugar, aparece o eufemismo “material relacionado a bovinos”.
3.3 Prosopopeia
Em textos literários, histórias em quadrinhos e cartuns, é frequente observar-
mos a atribuição de características humanas a animais e objetos inanimados. Esse
processo é denominado prosopopeia ou personificação.
Na tira, atribui-se ao chapéu um sentimento próprio de um ser humano: a ca-
pacidade de ficar desapontado.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 8.
SCHULZ, Charles.
Minduim. Jornal da
Tarde, São Paulo,
11 fev. 2003.
3.4 Antítese
A associação de ideias contrárias, por meio de palavras ou enunciados de sen-
tido oposto, dá origem à figura de pensamento conhecida como antítese. O uso
de antíteses é muito comum em textos literários. Para expressar a dificuldade de
traduzir em palavras a inspiração que toma conta do poeta, Olavo Bilac recorre à
associação de opostos.
27
Também é possível criar efeitos de humor pela oposição de ideias. Nesse caso, é
o contexto que define a associação de contrários e permite reconhecer as antíteses.
Observe as tiras a seguir.
Figura 9. IOTTI. Mixórdia; o menos pior do Radicci. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 101.
Carlos Henrique Iotti
3.5 Paradoxo
Em alguns casos, observamos a associação de termos contraditórios, inconci-
liáveis. Essa figura de pensamento é denominada paradoxo. A diferença entre a
antítese e o paradoxo é pequena, mas pode ser detectada quando observamos que
os termos contraditórios, no paradoxo, referem-se a uma mesma ideia. No caso
da antítese, temos duas ideias que se opõem. Na tira abaixo, ocorre um paradoxo
quando Hagar fala em “fingir sinceramente”.
2006 King Features Syndicate/
Intercontinental Press
Figura 11. BROWNE, Dik. Hagar. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 dez. 2003.
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3.6 Gradação
Quando recorremos a uma sequência de palavras ou expressões para criar uma
ideia de progressão (ascendente ou descendente), surge a figura de pensamento
chamada gradação.
Figura 12.
VERISSIMO, Luis
Fernando. As cobras
em: se Deus existe
que eu seja atingido por
um raio. Porto Alegre:
L&PM, 1997. p. 47.
3.7 Apóstrofe
Na poesia, um recurso muito utilizado é a interpelação de uma pessoa (real ou
imaginária), presente ou ausente, como forma de enfatizar uma ideia ou expressão.
Vemos esse recurso, chamado de apóstrofe, no texto a seguir.
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Exercícios dos conceitos
Leia o texto abaixo para responder às questões de 1 a 4.
1 A crônica transcrita faz alusão ao Sermão da montanha, em que Cristo fala aos
seus discípulos sobre as bem-aventuranças. Veja um trecho desse sermão.
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Que elementos do sermão bíblico são recuperados pela crônica? Justifique sua
resposta, mostrando as semelhanças e as diferenças entre os elementos identi-
ficados nos dois textos.
Em primeiro lugar, podemos destacar o título da crônica, que recupera, com
é o reino dos céus.”), mas com as alterações necessárias para tratar do assunto
entendendo esse esporte, não serão tomados pela paixão pelo futebol ou
com ele não terão uma relação profissional, além dos que não conheceram
os efeitos do esporte (não correm risco de enfarto, não são xingados, não têm
futebol e não sofrem pelas emoções provocadas pela paixão pelo esporte, o
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c) O que, no texto, explica a expressão entre parênteses apresentada no título?
A expressão “para não ser escutado” se explica porque, embora o autor
que a paixão de um torcedor, como a dele própria, não pode ser explicada pela
razão. Por isso, esse sermão foi feito “para não ser escutado”, já que ele mesmo,
Essa perspectiva, porém, é negada pela última afirmação do texto, que sugere
respeito ao local onde Cristo teria feito esse sermão. Na crônica de Drummond,
desse esporte. A maior oposição, porém, está no fato de que o sermão bíblico foi
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2006 creators Syndicate/
Para responder às questões 5 e 6, observe a tira a seguir.
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(no caso da tira, a personagem que ganhou o prêmio) estar acima do peso.
6 Considerando o contexto da tira, explique por que “um pequeno eufemismo faz
milagres”.
O eufemismo utilizado, por suavizar o fato de a personagem estar acima do peso, é
visto como um elogio e não como uma crítica à forma física da moça que recebeu
Parmalat Crescimento.
O leite para quem
cresce rapidinho.
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7 O primeiro enunciado da propaganda apresenta duas expressões que, utilizadas
simultaneamente, constituem um paradoxo.
a) Quais são elas?
“que seu filho cresça muito” e “que não cresça nunca”.
outra. A princípio, o desejo de que o “filho cresça muito” não pode coexistir
8 Como cada uma dessas expressões deve ser entendida para que se aceite a pos-
sibilidade de coexistirem os “desejos” paradoxais?
A primeira expressão deve ser entendida como a preocupação de toda mãe
(ou pai) de que seu filho tenha um bom desenvolvimento físico, um crescimento
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2 (Vunesp)
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3 (ESPM-SP) Leia o poema:
As características de A invocação da amada (v. 1), a associação dos olhos com o cais (v. 2 e 3), a qua-
cada uma das figuras
de linguagem enu- lidade atribuída às docas (v. 5) e a repetição do vocábulo “quantos” (v. 13, 14 e
meradas na alternati- 15) compõem respectivamente as seguintes figuras de linguagem:
va correta está apre-
sentada no enuncia- a) apóstrofe; metáfora; prosopopeia; anáfora.
do da questão.
b) paradoxo; catacrese; metonímia; polissíndeto.
O oxímoro ocorre 4 (Enem) Oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa signifi-
pela presença simul-
tânea das palavras cados que se excluem mutuamente. Para Garfield, a frase de saudação de Jon
liberdade/escravidão (tirinha abaixo) expressa o maior de todos os oxímoros.
que possuem signifi-
cados opostos e são
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5 (Fuvest-SP) Leia o seguinte texto:
Nesses versos iniciais do samba Vai passar, é possível identificar duas figuras de
estilo. Assinale a alternativa correta.
a) Metáfora e anáfora.
b) Ironia e hipérbole.
c) Gradação e eufemismo.
d) Antítese e anacoluto.
e) Prosopopeia e metonímia.
7 (UFMT) A palavra Chiclets é marca de uma goma de mascar. Com o tempo, chiclets Esse tipo de metoní-
mia ocorre quando
passou a designar qualquer goma de mascar, processo que ocorreu também com se toma a marca pelo
a marca BomBril. Esse recurso de alteração de sentido denomina-se produto.
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Para saber mais
Usos das metáforas
É frequente que vejamos comparações e metáforas sendo utilizadas em textos
mais subjetivos, de natureza reflexiva. Isso ocorre porque essas figuras de lingua-
gem ajudam o autor a traduzir, por meio das imagens criadas, aquilo que ele pre-
tende transmitir aos seus leitores sobre o assunto tratado. Observe como Arnaldo
Jabor, para caracterizar o sexo feminino (e, por oposição, o masculino) investiu
principalmente na força das metáforas ao produzir essa “crônica afetiva”, como ele
próprio denomina o conjunto de textos reunido no livro de onde foi extraído o
trecho a seguir.
metáfora comparação
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Professor: O objetivo
A primeira metáfora utilizada por Jabor aparece já no título: o mundo é traves- desta atividade é per-
ti. Esse título tem por objetivo sintetizar a reflexão do autor sobre a questão trata- mitir que os alunos se-
da a partir de uma comparação: “o mundo está tão indeterminado que está ficando jam capazes de, em pri-
meiro lugar, selecionar
feminino, como uma mulher perdida”. Embora o mundo possa ser comparado à e identificar um texto
mulher, não preservou suas características (delicadeza, romantismo, fertilidade). É em que metáforas e
comparações tenham
um “mundo feminino comandado por homens boçais”. Por isso, Jabor afirma que sido utilizadas para
“o mundo de hoje é travesti”. definir/caracterizar a
Para que o leitor acompanhe a reflexão feita por ele e concorde com sua con- mulher e/ou o univer-
so feminino. Depois de
clusão a respeito do mundo de hoje, Arnaldo Jabor investe em metáforas que cumprida essa parte da
demonstrem a oposição entre o homem e a mulher desde o início de seu texto: tarefa, esperamos que
eles se deem conta,
a mulher é poesia, o homem é prosa; ela é paisagem a ser descoberta, ele é a partir da análise do
explorador que irá decifrá-la; ela é metafísica, ele é engenharia. Todas essas texto selecionado, de
metáforas são utilizadas para demonstrar que o homem é mais racional, cheio de como essas figuras de
linguagem participam
certezas (ou pelo menos acredita nisso), enquanto a mulher é mais sensível, “mais da construção de tex-
exilada das certezas da vida que o homem”. E “mais profunda” que ele. Em sua tos. No momento de
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
avaliar o resultado da
percepção mais subjetiva do mundo que a cerca está, segundo o que sugere o au- análise, é importante
tor, a força da mulher. discutir como o uso de
É justamente essa oposição entre os dois sexos que sustenta a reflexão do au- metáforas e compa-
rações contribui para
tor: o mundo hoje está mais frágil, sofrendo com o “mal” que o assola. Enquanto que a caracterização
a mulher fica aflita com o “mal do mundo”, carrega o “fardo da dor social” (já que da mulher seja mais
interessante e rica do
essa é sua natureza), o homem se furta à depressão e (também de acordo com sua que, por exemplo, uma
natureza racional e objetiva) “escamoteia” esse sentimento “com obsessões bélicas, caracterização feita de
financeiras”. É essa indeterminação do mundo, marcado pela dicotomia, que leva modo mais objetivo.
Acreditamos que os
o autor a concluir que o mundo hoje é travesti. alunos não terão difi-
culdades em selecionar
textos em que a mu-
Da teoria à prática lher seja apresentada
de modo metafórico,
Como você viu no texto analisado, as metáforas e as comparações podem con- mas, se isso ocorrer,
pode-se sugerir que
tribuir muito para a construção do sentido de uma determinada reflexão e tornam eles pesquisem poe-
o texto mais rico. Alguns temas em particular, como a caracterização da mulher, mas de Adélia Prado ou
de Camões, contos de
são muito explorados nesse sentido. É frequente, na literatura e no cancioneiro Lygia Fagundes Telles,
popular, que a mulher e seus mistérios sejam apresentados por meio de compara- crônicas de Martha
Medeiros, entre outras
ções e metáforas. possibilidades. Há, na
Sua tarefa será a de selecionar um texto (em prosa ou em verso) ou uma canção MPB, as composições
que apresente uma definição ou caracterização da mulher a partir dessas figuras de de Chico Buarque (que
tem extrema sensi -
linguagem. Depois de selecionar o texto/canção, você deverá analisá-lo e destacar, bilidade para descre-
como fizemos com o texto de Arnaldo Jabor, as metáforas e comparações nele uti- ver o sexo feminino),
de Gilberto Gil e de
lizadas, explicando o sentido que elas têm no texto escolhido. Caetano Veloso (um
bom exemplo é a can-
ção “Você é linda”, em
que várias metáforas
são utilizadas para ca-
racterizar a beleza da
mulher amada).
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FIGURAS DE LINGUAGEM
PLEONASMO APÓSTROFE
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