Vários Textos - Gênero Literário - Pregação
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PALAVRA DO TRADUTOR
Fonte: http://hermeneuticareformada.blogspot.com.br/2011/10/generos-literarios-o-
antigo-testamento.html
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01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=1
INTRODUÇÃO:
Dentro de nossa discussão sobre esta temática torna-se necessário uma
caminhada histórica para compreendermos a problemática concernente ao texto do Antigo
Testamento. Na verdade precisamos entender como a Igreja ao longo de sua história usou o
Antigo Testamento no que concerne ao púlpito e à defesa do Evangelho.
Quando nos inclinamos para uma análise do Antigo Testamento como elemento textual
para a prédica é percebido que os primeiros cristãos “nos mostram o quanto o Antigo
Testamento foi largamente citado, seja por questões doutrinárias ou por questões
apologéticas.”[1].
Esta crença está refletida através da história da Igreja que não pode ser negligenciada
ou esquecida quando tratamos de um assunto de suma importância; é nosso dever olharmos
para a história do cristianismo e contemplar o que a Igreja ensinava sobre o Antigo
Testamento.
A história da Igreja é uma testemunha singular da importância e da relevância do Antigo
Testamento para a pregação da Igreja cristã. Sem a pregação da Palavra, tendo por base e
fundamento o Antigo Testamento, não haveria Igreja verdadeiramente cristã.
1 A Igreja no Novo Testamento e o Texto Veterotestamentário.
No Novo Testamento nós percebemos uma visão muito nítida das Escrituras
veterotestamentárias. Isto pode ser notado quando Cristo usa as Escrituras do Antigo
Testamento para fundamentar algum argumento que levantara; era notória a expressão de
Cristo “Está escrito.” esta palavra no grego descreve a crença na infalibilidade de todo o Antigo
Testamento, e não apenas isto, mas o termo de também descreve a normatividade do texto
veterotestamentário para a vida da Igreja.
O termo grego empregado é o verbo “ge,graptai” que ocorre no Novo Testamento 67 vezes
isto nos indica algo que era de “uso tão comum” e “indiscutível a autoridade que, no seu
conflito mais vibrante, Jesus não precisou de outra arma além da palavra: “Está Escrito!”(Mt.
4.4,7; Lc. 4.4,8; 24.26). Isto leva a uma consideração de que “recebemos o Velho Testamento
baseados na autoridade de Cristo”[2]. Este verbo encontra-se no modo indicativo, indicando a
certeza de fato; ou seja, aquela autoridade conferida ao texto do Antigo Testamento
permanece inalterada. Gerhard Kittel explica que o NT ao fazer uso deste verbo “não denota
meramente o apelo à Lei Grega para a autoridade inexpugnável da Lei,
mas também a solidez do argumento do que está escrito igualmente para Israel no
absoluto sentido religioso e também no judicial”[3]
Isto implica que a concepção de Cristo sobre o Antigo Testamento era que esta parte das
Escrituras é Palavra infalível de Deus destinada para a edificação dos crentes em Cristo.
Sendo assim, é suficiente e eficaz para suprir as necessidades do púlpito contemporâneo.
No evangelho de Marcos esta mesma expressão iniciando a sua narração da vida de
Cristo (Mc.1.2). Mas, surge-nos uma pergunta: “está escrito” em que local? Em qual registro? A
resposta é no Antigo Testamento. O registro veterotestamentário assume o status de “pedra de
toque” de qualquer doutrina ou controvérsia de natureza religiosa. É bom que se diga que
Há 32 referências diretas e indiretas ao AT em Marcos, desde citações para provar que o que
estava acontecendo era cumprimento profético (1.2, 11; 4.11, 12; 9. 12; 12. 10-12; 14.21, 24,
49, etc.) como citações apenas histórica ou apologética (2. 23-28; 7. 6, 10; 10. 2-
12, 19; 12. 18 – 27; 13. 14; 14. 12, etc). Em cada um dos quatro evangelhos a intenção
ao evocar “está escrito” é a mesma.[4]
Na visão de Cristo o Antigo Testamento não deveria ser tirado de foco, pois, tudo o que o texto
veterotestamentário anunciava estava se cumprindo no Filho de Deus de forma singular, ou
como coloca Philip Yancey quando diz que o
Antigo Testamento era a Bíblia que Jesus lia. O Senhor achou no Antigo Testamento cada fato
importante sobre si mesmo e sua missão. Citava suas páginas para resolver controvérsias com
os oponentes, como os fariseus, saduceus e o próprio Satanás. As figuras – cordeiro de Deus,
pastor, sinal de Jonas, a pedra que os construtores rejeitaram – que Jesus usou para definir a
sim mesmo vinha diretamente das páginas do Antigo Testamento (...). Quando lemos o Antigo
Testamento, estamos lendo a Bíblia que Jesus lia e usava. Trata-se das orações que
Jesus fazia, dos poemas que memorizava, dos cânticos que entoava, das histórias de ninar
que ouvia quando criança, das profecias sobre as quais refletia. E reverenciava cada ‘jota ou
[...] til ’ da Bíblia hebraica. Quanto mais entendermos o Antigo Testamento, mais
entenderemos Jesus.[5]
Esta é a perspectiva pela qual o Antigo Testamento deve ser avaliado. O Antigo
Testamento precisa ser mais compreendido para enxergarmos a Cristo. Sem o Antigo
Testamento as nossas pregações figuram apenas como casas sem alicerces que irão ruir em
breve, pois, as paredes de nossas palavras lúdicas irão revelar as gritantes rachaduras que
encontra-se em nossa teologia, isso porque não tem alicerce para sustentar-se.
A luz que almejamos não vem de nosso tempo, mas do texto antigo é por isso
devemos estar atentos as palavras de A.G.Hebert: “De fato, não existe possibilidade de
elucidar quem Jesus foi, e qual foi o significado
de Sua pregação e tudo mencionado sobre Sua morte e ressurreição, e qual foi a
verdadeira condição da comunidade cristã, separado do Antigo Testamento (1947, p. 200).”[6]
Diante disso podemos dizer que o que “se pode perceber que a autoridade do AT
exposta por Cristo Jesus estava baseada, embora de forma incipiente , na doutrina da
inspiração. Ao citar o Salmo Jesus disse: “o próprio Davi disse pelo Espírito Santo”(Mc 12.
36).”[7]
Um exemplo basilar é o de João 10.35 “E a Escritura não pode falhar” Boettner nos
informa que
É absolutamente evidente que Jesus considerava o Velho Testamento como plenamente
inspirado. Ele cita-o como tal e baseou nele o Seu ensino. Uma das Suas afirmações mais
claras a este respeito, encontra-se em João 10.35, onde, numa controvérsia como os judeus, a
Sua defesa toma a forma de apelo às Escrituras e, depois de citar uma declaração, Ele
acrescenta as significativas palavras: “E a Escritura não pode ser anulada”[...] E a palavra que
se traduz por “anulada” é a que se usava para a transgressão do Sábado, ou da Lei e que
significa negar, ou resistir a autoridade.[8]
A importância das Escrituras Antigas para João pode ser vista desde o prólogo onde João
apresenta o início do ministério de Jesus não no nascimento virginal, mas “no princípio...” (Jo
1. 1; cf. Gn 1.1). “No princípio” indicaria o Lógos (O Verbo) como a Palavra criadora de Deus
(cf. Prov. 8. 22). Mas Tasker afirma que não apenas no prólogo, mas também nos festivais
judaicos e em particular na sua apresentação da história da paixão (1963, p. 54). Em cada
uma destas apresentações a forma mais indicativa do uso veterotestamentário por João está
em sua relação tipológico-temático, isto é, os temas do Antigo Testamento são tipos e temas
que se cumprem em Jesus Cristo e os “eventos crísticos” em sua época eram “para que se
cumprisse as Escrituras” (Jo 19. 36).[13]
Na construção da Teologia Paulina percebemos a importância fundamental do Antigo
Testamento; pois, não existe uma epístola de Paulo (com exceção da epístola escrita a
Filemon) na qual o argumento fundamental não esteja atrelado, inserido e baseado no Antigo
Testamento, os discursos ou pregações do apóstolo são fundamentadas no Texto Hebraico
(sabemos que em algumas cartas ele usou a Septuaginta) de forma gritante.
A carta de Paulo aos Romanos tem uma gama de citações do Antigo Testamento que
corrobora para a compreensão de que o apóstolo sustentava a validade do Antigo Testamento
na vida da Igreja Cristã. Isto não era por causa de influências judaizantes na mente Paulina,
como alguns tencionam argumentar, mas por pura crença de que aquele documento antigo era
de fato a Palavra infalível de Deus, e assim, digna de ocupar o púlpito da Igreja Cristã.
No capítulo primeiro de Romanos, Paulo discute sobre a justiça divina manifestada
pelo evangelho, mas para fundamentar a sua tese, no versículo 17, insere o conceito
instrumental de fé para a manifestação desta justiça redentiva do evangelho: “o justo viverá
pela fé”. A questão é: De onde Paulo extraiu tal conceito? A resposta está no Antigo
Testamento, pois, o apóstolo usa o texto de Habacuque 2.4 – “Eis que a sua alma está
orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.”. Esta doutrina não foi fundada nos
conceitos de Paulo, mas estava sendo confirmada pelo uso que o apóstolo faz do Antigo
Testamento, pois, a “citação de Habacuque 2.4 tem o propósito de confirmar a verdade
utilizando o Antigo Testamento”.[14]
Na argumentação Paulina a respeito do uso do Antigo Testamento uma verdade fica
evidente para nós; é que “o apóstolo estava tão convicto [..] das grandes verdades do
evangelho que necessitava utilizar uma passagem do Antigo Testamento em apoio à sua
afirmativa”.[15]
No entendimento Paulino as Escrituras do Antigo Testamento era o fundamento para a
sua teologia e pregação. Não havia outro texto disponível para ele elaborar suas prédicas com
autoridade absoluta e singular. Isto é confirmado por causa de sua “formação farisaica onde
aprendeu o valor do AT e é isto que, segundo Herman Ridderbos (2004, p. 33, 52 – 54) e
Leonhard Goppelt (2002, p. 302 – 310), faz do AT o fundamento do kerygma Paulino.”[16]
No restante da revelação neotestamentária temos de fato grandes passagens citadas
do Antigo Testamento, as cartas gerais são um belo exemplo de tamanha verdade; a carta aos
Hebreus é o Antigo Testamento sendo exposto e aplicado a luz de Cristo para a nova realidade
e à substância da aliança de Deus; este princípio deveria permear a nossa pregação de hoje,
pois se os cristãos primitivos tiveram grande zelo pelo o Antigo Testamento, quem somos nós
para rejeitarmos a Palavra de Deus em nossos púlpitos?
Uma objeção levantada seria que eles não tinham o Novo Testamento, e que agora
nós já temos a revelação do Novo Pacto. A dificuldade com este argumento é o fato de que
esta segunda parte das Escrituras é a continuação do Antigo Testamento; então, negligenciar
este princípio seria solapar a revelação de Deus. Isso significa que não posso negligenciar a
primeira parte das Escrituras, pois, é o fundamento para tudo que vem posteriormente.
2. A Igreja Patrística e a sua relação com o Antigo Testamento.
Dentro do processo histórico precisamos avaliar como os escritores posteriores aos
apóstolos encararam o Antigo Testamento. Isto se torna importante porque pode nos mostrar o
processo pelo qual o Antigo Testamento foi apresentado à Igreja.
Os Pais da Igreja são considerados “os grandes teólogos da Igreja
Antiga,[17] eram as testemunhas autorizadas da tradição eclesiástica. São,
portanto, “os autores dos primeiros séculos cristãos universalmente invocados
como testemunhas diretas ou indiretas da doutrina cristã ou da vida da igreja
nessa época (séc. II a V a.C.)”[18]
Então, a Igreja deve usar a tradição apostólica para avaliar se algo deve ser visto como
sendo uma determinada prática que sempre esteve presente ou não na vida da Igreja, em
nosso caso, especificamente, buscar a confirmação da utilização do Antigo Testamento na
pregação de sua época. Alguém poderia perguntar: Por que estudar os Pais da Igreja sobre
esta questão? Pelo menos três razões são basilares para nós: “1) Por serem mais próximos da
tradição apostólica; 2) Porque os pais nos ajudam a entendermos as nossas raízes teológicas;
3) Os Pais foram, antes de tudo, pastores e, como tais escreveram e viveram.”[19] Esta é
concepção correta na qual devemos nos aproximar dos Pais Apostólicos. A Igreja estava
entrando em uma nova esfera, e ainda assim, precisava manter-se firme, pois agora novas
ideias estavam surgindo dentro da comunidade cristã. E uma destas concepções afetava
efetivamente o entendimento sobre o lugar do Antigo Testamento dentro da Igreja Cristã.
Havia lugar para o Antigo Testamento dentro da Igreja que manifesta-se dentro da
Nova Aliança de Deus? O primeiro ataque frontal ao texto antigo veio do Gnosticismo. Este foi
o primeiro ataque que levou a Igreja defender-se. Isto porque surgia dentro do Cristianismo
pós-apostólico, o problema de admitir ou rejeitar a “herança veterotestamentária”. [20]
A nova proposta era que o Antigo Testamento não pertencia a Igreja Cristã. Esta foi a
grande guerra estabelecida na comunidade pós-apostólica. Os gnósticos e os judaizantes
tentavam sufocar a Igreja Cristã; os primeiros com a negação absoluta do Antigo Testamento e
os segundos com a valorização cerimonial do Antigo à Comunidade Cristã. Então, a prática dos
Pais passou a ser de profunda apologia ao texto Antigo, e assim, nasce a avaliação exegética
dentro da Igreja pós-apostólica, isto porque
A afirmação irrenunciável da unidade dos dois testamentos tornou-se assim o ato do
nascimento da exegese cristã propriamente dita. A defesa desta mesma unidade, na
multiplicidade das táticas exegéticas, estará também na origem da diversificação dos métodos,
no interior de uma essencial unidade de fundo, na exegese cristã antiga ( GARGANO, 2000, p.
172 ).
Havia um real conflito se deveria ou não receber e aceitar o Antigo Testamento dentro
do Cânon da Igreja, por outro lado, havia a questão da defesa dos falsos ensinos a respeito de
Cristo e de sua obra; como resolver estas questões? Como encarar este problema? A Igreja da
época patrística ofereceu uma resposta para estas questões.
Clemente de Roma (AD 100) ele chegou a desenvolver uma concepção um pouco
reservada a respeito do Antigo Testamento. Mas em sua Carta aos Coríntios ele “invoca
constantemente os exemplos e as virtudes do Antigo Testamento” [21].
Ainda existem gritantes exemplos de que Clemente apelou para o Antigo Testamento
em diversos momentos, inclusive quando seguia a interpretação alegórica, ele diz “desta forma,
tornavam claro que o sangue do Senhor
resgataria todos aqueles que acreditam e esperam em Deus.
Vede, caríssimos, que nessa mulher havia não só a fé , mas também a profecia”[22]
O segundo Pai da Igreja que nos chama atenção pelo uso do texto veterotestamentário
é Justino, o Mártir. Ele viveu entre 100-165 d.C. é considerado um dos primeiros apologetas
Cristãos, e graças a ele os cristãos “continuaram a usar o Antigo Testamento”[23]
Este Pai da Igreja nos informa como se procedia à reunião Litúrgica em sua época,
nesta organização de liturgia figurava um lugar para a leitura do Antigo Testamento, a qual era
chamada de “escritos dos profetas”, ele diz:
E no dia Chamado Domingo, todos quantos moram nas cidades ou no interior reúnem-se
juntos num só lugar, e são lidas as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, por
tanto tempo quanto Possível; depois, tendo terminado o leitor, o presidente instrui verbalmente,
e exorta à imitação dessas coisas virtuosa s[...][24] (Apud, STOTT, 2003, p.19 – ênfase nossa)
A compreensão que os pais tinham a respeito do Antigo Testamento nos inclina a
pensar que eles usaram o Antigo Pacto de forma positiva. Isto nos leva a uma reflexão que é
preciosa: o valor dado ao Antigo Testamento na comunidade patrística nos lembra que todo o
desígnio de Deus deve ser exposto com verdade, e com cautela, todavia, sem timidez.
O outro líder espiritual deste período que nos chama a atenção é Irineu de Leão, sendo
um grande defensor da fé, nos leva a pensar que de fato os pais “usavam o Antigo Testamento
para defender sua fé e como uma fonte para seu ensino [...]”; Irineu figura entre os que usaram
as Escrituras para defender a fé. Ele fora discípulo de Policarpo, este por sua vez, discípulo de
João o apóstolo de Cristo. Qual fora a tarefa deste pai da Igreja?
A tarefa de Irineu foi de demonstrar e desenvolver as relações entre o AT e o NT (BARRERA,
1995, p. 629). Sua mais famosa obra
é conhecida como Adversus Haeresis (Contra Heresias) e considerada uma ‘exposição
convincente, simples e persuasiva da doutrina da Igreja, além de ser a única fonte atual para o
conhecimento dos sistemas gnósticos e a teologia da Igreja dos Padres, do final do século II’
(FRAGIOTTI, 1995, p. 10). O Livro IV desta obra é dedicado a explanação da ‘Continuidade
entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento’.[25]
O grande problema sentido pelos pregadores contemporâneos é a não percepção da
unidade do Antigo Testamento com a revelação neotestamentária. Esta questão não gerou
dificuldades ou crise de consciência entre os pais apostólicos. Os pais ao usarem este texto
antigo estavam reafirmando a autoridade do Antigo Testamento para resolver qualquer
controvérsia religiosa, mas também estavam mostrando o quanto eram atuais – para a sua
época – o texto do Antigo Testamento.
3. O Antigo Testamento no período da Reforma Protestante.
O que veio a ser a Reforma Protestante? Há diversas respostas de grandes
historiadores. Cairns nos indica que várias formas de se definir a Reforma protestante. Isto
porque, o “nome e o sentido dados à Reforma são parcialmente condicionados pela visão do
historiador”, isto quer dizer, que os pressupostos dos historiadores nortearão o que venha a ser
a Reforma Protestante. É bom que se diga que o “historiador protestante considera-a
(Reforma) como uma reforma que fez a vida religiosa voltar aos padrões do Novo Testamento
[...]”, isto nos indica que
Não é fácil aclarar o sentido do termo “Reforma”. Se for considerada apenas como um
movimento religioso de criação de igrejas nacionais, seu período de duração vai de 1517
a 1648. Como, porém na Holanda só aderiu o protestantismo depois do Concílio de Trento,
parece mais correto circunscrever a parte mais importante da Reforma aos anos de 1517
a1545.[26]
Embora esta observação do Cairns seja de fato verdadeira, ela não reproduz com
propriedade o que tenha sido o movimento da Reforma Protestante. A manifestação da
Reforma só pode ser realmente entendida sob duas avaliações: 1) uma intervenção divina na
história (avivamento); 2) Um retorno às Escrituras.
A Reforma só foi possível devido a um movimento que libertou a Igreja de Roma – a
valorização do indivíduo. Pois,
O Humanismo, com sua volta ad fontes, foi um dos fatores para o estudo das Escrituras em
sua língua original. Duas contribuições foram importantes para isso: primeiro, a elaboração de
manuais das línguas clássicas (Hebraico, Grego e Latim), como por exemplo, a obraRudimenta
Linguae Hebraicae (1506) do hebraísta João Reuchlin; segundo, a impressão dos textos
bíblicos nas línguas originais, como por exemplo, Os Salmos de Lefèvre d’Etaples
(1509), a Poliglota Complutense do Cardeal Ximenes (1514 – 17), a Bíblia Rabínica de
Daniel Bomberg (1516 – 17) e Segunda Bíblia Rabínica de Jacob ben Hayyim(1524 – 25)[27]
O humanismo adicionado com o movimento do retorno às fontes liberou o homem e,
isto o levou até a Bíblia Sagrada. Isto viabilizou a exposição Bíblica com um todo. A doutrina
imperiosa deste período é o Sola Scriptura(somente as Escrituras) esta convicção gerou
maturidade no púlpito da Igreja, que, desde então, se libertara de Roma. Esta concepção da
suficiência das Escrituras foi aditada pelo princípio “Escritura interpreta Escritura” – então, não
temos apenas uma Bíblia que seja suficiente, mas também temos uma Bíblia que nos diz como
ela mesma deve ser interpretada. A interpretação canônica das Escrituras possibilitou aos
reformadores a expor a Bíblia com muita clareza.
O grande Reformador Martinho Lutero sustentava o Antigo Testamento como sendo
Palavra de Deus; isto é, ele não é uma porção inferior ao Novo Testamento, ele [Lutero]
mesmo diz que encontra no A.T no N.T o próprio evangelho de Deus se encontra revelado
Portanto, palavra do evangelho e Escritura, evangelho e NT, lei e AT não são
idênticos para Lutero; o AT abrange, antes, lei e evangelho. Mas também o NT ainda
deve ser lido segundo o critério lei e evangelho, e nem tudo que está escrito nele
é puro evangelho [...] A distinção dialética entre lei e evangelho é uma questão
de princípio e é fundamental, a distinção entre Antigo e Novo Testamento como partes
do cânone não o é. Em primeiro lugar, a diferença entre os testamentos é apenas
de grau: o AT contém mais lei , o NT, mais evangelho. Em segundo lugar,
a diferença é de caráter temporal: segundo a opinião de Lutero, o evangelho é promul
gado no AT como promessas e profecia, no NT, porém, se anuncia o cumprimento.[28]
Este entendimento mostra-nos como o Antigo Testamento é importante para Lutero e para a
sua teologia da unidade do Cânon.
Todavia, a exemplificação deste tema não fica somente aos pés de Lutero, mas é devidamente
representada pelo grande João Calvino, este tinha uma profunda veneração, se assim
podemos dizer, pelo Antigo Testamento. Era um hábil expositor do Antigo Testamento. E como
ele fazia tal abordagem do Antigo Testamento? É bom que se diga que “Calvino foi um
pregador mestre numa época em que o púlpito era o principal meio de comunicação para uma
cultura inteira[29]”.[30] O reformador de Genebra, “seguindo o padrão que Zuínglio instituíra
em Zurique, Calvino em geral pregava continuamente através dos livros da Bíblia. Seu método
era pregar sobre o Novo Testamento aos domingos e sobre o Antigo Testamento nos dias
úteis.”[31].
Nas suas exposições ele situava o texto dentro do seu contexto histórico, e alguns tem
sustentando que Calvino fora um judaizante disfarçado de cristão, mas tal acusação ignora que
o que o reformador genebrino estava seguindo era um método seguro para interpretação do
texto, um exemplo clássico deste zelo expositivo é Ageu 2.7:
Isto permite duas explanações: a primeira é que todas as nações virão e trarão consigo todas
as coisas que são preciosas, a fim de consagrar ao serviço de Deus, pois o hebreu chama o
que quer que seja de um desejo valioso; assim, o que incluem sob este termo
eles incluem toda riquezas, honras, satisfação e todas as coisas deste
tipo [...] elas viriam com o que eles desejavam, isto é, as nações não viriam [de
mãos] vazias, mas recolheriam todos os seus tesouros para um sacrifício santo a Deus
[...] Mas nós podemos entender que ele diz de Cristo, ‘virá o desejado de todas
as nações, e encherei esta casa de glória’ Nós realmente sabemos que Cristo foi a
expectação de todo mundo, conforme o que é dito em Isaías. E isto pode ser
corretamente dito, que quando o desejado de todas as nações virá, isto é, quando
Cristo fosse manifestado, em quem os desejos de todos deveriam centralizar, a glória
do Segundo Tempo então seria reconhecida; mas conforme imediatamente sucede, ‘min
ha é a prata, e meu é o ouro’, o significado mais simples é aquele que eu primeiro e
xpressei – que as nações viriam, trariam consigo todas as suas riquezas, que
eles poderiam ofertar a si mesmo e suas possessões como um sacrifício a Deus. É, então,
melhor ler o que segue como uma explicação, ‘minha é a prata, meu é o ouro, disse o
Senhor’[32]
Esta postura não é de nenhum judaizante, mas de alguém que se preocupa com a precisão da
exposição bíblica. Esta posição do reformador sumariza o que ele pensa sobre o dever do
Pastor. Calvino lembra que o que se requer não é que “... uma pessoa seja eminente no
conhecimento profundo...” mas que este conhecimento seja acompanhado do talento para
ensinar, que seja sábio no uso correto das Escrituras para a edificação do seu rebanho.[33]
O uso correto nas Escrituras exige que o Antigo Testamento seja lido e entendido dentro de
seu contexto histórico.
Calvino tinha um entendimento de que há unidade singular entre o Antigo e o Novo
Testamento. “A compreensão acima coloca Calvino como o maior intérprete das Escrituras,
abordando o AT e o NT como um só livro, compreendendo o valor do AT em si mesmo,
bem como em sua relação com o NT. Sua abordagem é histórica e pneumático-
cristólogica.”.[34] Diante disso, podemos dizer que Calvino foi “de fato o exegeta por
excelência da Reforma”.[35]. Este epíteto é aplicado a Calvino devido ao seu grande zelo e
reverência para com toda a totalidade das Escrituras, ele mesmo diz:
As Escrituras dissipam a trevas da nossa mente tornando claras as noções confusas da
divindade e dando-nos uma visão clara de Deus. E é um favor singular que Deus na instrução
da Igreja usa não apenas mestres, mas abre também a sua boca sagrada[...] não somente
ensina aos seus eleitos a elevar os olhos para a divindade, mas também se manifesta como
objeto desta contemplação; devemos, pois, aprender das Escrituras o que Deus revelou aos
patriarcas [...] É fora de dúvida que a esses patriarcas Deus se revelou numa persuasão, de
modo que estavam convencidos de que a revelação que receberam veio de Deus. Para que os
oráculos dos profetas servissem de instruções a todas as eras, Deus ordenou que fossem
guardados e, assim, também a lei promulgada fosse reunida e os profetas fossem os seus
intérpretes”[36]
Calvino pode de fato fazer suas exposições no texto do Antigo Testamento porque tinha essa
grande reverência pelas Escrituras, não somente isso, mas também porque reconhecia os
livros veteretestamentários dignos para a Igreja de Deus. “Na polêmica que manteve com
Sebastião de Castélio, em que este negava a canonicidade de Cântico dos Cânticos”, Calvino
continua sustentando que o texto é Palavra de Deus e digno de aceitação para a Igreja. [37]
Então, o Antigo Testamento não era para Calvino um apêndice para as suas
exposições, mas pelo contrário era de fato a palavra infalível de Deus, pois, Deus se descortina
por meio deste texto aos pecadores oferecendo a graça.
Como Calvino avalia seu trabalho de expositor bíblico? Esta questão poderia deixar
muitos arrogantes e orgulhosos se tivessem feito a metade do que Calvino fez, mas ele mesmo
nos ensina uma lição de humildade – característica essencial daqueles que se submetem à
Palavra de Deus – sob os seguintes termos:
A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do
modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem
conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre
estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei
fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus[38]
Calvino, ao decidir expor o Antigo Testamento, não o fazia para entreter o povo ou ser
ovacionado, mas para fielmente ser um ministro da Palavra de Deus; como expositor bíblico
era insuperável, a ponto de o seu opositor Jacob Armínio dizer: “Eu exorto aos estudantes que,
depois das Sagradas Escrituras, leiam os comentários de Calvino, pois eu lhes digo que ele é
incomparável na interpretação da Escritura”[39]
Calvino usa o Antigo Testamento de forma consciente, isto é, percebido quando ele
demonstra o aspecto redentivo de Deus tanto no período veterotestamentário como no
neotestamentário; pois, ele diz que “a
vocação dos gentios é um admirável sinal ela qual se ver claramente a excelência do
Novo Testamento sobre o Antigo”. Tal promessa “foi anunciada em numerosos e evidentes
oráculos dos profetas”[40]
Como Calvino foi capaz de produzir tanto no que tange ao seu entendimento do texto
do Antigo Testamento? Talvez a resposta esteja no fato de seu treinamento e perícia nas
línguas bíblicas: Calvino sempre estava “recorrendo a seu excelente conhecimento de grego e
hebraico e a seu profundo treinamento na filosofia humanista [...] é bom que se diga que: “Os
comentários de Calvino e seus sermões-conferências sobre o Antigo Testamento preenchem
45 volumes na tradução Inglesa do século XIX.”; o trabalho de expositor de Calvino tem raízes
fincadas na exegese, pois, todo o seu trabalho “é marcado pela modéstia. “Seu objetivo era
penetrar na mente do autor tão concisa e claramente quanto possível, evitando demonstrações
profusas de erudição e digressões em assuntos secundários.” [41]
Isto significa que Calvino tinha todas as explicações para cada passagem que lia das
Escrituras? A resposta é negativa, pois, ele mesmo reconhece sua debilidade em explicar tudo,
tal verdade pode ser percebido quando ele está expondo Atos 1, no que se refere a Segunda
vinda de Cristo, Calvino diz: “É melhor deixar intocado o que eu não consigo explicar”. [42]
Este exemplo é um consolo para os expositores das Sagradas Letras, pois, não propomos
neste trabalho que o expositor do Antigo Testamento tenha a obrigação de explicar todo texto,
mas que eles tem de pregar todo o “conselho de Deus” e reconhecendo suas limitações quanto
a esta laboriosa tarefa. Assim como fez o mestre de Genebra devemos fazer, isto é, sermos
expositores do texto sagrado sem distorcê-lo, mas reconhecendo nossas limitações para
compreender alguns destes textos.
No século XIX o Antigo Testamento foi solapado de diversas formas. Muitos eruditos
começaram a questionar a validade do Antigo Testamento. Alguém já disse que é:
Muito difícil descobrir com precisão quando apareceu a primeira crítica hostil contra a Bíblia.
Naturalmente, todo pecado é uma crítica contra a Bíblia, é uma manifestação do desejo de ser
mais sábio que tudo o que Deus ordenou. Porém, o primeiro descontentamento consciente
para com o Antigo Testamento provavelmente apareceu na cidade egípcia de Alexandria [...]
Clemente de Alexandria cita um tal de Aristóbulo, um peripatético, que ensinava que a filosofia
judia era mais que a grega e que Platão havia obtido suas ideias da Lei mosaica [...] depois
menciona-se um tal de Dositeo, o samaritano que rejeitou os profetas apoiando-se na crença
de que eles não haviam falado sob a inspiração do Espírito Santo [...] No Indiculus de
Haeresibus, menciona-se um grupo chamado Meristae, dos quais se diz que dividam as
Escrituras e não acreditavam em todos os profetas[43]
Mas é no século XIX que surge o Criticismo Bíblico com várias hipóteses, mas a predominante
destas é a teoria dos “vários documentos” conhecida como Hipótese Documentária. A proposta
desta teoria valia-se de que havia vários autores para o documento – o Pentateuco em primeiro
plano – negava-se a autoria de Moisés dos cinco primeiros livros da Bíblia.
Esta foi a forma como a Alta Crítica começou com Jean Astruc ( ca. 1750). Astruc estudou
cuidadosamente o livro de Gênesis e observou que os nomes de Deus eram usados em
contextos determinados, tais como: Elohim em Gn. 1:1-2:4; Javé Elohim ou Gn. 2:5 - 3:24)
eJavé em Gn. 4:1-16. Não somente os nomes, mas também outros fatores como: repetições de
histórias, semelhança de temas, etc, deram, a base para Astruc postular duas fontes que
teriam sido usadas por Moisés, para compilar o livro de Gênesis. Astruc não defendeu nem
negou a autoria de Moisés. Essa questão não era importante para ele. Ele nos deu a primeira
divisão crítica do Pentateuco, sob a sigla JE. J representando o material Javista, isto é, o que
tinha o nome de Javé, reiteradamente; e, E representando o Eloísta, isto é, o material que
trazia o nome Elohim.[44]
A pergunta que se levantada é ao que tudo isso conduziu os eruditos bíblicos? O
professor Humberto Gomes de Freitas nos indica que tal posicionamento levou tais homens
para um caminho sem volta:
A combinação da Crítica das Fontes com a Critica Histórica levou à posição dominante da
Hipótese Documentária, plenamente desenvolvida por Julius Wellhausen, 1878. Depois de
refinar as teorias anteriores podemos resumir a posição final de Wellhausen como segue:
1. A fé dos hebreus se desenvolveu da religião tribal (animismo) para monoteísmo, como
resultado da atividade profética.
2. O Pentateuco é uma coleção de escritos que cobre vários séculos. Cada fonte pode ser, a
grosso modo, datada pelo critério do desenvolvimento das idéias teológicas contidas nelas:
J = IX século
E = VIII Século
D = VII Século (c.a. 621 - reforma de Josias)
P = V Século
3. A legislação “mosaica” é um produto do judaísmo pós-cativeiro.
As fontes revelam o desenvolvimento teológico. Por exemplo, o javista (J) apresenta Deus se
revelando pessoalmente aos patriarcas. O eloísta (E) retira Deus do mundo do homem, cujo
contato é feito através de anjos e sonhos. O Sacerdotal (P) tem um estilo característico, é
preciso nos detalhes do culto, minucioso em matéria de rituais. O Deuteronomista (D) é rico em
linguagem pactual.[45]
E, assim, o Antigo Testamento ficou mutilado para uma avaliação hermenêutica como
também para uma contemplação homilética.
A alta Crítica desdobrou-se em problemas confusos e, assim, uma avaliação do texto
sagrado ficou em algo que chamamos de suspensão hermenêutica e homilética. Pois os seus
pressupostos nortearam os eruditos pelo caminho equivocado.
Que pressupostos foram esses? O principal deles é o Anti-Sobrenaturalismo, pois, o
eruditos da Alta crítica rejeitavam tudo o que fosse sobrenatural. Então, eles tentavam retirar
da Bíblia todo sentido que fosse miraculoso. Não há milagres na Bíblia, então, relatos
significativos para a fé da Igreja não são verdadeiros, tais como o dilúvio, a travessia do Mar
Vermelho.
Pode-se, segundo Hague, atribuir o surgimento do movimento moderno da Alta Crítica a
Spinoza (1632-1677), filósofo racionalista, judeu de Amsterdã (HAGUE, 2002). Em seu
Tratactus Teologico-Politicus, “defende a liberdade de pensamento e o direito de criticar
livremente a Bíblia” (MESSER, 196-? p.259). Ali ele ousadamente combate a data aceita do
Pentateuco, atribuído a Moisés, e atribui a origem a Esdras ou algum outro escritor posterior
(HAGUE, 2002), alegando a diferença pronominal entre a 3.ª pessoa (ele) e a 1.ª pessoa (eu),
bem como o registro da morte de Moisés em Deuteronômio 34 (ARCHER, 2000, p. 465). Nas
palavras de Hague (2002): “Spinoza foi realmente o mentor do movimento”[46].
Mas tal teoria mostrou-se inconsistente e foi totalmente rejeitada pelos eruditos
conservadores, e hoje é plenamente descartada. Por que ela foi rejeitada? Porque todos os
críticos antes de Wellhausen e
Keunen, ou seja, todos até Karl H. Graf, aceitavam que o documento javista (J) era m
ais
recente que o Eloísta (E), mas Wellhausen acreditava que o javista era mais velho que
o Eloísta[47] (ARCHER, 2000, p. 476). Quem está certo?
O próprio sistema de datação das fontes que compunha a hipótese documentária era falho e
contraditório, isso gerou um profundo descrédito para com a teoria. Outra questão é que tais
eruditos, quando se basearam, na questão de nomes distintos nos relato da criação, ignoraram
a questão do estilo literário dos autores. Archer nos diz algo interessante sobre isso:
A
capacidade de empregar mais do que um nome para Deus; mais do que um só estilo
de escrita (...); mais do que um entre vários sinônimos da mesma idéia; mais do que
um tema típico ou círculo de interesse. Segundo esta teoria, um autor único como Rui
Barbosa não poderia ter escrito pesquisa literárias, como Ensaio sobre Swift, reportagen
s vivas e cintilantes da atualidade da época, como em Cartas da Inglaterra, e ainda a
grande obra de polemica religiosa, que é sua versão de ‘O Papa e o Concílio’.[48]
E qual o resultado desta busca acadêmica dos eruditos da Alta Crítica? O professor
Humberto mais uma vez nos dá uma centelha do que isso resultou para a vida da Igreja:
A exploração dos assuntos controversos e polêmicos levou a duas posições definidas: o gosto
pelo academismo teológico, pelo tratamento exaustivo a problemas insolúveis, exemplificado
nos volumes que foram publicados sobre quaisquer dos temas acima, como pura
demonstração de erudição; e o abandono do VT para enfatizar a pregação simples do
Evangelho. A idéia era pregar missões e não confusões. Resultou na posição de preferência
pelo NT confirmando, dentro da Igreja, o neo-marcionismo refinado. Não a rejeição frontal mas,
o não uso deliberado[49].
CONCLUSÃO:
Ainda neste afamado século XIX nos deparamos com o chamado Dispensacionalismo,
que será discutido com maiores detalhes em um futuro artigo sobre esta temática, onde a
rejeição do Antigo Testamento para a vida da Igreja se torna notório pelo alto índice de
publicações desta vertente hermenêutica; o Dispensacionalismo sustenta uma distinção ímpar
entre o Antigo e o Novo Testamento, o primeiro sendo aplicado apenas aos judeus, e o
segundo é seguramente da Igreja.
Nas Igrejas onde esta visão é sustentada a pregação veterotestamentária nunca se
aplica a Igreja, e quando há uma pregação no escopo revelacional do Antigo Testamento a
mensagem é ilustrativa, alegórica ou moralista. Não existe um aspecto redentivo ou um
conceito soteriológico fundamentado na graça de Deus. Isto porque a graça é um fenômeno
apenas do Novo Testamento. Esta abordagem impossibilita de haver uma pregação no texto
do Antigo Testamento para a vida da Igreja.
O não-uso deliberado do Antigo Testamento – como indicou o professor Humberto –
tem gerado um Cristianismo sem a Lei de Deus. Esta é a realidade que enfrentamos. Ou seja,
presenciamos uma total desvalorização do Antigo Testamento onde o Dispensacionalismo
Clássico é sustentado.
* O autor é formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Está pós-
graduando em Ciências da História da Religião com ênfase em docência do Ensino Superior
pela Faculdade Evangélica do Piauí. Atualmente pastoreia a Igreja Presbiteriana em São
Raimundo Nonato – PI.
[1] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada p.
19
[2] BOETTNER, Loirine. A Autoridade da Escritura. Portugal: Vida Nova, p.23-24 – sem data.
[3] KITTEL, Gehard(ed), Theological Dictionary of the New Testament: Grand Rapids:
Eerdmans Publishing Company, vol. I, 1980, p. 745.
[4] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada p.
20.
[5] YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus Lia. São Paulo: Editora Vida, 2000, p. 24,25.
[6] Apud, SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada,
p.21
[7] Idem
[8] BOETTNER, Loirine. A Autoridade da Escritura. Portugal: Vida Nova, p.22 – sem data
[9][9] YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus Lia. São Paulo: Editora Vida, 2000, p. 25-26.
[10] DANA, H. E. Jesus’s Use of the Old Testament. In THE BIBLICAL REVIEW. vol. XVI (Jul.
1932), n. 3, p.227.
[11] ROBERTSON,
A. T. A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical
Research.Nashville Broadman Press, 1934, p.119.
[12] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada,
p.31
[13] Ibid, p.34
[14] MURRAY, John. Romanos, São Paulo: FIEL, 2003, p.62
[15] Idem.
[16] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.
36.
[17] BENOIT, André, A Atualidade dos Pais da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966, p.36
[18] Idem
[19] HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Viçosa: Ultimato, 2000,
p.56.
[20] BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e A Bíblia Cristã – Introdução à História da
Bíblia. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 1996,p.630.
[21] FRANGIOTTI, Roque in.: COLEÇÃO PATRÍSTICA. Padres Apostólicos. São Paulo:
Paulus, 2.ª ed., 1995, p.625.
[22] CLEMENTE ROMANO. Clemente aos Coríntios in: COLEÇÃO PATRÍSTICA: Padres
Apostólicos. São Paulo: Paulus, 2.ª ed., 1995, p. 32
[23] BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e A Bíblia Cristã – Introdução à História da
Bíblia. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 1996,p.46
[24] STOTT, John. Eu Creio na Pregação, Tradutor: Gordon Chown, São Paulo: Vida, 2003
[25] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja Contemporânea.
Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.49.
[26] CARINS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã,
Tradução: Israel Belo Azevedo e Valdemar Kraker, São Paulo: Vida Nova, 2008, p.250-251.
[27] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja Contemporânea.
Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.74.
[28] GUNNEWEG, Antonius H. Hermenêutica do Antigo Testamento. São Leopoldo – RS: Ed.
Sinodal, 2003, p.50
[29] Esta declaração nos lembra as palavras simples, mas significativas de Herman Melville: “O
púlpito conduz o mundo”, pois, é dali que a tempestade da Ira de Deus é avistada [...]; É apartir
dali que o Deus das brisas é [...] primeiramente invocado [...] Sim, o mundo é um navio na sua
viagem de partida, que não a viagem completa; e o púlpito é a sua proa (Apud, STTOT, 2001,
p.36.)
[30]GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994,
p.187.
[31] Idem
[32] CALVINO, John. Commentary on the prophet Haggai. Albany, Orlando: Ages, 1998, p.42.
[33] CALVINO, João. As Pastorais, Tradutor: Valter Graciliano Martins, São Paulo: Parakletos,
1998, p.87
[34] SMITH, Ralph L. Apud, SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a
Igreja Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não
publicada, p.79
[35] COSTA, Herminsten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras –
Uma Perspectiva Reformada, São Paulo: Cultura Cristã,1998, p.123
[36] FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. São Paulo: Luz Para o
Caminho, 1985, p. 251.
[37] Ibid, p.253
[38] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994,
p.245-246.
[39] HUNTER, A.M.The Teaching of Calvin, Londres: James Clarke, 1950, p.20
[40] Ibid,p.339.
[41] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994,
p.187.
[42] Idem
[43] YOUNG, Edward J. Una Introduccion al Antiguo Testamento. Jenison – MI: TELL, 1991, p.
109-110
[44] FREITAS, Humberto. A eclosão da Alta Crítica. In.: SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO
NORTE, Recife: 2001, p.2
[45] Idem
[46] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja Contemporânea.
Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.58
[47] ARCHER, Gleason. Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Ed. Vida Nova,
2000, p.476.
[48] Ibid, p. 493-494
[49] FREITAS, Humberto. A eclosão da Alta Crítica. In: SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO
NORTE, Recife: 2001 p.2