Oscar Ribas
Oscar Ribas
Oscar Ribas
Pág.
AGRADECIMENTO…………………………………………….……….…………….iii
RESUMO …………………………………………………………………..…………..iv
IMPORTÂNCIA DO TEMA …………………………………………………………...v
DEFINIÇÃO DOS OBJECTIVOS………………………………………………….......vi
METODOLOGIA DE PESQUISA…………………………………………………….vii
INTRODUÇÃO.................................................................................................................1
BIOGRAFIA COMPLETA DO AUTOR.........................................................................2
QUEM FOI ÓSCAR RIBAS.............................................................................................3
OBRAS E PRÉMIOS DE DESTAQUE DO AUTOR......................................................4
COMO ERA REALIZADO O TRABALHO DE RECOLHA.......................................10
CONCLUSÃO.................................................................................................................16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................17
INTRODUÇÃO
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BIOGRAFIA COMPLETA DO AUTOR
A sua primeira fase de publicações começa com duas novelas: Nuvens que
passam em 1927 e Resgate de uma falta em 1929. Segue-se a segunda fase com Flores e
espinhos (1948), Uanga (1950) e Ecos da minha terra (1952).
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posteriores. Revela-se profundamente preocupado com os temas da literatura oral,
filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de língua kimbundu.
Óscar Ribas foi, por diversas vezes, distinguido com prémios e títulos
honoríficos: Prémio Margaret Wrong (1952), Prémio de Etnografia do Instituto de
Angola (1959), Prémio Monsenhor Alves da Cunha (1964).
Óscar Ribas (na foto), foi um homem que soube resgatar, valorizar e promover
através das letras muito do imaginário nacional e das tradições orais. Escritor
prestigiado nos meios literários nacional e internacional e membro da União de
Escritores Angolanos (UEA), Óscar Ribas foi galardoado com diversos prémios:
Margaret Wrong (1952), de Etnografia do Instituto de Angola (1959) e monsenhor
Alves da Cunha (1964).
Óscar Ribas foi agraciado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, nas
categorias de literatura e investigação em Ciências Sociais e Humanas, outorgado pelo
Ministério da Cultura, em 2000.
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Na Conferência Internacional, que decorre até ao dia 19 deste mês numa
organização do Ministério Cultura, participam escritores, antropólogos, historiadores e
outras individualidades do país e do estrangeiro.
A obra de Óscar Ribas é funda e potencialmente criadora, pelo que pode e deve
ser origem de novas e outras obras, novos estudos e novos caminhos de conhecimento
humano.
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Uanga - Feitiço (Romance Folclórico)
Ilundo - Espíritos e Ritos Angolanos (1958,1975)
Missosso 3º volumes (1961,1962,1964)
Alimentação regional angolana (1965)
Izomba - Associativismo e recreio (1965)
Sunguilando - Contos tradicionais angolanos (1967, 1989)
Kilandukilu - Contos e instantâneos (1973)
Tudo isto aconteceu - Romance autobiográfico (1975)
Cultuando as musas - poesia (1992)
Dicionário de Regionalismos angolanos
Prémios
Títulos
Membro titular da Sociedade brasileira de Folk-lore (1954)
Oficial da Ordem do Infante do governo português (1962)
Medalha Gonçalves Dias pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1968)
Diploma de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura (1989)
Desde cedo, Óscar Ribas se revelou preocupado não só com temas e pesquisas
sobre literatura oral, mas também investigou a filosofia, a filologia e as religiões
tradicionais dos povos kimbundu de Angola. Ficou conhecido por seu trabalho de
colecta de contos, canções, provérbios, adivinhas, rituais religiosos, poesias, histórias,
tendo-se destacado os três volumes de Misoso como obras de compilação de narrativas
tradicionais orais que contribuíram para fazer dele um intelectual conceituado por ter
preservado tradições inscritas na memória popular. Dessa forma, o trabalho de Ribas foi
um dos que intensamente colaborou para ajudar a configurar um perfil identitário de
Angola.
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Este ensaio irá se ater a algumas questões que nos pareceram fundamentais na
obra e na vida do autor, a saber:
1) Ribas foi influenciado por uma visão histórico-filosófica positivista, que o levou a
usar determinadas categorias, como as de “raças adiantadas” e “raças atrasadas”, o
que, entretanto, não invalida, de maneira alguma sua grande contribuição como
artesão etnográfico de Angola. Em seu livro, Temas da Vida Angolana e suas
Incidências, declara literalmente:
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4) Por último, iremos focalizar os contos “Damba Maria” e “Mbangu a Musungu”, do
livro Ecos da minha Terra (1952), além de nos referirmos também a algumas
adivinhas e provérbios de outras obras do escritor em questão.
Laura, em sua tese Entre Voz e Letra, editada em 1995, afirma que “o missosso é
percebido pelos naturais de Angola como uma narrativa puramente imaginária,
poderoso depósito de experiências ancestrais acumuladas” (PADILHA, 1995, p. 20). A
estudiosa analisa contos, provérbios, adivinhas que se encontram nos três volumes de
Missosso – colectâneas organizadas por Ribas –, ressaltando que, “muito embora como
um sistema de poder a ordem europeia seja a dominante, na quotidianidade do viver
angolano, o que predomina são as normas da terra, ou seja, as tábuas da lei” (Idem, p.
51). Laura enfatiza que, ao recolher o material das tradições orais e compilá-lo
graficamente, Óscar Ribas se apresenta como um tradutor que procura ser fiel aos textos
orais originais, mas, na hora da reprodução escrita, o resultado já não é mais o
puramente oral. Ela argumenta que, mesmo que tais traduções, como é o caso das
propostas por Óscar Ribas, tenham a preocupação com a fidelidade ao texto origem, o
texto cristalizado na escrita já não pode ser considerado oral stricto sensu. A fixação
gráfica lhe dá uma nova dimensão em tudo diferente da expressão oral. Por outro lado, e
finalmente, não devemos esquecer que, por trás de tudo, há uma outra voz, ou seja, a de
quem fez a recolha e, com isso, propõe uma leitura do material coligido, já que o
processo de transposição implica um ato de interpretação a ele subjacente.
Rita Chaves, por sua vez, em sua tese A Formação do Romance Angolano,
editada em 1999, ao se referir a Ribas, observa que, embora ele não participasse do
Movimento dos Novos Intelectuais de Angola integrado por artistas que, na luta por
uma estética calcada na valorização das marcas culturais angolanas, investiam no
fortalecimento do sentimento nacional e criavam condições para a libertação do país,
seu trabalho e, principalmente, o romance Uanga revelavam um apreço pelo patrimônio
cultural e suas tradições.
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O romance, em que pese a cadeia de preconceitos a lhe modular o percurso, tem
sua porção de sabor assegurada com a habilidade demonstrada pelo narrador ao
estruturar sua fala, fazendo convergir para a montagem narrativa marcas tipificadas das
tradições africanas, entre elas as noções advindas da oralidade.
Definindo sua obra como “um documento da sociedade negra inculta” ou como
“repositório etnográfico”, Óscar Ribas esclarece o interesse em destacar o seu
significado como um documento sócio-cultural válido na história da literatura e da
cultura em Angola.
Embora tenha vivido até 2004, Ribas teve sua escrita e sua forma de pensar
marcadas, principalmente, pelo contexto histórico da primeira metade do século XX,
período em que o positivismo e o evolucionismo ainda influenciaram muitas visões e
conceitos não só em Angola, mas em outras partes do mundo. Isso explica o fato de que
categorias de conhecimento como “atraso”, “decadência”, “gentes ignaras”, “não
civilizados”, “incultos” tenham sido usadas por ele para descrever a sociedade angolana
negra. Tendo como “verdades” a civilização, o progresso e o desenvolvimento impostos
por Portugal – o que, cabe lembrar, era frequente no pensamento da época –, Ribas, de
acordo com Pires Laranjeira, “permaneceu sempre numa fronteira entre o fascínio por
certo tipo de tradições bantas e mestiças e o peso ideológico das leituras juvenis da
portugalidade e do eurocentrismo” (LARANJEIRA, 2007, texto inédito).
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O trabalho de Óscar Ribas, como muitos críticos já apontaram, tinha, em parte,
fundamentos e matrizes, nesse ideário positivista, presente nas primeiras décadas do
século XX. Em virtude dessa ótica assumida pelo escritor, percebemos que a busca de
identidade nacional por ele empreendida, por intermédio de seu processo de recolha de
canções, provérbios, contos, narrativas tradicionais orais, tratava, com algum
preconceito, conforme visão corrente no início do século XX – nunca é demais
enfatizar! – As religiosidades locais, uma vez que manifestava uma certa crítica à
desrazão e aos feitiços que, segundo seu ponto de vista, impediam o progresso de
Angola.
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História Geral da África, uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um
meio de comunicação diária, mas também como um meio de preservação de sabedoria
dos ancestrais. A tradição pode ser definida, de fato, como um testemunho transmitido
verbalmente de uma geração para outra. (VANSINA. In: KI-ZERBO, 1982, p. 157).
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dos sabores e saberes de experiências apoiadas na oralidade. O contador narra como um
artífice da palavra, reinventando e dramatizando os vocábulos, os sons, as vozes, os
gestos. Há ritmos e gestualidade em suas narrações. O Ocidente, principalmente após o
Iluminismo, priorizou a luz como metáfora da razão, da lógica. Já as literaturas da noite
sempre se orientaram pelas emoções e por uma rede de lembranças e afectos que
costumam habitar, principalmente, as zonas sombrias do inconsciente individual e
colectivo. Em Temas da Vida Angolana, Óscar Ribas comenta:
Quando as almas dos nossos extintos nos incomodam, ou com sonhos, ou com
doenças, propicia-se-lhes um festim, as comidas da noite. (RIBAS, 2002, p. 49)
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É uma sanga que está em cima da casa. Ninguém a abastece, mas não falta água.
A boca.
Dei-te um soba.
“A quem viste de noite, de dia não esquece”. Ou seja, devemos ser agradecidos
aos nossos benfeitores. (RIBAS, 1979, v. 1, p. 132)
“Galinha que gosta de esgravatar, com a raposa vai”. Ou seja: Quem muito se
expõe, muito se arrisca. (RIBAS, 1979, v. 1, p. 152).
“Quem parte a canoa, com as suas tábuas vai.” Ou seja: Cada qual responde pelo
que faz. (RIBAS, 1979, v. 1, p. 165)
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“A pessoa é como o dedo”. Isto é: O tempo não faz esquecer as pessoas do nosso
conhecimento. (RIBAS, 1979, v. 1, p. 171)
Esse alerta de Ribas cumpre a função crítica e pedagógica de realçar o valor das
frases proverbiais e demais manifestações culturais de Angola, sugerindo que devem
continuar a ser cultivadas, conforme continuam a fazer, ainda, alguns contadores de
histórias orais das chamadas literaturas da noite. Estas, ao mesmo tempo que costumam
exemplificar e testemunhar “episódios vividos”, cenas, cópias ou simulações do real de
casos e pessoas, são, também, um legado da cultura popular de anónimos participantes
de dramas característicos não só de povos angolanos, mas também da existência
humana em geral.
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Virgínia Francisco, sogra de seu irmão Mário; à Maria Cândida Bento Ribas, sua
mulher; entre outras.
Segundo o próprio Ribas, “os contos ou, antes, dramas, que enfeixam esta obra
não reproduzem produtos da imaginação, mas episódios da vida real” (RIBAS, 1989a,
p. 11).
O conto “Damba Maria” tem como cenário a vila de Catumbela. Esta área, na
época colonial, constituía um mercado, em que numerosas caravanas de negros,
apinhados de marfim, mel, borracha e outros géneros, faziam escambo para seus
senhores, trocando esses produtos por aguardente, pólvora, tecidos trazidos pelos
europeus. A vida, ali, era um empório africano. Nesse período histórico ficcionalizado
pela narrativa, muitos colonos haviam-se amancebado com escravas e esta é,
justamente, a história de Maria, a protagonista, sempre submissa ao seu senhor, desde a
puberdade. Como mera mercadoria, ela era propriedade de seu dono, sendo obrigada a
satisfazer seus desejos.
Uma vez, estando seu senhor na vila a negócios, bateu à sua porta um negro rico
que lhe pediu água para beber. Ela atendeu ao homem, mas trouxe a bebida num
chapéu, explicando-lhe: “O copo é do branco e só ele pode beber” (RIBAS, 1989a, p.
17). Indignado, o negro jogou pragas e disse-lhe que ainda se encontrariam. Isso logo
aconteceu: Maria foi vendida por seu dono branco ao rico negro, cuja vingança foi a de,
depois de muito usá-la, a trocar, entregando-a a um caçador que acabou por matá-la.
Antes de se tornar propriedade desse último dono, Maria recorda como fora vendida
pela primeira vez, em sua infância. Temos acesso a essas lembranças por intermédio de
um narrador em terceira pessoa:
“Viu-se criança, lá no quimbo distante a brincar com outras crianças. Nas noites
de luar, embebedava-se de histórias, adivinhas, jogos; cantava e batucava ao som de
instrumentos. Como era feliz!
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“Damba Maria” não é apenas uma história que recorda tradições angolanas, mas é um
texto de crítica ao sistema esclavagista. Ribas se indignava com essa prática: “A
escravatura – essa mácula do passado – formava o manancial mercantil, tão propício ao
branco como ao preto” (RIBAS, 1989a, p. 15). Contudo, ele não conseguia perceber
bem as diferenças existentes entre a escravidão mercantilista, construída pelo
colonizador europeu, e as actividades de escravização doméstica, realizadas por negros
no continente africano.
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CONCLUSÃO
Depois de falarmos sobre este grande e histórico autor temos à concluir que,
embora tenha vivido só até 2004, Óscar Ribas teve sua escrita e sua forma de pensar
marcadas, principalmente, pelo contexto histórico da primeira metade do século XX,
período em que o positivismo e o evolucionismo ainda influenciaram muitas visões e
conceitos não só em Angola, mas em outras partes do mundo. Isso explica o facto de
que categorias de conhecimento como “atraso”, “decadência”, “gentes ignaras”, “não
civilizados”, “incultos” tenham sido usadas por ele para descrever a sociedade angolana
negra. Tendo como “verdades” a civilização, o progresso e o desenvolvimento impostos
por Portugal.
Cabe também lembrar que era frequente no pensamento da época. Óscar Ribas
“permaneceu sempre numa fronteira entre o fascínio por certo tipo de tradições bantas e
mestiças e o peso ideológico das leituras juvenis da portugalidade e do eurocentrismo”,
de acordo com Pires Laranjeira
Esperamos que este trabalho possa servir de ajuda aos futuros interessados neste
tema e desde já pedimos a máxima compreensão aos possíveis erros que estejam no
nosso trabalho.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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