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Rafael Viana - Cronologia Do Anarquismo 0308

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Anarquismo: Uma Breve Genealogia Histórica

CELIP(Círculo de Estudos Libertários Ideal Peres)

Este artigo não pretende nem de longe, esmiuçar todas as experiências anarquistas, isto
por si só seria um trabalho hercúleo, que demandaria muito mais do que um mero esforço
individual.

O que se pretende aqui é apontar alguns acontecimentos relevantes ao anarquismo e


elucidar brevemente alguns conceitos chaves, de forma a que se pretenda dar a disposição
do leitor, desdobramentos possíveis de estudo sobre o anarquismo e das experiências
libertárias aqui listadas.

Alguns artigos de vários autores foram relacionados neste sentido, e adaptados para que
coubessem na proposta deste artigo ser um resumo, um passo inicial; a bibliografia
contida no fim do artigo pode completar e indicar um caminho dentre muitos, possível ao
estudo do anarquismo. Há também dicas de livros introdutórios ao tema, o que tratam de
temas diversos para manter-se atualizado sobre as discussões internas do movimento
anarquista

Os textos sem autoria, são de responsabilidade do autor da compilação, e por ele foram
escritos.

Rafael Viana

Origens e Etimologia & Principais Pensadores


O anarquismo pode ser compreendido sintéticamente, como um teoria política
anticapitalista que acredita na organização da sociedade sem a presença do Estado. A
autogestão, o federalismo, a democracia direta e a luta contra quaisquer tipo de
autoridades ou vanguardas são partes constituintes desta teoria.

O termo anarquismo, deriva-se da palavra anarquia, do grego αναρχία (anarkhia), cujas


raízes são: αν(α), an(a), e αρχ(ος), arkh(os), significando literalmente "sem governador ou
sem autoridade". Aceita-se, que o termo anarquia quanto anarquista, originalmente foram
utilizados políticamente durante a Revolucão Francesa, com o sentido de crítica negativa e
até de insulto a membros de determinados partidos para difamar seus oponentes.

Os anarquistas também se identificam comumente com os termos Socialistas Libertários,


Comunistas Libertários ou Ácratas (sinônimos para anarquista, este último menos
utilizado), o Socialismo Libertário ou Comunismo Libertário são termos que indicam uma
teoria política socialista que combina a igualdade social com a liberdade política, em
oposição ao socialismo autoritário e suas vertentes (marxismo-leninismo, bolchevismo,
stalinismo, etc.).
"A liberdade sem o socialismo é a injustiça, o privilégio;
o socialismo sem a liberdade é a escravidão, o embrutecimento."
(Mikhail.Bakunin)

Habitualmente o termo anarquia é utilizado de maneira pejorativa, indicando desordem,


caos ou baderna e os próprios dicionários reproduzem esta deturpação distorcendo o
sentido político e histórico dado à palavra pelos anarquistas.

O anarquismo como teoria política, distancia-se totalmente da anomia (ausência de regras),


pois muito além de negar o capitalismo, o Estado e quaisquer formas de dominação, está
baseado em princípios, métodos e formas de organização propositivos. A definição do
anarquista Rudolf Rocker nos é particularmente interessante acerca do conteúdo mais geral
do anarquismo.

“O anarquismo é uma corrente intelectual definida de pensamento social, cujos adeptos


advogam a abolição na sociedade dos monopólios econômicos e de todas as instituições
políticas e sociais coercivas. No lugar da ordem econômica capitalista, os anarquistas
teriam uma livre associação de todas as forças produtivas baseadas no trabalho
cooperativo, que teria por único propósito a satisfação das exigências necessárias de cada
membro da sociedade. No lugar dos atuais Estados nacionais, com sua maquinaria sem
vida de instituições burocráticas, os anarquistas desejam uma federação de comunidades
livres que devem estar vinculadas por seus interesses econômicos e sociais comuns e que
devem resolver suas questões por meio do acordo mútuo e do livre contrato.” (Rocker,
2005, pp 07.)

Além de uma teoria de crítica e proposição a uma sociedade socialista, o anarquismo


também é em suma, uma metodologia revolucionária para se alcançar a sociedade sem
classes.

Longe das discussões etimológicas ou filosóficas, é na questão histórica que encontramos o


nascimento do anarquismo, muitos autores anarquistas motivaram-se a traçar uma
genealogia, ou seja, um “onde tudo começou” do anarquismo, como os anarquistas Piotr
Kropotkin, Max Netlau e Rudolf Rocker, o que os levou a incluir os nomes de Lao Tse,
Étienne de La Noétie, Fenélon e outras experiências, como alguns movimentos religiosos
Anabatistas e outras correntes do cristianismo primitivo como antecessores históricos do
movimento anarquista. Realmente estas experiências e pensadores, continham em si,
práticas muito semelhantes aos princípios do anarquismo, contudo, o anarquismo como
movimento relevante e tendência organizada facilmente identificável, só aparece realmente
na era moderna das revoluções sociais e políticas.

Antes de prosseguir, é importante lembrar, que o anarquismo como teoria, surge da


observação e da experiência concreta do movimento de trabalhadores e trabalhadoras
envolvidos na luta contra o capitalismo e o estado; o anarquismo não surge de uma filosofia
“fabricada” por filósofos em gabinetes ou bibliotecas, mas sim da relação complementar e
retroalimentada de experiências práticas e teoria.
“O anarquismo surgiu entre o povo
e só conseguirá preservar sua vitalidade
e sua força criativa enquanto
continuar sendo um movimento popular”.
(Piotr Kropotkin)

É da experiência, dos retrocessos e do avanço da classe trabalhadora durante o século XIX,


que o anarquismo como teoria política, ganha corpo. Sintetizando, podemos dizer que o
anarquismo é classista, pois nasce, da relação criada na contradição ensejada pela luta de
classes, ou seja, o capitalismo, forma de organização da vida social, como sistema que
necessita dominar e explorar para funcionar, cria uma relação de classes dentro da
sociedade, onde uns detêm os meios de produção e outros estão despossuídos destes; é
claro que esta relação mais nítida durante o século XIX, se complexifica com o passar do
tempo, mas essencialmente jamais deixa de existir.

O francês Pierre-Joseph Proudhon, foi o primeiro pensador a autodeclarar-se anarquista


com um sentido objetivamente social e político e lançou as principais bases teóricas que
posteriormente seriam desenvolvidas por outros pensadores e apropriadas por todo um
amplo movimento de trabalhadores. Proudhon, fará duras críticas à propriedade privada, ao
Estado e a democracia representativa; também condenará quaisquer formas de dogmas e
autoridades em suas polêmicas com outros pensadores socialistas, como Marx por exemplo
e lançará as bases do federalismo libertário, que se irá se opor profundamente à quaisquer
formas de centralismo.

Mas é somente com o russo Mikhail Bakunin que o anarquismo ganha uma identidade
política mais clara, é de Bakunin toda uma noção de organização do movimento anarquista
como força política relevante, sua atuação dentro da Associação Internacional dos
Trabalhadores caracterizará de certa forma a identidade do movimento anarquista como tal.

O anarquista Errico Malatesta, elucidou e desenvolveu alguns conceitos, é dele e do russo


Piotr Kropotkin a noção de anarco-comunismo que se diferenciará do coletivismo
econômico de Bakunin. A teoria de Malatesta também foi importante para questões
relativas a organização do grupo anarquista, suas críticas ao Estado e ao capitalismo são no
entanto extremamente pertinentes. Kropotkin, centrará o apoio mútuo como base da
organização da sociedade e da natureza, e não a competição como pregam os liberais,
desenvolverá uma crítica à economia capitalista e à economia marxista, ambas reprodutoras
das hierarquias e divisões entre “planejadores” e “executores”.

O anarquista Nestor Makhno, em seu texto, a “Plataforma”, produzida conjuntamente com


o grupo de exilados Dielo Trouda após os acontecimentos na Revolução Russa de 1917
promoverá um amplo debate interno acerca da organização dos anarquistas e sobre a
atuação destes na revolução russa.

Temos outros pensadores, como a norte-americana Emma Goldman, o geógrafo Elisée


Reclus, alguns também incluiríam o alemão Max Stirner, e seu anarquismo individualista,
e também o escritor Tolstoi com seu pensamento cristão profundamente libertário.
Alguns pensadores contemporâneos, não menos importantes, também contribuíram como
um todo ao movimento, o norte-americano Murray Bookchin e a tese de seu
municipalismo libertário, o teórico Paul Goodman, o anarquista brasileiro José Oiticica,
Rudolf Rocker, Noam Chomsky, entre outros, etc.

Alguns princípios anarquistas

Os anarquistas rejeitam duplamente o capitalismo e o Estado. O capitalismo, estando


baseado na competição, na exploração do trabalho humano e no lucro, jamais conseguirá
segundo os anarquistas promover o bem-estar social e material ao conjunto da sociedade
humana. E além disto, o capitalismo exaure os recursos naturais e é incompatível com a
construção de uma sociedade ecológica. O capitalismo também está baseado em constantes
formas de dominação, que promovem e alimentam ainda que não necessariamente tenham
as criado: o machismo, a homofobia, o patriarcado, o racismo, a dominação e repressão às
minorias.

Em relação ao Estado, o anarquismo não trabalha sobre a concepção de apropriar-se do


poder estatal, isto por que entende que o Estado não é “neutro”, sob sua própria lógica de
funcionamento, esconde-se um mecanismo ideológico inerente a sua construção histórica.

“Para o anarquismo, o Estado é a obra da própria sociedade que se aliena. Sua insistência
é na devolução, à sociedade, do poder que esta atribuiu ao Estado. Tratar-se-ia, portanto,
de uma desalienação da sociedade, de uma reapropriação de seu poder alienado.” (Motta,
1981, pp. 113)

Há também a constituição de fortes aparatos de controle, como o sistema prisional e


manicomial e os exércitos e as polícias locais, métodos institucionais de ampliação do
poder das minorias que se beneficiam do sistema capitalista(políticos, empresários,
autoridades, etc) e de dominação, legitimada sob o aparato estatal.

Além disso, o sistema capitalista necessita atualizar as formas de controle, por meio de
mecanismos de informação(dominados pelos capitalistas), estruturas pedagógicas de
(escolas e universidades geridas pelo Estado ou pela iniciativa privada) para alimentar a
ideologia(sistema de normas e crenças) dominante, que justifica a exploração e a
dominação.

É na gênese histórica do Estado nacional moderno1, que se afirma o processo de dominação


da classe burguesa sobre os assalariados. O anarquismo trabalha sob princípios simples,
mas em suma coerentes com o que entende por uma teoria revolucionária. Nicolas Walter,
teórico anarquista, definiu o movimento anarquista como assentado sobre quatro elementos:

Econômico: contra o monopólio da propriedade; o Político: contra o monopólio da


autoridade; o Social: pela construção de uma sociedade tendo por base a liberdade, a

1 Processo que se inicia com o desmantelamento das estruturas feudais e a crescente centralização do poder
por meio de um aparato burocrático e jurídico que conforma uma nova estrutura de dominação.
igualdade e a fraternidade autênticas e o Individual: pela supressão da autoridade nas
relações cotidianas.(Walter, 2002, pp. 05)

O anarquismo também rejeita terminantemente a separação entre a ética e a política, tal


separação é comumente utilizada por outras correntes socialistas amparadas pela teoria
marxista do materialismo histórico, o “espírito” da história daria salvo-conduto para as
organizações cometerem determinados atos, pois no final das contas, a história sendo
teleológica(tendo uma finalidade) “absolveria” os atos cometidos por estes grupos.

Para os anarquistas, os fins não justificam os meios, como bem indicou o anarquista
italiano Errico Malatesta, nos fins estão os meios, isto por que os anarquistas querem
atingir a anarquia pela anarquia e como anarquistas.

Apontamentos sobre algumas experiências históricas: o


anarquismo no mundo
Como anteriormente mencionado, buscar uma raiz para o anarquismo é uma tarefa em
suma complexa, mas podemos identificar mais claramente, determinados acontecimentos e
atuação de determinados grupos nos quais o anarquismo teve uma participação expressiva,
a partir disto podemos pontuá-los e extrair destes episódios algumas reflexões relevantes.

A omissão de determinados eventos e a limitação da descrição dos aqui contidos, se devem


em razão de se tratar de um breve resumo com perspectiva mais limitada.

Os Enragés e o manifesto dos iguais (1793-1795)


Durante o período da Convenção,ou seja, no desenrolar dos acontecimentos referentes à
Revolução Francesa, que abriu caminho para a consolidação do Estado Burguês, certos
grupos revolucionários adotaram princípios muito semelhantes aos princípios anarquistas.

O Manifesto dos iguais conclamava a igualdade como primeira exigência da natureza e


denunciava duramente o “despotismo senatorial. Os Enragés(“enraivecidos”), com Jacques
Roux e Jean-François Varlet atacam duramente convenção, a propriedade privada e
exigiam a requisição dos gêneros de primeira necessidade. Chegaram até mesmo a
convocar jornadas populares contra os que monopolizavam os gêneros alimentícios. Não
desejavam tomar o poder, defendiam a democracia direta e eram contrários a representação
“democrática”.

Eis um excerto importante acerca da visão dos Enragés sobre o tema:

“Vós acrescentareis este artigo importante à declaração de direitos do homem: a


soberania do povo é o direito natural que têm os cidadãos, nas assembléias, de eleger sem
intermediários a todas as funções públicas, de discutir eles mesmos seus interesses, de
redigir mandatos aos deputados que eles comissionam para fazer as leis, de se reservar a
faculdade de revogar e punir dentre seus mandatários aqueles que ultrapassarem seus
poderes ou traírem interesses; enfim, de examinar os decretos, que todos, excetuando
aqueles que obedecem a circunstâncias particulares, não podem ter força de lei, caso eles
não sejam submetidos à sanção do soberano nas assembléias primárias”.

Há sem dúvida algo de muito libertário no espírito dos Enragés que os aproxima do
movimento anarquista e do anarquismo.

Comuna de Paris(1871) – Por Milton Lopes

* resumo adaptado do artigo original.

Causada pela política externa incopetente e reacionária da monarquia de Napoleão III, a


guerra da França com a Prússia conduziu em 1871, o povo de Paris em armas, à instauração
da chamada “Comuna de Paris”, experiência federalista e mesmo autogestionária em alguns
aspectos, o que a aproxima dos postulados do socialismo libertário. A Prússia vinha se
afirmando como estado imperialista na Europa ao obter vitórias militares contra a Áustria
em 1864 e 1866. Em 1870 a indicação de um príncipe alemão para o trono da Espanha
precipitou a declaração de guerra entre os dois estados a 19 de julho de 1870.

No início de setembro, a França já estava derrotada e o exército prussiano às portas de


Paris, sendo Napoleão III aprisionado pelos prussianos.

Durante a década anterior, o proletariado de Paris havia sido objeto de intensa propaganda
da Associação Internacional dos trabalhadores, fundada em Londres em 1864. A guarda
nacional, composta por elementos do proletariado urbano, junta-se a chamada Guarda
Móvel, constituída por camponeses vindos do interior para defender a cidade. Enquanto o
exército é desmobilizado, estas corporações conservam seus armamentos.

Consciente de sua força e perante a atitude equívoca dos elementos encarregados da defesa
da cidade já a 31 de outubro há uma tentativa do povo, liderado pelo socialista Blanqui de
desttituir os republicanos do poder. Destroçados os últimos exércitos da França, o
armistício com a Prússia é negociado em janeiro de 1871.

A Guarda Nacional de Paris, por sua vez, elege um comitê para sua coordenação e resiste às
tentativas de Thiers de se apoderar de sua artilharia, proclamando a 18 de março a Comuna
de Paris. O governo de Thiers deixa Paris refugiando-se na vizinha cidade de Versalhes,
com o apoio do que restou do exército francês(40 mil homens). Perante o desaparecimento
do exército, da polícia e dos burocratas, o povo em armas representado pela Guarda
Nacional ocupa as repartições vazias e as instalações militares de defesa da cidade.

Na Paris gerida pelo povo, nas fábricas abandonadas por seus proprietários, em uma
situação que virá a se repetir na Revolução Espanhola mais de 60 anos depois, os
trabalhadores passam a escolher seus gerentes, chefes de oficina e equipe, reservando-se o
direito de demití-los. Fixam seus salários e condições de trabalho e um comitê de fábrica se
reúne todas as tardes para decidir do trabalho do dia segunte. Entregando a educação
pública à organização e administração distritais, preocupa-se a Comuna em que esta seja
isenta de ranço e preconceitos religiosos. No entanto, um dos primeiros erros dos
revolucionários será a adoção da, já naquele momento gasta, fórmula do sufrágio universal.
Internacionalistas, blanquistas, proudhonianos, republicanos e patriotas exaltados dipostos a
continuar a luta contra os prussianos são seus componentes.

O fato de não haver marchado contra Versalhes quando os reacionários se encontravam em


desvantagem em março permitirá a estes que se reorganizem e façam cerco a Paris. A
Comuna resistirá até maio, sendo afogada em um terrível banho de sangue, entre torturas,
linchamentos e fuzilamentos sumários.

Bandeiras Negras Sobre Fundo Vermelho - A presença anarquista na


Revolução Russa(1917-1921) – João Henrique Castro
* resumo adaptado do artigo original

“Você está exagerando ao sugerir que nós usaremos a força bruta contra os
anarquistas!”.

Foi assim que Leon Trotsky, um dos personagens da Revolução Russa, dirigiu-se ao
anarquista Volin, em abril de 1917, meses antes da tomada do poder pelos bolcheviques.
Volin parecia prever que as divergências ideológicas entre os dois grupos poderiam levar
a um enfrentamento de graves conseqüências. Seu temor, afi nal, não foi infundado.
Apenas um ano depois, o comandante do Exército Vermelho avaliaria a ação contra os
anarquistas de Moscou nestes termos: “Enfim o poder soviético varre o anarquismo da
Rússia com uma vassoura de ferro”.

Varrida também das páginas da história da Revolução Russa, a participação anarquista num
dos episódios mais importantes do século XX apresenta cenas fortes demais para serem
condenadas ao esquecimento. Elas atestam que a revolução foi um processo complexo,
envolvendo diversos sujeitos sociais e variadas propostas no interior das próprias
esquerdas.

A partir da segunda metade do século XIX, começa a se constituir um movimento


anarquista na Rússia. Inspirados nas obras de anarquistas russos como Bakunin,
Kropotkin, Tolstoi e Emma Goldman, muitos libertários exilados na Europa Ocidental
irão publicar jornais libertários em solo russo.

Porém, eram muitas as correntes socialistas a tentar hegemonizar os processos que levaram
à eclosão da Revolução de 1905, considerada o “ensaio geral” antes de 1917. O próprio
Kropotkin reconheceria que a atuação espontânea das massas foi uma força muito mais
decisiva do que as idéias dos intelectuais de esquerda. “Não foram os social-democratas,
nem os socialistas revolucionários, nem os anarquistas que lideraram esta revolução. Foi
a classe operária, o trabalhador”, disse ele.

A volta dos expatriados após a Revolução de Fevereiro de 1917 fez com que os grupos
dispersos buscassem uma rearticulação. O poeta Volin reconheceu que, ao chegar à Rússia
em julho de 1917, eram poucos os sinais da presença de grupos anarquistas. No entanto,
havia esforços para organizar um movimento que, assim como outras correntes do
socialismo, sofrera com a repressão do governo imperial.

Quando eclode a Revolução de Outubro, muitos anarquistas participam das agitações,


vislumbrando no estabelecimento dos sovietes uma possibilidade de ascensão de uma
sociedade descentralizada, organizada de baixo para cima, num regime socialista fundado
na autogestão social dos meios de produção e das instituições civis. Porém, a idéia
bolchevique de uma ditadura comandada pelo partido recebia muitas críticas.

Os bolcheviques, por sua vez, acusavam os anarquistas de “contra-revolucionários” ou de


“bandidos”. Sob tal orientação, iniciava-se uma ofensiva vermelha contra indivíduos e
organizações anarquistas na Rússia. Em seguida, a “vassoura de ferro” eliminaria grupos
libertários em Petrogrado, Moscou, Kharkov e Odessa. Centenas foram presos e muitos
foram executados nos porões da Cheka.

Makhnovtchina: a guerrilha de Makhno

Foi na Ucrânia, ao sul, que o anarquismo russo conheceu seu momento mais significativo.
O operário Nestor Makhno, eleito presidente do soviete local, formou um Exército
Insurgente de inspiração anarquista que desempenhou importante papel contra a ofensiva
do Exército Branco, ajudando os bolcheviques nessa tarefa.

Em dezembro de 1919, contudo, o Exército Vermelho chegou ao sul e ordenou que os


makhnovistas partissem para o front polonês. Makhno se recusou, pois não queria deixar a
Ucrânia livre para o controle bolchevique. Dessa forma, virou persona non grata para os
leninistas. A partir daí se iniciou a luta entre a makhnovtchina e o Exército Vermelho, com
intervalos de tréguas e acordos. O avanço dos Brancos ao norte obrigou os bolcheviques a
firmarem um novo acordo com a guerrilha, prometendo a libertação dos presos anarquistas
e a liberdade de expressão. Makhno cumpriu sua parte impedindo a ofensiva contra-
revolucionária. Já o Exército Vermelho fez justamente o contrário: em 26 de novembro de
1920 prendeu os anarquistas mais conhecidos da Ucrânia; em seguida, convidou os
comandantes de Makhno para uma conferência na Criméia, durante a qual foram
capturados e, depois, fuzilados. A resistência da guerrilha anarquista não poderia durar
infinitamente, dada a vantagem numérica e material dos Vermelhos. Assim, Makhno fugiria
para a Romênia no fim de 1920, passando por algumas prisões até alcançar a liberdade e o
exílio em Paris, onde viveu até 1935.

Reflexos no Brasil: o “Soviete do Rio”

No Rio de Janeiro, então capital da República, eclodiu em 1918 uma insurreição anarquista
inspirada na explosão revolucionária da Rússia. O levante pretendia instaurar o “soviete do
Rio” e estava articulado com uma greve em várias fábricas no dia 18 de novembro. Os
anarquistas também pretendiam atacar a Intendência de Guerra, no bairro de São Cristóvão
Além de conseguir armas para a ação, o ataque trazia a expectativa de apoio dos soldados,
como acontecera na Rússia.
Mas a adesão dos escalões inferiores das Forças Armadas não ocorreu. Na verdade, a
aproximação de um militar ao grupo conspirador foi responsável, em parte, pela derrota da
insurreição. Um tenente do Exército atuou como agente infiltrado e entregou aos seus
superiores todos os detalhes do plano. Antes das ações armadas, vários líderes já tinham
sido encarcerados. Ainda assim teve início uma série de combates nas ruas, com explosões,
troca de tiros e algumas mortes de ambos os lados. Duas torres de energia elétrica foram
explodidas e os operários tomaram o 10º Distrito Policial. No entanto, as tropas fiéis ao
governo reprimiram uma rebelião que já esperavam. Além disso, a ausência de um contexto
revolucionário com ampla base social – como ocorrera na Rússia – também frustrou o
sucesso da ação.

Nos relatórios policiais e nas manchetes dos jornais do dia seguinte, a ideologia dominante
procurava jogar a opinião pública contra os anarquistas Em geral, diziam se tratar de
“agitadores” que pregavam a “desordem e a subversão do regime legal”. Inclusive a
“desonra de virgens” estaria, segundo a polícia, nos planos dos insurgentes. E, como em
tantos outros episódios da história do Brasil, a vitória coube mais uma vez às elites.

Espanha Libertária: A Revolução Social contra o Fascismo(1936-1939)

* resumo adaptado do artigo original

A chamada “Guerra Civil Espanhola”, nome habitual dado pela historiografia sobre o
conflito militar que se desenrolou entre setores da direita(fascistas, monarquistas, igreja
católica e latifundiários) e da esquerda(republicanos, anarquistas, trotskystas, etc) ainda é
um tema em suma mal compreendido e deturpado pela historiografia tradicional. Primeiro,
o termo “Guerra Civil Espanhola” é simplório, pois enxerga apenas do ponto de vista
militar, um acontecimento que é muito mais complexo e enriquecedor.

Fruto não só do resultado de uma militância anarquista de no mínimo 40 anos anterior, o


estopim da revolução se dá após a tentativa de golpe de estado dado pelo General Franco
em 18 de julho de 1936, com apoio da igreja católica e de grandes industriais.

A CNT(Confederação Nacional do Trabalho), organização anarco-sindicalista e a época


com 2.000.0000 de aderentes se lança a greve geral2. Paralelamente, as coletivizações
começam a ocorrer e o povo arma-se para enfrentar o fascismo nas chamadas milícias
populares.

Em 21 de julho, os ferroviários catalãos coletivizam(as colocam sob o controle operário)


as ferrovias, no dia 25 é a vez dos transportes urbanos, bondes, metrôs e ônibus. Depois
em 26, a eletricidade e em 27 a vez das agências marítimas. (Mintz e Goldbronn, 2002, pp.
16)

2 Sua congênere, a FAI(Federação Anarquista Ibérica) reuniu de 5.000 a 30.000 membros, segundo
estatísticas. A FAI era a instância ideológica do movimento operário, assentado sob o anarco-sindicalismo.
“Em alguns dias, 70% das empresas industriais e comerciais foram tomadas pelos
trabalhadores nessa Catalunha que concentrava sozinha dois terços da indústria do país.
(Mintz e Goldbronn, 2002, pp. 16)

Além disso o campo também sofrera um intenso processo de coletivização, vastas


extensões de terra outrora pertencentes aos grandes latifundiários, tornaram-se de
propriedade coletiva e de uso comum. O movimento de coletivizações teria atingido entre
um milhão e dois milhões e meio de trabalhadores, muitas destas formadas à revelia de
qualquer organização. Vejamos o que dizem os historiadores Frank Mintz e Fréderic
Goldbron sobre este processo:

“Reunidos na praça do vilarejo os títulos de propriedade eram queimados. Os camponeses


traziam tudo o que possuíam à coletividade: terra, instrumentos de trabalho, animais para
o arado ou outros. Em certos vilarejos o dinheiro foi abolido e substituído por bônus. Esses
bônus não constituíam moeda: eles permitiam a aquisição, não de meios de produção, mas
apenas de bens de consumo, e ainda em quantidade limitada.” (Mintz e Goldbronn, 2002,
pp. 16)

“Contráriamente ao modelo estatista soviético, a entrada na coletividade percebida como


um meio de vencer o inimigo, era voluntária. Aqueles que preferiam a fórmula da
exploração familial continuavam a trabalhar sua terra, mas não podiam explorar o
trabalho alheio, nem beneficiar-se dos serviços coletivos.” (Mintz e Goldbronn, 2002, pp.
16)

É importante lembrar, que a própria existência das coletivizações, muito deveu em grande
medida a educação que haviam tido muitos operários em escolas constrúidas pelos
libertários, e este processo continuou, com a formação do C.E.N.U(Conselho da Escola
Nova Unificada). O C.E.N.U3 em sua breve empreitada, conseguiu acabar com os
orfanatos, chamados pelos mesmos como “antros de punição”, aumentou o número de
professores, fundou escolas nos mais diversos locais, integrou a arte ao programa
pedagógico, aumentaram o número de alunos, etc, tudo isto inspirado no modelo anarquista
de educação integral(formação intelectual e manual laica e ensino público a todos).

Podemos imaginar um pouco do clima revolucionário que contaminava a Espanha nas


palavras do escritor George Orwell, que inclusive participou pessoalmente do conflito,
lutando nas brigadas internacionais4:

“O aspecto arrebatador de Barcelona superava toda expectativa. Era a primeira vez em


minha vida que eu me encontrava numa cidade onde a classe operária tinha vencido.
Aproximadamente todos os imóveis de alguma importância tinham sido tomados pelos
operários e sobre todos flutuavam bandeiras vermelhas ou as bandeiras rubro-negras dos

3 O CENU era composto pela Generalitat, pela CNT e pela UGT(União Geral dos trabalhadores, central
sindical dominada pelos socialistas.) e a participação da CNT deu um caráter mais libertário a proposta
pedagógica.
4 As brigadas internacionais eram um corpo de voluntários formado por militantes de todo o mundo, que
juntavam-se à frente anti-fascista para engrossar coro nas chamadas milícias populares, que combateram
ferozmente o franquismo.
anarquistas (...). Toda loja, todo café portava uma inscrição informando que tinha sido
coletivizado; até as caixas dos engraxates foram coletivizadas e pintadas de vermelho e
preto! (...) Tudo isso era estranho e emocionante. Um boa parte disso permanecia para
mim incompreensível e, inclusive, num certo sentido, não me agradava: mas havia ali um
estado de coisas que me pareceu de imediato como valendo a pena que se lutasse por ele.”
(George Orwell, Hommage à la Catalogne, ed. Champ Libre, 1982)

Apesar de todo o esforço dos trabalhadores e camponeses espanhóis, o então aspirante a


ditador Franco, com a ajuda direta de Hitler e Mussolini, golpeou duramente a frente anti-
fascista(composta por amplos setores de esquerda), como exemplo mais concreto, a cidade
de Guernica, duramente bombardeada pela aviação alemã, paralelamente a isto, soma-se os
silêncios premeditados das “democracias” ocidentais e a atuação da “tcheca”russa, a
serviço de Stalin, que assassinou diversos operário das organizações e trabalhou no âmbito
de assassinar a revolução. Lutando contra o resto do mundo, os trabalhadores e
trabalhadoras na Espanha foram derrotados pelo fascismo, mas seu exemplo perdura e o
período da Espanha libertária provou que o socialismo libertário é possível.

A Revolução Mexicana(1910) – Felipe Corrêa

* resumo adaptado do artigo original

Em 1876 tem início a ditadura de Porfírio Dias, um governo caracterizado pela exploração
das classes trabalhadoras e camponeses, concentração de riqueza, do poder político e do
acesso à educação, basicamente em famílias de latifundiários e empresas estrangeiras,
vindas principalmente da França, Inglaterra e Estados Unidos. A concentração de terras no
México era absurda, e os fazendeiros proprietários eram “donos absolutos de homens e
coisas”, com um poder e recursos quase incomensuráveis. Apesar de o povo viver na
miséria extrema, a ditadura de Diaz assegurava grandes lucros aos investimentos
capitalistas do exterior. Nove milhões de mexicanos eram analfabetos.

Com o objetivo de combater essas injustiças, constituiu-se já na segunda metade do século


XIX, uma resistência libertária riquíssima em sua diversidade. Podemos citar a própria
constituição do Partido Comunista Mexicano, que tinha tendência bakuninista. O governo
inicia uma onde de repressão fechando os círculos anarquistas e acabando violentamente
com duas revoltas organizadas pelos trabalhadores.

Alguns anos depois, já no início do século XX, Ricardo Flores Mágon seria um dos grandes
representantes dos ideais livertários na luta contra a ditadura de Diaz. Magón também
integra em 1901 o Partido Liberal Mexicano(PLM) que havia sido fundado um ano antes.

Aliás, por razão da influência libertária presente no partido, a partir da segunda metade da
década de 1900, o PLM se radicaliza, tornando seu discurso mais combativo e criando uma
tensão interna no partido, que afasta os elementos menos radicais. Vale ressaltar que o
partido não concorria às eleiçòes e servia somente como um espaço de articulação
horizontal dos revolucionários libertários da época, sem o objetivo de tomar o Estado e
estabelecer uma ditadura, mas para colocar um fim ao governo de Diaz, estabelecendo o
comunismo libertário em seguida. O PLM tornou-se clandestino e organizou em todo o
México mais de 40 grupos de resistência armada e também contou com membros
indígenas, conhecidos por sua luta pelos direitos das comunidades e contra a propriedade
capitalista.

A fraude eleitoral de 1910 comandada por Diaz, daria início à explosão da Revolução
Mexicana. Com a prisão de Madero, seu adversário nas eleições, conseguiu reeleger-se
novamente. Já em 1911 e em meio à Revolução e com apoio do sindicato norte americano
IWW, os anarquistas, que tinham à frente Magón, ocupam a região da Baixa Califórnia,
tomando cidades de importância como Mexicali.

Um outro interessante fato que comprova a proximidade entre Zapata e Magón acontece
quando Zapata convida Magón, em 1915, para levar o periódico Regeneración para
Morelos, colocando à sua disposição meios que dariam ao jornal uma expansão nacional.

Depois disso, o México afundou-se em um período de guerra civil. Os fatos que se deram
em sequência, como a tentativa de tomada da Cidade do México por Villa e Zapata, a
convocação da Assembléia Constituinte por Carranza, que depois seria eleito presidente e
assassinado e os conflitos que se seguiram no país acabaram constituindo o pano de fundo
da decadência do período revolucionário.

O Anarquismo no Brasil – Em época de ecos revolucionários

* resumo adaptado do artigo original

Originalmente o anarquismo no Brasil, chega com a experiência de luta de trabalhadores de


diversas partes do mundo no final do século XIX5, em maior número, oriundos de Portugal,
Itália e Espanha, quando em época o fluxo imigratório se dava no sentido contrário do que
nos acostumamos a ver hoje em dia, indo ou para as lavouras de café ou transferindo-se
para as grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro(à época capital federal).

Contudo a atuação do anarquismo não se restringirá apenas à atuação de anarquistas


“estrangeiros” já que no desenvolvimento deste atuante e combativo movimento operário
os principais periódicos editados pelos trabalhadores, já serão em sua maioria de
responsabilidade de “nativos”. Estes periódicos serão as principais formas de divulgação,
comunicação e denúncia dos trabalhadores, denúncias contundentes em um período onde
para o governo federal a questão social era um verdadeiro “caso de polícia”. A rápida
expansão industrial nas primeiras décadas do século XX, também promoverá o aumento da
concentração da classe assalariada nesses grandes centros. A exploração sob os
trabalhadores, andaria pari passu com crescente necessidade de se organizarem, o que

5 No caso do Rio de Janeiro, segundo o pesquisador Milton Lopes, (Lopes, 2006, pp. 27) há apenas um
único registro de fato que comprove a simpatia pelo anarquismo, anterior ao ano de 1890. Só há indícios
mais claros destas tendências após este período.
fomentaria a organização destes nos sindicatos6, cuja bandeira ideológica, o anarquismo,
seria a principal bússola e motor.

Os sindicatos, com forte influência anarquista, fundarão ateneus, ligas de resistência,


escolas, bibliotecas, publicarão jornais, organizarão peças de teatro, passeatas e greves
gerais. Pode-se citar alguns exemplos ilustrativos: as comemorações de 13 de outubro de
1911, respectivas ao segundo aniversário da morte do pedagogo fuzilado pelo Estado
espanhol, Francisco Ferrer, que reúne uma multidão no mitológico Largo de São Francisco,
a grande greve geral de 1917 e a luta contra a carestia, a insurreição anarquista no Rio de
Janeiro em 1918, as jornadas contra o assassinato dos imigrantes Bartolomeu Sacco e
Nicolas Vanzetti pelo governo norte-americano, etc.

Temos também um evento que indica a maturidade e organização do movimento sindical


sob influência libertária, é a realização em 1906 do Congresso Operário Brasileiro, que
reúne 43 delegados de várias partes do brasil, representando 28 associações(estivadores,
ferroviários, trabalhadores em trapiches e café, setores de serviço, etc).

Neste congresso aprovou a filiação de suas teses ao sindicalismo revolucionário francês. A


neutralidade sindical, o federalismo, a descentralização, o antimilitarismo, o
antinacionalismo, a ação direta, a greve geral passaram a fazer parte dos princípios dos
signatários das propostas deste “Primeiro Congresso Operário Brasileiro”.

Contudo, o governo não se põe indiferente, frente a intensa organização dos trabalhadores.
Prova disto, é a intensa repressão que sofre o movimento operário no Brasil, que é
constante: fechamento de sedes de sindicatos, prisão e deportação de diversos sindicalistas7.

A Lei Adolfo Gordo, de 1907 que regularizava a expulsão de estrangeiros envolvidos em


greve, foi uma das primeiras iniciativas legais do governo neste sentido, mas o governo não
pára por aí. Em 1921, o governo brasileiro mais temeroso e com novas concepções de
“segurança nacional”8 emite o decreto de nº. 4.269, de 17 de janeiro, que regula a
repressão ao anarquismo

Paralelamente a isto, temos os ecos da revolução russa que no Brasil irão ocasionar
acalorados debates e posteriormente dividirão o movimento operário, já que a ditadura
bolchevique será duramente atacada pelos anarquistas e defendidas por figuras como
Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB.

O atrelamento dos sindicatos ao estado, a repressão, o autoritarismo crescente do Estado


Brasileiro a partir de 1930, as divisões no movimento operário, onde os setores mais
legalistas e corporativistas serão mais tolerados durante este período do que os anarquistas

6 Os sindicatos sucederiam as antigas Associações de Socorro Mútuo, entidades que apoiavam


materialmente os trabalhadores em casos diversos(aposentadoria, invalidez, doença, etc) em uma época
que inexistia a previdência trabalhista.
7 Alguns trabalhadores eram enviados para o campo prisional de Clevelândia, onde a maioria jamais
conseguia retornar, os anarquistas específicamente eram os mais atingidos.
8 O “inimigo” a partir desta nova concepção não estava fora das fronteiras do Estado, mas sim dentro: eram
os grupos de esquerda, no Brasil, essencialmente os anarco-sindicalistas.
e a incorporação de uma estratégia paternalista do Estado para cooptar o movimento social,
representado pelo vetor sindical, ajudaram a minar a presença anarquista no movimento
sindical.

A falta de uma instância ideológica específica anarquista, que agrupassem os libertários


fora das discussões meramente reivindicativas e limitantes do sindicalismo, que fora
percebida tão brilhantemente pelo anarquista e professor José Oiticica, também
contribuíram para a desagregação do movimento anarquista. A subsequente ditadura do
Estado Novo, causaria ao movimento operário e anarquista uma perda incomensurável,
onde somente após o fim do Estado Novo conseguiriam se reagrupar tímidamente.

O Anarquismo contemporâneo

O anarquismo contemporâneo se debruça sobre uma série de perspectivas e discussões.


Podemos citar o movimento zapatista de Chiapas no México, a insurreição ocorrida em
Oaxaca, o movimento anti-globalização nos anos 90, os piqueteiros na Argentina e os
movimentos sem-teto e de desempregados como pontos de discussão que interessam o
anarquismo e onde há sem dúvida pontos de convergência em termos de proposta.

Discussões sobre educação, especificamente a pedagogia libertária e a ecologia também são


interessantes neste sentido. Há muito mais que poderia ser dito, mas espero que este
material sirva para abrir uma discussão que evidentemente, não se esgota nestas resumidas
páginas.

Abraços Libertários!!!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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anarquista na Revolução Russa. In Informativo Libera nº 138. Rio de Janeiro, 2008.

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LOPES, Milton. A Comuna de Paris. In Artigo FARJ: A COMUNA DE PARIS. Rio de
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MINTZ, Frank; GOLDBRONN, Fréderic. Quando a Espanha Revolucionária vivia em


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MOTTA, Fernando C. Prestes. Burocracia e Autogestão(a proposta de Proudhon), op.


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OLIVEIRA, José Machado de. O projeto político dos grupos radicais durante a
Revolução Francesa: algumas diferenças e aproximações In
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ROCKER, Rudolf. A Ideologia do Anarquismo. pp.07 1ª Ed. São Paulo: Editora Faísca,
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WALTER, Nicolas. O que é Anarquismo?. In Revista Libertários nº 01 p.05-07. São


Paulo-Rio de Janeiro: Editora Imaginário, 2002

WOODCOCK, George. Uma História das idéias e movimentos libertários: Vol. 1, A


idéia. pp.07-32 1ª Ed. Porto Alegre: Editora L & PM, 1983

INTRODUÇÃO AO ANARQUISMO / OUTRAS REFERÊNCIAS

A ANARQUIA / PIOTR KROPOTKIN – EDITORA IMAGINÁRIO

ESCRITOS REVOLUCIONÁRIOS / ERRICO MALATESTA – EDITORA IMAGINÁRIO

ESTATISMO E ANARQUIA / MIKHAIL BAKUNIN – EDITORA IMAGINÁRIO


HISTÓRIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO / VÁRIOS - EDITORA
IMAGINÁRIO

HISTÓRIA DO ANARQUISMO NO BRASIL / VÁRIOS - EDUFF

O ANARQUISMO HOJE – EDITORA IMAGINÁRIO

O ANARQUISMO SOCIAL – FRANK MINTZ

REVISTA PROTESTA – VÁRIOS GRUPOS

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