Rafael Viana - Cronologia Do Anarquismo 0308
Rafael Viana - Cronologia Do Anarquismo 0308
Rafael Viana - Cronologia Do Anarquismo 0308
Este artigo não pretende nem de longe, esmiuçar todas as experiências anarquistas, isto
por si só seria um trabalho hercúleo, que demandaria muito mais do que um mero esforço
individual.
Alguns artigos de vários autores foram relacionados neste sentido, e adaptados para que
coubessem na proposta deste artigo ser um resumo, um passo inicial; a bibliografia
contida no fim do artigo pode completar e indicar um caminho dentre muitos, possível ao
estudo do anarquismo. Há também dicas de livros introdutórios ao tema, o que tratam de
temas diversos para manter-se atualizado sobre as discussões internas do movimento
anarquista
Os textos sem autoria, são de responsabilidade do autor da compilação, e por ele foram
escritos.
Rafael Viana
Mas é somente com o russo Mikhail Bakunin que o anarquismo ganha uma identidade
política mais clara, é de Bakunin toda uma noção de organização do movimento anarquista
como força política relevante, sua atuação dentro da Associação Internacional dos
Trabalhadores caracterizará de certa forma a identidade do movimento anarquista como tal.
“Para o anarquismo, o Estado é a obra da própria sociedade que se aliena. Sua insistência
é na devolução, à sociedade, do poder que esta atribuiu ao Estado. Tratar-se-ia, portanto,
de uma desalienação da sociedade, de uma reapropriação de seu poder alienado.” (Motta,
1981, pp. 113)
Além disso, o sistema capitalista necessita atualizar as formas de controle, por meio de
mecanismos de informação(dominados pelos capitalistas), estruturas pedagógicas de
(escolas e universidades geridas pelo Estado ou pela iniciativa privada) para alimentar a
ideologia(sistema de normas e crenças) dominante, que justifica a exploração e a
dominação.
1 Processo que se inicia com o desmantelamento das estruturas feudais e a crescente centralização do poder
por meio de um aparato burocrático e jurídico que conforma uma nova estrutura de dominação.
igualdade e a fraternidade autênticas e o Individual: pela supressão da autoridade nas
relações cotidianas.(Walter, 2002, pp. 05)
Para os anarquistas, os fins não justificam os meios, como bem indicou o anarquista
italiano Errico Malatesta, nos fins estão os meios, isto por que os anarquistas querem
atingir a anarquia pela anarquia e como anarquistas.
Há sem dúvida algo de muito libertário no espírito dos Enragés que os aproxima do
movimento anarquista e do anarquismo.
Durante a década anterior, o proletariado de Paris havia sido objeto de intensa propaganda
da Associação Internacional dos trabalhadores, fundada em Londres em 1864. A guarda
nacional, composta por elementos do proletariado urbano, junta-se a chamada Guarda
Móvel, constituída por camponeses vindos do interior para defender a cidade. Enquanto o
exército é desmobilizado, estas corporações conservam seus armamentos.
Consciente de sua força e perante a atitude equívoca dos elementos encarregados da defesa
da cidade já a 31 de outubro há uma tentativa do povo, liderado pelo socialista Blanqui de
desttituir os republicanos do poder. Destroçados os últimos exércitos da França, o
armistício com a Prússia é negociado em janeiro de 1871.
A Guarda Nacional de Paris, por sua vez, elege um comitê para sua coordenação e resiste às
tentativas de Thiers de se apoderar de sua artilharia, proclamando a 18 de março a Comuna
de Paris. O governo de Thiers deixa Paris refugiando-se na vizinha cidade de Versalhes,
com o apoio do que restou do exército francês(40 mil homens). Perante o desaparecimento
do exército, da polícia e dos burocratas, o povo em armas representado pela Guarda
Nacional ocupa as repartições vazias e as instalações militares de defesa da cidade.
Na Paris gerida pelo povo, nas fábricas abandonadas por seus proprietários, em uma
situação que virá a se repetir na Revolução Espanhola mais de 60 anos depois, os
trabalhadores passam a escolher seus gerentes, chefes de oficina e equipe, reservando-se o
direito de demití-los. Fixam seus salários e condições de trabalho e um comitê de fábrica se
reúne todas as tardes para decidir do trabalho do dia segunte. Entregando a educação
pública à organização e administração distritais, preocupa-se a Comuna em que esta seja
isenta de ranço e preconceitos religiosos. No entanto, um dos primeiros erros dos
revolucionários será a adoção da, já naquele momento gasta, fórmula do sufrágio universal.
Internacionalistas, blanquistas, proudhonianos, republicanos e patriotas exaltados dipostos a
continuar a luta contra os prussianos são seus componentes.
“Você está exagerando ao sugerir que nós usaremos a força bruta contra os
anarquistas!”.
Foi assim que Leon Trotsky, um dos personagens da Revolução Russa, dirigiu-se ao
anarquista Volin, em abril de 1917, meses antes da tomada do poder pelos bolcheviques.
Volin parecia prever que as divergências ideológicas entre os dois grupos poderiam levar
a um enfrentamento de graves conseqüências. Seu temor, afi nal, não foi infundado.
Apenas um ano depois, o comandante do Exército Vermelho avaliaria a ação contra os
anarquistas de Moscou nestes termos: “Enfim o poder soviético varre o anarquismo da
Rússia com uma vassoura de ferro”.
Varrida também das páginas da história da Revolução Russa, a participação anarquista num
dos episódios mais importantes do século XX apresenta cenas fortes demais para serem
condenadas ao esquecimento. Elas atestam que a revolução foi um processo complexo,
envolvendo diversos sujeitos sociais e variadas propostas no interior das próprias
esquerdas.
Porém, eram muitas as correntes socialistas a tentar hegemonizar os processos que levaram
à eclosão da Revolução de 1905, considerada o “ensaio geral” antes de 1917. O próprio
Kropotkin reconheceria que a atuação espontânea das massas foi uma força muito mais
decisiva do que as idéias dos intelectuais de esquerda. “Não foram os social-democratas,
nem os socialistas revolucionários, nem os anarquistas que lideraram esta revolução. Foi
a classe operária, o trabalhador”, disse ele.
A volta dos expatriados após a Revolução de Fevereiro de 1917 fez com que os grupos
dispersos buscassem uma rearticulação. O poeta Volin reconheceu que, ao chegar à Rússia
em julho de 1917, eram poucos os sinais da presença de grupos anarquistas. No entanto,
havia esforços para organizar um movimento que, assim como outras correntes do
socialismo, sofrera com a repressão do governo imperial.
Foi na Ucrânia, ao sul, que o anarquismo russo conheceu seu momento mais significativo.
O operário Nestor Makhno, eleito presidente do soviete local, formou um Exército
Insurgente de inspiração anarquista que desempenhou importante papel contra a ofensiva
do Exército Branco, ajudando os bolcheviques nessa tarefa.
No Rio de Janeiro, então capital da República, eclodiu em 1918 uma insurreição anarquista
inspirada na explosão revolucionária da Rússia. O levante pretendia instaurar o “soviete do
Rio” e estava articulado com uma greve em várias fábricas no dia 18 de novembro. Os
anarquistas também pretendiam atacar a Intendência de Guerra, no bairro de São Cristóvão
Além de conseguir armas para a ação, o ataque trazia a expectativa de apoio dos soldados,
como acontecera na Rússia.
Mas a adesão dos escalões inferiores das Forças Armadas não ocorreu. Na verdade, a
aproximação de um militar ao grupo conspirador foi responsável, em parte, pela derrota da
insurreição. Um tenente do Exército atuou como agente infiltrado e entregou aos seus
superiores todos os detalhes do plano. Antes das ações armadas, vários líderes já tinham
sido encarcerados. Ainda assim teve início uma série de combates nas ruas, com explosões,
troca de tiros e algumas mortes de ambos os lados. Duas torres de energia elétrica foram
explodidas e os operários tomaram o 10º Distrito Policial. No entanto, as tropas fiéis ao
governo reprimiram uma rebelião que já esperavam. Além disso, a ausência de um contexto
revolucionário com ampla base social – como ocorrera na Rússia – também frustrou o
sucesso da ação.
Nos relatórios policiais e nas manchetes dos jornais do dia seguinte, a ideologia dominante
procurava jogar a opinião pública contra os anarquistas Em geral, diziam se tratar de
“agitadores” que pregavam a “desordem e a subversão do regime legal”. Inclusive a
“desonra de virgens” estaria, segundo a polícia, nos planos dos insurgentes. E, como em
tantos outros episódios da história do Brasil, a vitória coube mais uma vez às elites.
A chamada “Guerra Civil Espanhola”, nome habitual dado pela historiografia sobre o
conflito militar que se desenrolou entre setores da direita(fascistas, monarquistas, igreja
católica e latifundiários) e da esquerda(republicanos, anarquistas, trotskystas, etc) ainda é
um tema em suma mal compreendido e deturpado pela historiografia tradicional. Primeiro,
o termo “Guerra Civil Espanhola” é simplório, pois enxerga apenas do ponto de vista
militar, um acontecimento que é muito mais complexo e enriquecedor.
2 Sua congênere, a FAI(Federação Anarquista Ibérica) reuniu de 5.000 a 30.000 membros, segundo
estatísticas. A FAI era a instância ideológica do movimento operário, assentado sob o anarco-sindicalismo.
“Em alguns dias, 70% das empresas industriais e comerciais foram tomadas pelos
trabalhadores nessa Catalunha que concentrava sozinha dois terços da indústria do país.
(Mintz e Goldbronn, 2002, pp. 16)
É importante lembrar, que a própria existência das coletivizações, muito deveu em grande
medida a educação que haviam tido muitos operários em escolas constrúidas pelos
libertários, e este processo continuou, com a formação do C.E.N.U(Conselho da Escola
Nova Unificada). O C.E.N.U3 em sua breve empreitada, conseguiu acabar com os
orfanatos, chamados pelos mesmos como “antros de punição”, aumentou o número de
professores, fundou escolas nos mais diversos locais, integrou a arte ao programa
pedagógico, aumentaram o número de alunos, etc, tudo isto inspirado no modelo anarquista
de educação integral(formação intelectual e manual laica e ensino público a todos).
3 O CENU era composto pela Generalitat, pela CNT e pela UGT(União Geral dos trabalhadores, central
sindical dominada pelos socialistas.) e a participação da CNT deu um caráter mais libertário a proposta
pedagógica.
4 As brigadas internacionais eram um corpo de voluntários formado por militantes de todo o mundo, que
juntavam-se à frente anti-fascista para engrossar coro nas chamadas milícias populares, que combateram
ferozmente o franquismo.
anarquistas (...). Toda loja, todo café portava uma inscrição informando que tinha sido
coletivizado; até as caixas dos engraxates foram coletivizadas e pintadas de vermelho e
preto! (...) Tudo isso era estranho e emocionante. Um boa parte disso permanecia para
mim incompreensível e, inclusive, num certo sentido, não me agradava: mas havia ali um
estado de coisas que me pareceu de imediato como valendo a pena que se lutasse por ele.”
(George Orwell, Hommage à la Catalogne, ed. Champ Libre, 1982)
Em 1876 tem início a ditadura de Porfírio Dias, um governo caracterizado pela exploração
das classes trabalhadoras e camponeses, concentração de riqueza, do poder político e do
acesso à educação, basicamente em famílias de latifundiários e empresas estrangeiras,
vindas principalmente da França, Inglaterra e Estados Unidos. A concentração de terras no
México era absurda, e os fazendeiros proprietários eram “donos absolutos de homens e
coisas”, com um poder e recursos quase incomensuráveis. Apesar de o povo viver na
miséria extrema, a ditadura de Diaz assegurava grandes lucros aos investimentos
capitalistas do exterior. Nove milhões de mexicanos eram analfabetos.
Alguns anos depois, já no início do século XX, Ricardo Flores Mágon seria um dos grandes
representantes dos ideais livertários na luta contra a ditadura de Diaz. Magón também
integra em 1901 o Partido Liberal Mexicano(PLM) que havia sido fundado um ano antes.
Aliás, por razão da influência libertária presente no partido, a partir da segunda metade da
década de 1900, o PLM se radicaliza, tornando seu discurso mais combativo e criando uma
tensão interna no partido, que afasta os elementos menos radicais. Vale ressaltar que o
partido não concorria às eleiçòes e servia somente como um espaço de articulação
horizontal dos revolucionários libertários da época, sem o objetivo de tomar o Estado e
estabelecer uma ditadura, mas para colocar um fim ao governo de Diaz, estabelecendo o
comunismo libertário em seguida. O PLM tornou-se clandestino e organizou em todo o
México mais de 40 grupos de resistência armada e também contou com membros
indígenas, conhecidos por sua luta pelos direitos das comunidades e contra a propriedade
capitalista.
A fraude eleitoral de 1910 comandada por Diaz, daria início à explosão da Revolução
Mexicana. Com a prisão de Madero, seu adversário nas eleições, conseguiu reeleger-se
novamente. Já em 1911 e em meio à Revolução e com apoio do sindicato norte americano
IWW, os anarquistas, que tinham à frente Magón, ocupam a região da Baixa Califórnia,
tomando cidades de importância como Mexicali.
Um outro interessante fato que comprova a proximidade entre Zapata e Magón acontece
quando Zapata convida Magón, em 1915, para levar o periódico Regeneración para
Morelos, colocando à sua disposição meios que dariam ao jornal uma expansão nacional.
Depois disso, o México afundou-se em um período de guerra civil. Os fatos que se deram
em sequência, como a tentativa de tomada da Cidade do México por Villa e Zapata, a
convocação da Assembléia Constituinte por Carranza, que depois seria eleito presidente e
assassinado e os conflitos que se seguiram no país acabaram constituindo o pano de fundo
da decadência do período revolucionário.
5 No caso do Rio de Janeiro, segundo o pesquisador Milton Lopes, (Lopes, 2006, pp. 27) há apenas um
único registro de fato que comprove a simpatia pelo anarquismo, anterior ao ano de 1890. Só há indícios
mais claros destas tendências após este período.
fomentaria a organização destes nos sindicatos6, cuja bandeira ideológica, o anarquismo,
seria a principal bússola e motor.
Contudo, o governo não se põe indiferente, frente a intensa organização dos trabalhadores.
Prova disto, é a intensa repressão que sofre o movimento operário no Brasil, que é
constante: fechamento de sedes de sindicatos, prisão e deportação de diversos sindicalistas7.
Paralelamente a isto, temos os ecos da revolução russa que no Brasil irão ocasionar
acalorados debates e posteriormente dividirão o movimento operário, já que a ditadura
bolchevique será duramente atacada pelos anarquistas e defendidas por figuras como
Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB.
O Anarquismo contemporâneo
Abraços Libertários!!!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOPES, Milton. Crônica dos Primeiros Anarquistas no Rio, pp. 27. Rio de Janeiro:
Editora Achiamé, 2006.
OLIVEIRA, José Machado de. O projeto político dos grupos radicais durante a
Revolução Francesa: algumas diferenças e aproximações In
http://www.cchn.ufes.br/anpuhes/ensaio18.htm. Acessado em 17/03/08
ROCKER, Rudolf. A Ideologia do Anarquismo. pp.07 1ª Ed. São Paulo: Editora Faísca,
2005