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História Do Pensamento Filosófico

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HISTÓRIA DO PENSAMENTO

FILOSÓFICO

Ms. Railda Barreto


OS PERÍODOS DA FILOSOFIA
GREGA
A Escola de Atenas, Rafael Sanzio, 1506-1510
◦ Costuma-se dividir a filosofia grega em três grandes momentos, tendo
como referência central a atuação de Sócrates.

◦ Distinguimos o período pré-socrático, o socrático (ou clássico) e o


período pós-socrático (ou helenístico).
1. Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final do
século V a. C., quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem
do mundo e as causas das transformações da natureza.
2. Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo século IV a.
C., quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e
as técnicas.
3. Período pós-socrático ou helenístico, do final do século III a. C. até o
século VI depois de Cristo. Nesse longo período, que já alcança Roma e o
pensamento dos primeiros padres da igreja, a filosofia se ocupa sobretudo
com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o
homem e a natureza de ambos com Deus.
Os filósofos pré-socráticos
◦ A denominação “filósofos pré-socráticos” é basicamente cronológica
e designa os primeiros filósofos que viveram antes de Sócrates (470-
399 a.C.).
◦ O período pré-socrático estende-se pelos séculos VII e V a. C.,
quando os filósofos oriundos das colônias gregas como a Jônia (atual
Turquia) e Magna Grécia (sul da Itália e Sicília) iniciaram o processo
de desligamento entre a filosofia e o pensamento mítico.
Os filósofos pré-socráticos
◦ A leitura, interpretação e discussão da filosofia dos pré-socráticos envolve,
para nós, uma grande dificuldade.
◦ Suas obras se perderam na Antiguidade, e só as conhecemos por meios
indiretos.
◦ Em alguns casos é possível até que não tenha havido obra escrita, já que a
tradição filosófica grega em seus primórdios valorizava mais a linguagem
falada do que a escrita.
◦ A filosofia era vista essencialmente como discussão, debate, e não como
texto escrito.
◦ Em muitos casos, certamente houve uma obra escrita, que conhecemos em
parte, como p.ex. o Poema de Parmênides, e o tratado Da natureza de
Heráclito(os quais examinaremos adiante).

◦ Entretanto, essas obras não sobreviveram integralmente; trata-se apenas de


fragmentos permitindo no máximo uma reconstrução do pensamento desses
filósofos.

◦ São duas as principais fontes de que dispomos para o conhecimento dos


filósofos pré-socráticos: a doxografia e os fragmentos.
◦ A doxografia consiste em sínteses do pensamento desses filósofos e comentários
a eles, geralmente breves, por autores de períodos posteriores.
Ex.:Aristóteles (id., I, 3) diz: “Assim parece ter se exprimido Tales acerca da causa
primeira [a água]”.
◦ Os fragmentos são citações de passagens dos próprios filósofos pré-socráticos
encontradas também em obras posteriores.
Ex.: Aristóteles diz (Metafísica, 1,4): “Parmênides afirma: ‘antes de todos os
deuses, criou o Amor’”,.
◦ A diferença principal entre ambos é a seguinte: enquanto o fragmento nos dá as
próprias palavras do pensador, a doxografia apresenta seu pensamento nas
palavras de outro.
◦ Ambas as fontes, entretanto, são precárias, imprecisas e incompletas. Pois
mesmo os fragmentos, embora contendo as palavras do filósofo, apresentam
apenas uma pequena passagem da obra originária, e portanto já refletem uma
seleção de quem faz a citação.

◦ Porém, trata-se de uma situação inevitável do ponto de vista histórico, a


menos que alguma descoberta arqueológica revele manuscritos e textos da
época, o que é altamente improvável.
Os filósofos pré-socráticos
◦ Costuma dividir o pensamento dos filósofos pré-socráticos em duas
grandes correntes, a escola jônica e a escola italiana.

◦ Veremos que esta divisão, embora a rigor imprecisa, pode ser útil por
caracterizar uma diferença básica de concepção filosófica entre as duas
tendências
◦ Escola jônica: Caracteriza-se sobretudo pelo interesse pela physis
(natureza eterna e em perene transformação), pelas teorias sobre a
natureza.
✓Tales de Mileto (fl.c.585 a.C.) e seus discípulos, Anaximandro (c.610-547
a.C.)e Anaxímenes (c.585-528 a.C.), que formam a assim chamada escola
de Mileto.
✓ Xenófanes de Colofon (c.580-480 a.C.)
✓Heráclito de Éfeso (fl.c.500 a.C.
◦ Escola italiana: Caracteriza-se por uma visão de mundo mais abstrata,
menos voltada para uma explicação naturalista da realidade, prenunciando
em certo sentido o surgimento da lógica e da metafísica, sobretudo no
que diz respeito aos eleatas.

➢Pitágoras de Samos (fl.c.530 a.C.), Alcmeon de Crotona (fl.início séc. V


a.C.),Filolau de Crotona (fl.final séc. V a.C.) e a escola pitagórica.

➢Parmênides de Eleia (fl.c.500 a.C.), e a escola eleática: Zenão de


Eleia(fl.c.464 a.C.) e Melisso de Samos (fl.c.444 a.C.)
◦ Aristóteles (Metafísica I, 2) chama os primeiros filósofos de physiólogos,
ou seja, estudiosos ou teóricos da natureza (physis).
◦ Assim, o objeto de investigação dos primeiros filósofos-cientistas é o
mundo natural; sendo que suas teorias buscam dar uma explicação causal
dos processos e dos fenômenos naturais a partir de causas puramente
naturais, isto é, encontráveis na natureza, no mundo natural, concreto, e
não fora deste, em um mundo sobrenatural, divino, como nas explicações
míticas.
◦ Segundo esse tipo de visão, portanto, a chave da compreensão da realidade
natural encontra-se nesta própria realidade e não fora dela.
Tales de Mileto
◦ Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo e, embora conheçamos muito
pouco sobre ele e não subsista nenhum fragmento seu, foi desde a Antiguidade
visto como o iniciador da visão de mundo e do estilo de pensamento que passamos
a entender como filosofia.
◦ Duas características são fundamentais nesse sentido;
◦ Em primeiro lugar, seu modo de explicar a realidade natural a partir dela mesma,
sem nenhuma referência ao sobrenatural ou ao misterioso, formulando a doutrina
da água como elemento primordial, princípio explicativo de todo o processo
natural;
◦ E, em segundo lugar, o caráter crítico de sua doutrina, admitindo e talvez mesmo
estimulando que seus discípulos desenvolvessem outros pontos de vista e adotassem
outros princípios explicativos.
Heráclito x Parmênides
Heráclito: “tudo flui”

◦ Heráclito (544-484 a. C.) nasceu em Éfeso, na Jônia.


◦ Embora um dos pré-socráticos de quem mais
chegaram fragmentos até nós, era conhecido já na
Antiguidade como “o Obscuro”, devido à
dificuldade de interpretação de seu pensamento.
◦ Pode ser considerado como o principal
representante do mobilismo, isto é, da concepção
segundo a qual a realidade natural se caracteriza
pelo movimento, todas as coisas estando em fluxo.
Heráclito: “o mundo é um eterno Devir”

✓ Para Heráclito, tudo aquilo que vemos nunca mais será igual ao
que era no momento anterior e que, no instante seguinte, já não
será mais o que foi antes.
✓ Com isso, ele afirmou que as coisas se transformam
permanentemente e que, quando se quer fixar algo e revelar sua
essência, já não se trata mais da mesma coisa, pois tudo parte
da realidade que flui.
✓ Para ele, tudo é movimento; a natureza é mobilidade
permanente.
✓ O movimento chama-se devir.
Heráclito: “nada é permanente, exceto a
mudança”
◦ Para Heráclito, o ser é o múltiplo, não apenas no sentido de que
há uma multiplicidade de coisas, mas por estar constituído de
oposições internas.
◦ O que mantém o fluxo do movimento é a luta dos contrários –
“a guerra é pai de todos, rei de todos”; “é da luta que nasce a
harmonia, como síntese dos contrários”; “caráter instável do
fogo, que eterno e vivo, ora se acende ora se apaga”.
◦ A realidade marcada pelo conflito entre os opostos, conflito que
todavia não possui um caráter negativo, sendo a garantia do
equilíbrio, através da equivalência e reunião dos opostos.
Heráclito: “Não podemos banhar-nos duas vezes no
mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo.”
◦ Este fragmento sintetiza exatamente a ideia da realidade em fluxo,
simbolizada pelo rio que representa o movimento encontrado em todas as
coisas, inclusive, no caso do acréscimo, em nós.
◦ Sendo assim, a essência dessa reflexão filosófica consiste em determinar
que nada existe, já que tudo existe num instante e no momento seguinte
deixa de existir, porque já sofreu um processo de transformação.
◦ Dessa maneira, a existência define-se como uma eterna mutação e como
um estado de mudança perene em que estão incluídas todas as coisas de
forma infinita.
Parmênides: “o ser é imóvel”

◦ Parmênides (540 – 470 a. C.) viveu em Eleia, cidade do sul da Magna


Grécia;
◦ Sua teoria filosófica influenciou de modo decisivo o pensamento
ocidental;
◦ O pensamento de Parmênides pode ser melhor compreendido por
meio da sua inquietação diante da solução proposta por Heráclito de
que todas as coisas são e não são ao mesmo tempo, uma vez que
permanecem em constante mutação.
Parmênides: “o ser é imóvel”
◦ Ele acreditava ser isso impossível, porque uma coisa é ou não é. Por isso, raciocinava
no sentido de afirmar que as coisas possuem um ser e este ser é.
◦ Com essa postura reflexiva, Parmênides chegou ao princípio lógico que os filósofos
atuais denominam de “princípio da identidade”.
◦ Por meio dele, é possível afirmar que o ser é único, pois não pode haver mais de um
para cada coisa.
◦ Pode-se afirmar ainda que o ser é eterno, pois se ele tivesse um princípio, antes dele,
haveria o não ser, o que não é possível, porque o não ser inexiste.
◦ Caso existisse, ele também seria um ser, o que, por si só, seria um erro, já que apenas o
ser pode existir.
Parmênides: “o ser é único, imutável, infinito
e imóvel”
◦ Segundo Parmênides, o movimento existe apenas no mundo sensível, e a
percepção pelos sentidos é ilusória, porque baseada na opinião (doxa,
em grego), e, por isso mesmo, não é confiável;

◦ Só o mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio


que mais tarde Aristóteles chamou de identidade e não de contradição.
Atividades de fixação
◦ 1. Qual o sentido e a importância da contribuição dos filósofos pré-socráticos
para a formação e o desenvolvimento da tradição filosófica?
◦ 2. Como se caracteriza a distinção entre a escola jônica e as escolas italianas?
◦ 3. Quais os principais argumentos de Parmênides contra Heráclito? Como você
avalia esses argumentos?
Sócrates e
os Sofistas
◦ O pensamento de Sócrates é um marco na constituição de nossa tradição
filosófica, e pode-se dizer que inaugura a filosofia clássica rompendo
com a preocupação quase que exclusivamente centrada na formulação de
doutrinas sobre a realidade natural que encontramos nos filósofos pré-
socráticos.
◦ A própria denominação “pré-socráticos” já reflete a importância da
filosofia de Sócrates como um divisor de águas.
◦ É nesse momento que a problemática ético-política passa ao primeiro
plano da discussão filosófica como questão urgente da sociedade grega,
superando a questão da natureza como temática central.
◦ Os sofistas são contemporâneos de Sócrates, seu principal adversário, assim
como o foram posteriormente Platão e Aristóteles.
◦ Apesar disso, Sócrates e os sofistas compartilham, embora com visões
diferentes e até mesmo diametralmente opostas - o interesse fundamental pela
problemática ético-política, pela questão do homem enquanto cidadão da polis,
que passa a se organizar politicamente no sistema que conhecemos como
democracia.
◦ O pensamento de Sócrates e dos sofistas deve ser entendido, portanto, tendo
como pano de fundo o contexto histórico e sociopolítico de sua época, pois
tem um compromisso bastante direto e explícito com essa realidade.
◦ Isso mostra uma proximidade maior entre Sócrates e os sofistas do que entre
Sócrates e os pré-socráticos
Recapitulando...
◦ É na Grécia dos sécs. VI-IV a.C. que a filosofia começa a se definir como gênero cultural autônomo, com estilo próprio e
objetivos e princípios específicos.
◦ A filosofia deve ser entendida como um fato cultural, como produto de um determinado contexto histórico e social.
◦ Esse surgimento corresponde ao começo da estabilização da sociedade grega, com o desenvolvimento da atividade comercial,
com a consolidação das várias cidades-Estado e com a organização da sociedade ateniense.
◦ A democracia representa exatamente a possibilidade de se resolverem, através do entendimento mútuo, e de leis iguais para
todos, as diferenças e divergências existentes nessa sociedade em nome de um interesse comum.
◦ As deliberações serão tomadas, assim, em reuniões de cidadãos, as assembleias.
◦ Isso significa que as decisões são tomadas por consenso, o que acarreta persuadir, convencer, justificar, explicar.
◦ Não se dispõe mais da força, dos privilégios, da autoridade de origem divina.
◦ Surgimento da figura política do cidadão.
◦ Para exercer a cidadania é necessário opinar, discutir, deliberar e votar nas assembleias.
◦ Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador – aquele que saiba falar em público e
persuadir os outros na política.
◦ Para dar aos jovens essa educação, substituindo a educação antiga dos poetas,
surgiram, na Grécia, os sofistas, que são os primeiros filósofos do período
socrático. Os sofistas mais importantes foram: Protágoras de Abdera, Górgias de
Leontini e Isócrates de Atenas.
Os Sofistas
◦ Do grego sophós, “sábio”ou melhor “professor de sabedoria”;
◦ Que diziam e faziam os sofistas? Diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam
repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da polis.
◦ Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível ensinar aos jovens tal
arte para que fossem bons cidadãos.
◦ Que arte era esta? A arte da persuasão.
◦ Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que aprendiam a defender a posição ou opinião
A, depois a posição ou opinião contrária, não-A, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes
argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão.
Os Sofistas
◦ Há portanto uma paideia, um ensinamento, uma formação pela qual os sofistas foram responsáveis,
consistindo basicamente numa determinada forma de preparação do cidadão para a participação
na vida política.
◦ Sua função nesse contexto foi importantíssima e sua influência muito grande, o que se reflete na
forte oposição que sofreram por parte de Sócrates, Platão e Aristóteles.
◦ Os sofistas foram portanto filósofos e educadores, além de mestres de retórica e de oratória,
embora este papel lhes seja negado, p.ex. por Platão.
◦ Os sofistas possuem uma concepção filosófica segundo a qual o conhecimento é relativo à
experiência humana concreta do real, a verdade resultando apenas de nossas opiniões sobre as
coisas e do consenso que se forma em torno disso. A verdade é, portanto, múltipla, relativa e
mutável → relativismo.
Os Sofistas

◦ Sobre os sofistas, tudo que nos resta são fragmentos, citações, testemunhos;
◦ Esta dificuldade se agrava pelo fato de que, em grande parte, a maioria
dessas citações e testemunhos nos chegaram através de seus principais
adversários, Platão e Aristóteles, que pintaram um retrato bastante negativo
desses pensadores
Os Sofistas
◦ Os próprios termos “sofista” e “sofisma” acabaram por adquirir uma
conotação fortemente depreciativa, embora “sofista” inicialmente significasse
tão somente “sábio”.
◦ Apenas recentemente os intérpretes e historiadores têm procurado revalorizar
a contribuição dos sofistas, através de uma visão mais isenta e objetiva de suas
doutrinas. bem como de seu papel, influência e contribuição à filosofia e aos
estudos da linguagem.
Os Sofistas
◦ Para escândalo de seus contemporâneos, os sofistas costumavam cobrar pelas aulas,
motivo pelo qual Sócrates os acusava de “prostituição”.
◦ Importante: na Grécia Antiga, a aristocracia tinha o privilégio da atividade intelectual; já os
sofistas geralmente pertenciam à classe média e, por não serem suficientemente ricos para
se darem ao luxo de filosofar, faziam das aulas seu ofício.
◦ Os sofistas trouxeram inúmeras contribuições para o espírito democrático, isto é,
na pluralidade conflituosa de opiniões e interesses.
Discordando dos antigos poetas, dos
antigos filósofos e dos sofistas, o que
propunha Sócrates?
◦ É o pensamento de Sócrates, entretanto, que marca o nascimento da filosofia clássica,
desenvolvida por Platão e Aristóteles, de certo modo seus herdeiros mais importantes.
◦ Nascido em 470 ou 469 a.C., em Atenas, era filho de um escultor e de uma parteira.
◦ Aprendeu a arte paterna; mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, apesar
da pobreza.
◦ Considerado pelos homens do tempo como o mais sábio e inteligente, Sócrates demonstrava em
sua forma de pensar a necessidade de levar o conhecimento para os cidadãos gregos da época
pelo diálogo como forma de transmissão de sabedoria.
◦ Nada deixou escrito, sendo que suas ideias foram divulgadas por dois de seus discípulos – Platão
e Xenofonte.
◦ Propunha que, antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer persuadir os outros, cada
um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo.
◦ Sócrates andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela assembleia indagando a cada
um: “Você sabe o que é isso que você está dizendo?”, “Você sabe o que é isso em que você
acredita?”...
◦ Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam
conhecer.
◦ Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos, pois, quando tentavam responder
ao célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em
suas crenças, seus valores e suas ideias.
◦ O pior é que as pessoas esperavam que Sócrates respondesse por elas ou para elas, que soubesse as respostas
às perguntas, como os sofistas pareciam saber, mas Sócrates, para desconcerto geral, dizia: “Eu também não
sei, por isso estou perguntando ”.
◦ Donde a famosa expressão atribuída a ele: “Sei que nada sei”.
◦ A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia
O que procurava Sócrates?
◦ Procurava a essência verdadeira da coisa, da ideia, do valor.
◦ Procurava o conceito e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas,
das ideias e dos valores.
Qual a diferença entre uma opinião e um conceito?
◦ A opinião varia de pessoa para pessoa, de lugar para lugar, de época para época. É
instável, mutável, depende de cada um, de seus gostos e preferências.
◦ O conceito, ao contrário, é uma verdade intemporal, universal e necessária que o
pensamento descobre, mostrando que é a essência universal, intemporal e
necessária de alguma coisa.
◦ A inovação presente nas suas ideias para a sociedade logo
começou a chamar a atenção de jovens atenienses,
impressionados pelo seu dom de orador e pela sua
inteligência, o que o tornou popular em pouco tempo.
◦ Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um
perigo, pois fazia a juventude pensar.
◦ Por isso, eles o acusaram de desrespeitar os deuses,
corromper os jovens e violar as leis.
◦ Levado perante a assembleia, Sócrates não se defendeu e
foi condenado a tomar um veneno - a cicuta - e obrigado a
suicidar-se.
◦ A motivação da acusação é claramente política: contra as
críticas feitas por Sócrates ao que ele considerava um
desvirtuamento da democracia ateniense, e contra sua
discussão e questionamento dos valores e atitudes da
sociedade da época
Por que Sócrates não se defendeu?
◦ “Porque ”, dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu não
as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de mim? Que eu pare de
filosofar. Mas eu prefiro a morte a ter que renunciar à Filosofia”.
Método socrático
◦ O método socrático envolve um questionamento do senso comum, das crenças e opiniões que temos, consideradas vagas, imprecisas,
derivadas de nossa experiência, e portanto parciais, incompletas.
◦ Ele revela a fragilidade desse entendimento e aponta para a necessidade e a possibilidade de aperfeiçoá-lo através da reflexão. Ou seja,
partindo de um entendimento já existente, ir além dele em busca de algo mais perfeito, mais completo.
◦ É importante notar que, na concepção socrática, essa melhor compreensão só pode ser resultado de um processo de reflexão do
próprio indivíduo, que descobrirá, a partir de sua experiência, o sentido daquilo que busca.
◦ Sócrates jamais responde as questões que formula, apenas indica quando as respostas de seu interlocutor são insatisfatórias e por que o
são.
◦ Procura apenas indicar o caminho, a ser percorrido pelo próprio indivíduo: é este o sentido originário de método (“através de um
caminho”).
◦ A definição correta nunca é dada pelo próprio Sócrates, mas é através do diálogo, e da discussão, que Sócrates fará com que seu
interlocutor – ao cair em contradição, ao hesitar quando parecia seguro –passe por todo um processo de revisão de suas crenças,
opiniões, transformando sua maneira de ver as coisas e chegando, por si mesmo, ao verdadeiro e autêntico conhecimento.
◦ É este o sentido da célebre fórmula socrática “Só sei que nada sei”, a ideia de que o reconhecimento da ignorância é o princípio da
sabedoria. A partir daí, o indivíduo tem o caminho aberto para encontrar o verdadeiro conhecimento (episteme), afastando-se do
domínio da opinião (doxa).
◦ É por esse motivo que os diálogos socráticos são conhecidos como aporéticos (de aporia, impasse) ou inconclusivos.
Sócrates e os sofistas
✓ A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar que eles aceitam a validade das opiniões e das
percepções sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão.
✓ Já Sócrates considerava as opiniões e as percepções sensoriais, ou imagens das coisas, como fonte de erro,
mentira e falsidade, formas imperfeitas do conhecimento que nunca alcançam a verdade plena da realidade
✓ É essa oposição que marca, segundo Sócrates, a diferença entre a filosofia e a sofística, e que permite que
Platão e Aristóteles considerem os sofistas como não filósofos

Conceito Opinião
Conhecer a si mesmo Técnicas de persuadir os outros
Maiêutica Oratória
Ensinava nas praças de graça Cobravam as aulas
Verdade Tudo é relativo
Atividades de fixação
◦ 1. Caracterize o contexto do surgimento da sofística.
◦ 2. Qual a importância da discussão e da argumentação nesse contexto?
◦ 3. Como podemos situar Sócrates nesse mesmo contexto do séc. V a.C. em oposição aos sofistas?
◦ 4. Qual o sentido do método de análise conceitual socrático?
◦ 5. O que significa a maiêutica socrática?
◦ 6. Qual a concepção de verdade que encontramos em Sócrates?

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