Fatos Da História Naval
Fatos Da História Naval
Fatos Da História Naval
.,
1) Introduo histria do mar: guerra e paz
No pretende este livro ser outra coisa que um breve resumo histrico
sobre a influncia do mar e do que a ele est ligado no curso da vida do homem.
Muitas vezes foi extremamente decisiva uma ao martima industrial,
comercial ou guerreira para resolver graves problemas que se tm apresentado
humanidade. O homem j pereceu e j foi salvo pelo mar. Nele encontrou
alimento e por ele se expandiu desde tempos muito antigos.
Os grandes povos nunca desconheceram sua importncia. Todos os
grandes imprios usaram e at abusaram do mar. Para ns, particularmente,
basta um breve relance no passado para desconfiarmos, pelo menos, de que o
mar teve alguma coisa a ver com a economia das grandes potncias: os fencios,
que disseminaram o alfabeto; os gregos, que nos legaram imorredouros padres
de expresso artstica e de pensamento filosfico; os romanos, que nos
deixaram a lei e o costume da ordem e da justia; os portugueses, que ligaram a
Europa ao Oriente; os espanhis, que ligaram o Velho e o Novo Mundos; os
ingleses, que fizeram a Revoluo Industrial; todos foram fundadores de
imprios martimos, todos conheceram a importncia do mar.
PODER MARTIMO
No se trata de definir, mas de compreender. mais fcil, no caso, evoluir
do particular para o geral, em face de algumas confuses que se fazem em torno
do assunto.
comum identificar imediatamente o poder martimo com as esquadras
militares, como se o mar se resumisse nos navios de guerra. No esta,
entretanto, a verdade. As marinhas de guerra so apenas uma parte e no so a
maior parte do poder martimo. Elas constituem o chamado poder naval, por
reunirem parte dos elementos diretamente responsveis pela garantia do exerccio
da soberania de cada pas no mar. Sendo assim, o poder naval compe-se de uma
esquadra ou de foras navais (como ncleo), das bases navais, do pessoal
engajado, e de vrios outros elementos diretamente ligados guerra naval.
Esse poder naval, contudo, como dissemos acima, apenas uma frao do
poder martimo de uma nao ou de um grupo de naes. Alm do poder naval, o
poder martimo engloba a marinha mercante, o territrio martimo, as indstrias
naval; isso aconteceu muitas vezes na Antigidade e foi o que liquidou com a
"Invencvel Armada"1.
A paralisao da frota inimiga geralmente obtida quando um dos lados, sendo
mais forte, tem condies de fazer o bloqueio, isto , impedir a esquadra adversria de
sair de suas bases; tambm veremos vrios exemplos atravs da Histria. Por vezes,
uma batalha naval indecisa conduz a esse resultado, como aconteceu, por exemplo,
depois da batalha da Jutlndia, na Primeira Guerra Mundial, quando a esquadra alem
no se aventurou mais no mar.
Quando, numa determinada rea martima, nenhum dos dois lados consegue o
domnio do mar e ambos usam ou tentam usar o mar em seu proveito, diz-se que um
domnio do mar contrastado.
AS PRIMEIRAS CIVILIZAES
A Histria no comeou ao mesmo tempo em todas as partes da Terra. Alis,
ainda hoje h povos que vivem na Pr-Histria, como parte dos ndios do Brasil, por
exemplo.
As primeiras grandes civilizaes nasceram beira d'gua, fosse de rios, lagos ou
mar.
Nas regies banhadas por grandes rios, que serviam tanto para fertilizar o solo,
como para o transporte de mercadorias e pessoas, o progresso foi naturalmente muito
mais rpido e eficaz do que em reas menos favorecidas pela natureza.
Nessas zonas privilegiadas, os homens no tinham que fazer tanto esforo para
lutar pela vida. Essa largueza de tempo conduziu naturalmente diviso do trabalho,
elevao religiosa, ao culto das artes etc. Por outro lado, foram essas regies sempre
muito cobiadas pelos povos civilizados que habitavam territrios semidesrticos ou
montanhosos e que, embora mais atrasados, eram geralmente mais belicosos. Se
fssemos estudar, neste pequeno livro, a histria militar dos povos que primeiro se
adiantaram na marcha da civilizao, veramos que sua vida uma luta quase constante
com os invasores, s vezes de muito longe.
No Extremo Oriente, nos vales dos rios Huang-Ho (rio Amarelo) e Yang-TseKiang (rio Azul), tambm floresceu uma das mais velhas civilizaes do mundo: a
chinesa.
A regio dos rios Ganges e Bramaputra produziu a civilizao hindu, de cujas
origens temos poucas informaes com rigor cronolgico.
Mas, como se disse, tambm margem dos mares a civilizao comeou cedo. No
Oriente, a civilizao japonesa e, no mar Mediterrneo, a cretense, ambas de tendncia
fortemente martima pelo fato de estarem situadas em ilhas. A Geografia, em grande
parte, explica a Histria.
OS POVOS MARTIMOS
De todos os povos citados at aqui, o que mais nos interessa, por ter constitudo a
primeira talassocracia2 da Histria, o cretense que habitava a ilha de Creta, hoje
pertencente Grcia. Suas origens remontam a 3400 a.C.; desde cedo, os minoanos 3 se
entregaram a um ativo intercmbio comercial com os povos da regio do Levante 4; por
volta de 2000 a. C., suas relaes mercantis com o Egito eram intensas. Os cretenses
Talassos = mar e cratos = governo, ou seja, literalmente, "governo do mar; diz-se do governo que dominado por
homens ligados ao mar, como os do comrcio martimo, da pesca, da marinha de guerra etc.
3
Nome oriundo de Minos, seu mais famoso rei muito conhecido pelos tributos que imps aos gregos e pelo fato de ter
Pouco se sabe com exatido dos primeiros tempos do comrcio martimo, mas
fora de dvida que, por volta do ano 2000 a.C., j havia intenso comrcio martimo em
6
O leme de popa s apareceria no sculo XIV, sucedendo o leme de boreste, um tipo de remo usado para dar rumo
embarcao.
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De fato, s com o aparecimento do trem de ferro a vapor no sculo XIX que as viagens terrestres rivalizaram com as
aquticas.
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ao contrrio do mercante, era bem mais estreito. Tinha o fundo chato, o que,
juntamente com a caracterstica anterior, fazia com que oferecesse pouca resistncia
gua.
Sua propulso principal era o remo. Uma longa fileira de remos de ambos os
bordos, manejados geralmente por escravos, prisioneiros ou condenados, que eram
acorrentados aos bancos para que no tentassem fugir na hora do combate;
obviamente morriam quando o navio afundava.
Os navios de guerra possuam tambm velas, cujos mastros eram arriados na
hora da batalha para evitar que sua queda atingisse os ocupantes do navio. As velas
eram usadas nas travessias longas, longe do inimigo, a fim de poupar os remadores,
e no caso de haver necessidade de bater em retirada para aumentar a velocidade de
fuga; de fato, iar as velas era, no combate, sinnimo de fugir. Por causa do
seu fundo chato e de sua pouca resistncia aos temporais 11 os navios de guerra no
fundeavam como os mercantes; eram puxados para terra, ficando em seco. Essa
circunstncia ocasionou algumas "batalhas navais" travadas em terra, quando
acontecia de um inimigo atacar a esquadra antes que os navios pudessem ser postos
a flutuar12. Quanto s suas dimenses, sabemos que uma trirreme 13 grega tinha
geralmente 25 metros de comprimento por apenas 6 metros de boca.
O navio de guerra conduzia a bordo, alm do pessoal martimo como
qualquer navio, os guerreiros e os remadores. J vimos o que eram estes ltimos
infelizes; os guerreiros eram soldados terrestres que simplesmente embarcavam e
seus comandantes comandavam a batalha naval. Assim foi na batalha de Salamina
(480 a. C.), a primeira grande batalha naval da Histria.
Mais tarde, porm, o combatente do mar foi-se distinguindo do combatente de
terra, e o ateniense Formion14 ser o primeiro general do mar", ou seja, o
primeiro almirante.
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3) a expanso do mar
AS GRANDES INVENES
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Cf. Fonseca, Quirino da. A caravela portuguesa e a prioridade tcnica das navegaes henriquinas. Coimbra:
Imprensa da Universidade, 1934 , p. 34-35.
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Pimenta, canela, ns moscada e vrios outros artigos usados principalmente na conservao de alimentos.
No trajeto entre o Oriente e a Europa as mercadorias quadruplicavam de preo.
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nacionalidades a servio de Portugal) pelas costas africanas, por mares nunca dantes
navegados20, aumentando sempre os conhecimentos nuticos dos lusitanos, pois cada
navegante que partia j o fazia baseado nas descobertas dos seus antecessores.
E assim foram sucessivamente atingidos o cabo Bojador, rio do Ouro, a Guin e a
Serra Leoa.
Mesmo a morte do prncipe d. Henrique, em 1460, no modificou
substancialmente o problema; aps um curto intervalo, recomearam as navegaes, o
que mostra que o ciclo martimo portugus no foi obra de um homem enquanto
viveu, mas uma poltica de governo; antes da morte do prncipe a coroa j havia
mudado de cabea duas vezes sem que esmorecessem as viagens.
proporo que as viagens iam mais longe, e com o surgimento de muitas
estrias a respeito de novas terras, passaram os portugueses a desejar chegar s
fabulosas ndias21. Embora existissem mapas que no indicavam a possibilidade de
passar pelo sul da frica (mapas alis feitos sem o menor rigor cientfico) , os lusos
continuaram explorando a costa africana na esperana de que ela tivesse um fim. E foi
assim que, em 1488, Bartolomeu Dias, aps ter sido jogado mar afora por uma
violenta tempestade, voltou para leste para retomar o acompanhamento do litoral
como vinha fazendo e teve a surpresa de verificar que no o encontrava mais; voltou
ento para o norte e reencontrou o litoral sua frente (W-E); aps prosseguir para
leste algum tempo voltou e s ento descobriu o extremo sul da frica, que, muito
acertadamente, chamou de cabo das Tormentas. Esse nome foi mais tarde mudado
para cabo da Boa Esperana pelo rei porque, dizia ele, era a esperana de poder
chegar s ndias.
De fato, verificado que o continente africano tinha um fim, ele poderia,
logicamente, ser contornado; logo, estava aberto o caminho martimo para as ndias.
Por que ento s onze anos depois foi que os portugueses chegaram quelas
terras to desejadas? E como foi isso possvel se Vasco da Gama, o homem que
chegou s ndias, no seguiu a rota de Bartolomeu Dias at o cabo da Boa Esperana?
Por que os portugueses no exploraram o litoral africano do lado do ndico, pouco a
pouco, como tinham feito com o do Atlntico?
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A lenda tinha fundamento, pois o soberano etope era cristo do ramo copta.
Cames, Lus de. Os lusadas, canto I, 1.
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A expresso ndias deve ser entendida de modo muito mais amplo do que a ndia de hoje: significava, de fato, o
Oriente alm da regio do Levante ou Oriente Prximo.
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Descoberto o extremo sul da frica, Portugal viu que estava no bom caminho;
tratou pois de consolidar o seu domnio sobre o litoral africano j explorado, estudar
os ventos e as correntes marinhas do Atlntico e preparar, logo que possvel, uma
expedio que fosse ao outro oceano que existia do lado de l da frica e
possivelmente s ndias.
J vimos que as navegaes portuguesas, ao contrrio das realizadas depois por
outros povos, tiveram, desde o incio, um forte apoio oficial e um aspecto de
continuidade. Elas no foram feitas por simples aventureiros, mas por homens que
obedeciam a um plano de conjunto. Isso explica muita coisa.
Sabemos muito sobre as viagens ao longo do litoral africano porque Portugal
tinha interesse poltico em assinalar sua passagem sobre essas terras, a fim de garantir
futuros direitos de ocupao; de fato, em dado momento da Hist6ria, todo o litoral
africano pertencia, por direito de descoberta, a Portugal. Mas, das navegaes feitas
para oeste, pouco sabemos, porque poucas terras foram descobertas. Mas fora de
dvida que os portugueses, em 1497, ano da partida de Vasco da Gama para o
Oriente, conheciam, e muito bem, o regime de ventos e de correntes marinhas em
todo o Atlntico equatorial e sulino. Seria admissvel que Vasco da Gama, que se
destinava s ndias, fizesse tal abertura da costa seno com pleno conhecimento de
causa?
foroso reconhecer que, durante o perodo que medeia entre a descoberta do
extremo sul da frica e a partida de Vasco da Gama, duas coisas preocuparam o
governo portugus: conhecer o mais possvel o Atlntico e garantir a posse das terras
que se estavam descobrindo.
Foi assim que o governo lusitano ficou estupefato e contrariado quando, em 1493,
Colombo, de volta Espanha, passa por Lisboa anunciando que havia chegado s
ndias.
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Alm de apresentar seus planos por duas vezes ao governo espanhol, Colombo
tentou conseguir o apoio de Gnova, Inglaterra, Frana e Portugal.
A idia de Colombo era relativamente simples: partindo do pressuposto de que
a Terra era redonda, as ndias poderiam ser atingidas navegando-se para o ocidente
em vez do oriente. Como, porm, a base de sua argumentao (a redondeza da Terra)
fosse assunto mais do que discutido, at inaceitvel para a poca, Colombo foi muitas
vezes ridicularizado; se no tivesse chegado a fazer a viagem que o imortalizou, seu
mrito seria enorme somente pela f inabalvel que tinha na sua teoria; anos de
persistncia foram necessrios para conseguir convencer algum que pudesse
efetivamente auxili-lo. E esse algum foi a rainha d' Espanha Isabel. Mas, antes de
ver a sua idia aceita na Espanha, Colombo havia estado em Lisboa onde sua idia
tambm no fora aceita, mas no pelos mesmos motivos que na Espanha, isto ,
descrena na idia daquele visionrio.
No, ao que tudo indica, os sbios portugueses no acharam a idia absurda e
tanto isso verdade, que a levaram ao rei. Mas, no interessava a Portugal abandonar
uma norma que vinha seguindo havia meio sculo, isto , chegar s ndias passando
pelo sul da frica, para adotar uma nova conduta que poderia ser correta, mas
tambm poderia resultar em nada; essa viagem que Colombo imaginava era uma
aventura, sem dvida, e os portugueses j estavam muito mais adiantados na maneira
de encarar o problema.
De qualquer maneira, porm, aps longas peregrinaes e dissabores, Colombo
pode armar a sua pequena frota de trs navios: a Santa Maria, a Pinta e a Nia. A
Santa Maria que era a maior das trs caravelas, tinha apenas 27 metros de
comprimento e deslocava 100 toneladas; a Nia, que era a menor, deslocava apenas
40 toneladas.
Colombo desconhecia a existncia de um vasto continente entre a Europa e as
ndias22; imaginava a distncia entre a Europa e a sia pelo ocidente muito menor do
que realmente . Durante a viagem, teve que mentir para as guarnies rebeladas,
dizendo que ainda no haviam percorrido o caminho previsto.
De qualquer maneira, a descoberta da ilha de Guanahani hoje Watling island,
uma das Bahamas, e, logo a seguir, Cuba e Hispaniola, hoje Haiti, convenceu
22
Colombo calculava com razovel aproximao o dimetro da Terra, mas, como ignorava a existncia de um vasto
continente entre a Europa e a sia no oeste, supunha que Cipango (Japo) e Catai (China) fossem localizados na rea
dos atuais Estados Unidos da Amrica aproximadamente.
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Colombo de ter chegado s ndias, idia essa tanto mais reforada quando soube
vagamente da existncia de um grande imprio, mais a oeste, onde havia muitos
metais preciosos; os indgenas se referiam ao imprio azteca, mas para Colombo eram
as to ambicionadas ndias.
A viagem de Colombo que, primeira vista, parecia colocar por terra todos os
planos portugueses, fez com que este pas recorresse imediatamente ao papa na defesa
de suas pretenses.
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No entanto, quando Vasco da Gama parte em 1497, ele segue a rota de todos os
navegantes que demandavam a costa da frica at as alturas de Serra Leoa e da,
surpreendentemente, guina para alto mar, afastando-se do golfo da Guin, regio onde
as calmarias eram freqentes e onde comeava o trecho do litoral africano em que a
Corrente de Benguela e os ventos dominantes so contrrios ao sentido de navegao.
A corrente Sul Equatorial e os ventos dominantes o levam para alm do meio do
Atlntico, a ponto de ver sinais de terra, do que daria notcia a Cabral, quando este
partiu para sua viagem em 1499, da qual resultaria a descoberta do Brasil. Durante
trs meses s v cu e gua. Navegando decididamente no rumo aproximado sul, vai
encontrar, nas alturas do Prata e do sul da frica, correntes e ventos favorveis que o
levam diretamente ao extremo sul da frica.
Cabe aqui um raciocnio 1gico: seria Vasco da Gama um irresponsvel que
arriscasse sua flotilha de trs navios por um caminho que ele no saberia aonde iria
dar mas que certamente no seria para as ndias, a menos que ele soubesse exatamente
onde mudar o rumo geral N -S para W -E? E teria sido por mera coincidncia que essa
estranha navegao o levasse exatamente aonde Bartolomeu Dias tinha chegado por
um caminho completamente diferente?
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Nos dez anos que mediaram entre essas duas viagens e enquanto tantas coisas
importantes aconteciam, como j vimos, obvio que algum andou esquadrinhando
todo o Atlntico Sul.
Observando o regime dos ventos, no nos surpreenderemos tanto com a viagem
de Vasco da Gama, pois na navegao para o golfo da Guin, a ida e a volta no se
faziam pelo mesmo caminho, o que demonstrava perfeito conhecimento do regime e
do sentido das correntes marinhas no Atlntico Norte.
Mas voltemos ao almirante da Gama. Passado o cabo da Boa Esperana, sobe
ele o litoral africano do ndico at encontrar povos que lhe do seguras notcias das
ndias, pois mantinham com essas regies um comrcio regular; esse comrcio era
feito pelos rabes, que desde o sculo VIII possuam o domnio do mar no Oceano
ndico.
Contratando, por bom dinheiro, um excelente piloto rabe, Vasco da Gama
segue diretamente para as to desejadas ndias, onde chega s proximidades de
Calicute, em 20 de maio de 1498.
Os navios lusitanos, de grande porte em comparao com os dos rabes, no
tinham a liberdade de ao que tinham os navios de guerra inimigos, mas tinham
maior poder de fogo. E o mundo estava entrando numa poca de predomnio do fogo
sobre movimento e choque.
Dessa disputa entre rabes e portugueses, que veremos daqui a pouco, estes,
apesar das distncias, mas fortemente amparados por um governo resoluto, em poucos
anos arrebataro aos orientais o domnio dos mares ndicos e passaro a exercer, com
exclusividade, o comrcio das especiarias e demais mercadorias do Oriente para a
Europa.
O DESCOBRIMENTO DO BRASIL
Embora haja autores que defendam a tese de que o Brasil j fora visitado por
fencios, egpcios, cartagineses, gregos e rabes antes de Cabral, nada disso est
provado, e, assim, no vamos perder tempo em discutir hipteses possveis, mas
pouco provveis.
provvel, porm, que navegantes europeus tivessem estado no Brasil antes de
Cabral. Quanto a um pelo menos, no h dvida: o espanhol Vicente Yaez Pinzon, o
mesmo que acompanhara Colombo na sua primeira viagem, percorreu o litoral do
Nordeste e do Norte em janeiro de 1500. Quanto a outro, o portugus Duarte Pacheco
22
Pereira na frota e o fato de que qualquer possvel desvio da esquadra causado pela
Corrente Sul Equatorial, bastante duvidoso alis, no levaria a frota regio do sul da
Bahia, mas bem mais ao norte, pelas alturas de Pernambuco. Quanto s to faladas
calmarias, completamente fora de propsito que elas fossem responsveis por to
dilatado desvio.
Se considerarmos que o governo portugus poderia ter interesse em fingir o
descobrimento, os trs primeiros argumentos a favor da casualidade caem por terra,
ao passo que os contrrios so muito mais slidos. O estudo profundo do problema
indica, com alta probabilidade de acerto, que o Brasil j era conhecido dos
portugueses antes de 1500 e que, por motivos polticos, o fato foi ocultado at que
pudesse ser feito oficialmente o descobrimento.
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As novas rotas ocenicas, ao mesmo tempo que traziam riquezas para Europa,
levavam a cultura europia a todas as partes do mundo. As vrias civilizaes que
existiam simultaneamente no mundo de ento, passaram a se conhecer, em geral no
amistosamente, e, enquanto umas sucumbiam definitivamente como as americanas
outras sofriam forte influncia da civilizao europia ocidental, tais como a hindu, a
chinesa e outras menores.
O principal eixo comercial do mundo, que at ento fora o mar Mediterrneo,
passou para o atlntico e assim permanece at hoje.
Mas os europeus no marcharam juntos nessa jornada pelos novos mundos
descobertos. Uma profunda rivalidade entre as principais potncias da poca vai
comear; a luta pelas fontes produtoras de mercadorias vai deflagrar uma corrida
colonial que chegar ao sculo XX.
Neste final de captulo, focalizaremos apenas as lutas entre as grandes potncias
martimas. No prximo, veremos os choques entre potncias terrestres e potncias
martimas.
RABES X PORTUGUESES
Os portugueses, ao chegarem s to ambicionadas ndias, encontraram um
florescente comrcio martimo feito pelos rabes entre os portos hindus, de um lado, e
os portos do golfo Prsico e mar Vermelho, na outra extremidade.
Durante sculos, haviam os rabes desfrutado pacificamente desse trfico,
recebendo na ndia as mercadorias locais e as procedentes do Extremo Oriente,
trazidas principalmente por navios chineses, os juncos, e revendendo-as nos portos j
citados a outros comerciantes, rabes e judeus, que as transportavam em caravanas
terrestres aos portos do Mediterrneo Oriental; a, eram os navios venezianos e
genoveses, principalmente, que levavam essas mercadorias para o restante da Europa.
A descoberta do caminho martimo para as ndias veio arruinar definitivamente
o comrcio do Mediterrneo, que vai deixar de ser o mar principal da Histria da
Humanidade para sempre; s depois da abertura do canal de Suez (1869) que o
Mediterrneo recuperar uma parte da sua importncia.
No oceano ndico, a viagem de Vasco da Gama colocou em confronto
portugueses e rabes; na prpria viagem do descobrimento comearam as rivalidades.
26
Os prncipes hindus se dividiram em sua preferncia, tendo uns feito aliana com os
lusitanos enquanto outros apoiavam os rabes.
A frota de Cabral, que, depois de descobrir o Brasil, foi ndia, j teve que lutar
contra os muulmanos.
Mas, foi com Francisco de Almeida, a partir de 1505, que Portugal firmou o seu
domnio do mar no ndico aps uma srie de combates navais. Almeida, com 19
navios de vela de alto mar logrou derrotar de maneira categrica a frota do Isl,
comandada por Mir Hussain, com cerca de 300 navios pequenos e embarcaes
midas na batalha de Diu.
Afonso de Albuquerque, considerado o maior conquistador luso, continuou a obra
de conquista e, em 1515, os portugueses dominavam todos os mares do Oriente desde o
sul da frica at a Pennsula Malaia, com a nica exceo do mar Vermelho.
Como conseqncia da vitria portuguesa, a Europa se ver inundada por novas
mercadorias, assim como pelas j conhecidas, mas em escala muito maior, e o pequeno
reino lusitano se tornar, durante quase um sculo, a principal potncia martima do
mundo.
PORTUGUESES X HOLANDESES
Em 1566, os Pases Baixos23, possesso da coroa espanhola, revoltaram-se
contra a intolerncia religiosa e a opresso econmica de Felipe II. A longa luta que
se seguiu, com altos e baixos para os holandeses, que contaram com o auxlio da
Inglaterra (o episdio da Invencvel Armada vai relatado no captulo seguinte),
terminou em 1609, com a independncia das sete provncias protestantes do norte.
Tratado de Westfalia, em 1648 reconheceu definitivamente a independncia dos
Pases Baixos (Holanda).
Talvez esses fatos no tivessem grande influncia sobre a Histria de Portugal
se, em 1580, o cardeal-rei d. Henrique no tivesse interrompido a linha de sucesso
dinstica, com sua morte. A sucesso coube a Felipe II d' Espanha, aps uma srie de
peripcias em disputa do trono vago.
Embora juridicamente os dois estados continuassem independentes, na prtica o
resultado foi fazer dos holandeses inimigos dos portugueses. Quando Felipe proibiu a
entrada de navios holandeses no Porto de Lisboa, ento o maior porto da Europa, os
23
27
HOLANDESES E INGLESES
24
Eram sete provncias, das quais a principal era a Holanda, que acabou dando nome ao conjunto.
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A principal ao dessa segunda guerra, porm, foi a batalha dos Quatro Dias
(01/06 05/06/1666), uma vitria holandesa. No fim dessa guerra, os holandeses
chegaram a entrar no rio Tamisa e bombardear suas margens.
Cinco anos de paz se seguiram e, finalmente, iniciou a terceira e ltima guerra
entre a Inglaterra e a Holanda. A Frana, que havia auxiliado a Holanda na guerra
anterior, aliou-se Inglaterra. Apesar de brilhantes vitrias obtidas por Ruyter, os
holandeses, esgotados por tantos anos de luta, obrigaram-se a negociar a paz.
Dessas guerras, a Inglaterra saiu engrandecida e, dali em diante, veio a tornar-se
a maior potncia martima do mundo.
A PIRATARIA
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(da Dalmcia, depois parte da antiga Iugoslvia) e berberes (do Norte da frica)
ficaram famosos desde a Idade Mdia; os piratas berberescos (ou berberes) foram os
ltimos a desaparecer, o que s aconteceu com a conquista de seu verdadeiro refgio,
a cidade de Alger, pelos franceses em 1830.
O CORSO
homens
mortos, as
mulheres
violentadas
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por bom dinheiro. Os corsrios eram obrigados a reservar uma parte dos lucros,
geralmente de um tero a um quinto, para o tesouro real.
proporo que os governos repudiavam os piratas como seus corsrios (pois
muitas vezes tais corsrios agiam como piratas at mesmo contra navios de sua
bandeira), preferiam empregar nessa misso vasos de guerra ou mercantes armados.
Durante todo o sculo XIX o corso foi importante, mas os navios de guerra foram aos
poucos substituindo os navios mercantes. Os corsrios do sculo XX, dos quais
voltaremos a falar no captulo VI, foram navios de guerra ou mercantes transformados
em cruzadores auxiliares e guarnecidos com pessoal militar. Como veremos, porm, o
navio corsrio por excelncia foi e continua sendo o submarino.
26
Cf. Azcrraga y de Bustamante, Jose Luis de. El corso maritimo. Madrid: Instituto Francisco de Vitria, 1950, p.
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importncia mundial, foi certamente uma grande honra ser atacada por to famoso
personagem!
Muito mais importantes que essas incurses foram as invases francesas de
1555-1567 na baa da Guanabara (Frana Antrtica) e 1611-1615 no Maranho
(Frana Equinocial) e as holandesas de 1624-1625 na Bahia e em 1630-1654 em
Pernambuco, com ramificaes pelo Nordeste.
Esta ltima considerada como o ponto inicial de formao da nacionalidade
brasileira, pois, quase sem auxlio de Portugal, ento sob domnio espanhol (at
1640), os habitantes da terra lutaram bravamente contra os invasores, militarmente
mais fortes. Alguns acham que essa luta
explica tambm em grande parte porque no h problema racial no Brasil: brancos,
negros e ndios foram obrigados a lutar em p de igualdade, lado a lado, contra o
inimigo comum.
As guerras holandesas no Brasil so muito importantes para o estudo da guerra
terrestre, porque nelas os brasileiros empregaram, na maior parte do conflito e em
larga escala, o sistema de guerrilhas, muito antes, portanto, de Mao-Tse-Tung,
considerado por muitos como o pai das guerrilhas.
(LEITURA)
Extrado de Canby, Courtlandt. Histria da Marinha. Paris: Editions Rencontre
e Erik Nitsche International, trad. portuguesa, 1965, p. 53-72, captulo 4, A guerra
nos mares; obs.: diversas partes e expresses foram passadas para o portugus
brasileiro, inclusive gramtica e traduo dos primeiros nomes prprios, pelo autor
deste livro Fatos da Histria Naval, 2. edio.
200.
33
americana. Entre estas, contava-se a Nova Amsterdam (Nova York), comprada aos
ndios, em 1626, por 60 florins, ou sejam 24 dlares.
Tal prosperidade despertou o cime dos rivais da Holanda. Era necessrio,
custasse o que custasse, obter o domnio dos mares. Isto tornava-se uma obsesso. No
tempo de Gustavo Adolfo II, a Sucia, dizendo-se ameaada pela Alemanha, criou
uma esquadra, da qual fazia parte o famoso Vasa, de 1627, hoje posto a flutuar e em
vias de reconstruo27. Sentindo o perigo dos suecos no mar Bltico, e no propsito
de lhes opor sua prpria esquadra, o czar Pedro, o Grande, visitou pessoalmente os
estaleiros martimos da Europa em fins do sculo XVII. A partir de 1637,
os
ingleses, mulos dos holandeses na arte das construes navais, lanavam seu
gigantesco navio de trs conveses corridos, o Sovereign of the Seas, navio mais
ricamente ornamentado desse tempo, e to avanado para a poca, que ainda no
princpio do sculo XIX servia de modelo. No tempo de Cromwell, a Inglaterra
dispunha de uma marinha poderosa, se bem que ainda inferior dos holandeses no
que se refere frota mercante. Entretanto, suas colnias norte-americanas comeavam
a prosperar. Foram elas Jamestown, na Virgnia, fundada em 1607; no norte,
Plymouth (1620) e Massachussets Bay, que depois atraiu milhares de colonos;
Pensilvnia, onde Guilherme Penn fundou a capital, e Filadlfia em 1682. Nova York
foi tirada aos holandeses em 1664. No Oriente, a Inglaterra adquiriu Bombaim em
1661 e sucedeu aos holandeses no comrcio das especiarias. Podemos facilmente
conceber a terrvel concorrncia entre esses dois pases.
As grandes batalhas navais entre os dois rivais comearam em 1652 e duraram
mais de vinte anos. Foram lutas sangrentas, escala dessas duas grandes naes que
se disputavam o imprio dos mares. Eram chefiadas por almirantes to enrgicos
como impiedosos: Martinho Tromp e seu filho Cornlio, o grande Miguel de Ruyter
e, do lado dos ingleses, o famoso almirante Blake. Poucos desses encontros foram
decisivos, se bem que os ingleses, em 1667, se tivessem encontrado em grande
dificuldade. Ruyter entrou pelo esturio do Tamisa, semeando o pnico em Londres,
incendiou quase toda a esquadra britnica e capturou o navio almirante: Royal
Charles. A Inglaterra teria sucumbido sob os golpes holandeses, se no fosse a velha
raposa matreira, Samuel Pepys que, como secretrio do Almirantado. Encontrou no
27
O Vasa tem hoje museu prprio. mantido em local fechado com o casco permanentemente borrifado com gua para
manter a umidade, j que ele ficou cerca de trs sculos submerso. Pode-se visit-lo.
35
Essa guerra tida como a primeira das guerras mundiais, porque suas operaes desenvolveram-se na Europa, na
Amrica do Norte, na frica e na ndia.
36
29
A partir do sculo XVII, formaram-se duas escolas tticas na Inglaterra: a formalista e a melesta. A formalista seguia
o combate formal, como a tradio, com linhas paralelas equivalentes ou perto disso. A melesta propunha o emprego
da concentrao, com ruptura das linhas de batalha, formando-se, assim, a confuso ttica, em francs mele, donde o
nome. Esta escola era mais arrojada e conseguia geralmente bons resultados. Mais tarde, o almirante Nelson seria
melesta.
53 Ver as instrues de batalha das diversas marinhas europias em Robinson, S. S. e Robinson, Mary. A history of naval tactics
from 1530 to 1930. Annapolis: The United States Naval Institute, 1942.
37
franceses
holandeses,
importunando-a
31
Havia a exceo do Brasil. Telas do sculo XVIII pintadas por Leandro Joaquim mostram baleias na baa da
Guanabara. A pesca da baleia fornecia a carne para comida e leo para construo civil.
39
Nessa batalha deu-se pela primeira vez a ruptura da linha de batalha no mar, embora de modo no intencional. Da em
diante comearia essa importante manobra da escola melesta. O almirante Nelson seria grande empregador dela,
inclusive em Trafalgar, em outubro de 1805.
33
Para os ingleses, batalha do Nilo, pois foi perto da foz desse rio e valeu o ttulo de Nelson, visconde do Nilo.
34
Nelson morreu a bordo de seu capitnia, Victory, atingido por tiro de fuzil do adversrio.
40
Assim Elaine Sanceau denominou a passagem do cabo Bojador por Gil Eanes; cf. Sanceau, Elaine Dom Henrique: o
navegador. Barcelos: Companhia Editora do Minho, 1969, p. 134.
36
No dizer de Artur Csar Ferreira Reis em conferncia sobre a cultura brasileira publicada em 1970 (ver bibliografia).
41
O DESAFIO DA ESPANHA
60
O preo P=M/Q, sendo M a quantidade de moeda e Q a de mercadoria. M era muito grande e Q era restrito.
Pases Baixos, Nederlanden, que comearam em 1572 luta pela independncia da Espanha; estavam divididos; o sul,
catlico, deu na Blgica; o norte, protestante, resultou nas sete provncias unidas que tiveram o nome da mais
importante delas, a Holanda.
61
42
Esse controle do comrcio martimo e seu uso fez-se de duas maneiras: por
meio de uma poltica agressiva de colocao dos navios ingleses nos mares e pela
destruio sistemtica do comrcio martimo dos concorrentes, do que a Espanha foi a
grande vtima. Depois, a Inglaterra ps seus navios mercantes a servio de um
transporte internacional, como terceira bandeira 39. A ela esbarrou com dificuldades
de outra ordem, como as enfrentadas pela Holanda e que j foram explicadas no
captulo precedente, quando se tratou do conflito entre potncias martimas.
A Espanha possua o melhor exrcito da Europa no fim do sculo XVIII (1588).
Felipe II tratou de embarcar esse exrcito em navios que mandou preparar, a fim de
desembarcar nas ilhas Britnicas. A empresa seria relativamente fcil, se no
houvesse o mar pela frente!
A INVENCVEL ARMADA
Dreadnought e Rainbow; outros cinco eram galees fortes com canhes de quatro a 5
toneladas, alm de outros navios grandes da Companhia do Levante, de Londres, os
quais eram fortemente armados por causa dos azares do comrcio levantino. A
maioria de seus canhes era de ferro, poucos, de bronze. Como reserva de segunda
linha havia mais sete navios de guerra de cerca de cento e cinqenta a 200 t, alm dos
navios de escolta, de correio de para servio inshore, cerca de onze ou doze
embarcaes menores, como fragatas, alcanando cerca de 200 t ou menores, at de
apenas 25 toneladas, todas, porm, capazes de navegar no alto-mar. Exceto para as
galeras, os espanhis provavelmente no dispunham de tantos navios em comisso e
prprios para o servio em todas as guas volta da Espanha quela poca.) Tal fora
61
Pases Baixos, Nederlanden, que comearam em 1572 luta pela independncia da Espanha; estavam divididos; o sul,
catlico, deu na Blgica; o norte, protestante, resultou nas sete provncias unidas que tiveram o nome da mais
importante delas, a Holanda.
62
terceira bandeira a de um pas comerciante que no nem o comprador nem o vendedor das mercadorias, mas
apenas as transporta.
44
britnica deveria primeiro rumar para Flandres, onde seria reforada por 6.000
soldados. Depois disso, as tropas atravessariam o canal da Mancha em pequenas
embarcaes, com a proteo da Armada.
E os ingleses?
Eles no possuam exrcito considervel para obstar o desembarque em suas
terras insulares. Tinham, porm, ua Marinha que tomara forma sob Henrique VIII.
Os 34 navios da rainha foram acrescidos de mercantes armados e outros navios,
totalizando 197 belonaves, com 16.000 homens e 2.000 canhes.
A questo era, ento, cortar o intento espanhol no mar.
Manobrando com superioridade e evitando de toda forma a abordagem, em que
levariam desvantagem, empregando ainda canhes de maior alcance, os ingleses
impediram o xito dos espanhis.
No houve nenhuma grande batalha. Houve diversos encontros, todos
taticamente indecisos, mas que alcanaram um grande resultado estratgico: os
espanhis no desembarcaram na Inglaterra. Dando a volta nas ilhas Britnicas, j de
regresso ao reino, a Grande Armada perdeu cerca de metade de seus navios, dispersos
por tempestades, afundando no Atlntico ou caindo sobre rochedos costeiros.
Historiadores de tempos posteriores reconheceram que o catastrfico fracasso
da Armada marcou o incio do declnio da Espanha. A verdadeira situao no era to
evidente para os contemporneos. Felipe II perdeu ao mesmo tempo algum crdito
como defensor do catolicismo, enquanto a Inglaterra foi estimulada para as aventuras
do comrcio, da explorao e da colonizao, que, juntamente com o florescimento
das artes, marcam a era isabelina 40. Nem os ingleses nem os outros povos europeus
perceberam que a Espanha no era mais uma potncia de primeira classe, que os
metais preciosos da Amrica no eram uma riqueza em si nem produziam riqueza
duradoura, ou que o comrcio das ndias Ocidentais no era suficiente para
compensar a falta de indstrias e a pobreza de recursos naturais da Espanha. A
Espanha sobreviveu e at manteve algumas de suas colnias por mais trs sculos,
principalmente porque seus inimigos fracassaram em tirar proveito de suas fraquezas
inerentes.
O conflito anglo-espanhol tornou-se uma inconstante guerra de corso, em que
nenhum dos lados tomou medidas decisivas contra o outro. Ele somente terminou em
Alguns autores chamam de era elizabetana, porque no traduzem para o portugus o nome da rainha inglesa
Elizabeth I.
63
45
1603, com a morte da rainha Isabel e a ascenso ao trono de Jaime I, tambm rei da
Esccia e filho de Maria Stuart. Hipnotizado pelo mito espanhol, mais do que Isabel,
Jaime logo selou aliana com o inimigo da vspera. Fazendo isso, abandonou a luta
pela independncia dos holandeses e lanou as sementes para futuras hostilidades
entre a Inglaterra e a Holanda. 41
A Inglaterra havia sido salva pelo mar, como novamente o seria vrias vezes no
futuro, at o sculo XX. No entanto, refeita do desafio espanhol, ao qual respondeu
positivamente, a Inglaterra encontrou na Holanda uma grande concorrente.
Inglaterra e Pases Baixos (Holanda), eis a uma dupla que se favoreceu bastante
com o comrcio intra-europeu. Depois, alm da Europa, outros mares e outras terras
entraram nas transaes mercantis, at que, por incrvel que possa parecer, o mundo
comercial tornou-se pequeno demais para abrigar esses dos contendores.
Inglaterra e Holanda estavam voltadas para o mar e incrementaram suas
marinhas mercante e de guerra, vindo a dominar o trfego martimo, conforme
exposto no captulo precedente. O problema da terceira bandeira e o protecionismo
ingls traduzido no Ato da Navegao, de 1651, levou guerra duas das maiores
potncias martimas da Europa no sculo XVII. A travou-se a luta pelo mais amplo
uso do mar entre dois pases que j o utilizavam em grande escala. Sua economia era
martima em grande peso. Pode-se dizer que essa foi uma guerra em que o objetivo
era essencialmente martimo e as operaes navais no estavam associadas a algum
objetivo terrestre, como usual. Isso se pode dizer, porque geralmente as guerras
navais envolvem tambm objetivos terrestres, o que no foi o caso nas guerras angloholandesas do sculo XVII.
Vencido mais esse obstculo, a Inglaterra emergiu vitoriosa, em expanso
econmica, para enfrentar o mais custoso e pertinaz inimigos dos 150 anos seguintes:
a Frana.
O DESAFIO DA FRANA
41
46
47
42
A partir de 1707, com a unio definitiva das coroas da Inglaterra e da Esccia, passa-se a usar a denominao de Gr
Bretanha. O Reino Unido foi, em 1801, acrescido da Irlanda.
43
O bloqueio britnico era o elemento de conteno (holding element).
48
Logo no incio das guerras entre a Gr Bretanha e a Frana, Lus XIV percebeu
que esta ltima no podia manter ao mesmo tempo um poderoso exrcito e uma
marinha igualmente forte. Resolveu sacrificar o poder naval francs em favor de suas
ambies continentais. Privada, pois, de elementos adequados para vencer
regularmente o inimigo insular, a Frana apelou para a guerra de corso, cujo fim
desgastar esparsamente o comrcio martimo do inimigo. Sabe-se que o ataque ao
comrcio ocenico do inimigo operao dinamizadora da concepo estratgica da
guerra de corso.
Para a execuo dessa guerra irregular, o governo francs deu a hbeis capites
e at a piratas as famosas cartas de marca, pelas quais ficavam credenciados como
agentes oficiais para as atividades corsrias. Com isso, no apenas navios de guerra
eram destinados ao corso, mas tambm navios mercantes armados e navios piratas.
A guerra de corso a do mais fraco no mar; a histria assim o demonstra.
meio eficiente contra as rotas comerciais do inimigo, quando estas no podem ser
ameaadas pelas foras regulares. empregada, enfim, quando no se pode obter
decisivamente o domnio do mar (em ingls control of the seas).
Foi nesse clima de guerra corsria que o Rio de Janeiro recebeu as investidas
francesas de Duclerc em 1710 e de Renato Duguai-Troin (1673-1736) ocorrida em
1711. Este ltimo, particularmente, era dos mais famosos corsrios de seu tempo a
servio da coroa francesa. Veio ao Brasil logo aps Duclerc, continuando a atividade
do primeiro, por estar Portugal em guerra com a Frana, ao lado da Gr Bretanha, na
questo da sucesso do trono espanhol.
49
NAPOLEO
Na ltima dcada do sculo XVIII, a Frana foi agitada por uma grande
transformao que alcanou o mundo: a Revoluo Francesa. A princpio, a Gr
Bretanha olhou com benevolncia as transformaes ocorridas em Frana, pois tudo
parecia levar este pas para o caminho do governo constitucional, emergindo
finalmente do absolutismo em que permaneceu mergulhado durante tantos anos como
quase todas as potncias europias. Quando, porm, a Frana investiu militarmente
sobre outros pases europeus, a fim de estender os efeitos da Revoluo e ao mesmo
tempo defender-se, a Gr Bretanha deixou suas posio de simples espectadora para
uma posio mais ativa. Dentre os britnicos ilustres que perceberam virtudes no
movimento revolucionrio francs, que alcanaria o mundo, estava Toms Paine,
considerado pelos psteros como o revolucionrio da liberdade.
A ocupao de Anturpia (Blgica) pelos franceses foi o estopim da luta francoinglesa.
50
44
Guilherme Pitt, o mais moo (the younger). Guilherme Pitt, o mais velho (the elder), foi o da guerra dos Sete Anos.
A palavra bloqueio a equvoca. Os franceses chamaram de sistema continental, posto que bloqueio seria uma
operao naval, o que no era o caso.
45
51
aliana muito antiga com a Gr Bretanha, Napoleo mandou invadir o reino portugus
com tropas comandadas pelo general Junot.
Terminada a guerra com a batalha de Waterloo (na Blgica), a Europa
reorganizou-se para um novo perodo com o Congresso de Viena, de 1815. Todos os
povos ocidentais sofreram conseqncias de to importantes acontecimentos. Na
Amrica, processou-se a elevao do Brasil a Reino Unido com Portugal e Algarves
(este ltimo, tambm chamado Algarve, uma provncia ao sul de Portugal que, na
Idade Mdia, foi conquistada aos mouros), semente de um processo breve de
independncia. Tambm na Amrica espanhola logo houve um surto de movimentos
separatistas que em pouco tempo levou a coroa espanhola perda de suas colnias.
Era um mundo realmente novo o que surgia. A Revoluo Industrial prosseguia
em busca de novos mercados consumidores, enquanto a Marinha britnica emergente
como a mais poderosa do globo garantia para a Gr Bretanha um clima propcio a seu
desenvolvimento industrial e comercial: estabelecia-se, sombra do poderio naval, a
Pax Britannica.
52
53
prole). Tanto assim foi que Marx previra que os primeiros pases a se socializarem
seriam os de maior desenvolvimento industrial, a Gr Bretanha e a Alemanha, no que,
alis, errou completamente.
Importante, entretanto, considerar-se o modo pelo qual o mundo transformouse no sculo XIX e comeo do sculo XX, que mais nos interessa diretamente, como
se ver no captulo V.
54
Essa pequena esquadra foi reforada com a fragata Niteri, comandada por Joo
Taylor, e na qual estava embarcado Joaquim Marques Lisboa, o futuro marqus de
Tamandar.
No primeiro combate com a frota portuguesa, lorde Cochrane teve dificuldades
com a marujada lusitana engajada na esquadra brasileira. Restabelecida a disciplina,
os combates e escaramuas envolvendo 97 navios e 934 peas de artilharia prolongarse-iam at quando a esquadra portuguesa de 56 unidades rumou para Lisboa.
Essa esquadra portuguesa foi perseguida pelos navios Dom Pedro I, Maria da
Glria e Niteri. Esta ltima fragata, sob o comando de Taylor, levou a perseguio
at a foz do rio Tejo, onde ostentou a bandeira brasileira em 12 de setembro de 1823.
Em Belm, o convite de Jos Bonifcio em nome de dom Pedro I para que a
Amaznia se reunisse s demais unidades na composio do Imprio tinha sido
repelido pela junta governativa que se manteve em subordinao administrativa e
poltica a Portugal.
No Maranho, os patriotas se apossaram da vila de Itapicuru Mirim, em
13/03/1823, mas a frota portuguesa que deixara a Bahia havia destacado navios que
desembarcaram tropas lusas em So Lus, reforando o poder da junta governativa
subordinada a Portugal.
A 26 de junho desse mesmo ano de 1823, a esquadra brasileira fundeou na baa
de So Marcos. Lorde Cochrane intimou a junta presidida pelo marechal Faria a
declarar-se imediatamente pela independncia, pondo o porto e adjacncias sob
bloqueio. No dia seguinte, 27, a bordo do navio capitnia, a junta aceitou promover
no palcio do governo a cerimnia de juramento de fidelidade ao imperador.
Com a notcia dos acontecimentos de So Lus, as cidades do interior cujos
governantes subordinados ao governo lusitano resistiam aos patriotas brasileiros,
comearam a se entregar, formando governos nacionais. Em Caxias, a cerimnia de
fidelidade independncia aconteceu em 7 de agosto de 1823.
Lorde Cochrane foi generoso com os portugueses, permitindo aos militares que
no desejassem servir ao Imprio e aos civis que no quisessem permanecer no
Maranho seu repatriamento a Portugal, proporcionando-lhes um navio para esse fim.
Entretanto, lorde Cochrane foi firme nas exigncias necessrias para consolidar
a independncia. Os navios portugueses foram declarados presas de guerra, bem como
56
57
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59
Ainda assim, a bandeira que se arvorou a bordo era brasileira, como brasileira
era a causa e brasileiros foram os recursos e a vontade com que se fez a
Independncia.
Os polticos compreenderam a necessidade da Marinha. O povo entendeu a
gravidade da situao e aderiu prontamente soluo martima para o problema
nacional. A Marinha correspondeu altura da confiana nela depositada e garantiu a
integrao nacional.
Agora, passados quase 200 anos, preciso voltar de novo ao mar e nele buscar
fonte de progresso, de bem-estar e de segurana, continuando a salvaguardar no
apenas a independncia poltica, mas a autonomia econmica e os direitos a crescer
como potncia que nasceu de uma gesta martima, e no mar poder ter o
desenvolvimento que, em nossos dias, o novo nome da paz (como disse o papa
Paulo VI ao discursar perante a Assemblia Geral das Naes Unidas em 1966).
60
NA MARINHA MERCANTE
61
62
A REAO DA VELA
Em meio aos primeiros passos do vapor, a marinha a pano atingiu seu clmax.
Em 1845, apareceu nos Estados Unidos da Amrica o primeiro clipper, belo
navio a vela, de casco longo e fino, com enorme superfcie vlica, que lhe permitia
atingir alta velocidade. Em 1851, apareceu o Flying Cloud, o mais belo e mais rpido
veleiro de todos os tempos.
O clipper atravessava o oceano Atlntico em cerca de 14 dias; fazia a ligao
entre Nova York e So Francisco via cabo Horn, extremo sul da Amrica do Sul, em
63
89 dias. Esse tipo de navio foi amplamente usado no transporte de ch da ndia para a
Europa. Dessa rota, pelo cabo da Boa Esperana, eles desapareceram completamente
depois da abertura do canal de Suez, em 1869. Os clippers do cabo Horn ainda
sobreviveram at o sculo XX, sendo hoje apenas uma magnfica lembrana da vela
sobre o mar.
Entretanto, o vapor prosseguia seu desenvolvimento, procurando afirmar-se
cada vez mais.
OS GRANDES NAVIOS
46
64
VELA X VAPOR
65
E o pessoal apto para conduzir a mquina? Ter-se-ia que formar gente nova
nesse campo.
Um navio mercante poderia sofrer avarias nas mquinas, e o pior que lhe
poderia acontecer seria um atraso na entrega da mercadoria ou no desembarque dos
passageiros, ainda que com prejuzo para as partes envolvidas.
O navio de guerra, porm, se sofresse avarias teria prejudicada a presteza no
ataque e na defesa militar. E as mquinas ainda no ofereciam a desejada segurana.
No! Pensava-se que o vapor no se coadunava com a guerra no mar. Era de
difcil conduo, inseguro, alterava consideravelmente todo o sistema logstico
consagrado havia tanto tempo. As velas estavam incorporadas ao esprito marinheiro
desde as origens do navio. Com o vapor, onde elas ficariam? Desapareceriam, por
certo.
O navio ficara feio.
As rodas-de-ps laterais no eram apenas feias. Eram tambm vulnerveis. Se
fossem atingidas (e ficavam to expostas!) o navio perderia a mobilidade e poderia ser
facilmente afundado pelo inimigo. No apenas isso, mas as rodas-de-ps laterais ainda
tiravam muito espao dos bordos para a colocao de canhes, pois a artilharia da
poca era disposta pelos bordos. Isso implicava na reduo do poder de fogo dos
navios, ou seja, de seu poder ofensivo.
No! O vapor no era tido como coisa para a guerra.
No entanto, os espritos conservadores no dominaram completamente. Embora
com bastante parcimnia, as marinhas comearam a construir alguns navios de vapor
para a guerra.
O Brasil adquiriu na Gr Bretanha, em 1825, a primeira unidade a vapor para
sua Marinha de guerra, a barca Correio Imperial, um navio auxiliar. Em dezembro de
1847, foi lanado ao mar na Inglaterra o primeiro navio de combate a vapor que o
Brasil teve, a fragata Dom Afonso, com rodas laterais.
Com a inveno do hlice em 1836, pelo ingls Francisco Smith e o sueco Joo
Ericson, as questes foram mudando. Os inconvenientes das rodas-de-ps
desapareceram. A vulnerabilidade da prpria mquina em relao ao inimigo tambm
diminuiu quando passou a ser construda sob a linha dgua, onde ficava mais
protegida.
66
Para tomar o forte de Kimburn, Napoleo III mandou construir cinco baterias
flutuantes dotadas de proteo de ferro (couraa). Destas, trs (Lave, Tonnante e
Dvastation) tomaram parte no assalto, com grande xito. Bombardearam duramente
a fortaleza e quase no sofreram danos materiais. Isso chamou a ateno de todas as
marinhas do mundo para o valor da couraa.
Em 1859, os franceses lanaram ao mar a fragata Gloire, de madeira mas dotada
de couraa. Foi o primeiro navio propriamente couraado que apareceu. No ano
seguinte, sob presso da opinio pblica, o Almirantado britnico lanou ao mar o
Warrior, couraado com o casco todo de ferro.
Foi, porm, na guerra de Secesso dos Estados Unidos da Amrica (1861-1865)
que se firmou a importncia do navio encouraado.
No combate de Hampton Roads, em 1862, defrontaram-se dois navios de
couraa: a fragata confederada, sulista, Virginia (ex Merrimac) e o navio novo
federal, nortista, Monitor, aquele com os canhes dispostos em casamata, enquanto
este possua uma torre giratria. A Merrimac tinha borda alta, toda fechada. O
Monitor tinha o convs ao nvel dgua, sem borda livre. A luta durou mais de duas
horas, em que esteve prova a resistncia das novas protees, tendo sido o primeiro
combate entre navios encouraados na histria. O resultado ttico foi indeciso, tendo
o Monitor se retirado e a Virginia regressado para a cidade de Norfolk. O fim dos dois
navios foi difcil: a Virginia foi destruda em 09/05/1862, quando de um ataque
federal a Norfolk, obrigando os confederados a se retirarem da cidade. O Monitor foi
a pique numa tempestade ao largo do cabo Hatteras, no fim de 1862. Essa terrvel
guerra de Secesso mobilizou 1.557.000 soldados do Norte e 1.082.000 do Sul. Os
federais (nortistas) tiveram 359.528 mortos e os confederados (sulistas) tiveram
258.000 mortos.
67
O Monitor viria a consagrar a torre giratria e deu nome a toda uma classe de
navios ainda existente e que teve pleno uso na guerra do Vietn (1961-1972).
No Brasil, a oficialidade estava a par das grandes modificaes que ento
ocorriam no mundo. Nossas dificuldades na produo energtica implicavam na
importao do carvo, o que onerava bastante a operao dos navios a vapor. O
emprego dos navios mistos (a vapor e a vela), porm, que ainda se fazia em grande
escala pelos mares, foi um recurso bastante usado aqui. Os ministros da Marinha
freqentemente recomendaram aos comandantes de navios que, nos cruzeiros ao
longo da costa, apenas usassem o pano, empregando o vapor somente nos casos de
manobras ou quando a necessidade assim o exigisse.
O navio encouraado estava consagrado depois de Hampton Roads. O estrago
feito pela Virginia nos navios de madeira que estavam no ancoradouro 47 mostrou que
a madeira era impotente contra o ferro.
No Brasil, a ltima grande batalha naval com navios de madeira foi a do
Riachuelo, em 1865. Esta tambm foi a primeira batalha naval no mundo em que s
se usou vapor48.
O navio encouraado fez sua apario no Brasil durante a Guerra do Paraguai
(1864-1871), por necessidade ttica e estratgica do teatro de operaes. Os rios
paraguaios estavam poderosamente defendidos pelas fortalezas e demais posies
armadas por Solano Lpez. Para venc-las era preciso contar com navios
encouraados. O governo imperial encomendou navios encouraados na Frana e na
Inglaterra, ao mesmo tempo que mandou constru-los aqui, no arsenal de marinha da
Corte, hoje Rio de Janeiro. O primeiro navio dotado de couraa que possumos foi a
corveta Brasil, de 1864. Durante a guerra do Paraguai chegamos a possuir 17 navios
encouraados, dos quais 6 monitores, alm de corvetas e fragatas.
47
Na vspera do combate com o Monitor, a Virginia atacou cinco navios federais (nortistas), destruindo dois e pondo os
restantes em fuga.
48
Em Riachuelo, os navios brasileiros, construdos para operarem no mar, possuam mastreao para vela; na batalha,
porm, s se usou o vapor.
68
49
Obras vivas so a parte do casco de um navio que est sempre sob a gua. Obras mortas so a parte sobre a gua.
69
por John P. Holland e Simon Lake, dos Estados Unidos, Nordenfeldt, da Sucia,
Garret, da Inglaterra, e Isaac Peral, da Espanha. A Frana tomou a chefia do
movimento com os submarinos Gymnote, Gustave Zed e Narval, bem como com
suas flotilhas de pequenos Goubet eltricos. Mas o Holland, adotado pela Marinha
Americana em 1900, devido ao construtor John P. Holland, tido geralmente como o
prottipo do submarino moderno, que, hoje em dia, impulsionado por um potente
reator atmico e armado com msseis balsticos, ameaa tornar-se o autntico navio de
guerra do futuro prximo.51
No Brasil, nossos primeiros submarinos vieram em 1913, construdos na Itlia,
os famosos classe F (F 1, F 3 e F 5).
50
Em Hampton Roads (1862), o Merrimack era dotado de esporo, mas no conseguiu empreg-lo contra o Monitor,
embora na vspera tivesse afundado a fragata Cumberland com um embicamento. Em Riachuelo, Barroso empregou
essa ttica, mas a Amazonas no tinha esporo.
51
CANBY, Courtlandt, obra citada na bibliografia, p. 96.
70
52
71
72
A CORRIDA COLONIAL
73
impediram
duramente
sua
independncia,
perseguindo
53
Cf. O almirante Harold R. Cox: um notvel oficial da Marinha do Brasil (1892-1967); lembrado por seus amigos,
colegas e admiradores. Rio de Janeiro: Grfica Editora do Livro, 1973.
77
AS ESTRATGIAS OPONENTES
78
oriental com linhas de trincheiras ao longo do Imprio russo, desde o mar Bltico at
o mar Negro, seria preciso tentar uma deciso no mar.
At a, no entanto, qual tinha sido o pensamento ingls?
Poderia a Gr Bretanha adotar a concepo estratgica das trs primeiras
grandes coligaes contra Napoleo, essencialmente martima, ou a da quarta grande
coligao, que levou os soldados ingleses ao continente para a batalha de Waterloo?
S que, na ltima grande coligao, no havia mais inimigo no mar. A batalha
de Trafalgar, de vitria britnica, liquidara com a ameaa martima francesa. Agora,
os britnicos tinham um inimigo tambm forte no mar. No bastaria apenas o
bloqueio, nem seria acertada uma estratgia preponderantemente terrestre.
A Frana aliara-se Gr Bretanha. Para ela era interessante contar com o
reforo ingls no continente para que no tivesse que bater-se sozinha na frente
ocidental. Sozinha, de qualquer modo no haveria de ficar, j que a neutralidade da
Blgica havia sido violada e os belgas, sob o comando de seu enrgico soberano, o rei
Alberto I, combateram bravamente ao lado dos franceses e dos ingleses.
Formaram-se logo duas correntes de pensamento estratgico. Uma liderada por
lorde Kitchener, conde de Cartum, veterano soldado ingls, sexagenrio, cuja voz se
fazia ouvir com grande acatamento no gabinete de guerra britnico. Era Lorde
Kitchener favorvel estratgia direta, isto , ao desembarque de tropas no
continente, para lutarem ao lado dos franceses. O emprego da Royal Navy seria
secundrio, de carter defensivo, para manter abertos os portos ingleses e garantir o
comrcio martimo.
A outra corrente era liderada pelo almirante baro Fisher de Kilverstone. Lorde
Fisher encontrava no emprego da Esquadra britnica a chave do xito para a grande
luta. Dever-se-ia empreg-la ofensivamente, obrigando a Esquadra alem a um
encontro decisivo. Depois de liquidada a ameaa martima, ento poder-se-ia fazer um
desembarque no Bltico, por onde se chegaria mais facilmente a Berlim. Fisher via a
grande ameaa que a Marinha alem causava aos interesses ingleses. O tempo lhe
daria razo, quando da terrvel campanha submarina irrestrita.
Prevaleceu o ponto de vista de Kitchener, para contento dos franceses.
79
80
Quando, depois de empregarem at navios novos como foi o caso dos superdreadnoughts classe Queen Elizabeth o que resultou no pedido de demisso de
Lorde Fisher, os aliados decidiram usar tropas de terra, j sendo tarde demais.
Uma das margens do estreito de Dardanelos era na pennsula de Galpoli, onde
o desastre foi completo. Tudo aconteceu ao contrrio do que se pretendia. A Turquia
(Imprio Otomano) fortaleceu-se e a Bulgria entrou na guerra a favor das potncias
centrais. Churchill deixou o Gabinete de Guerra ingls, o mesmo acontecendo com o
primeiro-ministro Asquith. Kitchener morreu antes de ser demitido.
Tudo porque se empregou erradamente o poder naval. Tudo porque os
partidrios de uma rgida estratgia terrestre no quiseram abrir mo de suas
convices. O mau emprego dos navios resultou numa custosa lio.
81
estimativa alem
registro
536.334 t
54
Esses nomes se explicam porque a batalha tanto se deu ao largo da pennsula da Jutlndia (Dinamarca continental)
como ao norte de mar do Norte, em frente ao estreito de Skagerrak).
82
fevereiro
781.500 t
maro
885.000 t
603.440 t
abril
1.091.000 t
875.023 t
maio
869.000 t
594.654 t
junho
1.016.000 t
684.667 t
julho
811.000 t
549.047 t
mdia mensal
908.917 t
680.628 t
Tal situao apresentou-se gravssima para os britnicos. Havia, porm, uma
soluo preconizada pelos oficiais mais jovens do Almirantado.
Por estudos feitos, conforme acima mencionado, verificou-se o seguinte: o
trfego no canal da Mancha, realizado em comboio, trazia o ndice de apenas 5
afundamentos em 2.600 viagens, o que significa apenas 0,19 % de perdas; nas viagens
para a Noruega, com o uso de comboio, as perdas eram da ordem de 0,24 %, enquanto
que sem comboio elevavam-se a 25 %. Tais resultados induziam ao uso do comboio
como medida geral a ser adotada para o trfego martimo durante a guerra. O
Almirantado britnico, contudo, reagia idia, fundamentando-se em argumentos
aparentemente razoveis como:
a)
perda de navios;
d)
83
84
85
comandada pelo vice-almirante Pedro Max de Frontin. No total, eram oito navios: os
cruzadores Rio Grande do Sul e Bahia, os contratorpedeiros Piau, Paraba, Santa
Catarina e Rio Grande do Norte, tnder Belmonte e rebocador Laurindo Pita. Na rota
para a frica (Dacar), a diviso naval realizou ataques a submarinos. De Dacar, os
navios partiram para Gibraltar, a fim de patrulharem aquelas guas, onde pouco
tempo antes um navio britnico foi afundado por ao de submarino inimigo. Tais
operaes de patrulhamento no chegaram a completar-se, pois a 11 de novembro de
1911 o armistcio foi assinado.
Em seu conjunto, a guerra foi muito violenta tanto no mar como em terra.
Diferente de tudo o que j houvera at ento, o conflito surpreendeu estrategistas e
tticos com as novidades que apareceram. De europia ela tornou-se mundial, ao
longo de todos os meridianos. Envolveu a Europa, a Amrica e o Oriente, onde o
Japo, que emergia como potncia, imps condies ao kaiser.
O fim da guerra assinalou tambm o comeo do declnio ingls, e dali a duas
dcadas a Royal Navy deixaria de ser a maior do mundo, sendo mais tarde superada
pela Marinha norte-americana, a USNavy, correspondendo esta ao crescimento
impressionante dos EUA.
guerra
eclodira,
finalmente.
Era
caminho
natural
de
tantos
desentendimentos. Dir-se-ia mais tarde que aquele conflito foi uma continuao do
primeiro. Uma diferena era fundamental: a guerra de 1914 estava calcada
nitidamente sobre feroz concorrncia internacional, em termos puramente
econmicos. Quase tudo girava em torno de acirrada disputa de mercados, no que a
Alemanha foi a grande concorrente da Gr-Bretanha. Era o gran finale da corrida
colonial. Em 1939, embora persistissem motivos econmicos, sobretudo geopolticos,
havia indisfarvel e at gritante acento ideolgico na contenda. A exacerbao de
caractersticas de raa, o desejo de vingana e a subestimao da capacidade de outros
povos estavam mesclados com os demais motivos que levaram a Alemanha enorme
guerra.
88
A ESTRATGIA ALEM
89
A GR-BRETANHA
A Gr-Bretanha mais uma vez apelou para seu poder martimo. Tanto quanto
em 1914, para ela eram vitais as linhas de comunicao no mar. Dessa vez, porm, o
inimigo era muito mais fraco nos mares.
Os britnicos, aliados dos franceses, desembarcaram tropas no continente
europeu. A queda da Frana, em junho de 1940, f-los regressar ilha depois da
tristemente famosa retirada de Dunquerque.
A Gr-Bretanha estava s, enquanto um novo inimigo surgia, aproveitando-se
da desgraa francesa: a Itlia. Embora sem ser grande potncia militar, a Itlia tinha
uma boa marinha de guerra, com navios modernos e oficiais competentes. Sua entrada
no conflito veio alterar substancialmente a situao do mar Mediterrneo, agravada
com a defeco da Frana. Passou a caber Gr Bretanha a defesa do Mediterrneo.
Em que este mar poderia interessar aos ingleses? Acima de tudo por causa do
canal de Suez. Atravs do mar Mediterrneo fluam os interesses ingleses ligados ao
Extremo Oriente e ao Oriente Mdio, este o principal fornecedor de petrleo para a
Europa Ocidental. Os britnicos no se haviam descurado. Mantinham posies na
91
A CAMPANHA DO ATLNTICO
92
xito atravs do Oceano Atlntico, ao mesmo tempo que muitas outras centenas de
milhares de viagens se realizaram sem dano nas guas costeiras da Gr-Bretanha.
Tais dados motivam-nos a crer na importncia das comunicaes martimas e na
necessidade de proteg-las. Da a relevncia do controle do trfego martimo. Foi
dentro de todo esse esquema, na defesa da navegao mercante dos Aliados, que se
empenhou a Marinha do Brasil na campanha do Atlntico.
94
Duarte, Paulo de Queiroz. Dias de guerra no Atlntico Sul. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Editora, 1968,
p. 128-130
96
este ltimo pouco aps a guerra, quando participava da proteo, no Atlntico, das
tropas norte-americanas que regressavam da Europa, desaparecido vtima de terrvel
exploso acidental. A Marinha mercante perdeu um total de 33 navios, afundados ao
correr do conflito.
NO OCEANO PACFICO
97
capacidade
industrial
norte-americana,
embora
esta
fosse
menosprezada por muitos chefes japoneses. Contudo, por medida de segurana, o primeiro
golpe nos EUA deveria ser fatal, de modo a faz-los desistirem de prosseguir na guerra. Da
a violncia do ataque a Pearl Harbor (Porto Prola) em dezembro de 1941, com a inteno
de destruir o grosso da Esquadra do Pacfico, encouraados e navios-aerdromos,
principalmente estes ltimos. Pretendia-se que, com tal golpe, os norte-americanos
98
Por sua imensido, o oceano Pacfico trouxe dificuldades nunca antes enfrentadas
pelas marinhas nas guerras navais. A mais caracterstica de todas elas foi o apoio a ser dado
s esquadras em to longas distncias, fora de suas bases. A soluo norte-americana foi a
criao do trem da esquadra (maintenance fleet), isto , um grupo de navios portadores
de sobressalentes, combustvel, oficinas especializadas para reparos etc.
Outra questo foi o desenvolvimento, em elevado grau, das doutrinas anfbias, para o
desembarque nas diversas ilhas daquele oceano.
Outro aspecto marcante da guerra no Pacfico foi a afirmao do navio-aerdromo
como navio capital, logo aps a batalha de Midway (1942).
Sustentam os estrategistas, dentre eles Bernard Brodie, com justa razo, que no se
pode falar em domnio do mar no oceano Pacfico, em face da extenso de sua rea. A
Segunda Guerra Mundial exemplificou bem isto, vendo-se constantemente a ao da
Esquadra japonesa, do comeo ao fim do conflito, apesar da investida constante da esquadra
norte-americana.
At a campanha submarina, por parte do Japo, assumiu a aspectos particulares. Ao
contrrio dos alemes, que atacavam a navegao mercante, os japoneses visavam destruir
os navios de guerra inimigos. Com isto, pretendiam poupar sua prpria Esquadra de ataques
de navios norte-americanos.
O FIM DA GUERRA
1945 marcou, de modo diferente, o fim do conflito nas duas metades do planeta:
Ocidente e Oriente. Na Europa, a Alemanha foi vencida em terra, porque no teve
condies de lutar no mar. Empregando estratgia eminentemente terrestre, a Alemanha foi
vencida em terra. No conseguiu sequer atravessar o canal da Mancha, apesar do enorme
99
desgaste que abateu sobre os Aliados a campanha submarina do Atlntico, que, por ser
corsria, passou tambm o atestado de fraqueza da Marinha alem. O poder martimo aliado
manteve, com todas as dificuldades, as necessrias comunicaes entre a Europa e a
Amrica. At mesmo quando foi precarssima a situao martima da Gr Bretanha no
Mediterrneo, em 1942, os alemes no souberam tirar proveito disso, juntamente com os
italianos. Naquele mesmo ano, no Ocidente, o Eixo sofreu sua pior derrota, a campanha da
Rssia, exatamente como Napoleo, 130 anos antes.
No Oriente, o inimigo foi vencido no mar. Potncia martima de muitos louros, ilha
de situao estratgica bem prxima daquela da Gr Bretanha, o Japo teve suas rpidas e
brilhantes vitrias militares na primeira fase da guerra graas ao uso adequado de seu poder
martimo. Quando sua Esquadra no foi mais capaz de arrostar a Esquadra norte-americana,
quando lhe faltaram os meios de proteger sua marinha mercante nas importantssimas linhas
martimas entre as fontes de matrias primas e a metrpole japonesa, o Japo comeou a
sentir o sabor da derrota.
A terra venceu-se pela terra. O mar venceu-se pelo mar. Argumenta-se, entretanto,
com razo, que duas foram as causas principais da derrota alem: a guerra em duas frentes e
a falta de ua marinha poderosa. O primeiro caso, entretanto, liga-se prpria geopoltica
alem, como visto antes; o segundo caso deve-se negligncia e ao pouco caso dos que,
voltados exclusivamente para a terra, no tm a verdadeira dimenso do que pode significar
o mar, tanto na paz, para o progresso e o desenvolvimento, como na guerra, quando menos
para a defesa dos mais caros ideais do homem.
100
102
encontradas para justificarem o custo de construo de dois molhes convergentes, infraestrutura porturia e vias internas correlatas.
O acesso ao mar, limitado pelos bancos de areia onde se sondava cerca de 2,20 m em
baixa-mar, tinha limitaes mais ou menos como as de hoje. Navios de 2.000 tpb atingiam
Penedo, a 42 km do mar, onde o nvel do rio variava anualmente segundo uma amplitude
mdia da ordem de 6,5 metros.
No mdio So Francisco, entre os plos de desenvolvimento de Juazeiro e Pirapora, a
navegao era feita com as limitaes naturais vencidas pelas canoas dos autctones de
antes do descobrimento.
Foi, portanto, com grandes esperanas instituda em 1948 a Comisso do Vale do So
Francisco que, buscando inspirao na Tenesee Valley Authority, criada pelo presidente
Franklin Delano Roosevelt, propunha-se a promover o desenvolvimento integral do vale do
So Francisco, aplicando os recursos previstos no dispositivo constitucional.
Nos Estados Unidos da Amrica, o presidente Harry Truman promovia a criao de
uma fora ocidental para se opor ao clima gerado pela Guerra Fria, surgindo a Organizao
do Tratado do Atlntico Norte OTAN. Uma nova poltica em relao aos pases latinoamericanos era instituda incentivando o congraamento pan-americano, do qual resultou a
criao da Organizao dos Estados Americanos (OEA), cujo texto institucional define seu
objetivo de incentivar e auxiliar a proteo mtua das naes do hemisfrio.
Com a finalidade de coordenar defesa do projeto de oramento de 1949, o governo do
presidente Dutra apresentaria um plano sob a sigla SALTE, propondo medidas nas reas de
sade, alimentao e transporte, donde a sigla.
Nesse plano, entre as medidas de interesse direto da poltica martima, situava-se a
construo de uma srie de petroleiros que iriam formas a Frota Nacional de Petroleiros
FRONAPE.
De incio, foram adquiridos os barcos SALTE de 1.000 tpb, a seguir encomendados
no Japo navios costeiros de 2.000 tpb, e na Europa os de longo curso entregues para
operao em 1951/1952, com tonelagem entre 16.000 e 17.000 tpb por unidade.
O plano SALTE propunha tambm a construo de navios exclusivamente para o
transporte de passageiros.
A aviao pioneira de Alberto Santos Dumont havia sido transferida para o Brasil por
iniciativa da Marinha, que iria criar a Aviao Naval (1916), logo seguida pela Aviao
103
Militar, e seu emprego comercial j contaria com a empresa brasileira Viao Area
Riograndense VARIG.
At aquela poca, o transporte bsico de passageiros no Brasil era feito em navios
mistos encaminhados de e para o interior por meio de conexo desorganizada com o
transporte ferrovirio e com as primeiras linhas de nibus interestaduais no Centro-Sul.
O desenvolvimento das foras areas durante a Segunda Guerra Mundial dera um
grande impulso construo aeronutica mundial. Cuja indstria, reconvertida para a
produo de tipos comerciais, contribuiu para uma proliferao de novas companhias que,
em todo o mundo, vinham conquistando o mercado de passageiros das companhias de
navegao.
As bases areas implantadas no Norte e no Nordeste do Brasil com as amplas
caractersticas adequadas ao transporte de foras para a ocupao do Norte da frica
deixava, subitamente, na desmobilizao, uma infra-estrutura montada para o uso da
aviao comercial, concorrendo com a infra-estrutura porturia obsoleta e sem instalaes
adequadas para o desembarque confortvel de passageiros.
No Brasil, o transporte de passageiros em navios mistos passou a ser efetuado com
prejuzo. Visando eliminar esse inconveniente, projetou-se a construo de trs navios
exclusivamente para passageiros, com especificaes simples, condizentes com a execuo
da linha Porto Alegre a Belm, com servios hoteleiros confortveis, porm sem padres de
luxo.
O esgotamento dos recursos em divisas, obtidos durante o conflito mundial, teve seu
processo concludo por uma poltica de liberao da importaes provocada por um temor
de que a situao internacional degenerasse em novo conflito de grandes propores.
As condies que, em 1948, tornavam-se mais sombrias ao ser estabelecido o paralelo
38 dividindo a Coria, viriam, entretanto, provocar uma alta do preo do caf, que
continuava como mercadoria lder no processo de obteno de divisas para o pas.
Com o propsito de criar condies para eliminar obstculos ao fluxo de
investimentos, pblicos e particulares, estrangeiros e nacionais, necessrios para promover
o desenvolvimento econmico do pas, foi assinado, em dezembro de 1950, um acordo
entre os governos brasileiro e norte-americano, organizando uma Comisso Mista BrasilEstados Unidos para o desenvolvimento econmico, a fim de executar os estudos e
apresentar as sugestes necessrias aos propsitos do acordo.
104
105
106
107
108
109
NOVAS PERSPECTIVAS
Entre 1910 e 1945, o Brasil adquiriu diversos navios para sua Marinha, alguns tendo
sido construdos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; diversos outros foram
encomendados no exterior. No houve, entretanto, um programa contnuo de construo
naval nesse perodo.
110
Durante a guerra, o Brasil recebeu ainda, por acordos internacionais, alguns navios
que vieram reforar sua Esquadra.
No perodo ps-guerra, recebemos ainda outros navios que, junto com os recebidos
durante o ltimo conflito, vieram substituir os velhos navios remanescentes da Primeira
Guerra Mundial, inclusive os dois grandes encouraados Minas Gerais e So Paulo.
Entre 1950 e 1956, diversos navios foram adquiridos na Europa e nos Estados Unidos
da Amrica, particularmente corvetas, de longo tempo de servio ativo.
Apesar das tentativas de modernizao das foras navais, por meio da renovao dos
meios flutuantes, a Marinha no logrou contar com um plano de construo naval que, a
longo prazo, lhe garantisse a substituio de suas unidades antigas.
Apenas em 1967 o presidente da Repblica decidiu sobre o Programa de Construo
Naval, que era objeto de estudos na Marinha desde 1965.
As pretenses da Marinha foram, contudo, reduzidas, como se v na comparao dos
quadros I e II a seguir.
QUADRO I
111
navios-patrulha
50
navios-patrulha fluviais
5
navio-hidrogrfico
1
navio-faroleiro
1
navios-balizadores
10
navio-tanque
1
rebocadores
20
navio de salvamento de submarino
1
navio de salvamento
1
QUADRO II
tipos
quantidade
fragatas
10
contratorpedeiros
4
112
submarinos
4
navios-varredores costeiros
12
navio-doca
1
navios-patrulha
10
navios-patrulha fluviais
5
navio-tanque
1
navio-faroleiro
1
navio de salvamento de submarinos
1
lanchas-patrulha
6
lanchas-hidrogrficas
6
rebocador de esquadra
1
navios-balizadores
4
113
navais. As fragatas a serem construdas no Brasil tiveram suas quilhas batidas em junho de
1972.
Assim, com navios modernos, com elevado ndice de automao, construdos
especialmente para atender s necessidades da Marinha, o Brasil renovou sua Esquadra,
municiando-se de meios necessrios para cumprir sua misso, garantindo a plena soberania
de nosso pas no mar, que precisamos e devemos usar.
Posteriormente, na transio dos sculos XX para XXI, a Marinha do Brasil adquiriu
na Gr Bretanha fragatas j usadas, mas em condies de emprego, assim como conseguiu
fortificar sua Aviao Naval (de 1916), incorporando aeronaves de asas fixas a reao,
adquiridas no Oriente Mdio. Nossos pilotos foram instrudos e treinados na Argentina e
nos Estados Unidos da Amrica, podendo operar os novos avies a partir do recentemente
adquirido navio-aerdromo So Paulo (ex Foch da Marinha francesa), que substituiu o
antigo Minas Gerais (ex Vengeance, da Royal Navy).
A RODA VAI GIRANDO57
O navio de madeira tinha conduzido a guerra nos mares durante mais de dois sculos.
O encouraado pesado apenas conseguiu manter sua supremacia durante cinqenta anos.
Qual teria sido o nico e verdadeiro inimigo? A marcha do progresso, que quebra a
associao de idias j concebidas, pois nunca houve nas grandes questes martimas, como
em qualquer outro assunto, uma poca de aperfeioamento mais rpido do que na primeira
metade do sculo XX.
No entanto, durante certo tempo, o navio de guerra ficou como a expresso suprema
do poderio nacional, no apenas para as potncias navais clssicas da Europa, mas tambm
parra as novas naes em ascenso, como os Estados Unidos da Amrica, o Japo e a
Alemanha, cujas vitrias no mar anunciaram pela primeira vez que o equilbrio das foras ia
ser quebrado. Deste modo, em 1898, os Estados Unidos da Amrica, com sua esquadra
incipiente, triunfaram facilmente das Espanha, em guas ocidentais e, em 1905, os
japoneses, que j tinham mostrado 10 anos antes seu poderio martimo numa guerra curta
com a China, puseram em xeque as ambies orientais dos russos numa grande batalha
naval no estreito de Tsushima. Os navios japoneses de Tsushima eram, em sua maioria, de
construo britnica, visto que a Gr Bretanha se mantinha a senhora incontestvel dos
57
Leitura do livro de Canby, Courtlandt. Ob cit. cap. 6, p. 99s. com pequenas adaptaes ortogrficas e lingsticas.
114
mares. No ano seguinte, o Dreadnought britnico, com seus canhes de 12 polegadas e sua
velocidade de 21 ns, superara todas as outras belonaves e inaugurava a corrida dos
armamentos que deveria conduzir Primeira Guerra Mundial.
Desde 1914 que a Alemanha, nova potncia naval, tinha comeado a ameaar a Gr
Bretanha com uma Esquadra de Alto Mar (Hoch See Flotte) que era considerada a segunda
do mundo. Alm disso, no decorrer dos primeiros anos de guerra, enquanto os exrcitos se
atolavam na frente ocidental, tornou-se evidente para muitos espritos que a deciso teria
que ser tomada no mar. As Esquadras francesa e britnica mantinha um precrio domnio
nos oceanos, encerrando a Alemanha num bloqueio que ela seria obrigada a quebrar caso
no quisesse perder a guerra. A batalha da Jutlndia, em 1916, ps frente a frente, no mar
do Norte, as duas Esquadras mais poderosas do mundo, mas, no obstante todas as perdas
sofridas pelos britnicos durante esse combate, no conseguiram afrouxar o n corredio
britnico. No ano anterior (1915), os ingleses desesperando de romper a frente ocidental,
tinham tentado atacar a Alemanha pelo flanco, organizando um ataque anfbio nos
Dardanelos. Ambas as operaes falharam e a partida continuava empatada. Como poderia
a Alemanha quebrar o cerco? A nica resposta possvel estava no submarino.
O submarino, utilizado pela primeira vez pelos alemes no mar alto, j tinha mostrado
suas possibilidades, ao afundar, em 1914, trs cruzadores britnicos com suas tripulaes, e
ao torpedear, em 1915, o paquete Lusitnia, o que muito contribuiu para envenenar as
relaes com os Estados Unidos da Amrica. Em 1917, as perdas aliadas ascendiam a meio
milho de toneladas por ms.
No entanto, a partir de 1918, com a entrada dos Estados Unidos da Amrica na guerra
e, ao mesmo tempo, a reorganizao do sistema de comboios, o vento comeava a virar.
A Segunda Guerra Mundial foi frtil em surpresas. O navio-aerdromo destronou
irrevogavelmente o encouraado. No princpio das hostilidades, os ingleses perderam o
Royal Oak, torpedeado por um submarino e, mais tarde, no Pacfico, duas belas unidades, o
Prince of Wales e o Repulse, destrudas por avies japoneses. Os alemes tinham construdo
maravilhosos e modernos vasos de guerra: Graf Spee, Bismarck, Scharnhost, Gneisenau, e
Prinz Eugen, mas, depois de alguns ataques mortferos contra as unidades aliadas, foram
reduzidos impotncia, a partir de 1942. Os franceses no tiveram possibilidades de utilizar
sua Esquadra, que renascia. Parte dela foi, em 1940, impiedosamente destruda pelos
ingleses em Mers el Kbir, tendo quase todo o resto afundado por vontade prpria em
Toulon, em 1942, para evitar que casse nas mos dos inimigos. Por seu lado, os italianos,
como no tinham radar, foram surpreendidos e vencidos pelos ingleses em 1941 na batalha
115
Elizabeth andava a 30 ns, deslocando 86.673 toneladas. A era dos transatlnticos gigantes,
autnticos palcios flutuantes, rivalizando entre si na velocidade, no tamanho, no conforto e
no prestgio nacional, iniciou-se em 1907, com o Mauretnia e seu infeliz gmeo Lusitnia.
O Mauretnia, com suas linhas puras, suas quatro imponentes chamins e sua velocidade
(os quatro hlices permitiam-lhe atingir 25 ns), conservou a bandeira azul durante mais de
22 anos, efetuando o percurso Europa Amrica em 4 dias e 16 horas, o que ainda
atualmente se pode considerar honroso. Tanto ele como o irmo foram os primeiros grandes
navios mercantes a turbinas, se bem que ainda fossem alimentados a carvo e no a nafta, o
que implicava em 324 homens fornalha, para padejarem por dia cerca de 1.000 t de
combustvel para suas caldeiras. No tempo dos grandes transatlnticos, o pblico tinha seus
favoritos. Foram surgindo o Olympic, construdo em 1912, e seu irmo gmeo Titanic, que
afundou ao chocar com um iceberg na viagem inaugural; o maravilhoso Aquitania, de 1914,
que viria a ser reformado em 1950; em 1927, o inesquecvel le de France; em 1929, o
alemo Bremen; em 1933, o italiano Rex; em 1935, o Normandie, obra-prima de arte
decorativa, mas que viria a arder no porto de Nova York, em 1942; em 1939, o holands
New Amsterdam etc.
Apesar das grandes perdas motivadas pelas duas grandes guerras, a frota mercante
mundial foi sempre aumentando com regularidade, medida em que ia se especializando.
Uma grande variedade de transportes, desde os pequenos navios de cabotagem aos
petroleiros gigantes, percorre todos os mares, todos os portos e todos os rios navegveis do
mundo e, a pouco e pouco, vai substituindo os clippers e os veleiros do cabo Horn. O
desenvolvimento mais espetacular diz respeito aos petroleiros. Tendo comeado em 1886
com algumas pequenas unidades de menos de 3.000 t, a frota petroleira atingiu a proporo
de 16 % da totalidade da tonelagem mundial, s vsperas da Segunda Guerra Mundial.
Hoje, principalmente graas ao esprito empreendedor de certos ricos armadores de
nacionalidade grega, tem aumentado constantemente.
Por exemplo, o petroleiro francs Esso Parentis, de 1958, colosso de 38.000 t, pode
navegar a 17 ns. Cada vez h maior tendncia para equipar tanto cargueiros como paquetes
com diesel, dando assim o golpe de misericrdia no navio a vapor, que no chegou a reinar
um sculo. Os navios comerciais mais especializados, os de pesca, tornaram-se oficinas
flutuantes, principalmente os baleeiros, capazes de capturar e acomodar toneladas e
toneladas de sua carga em cada viagem. Hoje em dia, muitas naes lanas suas frotas de
pesca em todos os oceanos, encontrando-se ainda algumas delas representadas pelos ltimos
veleiros.
117
disso, a tcnica da asa imersa, que levanta a quilha do barco por cima das vagas para
aumentar a rapidez, aperfeioa-se incessantemente. Quanto investigao submarina, o
batiscafo do professor Augusto Piccard e de seu filho Jacques (Jaime) permitiu, em 1960,
atingir o mximo absoluto de profundidade, ou seja, 12.600 m numa fossa do oceano
Pacfico. Tudo isso o preldio dum programa de investigao, cuja importncia aumentar
com o advento do submarino atmico.
Leitura do livro de Canby, Courtlandt. Ob cit. cap. 6, p. 99s. com pequenas adaptaes ortogrficas e
lingsticas
120
DA VELA AO VAPOR
Os melhores veleiros dependiam do capricho dos ventos. Conseqentemente,
no para admirar que, no decorrer dos sculos, tenham surdido numerosos projetos
para substituir essa fonte de energia por qualquer outra mais segura e mais constante.
A grande idia era a roda acionada por animais de trao ou por msculos humanos.
Assim foi na China, no tempo dos romanos e na Idade Mdia. Em 1798, quando
Napoleo planejava invadir a Inglaterra, um inventor props-lhe uma fortaleza
flutuante, enorme jangada, munida de rodas com ps, postas em movimento por
quatro aparelhos acionados pelo vento e instalados um em cada canto. As fragatas
inglesas ter-lhe-iam chamado um figo!
Quando apareceu pela primeira vez no sculo XVIII, o navio a vapor era quase
to primitivo como esse engenho. Ele tambm foi igualmente desprezado, pois, ao
contrrio do veleiro que tinha seguido uma evoluo contnua, o navio a vapor era
concebido por gente de terra e, como tal, apresentava-se como um subproduto, no do
oceano, mas da Revoluo Industrial. Os verdadeiros marinheiros desprezavam-no ao
mesmo tempo que o temiam. Durante vrios anos, o navio a vapor sulcou as guas
dos rios que o tinham visto nascer, longe dos mares tumultuosos onde combatiam os
navios de linha e onde os navios de longo curso ligavam incessantemente Europa as
ndias Orientais e Ocidentais. Pouco a pouco, o vapor foi-se aventurando no mar alto,
especializando-se em primeiro lugar no transporte de passageiros, onde a regularidade
era motivo de recompensa. Depois, nos meados do sculo XIX, foi adotado pela
marinha de guerra e, finalmente, pela marinha mercante, onde ento reinava o clipper,
o ltimo e o mais belo de todos os veleiros.
A mquina a vapor tinha dado o poderio e o impulso Revoluo Industrial.
Construdo volta de seu motor, o navio a vapor estava ligado ao progresso de sua
central trmica. A primeira mquina, chamada atmosfrica, de Newcomen (cerca de
1700), era demasiadamente fraca para movimentar um barco. O mesmo se pode dizer
da marmita de Denis Papin que, pela mesma poca, seu autor parece ter querido
adaptar a um navio de ps.
Isto, porm, ficar para sempre um mistrio, pois o prottipo de Papin foi
destrudo em 1707 por marinheiros ciumentos. Papin desistiu. Depois de Jaime Watt,
por volta de 1770, ter inventado a primeira mquina a vapor digna deste nome, outras
tentativas foram feitas em Frana para a aplicar navegao. Os condes de Auxiron e
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Follenay construram um navio a vapor, que foi afundado no rio Sena (quem sabe se
por barqueiros alarmados), mesmo antes de ter sido experimentado. Foi o marqus de
Jouffroy d Abbans quem, em 1783, fez a primeira demonstrao dum vapor vivel. O
seu pyroscapho conseguiu subir a corrente do rio Saona durante 15 minutos.
A Amrica do Norte sucedeu Frana. A imensidade de suas distncias, a
mediocridade de suas estradas e a abundncia de rios favorecia a navegao a vapor.
Cerca de 1760, o industrial Guilherme Henry tentou lanar um navio a vapor no rio
Conestoga e, em 1802, Olvio Evans, da Filadlfia, um dos primeiros inventores da
caldeira a alta presso, construiu uma enorme draga anfbia, capaz de avanar com
exasperante lentido, tanto em terra como no mar. Mais ou menos na mesma poca,
Joo Stevens construiu vrios navios a hlice e, em 1808, efetuou com o Phoenix, por
meio de seu engenho de ps, o primeiro trajeto martimo de Nova York a Delaware.
Os mais clebres desses pioneiros, porm, foram Fitch e Fulton, duas personalidades
completamente diferentes. Com efeito, enquanto Roberto Fulton provocou admirao
por seu talento de engenheiro e de homem de negcios, Joo Fitch no passava de um
sonhador quimrico e sempre sem dinheiro. No entanto, foi o primeiro a construir
uma srie de navios providos de remos mecnicos que trabalhavam nos bordos ou
popa. Um desses engenhos efetuou um servio regular no rio Delaware durante o
vero de 1790, cobrindo mais de 3.200 km. Fitch, porm, tinha o complexo da
adversidade. Depois de alguns anos de misria, suicidou-se em 1798.
Foi Fulton, com seu esprito de assimilao universal, que finalmente
transformou o brinquedo de seus predecessores num meio de transporte prtico.
Sofreu a influncia de Guilherme Henrique, alis como Fitch a sofrera tambm e, em
1793, partiu para a Inglaterra, com o intuito de falar de navios e de motores com
alguns pioneiros, tais como Watt e Boulton. Depois de 1797, mandou construir em
Frana um pequeno submarino, o Nautilus, acionado por uma vela superfcie e por
um hlice manual quando imerso. Em 1802, associou-se a Roberto Livingston,
ministro dos Estados Unidos da Amrica em Paris, com o fim de construrem navios a
vapor. Em 1803, experimentaram no rio Sena, com pleno xito, um primeiro e
pequeno engenho. Depois, tendo encomendado a Watt e a Boulton um conjunto de
mquinas com peas desmontveis, regressaram Amrica do Norte, onde
construram o seu Clermont. Este comeou por ser conhecido como o capricho de
Fulton, mas, quando em agosto de 1807, subiu o rio Hudson at Albany em 32 horas
e tornou a descer em 30 horas, os cticos tiveram que se render evidncia. Estava
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cabos submarinos. Seu duplo casco era de ferro; duas rodas de ps e um hlice o
propulsionavam. Podia transportar 4.000 passageiros, se bem que isso no tivesse
acontecido com freqncia, pois logo que foi posto no servio, em 1860, verificou-se
que balanava horrorosamente.
Foi reformado dois anos mais tarde. No entanto, o Great Eastern tinha meio
sculo de avano sobre sua poca. Sua tonelagem manteve-se inigualada at 1904.
Transatlnticos de modelo mais vulgar progrediram rapidamente durante a
segunda metade do sculo XIX. Os cascos passaram a ser construdos apenas de ferro
e, por fim, de ao. Se bem que a roda de ps inspirasse grande confiana aos
passageiros, o hlice acabou por se impor. As velas desapareceram. O tamanho e a
velocidade aumentavam em cada nova unidade e, a partir de ento, dois ou trs
hlices e uma mquina de tripla expanso entravam no domnio pblico. Foi ento
que o cargueiro especializado comeou sua carreira, primeiramente como navio para
transporte de carvo; depois da abertura do canal de Suez, para fornecer os portos de
escala; por fim, como navio de carga universal.
Depois de 1850, a Revoluo Industrial europia comeou a estender-se a todo
o mundo. Ao cabo de meio sculo, uma boa parte da sia e da frica estava
colonizada, enquanto os imigrantes afluam s duas Amricas, Austrlia e Nova
Zelndia. Por fim, os portos do Japo, depois de tanto tempo aferrolhados, cederam
aps o comodoro M. C. Perry ter estabelecido relaes comerciais com o imprio
nipnico em 1854. O instrumento dessa expanso tinha sido a marinha a vapor, tanto
mercante como de guerra. No entanto, os almirantados s adotaram o vapor como
ltimo recurso, supondo que as rodas de ps eram demasiadamente vulnerveis para
os combates. Comearam por utilizar pequenas fragatas mistas, como a Sphynx,
construda em Frana em 1829, mas foi apenas em 1836, quando o ingls Francisco
Pettit Smith e o sueco Joo Ericsson inventaram um hlice prtico, que os navios de
guerra passaram a usar completamente a nova fora motora. Brunel, com seu navio
experimental Rattler, construdo em 1841, obteve um verdadeiro triunfo sobre o
Alecto, navio a rodas de ps, numa autntica prova de fora disputada em 1841.
Igualmente convertidos ao hlice, os franceses laaram seu Napolon em 1850,
concebido por Dupuy de Lme.
Em 1852, os ingleses lanaram gua o Agamemnon. Esses dois navios eram
ainda veleiros com amuradas de madeira e canhes apontados para bordadas, mas,
pela primeira vez, a vela estava subordinada ao vapor. Tempos antes, Joo Ericsson,
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que tinha partido para a Amrica, construra o Princeton, por conta dos Estados
Unidos da Amrica.
A guerra da Crimia (1853-1856) tinha posto em foco a superioridade das
marinhas a vapor e das embarcaes couraadas. Esse fato deu a Dupuy de Lme a
idia de construir seu navio, o Gloire (1859), cujas chapas tinham dez a 12 cm de
espessura. Alarmada, a Inglaterra lanou o Warrior no ano seguinte (1860), mas foi
no combate entre os navios Merrimac ou Virginia (sulista) e Monitor (nortista) em
1862, durante a guerra de Secesso que foram mostradas as vantagens do navio
couraado. O Merrimac, fragata transformada, atacava a irrisria esquadra nortista, na
baa de Hampton Roads, quando o Monitor, recentemente lanado por Ericsson, fez
sua apario. Era um navio de pequenas dimenses, baixo, semelhante a uma jangada
dominada por uma torre revolucionria. Essa famosa batalha no teve resultado
decisivo, mas levou utilizao das canhoneiras couraadas durante todo o
esto do
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