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Pichação em SP História - Tumulos

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4.

PICHAO HISTORIA, DISCURSO E APROPRIAO


4.1 A PICHAO NA CIDADE DE SO PAULO
O primeiro registro de pichao no Brasil foi o emblemtico Abaixo a Ditadura, a
pichao poltica nasceu no meio universitrio, na dcada de 1960, com influncia do
movimento estudantil de maio de 68 francs. As inscries eram simples, pois
demandavam agilidade para escapar da represso policial. Com o passar do tempo, as
inscries foram difundidas pelo meio urbano, fazendo surgir pichaes no s em
muros, mas em construes pblicas e viadutos. Nenhuma das pichaes continha
assinatura, elas traziam apenas a ideia de contrariedade ao regime.
Aps o perodo de tenso poltico causada pela ditadura militar, So Paulo ficou
marcada pelas pichaes poticas, como "Ventos estomacais movero moinhos nos
planaltos centrais" e "Eu pixo porque peixe". Nos anos de 1970-1980, algumas
pichaes se tornaram bem conhecidas em So Paulo por serem pioneiras e vistas em
vrias partes da cidade, despertando a curiosidade como o "Co Fila" (que s vezes era
acompanhada de "Km 26"), Marca essa deixada pelo criador de ces Antenor Lara
Campos, como forma de publicidade do seu canil. Em uma entrevista para a revista Veja
em 1977, Antenor afirmou que boa parte das pessoas no entendia os significados das
grafias, porm a ao gerava bons frutos e conseguia vender cerca de 20 filhotes por
ms.

Figura 4 Co Fila Km 26
Fonte: http://besidecolors.com/a-pre-historia-da-pichacao/ Acesso em outubro de 2016

Na cidade de So Paulo, o picho se intensificou bem mais do que em outros lugares do


mundo e tem atualmente uma definio diferente. Desde os anos 80 at os dias atuais,
houve constantes mudanas relativas sua forma e a seus adeptos. Isto faz com que em
So Paulo exista uma prtica caracterstica da cidade, que teve todo um processo de
criao e evoluo. No incio dos anos 80, a pichao consistia em escrever
exaustivamente o prprio nome em grande escala dentro de inmeros bairros e avenidas
da cidade, com isso o objetivo principal para os praticantes era sair do anonimato,
simplesmente ser notado. Com o passar do tempo surge uma competio entre os
pichadores pelo espao, surge utilizao dos pseudnimos ao invs dos nomes, passa a
existir grupos de pessoas que juntos, divulgam smbolos para representar um
determinado grupo, a competio pela fama entre os grupos se alastra, com formas cada
vez mais chamativas e frequentes o espao fsico da cidade se v saturado.
A pichao de origem paulistana se difere das demais manifestaes na Amrica Latina
por constituir significado prprio, quase sempre fechado a sociedade com o intuito de se
identificar apenas atravs de assinaturas, denominaes de determinados grupos de
pichadores. Os pichadores sobem pela arquitetura da cidade desafiando a altura, a
polcia, o olhar crtico da sociedade em busca do ponto mais difcil para pichar onde a
escrita estar em maior evidncia para escrever sua assinatura, ou geralmente de seu
grupo de pichadores. Fechados a sociedade inclusive por sua esttica em que as letras
possuem uma estrutura grfica que dificulta sua legibilidade, constituindo uma
linguagem grfica carregada de particulares em que muitas vezes so caractersticas do
grupo que pichou, ou seja, no s identificados pelo nome, mas tambm atravs da
esttica desenvolvida para compor as letras do chamado pixo.
A mdia teve papel muito importante para a divulgao das aes de pichao, foi logo
aps o reconhecimento e divulgao pela mdia da pichao ganha mo breu
representada por uma ao individual na qual o objetivo do autor era ganhar destaque,
que a maioria dos pichadores que assinavam nos muros e at ento eram desconhecidos,
se motivaram ainda mais para ter suas inscries nos muros da cidade, tambm
reconhecida atravs dos grandes veculos de comunicao. A partir disso as pixaes
passam a predominar o espao urbano e so usadas como diferenciao e identificao
dos grupos de pixadores que passam a surgir no mesmo momento.

A imprensa

abordava muito o tema, ressaltando a ambio e a coragem dos jovens que arriscavam a
vida para escrever com tinta nos lugares proibidos. Isso atraa mais e mais adeptos para

o picho, muitos queriam aparecer na televiso, revistas e jornais com o status de


corajosos jovens marginais. Atualmente todas essas fases do pixo ocorrem juntas na
cidade, mas mesmo sem a promoo da mdia, muitos pichadores declaram que o que os
faz correr os riscos so as sensaes de adrenalina, pois a prtica se tornou um vcio.
4.2 TUMULOS
As pichaes so constitudas a partir de um nome, siglas, codinomes, marcas que
servem de divulgao de um status como pichador, de forma que a identificao s
possvel aquelas que tm algum conhecimento sobre a pichao ou do pichador, essa
identidade reconhecida apenas por determinado grupo consequncia das letras que
possuem uma esttica formal no sendo compreensvel em uma leitura rpida, ou
mesmo pelos codinomes e apelidos usados por aqueles que praticam a pichao. A rede
dos pichadores envolve grupos, grifes, crews, alm da necessidade de se propagar o
nome do grupo e firmar uma existncia forte dentro do meio da pichao, junto com o
nome leva-se tambm o seu bairro, regio etc. fazendo com que eles esto presentes em
diversos cantos da cidade, ainda que no fisicamente. As redes permitem tambm um
reconhecimento de afinidade e proporciona amizades fortes entre os pichadores, os
amigos pichadores fazem parte do role e assim juntos se apropriam do espao urbano,
trazendo algo em comum entre eles
Para que fosse possvel compreender um pouco mais desse circuito da pichao e da
relao existente entre as redes de pichadores e sua atuao pela cidade, foi escolhido
um grupo dentre vrios existentes na pratica para estudo de caso. A escolha se baseou no
tempo de atuao, nas informaes dispostas sobre o grupo no mbito digital, a
influncia e o ibope que estes tm dentro da pichao e relao do mesmo com a
cidade. Atravs da pesquisa etnogrfica foram colhidas informaes nos sites do prprio
grupo e outras plataformas que continham informaes referentes ao mesmo, como
entrevistas, vdeos e fotos, sobre o TUMULOS, grupo escolhido em questo.
Fundado em 1989 por Bacal, Eliseu e Tatei, o TMULOS considerado uma lenda
da pichao, alm de sua atuao no Brasil o grupo conta tambm com pichaes em
locais como Europa, Estados Unidos e Japo, como picho desde 88, com divergncia no
tamanho e na tipografia das letras. Residentes da regio metropolitana de So Paulo, os
trs se conheceram em um evento de pichao que aconteceu na zona sul de So Paulo,
na poca Bacal e Tatei, que j se conheciam da escola e residiam ambos na Vila

Madelana, zona oeste de So Paulo, pichavam apenas os seus apelidos e no integravam


nenhum grupo de pichao, aps o convite de um amigo em comum da escola para
fazerem um grapixo em Taboo da Serra, rea onde o amigo residia, foi nesse evento
de pixo que conheceram Eliseu, que era mais velho em e mais atuante na pratica e
estava querendo formar um grupo, como o tempo surgiu uma afinidade entre os trs e os
constantes encontros para pichar, decidiram criar um grupo e desse movimento surgiu o
TMULOS. O nome TMULOS veio do antigo picho do Eliseu, antes de formar o
grupo ele j usava TMULO. No incio era a mesma letra do TMULO sem o S
porm aps vrios roles juntos no ano de 89 o nome ainda se associava ao antigo picho
do Eliseu, foi ento que decidiram mudar o letreiro, dando assim uma nova identidade
ao picho e ao grupo. A mudana se deu pela letra M e a letra O que deu se tornou
um caixo, fazendo referncia ao nome do grupo.

Figura 5 TUMULOS, antes da alterao do letreiro, ano de 1989


Fonte: http://besidecolors.com/lendas-da-pixacao-tumulos/ Acesso em Outubro de 2016

Figura 6 TUMULOS, depois da alterao do letreiro, ano de 2006


Fonte: http://besidecolors.com/lendas-da-pixacao-tumulos/ Acesso em Outubro de 2016

Com o passar do tempo e a presena dos trs nos points de pichao, a grande atuao
do grupo pela cidade, os diversos pichos, o grupo comeou a crescer e novos integrantes
foram adicionados, segundo a ltima atualizao do site do grupo, o TUMULOS est
composto por: Eliseu (finado), Bacal, Tatei (fundadores), Xaveko, Japa, Will (finado),
Feijo, Rogerinho, Rui P9 (finado), Doido, Neti, Ratito e tambm pelas meninas: Vivi,
Adri e Tsun, dessa forma continua se expandindo ganhando fama e considerao dentro
da rede dos pichadores. Tornaram-se grande referncia tambm por sua atuao fora do
Brasil, sabe-se que as leis acerca da pichao so bem diferentes fora do territrio
nacional, com a ida de Bacal para o Japo por motivos de trabalho, o grupo ganhou
reconhecimento internacional, chegando a sair em jornais e revistas sobre arte de rua,
hiphop, grafite, entre outros. A atuao do grupo fora do territrio nacional algo de
grande reverencia, pois se sabe que as leis referentes pichao so mais rgidas em
territrio estrangeiro do que nacional, Bacal em entrevista para o site do Tumulos se a
invadindo um prdio para pichar, ficou detido por trs dias, prazo para que haja
averiguao, nesse perodo foi investigado atravs de fotos e vdeos de cmeras internas
dos edifcios outras pichaes por ele feita. Mesmo que no haja flagrante, pode existir
denncia sobre a pichao, neste caso a equipe investigadora vai at o local, recolhe

imagens e outras evidenciam e guardam em um banco de dados, quando h priso em


flagrante, retomam o banco de imagens relacionando assim esta ao com as demais,
fazendo com que alm do processo do ato da priso o pichador seja processado pelas
outras aes que pelas imagens, digitais e outras provas sejam atribudas a ele tambm.
Bacal ficou detido por 6 meses, apesar da pena por crime de pichao no Japo seja de 2
a 3 anos, por ter sido ru primrio, ter emprego e residncia fixa ele pode cumprir o
restante do regime em liberdade condicional. Ele relata tambm que apesar da sua
condio no deixou de pichar no perodo em que estava na condicional, apenas deixou
de atuar em Tquio, fazendo suas pichaes em outras cidades do Japo. Por essas
razes as pichaes realizadas no exterior so to evidenciadas pelos pichadores que
atuam no Brasil, realizar um feito desse requer coragem e ousadia, dois adjetivos muito
considerados dentro do circuito da pichao.

Figura 7 Revista Inglesa sobre intervenes, com foto do picho dos TUMULOS
Fonte: http://tumulos1989.blogspot.com.br/ Acesso em outubro de 2016

Figura 8 Revista Alem sobre intervenes, com foto do picho dos TUMULOS
Fonte: http://tumulos1989.blogspot.com.br/ Acesso em outubro de 2016

A ida de outros integrantes do grupo para Europa e Estados Unidos, tambm renderam
pichaes que puderam ser registradas para afirmar a expanso e a grande atuao do
TUMULOS no s para a pichao paulista, mas tambm em outros locais do mundo.

Figura 9 Pichao TUMULOS, Barcelona Espanha.


Fonte: http://tumulos1989.blogspot.com.br/ Acesso em outubro de 2016

Figura 10 Pichao TUMULOS, Tquio Japo.


Fonte: http://tumulos1989.blogspot.com.br/ Acesso em outubro de 2016

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