Pichação em Teresina
Pichação em Teresina
Pichação em Teresina
Resumo:
Introdução.
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Graduando no curso de Licenciatura Plena em História, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
vigente. A violência e a brutalidade policial vinham com força para calar 21 anos de
terror e sofrimento.
O grafite está ligado, em suas origens, à pop art, como já mencionei, e
também ao início do movimento hip hop nos Estados Unidos. No
começo dos anos 1970, pintar vans, janelas de ônibus, prédios, e
sobretudo trens (parte interna e externa), tornou-se uma febre em
Nova York, a ponto de o problema dos rabiscos nos trens ter se
tornado um problema urbano amplamente debatido pela administração
da cidade. O chamado tagging se popularizou; um adolescente que se
nomeava TAKI 183 é considerado o pioneiro, tendo se tornado uma
lenda entre grafiteiros e pichadores. Ele era uma espécie de office boy
e costumava pegar trens e metrô o dia todo, onde então começou a
fazer sua assinatura, que consistia em seu apelido e o número da rua
em que vivia.( SCANDIUCCI, 2014, p. 24)
Com a sede cada vez maior de ir para as ruas com uma lata de tinta e deixar
sua marca de algum jeito, as ruas acabam virando alvo para os pichadores, e a disputa
por espaço e a mutiplicação de suas marcas, para ficar cada vez mais famoso e
conhecido dentro da própria comunidade, pelas paredes que deixavam a cidade toda
“riscada”, fazendo o governo criar políticas de combate a pichação.
O trem atravessava toda a cidade, é um dos alvos mais vistos, logo não poderia
ficar de fora dos olhos dos graffiteiros. Ser conhecido por todos, ter sua marca
conhecida por todos era uma das grandes motivações que os faziam ser lançados nos
perigos dos vagões, das alturas.
A riqueza de reflexão que temos pelos muros é inúmera, já que os autores das
imagens pichadas são diversos, e suas expressões são diferentes umas das outras. Cada
artista, cada imagem, cada técnica utilizada vai nos oferecer diferentes percepções de
olhar, de interpretação e de contextualização diante da diversidade social que nos é
apresentada, exibindo assim a pluralidade humana, da qual pertencemos.
Ao fazermos uso do nosso objeto de estudo que são o conjunto de imagens
pichadas em alguns muros da cidade de Teresina, no Piauí, a partir das imagens
capturadas, descritas e analisadas, podemos perceber a importância da produção artística
como fonte de discurso que se analisa a relação da vida em sociedade, Knauss reforça a
ideia em um trecho de seu artigo que diz “pode-se compreender a importância do estudo
da produção artística como fonte de discurso que se relaciona com a vida em sociedade”
(KNAUSS, 2006, p. 100), assim já temos alguns indícios que quando aparece alguma
pichação de cunho político, social, econômico, racial, o resultado é nada mais que um
reflexo do que envolve a sociedade, com todos os problemas e preconceitos. Imagens
talvez de liberdade ou de expressão, mas que no final terão todas as mesmas finalidades:
“mostrar Teresina e sua face real através dos muros”.
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Charpi é uma modalidade da pixachão que vai ser discutido dentro da dissertação do John Wedson Dos
Santos Silva nomeada “Ttsssss Ttsss... pichando a capital: o empreendimento e a aventura dos jovens na
cidade de Teresina”.
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Lambe Lambe vai ser outra pratica dentro do movimento artístico cultural, como forma de protesto que
também é utilizada, no caso não se usa tinta spray, apenas folhas de papel e cola.
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Stencil é uma pratica mais comum entre os pichadores na capital, pois envolve um material solido e
latas de tinta spray, deixando o desenho perfeitamente desenhado, funcionam como uma modura coloca o
stencil passa a tinta e tira, e ali fica seu pixo.
Um bairro nobre localizado na zona mais rica de Teresina (Zona Leste) é claro
que não poderia deixar de ter alguma frase que chamasse a atenção do motorista, a
agilidade de um rapaz que escreve O PARAISO ESTA EM CIMA DOS PÉS, sendo que
ele está em cima de uma calçada toda quebrada é no mínimo muito contraditório.
Já a parede do qual ele ta pixando, um muro residencial feito de tijolos, e
cimento, pintado e todo bem feito. Não merecia isso, né? O pichador discorda quando se
lança para a aventura; A vontade e o grito, a expressão é muito maior, todos os dias a
opressão e o sofrimento fazem com que esse paraíso vire um inferno. Pelo menos a letra
ficou legível, o movimento da mão e a quantidade de tinta que saíram da lata foi o
suficiente para não borrar a tela. Mas voltamos ao ponto inicial de tudo, a frase que
instiga O PARAISO ESTÁ EM CIMA DOS PÉS.
Que paraíso seria esse que o autor quer mostrar pra gente e só nós não vemos
por conta do conservadorismo artístico que nossa cidade ainda tem? Às vezes são
necessários as perguntas para fazer com que pensemos e nos sensibilizemos com tais
práticas, se eles (os pixadores) foram lá (para as ruas ) arriscaram suas vidas, contra
tudo e todos, para colocar frases que aparentemente parecem ser inocente, isso tem
algum fundo de significação, e precisam sim ser ouvidos, ser vistos, se eles incomodam,
é porque querem incomodar para nos mostrar que algo está errado.
Dentro das várias pichações que se encontra nos muros da cidade de Teresina,
uma em especial meche com a percepção de coletividade, o que contraria a ideia de que
da pichação e acaba individualizando o modo de vida.
Localizado em um muro de uma escola pública (Unidade Escolar Lourdes
Rebelo), a beira da esquina de um dos cruzamentos mais famosos da cidade, (Rua
Angélica – Fátima/ Av. Nossa Senhora de Fátima com a Av. Dom Severino), o pichador
não economizou na tinta, quando quis se expressar. Uma frase muito visível ao olhar do
cidadão que todos os dias passam pelo sinal, seja ele de carro, moto, ônibus, bicicleta,
ou até mesmo a pé.
O mais intrigante talvez seja imaginar como foram todos os momentos que se
fez até o ato da pichação, pois o que veremos na imagem é que o autor além de não
economizar na tinta, ainda tem a ousadia de escrever com letras maiúsculas e muito bem
legíveis.
Como dito acima essa frase foi feita em uma parede de escola púbica, entre as
cores brancas e verdes (cores padrão das escolas), podemos observar o spray utilizado
da cor preta, com pouca tinta no começo da frase e escurecendo mais para o final, com
ênfase no “salve a sua vida”, fica evidente a mensagem do autor.
NÃO SALVE O MUNDO, SALVE SUA VIDA, além de uma frase de cunho
individual, mostra um pouco da realidade em que vivemos no mundo moderno, onde as
pessoas não estão mais preocupadas com o próximo, apenas com si mesmo. Não seja
um herói, não salve o mundo, salve você mesmo, se puder.
A pressa está instalado na imagem, podemos observar que no começo da
imagem as primeiras letras saem fracas no spray, claro, as primeiras letras são alvos de
mais olhos, pois se localiza mais próximo à esquina, logo a velocidade teria que ser
maior.
Em meio a uma crise política do qual vive o Brasil, é claro que não poderia
deixar de colocar algumas frases de cunho político. Localizado no muro por de trás de
um dos monumentos mais importantes da cidade (Club dos Diários), e em uma das
praças mais movimentadas e boêmica da cidade (Praça Pedro II), a indignação pelos
planos políticos são cada vez mais de insatisfação.
Umas indignações já mostradas nas eleições se poderem observar, o numero
vem aumentando desde as eleições para presidente em 2014, quando no segundo turno,
tivemos em torno de 4,63% dos votos nulos, segundo os dados do G15.
De 2014 para cá a revolta com a política brasileira só aumenta, e os números
não deixam mentir, nas ultimas eleições que tivemos para prefeito, no Brasil todo, mais
especificamente na cidade do Rio de Janeiro, a porcentagem de votos nulos terminaram
nos seus 15,90% (como mostra o site do G1), sendo uma margem muito grande de
pessoas que simplesmente não concordaram com nenhum dos políticos que estava
colocando se a disposição para representa-los6.
Podemos observar o quanto fácil para o autor foi escrever essa frase, primeiro
podemos observar que ele utilizou de pincel, e não de spray como em outras imagens.
Percebe-se pela grossura e pela forma que o traço vai ganhando.
Por ser localizado no centro, onde o policiamento deveria ser mais ostensivo as
palavras soam na parede como um protesto contra a fome e a pobreza que as
consequências da política trazem. Entre um traçado e outro temos a simbologia
representado pelo anarquismo nas ruas, NOSSA FOME NÃO CABE NAS URNAS,
não compre voto com comida, somos muito mais que apenas comida. As frases e seus
efeitos ganham sentido a cada eleição e a cada numero de votos nulos, brancos ou
abstenções.
Acompanhado do anarquismo (o poder na mão do povo), a frase vai ganhando
cada vez mais sentido ao longo do tempo em que a política no Brasil se encontra. As
pessoas se encontram cada vez mais inquietas em relação aos seus representantes, e seus
programas governamentais.
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Para mais informações sobre os dados quantitativos da porcentagem de votos nulos nas eleições para
presidentedo Brasil, buscamos informações produzidas pela mídia brasileira a partir do sítio jornalístico
G1. Disponível em:<< http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/apuracao-votos-presidente.html>>.
Acesso em: 06 set 2017.
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Para mais informações sobre os dados quantitativos da porcentagem de votos nulos nas eleições para
prefeito da cidade do Rio de Janeiro, buscamos informações produzidas pela mídia brasileira a partir do
sítio jornalístico G1. Disponível em: <<http://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/eleicoes/2016/apuracao/rio-
de-janeiro.html>>. Acesso em: 06 set. 2017.
Bibliografia