Nós Somos o Problema - Jiddu Krishnamurti PDF
Nós Somos o Problema - Jiddu Krishnamurti PDF
Nós Somos o Problema - Jiddu Krishnamurti PDF
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Para os que querem afrontar o mdo, o isolamento e
a grande aventura de abandonar o eu sua destruio. . .
a mensagem de Krishnamurti pode bem ser uma revelao.
C arlos S uars
NS SOMOS O PROBLEMA
Se os mais recentes estudos de psicolo
gia individual tm sido de grande valor
para a compreenso da alma humana e dos
recnditos motivos das aes de cada um,
seus efeitos prticos no chegaram, ainda,
a influenciar diretamente o comportamento
do homem; porque, no obstante as suas
faculdades de inteligncia e raciocnio, per
manece le um ser contraditrio e limitado
por fraquezas inmeras. Nem os preceitos
morais, nem as doutrinas religiosas ou filo
sficas, nem os tratados de Psicologia, in
clusive a Psicanlise, que se props devas
sar as profundezas do inconsciente, tm
atuado eficazmente para a libertao espi
ritual dos indivduos. E, assim, continua
mos, todos, na tormentosa hora atual, a
viver desorientadamente, em completa frus
trao. sentindo a amargura da vida no
realizada.
Numa poca de to plidas perspectivas
e to propcia ao desnimo e confuso
dos espritos que o autor dste livro est
procurando despertar-nos o discernimento
e a lucidez, de modo que divisemos com os
prprios olhos a causa real de nossas freqentes decepes. Essa viso direta, to
recomendada por Jiddu Krishnamurti,
-nos efetivamente indispensvel, se de fato
queremos compreender o significado de
tdas as coisas relacionadas vida em si
e nossa existncia em particular.
Mostra o autor que essa compreenso
profunda s alcanvel mediante o autoesclarecimento. ou seja com uma noo mais
exata de nossa natureza ntima, porque
ste, no seu sentir, o nico meio de nos
tornarmos aptos e.evao espiritual e de
achar aquilo que se oculta sob tdas as pre
ocupaes, atos e pensamentos: a felicidade.
Eetivamente, agindo e reagindo, quase
sempre, em funo do estado de esprito
momentneo e, principalmente, das limita
es prprias, cumpre tomarmos conscin
cia de ns mesmos, que nos reconheamos
tais como somos, a fim de nos habilitarmos
a pensar e agir com responsabilidade. Smente assim daremos com a origem de
nossas falhas, porquanto a auto-vigiln
cia, e no a obedincia a princpios doutri
nrios ou de outra qualquer espcie, que
nos esclarece verdadeiramente, revelandonos ser o eu pessoal, com as suas con
tradies e impulsos vidos, o maior fator
de nossos malogros e infortnios.
Ento, vem a trmo a maior parte dos
nossos problemas, logramos orientao e paz
definitiva, porque, com os recursos do autoconhecimento. perceberemos que coisa ne
NS SOMOS O PROBLEM A
(Conferncias, com perguntas e respostas,
realizadas em Londres, em 1949)
J. K RISHN AM URTI
Editado pela
INSTITUIO CULTURAL KRISHNAMURTI
Av. Rio Branco, 117, sala 203
Rio dc Janeiro (Brasil)
1952
I
E sta a prim eira palestra da srie e, como a
m aioria dos presentes no poder assistir a tdas
elas, farei o possvel para que cada uma seja em si
mesma completa.
P ara a m aioria de ns que temos problemas, a
dificuldade consiste em procurarm os resolver cada
problema no seu prprio plano. No procuram os re
solver o problem a integralm ente, como um todo, mas
tentam os resolv-lo de um determ inado ponto de
vista, ou procuram os diferenar ou separar o pro
blema do processo total que a vida. Se tem os um
problema econmico, querem os resolv-lo no plano
econmico, exclusivam ente; e todo problem a que pro
curamos resolver por essa m aneira naturalm ente no
fica resolvido, porque a nossa vida no est dividida
em com partim entos estanques: a nossa vida um
processo integral, tanto psicolgico como fisiolgico
e, se tentam os resolver os problem as psicolgicos
sem com preender os fisiolgicos, atribum os aos p ri
m eiros im portncia indevida e, assim, complicamos
ainda mais o problema. O que nos cum pre fazer,
parece-me, aplicarm o-nos a cada problem a sem con
sider-lo separadam ente, mas, sim, como parte de
um todo.
Pois bem ; quais so os nossos problem as na vida?
Pergunto-o, porque se me afig u ra que, se compreen-
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II
Provavelm ente, a m aioria de ns tem opinies
definitivas ou chegou a concluses decisivas, sendonos m uito difcil desviarmo-nos delas ou ver qualquer
outro ponto de vista; porque quase todos ns temos
vivido em circunstncias dolorosas, temos sofrido,
chegamos a determ inados pontos de vista que ju lg a
mos difcil m odificar; e se algum a vez prestam os
ateno s palavras de outrem , fazemo-lo sob a pro
teo de nossas prprias concluses, nossas expe
rincias, nossos conhecim entos e, em tais condies,
torna-se dificlim o com preenderm os perfeitam ente o
que outra pessoa nos diz. Perm iti-m e, porm, uma su
gesto: devemos deixar de lado, por ora, ou pelo
menos nesta manh, nossas concluses e pontos de
vista pessoais e aplicar-nos, juntos, ao estudo dos
problemas que nos desafiam. Vamos encontrar d ifi
culdades, porque sempre desejamos concluses, que
remos solues para os nossos problemas. Todavia, se
puderm os exam inar cada problema que surge, de ma
neira suficientem ente inteligente, o que significa sem
o entrave das concluses, sem opinies definitivas, en
to, estarem os provavelm ente em condies de com
preender o problem a de m aneira completa, integral
mente.
Um dos problem as de nossa vida o que se refere
ao indivduo e sua relao com o Estado. Se formos
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capazes de com preender todo o processo do indivduo, talvez estejam os aptos para com preender nossas
relaes no apenas com um a ou duas pessoas, mas
com a m ultido, a massa, a nao, o povo como um
todo. Ora, esta diviso entre o E stado e o indivduo
parece-me errada; porque, afinal de contas, o que ns
somos, fazemos que o E stado seja. Ns projetam os o
que somos. Poder parecer isso uma filosofia sim
plista, uma idia sim ples e desm erecedora de aten
o ; porque nossas m entes so to complicadas, lemos
ta n ta coisa, somos to inteligentes, to espertos, que
impossvel pensarm os num. problem a com sim pli
cidade. E ntretan to , a m eu ver, precisam os pensar nes
te problem a sobremodo complexo de m aneira m uito
d ireta e sim ples; porque, afinal de contas, um proble
ma s pode ser com preendido na ntegra se o encara
mos negativam ente. E , ao com preenderm os o indiv
duo e seus processos, chegaremos, talvez, a com preen
der a relao do indivduo com o E stado, a massa,
ou outro indivduo.
Assim, pois, o problem a da relao entre- o indi
vduo e o Estado s pode ser com preendido sob a con
dio de com preenderm os o processo do indivduo;
porque, sem o indivduo, o Estado no existe.
massa coisa inexistente. E la um instrum ento pol
tico, til para certos fins, como a explorao, etc. E
tambm, no tocante m aioria de ns, ao falarm os de
m assa estamo-nos servindo de um meio m uito c
modo de nos exim irm os de considerar as pessoas.
Porque o observar um indivduo, o observar mais
.outro, exige m uita ateno, esforo m ental e consi
derao, e para isso falta-nos vontade; por essa razo
chamamos os indivduos a massa quando a m as
sa somos ns mesmos, vs e eu.
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III
Parece-me assaz evidente que para com preender
um problema complexo, e principalm ente um proble
ma psicolgico, necessrio uma m ente m uito quieta,
uma m ente tranqila, mas no com uma tranqilidade
fo r a d a ; uma m ente serena, silenciosa, capaz de com
preender diretam ente o problem a complexo e sua
soluo.
O que impede essa tranqilidade da m ente , sem
dvida, o conflito. Quase todos vivemos cheios de
agitao, preocupados com m il e uma coisas, apreen
sivos com respeito vida, m orte, segurana, e s
nossas relaes. uma agitao infindvel. E, natu
ralm ente, em extrem o difcil a uma m ente to agi
tada com preender problem as que se tornam cada vez
m aiores, como sejam os problem as sociais e psico
lgicos. E essencial no achais ? para a per
feita compreenso de um problema, que se tenha uma
m ente silenciosa, uma m ente sem preconceito, uma
m ente capaz de libertao tranqila e que perm ita ao
problem a revelar-se, desdobrar-se. E uma m ente assim
quieta uma coisa impossvel, quando h conflito.
O ra bem, qual a causa do conflito ? P o r que
vivemos nesse conflito, cada um de ns, e por isso
tambm a sociedade, o E stado e o mundo inteiro ? )
P or qu? De onde surge o conflito? Cessando o con
flito, possvel, evidentem ente, haver uma m ente se-
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IV
N estas ltim as semanas estivemos tratando do
problema da autovigilncia e do autoconhecim ento.
uma coisa to bviamente essencial o conhecim ento
de si mesmo. E conhecer a si mesmo no significa
retraim ento da vida, porm, antes, a compreenso das
relaes relaes com as coisas, com as pessoas,
com as idias. E tda experincia s compreensvel
pelo autoconhecim ento; a experincia no est sepa
rada do autoconhecim ento.
Infelizm ente, a m aioria de ns no busca o auto
conhecimento, preferindo apegar-se experincia. E
servimo-nos da experincia como de uma m edida para
o descobrim ento da verdade, o descobrim ento da rea
lidade, ou Deus, etc. Dessa forma, a experincia, para
a m aioria de ns, se tornou um padro de valores.
Mas, a experincia revela a verdade, ou como
quer que a chameis ? A experincia, sem dvida,
uma distrao, um processo de afastam ento de ns
mesmos. Isto , na m aioria vivemos em verdadeira
ignorncia do processo total de nossa existncia; no
percebemos que estamos sempre a fu g ir de ns m es
mos. D entro de ns, quer o admitam os, quer no,
quer o sintam os conscientem ente, quer no, existe
um estado de pobreza, um, vazio, que procuram os en
cobrir, que procuram os evitar. E no processo de o
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pois, aqui para fazer o meu trabalho, mas para compreender-vos. E qualquer coisa que com preenderdes,
em vs mesmo, , por esse momento, a verdade. E
esse descobrimento s pode ser feito nas relaes de
cada dia, e nas relaes entre vs e mim, enquanto
eu falo e vs escutais, e na m aneira como escutais.
Se escutais com preconceito, se escutais escorado no
fundo de experincias, nas vossas condenaes, p re
conceitos, pr ou contra, no estais ento escutando:
eu e vs no estamos em relao. Mas, se escutais
com o propsito de descobrir a lg o .a vosso respeito,
de descobrir a vs mesmo, em relao com outros,
isso, ento, vosso trabalho e no o meu trabalho.
Pois, nesse caso, j que estais procura da verdade,
no sereis um mero propagandista. No vos preocupa,
ento, convencer a outro, converter a outro para o
vosso credo, no estais procurando reform ar a outro,
ou querendo induz-lo a entrar rio vosso grupo, na
vossa sociedade. Pois, em tal caso, vs e vossa crena
no tendes im portncia alguma. Mas o homem que
portador de uma crena, esse homem im portante,
porque a crena com que est identificado lhe d
essa im portncia. O homem que est procurando o
verdadeiro autoconhecim ento no est fechado numa
crena; no est encurralado em nenhum a sociedade,
nenhuma organizao, nenhum a religio. Por conse
guinte, o que interessa no o vosso trabalho nem o
meu trabalho. O que interessa a descoberta da ver
dade; e o descobrimento da verdade no uma coisa
que vos pertena ou que me pertena.
Assim, visto que no se tra ta de trabalho meu,
porm vosso, muito im porta a m aneira como o desem
penhais, a m aneira como considerais a e stru tu ra in te
gral da vossa vida. disto que estamos tratando
de perceber essa coisa, de perceber a e stru tu ra do
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NDICE
Pg.s.
1/ Conferncia (Sobre o problema fundamental) . . . .
( a relao do indivduo com o
2.
Estado) ......................................
(
o
significado da experincia)
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(
a
transformao
interior) . . .
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Com que intuito nos dirigis a palavra ? Podeis, realmente, ajudar a todos os homens, indistintamente?
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