Docentes para a educação superior: Processos formativos
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Sobre este e-book
A obra analisa a construção do processo formativo e suas alternativas pedagógicas, trata das peculiaridades da formação de orientadores acadêmicos, além da autoformação de docentes. Traz ainda dois capítulos voltados à formação de professores em áreas específicas: direito e química. Papirus Editora
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Docentes para a educação superior - Cleide Maria Q.Q. Viana
DOCENTES PARA A
EDUCAÇÃO SUPERIOR:
PROCESSOS FORMATIVOS
Ilma Passos Alencastro Veiga e
Cleide Maria Quevedo Quixadá Viana (orgs.)
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COLEÇÃO MAGISTÉRIO:
FORMAÇÃO E TRABALHO PEDAGÓGICO
Esta coleção que ora apresentamos visa reunir o melhor do pensamento teórico e crítico sobre a formação do educador e sobre seu trabalho, expondo, por meio da diversidade de experiências dos autores que dela participam, um leque de questões de grande relevância para o debate nacional sobre a educação.
Trabalhando com duas vertentes básicas – magistério/formação profissional e magistério/trabalho pedagógico –, os vários autores enfocam diferentes ângulos da problemática educacional, tais como: a orientação na pré-escola, a educação básica: currículo e ensino, a escola no meio rural, a prática pedagógica e o cotidiano escolar, o estágio supervisionado, a didática do ensino superior etc.
Esperamos assim contribuir para a reflexão dos profissionais da área de educação e do público leitor em geral, visto que nesse campo o questionamento é o primeiro passo na direção da melhoria da qualidade do ensino, o que afeta todos nós e o país.
Ilma Passos Alencastro Veiga
Coordenadora
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PARTE I – PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR
1. ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Ilma Passos Alencastro Veiga
2. A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
Meirecele Calíope Leitinho
3. PECULIARIDADES DO TRABALHO DA ORIENTAÇÃO NA Pós-gRADUAÇÃO: COMO SE FORMAM
ORIENTADORES?
Ana Maria Netto Machado e Cleide Maria Quevedo Quixadá Viana
4. LEITURA E (AUTO)FORMAÇÃO: CAMINHOS PERCORRIDOS POR DOCENTES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Ana Maria Iorio Dias
5. TRABALHO DOCENTE E SABERES EXPERIENCIAIS
Maria Helena da Silva Carneiro
PARTE II – SABERES E PRÁTICAS DOCENTES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
1. OS PROFESSORES DO CURSO DE DIREITO DE UMA IES PRIVADA: SABERES E PRÁTICAS DOCENTES
Edileuza Fernandes da Silva e Júnia Gonçalves de Souza Guimarães
2. VISLUMBRANDO ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO DOCENTE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR DE QUÍMICA NAS DÉCADAS
DE 1960 E 1970 NA UFC
Claudia Christina Bravo e Sá Carneiro
NOTAS
SOBRE AS AUTORAS
OUTROS LIVROS DAS AUTORAS
REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
APRESENTAÇÃO
Sete textos de nove autoras compõem este livro sobre formação docente para a educação superior, que é dividido em duas partes referenciais, uma com temáticas mais gerais e outra com assuntos mais específicos. Organizada dessa maneira, a obra trata de vários temas, como alternativas pedagógicas, construção do processo de formação, peculiaridades da formação de orientadores acadêmicos, autoformação de professores e saberes experienciais no trabalho docente. Por fim, o livro traz dois capítulos voltados para áreas específicas: direito e química.
Uma das intenções fundamentais desta obra é socializar resultados de pesquisa e provocar discussões que possam produzir outras inquietações, no sentido de ampliar o debate sobre o complexo tema de formar professores para a educação superior.
Os textos que deram origem aos capítulos deste livro foram produzidos em estágios pós-doutorais e apresentam resultados de pesquisas. Em meio às inúmeras reuniões do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Docência Universitária e Inovações Pedagógicas, lemos e discutimos vários autores, bem como levantamos questões relativas às nossas pesquisas, quando então compreendemos que possuíamos muitas ideias enriquecedoras que poderiam nortear a organização de um livro. Dessa forma, conseguimos sistematizar essas ideias e os resultados de nossos estudos num projeto editorial.
Iniciamos pelo capítulo denominado Alternativas pedagógicas para a formação do professor da educação superior
, de autoria da professora Ilma Passos Alencastro Veiga. Esse capítulo reconhece que a natureza, a especificidade e a importância da formação profissional docente – e, mais especificamente, sua dimensão pedagógica – ainda são pouco compreendidas e investigadas. O objetivo central do texto é analisar duas propostas alternativas de formação, considerando as justificativas e os objetivos, os pressupostos teórico-metodológicos, as características das estruturas organizacionais e as práticas que estão sendo desenvolvidas nos diferentes programas formativos.
Meirecele Calíope Leitinho, no texto A construção do processo de formação pedagógica do professor universitário
, recorre ao pensamento de autores que discutem teorias de formação de professores na área de docência universitária, identificando programas de formação pedagógica institucionalizados, com base em uma investigação realizada em duas universidades do estado do Ceará. Com os resultados dessa investigação, foi possível analisar a formação pedagógica institucionalizada do professor universitário, considerando sua produção organizacional e sua construção sociopedagógica e sociopolítica.
O texto produzido por Ana Maria Netto Machado e Cleide Maria Quevedo Quixadá Viana, Peculiaridades do trabalho da orientação na Pós-graduação: Como se ‘formam’ orientadores?
, discute as peculiaridades da formação
do orientador no contexto da Pós-graduação brasileira. Para isso, articula resultados de várias pesquisas desenvolvidas na última década em torno do tema, analisando-os nas suas dimensões acadêmica, política, institucional e econômica. Procura situar a complexidade do trabalho do orientador, que é exercido na interseção entre dois mundos/campos, correspondentes a duas tradições distintas: educação e ciência.
O capítulo Leitura e (auto)formação: Caminhos percorridos por docentes na educação superior
, elaborado por Ana Maria Iorio Dias, aponta que a formação docente para a educação superior ainda não se faz por profissionalização acadêmica formal, com cursos de graduação específicos, à semelhança de outras profissões existentes. Para a autora, no Brasil, não há, ainda, uma política explícita de formação docente. A consequência disso é que, para ser professor de uma instituição de ensino superior (IES), basta ter o saber técnico. A autora discute, ainda, a autoformação de docentes numa IES pública e analisa os caminhos que percorre essa formação, por meio da análise de leituras que docentes realizam, para, de forma também autodidata (muito mais do que profissional ou institucional), alimentar a atuação, como formação continuada. O texto busca compreender como a leitura pedagógica contribui para a formação do docente na educação superior.
Trabalho docente e saberes experienciais
, escrito por Maria Helena da Silva Carneiro, analisa as atividades realizadas pelo docente que atua na universidade. No exercício da profissão, o professor realiza atividades para as quais não teve formação alguma. Trata-se de um trabalho invisível
e pouco valorizado, mas que exige tempo e mobilização de conhecimentos específicos normalmente apreendidos ao longo do seu desenvolvimento profissional.
O texto Os professores do curso de direito de uma IES privada: Saberes e práticas docentes
, elaborado por Edileuza Fernandes da Silva e Júnia Gonçalves de Souza Guimarães, analisa as concepções de docência e as práticas avaliativas de três professores do curso de direito. As análises indicam nuanças de mudanças nas práticas avaliativas que sinalizam uma tentativa de superação de modelos tradicionais. Entretanto, o que se observa, em geral, é que a prática desses professores é eminentemente intuitiva e predominantemente solitária, baseada em suas reflexões sobre suas dificuldades e seus acertos, sendo os saberes disciplinares e os saberes da experiência a base das práticas pedagógicas.
Claudia Christina Bravo e Sá Carneiro, no texto Vislumbrando aspectos da formação do docente da educação superior de química nas décadas de 1960 e 1970 na UFC
, discute como ocorria essa formação em um período em que eram praticamente inexistentes os esforços a esse respeito. Como metodologia de pesquisa, foram utilizadas história oral, análise documental e bibliográfica e consulta a professores veteranos. Os dados colhidos levaram a intuir que havia, na época estudada, vestígios de uma formação docente, às vezes de forma institucionalizada, em outras por esforço dos próprios professores. Para estes, em geral, os saberes docentes consistem basicamente em sua apreensão por meio de cursos. Ignoram, assim, os saberes da experiência e outros tantos que se consolidam em sua trajetória profissional.
Em síntese, este livro, focado na formação do professor da educação superior, deixa clara a importância do processo e dos traços do profissionalismo que facilitam ações formativas, como compromisso educativo, domínio da matéria, capacidade para o trabalho em grupo e de reflexão. Destaca que a docência é uma prática social que, para ser problematizada, compreendida e transformada, precisa ser dialogada, interligando momentos de análises e críticas e momentos de superação e de propostas de ação. Vale ressaltar que os textos defendem que a formação pedagógica deve ser construída no âmbito do desenvolvimento profissional, integrada a uma política institucional de valorização docente.
Ilma Passos Alencastro Veiga
Cleide Maria Quevedo Quixadá Viana
Brasília, primavera de 2009
PARTE I
PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR
1
ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Ilma Passos Alencastro Veiga
Introdução
O contexto atual tem-se caracterizado como um momento de preocupações e indagações acerca da formação do professor da educação superior.
O estudo sobre a docência na educação superior e os programas de formação do profissional professor está presente nas reflexões dos grupos de pesquisa sobre formação de professores
, da Universidade de Brasília (UnB), e profissão docente e práxis educativa
, do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), que analisam as possibilidades e os limites dos referidos programas.
O tema formação profissional e docência
vem sendo paulatinamente questionado no debate e na práxis pedagógica, numa perspectiva ética e institucional. Entre as justificativas apresentadas para a realização da presente pesquisa destaco as seguintes:
a) a visão reducionista do artigo 66 da lei 9.394/96, que situa a formação docente como preparo
para o exercício do magistério superior nos níveis de Pós-graduação, mestrado e doutorado. Isso significa que a formação pedagógica continua ausente do currículo do docente da educação superior;
b) as políticas de educação superior não somente ampliaram o número de instituições como as diferenciaram entre aquelas voltadas para o ensino e aquelas voltadas para a pesquisa, propiciando, assim, o aumento do quadro docente;
c) as políticas avaliativas exigem melhorias qualitativas na ação docente, tendo em vista as deficiências e fragilidades no desempenho dos alunos, o que implica questionar também a qualidade da pedagogia universitária. Os professores sofrem pressões sociais: os resultados do desempenho acadêmico, a intensificação do trabalho, a burocratização das atividades docentes, a exigência de produtividade acadêmica, os baixos salários etc. Como afirma Charlot (2008, p. 21): (...) O professor trabalha emaranhado em tensões e contradições arraigadas nas contradições econômicas, sociais e culturais da sociedade contemporânea
;
d) o movimento de democratização do acesso à educação superior provocou a expansão da matrícula e proporcionou uma heterogeneidade do público que adentrou nesse nível de educação, exigindo um novo perfil do profissional docente. Além disso, houve a multiplicação desordenada de instituições de educação superior, provocando uma série de problemas. As novas camadas sociais que ingressam na educação superior importam para o ambiente acadêmico comportamentos, atitudes e relações com a instituição educativa e com o que nela se estuda que não combinam com o tipo de organização nem com a função da educação superior;
e) muitos docentes titulados em programas de Pós-graduação irão exercer atividades docentes para as quais, de forma geral, não receberam formação alguma, pois foi deixada de fora a preocupação sobre o que se ensina e como se ensina na educação superior;
f) a docência na educação superior ainda continua a ter como exigência a ênfase no conhecimento científico, em detrimento dos conhecimentos pedagógicos, que são, afinal, os que provêm das diversas áreas da ciência da educação.
Reconhecendo que a natureza, a especificidade, a importância da formação profissional docente e, mais especificamente, sua dimensão pedagógica ainda são pouco compreendidas e investigadas, posso afirmar que o presente estudo se justifica pelos caminhos que podem sinalizar rumos em direção a uma práxis formativa institucional e à criação de uma cultura pedagógica no interior das instituições de educação superior. O processo de formação profissional de docentes da educação superior é uma tarefa que não se conclui. Enricone (2007, p. 157) destaca a esse respeito: Incerteza, complexidade e responsabilidade sempre estarão presentes para quem está disposto a se arriscar por aquilo em que acredita: a função formativa da universidade
.
Em face do exposto, o objetivo central deste estudo é analisar duas propostas alternativas de formação, considerando as justificativas e os objetivos, os pressupostos teórico-metodológicos, as características das estruturas organizacionais e as práticas que estão sendo desenvolvidas nos diferentes programas formativos.
Apoiado em fundamentos teórico-metodológicos, o estudo tem como corpus a análise das propostas de formação profissional desenvolvidas pelas duas instituições selecionadas, com base no critério de existência de programas ou núcleos de assessoria pedagógica institucionalizados.
Para análise das propostas de formação docente para a educação superior, diante da complexidade e da problemática geradas pela própria legislação educacional, pelos avanços do conhecimento e da tecnologia e pelas revisões das funções institucionais na sociedade, elaborei um quadro teórico no qual se discutem os termos formação
, no âmbito do desenvolvimento profissional, e docência
.
Compreendendo os termos formação
e docência
na educação superior
Proponho-me a iniciar a discussão explorando os termos formação
e docência
na educação superior no âmbito do processo de desenvolvimento profissional. A expressão desenvolvimento profissional
encerra várias ideias, entre elas as de Cruz (2006, p. 20): (...) evolução progressiva da função docente face aos modos e situações de maior profissionalismo que se caracterizam pela profundidade do juízo crítico e sua aplicação na análise global dos processos implicados nas situações de ensino para atuar de maneira inteligente
.
Por essa perspectiva, trata-se de uma evolução que se constitui por meio de uma maior integração das estruturas básicas do conhecimento prático, adquiridas com a experiência do exercício da profissão, do crescimento profissional e das atividades formativas. O desenvolvimento profissional docente visa romper com o autodidatismo dos professores da educação superior. O processo é permeado