Dígrafo
O dígrafo (do grego di, "dois", e grafo, "escrever"), também chamado digrama (de di, "dois"+grama, "letra") , monoftongo ou monotongo,[1] ocorre quando duas letras são usadas para representar um único fonema.
Dígrafos e trígrafos da língua portuguesa
[editar | editar código-fonte]Podemos dividir os dígrafos da língua portuguesa em dois grupos: os consonantais e os vocálicos.
Dígrafos consonantais
[editar | editar código-fonte]Ocorrem quando temos duas consoantes que formam um som: "nh", "ss", "rr", "sc", "sç", "xc", "lh"... Note que, em algumas variantes de português, como aquelas faladas em Portugal e Moçambique, "sc", "sç", "xc", "nn", "mn" e "mm" não são dígrafos, pois se pronunciam dois sons distintos [2] [3].
Exemplos: milho, palhaço, nasça, nascer, exceção, assado, carro. Observe que, quando pronunciamos esses termos, as consoantes grifadas apresentam apenas um som, estejam ou não na mesma sílaba.
Não se pode dizer que há encontro consonantal nos dígrafos consonantais, pois as letras presentes neles representam apenas uma consoante. Da mesma forma, não existe encontro consonantal nas palavras campo e ponto, pois o "m" e o "n" funcionam essencialmente como sinais de nasalidade da vogal anterior, com o valor de um til.
- Dígrafos consonantais separáveis.
São os que podem ser separados em duas sílabas. / São eles: "rr", "ss", "sc", "xc" e "xs".
Dígrafo | Exemplos |
---|---|
rr | carroceria, bairro |
ss | assunto, assar, isso |
sc | ascensão, descendente |
sç | nasço, cresça |
xc | exceção, excesso |
xs | exsurgir, exsudar |
- Dígrafos consonantais inseparáveis.
Atenção: Dado que o trema ( ¨ ), anteriormente usado nos dígrafos gü e qü, para indicar que a vogal u devia ser pronunciada (como em 'lingüístico'), foi suprimido da Língua Portuguesa,[4] não podemos mais discernir graficamente quando o "gu" e o "qu" diante de vogais - a não ser a vogal a - são ou não dígrafos. Todavia a indicação de pronúncia aparece nos dicionários.
Dígrafo | Exemplos |
---|---|
gu | guitarra, águia |
qu | queijo, quilo |
lh | alho, milho |
nh | ninho, sonho |
ch | chuva, China |
O tch é o único trígrafo [5] da língua portuguesa, enquanto a língua francesa tem eau e aux.
Trígrafos | Exemplos |
---|---|
tch | tchau, tcheco |
O dígrafo ph foi abolido do português, após a Reforma Ortográfica de 1911, e substituído pela letra f. No entanto, manteve-se a pronúncia do ph com som de f, sobretudo no caso de nomes próprios e marcas comerciais de uso corrente. Exemplo: iPhone, Philips e Phebo.
Tradicionalmente "gu" e "qu" não são considerados dígrafos quando são seguidos da semivogal labiovelar. No entanto, segundo muitos fonólogos, trata-se de um segmento monofonemático complexo, ou seja, consoantes oclusivas velares com coarticulação labial.[6] Uma vez que se trata da representação de apenas um fonema, não é errado considerar que "gu" e "qu", nesses casos, também sejam chamados de dígrafos.
Dígrafos vocálicos
[editar | editar código-fonte]Quando as letras m e n" aparecem no final da sílaba, junto a uma vogal - desde que a letra seguinte ao m ou n seja uma consoante , exceto h, ou um y -, há um dígrafo vocálico, que representa uma vogal nasalizada. Caso a letra seguinte ao m ou ao n seja uma vogal ou um h, então passará a existir outra sílaba.
Exemplos: caminho, aminoácido, imolação, cama, canavial, inimigo, enumeração, Umuarama, hominídeo.
Dígrafo | Exemplos |
---|---|
am ou an | campo, sangue. |
em ou en | sempre, tento |
im ou in | limpo, tingir |
om ou on | rombo, tonto |
um ou un | bumbo, sunga |
Dígrafos de outras línguas
[editar | editar código-fonte]O albanês tem os dígrafos dh, gj, ll, nj, rr, sh, th, xh, zh.
O alemão tem os dígrafos ie, ei, eu, äu, ch, ck, ph, th, o trígrafo sch e os quadrígrafo tsch e dsch
O bielorrusso (alfabeto Łacinka) tem os dígrafos dz, dź, dž.
O catalão tem os dígrafos ll, ny, l·l, rr, ss, dz, tz, ig, ix, gu, qu, nc.
O checo tem o dígrafo ch.
O eslovaco tem os dígrafos ch, dz, dž.
O espanhol tem os dígrafos: ch, ll, rr, qu, gu.
O flamengo tem os dígrafos ae, ch, dj, ea, jh, oe, oi, sh, xh e os trígrafos oen, sch, tch.
O francês tem os dígrafos gn, ll, eu, ai, ou, qu, gu, en, au, en, em, on, om, un, um, an, ie, th, ph, ch, nn, mm, tt, ff, cc, gg, ss, os trígrafos eau, aux e o quadrígrafo eaux.
O galês tem os dígrafos ch, dd, ff, ng, ll, ph, rh, th.
O húngaro tem os dígrafos cs, dz, gy, ly, ny, sz, ty, zs e o trígrafo dzs.
O inglês tem os dígrafos ch, gh, th, sh, zh, rh, ph, wh, wr, rr, ow, ea, ee, oo, ou, au, qu, gu, ck, kn, dg, si, ss, ti, pn, ps, pp, sc, ng, nn, tt, ff, mm, ll e os trígrafos tch e ssi
O italiano tem os dígrafos ch, gh, gn, sc, ci, gi e os trígrafos sci e gli.
O lituano tem os dígrafos ch, dz, dž, ie, uo.
O polaco tem os dígrafos ch, cz, dż, dź, sz, rz.
O sueco tem os dígrafos sje (/ɧ/), tje (/ɕ/), ng, lj.
- ↑ Dicionário Houaiss: 'dígrafo'; 'digrama'
- ↑ Ciberdúvidas:A sequência sc de 'nascer' como dígrafo Citação: Embora no Brasil, a sequência gráfica <sc> seja considerada um dígrafo, porque se trata de duas letras (grafemas) que representam um único som (segmento), acontece que, em Portugal e noutros países de língua portuguesa, a situação é um tanto diferente. Com efeito: a) na pronúncia cuidada, sc antes de e ou i marca a sequência de duas consoantes: descer soa como "dechser", e nascer como "nachser"; b) na pronúncia normal ou rápida, sc corresponde ao "ch" de chave: descer torna-se "decher", e nascer é "nacher"
- ↑ Portal da Língua Portuguesa Citação: Luanda nɐ.sˈeɾ; Lisboa (não padrão) nɐʃ.sˈeɾ; Lisboa (padrão) nɐʃ.sˈeɾ; Maputo (não padrão) naʃ.sˈeɾ; Maputo (padrão) naʃ.sˈeɾ; Rio de Janeiro (não padrão) na.sˈe; Rio de Janeiro (padrão) na.sˈeɾ; São Paulo (não padrão) na.sˈe; São Paulo (padrão) na.sˈe; Díli nəʃ.sˈeɾ.
- ↑ Dicionário Priberam: 'trema'
- ↑ Dicionário Priberam: 'trígrafo'
- ↑ Sobre os Ditongos do Português Europeu Arquivado em 29 de novembro de 2015, no Wayback Machine.. Carvalho, Joana. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Página 20. Citação: A conclusão será que nos encontramos em presença de dois segmentos fonológicos /kʷ/ e /gʷ/, respetivamente, com uma articulação vocálica. Bisol (2005:122), tal como Freitas (1997), afirma que não estamos em presença de um ataque ramificado. Neste caso, a glide, juntamente com a vogal que a sucede, forma um ditongo no nível pós-lexical.Esta conclusão implica um aumento do número de segmentos no inventário segmental fonológico do português.