Cartazes Da Segunda Guerra Mundial: Significados A Partir de Análise Semiótica
Cartazes Da Segunda Guerra Mundial: Significados A Partir de Análise Semiótica
Cartazes Da Segunda Guerra Mundial: Significados A Partir de Análise Semiótica
RESUMO: Este artigo busca refletir acerca de prováveis significados presentes em cartazes de
propaganda impressos durante o período de 1939 a 1945 elaborados pelos Estados Unidos. O
objetivo é analisar os elementos sígnicos que podem ser considerados político-ideológicos nos
cartazes e, assim, responder a questão norteadora deste estudo: Quais os elementos político-
ideológicos dos cartazes de propaganda foram utilizados para persuadir a sociedade norte-
americana na Segunda Guerra Mundial? Para análise foram usados alguns conceitos da
Semiótica, proposta por Peirce (1995).
INTRODUÇÃO
3 Outras exigências feitas para Alemanha foram: proibição da fabricação de tanques e armamentos
pesados, redução da marinha alemã para 15 mil marinheiros, seis navios de guerra e seis cruzadores,
redução do seu exército para no máximo cem mil soldados, proibição de funcionamento da aeronáutica
alemã (Luftwaffe), pagamento aos países vencedores, principalmente à França e Inglaterra, uma
indenização pelos prejuízos causados durante a guerra (este valor foi estabelecido em 269 bilhões de
marcos), Malmedy e Eupen (cidades alemãs) passariam para o controle da Bélgica e Sonderjutlândia
deveria ser devolvida à Dinamarca.
A Segunda Guerra Mundial foi um conflito global – o maior entre eles - ocorrido
durante o período de 1939 a 1945, que envolveu grandes nações, divididas em duas
alianças militares opostas: o Eixo que estava Alemanha, Japão e Itália, e os Aliados com
União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido. Considerada a guerra mais ampla da
história, mobilizou mais de 100 milhões de pessoas (CHIARETTI; MARCO, 1997, p.65),
fazendo com que os seus participantes se empenhassem em produções de potências
industriais, científicas e econômicas.
A guerra provocou um custo de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, e,
aproximadamente, 110 milhões de homens e mulheres foram mobilizados, dos quais
apenas 30% não sofreram morte ou ferimento. (CHARETTI; MARCO, 1997, p.65). Em
número de mortos e feridos, teve “um saldo de cinquenta e cinco milhões de mortos,
trinta e cinco milhões de feridos e três milhões de desaparecidos” (PEDRO; ANTONIO,
1998, p. 84).
Assim como o Japão, os Estados Unidos, convencidos de que a única opção
econômica do país era a expansão territorial, procurando matérias-primas, novos
mercados e mão de obra barata, controlavam as Filipinas e outras ilhas do oceano
pacífico. Segundo KARNAL (2011, p. 218), ao longo de 1940 e 1941, os dois poderes
imperiais não conseguiram entrar em um acordo sobre suas respectivas esferas de
influência.
O presidente americano Franklin D. Roosevelt sabia que a guerra era inevitável, na
verdade que a guerra era desejável. Hoje sabemos que Roosevelt tinha
conhecimento dos códigos das mensagens secretas sobre a invasão que preparava.
Não evitou a invasão. A guerra, para os Estados Unidos, era um bom negócio. Um
estimulante à economia americana, que estava em semiparalisia desde 1929.
(PEDRO; ANTONIO, 1994, p.36)
No início dos anos 40, quando o conflito já era uma realidade, o presidente
Roosevelt reconhecia que o Japão cedo ou tarde teria de decidir-se pela guerra se não
quisesse ficar sem suprimentos vitais para sua indústria. A dúvida norte-americana dizia
respeito ao alvo Japonês. Charetti (1997) afirmou que Roosevelt não tratou os
Japoneses com condescendência, “Em 1940 congelou os depósitos japoneses nos
Estados Unidos e em julho de 1941 decretou um bloqueio comercial ao Japão”. Ele e a
maioria da elite reconheciam que o expansionismo da Alemanha e Japão representariam
uma perigosa ameaça aos interesses econômicos americanos.
Os Estados Unidos iniciou sua participação após o ataque surpresa da força aérea
do Japão em Pearl Harbor, no Havaí, em 1941, no entanto, o governo de Roosevelt
O que o país não esperava era que a guerra durasse tanto tempo. Assim, se
construiu através de cartazes de propaganda, ideologias que caracterizaram o período,
no qual o governo apresentava e reforçava a ideia de que produzir armas e participar da
guerra era necessário à população. As campanhas persistiam com chamadas de
convocação para ajuda de esforços através do auxílio na produção de materiais bélicos e
insumos de primeira necessidade, conservação de materiais como metais e gasolina e na
representação de crianças e mulheres.
Assim, o governo americano fez com que a preparação militar estadunidense
rapidamente ganhasse impulso e, através do alistamento voluntário e compulsório,
chegou a atingir mais de 15 milhões de homens e mulheres incorporados às Forças
Armadas (OSCAR; AQUINO, 2000, p.384). A situação dos Aliados era desproporcional
em relação às forças do Eixo, no qual a campanha de guerra foi extremamente
necessária para que pudesse ganhar forças, inclusive dentro do país. Segundo Aquino
(2000), desde então, até fins da guerra, as indústrias produziram quase 300 mil aviões
militares, 5.500 navios de guerra, 2 milhões e 700 mil metralhadoras e cerca de 87 mil
tanques, além de outros armamentos e milhares de bombas, balas, obuses, granadas,
etc. A máquina de guerra norte-americana acelerou e dispôs um enorme potencial que
deu ao país e aos Aliados um poderio capaz de esmagar seus adversários.
Além da forte propaganda nacionalista, sua entrada foi fator primordial para a
vitória dos Aliados. Os norte-americanos possuíam um forte e organizado exército e uma
enorme capacidade bélica. Hobsbawn (2003, p.176) explica que os norte-americanos
colocaram toda a sua força industrial do país a serviço dos militares e assim, “milhares de
navios, tanques, aviões, e toneladas de equipamentos bélicos foram produzidos pelos
Estados Unidos”. A produção bélica igualmente cresceu em velocidade, quantidade e
qualidade. Além do mais, a semana de trabalho aumentou de 40 horas para 48 horas,
melhoraram-se as técnicas de produção e se estimulou a maior produtividade individual
do trabalhador mediante a elevação de salários (OSCAR; AQUINO, 2000, p.384).
Hobsbawn (2003) ressalta que a guerra prosseguia no Japão. E antes da rendição do
país asiático, os Estados Unidos demonstraram a sua força militar ao mundo, explodindo
duas bombas atômicas em território japonês: uma na cidade de Hiroshima, e, outra na
cidade de Nagasaki. Hobswan (2003, p.234) pontua que “essas bombas deixaram um
total de aproximadamente 160 mil mortos e 150 mil feridos”, e fez com que o Japão se
rendesse.
A guerra foi danosa aos países participantes, principalmente no que diz respeito a
mortes, sendo o maior conflito da história humana, Charetti (1997) totaliza 55 milhões de
mortos e 35 milhões de feridos. Trazendo consequências decisivas e mudanças drásticas
da realidade mundial, introduzindo conceitos inovadores para diversos países.
Ao tempo que a guerra avançava, exigia-se cada vez mais a incorporação dos
homens que trabalhavam na indústria para a linha de frente. Então, tornaram-se comuns
cartazes que estimulavam a participação feminina nas forças armadas e na produção
industrial, fazendo assim, com que as mulheres ocupassem um novo espaço na
sociedade. Elas eram encorajadas pela ideia de que ajudando seu país elas também
estariam ajudando a si próprias. O público feminino era levado a crer que ao tomar lugar
nos processos industriais estariam se tornando vitais para a sociedade. Segundo Antonio
(1998, p. 79), “A mulher precisava assumir o posto do homem e este aceitar a
necessidade da mulher ‘abandonar’ o lar e sua anterior ocupação de dona de casa em
favor da economia do país”.
A guerra iria abrir novas possibilidades para a participação feminina no mercado
de trabalho, principalmente em áreas dominadas pelos homens, como, por exemplo, a
engenharia. Foi lançada uma intensa campanha na mídia a fim de atrair a força de
trabalho feminina para o esforço de guerra. Ao convocar a força de trabalho feminina
para as fábricas, o governo garantia a expansão de suas indústrias e os lucros com a
venda de armas, equipamentos e suprimentos militares. Quando os Estados Unidos
entraram na guerra, havia 11,3 milhões de mulheres trabalhando. Esse número
representava cerca de um terço da força de trabalho nacional. Ao final da guerra, eram
18 milhões. Dessas, 4 milhões trabalham nas fábricas de armamentos. Quando o número
de mulheres solteiras não foi suficiente para suprir a demanda, as mulheres casadas
foram convocadas para trabalhar.
Além da causa feminista, eram muito comuns também o uso de imagens de
crianças nos cartazes sob símbolos nazistas, sensibilizando pais de família, remetendo a
ideia de que os filhos corriam riscos com o inimigo. Estes tipos de discursos eram
realizados em tons nacionalistas, prezando as cores patrióticas e em atmosferas
tipicamente americanas. “Dezoito milhões de americanos se alistaram nas Forças
Armadas e dez milhões serviram o país” (PEDRO; ANTONIO 1998, pg. 219). Socialistas,
pacifistas, dissidentes religiosos, bem como dezenas de mulheres que se recusaram ao
serviço militar obrigatório, enfrentaram forte perseguição. “Em 1941, o governo condenou
18 militantes trotkistas por suas atividades contra a guerra e suas ideias revolucionárias”
(PURDY; SEAN, 2001, pg. 222). O sacrifício exigido pela guerra precisava ser reforçado
por ações do governo.
Os Estados Unidos saíram da guerra como líder militar e econômico do mundo. A
economia do país passou a ser controlada mais do que nunca pelas grandes
corporações que moldaram um consenso político nos anos 1950, garantindo melhores
salários para muitos trabalhadores em troca de controle conservador da economia e
sociedade.
2. PROPAGANDA, POLÍTICA E IDEOLOGIA
A propaganda foi uma etapa essencial para o convencimento das populações da
necessidade de apoio aos países que intencionavam participar da segunda guerra,
principalmente com o intuito de aumentar a produção industrial e o espírito de defesa do
seu território.
Sant’anna (1989, p.75) define propaganda como “a propagação de princípios, de
teorias, de doutrinas religiosas ou princípios políticos, deriva do latim propagare, que quer
dizer, plantar, incutir uma ideia ou crença na mente alheia”.
Segundo Jowett e O’Donnell (1999, p.6) “a propaganda é a tentativa deliberada e
sistemática de moldar percepções, manipular cognições e direcionar comportamentos a
fim de alcançar uma resposta que promove a intenção desejada do propagandista”.
Percebe-se que essa situação ocorreu de maneira clara no período histórico retratado
neste artigo.
Após o ataque de Pearl Harbor em 1941, a propaganda se fez mais presente nos
Estados Unidos. Os discursos traziam a ridicularizarão do inimigo, o sentimento de
patriotismo e estimulavam a produção e racionamento de bens indispensáveis para a
guerra.
Para Barreto (1966), a propaganda não é, apenas, uma simples difusão de ideias
e doutrinas, mas a sua propagação por certos métodos. Para ele, “a propaganda baseia-
se nos símbolos para chegar a seu fim: a manipulação das atitudes coletivas”. Assim, o
uso de representações para produzir reações coletivas pressupõe uma ação de
propaganda, o que pode ser visto, por exemplo, com o uso intenso de cartazes pelos
EUA.
A propaganda utiliza simultaneamente os dois tipos de linguagem, a verbal e a não
verbal. O emprego das duas linguagens enriquece esse texto, que, por sua vez,
4O call to action está presente dentre do discurso publicitário, é a chamada para a ação, levando uma
pessoa a consumir algo.
Geraldine Hoff Doyle foi uma modelo americana, a qual se tornou um ícone da
mulher trabalhadora no país. Era tocava violoncelo, e, temendo uma lesão na mão pela
máquina de prensar metal, deixou a fábrica depois de ter trabalhado por apenas duas
semanas. Durante o breve tempo que ela trabalhou, um fotógrafo da United Press
International5 fez uma foto dela, e esta imagem foi, então, trabalhada pelo artista gráfico
J. Howard Miller.
A imagem do cartaz inspirou mulheres a trocarem o trabalho doméstico por
empregos em fábricas, pois durante a guerra, essas mulheres compuseram a força de
trabalho em números sem precedentes, já que o alistamento do sexo masculino deixou
de forma generalizada buracos na força de trabalho industrial.
Entre 1940 e 1945, o percentual da força de trabalho feminina americana
“aumentou de 27% para quase 37%, e, em 1945, uma em cada quatro mulheres casadas
trabalhavam fora de casa. Um adicional de mais ou menos 350.000 mulheres servindo
em Forças Armadas dos EUA” (PURDY; SEAN, 2001, pg. 223). A mão de obra feminina
teve uma participação fundamental na indústria bélica americana durante a guerra.
A mulher deixou de ocupar seu espaço no lar para que pudesse ajudar na
economia do país. Assim, o público feminino era levado a crer que ao tomar lugar nos
processos industriais, estaria se tornando vital para a sociedade, ocupando postos-chave
nas fábricas de guerra.
Elas não são super-heroínas, mas desempenharam um papel bem parecido,
inspiradas no dever cívico e muitas, possivelmente, naquelas mulheres de papel,
corajosas e audaciosas, pois neste momento fabricavam e até pilotavam aviões.
Figura 1: “We Can Do It!”
5United Press International é uma agência de notícias internacional, fundada em 1907, e com sede nos
Estados Unidos da América. Foi pioneira em muitas áreas na cobertura e distribuição de notícias em todo o
mundo.
Fonte:http://culturacontada.com.br/we-need-do-it-a-pratica-constante-na-luta-pela-
igualdade-de-genero
O cartaz anterior mostra uma operária de uma fábrica com o braço forte, porém
um delicado cabelo envolto em um lenço vermelho e branco com o nome de "Rosie, a
rebitadora", inspirado na música “Rosie The Riveter” de 1942, que homenageava as
mulheres que assumiram o controle das fábricas quando os homens partiram para a
guerra. Seu rosto, maquiado, de batom, rímel e as unhas pintadas, significam que,
mesmo com serviços industrias, a mulher não poderia deixar de se arrumar, segundo os
padrões de beleza da época.
A cor amarela fortemente presente no fundo do cartaz, segundo Farina (2011) é
“visível à distância, estimulante. Cor imprecisa pode produzir vacilação no indivíduo e
dispersar parte de sua atenção. Não é uma cor motivadora por excelência [...] geralmente
indicada para aplicação em anúncios que indiquem luz”. Esta luz pode estar diretamente
relacionada à esperança que as mulheres começaram a sentir a partir do seu novo
espaço na sociedade. O lenço vermelho com bolinhas brancas, além de remeter a
bandeira dos Estados Unidos, “representa energia, força, ação, movimento” (FARINA,
2011, p. 35). O que também pode estar ligado ao forte movimento feminista que ocorreu
na época.
A figura de Rosie, uma forte trabalhadora de produção no período da guerra, fez
com que ela se tornasse um símbolo não somente nos Estados Unidos do período da
guerra, mas até hoje. E, Pierce (1995, p.73) “Um símbolo, como vimos, não pode indicar
uma coisa particular qualquer: ele denota uma espécie de coisa”. Esse símbolo, Rose,
tornou-se representante das mulheres americanas durante o período, comumente usada
como um símbolo do feminismo do poder econômico das mulheres até a atualidade.
3.2 Don’t let that shadow touch them buy war bonds
O cartaz “Don’t let that shadow touch them buy war bonds”, (Não deixe que a
sombra toque a sua compra de bônus de guerra), desenhado em 1942 pelo artista
Lawrence B. Smith, também a pedidos do United States Office of War Information foi
impresso com o intuito de continuar promovendo a compra de bônus de guerra no país.
Fonte:http://www.imagekind.com/art/stunning/war-bonds/artwork-on/fine-art-prints
O cartaz usa a inocência das crianças, a fragilidade e a necessidade de proteção
como base na propaganda de guerra. Através da implementação cuidadosa de cor e
imagens patrióticas, há uma mensagem forte e convincente para o povo americano: "Não
deixe que a sombra toque".
A imagem revela uma cena em um campo aberto, com a sombra na forma do
símbolo nazista impressa na grama verde. No centro da imagem há a figura de três
crianças: uma menina e dois meninos. A menina está sentada sobre uma rocha na frente
dos dois garotos com um olhar de confusão em seu rosto, porém fixados sobre a sombra.
Ela está com uma das mãos erguida no ar, e a outra segurando o braço de uma boneca.
O menino mais novo está usando um chapéu de soldado feito de jornal e segura
uma bandeira americana junto a si. A expressão em seu rosto representa medo, ele olha
para o menino mais velho como se esse representasse orientação e segurança. O
menino mais velho está em pé com uma mão na frente do menino mais novo de uma
6Savings Bond são os títulos de dívida emitidos pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos para
ajudar a pagar a necessidade de financiamento do governo os EUA.
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Recebido em 06/08/2015.
Aceito em 27/12/2015.